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Índice
1. Contexto histórico...................................................................................................................................... 3
2. Caraterísticas gerais..................................................................................................................................3
3. Arquitetura Renascentista......................................................................................................................... 3
3.1. Arquitetura religiosa............................................................................................................................. 3
3.1.1. Campanha de obras do Mosteiro de Santa Maria de Belém.....................................................4
3.1.2. Capela de Nossa Senhora da Conceição – Tomar....................................................................4
3.1.3. Igreja de Santo Antão – Évora...................................................................................................4
3.1.4. Igreja de Nossa Senhora da Graça – Évora..............................................................................5
3.1.5. Obras no Convento de Cristo em Tomar...................................................................................5
3.1.6. Igreja de São Roque - Lisboa.................................................................................................... 9
3.2. Arquitetura civil..................................................................................................................................... 9
3.2.1. Palácio da Bacalhoa, Azeitão.................................................................................................... 9
3.2.2. Palácio dos Duques de Aveiro, Azeitão.....................................................................................9
3.2.3. Paço Ducal de Vila Viçosa.......................................................................................................10
4. Urbanismo maneirista..............................................................................................................................10
5. Arquitetura Maneirista............................................................................................................................. 11
5.1. Caraterísticas gerais.......................................................................................................................... 11
5.2. Maneirismo em Portugal.....................................................................................................................11
5.3. Arquitetos........................................................................................................................................... 13
5.3.1. António Rodrigues....................................................................................................................13
5.4. Arquitetura religiosa........................................................................................................................... 16
5.4.1. São Vicente de Fora, Lisboa....................................................................................................16
5.4.2. Igreja do Seminário dos Jesuítas - Santarém..........................................................................18
5.4.3. Claustro de D. João III no Convento de Cristo em Tomar.......................................................19
5.4.4. Capela das Onze Mil Virgens, em Alcácer do Sal....................................................................19
5.4.5. Igreja de Santa Maria da Graça...............................................................................................20
5.5. Arquitetura Civil.................................................................................................................................. 21
5.5.1. Quinta das Torres - Azeitão.....................................................................................................21
5.5.2. Palácio dos Marqueses de Fronteira - Benfica........................................................................21
5.5.3. Outros palácios........................................................................................................................ 21
5.6. Arquitetura militar............................................................................................................................... 21
5.6.1. Forte de São Julião da Barra...................................................................................................21
6. Escultura.................................................................................................................................................. 22
6.1. Principais escultores.......................................................................................................................... 22
6.1.1. Nicolau de Chanterenne.......................................................................................................... 22
6.1.2. João de Ruão...........................................................................................................................22
6.1.3. Filipe Hodarte...........................................................................................................................22
7. Pintura..................................................................................................................................................... 23
7.1. Ciclo manuelino.................................................................................................................................. 23
Renascimento e Maneirismo - 1
7.1.1. Impacto da pintura flamenga....................................................................................................24
7.1.2. Principais obras........................................................................................................................25
7.1.3. Importações............................................................................................................................. 26
7.2. Oficina de Gerard David - Retábulo da Sé de Évora..........................................................................29
7.3. Jorge Afonso...................................................................................................................................... 31
7.3.1. Conjunto das tábuas monumentais da Charola do Convento de Cristo em Tomar.................32
7.3.2. Retábulo da Madre de Deus em Lisboa...................................................................................33
7.3.3. Retábulo da igreja do Convento de Jesus em Setúbal............................................................34
7.4. Francisco Henriques.......................................................................................................................... 35
7.4.1. Retábulo da Capela-mor da Sé de Viseu.................................................................................35
7.4.2. Retábulo da capela-mor da igreja do Convento de São Francisco em Évora..........................36
7.4.3. Pentecostes............................................................................................................................. 36
7.4.4. Tríptico dos Infantes – MNAA..................................................................................................36
7.5. Mestre da Lourinhã............................................................................................................................ 36
7.5.1. São João Baptista no Deserto (Museu da Santa Casa da Misericórdia da Lourinhã).............37
7.5.2. São João em Patmos (Museu da Santa Casa da Misericórdia da Lourinhã)...........................37
7.5.3. Tríptico dos Infantes.................................................................................................................38
7.6. Frei Carlos.......................................................................................................................................... 38
7.6.1. Ecce Homo.............................................................................................................................. 39
7.6.2. Anunciação.............................................................................................................................. 40
7.6.3. Ressurreição............................................................................................................................ 40
7.6.4. São Vicente..............................................................................................................................41
7.7. Vasco Fernandes............................................................................................................................... 41
7.7.1. Retábulo da Sé de Viseu......................................................................................................... 44
7.7.2. Retábulo da Sé de Lamego..................................................................................................... 45
7.7.3. Anunciação.............................................................................................................................. 46
7.7.4. Assunção da Virgem................................................................................................................46
7.7.5. Natividade................................................................................................................................ 46
7.7.6. Outros retábulos da Sé de Viseu.............................................................................................46
7.7.7. São Sebastião..........................................................................................................................48
7.7.8. A Última Ceia........................................................................................................................... 48
7.7.9. São Pedro Patriarca – Mosteiro de São João de Tarouca.......................................................49
7.8. Mestres do Sardoal – Vicente Gil e Manuel Vicente..........................................................................49
7.9. Ciclo renascentista............................................................................................................................. 49
7.9.1. Vasco Fernandes (2ª fase de atividade)..................................................................................50
7.9.2. Gaspar Vaz.............................................................................................................................. 52
7.9.3. Cristóvão de Figueiredo...........................................................................................................53
7.9.4. Mestre do Retábulo de Santa Auta..........................................................................................60
7.9.5. Garcia Fernandes.................................................................................................................... 69
7.9.6. Gregório Lopes – 1ª fase de atividade.....................................................................................77
7.9.7. O Inferno.................................................................................................................................. 81
7.10.Evolução do Retrato – do Renascimento ao Maneirismo..................................................................82
2- Renascimento e Maneirismo
7.10.1.Jovem cavaleiro (Príncipe D. João?).......................................................................................82
7.10.2.D. Sebastião.............................................................................................................................82
8. Escultura.................................................................................................................................................. 82
8.1. Escultura tumular............................................................................................................................... 82
8.1.1. Túmulo de D. João de Noronha...............................................................................................82
8.1.2. Túmulo de D. Afonso 4º. conde de Ourém - Ourém................................................................83
8.1.3. Túmulo de Baltazar de Faria ( ?- 1584)...................................................................................83
8.1.4. Túmulo de D. Luís da Silveira..................................................................................................83
9. Ourivesaria.............................................................................................................................................. 83
9.1. Relicário de D. Leonor........................................................................................................................83
10.Textos complementares.......................................................................................................................... 84
10.1.Arquitetura e Liturgia......................................................................................................................... 84
10.2.Comemorações e Renascimento: o Arco dos Vice-Reis de Goa......................................................88
10.3.Iconografia e dimensão criativa na pintura portuguesa do Renascimento........................................91
10.4.Frei Carlos e o Belo Portátil...............................................................................................................94
10.5.O Índio na Arte Portuguesa do Renascimento..................................................................................98
10.6.O Retábulo da Vida da Virgem da Igreja de Santa Maria da Alcáçova de Montemor-o-Velho.......107
10.7.O notável Retábulo Flamengo da Sé de Évora...............................................................................114
10.8.Retrato da Infanta D. Isabel – Van Eyck.........................................................................................116
1. Contexto histórico
Só no reinado de D. João III (1521-57)
Ligado o espírito da Reforma Católica
Centro e Sul
Até 1550-60 – data da implantação do Maneirismo
2. Caraterísticas gerais
Essencialmente de âmbito religioso
Contribuição manuelina:
Igrejas-salão
Preferência pelas construções horizontais
Uso da abóbada assente sobre arcos abatidos
Redes de nervuras
Aplicação de estruturas renascentistas em obras manuelinas
Decoração que conjuga elementos platerescos e renascentistas
Cosmopolita – influências da Europa e das regiões do Império
3. Arquitetura Renascentista
3.1. Arquitetura religiosa
Renascimento e Maneirismo - 3
Diretrizes do Concílio de Trento:
Aproximar os crentes da Eucaristia
Tornar o espaço claro e racional
Abrir o espaço da Igreja
4- Renascimento e Maneirismo
3 Capelas na cabeceira
1
Tesouros artísticos de Portugal (coordenação de J, A. Ferreira de Almeida), Selecções do Reader's Digest
2
Informação retirada de Luís Maria Pedrosa dos Santos Garcia, CONVENTO DE CRISTO, Instituto Português do Património
Cultural
3
Idem
4
Ibidem
5
Ibidem
6
Ibidem
7
Ibidem
Renascimento e Maneirismo - 5
Piso térreo8:
Colunas compósitas
Piso superior9:
Colunata clássica
Arquitrave sobrepujada
Varandim recuado
Claustro de Santa
Bárbara
Claustro Grande:
Iniciado por João de Castilho
Nunca acabado
Losango – na decoração dos arcos – funciona como uma assinatura de João
de Castilho
6- Renascimento e Maneirismo
Concluído no reinado de Filipe II, com Pedro Fernandes Torres
Fonte maneirista de cascata, a meio do piso térreo13
Fonte em cascata
do reinado de Filipe
II
Despojado de decoração
Elementos clássicos – do Classicismo do Concílio de Trento
Modelos do Tratado de Cerrola
Ordem Dórica em baixo – ordem masculina
Ordem Jónica em cima – ordem feminina
Piso 1 - Esquema
4 Lanços, cada um com 2 espaços preenchidos com porta e janela, ladeada por
colunas dóricas e arcos de volta inteira14
Arcos assentes em largos pilares, chapados com colunas toscanas15
Entablamento clássico16
Piso 2 – esquema:
13
Ibidem
14
Ibidem
15
Ibidem
16
Ibidem
Renascimento e Maneirismo - 7
2ª Camada – Ordem jónica
3ª Camada - Galilé
Sucessão de várias camadas – permite diferentes espaços de luz
Torres cilíndricas nos cantos ---- onde se vê, do interior do Claustro, o
corrimão da escada
O Claustro de D. João III do Convento de Cristo em Tomar, iniciado em 1557, tem sido
apontado como obra chave no duplo sentido de fechar um período e abrir um novo. Diogo de Torralva,
o projetista, utiliza a "serliana" ou "motivo de Palladio" nos dois andares do edifício, e partes deste
poderão ter sido inspiradas nos desenhos de Francisco de Holanda (do pátio do Vila Imperial, em
Pesaro) e de Serlio. Filipe Terzi veio a terminar esta "verdadeira obra-prima a nível mundial". Além de
ser um exemplo da cultura tratadística, testemunha a qualidade profissional dos arquitetos portugueses
na transição entre o renascimento e o maneirismo.17
8- Renascimento e Maneirismo
3.2. Arquitetura civil
3.2.1. Palácio da Bacalhoa, Azeitão
Exemplo da quinta de recreio – que alia o jardim, a frescura dos bosques
e a sombra dos plátanos à recolha de peças arqueológicas e à
introdução de microarquitectura de puro classicismo
Propriedade do nobre escritor Brás Afonso de Albuquerque – presidente
do Senado da Câmara de Lisboa e filho do vice-rei da Índia D. Afonso de
Albuquerque
Loggia de arcaria italianizante
Lago da «casa de fresco»
Pormenor de aparelho rusticado
Casa concebida como palácio-fortaleza
Estrutura quadrangular
Renascimento e Maneirismo - 9
possui uma larga varanda com colunata toscana, de onde se avistavam nos
tempos áureos da quinta as quatro ruas definindo os pomares, as vinhas, a
mata, o labirinto de buxo e os lagos e fontes que compunham a
propriedade.
4. Urbanismo maneirista
Quanto ao urbanismo da capital, a arquitetura seiscentista de Lisboa tem características
especificamente nacionais. O absolutismo desenvolveu a burocracia e o aparelho de Estado, surgindo
edifícios de grande imponência como o Palácio Moura Corte Real, Figueira, Almada, Tancos, Óbidos,
Teles de Menezes, etc. Da época renascentista ficaram casas de loteamento estreito por se situarem
em espaço muralhado mas, na segunda metade do séc. XVI, começa a fixar-se uma organização
urbanística mais horizontal. Numa célebre planta de Lisboa de 1650, de João Nunes Tinoco, é já visível
a separação entre o delineamento retilíneo do Bairro Alto, implantado a poente da muralha de Lisboa,
em contraste com as ruas tortuosas a nascente que vão desembocar no Rossio e Terreiro do Paço.
Por altura das guerras da Restauração, a teoria e a prática urbanística dos arquitetos e
engenheiros militares nacionais foi bastante desenvolvida, e formaram-se técnicos em número
apreciável. A arquitetura militar quinhentista está, pois, na base de uma escola de urbanismo português
que mais tarde foi responsável pela reconstrução de Lisboa.18
18
http://7mares.terravista.pt/8seculosdearte/maneirismo.htm
Renascimento e Maneirismo - 11
O "estilo-chão" e a influência flamenga
Ao invés da era renascentista, época dos protótipos e modelos únicos, os valores arquitetónicos
são assimilados e padronizados. Assim, à igreja de Santo Antão de Évora corresponde a matriz de
Veiros; Santa Maria do Castelo de Estremoz, "a mais erudita das igrejas-salão portuguesas", tem
"cópias" em Monsaraz e Santa Maria do Castelo de Olivença; etc., etc.
Por outro lado, alguns temas maneiristas provenientes de manuais flamengos começam
também a ser aplicados. Jerónimo de Ruão, arquiteto militar, utiliza na Igreja da Luz, no transepto dos
Jerónimos e, possivelmente, na Capela do Espírito Santo da antiga Misericórdia de Lisboa - hoje
capela-mor da Igreja da Conceição Velha - uma composição cromática conseguida através do contraste
de materiais e motivos comuns ao decorativismo maneirista flamengo. Esta mesma linguagem
encontra-se a norte do país, como no mosteiro da serra do Pilar e no de Grijó. No primeiro, repete-se a
forma circular na igreja e no claustro, com um efeito de planta semelhante ao "positivo" e "negativo" de
uma fotografia. No Mosteiro de São Salvador do Grijó, "uma das obras mais assumidamente
maneiristas do todo nacional", construído a partir de 1572 por Francisco Velázquez, a fachada denota
uma atitude assumidamente anticlássica de verticalidade, especialmente expressa pelo grande janelão
central.
A chegada a Portugal da Companhia de Jesus, com o seu dinamismo no campo da ação
pastoral e do ensino, origina uma grande vaga de construção de igrejas e colégios que se prolonga
durante o séc. XVII e constitui um importante capítulo da História da arquitetura nacional.
Os Jesuítas introduzem duas novidades. Primeiro, a centralização da ação apostólica na igreja.
Segundo, a vertente pedagógica, que conduz à criação de redes de colégios, edifícios "civis"
funcionando em regime de internato onde a igreja se integra, mas tipologicamente diferentes dos
conventos tradicionais.
A Igreja de São Roque, em Lisboa, datada de 1565, é a primeira das grandes construções da
Companhia, além de sede da Ordem em Portugal. O arquiteto régio Afonso Álvares foi encarregado da
traça de nave única com capelas laterais intercomunicantes. Um espaço totalmente unificado, qual
"praça" pública, com a funcionalidade necessária para uma liturgia profundamente vocacionada para a
pregação. As igrejas da Companhia de Jesus de Lisboa, Évora (Igreja do Espírito Santo, 1567) e Braga
(Colégio de Sant'Iago, 1567) formam uma trilogia inseparável pelas suas semelhanças arquitetónicas.
Constituem um modelo nacional de igreja de nave única que outros encomendadores também
utilizaram largamente no decurso dos séculos XVI e XVII, nos cinco continentes, "vindo a servir ainda
de remoto paradigma para a construção de igrejas pombalinas, já no terceiro quartel do século XVIII".
Com a edificação da Igreja do Espírito Santo de Évora inaugura-se em Portugal um novo tipo de
"espaço religioso de sentido novo, unificado e luminoso", como uma "caixa abobadada" a que Kubler
chamou "box church". O modelo será largamente utilizado em igrejas e sacristias nacionais durante os
séculos XVI e XVII mas também serviu de protótipo a igrejas espanholas como São Bartolomeu do
Escorial ou a sacristia da Catedral de Toledo, provando que o intercâmbio cultural entre os reinos
peninsulares se fazia nos dois sentidos.
A arquitetura da Restauração
A partir de 1550-60
Séculos XVI, XVII e princípios do XVIII
«Estilo chão»
Fachadas herdadas da arquitetura militar
Condicionalismos impostos pela conjuntura religiosa
Espalha-se até à África, Brasil, Índia e Macau
Exterior sóbrio
Interior – extravagantemente decorado – azulejo, talha dourada, quadro a
óleo – igrejas
Interior – extravagantemente decorado – azulejo, talha dourada, quadro a
óleo, baixelas, faianças, mobiliário – palácios
Tetos em maceira pintados
5.3. Arquitetos
5.3.1. António Rodrigues
João Pedro Xavier, Porto – 2004-03-19
Site do Instituto Camões (consultado a 7-8-2015)
Renascimento e Maneirismo - 13
das fortificações, em 1575, após a morte de Afonso Álvares, tendo acumulado ambos os cargos durante
15 anos facto que constitui caso único no país.
Deve-se a Rafael Moreira a reposição desta personagem singular na ribalta da história da
arquitectura portuguesa, ao atribuir-lhe um projecto de um Tratado de Arquitectura (com uma versão
preliminar de 1576 e outra, visando o prelo, de 1579, ambas incompletas) 20 que serviria de suporte à
“Lição de Arquitectura Militar” de que foi responsável na Escola de Moços Fidalgos do Paço da Ribeira,
bem como a autoria, documentalmente comprovada, da Igreja de Santa Maria da Graça de Setúbal
(actual Sé), e, por confronto estilístico, da Capela das Onze Mil Virgens, em Alcácer do Sal 21, construída
adossada à Igreja do Convento de Stº António para jazigo de Dom Pedro de Mascarenhas22.
Com efeito, tanto a Capela de Alcácer (c. 1565) como a Igreja de Setúbal (c. 1570) evidenciam
uma geometria rigorosa expressa no sistema de proporções e na pureza das formas estereométricas
empregues, bem como na clareza da respectiva articulação espacial, encontrando estes factores eco
na segurança de um desenho forte e limpo, de perfil clássico, que se assume, aliás, como veículo
fundamental da sua poética.
Esta arquitectura, onde o material e a cuidada administração da luz assumem particular
relevância ‒ dir-se-ia quase minimal, ao tempo ‒ encontrará eco no famoso estilo desornamentado
espanhol de raiz herreriana, abrindo portas ao denominado estilo chão, que conheceu grande fortuna
entre nós, e que se caracteriza por aliar à singeleza de recursos uma sólida estruturação espacial
escudada na pureza da geometria.
Na obra de António Rodrigues, particularmente, a omnipresença da geometria, sempre associada
ao número, é uma condição essencial para a caracterização da sua arquitectura. É insuspeitável
também, por outro lado, o sentido cósmico desta estreita ligação, e de como, em acordo com o
neoplatonismo, cada obra se constrói como um perfeito microcosmos para ser a representação do
macrocosmos matematicamente ordenado.
Em qualquer das suas obras se detecta a existência de variadíssimas formas e construções que
povoam o seus “Livros” de Geometria, “Trigonometria” e de Perspectiva, que reencontramos
disseminadas pelos tratados que inspiraram o seu, e que, à falta dos livros sequentes, desconhecidos
ou nunca completados, se materializaram na conformação dos espaços arquitectónicos que produziu.
Geometria e Arquitectura
Apesar de António Rodrigues considerar que para aquele que houver de fazer profissão de
arquitecto é necessário que seya muzico para que hemtẽda as porposois das vozes, porque por estas
porposoys ẽtemdera as proposois que am de ter seus edefisios 23 , parece-me que as relações
proporcionais que utiliza não são explicáveis somente à luz da teoria musical. Têm um sentido
matemático próprio, que se pode relacionar circunstancialmente com os intervalos musicais, mas
decorre essencialmente da lógica intrínseca de cada edifício.
23
BN, Cod. 3675, fol. 10 v
Renascimento e Maneirismo - 15
Agora, o que é fundamental, como o próprio adverte, tal como Vitrúvio, é que he nesessario ser
esperto na Giometria24 . Porque essa sim será a maneira de lançar pontes entre o real e o
transcendente.
E que couza he giometria? questiona-se António Rodrigues…para logo esclarecer: Gyometria
não he outra couza que feguras, as quais nam se podem fazer sem linhas, e amgulos, e pomto... Pola
dita Geometria se vera como não se pode fazer nada sem hela, nem ha Arte matematica não se
hemtemdera bem sem ser esperto na Giometria haquele que dela se deleitar.
Termina com uma recomendação que consideramos que vale sempre a pena seguir:
Quem for coriozo desta harte estude Hoclides, e nele achará bem couza em que se
desemfade25 .
Fachada
A fachada, da autoria de Baltazar Álvares, desenvolve em moldes pioneiros o figurino do
chamado Estilo Chão, adaptando a monumentalidade do último Maneirismo romano à tradição
portuguesa: alçado cingido em andares com ritmos alternados na definição das aberturas, varandim
superior e coroamento de altas torres laterais.
A fachada apresenta uma composição muito original, de linhas sóbrias e depuradas mas repleta
de monumentalidade, como convinha a uma igreja designada panteão-real, na qual se destaca a
disposição das duas torres. Estas não são simplesmente justapostas como dois blocos adossados ao
frontispício, mas antes plenamente integradas na estrutura, numa tipologia que recria, à luz da
tratadística renascentista, a arquitetura medieval portuguesa, alcançando "um equilíbrio perfeito entre a
tensão horizontal de um alçado de cinco tramos e a verticalidade sugerida pelos volumes torreados"
(idem, ibidem).26
Adaptando a tradição do Maneirismo romano às tradições arquitetónicas portuguesas, o seu
modelo constituiu-se como uma das géneses do estilo chão, marcando em definitivo a arquitetura
maneirista, em Portugal e em todo o mundo português, durante o século XVII.
Este modelo, absolutamente original na nossa arquitetura, vai constituir força de lei nas
fachadas erguidas no século XVII pelo Mundo Português, da Índia a Macau e ao Brasil.
Interior
Já o interior basilical, que segue tanto a Catedral de Valladolid, de Herrera, como o Gesù de
Roma, de Vignola e Giacomo della Porta, revela a influência do gosto herreriano, com cobertura de
berço segmentado por teia de caixotões de módulo variado, transepto inscrito, capelas laterais
intercomunicantes, retro-coro e ampla capela-mor, de tipo escurialense. O ritmo das pilastras
emparelhadas, ladeando as capelas, as mísulas triglifadas do entablamento e o sistema de iluminação
26
Catarina Oliveira, DIDA/IGESPAR/28 de Novembro de 2007
Renascimento e Maneirismo - 17
por fenestras termais, mostram a monumentalidade do espaço, na procura de uma nova espacialidade
contrarreformista.
De planta longitudinal, o templo vicentino possui nave única, com transepto, capela-mor
bastante profunda e retro-coro. Nas paredes laterais da nave "destaca-se a sequência rítmica de
pilastras emparelhadas" (idem, ibidem), entre as quais foram rasgadas, em 1608 pequenas capelas,
comunicantes entre si. O espaço, cuja iluminação é feita através de janelas termais que se distribuem
pelo topo da cabeceira e do transepto, é coberto por abóbada de berço de caixotões, estando estes
decorados com diferentes relevos. O cruzeiro da igreja era originalmente rematado por uma cúpula, que
ficou totalmente destruída durante o terramoto de 1755.
A operacionalidade artística de São Vicente de Fora estende-se à qualidade das capelas, que
têm boa obra de talha (de Manuel da Costa e Manuel de Jesus Abreu, 1734, a das Almas) ou, no caso
da Capela das Onze Mil Virgens, um forro de mármores de cor da autoria do arquiteto Carlos Mardel
(1740). Destaque para a Sacristia, obra do arquiteto Luís Nunes Tinoco (portada barroca de 1691) e
para a Portaria conventual, forrada de mármores, com teto em perspetiva ilusionística da autoria do
pintor florentino Vincenzo Baccherelli (1710) e azulejos azuis e brancos do 'Ciclo dos Grandes Mestres'
com um panorama de Lisboa.
Fachada
A fachada divide-se em cinco corpos através de largas pilastras e apresenta três andares
rematados por elevado frontão, ladeado por aletas e altos pináculos. Vencidos os degraus de uma
ampla escadaria, deparamo-nos defronte dos três portais retangulares que marcam o piso térreo, sendo
os dois laterais rematados por frontões triangulares interrompidos. O portal axial apresenta colunas
adossadas que se prolongam em pináculos alteados por bases, sendo encimado por baixo-relevo
cristológico envolvido por estrutura de colunas adossadas, sustentando frontão triangular interrompido.
Os dois andares superiores são rasgados por janelões e nichos contendo esculturas de santos
jesuíticos. No centro do frontão da empena, uma imponente imagem da Virgem está abrigada num
nicho ladeado por colunas adossadas. Decoração relevada avulsa em cartelas espalha-se nos
paramentos da fachada, notando-se em duas delas, ao nível do piso inferior, a data de 1676, ano em
que terminaram os trabalhos da frontaria jesuítica.
Renascimento e Maneirismo - 19
Rafael,1986,p.149), sendo considerada uma obra de "erudita base italianizante" (SERRÃO,
Vítor,2002,p.191).
Uma obra magnífica de mármore branco, dentro do Convento de Santo António, onde a cúpula é
coberta por um jaspe translúcido que deixa penetrar os raios do sol, fazendo-os desdobrar em jogos de
cor na geometria das formas esculpidas.
A Capela das Onze Mil Virgens reflecte na sua organização planimétrica a estrutura do mítico
Templo de Salomão. A nave, um duplo quadrado, antecede o espaço do sepulcro, um quadrado
simples, tal como no arquétipo. À nave adossa-se, lateralmente, a sacristia; no terminus do eixo
longitudinal do templo situa-se a capela-mor, onde se guardam as relíquias das Virgens trazidas por
Dom Pedro aquando da sua passagem por Colónia como Embaixador de Portugal junto do Imperador
Carlos V. Ambas os espaços são de proporção sexquiquarta (hua proposição de hum quadrado e hu
quarto)27, assim como a secção transversal da nave. A modulação geral do templo faz uso de uma
geometria ad quadratum que se evidencia no espaço dominante, o mausoléu, uma caixa espacial
cúbica coroada por uma cúpula semiesférica assente sobre pendentes (triângulos esféricos que, por
sua vez, circunscrevem óculos circulares) onde o jogo entre o quadrado e o círculo espelha, com
intencionalidade, a relação entre a terra, que recebe as sepulturas, e o céu, para o qual se elevam as
almas.
E que céu esse! Uma cúpula absolutamente notável pela sua expressão formal, precisão da
estereotomia e pelo material. Divide-se em 24 semi-meridianos e 7 paralelos, números de evidente
tradução cósmica, visando simbolizar através da geometria, expressamente afirmada, a ordem
matemática do universo. Mas é o facto do material ser translúcido e permitir a filtragem da luz solar que
lhe acrescenta encanto. Graças a esta singularidade torna-se mais do que uma metáfora da cúpula
celeste porque nela se projecta o Sol, efectivamente. Um saboroso toque aristotélico no seio duma
concepção neoplatónica do cosmos.28
27
Proposição 2 das “Proposições Matemáticas” (BPMP, Ms. 95).
28
João Pedro Xavier, Porto – 2004-03-19, Site do Instituto Camões (consultado a 7-8-2015)
Renascimento e Maneirismo - 21
A arquitetura militar tem no Forte de São Julião da Barra, na entrada do Tejo, o que Rafael
Moreira chamou "uma das obras-primas da arquitetura portuguesa, à altura das melhores criações do
século XVI".
Por altura das guerras da Restauração, a teoria e a prática urbanística dos arquitetos e
engenheiros militares nacionais foi bastante desenvolvida, e formaram-se técnicos em número
apreciável. A arquitetura militar quinhentista está, pois, na base de uma escola de urbanismo português
que mais tarde foi responsável pela reconstrução de Lisboa.29
6. Escultura
6.1. Principais escultores
6.1.1. Nicolau de Chanterenne
Entre 1517 e 1551 – em Portugal
Natural da Normandia
Trabalhou em Itália e na corte de Francisco I
Estilo fortemente italianizado e clássico
Naturalismo
Modelação anatómica das figuras
Movimento
Obras em Portugal:
Estátuas jacentes dos túmulos dos reis de Portugal sepultados no Mosteiro
de Santa Cruz de Coimbra
Portal norte do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra
Baixos-relevos do claustro de Santa Cruz de Coimbra
Esculturas do portal principal dos Jerónimos
Retábulo em jaspe para a capela do Convento da Pena
Janelas da Igreja da Graça em Évora
Túmulo de D. Álvaro da Costa
29
http://7mares.terravista.pt/8seculosdearte/maneirismo.htm
7. Pintura
Na viragem do século XV para o XVI inaugura-se um período áureo que se manifesta:
Na quantidade e na qualidade da produção nacional
Volumosa pintura de importação – que terá um impacto significativo sobre a
produção nacional
Renascimento e Maneirismo - 23
Propostas inovadoras do discurso formal
Valores intrínsecos que se pressentem nas novas propostas
“Um primeiro renascimento de inspiração nórdica”30
Resistência à influência italiana (só se implanta cá no reinado de D. João III)
Mecenato – dois pólos fundamentais:
Corte – tendo como figura principal D. Manuel e a rainha D. Leonor, viúva de D.
João II
Mecenato de D. Manuel transforma-se num meio de propaganda política –
aspeto percetível na complexa simbologia que invade a imagem, na exuberância
formal, no extenso sentido decorativo das figuras e dos cenários
Importância do retrato, na maioria das vezes associado à figura de santos ou
personagens bíblicas
D. Manuel terá mandado fazer representar, no retábulo do Convento da Serra, a
rainha D. Maria (2ª mulher) e todos os seus filhos e filhas31
Tríptico da Misericórdia do Funchal, atribuído a Jan Provost – retrato e
iconografia de exaltação régia e nacionalista
Adoração dos Magos – Museu Grão Vasco – moeda na mão do Menino Jesus
Retábulo de Santa Auta – caravelas ornadas com escudos nacionais
Igreja
Contrato assinado por D. Pêro Gonçalves – protonotário apostólico e
arcediago da Sé de Lamego – recomenda que as suas armas sejam bem
pintadas, exige ao pintor Bastião Afonso o naturalismo que permita
identificar o seu retrato que “tirada per natural com sua calva”
30
RODRIGUES, Dalila “A pintura do período manuelino”, in PEREIRA (dir. de) (2007) História da Arte Portuguesa, 5º vol: Do
“Modo” Gótico ao Manuelino (séculos XV-XVI). Do Renascimento ao Maneirismo (séculos XVI-XVII), Lisboa, Círculo de
Leitores, pp. 27-105
31
Segundo Vítor Serrão
Renascimento e Maneirismo - 25
«Retábulo de São Francisco» - Évora – técnica do Sfumato – acaba com o
dogmatismo da forma e alarga a liberdade de interpretação de quem vê
1515 – Jorge Afonso - «Aparição de Cristo à Virgem» - mãos da Virgem
7.1.3. Importações
Acentuada preferência pela importação de obras dos Países Baixos, especialmente das
cidades flamengas
1428-1429 – Desloca-se a Portugal uma embaixada para negociar o casamento da Infanta
D. Isabel com Filipe, o Bom, duque da Borgonha. Na comitiva viaja Van Eyck com o
encargo de pintar o retrato da infanta
Deste casamento resultou o estreitar das relações entre Portugal e a Flandres –
intensificam-se as relações comerciais e culturais; a circulação de artistas e de obras de
arte entre as duas cortes
Portugal – representa o simples papel de importador, tal como a Espanha, de recetor de
obras flamengas e campo de trabalho para pintores flamengos e ou portugueses que se
formaram na Flandres
Integrando o séquito de D. Isabel – 1 pintor português na cidade de Bruges
1504 – Oficina de Quentin Metsys – conta com um discípulo português “Eduwart
Portugalois” que vem a ser mestre em 1508 (data do seu registo na Confraria de S. Lucas
de Antuérpia)
Oficina de Goswyn van der Weyden, neto de Rogier – presença de “Simon Portugalois”
Atendendo à influência flamenga na pintura
portuguesa, o número de pintores portugueses na
Flandres terá sido muito superior
Pintores flamengos em Portugal – provavelmente também em número superior ao que está
registado
Victor Visete – já ativo em 1452
Jan Casijs – convidado em 1491 para ficar ao serviço de D. João II
Francisco Henriques e Frei Carlos
É da pintura flamenga que os pintores portugueses retirarão o essencial do seu discurso pictórico –
aparente simplicidade narrativa, oferecendo-se ao olhar do observador com a simplicidade com que se
dá a ver o mundo sensível
Entrosamento com a técnica flamenga e as suas potencialidades plásticas
Obras encomendadas
Envio de grande número de obras para Portugal - pela Infanta D. Isabel, ofertas familiares e
diplomáticas, nomeadamente as que o imperador Maximiliano I terá enviado à rainha D.
Leonor, viúva de D. João II
Renascimento e Maneirismo - 27
Mabuse, de seu verdadeiro nome Jan Gossaert (1478 - 1 de Outubro de 1532), foi um importante
pintor flamengo, vulgarmente identificado como o maior precursor do barroco na Flandres. É igualmente
considerado um dos maiores seguidores de Rogier van der Weyden.
Nasceu em Maubeuge, na atual França, e iniciou a sua formação artística na cidade de Bruges,
completando-a com diversas visitas a outros importantes centros artísticos flamencos.
Posteriormente, trabalhou em variadas cortes europeias e, desta forma, ia conhecendo, em
primeira mão, os estudos e as descobertas mais recentes, sobretudo relativos às áreas pelas quais
mantinha mais interesse, como Anatomia, perspetiva e Antiguidade Clássica.
Vulgarmente combinava estes elementos, próprios do Renascimento italiano, com a vivacidade,
alegorismo e precisão técnica da pintura flamenca, como se pode observar em obras como Dánae,
Antiga Pinacoteca, Munique, São Lucas pintando a Virgem, Galeria Nacional de Praga, Praga, A
Virgem com Menino, Museu do Prado, Madrid, ou Cristo coroado de espinhos, Fundação Medeiros e
Almeida, Lisboa.
Concebeu também numerosas versões de cenas bíblicas, como Adão e Eva, e muitos retratos de
proeminentes personalidades da época.
– Tríptico com a Sagrada Família e Anjos, no painel central, e Santa Bárbara e Santa
Catarina, nos volantes
32
Texto do MNAA
Renascimento e Maneirismo - 29
Não foi apenas no gosto flamengo que a encomenda de Évora se enquadrava na moda de
renovações nas principais Sés, mas também na tipologia retabular, com conjuntos narrativos
construídos em altura, com três ou mais andares sobrepostos. Esta tipologia, comum na Península
Ibérica, estava de acordo com a arquitetura das capelas-mores nacionais e articulava-se, no caso das
igrejas espanholas (e não sabemos se das portuguesas também) com a presença do coro catedralício
no início da nave central.
A iconografia do conjunto de Évora tem também paralelos, na reunião de cenas da Paixão de
Cristo, com um número superior de painéis da Vida da Virgem com outros retábulos coevos, como
Viseu, ou Freixo-de-Espada-à-Cinta, mas apresenta a particularidade da Paixão ocupar apenas os
painéis de predela. Que saibamos apenas outro exemplo contemporâneo se encontra em toda a
Península – a catedral de Nossa Senhora de Assunção de Trujillo, em Espanha, para onde Fernando
Gallego pintou um retábulo cerca de 1490. A comparação dos dois conjuntos, Évora e Trujillo é
particularmente interessante, pois parece haver uma profunda coincidência nos temas e na posição
narrativa dos vários painéis. Acrescente-se que Trujillo era comumente visitada por Portugueses (como
o próprio rei D. Manuel, que com o seu séquito passa pela cidade na visita a Espanha de 1498), quer
porque se situasse na rota normal para Toledo, onde a corte espanhola permanecia frequentemente,
quer por ser a cidade mais próxima ao Mosteiro de Guadalupe, então um dos centros peregrinacionais
mais importantes de Espanha e de particular devoção portuguesa.
Desde 1890, quando o historiador alemão Carl Justi observou as pinturas de Évora, que o
conjunto retabular tem sido maioritariamente colocado na órbita de Gerard David (c.1455-1523), pintor
que se instalou em Bruges a partir de 1484. Muito nas pinturas de Évora lembra David – a suavidade do
colorido, as elegantes figuras femininas, certos rostos muito próximos a desenhos seus, a minúcia da
paisagem, etc., e talvez deva mesmo considerar-se, ainda hoje, David como a influência mais marcante
nos mestres que colaboraram no retábulo de Évora. Na data em que os painéis podem ter sido
pintados, depois da morte de Hugo Van der Goes (c. 1440-1482) e de Memling (act. 1465-1494), o
atelier de David era o mais influente de Bruges e, mesmo pondo em causa a autoria direta da sua
oficina, a crítica é praticamente unânime em situar o conjunto de Évora na proximidade estilística da
obra de David. É significativo que as últimas propostas autorais para o conjunto, respetivamente de
Didier Martens (1995) e de Mathias Weninger (1999), tenham avançado os nomes dos Mestre da
Madonna André e do Mestre do Retábulo de Santa Ana de Washington, dois nomes convencionais que
definem ignorados artistas relacionados com a oficina, ou pelo menos com os modelos, de Gerard
David.
A fase de estudo que se segue incidirá em boa parte na análise dos materiais recolhidos e na
sua comparação com as informações disponíveis sobre obras flamengas, mas é desde já possível ver
que se detetam, no retábulo de Évora, não só modelos de David, mas também de Goes, de Bouts, de
Weyden e de uma série de obras de iluminura ganto-brugense. Também é possível ver que são
utilizados vários processos de assemblagem, diversos métodos de desenho e um uso quase
generalizado de métodos de transposição de desenho, como a duplicação de modelos através de
cartões perfurados, conhecido como “poncif” ou estrazido. Esta realidade não é inusual e quer o recurso
a “citações” de obras e mestres célebres, quer os métodos mecânicos de transposição de desenho,
caracterizam bem a pintura de Bruges do final do século XV. A situação da cidade mudara muito, em
relação ao seu período áureo de meados do século XV. As guerras com o Imperador, o cerco da cidade
33
Joaquim Oliveira Caetano, Museu de Évora, O RETÁBULO FLAMENGO DE ÉVORA: UMA PERSPECTIVA, in
www.museudevora.imc-ip.pt
Renascimento e Maneirismo - 31
Em 1518 celebrou Bartolomeu Fernandes um contrato para a pintura do coro de Santo António.
Jorge Afonso passou por debaixo desse contrato um atestado, em que certificava estar concluída a
obra.
A Jorge Afonso é atribuída a execução dos grandes painéis de pintura sobre madeira da
Charola do Convento de Cristo, em Tomar - Cristo e o centurião, Ressurreição de Lázaro, Entrada
triunfal de Cristo em Jerusalém e Ascensão, bem como o retábulo da igreja do Convento da Madre de
Deus, em Lisboa hoje no Museu Nacional de Arte Antiga).34. Faleceu em 1540.
Oficina régia de Lisboa – do mestre Jorge Afonso
1508 – Nomeado pintor régio por D. Manuel (estatuto confirmado por D. João III em
1529)
Aparentado com grandes pintores de Lisboa: cunhado de Francisco Henriques, sogro
de Gregório Lopes, tio das mulheres de Cristóvão de Figueiredo e de Garcia
Fernandes; parente de João de Ruão
Deu um contributo decisivo, senão na elaboração, pelo menos no impulso, aos caminhos
progressivamente autonomizados (face aos impositivos referentes flamengos) da pintura portuguesa do
Renascimento
Ligado às grandes empreitadas oficiais – na sua qualidade de pintor régio
Desempenha as funções de “examinador, vedor e avaliador” de todas as obras de pintura de
encomenda régia
Direção de algumas empreitadas concretas:
Conjunto de pinturas destinadas à Charola do Convento de Cristo em Tomar: conjunto
de tábuas que se destinaram a preencher os arcos cegos da Charola do Convento de
Cristo. O tema central desta encomenda compreende cenas da vida e paixão de
Cristo. As tábuas que ainda hoje subsistem são: A Ascensão de Cristo; A Entrada em
Jerusalém; Cristo e o Centurião; Ressurreição de Lázaro; Ressurreição de Cristo;
Batismo de Cristo (incompleta); Pentecostes (conserva-se apenas um fragmento).
Retábulo da igreja do Convento da Madre de Deus
Retábulo da igreja do Convento de Jesus em Setúbal
Formador de Cristóvão de Figueiredo e de Gregório Lopes
Renascimento e Maneirismo - 33
Serena monumentalidade das figuras
Visão analítica da matéria
Requinte das arquiteturas e dos adereços
Rara força do desenho
Vivacidade e variedade da cor – faz de Jorge Afonso um grande colorista
Subtil jogo de luz e sombra nas formas representadas
Realismo mais apurado
Visão menos sintética das formas
Poderosa caraterização dos rostos
Fundos azulados – caraterísticos da pintura flamenga
Domínio seguro da perspetiva aérea
Arquiteturas – revelam uma sensibilidade plenamente renascentista de feição italianizante,
eclética, integrando os valores clássicos
35
PEREIRA, Paulo (2007) História da Arte Portuguesa – Renascimentos (século XVI), p. 47
Renascimento e Maneirismo - 35
Feita por uma equipa liderada por Francisco Henriques, entre 1501 e 1506 à qual se juntou
Vasco Fernandes, conhecido como Grão Vasco, tendo esta sido a sua primeira obra
Temas representados relatam episódios da vida da Virgem e de Cristo:
Na primeira fiada relata-se a Anunciação, a Visitação, a Natividade, a Circuncisão,
a Adoração dos Reis Magos, a Apresentação no Templo e a Fuga para o Egipto
Segunda fiada os últimos dias da vida de Cristo, a que se chama a Paixão: a
Última Ceia, a Oração no Horto, a Prisão de Cristo, a Descida da Cruz, a
Ressurreição, a Ascensão e o Pentecostes.
7.4.2. Retábulo da capela-mor da igreja do Convento de São Francisco em Évora
Obra coletiva
15 Painéis (MNAA e Casa-Museu dos Patudos, Alpiarça)
4 Registos formados, cada um, por 4 painéis (eventualmente com o Calvário – desaparecido –
ao centro do último registo), integrados em exuberante talha dourada, executada por Olivier
de Gand
Registo inferior: temas eucarísticos – Apanha do Maná, Abraão e Melquisedeque,
a Missa de São Gregório e a Última Ceia --- mostra uma profundidade espacial e
um realismo descritivo muito superior aos outros painéis
Penúltimo registo – a infância de Jesus
Azulamento intenso do céu e luminosidade cromática dos tecidos – destacar a
pintura do encaixe em talha
Último registo – temas da Paixão – opção, em termos compositivos, pelo
escalonamento das figuras no plano, à maneira da tapeçaria procurando através
da expressiva gestualidade das figuras – Santa Maria Madalena – reclamar a visão
do espectador
Alguns erros de perspetiva e a síntese formal, em vez da visão analítica e do
verismo sensível, têm como objetivo também reclamar a visão do espectador
Desarticulação de escala entre as figuras do 1º plano e as dos planos de fundo,
erros de perspetiva ----- contrariam qualquer relação mimética com o mundo
As figuras gigantescas (Madalena e Cristo na “Aparição de Cristo a Maria
Madalena”) – grande força expressiva; parecem recortar-se num fundo que não as
integra; descontinuidade com o fundo áspero e monocromático
Amarelos usados por Francisco Henriques são uma verdadeira marca distintiva
7.4.3. Pentecostes
7.4.4. Tríptico dos Infantes – MNAA
Renascimento e Maneirismo - 37
paisagens. O mesmo historiador de arte sugeria, assim, possíveis influências do pintor Patinir ou sua
oficina.
7.5.1. São João Baptista no Deserto (Museu da Santa Casa da Misericórdia da Lourinhã)
Originalmente na capela-mor do Mosteiro Jerónimo das Berlengas (fundado em 1513)
Transitou para o Convento dos Frades Jerónimos em Vale Benfeito (estava aqui desde
1565)
Transferido para a Santa Casa da Misericórdia da Lourinhã
Encomendado por D. Manuel e D. Maria, fundadores do Mosteiro Jerónimo das Berlengas
Executada entre 1512 e 1517
Principais obras:
Ecce Homo ou Senhor da Cana Verde, Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.36
Santos Martinho, Vicente e Sebastião – Museu Regional de Alberto Sampaio, Guimarães
Anunciação
1523
Aparição de Cristo à Virgem
1529
A Virgem, o Menino e dois Anjos – proveniente do Convento do Espinheiro (Museu de
Évora)
Natividade - proveniente do Convento do Espinheiro (Museu de Évora)
36
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Renascimento e Maneirismo - 39
O verismo sensível, ao modo flamengo, revela-se principalmente na visão analítica dos
pormenores, revelando na modelação dos detalhes um trabalho de miniaturista, à maneira
de Memling – A Virgem, o Menino e os dois Anjos
Requintadíssima modelação dos rostos, dos tecidos e dos acessórios
Utiliza delicadas velaturas que se traduzem numa superfície unida, sem marcação de
pinceladas, límpida e transparente
7.6.2. Anunciação
Pintado na mais pura técnica flamenga
Tenuíssimas velaturas, transparências delicadas dos tons, formoso achado de justas
colorações
Geometria das arquiteturas articuladas num jogo de espaços/caixas que se vão
desenvolvendo umas dentro das outras
7.6.3. Ressurreição
Oficina de Frei Carlos
Óleo sobre madeira de carvalho
Séc. XVI, c. 1530
Dim.: 112 cm x 119 cm
A tábua da Ressurreição de Cristo, executada sobre madeira de carvalho, com as dimensões de
112 x 119 cm, data do segundo quartel do século XVI, quase de certeza de cerca de 1530, e procede
de algum dos extintos conventos de Évora, onde constituiria o retábulo de um altar de capela.
A produção deve-se a um bom mestre da chamada Oficina do Espinheiro, que desenha e
compõe com eficiência e se mostra um seguidor fiel dos modelos luso-neerlandeses do círculo de Frei
Carlos. Trata-se, por isso, de uma peça de grande importância, conquanto anónima, pois se perfila, em
termos estilísticos e compositivos, na sequência de uma outra pintura da Ressurreição de Cristo, da
autoria de Frei Carlos (MNAA), o famoso monge-pintor que dirigiu a oficina sediada naquele mosteiro
ieronimita eborense.
Esta valiosa pintura renascentista tem especificidades autorais que merecem ser destacadas.
Ainda que não mostre, como é natural, a mesma finura e transparência de pincéis das obras de Frei
Carlos, ela revela, mesmo assim, uma ciência de pincéis apurada, numa espécie de desenvolvimento
maduro dos repertórios daquele mestre. O desenho é de um modo geral seguro, o sentimento da cor é
vibrante, com destaque para os vermelhos e os amarelos, a paisagem desenvolve o mesmo tipo
brugense das pinturas de Frei Carlos, os relevos roqueiros, a vegetação, as figurinhas de segundos
37
Vitor Serrão, Historiador de Arte (IHA-FLUL), in
http://www.antiguidadessaoroque.com/uploads/3/1/0/2/3102174/saoroque2011_parte02.pdf
Renascimento e Maneirismo - 41
Constituído por duas tábuas dispostas na vertical, o suporte desta pintura é de madeira de
carvalho e o seu exame dendrocronológico (estudo dos anéis de crescimento das árvores) aponta o
ano de 1503 como data-limite mais recuada em que o painel pode ter sido utilizado, sendo mais
provável que essa utilização não tenha podido ocorrer antes de 1509. Este dado material significa que a
execução da obra cabe temporalmente no intervalo de atividade da oficina do Espinheiro, ou seja, entre
1517, ano de profissão religiosa do pintor, e 1540, data em que este teria já falecido.
Renascimento e Maneirismo - 43
Vasco Fernandes foi casado duas vezes. Em 1524-25 era ainda casado com Ana Correia,
documentada como sua mulher no ano de 1513; em 1541-42, era já casado com Joana Rodrigues,
pois, no Livro da Irmandade do Santo Sacramento, relativo a este ano, refere-se um donativo efetuado
conjuntamente com Joana Rodrigues, sua mulher. Dos dois casamentos teve duas filhas,
respetivamente, Beatriz Correia, que pagou, em nome do pai, o foro relativo a 13 de Setembro de 1541,
e Leonor Fernandes, que vivia com a mãe, em 1555-56. Além desta filha, teve Joana Rodrigues um
filho, de nome Miguel Vaz. Algumas afinidades onomásticas entre os pintores que integravam a oficina
de Vasco Fernandes levaram alguns investigadores a aventar hipóteses de estreitos laços de
parentesco entre si. O cónego Henriques Mouta sugere que tenham constituído uma verdadeira dinastia
"por estarem ligados por laços de sangue como pelos de afinidade e também pelos de antroponímia,
toponímia e sociologia". Segundo este investigador, Vasco Fernandes seria pai dos pintores Gaspar
Vaz, o mais conhecido pintor-discípulo, e de Manuel Vaz, de que não se conhece qualquer base de
identificação estilística.
Deixando discípulos e continuadores, o pintor teria falecido no fim de 1542, pois, em 1543, no
Livro de Pagamentos de foros ao Cabido, encontra-se já a referência a [...] Joana Rodrigues molher que
foi do dito Vasco Fernandes e que lhe sobreviveu até cerca de 1568.38
Relativamente ao seu percurso estético, pode dizer-se que Grão Vasco teve influências
marcadamente nórdicas – como se pode ver no retábulo da Sé de Viseu, onde trabalhou com pintores
de origem flamenga – e influências italianizantes detetáveis nos grandes painéis da sala de S. Pedro e
da sala do Calvário.
No seu percurso artístico, foi determinante a figura de D. Miguel da Silva, humanista e homem da
Renascença, que de Roma, onde frequentava a corte papal e os mais elevados círculos culturais,
trouxe para o bispado de Viseu (1525/1540) o mais atual e o mais refinado da cultura italiana de então.
O protagonismo e força da pintura de Grão Vasco no universo da pintura portuguesa
concretizam-se no uso de cores mais escuras que os seus contemporâneos, no uso sensível da luz
para representar o espaço em profundidade, na extraordinária plasticidade dos tecidos, na
caracterização poderosa dos rostos, no realismo e na descrição dos cenários e adereços, recorrendo a
objetos simples do quotidiano.
Renascimento e Maneirismo - 45
7.7.2. Retábulo da Sé de Lamego
Depois de terminar a obra na Catedral, Vasco Fernandes, acompanhado por dois entalhadores
nórdicos, foi a Lamego, ao serviço do bispo, para projetar uma estrutura semelhante à da catedral de
Viseu. Desta conservam-se no Museu de Lamego, cinco painéis dos vinte do conjunto original. Ainda
que sejam obras fundamentais para identificar a apropriação e a interpretação das influências
flamengas, a Assunção da Virgem, cuja origem é desconhecida, assume esta dimensão ilustrativa. A
proximidade com os dois retábulos referidos, identifica-se na forma angulosa do vestuário que
conquista volumes anatómicos e na visão analítica da matéria, que se concretiza, por exemplo, no
modo como transcreve o cabelo frisado dos anjos que acompanham a Virgem.
Porém, os acessórios das figuras principais ou as formas miniaturais do fundo superior, revelam
uma dimensão interpretativa e criativa absolutamente singular. O escurecimento do campo figurativo,
aspeto muito significativo do seu processo, se comparado com a visão aberta das cores dos flamengos
e com a dos portugueses seus contemporâneos, provém do papel determinante que a luz assume, em
toda a sua obra, na representação do espaço em profundidade.
7.7.3. Anunciação
1506-11, óleo sobre madeira
173 x 92 cm
Museu de Lamego
Lamego, Portugal
7.7.5. Natividade
1501-6, óleo sobre madeira
131 x 81 cm
Museu de Grão Vasco
Viseu, Portugal
2. Pentecostes
Atitude dramática dos apóstolos em primeiro plano - S. João e S. Pedro.
No centro da composição, figura a Virgem acompanhada por mulheres santas e dos restantes
apóstolos.
Os objetos de uso quotidiano que aqui se representam (um armário com um candelabro sem
vela, símbolo da presença da luz divina do Espírito Santo, uma jarra e um vaso) para além do seu
simbolismo, oferecem-se ao espectador como se a pintura fosse continuação do seu próprio mundo.
Este modelo figurativo é em todo idêntico ao que Grão Vasco utilizou no retábulo, de 1535,
destinado ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, que é sem dúvida, uma das suas melhores obras.
Repetem-se os elementos figurativos do cenário da obra «S. Pedro» - capitéis, azulejos do
pavimento, mas em versão mais simplificada.
Neste retábulo, os erros de perspetiva, as simplificações formais do muro que enquadra a cena, a
modelação de pormenores anatómicos, nomeadamente nos dedos longos e hirtos das mãos, revelam
características de Gaspar Vaz.
Na predela, recortados num fundo de paisagem formalmente contínua, figuram os bustos das
Santas Luzia, Catarina e Margarida.
3. Calvário
Cristo aparece crucificado entre o Bom e o Mau ladrão, acompanhado pela Virgem desfalecida,
Madalena, S. João e uma santa mulher.
Renascimento e Maneirismo - 47
A multidão dos guardas intensifica as cenas do transporte da escada, à esquerda, bem como o
enforcamento de Judas, em escala miniatural à direita, acompanhado por um pequeno diabo que lhe
leva a alma.
Na predela, as cenas que se referem a Cristo perante Pilatos, Descida da Cruz e Descida de
Cristo ao Limbo dão ao retábulo a dimensão temporal e narrativa do ciclo da Paixão.
A cruz de Cristo inscreve-se sensivelmente no centro da composição, numa posição frontal e
num plano mais próximo ao do espaço do espectador, enquanto as cruzes do Bom e Mau Ladrão se
afastam ligeiramente – uma mais do que a outra – e se dispõem em diagonal.
A expressiva contorção da figura do Mau Ladrão reforça a ideia de simetria do campo figurativo e
acentua a tensão dramática em toda a zona direita da pintura.
As cruzes definem o limite de representação das cenas.
Para além da presença de cavalos e da figuração de cenas alusivas à repartição do manto de
Cristo, ostenta-se uma muralha de rostos e de lanças, cujo limite recorta a luz do céu, mal se
distinguindo a cidade distante de Jerusalém.
A relação luz-cor, evidente nas figuras dos primeiros planos, especializa a forma e modela os
volumes com a plasticidade que é habitual em Grão Vasco.
Principais obras
Em 1510 executou sete pinturas de óleo, sobre madeira de carvalho, na igreja paroquial de São
Tiago e São Mateus, no Sardoal.
E representam:
São João Evangelista; a pregação; a bênção de Cristo (Cristo abençoando), com coroa de
espinhos; São Pedro e São Paulo.
Assim como há conhecimento de:
39
Idem
Renascimento e Maneirismo - 49
Adoração dos Reis Magos, no Museu Nacional de Arte Antiga (Museu das Janelas Verdes), em
Lisboa.
Um São Bento e Santo Ambrósio, (CAR Centro de Apoio Social), em Runa.
São Vicente, em Beja (Museu Regional)
Anunciação, que pertencia ao retábulo-mor do antigo convento de Santa Maria de Cela, que está
no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra.
Dois santos, no Museu de Évora.
São-lhe também atribuídas as imagens de um retábulo, em Montemor-o-Velho.
Calvário
c. 1530
Óleo sobre madeira de castanho
242.3 x 239.3 cm.
Coleção Alpoim Calvão
Museu Grão Vasco, Viseu
"No Calvário, Cristo surge crucificado entre o Bom e o Mau Ladrão, acompanhado na dor pela
Virgem desfalecida, Madalena, S. João e duas santas mulheres. À multidão de guardas e carrascos,
num espetáculo de expressivo dramatismo, acrescem ainda as cenas do transporte da escada, à
esquerda, e o enforcamento de Judas, em escala miniatural, à direita, acompanhado de um pequeno
diabo que lhe leva a alma"40
Modelação dos largos e quase teatrais panejamentos
Recurso a largos fundos paisagísticos roqueiros e a cidades fortificadas, cujos contornos se
perdem na distância
À força expressiva de Cristo martirizado corresponde o envolvimento dramático das figuras,
acentuado pelo sentido contrastante da luz e da sombra
Torsão da figura de São João e atitude dolorosa das figuras femininas – acentuação do
dramatismo e síntese expressiva da forma
40
Dalila Rodrigues - Roteiro do Museu Grão Vasco, pág. 127, Edições Asa, 2004.
S. Pedro
c. 1530-1535, óleo sobre madeira
213 x 231,3 cm
Museu de Grão Vasco
Viseu, Portugal
S. Pedro, o antigo retábulo da capela lateral da Catedral de Viseu, (C.1529), é hoje a obra mais
representativa do talento de Grão Vasco e uma das pinturas mais notáveis do património pictural
português. Numa escala excecionalmente grande, comum aos restantes quatro retábulos que fez para
o mesmo espaço catedralício e para o mesmo encomendante, o célebre D. Miguel de Silva construiu
uma verdadeira imagem de propaganda da supremacia do poder espiritual sobre o temporal.
Esta pintura de grandes dimensões é uma das mais significativas do talento de Vasco Fernandes
(c. 1475-1542). Artista de origem desconhecida, teve uma longa e intensa atividade em Viseu,
tornando-se de tal modo famoso que, até ao século dezanove, os seus admiradores não apenas lhe
valorizaram as pinturas como lhe atribuíram muitas outras pinturas do século dezasseis. Por isso ficou
conhecido por Grão Vasco.
Como muitos outros artistas que trabalhavam em Portugal, Grão Vasco estava informado acerca
da melhor pintura estrangeira da sua época, nela colhendo ensinamentos díspares que o seu talento
soube harmonizar e selecionar. Interessou-se menos pela arte italiana do que pela alemã. Há figuras
das gravuras de Albert Dürer que aparecem em algumas das suas pinturas, nomeadamente a célebre
“Melancolia” que inspirou a figura de Maria do quadro “Jesus em Casa de Marta e Maria” (Viseu, Museu
Grão Vasco), realizado cerca de 1530.
O quadro de Viseu parece ter sido inteiramente realizado por Grão Vasco e o seu estilo é
claramente renascentista. Na própria volumetria, ainda que um pouco arcaizante e rude, há sentido
dramático controlado, cujo realismo culmina no rosto. O olhar do Santo está intensamente presente,
Renascimento e Maneirismo - 51
como passou a acontecer na arte do retrato desenvolvida desde o Renascimento. A parte superior do
trono apresenta uma concha italianizante. Alguns elementos pagãos aparecem na decoração, como os
putti, em vez de anjos, montados em animais fantásticos. Estes animais, copiados certamente do
bestiário antigo, agarram em escudos frontalizados, exibindo as chaves cruzadas da heráldica papal,
contrastando com outra representação dos mesmos escudos, no alto do trono, onde duas carrancas, no
cruzamento das chaves, quase as ocultam, para, chegadas à frente, segurar com a boca o palio
colocado acima da cabeça do Santo. Quer no recurso a esta mistura de elementos decorativos pagãos
e cristãos, quer na estrutura compositiva, este quadro de forte e digna expressividade é um bom
exemplo da pintura renascentista realizada em Portugal.41
A monumentalidade do apóstolo, sentado num trono pontifical de arquitetura italianizante, em
atitude de bênção e com o seu olhar dirigido a um espaço absoluto, resulta da confluência de uma série
de estratégias representativas. A estrutura da composição é essencial a essa monumentalidade
impositiva. Num esquema simétrico, Grão Vasco, inscreve a figura no centro e define o espaço. Através
de duas aberturas, cria o efeito contrário, isto é, representa o espaço em profundidade, conquistando
para a imagem um sentido de distância até ao infinito. Ainda que o prolongamento da visão às duas
paisagens laterais sirva também para as necessidades narrativas, já que são duas cenas alusivas à
vida do apóstolo que lhe correspondem - à esquerda O Chamamento do Pescador e à direita «Quo
Vadis» - é sobretudo a conquista de monumentalidade para a figura, no primeiro plano da
representação, a figuração de um verdadeiro papa entronizado, que está aqui em jogo. A
monumentalidade da figura é enfatizada na sua absoluta autonomia em relação ao trono, sendo esta
conseguida através da manipulação extraordinariamente sensível da luz. Esta obra não tem paralelo na
restante pintura portuguesa do tempo.
A luz, proveniente do lado esquerdo superior, assume diferentes níveis de intensidade,
destacando volumetricamente as formas do trono e do apóstolo, e conferindo-lhe autonomia. A projeção
de sombra da figura sobre a metade esquerda do espaldar, bem como o feixe de luz entre a figura e o
trono são essenciais. Mas a força expressiva de S. Pedro é também o resultado de um virtuosismo e de
um paciente trabalho de elaboração pictural, na poderosa caracterização do rosto e nas formas
exuberantes do pluvial.
Toda a superfície do quadro é, sob um ponto de vista plástico, extraordinariamente programada e
elaborada. A decoração da capa e o pluvial em brocado, denunciam o virtuosismo da sua técnica, nos
delicadíssimos motivos ornamentais, inumeráveis joias encaixadas e anjos pintados que levam os
instrumentos da Paixão, a configuração minuciosa da tiara ou dos anéis nas mãos enluvadas, os
elementos decorativos do ladrilhado traçado em perspetiva.
Na predela representam-se meio apostolado: S. João Evangelista e Santo André, S. Bartolomeu
e S. Judas Tadeu, S. Paulo e S. Tiago.
Nas várias tábuas de madeira de castanho, que constituem o suporte, identificam-se as marcas
originais do desbaste, enquanto os processos de união, e o entalhamento entre elas deixam perceber
traços de uma obra de restauro, como as superfícies com óxido de ferro e as caudas de andorinha.
41
Análise de Rui-Mário Gonçalves, http://e-cultura.sapo.pt/DestaqueCulturalDisplay.aspx?ID=598
S. Pedro
c. 1530, óleo sobre madeira
215x173 cm
Igreja do Mosteiro de S. João de Tarouca
Virgem da Anunciação
c. 1530, óleo sobre madeira
53 x 61 cm
Museu Soares dos Reis
Renascimento e Maneirismo - 53
Entre 1522 e 1533, por encomenda do rei D. Manuel I, trabalha na pintura do retábulo grande da
capela-mor do Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, que lhe foi atribuído primeiro por Teixeira de
Carvalho, com base numa carta de Gregório Lourenço, vedor das obras do mosteiro, que, em 19 de
março de 1522, escreve a D. João III e, entre outras coisas, faz-lhe saber que o retábulo grande da
capela mor, já concluído na parte da marcenaria, precisa de ser pintado.
A 20 de maio do mesmo ano, o rei, recomendando que se acabem algumas obras do mosteiro e
se façam outras, menciona a pintura do referido retábulo. Em 07 de outubro de 1530, Cristóvão de
Figueiredo estava em Coimbra, possivelmente a trabalhar no retábulo, visto que assina como
testemunha, na casa do Conselho de Santa Cruz, um contrato entre o Padre Frei Brás, governador do
Mosteiro, e o arquiteto francês Hodart, para execução do passo da Ceia de Cristo.
Dos seus quadros neste retábulo, de que foi entalhador Francisco Lorete, destacam-se A
Deposição de Cristo no Túmulo, A Invenção da Cruz, Ecce Homo e Milagre da Ressurreição do
Mancebo. Há diversas características que estas obras foram realizadas em parceria.
O retábulo foi apeado no início do século XVII quando foi substituído pelo novo retábulo
maneirista do escultor Bernardo Coelho e dos pintores Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão.
Deste retábulo de Cristóvão de Figueiredo subsistem outras tábuas na sacristia do cenóbio crúzio e no
Museu Machado de Castro44.
Trabalhou ainda, durante o ano de 1533, em Lamego. Em 31 de outubro de 1533 assinou, como
testemunha, uma procuração que o rev. António Lopes, camareiro do bispo D. Fernando de Meneses
Coutinho e Vasconcelos, fez a Jorge Alvares, feitor de sua senhoria. Este é o mais antigo documento
conhecido em que o artista se intitula pintor do infante cardeal45.
No mês seguinte, a 27 de novembro de 1533, no paço episcopal de Lamego, assina com o Padre
Frei Francisco de Vila-Viçosa, guardião do Mosteiro de Ferreirim, e de acordo com o que antes ficara
estabelecido perante o infante D. Fernando, um contrato para execução de três retábulos destinados à
igreja daquele mosteiro franciscano, conforme desenhos que fizera e outras obras que realizara com o
seu parceiro Garcia Fernandes. Por uma procuração, feita igualmente em Lamego aos 22 de abril de
1534, sabe-se, porém, que na execução dos referidos retábulos colaboraram igualmente Garcia
Fernandes e o pintor régio Gregório Lopes, tendo este grupo sido apelidado por Luís Reis-Santos de
"Mestres de Ferreirim"46.
Dos retábulos iniciais destinados à igreja de Santo António de Ferreirim apenas subsistem dois
compostos por quatro tábuas cada inicialmente destinadas aos altares colaterais, e que se encontram
distribuídas por duas séries, cuja reconstituição conjetural foi recentemente ensaiada por Fernando
António B. Pereira. Uma diz respeito à vida da Virgem e deste ciclo fazem parte os seguintes temas:
Anunciação, Natividade, Dormição da Virgem e Assunção da Virgem. O outro retábulo representa
temas da Paixão de Cristo: Caminho para o Calvário, Crucificação, (tábuas bastante danificadas por um
incêndio), Pranto sobre Cristo morto e Ressurreição de Cristo.
Conforme refere Luís Alberto Casimiro:
"as pinturas, que ainda permanecem na mesma igreja embora deslocadas do seu lugar de
origem, refletem uma maior sensibilidade às fórmulas italianas e grande coerência e unidade apesar de
44
http://www.matriznet.imc-ip.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=249930
45
Grande Enciclopédia Luso-Brasileira, vol. 11, p. 305
46
Luís Reis-Santos, Estudos de pintura antiga, 1943
47
Luís Alberto Casimiro, Pintura e Escultura do Renascimento no Norte de Portugal, Revista da Faculdade de Letras,
Ciências e Técnicas do Património, Porto 2006-2007, I Série vol. V-VI, pp. 87-114
48
http://pt.wikipedia.org/wiki/Crist%C3%B3v%C3%A3o_de_Figueiredo
Renascimento e Maneirismo - 55
Santo, Claustro da Portaria, que, em 1541, D. Fernando de Mendanha considera pintado "por mão de
outro Apeles".
Foi, durante anos, uma obra de autoria controversa, por se supor que a assinatura VELASC9 não
correspondia à forma latinizada de Vasco. Reynaldo dos Santos, através do Livro da Receita e Despesa
do Mosteiro de Santa Cruz, referente ao ano 1534-35, e de um recibo de pagamento a Vasco
Fernandes de uma prestação de quatro retábulos executados para este mosteiro, vem definitivamente
provar a sua autoria e cronologia.
A contradição entre o classicismo da arquitetura e a ideia nervosa e dramática das figuras está
expressa numa obra de intensidades e contradições. A intensa expressividade dos rostos e o patetismo
como expressão do sentimento religioso são notórios nas figuras dos apóstolos que se agitam num
arrebatamento cósmico. Uma luz intensa e quase apocalíptica revela um espaço cénico racional,
depurado e de evidente inspiração renascentista, ao centro da qual, e contrastante na serenidade
escultórica, figura o grupo da trindade feminina. O contraste entre o espaço cénico e as figuras
femininas, por um lado, e a energia emergente das figuras que definem uma estrutura elíptica, por
outro, evidencia o ecletismo dos componentes classicistas em Vasco Fernandes. Este dramatismo,
acentuado pela cor vermelha das figuras em primeiro plano, é alheio a qualquer conceção classicista da
figura humana. Não se trata, como é evidente, de uma prática empírica de resolver o fenómeno pictural.
A conceção e disposição espacial das figuras e os valores cromáticos remetem para um modelo ou
para uma reflexão profunda. A latinização da assinatura, que figura em primeiro plano sobre um
pergaminho enrolado, é sintomática da utilização de um novo estilo enquanto linguagem alternativa.49
Arquitetura de inspiração renascentista, estruturada pela luz incidente da abóbada central
Luz, mais expressiva que denotativa, unifica de uma forma dinâmica a composição
Composição desenvolvida em jogos visíveis de simetria
Expressividade das figuras – serenidade contida das figuras do grupo central, arrebatamento
dos apóstolos aproximados do 1º plano – concentra todo o esforço expressivo e narrativo da
obra
Figura de costas, debruçada sobre um livro, alheada da emotividade da cena e do
arrebatamento expressivo das restantes personagens ---- imagem do humanista que valoriza
o livro, elogio do saber
Deposição no Túmulo
Anos 30 do século XVI
Provavelmente do Hospital de Coimbra
Óleo sobre madeira de carvalho
A 182 x L 156 cm
MNAA
Virgem amparada pelas Santas Mulheres – à esquerda, colocadas em grelha de modo a
destacar a Virgem
Renascimento e Maneirismo - 57
No centro – São João – de vermelho – destaque pela cor – cromatismo diferencial na vertical
de uma pirâmide
Justaposição de diferentes estruturas organizativas das figuras no quadro:
- Estrutura em pirâmide
São João
- Estrutura em cavalete
José de Arimateia
(os doadores estão atrás, na vertical de Madalena)
Cristo
Nicodemos
Renascimento e Maneirismo - 59
Rígido, quase esquemático
Hirto
Efeito da distanciação – afastamento; transformação do Cristo em memória, em
símbolo
Mancha branca de Cristo ---------- orienta o olhar para José de Arimateia mas sobretudo
para os doadores
Primeira pintura em valores da Escola Portuguesa:
- Tons escuros
- Pintura em tons, interrompida por algumas manchas brancas e vermelhas
Em três planos bem definidos se estrutura a encenação desta pintura: túmulo, friso de figuras e
paisagem. A marcada horizontalidade é cortada pela diagonal do corpo de Cristo envolto na mortalha,
figura principal desta representação fixada no momento exato em que desce à sepultura. De um lado e
doutro convergem as cabeças dos figurantes e João, o discípulo tão amado, reúne no seu rosto a
expressão sofrida de Maria e das santas mulheres. Há outros valores essenciais para o entendimento
plástico e psicológico desta pintura de Cristóvão de Figueiredo. Um deles é a paisagem clareada, no
canto superior esquerdo do quadro, zona de fuga desta dramatização contida e que tem o seu
contraponto na figura de Madalena, em primeiro plano, que segura a coroa de espinhos em figurada
atitude de apresentação da morte. Outro dos motivos é a representação em plano ligeiramente
diferenciado, dos dois personagens de negro trajados que rematam a estrutura compositiva apontada
pela colocação do divino corpo. O seu retrato, de expressão absolutamente personalizada, tão diversa
das circundantes, testemunha um caminho diferente no tratamento convencional dos rostos, na pintura
portuguesa do século XVI.50
50
www.mnarteantiga-ipmuseus.pt
Painel lateral direito (reverso) - "O Papa Ciríaco abençoa Santa Úrsula e as suas companheiras":
A enquadrar as personagens encontra-se uma paisagem rochosa pontuada por árvores e
arquiteturas acasteladas.
O Papa, à direita da composição, enverga barrete verde na cabeça no qual assenta uma tiara
dourada. Veste alva de gola e de mangas largas e, sobre ela, uma casula de brocado de ouro. Nos
ombros tem um pluvial de tecido verde bordado a ouro e sebastos tecidos a fio de ouro com cabochões
e pérolas incrustados. O firmal ostenta ao centro um peitoral com um rubi inserido num quadrifólio de
pérolas e cercaduras de pérolas na medalha. Calça luvas vermelhas, fazendo o gesto da bênção com a
mão direita e segurando a vara de uma cruz processional na mão esquerda. Atrás de si destacam-se
outras figuras, mais exatamente três cardeais: o da direita tem um capuz preto, capelo vermelho e
hábito vermelho com cabeção de arminho; o do centro apresenta capelo vermelho escuro com gola de
arminho e o último usa chapéu vermelho de aba redonda.
Em frente do Papa representam-se quatro figuras ajoelhadas recebendo a bênção. São elas
Santa Auta, Santa Úrsula, o Príncipe Conan e uma jovem.
Por detrás surge uma multidão de personagens liderada por sete das mil virgens.
Renascimento e Maneirismo - 61
narrativos, pode ser dividida em duas partes distintas: do lado esquerdo, temos o embarque das
Virgens na cidade de Basileia e, do lado direito, o martírio aquando da chegada a Colónia.
No cais (parte esquerda da composição) encontram-se alinhadas diversas personagens,
destacando-se em primeiro plano um bispo - Tiago de Antioquia - com mitra dourada, alva amarela,
casula e pluvial de brocado de ouro, sebastos com cercadura de pérolas e firmal de brocado dourado
tendo como peitoral uma joia de ouro cercada de diamantes e com um rubim incrustado no centro. As
mãos do Bispo apoiam-se numa muleta castanha cujo báculo é ferrado de bronze, ostentando a
personagem um anel de ouro e uma joia colocada no dorso da mão esquerda.
A figura que se recorta por trás, de que apenas se vislumbram parte da túnica vermelha e os
sapatos, indiciam que a tábua foi cortada, não correspondendo, pois, as atuais dimensões do quadro às
medidas (e ao formato) originais.
À esquerda de Tiago de Antioquia surge representado um Papa (o Papa Ciríaco) com a respetiva
tiara de ouro, alva anilada, pluvial de brocado com peitoral de ouro e pedraria e luvas vermelhas. Na
mão esquerda segura a haste de cristal, enquanto à direita, fazendo o sinal de bênção, apresenta um
anel de ouro.
Ao seu lado e em posição de diálogo figura uma dama com trajes religiosos: escapular branco
cingido na cabeça por um diadema dourado com hastes flordelizadas, hábito castanho com um filete de
ouro debruando o canhão e manto igualmente com cercadura dourada.
Uma rapariga de cabelos loiros e gorra vermelha, assim como uma outra sem qualquer espécie
de toucado ou ornamento na cabeça, são as últimas personagens que se individualizam da multidão
que se encontra no cais.
Em primeiro plano observa-se um batel conduzido por um barqueiro de chapéu vermelho, gibão
amarelo e calções encarnados que, na proa do barco, afasta a embarcação do cais com a ajuda de um
remo. Dentro encontram-se ainda mais três personagens que se podem identificar com o príncipe
Conan, Santa Úrsula e Santa Auta.
Na parte direita do quadro, obedecendo a uma lógica narrativa, a figuração centra-se na chegada
do cortejo a Colónia (surgindo de novo o Príncipe Conan, Santa Úrsula, Santa Auta, o Papa Ciríaco,
Tiago de Antioquia e, provavelmente, um cardeal), e o consequente martírio das onze mil virgens
perpetrado pelos Hunos sob incitamento dos Romanos.
Painel lateral esquerdo (verso) - ''Partida das relíquias de Santa Auta de Colónia'':
No lado esquerdo da composição ergue-se uma cidade (Colónia) com as suas muralhas,
bastiões e torres.
Da porta sai um cortejo que caminha em direção ao cais, no qual está ancorado um galeão de
que apenas se pode observar a proa. Pormenor curioso é o de, numa flâmula branca colocada no cesto
da gávea, se inscrever o camaroeiro, símbolo da Rainha D. Leonor. Também no mastro (em baixo, à
proa, e no topo), estão hasteadas duas bandeiras portuguesas de escudo esquartelado que têm por
pala uma tira vermelha com dois castelos no meio, sendo a bordadura do escudo formada por quatro
tiras vermelhas com doze castelos. A faixa do escudo é formada por uma outra tira encarnada com três
escudetes azuis (o Escudo nacional do Rei D. João II).
Em primeiro plano destaca-se a figura de Santa Auta com um livro de letras góticas aberto nas
mãos. A santa veste um rico corpete de brocado de fio de ouro ornado de ramagens e folhas. A gola é
Painel lateral direito (verso) - “Chegada das relíquias de Santa Auta à Igreja da Madre de Deus”:
Destaca-se neste painel a fachada manuelina da Madre de Deus com a cimalha de ameias
chanfradas alternando com escudos de três palas, gárgulas góticas e friso da cimalha com pequenas
esferas em relevo.
O portal tem arco trilobado, sendo o tímpano lavrado e encimado por molduras em voluta,
rematando dos lados em bolotas.
Completa o conjunto o escudo português de D. João II (ao centro), ladeado pelo escudo com a
divisa de D. João II (o pelicano) e o escudo com o símbolo da rainha D. Leonor (o camaroeiro).
Os dois botaréus torsos que se dispõem lateralmente ao portal são encimados ao nível dos
escudos por coroas reais de onde partem coruchéus piramidais igualmente torsos.
Dois panos de brocado de ouro com ramagens grená cobrem os botaréus e os lados do portal
até ao nível do arco.
Na fachada, por baixo de uma pequena janela retangular, colocado sobre uma mísula, assenta
um medalhão della Robbia com cercadura de festões de folhagem castanha com frutos amarelos e
centro com fundo de esmalte esverdeado e a escultura da Virgem com o Menino.
À direita dois vãos são rasgados, respetivamente, por duas janelas. O primeiro vão, com uma
gárgula no ângulo, cimalha com friso igual ao do corpo principal da igreja e uma torre de dimensões
reduzidas que termina com um botaréu torso rematado por coruchéu cónico, apresenta uma abertura
Renascimento e Maneirismo - 63
com arco de ogiva gótica e fundo verde nas vidraças, estando do lado direito novamente representado
o camaroeiro. O segundo vão, mais recuado e mais baixo, tem um telhado de telhas mouriscas
colocadas em três fiadas cor-de-rosa separadas por faixas amarelas.
A janela é, à semelhança da anterior, gótica, embora surja com arco trilobado.
Defronte ao portal está disposto um altar com um crucifixo e dois castiçais de prata dourada e, à
esquerda, um púlpito armado forrado de brocado.
No canto esquerdo do quadro, no prolongamento da fachada, pode-se distinguir um vão com
quatro janelas de grades e em cuja parede se encosta uma tribuna coberta com um pano e forrada com
um brocado de fio de ouro. Nela estão três personagens femininas, tendo a primeira sido já apontada
como sendo a própria rainha D. Leonor.
Santa Auta, de pé em primeiro plano, enverga panejamentos ricos compostos por uma gorra
vermelha com um diadema de ouro, pedras e pérolas e hastes encimadas por trifólios de pérolas,
pendendo-lhe sobre os cabelos uma joias com cabochão vermelho no centro e pérolas na cercadura. O
vestido é de damasco com fio de ouro e ramagens, com decote quadrado com um bico aberto no meio
do peito, orlado de verde e descobrindo parcialmente a camisa branca. O cinto que lhe cinge a cintura é
largo e com fechos de ouro presos no centro por uma argola de ouro de onde pende uma corrente de
elos dourados. O manto é de cetim vermelho com arabescos dourados e cercadura de pérolas, mangas
largas e golpeadas reviradas nos punhos com canhões bordados a ouro e pérolas. Na mão esquerda a
Santa segura um livro aberto encadernado a couro castanho e na mão direita revela uma seta e a
palma do martírio.
Entre a figura de Santa Auta e o plano fundeiro desenrola-se a procissão que transporta a arca
funerária do galeão até ao Mosteiro.
Origem / Historial:
O designado retábulo de Santa Auta procedente do Mosteiro da Madre de Deus em Xabregas
estava originalmente colocado na capela onde se guardaram as relíquias de Santa Auta enviadas pelo
imperador Maximiliano a D. Leonor, irmã do Rei D. Manuel.
Sobre a fundação do Mosteiro da Madre de Deus e da chegada das relíquias de Santa Auta a
Lisboa, escreve Damião de Góis no capítulo XXVI da Crónica de D. Manuel: «Fundou esta Senhora [a
Rainha D. Leonor] também de novo o mosteiro da invocação da Madre de Deus, no vale de
Enxobregas, junto de Lisboa, e povoou de novo de freiras de santa Clara da Ordem de são Francisco
da Observância, que por seus intuitos comem sempre peixe, onde ela jaz sepultada, na crasta, junto da
porta do refeitório em sepultura simples, rasa igual com o chão. E porque era muito devota da bem-
aventurada santa Úrsula, guia e capitoa das virtuosas mártires onze mil virgens, pediu por suas cartas
ao Imperador Maximiliano, seu primo com-irmão, que quisesse mandar algumas relíquias destas santas
virgens, o que lhe concedeu facilmente; e dentre todas mandou tirar do mosteiro de santa Úrsula da
cidade de Colónia Agripina, onde estão todas estas sepultadas, as da bem-aventurada santa Auta, e as
mandou a entregar a boa guarda a Francisco Pessoa, que então era feitor del Rei em Flandres,
residente na vila de Anvers, para as mandar à Rainha, como o fez em uma nau holandesa, que chegou
ao porto de Lisboa aos dois dias de Setembro deste ano de mil e quinhentos e dezassete; e aos doze
Renascimento e Maneirismo - 65
pintura na Exposição Retrospectiva de Arte Ornamental Portugueza e Hespanhola figurou como sendo
da propriedade da Condessa de Edla.
Em 1517 chegaram a Lisboa as relíquias de Santa Auta, oferecidas pelo imperador Maximiliano
da Alemanha a sua prima D. Leonor, viúva do nosso D. João II e irmã do rei D. Manuel. Por ordem de
D. Manuel (e de acordo, sem dúvida, com a vontade da irmã), as relíquias foram conduzidas para a
igreja do convento da Madre de Deus, que D. Leonor havia mandado construir na capital, pouco antes,
na zona de Xabregas. Depositadas solenemente num altar próprio - encomendado, para o efeito, por D.
Leonor -, para esse altar se fez a seguir, ao que se julga, um retábulo de pinturas adequadas à
evocação de Santa Auta, do qual existem três tábuas atualmente no Museu Nacional de Arte Antiga,
encontradas no convento da Madre de Deus.
Santa Auta, uma das Onze Mil Virgens martirizadas em Colónia, tem a sua biografia ligada a uma
das mais curiosas lendas medievais. Pensa-se hoje que o número elevado das suas companheiras de
martírio, referido por escritores e copistas, resultou de um erro de tradução de antigos textos. Na Idade
Média, porém, o relato hagiográfico não levantou reparos e, embora com variantes, difundiu-se pela
Europa ocidental - particularmente depois que Tiago de Voragine, na 2ª metade do século XIII, incluiu
na sua Legenda Dourada uma das versões mais comuns. Segundo o bom frade dominicano, a
personagem central da história das Onze Mil Virgens foi a jovem Úrsula, linda filha do rei da Bretanha,
cristã fervorosa, que o poderoso rei da Inglaterra, pagão, pedira em casamento para o seu filho único. A
fim de desencorajar o pretendente (Etereu ou Conan), Úrsula propôs-lhe que se deixasse batizar e
Instruir na fé de Cristo, pedindo-lhe ainda onze mil companheiras que, com ela, se dirigiriam em
peregrinação a Roma, onde dentro de três anos se realizariam as bodas. O príncipe inglês aceitou as
condições, vindo a consumar-se a grande viagem das onze mil virgens até Roma (através do Mar do
Norte, do curso do Reno e das estradas dos Alpes). Recebida festivamente pelo papa Ciríaco, a
piedosa hoste de Úrsula, engrossada entretanto por cavaleiros, bispos, damas, etc., deparou no
regresso, junto de Colónia (Alemanha), com um exército dos hunos, que, num terrível massacre, matou
o imenso grupo de peregrinos! Os corpos das vítimas, sepultados em Colónia, passariam mais tarde a
tornar-se objeto de intenso culto.
No século XV, a evocação da odisseia de Santa Úrsula e das suas companheiras ganhou certa
popularidade na pintura da Alemanha e da Flandres -territórios que possuíam relíquias das mártires -,
posto que não fosse também desconhecida, na mesma época, dos artistas da França, da Itália ou da
Espanha. Em tal movimento iconográfico se inseriu o retábulo quinhentista da igreja lisboeta da Madre
de Deus, executado provavelmente à volta de 1520, em cujas tábuas se aliavam cenas da aventura de
Santa Úrsula com a lembrança da vinda para Lisboa das relíquias de Santa Auta. Na verdade, após a
rainha D. Leonor ter solicitado ao imperador da Alemanha, por devoção, a cedência de algumas das
relíquias das Onze Mil Virgens, Maximiliano sublinhara, na carta que à prima escreveu em 8 de Abril de
1517, que lhe enviava "as relíquias da Virgem Santa Auta, que fez parte do séquito da rainha Úrsula e
Renascimento e Maneirismo - 67
O camaroeiro, divisa de D. Leonor, vê-se aliás neste painel, desenhado na parede da capela-mor
e numa bandeira da nau (repetindo-se, no retábulo, na tábua do Martírio das Onze Mil Virgens).
Tudo leva a crer que o retábulo haja sido uma encomenda de D. Leonor, e que portanto se tenha
executado entre 1517 e a data da morte da rainha (1525).
Ignora-se, porém, o autor dos painéis, denominado vulgarmente o "Mestre de Santa Auta".
Trata.se de um artista amaneirado, de paleta luminosa e de desenho quase miniatural que pelo seu
notável sentido da cor se aproxima da personalidade do grande pintor Cristóvão de Figueiredo (act.
1515-1543).51
51
I.F.G., Texto fornecido pelos Serviços Educativos do MNAA
Renascimento e Maneirismo - 69
Foi aluno da Oficina de Jorge Afonso, tendo aí colaborado com outros artistas do período
manuelino como Gregório Lopes, Cristóvão de Figueiredo, Pero Vaz e Gaspar Vaz. Jorge Afonso tinha-
o em alta conta, como se conclui do facto de haver dito ao rei D. Manuel I que ele poderia vir a ser um
novo Francisco Henriques.
Em 1518-1519, juntamente com Gregório Lopes, Cristóvão de Figueiredo e outros, entre os quais
sete pintores flamengos, trabalhava nas obras da Relação de Lisboa, sob a chefia de Francisco
Henriques. Este mestre teria falecido em 1518, vítima da peste, e Garcia Fernandes comprometeu-se a
casar com uma das suas filhas, com que teve, pelo menos, nove filhos, sucedendo Francisco Henriques
na chefia da obra da Relação, o que constitui prova de grande prestígio de que já desfrutava. Foi-lhe
então prometido ser nomeado passavante, mas viu-se preterido nesta pretensão por António de
Holanda. Cerca de 1519, já casado, continuava a obra de Francisco Henriques, completando o
coruchéu do Limoeiro.
Em 1533-1534, em conjunto com Cristóvão de Figueiredo e Gregório Lopes, e ainda com
Cristóvão de Utreque, encontrava-se em Lamego, onde produziu três retábulos para o Mosteiro de
Ferreirim.
Numa petição apresentada em 1540 ao rei D. João III, queixando-se da falta de cumprimento de
promessas que lhe haviam sido feitas, diz ter trabalhado nas obras de Coimbra (Mosteiro de Santa Cruz
e Universidade de Coimbra), na Igreja de São Francisco em Évora (três painéis para o transepto), em
Leiria, Montemor-o-Novo, além de outras para a Índia e no Retábulo de Santo Elói, em Lisboa.
Manuel André, seu discípulo, diz que ele pintou um quadro na Santa Casa da Misericórdia de
Lisboa, de cuja mesa fazia parte em 1521.
Através deste testemunho José de Figueiredo atribui-lhe o quadro "Os Desposórios" ou "O
Casamento da Virgem", da Misericórdia, hoje no Museu de São Roque, obra datada de 1541 e que
parece representar o casamento do rei D. Manuel I ou de D. João III. Ultimamente este quadro tem sido
interpretado com o "Casamento de Santo Aleixo".
José de Figueiredo atribui-lhe também uma "Pietà" da Igreja de São Francisco de Évora.
Reynaldo dos Santos é de parecer que as obras de Garcia Fernandes em São Francisco de Évora
devem ser os retábulos das capelas do cruzeiro, datáveis de 1530-1540 e aliás com afinidades
estilísticas com as pinturas de Ferreirim: "Anjo Custódio", "São Francisco" e "São Miguel". Túlio
Espanca diz que ele interveio, de facto, na feitura dos ditos retábulos, executados cerca de 1535, e bem
assim na da "Pietà". Têm intimas afinidades de técnica e de estilo com estas obras a "Anunciação" e a
"Morte da Virgem" (Museu Grão Vasco) de Ferreirim, que constituem sem dúvida o seu quinhão neste
conjunto. Pelas mesmas razões, devem também considerar-se da sua autoria as tábuas "Santo
António", "São Sebastião" e "São Vicente" da Igreja de Santa Cruz de Coimbra. Estes três grupos -
Évora, Ferreirim e Coimbra - constituem, pois, a base de identificação da sua obra.
Reynaldo dos Santos entende que se podem encabeçar com segurança neste pintor: o tríptico
"Aparição de Cristo à Virgem", do Museu Nacional Machado de Castro, de Coimbra, datado de 1531,
que lhe fora atribuído por Luciano Freire; os dois quadros "Aparição de Cristo à Virgem" e
"Ressurreição", da Igreja das Chagas, em Vila Viçosa, datados de 1536, atribuição esta feita por José
de Figueiredo; "Apresentação do Menino no Templo", do Museu Nacional de Arte Antiga, datado de
1538; e ainda o painel da Misericórdia de Lisboa, de 1541, já referido. José de Figueiredo atribui-lhe
mais "A Santíssima Trindade", do Museu Nacional de Arte Antiga. Aarão de Lacerda dá-lhe
Renascimento e Maneirismo - 71
Aparição de Cristo, 123 x 101 cm
Nossa Senhora, 126 x 45,5 cm
Museu Nacional Machado de Castro
O tríptico representa no painel central o tema da Aparição de Cristo à Virgem Maria, cotejado,
nos planos secundários, por episódios centrados no tema da Ressurreição e apresenta, no anverso dos
volantes, o Anjo Gabriel (à esquerda) e a Virgem da Anunciação (à direita). A Virgem encontra-se
sentada diretamente sobre o tapete, ou sobre um coxim, numa posição frontal. As feições revelam uma
jovem de rosto sereno, ligeiramente inclinado, faces rosadas, fronte bastante pronunciada, olhar fixo no
chão e lábios fechados. Os braços, abertos em atitude de orante, apresentam as mãos com as palmas
viradas para o observador, dedos finos e levemente afastados, obedecendo a um correto desenho
anatómico e a um domínio perfeito da volumetria o que já se verificava no tratamento do rosto através
de uma perfeita utilização dos tons das carnações. Sobre o regaço de Maria o pintor representou um
livro. Este consiste num belíssimo exemplar de um códice iluminado, indicando que a jovem Anunciada
se encontrava ocupada na leitura e meditação das Sagradas Escrituras, ou de um livro de orações.
[…]55
Até ao final do século XX, esta obra, executada em 1541 por Garcia Fernandes, foi interpretada
como representando o Casamento de D. Manuel I com D. Leonor, ocorrido em 1518, após a morte da
segunda esposa do monarca, a Infanta D. Maria de Castela. Contudo, em 1998, Joaquim de Oliveira
Caetano apresentou uma nova leitura da obra, interpretando-a como uma representação do Casamento
de Santo Aleixo
De facto, não é plausível que se mandasse executar uma pintura representando o casamento de
D. Manuel com D. Leonor, vinte e três anos após a sua ocorrência. À data da execução desta pintura,
D. Manuel falecera, D. Leonor estava casada em segundas núpcias com Francisco I de França, e o rei
de Portugal era D. João III, a quem D. Leonor estivera prometida antes de casar com D. Manuel. Por
outro lado, tendo em conta as diretivas tridentinas, é de estranhar a colocação de uma obra de temática
profana, num espaço sagrado público. Acresce o facto de, o presumível D. Manuel não apresenta a
insígnia do Tosão de Ouro que recebera pelo casamento com D. Leonor.
A existência de uma Confraria de Santo Aleixo, na Igreja da Misericórdia encontra-se
documentada, embora não conheçamos a data de instituição desta Confraria. Contudo, sabemos que
em 1538 foi anexada à Misericórdia, por vontade régia, uma confraria de caridade. Assumindo o
pressuposto, que a confraria anexada à Misericórdia em 1538, foi a Confraria de Santo Aleixo, faria todo
o sentido a execução, em 1542, de uma pintura dedicada a Santo Aleixo, para colocar na Igreja da
Misericórdia. Justifica-se, deste modo, a presença do retrato de D. Álvaro da Costa na pintura -
identificado por uma inscrição desenhada nas suas vestes -, uma vez que era Provedor da Misericórdia
em 1538.
Em primeiro plano, e ao centro da composição, o pintor representou Santo Aleixo, a sua noiva e o
sacerdote que celebra o casamento. As figuras que assistem à cerimónia distribuem-se de forma
equilibrada, em torno do casal, separadas por sexos.
Esta pintura, apresenta uma certa graciosidade que lhe é conferida pela idealização dos rostos,
em particular dos rostos femininos, sinuosidades dos corpos e tratamento expressivo dos panejamentos
das vestes.56
Site do Museu de São Roque
56
http://www.uc.pt/artes/6spp/ia.html
Renascimento e Maneirismo - 73
temas, quer pelo desenho, pelo ambiente quer, pela luminosidade, e também pela introdução de alguns
pormenores ditos de género, resultam muito claramente de uma perspetiva que já foi considerada como
decorrente do nominalismo, segundo o qual, e simplificando muitíssimo o conceito, cada coisa vale por
si. Foi o Prof. Camón Aznar quem, numa síntese publicada em 1971, chamou a atenção para este
aspeto. Salientava o ilustre professor que “aquilo que antes (no pensamento escolástico) se
desvalorizava, (…) é agora acarinhado e representado precisamente por causa dos seus sinais próprios
e únicos”. Vão predominar, nesta época, “os temas concretos e palpáveis, as características tácteis das
coisas, um naturalismo sem véus conceptuais”. É com este nominalismo, acrescentava então Cámon
Aznar, “que se inaugura o realismo da arte moderna”.
O Encontro na Porta Dourada e o Nascimento da Virgem, as duas primeiras pinturas na
sequência cronológica do nascimento de Maria, serão as mais ricas de uma perspetiva de composição
onde, na primeira das tábuas, a cena principal, de inspiração em gravura dureriana, é completada pelos
apontamentos em fundo do aparecimento do anjo a S. Joaquim e a Santa Ana. O Nascimento da
Virgem recorre ao imaginário popular do tempo para as cenas de parto, com apontamentos de género,
não havendo fonte escrita que mencione explicitamente o ato. A gravura de Dürer que pode ter servido
de inspiração remota ao pintor é muito mais complexa quer na composição quer no ambiente, quer na
atitude muito agitada dos personagens que intervêm no ato. Todavia, do ponto de vista iconográfico, há
a curiosa novidade, na pintura portuguesa da época, do aparecimento de uma mulher negra, pormenor
a que nos referiremos noutro local.
A Apresentação da Virgem no templo é outra das cenas inspiradas nos textos dos Evangelhos
Apócrifos (Evangelho do Pseudo Mateus) e também em gravura, esta do alemão Israel van Meckenem.
Trata-se de uma pintura onde o mestre, tal como sucede na tábua já mencionada do Nascimento da
Virgem e também no Casamento da Virgem e Apresentação do Menino no templo mostra uma
preferência especial pelos interiores e pela subordinação das figuras ao enquadramento arquitetónico.
O Casamento da Virgem é uma das três pinturas que apresentam elementos iconográficos do
maior interesse para a identificação do conjunto. Segundo o texto apócrifo em que se fundamenta, os
pretendentes a Maria deviam apresentar-se no templo com uma vara e aquele a quem pertencesse o
ramo que floriria seria o escolhido. Apesar de contrariado, pela sua idade avançada e por já ter filhos, é
a José que cabe “receber Maria”. Na pintura, vê-se José com a vara de ponta reverdecida e, atrás,
outros pretendentes e um grande conjunto de varas secas.
Se observarmos a pintura na zona atrás de José, verificaremos que existe uma alusão às varas
dos pretendentes à exceção de um único, exatamente aquele de quem vemos o busto, mais à direita.
É nesta figura que encontramos um outro elemento fundamental para a identificação que
propomos. Este personagem exibe um emblema, designado mais corretamente por estampa,
representando um pelicano alimentando os filhos. Este símbolo, que foi de D. João II (falecido em
1495), pertenceu, depois, ao seu filho natural, D. Jorge de Lencastre (21 de Agosto de 1481 – 22 de
Julho de 1550).
Afastado da sucessão, por decisão papal e, seguramente, influência da rainha D. Leonor, D.
Jorge manteve sempre um estatuto especial, tendo sido investido, ainda em vida de seu pai e apenas
com onze anos, no mestrado da Ordem de Santiago, na administração da Ordem de Avis, no ducado
de Coimbra e recebendo vários títulos, entre os quais, o de senhor de Montemor.
Renascimento e Maneirismo - 75
Às informações de carácter heráldico-iconográfico deveremos agora acrescentar uma outra,
documental, relativa à autoria. Vários autores têm atribuído estas pinturas ao pintor Garcia Fernandes.
De facto, a maioria das tábuas aponta para aquilo que tem sido considerado como a mão deste mestre,
sobretudo no que refere ao modo largo de tratar os panejamentos, aos cromatismos onde conjuga
tonalidades quentes com a frieza de alguns amarelos e verdes e, sobretudo, ao gosto pelas cenas de
interior, fazendo uso persistente das arquiteturas para localizar espacialmente os temas tratados e,
mais obviamente, como foi salientado por Joaquim Oliveira Caetano a riqueza do tratamento dos
objetos, da ourivesaria e da armaria. De facto, este último aspeto parece constituir um dos meios
possíveis para encontrar a “mão” de Fernandes que, mesmo em obras já claramente datáveis de
período em que o gosto renascentista se havia implantado, continua a persistir nas formas do gótico
final nas suas peças de ourivesaria.
Em 1533, Garcia Fernandes estava a trabalhar em Ferreirim numa obra entregue ao seu
companheiro Cristóvão de Figueiredo, na qual participaram Gregório Lopes e Cristóvão de Utreque. A
atividade de Garcia Fernandes entre a conclusão da pintura do coruchéu do Tribunal da Relação e o
ano de 1533 não está documentada. No entanto, por uma petição por ele dirigida ao rei D. João III
sabemos que trabalhou em diversas empreitadas, designadamente para Coimbra e Montemor.
Esta informação não pode deixar de ser cruzada com uma outra, constante de um depoimento de
1540, segundo o qual Garcia Fernandes, referindo-se ao pintor seu colega Cristóvão de Figueiredo,
atesta que “são compadres e amigos e companheiros em as obras que fazem e comem e bebem
ambos”. Não deverá esquecer-se, também, que Cristóvão de Figueiredo trabalhara na obra da Relação,
ao tempo de Francisco Henriques, e se encontrava em Coimbra, entre 1522 e 1533, a cumprir o
encargo das pinturas da Igreja do Mosteiro de Santa Cruz onde também é detetável a colaboração de
Garcia Fernandes.
A propósito destas tábuas do Retábulo da Vida da Virgem já foram indicadas, a traços gerais,
muitas das características do trabalho de Garcia Fernandes e poderemos adiantar que, neste mesmo
conjunto, alguns outros pormenores com valor para a identificação ali podem ser encontrados.
Refiramos, por exemplo, o modo da gestualidade, a utilização de pormenores de género, as
ourivesarias e, sobretudo, o gosto por espaços fechados e cenas preocupadamente circunscritas por
elementos arquitetónicos.
Todavia, para além dos modos identificáveis de Garcia Fernandes, outros há que julga-mos mais
próprios de Cristóvão de Figueiredo. Salientamos, entre estes, o tratamento de alguns rostos onde a
intensa dramaticidade das expressões nos sugere a mão deste pintor, examinador de pintores e,
sobretudo, debuxador de retábulos, conforme ficou atestado no documento de encomenda das obras
de pintura para a igreja do Convento de Ferreirim, datado de 1533.
Sendo verdade, de acordo com a petição de 1540, que Garcia Fernandes trabalhou para
Montemor, será de admitir, também, que Cristóvão de Figueiredo, o seu amigo, compadre e
companheiro “nas obras que fazem” e com quem ele “comia e bebia” tenha participado, e talvez
debuxado, o Retábulo da Igreja de Santa Maria da Alcáçova de Montemor-o-Velho. Considerando que
Cristóvão de Figueiredo esteve em Coimbra entre 1522 e 1533 e que Garcia Fernandes, após a
conclusão da obra da Relação, terá ido juntar-se ao seu companheiro, poderemos sem dificuldade
admitir esta colaboração, datando o conjunto retabular de finais dos anos vinte, como propõe Joaquim
Santíssima Trindade
Garcia Fernandes e colaboradores – Jorge Afonso
Retábulo do Convento da Trindade em Lisboa
Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga
Renascimento e Maneirismo - 77
Painel central do conjunto
Trono sobrepujado por um baldaquino ---- influência do Gótico Final
Putti ---- claramente renascentistas
Composição ----- lembra a de um tímpano de uma catedral gótica
Quatro Evangelistas rodeiam o trio central
Esta pintura comporta duas cenas fundamentais da hagiografia antoniana. Em primeiro plano
vemos o Santo pregando aos peixes do Adriático, que o escutam com mais atenção que os hereges de
Rimini que debalde tentara convencer e, em cena secundária, representa-se o milagre da mula, o
animal que reconheceu, ajoelhando-se, a presença divina na hóstia consagrada, o que levou à
conversão do judeu Guillard. A relação entre as duas cenas define-se também no espaço pictural,
figurando a segunda num conjunto arquitetónico de laivos classicistas, cuidadosamente riscado a régua
e compasso em incisões que são ainda visíveis.
57
CAETANO, J. de Oliveira, “Gregório Lopes, pintor régio e cavaleiro de Santiago – algumas reflexões sobre o estatuto
social do pintor no séc. XV e inícios do séc. XVI”, IN As Ordens Militares em Portugal e no Sul da Europa, Actas do II
Encontro sobre Ordens Militares, Ed. Colibri, Câmara Municipal de Palmela, 1977, p.73
58
Émile Bertaux, Historie de l'Art, vol. IV
59
Francisco Augusto Garcês Teixeira, Estudos in «Anais dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo»
60
CASANOVA, Maria Amélia Pinto da Silva, As Pinturas de Gregório Lopes em Tomar sob o mecenato de Frei António de
Lisboa, Dissertação de mestrado em História da Arte, Património e Restauro, Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa, Lisboa, 2002 (http://dited.bn.pt/29988/986/1399.pdf
61
Reynaldo dos Santos, Os Primitivos Portugueses
Renascimento e Maneirismo - 79
obras da dita igreja tomarense dependiam do Convento de Cristo, onde se sabe que trabalhou este
pintor régio62.
José de Figueiredo atribuiu a Gregório Lopes as seguintes obras: "Assunção da Virgem", da
Igreja de Sardoura; "Santa Catarina e um dignitário da Igreja", pintura esta em que, segundo o Abade
de Castro, as personagens seria D. Catarina, filha do rei D. Duarte, e o Cardeal D. Jorge de Costa; o
retábulo da Igreja do Castelo, de Abrantes, hoje Museu Regional D. Lopo de Almeida, com a possível
colaboração de Jorge Afonso; "O Menino entre os doutores", proveniente do Convento da Encarnação,
de Lisboa, hoje no Museu Nacional de Arte Antiga; as tábuas de "S. Vicente", "S. Lourenço", "S,
Roque", "Santo António" e "S. Sebastião", da Igreja de Santa Cruz, de Coimbra; a série das "Alegrias de
Maria", do retábulo da Igreja de Jesus, de Setúbal, e bem assim a série dos santos franciscanos do
mesmo retábulo, esta de colaboração com seu filho Cristóvão Lopes. Por outro lado identificou-o com o
Mestre de Santa Auta, em cujo belo e decorativo retábulo, pleno de fausto, com figuras femininas
delicadas e enternecedoras, há inegáveis pontos de identidade com a arte deste mestre. Também se
inclinava a pensar que o retábulo do chamado Mestre de S. Bento devia ser fruto da colaboração de
Gregório Lopes e de Cristóvão Lopes, pois é de crer que este tenha colaborado ativamente nas obras
da última fase da vida de seu pai. José de Figueiredo deu-lhe ainda a autoria do célebre "Retrato de
Vasco da Gama", do Museu Nacional de Arte Antiga, que depois preferiu classificar mais
genericamente como provindo da sua oficina63.
Outras obras lhe têm sido atribuídas, como: "A Virgem visitando Santa Isabel", do Museu
Nacional de Arte Antiga, de iluminação e colorido venezianos; a "Adoração dos Magos", do mesmo
museu, com três soberbos retratos de doadores; algumas tábuas da Capela de Nossa Senhora da
Assunção, em Cascais, como "Nascimento de Cristo" e "Reis Magos" no altar-mor e o díptico
"Anunciação" na capela do Santíssimo, todas de bela composição e intenso cromatismo; e, a admitir,
como parece plausível a sua identificação com o Mestre de Santa Auta, retábulo onde surgem, airosas,
caravelas manuelinas, também o lindo painel com naus portuguesas existente no National Maritime
Museum, em Greenwich, Londres, marinha que, conforme o acentua Reynaldo dos Santos, dir-se-ia
dum precursor de Breughel.
É-lhe ainda atribuído o retábulo da Capela de Nossa Senhora dos Remédios, em Alfama
(Lisboa), bem como o conjunto da Igreja do Convento do Bom Jesus de Valverde, em Évora, executado
em meados do ano de 1544, (conjunto vulgarmente designado por Série da Mitra) onde se representam
uma "Natividade", o "Calvário" e "Ressurreição"64.
«Retábulo do Paraíso» - Museu de Arte Antiga
«Adoração dos Magos»
Mundo medieval que isola cada uma das coisas, coisas ideais que não são banhadas pela luz e
não se integram no todo que é o mundo
«Martírio de S. Sebastião» - primeira obra maneirista portuguesa
Dos discípulos de Jorge Afonso foi o que ganhou maior protagonismo profissional e social
– pintor régio já no tempo de D. Manuel e confirmado por D. João III, em 25 de abril de
62
Francisco Augusto Garcês Teixeira, A pintura antiga da Igreja de S. João Baptista em Tomar
63
José de Figueiredo, A pintura quinhentista em Portugal
64
BRANCO, Manuel J.C., “A Fundação da Igreja do Bom Jesus de Valverde e o Tríptico de Gregório Lopes”, in A Cidade de
Évora, nºs 71-76, 1988-1993, pp.40-71
Retábulo do Salvador para a igreja do Convento de São Francisco de Lisboa – vulgarmente designado
com retábulo de São Bento por ter transitado para o Convento de São Bento da Saúde de Lisboa
Restam 4 painéis: Visitação, Adoração dos Magos, Apresentação no Templo e o Menino
entre os Doutores (MNAA)
Prevalência do gosto que define as grandes empreitadas áulicas:
Exuberância decorativa
Teatralidade galante dos gestos e atitudes
Requinte dos cenários, das indumentárias e dos adereços
Sentido invulgarmente harmonioso da cor
Integração de arquiteturas "ao romano”
Cuidada modelação dos rostos – doadores junto dos magos -, apesar do sentido idealizado
das figuras com que preenche a imagem
Charola do Convento de Cristo em Tomar: S. Sebastião, Virgem dos Anjos (ambos no MNAA), Santo
António pregando aos peixes e S. Bernardo (Convento de Cristo)
7.9.7. O Inferno
Museu Nacional de Arte Antiga
Renascimento e Maneirismo - 81
Autor: Desconhecido
Datação: 1505 d.C. - 1530 d.C.
Matéria: Óleo
Suporte: Madeira de carvalho
Técnica: Pintura a óleo
Dimensões (cm): altura: 119; largura: 217,5;
Descrição:
O "Inferno" ocupa um lugar à parte no conjunto da pintura portuguesa do século XVI pela
iconografia nele contida. De facto, não se conhece nenhum outro quadro que represente de uma forma
autónoma o tema do Inferno.
Num espaço subterrâneo com uma abertura circular no canto superior direito de onde caem as
almas, os condenados sofrem as penas correspondentes a cada um dos sete pecados mortais.
Sentado num trono, o rei dos demónios preside a esta cena terrífica munido de uma enorme
trompa e vestido como um índio brasileiro.
Ao centro, dentro de um caldeirão com água a ferver, sofrem os invejosos, destacando-se um
personagem - um frade franciscano -, por ser a única figura vestida e sem sinais de sofrimento.
Em torno do caldeirão agrupam-se os outros pecados: o Orgulho (as três mulheres atadas
pelos pés sobre um fogareiro de barro de onde saem chamas que lhes consomem o cabelo), a Avareza
(no homem que é obrigado a engolir moedas), a Gula (no pecador a quem um demónio obriga a beber
vinho contido num odre em forma de porco), a Ira (o homem de cabeça rapada que está a ser pingado),
a Luxúria (no grupo onde, lado a lado, se representa o adultério e a homossexualidade, esta última
visualmente traduzida pelo frade e o jovem acorrentados).
8. Escultura
«As esculturas individualizam-se. Saem do anonimato. Exprimem outros sentimentos e outros
valores. Os materiais que utilizam continuam a ser os mesmos, mas alteram-se as dimensões, os
volumes, as formas, os conteúdos, e com estas alterações modifica-se a nossa relação com elas.»
ANDRADE, Sérgio Guimarães, Imagens no Tempo, Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga, 1988
«Deus continua a ser Deus mas os caminhos para O alcançar são outros e outras as Suas
relações com o Homem. As imagens religiosas traduzem esta modificação -realidade dramatizada nos
rostos, nos gestos, nos volumes, nos panejamentos: realidade marcada nas anatomias, no tratamento
do corpo, à procura da dignidade clássica e do sentido harmónico das proporções.» ANDRADE, Sérgio
Guimarães, Visitando Escultura Portuguesa, Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga, s.d.
Renascimento e Maneirismo - 83
8.1.3. Túmulo de Baltazar de Faria ( ?- 1584)
Baltazar de Faria foi Comendador da Ordem de Cristo, membro do conselho de D. João III, e
depois de D. Sebastião, do Rei -Cardeal D. Henrique e de D. Filipe I de Portugal.
A mando de D. João III, obteve em Roma a Bula que estabeleceu em Portugal o Santo Ofício da
Inquisição, dada pelo papa Paulo III.
Foi juiz da Casa da Suplicação, o tribunal da Inquisição.
O seu túmulo encontra-se na galeria sul do Claustro do Cemitério, numa edícula de feição
renascentista.
9. Ourivesaria
9.1. Relicário de D. Leonor
Museu Nacional de Arte Antiga
Mestre João
1520-25
Doado por D. Leonor, mulher de D. João II e irmã de D. Manuel, ao Convento da Madre
de Deus
Estrutura classizante
Templete miniaturial
Reproduz parte da nave e a capela-mor de uma igreja, com uma cobertura em gomos
Afasta-se da figuração e concentra-se na abstracção da mais pura arquitectura
Pequeno espaço cénico --- simbolismo ---- aplicação das pedras preciosas e
respectivas cores
Ouro, esmeraldas, rubis, diamante, pérola, esmaltes polícromos e cristal de rocha
Inscrição: MISERCORDIE.TVE.TVE.MORTIS.GRAVISSIME.DULCISSIME. DOMINE.
IESV. XPE. RESPLENDOR. PATRIS.CONCEDE.NOBIS.FAMYLIS.TVIS
Prov. Mosteiro da Madre de Deus, Lisboa
Catedral de Coimbra:
65
Texto fornecido pelos Serviços Educativos do MNAA
Renascimento e Maneirismo - 85
Existia um corpo separado do resto da Igreja – incluindo a nave central, a partir do 3º pilar, e
o altar-mor – coro cercado com grades que isolava os membros do Clero e a Eucaristia do
conjunto dos fiéis
Coro à espanhola, onde se sentavam os cónegos, que foi demolido em 1469, substituído por
um coro alto à entrada da Sé – sustentado por arcos de cantaria; demolido em 1854 por não
se adequar à arquitetura original
Braga – 1501-1509
Capela-Mor nova
Grades de bronze para fechar a Capela-Mor
Galilé e cadeiral novos
Objectivo: colocar o coro na Capela-Mor?
Guarda
Catedral de raiz do tempo de D. Manuel
Coro na Capela-Mor
Silves
1499 – Coro alto em madeira de cedro
Destruído em 1769
Funchal
Catedral com capela-mor manuelina
1517 – Conclusão da catedral
Jerónimos
Coro Alto
Coro Alto – contemporâneo da introdução em Portugal da polifonia, da música
flamenga
Vários coros na igreja com importâncias diferentes e posições diferentes na igreja –
coro dos cónegos e coro destinado aos cantores
Passa-se de um coro que separa e impede a visão do Altar-Mor para um coro alto que separa
clero / leigos mas não impede a visão da Capela-Mor por parte dos leigos
Como é que aparecem em Portugal princípios que vão determinar as conclusões de Trento?
Cristianismo peninsular de vanguarda que antecipa a reforma do espaço litúrgico – em Portugal nos
séculos XV e início do XVI – definida em Trento ---- reivindicações que aparecem na correspondência
de D. Manuel e dos Reis Católicos com Roma
D. JOÃO III
LEIRIA
Capela-mor grande e funda – onde estava instalado o cadeiral
Planta idêntica à de Miranda do Douro
Espaço direcionado para o Altar-Mor
PORTALEGRE
Coro Alto sobre a porta
ANGRA DO HEROÍSMO
Próxima da solução de Veneza e do Norte de Itália
Capela-Mor com deambulatório
Charola clássica
Coro no próprio presbitério
Catedral reformada
Renascimento e Maneirismo - 87
Objetivos:
Separar clero / leigos
Desimpedir a vista do altar
Elevar o altar
Espanha Portugal
Escorial – coro alto – solução rara Experimentam-se soluções várias – coro alto
na arquitectura espanhola sobre a porta, coro atrás do Altar-Mor, duas
S. VICENTE DE FORA
Retro-coro – coro por detrás do Altar, separado do resto da Igreja
Resolve o problema da visibilidade e da separação
S. DOMINGOS DE BENFICA
A zona do coro é quase metade da Igreja
Coincidências?
- 1600 – Jubileu – construção e/ou restauro das principais igrejas de Roma
- 1572 – Publicação de «Os Lusíadas»
3º Jubileu da subida ao trono de D. Manuel
Renascimento e Maneirismo - 89
- 22/ Maio / 1597 – desembarque do vice-rei em Goa
- 1/ Junho / 97 – entrada solene na cidade (coincidindo com a data em que Vasco da gama
teria desembarcado, segundo a historiografia da época
- Facto histórico visto como um todo e não fragmentado:
- Comemorar a data da partida de Lisboa – a que figura no padrão
- Goa porque é a capital, e não Calecut
- Dia de Natal de 97 – data da morte de Vasco da Gama – ponto alto das comemorações
- Comemora-se a partida de Vasco da Gama, a chegada de Vasco da Gama e a morte de
Vasco da Gama
Arco Comemorativo:
- Inauguração do Arco dedicado ao herói – uma porta aberta na muralha do tempo de
Albuquerque ---- porta da Ribeira que dava acesso ao palácio dos Vice-Reis (antiga fortaleza
construída por Afonso de Albuquerque – 1511)
- Construído em calcário de Lisboa
- Feito em Portugal e levado + trabalhado, só para montar
- Plano aprovado por Filipe II
Rua Direita
Terreiro do Paço
Esquema do monumento:
Nicho com a estátua de Vasco da Gama
Esferas armilares
Gamos
Júlio Simão:
Catedral de Goa (a maior de Portugal)
Fortaleza da entrada da barra
Dique que liga Goa à futura Nova Goa (Pajins)
Igreja do Bom Jesus
Renascimento e Maneirismo - 91
Convento de Santa Mónica (Agostinhas) – único convento feminino no Oriente
Reações em Goa:
- 1600 – Nas vésperas do regresso do Vice-Rei a Lisboa – apearam a estátua, partiram-na e
espalharam os bocados por Goa, nomeadamente amarrado ao pelourinho
- Esfinge de D. Francisco da Gama – enforcada nos mastros da nau
- Estátua substituída pela de Santa Catarina
- Estátua recolocada pela Câmara passados 2 anos, mas colocando por cima uma estátua de
Santa Catarina
- Só nos anos 50 do século XX, o Arco foi recolocado na sua originalidade
Almada Negreiros – arruma os painéis como estão, com base na análise do chão
Renascimento e Maneirismo - 93
Dúvidas sobre a participação de Nuno Gonçalves
1450 – data da execução
São Pedro
Capelas laterais da Sé de Viseu
Rematam as naves laterais
Baptismo de Cristo
Construção empírica da perspectiva ---- faz-se através dos objectos muitas vezes sobrepostos e/ou
colocados estrategicamente e não pela Geometria
Mas se é nestes grandes formatos que a pintura do Espinheiro revela desde logo especial
originalidade, demonstrando em tais registos uma invulgar capacidade de integração espacial
dos elementos da imagem em situações narrativas, não deixa de ser nos pequenos painéis devocionais
que se afirma com especial nitidez uma sedutora técnica de utilização da própria matéria pictural, sendo
também por aí que melhor se reconhece a sua ascendência na inconfundível tradição flamenga.
Ecce Homo
Jesus Cristo está a chorar. Várias lágrimas, oito, escorrem-lhe pela cara. A luz incide sobre
elas. Algum sangue surge entre os lábios. O novo Ecce Homo do Museu de Arte Antiga, uma pequena
pintura, com 40 centímetros de altura e 30 de largura, é uma obra para se ver muito de perto.
Frei Carlos, o pintor monge do século XVI, fê-la exactamente a pensar nessa proximidade. Fê-la
também a pensar que a pudessem levar de um lado para o outro, como um Livro de Horas. “As
pessoas meditam, rezam, oram em frente a estas imagens. É uma devoção mais humanista.(…)
Renascimento e Maneirismo - 95
A Virgem com o Menino e
Anjos num Jardim – c.1538-39
Finalmente, coroando uma das componentes iconográficas do percurso expositivo, apresenta-
se também o painel Virgem com o Menino e Anjos (1536-38), da autoria de Gregório Lopes, que acaba
de ser restaurado pelo Departamento de Conservação do MNAA.
Renascimento e Maneirismo - 97
Ascensão – c.1530
O primeiro documento que se conhece sobre o monge-pintor é aquele que diz que professa no
Convento do Espinheiro, em Évora, em Abril de 1517. “Eu Frei Carlos de Lisboa flamengo faço
profissão…” Em 1540, sabe-se que terá morrido, porque outro documento refere o destino a dar ao
espólio que estava na sua cela. Depois, várias crónicas falam-nos da sua fama como pintor.
Cf., por exemplo, Descobrimento do Brasil nos textos de 1500 a 1571 (O) , (org. José Manuel Garcia), Fundação Calouste
67
Renascimento e Maneirismo - 99
portuguesas, permitiram não só conhecer aquilo que era tido como exótico mas contribuir para o
desmitificar.
Aos poucos, foi desaparecendo a ideia do insólito, do invulgar e do estranho, mencionado e
imaginosamente descrito em vastíssima literatura, muita da qual foi estudada num interessante trabalho
da drª Adelina Amorim, integrado nas Actas do Congresso Condicionantes Culturais da Literatura de
Viagens.
De facto, na Idade Média, tanto em Portugal como no resto da Europa cristã, encontram-se
variadíssimos exemplos, designadamente na decoração arquitectónica das igrejas românicas. Em
Portugal, é sobretudo no Alto Minho que encontramos figuras não apenas estranhas, monstruosas ou
não identificáveis, como também cenas que a moralidade de hoje não aceitaria, sobretudo em
construções religiosas.
Para simplificar, pretenderia que ficasse registado um dado que, esse sim, é fundamental para
entender toda a arte europeia da época medieval até, pelo menos, ao iluminismo. As representações,
mesmo as não obviamente religiosas, decorrem de textos fundadores e não apenas da Bíblia, mas
também dos evangelhos apócrifos, das lendas de inspiração religiosa – que a igreja nunca renegou,
antes pelo contrário -, e das interpretações teológicas que os padres e doutores da Igreja foram
elaborando.
O caso concreto dos monstros e das figuras ditas amorais que se veem ainda hoje em algumas
igrejas românicas decorrem dos textos de Dinis Areopagita, um neoplatónico que viveu entre o século V
e o século VI. Inspirou-se Dinis Areopagita nos textos clássicos e em Santo Agostinho e a sua obra teve
grande influência e caloroso apoio quer no seu tempo, quer, séculos mais tarde (séc. XIII), em S.
Boaventura e, também, em S. Tomás de Aquino.
Recomendava ele, na sua Hierarquia celeste, o uso de símbolos dissemelhantes, quer dizer
semelhanças dissemelhantes, (...) de modo que o símbolo não permita qualquer identificação possível
entre o que é e o que significa. A extrema beleza pode assim ser manifestada pela extrema fealdade,
quer dizer, de maneira negativa. O carácter repelente dos símbolos mais «baixos» provoca
inevitavelmente uma dialéctica de anagogia, pois que o espírito, longe de se ligar a ela, é de algum
modo projectado para o seu contrário.
Não será, pois, de estranhar que, para além das representações hoje impensáveis e dos seres
monstruosos, venham a surgir, na mesma lógica das imagens fantásticas, os homens selvagens que,
como bem acentuou a drª Maria José Goulão, funcionaram como um mito, ocupando lugar destacado
no imaginário português como amostra de um «mundo às avessas», objecto de sentimentos antitéticos
de repulsa e de sedução68.
É por estas razões que surgem homens selvagens, como o do túmulo de D. Fernando de
Meneses, na Igreja de Santa Clara de Vila do Conde, datado de 1440, ou no túmulo de D. João de
Albuquerque, do Museu de Aveiro, datado de 1480, ou ainda no retábulo de talha do altar-mor da Sé de
Coimbra, de Olivier de Gand e Jean d’Ypres, os entalhadores flamengos que o concluíram em 1502.
A história do aparecimento das representações do índio do Brasil na arte portuguesa do
Renascimento, isto é, no tempo de D. Manuel e D. João III, não é, apenas, o reflexo de um registo
68
Maria José Goulão, “Do Mito do Homem Selvagem à descoberta do «Homem Novo»: a representação do negro e do índio
na escultura manuelina”, Portugal e Espanha entre a Europa e Além-Mar, Actas do IV Simpósio Luso-Espanhol de História
da Arte, Coimbra, 1988, pp. 321-345
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Conferência integrada no Colóquio Nuno Gonçalves. Novos documentos, Lisboa, IPM,1994. (inédito)
70
Dagoberto Markl e Fernando António Baptista Pereira, “O Renacimento”, História da Arte em Portugal, vol. 6, Lisboa, Alfa,
1986.
71
A Carta de Pero Vaz de Caminha. Auto do Nascimento do Brasil, Mar de Letras, Ericeira, 2000, p. 10
72
“Relação da viagem da frota comandada por Pedro Álvares Cabral”, O Descobrimento do Brasil nos textos de 1500 a
1571, (org. José Manuel Garcia), Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2000, p. 12-16
73
A Carta de Pero Vaz de Caminha. Auto do Nascimento do Brasil, Mar de Letras, Ericeira, 2000, pp. 175-176.
74
Idem, p. 178
O Inferno (pormenor), MNAA e Ars Moriendi – Temptatio Dyaboli de vana gloria, [fol. Bviii
recto], BNP, Res. Xyl. 21. Reproduzido de Alberto Tenenti, Alberto, La Vie et la Mort à travers l’art du
Xve siècle, Paris, Armand Colin, 1952.
Segundo os autores que têm escrito sobre esta pintura, desde o primeiro estudo do Dr. João
Couto, em 1944, até ao mais recente (1995), de Dagoberto Markl, passando, entre outros, por Flávio
Gonçalves, é unânime o reconhecimento da qualidade da pintura. Todavia, quanto ao seu significado e,
designadamente à interpretação que dele faz Dagoberto Markl, permitimo-nos apresentar algumas
propostas nem sempre coincidentes com este autor.
Defende Dagoberto Markl que os demónios com penas alegadamente de índio representados
na pintura correspondem à sua demonização. Diz este autor que o índio, primeiramente “ símbolo da
pureza e da inocência, dá lugar a seres diabólicos que torturam os pecadores com suplícios atrozes .
Atribui Dagoberto Markl esta alteração de sentido ao texto da carta de Américo Vespúcio a Lourenço de
Medicis, publicada em 1503 ou 1504 na qual se diz que os índios aos prisioneiros de guerra
conservam-nos para os matar e depois comer . Esta imagem não será original de Américo Vespúcio
De facto, muitos anos mais tarde, em 1558, no Atlas Universal de Diogo Homem essa
antropofagia está ilustrada com muita clareza. No entanto, as referências cartográficas anteriores, como
o Atlas Miller, de 1519, mostram-nos um índio trabalhador e cordato que, como escreveu Vaz de
Caminha, se enfeitavam de penas por «galantaria». Esta constatação não impede, no entanto, de fazer
meditar na imagem da xilogravura de autor desconhecido, datada de cerca de 1505, existente na
Bayerische Staatsbibliotek de Munique, onde as referências à antropofagia são bem evidentes
Julgamos que a ideia de demonização não deve ser tomada à letra. Nem mesmo que os
demónios da pintura O Inferno sejam índios. De facto, se compararmos algumas figuras dos demónios
com gravuras do incunábulo Ars Moriendi vamos encontrar aí o modelo das representações,
designadamente no «demónio-chefe» onde as penas são a «tradução» em pintura da imagem da
xilogravura.
«A ilha e o povo que foram descobertos pelo rei cristão de Portugal ou pelos seus súbditos» ,
xilogravura em que aparecem representados canibais brasileiros, c. 1505, Bayerische Staatsbibliothek,
Munique. (Publicada por Peter Burke, Eyewitnessing.The uses of image as Historical Evidence , Reak-
tion Books, Londres, 2001.)
Sem querer entrar em qualquer polémica quanto à datação da obra, cujo início tem sido
colocado em 1517, julgamos que este fólio, por razões que nos dispensamos de referir, entra pela
década de 20, se não mais tarde, a confirmar-se a afirmação, não provada, do Dr. José de Figueiredo,
que as moedas ali representadas foram cunhadas em 1538. Basta olhar-lhe para a iconografia, a Cruz
da Ordem de Cristo gravada numa das faces das moedas, para legitimar algumas interrogações.
Uma das mais recentes associações de imagens ao índio foi feita por Vítor Serrão. Trata-se da
identificação da figura do «bom ladrão» no Calvário da antiga capela do Santíssimo da Sé de Viseu,
obra, esta sim, documentalmente de Vasco Fernandes e datável de 1535-1540.
Para terminar, apenas um registo. Tem sido dada como representação de um índio, uma figura
pintada num dos frontispícios da Leitura Nova. O frontispício do livro Estremadura II, datado de 1527 e
assinado ALVARUS, o pintor régio Álvaro Pires, que identificámos como Mestre da Lourinhã.
Consideramos que esta proposta não deve ter seguimento, pois o modelo pode ser encontrado em
gravura do italiano Zoan Andrea, a exemplo do que sucede em muitos outros frontispícios da Leitura
Nova.
Bibliografia essencial
Carta da Pero Vaz de Caminha (A). Auto do Nascimento do Brasil , (pref. Joaquim Veríssimo Serrão),
Mar de Letras, Ericeira, 2000.
COUTO, João, “O Inferno. Painel português do século XVI”, Litoral, n.º 2, Lisboa, Julho 1944, pp. 179 –
184
Descobrimento do Brasil nos textos de 1500 a 1571 (O) , (org. José Manuel Garcia), Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2000, p. 12-16
GOULÃO, Maria José, “Do Mito do Homem Selvagem à descoberta do «Homem Novo»: a
representação do negro e do índio na escultura manuelina”, Portugal e Espanha entre a Europa e Além-
Mar, Actas do IV Simpósio Luso-Espanhol de História da Arte, Coimbra, 1988.
MARKL, Dagoberto, “Introdução ao estudo do «Inferno» do Museu Nacional de Arte Antiga”, Póvoa do
Varzim. Boletim Cultural, vol. XXVI nº 2, 1989, pp. 541 – 561.
MARKL, Dagoberto e PEREIRA, Fernando António Baptista, “O Renascimento”, História da Arte em
Portugal, vol. 6, Lisboa, Alfa, 1986.
NABERT, Nathalie (org.), Le Mal et le Diable. Leurs figures à la fin du Moyen Age , Paris, Beauchesne,
1996.
RUSSEL, Jeffrey Burton, Satan. The Early Christian Tradition, Cornell University Press, Ithaca e Lon-
dres, 1981.
TENENTI, Alberto, La Vie et la Mort à travers l’art du XVe siècle, Paris, Armand Colin, 1952
VELLENEUVE, Roland, Dictionnaire du Diable, Paris, Omnibus, 1998.
Bibliografia específica
BATORÉO, Manuel, 1999; CAETANO, Joaquim Oliveira, 1997
PEREIRA, F. A Baptista, 1996
REIS SANTOS, 1957; PEREIRA, Gabriel,1903
RACZYNSKI, Atanas, 1846; Revista Universal Lisbonense, 1854
TABORDA, Cunha, 1815
O retábulo do Museu de Évora é composto por 19 pinturas, divididas em duas séries: a primeira
compreende a Vida da Virgem e é constituída por 13 painéis, o maior dos quais com 269,5 cm por 157
cm; a segunda é composta pelos restantes 6, todos eles alusivos à Vida de Cristo. Ao centro da
primeira série está o maior, que representa a Virgem da Glória e é, curiosamente, o último da
sequência. É antecedido, por ordem, pelo Encontro na Porta Dourada, Nascimento da Virgem,
Apresentação da Virgem no Templo, Casamento da Virgem, Anunciação, Presépio, Adoração dos Reis