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Época Medieval

A época medieval teve uma duração de cerca de 1000 anos, é um período que divide a
História, tendo como início a destituição do último imperador romano do Ocidente, em 476,
e como final, a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453. Esta época é um período
longo, com inúmeras mutações históricas. É também identificada como uma sociedade
aristocrática e vassálica, tendo, como principal símbolo, o castelo.

A experiência urbana
Nos últimos séculos da Idade Média, a cidade tornou-se no centro mundano. Ao contrário
do campo, esta tornou-se um uma porta aberta para o futuro, com inovações, um mundo
de negócios que fazem com que a organização social, a vivência da religião, a cultura e
arte sofram profundas reformas. Desta forma, são alterados valores e vivências
quotidianas, que afectaram, claramente, o declínio da época medieval.

Uma nova sensibilidade artística:


O Gótico
A burguesia era orgulhosa de si própria e da sua cidade, a qual dependia bastante de si,
devido aos negócios, portanto, existia uma espécie de “patriotismo local”, em que esta
classe faz todos os esforços por tornar a sua cidade a mais bela, comparativamente às
cidades vizinhas. Os burgueses contribuíam com quantias avultadas (com o intuito de
receber algum mérito ou honras) para as construções urbanas: muralhas, portas
monumentais, palácios, igrejas.
Então é criado um novo estilo artístico: o Gótico. Uma combinação engenhosa de
componentes arquitecturais que fazem com que estas construções sejam elevadas, com
torres muito altas. Desta forma, as torres podem ser vistas ao longe, mostrando, assim, a
importância daquele povo.
Embora este estilo tenha sido utilizado em diversas construções artísticas e civis, são as
igrejas a quem está intimamente ligado, e as catedrais foram a sua melhor expressão.

A catedral, expoente do Gótico


De acordo com a finalidade espiritual procurada no estilo gótico, as catedrais deveriam
possuir: uma elevada altitude e uma grande verticalidade (procurando atingir o Céu),
luminosidade e uma plena continuidade entre o início de seus pilares e o cume de suas
abóbadas, o que lhes confere um exterior imponente e extremamente decorado, como a
Catedral de Notre-Dame [ver Doc.2]. As igrejas góticas têm, também, um interior vasto,
elevado e luminoso, com formas arquitectónicas suaves, comparadas com os interiores
robustos romanos. São compostas por grandes janelas, com vitrais, defendendo, assim, a
divisa “Deus é luz”, como é visível, por exemplo, na capela gótica, Sainte-Chapelle, em
Paris [Doc.3].

Os elementos construtivos
As características do estilo gótico estão ligadas aos seus marcantes elementos
construtivos, como o arco quebrado, a abóbada de cruzamento de ogivas e o arcobotante:

 arco quebrado: também podendo chamar-se arco gótico ou em ogiva, é alto,


independentemente da largura da sua base; usado em entradas e portais para lhes
conferir verticalidade [Doc.4];
 abóbada de cruzamento de ogivas: derivada da abóbada de aresta românica,
tem função decorativa e caracteriza-se pelos arcos de suporte (ogivas). Estas
abóbadas são articuladas, compostas por tramos (secções independentes) unidos.
Estes suportam o peso da abóbada em quatro ângulos [Doc.4];
 arcobotante: este é composto por duas partes: o estribo (espécie de contraforte,
às vezes encimado por um pináculo) e um ou mais arcos, que apoiam as paredes
da nave central, para que estas tivessem pouca espessura e fossem cobertas por
vitrais [Doc.4].

Todas estas componentes decorativas conferem às catedrais góticas a sua magnificência


e conformidade.

O “livro de imagens” da Cristandade


Durante o século XIII, a relação entre a escultura e a arquitetura é muito forte. Assim,
decorando edifícios, fachadas, portais e telhados, eram visíveis imagens.
Estas não demonstravam dinamismo e eram naturalistas; eram ordenadas e simétricas,
destacando-se dos edifícios aos quais se encontravam unidas. Revelam perfeição e
qualidade nos modelos de rostos e vestes, que não eram vistas no Ocidente desde o
decrescimento da arte romana, como é visível no Doc.5.
A escultura é, então, o “livro de imagens” da Cristandade. Para além do valor decorativo,
as esculturas contavam ao povo analfabeto da Idade Média a vida de Cristo e dos Santos,
enquanto as gárgulas [Doc.6] alertavam para a possibilidade de condenação do pecado.
Os vitrais também serviam de ensinamento àqueles que não sabia ler, pois retratavam os
ensinamentos que deviam seguir e aquilo em que deviam acreditar.

As mutações da religiosidade: ordens


mendicantes e confrarias
A cidade era um lugar de muitos contrastes. Com as actividades económicas a
melhorarem, os ricos adquiriam cada vez mais riqueza e, consequentemente, havia
rivalidade de poderes.
Em contraste a tamanha abundância, assistia-se a uma extrema miséria. Ao chegarem à
cidade, os camponeses nem sempre encontravam trabalho e assim, sozinhos, viviam em
condições de pobreza iguais ou piores às que tinham quando chegaram à cidade.
Para acabar com a miséria, desenvolveram-se organismos de interdependência dirigidos à
ajuda mútua e à prática da caridade. Muitas destas organizações devem-se às ordens
mendicantes.
O papel das obras mendicantes
O clero, contrariando os dogmas primitivos de renúncia a bens materiais, de humildade,
vivia ostentosamente, o que fez com que muitos crentes aderissem a heresias.
Movimentos de refutação à vida eclesiástica de luxo, de retorno à humildade e pobreza
originais, pregadas pelo cristianismo, nasceram dentro da própria Igreja. As ordens
mendicantes que mais influenciaram estes movimentos foram as de S. Francisco e S.
Domingos.
S. Francisco [Doc.7], natural de Assis (Itália), fundou a Ordem dos Frades Menores, uma
ordem humilde que vivia em pobreza absoluta. Sobreviviam diariamente graças ao seu
trabalho e às esmolas (daí o termo mendicantes). Esta ordem dedicava-se à pregação e à
ajuda de quem mais necessitava.
Os primeiros conventos Franciscanos fundaram-se desde muito cedo em Portugal.
Primeiro em Alenquer e Guimarães e logo depois em Lisboa e Coimbra. Salienta-se o de
Leiria que servia de albergue a peregrinos e mendigos.
S. Domingos de Gusmão, natural de Espanha, fundou, por sua vez, os Dominicanos e
partilhava os mesmos ideais de S. Francisco. Dando ênfase à pregação e tentando
combater a heresia, dedicavam-se ao estudo da Teologia.
As ordens mendicantes contribuíram assim para a renovação da fé cristã e para que os
sentimentos de fraternidade e entreajuda fizessem parte da comunidade medieval. Assim,
foram criadas as confrarias e outras associações de socorro mútuo.

As confrarias
As confrarias eram associações de socorro mútuo, de carácter religioso e que se
organizavam sob a protecção de um santo. Mesmo em pequenas cidades podiam existir
dezenas, pois ligavam vizinhos, pessoas com devoção ao mesmo santo, homens com a
mesma ocupação profissional (os grupos profissionais organizavam-se em corporações),
ou apenas pessoas que desejavam praticar a caridade. Dedicavam-se, portanto, à
generosidade, como meio de minimizar a pobreza urbana.
Cada confraria tinha os seus estatutos, ou seja, definiam que tipo de ajuda deveria ser
prestado: distribuição de esmolas, manutenção dos hospitais, etc. Para estas actividades,
os fundos provinham das quotas anuais obrigatórias de cada confrade, os mais ricos
faziam também doações. Do dinheiro angariado era retirado uma parte para celebrações
religiosas, como, por exemplo, procissões e festas ao santo padroeiro.

A expansão do ensino elementar; a


fundação de universidades
As primeiras escolas urbanas
Até ao séc. XI, a leitura e a escrita eram privilégios quase exclusivos aos clérigos. Os
mosteiros tinham vastas bibliotecas e escolas monacais. Estas escolas foram diminuindo
devido ao êxodo rural, pois estas inseriam-se em áreas rurais.
No séc. XI criaram-se as primeiras escolas urbanas, no centro das cidades, que, ainda sob
a alçada da Igreja, se destinavam, além de clérigos, à população leiga.
Com o desenvolvimento citadino, são necessários homens instruídos em letras para
ocuparem cargos de juristas, notários e escrivães. Formavam-se novos médicos, legistas,
futuros funcionários régios, ou seja, funcionários reais que sejam capazes de planear e
executar e de fazer novas tarefas em cidades que estavam em crescimento. Para registos
mais rigorosos necessários na expansão das grandes companhias comerciais, foram
criadas nas cidades mercantis, como em Londres, Lubeque, Veneza ou Florença, uma
espécie de “escolas secundárias” que, além de Lógica e Gramática, ensinavam também
Aritmética.

As universidades
Durante o século XII, algumas escolas catedralícias obtiveram fama internacional, o que
atraía estudantes de Teologia, Medicina ou Direito. Porque era necessária uma
organização mais rígida devido ao ensino ter-se tornado mais complexo, criaram-se as
universidades[7], que definiam objectivamente as matérias a estudar, os graus académicos
e defendiam os seus membros. Duas das primeiras escolas catedrais a assumir este
sistema de organização foram a Bolonha (1088) e a de Notre-Dame (1158). Em 1231,
Gregório IX determinou que as universidades estabeleceriam as suas próprias leis e
regras, no que dizia respeito a cursos, estados e graus (existiam os graus de bacharel,
licenciado e doutor), desta forma, ficaram sob influência do Papa.
A universidade de Bolonha centralizou-se no ensino de Direito e a de Notre-Dame, em
Paris, em Teologia.
Os estudos organizavam-se em faculdades, cada uma correspondente a um ramo de
ensino; todas tinham a de Artes que era a base dos estudos universitários. Depois de um
curso de seis anos em Artes, iniciado entre os 14 e os 16 anos, atingia-se o grau de
licenciado. Depois, era possível a especialização em Teologia (que poderia durar até mais
quinze anos), Medicina ou Direito (estes dois últimos exigiam mais seis anos de estudos).
O ensino era baseado em leitura e comentário, pelo mestre, dos escritos das autoridades
no assunto frequentado.

A primeira universidade portuguesa


Em Portugal, D. Dinis apoiou alguns pedidos dos clérigos ao Papa para que criasse um
Estudo Geral, futura universidade [como é possível ver no Doc. 8]. Em 1290, foi fundada a
primeira universidade portuguesa, O Estudo Geral de Lisboa. Este funcionou com as
faculdades de Artes, Direito Canónico, Leis e Medicina; o ensino da Teologia continuou a
ser proporcionado nas escolas dos mosteiros da Santa Cruz de Coimbra e Alcobaça.
Em 1308, o rei transferiu o Estudo Geral para Coimbra, pois esta ocupava já uma posição
de destaque no panorama cultural português. Embora tenha sido transferida novamente
para Lisboa, em 1537, a universidade portuguesa fixou-se definitivamente em Coimbra, o
que alterou a vida académica coimbrã até aos nossos dias.
A cultura leiga e profana nas cortes régias e
senhoriais
Com um clima de prosperidade e paz, as cidades renasceram e com elas, a cultura. O
gosto por uma cultura erudita proliferou nas cidades (com as escolas e as universidades)
mas também nas cortes régias e senhoriais. A rudeza dá lugar à cortesia e os nobres
tornam-se cavaleiros ideais: bons e corajosos, defendem a causa da justiça e cortejam as
damas de acordo com o amor cortês. Nesta cultura, a literatura assume um papel central,
pois assim se espalharam os ideais cavaleirescos, cantaram-se sentimentos e honraram-
se as memórias de antepassados e de grandes feitos praticados.

O ideal de cavalaria
Nasce o ideal do perfeito cavaleiro, com que toda a nobreza se identificava.
Para atingir esse estatuto, era necessário ser filho de um nobre e ser honrado, corajoso e
leal para com o seu senhor; piedoso e justo. O cavaleiro tem como fundador o arcanjo S.
Miguel e por isso lutam por Cristo. Seguiam, portanto, modelos espirituais, mas também
humanos, como grandes figuras da Antiguidade ou o lendário Rei Artur.
Os serões das cortes eram ocupados com a leitura de narrativas de cavalaria. As novelas
arturianas foram as mais importantes na formação de narrativas deste género.
Antes de ser armado cavaleiro, um jovem tinha de ter uma educação rigorosa, prestar
provas da sua coragem e destreza e só depois possuía a honra de um cavaleiro,
pertencendo, então, a uma das muitas ordens de cavalaria que cresciam na Europa.

A educação cavaleiresca
Nos primeiros anos de vida, o rapaz era cuidado pela mãe e depois seguia para uma “casa
grande”, a casa de um senhor, onde servia, durante sete anos, como pajem, iniciando-se
na equitação e no manuseamento de armas; na adolescência, já conhecia a arte de
cavalgar e tornava-se escudeiro, ou seja, durante mais sete anos, servia um cavaleiro nas
suas expedições, tratava do seu cavalo e das armas. Durante estes anos, o jovem treinava
para, no futuro, se tornar cavaleiro.
Como treino físico eram praticados desportos como a caça, os torneios e as justas. A
caça, sobretudo a montaria, em que perseguiam grandes animais, obrigava a cavalgadas
nos bosques; no entanto os torneios eram bastante mais apreciados, simulando combates
amigáveis entre dois grupos de cavaleiros.
Após cerca de 14 anos de aprendizagem o jovem proferia os votos de cavalaria: sagrados
e de grande valor espiritual. O jovem passava por um ritual solene que incluía uma noite
de vigília na igreja, uma missa e comunhão, para que pudesse purificar a alma. Para
purificar o corpo, tomava um banho simbólico. Após este ritual, recebia as esporas de
cavaleiro e a espada, símbolo de direito e dever de combater, ingressando, assim, numa
ordem de cavalaria.
O amor cortês
O código da cavalaria integrava também um código de amor: conjunto de normas que
explica como deve ser o amor e define-o como uma parte importante na vida de um
cavaleiro que é um herói que serve por amor.
O conceito do amor cortês foi desenvolvido entre os aristocratas franceses durante o ano
1100. No amor cortês, um homem devota uma grande paixão a dama. Por causa do
costume medieval, onde quase todos os casamentos eram feitos por interesse, o amor
cortês funcionava como o único e verdadeiro sentimento na vida da maioria das pessoas.
Conforme mostra no Doc.9, autores medievais, artistas, e trovadores inspiravam-se no
amor cortês como tema principal na maior parte de seus trabalhos. É um amor
essencialmente espiritual.
O homem mantém uma atitude de veneração perante a Dama; é educado e requintado. A
mulher, por sua vez, corresponde aos ideais de perfeição a nível físico e espiritual.

A influência da literatura
Nas cortes, assistiam-se a espetáculos de jograis que recitavam e cantavam poemas dos
trovadores que pertenciam, na maioria, à nobreza. Este tipo de poesia amorosa chamava-
se poesia trovadoresca (de influência provençal, francesa, espalhou-se pela Europa), foi a
primeira manifestação literária portuguesa.
O Romance da Rosa, alegoria ao amor, é também um documento sobre o tema do amor;
nele, a rosa simboliza a mulher, que só pode ser «colhida» depois de duas provas
prestadas pelo cavaleiro. Este romance foi popular durante dois séculos e serviu de culto
(apesar de muita polémica) entre os homens mais enobrecidos da época.
Na Península Ibérica, D. Afonso X, o Sábio (1221-1284), rei de Castela e avô de D. Dinis,
iniciou a literatura galaico-portuguesa com as cantigas de amigos e as cantigas de amor
[ver Doc.10].
É possível concluir que o amor foi, portanto, um elemento fundamental na cultura erudita
da Idade Média: foi, para muitos, um código de vida e, até um ideal de vida.

O culto da memória dos antepassados


Nos Livros de Linhagens, os antepassados nobres eram recordados pelas famílias suas
famílias, assim como os grandiosos feitos que praticaram e isso enaltecia aquela
linhagem, aquela família.
Esta literatura genealógica difundiu-se pela nobreza europeia nos séculos XIII e XIV. Em
Portugal, D. Pedro, Conde de Barcelos, filho ilegítimo de D. Dinis, foi quem deu autoria a
um dos mais importantes livros de linhagens: O Livro de Linhagens do Conde D. Pedro.
Neste livro, inserem-se narrativas históricas como batalhas importantes, mas também
lendas de tradição oral, com personagens fantásticas, o que lhe confere um carácter
literário [Doc.11].

A difusão do gosto e da prática das viagens


Nos séculos XIII e XIV, antigas barreiras geográficas foram quebradas, graças ao
comércio. Viajava-se para lugares mais longínquos e, até, para a Ásia.
Mercadores, missionários, peregrinos, diplomatas, cavaleiros que partem à procura de
uma vida melhor abriram as portas do mundo através de viagens, preparando assim, a
Europa para os Descobrimentos.

Viagens de negócios e missões político-diplomáticas


Os negociantes eram grandes viajantes, em busca de melhores locais para expandirem o
seu comércio, apesar da existência de riscos, como roubo ou destruição de mercadoria.
São então elaborados, pelos mercadores expeditos, que conheciam várias línguas,
dicionários e guias de viagem.
Os italianos foram os primeiros a ousar percorrer o continente asiático, tendo sido bem
recebidos e efectuado bons negócios.
Marco Polo, filho de Niccolò Polo, chegou a Pequim em 1271, com apenas vinte e um
anos. Graças às suas faculdades diplomáticas e linguísticas, foi honrado pelo Imperador e
até nomeado governador de uma das suas províncias [Doc.12].
Vinte anos depois, volta ao seu país e escreve O Livro de Marco Polo, mundialmente
conhecido, onde relatou as suas aventuras, os povos orientais e as maravilhas das suas
terras. Este foi o impulsionador dos portugueses para que, dois séculos depois, iniciassem
os Descobrimentos.
Com o desenvolvimento do comércio, as viagens político-diplomáticas passaram a ser
efectuadas por mercadores em nome dos reis – embaixadores.
Roma era o local onde todos os embaixadores se encontravam e o Papa passou, assim, a
ser o intermediário entre os Estados.

Romarias e peregrinações
Na Época Medieval, a religião ajudou também a quebrar fronteiras graças aos rituais
religiosos, como as peregrinações.
As igrejas, capelas e ermidas eram objectos de adoração, quer devido às relíquias que
guardavam, quer pelas imagens dos santos milagrosos, ou pela devoção ao seu santo
padroeiro. Eram então feitas peregrinações, como cumprimento de promessas, em busca
de ajuda espiritual ou simplesmente pela fé religiosa.
As romarias eram pequenas viagens até ao destino religioso pretendido; feitas em honra
de um santo, numa data fixa do ano, onde participava o povo de zonas vizinhas, com
carácter não só religioso mas também lúdico [Doc. 13].
Já no santuário, pagavam-se as promessas, participavam em missas e geralmente em
procissões. Aproveitavam para realizar negócios nas feiras, trocavam notícias, cantavam,
dançavam e vivia-se ambientes festivos [Doc. 14].
As romarias tornaram-se assim em manifestações importantes na cultura popular,
chegando até aos nossos dias.
Ao invés das pequenas romarias, realizavam-se as grandes peregrinações, de tradição
judaico-cristã. Juntavam-se grandes grupos de pessoas com um destino predefinido.
Nestas peregrinações participavam homens e mulheres, crianças e idosos, doentes e
sãos; também grandes senhores participavam, a cavalo, levando uma comitiva, ou a pé,
juntamente com a população humilde.
Os lugares de destaque das peregrinações eram Jerusalém (local da morte de Cristo);
Roma, onde se encontrava o papado e onde S. Pedro morreu mártir; e Santiago de
Compostela, onde no século IX se encontrou o túmulo do apóstolo S. Tiago.
Jerusalém era a viagem mais longa e mais perigosa, mas acreditava-se que quem lá fosse
se redimia de todos os seus pecados.
A população da Europa Ocidental visitava, frequentemente, Santiago de Compostela,
acreditando em poderes milagrosos de cura. Multiplicaram-se os santuários e foram
criados mosteiros, albergarias e hospitais para apoio aos peregrinos, oferecendo-lhes local
de repouso, água e comida.
Como estas peregrinações eram preparadas com antecedência, originaram-se guias
especializados, como o Guia de Santiago, que descrevia os roteiros, media as distâncias,
ensinava a ultrapassar alguns acidentes naturais, descreia os santuários a visitar e outros
detalhes de utilidade. Acautelava sobre a compra de falsas relíquias, sobre as excessivas
portagens em alguns rios e reprovava todos aqueles que se aproveitavam da boa-fé dos
crentes para enriquecerem.
Assim que chegassem ao destino pretendido, eram abençoados e as misericórdias
próprias de cada local e ouviam uma missa pro peregrinantes. Passavam, então, muito
tempo na igreja, rezavam o mais próximo possível das relíquias milagrosas ou dos túmulos
dos santos, para melhor se fortalecerem espiritualmente. Pagavam as suas promessas e
regressavam a casa, para mais uns dias ou até meses de viagem, cansados fisicamente,
mas agradecidos e fortificados pelo espírito cristão.

A Universidade de Lisboa
Ao Santíssimo Padre (…) nós, o abade de Alcobaça, o prior de Santa Cruz de Coimbra, o
prior de S. Vicente de Lisboa e outros clérigos do reino de Portugal e do Algarve (…)
consideramos ser muito conveniente ter um Estudo Geral de Ciências, por vermos que à
falta dele, muitos não ousam e temem ir estudar para outras partes devido às muitas
despesas e perigos da vida. Por estas causas, rogamos a D. Dinis (…) que se dignasse
ordenar fazer um Estudo Geral na cidade de Lisboa. (…) Assentou-se que o salário dos
mestres e doutores se pagasse com as rendas dos nossos mosteiros e igrejas. (…)
Recorremos a Vossa Santidade pedindo-lhe humildemente que queira confirmar uma obra
tão louvável.

Conclusão
Com a realização deste trabalho prático sobre “Valores, Vivências e Quotidiano da Idade
Média”, desenvolvi as minhas capacidades a vários níveis. Os objectivos a que me propus
no início deste projecto foram atingidos e, por isso, agora sou capaz de identificar
elementos artísticos góticos da Época Medieval; compreendo melhor como a sociedade
estava organizada de acordo com os seus padrões de cultura, quer popular, quer erudita;
e toda uma Europa que funcionava em conjunto.
Ao aprofundar os meus conhecimentos sobre Arte, idealizo, mais fielmente, a “imagem”
gótica da Idade Medieval visível nas cidades, através de edifícios como catedrais, que
deixavam a população de uma cidade orgulhosa da mesma.
As mudanças na Igreja conduziram à criação de obras mendicantes, que pregavam os
verdadeiros sacramentos da Cristandade: humildade e pobreza; e as confrarias que
tiveram um papel importante nas cidades medievais, como forma de solidariedade.
Quanto à expansão do ensino, a criação de um «ensino secundário» e de universidades
foi uma mais-valia a nível cultural, que ajudou no desenvolvimento da Europa, tornando a
população mais instruída pois já era, então possível estudar Direito, Medicina, Teologia.
Isto fez com que as atitudes e os aspectos culturais da época se engrandecessem,
traduzindo numa diferenciação entre a cultura popular e a cultura erudita, desta forma
criando ideias de perfeição: ideal do perfeito cavaleiro; o amor ideal, o amor cortês; o que
enalteceu a literatura portuguesa com as cantigas e os livros de linhagens. Estes
prestavam culto aos antepassados de uma família, recordando os seus grandes feitos
praticados e como serviram o país, como forma de dignificação dessa mesma família
nobre.
A difusão e a prática de viagens possibilitou a comunicação entre a Europa e a Ásia,
amplificou os negócios mercantis e deixou a Europa, principalmente os portugueses (que
dois séculos depois da edição do Livro de Marco Polo iniciaram os Descobrimentos) a
sonhar com um mundo novo, cheio de possibilidades e riquezas.
A religião Cristã trouxe também povos de várias zonas da Europa a lugares santos como
centros de fé, lugares milagrosos. A cultura popular era vista em romarias – viagens
pequenas até um local sagrado, com celebração de rituais, bailes, feiras – e peregrinações
– viagens que duravam dias ou meses, também com o intuito de visitar locais sagrados em
busca de ajuda, de alívio para doenças.
Como disse Cícero, filósofo romano (século I a.C.): "Não saber o que aconteceu antes do
teu nascimento seria para ti a mesma coisa que permanecer criança para sempre", é
essencial conhecermos a nossa história, os factos que nos trouxeram ao que somos hoje e
o que fez com que a sociedade evoluísse em vários níveis: cultural e religioso.

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