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Módulo XIII

Língua Portuguesa

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Figuras de Linguagem

As Figuras de Linguagem são recursos da Língua Portuguesa que criam


novos significados para as expressões, ao trabalhar com o sentido
Usos da metáfora
conotativo em vez do literal.
A metáfora pode ser pura
ou impura. O que vai diferenciar uma
da outra é a presença ou não, na Figuras semânticas
frase, de todos os termos de
comparação.
"Para ilustrar, vamos ler, a 1. Metáfora
seguir, trechos da letra de música
“Amor e sexo”, de Rita Lee, Roberto
de Carvalho e Arnaldo Jabor, do
“Deixe a meta do poeta, não discuta / Deixe a sua meta fora da disputa /
álbum Balacobaco (2003). Essa letra Meta dentro e fora, lata absoluta / Deixe-a simplesmente metáfora”
é composta de várias metáforas (Metáfora — Gilberto Gil)
impuras, ou seja, mais simples por
serem diretas. Nesse caso, as
metáforas são usadas para tentar A metáfora é, provavelmente, a figura de linguagem que mais
definir o que é o amor e o que é o utilizamos no nosso dia a dia. Ela se baseia em uma comparação implícita,
sexo bem como a diferença entre sem o elemento comparativo (“como” ou “tal qual”, por exemplo), em que
ambos:
uma característica de determinada coisa é atribuída ao elemento
Amor é um livro metaforizado.
Sexo é esporte Consiste em usar a palavra referente a essa coisa no lugar da
Sexo é escolha
Amor é sorte" característica propriamente dita, depreendendo uma relação de
semelhança que, por termos uma linguagem flexível e complexa,
"Dessa forma, o amor é conseguimos entender.
comparado a: livro, sorte,
pensamento, teorema, novela, prosa, Por exemplo, se dizemos que “Maria Rita é uma flor”, nosso cérebro já
latifúndio e bossa-nova; e o sexo é tem mecanismos para compreender que o que queremos dizer é que ela é
comparado a: esporte, escolha, delicada, perfumada, bonita etc., e não que ela seja literalmente uma flor.
cinema, imaginação, fantasia, poesia,
uma selva de epiléticos, invasão e
Para textos na web, é interessante utilizar algumas metáforas para
carnaval. Assim, para entender cada validar seus argumentos e enriquecer linguisticamente o seu texto.
metáfora, basta que você conheça Se você está escrevendo sobre novas tecnologias, por que não contar
cada um desses elementos de com metáforas referentes a objetivos tecnológicos? Dessa forma, seu
comparação e associe suas
características ao amor ou ao sexo." leitor ficará mais preso ao tema proposto e sua produção lhe parecerá mais
atraente e bem escrita.
"Na metáfora pura, um dos Mas tenha cuidado, pois há mais de uma possibilidade de interpretação
elementos de comparação não está
explicitado. Portanto, ela é indireta e da metáfora, já que a identificação entre os dois elementos em comum
necessita ainda mais do pode ficar por conta do leitor. Portanto, procure esclarecer ao máximo o
conhecimento de mundo do leitor ou que você quer dizer quando usar esse recurso.
ouvinte para ser identificada. Vamos
ver, a seguir, um soneto de Mario
Quintana (1906-1994), em que 2. Símile ou Comparação
podemos observar algumas
metáforas puras:
“Te ver e não te querer (…) / É como mergulhar no rio / E não se
Da vez primeira em que me molhar / É como não morrer de frio / No gelo polar” (Te Ver — Samuel
assassinaram Rosa, Lelo Zaneti e Chico Amaral)
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, de cada vez que me
mataram, A símile é, assim como a metáfora, uma figura de comparação — mas,
Foram levando qualquer coisa dessa vez, explícita. Como assim?
minha."
A metáfora é mais subjetiva, pois sugere implicitamente uma ligação
Veja mais sobre "Metáfora" na página 3 entre dois seres ou entidades diferentes a partir de uma característica em
comum, enquanto a símile apenas aponta que existe uma semelhança
específica e objetiva entre os dois elementos comparados.
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Retomando o exemplo que trouxemos quando explicamos a metáfora,
uma símile seria “Maria Rita é bela como uma flor” ou “Maria Rita
"E hoje, dos meus cadáveres, eu é cheirosa, assim como uma flor” — dessa forma, ressaltamos o
sou determinado atributo que queremos comparar e trazemos um elemento
O mais desnudo, o que não tem comparativo (“como”, “que nem”, “assim como”, “tal qual”).
mais nada. Quando se escreve para a web, fazer comparações explícitas pode
Arde um toco de vela, amarelada.
ajudar você a ressaltar um argumento ou contrastar opções com mais
Como o único bem que me ficou!
propriedade e clareza.
Vinde, corvos, chacais, ladrões Como a símile é mais objetiva que a metáfora, ela é uma opção mais
da estrada! segura para ser utilizada em textos com uma linguagem mais séria. Além
Ah! desta mão, avaramente disso, a relação de similaridade (daí o nome “símile”!) entre os vocábulos
adunca, pode ser uma carta na manga na hora de convencer o leitor do seu ponto
Ninguém há de arrancar-me a
luz sagrada!
de vista.

Aves da noite! Asas do horror! 3. Analogia


Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como A analogia também é uma espécie de comparação, mas, nesse caso,
um ai, feita por meio de uma correspondência entre duas entidades distintas. O
A luz do morto não se apaga
nunca!
termo também é utilizado no Direito e na Biologia.
Na escrita, a analogia pode ocorrer quando o autor quer estabelecer
Assim, podemos apontar uma aproximação equivalente entre elementos por meio do sentido
as seguintes metáforas puras: figurado e dos conectivos de comparação.
“assassinaram” e “mataram” Por exemplo, em um trecho do romance “A Redoma de Vidro”, a
(podem significar o ato de autora Sylvia Plath faz uma analogia entre a abundância de opções que
magoar), “cadáveres” (pode
significar uma pessoa magoada, temos para escolher o que faremos da vida e uma árvore cheia de figos:
ferida), “vela” (pode significar a
própria vida, que se desgasta), “Da ponta de cada galho, como um enorme figo púrpura, um futuro
“corvos” (pode significar pessoas maravilhoso acenava e cintilava. Um desses figos era um lar feliz com
agourentas), “chacais” (pode marido e filhos, outro era uma poeta famosa, outro, uma professora
significar pessoas exploradoras),
brilhante, outro era Ê Gê, a fantástica editora, outro era feito de viagens
“a luz sagrada” (pode significar
vida, esperança ou fé), além de à Europa, África e América do Sul, outro era Constantin e Sócrates e
“aves da noite” e “asas do horror” Átila e um monte de amantes com nomes estranhos e profissões
(podem significar ameaças). excêntricas, outro era uma campeã olímpica de remo, e acima desses
Portanto, há uma comparação figos havia muitos outros que eu não conseguia enxergar. Me vi sentada
indireta entre esses termos embaixo da árvore, morrendo de fome, simplesmente porque não
destacados e seus possíveis
significados."
conseguia decidir com qual figo eu ficaria. Eu queria todos eles, mas
escolher um significava perder todo o resto, e enquanto eu ficava ali
sentada, incapaz de tomar uma decisão, os figos começaram a encolher e
Veja mais sobre "Metáfora" em:
ficar pretos e, um por um, desabaram no chão aos meus pés.”
https://brasilescola.uol.com.br/gramatic
a/metafora.htm
Para a web, usar analogias pode ser eficiente quando você quer
simplificar o assunto abordado. Caso ele seja muito complexo, é só fazer
uma analogia com algo mais simples que o leitor entenderá mais
facilmente e seu texto se enriquecerá.

4. Metonímia
“E no Nordeste tudo em paz / Só mesmo morto eu descanso / Mas o
sangue anda solto / (…) / Terceiro mundo, se for / Piada no exterior /
Mas o Brasil vai ficar rico” (Que País é Esse? — Renato Russo)

A metonímia é mais uma figura de linguagem que tem a ver com


semelhanças. Ela ocorre quando um único nome é citado para representar
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um todo referente a ele. Por exemplo, é comum dizermos frases como “Adoro ler Clarice Lispector” ou,
ainda mais comum, “bebi um copo de leite”.
No primeiro caso, o que eu adoro ler são os livros escritos pela autora Clarice Lispector, e não a
pessoa dela em si. No segundo caso, ocorre o mesmo: o que eu bebi foi o conteúdo (leite) que estava dentro
do copo, e não o objeto copo propriamente dito.
Ao escrever para a web, a metonímia é muito útil e, muitas vezes, usada sem nem percebermos.
Acontece quando substituímos uma marca por um tipo específico de produto — por exemplo, Durex
substituindo fita adesiva, Toddy substituindo achocolatado em pó e Maizena substituindo amido de milho.
Ela traz maior fluidez à escrita, além de levar o leitor a se identificar com o texto.

5. Perífrase
Ainda que a perífrase e a antonomásia
“Cidade maravilhosa / Cheia de encantos mil / Cidade maravilhosa sejam consideradas a mesma figura de
/ Coração do meu Brasil” (Cidade Maravilhosa — André Filho) linguagem, a antonomásia trata-se de um
tipo de perífrase. Assim, a antonomásia é
A perífrase acontece quando um nome ou termo é quando se refere a uma pessoa (nomes
substituído por alguma característica marcante sua ou por algum próprios).
fato que o tenha tornado célebre.
Note que a perífrase é também chamada
Por exemplo, quando falamos no “rei da selva”, estamos de circunlóquio uma vez que apresenta
falando do leão. Da mesma forma, podemos nos referir à capital um pensamento de modo indireto, com
francesa como “Cidade Luz” e ao Rio São Francisco como “Velho rodeios. Do grego, a palavra “períphrasis”
Chico”. Já no caso de pessoas, essa substituição tem o nome de significa o ato de falar em círculos.
antonomásia (para saber mais, veja o item 13).
Exemplos de Perífrase
Essa figura de linguagem difere da metáfora, uma vez que a
 A cidade luz foi atingida por
expressão usada para substituição refere-se unicamente ao termo terroristas nessa tarde. (Paris)
original, de modo que ele é facilmente identificado.  A terra da garoa está cada vez
Na web, a perífrase pode ser utilizada para evitar a repetição mais perigosa. (São Paulo)
de um nome, dando maior riqueza ao texto. Atenção apenas para  Sampa é o grande centro
não usar codinomes que não sejam populares, pois isso pode financeiro do país. (São Paulo)
dificultar o entendimento do leitor.  O país do futebol conquistou
mais uma medalha nas
olimpíadas. (Brasil)
6. Sinestesia  O país do carnaval celebrou
mais uma conquista política.
“Palavras não são más / palavras não são quentes / palavras são (Brasil)
iguais / sendo diferentes” (Palavras — Sérgio Britto e Marcelo
Fromer) Exemplos de Antonomásia
 O poeta dos escravos escreveu
diversos poemas abolicionistas.
É uma figura de linguagem bastante utilizada na arte, (Castro Alves)
principalmente em músicas e poesias, uma vez que ela trabalha com  O rei do reggae recebeu em
a mistura de dois ou mais sentidos humanos (olfato, paladar, 1976 o prêmio de "Banda do
audição, visão e tato). Ano". (Bob Marley)
Na frase “Um silêncio amargo invadiu a sala”, há um tipo de  A dama do teatro brasileiro foi
gosto (paladar) servindo de adjetivo para o silêncio (audição), por indicada ao Oscar de melhor
atriz. (Fernanda Montenegro)
exemplo.  O divino mestre partilhou
Na web, é possível utilizar essa figura quando a pauta diversos ensinamentos. (Jesus)
permitir: moda, culinária e fotografia, por exemplo, são categorias  O pai da aviação foi um grande
em que, dependendo do foco desejado, a metonímia cai muito bem, inventor brasileiro. (Santos
intensificando as sensações que o texto eventualmente pode querer Dumont)
passar ao leitor.  O poeta da vila é considerado
um dos mais importantes
músicos do Brasil. (Noel Rosa)
7. Hipérbole

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“Por você eu largo tudo / Vou mendigar, roubar, matar / Até nas coisas mais banais / Pra mim é tudo ou
nunca mais” (Exagerado — Cazuza)

Ao contrário do eufemismo, a hipérbole serve para exaltar uma ideia, com o objetivo de causar maior
impacto e entusiasmo. Ela é muito usada em nosso cotidiano, como na expressão “Estou morta de fome”, em
que a intenção é enfatizar propositalmente o quanto estamos precisando comer.
Para a web, esse recurso é maravilhoso, pois, se a intenção é convencer o leitor do que estamos
dizendo, nada melhor que chamar a atenção dele para o que queremos, apenas usando termos exagerados.

8. Catacrese

“Me ame devagarinho / Sem fazer nenhum esforço / Tô doido por seu carinho / Pra sentir aquele
gosto / Que você tem na maçã do rosto / Que você tem na maçã do seu rosto” (Maçã do Rosto — Djavan)

A catacrese é o nome que utilizamos para algo que não tem um nome próprio. Em outras palavras,
pegamos um termo que já existe e o “emprestamos” para alguma
outra coisa. Assim, o substantivo representa dois significados
Existem dois tipos de pleonasmo: o
diferentes, que não têm associação. literário e o vicioso.
Maçã do rosto, pé da mesa e asa da xícara são alguns dos
exemplos de catacrese muito utilizados no dia a dia.  Pleonasmo literário

9. Eufemismo Muitas vezes, o pleonasmo literário é


empregado para enfatizar uma ideia ou
“Dar à luz a uma criança / é iluminar os seus dias / dividir conceito, dando caráter poético à
construção. É bastante comum que isso
suas tristezas / somar suas alegrias / é ser o próprio calor / ocorra em epítetos da natureza. Veja um
naquelas noites mais frias” (Dar à Luz — Bráulio Bessa) exemplo clássico do poeta Fernando
Pessoa:
O recurso do eufemismo é utilizado quando se deseja dar um
tom mais leve para uma expressão — ou seja, é diretamente oposto Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
à hipérbole. O significado permanece, mas a frase se torna menos
direta, pesada, negativa ou depreciativa. “Fulano descansou em paz” Como se pode notar, explicitar o adjetivo
é um ótimo exemplo de eufemismo muito utilizado. “salgado” para o “mar” é redundante,
porém traz um efeito poético no texto pela
10. Pleonasmo ênfase.

 Pleonasmo vicioso ou
“Vamos fugir / Pra outro lugar, baby!” (Vamos Fugir —
redundância
Skank)
Em certos contextos, o pleonasmo não é
O pleonasmo ocorre quando se repete uma palavra ou usado como recurso estilístico,
expressão na mesma frase com o mesmo significado. Do ponto de configurando um vício de linguagem: a
vista da gramática, ele é considerado um vício de linguagem redundância. Trata-se de construções
comumente não vistas como adequadas
(deixando a frase redundante). Entretanto, na literatura, costuma ser ou que não acrescentam efeito de ênfase
usado para dar ênfase. ou de esclarecimento.

11. Anáfora Eu subi lá em cima para ver o que ela


queria.
“É preciso amor / Pra poder pulsar / É preciso paz pra Ele era o principal protagonista da
história.
poder sorrir / É preciso a chuva para florir” (Tocando em Frente Entrou num ciclo vicioso do qual não
— Almir Sater) conseguia sair.

É um recurso utilizado para dar mais ênfase à mensagem, Nos três enunciados, não há
por meio da repetição de palavras. Ela acontece de forma sucessiva justificativa para utilizar as
no começo das frases, versos ou períodos. redundâncias destacadas.

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12. Ambiguidade ou Anfibologia

“Um primo contou ao outro que sua mãe estava doente.”

Ambiguidade é uma figura de linguagem muito utilizada no meio artístico, de forma poética e
literária. Porém, em textos técnicos e redações ela é considerada um vício (e deve ser evitada). Ela ocorre
quando uma frase fica com duplo sentido, confundindo a interpretação.

13. Antonomásia

“A ‘Dama de Ferro’ despertou admiração e ódio.” (Época Negócios)

Trata-se de um tipo de metonímia. Nesse caso, ocorre a substituição de um nome de pessoa por um
conjunto de palavras que a caracteriza. Quando a substituição é de um nome comum ou lugar, o recurso
utilizado é a perífrase.

Por exemplo, quando falamos “rei do futebol”, no Brasil, nos referimos ao jogador Pelé. Essa figura
de linguagem difere da metáfora, uma vez que a expressão usada para substituição refere-se unicamente ao
termo original, de modo que ele é facilmente identificado.

A antonomásia também pode ser utilizada para eliminar repetições e tornar o texto mais rico — e,
assim como a perífrase, deve trazer termos que sejam conhecidos pelo público, de modo a não prejudicar a
compreensão.

14. Alegoria

“A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do
baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do
mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a orquestra é
excelente…” (Dom Casmurro — Machado de Assis)

É usada de forma retórica, a fim de ampliar o significado de uma palavra (ou oração). Ela ajuda a
transmitir um (ou mais) sentidos do texto, além do literal.

15. Simbologia

“A pomba branca simboliza a paz.”


O conceito é bem simples: trata-se do uso de simbologias para indicar alguma coisa.

Figuras sintáticas (ou de construção)

De modo geral, esses recursos são utilizados em textos da web para dar maior fluidez ao texto, ao
mesmo tempo que realçam a informação passada, deixando a escrita levemente mais rebuscada, mas sem
perder a informalidade necessária nessas situações.

16. Elipse

“A tarde talvez fosse azul, / não houvesse tantos desejos” (Poema de Sete Faces — Carlos Drummond de
Andrade)

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A elipse consiste na omissão de um termo sem que a frase tenha seu sentido alterado. Por exemplo,
na frase “(eu) Quero (receber) mais respeito”, os termos em parênteses podem ser omitidos sem que o
sentido da frase seja alterado.

17. Zeugma

“O meu pai era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô, baiano”
(Paratodos — Chico Buarque)

O zeugma é basicamente o mesmo que a elipse, com a diferença de que ele é específico para omitir
nomes ou verbos citados anteriormente — por exemplo, quando dizemos “Eu prefiro literatura, ele,
linguística”, e deixamos de repetir o verbo “preferir”.

18. Silepse

“Nem tudo tinham os antigos, nem tudo temos, os modernos.” (Machado de Assis)

A silepse é quando há concordância com uma ideia, e não com uma palavra — ou seja, ela é feita
com um elemento implícito. Pode ocorrer nos seguintes âmbitos: de gênero, de número e de pessoa.
No exemplo “O casal se atrasou, estavam se arrumando”, temos uma silepse de número. A princípio,
a frase parece estar errada — já que o verbo “estar” deveria vir no singular, para concordar com “casal” —,
mas não se preocupe, essa construção é permitida.

19. Hipérbato ou Inversão

“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heroico o brado retumbante” (Hino


Nacional — Joaquim Osório Duque Estrada)

O hipérbato é um recurso de inversão da ordem direta da frase (sujeito-verbo-objeto-complementos).


Um exemplo de inversão está na frase “Dorme tranquila a menina” — a ordem natural seria “A menina
dorme tranquila”.
Quando a inversão é muito violenta, recebe o nome de sínquise e, quando é especificamente da
posição do adjetivo, se chama hipálage.

20. Polissíndeto

“E o olhar estaria ansioso esperando / E a cabeça ao sabor da mágoa balançada / E o coração
fugindo e o coração voltando / E os minutos passando e os minutos passando…” (Olhar para Trás —
Vinícius de Moraes)

Essa figura de linguagem é a repetição de conectivos ligando termos da oração ou períodos.


Normalmente, as conjunções coordenativas são repetidas, entre elas, o “e” é a mais comum.
Nem sempre esse recurso pode ser utilizado na redação para web, considerando que a repetição
desnecessária pode deixar o texto cansativo.

21. Assíndeto

“Tem que ser selado, registrado, carimbado / Avaliado, rotulado se quiser voar! / Se quiser voar /
Pra Lua: a taxa é alta / Pro Sol: identidade / Mas já pro seu foguete viajar pelo universo / É preciso meu
carimbo dando o sim / Sim, sim, sim” (Carimbador Maluco — Raul Seixas)

Ocorre quando um conectivo é excluído da frase (como o “e”), a fim de trazer uma sequência de
informações. Geralmente, é substituído por uma vírgula. É o contrário do que ocorre com o polissíndeto.

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22. Anacoluto

“Umas carabinas que guardava atrás do guarda-roupa, a gente brincava com elas, de tão
imprestáveis.” (José Lins do Rego)

Trata-se de uma alteração na estrutura da frase, a qual é interrompida por algum elemento inserido de
forma “solta”. Alguns estudiosos defendem que o anacoluto é um erro gramatical.

Figuras de pensamento

23. Antítese

“Não existiria som se não / Houvesse o silêncio / Não haveria luz se não / Fosse a escuridão / A vida
é mesmo assim / Dia e noite, não e sim” (Certas Coisas — Lulu Santos)

O uso de palavras com sentidos opostos é outro possível recurso para fortalecer o discurso e deixar
um ponto de vista ainda mais claro. A antítese é, justamente, o contraste que ocorre quando os termos estão
bem próximos e acentuam a expressividade do período.
Curiosamente, a antítese é marco da escrita barroca, tida como a arte do contraste, mas ainda tem
espaço na escrita atual, principalmente no contexto digital. O contraste, além de enfatizar o sentido das
palavras, esclarece que a divergência entre elas é o que garante, de certa forma, o argumento colocado.

24. Paradoxo

“Se você quiser me prender, vai ter que saber me soltar” (Tiranizar — Caetano Veloso)

O termo, formado pelo prefixo “para”, que indica “contrário a”, e o sufixo “doxa”, que quer dizer
“opinião”, é consagrado pelos filósofos e seus sentidos vão
além do uso na escrita.
Apesar de ser parecido com a antítese, o paradoxo é Oxímoro é uma figura de
uma figura de linguagem usada para transmitir sentidos pensamento que consiste numa frase de
opostos em uma mesma construção sintática. As duas ideias sentido, aparentemente, absurdo, já que
devem estar na mesma frase para expressar essa contradição resulta da reunião de ideias contrárias
num só pensamento. Essa figura de
lógica e, geralmente, estão lado a lado. pensamento nos leva a enunciar uma
No exemplo acima, o paradoxo é produzido pela verdade com aparência de mentira.
oposição lógica das palavras “prender” e “soltar”. Outros
bons exemplos são: “O riso é uma coisa séria”, “O melhor Alguns exemplos de Oxímoro:
improviso é aquele que é mais bem preparado” e “(O amor)
é ferida que dói e não se sente”, de Luís de Camões. Lúcida loucura
Silêncio eloquente
Embriaguez sóbria
25. Gradação ou Clímax Piada séria
Gélido calor
“Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião, uns Instante eterno
cingidos de luz, outros ensanguentados.” (Ocidentais — Mentiras sinceras
Espontaneamente calculada
Machado de Assis)

Ao pensarmos na apresentação de ideias, a gradação é uma figura de linguagem que propõe a


organização das palavras de acordo com a progressão — ascendente ou descendente — dos conceitos. O
clímax é obtido com a gradação ascendente, enquanto o anticlímax é a organização de forma contrária.

26. Personificação ou Prosopopeia

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“As casas espiam os homens / Que correm atrás das mulheres” (Poema de Sete Faces — Carlos
Drummond de Andrade)

Personificar é atribuir características humanas e qualidades a objetos inanimados e irracionais.


Também parece pouco usual, mas acontece mais do que imaginamos. É comum conceder sentimentos,
ações, sensações e gestos físicos e de fala a objetos.
No trecho do poema, a prosopopeia é percebida no ato de dar ação à casa, que teria a qualidade de
espiar os homens.

27. Ironia

“Moça linda bem tratada, / três séculos de família, / burra como uma porta: um amor!” (Moça
Linda Bem Tratada — Mário de Andrade)

Na ironia, o interlocutor diz uma coisa, mas o significado é outro. Ela é muito conhecida e utilizada
no dia a dia, mas ainda pode gerar certa confusão — principalmente na língua escrita. É utilizada para se
expressar de forma sarcástica ou bem-humorada, além de servir como disfarce ou dissimulação.

28. Apóstrofe

“Oh! Deus, perdoe este pobre coitado / Que de joelhos rezou um bocado / Pedindo pra chuva cair
sem parar” (Súplica Cearense — Luiz Gonzaga)

Trata-se da figura utilizada para invocação ou chamamento. Também é usada para indicar surpresa,
indignação ou outro sentimento. Um exemplo muito comum é a expressão “minha Nossa Senhora!”, usada
quando alguém se espanta com algo.

29. Alusão

“Eles estavam apaixonados como Romeu e Julieta.”

A alusão é um recurso utilizado para fazer referência ou citação, relacionando uma ideia a outra — o
que pode ocorrer de forma explícita ou não. Ao fazer referência a um acontecimento, pessoas, personagens
ou outros trabalhos, a alusão ajuda no entendimento da ideia que se deseja passar.
No caso do exemplo acima, o objetivo é explicar tamanha paixão que uma pessoa sente pela outra.

30. Quiasmo

“Cheguei. Chegaste / Tu vinhas fatigada e triste / e triste e fatigado eu vinha.” (No Meio do
Caminho — Olavo Bilac)

O quiasmo ocorre quando existe um cruzamento de palavras (ou expressões), fazendo com que elas
se repitam. Geralmente é usado para enfatizar algum feito. Um bom exemplo de como ele é usado no dia a
dia: “Ele quase não sai. Vai de casa para o trabalho, do trabalho para casa.”.

Figuras sonoras

31. Cacofonia

“Alma minha gentil, que te partiste / Tão cedo desta vida descontente, / Repousa lá no Céu
eternamente, / E viva eu cá na terra sempre triste” (Luís de Camões)

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Na cacofonia, a junção de duas palavras (as últimas sílabas de uma + as sílabas iniciais da outra)
pode tornar o som diferente e criar um novo significado — ela é percebida ao falar, com o som fazendo
parecer algo diferente do que realmente foi dito.
Nos versos acima, a cacofonia acontece logo no início: “alma minha“. Veja alguns exemplos de
cacofonia que podemos produzir até mesmo sem perceber no dia a dia:

 “eu beijei a boca dela“ (cadela);


 “a prova valia 5 pontos, um por cada acerto” (porcada);
 “ela tinha uma saia longa” (latinha);
 “vou te dar uma mão nessa tarefa” (mamão).

32. Onomatopeia

“Passa, tempo, tic-tac / Tic-tac, passa, hora / Chega logo, tic-tac / Tic-tac, e vai-te embora” (O
Relógio — Vinícius de Moraes)

A onomatopeia é um recurso utilizado com o objetivo de reproduzir um barulho, som ou ruído. É


muito usada em histórias. No trecho do poema acima, a onomatopeia “tic-tac” se refere ao barulho que o
relógio faz.

33. Aliteração

“Lá vem o pato / Pata aqui, pata acolá / Lá vem o pato / Para ver o que é que há” (O Pato —
Vinícius de Moraes)

Aliteração é quando se faz a repetição do som de uma consoante na mesma frase. É usada para dar
ênfase ao texto e para criar trava-línguas. Ela tem a sonoridade como base, o que ajuda a ditar o ritmo.

Exemplos bem conhecidos de aliteração:

 “o rato roeu a roupa do rei de Roma”;


 “quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

34. Assonância

A assonância é parecida com a aliteração, mas ocorre quando existe a repetição da vogal tônica ou de
sílabas com as mesmas consoantes e vogais distintas. Como no exemplo a seguir, em que há repetição das
mesmas consoantes com vogais diferentes:

“É a moda / da menina muda / da menina trombuda / que muda de modos / e dá medo” (Moda da
Menina Trombuda — Cecília Meireles)

Apesar de não estarem restritos à oralidade, os recursos sonoros em textos escritos podem complicar
um pouco mais a compreensão do texto, por isso, não são tão aproveitados.

35. Paronomásia

“Enquanto é tão cedo / Tão cedo / Enquanto for… um berço meu / Enquanto for… um terço meu /
Serás vida… bem-vinda / Serás viva… bem viva / Em mim” (Realejo — O Teatro Mágico)

Consiste no uso de palavras iguais ou com sons semelhantes, mas que têm sentidos diferentes. Um
exemplo de como ela é utilizada no cotidiano é o velho provérbio “quem casa, quer casa”, no qual a mesma
palavra diz respeito ao casamento e à moradia.

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Referências Bibliográficas

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COUTINHO, I. L. Gramática histórica. 7. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 2006.

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GONÇALVES, C.A. Morfologia. São Paulo: Parábola Editorial, 2019. (Série Linguística para o Ensino
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JUNIOR, L.C.P. Concretas palavras. Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento, 2006, p. 16.

MARTELOTTA, M.E. Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2011.

SARMENTO, Leila L. Gramática em Textos. São Paulo: Moderna, 2005.

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Exercícios de treinamento

1. Indique as alternativas que apresentam a figura a) Ele é simplesmente um deus grego.


de linguagem personificação, também chamada de b) Ele é bonito como um deus grego.
prosopopeia. c) Suas palavras são doces da minha infância.
d) Age como um burro!
a) as pedras humilham e) Aquele homem é um burro.
b) os confetes festejam 6. I. "À custa de muitos trabalhos, de muitas
c) os diários contam segredos fadigas, e sobretudo de muita paciência..."
d) os copos celebram as alegrias II. "... se se queria que estivesse sério, desatava a
e) a floresta clama por piedade rir..."
III. "... parece que uma mola oculta o impelia..."
2. Identifique as figuras de linguagem nas orações IV. "... e isto (...) dava em resultado a mais
abaixo: refinada má-criação que se pode imaginar."
Quanto às figuras de linguagem, há neles,
a) O Velho Chico ocupa cerca de 8% do território respectivamente,
brasileiro.
b) Aquele tum-tum do seu coração aumentava a) gradação, antítese, comparação e hipérbole
cada vez que se aproximava da pretendente. b) hipérbole, paradoxo, metáfora e gradação
c) “Chove chuva, chove sem parar.” (Jorge Ben c) hipérbole, antítese, comparação e paradoxo
Jor) d) gradação, antítese, metáfora e hipérbole
d) A mim me enganou só uma vez. e) gradação, paradoxo, comparação e hipérbole
e) Sou um passarinho com desejo de voar.
7. Assinale dentre as alternativas abaixo, aquela
3. Indique a alternativa correta. em que o uso da vírgula marca a supressão
(elipse) do verbo:
a) Antítese e paradoxo são dois nomes para a
mesma figura de linguagem, a que utiliza ideias a) Ao vencido, ódio ou compaixão, ao vencedor,
contrárias. as batatas.
b) Aliteração, paronomásia, assonância e b) A paz, nesse caso, é a destruição (…)
onomatopeia são figuras de sintaxe. c) Daí a alegria da vitória, os hinos, as
c) As figuras de linguagem são classificadas em: aclamações, recompensas públicas e todos os
figuras de palavras, figuras de pensamento, figuras demais efeitos das ações bélicas.
morfológicas e figuras de som. d) (…) mas, rigorosamente, não há morte (…)
d) Aliteração é a repetição de sons vocálicos. e) Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações
e) Este é um exemplo de metonímia: “Parece que não chegariam a dar-se (…)
temos um Pavarotti”.
4. Qual das orações abaixo apresenta uma 8. Nos versos
perífrase, também chamada de antonomásia?
“E se encorpando em tela, entre todos,
a) Saia já para fora! se erguendo tenda, onde entrem todos,
b) Foi salvo pelo melhor amigo do homem. se entretendendo para todos, no toldo…”
c) “É o pau, é a pedra, é o fim do caminho” (Tom tem-se exemplo de
Jobim)
d) Escreveu, não leu; o pau comeu. a) eufemismo
e) Não aguentava mais aquele buá-buá nos meus b) antítese
ouvidos. c) aliteração
d) silepse
5. Indique em quais alternativas foram usadas e) sinestesia
metáforas e em quais foram usadas comparações.

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9. A catacrese, figura que se observa na frase 12. Na frase: "O pessoal estão exagerando, me
“Montou o cavalo no burro bravo”, ocorre em: disse ontem um camelô", encontramos a figura de
linguagem chamada:
a) Os tempos mudaram, no devagar depressa do
tempo. a) silepse de pessoa
b) Última flor do Lácio, inculta e bela, és a um b) elipse
tempo esplendor e sepultura. c) anacoluto
c) Apressadamente, todos embarcaram no trem. d) hipérbole
d) Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas e) silepse de número
de Portugal.
e) Amanheceu, a luz tem cheiro. 13. Cada frase abaixo possui uma figura de
linguagem. Assinale aquela que não está
10. Assinalar a alternativa correta, com relação às classificada corretamente:
figuras de linguagem, presentes nos fragmentos a
seguir: a) O céu vai se tornando roxo e a cidade aos
poucos agoniza. (prosopopeia)
I. “Não te esqueças daquele amor ardente que já b) "E ele riu frouxamente um riso sem alegria".
nos olhos meus tão puros viste.” (pleonasmo)
II. “A moral legisla para o homem; o direito, para c) Peço-lhe mil desculpas pelo que aconteceu.
o cidadão.” (metáfora)
III. “A maioria concordava nos pontos essenciais; d) "Toda vida se tece de mil mortes." (antítese)
nos pormenores porém, discordavam.” e) Ele entregou hoje a alma a Deus. (eufemismo)
IV. “Isaac a vinte passos, divisando a vulto de um,
para, ergue a mão em viseira, firma os olhos.” 14. No trecho: “…dão um jeito de mudar o
mínimo para continuar mandando o máximo”, a
a) anacoluto, hipérbato, hipálage, pleonasmo figura de linguagem presente é chamada:
b) hipérbato, zeugma, silepse, assíndeto
c) anáfora, polissíndeto, elipse, hipérbato a) metáfora
d) pleonasmo, anacoluto, catacrese, eufemismo b) hipérbole
e) hipálage, silepse, polissíndeto, zeugma c) hipérbato
d) anáfora
11. Leia estes versos: e) antítese

“As ondas amarguradas 15. "Seus óculos eram imperiosos." Assinale a


Encostam a cabeça nas pedras do cais. alternativa em que aparece a mesma figura de
Até as ondas possuem linguagem que há na frase acima:
Uma pedra para descansar a cabeça.
Eu na verdade possuo a) "As cidades vinham surgindo na ponte dos
Todas as pedras que há no mundo, nomes."
Mas não descanso”. b) "Nasci na sala do 3° ano."
c) "O bonde passa cheio de pernas."
(Murilo Mendes) d) "O meu amor, paralisado, pula."
e) "Não serei o poeta de um mundo caduco."
A figura de linguagem que ocorre nos versos 5 e 6
é: 16. Cidade grande

a) metáfora Que beleza, Montes Claros.


b) sinédoque Como cresceu Montes Claros.
c) hipérbole Quanta indústria em Montes Claros.
d) aliteração Montes Claros cresceu tanto,
e) anáfora ficou urbe tão notória,
prima-rica do Rio de Janeiro,

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que já tem cinco favelas a) "Um dia hei de ir embora / Adormecer no
por enquanto, e mais promete. derradeiro sono." (eufemismo)
b) "A neblina, roçando o chão, cicia, em prece.
(Carlos Drummond de Andrade) (prosopopeia)
c) Já não são tão frequentes os passeios noturnos
Entre os recursos expressivos empregados no na violenta Rio de Janeiro. (silepse de número)
texto, destaca-se a d) "E fria, fluente, frouxa claridade / Flutua..."
(aliteração)
a) metalinguagem, que consiste em fazer a e) "Oh sonora audição colorida do aroma."
linguagem referir-se à própria linguagem. (sinestesia).
b) intertextualidade, na qual o texto retoma e
reelabora outros textos. 20. Nos trechos: "...nem um dos autores nacionais
c) ironia, que consiste em se dizer o contrário do ou nacionalizados de oitenta pra lá faltava nas
que se pensa, com intenção crítica. estantes do major" e "...o essencial é achar-se as
d) denotação, caracterizada pelo uso das palavras palavras que o violão pede e deseja" encontramos,
em seu sentido próprio e objetivo. respectivamente, as seguintes figuras de
e) prosopopeia, que consiste em personificar linguagem:
coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.
a) prosopopeia e hipérbole
17. Nos versos: b) hipérbole e metonímia
c) perífrase e hipérbole
“Bomba atômica que aterra d) metonímia e eufemismo
Pomba atônita da paz e) metonímia e prosopopeia.
Pomba tonta, bomba atômica...”
21. Na frase "O fio da ideia cresceu, engrossou e
A repetição de determinados elemento fônicos é partiu-se" ocorre processo de gradação. Não há
um recurso estilístico denominado: gradação em:

a) hiperbibasmo a) O carro arrancou, ganhou velocidade e capotou.


b) sinédoque b) O avião decolou, ganhou altura e caiu.
c) metonímia c) O balão inflou, começou a subir e apagou.
d) aliteração d) A inspiração surgiu, tomou conta de sua mente
e) metáfora e frustrou-se.
e) João pegou de um livro, ouviu um disco e saiu.
18. Nos versos abaixo, uma figura se ergue graças
ao conflito de duas visões antagônicas: 22. As figuras de linguagem são usadas como
recursos estilísticos para dar maior valor
“Saio do hotel com quatro olhos, expressivo à linguagem.
- Dois do presente,
- Dois do passado.” No seguinte trecho “Tu és a chuva e eu sou a terra
[...]” predomina a figura, denominada:
Esta figura de linguagem recebe o nome de:
a) onomatopeia
a) metonímia b) hipérbole
b) catacrese c) metáfora
c) hipérbole d) catacrese
d) antítese e) sinestesia
e) hipérbato
23. Morro da Babilônia
19. Em qual das opções há erro de identificação
das figuras? À noite, do morro
descem vozes que criam o terror
(terror urbano, cinquenta por cento de cinema,

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e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na a) estimulam a imaginação.
língua b) permitem ver as estrelas.
Geral). c) são iluminadas pelo Néon.
d) se opõem à tristeza das estrelas.
Quando houve revolução, os soldados e) revelam a realidade como espelhos.
espalharam no morro,
o quartel pegou fogo, eles não voltaram. 25. Assinale a alternativa que indica a correta
Alguns, chumbados, morreram. sequência das figuras encontradas nas frases
O morro ficou mais encantado. abaixo.

Mas as vozes do morro O bom rapaz buscava, no fim do dia, negociar


não são propriamente lúgubres. com os traficantes de drogas.
Há mesmo um cavaquinho bem afinado Naquele dia, o presidente entregou a alma a Deus.
que domina os ruídos da pedra e da folhagem Os operários sofriam, naquela mina, pelo frio em
e desce até nós, modesto e recreativo, julho e pelo calor em dezembro.
como uma gentileza do morro. A população deste bairro corre grande risco de ser
soterrada por esta montanha de lixo.
(Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do A neve convidava os turistas que, receosos, a
mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, olhavam de longe.
p.19.)
a) Ironia, eufemismo, antítese, hipérbole,
No poema “Morro da Babilônia”, de Carlos prosopopeia
Drummond de Andrade, b) Reticências, retificação, gradação, apóstrofe,
ironia
a) a menção à cidade do Rio de Janeiro é feita de c) Antítese, hipérbole, personificação, ironia,
modo indireto, metonimicamente, pela referência eufemismo
ao Morro da Babilônia. d) Gradação, apóstrofe, personificação,
b) o sentimento do mundo é representado pela reticências, retificação
percepção particular sobre a cidade do Rio de e) Ironia, eufemismo, antítese, apóstrofe, gradação
Janeiro, aludida pela metáfora do Morro da
Babilônia. 26. Em uma grande concessionária de São Paulo
c) o tratamento dado ao Morro da Babilônia leu-se a seguinte chamada: “Queima total de
assemelha-se ao que é dado a uma pessoa, o que seminovos”. A mesma estratégia foi utilizada em
caracteriza a figura de estilo denominada uma chamada de um grande hipermercado, em
paronomásia. que se podia ler: “Grande queima de colchões”.
d) a referência ao Morro da Babilônia produz, no Acerca dos sentidos criados por essas chamadas, é
percurso figurativo do poema, um oxímoro: a apropriado afirmar que
relação entre terror e gentileza no espaço urbano.
a) em ambas há uma utilização da linguagem em
25. POÇAS D’ÁGUA seu sentido estritamente literal.
b) apenas em uma delas a linguagem foi utilizada
As poças d´água são um mundo mágico em seu sentido estritamente literal.
Um céu quebrado no chão c) em ambas o sentido é metafórico e é apreendido
Onde em vez de tristes estrelas pela associação com o contexto.
Brilham os letreiros de gás Néon. d) em ambas o sentido é metafórico e é
apreendido apenas pelas regras gramaticais.
(Mario Quintana, Preparativos de viagem, São e) em ambas o sentido é metafórico e não pode ser
Paulo, Globo, 1994.) apreendido porque é incoerente.

Levando-se em conta o texto como um todo, é 27. Em “Quanto à Laura, ficou claro que sua
correto afirmar que a metáfora presente no maldade tem proporções oceânicas”, a figura de
primeiro verso se justifica porque as poças linguagem presente é

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a) uma metáfora, já que compara a maldade com o
oceano.
b) uma hipérbole, pois expressa a ideia de uma
maldade exagerada.
c) um eufemismo, já que não afirma diretamente o
quanto há de maldade.
d) uma ironia, pois se reconhece a maldade, mas
ficam pressupostos outros sentidos.
e) um pleonasmo, já que entre maldade e
oceânicas há uma repetição de sentido.

28. Quando você afirma que enterrou “no dedo


um alfinete”, que embarcou “no trem” e
que serrou “os pés da mesa”, recorre a um tipo de
figura de linguagem denominada:

a) metonímia
b) antítese
c) paródia
d) alegoria
e) catacrese

29. Assinale a alternativa em que o autor NÃO


utiliza prosopopeia.

a) “Quando essa não-palavra morde a isca, alguma


coisa se escreveu.” (Clarice Lispector)
b) “As palavras não nascem amarradas, elas
saltam, se beijam, se dissolvem…” (Drummond)
c) “A poesia vai à esquina comprar jornal”.
(Ferreira Gullar)
d) “A luminosidade sorria no ar: exatamente isto.
Era um suspiro do mundo.” (Clarice Lispector)
e) “Meu nome é Severino, Não tenho outro de
pia”. (João Cabral de Melo Neto)

30. Apenas uma das alternativas apresenta


sinestesia. Indique qual.

a) Adorava aquele som doce entrando pela janela.


b) A noite adormece cansada.
c) Aquele cocóricó ensurdecedor de todas as
manhãs irritava qualquer um.
d) Se você voltar, se você me quiser, se você
deixar, eu posso mudar.
e) Entra pra dentro agora ou vou aí te buscar com
o chinelo na mão!

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Gabarito comentado: - “parecia uma mola oculta”; Hipérbole, porque
exagera de forma intencional “a mais refinada má-
1. Todas as alternativas, porque em todas elas são criação”.
atribuídas ações humanas (humilham, festejam,
contam, celebram, clama) a seres irracionais 7. Letra A. Na frase acima é possível identificar
(pedras, confetes, diários, copos, floresta). facilmente a omissão de algo como “seja
dado/sejam dadas”. Assim, a frase completa, ou
seja, sem a utilização da figura de linguagem
2. a) Antonomásia, porque “Velho Chico” elipse, seria: “Ao vencido, seja dado ódio ou
substitui o nome do Rio São Francisco. b) compaixão, ao vencedor, sejam dadas as batatas.”.
Onomatopeia, porque “tum-tum imita o batimento
cardíaco. c) Aliteração, porque há a repetição do 8. Letra C. Aliteração é a repetição de sons
som consonantal “ch”. d) Pleonasmo, porque a consonantais, tal como se verifica nos versos
ideia da primeira pessoa (mim, me) para acima em que o som do “t” se repete - tela, todos;
intensificar o significado da oração. e) Metáfora, tenda, todos; todos, toldo.
porque me compara a um passarinho em virtude
do meu desejo de voar. 9. Letra C. “Embarcar” é uma palavra que deriva
de barco, e significa entrar no barco, mas na
3. Letra E. Este é um exemplo de metonímia: ausência de termos específicos para eles, também
“Parece que temos um Pavarotti em casa”. A é usada para outros meios de transporte. Essa é a
metonímia é a figura de palavra que substitui uma função que caracteriza a catacrese, ou seja, usar
palavra por outra. Assim, “Pavarotti” substitui o uma palavra por não haver outra mais específica.
artista por “cantor lírico”. A oração poderia ser
escrita da seguinte forma: “Parece que temos um 10. Letra B. Hipérbato, porque a ordem da oração
cantor lírico em casa”. está alterada. A ordem direta seria: “... que já viste
nos meus olhos tão puros.” ("viste nos meus
4. Letra B. A antonomásia, também chamada de olhos", em vez de "nos olhos meus viste");
Perífrase, é a figura de palavra que substitui uma Zeugma, porque foi omitida a palavra “legisla”
palavra por outra(s) que a identifique. Neste caso, para evitar a repetição: “A moral legisla para o
“o melhor amigo do homem” substitui a palavra homem; o direito (legisla) para o cidadão.”;
“cão”. Silepse, porque o verbo “discordar” não está
concordando com a palavra “maioria” (como na
5. Letras A, C e E. As alternativas em que primeira oração “A maioria concordava...”), mas
constam metáforas são: a) Ele é simplesmente um com a ideia de que a palavra “maioria” traz de
deus grego. c) Suas palavras são doces da minha várias pessoas, ou seja: “a maioria discordavam
infância. e) Aquele homem é um burro. As nos pormenores” (a ideia implícita é "(pessoas)
alternativas em que constam comparações são: b) discordavam nos pormenores"); Assíndeto,
Ele é bonito como um deus grego. d) Age como porque não foram usados conectivos. Com
um burro! Metáfora e Comparação são figuras de conectivos, a oração poderia ficar assim: “Isaac a
linguagem que contém comparações. A diferença vinte passos, divisando a vulto de um, então, para,
entre ambas é que a Comparação é explícita, ergue a mão em viseira e firma os olhos.”.
porque nela são usados conectivos de comparação
(como, assim), tal como verificamos nas orações 11. Letra C. A hipérbole é uma figura de
das alternativas acima. pensamento que apresenta um exagero intencional
do autor para dar ênfase às expressões.
6. Letra D. Gradação, antítese, metáfora e Observamos a presença da ideia intensificada em
hipérbole. Gradação, porque as ideias se “todas as pedras que há no mundo”, porque é um
apresentam de forma progressiva “muitos exagero alguém dizer que tem todas essas pedras.
trabalhos, muitas fadigas, muita paciência”;
Antítese, porque utiliza termos com sentidos 12. Letra E. Na oração acima, o verbo “estar”
opostos “... que estivesse sério, desatava a rir...”; concorda com a ideia de número de pessoas que a
Metáfora, porque faz uma comparação sem palavra “pessoal” transmite: “O pessoal estão
utilizar conectivo de comparação - como, tal qual

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exagerando” em vez de "O pessoal está nacionalizados de oitenta pra lá faltava nas
exagerando". estantes do major", o que significa que o major
tem as obras desses autores, e não que os autores
13. Letra C. A alternativa está incorreta, porque a estão na sua estante. A prosopopeia é figura de
metáfora representa uma comparação, algo que linguagem em que qualidades humanas são
não está presente na oração acima. O recurso atribuídas a seres irracionais. Em "...o essencial é
estilístico utilizado é hipérbole, o qual se achar-se as palavras que o violão pede e deseja",
identifica na expressão “mil desculpas”, que é um está sendo atribuído ao violão a capacidade
exagero para explicar o quanto alguém sente pelo humana de pedir e de desejar algo.
que aconteceu e quer muito se desculpar.
21. Letra E. Na oração acima, não existe
14. Letra E. A presença de termos com sentidos sequência de uma mesma ideia que progride, mas
opostos, neste caso “mínimo e máximo”, é a sim ações diferentes conectadas num mesmo
marca característica da antítese. período.

15. Letra C. A figura de linguagem presente em 22. Letra C. A metáfora é a figura de linguagem
“óculos imperiosos” e “bonde cheio de pernas” é a em que existe comparação de palavras com
prosopopeia ou personificação, uma vez que em significados diferentes. Na metáfora, o termo
ambos os casos são atribuídas qualidades humanas comparativo não é usado explicitamente na frase,
a seres irracionais. tal como na comparação. Assim, na oração “Tu és
a chuva e eu sou a terra [...]”, chuva e terra são
16. Letra C. A ironia é uma figura de pensamento respectivamente comparados a tu e eu. Se fosse a
em que se expressa o oposto daquilo que se pensa. figura de linguagem utilizada fosse comparação, a
Assim, Drummond utiliza esse recurso estilístico oração seria: “Tu és como a chuva e eu
com a finalidade de criticar o desenvolvimento da sou como a terra [...]”.
cidade mineira Montes Claros.
23. Letra A. a menção à cidade do Rio de Janeiro
17. Letra D. Aliteração é uma figura de som cujo é feita de modo indireto, metonimicamente, pela
recurso é repetir sons consonantais, tais como b e referência ao Morro da Babilônia. Na metonímia,
p que constam nos versos acima em “bomba- considera-se a parte pelo todo. Assim, verificamos
pomba”. no poema de Drummond que “as vozes do morro”
refere-se às vozes das pessoas que vivem no
18. Letra D. A antítese consiste no recurso Morro da Babilônia e, logo, às pessoas que vivem
estilístico que utiliza termos com sentidos opostos no Rio de Janeiro, uma vez que o morro em
para dar mais ênfase à comunicação. Neste caso, referência localiza-se nessa cidade.
os termos “presente” e “passado” têm essa
intenção nos versos acima. 24. Letra A. A metáfora foi o recurso estilístico
utilizado para enfatizar a beleza dos versos.
19. Letra C. A figura utilizada nesta oração é Comparar poças d’água com um mundo mágico
silepse. No entanto, ela não está classificada leva as pessoas a imaginar o que quiserem ver a
corretamente, uma vez que se trata de uma silepse partir do reflexo de uma poça d’água.
de gênero, em que a palavra “cidade” está
subentendida, e por esse motivo o adjetivo 25. Letra A. Ironia, porque “bom rapaz” transmite
violenta está no feminino em vez de no masculino: ideia contrária daquilo que realmente se pensa
Já não são tão frequentes os passeios noturnos no acerca do rapaz; Eufemismo, porque “entregou a
violento Rio de Janeiro. Já não são tão frequentes alma a Deus” é uma forma mais branda de dizer
os passeios noturnos na violenta (cidade) Rio de que morreu; Antítese, porque utiliza termos com
Janeiro. sentidos opostos - frio e calor; Hipérbole, porque
exagera quando faz referência à quantidade de
20. Letra E. A metonímia é uma figura muito lixo - “montanha de lixo”; Prosopopeia, porque a
utilizada quando se fala no autor em vez de se neve não tem a capacidade humana de convidar
referir às suas obras. É o que acontece na oração turistas.
"...nem um dos autores nacionais ou
18
26. Letra C. em ambas o sentido é metafórico e é 29. Letra E. A palavra “nome” foi omitida pelo
apreendido pela associação com o contexto. A fato de já ter sido utiliza na primeira oração. Caso
ação de “queimar” é comparada à ação de não fosse omitida, soaria de forma repetitiva:
“liquidar”, ou seja, vender tudo, daí a utilização da “Meu nome é Severino, Não tenho outro nome de
metáfora, que é apropriada ao seu contexto. pia”. A omissão de uma palavra já utilizada na
mensagem é característica da figura de linguagem
27. Letra B. uma hipérbole, pois expressa a ideia conhecida como zeugma. A prosopopeia, por sua
de uma maldade exagerada. A figura de vez, caracteriza-se por atribuir capacidades
linguagem hipérbole consiste na transposição de humanas a seres irracionais, tal como constatamos
exagero à mensagem com um sentido intencional. nas restantes alternativas: a) “essa não-palavra
Assim, “proporções oceânicas” expressa a morde”, b) “as palavras se beijam”, c) “a poesia
gravidade da maldade da personagem da novela. vai comprar jornal” e d) “a luminosidade sorria”.

28. Letra E. A catacrese é utilizada quando 30. Letra A. A sinestesia é a figura de linguagem
recorremos a certas palavras por não haver outras em que as sensações não são percebidas pelos
específicas para falar sobre algo em determinado. órgãos de sentido esperados. Assim, nesta oração,
É o que acontece em: “enterrar o dedo”, uma vez audição (som) e paladar (doce) se confundem.
que enterrar significa colocar debaixo da terra;
“embarcar no trem”, uma vez que embarcar
significa entrar no barco.

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