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R E V I S T A DO A R Q U I V O N A C I O N A L
LEITURAS E LEITOREl
MINISTÉRIO DA IUSTIÇA
ARQUIVO NACIONAL
Ministério da Justiça
Arquivo Nacional
ACERVO
R E V I S T A D O A R Q U I V O R A C I O N A L
Presidente da R e p ú b l i c a
Fernando Henrique Cardoso
Ministro da J u s t i ç a
Nelson Azevedo Jobim
Diretor-Geral do Arquivo nacional
Jaime Antunes da Silva
Editora
M a r i a d o C a r m o T. R a i n h o
Conselho Editorial
A n a M a r i a C a s c a r d o , l n g r i d B e c k , M a r i a d o C a r m o T. R a i n h o , M a r i a I s a b e l F a l c ã o ,
Maria Isabel d e Oliveira, n i l d a S a m p a i o B a r b o s a , Rosina l a n n i b e l l i , Sílvia ninita d e
Mourão Estevão
Conselho Consultivo
Ana Maria C a m a r g o , Ângela Maria de Castro G o m e s , Boris Kossoy, C é l i a Maria Leite
C o s t a , Elizabeth Carvalho, Francisco F a l c o n , Francisco Iglesias, Helena Ferrez,
Helena Corrêa Machado, Heloísa Liberalli Belotto, limar Rohloff de Mattos, J a i m e
S p i n e l l i , J o a q u i m M a r c a i F e r r e i r a d e A n d r a d e , J o s é C a r l o s Avelar, J o s é S e b a s t i ã o
Witter, L é a d e A q u i n o , L e n a V â n i a P i n h e i r o , M a r g a r i d a d e S o u z a n e v e s , M a r i a Inez
T u r a z z i , M a r i l e n a L e i t e P a e s , R e g i n a M a r i a M. P. W a n d e r l e y , S o l a n g e Z ú n i g a
E d i ç ã o de Texto
J o s é C l á u d i o d a S i l v e i r a Mattar
Projeto Gráfico
André Villas Boas
E d i t o r a ç ã o E l e t r ô n i c a . Capa e I l u s t r a ç ã o
Jorge Passos Marinho
Resumos
Carlos Peixoto (versão e m inglês), Lea novaes (versão e m francês)
Copydesk e R e v i s ã o
A l b a Q i s e l e Q o u g e t , J o s é C l á u d i o d a S i l v e i r a Mattar e T â n i a M a r i a C u b a Bittencourt
Reprodução Fotográfica
Agnaldo neves Santos e Flavio Ferreira Lopes
Secretaria
J e a n e D'Arc C o r d e i r o
Revista financiada com recursos do
f~ N
Programa de Apoio a Publicações Cientificas
01
APRESENTAÇÃO
03
ENTREVISTA COM ROGER CHARTIER
13
ENTREVISTA COM ROBERT DARNTON
19
Os CLÉRIGOS E OS LIVROS NAS MINAS GERAIS DA SEGUNDA
METADE DO SÉCULO X V I I I
Luiz Carlos Villalta
53
OS 'LETRADOS* DA SOCIEDADE COLONIAL: AS ACADEMIAS E A
CULTURA DO ILUMINISMO NO FINAL DO SÉCULO X V I I I
Berenice Cavalcante
67
SERVIDÃO E DÚVIDA: O LEITOR DA HISTÓRIA DO FUTURO DE
ANTÔNIO VIEIRA
83
105
139
153
167
Cláudia Heynemann
183
A LIVRARIA DO TEIXEIRA E A CIRCULAÇÃO DE LIVROS NA CIDADE
DO R i o DE JANEIRO, EM 1 7 9 4
195
P E R F I L INSTITUCIONAL
R E A L G A B I N E T E PORTUGUÊS DE L E I T U R A
199
BIBLIOGRAFIA
A P R E S E N T A Ç Ã O
O
historiador ordem dos livros,
f r a n c ê s entre outras.
R o q e r Mesta entrevista,
Chartier, um dos Roger Chartier ana-
maiores especialistas lisa as possibilidades
na h i s t ó r i a d a leitura, e dificuldades encon-
vem desenvolvendo tradas p e l o s historia-
em seus trabalhos dores ao tentarem
temas c o m o p r á t i c a s e r e c e p ç ã o reconstruir as práticas e a
de leituras, sociabilidades recepção das leituras de uma
intelectuais e e d i ç ã o de livros na determinada sociedade. E chama
França do Antigo Regime, em a t e n ç ã o para o fato de q u e mais
obras c o m o íiistoire de /'edition importante do que tentar s a b e r o
française. Pratiques de lecture, q u e liam os franceses no s é c u l o
Lectures et lecteurs dans Ia XV11I é tentar p e r c e b e r c o m o eles
France de l'Ancien Regime e A liam.
Roger Chartier. Hoje j á me parece não mais "o que liam os franceses?",
lecteurs dans la France d'Ancien Regime tratamento serial. Assim, por exemplo,
o senhor diz que o acesso ao livro não para a leitura e m v o z alta, o estudo de
proprietário do livro que lê. Por outro identificação d o s gêneros e das formas
lado, o senhor chama a atenção para o que visam ou supõem uma determinada
s à o o r g a n i z a d o s a partir d e c a t e g o r i a s , As d i f e r e n ç a s q u e e s s e s historiadores
Nota do Editor. O artigo a que se refere o autor intitula-se "Leituras, leitores e 'literaturas populares' na
Soc°r| dl urRJ
a a SCenCa
' ^
6 P a r t C
^ r e V
' S t a Ma
"' a e d U a d a P e
'° °9
F r r a m a d e
Pós-graduaçâo em Antropologia
O
D a r n t o n , q u e t e m tido
historiador
Roger Chartier como
americano
um de seus interlo-
R o b e r t
cutores mais cons-
Darnton é velho conhe-
tantes, analisa nesta
cido dos brasileiros.
e n t r e v i s t a o fato da
Desde O grande mas-
Revolução Francesa
sacre dos gatos publi-
ser também uma
cado no Brasil em
revolução literária.
1986, seus livros têm sido
referência fundamental para E, c o m b o m - h u m o r , aproveita
aqueles interessados em para b r i n c a r c o m C h a r t i e r q u e ,
e n t e n d e r o p a p e l d a literatura, segundo ele, está sempre
em especial da literatura e s p e r a n d o o r e s u l t a d o de suas
clandestina, no d e s m o r o n a m e n t o pesquisas para q u e s t i o n a r s u a s
do Antigo R e g i m e , na F r a n ç a . suposições e conclusões.
estão atualmente sendo negligenciados: modo que não posso lhe apresentar
Uma vez que Roger está também obstante, penso ser a documentação
O s c l é r i g o s e os l i v r o s nas
C l i m a s G e r a i s d a segunda
m e t a d e cio s é c u l o X V I I I
A
'sociologia histórica ? Numa primeira etapa,
das práticas de examinaremos que títulos e
leitura', segundo autores a Igreja católica
Roger Chartier, move-se e m m e i o procurava d i s s e m i n a r entre os
à tensão operatória estabelecid clesiásticos e q u e lugar estes
entre, de u m lado, o poder que o texto ocupavam como proprietários de
p u b l i c a d o (e/ou d a q u e l e s q u e e s t ã o p o r bibliotecas na França, e m Portugal e, e m
trás dele) p r o c u r a e x e r c e r s o b r e o l e i t o r s e g u i d a , n a s G e r a i s d o s é c u l o XVIII.
e, d e o u t r o , a l i b e r d a d e e a inventividade Depois, analisaremos bibliotecas
do leitor na p r o d u ç ã o de sentidos no pertencentes a clérigos mineiros do
contato c o m os textos . 1
Neste artigo período, submetendo os dados
p r o c u r a m o s averiguar c o m o esta t e n s ã o referentes aos livros (nomes dos
se m a n i f e s t o u e m relação a u m grupo e s - autores, títulos, língua e m que foram
p e c i a l d e leitores: o s c l é r i g o s d a s G e r a i s escritas as obras, assuntos e preços) a
do século XV11I, em sua maioria um tratamento quantitativo,
p e r s o n a g e n s n o t á v e i s ; alguns p e l o s car- identificando regularidades entre as
gos que o c u p a r a m , outros por seu diversas livrarias e descobrindo os
envolvimento na C o n j u r a ç ã o Mineira. traços singulares de cada u m a delas.
hegemônicas, de comportamento
listas de livros d o s padres portugueses,
sexual. Desse modo, avaliaremos e m
a divisão entre as línguas, e m ordem
que m e d i d a o s livros influenciaram as
decrescente, era: português, latim e
condutas políticas e sexuais - o u , ao
espanhol, aparecendo mais raramente,
menos, se n ã o o fizeram - e se os
nos casos de obras de literatura, o
clérigos inconfidentes se diferenciavam
francês e o italiano , nas bibliotecas6
dos demais.
clericais da capital francesa, entre 1765
e 1790, houve um recuo do latim, que
Os c l é r i g o s e os livros na França e
passou de 4 7 % para 2 7 % . 7
em Portugal no s é c u l o XVIII
pag.20.jan/dez 1995
R v o
f i n a l d o s é c u l o XVIII e i n í c i o d o X I X - o d o T e j u c o e d e M a r i a n a d o s é c u l o XV1U
o s m e s m o s s o m a v a m c e r c a d e 1/5 d o s n ú m e r o d e v o l u m e s , entre as b i b l i o t e c a s
de l i t u r g i a , e s t i v e s s e e s t a n a p r i m e i r a o u o s c i l a v a entre 2 , 8 % ( u m a o b r a e d o i s
caso do padre Francisco Alves. Essa menor cifra da literatura entre eles,
r e l a ç ã o às q u e s t õ e s m a i s i m e d i a t a s d a i n c o n f i d e n t e s , isto é , 4 , 6 % ( 1 9 o b r a s e
sendo 3,8 vezes maior, possuía menos Assim, dentre os clérigos não-
H I S T 0 1 R E
f PHILOSOPHÍQUE
* E T P O L I T J Q U E
PAR G. T. RAYNAJL
HOLVit.tR ÉBITIO».,
m t w M M i i >Vn*> i u • » « * • • » » mmttnm
r » . PMÜStf»
f T O M l.IXlífl^
i \ PARIÍ
MLABI£ COSTIW-WXÍS LI
ISM.
Na p o s s e d e s s e s l i v r o s , c o n t u d o , longe n u n c a e x i s t i u ( a f i n a l , as M i n a s n a s c e r a m
t e m o s a p e n a s a m a n i f e s t a ç ã o de seu Clássica 4 2
para expressar o que sentia
Igreja. E m s e u g o v e r n o d i o c e s a n o , o n a d a a l é m de r e s q u í c i o s d e u m m u n d o
e c l e s i á s t i c o s , h a b i l i t a ç ã o de s a c e r d o t e s ao referir-se ao s u p l í c i o que i m p ô s a
s e g u n d o as n o r m a s de "pureza de n e g r a R o s a E g í p c i a c a - a g i r às v e z e s
exemplo) e da o r a ç ã o m e n t a l , n a d a de 5 9
Mariana e m 1 7 7 7 , ao c o n t r á r i o de d o m
4 4
j e s u í t a s p o r d o m J o s é 1, a p u n i ç ã o d o de h i s t ó r i a p a r e c e i n d i c a r q u e o b i s p o
0
o r t o d o x a , s e n d o pai d e u m d e n t r e d o i s Esse silêncio não teria sido uma
bebês que foram expostos - isto é, imposição da necessidade de preservar
enjeitados - à porta de seu p a l á c i o , e m o p r e s b í t e r o q u e e r a s e u g e n i t o r ? Mão
abril de 1 7 8 0 , u m ano após sua sagração seria este clérigo importante demais
em L i s b o a . Tal h i p ó t e s e funda-se nos para que sua c o n d i ç ã o de pai fosse
cuidados que o enjeitado mereceu do e x p l i c i t a d a ? Isso t u d o , e n f i m , faz-nos
bispo e e m alguns silêncios e regalias aventar a h i p ó t e s e de que o pai de
de que o m e s m o foi o b j e t o : primeiro, Domingos seria o bispo h o m ô n i m o , ou
teve c o m o padrinhos o b i s p o e Mossa então, algum apaniguado seu, e,
Senhora do Rosário, recebendo nome a d e m a i s , de que tal p a t e r n i d a d e não
similar ao do antistite. Domingos J o s é p o d e r i a s e r r e v e l a d a p a r a p r e s e r v a r as
da E n c a r n a ç à o Pontevel; e m segundo a p a r ê n c i a s d o p r e l a d o ! S e tal h i p ó t e s e
lugar, f o i , " a m a n d o d o dito senhor" for v e r d a d e i r a , d e s t a q u e - s e , o b i s p o e
b i s p o , " c r i a d o e m c a s a de J o ã o José os que o protegeram estavam
Correia" ; terceiro, seu ingresso e sua
54
a c o b e r t a d o s p e l a s regras d a c i v i l i d a d e
ascensão no s a c e r d ó c i o , anos mais b a r r o c a , c o m u m às d e m a i s s o c i e d a d e s
tarde, foram marcados por silêncios. do Antigo Regime, que nào se
C o m o exposto. Domingos era, aos olhos i m p o r t a v a m se o p a r e c e r e o ser se
da l e i , ilegítimo; todavia, saiu-lhe a distanciavam, fazendo da civilidade
acusação de 'ilegitimidade de falsa a p a r ê n c i a .5 6
s e g u n d o as q u a i s s e d e v e r i a p r o v a r " q u e
vigário na vila de São J o s é d ' E l Rei
no e s p a ç o de seis m e s e s entrara u m
d e s d e 1 7 7 7 , v e m o s a Lógica,
6 5
de Luis
(concubino) na c a s a d o outro, sete o u
Antônio Verney, iluminista português
oito vezes, circunstância que não
adversário dos jesuítas, pensador oficial
descobrira nos autos" . Ao que parece,
6 0
da época p o m b a l i n a , certamente um
6 4
O p e n s a m e n t o d o c ô n e g o V i e i r a , d e fato, separar e j u n t a r . 7 8
c o n t r a as a r m a s d e C a s t e l a , e q u e i s t o Mo p e n s a m e n t o do cõnego, assim,
f o i b a s t a n t e p a r a se s u s p e n d e r a a ç ã o encontramos a afirmação da razão, a
por oito dias, e talvez se não negação do maravilhoso, das certezas
e x e c u t a s s e , se n i s s o não estivesse o absolutas, e uma análise do real que,
maior perigo; e como poderia pensar
tendo como referência a própria
que tivesse efeito a sublevação de
e x p e r i ê n c i a (o q u e h a b i l i d o s a m e n t e se
Minas falta de tudo o n e c e s s á r i o , e
procura negar), c o m p a r a três situações
cercada de outras capitanias: em
d i s t i n t a s (a C o n j u r a ç ã o d a s G e r a i s , a
s e g u n d o lugar, e l e r e s p o n d e n t e n à o v ê
Independência das Treze Colônias
interesse nenhum próprio na
Inglesas e a Restauração Portuguesa),
s u b l e v a ç ã o ; p o r q u e não foi para isso
decompondo-as; depois, chegando-se a
convidado, nem aceitaria o partido,
u m a c o n c l u s ã o geral sobre a o c o r r ê n c i a
q u a n d o o fosse, e m e n o s evitar o dano
das r e b e l i õ e s ; e, por f i m , a t i n g i n d o a
c o m p o s i t i v o , p r o c u r a n d o e s t a b e l e c e r as c o m a c i s ã o entre o s e r e o p a r e c e r .
o despotismo) . 8 2 p a r a as q u e s t õ e s m o r a i s . D o p o n t o d e
vista político, assim, v e m o s q u e , entre
Autêntico ilustrado, por seus princípios
o s i n c o n f i d e n t e s , o s l i v r o s i l u s t r a d o s e/
e pela maneira de estruturar o seu
ou que focalizavam aspectos relativos
pensamento, o cônego Vieira
ao m u n d o natural - i n s i g n i f i c a n t e s n a
influenciou-se, portanto, pelos autores
biblioteca do padre Toledo,
ilustrados que se encontravam e m sua
consideráveis na livraria d o padre Costa,
biblioteca e atendeu ao abade Raynal,
e razoavelmente numerosos na
a quem tanto apreciava, entronizando a
biblioteca do cônego Vieira da Silva -
pátria e m s e u altar! S u a ' l i b e r t i n a g e m ' ,
exerceram grande influência sobre tais
por f i m , n à o se limitou à Inconfidência:
leitores. As possibilidades de leitura dos
e m b o r a c ô n e g o , professor de teologia
inconfidentes, no entanto, não se
e comissário da Ordem Terceira da
limitaram aos livros que possuíam n e m
Penitência, Vieira da Silva era um
àquilo que os mesmos diziam: a
' h o m e m d o m u n d o ' , tendo legado u m a
inventividade, de alguma forma, valeu.
filha, Joaquina Angélica da Silva, à
O livrinho do abade Raynal, não
posteridade, nascida e m 1765, quando
possuído por nenhum deles, tornou-se
Vieira j á havia recebido as ordens
centro da atenção e, e m s u a leitura, as
sacras 8 3
. A moralidade coletiva
idéias foram apropriadas de tal sorte a
imperante nas Qerais deve ter-se
m a n t i v e s s e m as a p a r ê n c i a s , i n c l u s i v e a nos m e s m o s t e n d o e m vista s u a p r ó p r i a
Tabelas e Gráficos
B. Pontevel 412 1056 263 63,8 703 66,6 79 \9.2 208 19.7
C6n. V. Silva 279 612 99 35,5 236 38,6 147 52,7 329 53,7
Tabela II - Números Absolutos e Relativos de Obras e Absolutos de Volumes* de Ciências Sacras nas Bibliotecas Eclesiásticas
Padres da
Ljcritura Santa Teoloeia História Sagrada Canônej Liturgia Dicioairioa
Igreja
Nomes
ABS ABS ABS ABS ABS ABS ABS
% % % % % %
o/v o/v o/v o/v O/V O/V o/v
B. Pontevel 7/32 1.7 2/15 0.5 58191 14 16/73 3.1 36/15 1.7 47/107 11,4 9/21 12
Con V. Sirva S/19 1.» 2/14 0,7 13/27 4.7 11/21 3.9 22/51 7.9 17/2» 6,1 2/7 0,7
Pe M Costa 3/33 4,1 0 0 t/36 10.9 2/16 2,7 1/1 1,4 9/26 12J VII 4,1
Côn Cordeiro 0 0 0 0 5/5 7,5 1/2 1.5 1/2 1.5 12/13 17.9 0 0
Pe. C. Toledo 2/4 3.4 0 0 10/22 172 2/4 3,4 3/5 5.2 11/31 19 1/4 1,7
Pe. J. F. Souza 3/4 U.l 0 0 2/2 7.4 0 0 2/2 7.4 U/31 40,7 0 0
Pe. J. T. Souza 0 0 0 0 2/6 1.3 l/l 4.2 2/2 •.3 4/1 16,7 0 0
Tabela IV - Número! Absolutos e Relativos de Obras e Absolutos de Volumes* por Línguas e Valor daa Bibliotecas Eclesiásticas
laVjsBM
.. \ \ 1 I I - N * d t ( > l . r » U-m-i i
Í.7 4J
M O T A S
1. C H A R T I E R , Roger. A história cultural:entre p r á t i c a s e i n t e r p r e t a ç õ e s . L i s b o a : DifeI;
Rio d e J a n e i r o : B e r t r a n d B r a s i l , 1 9 9 0 , p. 1 2 1 . C o l o c a ç õ e s m u i t o s i m i l a r e s t a m b é m
s ã o f e i t a s p o r D A R N T O N , R o b e r t . Boêmia literária e revolução: o submundo das
l e t r a s n o A n t i g o R e g i m e . S ã o P a u l o : C i a . d a s L e t r a s , 1 9 8 9 , p. 1 2 8 ; e DAV1S,
Natalie Z e m o n . "O povo e a palavra impressa". In: Culturas do Povo. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1 9 9 0 , pp. 1 5 9 , 176 e 184-185.
3. I d e m , i b i d e m , p. 1 6 8 .
6. M A R Q U E S , M a r i a A d e l a i d e S a l v a d o r , o p . c i t . , p. 8 9 .
8. M A R Q U E S , M a r i a A d e l a i d e S a l v a d o r , o p . c i t . , p. 8 9 .
1 1. F U R T A D O , J ú n i a F e r r e i r a , o p . c i t . , p. 3 3 - 3 4 .
14. I d e m , i b i d e m , p. 1 1 4 .
15. I d e m , i b i d e m , p. 6 6 .
/ \
pag. 46. jan/dez 1995
K V O
18. D E L U M E A U , J e a n , o p . c i t . , p. 1 1 5 .
2 3 . A R Q U I V O DA C A S A S E T E C E N T I S T A DE M A R I A N A ( d o r a v a n t e , A C S M ) . Inventário do
padre João Rodrigues Cordeiro, 1792. \- o f i c i o , c ó d i c e 8 2 , a u t o 1.756.
1.045.
28. A C S M . Inventário do padre José Teixeira de Souza, 1768. 1 oficio, códice 149, auto 3 . 1 3 4 .
9
2 9 . C o n t a m o s c o m o l i v r o s d i s t i n t o s até m e s m o v o l u m e s p a r a os q u a i s o s i n v e n t á r i o s
não m e n c i o n a m nem títulos nem autores, ou ainda, para os quais a s e m e l h a n ç a
de t í t u l o s n ã o i m p l i c a n e c e s s a r i a m e n t e i g u a l d a d e d e autor. E m n o s s a d i s s e r t a ç ã o
d e m e s t r a d o (op. c i t j e e m o u t r o a r t i g o ( V I L L A L T A , L u i z C a r l o s . "O d i a b o n a
l i v r a r i a d o s i n c o n f i d e n t e s " . In: N O V A E S , A d a u t o (org.). Tempo e história. São
Paulo : C o m p a n h i a das Letras ; Secretaria M u n i c i p a l de C u l t u r a , 1 9 9 2 , p p . 3 6 7 -
395) não u s a m o s este critério, h a v e n d o , por i s s o , d i f e r e n ç a s entre as cifras
apontadas nesses trabalhos e no presente artigo.
3 1 . FRIEIRO, E d u a r d o , o p . c i t . , p. 3 2 .
mineiras coloniais. S ã o P a u l o : C i a . E d i t o r a N a c i o n a l / E D U S P , 1 9 6 8 , p. 5 8 .
42. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Capítulos de literatura colonial. São Paulo:
Brasiliense, 1 9 9 1 , pp. 2 7 2 - 2 7 3 .
B r a s i l , 1 9 9 3 , p. 1 1 7 .
4 6 . F R I E I R O , E d u a r d o , o p . c i t . , p. 2 6 .
4 8 . H i p ó t e s e s i m i l a r é d e f e n d i d a e m r e l a ç ã o a o c o n d e de A s s u m a r e m : S O U Z A , L a u r a
d e M e l l o e. " E s t u d o c r í t i c o " . In: Discurso histórico e político sobre a sublevação
que nas Minas houve no ano de 1720. Belo Horizonte : Fundação J o ã o Pinheiro,
C e n t r o d e E s t u d o s H i s t ó r i c o s e C u l t u r a i s , 1 9 9 4 , p p . 1 3 - 5 6 . Veja t a m b é m : B E R G E R ,
Q. " L i t t e r a t u r e et l e c t e u r s a G r e n o b l e a u x XVIIe s i è c l e : le p u b l i c l i t t e r a i r e d a n s
u n e c a p i t a l e p r o v i n c i a l e " . In: Revue d'Mistorie Moderne et Contemporaine. Paris:
(33): 1 3 2 , j a n . / m a r . 1 9 8 6 .
h i s t ó r i a , o p . c i t . , p. 1 5 4 .
5 3 . A f i d e l i d a d e d e P o n t e v e l a o s e n s i n a m e n t o s d a Igreja é a p o n t a d a e m B O S C H I ,
C a i o C é s a r . ' A s v i s i t a s d i o c e s a n a s e a i n q u i s i ç ã o n a C o l ô n i a " . In: Revista Brasileira
de História. S ã o P a u l o : 7(1 4): 161, m a r . / a g o . 1 9 8 7 ; T R I N D A D E , c ô n e g o R a i m u n d o .
Arquidiocese de Mariana, op.cit., v o l . l , pp. 140-158 e CARRATO, J o s é Ferreira,
op.cit., p.64.
5 9 . PIRES, M a r i a d o C a r m o . " D e j u i z a i n f r a t o r : o d i l e m a d o s a c e r d ó c i o m i n e i r o n o
s é c u l o XVIII". C o m u n i c a ç ã o a p r e s e n t a d a n a XII Encontro Regional de História da
AríPUH - SãoPaulo, r e a l i z a d o e m C a m p i n a s , e m 1 9 9 4 , p. 7 .
6 6 . A D I M , v o l . 1, p. 1 5 8 e v o l . 2 , p. 2 4 6 .
6 9 . A D I M . o p . c i t . . v o l . 2 , p. 4 3 2 .
7 8 . I d e m , i b i d e m , p. 3 7 .
8 0 . ADIM, v o l . 5 , pp. 2 4 6 - 2 4 8 .
8 2 . G U I L L A U M E , T h o m a s F r a n ç o i s R a y n a l , o p . c i t . , p. 7 5 .
8 3 . A D I M , o p . c i t . , v o l . 3 , p. 3 4 8 .
0-
A B S T R A C T
T h i s a r t i c l e f o c u s e s a t t e n t i o n o n the c l e r i c a l l i b r a r i e s in M i n a s Q e r a i s in t h e s e c o n d
half of the e i g h t e e n t h c e n t u r y , a n a l y z i n g t h e i r c o m p o s i t i o n a n d the p r o b a b l y i n f l u e n c e s
that they h a d u p o n t h e i r o w n e r s . F i r s t l y , it i d e n t i f i e s t h e h e a d l i n e s a n d a u t h o r s that
the C a t o l i c C h u r c h u s e d to d i f u s e a m o n g the c l e r i c m e n a n d the p o s i t i o n they o c c u p i e d
a s o w n e r s o f t h e b o o k s . A f t e r t h a t , it p r e s e n t s a q u a n t i t a t i v e a n a l y z i s o f s o m e
i n f o r m a t i o n f r o m t h e b o o k s ( a u t h o r s ' n a m e s , t i t l e s , l a n g u a g e s in w h i c h the books
were w r i t t e n , m a t t e r s a n d p r i c e s ) , i d e n t i f y i n g r e g u l a r i t i e s a n d s i n g u l a r i t i e s a n d r e l a t i n g
t h e m to the p e r s o n a l b i o g r a p h y of t h e i r o w n e r s a n d to t h e c l e r i c a l s t a t e . F i n a l l y , it is
shown how these libraries unfluenced their owner's sexual and political behaviors.
R É S U M É
C e t a r t i c l e traite d e s b i b l i o t h è q u e s c l é r i c a l e s d u M i n a s Q e r a i s à la s e c o n d e m o i t i é d u
XVlIIe s i è c l e . 11 a n a l y s e la c o m p o s i t i o n d e c e s b i b l i o t h è q u e s et e x p l i q u e l e s i n f l u e n c e s
p o s s i b l e s q u ' e l l e s o n t e x e r c e s u r l e u r s p r o p r i é t a i r e s . 11 d é c r i t , d ' a b o r d , les t i t r e s et
les a u t e u r s q u e l ' E g l i s e C a t h o l i q u e e s s a y a i t d e r é p a n d r e e n t r e les c l e r c s et q u e l l e s
é t a i e n t les p o s i t i o n s q u e c e u x - l à o c c u p a i e n t tant q u e p r o p r i é t a i r e s d e l i v r e s . E n s u i t e ,
il fait une a n a l y s e q u a n t i t a t i v e d e s q u e l q u e s d o n n é e s c o n c e r n a n t l e s l i v r e s t r o u v é s
d a n s le b i b l i o t h è q u e s (norns d ' a u t e u r s , t í t r e s , l a n g u e d a n s l a q u e l l e les l i v r e s o n t é t é
é c r i t s , s u j e t s , et p r i x ) , t o u t e n i d e n t i f i a n t d e s r é g u l a r i t é s et d e s s i n g u l a r i t é s , e n
é t a b l i s s a n t l e s r a p p o r t s e n t r e e l l e s et l ' h i s t o i r e p e r s o n e l l e d e l e u r s p r o p r i é t a i r e s et
1'état c l e r i c a l . F i n a l e m e n t , il e x a m i n e d a n s q u e l l e m e s u r e les l i v r e s ont i n f l u e n c é le
c o m p o r t e m e n t s e x u e l et p o l i t i q u e d e l e u r s p r o p r i é t a i r e s .
4
O s letrados'
los A
(tua sociedade
c o l o n i a l s as a c a d e m i a s e a
c u l t u r a do I l u m i n i s m o no f i n a l
do s é c u l o X V T I I
de a t i t u d e s p r e s e n t e s t a n t o n o s s a l õ e s liberdade de c o n s c i ê n c i a , a l i m e n t a a
3
se usar a i n t e l i g ê n c i a , e m o u t r o s t e r m o s ,
De f o r m a a b r e v i a d a , i m p o r t a sublinhar
um tipo especial de lógica. É s o b este
que nestas instâncias privadas os
prisma que a aludida 'influência' será
súditos vivenciavam a experiência da
(re)reexaminada.
liberdade da opinião e de igualdade no
se n o t a r o p r e d o m í n i o de u m certo n t i m ^ i W T o t a O r d M Ò e t t í i l t e . T f l m * Grani
oaGiMtluLi , c Gj»«r<uJi: d a I1»MI Çmm.
estilo, particularmente no que d i z n t oosrrm
L TAVARES D £ SEQUEIRA E 8A-,
r e s p e i t o às f o r m a s d e s o c i a b i l i d a d e . A
constituição das monarquias abso- L I S B O A :
K. Oficia. doCf • MANOEL At.VAK.Kl SOU.AMO.
lutistas nos séculos XVI e XVII, Au* * ÜPCCU».
redefinindo as n o ç õ e s de esfera p ú b l i c a
e privada, respectivamente, como
espaço de exercício do poder - atributo J ú b i l o s da A m é r i c a . Lisboa: na oficina do
e r u d i t a , d o e s t í m u l o às belles lettres e
Em outro plano, a explícita comparação
à imaginação.
d e d . J o s é c o m o r e i - s o l é s u g e s t i v a . Vale
v a l o r i z a ç ã o de u m a n o ç ã o d e c i v i l i d a d e feliz e mais h a r m o n i o s a , e m f u n ç ã o da
como amabilidade, como polidez e associação que estabelecem entre
a f a b i l i d a d e n o trato c o t i d i a n o 19
, e a bus- poder e saber.
ca da perfectibilidade h u m a n a e xia
Todavia, em Júbilo da América as
harmonia nas relações sociais, num
virtudes de G o m e s Freire de Andrade
sentido bem próximo daquele defen-
'são trazidas a público' em tom
dido pelo m e m b r o da A c a d e m i a dos
laudatório, em que o elogio avizinha-se
Renascidos citado na epígrafe deste texto.
da fronteira da bajulação. Além disso,
A valorização da 'concórdia, união e os elogios não se restringem ao
c o n s t â n c i a ' e n t r e o s m e m b r o s de u m a governador e capitão geral das
sociedade apresenta-se c o m o condição c a p i t a n i a s do Rio de J a n e i r o , Minas
para um 'coroamento', como pré- Gerais e São Paulo.
requisito para a conquista da 'fama e
S i q u e i r a de Sá, no Prólogo ao leitor,
d a s a b e d o r i a ' na m e d i d a e m q u e f o s s e m
justifica a aceitação do "honroso cargo"
eliminadas a ignorância e a inveja.
de s e c r e t á r i o e m r a z ã o d a p e r s u a s ã o d o
Portanto, neste discurso em que se
presidente da A c a d e m i a , padre mestre
p r o m o v e m as ' v i r t u d e s ' e m d e t r i m e n t o
Francisco de Faria, da C o m p a n h i a de
d o s ' v í c i o s ' há u m p r o p ó s i t o r e f o r m a d o r
J e s u s . D i s c o r r e n d o s o b r e as c o n d i ç õ e s
de natureza moral, do qual é
de sua i n d i c a ç ã o e o " i n e s p e r a d o " da
indissociável a perspectiva de um tempo
situação, o secretário busca justificar a
futuro c o n s t r u í d o s o b r e as b a s e s da
aceitação descrevendo o padre como
h a r m o n i a e do congraçamento dos
alguém cujo "magistério temem os
homens. 2 0
e m parte s u b s e q u e n t e d e s t e t e x t o .
uma sociedade originada da reforma
U m p o u c o m a i s a d i a n t e e n a l t e c e a figura
m o r a l d e s e u s m e m b r o s q u e se consti-
de o u t r o a c a d ê m i c o , M a t e u s Saraiva,
tuiria na grande utopia do s é c u l o XVUI.
"por sua vasta e r u d i ç ã o " , reconhecida
Ou seja, nossos acadêmicos não até m e s m o " n o s r e i n o s e s t r a n h o s , o n d e
e s t a r i a m m u i t o d i s t a n t e s de u m clima melhor se c o n h e c e m , a m a m , e s t i m a m
de opinião que alimentaria a crença e premeiam os amantes e professores
numa sociedade mais próspera, mais das belas letras e por isso nelas
valorizados a dedicação ao
conhecimento e o cultivo da 'vida do Esta é a dimensão e m que a e x p e r i ê n c i a
homens esclarecidos, por aqueles que palavras elogiosas eram trocadas por
favores, razão pela qual os príncipes
cultivaram as virtudes úteis, para
eram os alvos preferidos deste tipo de
promover a felicidade, a harmonia e a
procedimento, n o caso e m tela, pode-
c o n c ó r d i a , na v e r d a d e , procede-se ao
se b e m substituir a relação príncipe/
auto-elogio, ou ao auto-reconhecimento,
súdito pela do colonizador/colono. Se,
através d a identificação e enumeração
por um lado, o elogio exacerbado
d a s q u a l i d a d e s d o s p a r e s . Este tipo de
alimentava o prazer no nível da imagem
discurso propunha-se a i d e n t i f i c a r n e l e s
'segredo' foram marcas d a cultura iluminista tudo o mais que pertencer à sociedade,
tomando-se c o m o e x e m p l o os estatutos da
A referência explícita ao segredo, mais
Sociedade Literária, redigidos por Silva
do que confirmar algumas das
Alvarenga e m 1 7 9 4 : 2 5
O T A S
1. RE1LL, Peter H a n n s . The german enlightenment and the rise of historicism. Berkeley
University of C a l i f ó r n i a Press, 1 9 7 5 .
7. P r i n c i p a i s a c a d e m i a s f u n d a d a s n o s é c u l o XVIII: A c a d e m i a B r a s í l i c a d o s E s q u e c i d o s
(Bahia), A c a d e m i a d o s F e l i z e s (Rio d e J a n e i r o , 1 7 3 6 ) , A c a d e m i a d o s S e l e t o s (Rio
de J a n e i r o , 1752), A c a d e m i a d o s R e n a s c i d o s (Bahia, 1758), A c a d e m i a Científica
d o R i o d e J a n e i r o ( 1 8 8 1 ) e S o c i e d a d e L i t e r á r i a (Rio d e J a n e i r o , 1794).
8. P I N H E I R O , c õ n e g o J . C . F e r n a n d e s . "A A c a d e m i a B r a s í l i c a d o s E s q u e c i d o s . Estudo
h i s t ó r i c o e l i t e r á r i o " . In: Revista do IfíQB, 1868, vol. XXXI, pp.5-29.
1 1. L A M E G O , A l b e r t o , o p . c i t . , p p . 2 4 e 2 5 .
12. Idem, i b i d e m , p . 2 6 .
15. V e j a - s e c o m o e x e m p l o a p o l ê m i c a t r a v a d a n a A c a d e m i a d o s R e n a s c i d o s e m t o r n o
da dissertação do acadêmico J o s é de Oliveira Bessa, intitulada 'Dos primeiros
descobridores e povoadores da cidade da Bahia', que foi impugnada por outra,
intitulada 'Apologia C r o n o l ó g i c a e m que se declara qual foi o primeiro capitão
português q u e entrou pela barra da Bahia e qual foi o primeiro povoador que nela
assentou c a s a e exerceu algum d o m í n i o ' , e q u e , segundo s e u autor, teria gerado
" u m a c o n t r o v é r s i a assás d e b a t i d a " , o q u e o levou a rever as a f i r m a ç õ e s de m e i a
dúzia de crônicas sobre o assunto. LAMEGO, Alberto, op. cit., pp. 68-73.
17. J Ú B I L O S D A A M É R I C A . C o l e ç ã o d a s o b r a s d a A c a d e m i a d o s S e l e t o s . L i s b o a : o f i c i n a
d o dr. M a n u e l A l v a r e s S o l a n o , 1 7 5 4 .
18. A t i t u l o d e e x e m p l o p o d e s e r c i t a d o o s o n e t o : " Q u e i m p o r t a , i l u s t r e F r e i r e , q u e
brioso/ Reluzes, que teu nome esclarecido/ A força do buril seja esculpido/ No
t e m p o , que edificas suntuoso! / Q u e importa, que pretendas cuidadoso/ Evitar o
l o u v o r , q u e te h á d e v i d o , / P o r q u e r e r q u e s ó D e u s s e j a a p l a u d i d o / E s s e o b s é q u i o .
Senhor, essa piedade/ C o m que negas ao n o m e tanta glória,/ A s raias te elevou
d a e t e r n i d a d e / P o i s a ç ã o t ã o i l u s t r e e m e r i t ó r i a / Fará q u e e m t o d a a i d a d e / T e
eternizes nos bronzes da memória".
2 1 . K O S E L L E C K , R e i n h a r t , o p . c i t . , p. 1 4 7 .
2 3 . Ver n o t a 1 9 .
2 7 . Ver n o t a 19.
A B S T R A C T
The a r t i c l e d i s c u s s e s in what m e a s u r e the ' l i t e r a t i ' of c o l o n i a l s o c i e t y i n t h e a c a d e m i e s
which were f o u n d e d during 18th century s h a r e d the climate of opinion which
c h a r a c t e r i z e d the e u r o p e a n i n t e l l e c t u a l m o v e m e n t of the p e r i o d a n d d e v e l o p e d the
s a m e style. that i s , s p e c i f i c f o r m s of s o c i a b i l i t y w h i c h s o u g h t c i v i l i t y a n d p o l i t e n e s s .
In the s e a r c h f o r a h a p p i e r a n d m o r e h a r m o n i o u s s o c i e t y , t h e p r i n c i p i e s w i t h w h i c h
t h e s e men of letters i n t e n d e d to p r o m o t e the p r o g r e s s o f the E n l i g h t e n m e n t w i l l b e
a n a l y z e d t h r o u g h part of t h e d o c u m e n t a t i o n they p r o d u c e d .
R É S U M É
V article discute dans q u e l l e mesure 'les lettrés' de la société c o l o n i a l e , reunis dans
les a c a d e m i e s f o n d é e s a u X V l l I è s i è c l e , p a r t a g e a i e n t la mêmepensée qui caractérisait
le m o u v e m e n t i n t e l l e c t u e l e u r o p é e n d e c e t t e p é r i o d e et o n t d é v e l o p p é le m é m e style,
c ' e s t - à - d i r e , d e s f o r m e s s p é c i f i q u e s d e s o c i a b i l i t é q u i c h e r c h a i e n t la c i v i l i t é et la
p o l i t e s s e . A v e c u n e partie d e la d o c u m e n t a t i o n p r o d u i t e par c e s hommes de lettres,
s o n t a n a l i s e s l e s p r í n c i p e s a v e c l e s q u e l s ils ont p r e t e n d u p r o m o u v o i r le p r o g r è s d e s
L u m i è r e s , à l a r e c h e r c h e d u n e s o c i é t é p l u s h e u r e u s e et p l u s h a r m o n i o u s e .
Servidão e dúvidas
o l e i t o r d a História, do Futuro
de A n t ô n i o V i e i r a
• — ^ l e i t o r havia pperco
ercorrido quase aquele segredo que Deus não quis que
Estava agora entre dois títulos: 'Verdade estalar d o vidro, o cintilar da candeia,
o d o m í n i o d e s t e s , as l i n h a s escritas
0 a n a c r o n i s m o de que p o d e r í a m o s ser passam à vista do leitor, a n s i o s o e m
acusados é p e r d o á v e l , u m a vez que se i n t e r p r e t a r , e m d i z e r o q u e o e s c r i t o é.
relaciona com a própria substância A interpretação fundada no 'é',
textual. O tempo é como o mundo, entretanto, avaliza a resposta antes que
dividido em dois hemisférios, um e l a c o m p a r e ç a , p e r m i t i n d o a q u e m lê
visível-superior, o passado, e um um domínio empírico sobre o texto.
invisível-inferior, o futuro. Vive-se indo, Poderíamos arriscar um paralelo
onde o pretérito termina e o porvir se estranho e atual: esse ' é ' , essa terceira
inicia. O que resta são os horizontes do pessoa do presente do indicativo,
tempo, instantes presentes como nos assemelha-se à terceirização da
diz Vieira. 4
É esta sensação espacial do a d m i n i s t r a ç ã o m o d e r n a . Dê a o u t r o s
tempo c o m o 'superfície temporal' que uma parte da sua responsabilidade
s u b o r d i n a o leitor. Mais servo do que pretérita. Se isso é elogiável no plano
nunca dos malabarismos literários do da gerência, não parece ser o c a s o no
jesuíta. Ma â n s i a de ver o tempo que se refere à leitura. A
realizado como matéria, afastando responsabilidade do leitor não se
assim a angústia m o d e r n a , o leitor não e n c o n t r a na filiação t e ó r i c a . C a b e à
duvida, e toma a ilusão por realidade. atividade da leitura impor a necessidade
E o p r ó p r i o V i e i r a é q u e m se e n c a r r e g a de se q u e r e r algo d i f e r e n t e , q u e n ã o se
de impedir o leitor de d e s c o b r i r e m suas encontra naquilo que j á se sabia,
l i n h a s a l g o p a r a a l é m d o q u e foi d i t o . mudando os propósitos e a vida
anteriormente aceitos. Fora d e s s a tarefa
P a r e c e n ã o h a v e r e s c o l h a : se a d ú v i d a
o 'é' revela-se c o m o privatização da
persiste e m d e m a s i a , cabe qualificar o
existência, e o outro, o texto, só serve
autor como paranóico, ou outros
p a r a a l i m e n t a r e s s e p r o j e t o . O l e i t o r se
equivalentes psicanalíticos; no caso de
transforma em j u i z a proferir sentenças,
se m a n t e r e x c l u s i v a m e n t e s e r v i l , a c a b a
a perder de vista a i m a g e m do s á b i o e m
por endossar a sua caracterização
permanente d ú v i d a sobre o seu saber.
enquanto místico. Os mais refinados,
d o t a d o s de u m t a n t o m a i s d e s u t i l e z a , É certo que em toda interpretação
preferem a f i r m a r q u e a História do sobrevive uma certa defesa psíquica.
Futuro é uma utopia. Em qualquer dos Embora também nos pareça quase ó b v i o
H I S T O R i Â
D O
FUTURO. L I V R O
ANTEPRIMEYRO
P R O L O G O M E N O A T O D A A HISTO-
ria do Faturo, cm que fe declara ofim,& fc
provaó os fundamentos delia.
A N T Ô N I O VIEYR
da Companhia dc JESUS, Prega-
dor dc S. Magcftadc.
LISBOA OCCIDENTAL»
MtOficina<te A N T O N I O P E P R O Z O GALUAM.
mtíttf* turfuru*. Aarw áe 1718;.
imagem 'sós e solitariamente' do início. Somos nós leitores que nos vemos
segura, muito firme e muito fundada a Sensação que se estende pela repetição
homens uma certa dose de ignorância havia percebido que, nesse livro
precisam superar esse b e m , tornando- por isso deixariam de ser história, se fossem
q u e se c o l h e m as f u t u r a s v e r d a d e s e q u e
d e i x a m de ser verdades q u a n d o p a s s a m . A Eneida corre da verdade ao sentido,
O ' o f í c i o ' e a ' o b r i g a ç ã o ' da p o e s i a . nào havendo c o m o se deter e m n e n h u m
V i e i r a vai p e r d e n d o f ô l e g o , r e s p i r a e m e s t ã o r o m p i d a s . O m u n d o se a c e l e r o u
o futuro, que por direito pertence a desenlace. Resta agora apenas antever
duvidar timidamente, por excesso de nos deixa uma única lição: enquanto o
temporalidade.
Aqui termina também o que poderíamos
C o m o c o m p r e e n d e r algo é tê-lo e m s u a c o m e n t a r s o b r e a História do Futuro do
i n c o m p l e t u d e e i n c o m p r e e n s ã o , se é d o padre Antônio Vieira, d a C o m p a n h i a de
homem a trágica propriedade histórica Jesus. E se há algum relevo nessa
do pecado, sendo o complemento antevisão da obra de Vieira é fazer
intimo de seu estar no m u n d o , Vieira ressoar, no m o m e n t o desse ensaio, o
acaba d e i x a n d o c o m o rastro o m o d e l o que fora anteriormente s e n t e n c i a d o por
impossível e possível da leitura, que são Raymond Cantei, e m 1959:
a mesma coisa: antever. O ante,
... a a u s ê n c i a de u m a e d i ç ã o critica
enquanto prefixo, significa antes ou
m o d e r n a s e f a z sentir. N e n h u m s e r m ã o
diante. C o m o sufixo, é formador da
foi p u b l i c a d o a t é a q u i n u m a e d i ç ã o q u e
terminação do particípio presente dos
merecesse verdadeiramente esse
verbos latinos. Vieira, exímio
nome. Ora, é a totalidade dos discursos
conhecedor do latim, sabe que o
de Vieira q u e deve s e r a s s i m e d i t a d a .
particípio presente nào tem qualquer
valor preciso de tempo, e, dessa A t a r e f a s e r á l o n g a e d i f i c i l , m a s essa
M O T A S
1. V I E I R A , A n t ô n i o . História do Futuro. (Introdução, atualização e notas por Maria
L e o n o r C a r v a l h à o B u e s c o ) . L i s b o a : I m p r e n s a M a c i o n a l - C a s a d a M o e d a , 1 9 8 2 , p.
1 4 6 . A História do Futuro do padre Antônio Vieira t e m c o m o p e r í o d o p r o v á v e l de
s u a c o m p o s i ç ã o o s a n o s c o m p r e e n d i d o s entre 1 6 4 9 - 1 6 6 1 . A d m i t e - s e este c o n t o r n o
temporal c o m reservas. O professor A d m a Eadul Muhana n a organização e fixação
do texto "Apologia d a s coisas profetizadas" (Lisboa: C o t o v i a , 1994) d e m o n s t r a a
c o n t i n u i d a d e d a s p r e o c u p a ç õ e s de Vieira c o m esta obra no p e r í o d o de s e u
p r o c e s s o i n q u i s i t o r i a l ; a l g u m a s p a r t e s d o t e x t o p o r e l e o r g a n i z a d o se a d e q u a m
a o p r o j e t o d a História do Futuro do jesuíta. Embora a incompletude da obra seja
concreta, a investigação de Muhana acrescenta outras partes àquelas j á
consagradas, cujas edições anteriores estiveram s o b o controle de J o ã o Lúcio de
A z e v e d o ( C o i m b r a : I m p r e n s a d a U n i v e r s i d a d e , 1 9 1 8 ) e A n t ô n i o S é r g i o &í H e r n a n i
A B S T R A C T
The paper is about father A n t ô n i o Vieira's prophetic History of the Future, written between
1 6 4 0 - 1 6 6 0 a n d with several editions since the 18th Century. The J e s u i t s prophesying allow
us to think about the question of reading, as well as to discuss the r e a d e r s standpoint
starting from the leveis of s u b m i s s i o n to the text and of doubt in the act of reading.
R É S U M É
C e s t u n a r t i c l e s u r VHistória do Futuro ( H i s t o i r e d e 1'Avenir), o u v r a g e p r o p h é t i q u e d u
Père A n t ô n i o V i e i r a , é c r i t e n 1 6 4 0 - 1 6 6 0 , q u i a m e r l t é p l u s i e u r s p u b l i c a t i o n s a p r è s le
X V l l l è s i è c l e . Le p r o p h é t i s m e d u J é s u i t e n o u s p e r m e t d e r é f l é c h i r s u r le p r o b l è m e d e
la l e c t u r e , d e d i s c u t e r l a p o s i t i o n d u l e c t e u r à p a r t i r d e s n i v e a u x d e s o u m i s s i o n a u
texte et d u d o u t e d a n s 1'acte d e l e c t u r e .
paB.82.jan/oez 1995
3
Prof . Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira
Professora de História Medieval da UERJ. Doutora e m História Social pela USP.
L e i t o r e s do R i © de J a n e i r o s
bibliotecas como jardins
das d e l í c i a s
se m o d i f i c a r o c o n t e ú d o d e
Uma das maiores dificuldades que se
suas pratileiras."
apresentam para o aprofundamento do
estudo das bibliotecas examinadas é a
O
Alain Nadaud
compreensão do diálogo entre a
de u« m a e s p é c i e d e j a r d i m R o c h e falar d a s b i b l i o t e c a s é s o b r e t u d o
Ari. 686
Livraria».
A . J . Castilho d C., r. S José, 107.
Adolpho de Castro Silva & C . , r. Rosário, 8 1 , Telfph. Íi02 ; sócios :
'Adolpho de Castro e Silva, r. Rosário, SI e r. Barão de Mesquita, 1 } .
* Albino José de Castro e Silva; 2, r Rosário, 81 e r. liarão de Mes-
quita, 12, Teleph. 5031.
Alexandre Ribeiro « t C , r. Quitanda, 79 B e Rosário, 64 e depósitos r. Qui-
tanda. 58 e r. S . lose. íi8 ; sócio* :
* Alexandre Augusto Ribeiro, r. Quitanda, 79 B.
'Augusto Gonçalves Moreira, r. Quitanda, 79 R.
Alves & C , especialidades : Urros eoilegiaea e acadêmicos, r. Gonçalves
Dia*, 66 e 68, C. do Correio B. (Vide Álmanak das Províncias,
pag. 10!i5 : sócios :
"Francisco Alves de Oliveira, r. Gonçalves Dias, 46 e 48.
* Nicolau Antônio Alves, r. Gonçalves Dias, 46 e 48, e ladeira do Senado,
25 A , coiiimanditario.
'Manoel Maria dos Santos, r. Gonçalves Dias, 46 e 48, interessado.
I Antônio Augusto da Silva Lobo, r. Sete de Setembro, 8 1 .
Antônio Roberto Costa, r. S . José, 118.
Antônio Teixeira de Castro Dias, r. Andradas, 2 8 .
Augusto Fancho, r. S. José, 9 4 .
Augusto Richanl, r. Bern. de Yasccncellot, 101.
B. L. Garnier, a} 6 ; •}> 3 de P., r. Ouvidor, 71.
-Brandão & Moreira Maximino. r. João Alfredo, 90, antiga da Quitanda,
(Vide Notab. pag. 1918). sócio :
' A n t ô n i o José Gomes Brandão, 4 • 5
' • »3
Quitanda, 90, e r.
Santa Amaro, 35.
aVitish * P. Hblie Society, r. 7 de Setembro, 71. (Vide Notab. pag. 198»),
agente:
' J o i o M . C. ilos Santos, r. 7 de Setembro, 71 e r. S . Joaquim, 175.
Carlos Gaspar da Silva, r. Quitanda, 111 e 113, Teleph. 30
Carvalhaes A C , r. Ourivrs, 5 5 ; sócios:
'Carlos de Carvalhaes Pinheiro, r. Ourives, 55.
'Leandro B. Pereira, r. Ourivea, 53.
Crus Coutinho, r. S. J jsé 76 ; dono :
* Francisco Rodrigues ds Crus Coutinho Carvalho, r. S. José, 76.
Fernandes, Ribeiro & C , r. Quitanda, 71, e r. Rosário, 47 ; sócios:
•Joaé Fernandes Couto, r. Quitanda, 7 2 .
'Maximiano Xavier Vas Osório, r. Quitanda, 72.
' H e i t o r Ribeiro da Cunha, r. Quitanda, 7 2 .
t i . de Araújo A C . , r. Gen. Câmara, 9 ; sócio :
'Gabriel Pinto de Araújo, r G e n . Câmara, 9.
ves Mendes A C , r. Ouvidor, 25 B e 38 ; sócios :
' J ú l i o Gonçalves Mendes, r. Ouvidor, 25 B e 38, e r . Bispo, 36 C
* Antônio Manoel Fernandes da Silva, r. Ouvidor, 25 B e 38, c o m o .
1 7 % d a p o p u l a ç ã o l i v r e q u e p o d i a m ler
Em diversos casos, no entanto, essa e escrever. Estavam entre os eleitores.
do I n s t i t u t o O s w a l d o C r u z , q u e p e r m i t i u face de e x i g ê n c i a d o s c u r r í c u l o s de
vários estudos que trataram do tema, na mais modernas ou mais inseridas nas
francesa' 1 4
guardava um lugar ideológicas permitiram que estas obras
I.lvrarlüH (w«.«W)
Laemmert & C ) .
Livraria do P o v o . Casa de A portas, r. S . Jo*c, 65 e 67.
Lopes do Cnulo 4 C , r. João Alfredo. 24. sócios:
•José Alexandre Lopes do Couto, tf> 3 , r. João Alfred", 24, e pr. de B o -
tafogo, 10'i
' J o a q u i m Teixeira Pinm dc Mesquita, r. J ão Alfredo, 21.
' J o i o Lopes da Cunha, r. João Alfiedo, 1U, interessado.
Lopes da Silva Lima 4 Amaral, Livraria dos Dou* Mundos, r. S . Salvador,
(Vide arl. 716 e Notab. pag. 1893).
L o i i Macedo & J ú l i o , r. João Alfredo, 61.
Halbeus, Costa * C , r. Quitanda, 120.
tinha acesso aos livros de maneira obra que lhe havia sido destinada. As
q u o t i d i a n a . A leitura, p o r parte d o s verbas testamentárias eram, por s u a
grupos escolarizados, tornou-se mais natureza, sintéticas, e nelas não se
freqüente; sua presença e m bibliotecas especificavam os volumes doados. Esse
públicas ou particulares, u m a rotina. 1 5 fato d e i x a d ú v i d a s sobre u m a outra
questão, que muitas vezes não ficou
Os i n v e n t á r i o s , v e r b a s testamentárias,
explicitada: quais as obras que
testamentos e alguns acervos particulares
despertavam maior interesse nesses
p o d e m dar algumas respostas sobre o gosto
espaços íntimos, ou ainda, as mais
pelos livros entre m é d i c o s e a d v o g a d o s .
valiosas dentre as e x i s t e n t e s nas
Muitos dos documentos do acervo
bibliotecas? n a m e d i d a d o p o s s í v e l , isto
vinculado ao poder j u d i c i á r i o , n o Arquivo
é, d e n t r o do que o diálogo com a
n a c i o n a l , s ã o fontes d e raro valor, m a s não
documentação permitiu, procurei
p o s s u e m características t ã o h o m o g ê n e a s
analisar o perfil destes acervos
entre s i , nas referências a livros.
particulares e as relações de interesse
as o p ç õ e s d e l e i t u r a a o l o n g o d e s u a s
Primeiramente registrou-se de forma
vidas. Com outras abordagens,
genérica algumas obras:
Lawrence Mallewell, Brito Broca e
Antônio C â n d i d o trataram do t e m a , mas (...) C o l e ç õ e s de O r d e n a ç õ e s e seus
obras de p o l i t i c a , de c i ê n c i a s e de
Produzidos dentro de suas próprias
literatura e m g e r a l . "
casas e c o m o registro de seus bens
O r e g i s t r o foi u m d o s m a i s m i n u c i o s o s ,
mais pessoais, os documentos relativos
à vida e à morte desses homens nos definindo-se inclusive os locais das
l í q u i d a d e Rs. 2 : 2 7 5 $ 6 4 0 , r e c o l h i d a a o
O a c e r v o d o dr. P i e n t z e n a u e r confirma cofre d o s órfãos juntamente c o m Rs.
a hipótese de que a formação do médico 6 3 $ 5 8 , comissão do leiloeiro, que abriu
na época era abrangente. As obras mão e m favor d o s m e n o r e s . 2 2
O monte
arroladas passavam pelos mais declarado pelos avaliadores foi de Rs.
diversificados temas de medicina: um 10:347$235, do qual deduziram-se
g u i a de m e m ó r i a , m a n u a l d e f a r m á c i a , algumas despesas, restando Rs.
biologia, anatomia, cirurgia, doenças de 9:020$065. A administração deste
Biblioteca Nacional.
quinhão n á o foi suficiente para dar aos 196$000. Os temas das obras estavam
herdeiros conforto e recursos assim organizados:
suficientes no seu processo de
Acervo da biblioteca de
e d u c a ç ã o , n e m para manter entre eles
A n t ô n i o Correia de Souza C o s t a
uma biblioteca muito diversificada e rica
para o s p a d r õ e s e s t u d a d o s . Teologia
O c o n s e l h e i r o dr. A n t ô n i o C o r r e i a d e Jurisprudência
Souza C o s t a resolveu fazer testamento
Ciências e Artes 123 lotes
quando se d e u conta de 'quão precária
é a vida'. Era lente da Faculdade de Belas letras 6 lotes
Medicina da Corte. 2 4
Devido ao seu
História 4 lotes
cuidado teve t e m p o para definir tudo
não especificados 2 lotes
que julgou importante: instituiu sua
mulher, d o n a C a m i l a Barreto de Souza fonte: Inventário de Antônio Correia de Souza Costa - ATI
junho de 1 8 8 1 . os funcionários
encarregados d o s registros dirigiram-se à A correspondência de C â n d i d o Mendes
rua d o Catete para descrever seus bens n o caracterizou-se pela grande ênfase dada
domicílio e d e p o i s deslocaram-se para a rua por ele a questões relacionadas c o m a
Sete d e S e t e m b r o n. 6 2 para anotar o s bens doação de suas obras, consultas sobre
existentes n o escritório, náo sendo precisos catálogos das mais diversas instituições
quanto à especificação d o s livros que n ã o e s o b r e o fato d e t e r p r e d i l e ç ã o e s p e c i a l
fossem o s d e s u a autoria. por determinadas leituras. Sua
biblioteca, considerando-se a ênfase
E m 18 d e a g o s t o a L i v r a r i a L a e m m e r t
dada e m toda s u a vida aos livros, devia
a p r e s e n t o u a o j u i z d o s Ó r f ã o s d a 2 Vara
a
e s e u i r m ã o dr. J o ã o B a t i s t a d a C o s t a
O borráo do inventário e da partilha do
H o n o r a t o foi s e u t e s t a m e n t e i r o . Deixou
advogado dr. Luiz J o s é d e Carvalho Melo
n o m e a d o s 17 h e r d e i r o s e n t r e irmãos,
Matos, a m b o s de 1882, foram muito
sobrinhos, amigos e afilhados de batismo. 34
do total). 37
Q u a n t o aos i d i o m a s , havia 146 p r o f i s s i o n a l : 3 2 lotes d e o b r a s d e direito
N O T A S
1. R O C H E , D a n i e l . " L u m i è r e s " . In: FIQU1ER, R i c h a r d (dir.). La Bibliothèque. Paris:
Autrement, (1992) pp. 9 2 - 9 4 .
2. I d e m , i b i d e m , p. 9 4 .
5. B A R M A N , R o d e r i c k J e a n . "A f o r m a ç ã o d o s g r u p o s d i r i g e n t e s p o l í t i c o s d o S e g u n d o
Reinado: a aplicação da prosopografia e dos m é t o d o s quantitativos à história do
B r a s i l I m p e r i a l * . In: RltlQB. Anais do Congresso do Segundo Reinado. Rio de
Janeiro, 2:61-86,1984.
3.364, 1875.
11. Idem, i b i d e m .
12. A R Q U I V O N A C I O N A L . I n v e n t á r i o s d e L u i z P i e n t z e n a u e r , c x . 4 . 2 8 6 , n s
5 5 1 , 1880.
Luiz J o s é de Carvalho Melo Matos, maço 4 9 0 , n 9 . 5 5 0 , 1882 e também do m e s m o
8
b o r r ã o de partilha, m a ç o 1 9 7 , cx. 6 . 8 8 0 , n 9
3 . 8 6 0 , 1 8 8 5 . S e ç ã o de D o c u m e n t o s
17. A R Q U I V O N A C I O N A L . Inventário. D. C a r o l i n a P i n t o R e b o u ç a s , e s p o s a d o
c o n s e l h e i r o A n d r é P e r e i r a R e b o u ç a s . C a i x a 4 . 0 2 9 , n. 6 9 3 , 1 8 6 5 .
18. I d e m , i b i d e m , f l . 14.
2 0 . A R Q U I V O N A C I O N A L . I n v e n t á r i o . L u i z P i e n t z e n a u e r . C a i x a 4 . 2 8 6 , n. 5 5 1 , 1 8 8 0 ,
ns. 24-29.
2 1 . A R Q U I V O N A C I O N A L . I n v e n t á r i o . L u i z P i e n t z e n a u e r . C a i x a 4 . 2 8 6 , n. 5 5 1 , 1 8 8 0 ,
anexo fl. 2.
2 3 . A R Q U I V O N A C I O N A L . I n v e n t á r i o . L u i z P i e n t z e n a u e r . C a i x a 4 . 2 8 6 , n. 5 5 1 , 1 8 8 0 ,
fls. 5 5 - 5 7 .
fls. 125-129.
3 2 . INSTITUTO H I S T Ó R I C O E G E O G R Á F I C O B R A S I L E I R O . C o l . O u r e m . L. 1 4 7 , d o e . 1 7 .
C o l . A . H. L e a l . L. 4 6 6 , f. 4 8 ; B N - S M s s I - 3 , 1 , 8 ; I - 3 , 1 , 9 ; I - 3 , 1 , 1 0 ; I - 3 , 1 , 1 1; I -
3,1,12.
33. BN-SMss 1 - 3 , 1 , 1 3 , 1 - 3 , 1 , 1 4 .
9 . 5 5 0 , 1 8 8 2 , tts. 1 - 3 ; B o r r à o d e P a r t i l h a . M a ç o 1 9 7 , c a i x a 6 . 8 8 0 , n. 3 . 8 6 0 , 1 8 8 5 ;
B o r r à o d e P a r t i l h a . L u i z J o s é d e C a r v a l h o M e l o M a t o s . M a ç o 1 9 7 , c a i x a 6 . 8 8 0 , n.
3.860, 1885.
37. ARQUIVO NACIONAL. Borrào de Partilha. Luiz J o s é de Carvalho Melo Matos. Maço
1 9 7 , c a i x a 6 . 8 8 0 , n. 3 . 8 6 0 , 1 8 8 5 , f l s . 1 5 - 1 6 . A r q u i v o N a c i o n a l .
3 8 . A R Q U I V O N A C I O N A L . I n v e n t á r i o . C a r l o s F r e d e r i c o Taylor. C a i x a 1 0 5 , n. 8 4 0 , g a l e r i a
A , 1 8 9 0 , 2 v.
4 0 . I d e m , i b i d e m , ns. 3 6 7 e 3 6 8 .
4 2 . I d e m , i b i d e m , f l s . 10 e 1 1 .
4 3 . Idem, ibidem.
4 5 . S A N T O S F I L H O , L i c u r g o d e C a s t r o , o p . c i t . , v . 2 , p. 1 2 .
4 6 . F R E I R E , G i l b e r t o , o p . c i t . , v. 1, p. LXIV.
4 8 . S A N T O S F I L H O , L i c u r g o d e C a s t r o , o p . c i t . , v. 2 , p. 1 2 .
A B S T R A C T
A s e l s e w h e r e , i n v e n t o r i e s are a n i m p o r t a n t s o u r c e for the s t u d y o f p r i v a t e l i b r a r i e s of
p h y s i c i a n s a n d l a w y e r s f r o m R i o d e J a n e i r o , at t h e t u r n o f t h e 1 9 t o t h e 2 0
t h t h
Century.
T h e i r w i d e - r a n g i n g c o n t e n t s w i t n e s s t h e i r i m p o r t a n c e for t h e city c u l t u r a l l i f e . O n t h e
o t h e r h a n d , t h e c a r e t h e i r o w n e r s b e s t o w e d t h e m s h o w s that t h i s l i b r a r i e s h a d b e e n
c o n v e r t e d for t h e m i n t o a k i n d of Garden of Eden.
R É S U M É
A Rio de J a n e i r o , c o m m e d'ailleurs, les inventaires constituent une d e plus importantes
sources pour 1'étude des bibliotèques privées de quelques catégories socio-professionnelles,
c o m m e les médicins et les avocats, au tournant de X X e
siècle. Q u e l q u e s - u n e s étaient três
riches et diversifiées, ce q u é t a l a i t leur importance pour leurs propriétaires et pour Ia vie
culturelle de 1'époque. Le traitement soigné et sophistiqué dont elles étaient 1'objet e n
faisait de quelque sorte des Jardins des Délices.
Cultura científica e
sociaLilidade
i n t e l e c t u a l no B r a s i l
setecentistao
u m es
o acerca cia oociecLacLe
Literária
«do R i o (fie Janeiro
CLAVRA:
POEMAS ERÓTICOS.
V e m , ó rlinfa, ao Cajueiro. dependência econômica e
Que no oiteiro d e s p r e z a m o s ; intelectual com relação a
Que e m seus ramos tortuosos potências internacionais.
axcnrao uiMiiifo
A m o r o s o s frutos d á .
v Nossa proposta é desenvolver
(O cajueiro do amor. d e t l l l Q A
alguns temas que poderão ser
Manuel Inácio da Silva
úteis para a c o m p r e e n s ã o do
Alvarenga)
lugar ocupado pela ciência na cultura
O'
s estudos que têm por objeto letrada brasileira no final do século
a cultura científica, os XVIII. Parte d a h i s t o r i o g r a f i a referente a
espaços de sociabilidade esse tema tende a acentuar a
intelectual no Brasil e a recepção de 'defasagem' existente entre os projetos
leituras de caráter especulativo ainda idealizados pelos reformistas ilustrados
são relativamente escassos. Em geral, l u s o - b r a s i l e i r o s e a efetiva c o n c r e t i z a ç ã o
se dá ênfase ao 'atraso' do destes projetos. Este hipotético
desenvolvimento científico e da cultura d e s c o m p a s s o entre p e n s a m e n t o e a ç ã o
letrada brasileira, buscando-se suas explicaria, de certo m o d o , o atraso' do
c a u s a s n a a t u a ç ã o ' r e t r ó g r a d a ' d a Igreja Brasil e de Portugal relativamente à
- dos jesuítas e m particular -, ou na Europa e à América do Norte.
Mo B r a s i l , p o d e - s e r e g i s t r a r a p r e s e n ç a
A partir deste tipo de c o n s i d e r a ç ã o ,
destes pólos de atração e difusão
importa-nos aqui fazer n ã o u m estudo
cultural desde os anos vinte d o século
d e ' h i s t ó r i a d a c i ê n c i a ' strícto sensu,
XVIII. A S o c i e d a d e L i t e r á r i a d o R i o d e
mas investigar a cultura luso-brasileira,
Janeiro constitui um exemplo de
entendendo que a concepção de ciência
instituição letrada particularmente
veiculada pela Sociedade Literária do
significativo por causa da maneira pela
Rio de J a n e i r o faz parte d a política
qual seus membros concebem a
pombalina de reformas efetivadas a
natureza brasileira. A Sociedade
partir d a d é c a d a de 1 7 5 0 e d e f e n d i d a s
Literária é uma das primeiras
por um determinado grupo de
instituições d a C o l ô n i a q u e integra e m
intelectuais 'ilustrados'. 2
Acervo. Rio de Janeiro, v. 8. n'-' 1-2. p. 105-122. jan/dez 1995 - pag 107
A C E
Iluminismo. 1 0
Escolhemos aqui as Assim é possível afirmar que o
afirmações de D o m e n i c o Vandelli" movimento ilustrado português se
como exemplares para a compreensão caracterizou pelo uso pragmático das
das relações que estes ilustrados ciências. Este uso representou um
estabeleciam entre o progresso do Reino esforço decisivo das autoridades e dos
e o desenvolvimento da história natural. grupos ilustrados luso-brasileiros no
Este n a t u r a l i s t a i t a l i a n o , D o m e n i c o p o r sentido da adequação do conhecimento
nascimento, fora convidado por a c u m u l a d o às n e c e s s i d a d e s de uma
Pombal 1 2
para lecionar inicialmente no retomada da exploração colonial, de
Colégio Real dos nobres de Lisboa e uma redefinição, podemos dizer, do
depois na Universidade de C o i m b r a , 'exclusivo' metropolitano. Importava
onde foi lente de química e história agora, investir num outro ramo que
natural. Vandelli era ainda diretor do redundasse na acumulação das
Real J a r d i m B o t â n i c o , o n d e realizava riquezas, fundamentalmente a
numerosas tentativas de aclimatação de agricultura.
plantas 'úteis'.
Diderot, Denis et alil. Encyclopédie. Dictlonnalre r a l s o n n é des sciences, des arts et des m é t l e r s .
Acervo. Rio de Janeiro, v. 8. n' 1-2. p. 105-122, jan/dez 1995 - pag. 111
A C E
exploração colonial. 2 1
Eles são interrogados e ficam presos por
É no interior desta política que três anos, após o que são soltos graças
f l o r e s c e r á a S o c i e d a d e L i t e r á r i a d o Rio à i n t e r v e n ç ã o d a p r ó p r i a d . M a r i a I, p o r
de J a n e i r o . Em 1771 foi fundada intermédio do ministro d. Rodrigo de
inicialmente uma 'Academia Científica', Sousa Coutinho, ilustrado que compar-
composta principalmente por m é d i c o s 2 2
tilhava da política de v a l o r i z a ç ã o das
e incentivada pelo próprio vice-rei, o ciências. 2 6
A amizade de Silva Alvarenga
marquês d o Lavradio. C o m a morte de c o m Basílio da G a m a (que transitava
alguns fomentadores do espírito pelos círculos intelectuais metropo-
especulativo e o fim da administração litanos), sua estada em Portugal na
de Lavradio, a A c a d e m i a não prossegue é p o c a da reforma da Universidade de
seus trabalhos, extinguindo-se em 1 7 7 9 . Coimbra (1772), a correspondência
Em 1 7 8 6 , j á sob a proteção do novo mantida c o m outros ilustres do Reino,
v i c e - r e i d . L u í s de V a s c o n c e l o s e S o u s a , inclusive a troca de cartas entre Mariano
renasce com o nome de Sociedade da Fonseca e Domenico Vandelli,
L i t e r á r i a d o Rio de J a n e i r o , l i d e r a d a p e l o permite-nos avaliar que os m e m b r o s da
poeta Manoel Inácio da Silva Alvarenga. S o c i e d a d e Literária d o Rio de J a n e i r o
Ela prossegue até 1790, quando faziam parte p e s s o a l m e n t e do grupo
esmorece devido à chegada de um novo ilustrado ao qual p e r t e n c i a m Sousa
vice-rei, o c o n d e de R e s e n d e , pouco Coutinho, Vandelli, e tantos outros que
simpático às elocubrações ilumi- compartilhavam dos ideais de
nistas." Somente em 1794 é que a desenvolvimento 'do comércio, das
S o c i e d a d e Literária do Rio de J a n e i r o artes e d a a g r i c u l t u r a no R e i n o e e m s u a s
retomará por quatro meses suas conquistas'.
atividades, quando é proibida pelo
Consta nos autos da devassa, relativa-
c o n d e de Resende. A p ó s esta p r o i b i ç ã o ,
mente à defesa de Mariano, o seguinte:
Silva Alvarenga e alguns outros
m e m b r o s são objeto de d e n ú n c i a s , que
...argumentou que se ele respondente
os a c u s a m de p r o f e s s a r e m contra a
tivesse idéias contrárias ao governo
religião, a m o n a r q u i a , e a favor da
m o n á r q u i c o isto havia de constar da
República francesa. Ao que tudo indica,
sua c o r r e s p o n d ê n c i a c o m as p e s s o a s
estas acusações ocorreram por motivos
do seu conhecimento, assistentes em
p e s s o a i s , d e v i d o à g a n â n c i a de um
Lisboa como eram o desembargador
rábula l o c a l . 2 4
d o r m i r e i n o Senhor. . . . e n q u a n t o o s reis
por outra n a F r a n ç a . A o p o s i ç ã o q u e
havia entre o s m e m b r o s d a S o c i e d a d e
Literária d o Rio de Janeiro e o conde
de Resende, por exemplo, existia
também no interior da própria
Metrópole, o q u e fica patente quando
da morte de d. J o s é I e d o exílio d o
marquês de Pombal.
f i d e l i d a d e às p o l í t i c a s g o v e r n a m e n t a i s . 3 7
escuros nevoeiros, dias tristes,/Em que
de d o n a M a r i a 1, a l é m d a s p r o d u ç õ e s e m a u g u s t a q u e a s a n i m a l (...) E t u , q u e m
Diderot, Denls et alil. Encyclopedie. Dictlonnaire r a l s o n n é des sclences, des arts et des métiers.
coloniais 4 0
se d á na m e d i d a e m que mangueiras. 4 4
i m b u í d o s da n o ç ã o de valorização da
Provavelmente Silva Alvarenga morreu
natureza c o m o produtora de riquezas e
sem realizar completamente o seu
como 'mestra' da própria vida, 4 1
l o s c o m e r t o d o o g ê n e r o de p l a n t a s q u e
Embora Manuel Inácio da Silva
eles q u i s e s s e m , o que tudo vinha em
Alvarenga não tivesse planos de
conseqüência dos louvores que davam
independência, forneceria elementos
as m e s m a s r e p ú b l i c a s e f e l i c i d a d e que
intelectuais que embasariam a
nelas gozavam os p o v o s . 4 5
tarde. 4 2
O poeta na sua obra demonstra m e m b r o s da S o c i e d a d e Literária do Rio
M O T A S
1. D I A S , M a r i a O d i l a L e i t e d a S i l v a . " A s p e c t o s d a I l u s t r a ç ã o n o B r a s i l " . In: Revista
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio d e J a n e i r o : j a n . / m a r . 1 9 6 8 , p.
105.
2. D I A S , M. O. L. d a S . , o p . c i t . e F A L C O M , F r a n c i s c o J o s é C a l a z a n s . A época
pombalina - política e c o n ô m i c a e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1982.
5. S o b r e a e s p e c i f i c i d a d e d a I l u s t r a ç ã o p o r t u g u e s a , cf. M U N T E A L F I L H O , O s w a l d o .
Domenico Vandelli no anfiteatro da natureza - a cultura científica d o reformismo
ilustrado português na crise do Antigo Sistema Colonial. Rio de Janeiro:
dissertação de mestrado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
- m i m e o , c a p í t u l o 1, 1 9 9 3 .
8. V A N D E L L I , D. " M e m ó r i a s o b r e a p r e f e r ê n c i a q u e e m P o r t u g a l s e d á a a g r i c u l t u r a
s o b r e as f á b r i c a s " , a p u d S E R R À O , J o e l . Dicionário da história de Portugal. Porto:
Figueirinhas, s . d . , pp. 4 2 - 4 4 .
1 1 . Para m a i o r e s d e t a l h e s a c e r c a d a v i d a e d a o b r a d o n a t u r a l i s t a l u s o - i t a l i a n o , c o n f e r i r
MUNTEAL FILHO, Oswaldo, op.cit.
12. C o n f e r i r a e s s e r e s p e i t o as c o r r e s p o n d ê n c i a s e n t r e o m a r q u ê s d e P o m b a l e o
naturalista italiano contidas na Coleçáo Negócios de Portugal, s o b a guarda do
Arquivo Nacional.
1 3 . V A N D E L L I , D. ' S o b r e a l g u m a s p r o d u ç õ e s n a t u r a i s d e s t e R e i n o , d a s q u a i s s e p o d e r i a
tirar u t i l i d a d e " . In: Memórias econômicas da Academia Real das Ciências de Lisboa.
L i s b o a : F u n d a ç ã o C a l o u s t e Q u l b e n k i a n - B a n c o d e P o r t u g a l , 1 9 9 1 , p. 1 7 6 .
15. N O V A I S , F e r n a n d o A . , o p . c i t . , p. 2 2 4 .
17. V A N D E L L I , D. "Sobre a l g u m a s p r o d u ç õ e s n a t u r a i s d e s t e R e i n o , d a s q u a i s s e p o d e r i a
tirar u t i l i d a d e " , o p . c i t . , p. 1 7 7 .
econômicas . . . . p. 1 7 0 .
2 1 . C f . D I A S , M . O . L. d a S . , o p . c i t .
2 2 . S o b r e a a t i v i d a d e d o s m é d i c o s n a S o c i e d a d e L i t e r á r i a d o R i o d e J a n e i r o , cf.
FOHSECA, M a r i a R a c h e l F r ó e s d a . Ciência e identidade nacional no Brasil no
início do século XIX. C o m u n i c a ç ã o a p r e s e n t a d a n o IV C o n g r e s s o L a t i n o a m e r i c a n o
d e H i s t o r i a d e l a C i ê n c i a y d e Ia T e c n o l o g i a . C a l i : j a n e i r o d e 1 9 9 5 .
24. Cf.QARCIA, Rodolfo. "Introdução aos autos da devassa ordenada pelo vice-rei
c o n d e d e R e s e n d e " . In: Anais da Biblioteca fiacional. Rio de Janeiro: 1 9 3 9 , v.
L X 1 , p. 2 4 1 .
2 6 . S o b r e d . R o d r i g o d e S o u s a C o u t i n h o c o n s u l t a r : DIAS, M. O . L. d a S . , o p . c i t . e
nOVAIS, F. A . , o p . c i t .
Resende. 1 9 3 9 , LX1, p. 4 3 9 .
3 0 . Cf. a e s s e r e s p e i t o , o b j e t i v a n d o e s t u d o s m a i s a p r o f u n d a d o s a c e r c a d a e s t r u t u r a
dos cursos e dos diplomas obtidos pelos letrados luso-brasileiros: ARQUIVO
N A C I O N A L . C o l e ç ã o N e g ó c i o s de P o r t u g a l , c a i x a 6 5 2 , U n i v e r s i d a d e d e C o i m b r a -
1790-1820.
3 1 . A N A I S d a B i b l i o t e c a N a c i o n a l , o p . c i t . , p. 4 4 9 .
3 2 . O Patriota, Rio de Janeiro, out. 1813, n.4, apud DIAS, M. O. L. da S., op. cit., p. 115.
3 4 . A N A I S d a B i b l i o t e c a N a c i o n a l , o p . c i t . , p. 5 2 0 .
3 5 . I d e m , i b i d e m , p. 3 9 5 .
3 6 . I d e m , i b i d e m , p. 3 9 5 .
3 7 . No q u e se refere a o i n t e r e s s e d a s a u t o r i d a d e s m e t r o p o l i t a n a s p e l a u t i l i d a d e d o s
d o m í n i o s u l t r a m a r i n o s , p a r t i c u l a r m e n t e de m e m b r o s d o s u b g r u p o naturalista-
ilustrado d a A c a d e m i a Real das C i ê n c i a s de L i s b o a , d e v e m o s nos reportar às
n a r r a t i v a s t e s t e m u n h a i s c o n t i d a s nas m e m ó r i a s e c o n ô m i c a s d a A c a d e m i a o u e m
registros d o c u m e n t a i s c o m o n u m a c o r r e s p o n d ê n c i a de d. Rodrigo de Souza
C o u t i n h o ao entào vice-rei c o n d e de R e s e n d e , a c e r c a de um antigo m e m b r o d a
S o c i e d a d e Literária do Rio de Janeiro e das atividades especulativas e m geral:
"Desejando Sua Majestade aumentar os c o n h e c i m e n t o s sobre as riquezas, que
encerram algumas das suas capitanias do Brasil, pela imediata utilidade, que
deles deve necessariamente resultar para a Sua Real C o r o a , e para os Seus
vassalos em geral: Tem determinado, que J o ã o Manso Pereira passe a visitar a
c a p i t a n i a d e S ã o P a u l o , e d e p o i s a d e M i n a s Q e r a i s , e q u e V. E x a , a l é m dos
q u a t r o c e n t o s m i l r é i s d e p e n s ã o o r d e n a d o s p e l o a v i s o d e 1 1 d e s t e m ê s , e q u e V.
Exa. lhe fará pagar pelo s u b s í d i o literário d e s s a c a p i t a n i a , lhe dê a l g u m a ajuda
d e c u s t o p r o p o r c i o n a d a às d e s p e s a s q u e e x i g i r a v i a g e m , q u e p o r o r d e m d a m e s m a
p e n h o r a vai e m p r e e n d e r o r e f e r i d o J o ã o M a n s o P e r e i r a , a q u e m V. E x a . p e r m i t i r á
t a m b é m , q u e tire d a s f u n d i ç õ e s q u a i s q u e r o b j e t o s , d e q u e e l e p o s s a carecer
p a r a o s s e u s e x a m e s m i n e r a l ó g i c o s , e p a r a e m t u d o V. E x a . l h e f a c i l i t a r o s m e i o s
d e fazer a s u a v i a g e m . P a l á c i o d e Q u e l u z - 18 d e m a r ç o de 1 7 9 7 " . A r q u i v o n a c i o n a l ,
códice 6 7 , volume 2 2 , fl. 68.
3 9 . A S A R T E S . In: S A L L E S , Pritz T e i x e i r a , o p . c i t .
4 0 . S o b r e e s t e a s p e c t o c o n s u l t a r : F A L C O n , F r a n c i s c o J . C. "As r e f o r m a s p o m b a l i n a s
e a c u l t u r a c o l o n i a l * . In: A M É R I C A 9 2 . R i o d e J a n e i r o : 1 9 9 2 , m i m e o ; J O B 1 M ,
L e o p o l d o J . C. O reformismo pombalino e a continuidade mariana no Brasil:
Luís dos Santos Vilhena, m a r c o do pensamento político brasileiro. L i s b o a : Editorial
E s t a m p a , 1 9 8 4 ; M A X W E L L , K e n n e t h . "The g e n e r a t i o n of t h e 1 7 9 0 ' s a n d t h e i d e a
o f l u s o - b r a z i l i a n e m p i r e " . In: A L D E n , D. (org). Colonial roots of modem Brazil.
L o n d o n : U n i v e r s i t y P r e s s , 1 9 7 3 ; n o V A I S , F e r n a n d o A. "O r e f o r m i s m o ilustrado
l u s o - b r a s i l e i r o : a l g u n s a s p e c t o s " . In: Revista Brasileira de História. S ã o P a u l o : v.
2 , n. 7 , p p . 1 0 5 - 1 1 8 , mar. 1 9 8 4 ; S A n T O S , A f o n s o C a r l o s M a r q u e s d o s , o p . c i t . e
W E H L i n G , A r n o . "O f o m e n t i s m o p o r t u g u ê s n o f i n a l d o s é c u l o XV1I1: doutrinas,
m e c a n i s m o s , e x e m p l i f i c a ç õ e s " . In: R.I.H.G.B., v. 3 1 6 , 1 9 7 8 , p p . 170-278.
4 3 . S o b r e as c o n c e p ç õ e s e s t é t i c a s d e S i l v a A l v a r e n g a c o n s u l t a r : C Â n D I D O , A n t ô n i o .
Formação da literatura brasileira - momentos decisivos. São Paulo: Martins, 2
vols., 1959.
4 5 . A n A I S d a B i b l i o t e c a n a c i o n a l , o p . c i t . , p. 4 4 0 .
R É S U M É
L a r t i c l e a n a l y s e les a c t i v i t é s d e la S o c i e d a d e L i t e r á r i a d o R i o d e J a n e i r o et l e s i n t e g r e
dans l'ensemble des Lumières luso-brésiliennes. On a mis en é v i d e n c e le role j o u é
par l e s s c i e n c e s d e l a n a t u r e d a n s la c o n s t r u c t i o n d u s e n t i m e n t d ' u n e s p é c i f i c i t é
b r é s i l i e n n e , é l é m e n t q u i f e r a p a r t i e d e 1'idée d ' i d e n t i t é n a t i o n a l e , t e l l e q u ' e l l e a é t é
mise en place par les g é n é r a t i o n s ultérieures.
L e i é u r a e lei£(
l e i t o r e s no .ioras'^
Brasil,
o e s t o c o f r a s t r a í l o (de u m a
esfera p ú M i c a cie p o d e r
N
a visão do s é c u l o que, paulatinamente, se tornava
XVIII, os escritos uma opinião pública, cuja
o r n a m e n t a ivv a m a objetividade provinha da razão
verdade, pois "os bons livros" j â e cuja força resultava do
c e n d o "o g o v e r n o s o b r e o s s e u s Mo B r a s i l , foi a o l o n g o d o s a n o s
sendo adquiridos.
Mo B r a s i l , são bem conhecidos os
Foram, portanto, os folhetos, panfletos estudos que indicam a presença de
e p e r i ó d i c o s , p u b l i c a d o s entre 1821 e algumas dessas obras nas bibliotecas
1823, que, sem dúvida, mais mineiras, baianas e cariocas d o final do
c o n t r i b u í r a m p a r a as l e i t u r a s d a e l i t e , s é c u l o XVIII. T a m b é m , u m f o l h e t o d e
mais intelectual do que social, que 1822 afirmava que "os escritos
participou do movimento da filosóficos dos Mablys, dos Rainaes, dos
Independência. Por outro lado, a Rousseaus, dos Voltaires, d o s De
característica fundamental dessa Pradts", introduzidos "pelas brechas
literatura era a homogeneidade dos feitas nas barreiras coloniais",
princípios e dos mecanismos mentais circulavam pelas mãos d o s brasileiros. 6
l i v r e i r o s f r a n c e s e s n o Rio d e J a n e i r o , d e
l i c e n ç a ao D e s e m b a r g o d o P a ç o , d e s d e
1808, para importar obras de
Montesquieu, Rousseau, Beauchamps e
outros, embora sempre negada pelos
censores régios, c o m o J o s é da Silva
Lisboa e Mariano José Pereira da
Ponseca, que mostravam, por sua vez,
em seus pareceres, estarem
p e r f e i t a m e n t e a par d o c o n t e ú d o d e t a i s
trabalhos. 7
Acervo. Rio de Janeiro, v. 8. n" 1 -2. p. 123-138. jan/dez 1995 - pag 127
A C E
Acervo. Rio de Janeiro, v. 8. n" 1 -2. p. 123-138, jan/dez 1995 - pag. 129
A C E
tipografias. Mais onze nomes devem ser mais baixas d a p o p u l a ç ã o ficava restrita
Movo. F i c a p a t e n t e a p r e d o m i n â n c i a d e
Sobretudo, conceder a essa
membros da elite.
p r e o c u p a ç ã o de formar u m a opinião
Entretanto, p e r m e a n d o toda a discussão pública um papel de destaque seria
sobre o novo ideário político, não se ignorar a persistência de p r o c e d i m e n t o s
deixava de encontrar a preocupação de tradicionais para conter as idéias q u e
f o r m a r u m a opinião pública. Assim poderiam revolucionar a população. Em
acreditavam muitos dos autores de 1 8 2 0 , u m registro d a p o l í c i a c o m p r o v a
folhetos e jornais, um dos quais que soldados espanhóis tinham sido
afirmava "ser u m dever do cidadão, que presos porque, n u m domingo, depois
(escrevia), dirigir a o p i n i ã o p ú b l i c a , e das três horas d a tarde, p a s s a v a m pelas
levá-la, c o m o pela m ã o , ao verdadeiro ruas d o R i o d e J a n e i r o " c a n t a n d o c o i s a
fim d a f e l i c i d a d e s o c i a l " . O jornal O que parecia ser o seu hino
Papagaio suspendeu seus trabalhos constitucional". 2 9
De m o d o s e m e l h a n t e ,
porque julgava que os objetivos o redator do Conciliador do Reino
propostos tinham sido alcançados, u m a Unido, o censor régio José da Silva
vez q u e se achava "consolidada a L i s b o a , julgava s e u "dever dirigir b e m a
opinião pública sobre os verdadeiros opinião pública, a f i m de atalhar os
l i b e r a l i s m o , por m e i o de u m a pedagogia s o u b e d e s e n v o l v e r ; e, p o r ú l t i m o , m a s
n O T A s
1. Para a primeira citação, v e r M E R C I E R , L o u i s S e b a s t i e n . Hotions claires sur les
gouvernements. A m s t e r d a n , 1 7 8 7 , p. VII. A p u d H A B E R M A S , J . Mudança estrutural
da esfera pública. R i o d e J a n e i r o : T e m p o B r a s i l e i r o , 1 9 8 4 , p. 1 1 8 . C f . B A K E R ,
K e i t h M . " P o l i t i q u e et o p i n i o n p u b l i q u e s o u s 1'Ancien Regime". In: Annales.
Êconomies. Sociétés. Civilisations. P a r i s , 4 2 (1): 4 1 - 7 1, j a n . / f é v . 1 9 8 7 .
3. P a r a o c o n c e i t o d e e s f e r a p ú b l i c a d e p o d e r , v e r H A B E R M A S , J . , o p . c i t . , p. 4 2 .
4. A R Q U I V O M A C I O N A L DA T O R R E D O T O M B O . R e a l M e s a C e n s ó r i a . E x a m e d o s l i v r o s
para saírem d o Reino para o Rio de J a n e i r o , 1 7 9 9 - 1 8 0 8 . Caixas 153-154.
7. P a r a a d i v u l g a ç ã o d e o b r a s e s t r a n g e i r a s n o B r a s i l , v e r n E V E S , L ú c i a M . B a s t o s P.
& F E R R E I R A , T â n i a M a r i a T. B e s s o n e d a C. "O m e d o d o s abomináveis princípios
franceses: a c e n s u r a d o s l i v r o s n o s i n í c i o s d o s é c u l o X I X n o B r a s i l " . In: Acervo.
Rio de Janeiro, 4: 1 1 3 - 1 9 , jan./jun. 1 9 8 9 e H E V E S , L ú c i a M . B a s t o s P. " C o m é r c i o
d e l i v r o s e c e n s u r a d e i d é i a s n o B r a s i l ( 1 7 9 5 - 1 8 2 2 ) " . In: Ler História. Lisboa, 2 3 :
61-78, 1992.
1 1 . B R A S I L . P o r t a r i a d e 19 d e j a n e i r o d e 1 8 2 2 . Rio d e J a n e i r o : T i p . n a c i o n a l , 1 8 2 2 .
1 3 . A REQEnERAÇÀO c o n s t i t u c i o n a l o u a g u e r r a e d i s p u t a e n t r e o s c o r c u n d a s e o s
c o n s t i t u c i o n a i s . Rio d e J a n e i r o : I m p r e n s a R e g i a , 1 8 2 1 , p. 2 0 . Para as p a r ó d i a s
d a s f o r m a s r e l i g i o s a s c o m o u m d o s g ê n e r o s de c u l t u r a p o p u l a r , v e r BURKE, Peter.
Cultura popular na Idade Moderna. São Paulo: C o m p a n h i a das Letras, 1 9 8 9 , pp.
146-147.
2 0 . Cf. P R O C E S S O d o s c i d a d ã o s D o m i n g o s A l v e s , J o ã o d a R o c h a P i n t o , L u í s A l v e s d e
A z e v e d o , ... p r o n u n c i a d o s n a d e v a s s a q u e m a n d o u p r o c e d e r J o s é B o n i f á c i o d e
Andrada e Silva para justificar os acontecimentos do famoso dia 3 0 de outubro
de 1 8 2 2 . R i o d e J a n e i r o : T i p . d e S i l v a P o r t o , 1 8 2 3 , p. 2 1 .
2 1 . J Á f u i c a r c u n d a , o u a z a n g a d o s p e r i o d i q u e i r o s . L i s b o a : of. d a v i ú v a d e L i n o d a
Silva Q o d i n h o , 1 8 2 1 , p. 4 .
e d . . P a r i s : P.U.F., 1 9 8 6 , p p . 9 7 - 1 0 7 .
2 6 . O Bem da Ordem, n° 3 , 1 8 2 1 . R i o d e J a n e i r o .
2 7 . A s c i t a ç õ e s f o r a m r e t i r a d a s , r e s p e c t i v a m e n t e , d e : Conciliador nacional, n° 1,
P e r n a m b u c o , t r a n s c r i t o d e O Volantim, n° 1 3 , 16 s e t . 1 8 2 2 , R i o d e J a n e i r o ; O
Papagaio. n° 1 2 , 8 a g o . 1 8 2 2 , R i o d e J a n e i r o .
R É S U M É
D a n s le m o n d e l u s o - b r é s i l i e n , un vif d é b a t s u r l e s i d é e s d u l i b e r a l i s m e fut d e c l e n c h é
par le m o u v e m e n t c o n s t i t u t i o n n e l d e 1 8 2 1 . L e s p u b l i c a t i o n s - d e s p a m p h l e t s et d e s
journaux - t i n r e n t un r o l e d é c i s i f d a n s c e t t e t i m i d e a m p l i f i c a t i o n d e l a s p h è r e d e
p o u v o i r , a u - d e l à d e s c e r c l e s l i m i t e s d e l a C o u r . C e p e n d a n t , 1'État, ne s u t r e n o n c e r à
s o n p e n c h a n t p o u r l e s p r a t i q u e s d e 1'Ancien R e g i m e et ne fut c a p a b l e d e r e n d r e le
m o t é c r i t e n i n s t r u m e n t p o u r f o r m e r 1'opinion p u b l i q u e e n s a f a v e u r .
A d i s t i n ç ã o e suias normass
l e i t u r a s e l e i t o r e s dos m a n u a i s
de e i i q u i e t a e c i v i l i d a d e *=* R i o
de J a n e i r o , s é c u l o X I X
A
s alterações na dos escravos". 1
Para tal, era
paisagem urbana, a necessário náo apenas buscar
europeização da o refinamento das maneiras e
vida s o c i a l a partir da vinda da a sofisticação do gosto mas,
Corte em 1808, uma sócia sobretudo, abandonar os rústicos
bilidade marcada por festas c o s t u m e s q u e a c a r a c t e r i z a v a m até o
particulares e pelos salões imperiais momento da chegada da Corte.
c o n s t i t u e m o p a n o de f u n d o para as
Neste processo de 'civilização dos
transformações nos modos e nos
modos' 2
os cuidados c o m a higiene, a
comportamentos da 'boa sociedade' do
c o r r e ç ã o d o s m o d o s , as b o a s m a n e i r a s
Rio d e J a n e i r o a o l o n g o d o s é c u l o X I X .
à mesa e a adequação e a distinção no
vestir passam a contar quase tanto
Para a ' b o a s o c i e d a d e ' e r a imperativo
quanto o dinheiro e os títulos de
a r i s t o c r a t i z a r - s e , isto é , a d o t a r c o s t u m e s
nobreza. É neste contexto que proli-
e valores que a possibilitassem ao
feram na cidade do Rio de J a n e i r o as
m e s m o t e m p o nivelar-se (pelo m e n o s na
edições da chamada literatura de
aparência) aos seus pares europeus e
civilidade.
distinguir-se do resto da p o p u l a ç ã o , ou
seja, "do povo mais ou menos miúdo e Tratados de c o r t e s i a , m a n u a i s de savoir-
Erasmo 1 4
, e s t e s m a n u a i s se d i f u n d i r a m c o m as m a n e i r a s d e i n d i v í d u o s mais
homens". 1 7
m e a d o s d o s é c u l o XVIII, o c o n t e ú d o e X I X . Ma v e r d a d e , e s t e m a t e r i a l f o r n e c e
desta palavra e de termos correlatos foi a reprodução de modelos de
"absorvido e ampliado em um novo comportamentos consolidados, já
conceito, na expressão de u m a nova aceitos e absorvidos e m outras nações,
forma de autoconsciência, o conceito de especialmente a França - nosso modelo
civilisation. Cortesia, civilidade e d e c i v i l i z a ç ã o -, c o m p o r t a m e n t o s q u e
civilização a s s i n a l a m três estágios de eram difundidos na prática, na chamada
desenvolvimento social, indicam qual 'europeização' dos costumes.
sociedade fala e é interpelada". 2 0
Os manuais de civilidade que c i r c u l a v a m
Segundo o autor, a expansão de na c o r t e no s é c u l o XIX podem ser
modelos de comportamentos chamados divididos, grosso modo, em duas
c i v i l i z a d o s o c o r r e u n a fase i n t e r m e d i á r i a categorias: pedagógicos e cortesãos.
desse processo, sendo que o conceito Embora, de maneira geral, toda
de c i v i l i z a ç ã o i n d i c a r i a e m s e u u s o no literatura de civilidade tenha u m c u n h o
século XIX, que o "processo de pedagógico, estamos considerando
civilização - ou, em termos mais c o m o tal as obras d e d i c a d a s à e d u c a ç ã o
rigorosos, u m a fase desse processo - dos jovens, enquanto os tratados
fora c o m p l e t a d o e e s q u e c i d o " . 2 1
Ainda cortesãos seriam aqueles direcionados
segundo o filósofo, a partir daí, "as p a r a a " p r á t i c a d o m u n d o " , para a v i d a
2 3
t r a t a d o s e u r o p e u s e n t r e o s s é c u l o s XVI
esta se d e f i n i r i a c o m o "o m o d o de
qualquer pessoa se comportar na
sociedade para c o m os d e m a i s , segundo
os princípios da moral e da religião, que
são a base da e d u c a ç ã o do h o m e m " . 5 0
Saquaremas
O papel d o s manuais de etiqueta, que a
primordialmente buscava-se
princípio pode parecer o simples ensino
possibilitar a inclusão na sociedade
das boas maneiras o u a inculcação das
daqueles que eram apresentados como
regras de etiqueta, ia além destes
futuros cidadãos d o Império. Por m e i o
propósitos, ao buscar preparar os seus
jovens leitores para a vida em
sociedade.
Acervo. Rio de Janeiro, v. 8. n' 1 -2. p. 139-152, Jan/dez 1995 - pag. 147
A C E
pares europeus.
W a n d e r l e y P i n h o a o falar d o m o v i m e n t o
da rua do Ouvidor, afirma que, a
despeito de um aparente nivelamento
entre os diversos estratos sociais que
visitavam ou passeavam simplesmente
pela rua, ficava sempre clara a
da difusão de uma civilidade,
e x i s t ê n c i a de s í m b o l o s exteriores e
procurava-se a uniformização mínima
marcas que distinguiam a 'boa
entre os e l e m e n t o s constitutivos de
sociedade'.
u m a s o c i e d a d e civil.... (grifo meu).
3 6
p e l o s p a i s a ler as o b r a s d e d i c a d a s às c i v i l i d a d e mostrava-se c o m o u m m e i o d e
N O
1. Cf. R E Z E N D E , F r a n c i s c o d e P a u l a F e r r e i r a d e . Minhas recordações. São Paulo:
I t a t i a i a , 1 9 8 8 , p. 1 7 1 . P a r a o autor, b a c h a r e l m i n e i r o d o i n í c i o d o s é c u l o X I X , a
sociedade aparece dividida nas seguintes classes: "a d o s brancos e sobretudo
daqueles que por sua posição constituíam o que se costuma chamar a boa
sociedade; a do povo mais ou menos miúdo; e finalmente a dos escravos".
5. I d e m , i b i d e m , p. 1 7 1 .
6. S o b r e a u t i l i z a ç ã o de t e x t o s l i t e r á r i o s p e l o h i s t o r i a d o r , a f i r m a R o g e r C h a r t i e r q u e ,
a " r e l a ç ã o d o h i s t o r i a d o r c o m o r e a l (...) c o n s t r ó i - s e s e g u n d o m o d e l o s d i s c u r s i v o s
e d e l i m i t a ç õ e s intelectuais p r ó p r i o s de c a d a situação de e s c r i t a . O que l e v a ,
a n t e s d e m a i s n a d a , a n ã o tratar as f i c ç õ e s c o m o s i m p l e s d o c u m e n t o s , r e f l e x o s
realistas de u m a realidade histórica, mas a atender a sua e s p e c i f i c i d a d e e n q u a n t o
t e x t o s i t u a d o r e l a t i v a m e n t e a o u t r o s t e x t o s (...)". Cf. C H A R T I E R , Roger. " H i s t ó r i a
i n t e l e c t u a l e h i s t ó r i a d a s m e n t a l i d a d e s : u m a d u p l a r e a v a l i a ç ã o . " In: História
cultural: e n t r e p r á t i c a s e r e p r e s e n t a ç õ e s . L i s b o a : D i f e l , 1 9 9 0 , p. 6 3 .
1 1. R E V E L , J a c q u e s , o p . c i t . , p. 172-73.
12. I d e m , i b i d e m , p. 1 7 4 .
13. F ó r m u l a d e e d i ç ã o s u r g i d a na F r a n ç a no s é c u l o XVIII q u e p e r m i t i a a c i r c u l a ç ã o
de l i v r o s d e b a i x o p r e ç o , i m p r e s s o s e m g r a n d e n ú m e r o e d i v u l g a d o s a t r a v é s d a
v e n d a a m b u l a n t e . Cf. C H A R T I E R , Roger. " T e x t o s e e d i ç õ e s : a l i t e r a t u r a d e c o r d e l . "
In: A história cultural: entre p r á t i c a s e r e p r e s e n t a ç õ e s . L i s b o a : D i f e l , 1 9 9 0 , p p .
165-187.
14. S e g u n d o J a c q u e s R e v e l , " a s c i v i l i d a d e s q u e se i n s c r e v e m n a t r a d i ç ã o e r a s m i a n a
repousam, pelo menos implicitamente, num duplo postulado: os bons
c o m p o r t a m e n t o s p o d e m ser ensinados e a p r e n d i d o s de m a n e i r a útil e s ã o o s
m e s m o s p a r a t o d o s " . Cf. R E V E L , J a c q u e s , o p . c i t . , p. 1 9 2 .
15. L o c . c i t .
16. E L I A S , N o r b e r t , o p . c i t . , p. 5 4 .
17. R E V E L , J a c q u e s , o p . c i t . , p. 2 0 3 .
18. L o c . c i t .
19. I d e m , i b i d e m , p. 2 0 6 .
2 0 . E L I A S , M o r b e r t , o p . c i t . , p p . 1 12-1 1 3 .
2 1 . I d e m , i b i d e m , p. 1 1 3 .
2 4 . M E V E S , Q u i l h e r m i n a d e A z a m b u j a , o p . c i t . , p. 9 .
2 6 . V E R A R D I , L u í s , o p . c i t . , p. 7 4 .
28. nEVES, Q u i l h e r m i n a d e A z a m b u j a , o p . c i t . , p. 5 .
R É S U M É
C e t a r t i c l e p a r l e s u r l a c i r c u l a t i o n et la l e c t u r e d e s m a n u e l s d ' é t i q u e t t e et d e c i v i l i t é
à R i o d e J a n e i r o p e n d a n t le X I X è s i è c l e . O n y t r o u v e u n e a n a l y s e d e c o m m e n t l e s
"gens b i e n " essaient d i n c o r p o r e r l e s m a n i è r e s et c o m p o r t e m e n t s d é c r i t s d a n s l e s
livres c o m m e les plus distingues.
R e v o l u ç ã o e lieresia na
L i U i o t e c a cie mm a<tlvogaclo cie
IVIanana
"TNk ~ ^ o s Autos
r
de ^0ÊSSÜs, as leis dos norte-
Devassa da americanos. Domingos
A ^ Inconfidência Mineira, há V i d a l c o n f i r m o u o fato e a c r e s c e n t o u
referência a livros perigosos que que viu o livro de Raynal q u a n d o veio
circulavam entre os inconfidentes, de L i s b o a para o Brasil e m c o m p a n h i a
excitando-lhes o ardor revolucionário. d o dr. J o s é P. R i b e i r o . 2
assim que sabia de cor algumas fazerem os levantes, que era cortando
B i b l i o t e c a P ú b l i c a de Florianópolis,
tendo sido, posteriormente, transferido
Mos Autos de Devassa, há várias
para o Museu da I n c o n f i d ê n c i a , de Ouro
referências a essa intensa atividade
Preto, o n d e atualmente se e n c o n t r a .
livresca do Alferes, que pediu a
Francisco Xavier Machado, porta- J o a q u i m J o s é da Silva Xavier procurou
estandarte do Regimento de Cavalaria t a m b é m S i m ã o Pires S a r d i n h a , " l e v a n d o -
Regular, p a r a l h e t r a d u z i r u m c a p í t u l o Ihe u n s l i v r o s i n g l e s e s p a r a l h e t r a d u z i r
da Coleção das leis constitutivas dos certos lugares que também diziam
Estados Unidos da América respeito a coisas da América" » ainda 8
segundo o d e p o i m e n t o de Francisco
e o capítulo que apontava vinha a ser
Xavier Machado.
a seção oitava, sobre a forma da
2) A o c o n t r á r i o d o q u e g e r a l m e n t e se a r r o l a d o s no i n v e n t á r i o d a q u e l e s ã o o s
commerce des e u r o p é e n s dans les deux Indes. Paris: Anable, Cost.es et Cie, 1820.
T o l e d o e diz q u e e l e " e s t a v a n a m ã o d e q u e a l i se e n c o n t r a m , h a v e n d o t a m b é m
um d o u t o r n a c i d a d e de M a r i a n a " . Dá as o b r a s - p r i m a s d a l i t e r a t u r a u n i v e r s a l ,
o b s t á c u l o às r e v o l u ç õ e s domésticas,
2) M i l l o t : Histoire générale. 9 vols.
pois a c o s t u m a os espíritos a pensar
Com o intuito de combater a
sempre do m e s m o m o d o . 1 5
editada em 1768, foi queimada por várias dificuldades. Uma delas, de difícil
I n q u i s i ç ã o . Diz o a u t o r q u e e r a p r e c i s o ,
secretamente, p ô r fogo no palácio e nas Márcio Jardim discorda d o ponto de
prisões da Inquisição, que ele chama de vista de Frieiro, alegando que no acervo
do cônego n ã o se nota nenhuma
'horrível Tribunal' e de 'monstro
inutilidade, "nada estava ali por acaso
hediondo'. Tacha Portugal de nação
numa simples composição de
'carola e supersticiosa'. 1 8
estante". 2 0
palpite que entra por u m ouvido e sai 'febre de instrução', parece que não leu
testamento 2 6
que fossem entregues ao heresia caía e m outra.
Juizo do Fisco vários livros pertencentes
Aí e s t á u m a p e q u e n a a m o s t r a d o que
ao c o n f i s c a d o Vicente Vieira da Mota,
padres e alunos liam em Mariana. O
que os tinha e n c o m e n d a d o de Portugal
c õ n e g o Luís V i e i r a d a S i l v a t a m b é m t e r i a
para s e r e m v e n d i d o s aos seus alunos
a d q u i r i d o livros por m e i o de Vicente
(não indicamos o número da folha
Vieira da Mota? Este é que
porque elas não estão numeradas).
h a b i t u a l m e n t e m a n d a v a vir l i v r o s de
Os livros que o padre Meireles ia vender Portugal para os letrados de Mariana e
aos seus alunos são, entre outros,, os Vila Rica? Eis um indício que merece
seguintes: 11 v o l s . d a Lógica e 10 d a reflexão e pesquisa. O capitão Vicente
Metafísica, de Q e n u e n s e . V. d a M o t a e r a g u a r d a - l i v r o s do rico
É curioso notar que os alunos contratador J o ã o Rodrigues de Macedo,
e s t u d a v a m nas o b r a s d o p a d r e A n t ô n i o c u j a c a s a foi u m d o s l o c a i s d e e n c o n t r o
Qenuense ou Qenovesi, nome dos inconfidentes . A f i r m o u a Basílio de
representativo do Iluminismo italiano, Brito que era amigo do c õ n e g o , c o m o
sacerdote tido como avançado e revela Basílio e m sua c a r t a - d e n ú n c i a . 2 7
H O T A S
1. AUTOS d a D e v a s s a d a I n c o n f i d ê n c i a M i n e i r a ( A . D . I . M . ) . E d i ç ã o d a C â m a r a d o s
D e p u t a d o s e d o G o v e r n o d o E s t a d o d e M i n a s G e r a i s , 1 9 7 6 , vol.11, p . 6 7 .
4
2. I d e m , i b i d e m , II, p p . 1 0 0 - 1 0 1 .
3. I d e m , i b i d e m , V, p p . 1 4 9 - 1 5 0 .
4. I d e m , i b i d e m , V, p . 1 7 3 .
5. I d e m , i b i d e m , I, p. 2 0 6 .
6. I d e m , i b i d e m , I, p p . 1 8 9 - 1 9 0 .
7. I d e m , i b i d e m , VII, p. 1 2 5 .
8. I d e m , i b i d e m , I, p. 1 9 0 .
9. I d e m , i b i d e m , II, p. 4 6 .
1 2 . REVISTA D O A R Q U I V O P Ú B L I C O M1MEIRO, a n o I, f a s c í c u l o 3 , 1 8 9 6 , p p . 4 4 7 - 4 4 8 .
o
13. C f . a e d i ç ã o d o s i r m ã o s M u r r a y , L e i d e n , 1 7 8 3 , 4 v o l . , p. 3 2 1 .
o
14. Cf. a e d i ç ã o d e P i s s o t , P a r i s , 1 7 8 0 , I o
v o l . , pp. 3 5 0 - 3 5 1 .
1 5 . Cf. a e d i ç ã o d e B a i l l y , G e n e b r a , 1 7 7 6 , 2 v o l . , p p . 4 1 8 - 4 1 9 .
o
16. C f . Index Librorum Frohibitorum, SS.MI D . M . PP. X l l iussu editus anno MCMXLV1II.
Typis Polyglottis Vaticanis, pp. 3 5 4 e 4 0 7 .
18. Cf. a e d i ç ã o d e S a m u e l e J e a n L u c h t m a n s , L e i d e n , 1 7 7 2 , v o l . 3 . , p p . 1 5 e 2 2 .
o
2 1 . A . D . I . M . , I, p. 2 1 4 .
2 2 . A . D . I . M . , IV, p. 1 4 6 .
24. I o
Ofício, códice 1 0 1 , auto 2 . 0 9 6 .
2 5 . A . D . I . M . , VIII, p p . 255-257.
2 6 . O t e s t a m e n t o , d e 2 9 / 3 / 1 7 9 3 (o ó b i t o d e u - s e e m 1 7 9 4 ) , e n c o n t r a - s e n o A r q u i v o
d a C a s a S e t e c e n t i s t a d e M a r i a n a ( L i v r o d e R e g i s t r o d e T e s t a m e n t o s n° 4 2 , I o
Ofício).
2 7 . A . D . I . M . , I, p. 1 0 0 .
A B S T R A C T
Dr. J o s é P e r e i r a R i b e i r o , a t t o r n e y in M a r i a n a , a U n i v e r s i t y of C o i m b r a g r a d u a t e , o w n e d
t h e m o s t i m p o r t a n t i l l u m i n i s t l i b r a r y of M i n a s Q e r a i s i n t h e 18th century, more
n o t e w o r t h y in thi s r e g a r d ( a l t h o u g h a bit s m a l l e r ) t h a n t h e f a m o u s l i b r a r y belonging
to c a n o n L u í s V i e i r a d a S i l v a . Dr. R i b e i r o ' s i n v e n t o r y c o m p r i s e s n u m e r o u s books
r e g a r d e d as s u b v e r s i v e a n d p e r n i c i o u s , m a n y of t h e m b a n n e d by p u b l i c a u t h o r i t i e s
a n d the C h u r c h .
R É S U M É
Me. P e r e i r a R i b e i r o J o s é , a v o c a t à M a r i a n a , a fait s e s é t u d e s à T U n i v e r s i t é d e C o i m b r e ;
il p o s s é d a i t la p l u s i m p o r t a n t e b i b l i o t h è q u e d e 1'état d e s M i n a s Q e r a i s s u r le S i è c l e
d e s L u m i è r e s . De c e p o i n t d e vue, quoique m o i n s vaste, elle était plus remarquable
q u e la f a m e u s e b i b l i o t h è q u e d u C h a n o i n e L u í s V i e i r a d a S i l v a . D a n s 1'inventaire d e
Me. Vieira figure une grande q u a n t i t é de livres c o n s i d e r e s c o m m e s u b v e r s i f s et
p e r n i c i e u x , p l u s i e u r s i n t e r d i t s par le p o u v o i r c i v i l et par 1'Eglise.
E d i ç õ e s perigosas?
a Encyclopédie para Rofeeré
Darnton
A
o escolher o philosophes.
tema da Certamente que a
Encyclopédie discussão sobre o
para abordar a obra de caráter das Luzes,
Robert Darnton, nossa ultrapassa e m muito os
intenção é a de ter a limites deste artigo e
oportunidade de articular este *"»•""*" sabemos ser inesgotável o tema'
objeto a outros temas relacionados c o m do Iluminismo e da Ilustração, bem
a história da leitura presentes no como a sua própria conceituaçào e
c o n j u n t o de s u a p r o d u ç ã o . A s s i m , falar delimitação espaço-temporal. Ainda
de um livro como a Encyclopédie, a s s i m , a Encyclopédie, marcada pelo
certamente sugere pensarmos no seu conteúdo filosófico e pela sua
universo de livros clandestinos, nos proposta de sistematização do
panfletos, na pornografia e e m toda u m a conhecimento e mesmo pela plasti-
literatura que será consumida no cidade de suas imagens, pelos autores
período pré-revolucionário. Significa com que contou e pelo processo de
também e sobretudo, refletir sobre as edição e comercializaçáo, é s e m dúvida
origens ideológicas da Revolução e nenhuma o centro irradiador para u m a
sobre o surgimento dos intelectuais. reflexão que é também sobre a natureza
U aventure
de F Encyclopédie
1775-1800
lugar c e n t r a l p a r a o s p r e s s u p o s t o s d e s t e
A c o n v i v ê n c i a e n t r e as o b r a s d a ' m a i s
artigo: c o m o os grandes movimentos
adiantada filosofia' c o m a mais 'reles
intelectuais, como o das Luzes,
pornografia', c o m o a t e s t a m as fontes
repercutem na s o c i e d a d e ? Até o n d e são
por ele utilizadas, se dá no a m b i e n t e da
e n t e n d i d o s ? Q u a l a m e d i d a de suas
sedição, na v a l o r i z a ç ã o das obras
influências? De que forma o
proibidas que c i r c u l a m na T r a n ç a neste
p e n s a m e n t o dos f i l ó s o f o s se revestiu
período, trazendo ainda o surgimento
q u a n d o se m a t e r i a l i z o u s o b r e o p a p e l ?
de u m novo p e r s o n a g e m : o i n t e l e c t u a l ,
O que revela essa empresa sobre a
esse n o v o tipo s o c i a l , h o m e m de l e t r a s 3
c o m o u m s i s t e m a de comunicação, esperanças". 6
heresia está e m afirmar o primado da preliminar, não são tão claros, é preciso
P e r c e b e r que a r e c o n s t r u ç ã o s o c i a l d a Ma o b r a de D a r n t o n p e r s i s t e a q u e s t ã o
realidade passa pela volta aos temas básica da repercussão dos grandes
herdados do Antigo Regime, movimentos intelectuais como o das
enquadrando suas observações nos L u z e s , na s o c i e d a d e . M a i s d o q u e u m a
gêneros familiares, assinalando a questão, ela é em si u m a p r e m i s s a , e é
impossibilidade da tarefa de através dela que se opera a sua análise.
Diderot, Denls et alll. Encyclopédie. Dictlonnalre r a l s o n n é des sciences, des arts et des m é t i e r s .
Diderot, Denis et alii. Encyclopédie. Dlctionnalre r a i s o n n é des sclences, des arts et des m é t l e r s .
involuntariamente a j u d a r a m a preparar.
Afinal, por volta de 1 7 8 0 , os De q u e f o r m a a Encyclopédie se integra
comerciantes das pequenas cidades não a este p r o c e s s o ? A p r o d u ç ã o e difusão
se i n t e r e s s a v a m nem pela aquisição, da o b r a , s u a singularidade, um dos
n e m p e l a l e i t u r a d a Encyclopédie. Eles atrativos que ela oferece c o m o objeto
estavam muito ocupados e m comprar para u m a história d a leitura no Antigo
tapeçarias para decorar suas casas. Não R e g i m e , n o s traz n o v a m e n t e a m e t á f o r a
interpretavam nem transformaram o do j o g o de e s p e l h o s , pois do seu
mundo. Idéias, política e reformas conteúdo filosófico à sua materialidade,
estavam na cabeça de intelectuais. há u m d e s d o b r a m e n t o incessante de
que a c o n s i d e r a m c o m o u m m o v i m e n t o
s u p e r f i c i a l restrito a u m c í r c u l o p e q u e n o " q u a n d o o s philosophes empreenderam
de intelectuais. a conquista do mundo, com o seu
M O T A S
1. DARNTON, Robert. L aventure de 1'Encyclopédie, 1775-1800: un best seller au
siècle des Lumières. Paris: Librairie A c a d é m i q u e Perrin, 1 9 8 2 .
2. I d e m , i b i d e m , p. 3 0 .
3. I d e m , i b i d e m , p. 2 4 .
7. I d e m , i b i d e m , p. 8 .
8. I d e m , i b i d e m , p. 1 2 5 .
1 1 . O A r q u i v o N a c i o n a l p o s s u i a e d i ç ã o c o m p l e t a d a Encyclopédie, 1751-1780.
15. I d e m , i b i d e m , p p . 1 6 0 - 1 6 1 .
16. I d e m , i b i d e m , p. 1 6 4 .
18. I d e m , i b i d e m , p. 1 2 .
19. I d e m , i b i d e m , p. 1 6 .
2 0 . I d e m , i b i d e m , p. 1 9 .
2 1 . D A R N T O N , R. faventure de 1'Encyclopédie, o p . c i t . , p. 5 5 9 .
2 2 . I d e m , i b i d e m , p. 5 6 7 .
2 3 . D A R N T O N , R. " O s l e i t o r e s r e s p o n d e m a R o u s s e a u : a f a b r i c a ç ã o d a s e n s i b i l i d a d e
r o m â n t i c a " . In: O grande massacre dos gatos. Rio de Janeiro: Qraal, 1 9 8 6 .
2 5 . D A R N T O N , R. L'aventure de 1'Encyclopédie, o p . c i t . , p. 5 7 0 .
2 6 . I d e m , i b i d e m , p. 5 7 1 .
2 7 . I d e m , i b i d e m , p. 5 8 0 .
2 8 . I d e m , i b i d e m , p. 5 8 7 .
A B S T R A C T
T h i s a r t i c l e p r o p o s e s to a d d r e s s R o b e r t D a r n t o n s w o r k a n d h i s d i s c u s s i o n a b o u t the
h i s t o r y of r e a d i n g , b a s e d o n t h e a n a l y s i s c o n d u c t e d by t h i s a u t h o r , of t h e p u b l i s h i n g
of D i d e r o t s a n d D ' A l e m b e r t ' s Encyclopédie a n d its s u b s e q u e n t r e p r i n t s , i n t h e
f r a m e w o r k of the Ancien Regime a n d the F r e n c h R e v o l u t i o n , h a v i n g t h e i n t e l l e c t u a l
o r d e r s of t h e r e v o l u t i o n as its f o c a i p o i n t .
R É S U M É
C e t a r t i c l e p r é t e n d d i s c u t e r 1'oeuvre d e R o b e r t D a r n t o n et s e s c o n s i d é r a t i o n s s u r
l h i s t o i r e d e l a l e c t u r e , à p a r t i r de l a n a l y s e faite par 1'auter d e la p u b l i c a t i o n d e
l ' E n c y c l o p é d i e , d e D i d e r o t et D ' A l e m b e r t , d e s e s é d i t i o n s p o s t é r i e u r e s , d a n s le c a d r e
de 1'Ancien R e g i m e et d e l a R e v o l u t i o n F r a n ç a i s e et a c o m m e p o i n t c e n t r a l l e s o r d r e s
i n t e l l e c t u e l s d e Ia R e v o l u t i o n .
A l i v r a r i a do T e i x e i r a e a
c i r c u l a ç ã o de l i v r o s n a c i d a d e
do Rio de J a n e i r O o em 1794
N
o Relatório d os que organizaram o Relatório,
governo do vice-r« por uma visão inclusiva -
Luís de Vasconcel englobando comerciantes de
consta que na cidade do Rio de livros, b e m c o m o restauradores e
Janeiro, entre 1779 e 1789, encadernadores - enquanto aqueles que
funcionavam quatro oficinas de elaboraram os Almanaques consideraram
livreiros. 1
J á os Almanaques de 1792 e apenas os que efetivamente
de 1 7 9 4 registram apenas u m a loja comercializavam o s livros? Haveria por
enquanto o de 1 7 9 9 registra d u a s . 2
Ho acaso essa especialização, diferenciando
entanto, nesses documentos não são o livreiro que comercializa, daquele
discriminados q u e m eram os livreiros considerado artífice? E m b u s c a de
proprietários dessas lojas o u oficinas. e s c l a r e c i m e n t o recorri às o b r a s d e Rubens
De i m e d i a t o s u r g e a i n d a g a ç ã o : P o r q u e B o r b a d e M o r a i s , W i l s o n Martins e J o s é
essa diminuição no n ú m e r o de lojas T e i x e i r a d e O l i v e i r a q u e f o r a m m u i t o úteis
entre 1 7 7 9 e 1 7 9 9 se nesse p e r í o d o a q u a n t o à a b o r d a g e m d a q u e s t ã o geral d a
população crescera e a cidade se cultura d o m i n a n t e d a c i d a d e n o p e r í o d o
expandira ? Teria havido critérios setecentista, m a s pouco esclarecedoras
diferenciados de parte de quem n o tocante a o s livreiros d o R i o d e J a n e i r o
cadastrou essas lojas? Teriam optado, nesse período. 3
Através da obra de
Acervo. Rio de Janeiro, v. 8. n' 1-2, p. 183-194. jan/dez 1993 - pag 183
A C E
recursos mas que nào tinham casa Rio de J a n e i r o , como fez o jovem
comercial estabelecida poderiam se médico Cláudio Grugel do Amaral que
transformar e m negociantes. É o caso, escreveu, e m 1 6 7 9 , d o Rio para um
por e x e m p l o , d o padre J o s é d a Silva amigo em Lisboa solicitando-lhe que
Brandão que e m 1805 arrematou, por c o m p r a s s e até 7 0 $ 0 0 0 réis e m livros
1 . 0 9 7 $ 0 4 6 , u m lote de t e c i d o s de s e d a , segundo a lista que enviara, ou o nosso
em leilão no Real A r m a z é m d a Fazenda, cientista e professor-régio J o ã o Manso
do conjunto de mercadorias apreen- P e r e i r a q u e s o l i c i t o u l i v r o s a o frei J o s é
didas aos contrabandistas. 9
Mariano da C o n c e i ç ã o Veloso que se
encontrava e m L i s b o a . "
Segundo Francisco da Gama Caieiro o
Outra via muito usada era a encomenda
m e r c a d o livreiro na d é c a d a d e noventa d o
direta a livreiros estabelecidos no Reino.
s é c u l o XVIII "continuava v o l u m o s o e firme,
Na documentação da Real Mesa
tanto e m Portugual c o m o no Brasil". O autor
Censória existente no Arquivo Nacional
cita o caso d o negociante de 'grosso trato'
da Torre do T o m b o encontram-se listas
da praça d o Rio de Janeiro de n o m e A n t ô n i o
de livros e n v i a d o s para o Rio d e J a n e i r o
Luís Fernandes q u e escreveu para s e u
pelos mais importantes livreiros de
correspondente e m Lisboa sugerindo: " S e
Lisboa c o m o Leandro d o s Reis Carril,
V.Mercê quizer m a n d a r - m e por s u a conta
J o ã o B a t i s t a R e y c e n d e , v i ú v a M a l l e n 8r
um sortimento d e livros ... n ã o deixará d e
Cia, Diogo Bomgeoris, Paulo Martim,
fazer-lhe b o a c o n t a , e se o fizer cuido q u e
B o r e l St B o r e l , v i ú v a B e r t r a n d e f i l h o ,
não se a r r e p e n d e r á " (...). 10
T a m b é m anotei
Francisco R o l l a n d , Pedro J o s é Reis, Luís
outros c o m e r c i a n t e s e x p o r t a d o r e s como
Cipriano Rebello, os padres oratorianos
Manuel Pinheiro G u i m a r ã e s q u e s o l i c i t o u
e outros. Não se deve desprezar a
licença a Real Mesa C e n s ó r i a para importar
contribuição dos fornecedores não
alguns livros listados. C o m o o m e s m o nào
oficiais e não legalizados que faziam
a f i r m a tratar-se de livros para s e u u s o é
parte d a t r i p u l a ç ã o o u e r a m p a s s a g e i r o s
possível que os tenha comprado para
de algum navio q u e atracara no porto
r e v e n d ê - l o s o u para atender pedido de
do Rio de J a n e i r o , c o m o foi o caso d o
amigo o u familiar.
cirurgião do navio Ulisses, que trouxe
O mercado livreiro no Rio de Janeiro era consigo sete obras de m e d i c i n a para
Biblioteca l u s i t a n a , d e D i o g o B a r b o s a M a c h a d o .
trecho da carta:
Os 'livros' de e n t ã o
Mo que respeita os novos métodos, que V.P.
Os 'livros' da livraria do Teixeira
m e diz aqui, há bastante pelos livreiros, e
correspondem a 3 8 3 títulos de obras
julgo que p o u c a saída poderào ter, s ó sendo
diferentes. R e s u m i n d o todos os itens
c o m alguma diminuição no preço que os
desse estoque, montei o seguinte
ditos os v e n d e m , para assim agradarem os
quadro:
compradores. Das folhinhas que recebi d a
viúva, por serem fora d o tempo, s ó tenho a - obras diversas (383 títulos) - 6 . 9 7 5
v e n d i d o 7 $ 6 0 0 réis, q u e p o r s e r u m a unidades
BIBLIOTHECA
L U S I T A N A ,
Hiftorica , Critica , e Chronologica,
NA Q U A L SE C O M P R E H E N D E A N O T I C I A
lios Authorcs Portuguezes, e du Obrai, que compozcraõ
ü e í J c o tempo da promulgação da Lcy da Graça até
o tempo preicote |
y POR
DIOGO BARBOSA
M A C H A D O »
Vhffiponenfe, Abbade Refervatario da Paroquial
^ ígreja de Santo Adriaò de Sever, e Acadêmico
do Numero da Academia Reai.
T O M O IV.
Q_CE C O N S T A D E M U I T O S A U T H O R . E S K O Y A M E K T E
vaüosado. tu IbUtethco, c it outro» iÍluftn<U>j, e eme n i i i » , u n f t t i o »
BOI cm Tomoi preiitikouí.
L I S B O A ,
Ka Oncina Patriarcal <U F R A N C I S C O L U I Z A M E N O .
M DOC LUE.
Cem «J í*í-r« K&sJ&tét.
1. M E M Ó R I A S p ú b l i c a s e e c o n ô m i c a s d a c i d a d e d e S à o S e b a s t i ã o d o Rio d e J a n e i r o
para o uso do vice-rei Luís de V a s c o n c e l o s , por o b s e r v a ç ã o c u r i o s a dos anos de
1 7 7 9 até o d e 1 7 8 9 . In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
T o m o XLVI1, R i o d e J a n e i r o , 1 8 8 4 .
2. A L M A N A Q U E S d a c i d a d e d o R i o ' d e J a n e i r o p a r a os a n o s d e 1 7 9 2 e 1 7 9 4 . In:
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 2 6 6 ; ALMANAQUE
h i s t ó r i c o d a c i d a d e d e S ã o S e b a s t i ã o d o Rio d e J a n e i r o , 1 7 9 9 . In: Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v o l . 2 1.
4. M O R A I S , R u b e n s B o r b a , o p . c i t , p. 4 0 .
7. S o b r e as A c a d e m i a s , a l é m d a s o b r a s c i t a d a s d e R u b e n s B o r b a M o r a i s , W i l s o n
Martins e J o s é Teixeira de Oliveira, consultar: C A R V A L H O , Augusto d a Silva. "As
a c a d e m i a s c i e n t í f i c a s d o B r a s i l n o s é c u l o X V I H " . In: Memórias da Academia das
Ciências de Lisboa. L i s b o a , 1 9 3 9 ; DIAS, Maria Odila da Silva. " A s p e c t o s da
I l u s t r a ç ã o no B r a s i l " . In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
v o l . 2 7 3 . S o b r e a D e v a s s a d e 1 7 9 4 c o n s u l t a r : AMAIS d a B i b l i o t e c a M a c i o n a l . V o l .
LX1, 1 9 3 9 , p p . 2 4 7 a 5 2 3 ; A U T O S d a D e v a s s a : p r i s ã o d o s l e t r a d o s d o Rio d e J a n e i r o ,
1 7 9 4 . R i o de J a n e i r o : A r q u i v o P ú b l i c o d o E s t a d o d o Rio d e J a n e i r o , 1 9 9 4 ; S A M T O S ,
9. A R Q U I V O n a c i o n a l . J u n t a d o C o m é r c i o , c ó d i c e 1 4 2 , v o l . 1.
1 0 . CAIE1RO, F r a n c i s c o d a G a m a . " L i v r o s e l i v r e i r o s f r a n c e s e s e m L i s b o a , n o s f i n s d e
s e t e c e n t o s e n o p r i m e i r o q u a r t e l d o s é c u l o X I X " . In: Boi. Bibl. Universidade de
Coimbra, 3 5 , 1 9 8 0 , pp. 139 a 1 6 8 .
1 1 . A R Q U I V O n a c i o n a l d a T o r r e d o T o m b o . M S S - 2 4 5 - n. 141 (a c a r t a d e C l á u d i o
Grugel d o Amaral) e MSS, cx. 153 (os livros que foram adquiridos por J o ã o Manso Pereira):
d - Analyse du fer- p a r B e r g m a m - 1 v o l . 8°
e - Affinites chymiques - p a r B e r g m a m - 1 v o l . 8°
traduit de A l l e m a n d - 2 vol. 8 9
g - Institutions chemic - F r a n c i s c i d e W a s e r g e r g - 2 v o l . 8°
12. nEVES, Lúcia Maria Bastos das. " C o m é r c i o d e livros e censura de idéias: a atividade d o s
livreiros franceses no Brasil e a vigilância da Mesa d o Desembargo d o Paço ( 1 7 9 5 - 1 8 2 2 ) " .
In: Ler História, 2 3 , 1 9 9 2 , pp. 61 a 7 8 .
14. A R Q U I V O n a c i o n a l d a T o r r e d o T o m b o . M S S , c x . 9 .
T h i s s t u d y is b a s e d i n u n p u b l i s h e d d o c u m e n t s of t h e N a t i o n a l A r c h i v e s containing
the i n v e n t o r y of J o s é d e S o u s a T e i x e i r a ' s s h o p , w h e r e b o o k s were s o l d .
R É S U M É
L ' a r t i c l e fait u n e a n a l y s e d u c o m m e r c e , d e l a c i r c u l a t i o n et d e s d i v e r s e s formes
d ' a c q u i s i t i o n de l i v r e s , b r e f , d e c e q u e l'on l i s a i t à la v i l l e de R i o d e J a n e i r o p e n d a n t
la d e r n i è r e d é c e n n i e d u X V I I I è s i è c l e .
C e t t e a n a l y s e est b a s é e s u r u n e d o c u m e n t a t i o n i n é d i t e a p p a r t e n a n t a u p a t r i m o i n e
d e s A r c h i v e s N a t i o n a l e s , d a n s l a q u e l l e figure 1'inventaire de 1 ' é t a b l i s s e m e n t d e J o s é
de S o u s a T e i x e i r a , o ú l ' o n v e n d a i t d e s l i v r e s .
. R e a l G&fcineée
P o© rF ét n i g u i e s i e Leií e i c n i r a
O:
Real Qabinete Português a ser construído o majestoso
de Leitura foi criado e m edifício m a n u e l i n o d a rua Luiz de
14 d e m a i o d e 1 8 3 7 - 15 Camões, n 9
30 - antiga rua da
anos depois da Independência do Lampadosa - onde, em 1887, com
Brasil - por um grupo de a presença d a princesa Isabel e d o
portugueses que se propunha não conde d ' E u , foi inaugurada a sua
só a promover o enriquecimento s e d e a t u a l . Mo a n o s e g u i n t e , procedeu-
intelectual dos associados, mas se à ' i n s t a l a ç ã o s o l e n e d a b i b l i o t e c a ' e
também, c o m o escreveu Carlos Malheiro é nessa altura que J o a q u i m rfabuco,
Dias, "concorrer para restaurar a glória saudando o imperador d.Pedro I e
literária de s u a Pátria". Poi s e u primeiro realçando o significado da Obra, o
presidente o dr. J o s é Marcelino da patriotismo dos que a fizeram e a beleza
Acervo. Rio de Janeiro, v. 8, n' 1 -2. p. 195-198. jan/dez 1995 - pag 197
terminais instalados na biblioteca.
O Real G a b i n e t e edita s e m e s t r a l m e n t e a
revista Convergência Lusíada, distribuída por
universidades e outras associações culturais
e científicas, e que tem a colaboração exímia
e valiosa de mestres e especialistas do Brasil
e de Portugal nas áreas d a literatura, d a
história, do p e n s a m e n t o , da língua e da
0
antropologia.
A B S T R A C T
This article d e p i c t s the history of the Real G a b i n e t e Português de L e i t u r a , an institution
l o c a t e d in Rio de J a n e i r o a n d c o n s i d e r e d as "official depository", w h i c h grants it the
privilege of receiving a copy of ali the b o o k s p u b l i s h e d in Portugal, lts library h o l d s currently
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R É S U M É
Cet a r t i c l e n o u s d o n n e u n e v i s i o n h i s t o r i q u e d u Real Gabinete Português de Leitura
( C a b i n e t R o y a l P o r t u g a i s d e L e c t u r e ) , i n s t i t u t i o n s i t u é e à R i o d e J a n e i r o et c o n s i d é r é e
c o m m e "dépôt legal", c e q u i l u i p e r m e t t a i t de r e c e v o i r un e x e m p l a i / e d e t o u s l e s
livres édités au Portugal. Actuellement sa b i b l i o t h è q u e , e n t i è r e m e n t i n f o r m a t i s é e , a
un p a t r i m o i n e d e g r a n d e v a i e u r , a v e c à p e u p r è s 3 5 0 . 0 0 0 v o l u m e s .
C A I E I R O , F r a n c i s c o d a Q a m a . " L i v r o s e l i v r e i r o s f r a n c e s e s e m L i s b o a , n o s f i n s de
s e t e c e n t o s e no p r i m e i r o q u a r t e l d o s é c u l o XIX." In: B o i . Bib. Univ. Coimbra, 35,
1980, pp. 1 3 9 - 1 6 8 .
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C a m p e l l o . S ã o P a u l o : C o m p a n h i a das L e t r a s , 1 9 9 2 .
L E P A P E , P i e r r e . Voltaire; n a s c i m e n t o d o s i n t e l e c t u a i s no s é c u l o d a s L u z e s . Rio de J a n e i r o :
J o r g e Zahar, 1995.
L E S S A , C i a d o R i b e i r o . "As b i b l i o t e c a s b r a s i l e i r a s d o s t e m p o s c o l o n i a i s - a p o n t a m e n t o s
p a r a u m e s t u d o h i s t ó r i c o . " In: Revista do Instituto Histórico e Qeográfico Brasileiro.
Rio de J a n e i r o , v. 1 9 1 , 1 9 4 6 , p p . 3 3 9 - 3 4 5 .
NEVES, Lúcia M a
B a s t o s P. d a s ôc FERREIRA, T â n i a M a
T. B e s s o n e da C. "O m e d o d o s
' a b o m i n á v e i s p r i n c í p i o s f ra nceses' : a c e n s u r a d o s livros n o s i n í c i o s d o s é c u l o XIX
n o B r a s i l . " In: Acervo. Rio de J a n e i r o , v.4, n . l , p p . 1 1 3 - 1 1 9 , j a n . / j u n . 1 9 8 9 .
. " C o m é r c i o d e livros e c e n s u r a d e i d é i a s : a a t i v i d a d e d o s l i v r e i r o s f r a n c e s e s no
B r a s i l e a v i g i l â n c i a d a Mesa d o D e s e m b a r g o d o Paço ( 1 7 9 5 - 1 8 2 2 ) " . In: Ler História,
2 3 , 1 8 9 2 , p. 6 1 - 7 8 .