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Capítulo V - Bandeirismo: a superação de Tordesilhas.

● Entradas ou bandeiras?
○ A distinção entre entradas (financiada pelo governo) e bandeiras (caráter
particular) não deveria ser mais adotada, visto que não havia uma clara
delimitação entre os setores público e privado.
○ Diversidade e heterogeneidade das bandeiras.
○ Por fins didáticos, temos as seguintes definições:
■ Entrada:
● Na costa leste, as campanhas possuiam como fins: o
conhecimento da terra e a procura de metais preciosos,
especialmente as do século XVI. Como consequência, tem-se
a fundação de Porto Seguro, Salvador e Olinda.
● Na costa norte, as expedições fluviais do século XVII
desbravam as margens dos grandes rios amazônicos.
■ Bandeira:
● Mais duradouro e mais importante conjunto de ações de
devassamento do sertão, tendo como cenário a Capitania de
São Vicente, abrangendo o Sul e o Centro-Oeste do Brasil,
posteriormente.
● Cinco ciclos:
○ Apresamento dos indígenas;
○ Ouro de lavagem;
○ Sertanismo de contrato;
○ Grande ciclo do ouro;
○ Ciclos de povoamento.
● Ultrapassagem do Tratado de Tordesilhas.

● Focalizando o movimento.
○ Designação do movimento a seu tempo: entrada, jornada, viagem e, por
vezes, frota.
○ Incerteza acerca do nome, provavelmente sendo oriundo do termo “bandera”
do espanhol falado pelos jesuítas espanhóis.
○ Movimento especialmente terrestre, apesar de algumas vias fluviais
(especialmente o Tietê). Os rios eram vistos como obstáculos, então
normalmente não eram navegados, mas margeados.
○ Fatores de incentivo mais ligados à necessidade de SP agrícola do que de
preencher o mercado interno do Nordeste de mão de obra indígena.
○ Utilização de desavenças entre os indígenas.
○ Invasão de aldeias jesuítas para o apresamento indígena. Todavia tal
situação começou a se alterar com a aprovação, em 1640, do papa e do rei
espanhol de armarem os jesuítas.

● Controvérsias.
○ União Ibérica (1580-1640).
■ A remoção do mito jurídico de Tordesilhas.
■ Exacerbação do mito do ouro.
■ Controvérsias: alguns historiadores defendem que Portugal e
Espanha, bem como as colônias mantiveram-se separadas,
especialmente em sua administração. O único elo que as uniam era o
fato de compartilharem o monarca.
■ Todavia, a União Ibérica foi essencial pois os espanhóis não
tomaram ações para impedir as bandeiras no território dos Vice-
Reinos.
● Ademais, sem a União Ibérica a Holanda não ocuparia
Pernambuco e as feitorias portuguesas na África, o que
provocando a escassez de escravos provocou o maior
apresamento indígena.
● Holandeses capturaram a parte mais rica do Brasil - o
Nordeste. Assim houve um incentivo à penetração do país,
com a fundação de Belém (1616) e da Capitania do Cabo do
Norte (1637).
○ Bandeiras de povoamento na realidade despovoadoras - dizimação dos
indígenas.
■ Todavia a abertura de vácuos populacionais atraiu a expansão
populacional luso-brasileira, especialmente na época da Mineração
(XVIII).
○ Não pode-se dizer que todos os bandeirantes sabiam que estavam
expandindo o Brasil, às custas das colônias espanholas. Todavia, existem
relatos de alguns bandeirantes que compreendiam as implicações políticas de
suas ações.

● Histórias
○ Pouquíssima documentação - o que há é literatura jesuítica antibandeirante e
dois livros mais específicos.
○ Figura controvérsia - espessou o sofrimento indígena, mas foi o contraponto
das figuras reais e elitistas - sendo um popular que, ao ocupar o território,
influenciou fortemente na história brasileira.

● A visão ortodoxa.
○ Pobreza, independência e atração pelo sertão constituem os três elementos
básicos da visão ortodoxa do bandeirismo.
■ Os espanhóis reclamam da violência bandeirante a Portugal, mas
estes se mostravam impedidos de fazer algo pela independência
bandeirante.
■ Sertão vem de “desertão”, trazendo a ideia de amplitude geográfica e
baixa densidade populacional.

● A dimensão política.
○ Visão de Jaime Cortesão - Bandeirantes trabalhando a favor da Coroa, num
misto difícil de identificar os limites entre o público e o privado.
○ Os tupis-guaranis viam a unidade geográfica para além do Tratado de
Tordesilhas (1494) - em uma terra chamada de Pindorama, a qual gera o mito
da ilha Brasil (Portugal teria direito de toda Pindorama por conta de tal mito
indígena).
○ Intenção bandeirante de ocupar a ilha Brasil.

● Julgamentos.
○ Duas lendas:
■ Branca - heróis com escassos meios e seus grandes trabalhos.
■ Negra - cruel caçador e suas vítimas indígenas.

Capítulo IX - O Mapa da Colônia

● Madri: um acordo favorável à Portugal?


○ 1750 como um marco para o Brasil.
■ Queda da produção aurífera.
■ Morte de D. João V e ascensão de D. José I e de seu primeiro-
ministro Marquês de Pombal.
■ Extinção das bandeiras paulistas.
■ Tratado de Madri.
○ Assinado em 1750, foi anulado em 1761 pelo Tratado de EL Pardo.
Posteriormente, foi retomado quase integralmente (exceto pela fronteira sul)
pelo tratado de Santo Ildefonso de 1777. Posteriormente, foi anulado em
1801, pelo Tratado de Badajoz.
○ Relevância:
■ Legalizou a posse do RS, MT e da Amazônia - regiões situadas a
ocidente da linha de Tordesilhas.
■ Trocou a Colônia do Sacramento pela região dos Sete Povos (região
ao oeste do atual RS).
○ Qualidades de equilíbrio e moderação que caracterizam os bons acordos.
■ Negado por especialistas hispano-americanos, visto que como o
Tratado de Madri favoreceu Portugal na América e a Espanha na Ásia,
as colônias hispano-americanas foram as mais prejudicadas.

● O desconhecido revelado.
○ Alexandre de Gusmão.
■ Expoente na literatura e na política, de forma que as ações de Pombal
já haviam sugeridas em textos anteriores de Gusmão.
■ Protagonismo na discussão, representando Portugal.
● “Avô dos diplomatas brasileiros.”
■ Brasil era, até então, amorfo.
○ Madri: ocupação e transação.
■ Amazônia.
● Fora o Prata, o centro do Império Espanhol estava em Lima,
principal porto de saída das riquezas minerais. Todavia, o
percurso entre Lima e Sevilha era dificultoso, pois incluía o
transbordo terrestre pelo Panamá.
● Uma vez que as minas estavam nos Andes, os espanhóis não
desceram para planície amazônica.
● Portugueses - busca por minérios e principalmente pela
geografia fluvial (os portugueses haviam-se apossado as
melhores portas de entrada da planície).
■ Centro-Oeste.
● Resistência espanhola (jesuítas no Paraguai) à ocupação
portuguesa.
○ RS e SC colonizadas pelo Paraguai no século XVI.
■ Província de Vera (1540).
○ Primeiro confronto - 1614.
● Perda de importância do Paraguai com a rota alternativa de
Lima a Buenos Aires passando por Tucúman, mais ao sul do
Paraguai.
○ Não houve uma resistência espanhola ampla por esse
“abandono” colonial do Paraguai, bem como pela
dificuldade de se medir a ultrapassagem, pela
rudimentaridade das técnicas.
● Intensificou-se após a descoberta do ouro.
● Buenos Aires e Paraguai poderiam ter invadido o MT, mas
como a Espanha estava com suas imensas riquezas nos
Andes e fartos de terras, não desejou se envolver em tal
problemática.

■ Sul.
● Colônia do Santíssimo Sacramento.
● Portugal desejava a região do Prata, mas o vácuo no centro do
país impediu uma ação mais forte - todavia tal ação garantiu
um sul robusto, especialmente o RS.
● Duas iniciativas:
○ Falsificação geográfica convincente.
○ Política de ocupação do atual sul do Brasil.
■ Núcleo irradiador de Laguna (1676) -
Florianópolis atual.
■ Fundação da colônia militar de Jesus, Maria e
José (1737) - Rio Grande no deságue da Lagoa
dos Patos.
● Portugal e Brasil nunca conseguiu povoar o Uruguai.

○ Alexandre de Gusmão.
■ Legitimidade da Capitania do Cabo Norte (Amapá ampliado) - criada
para os portugueses em 1637 para defender o Brasil dos holandeses,
franceses e ingleses.
■ Nascido no Brasil (Santos), Gusmão foi para Lisboa e logo tornou-se
um funcionário diplomático.
● Vendo Portugal perdendo possessões orientais no Oriente,
Gusmão consegue defender todas as terras ocupadas pelos
lusos-brasileiros.
■ Outras ações como:
● Emigração de casais açorianos para ocupar o RS e SC.
● Capitação de impostos per capita sobre a produção aurífera.
● Vinda ao Brasil de especialistas para determinar a longitude
para marcar de forma mais exata a colônia portuguesa.
● Defesa escrita das ocupações portuguesas na América do Sul.
■ Queda após a morte de D. João V (1750) e ascensão de D. José I.
■ Morre em 1753.

○ Ideias criativas.
■ Fronteiras nãos mais abstratas, mas acidentes geográficos
identificáveis.
■ Origem do direito de propriedade seria a ocupação efetiva do território
- uti possidetis.
■ Em casos excepcionais, poderia haver troca de territórios.

○ Madri: negociações.
■ Visões Iniciais:
● Portugal: garantir a Amazônia, o Centro-Oeste e criasse no Sul
uma fronteira estratégica que vedasse qualquer tentativa
espanhola nessa região.
● Espanha: deter a expansão portuguesa na América do Sul e
reservar a exclusividade do estuário platino, evitando o
contrabando da prata dos Andes. Por fim, impedir que a
rivalidade ibérica fosse aproveitada por nações inimigas de
Madri.
■ Processo:
● Propostas de Gusmão:
○ Necessidade de um tratado geral e não sobre trechos
específicos.
○ Necessidade de abandonar o meridiano de Tordesilhas.
○ Princípios estruturais: uti possidetis e respeito às
fronteiras naturais.
○ Colônia do Sacramento era portuguesa, se não por
Tordesilhas, certamente por Utrecht (1715).
● Réplica Espanhola:
○ Não abordar a soberania espanhola nas ilhas do
Pacífico.
○ Colônia do Sacramento imprescindível para o
escoamento da produção metálica dos Andes.
○ Troca da Colônia do Sacramento pelos territórios de
Cuiabá e Mato Grosso que a Espanha estudava meios
para recobrar.
■ Processo nos bastidores:
● Percebeu-se que os Sete Povos (RS) seria a moeda de troca
da Colônia do Sacramento.
● Envio do Mapa das Cortes, em 1749, por Gusmão e aceitação
ampla da corte espanhola.
○ Críticas de distorção da longitude, provavelmente
proposital.
● Consolidação do mito da Ilha Brasil.
○ Tratado de Santo Ildefonso.
■ Tratado de El Pardo (1761).
● Anulação do Tratado de Madri.
● Sul - Guerra Guaranítica (1753-1756).
○ Justificativa (provavelmente não válida) para expulsão
dos Jesuítas.
● Norte - Dificuldades de demarcação.
● Construção de fortalezas para guardar os territórios novamente
incertos por Tordesilhas.
■ Tratado de Santo Ildefonso (1777).
● Ascensão de D. Maria I, que reagindo ao pombalino, ficou sua
política conhecida como “viradeira”.
● Situação piora para Portugal.
● Imposição do Tratado de Santo Ildefonso.
● Mantinha as condições do Tratado de Madri - exceto pela
cessão da Colônia do Sacramento sem a compensação dos
Sete Povos das Missões.

○ A incorporação dos Sete Povos.


■ Invasão sem grande resistência: as Missões estavam em plena
decadência (1801).
■ Guerra na Europa, em 1801 - Espanha invade Portugal para impedir
que navios ingleses frequentassem portos portugueses no contexto
napoleônico.
■ Conhecida como “las naranjas”, pelos espanhóis - terminando com a
assinatura da Paz de Badajoz.

LEITURA COMPLEMENTAR - Navegantes, bandeirantes e diplomatas.

O Tratado de Tordesilhas
● Rivalidades Ibéricas.
○ Guerra peninsular (1475-1479).
■ Tratado de Alcáçovas (1479).
● Portugal desistia das Canárias, mas passava a ter direitos
sobre qualquer terra descoberta ao sul desse arquipélago.
● Portugal passou a armar uma frota para tomar as terras
descobertas por Colombo, uma vez que estavam ao sul das
Canárias.
○ Edição de bulas papais - formalidade jurídica fraca - favorecendo claramente
a Espanha, uma vez que o papa Alexandre VI era espanhol.

● Negociações.
○ Espanha não queria guerrear novamente com Portugal, visto que tinha
problemas com a Itália e sua unificação era recente.
○ 1494 - Tratado de Tordesilhas, ratificado pela Santa Sé em 1506.
■ Possessões ibéricas no Atlântico nas 370 léguas a oeste de Cabo
verde - as terras a leste seriam de Portugal; a oeste da Espanha.
■ Ambas potências satisfeitas: Espanha satisfeita com a passagem às
Índias pela América e Portugal satisfeito com a passagem pelo sul
africano.

● A fronteira indemarcável.
○ Especulações se D. João II saberia do Brasil ou não.
■ Sim: D. João II valorizava mais o comércio das Índias, o que é visto no
pré-colonial.
■ Não: D. João II não desprezaria uma colônia tão grande em extensão
como o Brasil.

A Região do Prata
● A Colônia do Sacramento.
○ Fundada por portugueses, em 1680, foi logo tomada pelos espanhóis.
○ Em 1681, Portugal recupera a praça, de forma diplomática e provisória, mas
perde-a novamente em 1704, por um ataque espanhol.
○ Em 1715, pelo Tratado de Utrecht, a praça retornou a Portugal.
○ Ocorreu um terceiro ataque, em 1723, mas os espanhóis não conseguiram
levá-la.
○ Falhando a ocupação de Montevidéu, fundaram Rio Grande de São Pedro,
em 1737 - a origem do estado do RS.
○ 1750 - Tratado de Madri - trocou Sacramento pelos Sete Povos das Missões,
bem como ratificou a posse das atuais regiões Norte e Centro-Oeste.
○ Portugal não cede Sacramento pois não recebe Sete Povos, devido à Guerra
Guaranítica (1753-56).
○ 1762 - Espanhóis tomam Sacramento, pela terceira vez, e restituem em 1763.
○ 1776 - Espanhóis retomam Sacramento e ocupam a ilha de SC e a parte sul
do RS.
○ 1777 - Tratado de Santo Ildefonso - Sacramento e Sete Povos são entregues
à Espanha.
○ 1801 - Tropas gaúchas reconquistaram os Sete Povos.
○ 1821 - 1828 - Província Cisplatina.
○ 1828 - Independência Uruguai.

Rio Amazonas
● 1616 - Fundação portuguesa do Forte do Presépio, na foz do Amazonas, em Belém.
● 1622 - Fundação do Estado do Maranhão (que posteriormente chamou-se Grão-Pará
e Maranhão, durando até 1774, quando dividiu-se em dois) - melhor comunicação
com Lisboa, devido à distância de Salvador.
● O povoamento deu-se pela exploração das drogas do sertão, a já estabelecida
população indígena (agora catequizada) e a vinda de missionários católicos.

Monções
● Fenômeno do século XVIII - exclusivamente brasileiro.
● Exclusivamente fluviais, com roteiros fixos que passavam por pontos conhecidos
(onde formavam arraiais), com o único objetivo de chegar às minas de ouro dos rios
Cuiabá e Guaporé.
● São, de certa forma, as continuadoras das bandeiras - enquanto estas desbravaram
o Brasil, as monções foram importantes para povoá-lo.
● A descoberta de ouro no Centro-Oeste foi o que provocou o excepcional
deslocamento populacional para estas regiões.
● As monções eram caravanas de canoas que saíam do rio Tietê, nos meses de
abril e maio (águas estavam cheias e as chuvas começavam a cessar). Assim,
em, no mínimo 5 meses, chegavam em Cuiabá (como na famosa carreira da
Índia). A volta era mais rápida, por estar vazia, durando 2 meses.
● 1718 - Descoberta do ouro em Cuiabá.
● 1725 - Descoberta do Ouro em Goiás.
● 1752 - Incentivo governamental para a oficialização das monções do Norte - abriu a
rota do rio Madeira.
○ Essa ligação entre o Centro-Oeste e o Norte foi essencial para a
sobrevivência da primeira região.
● 1808 - Queda das Monções.

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