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Frei Calvão
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Benedito Lima de Toledo

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Copyright @ z,oo7 Benedito Lima de Toledo

Direitos reservados e protegidos pela lei 9.6ro de ry.2.98.


É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, da editora.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (crr)


(Câmara Brasileira do Livro, sP, Brasil)

Toledo, Benedito Lima de


Frei Galvão: arqúteto / Benedito Lima de Toledo. - Cotia, sp
Ateliê Editorial, zoo7.

Bibliografia.
rsnu 928-85-248o-349-+

r. Arqútetos - Brasil z. Arquitefirra - Brasil - História


3. Galvâo, Antônio de Sant'Anna, Santo, 1739-1822 4. Santos
na arte r. Título.

07-2314 cDD-720.98t

Índices para catálogo sistemático:

r. Frei Galvão como arquiteto: Brasil 7zo.98t

Direitos reservados à

.Lrr,rrÊ EDIToRIAL
Estrada da Aldeia de Carapicuíba, 897
06709-300 - Granja Viana - Cotia - sp
Telefax(n) 46rz-9666
www.atelie.com.br - atelieeditorial@terra.com.br
2007

Foi feito depósito legal


Sumário

Çrei Çalvao: frrquiteto Qaulista, 9


Mosteiro de Nossa Senhora daLsz: Origens 9
Uma Imagem em São Paulo . t6
Muros que Resistem ao Tempo SB

Igrejas de Planta Octogonal 42


Um Precioso Documento Arquitetônico 48
Implantação do Edifício 5o
Retábulo de Nossa Senhora daLuz 57
UmDocumento-ORisco 66

Eibliografia,. ...,,69

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O legendário rei Offa e seu arquiteto dirigem um canteiro de obras. O arquiteto


segura seus instrumentos de trabalho: compasso e esquadro. Sobre o muro, um
pedreiro confere o nível, enquanto outros moyimentam uma móquina de elevar
material. Os demais dedicam-se ao aparelhamento de blocos de pedra, os quais
serão assentados com juntas a prumo em fadas de mesma altura. E o optts
isodomum, segundo a classificação de Vitrúyio - Liltro segundo.
Frei Calvão:
Arquiteto Paulista

Mosteiro de Nossa Senhora daL:uz: Origens

Senhora daLuz é cultuada em Lisboa na igreja ori-


ginada de uma ermida fundada sob sua invocação, à qual
se chega pela rua da Fonte, que leva ao Largo daLuz, em
Carnide. Segundo antiga narrativa, uma luminosidade
de origem inexplicável era vista junto a uma fonte, cujas águas ainda
hoje escoam no local. Luz e ág:oa são presenças constantes na liturgia
cristã - ahtz é invocada como sendo imagem do próprio Criador e

a água, fonte de vida.


Uma luminescência intrigava os moradores de Carnide, local
situado na região de Mafra, a alguns quilômetros de distância de
Lisboa, por volta de 462.4 região era coberta por espesso matagal
em meio ao qual havia uma fonte, a Fonte do Machado. O fenômeno,
que a uns encantava e a outros cobria de medo, era descrito como se-
melhante ao arco-íris,visível de longe e que se esyaecia à medida que
alguém dele se aproximasse.

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BENEDITO LIMÀ DE TOLEDO ,

Pero Martins, natural de Carnide, depois de participar de incur-


sÕes militares no norte da África, caiu prisioneiro, talvez por ocasião
da tomada de Tânger em1437.
À essa época, os desditosos prisioneiros somente eram liberta-
dos mediante resgate. Não foi o caso de Pero Martins. Muito pobre
permanecia no cárcere. Em meio a essa vexação, em sonhos apare-
ceu-lhe Nossa Senhora "aureolada de extrema luz e formosurd', fe-
nômeno repetido por cerca de trinta dias. Conta-se que a Virgem
ter-lhe-ia então formulado a seguinte mensagem (há outra versão
com igual conteúdo):

Filho, consola-te. Eu te livrarei deste cativeiro em que ora estás. E como


te livrar [slc], ainda que sejas pobre e de parentes necessitados, náo deixarás
de fazer o que te agora digo. Irás ao lugar de Carnide no termo de Lisboa,
donde és natural, e fazer-me-ás [slc] sobre a Fonte do Machado uma ermida
como tu puderes. E será a invocação de Santa Maria da Lrn, por ser este o
nome que me convém e de que meu Filho é servido me chame. Nesse lugar
há de ser meu nome glorificado, honrado e aumentado com muitas ma-
ravilhas e milagres que nele seráo feitos por minha intercessão em muitas
pessoas devotas. E quando chegares,já lá acharás de minha luz e claridade

os sinais, que teus naturais hoje vêem sobre a mesma fonte do Machado. Aí
acharás (buscando-a) uma imagem minha, a que farás o que te digo, e nela
mostrarei eu o que sou (Araujo, r977,pp.7-S).

Libertado em t463, Pero Martins regressou a Carnide algemado


com'grossas correntes". Detentor do segredo dalaz, mas desprovi-
do de posses, Pero Martins não via como cumprir as determinações
da"apariçãoi Um dia não se conteve e resolveu contar sua aflição à
esposa e a um primo. À noite, e com discrição, dirigiram-se ao 10-
cal da fonte e encontraram a imagem de Nossa Senhora, que atual-
mente se apresenta no altar-mor da Igreja daLuz.À semelhança da
imagem de barro cozido de Nossa Senhora de Aparecida, a imagem

(roá
EREI GALYÃo:,tneuITETo

conta com um sobremanto de forma triangular que não permite vê-


la em sua ínteireza.
A reação dos moradores foi de grande júbilo e logo se dispuse-
ram a erigir uma ermida para a qual uns contribuíam com dinhei-
ro e outros com trabalho. Na inauguraçáo, além da população local,
o próprio rei D. Afonso v esteve presente e foi o primeiro irmão da
confraria que então se fundava.
A atual igreja que sucedeu a ermida deve muito de sua existência a
uma graciosa princesa, a infanta D. Maria filha de el-rei D. Manuel e de

D. Leonor. Nascida emL52r,ficou órfã aos dois anos de idade. Cresceu


aos cuidados de sua tia D. Catarina, irmã do Imperador Carlos v e teve
mestres eruditos como o teólogo e futuro bispo frei foão Soares.
Completados dezesseis anos, D. foão IIr lhe pôs'tasa às ordens".
A infanta ficou conhecida por dois atributos: sua iwulgarbeleza e a
imensa fortuna que herdara dos pais. Por uma dessas razões, ou pe-
las duas, não lhe faltaram pretendentes entre os príncipes da Europa.
Retratos da infanta podem ser encontrados em alguns museus da
Europa e na própria igreja e nos apresentam a imagem serena, sem
afetação e com um olhar algo distante.
Sua devoçáo a Nossa Senhora e sua vida espiritual levou-a a
patrocinar a construção da nova igreja. O projeto foi confiado ao
arquiteto Jerônimo de Ruão, filho do mestre |oão de Ruão, com li-
berdade de escolher o melhor material disponível na Europa. As
obras foram iniciadas em L575, no dia de Santo Antônio, 13 de junho.
Dois anos depois, a infanta viria a falecer. A capela-mor ficou pronta
em 1596, ano em que se transferiu a imagem para seu novo retábulo.
Três quartos da população de Lisboa estiveram presentes a esse ato.
Uma das maiores festas de que se teve notícia. Hoje essa capela é o
panteão da infanta D. Maria.
A igreja que o arquiteto Jerônimo de Ruão projetou figura-se en-
tre as várias obras dessa época, onde é visível a influência dos trata-
distas do Renascimento, notadamente Serlio. O tratamento não se

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BENEDITO LIMA DE TOLEDO

Retrdto da inÍanta
D, lv[aria. Escola de
Clouet. Museu Conde,
Chantilly. !-. {É


PÁGINÀ SEGUINTE ire it"+.; --;
Altar-mor da Igreia ê
de Nossa Senhora
da Luz. Carnide,
Portugal."Uma das
mais importantes
maniftstações da talha bffi|}
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do fim do século xvr."
Foto do autor.

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restringe à monumental capela-mor. Nas paredes laterais a modula-


pela lin-
ção dos alçados surpreende por sua rigorosa regularidade e
guagem renascentista.
É uma obra do movimento conhecido como maneirismo do qual
temos outros expressiyos exemplos em Lisboa. Tal é o caso da Igreja

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BENEDITO LIMA DE TOLEDO

Pormenor do altar de de Santa Engrácia, projeto do arquiteto |oão Antunes e do padre


Nossa Senhora da Luz
Francisco Tinoco da Silva (1682) cuja planta segue fielmente dese-
em Carnide. Ao centro,
a imagem milagrosa nho contido no tratado de Serlio.
encontrada por Pero Consoante à disposição da infanta no interior foram utilizadas
Martins em 463. Foto pedras com acabamento requintado, embasamento de mármores
do autor.
branco e rosa da Arrábida, jaspe preto e vermelho usados em engas-
tes, bossagem nas paredes.
O pavoroso terremoto de Lisboa, ocorrido às dez horas da manhã

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FREI GÀLVÃO: ENQUITETO

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Parte superior do retábulo.


de r". de novembro de ry55,causou imensos danos à igreja. A nave da
Ao centro, o quadro de
igreja desabou. A capela-mor e o arco-cruzeiro resistiram e aí vamos
Nossa Senhora da Luz de
encontrar o retábulo de Nossa Senhora da Luz "sem dúvida uma das autoria do pintor espanhol
mais importantes manifestações da talha do fim do século xvI", se- Francisco Venegas k. tsso),
gundo Robert Smith. Nesse retábulo encontramos pinturas do artis- referido por Filipe rt como
o "meu pintor". Acima, a
ta espanhol Francisco Venegas (c. r59o), referido por Filipe II como
cena da coroação daVirgem
"meu pintor", que representa Nossa Senhora daLtz com o Menino, no céu. Foto do autor.
envolta por uma luminosidade.

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BENEDITO LIMA DE TOLEDO,

Uma Imagem em São Paulo

T-\ * Lisboa, numa encosta próxima à Ribeira de Cheleiros,


fica a Freguesia de Santa Maria da Carvoeira, onde se su-
rJ-{ /põe ter nascido Domingos Luís, o Carvoeiro. Foi esse ho-
mem, que vindo ao Brasil, erigiu com sua mulher, Ana Camacho,
uma ermida sob a invocação de Nossa Senhora daLuz nas para-
gens do Ipiranga.
Para essa capela o Carvoeiro trouxe uma preciosa imagem poli-
cromada de barro cozido de Nossa Senhora daLtz que hoje se en-
contra no retábulo da sala do Capítulo do Mosteiro daL,,tz.
Em 16o3, o Carvoeiro e sua mulher mudaram-se para os Campos
do Guaré, uma região despovoada que se estendia até o Rio Tietê ao
norte e o Tamanduateí a leste e que passou a ser conhecida como
Campo da Luz.Ainda no século xIx uma aquarela do úajante inglês
Edmund Pink (1823) permite-nos ver os Campos da Luz despovoa-
dos onde figura, isolado, o Mosteiro daLuz.
Em ry65 chegou a São Paulo o Morgado de Mateus - D. Luís
Antônio de Souza Botelho - o qual ordenou que a antiga capela,
em ruínas, fosse restauradaparanela ser celebrada a festa de "Nossa
Senhora dos Prazeres", protetora da Casa de Mateus.
Fatos largamente conhecidos, e por isso aqui não repetidos, fi-
zeram de frei Antônio de SanAnna Galvão o fundador do novo
convento na cidade de São Paulo. A história mostra que a par da ati-
vidade religiosa a cidade via surgir um competente arquiteto.
Frei Galvão pertencia à comunidade franciscana cujo convento
deu nome ao largo em que foi erigido. Esse é um pormenor curio-
so na história da cidade. São Paulo não contaya com praças; ape-
nas largos frente às respectivas igrejas como São Bento, Sé, Rosário,
Misericórdia, São Gonçalo, Santa Ifigênia e outros.
Segundo D. Clemente Maria da Silva-Nigra

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FREI GÀLVÃO:,tNQUITETO

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Pormenor de aquarela
do viajante Edmund
Pink, t9zj, onde yemos
o Mosteiro da Luz
isolado em meio aos
Campos do Guaré.

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BENBDITO LIMA DE TOLEDO

[...] é no século xvrrr que mais se constrói durante todo o período


colonial. Mesmo na pequena cidade episcopal de Sáo Paulo, desenvolve-se
uma atividade até entâo desconhecida. As antigas igrejas e conventos, que
náo sejam totalmente reconstruídos, sofrem grandes reformas e alterações,
seja no interior, seja no frontispício. Num rápido exame, verificamos no-
vas construções nos templos seguintes: Igreja de Sáo Pedro, ry4o-r745; da
Misericórdia, ry44 do Colégio, r74t; do Rosário, 1745; Matriz e Sé, 1745-1762;
de Santo Antônio,1747; dos Remédios,1747; de São Gonçalo Garcia, V57; de
Sáo Bento, 176z-r774;do Carmo,V66;da Ordem Terceira do Carmo,V75;da
Ordem Terceira da Penitência,ry83-t787; de São Francisco, r7B5; Convento
daLuz, 1788; Igreja da Boa Morte, r79o; de Santa Ifigênia, 1794; Mosteiro de
São Bento, r797-r8oo; Igreja do Convento da Luz, terminada em rSoz (Silva-
Nigra, 1958, p. 827).

D. Clemente arrola o nome de dois mestres, Bento de Oliveira e


seu escravo Tebas. Arquiteto houve um, |osé Custódio de Sá e Faria.
O minucioso e respeitável autor beneditino não se lembrou do arqui-
teto do Mosteiro daLuz.
O brigadeiro fosé Custódio de Sá e Faria,'b maior cartógrafo da
América do Sul'l segundo o mesmo D. Clemente:

Hóspede dos beneditinos, Sá e Faria compensou o agasalho, prestando


relevantes serviços ao mosteiro: corrigiu os defeitos da nave nova da igreja, e
desenhou as plantas para a construção de nova capela-mor, e sua decoraçáo
em talha; elaborou o projeto para uma torre nova e deixou o risco para um
novo mosteiro, com bela fachada para o Largo de São Bento (Silva-Nigra,
t958, p. 8zB).

Assim, consolidou-se, com dois grandes referenciais, o eixo São


Bento-São Francisco, componente do'triângulo histórico i São Bento
representava o vértice desse triângulo e, poderíamos dizer, o extremo
norte da cidade; para além, só campos.

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E do Largo de São Bento para o norte havia apenas a Estrada do Guaré


(Florêncio de Abreu). Mas o caminho para esse local da Luz ou do Guaré era
uma vereda bastante íngreme que só se pensou em suaúzar em 1782. Dois
anos depois, emt784, queria o abade de São Bento abrir uma rua do canto
da torre dos Beneditinos até o Convento daLtz,para o que já tinha licença
da Câmara, só faltando que ela determinasse a sua direçáo e a sua largura
(Bruno, 1984, vol. r).

O riacho Anhangabaú - hoje encanado sob a rua Carlos de Souza


Nazareth - cortava o Caminho do Guaré. Ali foi edificada uma pe-
quena ponte. O caminho conheceu - além de Caminho do Guaré
- denominaçÕes várias: Caminho da Luz, Rua do Miguel Carlos,
do Povo, da Figueira de São Bento, da Constituição e Florêncio de
Abreu. A ponte acompanhou as mesmas denominações.
A planta da cidade de São Paulo, levantada em rSro pelo enge-
nheiro Rufino José Felizardo e Costa, assinala no extremo norte o
"Caminho daLuz". Margeando esse caminho, aparecem duas indi-
caçóes: o "Convento daLuz" e, do outro lado, um "pouso". Próximo
ao pouso flgura, ainda, a indicação do "|ardim Públicoi junto ao
qual viria a ser edificada a "Casa da Correção'. O Mosteiro daLuz
é indicado sumariamente no lado voltado para o rio Tamanduateí.
Provayelmente esta será a primeira indicação na cartografia paulis-
tana do Recolhimento daLuz.
foi copiada em r84r, aparecendo em sua cercadura
Essa planta
uma representação da elevação principal do mosteiro. O mapa que
conhecemos hoje foi copiado em 1915, tendo merecido uma edição
em 1954. A imagem do mosteiro foi, portanto, recopiada.
Em maio de r8z7,o botânico William |ohn Burchell, a caminho de
Santana, registrou dois magníflcos pontos dessa região: do Campo da
L:uz e da Ponte Grande sobre o rio Tietê. Na aquarela do Campo da
Luz, o mosteiro aparece em sua forma original, segundo projeto de
frei Antônio de Sant'Anna Galyão, falecido cinco anos antes (r8zz).

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FREI GALvÃo: aneuITETo

Na maquete do Museu
do lpiranga pode-se
observar o confronto
do Mosteiro de Sao
Bento (abaixo) com
o Convento de São
Francisco (ao alto).
Foto do autor.

pÁcrNl ANTERToR
O eixo São Bento-São
Francisco constituía um
dos lados do "triôngulo
histórico" do centro
de São Paulo. Planta
de J. Jacques da Costa

} Ourique, "Fortificador
da Capital", t842.

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Convento de São Francisco. Igreja da Ordem Primeira (à esquerda) e lgreja da


Ordem Terceira. Tratada digitalmente para realçar o conjunto. Foto do autor.

pÁcime ANTERIoR
Igreja do Conyento de Sao Francisco (pormenor). Foto de Militão Augusto
de Azeyedo, ú62.

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BENEDITO LIMA DE TOLEDO

Igreja da Ordem
Terceira de São
Francisco. Desenho de
William John Burchell,
t827.

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No detalhe, Igreja da
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Igreja da Ordem
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Mosteiro de São Bento em sua forma primitiva, após a intervenção do brigadeiro


(c.tZg).Cartão-postal. Editor não identifcado.
José Custódio de Sá e Faria

PÁGINA ANTERIOR
Retábulo da Imaculada Conceição. Luís Rodrigues Lisboa (t7jo-t74o). Capela
da Ordem Terceira de São Francisco (Reproduzido de Parcival Tirapeli.Igrejas
Paulistas: Barroco e Rococó). Foto de ManoelNunes da Silva.

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BENEDITO LIMA DE TOLEDO

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Corte do interior da antiga lgreja de Sao Bento.

pÁcrNa sÊcurNTE
Interior da primitiva Igreja de Sõo Bento após a intervenção do brigadeiro losé
Custódio de Sá e Faria (c.IZSZ).Foto de Guilherme Gaensly.

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Planta térrea da antiga
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Igreja de Sao Bento.

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Planta superior da
antiga lgreja de
São Bento.

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BENEDITO LIMÀ DE TOLEDO

Mosteiro de São Bento: Dom Miguel l?use coordenou os trabalhos de construção


do novo mosteiro. Autor do projeto Richard Berdl. Pedra fundamental: 4 de
novembro de ryto às t4 horas. Sagração da Basílica Abacial: 6 e 7 de agosto de
t9zz. Pintor de interiores: monge Alberto Gresnigfit e irmão Clemente Firschauf.
Escultoras de exterior: padre Anchieta,frei Mauro Teixeira, Amador Bueno,
Fernao Dias Pais,frei Domingos da Transfiguração Machado, papa Leão xur.
Escultura central: São Bento. Cartão-postal. Editor não indicado.

pÁcrNrl sEGUINTE
Foto tomada do Largo de São Bento em direção ao de São Francisco (ao fundo).
Cartão-postal. Editor não identificado.

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BENEDITO LIMÀ DE TOLEDO

Os Campos do Guaré
rumo ao norte. O
Mosteiro da Luz
comparece em sua
configuração original
tal como concebido
por frei Galvão. Os
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dois frontões são
tr i angul ares, r efer i d o s
co mo'bst ilo j esuíti co".
Aquarela deWilliam
Iohn Burchell, ú27.

AO LÀDO
Pormenor da aquarela Do outro lado do caminho,vê-se uma edificação para a qual se dirige
de Burchell, onde o uma tropa de mulas, proyavelmente o "pouso", registrado na planta
mosteiro é visto em sua
de r8ro. A região era inegavelmente propícia a esse tipo de estabeleci-
configuração original.
mento, pelalargteza de espaço à volta e pela proximidade do rio.
A ponte sobre o rio Tietê foi construída pelos jesuítas à seme-
lhança da que edificaram sobre o rio Cubatão, próximo ao pouso
que ali mantinham, igualmente desenhada pelo próprio Burchell. Ao
lado da Ponte Grande figura uma casa de pau-a-pique destinada ao
guarda da ponte, como era usual à época.
Por volta de t847, Miguel A. Benício da Anunciaçáo Dutra, o
Miguelzinho, realizou uma aquarela na qual, pela primeira vez, o mos-

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teiro é representado com uma substancial alteração: seu frontispício Mosteiro da Luz com os
aparece coroado com ulna sineira. A aquarela de Miguelzinho é par- dois alçados voltados ao
observador. Aquarela
ticularmente importante porque as duas fachadas - a original voltada de Miguelzinho (Miguel
paru a cidade e a "nova" para a atual avenida Tiradentes - aparecem Arcanjo Benício da
em representação frontal. A fachada original permanece inalterada e Anunciação Dutra),
são representados os contrafortes (gigantes) hoje existentes. t847 (Reproduzido
de Miguel Dutra: o
Os registros mais significativos, depois desses, deyemos já à fo-
Poliédrico Artista
tografia. Militão Augusto de Azevedo realizou uma vista tomada Paulista).
das margens do Tamanduateí, por volta de 186o, na qual se vêem o
mosteiro e, à sua frente, a residência do Marquês de Três Rios, que
posteriormente viria a abrigar a nascente Escola Politécnica. Outras
fotos de Mll{1o, tomadas já do Campo daLuz (Avenida Tiradentes),
mostram o frontispício voltado para a cidade, com alterações. Foram
introduzidas pilastras ladeando as três janelas do coro, arrematadas
superiormente por pináculos. Estes rompem o triângulo do frontão
original. O novo frontão aparece dividido em três segmentos, e para
concordá-los foram introduzidas volutas. Essa face do edifício rece-

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beu, ainda, o reforço de contrafortes, adquirindo a configuração que


hoje conhecemos.
lápara fins do século xlx, a regiáo da Luz aparece em fotos de
Kowals§ & Hensler (c. r89z) e, ainda, de Gaensly & Lindemann (c.
1897). Militão, em 1862, e Kowals§, em 1892 (datas aproximadas) to-
maram fotos praticamente do mesmo ângulo, o que permite ver que,
entre essas duas fotos, o muro de alinhamento foi enriquecido com
um pórtico ao gosto neoclássico.
O volume do mosteiro permanece inalterado e assim ficou até o
início do século xx, quando a ala norte foi consideravelmente am-
pliada pela generosidade do conde Prates, obra feita com senso de
equilíbrio, não prejudicando a escala do edifício. Essa configuração
é registrada no mapa de s,q.ne Brasil (r93o), no qual se vêem os três
claustros do convento.

pÁcrN.*s ANTERToREs Muros que Resistern ao Tempo


Pormenor de fotografia
de Militão Augusto
de Azeyedo tomada
técnica construtiva da taipa de pilão caracterizott a arqui-
daVárzea do Carmo
tetura paulista dos primeiros séculos. Foi uma herança ibé-
A86z). Ao lado do
mosteíro ainda é Seu emprego remonta às invasÕes muçulmanas no sul
ltossítel ver algumas dessa Península (século vIII ao século xIIr).
construções de pequeno
.i
Constitui uma das marcas profundas deixadas pela cultura dos in-
vulto que poderiam
vasores, que permaneceram por cerca de cinco séculos naquela região.
ter sido a primitiva
ermida, acomodações No sul da Espanha, no Algarve e no Alentejo em Portugal sobre-
das religiosas e oficinas. vivem aldeias muito pitorescas, com suas casinhas caiadas de branco
O edifício ao fundo era e cobertura de açotéia.
a residência do conde
A caiação das paredes é atividade regular a que nenhum morador
Pr ates, p o steriormente
sede da Escola
pode se firtar, sequer as donas de casa. O sol intenso e as sombras
Politécnica. duras daqueles volumes geométricos completam o quadro de gran-

rq"
l8 #
FREr eALvÃo: aneurrETo

f?.:

ê.r
-'
É-rr.É#qÉiN#d'-"

Mosteiro da Luz em suaforma


original, antes de sua ampliaÇào
7 Ü'ít na face norte. Foto de Militao
Augusto de Azeyedo, ú6z

;:oi ::;,,, e st iti z a d a d o


"
Mosteiro da Luz, tal como
cotnparece na cercadura do
mapa de São Paulo, de Rufino
losé Felizardo e Costa, na edição
de ú4l (A edíçao original de

6 da. tSto não contém imagens.)

(,:s.ô
BENEDITO LIMA DE TOLEDO

de plasticidade. É a "civilizaçáo do barrd'de que nos fala o geógrafo


Orlando Ribeiro.
O interior dessas casas de aldeias acolhe os visitantes com uma
temperatura amena resultante da técnica empregada. As paredes
de barro de 5o a 8o cm. de espessura propiciam um excelente iso-
lamento térmico.
Em sua üagem ao Brasil (r8o7-r8rr), o inglês fohn Mawe deixou-
nos um valioso relato da cidade de Sáo Paulo, do qual extraímos al-
gumas informaçÕes.

As ruas de São Paulo, devido à sua altitude (cerca de cinqüenta pés aci-
ma da planície), e a água, que quase a circunda, sâo, em geral, extraordina-
riamente limpas; pavimentadas com grés, cimentado com óxido de ferro,
contendo grandes seixos de quartzo redondo, aproximando-se do conglo-
merado (Mawe, t978, p.63).

Mais adiante:

Aqui existem numerosas praças e cerca de treze lugares de devoção,


principalmente dois conventos, três mosteiros e oito igrejas, muitas das
quais, como toda a cidade, construídas de taipa. Erguem-se as paredes da
seguinte maneira: constrói-se um arcabouço com seis pranchas móveis,jus-
tapostas, e mantidas nessa posiçáo por meio de travessões, presos por pinos
móveis e vigas, à medida que avança no trabalho. Coloca-se o barro em pe-
quenas quantidades, que os trabalhadores atiram com pás, umedecendo-o,
de quando em quando, para darlhe maior consistência. Cheio o arcabouço,
retiram o excesso, e prosseguem na mesma operação, até rebocar todo o ma-
deiramento da casa, tomando-se cuidado de deixar espaços para as janelas,
as portas e as ügas. A massa, com o correr do tempo, endurece; as paredes,
perfeitamente lisas na parte interna, tomam qualquer cor que o dono lhes
queira dar e são, em geral, ornadas com engenhosos enfeites. Esta espécie de
estrutura é durável; vi casas assim construídas que resistiram duzentos anos

(+o.j
FREr cALvÃo: aneurrETo

ea maioria tem várias histórias. Os telhados constroem-se de modo a pro-


jetarem-se dois a três pés além da parede, fazendo com que a chuva corra
distanciada da base; as calhas seriam um preservativo mais eficaz contra a
umidade, mas aqui não se conhece o seu uso. Telhas curvas cobrem as casas,
mas embora a região ofereça excelente argila, e lenha em quantidade, rara-
mente cozinham os tijolos (Mawe, g78,pp.@-64).

Não se poderia desejar melhor descrição dessa técnica corrobo-


rada pela descrição feita pelo sábio francês Auguste de Saint-Hilaire,
que por aqui esteve entre 1816 eLBII.'A situação de São Paulo é en-
cantadora e é puro o ar que ali se respird', e mais adiante:

As casas construídas de taipa muito sólida, são todas brancas e cober-


tas de telhas côncavas; nenhuma delas apresenta grandeza e magnifcência,
mas há um grande número que, além do andar térreo, tem um segundo an-

dar e fazem-se notar por um aspecto de alegria e de limpeza. Os telhados


não avançam desmesuradamente além das casas, mas têm bastante exten-
são para dar sombra e garantir as paredes contra as chuvas (Saint-Hilaire,
r97z,pp.;55-156).

A durabilidade e resistência da taipa de pilão podem ser compro-


vadas nas chamadas'tasas bandeiristas" que sobrevivem à volta da
cidade de São Paulo ou nas aldeias como São Miguel, Carapicuíba,
Embu, Santo Antônio de São Roque ouVoturuna. São Miguel osten-
ta na verga sobre a porta principal a inscrição'Aos r8 de ]ulho de
16zz - S.Miguel".
São, portanto,385 anos de sobrevivência, neste ano de zoo7.
O núcleo inicial da cidade foi inteiramente cercado por um muro
defensivo, elevado'ã beira das escarpas da colina fortificada'l
Por sua competência, visível na solidez de seu trabalho, os taipei-
ros eram muito considerados numa cidade inteiramente construída
com a técnica que dominayam. A história ainda não lhes fez justiça.

t"+rá
BENEDITO LIMA DE TOLEDO

Na cidade de São Paulo as construções em taipa, caiadas de branco


e com longos beirais, foram desaparecendo da paisagem. Sequer os edi-
fícios religiosos foram poupados. Tial fato faz do Mosteiro da Luz docu-
mento de imrrlgar importância para o patrimônio cultural da cidade.

Igrejas de Planta Octogonal

igrejas afastam-se do protótipo de origem jesuítica: naye


e
J)oucas
jJ caVela-mor retangulares separadas por um arco-cruzeiro.Além
I das conveniências do programa, há as limitações construtivas
tolhendo o trabalho do arquiteto. A Igreja de Nossa Senhora da Glória
do Outeiro no Rio de |aneiro, atribúda a fosé Cardoso Ramalho (mea-
dos do século xvrrr) é excepcional: sua nave octogonal é percebida
interna e externamente. Resulta de uma solução construtiva.
O mais comum é a nave poligonal ser contida em uma planta
retangular, a exemplo de São Pedro dos Clérigos em Recife (r7z}),
onde um dodecágono de lados desiguais é inserido em um retângu-
lo. O Rio de |aneiro conheceu uma Igreja de São Pedro dos Clérigos
de plano central, projeto de |osé Cardoso Ramalho, cuja inspiração
poderia ter sido algreja de São Pedro dos Clérigos do Porto, segun-
do Robert Smith (1953). Há uma igreja dessa invocação em Ponta
Delgada nos Açores, com planta octogonal.
Da fase mais evoluída do barroco mineiro, duas igrejas destacam-
se por sua planta curva resultante da intersecção de elipsóides: Rosrírio
dos Pretos de Ouro Preto e São Pedro dos Clérigos em Mariana.
A evidente associação da invocação de São Pedro dos Clérigos a
igrejas de planta poligonal parece originar-se em duas das mais notá-
veis igrejas da cristandade: San Pietro in Montorio, de Bramante, de
plano central, em que o eixo da cúpula assinala o local onde o após-

{r, +z ó
}.REI GALViO: ÀR0IITTÍ,] 'I-O

tolo foi crucificado, e São Pedro do Vaticano, projeto original do mes-


mo Bramante, com sua memorável cúpula cujo eixo marca o local
do úmulo do apóstolo, num simbolismo evidente. São Paulo contou
com uma capela de planta octogonal no cemitério da Consolação,
cuja imagem foi registrada em uma bela foto de Militão de Azevedo.
Raros sâo os exemplos na arquitetura brasileira de igreja com
planta poligonal. São Paulo, dada a predominância do uso da taipa,
poucos exemplares conheceu. Dois casos, todaúa, podem ser cita-
dos, e os dois, curiosamente, ligados a frei Galvão: algreja daLuz e a
Capela da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência,
contígua à Igreja de São Francisco.
Frei Galvão era frade do Convento de São Francisco quando foi
indicado para a direção espiritual do Recolhimento da Luz. Nascido
no Vale do Paraíba, em Guaratinguetá, em 1739, estudou no Seminário
dos |esuítas de Belém da Cachoeira, na Bahia e, com 2r anos, resol-
veu tornar-se franciscano, tendo sido ordenado no Rio de |aneiro.
Sua formação permitiu, portanto, travar conhecimento com a arte
brasileira do nordeste e do Rio de |aneiro. O Seminário de Belém
da Cachoeira gozaya de grande reputação pela formação que dava a
seus estudantes. Seu edificio conta com excelente construção e aca,
bamento. )á o convento franciscano do Rio de |aneiro situa-se entre
as mais evoluídas manifestaçÕes da arte barroca no Brasil.
Voltando a São Paulo, frei Galvão testemunhou a realização de
muitas obras no convento do Largo de São Francisco. Anteriormente
à sua chegada, em 1744, o frontispício, que era "em estilo jesuítico']
segundo frei Basflio Rower, historiador da Ordem, "foi reedificado
em estilo Barroco". A igreja, desde 1676, contaya com capela anexa
da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência. Havia
na nave da igreja, como ainda ocorre com as igrejas franciscanas do
nordeste, um arco que unia à Capela dos Irmãos Terceiros. Esses
são fatos que a iconografia paulistana não registrou: a Igreja de São
Francisco isolada, com frontispício "em estilo jesuítico", tendo como

(, +: .F
BENEDITO LIMA DE TOLEDO

corpo anexo a Capela Terceira. A configuração atual, com as duas


igrejas lado a lado, é fato que só ocorreu após 1783, quando os frades
fizeram doação de terreno à irmandade para que esta pudesse am-
pliar sua capela e ter entrada própria pelo Largo de Sáo Francisco
ficando, ao mesmo tempo, a "fechar com iguais materiais o Arco,
que no presente serve de entrada da nossa Igreja para a sua Capela"
(Rõwer, rgSZ p. 88), como reza o termo de doação. Ao entrar na Igreja
de São Francisco, pode-se reparar que, no lado direito da nave, há
três tribunas com balcão, faltando uma para que esse lado fique si-
métrico ao lado esquerdo, que possui quatro tribunas. A assimetria
deve-se ao arco emparedado.
Nessa ata de doação há uma cláusula com implicações de esca-
la e estilo: a noya igreja não deveria ser entendida como'torpo se-
parado da nossa Igreja, pois sempre se deye conhecer e reconhecer
como filial de a [slc], e à maneira de Altar Colateral" (Rôwer, rgsz
p.89). Os irmãos terceiros honraram o compromisso. Em 1785,afir-
mam que sua noya capela deveria ter imagem e proporções coerentes
com a igreja dos religiosos para se obter um resultado harmonioso
para ambos edificios. É inegável que nisso foram bem-sucedidos. O
conjunto adquiriu sua feição a+.rnl em ry87.

t'
I
lq

O acesso à lgreja do
Mosteíro da Luz se
II
rrir

,o
dava originalmente
pela face sul voltada
para o centro da --- Origina

ci d ade. P o st er iorme nte


a entrada passou a
se fazer pela avenida
Tiradentes. Desenho
t I
AVENIOA TIRAOENTES
do autor- I

(++,f
FREr cALYÃo:,+neurrETo

A Capela da Ordem Terceira, de planta originalmente octogonal,


passou a ter a forma atual, com uma das faces do octógono aberta para
receber uma naye acessível diretamente pelo Largo de São Francisco.
Essa referência às obras executadas nas igrejas do Largo de São
Francisco é apenas para mostrar onde se formou um importante ar-
quiteto do século xvrll em São Paulo, frei Galvão, o qual, segundo
o já citado frei Basílio Rôwer, ao assumir a direção espiritual do Reco-
lhimento daLuz,assumiu igualmente as responsabilidades materiais.

ALTAR.MOB
/1-.\
AT UAL SACRISTIA
(V

Eixq-.grigilal
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SACBISTIA

t "ffi ALTAR. MOB


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A lrmandade Terceira
contava com capela
NAVE anexa à lgreja Primeira,
ossÁRto como usual na
ar quit et ur a fr an c i s c an a.
Após a doaçao de
terreno pelos frades,
IGREJA DA
os irmõos construíram
OHDEM
PRIME IRA nave com acesso direto
NOVO DE ACESSO
ao largo. Desenho
LARGo DE SÃo FRANCISCO do autor.

(,+sJ'
BENEDITO LIMA DE TOLEDO

Forro da igreja da lrmandade da Ordem Terceira de São Francisco (Reproduzido de


PercivalTirapeli,Igrejas Paústas: Barroco e Rococo). Foto de ManoelNunes da Silya.

(,+6.F
FREr GALVÃo: enquITETo

Forro da igreja do Mosteiro da Luz. (Reproduzido de Percival Tirapeli,Igrejas


Paulistas: Barroco e Rococó). Foto de Manoel Nunes da Silva.

\' +Z ,j'
RENF],DITO LIMA DE TOLEDO

Para substituir a pobre casa, que nem forro nem assoalho tinha, encetou
uma nova construção delineada por ele rnesmo [...] (Rôwer, t957,p.rc9).

Como, porém, a Igreja Velha ameaça ruÍna e está o frontispício especado


eo dormitório é muito acanhado, conforme já relatei, e o número das que
desejam a vida da Providência Divina vai sendo maior, fundou-se novo con-
vento e Igreja onde pudessem viver, ainda que pobres, com mais respiraçáo
e desafogo (Galváo, r98o,p. z9).

Trata-se de caso raro em São Paulo, de obra do período colonial


i
da qual se conhece com segurança o autor do projeto.

Um Precioso Documento Arquitetônico

a era colonial, o conjunto arquitetônico que em melhores


!
condições chegou aos nossos dias, na cidade de São Paulo,
i é sem dúvida o Recolhimento da Ltz.De uma cidade toda
edificada em taipa de pilão, poucos exemplares restaram de edifícios
realizados nessa técnica. Foram quase todos desfigurados, ou por mo-
dernizaçâo deteriorante, ou por falta de ambientação. No caso daLtz,
tudo foi conservado, até a horta conventual, última em seu gênero na
cidade. São Paulo conheceu a taipa desde seus primórdios. Como ob-
servou Morgado de Mateus em carta de ry66,logo após sua chegada, a
cidade contava com amplos edifícios feitos de terra e com"altas torres
da mesma matéria, com bastante segurança e duração i Havia, nessa
época,uma pequena ermida dedicada à Senhora daLltz do Guaré, si-
tuada na região norte da cidade, à margem do Caminho para Santana.
por Domingos Luís, o Carvoeiro, como
Essa ermida fora construída
já mencionado anteriormente. Domingos Luís morava à beira do

,?L
+8 .'
FREr G-LL\'1O: .\RQfrI'1 Elo

Caminho do Mar, numa região povoada por um tipo de arara de


penas coloridas que os nativos chamayam lreripiranga. Daí vêm o
nome da região e a origem do bairro do Ipiranga. Nessa região, tendo
Carvoeiro e sua mulher Ana Camacho, edificado em 1583 uma cape-
la dedicada à Senhora daLuz,pode-se dizer que essa devoção quase
nasceu com a cidade. Tendo Domingos Luís se transferido poste-
riormente para o norte da vila, o Guaré, região que só viria conhecer
povoamento efetivo no século xrx, aí edificou, em 16o3, nova ermi-
da, mantendo a mesma invocação, fato que acabou por dar nome ao
bairro. No início do século xvrrr, Filipe Cardoso Campos cuidou de
sua reconstrução, dotando-a, ainda, de acomodações para romeiros.
Morgado de Mateus encontrou a ermida desamparada e, em t773,
encaminhou ofício à Cârnara manifestando sua intenção de estabelecer
no local"um recolhimento de mulheres, devotas da Divina Providência,
para orarem continuamente diante do Santíssimo Sacramentd' (Tâunay,
1955, vol. 3). Essa haüa sido uma solicitação que irmã Helena Maria do
Sacramento pouco antes fizeraao Morgado em respeitosa carta.
Dessa forma, o governador, enviado pelo próprio Marquês de
Pombal,patrocinava a causa piedosa de irmã Helena, cabendo a dire-

ção espiritual do recolhimento a frei Antônio de Sant'Anna Galvão.


Para a subsistência da nascente instituição dedicada à Senhora da Luz
da Divina Providência, Morgado doou ao recolhimento terras deyo-
lutas'de que precisava para cultivar suas lavouras'i Segundo levan-
tamento feito por Taunay, essas terras chegavam até o Tamanduateí,
incluindo a área hoje ocupada pelos quartéis. O novo instituto foi
inaugurado em L774, com a denominação "Nossa Senhora dos
Prazeres do Campo daLaz". Dessa forma, Morgado encontrou meio
de homenagear Nossa Senhora dos Prazeres, protetora da Casa de
Mateus em ViIa Real, Portugal.

(+só
BENEDITO LIMA DE TOLEDO

Implantação do Edifício

f-\rei Galvão costumava dizer que aáreadaLrzviria a se tornar


fora o centro da cidade. Essa percepção do espaço ur-
I como se
I bano leyou-o a alterar a disposição original do templo voltado
para o sul, com a criaçáo do novo frontispício voltado para o Campo
daLuz (avenida Tiradentes). Tirou partido, igualmente, da vista para
a várzea do Tamanduateí:

Fica a dita obra em zz celas em círculo nas três faces que olham para os
campos, ficando as outras faces correspondentes à área liwe sem celas, para
maior desafogo (Galvão, r98 o,p. 2g).

Quanto ao edifício, registra:

Tem este edifício de comprido 24o e tantos palmos, e de largo r7o e

tantos, com uma área grande no meio, uma cerca extensa etc., obra da
Providência que tem causado admiraçâo aos senhores paulistas, célebre e

notória às capitanias circunvizinhas (Galvão, r98o, p. z9).

São muitos os paralelos que podemos traçar entre a lgreja daLaz


e a Capela Terceira de São Francisco. Cabe lembrar que frei Galvão
foi comissário da Ordem Terceira nos anos de ry16 e r78o, à época,
portanto, das gestões para ampliação da capela, o que ocorreu logo
depois (v\t-rz\).
As duas igrejas têm planta octogonal da qual saem corpos late-
rais. Ambas mudaram de eixo principal. O eixo da Capela Terceira
era perpendicular à parede lateral da Igreja de Sáo Francisco, como
já foi dito; posteriormente, ficou perpendicular ao Largo. Isso pode
ser percebido pela posição do altar de Nossa Senhora da Conceição,
altar-mor original, executado em t735,que hoje fica à direita de quem

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FREr GALvÃo:,q.neurrETo

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Altar-mor da Imaculada
Conceição. Igreia do
Mosteiro da Luz. Foto
do autor.

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BENEDITO LIMA DE TOLEDO

.1ltor colateral de Santo


.\ntônio. Igreja do
trIosteiro da Luz. Foto
do autor.
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*

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entra. A lgreja daLtz, como yimos, tinha primitivamente seu frontis-


pício yoltado para a cidade; posteriormente, foi edificado outro, pelo
próprio frei Galvão, voltado para o Caminho do Guaré, hoje ayenida
Tiradentes. Essa é a aparência que Burchell registrou em seu magis-
tral desenho de ú27 Quem entra no templo tem o altar-mor à sua es-
querda, ladeado por dois altares menores no corpo do octógono. Nos
dois casos, a mudança de eixo fica quase imperceptível, certamente
pelo fato de se tratar de planta octogonal.
No desenho de Burchell vemos que o frontispício voltado para a
avenida Tiradentes já conta com galilé e seus três arcos. Esses arcos

\,srô
}.REI CAI,\:TO : ARQ TIITETO

Vista aérea do Mosteiro


são realizados em granito, fato raro na arquitetura paulistana, que
da Luz, com sua horta
ocorreu em alguns edifícios religiosos. |.J. von Tschudi, visitando São
ainda pre s erv ada, úni ca
Paulo, em 186o, anotou: na cidade de São Paulo.
Foto do autor.

O pórtico da Igreja de São Francisco e do atual edifício da universidade


é trabalhado em belo mármore italiano, mas que dificilmente se descobre
devido à grossa camada de tinta, de um amarelo sujo, com que foi recoberto
(Tschudi, 1953,p.2c'à.

O fato parece indicar que o viajante se impressionou com a so-


lução, e se a informação é incorreta quanto ànatureza da pedra, isso
pode ser imputado a seu recobrimento por tinta.

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BENEDITO LIMA DE TOLEDO

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Frontispício do Mosteiro
da Luz, com seus dois
frontões. Foto do autor.

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FREr eALvÃo: aneuITETo

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Vista aérea do Mosteiro


da Luz. Foto do autor.

(,slá
BENEDITO LIMA DE TOLEDO

O pórtico do Mosteiro daLaz praticamente reproduz o da Igreja


de Sáo Francisco. Mas não pára ai a semelhança. Imaginando a si-
neira da Igreja de São Francisco transposta para o frontispício, tem-
se uma solução plástica muito próxima à da igreja do Mosteiro da
Luz. Explica-se. A última intervenção nesse frontispício foi a colo-
cação da sineira, obra de frei Lucas )osé da Purificação -sucessor de
frei Galvão - que mais uma yez foi ao Largo de São Francisco bus-
car inspiração. Essa é a aparência que flcou registrada na aquarela de
Miguelzinho, meados do século xlx, provavelmente emú47.
Uma curiosidade para quem percorre o corredor do paümento su-
perior, sobre a galilé, é deparar com ulna pequena escada em cada um
de seus lados, eventual sintoma de que esse local precisou ser alteado.
Frei Galvão revelou-se arquiteto de mérito. O convento que pro-
jetou é bem arejado e saudáveI, com corredores desafogados e aber-
tura para pátios ajardinados. Suas acomodações, até hoje, são bem
ajustadas ao programa. O convento foi inaugurado em 1788 e a igreja
e o coro em r8oz. Até r8zz, ano de sua morte, frei Galvão trabalhou
na obra sem ter podido vê-la completa, o que, ademais, é fato que a
história da arquitetura registrou inúmeras vezes.
O conjunto foi ampliado no início do século xx com auxílio do
Conde Prates,trabalho feito com admirável senso de medida,que não
desfigurou o volume inicial, como já foi dito. É obra muito represen-
tativa da arquitetura colonial paulista, com seu ar sólido e despojado.
Sua implantação é muito significativa na paisagem urbana de São
Paulo, constituindo-se componente dos mais expressivos de seu pa-
trimônio ambiental.

(.s6á
FREr eALvÃo: eneuITETo

Imagem de Nossa
Senhora da Luz trazida
ao Brasil por Antônio
Luís, o Caryoeiro,
e sua mulher Ana
Camacho. Origem em
Sao Paulo da dettoção
de Nossa Senhora da
Luz. (Reproduzido de
P erciv al Tirap eli, Igr ejas
Paulistas: Barroco
e Rococó). Foto de
Manoel Nunes da Silya.

Retábulo de Nossa Senhora da Luz

*a ala do mosteiro,
\ T serya as característicasencontra-se a Sala Capitular que con_
I\ I originais, incluindo um altar com
I \ ,.r., retábulo. Nesse altar é cultuada a magnífica imagem
original de Nossa Senhora daLaz.
Em sua origem, o altar constituía um local de sacrifício.A pa-
lawa originou-se do latim altare, de altus, "elevado'. Na tradição
cristã, firmou-se como o local do sacrifício da missa. Uma prancha

\'SZô
BENEDITO LIMA DE TOLEDO

decorada colocada na parte posterior e acima do altar deu origem


ao retábulo. A designação foi tomada do espanhol retablo (de retro,
"detrás" e t ab ul a," táblud' ).
Os retábulos gradualmente foram adquirindo configurações mais
moümentadas, ricas em formas e cores - no barroco, arte do século
xvrr. O altar da Senhora da Luz tem composição regular, sem excessos
decorativos, com elementos originiírios da linguagem arquitetônica.
Nessa fase, os retábulos abandonam as colunas torsas em favor de
colunas sem os ornamentos da fase anterior. Da mesma forma, não
são mais utilizados ornatos antropomorfos, zoomorfos e fltomorfos.

Quanto à implantação, os retábulos conheceram longa evoluçáo,


das "tablas" às formas esculturais complexas, integradas à arquitetura.
O retábulo da Luz emerge da parede na Sala Capitular do Mosteiro,
integrando-se à taipa da arquitetura. Suas dimensÕes e equilíbrio da
composição acompanham o clima de recolhimento desse cômodo.
Uma imagem em verdadeira grandeza do Senhor Morto, de expres-
são serena, repousa sob a mesa do altar, embasando a composição.
Articulada, tanto podia ser pregada Íra crtz como levada em esquife
na procissáo de Sexta-Feira Santa.
No coroamento, retoma-se o uso de arco pleno, abolindo-se o
emprego de medalhões ou grupos escultóricos. Na pintura, o doura-
mento cede lugar à policromia, com preponderância do marmoriza-
do azul e encarnado sobre fundo de cores leves. O ouro é empregado
com sutileza na perfilatura dos elementos arquitetônicos.
Essa policromia harmoniza-se com a da imagem de Nossa Se-
nhora da Luz colocada ao centro da composição, sobre seu supedâ-
neo. O resultado é uma sutil e coerente orquestração de cores.
Com a restauração, as cores alegres do retábulo, ocultas ao longo
do tempo por repinturas, emergem no delicado marmorizado, ofere-
cendo-se novamente à luz.
Como usual em arquitetura religiosa, a igreja do mosteiro con-
ta com pintura de forro, pouco conhecida por se situar em irea de

(,s8á
TREI C,\LY O: ,\RQIIITIiTo

Altar de Nossa Senhora


rij=
r"ll da Luz, antes da
restauração. Imagem
original únda de
Lisboa. (Reproduzido
de Altares Paulistas:
Resgate de um
Barroco). Foto de
Manoel Nunes da Silva.

(,ss.,
BENEDITO LIMA DE TOLEDO

l
I

Retábulo de Nossa
Senhora da Luz em
fase de restauração.
(Rep r o duzi do de Altar es

Paulistas: Resgate de
um Barroco). Foto de
ManoelNunes da Silva.

(, 6o ,f
FREI GALvÃo: aneuITETo

Retábulo em final
de restauração.
(Repro duzido de Altares
Paulistas: Resgate de
um Barroco). Foto de
ManoelNunes da Silva.

(,orá
BENEDITO LIMA DE TOLEDO

Retábulo de Nossa
Senhora da Luz com
a imagem de Cristo
jacente. (Reproduzido
de Altares Paulistas:
Resgate de um
Barroco). Foto de
Manoel Nunes da Silva.

(r6zô
FREI GALvÃo:,tneurrETo

Pormenor do frontal do
altar de Nossa Senhora
da Luz. (Reproduzido
de Altares Paulistas:
Resgate de um
Barroco.). Foto de
ManoelNunes da Silva.

ÀO LADO
Pintura do forro. Coro
do Mosteiro da Luz.
Foto do autor.

(,or»
il

j
:

.i#.+a.:l

ffi-

:;
FREI GALVÃO:,q.NQUITETO

Pintura do forro. Coro do Mosteiro da Luz. Foto do autor.

pÁcrlte ANTERIoR
Coroação de Maria no céu pela Santíssima Trindade. Pintura do forro.
Coro do Mosteiro da Luz. Foto do autor.

t,, os ,in
BENEDITO I-I\TÀ DE TOT,F,DO

clausura. São notadamente episódios da vida franciscana. Merece


destaque a cena da coroação da Virgem pela Santíssima Trindade,
composição singela, alegre, de cores harmoniosas.
Nossa Senhora,jovem, é representada rodeada de anjos que pare-
cem surgir inesperadamente na tela.

IJmDocumento-ORisco

criação comprovada de uma igreja de planta octogonal e

A a participação de frei Galvão na reelaboração de outra de


I ^ \igout forma, no Largo de Sào Francisco, do qual era comis-
sário da Ordem Terceira, demanda aprofundamento de estudo. Sem
dúvida, estamos diante de um competente arquiteto paulista, muito
original, do século xvrrr.
Ainda afrei Galvão devemos um documento raro: um risco. Como
se sabe, risco no período colonial era, no jargão profissional, a desig-
nação do projeto. Era, igualmente, a representação do mesmo sobre
uma superfície, na qual o projeto era riscado com uma ponta aguçada.
São raros os rlscos que chegaram até nós. Frei Galvão legou-nos um.
Nos últimos três anos de sua vida, o frade, muito doente, morava
num recanto do convento, atrás do sacrário, com seu catre encostado
em três paredes. Na parede ao lado do local onde ficava seu catre há
umrisco representando o frontispício de uma igreja com duas sinei-
ras que lembra, vagamente,algreja do Seminário Episcopal que viria
a ser construída na mesma avenida.
A que se destinaria? Não se sabe. Poderíamos dizer que o autor
do projeto deixou sua obra autografada.

(, 66 ,r,
FREI GALvÃo: aneurrETo

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parede do Mosteiro da
Luz, de autoria de Frei
Galvão. Foto do autor.

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(,zoó
Tit;Jo Frei Gabão: Arquiteto
Autor Benedito Lima de Toledo
Assessolia, pcsqrrisa-
Suzana Âlessio de Toledo
norrnalizaEão e rer-isão
Projeto gráÍico e capa Tomás Martins
Escaneanrento e
Heloísa Dutra de Toledo
lral.rmcnlo de irragens
Fonnato 18x25cm
Níunero tle phgçinas 72
'lipologia Minion e Bauer Bodoni
Papel Couché rr5 g/m2 (miolo)
Cartão Supremo z5o glm2 (capa)
Tm;rressão Lis Gráflca
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FREI ANTôNIO DE
SANT,ANNA GALVÃO
Primeiro santo nascido no
Brasil, no Vale do Paraíba.

Protetor dos construtores.

Arquiteto paulista de mérito,


mestre de obras e taipeiro.

Autor do projeto e
responsável pela execução da
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única igreja em taipa de pilão
que sobreviveu íntegra na
cidade de São Paulo.

Sócio honorário do Instituto


dos Arquitetos do Brasil - sp

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rsBN: 978 85 7180-349 4

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