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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ


CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

APOSTILA ZOOTECNIA GERAL

Hildeanne Rodrigues
Medicina Veterinária

Teresina
“Falar dos frutos sem lembrar as flores é fazer a história sem vivê-la”
A. A. Alves
2009
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

DISCIPLINA: 603.250 - Zootecnia Geral

PROFESSOR: Dr. Arnaud Azevêdo Alves

TÓPICO: INTRODUÇÃO À ZOOTECNIA

1. EVOLUÇÃO DA ZOOTECNIA COMO ARTE E COMO CIÊNCIA

1.1 Zootecnia como arte

As evidências acumuladas durante os últimos anos indicam que a agricultura


provavelmente teve suas origens no Oriente Médio, embora, ao contrário do que se supunha, não
nos vales férteis da Mesopotâmia, que se tornariam centros importantes da primitiva civilização,
mas sim nas regiões montanhosas e semi-áridas próximas. Datas determinadas para foices de
sílex e moinhos de pedras lá descobertos indicam que antes de 8.000 anos a.C. o homem
provavelmente começou a colher grãos naturais e há provas de que, cerca de mil anos depois, já
cultivava esses grãos e possuía animais domésticos (Heiser Júnior, 1977).
Segundo Domingues (1981), uma das primeiras realizações do homem primitivo foi
criar animais, concomitante ao cultivo dos vegetais, quando deixou de ser nômade (caçador e
pescador) e se tornou sedentário, passando a ser pastor e agricultor. Isto na idade da Pedra Polida,
cerca de 7.000 anos a.C.
Inicialmente, o homem criou animais para satisfazer seu totemismo (zoolatria), em
seguida, com a indisponibilidade de alimentos espontâneos próximos às aldeias, passou a utilizá-
los como alimento e, por último, com os rigores climáticos ou intempéries, para proteção.

1.2 Zootecnia como ciência

A distinção formal entre o cultivo de vegetais e a criação de animais se deu em 1844,


quando o Conde Adrien de Gasparin publicou o livro "Cours d'Agriculture", separando
definitivamente o estudo dos vegetais cultivados do dos animais criados pelo homem. O estudo
do cultivo dos vegetais já era conhecido com o nome de Agricultura. Para o estudo da criação dos
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animais domésticos, o autor propôs o termo “Zootechnie”, do grego: zoon = animal, e technê =
arte.
Em 1848, com a instalação do Instituto Agronômico de Versailles, em Paris, foi adotada
a distinção proposta pelo Conde Adrien de Gasparin e para o ensino teórico da exploração dos
animais domésticos foi estabelecida a Cátedra de Zootecnia.
A Zootecnia como ciência surgiu em 1849, na França, com a aprovação de uma tese
apresentada pelo naturalista Emile Baudement em concurso para a Cátedra de Zootecnia do
Instituto Agronômico de Versailles, ao tornar-se o primeiro docente de Zootecnia. Nesta tese, foi
estabelecido o princípio teórico que consiste em considerar o animal doméstico como uma
máquina viva transformadora e valorizadora dos alimentos, constituindo-se no fundamento de
todos os conhecimentos zootécnicos. Assim, constata-se que a arte de criar é remota, enquanto a
ciência de criar surgiu há um pouco mais de um século e meio.
No sentido de melhor conhecimento da Zootecnia, recomenda-se recorrer ao vasto
volume de fontes bibliográficas, desde aquelas pioneiras, como os livros Introdução à Zootecnia e
Elementos de Zootecnia Tropical, de autoria do professor Octávio Domingues, grande
responsável pela consolidação da Zootecnia no Brasil, às mais atuais, que apresentam uma visão
atualizada da evolução da Zootecnia no Brasil, incluindo-se Ferreira e Pinto (2000), Fonseca
(2001) e Miranda (2001), sendo recomendado ainda o conhecimento da História da Sociedade
Brasileira de Zootecnia, segundo Peixoto (2001).

2. CONCEITOS, OBJETIVOS, CLASSIFICAÇÃO, IMPORTÂNCIA E RELAÇÃO DA


ZOOTECNIA COM OUTRAS CIÊNCIAS

Em 1929, o Professor Octavio Domingues definiu Zootecnia como a ciência aplicada


que estuda e aperfeiçoa os meios de promover a adaptação econômica do animal ao ambiente
criatório e deste ambiente ao animal.
A Zootecnia tem como objeto de estudo o animal doméstico e visa o perfeito
conhecimento deste e dos demais fatores envolvidos no seu processo produtivo, sempre visando
alto grau de especialização.
Com relação ao alto grau de especialização, o animal mais produtivo não é o mais
aperfeiçoado no sentido geral ou o mais especializado em determinada função produtiva. A
"máquina viva" mais perfeita, capaz de oferecer maior retorno econômico, é aquela que está
adaptada às condições de criação e exploração.
Quando se busca alto grau de especialização em determinado animal, dois princípios
devem ser considerados:
• A especialização não deve acarretar desequilíbrio fisiológico no animal;
• O animal adaptado às condições de criação e exploração não deve sofrer
comprometimento das características adaptativas.
Para fins didáticos, a Zootecnia é subdividida em Zootecnia Geral e Zootecnia Especial.
Em Zootecnia Geral, os animais domésticos são considerados como seres vivos que
evoluíram e apresentam características de natureza étnica e zootécnica, influenciando-se por
fatores ambientais de ordem natural ou artificial e que se reproduzem sujeitos às leis da
hereditariedade, portanto, capazes de sofrer melhoramento genético.
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Em Zootecnia Especial, são estudados processos e regimes de criação, variáveis com a
finalidade da exploração e o destino dos produtos, com a qualidade dos animais a multiplicar, e
com as potencialidades do ambiente criatório. Assim, surge a Zootecnia de cada espécie
doméstica, cada uma com sua denominação particular: bovinocultura, equideocultura,
bubalinocultura, ovinocultura, caprinocultura, suinocultura, apicultura, sericicultura, piscicultura,
avicultura, etc., ou mesmo, daquelas que, embora não ainda consideradas domésticas, sejam
exploradas racionalmente, como por exemplo, a ranicultura, ou criação de rãs; a carcinicultura,
ou criação de crustáceos; a minhocultura, ou criação de minhocas, etc.
A Zootecnia como ciência investiga, por meio da observação e da experimentação, os
fenômenos biológicos aos quais estão sujeitos os animais domésticos, em determinado ambiente
natural ou artificial. Entretanto, não se trata de uma ciência pura, sendo dependente de outras
ciências para desenvolver-se. Portanto, além do conhecimento individual, proporcionado pela
Anatomia e Fisiologia Animal, a Zootecnia se fundamenta em ciências auxiliares quando da
adaptação, alimentação, melhoramento e sanidade animal, gerenciamento da produção e
tecnologia de alimentos, destacando-se:
• Na Adaptação: Climatologia (Zooclimatologia e Bioclimatologia), Etologia;
• Na Alimentação: Nutrição (Bromatologia), Forragicultura, Botânica,
Bioquímica, Química e Edafologia;
• No Melhoramento Genético Animal: Genética, Estatística, Bioestatística,
Matemática e Informática;
• Na Sanidade: Medicina Veterinária;
• No Gerenciamento da Produção: Economia e Administração;
• Na Tecnologia de Alimentos: Engenharia de Alimentos.

Para o perfeito exercício das atividades na área de Zootecnia, exige-se identidade


profissional, determinada pelo Núcleo de Conteúdos Profissionais Essenciais, integrando as
subáreas de conhecimento que identificam atribuições, deveres e responsabilidades, segundo
Fonseca (2001), assim constituído:
● Anatomia Descritiva dos Animais Domésticos;
● Bioclimatologia Zootécnica;
● Biotecnologia Animal;
● Bromatologia;
● Comunicação e Extensão Rural;
● Construções Rurais;
● Economia e Administração Agrária;
● Ética e Legislação;
● Ezoognósia e Julgamento Animal;
● Fisiologia Animal;
● Pastagens e Forragicultura;
● Genética e Melhoramento Animal;
● Gestão de Recursos Ambientais;
● Gestão Empresarial e Marketing;
● Industrialização de Produtos de Origem Animal;
● Instalações e Equipamentos Zootécnicos;
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● Mecânica e Máquinas Agrícolas;
● Meteorologia e Climatologia Agrícola;
● Microbiologia Zootécnica;
● Nutrição, Alimentação e Formulação de Rações;
● Política e Desenvolvimento Agrário;
● Produção Animal;
● Profilaxia e Higiene Zootécnica;
● Reprodução Animal;
● Sociologia Rural;
● Solos e Nutrição de Plantas;
● Técnicas e Análises Experimentais.

3. A SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA (SBZ) E A CONSOLIDAÇÃO DA


ZOOTECNIA NO BRASIL

A idéia da fundação da SBZ amadureceu durante a Exposição de Animais de Uberaba,


em 1951, quando os zootecnistas presentes incubiram seus colegas de Piracicaba a promoverem a
I Reunião Brasileira de Zootecnia, a ser realizada naquela cidade como homenagem ao
qüinquagésimo aniversário da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ). O
período escolhido foi de 26 a 28 de julho de 1951, coincidindo com a Exposição Nacional de
Animais que, naquele ano, se realizaria em São Paulo (Peixoto, 2001).
O professor Octavio Domingues, engenheiro agrônomo graduado pela ESALQ, foi o
primeiro presidente da SBZ, tendo conduzido os destinos da Sociedade de 1951 a 1968. Além
dessa laboriosa tarefa, segundo o professor Aristeu Mendes Peixoto (2001), coube ao Professor
Octavio Domingues o mérito de uma doutrinação tenaz e persistente para imprimir novo sentido
aos estudos zootécnicos no Brasil, defendendo a organização de cursos de Zootecnia equiparados
aos de Engenharia Agronômica e de Medicina Veterinária, numa época em que a discussão do
assunto constituía um verdadeiro tabu. Sob a égide da SBZ e a inspiração do professor Octavio
Domingues, o primeiro currículo acadêmico para um curso de Zootecnia foi proposto em 1953, o
qual veio a servir de orientação para os cursos de Zootecnia que surgiram no Brasil a partir de
1966, quando se instalou em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, a primeira faculdade de
Zootecnia.
A Sociedade Brasileira de Zootecnia, no ano de 2000, contava com 1697 sócios,
consistindo em uma Sociedade Científica com os seguintes objetivos:
● Promover intercâmbio entre os zootecnistas brasileiros e os
estrangeiros, favorecendo as relações profissionais e de amizade;
● Promover reuniões anuais na sede da SBZ ou em outro local a critério
da Diretoria;
● Promover reuniões extraordinárias, congressos, conferências ou
convenções, nacionais ou internacionais, sobre qualquer assunto da zootecnia e a
participação da Sociedade em reuniões promovidas por outras entidades congêneres;
● Levar ao conhecimento de todos os associados, por meio de
publicação sistemática, os trabalhos realizados por seus membros, mesmo que na
forma de resumo;
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● Organizar Comissões especializadas, entre seus membros, para estudar
assuntos técnicos de interesse da economia nacional;
● Envidar esforços para o aperfeiçoamento da pecuária no País, por meio
do ensino, da pesquisa e da extensão.
Constituem publicações periódicas da Sociedade Brasileira de Zootecnia:
● Anais das Reuniões Anuais da SBZ;
● Revista Brasileira de Zootecnia (disponível na Biblioteca Setorial do
CCA/UFPI).
Para conhecimento da Sociedade Brasileira de Zootecnia e de suas publicações, acesse o
Site da SBZ:
● http://www.sbz.org.br
A Sociedade Brasileira de Zootecnia realizará sua 44ª Reunião Anual, em Jaboticabal,
SP, no ano de 2007, em parceria com a Universidade Estadual Paulista – (UNESP), sob a
Presidência do Prof. Dr. Kleber Tomás de Resende.
A representação da Sociedade Brasileira de Zootecnia no Estado do Piauí, encontra-se
no Departamento de Zootecnia do CCA/UFPI, tendo como Diretor Estadual o Professor Doutor
João Batista Lopes (lopesjb@uol.com.br).

***CONHEÇA O ESTATUTO DA SBZ E SEJA MAIS UM

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5. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

DOMINGUES, O. Elementos de Zootecnia Tropical. 5. ed. São Paulo: Nobel, 1981.


143p.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS
(FAO/FAOSTAT). FAO Statistical Databases. Disponível em: http://faostat.fao.org/
Acesso em Fevereiro/2005.
FERREIRA, A.S.; PINTO, R. Formação do Zootecnista para o Próximo Milênio. In:
NASCIMENTO JÚNIOR, D.; LOPES, P.S.; PEREIRA, J.C. Anais dos Simpósios da
XXXVII Reunião Anual da SBZ. Viçosa: SBZ, 2000. 325 P., p. 339-352.
FONSECA, J.B. O ensino da Zootecnia no Brasil: dos primórdios aos dias atuais. In:
MATTOS, W. R. S. et al. (Ed.). A Produção Animal na Visão dos Brasileiros.
Piracicaba: FEALQ, 2001. 927 p., p. 15-39.
HEISER JÚNIOR, C.B. Sementes para a civilização. São Paulo: Nacional, 1977. 253 p,
Cap.4, p.42-69.
IBGE. Diretoria de Pesquisas, Departamento de Agropecuária, Pesquisa da Pecuária
Municipal. Anuário Estatístico do Brasil, 2006.
MIRANDA, R.M. Cinqüenta anos de pesquisa zootécnica no Brasil. In: MATTOS, W.
R. S. et al. (Ed.). A Produção Animal na Visão dos Brasileiros. Piracicaba: FEALQ,
2001. 927 p., p. 40-88.
PEIXOTO, A.M. História da Sociedade Brasileira de Zootecnia. 3.ed. Piracicaba: SBZ,
2001. 202p.

ESTUDO DIRIGIDO

• Relatar sobre a evolução e características da Zootecnia como arte, especificando


fatos e local;
• Relatar sobre a evolução e características da Zootecnia como ciência, especificando
fatos, local e responsáveis pela estabilização da Zootecnia como ciência aplicada;
• Apresentar uma discussão sobre o conceito de Zootecnia elaborado pelo professor
Octavio Domingues, destacando seus pontos principais;
• Identificar as limitações do estabelecimento do alto grau de especialização do animal
doméstico;
• Apresentar a divisão didática da Zootecnia com respectivas definições;
• Considerando a Zootecnia como uma ciência aplicada, apresentar um problema de
interesse zootécnico e levantar hipóteses para elaboração de uma minuta de projeto
para solução com base no Método Científico;
• Identificar as grandes áreas de atuação na Zootecnia e apresentar ciências auxiliares à
solução de problemas nestas áreas;
• À luz das atribuições profissionais do seu curso (Engenharia Agronômica), traçar um
paralelo entre estas atribuições e as atividades do Zootecnista;

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• Identificar a importância e papel da Sociedade Brasileira de Zootecnia para a
estabilização da Zootecnia no Brasil como atividade produtiva e como ciência;
• A partir de um artigo publicado na Revista Brasileira de Zootecnia, identificar à luz
do Método Científico o problema de pesquisa, os objetivos, hipóteses, metodologia,
principais resultados de impacto na produção animal e conclusões. O que pode ser
sugerido como pesquisa na área em que foi conduzido o experimento, para as
condições do Estado do Piauí.
• Tecer comentários acerca dos efetivos dos principais rebanhos brasileiros de
expressão econômica em relação aos demais países e das regiões e Estados do Brasil,
com ênfase para a Região e Estado onde pretende exercer atividades profissionais.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

DISCIPLINA: 603-250 - Zootecnia Geral

PROFESSOR: Dr. Arnaud Azevêdo Alves

TÓPICO: CLASSIFICAÇÃO ZOOTÉCNICA

1. ESPÉCIE

O conceito de espécie é artificial. Devido à necessidade de agrupar


indivíduos, determinou-se que espécie corresponde ao "conjunto de indivíduos do
mesmo gênero, descendentes uns dos outros, com caracteres semelhantes
hereditariamente transmissíveis, e separados de outros grupos específicos por
infecundidade ou por separação geográfica".

Bases para o estabelecimento do conceito de espécies:


●CRITÉRIO DA MORFOLOGIA E DA FISIOLOGIA (M): Baseado nas
diferenças morfológicas e fisiológicas entre os diferentes grupos
específicos;
●CRITÉRIO DA ECOLOGIA E DA DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA (E):
Baseado nas diferentes reações adaptativas dos indivíduos das diversas
espécies;
●CRITÉRIO DA FECUNDIDADE INTERIOR E DA INFERTILIDADE
EXTERIOR (I): Baseado no fato de que os indivíduos de uma mesma
espécie são fecundos entre si e infecundos com indivíduos de outras
espécies.

Diante destes critérios, seria denominada espécie legítima aquela que apresentasse
fórmula MEI, entretanto, como na natureza nem sempre é possível ocorrência destes
três critérios, admite-se como espécie distinta de uma outra qualquer, aquele grupo de
indivíduos que satisfizer a pelo menos dois desses critérios. Dessa forma, as espécies
bovinas Bos taurus e Bos indicus são consideradas diferentes por apresentarem fórmula
ME.
Quanto à distribuição geográfica, as espécies podem ser classificadas em:
• SIMPÁTRIDAS: Espécies que convivendo em um mesmo território se mantêm
infecundas. Ex.: Bubalus bubalis e Bos sp.
• ALOPÁTRIDAS: Espécies diferentes quanto ao isolamento ecológico. Ex.: Os
hemípteros Notonecta glauca e Notonecta furcata são infecundos no norte e fecundos
no sul do continente europeu.

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2. RAÇA

Raça é definida como agrupamento de animais de mesma espécie e origem,


com caracteres morfológicos, fisiológicos e econômicos comuns e transmissíveis
hereditariamente sob condições ambientais e de exploração ideais.
Segundo DECHAMBRE, raça é definida como certo número de animais da
mesma espécie, vivendo em condições semelhantes, com a mesma aparência exterior, as
mesmas qualidades produtivas, cujos caracteres reaparecem em seus descendentes tal
como existiam em seus antepassados.
A existência oficial de uma raça requer um "padrão racial" e um "livro
genealógico", o primeiro elaborado e o segundo mantido pela Associação de Criadores
da Raça.
A separação das raças, em geral, é feita por caracteres de fantasia, sem
considerar a importância econômica. Quanto mais acentuados esses caracteres, maior
segurança se terá de sua pureza. É importante lembrar que nenhuma raça tem constância
absoluta.
Por padrão da raça ou "standard" se entende o modelo ideal que deve orientar os
criadores na seleção dos reprodutores. O padrão é estabelecido por criadores reunidos
em Associação, que também terá o encargo de preservá-lo através do Registro
Genealógico.

2.1 CRITÉRIOS PARA O ESTABELECIMENTO DE RAÇAS

● Semelhança dos indivíduos que a constitui, pelos caracteres raciais,


entre os quais os econômicos ou zootécnicos;
● Hereditariedade dos caracteres raciais e das qualidades econômicas;
● Meio ambiente considerado o mesmo ou semelhante para a boa
expressão dos caracteres raciais e qualidades;
● Origem comum;
● Algo de convencional (Padrão Racial para Registro Genealógico).

Uma vez estabelecidos esses critérios pelos criadores, estes se comprometem a


manter o Padrão Racial e, para isto, criam o Livro Genealógico onde são registrados os
animais puros ou seus descendentes, isto é, os que estão dentro do Padrão.

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2.2 PUREZA RACIAL E PUREZA GENÉTICA

A pureza racial é um conceito convencional, resultante da existência de um


"pedigree", de um registro oficial do animal. As raças podem ser puras racialmente, mas
geneticamente são parcialmente puras.
A pureza genética de uma raça pode ser atingida para alguns caracteres,
devido à dificuldade de se atingir alto grau de homozigose para todos os genes.
2.3 NATUREZA DAS RAÇAS

• QUANTO AO GRAU DE PUREZA


a) Homogênea - Raça mais ou menos fixa em suas principais características. Ex.:
Cavalo árabe.
b) Heterogênea - Raça ainda não totalmente fixada. Ex.: Raças formadas por derivação.

• QUANTO À ORIGEM
a) Primitiva - Raça natural de determinada região, formada por seleção natural,
submetida ou não, posteriormente à seleção artificial. Ex.: Bovinos Schwyz.
b) Derivada - Raça que provém de outras, ditas primitivas ou naturais, por variabilidade
espontânea ou cruzamento (Derivada sintética). Ex.: Raças bovinas Santa Gertrudis,
Canchim, Pitangueira.
c) Nativa - Raça natural ou mesológica, formada em determinada região por seleção
natural, acompanhada ou não de ação seletiva e conservadora do homem. É dita
"nativa melhorada" quando sujeita à seleção artificial, no sentido de seu
melhoramento genético, com aperfeiçoamento econômico. Ex.: Raça caprina
Moxotó.
d) Exótica - Raça introduzida em região diferente da região de origem. Ex.: Raça
bovina holandesa, no Brasil.

• QUANTO À APTIDÃO ECONÔMICA: Considera-se a aptidão produtiva da raça.


Ex.: Raças bovinas leiteiras; Raças de caprinos para abate; Raças de aves para
postura; Raças de suínos tipo carne.

• QUANTO À ÁREA GEOGRÁFICA


Por "área geográfica da raça" entende-se o espaço territorial onde vivem e se
aclimaram indivíduos da raça, em estado de pureza ou em alto grau de sangue; e por
"berço da raça" entende-se o local onde a raça se definiu e formou, daí se dispersando
para outras regiões, nas quais se aclimou.
Quanto à área geográfica, as raças podem ser consideradas:
a) Cosmopolita - Raça de extensa área geográfica. Ex.: Holandesa.
b) Topopolita - Raça de área geográfica restrita. Ex.: Hereford.

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• QUANTO À FILIAÇÃO ÉTNICA: Considera os troncos étnicos de origem. Ex.:
Bos taurus aquitanicus - Caracu; Bos taurus batavicus - Holandesa.

3. VARIEDADE: Principalmente em raças cosmopolitas, é possível formar-se


grupamentos de indivíduos em diversos locais, mais ou menos isoladamente, e que
apresentam distinções sensíveis, de modo a permitir certas diferenças entre a raça e
os novos grupamentos. Essa variação limitada a certos caracteres pode ser
provocada ou mantida pelo criador visando um melhor rendimento. Assim, se
constituem, dentro da raça, as variedades ou sub-raças. Essa diversificação pode
basear-se em atributos zootécnicos ou em caracteres sem valor econômico como
pelagem, conformação craneana, etc.

4. FAMÍLIA: Conjunto de descendentes de um casal, direta e colateral, até a quinta


geração.

5. LINHAGEM: Constituída pelos descendentes "diretos", a partir de um genitor


macho ou fêmea. Os descendentes devem apresentar, com notável fixação, certos
traços ou qualidades adquiridos por herança biológica daquele antepassado comum.
Em geral, é usado o macho, por gerar muito mais descendentes no mesmo espaço
de tempo.

6. LINHAGEM PURA: Decorre de atributos fixos e puros nos descendentes diretos a


partir de um determinado genitor.

7. SANGUE: Sob o ponto de vista zootécnico, é a parte hereditária. Os animais de


mesmo sangue pertencem à mesma raça ou descendem dos mesmos antepassados,
isto é, possuem antepassados comuns.

8. MISTURA DE SANGUE: É uma alusão a cruzamentos de animais de raças


diferentes.

9. FORMA: É o conjunto de animais cuja herança ainda é uma incógnita. A fixação dos
caracteres não está comprovada. É um termo geral, servindo para designar um
grupo que ainda não pode ser considerado raça.

10. POPULAÇÃO: É um grupamento qualquer de indivíduos, considerado do ponto de


vista numérico, desde que vivam em determinada área geográfica comum.

11. INDIVÍDUO: É a unidade indivisível. O indivíduo nunca é totalmente igual a outro


de mesma raça, variedade ou família, porque um se torna portador de características
diferentes da herança biológica dos antepassados. Mesmo sendo irmãos há sempre

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um meio de distinguí-los, pois as variações se fazem notar. Quanto mais fixa e
homogênea for a raça, menos diferenças são notadas. Nos gêmeos univitelinos e
clones há alto grau de igualdade.

12. GENÓTIPO: É o indivíduo considerado segundo sua origem genética ou sua


herança biológica. O genótipo é uma combinação acidental de heranças que têm
origem no passado e seu futuro na eternidade. No melhoramento animal, o que mais
interessa é o genótipo, pois na conservação ou melhoramento da raça o genótipo
precisa ser conhecido, pois, este passa às novas gerações. No genótipo está a
garantia da permanência da raça, da sua fixação ou de seu aperfeiçoamento.

13. FENÓTIPO: É a expressão exterior do genótipo sob a influência de determinadas


condições de ambiente. O fenótipo é efêmero, passageiro e morre com o animal. Ao
explorador de animais o que mais interessa é o fenótipo, seus caracteres raciais
expressos somaticamente, suas finalidades zootécnicas.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

DOMINGUES, O. Introdução à Zootecnia. 3. ed. Rio de Janeiro, MA/SIA, 1968. 392p.,


Cap.4, p.83-151.
DOMINGUES, O. Elementos de Zootecnia Tropical. 5. ed. São Paulo, Nobel, 1981.
143p.
PEIXINHO, S. Conceitos de espécie. http://www.ufba.br/~zoo1/especie.htm. Acesso
em 19 de abril de 2004.
SENE, F. de M. Genética e Evolução. São Paulo, EPU, 1981. n.p. (Currículo de Estudos
de Biologia, 2).
TORRES, G.C. de V. Bases para o Estudo da Zootecnia. Salvador, UFBA, 1990. 464p.,
p.217-319.

ESTUDO DIRIGIDO

• Apresentar as bases para o estabelecimento de espécies, conceituar espécie e


caracterizar espécie legítima.
• Justificar a assertiva de que espécie é um conceito artificial e caracterizar espécies
quanto à distribuição geográfica, com conceitos.
• Caracterizar sub-raça, variedade, família, linhagem, forma, população, indivíduo,
genótipo e fenótipo.
• Identificar raças que possuam variedades, destacando as diferenças entre variedades
com base no Padrão Racial.
• Destacar o fenótipo de uma raça nativa do Nordeste brasileiro e evidenciar
diferenças entre indivíduos dentro desta mesma raça.
• Fazer analogia fenotípica entre uma raça derivada sintética e as raças que a formou.

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DISCIPLINA: 603250 - Zootecnia Geral

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TÓPICO: TAXONOMIA ZOOLÓGICA DAS ESPÉCIES DOMÉSTICAS

A classificação das espécies é baseada em aspectos estruturais, tamanhos,


proporções, coloração e outros contáveis ou merísticos como número de dentes, número
de raios de nadadeiras, etc.
O Sistema de classificação estabelecido por LINEU distribui as espécies
domésticas em REINO, FILO, CLASSE, ORDEM, FAMÍLIA, GÊNERO e ESPÉCIE,
podendo ocorrer subdivisões entre estes agrupamentos. A apresentação dos nomes
científicos das espécies consiste em apresentar o nome genérico com inicial maiúscula,
seguido pelo nome específico com inicial minúscula, sendo ambos grifados ou em
itálico e seguidos da inicial ou nome do classificador, separados por vírgula, devendo
ainda, ser citado entre parênteses. Conforme descrito, a título de exemplo, o nome
científico dos taurinos é Bos taurus L.
As espécies animais domésticas estão agrupadas em quatro CLASSES
zoológicas (Mammalia = 17 espécies, Aves = 11 espécies, Pisces = 01 espécie, e Insecta
= 02 espécies), pertencentes ao REINO Animalia, com as três primeiras classes
possuidoras de coluna vertebral, crânio e encéfalo, considerados cordados superiores e
pertencentes ao FILO Vertebrata, e a última ao FILO Invertebrata.
A seguir, são apresentadas as principais espécies domésticas e suas
classificações taxonômicas:

I - CLASSE MAMMALIA
*Corpo coberto de pêlos; respiração pulmonar; coração com quatro câmaras;
endotérmicos; fêmeas com glândulas mamárias.

Ordem: PERISSODACTYLA
*Mamíferos ungulados de dedos ímpares. Grandes, pernas longas, pés com
número ímpar de artelhos dentro de um casco córneo; o eixo funcional da perna
passa através do artelho médio (terceiro artelho); estômago simples.

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O1. Família: Equidae
*Cavalos, asnos e zebras. Um dedo funcional com casco em cada membro; habitam
planícies abertas ou desertos, alimentam-se basicamente de gramíneas.
Espécies: Equus caballus – CAVALO
Equus asinus - ASININO

Ordem: ARTIODACTYLA
*Mamíferos ungulados de dedos pares. Tamanho variado; pernas geralmente
longas, dois (raramente quatro) artelhos funcionais em cada pé, cada um
envolvido por um casco cornificado; eixo da perna entre os artelhos; muitos com
chifres ou cornos; todos, com exceção dos suínos, com dentição reduzida; a
maioria, com estômago com quatro compartimentos, ruminam.

A - Subordem: Suiformes
*Porcos e semelhantes. Sem cornos ou chifres, 38 a 44 dentes, caninos grandes
como presas curvas.

O2.Família: Suidae
*Porcos do Velho Mundo. Muitos no Sul da África.
Espécie: Sus domesticus - SUÍNO
B - Subordem: Tylopoda

O3.Família: Camelidae
*Pés macios, largos (sem cascos); um par de incisivos superiores; estômago
com três partes, ruminam.
Espécies: Camelus bactrianus - CAMELO
Camelus dromedarius - DROMEDÁRIO
Lama glama - LHAMA
Lama pacos - ALPACA

C - Subordem: Ruminantia
*Ruminantes. Pés com cascos, ruminam.

O4.Família: Cervidae
*A espécie doméstica Rangifer tarandus, das regiões setentrionais, apresenta em
ambos os sexos um par de chifres sólidos, calcários.
Espécie: Rangifer tarandus - RENA

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O5.Família: Bovidae
*Ruminantes com cornos ocos, pares, não ramificados, de queratina, com
crescimento lento e contínuo na base, sobre bases ósseas dos ossos frontais, geralmente
em ambos os sexos, maiores nos machos.

a)Subfamília: Caprinae
Espécies: Capra hircus - CAPRINO
Ovis aries - OVINO

b)Subfamília: Bovinae
Espécies: Bos taurus - TAURINO
Bos indicus - ZEBUÍNO
Bubalus bubalis - BUBALINO

Ordem: CARNIVORA
*Carnívoros, pequenos a grandes; geralmente com cinco artelhos (pelo menos
quatro artelhos), todos com garras; pernas móveis, rádio e cúbito, tíbia e perônio
completos e separados; incisivos pequenos, geralmente 3/3; caninos 1/1, delgadas
presas; útero bicórneo; placenta zonária.

O6.Família: Felidae
Espécie: Felis domestica - GATO

O7.Família: Canidae
Espécie: Canis familiaris - CÃO

Ordem: LAGOMORPHA
*Lebres e coelhos. Tamanho moderado a pequeno; artelhos com garras; cauda curta
e grossa; incisivos em bisel; sem caninos; molares sem raiz, movimento das
mandíbulas apenas lateral.

O8.Família: Leporidae
Espécie: Oryctolagus cuniculus - COELHO

Ordem: RODENTIA
*Roedores. Geralmente pequenos; pernas geralmente com cinco artelhos e garras;
incisivos em bisel, sem raiz; desprovidos de caninos; movimento das mandíbulas
tanto para a frente e para trás, como para as laterais.

16
O9.Família: Cavidae
*Cauda curta ou ausente.
Espécie: Cavia cobaya - COBAIA

II-CLASSE AVES
*Corpo coberto de penas; membros anteriores transformados em asas para vôo;
membros posteriores para nadar, andar ou empoleirar-se; geralmente quatro
artelhos, nunca mais; boca distendida em bico, sem dentes; respiração pulmonar;
coração com quatro câmaras; ovíparas.

SUB-CLASSE: Neornithes
*Aves verdadeiras. Apresentam o segundo dedo como mais longo.

Ordem: ANSENIFORMES
*Patos, gansos e cisnes. Bico alargado com "unha" ou capa mais dura na
extremidade; pernas curtas; pés com palmouras (palmípedes); filhotes cobertos de
penas quando eclodem.

1O.Família: Anatidae
*Patos de superfície, mergulham apenas a cabeça e não o corpo ao se
alimentarem.
Espécies: Anser domesticus - GANSO
Anas boschas - MARRECO
Cairina moschata - PATO
Cygnus olor - CISNE

Ordem: GALLIFORMES
*Bico curto; pés geralmente adaptados para ciscar e correr; filhotes cobertos com
plumas ao eclodirem.

11.Família: Phasianidae
Espécies: Gallus domesticus - GALINHA
Phasianus colchicus - FAISÃO
Numida galeata - CAPOTE
Pavo cristatus - PAVÃO

17
12.Família: Penelopidae
Espécie: Meleagris gallopavo - PERU

Ordem: COLUMBIFORMES
*Bico geralmente curto e delgado, com pele mole e grossa na base (ceroma);
filhotes nus; cosmopolitas.

13.Família: Columbidae
Espécie: Columba livia - POMBO

Ordem: STRUTHIONIFORMES
*Aves andadoras que não voam; asas reduzidas; cabeça, pescoço e pernas com
penas escassas.

14.Família: Struthionidae
Espécie: Struthio camelus - AVESTRUZ

III-CLASSE PISCES
*Animais com respiração branquial; aquáticos; coração com uma aurícula.

SUB-CLASSE: Actinopterygii
*Peixes de nadadeiras com raios.

Ordem: OSTARIOPHYSI
*Grupo dominante de peixes de água doce.

15.Família: Cyprinidae
Espécie: Cyprinus carpio - CARPA

IV-CLASSE INSECTA (HEXAPODA)


*Insetos. Cabeça, tórax e abdome distintos; um par de antenas (exceto na ordem
protura); peças bucais para mastigar, sugar ou lamber; tórax tipicamente com três
pares de pernas articuladas e dois pares de asas muito variadas, reduzidas ou
ausentes; sexos separados.

18
Ordem: LEPIDOPTERA
*Mariposas e borboletas. Tamanho variado; peças bucais nas larvas para mastigar e
nos adultos para sugar (espiritromba); antenas longas; quatro asas membranosas
cobertas por escamas finas.

16.Família: Bombycidae
Espécie: Bombyx mori - BICHO-DA-SEDA

Ordem: HYMENOPTERA
*Vespas, formigas, abelhas, etc. Peças bucais mastigadoras ou mastigadoras-
lambedoras; dois pares de asas pequenas (ou ausentes), membranosas, poucas
nervuras; base do abdômen geralmente estreita; fêmeas com ovipositor para
serrar, perfurar ou picar; larvas em forma de lagarta ou ápodes; metamorfose
completa; algumas espécies vivem em colônia.

17.Família: Apidae
*Abelhas. Olhos peludos; operárias com cestas de pólen (corbículas) nas
patas posteriores.
Espécie: Apis mellifera - ABELHA
Subespécies: Apis mellifera mellifera - ALEMÃ
Apis mellifera ligustica - ITALIANA
Apis mellifera adansonii - AFRICANA
Apis mellifera carnica - CARNICA

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
DOMINGUES, O. Introdução à Zootecnia. 3.ed. Rio de Janeiro, MA/SIA, 1968. 392p.,
Cap.4, p.83-151.
DOMINGUES, O. Elementos de Zootecnia Tropical. 5.ed. São Paulo, Nobel, 1981.
143p.
STORER, T.I.; USINGER, R. L.; STEBBINS, R.C. et al. Zoologia Geral. 6. ed. São
Paulo, Nacional, 1986. 816 p.
ESTUDO DIRIGIDO
• Descrever quanto à importância do sistema estabelecido por Lineu para
classificação das espécies.
• Caracterizar o sistema binomial para nomenclatura científica das espécies.
• Identificar as espécies de interesse zootécnico quanto aos nomes científicos.
• Apresentar a classificação zoológica das espécies de interesse zootécnico
destacando particularidades que permitam classificação e inclusão em grupos
distintos.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

DISCIPLINA: 603-250 - Zootecnia Geral

PROFESSOR: Dr. Arnaud Azevêdo Alves

TÓPICO: ORIGEM E DOMESTICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE INTERESSE


ZOOTÉCNICO

Inicialmente, admitia-se que todas as espécies domésticas teriam se


originado na Ásia, entretanto, com os trabalhos de paleontologia desenvolvidos ficou
esclarecido que, embora os asiáticos tivessem domesticado grande parte das espécies
domésticas atuais e, naquele continente tivessem origem grande número de espécies, em
outros continentes surgiram e foram domesticadas espécies de interesse zootécnico.
A seguir, são apresentadas as principais espécies domésticas de interesse
zootécnico, com possíveis origens e ancestrais.

1. CAVALO (Equus caballus)


Originado na América, onde não sobreviveu, e domesticado na Ásia na
Idade dos Metais, cerca de 3.500 anos a.C.
O Eohippus (em grego, "aurora do cavalo"), também conhecido como
Hyracoterium, é considerado o antepassado mais remoto do cavalo. Apresentava quatro
dedos nos membros anteriores e três nos posteriores e estatura em torno de 0,40m.

2. ASININO (Equus asinus)


Originado na África (Núbia e Etiópia) e na Ásia (Tibé), onde foi encontrado
em estado selvagem.
Na escala evolutiva do Eohippus, chegou-se ao Hipparium, que viveu na
América, Ásia e África, e deu origem aos asininos e zebras. O Equus taeniopus,
africano, é a possível espécie selvagem originária dos asininos, ainda sobrevivente.
Possivelmente, foi domesticado antes dos eqüinos, no vale do Nilo, na
África, cerca de 5.000 anos a.C.

3. SUÍNO (Sus domesticus)


Descende provavelmente de duas espécies primitivas, uma delas
sobrevivente, o Sus scrofa ou Javali europeu; e o Sus indicus ou javali asiático, forma
selvagem desconhecida, que apresenta Sus vittatus como forma sobrevivente, em
extensa área da China.

20
Domesticado inicialmente na China, cerca de 4.000 anos a.C.

4. CAMELO (Camelus bactrianus)


Originado e domesticado na Ásia, possivelmente na Bactriana, atual
Afeganistão, após o ano 1.000 a.C. Possui como ancestral o Camelus bactrianus.

5. DROMEDÁRIO (Camelus dromedarius)


Originado e domesticado na Arábia ou Sudoeste da Ásia, cerca de 1.200
anos a.C. Sua origem está ligada diretamente ao Macrauchenia, que viveu no continente
americano e chegou à Ásia pelo istmo de Bering.

6. LHAMA (Lama glama)


Originada e domesticada na Cordilheira dos Andes, na Bolívia e Peru, pelos
Incas. O guanaco (Lama guanicoe) é a possível forma selvagem que originou a lhama,
que tem origem a partir do Auchenia.

7. ALPACA (Lama pacos)


Originada e domesticada na Cordilheira dos Andes, na Bolívia e Peru, pelos
Incas. Tem origem a partir do Auchenia.

8. RENA (Rangifer tarandus)


Originada e domesticada nas Regiões Árticas da Ásia. Possui como forma
selvagem o Rangifer tarandus fennicus, que existe na Sibéria como subespécie.

9. CAPRINO (Capra hircus)


Segunda espécie a ser domesticada e primeiro animal leiteiro domesticado,
superando os ovinos em prioridade quanto à maior abundância de fósseis
(DOMINGUES, 1968), possivelmente no Oriente Médio, tendo-se sugerido a Pérsia ou
a Palestina como locais (HEISER JUNIOR, 1977).

Quanto à origem da cabra, há duas hipóteses:


a) Hipótese da origem única: a partir da Capra aegagrus, ou cabra-bezoar, dos planaltos
ocidentais da Ásia.
b) Hipótese da origem polifilética ou poligênica: a partir de três espécies selvagens:
1-Capra aegagrus, ou cabra bezoar, dos planaltos ocidentais da Ásia;
2-Capra falconeri, da Ásia oriental e indiana, de cornos espiralados;
3-Capra prisca, de ADAMETZ, extinta, possível tronco primitivo.

21
10. OVINO (Ovis aries)
Domesticado na Ásia no mesmo período que os caprinos.
São destacadas três fontes remotas das modernas raças:
1-Ovis musimon, Musimão, Mouflon, ou carneiro selvagem da Europa;
2-Ammontragus tragelaphus, pseudovino que deve ter originado os carneiros
africanos;
3-Ovis arkal ou Arcal, de cauda longa, das estepes asiáticas. Ancestral mais antigo.

11. TAURINO (Bos taurus)


Todos os bovidae, domésticos ou não, descendem de um tronco filogênico
comum, o "Antílope" do Mioceno e Plioceno, o qual originou todos os cavicórneos:
Ovis, Capra, Antilope, Bos, Bubalus, etc.
Dentre os animais domésticos primitivos, são Bos taurus e Bos indicus, os
de mais difícil determinação da origem, superados apenas pela dificuldade de
determinação de origem do cão.
Os Taurinos, possivelmente foram domesticados após o Cão, a Cabra e o
Carneiro, entre 6000 a 4000 anos a.C., possivelmente na Índia, Oriente Próximo e Egito.
Supõe-se que o bovino selvagem europeu que originou as espécies
domesticáveis foi o Bos primigenius, na Suíça, Grécia, Itália e, ainda, na África
(Argélia) e Ásia. Seu sobrevivente teria sido o Auroque, denominado Urus pelos
Alemães. Até 1.627 ainda sobrevivia no Jardim Zoológico da Masóvia, na Alemanha.

12. ZEBUÍNO (Bos indicus)


Os Zebuínos, espécie diferente dos taurinos, foram domesticados
possivelmente no Egito, antes dos taurinos.
A possível origem dos zebuínos parece ser o Bos namandicus, encontrado
na forma fóssil no vale do Nerouda, na Índia.

13. BÚFALO (Bubalus bubalis)


Originado e domesticado na Ásia. Possivelmente descende do Arni
(Bubalus indicus). A época da domesticação é imprecisa, embora na cultura do
Mohenjo Daro na Índia (2.500 anos a.C.) e na China (1.000 anos a.C.) já era conhecido
prestando utilidade.

14. GATO (Felis domestica)


Há dúvidas quanto à origem geográfica e zoológica do gato. Admite-se ter
se originado a partir do Felis catus, europeu, ou do Felis maniculata, africano (da Núbia
e Abissínia). Foi domesticado no Egito, cerca de 3.000 anos a.C., onde foi considerado
deus Bast.

22
15. CÃO (Canis familiaris)
A mais antiga espécie doméstica é o cão. Domesticada no Neolítico, no
Velho Mundo, e utilizada possivelmente, no início, para alimentação e depois como
auxiliar do homem na caça.

Quanto à origem do cão há duas hipóteses:


a) Hipótese da origem única: Baseada na esterilidade entre espécies selvagens de cães e
na fecundidade entre as raças domésticas. Também fundamenta-se no hábito de latir,
próprio dos cães domésticos. Neste caso, o cão seria originado do pequeno lobo
indiano, do Chacal, do Lobo, ou ainda, de alguma espécie selvagem extinta.

b) Hipótese da origem polifilética: Baseada na grande diversidade de raças e nas


semelhanças entre raças domésticas e determinadas espécies selvagens em diversas
regiões da terra. Dessa forma, o cão teria se originado, conforme a região que habita,
tendo como ancestrais:
01-Canis pallipes ou pequeno lobo indiano;
02-Canis lupus ou lobo europeu;
03-Canis aureus ou Chacal dourado (originou cães de pequeno porte);
04-Canis sinensis, da Abissínia (originou raças de Galgos);
05-Canis lupus occidentalis ou lobo americano (originou cães dos índios
americanos);
06-Canis latrans ou coiote americano (originou cães dos índios americanos);
07-Canis ingae ou cão dos Incas;
08-Canis cancrivorus ou cão selvagem das Guianas;
09-Canis mesomelas ou Chacal de dorso preto, da África meridional;
10-Canis adustus ou Chacal listrado.

16. COELHO (Oryctolagus cuniculus)


Descende do Oryctolagus cuniculus, de origem européia. Provavelmente foi
domesticado na Península Ibérica.

17. COBAIA (Cavia cobaya)


Descende de Cavia aperea ou preá, forma selvagem encontrada na América
do Sul. Domesticada pelos Incas.

18. GANSO (Anser domesticus)


Descende provavelmente das espécies selvagens Anser cygnoides ou ganso
Chinês; Anser canadensis ou ganso do Canadá; e Anser cinereus ou Anser ferus, o

23
ganso europeu, e mais importante descendente. Sua domesticação deve ter ocorrido em
vários locais, como China, Índia e Egito.

19. MARRECO (Anas boschas)


Descende da espécie selvagem Anas boschas, sobrevivente no norte da
Europa, Ásia, América do Norte e África. De domesticação recente, não se conhecendo
formas pré-históricas dos marrecos. Era criado em cativeiro pelos romanos que,
provavelmente, o domesticaram.

20. PATO (Cairina moschata)


Descende da espécie selvagem Cairina moschata, sobrevivente em lagoas e
banhados da América do Sul. Possivelmente domesticado na Europa (DOMINGUES,
1968), embora HEISER JUNIOR (1977) admita sua domesticação na América do Sul.

21. CISNE (Cygnus olor)


Descende do Cygnus olor, de origem européia. Domesticado provavelmente
no fim da Idade Média, na Europa.

22. GALINHA (Gallus domesticus)


Originada na Índia e domesticada na Índia, China e Pérsia. Possui como
antepassado direto o Gallus bankiva ou galinha selvagem da Índia e Indochina, ainda
sobrevivente. Podendo ser incluídas como ancestrais da galinha doméstica, devido à
interfecundidade, três espécies selvagens da Ásia meridional, Gallus sonnerati ou
galinha parda da Índia, Gallus lafayetti ou galinha do Ceilão e Gallus varius ou galinha
de Java.

23. FAISÃO (Phasianus colchicus)


Descende da espécie selvagem Phasianus colchicus, da região do Rio Phase,
na antiguidade, limite entre Europa e Ásia. Não considerada espécie perfeitamente
doméstica. Provavelmente os Gregos persistiram na sua domesticação, complementada
pelos Ingleses, pelo que a espécie é também conhecida como faisão inglês.

24. CAPOTE (Numida galeata)


A forma selvagem deve ter sido Numida galeata, dispersa na África
ocidental, Nigéria, Senegal, Marrocos e Ilhas de Cabo Verde, sendo inclusive conhecida
como galinha d`angola. Não considerada espécie perfeitamente doméstica, embora
Gregos e Romanos a criavam em domesticação.

25. PAVÃO (Pavo cristatus)


Descende de Pavo cristatus, de origem da Índia e Irã. Domesticado na
Grécia.

24
26. PERU (Meleagris gallopavo)
Descende da espécie selvagem americana Meleagris gallopavo, das regiões
montanhosas dos EUA e México. Domesticada provavelmente pelos índios Astecas do
México, antes de 2.000 anos a.C.

27. POMBO (Columba livia)


Descende do pombo selvagem dos rochedos ou torcaz (Columba palimbus),
encontrado nas costas meridionais da Noruega, Ilhas Canárias e Madeira, costas do
Mediterrâneo, Índia e Japão. De domesticação remota e em diferentes locais. Como ave
de criação é reconhecida a partir de 3.000 anos a.C., no Egito.

28. AVESTRUZ (Struthio camelus)


Descende das espécies africanas Struthio camelus e Struthio australis.
Domesticada na África do Sul.

29. CARPA (Cyprinus carpio)


Descende de Cyprinus carpio, da Pérsia e Ásia Menor, onde foi iniciada a
criação em cativeiro. A domesticação iniciou na China, desde 2.100 anos a.C.

30. BICHO-DA-SEDA (Bombyx mori)


Descende de Bombyx religiosae, de origem chinesa, onde foi criado
inicialmente antes de 2.500 anos a.C.

31. ABELHA (Apis mellifera)

Descende das subespécies primitivas de Apis mellifera fasciata ou abelha


alemã, de Apis mellifera ligustica ou abelha italiana e de Apis mellifera adansonii ou
abelha africana. A primeira abelha criada foi provavelmente a Apis mellifera ligustica.
Segundo IOIRISH (1981), antes de domesticar as abelhas, o homem pilhava
o mel. Há cerca de 5.000 a 6.000 anos existiam colméias primitivas no Egito e em
outros países da Antiguidade, de formas diversas, fixas em argila cozida. Na Grécia
antiga, as colméias em forma de vaso eram feitas de bronze; enquanto que na antiga
Roma, eram de madeira. Nas regiões Sul e no Cáucaso, as colméias eram feitas de
ramos ou de palha entrançada, endurecidos com argila. Em 1814, o apicultor ucraniano
I. Prokopovitch inventou a colméia de quadros móveis. A colméia desmontável de
quadros móveis foi desenvolvida pelo apicultor americano Lourenço Langstroth, em
1851, e foi aperfeiçoada por outro apicultor americano, Amos Ives Root, passando a
denominar-se “colméia Langstroth-Root”.

25
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

CRISTO, N.; CARVALHO, L.O.M. Criação de Búfalos: Alimentação, Manejo,


Melhoramento e Instalações. Brasília: EMBRAPA/SPI, 1993. 403p. Cap.1, p.1-9.
DOMINGUES, O. Introdução à Zootecnia. 3.ed. Rio de Janeiro: MA/SIA, 1968.
392p., Cap.4, p.83-151.
DOMINGUES, O. Elementos de Zootecnia Tropical. 5.ed. São Paulo: Nobel, 1981.
143p.
HEISER JÚNIOR, C.B. Sementes para a civilização. São Paulo: Nacional, 1977.
253p., Cap.4, p.42-69.
IOIRISH, N. As abelhas: farmacêuticas com asas. Moscou: Editorial Mir, 1981. 228p.,
Cap.1, p.9-38.
TORRES, G.C.V. Bases para o Estudo da Zootecnia. Salvador: UFBA, 1990. 464p.,
p.217-319.

ESTUDO DIRIGIDO

• Identificar os locais de origem das principais espécies de interesse zootécnico,


destacando características de adaptação e importância econômica para os povos
destas regiões.
• Identificar os ancestrais das principais espécies de interesse zootécnico.
• Descrever quanto à domesticação das espécies de interesse doméstico, destacando
local, período e fatos.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

DISCIPLINA: 603-250 - Zootecnia Geral

PROFESSOR: Dr. Arnaud Azevêdo Alves

TÓPICO: CLASSIFICAÇÃO DAS APTIDÕES E FUNÇÕES ZOOTÉCNICAS

I - APTIDÕES E FUNÇÕES MORFOLÓGICAS, FISIOLÓGICAS E


ECONÔMICAS

Aptidão zootécnica, produtiva ou econômica é a disposição natural do animal


doméstico para exercer determinada função produtiva, na dependência de sua
capacidade para determinada produção.
A aptidão zootécnica é uma característica em potencial do animal para
produção em maior ou menor grau, sendo portanto hereditária, consistindo da soma das
virtualidades produtivas que o animal transmite aos seus descendentes. Enquanto a
função produtiva é de natureza fenotípica e depende do ambiente (manejo, clima,
alimento, exercício, etc.) para a exteriorização. Assim, a cabra leiteira transmite a ótima,
boa ou má aptidão para lactação, enquanto o bode também transmita essa aptidão é
incapaz de exibir a função respectiva.
As funções produtivas, também denominadas de funções econômicas dos
animais domésticos, consistem de atos fisiológicos dos quais resultam utilidades ou
serviços, os quais servem para garantir a sobrevivência do indivíduo ou da espécie, e, ao
serem explorados pelo homem, ganham a característica fundamental de funções
econômicas. Para que sejam exploradas economicamente, não basta que satisfaçam as
necessidades vitais do animal, mas que forneçam uma sobra utilizável de sua produção.
Isto é, a função deve ser altamente especializada (COSTA, 2000).
Segundo COSTA (2000), o desenvolvimento das funções produtivas foi
simples, desde que a lógica sensibilizou o homem a reter para reprodução os animais
mais produtivos. Essa “seleção”, processada através de séculos, e o acúmulo de seus
resultados, permitiram se atingir as elevadas produções atualmente verificadas nas
denominadas raças especializadas.

As principais funções fisiológicas de interesse zootécnico podem ser


agrupadas quanto aos atos fisiológicos em:
a) DE CRESCIMENTO: Aumento da massa corporal em função do tempo.
b) DE LOCOMOÇÃO: Capacidade de transladar-se no espaço em progressão
contínua, partindo de uma postura inicial de equilíbrio.
Os segmentos envolvidos na locomoção são agrupados em:

27
• ATIVOS: Representados pelos músculos.
• PASSIVOS: Representados pelos ossos e suas ligações, cartilagens, bolsas sinoviais
e tendões.
A dinâmica corporal ou movimentos são agrupados em:
• MOVIMENTOS LOCAIS: Não aparecem na locomoção, sem deslocamento:
decubitar, levantar, escoicear, etc.
• MOVIMENTOS COM DESLOCAMENTO: Constituem o ato da locomoção,
envolvendo passo, trote, galope e marcha, como também os movimentos especiais,
como recuar, saltar, escalar, nadar, bem como os de "alta escola".
c) DE REPRODUÇÃO: Responsável pela perpetuação das espécies.
d) DE LACTAÇÃO: O colostro e o leite são indispensáveis à vida dos mamíferos.

As funções produtivas variam com a espécie, raça e sexo do animal, e com o tipo de
exploração, ocorrendo os seguintes tipos de funções produtivas:
a) Produção de alimentos: carnes e derivados (vísceras, toucinho, gorduras), leites e
derivados (queijo, manteiga), ovos, mel e correlatos (própolis, geléia real), etc.
Espécies: Bovina, bubalina, suína, ovina, caprina, coelhos, aves, abelhas, e
também eqüídeos em certas regiões. Na Bolívia e Peru, a cobaia constitui fonte
alimentar.
b) Matéria-prima para a indústria manufatureira: lã, pêlos, cerdas, crinas, seda,
peles, couros, cornos, cascos, gorduras não comestíveis (sebo), penas, plumas, bile, etc.
Espécies: Ovina, caprina, bicho-da-seda, coelho, bovina, bubalina, eqüídeos,
alpaca e aves.
c) Força motriz: trabalho e esporte.
Espécies: Eqüídeos, bovina, bubalina, camelo, lhama, rena e cão.
d) Despojos e adornos.
Espécies: Neste particular se inclui a função das aves domésticas, cujas
plumas são usadas como adorno ou na confecção de objetos de uso doméstico. O
avestruz é a mais importante das aves quanto à produção de plumas, pelo seu valor,
já que as demais produzem plumas utilizadas como despojos em almofadas,
travesseiros, colchões, etc.

e) Adubo orgânico: detritos e excreções. Deve-se ressaltar que o esterco da lhama não
é utilizado como adubo e sim como combustível.
Espécies: Bovina, bubalina, eqüídeos, ovina, caprina e aves.
f) Função afetiva.
Espécies: Cão e gato, podendo-se ainda incluir ainda aves ornamentais, como
os pavões e cisnes.
g) Faro e segurança: Explora-se o olfato dos cães (faro), bastante eficiente dentre as
espécies domésticas, e a coragem, notável qualidade moral seja para caça, seja para
auxiliar às ações policiais e na defesa do próprio homem.
Espécie: Cão.

28
h) Função humanitária: Serviço prestado pelos animais de laboratório.
Espécies: Cobaia, coelho, eqüina.
i) Capital vivo: Em concomitância com a função produtiva, certos animais aumentam
de valor com a idade, e nisso reside uma das grandes diferenças entre a “máquina
viva” e a máquina propriamente dita. Enquanto esta só pode funcionar a partir do dia
em que esteja pronta e acabada, o animal pode produzir e trabalhar sem ter alcançado
ainda o seu completo desenvolvimento. A seguir, são apresentados dados referenciais
da valorização de algumas espécies com a idade:

ESPÉCIE VALOR VALOR


CRESCENTE CONSTANTE

Eqüina e bovina até 5 anos de 7 a 10 anos


Ovina e caprina até 4 anos até 6 anos
Suína até 2 anos até 3 anos
Galinha caipira até 1 ano até 2 anos

Obs.: Os reprodutores são exceção, devido à avaliação pelo mérito da descendência


(Teste de progênie).

II – TIPO ÉTNICO E TIPO ZOOTÉCNICO

Tipo étnico é o tipo referente à raça. Nada mais é do que o tipo racial. A
fisionomia, o conjunto dos caracteres exteriores e hereditários de uma raça. É uma
expressão da etnografia.
Tipo zootécnico constitui uma expressão de exterior, designando uma
conformação que corresponde a certa utilização do animal. Portanto, nada tem a ver
com a noção de raça, e tão somente à de rendimento zootécnico. Como exemplo, "tipo
leiteiro", refere-se à conformação do animal cuja função é produzir leite, não
importando qual a raça.

III – CLASSIFICAÇÃO ZOOTÉCNICA DAS ESPÉCIES DOMÉSTICAS


1. EQÜINA
a) Sela: Cavalos leves, enérgicos, inteligentes, com ossatura fina e densa, tendões e
articulações bem definidos, corpo enxuto e estatura superior a 1,45m.
Ex.: Árabe e Mangalarga Marchador.
b) Tração: Cavalos com aspecto largo e profundo, bem proporcionado. Ossatura forte,
musculatura abundante. Menos ágil que o cavalo de sela. Andar desembaraçado,
direito e regular.
Ex.: Percherão e Bretão.

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c) Misto (Sela e Tração): Cavalos com características intermediárias entre os tipos sela e
tração.
Ex.: Andaluz.

2. SUÍNA
a) Banha: Também conhecidos como "lard type". Apresentam o corpo largo, profundo,
simétrico, baixo e compacto.
Ex.: Raças nativas brasileiras Canastra e Piau.
b) Carne magra: Também conhecidos como "bacon type". Apresentam o corpo longo,
profundo, bem equilibrado ou com quartos posteriores predominantes.
Ex.: Wessex.
c) Carne e toucinho: Suínos intermediários entre os tipos banha e carne magra.
Ex.: Landrace.

3. BOVINA
a) Leite: Apresentam tendência leiteira, ou seja, atributos indicativos de aptidão leiteira.
Demonstram forma de cunha, quando observados sob três ângulos:
• Visto de lado, a linha inferior se mostra descendente da frente para trás.
• Visto de frente, as linhas das paletas se abrem para baixo;
• Visto de cima, as linhas laterais apertadas na frente, se afastam nos quartos
posteriores.
A aparência geral, em comparação com a dos bovinos de corte, é de um
animal menos musculoso, com ângulos e costelas mais salientes, porém revelando
vivacidade, vigor e saúde. Apresentam um bom desenvolvimento das glândulas
mamárias.
Ex.: Holandesa, Jersey, Guernsey.
b) Corte: Apresentam tendência à engorda, ou seja, atributos relacionados com a
capacidade de ganhar peso. Possuem corpo em forma de cilindro compacto, profundo
e moderadamente comprido. Deve ser tão liso quanto possível na união das diversas
regiões, sem saliências nas espáduas, sacro e base da cauda; sem depressões no
cilhadouro e flancos; bem proporcionados e devem se locomover com facilidade.
A linha superior deve ser retilínea, larga e bem musculosa desde o pescoço até a base da
cauda. O quarto anterior deve ser largo, profundo, cheio e apresentar bom espaço
entre os membros, denotando boa capacidade respiratória, e o quarto posterior deve
ser comprido, largo e profundo.
O corpo tem a forma cilíndrica, conforme a raça, com os quartos anteriores e posteriores
igualmente desenvolvidos, preferindo-se maior volume muscular nos posteriores.
Ex.: Hereford, Nelore, Indubrasil.
c) Tração: Os bovinos tipo tração apresentam conformação compacta, forte e
musculatura bem desenvolvida, principalmente no dorso e quartos posteriores.
Pernas curtas e fortes, possuindo peito largo. O peso do corpo apoia-se cerca de 60%

30
nos membros anteriores e 40% nos membros posteriores. O temperamento deve ser
dócil, calmo e sem vícios.
Ex.: Mestiços nativos.
d) Misto (Leite e carne): Apresentam atributos intermediários aos bovinos tipo carne e
tipo leite
Ex.: Pardo suíço, Sindi.

4. CAPRINA
a) Leite: Muito semelhantes às características gerais da vaca leiteira, possuindo
conformação geral tendendo às formas clássicas de cunha. Aspecto descarnado,
feminilidade acentuada nas matrizes e, sobretudo, úbere desenvolvido e glanduloso.
Ex.: Saanen, Parda Alpina.
b) Corte: Corpo comprido e profundo, largo no dorso, espáduas bem desenvolvidas e
com amplas e bem distribuídas massas musculares. Peito amplo, largo, com boa
profundidade e com uma profunda e larga massa muscular. Linha dorso-lombar
retilínea e ampla. Tórax profundo, com costados bem arqueados e musculosos, e com
costelas bem separadas. Ancas bem separadas, musculosas e arredondadas. Garupa
ampla e comprida, com inclinação suave e boa cobertura muscular.
Ex.: Boer.
c) Pêlo: Caprinos com pelo brilhoso, fino, suave e uniforme. São preferidos os animais
de pelos cacheados e enovelados, sendo rejeitados os fios muito lisos, curtos,
untuosos, esponjosos e grosseiros.
Ex.: Angorá.
d) Misto (leite e carne): Caprinos que apresentam, em geral, baixa capacidade para
produzir leite e carne. Devem ser melhorados visando maior grau de especialização
para o tipo desejado.
Ex.: Moxotó, Anglo-nubiana.

5. OVINA
a) Lã: Apresentam pequeno porte e corpo menos profundo que os demais tipos. O corpo
apresenta como contorno desejável o mais cilíndrico, envolto por uma densa
cobertura de lã, ocorrendo os tipos de lã fina, média ou forte. É característica a
presença de maior ou menor número de rugas na pele, especialmente no pescoço e
peito.
Ex.: Lã fina a forte - Merinos.

31
Lã forte - Corriedale, Ideal, Romney Marsh e Suffolk.

TIPO DE LÃ DIÂMETRO DAS CLASSIFICAÇÃO


FIBRAS BRASILEIRA
(MICRÔMETROS)

Fina 16 a 20 Merina
Média 20 a 22 Merina
Forte 23 a 26 Amerinada, Prima A e
Prima B

b) Corte e Pele: Ovinos deslanados, presentes no Nordeste brasileiro. A substituição do


velo de lã por pêlos curtos se deve à adaptação ao ambiente tropical. Tendem a
possuir porte superior ao dos ovinos tipo lã.
Ex.: Santa Inês e Morada Nova.
c) Misto (Leite, carne e Lã): Apresentam carcaças de boa qualidade; lã de espessura e
comprimento médios e de inferior qualidade, usada geralmente em tecidos
grosseiros; e, baixa produção de leite com alto teor de gordura. Devem ser
melhorados visando maior grau de especialização para o tipo desejado.
Ex.: Bergamácia.

6. BUBALINA
a) Leite.
Ex.: Murrah, Mediterrânea.
b) Misto:
Leite e Carne.
Ex.: Jaffarabadi.
Carne e Tração.
Ex.: Carabao.

7. AVES
a) Postura.
As boas poedeiras apresentam cristas, barbelas e patas descoradas e pouco
desenvolvimento corporal, mostrando aparência sadia.
b) Corte.

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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS (ARCO). Manual


Técnico. Bagé: Associação Brasileira de Criadores de Ovinos, 1989. 88p.
COSTA, R.S. Tópicos de Zootecnia Geral. Mossoró: Escola Superior de Agricultura de
Mossoró, Gráfica Tércio Rosado – ESAM, 2000. 135p.
CRISTO, N.; CARVALHO, L.O.M. Criação de Búfalos: Alimentação, Manejo,
Melhoramento e Instalações. Brasília, EMBRAPA/SPI, 1993. 403p. Cap.1:
Desempenho produtivo em carne, desempenho em produção de leite, animal de
trabalho, outras performances, p.1-9.
TORRES, A.P.; JARDIM, W.R.; JARDIM, L.F. Manual de Zootecnia: Raças que
Interessam ao Brasil. 2.ed. São Paulo: Ceres, 1982. 136p.
TORRES, G.C. de V. Bases para o Estudo da Zootecnia. Salvador: UFBA, 1990. 464p.,
p.217-319.
VIEIRA, M.I. Pecuária Lucrativa. 1.ed. São Paulo: Nobel, 1986. 136p.
ZEZZA NETO, L.; BADINI, K.B. O que representam os animais domésticos para o
homem. Unimar Ciências, v.1, p.66-70, 1992.

ESTUDO DIRIGIDO

• Caracterizar aptidão e função produtiva.


• Identificar as principais funções produtivas quanto aos atos fisiológicos e as
funções produtivas de interesse zootécnico.
• Identificar as causas de variações das funções produtivas.
• Distinguir tipo étnico de tipo zootécnico.
• Apresentar a classificação zootécnica das espécies domésticas, descrevendo
principais características e exemplificar.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

DISCIPLINA: 603-250 - Zootecnia Geral

PROFESSOR: Dr. Arnaud Azevêdo Alves

TÓPICO: NOMENCLATURA E LOCALIZAÇÃO DAS REGIÕES DO CORPO


DOS ANIMAIS

1 - INTRODUÇÃO

O conhecimento da localização, limites e denominações das regiões do


corpo é de fundamental importância para que se possa julgar com eficiência um animal,
assim como classificá-lo (Neiva, 1998).
As regiões do corpo dos animais possuem denominações próprias, assim
como os órgãos que nele se encontram, quer no seu exterior (olhos, ouvidos, boca,
nariz, etc.); quer no seu interior (coração, fígado, rins, intestinos, etc.).
O estudo das denominações de cada região externa do corpo dos animais e
das suas delimitações se conhece como ezoognósia.
Cada região do corpo dos animais possui particularidades de acordo com as
espécies e, dentro das espécies, com as raças e tipos zootécnicos.
Basicamente, podemos subdividir o corpo de um animal em quatro partes,
quais sejam: cabeça, pescoço, tronco e membros.
A seguir, estão apresentadas as principais regiões do corpo dos animais
domésticos, sendo citados, inicialmente o termo utilizado em ezoognósia, e a seguir, os
respectivos sinônimos, que podem ser apropriados ou não.

2 - REGIÕES DO CORPO DOS BOVINOS

2.1 - CABEÇA

Na cabeça, encontra-se o maior número de partes, que pelas características,


auxiliam na identificação do animal, quanto ao grupo racial a qual pertence (Neiva,
1998). A cabeça é composta por quatro faces e duas extremidades:
I) As faces são:
• Anterior - Formada pela fronte, chanfro e espelho nasal.

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• Posterior - Onde localizam-se a ganacha e entre-ganacha.
• Laterais -(direita e esquerda) - Onde estão as orelhas, olhais, olhos,
bochechas, narinas e fontes.
II) As extremidades são:
• Superior - Limitada pela nuca, parótida e pela garganta.
• Inferior - Constituída pela boca.

FRONTE, FRONTAL ou TESTA - Região ímpar que tem por base anatômica os ossos
frontais, parietais e face anterior do occipital, localizada na parte ântero-
superior da cabeça. Limitada posteriormente pela nuca, inferiormente pelo
chanfro, e lateralmente pelos olhos, olhais, fontes e orelhas.
MARRAFA ou TOPETE - Região ímpar correspondente ao bordo caudal da fronte,
situada medianamente à inserção dos cornos. Anatomicamente denominada
protuberância intercornual. Nos animais mochos, a marrafa é saliente e
arredondada. "Nimburi" é o termo usado na Índia para designar a eminência
frontal. Na marrafa, às vezes está presente o topete ou tufo de pelos.
CHANFRO ou CANA DAS VENTAS - Região ímpar que tem por base anatômica os
ossos nasais. Seu limite caudal é a fronte; o oral, o espelho e as narinas; e os
laterais, as bochechas. O perfil da fronte juntamente com o do chanfro
caracterizam o perfil da cabeça, que segundo Neiva (1998) pode ser retilínea,
concavilínea e convexilínea, sendo as duas últimas sub-divididas em
ultracôncavo e subcôncavo e ultraconvexo e subconvexo, respectivamente. A
título de exemplo, destacam-se os perfís ultra-convexo no Gir; sub-convexo
no Indubrasil, no Sindi e no Nelore; e, sub-côncavo no Guzerá.
CORNO, ASPA ou ARMA - Região par formada pelo estojo córneo que recobre o
processo cornual. Varia quanto à inserção, diâmetro, comprimento, seção
transversal, forma e coloração, o que tem grande importância na
caracterização das raças, devido à alta hereditariedade dessas variações.
Podem estar ausentes em algumas raças, denominadas mochas, em inglês
"polled". Outra variação é o corno chamado "banana", móvel e pendente,
onde a cavilha óssea na sua conjunção com a marrafa interrompe-se e um
tecido fibro-cartilaginoso liga o corno à cabeça, explicando-se, assim, sua
mobilidade, aliás muito variável, podendo chegar a ser nula. O animal que
apresenta cornos é denominado aspado. Por batoque se entende os tocos de
cornos (em inglês, "scurs"), rudimentos de aspas, protuberâncias, botões, não
aderidos ao tecido ósseo da caixa craniana, diferentemente dos cornos
verdadeiros.
ORELHA - Região par implantada entre a fronte, a nuca e a parótida. Anatomicamente
corresponde ao pavilhão auricular. Tem por base anatômica cartilagem e
músculos. Serve para distinguir as raças, visto serem a forma, dimensão e
posição altamente hereditárias. Nos bovinos europeus, não há grande variação
em seu formato e tamanho, que normalmente são curtas e médias e de pontas
arredondadas. O posicionamento da orelha é fator indicativo de
temperamento e estado de higidez dos animais.
OLHO ou VISTA - Região par, situada entre a fronte, o chanfro e a bochecha. Consiste
do globo ocular, protegidos pelas pálpebras e pestanas; devem ser simétricos.

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Constitui-se fator indicativo do tipo étnico e da saúde dos animais. São
elípticos (Guzerá e Nelore) e mais aproximados da forma circular nas outras
raças.

BOCA - Região ímpar. Limita-se com o focinho, as narinas e bochechas. Tem por base
anatômica os intermaxilares, maxilares e palatinos. Nela encontram-se os
lábios, os dentes, as gengivas, o céu da boca, palato ou palatino e a língua.
Nos bovinos, os incisivos superiores e os caninos são ausentes, onde se
verifica uma cartilagem dura revestindo a gengiva, denominada almofada
dentária.
GANACHA ou PARTE POSTERIOR DO QUEIXO - Região par, situada abaixo da
bochecha, tem por base anatômica as bordas ventrais das mandíbulas.
GARGANTA, GORJA ou GOLA - Região ímpar, situada entre o pescoço e a fauce.
Deve ser larga, correspondendo a um bom desenvolvimento da laringe e ao
afastamento dos ramos do mandibular. Quando a garganta é larga, a boca é
espaçosa e o animal comedor.
ESPELHO - Situado entre as narinas e acima do lábio superior. Corresponde
anatomicamente à região naso-labial. As rugosidades do espelho apresentam
variações individuais que permitem identificação específica, tal qual
impressões digitais dos humanos. A coloração do espelho constitui-se em
indicativo da pureza racial e também pode caracterizar o estado sanitário do
animal, devendo apresentar-se úmido e brilhoso. Nos zebuínos, o espelho
deve ser preto.
NUCA - Região ímpar que tem por base anatômica a articulação atlóideo-occipital. Está
situada entre as orelhas, posteriormente à crista nucal (marrafa) e
anteriormente ao bordo superior do pescoço. Deve ser espaçosa.
PARÓTIDA - Região par compreendida pela glândula do mesmo nome. Situa-se entre a
orelha, garganta, bochecha e tábua do pescoço. Deve apresentar ligeira
depressão.
FONTE ou TÊMPORA - Região par, em saliência, situada entre a orelha, a fronte, o
olho e a bochecha. Tem por base anatômica a fossa temporal.
BOCHECHA - Região par, situada entre a fonte, o chanfro, o olho, a parótida, a boca e
a ganacha. Divide-se em "chato da bochecha" e "bolsa" que têm por base
anatômica, respectivamente, os músculos masseter e bucinador.
NARINA ou VENTA - Região par, correspondente à abertura externa das vias
respiratórias ou aberturas nasais. Tem por base anatômica cartilagens e
músculos. Devem estar sempre bem abertas e saudáveis.
FAUCE, ENTRE GANACHAS ou CALHA - Região ímpar, limitada lateralmente pelas
ganachas, posteriormente pela garganta e anteriormente pelo lábio inferior.
Tem por base anatômica o hióide e músculos.
GARGANTA, GORJA ou GOLA - Região ímpar, situada entre o pescoço e a fauce.
Deve ser larga, correspondendo a um bom desenvolvimento da laringe e ao
afastamento dos ramos do mandibular. Quando a garganta é larga, a boca é
espaçosa e o animal comedor.

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2.2-PESCOÇO - Liga-se anteriormente à nuca, parótidas e garganta; posteriormente à
cernelha, escápula e peito. Tem por base anatômica as vértebras cervicais,
ligamentos cervicais e músculos. As tábuas direita e esquerda, apresentam a
"goteira da jugular", depressão longitudinal por onde passa a veia de mesmo
nome. As tábuas apresentam, ainda, dobras da pele que a reveste e que se
mostra frouxa. No bordo superior ocorre, nos machos taurinos, uma massa
músculo-gordurosa denominada cangote, diferente do cupim dos zebuínos.
No bordo inferior insere-se a barbela ou papada, prolongamento da pele que
reveste este bordo, muito desenvolvida nos zebuínos. Forma na parte anterior
a papada e desce ao longo do pescoço até a extremidade deste.
BARBELA - A barbela se inicia discretamente bifurcada em dois pequenos ramos que
se juntam, até alcançar a inter-axila e atingir o refego, ou seja, a dobra de pele
que percorre o esterno e liga, na maioria dos casos, a barbela ao umbigo. O
desenvolvimento do refego, às vezes, acompanha o da barbela.

2.3-TRONCO

CERNELHA, GARROTE ou CRUZES - Região ímpar, anatomicamente denominada


região inter-escapular. Situa-se entre o bordo superior do pescoço e o dorso.
Tem por base anatômica as apófises espinhosas da segunda à sétima vértebra
torácica. É elemento indicador do tipo zootécnico.
GIBA ou CUPIM - Presente nos Zebuínos. Situa-se no alto da cernelha, estendendo-se
um pouco para frente, e sua base não deve ultrapassar posteriormente a
vertical que passa pelo cotovelo, tangenciando-o. Tem por base anatômica os
músculos rombóide e trapézio. Varia de dimensões conforme o sexo e a raça.
O cupim tombado constitui defeito.
DORSO ou ESPINHAÇO - Região ímpar, localizada entre a cernelha e o lombo, acima
dos costados. Tem por base anatômica as últimas vértebras torácicas e
músculos correspondentes, conhecida como região toráxica dorsal. Deve ser
retilíneo, amplo e longo.
LOMBO ou RIM - Região ímpar, situada entre o dorso e a garupa, acima dos flancos e
adiante das ancas. Tem por base anatômica as vértebras lombares e os
músculos correspondentes (íleo, espinais e psoas). Deve ser amplo e
anguloso. É comum no Zebu o lombo oblíquo, ascendente, de que resulta
uma garupa alta.
ANCA, QUADRIL, COXAL ou CADEIRA - Região par, em saliência, situada no
limite entre o lombo e a garupa, posteriormente e acima dos flancos.
Anatomicamente, corresponde ao ângulo anterior externo do osso íleo,
denominada tuberosidade coxal. Devem ser afastadas e ao nível do lombo e
da garupa.
GARUPA - Está situada entre o lombo e a base da cauda, separada da coxa pela linha
que liga a anca à ponta da nádega. Tem por base anatômica o osso sacro, o
coxal e músculos correspondentes, denominada região glútea ou sacral.
Apresenta forma trapezoidal, delimitada pelas linhas e ângulos que unem as

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tuberosidades isquiáticas entre si e os ângulos externos dos íleos. Sua beleza
está em ser ampla, em plano horizontal. Normalmente é considerada "teto do
úbere".
PEITO - Região ímpar, situada entre a base do pescoço, a ponta das escápulas e as inter-
axilas. Tem por base anatômica a extremidade anterior do esterno e
respectivos músculos, denominada região pré-esternal. Deve ser largo e
musculoso nos bovinos de corte e mais discreto nos bovinos leiteiros. Em
ambos os casos, deve apresentar o couro pregueado e frouxo.
AXILA ou SOVACO - Região entre o membro anterior e as inter-axilas. Nessa região a
pele é mais flácida e os pelos mais ralos.
INTER-AXILA - Região situada entre as axilas, posteriormente ao peito e adiante do
cilhadouro. Tem por base anatômica a porção média do osso esterno e
músculos.
COSTADO ou COSTELAS - Região par abaixo do dorso, atrás da paleta, adiante do
flanco e acima do ventre. Tem por base anatômica oito a nove pares de
costelas e músculos correspondentes, denominada região toráxica lateral.
Deve apresentar-se largo, profundo, longo e convexo, com costelas
arqueadas, determinando amplitude torácica e abdominal. Envolve os
principais órgãos respiratórios e circulatórios. Nos bovinos de corte, deve ser
bem revestido por massa muscular.
FLANCO, VAZIO, ILHAL ou ILHARGA - Região par situada posteriormente ao
costado, adiante da anca e da coxa, abaixo do lombo e acima do ventre,
anatomicamente denominada fossa paralombar.
CILHADOURO, CINCHA ou PASSAGEM DA CILHA - Região ímpar, situada entre
as inter-axilas e o ventre, abaixo do costado. Corresponde à parte posterior do
esterno, mais cartilagens e músculos.
VENTRE, BARRIGA, PANÇA ou ABDOMEM - Região ímpar, abaixo do costado e
do flanco, adiante da região inguinal, atrás do cilhadouro. Tem por base
anatômica os músculos abdominais.
UMBIGO - Ponto da linha média onde se localiza a cicatriz umbilical.
VIRILHA - Região par formada pela prega cutânea que une o ventre ao membro
pélvico. Anatomicamente corresponde à região inguinal.
REGIÃO INGUINAL - Região ímpar, situada entre o ventre e o períneo. Nesta região
estão localizados os órgãos reprodutivos externos dos machos.
FONTE DO LEITE - Região par, onde a veia mamária penetra no interior do abdômen.
Sua forma e calibre podem estar associados à capacidade circulatória do
aparelho mamário.
CAUDA, RABO ou COLA - Região ímpar inserida na porção mediana e distal da
garupa, continuidade da linha dorso-lombar, na extremidade posterior do
tronco, constituída pelas vértebras coccigianas (18 a 20) e respectivos
músculos. A cauda possui duas partes: "sabugo" ou parte vertebrada e
"vassoura da cauda" formada por um tufo de pelos longos, abundante no gado
indiano. A inserção da cauda, na garupa, pode ser alta (sacro elevado), ou
baixa, quando se insere entre os ísquios, ao dobrar-se para baixo.

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ÂNUS - Região ímpar, correspondente à abertura posterior do tubo digestivo. Localiza-
se sob a cauda, acima do períneo, nos machos; nas fêmeas situa-se acima da
vulva. Deve ter coloração escura.
PERÍNEO ou REGO - Situa-se entre as nádegas. Nos machos localiza-se do anus ao
escroto. Nas fêmeas, entre a vulva e o úbere.
NÁDEGAS - Região par, situada posteriormente à coxa, estendendo-se da tuberosidade
isquiática ao tendão do jarrete. Tem como base anatômica a tuberosidade do
ísquio e músculos. Deve ser saliente, espessa, descida, polpuda e
arredondada.
ESCROTO - Situado entre as coxas, na região inguinal dos reprodutores. Não deve ser
muito desenvolvido e deve conter dois testículos, também conhecidos
vulgarmente como bagos, grãos ou ovos, onde são produzidos os
espermatozóides, os quais devem apresentar simetria e bom desenvolvimento,
além de mobilidade.

BAINHA, FORRO, BOLSA ou PREPÚCIO - Formada pela dobra de pele que recobre a
verga em repouso. Nos zebuínos, caracteriza-se pelo seu desenvolvimento. É
incorreto denominá-la de umbigo. Quando demasiadamente longa, corre o
risco de traumatizar-se podendo surgir, em conseqüência, a acrobustite e a
fimose.
VERGA, PÊNIS, MEMBRO ou PEÇA - Acha-se envolto pela bainha, quando em
repouso.
VULVA ou VASO - Região ímpar das fêmeas. Localiza-se abaixo do ânus, entre as
nádegas. Mostra dois lábios ligados por comissuras em sentido vertical.
Compõem a abertura externa das vias genito-urinárias. Quando apresenta
pelos demonstra baixa fertilidade.
ÚBERE ou MAMAS - Está situado na região inguinal das fêmeas. Anatomicamente
corresponde às glândulas mamárias. Nas raças leiteiras, projeta-se para o
ventre e para o posterior, atingindo a região média do períneo. Subdivide-se
em quatro quartos, cada qual com uma teta, simétricas, normais, cada uma
com um pequeno orifício na sua face inferior, onde há um esfíncter
responsável pela liberação do leite. É um órgão globoso, em forma de taça, de
volume variável com o estado em que a vaca se encontra, isto é, produzindo
leite ou seca, e ainda, apresenta-se bastante desenvolvido nas raças
especializadas na produção de leite.

2.4-MEMBROS

Os membros estão subdivididos em torácicos e pélvicos.


I) Torácicos - Apresentam as seguintes regiões: escápula, braço, cotovelo, antebraço,
joelho, canela, boleto, quartela e pé.

II) Pélvicos - Apresentam as seguintes regiões: coxa, patela, perna, jarrete, canela,
boleto, quartela e pé.

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ESCÁPULA, PÁ, APA ou PALETA - Região par situada abaixo da cernelha, acima do
braço, entre a base do pescoço e o costado. Está justaposta ao tórax. Tem
como base anatômica o omoplata e músculos da região, correspondendo à
região escapular. Nos bovinos de corte, deve apresentar-se bem revestida por
músculos.
BRAÇO - Região par localizada entre a paleta e o antebraço. Seu limite posterior é o
codilho. A base anatômica é constituída pelo osso úmero e músculos. A
beleza desta região, nos bovinos de corte, está no desenvolvimento muscular.
CODILHO ou COTOVELO - Limite entre o braço e o antebraço. Corresponde
anatomicamente ao olécrano.
ANTEBRAÇO - Região par que se limita, superiormente, com o braço e o codilho e,
inferiormente, com o joelho. Tem como base anatômica os ossos rádio e ulna.
Deve apresentar-se musculoso nos bovinos de corte.
JOELHO - Região par localizada entre o antebraço e a canela. Tem como base
anatômica os ossos do carpo.

COXA - Região par, limitada proximalmente com a garupa, distalmente com a perna,
anteriormente com o flanco e posteriormente com a nádega. No limite com a
perna, anteriormente, fica a patela. Tem como base óssea a articulação fêmur-
tíbio-patelar e músculos da região. Deve ser bem desenvolvida e musculosa
nos bovinos de corte.
PERNA - Região par localizada abaixo da coxa e da patela, acima do jarrete. Tem por
base anatômica tíbia, fíbula e músculos respectivos. É bela quando
musculosa.
JARRETE, GARRÃO ou CURVILHÃO - Região par, situada inferiormente à perna e
acima da canela. Anatomicamente a ponta do jarrete corresponde à
tuberosidade do calcâneo.

2.5-REGIÕES COMUNS AOS MEMBROS TORÁCICOS E PÉLVICOS

CANELA ou CANA - Nos membros torácicos, está situada abaixo do joelho e acima do
boleto. Nos membros pélvicos, fica abaixo do jarrete e acima do boleto. Tem
por base anatômica os ossos do metacarpo, no primeiro caso, e do metatarso,
no segundo caso. Para ser bela, deve ser bem dirigida, em aprumo, curta,
larga e espessa, apresentando bons ligamentos paralelos.
BOLETO - Região par localizada entre a canela e a quartela. Tem por base anatômica a
articulação metacarpo-falangeana no membro anterior e metatarso-falangeana
no membro posterior e os ossos grandes sesamoideanos em ambos os casos.
Deve ser largo, espesso, seco e bem dirigido.
QUARTELA ou MIÚDO - Região par, situada entre o boleto e a coroa que circunscreve
o casco. Tem por base anatômica as duas primeiras falanges ou falanges
proximais. Apresenta uma forma estrangulada, em comparação com as
regiões limítrofes. Deve ser larga e espessa, seca, não alongada e bem

40
dirigida. O exagerado comprimento acarreta sobrecarga dos ligamentos e, se
estes não forem resistentes, o animal pode se tornar "sapateiro" isto é, baixo-
juntado. A quartela deve formar um ângulo de 45 a 50° com o solo.
COROA - Região que circunscreve o casco. É uma parte da quartela que se articula com
o casco. Está dividida em duas por um sulco que separa os dois dedos. Tem
por base anatômica a porção da segunda falange que está fora do estojo
córneo do casco.
SOBRE-UNHAS - Rudimentos de unhas, localizados posteriormente aos boletos,
apresentam-se duplos em cada membro. Anatomicamente corresponde aos
paradígitos.
UNHA, PÉ ou CASCO - É o estojo córneo que recobre e protege a extremidade de cada
membro. Apresenta-se dividido em duas metades, constituindo as unhas com
um espaço central, denominado espaço interdigital. Pode ser dividido em
perioplo, muralha e sola. Perioplo é a parte córnea que contorna o bordo
superior da muralha. Muralha é a região visível do casco, abaixo do perioplo.
Sola ou palma é a concavidade da face plantar. A coloração das unhas deve
ser sempre preta ou escura nos zebus. As unhas posteriores são mais
desenvolvidos que as anteriores. Os posteriores formam um ângulo de 55°
com a horizontal e os anteriores são menos inclinados (50°). As unhas
externas são mais largas e um pouco mais curtas que as internas. A
denominação "casco" não é adequada no caso dos bovinos.

3 - REGIÕES DO CORPO DOS EQUINOS

NUCA - Região ímpar que tem por base anatômica o occipital e músculos. Está situada
entre a fronte, orelha e bordo superior do pescoço. Nela se implanta o topete.
Deve ser alta, cheia e larga.
GARGANTA - Região ímpar situada no ponto de ligação da cabeça com o pescoço,
entre as parótidas. Deve ser larga correspondendo a um bom desenvolvimento
da laringe e ao afastamento dos ramos do mandibular. Quando a garganta é
larga, a boca é espaçosa e o animal comedor.
PARÓTIDA - Região par compreendida pela glândula do mesmo nome. Situa-se de
cada lado da cabeça, em depressão entre as orelhas, garganta, bochecha e
pescoço. Deve apresentar-se longa, lisa e moderadamente reentrante.
FRONTE - Região ímpar que tem por base anatômica os ossos frontais, parietais e face
anterior do occipital. Situa-se entre nuca, chanfro, olho, fonte e orelha. Deve
ser comprida, larga e chata, com perfil retilíneo.
CHANFRO - Região ímpar que tem por base anatômica os ossos nasais. Seu limite
caudal é a fronte, o lateral são bochechas, olhos e narinas e o oral é o focinho.
FOCINHO - Está situado entre o chanfro, as narinas e a boca. Deve apresentar-se com
aparência delicada, suavidade ao tato e íntegro.
ORELHA - Região par implantada entre a nuca, o topete e a parótida. Tem por base
anatômica cartilagem e músculos. Devem ser curtas, delicadas, simétricas e

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bem dirigidas. São conhecidas as orelhas dos tipos de lebre, de porco,
cabanas, corajosas, medrosas e más.
FONTE - Região par, em saliência reentrante, situada entre orelha, fronte, olho e
bochecha. Tem por base anatômica a região têmpro-maxilar. Deve apresentar
profundidade reduzida.
OLHO ou VISTA - Região par situada entre fronte, chanfro e bochecha. Os olhos são
formados pelo globo ocular, protegido pelas pálpebras e pestanas. As
pálpebras devem ser finas, lisas, rasgadas, móveis, bem dirigidas e mostrando
conjuntiva rosada. Os globos oculares devem ser grandes, simétricos, bem
aflorados, medianamente convexos e brilhantes.
BOCHECHA - Região par situada entre a fonte, o focinho e a ganacha. Deve apresentar
pele fina e musculatura lisa e firme.
NARINA - Região par correspondente à abertura externa das vias respiratórias. Tem por
base anatômica cartilagens e músculos. Localizam-se nas laterais do focinho,
limitada pelo chanfro e lábio superior.
GANACHA - Região par que tem por base anatômica o bordo inferior do ramo
mandibular. Situada aos lados da fauce, acima da barba e abaixo da garganta.
Devem ser secas e bem afastadas.
FAUCE - Região ímpar limitada pelas ganachas, garganta e barba. Deve ser larga, seca
e cavada.
BARBA - Situada entre o lábio inferior e a ganacha, adiante da fauce. Deve ser larga,
arredondada e limpa.

BOCA - Limita-se com focinho, narina e bochecha. Tem por base os intermaxilares,
maxilares e palatinos. Nela encontram-se os lábios, os dentes, as gengivas, o
céu da boca ou palatinos e a língua. É a porção inicial do aparelho digestivo.
PESCOÇO - Liga-se anteriormente à nuca, parótidas e garganta; posteriormente à
cernelha, escápula e peito. Tem por base anatômica as vértebras cervicais,
ligamentos cervicais e músculos. As tábuas direita e esquerda, apresentam a
"goteira da jugular", depressão longitudinal por onde passa a veia de mesmo
nome.
CRINEIRA - Situada no bordo superior do pescoço. Pode ser simples ou dupla,
podendo ser cortada ou trançada. Deve apresentar fios lustrosos, não muito
abundantes, macios e relativamente finos.
CERNELHA - Região ímpar situada entre o bordo superior do pescoço e o dorso, acima
das escápulas. Deve ser alta, longa, seca, musculosa, limpa, bem dirigida e
dotada de base larga.
DORSO - Região ímpar localizada entre a cernelha e o lombo, acima dos costados. Tem
por base anatômica as últimas vértebras torácicas e músculos
correspondentes. Deve ser direito, curto, largo e musculoso.
LOMBO - Situado entre o dorso e a garupa, acima dos flancos e adiante das ancas. Tem
por base anatômica as vértebras lombares e os músculos correspondentes.
Deve ser horizontal, curto, largo, musculoso, bem ajustado e flexível.

42
ANCA - Região par, situada no limite entre lombo e garupa, acima dos flancos.
Anatomicamente, corresponde ao ângulo externo do osso ílio. Devem ser
salientes, simétricas e bem musculosas.
GARUPA - Está situada entre o lombo e a base da cauda, separada da coxa pela linha
que liga a anca à ponta da nádega. Tem por base anatômica o osso sacro, o
coxal e músculos correspondentes. Vista de cima, deve mostrar forma
aproximada de um quadrado.
PEITO - Situa-se entre a base do pescoço, a ponta das escápulas e as inter-axilas. Tem
por base anatômica a extremidade anterior do esterno e respectivos músculos.
Deve ser largo e forte, como indícios de tórax e músculos bem desenvolvidos.
AXILA - Região situada entre as faces internas dos membros torácicos e o tronco. Deve
apresentar pele fina, macia e elástica, livre de irritações.
INTER-AXILA - Região situada entre as axilas, abaixo do peito e adiante do
cilhadouro. Tem por base anatômica o osso esterno e músculos. Deve ser
larga e saliente.
COSTADOS - Região par abaixo do dorso, atrás da paleta, adiante do flanco e acima do
cilhadouro e ventre. Tem por base anatômica oito a nove pares de costelas e
músculos correspondentes. Deve apresentar-se alto, longo e convexo.
FLANCO - Região par situada atrás do último par de costelas, adiante da anca e da
coxa, abaixo do lombo, acima da virilha e do ventre. Deve ser curto e cheio,
com movimentos vagarosos e compassados.
CILHADOURO - Região situada entre a inter-axila e o ventre, abaixo do costado.
Corresponde à parte posterior do esterno, mais cartilagens e músculos. Deve
ser largo e achatado, mas com as partes laterais convexas, indicando tórax
largo e musculoso.
VENTRE - Região situada na face inferior do tronco, abaixo do costado e do flanco,
adiante da virilha e dos órgãos genitais, atrás do cilhadouro. Deve apresentar
volume médio, forma cilíndrica e ligações corretas com regiões adjacentes.
VIRILHA - Região par formada pela prega da pele que une a coxa ao ventre. Deve ser
íntegra, com pele fina e elástica, recoberta por pelos curtos e delicados.
CAUDA OU COLA - Região que se insere na extremidade posterior do tronco,
implantada na garupa. A beleza desta região depende das partes que a
constituem, isto é, do sabugo e das crinas.
ÂNUS - Abertura posterior do tubo digestivo, localiza-se sob a cauda. Deve ser
arredondado, saliente, rijo, bem fechado, apresentando superfície untosa,
glabra e escura.
PERÍNEO - Situa-se entre as nádegas e vai do ânus ao escroto nos machos e da vulva às
mamas nas fêmeas. Deve apresentar pele macia, fina, lisa e íntegra, com pelos
delicados e curtos.
ESCROTO - Localizado entre as coxas, na região inguinal, tem a função de alojar e
proteger os testículos. Deve ser fino, macio, elástico, untoso e recoberto por pelos
curtos e delicados.
BAINHA - Formada pela dobra de pele que cobre a verga em repouso. Deve ser fina,
macia, elástica, ampla, íntegra e isenta de verrugas.

43
VERGA ou PÊNIS - Acha-se envolto pela bainha, quando em repouso.
VULVA - Parte posterior do aparelho genital das fêmeas. Localiza-se abaixo do ânus,
entre as nádegas. Mostra dois lábios ligados por comissuras. Deve apresentar
lábios serrados, firmes, sem verrugas, apresentando pele macia, fina, elástica,
untosa, glabra e de cor escura.
MAMAS - Situadas na região inguinal, entre as coxas, formando duas saliências
arredondadas. Cada mama é prolongada por uma teta, cujo ápice apresenta
dois ou mais orifícios para saída do leite. Devem apresentar volume de
acordo com a idade e estado da fêmea, mostrando pele fina, lisa, macia e de
cor escura. As tetas devem apresentar tamanho regular, forma perfeita e
simétrica.
ESCÁPULA, PÁ ou PALETA - Região par situada abaixo da cernelha, acima do braço,
entre a base do pescoço e o costado. Tem como base anatômica o omoplata e
músculos da região. Deve ser longa, bem dirigida, musculosa e dotada de
movimentos amplos.
BRAÇO - Região par localizada entre a paleta e o antebraço. Seu limite posterior é o
codilho. Deve ser longo, musculoso, embora esta musculatura deva ser seca
nos cavalos galopadores.
CODILHO - Região par, situada entre o braço e o antebraço, na parte posterior do
primeiro. Deve ser longo, alto e bem dirigido.
ANTEBRAÇO - Região par que se limita, superiormente, com o braço e,
inferiormente, com o joelho. Tem como base anatômica os ossos rádio e
cúbito. Deve ser longo, largo, musculoso e bem dirigido.
JOELHO - Região par localizada entre o antebraço e a canela. Tem como base
anatômica os ossos do carpo. Deve ser volumoso, seco e bem sustentado.
COXA - Região par que se limita superiormente com a garupa, inferiormente com a
perna, anteriormente com o flanco e a patela e, posteriormente, com a nádega.
No seu limite com a perna, anteriormente, fica a patela, cuja base óssea é a
rótula. Tem como base anatômica o fêmur e músculos da região. Deve ser
longa, musculosa e bem desenvolvida.
NÁDEGAS - Região par situada posteriormente à coxa, estendendo-se da tuberosidade
isquiática ao tendão do jarrete. Tem como base anatômica a tuberosidade do
ísquio e músculos. Deve ser saliente, musculosa e seca.
PATELA - Região par, situada na parte anterior da união entre a coxa e a perna. A
dobra da perna que forma a patela deve ser fina, macia e elástica.
PERNA - Região par localizada abaixo da coxa e da patela, acima do jarrete. Tem por
base anatômica a tíbia, a fíbula e músculos respectivos. Sua beleza está em
ser musculosa, longa e bem dirigida.
JARRETE - Região par situada abaixo da perna e acima da canela. A ponta do jarrete
corresponde à tuberosidade do calcâneo. Deve ser volumoso, seco, com boa
abertura e bem movimentado.
3.1 - REGIÕES COMUNS AOS MEMBROS TORÁCICOS E PÉLVICOS

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CANELA - Nos membros torácicos, está situada abaixo do joelho e acima do boleto.
Nos membros pélvicos, fica abaixo do jarrete e acima do boleto. Tem por
base anatômica os ossos do metacarpo no primeiro caso e do metatarso no
segundo caso. Para ser bela, deve ser bem dirigida, em aprumo, curta, larga,
espessa e apresentar bons tendões.
BOLETO - Região par localizada entre canela e quartela. Tem por base anatômica a
articulação metacarpo-falangeana no membro anterior e metatarso-falangeana
no membro posterior, e os ossos grandes sesamoideanos em ambos os casos.
Deve ser largo, espesso, seco e bem sustentado.
QUARTELA - Região par situada entre o boleto e a coroa que circunscreve o casco.
Deve ser volumosa, seca, regularmente longa, flexível e bem dirigida.
COROA - Região que coroa o casco, situada entre a quartela e o casco. Deve ser larga,
seca e bem ajustada à quartela.
CASCO - É o estojo córneo que recobre e protege a extremidade de cada membro. Os
cascos anteriores são mais desenvolvidos que os posteriores. São
caracterizados quanto ao volume, à forma, à qualidade da matéria córnea e
aos aprumos.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

BATTISTON, W. C. Gado Leiteiro: Manejo, Alimentação e Tratamento. Campinas, SP.


Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1977. 404p.
CAMARGO, M. X. de; CHIEFFI, A. Ezoognósia. São Paulo, Instituto de Zootecnia,
1971. 320p.
DEGASPERI, S.A.R.; PIEKARSKI, P.R.B. Bovinocultura Leiteira; Planejamento,
Manejo e Instalações. Curitiba, Livraria do Chain, 1988. 429p.
JARDIM, V. R. Curso de Bovinocultura. 4.ed. Campinas, Instituto Campineiro de
Ensino Agrícola, 1988. 525p.
MILLEN, E. Zootecnia & Veterinária; Teoria e Práticas Gerais. Campinas, Instituto
Campineiro de Ensino Agrícola, 1975. 409p.
NEIVA, R.S. Produção de Bovinos Leiteiros. Lavras: UFLA, 1998. 534p.
RIBEIRO, D. B. O Cavalo; Raças, qualidades e defeitos. Rio de Janeiro, Globo, 1988.
318p.
SILVA, A. L. Manual do Criador. São Paulo, J. L. Gráfica Editora. 1963. 204p.
VAL, L. J. L. do. Exterior dos Equídeos. Belo Horizonte, Escola de Veterinária da
UFMG, 1982. 95p.
ESTUDO DIRIGIDO

• Discorrer quanto à importância da ezoognósia para a Zootecnia e ciências afins.


• Identificar as principais regiões do exterior dos animais domésticos.
• Apresentar a importância das regiões do exterior dos animais domésticos quanto à
caracterização racial e ao tipo zootécnico.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

DISCIPLINA: 603-250 - Zootecnia Geral

PROFESSOR: Dr. Arnaud Azevêdo Alves

TÓPICO: IDADE DOS ANIMAIS

I - CONSIDERAÇÕES GERAIS

Segundo CAMARGO e CHIEFFI (1971), a existência do animal pode ser


maior ou menor, passando o mesmo por três fases distintas:
a) Infância, na qual o animal cresce e se desenvolve. Nesta fase, o animal emprega a
quase totalidade dos alimentos ingeridos na formação e desenvolvimento de seus
órgãos, mas, à medida que esta fase avança, aproximando-se da idade adulta, parte
desses alimentos já pode ser transformada em rendimento econômico, aumentando-o;
b) Idade adulta, na qual o desenvolvimento se mostra estacionário. O animal emprega
os alimentos ingeridos na sua produção econômica. Em geral, o valor econômico do
animal atinge o máximo, porque o organismo completa o seu desenvolvimento e o
aparelho digestivo, em plena atividade, está apto a extrair dos alimentos quase todos
os princípios nutritivos. Desses princípios, pequena parte é utilizada na manutenção
do animal e o restante é transformado em elementos exploráveis economicamente,
como força, leite, gordura, lã, etc., conforme a aptidão de cada espécie ou raça;
c) Velhice ou fase senil, período em que o animal vai definhando e perdendo a sua
energia vital até a morte. O animal utiliza os alimentos ingeridos em menor
proporção, pois grande parte dos alimentos não é assimilada.
A avaliação da idade dos animais é importante em nosso meio criatório,
onde muitos animais não têm idade real conhecida, por falta de registro da data de
nascimento e são comercializados com base na idade aproximativa, isto é, avaliada
através de indícios morfológicos e anatômicos. Dentre tais indícios, os principais,
porque permitem uma avaliação bastante aproximada da idade real, são fornecidos pela
evolução dentária.
Quanto à dentição, os animais podem ser classificados em heterodontes,
apresentam desde o nascimento dentes diferenciados; e difiodontes, apresentam duas
dentições, uma de leite ou caduca e outra permanente ou definitiva.

46
II - CATEGORIAS DE BOVINOS QUANTO À IDADE

Os bovinos apresentam quatro fases de vida. Denomina-se bezerro(a),


desde o nascimento até a desmama, em condições naturais; da desmama ao início da
puberdade, o bovino é denominado garrote(a); do início da puberdade à primeira cria,
as fêmeas são denominados novilhas, e os machos novilhos até atingirem a maturidade
sexual; após a primeira cria, as novilhas são consideradas vacas, enquanto, os novilhos
maduros sexualmente são denominados touros. Às vezes denomina-se novilha de
primeira cria, às novilhas após o primeiro parto, passando a ser denominadas vacas só
após o segundo parto.

III - PROCESSOS PARA DETERMINAÇÃO DA IDADE DOS BOVINOS

1 - Elementos primários

Para se determinar a idade aproximativa ou o cálculo etário dos bovinos são


utilizados indícios fornecidos principalmente pelos dentes e pelos cornos.

a) Dentes

O bovino jovem apresenta 20 dentes: 12 molares igualmente distribuídos


nas duas arcadas e 8 incisivos implantados na parte anterior do maxilar inferior. O
adulto possui 32 dentes: 24 molares e 8 incisivos. No lugar dos incisivos superiores, os
bovinos apresentam uma cartilagem fibrosa, denominada almofada gengival ou
almofada dentária.
As fórmulas dentárias dos bovinos, segundo a dentição, são as seguintes:

a) Dentição caduca

I: 0/4; C: 0/0; PM: 3/3; M: 0/0 = 20 dentes.

b) Dentição definitiva

I: 0/4; C: 0/0; PM: 3/3; M: 3/3 = 32 dentes.

OS INCISIVOS - Os dois dentes centrais chamam-se pinças; os dois imediatos,


um de cada lado das pinças, são denominados primeiros médios; os seguintes, segundos
médios; e os extremos, cantos.

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São denominados caducos ou "de leite", os incisivos da primeira dentição, e
definitivos os da segunda. A diferença entre os dentes caducos e definitivos é dada,
principalmente, pelo volume, pois os primeiros são bem menores e não apresentam
estrias longitudinais.
O aparecimento dos incisivos substitutos coincide praticamente com a queda
dos caducos correspondentes. Por ocasião da irrupção, o bordo anterior dos incisivos é a
primeira parte a aparecer e, somente depois de algum tempo surge o restante do dente.
O dente incisivo apresenta as seguintes regiões anatômicas: coroa, que se
mostra livre, em forma de pá, convexa na face labial e côncava na face lingual,
apresentando a mesa dentária; colo bem acentuado, ainda mais no dente caduco; raiz,
relativamente alongada e de secção circular, implantada no alvéolo dentário, recoberta
pela gengiva e um tanto móvel, conforme sua implantação, evitando traumatismos na
almofada gengival.
Na mesa dentária de cada incisivo há uma depressão oval, mais ou menos
profunda, denominada cavidade dentária externa ou corneto dentário externo.
No interior da cavidade dentária externa há depósito de uma substância
escura, conhecida por germe de fava.
O dente é constituído por dentina (substância fundamental), esmalte e
cimento (substâncias de revestimento) e polpa dentária. O esmalte, transparente e
muito duro, recobre e protege a coroa, dando brilho e rigidez ao dente. Abaixo do
esmalte, na coroa, e do cimento, na raiz, nota-se a dentina, substância dura e
ligeiramente amarelada que predomina na constituição do dente, na qual estão as
cavidades dentárias externa e interna; a dentina de neoformação é de um amarelo
mais escuro. Envolvendo a raiz encontra-se o cimento, amarelo sujo e menos duro que a
dentina, serve para dar maior consolidação ao dente no alvéolo. Enchendo a cavidade
dentária interna, está a polpa dentária, de cor avermelhada e incluindo vasos sangüíneos
e filetes nervosos (substância vásculo-nervosa), que gera a dentina de neoformação.
A eminência ou saliência avale é representada pela saliência cônica
existente na face lingual da coroa e está diretamente relacionada ao nivelamento
dentário.

A USURA - O desgaste do dente inicia-se pela mesa dentária, de modo que


esta passa, com o tempo, a retilínea. Mais tarde, a ação da usura alcança toda a face
lingual da coroa, quando a eminência avale desaparece e a mesa dentária apresenta-se
côncava.
Na fase do incisivo irrompido, observa-se a cavidade dentária externa,
compreendida entre os bordos anterior e posterior, sendo o primeiro mais elevado que o
segundo; devido a esta diferença de nível, o bordo anterior é atingido pela usura seis
meses após o início da irrupção do dente, enquanto o bordo posterior sofre o mesmo
fenômeno seis meses mais tarde, isto é, um ano após o início da irrupção. Continuando
o desgaste, as bordas da cavidade dentária externa tendem a desaparecer, verificando-se
o rasamento do dente. Mais ou menos nesta ocasião aparece, entre o esmalte central e
o bordo anterior do dente, a estrela dentária, inicialmente sob a forma de um traço
amarelo escuro, paralelo ao bordo anterior, depois quadrada e, finalmente, arredondada
e ocupando a parte central da mesa dentária. A estrela dentária é constituída por dentina
de neoformação, que preenche o fundo da cavidade dentária externa formando um

48
relevo sobre a mesa dentária, e ao desaparecer caracteriza a fase de nivelamento do
dente.
A forma da mesa dentária sofre modificações com a usura, e passa de
elíptica a oval, desta a arredondada, depois triangular, e, finalmente, biangular.

INFLUÊNCIA DA PRECOCIDADE

Quanto à precocidade, é importante considerar os caracteres étnicos e as


condições de manejo alimentar e sanitário.
No Quadro 1, se observa a evolução dentária em animais de raças bovinas
precoces e tardias, considerando a irrupção dos dentes definitivos em função da idade.

QUADRO 1: evolução dentária em animais de raças bovinas precoces e tardias

Dentes Raças precoces Raças tardias

Pinças 14-16 meses 24 meses


o
1 s médios 18-22 meses 36 meses
2os médios 26-28 meses 48 meses
Cantos 32-34 meses 60 meses

Fonte:INCHAUSTI e TAGLE citados por DEGASPERI e PIEKARSKI (1988).

É importante observar que entre os zebuínos aparecem animais cujas mudas


coincidem com as de animais de raças altamente precoces. Nos zebuínos a primeira
muda é mais tardia, em média aos 27 meses, e a última é mais precoce, em média aos 51
meses.
O nivelamento dos dentes definitivos é também bastante adiantado nos
animais precoces.
No Quadro 2, são apresentados os valores de idade aproximativa dos
bovinos pela arcada dentária.
O bovino é considerado de boca cheia aos cinco anos, quando o processo
de muda estiver completo.

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QUADRO 2 - Idade aproximativa dos bovinos pela arcada dentária

IDADE Dentes caducos Dentes permanentes

Pi M C Pi M Can
nças édios antos nças édios tos

Ao nascer 2 2 - - - -

Aos 20 dias 2 4 2 - - -

Aos 2 anos - 4 2 2 - -

Aos 3 anos - 2 2 2 2 -

Aos 3 ½ anos - - 2 2 4 -

Aos 5 anos - - - 2 4 2

Aos 7 anos - - - Rasamento das pinças

Aos 8 anos - - - Rasamento dos 1os. médios

Aos 9 anos - - - Rasamento dos 2os. médios

Aos 10 anos - - - Rasamento dos cantos

Aos 11 anos - - - Nivelamento dos dentes

Aos 12 anos - - - Afastamento dos dentes

b) Cornos

O bezerro nasce sem cornos, podendo ser verificados a partir da primeira


semana duas proeminências no frontal sensíveis ao tato. Aos dois meses, os cornos
começam a apontar na forma de botão córneo e crescem cerca de um centímetro por
mês, até a idade de um ano e meio. Aos seis meses, os cornos já estão fixados
firmemente ao crânio. Todavia, estas indicações variam com as raças; portanto, a
determinação da idade unicamente pelo crescimento dos cornos torna-se um tanto
imprecisa, além de ser afetada pela recomendável prática da descorna e pela ocorrência
de raças mochas e de animais com batoques.
A partir de um ano de idade, o crescimento dos cornos torna-se irregular,
sendo maior nos períodos de disponibilidade alimentar e quase nulo, nos períodos de
escassez. A cada período de escassez corresponde um sulco anular em torno do corno
ocasionado pela menor produção de matéria córnea.
Os sulcos formados nos dois primeiros anos de vida logo desaparecem,
porém, a partir do terceiro ano surgem sulcos persistentes. A avaliação da idade é feita

50
somando-se dois ao número de sulcos existentes no corno. Por exemplo, cornos com
seis sulcos indicam oito anos de idade.
Nos animais velhos, o crescimento dos cornos é lento, conseqüentemente, os
sulcos ficam muito aproximados. Neste caso, a palpação é mais conveniente que a
visão, para o exame e a contagem dos sulcos pouco nítidos.
O desgaste dos cornos sobre superfícies ásperas e a limagem dos mesmos
dificultam a apreciação.
Períodos prolongados de doença podem provocar confusão, pois
determinam a formação de sulcos secundários mais ou menos profundos.
Nas vacas mantidas em regime de estabulação, com alimentação
suplementar permanente, os sulcos correspondem mais a períodos de gestação que à
escassez temporária e intermitente de alimentação. Mesmo assim, a contagem dos
sulcos deve ser feita da forma já recomendada, pois, em geral, a primeira gestação
ocorre até três anos de idade e as subseqüentes, se sucedem anualmente, sob condições
normais.

2 - Elementos secundários

a) Ganachas: apresentam-se mais finas nos animais velhos;


b) Olhais: mais profundos nos animais velhos;
c) Prega da pele: quando feita nas bochechas e fronte, demora a se desfazer;
d) Nó da cauda: surge o primeiro nó na base da cauda aos 13 anos, o segundo aos 17
anos e o terceiro aos 21 anos.

IV - CATEGORIA DOS EQÜINOS QUANTO À IDADE

Considerando as ocorrências fisiológicas, as categorias dos eqüinos quanto à


idade são:
1) Infância ou período de crescimento: O organismo se completa e se aperfeiçoa
anatômica e funcionalmente. Vai do nascimento aos cinco anos. Neste período o
cavalo é denominado potro;

2) Idade adulta ou período de estacionamento: O organismo, tendo alcançado o


completo desenvolvimento, acha-se na plenitude de suas funções. Vai dos cinco aos
doze anos e o cavalo é denominado adulto;

3) Velhice ou período de decrescimento: O organismo, pouco a pouco, vai


definhando, física e funcionalmente, perdendo a energia vital. Começa aos treze anos
e vai até a morte, e o cavalo é denominado velho.

51
V - PROCESSOS PARA DETERMINAÇÃO DA IDADE DOS OVINOS E
CAPRINOS

A idade aproximada dessas espécies também pode ser determinada pela


arcada dentária, em períodos caracterizados pelas modificações especiais sofridas pela
usura dentária. Embora, a precocidade de algumas raças destas espécies seja um fator de
desequilíbrio nas diversas fases de determinação da idade pelos dentes.

1o Período: Irrupção dos dentes caducos.


5 a 7 dias - irrompem as pinças e primeiros médios;
14 dias - irrompem os segundos médios;
30 dias - irrompem os cantos.

2o Período: Nivelamento dos dentes caducos que, embora se processe com certa
irregularidade, segundo as raças, a natureza das forragens consumidas,
etc., apresentam características ligadas à conformação e ao tamanho dos
dentes, as quais concorrem para uma determinação aproximada.

6 meses - nivelamento das pinças e primeiros médios;


7 meses - nivelamento dos segundos médios;
9 meses - nivelamento dos cantos.

3o Período: Mudas dos dentes caducos.

15 meses - caem as pinças e estão substituídas a 1,5 anos;


2 anos – muda dos primeiros médios;
3 anos – muda dos segundos médios;
4 anos – muda dos cantos.

Para facilidade de determinação da idade, neste período da vida do animal,


que, justamente, é o mais importante sob o aspecto econômico, poderia se dizer que a
idade do ovino ou caprino representa a metade do número de incisivos definitivos que
apresentar. Assim, um carneiro chamado "de quatro dentes" (teria pinças e primeiros
médios crescidos) seria um animal de dois anos, etc.

4o Período: Nivelamento dos definitivos.

6 anos - pinças niveladas;

52
7 anos - primeiros médios nivelados;
8 anos - segundos médios nivelados;
9 anos - cantos nivelados.

Do quarto período em diante, as modificações sofridas pelos dentes são


muito irregulares, o que dificulta as observações para a determinação da idade.
Há citações do aparecimento da cauda de andorinha nos dentes dos ovinos,
proveniente do desgaste anormal das bordas adjacentes das pinças, ocasionado pela ação
de forragens grosseiras. Assim, a cauda de andorinha não tem importância na avaliação
da idade dos ovinos pela arcada dentária.
VI - FASES DA VIDA DOS SUÍNOS

As crias suínas novas recebem a denominação de leitões ou marrotes, os


machos; e de leitoas ou marrãs, as fêmeas.
O macho adulto reprodutor, denomina-se cachaço ou varrão e a fêmea,
porca.
Os castrados são denominados capadetes, quando jovens; e capados,
quando adultos.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
CAMARGO, M.X., CHIEFFI, A. Ezoognósia. São Paulo: Instituto de Zootecnia, 1971.
320p.
GUIA RURAL. Cavalos. São Paulo: Abril, 1991. 170p.
JARDIM, V.R. Curso de Bovinocultura. 4. ed. Campinas: Instituto Campineiro de
Ensino Agrícola, 1988. 525p.
MILLEN, E. Zootecnia & Veterinária: teoria e práticas gerais. Campinas: Instituto
Campineiro de Ensino Agrícola, 1975. 409p.
RIBEIRO, D.B. O Cavalo: raças, qualidades e defeitos. Rio de Janeiro: Globo, 1988.
318p.
SEIXAS, V.N.C.; CARDOSO, E.C.; ARAÚJO, C.V. et al. Determinação da cronologia
dentária dos machos bubalinos (Bubalus bubalis) criados no estado do Pará. Ciência
Animal Brasileira, v.8, n.3, p.529-535, 2007.
SILVA, A. L. Manual do Criador. São Paulo: J. L. Gráfica Editora. 1963. 204p.
TORRES, A.D.P., JARDIM, W.R. Criação do Cavalo e de outros Eqüinos. São Paulo:
Nobel, 1977. 654p.
VAL, L.J.L. Exterior dos Eqüídeos. Belo Horizonte: Escola de Veterinária da UFMG,
1982. 95p.
ESTUDO DIRIGIDO

• Discorrer quanto à importância do conhecimento da idade aproximativa dos animais.

53
• Identificar os elementos que caracterizam a idade aproximativa dos animais.
• Caracterizar as fases da vida dos animais.
• Identificar as categorias animais quanto às fases da vida.
• Identificar elementos primários e secundários para determinação da idade
aproximativa dos animais.
• Identificar os tipos de dentes como elementos primários envolvidos na determinação
da idade aproximativa dos animais.
• Apresentar as fórmulas dentárias das espécies difiodontes de interesse zootécnico.
• Identificar a idade de animais quanto à cronologia dentária, considerando os
processos de irrompimento, mudas e usura dos dentes.
• Discutir quanto aos fatores que limitam a precisão de idade aproximativa.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

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DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

DISCIPLINA: 603-250 - Zootecnia Geral


PROFESSOR: Dr. Arnaud Azevêdo Alves
TÓPICO: APRUMOS

Os aprumos são determinados pela direção dos segmentos dos membros


considerados isolados e em conjunto, ou seja, é a exata direção que têm os membros em
relação ao solo, de maneira a melhor distribuir o peso do animal sobre seus membros.

1 - CLASSIFICAÇÃO DOS APRUMOS


1. Aprumos regulares - São aqueles que permitem ao animal bom equilíbrio, sólida
sustentação e correta distribuição de pressões sobre as superfícies articulares dos
membros, facilitando assim execução de movimentos firmes, amplos e livres.
2. Aprumos irregulares - São os aprumos defeituosos, prejudiciais ao equilíbrio, à
boa sustentação e à distribuição das pressões, portanto, à manutenção do animal.

2 - APRECIAÇÃO DOS APRUMOS


1. Anteriores - vistos de perfil e de frente.
2. Posteriores - vistos de perfil e pela parte de trás.

1.1. APRUMOS ANTERIORES VISTOS DE PERFIL


a) Aprumos regulares:
• Quando a vertical baixada da ponta da espádua toca o solo uns 5
cm adiante das unhas.
• Quando a vertical baixada do meio da articulação do braço com o
antebraço divide ao meio o joelho, canela e boleto, caindo atrás dos talões.

b) Aprumos irregulares:
⇒ Desvios totais:
• Para diante - Acampado-de-diante (estacado). O animal se torna
impróprio para o serviço de sela.
• Para trás - Sobre-si-de-diante (debruçado). Provoca o
abaixamento dos talões ou o levantamento da pinça.

⇒ Desvios parciais:
• Nos joelhos
 Para diante: ajoelhado
 Para trás: transcurvo. É tolerável no cavalo de tração.
• Nos boletos

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 Para diante: boletado (acarreta fraqueza extrema dos anteriores e anula o
amortecimento das reações).
• Nas quartelas
 Para diante: longe de quartela ou sapateiro (baixo de quartela). Sobrecarrega
os talões e ligamentos.
 Para trás: curto de quartela (fincado-sobre-a-quartela).
• Nos pés
 Para diante: pé comprido (oferece mau apoio).
 Para trás: pé pinçadeiro (recai sobre a pinça e acarreta andamentos
encurtados).
 Para trás: pé boto (reúne inconvenientes do boletado e pinçadeiro,
apresentando ainda retração dos tendões flexores).

1.2. APRUMOS ANTERIORES VISTOS DE FRENTE


a) Aprumos regulares:
• Quando a vertical baixada da ponta da espádua divide joelho,
canela, boleto, quartela e pé ao meio.

b) Aprumos irregulares:
⇒ Desvios totais:
• Para fora - Aberto-de-frente. Provoca má distribuição de pressões
nas superfícies articulares e os ligamentos externos são sobrecarregados.
• Para dentro - Fechado-de-frente. Torna o equilíbrio instável e
expõe o animal a lesões.

• Desvios parciais:
• Nos joelhos e boletos
 Para fora: arqueado
 Para dentro: cambaio
Nestes casos há comprometimento da firmeza de apoio e da beleza dos
andamentos.
• Nos pés
 Para fora: arqueados
 Para dentro: cambaios
Nestes casos há frequência de lesões, principalmente nos pés cambaios.
• Torções
 Para fora: esquerdo. Apresenta torção para fora, isto conduz ao desgaste
prematuro.
 Para dentro: caravanho.
Nestes casos há freqüência de lesões, principalmente nos pés cambaios.

56
2.1. APRUMOS POSTERIORES VISTOS DE PERFIL
a) Aprumos regulares:
• Quando a linha do aprumo baixada da ponta da nádega, passa pela
ponta do jarrete, tangencia a porção posterior na parte superior e alcança o solo
a 5 cm atrás das unhas.

b) Aprumos irregulares:
⇒ Desvios totais:
• Para frente - sobre-si-de-trás (acurvilhado). Sobrecarrega os talões
e as articulações do jarrete e do boleto, facilitando o aparecimento de
exostoses.
• Para trás - acampado-de-trás. O animal torna-se facilmente selado
com as pinças e mamas sobrecarregadas e os andamentos prejudicados.

⇒ Desvios parciais:
• Nos jarretes
 Para trás: jarrete aberto (maior que 160o)
 Para diante: jarrete fechado (menor que 140o)
Nos boletos, quartelas e pés, os desvios recebem as mesmas
denominações e apresentam os mesmos inconvenientes já identificados em
relação aos membros anteriores.

2.2. APRUMOS POSTERIORES VISTOS PELA PARTE DE TRÁS


a) Aprumos regulares:
• Quando a linha de aprumo baixada da ponta da nádega divide o
jarrete, a canela, o boleto, a quartela e o casco em duas partes praticamente
iguais.
b) Aprumos irregulares:
⇒ Desvios totais:
• Para fora - Aberto-de-trás. Apresenta andamentos encurtados.
• Para dentro - Fechado-de-trás. O animal torna-se impróprio a
todos os serviços, pois seus membros apresentam má distribuição de pressões e
trações.

• Desvios parciais:
• Nos jarretes
 Para fora: jarretes arqueados. Apresenta má sustentação, jarretes vacilantes,
má impulsão, etc.
 Para dentro: jarretes ganchudos. Apresenta andamentos defeituosos e gasto
normal do casco.
• Nos boletos e pés
 Para fora: zambro. Apresenta soldra afastada, jarretes ganchudos e pinças
desviadas para fora.

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 Para dentro: cambaio. Torna os andamentos defeituosos e expõe o animal à
ruína.
Obs.: O cambaio pode ocorrer a partir dos jarretes e boletos, ou
somente nos pés.

3 - ESTAÇÃO

A estação é verificada quando o animal repousa em pé. Existe dois tipos de


estação:
*0 Estação livre - Quando o animal se apoia em três membros e descansa um dos
posteriores fletido e apenas com a pinça tocando o solo.
*1 Estação forçada - Quando o apoio se dá sobre os quatro membros. Exige tanto,
que o cavalo procura voltar logo à estação livre. Em estação forçada, o animal
apresenta-se:
 Em posição: Quando os membros são mantidos verticalmente, com os
aprumos regulares.
 Juntado: Com os membros dirigidos para baixo do corpo, diminuindo a base
de sustentação e forçando os músculos flexores.
 Acampado: se os pés se afastam da projeção do corpo, aumentando a base
de sustentação, mas sobrecarregando alguns músculos extensores e
facilitando o enselamento.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

CAMARGO, M.X.; CHIEFFI, A. Ezoognósia. São Paulo: Instituto de Zootecnia, 1971.


320p.
JUNQUEIRA, A. Podologia eqüina. In: Equinocultura: Curso de Atualização. João
Pessoa: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 1991. p.36-132.
TORRES, A.P.; JARDIM, W.R. Criação do Cavalo e de outros Eqüinos. São Paulo:
Nobel, 1977. 654p.
VAL, L.J.L. Exterior dos Eqüídeos. Belo Horizonte: Escola de Veterinária da UFMG,
1982. 95p.
ESTUDO DIRIGIDO

• Caracterizar aprumos.
• Identificar os aprumos regulares e irregulares dos animais e as conseqüências que
podem acarretar sobre seu desempenho produtivo.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

DISCIPLINA: 603-250 - Zootecnia Geral

PROFESSOR: Dr. Arnaud Azevêdo Alves

TÓPICO: CONCEITOS ZOOTÉCNICOS

Na apreciação ou julgamento dos animais domésticos, devem ser


considerados os conceitos zootécnicos determinantes da beleza, defeitos, vícios e taras
dos animais. A seguir, são apresentadas as principais definições destes elementos.

1 - BELEZA

Em zootecnia, o conceito de beleza está mais relacionado com o fim


utilitário que com a estética. Beleza é um termo empregado para determinar a eficiência
das regiões do corpo do animal em relação à sua utilidade. Uma região é considerada
bela quando, por sua conformação, preenche os requisitos para o desempenho de seu
papel, e uma função é bela quando fisiologicamente perfeita.
A beleza pode ser classificada em absoluta, relativa e convencional.

a) Beleza absoluta
Indispensável a todos os animais, tornando-os eficientes a qualquer fim
utilitário, não importando a aptidão, raça ou idade.
Ex.: Aprumos perfeitos, olhos normais.

b) Beleza relativa
Exigida para um determinado fim utilitário. Determinada em função do tipo
zootécnico.
Ex.: O cavalo de tração deve apresentar tronco amplo, peito largo, pescoço
musculoso, garupa maciça, membros curtos e grossos; enquanto, o cavalo de sela deve
apresentar tronco delgado, cabeça pequena, pescoço fino e longo, membros longos e
com canelas delgadas. O bovino tipo carne deve apresentar culote cheio e o tipo leite,
corpo anguloso.

59
c) Beleza convencional
Imposta pela moda, ou apresentada para fim comercial. Determinada apenas
pela preferência pessoal.
Ex.: Pelagens exóticas ou raras, andamentos naturais ou adquiridos.

2 - DEFEITO
Conformação imprópria ou má qualidade física do animal. É um atributo
antagônico à beleza.
O defeito pode ser classificado em absoluto, relativo, convencional,
congênito e adquirido.
a) Defeito absoluto
Prejudica o animal em qualquer fim utilitário. Não pode ser compensado.
Ex.: Cegueira, maus aprumos, cifose (coluna vertebral convexa), lordose
(coluna vertebral côncava, selada), escoliose (curvatura lateral da coluna vertebral, que
pode ser única ou múltipla).
b) Defeito relativo
Prejudica parcialmente o animal, não influenciando muito no seu fim
utilitário. Pode ser compensado, segundo a utilização do animal.
Ex.: Cavalo de sela com pescoço grosso devido à castração tardia.
c) Defeito convencional
Determinado pela moda ou fim comercial, levando o animal à rejeição pela
preferência pessoal.
Ex.: Pelagens que não se enquadram na pretensão do indivíduo.
d) Defeito congênito
São anomalias do crescimento e da forma do esqueleto, devidas a fatores
que atuam em um momento qualquer do desenvolvimento do embrião ou do feto, desde
a diferenciação dos segmentos mesodérmicos até o nascimento. O defeito congênito
ocorre por inibição de um ou mais estágios da complexa seqüência do desenvolvimento
fetal e poderá afetar uma simples estrutura anatômica ou funcional, ou um sistema como
um todo, ou ainda poderá haver combinação, tanto de alterações estruturais como
funcionais ou sistêmicas (DENNIS & LEIPOLD, 1986 e LEIPOLD, 1986).
Ex.: Agnatismo (ausência de maxilar inferior), Prognatismo (maxilar
inferior proeminente), Criptorquidismo (ausência de testículos), Monorquidismo
(presença de apenas um testículo na bolsa escrotal), Hipoplasia testicular (testículos
pouco desenvolvidos), etc.
e) Defeito adquirido

60
Surge após o nascimento. Adquirido durante a fase de vida pós-natal do
animal.
Ex.: Cegueira por acidente ou doença.

3 - OBJEÇÃO

Falha de menor importância que o defeito. Ocorre no exterior do animal.


Ex.: Membros compridos, orelhas grandes, falta de brilho natural das
cerdas, presença de tetos rudimentares.

4 - VÍCIO

Corresponde à má qualidade de comportamento, que deprecia parcial ou


totalmente o animal para determinado fim. É um defeito de ordem moral.
A hereditariedade, em grande parte, e também o caráter, o temperamento, o
medo, a imitação, os corretivos brutais, o manejo incorreto, os defeitos de aprumos, a
visão anormal, a doma incompleta e a ociosidade, são as causas predominantes dos
vícios nos animais.
Como exemplos de vícios, merecem destaque:
• Vacas que mamam em si mesmas ou nas demais;
• Bezerros que comem os próprios pelos ou dos demais;
• Bois de tração que amuam, escoiceiam ou jogam a canga;
• Cavalos que mordem, escoiceiam, disparam ou tomam o
freio, empacam, masturbam-se, comem cola ou apresentam coprofagia e
geofagia.

5 - VÍCIO REDIBITÓRIO

Anormalidade grave oculta, capaz de tornar o animal impróprio a


determinado gênero de exploração.
Considera-se vício redibitório todas as doenças, defeitos e vícios que
possam ser encobertos enganosamente.
A existência de vício redibitório, quando constatada dentro do prazo
estipulado no contrato de venda, dá ao comprador o direito de intentar ação redibitória
contra o vendedor.
Os casos de vícios redibitórios são regidos pelo Código Civil Brasileiro e
previstos em Medicina Legal Veterinária.
O Código Civil Brasileiro inclui algumas disposições quanto aos vícios
redibitórios, a seguir resumidas:

61
[O contrato oneroso permite a ação redibitória nas seguintes bases: salvo
cláusula expressa, a ignorância de tais vícios pelo vendedor não o exime de
responsabilidade; se o vendedor conhecia o vício ou o defeito, restituirá o que recebeu
com perdas e danos; se não o conhecia, tão somente restituirá o valor recebido, mais as
despesas do contrato; a responsabilidade do vendedor subsiste ainda que o animal
pereça em poder do comprador, se perecer de vício oculto já existente à época da
transação; quando o vício não inutiliza por completo o animal, o comprador pode
reclamar abatimento no preço, em vez de rescindir o contrato; se o animal for vendido
em hasta pública, não cabe ação redibitória, nem a de pedir abatimento no preço;
quando os animais forem comercializados em conjunto, parelhas ou lotes, o defeito
oculto de um não autoriza a rejeição de todos; a ação redibitória, ou pedido de
abatimento no preço, só podem ser intentada dentro do prazo de quinze dias, contados a
partir da data da transação.]
Como exemplos de vícios redibitórios, previstos em Medicina Legal
Veterinária, podem ser citados:
• Enfermidade ou defeito transmitido hereditariamente;
• Enfisema pulmonar;
• Asma determinada por alterações crônicas do aparelho
respiratório ou do circulatório;
• Esterilidade (180 a 200 dias de garantia);
• Claudicação crônica intermitente.

6 - FRAUDE

Mascaramento de defeitos visíveis ou adulteração de conformações normais


que poderiam desvalorizar o animal.
Em exposições, qualquer indício de fraude acarreta desclassificação sumária
do animal.
• Como exemplos de fraudes, podem ser citados:
• Raspagem de feridas antigas para que passem por novas, e,
conseqüentemente, menos graves;
• Raspagem dos cornos para aparentarem mais novos;
• Suspensão da ordenha por um ou dois dias, para que o
úbere apresente maior volume;
• Ordenha de novilhas antes do parto, a fim de que
apresentem úbere maior;
• Limagem dos dentes, arrasando-os ou nivelando-os
artificialmente, para impingir animais jovens por adultos e vice-versa;
• Extração de dentes, dando aparência idosa aos potros
novos;
• Engorda do animal para encobrir alguns defeitos;
• Aplicação de ungüentos ou insuflar de ar nas covas.

7 - TARA

62
É qualquer sinal visível exteriormente que deprecia o animal. Tumores
moles ou duros que se desenvolvem geralmente nos membros, ao longo dos raios ósseos
e em torno das articulações. São provocados por esforço em trabalho ou por acidente.
Muitas vezes determinam manqueiras, conforme a localização. Algumas cicatrizes
acidentais ou cirúrgicas são denominadas taras.
Quanto à textura, as taras podem ser classificadas em tara mole e tara dura.

a) Tara mole
Provocada pelo derrame de sinóvia articular ou tendinosa (líquido existente
na bainha sinovial articular ou tendinosa). Constitui-se de tumores flutuantes, tomando
as denominações de hidartose ou hidropisia. São denominadas vulgarmente de ovas ou
ventos, quando localizadas na região do boleto.

b) Tara dura
Ocorre notadamente nos membros. Provocada por osteíte ou periostite,
proveniente de traumatismos violentos nos ossos ou de origem hereditária, de fadiga ou
de trabalho exagerado em animais novos ou predispostos. São denominadas exostoses,
pois resultam de tumores ósseos de tamanho variável.
A origem hereditária das taras duras é um tanto controvertida. Embora seja
mais aceitável a hipótese de que não há transmissão hereditária direta do tumor ósseo e
sim uma predisposição para o surgimento da tara nos primeiros esforços ou
traumatismos.

8 - CONSTITUIÇÃO

Resulta do conjunto do organismo e das relações mútuas entre suas partes,


das quais depende o comportamento do indivíduo diante das condições ambientes.
Engloba as características que determinam parcialmente a capacidade alimentar, a
eficiência reprodutiva, a saúde, e o vigor do animal, conseqüentemente, sua
longevidade. A constituição tem grande reflexo sobre a rusticidade, a reprodução e o
rendimento, portanto, deve ser considerada nos animais de reprodução e de produção.
O animal que suporta condições adversas possui boa constituição, em caso
contrário, tem má constituição.
A boa constituição pode ser dividida em robusta e seca. O animal com
constituição robusta se apresenta com cabeça larga e olhos expressivos, narinas bem
abertas, pescoço, peito e tórax amplos, musculatura bem desenvolvida e rija; aparência
saudável e bom apetite; ossatura forte e seca; pele flexível e elástica; pêlos em cobertura
uniforme, bem assentados; boas ligações entre as regiões do corpo; temperamento dócil,
porém enérgico; resistência às influências desfavoráveis do ambiente; alta capacidade
reprodutiva.
O animal dotado de constituição seca mostra notável refinamento; regiões,
ossos e articulações delicadas, secas, leves, elegantes, porém fortes; pele fina, com pelos

63
lisos, finos, macios e brilhantes, em cobertura uniforme; tendões nítidos e fortes;
aprumos regulares; olhar vivo e atento; atitudes alertas; movimentos fáceis, vivos,
enérgicos e elegantes; boas ligações e harmonia geral.
A má constituição pode ser dividida em grosseira e débil. A constituição
grosseira é revelada por cabeça empastada; olhos encovados e pálpebras grossas; ossos
volumosos e articulações bem definidas; tendões pouco nítidos; pele grossa; pelos
grosseiros e irregularmente distribuídos; musculatura sem relevos salientes; más
ligações entre as regiões do corpo; falta de harmonia geral; atitudes indiferentes e
movimentos pouco enérgicos.
A constituição débil pode ser caracterizada por cabeça estreita; olhos
apáticos; orelhas finas; pescoço longo e fraco; tórax estreito e ossatura débil;
articulações salientes; musculatura geral deficiente; regiões mal definidas e mal
conformadas; aprumos irregulares; pele fina e pelos mal assentados, com falhas visíveis
em torno das cavidades naturais; má simetria geral; predisposição a adquirir vícios;
fraca resistência a doenças e ao ambiente desfavorável; baixa capacidade reprodutiva.

9 - TEMPERAMENTO

É a expressão da organização nervosa do animal, que se traduz na sua


reação psíquica às condições ambientais. Segundo as reações do indivíduo às
impressões exteriores, o temperamento é classificado em vivo ou enérgico e linfático ou
calmo; o primeiro, quando muito acentuado, é nervoso; o segundo, quando em grau
exagerado, é indolente.
Alguns animais têm temperamento próprio, bem adaptado ao exercício de
uma determinada função. Por exemplo: o cavalo de tipo pesado mostra em geral
temperamento linfático, enquanto que o corredor é nervoso e o bom cavalo de sela,
vivo.
O linfatismo é acusado por reações lentas e atitudes calmas; a indolência é
revelada por grande indiferença aos estímulos do meio; a vivacidade é demonstrada por
atitudes alertas, movimentos rápidos e fáceis, principalmente dos olhos e orelhas; e, o
temperamento nervoso é exteriorizado por grande inquietação, constante excitação,
sensibilidade, sinais de medo e reações instantâneas.

10 - DISPOSIÇÃO

Indica a índole do animal e é revelada pelo seu comportamento. Pode ser


boa ou má.

11 - QUALIDADE

É verificada pela estrutura do organismo e apreciada através do refinamento


geral do animal. Consiste na delicadeza das partes do conjunto do corpo do indivíduo,
sem chegar à debilidade. A ausência de regiões grosseiras, a nitidez dos relevos e a

64
lisura das superfícies do corpo são indícios de qualidade. Os animais podem ser
considerados de boa ou má qualidade. Nos bovinos tipo corte, considera-se de boa
qualidade, o animal que apresentar pouco desenvolvimento nas regiões que apresentam
cortes de carcaça de baixo valor comercial.

12 - SUBSTÂNCIA

É avaliada pelos desenvolvimentos ósseo e muscular do animal, englobando


constituição, qualidade, forma e tamanho. Um animal dotado de boa substância possui
peso e tamanho de acordo com a raça e a idade, corpo forte e bem delineado, e ossos
bem desenvolvidos mas não grosseiros, formando articulações amplas, porém secas.
Este é um atributo importante em cavalos de tiro.

13 - CONFORMAÇÃO

É determinada pela configuração das regiões do corpo do animal e pelo seu


conjunto, abrangendo proporções, dimensões e relações entre as diversas regiões. O
julgamento tem por base a conformação do indivíduo.

14 - SIMETRIA

Resulta do equilíbrio entre as diferentes regiões e das proporções do corpo,


dando ao conjunto uma aparência atraente, equilibrada e harmônica.

15 - TIPO ZOOTÉCNICO

É o conjunto dos caracteres morfológicos do animal em relação à sua


finalidade produtiva.

16 - TIPO SEXUAL
É evidenciado pela integridade e desenvolvimento normal dos órgãos
genitais, assim como pela presença de caracteres sexuais secundários bem definidos,
dos quais resulta a aparência masculina ou feminina. É importante no julgamento de
reprodutores.

17 - ESTILO
Envolve as atitudes e a estética das regiões do corpo do animal e de seu
conjunto.

65
Atitudes imponentes, linhas elegantes, andamentos regulares, assim como
aparência de força e energia, são indispensáveis ao estilo.

18 - APARÊNCIA GERAL
É a soma dos diversos atributos do animal, principalmente altura e peso
segundo a idade, conformação, estado de saúde, condição, temperamento, disposição,
estilo e qualidade.

19 - INTEGRIDADE
Ausência de taras e defeitos.

20 - ESTADO DE SAÚDE

Um animal só desempenha satisfatoriamente suas funções quando em bom


estado de saúde, resultante do perfeito funcionamento de seus órgãos. Por esta razão, o
indivíduo doente não deve ser submetido a julgamento comparativo.
O exame do estado de saúde do animal é iniciado pela inspeção, isto é, pela
observação dos olhos, narinas, boca, mucosas, pele, taras mais visíveis, além das
atitudes, movimentos e reações.
O animal sadio apresenta movimentos desembaraçados e enérgicos. Suas
atitudes, calmas ou enérgicas, são firmes. Suas orelhas são mantidas bem dirigidas e
ativas. A cabeça e o pescoço são bem sustentados. Os olhos, além de apresentarem
conjuntivas rosadas, são vivos, limpos, brilhantes e expressivos. As cavidades naturais
apresentam mucosas rosadas. O espelho e as narinas devem se apresentar limpas e
úmidas e, finalmente, os pêlos são bem assentados e luzidios.
O animal doente se movimenta sem energia e mostra atitudes inexpressivas.
Suas orelhas são pouco firmes e indiferentes a ruídos. A cabeça e o pescoço são
mantidos um tanto caídos. Os olhos parados e sem expressão, estão geralmente
lacrimejantes. As mucosas adquirem coloração pálida ou vermelha. As narinas ficam
secas ou com corrimento e os pelos, mal assentados e sem brilho.
Mediante palpação, verifica-se a consistência e a sensibilidade de algumas
regiões do corpo, especialmente rins e articulações.
A percussão e a auscultação, também são elementos úteis no exame do
estado de saúde do animal.

21 - CONDIÇÃO
Estado geral do indivíduo em relação ao fim a que se destina por ocasião de
sua apreciação.

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22 - DESEMPENHO, PERFORMANCE OU RENDIMENTO

Execução das atividades para as quais o animal é especializado.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

MILLEN, E. Zootecnia & Veterinária: Teoria e Práticas Gerais. Campinas, SP:


Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1975. 409p.
RIBEIRO, D.B. O Cavalo: Raças, qualidades e defeitos. Rio de Janeiro, RJ: Globo,
1988. 318p.
SANTA ROSA, J. Malformações congênitas em ovinos. Brasília: EMBRAPA/CNPC,
1989. 13p. (Documentos, 9).
VAL, L.J.L. Exterior dos Eqüídeos. Belo Horizonte, MG: Escola de Veterinária da
UFMG, 1982. 95p.

ESTUDO DIRIGIDO

• Identificar os conceitos zootécnicos da beleza, defeito, objeção, vício, vício


redibitório, fraude, tara, constituição, temperamento, disposição, qualidade,
substância, conformação, simetria, tipo zootécnico, tipo sexual, estilo, aparência
geral, integridade, estado de saúde, condição e desempenho produtivo.
• Apresentar exemplos e situações práticas para os conceitos zootécnicos apresentados
no item anterior.
Determinar dentre as atividades zootécnicas, situações em que estes termos serão
utilizado

67
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

DISCIPLINA: 603-250 - Zootecnia Geral

PROFESSOR: Dr. Arnaud Azevêdo Alves

TÓPICO: PELAGENS DOS ANIMAIS

Pelagem é o termo usado no estudo do exterior para designar o conjunto


formado por pele, pelos e crinas que revestem a superfície do corpo e determinam a cor
dos animais.
A pele quase sempre pigmentada. Quando esta é despigmentada se constitui
em defeito absoluto, denominado "albinismo". A melanina tem a função de proteção da
pele contra os raios ultravioleta, que são eficazmente absorvidos por este pigmento.
Os pelos merecem destaque tanto pela coloração quanto pelo tipo, ou seja,
sua expressão morfológica quanto à dimensão, espessura e densidade. Os pelos e crinas
variam de cor, segundo a idade, o sexo, os cuidados de limpeza, a nutrição, o estado de
saúde, o clima, a exposição ao sol, etc.
A pelagem dos animais novos se modifica com o avançar da idade. Nos
eqüinos, os garanhões têm a cor mais viva e brilhante, tal como os demais animais,
quando bem alimentados e sadios, apresentando pelos finos e sedosos.

PELAGENS PARA OS TRÓPICOS

Quanto à adaptação dos animais aos trópicos, a cor da pele é tão importante
quanto a coloração dos pelos. Os pelames branco amarelo ou vermelho, com uma pele
preta, constituem uma combinação ideal para tornar o animal resistente à temperatura
ambiente elevada, radiação intensa de calor e radiação ultravioleta nos trópicos. Essa

68
combinação é encontrada entre as raças de bovinos e eqüinos dos trópicos, como por
exemplo, as raças zebuínas e os eqüinos da raça árabe.

CLASSIFICAÇÃO EM GRUPOS, TIPOS E VARIEDADES

Na cromotricologia ocorre grande diversidade de termos regionais,


dificultando a resenha dos animais.

A - PELAGENS DOS EQÜÍDEOS

O principal sistema para classificar pelagens de eqüinos é o Sistema


Francês, a seguir apresentado e modificado em alguns pontos, permitindo a utilização
de termos generalizados no Brasil.
A pelagem do cavalo primitivo, segundo se supõe, era alazã. As diferentes
"nuances", com que as pelagens dos eqüinos foram se apresentando posteriormente,
permitem enquadrá-las em quatro grupos principais:

GRUPOS TIPOS

Pelagens simples e uniformes Preto


Branco
Amarelo
Vermelho

Pelagens simples com crinas e extremidades


escuras ou pretas Baio
Castanho
Cardão

Pelagens compostas Tordilho


Rosilho
Lobuno
Ruão

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Pelagens conjugadas ou justapostas Pampa ou tobiano
Persa
Apaloosa

I - PELAGENS SIMPLES E UNIFORMES

Apresentam pelos de uma só cor, sendo chamadas também de uniformes. As


extremidades do corpo podem ser mais claras ou mais escuras.
A direção dos pelos é importante na resenha destas pelagens, onde são
destacados:
*2 Rodopios ou remoinhos: Pelos concêntricos, formando um pequeno borrão, que
ocorrem geralmente na fronte, nuca, pescoço, peito e flancos.
*3 Espigas ou espadas: Pelos em forma de costuras alongadas. Ocorrem
geralmente nas bordas e tábuas do pescoço.

a)TIPO PRETO - Constituído por pelos exclusivamente pretos. Às vezes representa


beleza comercial nos animais de elite.
Variedades: preto mal tinto ou macaco, um tanto descorada; preto comum,
sem reflexos; preto azeviche ou retinto, de coloração carregada e brilhante; preto
murzelo ou franco, com reflexos arroxeados.
A pelagem "pelo de rato", que se caracteriza pela coloração acinzentada dos
pelos, pode ser considerada como variedade da pelagem preta; é comum nos asininos
e muares, que apresentam, como complemento, as extremidades dos membros, crinas
e cauda pretas.
b)TIPO BRANCO - Apresenta exclusivamente pelos brancos, só é observada nos
eqüinos adultos. Quando há incidência de pelagem branca nos animais jovens está
quase sempre condicionada ao albinismo. Fatores hereditários podem ocasionar o
fenômeno do "embranquecimento". Variedades: branco fosco, pombo ou leite, opaca,
sem reflexo brilhante; branco porcelana, com reflexo azulado, devido à pele escura;
branco rosado, com reflexos rosados de pele rosada; branco sujo, com tonalidade
levemente amarelada ou encardida.
c)TIPO AMARELO - Pelos variando do amarelo bem claro (loiro) ao escuro.
Variedades: alazão dourado ou douradilho, amarelo com tonalidades de ouro; alazão
amarilho ou sopa de leite, amarelo esbranquiçado com crinas e cauda quase brancas,
particularizando-se por caracterizar um tipo de cavalos dos Estados Unidos, o
"Palomino"; alazão ordinário ou alazão propriamente dito, apenas amarelo.
d)TIPO VERMELHO - Constituído por pelos vermelhos. Variedades: alazão cereja,
pelagem loira avermelhada, semelhante à cor da cereja; alazão sangüíneo, vermelho

70
intenso ou retinto; alazão escuro, vermelho escuro quase castanho, porém com crinas
e extremidades dos membros da mesma cor do corpo.

II - PELAGENS SIMPLES COM CRINAS E EXTREMIDADES ESCURAS OU


PRETAS

a) TIPO BAIO – Apresenta pelos amarelos com crinas, cauda e extremidades dos
membros escuras ou pretas. Variedades: baio sujo, pelos amarelos sem brilho; baio
claro, pelos amarelos cor de palha de milho; baio escuro ou baio encerado, pelos
amarelos enegrecidos ou cor de bronze; baio apatacado, quando a tonalidade baia
apresenta manchas mais claras ou escuras, de formato circular.
b) TIPO CASTANHO – Apresenta pelos vermelhos com crinas, cauda e extremidades
dos membros escuras ou pretas. Variedades: castanho claro, pelos vermelho intenso;
castanho tostado ou escuro, vermelho quase preto, com reflexos avermelhados no
ventre, axilas, flancos e região perineal.
c) TIPO CARDÃO – Apresenta pelos brancos uniformes com crinas, cauda e
extremidades dos membros escuras ou pretas.

III - PELAGENS COMPOSTAS

a) TIPO TORDILHO – Mistura uniforme de pelos brancos e pretos. Variedades:


tordilho escuro, predominam pelos pretos; tordilho claro, predomina pelos brancos;
tordilho férrico, composição das cores dá tonalidade acinzentada; tordilho
apatacado, sobre fundo mais claro ou mais escuro surgem pequenas manchas
circulares escuras ou mais claras; tordilho ordinário, as duas cores se apresentam
com igual intensidade.
b) TIPO ROSILHO – Mistura uniforme de pelos brancos e vermelhos. Variedades:
rosilho claro, quando ocorre predominância de pelos brancos; rosilho escuro, quando
predomina pelos vermelhos; rosilho ordinário, com igualdade relativa de pelos de
ambas as cores; rosilho cardão, o vermelho se apresenta salpicado pelo corpo do
animal, sobre fundo branco.
c) TIPO LOBUNO – Apresenta duas cores no mesmo pelo, preta ou escura na
extremidade e amarela na base. Raramente apresentam as duas cores em pelos
diferentes, mas nas duas situações deve apresentar tonalidade pardo-amarelada, ou
seja, cor do lobo selvagem. Variedades: lobuno claro, predomina tonalidade amarela;
lobuno escuro, predominam pelos pretos, com focinho, axilas e ventre amarelados.
d) TIPO RUÃO – Mescla uniforme de pelos brancos, vermelhos e pretos. Variedades:
clara, predomina a cor branca; comum; avinhada, ordinária ou vinhosa, predomina a
cor vermelha; escura, predomina a cor preta. Esta pelagem é mais comum nos
asininos nacionais e nos muares.

IV - PELAGENS CONJUGADAS

71
a) TIPO PAMPA, TOBIANO, OVEIRO (no RS), REMENDADO ou MALHADO –
Conjugação da cor branca com a preta, castanha, baia ou alazã, sendo necessário
citar a cor que predomina. Quando predomina a cor branca, o termo pampa é citado
primeiro: pampa preto, pampa castanho, pampa baio, pampa alazão; quando as
demais cores predominam, cita-se no início a cor que assume maior área no corpo do
animal: preto pampa, castanho pampa, baio pampa, alazão pampa.
Há estudos que revelam a existência de comportamento diferente sob o ponto
de vista genético desta pelagem. Admite-se que se comporta como dominante
hereditariamente a pelagem pampa em que o branco predomina sobre a face dorsal
do corpo, sendo recessiva aquela em que as malhas brancas se distribuem na face
inferior do tronco.

b) TIPO PERSA – Pelagem conjugada predominantemente branca, apresentando


pequenas placas circulares de cor preta ou vermelha, distribuídas por todo o corpo.

c) TIPO APALOOSA – Pelagem conjugada onde predominam as cores escuras (preta


ou vermelha), com pequenas placas brancas na região da garupa. Variedades:
leopardo, mantado e nevado).

V - PARTICULARIDADES DAS PELAGENS

Para se tornar mais eficiente a resenha de um animal, é necessário citar as


particularidades que o mesmo apresenta na pelagem.
Quando se trata de animais jovens, certas pelagens simples, têm tendência
para modificar-se, sendo importante observar a coloração dos pelos que circundam os
olhos dos potros, os quais fornecem elementos mais seguros para a identificação da
coloração.

A. PARTICULARIDADES NA CABEÇA
Alguns pelos brancos - Apresentam-se na fronte pelos brancos esparsos ou em forma de
coroa ou pena.
Estrela ou flor - Malha ou mancha branca na fronte, que recebe denominações variadas
de acordo com a intensidade e a forma: estrela apagada, quando há apenas um
vestígio; estrela pequena ou estrelinha; estrela grande; estrela irregular; estrela
redonda; estrela triangular; estrela em losango; estrela em meia lua; estrela em "V";
estrela piriforme; estrela cordiforme; estrela bordada ou rendilhada, quando forma
desenhos em seus bordos; estrela arminhada, quando mostra pintas pequenas,
escuras, dentro da estrela; etc.
Luzeiro - Quando a mancha branca toma proporções maiores que a estrela, abrangendo
quase toda a fronte.

72
Frente aberta - Quando o eqüino apresenta listra branca da fronte até o lábio superior,
tomando toda a região frontal da cabeça ou quando a mesma se dirige para um dos
lados (direito ou esquerdo), o que diferencia do Malacara.
Malacara ou mascarado - Eqüino com mais de dois terços da cabeça branca, incluindo
face lateral, chanfro, fronte e focinho, apresentando o restante do corpo escuro.
Segundo alguns autores, basta apresentar a fronte branca abrangendo os olhos, com
uma larga lista da mesma cor até o focinho, para ser considerado Malacara.
Nilo - Eqüino com cabeça branca e o resto do corpo de cor mais escura, lembrando a
pelagem dos bovinos Hereford.
Cabeça de mouro - Quando o eqüino apresenta a pelagem da face anterior ou de toda a
cabeça negra, em contraste com a pelagem do corpo, característica do tipo de
pelagem moura.
Cabeçada de mouro - Se a mancha preta abrange apenas a extremidade inferior da
cabeça.
Lista no chanfro ou cordão - Faixa branca, percorrendo o chanfro até as narinas, que
pode ser estreita (denominada filete), larga, interrompida, prolongada, bordada e
arminhada.
Façalvo - Quando a malha abrange uma ou as duas faces.
Ladre ou beta - Quando as manchas brancas ou despigmentadas estão localizadas entre
as narinas.
Bebe em branco do lábio superior ou inferior - Quando o ladre ou beta abrange um dos
lábios.
Bocalvo ou boca de leite - Quando o ladre ou beta atinge os dois lábios.
Celhado - Quando tem sobrancelhas brancas.
Bornal, embornal branco ou bico branco - Quando apresenta mancha esbranquiçada ou
descorada envolvendo a extremidade inferior da cabeça, ou seja, o focinho (freqüente
nos muares castanhos-escuros ou pretos mal-tintos).
Afogueado - Quando os pelos descorados, amarelados ou avermelhados circundam os
olhos e o focinho nas variedades escuras dos tipos preto, castanho e baio.

B. PARTICULARIDADES NO PESCOÇO
Crinalvo ou crinas lavadas - Quando as crinas são, total ou parcialmente, bem mais
claras, em pelagens mais escuras, comum no amarilho ou douradilho.
Ruano - Idêntico ao caso anterior, mas só se emprega esta designação a certas
variedades do tipo alazão ou na variedade baio amarilho ou amarelo, também
chamado de palomino.

C. PARTICULARIDADES NO TRONCO
Lista de mulo ou de burro - Lista escura acentuada ou apagada, larga ou estreita,
prolongada ou interrompida, que vai da crineira à inserção da cauda, freqüente nos
muares.

73
Banda crucial, faixa crucial, raia crucial ou lista crucial - Faixa escura acentuada ou
apagada, larga ou estreita, prolongada ou interrompida, franjeada ou regular, que
cruza a cernelha descendo pelas espáduas, de modo a formar quase sempre com a
lista de mulo uma cruz.
Obs.: Quando o eqüino apresenta a pelagem baio com a particularidade lista de mulo,
recebe a denominação especial de "Baio Isabel".
Meia banda crucial - Quando a faixa está presente em um dos lados do tronco.
Ventrilavado, ventre-de-veado ou pangaré – Quando há descoramento dos pelos da
região ventral, notadamente em algumas variedades dos tipos castanho, baio e
alazão.
Caudalvo ou branco-crinado – Apresenta cola branca, contrastando com o resto da
pelagem.
Rabicão – Animal de pelagem uniforme que apresenta a cauda mesclada de pelos
brancos.
Tigrado – Quando o animal apresenta listas pretas alongadas e irregulares.
Marca de fogo - Caracterizada por manchas vermelhas, maiores ou menores, na região
ventral.

D. PARTICULARIDADES NOS MEMBROS

Zebruras (zebrado) – Raias ou estrias escuras que cortam transversalmente os membros.


Cana-preta ou cabo-preto – Animal com canelas pretas ou escuras, nas pelagens que não
as incluem.
Calçado – Quando a cor branca aparece nos membros. Conforme a extensão do branco,
esta particularidade recebe as seguintes denominações:
a) Cascalvo – Quando apenas os cascos são despigmentados.
b) Calçado-sobre-coroa – Quando o branco está situado à circunferência da coroa;
c) Baixo calçado – O branco vai até o boleto;
d) Médio calçado – O branco abrange qualquer parte da canela, sem contudo atingir
o joelho ou o jarrete;
e) Alto calçado ou arregaçado – O branco atinge o jarrete ou joelho, podendo
ultrapassá-lo.
f) Traço de calçado – Quando a mancha branca circunda parcialmente uma região do
membro.
g) Manalvo – Calçamento dos membros anteriores.
h) Pedalvo – Calçamento dos membros posteriores.
i) Quadralvo – Calçamento dos quatro membros.
j) Calçamento diagonal – São calçados um membro anterior e um posterior de lados
opostos.

74
k) Calçamento lateral – São calçados um membro anterior e um posterior do mesmo
lado.

OBS.: Quando uma dessas particularidades ocorre é necessário incluir na resenha o


membro em que se verifica.

E - PELAGENS DOS BOVINOS

A pelagem dos bovinos constitui quase sempre atributo étnico.


Nos bovinos, a coloração da vassoura da cauda não tem importância para
caracterização da pelagem. É considerada como característica da raça e acompanha a
descrição da pelagem.
As pelagens dos bovinos apresentam os seguintes categorias, tipos e
variedades:

GRUPOS TIPOS

Pelagens simples Preto


Branco
Vermelho
Amarelo

Pelagens compostas Moura


Rosilho
Cinza

Pelagens conjugadas Chita de vermelho


Vermelho chitado
Chita de amarelo
Amarelo chitado
Malhado, Remendado ou oveiro

I - PELAGENS SIMPLES

Apresentam pelos de uma só cor, sendo chamados também de uniformes.

75
a) TIPO PRETO – Constituído por pelos pretos. Variedades: mal tinto ou macaco, um
tanto descorada; azeviche, de coloração carregada e brilhante; murzelo, reflexos
arroxeados.

b) TIPO BRANCO – Apresenta somente pelos brancos. Variedades: leitosa ou pérola,


sem reflexo brilhante; porcelana, com reflexos azulados; rosado, com reflexos
rosados de pele rosada ou despigmentada; suja, com tonalidade levemente amarela;
fumaça, com aglomeração de pelos escuros em certas regiões do tronco e dos
membros.
c) TIPO VERMELHO – Constituído por pelos vermelhos nas várias tonalidades, desde
a clara até a castanha, quase preta.
d) TIPO AMARELO – Pelos variando do amarelo bem claro ao escuro. Variedades:
baia, variedade do tipo amarelo, claro ou escuro, que ocorre no indubrasil; camurça,
amarelo com tonalidade de palha de milho.
II - PELAGENS COMPOSTAS

Formada por duas cores no mesmo pelo ou por diversas cores distribuídas
em pelos diferentes.

a) TIPO MOURA – Mistura uniforme de pelos brancos e pretos. As variedades clara,


comum e escura resultam da proporção maior ou menor de cada uma dessas cores. A
cabeça e as orelhas são total ou parcialmente pretas ou escuras.
b) TIPO ROSILHO – Mistura uniforme de pelos brancos e vermelhos, surgindo as
variedades clara, comum e escura conforme a distribuição dos pelos. A rosilha clara
é também chamada moura de vermelho.
c) TIPO CINZA – Formada de pelos brancos e pretos ou pelos apresentando essas duas
cores (ponta branca e base preta). Na variedade prateada a extensão da ponta branca
é de metade ou mais do comprimento do pelo, enquanto, na variedade azulega, os
pelos das extremidades (canela, quartela, etc. e da vassoura da cauda), bem como os
das partes escuras apresentam-se pigmentados, às vezes até a ponta.

III - PELAGENS CONJUGADAS

a) TIPO CHITA DE VERMELHO – Consiste na presença de pequenas manchas,


numerosas, de pelos vermelhos em fundo branco ou rosilho.
b) TIPO VERMELHO CHITADO – Consiste na presença de pequenas manchas,
numerosas, de pelos brancos ou rosilhos em fundo vermelho.
c) TIPO CHITA DE AMARELO – Fundo branco e pintas amarelas.
d) TIPO AMARELO CHITADO – Fundo amarelo e pintas brancas
e) TIPO MALHADO, REMENDADO ou OVEIRO – Quando as manchas ocorrem em
uma grande área, constituindo malha. Dependendo da cor de fundo, a pelagem pode
ser dita malhada de preto, malhada de vermelho ou malhada de amarelo, quando o

76
fundo for branco; ou amarela malhada, preta malhada ou vermelha malhada, quando
o branco constituir malhas.

IV - PARTICULARIDADES DAS PELAGENS

Para tornar mais eficiente a identificação de um animal, é necessário citar as


particularidades que o mesmo apresenta na pelagem. A seguir apresentamos algumas
particularidades de pelagens, mais importantes nos bovinos de origem indiana.
A) Sarapintada – pelagem com pintas pequenas de cor diferente do resto do pelame. É
desclassificante no Guzerá e no Indubrasil. A coloração castanha não é aceita no
Indubrasil.
B) A pele do zebu deve ser pigmentada (preta), permitindo melhor adaptação aos
trópicos. A despigmentação ocorre, às vezes, sob a forma de manchas rosas
circulares, muito visíveis nas mucosas, indesejável por ser hereditária.
C) Lambida – despigmentação da mucosa do focinho do bovino, podendo ser total ou
parcial. A lambida parcial se tolera mas, a total desclassifica o animal para registro.
D) Kolea ou culeia – Termo empregado na Índia para designar o animal de pele e de
focinho claros.
E) A pelagem preta e a malhada (de preto, de vermelho, de amarelo) desclassifica os
zebuínos para registro. Atualmente se faz exceção, no caso do Nelore malhado.

V - COLORAÇÃO DA VASSOURA DA CAUDA

A coloração da vassoura complementa a pelagem. Assim, as pelagens


branca e cinza dos zebuínos e suas variedades apresentam a vassoura preta.
A pelagem vermelha dos zebuínos deverá apresentar vassoura preta,
podendo ser mesclada, com uma mistura de crinas vermelhas e brancas, mas, para o
animal ser registrado, o sabugo deve ser preto.
As pelagens chitadas podem apresentar vassoura mesclada.
A pelagem moura admite vassoura mesclada e mesmo branca mas, com
sabugo preto.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

77
CAMARGO, M.X., CHIEFFI, A. Ezoognósia. São Paulo: Instituto de Zootecnia, 1971.
320p.
GUIA RURAL. Cavalos. São Paulo: Abril, 1991. 170p.
RIBEIRO, D. B. O Cavalo: raças, qualidades e defeitos. Rio de Janeiro: Globo, 1988.
318p.
VAL, L.J.L. Exterior dos Eqüídeos. Belo Horizonte: Escola de Veterinária da UFMG,
1982. 95p.

ESTUDO DIRIGIDO

• Discorrer quanto a importância do conhecimento de pelagem em Zootecnia.


• Caracterizar o termo pelagem quanto aos elementos que a constituem.
• Identificar as pelagens ideais para os trópicos e climas temperados.
• Relatar quanto aos elementos que influenciam na variação da pelagem dos animais.
• Caracterizar as pelagens dos eqüinos, asininos, bovinos, ovinos, caprinos e suínos
quanto a grupos, tipos e variedades.
• Identificar as particularidades das pelagens dos eqüinos.

78
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

DISCIPLINA: 603-250 - Zootecnia Geral


PROFESSOR: Dr. Arnaud Azevêdo Alves
TÓPICO: NORMAS PARA A EXECUÇÃO DE SERVIÇO DE REGISTRO
GENEALÓGICO

Portaria no 7 de 26 de setembro de 1978.

O SECRETÁRIO NACIONAL DA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA, no


uso das atribuições que lhe confere o item IV, do artigo 21, do Regimento Interno
aprovado pela Portaria Ministerial no 654, de 26.07.78, publicada no D.O.U. de 04.08.78
e o constante da Portaria Ministerial no 294, de 13.04.78, publicada no D.O.U. de
19.04.78,

RESOLVE:
Aprovar as normas, anexas a esta portaria, para a execução dos serviços de
registro genealógico aplicáveis aos bovinos e bubalinos, elaboradas pela Secretaria de
Produção Animal - SPA.
Revogar a Portaria no 20, de 05 de setembro de 1977- DNPA -publicada no
D.O.U. de 20 de janeiro de 1978.

ANDRÉS TRONCOSO VILAS


Secretário Nacional de Produção Agropecuária
SNAP - SECRETARIA DE PRODUÇÃO ANIMAL - SPA.

79
NORMAS PARA A EXECUÇÃO DE SERVIÇOS DE REGISTROS
GENEALÓGICOS

1. CATEGORIAS E REGISTROS

Artigo 1o - O serviço de registro genealógico para bovinos e bubalinos deverá obedecer


as seguintes normas:
1 – Das Categorias
2 – Dos Registros

Artigo 2o - As associações manterão os registros de bovinos e bubalinos, de acordo com


as seguintes categorias:
a) Animais Puros de Origem (PO),
b) Animais do Livro Aberto (LA),
c) Animais do Livro Auxiliar (LX),
d) Animais Puros por Cruzamento (PC),
e) Fêmeas Mestiças (FM),
f) Produtos de Cruzamento sob Controle de Genealogia (CCG).

ANIMAIS PUROS DE ORIGEM (PO)

Artigo 3o - Receberão a inscrição como puros de origem:


a) os animais importados portadores de documentos que asseguram sua
origem, como registro genealógico oficial do país de onde provêm e após submetidos à
inspeção zootécnica por comissão de julgamento ou juiz único do serviço de registro
genealógico, além do atendimento das normas estabelecidas pelas entidades detentoras
dos registros;
b) os produtos originários de animais puros de origem, nascidos no País,
obedecidas as condições normais sobre comunicações de padreação e de
nascimento;
c) os produtos de inseminação artificial, descendentes de reprodutores puros
de origem, devidamente registrados nos livros oficiais das respectivas
raças, além do atendimento das normas estabelecidas pelo Ministério da
Agricultura e pela entidade detentora do registro:
d) nas raças zebuínas, os animais inscritos no livro fechado e seus
descendentes.

ANIMAIS DO LIVRO ABERTO (LA)

80
Artigo 4o - Serão inscritos no livro aberto os animais de ambos os sexos pertencentes a
agrupamentos étnicos em variação, desde que portadores de caracterização
racial definida, de produção e tipo, dentro das exigências estabelecidas pelas
entidades detentoras do registro genealógico, devidamente homologadas
pelo Ministério da Agricultura.

Parágrafo Único - Nas raças bubalinas, os animais registrados de acordo com as


normas estabelecidas pela entidade detentora do respectivo
registro.

ANIMAIS DO LIVRO AUXILIAR (LX)

Artigo 5o - O Livro Auxiliar da Raça Holandesa Variedade Vermelha e Branca


destina-se a receber os animais filhos PO da Variedade Preta e Branca,
desde que as ocorrências de cobertura e nascimento tenham sido
controladas pela entidade de registro oficial.

ANIMAIS PUROS POR CRUZAMENTO (PC)

Artigo 6o - São considerados puros por cruzamento os animais que não podendo ser
incluídos na categoria de puros de origem (PO), sejam, entretanto,
portadores de caracterização racial definida de tipo, dentro das exigências
estabelecidas pelas entidades detentoras do registro genealógico, e
devidamente homologadas pelo Ministério da Agricultura.

§ 1o - Serão inscritos como de registro inicial puros por cruzamento de origem


desconhecida (PCOD) somente as fêmeas não registradas, porém portadoras
de exigências mínimas, estabelecidas através de avaliação pelas entidades
detentoras de registro genealógico.

§ 2o - Serão inscritos como puros por cruzamento de origem conhecida (PCOC), com
identificação das gerações controladas (CG 1, CG 2, etc.), os machos e
fêmeas, filhos de fêmeas puras por cruzamento e de reprodutores puros de
origem.

§ 3o - As entidades detentoras de registro genealógico baixarão instruções para o


registro de puros por cruzamentos, já citadas, podendo estabelecer
modificações, consideradas as condições regionais indispensáveis para o
melhoramento zootécnico dessa categoria, com a devida homologação do
Ministério da Agricultura.

81
§ 4o - Se a seleção de animais puros por cruzamento de uma raça o exigir, com a
finalidade de dar objetivo certo ao registro do PC, poderão as entidades
instituir um agrupamento de animais, estabelecido entre as faixas do PO e PC,
dando-lhe identificação que julgarem adequada, encaminhando a respectiva
regulamentação ao Ministério da Agricultura para a necessária aprovação.

FÊMEAS MESTIÇAS (FM)

Artigo 7o - Na categoria de fêmeas mestiças, para as inscrições iniciais, a adjudicação de


grau de sangue será feita pelo técnico da inspeção, face à informação ou
documentação que o interessado apresentar, obedecendo à classificação
inicial de 1/2, 3/4, 7/8 e 15/16 de grau de sangue.

PRODUTOS DE CRUZAMENTO PARA FINS DE CONTROLE DE


GENEALOGIA (CCG)

Artigo 8o - Serão inscritos nesta categoria, somente para efeito de confirmação de


genealogia e autenticação do documento particular do criador, os produtos
devidamente identificados, nascidos de acasalamento entre bovinos de
qualquer raça, atendendo o previsto em regulamento das entidades
detentoras da concessão do registro genealógico.

DOS REGISTROS

DO REGISTRO INDIVIDUAL

Artigo 9o - As Associações de Criadores expedirão os certificados:

- REGISTRO PROVISÓRIO OU DE NASCIMENTO

- REGISTRO DEFINITIVO

§ 1o - Do certificado constará a raça, número do registro, nome, sexo e data de


nascimento do animal, nome e número dos ascendentes até a 4ª geração,
diagrama de manchas ou fotografias, tatuagem ou marca de fogo (quando for o
caso), dados de "performance" do animal e dos ascendentes, bem como nome
e endereço do criador e do proprietário.

§ 2o - Tendo em vista que o Ministério da Agricultura já não registra marcas


arbitrárias particulares, as entidades detentoras do registro genealógico
somente aceitarão, como marca a fogo de identificação, as enquadradas no

82
Sistema "ORDEM E PROGRESSO", instituído pelo Ministério da
Agricultura.

Artigo 10 - Serão inscritos no registro provisório ou de nascimento os filhos de


animais registrados, cuja padreação e nascimento, tenham sido comunicados dentro
dos prazos estabelecidos, nos regulamentos das respectivas entidades detentoras da
Carta Patente da Raça.

Artigo 11 - O registro definitivo só será concedido ao animal devidamente identificado,


após completar a idade estabelecida nas normas especiais previstas no regulamento
das entidades de registro.

DO REGISTRO SELETIVO

Artigo 12 - Fica instituído o registro seletivo, objetivando a classificação de


reprodutores e matrizes de boa conformação, para produção, mediante os critérios
estabelecidos pelo art. 16 destas Normas.

RAÇAS LEITEIRAS

Artigo 13 - Poderão ser avaliados para registros seletivos todos os animais


registrados.

Artigo 14 - As fêmeas devem ser classificadas a partir da 1ª parição e em plena


lactação.

Artigo 15 - Os machos poderão ser classificados após 18 meses de idade.

Artigo 16 - Os animais serão classificados em 6 classes assim discriminados:


- Classificados com 90 pontos ou mais - EXCELENTE (E)
- Classificados com 85 pontos até 89 - MUITO BOM (MB)
- Classificados com 80 pontos até 84 - BOM para MAIS (B+)
- Classificados com 75 pontos até 79 - BOM (B)
- Classificados com 65 pontos até 74 - REGULAR (R)
- Classificados com menos de 65 pontos - MAU (M)

Parágrafo Único - Os regimentos internos dos registros genealógicos de cada associação


nacional ou brasileira, apresentarão tabelas que possibilitem tais
classificações, disciplinando o processo seletivo.

83
Artigo 17 - Para as raças zebuínas, serão adotadas as normas de registro seletivo, a
partir de 1980.

RAÇAS DE CORTE

Artigo 18 - O sistema de classificação (registro seletivo), a ser determinado pela


entidade detentora do registro genealógico, devidamente homologado
pelo Ministério da Agricultura, passará a fazer parte das instruções para
o registro genealógico das raças zebuínas de corte.

Parágrafo Único - Para as raças de corte ou de dupla aptidão, de origem européia, o


registro seletivo, que também deverá ser instituído, poderá
adaptar-se aos critérios internacionais, cabendo a cada entidade
de registro estabelecer as normas a serem aprovadas pelo
Ministério da Agricultura.

ESTUDO DIRIGIDO

1- O que significa e de que se compõe um registro genealógico (RG)?


2- Quais as finalidades do serviço de RG?
3- Quais as atribuições do inspetor, produtor, Associação e Serviço de RG do
Ministério da Agricultura diante das diretrizes do RG?
4- Porque os RG só trazem informações dos animais até a quinta geração?
5- Quais as categorias animais e como se caracterizam segundo o serviço de RG?
6- Como se obtêm animais PCOC e PCOD?
7- Qual a diferença entre livro fechado e livro aberto para RG de animais?
8- Quais as diferenças entre registros provisórios (RGN) e definitivos (RGD) e
quais as categorias animais incluídas nos RGN e RGD?
9- No RG, qual a diferença entre proprietário e criador?
10- Porque o sistema de marcas é denominado “ordem e progresso”?
11- Como se apresenta o sistema de marcas segundo os tipos de registros para
zebuínos (ABCZ)?

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

DISCIPLINA: 603-250 - Zootecnia Geral

PROFESSOR: Dr. Arnaud Azevêdo Alves

TÓPICO: SISTEMAS DE CRIAÇÃO

I - CONSIDERAÇÕES GERAIS

Dependendo da espécie animal, das condições ambientais, das condições


financeiras, da disponibilidade de insumos (alimentos, medicamentos, etc), da
disponibilidade de mão-de-obra e das condições de mercado para os produtos gerados
pela exploração pecuária, determinados sistemas de criação ou de manejo podem ser
adotados, sendo estes representados por basicamente três categorias: sistema extensivo,
sistema semi-extensivo ou semi-intensivo e sistema intensivo de criação ou
confinamento.

II - SISTEMAS DE CRIAÇÃO SEGUNDO A ESPÉCIE ANIMAL

A) BOVINOS

a) Extensivo
É o predominante no Brasil. Caracteriza-se pelo máximo aproveitamento
dos recursos naturais, objetivando economia de instalações, equipamentos e mão-de-

85
obra. Consiste em manter os animais em liberdade durante todo o ano, divididos em
lotes. Em geral, os animais são mestiços e dotados de baixa aptidão produtiva. Quando
bovinos leiteiros, realiza-se uma ordenha diária, em virtude da qualidade dos animais e
da não suplementação alimentar. O rebanho é levado ao curral duas vezes ao dia, pela
manhã para ordenha e à tarde para separação dos bezerros. As condições higiênicas são
precárias e os cuidados profiláticos mínimos. Em geral, é procedida apenas vacinação
contra o carbúnculo sintomático. Neste sistema predominam as pastagens de gramíneas
e o pastejo é contínuo, de modo que a alimentação é insuficiente durante a maior parte
do ano. A mineralização é à base de sal comum e quase sempre com irregularidades no
fornecimento. Os animais são ordenhados no próprio curral ou em galpões rústicos,
quase sempre sem a devida higiene. A ordenha é procedida com brezerro ao pé, ficando
este com o leite mais gorduroso ou, na maioria dos casos, se retirando todo o leite,
prejudicando o desenvolvimento ponderal da cria. O touro permanece em
promiscuidade com o rebanho, ocorrendo coberturas descontroladas e fecundações fora
de época. Este sistema de criação é susceptível de grande melhoramento, não sendo
aconselhável para raças especializadas, cujas exigências são grandes. Os principais
fatores que afetam a produção de leite ou carne no sistema extensivo são mês de
parição, idade da vaca, época do ano, período de lactação, período de serviço e a
proteção contra as altas temperaturas.

b) Semi-intensivo
Aproveita em menor quantidade os recursos naturais e exige mais capital,
mais mão-de-obra, rebanho aperfeiçoado e pessoal habilitado. De maneira geral, os
animais são mantidos no estábulo nas horas mais quentes do dia, saindo para o pasto nas
horas mais frias, pela manhã e ao final da tarde. Em alguns casos, as vacas são presas
somente para ordenha e para a distribuição de rações, duas vezes ao dia. Exige que os
pastos disponham de boas sombras nas zonas quentes. Neste sistema a suplementação
alimentar com volumosos e concentrados é mais cuidadosa. São feitas duas ordenhas
por dia. As coberturas são controladas, de modo que as parições podem ser distribuídas
de maneira racional durante o ano. Os cuidados higiênicos e profiláticos são maiores.

c) Intensivo
Só é admissível em casos especiais, quando há falta de espaço e o preço da
terra é muito elevado. É recomendável somente para vacas de alta produção, pois toda a
alimentação volumosa e concentrada deve ser fornecida no cocho. Os animais são
mantidos presos durante todo o dia. As condições de boa higiene e sanidade são mais
difíceis de serem mantidas. O requerimento de mão-de-obra é muito maior e é próprio
de zonas urbanas.

B) EQÜINOS
a) "Em regime de campo" ou "a campo"
O animal permanece praticamente todo o tempo em liberdade no pasto. É o
melhor para o animal e mais saudável, pois o cavalo neste sistema de criação pode
movimentar-se à vontade. O acesso à ração suplementar (fenos e/ou concentrados),

86
quando necessários, pode ser feito por meio de cochos colocados no pasto, podendo
serem colocados vários cochos individuais ou um só cocho com divisórias para
alimentação individual. Às vezes, quando não muito caro, é viável cobertura da área de
cochos. O sistema de criação a campo pode ser adotado por criadores que disponham de
estábulos já construídos, devendo os animais, durante as horas em que não estejam se
alimentando, sendo tratados, etc., estarem em liberdade no campo ou no piquete. Neste
sistema de criação podem ser construídos abrigos de proteção contra o frio ou calor,
devendo o cavalo ter livre acesso a estes locais.

b) Em regime de semi-estabulação
O cavalo permanece recolhido às instalações durante a noite e/ou durante as
horas de sol quente, passando o restante do tempo a campo.

c) Regime de estabulação total


O cavalo é mantido nas instalações durante todo o dia, saindo apenas para
exercício ou trabalho.

C) SUÍNOS
a) "A campo" ou "solta controlada"
O exercício ao ar livre é importante fonte de vigor para suínos, enquanto a
criação em pocilgas fechadas faz com que o animal viva em ambiente viciado e
atmosfera úmida. Este sistema é muito recomendado na cria e engorda de suínos.
Requer bons pastos em combinação com concentrados. Devem ser tomadas
providências, no sentido de evitar enfermidades no rebanho, mediante rotação de
pastagens. O regime de pastoreio tem como vantaqens: o exercício é fator importante
para o desenvolvimento dos animais; a criação a campo proporciona melhores
condições higiênicas aos animais, que se beneficiam dos raios solares; o pastejo
proporciona redução na distribuição de alimentos concentrados, resultando em
economia de 3O a 4O%, se os animais utilizam pastos de gramíneas e leguminosas; e, o
suíno restitui grande parte dos nutrientes necessários à fertilidade do próprio pasto.
As plantas forrageiras devem ser tenras, recomendando-se a leguminosa
alfafa e as gramíneas capim pangola, grama de burro, quicuio e capim rhodes, entre
outras.

b) Semi-confinamento
Utiliza instalações e equipamentos em menor escala e aproveita as
vantagens do sistema de criação a campo. Os animais são criados em piquetes
gramados, dotados de um abrigo, que serve também de maternidade. Machos e fêmeas
são criados em piquetes separados, para evitar a excitação sexual. Em geral, são
mantidos lotes de doze matrizes e três reprodutores.

c) Confinamento total ou intensivo

87
Tem como vantagem aumentar a eficiência de produção e prevenir ou
controlar as doenças, requerendo alto custo com equipamentos e instalações. Os suínos
são criados em instalações específicas conforme a fase de vida. Assim, são necessárias
repartições (para gestantes, maternidade, creche, recria, engorda, terminação e para
reprodutores). Essas instalações são construídas em alvenaria, e suas dimensões
dependem do tamanho do plantel, da área aproveitável da propriedade, etc.

D) CAPRINOS
a) Extensivo
Consiste basicamente na criação a pasto, com baixa lotação e alimentação
obtida exclusivamente no pastoreio direto. A produtividade, em geral, é baixa. No caso
de cabras leiteiras, o leite é insuficiente para a comercialização, na maioria dos casos.
Este sistema é mais apropriado à produção de carne e pele.
b) Semi-intensivo ou semi-confinamento
Parte da alimentação é obtida no pastoreio direto e parte nos cochos. Os
animais passam a noite e parte do dia confinados no aprisco. É recomendável a rotação
de pastagens. Se obtém boa produção de leite, sendo recomendadas as raças tropicais,
como a anglo-nubiana.
c) Intensivo ou confinado
Os animais não têm acesso aos pastos. Possui a vantagem de utilização de
pequenas áreas (o suficiente para a construção do aprisco, solários, capineiras, áreas de
beneficiamento de leite e depósito de alimentos), melhor controle do fornecimento de
alimentos e maior controle de doenças. Porém, exige mais mão-de-obra e só compensa
se a criação for de cabras altamente produtivas, de raças leiteiras especializadas.

III – NOVOS SISTEMAS DE CRIAÇÃO


Atualmente, visando-se atender demandas de mercado, peculiaridades têm
surgido em relação aos sistemas de produção, adotando-se práticas de manejo
sustentável e de bem-estar animal, visando-se direcionar prioritariamente o segmento de
produtores com propriedades regidas por gestão e força familiar para a produção
pecuária orgânica, visando melhoria das suas condições sócio-econômicas,
sustentabilidade de suas unidades produtivas e fornecimento de produtos diferenciados,
saudáveis e com maior valor agregado. Assim surge o sistema de produção pecuária
orgânica.
Uma outra modalidade de sistema de criação que vem se estruturando e
sendo adotado em vários estados brasileiros é a produção de leite ou carne em sistema
rotacionado, adotando-se técnicas de manejo de pastagem preconizadas inicialmente por
Voisin (Método de Voisin), e atualmente adotado na produção de leite e de carne, sendo
considerado sistema de produção à pasto.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

DISCIPLINA: 603-250 - Zootecnia Geral

PROFESSOR: Dr. Arnaud Azevêdo Alves

TÓPICO: CONTENÇÃO

I - CONSIDERAÇÕES GERAIS

Ao lidar com um animal visando coleta de material para exame, efetuar


curativos ou realizar práticas de manejo como vacinações, vermifugações, castração,
descorna, entre outras, é imprescindível sua contenção, sujeição ou imobilização. Desta
forma, busca-se segurança para o operador e facilidade na execução da operação.
A contenção também é importante no processo de doma de animais jovens
ou pouco habilitados às práticas de manejo.
Os métodos de contenção variam entre as espécies, podendo inclusive
apresentar diferenças dentro das espécies, considerando-se a idade, o porte, o sexo e o
temperamento individual.
A contenção comumente é obtida com os animais de pé ou, em casos
especiais, deitados, para melhor segurança.

89
II - MÉTODOS DE CONTENÇÃO

1. Contenção de animais em pé

a) Bovinos

A contenção de animais dóceis pode ser procedida sem auxílio de cordas. O


auxiliar pega o focinho do animal com o indicador e o polegar da mão esquerda, ao
mesmo tempo que com a mão direita segura firmemente o corno esquerdo do animal.
No caso de bovinos menos dóceis, a contenção pode ser feita por argolas ou
formigas já fixadas ao focinho do animal ou adaptáveis ao mesmo (FIGURA 1).
Quando o material a ser colhido e de obtenção mais difícil, a contenção da
cabeça deve ser feita por meio de cordas. Para isso, a cabeça do animal, previamente
laçado em um moirão ou em uma árvore, dando pelo menos três voltas de corda na base
dos cornos. A contenção é completada segurando-se o focinho e o corno do animal,
como já descrito.
A contenção dos membros completa a imobilização do bovino. Um dos
meios é a suspensão de um dos membros anteriores. Contido o animal pelo cabresto, um
auxiliar fixa uma corda na quartela e, passando-a por cima da cernelha, a mão do animal
é tracionada pelo lado oposto. Outro meio é a suspensão de um dos membros
posteriores. Seguro o animal pela argola ou pelo cabresto, perto de uma cerca, o seu pé
é suspenso por outra pessoa, por meio de uma vara com uma das extremidades apoiada
sobre a cerca.
Com um animal manso, os membros posteriores podem ser imobilizados
apenas por meio de uma corda que um auxiliar segura (FIGURA 2), ou ainda através da
passagem da cauda entre os membros e o envolvimento de um deles pela própria cauda
(FIGURA 3).
O uso do tronco de contenção ou brete para contenção de bovinos é muito
eficiente, principalmente em se tratando de animais pouco dóceis, evitando lesões em
tratadores, animais e facilitando em muito as práticas com animais em pé.

b) Eqüídeos

A contenção de eqüídeos dóceis é obtida com muita facilidade, através do


simples emprego das mãos, segurando as orelhas do animal e por elas fixando a cabeça
para baixo. Em eqüídeos mais vigorosos e menos dóceis, é necessário a utilização de
material de contenção.
A contenção do membro anterior é conseguida segurando-se a canela e
flexionando-a rapidamente contra o antebraço; de imediato seguramos a quartela com
uma das mãos, apoiando o dedo polegar sobre a sola e os outros dedos sobre a parede
do casco.
A contenção dos membros posteriores se torna indispensável quando
necessita-se ter acesso às regiões posteriores do animal. Um dos recursos para este fim é

90
o uso de peias ou de nós corrediços: são fixadas duas cordas às canelas ou quartelas
posteriores, levadas para a frente, cruzadas sobre o peito, conduzidas para cima de
ambos os lados do pescoço, e amarradas ao nível da cernelha por um nó de roseta
(FIGURA 4). É óbvio que, para maior facilidade de execução dessa operação, o animal
deve estar de olhos vendados.
Outro processo, muito usado, é o chamado "pé de amigo": com a ponta de
uma corda terminada em anel, é formada uma alça passada em volta do pescoço e
novamente para dentro do anel. Para suspensão do membro, basta puxar a corda
(FIGURA 5).
Em vez de flexionar o membro posterior para a frente, este pode ser contido
flexionando-se para trás. Para isso, é amarrada uma corda à crina da cauda, a qual é
passada pelo anel de uma peia livre aplicada na quartela e puxada cautelosamente
(FIGURA 6).

c) Ovinos e caprinos

Segurar o animal por um membro posterior, abaixo do jarrete, de


preferência o direito. Manter em posição de pé, agarrando com as mãos a lã (em animais
lanados) e a pele do dorso, ao nível da cernelha e da região lombar, após ter soltado o
membro posterior.
A imobilização também pode ser feita simplesmente fazendo-se passar a
cabeça e o peito do animal entre as pernas de um homem que o aperta energicamente.

d) Suínos

O suíno é um animal de muita agressividade; por este motivo, dois


auxiliares geralmente são necessários para a contenção do animal. Os operadores
seguram, com firmeza, a cabeça do animal, pelas orelhas, e no momento em que o
mesmo se põe a grunhir, passam-lhe um laço por dentro da boca, atrás das presas,
apertando-o sobre o maxilar superior. Para maior garantia, pode ser amarrado o animal
num tronco de árvore ou mourão.

e) Caninos

O cão, quando dócil, obedece ao dono, não apresentando maiores


dificuldades para sua contenção. Se o animal for menos dócil, deve ser passado um laço
em torno do focinho, amarrando suas extremidades para trás das orelhas (FIGURA 7) e
mantendo a cabeça com as mãos, enquanto um auxiliar segura os membros posteriores,
apoiando-os ao solo.

f) Felinos

91
O melhor método de contenção do gato, de modo que o operador fique
protegido de suas garras, se dá pela cobertura de suas unhas por meio de esparadrapo
(FIGURA 8) e imobilizá-lo com a ajuda de um ou dois auxiliares, para contenção dos
membros anteriores e posteriores.

2. Contenção de animais deitados

a) Bovinos

Ao se derrubar um bovino, deve-se ter o cuidado de evitar que o animal caia


bruscamente, o que poderia acarretar lesões traumáticas (fraturas, particularmente nos
cornos). A queda deverá ser atenuada com o uso de camas macias. Animais com a
pança cheia ou matrizes em estágio avançado de gestação devem ser derrubados para o
lado direito.
O método Rueff para a derrubada de bovinos, bastante eficiente, consiste no
seguinte: com uma corda de aproximadamente 10 metros de comprimento, é feito um
anel em uma das extremidades, sendo estabelecido um anel corrediço, que fica ao redor
dos cornos; a seguir, é procedida uma primeira volta em torno da base do pescoço, uma
segunda através das espáduas e uma terceira ao nível do flanco (FIGURA 9). Isto feito,
um auxiliar segura os cornos do bovino, enquanto a corda é puxada do lado contrário
aquele para o qual o animal vai cair. A imobilização do animal é complementada com a
ajuda de dois auxiliares: um que fixa o animal pelos cornos e narina e mantém a cabeça
estendida e outro que segura a cauda.
Outra forma prática para derrubar o animal consiste no método Italiano para
contenção, em que passa-se uma corda com cerca de 10 metros de comprimento pela
parte superior do pescoço, de forma que esta intercepte o pescoço deixando duas partes
iguais, as quais passam por entre os membros anteriores, cruzando-se neste ponto, em
seguida, cruzam-se sobre o dorso e descem, passando entre os membros posteriores, e
ao ser puxadas no sentido de trás do animal, derruba-o (FIGURA 10). Após derrubado,
o bovino deve ter os membros amarrados para evitar acidentes com coices.

b) Eqüídeos

Os cuidados preliminares dispensados aos bovinos são necessários. Há


vários processos de derrubada dos eqüÍdeos, sendo descrito o mais simples.
Com uma corda de 10 metros de comprimento, aproximadamente, se
estabelece um anel na base do pescoço do animal já encabrestado; por dentro do anel,
passa-se de volta as duas extremidades, cruzando-as sobre o pescoço, dirigindo-as
depois para trás, contornando as quartelas posteriores. Daí são trazidas e puxadas
diretamente para a frente. Com auxílio de ajudantes, o animal é mantido de lado com a
cabeça estendida pela focinheira do cabresto ou pela ganacha, o que facilita a
contenção. A cauda é puxada por um outro auxiliar, que se firma com um dos pés sobre
a região dos quartos do animal (FIGURA 11). A corda que serviu para derrubar,
continua segura, controlando os arrancos para que o animal não se machuque. Usar
cordas suplementares se necessário.

92
c) Ovinos e caprinos

Segurar com a mão direita o animal pelo membro posterior oposto ao lado
sobre o qual pretendemos deitá-lo; prender, em seguida, com a mão esquerda, o
membro anterior do mesmo lado, suspendendo-o do chão e, por um movimento de
balanço, deitar o animal. Manter em posição deitado, por uma ligeira pressão contra o
solo, e amarrar os membros.
Em se tratando de animais menos dóceis, para maior segurança e, a fim de
evitarmos acidentes, devemos recorrer a outro tipo de contenção. Com uma corda
grossa ou correia de couro, são amarrados os dois membros, cruzando-os em X e
passando também a corda sobre estes membros cruzados. É feita idêntica contenção dos
membros opostos e ficam sustentadas por um nó as duas pontas da corda ou da correia.
Mais simplesmente: os quatro membros podem ser reunidos em X com uma só corda,
imobilizando-os com maior rapidez.

d) Suínos

Também para conter o suíno deitado, são necessários dois auxiliares. Os


operadores seguram, com firmeza, a cabeça do animal, pelas orelhas, e no momento em
que o mesmo se põe a grunhir, passam-lhe um laço por dentro da boca, atrás das presas,
apertando-o sobre o maxilar superior; este laço, em seguida, circunda um dos membros
posteriores e, por fim, é puxado para cima da região do quarto correspondente
(FIGURA 12).
e) Caninos
Amordaçado o animal, deve ser o mesmo deitado sobre o chão ou sobre
uma mesa, mantido por dois auxiliares, um dos quais fixará a cabeça e o outro
imobilizará os membros.
f) Felinos
Fazer a cobertura das unhas por meio de esparadrapos, como já foi descrito,
e imobilizá-lo com a ajuda de um ou dois auxiliares, pela contenção dos membros
anteriores e posteriores.
3. Contenção em tronco de contenção
O tronco de contenção ou brete, ligado ao curral por uma seringa é
destinado à contenção de animais em pé. É de fácil construção e apresenta como
vantagens a facilidade de trabalho, exigência de menos mão-de-obra, redução do risco
de acidentes e facilidade de manejo do rebanho. Na FIGURA 13 estão apresentadas as
perspectivas para construção de um tronco de contenção rústico para quatro bovinos,
recomendado pelo Serviço de Saúde Animal (SESAN) do Ministério da Agricultura,
sendo necessário o seguinte material: 10 mourões com 2,5 metros de comprimento e 20
cm de diâmetro; 48 varões com 2 metros de comprimento e 10 cm de diâmetro; 5
travessas com 1,35 metros de comprimento e 10 cm de diâmetro; 80 metros de arame
para amarrio; pregos.

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4. Contenção através de relaxantes musculares

Os relaxantes musculares permitem contenção eficiente dos animais,


devendo ser manipulados apenas por profissionais devidamente habilitados,
familiarizados com o uso e que disponham de recursos apropriados para que possam
fazer face a uma eventual intoxicação por tais substâncias.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

MILLEN, E. Zootecnia & Veterinária: Teoria e Práticas Gerais. Campinas: ICEA,


1975. 409p.
MILLEN, E. Guia do Técnico Agropecuário: Veterinária e Zootecnia. Campinas:
ICEA, 1988. 794p.
SERVIÇO DE SAÚDE ANIMAL/MINISTÉRIO DA AGRICULTURA (SESAN/MA).
Construa você mesmo um tronco rústico para manejar seu rebanho. Brasília:
SESAN/MA. s.d. 1p. (Informativo técnico).

ESTUDO DIRIGIDO

1) Discorrer quanto à importância da contenção dos animais.


2) Caracterizar os métodos de contenção de animais.
3) Decidir quanto ao método de contenção a utilizar diante de determinadas situações,
como por exemplo vacas gestantes, garrotes e reprodutores.
4) Identificar o material necessário numa fazenda visando eventuais práticas de
contenção, como por exemplo laçar animais, peiar, derrubar animais de pequeno e
grande porte, conter a cabeça ou algum membro do animal.

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DESCORNA

A descorna consiste na extirpação dos cornos mediante cirurgia ou no


impedimento ao crescimento destes por métodos físicos ou químicos, consistindo em
uma prática de manejo muito difundida, apresentando como principais vantagens:
• Maior facilidade de manejo dos animais, devido maior docilidade;
• Menores riscos de acidentes com tratadores, devido à menor
agressividade dos animais descornados;
• Redução do espaço nos estábulos, currais e veículos de transporte
(cerca de 20%);
• Redução de lesões corporais e acidentes nos animais;
• Maior valorização do couro.
O animal amochado apresenta a mesma característica genética do animal com cornos e,
para efeito de cruzamentos, o amochado deve ser considerado como com cornos.

MÉTODOS PARA DESCORNA

a) FÍSICOS

• Cauterização a ferro candente

Essa é a descorna mais comum, por ter baixo custo, ser eficiente e de aplicação
relativamente simples e rápida. Utiliza-se um “ferro” de descorna, de ferro ou,
preferencialmente, de cobre, em forma de martelo, com duas pontas, uma côncava (para
queimar a bordadura do botão), e a outra convexa (para queimar a parte central), ou com
apenas uma ponta, na mesma direção do cabo, aquecido em uma fonte de calor (uma
fogueira, braseiro, fogão ou lança-chamas).

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A descorna em cabritos deve ser feita precocemente, com cinco a dez dias de
idade, no máximo 20, pois será menos traumática para o animal. Em bezerros
recomenda-se a descorna quando não apresentarem mais de três meses de idade,
devendo-se ser realizada nas primeiras semanas de vida.
Para se efetuar a descorna, o animal deve ser bem contido. Uma vez
determinada a posição exata do botão, os pêlos ao redor devem ser aparados
(tricotomia). Quando o corno ainda não apontou, pode ser cauterizado diretamente,
sendo recomendável o seu corte com uma lâmina (um canivete, por exemplo), quando
esse botão estiver um pouco maior. Em seguida, cauterizar segurando o ferro de forma
firme, inicialmente com a extremidade côncava e depois com a convexa ou plana.
Ao concluir a cauterização, passa-se uma pomada para queimadura e um
repelente cicatrizante ao redor do local, para evitar a formação de miíases.
A cauterização deve ser realizada de forma segura e definitiva, evitando-se crescimento
do corno e a necessidade de repetição da intervenção, o que será muito mais doloroso
para o animal, e caso não seja repetida deixará a apresentação do animal bastante
prejudicada.
Embora dolorosa no momento em que é efetuada, essa descorna apresenta bons
resultados e rapidamente os animais estarão recuperados. Não se pode esquecer de
deixar um ferro de reserva preparado, muito útil em caso de hemorragias ocorridas
quando os cornos estão um pouco maiores.

• Eletrocauterização

O descornador elétrico ou termocautério tem um controle que conserva a


temperatura da ponta a aproximadamente 154ºC. A aplicação do descornador elétrico ao
botão por dez segundos é suficiente para destruir as células geradoras de queratina e
impedir o crescimento dos cornos.

b) QUÍMICO

• Descorna com pasta cáustica


Em cabritos, deve ser feita o quanto antes, com dois a cinco dias de vida. A
partir dessa idade, sua eficiência se torna reduzida e o traumatismo para o animal é
maior. Para impedir o crescimento de cornos nos bezerros, recomenda-se o emprego de
soda ou potassa cáustica quando o bezerro está com quatro a dez dias de idade. Nessa
idade, os botões córneos ainda não estão implantados no crânio e podem ser facilmente
movidos de um lado para outro com os dedos.
Antes de aplicar o cautério, tosa-se o pelo em volta dos botões dos cornos,
untando-se a região circundante com vaselina, a fim de evitar que a soda ou potassa
cáustica entre em contato com a pele do animal e a queime. Envolve-se o bastão de soda
cáustica em papel, deixando uma das extremidades descobertas, a qual se molha e se
esfrega alternadamente em cada um dos botões, fazendo uma mancha de um a dois
centímetros de diâmetro. Não se deve prolongar a aplicação até sangrar, mas só durante

96
o tempo suficiente para uma ligeira escarificação da pele. Esta prática será mais fácil se
o bezerro estiver imobilizado.
Os cornos de bezerros de dois a três meses de idade, também podem ser
removidos pelo processo cáustico, mas a operação é mais difícil e exige mais cautério.
Para cauterizar os cornos de bezerros mais idosos, se faz um círculo em torno da base de
cada corno, junto à inserção. Isto impede o crescimento dos cornos, que se nutrem a
partir da pele do animal. Ao aplicar o cautério, usa-se pouca água, para que não escorra
pela cabeça do animal e lhe cause danos.
Depois da cauterização, o bezerro deve ser resguardado da chuva por uns dois
dias, devendo ficar isolado de outros animais para evitar lesões. Os bastões cáusticos
absorvem umidade, devendo serem guardados em vidros de boca larga e bem tampados.

c) CIRÚRGICO

Este método é executado por médicos veterinários. É recomendado para


animais desmamados e adultos, com cornos desenvolvidos.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

JARDIM, V. R. Curso de Bovinocultura. 4.ed. Campinas, Instituto Campineiro de


Ensino Agrícola, 1988. 525p.
MILLEN, E. Guia do Técnico Agropecuário: Veterinária e Zootecnia. Campinas,
Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1983. 794p.
RIBEIRO, S. D. A. Caprinocultura: Criação Racional de Caprinos. São Paulo: Nobel,
1997. 318p.

ESTUDO DIRIGIDO

• Em que consiste a descorna e quais as vantagens de descorna dos animais.


• Discorrer quanto aos métodos de descorna dos animais.
• Apresentar a importância, vantagens, instrumental e procedimento do método de
descorna por cauterização a ferro candente.

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CASTRAÇÃO

A castração pelos métodos comumente empregados, consiste na retirada ou


atrofia das glândulas sexuais, resultando na abolição da produção de células e
hormônios sexuais.
A finalidade da castração varia com a espécie animal, podendo-se objetivar:

• Ausência de odor e sabor na carne


Os suínos machos adultos apresentam na carne odor e sabor característicos,
que desaparecem com a castração. Isto contribui para melhorar a qualidade da carne,
além de propiciar também melhor coloração. O Serviço de Inspeção do Ministério da
Agricultura não permite abate de animais não castrados (inteiros).

• Facilidade de manejo
Os animais castrados tornam-se mais dóceis e, sendo indiferentes para com
as fêmeas, podem ser criados juntos com as mesmas.

• Prevenção de reprodução não controlada


Evita que animais não selecionados para reprodução fecundem fêmeas de
importância para reprodução.

• Melhor rendimento de carcaça


No caso de suínos, a castração melhora o rendimento de carcaça.

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Trabalhos de CHAMPAGNE et al. (1969), SEIDEMAN et al. (1982) e
RESTLE et al. (1993, 1996), demonstraram que bovinos inteiros apresentam maior
rendimento de carcaça, em função da maior musculatura e menor deposição de gordura
interna (pélvica) removível.
• Coloração e maciez da carne
A caracaça de bovinos inteiros se apresenta mais escura ao resfriamento, em
decorrência da deficiente cobertura de gordura (RESTLE et al., 1994).
A carne de bovinos inteiros é menos macia, devido ao menor teor de
gordura intramuscular, à maior velocidade de maturidade fisiológica, que acelera a
formação de colágeno insolúvel, e maior atividade de inibidores enzimáticos durante o
processo de maturação (ARTHAUD et al., 1977; SEIDEMAN et al., 1982; BURSON et
al., 1986; GERRARD et al., 1987 e MORGAN et al., 1983).
Segundo RESTLE et al. (1996) e MORAIS et al. (1993), bovinos castrados
produzem maior proporção de traseiro, explicada pelo efeito hormonal da testosterona
nos machos inteiros; maior quantidade de porção comestível, devido à menor proporção
de ossos na carcaça; e carne de melhor textura e maciez, também relatada por
MÜLLER; RESTLE (1983).

I - MÉTODOS DE CASTRAÇÃO

Há vários métodos de castração, desde a ablação dos testículos, até a


castração de volta e o esmagamento percutâneo com torquês Burdizzo. Este último é um
método simples, rápido, seguro e próprio para animais de testículos pendentes, como os
bovinos, ovinos e caprinos. O processo, em resumo, consiste no esmagamento dos
cordões testiculares, por meio de um torquês especial, de modo que, por falta de
circulação sanguínea, os testículos se degeneram após aproximadamente quarenta dias.
A técnica de castração por Burdizzo pode ser assim resumida: o animal
pode ser castrado de pé, imobilizado em um brete; o operador, colocado atrás do animal,
sustenta o torquês aberto na mão direita e com o polegar e o indicador da mão esquerda
desloca o cordão para o lado externo do escroto, colocando as mandíbulas do
instrumento sobre o mesmo, junto aos dedos que o segura; em seguida, apoiando o cabo
do torquês no joelho direito, fecha-o com as duas mãos, de maneira a esmagar o cordão,
mantendo-o fechado por alguns momentos. Depois, abre o torquês, retira-o e repete a
operação no outro cordão, para completá-la.
Se persistir qualquer dúvida quanto ao esmagamento do cordão, deve ser
procedida uma segunda compressão, um pouco acima da primeira, antes que a região
fique inchada. A castração de um bovino é feita em aproximadamente dois minutos e o
animal pode ser solto em seguida no pasto, sem necessidade de grandes cuidados
posteriores, exceto quando houver algum ferimento durante a prática.
O Burdizzo patenteado é fabricado em diversos tamanhos, sendo os
seguintes indicados para bovinos: de 12 polegadas, para bezerros com menos de 6
meses; de 13, para garrotes; de 16, para bovinos em geral; de 19, para touros.

99
III - CASTRAÇÃO DE BOVINOS

A castração praticada precocemente retarda a ossificação dos ossos longos,


que então se tornam mais delicados e mais compridos; a cabeça fica mais longa e fina;
os músculos menos desenvolvidos, principalmente no trem anterior; a carne mais tenra e
sem as características organolépticas da carne de touro.
A castração precoce é mais recomendada para animais de engorda, devendo
ser realizada após a puberdade e, quando o abate for procedido somente após 2,5 anos; a
castração de bovinos para tração deve ser mais tardia, após o completo desenvolvimento
do animal.

IV - CASTRAÇÃO DE SUÍNOS

Aconselha-se castrar os leitões até 15 a 2O dias de idade, podendo a


castração ser realizada até mesmo após o nascimento, quando são realizadas outras
práticas de manejo com os leitões recém-nascidos. A castração precoce apresenta as
seguintes vantagens:
a)Facilidade de execução;
b)Cicatrização rápida e de pouco risco.
A castração deve ser evitada próximo à desmama, administração de
vermífugos, proximidade de viagens e outras práticas de manejo. Os machos adultos
serão castrados sempre que forem afastados da reprodução, merecendo maiores
cuidados neste caso.
A castração dos suínos é realizada pelo método cirúrgico, requerendo
higiene e técnica apropriada, embora se constitua em operação simples quando realizada
precocemente.

ESTUDO DIRIGIDO

• Discorrer quanto ao princípio da castração dos animais.


• Discorrer quanto a finalidade da castração dos animais.
• Citar e relatar sobre os métodos de castração de animais.
• Apresentar as vantagens, limitações, importância, instrumental e procedimento de
método de castração utilizando torquês de Burdizzo.

100
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

DISCIPLINA: 603-250 - Zootecnia Geral

PROFESSOR: Dr. Arnaud Azevêdo Alves

TÓPICO: ALIMENTOS

Em nutrição animal, assim como na prática da alimentação e na descrição


dos alimentos, comumente são usados termos e expressões, nem sempre de
compreensão geral, e muitas vezes mal interpretados. A seguir são apresentados alguns
termos de importância em alimentação animal.

1) Alimentos - Substâncias que podem ser ingeridas, digeridas e assimiladas,


contribuindo para a manutenção e a produção do animal. São produtos vegetais ou
animais, bem como subprodutos deles derivados, assim como de outros que podem
ser sintetizados quimicamente, purificados como nutrientes ou preparados como
suplementos para produtos naturais.
2) Nutriente ou princípio nutritivo - Constituinte ou grupo de constituintes dos
alimentos de igual composição química geral, assim como certas substâncias, que
contribuem para a manutenção da vida do animal: carboidratos, lipídeos, proteínas,
etc.

101
{
{ Carboidratos
Água
Lipídeos
Orgâ
Proteínas
nica
ALIMENTO
Vitaminas

Matéria
seca

Inorg
ânica: Matéria mineral

3) Nutriente digestível - Fração de um nutriente que pode ser digerida e aproveitada


pelo organismo. Esta expressão é aplicada mais comumente a constituintes
orgânicos dos alimentos.

4) Ração - É a quantidade de alimentos, volumosos e concentrados, que um animal


consome no período de 24 horas, em uma ou mais refeições.

5) Ração balanceada - É a mistura de alimentos calculada para satisfazer as


necessidades diárias do animal, incluindo todos os nutrientes necessários, nas
quantidades e proporções devidas.

6) Refeição - Parte da ração distribuída para ser consumida de cada vez ao dia.

7) Dieta - É tudo que o animal ingere em 24 horas, capaz de atender ou não as suas
necessidades.

8) Normas de alimentação - São especificações das quantidades de elementos nutritivos


que devem ser incluídos nas rações, consideradas a espécie e a categoria do animal,
assim como a natureza e o volume de sua produção. Tais normas são baseadas em
provas experimentais realizadas com as diversas espécies e categorias animais. Em
geral, levam em consideração as necessidades nutritivas relacionadas com a
manutenção, crescimento, produção e reprodução. São fundamentais nas
necessidades de energia, proteína, minerais e vitaminas.

I - IMPORTÂNCIA DOS ALIMENTOS

102
Como já estabelecido, os alimentos são fontes de nutrientes, os quais
desempenham funções específicas ou em conjunto no organismo. Assim, destaca-se o
papel dos principais nutrientes contidos nos alimentos:
Os carboidratos e os lipídeos são utilizados de forma relativamente
semelhante. Após a absorção pelo organismo, são utilizados para produção de calor e
energia. Os lipídeos são mais importantes na alimentação de monogástricos, devido à
baixa disponibilidade nas plantas forrageiras. As fibras, carboidratos de elevado peso
molecular, são parcialmente digeridas por monogástricos, tendo maior importância na
alimentação de ruminantes, devido à simbiose destes com a microflora ruminal.
As proteínas têm função específica. Nos animais jovens servem para formar
novos tecidos ou desenvolvê-los. Nas reprodutoras, para formação do feto e do leite.
Nos adultos, servem para refazer as perdas constantes dos tecidos. Uma relação
adequada entre o total de proteína digestível da ração e o seu teor em nutrientes
digestíveis totais é necessária para seu melhor aproveitamento.
Os minerais da ração geralmente satisfazem as necessidades em condições
normais, exceto para o cálcio e o fósforo, que costumam faltar. O déficit observado
deve ser suprido com um suplemento que pode ser o calcário (só para o cálcio), a
farinha de ossos ou o fosfato bicálcico, ressalvando-se a proibição de uso de fontes
alimentares de origem de ruminantes para esta classe de animais. As misturas de
alimentos são também deficientes em cloreto de sódio ou sal, que é sempre incorporado
às rações ou fornecido separadamente.
Entre as vitaminas, apenas o caroteno (uma provitamina A) costuma ser
incluída nas Tabelas, porque é a vitamina que freqüentemente pode faltar em
determinados regimes alimentares.

II - CLASSIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS

De maneira prática, os alimentos são classificados em:

1) VOLUMOSOS – Pelo menos 25% de fibra em detergente neutro (FDN) ou mais de


18% de fibra bruta (FB) na matéria seca (MS):
a) Suculentos: pastos, capineiras, culturas forrageiras, silagens, frutos, raízes e
tubérculos;
b) Secos: fenos, forragens desidratadas, palhas e cascas.

2) CONCENTRADOS – Em geral, mais de 60% de Nutrientes Digestíveis Totais


(NDT):
a) Básicos ou energéticos (menos de 16% de proteína bruta): grãos de
cereais e seus subprodutos (milho, aveia, trigo, cevada, centeio, arroz e sorgo).
b) Protéicos (mais de 20% de proteína bruta):

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*0 De origem vegetal - sementes de oleaginosas e seus subprodutos (algodão, soja,
girassol, amendoim, gergelim, linho e cocos);
*1 De origem animal - farinhas de carne, sangue, pescado, penas, crisálidas e leite
em pó.

3) DIVERSOS: Subprodutos industriais (melaços, polpas, uréia, etc.).

4) ADITIVOS: Antibióticos, graxas, hormônios, minerais (macro e microelementos) e


vitaminas.

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