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IDADE MEDIA

As mudanças, quer religiosas ou intelectuais, ocorridas no Ocidente entre 1050 e


1330, foram tão importantes quanto, as econômicas e sociais. A França, tal como a
Inglaterra e os novos reinos cristãos da Península Ibérica, vinham se estruturando por volta
dos séculos XII e XIII como uma monarquia nacional, forma de governo que posteriormente
dominaria a Europa.
Até 1050, o marasmo Ocidental encontrado nas artes, no pensamento e na
educação, é notavelmente grande. Depois disso, o Ocidente deixa rapidamente esse atraso
para se tornar o fulcro gerador da intelectualidade e das artes no mudo. Por outro lado, o
papado assumindo o poder dava nova vitalidade e fazia com que o cristianismo empolgasse
à todos. Os papas transformaram-se em solenes líderes, centralizaram o governo da Igreja,
desafiaram o poder dos reis e imperadores e deram origem ao movimento das cruzadas.
As igrejas e mosteiros tornaram-se propriedades privadas dos poderosos senhores
locais que dispunham de cargos eclesiásticos à vontade e sob seu controle, vendendo-os
ou entregando-os aos aparentes mais próximos. Os mosteiros eram um pouco mais
independentes, pois contavam com senhores leigos que apoiavam suas reformas desde que
os monges cumprissem direito com a sua função, ou seja, zelando pelas suas almas através
do ofício diário ( que era litúrgico)
Artisticamente, o Românico e O Gótico foram a maior representação desse período,
somente comparados à literatura e à música. Ainda assim, na literatura, a Divina Comédia
de Dante, com seu senso de esperança e extraordinária fé na humanidade, teve como
exemplo mais próximo as grandes catedrais, pois, numa narrativa monumental descreve a
jornada do poeta pelos degraus do Inferno, Purgatório e Paraíso até encontrar a verdadeira
sabedoria e a sua salvação, da mesma forma que as Catedrais numa dimensão tripartida,
pórtico, rosácea e torres, que se elevam no positivismo da grandeza religiosa na ascensão
da verticalidade em busca da verdade divina.

O ROMÂNICO

A arte Românica, essencialmente monástica, representou ao mesmo tempo,


também a arte da aristocracia. A combinação dessas características demonstra a
solidariedade existente entre clero e a nobreza secular, sendo, portanto, nada mais natural,
que a arte criada nos mosteiros apresentasse caráter e concepção próprios da aristocracia
secular. Por volta do século IX, quando despontam alguns exemplares Românicos na
construção, o Feudalismo era a instituição do estado e em torno da qual foi edificada toda a

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vida social da Idade Média.
Imbuído desse espírito militante e autoritário, a Igreja consegue por fim a
consolidação da cultura medieval que aparece pela primeira vez na volta do milênio, na sua
plenitude e individualidade. Erguem-se então as primeiras grandes Igrejas Românicas,
grandes criações da arte medieval no mais estrito sentido da palavra. O século XI é um
período brilhante na história da arquitetura da Igreja, da mesma forma que é a idade de ouro
da filosofia da Escolástica e na França da poesia heroica e de inspiração eclesiástica.
O advento do Românico representa a tomada de consciência e a consequente
manifestação de um novo tipo de homem que chegou à maturidade pondo-se na base da
civilização ocidental: surge desta forma, o estilo, pleno e luxuriante manifestando-se com um
fervor construtivo desconhecido até então. As igrejas Românicas são de acordo com a
influência daqueles que as mandaram edificar, expressões imponentes de poder ilimitado e
recursos infinitos.
A arte desse período é mais simples e homogênea, do que a arte bizantina,
porque não é uma arte da corte. A criação artística já não é assunto somente para o gosto
refinado, é mais dura e primitiva que a Bizantina em certos aspectos e fala a linguagem de
uma renovação religiosa.
A arquitetura pode retomar a leitura das basílicas Paleocristãs, mas para
transformá-las conforme os novos valores. Quem entra numa igreja dessa época percebe o
grande silêncio, a luz moderada, o ritmo das pilastras e dos arcos também severo e
moderado, o espaço interno fechado e a abside, circular. A igreja torna-se também silente
devido à solidão e o recolhimento do individuo isolado.
O problema mais significativo da arquitetura Românica é o aspecto de sua
integralidade construtiva que, requer, pois, a solução em muramento sólido e contínuo do
problema da cobertura, que ficou sem solução na basílica Paleocristã. O problema
encontrará solução quando o Românico conseguir lançar sobre a nave central a sua
abóbada característica em cruzeiro e o muramento.
Georges Duby, ao comentar sobre a construção de um mosteiro medieval, afirma
que a obra de arte é em primeiro lugar, objeto de enfeite, de ostentação e também de
superação, pois ela sempre estabelece algum contato com o sagrado. “É com efeito a
tentativa de romper, de transgredir os limites que separam o mundo comum, banal, o mundo
visível do invisível, do “outro mundo”.
O homem medieval integra um mundo de símbolos e sinais, imagens traduzidas

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ou que traduzem algo. A arte é comandada pela simbologia e, em especial a arquitetura,
qualificando a edificação religiosa numa estrutura simbólica, cujos símbolos são seus sinais
de fé e uma forma de acesso ao divino.
A arquitetura Românica floresceu na Europa como expressão da primeira
renovação cultural de caráter popular, enquanto a Gótica pelo contrário, dinâmica em todas
as suas manifestações reflete a ânsia de liberdade.
São nos momentos de transição da história que podemos encontrar
momentos reveladores para a compreensão das mutações estilísticas das artes. Tempo
espaço na história são indissociáveis, bem por isso, tempo de mudanças e horizontes
ampliados refletem-se no espaço citadino onde as mudanças normalmente ocorrem.

• O GÓTICO

Pelo século XII quando se lançaram as primeiras catedrais Góticas, a


situação da Europa encontrava-se profundamente modificada e dominada pela crise das
duas maiores instituições medievais - a igreja e o império - que se esgotam num longo
embate pela hegemonia. Não existe uma data ou acontecimento marcante para o
nascimento desse estilo, mas podemos sem dúvida alguma considerá-lo fruto de uma
sociedade dinâmica, pois o seu aparecimento marca a mudança mais importante de toda a
história da arte medieval.
Aqui tem origem os ideais válidos até hoje, como fidelidade para com a
natureza, profundidade de sentimento, sensualidade e sensibilidade, todos visíveis desse
novo dinamismo, próprios de uma nova sociedade europeia, que caracteriza a ascensão de
novas categorias sociais dedicadas ao artesanato e ao comércio; consolidação do poder do
rei em estados como a França e Inglaterra, favorecendo o comércio e a ascensão das
cidades; e por último a influência do clero. É a época das grandes cruzadas, que teve como
causas o fervor religioso, a tomada de Jerusalém, o interesse e o gosto pelo comércio.
O Gótico é um estilo eminentemente francês, visto originariamente na abadia
de S. Denis, usa uma forma estável e regular como o círculo, essencialmente clássico, e se
apresenta dinâmico numa rosácea radiante. A abóbada ogival permeada por nervuras
multiplica-se de forma polifônica como o pensamento humano, num sinal distinto do estilo,
advindo da adaptação à inspiração ou mesmo às suas exigências, de maneira puramente
funcional, dado o problema do equilíbrio do peso.
A arte gótica é a última expressão da civilização medieval que consegue o

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equilíbrio perfeito, com a participação de uma sociedade leiga. Os mestres (denominação
dos arquitetos)Góticos eram dominados pelo gosto da verticalidade, resolvendo este
problema com a criação da quebra do arco pleno, resultando num arco ogival, possibilitando
o empenho à verticalidade. Além do arco ogival, são características góticas marcantes, o
arcobotante e a abóbada nervurada. A novidade decisiva para esse estilo, foi a combinação
destes três elementos.
A área de difusão da arquitetura Gótica é ainda mais ampla e densa que as
áreas europeias do Românico, atingindo a França, Países Baixos, Inglaterra, Escandinávia e
Alemanha, com reservas para a Itália, e o chamado Gótico Final nos séculos XV e XVI na
Península Ibérica, onde se destaca o Manuelino em Portugal.
Embora o seu símbolo máximo seja a Catedral, o Gótico constrói conjuntos
abaciais, palácios públicos, capelas, batistérios, etc. Na catedral concentra-se o fulcro
gerador da arquitetura Gótica. Isso por duas razões - o seu ponto em comum com o
Românico é a integralidade construtiva enquanto que, a Catedral se eleva grandiosa e
soberana como uma oferenda à coletividade que a faz ascender até a Deus.
Um edifício gótico não é simplesmente uma massa em movimento, mas
mobiliza o espectador, faz com que um ato de entusiasmo se converta num processo de
direção definida.
A catedral Gótica era a representação do homem do seu tempo, traduzida
numa linguagem de pedra. Sua nave ampla - o seu corpo, se encerra de braços abertos- no
transepto, onde encontra na cabeceira do templo, a abside central - a cabeça do homem,
como a expressão do pensamento e da inteligência humana à imitação do Cristo.
No período de formação encontramos a planta Gótica não muito diferente da
Românica basilical, com três naves, no fundo uma abside que recebe o altar mor na divisa
desse espaço com o transepto, e ao seu redor, um deambulatório, que permite o acesso às
capelas radiais. O Coro situa-se no centro do deambulatório e cada braço do transepto
apoia-se na arquitrave; o vão da porta é dividido em duas partes pelo pilar.
A fachada, pela sua disposição, utiliza elementos cortantes - duas torres
incorporadas separadas pelos contrafortes e três partes verticais divididas em três andares
por linhas horizontais, com três pórticos de fundo profusamente ornamentado por estatuetas
que emolduram o tímpano esculpido, bem como acima das portas, as estátuas colunas; há
uma galeria de arcos, e o elemento visualmente chamativo é a rosácea.
Estava assim, inaugurada a época das Catedrais, que exibindo uma planta em

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forma de cruz latina, teve a sua arquitetura definida em três atributos: arcobotante,
abóbada nervurada e o arco ogival, e a pedra como material de construção escolhido.
As paredes da catedral, em especial da nave central tinham que ser muito
altas porque a luz deveria penetrar no seu interior, por cima dos telhados das naves laterais;
os arcobotantes, que por cima das aberturas de iluminação desciam até o chão para
descarregar os impulsos.
Se a obra de arte era enfeite, oferenda e com isso simultaneamente, louvor e
captação de benevolência, ela era também emblema. A imagem cumpre o papel de
garantia, de sacralização do personagem e seu tempo, enquanto media o inconsciente
coletivo de uma comunidade com o cosmos, como sociedades que se interagem, a de
pessoas visíveis que se contrapõem e/ou se completam com as forças visíveis.
Por essa razão as imagens esculpidas nas catedrais góticas serem tão fortes
e mesmo aquelas representadas nos vitrais coloridos, são beneficiadas pela luz (uma das
grandes metas do estilo), apresentando-se como um forte apelo aos olhos do crente. São
nos vitrais que encontramos passagens e representações bíblicas, como o caso do vitral de
São Dinis em Chartres, um dos seus melhores exemplares.
Os mosaicos, os baixos relevos esculpidos e os vitrais foram formas de uma
elevada pedagogia visual que traduzidas para as comunidades medievais iletradas,
abordavam as mensagens necessárias à compreensão do cristianismo, intervindo assim,
nas representações e na prática de seus observadores, contribuindo efetivamente, para a
formação e transformação do mundo, através de operações simbólicas.

BIBLIOGRAFIA:

BURNS, Edward. História da Civilização Ocidental. Rio de Janeiro: Globo, 1992.


ECO, Umberto. Arte e Beleza na Estética Medieval. Rio de Janeiro: Globo, 1989.
DUBY, Georges. O Ano Mil. Lisboa: Edições 70, 1993.
______.O Tempo das Catedrais. Lisboa: Estampa, 1988.
______. As três ordens. Lisboa: Estampa, 1994.
FOCILLON, Henri. A Arte do Ocidente. Lisboa: Estampa, 1992.
MATTOS, Maria de Fátima da Silva Costa Garcia de. O Simbolismo e a Arquitetura de poder
nos séculos XV e XVI em Portugal: um olhar sobre o Mosteiro dos Jerónimos. 1998.
Dissertação (Mestrado). Franca: FHDSS/UNESP, 1998.
PEVSNER, Nikolaus. Panorama da Arquitetura Ocidental. São Paulo: Martins Fontes, 1982

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