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As origens do Renascimento

Ao mesmo tempo que se descobriu um mundo novo com a expansão marítima surge o
Renascimento, um movimento de renovação intelectual e artística que se caracterizou pelo
facto de o individuo ter manifestado interesse em torno dos ideais e valores da Antiguidade
Clássica e pelo facto de o individuo ter manifestado interesse pela descoberta de si próprio.
Apesar de já no final da Idade Média se ter assistido ao despontar do Renascimento, este
atinge a sua plenitude durante o século XV, nas cidades italianas, e difunde-se para outros
locais da Europa ao longo de século XVI.

Os fatores que contribuíram para o nascimento deste movimento cultural em Itália foram:

 A abundancia de vestígios materiais da cultura greco-romana assim como de muitos


manuscritos, guardamos em bibliotecas, que serviam de inspiração aos artistas e
intelectuais;
 A existência de universidades que incutiam nos seus alunos o interesse pela
Antiguidade Clássico;
 A existência de cidades italianas que rivalizavam entre si, porque todos desejavam que
as suas cidades fossem as mais belas e que tivessem edifícios inspirados no período
clássico;
 A grande riqueza proporcionada pelo controlo das rotas comerciais do Mediterrâneo,
o que permitiu que tanto senhores nobres como burgueses praticassem o mecenato,
ou seja, a proteção e financiamento de escritores e artistas.

Características do Renascimento

Até aos finais da Idade Média, a mentalidade caracterizava-se pelo teocentrismo, conceção
segundo a qual Deus estava no centro das preocupações humanas. No entanto, a redescoberta
dos valores e modelos da Antiguidade Clássica conduziu à formação de uma nova mentalidade,
com as seguintes características:

 Antropocentrismo, conceção segundo a qual o ser humano passa a ser o centro das
preocupações humanas e não Deus;
 Humanismo, movimento cultural que consistiu na valorização do ser humano e das
suas capacidades intelectuais, inspirando-se nos modelos greco-romanos;
 Individualismo, a afirmação plena de cada individuo, pela busca e valorização das suas
realizações pessoais;
 Espírito crítico, atitude mais aberta e observadora, que procura analisar os
fundamentos e o valor de cada ideia antes de a aceitar, utilizando a Razão (capacidade
para decidir e para formar juízos, ou para agir de modo lógico, de acordo com o
raciocínio).

A educação humanista procurava desenvolver um modelo de “Homem ideal”, que passava


por um equilibrado desenvolvimento intelectual, moral, artístico e físico. Nessa formação, era
essencial o estudo do latim e do grego para lerem as obras de autores clássicos, e o hebraico
para a leitura das Sagradas Escrituras.
O alargamento da compreensão da Natureza

A Expansão marítima contribuiu para o alargamento de conhecimento de ciências como a


Geografia, a Botânica, a Zoologia, entre outras, as quais se desenvolveram baseadas no saber
prático construído a partir da observação, da experiencia e da Razão, aspetos que estão na
génese do pensamento cientifico. Em todo este processo houve o desenvolvimento de uma
atitude crítica face ao saber tradicional.

Os Portugueses desempenharam um papel importante no avanço cientifico através das suas


viagens de descobrimentos. Estudos dos geógrafos Duarte Pacheco Pereira e D. João de Castro
(alargaram os conhecimentos da cartografia), do matemático e cosmógrafo Pedro Nunes
(inventor do nónio, instrumento para medição de pequenas distâncias) e do botânico Garcia
de Orta (aplicação de plantas medicinais) foram importantes contributos para o movimento
cientifico do século XVI.

É neste contexto que nasce o naturalismo, corrente filosófica que valoriza a observação da
Natureza, que possibilitou a abertura de novos caminhos da ciência e o nascimento de uma
nova visão do Mundo. Esta valorização da observação da Natureza possibilitou importantes
avanços na Medicina e na Astronomia. No caso da primeira, o conhecimento sobre a anatomia
humana foi aumentado com a prática da dissecação dos corpos de Andreas Vesalius e aos
estudos da circulação do sangue de Servet. Na Astronomia, Nicolau Copérnico concebeu o
helicentrismo, teoria que defendia que a Terra não é fixa e está em constante movimento à
volta do Sol, sendo este considerado o centro do Sistema Solar. Esta ideia revolucionária pôs
em causa o geocentrismo, doutrina que defendia que a Terra era fixa e que os outros planetas
e o Sol giravam à sua volta, criada por Ptolomeu no século II.

Outro nome importante para a ciência neste período foi o italiano Leonardo Da Vinci, que se
destacou em diversas áreas do saber como artista, astrónomo, matemático e inventor geral.

Obras Renascentistas e humanistas

Humanista Obras País Humanista Obras País

Maquiavel O Príncipe Itália Thomas More Utopia Inglaterra

Petrarca Cancioneiro Itáia Miguel de D. Quixote de Espanha


Cervantes La Mancha
Pico della Discurso sobre a Itália Luís de Lusíadas Portugal
Mirandola dignidade do camões
Homem
Erasmo de O Elogia da Flandres Damião de Crónicas do Portugal
Roterdão Loucura Góis Felicíssimo Rei
D. Manuel
William Romeu e Julieta Inglaterra Rabelais Gargântua e França
Shakespeare Pantragruel
A difusão do Humanismo

Depois das cidades italianas, os principais focos de difusão cultural humanista foram a
Fladres, a Inglaterra, França, Alemanha, Espanha e também Portugal.

As ideias do Renascimentos propagaram-se nestes países, sobretudo, através dos humanistas


que estabeleciam encontros pessoais e contactos por correspondência. Também a frequência
de escolas e universidades permitia o contacto com os novos ideias renascentistas. Também a
invenção da imprensa, pelo alemão Johannes Gutenberg, no século XV, possibilitou um grande
aumento da produção de livros de modo mais rápido e barato do que fossem copiados à mão.
Entre 1500 e 1600,imprimiram-se cerca de 200 milhões de livros, facto que terá facilitado a
difusão da cultura renascentista.

Vários intelectuais fizeram desta época uma das mais brilhantes da cultura europeia.

A arquitetura renascentistas

A arte renascentista é uma corrente artística que tem como principais características o
classicismo e o racionalismo, pela sua inspiração nos modelos artísticos da Antiguidade
Clássica, onde o equilíbrio geométrico e a rigorosa simetria das formas de distribuição dos
volumes estavam sempre presentes.

A arquitetura renascentista é caracterizada pela:

 Tendência para a inspiração na arte greco-romana, a que se dá o nome de classicismo,


voltando-se a utilizar as ordens arquitetónicas clássicas, as cúpulas, os frontões
triangulares, as abóbadas de berço e os arcos de volta perfeita.
 Recuperação da racionalidade da arte greco-romana, isto é, o equilíbrio geométrico e a
simetria das formas, revelando a preocupação constante do artista em conferir
unidade e harmonia às obras, com o rigor das proporções.
 Rejeição da verticalidade dos edifícios góticos e adoção da horizontalidade,
introduzindo longas cornijas e balaústres, não se limitando, assim, a imitar os clássicos.
 Decoração, que privilegia os elementos naturalistas (grinaldas, conchas, florões) e
estátuas de personagens da mitologia antiga.

A arquitetura renascentista não se imitou à construção de edifícios religiosos, mas também


civis, como belos palácios e castelos decorados no seu interior com mobiliário, tapeçarias e
cerâmica, o que conduziu ao desenvolvimento das artes decorativas.

Os arquitetos mais representativos deste estilo artístico foram Brunelleschi, Donato Bramante
e Miguel Ângelo

A pintura renascentista

A pintura renascentista foi revolucionária na sua época devido à introdução de um conjunto


de inovações técnicas: a pintura a óleo, que permitia obter cores mais brilhantes e duradouras,
ajudando a provocar um efeito de luz e de transparência até então desconhecidos; a
substituição da tábua de madeira pela tela, que possibilitava uma maior durabilidade da obra;
a introdução da técnica da perspetiva, em que os artistas conseguiam criar a ilusão de
profundidade e de espessura dos objetos representados; a técnica do sfumato, para obter uma
gradação (variação) da luz e da sombra e a composição da pintura da pirâmide, ou seja, a
disposição das personagens em triângulo ou pirâmide que confere-lhe equilíbrio.

Os temas da pintura são a Natureza, os motivos religiosos, as cenas da mitologia greco-


romana, aspetos da vida quotidiano e o retrato.

Os pintores mais representativos deste período foram os italianos Leonardo Da Vinci, Miguel
Ângelo, Rafael, Sandro Botticelli e o flamengo Jan Van Eyck.

A escultura renascentista

Com o Renascimento, a escultura tornou-se uma arte independente, isto é, separou-se da


arquitetura e adquiriu valor e reconhecimento próprios. As características da escultura
renascentista são: o gosto pelas estatuas equestres; as numerosas representações do nu,
baseadas num cuidado estudo da anatomia, o que contribuiu também para a representação
fiel da realidade, o realismo.

O mais importante escultor deste período foi o Miguel Ângelo, que se notabilizou com as
obras Pietà e David.

O caso português: o manuelino e influência renascentista na pintura

A arquitetura gótica marcou presença em Portugal até meados do século XVI. Porém, nos
reinados de D. Manuel I (1495-1521) e de D. João III (1521-1557), período correspondente às
grandes viagens marítimas de descoberta, este estilo artístico passa a ter um decoração ligada
à Expansão marítima, originando o estilo manuelino, estilo artístico caracterizado por uma
decoração de motivos naturalistas (raízes, troncos, conchas e algas), de motivos relacionados
com a navegação (boias, redes e cordas) e de elementos naturais (escudo real, esfera armilar e
cruz da Ordem de Cristo) que constituíam manifestações de carácter propagandístico, isto é,
da afirmação do centralismo régio.

Os monumentos manuelinos mais significativos são o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de


Belém, em Lisboa e a Igreja Manuelina do Convento de Cristo, em Tomar.

Em relação à pintura, verifica-se, em Portugal, as influências flamenga e alemã, destacando-se


a representação de temas religiosos. Um dos pintores mais importantes foi Vasco Fernandes,
mais conhecido por Grão Vasco, que introduziu, de forma nítida, o gosto renascentista na sua
obra. Exemplo disso é o quadro Cristo em casa da Marta e Maria (c.1534), em parceria com
Gaspar Vaz, onde encontramos como elementos renascentistas, as colunas coríntias. Também
de salientar Nuno Gonçalves, o presumível autor dos Painéis de S. Vicente.

A crise da Igreja Católica

No final da Idade Média, a Igreja Católica encontrava-se mergulhada numa crise profunda. Tal
deveu-se:
 À vida de luxo e ostentação de diversos elementos da Igreja, pois as suas
preocupações incidiam mais na posse de bens materiais do que no cumprimento da
missão espiritual da Igreja, pelo que não viviam de acordo com os princípios do
Cristianismo;
 Alguns membros do clero levavam uma vida imoral, ocupando cargos que lhes davam
elevados rendimentos, não respeitavam o celibato, possuíam grandes propriedades e
não pagavam impostos.

Entre os séculos XIV e XV, várias pessoas se revoltaram contra o estado a que chegara a
Igreja: o teólogo inglês John Wycliffe, o teólogo checo Jan Huss e o frade italiana Savonarola.
Também humanistas como Thomas More e Erasmo de Roterdão teciam ferozes críticas e
recomendaram o regresso à pureza original do Cristianismo, propondo uma profunda reforma
religiosa.

O nascimento da Reforma Protestante

O movimento da contestação religiosa ganhou definitivamente força, no inicio do século XVI,


mediante a ação do mengo alemão Martinho Lutero. Nesta época, o Papa Leão X incumbiu os
seus monges de viajarem pela Europa, com a missão de recolher dinheiro dos fiéis para o
pagamento das obras da Basilica de São Pedro, em Roma; em troca, os que contribuíssem
financeiramente recebiam o perdão de todos os pecados cometidos, pela entrega de um
documento designado Bula das Indulgências.

Indignado com a atitude da igreja, Martinho Lutero afixou, em 1517, na igreja de Wittenberg,
as 95 Teses Contra as Indulgências. Lutero condenava a venda da salvação a troco de dinheiro
e lançava os princípios que iriam marcar a sua doutrina religiosa. Isso assinalou o ínicio da
Reforma Protestante, movimento de “protesto” contra a Igreja Católica que levou ao
nascimento de novas doutrinas religiosas cristãs que se negavam a obedecer a Roma e que
constituiu um momento de rutura na cristandade ocidental.

Lutero desobedeceu às ordens do Papa e foi excomungado, em 1521. A nobreza alemã


apoiou-o e protegeu-o da condenação à fogueira decidida pela Igreja. Os príncipes alemães
aspiravam tornar-se chefes temporais da Igreja nos respetivos Estados, pelo que necessitavam
de retirar poderes ao Papa. Assim, as ideias reformadoras de Lutero interessavam aos planos
da nobreza alemã e constituíam um meio para a sua concretização. Foi neste contexto que
nasceu a Igreja Luterana, na Alemanha, a primeira igreja protestante.

Princípios ideológicos do protestantismo

O protestantismo apresenta os seguintes princípios, em oposição aos princípios do


catolicismo:

 A salvação alcança-se pela fé, segunda a doutrina luterana, enquanto que, para os
católicos, obtém-se não só pela fé, mas também pelas boas obras;
 A Bíblia é a única fonte de fé, para os luteranos. Os católicos, mantem a Biblia e a
Eucaristia em Latim, e reafirmaram o culto dos santos e da Virgem;
 O culto, nas igrejas protestantes, resume-se à leitura da Bíblia a ao cântico dos hinos
nas línguas oficiais de cada país. Os católicos prestam culto aos santos e à Virgem,
maioritariamente em latim;
 O batismo e a comunhão são os únicos sacramentos válidos para a doutrina luterana.
O catolicismo cumpre sete sacramentos;
 O celibato dos clérigos é abolido pelo luteranismo, mas esta ideia é repudiada pela
Igreja Católica;
 A liderança da Igreja é da responsabilidade do monarca na Igreja Anglicana, mas para
os católicos ela pertence em exclusivo ao Papa.

O luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo

O luteranismo, com origem na Alemanha, rapidamente se difundiu pela Suécia, Noruega,


Finlândia e Dinamarca. Lutero defende que a salvação e o perdão dos pecados dependem
unicamente da fé e não das obras praticadas.

Calvino, teólogo humanista francês, desenvolveu o calvinismo. Calvino segue os princípios do


protestantismo, no entanto, em relação à salvação, considera que o ser humano está
predestinado à nascença a ser salvo ou condenado por Deus (doutrina da predestinação), pelo
que nem mesmo o seu comportamento excecional em vida pode alterar este destino. O
calvinismo nasceu em Genebra, na Suíça, e espalhou-se pela Escócia, Países Baixos, Hungria,
Polónia e sul de França.

O anglicanismo nasceu na Inglaterra, com o rei Henrique VIII, como reação à decisão do Papa
não aceitar a anulação do seu casamento com Catarina de Aragão. Assim, pelo Ato da
Supremacia, o rei renegou obediência ao Papa e fundou a Igreja Anglicana, declarando-se o
seu chefe supremo. A Igreja Anglicana afirmou-se na Grã-Bretanha e em todo o território sob a
sua soberania, desde a América do Norte à Oceânia.

A reação da Igreja Católica à Reforma Católica

Perante o avanço do movimento protestante na Europa, a Igreja Católica viu-se obrigada a


reagir, fazendo-o em duas vertentes: por um lado, lançou a Reforma Católica, através de
medidas de reorganização interna, de reafirmação da sua doutrina e de regresso às origens;
por outro lado, empreendeu a Contrarreforma, um conjunto de medidas para travar e
combater a expansão da Reforma Protestante.

A Reforma Católica

Quando à Reforma Católica, o Papa Paulo III convocou um Concilio (reunião de bispos e
cardeais para discutir temas de doutrina ou a organização da Igreja) na cidade italiana de
Treno, que se realizou entre 1545 e 1563. O objetivo deste Concilio era duplo: melhorar a
formação e a conduta do clero e analisar as críticas dos protestantes. No final desta reunião, a
hierarquia eclesiástica reafirmou os seguintes dogmas, as verdades religiosas incontestáveis –
do catolicismo:

 Os sete sacramentos;
 A autoridade papal;
 A salvação pela fé e boas obras;
 O uso do latim na missa;
 A Bíblia e a tradição como fontes da fé.

Além disso, ao nível da conduta do clero, foi decidido criar seminários para a formação dos
jovens padres; manter o celibato; obrigar os bispos e os padres a viver juntos dos seus fiéis
nas suas paróquias e proibir a acumulação de benefícios.

A imposição de uma disciplina rigorosa e o regresso ao Cristianismo primitivo é visível na


fundação da Companhia de Jesus, uma ordem religiosa fundada pelo clérigo espanhol, Inácio
de Loyola, em 1540, cujo principal objetivo assentava na pregação da fé católica nos países
protestantes da Europa e a evangelização dos povos indígenas do Novo Mundo. A ação dos
padres jesuítas centrou-se no ensino, com a criação de colégios e universidades um pouco por
toda a Europa e a missionação.

A Contrarreforma

Em relação à Contrarreforma, a atuação da Igreja Católica assumiu um caracter violento e


repressivo, tendo utilizado os seguintes meios:

 Inquisição – tribunal eclesiástico criado no século XIII que punia e combatia as


heresias, blasfémia e a “bruxaria”, confiscava bens e condenava à pena de morte. No
século XVI, foi criado em Portugal para perseguir protestantes, judeus e muçulmanos,
e certos comportamentos “desviantes dos crentes católicos.
 Congregação do Índex – organismo da Igreja que elaborava a lista de livros cujas
leituras e posse eram proibidas aos católicos. A pena para quem fosse descoberto com
tais livros podia chegar à excomunhão e à morte e os livros eram queimados.

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