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FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO

LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA ARTE - 1 ° SEMESTRE / 2º ANO

Convento de Cristo em Tomar


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« Compêndio de arte, e compêndio de história »

SOB ORIENTAÇÃO DO PROFESSOR MANUEL JOAQUIM NO ÂMBITO DE


HISTÓRIA DA ARQUITETURA DA ÉPOCA MODERNA I

GRUPO 5

FRANCISCA BORGES, FRANCISCA FREITAS,

GONÇALO VALENTE, INÊS DELGADO

PORTO
2021
RESUMO

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O presente trabalho destina-se a apresentar o tema relativo ao Convento de Cristo, em


Tomar, devido ao seu grande valor no contexto artístico, histórico, social e religioso do nosso
país. Deste modo, iremos fazer uma análise formal minuciosa do mesmo, dividindo-o em
várias "peças" ao abordar aspetos como: a sua história e cronologia (devidamente organizada
nas imagens em anexo); as tamanhas proporções; a planta; o alçado; a riqueza ornamental; as
técnicas e os materiais empregues; a influência que teve para a arquitetura renascentista e
maneirista em Portugal; a sua função; simbologia; as metamorfoses que sofreu ao longo do
tempo, e, principalmente, a análise aprofundada da sua Charola, de maneira a transmitir e
promover a reflexão da relevância da arquitetura enquanto herança cultural. Com isto, o nosso
intuito é avaliar as linguagens aplicadas na sua construção, tanto plástica como iconográfica, e
a relação entre a imagem divina e o poder do nosso Reino.

Palavras-chave: Convento de Cristo. Cidade de Tomar. Charola Templária. Hibridez


das Formas Arquitetónicas. Ordem de Cristo e Ordem dos Templários. Reino de Portugal.
Monumento Nacional. Património Mundial (UNESCO). Metodologia Científica e Qualitativa.
Arquitetura Militar e Defensiva Portuguesa. Séculos XII-XVIII.

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SUMMARY

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The present work is intended to present the theme related to the Convent of Christ, in
Tomar, due to its great value in the artistic, historical, social and religious context of our
country. In this way, we will carry out a detailed formal analysis of it, dividing it into various
"pieces" by addressing aspects such as: its history and chronology (duly organized in the
attached images); the huge proportions; the plant; the elevation; ornamental wealth; the
techniques and the materials used; the influence it had on Renaissance and Mannerist
architecture in Portugal; its function; symbology; the metamorphoses that it underwent over
time, and, above all, the in-depth analysis of its Charola, in order to transmit and promote a
reflection on the relevance of architecture as a cultural heritage. With this, our aim is to
evaluate the languages ​applied in its construction, both plastic and iconographic, and the
relationship between the divine image and the power of our Kingdom.

Keywords: Convent of Christ. City of Tomar. Templar Charola. Hybridity of


Architectural Forms. Order of Christ and Order of the Templars. Kingdom of Portugal.
National Monument. World Heritage (UNESCO). Scientific and Qualitative Methodology.
Portuguese Military and Defensive Architecture. 12th-18th centuries.

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ÍNDICE

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1. Introdução ao Caso de Estudo……………………..….…..……………………........5

2. A Cidade de Tomar: Sete Séculos de História.............................................................6

3. Contexto Histórico-Artístico do Convento de Cristo em Tomar……….…......….......8

4. Análise do Convento de Cristo em Tomar: O Caráter Híbrido das Formas….…...….10

5. Da Rotunda à Charola Templária: Metamorfoses…………..…....….……………….18

6. Considerações Finais e Problemáticas……………………………..………..……..…27

7. Bibliografia e Webgrafia………………………………………………………….…..28

8. Apêndices: Ficha-Técnica do Património Arquitetónico……….…………………….29

9. Anexos:
9.1. Anexo 1- Quadro Cronológico das Principais intervenções na Charola: do último
quartel do séc. XX até à atualidade………………………..……………………….…31
92. Anexo 2- Esquemas Iconográficos da fachada sul da Igreja do Convento de Cristo
em Tomar……………………………………………..………………………………33
9.3. Anexo 3- Informações Gerais das Partes Estruturantes do Convento de Cristo em
Tomar……………………………………………………………………………..…..35

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INTRODUÇÃO AO CASO DE ESTUDO

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Este trabalho procura avaliar as linguagens aplicadas na construção do conjunto


arquitetónico do Convento de Cristo, inserido na urbanização da cidade de Tomar, com
especial foco na sua Charola Templária, e a sua relação com o pensamento de uma
determinada comunidade cristã, que tanto contribuiu para o seu processo construtivo e para a
sua preservação até os dias atuais. Neste caso, ele vai acompanhando as transformações
sociais, culturais, políticas e económicas que ocorrem desde o século XII e estendem-se até ao
século XVIII, com tendências estilísticas que nos dão informações valiosas para melhor o
entender e inseri-lo globalmente no seu contexto histórico-artístico.
Mostra-se aqui a metodologia adotada, que consiste, em primeira instância, numa
pesquisa pormenorizada sobre o contexto histórico de Tomar, com o intuito de melhor
compreender a cidade em si, na cronologia renascentista. Neste sentido, abordaremos a sua
organização territorial, tendo em conta a evolução na sua malha urbana, assim como os
motivos impulsionadores para a construção de um vasto conjunto de edifícios religiosos, no
qual se insere o Convento de Cristo, obra focal da nossa investigação. Acrescendo a esta
ideia, serão ainda exploradas figuras relevantes para o projeto.
Desta forma, o nosso objetivo passa por recolher informações sobre o mesmo, tal
como a organização da sua planta, o sistema estrutural do alçado, os materiais utilizados, as
técnicas construtivas e o seu encomendador. Acrescendo a estes aspetos, é necessário expor a
relação das suas partes constituintes com a venustas interior, de forma a demonstrar o seu
caráter híbrido, isto é, a confluência de várias tendências artísticas, entre outros inúmeros
aspetos, todos sintetizados na ficha-técnica, por nós criada, nos apêndices do trabalho. Assim
sendo, numa particular abordagem, achamos de maior pertinência o estudo da charola como
peça fundamental no campo arquitetónico e, como tal, iremos ter atenção à sua análise. Esta
escolha está intrinsecamente ligada ao nosso interesse pelas construções de cariz militar e
defensivo, o que torna Tomar uma cidade profundamente histórica e monumental, pela
perpetuação memorial da época da reconquista que esta acarreta. Continuando esta sequência
lógica, é do nosso interesse referir o impacto que a Ordem de Cristo teve no panorama local,
seguindo as diretrizes das balizas cronológicas e de que modo esta teve um papel
interveniente na sua edificação.
É igualmente importante salientar o nosso objetivo enquanto grupo, que é, nada mais,
nada menos, que refletir esta ideia da edificação do Convento de Cristo enquanto património
português e um poderoso meio de expressão e comunicação de mensagens, suscetível a

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mudanças e concebido a pensar na impressão que vai causar em nós, espectadores, com a sua
grandeza, complexidade e qualidade excecional que atrai o nosso olhar para a contemplarmos
de diversos ângulos.

A CIDADE DE TOMAR: SETE SÉCULOS DE HISTÓRIA

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A cidade de Tomar foi fundada pelos romanos na cidade de Sellium, organizada num
traçado octogonal atribuído ao Infante D. Henrique que decorre da perpendicularidade dos
característicos eixos cardus e decumanus, o que é bastante peculiar, dado que poucas cidades
medievais possuem uma planta regular. O local onde foi construído o Convento tem, por si só,
uma enorme carga mítica, uma vez que era um antigo local de culto dos Romanos, existindo
também vestígios da presença muçulmana.
A escolha de Tomar para sede da Ordem do Templo em Portugal, em alternativa a
Santarém, obedeceu a questões de estratégia militar na conjuntura da época. De facto, esta
zona constitui um território importante de convergência de três linhas defensivas naturais
proporcionadas pela bacia do Tejo, a sul, e pela bacia de Zêzere, a leste, bem como pela longa
diagonal do maciço central, que se estendia desde a Serra da Estrela até à zona de Tomar. As
serras que rodeiam o Zêzere, designadamente Alvelos, Muradal e Gardunha, na margem
esquerda, e Lousã, Açor e Estrela, na margem direita, formavam uma barreira natural que
apenas deixava como passagens mais fáceis a zona entre Tomar e o Tejo. Era, pois, uma zona
estratégica que permitia estender mais para sul a defesa do Baixo Mondego e garantir a
fluidez da faixa que ligava Lisboa ao Norte, quer pela via mais próxima do mar, ao longo da
qual os Templários detinham os castelos de Soure, Pombal e Ega, na margem esquerda do
Baixo Mondego, quer pela via mais interior, onde se encontravam os castelos de Tomar,
Ceras, Zêzere, Almourol e Cardiga, desenhando um anel defensivo, em meia-lua, ligando os
rios Tejo e Zêzere.
A origem do castelo de Tomar, ou Convento de Cristo que é o nome pelo qual
geralmente é conhecido o conjunto monumental, teve a sua fundação a 1 de Março de 1160
compreendendo a vila murada, o terreiro e a casa militar situada entre a casa do Mestre, a
Alcáçova, e o oratório dos cavaleiros. O território era atravessado a sul pelo rio Tomar, com

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um fértil vale limitado a poente por uma cadeia de colinas de relevo acentuado. Foi numa
dessas colinas, sobranceira ao rio, que o Mestre D. Gualdim Pais, fundou, em 1160, o castelo
e vila de Tomar, onde doou também a carta de foral em 1162. A sua fixação deveu-se ao
excelente clima, água abundante, fácil comunicação fluvial e excelentes solos. Os cavaleiros
templários chegaram a Portugal em 1128 de forma a auxiliar o recém criado reino na
reconquista dos territórios do sul aos mouros. Em 1159, irão receber de D. Afonso Henriques,
pela sua participação nas conquistas de Santarém e de Lisboa em 1147, um vasto território
situado a meia distância entre Coimbra e Santarém, o Termo de Ceras. Nesta região fundaram
o Castelo e Vila de Tomar. Foi com a sua chegada que o território verificou a primeira grande
transformação na sua paisagem, com a construção do Castelo no cimo do monte. Ladeada de
dois vales bem definidos, o monumento situa-se mais alto e de declive mais acentuado,
estrategicamente é o mais bem situado, uma vez que se encontra ladeado de dois vales – norte
e sul –, de uma planície – a nascente – e de um estreito canal que liga este morro à restante
cadeia montanhosa do qual irrompe. Também a maneira como o Castelo vê a paisagem e
como é visto a grande distância, foram fatores decisivos na escolha do local.
Em 1312, no seguimento das perseguições contra os Templários perpetradas por Filipe
IV, rei de França, a Ordem foi extinta, pelo papa Clemente V. Porém, graças á vontade de D.
Dinis que lograva em manter as pessoas, os bens os cavaleiros e os bens dos Templários, sob
o nome de uma nova ordem de cavalaria, circunscrita apenas ao seu Reino, «Cavaleiros da
Ordem de Cristo», responsável por expulsar os mulçumanos da Europa. Por sua vez, esta
ordem com a ajuda do Infante D. Henrique, apoiam a nação portuguesa na empresa das
descobertas marítimas dos séculos XV e XVI. A sua regência foi sediada primeiramente em
Castro Marim, no sudeste do Algarve, em 1319 mas em 1356 regressou a Tomar. O Castelo de
Tomar é então Convento e sede da Ordem e o Infante Navegador seu Governador e
Administrador perpétuo nomeado a 25 de maio de 1420. O Infante Dom Henrique foi o
primeiro, depois de Gualdim Pais, a renovar todo o complexo, numa construção que se
prolongou durante 44 anos.
A partir de 1531, com a reforma da Ordem de Cristo, por D. João III, vai ser
construído o grandioso convento do renascimento, contra o flanco poente do castelo, e
rodeando a Nave Manuelina. Durante o reinado de D.Manuel I, o Convento tomou a sua
forma final, com predomínio do novo estilo Manuelino. Com a crescente importância da

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cidade enquanto mestre do novo império comercial português, o próprio Rei pediu e recebeu
do Papa o título de Mestre da Ordem. Em simultâneo, e pela mão de D. Manuel, a vila de
baixo reajusta-se, redefine-se e especializa- -se, transformando-se na única Tomar.
A administração, a indústria, o comércio e o lazer começam a reconhecer o seu lugar
na nova Vila, em consequeência das novas regras urbanísticas que traçavam e regulavam
alinhamentos e cérceas, ao mesmo tempo que redefiniam o espaço público segundo princípios
cénicos, assistindo-se assim ao funcionamento da dupla urbanidade no interior da vila
amuralhada. A tomada de consciência de que as vilas de Tomar foram fundadas pela Ordem
do Templo e se tornaram pertenças da Ordem de Cristo, permitiu reconhecer a importância
deste território como elemento passível de ser instrumentalizado.

CONTEXTO HISTÓRICO-ARTÍSTICO DO CONVENTO DE CRISTO


EM TOMAR

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Para podermos compreender o Convento de Cristo em Tomar, é necessário estudar o


seu passado e abordar os seus criadores, a lendária Ordem do templo. Esta foi criada em
Jerusalém, a cerca de 1118, no contexto da primeira cruzada, com a função de proteger os
peregrinos que se destinavam aos lugares santos na Palestina, com a inspiração do seu patrono
Bernardo de Claraval, abade francês que teve grande importância no território português (o
Mosteiro de Alcobaça faz parte deste legado Bernardino). Para além disto, os Templários
criaram um sistema de cédulas que permitia os peregrinos “levantar” os seus fundos em outras
bases, a génese da banca e, eventualmente, a sua ruína, porque, com o crescer do seu
tremendo poder monetário, a Ordem começou a fazer empréstimos, como foi aconteceu com
Filipe, o Belo, que, profundamente endividado, conseguiu fazer com que o papa Clemente V
extinguisse a ordem.

Muitos foram executados e torturados, e foi portanto, neste contexto de fuga, que o
que restava da Ordem do Templo tomou refúgio em Portugal, associando-se claramente à
independência do reino português, também ela defendida por Claraval. Mas é importante
notar que já antes deste êxodo os templários tiveram um importantíssimo papel na reconquista
da Península Ibérica do domínio Mouro, ao tomaram base primeiramente no castelo de Soure,

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e, com o puxar das linhas defensivas e a expansão do território cristão, surgiu a necessidade
de assegurar estas novas fronteiras, especialmente o rio Tejo, uma importante artéria fluvial,
sendo que é neste contexto que se erguem os castelos de Pombal, Almourol e Tomar, estando
este último em posição avançada sobre a linha de fronteira que era então desenhada pelo rio
Tejo, sendo definido por uma cintura de muralhas e dividido em três espaços. Na parte sul
situava-se o recinto da vila e, na parte mais elevada da colina, a norte, foi estabelecida a casa
militar dos Templários, ladeada pela casa do Mestre (a Alcáçova, em ruínas), com a sua torre
de menagem e, a poente, o oratório dos cavaleiros (a Charola).
Salientando a figura de Gualdim Pais, o Grão Mestre da Ordem do Templo em
Portugal, este ajudou D. Afonso Henriques, o fundador de Portugal, nas inúmeras batalhas
travadas durante a Reconquista, o que o levou, como forma de agradecimento, a doar aos
cavaleiros templários, em 1160, as terras de Tomar. Além disso, Gualdim Pais trouxe para este
novo reino a tecnologia de ponta da arquitetura militar do séc. XII, importando todo o
conhecimento da Terra Santa, como uma Torre de Menagem maior e isolada da alcáçova e um
alambor de grande expressão e monumentalidade em Tomar. No século XII ainda não havia
todo este complexo que vemos atualmente. Havia, na verdade, a alcáçova, a cinta amuralhada
em torno da vila superior, e a famosa charola. Esta aliança tácita, formada inicialmente entre a
Ordem e D. Afonso Henriques, havia de prolongar-se pela primeira dinastia e na segunda já
teria outro nome (devido à sua perseguição) a Ordem de Cristo, com D. Dinis I em 1319 com
a bula pontifícia Ad ea ex quibus cultus augeatur do Papa João XXII.
Foi precisamente nesta época que os Templários introduziram em Portugal um
conjunto de inovações no âmbito da arquitetura de guerra, sendo que foram os mesmos quem
introduziu a Torre de Menagem na arquitetura militar portuguesa, bem como as muralhas de
alambor e, provavelmente, o hurdício. O alambor era um embasamento de pedra, inclinado,
que se destinava a dificultar os trabalhos de aproximação dos assaltantes, sobretudo para
minagem e para escalada de muros, além de eliminar os ângulos mortos junto à muralha.
Os Templários construíram este tipo de estrutura defensiva em Tomar ao longo de todo
o perímetro exterior da fortaleza e na cintura intramuros do Castelo, e também o fizeram em
certas estruturas dos castelos de Soure e Pombal. Não por acaso, foi nestes castelos que se
construíram as primeiras Torres de Menagem portuguesas. É possível que o recurso a este
elemento da arquitetura militar seja uma influência das fortalezas dos cruzados na Terra
Santa. O primeiro exemplo de um hurdício em Portugal encontra-se na Torre de Menagem do
castelo templário de Longroiva, edificada em 1174, sendo possível que também tenha sido
empregue em Tomar. Esta estrutura, relativamente simples, mas inovadora, consistia numa

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pequena galeria de madeira rematando o perímetro de torres e muralhas pelo exterior, com
aberturas no pavimento que permitiam o lançamento do tiro vertical sobre a base de muros em
caso de aproximação.
Do que fica exposto tiram-se duas conclusões. Em primeiro lugar, a arquitetura militar
românica da Ordem do Templo é claramente inovadora, sendo responsável pela introdução de
diversas soluções inéditas em Portugal, como o alambor ou a Torre de Menagem. Em segundo
lugar, a intensidade da atividade construtiva dos Templários ao nível da arquitetura militar é
verdadeiramente notável, sobretudo durante o mestrado de Gualdim Pais, testemunhando uma
invulgar capacidade de realização. Destas conclusões decorre o óbvio: não há justificação
para se dilatar excessivamente o período de construção da Rotunda, nem para se pensar numa
cronologia muito posterior à da execução das muralhas e do Castelo de Tomar (1160-69). No
entanto, existem alguns indícios contrários que obrigam à problematização destes dados,
designadamente no que se refere à data de início das obras na Rotunda.

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Vista aérea do Convento de Cristo, Tomar, Portugal. 1101/1699. DGPC/ADF Luís Pavão Fonte da Imagem
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ANÁLISE DO CONVENTO DE CRISTO EM TOMAR: O CARÁTER


HÍBRIDO DAS FORMAS

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O Convento de Cristo trata-se de um dos mais importantes conjuntos monumentais


existentes em território português, repleto de edificações históricas, destacando-se, entre elas,
a Charola, o Castelo, os sete claustros quatrocentistas, a igreja manuelina adjacente, o
convento renascentista, a Ermida de Nossa Senhora da Conceição e o Aqueduto conventual
dos Pegões, confinando, ainda, com a antiga cerca – a Mata dos Sete Montes -, espaço de
grande valor natural e paisagístico, situado na freguesia de São João Batista, na cidade de
Tomar. Começou a ser construído em 1160, como já referimos anteriormente, sob a Ordem
dos Templários, onde tinha a sua sede portuguesa, e, mais tarde, pela herdeira Ordem de
Cristo, prolongando-se até ao final do século XVII, o que levou à sua expansão e
reconfiguração ao longo de centenas de anos, com a ajuda de alguns dos mais importantes
mestres e arquitetos medievos, os quais iremos abordar mais abaixo. Assim sendo, a sua atual
arquitetura reflete as diferentes tipologias dos períodos que foi acompanhando durante a sua
construção, apresentando, por isso, características estilísticas tipicamente românicas, góticas,
manuelinas, renascentistas e maneiristas, o que resultou no seu aspeto híbrido.

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Charola e Castelo Templários do Convento de Cristo, Tomar, Portugal, sécs. XII-XIII. Fonte da Imagem

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Ao Convento de Cristo estão estreitamente ligadas figuras notáveis da história
portuguesa. Desde logo o mestre Templário Gualdim Pais, verdadeiro fundador da cidade de
Tomar; o Infante D. Henrique, responsável por uma importante fase de reconversão e
expansão do convento; D. Manuel I, que mandou erigir a igreja quinhentista, verdadeiro Ex
libris do estilo manuelino; D. João III, que implementou uma radical refundação da Ordem de
Cristo e do próprio convento, ali projetando as suas preferências arquitetónicas e, por fim,
Filipe II de Espanha, que prolongou o programa construtivo do reinado de D. João III e aí
realizou as cortes que o reconheceram como rei de Portugal. Fundado o convento, este
tornou-se a sede da ordem do templo em Portugal, que, ao tornar-se demasiado poderosa, foi
extinta em 1312 pelo papa Clemente V, no entanto, em Portugal não convinha a extinção e,
portanto, D. Dinis fundou a Ordem de Cristo, para a qual transferiu o rico património dos
templários.

Neste sentido, o Convento de Cristo encontra-se classificado como Monumento


Nacional (1910) e como Património Mundial (1983). A classificação da UNESCO como
Património Mundial baseou-se em dois critérios: por um lado, representa uma realização
artística de exceção no que toca ao templo primitivo e às edificações quinhentistas; por outro
lado, está associado a ideias e acontecimentos de significado universal, tendo sido concebido
na sua origem como um monumento simbólico da reconquista e tornando-se, no período
manuelino, num símbolo inverso, o da abertura de Portugal às civilizações exteriores.

No ano de 1420, o Infante D. Henrique tornou-se grão mestre da nova ordem, cuja
riqueza aproveitou para financiar os descobrimentos portugueses. Entre o castelo e a charola
construiu um paço onde residiu por largas temporadas, acrescentando dois claustros ao
convento. Adossado à charola foi construído o novo corpo da igreja encomendado por D.
Manuel a Diogo de Arruda em 1510 no contexto da forte afirmação do poder régio e da
renovação do gosto. A famosa janela da fachada ocidental em particular, concebida como um
«inflamado poema de pedra», inscreve-se num vasto paramento (cingido de botaréus e
animado com esculturas dos quatro «reis de armas» do reino), revelando o programa de
ornamento de fauna e flora terrestre e de ecos da aventura das Descobertas emblemáticos do
estilo manuelino, representando a exaltação do desígnio imperial de D. Manuel, o rei que se
arrogava governar os homens por escolha providencial de Deus. Por sua vez, o piso inferior
da igreja servia de sala do capítulo dos monges do convento, enquanto o piso superior, onde
se situa o coro alto, foi terminado em 1515 pela construção da abóbada por João de Castilho.

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A Janela Manuelina da Sala do Capítulo, Convento de Cristo, Tomar, séc. XIV Fonte da Imagem

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A abóbada nervurada, de um só voo, que cobre a igreja, confere unidade ao espaço e


potencia a iluminação interior, proveniente de quatro janelas (duas a sul e duas a norte), e de
um óculo circular na fachada oeste. A abóbada encontra-se dividida em três panos,
apoiando-se em oito mísulas com decoração vegetalista e figurativa. Entre a igreja/coro e a
charola foi aberto um amplo arco quebrado que assegura um eficaz entrosamento entre os dois
espaços. Por último, foi construído um portal-retábulo de acesso ao templo onde João de
Castilho ensaiou um sistema modular que iria utilizar de novo no portal sul do Mosteiro dos
Jerónimos.
D. Manuel construiu ainda a casa do capítulo para as reuniões dos cavaleiros da
Ordem de Cristo em Portugal, sendo que esta não chegou a ter cobertura e, quando aqui se
realizaram as cortes que acalmaram Filipe II de Espanha como rei de Portugal, foi coberta
com velas e navios. Em 1529 D. João III determinou uma grande reforma da Ordem de Cristo
que perdeu a vocação militar, regressando à pureza espiritual original. O convento ganhou
então uma dimensão grandiosa: um enorme corpo conventual com quatro grandes claustros
foi construído por João de Castilho.

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Deste modo, mais ainda do que D. Manuel, D. João III irá centrar em Tomar muitas
das suas iniciativas, em consonância com o desejo de tornar essa cidade numa espécie de
«capital espiritual» do reino, onde desejaria ser sepultado. Por esse mesmo motivo, a partir de
1529 ordena uma profunda reforma da Ordem de Cristo e a construção de um novo espaço
conventual, cujo processo é liderado por Frei António de Lisboa, notável humanista que
implementa uma mudança global na instituição, transformando a Ordem numa estrita ordem
de clausura (inspirada na Regra de São Bento) e promovendo a construção de um convento de
grande escala. Será João de Castilho, o mais reputado arquiteto/mestre-de-obras da época, a
assumir a responsabilidade da obra (c. 1532-1552), seguindo-se Diogo de Torralva (depois de
1554). As novas edificações irão surgir a poente do castelo e da Nave manuelina, de acordo
com um sóbrio estilo classicista que contrasta com o caráter hiper-decorativo do manuelino.

Esta arquitetura invulgarmente versátil, introduziu a nova linguagem do renascimento


e uma organização racional dos espaços. Os dormitórios de dois andares formavam uma cruz
entre os claustros e as quarenta celas eram aquecidas por um engenhoso sistema de ar quente.
Já no cruzamento dos corredores ficou o cruzeiro, cuja decoração Castilho mais se aproxima
de modelos clássicos. Os caixotões da abóbada apresentam variações sobre o tema do
desconcerto do mundo.

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Planta do Convento de Cristo em Tomar e respetiva legenda.

Os Claustros Quatrocentistas e outras ampliações Fonte da Imagem

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O refeitório é uma longa sala com abóbada de canhão, assente numa cornija contínua e
com caixotões delimitados por nervuras em pedraria, de secção quadrangular e configuração
clássica, e dois púlpitos localizados frente a frente nas paredes mais longas, de modo a exibir
motivos simbólicos renascentistas, onde eram feitas as leituras sagradas durante as refeições.
A separação dos vários aspetos da vida conventual (estudo, hospedagem, administração,
caridade, etc), refletia-se igualmente na distribuição dos espaços organizados em torno de
cada claustro.
O piso superior do Claustro de Hospedaria destinava-se a acolher os visitantes do
convento e peregrinos e apresenta, por isso, um aspeto nobre. No piso térreo, situavam-se os
aposentos da criadagem e as cavalariças. Preserva traços idênticos ao que deverá ter sido o
Claustro Grande inicial, castilhiano, permitindo imaginar em traços gerais o que terá sido essa

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construção perdida. Contrafortes de secção quadrangular, a toda a altura do claustro, ritmam
os seus alçados. Cobertas por abóbadas de nervuras, as galerias do piso térreo são constituídas
por quatro tramos, com dupla arcada de volta perfeita assente em colunas com amplos
capitéis; o primeiro piso é coberto por travejamento de madeira com caixotões, sendo
formado por uma arquitrave assente, ao centro, numa coluna jónica; o lado oeste do claustro
dispõe de um piso adicional, solucionado de forma idêntica ao primeiro piso. O equilíbrio
formal deste claustro foi seriamente perturbado pela posterior demolição, a sul, da galeria do
primeiro piso (por razões idênticas às que ditaram a amputação do Claustro de Santa Bárbara),
e pela construção, a norte, do deselegante corpo da chamada Portaria Nova, que distorce o
equilíbrio dessa fachada. Relativamente à livraria e ao scriptorium, estes abriam-se para os
Claustros dos Corvos, tratando-se de uma zona do convento consagrada ao recolhimento, à
leitura, ao estudo e à oração dos monges.
Por conseguinte, os Claustros dos Corvos e da Micha organizam-se de forma
basicamente semelhante ao da Hospedaria, embora apresentem uma escala menos ampla e um
nível de acabamento mais simples, visto tratar-se de áreas funcionais diversas, destinadas ao
noviciado e à assistência. Por sua vez, o claustro principal de grande aparato, desenhado por
Diogo de Torralva, é uma obra-prima do renascimento mundial inspirada nos modelos da
arquitetura italiana, tendo a particularidade de se sobrepor ao claustro original de João de
Castilho, de forma a refletir uma inflexão de gosto, passando-se do primeiro renascimento
castilhiano para um classicismo mais sofisticado. O resultado é um corpo de galerias e uma
grande transparência, solução inédita na península ibérica, em que os jogos de luz e sombra
das superfícies acentuam a expressão solene e a grandiosidade de escala.
A Capela dos Reis Magos, de recorte quadrangular, destinava-se ao oratório dos
noviços que se preparavam para confessar, sendo que inspirou a Ermida de Nossa Senhora da
Conceição, próxima do convento, que terá sido (segundo proposta do historiador Rafael
Moreira), concebida como igreja-mausoléu para D. João III e os seus familiares (esse desejo
testamentário do rei não seria, no entanto, cumprido pelos seus sucessores). Iniciada por
Castilho, e terminada por Torralva, é outra obra notável do renascimento, revelando uma
requintada decoração que compõe um dos mais belos interiores da arquitetura portuguesa,
sendo que a sua configuração interior é em tudo idêntica à da Capela do Noviciado, embora
neste caso totalmente em pedra. A sua intrigante perfeição, especialmente no interior, é de
uma harmonia ímpar na arquitetura portuguesa e peninsular, fazendo dela um verdadeiro
exemplo da linguagem renascentista. A monumentalidade e a escala têm aqui um papel
decisivo através da cuidadosa proporção dos vãos e dos elementos portantes. O resultado é um

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corpo de galerias de uma transparência diáfana, de uma suave luminosidade, reverberada pela
pedra branda de cor quente; os valores de luz e sombra são acentuados pelo jogo de
cromatismo das superfícies, que empregam maioritariamente o calcário amarelo, em contraste
com o mármore negro dos planos reentrantes.
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Claustro da Hospedaria (fachadas oeste e norte) feito por João de Castilho e Claustro de D. João III executado
por Diogo de Torralva

Claustro dos Corvos e Claustro da Micha, João de Castilho

Convento de Cristo, Tomar, Portugal, sécs. XV-XVI. Fonte das Imagens


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A dinastia filipina prosseguiu as obras do convento e construiu a sacristia nova. Deste


período data, também, a Capela dos Portocarreiros. Com o desenho do engenheiro italiano
Filipe Terzi, o Aqueduto dos Pegões, construído para abastecer o convento, foi terminado em
1619 para a visita de Filipe III de Espanha. Trata-se de uma obra de engenharia hidráulica de
grande escala com cerca de seis quilómetros de extensão, dispondo de um total de 180 arcos

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para as passagens aéreas da conduta, terminando com uma fiada de grandes arcos adossados à
fachada sul do convento. Após a Restauração da Independência, D. Pedro II ordenou a
construção do corpo do hospital, num estilo despojado e simples, tendo sido o derradeiro
acrescento ao conjunto monástico. A Mata dos Sete Montes forma a cerca conventual e
estende-se por trinta e nove hectares murados. Além da sua mítica ligação aos templários, o
Convento de Cristo mantém ainda hoje a integridade do espaço conventual e o encanto de
uma envolvente paisagística singular.

DA ROTUNDA À CHAROLA TEMPLÁRIA: METAMORFOSES

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A Rotunda de Tomar é uma construção singular e o símbolo máximo das cruzadas


templárias, que se estendiam do mundo oriental ao mundo ocidental, e da defesa da fé católica
no mundo medieval. A planimetria centralizada, a volumetria prismática, a robustez e a
magnitude deste edifício não têm paralelo na arquitetura portuguesa do período românico. A
sua idiossincrasia confere-lhe uma dimensão emblemática e retórica muito forte, sabiamente
explorada nas diversas funcionalidades que desempenhou ao longo da história.
Em Portugal, a arte românica atingiu um dos seus picos com a construção da igreja do
Convento de Cristo, em Tomar, sendo a Charola Templária uma obra de arte total do período
manuelino. Analisa-se o modo como no período manuelino se procedeu à aplicação e
combinação de diferentes artes na estrutura românica da antiga Rotunda Templária de Tomar,
dedicada a São Tomás de Cantuária, especificamente a pintura mural, os guadamecis, os
vitrais, a talha dourada, a escultura em madeira, as aplicações em cera, a pintura de cavalete,
os estuques, e, também, a paramentaria e a ourivesaria. Da concatenação destas artes criou-se
uma obra de arte total manuelina, antecipando soluções que viriam a ser seguidas nas igrejas
barrocas em Portugal e no mundo português. No final esperamos ter mostrado como esta
concatenação artística permitia criar um poderoso efeito sensorial sobre as pessoas que
participavam nas principais celebrações litúrgicas realizadas na Charola e no seu Coro, com
eventuais implicações sinestésicas e anagógicas. O despoletar destas sensações, e estados de
alma, tinha o seu catalisador na faustosa componente performativa decorrente da celebração
dos principais rituais aqui realizados, nomeadamente aqueles que contavam com a presença
do rei, conferindo, por essa via, pleno sentido ao programa iconográfico da Charola, que
pretende demonstrar a verdade da Encarnação, Morte e Ressurreição do Messias.

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Decoração em estuque e aplicação de policromia nos elementos ornamentais. Técnica do Trompe-l'oeil presente
no Convento de Cristo, Tomar, sécs. XV-XVI. Fonte da Imagem, Foto de Vitor Oliveira, 29 de Janeiro de 2017.
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Focando a nossa especial atenção na Charola Templária do Convento de Cristo,


primitiva igreja construída “em memória da morte e ressurreição de Jesus Cristo”, esta era o
oratório privativo (com prováveis funções sepulcrais) dos Cavaleiros no interior da fortaleza,
por onde os monges-cavaleiros andavam à volta em oração. Acredita-se que teve como
modelo de inspiração a basílica paleocristã que o imperador Constantino construiu sobre o
Santo Sepulcro, em Jerusalém (que terá sido o primeiro exemplo de basílica-martyrium
construído na Terra Santa), que associa à imagem da Cúpula do Rochedo (a mesquita de
Kubbat-al-Sakhara, 688-691) que era então identificada com o Templo de Salomão, sobre
cujas ruínas assentava. A sua tipologia é comum das igrejas bizantinas, sendo um dos poucos
exemplares emblemáticos de um templo em rotunda da Europa medieval, cuja construção foi
realizada em duas etapas: a inicial decorreu na segunda metade do século XII (c. 1160-1190),

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num tempo dominado pelo românico (seria interrompida devido a graves escaramuças com os
almóadas); a segunda, de finalização do templo, cerca de quatro décadas mais tarde (c.
1230-1250), já em fase de plena afirmação da linguagem gótica em Portugal, sendo que o
resultado é uma obra que cruza elementos de ambos os estilos. A estrutura fortificada revela
soluções inéditas importadas do médio oriente, como a base da muralha inclinada, designada
alambor como já referimos anteriormente, e a torre de menagem, uma das primeiras a ser
construída em solo português. Com a forma invulgar de rotunda, a charola era a igreja do
convento, sendo que as muralhas envolviam a almedina, antiga povoação arabe que foi
transferida para o exterior no século XVI, por ordem de D. Manuel.

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Planta da Rotunda ou Charola Templária, Planta do Templo de Salomão e algumas de suas

Convento de Cristo, Tomar, sécs. XII-XIII linhas de construção que podem ter servido de

Fonte da Imagem inspiração para a arquitectura dos Templários

Fonte da Imagem
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Neste sentido, a planta da Charola desenvolve-se em torno de um espaço central,


octogonal, que se desdobra em dezasseis faces no paramento exterior do deambulatório,
encerrando deste modo a volumetria do edifício. O interior do tambor central é coberto por
uma cúpula assente em nervuras cruzadas, de grande verticalidade, e o deambulatório por
abóbada de canhão suportada por arcos torais de volta perfeita. Encimado por merlões
chanfrados, o exterior da Charola é marcado pela torre sineira e, a sul, por pesados
contrafortes, idênticos aos que na origem envolviam toda a construção, estabelecendo-se um

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claro contraste entre a arquitetura fortemente militarizada do exterior – sóbrio e destituído de
qualquer ornamento – e o elegante interior. A edificação seria alvo de adaptações ao longo
dos tempos, nomeadamente a nível do acesso, que de início se localizava a nascente e que
passaria, no reinado de D. Manuel I, a realizar-se a poente, através de um arco triunfal (de
João de Castilho) de comunicação com a nova igreja manuelina, numa alteração formal e
funcional que transformou a Charola na capela-mor do novo templo.
A valorização litúrgica foi então efetivada através de uma intervenção abrangente e
multifacetada que incluiu um exuberante programa decorativo que incluiu a adição de
decoração em estuque, a aplicação de policromia a diversos elementos ornamentais, o
douramento das nervuras, a execução parietal de pintura a têmpera, a talha, as esculturas,
entre outros aspetos. Fernão Anes foi responsável por pinturas murais no tambor central com
representações dos instrumentos da Paixão de Cristo; a cúpula da charola (que poderá ter sido
então reconstruída, na sequência da queda de um raio que, em 1509, destruiu a lanterna e o
coruchéu da charola), recebeu decoração em estuque; a oficina do pintor régio Jorge Afonso
produziu um conjunto de tábuas de grande dimensão com episódios da Vida e Paixão de
Cristo, que foram integrados na face exterior do deambulatório; Olivier de Gand, assistido por
Fernão de Muñoz, criou imagens esculpidas em madeira que foram instaladas sobre mísulas.
O programa decorativo haveria de prosseguir ao longo do século XVI com a integração de
obras de Gregório Lopes ou com as intervenções dos pintores maneiristas Simão de Abreu e
Domingos Serrão.
Toda a zona do Arco Triunfal é uma intervenção posterior à construção da Charola. O
friso apresenta uma tentativa de colocação de folha de ouro por cima de uma outra camada, o
que lhe conferia um tom acastanhado. Ao intervencionar essa zona, os restauradores não
voltaram a usar folha de ouro, apenas cobriram as lacunas com pintura. A intervenção
centrou-se em restabelecer a unidade e leitura estética da composição, através da reintegração
e tratamento cromático das lacunas da pintura. Relativamente aos tramos intervencionados na
primeira campanha, era o 16 que apresentava uma pintura mural em pior estado.
As pinturas murais existentes na Charola do Convento de Cristo constituem
exemplares únicos e excecionais em contexto nacional pela sua monumentalidade e técnica
pictórica e o presente estudo dos seis anjos do octógono reforça precisamente esta convicção.
Por se tratar de pinturas murais a seco executadas diretamente sobre a alvenaria de rocha
calcária aparelhada demonstra uma mestria pouco usual para uma época em que a técnica
mural predominante era por excelência a do fresco. A utilização de camadas de imprimaduras
cinzentas, a presença extensiva de laca de garança, de pigmentos de chumbo e da técnica de

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base oleosa sugerem que os pintores eram versados em pintura de cavalete, tendo transposto
com sucesso o procedimento e os materiais de pintura correntes nesta técnica para as paredes
do octógono. Particularmente relevante nos resultados obtidos é também o facto de estarem
em concordância com os resultados obtidos para as pinturas sobre madeira do deambulatório,
reforçando a noção de uma obra total avançada recentemente pela historiografia de arte.

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Programa Decorativo no Interior da Charola Templária, Convento de Cristo, Tomar. Sécs. XV-XVI

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Fonte da Primeira Imagem - Autor Desconhecido, Fonte da Segunda Imagem - Foto de Paulo Pereira
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A nossa atenção concentra-se na grande intervenção manuelina neste edifício,


implementada entre c.1505 e c.1525, que transformou a Rotunda num grande deambulatório
de uma igreja com um eixo longitudinal. Nesta campanha de obras não ficou por
intervencionar um centímetro quadrado da estrutura românica. No primeiro registo da parede
exterior do deambulatório foram introduzidos novos altares. No segundo registo as paredes
foram cobertas com pinturas sobre madeira, com 4 metros de altura, com cenas da Vida
Pública e da Paixão de Cristo, enquadradas por motivos mudéjares e renascentistas em pintura
mural. No terceiro registo, as paredes foram pintadas diretamente com cenas do ciclo da
Infância e da Paixão de Cristo. As janelas, por sua vez, foram cobertas com vitrais que, em
parte, replicam motivos que encontramos na pintura mural e na escultura arquitetónica das
fachadas exteriores, nomeadamente os troncos podados e a heráldica manuelina. Finalmente,
a abóbada de canhão do deambulatório foi preenchida por pintura a fresco em trompe l’oeil,
com motivos arquitetónicos (nervuras, molduras, mísulas e capitéis), o que dá a ilusão visual
do espaço ser ainda mais amplo e as pinturas irem além dos contornos parietais. Também
foram representadas cordas entrelaçadas, troncos, animais, nervuras tardo-góticas, motivos
heráldicos e figuras alegóricas, contra um fundo vermelho ou verde, enquanto os toros dos
arcos de sustentação da abóbada aparentam ter sido revestidos com guadamecis dourados,
tornando este interior bastante dinâmico.
O capialço em redor das janelas, dotadas de vitrais, foi coberto com painéis e
emolduramentos em estuque possivelmente feitos por artistas muçulmanos, ainda que alguns
motivos sejam claramente renascentistas, como os putti e as grinaldas. Os ângulos formados
por arcos românicos, os capitéis românicos e outros elementos da mesma época também
foram cobertos com elementos em estuque, apresentando motivos tardo-góticos e
renascentistas. As colunas foram pintadas e serviram de fundo para estátuas em tamanho
natural representando Profetas, feitas pelas oficinas de Olivier de Gand e Fernão Muñoz.
Estas estátuas eram enquadradas por mísulas e baldaquinos em talha dourada. O fundo destas
esculturas e as paredes em torno das colunas foi coberto com guadamecis, ou seja, com seções
de couro lavrado, dourado e pintado, a maior parte dos quais preenchidos com elementos
heráldicos alusivos ao rei D. Manuel.
No interior existe maior diversidade. Desde logo, a aplicação de guadamecis nas
paredes e arcos com heráldica do rei D. Manuel, com a esfera armilar. Segue-se também a

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presença de catorze esculturas de madeira, à escala natural, com figuras da Igreja e do Novo
Testamento distribuídas ao longo das colunas. E claro, as esplendorosas aplicações em talha
dourada para os baldaquinos, mísulas, nervuras, pendentes, pedras de fecho, que têm todas as
semelhanças com o retábulo-mor da Sé de Coimbra. Todas estas intervenções na antiga
Rotunda foram acompanhadas pela construção de uma nova ala na parte ocidental da igreja,
dando um corpo rectangular ao edifício com dois pisos: um semi-enterrado, onde funcionava
a sala do capítulo, e outro superior, onde se instalou um coro alto. Esta ampliação da igreja era
necessária para acomodar o coro da igreja, dando seguimento a uma expansão menor
realizada no período do Infante D. Henrique, menos grandiosa. O novo volume, portanto,
estava dotado de um coro-alto com um imponente cadeiral, a respeito do qual podemos ter
uma ideia aproximada olhando para o cadeiral da Catedral do Funchal. Infelizmente este
cadeiral foi destruído durante as Invasões Francesas e tudo o que sobrou dele foram alguns
registos gráficos. A nudez desta parte do edifício hoje em dia, na sua limpidez, é uma pobre e
triste imagem daquilo que foi um interior feérico, pejado de personagens do cristianismo, uma
vez que os espaldares das cadeiras tinham a escultura de um santo à escala natural.

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Vista para a Charola Templária do Convento de Cristo, Tomar, Portugal, sécs. XII-XIII.
Foto de Márcio, 9 de setembro de 2013 Fonte da Imagem
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É através da recriação das curvas de nível do local antes das terraplanagens e da


construção do Convento de Cristo, é-nos possível perceber que existia uma grande depressão
abaixo da Charola Templária, onde se situava o Arrabalde de S. Martinho. Para além disto,
imediatamente atrás do Pátio dos Carrascos, lado poente dos Claustros da Micha e dos
Corvos, o morro sofre uma subida de cerca de 20 metros que torna praticamente impercetível
algum vestígio do Castelo e Convento, quando visto de zonas mais baixas que esta. Contudo,
tal não justifica que não haja visibilidade na direção oeste a partir do Castelo, ainda mais com
a colocação da Charola neste lado da fortificação à cota mais alta do complexo, 120 metros à
qual se acrescenta a altura deste edifício. Para além disso, é de considerar a via romana que de
poente provinha do carácter militar e defensivo que a Charola assumia para proteção desta
zona do território.
O novo volume, repartido em três tramos modelares, deixa dois deles para o coro alto
e para a Sala do Capítulo e um, ligeiramente mais pequeno, de ligação com a Charola, a partir
do qual se entra para a igreja e se faziam os acessos aos restantes edifícios auxiliares. Para o
efeito, é aberto um robusto arco ogival, que liga a nave à igreja primitiva, abdicando para este
efeito de duas das dezasseis faces exteriores da Charola. Assim, D. Manuel consegue não só
arranjar uma solução arquitetónica que conjuga ambas as construções numa única e singular,
criando um novo modelo misto, mas também continuar com a autenticidade e singularidade
do modelo de igreja já existente. A nova entrada a sul, faz-se praticamente de nível com o
terraço que antecipa a Charola, que por sua vez está a meio piso entre o coro alto, em cima, e
a Sala do Capítulo, em baixo, da qual se abre a Janela do Capítulo, da autoria de Ayres do
Quintal. É de considerar que originalmente, a modelação da abóbada da sacristia, constituída
por dois tramos, correspondia aos dois tramos de maior dimensão da abóbada do coro mas
com a intervenção de Filipe Terzi no final de quinhentos, que promove a alteração do limite
sul do coro com o propósito de estabelecer uma ligação com o claustro principal e a portaria
real ao nível da cota da Charola, foi destruída a correspondência métrica deste espaço, isto é, a
concordância entre os dois tramos de maior dimensão da abóbada do coro e da sacristia.

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Espaço Central Octogonal em torno do qual se desenvolve a Charola constituído por pinturas parietais a têmpera
e colunas também pintadas. Deambulatório do Convento de Cristo, Tomar, sécs. XII-XIII. Fonte da Imagem
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Durante a sua longa história, a Rotunda teve diferentes significados, dos Templários à
atualidade. Em muitos aspetos desse percurso, várias incertezas teimam em permanecer, como
um desafio constante. Hoje, sendo difícil compreender a espiritualidade da milícia que a
ergueu, continua a ser problemático classificar a Rotunda tomarense e sua envolvente
próxima, alteradas significativamente entre o século XV e a Idade Moderna. Ela permanece
como uma das melhores provas desse fervor ascético, sendo única no contexto da arquitetura
militar portuguesa e internacional, embora, cremos, por razões distintas das que têm vindo a
ser maioritariamente defendidas. Por fim, não deixa de ser paradoxal que este edifício, de
cunho religioso, à imagem do Templum Domini, seja, porventura, o símbolo máximo da ação
guerreira e da teologia combatente da Ordem do Templo.
Concluindo, o estudo da Rotunda de Tomar projeta nos nossos dias diferentes
horizontes na compreensão da arquitetura erguida pelos Templários e, através dela, do
pensamento cristão e das mentalidades dos séculos XII e XIII.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROBLEMÁTICAS

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Com esta abordagem mais específica sobre o tema, procuramos sempre relacionar a
evolução das formas arquitetónicas ao longo dos séculos, acompanhando os gostos estéticos
dos diversos movimentos artísticos, com a evolução das ordens militares e cristãs,
estreitamente ligadas a muitas figuras importantes na história de Portugal. Deste modo, o
Convento de Cristo na sua homogeneidade conseguiu atingir o propósito de D. Manuel I:
celebrar as descobertas marítimas portuguesas, a mística da Ordem de Cristo e da Coroa numa
grandiosa manifestação de poder e de fé, tornando-se detentor de um imenso poderio
espalhado por todo o império português ao seu ser o palco de importantes obras de ampliação
e beneficiação, que se entrosam com o espírito que preside ao reinado desse monarca.
Para que fosse possível a realização deste trabalho académico, foi imprescindível a
busca por imagens da sua planta, os cortes e o alçado, fotografias atuais de como o mesmo se
encontra, de forma a ser visível as transformações que sofreu, tal como a pesquisa em
variados sites - sendo o que mais informação nos deu sobre este caso de estudo a
Direção-Geral do Património Cultural -, que promoveram um melhor conhecimento histórico
e científico sobre esta obra maior da arquitetura portuguesa e europeia, e nos permitiram
descobrir toda a simbologia e significado por trás deste monumental edifício, repleto de
história e cultura, que conseguimos compreender graças à leitura cuidada do livro “A Charola
do Convento de Cristo. História e Restauro”, o qual fomos de propósito pessoalmente
requisitar à biblioteca da nossa faculdade, que nos fez adquirir vastas informações acerca da
edificação da Charola Templária e a forma como se enquadra no contexto da cidade de Tomar.
Deste modo, durante o processo de levantamento de bases para a concretização desta
investigação, deparamo-nos com certas dificuldades na fidelidade dos dados digitais e
limitações no âmbito da bibliografia do objeto artístico em questão, visto que a maioria não
era possível visualizar online em formato pdf de forma gratuita, o que complicou a descoberta
de informações específicas sobre o mesmo. No entanto, procuramos vencer essa barreira que
nos foi imposta, convertendo estas adversidades num núcleo positivo de conhecimento e
curiosidade, que esperamos ter conseguido refletir neste trabalho, e que nos levou a descobrir
toda a simbologia e significado por trás desta obra de arte, repleta de história e cultura.
Em suma, o estudo presente proporcionou-nos um novo olhar e o entendimento sobre
o que ali foi produzido e o “porquê?” de assim o terem executado, onde procuramos sempre
compreender a interação entre o resultado final e o projeto, assente em inovadoras técnicas

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arquitetónicas, ainda que com ferramentas pouco precisas na altura, com a produção assente
numa mão de obra bastante extensa, o que acaba por refletir o poder económico do nosso país
na altura. Podemos concluir que o Convento de Cristo funcionou como um veículo de união
com a sociedade portuguesa, no qual os arquitetos pensaram abstratamente, passaram para o
papel as suas ideias através do desenho e converteram-nas em criações tridimensionais,
conseguindo, assim, se posicionar criticamente diante de uma realidade.

BIBLIOGRAFIA E WEBGRAFIA

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Recursos bibliográficos de apoio à investigação científica para a realização do trabalho


académico:

Pereira, Paulo (2009). Convento de Cristo, Tomar (guia oficial). Lisboa: SCALA; Ministério
da Cultura; IGESPAR. ISBN 978-1-85759-563-5

Pevsner, Nikolaus; Perspectiva da Arquitectura Europeia

Zevi, Bruno; A^linguagem moderna da arquitectura. ISBN: 972-44-1149-4

Pereira, Paulo (2003). De Aurea Aetate: o Coro do Convento de Cristo em Tomar e a


Simbólica Manuelina. Lisboa: IPPAR; Ministério da Cultura. ISBN 972-8736-22-3

Serrão, Vítor (2001). História da Arte em Portugal: o renascimento e o maneirismo.


Barcarena: Editorial Presença. ISBN 972-23-2924-3

A Charola do Convento de Cristo. História e Restauro. Lisboa: Direção-Geral do Património


Cultural (2014); Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Fontes em acesso digital (listagem simples):

Convento de Cristo de Tomar - Património da Humanidade Centro de Portugal

A Charola do Convento de Cristo - RTP Ensina

Charola do Convento de Cristo - Wikipédia

Charola Templária do Convento de Cristo em Tomar - DGPC

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Convent of Christ - DGPC

Convent of Christ in Tomar - UNESCO

Convento de Cristo, Tomar - DGPC

Convento de Cristo - Website Oficial

Convento de Cristo, Tomar - Wikipédia

Convento Cristo, Tomar, Portugal - Vídeo de Análise

Convento de Cristo em Tomar - SIPA

História e restauro da Charola

Charola

Restauro da Charola de Cristo em Tomar

APÊNDICES: FICHA TÉCNICA DO PATRIMÓNIO ARQUITETÓNICO

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Designação: Convento de Cristo / Mosteiro de Cristo

Tipologia e categoria: Arquitetura religiosa

Ordem Religiosa Inicial: Ordem dos Templários

Ordem religiosa atual: Ordem de Cristo

Utilização Inicial: Religiosa (convento masculino)

Utilização atual: Cultural e recreativa (monumento)

Localização: Portugal, Santarém, Tomar, União das freguesias de Tomar (São João
Baptista) e Santa Maria dos Olivais.

Acessos: Terreiro de Gualdim Pais

Cronologia: Séc. XII-XVIII

Estilos dominantes: Renascentista, Manuelino, Maneirista, Gótico e Românico.

Materiais: Cantarias de calcário, alvenaria mista rebocada, alvenaria hidráulica, tijolo,

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betão armado, lajedo, azulejo, mármore, madeira, ferro, vidro, telha.

Áreas do edifício: Castelo, charola, convento, igreja, aqueduto, enfermaria, sete claustros,
dormitórios, salas do noviciado e bloco da portaria nova.

Aparelhador: Francisco Lopes (1504, 1564-1566).


Arquitetos: Diogo de Arruda (1512-1513); Diogo Marques Lucas (1640); Diogo Torralva
(1557); Fernão Gonçalves; Filippo Terzi (1584); Francisco Lopes (séc. XVI); Jerónimo
Rodrigues (séc. XVII); João de Castilho (1519, 1533); Nicolau de Frias (séc. 16); Pêro
Fernandes de Torres (séc. XVII); Pêro Vaz Pereira (séc. XVII).
Canteiros: Baltasar Marinho (séc. XVI); Simão Gomes (séc. XVI-XVII).
Carpinteiros: Fernão Rodrigues (1602); Domingos Taborda (1602); Simão Dias (1548).
Entalhadores Fernão Muñoz (1511-1514); Olivier de Gand (1511-1512).
MESTRE-DE-OBRAS: Estêvão Gomes (1551); Fernão Gonçalves (séc. XV).
Pedreiros: Baltazar Marinho (1587); Simão Gomes (1587); Álvaro Rodrigues (1512);
Manuel da Cal (1602); Salvador Antunes (1602); Salvador Jorge (1593); Simão Nunes
(1602).
Pintores: Fernão Anes; Jorge Afonso (atr.); Gregório Lopes (atr.); Domingos Vieira Serrão
(atr.); Simão de Abreu.

Proteção: Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 10-01-1907, DG, 1.ª série, n.º
14 de 17 janeiro 1907, Decreto de 16-06-1910, DG, 1.ª série, n.º 136 de 23 junho 1910 /
ZEP / Zona "non aedificandi", Portaria, DG, 2,ª série, n.º 265 de 14 novembro 1946 *1 /
Património Mundial - UNESCO, 1983

Enquadramento: Peri-urbano. Implantado em terreno com declive para O., no alto de uma
elevação sobranceira à planície onde se estende a cidade de Tomar, dominando-a
visualmente; circundado a E. e S. pelas muralhas do Castelo (v. PT03141812006) e pela
mata da cerca (v.PT031418120016). Antecede a igreja um terreiro com escadório de 3
lanços convergentes, ao fundo, a que se acede por porta rasgada na muralha do Castelo, a
E.. A O. localiza-se o Aqueduto dos Pegões (v. PT031418040008).

Propriedade: Pública: estatal

Dados técnicos: Estruturas mistas e autoportantes.

T.: + 351 249 313 481

E-mail: geral@ccristo.dgpc.pt

Website: http://www.conventocristo.gov.pt/pt/index.php

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Imagem:

Vista do complexo do Convento e Castelo de Tomar, Portugal.


Foto de José Manuel, 8 de julho de 2015. Fonte da Imagem

ANEXO 1: QUADRO CRONOLÓGICO DAS PRINCIPAIS


INTERVENÇÕES NA CHAROLA: DO ÚLTIMO QUARTEL DO
SÉCULO XX ATÉ À ATUALIDADE

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Anexo 1: Quadro Cronológico das Principais intervenções na Charola: do último quartel do séc. XX
até à atualidade retirado do livro “A Charola do Convento de Cristo. História e Restauro”. Lisboa:
Direção-Geral do Património Cultural (2014); Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

ANEXO 2: ESQUEMAS ICONOGRÁFICOS DA FACHADA SUL DA


IGREJA DO CONVENTO DE CRISTO EM TOMAR

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ANEXO 2: Esquemas iconográficos da fachada sul da Igreja do Convento de Cristo em Tomar. Imagem
retirada da obra literária de Paulo Pereira, denominado “De Aurea Aetate: o Coro do Convento de Cristo em
Tomar e a Simbólica Manuelina. Lisboa” (2003) - IPPAR; Ministério da Cultura. ISBN 972-8736-22-3

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ANEXO 3: INFORMAÇÕES GERAIS DAS PARTES ESTRUTURANTES
DO CONVENTO DE CRISTO EM TOMAR

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Anexo 3: Informações gerais das partes estruturantes do Convento de Cristo em Tomar. Imagem
retirada da obra literária de Paulo Pereira, denominado “De Aurea Aetate: o Coro do Convento de Cristo em
Tomar e a Simbólica Manuelina. Lisboa” (2003) - IPPAR; Ministério da Cultura. ISBN 972-8736-22-3

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