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UM POUCO DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA E

CONTEMPORÂNEA
 

A história da Filosofia moderna começa no século XVII, com o


pensamento do filósofo francês René Descartes (1596 - 1650).
Nesse período, que se estende até o início do século XIX, a
reflexão filosófica é especialmente influenciada pelo
desenvolvimento da ciência moderna. Boa parte do
pensamento do período, especialmente entre o final do século
XVII e o final do século XVIII, é marcado por um grande
otimismo, no que diz respeito às possibilidades da ciência e da
razão. E o período conhecido como Iluminismo.

Nessa época, começam a surgir as sociedades chamadas


democráticas tendo a independência dos Estados Unidos da
América, em 1776, e a Revolução Francesa, em 1789, como
marcos da democratização das ideias. Sobretudo, nas ideias
que integravam liberdade individual com igualdade social.

 
ALGUNS FILÓSOFOS DA ÉPOCA MODERNA
René Descartes - 1596 - 1650

René Descartes nasceu na França, em 1596. Teve uma


educação esmerada, baseada, como era comum na época, no
estudo da Filosofia e das Letras, mas cedo passou a considerá-
Ia limitada, porque esses conhecimentos não lhe davam
certeza sobre muitas coisas.

Em contraste, encontrou segurança e certeza na Matemática,


cujo rigor, então, adotou como modelo para toda a ciência. Sua
Filosofia começou com a preocupação de construir o alicerce
seguro sobre o qual erguer o edifício da ciência. Para isso,
acreditava que deveria encontrar pelo menos uma crença que
não pudesse de maneira nenhuma ser posta em dúvida,
que fosse absolutamente certa e segura para funcionar como
aquele alicerce procurado. Para ele, essa crença indubitável
seria a de que "se eu penso, eu existo": mesmo que tudo o
mais seja incerto, não é possível que eu, que penso, não seja
algo.
Descartes foi também um matemático e um físico importante.
Inventou a chamada geometria analítica e até hoje
chamamos de coordenadas cartesianas, em sua homenagem,
os dois eixos perpendiculares que formam um gráfico. Deu
contribuições importantes para a óptica, tendo desenvolvido
uma teoria da gravitação, suplantada apenas por Isaac
Newton, o pai da Física moderna. Suas obras principais foram:
Discurso sobre o Método; Meditações e Princípios da Filosofia.

David Hume - 1711 - 1776.

Nasceu em Edimburgo, na Escócia. Sua família queria que ele


estudasse Direito, mas o seu maior interesse era pela Filosofia
e, aos 27 anos, publicou o seu primeiro livro: Tratado da
Natureza Humana, que depois desdobrou em dois:
Investigações sobre o entendimento humano e Investigações
sobre os princípios da moral.

Em sua época, Hume não obteve grande reconhecimento como


filósofo, até porque suas ideias eram bastante críticas, a ponto
de seus contemporâneos acreditarem que ele estava querendo
negar toda a possibilidade de conhecimento ou de ciência. Um
de seus argumentos mais famosos gira em torno da ideia
de causalidade, ou seja, da relação entre a causa e os seus
efeitos. Mais tarde, escreveu uma coleção de seis livros sobre
a História da Inglaterra e obteve muito reconhecimento.
Posteriormente, seu pensamento filosófico foi redescoberto e
influenciou muitos pensadores importantes. Ainda hoje, Hume
é um dos filósofos mais estudados e comentados.

Immanuel Kant- 1724 - 1804.

Immanuel Kant nasceu em 22 de abril de 1724, na cidade de


Kõnigsberg, que fazia parte da Prússia. Kant, que atribui o
impulso para desenvolver suas ideias mais inovadoras à leitura
da obra de David Hume, foi um dos mais importantes e
influentes filósofos da modernidade. Seus estudos
e ensinamentos nos campos da Metafísica, Epistemologia,
Ética e Estética tiveram grande impacto sobre a maioria dos
movimentos filosóficos posteriores.

Sua filosofia, vasta e revolucionária, marcou, de certo modo,


o ponto mais alto da filosofia moderna e lança as bases para a
filosofia contemporânea. Considerava que ao nascer todos nós
trazemos para o mundo conceitos a priori, isto é, que não vêm
da experiência. Sem esses conceitos seria impossível explicar
a realidade, de acordo com a sua visão. Suas principais obras
são: Crítica da razão pura; Crítica da razão prática; Crítica da
faculdade ao juízo; Fundamentação da metafísica dos
costumes.

 
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
A história da Filosofia contemporânea se inicia, justamente,
quando o otimismo, típico da Filosofia moderna, começa a
diminuir. Um nome importante na transição do
pensamento moderno para o contemporâneo é o de Georg W.
Friedrich Hegel (1770 - 1831), filósofo alemão que criou um
sistema filosófico muito vasto, apontando uma série de
limitações da Filosofia moderna.

A partir da segunda metade do século XIX, grandes filosofias


críticas começaram a surgir. Pensadores como Friedrich
Nietzsche e Karl Marx, de maneiras muito diferentes,
abriram caminhos de crítica à sociedade e ao pensamento, que
terão impactos importantes no desenvolvimento não só da
Filosofia, mas, também, da Política, da Arte, por exemplo.
No início do século XX, começaram a se estruturar algumas
vertentes que ainda hoje dividem as preferências dos filósofos.
A primeira delas é a vertente conhecida como Fenomenologia,
que surgiu com a obra do filósofo austríaco Edmund Husserl, e
se desenvolveu com o pensamento de Martin Heidegger, um
dos filósofos contemporâneos mais influentes.

Uma outra, conhecida como Filosofia Analítica, surgiu na


Inglaterra, a partir da obra de filósofos como George Edward
Moore, Bertrand Russell e Ludwig Wittgenstein. Atualmente, a
Filosofia caracteriza-se por uma grande pluralidade de
tendências, pois a partir dessas primeiras surgiram muitas
outras. Da vertente fenomenológica, desenvolveram-se
diversas tendências, como o existencialismo. Da vertente
analítica, surgiram diversas filosofias da ciência e da
linguagem.

 
ALGUNS FILÓSOFOS DA ÉPOCA CONTEMPORÂNEA
Georg W. Friedrich Hegel - 1770 - 1831.

Nasceu em Stuttgart, na Alemanha. Hegel concebeu um


modelo de análise da realidade, conhecido como dialética, que
influenciou vários pensadores - entre eles Karl Marx, que
adaptou a dialética hegeliana ao seu pensamento sobre a
História e a sociedade.

A Filosofia hegeliana é conhecida por sua vastidão e por sua


grande complexidade. Sua obra abrange diversas áreas do
conhecimento, como Lógica, Direito, Religião, Arte, Moral,
Ciência e História da Filosofia. Suas principais obras
foram: Fenomenologia do Espírito; Ciência da Lógica,
Enciclopédia das ciências filosóficas em esboço, A Filosofia da
História e a Filosofia do Direito.

Karl Marx - 1818 - 1883.

Nasceu na cidade alemã de Trier, filho de judeus que se


converteram ao Iuteranismo. Mas já na adolescência se afastou
da religião e se tornou um militante antirreligioso. Iniciou seus
estudos em Direito, passando depois para a Filosofia e a
História. De origem pobre, passou toda a sua vida dependendo
da ajuda de seus amigos, entre eles Friedrich Engels,
com quem compartilhava muitas de suas ideias e escreveu
muitas de suas obras. Juntamente com Engels, Marx construiu
um sistema filosófico que passou a ser conhecido como
Marxismo e que influenciou gerações de pensadores em
diferentes campos, das artes à política.

Marx sonhava com uma sociedade melhor, em que o dinheiro


não governaria e tudo seria dividido entre as pessoas. Um de
seus textos mais famosos é o Manifesto Comunista, onde ele
argumenta que o capitalismo escraviza as pessoas, forçando-
os a produzir bens que provavelmente nunca usarão.
Principais obras: A pobreza da filosofia, A luta de classes na
França, Contribuição para a crítica da economia política, O
Capital.

Nietzsche - 1844 - 1900.


Friedrich Nietzsche nasceu de uma família Iuterana, sendo
destinado a ser pastor como seu pai. Entretanto, Nietzsche
perdeu a fé durante sua adolescência, e os seus estudos de
Filologia acabaram de afastá-Io da religião. Nietzsche
desenvolveu uma Filosofia extremamente crítica da religião e
dos valores religiosos, defendendo a necessidade de
superarmos as velhas limitações humanas para construirmos
um novo ser humano. Suas principias obras foram: O
nascimento da tragédia; Humano, demasiado humano; Além do
bem e do mal; A genealogia da moral; Assim falou Zaratustra.

Martin Heidegger - 1889 - 1976.

Nasceu em 26 de setembro de 1889, em Messkirch, na


Schwarzwald (Floresta Negra), Alemanha. Foi aluno de
Edmund Husserl, tornando conhecimento da nova abordagem
da Filosofia que esse filósofo batizou de Fenomenologia.
Heidegger estende e aprofunda o método
fenomenológico, aplicando-o, em especial, à própria existência
humana, abrindo, assim, o caminho para o Existencialismo.
Sua principal obra é Ser e Tempo.

Ludwig Wittgenstein - 1889 - 1951.

Nasceu em Viena, na Áustria, mas passou grande parte de sua


vida na Inglaterra, na Universidade de Cambridge. Seu pai foi
um grande magnata em sua terra natal e dele herdou sua
fortuna. Recebeu uma sólida educação como engenheiro,
aproximando-se da Filosofia apenas mais tarde. Sua ambição
era resolver todos os problemas filosóficos tradicionais. 

Acreditava poder chegar a isso a partir da análise da


linguagem: se tivermos clareza sobre o que a linguagem pode
ou não fazer, ou seja, sobre o que podemos falar com sentido e
sobre o que não tem significado, então poderemos livrar-nos
dos falsos problemas e concentrar-nos nas questões realmente
significativas. Suas principais obras são: Tractatus logico-
philosophicus; Investigações filosóficas; Observações sobre
os fundamentos da Matemática.

Jean-Paul Sartre - 1905 - 1980.

Jean-Paul Sartre nasceu em Paris. Foi um escritor brilhante,


um teatrólogo e o maior intelectual do Existencialismo.
Acreditava que a consciência da própria liberdade induzia as
pessoas à angústia. Se vivemos num mundo sem Deus, não
temos alternativa senão escolher e criar nossos
próprios valores. E, ao criar os nossos valores, temos de fixar
as regras básicas de nossas próprias vidas.

Fez seus estudos na famosa École Normale Supérieure de


Paris, onde conheceu Simone de Beauvoir, também filósofa e
escritora, que foi sua companheira por toda a vida. Estudou
também na Alemanha, onde teve contato com os pensamentos
de Husserl e Heidegger, fundamentais para a constituição do
Existencialismo. Foi um intelectual brilhante e profundamente
envolvido na política, adotando sempre urna postura
esquerdista e revolucionária. Suas principais obras são: A
Náusea; O imaginário; O Ser e o Nada; O existencialismo é
um humanismo; A idade da razão; O problema do método. 

Simone de Beauvoir - 1908 - 1986.

Nasceu em Paris, onde viveu grande parte de sua vida. De


uma família de classe alta teve uma infância tranquila e
marcada pela dedicação aos estudos. Foi uma aluna brilhante.
Uma escritora revolucionária, considerada por muitos como a
mãe do feminismo. Seu livro O segundo sexo foi a primeira
tentativa real de explorar por que as mulheres se deixavam
dominar pelos homens.

Acreditava que as pessoas deveriam ser livres de preconceitos


sobre o sexo. Participou ativamente da vida política junto com
Sartre. Formavam um casal polêmico, pois viviam de acordo
com as suas ideias de liberdade. Principais obras: A convidada;
O segundo sexo; Memórias de uma moça bem comportada;
Todos os homens são mortais; e uma coletânea de vários livros
sobre suas memórias.

Michel Foucault- 1926 - 1984.

Nasceu na França. Foi filósofo e professor no College de


France de 1970 a 1984. Com seus estudos sobre a história do
pensamento, Foucault apresentava outra face da natureza
humana, mostrando, por exemplo, como os loucos já foram
considerados profetas e tratados com respeito, diferente de
hoje, que são isolados do convívio social. Suas obras
mais importantes são: História da loucura; Nascimento da
clínica; As palavras e as coisas; Arqueologia do saber; Vigiar e
punir; História da sexualidade.

 
Jacques Derrida - 1930 - 2004.

Nasceu no Marrocos, no norte da África, mas viveu grande


parte de sua vida na França. Foi o criador do método filosófico
chamado desconstrução. Esse pensamento questiona as
principais ferramentas usadas para descrever o pensamento
filosófico, as palavras. Ele “desconstroi", ou desmancha, a
língua para mostrar como não pode ter significado fixo.
As palavras são pedras no caminho da busca pela verdade.
Entre as principais influências de Derrida encontram-se
Sigmund Freud e Martin Heidegger.

 
Marilena Chauí - 1941 -

Nasceu no Brasil em 1941. Professora de filosofia da


Universidade de São Paulo - USP. Participa ativamente do
debate político e intelectual no País e procura pensar a
realidade brasileira com o auxílio da reflexão filosófica e da
militância política. Foi secretária de cultura da prefeitura de São
Paulo no governo de Luiza Erundina (1989-1992). Entre suas
obras destacam-se: Cultura e democracia: o discurso
competente e outras falas; O que é ideologia; Convite à
Filosofia e outros.

 
O FILÓSOFO EM NÓS
Após conhecermos um pouco sobre a história da Filosofia e de
alguns de seus filósofos, podemos concluir que eles se
destacaram na nossa história porque adotaram, cada
um dentro do seu contexto social e cultural, uma atitude
filosófica - aquela atitude de que falamos no final da unidade I,
que indaga sobre as razões e as causas das coisas -
e elaboraram, a partir dessa atitude, teorias e conceitos que,
em muitos casos, mudaram nossa maneira de ver o mundo.
Assim, podemos aprender, com as ideias desses e de outros
pensadores, a questionar os problemas de nossa sociedade e
refletir sobre os acontecimentos atuais. Podemos ter um
filósofo em nós, ou algumas de suas ideias, que nos guiem
nesta busca de ver o mundo de uma forma menos receptiva e
mais reflexiva.

Muitos dos filósofos aqui apresentados não foram


compreendidos em sua época por estarem pensando além da
realidade aceita pelo senso comum. No entanto, em
muitos casos, suas teorias e seus conceitos ajudaram a
entender - e, algumas vezes, a criar - um mundo novo. As
ideias de Descartes foram fundamentais para que as
pessoas entendessem o novo mundo proposto pela ciência
moderna, superando os conceitos aristotélicos e medievais que
predominavam. As ideias de Marx provocaram
profundos impactos políticos e econômicos, influindo na vida de
milhões de pessoas ao longo da história do século XX.

O Existencialismo de Sartre provocou grandes


mudanças comportamentais, que abriram o caminho para
importantes conquistas sociais e políticas nas décadas de 1960
e 1970. Como sugeria Sócrates, há quase 20 séculos, é
necessário pensar corretamente para viver bem-justamente
porque as ideias têm um impacto importante sobre a forma
como vivemos. A Filosofia, que se define em boa parte por
esse esforço de pensar bem, tem contribuído, ao longo da
história, de forma decisiva - às vezes com mais sucesso, às
vezes cometendo erros - para definir os rumos da forma
como vivemos.

Vamos procurar entender, na próxima unidade, as relações da


Filosofia com a nossa vida cultural e social. Quem podemos
ser? e O que poderemos conhecer?

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