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Arte gótica

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Nota: Se procura o estilo de moda, ver moda gótica.

Fachada da Catedral de Tours, grande representante da arquitetura gótica.

A arte gótica designa uma fase da história da arte ocidental, identificável por
características muito próprias de contexto social, político e religioso em conjugação com
valores estéticos e filosóficos e que surge como resposta à austeridade do estilo românico.
Este movimento cultural e artístico desenvolve-se durante a Idade Média, no contexto
do Renascimento do Século XII e prolonga-se até ao advento do Renascimento italiano,
quando a inspiração clássica quebra a linguagem artística até então difundida. Os
primeiros passos são dados a meados do século XII em França no campo
da arquitetura (mais especificamente na construção de catedrais) e, acabando por
abranger outras disciplinas estéticas, estende-se pela Europa até ao início do século XVI,
já não apresentando então uma uniformidade. A arquitetura, em comunhão com a religião,
vai formar o eixo de maior relevo deste movimento e vai influenciar profundamente todo o
desenvolvimento estético do período.
Na arquitetura o Gótico vai possibilitar uma ampliação na altura das construções através
de uma série de inovações técnicas, em particular o uso sistemático do arco
quebrado (ogival), do contraforte e do arcobotante, que aliviaram o peso das paredes e
coberturas e permitiram ao mesmo tempo ampliar as aberturas e dar maior leveza visual
aos interiores. Nas artes visuais, por influência clássica, a maior conquista se dá no
progressivo abrandamento do rigor geometrizante e da estilização da representação do
corpo típicos do estilo românico, buscando-se sempre um maior naturalismo, graça e
elegância, e aprimorando-se a representação do espaço para criar uma ilusão de
tridimensionalidade. É o período em que se popularizam a pintura a óleo e a técnica
do vitral, e se retoma a tradição da pintura de paisagem, praticamente abandonada desde
a Antiguidade Clássica.

Índice

 1O termo
 2Contexto e as origens arquitetônicas do estilo
 3Expansão
 4Outras expressões
o 4.1Escultura
o 4.2Pintura
 4.2.1Iluminura
 4.2.2Vitral
 5Artes aplicadas
 6Neogótico
 7Ver também
 8Referências

O termo

História da arte

Por período

Pré-história[Expandir]

Antiguidade[Expandir]

Idade Média[Expandir]

Idade Moderna[Expandir]

Arte moderna[Expandir]

Arte contemporânea[Expandir]

Por expressão artística.

 Arquitetura
 Pintura
 Escultura - Design
 Literatura - Música
 Teatro
 Cinema

 v
 d
 e

A expressão "estilo gótico" não existia em seu tempo. Quando a nova estética se expande
além das fronteiras francesas, a sua origem vai ser a base para a sua designação, art
français (arte francesa), francigenum opus (trabalho francês) ou opus modernum (trabalho
moderno). Mas vai ser só quando o Renascimento toma o lugar da linguagem anterior que
os novos valores vão entrar em conflito com os ideais góticos e o termo actual nasce. Na
Itália do século XVI, e sob a fascinação pela glória e cânones da antiguidade clássica, o
termo gótico vai ser referido pela primeira vez por Giorgio Vasari, considerado o fundador
da história da arte. Aos olhos deste autor e dos seus contemporâneos, a arte da Idade
Média, especialmente no campo da arquitetura, é o oposto da perfeição, é o obscuro e o
negativo, relacionando-a neste ponto com os godos, povo germânico que semeou a
destruição na Roma Antiga em 410. Vasari cria assim o termo gótico com fortes
conotações pejorativas, designando um estilo somente digno de bárbaros e vândalos, mas
que nada tem a ver com os antigos povos germânicos.[1][2]

Contexto e as origens arquitetônicas do estilo


Ver artigo principal: Arquitectura gótica
Os séculos XI e XII são séculos de mudanças sociais, políticas e econômicas que em
muito vão fazer despoletar as necessidades de uma expressão artística mais adequada às
novas premissas sociais. O comércio está em expansão e Flandres, como centro das
grandes transações comerciais, leva ao desenvolvimento das comunicações e rotas entre
os diversos povos e reduz as distâncias entre si, facilitando não só o comércio de bens
físicos, como também a troca de ideais estéticos entre os países. A economia prospera e
nasce um novo mundo cosmopolita que se alimenta do turbilhão das cidades em
crescimento e participa de um movimento intelectual em ascensão. Paralelamente assiste-
se ao crescimento do poder político representado pelo monarca e à solidificação
do Estado unificado, poderosa entidade que vai aspirar a algo que lhe devolva a dignidade
e a glória de outros tempos e que ajude a nação a apoiar a imagem do soberano. A Igreja
Católica, por seu lado, vai compreender que os fiéis se concentram nas cidades e vai
deixar de estar tão ligada às comunidades monásticas rurais, virando-se agora para o
projeto do que será o local por excelência do culto religioso, a catedral, que se tornaria
também o primeiro campo de ensaios do novo estilo. O período de surgimento do Gótico
coincide com a extinção final do paganismo na Europa e o domínio do cristianismo como o
único poder espiritual, supremo e inquestionável. Tem sido dito que enquanto o
estilo Românico, com suas catedrais semelhantes a castelos e fortificações, representa
a Igreja Militante, o Gótico vai representar a Igreja Triunfante.[3][4][5] Nas palavras de Hugo
Lopes,
"A ordem divina é assim transportada, através das catedrais, para as cidades em
expansão, coroando-as com o poder unitário de Deus que determinou a aventura
civilizacional da Idade Média; conferindo orientação à expansão das cidades pela
exportação dos eixos que informam a implantação do edifício sagrado; ou seja, as
catedrais contribuem para definir a estrutura das emergentes cidades, implicando o
universo de saber submetido à ordem divina que determina a sua concepção no
desenho do território urbano; revelando nas cidades as relações cósmicas divinas
que construíram os edifícios medievais de Deus.
"A reconstrução das cidades dos últimos séculos da Idade Média evidencia todo o
percurso que o homem medieval soube encetar; uma 'aventura' total, nos mais
diferenciados âmbitos, que assegurou a constituição de uma civilização e o
retomar dessas formas paradigmáticas da civilização humana — as cidades. A
necessidade de superar as tão imensas carências dos territórios da Europa
Ocidental desde a queda do Império Romano do Ocidente até aos alvores do ano
1000, implicou a recuperação e adaptação das heranças do conhecimento humano
para construir um edifício de saber organizador da sua unidade enquanto
civilização; uma estrutura de conhecimento que pudesse informar todas as ações
humanas e estabelecer um caminho, uma orientação, para o difícil percurso destes
homens para superar o caos que os rodeava e conquistarem a ordem que
souberam definir como fundamento teórico inscrito na sua cultura como objectivo
prático da sua ação. Foi na estrutura deste contexto que o homem medieval
desenhou a sua evolução, definiu os seus pensares, induziu as suas práticas,
induziu a sua prosperidade; foi com Deus e por Deus que a Idade Média informou
todo o seu percurso de evolução continuada, foi com Ele e por Ele que construiu
um saber e com esse saber os edifícios com que conquistaram o território e
estabeleceram as regras da sua apropriação; foi este desenvolvimento do saber e
do pensar que permitiu o desenvolvimento técnico, a prática que definiu o âmbito
do atuar e possibilitou a recuperação das cidades como lugares de
estabelecimento e de encontro do cada vez maior número de pessoas que
habitavam a Europa Ocidental naqueles tempos".[3]

O colorido e a exaltação da luz nos vitrais da Basílica de Saint-Denis, Paris.


Vista externa da abside da Catedral de Notre-Dame de Paris, onde são visíveis os arcos
quebrados, os contrafortes e arcobotantes típicos da arquitetura gótica.

Outro aspecto a destacar é que o florescimento do Gótico deve-se também a um


longo período de relativa prosperidade no norte da Europa, iniciando em torno de
1050, sustentado pelo incremento da agricultura, das manufaturas (principalmente
têxteis) e do comércio. As classes superiores puderam gastar mais em mecenato,
financiando obras da envergadura das catedrais, cujo custo era imenso, e que
muitas vezes levaram séculos para serem concluídas e decoradas, quando
puderam chegar ao término — muitas só encerraram seus trabalhos na Idade
Moderna ou Contemporânea, como foi o caso das celebradas catedrais
de Colônia e de Florença, finalizadas somente no século XIX.[6]
O estilo Gótico é afirmação de uma nova filosofia. A estrutura apresenta algo
novo, uma harmonia e proporção inovadoras resultado de relações matemáticas,
de ordens claras impregnadas de simbolismo. O abade Suger, em Paris,
fortemente influenciado pela teologia de Pseudo-Dionísio, o Areopagita, aspira
uma representação material da Jerusalém Celeste. Para ele, a luz é a
comunicação do divino, do sobrenatural, é o veículo para a comunhão com o
sagrado, através dela o homem comum pode admirar a glória de Deus e melhor
aperceber-se da sua mortalidade e inferioridade. Fisicamente a luz vai ter um
papel de importância crucial no interior da catedral gótica, vai-se difundir através
dos grandes vitraisnuma aura de misticismo, e a sua carga simbólica de busca
pelas alturas espirituais vai ser reforçada pela acentuação do verticalismo dos
edifícios.[7][8]
No entanto, muitos ensaios anteriores vinham sendo feitos para possibilitar a
maior verticalização das estruturas. A catedral do período Românico, que
precedeu o Gótico, era maciça, pesada, muitas vezes semelhante a uma fortaleza.
Os românicos solucionavam o problema da altura e da cobertura
das naves construindo pilares e paredes cuja estabilidade era produzida pela sua
grande espessura, mas isso se fazia em detrimento das aberturas, que eram
pequenas e permitiam apenas uma fraca iluminação interna.[1][8]
A arquitetura gótica não é um momento de ruptura drástica com os ideais
anteriores, mas antes uma assimilação de alguns elementos independentes de
diferentes fontes, metamorfoseada com o novo conceito de interpretação da arte
religiosa. Os primeiros indícios surgem na Normandia do século XI com a era de
construção monástica incentivada pela Ordem de Cluny. Mas já neste momento se
aglomeram diversas influências que vão ser cruciais à tipologia da catedral gótica:
o arco quebrado de influência normanda, que suportava pesos maiores do que
os arcos redondos românicos; a planta basilical modificada, composta por três
naves, transepto e três ábsides de influência carolíngia, juntamente com
o deambulatório e as capelas radiantes já existentes em igrejas de peregrinação, e
a abóbada de arestas de origem lombarda e franca, que se desenvolveria como
a abóbada em cruzaria tipicamente gótica. O peso destas abóbadas vai ser
recebido por um cinturão de colunas internas, mas sobretudo por uma série
de arcobotantes e contrafortes no exterior do edifício. Este sistema foi tão eficaz
que permitiu uma notável redução na espessura das paredes e colunas, uma
grande ampliação das janelas e um aumento na altura, dotando o espaço interior
de grande leveza visual.[1][4][5]

O interior do coro da Catedral de Beauvais. Note-se a característica verticalidade da


construção gótica.

Vários componentes adicionais, como as duas torres ocidentais, o sistema interior


de divisão vertical em três áreas (arcada, trifório e clerestório — zona dos
grandes vitrais) —, a profusão de pináculos e diversos elementos decorativos, vão
formar uma tipologia maleável de grandes dimensões, que não obedece a um
padrão pré-definido de número de partes e que varia de caso a caso.[4]
A primeira formulação reconhecível do estilo está presente na reconstrução
da Basílica de Saint-Denis, sob orientação do abade Suger, que ocorreu entre
1137 e 1144.[1] Sua fachada ainda trai a herança românica, mas sua abside e coro,
as partes mais progressistas, já mostram o Gótico nitidamente estabelecido.[8] Esta
abadia beneditina, situada nas proximidades de Paris, tradicional mausoléu dos
reis franceses, vai ser o veículo utilizado para a comunicação dos novos
valores simbólicos: por um lado a dignificação da monarquia, por outro a
glorificação da religião. Este empreendimento teve por objetivo apresentar o maior
centro patriótico e espiritual de toda a França, ofuscando todas as outras igrejas
de peregrinação, trazendo para si mais crentes e restabelecendo a confiança entre
a igreja e o seu rebanho.[8][9]
Comprovada a viabilidade das inovações estruturais, a partir de então os
arquitetos franceses competiriam para criar edifícios cada vez mais altos, cada
qual tentando superar a conquista anterior. O limite foi estabelecido pelo colapso

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