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Data de Publicação 2017-05-26
Resumo O presente trabalho tem como objectivo o estudo de uma parte muito
concreta do Convento de Cristo, em Tomar: o Claustro D. João III,
usualmente referido como o Claustro Principal. Centramo-nos apenas
neste claustro devido à complexidade do conjunto edificado. Assim sendo
e devido ao limite de tempo e espaço, optou-se por estudar apenas esta
parte do conjunto devido, especialmente, às suas características, tão
diferentes do que se passa no restante edifício. Os objectivos principais
deste trab...
Palavras Chave Claustros (Arquitectura) - Portugal - Tomar, Arquitectura religiosa
- Portugal - Tomar, Maneirismo (Arquitectura), Convento de Cristo
(Tomar, Portugal)
Tipo masterThesis
Revisão de Pares Não
Coleções [ULL-FAA] Dissertações
http://repositorio.ulusiada.pt
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
Faculdade de Arquitectura e A rtes
Mestrado integ rado em Arquitec tura
Realizado
R p
por:
Susanna Isabel Lince
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Orientado por:
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Prrof. Doutorr Arqt. Nun
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o do Júri:
Pre
esidente: Proff. Doutor A
Arqt. Joaquim José Ferrão
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Orientador: Proff. Doutor A
Arqt. Nuno
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guente: Proff. Doutor H
Horácio Maanuel Pere
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Disssertação a
aprovada em:
e 10 de
d Julho d e 2013
Lisboa
a
2013
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
O Convento de Cristo:
o claustro D. João III e os seus significados
Lisboa
Março 2013
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
O Convento de Cristo:
o claustro D. João III e os seus significados
Lisboa
Março 2013
Susana Isabel Lince Condeço
O Convento de Cristo:
o claustro D. João III e os seus significados
Lisboa
Março 2013
Ficha Técnica
Autora Susana Isabel Lince Condeço
Orientador Prof. Doutor Arqt. Nuno Rui da Fonseca Santos Pinheiro
Assistente de orientação Mestre Arqt.ª Maria de Fátima Lino Ferreira Fragoso
Título O Convento de Cristo: o claustro D. João III e os seus significados
Local Lisboa
Ano 2013
O Convento de Cristo : o claustro D. João III e os seus significados / Susana Isabel Lince Condeço ;
orientado por Nuno Rui da Fonseca Santos Pinheiro, Maria de Fátima Lino Ferreira Fragoso. - Lisboa
: [s.n.], 2013. - Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e
Artes da Universidade Lusíada de Lisboa.
LCSH
1. Claustros (Arquitectura) - Portugal – Tomar
2. Arquitectura religiosa - Portugal - Tomar
3. Maneirismo (Arquitectura)
4. Convento de Cristo (Tomar, Portugal)
5. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses
6. Teses – Portugal – Lisboa
LCC
1. NA4940.C66 2013
APRESENTAÇÃO
O Convento de Cristo
O Claustro D. João III e os seus significados
O presente trabalho tem como objectivo o estudo de uma parte muito concreta do
Convento de Cristo, em Tomar: o Claustro D. João III, usualmente referido como o
Claustro Principal.
Centramo-nos apenas neste claustro devido à complexidade do conjunto edificado.
Assim sendo e devido ao limite de tempo e espaço, optou-se por estudar apenas esta
parte do conjunto devido, especialmente, às suas características, tão diferentes do que
se passa no restante edifício.
Os objectivos principais deste trabalho são estudar a Forma, Função e Significados
deste espaço e chegar a conclusões relativamente à sua relação, caso exista, com os
Templários. Pretende-se concluir se as obras efectuadas neste claustro no tempo de
D. João III são compatíveis com o uso que lhe era dado ou se se tratou de uma
questão de mudança do gosto que em nada se relacionava com o uso que lhe era
dado.
Para que seja possível compreender todo o contexto em que se encontra este espaço,
começaremos por esclarecer o que é um Convento, a sua história e espaços; depois
passaremos a estudar o espaço Claustro, quais as suas principais funções e usos;
seguidamente relacionaremos estes dois conceitos (Convento e Claustro) com a
Ordem do Templo e com a Ordem de Cristo; por fim trataremos de contextualizar o
Convento de Cristo em relação a todos estes elementos e chegar a conclusões
através de uma observação do Claustro D. João III e de todos os seus elementos,
situando a sua arquitectura quanto ao seu estilo e procurando saber se este tem
alguma relação com as Ordens Militares Religiosas ou se os seus conceitos se
relacionam com outras questões.
The objective of this work is to perform a study of a very specific part of the Convent of
Christ, in Tomar: D. João III’s cloister usually referred as Main Cloister.
We decided to focus our research in this cloister because of the complexity of the
whole building.
Related to the boundaries we have for time and length, we chose to study only this
cloister, especially because of its characteristics, which are different from the rest of the
building.
The main objectives of this work are to study the Form, Function and Meanings of this
space and reach conclusions about the architectonic compatibility with the use given to
it. We want to conclude if the modification works in D. João III’s time were compatible
with the use given to the cloister or if it was just an esthetic intervention related to the
change of the taste, which had nothing to do with the purpose of the cloister for it’s
users.
In order to make understandable all the context where this space is included, we will
start with an explanation about what is a Convent, it’s history and spaces; then we will
study what is a Cloister and what are the main functions and uses of this space; after
that, we will relate these two concepts (Convent and Cloister) with the Order of the
Temple and the Order of Christ; finally we will contextualize the Convent of Christ in
order to all these concepts and reach conclusions based on a detailed observation of
D. João III’s Cloister and all its formal and meaningful elements, making sure to locate
it’s architecture in a Style, as much as find out if there’s a connection between that
Style and these two Military and Religious Orders or if it’s concepts were related to
something else.
Ilustração 21 - Vista de uma das Salas das Cortes (ilustração nossa, 2013). ............... 63
Ilustração 55 - Vista do interior de uma das galerias do piso superior (Ilustração nossa,
2013). .................................................................................................................................... 98
Ilustração 57 - Interior do Mercado de Trajano (Museo dei Fori Imperiali, 2006) ........ 100
Ilustração 58 - Vértice convexo do Claustro Principal (Ilustração nossa, 2013). ......... 101
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 21
1. INTRODUÇÃO
Quanto ao claustro principal, iniciado em meados do século XVI, pode dizer-se que ele
reflecte muito do que era a arte italiana, ao gosto do Rei D. João III, podendo a
primeira intervenção, de Castilho, ser inserida no estilo Renascentista, e considerar-se
ao gosto Maneirista com Torralva, aquando da segunda intervenção neste espaço,
intervenção essa que é a que hoje vemos em Tomar, sendo possível observar um
pouco do que seria a obra de Castilho em algumas zonas.
Tal como refere Pais da Silva, o Renascimento em Portugal é uma “corrente de gosto
artístico assinalada no país durante parte do século XVI, que desponta em clima de
Gótico Final e de Manuelino” acabando por ser “ absorvida pelo Maneirismo e afecta a
totalidade dos sectores artísticos então cultivados em Portugal” (Pais da Silva, 1992).
É importante referir que este estudo é realizado do ponto de vista do arquitecto, e não
do historiador, pretendendo realizar uma análise mais formal e das características
espaciais, e não apenas analisar a sua história, tendo em conta, no entanto, que é
impossível estudar determinado monumento sem que dele se realize uma análise
contextual e histórica que torne possível compreender as razões que levaram a
determinadas soluções arquitectónicas.
Neste trabalho não se pretende realizar uma análise exaustiva do Convento de Cristo,
de todas as suas dependências ou de todos os estilos arquitectónicos que nele se
podem encontrar, realizando-se apenas a necessária contextualização histórica do
conjunto, pois dada a complexidade do tema acabaria por tornar-se um estudo
demasiado longo para o fim a que se destina.
Foram diversas as experiências de vida monástica a partir deste momento até surgir o
modelo que acabou por se espalhar pelo Ocidente, através de S. Bento de Núrsia, que
viveu entre 480 e 547 e foi o fundador da ordem Beneditina (Faure e Moulilleron,
2001).
No início do séc. X a vida monástica na Europa parece ter tomado duas direcções,
quase opostas. Enquanto por um lado alguns seguiam o modelo eremita dos monges
que viviam no deserto, vivendo em grutas, desprezando os prazeres carnais e
sobrevivendo apenas da bondade do seu Deus, sem terem quaisquer valores a que
chamassem seus; outros seguiam o modelo beneditino, cujas principais características
eram a estabilidade e a seriedade no trabalho, quer espiritual, quer físico,
estabelecendo-se tal como faziam as famílias feudais, tendo como base a exploração
do património fundiário.
mesmo dos Bispos. Quando se procedeu à sua expansão, esta foi realizada através
da aglomeração de um grande número de casas modestas em torno de uma só figura,
o abade, seguido as orientações de São Bento de Núrsia mas interpretando a regra
beneditina de um modo muito particular, já que aceitava a riqueza e a opulência,
fazendo desaparecer os trabalhos físicos dos monges e contratando criados para os
realizarem.
Durante um longo período de tempo Cluny tornou-se exemplo e fez surgir novas
abadias que seguiam o mesmo estilo de vida, assim como levou à renovação de
algumas já existentes. O seu tempo enquanto exemplo da vida religiosa chegou ao fim
quando teve início o dos mosteiros, nos quais os monges seguiam o caminho
espiritual da austeridade.
Iniciado o séc. XII, coexistiam na Europa duas formas de vida religiosa quase opostas:
a que seguia o modelo de Cluny, na qual os monges não tinham de realizar quaisquer
trabalhos físicos e onde lhes era permitido possuir objectos aos quais podiam chamar
seus; e a que procurava aplicar a Regra beneditina, baseando-se numa vida em
comum na qual não era permitido aos religiosos possuir quaisquer objectos, seguindo
os preceitos do ascetismo (monges eremitas).
Esta última forma de vida religiosa obteve grande destaque e um grande número de
religiosos acabou por optar por ela, vivendo da bondade de Deus e daquilo que
produziam com o seu trabalho.
Uma das Ordens religiosas que seguiu estes ideais foi a Ordem de Cister que, sob a
orientação de Bernardo de Claraval, se expandiu por toda a Europa, contando em
1145 com mais de trezentos mosteiros, exercendo um papel crucial na Igreja e na
sociedade entre os séc. XII e XIII.
Além da sua espiritualidade monástica ser diferente do que era comum até então, esta
Ordem religiosa provocou mudanças muito importantes na economia, já que os
mosteiros eram construídos em locais nunca antes ocupados e que supostamente
A partir do séc. XII e com o aumento de área das cidades, acompanhado pelo
respectivo aumento da população, surgem novas questões morais relacionados com a
importância do dinheiro e com a economia baseada nele, problemas estes que vão
acabar por afectar a Igreja.
A palavra “Claustro” deriva do latim claustrum, que se refere a um local fechado. Esta
palavra pode, no entanto, referir-se a todo o conjunto edificado em que uma
determinada comunidade religiosa Cristã vive em clausura, isolando-se
voluntariamente da sociedade; ou designar um espaço arquitectónico, quadrangular na
maior parte dos casos, delimitado a toda a volta pelas paredes dos edifícios
pertencentes ao convento.
Na época medieval, este espaço era construído especialmente em mosteiros fora das
cidades, em meio rural, mas rapidamente começaram a ser utilizados nas catedrais
das grandes cidades. Era por vezes mencionado em latim como hortus conclusus, isto
é, jardim fechado, visto que na maior parte dos casos eram plantados de diversas
espécies vegetais, sendo sempre predominantes as espécies de folha perene.
Um Claustro poderá definir-se como um pátio, murado por todos os lados mas
descoberto, cujos lados são formados por arcadas. Por vezes as colunas ou pilares
destas arcadas apoiam-se em paredes baixas, noutras vezes directamente no
pavimento. A forma de um claustro é normalmente quadrangular, relacionando-se com
os quatro pontos cardeais e com os quatro elementos da matéria criada, embora
sejam também conhecidos claustros de forma circular.
Assim, o Claustro revela ser um espaço intermédio entre interior e exterior, permitindo
não apenas uma mais fácil distribuição dos espaços que sem ele não poderiam obter
luz solar mas funcionando ainda enquanto protecção contra as intempéries,
possibilitando aos monges ou frades percorrerem as diversas áreas do convento ou
mosteiro sem necessitarem de atravessar um espaço totalmente descoberto, devido à
existência das galerias.
ambos os casos, as águas das chuvas eram encaminhadas para o centro do pátio, no
qual se encontrava o implúvio, o tanque que se encontrava ao centro destes pátios
cuja característica principal era o aproveitamento da água da chuva, que acabaria por
criar um espaço mais fresco em dias de muito calor e melhorar a qualidade térmica do
espaço.
Assim, podemos relacionar o Claustro dos Mosteiros e Conventos da arquitectura
religiosa católica com a forma dos pátios das casas romanas, particularmente com a
do peristilo, devido apenas às suas características formais já que a sua função era
totalmente diferente.
Alguns autores, como Eschapasse (1963), defendem que foi nos mosteiros da Síria
que se basearam os planos dos mosteiros do Ocidente, planos esses que foram
sofrendo alterações baseadas no local de implantação, variando segundo as
características climatéricas, topográficas e hidrográficas de cada local, e ainda
dependendo do facto de se tratar de um ambiente urbano ou rural.
A partir do início do séc. VI, a regra de S. Bento atribui o nome Claustro a todo o
espaço arquitectónico de um mosteiro ou convento, atribuindo-lhe um sentido mais
lato e levantando questões relativamente à necessidade de existir ou não um espaço
Claustro no sentido estrito, enquanto espaço murado descoberto.
Deste modo, o conjunto arquitectónico de carácter religioso era formado pela cerca, na
qual se encontravam as dependências relacionadas com o acolhimento de pessoas
que não eram parte da comunidade religiosa local, como a enfermaria, a capela, a
hospedaria, a botica, a horta e o pomar; o mosteiro, formado pelo dormitório,
biblioteca, claustro, sala do capítulo e oficinas; e a Igreja, com a respectiva sacristia.
circular. Em Portugal existe um claustro com planta circular, situado em Vila Nova de
Gaia, no Mosteiro da Serra do Pilar, ao qual se faz referência por ser menos frequente.
Um Claustro pode ter entre um e três pisos, sendo este último menos comum.
Geralmente apresentam uma galeria coberta em volta do espaço central descoberto
cujo ritmo dos vãos varia de acordo com os estilos arquitectónicos, o arquitecto autor
do projecto e as épocas de construção. Deste modo, também o número de colunas, a
sua forma e/ou estilo, e a sua função (suporte, decoração ou ambos) variam de acordo
com diversos factores, entre os quais o local e época de construção do mesmo.
Num edifício religioso, este “pátio” podia ter diversas funções, entre as quais facilitar o
acesso rápido aos diversos espaços do mosteiro ou convento, funcionando em
qualquer tipo de condições climatéricas devido à protecção oferecida pelas galerias
que o envolvem. Além deste, eram dados ao Claustro outros usos, sendo o seu uso
como espaço de Estudo o mais importante. O claustro era um espaço onde os
religiosos podiam estudar, reflectir, ler e ainda dar lições a crianças. Na área coberta,
salvaguardados dos elementos, dedicavam-se a copiar e iluminar vários géneros de
manuscritos.
Este espaço funcionava também como um local de debate de ideias entre membros da
comunidade religiosa nos momentos em que lhes era permitido falar, facilitando a
troca de conhecimentos.
Alem destes usos, pode ainda dizer-se que o Claustro funcionava enquanto local
dedicado à higiene pessoal da comunidade, sendo a fonte utilizada para lavar mãos e
pés enquanto se dirigiam para o refeitório, para lavar a roupa e, no caso dos homens,
Deste modo, pode dizer-se que o Claustro é um espaço essencial na vida espiritual e
intelectual da comunidade religiosa, sendo o lugar dentro do conjunto arquitectónico
que simboliza a verdadeira realização espiritual monástica, fechar-se sobre si mesmo
O claustro era portanto o centro de um universo fechado, envolto por áreas colectivas
do conjunto arquitectónico, constituindo um espaço de contacto com o exterior mas
resguardado, onde a natureza é controlada, separado do Mal.
Neste espaço pretende-se recriar a Natureza nos primeiros dias do Mundo, sem
mácula, pura e fresca, através do ar, do sol, das plantas e da presença da água. As
dimensões e forma deste espaço são pensadas numa tentativa de exprimir a perfeição
perdida ao longo dos séculos (Duby, 1979).
Tendo em conta que inicialmente o Claustro era composto por apenas três lados
fechados e um aberto, Kinder (citado por Rocha, 2003) sugeria que cada lado dava
resposta a uma das três necessidades humanas principais: corporal, espiritual e
intelectual, a tríade “corpus” “anima” “spiritus”. A galeria ocidental que forma o último
lado do claustro foi inserida neste pela Ordem de Cister de modo a permitir o acesso
dos conversos ao Coro, local que até então era apenas permitido aos monges (Duby,
1979).
Neste local potenciava-se a relação Mestre-Discípulo, numa clara relação com a ideia
de ouvir e aprender através da disciplina e da obediência a uma entidade, neste caso
o Mestre, cuja sabedoria é mais vasta, um dos valores da tradição religiosa cristã (De
La Torre).
Quanto à simbologia dos quatro lados do claustro, podem relacionar-se com os quatro
rios do jardim do Éden, com a forma da cidade de Deus, com os quatro evangelhos ou
as quatro virtudes cardeais. O quadrado acaba por relacionar-se, ele próprio, com
Deus, sendo o Claustro um espaço de harmonia, de aparência controlada,
pretendendo atingir a perfeição, com a intenção de aproximar o Homem dos
ensinamentos do seu Deus. Os quatro compartimentos quadrados (existentes na
maior parte dos claustros) e a sua fonte central chegam a ser considerados como um
modelo cósmico (Duby e Delumeau, citados por Rocha, 2003).
Guillaume Durand, no séc. XVIII, citado por Aschapasse (1963) refere uma relação
entre os quatro lados do claustro e quatro muralhas “o desprezo de si mesmo”, “o
desprezo do mundo”, “o amor do próximo” e “o amor de Deus”, e relaciona ainda a
base das colunas com a paciência, fornecendo-nos informações importantes
relativamente ao significado do claustro nesta época, cujos valores ainda hoje são
cultivados entre a comunidade cristã.
Para potenciar ainda mais esta ideia existem todos os outros elementos constituintes
do mesmo que sugerem um ideal de Paraíso, fazendo dele um espaço onde as
plantas se interligam com a arquitectura e o elemento água e criam um lugar
agradável e onde se podem realizar vários tipos de actividades, sendo até o único
espaço ao qual não estão atribuídas funções específicas.
Aquando da sua fundação, entre 1118 e 1120, em Jerusalém, era formada por um
grupo de nobres cavaleiros e as suas funções, que inicialmente eram essencialmente
defensivas, acabaram por se tornar claramente ofensivas, respondendo às
necessidades daquela época com especial ênfase nas incursões contra os chamados
“infiéis”, e com o intuito de manter o domínio cristão no Oriente.
A sua Sede foi estabelecida no local onde se erguera o Templo de Salomão, onde
presentemente se encontra a Mesquita de Al-Aqsa, recebendo o seu nome com base
neste. Edificam, assim, o seu quartel-general no lugar a que se chamava Casa de
Deus, considerado à época como centro do mundo cristão.
A primeira Regra da Ordem, em latim, era bastante severa e previa uma hierarquia
que reflectia a estrutura social do século XII, na qual os combatentes (os monges-
guerreiros que prestavam voto de castidade e pobreza) eram os cavaleiros de origem
nobre, os sargentos e escudeiros eram recrutados entre a burguesia e o povo e a
função religiosa era assegurada por clérigos.
Foi o carácter militar da Ordem que acabou por forçar a edificação de castelos e
fortalezas que pudessem auxiliar a manutenção dos territórios e a defesa contra
ataques que tinham como objectivo reconquistar os mesmos. Consequentemente,
estas edificações acabam por ter um papel fundamental, não apenas nas questões
defensivas, mas especialmente na organização ofensiva e no abastecimento de
provisões.
Além das suas funções religiosas e militares, a ordem do Templo desenvolvia ainda
uma actividade inovadora para a época que consistia no depósito de valores feito
pelos peregrinos que se dirigiam à Terra Santa para que não fossem despojados deles
ao longo da sua viagem, e que podiam levantar à chegada através da entrega uma
carta de garantia numa comendadoria da Terra Santa, que funcionava de um modo
semelhante aos actuais cheques.
Deste modo, os Templários geriam uma vasta riqueza, da qual não eram os
detentores mas sim os guardiães, que financiava as suas actividades no Oriente. Este
facto trazia à Ordem um enorme poder, tendo a ela recorrido diversos monarcas de
reinos europeus, particularmente os reis de França, que se socorreram do seu auxílio
em momentos de crise financeira. Eram também os fiéis depositários do tesouro real
francês desde o reinado de Filipe-Augusto, que mantinham guardado na sua “casa” de
Paris, a que muitos chamavam “O Templo”.
A Ordem do Templo foi, assim, uma organização indispensável para Portugal ao longo
dos séculos, não apenas na conquista do território que hoje é o nosso país e na sua
fundação, mas também noutros momentos marcantes da nossa História, como os
Descobrimentos.
A actividade “bancária” desenvolvida pela Ordem do Templo vai fazendo com que a
sua impopularidade aumente ao longo do tempo, particularmente agravada em França
devido às cobranças de impostos em momentos de aflição financeira com a intenção
de obter fundos para levar avante as suas batalhas, com especial ênfase para as
guerras na Flandres.
Foi através da tortura que se obtiveram grande parte das confissões que confirmavam
as acusações, que incluíam todos os mais graves motivos de censura. Essas
acusações acabam por se espalhar pelos meios populares, particularmente em
circunstâncias anti-clericais, e a eles se acrescenta a fama dos Templários devido ao
secretismo da Ordem e da sua riqueza acumulada (Pereira, 2009).
É então que o Papa Clemente V, que vivia em França e fora eleito através das
manobras de Filipe-o-Belo, vai servir os propósitos do monarca, emitindo uma Bula, a
22 de Novembro, na qual se ordena a prisão de todos os Templários. A 2 de Maio de
1312 a Ordem acaba por ser extinta apesar dos protestos dos freires templários.
A transferência dos bens da Ordem do Templo para a Ordem de Cristo garante, assim,
a actividade dos Templários em Portugal, já que nada diferencia a nova Ordem da sua
antecessora. Além do seu nome ser equivalente, também o hábito permanece o
mesmo, assim como a sua insígnia, cuja cruz recebe a inscrição de uma cruz grega
branca. Mais tarde altera-se a cruz, cujos extremos são modificados, transformando-a
na conhecida Cruz de Cristo, que assume com D. Manuel um valor equivalente ao da
insígnia Real.
A principal alteração está relacionada com a distinção total entre freires e cavaleiros,
transformando a Ordem de Cristo numa Ordem de estrita clausura e dando-lhe agora
um papel apenas contemplativo e monástico, claustral, baseada na Regra beneditina
(Pereira, 2009)
Este conjunto forma uma “unidade de paisagem” diferente, especial e muitas vezes
relacionada com os templários, ao envolver um vale onde se desenvolverá todo o
espaço construído pelo Homem, após a fundação templária.
Assim, a edificação do Castelo Templário foi iniciada no ano de 1160 por ordem de D.
Gualdim Pais, Mestre da Ordem do Templo, após mandar “lançar sortes” para decidir
sobre o melhor local e por três vezes cair a sorte na elevação onde posteriormente se
construiu o Castelo (Inquérito ordenado por D. Diniz após a extinção da Ordem do
Templo, citado por Barbosa, 2009).
Este Castelo era composto pela casa militar dos cavaleiros templários, incluindo o seu
oratório, e pela vila fortificada, construída no interior das muralhas, sendo notória a sua
implantação num local estrategicamente defensivo, de onde é possível controlar
grande parte da paisagem envolvente.
Em Tomar, a Ordem era detentora de alguns edifícios que ajudavam ao seu sustento,
como era o caso de moinhos, lagares e armazéns, onde eram levadas a cabo trocas
comerciais de recursos agrícolas. Assim, não só se explorava o solo, como também se
dispunha dos meios para transformar, armazenar e vender os bens produzidos.
No que respeita ao espaço do castelo, pode dizer-se que se encontra dividido em três
partes por duas muralhas interiores e envolvido por uma cintura de muralha, que
delimita o perímetro exterior da fortificação.
Por fim, na área mais elevada e a Norte, situava-se o paço dos Cavaleiros Templários,
constituído por duas zonas distintas: a Alcáçova, a nascente, com a respectiva torre de
menagem, e a Charola Templária, a poente, um templo fortificado cujo espaço central
é composto por oito ângulos com uma nave envolvente poligonal de dezasseis lados.
A estrutura cilíndrica tem planta octogonal no seu núcleo mais interior, envolta por
paredes exteriores que se desmultiplicavam em dezasseis panos, reforçados por
contrafortes sólidos. Ao observar atentamente pode constatar-se que a Charola foi
construída em duas fases (a primeira, em alvenaria miúda até ao primeiro andar e a
segunda em silharia aparelhada).
Na cidadela, onde se erguia a antiga povoação de Tomar, a entrada era feita pela
Porta de Santiago, construída no século XV. À sua esquerda erguia-se a extensão das
muralhas da Almedina, assentes sobre um poderoso “alambor”, o mais extenso e de
maior largura de todos os castelos em território português.
A porta original, do século XII, é a Porta do Sol, que era flanqueada pelos muros da
Alcáçova e pela muralha da Almedina devido ao facto de ser situar numa reentrância,
não por acaso, mas pela dificuldade acrescida que criaria aos inimigos.
Devido a obras de ampliação posteriores, partes das muralhas acabaram por ser
desmontadas ou parcialmente adossadas aos edifícios construídos ao longo do tempo,
principalmente nos seus percursos Norte e Poente, sobretudo nas obras do reinado de
D. Manuel e de D. João III.
Na zona da várzea, o Infante decide dividir a terra em talhões e criar ruas paralelas e
perpendiculares ao rio, numa malha ortogonal, criando açudes para aproveitar o curso
deste enquanto energia motriz e “domesticando” o seu leito (Barbosa, 2009).
Ainda sob as suas ordens, a antiga alcáçova, a casa militar dos Templários, e o
convento templário foram integrados no Paço do Infante, enquanto eram edificados
tanto o Claustro do Cemitério como o Claustro das Lavagens.
É neste local que se o Infante acaba por delinear a sua estratégia de expansão, com
base nos conhecimentos e tecnologias que obteve da Ordem do Templo.
É apenas em 1510 que o monarca pode dar seguimento às suas intenções, ordenando
a edificação de um Coro a Poente da Charola Templária, encomendado a Diogo de
Arruda e cuja construção encostada à face Ocidental da Charola não tem qualquer
precedente tipológico, formando uma nave ao gosto Manuelino.
Esta nave contém, no seu lado Poente, a Janela do Capítulo, elemento de grande
importância histórica e escultórica, executado por Diogo de Arruda segundo programa
iconológico definido pelo Rei.
A conclusão das obras da igreja é da autoria de João de Castilho, que foram iniciadas
por volta de 1515, com o intuito de resolver problemas que Arruda deixara sem
solução e concluir a cobertura da nave, além de criar um novo acesso monumental, a
Sul, que exprimisse a grandeza da congregação e do seu mais grandioso mecenas.
Este novo discurso decorativo celebra, não só a Coroa Portuguesa, mas também a
Ordem de Cristo, numa imagem de Poder e Fé interligados, constituída por uma
conjugação de estilo Manuelino, Gótico e já influenciado pela linguagem do
Renascimento.
Além das obras de carácter escultórico e arquitectónico, são ainda executadas obras
de ornamentação na abóbada, no deambulatório e no tambor central, cujos motivos
são arquitectónicos, vegetalistas e figurativos.
Ainda durante o século XVI, a reforma da Ordem de Cristo promovida por D. João III e
executada por Frei António de Lisboa, na qual esta perde o seu ramo de cavalaria
mantendo apenas o religioso, leva a mais uma profunda alteração arquitectónica e
espacial do castelo templário: a construção de um convento de grandes dimensões
que se desenvolve em torno da Igreja templária.
O objectivo principal desta grande reforma da Ordem era reconduzi-la à pureza de que
se encontrava afastada, impondo-lhe para isso uma nova orientação religiosa a partir
de 1529.
João de Castilho é então encarregue deste projecto em Março de 1530, cujo plano
obedecia a um conceito extremamente funcional e racional, tratando-se de um
quadrilátero para poente do Coro Manuelino, organizado em volta de um espaço de
circulação em cruz. De cada um dos lados deste espaço localizavam-se quatro
Claustros: o principal, o da Hospedaria, o dos Corvos e o da Micha.
É possível que a obra de Castilho tenha sido iniciada pelo Claustro de Santa Bárbara,
que forma um espaço cúbico apoiado nas paredes do coro e da igreja manuelinos,
constituindo uma das principais rótulas de articulação entre os novos espaços e os
Um dos espaços menos explorados até aos nossos dias e com muitos elementos por
desvendar é a Sala do Capítulo, de acesso directo a partir das portadas iconografadas
do piso térreo do Claustro Principal, cujas obras nunca foram concluídas.
raiz gótica e foi provavelmente iniciada por volta de 1515, com as obras retomadas em
1530, imediatamente após o início da reforma da Ordem.
Ilustração 17 - Vista do piso superior da Sala do Capítulo incompleta (Ilustração nossa, 2013).
No piso superior, com acesso pelo terraço de entrada ao nível da igreja, possui ao
fundo um arco triunfal ao gosto manuelino que deverá ter sido reconstruído
posteriormente. Era neste piso superior que deveriam reunir os cavaleiros mas após a
sua expulsão nunca foi concluído.
Castilho acaba por abrir no piso inferior outra dependência, quase em cripta, que seria
destinada ao Capítulo dos monges da Reforma de 1429 e uma área de recepção em
átrio é datado de 1541 segundo a inscrição na porta de acesso.
Também por aqui se tem acesso à Casa de Dom Prior, edificação como que
acrescentada à construção inicial, e às monumentais Salas das Cortes, que
originalmente compunham um conjunto homogéneo cujas funções estavam
relacionadas com o ensino dos noviços nas duas primeiras, e a capela do noviciado na
última.
Nestas três salas Castilho pretendia mimetizar a sala hipóstila de Vitrúvio, criando nas
duas primeiras salas um espaço arquitravado, com cobertura em madeira suportada
por quatro colunas centrais.
Entre 1541 e 1542 edifica-se o Claustro da Hospedaria, cuja forma e tipologia deverão
ter sido adoptadas no claustro grande da autoria de Castilho, embora neste o seu
desenho seja mais simples do que no Claustro Principal inicial.
Na união entre estes dois espaços de circulação forma-se o cruzeiro, projectado por
Castilho com a assistência de Pedro de Agorreta, cuja cobertura em cúpula contém
um lanternim, quebrando a simplicidade e sobriedade do espaço particularmente
através da ornamentação que apresenta (grinaldas e putti).
Ilustração 26 - Zona de circulação que permite o acesso aos dormitórios dos conversos
(Ilustração nossa, 2013).
A abóbada desta capela foi realizada em pedra, ornamentada com caixotões, também
eles em pedra, que representam figuras da mitologia clássica, de histórias moralistas,
de um Rei ou Papa e de um Bobo, todos eles motivos fora do que seria de esperar.
A adega é um espaço que se desenvolve com planta rectangular, cuja parede mais
afastada da entrada se abre para o laranjal dos freires em três vãos, em arco de volta
perfeita.
Este espaço terá sido erguido sob o patrocínio do reformador da Ordem, Frei António
de Lisboa, e mesmo pelo próprio Rei, D. João III, tendo os seus acabamentos sido
executados, primeiro, por Torralva e, depois, por Terzi, que concluiu as obras do
edifício.
A fachada da igreja reflecte as fachadas dos templos romanos, com frontão triangular,
e consegue resolver um dos problemas da arquitectura renascentista de inspiração
clássica através da organização espacial das três naves, cuja altura é igual, inscritas
num volume rectangular (Pereira, 2009).
Este edifício rectangular, de planta em cruz latina, com três naves e transepto
ligeiramente saliente, avista-se de diversos pontos da cidade e, segundo o ponto de
observação, mostra-se ora delicada, ora monumental.
Apesar dos diversos elementos que apontam para a função de mausoléu de D. João
III e D. Catarina deste espaço, e dos diversos estudos realizados a esse respeito, há
sempre algo que leva a crer que esta não poderia ser a finalidade deste espaço já que
apesar de ser uma obra-prima, não tem dimensões para abrigar os túmulos dos
monarcas, que repousam no Mosteiro dos Jerónimos.
Deste modo, a verdadeira finalidade deste edifício, apesar de quase ter sido provada
por Rafael Moreira enquanto mausoléu, parece ser ainda um dos muitos mistérios por
desvendar em Tomar e um dos mais significativos também, não apenas pelo valor
arquitectónico do edifício, mas também pela sua importância histórica.
Entre o final do séc. XVII e o início do séc. XVIII amplia-se o Claustro da Hospedaria
em mais um piso, dando continuidade à enfermaria e articulando-se com o convento
renascentista (Barbosa, 2009).
Foi permitido aos novos proprietários realizarem obras que em nada contribuíram para
a preservação dos sete séculos de História do conjunto. As obras de adaptação do
Claustro dos Corvos e do Pátio dos Carrascos de modo a poderem servir de
residência e casa agrícola ao Conde de Tomar e à sua família, entre 1843 e 1934,
foram apenas um dos exemplos desta situação.
Iniciado o séc. XII, este monumento foi ocupado até meados dos anos 80 do séc. XX
pelo Exército e pelo Seminário das Missões Ultramarinas até que o Estado voltou a
assumir a posse do conjunto, cujas funções se tornaram culturais e turísticas, funções
essas que ainda se mantêm.
O Claustro D. João III foi uma obra realizada a dois tempos, sendo ambos visíveis
ainda nos nossos dias, já que partes da primeira campanha de obras podem ser
observadas apenas meio encobertas pela segunda intervenção.
As primeiras obras são da autoria de João de Castilho, fazendo parte das intervenções
renascentistas no Convento. Deste modo, as suas proporções, morfologia e elementos
decorativos são uma aglutinação de elementos mitológicos provenientes to
Renascimento italiano e de elementos religiosos católicos, como representações de
anjos e santos, assim como elementos alusivos à nacionalidade portuguesa.
O Renascimento italiano teve a sua base em diversos factores mas um dos mais
importantes foi a descoberta de habitações soterradas muitos séculos antes, como a
de Nero, cujas pinturas, esculturas e espaços vão influenciar os artistas que a elas
acediam, fazendo com que a cultura Clássica volte a fazer parte do seu vocabulário
artístico.
O traço original apresentava quatro tramos em cada um dos quatro lados do Claustro,
sendo cada um deles composto por um contraforte e dois arcos gémeos no piso
inferior, repetidos proporcionalmente no piso superior. Em volta do Claustro,
organizavam-se o refeitório, o dormitório dos freires e a sala do capítulo, ainda que
incompleta, assim como as zonas de distribuição que incluíam o Claustro de Santa
Bárbara e os acessos à Hospedaria, à igreja e ao coro.
Ainda antes de concluída, obra até então realizada por Castilho é considerada
perigosa e uma grande parte dela acaba por ser alvo de demolição sendo substituída
por um novo espaço, cujas proporções são muito diferentes das que constituíam a
obra anterior.
O Maneirismo é uma tendência artística que surge no século XVI em Itália e que se
desenvolve no seguimento do Gótico tardio e do Renascimento, acabando por se diluir
gradualmente com o surgimento do Barroco.
Este facto, no entanto, não impede que acabem por existir obras ao gosto maneirista
cujos autores tinham conhecimentos suficientes para quebrarem as regras clássicas
propositadamente, sabendo qual era a forma correcta mas escolhendo utilizar uma
outra, transgredindo as regras codificadas no Renascimento.
Pode considerar-se que o Maneirismo foi iniciado em Portugal entre 1530 e 1540,
tardiamente em relação à restante Europa, como já tinha acontecido com a maior
parte das tendências artísticas. A sua generalização deveu-se particularmente aos
Jesuítas e foi na sua 2ª fase que se tornou mais nacionalista e actuante.
Como acontecia nos outros países, também em Portugal existiam artistas conscientes
das transgressões praticadas relativamente ao código renascentista e outros que
apenas não compreendiam ou não eram conhecedores das normas clássicas.
O Claustro D. João III, em Tomar, foi, no entanto, uma das obras mais importantes
desta época (1558), na qual Torralva propõe métrica e morfologia completamente
diferentes daquela que Castilho iniciara, revelando um vasto conhecimento do léxico
renascentista, que quebra deliberadamente de uma forma que só pode ser descrita
como sublime.
ainda elementos que nos remetem para a adequação de Serlio e para a nobreza de
Palladio.
Ilustração 42 - Enquadramento da fonte central do Claustro D. João III (Ilustração nossa, 2013).
A Regra de São Bento, seguida no Convento de Cristo quando D. João III retirou à
Ordem de Cristo o ramo de cavalaria, é composta por setenta e três capítulos, nos
quais São Bento ensina quais são as orações a fazer, em que momentos, como
devem agir os frades, quais as funções que devem desempenhar, quais as
ferramentas e objectos existentes na comunidade, entre muitos outros ensinamentos.
Entre estas regras encontram-se ainda indicações que vão influenciar o espaço onde
habitam e o seu uso, como por exemplo a obrigatoriedade de receber os peregrinos,
que levava à necessidade de edificar uma hospedaria, ou a obrigatoriedade de realizar
o “Ofício Divino”, também conhecido como a “Liturgia das Horas”, que acontecia sete
vezes por dia, inclusive durante o período nocturno, levando à necessidade de uma
proximidade entre a igreja e os dormitórios.
O modelo do convento beneditino tinha, regra geral, apenas dois claustros, sendo um
deles mais privado e mais pequeno que o outro. No caso do Convento de Cristo não
foi possível, devido ao declive do terreno e à sua composição, reunir todas as funções
necessárias em volta de apenas dois claustros. Deste modo, não apenas se conseguiu
um convento de maiores proporções, como se organizou o mesmo em diálogo com o
lugar, envolvendo um conjunto de oito claustros.
Pode dizer-se que por essa razão existia uma necessidade de criar um espaço onde
fosse possível proceder a este tipo de actividade, com a área disponível
proporcionalmente relacionada com o número de pessoas e os objectos que estas
deviam transportar.
Além das procissões, a Regra obrigava ainda a que os frades se dirigissem por sete
vezes durante cada dia ao local de oração para cumprirem o Ofício Divino, com horas
pré-definidas, algumas das quais durante o período nocturno, o que levava a uma
necessidade de aproximar funcionalmente a igreja onde os frades procediam à oração
e o local onde pernoitavam, sendo este percurso realizado normalmente através do
claustro, cujas galerias cobertas possibilitam aos frades a realização do mesmo com
alguma protecção contra os fenómenos climatéricos.
jovens, numa relação muito próxima com o espaço da biblioteca. Era ainda local de
lavagem quando os frades se dirigiam ao refeitório para as refeições.
Nas proximidades deste claustro encontramos, assim, muitas das funções que
encontraríamos em qualquer convento da ordem beneditina, como o refeitório, a sala
do capítulo, o dormitório dos professos e a igreja. No entanto, o scriptorium não estava
relacionado com o claustro principal, mas sim com o Claustro dos Corvos, assim como
a Sala dos Estudos.
Ilustração 43 - Planta esquemática da área envolvente do Claustro Principal (A), onde se observa a sua
proximidade com a Igreja (B), com o Claustro de Santa Bárbara (C) e com o Dormitório dos professos (D),
(Silva, 1992)
Em relação ao piso superior, sobressai a criação de uma “serliana”, com o arco central
enquadrado por duas colunas, sustentando de cada lado uma arquitrave, assim como
o conjunto de vãos “falsos”.
Não fosse de proporções monumentais, o conjunto poderia ser uma maquete, tendo
em conta a atenção e detalhe revelados no jogo de luz e sombra acentuado pela
coloração dos materiais, particularmente notória no contraste entre o calcário amarelo
do primeiro plano e o mármore negro dos planos reentrantes.
Neste claustro podemos ainda encontrar outra janela manuelina, idêntica à da Sala do
Capítulo em estilo mas cujo tema são os artefactos utilizados nas festas. Neste local é
muito perceptível quanto foi “escondido” no tempo de d. João III e após o seu reinado,
Ilustração 47 - Pormenores da fachada interior do Claustro D. João III (Ilustração nossa, 2013).
Pode observar-se também aquilo que parece ter sido a intervenção que completou o
claustro, de Filipe Terzi, numa das fachadas interiores, a Sul, que apresenta ligeiras
Uma das conclusões a que se pretendia chegar prendia-se com a relação entre o
Maneirismo do Claustro de Torralva e a simbologia templária, na medida em que se
procurava compreender se por entre a simplicidade ornamental e a mestria da
arquitectura haveria espaço para a simbologia relacionada com a Ordem de Cristo.
No decorrer da pesquisa realizada surgem três premissas-chave que vão alterar toda
a compreensão deste claustro e, portanto, as conclusões que dele se podem retirar:
em primeiro lugar, não se trata de um claustro “simples” mas de um claustro mais
recente que vem substituir um outro, construído anteriormente e do qual existem ainda
vestígios; além disso, o primeiro claustro, da autoria de Castilho, teve como mote a
transformação da Ordem de Cristo numa ordem contemplativa, retirando-lhe a função
militar, o que dará a este espaço um certo carácter, relacionado com as funções a que
se destina; por último, as obras do primeiro claustro foram suspensas e o seu
conteúdo foi encoberto por ser considerado “perigoso”, sendo que no seu interior foi
edificado um novo claustro com um conceito completamente distinto.
Tendo em conta estas três especificidades, foi possível então chegar a conclusões
relacionadas com os significados deste claustro e com a sua relação, ou neste caso a
relação que não existe, entre a sua construção e a simbologia relacionada com a
Ordem do Templo.
A altura do piso inferior seria de trinta e cinco palmos e a do piso superior, abobadado,
de vinte, sendo que a conclusão das balaustradas do claustro se dá em 1551,
precedendo a morte de Castilho (Kubler, 1988).
Contudo, em 1545 D. João III ordena a suspensão das obras no Claustro Principal,
ainda em vida de João de Castilho, e a obra é considerada perigosa. Muitas são as
teorias possíveis quanto a essa perigosidade sendo a mais plausível uma questão
estrutural, já que é possível ter existido um erro que tornasse o claustro da autoria de
Castilho pouco seguro ou instável.
Outra hipótese acerca do que poderá ter levado à suspensão das obras é a questão
das dimensões. O claustro de Castilho é, segundo o que se pode observar nas zonas
recentemente desentaipadas, de dimensões muito menores do que as do actual, pelo
que também é possível e plausível que este tenha sido considerado insuficiente e que
se tenha ordenada a construção de um outro claustro cujas dimensões fossem mais
grandiosas, especialmente nas galerias, algo que Diogo de Torralva concretiza na sua
obra.
Esta última hipótese aparenta ser uma das mais prováveis, já que era comum este tipo
de mudança de planos em relação a obras de Arquitectura. No entanto, também a
perigosidade estrutural do claustro de Castilho se apresenta como possível, tendo
acontecido até algo semelhante cerca de duzentos anos mais tarde, num outro
claustro (o de Santa Clara a Nova, em Coimbra) cujo piso inferior foi iniciado,
apresentando falhas estruturais que levaram a alterações profundas antes do final da
obra (Bonifácio, 1990).
Não existindo uma relação directa entre os dois claustros, até pela grande diferença
temporal, é no entanto plausível que a situação tenha sido idêntica, levando à
construção de um novo Claustro mais estruturalmente estável que o anterior.
Contudo, apenas podem lançar-se hipóteses acerca das razões que levaram à
construção do claustro de Torralva, substituindo o de Castilho na sua quase totalidade,
sendo apenas ponto assente que o interesse do Rei nesta obra era muito significativo.
Pode, assim, dizer-se que a sua edificação tem uma maior componente espacial do
que iconográfica, já que a ornamentação que nele podemos encontrar é simples e
pouco profusa, dando uma maior importância ao espaço arquitectónico do que à sua
ornamentação.
A obra de Torralva pode, assim, ser considerada uma das mais significativas obras
maneiristas executadas em Portugal e a sua grandiosidade, e de todo o renovado
convento, demostram como a Ordem de Cristo era ainda apreciada e apoiada pelos
monarcas portugueses.
Apesar da importância que a Ordem de Cristo ainda tinha e de ela ter mantido a maior
parte dos preceitos da Ordem do Templo, o claustro de Torralva não apresenta
simbologia relacionada com esta ou cujo valor se possa relacionar com os antigos
símbolos e significados Templários, no entanto apresenta alguns elementos que
podem relacionar-se com a Ordem de Cristo, mas apenas de um modo muito geral e
não vinculado a quaisquer significados “ocultos”.
As conchas, que podem simbolizar o baptismo, o início de uma nova vida (como a vida
religiosa), os peregrinos ou até o convite a conhecer Deus baseado na lenda de Santo
Apesar disso, podemos intuir que a simbologia dos elementos ornamentais neste
claustro não é o mais importante, mas sim a simbologia do espaço e das suas funções
religiosas, de contemplação e oração principalmente, já que é a qualidade do espaço
que se revela mais proeminente devido a uma redução dos elementos ornamentais a
um mínimo, que faz com que sobressaiam os elementos estruturais.
É esta a primeira pista que temos de que este espaço não é construído ao gosto
Renascentista. No Renascimento, os elementos estruturais funcionavam exactamente
enquanto estrutura, nunca enquanto criadores de métrica ou enquanto ornamentação
de carácter arquitectónico como podemos observar no espaço em estudo.
Num total de três arcos em cada uma das fachadas interiores, alternados com portais
rectangulares, mesmo nos ângulos, o piso inferior deste claustro totaliza doze arcos e
doze portais.
Além destes, podemos ainda apontar o uso das “serlianas” no piso superior e dos vãos
falsos, cobertos por um material pétreo pelo interior de coloração escura, apenas
outros dois elementos claramente Maneiristas neste conjunto.
central com um arco de volta perfeita e por dois ou mais vãos laterais encimados por
uma arquitrave, com duas colunas entre cada um e o vão central.
Segundo o mesmo autor, Torralva combina de forma interessante as suas ideias com
influências diversas, entre elas as do Romano e do Veneziano, de Serlio e de Palladio,
criando um jogo prismático de luz dentro dos volumes da parede num “apelo à
compreensão táctil entre formas habilmente reduzidas, a sugerir um movimento
possível nas fronteiras destas superfícies luminosas, cor de mel, de grão polido”.
Este espaço é assim ao mesmo tempo táctil e visual, temporal e físico, e podemos
aceitar que aqui a ornamentação não é muito profusa e a sua simbologia relaciona-se
apenas com os estilos arquitectónicos que nele se encontram expressos, não havendo
qualquer tipo de relação com a Ordem de Cristo, e optando-se por “esculpir” o espaço
em vez de o ornamentar ou por utilizar uma ornamentação de carácter geométrico em
vez de figurativo.
“No estado actual, o Claustro de D. João III foi iniciado no segundo ano da regência da
rainha viúva D. Catarina de Áustria e constitui a obra-prima do legado artístico de
Diogo de Torralva (1500-66). A sua conclusão deve-se a Filipe Tércio (c. 1593) e a
Pedro Fernandes Torres, que desenhou a fonte central. Este sector reveste a
importância de ser uma das obras mais complexas de toda a história da arquitectura
nacional, o mais importante reflexo na Europa transalpina da «Basílica» de Vicenza
(co. 1549) do mestre paduano Andrea Palladio (1508-80) e, decerto, uma das peças
mais notáveis do Maneirismo arquitectónico europeu.” (Silva, 1993, p. 190).
6. CONCLUSÃO
No seu conjunto, conta mais de oito séculos de História e reflecte os períodos mais
importantes da arquitectura portuguesa nas diversas intervenções de que foi sendo
alvo ao longo do tempo, demonstrando o poder exercido pela Ordem do Templo e pela
sua sucessora, a Ordem de Cristo.
Além das diversas influências que o tornam único e incomparável, também o lugar
onde se encontra e a sua implantação contribuem para a sua individualidade já que a
situação geomorfológica do terreno de implantação levou a que se edificasse um
conjunto de seis claustros que possibilitam a vivência do conjunto como um todo, mas
acabando por concretizar uma variação pouco comum na distribuição dos espaços de
edifícios com a mesma função.
Deste modo, estamos perante uma peça de Arquitectura única, na qual são
respeitados os princípios da identidade histórica tendo em conta que cada intervenção
nela realizada é da sua época, não tentando de modo algum reproduzir as pré-
existências mas sim acrescentar-lhes valor e mostrar na arquitectura quão importantes
foram a Ordem do Templo e a Ordem de Cristo para Portugal.
Ao longo dos séculos, a vida religiosa foi mudando, foram surgindo novas ordens,
novas Regras e novos ideais, levando à existência de uma grande variedade de
Ordens Religiosas, algumas onde existiam criados para as tarefas mais “mundanas”,
estando os monges apenas dedicados às actividades religiosas, como a oração ou a
cópia e iluminura de livros; e outras onde os monges também trabalhavam na
manutenção da comunidade a que pertenciam, como por exemplo os trabalhos nas
hortas e pomares pertencentes ao Mosteiro.
A distinção entre Mosteiro e Convento foi, não apenas por curiosidade pessoal, mas
também com a intenção de compreender melhor as questões que relacionam a vida
religiosa e a arquitectura, uma questão à qual se procurou responder.
Palácio de Cnossos, no séc. XVI a.C., onde segundo diversos autores existiam
diferentes tipos de pátios cujas funções se relacionavam com o fornecimento de luz
solar, mas também com a organização dos espaços que se distribuíam em volta deles.
Um claustro é, regra geral, um espaço formado por uma zona central descoberta e por
uma galeria envolvente, sendo a sua forma mais comum quadrangular, apesar de
existir também em formas circulares ou rectangulares, e tem, geralmente, dois pisos.
Este “jardim fechado” era então um espaço que possibilitava aos religiosos um
contacto com o exterior mas de um modo resguardado física e intelectualmente do
Mundo devido, não só ao seu carácter privado, mas também devido ao ideal de
perfeição que este espaço muitas vezes tentava alcançar, particularmente na forma,
idealizada e perfeccionista, como se organizava.
A existência de água neste espaço sempre foi uma das questões mais importantes
relacionadas com o significado, ou significados, dos claustros. A função do poço ou
fonte depende muitas vezes do claustro onde se encontra e dos espaços que se
interligam através dele mas, regra geral, relaciona-se, não só com a simbologia
associada ao início da Vida, tanto humana como religiosa, através do baptismo, mas
também com som que a água pode produzir, proporcionando um ambiente sereno,
apto para a reflexão e a oração. Tem também muitas vezes uma relação mais prática
com a vida quotidiana dos monges, sendo por vezes o espaço onde se lavavam antes
das refeições ou onde se barbeavam.
A forma mais comum nos claustros, o quadrado, é muitas vezes relacionada com os
pontos cardeais e normalmente cada um dos seus lados tem um significado
associado, como acontece com o lado que comunica directamente com a Igreja, onde
muitas vezes os monges prosseguiam as suas orações individualmente ou meditavam
na palavra de Deus, ou o lado adjacente à Biblioteca, onde muitas vezes os monges
com mais idade ensinavam os mais jovens.
Santa pela força militar, acabando por se tornar claramente ofensiva, ao invés de
puramente defensiva, respondendo às necessidades da época.
Estando vinculada à Santa Sé e tendo conexões importantes com diversos países não
se subjugava a nenhum deles, mantendo a sua lealdade para com a Fé cristã e não
em relação a um país ou a um monarca.
O sustento da Ordem do Templo era acima de tudo proporcionado por doações régias
e pelas rendas provenientes de propriedades por ela detidas.
A Ordem do Templo acumulava ainda uma outra função ligada à protecção dos
peregrinos, que deixavam dinheiro à guarda da Ordem no seu país e partiam em
direcção à Terra Santa com um certificado que lhes permitia, aquando da sua chegada
ao destino, levantar as suas posses, como actualmente acontece com a actividade
bancária.
Os Templários geriam assim uma vasta riqueza da qual não eram os detentores mas
os fiéis depositários, que acabava por financiar as suas actividades no Oriente,
trazendo à Ordem um grande poder, já que a ela recorreram alguns monarcas
europeus em momentos de crise financeira.
Após a queda do Império Cristão na Terra Santa, a Ordem acaba por basear o seu
sustento nas rendas das diversas propriedades de que era detentora, sendo a sua
actividade militar menos necessária, à excepção dos territórios da Península Ibérica,
onde ainda se travavam grandes batalhas.
Em 1312, após muita contestação, a Ordem do Templo acaba por ser extinta pelo
Papa Clemente V, acusada de diversos crimes contra a religião cristã, sendo muitos
cavaleiros torturados e alguns mesmo condenados à morte, particularmente em
França.
Apesar das ordens do Papa, em Portugal não se extingue logo a Ordem do Templo,
principalmente devido ao seu poderio e à importância que ela teve para a formação do
Reino de Portugal. D. Dinis não desenvolveu quaisquer diligências urgentes com o
objectivo de prender ou condenar os cavaleiros, acabando por ser obrigado a
obedecer às ordens do Papa e em 1309 os bens da Ordem deverão retornar à Coroa.
Aquando desta refundação da Ordem, é-lhe dada a Regra Cisterciense, já que o seu
Mestre, D. Gil Martins, acumulava funções enquanto Mestre da Ordem de Avis, que
também seguia a Regra de Cister. O superior espiritual da Ordem de Cristo passa,
assim, a ser o Abade de Alcobaça.
Esta obra de ampliação é dirigida por João de Castilho e pode dizer-se que tem muitas
características provenientes de um vasto conhecimento do Renascimento italiano.
Apesar disso, podem ainda encontrar-se diversas outras influências, entre as quais a
É então neste contexto que Castilho desenha o Claustro Principal e dá início à sua
edificação, cujas obras se iniciaram em 1553 e acabam por ser suspensas sem que
existam registos concretos de uma ou várias razões para a paragem dos trabalhos por
volta de 1545, e deixadas inacabadas durante alguns anos.
As únicas informações disponíveis em relação a este assunto apenas nos indicam que
o claustro, após a paragem dos trabalhos, foi considerado perigoso, não se sabendo
ao certo em que aspecto. A razão mais provável seria uma degradação estrutural
devido à exposição do claustro inacabado às condições atmosféricas que teriam
prejudicado a estrutura.
Segundo Kubler, Torralva utiliza na sua obra, não só o conhecimento que tem da
Arquitectura Clássica e das transgressões levadas a cabo pelo Maneirismo, mas
também as suas próprias ideias originais e elementos tipicamente portugueses,
particularmente o conceito de parede habitada, que desde sempre fascinou os
arquitectos portugueses.
Este espaço aparenta ser, assim, o fruto dos conhecimentos, erudição e originalidade
dos seus autores, particularmente de Torralva já que é o seu desenho que obtém
visibilidade nos nossos dias, e não tem qualquer outra relação com a Ordem de Cristo
ou a sua antecessora além do facto de ter sido edificado para servir o Convento.
Em relação às celebrações que poderiam ser realizadas neste espaço, assume-se que
seriam as que se realizavam nos restantes conventos seguidores da Regra de S.
Bento, usualmente procissões nas quais se percorriam as galerias do Claustro
Principal, não existindo evidências de qualquer outro uso para este local além dos que
eram comuns nos conventos beneditinos: a procissão, a leitura, a introspecção e a
oração.
Além da sua relação com o lugar, também o modo como cada ampliação adicionou
valor ao conjunto ao longo dos séculos e como o conjunto se foi desenvolvendo, sem
que as intervenções fossem uma cópia do que já se encontrava edificado, contribuem
para aquilo a que chamamos a sua autenticidade histórica.
Com este estudo pretende-se tornar explicita esta questão, onde a Arquitectura e a
História se unem, justificando-se mutuamente, e sublinhar a importância das decisões
régias na Arquitectura, que por vezes ditavam a suspensão de determinada obra sem
que existissem outras razões que não a vontade do Rei, e a sua substituição por um
projecto mais recente, mais grandioso, ou simplesmente que agradasse mais ao
monarca.
REFERÊNCIAS
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