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DICIONÁRIO

DE TEATRO

Patrice Pavis

Tradu ção para a língu a portug uesa sob a d ireção de


J. GUINSBUR G E MARIA L ÚCI A PER EI RA

Supervis ão Ed itorial: J. Guinsburg


Tra dução: Maria Lúcia Pereira, J. Guinsbur g,
RacheI Araújo de Baptista Fu ser,
Eudynir Fraga c Nanci Fernan des
Revisão: J. Augusto de Abr eu Nascime nto
Capa: Adriana Ga rcia
-
~\I z
Produ ção : Ricardo \V. Neves e :::::3" f PERSPECTIVA
Raquel Fernandes Abranches ~I\
T itu lo tio or ig inol fra nc ês
Dictiona in: du Th éátnr

Cop y righ t (j) D unod, Pa ris. I <J9(,

Dados lntc rn acio na is de Cat alogaçã o na P ub lica ção (C IP)


(Câma ra Brasi lc iru d o Livro. S I'. Bra sil)

Pav is, Pat ricc, 194 7 -


Dici onário de teatro / Pa tri cc Pa v is ; tra du ção para a líng ua
po rtug ue sa so b a direçã o de J. G u in sb u rg C Maria Lúcia Perei ra. À memóri a de Margita Zah eadnik ová
3 . ed - São Paul o : Perspectiva. 20 0 8. para Zajbo-Bojko e Mou mou chka

Tit ulo original: Dictiona irc du th éâtrc


Bibl iogra fia.
ISB N 97 8- 85- 273-0 20 5-0

1. Teatro - Dicionários 1. T itu lo .

99 -53 10 C DD -7<J203

índic es para catálogo si ste má tico :


I. Teatro : Dic ion ár ios 792 .0 3

3' edi ç ão

Di rei to s reservados it
ED ITO RA PERSP ECTI VA S. A .
Av. Bri gade iro Lui s A ntôni o . 302 5
0 140 \ -0 00 São Paul o S I'
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2008
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA

Pel a pri m e ira ve z edita -se no Brasi l u m d ic io- impli ca não men os o enfoqu e estru tura l e fe no -
nário q ue, pau tad o em um elenco e ssenc ial de tó- menoló gico . Isto signi fica qu e est e dici on ário não
pico s, co nseg ue ab ranger todos os as pectos, mea n- se redu z a um a visão se mió tica do teat ro . Na ver-
dro s e nuan ce s da ling uage m teatral. S eu autor, dade, ele é mu ito m ai s qu e isto: en ca rado em se u
Patri ce Pavi s, põe ao alcance do inte ressado - sej a conjunto , rcpr oj eta c m manife st uç õcs signi fica ti-
ele lei go ou es pecialista, teóri co ou c riador - a vas tod a a hist ór ia d o teatro - sem qu e a obra se
defin ição e a refl ex ão qu e. no co nj unto da tram a proponh a lal inte nto - c . também , o per cu rso e o
dos conce ito s epigra fados , traze m tud o aq uilo qu e deb ate do pen sam en to c rític o sob re es ta arte e as
ve m a co ns titui r o teatro . vari antes de seu di sc ur so . Nes te se ntido , vale no-
Nã o se tem 3LJ ui, por ém , um repertó rio de ca- tar que, à lei tur a de st e re pertório, vai se impondo
ráter históri co , m as, sim. temá tico . O le itor nun ca a percep ção dc qu e o tea tro não é apenas um re -
enco ntrará en tra da s po r nom es ou datas. Nomes sistente histórico qu e so b rev ive a si mesm o, rel e-
e dat as co nsta rão oca siona lmen te do co rpo tex- gado à passi vid ade de se us mei os trad ic ion a is,
tu al dos verbetes , a títul o de escl areci me nto ou mas, ao co ntrári o , é u m a forma artística dotad a d e
de ilu s tr a ç ão . Ta m bém é o po rtuno lem br ar q ue se um gra nde pod er v ita l de auto -re nova ção, qu e o
trata de um dicioná rio francês c qu e, não o bsta nte foi ada pta ndo ao s tempo s c incorporan do a e le
a s ua v is ad a d e cl a rad amemc mull icultu ral e ino vaç ões es téticas e t écnicas, incl usive de o u-
ct noceno l ógica, o m ateri al é referenciad o basica- tros domínios, o qu e o torn am perfeitamente ap to
ment e Ü ex periê ncia c à cultura em que o autor a le var ao palc o os tem as e os probl em as do mod o
tem ori gem e at ua . Daí po r qu c a larg a m a io ria de ser de no ssa é poc a, co mo já o fizera e m relu-
dos ve rbe te s, definidos com gra nde ri gor, e dos ção a qu ase tod as as o utras.
exem plos ilustrativos pro cede principalment e do O tempo, este crítico feroz e se letivo , faz sobre-
tea tro na França . o qu e. de mod o a lgum. prejudi- viver as obras c uj o va lor resiste a ele e ao seu d e-
ca a sua abrangên cia e a sua im en sa ut ilidade pa ra safio. Por isso mesm o, cremos que, apesar da vis í-
o estudo da a rte teatral e m nosso mci o . Te nta mo s, vel vinculação d as o pções deste ele nco de noçõe s
na traduç ão , in seri r nota s q ue remetam il re alida- ao teatro de hoj e, o qu e, no futuro, poder á indi ciar
de do te at ro no Bra sil. não dand o e xe m plo s, ma s com alguma particula ridade se u momento de o ri-
pro c ura ndo es tabe lecer pont es o u ana logias. ge m. o se u auto r nos pro por cion a um d ici on ári o
Para a an áli se dos el em ent os co nstitutivo s d a que se destina a um a vida long a, graças, so bre tu -
arte teat ral. Patrice Pavis parte, quase se m pre. de do, a um ex trao rd inár io conhecimento do campo,
um a ab ord agem sc mi órica, na med ida e m qu e esta a uma rigo ro sa di sci plin a metod ológi ca, a urn a

1'11
P RE f Á CI O Á EDI Ç ÁO BR A SILEI R A

pesqui sa incan sável e pertin ent e a seus o bje tos , e vel, co ns ide rando as pecu liar idades do ve rn ác u lo
à p rofundidad e de sua expos ição ana lítica , tão e as ca rências co nhec ida s de nossa linguagem téc -
raro s ne ste gê nero de empreitada. nica neste terren o . Te mos a co nsciência de qu e o
Não é preciso enfat izar que a transposição desta trab alh o reali zado rep re sent a co nd igna me nte o
o bra para o português o ferece u um mont ant e res- text o o rig ina l e qu eremo s crer que isto se de va.
peitá vel de probl em as c di ficuld ades, qu e pro cu- afo ra à eq uipe da ed ito ra , ao interesse e dedi ca-
ra mos vencer da ma neira mais adequ ad a possí- ção dos tradutores de st e di cionário.

J. GUINSIl URG E M ARIA LÚCI A P ER EIR A PREFÁCIO

C o mo fazer um d icio ná rio de te at ro que res- em per sp ectiva da s recent es manifestações da es-
ponda a todas as per g untas que se prop õe quem critura e da encenaçã o co nte m po r âneas .
tr abalha no campo do te atro e quem se co ntent a N e st e momento em qu e se a s si st e a uma
e m a má- lo') Um di c ion ári o que seja um instru- "mundi ali za ção" da cultura . o pri vil ég io de Pa-
ment e c iem ífic o a integrar o conj unto das pes - tri ee Pavi s é o de es tar no c ru zamento do s g ran-
qu isa s que bali zaram o sé c u lo XX na o rde m d a des domínios, o dom ínio an gl o- s axão. mas tam -
se m ió tic a, da lin gü ísti ca e d a co m u nic aç ão. M as bém os d omíni os latinos, a lemão c es lavo. e de
qu e não recu se a hist óri a . qu e int egr e não só as le var a se u trabalho a riqu e za dos te xto s teóri cos
no ções prin cip ais q ue oc u pa m o ca mpo teatral. c literá ri os europ eu s e ame rica no s.
m a s tamb ém suas ir a ns for m aç ôc s atravé s dos E es te d ic ion ário é igua lmente para o leitor,
te mp os. prático o u teór ico, es tudante o u a m ado r. fonte de
Ta l é a apo sta venc ida por Patri ce Pav is: se u pra ze r: a legib ilidade, a sim plic idade diret a do
d icio nári o é o fruto de vinte ano s de reflexão e e stilo iluminam noções co mplexas sem o perar sua
pesqui sas. mas nào menos de experi ên ci as peda- reduç ão. Ele nos dir á tudo e nós ter em o s prazer
gó g icas e de cont empl ações de espect ad or. e m ac o m panhá-lo : por m ais que a Po éti ca de
a resultado di sto é um o bj eto ra ro que . per- Ari st ó tel es esteja d istribuída no di ci on ário e m fa-
petu amente probl enuu ico , e vita traze r ao leitor tias m iúdas. el a se recom põe mara vilh osament e a
u ma so lução pront a , m as lhe mo stra . a ca da pas- nossos o lhos . Remi ssões c c itações tecem uma
s o. co mo se co locam o s di fíce is pro ble mas de tra m a tão ce rra da qu e a a rmação ló gica da s teo -
u m a dupla práti ca, ao m e sm o tempo lit er ári a e ria s está present e por Ind a part e.
artís tica, ete rname nte inscrita nas pági nas de um A te oria do te at ro q ue se po de ria e xtrai r des te
livro . ma s também viva . pro vi sória . fu gaz. no d icion ário dá o po rtunidade às form as m ais o pos -
âmb ito de lima ce na. las , m as nos ad vert e : as formas não são inoce n-
Este di cion ário é um objeto tant o mais preci o - tes ; as formas just am ent e nã o s ão forma is o u
so q uanto sua s sucess ivas edições lhe perm itiram form al istas. As form as fa la m: el as d izem a rel a-
nã o só aperfeiçoam ent os úteis. ma s uma inserção ção do artista com o mundo.

ANNE U IlERSFELD
Nota da Editora

No q ~e con cem e à versão par a a língu a portuguesa deste d ici on ár io. a co ntribui ção de M ari a Lú cia
Pe re.lra roi de parti cular relevâ ncia , po is. a lém de traduzir a maioria d os ver betes, reali zo u a espin hosa
tare fa de uniformi zação. me rec endo por isso nossos agradecime nt os .

1'11/ IX
PRÓLOGO

A o rde m alfabética pode tornar-se um de sti- O teatro é uma arte frágil, efêmera, particular-
no: aque le que permitiu cla ssificar os art igos da m ente sensível ao temp o . Ningu ém poderia
prim eira e d a segunda ediç ão deste dici onário apreendê-l o se m requcsti onar seus próp rios fun-
(19 80 , 1987) s ituava de imedi ato a empreitada dam ento s e rev isa r peri od icamente o ed ifício crí-
ent re " absurdo" e "veross imilhante". Est a no va tico ao qu al incu mbe , su põe -se, desc revê-lo.
ediçã o nã o esc ap a a es tas limit ações alf ab ética s, A ati vid ade teatral nu nca foi tão inten sa nem
embo ra e la tenha sido inteiram ent e modi ficada e tão marcad a pe la di vers idade das linguagens, da s
co ns ide rav e lme nte aumentada. O projet o enciclo- estruturas de recebiment o e dos públicos. O es -
pédi co se mp re par ece tão desme surado em sua pectador dá do ravant e pro va de um a grande tol e-
amplitude e em sua ambição, mas tanto mais le- rância c de um gosto mai s marcado pelas experiên-
gíti mo e necessári o quanto nos esforçamo s para cias de van gu arda. Ficou difícil surpreendê-lo e
entende r a di ver sidade e a g loba lidad e do fen ô- choc á-lo. Ele não se co nte nta mai s e m ficar ma -
mcno teat ral . A despeito dos acasos mali ci osos rav ilhado, admirado ou fasc inado ; precisa de um a
do dicio ná rio - e de suas te imosias -r-, es ta no va ex plicação técn ica o u fi los ófica. Al iás, o teatro
ed ição , co ncebida dentro do mesm o espírito , e n- não mai s recei a teori zar sua própri a práti ca, a
riqu eceu-se co m inúmero s artigo s e complem en- ponto de fazer di sso , às vezes , a matéri a de suas
tos. É um pu ro ac aso se "absurdo" ced e ago ra o ob ras, mesm o se a é po ca se di stan cia hoje em d ia
prim e iro lugar a "abstração"? E a abstração não da auto-reflcxividade complacente dos anos teó-
é, mai s que o ab surdo, a melh or resposta à abun- ricos triunfais (1965-1 97 3). Estar-se-ia por fim
dância das forma s? O livro é, em todo caso, bem le vando o teatr o a sé rio, co ns ide ra- lo-iam agora
ma is que uma rápida atu ali zação ou uma modi- co rno urna arte mai or c aut ôno ma c não mai s como
ficação do s mat eria is anti gos. O infinito jogo d as um a sucursa l da literatura, um sub stitutivo, na falta
remi ssõe s tece im per cepti velm ent e um texto qu e de melh or, do cine ma o u urna desprezível ativi-
dev eri a se r perpetuament e revi sto e co rrig ido dade de feir a?
pel a a tu a lidade. A presente edição le va em con- Durant e os anos sesse nta e setenta, a teatr ologi a
sid e ração inovações dos ano s noventa, a dimen- se de sen volv eu sob o im pulso das ciências hu -
são interartístic a, intercultural e interrnidi ática manas; expl odiu num gra nde núm ero de objetos
do tea tro de hoj e. Tais influ ências obrigam a rc- de pesqui sa e de met od ologias. A forma parcial e
pen sa r as teori a s e sua s ca tego rias , a s itua r a descontínu a do dicionár io se imp õe para cadas-
dr amaturgia oc idental (a " re prese ntação" d e um trar seus fragm ent os e lampejo s, sem dar a ilusão
texto ) num a a ntro po log ia das pr átic as es pe ta - de unidade ou de tot alidade. A teoria ex ige um a
c ula res e num a e tnoceno log ia, metalin gu agem pre ci sa qu e defi na, se m sirnpli-

Xl
' RÓLO GO PR Ó LOGO

ficá -Ias. noções m uito co mplexas. Es ta busca é vessam o tempo e as fro nte iras. e xistem també m g ra nd es qu estões esté tica s. mét od o s d e aná lise ou por sua ut ilid ad e na descr ição d o s fenô me nos ,
mais de or de m metodológica e e piste mol ógica do co nceitos hi sto ric amente datado s e caído s em d e- fo rm as d e represent ação. Aí, ainda me no s do qu e pod eri am ser rcagru pados, não sem recort es, nas
q ue terminol ógica e técnica. Ela não desc re ve no- suso. porque de masiado ligad os a um gê nero o u e m outros casos, a lexicol og ia n ão po d eri a pre- o ito catego rias do índice tem ático :
ções co m front eir as garantidas - e la delim ita as a um a pro blemát ica pa rtic ular. Fo i-n o s pr ec iso ten de r a objetividade . E la tem q ue tomar part ido
a drama turg ia , qu e exam ina a ação. a per so-
fro ntei ras p ropondo uma matéria e m mo viment o. levant ar os doi s tip o s de termos. Embo ra tenha- no s d e ba tes e m c urso , assu mi r se us pr óprios pres-
nagem , o es paço e o tempo. to da s as qu est õ es q ue
No infin ito jo go das dccupa gen s, den ominaçõe s e mos no s p re ndido ao uso atu al da probl em áti ca . s upostos , não se esconder por trás das co lunas
co ntrib uí ra m para fund am ent ar uma pesqui sa tea-
rem issões. o dicion ário permite um a refl e x ão so- pareceu -n o s útil ret er ig ualmente conceito s m ai s neu tra s do dicioná rio.
tral, tex tua l e cênica ao me sm o tempo;
bre o teatro e sobre o mundo "do qu al e le fala" clássicos, tanto mai s qu a nto alguns são às ve zes Importa auxiliar o es tud a n te , o am ador e o
(não se ousa mais di zer "que ele represe nta" ). reinvestidos de um se ntido novo (ex.: ca ta rse. fic- pr ati cant e de teatro, tan to quanto o c rít ico e o es - • o texto e o discurs o, cuj os principai s co rnpo-
A co m ple x id ade das teorias nã o passa, co n- ção, alar). Uma me sm a entrada remete portan to . pec ta do r, a propor as g ra ndes pe rg u ntas te óric as nen tes e mecani sm o s no int er ior da represe nt a-
tud o . d e um pálido refl exo da infi n ita riq ueza freq üentemente , a empregos historicamente di fe- q ue a travessa m sua a rte . ção exami na mos ;
d as ex pe riê nc ias teat rais de noss a é poca. Muitas ~ eh ci ad o s o u contradi tóri os. Est as defasagens só A d efin i ção ge ra l c uja base se abre a ma io-
à
• o a tore x p crs onagem , que co ns titue m as duas
d ent re e las con hec e m um ce rto result ad o . q uer são pe rce pt ívei s, tod a via, se se ad ot ar urn a pers - ria d o s a rtigos o fe rec e s ua primei ra o rie ntação
faces d e toda rep resen tação das ações hu m a nas;
se tra te d a in vesti g ação do es paço, da expres são pec tiva históric a e se se rel ativizar, ass im, o s co n- toman do o c u ida do de não torn ar fi xo s os te r-
co rpora l, da re leitura dos c lássico s o u d a re la- ceitos e as teorias . m o s e a p rob le má ti ca qu e e le s ve ic u la m . Ela prc- • o g ênero e as fo rmas. cujos princ ipa is casos
çã o fu ndame n ta l e ntre ato r e esp ect ad o r. Des- Este d ic io ná rio, qu e d ispõe sua m at é ria e m re nd e se r, port ant o . a mais gera l po ssíve l e não de figura rcpcrt ori am os. se m pr et ender esgotar a
co nfia r-se-á. em co mpen saçã o. d os d iscurso s qu e orde ns d e ra zão. ve rsa essenc ia lme nte s o b re a d e ve se r e nte nd ida co mo uma d efin iç ão abso lu- qu est ão , o qu e é im possível , no caso;
pro cl amam o fim d a e nce nação o u d a hi stória, o nossa trad ição teatral oc ide nta l, d e A ristót e le s a ta . A disc ussão m et od ol ó gi ca se esfor ça. a se- a el/cc l/açi/o e a man eir a pel a qu al e la é apreen-
d es ap areciment o d a teori a, o ret orn o à ev idê n- Bob Wil son, em s u ma ... Es ta tradição exc lui a g ui r, e m remed iar a s im plic id ad e in e rent e a tod a did a e organ izad a, ex cl uindo-se os termo s t écni -
ci a do texto ou à supre macia incontest áv el do descri ção das formas ex tra-e uro péia s, e m par ti- d efin ição, ampli ando o debate c col o cando-o no co s d a m aquinaria teatral. o que exigiria um estu-
a to r, pois em geral atestam uma recusa d a retle- cular d o s teatros tradicion ais orientais, q ue p ro- terre no teórico e e st ét ico . Aí ai nda, a ten são e n- do es pecífico ;
xão e d o sentido, um ret orno a um obscu ra nt is- vêm d e um quadro d e refer ên cia s compl et am en - tre vo ca b ulá rio e tr at ad o sis te m ático é to tal. Ca da
mo crítico d e s in istra mem ória . Nes te s te m pos te d iverso , m as e la tam bé m es tá a be rta, de s de o s artigo é co nce bido co mo uma a presen tação da s • os princíp ios es truturais c as quest ões d e es-
de ince rteza ideol ó gica o nde se liquida a heran- anos o ite nta e no vent a , às pr át ica s int e rc ultura is dificu ldades de se u emprego numa teori a de co n- tética , q ue não são especialme nte lig ad o s ao te a-
ça hum ani st a e ntre do is sa ldos d e co nceitos d es - e à mi sc igen ação das for ma s, ges tos e teorias q ue junto; e le gostaria d e se r o po nt o d e pa rtid a e a tro , mas são indi spen sá ve is par a ap reender sua
bot ad o s d em as iad o de pr es sa, d e e ng en hocas ca rac ter iza m a arte co ntem por ânea. F o mo s o b ri- ab ertura pa ra o un ive rso d ram áti co e cê n ico ; ele es t ética C su a o rga nizaç ão ;
hermen êuti cas o u de pro cedim ent o s pse udo- gado s a ex cl u ir, às ve zes mei o arbitra riamente, d ei x a ad iv inhar. em fil igr an a, o co nj u nto d a con s- a reupçiio do espe táculo . do po nto d e vi sta
mo derno s qu e d ão mui to na vis ta , um a rell e x ão form as anex as d e es pe tác u lo: as cer imô nias. os tru ção q ue o subtc ndc e o pre s supõe . Daí as fre- do esp ec tad or , com todas as o pe raç õe s hc rm e-
h ist ó ric a e estrutu ral par ece-n o s m ais do q ue ritos. o ci rco, a mími ca. a ó pe ra, as m ar ion et e s qü ent e s remissões (ind icad as por um asteri sco) , n êuti cas. s óc io -sc m i óticas e a ntropo lógi cas qu e
nunea necessári a par a não ce de r à ve rt ige m de etc. Estas form as só for am e xa m inadas na medi - q ue . a lé m d o torn ar em o text o m ai s le ve, permi- isto compo rta;
um relat ivism o c d e um es te tic ismo teór icos . da em qu e se mi stu ram ao teatro (cf m ari o net es te m traçar al gumas pi sta s numa pai s age m críti-
Es te dicion ário de noções teatrai s procura, pri- e ato r, m úsi ca de cen a e tc .). E m compen sação , a ca m ui to densa . O leitor poderá p ro g red ir por a scmiologia , qu e não tem nada de um a no va
me ira me nte, clarif i car noçõe s críticas bem em ara- influ ênci a dos meios de co m u nicação d e m as sa e la s c o mo quiser, g u iado pelo índice te mát ico. ci ên ci a a substituir o utras di sciplinas, m as qu c
nh ad as. Mesmo se envereda por caminh os to rtuo - - em parti cular o cinem a, a tel evisão ou o rádi o - co ns ti tui uma refl e xão pro pc d êu tica e e pis rc-
Visão instantânea d e um d eterm in ad o ponto
sos, prop orci ona um reflexo do tra balh o prático da é tão g ra nde que fi zem o s q ues tão , e m vá rios m ol óg ic n sob re a pr o d u ção . a org anização c a re-
d a e vo lu ção tea tra l, es te li vro não ter á, espera-
aná lise d a en cen ação, inclusive da criaçã o teatr al artigos . d e le vant ar s ua ma rca na pr át ic a co n- cepç ão dos s ig nos . Esta se m io lo g ia iutc grnda,
mo s. ne m a tranqü ila se g u ra nç a d a list a te lefô-
pro p ria me nte dita, Mais do qu e pel a e timolog ia tempo rân ea . ap ó s u ma forte crise d e cresci me n to no s an o s 70 ,
n ic a nem a boa co nsci ênc ia do C ód igo Pe na l,
das pala vras e pela com pilação d as d efin içõ es, ele Não se e ncont ra rá aq ui um a list a d e c riado - en co ntrou fin alm e nte sua vel oc idade d e c ruze iro
po is , s e e le p rop õ e lim a i nte rpr et ação est rutu ra l
se in teressa pel a ap resent ação de difer ent e teses, res, mo vim ento s e teat ro s (mesmo qu e o s a rt i- e per d eu qualquer pret en são h cg cm ón ic a, se m
d o funcio na me nto te xtu al e cê n ico. esse instan -
s itua nd o a refl e x ão sobre o teat ro num con tex to gos faç a m , é c la ro . re fer ên ci a co ns ta nte me n te a nad a ced er q ua nto à pr o fu ndi d ad e e ao rig or .
t âneo nad a tem d e de fin itivo o u no rmat ivo. A
int electual e c u ltura l mais amplo, ava lian do a in- eles e qu e o índ ic e perm ita part ir de nomes p ró - ac ui dade de sua visão é co mo qu e e mbasada por Estas oi to ca tegorias no s par ecem q uadros bas-
fluência d os meio s de co municação de massa, tes- prio s). mas. a mes . uma a pres e ntação d as gra n - s ua fragi lidade . Tod o te rm o d esl o c ado desloca tan te es táve is, pont os de referên ci a seg u ros. na
tando os instrument os metodol óg ico s ex iste ntes des qu es tõ e s de dram aturg ia, d e e st éti c a . d e co m e le o ed ifíc io int eiro: tiv em o s a o po rtu ni- med id a e m qu e sus tenta m o o lh a r que es te livro
ou im agin ávei s. hermen ê uti ca. de semi ol ogia e de ant ro pol o g ia . da d e d e verificá -l o com freq üê nc ia nos últim os co nti n ua a lançar so bre a rea lid ade teat ra l. apes ar
Tod o léxico fi xa o uso de uma lín gu a nu m de- O voc ab ulário da crít ica teatral. em co nsta n te d o flu xo incessante d a criação. da irredutível di s-
vint e ano s..
terminado momento de sua evolução , arro la os evolu ção, não deixa d e cobrir um campo e u m a tân ci a e ntre a teoria e a pr á tica c os acaso s d a vida
O s te rmo s arrolado s, es co lh ido s tant o por ca usa
signos nomeadores e del imita as coi sa s de no mi- probl emát ica bastante be m traçado s e co ns ti tuí- d e sua recorr ên ci a na histó ria d a crítica qua nto teatral.
nad as a partir dos term os ex iste ntes . Es tabe lece- dos nu ma terminol o g ia. às ve zes mu ito es pecia -
mos por co nseguinte . e m primeiro lugar, um le- lizad a, q ue o d ici on ár io de ve esclarecer.
va nta me n to desses term os. Este foi o início d e Ao lad o dessas e ntradas muit o técni cas. co n-
nossas preocupações , pois, se há noções que atra- cedemos a m plo es paço a artigos-dossi ês so b re

XII XIII
,-
INDICE TEMÁTICO

DRAMATUR GIA dr am ático e épico


dram atização
ação dram aturgia
ação fa lad a dram aturgia clá ssica
aca so -> moti vaç ão dr amatúrgica (aná lise )
adaptação dr am aturgo
ag oll encadeamento
aleg oria ensa io
ana lítica (téc nic a. d ram a) é pico (teatro )
apa rte epílogo
apaz iguame nto final epis ódio
argumento e pítase -> crise
assunto -> fábu la e pic ização do teat ro
alo erro -> hamartia
catástro fe espaço dramático
ce na o b rig at ória esp aço interior
co m plicação estrutura dram áti ca
co mpos ição dramát ica es tudos teatr ais
composição parad o xal ex posição
co nciliação -> co nfli to fábula
conc lusão -> apaz ig uame nto final [ab ula -> f ábula
co nfli to falha -> hama rtia
co ntra-intriga -> intri ga sec undá ria ficção
cordel -> rec urso dr am áti co fim -> apaz igua me nto fi na l
co ro jlash-b ack
crise focalização
deIi beração font e
desenlace for a de cena
deu s ex marhina for a do texto
di égcsc função
di lem a Kag
d istensã o cô mica go lpe de teatro
document aç ão hannat ia

XI'
í N D I C E TE~ I ÁT I CO í N t>I C E T EM Á T tCO

histori ci za ção trave stim cnt o -» di sfar ce paratext o dam a de co m pa nhia .> co nfide nte . soubrctt e
hybris unid ad es poe m a dr amáti co decl am ação
imbroglio vero ssimilha nça pro gr ama dem on st raç ão de trab alh o
imitação versão cênica pr ó lo go desdob ram ent o -> dupl o
inci de nte virada prosódi a deut e ra gonista -> prot agoni st a
inte resse provérb io dramát ico di cção
intriga recit aç ão -> decl ama ção, di cção dir eção de ator
int riga secundária TEXTO E DISCURSO rccit ante dis far ce
mal -entendido -> qüiproquó rccit ativo d istribui ção
mei o afo rismo -> sentença retórica d ram ati s personae
rnirn esc alexa ndr ino -> vers ificação sente nça emp lo i
moment o de deci são ambigü idade so lilóq u io enton ação .> declamação. vo z
morcea u de b ravoure . > cena o brigató ria aná lise da narrativa so ng es pect ro -o- fant asm a
mo tivação auto- refl cxivid ad e -> mi se en ab vme subte x to es tereóti po
mot ivo aut or dra má tico teo ria do teat ro ex pres são cor poral
myt hos ca nev as te xto cênico . > tex to es petacular fa nfa rrã o
necessári o -» ve rossimi lhante cl ich ê .> es te reó ti po text o d ra má tico fant as m a
nó co me ntá rio -> é pico te xto c cont ratex to .> inte rte x tua lidndc figura
nota int rodutóri a co ncretização - > te xto dram ático texto princip al, te xto secundário figur ação
obs tácu lo co ntex to tirad a fi gurante -> figuração
par ábase co nversa -» diálogo. pragm ática títul o da peça fisi on omia .> mímica
par áb ola deb ate .> dilema traduç ão teatral ge sto
paroxi smo dedi catóri a ve rs ificação gcstua l . > teatro gestu al
pau sa .> silê nc io dêixis gestua lidade
per ipéc ia di alogism o - > di scurso gestus
poé tica teat ral di álogo AT O R E PERSON AGEM g racioso . > bu fão
pont o de at aq ue d icção herói
ponto de int egra ção did ascálias actancia l ideoti fic aç ão
pont o de vis ta di scurso a lu ron -> fanfarr ão impro visação
port a- vo z dit irambo a ma . > co nfidente. soubrette ingê nua
possível·> ve ross imi lhantc dit o e não-d ito anagnoris -> recon hecim ent o j o go
prefáci o -> nota int rodut ória elocução antagonista jo go de cen a
press u pos to .> di scu rso enunciado, en unc iação . > discurso , sit uaç ão dc anti -he r ói -> heró i j ogo de linguagem
pr ótase -> exposição en unc iação a parição -> fant asma j ogo e co ntra-j o go
qu ed a -> catástrofe cscan s ão -> declamação, versificação a po nta do r -> pont o kiné sica
qüiproquó escr itu ra cê nica a rleq uinada - C> pan tom im a kin estesia
rea lidade represen tada es paço textu al a rq ué tipo tau i
realid ad e te at ral esq uete at itud e list a de personagen s
reconhec ime nto es tânc ias ator literatura dram áti ca . > arte d ram áti ca
recrud escim ent o da ação es tico m itia hiornec ânic a lou co .> bufão
recu rso dr am ático indicações cê nica s bob o . > bufão mam bembe
regras indi ca ções espaço-te m po rais bu fã o m arch a -c- mo vim ent o
rep ert ór io inver são -> vira da canastrão -> ator mari on et e (e ator )
rép lica lcitmoti .. car act erização ment iroso -> narrativa
resu mo da peça -> argume nto máxim a . > se nte nça car áter mími ca
retardamento -> motivo. peripécia melop éia -> re cit at ivo comed ia nte ou ator mi mo
silê nc io monól ogo co ndens ação natu ral
sus pe nse mont agem con di ção social o lha r
teatrologia pala vra do autor co n fide nte o rador
teicoscopia não-d ito -> d ito e n ão -dit o co nfigu ração orq u éstica
tem po narração corife u -> co ro paixões
tensão narrador co rpo pant o m im a
tram a .> intri ga narr at iva c riado pap el

XI'I XVII
Í N DI C E TEM ÁT I CO ÍNDI C E T EM ÁT IC O

paralingüística (e lementos) -> ki n ésica co mé dia de idéias metatcatro (metapeça) aco ntecimento
performcr co mé d ia de intriga mimodr am a animação
personagem co mé d ia de sa lão miracl e área de atuação
pont o co mé dia de situação mi s t ério art e da ce na
postura . > mov ime nto co mé dia em sé rie mon od rama arte da represent ação
presença co média heróica moral idade arte teatral
proce dimento . > movim ent o co mé dia lacrim osa mul heres (teatro d as ) bastidores .> fo ra de ce na
prosódia co mé dia ligeira -c- vaud cville multim ídi a (teatro ) cade rno de ence nação
protagoni sta co média negr a novo teat ro cena
proxêmica co mé dia no va oue (WO) III(/11 show cenário
quir onomia co média pastoral ópe ra (e tea tro ) ce nário const ruído
raiso nneur co me d ia sa tírica paixão ce nário falado .> ce nário ve rba l
resmun gos co média se ntimental c- co méd ia lacri mosa parad a ce ná rio sonoro
resumo .> con de nsação co méd ia sé ria -c- tragédia doméstica (b urg uesa ) paród ia ce nário verba l
retr ato de ato r -» fotografi a de teatro co méd ie-ba llet participaç ão - C> tea tro d e participação ce ná rios sim ultâneos
sa ltimbanco Com me dia dell 'urte peça cê nico
so ub rette co m m ed ia e rud ita peça bem-feit a ce nog rafia
subpa rtitu ra .> partitura co rti na peça de capa e es pada co locação em on da -> rád io
supcrmarionetc crônica peça de grande es pe tác ulo -c- espetác ulo co nse lheiro literário .> dr amaturgo
tipo d an ça -teatro peça de máquina -» máqui na teatral coreogr afia (e teatro )
tom .> declamaçã o d idática -c- peça didática, teat ro d idá tico qeça de problema -> peça de tese cortina
trab alh os de ator divertissement peça de tese -> teatro de tese criação coletiva
tritagonista .> prota gonista docu mentário -> teatro docu me ntário peça didática descobert a -> ana lítico(a) (técnica..., dra ma...)
coadjuvar dra ma peça em um ato dir eção de ce na
voz dr am a burguês -> dram a peça histórica -> histó ria dir etor de cena
voz off dr am a históric o -> história peça muda -> pantom im a d iretor de teat ro
d ra ma litúrg ico peça rad iofô n ica -> rád io e teatro
dirigir- se ao púb lico
e le trô nicas (artes) per for mance
d ispositivo cê nico
GÊNER OS E FORMAS p ós-mod ern o (tea tro)
é p ico e feito sonoro -» sonop las tia
et nodra ma rádio e teatro
ence nação
ritua l (teatro e)
açõe s e xpe rimenta l -> teatro ex pe rime nta l encenador
comédia (a lta e ba ixa) sa inete
ex pre ssão dr amática -> jogo dram ático e nsino de teatr o . > univcrsid ad e
so tie
antimáscara . > másc ara fantasmagoria -> fé er ie c nrrcato
tragéd ia her óic a
antitcatro [ée rie cspacialização . > leitura dramática
trág ico
aristotélico (teatro ) formas teatrais es paç o (no teatro )
tragicom édi a
arte co rporal gê nero es paço cêni co
tragicômi co
arte do espet áculo -> espetáculo herói- côm ico -> co mé d ia her ó ic a es paç o lúdico (o u ge stua l)
teatro antro po lóg ico
atelanas happe ning espaço tea tral
tea tro autobiogr áfico
auto sacrame nta l hu mor c- comédia de hum ore s es petac ular
teat ro de bolso -> te atro de câ mara
auto-teat ro humor -> c ôm ico es petác ulo
teat ro do absurdo -> absurdo
ba lé de corte . > co m édie-ba lle t im prov iso ctnocenologia
teat ro é pico -> é pico (teatro... )
bo ulevard . > teatro d e bo ulcvard inte rc ultura l (teatro) fa ntas ia (teatro da...)
teatro íntimo -> teat ro de câ mara
burguês (teatro ) in terlúd io fes tiva l
teat ro sincrético -> teat ro total
caf é-teatro inte rmé dio figurino
telev isão (e teatro )
cena de mult idão .> teatro de massa inte rvenção -> teatro de agit-prop vanguarda -» teatro ex perimen tal formador . > an imação
cerim ônia -o ritua l (teatro c) j ogo fotogr afia (de teatro )
vaudevillc
co media jogo dramático iluminação
vídeo -> meios de co municação c teatro
com édi a leitura dramática imag em
coméd ia antiga mascarada -> máscara instalação
co média burlesca massa -> teatro de massa ENCENAÇÃO intcrmedialid ade
comédia de caráter materi alista (teatro ) j ogo mudo . > j ogo de ce na
co média de co stumes meios de co municação e teatro lado corte , lado jard im -> dire ita e esq uerda do
abst ração
co média de gaveta mel odr am a pa lco -lado pátio, lad o j ardim
ace ssó rios

X1'111 XIX
ÍNDICE TEMÁTICO ÍNDtCE TEMÁTICO

luz -> iluminação PRINCÍPIOS ESTRUTURAIS E insólito -> efeito de estranhamento relação teatral
maquiagem QUESTÕES DE ESTÉTICA ironia terror e piedade
máquina teatral magia -> [éerie
marcação -> leitura dramática, encenação abstração máscara
modelo (representação) absurdo matemática (abordagem) do teatro SEMIOLOGIA
montagem sonora -> sonoplastia adaptação melodramático
música de cena ambigüidade metáfora, metonímia -> retórica actancial (modelo)
música (e teatro) animação misc ell abvme actante -> actancial
naturalista (representação) antropologia teatral norma -> regras analagon -> ícone
objeto apolíneo e dionisiaco origem -> arte teatral códigos teatrais
.opsis arte dramática pathos comunicação não-verbal -> kinésica
orquestra arte poética -> poética teatral percepção comunicação teatral
outra cena -> espaço interior, fantasia atualização perspectiva decupagem
avaliação -> descrição, estética teatral poesia (no teatro) dêixis
palco
parateatro bom-tom procedimento descrição
brechtiano processo teatral formalização -> descrição, partitura
percurso
burlesco psicanálise -> fantasia ícone
plástica animada
categoria dramática (teatral) quadro índice
ponto
ciência do espetáculo -> teatrologia reprodução intcrtextualidade
prática espetacular
citação ridículo -> cômico isotopia
praticável
dose -> focalização riso -> cômico linguagem cênica, teatral -> escritura cênica
pré-encenação
coerência ritmo linguagem dramática
produção teatral
colagem ruptura mensagem teatral
projeção
cômico sagrado -> ritual meta linguagem -> descrição
quadro simbolismo -> estilização, símbolo
corte -> decupagem metateatro
quadro vivo
decoro sociocrítica
quarta parede mundo possível -> ficção
distância tratado -> arte teatral
rampa -> quadro, cortina notação -> descrição, partitura
distanciamento valor -> estética teatral
realista (representação) ostensão
divertido -> cômico verista (representação)
reapresentação partitura
duplo verossimilhante
representação teatral pragmática
edificação -> teatro didático, teatro de tese prática significante
reteatralização -> teatralização efeito de desconstrução
rítmica práxis
efeito de estranhamento RECEPÇÃO público -> espectador, recepção
ritmo efeito de evidenciação
roteiro questionário
efeito de real aplauso
som -> sonoplastia reconstituição -> descrição
efeito de reconhecimento atitude
sonoplastia referente -> realidade representada, signo teatral
efeito teatral catarsc
tablado sátira -> cômico, paródia
especificidade teatral crítica dramática
teatralidade segmentação -> dccupagern
essência do teatro dedicatória
teatro de diretor descrição scmiologia teatral
estética teatral
teatro de imagens espectador semiotização
esteticismo
teatro de objetos expectativa seqüência
estilização
teatro materialista fortuna da obra -> recepção signi ficado -> signo teatral
estranhamento -> efeito de estranhamento
teatro mecânico hermenêutica significante -> signo teatral
estratégia
teatro musical ilusão signo teatral
expressão
tempo fantástico instituição teatral -> sociocrítica símbolo
texto e cena forma interpretação sistema cênico
theatron forma aberta legibilidade sistema significante -> sistema cênico
verista (representação) forma fechada leitura situação de enunciação
versão cênica formalismo nota introdutória situação de linguagem
vídeo -> meios de comunicação c teatro gosto percepção situação dramática
vocalização -> leitura dramática grotesco pesquisa teatral unidade mínima
voz inquietante estranheza -> efeito de estranhamento piedade -> terror e piedade visual e textual

xx XXI
A
NOTA TÉCNICA ABSTRAÇÃO 1. O qu e é se ntido co mo despropositado. como
totalmen te sem sentido ou sem ligação lógic a co m
~ Fr .: ab stra ct ion; In gl. : ab stru ct io n, AI.: o rest o do text o ou da ce n a. Em filosofia ex isten-
As palavras seg uidas de um asterisco remetem a outros artigos. As datas entre pa rê nteses após os
Abstrak tion: Esp.: ab strac ci án. cial, o abs urdo não pode se r e xp licado pel a razão
nomes de autor ou de obras permitem identifi car na bibliog ra fia no final do volume o arti go ou o livro
c recu sa ao homem q ua lque r ju stifi cação filosó -
em qu estão. As ob ras citadas no corpo do artigo não são re toma das no co mple me nto bi b liográ fico, mas
Se não exi ste teatro ab str ato (no sentido de fica ou política de sua ação. É preciso distin gu ir
co nstituem , é claro , referên cias impo rtantes. Para obras m uito co nhecidas ou reedit ad as, muita s vezes
os e lemento s ab surdos no teat ro do teatro absur-
se esco lheu a data da prime ira ed ição. indicando na bib liog rafia ge ral aque la da ed ição ut ili za da . um a pintura ab s trata). se m pre se obse rva, e m
do co ntem porâ neo .
Um índice temático perm ite restituir o termo a se u ca mpo conceitual. e m funç ão de um tipo de co ntrapartida. um processo de abstração e de es ti-
No teatro. falar-se-á de ele me ntos absurdo s
abo rdagem ou de um domínio crítico. liraç ão " da mat ér ia te at ral. ta nto na escritura qua ndo não se consegu ir rec ol oc á-Ios e m se u
qua nto na cena. Todo traba lho artí stico . e si ng u- conte xto dramat úrgico, cê nico. ideológi co . Tais
larm ente toda e nce na ção, abs trai-se da rc al ida - e lement os são encont rados e m fo rma s tea trai s
de ambi ente ; e la e stá an te s (retomando a d istin- be m a ntes do ab s u rdo d o s a nos ci n q üen ta
ção da Poéti ca de AR ISTÓ TE LES) ma is próxim a (ARISTÓFANES, PLA UTO . a far sa medi e val. a
da poesia - q ue tr ata do ge ral - do qu e do teatro - Co mmcdia deli 'nrt e" , JARRY . APO LLl NA IRE) .
que trata do pa rticu lar. É da nature za da ence na- O ato de nascimen to do teat ro do ab surdo, co rn o
ção organizar. fil trar , abstrair e extrai r a rea lida- gênero ou tema ce ntra l. é co ns tituído por A Can -
de. Certas es t éticas s is tema tizam este proc esso de tora Careca de IO NESCO ( 19 50) e Esp erando
abstração: as si m a Ba uhau s de O. SC HLEMMER Godot de BECK ETT ( 19 5 3) . ADA:-'tOV. PINTER .
AI.BEE. ARRABAL. PINGET são a lguns d e se us
visa "a s im plificação. a red uçã o ao ess e nc ial. ao
re pre sent antes co nte m po rã ne os. Às vezes se fala
e lementar, ao primário. para opor um a unida de
de teatro de d errisão; o qual " procura el udir
à mu ltiplici dade da s co isa s" (1971\: 71 ). Daí rc -
qua lquer definição precisa. e pro gr ide ta tea ndo
su lta um a geo me triza ção das for mas. um a sim -
em d ireção ao indi zí vel. ou. ret omando um títu -
plificação do s indi vídu o s e dos mo viment os. uma lo be ck ct t iano , e m dire ção ao inom in á vcl "
per cepção dos có d igos. das convenç ões e da es- (J ACQUART , 19 74 : 22 ).
untura de conjunto.
2. A orige m deste movimento remonta a CAMUS
(O Es trang eiro, O M ito de Sisifo ; 194 2 ) e a
AB S UR D O SARTRE (O Ser c o Nada, 1943). No co ntexto da
guerra e do pós-gu erra , es tes filó sofos pintaram
~ Fr: absurdc ; lngt .: ab surd ; 1\ 1.: das Absurde; um retrato desiludido dc um mundo des truído c
Esp .: absurdo. d ilacera do por co nll itos c ideo logias.

XXII
A ÇÃ O
A Ç Ã<

Ent re as tradições teatrais que pre fig uram o ab- no s j o go s de lingu agem à ma neir a de WITT -
surdo co nte mpo râ neo. alinham-se a farsa . as pa- é m od ificad o e os actantes" assume m novo valor b. A a ção situa-se num nível relati vamente pro-
GENSTEIN ( po r HANDKE. HlLDE SHEIM ER .
radas ", os inter m édios gro tesco s de SHAKESPEA- c no va posição dent ro do unive rso d ram atúrgico. fun do v iS IO qu e el a se com põe de figuras muito
DUBILLARD ). o abs urdo co nti nua, no enta nto . a
RE ou do teat ro românt ico, dramaturgi as inclassifi- O m ot or da ação pode. por exem plo, pa ssar de gerais da s transformaçõe s ac tanciais ant e s m es-
influenc iar a escritura co ntemporânea e as pro-
cá vei s como as de APOLLlNAIRE. de JARRY, uma par a o utra per son agem. o o bjeto persegu ido mo de deixar adi vinh ar, no nível real da fá bul a. a
voc aç ões ca lculadas da s encena çõ es dos text os
FEYDEAU ou GOMBROWICZ. As peça s de CM 1US prudente ment e " cl áss icos" . po de se r e liminado o u assumir um a o utra for ma, composição de talhada dos e pisód io s narr ati vo s
(C aligu la, o Mal-en tend ido) e SARTRE (Entre modifi car-se a estratégia d o s opon en tes/ adj u- qu e formam a intriga' .
Quatro Paredes ) não correspo nde m a nenhum dos ~ Trágico, tragicô mico. cômico. van tes. A ação se produz desd e q ue um dos actan- A aç ão pode ser resu mida num código gera l
critérios formais do absurd o, mesm o qu e as per- tcs tome a ini ciativa de um a mudança de posição e a bstrato. E la se cris ta liza, em ce rtos casos.
so nage ns sejam seus porta-vozes filosó ficos. lI ildeshe imer. 196 0: Esslin , 1962 ; lo ncsco , d en tro da con figuração act onci ul" ; alte rando as- numa fórmu la assaz lapidar (BARTl lES , 196 3, ao
A peça absurda surgiu simultaneamente como 1955, 196 2, 1966. s im o eq uilíbrio das fo rças do dram a . A aç ão é da r a "fórmu la" das tragéd ias racinian as ). A in-
antipe ça da dr amaturgia clás sica. do siste ma é pi- portanto o elem ento transform ado r e dinâmico qu e tr iga é perc e pt ível no níve l s u pe rfi c ia l (o d a
co brechtiano e do realismo d o te at ro popul ar permite pa ssar lógica e temporalmente de uma pe rfo rm an ce ) d a mensagem indi vidual. Poder-
(antiteatro"i . A form a preferid a da drumaturuia AÇÃO pa ra o utra situa ção" , E la é a seq üê nc ia ló gico- se-ia di stin gui r assi m a ação de Do n Ju an em
a bs urda é a de lima peça se m intri ga nem perso- temporal das dife rent es situações suas diferente s fontes literárias . ação qu e redu-
nagens claramente definidas: o acaso e a inven-
t}- Fr.: a.cti oll ; Ingl .: ac tion; AI.: H all d l llll g : Esp.: A s análises da narrati va " se combinam para zi ríamos a u m peque no número de seqüên ci as
ção reinam ne la co mo se nhores abso lutos . A ce na {I e Cl OIl . art icul ar toda históri a em red or d o e ixo de sequilí- narrativas fun damen tai s. Em co ntra pa rti da. se
renunci a a tod o mimetismo psicológico o u gcs tual, br io/equilíbrio ou transgressão /m ed iação , pote n- ana lisa rmos ca da ve rsão , é preciso le var e m conta
a tod o efeito de ilusâo, de modo que o espectador
1. Nív ei s de f orm aliz ação da Ação cia lidade/rca lização (não reali za ção ). A passagem e pisó d ios e ave nt uras particul ar es do her ó i, en u-
é obrigad o a aceitar as conve nções físicas de um
de um a outro es tád io. de uma situação de partida a merar c u ida dosa me nte as seqüê nc ias de m oti-
novo univer so ficcional , Ao centrar a fáb ula nos
a. Açt70 visível e in visível uma situação de chegada desc rev e exatamente o vos ' : trata- se aí de u m estudo da in trig a. H.
pro b lemas da co municaçã o. a peça ab su rda tran s-
Seq üênc ia de acontec imen tos cê nico s e ssen- percurso de toda ação. ARISTÓTEL ES nã o es ta va GOUHIER propõe um a di st inç ão análoga e ntre
fo rma-se co m freq üência num discu rso so bre o
cialme nte produ zidos em fun ção do co m po rta- dize ndo o utra coisa quando decom pun ha tod a fá- ação e int rig a qu and o o põe a açelo esquemá tica.
teatro. numa me tapeça" . Das pesqui sas surrea lis-
ment o das per son agen s, a ação é. ao mes mo te m - bula " e m início, meio e fim (Poét ica , 1450b). es péc ie de essê ncia o u fórmu la co nce ntrada da
tas so bre a esc rita aut om ática, o abs urdo rete ve a
po, co nc re ta me nte, o co nj unto dos pro cessos' d e ação . à açelo q ue ass ume um a du raç ão 0 11 aç ão
ca pac ida de de sublima r. num a forma parado xal,
a escrita do sonh o. do subconsc iente e do mundo tra nsformaçõ es vis ívei s em cena e, no níve l das 2. M odel o Actancial, Aç ão e Int riga enc arnada no n ível da exi stênci a : " A aç ão es bo-
menta l. e de enco ntrar a metáfor a cê nica par a en- personagens" ; o qu e ca rac teriza sua s mod ific a- ça acontec ime ntos e s itu ações ; a pa rtir do In O -
c he r de image ns a paisagem inte rio r. çõcs psicol óg icas o u mo rais. a. Par a di ssoci ar ação de intri ga " : é in d ispen sá- menta qu e e la começa a se a longa r. põe e m mo -
ve l recolocar as du as noç ões no interior do mo- vime nto um j o go de im agen s qu e j á conta u m a
3 . Existem vá rias estratégia s do ab surdo: b. Defin ição tradici onal del o ac ta ncial e si tuá -Ias em d ifere nte s nívei s de his tó ria e que por a í se co loc a no ní vel da ex is-
m anife st açã o (estrutura pro fu nd a e es trut ura su- tência" (1 95 8: 76 ).
- o ab surdo niilista , no q ual é qua se im possíve l A definiçã o tra d ic ion al da ação C'scq üênc ia de
ex trai r a meno r inform ação so bre a visão de fatos e atos qu e co ns titue m o assunt o de uma ob ra perficial ).
m und o e as im plicações filos õficas do tex to e dramática o u narrat iva", dicio nário Robert ) é pu- O q uadro abaixo se lê de ci ma a baixo co mo a c. A dife rença en tre aç ão e int rig a corre sponde
da representação (IONESCO. Itl LDESIJEIf\IER): ram ent e tauto ló gi ca . visto qu e se co nte nta e m pa ssage m da estrutura profunda (q ue só ex iste no à o po s ição e ntre f á hula " (se ntido 1.a. ) co mo
ú

- o absurdo com o prin cípio estrutu ra l para refl e- substitu ir " ação" por aros e fatos, sem indi car o n íve l teóri co de um mod el o rec on st ituído ) à es- mat éria e h istór ia contada. lóg ica tempo ral e ca u-
tir o caos uni versal, a desintegração da ling ua- que co nstitu i esses a ros e jatos e co mo el es são tru tu ra super fic ial (o u de "supe rfície" . qu e a do é sai do sist em a ac tanci a l, e a f ábula (se ntido I .b.)
gem e a au sênci a de imagem harm on iosa da IlU- o rga nizado s no texto dr amáti co ou no palc o . Di- di scurso do te xto e das se q üê nc ias de c pi sód ios como es trutur a da narr ativa e di scu rs o ca ntante,
man idade (BECKETr, ADAMOV. CALAFERTE): ze r. co m ARISTÓTELES, que a fábu la é " a ju nção d a int rig a); logo. da ação naqu ilo q ue e la tem de seqüê ncia conc reta de disc urso e de peripécias;
- o ab surdo sa tíric o (na formulação e na intriga) das ações reali zad as" ( 1450a) ai nda não e xpl ica cê nica c narrati vam ent e pereeptível. assunto no sen tid o de TOMASCII ÉVSK I ( 196 5) ,
dá co nta de maneira suficientemente realis ta (1 a natur eza e a es tru tura da ação; trata- se. e m se-
mun d o des crito (D ÜRRENMATT , FR ISCI!. g uida. de mostrar co mo, no teatro, es ta "j un ção r - -"
NÍI'e/.1 Sistema das personagens A tores Intriga
'-
GRASS, HAVEL). das ações" é es tru turada. como se arti cu la a fá bu -
Estrutura s uper fic ia l
la e a part ir de q ue índ ices pode-se rec on st itu í- Ia. I I I
4. O teatro absu rdo j á pert ence à histó ria liter á- - - -
(manifesta)
- - -~ - - - - -
_ .
V V V
._._-
ria. E le poss ui sua s figu ras clássicas. Seu diál ogo c. Dcfiniçã o sc mio l ágica Níl'e/ 2 Modelo actancial Actantcs Ação
com um a dra maturg ia realista durou pouc o. já q ue Rcc ou sti tui-sc pr im eiro o modelo actanrial" Estrutura discursiva
I I I
BRECHT. que projetava esc reve r um a ada ptação
de Esp eran do Godot, não co nseg uiu co ncl uir este
num determinad o ponto da peça es tabe lece ndo o
vínculo e ntre as ações das person agen s. det erm i-
(nível figurativo)
..- - ~ . __ ._ - - V
-
V V
.- -
proje to. Ap esar das recupera ções no Leste . e m Nivel I Estruturas elementares da Operadores lógico s Modelos l ógicos
nand o o suj e ito e o obje to da ação, ass im CO IllO
auto res como IlAVEL ou MROZEK, ou no Oeste. Estrutura profunda significação (quadrado semiótico da ação
os o po ne ntes e adj uvantes , quando este es q uema
Estrutura narrativa de G reirnas, 1970)

2
3
A ÇÃ O AÇÃ O

a sabe r. co mo di sp osi ção real dos acomcc irncn- co mo se sua ação fosse a co nse qüênc ia c a exte- 6 . Elementos Const itutivos da Ação 8 _A Ação Teatral numa Teoria da
l OS na narrat iva . rio riz açã o de sua vontade e de se u ca r áter. Linguagem e da Ação Humana
ELAM ( 19110: 121 ) d ist ingu e. na seq üênc ia dos
3_Ação das Per sona gen s 4. Dinâmica da Ação trabalhos d a filosofi a d a ação (VA N DIJK. 197 6 ), a_ Os autores da açiio
seis el em ent o s cons titutivos da ação: " O age nte,
Entre os inúm eros se ntidos da açã o teatral. fo i
Desde ARI STÓTE L ES, est á aberta a discussão A açã o está ligad a, pel o me nos para o teatro sua int en ção . o a to o u o tip o de ato, a modalidade
possí vel , no qu e antecede, co nd uzir a ação a três
so bre a prim azia de um dos term os do par ação - d ram ático" (fo rma fec hada *), ao surg ime nto e à da ação (a manei ra c os mei os). a disposição (te m -
ramos esse nci ais :
ca rac teres. É natural que um determin e o outro e resolução da s contradiçõe s e con flitos entre as por al . es pac ial e c irc uns ta nc ial) c a finalidad e".
- a ação da f âbula " ou aç ão representada: tud o o
reciprocam ent e, mas as opiniões diverg em sob re pers onagens e entre uma per son agem e uma si- Es tes e lementos definem qu alqu er tipo de aç ão.
o termo maior c a contrad ição. qu e se passa no int eri or da fic çã o. tud o o qu e
tu ação. É o de sequilíbrio de um co n fli to qu e for- pel o men os de ação co nsc iente e não ac ide nta l.
fazem as per son agen s ;
ça a(s) per sona gem (s) a agirem para resol ver a Ident ifi cand o e st es e le me ntos, precisar-se-á a na-
- a ação do dramaturg o e d o e nce na do r: es tes
a. Conc epção existencial contrad ição; porém sua ação (s ua rea ção ) trará ou- tur eza e a função d a açã o no teatro.
enunciam o te xto atra vés da encenaçã o. proc e-
A ação vem prim eiro. "As persona gen s não tro s conflitos e co ntrad ições. Est a din âmi ca in-
dem de mod o a q ue as personagen s f açam est a
age m para imit ar os ca racteres. mas receb em se us cessante cria o mo vim en to da peç a . Entreta nto, 7_Formas da Ação o u aqu ela co isa;
ca racte res por ac résc imo e em razão de sua s ações a aç ão não é necessariam ent e ex pres sa e mani-
- a ação verbal da s personagens que di zem o
[...] sem ação nã o pode haver tra gédia . mas pode festa no nível da intri ga; às vezes e la é sensível a. A çau ascendente/a çã o descend ente texto, co ntribuindo assim para assumir a fic-
n a transformação da co nsc iê ncia dos protagonis-
hav ê-Ia sem car áter" (Poética, 1540a ). A ação é Até a crise * e sua resolu ção na ca t ástrofe ", a ção e a respon sabilidade delas.
co ns ide rada co mo o motor da fábula, defi nind o- tas. transformação que não tem o u tro bar ômetro
ação é ascendente . O e nca dea mento dos aconteci-
se as pers onagen s somente por tabela. A análise que não os discursos (dr ama clássico ). Falar. no b. Vínculo da ação da fábula e da aç ão
mentos se faz cada ve z m ais rápid o e necessário à
da narr ativa o u do drama esforça-se para distin- teatro ainda mais que na realidade co tid iana. sem- medida que nos aproxi mama s da conclusão. A ação falada das personagens
pre é agir (ver ação falada * ).
gu ir esferas de ações (PROPP. 1965), seqüências descendente é reunida em algum as cena s, até mes- Pa rece útil distin guir dois tipos de ação, no tca-
mínimas de atos , actantes que se definem por se u mo alguns versos no 11mda peça ( paroxismo* ).
5. Ação e Discurso tro : a ação g loba l da fábula, que é uma ação com o
lugar no modelo actancial (SOURIAU. 1950; GREI - ela se dá a ler na fábul a. e a ação falada das perso-
MA S. 1966), situações (SOU RIAU . 1950; JANSEN, b. Aça o representada/a ção contada nage ns, que se realiza em cada uma das enun ciaçõe s
1968; SARTRE. 19:3). Esta s teori as têm em co - o di scurso é um mod o de fazer . Em vi rtude de A ação é da d a diret am ent e a ve r ali é tr an s- (o u répl icas*) da per sonagem .
mum um a ce rta desconfiança em rela ção à aná - um a con venç ão implícita. o d iscurso teatr al é se m-
mit ida num te xt o . No segundo caso. e la própria A ação enqua nto fábula forma a arma ção nar-
lise psi col ógi ca d os caracte res e uma vont ad e de pre maneira de ag ir. mesm o segundo as mai s cl ás-
é m odalirada " pela a ç ão e pel a s ituação d o rativa do texto ou d a repre sentaçã o. Ela é passí-
só julgar estes últimos com base em suas ações s icas normas dramatúrgi cas . Para O' AUB IG NA C.
recit ant e . vel de se r lida e. port ant o . recon stituída de di ver-
co ncre tas . SA RT RE resume bast ant e bem esta os di scursos no teat ro " [...] de vem se r co mo ações
sas maneiras pel os práti co s que en cen am a peça ,
d aquel es que nel es faz em o s ap arecer; poi s aí f a-
atitude : "U ma peça é lan çar pessoas num a em - c. A çao inte rio r/ação ex te rior ma s co nserva se mpre sua estrutura narr ati va glo -
lar é agir" (Pra tique du Th éâtrc, liv ro IV. ca po
preit ada; não há necessidade de psicologia. Em bal , no interio r da qu al se insc reve m as enuncia-
2 ). Quando Ha rnlct diz : "Es to u partindo par a a A ação é mcdi ati zad a e intcriorizada pela perso-
co ntra partida. há necess ida de de deli mitar mui- ções (ações faladas) d as per sonagens.
In gl at erra", deve-se j á im agin á-lo a ca m inho. O nagem ou. ao co ntrá rio, receb ida do exterior por esta.
to exa tamen te qu e pos ição. qu e situação pode Pode acon tecer qu e es ta d istinção tend a a apa-
di scurso cêni co foi mu it as vezes co ns ide ra do gar-se. qu and o as per son agen s não têm mais ne-
assumir cada per son agem , em funç ão das cau -
co rno o local de urn a presença » e de uma ação d. Açiio principal/ação sec undá ria nhum projet o de ação e se co nte ntam em subs ti-
sas e co ntrad ições ante riores qu e a prod uziram
ve rba l. "No prin cíp io era o Verbo [...] no princí- A prim eir a tem se u e ixo na progressão do o u tuir tod a ação visíve l por uma históri a de sua
co m rel ação à ação prin cipal" ( 1973: 143).
pio era a A ção. Mas qu e é um Verbo ? No prin cípi o dos prot agoni st as; a segunda é enxe rta da na pri- enunciação o u de sua dificuldade em se co muni-
e ra o Verbo ati vo" (GOU H IE R. 1958: 63). meira co mo intriga com pleme ntar se m irnp ort ân- car: é o easo e m BEC K ET T ( Fi m l /C Jogo. Espe-
b. Concepç ão essenc ialista
O utras form as de ação ve rba l. co mo as per - c ia primordial para a fáhula ge ral. A dram aturgia ro ndo Godot), HA NO K E i Kaspar) ou PINGET .
Inversament e. lima filosofia levada a ju lgar ( 1 Io rmá ticas, o jogo dos pressup osto s. o e m prego cl ássi ca , ao e xigir a unidad e de ação. tende a li- Este já era mesmo o ca so em cert as co mé dias de
hom em por sua ess ênci a e não por sua s ações e sua dos d êiti co s es tão e m ação no text o dramático mit ar a aç ão à ação princ ipal. MARIVAUX (Os Juram entos Indiscret os ), ond e os
situaç ão começa por analisar, muitas vezes de ma - (PAVIS. 1978a ). Mai s que nun ca . e las tomam pro- locutores não falam mais em direção a um fim ou
neir a finíssima , os caracteres, defin e-os de acordo bl emática a separaç ão entre a ação visíve l no pal- e. Açao coletiva/açã o privada de acordo co m uma fábula e fazem constante re-
co m um a consistência c uma essência psicológica co e o "trabalho" do text o : " r a la r é faz e r. o logos fer ên cia a su a maneira de falar c à dificuldade de
O texto, principalmente nos dramas históricos,
ou moral além das ações concretas da intriga; ela assume as funções da pr áxi s e a su bs titui" (BAR- comun icação.
muitas vezes apresenta em paralelo o destino in-
só se interessa pela personificação da "avareza", THES. 1963: 66). O teatro se torna um local de
dividuai dos herói s e e ste . ge ra l ou si mbó lico, de
da " paixão" , do "de sej o absoluto". As personagen s s im ulação onde o espectador é encarreg ado. por Tornasch évski , 1965 ; Greimas, 1966; Jansen ,
só exi stem como lista de cmplois morai s ou psico- uma convenção tácit a co m o auto r e o ator, de
um gru po ou de um pov o.
W 1968; Urmson. 19 72 ; Brcmond, 1973; Rapp,
lógicos; elas co incide m totalmente com seus dis- im aginar os atos performáti cos num palco qu e não 1973; Hüblcr, 1972 ; Sticrlc, 1975 ; Poética , 1976 ;
cursos , contrad ições e co nfl itos" . Tudo se passa o da re alidade te]. pragnuuica" ).
f Açc/o 1/(/ fo rma fe chada */I/a [onna aberta * Van Dij k, 197 6 ; Suvi n , 1981 ; Ricn ard s, 1995 ;
(Ver neste s termos .) Za rrilli. 1995.

5
AÇÃO FALADA ACTANCIAL

AÇÃO FALADA valor caracterizante para se tomarem máquinas" J. Uma das marcas específicas da teatralidade W Derrida, 1967; Ricoeur, 1969; Voltz, 1974;
de atuar ou objetos * abstratos. Ou então transfor- é constituir uma presença humana entregue ao - Cole, 1975; Boal, 1977; Kantor, 1977; Hinklc,
mam-se, como no teatro do absurdo (particular- olhar do público. Essa relação viva entre ator e 1979; Wiles, 1980; Barba e Savarese, 1985.
:), Fr.: action parlé e; Ingl.: .~pech aCI; AI.:
-t.: Sprechhandlung; Esp.: acc/On hablada. mente em IONESCO) em objetos-metáforas da espectador é que constitui a base da troca: "A
invasão do mundo exterior na vida dos indiví- essência do teatro não se acha nem na narração
J. No teatro, a ação não é um simples caso de duos. Eles passam a ser personagens completas e de um acontecimento, nem na discussão de uma ACTANCIAL (MODELO ... )
movimento ou de agitação cênica perceptível. Ela acabam invadindo totalmente a eena. hipótese com o público, nem na representação
se situa também, e para a tragédia clássica sobre- da vida cotidiana, nem mesmo numa visão [...] :), Fr.: actantiel (modele... ); Ingl.: actantial model;
tudo, no interior da personagem em sua evolu- ~. Espaço, tablado. O teatro é um ato realizado aqui e agora no or- -t.: AI.: Aktantcnmodell; Esp.: actancial (modelo ...).
ção, suas decisões, logo, em seus discursos*. Daí ganismo dos atores, diante de outros homens"
o termo ação falada (segundo a azione parlata rT\ Veltrusk y, 1940; Bogatyrev, 1971; Hoppe, (GROTOWSK1, 1971: 86-87). I. Utilidade do Modelo Actancial
~ 1971; Saison, 1974; Harris e Montgomery,
definida por PIRANOELLO).
1975; Adam, 1976: 23-27; Ubersfeld, 1980a; Pavis, 2. Esta situação particular do ato teatral explica A noção de modelo (ou esquema ou código)
Toda fala no palco é atuante e aí, mais que em
1996a: 158-181. porque todos os sistemas cênicos, inclusive o tex- actancial impôs-se, nas pesquisas semiológicas,
qualquer outro lugar, "dizer é fazer". o' AUBIGNAC
to, dependem do estabelecimento desta relação para visualizar as principais forças do drama e
era bem consciente disso, CORNEILLE fazia de
com o acontecimento: "A significação de uma seu papel na ação. Ela apresenta a vantagem de
seus monólogos verdadeiros mimos discursivos
(PAVIS, 1978a), CLAUOEL opunha o kabuki,
AÇÕES peça de teatro está muito mais distante da signi- não mais separar artificialmente os caracteres" e
ficação de uma mensagem puramente lingüísti- a ação*, mas de revelar a dialética e a passagem
onde atores falam, ao bunraku, onde uma fala age.
:), Fr.: actions; Ingl.: actions; AI.: Handlungen; ca do que o está da significação de um aconteci- paulatina de um a outro. Seu sucesso se deve à
Todo homem de teatro sabe bem, como SARTRE,
-t.: Esp.: acciones. mcnto" (MOUNIN, 1970: 94). clarificação trazida aos problemas da situação>
"que a linguagem é ação, que há uma linguagem
particular no teatro e que esta linguagem jamais dramática, da dinâmica das situações e das per-
Ao contrário das ações teatrais, simbólicas e 3. A cena dispõe de poderosos recursos para pro- sonagens, do surgimento e da resolução dos erm-
deve ser descritiva [...] que a linguagem é um mo- representadas do comportamento humano, as duzir uma ilusão (narrativa, visual, lingüística), flitos": Ela constitui, por outro lado, um trabalho
mento da ação, como na vida, e que ela é feita ações de artistas de performance" ou de body art mas o espetáculo depende também, a todo ins- dramatúrgicor indispensável a toda encenação,
unicamente para dar ordens, proibir coisas, ex- (ar/e corporal*) como as de Otto MÜHL ou de tante, da intervenção externa de um acontecimen- a qual também tem por finalidade esclarecer as
por, sob a forma de argumentações, os sentimen- Hermann NITSCH, do grupo Fura dels Baus ou to: rompimento do jogo, parada da representação, relações físicas e a configuração das personagens.
tos (logo, com um fim ativo), para convencer ou do Circo Archaos são ações literais, reais, muitas efeito imprevisto, ceticismo do espectador etc.
defender ou acusar, para manifestar decisões, para Finalmente, o modelo actancial fornece uma nova
vezes violentas, rituais e catárticas: elas dizem
duelos verbais, recusas, confissões etc.: em suma, visão da personagem. Esta não é mais assimilada
respeito à pessoa do ator e recusam a simulação 4. Para certos encenadores ou teóricos, a finali-
sempre em ato" (1973: 133-134). a um ser psicológico ou metafísico, mas a uma
da mimese teatral. dade da representação não é mais a magia ilusio- entidade que pertence ao sistema glohal das ações,
As ações, ao recusarem a teatralidade e o signo, nista e, sim, a conscientização da realidade de
2. Por causa destas certezas, a pragmática" en- variando da forma amorfa do actante" (estrutura
estão em busca de um modelo ritual da ação eficaz, um acontecimento vivido pelo público. A pró-
cara o diálogo e o acontecimento cênico como
profunda narrativa) à forma precisa do ator" (es-
da intensidade (LYOTARD, 1973), visando extrair pria idéia de ficção fazendo esquecer a comuni-
ações performáticas e como um jogo sobre os pres- trutura superficial discursiva existente tal e qual
do corpo do performcr, e depois, do espectador, um cação do acontecimento torna-se então estranha
supostos e o implícito da conversação; em suma, na peça). O act ante é. segundo GREI MAS e
campo de energias e de intensidade, uma vibração e para eles: "A ilusão que procuraremos criar não
como uma maneira de agir sobre o mundo pelo COURTES (1979), "aquele que realiza ou recebe
um abalo físicos próximos daqueles que exigia terá por ohjeto a maior ou menor verossimilhan-
ARTAUO, ao reivindicar uma "cultura em ação que o ato, independentemente de qualquer dctcrmi-
uso da palavra. ça da ação, mas a força comunicativa e a reali-
se toma em nós corno que um novo órgão, uma es- nação" (1979: 3). GREIMAS pegou esta noção no
dade desta ação. Cada espetáculo se tornará por
Searle, 1975; Poetica, 1976, n. 8; Pfister, 1979; pécie de segunda respiração" (1964: 10-11). gramático L. TESNIERE (Éléments de syntaxc
isso mesmo uma espécie de acontecimento"
Q Ubersfeld, I 977a, 1982; Pavis, 1980a. (ARTAUD). O palco é uma "linguagem concre-
structuralc ; 1965).
W Kirby, 1987; Sandford, 1995. ta", o local de uma experiência que não repro-
Entre os pesquisadores, não reina a unanimi-
dade quanto à forma a ser dada ao esquema e à
duz nada de anterior.
ACESSÓRIOS definição de suas divisões, e as variantes não são
ACONTECIMENTO simples detalhes de apresentação. A idéia funda-
5. Algumas formas atuais de teatro (o happe-
:), Fr.: acccssoires; Ingl.: props; AI.: Requisiten. mentai de PROPP (1929) a GREIMAS (1966) é de:
ning"; a festa popular, o "teatro invisível" de
-t.: Esp.: utileria. :), Fr.: événemcnt; Ingl.: event; AI.: Ereignis; Esp.: BOAL, 1977), a performance" buscam a versão - repartir as personagens em um número míni-
~ acontecimiento, mais pura da realidade ligada ao acontecimento: mo de categorias, de modo a englohar todas
Objetos" cênicos (excluindo-se cenários" e o espetáculo inventa a si mesmo negando todo as combinações efetivamente realizadas na
figurinosr que os atores usam ou manipulam
í A representação teatral, considerada não no projeto e toda simbólica. peça;
durante a peça. Numerosíssimos no teatro natu- aspecto ficcional de sua fábula, mas em sua reali- - destacar, além dos caracteres particulares, os
ralista, que reconstitui um ambiente com todos dade de prática artística que dá origem a uma tro- t:...., Ilusão, recepção, especificidade teatral, herme- verdadeiros protagonistas da ação reagrupando
os seus atributivos, tendem, hoje, a perder seu ca entre ator e espectador. ~. nêutica, essência do teatro. ou reduzindo as personagens.

6 7
ACTANCIAL ACTANCIAL

2. Ajustamentos do Modelo primeira etapa importante para a formalização dos natureza do sujeito, de fazer dele um dado facil- formas extra-européias que não apresentam nem
actantes; ele inclui todos os protagonistas ima- mente identificável pelas funções ideológicas do conflito, nem fáhula, nem progressão dramática,
a. Polti (1895) gináveis. Apenas a função de arbitragem (balan- destinador-destinatário - o que não parece, por no sentido ocidental.
ça) parece a menos bem integrada ao sistema, outro lado, ser a intenção de A. UBERSFELD, já
A primeira tentativa de definir o conjunto das
pairando acima das outras funções e por vezes que ela nota, com razão, que "não existe sujeito 3. Actantes e Atores
situações dramáticas teoricamente possíveis é a
difici lmente definível na peça estudada. Por ou- autônomo num texto, mas um eixo sujeito-ohje-
de G. POLTI, o qual reduz as situações básicas a
tro lado, o esquema se adapta sem prohlema àque- to" (I977a: 79). A modificação do modelo grei- a. Teoria dos níveis de existência da
trinta e seis, o que não deixa de ser uma excessi-
le de GREIMAS,que estrutura as seis funções sub- massiano, por tabela, também tem por objeto o pc rsonagcm
va simplificação da ação teatral.
dividindo-as em três pares de funções. eixo adjuvante-oponente, mas ela não tem as
mesmas conseqüências sobre o funcionamento Nível I: nível das estruturas elementares do
b. Propp (1928) d. Greimas (1966,1970) global: pouco importa, na verdade, que o auxílio significado. As relações de contrariedade, con-
A partir de um corpus de contos, W. PROPP e o empecilho tenham por objeto o sujeito ou o tradição, implicação entre diferentes universos de
define a narrativa típica como uma narrativa de Destinador -> Objeto -> Destinatário sentido formam o quadrado lógico (quadrado
objeto que eles perseguem, só haverá uma dife-
sete actantes pertencentes a sete esferas de ações: 'I
Adjuvante -> Sujeito -> Oponente
rença de eficácia e de rapidez do auxílio ou do scmiótico de GREIMAS, 1966,1970: 137).
- o mau (que comete a maldade), empecilho. Nível 11: nível dos actantes"; entidades gerais,
- o doador (que atribui o objeto mágico e os va- O eixo destinador-destinatârio é o do contro- não-antropomorfas e não-figurativas (exemplo: a
lores), le dos valores e, portanto, da ideologia. Ele deci- f Dificuldades e possíveis melhorias dos paz, Eros, o poder político). Os actantes só têm
- o auxiliar (que vai em socorro do herói). de a criação dos valores e dos desejos e sua divi- esqllemas actanciais existência teórica e lógica dentro de um sistema
- a princesa (que exige uma façanha e promete são entre as personagens. É o eixo do poder ou de lógica da ação ou de narratividade.
A decepção mais freqüentemente sentida quan-
casamento), do saber ou dos dois ao mesmo tempo. do da aplicação do esquema é sua generalidade e Nível 111: nível dos atores" (no sentido téc-
- o mandatário (que envia o herói em missão), O eixo sujeito-objeto traça a trajetória da ação universalidade grande demais, em particular para
- o herói (que age e é submetido a diversas peri- nico do termo, e não no sentido de "aquele que
e a husca do herói ou do protagonista. Está cheio as funções do destinador e do destinatário (Deus,
pécias), atua, que representa personagens"), entidades
de obstáculos que o sujeito deve superar para pro- a Humanidade, a Sociedade, Eros, o Poder etc.).
- o falso-herói (que usurpa por um instante o pa- individualizadas, figurativas, realizadas na peça
gredir. É o eixo do querer. É bom, por outro lado, proceder a várias experiên-
pei do verdadeiro herói). (grosso modo: a personagem no sentido tradi-
O eixo adjuvante-oponente facilita ou impede cias, em particular para o sujeito, casa que temos
PROPP define, além disso, as funções das cional).
a comunicação. Ele produz as circunstâncias e as interesse em completar no fim da experiência c
personagens: "O que muda são os nomes (e, ao modalidades da ação, e não é necessariamente da maneira mais flexível possível. Lembrar-nos- Nível intermediário entre 11e 111: os papéis";
mesmo tempo, os atributos) das personagens; representado por personagens. Adjuvantes e opo- crnos, finalmente, que a razão de ser do modelo entidades figurativas, animadas, mas genéricas e
o que não muda são suas ações, ou suas fUI1- nentes às vezes não passam de "projeções da von- actancial é sua mobilidade, e que não existe fór- exemplares (cx.: o fanfarrão, o pai nobre, o trai-
çiies*. Pode-se concluir daí que o conto muitas tade de agir e de resistências imaginárias do pró- mula mágica pronta e definitiva: a cada nova si- dor). O papel participa ao mesmo tempo de uma
vezes empresta as mesmas ações a diferentes prio sujeito" (GREIMAS, 1966: 190). Este eixo é tuação deverá corresponder um esquema particu- estrutura narrativa profunda (ex.: os traidores sem-
personagens. Isto é o que permite estudar os também ora o eixo do saher, ora o do poder. lar: cada uma das seis casas é, aliás, passível de pre fazem x) e da superfície textual (o tartufo é
contos a partir das [unções das personagens" ramificar-se num novo esquema actancial. um tipo bem preciso de traidor).
(1965: 29). e. A. Ubersfeld (1977) Tomaremos o cuidado de não limitar o uso do
Nivel IV: nível da encenação, dos atores (no
Na aplicação que Anne UBERSFELD (I 977a: código actancial à personagem (logo, à análise
c. Souriau (1950) sentido de comediantes como tais são representa-
58-118) faz do modelo greimassiano, esta permuta textual). Tudo o que é mostrado em cena deve ser
dos por um ou vários comediantes). Este é um
Seis funções dramatúrgicas formam a estrutu- o par sujeito-objeto, fazendo do sujeito a função tomado também como combinatória de actantes:
outro nível, exterior ao da personagem.
ra de todo universo dramático: manipulada pelo par destinador-destinatário, en- assim, na Mãe Coragem de BRECHT, os mate-
- leão (força orientada): é o sujeito desejante da quanto o objeto se torna a função tomada entre riais utilizados e seu desgaste também constitu-
h. Redução OIi sincretismo da personagem
ação, adjuvante e oponente. Este detalhe modifica pro- em um modelo actancial. Poder-se-ia, portanto,
estabelecer um modelo no qual os seis actantes • Redução
- sol (valor): o bem desejado pelo sujeito, fundamente o funcionamento do modelo. Com
- terra (o obtentor do bem): aquele que se bene- GREIMAS, na verdade, não se partia de um sujei- seriam representados pelos diferentes estados dos Um actante é representado por vários atores; ex.:
ficia do bem desej ado, to fabricado conscientemente por um destinatá- objetos e da cena; isto evitaria reduzir o modelo a em Mãe Coragem, o actantc "sohreviver" cabe a
- marte (o oponente): o obstáculo encontrado rio em função de um destinador: o sujeito só se uma combinatória de personagens. Do mesmo di fcrentes atores: Mãe Coragem, o cozinheiro, os
pelo sujeito, definia no final, em função da busca do objeto. modo, poder-se-ia estudar o sistema dos diferen- soldados, o capelão.
- balança (o árbitro): decide a atribuição do bem Esta concepção apresentava a vantagem de cons- tes gestus", (Sobre a dificuldade de um modelo Um comediante representa duas personagens:
desejado pelos rivais, truir pouco a pouco o par sujeito-objeto e de defi- actancial a-histórico, ver: personagcmvv Este todos os casos de papel desdobrado do come-
- lua (adjuvante). nir o sujeito não em si, mas conforme suas ações modelo foi pensado em função da dramaturgia diante. Em A Alma Boa de Sé- Tsuan (BRECHT), a
Estas seis funções só têm existência em sua concretas. Em contrapartida, no esquema de A. ocidental clássica do conflito e só se aplica, mui- mesma personagem encobre dois actantes dife-
interação. O sistema de SOURIAU representa uma UBERSFELD, arriscamo-nos a supervalorizar a to mal, ao drama moderno (SZONDI, 1956) e às rentes (ser humano/ter lucro a qualquer preço).

8 9
ADAPTA Ç Ã O A ~ IB IGÜ lDA E

Sis tema de personagem Nive l de existência du ção , ac rés c imos de textos ex te rno s. novas in - ALEGORIA
- - - - terpretações - é também um a ada ptação, assim
Estrutura _fillperfi cial Comediantes Personagem perceptível co mo a o peração que co nsiste em traduzir um tex- Fr.: a llégoric; Ingl.: a llcgorv; AI.: A llego ric;
Ní\'c1 IV c ' c=' através do ator
1 /
C to es trangei ro, ad aptando-o ao co ntex to cu ltura l Esp. : aleg oria,
(representação) / e lin güísti co de sua língua de c hegada . É not áv el
Nívellll a' "a- Alares
I1
a Estrutura discursiva qu e a m ai oria da s traduções se intitu le. hoj e, ada p- Per sonific aç ão d e um prin cípio o u de lim a

.r.
(superfície texlUal) a (motivos, temas da intriga) tações, o qu e leva a tend er a reconhecer o fat o de idéi a abs tra ta qu e, no teatro. é realizad a por uma
a ' a' a'
Papéis

\1/
qu e tod a intervenção, desd e a tradu ção até o tra- per sonage m re ve stida de atributo s e de propri e -
Estrutura p rofunda Estrutura narrativa balh o de reescritura dram ática, é uma recri ação, dade s bem definido s (a fo ice para a M orte, por
Nível 11 (lógica das ações)
A qu e a transferência das form as de um gê ne ro para e xempl o ). A a le go ria é usada sobretudo nas
(sintaxe do texto) Acta nrcs
o utro nun ca é inocente, e sim q ue e la im plica a moral idad es " e no s m ist éri os medi e vai s e na
Ní~ 'êl Operadores lógicos Estr uturas elementares produção do se ntido. dramaturg ia b arroca (GRYPHIUS). Ela tende a
(estru tura lógica) Quadrado lógico de Greimas do significado de sap ar ec er com o ab urg uesa me nto e a a ntro-
pom orfi za ç ã o d a per s onagem, mas vo lta nas
AGON formas par ódic a s o u militantes do ag ir-p rol" ,
• Si ncretis mo 2. A adaptaçã o tamb ém de s ign a o trabalh o
do ex press io n is mo (WEDEKIND) ou d as par á-
Dois co me d iantes representam um a perso nagem drama t úrgico" a part ir do text o destinado a ser
encenado. Todas as man obr as textu ais imagináveis
ê (Do grego ago n, competição .) bol as br echri an as (A rturo Ui ; Os Set e Pecado s
o u um a faceta particular da persona gem (proces - Fr.: agoll; IngI.: agol!; A!. : Ag {)Il ; Es p.: Agol!.
são permitidas: cortes, reorg ani zação da narrativa, Capitai s ).
so de de sdobramento muito usado hoje). Um rncs-
mo ator pod e também concentrar várias esf eras "abrandamentos" estilísticos, redu ção do número 1. Todo ano, realizavam-se na G réc ia antig a com-
de perso nagens ou dos lugares, conc entração d ra- Be nj amin , 1928; Frye , 195 7; Le Th éàt re
de ação. Por exemplo, Mãe Coragem ag rup a os petições de e sportistas e arti stas. Havia um agon
mática em alguns moment os fortes, acréscimos e W europ éen fa ce à l'inventíon: allégories, m er-
actant es de " lucrar" e "viver tranqüilamente" . dos coros, dos dramaturgos (5 10 a.C .}, do s atores veill eux, fanta stiquc, Pari s, PUF, 1989.
textos externos, montagem" e co/agem * de ele- (45 0- 4 20 a.c.).
m Bremond , 1973; Suvin, 1981. mentos alheios, modificaçã o da co ncl usão, modi-
ficação da fábul a em fun ção do discur so da ence - 2. Na co mé di a ática o u antig a (ARISTÓ FANES),
nação. A adapt ação, d ifere ntemente da tra du ç ão " AMBIG ÜIDADE
o ag oll é o di ál ogo e o co nfli to do s in imi gos , o
ou da atualização" , goza de gra nde liberdad e ; el a
ADAPTAÇÃO q ual co ns ti tui o ce rne da peça .
Fr. : ambi g lli'té ;. In gl. : amb ig uit v; A I. :
não receia modifi car o sent ido da obra o riginal, de ~
fazê-Ia diz er o co ntrário (cf as ada ptações brech- 't.:
Dopp c lde u ti g ke i t, Meh rdcu tig k e i r; E s p. :
~ Fr. : a dap t a t ion; Ing l. : adap t at ion; AI. : 3. Por ex te nsão, o agoll ou princípi o "ago nís- ambigiicdad.
tian as (Bea rbci tunge n í de SHAKESPEARE, MO-
't.: Biihnenbearbeit ung, Adaptat ion , Adapti on: ri co " m ar c a a rela ção co n tl it ual e ntre os p rata-
Esp.: adap taci áu. L1ÉRE e SÓFOCLES e as " traduções" de Hein er
gmúslas*. E stes se opõe m num a dialé tica de di s- Aq uilo que autoriza vá rios sentidos o u int er-
MÜLLER com o a de Prom et eu ), Ada pta r é recriar
curso/re spo sta . C ad a um se e ng aj a tot alment e pre tuções " de uma personagem . de um a ação. de
int ei ramente o text o co ns iderado co mo s imples
I . Tr an sposição o u transform ação de lim a ob ra. nu m a d iscu ssã o qu e imp õe sua marca à cstr u tu -
matéria. Esta prática teatral levou a se tom ar co ns - um a passag em do tex to d ram ático ou d a rep re-
de um gênero em outro (de um romance nu ma ra d ra má tica e c on stitui seu confl ito", Ce rtos teó-
ciência da imp ort ân cia do d ramatur go" (sent ido sentação int ei ra .
peça , por exem plo). A ada ptação (o u drama - rico s c hega m mesm o a fazer d o d iá logo (e das
2) para a elabo raçã o do espe táculo, A prod ução e a m anut enção das a mhigü ida -
tização ' ) tem por objeto os con teúdos nar rati vos cs tico m itia s't v o e mb lema do co nfl ito d ramático
Não poderia ha ver ada ptação perfeita e defi ni- dcs é um a d as co ns tante s es tru tur ais da o bra de
(a narr ati va, afábala') que são mantidos (mais e . de m an eira mais ge ra l, do teat ro . No e nta nto,
tiva das o bras do passado . Q ua ndo muito pode-se. art e cê nica . 1\ obra d e arte, na verda de . não é
ou men os fie lme nte, co m diferen ças às veze s con- é preciso lembrar que ce rras d ra ma turg ias (é pi-
co mo BRECHT ( 196 1), em seu M odellbuch, pro - nem co dificada', nem de codifi cad a de uma só
sideráv e is), enquanto a estrutura di scursi va co- cas o u ab surdas, por exe m plo) não se ba sci um
por certos prin cípi os de representa ção e li xar ce r- man eira cor re ta , e xce to no ca so da obra li c l é o u
nhece um a tran sformação radical, prin cip alm en- no princípi o agonístico dos caracteres <Ia açã o .
las interpretações da peça co m os quais os futuros da peça d idát ica ' . A e nce nação tem tod o o po -
te pel o fa lo da passagem a um di sp ositi vo de en cenadores pod er ão se beneficiar (mo delo*).
4. N a teoria dos jo gos de R. CAILLOIS ( 1958) , o der para resol ver , m as também ac rescent ar ce r-
enunciaç ão" inteiramente diferente. Ass im, um
agon é um dos quatro princípi os qu e go ve rn am a ta s ambig üid ad es. Toda int erpretaç ão " cê nica
romance é adaptado para palco, tela Oll tel evisão. 3. Adaptação é empreg ad o freqü entemente no
atividade lúdica (com o iltynx , bu sc a da vertigem. toma necessari am ente partido por uma certa lei -
Durante es ta ope ração semiótica de tran sfe rênci a, sentido de "traduç ão'tou de tran spo si ção mais ou
o rom ance é transposto em diálogos (muitas ve- o alea. pape l do acaso, e a mi mcsis, go sto pela tura do te xto , abrindo a poria a novas possibili -
menos fiel, sem que seja se mpre fácil traçar a fro n-
zes difer ent es dos originais) e sobretudo em açõe s imitação). dades de sentid o *.
teira entre as duas prática s. Tr ata-se então de uma
cêni cas qu e usam todos as matérias da rep resen-
tação teatral (gesto s, imagens , música etc .), Exem-
tradução que adapta o te xto de partida ao novo
C'J
'-'\,. Di álogo, dilaI"cuca, protagorusta.
, c'
~ Sign o. isoto pia. herm enêutica, coerênci a.
co ntexto de sua recepção co m as supressões e
plo : as ada ptações, por GIDEou CAMUS, de ob ras ac résc imos julgados necessários à sua reavali ação .
de DOSTOIÉVSKI.
[;;'J, Du ch emin, 194 5; Rorn ill y, 11)70 . CQ Rastier, 1971 ; Pavis, 1983a .
A rcleitura do s clássicos - co ncentração, no va ira -

/0 /I
ANÁLISE DA NARRATIVA ANÁLISE DA NARRATIV,

ANÁLISE DA NARRATIVA A narrativa situa-se portanto em superfície pro- truturas actanciais à superfície do texto e da cena, assim a fórmula fundamental representada no
funda, no nível do código actancial", Muitas das cm ligar a lógica dos acontecimentos contados quadro abaixo.
~ Fr.: analvse du récit; Ingl.: narrative analysis. dificuldades nas pesquisas sobre a narrativa vêm ao discurso contante. Examinar-se-á portanto a
• A mediação é o momento-chave da narrativa,
't.: AI.: Ha;,dlungsanalyse; Esp.: análisis dei de não precisarmos claramente em que nível nos transição:
visto que ela permite o desbloqueio da situação
relato. colocamos: no nível superficial, seqüência de mo- - do actantc ao ator, do narrativo ao discursivo
conflitual no momento preciso em que o esque-
delos visíveis da intriga"; ou, no nível profundo, (modelo actancial, personagem").
ma actancial (isto é, a estrutura profunda para-
1. A Noção de Narrativa no Teatro configuração do modelo actancial", A narrativa - da história contada ao discurso contante. digmática das relações de força) "emerge" e aflora
é formalizável em dois níveis: seguindo o traça-
no nível sintagmático da história contada. A me-
a. Estado das pesquisas do sinuoso da intriga descomposta em seus me- c. Articulação da narrativa diação, quer dizer, a resposta à provação ou a so-
nores elementos (como ela aparece em todas as
A análise da narrativa (que é preciso distin- Na falta de se encontrar um número preciso de lução do cont1ito, é, portanto, o local de articula-
situações cênicas), ou, ao contrário, no interior
guir cuidadosamente da construção da fábula* funções ou de regras de constituição da superfí- ção das estruturas narrativas (actanciais) profun-
de um código muito geral das ações humanas (có-
tomada no sentido I.b de matéria) interessou-se cie discursi va, pode-se determinar algumas arti- das e da superfície do discurso onde se situa a
digo actancial), código reconstituído a partir do
primeiro pelas formas narrativas simples (conto, culações da narrativa: cadeia dos acontecimentos (a illlriga*).
texto e encarado em sua forma geral de uma lógi-
lenda, novela) antes de atirar-se ao romance e a É preciso, evidentemente, contentar-se com
ca das ações.
sistemas multicodificados, como a história em uma descrição muito genérica das etapas obriga- d. Frase mínima da narrativa
quadrinhos ou o cinema. O teatro ainda não foi tórias de toda narrativa. Todas as análises giram Na prática, buscar-se-á reduzir a fábula a uma
c. Definição geral da narrativa
objeto de uma análise sistemática, sem dúvida por em tomo da noção de um obstáculo" imposto ao frase mínima que resuma a ação desvendando
causa de sua extrema complexidade (imensidade A definição mais geral da narrativa convém
herói que aceita ou recusa o desafio de um con- as articulações ou as contradições: reencontra-
e variedade dos sistemas significantes), mas tal- àquela da narrativa no teatro: uma narrativa é sem-
flito para sair dele vencedor ou vencido. Quando se aí o método brechtiano para destacar num
vez também porque continua sobretudo associa- pre "sistema monossemiológico (um romance) ou
aceita o desafio, o herói é investido pelo desti- curto enunciado o gestus" da obra: "Todo epi-
do, na consciência crítica, à mimese* (imitação polissemiológico (uma história em quadrinhos,
nadar (isto é, o distribuidor dos valores morais, sódio particular tem seu gestus fundamental:
da ação) mais que à diégese* (o relato" de um um filme), antropomorfo ou não, regulamentan-
religiosos, humanos etc.) e se constitui em sujei- Richard Glocester corteja a viúva de sua vítima.
do a conservação e a transformação do sentido
narrador), enfim e sobretudo porque a narrativa to real da ação (lIAMON, 1974: 139). Por meio de um círculo de giz, descobre-se quem
dentro de um enunciado orientado" (HAMON,
teatral não é senão um caso particular dos siste- é a verdadeira mãe da criança. Deus faz com o
1974: 150). São, por exemplo, as regras de funcionamento
mas narrativos cujas leis são independentes da diabo uma aposta cujo prêmio é a alma de Faus-
da narrativa raciniana descrita por T. PAVEL: as
natureza do sistema semiológico utilizado. Por to" (BRECHT, Pequeno Organon, § 66).
análise da narrativa entende-se não o exame dos 2. Métodos de Análise da Narrativa no personagens "1) são vítimas de amor fulminante;
2) sentem os efeitos da proibição, tentam lutar A busca do gestus da ação obriga a centrar a nar-
relatos das personagens, mas o estudo da nar- Teatro
contra a paixão e pensam às vezes serem bem su- rativa na ação principal e no conflito-mediação que
ratividade no teatro. permite a resolução do contrato do protagonista.
a. Análise em junções ou em motivos cedidas; 3) compreendem a inutilidade desta luta e
sc abandonam à sua paixão" (PAVEL, 1976: 8). A frase mínima da narrativa é mais ou menos
b. Mimese e diégese Quase não é possível - exceto, talvez, em ti- descritiva, fornecendo um cômputo exato dos
Tradicionalmente definido (desde a Poética de pos de teatro muito codificados (farsa, teatro po- A narrati va tem sempre por centro o ponto episódios ou resumindo "metalingüisticamente"
ARISTÓTELES) como imitação" de uma ação, o pular, mistério medieval) - distinguir um número nevrálgico de um conflito (de valores ou pessoas) o movimento. Para Mãe Coragem, teríamos, por
teatro não conta uma história do ponto de vista de fixo de funções (motivos narrativos) recorrentes, no qual o sujeito é levado a transgredir os valores exemplo: Mãe Coragem quer ganhar com a guer-
um narrador. Os fatos relatados não são unificados como fez PROPP (1929) eu: 'lia Morfologia do de seu universo. Graças a uma mediação (inter- ra, mas ela perde tudo. Esta proposição é repetida
pela consciência do autor que os articularia numa Conto, a propósito do conto popular. A ação nun venção externa ou livre escolha do herói), este três vezes, em três variantes de ganho/perda que
seqüência de episódios; eles são sempre transmiti- ca é tão codificada e submetida a uma ordem fixa universo, por um instante perturbado, achar-se-á se resumem a cada vez pela seqüência: perspecti-
dos "no fogo" de uma situação de comunicação de surgimento das funções. finalmente restabelecido. A narrativa mínima terá va do ganho material/perda de um filho.
tributária do aqui e agora da cena (dêixis*).
Contudo, do ponto de vista do espectador que b. Gramáticas textuais do teatro
confronta e unifica as visões subjetivas das di- A gramática do texto pressupõe a existência Fases da Narrativa
versas personagens, o teatro apresenta, na maio- de dois níveis do texto; a estrutura narrativa pro-
ria dos casos, umafábula* resumível numa nar- funda examina as relações possíveis entre os
Sintagma narrativo Universo perturbado + Universo restabelecido
rati va. Esta fábula tem todas as características de actantes num nível lógico, não-antropomórfico

~
uma seqüência de motivos que possuem lógica (modelo actancial*); a estrutura discursiva su-
própria, de modo que urna análise da narrativa é perficial define as realizações concretas das per-
perfeitamente possível contanto que se trabalhe sonagens e sua manifestação no nível do discur- Situação inicial Transgressão Mediação Desenlace
em cima de uma narrativa reconstituída num mo- so. Toda a dificuldade consiste cm encontrar as
delo narrativo teórico (narração»; narrador*). regras que explicam a passagem das macroes-
Fonte: segundo T. PAVEL. 1976: 18.

12 13
A NTITEATRü
A NA LÍ TlCO(A)

A narrati va de Mãe Coragem é portanto con s- te at ro, por sua facul dade de represent ar as coisas, 2 . A aná lise das razões qu e le varam à ca tástrofe pode r test ar imedia tam ente os resultados de seus
tom a-se o úni co objeto da peça, o qu e, e liminan- esforços.
tituída pela seqüê ncia : desejo de ga nho/ perda /I não escapa, em ce rtas for mas, à ti rani a de um a
des ejo de ganho/ perda /I desejo de ga nho/perda . do tod a tens ão" dr am át ica e tod o suspense" , fa -
lógica d a narrat iva. Talvez sej a por co nseq üê ncia
vorece o surgimento de e le mentos épicos *. Ce r- 2 , A s formas de an im ação va riam da discu ssão
de uma reação con tra a insistên ci a de BRECHT e
tos dramatur go s qu e recu sam a form a dramática ap ó s um espetáculo à orga niz ação de um teatro
e. Perspecti va da aná lise da nar rativa dos brechtianos em den unciar a fáb ul a, e e m qu e-
co nstr6em suas obras de aco rdo co m um esq ue- e de um púb lico popul are s (co mo o TNP de Jean
A análise da narr ativa teatral não poderá pro- rer determinar o sentido do tex to , se m preocupar-
ma épico de demon st ração e de acont ecimen tos VILAR, nos anos 50 e 60), à apres e ntação de um a
gredir realmente antes que as hip otecas que pe- se sufic ientemente co m a materialidade e co m os mont agem audiovisual e m sa la de aula ou na te-
passados e âcflash -back" (IBSEN, BRECHT), sen-
sa m sobre a possibilidade e sua es pecificidade j ogos sig nificantes da escritura, que certas ex pe- do o drama apenas um a vasta exposiç ão" da si- levi são, passando por pesquisas num bai rro para
seja m definiti vament e le vantadas. Várias difi cul- riên cias atuais, com o o teatro de Robert WILSON tuaç ão" (po r exemplo , A Noiva de Messina, de pre parar um espetáculo (teatros do Aquarium nos
da des teóricas esperam se mpre um a resolução: o u o B rea d and Puppet , base iam -se preci sam en- SCHILLER, Os Espect ros, 101mGabri el Borkman , a nos 70 ou do C a mp agn ol), até um a ver dadeira
te na vo ntade de entrega r de maneira desorde- de IBSEN, A Billra Quebrada, de KLEIST, A Des- co laboração co m a po pu lação para prep arar a en-
• Passagem das estruturas profundas narrativas
nad a imagens cê nicas se m liga ç ão nece ssári a e conhecida de Arras, de SALACROU). ce nação. A animação fam ilia riza um público ain-
às es truturas superficia is di scursivas
un ívoca. Ai nda qu e se proc urasse e se co nse - da ma l info rma do co m o a pare lho te atr al , dessa-
Isto constitui o obje to das pesqui sas de GREIMAS, guisse construi r pa ra ca da imagem cê nica um a c raliza es te e inser e-o no tecid o social; el a só
3. Inversam ent e, na téc nic a e no dram a sint éti-
1970, BRÉMOND, 1973, PAVEL, 1976. As duas mi n ina rra tiva, a gra nde q ua ntidade e as co ntra- tem pr obabilidade de dar certo se for co nduzida
cos (ou dramaturg ia da fo rma dramática pura), a
extremidades da cadeia são ago ra bastante conhe- d ições das narrativas im pedi ria m a co nstituição ação se desen vol ve e m di reção a um po nto de no âm bito de um a casa de cu ltura, de um teatro
cidas. Resta enco ntrar as regras de transform ação de um a ma cronarr ati va resp on s á vel por uma ló - c hegada desconhec ido na parti da, ainda qu e ne- qu e tenh a um orça men to de ex plo ração satisfa-
ade quadas e es pecificar sua natur eza para cada gica dos acont ecimen tos. Seja como for , a des - cessariamente atingi do pel a lógi ca da fáb ula 'e , tó rio e com uma eq uip e de a ni ma do res que co n-
gênero e, em últim o caso, ca da obra em particular. co berta d as estruturas nar rati vas n ão daria co nta portanto, de certo modo, previ sível. ce ba m o teatro com o um ato tanto pol ítico qu anto
Q ua nto à velh a q ues tão, levantada por ARIS- da riqu eza plástica do es petác ulo . Po r iss o a aná- e st éti co, A animação se tornou tão imp ort ant e
TÓTELES, da prioridade da ação ou das persona- lise da narrativa não é senão uma di sc iplina muito W Campbell, 192 2 ; Szondi, 1956; Green, 1969 ; pa ra o êx ito de um e spet áculo que o en cen ador
gens (Poética, 1450a ), as pesquisas de GREIMAS Strassne r, 1980 . de ve mui tas vezes tran sformar- se e m admi nis-
pa rci al da tea tra log ia" ,
mostraram como se passa paulatinamente de uma trad or , ed uca dor, milit a nte e res ponsáve l pelas
estrutura elementar da sig nificação aos actantes,
depo is aos atores, depo is aos papéis e finalmente
m Bré mond , 1973 ; Chabro l, 19 73 ; Mat hie u,
rel açõe s públicas ; es ta m ult ipli c aç ão de tare fas
ing ratas e abso rve ntes p ro voca consta nte s co n-
1974 , 1986; Communications , 1966, n. 8; Prin- ANIM AÇÃ O
às per sonagens con cretas, Ao invés de elimina r um ce . 197 3; Greima s e Courtes. 19 79 ; Kib édi-Varga, fl ito s com a ativ idade criadora da ge nte de te a-
dos dois termos do par ação /perso nage m, a aná lise 198 1; Segre in Amossy (ed .), 1981 ; Seg rc , 19 84 . :-). Fr .: a n irnat io n , Ing l.: a nima tion; A I. : tro e con tri bui para acentuar ai nda mais o fosso
de verá exa minar no qu e determ inada característi- "l: Animation; E sp .: anima cion, en tre um a arte popul ar ace ssível e u ma arte
ca da personagem age sobre a ação e, inversamen- e litista fec hada e m si me sma. A pal a vra de or-
te, no que determin ada ação transform a a identida- A NA L ÍTI CO( A) (T É C N ICA ..., I. A animação te atral o u cultu ral acompanh a d em de A ntoi ne VITEZ de um " tea tro e litista para
de da perso nagem. hoje a simples criação de es petáculos, para pre pa- tod os" surge com o a busca ainda utópica de um
DRAMA .. .)
rar em profundidade o terreno de uma recepção e qu ilíbrio en tre anim ação e criaç ão pur a.
• Dec u pagern da narrati va dram ática
Não se cons egu iu isol ar outras unidades perti-
t) Fr.: analytique (tec hn iq u e .., dram e ...); Ingl.: mais eficaz dos prod utos cul turais. Esta noção, sur-
a n a l yt ic a l pl a ywri t i ng ; AI.: an a lvt i s ch e gi da na França de nt ro da corrente da desce nt ra -
nent es de narr ação que não aqu el as, artific iais, Tcchnik ; Es p.: analítico (t écnica..., dra ma ... ). lização dram áti ca e da ação cu ltura l, refl et e toda ANTAGONISTA
da decupagem em ce nas ou e m atos. Quan to à a onda da e m presa teat ral de hoje e de sua fun-
distin ção de uma obra e m atos" ou em quadros " ; I . T écni ca dramatú rgica qu e consis te em in tro- ção na soc ieda de : trata-se de c riar lima ce rta a ni- :-). Fr. : a ntagonis t e ; In g l.: an ta g onis t ; AI.:
sem dúvida ela é capita l pa ra d escre ver dois mo-
du zir na ação prese nte o re lato de fatos qu e oco r- mação nos a m bien te s à margem da cultura ou de "t..: Gegenspieler, Antagonis t; Esp.: anta gonista.
dos de abordage m da rea lidade (o dramático* prom over an imações po ntua is ant es ou de po is
re ram antes do início da peça e qu e são ex pos tos,
que ins iste na totalidade indecomponí vel da cur- de um es petác ulo par a "ex plo rá-lo" e m todos os As personagen s antagonistas são as persona-
dep ois de oco rridos , na peça. O exe m plo mais
va que co nduz necessariam ent e ao co nflito ; o se ntidos do te rm o ? Fu ndame ntalme nte, a an i- ge ns da peça em oposição ou e m co nflito" , O ca-
cé lebre é o Édipo de SÓFOCLES: Éd ipo não pas-
épico, brechtia no, pr incip alment e, indica ndo qu e mação e nte nde u q ue o te atro não se red uz à aná- rá ter antago nista do uni verso teatral é um do s prin-
sa, de ce rto mod o, de um a aná lise trágica. Tud o
o real é co nstruído c , logo, tran sfo rmável ). Po - lise de um text o e a s ua e nce naç ão, e sim qu e cípios esse nciais da for ma d ram ática" :
já está a li e se acha desenvo lv ido" (GOETHE a
ré m a distin ção atos/ qua dros não inform a sobre nem toda ino va ção e c riação têm a sorte de se-
SCHILLER, carta de 2 de outu bro d e 1797 ), Vê-se
a pro gressão da narrativa, o en c adeament o das rem correta me nte re ce b idas num cont e xto em ~ . Protago nista, obstáculo, oson
tud o o que uma técn ica pode extrair de um a es-
seq üências ou das funçõ e s, a lógica acta nc ial. qu e o público foi prep arad o para a art e dr am áti-
cri tura que se dá com o rev ela ção da s person agens:
ca. É, port anto , por int ervençõ es em es co las ou
• Na rra tiv iza ção da tca tra lid ade no Édipo Rei de SÓFOCLES, obs erva FREUD, "a
locais de tra b alh o que es ta pol íti ca de animação ANTITEATRO
Apesar do postulado de um a teo ria semiótica da ação da peça não é senão um pro cesso de revela-
deve rá co meçar. Inic ian do os jovens espec tado-
narr ativa independente da manifestação (co nto, ção [...] co mpará vel a uma ps ica ná lise" (A Inter - t) Fr. : a n t i th éãt re ; l ng t.: a n tit heatrc ; AI.:
res no jogo dram át ico ou na leitura do espetácu-
romance, gestua lidade), d eve- se perguntar se o pr eta ção do s Sonhos s. lo, a animação in ve st e num público fut uro, sem Antitheater; Esp.: ant itea tro.

14 15
AN TONO MÁS IA AN TRO PO LO GIA T EATRAL

1. Termo b astante ge nérico para design ar uma 4. Ao invés de uma dout rina estética, o antit eatro poéti co autô no mo . " Um nom e próp rio, escreve E. BARBA e de N . SAVARESE. An at om ia do Ato r:
d ramaturgia " e um estilo de representação que se caracteriza por uma atit ude geral crítica perante R. BARTHES, se mpre dev e ser cuidadosamente Um Di ci on ário de A n tropo logia Teatral (19 85 .
negam tod os os prin cípios da ilusão * teatral. A a tradição: recu sa da imit ação e da ilusão, logo, da questi on ado, poi s o nom e própri o é, se pod em os 1995. 2' ed.), forn ece um a so ma da s pesqui sas
palavra ap ar ece nos anos 50. no início do teat ro identificaç ão " do es pectado r, o ilogismo da ação; fal ar a ssim. o prínc ipe d os s ig nificaotes; suas do ISTA, fi xando o pro grama d a antro po logia
do absurdo. IONESCO dá à sua Canto ra Careca supressão da ca usa lida de em benefício do acaso, co no ta ções são ricas. sociais e s im bó licas" (in teatral : " O es tud o do co mpo rta men to bi ol ógi co
(1 95 3) o s ubtítulo de "antipeça", o qu e provav el- ceticismo ante o poder did ático ou político da ce na, CHABROL. 197 3: 34). e cultura l do homem num a situação de represen -
mente aju dou os críti cos a enco ntrare m o ant i- redução a-histórica do dram a a uma forma ab solu- tação, qu er di zer , do hom em qu e usa sua pre-
teatro (as sim G. NEVEUX in Th éãtre de Fran ce ta ou a uma tipol ogia liter ária existencial; nega ção W Ca rlson, 1983. senç a fí sica e mental segundo prin cí pios dife-
11. 1952, e L. EsTANG em La Croix de 8 de janei- de todos os valo res, em particular aqueles dos Ire- rentes daqueles qu e go verna m a vid a co tid ia na"
ro de 1953, qu e aplica o rótulo à peça de BECKETT: róis* positi vos (o abs urdo se desenv ol ve também ( 1985: 1). Dada a import ân cia da sínt ese de BAR-
Esperando Godot ). com o co ntracorrente do drama filosófi co ou do ANTROPOLOGIA TEATRAL BA e d o ISTA, vo lta re mos longam ent e a es tes
realismo psicol ógico ou soc ial). E sta atitud e esté- prin cípios, ap ós havermos esboç ado as razôes
2. Este tip o de teat ro não é realm ent e um a in- tica e apo lítica de negação absoluta leva par ado- :-+ Fr. : an thropo log ie th éãtralc ; Ingl. : th eat re da e mergênc ia de um pen sam ent o antro po ló gi -
venção do nos so tempo, pois tod a ép oca se m pre xalmente a uma co nsolidação do caráter met afísico, 't.: anth ropology; AI. : Theat er -anthrop ol ogie; co no teat ro. as co ndi ções de êxito e piste mo ló -
inv enta su as co ntrapeç as: assim o teatro de feira Esp.: ant ropologia teatral .
trans-históric o e, portanto, ideali sta do antit eatro, gi co de uma empreitada dessas e a disc u ss ão de
parodia, no séc ulo XVIII , as tragédias clássicas.
o que. em últi ma instân cia. regen era a form a tea- algu ma s de suas te ses.
É co m o futuris mo (MARINETTI) e o sur re alismo A ant ro po logia e nco nt ra no te atro um excep-
tral tradicional qu e o abs urdo e as vangua rdas his-
qu e se faz sentir m ais a recu sa da liter atura. da
tóricas pen savam es tar liq üidando. ciona l te rre no de ex pe rime ntação , visto q ue tem 1. Razões de sua Emergência
tra dição e da peç a bem feita e psi col ógi ca . O
deb ai xo dos se us o lhos hom en s q ue se d ive rte m
teatro est á e ntão ca nsado da psicol ogia , do s d iá-
logos suti s e da intri ga bem amarrad a; não se
W Ioncsco, 1955 . 1962 ; Pronko, 1963 ; Gr irnrn, repre sent ando o utros hom en s. E st a sim ulação a. Rela viti zaç ão das culturas
. 1982. visa ana lisar e mostrar co mo e stes se co mpor-
ac re dita m ais no teatro con sid er ado com o "ins- Nã o data de hoj e a idéi a de consider ar o teat ro
tam e m soc iedade. Col ocando o hom em numa
tituição mor al" (SCIIILLER). O antitea tro se ca- do ponto de vista de um a antropo logia o u de uma
s ituação ex pe rime nta l, o teatro e a a ntro po log ia
rac te ri za por um a atitude crítica e irô nica ant e a teori a da cu ltura. Q uase todos os tratado s de tea-
tr ad içã o. artí stica e so cial. O palc o não é mais
A NTONOMÁSIA teatral fo rne ce m-se os recursos para recon stituir
mi cr o- soci edad es e par a ava lia r o vínc u lo do in- tro têm sua hipot escz inh a so bre as o rige ns do
ca paz de dar co nta do mund o mod ern o , a ilu são teatro. Ta l pen sam ent o genea lóg ico dese mb oca.
e a identificação são ingênu as. A ação não mais -t} Fr.: antonom ase; Ingl. : ant on omas ia ; A I.: d ivíd uo co m o gru po : co mo re pr esentar um ho-
Antono ma sia ; Es p.: antonomas ia. mem a não se r repre se nt ando -o ? Há. calc ula no séc ulo XX. co m ARTAUD. por exe m plo. num
o be d ece a uma causalidade so cial (co mo em desejo de retorno às fonte s. uma no stalgia da s ori-
BRECHT) e , si m, a um princípio de acaso (DÜR. SCH ECllNER. urna convergênci a dos parad igmas
Figura de estilo qu e su bstitui o nom e de um a da a ntropo logia e do teat ro : "Assi m co mo o tea- ge ns. num a co m pa raç ão co m c ultura s di stant e s
RENMATT, IONESCO). O hom em não passa de
personagem por um a per ífrase ou um nom e co - tro es tá se antro po logizando, a a ntropo logia está da c ultu ra oc identa l. A antro po log ia aplicada ao
um fant och e derri s ório, mesm o quand o se tom a
mum que car acteri za aq uela. O "At rabili ário amo- se tea tr ali zan do" ( 1985 : 33). Assi m é o ra ciocí- teat ro (mes mo qu e ela ainda não se den omine as-
por heró i o u s imples ser hum an o.
roso" . o " Avare nto" o u o "Tartufo" são a nto no- ni o . im pecáve l. da antro po log ia teatral. s im ) par ece surg ir na seq üênc ia da co nsc iênc ia
m ásias da s per so nagens de Alce ste, Harp agon ou In feli zm en te . e m ca mpo as co isa s são m uito de um " mal-estar na civilização" (FREUD). de um a
3. Antitea tro é um a denominaçã o "guarda-chu-
Tartu fo. (Neste último cas o, a son oridade é que mai s co m plexa s. poi s se a antro pologia teatral inadequação da cultura e da vida sem elhante àq ue-
va" , mai s j orn alística que cientí fica. Deb aixo dela.
prod uz inco nscient em ent e no ouvi nte a desagr a- pod e pr et ende r e m teo ria o rgan iza r o sabe r da la qu e d iag nos tica Ant on in ARTAUD: " N unca .
cabem tant o form as épicas qu anto o teatro do in-
dável impr essão de um homem meloso e qu e sus- tcatr o logia , e la é, no m ome nto atua l. m ais um q ua ndo é a pr óp ria vi da que se va i. se falou tanto
sóli to e do absurdo " e as formas de teat ro sem
surra suas preces.) toqu e de reuni r o u um desej o de co nhec imento em c ivi lização e cultura. E há um es tra nho para -
ação (Sp rech theater de HANDKE, por exemplo)
O nom e das per sonagen s, quand o é ex pressi- qu e uma di sc iplin a co nsti tuída , m a is um ime nso leli smo entre e ste desm oronament o ge neraliza-
o u os happenings" , Nada indica que a negação
incida sobre a arte em geral ou uma d ramaturgi a vo e des igna e m potência toda a sua psic ol ogi a, é. te rreno inculto (o u um a flor es ta virg e m imp en e- do da v ida qu e es tá na base da desm oral izaç ão
co nsiderada obsoleta. No primeiro ca so, a revol- portant o. um a figura de antonomás ia. Al ém do trável ) q ue um ca m po arado e sist emati cam ente atual e a preocupação com uma cultura qu e j a-
ta teria por objeto, co mo par a os fu turista s e efeito cô mico e do ganho de temp o para informar plant ad o. Este cultivo co meç o u. co ntudo , gra- mai s coinc idi u co m a vida . e qu e é feita par a
dad aístas, a própria idéi a de ativ ida de art ísti ca, e o espectado r sob re a natureza dos ca rac te res, es te ças à ISTA (I nte rn atio na l Sc hoo l of Th e atre reg e nerar a vida " ( 1964b: 9) . A se nsaç ão de ruí-
o teatro ded icari a a destruir- se a si mesm o, como procediment o indi ca desd e o início a persp ectiva A nt hro po logy) de Eu geni o BARBA. qu e progra- na de no ssa cu ltu ra e a perda de um sis te ma de
às vezes COnsegue em PIRANDELLO, MROZEK, do autor. prepara nosso j ulgamento crítico e fac i- m a e s tágios desde 1980 : " A ISTA é o local o nde referên cia domin ant e lev am os hom en s de te a -
BECKETT o u HANDKE. No seg undo caso. trat ar- lita a abstração e a reflex ão a part ir de u m caso se tr an s mit e . se transfo rma e se tradu z u rna no va tro - chame m-se e les IlROOK, GROTOW SKI o u
se-ia apen as de uma "revoluç ão palacian a", de um parti cular da história cont ada. Esta motivação do ped agogia do teatro. É um lab o ratório de pes- BARBA - a uma re lativização de su as antigas pr.i-
protesto fo rma l contra uma no rma es tabe lecida: signo poético reforça o vínculo entre o significante qui sa int erdi sciplin ar. É o âm bito q ue permit e a ticas , se ns ibiliza m-nos para form as te atrai s ex ó
BRECHT faria então parte dela (cf se u desejo de (as ca racterísticas do nom e e da per sona ge m ) e o um g rupo de home ns de te at ro inte rv ir no mei o ticas, e dão -lhe s. so bre tudo . um o lha r e tnológico
um a dr am aturgia anti-arístot él ícav v; bem co mo significado (o se ntido da personagem ): a figura soc ia l qu e o rodei a, tan to por se u trab al ho inte - so bre o ator. Estas e xp eriênci as teat rais vão ao
IONESCO, o qu al declara só faze r antitea tro por- de Tartufo não m ais se dis tingue do se u nome e le ctu al qu an to a trav és d e se u s espe tác u lo s" e ncontro, e m part e . da antro po logia l évi -st ra us -
que o anti go teatro é co nside rado com o o teat ro. de seu disc urso e dá ass im a ilusão de um signo (BARBA . 1982: 8 1). O livro re cent e do mesm o s iana q ue se es for ça para co m pree nde r o hom em

16 17
ANTROPOLOGIA TEATRAL ANTROPOLOGtA TEATRAL

"a partir do momento em que o tipo de explica- um, e que é preciso uma preparação" (ARTAUD, b. Escolha do ponto de vista cultura, mas para introduzir uma oposição entre
ção que se busca visa reconciliar a arte e a lógi- 1964b: 17). Esta preparação para uma linguagem situação cotidiana e situação de representação:
Poder-se-ia pensar, com LÉVI-STRAUSS
ca, o pensamento e a vida, o sensível e o inteli- que recuse as facilidades e o ressecamento man- "Usamos nosso corpo de maneira diferente na vida
(1958: 397-403), que o ponto de vista do antro-
gível" (Claude LÉVI-STRAUSS, Textes de et SUl', da encontrar uma espécie de linguagem cifrada e nas situações de 'representação'. No nível coti-
pólogo se caracteriza pela objetividade, pela to-
Paris, 1979: 186). que seja ao mesmo tempo aquela dos criadores, diano temos uma técnica do corpo condicionada
talidade, pelo interesse dedicado ao significado
para a cena, dos participantes da cerimônia tea- por nossa cultura, nosso estado social, nossa pro-
e à autenticidade das relações pessoais, das re-
b. Insuficiência da lógica racional tral e dos atores que são "como supliciados que fissão. Mas numa situação de 'representação' exis-
lações concretas entre indivíduos. Pois bem, a
Segundo uma tradição outra que não O pensa- estão sendo queimados e ficam fazendo sinais do te uma técnica do corpo totalmente diferente"
antropologia teatral, assim como a concebe BAR-
mento sintomático de FREUD, coloca-se o sím- alto de suas fogueiras" (l964b: 18). Também se (1982: 83).
BA (que, aliás, nunca se refere aos trabalhos de
pode dizer que não é fácil encontrar sua chave ou BARBA parece sugerir que, em representação,
bolo acima do conceito, e com pensadores como LÉVI-STRAUSS) não escolhe o mesmo progra-
que ela queimará quem quiser se apoderar dela. a técnica do corpo muda radicalmente e que o ator
JUNG, KERENYI ou EpADE (1965), ligamo-lo ao ma. Ele não privilegia um ponto de vista exte-
Esta hermenêutica", que desconfia do raciona- não está mais submetido ao condicionamento da
"esforço para traduzir Ó que, na experiência ínti- rior e objeti vo, aquele do observador distante que
lismo e, a fortiori, do positivismo semiológico, cultura. Pois bem, é difícil enxergar o que produ-
ma da psyché ou no inconsciente coletivo, ultra- seria o espectador, ou de um superobservador
gostaria de decifrar uma mítica linguagem teatral, ziria uma tal metamorfose, o que faria com que o
passa os limites do conceito, escapa às categorias que, como o etnólogo, tentaria reunir todos os
chame-se ela hieróglifo (MEIERHOLD), ideogra- ator mudasse de corpo a partir do momento em
do entendimento, o que, portanto, não pode ser dados observáveis. Ao contrário, pela voz de TA-
ma (GROTOWSKI) ou "base pré-expressiva do que muda de quadro. Mesmo em representação,
conhecido, no sentido estrito, mas pode, entre- VIANl (in BARBA e SAVARESE, 1985: 197-206),
ator" (BARBA, 1982: 83). o ator - e sobretudo o ator ocidental- fica à mer-
tanto, ser "pensado", reconhecido através das for- ele confronta duas visões, a do ator e a do es- cê de sua cultura de origem, em particular de sua
mas de expressão onde se insere a aspiração hu- pectador, pois se preocupa com a utilidade das
2. Condições Epistemológicas da gestualidade cotidiana. A própria idéia de sepa-
mana ao incondicionado, ao absoluto, ao infini- observações para o ator, com uma "autêntica
Antropologia Teatral rar a vida da representação é estranha, pois é o
to, à totalidade, isto é, para falar a linguagem da abordagem empírica do fenômeno do ator" mesmo corpo que é utilizado e a representação
fenomenologia religiosa, à abertura para o sagra- (1985: I) e, portanto, com sea feed-back sobre a não pode apagar tudo. Esta discussão do cotidia-
do" (VERNANT, 1974: 229). Esta abertura para o Um certo número de condições deve ser pri- prática teatral: "Quando os semiólogos analisam no e da representação arrisca-se a deslizar para
sagrado muitas vezes é acompanhada de uma volta meiro reunido para que se possa fundar uma an- um espetáculo como uma estratificação densís-
tropologia teatral. uma nítida oposição entre natureza (o corpo coti-
ao religioso, mesmo que ela não se confesse como sima dos signos, eles estão observando o fenô- diano) e cultura (o corpo em representação), opo-
tal; às vezes ela assume, como bem mostrou M. meno teatral através do seu resultado. Entretan- sição que a antropologia se esforça precisamente
BORIE, a forma de uma má consciência da antro- a. Natureza da antropologia to, nada prova que sua atitude possa ser útil para para refutar. Numa outra ordem de idéia, pensar-
pologia ocidental face às sociedades primitivas Distingue-se habitualmente a antropologiafí- os autores do espetáculo, que devem partir do se-ia ter voltado ao tempo em que a estilística
idealizadas e de uma busca da autenticidade per- sica (os estudos sobre as característica fisiológi- início e para os quais o que será visto pelos es- queria a qualquer preço distinguir uma linguagem
dida: "O teatro, antes mesmo de ARTAUD, visto cas do homem e das raças), a antropologiafilosó- pectadores constitui o ponto de chegada" (TA- comum e uma linguagem poética, sem dizer como
cada vez mais não como um espaço destinado à fica (o estudo do homem em geral, por exemplo VIANl, op. cit.: 199). estabelecer o distinguo, Aqui, do mesmo modo,
ilustração do texto e submetido à supremacia do no sentido de KANT: antropologia teórica, prag- Mas o cerne da antropologia teatral de BAR- o corpo em representação é defi nido tautolo-
escrito, mas como local por excelência do conta- mática e moral), e, finalmente, a antropologia BA situa-se na noção de "técnica do corpo" gicamente: o corpo em representação é o corpo
to físico e concreto entre atores e espectadores, cultural ou social (organização das sociedades, (MAUSS) que ele situa, ao contrário de MAUSS, que é representado e que possui propriedades es-
não oferece um espaço privilegiado para experi- dos mitos, da vida cotidiana etc.): "Quer a antro- no "uso particular, extracotidiano, do corpo no pecíficas e diferentes do corpo cotidiano. Pois
mentar um retorno à autenticidade das relações pologia se proclame 'social' ou 'cultural', ela sem- teatro" (BARBA, 19S2: I). bem, a diferença, se se pode fazê-Ia na verdade
humanas?" (BORIE, 1980: 345). O teatro de par- pre aspira a conhecer o homem lOtai considerado, pragmaticamente, continua superficial, e ela não
ticipação*, a busca de um happening* coletivo num caso, a partir de suas produções, no outro, a envolve a apreensão da gestualidade e da presen-
c. Situação da "técnica do corpo"
ou a performance" autobiográfica bebem neste partir de suas representações" (LÉVI-STRAUSS, ça (pois por que reservar esta presença apenas para
1958: 391). A antropologia teatral - principal- Poder-se-ia aqui - como o faz, mas bastante
manancial da autenticidade que permitiria a co- parcialmente, VOLLl (i11 BARBA-SAVARESE, a representação: não se está também mais ou me-
municação teatral. mente a de BARBA - ocupa-se da dimensão si- nos presente "na vida"?).
multaneamente fisiológica e cultural do ator numa 1985: 113-123) - recorrer ao artigo de Marcel
situação de representação. Um programa ambi- MAUSS sobre as "maneiras pelas quais os ho-
c. Busca de uma nova linguagem mens, sociedade por sociedade, de uma maneira d. Busca dos universos culturais
cioso, pois, no estudo do bios do ator, o que é
A busca do sagrado e da autenticidade tem preciso exatamente examinar e medir? Cumpre tradicional, sabem servir-se de seu corpo" (1936). Se a antropologia se atribui por tarefa estudar
necessidade de uma linguagem que não esteja vin- contentar-se com uma descrição morfológica e MAUSS dá inúmeros exemplos colhidos em to- a variedade das manifestações humanas, ela che-
culada à língua natural ou a uma escritura dema- anatômica do corpo do ator? Deve-se medir o tra- das as atividades do homem, mas não menciona ga com muita freqüência à conclusão de que exis-
siado racionalizante: "Quebrar a linguagem para balho dos músculos, o ritmo cardíaco etc.? É pre- o teatro ou a arte e, em todo caso, não os opõe, te, apesar das diferenças, um substrato comum a
tocar a vida é fazer ou refazer o teatro; e é impor- ciso medicalizar a pesquisa teatral? Tais estudos pois, dentro de sua perspectiva, toda técnica - tan- todos os homens, que o mesmo mito, por exem-
tante não acreditar que esta arte deve permanecer foram empreendidos sem que os resultados pos- to cotidiana como artística - é determinada pela plo, volta em lugares muito diversos. LÉVI-STRAUSS
sagrada, isto é, reservada. Mas o importante é sam ser relacionados com outras séries de fatos, sociedade. BARBA toma emprestada de MAUSS propõe uma ref1exão que procure "superar a apa-
acreditar que ela não pode ser feita por qualquer principalmente os elementos socioculturais. (1936) esta noção de um corpo condicionado pela rente antinomia entre a unicidade da condição

18 19
ANTROPOLOGIA TEATRAL APAZIGUAMENTO FINAL

humana e a pluralidade aparenIemente inesgotá- da origem das línguas. O debate está encerrado Entretanto, elas se baseiam quase que exclusi va- Ao contrário, o aparte reduz o contexto sernân-
vel das formas sob as quais a apreendemos". desde a lingüística estrutural. Mas uma inquieta- mente nas tradições orientais e não elucidam real- tico àquele de uma úniea personagem; assinala
Uma preocupação análoga guia GROTOWSKl, ção semelhante agitou e continua a agitar as re- mente o comportamento do ator ocidental, dei- a "verdadeira" intenção ou opinião do caráter,
que chega à conclusão de que "a cultura, cada cul- flexões sobre a origem do teatro (cfNIETZSCHE, xando pensar que também poderiam incluí-lo. Há, de modo que o espectador sabe a que ater-se e
tura em particular, determina a base objeti va so- 1872), a propósito das origens do teatro, do pré- sem cessar, uma variação não só quanto aos fun- pode julgar a situação com conhecimento de cau-
ciobiológica, visto que cada cultura está ligada às teatro" que o precedeu (SCHAEFFNER, in Ency- damentos epistemológicos da investigação, mas sa. No aparte, na verdade, o monologuista nun-
técnicas cotidianas do corpo. Então, é importante clopédie des Spectacles, 1965). Qualquer que seja também quanto a seu objeto exato. Também se ca mente já que, "normalmente", não engana-
observar o que continua constante face à variação a datação do surgimento do teatro, concorda-se em pode lamentar que não se faça maiores referên- mos voluntariamente a nós mesmos. Estes mo-
das culturas, o que existe como transcultural" (in ver aí uma secularização progressiva de cerimô- cias a "verdadeiros" antropólogos como LÉVI- mentos de verdade interior são também tempos
BARBA e SAVARESE, 1985: 126). nias ou de ritos. Resta determinar se ele conservou STRAUSS, TURNER (1982), LEROl-GOURHAN mortos no desenvolvimento dramático, durante
BARBA compartilha este universalismo com um rastro desta origem ritual em suas formas mo- (1974) ou JOUSSE (1974). Não é menos verdade os quais o espectador formula seu julgamento.
seu mestre, GROTOWSKI, pois, para ele, os tea- dernas. Mesmo espíritos muito próximos, como os que a antropologia teatral, e sobretudo aquela de
tros não se parecem em suas manifestações, mas de BENJAMIN e BRECHT, opõem-se sobre este as- BARBA e de seus colaboradores do ISTA, consti- 2. A tipologia do aparte se superpõe àquela do
em seus princípios. O livro contém um rico mate- tui a resposta mais sistemática e ambiciosa à
sunto. Para BENJAMIN, toda obra de arte, mesmo monólogo: auto-reflexividade, conivência com o
rial iconográfico que visa mostrar analogias en- teorização política de um BRECHT ou ao funcio-
"na era de sua reprodutibilidade técnica" (de acor- público, tomada de consciência, decisão, dirigir-
tre posturas e gestos de atores que pertencem às nalismo da scmiologia",
do com o título do ensaio de 1936), "encontra se ao público"; monólogo interior etc.
tradições teatrais mais diversas.
fundamento no ritual no qual ela teve seu valor
BARBA na verdade descobre o elemento trans-
de uso original e primeiro. É inútil que este fun- 6:). Etnocenologia, etnodrama, teatro antropoló- 3. O aparte é acompanhado por umjogo cênico
cultural no "nível pré-expressivo da arte do ator" ~ gico.
damento seja mediatizado de todas as maneiras capaz de torná-lo verossímil (afastamento do
(1985: 13), na presença (principalmente dos ato-
possíveis, reconhecemo-lo mesmo nas formas ator, mudança de entonação, olhar fixo na sala).
res orientais) "que atinge o espectador e obriga- ~ Eliade, 1963, 1965; Esprit, novo 1963; Drama
mais profanas de beleza, enquanto ritual secula- Certas técnicas lhe permitem ao mesmo tempo
o a olhar para ele", um "núcleo de energia, uma Review, I. 59, set. 1973, t. 94, 1982; Brook,
rizado" (1936: 20). "passar a ribalta", e, portanto, ficar verossímil
radiação sugestiva e sábia, mas não premedita- 1968; Durand, 1969; Barba, 1979; Borie, 1980,
da, que capta nossos sentidos". "Ainda não se Para BRECHT, ao contrário, a emancipação do embora dando-se a reconhecer como procedi-
1981, 1982; Innes, 1981; Pradier, 1985; Slawinska,
trata de 'representação' nem de 'imagem' tea- culto foi completa: "Quando se diz que o teatro é 1985; Pavis, 1996. mento: refletor voltado para o monologuista, voz
tral, mas da força que brota de um corpo enfor- originário das cerimônias do culto, afirma-se, of], iluminação atmosférica diferente etc.
mado" (1982: 83). sem mais, que é saindo delas que ele se tornou Só uma concepção ingenuamente naturalista
teatro; ele não mais retomou a função religiosa
BARBA, acompanhando GROTOWSKl (1971: APARTE da representação pôde contribuir para criticar o
91), desconfia da intencionalidade do ator, de dos mistérios, mas pura e simplesmente o prazer uso do aparte. A encenação atual reencontra suas
seu desejo de expressão para significar esta ou que nele encontravam os homens" (Pequeno virtudes: poder lúdico e eficácia drarnatúrgica.
~ Fr.: aparté; Ingl.: aside; AI.: Beiseuesprechen;
aquela coisa. Ele escolhe, portanto, pegar o ator Organon, § 4).
"t.; Esp.: aparte.
antes desta expressão, precisamente no nível pré- O que BRECHT não parece admitir aqui é a 61,.
~ Solilóquio, discurso, palavra d o autor, epico.
' .
expressivo, que pode por isso ser considerado incessante dialética do sagrado e do profano, as Discurso da personagem que não é dirigido a
universal, como "a força que jorra de um corpo possibilidades de ressacralização do teatro, ma- um interlocutor, mas a si mesma (e, conseqüente- r t» Larthornas, 1972; Gulli-Pugliati, 1976; Pfister,
enformado (1982: 83) ou as fontes (ou origens nifestas a partir de ARTAUD, BROOK ou GRO- mente, ao público). Ele se distingue do monólo- ~ 1977.
do homem) que se encontram na base das dife- TOWSKI, c que foram postas em evidência pela go por sua brevidade, sua integração ao resto do
rentes culturas teatrais e que explicariam, como antropologia religiosa de um Mircea ELlADE.
diálogo. O aparte parece escapar à personagem e
as técnicas pré-expressivas, "o jorro do poder Poder-se-ia mesmo dizer, com Paul STEFANEK APAZIGUAMENTO FINAL
ser ouvido "por acaso" pelo público, enquanto o
criativo" (1985: 124). Qualquer que seja a me- (1976), que o teatro nunca saiu verdadeiramente
monólogo é um discurso mais organizado, desti-
táfora - força jorrante, fonte, núcleo de energia, do culto, já que o culto era desde o início tea- nado a ser apreendido e demarcado pela situação ~ Fr.: apaisement final; Ingl.: final resolution;
pré-expressividade - podemos nos perguntar se trali za do . Assim voltar-se-ia à fórmula de "t..: AI.: AUjIOSUllg des Konflikts: Esp.: solucion
dialógica. Não se deve confundir a frase dirigida
este "corpo enformado" já não é expressivo, SCHECHNER sobre a teatralização da antropolo- pela personagem como a si mesma e a frase dita final.
mesmo que esta expressividade seja não-inten- gia e a antropologização do teatro, fórmula circu- intencionalmente ao público.
cional e não-comunicativa. Pode-se não comu- lar e temporal. De acordo com as concepçôes da dramaturgia
nicar? A situação de representação não é uma clássica", o drama só pode ser concluído quando
/. O aparte é uma forma de monólogo*, mas tor-
comunicação da comunicação? b. Limites e perspectivas na-se, no teatro, um diálogo" direto com o pú- os conflitos" são solucionados" e o espectador
Todas essas considerações antropológicas, blico. Sua qualidade essencial é introduzir uma não se faz mais perguntas sobre a seqüência da
3. Outras Perspectivas reavivadas pela ret1exão de BARBA, tiveram o modalidade diferente daquela do diálogo. O diá- ação. Esta sensação de apaziguamento é produzi-
mérito de questionar faces inteiras da estética oci- logo sc baseia na troca constante de pontos de da pela estrutura narrativa que indica claramente
a. Retomo à questão das origens dental, como a identificação da psicologia do ator, vista e no entrechoque dos contextos; desenvol- que o herói chegou ao termo do seu percurso; ela
Uma das obsessões da antropologia filosófi- a ilusão e a caracterização, noções que domina- ve o jogo da intersubjetividade e aumenta a pos- é completada pela impressão de que tudo retomou
ca, principalmente no século XVIII, foi a questão ram a reflexão teórica de ARISTÓTELESa BRECHT. sibilidade da mentira das personagens entre si. à ordem - cômica ou trágica - que regia o mundo

20 21
AP L AU SO A R IST OT ÉLI C O

antes do início da peça. O apazig uamento está chada a co rtina. para não estimular número s de ato- va lores tradi ci on ais ; "o homem não é mais artis- 1. Re sumo da história cont ad a pel a peça, o ar-
a ss im ligado seja ao " a lí vio cô mico" (com ic res o u e fe itos de encena ção , e só agrad ecer aos la, e le se torn ou o bra de art e" ( 1967: 25). gu me nto (ou expos i t io a rg urn enti'[ é forn ecid o
reliej) . sej a à ju stiça transcendente do universo arti st as em blo co, terminado o espetác u lo, mes- Ap olín eo e di oni sí ac o, ap esar de - ou melh or , antes do iníc io da peç a prop riament e dita para
trági co*: "Ajustiça eterna, dada a natureza racio- mo que tenha de convocar, para a circunst ância, por ca us a de - su a natureza co ntrária, não pode - informar o p úblico sobre a história qu e lhe vai
nal de seu poder, prop orciona-nos um apazigu a- o s ato res, o en ccnador, o cen ógr afo, até me smo o riam e xistir um sem o outro ; el es se complet am se r co ntada, prin cipalmente no ca so do resumo
ment o, mesmo quand o nos faz assistir à perda dos aut or , se e le ou sar aparecer. no trabalh o criador , d ão o rige m à arte gr ega, e, e m fran cês de um a peça e m lat im (na Id ade Mé-
indivíduos engajados na luta " (HEGEL, 1832). Os aplausos são, às vezes, literalment e, e nce- de maneira mai s ge ra l, à h ist ória da art e. Es ta di a). CORNEILLE, na ed ição d e 1660 de seu tea-
Quando o dramaturgo se recu sa a prop or um naçã o . Em tod os os temp os, os em pres ário s de tea- op osição não coi nc ide totalment e com os an ta- tro, preeed eu cada urna de suas peça s de um ar-
fim harm onios o, ele optará às veze s por fazer tro pa garam os serviços de claques profissionais go nismos classi ci sm o/ romanti smo, técni calins- gu me nto .
intervir um deux ex m a china " (mais ou menos piraç ão , forma de purad a/conteúdo exuber ant e ,
para levar o públi co a apre ciar o es petác ulo . Quan- ARISTÓTELES sugere ao dram aturgo fazer do ar-
preparado pela peça ) ou ent ão co ncl uirá pela im- f o rma f echada/f orma a be rta . Entretanto , e la
do d as saudações ao públi co, as entrad as e saídas gumento o ponto de partida e a idéi a geral do dra-
reut ili za e reestrutura certas ca racterísticas con -
possibilidade de resol ver correta e harmoniosa- do s comediantes muitas vez es foram en saiadas e m a: "Quer se trate de assuntos já trat ados ou de
tradit óri as da art e oe ide ntal d as quais o teatro é
mente o conflito (BRECHT no final de A Alma est e ritual foi então posto em cena, por e xe mplo, ass untos que a pessoa me sm a eomponha, é preci-
apenas um cas o de es péc ie . Urna tipologia dos
Boa de Sé- Tsuan, 1940 ). com ator es que continuam a repr esentar sua perso- so , antes de mais nada , estabelecer a idé ia geral e
estil os de enc en aç ão e nc o ntra ria se m dú vid a e s-
nagem ou a fazer um núm ero cô mico (recurso con- só depoi s fazer os epi sódi o s e desenvol vê-los"
sa s ten sões: assim a o posição e ntre um teatro da
~ Solução, solução final, desenlace, desfecho. test ável de co locar os qu e riem a se u fa vo r). (Poética, § 1455 b ). Em seg uida. o poe ta poderá
cruelda de" , de in spiraçã o di on isíaca , (como o
m Poerschke, 1952; Goffrnan, 1974.
esb oçou ARTAUD) e um te atro " apolíneo" qu e
co ntro la ao máximo se u fun cion amento, co mo
estruturar a fábul a em e pisód ios , precisand o no-
mes e lugar es. Refl etir desde o iní cio sob re o ar-
APLAUSO aq ue le da práti ca brechtian a. gu me nto obriga a fal ar de verdades e conflitos
universais, a privilegiar a filosofia e o geral às
-t) Fr.: applaudissement; Ingl. : applause; AI.: APOLÍNEO E DIONISÍACO cus tas da história e do particular (§ 1451 b).
Beifa ll; Esp.: aplauso.
ÁREA DE ATUAÇÃO
~ Fr.: ap ollinien et di onys iaque ; Ingl. : Apollinian 2 . Sin ônimo àe f ábula" , mytho s" ou ass un to, o
O apl auso no se ntido es trito - o fato de bater "t..:an d Dionysiac; AI.: das Apollinis che und das arg um ento é a hi stóri a rel at ad a , recon sti tuída
D ionysische ; Esp.: apo line o )' dionisíaco. ~ Fr..: aire de jeu; ~n g l. : p la vi ng ,arca ; A!.:
palm as - é um fenôm eno basta nte uni versal, Ele
"t..: Sp ietflãche ; Esp.: area de a ct uacion , dent ro de urna lógi ca do s aeonteci men to s, o sig-
ates ta, em primeiro lugar. a reação quase física nifi ca do da fábula (histó ria co ntad a) que se oporá
do esp ectador" que, dep ois de uma imobilidade E m O Nascime nto d a Tragédia ( 18 72),
Porçã o do espaço" c do lugar teatral no qu al a se u sig nifica nte idiscurso" cantant e). Certos
forçada , libera sua energia. O aplauso sempre teve NIETZSCHE op õe dua s tendên cia s da arte grega
e volu em os ator es. Todo e sp et ácul o é levado, por gê ne ros teatrais corno afar sa* ou a Co mmed ia
uma função fática. e le diz: " Eu os recebo e os das qu ais ele faz princípios antité tieo s de tod a arte.
sua pr ática. a delimitar seu perímetro de atu ação, de l/ 'a rte * utilizam o argum ento (o ca nevasr y
aprecio". E diz tamb ém , num movimento de ne- Su a a nálise visa destacar as forças impulsivas e
o qual forma um es paço simbóli co invi ol ável e co rno texto básico a partir do qual o s ato res im-
gação" : " Eu rompo a ilusão , para dizer-lhes que mold ant es da criação artística se gundo a s quais
infr anqu eável pel o púb lico , mesmo que este sej a pr o visam. Às veze s o ar gum ento é ap resentado
vocês me dão prazer ao me dar ilusão". O aplau- tod a a rte evolui . co nv ida do a in vadir o di sp ositi vo cên ico. A par- s o b a form a de uma pant omim a: a ss i m, e m
so é o encontro desarm ado e ntre o espectador e o a a po lí neo é a arte da medida e da harmoni a, tir do mo me nto que os ator es tornam posse fisi- Ham let, a pantomima preced e o s di ál ogos da
arti sta. para além da ficção. do autoco nhec irnento e dos seus limite s. A im a- ca ment e da área de atuaç ão, o es paço passa a se r ce na do en venen am ento.
O hábito de aplaudir os ator es é muito antigo. ge m d o esculto r dand o form a à mat éria , figu- " sagr ado", porque simbó lico de um local repre-
Os gregos haviam mesmo pre visto um pequeno ra ndo o real e absorve ndo -se na co nte m plação se ntado. As evo luções ges tua is dos atores es-
d a image m e do so nho impõe- se com o arq uéti- 3. C omo para fá bula, às vezes en cont ram os ar-
deu s enca ntador par a esta ati vid ade: Krotos. O trutura m este "e spaç o vazi o" (BROOK, 1968) ,
po d o apolíneo, forma artísti ca submetida ao li- gume nto nos dois sentidos de I) hist ó ria co n ta d a
costume de bater as mãos é corr ente em toda a mobili ando-o e per correndo-o . A área de atu ação
m ite do sonho e ao princípio da individualização. (fábu la corn o matéria) e de 2 ) discurso cantante
Europa do século XVII . Em cert as culturas, o pú- é assim es truturada pelo gesto o u mesmo apen as
A arqu itetura dóri ca . a música ritmada, a poesia (fábula com o estrutura da nar rativa). Parece mai s
blic o manifesta sua apro vação por gritos e asso- pelo o lhar do ato r. Es ta estruturação cheg a às ve-
in gênua de HOMERO e a pintura de RAFAEL sã o de acordo co m o uso reser var ao a rgu me nto o sen-
vios. Toda via, ex iste uma polêm ica para saber se zes a urna oc upação codifica da e marc ada da ce na:
a lgu mas de suas manifesta ções. tid o de histór ia contada, indep endent e e ant e-
se pod e aplaudir durant e a representa ção e. por- c riaçã o de partidos e de casas no tabulei ro das
O di oni sí aco não é a an arquia da s fes tas e or- riorment e à orde m de apr esent açã o, isto é, da in-
tanto, romper a ilusão . O aplauso é, na verd ade, rel ações humanas, materi ali zação da s " hab ita -
um elemento de distanciamento, uma inte rvenção g ias pa gãs ; ele é consag rado à embriagu e z, às ções", dos territóri o s ou dos cl ãs. triga* (ex .: o argumento de Berenice rel atad o por
da realidade na arte. At ualme nte, constata-se que for ças in cont rol ada s do hom em qu e renascem RACINE no seu prefácio).
o público burguês apl aude de bom grado, co m a qu ando da prim avera, à natureza e ao indivíduo
maior boa vontad e , " seus" atores e seus ditos es- rec on ciliados. É a arte da mú si ca sem forma ar- ARGUMENTO
piritu osos, ou mesm o o cenário no início do ato, ti cul ad a e qu e produz o ter ror no ou vinte e no ARISTOTÉLICO (T E AT RO ... )
e qu e, freqüent ement e, ele inter vém durant e o es- e xec uta nte. Em vez de urna c n fo rm a ção , e le apr e- ~ (Do latim argu m en tum, coisa mostrada, dada ,
pet áculo de boulevard o u da Co m éd ie-Fra nçai se, se nta ape nas um so frime nto e uma resson ância "t..: exposta.) ~ Fr.: aristot élicicn (th éâtre... ); ln gl.: A ristotelian
enqu anto o públi co mai s intelectu al e "van guar- primit ivo s. Ne le, o hom em se se nte co rno um Fr.: argumelll; Ingl.: p /OIo utli ne; AI.: Inhaltsangabc : "t..: theatre; AI.; a ristote lisch cs Th eater; Esp.: aris-
dista" só manifesta se u entusiasmo uma vcz fe- deu s ao rej eit ar qualque r barr eira e inve rte r os Esp.: argumento. tot élico (teatro...).

22 23
A R QU TI ~: P O ART E TEATRAl.

1. Term o usad o por 8RECHT e retom ado pe la crí- A cr ítica literári a (FR YE, 1957 ) ap o ssou- se mação d o corp o, ver ; Michel JOURNIAC (1 94 3- par ci almente de um compon ent e desta afie . Na
tica para desi gn ar uma dramaturgia ' qu c se vale de sta noçã o para de svendar, para a lém da s pro- 199 5] e Ving t-Qua tre Heure s de la \lic d 'un e verdade, arte vis ua l por exce lência. es paço de voyc u-
de ARISTÓTELES, dram aturgia basea da na ilus ão" duç ões poéticas, um a re de de mitos qu e têm o ri- Fcm me Ordinaire-« Vnue e Qu atro Ho ra s da Vida rism o inst itucion al izad o , o teat ro fo i. tod a vi a, "rc-
c na ide lllifi cação'. O term o tomou- se sinônimo ge m num a visão co letiva . E la busca o rast ro de di' /Imo Mulher Co m/lm .) du zid o" co m mu ita freq üê nc ia a um gê nero lite-
de teatro dram ático ' , teatro ilu sion ista ' o u tea- imagen s recorrent es re vel ad o ras da exper iênc ia e rário, a arte dr am át ica , cuja parte es petacula r era
tro de ide ntifica ção . da criação human as (a falt a, o peca do, a mort e, o co nside rada, desd e ARISTÓTELES, co mo acessó-
desej o de poder c tc .), ARTE DRAMÁTICA ria e necessari am ente submissa ao texto .
2. 8R ECIl T id entifica (equi vocad am ent e ) es ta A es ta d isp er são das formas teat rais e do s gê-
carac terís tica unicam ent e à concepç ão aristo télica:
ele se o põe à dr amaturgia que bu sca a ide nti fic a-
2 . Um estudo tip ol ógi c o das pers on agen s' dra- -e FI.: a rt d ramatique; Ingl.: dr am atic a rt; AI.: nero s dr am áti cos co rrcs po nde um a igu al di ver si-
mática s revela que ce rtas figuras procedem de uma d rama tisc he Kunst ; Esp.: artc dram ático. dad e de co nd ições materi ais, soc iais e es té tica s
ção do especlador a fim de provoc ar nele um efei to da e mprei ta da teatral : qu e vínc ulo hav eri a, por
visão intuitiva e m ítica d o hom em e qu e e las re-
cat ártico " ; impedi ndo toda e qu alqu er atit ude crí- . A ex pressão é freqü ent em ente em pregada no exemplo. e ntre um ritu al primiti vo, uma peça de
metem a co mplexos ou a co mpo rtame ntos uni ver -
tica. Con tud o, a identificação é apen as um do s se nt ido bastante gené rico de " teatro " , para de - boule vard, um mi st éri o med iev al ou um es pe tá -
sais. Dentro de st a ordem de idéias, poder-se-ia fa-
critério s da doutrina aristotélica. É preci so j untar sig na r ao me sm o tempo a pr áti ca artí s tic a ( faze r cu lo da trad ição ind ia na o u chinesa? O s sociólo -
lar de Fau sto , Fcdra o u Éd ipo co mo per son agen s
a el a o respeito pelas três unida des ' (princ ipa l- teatro ) e o conj unto de peç as , text os, lit eratura gos e antrop ól o gos tê m bast ante difi culdad e e m
arq uétipicas . O int eresse de tais per son agen s é
ment e a coe rência' e a unificação da ação), o d ram ática qu e se rve de base escrit a para a re- es cl arece r as mot ivações da nece ssidade de tea-
ultr apas sar ampl am ent e o estrei to âmbito de suas
papel do destin o e da necessid ad e na a prese nta-
situaçõe s parti cul ar es segun do os diferent e s dra- pr esentação ou para a en cen ação. A arte dramá- tro no ho mem . El es têm citado sucessi vam ent e -
ção da fábul a: a peça é construída em torn o de ou sim ulta nea me nte - o desejo mirn étic o , o gosto
maturgos para e levar-se a um model o arcaico uni- tica é portanto um gêner o no se io d a lit er atura e
um co nflito, de uma situação " bloq uea da " (" ata -
versal. O arquétipo se ria port ant o um tipo de per- uma prática ligada ao jogo do at or qu e c nca r na pel o j ogo na c ria nça e no adulto, a funç ão ini cia-
da" ) a se r resolvida (nó', desenlace' ).
sonagem particularmente gen éri co e recursivo o u mostra uma personagem para um público. dora do ce ri mo nia l, a necessidade de contar his-
dentro de uma obra, um a é poca ou dentro de to- tórias e de zo mba r impunemente de um estado d e
3. Seri a igu almente errôneo as simil ar teat ro
das as literaturas c m itol o gi as. Essência do teatro, especifi cid ade, teatralidadc, sociedad e, o prazer experimentado em se m et a-
anti aristo té lico e forma épica": o uso de técn i- etnocenologia . morfosear no ator. A o rigem do teatro seria ri-
c as épicas não garant e automaticam ent e um a
Cl " Tipo , estere óti po , modelo actancia l, an tropo- tual ' e rel igiosa, e o indivíduo, fundid o no g ru po,
atitude crí tica e tran sformadora do es pec ta do r.
~ logi a teatr al , emp loi , a::i Arnold, 1951 ; Villiers, 195 1; Aslan , 196 3. part icip ar ia de uma ce rimô nia, ant es de del eg ar
Reci proea me nte , o utras form as teatrai s po dem
pouco a po uco e sta tare fa ao ator ou ao sacerdo-
se r esboça das na estei ra de um a dr am atu rgia
ca t ártica se m qu e por isso as faculdades do es-
W Jung, 1937, 1967; Slawinska , 1985. te; o teatr o só se dcspr ecnd cri a paulatinam ent e
ARTE TEATRAL de sua essê nc ia mágic a e religiosa , tomar -se-i a
pec tador fiq ue m par ali sad as ( Livi ng T heat rc).
-e FI. :
suficien temente fo rte e a utôno mo para e nfre nta r
O dr am atu rgo não tem qu e us ar se rvi lme nte o
mol de aris to té lico para produzir fort es efe itos
ARTE CORPORAL (I r! th éãtral : In gl .: th eatre a rt ; A I.: esta socieda de : daí as difi culdades históri cas qu e
Th eat crkun st; Esp.: arte teatral .
e
ca rac teriza m sua rel ação co m a aut oridad e, co m
cat árticos .
~ r. : art co /po rei ; ln gl. : body a rt; AI.: bodyart; a lei , até me sm o com se u sim ples dir eit o de cid a-
C'" Esp.: a rte corpora l, Arte teatral é um a aliança de palavra s qu e co n- de. Qua lquer q ue seja o va lor dessas teo rias, o
'~ Brecht iano, forma fechada e forma aberta.
té m e m ge rme todas as co ntradições do te at ro : é teat ro de hoj e não te m m ai s nad a a ve r co m essa
A body art o u arte co rpo ra l "é men os um mo- um a arte aut ôn oma qu e tem suas própri as lei s e o rige m cúltica (exceto e m algumas expe riê ncias
L::::i Luk ác s , 191 4 . 19 75 ; Ko m mere\l , 1940 ;
qu e possui um a especificidade' estét ica? O u não
Kesring. 1959; Benjamin, 1969 ; Brec ht, 1963 , vi me nto do que um a atitu de , um a visão de mun- de ret orn o ao mit o o u ir ce rimô ni a que bu scam ,
1972; Flashar, 1974. do , um a visão d o pap el q ue o artis ta de ve desem- passa da res ulta nte - síntese , cong lo me ra do o u na seqüência de ARTAU D, a pur eza o rigi na l do
penh ar" (NORMAN, 1993; 169). Ela co nsis te em j us ta posição - de vá rias artes co mo a pintura, a ato teatral). E le se di ver sificou a pon to de res -
usar o próprio corpo par a infli gir-lh e sevíc ias, de poes ia , a arqu itetura, a m úsica, a dan ç a e o gest o ? ponder a inúme ras no vas funçõ es estét icas e so-
man eira a tran sgredir a front ei ra entre o real e a Os doi s pontos de vista coexistem na hi stóri a da c iais . Se u desen vo lviment o es tá intim am ent e li-
ARQU ÉTIPO
simulação, a lev ar o públic o o u a po lícia a rea gir, est ética. M as há que se que sti on ar primeiro su as ga do ao da consciênc ia soc ial e tecnol ógi ca : não
e (Do grcg? arc hetypo s, model o prirnit ivo .)
Fr.: a rchétype; Ingl.: archetyp e; AI. : A rchety»:
a protestar co ntra g ue rras o u massacre s . Já no s
anos 20, com MARINETTI, DUCIlAMP o u Dada,
o rig e ns c sua tradição oci de nta l. se prevê peri odi camente se u iminente desa par e-
c ime nto d iant e da e x pans ão dos meio s de co mu-
Esp.: arquet ipo . ma s sobretudo duran te os anos 60, el a usa a for- I. Origens do Teatro nica ção e das artes de ma ssa?
ma da performance" o u d o liappening", e flerta
1. Em psicologia junguiana, o arqu étipo é um também com as aparên ci as enganosas na repre- A infinita riqueza da s formas e tradições tea- 2. A Tradiç ão Oc idental
co nj unto de disp osições adquiridas e univ er sais se ntação da morte e d o sofrime nto, sej a com o tra is, ao longo da históri a, torn a impossível uma
do ima gin ári o humano. Os arquétipos estão co n- But ô de origem japon esa, o u co m grupos como o definição, mesmo que ba stant e genéric a, da arte Se a q ues tão da ess ência" e da especifi cid ad e
lidos no inco nsc iente coletivo e se man ifest am Fura dei s Baus ou numa e stética punk co mo a do teatral . A etimologia da palav ra g rega th catron, da art e teatr al se m pre tem algo de ideali sta e d e
na co nsciê nc ia dos ind ivídu os e dos povos por Royal de Luxe, ressurgên ei a pós-m odern a do bom qu e designa va o lugar o nde ficavam os es pec ta- metafísico, he m dista nte da realidade das prát i-
me io dos so nhos, da imagi nação c dos sí mho los. e ve lho Grand -Gu ign ol. (A prop ósito da tran sfo r- do res para ve r a representação , d á co nta a pe nas ca s teatrais, pode- se pcl o menos enumerar , par a

24 25
A RT E T EAT RA L A RTE S DA REPR E SE NTAÇ Ã O

nossa trad ição ocid ental , algun s traços caracte- A distinção e a hierarqui a entre os gê neros nada teatral' (BRECHT). As a rtes cê nicas SÓ existe m e A s artes da ce na es tão ligadas à apresentação
rísti cos desta arte, dos gregos aos nossos dias. A têm de co ngelado e de definit ivo, co mo o preten- só s ignificam em su as difer en ças ou e m suas con - direta, não adiada ou apr eendida por um meio de
noção de arte difere da de anesanato, de técnica dia a poética clássica, baseada nu ma visão nor - tradi ções (cf BRECHT, Pequen o O rgOlIOII, § 74). co m u nic ação, do produto artísti co . O equivalen-
o u de ritu al: o teatro , mesmo qu e tenha à disposi- mati va dos gê neros e de suas funções soc iais. Toda A encenação faz trab alh a r a ce na co ntra o texto, a te inglês ipcrforming arts ) d á bem a idéia fund a-
ção várias técnic as (da interpre tação, da cenogra- a a rte teatral contemp orânea desm ent e es ta tri- música co ntra o se ntido lin güísti co , o gcs tual co n- mentai destas artes da ce na: e las são " perfor-
fia etc.) e que se mpre possu a uma parte de ações parti ção teatro/poesia/ rom ance. Do mesmo modo, tra a música ou o te xto etc . mad as", c riadas diretam ent e, hi c et IIUII C , par a um
pre scrit as e imutáveis, ultrapassa o âmbito de cada a polaridade tragédia -comédi a, qu e também se públi co qu e assis te (a) a representação: o teatro
um de seus co mponentes. Ele sem pre apresenta e nco ntra na dupla tradiç ão dos gê neros "nobres" 4. Especificidade e Limites da Arte falad o , ca ntado, danç ado o u m imi cad o (ges tual),
um a ação (O U a repre sentaçã o mim ética de uma (tragédia, alta comédia) ou "vulgar" (fa rsa, gran- o bal é, a pantomim a, a ópera são os exemplos mais
Teatral
ação ) gr aças a atores que encarnam ou mostram de es pe tác ulo) , perde sentido eo m a e vo lução das conhecid os. Pou co im po rta a form a do palc o, e a
person agens para um público reunido num tem- rel açõe s soc iais que estavam na ba se dessa s dis- rel ação palc o-pl atéia (rela ção teatral' ); o qu e
Um rápid o sobrevôo do s escr itos sobre teat ro
po e num lugar mai s ou men os organizados para tinções de classe. co nta é a imediatidade da co m u nicação com o
mostra que nenhum a teoria es tá e m co nd ições de
reeebê-Io . Um texto (ou uma ação), um corpo de pú bli co por interm éd io dos performers r (atores,
redu zir a arte teatral a com po ne ntes necessários e
ato r, um a cena, um espeetador: es ta parece ser a 3. O Teatro Dentro de um Si stema das dan çarinos, canto res, mím ico s ctc .).
sa tis fató rios. Não se pod e ria limit ar esta arte a
ca de ia obrigatória de toda co municaçã o teatral.
Artes um conj unto de técni cas; e a práti ca se encarrega
Ca da e lo desta cade ia assume, co ntudo, formas
de ampliar incessantem ent e o hor izonte da cena :
~ . Arte da representação, arte teatral, teatralidade.
mu ito diversas: o texto é às vezes substituído por
a . A maioria do s teóri cos es tá di spo st a a convir p rojeção' de diapositivos ou film es (PISCATOR,
um estilo de j ogo não-literário, me smo que se trate,
que a arte teatral dispõ e de tod o s os recursos ar- SVOBODA), expansã o do te atro para a escultura
aí, de um texto social também fixo e legível: o
tísticos e tecnológicos eo nhee idos numa deter- (Bread and Puppet), a dança e a mímica, a ação ARTES DA REPRESENTAÇÃO
corp o do ator perde seu valor de pre sença hum a-
na qu and o o encenador faz dele uma "super -ma-
rionete", ou quando é substituído por um objeto
minada época. CRAIG, por exe m p lo, a define as-
sim (de uma maneira mai s taut ol ógica): "A arte
política (agit-prop') ou o eve nto (happeningrv.
Por via dc conseqüência, o estudo da arte tea-
e Fr.: arts de la représentation; Ingl.: performin g
ar ts ; AI.: darste llende Künste: Esp.: artes de
do teatro não é nem a art e da int erpretação do tral se ramifica em in fin itos ca m pos de estudo,
ou um disp ositi vo cênico figurado pela cenogra- la representa ci án.
ato r, nem a peça de teatro, nem a figuração cêni- se nd o o programa d e sm e s ur ad o ; aque le de
fia; o palc o não tem que ser aquele de um edi fício
ca, nem a dança. [...] É o co nj unto de elementos SOURIAU surge qua se co mo tími do demai s: " Um
teatral co nstruído especificamente para a repre- I. Es te term o genérico agrupa a s artes qu e se
dos quai s se compõem esses dife rentes domí- tratado de teatro deveria examinar sucess ivamc n-
se ntação de peças: uma pra ça públ ica, um barra- basei am na representação o u na re-pre sent ação
nio s. E la é feita de moviment o , qu e é o es pírito te pelo menos tod os es te s fat ores: o autor, o uni -
cão ou qu alqu er out ro lugar adaptado prestam-se (prcse ntação renov ada) de sua s mat éri as (pa lco ,
da art e do ator, de fala s, qu e fo rma m o co rpo da ve rso teatral, as personagen s, o lugar, o espaço
perfeitamente à atividade teatral: quant o ao es- ator , im age m, voz etc .) , Ex iste necessar iam ent e
pe ça , de linha e de co r, q ue são a a lma do ce ná - cê nico, o ce nário. a ex posição do tem a, a ação, as
pect ador, é impossív el eliminá-lo totalmente sem um a im agem /rep resent ação qu e desempenha um
rio , d e ritmo, que é a essê ncia d a dan ça " (CRA IG, s itua ções, o desenl ace , a a rte do ato r, o es pec ta-
tran sform ar a arte teatral num j ogo dram ático do pap el de significante (de mat ér ia aud iov isua l)
190 5: 101). do r, as cat egori as teat rai s: trági co , dram ático , cô-
qu al ca da um participa , num rito qu e não tem ne- par a um sig nifica do qu e se ria o resul tad o, a fi-
mi co; finalm ente as s ínteses : teatro-e-poesia , tea-
cessi dade de nenhum olha r ex ter io r para realizar- nalid ad e e a concl usão da representação" ; sig -
b. M as es tá lon ge de rein ar a un ani midad e qu an- tro-c-m úsica , teatro- e-d anç a, para termin ar pelos
se, ou num a "atividade de cape la", um "auto-tea- nifi cad o qu e não é, e m abso lu to , estra tific ado
sup lementos do te atro : e spe táculos diversos, jo -
tro" totalmente fechados em si mesmos sem aber- to ao vínculo recíproco dessas di fe rentes artes. e d efiniti vo. O teatro fal ad o, mu si cal o u ges tua l,
gos c ircenses, mari on et es etc . Sem esq uece r a in-
tura crítica para a soc iedade. Par a os defen sores do Gesamtk unst.....erk:" wag ne- a da nça , a ópera e a opereta , as marionet es, mas
terfer ência de outras ar te s, c , particularme nte, da
A arte dramática basei a-se, na origem (em A riano , as artes cênicas devem co nverg ir par a um a também as artes med iáticas (o u mecan izad as)
no va ar te do c ine ma tõg rafo" (SOURIAU, citado
República de PLATÃO ou na Poética de ARISTÓ- sí ntese e unificar-se graças às redundân c ias ent re co mo o ci nem a. a te lev isão, o rádi o são arte s da
em ASLAN, 1963: 17).
TELES), numa distinção entre a mimese (represen- os di ver sos sistemas. represent ação.
tação por imitação direta das ações) e a diégese ([) Essência do teatro, e nce nação, antropo logia
(relato, por um narrador, de ssas mesmas ações). A c. Para outros, entretanto, não se pod e unir artes ~ teatral, etnoce nologia. 2 . Est as artes se ca rac te riz am por um ní vel du-
mim ese tom ou-se , por con seguinte, a marca da diferentes; quando muit o, produ zir-se -i a um con- p lo: o rep resent ante - o qu ad ro, a ce na etc. - e o
"obj etividade" teatral (no sentido de SZONDI, glomerado não estruturado ; o qu e im po rta é esta- W Rouché, 1910; Craig , 1964 ; Touchard, 1968; representado - a realidade figurad a ou s imboli-
1956): os ele das personagens (agentes e falantes) belecer uma hierarquia entre os meio s e articulá- Kowzan, 1970 ; Sc hec hner, 1977; Mignon, za da . A representação é sempre uma recon s-
são postos em diálogo pelo eu do autor dramático: los em função do resultado es pe rado e do gosto 1986; Jomaron, 1989 ; Co rvin, 1991. titui çã o de alguma outra coisa: acontecim ent o
a re-presentaças dá-se eomo imagem de um mun- do encenador. A hierarqui a prop o sta por APPIA pas sad o, personagem histórica, objeto real. Daí a
do já constituído. De fato, sabe-se, hoje, que a re- (1954) - ator, espaço, luz, pintura - não é senão impres são de não se enxergar no quadro senão
presentação rnimética não é direta e imediata e, sim, uma das inúmeras possibilidade s da es tética' . ARTES DA CENA uma real idade seg unda. Porém o teatro é a única
arte figurativ a que só se " prese nta" ao espectad or
um a co locação em discurso do texto e dos atores.
A represe ntação teatral comporta um conjunto de d. Outros teóricos criticam a noção de uma arte
teatral concebida com o Gesamtkunstwe rk ou tea-
e Fr.: arts de la scene; Ingl.: pe rforming arts,
stage arts; AI.: Biihn enk ünst e; Esp.: artes de
uma ún ica vez, mesm o que tome emprestados seus
mei os de ex pressão a um a infinidade de sistemas
diretivas, consel hos, orde ns contidas tvspanitu ro"
teatral, textos e indicações cê nicas . tro total, e substituem -na pela noç ão de trabalh o la escena . ex teriores.

26 27
AR TES D A V IDA A TO

C) Artes da ce na. arte t e at ral ~ teatralidade. meios lunt ária de se manter. e a postu ra , posição de um a a. Cortes tempo rais cos do Re nasc im ento fo rma lizar a dccupage m
~ de co municação, ence na çao, emoccno logia. parte do corp o e m rel ação às o utras. A at itude é acre sce nta ndo ao esq ue ma tern ário dois e le men-
O ator m arca por vezes uma unidade" de tem -
muita s vezes assim ilad a a um gesto " feit o : "O tos interc alares, e le vando o número de atos de três
po , um moment o da j o rnada (cl assicis mo) , um a
ges to passa, a atitude fica... I...). A mími ca é um a para cinco : o alo II pa ssa a ser o des envo lvimen to
j o rnada int eira (d ramaturg ia espa nho la do sécu lo
ARTES DA VID A arte em mo viment o na q ual a atitude não é senão da int riga, ga ra nt indo a passagem entre ex po sição
de o uro ), e às vezes, porém rara me nte, um la pso
e ápice. O ato IV pre para o desenlace o u reserva
a pontu ação" (DECROUX, 1963: 124 ). de tem po m ai s lon go (TCHÉKIIOV, IBSEN).
~ Fr.: arts de la vie; Ingl.: lif e art s ; AI.: Le- um últi mo sus pe nse , uma es pe ranç a, rapidament e
O ato se define co mo um a unid ad e temporal
't.: bellskiillsre; Esp.: artes de la vida. 2. Em BRECHT, a ate nção do encenado r e do es -
frustrada, de reso luçã o . J á se enco ntram os cinco
e narrati va , m ai s em fu nção de se us lim ite s do atos em SÊNECA (que segue aqui o preceit o de
pectador dev e volt ar -se par a as rel ações int er - qu e por se u s co nte údos: e le se co ncl ui quand o
Term o calcado naqu ele de "c iências da vida " HORÁCIO). A peça e m ci nco atos passará a se r
human as. e m parti cul ar e m se u co m pone nt e há um a sa íd a de to da s as pe rso n age ns o u qu an-
e emprega do (BARBA. 1993 e se u "corp o-em- norm ativa no séc ulo XVII fran cês: ela co nstitui a
socioeconô m ico . As atitudes (Ha ltung en s d as do há uma mud an ça notáv el na co n tinuid ade finalização de um a es trutur a dram ática pad roni za-
vida"; PRADIER e se us "comportamentos hu ma-
per son agen s e ntre si (o u gestus r v torn am vis í- e s paço-te m po ra l, sen do a fábul a cortad a e n tão da. O princí pio essenc ial é dora vante co nscie nte :
nos espe tac ulares orga nizados" ) para as artes da
veis as relações de fo rça e as co ntrad içõe s. A e m g randes moment os. um a progressão con sta nte . se m "s altos" , fazendo a
cena que usam o co rpo vivo: teatro fal ado. dança,
atitude se rve de vínculo e nt re o hom em e o mun - açã o desl izar para u m desenl ace necessár io. O s
mímica, dança-teatro. ópera etc., em contraste com
do exte rior, se me lha nte , nisso, à atitude tal co mo b. C o rtes na rratol ágicos co rtes não afe ta m a qua lida de e a un idade de ação;
as artes mecân ic as que se limitam a reproduzi r
defin ida pel os ps ic ó logo s. Este é o crité rio essencia l da di visão e m a tos: eles apenas ritm am a progre ssão e harm oni zam a
uma imagem do corp o (cinema. vídeo, insta lação).
desd e ARISTÓTELES, co nside ra-se na ver dade qu e forma e o conte údo dos ato s: para a nor m a c láss i-
3. A atitude do ence nad o r di ant e do texto é a o drama deve apr esent ar uma única ação que pode ca, estes devem se r eq uilibrados, formar um co n-
maneira de int erpret ar o u c riticar o texto e de se r decomposta em partes o rganicam ente ligadas junto autôn om o e brilhar por "alguma bel eza par-
ATELANAS ticular, isto é , o u por um incidente ou por um a
mostrar, na encen ação, este julgamento crítico e entre si - e isto, apresen te o u não u f ábula" uma
estético. reviravolta da ação. Es ta es truturaç ão é narra- paixão ou po r al g uma outra coisa semelh an te"
~ (De fab ula atellana, fábulas de AteIa.) (D' AUBIGNAC, 1657, VI, 4, 299).
't.: Fr.: atellanes; Ingl.: atellane; Atellan forces: tol ógica, a decupagern se efetua aí e m fun ção de
AI.: A tellane ; Esp.: atelanas. ~ p o s t ur a . grande s unidades univ er sais da nar rati va . Três Nessa es té tic a, o ato desempenha um pap el d e
fas es são aí indi sp en sáveis: cata lisado r e de parap ei to da açã o : "É um g rau,
Engel , 1788 ; No ver re , 1978 ; Pav is e Villc- um passo da ação. É por es ta di visão da aç ão total
Peq uen as far sas de ca ráter buf ão que ex traem - p rõ ta se (e xpos ição e enca minha mc nto dos e le-
neuve, 1993. em graus que de ve co meçar o trab alho do poeta.
seu nom e de sua cidade de origem - Ate ia, na mentos d ra máticos);
[...] O d iálogo ma rca os seg undos, as ce nas mar-
Ca mpânia . In vent ad as no séc ulo 11 a.C ,; as ate- - ep itu se (c o m plicação e estreita me nto do nó );
ca m os m inutos , os atos co rres po nde m às ho ras"
lanas apres e ntam perso nagens estereotipa das' e - ca t ást rofe (reso lução do co nll ito e vo lta ao nor -
ATO (t-.IARt-.lONTE L, 176 3 , a rtigo " A to").
gro tesca s: Ma cc us, o simplório, Buco, o glutão e mal ).
fanfarrã o, Pappus, o velho avar ento e ridículo, Esta s três fase s (q ue co rres po ndc m m ais o u 3. Outros Mod elos de Estruturação
Dossenu s, fil ósofo co rcunda e astucioso . f oram
-t)- (Do latim aClllS, a ção .)
menos ao s modelos narrntol ógicos dos teór icos
Fr.: acre; Ingl.: act ; AI.: tl k/; Esp.: acto ,
reto madas pel os co mediantes roman os (que in- da na rrativa'") serão os núcl eos de tod a peça de A di visão e m trê s o u cinco ato s geralmen te bus-
terpre tav am mascarados) ou representadas como fatura aristo téli ca e o núme ro m ág ico desta dr a- ca, na épo ca cl ássic a (o u neocl ássica : FREYTAG,
Divisão extern a da peça em partes de impor-
comp lemento das tragédias e são con sideradas um m atur gia. A ssim HEGEL ( 183 2) , ao re fletir so bre 1857 ). fazer- se pa ss ar por uni versal o u natu ral.
tância sen sivelmente igual em função do tem po e
dos ancestra is da Comniedia dell 'a rte" , a trad ição te atra l. ta mbé m di stin gu e três mo men- Ela só o é, de fato, para aq uele tipo prec iso de
do desenrolar da ação.
tos c haves: I) nasc imento do co nfli to; 2) c hoque : d ramaturgia qu e se ba seia na unid ade es paço -te m-
3) paroxism o e con ci liação. Este mod elo . qu e pod e poral da ação. A part ir d o mom e nto em q ue a ação
I. Princípi os da Es truturação
ATITUDE se r co ns ide rado lógi co e ca nô nico (pa ra es te tipo se a longa o u não tem m ais a qu alid ad e de um
de dr a ma turg ia ) será subme tido a muitas varia- continu um harmon io so , o es que ma dos c inco ato s
A dist inção en tre os atos e a passagem de um
~ Fr.: aUirude; Ingl.: attitude; AI.: Haltung ; Esp.: ções , po is a de cu pagem ex te rna não coi nci de ne - cad uca. Um a seq üê nc ia de cenas ' ou q uadro s '
't.: ac titud .
a o utro são m ar cadas de m an eir a bast ant e di -
cessa ria mente co m as três fases da narrati va. (A ll á- na verd ade ilus tra muito melhor os te xt os de
versificada no decorrer da histór ia do teatro oci-
lise da narrati va, estrutura d ramd ticar.} SHAKESPEARE, LENZ, SCHILLER, S ÜCH NER ou
Man eira de se ter o corpo, no sentido físico. dental. O me smo ocorre q uanto à man eira de in-
TCHÉKHOV (cf SZON DI, 1956). Me sm o qu e ce r-
Por ex te nsão , maneira psicológica ou moral de dicar a mudança de ato : interv enção do coro*
2. Evolução do Núm ero de Atos tos dram atur gos co nse rvem o nome de ato (e de
encarar uma questão. (GRYPHIUS), fechar a co rt ina (a partir do século
cena), se us tex to s são , na verdade, uma seqü ên-
XVII). mudança de lu z o u black-out, refrão mu-
A tragédia grega não con hece subdivisões em cia de quadros co m encadeamento froux o. É o
1. A atitude do ator é sua posi ção co m respeito à sical, cartazes et c. Isto po rqu e os co rtes entre atos caso de SHAKESPEA RE, editado em seguida em
atos. Ela é ritmada pel as apariçõe s do coro qu e se-
cena e ao s o utros atore s (isolamento, per tinência correspondem a necessid ades mui to di ver sas (e atos e ce nas , o u dos dr am aturgos espan hóis q ue
param os ep isódios" (indo de dois a se is). Cabe
ao g rup o, rel ação em ocional co m os outros). A ti- para co meçar, antigam en te, mu dan ça das ve las compõem su as peça s e m três j orn ad as , e a m aio -
aos autor es latinos (HORÁCIO, DONATO e m se u
tude eq uiva le a pose. maneira voluntár ia e invo- e dos ce ná rio s). co me ntário de TERÊNCIO) e. so bretudo , aos tc óri- ria do s auto re s pós- cl ássicos e p ós-ro m ânti cos ,

28 29
ATOR AUTO SACRAMENTAL

A partir do momento que a decupagem em atos é convidado a sentir o lado imediatamente palpá- aquele que faz significar o texto de uma maneira ATUALIZAÇÃO
se faz tanto em função da ação quanto da época, o vel e carnal, mas também efêmero e impalpável nova a cada interpretação. A ação mimética per-
ato tende a englobar um momento dramático, a si- de sua aparição. O ator, ouve-se dizer com fre- mite ao ator parecer inventar uma fala e uma ação -t.}- Fr.: actualisauon; Ingl.: actualiration; AI.:
tuar uma "época" e a assumir a função de um qua- qüência, é como que "habitado" e metamor- que na verdade lhe foram ditadas por um texto, Aktualisierung; Esp.: actualizacion.
dro. Historicamente, este fenômeno se produz a foseado por uma outra pessoa; não é mais ele um roteiro, um estilo de representação ou de im-
partir do século XVIII (drama* burguês) e muito mesmo, e sim uma força que o leva a agir sob os provisação. Ele joga com esta fala que ele emite Operação que consiste em adaptar ao tempo
claramente no século XIX (HUGO), para tomar-se, traços de um outro: mito romântico do ator de instalando-a de acordo com o dispositivo de sen- presente um texto antigo, levando em conta cir-
em nossos dias, uma marca fundamental da dra- "direito divino", que não estabelece mais diferen- tido da encenação e interpelando o espectador cunstâncias contemporâneas, o gosto do novo
maturgia épica (WEDEKIND, STRINDBERG, ça entre o palco e a vida. Contudo, este é apenas (através de seus interlocutores) sem, contudo, dar- público e modificações da fábula que se toma-
BRECHT, WILDER). DIDEROT já notava, sem o um dos possíveis aspectos do vínculo entre ator e lhe o direito de resposta. Simula uma ação, fa- ram necessárias pela evolução da sociedade.
saber, a transição do ato para o quadro, do dramá- personagem: ele pode marcar também toda a dis- zendo-se passar por seu protagonista pertencente A atualização não muda a fábula central, ela
tieo* ao épico*: "Se um poeta meditou bem sobre tância que o separa do seu papel mostrando, como a um universo fictício. Ao mesmo tempo, realiza preserva a natureza das relações entre as persona-
seu assunto e dividiu bem sua ação, não haverá o ator brechtiano, sua construção artificial. Esta é ações cênicas e continua a ser ele próprio, qual- gens. Somente são modificados a data e, even-
nenhum ato seu ao qual ele não possa dar um títu- uma velhíssima discussão entre os partidários de quer que seja o que ele possa sugerir. A dupli- tualmentc, o âmbito da ação.
lo; e do mesmo modo que no poema épico se diz a um ator "sincero"que sente e revi ve todas as emo- cidade: viver e mostrar, ser ele mesmo e outro, Pode haver atualização de uma peça em vários
descida aos infernos, os jogos fúnebres, o recensea- ções da personagem e um ator capaz de dominá- um ser de papel e um ser de carne e osso, tal é a níveis: desde a simples modernização dos figuri-
mento do exército, a oposição da sombra, dir-se- las e simulá-Ias, "fantoche maravilhoso cujos fios marca fascinante do seu emprego. nos até uma adaptação* a um público e uma si-
ia, no dramático, o ato das suspeitas, o ato dos fu- o poeta puxa e ao qual ele indica a cada linha a tuação sócio-histórica diferentes, É assim que,
verdadeira forma que ele deve assumir" (DIDEROT, 5. Ator, Produtor e Produto durante um tempo, acreditou-se ingenuamente que
rores, o do reconhecimento ou do sacrifício"
(DIDEROT,1758: 80-81). em Paradoxo Sobre o Comediante, 1775). A ques- bastava representar os clássicos em trajes comuns
tão da sinceridade do ator assume às vezes a for- Para além de todas estas manobras enganosas, para que o espectador sentisse que a problemáti-
ma de um conflito entre duas concepções de o ator é um portador de signos, um cruzamento ca exposta lhe dizia respeito. Hoje, as encenações
criatividade no ator: ator/rei que improvisa e cria de informações sobre a história contada (seu lu- preocupam-se mais em fornecer ao público os
ATOR instrumentos corretos de uma boa leitura" da
livremente, às vezes com os excessos do canas- gar no universo da ficção), sobre a caracterização
peça; eles não procuram eliminar e, sim, acentuar
-t.}- Fr.: acteur; Ingl.: aetor; AI.: Schauspieler; Esp.: trão ou do "monstro sagrado", ou o ator conside- psicológica e gestual das personagens, sobre a
as diferenças entre ontcm e hoje. A atualização
actor. rado como supermarionete" (CRAIG) acionado relação com o espaço cênico ou o desenrolar da
por um encenador. representação. Perde então sua aura misteriosa em tende então a ser uma historieização* (no caso
benefício de um processo de significação e de uma da atualização brechtiana, por exemplo).
1. Corpo Condutor
3. A Formação do Ator integração ao espetáculo global. Mesmo que sua
~. Tradução, dramatúrgica (análise).
o ator, desempenhando um papel ou encar- função na representação pareça relativa e subs-
Durante muito tempo inexistente ou abando- tituível (por um objeto, um cenário, uma voz ou
nando uma personagem", situa-se no próprio cerne
uma máquina de interpretar), continua a ser a apos-
LD Brecht, 1963,1972; Knopf, 1980.
do acontecimento teatral. Ele é o vínculo vivo en- nada ao aprendizado de técnicas próprias de uma
tre o texto do autor, as diretivas de atuação do certa tradição, a formação do ator acompanhou ta de todas as práticas teatrais e de todos os movi-
eneenador e o olhar e a audição do espectador. o movimento de sistematização do trabalho de mentos estéticos desde o surgimento da encena-
ção. Compreende seu papel como o de um dos AUTO SACRAMENTAL
Compreende-se que este papel esmagador tenha encenação; ela visa desenvolver o indivíduo glo-
bal: voz, corpo, intelecto, sensibilidade, reflexão artesãos do espetáculo e em função da tarefa pe-
feito dele, na história do teatro, ora uma persona-
dagógica e política do teatro. Com freqüência re-
-t.}- (Do latim actus, ato, ação e sacramentum, sa-
gem adulada e mitificada, um "monstro sagrado", sobre a dramaturgia e o papel social do teatro. O cramento, mistério.)
ora um ser desprezado do qual a sociedade des- ator contemporâneo deixou definitivamente para nunciou a enganar o seu mundo ao não pretender
eonfia por um medo quase instinti vo. trás os dilemas e mitos do ator-senhor ou do ator- mais improvisar sem esforço. Tanto quanto sua
Peças religiosas alegóricas representadas na
escravo; ele aspira a representar o papcl modes- "naturalidade", o que nos interessa agora é real-
Espanha ou em Portugal por ocasião de Corpus
to porém exaltante de um intérprete, não mais mente o trabalho do ator, sua técnica corporal e
2. Distância e Proximidade Christi e que tratam de problemas morais e teoló-
de uma simples personagem, mas do texto e dc seus exercícios respiratórios.
gicos (o sacramento da eucaristia). O espetáculo
Até o início do século VII, o termo ator* de- sua encenação. era apresentado sobre carroças, e mesclava farsas
~ Presença, poética, ritmo, comediante.
signava a personagem da peça; ele passou a ser, e danças à história santa e atraía o público popu-
em seguida, aquele que tem um papel, o artesão 4. Enunciador lar. Elas se mantiveram durante toda a Idade Mé-
Talrna, 1825; Brccht, 1961; Stanislávski, 1963,
da eena e o comediante", Na tradição ocidental, W 1966; Aslan, 1974, 1993; Dort, 1977b, 1979; dia, conheceram seu apogeu no Século de Ouro,
na qual o ator encarna sua personagem, fazendo- O ator é sempre um intérprete e um enunciador Barker, 1977; Brauncck, 1982; Ghiron-Bistagne, até sua proibição, em 1765. Tiveram grande in-
se passar por ela, ele é, antes de mais nada, uma do texto ou da ação: é, ao mesmo tempo, aquele 1976, 1994; Kantor, 1977, 1990; Roubine, 1985; fluência sobre dramaturgos portugueses (GIL VI-
presença física em cena, mantendo verdadeiras que é significado pelo texto (cujo papel é uma Pidoux, 1986; Roach, 1987; Villicrs, 1987; Godard, CENTE) ou espanhóis (LOPE DE VEGA, TIRSO DE
relações de "corpo a corpo" com o público, o qual construção mctódica a partir de uma leitura) e 1995; Pavis, 1996. MOLINA, CALDERONetc.).

30 31
AUTO R DRA MÁ TI CO

r::;r;;),. Flecniakoska, 196 1; Scntaurens, 1984. estru turaç ão da fábula , na mont agem das açõe s,
na result ante (dific ilme nte dcline ávcl , entreta n-
to ) das per specti vas e dos co ntex tos semânticos
AUTOR DRAMÁTICO dos dial ogant es (VELTRUSKY, 1941 ; SCHMID,
197 3). Enfim, o texto cl ássico , qu and o é formal -
:). Fr.: allt,'/Ir d ram ati qu e; Ingl : d ramatis t, mente homogêneo e ca ra c te rizado por traço s
"t.: l' laywri gll/; AI.: Bii hnenautor; Dromatiker; pro sódicos e léxicos supra -scgme ntais e próprios
Esp.: autor dm llltÍtico. d e todo texto, se mpre rev el a, apesar da divi são

B
e m vário s pap éis , a marc a de se u auto r.
1. Este term o é empreg ado hoje de preferên cia a
dram atu rgo" (envelhec ido ou reserv ad o ao seno 3 . O autor dram ático não é senão o primeiro elo
tido técn ico mod ern o de "conselheiro liter ário" ) (esse ncial, con tud o, na med ida em que o verbo é o
e a poera dramá tico (arcaico e que se apli ca a um s iste ma mais preciso e es tá ve l) de uma cade ia de
autor que esc re ve versos). produ ção que lamina, mas também enriquece, o
O es tatuto do auto r vari ou considerave lrnen - texto atra vés da encena ç ão" ; o jogo do ator, a apre-
te no curso da históri a. Até o início do séc ulo se ntação cê nica co ncreta, e a rece pção pelo público.
XVII , o au to r ainda não pas sa, na França, de um
simples forn ecedor de textos. Som en te co m P. ~. Peça, discu rso.
CORNEII.LE é que o dramaturgo passa a ser urna
verd adeir a pes soa social, reconhecida e ca pita l
na e labo raç ão da representação. Sua imp ort ân - m Vinaver, 1987, 1993; Cor vin e Lemahieu in
Corvin, 1991: 73-75 . Ver a revista Les Cahiers
BIOMECÂNICA 1. Term o de d ra ma turg ia clássica. Adequação às
convenç ões " liter árias , artísticas e morais de urna
cia poder á mesmo parecer. na seqüência d a evo - de Prospéro, ~ Fr.: biomécanique ; lngl. : biomecha nic s; AI.: época ou de um público. O bom-tom (decoro) é
lução teatr al, desproporcional em rela ção àq ue- Biomcchanik; Esp.: biom ec ánica . uma das regras do cl assi cismo; tem origem em
la do encenador (que surgirá, pelo me no s so b ARISTÓTELES qu e in si ste nas conveniên ci a s
um a forma conscie nte de si mesm a, so me nte por AUTO-TEATRO Es tudo da mecânica aplicada ao corp o huma- morai s: os costumes do herói devem ser ace itá-
volt a do fina l do séc ulo XIX ), c so bretudo do no. MEIERHOLD usa esta ex press ão para descre- veis, as ações m or ais. os fat os históri cos rel ata-
ator, que não é se não , seg undo as pa lavras de ~ Fr.: auto- th éâtre ; In gl. : au to thcat re ; AI.: ve r um método de trein amento do ator basead o na dos devem co nte r ve ross im ilhança, a realid ad e não
HEGEL, o " instru mento no qual o auto r toca, uma A uto theater; Esp .: au tot ea tro. exec ução instant ân ea de tarefas "que lhe são dit a- deve se r mostr ad a e m se us as pec tos vu lga res e
es ponja q ue abso rve as cores c as devol ve sem das de fora pel o auto r, pelo cnce nado r [...l. Na me- qu otidi anos. A se xualid ade, a repr esen tação da
nenhuma mud an ça" . Este te rmo é usad o por ABlRACHED ( 199 2: did a em qu e a tar ef a do ator con siste na reali zação violência e da mort e são ig ua lme nte rej eit adas. O
188) par a qu alifi car o f en ômeno do teatro am a- de UIl1 o bjetivo esp ecífi co, seus mei os de expres- bom -tom imp õe , também, a coerência da co ns -
2. A teoria teatr al tend e a substituí-lo por um su- dor : mu ita s vezes os panieipant e s só fazem tca- são devem ser eco nô m icos para garanti r a pre cisão trução da fábula e da o rde m das ações.
jeito global , um co letivo de enunciação, espécie tro pa ra si mesm os (q ua isque r qu e seja m suas do movim ent o q ue facil itará a realização mais rá- J. SCHERER di sti ngue, desse mod o, o bom -tom
de equivalente do narrado r para o texto do ro man- motivações), e não par a um público ex terio r. Ele pida possí vel do objetivo" (1969; 198). da veross im ilhan ça' : " A ve ross im ilhança é um a
ce. Este suj eito "autoral" todavia. é di ficilm ente tamb ém se aplicari a a um te at ro qu e só faz refe- A técni ca bio rnec ânica o põe -se ao m ét odo exigên cia int el ectu al ; e la dem and a certa coerên-
identificável , ex ce to no caso das indicações c ê- rên cia a si mesm o, por citação de j ogos, técni cas intro spectivo " ins pirado", aq uele das "em oç ões cia entre os e le me ntos d a peç a de te atro ; e la bane
nicas ' , do com ' o u do raisonneur" , E mesm o ou real izações, e qu e, port ant o, ev ita rep rodu zir o autê ntica s" ( 199 ). O ator aborda seu pap el a par- o absurdo e o a rbi trá rio o u o qu e o públi co co nsi-
estas instâncias não pass am, na verda de, de um mund o exte rio r: " Dioniso ce de ndo lugar a um tir do ex te rio r, antes de apree ndê -lo int uiti vamen-
dera como ta l. O bom-tom é urna ex igê nc ia mo-
substituto literário e por vezes falaz do auto r d ra- narciso apaixon ado por se u refl exo" (Ph. IVER- te . Os exercíc ios bi om ec ânicos preparam -n o para
rai; ped e que a peç a teatral não choque os gostos,
NEL, Journal du TEP, 19 9 5 ). fix ar se us gest os em posições-p oses qu e con cen-
mático. Se ria mai s judicioso vê-lo em ação na as idéia s morais o u, se quiserem, os precon ceit os
tram ao máximo a ilu são do movim ent o, a ex-
do públ ico" (1 95 0 : 383).
pressão do gestus" e os três es tád ios do ci clo do
A noção de bom-tom (como foi elaborada en-
jogo (intenção, real ização, reação).
tre 1630 e 164 0 por doutos como CHAPELAIN
W Drama Review. 1973; Meierh old , 1963, 1969, ou LA MESNARDlERE) muitas vezes e ntra em
1973, 1975, 1980; Braun, 1995. conflito co m a de verossimilhança (ou de co n -
veniência, termo de MARMONTEL, no arti go
"Biens éan cc" ): a verdade histórica muitas ve -
zes é ch ocant e e o d ramaturgo deve suavi zá-I a
BOM-TOM
para respeit ar o bom-tom. Assim, as conveniên-
~ Fr.: bienséance; Ingl.: decorum; AI.: A nstan d;
cias são " rela ti vas às per son agens", ao pass o qu e
Esp. : decoro. os deco ros " referem -se particul arm ente ao s cs-

32 33
,
i
L
BRE C HTIANO BURL E S C O

pectadores": enquanto as co nve niê nci as "cuid am M uitas vezes, o termo é empregado a pro pósito da vita lidade transbordan te. da pa lavra inesgotá- €:i'Q. Cô mico, Commcdia d el l 'a rtc, perso nagem .
dos uso s, do s costumes do te mpo c do lugar da de um es tilo de encenação que insiste no caráter ve l, da desforr a do corpo sobre o es pírito (Fa lstaff) ,
açã o, os o utros d ize m respeito ã o pinião e aos hist ó rico da reali dade re presen tad a (histo rie i- da derrisão ca rnavalesca do pequeno an te o poder Gob in, 1978; Bakht in , 197 1; Ubc rsfcl d, 1974;
costumes do país e do século e m que a ação é cação') e prop õe ao espectador que tome d istâ n- dos gra ndes (Arleq ui m ), da cu ltura po pular ante a fi Pa vis, 1986a. Ver Revista Bouffonneries, prin-
rep resen tada " (MARMONTEL, É"lélllellts de UI/ é- cia, q ue não se deixe enga nar por se u ca rá te r trá- cu ltura erud ita (os Pi caro es panhó is). cipalme nte n. 13-14.
rature ). gico, dramá tico ou simplesment e ilus io nista. O bufão, co mo o lou co , é um marginal. Es te
De manei ra gera l, é de " bo m-to m" aquilo que Brechtiano freqüent ement e fa z refe rê ncia a estatuto de ex te rio rida de o a utoriza a comenta r
se ada pta ao gosto do públi co e à sua representa- uma " po lítica dos signos": palc o e tex to são local os aco nteci me ntos im pun e me nt e . ao modo de BURLESCO
çã o do real. CORNEILLE jus ti fica desse modo sua de um a prática de tod as as pe ssoas de teatro qu e um a espécie de par ódi a d o coro da tragéd ia. Su a
al usão ao ca samento de Xime na e do Cid, casa- significam a realidade mediant e um si ste ma de fala, co mo a do lou co , é ao me sm o tempo pro i- ~ (Do italiano burlesco. bur la , gracejo, farsa.)
ment o es te qu e pode ria "c hocar" os espectado- signos ao mesm o tem po es téticos (anco rados nu m b ida e o uv ida. " Desde as profu ndezas da Id ad e "t..;Fr.: burlesqu e ; Ingl. : bu rles qu e ; A!. : da s
re s: " Para não co ntrariar a história , pensei não Média, o lou co é aq ue le cuj o di sc ur so não pode Burleske ; Esp .: burlesco .
materia l o u nu ma arte da cena) e po líticos (q ue
poder me furtar de lançar ne la a lguma idéia, mas criti ca m a real idade em vez de im itá -Ia passiva- c irc ula r co mo o dos o utro s: do que e le d iz fica o
se m cert eza q uant o ao efeito ; e seria so mente por ment e ). O "siste ma" brechtiano - con fo rme se dito pe lo não d ito (... ); ocorre també m, e m co n- o burlesco é uma forma de c ômico " exagerado
aí q ue eu poderia ade qua r o deco ro do teatro tra pa rt ida, que lhe at ribuam , po r oposição a to- que e mprega expressões triviais para fal ar de reali-
à
insis ti r e m seu aspec to antidram ático (é pico ), rea-
ve rdade do aco ntec ime nto " (Exa me do Cid ). (Ver d os os o utros, es tra nho s poderes , como o de di - dad es nobres ou elevadas, mascarando assi m um
lista o u d ialético (junção de princípios contrá rios
também as R éflexions su r la Po étiqu e d ' A ristote , zer u ma ver da de ocu lta , pre ver o futuro , o de gênero sé rio por meio de um pastich o g rotesco"
como ide ntificação e distân cia) - na da tem a ve r
de R. RAPIN, 1674 .) enxe rga r com tod a in genu idade aq uilo qu e a s a- ou vu lga r: é "a exp licitação das co isas m ais séria s
co m uma fil osofi a es tra tifi cada, q ue fornece re-
A regra do bom-tom é desse modo, um cód i- bedoria dos out ro s nã o c onseg ue perceber" po r expressões totalmente cô m ic as e rid ícul as".
ce itas de ence nação. Ao cont rário, e le deve per-
go ' não ex plíc ito de preceitos id eol ógicos e mo- (FOU CAULT, 1971: 12-1 3).
mitir montar peças de aco rdo co m as e xigências
rais. Nest e se ntido, acompanha cada época e dis- de cada época e dent ro do co ntexto ideológico
Seu poder desconstruto r atrai os pode rosos e 1. O Gênero Burlesco
ti ng ue-s e co m dificuldade da id eo logia ", Cad a os sá bios: o rei tem se u bobo; o jovem apaixo na-
que a ele correspo nde. Cons ta ta-se , no entanto,
esco la ou soc iedade, mesm o qu an do rejeit a as d o, se u criado; o senho r nobre da com ed ia espa- O burlesco torna- se gê nero literário e m mea-
q ue nos ano s cinqüenta e ses senta, mui tos gru-
regr as da época qu e a preced e, também d ita nor- nh ol a, se u gracioso ; Dom Qu ixo te, se u Sa ncho dos do século XV II, na F ranç a, com SCARRON
pos o u joven s autores cont entaram-se e m imi tar
mas de co mpo rtamento. O bom -tom é portanto Pan ça ; F austo, se u M c fisto : W ladirnir, se u Es- (Recucil de Ver s Burl esques, 164 3; Virg ile Trav es-
servi lme nte o "es tilo" brec htiano - ce rto tipo de
a image m que de ter minada ép oca faz de si mcs- trago u. O bufão destoa o nde qu er qu e vá: na cor- ti, 16 4 8 ), O' ASSOUCl ( Le Jugement de P ãris ,
materiais e cores, uma cert a pobreza cênica, cer-
ma e qu e desej a e ncontrar na s produ ções artís- te, é plebe u; en tre os dou to s, di sso lut o.em meio a t 648 ), PERRAULT (Les Murs de Troie, 1653) , como
to tipo de atuação distanciada - se m pensar na so ldados , po ltrão; e ntre estetas, glutão ; entre pre-
ricas. E la se ac ha submetid a às " mudanças de adap tação desse s recur sos e st ét icos para uma reação ao jugo da s regra s cl ássic as. Este tipo de
tod os os va lores" (NIETZSCHE). Assim , atual- ciosos, grosseiro... e lá va i e le , seguindo tranq üi-
an álise da real idade e, portanto, para u ma no va esc ritura, o u melhor, de reescritu ra, aprecia pa rticu-
la mente seu cami nho!
mente, e m Pa ris o u Nova Io rqu e, o bom- tom maneira de faze r teatro. Daí "brec ht iano", pala- la nnente o travesti rnento de a u tores cláss ico s
Como aque les bo necos de p lásti co chamados
impo rá a muitos en cenadore s mostr ar urna atriz (SCARRON, MARIVAUXco m se u Tél ém aque Tra -
vra ora elogiosa e " filial", ora in su ltosa e zo mb e- de "joão bobo" , o bufão nun c a ca i: ni nguém ja-
de spind o- s e durante a pe ça , qu er e ncen em ves ti e se u H om êre Tra vesti, 1736). O burlesco
teira, pa ra ace ntuar o d ifícil e, atualme nte, bem mai s co nsegu irá c u lpá - lo o u faze r del e bod e
MARIVAUX, BRECHT o u R. FOREMAN. muita s vezes se se rve do pa nfl eto. da sá tira social
di sta nte vínc ulo do teatro co ntempor âneo com ex piató rio, poi s ele é o prin cípi o vit al e co rpo-
ess e autor j á clás sico que é o "pobre BB". ou po lítica. C ontudo, enco ntra di fi culdade para se
ral por excelência, um anim a l qu e se recu sa a
~ . Decoro.
pa g ar pe la co let ividade , e qu e nun ca tenta se
con stituir co mo gê nero autônomo, provavelment e

~ O'Aubignac, 1657; Bray, 192 7.


Q Teatro experimental, narra tiva. fazer passar por ou tro (se m pre m asca rado , é o
por cau sa de se u vínc ulo com o modelo parodi ado
'\:, (MOLlE RE, SHAKESPEARE, na peça Piram o e
reve lador dos o utros e n un ca fa la e m se u pró-
mo Oort, 1960; B recht , 1961. 1963, 1967, 1976; Tisb e representada por Bo uom em Sonhos d e unt a
prio nome, e nu nca assume o pap e l sério dos
~ Banh es, 1964: 84-89; Rülicke-Wei ler, 1968; No ite de \0rão , nas peças que iro nizam textos co-
o utros, se m incor re r e m s ua perda). Como A rle-
BRECHTIAN O Pavis. 1978b ; Knopf, 1980; Banu, 1981 ; F. Toro, nheci dos: a Beggar 's Opera, de GAY (1728 ), Thc
q ui m , o bu fão guarda , na verdade, a .Iembra nça
1984. R ehea rs al , d e DUCK ING HAM , q ue s a ti riz a
V Fr.: brecluien; Ingl.: brecluian; AI.: brechlisch;
de suas o rige ns infantis e simiescas. E o qu e nos
diz O seríss imo fil óso fo ADORNO : " O gê nero DRYDEN, a Tragcdy of Tragedy or the Life mui
Esp .: brechtiano. Death of Tom Thumb the G rcat, de FIELDING
hum an o não con se guiu se liv rar tão to ta lme nte
BUFÃO de sua semelhança com os animais a ponto de (1 730 )). Na França, o ba lé burlesco, na primeira
Adj etivo de rivado do nome do dramaturgo met ad e d o séc ulo XVII, abre caminho pa ra a co-
não poder de repente reco n hecê-I a e se r por isso
a le mã o Berto lt BRECHT (1898 -1 956), re presen- ~ Fr.: bouffon; Ingl.:f ool ; AI.: Narr; Esp.: bufon média- ba lé ' de MOLlERE e LULLY.
inundado de felicidad e ; a li nguag em das crian-
tante de uni teatro (alternadament e den ominado "t..; (gracioso) . ças e dos animai s par ece se r um a só. Na se me-
ép ico, crítico, dialético ou soc ia lis ta) e de uma 2. Estét ica do Burlesco
lh a nça dos c/O\V/l S com o s an im ais se ilumina a
técn ica de at uaçã o qu e favor ece a atividade do O bufão é represent ado na ma ioria da s dra- se me lhança hum an a com os m acacos: a co nste-
es pec tado r, g raças princ ipa lme nte ao ca ráter mat urg ias cô micas . "Vertigem do cômico absol u- lação an imal-tolo (o u lou c o : Narr) , cl o wn é um Mai s que um gên ero literário , o burles co é
deru outrativo do jogo do ato r. to" (MAURON, 1964 : 26) , é o princípio org iástico dos fu nda men tos d a arte" ( 1974 : 16 3) . um e sti lo e 11111 pr incí pio e s t ético de composi ção

35
B U R L E SC O

que co ns iste em inverter os sign os do universo é apenas no contrast e e ntre os doi s termos que o
representado . e m tratar co m nobr eza o trivial e cômico se instaura ( princípio d a mi stura de gê -
tri vialm ent e o qu e é nobre. aco mpa nha ndo nisto nero s e do he rói -cômi co ).
o prin cípio barroco do mundo às ave ssas : "O É difíc il dist in gu ir o burlesco de o utras for-
burl esco. qu e é um ped aço do ridícul o, co nsiste mas côm icas ' ; ca ber á observa r s im ples m ente
na desprop orç ão entre a idéi a qu e se tem de algo que o burlesco recu s a o di scurso moralizad o r

c
e sua idé ia ve rda de ira [...]. Ora , essa desp rop or - ou político da sá /ira' . qu e e le não tem necessa-
ção oco rre de du as man eir as: uma, fal and o de riamente a visão catas trófica e niili sta do gro-
man eira bai xa das co isas el evadas, e o utra, fa- tesco e que ele se apresenta co mo "exercício de
lando ma gnifi cam ente da s coisas mais bai xas" es tilo" e jo go de esc ritura gra tuito e livre. Este
(C. PERRAULT, Paralelo do s Antigos e Mod er- mascaramento ide ol ógi co é qu e possibil itou seu
lias. Il l, 16 88 ). Co ntrariando uma o pinião mui- . desen volvimento à m ar gem das institu içõe s li-
to d ifund ida. o burlesco não é um gê ne ro vulgar ter árias e políticas. A m istu ra e a intc rtex tua li-
ou gros seiro; é. ao contrár io . uma arte refinad a dade de todos os estilos e "esc rituras" é que fa-
qu e pre ssupõe q ue seus leitores te nha m vasta zem dele . aind a hoj e, um gê ne ro mod erno por
cu ltura e compreend am a intertextu alidade" , A excelência , um a arte de co ntra po nto (dialog ism o
esc ritura - o u reescritura burl esca - é um a defor- de BAKHTIN, distan c iam ento " de BRECHT).
mação es tiIística da norma, uma man eir a rebu s- Hoje , é no cine ma qu e o burlesco se exprime
cada e prec iosa de se expressar e não um gênero melhor: nas coméd ias de B. KEATON, dos IR-
popul ar e es po ntâneo. Ele é a marca de gr andes MÃOSMARX ou de M. SENNET, as gags' visuais CADERNO DE ENCENAÇÃO Os cafés -tea tro, e m sua forma e programação
estil os e de espíritos irônicos que admir am o correspondem ao desvio e stilístico praticado pelo atuai s, são um a inv enção recente: em 1961 , M .
o bj eto parodi ado e apostam em efeitos cô micos burlesco clássico. Neste sent ido, o princípio tex- ê Fr.: livrei de mise en sc êne; Ingl. : p rod ucti on ALEZRA abre na Vie ilIe Gri lIe uma mercearia-bar
de co ntras te e de superlativo, na fo rma e na tual do burlesco se transforma em princípio lúdico b o o k ; AI.: R cgiebuch; E s p .: libro de onde são levad os es pe tác u los de poe sia e música .
tem ática. A di scussão que consi ste e m se per- e visual : opõe. então. uma m aneira séria de se praduc ci án. Em 1966, B. DA COSTA abre o Le Royal , prim e i-
g unta r (co rno faz MARIVAUX e m se u pref ácio comportar e sua descon stru ção côm ica por um ro café -tea tro a le var esse nom e . Dep oi s, é o Ca fé
do Homerc Tra ves/i ) se o burl esco re side nos desa rranjo inesp er ad o. Li vro o u cade rno qu e co nté m as ano tações de la Gare ani ma do po r Rom ain BOUTEILLE; o
term os e m pregado s ou nas idé ias manipul adas de um a e nc e nação, efe tuadas muitas vezes pel o Vra i Chie Par isien com CO LUCHE. Desde então,
(no sig ni fica nte o u no significado) é falsa, já qu e W Bar, 1960 ; Genette, 1982. direto r de rena " a partir das notas do e nce nado r co nta m-se por vo lta d e trinta ca fés- tea tro e m Pa -
e co nte ndo, e m part icul ar . os desloca mento s d os ris, o ite nta na Fra nça e o sucesso desse tip o d e
atores , as pau s as, as inter ven ções da so no plas tia. espetáculo não pod e se r negad o.
os movimentos de luz e qual qu er o utro si ste ma O café- tea tro . e m qu e pese sua mod a recent e,
de descrição" o u de notação. grá fico o u infor- tem . no enta nto. ancestra is muit o mais antigos e
máti co, usad o par a mem or izar o esp et áculo . É prestig iosos: a tavern a da Idad e Médi a o nde se
um do cume nto esse nc ia l para a retomada de um a pode imagin ar F. VILLON ; os ca fés dos filó so fos,
ence nação o u pa ra pesqu isador es. m esm o que no séc ulo XVlJI , nos qu ais o pen samento fi los ó-
es te doc ume nto não seja a e nce nação, m as ape - fico é e laborado o u con fro ntado co m a vida qu o -
nas ano ta ções ma is o u men os cxa usti vas qu e não tidiana; o café do sé cu lo XIX . "espe lunca " das
recon stituem nece ssari am ent e o sis te ma da e n- classes popul ares, qu e mais se assem elh a a um
ce nação. antro de perdição q ue a um lugar de inter c âmbio s
culturais orga nizados .
(i;'J Model o, fot o g rafi a . meios de comu nicação c O qu e co n fere orig ina lid ade aos cafés -tea tro
~ . t ea lro. de hoje é q ue e les se tomaram um dos ú ltimo s
refú gios dos auto res e a tores não reconh ec idos e
[n Passow, 1971 ; Pav is, 19H1 h. 1996 . decidid os a de safiar o e stablishme nt teatral qu e
só apr esent a pe ças de boulevard de suc esso, au-
tores c láss icos reconhe c idos, ou espetáculos sub-
CAFÉ-TEATRO vencion ados criados se m muito risco. O café-tea -
tro (que em o utros te m po s seria chamado teat ro
ê Fr. : cll(é- Ihéú l r e ; lngl. : café-thca t rc; AI.: cll/é- de arte o u ex pe ri me nta l o u estúdio ) nes se se ntido
théàtre; Esp.: Cll!" -I/'{/ lnJ . é uma resposta à pr ete nsa crise de autores, à dit'i -

36 37
CANEVAS CARÁTER

culdade, esta sim, real, de encontrar um local de CANEVAS ma (SZONDI, 1956), apresenta personagens em de de caracterizar material e sociologicamente
ação c nas falas sem o comentário de seu demiur- suas personagens. O naturalismo», em compen-
e
trabalho, mas também uma resposta à demanda
insistente de um público jovem em busca de no- (Cancvas vem do francês arcaico chcnevas, tela go; daí decorre uma certa imprecisão quanto à ma- sação, dedicar-se-á a descrever escrupulosamen-
vos talentos, de um riso libertador e também de grossa de cânhamo.) neira como se deve "ler" a personagem. Vários te as condições de vida dos caracteres, a expor o
um repertório renovado e conectado com a atua- Fr.: callevas; Ingl.: sc enari o; AI.: Kancvas, elementos facilitam essa leitura: ambiente" em que eles evoluem. Uma vez que a
Handlungsschema, Esp.: boceta. forma dramática pressupõe o conhecimento de
lidade.
O café-teatro nada tem de novo enquanto gê- a. Indicações cênicas urna certa psicologia ou de tipos de personagens
O callevas é o resumo (o roteiro*) de uma peça, (ex.: Commedia deU'arte*), torna-se inútil carac-
nero dramático, ou mesmo como tipo original de Para indicar o estado psicológico ou físico das
para as improvisações dos atores, em particular terizar muito antes as personagens: elas são co-
cenografia ou de local (nele não se consomem personagens, o âmbito da ação etc.
na Commedia dell'arte*. Os comediantes usam nhecidas por tradição e convenção".
necessariamente bebidas durante o espetáculo); os roteiros (ou canovacciosi para resumir a intri-
mas é a resultante de um conjunto de dificulda- ga, fixar os jogos de cena, os efeitos especiais ou b, Nome dos lugares e dos caracteres
des econômicas que impõem um estilo bastante os lazzi", Chegaram até nós coletâneas deles, que Para sugerir, antes mesmo que a personagem
uniforme: o palco é bem pequeno, dificilmente
CARÁTER
devem ser lidos não como textos literários, mas intervenha, sua natureza ou sua singularidade
permite que se use mais de três ou quatro atores, como partitura constituída de pontos de referên- (antononiásiar v.
(Do grego kharactêr, signo gravado.)
estabelece uma relação de grande proximidade cia para os atores improvisadores. Fr.: caractere; Ingi.: character; Ai.: Charakter;
com platéia de cinqüenta a cem espectadores; os c. Discurso da personagem e, Esp.: cáracter.
dois ou três espetáculos que se sucedem na mes- indiretamente, comentários das outras
ma récita são necessariamente curtos (cinqüenta CARACTERIZAÇÃO Autocaracterização e multiplicidade das pers- J. No sentido (hoje um pouco arcaico) de perso-
a sessenta minutos) e se apoiam na interpretação pecti vas sobre uma mesma figura. nagem"; os caracteres da peça constituem o con-
quase sempre cômica dos atores, "tragicamen- Fr.: caractérisation; Ingl.: characterization; AI: junto de traços físicos, psicológicos e morais de
te" convidados a assumirem os riscos financei- Charakterisierung; Esp.: caracterizacion. uma personagem. ARISTÓTELES opõe esse ter-
d. Jogos de cena e elementos
ros trabalhando pela bilheteria, partilhada com para lingüísticos: entonações, mimica", mo à fábula: os caracteres são subordinados à ação
o diretor. Os textos dramáticos são com freqüên- Técnica literária ou teatral utilizada para for- e são definidos como "aquilo que nos faz dizer,
necer informações sobre uma personagem" ou g estualidade"
cia satíricos (one (wo tman show*) ou poéticos das personagens que vemos em ação, que elas têm
uma situação. Todas essas indicações são, evidentemente, estas ou aquelas qualidades" (Poética, 1450a).
(montagem de textos, poemas ou canções); são
A caracterização das personagens é uma das fornecidas pelo dramaturgo, pelo encenador e pelo Por extensão, caráter designa essa personagem em
quase sempre criações que, em caso de sucesso,
principais tarefas do dramaturgo. Ela consiste em ator, mas parecem provir das próprias persona- sua identidade psicomoral. Os caracteres de LA
são reprisadas em teatros maiores, nos teatros do
fornecer ao espectador os meios para ver e/ou gens, de seu modo de se expressar e de seu efeito BRUYÊRE ou os das comédias de MOLlÊRE ofere-
centro ou no cinema. Os efeitos de encenação são
imaginar o universo dramático, portanto para re- de realidade. O autor intervém diretamente nos cem, por exemplo, um retrato bastante completo
deliberadamente sacrificados em prol do jogo do
criar um efeito de real* que prepara a credibilidade apartes", no coro*, no dirigir-se ao público", da interioridade das personagens. O caráter surge
ator virtuoso que, aliás, revelou inúmeras estre- Estes são procedimentos antidramáticos adequa-
e a verossimilhança da personagem e de suas aven- no Renascimento e na época e1ássica e se desen-
las de cinema. A invenção dramatúrgica mais dos para a caracterização da personagem "em duas
turas. Por conseguinte, esclarece as moti vações e volve plenamente no século XIX. Sua evolução
marcante é a criação de monólogos cômicos ou as açães* dos caracteres*' Ela se estende ao lon- pinceladas", sem efetuar rodeios, pela ficção de acompanha a do capitalismo c do individualismo
absurdos e por vezes a palavra cedida a grupos go de toda a peça, com os caracteres evoluindo um caráter que inventa seu próprio discurso. burguês; culmina no modernismo e na psicologia
muitas vezes pouco ouvidos e a um discurso fe- sempre levemente. É acentuada e fundamental na das profundezas. A vanguarda, desconfiada em
minino novo e percussor. exposição e na instalação das contradições c dos e. A ação da peça é apresentada de maneira a que relação ao indivíduo - esse mau sujeito burguês
A crise do teatro comercial e o desemprego da conflitos. Entretanto, nunca se conhece totalmente o espectador extraia dela necessariamente conclu- - tende a superá-lo, do mesmo modo que deseja
profissão favoreceram paradoxalmente a irrupção a motivação" e a caracterização de todas as per- sões sobre seus protagonistas e que compreenda ir além do psicologismo para encontrar uma sin-
do café-teatro, que já dispõe de um considerável sonagens; o que é ótimo, uma vez que o sentido as moti vações de cada um. A caracterização da taxe dos tipos e das personagens "desconstruídos"
repertório de peças de qualidade bastante variá- da peça é a resultante sempre incerta dessas ca- personagem é sempre dada pela condução da fá- e "pós-individuais".
vel, bem parecido com o do teatro de boulevard*, racterizações: cabe ao espectador definir as coi- bula, pelo discurso dos outros actantes, pelos si-
ou de olle (wo)mall shows às vezes agressivos c sas e também sua própria visão dos caracteres lêncios e pelos sons, pelas ambigüidades e pelas 2. Os caracteres se apresentam como um conjun-
grosseiros, mas outras vezes originais (ZOUC, (perspectiva*). ausências da cena. to de traços característicos (específicos) de um
JOLY, BALASKO).O café-teatro ainda não conse- temperamento, de um vício ou de uma qualidade,
guiu proporcionar a si mesmo meios para uma I. Meios da Caracterização 2. Graus de Caracterização ao passo que os tipos* e os estereótipos* são, an-
criação suficientemente liberta das imposições tes. esboços facilmente reconhecíveis e não tanto
comerciais, e, a [ortiori, criar um gênero dramá- o romancista tem todo o tempo para caracteri- A cada dramaturgia corresponde uma dosagem "escavados", aprofundados de personagens. O ca-
tico novo, em condições de perdurar. zar o exterior de suas personagens, para descre- bem específica da caracterização: o teatro clássi- ráter é muito mais profundo e sutil: certos traços
ver suas motivações secretas. O dramaturgo. em co tem um conhecimento essencialista e univer- individuais não lhe são proibidos; assim os gran-
Q Merle, 1985. compensação, em razão da "objeti vidade" do dra- sal do homem; ele não tem, portanto, necessida- des caracteres de MüLlÊRE (O Avarento. O Misan-

38 39
C AT AR SE CATE G O R I A DR AM ÁT I C A

tropo ), conse rvam, a lém de sua carac terização A ca tarse é u ma d as final idades e uma da s tes do fi na l do sé c ulo XV I11 e do séc ulo X IX CATÁSTROFE
co nseqü ências da trag éd ia q ue, " provoca ndo pie- por ve ze s te ntarão de fi ni- la e m term os de fo rm a
e
geral, traços indi vidu ais que ultrapa ssam a pintu-
ra "sintética" de um simples caráter. O caráter é dade e temor, opera a purgação adequ ada a ta is harm oni osa . Em se u ens aio Sob re o Subli me, Fr.: ca ta stroph e; In gl. : ca ta strophe ; AI:
uma reconstituição e um apro fundamento das pro- emoç ões" (P o ét ica, 144 9b ). Trata-se de um ter- SCHILLER vê nel a não apenas um co nvite a "t o- Katastrophe; E sp.: catástrofe
priedades de um ambiente ou de uma época . O mo médico qu e ass im ila a identificação a um ato mar co nsc iê nc ia de nossa lib erdade moral " , mas
caráter é qu ase sem pre um a person agem co m a de evacuação e de descar ga afe tiv a; não se excl ui tamb ém e já um a v isã o da perfe ição for mal qu e A catás tro fe (do grego katast rophê, desenlace,
qual pode mos identifi car-nos: quem não se reco- daí que dela result e um a " la vage m" e um a pu rifi - de ve pred o m inar. desfech o) é a últ im a das quatro partes da tragédi a
nheceria no ca ráter do apaixonado, no do cium en- cação por regener açã o do ego qu e perceb e. Para Para GOET HE, a ca tarse auxilia na recon cilia- grega. Tal conceito dram at úrgico designa o momen-
uma históri a do termo , rep ort ar -se a F. WODTKE, ção de pai xões antag ôni cas. Em sua Releitu ra da to ern que a ação cheg a a se u term o, quando o he-
[O ou no do an gu stiado ?
artigo " Katharsis" in Reallex ikon , 1955 ). " Poética " de A ristóteles , e le aca ba po r fazer de la rói perece e paga trag ica ment e a falha ou o erro
um cri tério formal de fim e de desfecho ence rra- (hama rtia s v com o sacrifício de sua vida e o reco-
3. A com éd ia de ca ráter' enfatiza a de scrição
I . Essa purgação, que foi as similada à identifi - do em si mesmo (que reconcilia as paixões e que nhecimento de su a culpa. A catás trofe não está ne-
exat a das moti vações das personagens: na dia-
ca ção e ao prazer estéti co , e stá ligad a ao traba- é "ex igi do por tod o dr ama e mesmo por tod a o bra ce ssariamente ligada à idéi a de acontecimento fu-
lética aristoté lic a ent re ação e ca ráter, a ação nesto, mas, às vezes, àqu el a de co nclusão lógica
só tem imp ortân c ia na med ida em qu e ca rac teri- lho do ima gin ário e à produç ão da ilu são cê nica. poéti ca" ). NIETZSCJlE encerrará es sa ev ol ução
A psi can áli se int erpret a- a co mo prazer qu e a da ação: "O dese nro lar ve rdadeira mente trágico
za, ou seja, de fine e faz visualiza r fielm ente os e m busca de um a d e fini ção puram ent e es tética:
pessoa colhe em suas p ró prias e moções ante o co nsiste na progre ssão irre sistíve l em direção à ca-
protagon ist as. Este tipo de co média o põe -se à "Nunc a, desd e ARISTÓTELES, deu -se um a expli-
espetáculo das do outro , e prazer de e la se ntir tástrofe final" (HEGEL, E sthétique, 1832: 337) . A
comédia de in tri ga ' , baseada, por sua vez, na cação da e moção trág ica qu e pudesse finalizar
catástrofe é apenas um ca so particular, freq üente
um a part e de se u a ntig o ego recalcado q ue ass u- e m estad os de se ns ib ilidade es tética, num a ativ i-
renova ção d as pe ripécias. entre os gregos , men os "auto má tico" na era clá ssi-
me o as pecto tra nqüili zan te do ego do outro (il u - dade es té tica dos esp ec tado res. Ora falam-nos do ca euro péia, do desenlace' da aç ão.
são' , de negaç ão v v.
4. Di alética do ca ráter: se gundo a no rm a da terror e d a piedade que dev em ser aliviados ou A catástrofe é o result ado do erro de julga-
dramaturgia clássica, o caráter deve ev itar dois purg ados co m o au xíl io de gra ves acontecimen- mente do her ói e de sua falha moral : culpado
2. A história da s interpretações recolocou e ssa
exce ssos opos tos: não deve ser nem um a força tos, ora d ize m -no s q ue a vitória dos bon s princí- sem verdade irame nte sê -lo , na tra gédi a greg a, ou
ambig üidade da fun ç ão ca tá rtica . Desde o Renas-
histórica abstrat a, ne m um caso individual pato - pios, o sac rifíc io do her ó i devem nos exa ltar, nos res pon sável , na tragéd ia cl ássi ca mod ern a, por
c imento até o séc u lo d as Luzes, uma co nce pçã o
lógico (HEGEL, 1832). O caráter "ideal" realiza entusiasmar, de co n formidade co m um a filoso fia sim ples "de fe itoz inhos" (BOILEAU, Arte P oéti -
cristã inclina-se para u ma visão mais negativa da
um eq uilíbrio entre marcas individuais (psico ló- moral do un ive rso . E ainda qu e eu pe nse residir ca , 111, 107), a per son agem de ve se mpre curv ar-
catarse, que se ria fre q üe nte me nte um e ndureci-
gicas e mor ais) e determ inismos sócio-históricos aí j ustam e nte o único e fe ito da tragéd ia par a u m se. A dife re nça reside no fat o de qu e a resolução
mento an te a visão do m al e um a es tóica ace ita-
(MARX, 1868: 166-2 17). De maneira gera l, o cará- gra nde número de ho men s. não deixa de resu lta r através da ca tás tro fe tem o ra u m se ntido (na tra-
ção do sofrim en to. Es ta co nce pção desem boca em
com meno s evidên cia que todos e les, e com eles gédi a grega ou na tragédi a c lás s ica, que co ntra a
ter cenicamente e ficaz alia a universalidade à in- CORNEILLE, que traduz a pas sagem de ARISTÓ-
seus estetas, nada e ntenderam da tragéd ia enqu an - falha no indi víduo responsáv el , sua paixão, sua
dividu alidade, o geral ao particular, a poesia à TELES da seguinte mane ira: "Que pela piedade e
to form a de a rte supe rior " (Na scime nto da Tra- g lór ia etc.); este se ntid o é o resgate de um a má-
história (seg undo a Poét ica de ARISTÓTELES); pelo temor e la purgue tais paixões " (Seg undo Dis -
g éd ia , ca po XXII ). cu la orig ina l, o e rro de julgam ento, a recu sa em
ele é mu ito preci so, mas ao mes mo tempo dá cu rso Sobre a Tra g édia , 1660 ) o u mesm o e m
A refl e xão so bre a ca tarse experi menta sua ú l- transigir; ora, ao contrári o, e la desem boca apenas
margem à adapt ação de cada um de nós, j á que aí ROUSSEAU, qu e co nde na o teat ro censura ndo a num vaz io exi sten cial trag icômi co (BECKEIT),
reside o seg redo de toda personagem de teatro : catarse por ser ape nas " uma emoção passage ira c tim a retom ada com BRECHT que a co m para, co m
numa s ituaç ão abs urda (IONESCO), num escár-
e la é nós pró prio s (identifica mo- nos co m e la vã que não dura mais que a ilu são que a produ - um ard or que e le temper a no Pequeno Organon e
nio to ta l (DÜRRENMATT, KUNDERA).
catartica m entev i e é um outro (nós a ma ntemos a ziu, um resq uício de se ntime nto natural logo aba - se us Adendos, co m a a lie nação ideol ógi ca do es -
A Poética recomenda aos autores que situem a
uma distância respeitável). fado pela s paixões, um a piedade es téril, que se pectador e co m a va lor ização, nos textos, so men-
ca tástrofe no quint o ato, no momento da queda do
sustenta com algu mas lág rimas, e que nunca pro- te do s valores a-h ist óricos das personagens. Hoj e , herói, mas a cat ástrofe pode este nde r-se por toda a
~ História, caracterização, motivação, denegação. du ziu o men or ato de human idad e" (Do Contra - os teór icos e os ps icól ogos par ecem ter um a vi- peça, quando e la fo i co locada , po r flash-back",
to Socia /) . A seg und a met ad e d o sécu lo XV III e são muit o ma is nu an ç ad a e dia lética da catarse no co meço da peça (téc nica do drama analitico ",
o dram a burgu ês (no ta da me nte DIDEROT e LES- qu e não se opõe à di stân cia crítica e estética, mas no qu al se "desenvolve m" as razões e os conflitos
CAT ARSE SING) ten tar ão p ro var qu e a c atarse não se de s- a pressupõe : "A co nscie ntizaç ão (distância) não que co nduzira m à sa ída trág ica).
tina a e liminar as paix ões do es pec tado r, mas a se sucede à e moção (ide ntificaç ão), uma vez qu e
e (Do gre go kat ha rsis , purgação.) tran sfor má-I as e m virt udes e e m pa rticipação o co mpree n d ido es tá em re lação d ialéti ca co m o
e mocional no patétic o e no s ub lime. Par a LES- experimentado . Há meno s passagem de um a ati- C AT EGORIA DRAM ÁTICA
ARISTÓTELES descreve na Poética (144 9b) a SING, a tra géd ia acaba se ndo "um poema que tude (re fle xiva) a um a outra (exi stencial) , do qu e (T EATRAL )
purgação da s paixões (essencia lme nte te rror e pro voca a p ied ade" ; co nvida o espect ador a en - osc ilações e ntre um a e outra, por vezes tão pró -
piedade' ) no próprio momento de sua produção
no espe c tado r qu e se ide ntifica" co m o herói trá-
co ntrar o meio termo ( noção burg uesa po r exce-
lência) entre os e xtre mos da pieda de e do ter ro r.
xi mas que q uase se pode falar de do is pro cessos
sim ultân eos, c uja pr ó pria un idad e é cat ártica "
e Fr.: ca t égorie dra mati que (th éâ tra le] ; Ingl.:
th eat rica l ca tegory; A I.: Ka tego ricn de s
gico. Há catarse tam bém quando é empregada a A fi m de ul trapassar a s co nce pções pur ame n- (BARRUCAND, 1970 ). Theaters; Esp.: categ oria tea tra l.
música no teatro (Po lítica , 8" livro). te psi col óg icas e mor ai s d a ca tarse, os intérpre -

40 41
CENA CENÁRIO

Princípio geral e antropológico que vai além sulta necessariamente dos interesses ou das pai- não levam em conta nem seu objetivo, nem sua 4. O Não-Cenário como Cenário
das formas realizadas historicamente, por exem- xões que animam as personagens postas em função [...] O cenário, como o concebemos hoje,
plo: o dramático*, o cômico*, o trágico*, o me- jogo", cena que se encontrará freqüentemente nu- deve ser útil, eficaz, funcional. É mais uma ferra- A estética do teatro pobre (GROTOWSKI,
/odramático*, o absurdo*' Estas categorias ul- ma peça bemfeita* ou numa peça de boulevard. menta do que uma imagem, um instrumento e não BROOK) e o desejo de abstração por vezes con-
trapassam o estreito âmbito das obras literárias Segundo W. ARCHER (Play-Making ; 1912), há um ornamento" (BABLET, 1960: 123). duzem o eneenador a eliminar totalmente o ce-
e designam posturas fundamentais do homem cinco circunstâncias principais que tornam uma nário, na medida em que isto for possível, visto
diante da existência. Elas sâo aplicadas em ou- cena obrigatória: 2. Cenário como Ilustração que o palco, mesmo vazio, parece estar sempre
tros contextos que não o do teatro ocidental, mas, - ela se torna necessária pela lógica inerente ao "aprestado" e "esteticamente desnudo". Assim
a cada vez, com valores específicos. tema; A manutenção do nome e da prática do cená- sendo, tudo significa por ausência: ausência do
trono para o rei, de figuração para o palácio, do
- ela é requerida pelas exigências manifestas do rio não é, evidentemente, inocente. Durante mui-
~, Essência do teatro, especificidade, teatralidade. efeito especificamente dramático; to tempo a eneenação limitou o seu campo de ação
lugar exato para o mito. O cenário é perceptível
apenas no "cenário verbal?" ou na gestualidade
- o próprio autor parece conduzir fatalmente a a uma visualização e ilustração do texto, supon-
~ Gouhier, 1943, 1953, 1958, 1972. dos atores, na sua forma de mimar ou de simples-
ela; do ingenuamente que lhe cabia tornar evidente e mente indicar o elemento decorativo invisível. Na
- ela se impõe para justificar uma modificação redundante o que o texto sugeria. ZOLA sugere, atualidade, prefere-se falar em dispositivo cênt:
da personagem ou uma alteração na vontade; sintomaticamente, que a decoração não passa de co*, máquina teatra/* ou objeto * cênico, que têm
CENA - ela se torna obrigatória pela história ou pela uma "descrição contínua que pode ser muito mais a vantagem de não limitar o cenário por meio de
lenda. exata c atraente que a descrição realizada pelo uma camisa-de-força que aprisiona a representa-
-t.) (Do gr~o skênê, barraca, tablado:)
romance" (1881). ção, mas fazem da cena, em contrapartida, o lu-
Fr.: scelle; 1ngl.: stage ; AI.: Bühne; Esp.:
Portanto, não é de se surpreender que a cena gar de uma prática e de uma retórica, graças ao
escenario.
CENÁRIO se submeta totalmente a ele, ou, ao contrário, no trabalho do diretor.
l. O skênê era, no início do teatro grego, a barra- momento em que se põe a experimentar, como
ca ou a tenda construída por trás da orquestra.
....- -. Fr.: décor; 1ngl.: set; AI.: Biihnenbild; Esp.: de- COPEAU, desdenhe o cenário, como reação à ilus- 5. Funções Dramatúrgicas do Cenário
'-- corado. tração realista. "Simbolista ou realista, sintético
Skênê, orchestra e theatron formam os três ele-
mentos cenográficos básicos do espetáculo gre- ou anedótico, o cenário é sempre um cenário: uma Ao invés de enumerar os tipos e as formas de
go; a orquestra ou área de atuação liga o palco do ri,/ O termo também é utilizado em francês e em in- ilustração. Esta ilustração não interessa diretamen- cenário desde a Antiguidade até nossos dias, dis-
-~ glês, scenario, no sentido de callevas. (N. de T.) tinguir-se-á, para organizar a infinita variedade
jogo e o público. te à ação dramática, que, por si só, determina a
O skênê desenvolve-se em altura, contendo o forma arquitetônica da cena" (citado em JEAN, das realizações, um número limitado de funções
Aquilo que, no palco, figura o quadro ou mol-
theologeion, ou área de atuação dos deuses e he- 1976: 126). dramatúrgicas da cenografia:
dura da ação através de meios pictóricos, plásti-
róis, e em superfície com o proscenium, fachada cos e arquitetônicos etc.
3. Explosão Atual do Cenário a. Ilustração e figuração de elementos que se su-
arquitetônica que é o ancestral do cenário mural
põe existentes no universo dramático: o cenógra-
e que dará mais tarde o espaço do proscênio.
I. Cenário ou Cenografia? fo escolhe alguns objetos e lugares sugeridos pelo
Desde o início do século - de forma cons-
texto: ele "atualiza" - ou, antes, dá a ilusão de
2. O termo cella conhece, ao longo da história, ciente e sistemática nos últimos vinte ou trinta
A própria origem do termo (em francês, décor: mostrar mimeticamente o quadro do uni verso dra-
uma constante expansão de sentidos: cenário, anos - faz-se sentir uma sadia reação no campo
pintura, ornamentação, embelezamento) indica, mático. Esta figuração é sempre uma estilização
depois área de atuação, depois o local da ação, o da plástica cênica. O cenário não apenas se li-
suficientemente, a concepção mimética e pictóri- e uma escolha pertinente de signos, porém varia
segmento temporal no ato e, finalmente, o senti- berta de sua função mimética, como também
ca da infraestrutura decorativa. Na consciência in- de uma abordagem naturalista (em que a deco-
do metafísico de acontecimento brutal e espeta- assume o espetáculo inteiro, tornando-se seu
gênua, o cenário é um telão de fundo, em geral ração é "uma descrição contínua que pode ser
cular C'Iazer uma cena para alguém"). motor interno. Ele ocupa a totalidade do espaço,
em perspectiva e ilusionista, que insere o espaço muito mais exata e impressionante do que a des-
tanto por sua tridimensionalidade quanto pelos crição realizada pelo romance" (ZOLA), até uma
cênico num determinado meio*. Ora, isto é ape-
~ Palco.
nas uma estética particular - a do naturalismo *
vazios significantes que sabe criar no espaço cê- simples evocação mediante alguns traços perti-
nico. O cenário se torna maleável (importância nentes (um elemento do templo ou do palácio,
do século XIX - e uma opção artística muito es-
da iluminaçãov i; expansível e co-extensivo à in- um trono, a evocação de dois espaços).
treita. Daí resultam as tentativas dos críticos de
CENA OBRIGATÓRIA terpretação do ator e à recepção do público. Em
superar este termo e substituí-lo por cenografia", contraponto, todas as técnicas de jogo fragmen- b. Construção e modificação sem restrições do
plástica, dispositivo cênico*, área de atuação*
-t.) Fr.: scene àfaire; 1ngl.: obligatory scelle; AI.: tado, simultâneo, nada mais são do que a aplica- palco, considerado como máquina de represen-
obligatorische Srene; Esp.: escena oh/igatoria. ou objeto * cênico etc. Com efeito, "tudo se passa ção dos novos princípios cenográficos: escolha tar: o cenário não mais pretende transmitir uma
como se a arte do cenário não ti vesse evoluído de uma forma ou de um material básico, busca representação mimética; ele é apenas um conjunto
Cena que o público prevê, espera e exige, e desde o final do século XIX. Continua-se a apli- de um tom rítmico ou de um princípio estrutu- de planos, passarelas, construções que dão aos ato-
que o dramaturgo deve, "obrigatoriamente", es- car-lhe o mesmo vocabulário descritivo, ajulgá-
rante, interpenetração visual dos materiais hu- res uma plataforma para suas evoluções. Os atores
crever. Segundo SARCEY, é uma "cena que re- lo em relação a conceitos estéticos precisos que
manos e plásticos. constróem os lugares e os momentos da ação a

42 43
CENÁRIO CONSTRUÍDO CENOGRAFIA

partir de seu espaço gestual (Exemplos: cenário tir do momento em que ele é anunciado. Em A skêllographia é, para os gregos, a arte de tre um espaço e um texto. A cenografia é assim o
construtivista, tablados", dispositivos cênicos * do SHAKESPEARE, deste modo, passa-se sem difi- adornar o teatro e a decoração de pintura que re- resultado de uma concepção semiológica da en-
TNP de J. VILAR). culdade de um local exterior para outro interior, sulta desta técnica. No Renascimento, a cenogra- cenação: conciliação dos diferentes materiais cê-
da floresta para o palácio. As cenas encadeiam- fia é a técnica que consiste em desenhar e pintar nicos, interdependência desses sistemas, em par-
c. Subjetivaçâo do palco, que é decomposto não se sem que seja necessário oferecer algo além de uma tela de fundo em perspectiva. No sentido ticular da imagem e do texto; busca da situação
mais em função de linhas e massas, mas, sim, de uma simples indicação espacial ou urna troca de pa- moderno, é a ciência e a arte da organização do de enunciação não "ideal" ou "fiel", porém a mais
cores, luzes, impressões de realidade que jogam lavras que evoque um lugar diferente (indicações palco e do espaço teatral. É também, por meto- produtiva possível para ler o texto dramático e
com a sugestão de uma atmosfera onírica ou fan- espaço-temporais *). nímia, o próprio desejo, aquilo que resulta do tra- vinculá-lo a outras práticas do teatro. "Ccno-
tasiosa do palco e de sua relação com o público.
balho do cenógrafo. Hoje, a palavra impõe-se cada grafar" é estabelecer um jogo de correspondên-
W Honzl, 1940, 1971; Styan, 1967; d'Arnico, vez mais em lugar de decoração, para ultrapassar cias e proporções entre o espaço do texto e aque-
~. Percurso, imagem, espaço, cenografia. 1974.
a noção de ornamentação e de embalagem que le do palco, é estruturar cada sistema "em si" mas
ainda se prende, muitas vezes, à concepção obso- também considerando o outro numa série de
rT\ Bablet, 1960, 1965, 1968, 1975; Pierron, 1980;
~ Brauneck, 1982; Rischbieter e Storch, 1968; leta do teatro como decoração. A eenografia mar- harmonizações e defasagens.
CENÁRIOS SIMULTÂNEOS ca bem seu desejo de ser urna escritura no espaço
Russell, 1976.
tridimensional (ao qual seria mesmo preciso acres- 2. A Escritura Original do Cenógrafo
~ Fr.: décors simultanés; lngl.: simultaneous centar a dimensão temporal), e não mais uma arte
't..: setting; AI.: Simultanbiihne; Esp.: decorados pictórica da tela pintada, como o teatro se con-
CENÁRIO CONSTRUÍDO simultâneos. Fortalecido por seus novos poderes, o cenó-
tentou em ser até o naturalismo. A cena teatral grafo pode tomar consciência de sua autonomia e
não poderia ser considerada como a materialização de sua contribuição original na realização do es-
~ Fr.: décor construit; Ingl.: constructed set; AI.: Cenários que permanecem visíveis ao longo
't..: Btihnenaufbauten; Esp.: decorado construido. de problemáticas indicações cênicas": ela se recu- petáculo. Personagem outrora apagado, encarre-
de toda a representação, sendo distribuídos no
sa a desempenhar o papel de "simples figurante" gado apenas de pintar os telões de fundo, para a
espaço em que os atores representam simultânea
Cenário no qual os planos essenciais das ar- com relação a um texto preexistente e determinante. glória do ator ou do enccnador, doravante ele tem
ou alternadamente, conduzindo às vezes o públi-
quiteturas são realizados no espaço consideran- co de um lugar para outro. Na Idade Média, cada por missão investir totalmente os espaços": cêni-
do-se deformações exigidas sob a ótica teatral cena recebe o nome de mansão, quadro para uma 1. Uma Escritura no Espaço co, cenogrâfico e teatral. Ele leva em conta qua-
(SONREL,1943). ação destacada. Este tipo de cena está muito em dros* mais ou menos amplos: o palco e sua con-
voga atualmente, pelo fato de responder à neces- Se o cenário se situa num espaço de duas di- figuração, a relação palco-platéia, a inserção da
sidade de fragmentação do espaço" e de multi- mensões, materializado pelo telão pintado, a ce- platéia na construção teatral ou no local social,
CENÁRIO SONORO plicação de temporalidades e perspectivas" (cf. nografia é uma escritura no espaço em três di- os acessos imediatos da área de atuação e do edi-
os cenários dos espetáculos 1789, de L'Âge d'Or, mensões. É como sc passássemos da pintura à fício teatral.
~ Fr.: décor sanare; Ingl.: sound effects: AI.: na Cartoucherie, Fausto I e lI, encenados por C. escultura ou à arquitetura. Esta mudança da função Às vezes esta valorização dos volumes leva o
Gerãuschkulisse; Esp.: decorado sonoro. PEYMANN em Stuttgart, em 1977). cenográfica está ligada à evolução da dramatur- cenógrafo a desviar o trabalho global da encena-
gia. Corresponde tanto a uma evolução autôno- ção para seu benefício exclusivo: este é o caso
Forma de sugerir, através de sons, o âmbito da ma da estética cênica quanto a uma transforma- quando o espaço do palco não é mais que um pre-
peça. O cenário sonoro recorre à técnica da peça CÊNICO ção em profundidade da compreensão do texto texto para urna exposição de telas (instalação")
radiofônica, substituindo com freqüência, na atua- e de sua representação cênica. ou para uma pesquisa formal sobre volumes ou
lidade, o cenário realista e figurati vo. Fr.: scénique; Ingl.: well staged, stagey; AI.: Durante muito tempo se acreditou que o cená-
~ cores. Pintores célebres (PtCASSO, MATISSE, os
't..:szenisch, Bühnenwirksam, theatralisch; Esp.: rio deveria materializar as coordenadas espaciais
pintores dos Balés Russos) foram tentados por esta
escénico. verossimilhantes e ideais do texto, tais como o
expressão livre e esta exposição "teatral" de suas
CENÁRIO VERBAL autor as considerara ao escrever a peça: a ceno-
obras, e a tentação de esteticismo num cenário
1. Que tem relação com a cena", grafia consistia em dar ao espectador os meios
belo em si continua a ser muito grande, apesar
~ Fr.: décor verbal; Ingl.: verbal scenery; AI.: para localizar e reconhecer um lugar neutro (pa-
das precauções dos encenadores precupados com
Wortku/isse; Esp.: decorado verbal. 2. Que se presta à expressão teatral. Uma peça lácio, praça), universal, adaptado a todas as si-
reconduzir o cenário a proporções mais exatas e
ou uma passagem são às vezes particularmente tuações e próprio para situar abstratamente o ho-
em interessá-lo pela produção do sentido global
Cenário que, em vez de ser mostrado através cênicas, isto é, espetaculares, facilmente realizá- mem eterno, sem raízes étnicas e sociais.
da representação.
de meios visuais, é demonstrado pelo comentário veis e representáveis. Hoje, ao contrário, a cenografia concebe sua
Apesar da extrema diversidade das pesquisas
de uma personagem (cf. Rosalinda em Como lhes tarefa não mais como ilustração ideal e unívoca
contemporâneas da cenografia, pode-se enume-
Apraz, de Shakespeare: "Pois bem, eis a floresta do texto dramático, mas como dispositivo" pró-
rar algumas tendências:
de Arden", lI, IV). A técnica do cenário verbal só CENOGRAFIA prio para esclarecer (e não mais para ilustrar) o
é possível em virtude de uma convenção * aceita texto e a ação humana, para figurar uma situação - Romper afrontalidade e a caixa italiana, de modo
pelo espectador: este tem que imaginar o lugar Fr.: scénographie; lngl.: scenographv, stage- de enunciação" (e não mais um lugar fixo), e para a abrir o palco para a platéia e para os olhares, a
cênico, a transformação imediata do lugar a par- ~ craft; AI.: Bühnenbild; Esp.: escenografia. situar o sentido da encenação no intercâmbio cn- aproximar o espectador da ação. O palco italia-

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CENOGRAF IA CITAÇ Ã (

no é. na verdade. sentido co mo anac rônico. mo vim e ntos d as personagens. e não os movime n- din â m ica dos elem entos da re prese ntaç ão: " A arte Roux ino l, de STRAVINSK.I. 192 0 ), Femand LÉGER
hierarquizado e baseado num a percepção distante tos da s person agens qu e determ in am o m e io" do te atro não é nem o jogo dos ato res, nem a peça. (A Criação do Mundo, de MILHAUD . 19 2 3 ).
e ilusionista. Esta recusa não ex cl ui, aliás, uma (Ca nserie surla Mi se en Sc êne, p. 603). N a es té - nem a e ncenaç ão, nem a dança. ela é formada BRAQ UE (Les F âche ux, de AURIC. 1924 ; O
reco nquista e um forte retom o deste mesmo pal- tica de APPIA e de CRAIG, a respi raç ão de um pel os e lementos que os compõem : pelo ge sto, que Tartufo ; de MOLlERE, 1950 ), UTRILLO (Louise ,
co para ex perimentar sob re o local da ilusão. da es paç o e de seu valor rítmi eo est ão no ce ntro d a é a a lma da atuação; pel as pa lav ras, q ue são o de CHARPENT IER, 195 0 ). DUFY (O Boi 110 Te -
fantasia" e da maquina ria totalizantc: a inver- ce nog rafia, a qu al não é um objeto bid im ension al co rpo da peç a; pel as linh as e cores qu e são a pró- lhado, d e MILHAUD. 19 20 ); Les Fianc és d u
são é inco mpleta. visto que o palco ital iano não fixo. mas um co rpo vivo su bme tido ao te m po, ao pr ia ex istência do ce ná rio; pelo ritm o. que é o lla vre de SALACROU. 1944 ), DALI (As you L ike
é ma is o refúgio da veros simi lha nça e, sim. a tempo mu sical e às vari açõe s da luz. A ce nogra fia espaç o da dança" (De i'A rt du Th éâtre, p. 115). ir. no T e at ro E liseo de Roma, 194 8), MASSON
m arca de referência da decepção e da fantasia. (não se trata m ais de decoração. palav ra demasia - Enquanto APPIA prep arava para o ator um pape l (M ortos sem Sepultura , de SARTRE. 194 6 ). Hoj e ,
do ligad a à pi ntura) é cons idera da em si mesm a ce nt ra l na rítm ica do espaço e do tempo, CRAIG os pint ores par ecem ter mais d ificul dade e m li-
- Abrir o espaço e mult iplicar os pont os de vista tende a um a neutra lização do ator qu e resu lta em
co mo un iver so de sentido q ue. lon ge de ilus trar e dar com o teatro ; às ve zes e les parecem haver
para relat ivizar a percep ção-unit ária e fixa, re- sua teoria da supc rma rio ne te, co nce bida não para
redi zer o text o. o dá a ver e a ouvir, como que do ca ído na e ra dos decoradores "ilust radores", à
partindo o públi co em vo lta e às ve zes dentro su bstituir o ato r. ma s para ev ita r as "con fissões
interior (influên cia do simbolismo). APPIA "nos exceção de ce nó grafos qu e trabalham e m estrei-
do aco ntec imen to teatral. in vol untária s" de um ser hum an o dem asiado sub-
en si no u, escreve COPEAU. qu e a duração mu si - ta co labo ração com um mes mo en cenado r (R .
- Arrumar a cenografia em função das necess i- ca l. q ue e nvo lve , co ma nda e orde na a ação d ra- met ido à emoção. ao acaso . à im prov isação pró- PEDU ZZ I e P. C HÉREAU. R. ALUO e R.
dades do ator e para um proj eto drarnatúrgico m ática. gera ao mesm o tem po o es paço onde e la pria da matéri a vi va , PLANCHON. Y. KOKKOS e A. VITEZ, J. SVOBODA
es pecífico. se desen vol ve . Para ele. a arte da ence nação , em Ap ós es ta abert ura m agistral de APPIA e de e O. KREJCA . W. r,lINKS e P. ZADEK, G. AILLAUD
sua acepção pu ra. não é out ra coisa senão a con- CRAtG . o piso está aplai nad o para o sécul o XX e K. M . GRÜBER). Não ob sta nte, os cenógrafos
- Reestrutu rar o cenário levand o-o a basear-se entrar no es paço cc nográfico . Experiê ncias e es-
fig uração de u m texto o u de uma música . torn ad a fo ra m bem sucedidos. nos melh o res mo me nto s
altern adamente no es paço . no objeto. no figu- tilos sucedem-se ra pid am en te. E e m pr im eiro lu-
se nsíve l pel a açã o viva do co rpo hum an o e por da cenog ra fia contemporânea, em an ima r o es -
rin o: term os que superam a visão con gel ada de g ar os co nstrutivi stas russ os qu e, como TAÍROV
sua reação às resistências qu e lhe o põem os pla - paç o. a duração e o jo go do ato r num ato criador
uma superfície a ser re vesti da. ( 1885 - 1950) e se u Teat ro Libertado, estruturam
nos e volumes co nstruídos. Daí o ban imento, do lo ta i o n d e d ificilm e nt e se fa z a parte do
o e spa ço seg undo plano s, linh as e c urvas que fa-
- Desma terialirar a ceno grafia: graças ao empre- palc o. de toda decor ação inanimad a, de tod o tel ão e nce nador, do ilu rninador, do ato r o u do m úsico .
ze m da ce na um a máqu ina de re presentar.
go de materiais leves e faci lme nte deslocáveis. pinta do. e o pa pe l pri mord ial des se e leme nto ati-
Em reação ao me smo te m po co ntra o este tis-
o palco é usado como acessó rio e " prolongamen- vo que é a luz" (Commedia, 12 de março de 192 8). [J,1 Bablet, 1965, 1975; Rischbie ter e Stor ch, 1968 ;
mo dos pa rtidários do espa ço rítmico e co mo o l3adcn hau sen e Ziel ske, 1974; Pier ro n, 1980;
to" do ato r. A luz e os refletores escu lpem na es- A o bra de APPIA - além de se us livro s (A EIl-
co nst rut ivismo mi litant e dos ce nógra fos russos. Boucris. 199 3.
curidão qualquer lugar ou at mos fera . ce lla çã o do Drama lI'aglle riallo ( 18 9 5 ), Di e
Jacq ues COPEAU ( 1879- 194 9) propõe vo ltar a um
Mu sik und di e lnszenierung (1899). A Obra d e
E m todas essas práticas co nte m porâ neas , a ce- p alco nu, a um teatro de tab lados qu e prete nde
A rte Viva (192 1» - comp reende um a ce ntena de
nogr afia não é mais o element o obrigatório do te- " negar a imp ortância de qual qu er maqui naria" e
esbo ços de ce ná rios para ó peras (WAGNER), tex- C EN O LO G IA
lão pintado de antiga men te e . si m. um elemento d ei xa r ao ator e ao ges to a prim eira e a última
d inâmico c pol ifuncio nal da represe ntação teatra l.
tos dramáticos (SHAKESPEARE,IBSEN. GOET HE)
e "es paços rítmicos" pa ra JAQUES·DALCROZE.
pal a vra . A ce nografia de ve submete r-se ao proje -
to da e ncenação, a qu al está a se rviço do texto e
e Fr.: sc én o l o g i e; l ngl. : s c e no l o g y: A I. :
Sze nologie; Esp.: escenologia.
" A arte da ence nação , escre ve APPIA. é a art e de do "e sb oço da ação dramáti ca " . N as antíp odas
3. Pontos de Referência Ce nog ráficos projetar no Es paço aqui lo que o dr a m aturgo só es téti ca des pojada. enco ntra mos aq ue la do s Ba-
pôd e proj etar no Te mpo." O ator não es tá mai s MEIER HOLD cha ma ass im (sceno vedenieí a
lés Rus sos de DIAGHlLEV. que tri un fa e m Paris a
Mais q ue da r uma lista necessaria mente incom- e nce rra do num ambiente opressivo o u inse rido ciênc ia d a ce na q ue est uda a dram aturgia . a e n -
parti r de 1909. com os ce nári os e figu rinos cria-
ple ta dos prin cip ais cen ógr afos do séc ulo XX. numa tel a fixa ; ele es tá no centro de um espaço ce naç ão, o jogo do ator. a ce nog ra fia , e m suma ,
dos po r Léon BAKST e, dep oi s. as reali zações de
insistiremos no papel fund ador de Adolphe APPIA anim ado pel a luz. A cen ografia con st ró i volumes lodos os e le me ntos qu e co ntribu em pa ra a pro-
GONTSC IlAROVAe de LARIONOV. Uma o rgia de
( 1862- 1928) e de Ed ward Gordo n CRAIG ( 1872 - mac iços. po rém frá geis e man ej ávei s: escadas. d ução d o es petáculo. Falar-se-ia hoj e e m tea-
cores vivas (verme lho , laranj a. am are lo. ve rde) ,
196 6). Com eles. a ce nog rafia im põe-se pela pri- pód ios, pil ares, so mb ras projet adas não es maga m trol ogia " , ou, pa ra as fo rmas não-e uro péi as, e m
de mo tivos fo lclórico s russos ani ma o ce nário pin-
meira vez co mo a alm a da represent ação teatral: o ato r, e les inser em o co rpo hum an o nu m a orde m etnoce n olo gia *.
lado. c. mais ainda. os figuri nos dos cantores, dan-
mais qu e pintores ou decoradores, APPIA c CRAIG mu sical e arq uite tô nica . O espaço é ass im um a çarinos o u cori stas. Co m aqu ilo qu e se ch amou
sã o reforrnadores do teatro dot ad os de uma con- paisagem men tal . um a arquitetura perfeita, o so - "o teatro dos pintores" , a ce nografia co rre o risco
ce pção globa l da encenação; mais que por suas nho ou a música tomam- se for ma. a idéia maté- - mes mo que se trate de um risco de licad o - de C IN É S ICA
realizações co ncretas de ce nog ra fias usadas real- ria. o text o rc vi vc no univer so rítmi co do tempo e pe rde r o co ntro le da pintura em be ne fício de uma
mente para encenações, el es são importantes por do espaço. ex posição gen eralizada das telas que não tem, com Ver Kinesica.
se us esboços. projetos, refl exões teóricas. Ambos CRAIG com partilha co m APPIA a recusa d a a açã o cênica. mais q ue um vínc ulo ba stante frou-
reagem co ntra a ence nação natural ista que faz do exatidão histórica, da encenação per vert id a pel o xo . O result ado não é me nos sur preende nte qua n-
meio- ambient e a répl ica mim ética e passiva da ato r-ve dete ou a ilustração pic tó rica . a admi ração do os pintores, trabalhand o muito freqü enteme nte C I NES TES IA
real idad e; contra a co ncepção de ANTOINE. por pel a obra de arte globa l de WAGNER. a c renç a para os Ba lés Ru ssos, têm por nom e PICASSO (Pa -
exemp lo. para quem "o meio é q ue de termina os nu ma auto nom ia da ce nog rafia e num a síntes e rada , de SATIE. l I)17 ), ~ I A T IS E ( O Canto do Ver Kinest csia,

46 47
C LÍM A X CÓ DtGO S TEATKAtS

CITAÇÃ O ç ão no flux o verba l e ges tua l, de uma destrui ção ~ Emploi, dist ribui ção, personagem . b. Dificuldade de llllUl rip a/ a gia dos
d a coerência' do texto e da ficção.
e
cód igos
Fr.: ciuuion; Ingl. : quot ation; AI.: zu» . Esp.: Desse modo, o ator ci ta a pe rso nage m com o
Ne nh uma tipol o gia im põe-se a outras . Entre-
cito . e la poderia existir e m vá rias ve rsões o u co mo ele , CÓDIGOS T EATRAIS tanto , é útil estudar à p ane os códigos específi-
ato r, se asscnhoraria dela para represent á-Ia. se
cos do teatro (especificida de' teatral ) e os có di-
I. Na Dram aturgia quisesse fazer teatro ... " E le cita um a per sonagem. :"). Fr.: co des a li thé ãtre; Ingl.: thcat rical cedes ; gos co muns a outros sis te mas (pintura, literatura,
é testemunha. qu and o de um processo [...] o ator "t..; AI. : Tlieat erkodcs ; Esp.: códigos teat ral es . mú sic a, narrativa) . O cód igo ideol ógic o co loc a
A citaç ão é " norm almente" - para a forma dra- fala no passad o, a personagem , no presente" um pro ble ma particul ar, uma vez qu e é, por na-
mática do teatr o ilusionista - banida da drama- (URECHT, 1951 : 99 ). I . Código e Códigos tureza, revelado com muita dificuldade, e por-
turgia . O ator e nca rna seu papel e leva a pensar qu e parti cipa dos el emento s artísticos, c ultura is
que está inventando seu texto no momento em que 3. Na Encena ç ã o A e x pressão qu ase não é en contrad a no sin - e epi st em ológ icos do te xt o e da eena. O s códi-
o enun cia ; e le não c ita, poi s, o esc rito do drama- gul ar. o u e ntão é a b usiva, uma ve z qu e não existe gos pa rticula res da o b ra (id io le to) co ma nda m
turg o. Est e dá impressão de ter extraído um frag- A inst ância citan tc é o en cen ad o r; ele proc ede um có d igo te atral qu e dê a chav e de tud o o que uni camente o fun ci on amento interno (sintá tico )
mento de realid ade, um ambie nte e palavras aos po r alusões (nem sempre deci frávei s. todas elas, é d ito e m ostrad o e m ce na (co mo não há lim a da representaç ão.
quai s permite q ue se expre ssem . A úni ca exce- por tod os) a outras ence na ções, a estilos diferen - lin gu agem te atral ). Seri a ingenuidad e es pe ra r da A seg uinte di sti nção ent re: códigos específi-
ção aparente tol er ada pel a dram aturgia clássica tes , a um qu ad ro de pintura (PLANC HON no semiologia" a re vel ação de um o u mesm o vá- co s. códigos não-espec íficos, códigos mistos é
seria a citação de se ntenças" , mots d 'outeur: ou Tartufa, STREHLER em 1/ Campiello, GRÜBER em a pe na s um a cl assifi cação e nt re outras, conforme
rios có d igos te at rai s que pod er iam redu zir (o u
refle xões gera is atribuídas a determ inada perso- Empedokles, H õlde rlin lescny : A cit ação (quando o c rité rio da especifi cida de * teatral :
fo rma liza r) a re pr esent ação teatra l a um esqu e-
nagem . Para o auto r. é a op ortun idade de fazer não é um simples jogo ou um mod o de apregoar
ma do qual seri a a tradução. O códi go é, portan- • Có dig os específi co s
passar um certo número de fra ses brilhantes ou sua cultura) pendu ra a peça num uni ver so diferen-
te, dá-lhe uma no va luz, quase sempre distanciada. to, uma regra qu e associa arbitrari am ente, mas I . C ódigos da representação ocidental, por exem -
de elevar a di scussão a um pat am ar superior de
El a abre um vasto ca mpo semântico e modaliza" o de m aneira fixa. Um sis te m a a outro (do mesmo plo : a ficção, a cena como lugar transformável da
generalização . No entanto, a conve nçã o da ori -
te xto onde se introdu z. No limite , produz um efei- mod o qu e o códi go d as flores associ a ce rt as flo- aç ão . a quarta pa red e " qu e esconde a ação e a
gem do di scurso na per sonagem por enquanto ain-
to es pec ular para a peça remetida incessant emente res a det erminados se ntime ntos ou simbo lis mos) . desvel a para um públi c o I'o)'eu r.
da não foi abol ida.
a o utras significa ções. A es ta conc e pçã o da se m io logia da comunica - 2 . C ódi gos vinculados a um gê ne ro literário o u
A dramaturgia é pica. ao co ntrário. mostr a a or i-
ção *, preferir-se -á . para o te at ro. a co nce pç ão lúdi co, a um a é poca. a u m est il o de atua çã o.
gem da fala e seu pro cesso de elaboração por um 0.--,
~ Paródia. inte rtc xtu alidad c. de um có d ig o não li xado por anteci pação , e m
autor e atore s. Parec e. então, que a represent ação • Códigos não-esp ec ífi cos
perpé tuo rem an ej ament o e sendo obj eto de uma
não passa de um a narrati va ou de uma citaçã o no Exis te m fora do teatro , e o es pec tador, mes mo
,/::1=) Bre cht , 196 3; Benja mim . 1969; Compa gno n, pr át ica herm enêutica ' .
interior do disp ositivo teatr al. C itar. efe tiva mente. ig nor ando tud o de teat ro , " tra nspo rta-os" cu nsi-
1979.
é retirar um fragmento de texto e inseri-l o num go po r oc asião do espetáculo:
tecido estranh o. A c itação está ligada ao mesm o 2. Dificuldades d a Noção de Códi go - có d igos lingü ísti cos.
tempo ao se u co nte xto ori ginal, e ao texto que a Teatral - códigos psicol óg icos : tudo o que for necessário
recebe. O "atrito" desses doi s discursos produz um
C LÍM AX
para a boa percep ção da mensagem ,
efeito de estranha mente " , O mesmo ocorre com a a. Obj eçã o de prin cípio - cód igos ideológi co s e cult ur a is: muito pouco
:"). Fr.: clou; lngl. : clim ax ; AI. : H õhepunkt; Esp. :
dramaturgia " citacional". Not a-se: co nhec idos e , port anto , pouco fo rm ali záve is,
t..: IJlI I1/o culminant e. Na c rítica dram áti ca , freqüentement e se enco n-
- o texto q ue receb e : a maqu inaria teatr al , os ato- tra a objeção segun do a qual cod ificar um es pe tá- es ses có d igos sã o , no e nta nto , a g rade at ra-
res. o trabalho de composiç ão do dramaturgo ; vé s da qual percebemo s e a vali am os o mundo
M om ent o e pa rte do espetá cu lo que prende a culo (q ua ndo de um a e nce naç ão) ou procurar nel e
- a citação: o texto a se r dit o pelos co med iantes. a ate nção do públ ico e m ar ca o m om ent o mai s es- (ALTHUSSER. 1965 : 149-151 ). (Socio crítica *.)
cód igos defin itivos seria im obil izar a representa-
gestualidade ada ptada à personagem a se r simu- perado (ccl/a obrigat áriu *, núme ro de ato r o u ção e, a c un o pra zo , co nde ná-Ia a mort e, conge- • Cód igos mi stos
lada, a fábula a se r exposta. A separação entre ac hado da encen ação ). lando-a num ún ico esquem a significa nte. A obje- Seria o tip o de cód igo qu e dá a chave dos có di-
citado e citant e nunca é disfarçada em proveit o
ção é de molde a re fu tar urna abordage m po sitivis ta gos es pecíficos e não- e sp ecíficos ut ili zados na re-
da ilusão . Ci ta r é di stan ciar-se de si mesmo.
dem ais e com e ixo na me nsage m tea tral , co ncebi- prc sent aç ão. D este mod o, par a a gcstu alidad e , é
COADJUVAR da co mo um co nju nto de sinais emitidos e recebi- impossív el se para r o qu e o gesto tem de próprio
2. No Jogo do Ator

É através do ge sto. sobretudo. que o ator afixa


e Fr.: util ité; Ingl.: 10 pluv sccond fiddle; AI.:
Nebe nrolle; Esp .· rcp rc se ntar p equeiios
dos tão clarament e q uanto um farol. Por outro lado,
uma abordagem m ai s flexível dos códi gos e uma
do ato r (portanto de nã o teatralmente es pecí fico )
e o que tem de artifi ci al e construído (po rtanto,
perspectiva mai s hermenêutica" da interpretação de especí fico do teat ro ). Em suma, o gesto - bem
seu text o co mo cita ção. " Em vez de querer dar 1"'I,eles.
do espetác u lo não poderia m deixar de levar em co mo a representaç ão int ei ra - atua constantem en-
impressão de imp rovisar, o ator. ao contrário, mos-
co nside ração o processo sc- m iol ógico , so b o pre - te nos doi s qua d ros: real idade imi tada, efe ito do
trar á o que ocorre de fato: que e le es tá cita ndo" Emprego suba lte rno de um ato r qu e só é úti l
texto de qu e ele co nge laria o acontecimento" da real , rnimcsc e construção art ísti ca, procedimc n-
(BRECHT, 1972: 396). A ci tação é sempre reali -

l
par a valoriza r se us par cei ros. "Coadjuva r" é te r
re present ação . 10* teatral.
zada por um efeito de ru ptura, de um a interrup- uin pap el " sec und ário de co mpa rsa .

48 49
COERÊN CIA CO LAGE M

c. Co dificação e convenção teatral ass u m e e repre senta em sua c onsci ên cia uni- voca um efeito cô m ico (co mo e m ION ESCO, e jogo entre coer ênc ia e incoerência . entre norma c
É ce rto qu e mu itas da s co nve nç ões te at rais se ficada as c ontradiç õe s d a peça : co inc ide perfei- m esmo j á em MOLl ÉKE, e m Anfitriõoi. tran sgr e ssão . Coloca do co mo em qualquer narra-
red uze m a um co nj unto de cód igos, es pecia lme nte tam ent e com o confli to' e a di scu ssão qu e a o põe tiva, numa "ordem d a narrati va dominant e" , o es-
nas forma s d e e sp et ácul o muito tipifi c ad as ou às o u tras não pa ssa d e um de b at e ab strat o d e 4 . Coerênc ia do Espetácul o pect ador " visa im po r um mod o d e in teli gibilidad e
ritu al izad as (como a Ópera de Pequim , a dan ça co nsciê nc ias , que se o põem e se aniqu ilam na do uni verso co locado com o coer ente , contín uo .
c lássica, o Nó ctc.), Fica fácil , e ntão, de finir a id eol og ia c n a m o ral coere nte e n ão p robl cm áti- A coerê ncia do texto espeta cular' (da encena - deci frável " (J. M. ADAM, Langue Française, n. 38,
co nve nç ão e m qu estão, limi t á-la a um co njun to ca da co nsciê nc ia ce n tra l d o autor. ('"O' ) dep ende, ant es de m ais nad a, d a coerência 197 8 ). O triunfo d a coerência também va le, co mo
d e re gras imut á vei s. Ma s o utras co nvenções, A coe rê nc ia d rarnat úrgica é co nseqüê nc ia de d ram at úrgi ca na qual deve ria ins pirar-se. C ontu- mostra ADORNO, para as obras m od ern as o u ab-
igu al m ent e necessária s à produçã o d o es pe tác u- um a v isão unifi c ad ora d os co n flitos de c on sci ên- do , o tr ab alho da e nce naç ão tem o pod er de acen- surdas : " A ob ra q ue nega rigoro samente o se ntido
lo , são, às ve zes, " inco nsc ie ntes", seja po rq ue cias e nt re her ói s o u no inte rio r d e um herói. A tua r ou recu sar a coe rê nci a/inco erênc ia lida no texto fica lig ad a po r essa mesm a lógi ca à m e sma coe-
dem asiado automáticas para se re m aind a notad as coe rê ncia es tá lig ad a a um a na rra tiva qu e se pode e , so bretudo, de in staur ar sua pr ópri a co erê nc ia rên ci a e un id ad e que o utrora de vi am evoca r o se n-
(leis d a per spec tiva, de eufon ia, marcas ideológicas ler se m d ifi culdade, se m ch oqu e s e se g und o uma (questioná rio'). Uma e nce nação coerente não pro- tid o" (ADORNO, 197 0 ; 2}1 ; fr, 1974: 206). Ocorre
qu e re gem a e nce nação , con ven çõe s nece ssári as lógica de ações e um a or dem de narr at iva e m con - du z nenhum sig no qu e saia do â m b ito da an ál ise qu e a coerê nc ia se rea liza na mente do es pec tador
à percep ç ão es té tica da represent aç ão e g raças às form idade co m o m od el o socioc u ltu ra l ad equado d ram aui rgicn. Ela facil ita a tar e fa do espectado r ao som ente muito d ep oi s d a rep resentaç ão , co mo se
qu ai s rec on sti tuímos uma h istória e um un iver so a um a d etermin ad a soc iedade. un ir e le me ntos idênti cos: mesm a tonalidade dos o te at ro , po lvo d a cata rse e da némcsis , acaba sse
d ram áti co s, a partir de a lg uns sig nos). e le m e ntos d o ce ná rio, a tuaç ão harm ônica, tempo sempre no s agarra ndo de no vo.
2. Incoerênci a Dramatúrgica de jogo mantido co ns ta nte, m od o harmonioso de
t::fc) Ba nhes . 1970; Helb o, 1975 . 19H3; Eco , 197 6; es tru tur aç ão da açã o c dos jogos cêni cos etc. €) Se rnio log ia , serniotiza ção , unid ad e s, red un-
0= de Marini s. 1982. Inversamente, a dr am atur gi a pó s-cl ás sica de- U ma encenação inco er en te (no se nti do não-pe-
\.>. d ânci a,
nuncia esta busca da un idade a qu alquer preço. A jorativo: evidentemente, pod e ser qu e a incoerên-
ação não é mais contínua ou lógi ca c, sim, des- c ia também não seja int en ci on al ), ao contrário,
COERI ~NCIA membruda e sem e squem a d iret or; o lugar e a con fu nd e o espectador. fazendo o se n tido "explo- COLAGEM
temporal idade são red uz idos ; a pe rsonagem não dir" e m todas as dir e ç õe s, tornando impossível
-0- (Do l ati ~ l cohacrent ia, coe s ão.) m ais existe e é substitu ída po r vozes o u di scursos uma interpretação g loba l. -0- Fr.: co llagc ; Ingl.: ca l/age; AI.: Coll age ; Esp.:
Fr.: cohé rencc; Ingl.: cohcrence; A I.: Kohãrcnz : A coe rê nc ia vale par a a o rgan ização do s di- colage.
d isp aratados. E ssa s " exp losões" não têm nenhu-
Esp.: cohe rencia.
ma ex igê nci a formal de liberd ade na utili zação do versos sis te mas sign ifica ntes, par a o mo do como
luga r. do tempo c do es paço. São a co ns eq üênc ia s ig n ificamos produ zem sig nifi cados compa ráv e is, Termo de p in tura introd uzi do pel o s c ub is tas.
Ha rm o nia e não- contradi çã o e n tre os e le me n- e a té m e smo redundante s. Qua ndo h á d efasagem e depoi s pel o s futurist a s e s u rre a lis tas para sis -
lógica de uma constatação : a do fim d a co nsc iê n-
tos de um conj unto. Um texto (uo se ntido serni ótico temati zar u ma prát ica a rtística: a a prox i mação
c ia unifi cad a e livre do heró i. Já qu e a ação não e nt re estes sistemas, a in co e rê nc ia a ss u me um
do term o) é c oe re nte qu and o os ac ta ntcs perma- at rav é s d a co lagem de d oi s e le me ntos ou m at e-
possui ma is unidade nem co inc ide ma is co m se u se n tid o se m pre per tin ent e. A percepção d e def a-
necem os mesm os e as rel ações e ntre a s pr op o si- riai s het e r ócli to s. o u a inda de o bjetos a rtísticos
au tor. a fábul a apre s entar -s e - á d esmembrada, sa ge ns informa so bre o ritmo ' d a e ncena ção . A
ções inici ais e fin ais permanecer em id ênt ic a s (l i e o bje to s re ai s .
descont ínua. po r ve zes a rru mada po r um narrador pe rce pção d e um a tát ica d a coe rênc ia/i nco e rê n-
ADAt-1. 19 84 : 15), qu and o pude rmo s in tegr ar o
qu e pos su i u m a c ha ve pa ra a aná lise da soc ied a de, cia ilum ina o discurso da encenação, a organiza-
s ig no a u m si s te m a g loh a l de in te r pretaçã o" ção do te xt o espetac u lar (PAVIS. 19 85 e). I . A co lage m é uma reação c o ntra a e s té tica da
(CORVIN, 19 85: 10 ). com freqüência e ntregue ao espectador par a sua
A noção de coe rê nc ia/i nco er ê nci a é um a cat e- ob ra pl ást ic a feita co m um úni c o materi al , co n-
recon stitu ição parc ial, como e m BRECHT.
goria tant o d a reccpç âo qu ant o d a p rodução" . É ten do e le me nt o s fu nd idos harm oni o samente d en-
I . Coe rência Dramatúrgica prod uz ida pel a e nce nação, co mo p roj et o de se n- tro d e uma fo rm a o u de um â m b ito pre ci so . El a
3. Coe rênc ia da Ce na tr ab alha o s m at e riais, tcm ati za o at o po ét ic o de
tid o , m as, e m última in stân cia, é o espectador qu e
A d ramatu rgia clássica se ca ract er iza por um a tcm a possibilid ad e de co nstruí-Ia a part ir d os sig- s ua fabric aç ão, di ve rte-se co m a aproximaç ão ca -
g ra nde unidad e e hom ogeneid ad e d os m at er iais O e spaço cê nico ta m bé m está e m cond içõ es de nos da repre sentação . Ca be ao e s pecta dor e nc o n- su al e pro voc ati va de se us co ns titu intes .
usad o s e d e s ua co mpo sição. A fábu la * fo rm ei insta ura r um a coerê nc ia dos lugares representad os . tr a r n os siste mas s ig nifica nte s d a re prese ntação A co lage m é um jogo co m ba se no s signifiran-
um todo a rtic u lado lógica e o rga nica me nte e m É capaz de interpre tar tod os os papé is im ag in áv eis. um a un idade ou um a di sp aridade. A co m pree n- tcs da o bra , is to é , co m base e m s u a mat eri alidad e.
part e s co ns tit u int es da ação. A unidad e d e lug ar de tran sformar-se num pisca r de olho s graças a uma são d a co m b inató ria d os di ver sos s iste m as cêni- A pre sen ç a de materiais não-nobres c in u sit ad o s
e d e tempo leva toda a narrativa a um m at eri al con ven ção de jogo . Tod a via, urna outra conven- cos proporciona-lhe a po ssibil idade d e conciliar garante a abert ura" sig ni ficante da obra, impo s-
homo gên e o e ininterrupto. O diálogo é um a se - ção pede que. urna ve z situ ad a, a ce na conserve o u o po r certos signos c de co ns tru ir. para o con- sihilita a desco bert a de uma ordem ou uma ló gi -
q üênci a de tir ada s ou réplicas ligadas e ntre si identidade e coerência e que tudo qu anto nela apa- junto do espetáculo. isotop ias " d e leitura, em ca. (A montag em, ao co ntrário, oporá seqüências
por u m a un idade temática: não d ev e h av er recer seja marcado pel a me sm a modalidade': nes- s u m a, instaurar sua pr óp ria co e rê nc ia d e leitura, moldadas no m e sm o tecido e sua organização con-
" tr a nces" . d e sli za -se paulatinament e d e u m a se sentido. a cena homogcn íza co m perfeição o m esmo a partir de sist em as d e sig nos q ue a prin- tra stad a scni s ig nificativa.)
o utro tem a. pe rma necendo o estil o se ns ive lm e n- aco ntec im e nto repre sentado ; as person agens que cíp io possam par ec er in coer en te s. C olar fragmentos c obje tos é um m odo de ci -
te uni fo rme. Ac ha-se ex cluída a con ver sa se m aí se e m pare lha m evo lue m num un i ver so regido A noção de coerênc ia é e mi ne nte me nte dialéti- tar um efe ito o u u m qu adro ant erior (cf, o b igode
finali dad e prec isa o u as di scu ss õe « se m o bjet o pelas mesmas lei s ; suas troc as ocorrem num m es- ca e só e x iste e m o po sição à de incoerênc ia. Tod o qu e D UCH At-lI ' co loco u na Giocond a ). O a to
c se m ví ncul o com a si tu ação. A personagem mo plan o . Por ou tro lad o , a vio lação de ssa lei pro - te xt o - c port anto tod a e nce na ção - é um pe rpétuo citaci onal te m u ma fun ção melacrít ica , e le dcs-

l
5u 51
COMEDIA COtvU'.DIA

dobra o objeto e seu olhar, o plano factual e a a gestualidade que o acompanha. É necessário dis- tador. Sendo "uma imitação de homens de quali- As contradições são finalmente solucionadas
distância" tomada em relação a ele. tinguir a colagem de materiais heterogêneos (atua- dade moral inferior" (ARISTÓTELES), a comédia de modo agradável (ou estridende) e o mundo res-
ção, cenografia, música, texto etc.) da hibridação nada tem a extrair de um fundo histórico ou mito- tabclece seu equilíbrio. A comédia apenas deu a
2. Todas essas propriedades da colagem em artes e da criolização que eonstituem uma nova produ- lógico; ela se dedica à realidade quotidiana e pro- ilusão de que os fundamentos sociais poderiam
plásticas valem para a literatura e o teatro (escri- ção (teatro intcrculturals i. saica das pessoas comuns: daí sua capacidade de ser ameaçados, mas "era só para rir". Ainda aí, o
tura e encenação). Em lugar de uma obra "orgâ- adaptação a qualquer sociedade, a infinita diver- restabelecimento da ordem e o huppv end devem
nica" e feita eom uma só pedaço, o dramaturgo 6) Citação, intertextualidade, jogo e contra-jogo, sidade de suas manifestações e a dificuldade de passar primeiro por um momento de flutuação no
cola fragmentos de textos oriundos de todos os ~ dramaturgia, coerência. deduzir uma teoria coerente da comédia. Quanto qual tudo parece perdido para os hons, por um
lados: artigos de jornais, outras peças, gravações "ponto de morte ritual" (FRYE, 1957: 179) que
ao desenlace"; ele não só não poderia deixar ca-
sonoras etc. É viável uma estilística dos modos rT"! Revue d'Esthétique, 1978: n. 3-4; Bablet (ed.), desembocará, em seguida, na conclusão otimista
dáveres nem vítimas desencantadas, como desem-
de colagem, ainda que sua tipologia seja traba- ~ 1978. boca quase sempre numa conclusão otimista (ca- e na resolução final.
lhosa. A partir do eixo metáfora/metonímia, de-
samento, reconciliação, reconhecimento). O riso
termina-se o movimento de aproximação temática
de pedaços colados ou aquele que as afasta umas do espectador ora é de cumplicidade, ora de su- 2. Peça Cômica
COMEDIA perioridade: ele o protege contra a angústia trági-
das outras. Mesmo que estas se oponham em ra-
zão de seu conteúdo temático ou de sua mate- ca, propiciando-lhe uma espécie de "anestesia A peça cômica procura fazer sorrir. Para o
Fr.: comedia; Ingl.: comedia; AI.: Comedia; afetiva" (MAURON, 1964: 27). O público se sen- classicismo francês, a comédia, por oposição à
rialidade, elas são sempre correlacionadas pela
Esp.: comedia.
pesquisa sobre a percepção artística do especta- te protegido pela imbecilidade ou pela doença da tragédia e ao drama (século XVIII), mostra per-
dor. Desta percepção, original ou banal, é que personagem cômica; ele reage, por um sentimen- sonagens de um meio não-aristocrático, em situa-
Gênero dramático espanhol a partir do século Xv,
depende o bom resultado da colagem. to de superioridade, aos mecanismos de exagero, ções cotidianas, que acabam se saindo bem de
A comedia é divida habitualmente em três jor-
contraste ou surpresa. apuros. MARMONTEL dá uma definição muito
nadas. Sua temática gira em torno de questões
a. Colagens dramatúrgicas Tendo surgido ao mesmo tempo que a tragé- geral, mas bastante completa, da comédia: "É a
amorosas, de honra, de fidelidade conjugal e de
Pesquisa de textos ou de elementos de jogos dia, a comédia grega, e depois dela toda peça cô- imitação dos costumes, posta em ação: imitação
política. Além dos gêneros tradicionais da comé-
cênicos de origem di versa: adições, oa peça, de mica, é o duplo e o antídoto do mecanismo trági- de costumes no que difere da tragédia e do poe-
dia, distinguem-se:
textos históricos, prefácios, comentários (cf. co, uma vez que "O conflito comum à comédia e ma heróico; imitação em ação, no que difere do
- a comedia de capa)' espada (comédia de capa e poema didático moral e do simples diálogo"
MESGUICHinserindo em seu Hamlet (1977) uma à tragédia é Édipo" (MAURON, 1964: 59). "A tra-
espada): mostra os conflitos de nobres e cava- (1787, artigo "Comédia").
entrevista de GODARD e um monólogo de CIXOUS: gédia joga com nossas angústias profundas, a co-
leiros, A comédia é submetida ao império da suhjeti-
P. CHÉREAU criando um prólogo a partir de vá- média, com nossos mecanismos de defesa contra
- a comedia de caracter (de caráter*), vidade: "É por meio do riso que dissolve e
rios textos de MARIVAUX para sua encenação de elas" (1964: 36). Os dois gêneros respondem,
- a comedia de enredo (de intrigav v;
A Disputa; R. PLANCHON recompondo inteira- então, a um mesmo questionamento humano, e a rcabsorvc tudo para que o indivíduo garante a vi-
- a comedia de figuron (satírica): dá uma ima- tória de sua subjetividade que, apesar de tudo que
mente suas Folies Bourgeoises); A. BÉZU reunin- passagem do trágico ao cômico (como a do so-
gem caricatural da sociedade.
do entrevistas de ciclistas para descrever o mundo nho angustiado do espectador "paralisado", ao riso lhe possa acontecer, permanece sempre segura de
de La Grande Bouclc (1996). libertador) é garantida pelo grau de investimento si" (HEGEL, 1832: 380). "É cômica (...] a subjeti-
emocional do público, o que FRYE denomina vidade que coloca contradições em suas ações,
b. Colagens verbais COMÉDIA para em seguida resolvê-Ias, permanecendo cal-
modo irônico: "A ironia, afastando-se da tragé-
ma e segura de si" (HEGEL, 1832: 410).
Junções de restos de conversas ou de sonori-
dades (ex. R. Wilson em Letter to Quem Victoria),
D- (Do grego komedia, canção ritual por ocasião
dia, começa a emergir na comédia" (FRYE, 1957:
285). Tal movimento produz estruturas bem di-
do cortejo em homenagem a Dioniso.)
de "disparates" temáticos do teatro do absurdo", ferentes em cada caso: do mesmo modo que a 3. Seqüência Mínima da Comédia
Fr.: comédie; Ingl.: comedy; AI.: Komõdie; Esp.:
colagens de estereótipos mundanos em La Baic comedia. tragédia está ligada a uma série obrigatória e ne-
de Naples, de Joêl DRAGUTlN. cessária de motivos que levam protagonistas e A fábula da comédia passa pelas fases de equi-
No sentido literário e antigo, comédia designa espectadores em di reção à catástrofe, sem que líbrio. desequilíbrio. /lOVO equilíbrio. A comédia
c. Colagem 110 cenário qualquer peça, independentemente do gênero ("fa- dela possam se "desvencilhar", a comédia vive pressupõe uma visão contrastada, até contraditó-
Pesquisa pictórica de inspiração surrealista que zer comédia", a Comédie-Française, "RACINE fez da idéia repentina, das mudanças de ritmo, do ria do mundo: um mundo normal, geralmente re-
ressalta um objeto deslocado (PLANCHON, uma comédia que se chama Bajazet", Mme. de acaso, da invcntividade dramatúrgica e cênica. Isto nexo do mundo do púhlico espectador, julga e
GRÜBER). Aproximação de elementos cênicos SÉVIGNÉ). não significa, entretanto, que a comédia sempre caçoa do mundo anormal das personagens consi-
heteróclitos: como a bicicleta, a tenda no palco escarneça da ordem e dos valores da sociedade deradas diferentes, originais, ridículas e, portan-
aquático crn Disp aritinns (1979), de R. DE- I. Origens em que opera; de fato, se a ordem é ameaçada to. cômicas, Tais personagens são nccessariamcn-
MARCYe T. MOTTA. pela extravagância cômica do herói, a conclusão te simplificadas e generalizadas, uma vez que en-
se encarrega de chamá-lo à ordem, às vezes com carnam de modo esquemático e pedagógico uma
Tradicionalmente, define-se a comédia por três
d. Colagem de estilos de atuação amargura, e de reintegrá-lo à norma social domi- extravagância ou uma visão inusitada do mundo.
critérios que a opõem à tragédia: suas persona-
Paródia de várias maneiras de atuar (naturalis- nante (crítica à tartufaria, à falta de sinceridade, A ação cômica, já ressalta ARISTÓTELES (Pocti-
gens são de condição modesta, seu desenlace é
la ou grotesca etc.). Descompasso entre o texto e UI, capo 5), não conduz à conseqüência e poderá
feliz e sua finalidade é provocar o riso no espec- ao compromisso ctc.).

52 53
CO MÉD IA COMÉDtA D E S tTUA Ç A (

ent ão se r in ventada em cada peça . E la se decom- COMÉDIA -BALÉ esta tis mo ao propor um a ga leria d e retrato s que co m porta me n tos es te nde ndo-os a traço s sociais.
põe tipi c am ent e numa sé rie d e obst ácul o s c de d isp en sam a intri ga. a ação e o mo viment o co ntí- eco n ômicos C mo rai s.
re vira voltas de situação. Seu mot or esse ncia l é o
qiiiproqtui" o u o desprezo.
e Fr.: comédic- ba llet; Ingl.: ba llet co m edy, com ic
ba llct; AI.: Ballcttkomõdie ; Esp.: co m e d ia
nu o para tomar cor po . Floresce no G ra nde Sécu -
lo c no início do séc u lo XVIII , influenci ada pel os
A co méd ia. diferentement e da tragédi a. pres- ba ll ct, Caract..re s, de La Bruyerc. COM ÉDIA DE IDÉIAS

e
ta-se fac ilme nte ao s e feitos de di st an ci am ent o e
se autoparodia de bom grado, pondo ass im se us C om édia e m que balés inte rfe re m no c u rso d a FI.: co mé d ies ~' id écs ; Ingl.: comcdy Df idcas ;
procedimentos e sua form a de ficç ão e m cxergo . açã o da pe ça o u como intermédi os au tô no mos COMÉDIA DE COST UM ES AI.: ld ccnkamôdie ; Esp.: comedia d e ideas ,
Desse mod o, el a é o gê nero qu e apresenta grande
co nsc iê ncia de si, qu e freqü ent em ente fu ncion a
co mo metalin g uag em" c rític a e com o teatro den -
entre cenas o u atos (cf MOU ERE e LULLY).
Tende- se a co nce be r o halé co mo e le me n to se - e FI. : c oméd ie d e ll lOel/l'S; Ing l. : c OIII ",/)' of
m"'lIlers ; AI.: Ge"ellscllllfrsk omodlC; Esp.: co -
Peç as o nde s ão d ebatido s , d e forma humo-
rí sti c a o u sé ria , s iste mas de id éi as e fi losofi as
g undo ou . mesmo. se c undá rio, co mo intermédi o
Ira d o te atro *. med ia de ca stnm bres. de vi da . ( E x .: SIIAW, \VtLDE , GIR AUD O UX .
decorativo , cahe ndo ·a. primazia ao texto da co-
média. C enas ba lés , no entanto, co ntê m al guns SARTRE. )
Q Voltz , 1964; Olson, 1968b ; Cha mbers, 1971 ;
e le me ntos dramáti co s dialogad os e representado s.
Estudo d o co m por ta me nto do homem e m so-
Pfister. 1973; lssacharoff, 19 88; Co rvi n, 1994. c ied adc, da s diferen ça s de c lasse. m eio c ca rá te r
Por vezes, o dramaturgo resol ve liga r a bal é à in tri-
ga, co mo MOLIÉRE , em Os Imp ortunos : "Pa ra não
(cx . a In gl at erra do s sécu lo s X V II e XVIII, COMÉDIA DE INTRIGA
CONGREVE. SHERIDAN, MOLIÉRE, DANCOURT,
inte rro m pe r d e forma alguma o fio da peça com
COMÉDIA (ALTA E BAIXA ...) LESAGE. REG NARD e, no séc ulo XIX , o dr ama ~ FI.: c om édie d'intrigue; Ingl. : comedv of in-
essas maneiras de in termé dio. tomamos o cuida-

e naturalista). 't; trigu c; AI.: lntrigenstück; Esp. : cOIII I'dia d e


do de costurá-Ias ao assunt o o melhor que pude-
Fr.: co medie (hautc et bass e) ; Ingl.: comedy intriga .
mos, e de fazer. do bal é e da com édia. uma coisa
(hi gl: and Imv); AI.: Konversati o ns tü c k ,
Schwank; Esp.: comedia (alta y baj a...). só" (Prefácio).
Usualmente. a co m édia-balé é construída com COMÉDIA DE GAVETA Op õe -se 11 co méd ia de caráter", As per son a-
gen s são esboçadas de modo aproximado e os múl-
Distinção conforme a qualidade dos procedi-
ment os cô micos (tanto para a com édi a grega , co rno
base em uma suces são de e ntradas d e balé, passa-
gen s dançadas que formam uma sé rie ininterrupta
e Fr.: comédie ti tiroir; Ingl. : ep isodic pia)': AI.:
Schubladcnstück; Esp.: co med ia de fo lla .
tiplo s rec rud escimentos da ação propiciam a ilusão
de mo vimen to co ntínuo da ação. (Ex .: A s Ma la n-
para a seqüê ncia da evolu ção teatral ). A baixa co - de ce nas sucess ivas, de aco rdo co m o princípio
dra gcn s d e Scapino, O M e rcador d e Velle za .)
médi a usa pro ced iment os de farsa, de comi cidadc da peça de g a ve ta o u ep isód ica.
A comé d ia de g ave ta o fe rec e uma seq üê nc ia
visua l (gag *, lazzis"; su rra de pauladas), e nquan- de e sq uc ics o u de ce nas c u rtas e m torno de um
to a alta ou grande co méd ia usa sutilez as de lin- LJ--:í Mc G owan, 19 78.
mesmo tema e co m vari açõ es de u m mesmo co n- CO MÉ D IA DE SALÃO
guagem , alusões, j ogos de pala vra e s ituações mais
l1ito , multip lican do epi sódi o s c uj a te nd ênci a é
"espirituais" . A comedy ofhu mours, cuja orige m é
se to rn a re m a utô no mo s . O s l mp ort un os i Lc s ~Fr.: co méd ic de sul on ; lngl .: d/ ~au ·;'r g .r o (}m
atrib uída a Ben JOHNSON. auto r de Everv Man in COMÉDIA BURLESCA F âcheuxv . d e I-I0 UÍ :R E. é o e xe m p lo mai s céle- 't; pla», hig h ro med»; AI.: Salonstück. Kon ver-
His Humou r ( 1598), é o protóti po da alta'comé d ia
enca rrega da de ilustrar os di fer ent es humores da
natu reza hum ana, conside rada co mo resultante de
e FI. : co nté d ic b ur les que ; Ing l. : b u rle s qu e
co medv; AI.: bur leske Koniõdie; Esp .: conte -
br e d e um a galeria de ret ra to s tia pesso a desa-
g ra tláve l n a so cied ade do séc u lo XV II.
satio nsstuck; Esp.: come dia d e sal on .

Peça qu e quase se m pre m o str a person ag en s


dado s psicológicos. A farsa ou a bu fo naria pcrte n- dia burlesca.
d iscut in d o num sa lão burgu ês, O cômi co é e x -
ce m à baixa co micidad e. "O ' baixo ' cô mico pro -
COMÉDIA DE HUMOR ES c lusi vn mc ntc ver bal , m u ito suti l e à p ro.:ur a d a
voca ass im o riso franco; o 'alto', ao cont rá rio. qu a- Comédi a qu e a presenta um a sé rie d e peripé-
pal a v ra ce rta ou d a pal avra do auto r" . A ação
se se m pre co nvida apenas a so rri r, tende ao sério ,
dep o is ao grave" (MAURON, 1964: 9) .
c ias cô m icas e c histes (bur las) bu rlescos qu e
oco rre m co m uma persona gem e xtravag a nte e e FI.: co m édic dlnun cu rs ; In gl. : co me dy of
luunou rs ; Esp.: com ed ia de luu no rcs .
se re stri ng e à tro ca d e idéias, d e ar gument o s o u
de mordacidad es formuladas de modo ag rad á-
bufona (e x. Dom Jafé da Armênia , de SC ARRO N).
ve l. ( E x.: W ILD E. MAUGHAM, SC HNITZL ER.)
A com ctlv of III/III tIlII'" sur giu na é poca d e
COMÉDIA ANTIGA
SHAKESPEARE e de Bcn JOHN SON ( Everv Man
COMÉDIA DE CARÁTER
e 0"1 of His Humour, 1599 ). A teori a dos humo- COM ÉDIA DE SITUAÇÃO
e
Fr.: com édie ancienne; Ingl.: antiqu e comedy;
AI.: antik e Komõdie; Esp.: co me dia antig ua. res, baseada na con cep ção médi ca d o s quatro hu-
Fr.: com édie d e ca rat ére; Ingl.: character
mores que regem a con duta hum ana, visa criar ~ Fr.: c o méd ic di' situation: Ingl.: sit uation
comedv; AI.: Cha rakterkomô dic ; Esp.: come-
personagens-tipo, qu e sã o det ermin adas fisiolo- 't; co" ,,'''.''; AI. : Situationskomodic; E sp .: cOflle ·
No teatro grego (século V a.c.), a co média ano dia de carácter:
g ica me nte e qu e agem e m fun ç ão d e um humor, di a di' sit ua cioncs ,
tiga de rivada dos ritos de fertilidad e e m homena -
gem a DIONISO, era uma sátira violenta, muitas A comédia de car áter" descr ev e personagens m antendo comportamento idê nt ico e m todas as
situa çõ es . Esse gê nero é se me lha nte ao da com é- Peça qu e se ca racte riza mai s pelo ritmo rápido
ve zes g rotesca e obscena (CRATÉS, CRATINOS, e esboçadas com mu ita precisão e m suas proprie-
sobre tud o ARISTÓFANES). dia d e ca rát e r" qu e d iver sifica rá o s c rité rios de da ação e pelo illlbrog lio da intrig a que pel a pro -
dad es psi col ó g icas e morais. E la leva a um cert o

5-1 55
C O M É D I A H ER Ói CA
CO MED I A N Tl

fundidad c dos cara cteres es boçados. Como na co - G ênero equ ival ente ao dram a burguês do sé- Peça qu e põe e m ce na e critica uma práti ca À tend ênci a dos grandes ato res e do teatro do co-
média de intri ga *, passa-se sem cessar de uma a eu lo XVIII (DIDEROT, LESSI NG), cuj os terna s, soc ia l o u políti ca o u um vício hum ano. t Tartufo. medi ante, seguiu-se, a part ir do final do séc ulo XIX ,
outra situação, se ndo que a surpresa, o qüip roqu ó tornados por e mprés ti mo à v ida qu otidiana do O Al'OrelllO. ) a e ra do teatro do enccn ad o r do qual MEIERHOLD
c o go lpe de teatro são seu s mecani smos favoritos. mundo burguês , pro vocam emo ção. e até me s-
dá aq ui um testemunho, entre muitos o utros : "O
(Ex.: A Comédia dos Erros, de SIlAKESPEARE.) m o lágrimas do públi co .
cn ccnador, no en saio, não temerá entrar em conl1i-

~ . Melodr ama. COMEDIANTE to co m o ator até e inclu si ve o corpo a co rpo . Sua


posição é sólida porqu e, ao contrário do ator, ele
COMÉDIA HERÓICA sabe (ou deve saber) o que o espetáculo deverá ren-
~ Fr.: comédien; lngl .: actor; AI.: Schausp icler;
COMÉDIA NEGRA 't.; Esp.: com edi ante (aclor). der amanhã. É obcecado pelo conjunto, portanto
~ Fr.: com édic héroique; Ingl.: heroiccomedy; AI.: mais forte que o ator" (1963; 283).
't.; heroische Komõdie; Esp.: comedia heroica.
'tY Fr.: eom édie noire; Ingl. : bla ck comedy; AI.: J. Traduzimos , na maiori a da s vezes , o termo
schwar; e Komõdic ; Esp .: comed ia negra . -~ co m édien por ator, A língua francesa util iz a 3. Emancipação d o C omediante
J. Gênero intermedi ário entre a tragédia e a co - os dois term os. co nfor me se explica no item I do
média, a co média herói ca colo ca personagens de verbete. Em po rtuguê s, po rém, apesar de um uso
G ên ero que se aproxima d o tra gi cômico. A Hoj e, tal vez esteja se es boç ando um mov imen-
alta linh agem em apuros num a ação de final fe- recente no sent ido ma is amplo de intérprete em geral.
peça , de com édia, s ó tem o nom e, Sua visão é to a fa vor de uma vo lta do at or e de um a concep-
liz, na qual não se " vê nascer perigo algum qu e o termo comediante desig na especificamente o ator
pessimista e desiludida se m di sp or seq uer do re - ção co letiva de espetácul os construídos a partir
possa le var-n os à pied ade ou ao temor" e ond e que se dedica apenas ao gênero cômico. (N. de T. )
curso da so lução trá gica . Os va lo res são negados de m ateriais cxtrateatrais ( re po rt agens , co lagem"
" todos os ator es [...1 sã o reis o u grandes de Es- d e te xto s, impro visaç ôcs " gestua is et c.). Tendo
e a peça só acab a " be m" por um es forço irôni co.
panha" (CORNEILLE, " P refácio" de Don San ch o
(E x. : O M ercad or de Vene za , M edida por Medi-
I . C om ediante dei xad o de ser um am plificado r a se rviço de um
de Aragon, 164 9).
da, as peças negras de ANOUILH, A Visita da Ve- encanador" tão pat ernalista quanto tirânico, de
Importada da Espanha (LOPE DE VEGA) por lha Senhora, de DÜRRENMATT.) Atualmente, é , ao mesmo tempo, o a to r" que um dramaturgo" en carregado das qu estões ideo-
ROTROUe CORNEILLE, constitui um novo gêne- atua na tragédia, n a co média, no d ram a ou em lógi c as, o comediante reivindica sua parte de
ro na França com CORNEILLE, na Inglaterra com qualquer outro gê ne ro . Na língua cl ássica, às ve- criatividade . A representação perde se u caráte r
DRYDEN. por vo lta de 1660 -1680 iThe Conqu est COMÉDIA NOVA zes co m ed ia nte se op unha a trágico . Em no ssos feti ch ista de monumento : el a entrega somente al-
of Granada , 1669 ). di as. o termo ag ru pa tod os os artistas da ce na; é , g u ns m am emos de espe tác u lo .
A tragédi a torn a- se heróiea quand o o sagrado 'tY Fr.: co m édie no uvelle; Ingl. : nel<' comedy; AI.: port am o, um term o particularm ent e adaptado à
e o trágico cedem lugar à psicologia e ao co m- Ileue Komõdie ; Esp .: /llt e l' el come dia . mi stura de gê neros e es ti los . Ao contr ário . L.
4 . O Comediante co mo Cabotino
promi sso burgu ês. O Cid , por exe mplo, esforça - JOUVET, na se q üê nc ia de um a tradi ção teóri c a
se por co nci lia r psicologi a. indi viduali smo e ra . Teatro cô mico g rego (sé cu lo IV a.Ci) q ue pin- qu e rem ont a ao sé cu lo XIX e a DlDEROT, s iste -
ta a vida co tidiana , ape la para tip os e situa ções mat izou um a di st inç ão implícita entre ato r e co-
o lerm o pej orat ivo comed ia nte . e mprega do a
zões de Estado.
es tereo tipadas (MENANDRO. DíFIL O). Influencia prop ósito de um a pessoa que d iss imula seus sen-
mediante. O ato r é c apaz ap ena s de ce rtos pap éi s
os autores latin os (PLAUTO, TERÊNCIO), prol on - tim ent os, indi ca bem o risco de ve r o a rtista trans-
2. O her óico, na comédia e na tragédia, manifes- qu e corrcspondc m a se u emp loi" o u à marca de
ga- se na Commedia dell 'arte" e na comédia de form ar- se em ca nas trão (o u cab otino), O cabo-
ta-se pelo tom e pelo estilo muit o e levados, pela sua image m; el e defi ne os papéis e m função de si
situação e de costumes da era cl ássica . tini smo o leva a tent ar ap arecer por todos os meios
nobreza de açõ es, por uma série de conflitos vio- próp rio. O comediant e desempenha tod os os pa-
às cus tas de seus col eg as, da personagem , da i lu-
lentos (guerr a, rapto, usurpação ), pelo exoti sm o péi s, desaparece lOta imente por trá s da persona-
são tea tral e do es pec tador co rn plc xado qu e se vê
de lugare s c personagens. pelo tem a ilustre e hc- ge m. é um arte são da ce na. A esta op osição acre s-
obrigado a admi rar tal "bic ho de teat ro" . Além da
r6is admiráveis: " O ilu stre do heróico se basei a COMÉDIA PASTORAL cc nta-sc o u tra . a do at or co ns iderado funç ão
dr amaui rgi ca . c o m o prot agoni sta da ação, e a do per ver são soc ia l do ofíc io d e co me dia nte pel o
nas mais altas vi rtudes da gue rra" (LE TASSE, Du ca nastrão, ver-se - áno ca bo tinismo a marca de uma
Po éme H érotqu ev. ~ Fr.: com édia p a storale ; Ingl. : pastoral pl a v; co med ia nte . pe s soa so c ia l engaja da na profi s-
são teatral e se m pre sensíve l por tr ás do pap el cu m plicida de dem agógi c a co m o públi co, qu e
't.; AI.: Schãferspiel; Esp.: come dia pastoral,
ri cu ci o qu e c nc arna . toma con sci ên cia de q ue o c omed ia nt e é um
3. O her ói-cômico é uma par ódia do tom herói- vir tuo se que dom ina se u pap el e que e le é até ca-
Pe ça qu e exalt a a vida s imples dos pastor es,
co , urna descr ição em termos prosaicos de ações paz de fazê- lo se ntir-se parar no tempo por um
nobres e sé rias . É muito próximo do burlesco" e
e le itos como pro tótipos da exi stên c ia inocente. 2. E statuto d o Co med ia n te
utóp ica e nostálgica do s bon s e ve lhos tempos. inst ant e.
do grotesco" ,
Aparece, sobretudo , nos s éc u los XVI e XVII . Na é poc a c lássi ca , co me diante é o term o qu e
(E x .: Les Berg eries, de RACAN, 16 25 .) Ator.
desi gna o ofíci o, o es tado dos ator es (os Comé-
di e ; s de l\1on si eu r. 1658 - os Co m éd i c n s-
COMÉDIA LACRIMOSA Didcrot, 1773; Jo u vet , 1954 ; St ani sl ávski,
Frunçais. 1680). O co me d iante foi , du rant e mui- f-I-) 1963; Du vign aud , 196 5; Villiers, 1951, 1968;
COMÉDIA SATÍRICA
'tY Fr.: co/uédie. la" ~ o YGl/ e ; Ingl.: mel odrama ;
to tempo , marcad o pe la exec ração pú bl ica.
Em JlO SSOS d ias , por ém , e le co nq uistou um ce r-
Strasbc rg. 1969; C haikin, 1972; Eco, 1973; As lan,
AI.: Riihr stiick , 7 rau erspi el ; Esp.: comedia
lacrim ógena.
'tY for. : comédic satiri que ; lngl.: sa tirical comedy; to status soc ia l. prestigioso quando é "co nhec i-
1'174. 1'193; Schcchner , 1977; Dorl, I 977b, 1979 ;
\hi ,,-, dc/a Création Thrâ trale , 1981, vol. 9; Roubine,
AI.: Satire ; Esp.: comedia satirica.
do" . Seu pap el es té tico é muit o vari ável e incert o . 19 X5: Pavis, 1996.
56
57
C Ô M IC O
CÔ M ICO

se acha superior ao obje to perceb ido e d isso tira do outro , sempre se ri um po uco de si mes mo ; mum , mas dos qua is pod eríam os nos privar e qu e
CÔMI C O
u ma sati sfa ção intelectu al: "Trata-se de um ún ico es ta é um a maneira de se co nhece r m elh o r e tam- pod ería mo s subs tituir por outras co nvenç ões.
~ Fr.: co miq ue; Ingl.: comic ; AI.: das Komi sche ; e mesmo fenômeno, quando nos parec e cô mico bém de sobreviver apesar de tudo , volt ando sem-
't.: Esp.: cômico. aq uele que, e m co m paração co nosco , dispe nde pre a ficar de pé, quai squer que sejam as di ficu l- d. Dim ensão dramat úrgica
demais e m sua at ividade co rporal e de menos na dades e os ob stá culo s. Es ta é provavelme nte a No tea tro, a situação cômi ca advém de um obs-
o cô mico não se limita ao gênero da comédia; ativida de espi ritual ; não há dúv ida qu e, nos dois razão pela qu al HEGEL faz da coméd ia o mod o táculo dramatúrgico co ntra o qu al se chocam as
é um fenôm eno que pode ser ap reend ido por vá- casos, o riso é a exp ress ão da superioridade qu e da subj etividade hum ana e da resolu ção fina l das person agen s, conscientem ente ou não. Ta l obstá-
rios ângulos e em diversos camp os. Fenômeno an- nos atribuímos pe rante ele e que sentimos prazc- contradiçõe s: "É côm ica [...] a subj et ivid ad e que culo, co nstru ído pela soc iedade, impede a realiza-
tropológico , responde ao instint o do jogo', ao rosamente. Q uand o, nos dois casos, a rel ação se int rod uz contradições em suas próprias aç ões, para ção imediata de um projeto, co ncorda com os ma us
gos to do homem pela brincadeira e pelo riso, à inve rte, qu ando o d ispêndi o somático do outro e m seguida reso lvê-Ias, per ma necendo ca lma e ou co m a autoridade : o herói tropeça ne le sem ces-
sua ca paci dade de perc eber aspectos insólitos e diminu i e o esp iritua l aumenta, não rimos ma is , segura de si" ( 1832 : 4 10). "No desfecho, a co mé- sar e se u fracasso se assemelha a um choque físico
ridíc ulos da rea lidade física e social. Anna so- somos to mados pe lo es panto e pela ad miração" dia deve mo strar que o mun do não desmorona sob contra um a parede. Co ntudo, o co nflito - está é a
cia l, forn ece ao irônico co ndiçôes para c ritica r seu (FREUD, 1969, vol. 4: 182). FREUD descreve e as besteiras" ( 1832 : 384 ). Isto ind ica bem a di- diferença cap ital em relação à tragédia - pode se r
meio, mascarar sua oposição por um traço espiri- resume aq ui vá rios traç os da atitude do espec ta- men são fu nda me ntalm en te social do riso. posto de lado , para da r, em seg uida, livre campo
tuoso ou de fa rsa gro tesca . Gê nero dra mático, dor colocado di ant e de um aco ntecimento cô m i- aos protagonistas . Mui tas veze s, aliás, o co nfli to é
ce ntra a ação e m con flitos e perip écia s que de- co: superior idade mora l, percepção de uma fa lha c. Di me nsão social instalado pe las víti mas. Ao con trário da tragédia,
monstr am a in ventivi dade e o otimi smo hum anos no outro, to mada de consciência do inesperado e O riso é "comunicativo" ; quem ri necess ita de os epi sódios cô micos não se encadeiam de modo
perant e a adversidade . do inco ngruente, desv io do inusitado co locando- pe lo menos um parceiro para associar-se a ele e necessário e inevitáve l.
se em pe rspe ctiva etc . A percepção simpática d a rir do que é mostrado. Ao rirmos de um hom em
1. Princípios do Cômico infe rioridade do ou tro - e, port anto, de nossa su- cômico , determinamos, por outro lado , nossa re- 2. Forma s do Cômico
per ioridade e sati sfação - situ a-nos, diante do lação co m ele: recepti vidade ou exclusão (cf abai-
a. Dimensão da ação pouco hab itua l côm ico, a meio caminho entre a perfeita identifi- xo) . O riso pressu põe a de terminação de grupos Q. Cômico e risível
• Mecani smo cação e a di stâ ncia intransponível. No sso prazer soc ioc u lturais e suti s relações e ntre e les. É um
- assim co rno no ca so da ilusão e da ide ntifica- Uma pri meira disti nção entre cômico na real i-
A partir das anál ises de BERGSON, atrib ui-se a fon- fenôme no socia l (BERGSON, 1899 ). dade e cõ mico na arte o põe ( I) o risíve l (o ridíc u-
te do cômico à percepção de um mecanismo re- ção tea tra l - resid e nestas con stantes passagens A me nsage m cômica e o públ ico qu e ri estão
entre identificação e distân cia. entre percepção lo) e (2) o humo ríst ico . Entre ( I ) ridiculum e (2)
produ zido na ação humana: "daquilo que é mcc â- unidos nu m pro cesso de comuni cação: o m undo vis comica (JAUSS, 1977: 177 ), há toda a dife-
nico calcado no que é vivo". "A s postura s, gestos "do interior" e do "ext erior" . Porém, nesse vaivém, fict ício e cô mic o só se revela como tal graças à
o que prevalece é se mpre a perspectiva distanc ia- rença entre as produções fortuitas de cômico (u ma
e movime ntos do corpo humano são risíve is na exa - pe rsp e cti va usua l do espec tador qu e é ferido e
da: MARMONTEl., a esse respeito,já observa va que form a natural, um ani mal, a queda de a lgué m) e
ta medida em que esse corpo nos faz pensar em frustrado pe la cena. Havendo sido fru strada a ex- as produções co nsciente s do espírito e da arte. O
mera mecâ nica" (BERGSON, 1899). O princípio o cô mico imp lica uma co mparação "entre o espec- pectativa do púb lico , este se afa sta do aconteci- riso espontâneo em situações rea is é um "riso bru-
do mecãnico vale para todos os níveis : ges tualidade tador e a personagem visíve l, numa distância van- mento c ôm ico, coloc a-se à di st ân c ia e passa a to, o riso , ape nas , riso de mera negação, de si m-
rígida , repetições verbais, seqüência de gags, mani- tajosa para o primeiro" (1787: art. "Co média" ). zo m bar dele, fortalecido e m seu senti mento de ples rec us a, de autodefesa espont âne a" (SO U-
pulador man ipulado, ladrão roub ado etc., despre- supe rio ridade. Ao contrário, diante da tragé dia, o
• Liberaçã o e alív io RIAU, 1948: 154 ). É verdadeirame nte côm ic o
zo e qüip roquó, estereótipos retóricos ou ideoló- ca ráte r exe m plar e sobre- humano dos conflitos
O efe ito cômico provoca urna libert ação psíqui c a somente o que fo r rein vestido pela in ve nção hu -
gicos, j unção de dois conceitos com sig nificantes impede-o de sub sti tuir a ação po r s ua perspectiva
e não recua ant e ne nhuma proibi ção ou obstác u- mana e re pon der a uma intenção esté tica .
seme lhantes (jogos de palavras). pessoal : e le se identifica com o he ró i e renun cia a
lo: daí a insensibi lidade , a indiferença, a "anestesia
• Ação qu e falh a e m seu obj etivo do co ração" (BERGSON, 1899: 53) atrib uídas ge- qu alqu er c rítica. b. Cômico significativo e cô mico ab soluto
O cômi co é prod uzido numa situação e m que um ralme nte aos que riem . Estes reconduzem a pes- A co média te nde " naturalmente" à representa-
BAUDELAlRE faz distinção en tre cômi co sig-
indivídu o não con segue realizar a ação que se pro- soa ridíc ula a sua ju sta proporção, desmascaran- ção rea lista do meio social: n a verdade, ela faz
nificativo e cômico absoluto. No prime iro tipo, ri-
pôs. KANT definia o riso como "o afe to prove- do a im portância do co rpo por trás da fac hada co ns tantes alusõe s a fatos atuais ou de c iviliza-
se de alguma coisa ou de alguém ; na segu nda, ri-se
nient e da transformação súbita de uma expectati- es piritual do indivídu o: os fenô menos cô micos - ção e de s ma sca ra práticas soc iais rid ículas: nela,
com : e o riso é o do corpo inteiro, das funções vi -
va mui to tensa que aca ba e m nada" ( 1790 : 190). parodia", ironia ', sá tira, humor - concorre m to - o d ist a nciame nto é como qu e natu ral. A tragédia,
tais e do grotesco' da existênc ia (o riso rabe-
Dep ois de le, associou-se o cômi co à idé ia de uma dos pa ra " dim inuir a dignid ade de ca da homem ao co ntrário , mitific á a ex istência, visa não a um
laisiano, por exemp lo). Essa es pécie de cô mico va i
ação deslocada de seu local habitu al, criando um indicando sua humaníss ima fraqueza, mas, prin- grupo soc ia l, mas a uma ca mada uni ve rsal e pro-
arrancando tudo à sua passage m, e não deixa lugar
efeito de surpres a (STlERLE, 1975: 56- 97). cipalmente , a dep endência de seus de se m penhos fu nda do homem , crista liza as relaçõe s humanas.
para nenhum valor político ou moral.
intelectuais das necessidades corp orais". O de s- O trágico nec essita da aceitação , por protagonis-
b. Dim ensão psico lógica mascarame nto volta em seg uida com o seguin te ta s e espec tadores , de uma or de m transcen dent e
c. Riso de acolhida e riso de exclusão
Su peri oridade do obse rvador aviso : "Este ou aqu e le que é ad mirado como um e imutável. O cô mico , ao co ntrário, ind ica cla ra-
A necessária solidariedade entre os que riem

l
semideus não passa de um homem co mo você e ment e q ue os valore s e nor mas soc iais não pas-
A percepçã o de uma ação ou uma situação cômi- te m por co nseqüênc ia ou rejei tar como ridícula a
ca está ligada ao ju lgam en to do obse rvador; este eu" (FREUD, 196 9, vol. 4: 188). Assim , ao rir-se sam de co nvenções humanas, ú te is à vida e m co-

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CÔ M IC O C Ol\l M E D I A I)E LL ' AR TE

pessoa cômica, ou convidá-Ia a juntar-se aos que médi a "é a imit açã o do hom em de q ualida de mo - COMMEDIA DELL' ARTE cô m icos (Panta lcã o e o Do uto r), do Capitão (e x-
riem atra vés de um mo vim ent o un an imi st a de rai infe rio r, não em tod o tip o de v ício, mas no traíd o do Miles Glor iosus de PLAUTO), dos cria-
fraternidade human a domí nio do risível, qu e é urn a part e do feio. j á I . Ori g en s dos o u Zann i, es te s co m di ver so s nom es (A r-
qu e o risí vel é um defeit o e uma fci úr a se m dó lecchino, Scar amu cc ia, Pul c in ell a , Mezzot tin o,
d. Cômico. ironia, hum or nem pied ad e; desse mod o, po r e xe m plo, a más- A Com media dellarte e ra . ant igam ente , de- Sc a pino , Cov icll o, Truffa ldi no) se divid em e m
ca ra cô m ica é feia e di sforme se m ex pres são de nominada co mm edi a ali improviso. commcd ia a primei ro Zanni (cria do espe rto e espirituoso, co n-
O humor é um dos pro cedimentos favorit os
dor " (§ 144 9b ). O ridículo torn ar-se- á, para os dutor da intriga) ou se gu ndo Z an ni (personagem
dos dram atur gos (em parti cular daqueles que sogg ctto, conun edi a di za nni , ou. na Fran ça, co-
in gênua e estúpida ). O partido ridícul o se mpre
elaboram brilh antes diálogos filosóficos ou de autor es cômicos, obje to de sátira e m otor de sua média italiana, com édi a das máscaras. Foi somen-
porta máscaras grotesca s, e estas má scaras (mas-
boulevard) . Ser ve-se do cômico e da ironia, mas ação (teoricamente , os dramaturgo s se impõem te no século XVIII (seg undo e. MIe , 1927) que
chere} se rvem par a de s ignar o ator pe lo nome
possui seu própri o tom . Enquanto a ironia' e a por elevada missão, ao menos de ae or do eo m seus essa forma teatral , ex iste nte desde meados do sé-
de sua per sonagem .
sátira' dão mu itas vezes a im pressão de frie za pr efác ios , cor rigir os costumes ri ndo-se ; prat ica - c ulo XVI, pa ss o u a den ominar- se Com media
N ~ s t e teatro de alar (e de atriz, o qu e e ra no vi-
e int electu alid ad e, o hum or é mai s ca loroso, não me nte. e les se e mpenha m sobretudo em faze r o d ell 'a rte - a a rte s ignific a ndo ao mesm o tempo
da de na época), sa lie nta -se o domínio co rpo ral, a
hesitand o em zo mba r de s i me sm o e em ironi zar púb lico rir de uma es quis itice qu e às vez es é a arte, hab ilid ad e, técni ca e o lad o profi ssion al dos
art e de substituir lon go s d isc ur so s po r alguns sig -
quem iron iza. Busca os aspect os filosóficos ocul- de le mesm o). A percepção do rid ícul o imp lica que comediantes. qu e se m pr e era m pessoas do o fício.
nos ge stuais e de o rganiza r a represent ação "co-
tos da existê nc ia e dei xa entreve r uma grande o auto r. do mesm o modo qu e o e sp ec tado r, estej a Não se sabe ao cert o se a Co mmedia dell 'arte des-
reogr aficamente", o u seja, em fun ção do g rupo e
riqueza interior no hum or ista. " 0 hum or não tem e m co nd ições de fazer parte daquilo q ue é razo á- ce nde diretament e da s far s as atclanas " ro ma nas
ut il izand o o esp aço de aco rdo eo m um a ence na-
ve l e pe rmitido na co nd uta human a . Desse mod o, o u do mimo ant igo : pesqui sas recent es puseram
apenas algo de libertador, co mo o chiste e o cô- ção ren ov ada. A art e do ato r co ns iste mais numa
MOLlERE fará do rid ícul o, em su a " Ca rta So bre a em dú vida a etimo logia de Za nni (criado eôm i-
mico , mas tam bém a lgo de grandioso e edi fi- arte da variação e d a adeq ua ção ve rba l e gcs tua l,
Co mé dia do Impostor" (1667) O alvo de sua dra- co ) qu e se acr ed itava der ivado de Sannio , bufão do q ue em invenção tot al e numa nov a expre s-
cante: tra ços qu e não se enco ntram nas du as
m atur gia: "O rid ícul o é, portanto, a fo rma exte- da atelana romana , E m contrapartida, parece ser siv ída de. O ator deve se r ca paz de reconduzir tudo
outras forma s de obtenção de prazer pela ativi -
rior e sensível que a providência da natureza vin- verdade que tai s fo rmas populares, às quais se o qu e improvisou ao ponto de partida, para pas-
dade intelectu al. O que ele te m de grandioso
c ulo u a tud o o que é inse nsato, a fim de nos fazer dev em juntar o s sa lti m b ancos, mal abari stas e sa r o bas tão ao se u par ceiro e assegurar- se de que
provém muito e vidente mente do narcisismo e da
per cebê-lo e dele nos o brigar a fugir. Par a co nhe- bu fões do Ren ascimento e das comédi as popula- sua imp rovisaç ão não se afasta do roteiro' . Qu an -
individualidade vito rios ame nte afirmada do ego"
cer e ste rid ícul o, é preci so conhecer a razão pel a re s e d ialet ais de RUZZANTE ( 1502 - 1542), pre - d o o lo zzl - impro visaçã o mímic a e às ve zes ve r-
(FREUD, 1969 , \'01. 4 : 278 ).
q ual el e é defei to, e ve r em qu e e la co ns iste" . O pararam o terren o par a a commedia. ba l, mais ou men o s p ro gr am ad a e in serid a no
b ufo' e o gro tesco' situa m-se num gra u ainda can eva s - se desen vol ve num j ogo au tônomo e
e. Engraçad o. ridícul o, buf o
mais baixo na esca la dos proce di m e ntos cômico s: 2. Caratc rís tic a s d o J o g o comp leto, tom a-se uma burla . E sse tip o de j ogo
O cômico se nos ap rese nta através de uma si- fasci na os ato res de hoj e por se u vir tuosis mo, sua
imp licam um aumento c uma di sto rção da rea li-
tuação, um discurso, um jogo de cena de modo A Co mmedia de llarte se ca rac te riza va pel a finura e pela parcel a de ide nti fic ação e distân ci a
d ade qu e vão até a caric atu ra e o excesso.
ora simpático , ora a ntipá tico . No primeiro caso. c riação co letiva do s alares, qu e elabo ram um es- c rítica qu e ex ige de se u exec utante . Ele prefi gura
zo mbamos com co medimento daqu ilo que percc- petácul o impro vis an do gestual o u verb alme nte o rein ado do cncenador, ao confi ar a adap tação
3. Procediment o s Cô m icos
bcmos com o engraça do , di vert ido: no segundo, a partir de um cane vu s, n ão es crit o anterio rmen- dos tex tos e a interp reta ção ge ral a um capoc nmico
rejeitamos co mo ridicula (risível ) a situação que te por um autor e q ue é sempre mui to sum ário (o u co rogo).
Nenhuma tip ol og ia das for m a s cô m ica s é
nos é apresentad a. (i ndicações de e ntradas e saídas e da s grandes
satisfató ria. A classificação con forme a o rigem
O engraçado (p laisant, termo freqüe nte na
do pr aze r cô mico (po r efe ito de superi oridade , de articulações d a fáb u la) . O s atores se ins piram 3. R e pertório
época clássica) propo rciona u ma emoção est éti- num lema dr am át ico , torn ado de em prést imo a
incon gru ên cia ou de alív io psíquico ) ex p lica ape-
ca, dirige-se ao intelect o e ao se nso de hum or. É, uma com édi a (a nti ga o u m od ern a) o u inve nta - O re pertór io dos "co med iantes" é mu ito vas -
nas parcia lmente as for mas eô m icas (s átira " para
ex plica- nos MARMONTEL, o o posto do cômico e do . Uma ve z in vent ad o o esque ma d iretor do ator to . Não se limit a ao s canevas de co média de intri-
o primei ro efeito, j ogo de pal avra par a o seg un-
da bufonaria, "o efeito pra zeros o que causa em (o roteiro). ca d a ator improv isa le vand o em co nta ga e os sc énarii (arg ume ntos ) qu e chegara m até
do, brincade iras sexuais pa ra o ú ltimo). O crité-
nós um contraste toeante. sing ula r e novo, perce- os lazzi * caracte rísticos de seu pap el (indicações nós dão apenas um a idéi a trun cada del es, um a vez
rio de class ificação prop osto é o trad icional , o dos
bido entre dois obje tos , o u entre um obje to e a es tudos d ra matúrgicos da coméd ia (cf as defini- so bre jogos de ce na cô micos) e as reações do q ue esse gênero se fixava pre cisament e po r fina -
idéia heterÓçlita q ue e le dá à luz. É um encontro ções do s gê ne ros da co méd ia ). Por isso não reto- público . lid ad e trabalhar a part ir de um esq ue ma narr ati -
impre visto, que, através de relações inexplicáveis, Os atores, ag rup ados e m co mpa nhias hom o- vo . Not ícias, co mé dias c láss icas e literárias (com -
rnar em os aqui o co nj unto de p ro cediment os. j á
excita em nós a doce convulsão do riso" (Él éments gêneas , percorrem a E uro pa represen tando em m edia erudita) , tradições populares, tud o é bom
e sboçados nas fo rmas e nas ent rad as so bre os gê-
de Littéra ture, 1787 , art. "Plai sant"), salas alugadas, e m pr aças públicas ou patroci- para se rvir de fund o inesgotável para a commedia .
neros da comédi a.
O ridicul o ou o risível é mu ito mais negativo : nad os por um pr ínc ip e: mantêm fort e tradição As co mpanhias ch eg am mesmo a mo nt ar tragé-
ele provoca nossa superior idade levement e des-
denhosa, sem, 110 e nta nto, nos chocar. Assim é
al ~ re u d . 1905 : V i c t o r ~ r f . 1953; Mau ron, .1964 :
fami liar e artesan al. Rep resentam uma dúz ia de ti-
pos fixos. e les pr ó prio s d ivid idos em dois " par-
di as, tragicomédi as o u ó peras (op e ra regia, mi s-
ta ou hem ica ) em qu e se es pecializa m (co mo a
Esc arp ir. 1967 ; Pfi stc r, 19 7 3 ; Warnin g e
que, segundo a Poéti ca de ARISTÓTELES, a co- Preiscndanz, 1977; Sareil, 1984; Issach uroíf, 1981( tidos" . O partido sé rio co m pree nde os doi s casa is Co mé d ie- Ita lie nne e m Par is ) nas par ód ias d e
de nam orad os. O parti do ridíc ulo, o dos ve lhos ob ra s-prima s clássicas e conte m po râ neas . E las

60 61

L
CO M ME D IA E R U D I T A CO MU N ICAÇÃO T EA T RA

interpret a vam também obras de autor (MARI· W Duchart.re,. 192 5, 1955; Mic, 192 7; Au ingcr, co m pos ição se asseme lha à da retó rica : a di sp o- W Freyrag, 11l57 ; Uspe nski, 1970 ; Eiscn stc in ,
VAUX, pe la co mpanhia de Lui gi RICCOBONI, 1950, Taviani e Schino, 1984; Pav is, 19116a ; s ição -mo de lo é co nsiderad a o briga tó ria. 19 76 .
GOZZ I e GOL DONI na lIáli a). Desde o final do Fo. 1990; Rudl in, 1994. É po ss ível um a teo ria da compo siç ão dramá-
sé cu lo X VII , a arte da connnedia co meç a a per- ric a (o u d o disc urso ' teat ral). de sd e qu e os prin-
der fô lego; o sé cu lo X VIII c seu gos to burgu ês e c ípio s d o si ste ma sejam desc rit ivos e não-nor- COMPO SI Ç ÃO PAR ADO X AL
raci o na lista (co mo GOLDONI e MARIVAUX no COMMEDlA E RUDI TA m at iv o s. e qu e sejam sufic ientemente ge rais e
fi m de sua carre ira) surrara m-na tant o que não específicos para abarcarem todas as d ra ma turgias t}- Fr.: c () l/ po s i t i ~ n parad oxale ; Ingl.: para do-
m ais se reergu er á. t}- (Termo italiano para " comédia crudit a" .) im aginá vei s. xi cal co mp osuto n; A I.: paradoxe Komp osi tion;
A es critura co nte mp or ânea, e spe cial me nte a Esp .: co mposic i án paradojica.
4. Dram aturgia C o mé dia de intri ga, na Itália, no Rena sci - pós-d ra má tica e pós-brecht iana. não mai s obedece
ment o, mu it as ve zes esc rita po r hum an ist as em a um a sé rie de regras de co m pos ição. pois estas Técn ica dr amat úrgi ca qu e co ns iste em in ver-
Ap esa r da di vers id ad e des s as forma s, a co ntraponto às im itações bast ant e grossei ras das reg ras desap areceram desd e qu e se passou recor - ter is p ersp ectiva " da es trutura d ram ática: inserir.
co mmedia se rem ete a um certo número de co ns - co mé d ias de PLAUTO o u de TE RÊNCIO e do gê - rer a te x tos nã o esc ritos origina lme nte pa ra a cena. assim, um epi sódio côm ico em plena situ ação trá -
tant es d ra ma túrg ica s: lema mod ificável . elabora- ne ro po pul a r da Co m media del lía rt e , Ex .: I gic a (inte rm édio ciil nico*) ou mostrar a iro nia "
do co le ti va me nte ; abu nd ância de q üiproqu ós; fá- Suppo siti de ARIOSTO ( 1509), A Mandr ágo ra 2. Pr inc ípios Estrutura is de Co mposição do destin o de uma pe rsonagem trágica . Esse pro -
bu la t íp ica de nam or ados mom ent a ne am ent e de MAQU IAVEL ( I520). cedi men to " foi em p regado not ad am e nt e po r
co ntrariado s por ve lhos libidinosos; gosto pelos MEIERHOLD ( 1973 - 199 2) para ressalt ar as co n-
Destacar a co mposi ção d o tex to dra mát ico
dis farç es , pel os trav estirnernos de mu lheres em tradi ções da ação c, e nquanto proced im e nto es ti-
impli ca a pos sibilidade de de screv e r o ponto
homen s, ce nas de reconheciment o no fim da peça, COMPLICAÇÃO de vista (ou perspecti va *) e m q ue o dramatur-
lísti co, desnu dar a co ns trução artísti ca: o aut o -
na s qu ais os pobres ficam ricos, os desaparecid os mati sm o d a pe rcc ção é aí entravado cm benefício
go se colocou para or ganizar os aconte cim entos
reaparecem ; manobras complicadas de um cria- t}- Fr.: complication; Ingl. : comp iica tion; AI.: e distribuir o texto da s per son ag en s. Em segui-
de uma no va visão do acontecimento cotidi ano.
do trat ant e , porém esperto. Esse gê nero tem a arte Komplikation; Esp.: complicaci án . MEIERHOL D foi um dos primeiros a re alçar tal
da , é conveniente rev el ar as mu d an ça s de ponto
de ca sar int riga s ao infinito, a partir de um pano proced im ent o e a e m pregá-lo sist em aticam ent e ;
de vis ta, as técni cas de manipul ação d as visões
de fundo limit ad o de figura s e si tuaç ões; os ato- Momento da peça (esse nci alme nte na drama - ele fez da co m pos ição paradoxal um a téc nica d e
e do s di scu rsos das per so nage ns, be m co mo os
res não buscam o verossímil, mas o ritmo e a ilu- surgi a clá ssica *) e m que o confl ito " se es ta be le - atuação . de ce nog ra fia (como so l azu l, céu laran-
princ íp ios estruturais de a prese nta ção da ação:
são do m o vim ent o. A m il/media revivifica ( mais ce e a tensão dram át ica se torn a cada ve z ma is ja) c , no p lan o m ais ge ra l, de es trutura g loba l d a
esta é a prese ntada num único bloco e como c res -
q ue dest ró i) os gê nero s "nobres", mas esc lero- ace ntuada. A açüo * não ten de de modo a lg um à e l c la çü o ~ ( HOOVER, 1974 : 30 9 ).
cimen to orgâni co ? Ou é frag me ntada n uma mo n-
sa dos, co mo a tragédi a cheia de ênfase . a co mé- simplificação (res o lução o u queda final ) e se com-
tagem de se qü ências é pica s ? É int errom pi da por
dia dem asiado psicológica, o dram a sé rio dem ais; plica co m no vas peripéci as, c o heró i vê po uco a (l.) . Contrapo nto , j o go .e contra-jogo , di stanc ia-
co mentá rios o u por entreat os lírico s'! N um mes-
e la repre senta . desse modo, o papel de revcl ado r pouco as po rtas de saída se fecharem à sua fre nte . ~ men ta . efeito de e viden ciaç ão.
mo ato, há te mpo s mor tos e te m pos fo rte s ?
Ca da ep isódio torn a sua si tu açã o m ai s ine x-
de fo rm as antigas e de cat alisador para um a nova
man ei ra de se fazer teatro. privile giando o j ogo e tric ávcl , até ating ir o confl ito" abe rto o u a cat ás-
A s q ue stõe s de co m pos ição in sp iram -se na
co m pos iç ão pict óri ca ou arq uitetô nica : d is posi -
m Rud nitsk i. 1988; Braun . 1994.
a tc at ralidadc. trofc " final.
ção de m assas, supe rfícies e co re s. sua massa,
Pro vave lment e, é esse aspecto vivificante que pos ição e o rdenação , tud o isso cor rcsponde . no
ex plica a pro funda influ ênci a qu e ela exerceu te at ro . à di visão dos fatos represent ados o u ao C OMUN ICAÇÃ O TEATR AL
so bre auto res " clássico s" como SHAKESPEARE, CO M POS IÇÃO DR AM ÁTICA a rranjo s eq üenc ial das açõ es .
MOLl ERE. LOPE DE VEGA ou MARIVAUX. Este O s fenômen os de en quad rame nto d a fábula t}- Fr.: c O/ I ~ " t1 i c a t i o l t h é â t ra l e : lngl.: th ca tri cal
último real iza um a difícil síntese de ex pressão t}- Fr.: compos ition d ramatiqu e; Ingl.: dra ma tic (q ua d ro r) , ae fechamento: o u a be rtura da repre- co mnuuucauon; AI .: Th eat crkonnnunika tio n;
CO lllp OS I IIOIl; AI.: d ra mat isch e Komposit ion; Esp.: co m unicaciô n tea tral . .
ling üísti ca e psicol ogia refin ad as, co mbinadas se ntação, de mud an ça de pe rspectiva e de f oco*
Esp.: co mpo sici ôn dram ática .
na uti lizaçã o de al gu ns tipos e situa ções da "co- têm se u lugar neste es tudo da co m pos iç ão .
méd ia de másca ras ". No séc ulo X IX. a Comme- N a dramaturgia c lássica, a co m po s içã o é es - Essa ex pressão, de uso freqüent e m as pou co
M od o pel o q ua l a o bra d ram ática - e particu- preci so, de sign a o processo de tro ca de info rm a-
dia de" 'a rte desaparece co mpleta men te e se us trit amente reg ul ament ad a . E la us a regras * para
vestíg ios vão ser encontrados na pan tomima ou larmente o te xto - é arranjada (si nônimo: cstru - ção entre palc o e pl at éia . Evidentem ent e , a re pr e -
a vero ssimilhan ça e a o rga nização n arrativa
turar ). se ntaç ão é tra nsm itida ao público por int ermédi o
no rne lo dr a rnn, baseado, este últim o, em es tereó- (exp os ição *, I/á* , desenlace" , o bs tá culo * ). A
ti pos ma ni q ueístas . Ela sobrevive, hoje em dia , composição das obras m od ern a s o b ed e ce a re- dos ato re s e do ap arato cênico. O probl em a do
no c ine m a burlesco ou no trabalho de c/{}\ I'II. A I. Normas de Composição g ra s tão diversas e co ntr ad itór ia s qu e elas per- fe ed back da inf ormação para os atore s e sua in-
for maç ão de se us atores tornou -se mod elo de um dem a pertinên ci a e fica di f íc il de s cre ve r sua flu ên ci a na atuação , bem como o da int e raç ão
teatr o com p leto, ba seado no ator e no co letivo As artes poéticas co nst itue m tratad os norma-
org an iz aç ão . entre at o res e públi co é muito pou co con heci do .
red eseob rind o o poder do ges to e da improvi- tivos de composição d ram ática. Enunc iam regra s * e tam bé m não rei na a un animidade so bre a im -
sação (MEIERIIOLD, COPEAU, DULLlN, UAR- e mét odos para a co nstruç ão daf âbula *. o equilí- (L) Dra maturgia, estrutura dra m ática . fo rma fecha- por tân cia a ser atribuí da a esta parti ci pação . P ar a
RAULT). brio dos atos o u a natu reza das person agen s. S ua - 'x>. da , forma aberta. a lgun s pesq uisado res . o teat ro cons titu i mesm o a

63
C O M U N I C A Ç ÃO T E ATR AL C O NDE NS AÇ Ã O

arte e o protót ipo da comunicaçã o humana : "O uma " arte do espet áculo" ( BRECIIT) à art e tea - 3. Form aliza ção dos Processos de d ram atis pe rsonae " ; se m se r um ve rda deiro por-
que é exclusivame nte específi co do teatro, é que tr al. É qu e ela co nside ra ainda dem asi ad o fre- Recepçã o ta -v oz do autor, se nte-se q ue é a e ste tipo de pes-
ele repre senta seu objeto, a co municação huma- qü entemente a representação co mo uma mensa- soa q ue a men sag em d a pe ça é d irigid a.
na, atra vés da comunica ção hu mana : no teat ro, a gem Oqu e agrupa os sina is emitido s inte nc io nal-
a. A s pesqui s as atua is d a e sté tica da recep ção o A ssim, ess e " rece pto r" implíc ito, e ssa ima-
comunicação humana (a co municação das perso- mente pela cena para um recepto r c o loc ado em deslocam o pont o de vista d a aná lise lite rá ria, ge m d o e spec tado r na própri a o b ra não s ão a
nagen s) é então representada pela própria comu- posiç ã o de criptana lista. cuj o úni c o e sforço a fa- da in stância da produção (a uto r) , para a instâ n- exceção, mas a regra gera l da e strutura d ramáti-
nicação humana, pela comunicação dos atores" ze r é decodificar ca da sinal se m ter o trabalho cia da rccepç âo (l e it or, espectad or, co nte m- ca e cê nica . É claro q ue e ssa imagem é mais ou
(OSOLSOBE, 1980: 427). da escolha e da estruturação signifi cante das in- pl ador). Se se leva nt ar a hipótese de um a comu- men o s nítida, conforme as dramaturgias: oculta
formações recebidas. Pouco import a a localiza- ni cação da represe nt aç ão com o esp ect ador, é e impreci sa , no drama naturalista , ela se rá valo-
1. Comunicação ou Não ? ç ão físiea do esp ectador di ante d a representa- necessári o que se per gunte a quem se des ti na o rizad a no teatro did áti co o u numa form a tea tral
ç ão (fro nta l, lateral, no meio del a, fra gmentária te xto dram áti co , co m o e le interpel a o públi co e qu e ind ique claramente se u s me c ani sm os. O
a . Confundindo co m bastante freq üência comu- e rc .) ,' O qu e é determinante é s ua ca pa c idade de co mo es te o " traba lha " . m ec an ism o da recep ção é ex plic ita do ma is cl a-
nica ção com participação do público, a pesqui - co m bi nar uma esco lha dos s ig no s cê nic os num a A hipótese fund am e nt al é qu e , em primeiro lu- ra me nte em BRECHT, torna nd o- s e um fim em s i
sa teatr al (teó rica e pr áti ca) faz da comuni cação es tru tur a sig nificante "rentá vel " , is to é, que lhe gar, texto e cena são ca pazes de o rga nizar, até mes- e part e inte grante da atividade te at ral : o es pec -
entre palco e platéia o obj etivo essencial da ati- pe rm ita compree nde r mais ampl a o u pr ofunda- ta dor to ma co nsci ênc ia de q ue a fi cção e os dis-
mo de manipul ar a boa recep çã o da obra ; seg un-
vid ade teatral. Mas ser ia isto o que semiólogos me nte o espet ácul o . O público deve pod er m odc- cur sos en trec ruzado s co nd uze m -no à sua própri a
do, qu e se pode det ect ar, na o bra ap resent ad a, um
e teór icos da informaçã o ent end em por comuni - l i zar (abs trai r, teorizar ) sua pr ópria si tuaç ão so- s itu açã o, que ele ape nas se co m unico u atravé s
" rece pto r implícit o" q ue ass u me a form a sej a de
cação? Se se ente nder por co municação uma tro- c ial pa ra compa rá-Ia co m os m odelos' fict íci os de lima históri a co m slla hi st óri a.
m odel o teóri co im posto ao leit or, sej a de rece pto r
ca simétrica de informação, o o uvinte tornando- pro po stos pel a ce na . E m outras pal avr as, el e tem
ideal do conjunto d a obra, uma es pécie de "su-
se receptor, e usando o me sm o código, o jog o que (como mostra BRECHT) le var e m co nta duas
percs pectado r" o nisc iente , seja, em certa s peças ~ . Scmiologia, relação pa lco-platéia.
teatral não é uma comunicação (MOUNIN, 1970). historicidades": a sua própria (su as expectati-
Na verdade, a não ser no caso limite do happ e- \'Os estéticas e ide ológicas) e a da o b ra (contex-
de uma personagem q ue se rve de ligação entre
nós e o autor. m Banh es, 1964: 258-276 ; Mounin , 1970; Miller,
nin g" que procur a exa ta mente eliminar a distin- to es tético e socia l, di sp osi ção do texto a esta ou 1972 ; Moles, 1973; Stya n, 1975; Co rti, 1976;
aq ue la interpretação ). Impõe- se , e ntão, um es- Co rv in, 197 8; Fieguth , 197 9 ; de Mar in is, 1979,
ção es pectado r/a to r, o esp ectador se mpre fica na b. Figu ra s d o " re cep to r implíci to "
tudo dos mecan ism os da percepç ão : os form a- 1982; Quéré, 1982; Hess-L üu ich , 1981, 1984, 1985;
mesm a posição; como possib ilid ade de répli ca Win kin , 1981; Martin, 1984 ; Versus, 19 85.
list as ru ssos e dep oi s BRECHT m ostraram como o A ence nação é a prime ira e mais fund ament al
ele dispõe, no máxim o, do aplauso, do assovio
é o e fe ito de uma percep çã o inu sit ad a, o reco nhc- das decisões que envo lvem a interpretação do es -
ou do tom ate .
ci me nto do procedimen to " est ético e o efeito de pectador num a di reção qu ase sempre muito clar a.

b. Em contrapa rtida , se a co mu nicação for co n-


in só lito ideológico q ue pro vocam o "d es ligame n- o O texto d ramát ico faz ao le itor pergunt as q ue CONDENSAÇÃO
to" s ig ni ficante. A determin aç ão do s " ho rizo n- não pod e e lud ir: co mo lhe é ap resent ad a a ação "
cebida co mo meio usad o para influenciar out rém
tes de expectativa" (JAUSS, 19 70 ) d a represen - Q ue per son ag en s sâo prot agoni stas dela'>Q uem ~ (Tradução aproxim ada do francês raccou rci,
e reconh ecido co mo tal por aq uele que se quer
taç ão (e do texto) é um a etapa indi spe nsável par a
parece le var van tage m nas discussões? Q ue m é
't...: lit eralmente, ab reviação, rcsum o .)
influen ciar (PRIETO, 1966a, b) , a reciprocidade
a previsão dos meeanismos de recep ção do pú-
da troca não mais é necessári a para se falar em ap resentado sob um ângulo favorá vel '? Algumas
blic o (recepção* ). Ter mo empregad o po r mímicos para descre-
comunicação, e é claro qu e tal de finição se aplica destas perguntas qu e o leitor se faz ob têm uma
ve r a co nce ntração de u ma seq üênc ia e m um ges -
ao teatro: sabe mos que estam os no teatro e não resp osta imedi ata atra vés da manipulação da sim-
b. Em ve z de uma verd adeira co m uni cação entre to . Par a DORCY, é "a co nd e nsação d a id éi a, do
podemos deixar de se r " toc ados" pelo espetáculo. palia e da ant ip ati a ; o utras, sã o irrespo ndívei s:
pa leo e platéi a, insta ura- se uma inte ração hc r- es paço e do tempo" ( 19511 : (6) . Se g undo DE-
Trata- se somente de sahe r co mo se dá essa recep- qu e m tem razã o . Alc este o u Philinte so bre a co n-
men êutica" entre perc ep ção in gênu a e percepção CROU X, COPEAU. ao usar a m ími ca co rpo ra l no
ção*, pois é necessári o di stin guir comunicação ce pção da vid a e m soc iedade? Muitas pe rguntas
do efe ito teatral ", seja e st e di st an ciam ento " Vicu x-C olo mbicr sa bia co nce nt rar os ges tos: " 0
(entrega ) banal dos signos cê nicos e a eviden- mais são feit as co m o fi m de provoc ar respostas
brcchtiano, pro cedimento form al o u tomada de dese nvol vim ent o da ação e ra e ng enho so o sufi-
ciação do efeito artístic o e ideológico. Ou então abs u rdas o u co ntrad itória s (c as o dos dil em as
co ns ciência de um a ideologi a . O e spe tác ulo é c ie nte par a qu e se tive sse vá rias horas e m a lg uns
é preciso de finir esta comunicação como ( I) "co- morais da tragéd ia c lássica) .
"dev ir, produção de um nova co nsc iê nc ia no es - se g undos , e vá rios lu gare s num só lugar" ( 196 3 :
presença física do emi ssor e do receptor" e (2) pect ador, inacabada, co mo toda consc iên cia, po- o O j ogo das per s pectivas * dos carac teres e m ] 8 ). MEIERIIOLD usa a pal avra ra kur; pa ra de-
"coincidência da produ ção e da comunicação" (DE ré m movida por esse próprio in acabame nto, pel a co nll ito tamb ém produ z co m freqü ência um a rc- s ig nar uma noção sim ilar à do g e sto p si col ágico
MARINIS, 1982, § 6.2: 158-162 ). distância conquistada, pela obra in esgotável da sultantc. Cabe ao es pectador restabelecer as pro- de t\ 1. TCHÉKHOV ( I'J80 , I'J95 ): o mod o de posi -
crítica em ato" (ALTHUSSER, 1965 : 151). Em su- por ções a pari ir dos d iscursos desi gu ais, subj e ti- ci on ar o corpo para qu e " a expres são emo tiva
2. Modalidades da Resposta ma - e aqui resid e a lição de BRECIl T: só haverá vos o u mentiro so s das personagens. Se fo r o caso, sai a d a ex pressão exata " (CO PEAU, 197 3: 2 11),
um a verdadeira co municação do palc o para a pla - a determinação do p orta -vo ;", do co ro" o u do par a a bu sca do to m exato : "U m ator qu e se co-
a. A semi ol ogia da comunicação ainda não co n- té ia quando o tr ab alh o teatra l for ca paz de se rai sonncu r" lix a, (a liás , nem se mpre com muita loc ou num a conde nsa ção física exata e m itirá seu
seg uiu estabe lece r um a teori a da recepção * do mostrar com o efe ito " artístico visand o a detecção ce rtez a) a imagem da " bo a" recep ção . Às vezes te xto de mane ira ex ala [... 1. Busc o a co nde nsação
es petáculo, apesar de su a int enção de associa r de um efeit o ideológi co. mesmo. o recept or idea l é represent ado entre as ma is preci sa poss ívc! do mesm o mod o q ue um

64 65
CO ND IÇ ÃO SOC I A L CONFLI TO

e scritor bu sca a palavra e xata" ( MEIER HOL D, caráter o u, ao contrário , no caso do co n fide nte qu al e le org a ni za a bo a circulação d o se nti do) e O confl ito dra má tico re sulta de forças aruagô -
19 92 : 329). cô mico um co ntraste gritant e ( Do n 1u an e Sg a- duplo " do a u tor; vê-se co m fre q ü ênc ia promo vi- n ica s do d rama . E le ac irra os â ni mo s e ntre duas
A conde ns aç ão de ve fornecer ao a tor u m re su - narelo), ca rac te riza s u as relaçõe s. do à ca tegori a de int ermediá rio e ntre protag on is - o u m ais pe rsonagen s. e nt re du as visões de mun-
mo de s ua s ituação, de se u tom e tod a uma lon g a tas e c ri adores. do o u e ntre po stu ra s a nt e uma m esma situação ".
se q üê nc ia gcstua l típica de se u pap el. 2. D o coro. o confi de nte conservo u a vi s ã o m o- D e acordo co m a te ori a cl á ss ica do te a tro tira-
derada e exe mp la r d a s co isas . El e repres enta o m Schc rcr , 1950: 39-50 . m áti co " ; a fin al idade d o teatro cons is te n a a pre -
se nso co m u m . a hu m an idad e m édi a . e va loriz a se ntação d as ações human as, e m aco m pa n ha r a
e vo luç ão de u m a crise. a e me rgê nc ia e a re solu-
CONDIÇÃO SOCIAL o herói po r seu co m po rta me nto muit a s vezes
ção de co n fli tos: "A ação d ramática não se limita
CONFIGURAÇÃO
e
timorato o u co nfo rm is ta . É sobretudo no drama .
à re ali zação ca lm a e sim ples de um fim det ermina-
Fr.: condition; Ingl. : soc ial condition; AI. :
gesellsc/wft lieher Stand; Esp.: condici ôn social.
o u na tr ag édia, qu e s ua pre se nç a se impõe c omo
mediaç ã o entre o m it o trágico do herói e a co ti- e Fr. : co nfi g u riuion; Ingl. : co nfig u ra tion; A I.:
Konfi gu rotion; Esp.: co nfig urac ión ,
do ; ao co ntrá rio . e la se desenrola num am biente
feito de eo nfli to s e colisões e é al vo de c irc u ns tâ n -
di anidad e do es pecta do r. Nesse se ntido, e le o rie n-
cias, paixõe s, carac te res qu e a ela se contrapõem
N a te rce ira Co nversa COI Il Dorval sobre o F i- ta a recepç ão " d o espec tador e dese nha s ua ima-
A co nfigura ção d as personagens de uma peça o u se opõe m . T a is confl itos e co lisões gera m, por
lho Na tural ( 1757), DIDEROT prop õe persona- ge m na peça.
sua vez, ações e reações que tomam, e m d ado m o-
gens" qu e não sej a m definida s por se u cará ter", A influ ên c ia do co nfide nte va ria con sid era vcl - é a im agem e squemática de s uas re lações e m cc na
o u no s is te ma teóri co actan cial ". É o conj u nto m ento, ne c e ss á rio seu a p az ig ua me nto " ( HEGEL,
mas, por se u s ta tus social, s ua profi ssão, sua ideo- me nte ao lon go da evolução literár ia c soc ia l. Seu
1832 : 32 2). O confl ito tornou-se a m ar ca re g is-
logi a , e n fim , por sua condiç ão socia l: " Até ago- pod er aumenta n a m ed ida em qu e o do hcr ái" se da red e qu e liga as di ver sa s forças d o drama .
tr ad a do te at ro . E ntret ant o , ist o só se just ifi c a pa ra
ra, na comé d ia, o caráter foi o o bjeto princi pal. e esboroa (fim d o tr ági co " , ironi a sobre os grande s
l . Quando se fala e m config uração indi c a- se uma uma d ramatu rg ia d a a ção (jormafeclzada *). O u -
a co nd ição soc ia l, apenas ace ss óri a ; é ne cessári o homens, as c en sã o de uma nov a cl asse). Desse
tras formas (a ép ica *, por exemplo) ou outros te a-
qu e a c ondição social, hoje, pa sse a ser ass un to modo, em BEAUMAR CHAI S, os confide nte s Fíga- vi são estrutural das per son agen s: cadafig llra * não
tros (a siát ico s ) n ão se caracterizam pela pre sen ç a
prin ci pal e o caráter, acessório" (1951 : 1257). E sta ro e Suzana contestam se ria me nte a supremacia e tem em si realidade ou val or. e la só vale se inte-
g rad a ao sistema de for ça s da s figura s; portanto, nem do co nflito, nem da ação*'
ex igê ncia do drama burguês visa in serir melhor a a glória de seus patrõe s. Co m eles logo desapare- Há co nfl i to qu ando um sujeito (qualquer que
pe rso nage m em seu contexto so c ioeconôm ico . ce rão , e de uma só vez, a forma trágica e a proe- vale mais por diferença e rel at ivid ad e d o que por
sej a sua na tu reza exata ), ao perseguir c erto obje -
minência ari st o crát ic a . sua essê nc ia indi vidu al.
to (amo r, po d er, id e a l) é "e nfre ntado" e m su a e m -
2. H á mudanç a de co nfig uração a partir d o m o - pre itada po r outro s uje ito (um a per son a gem . Ulll
CONFIDENTE 3 . Suas funções drarn at úrg icas são tão va riáve is ohs t úcnlo " psico lóg ico o u moral ). Esta o posição
m ento que uma person agem e nt ra o u sai e q ue o

e
qu an to sua ve rda de ira rel ação com a person age m se tr adu z e ntão por um co mbate indi vidu al o u " fi -
modelo acta n cial" é modi fic ado pe la mudança
Fr.: confident ; lngl.: confidant; A I.: Vcrtrautcr ; principal : e le é. a lte rnada o u simultanea men te, los ófico" ; s ua s a íd a pode se r c ôm ica " e reco rte i-
de s ituação " e pel o de senrol ar d a ação.
Esp.: confidente. mensagei ro * a trazer notícias, a relatar aco nteci- liadora, o u trágica " , q ua ndo nenhuma d as pa rt e s
m ent os trágicos o u vi ol ent os, criado d o prín cipe , pre sente s pode ce de r se m se d esco nsidera r.
3. A co n fig u ração das per s o nag ens é a i mage m
l . Pers onag em sec undária qu e o uve confidê n- a migo d e lon ga d at a (O re stes e Píl ad e e m A ndrô-
da s rel a çõ e s es ta tistica me nte possí ve is e c o nc re-
cia s d o protagonista, aco nse lha -o e o o rie nta. P re- maca) . pr ec eptor o u ama . Tem se m pre o o uv ido I . Lu g ar do Co nfl i to
tam ente re ali zad a s na peç a . Certa s re lações são
se nte so bretudo na dr am atur g ia do s écu lo XV I ao ate nto aos g ra ndes desse mundo teat ral : " O uv in-
pertinente s ao u ni verso d ram átic o : o u tras, a pe nas
X V111 , subs tutui o coro », fa z o pa pel d e narrad or te passi vo" . na de fi ni ção de SCHL EGEL, m as tam - Na m ai o r par te d o te m po , o co n flito é contido
fortuit a s e d e sint e re ssant e s p ara a c aracte rização
indi re to e co ntribui para a exposição " e , a seg u ir, bé m o u vinte in s ubst it ufvcl de um herói qu e se e é mo stra do ao long o d a ação. co ns titui ndo -se
d as fi gura s .
para a com preensão da ação . Às vezes destinam- perde. " ps icana lista" avant la lettrc, que sabe pro- em se u pont o alto. (T rata-se d o Zieldrama o u d ra-
lhe tarefas degr adantes. ind ign a s do hc r ái" (ex .: vocar a crise e lan c et a r o abcesso. S uas formas 4 . " A p ura con fig uração das obras- p ri mas" - é m a co nstruíd o em funç ão de um objetivo e de um
Eno ne , na Fedra de RACI NE, Euphorbe e m CitUI). m ai s pro s ai c a s se rão, par a as mulhere s : a ama . a assi m que COPEAU des ign a o q ue é d ito e feito fim, a cn nis trofc .) Mas o co nfl ito pod e ter sido
Raramente se eleva ao nív el de a lter ego o u pa r- a ia (CO RNE I L LE dedic a -lh e um a peça d o me smo e m ce na. "se m nunc a exage rar o s ig n ifi c a do" produzi do a nte s do i n ício da pe ça : a aç ã o é ape-
ce iro tot al d a pers onagem prin cipal (como o nom e e m 16 32-1 6 3 3). a criada esperta (MA RI- ( 1974 : 19 9 ). É es ta co nfig uração q ue a e nce na- na s a d e mon stração a nalítica * d o pa s sado (o
Horá cio de Hamlet ), mas a com ple ta . De le não se VAU X ) o u a d am a d e co mpanhia para os e ncon - çã o é c onvidad a a man ife st a r e pree nc her. melhor ex e m p lo di st o é Édipo ). Se a pers on a gem
tem uma imagem muit o preci sa e ca rac te riza da, tro s am oro so s ; aos homen s cabe m os papéi s de : es pe ra o m o m e nt o final da peça para c onhe cer o
um a vez que é apenas comparsa c eco so noro d a- executor de tar efas b aix as. de alte r ego indelicado ~ M atemátic a (abordagem ...). seg re do de s ua ação, o e spectador c o nhece de
quel a. n ão tendo geralmente conflito tr ágico a (Dubois em A s Fal sa s Confidé ncius v. Se sua im- ant emão a sa ída pa ra ela. A textualizaçã o " do con -
assumir o u de cisão a tomar. Sendo do m es mo sexo portância é vari áv el , e la não se limita ao mero LD Souriau, 1950 ; Ubcrsfcld, 19 77(/. flito (se u lu g ar na f ábula) fornece indi ca ções so-
qu e se u a m igo. freqüentemente o guia e m seu pro- papel de substitut o , de in strumento de "escuta" br e a vi são tr ágic a dos autores. Ela sempre se s i-
j eto a moroso . Pelo viés das confid ên ci as, curio - dos monálogos" (estes se m an têm na dramaturgia tua no m e smo lugar e m diferentes peças d e 11m
sa me nte se formam duplas (como Ter ãmeno e clássica sem qu e o con fide nte tent e s ubs titu í- lo s ). CONFLITO me sm o a uto r: de ss e modo, em RA CIN E, a tr an s-
H ipó lit o , F ilinto e Alceste, Dor ante e D uboi s e m Personagem tip icamente "d upla" (s itua do ao me s- gr e ssão se d á mui tas vezes antes do iní ci o da pe ça,
As Fa lsas Confidências, po r exe m p lo) so bre c uja m o tempo na ficç ã o e fo ra de la) , o co n fide nte . ao passo q ue CORN EI L L E faz dela pa rte ce n tra l
e
Fr. : co nfl it; IngI.: canflict; AI.: Konfl ikt: Es p.:
iden tida de pod e -se es pec ular. U ma afinidade d e por vezes, torna -se s ubstituto do pú bl ico (pa ra o co nflicto. de su a ohra .

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CO N F LI TO C ON T A D O R D E tlt ST ÚRIA S

2. Forma s em Conflit o co nc re tize as forças present es: a aparência física dr am aturgia clássica, o co n flito de ve resol ver -se ses c ha ma m de r écitant, qu e se manife sta à mar -
d os atores, a co locação, a d isposição' e a co nfi- no inter io r da peça : "A ação dev e ser co mpleta e ge m da ação cê nica o u mu sic al.
A natur eza dos diferen tes tipos de con flito é g u ração' dos grupos e personagen s e m cena, as co ncl uída , o qu e qu er dizer que, no aco ntecimento O co nta dor de hi stóri as é um artista qu e se
extrem amente variáv el. Se fosse possível estabe- mudan ça s de luz. A si tuação e a en cenação im- qu e a encerra, o es pec tado r de ve estar tão bem situa no c ruz amento de o utras a rtes: sozinho em
lecer cientilicamente um a tipologia , ela fornece- põem necessariament e escolhas qu ant o à visu a- in stru ído so bre os se nt imento s dos dois que tive- ce na (q uase se mpre), narra sua o u um a o utra his-
ria um model o teórico de todas as situaç ões dr a- liza ção das relações humanas e à tr adução " físi- ram aí al guma parti cipação qu e ele saia com o tóri a , d iri gindo-se diretam ente ao públ ieo, e vo-
máti cas imagináveis e pr ecisaria assim o caráter ca" do s co nfli tos psicol ógi co s o u ideológicos es píri to em sossego e qu e não reste a ele dúvida cando aconteciment os através da fala c do ges-
dramáti co da ação teatral. Surgiri am os seguint es (gesllls*) .
a lguma" (CORNE[LLE, Discurso Sobre o Poema to , inte rp retando uma o u várias personagen s, mas
conflitos: Dramático). Na tra gédi a, a resolução do co nflito volt ando sempre a se u rel ato . Reatando os laços
4 . Razões Profundas do C onflito é aco mpanhada por uma se ns ação de concili ação co m a o ra lidade, situa-se e m tradições sec u lares
- rivalid ade de duas personagen s por razões eco-
nômi cas, amo ros as, morais, políti cas ctc.; e apaziguam ento" no espec tado r: este tom a con s- e influenc ia a prática teatr al do O cidente con fron-
Por trás das moti vaç ões indi viduais de perso- ciê nc ia, ao mesm o tempo, do fim da peça (todos tando -a co m tradi çõe s es q uec id as da liter atura
- confl ito e ntre duas concep çõe s de mund o ,
na gen s em eo nflito, muitas ve zes é posss ível dis- os problemas resol vid os) e da rad ical se paraç ão popul ar, co mo o rel ato do co nta do r de históri as
du as morais irr econcili áv ei s (e x.: Antí gona e
tin guir causas socia is, polític as o u fil osófi cas: as - dos co nfli tos im agin ári os de seus problem as pes- ára be o u do feiti cei ro africa no . O co nta do r de
Cr eont e ):
s im, o co nflito entre Rodri go e Xi me na, além da soa is. O co nflito dr amáti co e stá, então, definiti- hi stória s (q ue muit a s vezes co m põ e se us pró-
- di scussão moral entre subje tivi dade e obje tivi -
o posição entre dever e amor, prol on ga-se em di - vame nte resol vid o graças ao "sent imen to de co n- prio s te xt os) procura es ta be lec e r conta to diret o
dad e, incli nação e dever, paixão e razão. Esta
fe re nças soc iopolíticas e ntre du as leis do s pais: ci liação qu e a tr agédi a nos propi ci a através da co m o públ ico reunido numa praç a , por oc asião
discu ssão oco rre no interi or de uma mesma fi-
pr incípi os de um a mora l individu ali sta arcai ca visão da j ustiça ete rna qu e impregn a, co m seu de a lg uma fest a, ou na s sa las d e es petáculo; e le
gura ou entre dois "c am pos " que tentam se im-
o pos tos a um a vis ão políti c a centralizadora e pode r abs oluto, a just ificação do s fin s e das pai- é um perf o rme r* qu e reali za uma aç ão e trans-
por ao herói (dilema *);
monarquista (PAVIS, 1980a).
- conflitos de interesse ent re ind ivíduo e soci e- xões unilaterai s, pois e la só poderi a adm itir o m ite uma mensagem poétic a diretament e rece-
De acordo co m uma teoria ma rxista ou sim-
dade, motivações particul ares e gerais; co nfli to e a contradi ção e ntre forças morais que, bid a pelos ouvintes- esp ectadores. Como nas tra -
plesmente sociológica, todo conflito dramático re-
- luta moral ou metafísica do homem contra um seg undo seu con ce ito , d evem est ar un idas, se d içõe s o ra is, a mem o rização do texto e do ges to
s ulta de urna cont radição entre dois g ru pos, dua s
prin cíp io o u desejo mai or qu e e le (Deus, o ab- perpetue m e se a fir me m vito rios ame nte na vid a é e fe tua da sim ultanea me nte : "Cada frase ora l,
classes ou duas ideo logi as e m co nfli to, num de-
surdo, o ideal, o supe ra r-se a si próprio etc.). real" ( HEGEL. [ 832 : 380). Ess a co nci liação se do mesm o modo que cada frase gestua l, está se m-
terminad o mom ent o hist óri co . Em última anál i-
rea liza de tod os os m od os; s ubje tivo c idea lista : pre pre nhe de tod a a trad ição" (M. JOUSSE).
se, o co nflito não depende ape nas d a vo ntade do
3. F orma s d e Conflito d ram aturgo, mas das co nd ições o bj etivas da rea-
quando os ind ivídu os re nunc ia m por vo ntad e pró- A a rte do co ntador de históri as ren o vou a pr á-
pria ao s se us proj eto s e m prol de uma instânci a tic a te atr al de nosso s dias . E la se in sere na cor-
li dad e social represent ad a . Es sa é a razão pel a
Para o drama clássico , o con tlito está ligado mor al superior: obj e tivo : qu ando um a força polí- re nte do tea tro-na rrativa, q ue dramati za materiais
qu al os dra mas histór icos, qu e ilu stram as gra n-
ao he rôi "; é sua mar ca registr ad a. Defi nindo-se o tic a ence rra a di scus são ; artifi ci al : quando um não-dram áti cos c casa pe rfe itam en te a atuação e
de s co nvulsõe s históricas e descr e vem as part es
herói co mo co nsc iênc ia d e si e co nstituído po r deus cx machina r de se m ba raça os fios de uma a narr ati va , práti ca qu e VITEZ lan çou com VC II-
e m co nfro nto, co nseg ue m visu ali zar melh or os
su a oposição à out ra per son age m ou a um princí- d iscu ssão incxtri c ávcl etc . drcdi ou La Vie Su uvo gc : " O que não pod em os
co nflitos dr amáticos. In ver sam en te , uma dram a-
pio moral di fere nte , exi ste a "unidade do herói e Uma dramaturg ia m ate rialista di aléti ca (co mo re pr e sentar, contam os; o que não basta co ntar,
turgia qu e ex põe as discussõe s internas ou uni-
da colis ão" (LUKÁCS, 1965 : 135 ). Mas nem to- a de BRECHT) só não se parará os co nflitos fictí- rep rese ntamos" . A art e do contador de hi stórias
versais do hom em tem muito m ais dificuldade
dos os con flitos se exteri ori zam na forma mai s c io s da s contradi çõe s soc iais do públi co, co mo to rnou-se um gênero muito popular destinado a
para mo str ar d ram aticamente as lutas e conflitos
visível do duelo retórico (est icomitiasr s. nem do re me terá os primei ro s no s se g undos : "Tudo que um públi co diferente do teatro-encenaç ão: co m
(desse modo, a tragéd ia c lássica fra nces a ganha
debat e retórico co m argument os e con tra-arg u- se relacio na co m o co nflito, co m a coli são, co m a recursos m ínim os, vo z c mão s nuas, o co ntado r
e m refinam ento de aná lise o qu e perde em eficá-
mentos. Às vezes, o m on ólogo ' é próprio para luta não pode, em ab solur o. se r tratad o se m a dia- de históri as rompe a q uarta parede, di rige-se d i-
c ia dr am atúrgica). A escolha d e co nflitos huma-
apresentar um raci ocínio basead o na o posição e lét ica m ate rial ista" (Il RECHT, 1967, vo l. 16: 927). re ta mente ao pú blico , to ma o cuida do de limi -
nos dem asiad o ind iv id ua liza dos o u uni ver s ais
no confronto de idéias. Na maiori a das vezes, a tar-se a um confront o qu e não se co nv e rta em
acarreta um a desintegra ção dos e leme ntos dram á-
fábula - a estrutura do s acontecim entos com pe-
ticos em be nefício de um a "roman tizaç ão" e de ~ . Ação, actancial (modelo...). e nce nação so fisticada , usand o tod os os recur sos,
ripéci as e reviravolt as - é m arcad a pela dialéti ca pr in c ip alm ente t écn icos , da ce na, o qu e permite
um a epicizaç ãos do teatro (LUKÁCS, 1965 ; SZON-
conflitual das personagen s c das ações . Cada e pi- o u so de mic rofon e de lap el a , de iluminação o u
DI, 1956; HEGEL, 1832 ). A form a épi ea, co m cfe i-
só dio ou mot ivo da fábula só faz sentido relac io - CONTADOR DE HISTÓRIAS de aco m pa nhame nto mu s ical (P. MATEO ).
to , tem mu ito mais condi ções de descre ver e m
nado a outros motivos qu e vê m contr adizê-lo ou Q uando cont a hist óri as autobio g ráficas (co -
pormenor a ação , não centrando m ais a fábula na
modifi c ã-lo: "Caracteres e situaçõ es (...] se en- Fr.: conteu r; lngl. : storvteller; AI.: Eriii hlc r; m o J.-P. CIIABROL ), o co nt ad or de hi stóri as as-
c rise , mas no processo e no desenvolvimento.
trecruzam e se determinam reciprocamente, cada Esp.: cuentistu. se me lha- se ao perfornter " (americano , po r exem-
caráter e situação procurando afirma r-se, colocar- plo: L. ANDERSON, S. GREY) . Todas as re lações
se em primei ro plano em det riment o dos outros, 5. Lugar d e R e s olução do Co n fl ito da fal a co m a situação cê nic a do locuto r são
É pr eci so não co n fund ir o cont ad or de histó -
até que toda agi tação atin j a o apazig uamento li- rias co m o na rrado r" , qu e pod e ser um a per so- im agin á ve is; tod os o s mei o s são bon s pa ra a
nal" (HEGEL, 1832 : 322). Todos os meios cê ni- As ra zões profund as do con flit o é qu e autor i- te atral iza ção da narrat iva. a qu al int roduz perso-
nagem qu e co nta um acontec ime nto . co mo na
cos estão à disposição do encenado r a fim de qu e za m, o u não, a resolu ção d as co ntra dições. Na nagen s qu e tom am a pal avra e a s uste nta m (co rno
narrativa " clássica , nem com o qu e os tra nce-
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CONTEXTO CONVENÇA o

Ph il ipp e CAUHÉRE . qu e faz tod as as pe rsona- necessário poder le vant ar e form alizar os traços O uso do co ntra po nto ex ige do dramatu rgo e a. Convenções das realidades representadas
gens em Lc Ro man d' un A cteur e não, so me nte comcxt ua is par a es tar em con dições de decifrar o do es pec ta do r a ca pac idade de com por " e sp a- O co nh ec im e nt o ab ra ngente . bem co mo a ca-
seu "d uplo" . Ferdi na nd, o herá i ). O co ntador de se ntido da si tuação. En fim. é delicado di scernir. cia lme nte" e de agrupar. de acordo co m o tema pacidade de reco nh ecimento dos o bje tos do uni-
histór ias e n riquece a prática teat ral e tira has- na representação. o que perte nce ao domíni o da ou o lu gar ele me ntos a priori sem rel ação ; ex ige ve rso dr am át ic o s ã o re almente pr im ord ia is :
ta nt c provei to dos milagres da ce na . situação dr am ática. da ide ologia da época repr e - ai nda a capac ida de de con sid er ar a e nce n ação co mpree nder a psicologia de uma per s on agem ,
Ver Dire, re vista de co nto e de o ra lidade. En- se ntada. da ideol ogia do públ ico, dos va lores cul- como orques traç ão muit o preci sa de vo zes e ins- di stin gu ir sua classe soc ia l. ter noções das re-
tre os cento e cinqüe nta contado res de história turais perten cent es a u m grupo es pecí fico. tr ume nt os di ver so s. gras ideológi cas do mei o re presenta do são igua l-
pro fissio nai s da França destacam -se pr incipal- ment e co nve nçõe s qu e se base ia m num co njun-
meme H. GOUGAU D. M. HINDENOCH, B. DE LA 6}, Recep ção. in t e rt e ~tu a il d a d e , .fora de ce na, fora ~ . Jogo e co ntra-jogo. composiçã o paradoxal. to de c údigos ",
SALLE (Le Co nteur Amo ureux, 1996 ). ~ do te xt o . s u uaçao d ram ática . situação de
enunciação . b. Convenções de recep ç ão "
Q Haddad . 1982; G ründ, 1984.
CONVENÇÃO Co mpreendem to dos os c1ementos m ateriais e
W Ve ltrusky, 1977 : 27-36 ; Pa vis , 19 83a .
intelectuais nece ssár ios a u ma boa " leitura" ; por
Fr. : c o nven t ion; l ngl. : c o n ve n t i on; A I.: exe mplo: m ostra r as coi sas so b a ótica do espec-
CONTEXTO Konventi o n; Esp.: convenci án . tador. ut ilizar as le is da per sp ectiva (pa ra palco
CONTRAPONTO italiano). fal ar de m od o audível. na língu a pátr ia,
ê Fr.: co n te x to; Ingl.: context; AI. : Konte xt; Esp.: ainda qu e se c ham e H arnlet et c., ac redita r na fic-
contexto. ê Fr.: contrepo in t ; Ingl. : c ounte rp o in t ; AI.:
Co nj unto de pr e ssup ostos ide o lógicos e es -
tético s, e xp líc itos o u impl ícit o s. qu e pe rm ite m ção. dei xar-se levar pe lo es petáculo ou . ao con-
Kontrapunkt ; Esp .: co nt rap unto.
ao es pe c ta do r receber o j ogo do ato r e a repre- trári o. tom ar consciênc ia da produção de ilu são.
I . O co n tex to de uma peça ou de um a ce na é o
1. Termo musical ; co mb inação de melodias vo- se nta ç ão . A convenção é um contra to firmado
co njunto de c ircunstâncias que rode iam a e mis - c. Con ven ções especificamente teatrais
cais ou instrumentais su per pos tas e independen- e ntre autor e público, segu nd o o qu al o primei-
são do text o lingüístico e/ou da produ ção da re-
present ação ; c irc unstâncias esta s qu e facili tam o u tes. cuja resultante d á im pressão de uma estrutu- ro co m põe c encena sua o bra de acordo com - quarta parede",
ra de conjunto coer ente . no rmas c o nhe c id as e ace itas pel o seg un do, A - mon ólogos e apartes * co mo maneira de infor-
perm ite m a co m preensão. Estas ci rc unstânci as
conve nção co m p ree nde tud o aquilo so b re o qu e mar sobr e a int eri o ridad e da per sonagem.
são, entre o ut ras , coo rde nadas espaço-t em porais,
2 . Por ana log ia . a es t ru tu ra dram ática " e m co n- plat éia c pal co de vem es ta r de ac ordo pa ra qu e - uso do co ro ,
tem as da e n unc iação. d êiticos, po rtan to. tudo o
trap ont o aprese nta uma sé rie de linh as tem át ica s a ficção te atral e o prazer do jogo d ra mático se - local po lim o rfo .
q ue pode es cl arecer a "me nsage m" ling üíst ica e
o u de int rigas» par al el as q ue se co rres po nde m - trat am en to d ra ma túrgico do tem po.
cê nica e sua en unc iação. prod uzam .
de acordo co m um pr in cí pio de co ntraste. Por - est rutura pros ódica ,
2. Em sentido mais redu zido e mais estritamente exe m plo. na c o mé d ia m ar ivaudian a , a in tr iga I . Atuação
lingüíst ico , o co ntex to é o círculo imedia to da d upla dos criados e pa trões, o paraleli sm o d as d. Convenções próprias de 11m gênero 0 11

palavra ou da frase. o antes e o depoi s do term o si tuações - co m as dife ren ça s que se imp õem - de lima f orma esp ec ífi ca
O teat ro . co mo a poesia e o rom an ce . SÓ se
isolad o. o contexto , no senti do de con text o ver - for mam um a estru tura dramática em contraponto - ca ra cte riza ç ã o do s a to res (cx.: Co mm edia
con sti tui graças a uma ce rta conivênc ia e ntre o
h:1 1e e m opos ição ao co ntexto situac ional. De sse (intriga secund ária *) , del/'arte*),
em issor e o rec eptor. Mas es sa co nivê nc ia não
modo. um a ce na. uma tir ada só fa zem sentido O co ntraponto tam bém pode ser tem áti co o u - siste ma de co res (te atro chinês) .
de ve ex ceder um ce rto grau. so b pen a de o autor
qu ando coloc adas em situação e vistas co rno tran- metafórico : duas ou mais séries de imagens são - ce ná rio si m ultâ neo (classicis mo fran cês).
co loca das em linh as parale las o u co nvergentes e não co nseguir mais surpree nde r o es pectado r. ne m
sição entre duas s ituações ou d uas ações . - cen ário ve rba l" (SHAKESPEARE).
SÓ são co m pree nd idas quando rel acion adas (cf o cria r um a obra q ue escape ao ó bvio e sur pree nda
3. O co nheci mento do contex to é indisp ensável tema das p istol as. d a mort e e m Hedda Gable r, o u es te es pec tador.
3. Conve nções Ca rac terizantes e
para q ue o espectado r co mpreenda o te xto e a re - a apa rente desordem d o d iál ogo tc he kho via no) A co nvenç ão . co mo a verossimilhança * o u o
procediment o ", é uma noção de d ifícil defi ni-
Conve nções Operatórias
presen tação . Toda e nce naç ão pressu põe ce rtos quand o per son agen s e tem as dia logam de um pa ra
co nhecimentos: elementos de psicol ogia huma - o utro alo e não de um a par a o utra frase. d ando a ção no d et alhe , tant as são as variações de gê ne-
Se se qu iser evi ta r a de sordem taxin ômica da
na, siste ma de va lores de determin ado amb ien te impr essão de um a po lifonia (PAVIS, 1985 c). ros. de públi co s , de ti pos de e nce nação no curso
tipologia preced ente. hav er á intere sse em opor:
o u épo ca , esp ec ificidade históri ca do mund o fic - Muitas vezes, es tabe lece -se um co ntrapo nto rít- da hist ória. (a) co nve nções qu e se rve m para caracterizar, tor -
tício. O co nhec imento partilhado, a soma de pro- mico ou gestual entre um ind ivíduo e um gmpo
nar verossím ei s, co nve nções que não se co nfes-
posiçõe s implícitas, a competência ideol ógica e (coro). O ator dev e , po r se u ritmo* de atuação c 2. Tipologia sam como ta is; ( b) co n venções operatórias qu e
cultu ra l co m um aos espectadores são indispcnsá- sua atitude" em relaçã o ao grupo , sugerir seu lu-
no início se o fe recem co mo ferramenta artifi cial
vcis à produ ç ão e à recepção do texto dra mático gar no conjunto da ce na. Por vezes. à agitação do
Por isso. uma tipol ogia fica mui to frágil: os utili zada d ur ant e a lguns minutos, e dep oi s elim i-
ou da encenaç ão . grupo corresponde a im o bilid ade da personagem
par âmetros do jogo teatral são num e rosos d emais nada. Isto equ iva le a bu scar uma espécie de es-
o u, de mod o inv er so . o caráte r busca se u pont o trutur a de co nve nções de um tipo de es pe tác ulo e
para qu e a lista de co nve nções pos sa ser defi niti-
4. A noção de co ntexto é tão problem ática para o de apo io na relação co m o grupo, o qu al oc upa c
va me nte e nce rra da. a hier arqui zar as diferentes conv e nções.
teatro quanto pa ra a lingüística. Na verdad e. seria estrutura a m aior part e do espaço cê nico .

ro 71
CO REOG R AFIA C O RO

a. Conve nç ão caractcrirante ru ir-se- á a idéia de um có d igo fixo pela idéia de pod e se r acus ado de cs tcticis mo , insist ia nessa mo- ne a choréia é a igu ald ade ab solut a das ling ua-
Se rve -se de procedimento qu e autcntifica o es- uma hip ótese herm en êuti ca * o u d e um instru- difi cação de proporç õe s na e stilização cê nica: gens qu e a co mpõe m: rod as são, se se pod e assim
pct áculo c fac ilita a criação de um mund o harmo- m cnto de funcion amento/d ec ifraç ão. "U m teatr o qu e se base ia int eg ral ment e no ges tus, d izer. " na tur ais", o u sej a, pro veni e nte s d o mes-
nioso no qu al se pod e acred ita r lcgitirnamemc. não poderia abrir mão d a coreogra fia . A e legâ n- mo qu ad ro ment al, formad o por um a ed ucaç ão
(É o caso de tod os os e le me ntos do figurin o ou 5. Dialética das Conv en ções cia de um gesto, a g raça de u m mo vim ent o d e qu e , sob o nom e de "música" , com pree nd ia as
d o compo rta me nlo físic o qu e re vel a de imediato co nj un to ba stam para produ z ir um e fe ito d e letras e o ca nto (os coros e ra m naturalment e co m-
a identidade da pcrson agem.) A s co nve nçõ es são ind ispen sávei s ao funci o- d ist an ciamento e a in ven çã o pant omím ica o fere- post os por ama do res e não havi a difi culdade al-
namento teatral e toda for m a d e es pe tác ulo ser- ce à fábula um auxílio ine stimável ". (Peq ueno g uma e m recrut á-los)" (R. HARTHES, ''Teatr o Gre -
b. Con venção op era tória ve- se dela s. Cientes dessa ve rda de , ce rtas estéticas Organon, § 73. ) go", História dos Espet áculos, 1965: 5 28).
j og am d eliberadamente co m se u us o exagerado O coro trágico, di sposto num retângul o. co m-
É muit o usad a na representaç ão épica que abre 6.)
(t ip os*) . Nelas, a cumplic idade com o públi co é ~ . Gesto, mimo, corp o. expressão. pre ende um a dú zia de co rc utas, ao pa sso qu e o
mão da imi tação: trata- se d e um aco rdo a curto
reforçada e as formas tip ifi cadas (ó pe ra, panto-' c o ro d a co mé d ia ut iliza até vi nte e qu atro pes-
prazo firmado quase sem pre de mod o irônico : ~ Hanna, 1979; No verr e, 1978; Pavis, 1996.
mima , farsa ) as se me lham -se a marav ilhosas soas. A part ir d o momento e m que as resp ostas e
ca de ira qu er diz er conforto ; cas ca de banana, pe-
co ns truçõ es artifi ciais nas qua is tudo tem senti- come ntá rios do co ro são ca ntado s pel os co reutas
rigo ; tij olo s, aliment o s (cf Ub u a I/x Bouffe s de P.
d o preci so . O a buso da s co n ve nções, porém, e falados pel o co rifeu (c he fe do coro), o di álog o
BROOK no teat ro Bouffes d o No rd em 1977 ).
pod e can s ar um público qu e nada mais espera CORO e a for ma dram áti ca tenderam a suplantá-l o e o
Aqui, a co nve nção ac ha prazeroso anunciar-se
da ação, da c a rac teriza ção e d a m en sagem parti- coro se limita a um com entário marg inal (adve r-
co mo p rocedime nto> lúdico. Em muit as encena-
cular da obra. Ei s porque o uso das convenções ~ (Do grego khoros c do latim cho ras, grupo de tên cia, co nse lho , súp lica).
ções mod ernas, esta falsa con ven ção, por outro dançarinos e cant or es, festa relig iosa.)
exige um grande habil idade por parte das pes-
lad o, vira um brinquedo, do j eito que o públi co Fr.: choeur; Ingl.: chorus ; AI.: Cho r: Es p.: coro.
soas de teatro. A história liter ári a está cheia, aliás, I. Evolução do Coro
esp era , de modo que essa convenção o peratória
dessas reviravoltas d ial éti ca s : co n ve nçõ es ->
passa a ser convenção caractcrizante (de uma certa Termo comum à mú sic a e ao tea tro . Desde o
formação de uma norm a -> uniformidade ->
van gu arda ). Daí resulta que a enc enaç ão e o tea- teatro grego, coro de signa um g rupo homogêneo A or igem do teatro g re go - e com ele, da tra-
violação da norma por invenção ele convenções
tr o produ zem sem cessar convenç ões (o perató- dição d o teatro oci de nta l - confunde- se com as
opostas -> formação de nov a s normas etc. de dançarinos, cantores e narrad or es, qu e toma a
rias) q ue "e ntram para os co stumes" a ponto de pala vra coletivamente para co me nta r a ação, à qual celeb ra çõ es ritu ahsti cas d e um grupo no qu al
parecerem carac terís ticas do teat ro e "eternas", e
q ue há um a co ns tante dial ética e n tre co nvenção
cn Bradbrook , 1969; Swio nte k, 1971 ; Burns, são diversamente integ ra do s .
Em sua form a mai s gera l, o co ro é co mpos to
d ançari nos e ca nto res formam , ao me sm o tem-
po, públi co e ce rimônia. A forma dramát ic a mai s
t 972 ; de Marinis, 1982.
o pe ratór ia e co nve nç ão carac te riz a ntc. por for ça s (acta ntes v s não ind ivid ua lizadas e ami g a se ria a recita ção do co ris ta principal in-
freqüentemente a bstratas , qu e represent am os in- lerrompi d a pel o co ro . A parti r d o moment o em
4. Conven ções e Códi gos Teatrai s tcresses mor ais ou pol ítico s s u perio res : " Os co- qu e as re spo sta s ao coro pa ssa m a se r d adas por
COREOGR AFIA (E TEATRO )
ros exprimem idé ias e se ntime ntos ge ra is, ora co m um , d ep o is po r vá rios prot agoni stas , a fo rma
A teori a se mio lógica explica o fun ci onamento subs ta ncialida dc é pica, o ra co m imp ulso líri co" d ram átic a (diá logo) passa a s e r a norma, C o coro
~ Fr.: cho r égraphie; lngl. : cho rco g rap hv; AI.:
d a me nsag em (catra i at ra vés de lci s estruturais e (HEGEL. 1832: 342 ). S ua função e form a variam n ão m ais se não uma in st ân ci a qu e co me nta
Cho rcogrtll'hie; Esp.: co rrog rap hia .
é

de um co nju nto de cá d ig os» e m ação no texto e tant o ao lon go do tem po , qu e se faz necessá ria (a d ve rt ênc ias , co nse lho s, súplica).
no es pe tácu lo. Portanto, é tentador ass imilar as um a breve rem em oração histó rica. Na coméd ia aristof ãnicu, o coro se integ ra am-
A práti ca do es petác ulo e m nosso s dia s abole
co nvenções a um tip o de cód igo de rece pção (DE A tragédi a grega te ria nasc ido do co ro de d an- pl amente à ação, intervindo nas p a ráb as es ". De-
as fro nte iras e ntre o teat ro fa lado, o ca nto, a mí -
~ lA R IN IS , 197 8: PAVIS, 1976a : 124 -134). No en- m ica , a d a nça -teatro », a d an ça e tc. Por isso, deve- ça rinos ma sc ar ados e ca nto re s : o qu e dem onstr a po is . tende a desaparecer ou a restr ing ir-se a pe-
tant o, isso só se leg itim a com pleta mente se não se es tar alent o à melodi a de um a dicç ão " ou à a im po rtânci a desse g ru po de homen s qu e, aos nas à fun çã o de crurcato lírico (como na co mé dia
se co nce be rem có d igos - co mo na se miologia da coreo gr afia de uma e nce nação, um a vez qu e cada pou cos, deu forma às per son agen s ind ivid ua liza- ro ma na) .
co mun icação - isto é , como s iste mas ex plícitos j ogo de ator, cada mo vim ento d e cena, cada o r- d as, depois qu e o c he fe d o coro (exa lrhô ll) ins- Na Id ad e M édi a, assume form as m a is pes -
previ am ent e fo rnecidos (como por exemplo o g anização de signos possui um a dimensão coreo- ta urou o primeiro at or, q ue po ueo a pou co se pôs soais e didáti cas e atua co mo coo rde nado r é pico
morse ou as s inalizaçõ es de es trada) . Com efeito, g rá fica. A coreogr afi a abr an ge tant o os desloca- a im itar uma aç ão (tragéd ias d e TÉSPIS). ÉSQUI- d o s e p isó d ios a pres e nta dos, e se subdi vid e, no
nesse caso , nenhuma convençã o result a em cód i- mentos e a ges tua lida dc d os ato re s, o ritmo' da LO, depois SÓFOCLE S introduziram um segundo int eri or d a ação, e m subco ros que parti cipam da
go , pois e las estão longe de ser em explícitas e representação, a sinc ro nização da palavra e do ato r e em seguida, um ter ceiro . fábul a.
co ntro láveis, em especial as conven ções ideoló- gesto, quanto a di sposiç ão dos atores no palco. A choréia realiza uma síntese e ntre poesia, mú- No sécul o X V I, e m parti cular no drama huma-
g icas e as es téticas, que não formam sistemas fe- A encenação não restitui tal qual os movimen- sica e dança: encontra-se aí a o rige m do teatro nista , o co ro se pa ra os atos (ex.: o Fausto, de
ch ad os e j á elucid ados. tos e comportament os d a vid a co tid iana. Ela os oc ide ntal. Porém, com o o bse r va R. BARTHES, MARLüW E), to ma -se e ntrcato musical. SHAKES-
A s co nve nçõe s são, antes , re gr as "es quec i- cstiliza, torna-os harm oni osos e legíveis, coorde- " nosso teatro, mesmo o lír ico, não pod e dar idéia PEAR E o persona liza e o c ncam a num ator e nca r-
d as" , interiorizada s pelos prati cantes do teatro e na-os em função do o lhar d o es pec tado r, traba- d a chor éia, uma ve z q ue nele pred om ina a mú si- re gad o do p rál ogo : e do cpilogo", O cl o wn e o
dec ifrávei s a pós uma int erpret ação que envo lve lha- o s e ensaia-os até qu e a e ncenação esteja, por ca e m detriment o d o texto c d a d an ça, es ta última bob o, qu e pre nu nc iam o co nfide n te do teatro clás-
o es pec tador. Para defin ir a co nvenção, substi- assim dizer, "co reog ra fada " . BREC HT, qu e não relegad a aos intermédi os (ba lés ); ora, o qu e dcfi- sico fran cês, são sua fo rma par ódi ca .

72 73
CO RO COR PO

o cla ssici smo francês, em ampl a escala, renun- do" do autor ; ga rante a pa ssag em do particul ar v érn para d enunci ar o que ele teori cam e nte dev e- de ve real izar o mo viment o co m seu o rga nismo"
cia ao co ro, preferindo a ilumina ção intirni sta do para o geral . Se u est ilo líri co ele va o di scurso rea- ria re present ar: um po de r unifi cado, se m d iscu s- (GROTOWSKt, 197\ : 9 1). O s gesto s ' são - o u ao
confi dente " e do solilóquio' (exceç ões marcantes: lista das pers on age ns a um nível inexcedível , o sões inte rnas, presidindo os destin os hu m anos . menos se d ão como - c riad ores e o rig inais. Os
Ester e Athalie de RACINE). foi usad o pela última poder de gene ra liz aç ão e d e desc oberta da a rte Na s formas " nco-a rcaicas" de co munidade te a- exe rcíc ios do ato r consiste m e m prod uzir emo-
vez na forma cl ássica por GOETlIE e SCHILLER. nele se en contra multiplicado por dez. " O coro tral. e le não repre senta es te papel c rítico; ele e n- ções a partir d o d omíni o e do man ejo do corpo .
Para este ú It imo. o coro deve provocar a cat arse e deixa o estreito cí rc ulo da ação para es te nde r-se cob re o costume d o g ru po so lidific ado , e qu e ce-
"despsicologi zar" o conflito dramático elevando- ao passado e ao futuro, aos tempos antigos c ao s le bra um cult o . É o c as o dos esp et ácul os de 3. Linguagem Corporal
o de seu ambiente banal a uma esfera altamente povos, ao hum an o e m geral, para extrair as gran- happenings "; da s performances" que a pe lam à
trágica da "força cega das paixões ". e "desdenhar des lições de vid a e exprimir os ensinamentos de at ividade física d o p úhli co ou das comunidades A tend ência do corpo-material é que pred o-
a produção de ilu são" (SCHILLER. 196 8: 249-252). sabedoria" (SCHILLER, 1968 : 251). teatr ais (o Living Th eatr e é o exemplo típi co d e min a hoje na práti c a ge ra l da encenaç ão , pelo
No sécul o XIX realista e naturalista . o empre- uso contínuo , embora invis ível, de coro no es pa- men os no teatro e xp erim ental. É por essa razã o
go do coro entra nitidamente em declínio para-nã o c. Expres são de uma com unidade ço cênico e soc ia l). qu e, depois de lib er ad o s d a tar efa textual e psi co-
chocar a ve rossi milhança; o u. ent ão. se e nca rna lóg ica , os e nce nado res d a van guarda tentaram
Para qu e o es pec tado r real se rec onh eça no " es -
em per sonagen s co letivas: o po vo (BÜCHNER.
pectador ideali zado" qu e con stitui o co ro, é pre - ~ . Co nfide nte. narrador épico. freqü ent em ente d efinir um a lingu agem co rpo ra l
HUGO. MUSSET). Um vez ultr ap assad a a dra-
ciso nece ssari am e nte qu e os val ore s tran smitidos do ato r: " a no va lin gu agem física ba sead a e m sig-
maturgia ilu sioni sta. o coro faz. hoje. sua reapari-
por esse último sej am o s me smos qu e os se us e nos e não mai s em pal a vr as" , de qu e fala ARTAUD
ção como fat o r de di st anciam ent o ( HRECHT, CORPO
qu e co m eles po ssa se identificar co mpleta me nte. ( 1964 : 8 1), é ap en as uma met áfora e ntre tantas
ANOUILH e sua Antigona v; co mo de se speradas
tentativas de enco ntrar uma força co mum a tod os
(T. S. ELlOT. G1RAUDOUX,TOLLER) ou na com é-
O coro. port ant o, só tem probabilidade de ser acei-
to pelo públi co se est e se constituir em uma mas- e Fr.: corl's; In gl. : bodv; AI. : Kiirp c r; E sp .:
cuc rpo,
o utras . Todas têm e m com um uma busca d e sig-
nos que não sejam calcados na linguagem, ma s
sa solidificada por um culto, uma crença ou uma qu e e nco ntre m uma dimensão figurativa . O signo
dia musical (função mistificadora e unanimista
ideologia. Deve se r aceito espontaneamente como ic ônico, a meio caminh o entre o objeto e sua
do grupo so lda do pela expressão artís tica : dança, I. O rganismo ou Marionete?
um jogo, ou seja, como um universo ind ependen- sim boliz ação, torna- se o a rquéti po da lin gu agem
canto. text o ).
te das regras co nh ec id as de tod os nós, às quais corpor al : hierógli fo em ARTAUD e MEIERIl OLD ,
O co rpo d o at or si tua- se , no leque d os es tilos ideogr am a em G ROTO WS KI etc.
não qu estion am os, uma vez que aceitamos a elas
2. Poderes do Coro nos submeter. O coro é - ou de veri a se r - se gun-
d e a tuação , e ntre a es po ntane ida de e o controle
O co rpo d o ato r to rn a-se o "c o rpo co nduto r"
abso luto , e n tre um co rpo natural o u espontâ neo
do SCIIILLER " u ma parede viva co m o qu al a tra - qu e o es pec tado r d e s ej a, fant asi a e id e n ti fica
a. Fun çã o estética desreali zante c 1I1l1 cor po - l1lllrionCll' * . inteira me nte preso a co r-
gédia se cerca a fim de se isol ar do mu ndo real e (identificando -se co m e le ). To da sirnbo liza ção e
d é is e m a nipu lad o po r se u sujeito o u pa i e spir i-
Apesar de sua importâ nci a funda nre na tra- para preser var se u so lo ide al e sua libe rdad e po é- scmiotização " se cho ca co m a pre sença " d ifi cil-
tual : o c ncc nado r.
géd ia gr ega, o coro log o parece e le me nto artifi- tica" ( 1968 : 249) . A parti r do mom ent o e m qu e a ment e cod ificá vc l d o corpo e d a voz do ator.
cial e estranho à discu ssão dr am ática entre as comunidade franqueia os limites dessa fortaleza
per sonagen s. Torn a-se uma técni ca é pica. mui- 2. Rel é ou Mat eri al?
ou revela as contradi çõe s que a atr avessam, o coro 4. Hierarquização cio Corpo
tas vezes di st an ci adora, poi s co nc retiza diante passa a ser criti cad o co m o irreali sta o u mistifica-
do espectador um outro espectador-juiz da ação, A utilização teat ral do corpo oscila entre as
dor e está fad ad o ao desapareciment o . Pelo fato O co rpo não sig ni fic a co mo um bl oc o: e le é
habilitado a co ment á- Ia, um "e sp ectador ideali- du as seg uin tes co nce pções :
de nem todas as é poc as possuírem o dom de "fi- "d ccup ado" e hierarqui zado de maneira se mpre
zado" (SCHLEGEL). Fundarnent alemntc, este co - gurar o car áter pú bl ico da vida " (LUKÁCS). o coro mu ito estrita , se ndo qu e cada estruturação co r-
mentário é pico eq uiva le a encarna r e m cena o a. O co rpo não passa de um relé e de um su po rte
por vezes cai e m desu so. particularment e a partir resp ond e a um e stil o d e atuação ou a um a es téti-
público e se u o lhar. SCIlILLER fala. so bre o co ro . da cri aç ão teatral , que se situa em o utro lugar : no
do mom ent o e m qu e o indivíduo sai da ma ssa (nos ca. A tragédia, por exe mp lo, anul a o mo vi ment o
exatam ent e o qu e mai s tard e dir á BRECHT a res - te xt o o u na ficç ão represent ada. O co rpo fica,
séc ulos XVII e XVIII ) ou toma co nsc iê nc ia d e dos me mbros e d o tron co , enq uanto o dr am a psi -
peito do narrad or é pico e d o distanciament o : e ntão, tot alment e avassalado a um se ntido psic o-
sua for ça soc ial e de sua po sição de classe. co lóg ico usa princip almente os olh os e as mãos.
ló gi co, int electu al o u mor al ; e le se ap aga diante
" Se parando as parte s urna s das ou tras e interfe- As form as popul ares va lo riz am a gestual idade d o
d a verdad e dramáti ca. repre sentand o ape nas o
rind o em m ei o às paixões co m se u ponto d e co rpo tod o. A mím ica . tomando o co ntra pé d o
papel d e mediad or na ceri mô nia teatral. A ge s-
vista pacifi cador. o coro de volve a no s sa li - d. Força de contesta ç ão psicolo gism o , neutrali za o rosto e, em men or es -
tual idade " d esse corpo é tipicam ent e ilu strat iva
berdad e. qu e de outra form a des apareceria no O carát er fund amentalmente amb íguo do coro cala, as mãos , par a se co nce ntra r nas postu ra s e
e ap en as reit era a palavra.
furacão da s paixões". ("Do Emprego do Coro - sua força catárti ca e de culto, de um lado, e seu no tron co (DECROUX, 1963). A essas hierarqui-
na Tragédia", SCHILLER, prefáci o à Noiva de poder distanciador, de outro - expli ca que ele te- b. O u, então, o corpo é um material ' auto-refe- zações, conforme o gênero, superpõc-se um a de-
Messina, in 1968, vol. 2: 252 .) nha se mantido nos momentos históricos em que rent e : só remete a si mesmo, não é a ex pressão de pend ência geral d o co rpo aos gestus " soc iais e
não mais se crê no g rande indivíduo se m conhecer um a idéia ou de um a psi col ogia. Sub st itui-se o aos determini sm os c ulturais. Uma da s aspiraçõe s
h. Idealiza çã o e generalização (ainda?) o indi víduo livre de uma sociedade sem d ua lismo da idéi a e da ex pressão pe lo moni sm o da expressão corporal ' é preci sam ent e fazer com
Elevando -se aci ma da ação " terra a terra" das co ntrad ições . A ssi m, e m BRECHT o u DÜRREN- da pro d ução corpor al : "O ato r não d e ve usar se u que se torn e co ns c iê nc ia d os condi cion am ent o s
personagen s, o co ro s ubstitui o di scurso " profun- MATT (cf A \1sira da Velha Senhora s, ele inter - o rga nis mo par a ilu str ar um moviment o d a a lma; postu rai s e d a al ien a...ão gcs tual.

74 75
CORTINA COTIDIANO

5. Imagem do Corpo 6J. Presença, mímica, proxêmica, comediante, dos contra-regras e maquinistas, num teatro que dias musicais entre as cenas, a alternância entre
~. ator. voz. se baseia na ilusão, no qual não se pode revelar fala e silêncio, em suma, qualquer sistema biná-
Segundo os psicólogos, a imagem do corpo-
ou esquema corporal - torna forma no "estádio m Mauss, 1936; Decroux, 1963; Lagrave, 1973;
os bastidores da ação. rio que opuser presença e ausência. No teatro, uma
cortina pode esconder outra.
do espelho" (LACAN); ela é a representação men- Bernerd, 1976; Chabert, 1976; Dort, 1977b;
3. A cortina é o signo material da separação en-
Hanna, 1979; de Marinis, 1980; Pavis, 1981 a;
tal do biológico, do Iibidinal e do social. Toda
Laborit, 1981; Krysinski, 1981; Marin, 1985.
tre palco e platéia, a barrei ra entre o que é olha- ~. Quadro, espaço.
utilização do corpo, tanto em cena como fora dela, do e quem o olha, a fronteira entre o que é se-
necessita de uma representação mental da ima- miotizável (pode tornar-se signo) e o que não o
gem corporal. Mais ainda que o não-ator, o ator é (o público). Como a pálpebra para o olho, a COTIDIANO (TEATRO DO . .,)
tem a intuição imediata de seu corpo, da imagem CORTINA (1) cortina protege o palco do olhar; introduz, por
emitida, de sua relação com o espaço circundante, sua abertura, no mundo oculto, o qual se com- -t} Fr.: thé àt re <lu quotidien; Ingl.: theatre of
principalmente com seus parceiros de atuação, -t} Fr.: lever de rideau; Ingl.: curtain raiser: AI.: põe ao mesmo tempo do que é eoneretamente everyday life; AI.: Theater des AlItags; Esp.:
com o público e com o espaço. Dominando a re- Vorspiel; Esp.: loa.
visível na cena e do que pode ser imaginado, nos cotidiano (Teatro ... ).
presentação de seus gestos, o ator permite ao es- bastidores, eom os "olhos do espírito", eomo diz
pectador perceber a personagem e a "cena", iden- j No Brasil, a eortina é um número rápido apre- Harnlet, e portanto numa outra cena (a da fanta- Encontrar e mostrar o cotidiano sempre ex-
tificar-se fantasiosamente com ela. Desse modo -~ sentado nos entreatos da revista, na frente da cor-
sia). Toda cortina se abre, assim, para uma se-
tina, enquanto, no palco, se troca o eenário. (N. de T.) cluído da cena, porque insignificante e demasia-
ele controla a imagem do espetáculo e seu impac- gunda cortina, que é ainda mais "inabrfvel" do particular: este é o objetivo de uma corrente
to sobre o público, garante a identificação', a (inconfessável) por ser invisível, se não como neonaturalista dos anos setenta que assume o
transferência ou a catarse. Peça (geralmente em um ato) representada com
limite dos bastidores, como fronteira para o ex- nome genérico de teatro do cotidiano.
o espetáculo principal, em relação ao qual muitas
tracênico, logo, para a outra cena. Esse rótulo se aplica às experiências mais va-
vezes ela é tematicamente diferente (farsa antes
6. Antropologia do Ator riadas: o "Kitchen Sink Drama" dos anos cinqüen-
da tragédia). A cortina, comum no século XIX,
4. Através de sua presença, a cortina fala da pró- ta, na Inglaterra (WESKER), o neonaturalismo de
tende a desaparecer hoje. Ainda a encontramos
Uma antropologia do ator está sendo consti- pria ausência, ausência esta constitutiva de todo KRüETZ, as criações e encenações de WENZEL,
na Comédie-Française quando a peça principal é
tuída. Ela se compõe das seguintes hipóteses: desejo e de toda representação (teatral ou não). DEUTSCH, LASSALLE, TREMBLAY (As Cunha-
curta demais para ocupar toda a noitada. Na
Como o earretel deserito por FREUD, que a crian- das), TILLY (Charcuterie Fine, Y'a BOIl Bam-
• O ator herda, dispõe de um certo corpo já im- Espanha, o 100 serve de prólogo* ao auto sacra-
ça fazia aparecer e desaparecer como que para bortla). Esse movimento renova o afresco históri-
pregnado pela cultura ambiente. Seu corpo se mental" ou à comédia.
evocar a presença da mãe antes de fazê-Ia desa- co do realismo crítico (BRECHT), toma o contrapé
"dilata" (BARBA)sob efeito da presença e do olhar parecer novamente, a cortina convoca c revoga o
do outro. da dramaturgia do absurdo", vítima de sua me-
teatro, faz-se denegação": mostra o que esconde, tafísica do "nada". Até então, o cotidiano sempre
• O corpo, ao mesmo tempo que mostra, escon-
CORTINA (2) é um larvatus prodco ; excita a curiosidade e o
era relegado a um lugar ornamental e anedótico,
de. Cada contexto cultural tem regras quanto ao desejo do dcsvcndameruo. Daí o prazer de ver a
aquele do povo nas tragédias clássicas e dramas
que é permitido exibir. -t} Fr.: ridcau; Ingl.: curtain; AI.: vorhang; Esp.: cortina se abrir e, depois, fechar-se lentamente,
cortina.
históricos do século XIX. Era integrado a um
pontuando o espetáculo, traçando-lhe os limites,
• O corpo ora é manipulado do exterior, ora co- desígnio dramatúrgico superior (pano de fundo
"cnsanduichando" o mundo teatral: "Certos teó-
manda a si próprio. Ou é, então, "agido" pelos do local de evolução do herói, por exemplo). Por
1. A função da cortina - mais do que suas for- ricos, sem dúvida exagerados, afirmam que, no
outros ou age por si mesmo. mas e variantes, que não levaremos em conta aqui definição, não havia interesse pelo que fosse
teatro, os espetáculos só acontecem para justifi-
- é rica em ensinamentos para o teatrólogo. atípico ou irrelevante para o desenvolvimento his-
• Às vezes, está centrado em si mesmo, levando car os movimentos da cortina. Dormem durante
Usada de maneira sistemática pela primeira tórico. Até mesmo BRECIIT só descreve a vida
tudo a este centro; outras, ele se descentra, colo- a peça e deleitam-se quando a cortina se abre antes
vez no teatro romano, e caindo depois em desuso cotidiana do povo, dentro da perspecti va de um
ca-se na periferia de si mesmo. do espetáculo e quando se fecha ao final" (G.
na Idade Média e na época elizabctana, a cortina esquema sociológico global, como contraponto à
LASCAUT, Diário do Teatro Nacional de Chaillot,
• Cada cultura determina o que considera como passou a ser, com o teatro do Renascimento e da vida dos "grandes homens", por exemplo (cf Mãe
n. 9, dezembro de 1982). Prazer e fruição maio-
corpo controlado ou corpo solto, o que parece ser era clássica, uma marca obrigatória da teatra- Coragem). O teatro do cotidiano se contenta com
res do que se pensa, mas que não deixam de apre-
ritmo rápido, lento ou normal. lidade. É preciso esperar até o século XVIII para a montagem de fragmentos da realidade, retalhos
sentar um certo risco: cortar brutalmente demais
que seja fechada durante o espetáculo, ao final de de linguagem.
• O corpo falante e atuante do ator convida o a cena que se fantasia e cortar tudo o que vá além.
cada ato. Hoje, serve, muitas vezes, como marca BRECHT discordava, não sem segundas intenções,
espectador a entrar na dança, a adaptar-se ao
de citação e ironia da tcatralidadc, estando às da tradicional e pesada eortina de veludo [que] I. Temática
sincronismo interacional.
vezes no meio da cena (VITEZ, MESGUICH, conclui demais a cena e corta a peça como o gume
• O corpo do ator não é percebido pelo especta- LlüUBIMüV, LlVCHINE). da guilhotina [...]". Ele propunha a abolição des- Mostrar a vida cotidiana e banal das cama-
dor apenas visualmente, mas também eineti- se instrumento perigoso .. das sociais menos favorecidas equivale a pre-
carnente, hapticamente; ele solicita a memória 2. A cortina serve, antes de mais nada, para ocul- encher a brecha entre a grande história, a dos
corporal do espectador, sua motricidade e sua tar, ainda que temporariamente, o cenário ou o 5. Há outras formas - menos cortantes - de cor- grandes homens, e a história mesquinha, porém

l
propriocepção. palco; logo, serve para facilitar as manipulações tina: como a dualidade escuridão/luz, os intcrrné- insistente e obsscssiva, da gente humilde sem

76 77
C R IA ÇÃO C O L E TI VA
C R tA ÇA o C O I. E T I V A

voz na so c ieda de . ( U ma hi stó ria que a história a gara ntia ideológ ica dessa forma teatral : o es-
das ment al idades , d os obj etos, da vida co tidia- I. Mét od o A rtístico pccro ritual e co letivo da atividade teatr al. ao fas-
pectador não deve rec e be r im agens não trabalh a-
na rcahili to u.) A part ir de certos episó d ios o u cínio dos q ue faze m teatro pel a imp rovisação, pe la
das de sua rea lidade co tid iana. A própria ac um u la-
frases vi venc iados d iari am ente, esse teat ro " mí- Esp et áculo " que não é assinado po r urna só pes - gcs tualida de liberada da lingu agem e pel as fo r-
ção das re prese lllações de se u real e a defasage m
nim o" qu eria reconstitu ir um ambien te , um a soa (d ram aturgo o u ence nador), mas e laborad o pe lo mas de com unica ção não- verbais. Reage co ntra a
da ap rese ruaç ão delas de ve lev ar o es pec tador a se
é poca e u ma ideo log ia . Hiper·real ist a, ac um u- grupo envolvido na atividade teatral. Co m freqü ên - d ivisão do tra balh o, co ntra a es pec ializa ção e co n-
conscientiza r da inco ng ruência delas e mostrar a tra a tccno log iza ção do teat ro , fenô men o sens í-
land o detalh e s, o teat ro do co tid iano reto ma, ain- cia, o tex to foi fixado após as improvisações du-
real idade co mo " remed iáv e l" .
da que de ma ne ira c rítica, o natur ali smo da cen a rante os ensai os, com cada parti cip ante pro po ndo vel a part ir do m ome nto em que os empreen deres
e da atuação : as s iste-se a acont ecimentos, mui- mod ificações. O tra balho dramat úrgico " segue a de teatro passam a di spor dc todos os mei os mo-
tas vezes rep etit ivos, pegos sempre no plano da
4. Transformação do Cotidi ano? evo luç ão das sessões de trabalho: e le intervé m na dem os de expressão cê nica e a apel ar mais para
realidade co tid iana , com um acúmulo de co isa s co nce pç ão do co njun to por um a sé rie de " ten tati- " operários es pecializa dos" que a artistas po liva-
e es tereóti po s. Nel e se mescl am no tações do real , Entretant o , dife re ntemente do reali smo crít ico vas e erros" , Às vez es a desmultiplicação du trab a- len tes. Politi cam ent e , a prom oção do g rupo c a-
da autobi ografia e da inti mid ade . brcchtia no , q ue se basea va fundament alm elll e na lho che ga a de ixar para cada ato r a resp on sabilida - min ha lado a lado com a reivind icação de urna
crença otimi sta da pos s ib ilidade de tranforma ção de de re un ir os m ate riais para sua person agem arte criada po r e para as massas, com um a de mo-
do mun do, o teat ro d o cotid iano se mpre m ant é m (T h éâtre de I' Aq uariu m) e de integrar-se ao co n- crac ia diret a e com um mod o de pro duç ão por
2. A Lin guagem Refin ada
a ambigüidade e o pess imismo q uanto à possi bi - junt o so me nte no fim do percurso . autogcstão do g ru po . Ist o chega até a pesq uisa ,
lidade de trans formaçã o da ideologia e da soc ie- É necess ár ia tod a um a pesqui sa histórica , so - no Living Theater e no Pe rfo rma nce Grou p, de
Com mu ita freqüênc ia, os diálog os são " acha-
dad e. U ma certa repug n ânci a e m face das repre- cio lóg ica e gcs tua l para a e labo ração da fá bu la uma fusão entre teatro e vida: vive r não co ns iste
tados" e redu zid os ao mí nimo; ultrapassam co ns-
sentações do real e da ideol og ia nas co nsci ênc ias (T h éât rc du So le iI para 1789 e 1793 ). A contece mais em fa zer teat ro , s ig nific a, isso sim , enca rna r
tantement e o pe nsa me nto de se us locu to res, qu e
hum anas le va à resign açã o e ao imo bilis mo: o de o ato r co me ç ar po r um a abo rdagem pura me n- o teatro no co ti d iano . A promoção do g ru po
se limitam a rep isar os estereótipos da lingu a-
entravamenro no di sc urso domin ante ape nas ilus- te fís ica e experiment al da person agem co ns tru - dessacrali za totalment e a noção de obra -prim a
gem qu e lhe foram inculcados pe la ideologia
tra essa visã o qu ase fatídica da alien ação verbal. ind o su a porção d a fábula em funç ão do g es tus " (" Para acabar com as o bras-primas" , c lama va A.
dominante (lu gares-comuns, provérbios, constru -
ções "e legan tes" de frases "so pradas" pelos meios Para "do minar o lem e" nessa deriv a mít ica para que teria sabido e nc o ntrar. ARTAUD). Pa ssa a não haver mais in stân ci a ce n-
uma reifica ção da ideol og ia e das relações soc iais , E m det e rm in ad o mom ent o, no tra b a lh o d e tral e a arte est á em tod a pa rte, pode respo nd er
de co mun ica ção de massa, di scursos so bre a li-
o texto, às veze s, faz com qu e interve nha a vo z eq uipe, a necessi dad e de coo rde nação dos e leme n- po r e la e o g ru po pode d om inar as d ifere nte s
berd ade ind ividu al de e xpres são e tc.). Ao espec -
lírica do autor, q ue c ritica abe rta mente a ali en a- tos im provisad os se fa z sentir : é e ntão q ue se tor- facet as da arte c riativa.
tado r, impo rt am so me nte os s ilêncios e os não -
çã o das perso nage ns e torn a subj etiva a pro bl e- na nece ssári o o tra ba lho do dr am at urgo " (se nti-
dit os dos di sc ursos . O s "s ujeitos" falantes são
mática delas (co mo em WENZEL, Dora van te I, do 2 ) e d o enc e nad o r. Esta g loba liza ção e e sta 3. Métodos de C riaçã o
privad os de qu alquer ini ci ativa verba l: sã o ape-
197 7: Os Incertos, 19 78 ; O Fim dos M onstros, ce ntra lização não im põem necessariamente qu e
nas peças de e ng re nage m na máqu ina ideo lógi-
1994; no seg undo KROETZ e em algumas ce na s se esc o lha nom inal mente uma pesso a pa ra ass u- Du rante as imp ro visações , o ator é co nvidado
ca de rep rod ução das rel ações so c iais.
do tex to de DEUTSC H, Treinament o do Ca m peão mir a função de c ncc nado r, mas e las estim ulam a a não cheg ar cedo dema is à sua per son agem, mas
Essa co nce pção do homem tot almen te dom i-
AII/es da Co rrida e no trab al ho intercu ltural de eq uipe a agru par esti lística e narrativamen te se us a e xperimentar e m fun çã o de se u gestus "; da í
nado por um me io amb iente q ue lhe rou ba a lin -
X. I\tARCHESCHl, 1\1. NA KACHE e A. GAT rI) . Co - esboç os , a ten der para urna enc en ação "c o letiva" resu lta uma multi plic ação de pont os de vist a so -
g ua ge rn apena s ret o m aria a estética naturalista
mo o naturali smo , o teatro do cot id iano não esca- (se a e xpressã o não for contrad itóri a). bre os temas ab o rdad os, sem que um en ce nador
e não é um no vo estatuto da teat ralidade.
pa da sutil di alél iea e ntre ci ent ífico e ass unção Hoje em di a es se mé todo de trabalh o é fre- decida arhritra riament e unificar e sim plifi car e s -
suhjetiva da rea lid ad e . (Ve r também o teat ro de q üe nte no teat ro de pe sq uisa, mas e le exige , para sas abo rdage ns . Q uando muito, no final do pro -
3. A Teatral idade Cambi ante
TILLY, CORI\lAN, DU RRINGER, CALAF ERTE, estar à altura de se u o bje tivo, alta q ualifica ção e cess o, o dramat urgo (no se ntido técn ico de co n -
SOULlER, LEI\lAHIEU.) po liva lênc ia do s parti cipantes , se m falar dos pro - se lhe iro literá rio e teatr al ) o u o líder do g ru po
Lon ge de se r traçad a pela representação obs- b lemas de di nâmica de gru po que se mpre pode m (ani mado r) pode dar sua opi nião so bre o material
sessi va do real , a teatr al idade é co nstante me nte
(h) . Nat ura lis ta (re p re sen tação .. .), ef eito de rea l, por a perd er a e m pre itada . trazido pe los atores, rea g ru pa r e com parar os es -
perce ptíve l. co mo u rna esp écie de " bai xo cont í-
~ . realist a, reali dade re pr esen tada. hi stó ria . hoços narr ati vos, até propor prin cí pios de enc e-
nuo" qu e nenhu m e fe ito de reali dade co ns ez ui-
2. Razões So ci ológ icas de seu
ria sufoca r. Po r tr:ís da acumulação dos fat os ~e r­
dad ei ro s, dos po rmeno res licenci osos, de ve-se
m 11. Lc fc vre, La lIie Quot idienne dons le Monde Aparec ime nto
nação decid idos de aco rdo co m a maio ria. A di -
nâmica do g ru po e a ca pac idade de cada um de
Modernc; Vina vcr, 19S2; Sarrazac, 19S9, 1995; ultra passar de sua vi são pa rcial serão de ter mi-
perce her a o rga niz a çãn do real ; po r tr ás do "na- Travail Théâ/ml. n. 24 -25, 37, 38-39.
Essa forma de c riaçã o é re ivindi cad a co m o tal nantes par a o bom termo da emprei tada co letiva.
tural ", o escárni o; por trás do lugar-comum , o
fantasios o. Ess a ati tUde suhj et iva diante do real por se us criador e s desd e os anos sessenta e setcn-
é, na mai ori a da s vezes, assum ida pela direção ta. Está ligada a u m cli ma socioló gi co qu e esti- 4. Ev idência s e Dificuldades dessa Noção
CRIAÇÃO CO L ETI VA m ul a a c riativ idad e do ind ivídu o c m u m g ru po, a
de ator (LASSALE), pe la cenog rafia n ão- re alist a
(cf L o in d 'lIa g o llda llge , ence na da por CHÉ-
REAU). Um co nsta nte j ogo de rupturas e ntre rca -
D- Fr.: créa tion co llcctive; Ingl.: collccti ...• crea-
fim de ven cer a " tirania" do autor e do encena do r
q ue tendem a co nce ntra r lodos os pod er es e a to -
A cria çã o col etiva nad a m ais faz do q ue s is te -
mat izar e re vel ar um a ev idê ncia es quecida: o te a -
uo u; A I.: ko llc ktive A rb eit , Kollckt ivarbrit;
lidade prod uzid a c produção teatral da real idade é Esp.: CTt'llC ;Ó Il co lcctiva , mar todas as dec is ões es t éticas e ideo lóg icas . Esse tro, em sua rea lização cênica, é um a arte co letiva
mo vim e nto es tá vincu lado à rcdcscob c rta d o as- po r excelê nc ia, um re lac io na me nto de técnic as e
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79
CR I ADO
CI{ÔNI C

lin gu agen s d istintas : " A fá b u la é e xp licitad a , Falsas Confidênciasi , um ob servado r nos pos tos crise psicológi ca o u mor al d a s perso nage ns; con- conce pção implíci ta qu e cada c rítico te m d a at i-
cons truída e ex pos ta pel o teat ro inteiro, pelos ato- av an ça dos d a intrig a ( F ígn ro), um c úmp lice ce utra a aç ão em a lg umas ho ras ou nos dias des- vi dade teatr al c da e nce nação. Pod er-se -ia no -
res, cenógra fos, maqui ad or es, fig ur inistas, músi - (Sga narc llo, no Dom Juan de MOLlÉRE), e até sa cr ise e pincel a s uas p rincipai s fases. A d ra- ta r, hoj e , uma co nsc ien tiza ção d a import ân cia
co s e co reógra fos . Tod os inser em sua arte na em- me sm o, às vezes, no teatro do absurdo, a form a mutur gia ép ica * o u o natu ral ismo , ao co ntrá rio, d o encena dor e de suas o pções , um a abert ura à
pres a co mum, se m no en ta nto ab rire m mão de sua pa r ódica d e um esc ravo (V ladimir c Es tragon e m prefe re m pri vil eg ia r os m omen to s d a vida co ti - ex pe rimen tação e a quaisqu er tent ati vas , ma s
ind ep end ência" (BRECHT, Peq ue no Organon, § Esperando Go do t) . O criado é se mpre aque le qu e dian a se m esp eci al re levo em d et rim ent o d os tam bém a se nsação de es tar de s armad o pa ra d es-
70) . BRECHT de finiu tal trab alh o co letivo como faz frent e à personagem prin cipal, qu e a for ça a moment os de crise . creve r um es pe tác ulo e u m a ce rta d e sconfi a nça
socia lização do sabe r; m as pod e-se conce bê -lo ag ir, a se ex press ar, a revel ar se us se nt ime ntos (e m e m rel ação à teo ria e às c iê nc ias hum an as qu e
igu al ment e co mo co locação em di scu rsos de sis- MARl VAUX), a execu tar as tarefas po uco dign as Q Obs táculo. dramaturgi a clássica. dra mático e ofe rece m se us serviços à aná lise d o es pe tác u lo .
temas signific antes na enunci ação cê nica : a en- dos aris toc ratas ou dos burg ueses . Mais qu e um \;, épico.
ce nação não rep resenta ma is a pal avra de 11m au- alte r ego, e le é o co rpo e a alma do patr ão, sua D Lessing , 1767; Brenner, 1970; Dor t, 197 1: 3 1·
tor (seja es te aut or dra máti co, encenado r ou ator), consciência e seu inco nsciente, se u "não-di to" c L:bl 48 ; Travoi l Tltéâtra l, n. 9, 19 72; rale Theat er,
por ém a marca mais ou men os visíve l e assu mida se u " não- feito" . Co nforme a ideol og ia d a pe ça, o ra vol. 4 , n. 2, 1973; Pavis, 1979a , 1985e; 135-144, " Le
C R ÍT ICA DRAM ÁTI C A
d a pa lav ra co letiva. Passa-se assi m da noção so- sua dife rença é posta em re levo (sua g luto nar ia, Discour s de la Critique"; Pratiques, n. 24 , 1979; Ertel,
c iológ ica de c riação coletiva à no ção estética e sua m anei ra tri vial e pop ular de se ex pressar, se us 1985. Ver também críticas recolhidas de R. Kcrnp,
:). FI.: cr itique dramutiqu e ; 1ng l.: th eatre cri -
ideo lógica de coletivo de criaç ão. de co letividade desejos e m es tado puro : é o ca so do A rleq ui m d a G . Lec le rc, J.-J . Gautier, B. P o iro t-D elpech, G .
't..: ticism; AI.: Thcatcrkritik; Es p.: crítica teatral.
do se ntido e do sujei to do enunc iado teatral. A atua l Com media de ll 'a rte e de /vIARIVAUX); ora, ao co n- Sandier, R . Ternk inc. B. DOt!, J.-r. T hibau dat, 1989.
crise da criação coletiva não pod e ser ex plicada trário, o cria do se ap roxi ma muito d o patrão, até
J . Tipo de críti ca ge ra lmente feita por j ornalis-
so ment e por uma volta ao aut or, ao texto e à insti- co ntestar a supremacia d aqu el e qu e o emprega
tas. que tem por obj et ivo reagi r imed iatame nte a
tu ição após a euforia coletiva de 1968. El a se de ve ("ainda assim hom em bastante co mum, ao passo
uma encenação e re la tá- Ia na im pre nsa ou nos CRÔNICA
que cu, Deus meu! ..... As Bodas de Figuro).
também à idéia de que o sujeito artíst ico indivi-
du al nun ca é, de qualquer maneira, totalm ente uni- O criado do te atro francês situa-se numa dupla
tradição: italiana, para um criado "bufã o", oriundo
meios de comunicação au d io vi suai s. O desejo de
informação pelo m en os é tão import ant e quanto e F I.: c hro nique ; ln gl .: ch ronicle pia)'; A I.:
Chronik; Esp.: crô nica.
ficado e autô nomo, mas sempre frag ment ário, tan- a fun ção incitativa o u diss ua siva da men sagem:
d a Conunedia dell 'arte e especializado nos efeitos
to na obra co letiva quanto na de II nI artista. trat a-se de acom panha r a atualidade e de apo ntar
de farsa (A rlequim, Trive lino) ; francesa, para um A crô ni ca (chroni cle pia)' o u his toryí é um a
q ue es petáculos pod e m se r/o u deve m ser vis tos,
criado d e intri ga, e nge nhos o c brilhant e, co nd u- peç a basead a em acontecime ntos históricos, po r
Q Re vue d'Es thétiqlle, 19 77 ; C habert , 1981 ; ao da r a opinião de um c ríti co q ue é, aliás, ma is
..... Passcron, 1996. zindo a ação a se u modo (Scapino, Cris pim , Lubino, vezes regi str ados na c rô nica d e um hi st oriador-
rep rese nta tivo de se us le itores q ue de suas pró-
Dubo is). Pe rso nage m pop ula r por excelênc ia , o como por ex e mp lo a de HOLl NSIl ED ( 1577 ) para
pr ias o piniões es té ticas ou id eol ó g icas. Es ta mos
criado po rta e m si todas as contra d ições d as socie- a s c rô nic as d e SHA KESPEA RE. K i ng J ohan
be m distantes d a crítica d e h um o r do fin al do sé -
dades e d os gê nero s teatrais: alie nação e libertação (1534 ) de John RALE é consi derada a prim e ira
CRIADO são as etapas de seu itinerário.
c u lo XIX dos FAGUET, SARCEY o u LEMAiTRE,
q ue d ispunham de lo ngos fo lheti ns para cl am ar c rônica, po rém as mai s co n heci das ai nda são as
A c ria da não te ve o me sm o de stino brilhant e d e z crôn ic as shakes pca rianas que, d o R ei Jo ão a
..... Fr.: vaiei; I nul .: valet, se rvant: AI.: Vi en a ; se u entusi as mo o u se u furo r qu e inc re men tavam
't-+ .
Esp.: criado .
~ q ue se u hom ól ogo ma sculino ; ela só se d ist ingu e Hen rique VIlI, fo rmam um a fre sco da hi st ária "
s ua argumentação co m me xeri cos e escâ nd alos
da ama a partir das co mé d ias d e CORNEILLE c d a Ing lat erra, afresco este , co m po sto no fi na l d o
d a vida teatral. At ualment e , a crít ica es tá limita-
não tem infl uê nc ia d iret a na ação .
o
cr iado é uma pe rso nage m muito freq üente da em impo rtâ ncia. leg iti mi d ad e e impac to so bre rein ad o de E lizah et h I , dep o is d a vi t ória ing lesa
d a coméd ia desde a A ntigü idade at é O séc ulo XIX . a ca rreira do espe tácu lo. so bre a In ve ncí vel A rmada ( 1588) .
D efinido de imed iato po r se u sta tus social e sua
W Ém élina, 1975; Aziz a, 1978" ; Mo raud , 1981 ; Esse gê nero c riado por BALE e por SIIAKES-
Fo re sti cr, 1988.
d e pe ndência de um amo, o criado cncarna as re - 2 . Esse tipo de es c ri tura d e pe nd e, ma is do qu e PEARE, mas lamhém po r SACKV ILLE c NORTON
laçõ es sociais de uma é poc a es pecífica da qua l q ua lque r out ra , da s co nd ições de se u exercíc io e (Gorboduc, 1561 ), PRESTON (Cambises , 1569 ) c
e le rap idam ente se toma bar ôm e tro e figura de do mei o de co mu nicação ut il izad o . Desd e o iní - MARLOWE (Eduardo li , 1593 ) ren o va -se na peça
C R IS E c io d o séc ulo , o e s paço da rub ri ca teatral dim i- histór ica ; SCIl ILLER (WaUe llstcin , Ma ria St/l(Jrt)
pr oa ; se é soc ialmente inferio r ao patr ão, seu pa-
pei dr am atúr gico é geralment e ca pita l. Sua fun-
ção na peça é, portanto, dupl a: aj uda nte ou co n-
e (Do g rego crisis, de cis ão.) • . . .
FI.: cr ise; Ingl. : C I'I S /S; AI.: Krise ; E sp .: crists .
nuiu co ns ide ra ve lme nte , o q ue co m plica a an á-
li se e a avaliação. Apesa r das dific ulda des da s
GOET HE (Egmont) e hoje, com o teat ro é pico de
BRECHT (Ga lilcuv ou no teatro document ário». O
co ndiç ões de ex er cí ci o, não se d ev eri a separar int eresse desse gênero é estar diretament e às vo l-
se lhe iro do patr ão, e às vez es se nho r abso luto d a
intriga (Scapino, Fígaro). radicalmente a ati vida de d o c rítico dr amático da ta s com a história, dr amatizá-Ia por zel o de exati -
I. Momento da f ábllla * que an u nc ia e prepara o dão, m as tamb ém em razão do morali sm o e da
Gr aças à sua associação com o ou os patrões, o d e um autor de um a rtigo d e publicaçã o especia-
lIá* e o conflito", qu e corrcspo ndc à epítase da cxernpl ari dad c con temporânea. Apesar d a fórmu -
criado permite ao dramaturgo recon stituir uma cé- lizada (revista de teat ro ) o u m esm o de um estu-
tragédia grega, preced e imedi atam ent e o momento la quase sem pre cro nológ ica c factual , as fábu las
lula soc ia l característica do uni ver so ficcional pin- d o mais document ad o de tipo unive rs itá rio. Não
da catástrofe * e do desenlace >. d as crônicas são orga nizadas de acordo com o ponto
tado pe la peça : o criado rarament e se contenta em par ece se r po ssível d e fin ir um d isc urso típico
da cr ítica dram át ica, um a ve z q ue se us crité rios d e vist a c o dis curso do histori ad or -d ramatu rgo,
se r um exec utor se rvi l dos projetos do patrão; ele 2 . O dra m atu rgo cl ássico se m pre esco lhe mos-
de julgamento va ria m d e acor d o co m as posi- apree ndi da s numa fonu a de teat ro. OIH.Ic a litcr utu-
é sucess ivamente UI1l co nsel he iro (D uhoi s em A., tra r o moment o pa rticularmen te in tenso d e u ma ç õcs es tétic as e id e ol óg ic a s e d e acordo co m a ra c a ce na retomam seu s d irei tos.

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81
D
DAN ÇA -TEATR O ternecid o , porém crít ico ao co tid iano, às re la-
çõ es e ntre os sexos. aos mod o s habituai s de fa-
~ Fr.: da nse -théâtre ; Ingl.: dance theater; AI.: lar; KRESNIK dedica-se ma is rad ica lme nte à alie-
't..: Tan ztheater; Esp.: Da nt:a teatro. n açã o so b todas as for m as (U lrik c M einhofv ; M .
t-1ARI N cria per son agens in spirad as pel o univer-
A dança-tea tro (ex pressão trad uzida d o ale- so de pres sivo d e BECK ETT (M av B. ); K . SArOR·
mão Tantthcutery é co nhe c id a so bre tudo a través TA co nfronta co rpo s e lctrizado s e pi rô man os co m
da obra de P. IlAU5 C II, por ém tem sua ori gem u rna metalúrg ica desativada (La Brúlurev . Em to-
no Fo lkwang Tan z-Stud io , cr iado e m ] 9 28 por das estas ex pe riê nc ia s. a ce na narra uma hi stó -
K . J005. qu e foi professor de IlAUSCII e pro- ria , se m ret orn a r ao argumen to idea lizad o da
ve io, e le p róp rio , da Ausdruckstanr: a da nça ex - d an ça cl ássi ca , di st an te d a abs tração e do for-
pressio nist a a le mã . A es ta corre nte da criação m al ismo da da nça pó s- m od e rn a (de CUNN IN ·
coreográfica cont em por â ne a perten cem ig ua l- GH At- 1. po r e xe m plo) . Ve r GINOT . 199 5.
ment e Joh ann KRESNIK (e se u "teatro coreográ fi-
co" ), R. 1I0FFMA N N . G. BO II NER e. na França. 2. Um Oxímo ro Vit al
M . MAR IN , r..c . GALOTTA , 1. NADJ e K . SAP OR ·
TA . o s qu a is. a pe sa r d e n ão ut iliz ar e m est e te r- S urg ida COITIO rea ção ao s fo rmalis mo s, a da n-
mo, são co nhec idos corno coreógrafo s a be rto s à ça- teat ro u ltrapa ssa as o pos içõ es julgad as esté-
teat ralid ad e e fa vorá vei s à d cs co m pa rtirncnta ção re is. co rno aq ue la d o cor po e d a lingu age m , do
das a rte s cê nic as (FEIlVR E, 1995 ). mo vim e nto pu ro e da fa la , d a pes q uisa formal e
do reali smo. Se u objetiv o é faze r co m qu e coe-
I . Razões de su a Eme rgê ncia xistam cines c e minu-sc; el a confronta aficfão de
uma pe rso nagem co nstruída, e ncarnada c i mira-
O s a nos se te n ta m ar c a m o re to rno a um a a rte da pe lo ato r. co m ix fricção de um dançarin o , que
m ais figura tiv a, mai s e ngajada e ancorad a na h is- val e por sua faculdad e de infla m a r a si pró pri o e
tóri a, mai s atenta às h istórias bem contad as : Ira - ao s outros a tra vés de su as pro ezas técni cas. de
ta -se , no caso, d e um a re ação à radi ca lidad e das seu de sem penh o e sp or tivo e cinestésico ". A dan o
va nguardas, à bu sca de uma especificidade d as ar- ça-tearro reco loca () dilema da da nç a se m pre di -
tes e, no q ue se re fer e à ar te co reogr áfica , ;\ da n- vidi da en tre a arte do mo viment o pu ro e a pan to-
ça pu ra . A ss im, P. IlA USCII la nça um o lhar c n- m ima, com se u gos to po r uma hi st ór ia sim ples .

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D E CL AM A Ç ÃO O E CLA~lÇÃ O

3. A Estética da Dança-Te atro m át ico , da d ança liter ária e da pant omima. "Neste MAR/l.10 NTEL. Atualment e , est e vínc u lo é obj eto era , ou pare c ia se r si mples há vi nte a nos a tr ás,
tip o de dan ça , os probl em as de de senhos espa- das pe squ isas mai s vanguard is tas ( BERNA RD, torn a-se re tó rico, e nfá tico, vinte a no s de po is"
M ais do que um teatro qu e vai dar na dança, ciai s e tempo ra is são de men or importân ci a. O 197 6; t-.l E5C IlONNIC, 1982). ( 1980: 154).
no mo vimento c na coreog rafia , a dan ça-teatro é pro cesso de composiç ão se desenvolve por meio No século XVIII, a declamação op õe-se à pura A qu estão da de cl ama ção não de ve se r re ali-
a dança que produ z efeito l/e teatro . de um a série de incidê ncias , na mai oria das vezes recitação e ao canto; ela é uma recita ção " aco mpa- za da , co mo mu it as vezes aco ntece na atua lida de ,
ligad as a fato res externos . Sua forma é regida por nhada pel os movimentos do corpo" ( OU BOS. na loja de antig üidade . Se a prát ica teatral de hoj e
a. Ef eitos de teatralidade lei s dr am atúrgicas e o movim ent o de sempenha um 171 9 ) e a proxi ma-se do reci tativo, tendo cad a ator não se debru ça mais so bre a teoria de um a dcc la-
papel se cundário" (1 991: 71). Pa ra a dança-te a- a obrigação de imprimir um ritm o ao texto, em fun- mação ad equada, isso se deve , co m exceção de
Eles sã o se nsíve is nos momentos em que os
tro , es ta dramaturgia exteri or ao mov im ent o se m- çã o de sua pontuação, de seu " co rte" , de seu se nso alguns cnccnadores, ao fato de a decl am ação se r
" dança to res" repr esent am um a person ag em, re-
pre marca o retomo do teatro à dança , o ret omo si ntático e em função da s " palavras de valor" que co nsiderada, mai s um a vez, um a enfermidade ve r-
co rre m à represent açã o mimética dc situações: é
da fic ção te atral à fric ç ão co reográ fica, a qu al são d est acad as da frase e postas e m rel e vo . go nhosa, o u. na melh or das hip óte ses, útil para
o momento e m que a ce na parece ao mesm o tem-
julgava ter conquistado e deslumbrado definiti- A elocuç ão do texto - a dic ç ão trá gi ca, muitas rep res entar t ra gédi as cl ássicas na Co m édie -
po verossímil e ex agerada. Ex .: as torturas infl i-
va ment e o es pectador, atra vés do virtuos is mo e vez es lenta , ou a vivaci da de c ôm ica - dep end e Fr anç aise o u pa ra im press io nar aca dê micos .
gidas a Ulrik e Meinh of são tão es pe tac ulares,
da ci nes tcs ia. É dessa forma q ue se elabor a a dan- d o ato r (c, se for o caso, das indicaçõe s de seu
sis te má ticas e ref inada s, qu e resultam numa ac u- O ra , a decl am ação é um dos mod os da di c-
ça -tea tro : a dan ça, obedec endo a um a d ramaturgi a direto r): el e é quem cond ici on á a pe rcep ção do
sação d o a pa rel ho de repress ão d a j o vem dem o- PIO' , a qu al, po r sua vez, é um dos modos do
c ra cia alemã (KRESNIK). Repetindo ao infinito e a um a ence na ção, vai ao encontro do te atro, se m não-dito do texto o u do d iscurso qu e foi passa- ritmo" , atu a lme nte na encruzilhad a d o s estudo s
jamais, no enta nto , compreender o u pôr à pro va a do a e le .
um a ação banal , 1'. BAUSCH propõe uma tea- so bre o gesto , a I'Oz ' ea retórica " (MESCIION NIC,
tr alid ad e exagerada e cá us tica, qu e desm ascar a ca usa - freqücn tem ent e obsc ura e ile gí vel - qu e
1982 ). Sob es te pont o de vista , a decl am açã o su-
o s j o gos de poder, as man eiras co tidia nas de fa- se propôs se rvir ao aliar-se a e le. Dest a uni ão anti- 2. No e nta nto, a decl am ação é consi de rada - c per a o de bate so bre o natural e o art ific ia l e s i-
lar ou de comportar -se . natural entre dança e te atro o riginara m -se as mais isto desde o final do sé culo XVIII - com o uma
tu a-se no cent ro de uma reflexão sobre a ora-
bel as produções do nosso tempo. m an e ira enfátic a e empo lad a de ex pressar o tex-
lidade e a voz. A decl ama ção, assi m co mo o ritmo
b. Ef eito s de real to, ao passo qu e na é poca cláss ica era o meio " na-
da en cen açã o , co ntinua a ser um a no ção co ns -
tural r " de interpretação . O ato r TALMA assinala
Tem- se a impr essão de qu e a dan ça-teatro co n- tru ída , um s is te ma dc co nve nções cujo defen sor
voca c cita moment os c as pectos da realidade. A
DECLAMAÇÃO o envelhecimento deste termo, ass im co mo a for-
foi MEIERHOLD, op ondo-se a STANISLÁ VSKI:
ma de interpretação que e le represe nta : "Talv ez
dança-teatro se alime nta da realidade, em vez de
ab str air -se dela, como na dan ça pura ; traz a rea li-
ê (Do lat,im dcclama tio, exe rcício da p~ la v ra .) sej a o po rtuno salientar a ina dequaç ão da pal avra
"To da a e ssê nc ia do ritm o cê nico, e screveu e le,
está nas a uríp odas d aqu el a da realid ade, d a v ida
Fr .: d éctu mation; Ingl.: dec la m a tio n; AI.: declamação , da q ual nos se rvimos par a ex pressa r
da de até si, em vez de afas ta r-se del a: da í os nu- Dekla mation; Esp.: declamucion. coti d ia na" ( 1973 . vo l. 1,1 29 ).
a art e do com ediante. Este termo, qu e par ece de-
merosos efeitos de realidade, nos qu ais a obra de Certos c nccnado rcs, co mo VILLÉGI ER, VITEZ
arte parec e invad ida e subst ituí da pel a real idade sig nar algo di stin to da clocu ção natural e qu e tra z
1. Art e da d icçã o " expres siva de um text o rec ita- ou RÉGY, pro curam ace ntuar a arti fic ia lidade da
consigo a idéia de certa enu nc iação conve ncio na l
am biente. do pel o ator; ou, pejorat ivam ent e , forma mu ito decl am ação teatr al , di sta nciar o verso da bana-
- cuj o e m prego remo nta prova vc lmc ntc à época
teat ral e ca ntada de pronun ciar um te xto e m ve r- lid ade da lin gu agem co tid iana, atribuir o se ntido
c. Ef eitos de encenação c m qu e a tragédi a era de fato ca ntada - não raro
so. MARMONTEL (1787) assinala seu vín culo co m tem dado uma fals a orien tação aos est udos do s de um ritmo e de uma retóri ca, tant o verbal qu an-
A dan ça-teat ro tem- se va lido de tod os os in- a mú si ca e a dan ça. " A decl amaç ão natural de u to gcstua lmc nte (eles fazem co m q ue se o uça as
jovens atores . Declamar, de fato , é fal ar co m ên-
g redie ntes de uma ence nação teatr al: o uso de tex- nasciment o à mú sica, a mú sica à poe si a ; a músi - doze sílabas d o a lexand rino, as di ércse s, a alt e r-
fase ; port ant o, a arte da decl amação é fa lar como
tos - dit os, lidos o u pronunciad os cm voz '1!-, a ca c a poesia, por sua vez, fize ram um a arte da
não se fal a" (TALr-. IA, 1825). nância das rim as m asculin as c femini nas. a ex-
atençã o dispensada à cen ografi a, ao s objetos, aos declamação [...) Para dar à músi c a mai s expres- ten são desigual do s pés). Parad oxalm ente, uma
figurin os, à es me rada coorde nação de todos os são e verdad e, pretendeu -se articu la r os so ns e m - vez inst al ad o este mecani sm o, o di re tor pod e se
3 . O termo decl amação adq uiri u mui to ra pida-
mat eri ais cê nicos . Dis so resulta a criação de um a pregad os na melodi a ; port ant o, e la ex ige pal a- dar ao lu xo de a presentar ce rtos versos co mo na-
mente um se ntido pej or ati vo, sinô nimo de " d is-
fá bula e de um a dramaturgia que co nta m uma his- vras ad a ptad as aos mesm os núm ero s: daí a arte tur ais (po r exem plo : " Não, não o lhe mo s para e la,
c urso c he io de afe ta ção " (RACINE, no se u pri -
tóri a - a part ir das ações si mbó licas das persona- dos versos. Os núm eros dad os pel a mú sica e ob- resp eit em os su a dor" , Bér én icc, ato I", ce na 2 ), e
meiro pref áci o de Britannicusv que se o p õe a um
ge ns - qu e " perma nece m no seu pap el" e são servad os pela poesia co nvidav am a vo z a marcá- choca r o o uvi nte, cuj o ouvi do acaba de se r rc a-
pr et en so natura l >. Mas, por o utro lad o, ca da es-
condutoras da dramaturgi a. O gestus soc ial, mais los: daí a arte rítmica '. O ges to acompanh ou na- daprad o à decl am ação. Est a alt ern ân c ia ent re o
co la se proc lam a " natural" e ac ha a interpreta -
que os gestos indiv idu ais o u psi co lógic os, é o que tur alment e a ex pressão e o mo viment o d a voz;
ção d a trupe rival dem asiado " de c la mató ria". efe ito de natural e a nnisica pe rmite -lhe lutar con-
co nta : o movim ento jamais é puro o u isolad o e, daí a art e hipócrita ou a ação teat ral, qu e os g re-
As sim é qu e RICCOnON I. e m se us Pensamentos tra a baualiza ção da rec itação, concessão feita até
sim, ligad o a moti vações psic ol ógicas ou soc io- gos cha ma vam de Orchesi s, os latinos Saltatio e
So bre li Declamação, zom ba da "e x p re ssão exa- pcl a pró pria Com éd ic -Fra nçais c. Des ta man eira,
ló gicas . A dança-teat ro aplica a si mesma o que J. qu e nós ap rov e ita mos para a dan ça" (1 787 , art.
ge rad a da decla ma ção trági ca" ( 1738: 36) . E tod a um a re flexão sobre o p rocedi mento " lite rá-
MARTIN, ao co men ta r a dan ça de ca rac terística " De cl amação" ). Se a filiaç ão entre decl am ação,
5TRE HLER pode escreve r hoj c: "Cad a ator, e m rio. a CO Il \ '{!ll ç ü o * te atral . a tcat ralidade " C o va-
literár ia ou a pant o mim a, e pr essentindo o Tanz- música, rítmi ca ' e dança é sus pe ita, pelo menos
ca d a época. opõe-se ao at or pre cedente e o 'refor- lor coerc itivo d o di scurso passa por um a red es-
theat er de WIGMANN ou J055, es crev ia em 1933 o víncul o en tre es tes elementos do movimento vo-
m a ' , u sa ndo co mo base a ve rda de . Aq uilo qu e cobe rta d a decl am ação.
so bre es ta dança q ue se a prox im a do jo go dr a- ca l e corporal é ad miravel mc nte per cebido po r

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DECORO DEDICATÓRJ

Dorat, 1758-1767; Engel, 1788; Chance rei, 2. Decupagem Transversal e Decupagem 4. Decupagern Dramatürgica das atitudes, os pontos fortes das ações. Este tipo
W 1954; Aslan, 1963, 1974; Klein, 1984; Bemard,
Longitudinal de decupagem oferece, por fim, a vantagem de
1986; Bcrnardy, 1988; Regnault e Milncr, 1987; Urna segmentação da representação a partir partir do trabalho cênico concreto c da marcação
Regnault, 1996; J. Martin, 1991. das unidades dramáticas é muito mais satisfatória. das comédias c dafábula* A narrativa segmen-
A decupagem longitudinal é feita de acordo
Ela se baseia nas indicações espaço-temporais tada é aquela da evolução e da transformação dos
com o eixo temporal, quando se distinguem di-
disseminadas pelo texto e que a encenação usa diferentes gestus.
versas seqüências de acordo com o desenvolvi-
DECORO mento do espetáculo: trata-se da análise da fábu- para distribuir a matéria narrativa conforme o
la ou da ação. espaço-tempo da cena. Esta decupagern sempre 6. Outras Decupagens Possíveis
Ver Bom-tom. é possível pelo fato de recorrer a acontecimentos
No momento em que se tenta deslindar os inú-
meros materiais» cênicos, inventariando os sis- e fatos sempre situados no espaço e no tempo (da As decupagens acima descritas (com exceção
temas cênicos utilizados, decupa-se (transversal- história "narrada" e da encenação "narrante"). do gestusy, nem sempre são especificamenre tea-
DECUPAGEM mente) um dado momento (uma cena ou uma Este tipo de segmentação narratológica propõe trais. Em particular, elas não levam em conta a
situação *) da representação. uma seqüência de [unções * ou motivos", e extrai situação de enunciação e os dêiticos*, que estão
~ Fr.: découpoge; IngI.: decoupage, segmenta- A primeira escolha a fazer para estas decu- da peça (corno de qualquer outro tipo de discur- sempre ligados ao presente c à ocorrência da in-
"t.:tion; AI.: Decoupage, Scgmentierun g; Esp.:
pagens é, portanto, tomar a decisão de trabalhar so) um modelo lógico-temporal (análise da lIar- terpretação. As pesquisas de A. SERPIERI (1981),
segmentacion. rativo *). A dramaturgia clássica afirma, por depressa demais abandonadas, ao contrário, mos-
em cima do texto dramático ou da encenação.
exemplo, tanto a unidade de ação (ARISTÓTE- tram-se preocupadas em segmentar conforme a
A decupagem ocorre quando o espectador se LES), quanto a decomposição de toda a fábula em enunciação teatral e de acordo com as unidades
3. Decupagem em Sistemas Cênicos
esforça para analisar a impressão global causada várias etapas: exposição", ascenso da ação, clí- pertencentes ao texto e à representação. Portan-
pelo espetáculo, e é induzido a buscar as unidades max, queda, catástrofe", Do ponto de vista do con- to, em vez de decupar conforme a fábula, a lógi-
a. Enquadramento
e seu funcionamento. No século XIX, falava-se flito, a cadeia é a seguinte: crise e estabelecimen- ca das ações etc., ele destaca, em todo texto dra-
no corte de um texto dramático: a maneira pela A encenação? realiza a primeira e a mais fun- to do nó, peri pécia e desenlace. Esta segmentação mático, segmentos que se caracterizam por sua
qual ele é dividido concretamente e como é cons- damental das decupagens. Ao visualizar certos vai ao encontro daquelas das análises das situa- "orientação indiciaI e performática": a partir de
truído. Dccupar não é uma atividade teórica per- aspectos e ao excluir outros do quadro" da repre- urna personagem que se dirige a um interlocutor
ções dramáticas: ambas agrupam dados do texto
versa e inútil, que destrói o efeito de conjunto; ao sentação, ela faz uma opção à base da evidência (outra personagem, cena ou público), ordena-se
e da cena, delimitam as situações através das en-
contrário, é uma tomada de consciência do modo do sentido. Este enquadramento organiza o palco um conjunto de relações que ligam todos os ele-
tradas e saídas das personagens. É delicado, po-
de fabricação da obra e do sentido. A decupagem hierarquicamente ao centrar-se nos elementos que mentos cênicos a uma mesma situação espaço-
rém importante, estabelecer a distinção entre a
ele deseja valorizar, estabelecendo toda uma es- temporal e a uma instância do discurso. Dá-se,
parte da estrutura narrativa, cênica e lúdica. segmentação da histôria" (a fábula narrada) c a
cala no uso dos materiais cênicos de importância
Não existe somente um tipo possível de decu- segmentação da narrativa (discurso * narrante). As dessa forma, o surgimento de uma nova "orien-
variável (focalização"). tação perforrnática-dêitica" - quer dizer, a fixa-
pagem da representação, sendo que o modo de duas decupagens geralmente não são correspon-
segmentação e a determinação das unidades mi- dentes, visto que o dramaturgo tem toda a liber- ção do discurso numa nova situação e numa
b. Enumeração dos signos da representação "ação falada *" em cena - que segmenta o es-
nimas " influem consideravelmente na produção dade de apresentar seus materiais conforme a or-
de sentido do espetáculo. Um levantamento de todos os estímulos emiti- dem (o discurso) que ele desejar. petáculo e encaminha a dinâmica dos discursos
dos pelo palco põe em evidência uma variedade de A demarcação da forma dramauirgica é feita das personagens (ELAM, 1980).
sistemas, tais como: música, texto, mímica, mar- de maneira bastante intuitiva, porém sempre em
I. Decupagem Exterior
cação etc. Entretanto, apesar de seu interesse pe- função da unidade e da globalidade de um proje- CiJ. Composição, unidade mínima, dramaturgia, es-
dagógico e pragmático, esta enumeração limita-se - \;:: trutura dramática, semiologia.
o texto dramático raramente se apresenta sob a uma descrição muitas vezes positivista do palco;
to de sentido dramatúrgico. Esta unidade ou for-
ma agrupa um jogo de cena, um comportamento
a forma de um bloco compacto de diálogos. Fre-
particularmente, ela não dá conta dos vínculos en- de uma personagem, um elo da fábula etc.
L:J.::IKowzan, 1968; Jansen, 1968. 1973; Pagnini,
qüentemente, ele é cindido em cenas", atos" ou tre os materiais, do valor dominante dos mesmos c 1970; Scrpicri, 1977,1981 (in Amossy, 198\);
A decupagem também é feita eventualmente Rutelli, Kemeny, in Serpieri, 1978; Ruffini, 1978;
quadros*' Os signos de segmentação, como abrir da escolha mais ou menos imposta ao espectador. de acordo com as mudanças de situações, isto é, de Marinis, 1979.
ou fechar a cortina, a luz ou a escuridão, a imobi- Tampouco leva em consideração o desaparecimen- as modificações das configuraçõcs" actanciais.
lização dos atores, os intermédios musicais c as to, nas encenações contemporâneas, das fronteiras
pantomimas, são meios objetivos de pontuar a entre o ator e o objeto, a música, a sonoplastia ou o
ação. Não obstante, esta deeupagem nem sempre texto cantado, a i luminação e a plástica cênica.
5. Dccupagem Conforme o Gestus DEDICATÓRIA
tem outro objetivo senão o de esclarecer (as en- Do mesmo modo, as decupagens a partir de
tradas e saídas, os lugares cênicos etc.). Ora, a A decupagem em unidades dramatúrgicas não Fr.. dedicacc; Ingl : dedication; AI.: \\'idmulIg;
signos auditivos e signos visuais, a partir dos ca-
estruturação do texto c do espetáculo deve res- está muito distante do método brechtiano de in- Esp.: dedicatoria.
nais de transmissão ou da origem da emissão
ponder a critérios mais objetivos, estabelecidos (palco/personagem), reduzem injustamente a en- vestigação dos diferentes gestus" da peça. Cada
em função das mudanças de regime da ação ou cenação a um conjunto de signos expressos in- gcstus particular corresponde a uma ação cênica Texto, freqüentemente impresso com o texto
do emprego de materiais cênicos. tencionahnente como um sistema mecânico. e agrupa, com base 00 modo da gest ualidadc e dramático, no qual o autor" faz a doação simbó-

1i6 1i7
DÊtXIS DENEGAÇÃO

Iica de sua obra a uma pessoa ou a uma institui- presença * concreta do ator: o fato de ele estar direçõcs da fala, dos vínculos que se tecem entre gem evoca um conflito interior dilacerante (fre-
ção. Na época clássica, quando os escritores ti- aureolado por esta presença física perante o públi- personagens e da orientação geral do diálogo rumo qüentemente de origem política), num monálo-
nham necessidade da proteção material e do aval eo o impede de se anular para não ser mais que a a uma culminância, um tempo morto ou cíclico. go* ou em estâncias", esforçando-se para tomar
moral de figuras poderosas, a dedicatória tomou- representação codificada de maneira unívoca e de- uma decisão, às vezes ajudada por conselheiros.
se uma formalidade indispensável para assegurar finitiva. Em seguida, é a sua gestualidade* que nos 4. A localização dos dêiticos no texto é, não O orador expõe suas motivações e seus argumen-
sua existência e evitar aborrecimentos. COR- recorda sem cessar, através da mímica*, do olhar, obstante, insuficiente para dar conta da represen- tos, hesita longamente ou dispõe-se a escolher a
NEILLE curvou-se a este costume com uma obse- da atitude": que ele permaneceu sempre em situa- tação: esta utiliza, com efeito, muitos outros solução menos ruim.
quiosidade muito particular (cf, sua dedicatória a ção*' Por fim, a cena, em sua totalidade, só existe dêiticos. Além do mais, intervêm:
Montoron para Cinnav. mas essa era a regra do
jogo... Hoje em dia, acontece de os autores dedi-
enquanto espaço sempre vivenciado como presen-
te e submetido ao ato perceptivo do público; o que
m Fumaroli, 1972; Pavis, I980d.
a. Cenografia
carem sua peça ao encenador, quando da criação ocorre ali (o que é ali "performado"), só existe por
Em função do público, ela orienta o conjunto
(nota introdutária *). causa da simples ação de enunciação. Por uma con-
de signos emitidos pelo palco. O melhor elenco DEMONSTRAÇÃO DE
venção implícita, o discurso da personagem signi-
fica e representa (mostra/assemelha-se a) aquilo de
nada consegue se atuar num lugar contrário àquele TRABALHO
exigido pela situação dramática da peça.
DÊIXIS que ele está falando. Da mesma forma que um ato
perfonnático (ex.: "eu juro"), o discurso teatral é
b. Gestualidade e mímica
e Fr.: démonstration de travail; lngl.: work
demonstration; AI.: Arbeitsvorfiihrung; Esp.:
Palavra grega para a ação de mostrar, indicar. "ação falada" (PIRANDELLO).
O texto não é simplesmente dito, ele é, por demonstracion de trabajo.
Termo de lingüística, a dêi xis é uma expressão
que assume sentido na situação de enunciação»: 3. A cena desempenha o papel de um locutor que exemplo, lançado na cara do outro, ou dito "no ar"
ou posto em circulação. A mímica o modula, o Apresentação, por uma atriz ou ator, de al-
lugar e momento, locutor e ouvinte têm existên- se dirige a um público e que determina seu senti-
modaliza" e o encaminha para a direção desejada. guns momentos de seu treinamento, de sua prepa-
cia apenas em relação à mensagem transmitida. do de acordo com as leis de um intercâmbio ver-
ração, tendo em vista um papel ou uma encena-
Entre os dêiticos, figuram os pronomes pessoais bal. Uma vez claramente definidos lugar e tempo
para o espectador, o âmbito da atuação fica deli- c. Passagem do plano real para o plano ção, bem como sua pesquisa fundamental de voz,
(eu, tu, você), os verbos no presente, os advér-
mitado e todas as convenções e substituições na gesto, memória etc. Não se trata de um ensaio,
bios de tempo e lugar, os nomes próprios, assim figurado ou fantasioso
representação do universo dramático passam en- nem de uma apresentação especial, nem de um
corno todos os recursos mímicos, gcstuais ou O discurso passa sem cessar de uma situação
tão a ser possíveis. one-two nnan show, porém de uma forma de fa-
prosódicos para indicar as coordenadas espaço- concreta, ligada ao palco, para um plano imagi-
A dêixis é igualmente a instância que coloca zer com que se compreenda a preparação indivi-
temporais da situação de enunciação (BEN- nário no qual as orientações dêiiicas são total-
os diversos elementos da cena em relação, que duai do artista cênico. Muitas vezes a demonstra-
VENISTE, 1966: 225-285). mente fantasiosa e movediças. Pode-se então dis-
aponta (indica/mostra) na direção da mensagem ção é retomada no âmbito de estágios, festivais
tinguir entre os dêiticos concretos e os dêiticos
I. A dêixis desempenha um papel fundamental estética a ser recebida (í/ldice*). ou colóquios; assim fixada, ela se torna um mini-
figurados, para a seguir observar a translação de
no teatro, a ponto de constituir uma de suas ca- O ator é, por excelência, um dos elementos espetáculo, o que parece contradizer as inten-
um para o outro.
racterísticas específicas. Com efeito, tudo o que dêiticos do espetáculo. Todo espaço» e tempo» ções iniciais, e deriva para um exercício de ator":
ocorre no palco está intimamente ligado ao local se organizam a partir dele, como uma espécie de
d. Encenação
de sua ostensão", só adquirindo sentido porque é auréola que não o abandona jamais. Deste modo,
Ela agrupa e relativiza, numa mctadêixis, to-
mostrado e oferecida à vista. É a situação exte- explica-se por quê o teatro não necessita de nc- DENEGAÇÃO
rior ao texto lingüístico que esclarece este à luz nhurna figuração cênica a partir do momento que dos os movimentos do palco; cla forma aquilo
do enfoque desejado pelo cnccnador, Cada locutor o enunciador, através da fala ou do gesto, indica que BRECHT chama o Gestus " de entrega do es-
~ (Tradução do alemão Venzeillllllg.)
(personagem, ou qualquer outra instância de dis- de onde está falando. O teatro pode usar todos os petáculo para o espectador. 't....: Fr.: dânégation; Ingl.: denial, denegation; AI.:
curso verbal ou icõnico) organiza a partir dele seu meios épicos (relatos, comentários) que desejar; verneinung; Esp.: denegaciân.
espaço e seu tempo, entra mais ou menos em co- ele permanece sempre vinculado à sua profcrição (C) Presença. dccupagem, scmiologia, pragmática.
-=~.
municação com os outros, reconduz todo o seu dis- dêiuca c esta proferição dá a cena sua coloração Termo de psicanálise que designa o processo
Honzl, 1940; Jakobson, 1963: 176-196;
curso (suas idéias sobre o mundo, sua ideologia) emocional. Portanto, em vez de resumir o texto W:J. Velstrusky, 1977; Serpieri, 1977; Serpieri (et
que traz à consciência elementos reprimidos e que
para si próprio e para seus interlocutores diretos: dramático numa fábula ou numa imitação da rea- são ao mesmo tempo negados (ex.: "Não acredite
al.), 1978.
ele é egocêntrico por natureza e por necessidade. lidadc, é prefcrível ver nele uma espacialização de que eu lhe queira mal").
Esta atividade de (dcjrnonstração é considerada. diferentes falas, "um processo dinâmico de um A situação do espectador que experimenta a ilu-
desde ARISTÓTELES, como fundamental para o cruzamento de instância de discurso" (SERPIERI, são * teatral embora tendo a sensação de que aqui-
ato teatral: mostram-no (ou imitam-no) persona-
DELIBERAÇÃO
1977). De maneira alguma é necessário um nar- lo que está vendo não existe realmente, constitui
gens no ato de se comunicar". Exibe-se a "pala- rador para se descrever a situação dêitica, visto que
~ FI . délibération; Ingl : delibcration; AI.: um caso de denegação. Esta denegação institui a
vra CO) cena". ela é dada a ver (ostensãovv e que a cena "vive" 't-.: Uberlcgung; Esp deliberación. cena como o lugar de uma manifestação de imita-
num presente permanente. Desta forma, vêm sen- çüo* e de ilusão (e, conseqüentemente, de uma
2. São inúmeros os dêiticos (isto é, as formas con- do legitimamente realizadas algumas tentativas
Termo de dramaturgia clássica, na verdade idcntificaçãowv. porém ela contesta o engodo c o
cretas da dêixis) no teatro: em primeiro lugar, a para segmentar o texto dramático em função das
emprestado da retórica. Cena em que a persona- imaginário, e recusa reconhecer na personagem um
88 89
D ES C Ri Ç Ã O D E S E NL A CE

ser fict ício . fazendo del a um ser semelhante ao ção do sentido no at o da descrição ? É necessá- tionada. Anotar um es pe tácu lo será sem pre, co m para o qu alit ati vo. Pou co a pou co está esboçado
es pec tado r. A den egaç ão da ident ificação pcrrni- ri o d istin guir descri ção e notação? A de scri ção efeito. g ua rda r o qu e é not ável no inter io r de um o texto espetacula r".
te ao espectador libert ar -se do s elementos dolo- passa necessari amente pela lin gu agem artic ula- projeto globa l de se ntido, no âmbito de uma apreen- E m vez de de scre ve r tud o co mo um esc riba
rosos de uma representação. levand o este s ele- da ? Um método "o bje ti vo ". não vinculado à des- são sintéti ca do e spe tác u lo ou, pelo menos, de um a conscienci oso, cumpre e xplica r sobre quai s prin-
ment os à conta de um ego infantil ant erior. e de crição verbal , se ria co nceb íve l'! porç ão do e sp et áculo . Chega-se port ant o a um cípi os é con struído o text o espetacul ar, qual é su a
há muito rep rimido . Como a criança (des cr ita por círcul o lógi co : só se ano ta e se descreve aqui lo co erênc ia ", sua produtividad e, se u din ami smo .
FREUO) qu e tem prazer na brin cadeir a do carre - 2. Descrição e Not açã o que é percebido co mo notável; portanto, aquilo qu e Tr at a-se de procurar uma coerê nc ia mínim a na sé-
teljogado c depoi s recuperado, em ser ao mesmo está já e imedi atamen te anotado, a sab er, aquil o rie de sign os e sistemas sig nificantes, de modo a
tempo ato r e espectado r. a denegação faz a cena j O termo nVlação é usad o para registro de mar- que j á tem fun ção e se ntido num co nj unto muito apree nder a orientaçã o das séries, a j ulgar redun -
oscilar entre o efe ito d e real* e o efeito tea tral ", -~ cações e de tudo o qu e ocorre durante o espe- mai s amplo e j á co nstitu ído. aquilo qu e faz senti - dân cias e novas inform ações. A descriç ão ja mais
prov ocand o alte rna da mente identifi cação c d is - táculo. Tanto é feita pelo assiste nte de direç ão quan- do num a e nce nação. impli ca uma clarifi caç ão de todo s os signos; ao
tan ciament o *. É nesta di alética que reside, pro- to por uma pessoa especialm ente encarrega da do contrário, ela inclu i um a refl exão sobre os locai s
vavelmente, um do s pra zeres" sentid os na repre- registro do processo de criação (mu itas vezes. o pró- de indeterminação do te xto espetacular e so bre a
prio dram aturgo ' (sentido 2). (N. de T.) 3. Descrição e Encenação
sentação teatral. ev e ntua l resp osta qu e a representa ção dá aos \0-
cais de indeterm inação do te xto dr am áti co. As·
Se a an áli se não q uise r se perd er num a de scr i-
W Freud , 1969, vol. 10: 161-168; Mannoni, 1969; Se a nuan ce entre a ná lise, descrição o u not a-
ção de signos isolad os, num a enumeração não -
s im , a re cepção apa re ce co mo q ue g uiada , ao
Ubcrsfeld , I 977 a: 46·54e 260-261, 1981: 311- çã o do esp etácul o nã o é cl ara, ist o se dá porque men os em pane, por alguns sig nos privil egiados
an áli se e notação são atividad es muito próximas: estruturada de códigos , o procediment o de not a- do texto c da repr esent ação , por um percurso atra-
3 18; Ostergaard, 1986.
não se pod e analisar se m an ot ar qualquer coi sa; ção do men or índ ice de ve se r feito no interi o r de vés das am bigüi dades levantad as e das arnbi g üi-
e , de man ei ra inv ersa. ano ta r jamais se rá um a um eo nj unto já co nstituído num sistema se m iótico dad cs inco nto rnáveis . Per curso s sen sí veis são as-
que tenha suas própri as regr as e que seja perc ebi- sim propostos pela d escri ç ão: e st amos longe ,
DESCRIÇÃO op eração neutra que prescinde do sentido e d a
do de im ediato com o coere nte . A noção de en ce -
int erpretação. É co mu m apresentar-se a análise. co mo se vê, de um a v isão positivi sta e tecni cista
e FI. : d e s c r i pt ion; In gl. : de scr ip t ion ; AI.'
Beschrcibung ; Esp.: descripci ôn.
seja ela descri ção o u not ação , co mo um e mpo -
br ecimento do espetá cu lo , a redução de um a rea-
Ilaçã o é e ntão indi spen sável , por ém desd e q ue sej a
ent end ida não co rno o trab alh o indi vidu al do e n-
d a descrição. Descr e ver impõe qu e sej a lev ada
e m co nta a e nunciação cê nica , a q ual se defin e
lid ade co mplexa a um esqu ema simplista. Qu e cen ador o u, menos a inda, co mo a passagem do como a op er aci onalização, no espaço e no tem-
o teatro j á aconteceu no ex ato instante em haja ocorrido transformação, é evidente . Mas esta text o par a o pa lco , m as, sim , co mo sistema estru- po , de tod os os elem ent os cên icos e dr amatúrgic os
que se co me ça a fal ar del e. A descr ição da re- tr an sformaçã o não é nece ss ariamente um a redu- tu rai de urna e nunc iação cê nica - isto é, como jul gad os úte is à produção do se ntid o e à sua re-
presentação só é possí vel a partir das lembran- çã o ; ela seria ant es o ú nico me io para se apree n- co loca ção e m co nj unto e e m rel ação co m si ste- ce pção pelo públi co.
ça s do espec tado r ou de document os necessaria- der o sentido do esp et áculo , urn a modeli zaç ão e mas signifi cantes , e também com o visua liza ção
mente frag me ntários : an otações de encenação um model o reduzido . A redução do espetáculo em funç ão de sua rec epção por um públ ico, e m W Bouch ard, 1878 ; Theaterarbei t, 1961; Bow-
si , variáve l e at ivo . A descrição o u a not ação só é man e Ball , 1961 ; Mehli n, 1969; \0 ies de la
(q ue, no ent ant o , não sã o a e nce naçã o), esqu e - no ato da aná lise o u da not aç ão não é de o rde m
po ssível enq uanto análi se qu e pressup õe urna sí n- C réation Th éâtra le. 1970 , 19 85 ; Pa vis, 1979" .
mas o u fotos (q ue co nge lam o aco ntec ime nto), técni ca e, sim. teóri ca. A redução não oco rre por - 198\ a . 1985e. 1996 ; l\tc A ulc y, 1984; Ko wzan ,
grav ações aud io visua is (q ue instaura m sua pró- qu e as máquin as usad as par a regi strar o u as téc- tese - s íntese esta , a liás, móvel c se m pre de sco ns-
1985 ; Gornez, 1986; lIi ss, 1990 ; Pier ron, 1994.
pria decupagem). nicas de notação ainda são primitivas e insufici en- trutível. A en ce nação forn ece um cô modo q ua -
tes para anota r a e nce nação; ela oco rre porque d ro" teó rico para es te trab alh o de enq uad rame nto
1. Incerte za da s Noç ões e das Finalidades an ot ar transfor ma o o bj eto analisa do. Anotar é e de aná lise do se ntido . da aná lise c da síntese.
DESENLACE
fazer um a se leção , é pas sar do co ncreto para o
"An álise " , "des cr ição ", "interpretaçã o" do es- ab strato. propor uma es co lha teórica a partir do 4 . Estabeleciment o do Texto do
~ Fr.: d énoucment; lngl. : dcnouemcnt, unrnveling;
petá cul o o u d a rep res ent ação ou da ence nação: obj et o empírico que é o es pe tác ulo antes qu e se Espetác u lo "'t.; AI.: Lõsung, Enthiillnng : Esp.: des enla ce.
a incerteza dos termos tr ai uma não men os gran- reflita sobre e le.
de incerteza de um a d as mais importantes tare- A pergunta é: se ria poss ível admitir , entretan- Tent a-s e ligar a desc rição do es petác ulo à aná- Para a dramaturgia c lássica , o desenlace si tua-
fas da semi ol ogia teatral : atribuir sentido a um to, o princípio de um a metodologia geral da des- lise actancial e/ou narratol ógica, destacando-se se no final da peça, ex atamente depoi s da peripé-
co nj unto de materiai s het erogêneos reunidos cri ção - a sabe r, um s iste ma de not açã o ou um microsseqü ên cias. No interior desta s mi cr osse - c ia e do pont o cu lm ina nte , no momento em que
num tempo c num esp aço para um determinado m étodo de aná lise ou de leitura qu e seja m adap- q üênci as, são rc agrupados sé ries de sign os. tant o as co ntradições são resolvi das e os fios da int ri-
públi co. Parece e vid ente que o trab alho não pode táv ei s a qualquer o bjeto teatral? Para resp ond er tran sversalmen te (o u sej a, de aco rdo co m a den- ga" são desemba raçad os. O desenlace é o e pisó -
ser iniciado e nq uanto não se levantar um co n- a esta pergunta, é pre ciso di stinguir imedi atamen- sid ade dos diverso s s iste ma s num curt o lap so dio da comédia o u da tragéd ia qu e elimina defi -
junto mínim o de dad os sobr e o espetáculo; por ém, te entre urna an álise qu e vise an otar o esp et ácul o de tempo) quanto hori zont alm ent e (no âmb ito de niti vam ent e os co nfl itos c o bstác ulos . A poéti ca
como o rganizar e in st au rar este levant am en to? c uma an álise qu e obj eti ve descrevê-lo para co - um a uni dad e narrati va). A idéi a é reagrupar em norm ati va (de ARISTÓTELES, de VOSSIUS, de
Trat a-se de prep ar a r o terr en o par a um a segu n- ment á-l o e interpretá-l o ve rba lme nte. Ao faze r qu adro s co nj u ntos de ritm os di ferent es, tom an- D ' AUBIGNAC ou de CO RNEILLE) e xige dele que
da etapa, qu e seria a interpreta ção? Ou se tr ata, isso, reintrodu z- sc urn a disti nção entre notaçã o e do -se o cuidado de o bservar as redundâncias, as co ncl ua o drama de man eira ve ro ssím il, co ncen-
ao co ntrári o , de de finir de imediato a organiza- interpretação qu e de ve necessar iam ente ser quc s- mudan ças de ritm o , a passagem do quantitat ivo trad a e natural : o deus e X lIIa c1IÍI/(/ * dever á se r

90 91
DEUS EX MACHINA DIÁLOGO

empregado apenas em casos excepcionais, uni- riamente artificial e irrealista se o espectador acre- um ser inanimado (diálogo com ou entre máqui- a. Número de personagens
camente quando a intervenção dos deuses pode ditar na filosofia na qual a intervenção divina ou nas, conversa telefônica etc.). O critério essen-
O conhecimcnto da respectiva situação" dos
desatar uma situação bloqueada. O espectador irracional é aceita como verossímil*' cial do diálogo é o da troca e da reversibilidade
protagonistas permite distinguir vários tipos de
deve obter todas as respostas às pcrguntas sobre da comunicação",
comunicação (igualdade, subordinaç'lo, relações
o destino dos protagonistas c a conclusão da ação. 3. A comédia usa de subterfúgios aparentados ao
de classes, vínculos psicológicos).
Ao contrário, uma dramaturgia aberta (épico * ou deus ex machina: reconhecimento ou volta de uma I. Diálogo e Forma Dramática
absurda *, por exemplo) negar-se-á a dar à ação a personagem; descoberta de uma carta, herança
h. Volume
aparência de um esquema definitivo c resolvido. inesperada etc. Neste caso, uma parcela de acaso O diálogo entre personagens é amiúde consi-
O desenlace clássico, diferentemente, por exem- é admitida nas ações humanas. Para a tragédia, Há diálogo quando as falas das personagens
derado como a forma fundamental e exemplar
plo, do drama romântico ou do melodrama, apre- em compensação, o deus ex machina não é efeito se sucedem num ritmo suficientemente elevado;
do drama. A partir do momento que concebe-
senta-se freqüentemente sob a forma de relato para do acaso e, sim, o instrumento de uma vontade sem isto, o texto dramático assemelha-se a uma
mos o teatro como apresentação de personagens
respeitar as conveniências. Os autores, para evi- superior; é mais' ou menos motivado, sendo arti- sucessão de monólogos que só mantêm relações
atuantes, o diálogo passa a ser "naturalmente" a
tar o desenlace trágico da catástrofe, têm-se es- ficial ou inesperado apenas na aparência. distante entre si. A forma mais evidente e espe-
forma de expressão privilegiada. Em contrapar-
forçado em suavizar o desenlace (evitando as tacular de diálogo é a do duelo verbal ou esti-
tida, o monó/ogo* parece um ornamento arbi- comi tia *. O tamanho das falas é função da
mortes, facilitando as reconciliações ou relati- 4. Por vezes, o deus ex machina é um meio irôni- trário c aborrecido que não é visto como adequa-
co de terminar uma peça sem iludir sobre a veros- dramaturgia empregada na peça. Na tragédia
vizando o trágico numa visão absurda ou tragicô- do à exigência de verossimilhança nas relações clássica, que não busca que os discursos das per-
mica do mundo). similhança ou a necessidade do epílogo. Ele se inter-humanas. O diálogo parece ser o meio mais
torna um meio para colocar em dúvida a eficácia sonagens sejam dados de forma naturalista, as
apto para mostrar como se comunicam os locu- diferentes falas serão construídas de acordo com
das soluções divinas ou políticas: por exemplo, a tores: o efeito * de realidade é então muito mais uma retórica muito sólida: a personagem expõe
DEUS EX MACHINA chegada do chefe de polícia, no Tartufo é, ao forte, porquanto o espectador tem a sensação de aí, amiúde muito logicamente, sua argumenta-
mesmo tempo, uma piscadela de MOLlERE ao po- assistir a uma forma familiar de comunicação ção à qual seu interlocutor poderá responder
:-). Fr.: deus ex machina; lngl.: deus ex machina; der monárquico e uma forma de demonstrar o entre pessoas. ponto por ponto. Para o teatro naturalista, o diá-
't..; AI.: Deus ex machina; Esp.: deus ex machina. poder e o perigo dos falsos devotos na sociedade
logo é tomado diretamente do discurso quotidia-
do século XVII. Na Ópera de Três Vinténs ou em
2. Do Monólogo ao Diálogo no dos homens, com tudo o que ele tem de vio-
O deus ex machina (literalmente o deus que A Alma Boa de Se-Tsuan, BRECHTse valeu deste
lento, elíptico ou inexprirnívcl; por isso mesmo,
desce numa máquina) é uma noção dramatúrgica procedimento para "concluir sem concluir" e para ele dará uma impressão de espontaneidade e de
Contudo, embora seja útil distinguir estas duas
que motiva o fim da peça pelo aparecimento de conscientizar o público de sua faculdade de inter- desorganização, reduzindo-se a uma troca de gri-
formas de texto dramático, seria perigoso colocá-
uma personagem inesperada. venção na realidade social. Dessa forma, atual- tos ou de silêncios (HAUPTMANN, TCHÉKHOV).
los sistematicamente em oposição. Diálogo c mo-
mente o deus ex machina é, com freqüência, uma
nálogo" jamais existem sob uma forma absoluta;
1. Em certas encenações de tragédi as gregas (es- personagem que serve de duplo irônico do dra- c. Relação com a ação
pecialmente EURÍPIDES), recorria-se a uma má- além disso, a transição entre os dois é muito fluida
maturgo.
quina suspensa por uma grua, a qual trazia para o e tem-se a vantagem de distinguir entre vários graus No teatro, conforme uma convenção tácita, o
palco um deus capaz de resolver, "num passe de ~. Motivação, epílogo, reconhecimento. de dialogismo ou de monologismo numa mesma diálogo (e qualquer discurso das personagens) é
mágica", todos os problemas não resolvidos. Por escala contínua (MUKAROVSKY, 1941). Assim, o "ação falada" (PIRANDELLO). Basta que os pro-
extensão e figurativamente, o deus ex machina W Spira, 1957. diálogo do drama clássico é muito mais uma se- tagonistas tenham uma atividade lingüística para
representa a intervenção inesperada e providen- qüência de monólogos organizados de maneira que o espectador imagine a transformação do uni-
cial de uma personagem ou de alguma força qual- autônoma do que um jogo de réplicas semelhante verso dramático, a modificação do esquema
quer capaz de desenredar uma situação inex- DIÁLOGO a uma conversa animada (como no diálogo quoti- actancial, a dinâmica da ação. A relação do diá-
tricável. Segundo ARISTÓTELES (Poética), o deus diano). Inversamente, muitos monólogos, apesar logo com a ação é, todavia, variável conforme as
ex machina só deve intervir "para acontecimen- ê (Do grego dialogas, discurso entre duas pes- de sua disposição tipográfica unitária e de seu su- formas teatrais:
tos que se passaram antes, acontecimentos que o soas.) jeito único de enunciação, são, na verdade, apenas - na tragédia clássica, o diálogo desencadeia sim-
homem não pode saber, ou por acontecimentos Fr.: dialogue; Ingl.: dialogue; AI.: Dialog; Esp.: diálogos da personagem com uma parte de si mes- bolicamente a ação; ele é, ao mesmo tempo,
que se passaram depois e têm necessidade de ser diálogo. ma, com uma outra personagem de sua fantasia ou sua causa e sua conseqüência;
preditos e enunciados" (1454b). A surpresa des- com o mundo tomado como testemunha. - no drama naturalista, o diálogo é apenas a parte
te tipo de desenlace é, necessariamente, total. Conversa entre duas ou mais personagens. O visível e secundária da ação; é, antes de mais
diálogo dramático é geralmente uma troca verbal
3. Tipologia dos Diálogos nada. a situação, as condições psicossociais dos
2. O deus ex machina é usado, muitas vezes, entre as personagens. Outras comunicações caracteres que fazem a intriga avançar: o diálo-
quando o dramaturgo encontra dificuldade para dialógicas sempre são possíveis: entre uma per- go tem apenas uma função de barômetro ou de
Inventariar todas as variantes possíveis do diá-
achar uma conclusão lógica e quando procura um sonagem visível e uma personagem invisível revclador,
logo teatral seria um desafio difícil, por isso con-
meio eficaz para resolver de uma só vez todos os (teicoscopia*), entre um homem c um deus ou
tentar-nos-cmos em diferenciar os diálogos de O diálogo e o discurso são as únicas ações da
conflitos c contradições. Ele não parece necessa- um espírito «f. Hamlet), entre um ser animado e
acordo com diversos critérios: peça: o ato de falar, de enunciar frases é que cons-

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DI Á LO G O D tCÇÃO

utui um a ação perform ática (cf MARIVAUX. b. Os contextos são tot alm ent e es tra nhos um ao ma fa ixa de o nd a " (co mo as persona gens de h. M an eira de pronunciar um texto e m pro sa o u
BECKEIT. ADAMO V. IONESCO). outro: mesmo que a fo rma e x te rn a do texto seja a TCII ÉKHOV). em ver so . Art e de pronunci ar um texto com a
de um di álo go , as persona gen s, na re alidad e. ape - c loc ução, a e nto nação e o ritmo convenientes (de-
4 . Int erc arnbi al idad c das P e s so a s n as superp õern do is m onól og o s. Se u di álogo é um 7. Ori g em d o Di scurs o Di aló gic o cl a maç ão O). A forma de d icç ão va ria seg un do a s
" d iá logo de surdos". Co mo di zem os alemães , ele s é pocas , sen do o c rité rio m ais freqüente se u ca rá -
o di ál ogo d emonstra um a tro ca entre um eu nada mai s faz em do que " fa la r p assando um ao O di ál o go às vez e s par ece se r propriedade indi- ter verossím il (rea lis ta) o u art ístico (dic çã o a lte -
rada , pros ádica " o u ritmica *). Com e fe ito , a dic -
locut or e um 111 , voc ê ouvinte. c ada ouvinte ass u - lar go do outro" tA nci na ndcrvo rbe isp recne nv. v idua i e caracte rís tic a de um a perso nagem : c ad a
mi nd o, por se u turno, o pap el de locutor. Tud o ção de um te xto oscila se m pre entre o so m e o
En contramos es ta fo rma d e fal so diálogo em dra- di scurso de uma per son agem tem um ritmo, um
aquilo qu e é enunciado só tem sentido no cont ex - se ntido, e ntre o g rito es po ntâ ne o (a psic ol ogia) e
m aturgias pó s-clássi c a s. qu ando a troca dial étic a voc abulá rio ou uma sint ax e própria. Este tip o de
to desta liga ção social entre locutor e ouvinte. Isto a c o ns truç ão ret óri c a (o pro cedim ento » lit er ári o ).
entre as personagens e se us di scursos não mai s di álogo verossímil e "toma do ao vivo " se rá utili-
explica a forma por vezes alusiva do diálogo. qu e exi ste (TCHÉKHOV, BEC KETT) . zad o por uma dr amaturgia natural ista e ilu sionist a .
usa mai s'a s ituação de e nunciação do que a infor- 2 . Do is Tipo s d e Dicção
A s rupturas de tom e os cortes se mâ nticos entre as
ma çã o tra zida por cada répl ica. Inversament e. o c . Os c ontextos são qu a se id ênt ic o s : a s réplica s répli ca s sã o muito se nsíveis. O d iál ogo sig ni fic a
mon ólog o dev e co m eç a r nomeando as per sona- n ão mais se opõ em . porém p artem de uma me s- Di stingu em-se do is tipo s antitéli cos de di cçã o :
[p roduz. sig n ifica do) seja atravé s dos sit êncios" e
gens ou as co isas à s quais se diri ge: ele se refer e. ma boca. É o c aso d o drama lír ico, no qual o d o não-dito ", seja pe las inte rru pções da s répl icas
antes de ma is nada, ao mundo do qual fal a (o ele). texto não perten ce pr opriamente a um caráter, a. A d icç ão natural ist a " pu le" o u " aplaina" as
o u pcl o conteúdo da s pa la vra s.
O eu do diálogo, ao contrário, fala a um outro eu a sp er e z a s d o r itmo m el ód ico ou de seus e fei tos
se nd o distribu íd o "po eti c ament e" entre as per- No texto cl ás si c o , ao co ntrár io, os di ál ogos
e . portanto, insiste facilmente em sua funç ão so no ros par a o bte r uma forma " n atu ra l", tri vi al
sonagens: monól o go de vá rias vo ze s que nos faz se rão unificados e Iiomog eini zad o s pelos traços
rnetaling üística ou fática. Ele in ser e répli cas no e cotid ia na de se e xp ress a r. Isto se produz qu an-
lembrar certas forma s musi ca is em que cada ins- supra-segmentais que ca rac te riza m o estilo glo-
e spaço e. neste cruzamento de enunci açõe s, faz do o at or pro cura e nc a rn a r sua personagem m o s-
trumento ou voz so rna-se ao conj u nto . bal do autor. As divergên c ia s de pontos de vista e
desaparecer totalmente um centro de gravidade trando o s e fe itos linguísticos de sua emotividade .
fixo ou um sujeito ideológico preci so (por isso a de psicologia entre os difer en te s c a rac tere s são R. BARTHES, a pr opósito da interpretação bur-
6. Divergência ou Coe r ênc ia" dos niv eladas em favor da unidade e do monologismo guesa d a tr ag éd ia , c r itic o u esta maneira de fa-
dificuldade, no teatro. de se reencontrar a orige m
Diálogos d o poema dramático . ze r: " O at or burgu ê s intervém sem cess ar , el e
d a fala e captar-se o sujeito ideológi co na mult i-
pli cidade de lo cutores). ' ressa lta ' um a pal a vra . su sp ende um efeit o , fa z
r- ~ . .
A ca rac te rística d o di álo go é não es ta r nu nca O que produz a im pr e ssã o d e um verdadeiro ~ '. M on úlogo, di scurso. pragmauca . ve r se m pre co mo o qu e está dizendo ali é impor-
te rm inado e pro vo car. ne ce ssariament e. um a re s- di ál ogo e ntre personag ens (e nã o d e um mon ólo- tant e . tem u m s ig n ific a d o o c u lto : é isso qu e se
posta do o uv inte. Desta forma. cada d ial og ante g o de cupado e m di ál o go s e di stribuído a esmo). é U :l Tod oro v, 19 67 ; Rastier, 1971 ; Ducrot, 1972 ; c ha ma dizer um te xt o " ( 1963 : 136 ).
a g ra nde coerê nc ia d e st e tip o d e di ál ogo muito • • Bcn vcn istc , 1974 ; Velt rusk y , 19 77 : 10 -26 :
apris iona o o utro no d iscurso qu e acaba de profe -
" fe c hado" . C om e fe ito , o d iál o go dá a im pressão I' fistcr , 1977 ; Ru nca n. 1977 ; Avigal , 1980 ; Wirth , b. A d icç ão a rtí s tica ada p ta -se à e strutura rít m ic a
rir. obriga ndo-o a re sponder de acordo co m o con-
1981; Todorov, 19 8 1; Dodd , 1981; Klõpfe r. 19 82;
te xto prop osto . Desse m od o. todo di álog o é uma de c oerên ci a e de unifi ca çã o quando : I ) seu tema * d o te xt o a se r d ito e não m ascara sua o rige m a r-
Jaqucs, 1985 ; Kcrbra t-O rcch ioni, 1980. 1984 . 1990.
lut a táti ca entre doi s manipul ado res do d iscurso : é quase o mesm o par a os di al o g ant e s, o u 2) a si- tí sti c a. Linguagem e mo tiva cotid ia na c es que ma
1996
c ada um pro cura impor se u própri os pre ssu pos- inaçã o » de e nunc ia çã o (o co nj u nto da realidad e p ro sódi c o são aqui man tid o s à di stân ci a. O ator
tos (lóg icos e id eol ógi c o s), for çand o o outro a si- ex t ra ling üís tica das perso nagens) é co m um aos não calca o ritm o de se u di scurso n a s uce ssão rca-
tu ar- se no terren o qu e e le tenha escolhido para si lo cut ores. lista d as e mo çõ es . E le es tru tu ra sua at uação d e
(DUCROT. 1972 ).
DICÇÃO a cord o c o m a s a rti c u lações retóri c a s, e x põe a
li . Q ua ndo as personagens fal am da m esma coi- cons trução verba l de s e u tex to , j am ai s mi sturan -
( Do la tim dictio, pal avr a.)
~ . . _ d o o d iscurs ivo e o psi col ó g ic o.
5 . O Di ál o g o D entro d e uma Teoria sa. seu s di ál ogo s são ge ra lmente com pree ns íve is "t; Fr.: diction; Ingl. : di ction; AI.: Diktion; Esp .:
S emântica do Discurso e dialéticos. me sm o que . por o u tro lad o . os dialo- dicciou. Es te tipo de di c ç ão é mu ito difícil de real izar,
ga ntes sejam e xtre ma mente diferent es (por e xem-
vis to que ex ige se r m antido por todo o es tilo d a
O co ntexto global do co nj unto de répl ica s de pl o , podemos im ag ina r se m di ficuldade que um 1. Da Ret órica à D ecl ama ç ã o repre sentação ; não-mimetismo, in si stênc ia so b re
um a pers onagem, assim como as rela ções entre homem dialogue com um a m áquina se o tema do
o te at ro , d is tan ci am ento de certos procediment o s,
os co nte xto s. são determinantes para definir a di scurso pode ser identifi c ad o c lara m e nte ). Sentido arcaico (sécu lo XVIII): man eira de di-
{I .
atmosfer a de libe rad a m e nte artificial ( ma s não
natureza dialógica ou monológica do texto. Três zer e de compor um te xto de acordo com certa par ódica), Inúmeras encenações que se af astam
casos de diálogos são definíveis segundo a rela- h. Quando as personagen s são colocadas na mes- disposição de idéias e pal av ra s. O pre ssuposto da do na tural is m o o be de ce m a este modo de repre-
çã o do s dois contextos: ma situação cêni ca e as sentimos muito próxi-
boa dicção poética é qu e ex iste um e stilo e uma sentaç ão (as e nce naçõ es de VITEZ, MESGUI CII,
mas emocional ou int el ectu almente , seus discur- e sc o lha de palavras es pec if ic ame nte poéticas. A GRÜB ER, VILL ÉGI ER) . Elas conseguem, assim.
a. Ca so normal do diálogo: os sujeitos do di álo- sos serão comprcen sfvc is e coe re nte s inclusive
di cção tem dois modo s princip ais; o rel ato (poe- c erta aut enti cid ad e na forma de abordar o te xt o .
go têm e m com um uma parte de se u co ntex to; quando falarem de coisas tot alm ent e diferentes. sia e narrativa) e a " imitaç ão:" do d isc u rso das d e " dizê- lo" , ao me sm o tempo que dizendo o qu e
falam, po rta nto, grosso modo. "da mesm a coisa" Elas est ã o se m pre, qu alq uer q ue seja o tema da pen sam dele. Ao destaca r ce rt as pa lavras o u mem-
per son age n s d ram át ic as.
e são ca pazes d e tro car ce rtas informações. conversa ou d e se u " d iá lo go d e s ur dos", na " mes-

<)-/ <)5

i
L
DIDASCÁ LlAS D tREÇÃO DE ATOR

bros de frase do texto. o co media nte faz o gesto Instru çõe s d adas pelo autor a se us atores (tea - co mo fáb ula a se r tran sm itid a ('"histó ria") . e o I . Alt ern ativa d iant e da qual o herói se acha co lo-
de indicar qua l sentido está se ndo privi legiado. tro grego , po r exe m plo). para interpret ar o texto discurso co mo utili zação individ ua l de ste rel a- cado ao ser instad o a esco lher entre du as so lu ções
qu al rel ação co rpo ral ele mantém co m o discurso dram áti co . Por ex te nsão . no emprego mod ern o : to, co ns truç ão qu e se mpre revel a ves tíg ios da ins- co ntraditórias ig ualme nte inaceitáveis. A d rama-
e sua persona gem . Ele tom a perceptível a arqui- indicações c ênicas " o u rubricas ". tân ci a c nunc iado ra: autor, c nce nado r, a to r etc . turgia cl ássica ", qu e busca ilustrar o confl ito" de
tetura da frase e a visão subj etiva qu e tem das
(IlEN VEN fSTE, 1966 : 23 7-25 0) . maneira mai s co nce ntrada e visível, privilegi a, par -
pro postas es pac iais do texto. I . No teat ro g rego, o própri o autor é, mu itas ve- ticul arm ent e, os dil em as que, nos séc ulos XVII c
zes, se u própri o encc nador e ator. de mod o q ue as XVIII , cra m c ha mados de "s ituaçãos", " Situação
2 . Apre sentaç ã o d a D ié g e s e
3. Dic ç ã o e Interpretaç ã o indicações so b re a form a de atuar são inútei s e, é aque le estado violent o no qual nos enco ntra mos
por isso , es tão total ment e ausent es do manu scr i- entre do is int eresses prem entes e opos tos. entre
A cons trução dra mática, a in st auraç ão dafic-
Muit o além de uma simples palav ra técni ca de to. As didasc álias co ntêm mai s exatame nte infor- duas pai xõe s imperi osas que nos dilaceram e não
ção * e da ilu s ão ", são mais o u men os visíveis
aprese ntação mais ou menos co nvince nte, a dic- mações sobre as peç as. dat as e locais onde foram nos determinam , a não ser co m muita difi culdade"
o u oc u lta s. Dir em os qu e a di égese apresent a-se
ção do ator se situa na intersecção do texto proferi- esc ritas e repre sentadas. o resultado dos co nc ur-
co mo "natural " qu and o tod o s os procediment os (MORVAN DE IlELLEGARDE, 1702, a prop ósito de
do materialmente e do texto interpr etad o intelec- sos dr am áti cos etc. Ela s es tão tão au sent es, en-
d a ficci onali za ção e da en cen ação são escamo- EICid).
tualm ent e. Ela é a verbalização e a co rporificação qu ant o indi cações co ncretas do mod o de atuação.
teado s, qu and o a ce na pro cura dar a impre ssão
de um dos se ntidos possíve is do texto. Deste pon- que nem se m pre se sabe claram ent e qu em pro -
de q ue a ilusão é tot al e de qu e e la não preci sa 2. O d ilem a põe e m co nfronto dever e amor, prin-
to de vista, o ator é o último "porta -voz" do autor e nun cia as répl icas qu and o estas aparece m decu -
se r " fab ricada" por di ver sos p rocedime n tos " da cí pio mo ral e necessidade políti ca. obe d iênc ia a
do cncenado r, porquanto diz seu texto enca rnando- padas por um traço d istintivo.
e nunciação. du as pe sso as o pos tas etc. Nele, o her ói ex põe os
o ce nica me nte e fazendo-o passar através de seu M ais tarde , entre os latin os, e las co nsiste m
Ao co ntrário. um a drama turg ia q ue se ass uma term os da co ntra dição e acaba por tom ar um a de-
co rpo . Fenôm eno que L. JOUVET descre veu nes- num a bre ve informação acerca da peça e numa
como s iste ma artificial e prática sig nifica nte "exi- cisão , a qu al resol ve e ntão, de maneira bastant e
tes term os, e m O Ator Desenca rnad o : "O texto do lista de drama tis pe rsonae*.
birá" a produ ção da ficção, o trabalho de e labo ra- varia da, o co n flito dramático. O dilema é uma
autor é, para o com ediant e, uma tran scri ção física.
Dei xa de ser um texto literário" ( 1954 : 153). É a ção d a fábula, e não contará co m a identificação * das formas dramatúrgicas possívei s do trá gi co *:
2. O termo indicação cênica ou rubrica , mais
dicção qu e insufla vida à frase e trata-se, seg undo do ator (ex. : BRECHT); ela sublinha rá os efe itos ele compreende os dois term os da contradição .
freqüe nte atua lme nte, parece mais ade quado par a
JOUVET, de fazer a frase viver não pelo se ntimen- narrati vo s d a diégese. No dil em a, ass im com o no co nflito trágico entre
descrever o papel metalingüí stico deste text o se -
to, mas pela dicção (Trag édie Classique et Th éãtre cund ário? (fNGARDEN, 1971 ). perso nage ns , "ambos os lados da oposição têm ra-
du XIX' Si êcle. 1968, p. 257) . 3. Die g etizaç ã o da Enun ciaç ã o zão, porém só pod em realizar o verdade iro co n-
O ator, derradeiro porta-voz do texto, tom a ne- Rubrica. indicação cênica. teúdo de sua fin alid ade negando e ferind o a outra
cessariam ente partido co m relação àquilo que enun- A narrati va (nove la, co nto etc .) co nhece bem a potência, qu e também tem os mesmos d ireit os. e
cia, não tend o. aliás, que recu perar o presumido W Lcvitt, 1971; Larth om as, 1972 ; Ube rs fe ld, técni ca da diegeti zação de sua produ ção textual. se tomam culpados em sua moralidad e e devido a
sentido do aut or. Da mesm a form a qu e, na frase, .. 1977a ; Ruffini , 197 8; Th ornasseau, 19 84 ; Muito amiúde. e la se esforça para tomar vero ssí- esta própria moralidade" (HEGEL, 1832 : 322) .
a enunciação sempre tem a "última palavra" sobreo Pavis, 1996. mil se u ato de produ ção: nota do aut or so bre um
enunciado. a dicção é um ato hermen êutico " que manu scrito "e nco ntrado"; relato narrado por um G) Es tâncias. co nflito, monólogo, dialética. dis-
impõe ao te xto um volume. uma co r voca l. uma "c u" co nta ndo um a história "verdadeira" ; aprese n- ~c u rso. de libe ração .
corporalidade e uma modalização responsáve is por DI ÉGES E taç ão " obj etiva" , c ientífica dos fatos etc . O teatro
seu sentido; ela sig nifica imperativa me nte um sen- m Scherer, 1950 ; Pavi s, 19800.
e
d ispõe de meios idênt icos: prim eiras répl icas " in
tido para o ouvinte e para o espec tador. O ator, ao (Do grego diegesis, relato.) media res" qu e suge rem qu e a ação co meçou antes
imprimir ao texto um certo ritmo ", um " fluxo" con- de se abrir o pano ; nar rador " épico , qu e ve m apre-
tínuo ou entreco rtado, emprestand o-lhe as marcas DIREÇÃO DE ATOR
lmitaç ão " de um acont ecim ent o e m pal avr as, se nta r no prólogo a históri a a se r narrada ; teat ro
e os acide ntes de seu co rpo, co nstrói a fábula e
co nta ndo a história e não aprese ntando as pe rso - dent ro do teatro ", no qu al a personagem decl ara
tom a partido em relação aos aco ntec imentos. Esta ~ Fr.: di rection d 'act eur ; Ingl .: direct in g th e
nage ns atua ntes . qu erer mostr ar uma represe ntação teatral. São mui-
enunciação ges tual e voca l dá o tom e a di nâmica 't..; actor; AI.: Sc hauspielerleitu ng; Esp .: di recc i ôn
tas as técn icas destinadas a oc u ltar a co nstrução
da ence nação. dei a c tor:
I . D ié g e s e e Mime se liter ária, as co nve nções e os fios teatrais indi spen -
m Becq de Fouquiêres, 1881 ; Barth cs , 1982:
ARISTÓTELES (Poética. 1448a ), o põe a imi -
sáv e is a qua lquer ilusão. Dest a forma, é recu pera-
do e apagado o processo da e nunc iação e da pro- Vind a do c ine ma, o nde o trab alh o d e e so b re
236-245.
dução literár ia ou cê nica. o ator tende freqüent em ent e a se r escondi do pel o
tação (mim ese *) à narração. A di égese é o material
ap arat o técni co. a direção de ator é a maneira
narrat ivo , a fábula", o rel ato " puro", não mo -
dali zado pel o di scurso. Esta noção é usada sobre- pel a qu al o e nce nado r (às vezes reb ati zad o d e
DIDASCÁLIAS
tudo em semio logia* do cinema (PERCHERON, DILEMA "d ireto r de ato r" , até mesm o coach), guia e aco n-

e (Do r~go di~ s cali. en sinameto .~


F r.: didascalies : Ingl. : didascalia, s tage
in: COLLET, 1977 ).
A noção d e di égese, usada em teori a literári a ~ (Do grego dilemma, dupla escolha.)
se lha se us atores. desd e os prim eiro s ensa ios a té
os aj us tes feitos d ura nte a aprese ntação públ ic a
dire ctions; AI.: Didaskalien, Biihn enan ...eisungen; (GENETTE. 196 9 ) e c ine ma tográ fica, pert en ce à 't...; Fr.: di lenune; Ingl.: dil cmma ; AI.: Dilemma; do es pe tác u lo . Es ta noç ão. por sua vez tênue e
Esp.: didascalias. mesm a oposi ção e ntre o relato " co mo material , Esp .: dilema . ind ispe ns áve l, diz respeito à re lação individua l.

96 97
DIR E Ç Ã O D E ATOR D t REÇÃO DE CENP

tanto pessoal qu ant o a rtís tica. que se es tabe lece ex posição preliminar, o pen sam ento de ve desen- b érn a co m preensão do conj unto da peça, a con- f \'tzivém entre par/i/lira e subpa rtitura
e ntre o me str e de o bra e se us intérpr et es: rela - vo lve r-se pel o exa me da esco lha ent re ta l gest o tribuição indi vi du al de tra ços pert inent es, ma s
O ator é esti mulado a fixar se us mo viment os,
ção pessoal e muitas ve zes amb ígua. que só acon- o u aquele outro tal lu gar . es co lha às vez es dr a- também a sub m issão ao s objetivos de co nj unto ações. pen samentos e im ag en s po r meio de um a
tece no teatro oci de nta l. so bretudo reali st a e psi- m ática, obj eto de com ent ário por mei o de uma da ence nação . Deste modo, o ator é necessaria- subpartitura qu e facilite sua localização no espa-
col ógico, em q ue o ato r procura a identi d ade de co nv e rs a perp étua no palc o" (VITEZ , 25: as cio ment e um ator -criad or. um "ator que se insere num ço -te mpo e com base na " linha contínu a da açã o"
sua personagem a partir de si própr io, co mo um rações sã o extraí das de Th éàtrc/Pub lic n. 64-65, projeto, porém contribuindo para e le com e leme n- (STANlSLÁVSKI): a so ma d as partit ura s visíve is
" traba lho do ato r so bre si mesm o" . Para se co m- 1985, "A di reção de ator") . tos qu e só el e pod e tr aze r" (KNAPP, 19 ). dos d iferent es atores torna-se a pa rtitura g loba l
preender o fu nda me n to de sta noção e sua im- da e nce nação. da qual o diret or se serve co mo de
port ân cia na ence nação, é preci so abs te r-se de b. Enc arnaç ão da p ersonagem 3_Mod os de Tr an smi ssão um o rganog ra ma do conjunto, se mpre flutuant e,
redu zi-Ia a um a rel aç ão psicoló gica e anedótica, porém se mpre mai s es táve l, do es pe tác u lo e m
Os con selh os do dir et o r - quase q ue no senti-
a fim de se tent ar a pree nde r seu método e pro- Além dos segre dos ind izíveis. exi stem méto- de vir , Ao det alhar pouco a pouco a partitura glo -
do de um dir etor de con sci ên cia, um co nfesso r! -
por uma teori a geral dela . do s bem conhecid os para tran smitir uma di retiva . hal, o dir etor co nvid a seus atores para afinar e
são necessários ao ator para e le poder "entrar" na integrar su as subpartituras individuais.
pe rsonagem . para apr eend er as m oti vações, utili- ao ator :
I . O Encen ador Antes da Encenação zar as ca rac terístic as de sua p ers o na , "ex te rio r e
g. Acompa nha men to da relaç ão
inter ior", suge rir e construir o pap e l. Tare fa imen sa a. Mostração
Exc eto nas expe riê ncia s q ue prosseguem po r É possí vel . e muita s ve zes ind is pe nsá ve l. d e-
q ue. feli zm ent e, se subd ivi de e m tare fas parci ais: O c nce na dor most ra ao ato r o que espe ra del e.
mu itos anos, co mo a s de um BROOK. de um poi s da es tré ia : o diret or- ge ral tem mu itas vezes
ate r-se ao obje tivo global de um a ce na o u da peça; Este mod o de ag ir não tem boa ace itação c, com
BARBA ou de um a MNOUCHK tNE, o dir et or não necessidad e de " a pe rta r os par afusos" , fazer aju s-
e nco ntrar um " à vo ntade" voc a l, ge st ua l e com- e fei to, pod e es te riliza ro ator ; co ntudo , desde que
tem temp o de o fe recer a se us co median tes uma tes , supressão de ce nas ou de m o ment os impe r-
po rta rnenta l; regular a di stâ nc ia ou a proximida- seja um STREHLE R a util iz á-lo, é sempre um es -
fo rmação. e menos ainda um a deformação pro- feitos: ne sta etapa da produção, é pre ciso um a
de da person agem; cuidar da legib ilid ade e da pet áculo em si. um convite a fug ir do mimetismo
fiss ional acel erada . na qu al e les retom ari am as habilidade especial. A s aq uisiçõe s d o trabalho,
be lez a da gcst ua lidadc; dec id ir o ritm o exterio r e uma bênção para o ator.
bases fís icas e ps íqui cas do ator (descont ração , difi cilmente co nta bilizáveis, poderão se r pre se r-
das ações físicas visí ve is e o ritmo int eri or vinc u- va das para o pró ximo e s pe tác u lo o u pap el ; um
sc nsor ialida de. mem ória afetiva, co ncentração
lad o ao subte xto: ajudar o ato r a e nco ntrar sua b. De-m onstra ç ão es tilo de atua ção, um a e sco la de pe nsa me nto,
etc.), Ele qu ase não tem te mp o de sobra para
part itura e a subpartitura q ue a carrega etc . uma es té tica se rão e ntão co ns ti tuídas . facilitan-
"r cadc strar" atores . m uitas veze s defor mados por M. TCH ÉKHOV e E. VAKHTÂNGOV in venta-
Ist o post o, a rel ação e ntre o d iret o r e o ator se do futuras d ireções .
cha rlatãe s e co nd iç ões de traba lho med íocres . ram um a forma de m im ar , se m a pal avra , a lg uns
pe rsona liza e torn a-se també m freq üentemente A dir eção de ator não é , no fin al das con tas,
En treta nto , ge ne ral iz a-se a práti ca de estág ios mom ent os- ch ave do papel , rest itu ind o-lhes uma
co n fl ituosa : o ator fic a ma is ou men os "dcses- nada mais do que o pr óprio ce rne da ence nação
prep aratórios (Ar DAS, po r exe m plo). no decor- ati tude pertinent e. um ritmo . um ge sto psico ló -
rabilizado, tranqüilizado e inquieto" (RYNGAERT. e m sua dim en são human a e cotidiana; é e la quem
rer dos quai s o futuro en cenador de um es petá- gi co '.
37): seu d iret or deve " a po iá- lo , tranqüilizá-l o, co nd ic ion á se u sucesso . hum ano e artís tico. Esta-
culo testa sua di stribui ção de papéi s. veri fica as
com preendê- lo e cont ê- lo" (G UIGNON , 34) . E le ríam os errad os e m fa zer del a o bjeto de um a no va
ap tidõe s de se us atores, in vent a exe rcício s bási - c. Indicaçã o *
sem pre sabe usar de arti ma nha s e co ntar hist ó- ci ê ncia (à man e ira ru s sa, de STANISLÁVSKI e
cos q ue os introdu ze m . se m q ue se perceba . na O d iret or se limit a a dar uma ind icação. ve rba l
rias ao grupo o u a cada um e m part icul ar. a fim de t-IEIERHOLD a TCH ÉKII OV e VASSILlEV ). mas
obra a se r re prese ntada. Dest a ma neira, a intro- ou mí mi ca . so bre um as pe cto da atuaç ão ou da
esta be lece r um mí nim o de co nfiança e da r início se gur amente terí a mos razã o ao ex am ina r-lhe os
dução na cr iação se dá suave me nte .
ao trabalho co lcti \ ' 0 , o u "desb loq uea r o ator co m person agem; e vita im ita r aqui lo qu e espera de se u problemas e pistemológicos que são tam bém a
u ma fra se" , "fazer sen tir a acu ida de de um o lha r" int ér pret e. chave de tod a e q ualq ue r ave ntura teatr al .
2. A Direção Durante a Preparação da (MAYOR. 50) . Co mo e m qualquer rel ação int er-
Encenação pessoal. os não-ditos e os su be nte ndi dos são el o- d. Direção comandada
q ücntes: tu do não pod e e não dev e ser dit o, to- O ato r é di rigi do e co rrig ido enq ua nto atua . o DIREÇÃO DE CE N A
a. Leitura do text o dos dei xam esca pa r pequenos seg redos, lodos fo- q ue evi ta int errup ç ões muito freqü ent es e ins ta u-
Ela tom a cam inho s mui to di versos : o cncc- ca m um pouco naqu ela situação dos atores ideais ra um a din âm ica nos ensa ios tamb ém mu ito im- ê Fr.: r égi e; Ing l. : s tag e m a ua g cm ent ; A I.:
nadar o rganiza lon ga s j orn ad as de leitur as "de de MARIVAUX qu e não " sa be m a import ân ci a provisad os e a be rto s (VITEZ, 1994 : 135) . Biihncnre gic, Sp icl lcitung ; Esp.: rcgiduria.
mesa" : ex plica as opções de interpre tação, pre- da q uilo q ue estão d izendo" . Po rta nto . ca be ao d i-
para a d icç ão do te xt o , faz refl ex ões sobre as ret er re stituir-lhes o u não , to tal o u parcialm en te, O rganização mat eri al do e sp et ácul o pel o di-
e. Mími ca inf erior do cnce nado r
motivações das pe rs o nage ns para bu scar manei- a importância daquil o qu e dizem . ou a imagem re to r de ce na o u di ret or de palco antes, durante
do que fazem . torná-l os o u não con scientes da
É muito mai s útil ao dir et or que ao ator. porém e após a apr esentação . Antes do adv ento da (' 11-
ras pessoais de ca da um se co mportar ("o que eu
é igu almente tra ns m issíve l de um pa ra o o utro ; cenaç ão", no sé culo XI X. o trabalh o cê nico e ra
fari a se...?" ) . Às vezes. ao co ntrá rio. o d ireto r im po rtâ ncia daquilo qu e ex pressa m o u da im a-
ge m q ue destacam . O diret or se m pre descobre e m trata-se de um a " m ím ica int eri or, íntima e inte r- co nce bido co mo se ndo a úni c a atividade ex tra-
pro põe um a neutr alidad e voca l e cnt onati va da
leitur a, par a não fech ar a co m preensão do texto . seu ator um indi vídu o co m plex o , a pto a inurner á- na, daquil o qu e o o utro far á, daquilo que o o utro literári a e o d ireto r de ce na o rga nizava as ta refa s
O diret or decidi rá at é mesm o. co mo VITEZ, fa- vc is tarefas, de pod eres insus pc ita do s: ele tem a deve faze r" (VITEZ. 25). C o mpc te ao ator sabe r pr áti ca s (sa lvo al gum as exceçõe s: co rno IrF·
zer trabalh os que são pon tas de ensai os, "sem perspect iva ind ivid ual da perso nage m , m as tam- deci frar essa m ími ca interi or. LAND, dir etor de ce na do teatro de MANNIIEIM,

98
DIR EITA E ES QU E R D A DO PAL C O DI S C UR S O

por volta de 1780 , que tinha um pap el im portante O fran cês distingue encenado r (dirce lo r e m in- DIRIGIR-SE AO PÚBLIC O no ha pp eninv >, o nde não há mais -Ieori camen-
na d ire ção artí sti ca da cena. Toda o rganização do gl ês, Regiss cur e m a lemão) de diretor de ce na, te - e m isso r e rece pto r do text o) nu ne a é um a
palc o é, a liás, uma ence nação da qu al não se toma qu e é o resp on s ável pela o rga nizaç ão mat erial do ~ Fr.: adress e ali publ ic: lngl .: address lo 111<' co m unicação" diret a e co loca da fora da ficçã o ,
co nhec ime nto) . Após a co nscie ntização da ncces- espetáculo . Ent ret ant o, os doi s o fíc ios sã o com- t..: tllld it'nce; AI.: Anrede an s Publikum; Esp .: ma s lisonj ei a o gosto do públi co pel o j ogo e pe la
sida de do co ntro le glob al dos meios artís tico s, o plementares " pois, se o cncen ador cri a o espetá- tlpela ció ll ai público. desmi st ificaçã o .
diret or de cena c indi u-se em e nce nado r e direto r culo e lhe d á vida, o diret or de ce na o con serva,
de cen a no se ntido atual de respon sável pelo pal - garantindo-lhe a manutenção e a continuidade. À Há parte s do texto (improvisadas o u não) em ~ Apa rte, monólogo, par ábase , semio tizaçã o .
co, pr incipalm ent e quant o ao so m, à luz e à co n- medida qu e uma peça se apro xima da representa- qu e o ator, saindo de seu pap el de pers onagem ,
tra-r egra gem (a dire ção geral de cen a co ns iste e m ção, pod e- se di zer qu e ela passa da s mãos do diri ge- se diretamente ao públi co, ro mpe ndo assim
coord en ar as diversa s respon sabilidad es). O ale- en cenado r às do di ret or de cena, um pouc o como a ilu são e a ficção de uma qu arta parede" qu e se - DISCURSO
m ão co nse rvo u os term os Regi sseur, Reg ie, par a j á ha via pas sad o das mão s do aut or às do ence-
e
par a radi c alm ente a sala e o palco . (E nco ntra-se
en cenador e ence nação, ao passo qu e o fran cês nadar e dos ato res" (COPEAU , " L a Mi se en também o termo técnico latino ad spectatores .Y Fr.: disco urs ; ln gl.: discourse, speech; AI.:
a lgumas vezes ainda se se rve desse termo para Sc êne " , En cyclop édie Fran ça is e , tomo XVII, Disku rs ; Esp.: discurso.
design ar o ence nado r. co nside ra ndo -o , e ntão, à 1935, p. 1764 -17 63) , O diret or de cena se encar-
I . Na forma d ram áti ca *, dirigir-se ao públ ico é
1, o Di s curs o em Lin güística
man eira de VILAR ( 1955), mais co rno executante rega da o rga nização técnica da maquinaria e da
rigorosament e pro ibido, para qu e se mantenha a
q ue co rno intérprete cr iativo. Ent ret ant o, é inegá - cen a, enquanto o ence nado r gerencia o resultad o
iltlSiia * teatral. Isto só exi ste so b a for ma da pa-
ve lo im pac to estéti co , teóri co e dr amat úrgico da da o pe ração dos d iver sos mater iais e cuida de sua
lavra do autor" ou do di s cu rso m orali sta do Por um a transfer ên cia de metodol og ia - o u,
direção de cena sobre a enc ena ção. apresentaç ão es té tica . "O discreto charme da boa
rai sonneur" . Esta últim a form a de d iscu rso" é, em ce rtos casos, s im p les m ente de vocabul ário -
direção de cena" : es ta é a peça que o bom diretor
na verdade, um meio de am pliar a comunicação o dis cur so e sua problemática invadiram a cr ítica
de cena prepara par a se u en cenador, que quase
sempre é o único a rec olher os louros. int erna das personagens num a co mu nic ação di- teatral. Fal a- se de dis curso da ellcellação ou de
DIREITA E ESQUERDA DO reta com o público; ela é m ascarad a pela ficção discurso d a s personagens. É necessário pcrgun -
PALCO de uma personagem encarr eg ad a de transmitir o lar- se de qu e fo rm a a análise do discurso pode ser
LADO PÁTIO, LADO JARDIM DIRETOR DE TEATRO bom ponto de vista sobre a ação . aplicada no teatro , se m que isto se efetue atravé s
de um a apli ca ção mec âni ca dos instrument os da
~ Fr.: c ôt é co ur, càu: ja rdin; Ingl.: a udie nce's 2. N o teatro épico (BRECHT, WILDER, às vez es lingü ísti ca , e o qu e ganharia com isto a anál ise
~ Fr. : di re ct e u r d e thé ãtrc ; Ingl. : t h ea t re
t..: right; s/(lge left; audience's left, stage right; t..: man a gcr; AI.: Theaterleiter, lntendant; Esp .: GIRA UDOUX ), dirigir-se ao públi co é um re cur- cê nica e textu al.
AI.: rechts 1'011 Zuschauer , links m il Zuscha uer; Esp.: director de teatro . so co mu m , tão legítimo qu ant o o e feito de distan- A noção de discu rso vem de SAUSSURE e , na
derecha e izq uierda dei escena rio . c iu men to" o u O j og o par ód ico . E le oco rre no sua es teira, de BENVENISTE ( 1966 , 1974 ): a fra -
A figura do diret or de teatro , ad mi nistrado r, mom ento c ha ve da ação. qu an do a per son agem se provém do discurso e não mai s da líng ua . O
.I No Brasil, como nos Estados Unido s, o palco lnten dant a le mão o u art ista en cen ador nomeado amadurece sua decisão, qu an do e la pede conse- di scurso o põe-se. al ém do mai s, ao re lato : no rc -
-&:::1 é dividid o, a partir do ponto de vista de quem pel o go verno co ntribui g rande me nte não só para lho ao público o u qu and o co ne lui a peç a g raças a lato, "g rau zero da enunciação" , os "aconteci men -
está em ce na, em direita alta (fundo do palco) c bai - a ges tão , m as também para a esté tica dos esp et á- um cpilogo" (O C irculo de Gi z Cau casiano de tos parece m co ntar a s i próp rios" : o d isc urs o, ao
xa tfrente do palco ), e esqu erda alta e baixa (há tam- co ntrário, su põe um locu tor e um o uv inte c se
culos. Ele não pen sa se mpre co mo o diret or do BRECIIT , por exemplo). Dir ig ir-se ao púb lico é
bé m centro alio c baixo ). Esta denom inação servia o rganiza at rav és da co rre lação dos pron om es pes-
Pról ogo sobre o Teat ro, do Fausto de GOETIIE: muit as vezes incita ção ao bem ag ir (tea tro dos
(e ainda serve) para determinar tanto entrada s e saí-
"E u gos ta ria demai s de agrada r à multidão , so - jes uítas, mil agre med ieval) ou a tom ar con sc iên - soa is. Na origem , o di scur so é o ral , por ém pode
das de cena , quanto marcações. (N. de T. )
bre tud o porque ela vive e faz viver" ? " A cas ta cia de s ua alie nação . Tent ar es ta belecer um a pas- ainda se r co ns ide ra do sob a forma esc rita , poi s o
inf ernal dos dirct o rcs-cncenador es" , lam enta-se sage m entre o mund o da ficção teatral e a s itua- di scurso Ué tam b ém a massa dos escritos qu e re -
E m fran cês, o lad o pálio co rresponde ao lad o
J. LASSALE ( 199 0 : 30), antigo ad ministra do r da ção co nc re ta dos es pectado res . produ zem d isc ur sos o rais ou qu e del es e m pres ta
di rei to do palc o do pont o de vista do e spec tado r;
Corn éd ie-Française. o co nto rno e os fins : co rres po ndê ncias, me mó-
o lad o j ardim, ao lado esquerdo. Ant es da Revo -
O dire tor e stá ali para nos lembrar qu e a admi - 3 . O es tatuto da pe rso nage m qu e se d irige., mul - rias , teat ro . o bras di dáti cas - em resumo , tod os
lução, falava-se do lad o do rei , à dir e ita, e do lado nistração é parte integrante da criação: não ape- tid ão é , c o ntudo, ambíg uo : es ta se a pres e nta cer- os gêneros nos quai s algué m se dirige a a lgué m,
d a rai n ha, à esquerda (de aco rdo com a disposi- nas em relação ao o rça mento de funcio namento tamente como pessoa priv ad a , o at or X o u Y fa- se e nunc ia co mo locutor e organiza aqu ilo qu e
ção de se us assentos em frent e ao palc o ). O uso porém , mai s ainda, qu anto à programação: o di -
lando em seu próprio nom e e prop ondo me smo di z na ca tegoria da pe ssoa" (BENVENISTE, 1966 :
ve m do Teatro das Tulherias, situado e ntre o j ar- retor tenderá naturalm ente a propor assinaturas
ao público dialogar, mas não co nsegue nunca fa- 242) . Port ant o , pod e- se falar de discurso teat ral
dim e o palácio, e cuja topografi a deu o rigem a que assegurem um a temporada tranqüi la; recomen-
ze r esquecer o espaço cê nico de o nde ela está tanto par a a repre sentaç ão quanto para o text o
essa terminologia. dará exigências para peças ou estilos já comprova-
falando e seu estatuto dc per son agem : tudo o que dramáti co, o qu al es t á espera de uma enunci ação
à

dos; só assumirá co mpro misso com co-produções


e la pode dizer assume, desd e qu e proferido no cênica. "O texto teatral, observa 1\1. ISSACHAROf'F
rentáveis - são vári os os imp erativos econômi-
pal co , valor de texto a se r d ito int egrado à fic- [diríam os m ais exa ta mente o texto dralllálico] não
DIRETOR DE CENA cos que se imporão às jovens companhias ou aos
ção da peça e " pre-visto" pel a ence nação, dirigi- é um di scurso o ra l, a hem dizer [... l. é uma forma
enccnadores. Dessa forma, a políti ca cultural não
do a um espectad or ficuci o (c não-real ) j á previs- escrita conve ncio nal que repr esenta a oral " ( 19K5:
Fr.: rég isseur; I ngl. : stagc m all a g cr ; A I. : mai s garante a so bre vivênc ia da arte , me smo que
lo pel o es petác ulo. Dir igir -se ao públi co (exceto I I ). Dessa man eir a, de aco rdo co m es te uso, cn -
lnspizicnt; Esp.: rcgidor de esec na. mediana .

IOIJ JIJ I
D ISCUR SO
D ISCURSO

ção anterior ele press up õe etc. Des te modo, afir- substitu í-Ia pela ilusão de qu e e le es tá na fo nte do
tend e-se por d iscurso. co m M . ISSACIIARÜFF . "des multiplicação" camu fla a orige m da fala no
mam -se co isas qu e nun c a são ex pressa me nte se ntido" (MAI NGUENEAU, 19 76: 83) . Na análise
"aq uilo que singulariza o uso teatral da lingua- teat ro e faz do discurso um ca mpo de ten sões entre
verbalizadas. o que au menta ai nda mais a eficácia dos te xtos dramáticos, obse rva-se freq üentemente,
ge m. a partir dos en uncia dos (s ua dimensão ver- du as tendên cias opostas: uma te ndê nc ia a apresen-
ba l) até o não -ve rba l (sua d imen são visua l: ges- e a ação' do discurso. O manejo dos pressupos- no s d iscursos de person agen s antago nis tas , mas
tar discursos autônomos, m irn étic os e característ i-
lOS. mímicas. mov im ent o s, fig urinos, co rpos, tos é deixado à discrição do c ncc nador, porém este tam b ém no interior do texto de um mesm o ca rá-
cos de cada personagem em função de sua situa-
acessórios, cená rios)" (1985 : 9). deve observar ce rtas regr as : os pressupostos. uma te r, a presença de duas ou mai s form açõe s dis-
ção ind ividu al; e uma tendência de hom ogenei zar
vez evocados, passa m a se r parte integr ante do curs ivas, as quais, seg undo a teoria marxista, são
as di versas falas das personagen s por mei o das
e nunciado; e les se co nserva m e determin am a se- artic uladas co m base e m for mações ideológicas
2. Análise do Discur so e Discurso da marca s do autor, que são encontradas nos diversos
qüên cia da situação dra má tica ; não precisam se r corresponde ntes a diferentes co nd ições m ateriais.
Encenação discur sos e que dão certa uni formidade (rítmica,
repetid os e não deve m se r con traditos ou supri- Contudo, na prática da aná lise tex tua l, é delicadís-
léxica, poética) ao conjunto. Vem daí o antigo nome
midos caso o discu rso tent e parecer verossímil; simo le var em conta diferentes fo rmações ideo-
Se por discurso entende-se o "e nunciado con- de poema dramático ' : Nele, os dive rsos papéis e nfim, são um a ar ma t ática cuj o hábil man ejo lógi cas e disc ursivas, mas o te atro tem pe lo me-
side rado do ponto de vista do mecanismo discur- era m cla ramente subm etidos à enunciação "ce ntrá-
permite aprisio na r o ouvinte (a platéia), forçan- nos a vantagem (e a ilu são !) de pôr e m co nflito (e
si vo que o cond iciona" (GUES PIN, 1971: 10), o lizado ra" e uniformizante do poe ta.
do-o a aceitar um estado de fato e teleguiando "e m questão") dive rsos pontos de vista, e de visua-
discu rso da ence nação é a organização de mate- • D ial ogi smo e di alét ic a d o e n unciado e d a seu j uízo ideo lógico e estético (DUCROT, 1972 ). lizar a heterogeneidade do s discursos.
riais textuais e cê nicos seg undo um ritmo e urna
e nunc iação
interdependência própr ias do es petáculo encena -
Ao multipli car as fontes da fa la, ao faze r com que 3_Discurso co mo Ação Fa lada 5. Caracteres Gerais do Discurso Teatral
do. Para defin ir o mecani sm o discursivo da ence-
um cenário, uma ges tua lidade, um a mímica ou
nação , é preciso relacioná-lo com as condições
uma entonação "fa lem" tant o qu ant o o texto, a Co m efeito, o d iscur so tea tral se distingue do Não é possível falar de discurso teatral em ge -
de produção, as quais, por sua vez, dependem da
encenação instala lod os os suj eito s do discurso e d iscurso literário Oll "cotidiano" por sua força ral (co ntra riamente ao costume habitual) . Co ntu-
utilização particular feita pelos "autores" (drama-
instaura um dialogi smo e ntre todas essas fontes performática, seu pod er de, sim bolicamente, le- do, vam os enumera r muito rapidamente algumas
turgo, encenador, cenógrafo etc.) dos diferentes
da fala (BAKHTIN, 1970). O teatro é muitas ve- var a cabo uma a ç ão " . No tea tro. por uma con- d e suas propr iedades mai s freqüentes :
sistemas artísticos (materiais cênicos) que eles têm
zes o lugar onde a ideologia apa rece como que venção implícita, "di zer é fazer" (AUSTIN, 1970).
à sua disposição num dad o momento histórico .
fragmentada, dc scon stru ída, ao mesm o tempo É isto o que têm se m pre assina lado os teóri co s, a . O o u os assun tos es tão para se r descober-
Em lingüística, desd e SA USSURE. sabemos que a
ause nte e onipresente. "O dis cu rso teat ral é. por em particular os da épo ca clássica, na qual e ra tos . mu itas ve zes, aliás , lá o nde men o s se es pe-
fa la (e os discursos que produ z) é uma utilização
naturez a, uma interrogação sobre o es tatuto da impens ável pôr em ce na ações violentas ou mes- ra . Ass unto ideo lógi co e assu nto psic a nalít ico
e um a a tua lização d a lín gu a (dos sis temas
fala: quem fala a quem? E e m q ue co nd ições se mo aque las simp les me nte de d ifí cil mate ria - co m freq üência apa rece m dcscc ntrados ; a e nce-
fono lógico, sint ático e se mâ ntico) . Da mesm a
pode falar?" (U RERSFELD, 19 77 a : 265). Mais do lização. Deste modo , D ' A UB IGNAC observa que naç ão dá ape nas um a im agem a proxi mada e ilu -
forma. o discurso teatral (tex tual e cênico) é uma qu e qualquer outra arte e qua lque r siste ma literá - os discursos da s pe rso nag en s "deve m ser co mo sória de les.
tomada de posse dos sis temas cênicos, uma utili- rio , e le se presta a uma dissociação do enunciado as açõe s daq ueles qu e ap arecem e m cena, pois
zação individual de poten cialidades cênicas (mes- (o que se diz) e da enuncia ção (o modo de dizê- nela falar é agi r", de for ma que "toda tragéd ia, h . O di scu rso é inst áve l: ato r c en cc nad or têm
mo que o indivídu o - o suje ito do d iscurso - seja lo ). A ence nação faz os enunciados textu ais fala- na representação , co nsis te apenas num discurso" a li be rd ade de se di sta nciar do te xto , o mo-
co nstituído de fato por toda a equipe de realiza- re m muita s coisas que eram, no e nta nto, co nside- ( 1967: 2X2-2 X3). O di scur so teatral é o local de da l izar" e co nstituí-lo de aco rdo co m a situa-
ção ). Deve ficar claro que estes sujeitos do dis- rad as claras e unívocas, O ator/perso nagem pode um a prod ução sig nifica nte no nível da retóri ca, ç ã o de enuncia ção" ,
curso teatral devem se r distinguid os das pessoas mostrar ao públ ico, ao mesm o tempo , a ficção (a dos pressup ostos e da enunc iaç ão. Por isso. não
co ncretas da equipe teatral; e les se define m num ilusão) e a maneira discu rsi va e co nstru ída desta tem como única missão represe ntar a ce na, po- c. Ele é mais ou me no s cê n ico c gestual: sua
nível teórico (e não-real ) co mo sujeitos em per- ficção: " história" e "discu rso" (no se ntido de REN- rém contri bui r para re prese nta r-se a si mes mo " tradu tibilidadc" cê nica dep ende de se u ritmo";
manente co nstruç ão , que dei xam mais ou menos VENIST E, 1966: 237-250) coi ncide m na interpre- como meca nismo de co nstru ção da fábula, da per- d e sua ret órica, de sua qu alid ad e t ônica .
um rastro visíve l no enunciado cênico. Para po - tação da personagem. sonagem e do te xto (PAV I S, 19 78a ).
de rmos apreender este s sujei tos e m devir, ou seus
mecan ismos discursivos, procur aremos seu ras- ti . S ua colocação em si/Ilação re vel a, co nfo rme
b. Pressup ostos lógicos 4 . Formações Discur si vas
tro nas marcas da (a) enun ciação teatral e (bl nos se u g rau de precisão c de ex plic ação, e leme ntos
Tudo aquil o que é afi rmado ce nica me nte (pe lo qu e, de ou tro modo, permaneceri am oc ultos no
pressupostos lógico s que o di scur so introduz sub-
texto ou pelo palco) nem se mpre o é de forma Uma abord agem d a a nál ise do discurso - a da te xto (pro cesso de co nc retiz aç ão ) (tex to dram á-
rept iciamente:
direta. O palco, da mesm a form a que os pressu- pesquisa das form a ções d isc ursivas de um texto rico *).
postos lingüísti cos, recorre co ns tante mente a im- - , ao ser aplicada ao teatro. prome te resultados
a. Enun ciação teatral
plicações que ultrapas sam os sim ples enunciados inter essantes. Esta teoria po stula que "uma se- c. O discurso é mais ou menos diolético " : vincu -
• Discurso ce ntral e discurso da personagem visíveis e que são dedu zid as por co nvenção ou qü ência . um enunciad o só tem 's e ntido ' para um lad o às mudanças d a situação dramáti ca , ele se
A enunciação é assumida em dois níveis essen- as sociação daquilo que é visíve l ou enunciado: suje ito na medida c m qu e ele co ncebe que ela e ncad eia em função dos co nflitos dram áticos ou
ciais: aquele dos discurso s indi viduais das per- deste modo, a presença de um obje to cê nico bas- pertence a esta ou àquela formação discursiva, mas de suas resoluções; ou, ao co ntrário, é guiado ape-
sonagens, e o nível do discur so globa lizador do ta para evocar um ambien te, para se perguntar por (que) es te mes mo s uje ito recu sa esta idéia para nas pe lo acas o , pelo dito es pi rituoso , pel a idéia
autor" e da equipe de encenação. Esta primeira quê e por quem e le foi posto e m ce na. qua l situa-
/(J)
/ 02
DISF ARCE D IS TÂN C I ,

repentina ou pel o "a chado" (DÜ RREN MATT, 2. A Situação Fundamental no Teatro Q:i Foresticr, 1988. [rcmdungscffek t ; tradu zid o incorr etam e nte por
197 0 : 57 ). distanciam e n to> : um a tradu ção mais ade q uada
O tra vestimc nto não é excepcio na l no teat ro ; se ria ef eito d e estra nh amento ).
f O d iscu rso dram ático é um a for ma conver- inclu sive, é sua situ aç ão fu nda menta l. pos to que DISPOSITIVO CÊN IC O
sac io na l qu e tende, segundo WI RT Il ( 198 1). a o ator br inca de se r outro. e sua per son agem , u. Ante s de mais nad a, d istância é. co nc retamen-
substituir o diálogo-conversa (troca dramát ica ): co mo " na vida " . a prese nta-se aos dem ai s sob te. a rela çã o palco -p lat éia", a perspec tiva " do
~ Fr.: d isp osit if sc énique ; lngl. : stage (lrrall -
" No diálogo-con versa ' , o es paço da fala se con - di versas m ásc aras, e m função de se us de sej os e t..: gemelll; AI. : Biihncngestalt ung ; Esp .: disp osi- p úblico e o seu grau de parti cipação - ou pel o
fund e co m o es paço cênico. Nas fo rmas não- projetos. O di sfarce é a marc a da teatralid ad c , tivo escénico. menos de integr ação - física na representação.
co nve rsac ionais do diseurso (dirigi r-se ao públi - do teatro dent ro do teat ro e da mise en abyme * Co m efei to, a c en og rafia " é ao mesmo tem po o
co, por exe mplo), o espaço da fala inclu i a platéia da repr esent ação. Ele não pode pri var-se da co- O term o disp os itivo c ênico, usad o hoj e co m efei to e a eausa de um a ce rta dram atur gia, se ndo
do mesm o modo que o palco" ( 198 1: 10 ). nivência do públi co. o qual deve aceitar esta co n- bastant e freqüên cia. indica que a ce na não é fixa que ela re for ça o efe ito dramatúrgico caso con si-
venção mater ial izad a que co nsis te no di sfa rce . e que o ce ná rio não es tá planta do do início ao fim
c.J Se miolog ia. dito e não-dito. conc retização, " A verdade do teat ro não é aque la da realidade. da peça: o ce nóg rafo d ispõe as áreas de at ua ção,
ga adaptar-se às exigênc ias de um a visão de mu n-
~ pragm au ca . do e de um mod o de esc ritura.
Ora, o tra vest i no tea tro, tal co mo de ve ria se r os objetos, os planos de evo lução de acordo co m
em pregado, le va o co nju nto da repres e ntação a ação a ser represent ada, e não hesita e m variar
W Fontanier, 1968; Foucault, 1969, 197 1; Schrnid,
teatral para u ma tra ns posição gera l, qu ase incvi- esta es trutu ra no decorrer do espe tác ulo . O teat ro
b. Por extensão. a d ist ânci a torn a-se um a atitude
1973 ; J aff r é, 1974 ; Van Dij k, 1976; Pavis, do ego e m face do objeto estético . Ela vari a entre
I 978a. 19830 , 1985e ; Kerbrat-Orecchio ni, 1980. I:ível" (DULLlN, 19 6 9 : 195 ). é um a m áquina " de represent ar. mais próxima dos
dois polos teóri cos:
1984; Elam, 1984; U. Jung, 1994; Danan, 1995. brinquedo s de co nstrução pa ra crianças do que
- a dis tân cia " zero" ou identificação " tot al c fu-
3. Formas de Disfarce do afresco decorati vo. O disposi tivo cênico per-
mite visualizar as relações entre as per sonagens, são co m a pe rso nage m;
e facilita as evoluções gest uais dos atores. - a distância máxima. que seria o desinteresse total
DISFARCE O travcstimen to se efetua, em geral, graças a
pela ação, ass im que o espectador deix a o tea-
uma troca de figuri no ou de máscara (portanto, de
~. Espaço. percurso. palco, prat ic ável . tro e fixa sua ate nçã o em outra coisa. Esta di s-
~ F r. : d ég uis ement; In gl. : dis gui se; AI. : convenção própri a de uma personagem). Porém.
tância é calcu lada por rupturas de ilu são no
verkleidung ; Esp.: disfr az. ele é tamb ém acompanhado por uma mudança de
mo men to em que um elemento da eena pareç a
linguagem ou de es tilo . por uma modifi caçã o de
DIST ÂNCIA invero ssí mil. Po rta nto. a distância é urna no -
I . Possibilidades do Disfarce comportamen to ou por uma interferência nos pen-
ção aproxima tiva, s ubjetiva e dific il mente
sa mentos o u se ntime ntos reais. O " rravesti mcnto -
sinal" indica ao es pectador ou a uma personage m ~ Fr.: d istance; Ingl.: di stancc; AI.: Di st a ni; men sur á vel - e m suma, metafórica.
T rav es time nto de uma personagem que mud a
de identidade ao mesmo tempo que troca de rou- que existe cla ramen te um mascaramento provisó- t..: Entfernu ng ; Esp.: d istan cia .
pa ou de máscara" , algumas veze s às escondidas rio. Em compensação, o "travestimcruo-vertigern" 2. Distânc ia C rítica
de outras personagens ou do público, ou tras co m desorienta os obse rvadores: não se tem nenh um O es pe ctador - e, em se ntido mais a mplo, o
co nhec ime nto de uma parte das pers onagens ou ponto de referênc ia e todo s enganam a todos co mo rece pto r de uma ob ra de arte - estabelece um a A tomada de dis t ância tem, em nosso uni ver-
do pú blico . A transformação pode se r individu al num haiIc de máscaras. d ist ânc ia quando o espetácu lo lhe parece tot al- so cu ltural. u m tom positivo e crítico. É meio Ver-
(uma pessoa por outra). social (uma co ndição por A função ideo lógica e dramatúrgica do traves- mcnte exte rior. qu ando não se sente envo lvid o gonhoso ca ir na armadi lha da ilusão e alienar seu
outra: M ARI VAUX), política (por exemplo: Me - timent o é infin itam ent e varia da. embora na maio- e mocio na lme nte por ele ou qu ando nun ca conse- j uízo : é melh or, co mo se sa be. manter certa d is-
dida po r M edida), sex ual ( BEAUMARC HAIS) . ria dos ca sos e le pro picie uma medit ação sobre a gue esquecer qu e est á diante de umaficçtlo " Por tância. É nes te co ntex to cog nitivo que BRECII T
O disf arce é uma técnica empregada freqüe n- realidade e a aparência (MARJVAUX) , sobre a ide n- extensão , a dis tâ ncia é a faculdade de usar o ju ízo foi levado a elaborar s ua c rítica da identificação *.
tem en te. e m part icul ar na co méd ia. pa ra produ- tidade do hom em (P IRANDELLO. GEN ET) , sobre crítico. de resistir à ilus ão " teatral e de de tect ar A recu sa da distância con duzirá os ence na -
zir tod a es péc ie de situações dra maticam ente in- o dcsvend amcnt o da verda de. Na intriga, o di s- os p rocedimen tos" da represen tação. dores. ao co ntr ário. a ativa r a participação " d o
tere ssant es: men ospre zos, q üip roqu ás" ; go lpes farce provoca os co nflitos. ace lera as re velações. O co nce ito de d istância é usado. na teor ia lite- púhlico, prenden do -o e mociona lme nte à ce na,
de teatro" , teatro dentro do teat ro' , voye urismo. perm ite as troca s de infor mações e os con front os rá ria ro ma nesca , princi palm en te pa ra indi c a r tentando de rrubar a se pa ração entre pa lco e pla-
O d isfa rce "s upe rtea traliza" o jogo d ramático . "d iretos" entre se xos e classes. Revcla dor e su- como o narrado r se situa c o m resp e ito à su a té ia e, e m certos casos- limite, fazendo atores e
qu e já se baseia na noçã o de papel " e de persa - cinto, o tra vcsti s mo é uma conv enção dramáti ca e nu nci ação o u aos se us enu nciados ou, a inda, a cidadãos pa rtici parem de um mesm o culto, de um a
nagem" que travestcm o ator. mos tra ndo deste ideal para quem deseja ca ptar a identidade e a suas personagen s. mesma ação po lític a. ou unindo-os num a mes ma
modo nã o apenas a cena. mas tamb é m o o lhar evolução dos prot agon istas. Ele assume o caráter com unhão (jes ta*, happeningrv.
dirigido à cena. O disfarce é apresentado como ve- de um dcsv cnd amento platônico e herrnenêutico I. A Metáfora Espacial no Teatro A toma da de di st ância do jogo teatral não é
rossímil (na representação realista) ou como con- da verdade ocult a, d a ação futura e da conclusão uma sim ples questão de dispositivo c ênico s o u
venção* dramática e uma técni ca d ra m nuirgi ca, da peça . Su a funç ão é freq üentemente subversi - Como o esp ect ad or é co loca do d iante do pal- de ence nação. Ela dep ende, sobretudo, dos valo -
necessári as ao dramaturgo para tran sm itir a in- va. visto qu e o disfarce nos autoriza a discorrer co, numa xirnbi osc mais ou me nos estre ita com res da co munidade teatral . de seu s cód igos cultu-
form ação de um a outro caráter, para facilita r a acerca da am bigüid ade sexoai ou sobre a inter- o aco nte c ime nto . a imagem de sua di st ân cia psí- rais e do es tilo de interpretação e do gê nero d e
progressão da intri ga e dasatar os fio s no fi nal cambialidadc dos ind ivídu os e das classes (S IJA- qui ca para co m a re present ação se imp ôs, so b re- es petácu lo: a tragédi a - e tod as as formas em qu e
da peça (MAR IVAUX, MOLl ÉRE ). KESPEAR E, llR ECIJ T ). tud o a partir do c élebre Effl'k l hrcc ht ia no ( \0,.- pairam a morte e o de st ino - é apropriada pa ra
/ 0 -/
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D IS TAN CIA MENTO DIT O E NÃO -D iTe

juntar o público e fazê- lo ade rir em bloco aqui lo co nst roem suas personagens , Todos os gêneros • Em sua a fllação , o ator não e nca rna a perso- (a través de so rteio , po r exemplo) , en con traria seu
', .
que lhe for a presentado. A comédia , em compen- te atra is recorrem a isto . ~ .
nagem ; ele a mostr a, m ant e nd o-a à d istância. equ ilíb rio e tudo se mpre acaba faze ndo se nti -
sação, não preci sa " manter" o púhli co ligado ao do " (V ITEZ, An nuel du Tltéâ rre , 19 8 2 -1 9 83, p.
• Dirigir-se ao público ' , songs", mudança de
acontecimelllo; e la provoca o so rriso crítico po r 2, Di stanci amen to Brec htiano cen ários à vis ta do p úb lico são ou tros tant os pro -
3 1). Com efeito, a c riação te at ral não es tá mai s
s ua inve nção na co nd ução da intriga; seus proce - obcecada, co mo no s éculo XIX , por exemp lo ,
ce d ime ntos que q uebram a ilusão.
di mentos parecem se mpre art ific iais e lúdicos. a. Uma percepção politica da realidad e pe lo s emp lois "; a cujas o rde ns os at or es teri am
de co loca r-se. Qualquer qu e seja a concepção, a
~ Relação teatral, rece pção, comunicação.
BRECHT chego u a uma noção próxi ma daqu e- 6,) Historicização, ép ico, efeito de estranhamento,
di stri buiç ão a prese nta-se aos criadores co mo um
la dos formalistas ru ssos , ao procurar m od ifi car a ~ . met at eatro , teat ro dentro do teatro, m IJe ell
m oment o fundame nta l, a escolha "mais irre me-
at itu de do es pectado r e ativar sua percep ção . Para aby me.
Brecht. 1963, 1970; Starob inski, 1970; Booth, d iável e , po rtant o, m ai s grave" ( LASSALE, ibid.,
1977; Pavis, 198Oc. e le , " uma reprod ução d ist anciad a é um a rep rod u-
ção qu e per mite seg uramente reconhecer o obje- LJ:i Banh es, 1964 ; R ülieke-Weiler, 1968; Benj a- p. 20 ). "q ue co mpro me te to do o sentido da peça"
min, 1969; Chiarini , 1971 ; Bloch, 1973; Knopf, (V ITEZ , p. 3 1).
to reprodu zid o, poré m, ao mesmo te mpo, tomá- D ividem -se as o pi niões so b re a ut ilid ade de
1980,
DI STANCI AMENTO lo insólito" (Peque/lo Organon, 1963: § 42). O d ist rib ui r os papéi s dent ro de uma mesma famíli a
d ist anc iam ento é " um proc edi mento q ue pe rmite de atores - fato que pode prop o rci o nar gan ho de
Fr.: distan ciation; lngl.: a lienation effect: AI.: de sc rever os processos rep resenta dos como pro -
~
DISTENS ÃO CÔ M IC A tem po, a prove itando -se a experiê ncia adq uirida
"t.; verfremdu ngseffckt; Esp .: distanciamento. cessos hi zar ros" ( 1972: 353). " O efei to de di st an - - o u, ao co ntrário . de regene rar o g rupo ao acre s-
c ia mento transfor ma a atitude ap ro va dora do es- ce ntar-lhe novos eleme ntos, objeti vando varia r ex -
~ Fr. : d étent e comique ; l ngl. : com ic relie]; AI.:
Proced iment o de tomada de distância da reali - pectador, baseada na ident ificação , numa atitude "t.; koniische Entspannung; Esp .: esparcim ien to peri ê nci as e es tilos.
dade representada: esta aparece so b um a no va crítica. [... 1Um a im agem di stanc iante é uma ima- cô mico. A moda atual, de co ntra tar uma estrel a (de ci-
per spectiva, que nos revela se u lado ocu lto o u gem feita de tal modo qu e se reconheça o objeto, nema, se possível), continua a grassar, porém às
to rna do de masiado familiar. porém que, ao mesm o tem po, es te tenha um jeito O momento (ou a cena) de d iste nsã o cômica veze s a e mpresa teatr al precisa de tai s in vestimen-
estranho" (Peque/lo Organon, 196 3 , § 42). aco ntece depois o u exatame nte antes de um epi- to s . Assim , investido pel o passado e pel a aura de
I , Dista nciam e n to como Princípi o E stético Para BRECHT, o dis tan c iame nto não é apenas só d io dramático o u trágico a fim de mudar radi- uma estrela, o pape l cheg a às vezes a desviar o
u m at o es té tico, ma s, s im , político : o e fe ito de ca lmente a atm o s fe ra da sit uação e reta rda r o se ntido da ence nação e a enriquecer a pers ona-
o te rmo " efe ito de d ista ncia mento" provém es tranhame nto não se pre nde a um a no va per - desencadeame nto da ca tástrofe (pa rticularmente ge m e a peça com um a dime nsão m ítica que re-
da tradução do termo de C HKLOVSKf: "ri em cepção ou a um e feit o côm ico, m as a um a de- e m SHAKESPEARE, e nos d ra ma turgos que prati- no va sua lei tura .
ostraneni j a, " proced ime nto" o u "e feito de es- sa lienação ideol ó gica (Vc rfremdung re m et e a cam a mistura de gê neros) . E la desempe nha um a
tranhament o" . É um procedimento * estético q ue Entfremdung; a li ena ção soc ia l : c]. BLOC H, fun çã o de susp e nsão temporária , de suspense * e
co ns iste em mo difica r nossa per cep ção de uma 19 73 ). O di sta nci am ent o faz a o bra de arte pas- d e prepa ração para a ação d ramática, DITIR AMBO
imagem liter ária, po is " os oh jetos percebidos sar do pl ano do se u pro cedimento es té tico ao da
muit as veze s co me ça m a se r perceb idos por um resp o nsa bili dade ideol ó gi c a da ob ra de arte . ~ Fr. : dit liyramb c; I n g I.: d ithvra mb ; A I. :
reco nheci me nto: sabemo s qu e o obje to se en- DISTRIB UI Ç Ã O "t.; Dithyrambus; Esp .: ditirambo.
co ntra à nossa fren te , ma s não o enxe rgamos h. N íveis de dis tan cianten to
mai s. [...) O proced iment o da arte é o procedi- ~ Fr. : distribution : Ing l. : ca SI, casting; AI.: Send o em sua origem um can to líri co para
O di sta ncia mento se e fetua sim ultaneamente
ment o de s ing u la riz a ção do s objetos, e o proce- "t.; Besctzung , R ollcnverteilung ; Esp.: r eparto . g lo rificar D io niso, int erpret ad o e d an çado po r
em vá rios níveis da re prese nt aç ão te at ral:
diment o qu e consis te e m obsc ure cer a forma, em corcutas co nd uzidos pe lo co ri fe u, o di ti rambo
aumentar a dificu ldade e a duração da perccp - • Afábula conta d uas histórias: u m a é co ncre ta, Ma nei ra pel a q ua l são at ribuídos ao s ato res os evo luiu , no tadamente co m SIMO NIDE DE CÉOS
ção . [... J O objetivo da im age m não é torna r mais o utra é sua parábol a ab strata e m et a fó ric a. pa péis de um a pe ça . Por ex ten são , co njunto dos (556-468) e LASOS D' HERM IONE, pa ra um di á-
próxi ma da nossa comp ree nsão a significação integrantes de lim a peça. lo go , re s u ltando, segundo AR ISTÓTELES, na
• O cen ário aprese nta o objeto a se r reconhec i-
qu e e la ca rrega em s i, m as c riar uma percep ção D urant e m ui to tempo, pen so u-se que a distr i- tr a gé d ia .
do (cx .: a fábri ca ) e a crítica a se r feita (a ex-
particul ar do objeto, cria r a sua visão e não o bui ção de veria, intei ra e n at uralm ent e, dep en-
ploração dos ope rá rios) (BREC HT, 19 6 7, vo l. 15:
seu reconheci mento" (C HKLOVSKf, in TODO- der do text o e d as in d ic açõe s cênicas do autor.
455-458 ).
ROV, 1965: 83, 84 , 90 ). A maioria do s encenadores cont inua a efetuar a DITO E NÃO-DITO
Este princípio estético val e para qua lquer lin- • A gestualidade infor ma so bre o indivíduo e di stribuição em fun ção de sua leitura, com, no
guage m artística : aplicado ao teat ro, ele abra nge sua pertinência soc ia l, sua rel aç ão com o mundo e ntanto, todas as coer çõe s institucionais e im- ~ Fr.: dit ct non -dit; Ingl.: spoken and unspokcn;
as técnica s "desilusionantes" que não mantêm a do trabalho, se u gestus" , previstos das di sp oni bilid ad es de ca da um. Atual- "t.; AI.: Gesp rochene s und Unausg esp rochcncs;
impr essão de uma realidade cê nica e que revelam mente algun s ach am qu e , inversa men te, a esco- Es p.: dicho )' 110 dicho.
o artifício da co ns trução d ram ática ou da perso- • A di cção * não ps ico log iza o te xto , banali zan - lh a mai s ou men o s fortu ita de uma dis tribuição
nagem. A ate nção do espectador se diri ge para a do-o ; ela lhe res titui o ritmo e a fatura artifi cial é q ue irá dar m ais se nt ido à en ce nação : "Mes mo Q ue dize r do não-dit o ? E, pa ra co meçar, o nde
criaç ão da ilusão , para a manei ra com o os ato res (ex .: pro núncia musical dos a le xand ri nos ). se , por hip ót ese , el a tives se sido fei ta às cegas local izá -lo? Tanto o tex to dram ático" q ua nto a

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DRAM A L tT ÚI{ G t C O
D I V E RTI S SE~ I ENT

ence nação são necessar iamente inco mp let os, não W Elli s-Fe rm or, 19 4 5 ; D ucr ot , 19 72 ; Miller. mas ou rev is tas são co nservados c m a rquivos ina - signar a obra teatr al ou dr am áti ca, e le é usado em
d ize m tud o so bre o sentido de uma perso nagem , 1972 ; Ubc rsfeld , 19770 , 1977" : Pavis, 1986a . cessíve is , pois a inda não foram classifica do s ou francês apenas para qua lificar um gê nero e m par-
uma ação o u algum e lemento ex travcrba l; com- aco nd icionados em caixas que serão aba ndo na- ticular: o drama burguês (do sécu lo XV III) , e pos-
pctc ao leitor ou ao espec tador comp letar a e lipse , da s em cd ifíc ios pú blicos. A docum ent a ção mal teriormerue o dra ma ro mântico e o dram a lírico
as reticência s, o im plícilo ou o indizíve l. DIVERTISSEMENT exp lora da tran s forma-se na mort alh a do pesqu i- (no século XIX ).
sador. Os obje tos realmente preciosos (e sboço s Nu m se nti do ge ra l, o drama é o poem a dram á-
I . O disc urso da person agem é sempre incem- e (Do francêsdil'ertiJsemellt, d ivcnimcnt o.) ou m aqu et es de cen ógrafos) foram ou d isp er sos,
ou vendido s pe lo artista ao cabo da pre pa ração
tico, o texto escri to para d iferentes papé is e de
aco rdo co m um a açã o co nflituosa.
pleto, A lgu ns pen sam enl os, algumas de suas mo- Fr. : di ve rtiss ement; In gl. : en te rta tnment,
tivações permanecem desconhe cidos para nós (c incidenta l ba llc t; AI. : Un tcrhaltung , Ball eteiníag e ; do es petác ulo. So mente no caso de se fazer um
para ela), sej a porq ue ela é ass im carac terizada, Esp.: ent retenimieruo. arquiva me nto sistemático, utilizand o- se a info r- I . No século XV III . impulsionado por DIDEROT,
seja porq ue a es tratég ia do text o optou por dei - mática, prin cip almente os CD-RO Ms, é qu e o pro- o drama bu rgu ês " é um "g ê nero sé rio" , int erme-
xar-nos na ign orân cia, a fim de manter o suspens e, Nos s éculos XV II e XV III, os espetáculos era m blem a do ar ma ze na me nto e da co nse rva çã o d e diário entre a co méd ia e a tragédi a (burgues a).
ob rigar-no s a co ncl uir o text o ou a di vertir-nos inter calados ou freq üe ntem ent e arrema tados por docume ntos poderá ser resolvi do. Isto imp lica qu e
com seu in acaba men to . um di ver tissement, um a es pécie de inte rm édio > seu recolhiment o soube enco ntrar os II lOtIll //l CIl - 2. Victor HUGO advoga rá a caus a de um dra ma
dançado e ca ntado . Gê nero misto, situando -se ao l os restant es da represent ação para co letá- los e rom ânti co em pro sa, procuran do, tamb ém e le, li-
2. Tamb ém a própri a fábula está cheia de não-di- mesm o tempo na ficção teatr al e no espaço so- transform á-lo s e m do cument os fac ilme nte expl o- bert ar-se da s regr as e das un idades (sa lvo a de
tos - quer os denominemos pontos cegos , locais cial, por vezes o di vert issem ent resume a peça , ráveis. Em suma, o processo de docu ment açã o ação), multip licar as ações espetacul ares, mistu-
de indet erminação (INGARDEN, ISER), buraco s tira as conclusões mor ais de forma brincalhona, exige uma clara co nsciência teórica daquilo que rar gêneros, visando uma síntese entr e os ex tre-
(UBERSFELD, 19770) ou incon scien te do texto , pede os bons auspícios da platéia, oferece-lhe árias o tratamento das inform ações pe rmit irá co letar e mos e as épocas , invoc ando o drama shake spea-
Aliás, tod o texto é, por natureza , in compl eto, in- conhecidas e populares para passar mais agrada- explorar; ele depende de todo o proc esso de pes- riano : "S hake spca re é o drama, e o drama qu e
velmente a mensagem e termina com canções. fund e nu m mesm o so pro o grotesco e o sublime,
coe rente, trabalhado pelos pressu spostos c pelo quisa * e do olhar que este baixa sob re o objeto
implícito (pra gm á tica *). A tarefa do dra maturgo * qu e se está tentando docurneruar. Desta forma. a o terrív el e o bu fão, a tragédia e a comédi a: o dra-
c do encenado r é reconstituir um cami nho poss í- documentação tem melhores probabilidad es de ser ma é o ca ráte r própri o à terc eira época da poesia
vel através do texto dramátic o, estabelecer- lhe a DOCUMENTAÇÃO he m explo rada caso se consiga assoc iá-Ia a uma
da literatu ra atual" (Prefá cio de Cnnnwell i .
fábula e prop or-lhe uma co ncretizaçã o possível.
Tod os os meios são bons para red uzir estes bolsões e Fr.: do cum ent ation ; lngl.: docum entati on; AI. :
Dokurnen tat ion ; Esp.: do cu mentaci án .
ex pos ição (se letiva, por consegu inte), a um pro-
j eto d e pesq ui sa (e m dcvir, port an to ) ou a um a
3. O d rama po étic o (ou lír ico ) chega ao auge
no fina l d o sé c u lo X IX c o m l\lA LLA RMÉ,
de não-d itos, porém nem todos são igualmente j u- d iscussão teóri ca , se mpre e m vias de for mul ação.
diciosos. Em primeiro lugar, é preciso decidir aquilo RÉGNIER, l\lAETE RLl NCK, HOFMANNSHI AL.
Do ssiês atual izados e man useáveis, urn a bibl io -
quc se quer qu e o texto diga, e, sobretudo, qual a Para esc rev e r a histó ria de um a represent ação, E le provém das fo rmas mu sicais da ópe ra, do
teca idea l, um es tudo pro visó rio dos lugares e das
modalidade " que atribuímos ao dito: é preciso acre- de um teatro ou de um artista de teatro, o pes qui- orat ório, da cant ata e do drama lír ico ital iano ;
teor ias certamen te aju dariam a me lhor es tru turar
ditar nele, sugeri-lo, oferecê-lo co mo uma possibi- sado r pre cisa de um mínimo de docum entação . por ém se despren de d a infl uência mus ical co m
os mate riai s in form es da document a ção,
Ele a encontrará e m sua s ano taçõ es e nos arqui- o dr am a "fi u de si écle"; qu e é co mposto co mo
lidade ou uma cert eza etc. Em última análise, esta
vos. ou em o b ras j á pub licadas sob re temas próxi - reação às peça s natur a lis ta s. O drama lír ico co n-
grave questã o he rmen êutica" fica por conta da en- ( ...., Estudos teatrais, did asc álias . cade rno s de cn -
mos. Bib liotecas e mu seus " de teatro lhe fornece- té m u ma ação limitad a e m exten são, a in triga
cenação e dos intérpr etes. .~ . cenação.
rão um a reser va de info rmações que nem sempre é não possu i outra função se não a de prop or cio -
3. Os não-d itos da ence nação s ão lidos na ma- fácil aproveitar. Em qu e co nsiste, em ge ral, a do -
cumentação? Os tex tos, gra vad os ou transcritos .
m Veinstcin. 1983; Hiss, 1990. nar m o m ent o s de c st ascs líric as. A aprox imação
do lírico e do d ram ático pro vo ca uma descs-
neira pe la q ua l e la decide explicitar o u, ao co n-
não são mais do qu e um rastro muit o tênue - no truturação d a fo rm a trá gi c a o u dr am áti c a. A
trário, "co m plicar" o texto, dand o informa ções
sentido literal e fi gurado - d a representação . A músi c a não é ma is um co m po ne nte ex te rio r
sobre as mo tivaç ões das perso nagens, sobre os DR AMA
encenaçã o, e m co ntra partida, recebe tod a a rea- acrescen tado ao te xto : é o próprio texto q ue se
funda men tos psicológicos elou soc ioccon ômicos
lidade am biente por in te rmédio do reflex o qu e o " musica liza" num a sé rie de moti vos, fala s e poe -
de seu co m po rtamen to - em resum o, perm itindo Fr.: drcunc; Ingl.: drama ; A I.: Schauspie l; Esp.:
palc o dá dela , e o pa lco não se deixa arma zena r drama.
mas qu e tê m va lo r e m si e nã o em fun ção de
adivinh ar aqu ilo qu e STANISLÁVSKI chamou de
facilmente: os document os brutos (figurinos, ce- um a estrut ura d ra má tic a c larame nte desenh ad a.
subtexto ". Al gun s consideram es te não-dito "ex-
presso" pe la e ncenação e pelo ator co mo uma trai- nografia. obj etos etc.) são ma is apreciados por j No Brasil. de modo genérico, para um públ ico
ção e m rela ção ao texto dram áti co ; parece-nos fetichistas do qu e por pesqui sadores e computa- - ~ i:1 não-especializado, drama significa o gênero W Szondi , 1975a: Sa rrazac, 1981: l lub ert , I'iHX.

mais j usto fa zer disso o que está e m jogo na en- dores. Os document os anexos, tais como as fon- oposto a comedia. E, dentro de uma tradi ção ameri-
tes pictóricas, arqui tetôni cas ou lúdicas da repre- cana adotada por nosso teatro, o drama é imediata-
cena ção , a forma de dizer o não-dit o, de pro duzir
um sentido. sentação pert encem ao dom ínio ilimitado da arte mente associado ao drama psicol ógi co, (N. de T.) DRAMA LITÚRGICO
e da cultura, não se ndo consultá veis a não ser qu e
0 . Silênci u , discurso, inte rpre ta ção , ence nação, o espec tado r j á tenh a conheci me nto deles e rem- Se o grego drama (ação) resulto u, e m inúme-
ras língu as e uro péia s, no ter mo dra ma pa ra de-
Fr.: dramc litu rg iqu«; Ingl.: [iturgi ca l d ram a :
A I.: geis tlisc he s Spirl; Esp .: drrnna litú rgico.
~ . text o c cena, po para reex a min á-Ios. Freq üente men te, progra -

l OS 109
DR AMÁTI C O E ÉPICO DR A M ÁTI C O E É P I C (

Surge na França d os séc u los X ao XII com a tagern paralela permitirá situa r melhor a dialéti ca ( I) TEATR O DRAMÁTICO TEATRO É PIC O
representação dos text o s sag rados. Durante a mi s- d o dramáti co e do épi co.
sa, o s fié is inter vêm no cant o e na recitação de I. A ce na (o palc o )
sa lmos c de co me ntá rios da Bíblia (c iclo da P ás- 2. O Dramático e o Épico de Acordo com
coa em torn o de temas da Ressurreição , de Natal , ..., A cena é o lugar da ação . A ce na não é "transfigurada" pelo lugar da ação ; ela
Brecht
em tomo da Nat ividade). Pouco a pouco, são-lhe I"
e xibe su a materialidade, seu caráter o stcruat ório e de-
acrescentad as cenas do Velh o e do Novo Testa- (Ver quadro I p. 111.) mon strativo (pódio). Ela não cncarna a ação. mas a
mento, o gesto se soma ao canto, recorre-se não m ant ém à distância.
mais ao latim, mas ao franc ês (drama semi- Esta dupla atitude do espectador em face da re-
litúrgico) nos sainetes * interpret ados no átrio d a J. Acontecimento pre sente/passado
presentação é igualmente teorizad a por BRECIIT,
igreja ( 1175: Santa Ressurreição, em língua vu l- na sua comparação entre Teatro do Carrossel e o aco ntecimento se des en rola à nossa fr ente, 1Jum pre- o aconteci me nto passa do é "recons tituido " p elo aIO
gar). O drama litúrgico produzirá os miracles * e Teatro do Planetário (BRa::HT, 1972: 516 -522) sente imediato. da Ilarraçüo.
os mist érios ", (Ve r quadro 2 , p. 111). - Q uer-s e fazê-lo re vive r para nó s. - Q uer -se exp ô-lo a nós "com vagar".
- Ele se limi ta a mome nto s excep cion ais da atividade - Elc constitui uma "totali da de"; pod e ser formado por
Q Sl awinsk a . 1985.
3. Critérios Estéticos e Ideol ógicos do humana (crises. pa ix ões) . um co njun to importante de fa tos .
Épic o
2. POI/IO de vista da representação
DRAMÁTrCO E ÉPICO
a. Encontramos elementos é picos n o drama bem A ação e sua recon stituição co inci de m perf eitamente o
e
na rra dor ap aga-se diante do "ele" fictício das per-
antes do teat ro de BRECHT. O s mi stérios da Idade no tempo e no espaço: elas são apr esentadas sob a for- so nage ns. Distancia-se das açõ es das per son agen s que
Fr.: dramatique et épique; Ingl.: dramatic and
Média, os teatros clássicus asi áti cos, até mesmo ma de um intercâmbio entre um "cu" c um "t u' ("você"). e le a pres e nta como vozes exteriores.
eptc ; AI.: dramatisch und episch; Esp.: dra-
mático y épico. os relatos no teatro clássico e u ro pe u, são tam-
bém elementos épicos inserido s n o tecido dra- 11. Ação d a fá bula
m áti co da o bra . Trata-se sempre, porém. de pro-
I. Épico/Dramático Desenr ola -se di ante de mim , forma um co njunto qu e o na rrad or não é apontado na açã o e , sim, co nse rva
cedi me n tos técnico s e forma is qu e n ão eo loca m
se impõe a mim e que não pod eri a ser retalhado se m toda a liberdad e de manob ra para ob se rv á-la e co mentá-
c m qu est ão a direção gl obal d a o b ra e a fun ção
a . O dramático é um prin c íp io de construção do perder toda a su bstâ ncia : " A aç ão dramática se move
do te atro n a sociedade. la: " Eu giro e m volta da ação ép ica e es ta parec e não
te xto dr am ático e da representação teatral que d á d iante de mim" (SCHILLER a GOETHE, ca rta dc 26 se mexer" (SCIIILLER a GOETHE, carta de 26 dc de-
conta da tens ão." das cen as e d os episód ios da de dezem bro de 1797 ). zc rnbro de 179 7).
b. Para BRECIIT, ao co ntrá rio , a pass agem da for-
fábul a rum o a um de senlace (c atás tro fe ou so lu-
ma dramáti ca para a forma é pica nã o é moti vada
çã o cô mica) , e que sugere qu e o es pectado r é cati - UI. Atitude do leitor-e sp ect ad or
por uma qu estão de es tilo e, si m , por uma no va
vado pela ação. O teatro d ram ático (que BRECHT
a ná lise d a so c iedade. O teat ro dramático. com Sub miss ão Liberdade
oporá à form a épica ) é O da d ramaturgia clássica,
e fe ito. não é mais capaz de dar co nta dos confli- "[ ...] Fico fascinado pela presença sensível [do dra- "[ ..I Posso caminh ar com um passo desi gu al, de acor-
do reali sm o c do naturali sm o, da peça bent-fei-
tos do homem no mundo; o indivíduo não está mático], minha imaginação perde toda a liberdade, uma do co m minha necessidad e s ubj e tiva posso atras ar-
ta *: ele se tom ou a forma ca nô nica do teatro oci-
mais oposto a outro indivíduo, porém a um siste- perp étua inqui etud c ace nde- se em mi m e em mim se me m a is o u men os, pos so anda r para ti fr e nte o u para
dent al desde a cé leb re defini ção de tragédia pel a
ma e con ômic o: "Para consegu ir a pr eender os no- ma ntém; todo o lhar para trás, tod a reflexão me é pro i- ira s . q ue m co nta l...) con serva urn a libe rd ad e sere-
Po ética de ARISTÓTELES : " Imi tação de uma ação vo s temas, é preciso uma nova forma dr amática e bida pois sou arrastado por uma força estranha [...l" na" Ubid.) .
de caráter ele vad o e co mpleto, d e uma cena ex- teatral. [... ] O petróleo rej e ita os ci nc o ato s, as ca- (/bid. l.
ten são [... 1, imit ação qu e é feit a pelas person a- tástrofes de hoje não se desenrola m em linha reta ,
gens e m ação c não através d e um relato. e qu e, mas so b a forma de cicl os, d e eri ses, de her ó is IV. Atu ação
provocand o pie da de e terror, o pe ra a purg ação mudando a cad a fase . [... ] Para con se guir dr ama-
própria de tais e moções" (l 44 9b ). tiz ar uma sim ples notíeia d e jornal, a técnica dra- A atuação é dada d ireta me nte, como a ilusão dc uma O ato r. por sua atuação épica. d eve, sc não impedir. ao
m áti ca de HERBEL e de IBSEN é com p leta me nte ação real. me no s torn ar difícil a ide nti ficação co ntín ua do e spec-
b. O é pico tamb ém tem se u lugar na prática e na insufic iente" (1967 , vol, 15: 197 ). tador co m sua personagem. Ele mantém a figura à dis-
teoria do teatro, já que não se limita a um gên ero O sist em a brechtiano", sem se r verdadeiramen- tânci a. não a encarn a c. sim. a mostra .
(romance, novela, poema é p ico ), e desempenha te um conjunto filosófico fechad o , ac ha-se expos-
um pap el fundamental em alg umas formas tea - to pela primeira vez nas "Observações sobre a (2) TEATR O DO CARROSS E L TEATRO DO PLANETÁRI O
trais (ver teatro épico *). M esmo no interi or do Ópera de Mahagonny" (1931 ), e nc o n trando sua
teat ro d ra mát ico , o épico pode d esempenhar um e xp ressão defin itiva no Pequen o Orga no n (1948), o espectador e m barca num a hi st óriu (um picadeiro) No P lane tario. os moviment os das est re las sã o recon s-
papel , prin cip almente pel a in ser ção de relatos, de A Compra do Cobre (1937 -1 951 ) e na Dialética quc ele não controla; ele se ilud e sobrc os animais c as tituídos dc forma esque m ática, porém fielment e em
de scr ição, de personagem -nar rador '. Um a mon- ' lO Teat ro (1951-1956). pai sage ns que acred ita en co nt rar. .suas trajet óri as.

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D R AM ATl S I' E R S O N A E D RA MATU R G tA

c. Atu alm ent e. o teatro de pesqui sa le va em co n- co mo um a voz narrat iva ; é um dupl o do hom em ~ . T ra d uç ã o. te a l ra l i ' .a ç ã o . texto cláss ico : exposi ç ão», /Ió " , confl ito", co n-
sideração, teó ric a e praticament e. os prin cípi os "real" . O s gramáticos u sar am em seguida a irn a- clu são, epílogo " etc.
da interpret ação d ram át ica e/ou é pica. No enta n- gcm de máscar a c do d ram a para ca rac teriza r as LJ,-:i Caune, 198 1; n. Man in, 1993. A dramaturgia clássic a exa mina exclusivamen-
to, conforme os det alhamentos de BRECHT no fi- rel ações e ntre as três pessoas: a primeira (e«) de- te o trabalho do autor e a es trutura narrativa d a
nal de sua ob ra teóri ca (cf Adendo ao Pequeno sempenh a o pap el princip al , a se g unda (/ 11) dá- obra. Ela não se preocupa dir et am ent e co m a rea-
OrgGlIOII, \ 954 ), o é pico e o dramático não mai s lhe a ré plica , ao pa sso que o ele, que não é defin i- DRAMAfURGIA lização cê nica do es pe táculo : isto expli ca um cer-
são abo rdados indi vidu alment e e de maneir a ex- do em term os de pessoa no intercâmb io e ntre ell lo desca so da crít ica atua l por esta di sciplina, ao
clusiva, ma s, sim, em sua eomplementariedade e t il , é o suj eito dos di álogos . D- (Do greg o dramaturgia, comp or um drama .) menos em se u se nt ido tradic ional.
dial éti ca: a demonst raç ão épica e a parti cip ação F r.: d ra m a tur gi e: In gl. : dra m at u rg y; A I. :
total do ator/espe ctado r muita s vezes co exis tem 3. Na crítica a ng lo-sax ônica e alemã. d ramatis Drcnn aturgie ; Esp.: dr amaturgia. b. Sentido b recht iano e p ôs-brc chtian o
no mesmo es pe tác ulo. personae é às vezes e m pregado no sentido de p ro-
A part ir de BRECHT c de sua teori zaç ão so bre
O princípio do 'relato e do narrador co ntando a tagonist a r ou de per sonagem. Trata-se do termo 1. Ev olu çã o da Noção o teatro dr amático e é pic o, parece ter-se am plia.
história de um outro narr ador, o qual , el e própri o gen éric o mais ab range nte para designar a per so-
do a noção de d ramaturgi a, fazendo del a:
etc ., parec e ser mu ito freqüentemente util izado, nag em icaráter ri figura», tip o », pape / o, herói " ) a. Se ntido o rig ina l e cláss ico do lermo
sem q ue isso responda se mpre claram ent e à ne - e o term o técni co co nsag rado para a /ista de per- • A es trutura ao m esmo tem po ideo lóg ica e fo r-
De acordo co m o Li ttr é, a dramaturgia é a " arte
cessida de de int erpr etar de forma real ista a rea li- sona gens ". mal da peça.
da co mp os içã o de peças de teat ro".
dade soc ial (MONOD, 1977b).
• O vín cul o especí fico de uma forma e de um
O gos to pel a at ua ção é pica é aco m panhado • A d ramatu rg ia, no seu se ntido mai s ge nérico,
co nte údo, no se nti do e m qu e ROUSSET define arte
mui tas veze s por um a enfatização lúdi ca da DR AM ATIZA Ç ÃO é a técni ca (o u a poética ) da arte d ra m ática, qu e
com o a "s o lidariedade de um universo ment al e
teatral idad e da rep resent ação. O épico, ness e cas o, procura es tabe lece r os pri ncí pios de construç ão
serve mais pa ra qu estionar as possibilidades e li- D- Fr.: dramot isation; Ingl.: dralti z ~ ti ol; AI.: da ob ra , sej a induti vamente a part ir de e xe m plos
de uma co nstruç ão se ns íve l, de um a visão e de
um a for ma" (1 96 2: I).
mites do teat ro do qu e para dar um a int erpreta çã o Dramatisie rung ; Es p.: d ra matiraci ân. co ncre tos. se ja dedutivamente a partir de um s iste -
pertinent e da realidad e. Nos anos setenta e o ite n- ma de princíp ios abs tratos . Es ta noçã o pres supõe • A práti ca tot ali zante do texto e ncenado e des-
ta, o é pico perd eu terreno na criação teatral devi - Ad aptação de um texto (é pico o u poético ) par a um co nj unto de regr as espec ificame nte teatrai s cu - tin ado a produ z ir um ce rto e fe ito so bre o espec ta-
do ao ceticismo em relaç ão ao brechti ani sm o apre- um text o dramático o u para um material desti na- j o co nhec ime nto é indispensável pa ra e screve r dor. As sim , "dramatu rgia é pica" desig na, par a
do ao palco . um a peça e ana lisá- Ia co rretamen te. BRECHT. um a for ma teatral qu e usa os pro ced i-
goa do por inú me ros en cen adores.
Desde a Idade Médi a, pode-se fala r, com os mis- A t é o per íodo c lássico, a d ram aturgia, ami úde men to s de come ntá rio e de colocação à d ist ân c ia
([) Form a fec hada, for ma aberta, dram aturgia, téri os. de um a dram atizaçã o da Bíbli a. O teatro e labora da pelos própri os aut ores (cf os Discu rsos é pica pa ra melhor descrever a realid ade so c ial a
\), realidade rep resent ada, fábula, teatro aristo- eli zabet ano go sta de ad aptar os rel atos dos histori a- de CORNEILLE e a Drama turgia de Hamburgo, de se r encarad a. e co ntri b uir ass im para sua tran s-
télico. epicização. d or es (PLUTARCO) o u dos cronistas (HOLlN - LESSING) , tinh a po r meta descob rir re gras, o u at é form ação.
SHED). Nos séculos XVIII e XI X, dram ati zam- se mesmo rece itas , para co mpo r uma peça e co m pila r Nesta ace pção, a d ram at urgia ab range tant o o
Kest ing. 19 59 ; Dort, 1960 ; Lu k ãcs, 196 5 ; os romances de suce sso (DICKENS, SCOTT c tc .), para o utros d ramaturgos as no nnas de co mpos ição texto de o rige m q ua nto os me ios cênico s e mp re-
Q Szondi, I972 a ; Sartre, 1973; Todorov, 1976; Pa- Tr ata-s e ainda de tent ativas para enco ntra r um es- (cx .: Poctur«. de ARISTÓTELES; Prático do TCl/-
vis, 1978b; Knopf, 1980; De Toro, 1984; Scgrc, 1984. gados pel a en cen aç ão . Estu dar a dramaturgia de
tilo que lembra o teatr o. gr aças aos diál ogos . tro, dL' IYAUIlIGNAC). um e sp e t ác u lo é. port anto, de sc re ver a sua fá bu la
A adap taç ão >dr am áti ca de romances é igu al -
• 1. SC IIERER, auto r de um a Dramaturg ia Cl ás- "em relev o" , ist o é , na sua rep resenta ção co nc re-
ment e freqü ent e no séc ulo XX, no tad am en te a
ta, especific ar o mod o te atr al de mostrar e narr ar
DRAM ATIS PERSONAE partir de o bras muito dram átic as" : assim é co m sica 1111 França (! 950 ). di stingue entre a e stru tu-
ra int erna d a peça - ou dramatur gia no sentido um aco ntec im ent o (cf. question ário ", n. 9, p. 31 8).
Os Irmãos Kar amazo v (COPEAU, 1911 ), Os Po s-
l . Nas a ntigas ed ições dos te xtos teatr ais, as scssos (A. CAMUS o u L. DODl NE), os ro man ces estrito - e a es tru tur a extema - ligad a :, ( re )p re-
sc nta ção do te xt o : " A est rutura inte rna (...] é o c. Reu tiliza ç ão da " d ramaturgia " 110
d ram a tis per sonae, "personagens » (o u máscara s) de KAFKA (O Processo, ada ptado por G IDE c
do d rama" , era m ag rupadas numa list a qu e ante- BARRAULT, (947), Des Pet its Cailloux da ns lcs co nj u nto d os e le me ntos q ue (... ] const itue m o sentido de at ividade do "d ramaturgo "
ced ia a pe ça . Trat ava-se de nom ear e de car acte ri- Poches (Ped rinha s /l O S Bolsos), a partir da obra fundo da pe ça : é aquilo que é o assunto dela, para A dra maturgi a, ati vidade do d ramaturg o" (sen-
z.ar em pou cas pal avras as person agen s do dram a, de V. WOOLF po r A.-M. LAZARINI e M. FABRE, o autor . ante s qu e intervenha m as co nsideraçõe s lido 2 ), co ns iste e m in st al ar os mater iai s tex tua is
de esc larec er de im ediat o a perspectiva » d o auto r ou R êvcs de Fran: Kafk a, a partir de trechos do de o pc rac io nu lizaç ão. A esta es trutura int ern a se e cê nicos, e m de sta car os sig nifica dos co m plexos
sobre suas pe rso nage ns e de o rientar o j ulgame n- Diário . en cenado por E, CORMAN e PIl. ADRIEN o põe a es trutu ra ex terna. q ue é se m pre u ma es tru- do text o ao escolh er uma int erpret ação part icul ar,
to do es pectado r. em 1984. A influênci a e a co nco rrê ncia do cin e- tura, por ém uma estrutura co nstituida por for mas, em o rienta r o espetác u lo no sentido escolhido.
ma e da tele visão, qu e costuma m faze r estas ad ap- e formas qu e põem em ação modalidade s da e s- Dra ma turgia desi gna ent ão o co nj unto das es -
2. É significativo notar que a palavra latin a perso- tações de rom an ces , ex plicam tant o as in úmeras critur a e da representação da peç a" (SCHERER, co lhas es tétic as e ideol ógi cas qu e a equipe de rea-
li a (m ás ca ra) é a tra dução da palavr a g rega para adaptações , qu ant o o desej o de não mais se lim i- 1961 ). lização , de sd e o c ncc na do r at é o ator. fo i le vad a a
" perso nagem dramática" ou "p apel " . Dessa for - tar o teat ro a um text o dialogado esc rito especifi- A dra mat urgia cl ássica " bu sca os e le me nto s fazer. Este tr abalho ab ra ng e a ela bora ç ão e a rc-
ma, a per son agem é originalmente concebida cam ent e pa ra o pa lco. co ns titutivos da c on struç ão dram ática de q ua lquer prcscntaçâo * da fáb u la -, a es co lha d o e spaço

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DRA MATU RGIA
DR A ~ tATÚ RG tC A

cê nico . a montagem *, a int erpret a ção do ator, a SZONDlmost ra ass im a contrad ição do teat ro e u- ciam ent o; alguns es pe tác ulos te nta m m esm o reta- terári a e humani sta de sua época. m anteve- s e até
represent a ção ilu sion ist a ou dist an ci ada do espe- rope u, no final do séc ulo X IX , q ue usa a for ma lh ar a dram atur gia util izada , del egando a ca da ator nas formas pós- cláss icas (MARIVAUX. VOLTAlRE).
r ácul o. Em resum o, a drama turgia se pergunta cad uca do di álogo co mo marca de int ercâm bio o pod er de o rga niza r se u te xto de acordo co m sua te nd o sob rev ivi do, no sécu lo X IX , na pera bem-
co mo são d ispostos os ma teria is da fáb ula no es- ent re os homen s para falar de um mundo on de própria visão da real idade . Portant o, a noçã o de feita * e no melodrama », e no sécul o X X na co-
paço textual e cên ico c de acordo com qual tem- es te inte rcâ m bio não mai s é poss ível (SZOND I, 0p('ões dra mat úrgicas está m ai s ade q ua da às ten- m édi a de bo uleva rd" ou na te le no ve la. A partir
por al idadc . A dramat urgi a, no se u sen tido mais 195 6 : 75) . E é porque o ho mem tem hoj e um co- dên cias atua is do qu e aque la de uma dra matu rgia d o momento e m que es te mod el o d ra rna túrgico
recent e , tend e port ant o a ultrapassar o âmbito de nh eciment o cic ntffico da rea lidade so cia l q ue co ns ide rada co mo co nj unto glo ba l e estruturado c rista lizou-se numa forma ca nô nica (enqua n to a
um es tudo do te xto d ra mático par a englobar tex- BREC HT co nde nará a form a dram ática , qu e se de prin cípios es tético -ideo l ógicos homogêneos. an ál ise psi cos social do homem era, ao mesmo
lo e realização cêni ca.
ap resenta como imut ável e pro d uto ra de ilusõe s.
tempo, ren ovad a pela s ciênc ia s human as ), el e
Gouh ier, 1958 ; Do rt, 196 0 ; Klotz, 1960 , 1976;
2. Problemas da Dramaturgia c. A dra m at urgia como teo ri a d a m Rousset, 1962; Larth om as, 19 72; Jaffré. 1974;
bl oqu eou qu alq uer inovação fo rmal ou q ualquer
no va a pree nsão da realidade. Nã o é de se estra -
represen ta tivi dade do mundo Keller, 1976; Monod. I 977a ; Pratiques n. 4 1, 1984;
a . Articulação da es té tic a e d a id eologia n. 59 , 1988; n. 74 , 199 2; Ryngnert, 1991 ; Moindrot, nh ar , portanto, q ue ele seja violent amente rej ei -
O obj etivo fin al da dramaturg ia é represent ar 19 9 3. tad o por novas es téticas: no séc u lo XIX , pel o
Exam inar a articu laçã o do mundo e da cena, o mundo, seja sob a ótica de um rea lis mo m imé- dra m a ro m ânt ico (mesmo que es te reco rra ainda
o u seja , da ideologia e da es t ética, es ta é. em suma. tico , seja q uando tom a di st ân ci a e m re lação à às fonte s do m od elo qu e e le recusa), no iní eio
a prin cipal tarefa da dramaturgi a. Trata-se de com- m im ese, co ntent ando-se em figurar um univer so
preende r com o idéi as sob re os hom en s e sobre o DRAMATURGIA CLÁSSICA do séc ulo XX pel os mo vim entos natural ist a, si m -
aut ônomo. Em ca da caso. e la es tabe lece o es tai 1I- b ol istu o u é pico .
mundo são enfor madas , po rtan to , em texto e em to ficci o nal e o nível de real id ade das pe rso na-
~ Fr. : dramaturgie cla ssiquc ; Ingl. : c1assical
ce na . Isto requer o acompa nhame nto dos pro- ge ns e das ações; ela fig ura o unive rso dra má tico
ce ssos de model iza ção (de ab straç ão. de estili-
't..: dramaturgy; A I.: klassische Dramaturgie; Esp.: ~ . Poét ica. teoria do teatro.
at rav és de meios visuais e a ud itivo s, e dec ide o dra maturgia clásica.
zação e de codificação) da real id ade humana que qu e parecerá real ao público : aq ui lo qu e é. para D' A u b i g n ac , 1657 ; Mar ruo nt e l , 178 7 ;
desemboc am num uso específico do apa relho tea- el a, vero ssimil. Dessa forma, a d ram aturgi a ese o- 1. H istor icament e, a d ram aturgi a clássica foi e la- [;;J;;l Bénieh ou , 1948; Bray, 192 7 ; Szond i, 1956 ;
tral. A signifi cação, no tea tro, é se mpre um a ques- lhe, co mo se fa ria em mús ica, um a c1111'e de ilu- ho rada, no ca so da Fra nça . en tre 16 00 e 1670 . J. Ande rson . 196 5 ; Jacq uot, 196 8 ; Pagni ni, 197 0 :
tão técn ica de real izaç ão co nc re ta a part ir de ma- são/desi lusão, e se aferra a e la durant e a execu - Fu rnar ol i, 1972 ; Truchet, 1975 ; R . Si mon , 197 9 ;
SC HERER (1 950 ), di st ingu e um período arcaico
teriai s cênicos . formas e es tru tu ras. ção da ficção cê nica. Uma das prin cipai s o pçõ es Sch crer, 19 86 ; Forcst ier, 1988: Rc gn ault , 1996.
( 16 0 0-163 0), um períod o pré -cl ássi c o (1 6 30-
A d ram aturgi a baseia-se nu ma aná lise das dest a fi gu ra ç ão é mostrar as ações e seu s prota- 16 50 ) e um per íod o cl ássico no se nti do est rito
ações e de se us a ctantes r (as per son agens), o que go nis tas co mo casos pa rticulares ou co mo exem- ( 16 50 -1 670).
o briga a det erminar as forç as direciona is do uni- plos t ípi c o s. En fim , a tare fa fina l e p rinci pa l será DRAMATÚRGICA (A NÁLI S E ... )
verso dramático, os valo res do s actantes e o sen- efetuar o "ajuste" en tre text o e ce na, decidir de 2. Contudo, a dram aturg ia cl á ssica (orn ou-se
tido (a dire ção ) da fá bu la. Ao escolher ler e mon- qu e form a interpretar o texto, como dar-lh e um uma ex pres são qu e des ig na um tipo fo rma l de ~ Fr. : d rama t urgiqu e (a n a lvs e .. . ) ; In g l. :
ta r o tex to de aco rdo co m um o u vá rios pon tos de im pu lso cê nico qu e o escla reça par a det erminada 't.: dra ma turgica l ana lys is: A I. ; dra ma tu rgisc he
cons trução d ram áti ca e de re pr esentação do mun-
vista coerentes, o dram atu rgo esclarece a historiei- é po ca e dete rmi nado púhl ico . Analvsc: Esp .: dra nuu úrgico (an álisi s.t.}.
d o. a ss im como um s istema au tô nomo e lógico
dadc do te xto, su a anc or agem ou seu dc svin- 1\ rel ação com o públic o é o vínc ulo que de- d e rcuras e lei s dr amaturgi cas. As re gras imp os-
culame nto da históri a dos ho men s, a defasagem term ina e espec ifica todos os o utros: deci di r se o tas pel os dout os e pel o go s to do pú blico do sé cu- I. Do Texto ao Palco
en tre a situação dramática e o no sso universo de teatro de ve entrete r ou instrui r, co nforta r o u pe r- lo XV II se transform aram num co nj u nto coerente
re ferênc ia. Ao interpre tar a peça co nfo rme este tur bar, re produ zir ou denunciar - tais são as qu es- de cri té rio s d istint ivos da açiio *, d as es trutu ras T ar e fa do d ram utur g o " (sen ti do 2) . mas tam -
o u aqu ele gênero literári o, produzem -se fábul as e tõ e s qu e a dr amaturgia fo rmul a na op eraci o- es paço -te m po rais, do ve rossimil " e d o mod o de bé m da c rítica (pelo men o s e m a lg umas formas
pers on agen s muit o di vcrgentcs , de so rte q ue o nal iza ção de suas a ná lises , ap resen ta ção cê nica . a pro funda das dest a ati vida de) , qu e consi ste em
"s cletor genérico" dá ao tex to uma co nfiguração
de finir os c ar acteres es pecíficos do te xt o e da
part icul ar a ca da vez. To da, estas escolha s per- d. Exp losão e p roliferaç ão d e 3 . A ação uni ficad a fica limitad a a um aco ntec i-
repre sentação . A anál ise dr amatúrgica tenta es-
mite m situar. se não expli citar, as ambigüidades dramaturgias m ent a prin cip al, de vendo tudo co nvergi r nece s-
(es truturais e hist óricas), os não-ditos (dizívcis e cl ar ecer a passagem da escritura dram ática" para
sa ria me nte para o es tabe lec ime nto e para a re so-
Pa ra que m tem um a im agem m ai s g lo ba l e a esc ritura cê nica ", " Q ue é est e tra ba lho dr ama-
ind izív eis) e os pont os cegos (di fic uldades de lei- lu ção do lIá* do confl ito . O mundo rep resen ta do
tur a que resistem a todas as hipót eses ). unificad a do mu ndo, a reprod ução da realid ade pe lo t ürgico se não uma refl exão críti ca so bre a pas-
de ve ser es boça do dentro de ce rtos limites bas-
teatro continua a se r necessariam ent e frag me nta- sage m do fa to litenirio para o falo teatral ?" (DORT,
tant e es tritos : uma d ur ação de vinte e q uatro ho-
b. Evolução dos dralll tl/urg o s ria. Não se procura m ais, ent ão , e lahora r u ma 1971: 4 7 ). A análise dram atúrgic a ocorre tanto
ras , um loc al hom o gên eo, uma apresenta ção que
dramatu rg ia qu e agrupe artificia lme nte um a ideo- antes da e nce naç ão, pel o dram aturgo e pel o en ce-
A evo luçã o hislór ica dos co nteúd os ideológi- não c hoq ue nem o bom gosto , ne m o bom -tom ",
log ia coerente e uma for ma ade q uada e . freq üe n- nad or, q ua nto dep ois da repre se ntação, qu and o
co s e as pesquisas formai s explica m as de fasa- nem a veros sim ilhança.
tem ente, um a mesma reprcsemaç ão recorre a d i- o e s pe c ta dor ana lisa as o pções e sco lhi das pel o
ge ns q ue podem OCOrrer entre forma e co nteúdo, Este tipo de dr am atur gia . por ca usa de sua coe-
ver sas dr aruaturgi as. Não se fund amenta mais o
co loca ndo em qu est ão sua un idad e d ia léti ca. rê ncia int ern a e de sua ada ptação à id eol ogi a li- e ncenador.
es pe tác ulo apen as na ident ificação o u no d isran-

114 115
.. :or·-
DRAMAT U R GO
DUP LO
2. Trab alh o sobre a Constituição do um texto pressupõem uma con cep ção das co ndi-
Sentid o do Texto O ll da Encena ção ções da enunciaç ão », da s ituaç ão c da interpreta- 2. Emprego Técnico Modern o front ado co tid iana me nte co m o trab alh o cê nico .
O dram atur go é então o primeiro críti co intern o
çã o dos ator es e tc. Esta co nce pção, a inda qu e
Dramaturgo (q ue ve m do se ntido I por inter- do espet áculo e m e labo ração.
A análise d ram at úrgi ca examina a realidade re - embrionári a ou se m imag inação , j á é em s i uma
análise drarnat úrg ic a que co mpro mete uma leitu - médi o de s ua trad u ção e de seu uso ale mão , Iha -
presentada na peça e faz as seg uintes pergunt as: • Assegur ar a ligação com um p úblico poten cial
ra do text o. maturg } de signa atua lme nte o co nse lhe iro lit e-
Qu e tempor ali dade '! Qu e espaço ? Que tipo de (animação*) .
rári o e teatr al agreg ado a urna co mpanhia teatral.
personagem ? Co mo ler uf ábula"] Qua l o víncu-
a um e nce nado r ou re spon sável pel a pr eparaçã o
lo da ob ra com a époc a de sua cri ação, a época S. Desapreço em Relação à Análi se 4. Dramaturgo : Pré ou P ós-Encenador?
de um e spet áculo .
que ela repre senta e nossa atualid ade? Co rno in- Dramat úrgica O primeiro Dramaturg foi LESSI NG: su a
terferem estas histori cid ades? Por muit o tempo con sid er ad o inútil ou int e -
Dramaturgi a d e Hambu rgo ( 1767), colet ânea de
A análise ex plieita os "pontos cegos" e as am- Após os anos c inq üe nta c sessenta - nos qu ais, grado ao trabalho de mesa ", col ocad o "como
críti cas e refl exõ es teóricas, está na orige m de uma
bigüidades da obra, clarifica um aspecto da intri- sob a influ ência d a d ramaturgi a brechti an a, a an á- sanduíche:' entre ato res c cnce nador, o drama-
tradi çã o alemã de atividade teóri ca e práti ca que
ga, tom a partido por uma concepçã o particula r ou, lise dos textos era voluntariament e política e crí- preced e e det ermina a e nce nação de uma obra. O turg o fe z definiti vamente s ua entrad a na equipe
ao co ntrário, organiza várias interpretações. Preo - tica - assistimo s, d esd e a "c rise" do s anos se- a le mão distingu e , di versam ent e do francês , o artística, mesm o qu e atualme nte os en eenadores
cupada em integrar a perspectiva e a recepçã o : do tenta e o itenta , a um a ce rta despol itização da s Dramatiker, aque le qu e esc reve as peças. do Dra- negli genciem as aná lises dramat úrgica s" de ins-
espectado r. estabe lece pontes entre a fi cç ão: e a análi ses , e a uma recu sa e m reduzir o text o d ra- maturg, que é qu em prepara sua interpretação e piração brechti ana. Sua marca na encen aç ão é,
realidade * de nossa épo ca . mático ao se u subs tra to soc ioeco nô mico, insi s- sua realização cê nicas . As duas ativida des são às portanto, ineg áv el , t ant o na fase preparatória
A análise da sociedade é feita, co m freq üên - tindo na Sua form a es pecífic a e nas práticas veze s desenvolvid as si multanea me nte pela mcs- quanto na reali zaçã o concreta (interpret aç ão do
cia, com bas e no modelo marxi sta - ou de suas significantes * qu e podcmlhe ser aplicadas. Des- ma pessoa (ex.: BRECI-IT). Empregado corrente- ator, coe rência da representação, encaminhamcn-
variantes aplicadas ao estudo da literatura (LU- sa forma, o cnc en ad or (com o faz VITEZ) se re- mente na Alemanha, e se o dramaturgo trabalha to da recep ção ct c .). Após alguns anos, seu pa-
KAcs, 1960, 1965. 1970) -; ela pesqui sa as con- cusa a fazer um trab alh o preliminar sobre o tex- de forma contínua comum mesm o cncenador, essa pei não é mai s o de ser o preposto do discurso
tradições das ações, a presença de ideologcrnas to, c se esforça para e x pe rime ntar o mais cedo figura está cada vez mai s present e na França. ideol ógic o c, s im, o de assistir o encenad or na
(PAVIS, 1983b ), as relações da ideologi a co m o possível no palc o co m o s ato res, sem saber de
sua pesqui sa dos po ssíveis sentidos da obra.
texto liter ário, os vínculos do individual e da so- antemão que di scurso d ev erá nece ssariamente 3. Tarefa Ambígua do Dramaturgo
cia l que atravessam a personagem , a maneira pel a em ergir da encen ação . A mesm a des vin culação
Q Te nsch ert, 1960 ; 001'1, 1960 , 1975.
qual a represent ação pod e ser deco mposta numa ideoló gica é per ceptível e m a ntigos brechtianos, A part ir d o mom ent o em qu e o dr am aturgo
seqüência de gestus " sociais. co mo B. BESSON, B. SOBEL, J. JOURDHEUIL, passa a ter direit os adquirid os no teatro (d ire itos
R. PLANCHON, J.-F. PEYRET, M . MARÉCHAL, recent es e ainda contestados na França), e le é en-
ou na no va ge ração do s an os no venta, que não DUPLO
3. Entre a Semi ologia e a Sociologia ca rreg ado princi palmente de:
tem nenhum apego ao brcc lu iauisrno ou à leitu -
ra sociocrítica dos c láss icos . • Escolher as peças do progr am a e m funç ão de :). Fr.: d ou bl c; ln gl. : double ; AI.: D op pel ,
A análise dramanir gica ultrap assa a descrição 't.: Doppelg ãnger; Es p.: doble.
scmiol ógic« dos siste mas cênicos , visto que e la um a atua lida de o u de uma utilid ade qu alquer;
se pergunta, de maneir a pragmática. o qu e o es - L--I.::1
B r ec h t • . 196 7 , v o l. 17 ; G i ru u lt, 1<)73; co mbinar os textos esco lhidos para u ma me sma
O du plo é u m tern a lit erár io e filosófi co infini -
. Jourdheu il, 19 76; Klotz, 1976; P" \'IS. 19R3a; ence nação.
pectador rece berá da repr esentação e co mo o tea- tamente variado . O teatro recorre amplame nte a
Bata; 1I0 n, 1972.
tro desemboca na realidade ideo lógica e estética • Efetuar as pesqui sas de documentação sob re c ele. pois. dev ido à s ua natureza de arte da repre-
do público. Ela co ncilia e integra, nu ma perspec- em tomo d a obra . Às vezes, red igir um p rogra- sentação , e le se m pre mostra o ator e sua persona-
tiva globa l, um a visão semiológiea (es tética) de m a " document ári o (tomando o cuida do de não
DRAMATURGO gem, o mund o represent ad o e suas representações,
signos da representação e uma pesqui sa socioló- ex plica r tud o de ant emão, co mo aco ntece e m al- os signos co nco mita nte mente referenciai s (e les
gica sobre a produção e a recepção destes mes - guns textos-p rogramas ).
mos signos tsoc ioc ritica *).
t} (Do grego dramaturgos, autor dr am ático.) " imita m" ou " fa la m" do mundo) e a uto -re fe-
Fr.: dramaturge ; Ingl. : playwriglu , lit e rary • Adaptar" o u modificar o texto (mo nt ag em", renciais (reme te ndo a s i próprios, com o tod o oh-
dir ector , dra maturo ; AI.: Drurnatikcr, Dr amaturg ; colag em" , supre ssões, repet ições de passagens); jcto es tético) .
4. Necessidade dessa Refle xão Esp.: drama turgo. O dupl o perfeito se realiza no sósia (MOLlÉRE,
eventualmente, traduzir O texto, soz in ho ou em
colaboração com o cn ccnador, PLAUTO), co m todos os mal-entendidos qu e se
A partir do momento em que há a ence nação . I. Sentido Tradici on al possa imagina r. O duplo é freqüentemente um ir-
pode-se eo nsidcrar que há neces sari ament e um • Destacar as articulaçõ es de sentido e inserir a
mão inimig o (A Tebaida, de RACINE, Os Band o-
trabalho dramatúrpico, mesmo - c sobre tudo _ o dramaturgo é o auto r de dramas (comédia interpretação num proj eto g lobal (so c ial, político
leiros, de SClIILL ER), um alter ego (Mefisto para
que este sej a negado pelo encenador em nome de ou tragédia). MARI\\ONTEL fa la, por exemplo, de ctc.).
Fausto), um exe cut or de serviços sujos (Enone para
uma " fidelid ade" à tradição, ou de uma vontade "SIl AKESPEARE, o g ran de mod elo dos dramatur- • Intervir de tempo s em tempos, durante os en- Fed ra, Dubois para Dorante em As Falsas Cal/fi -
de tom ar o te xto "ao pé da letra" etc. Co m efeito. gos" (178 7). Atu almente. o cos tume francês pre- sa ios. como um obser vado r crítico cujo o lhar é d ências, de MARIVAUX), um cúmplice (Sganarell o
toda leitura " e , a fo rtiori, toda representa ção de fere o term o auto r dr am áti co . mais " fresco" do que aqu ele do cncen ador, eo n- para Dom Juan ), um par ceiro ou uma projeção de

1/6
117
DUPL O

si própri o para o diálogo (Rod rigo, filho e amante (\.") Mise C fl abYlflc, tea tro dent ro do tea tro, di sfar-
em O Cid ). Entre a identidade e a a ltcridade, por ~ , cc , cri ado.
isso irrealizável. a person agem , co mo o teatro, está
etern amente em busca de se u d u plo ,
m O. Ra nk, Dom Juan et le Double, 1932; A rtaud,
1938; Mau ron, 1964; Fcrroni, 198 1.

E
EFEITO DE DES CONSTRUÇÃO E FEITO DE ESTR ANHAM ENTO
-t)- Fr.: effe t de déconst ruction; Ingl .: deconstruction -t)- Fr.: effe t d ' étrang et é; ln gl .: a lienation effcct ;
cffe ct; AI.: Dekonst ruk tionseffckt ; Esp .: efe cto A I.: Vc rfrem d un gs effekt ; Esp .: efc cto d e
de dc co ns trucci ón. «x tra iia tn ien to,

o termo desconstru ção, tomad o de e mprésti- O con trá rio de e fei to de real. O efe ito de es tra-
mo a DERRIDA pela crítica p és- e struturali sta ame- nham cnt o mos tra, ci ta e cri tica um e le me nto da
ricana , é, na mai oria das vezes , e mpregado no repre sentação ; e le o " dcsc onstr ói", co loca -o à d is -
sen tido ban al em qu e a e nc e nação conte mpo râ- tân cia por s ua aparê ncia pou co hab itu al e pe la
nea des faz e desa fia to da pr etens ão à co nstrução refer ên ci a ex plíc ita a se u caráte r art if ic ia l e ar-
de um sentido est ável e un ívo co. O e spect ador, tístico ( p rocedimcnto ví. Sem el hant e ao sig no po é-
aco st uma do a procurar se ntido e m tudo , não co n- ti co qu e é aut o-refer enci al (JA K OBSON. 196 3) e
seg ue, quando dos e fe itos de de sco nstrução, re- qu e des ig na se us próp rios có d ig os, a t catrali-
co nstru ir a represent ação sobre as ru ín as de se us dad e " é exagerada me nte ressalt ada qu ando da
fr agm entos o u de suas co ntra di ções . N ão se trata produção de ste efe ito de cstranh amcnt o .
aí de um simples efe ito de di stan ciamento o u de O es tra nho, ca teg or ia es t ética da recep ç ão",
estra nhamento qu e se m pre aca ba por se arra nja r, nem se m pre se di s ting ue Ia c ilrn c n tc de o utras
nem um e feito de e vide nc ia ç ão " qu e re ssalta se us im pres sõ e s co mo o in s ólito, o bi zarro , o m aravi-
proc ed im ent os. A dcscon st ruç ão se o põe rad ical - lhos o o u a in traduzf vel pala vra a lem ã das Unh ei -
m ent e (embora de man eira lúd ica ) ao fun ci on a-
m lich c ("a i nq uie ta nte e s tru n he z a" ). O lerm o
brcclu ian o Vcrfrcmd ungseffek t é às ve zes tradu -
m cnto g loba l da repre sent ação: por exem pl o,
zido por "e fe ito de estranharne nto" , o qu e salie n-
qu ando o ator, interpretando, d esmonta o ce ná rio
ta be m a no va percep ção imp licada pe la in ter-
e o rem ont a para outra e nce na ção, o u qu an do a
pretaçã o e pe la encenaç ão e con vém m ai s qu e
ce no g rafia retom a elem ent os daquilo qu e o pú-
di stan ciam ento " .
hli c o pode vcr da rea lidade a m bien te: a persp ec-
ti va do Trocad éro e da To rre Ei ffe l ret om ados po r ("J
~ Absurdo, fantasia (teatro da ), fanuist ico.
Y. KO K KOS para a enc enaç ão de Ubu Rei po r A .
VI TEZ e m Chaillot, e m 1985 . w B;ec hl, 1963; Vcrnois , 1974 ; Knopf, 1980.

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E F E ITO D E EV I D E N C IA Ç Ã O EM P L O I

EFEITO DE EVIDENCIAÇÃO do. de ser tran sport ad o para a realid ade simbol iza- parte recalcad a ou co mplementar do se u antigo po : sua den sid ade, se u ritmo, sua intensida de ,
da e de ser co nfro ntad o não co m um aficçãa* ar- ego (i nfant il, e sse nc ia lmente). sua s itua ção e nqu anto pl an o visua l e plano so-
:-+Fr.: effet de mise en éviden ce ; Ingl.: fo re- tística e uma rep resentação estética, mas com um no ro , c o utros tanto s par âm et ro s qu e apro xi ma m
't..: gm l/ lldillg cffec t: AI.: Aktualis iemngscffek t ; aco ntecimento rea l. ~ . Ilusão, dcu cgaç ão , realismo . reconheci men to. a visão e a au d içã o . a m úsi ca , o texto, a dan ça e
Esp.: efccto de <l c/Ila /i ~{/ c i ólI . A enc en ação naturalist a, qu e se basei a na ilu - o movim ent o,
são" e na identificaçãov , produ z efeito s de real
Té cni ca descrita pelo C írcul o Lingüísti co de a pagando tot alm ente o trabalh o de e laboração do EFEITO TE ATRAL
Praga co m o nome de aktualisace: atualização, se ntido pelo uso dos diferentes materiais cênicos ELOCUÇÃO
colocação de um fenômeno em primeiro plano . segundo a ex igên cia hegeliana de uma obra qu e :-+ Fr.: effet th éàtral; Ingl.: theatrical effec t; AI.:
A e vide nciu ção do procedimento" estéti co nada deve revel ar d o andaime necessário à sua 't..: th ea tralische r Effek r; Esp .: ef ect o teatral, -t}- Fr. : é / o el/ l ioll.; l n g l . : e/ o ell/ i o ll ;. , A !.:
(sej a ele lingü ísti co, cêni co ou lúdic o) faz sobre s- co nstrução. O s sig nifica ntes são então co nfund i- vonragskunst, U OCII/ IO II ; Esp.: elocuci án ,
sair a estrutura artís tica da mensagem , libert a o d os com o referent e dess e s s ig nos. Não se perce- O põe- se a efeito de real. A ção cê nica qu e re-
suje ito d os auto matismos de percep ção de um be mais a peça co mo discurso " e escri tura so bre ve la im edi at am en te sua or ige m lúdi ca, artificial c Te rmo de ret ór ica : escolha e o rdem das pal a-
objeto torn ado su bitamente insó lito. O efeito de o real , mas co rno re flexo diret o deste real. teatr al. A ence na ção c a interp retação renu ncia m vras do discurso, mod o de e xp ressar-se por figu-
d ista nc iam ento" bre chti ano não é se não um ca so Além do pr azer da id entificaç ãos par a o es- à ilusão : e la s não m ais se dão co mo real idade e x- ras. Se gundo ARISTÓT ELES ( P oética, 14500 ), a
part icul ar, po is a ev ide nciaç ão é um fen ômen o pectador, o e fe ito de re al tranqüili za so bre o mun - teri or, m as sa lie nta m . ao co ntrá rio, as técni cas e clocução é, co m a fá bu la , os caracteres, o pe nsa -
muit o mais am plo, pró prio da arte em gera l. do representado, q ue co r respo nde per feitament e os proc ed imentos a rt ísticos usad os, acentuam o ment o, o espet ácu lo e o canto, um dos se is e le -
No tea tro, a ev ide nciação tem por o bjeto ora a aos esquemas ideo lóg icos qu e lem os dele, es q ue- ca ráte r interpret at ivo e arti fic ial da represe ntação. mentos da tragédi a. Para C íCERO. a elocu tio defi -
dic çã o enfática de ce rto s verbos e palavras, a in- mas que se dão co mo naturais e un iversai s. Paradox a lme nt e, o e fe ito teatral é ban ido da cena ne o estilo confo rme a correção , a conven iência , o
terpretação exage rada (não -natu ralista) do ator qu e ilusio nis ta, poi s lem bra ao públi co sua situação o rna mento , a clareza, o ritmo",
insiste na tcatralidade de sua per sonagem, um G) . Denegação, distanciamento, recepção, natura- de espectado r ao e nfatizar a teatralidade" ou a No teatro, a elocu ção, o u a arte da dicçã o" e da
princípi o o u um detalhe da plástica cênica desti - ~ hsta (rcprcscntação...). teat ral ira ção" d a ce na. declama ç ão", envol ve o sentido do texto pro nun-
nado a atra ir a ate nç ão (co res, lugar, ilumin ação ). ciado pelo ato r ao q ua l e le em pres ta uma ellllll-
O trab a lho dramatúrgico con sidera uma de suas t:n Mcierhold . 1963: Brecht , 1972: 329-376 . cia ç ão" , A é poca c lássica di sting ue cla ram ente
tarefas essenc iais sa lientar (ou aten uar) ce rtos as- EFEITO DE " ELOCUÇÃO, DiCÇÃO, EST ILO: os três termos se r-
pectos e sent idos da obra, repartir as ênfases de RECONHECIMENTO vem para expri mir a m an e ira pela qual as idéias
acordo co m um projeto estético-ideo lóg ico bem EL ETRÔ NI CAS (A RT E S... ) são apresentadas . O est ilo tem mai s relação co m o
definido. Eviden ci ar não é se não encenar de mod o :-+ Fr.: effet de r e c ~ IlWiS a Il C e; Ingl.: recognition autor, a dicção co m a ob ra e a eloc ução co m a arte
"equilibrado " : pou ca evid ência não desemboca 't..: effect; A I.: Wledererkellllllllgs e/fekl; Esp.: -t}- F r.: électro ni q ues (w-H.. . ) ; Ingl. : m edia ; AI. : oratória" (BEAUZÉE, Encvclop édic ).
e m nenhuma conce pção orga nizada ; ev idência efecto de reconocimient o. n eue M edien.
dem ais enf raquece o esp et ácul o e o banaliza, por
falt a de amb igü ida de sufi cient e. Mai s ou menos sinô nimo d e efe ito de real", Há Termo ge néri co par a os mei os de co m unic a- EMPLOI
efeito de reconhecimento quando o es pec tador re- ção , não só o vídeo . ma s também a tri lha sonora.
Q . Ef eito de es tra n ha mc nro , coerência, efeit o conhece em cena uma realidade, um sentime nto, a criaç ão clctroac ústi ca, a radionov ela. o "cine- -t}- (Diretamente do francês emploi, sem co rres-
~ , teatral. urna atitud e que lhe parece j á ter ex perimentado ma para o ou vid o" co mo o de W. RUTTM ANN . pendente em port ugu ês.)
alguma vez. A impressão de reco nhecim ent o va- cujo II cek End ( 193 0) é " um fil me se m im agen s, Fr.: <'IIII' /o i; l ngt .: ca s ting , ch a racter typc; A I.:
Q Matejk a, 19 700 , 1976b ; Deák, 1976; Knop f, ria conforme os o bjetos reconhecid os: a idc ntifi- um a o rq ues tração de ruíd os naturais, gravados Rollcnbcsetzung , Rollcnfach; Esp.: parte ,
1980. cação ' com a per son agem dá-se de acordo com pel a pe líc u la so no ra, de acordo com os rec ursos c
um sentime nto ou um a impressão já co nhecida. O um a técni ca c inemato grá ficos" (Reme du Ci nc- Tipo de pap e l" de um ator qu e corres po ndc à
efeito de reco nhe cimento id eol ógico produ z-se ma , 1930 ), o vídeo q ue red cscobrc o so m , pár a as su a idade, sua ap arê nc ia e se u es tillo de interpre-
EFEITO DE REAL quando o espectado r se sente nu m ambi ent e fami - proj eções es táticas dem asiad o diret ivas o u o vir- tação: o emp lo i de soubreuc, de galã etc.
liar cuja legitim idad e e le não q uest iona: "Antes tuosism o visua l, m erg ulha nu m event o se nso ria l O (,1II1'/o i depend e da id ad e, da mor fologia, da
-t}- FI.: e[fel de rée/ ; Ing l.: reality effe ct, effcct of de ser ocasião de um a identificação (co nsigo so b g loba l, e o e lctro -Cl) q ue usa so ns naturai s o u el e- voz e da personal idade do ato r. D istingue-se prin -
lhe real; AI.: Wirk/i chkeilseff ekl ; Esp .: efccto os aspectos de um o utro) , o espe táculo é fund a- trô nicos de acordo co m urna mon tagem e uma ci palme nte os emp lois côm icos c trágicos. As clas-
de real idad mentalment e oca siã o de um reconh ecimento cul - " m ús ica sem mú si c a" co mo os m ini-CD s de si fic ações são inum er ávei s. A codificaç ão d os
tural e ideol ógico" (ALTHUSS ER, 1965 : 150). Phi llippc MION o u M. CHION (1990). cmp lois atesta urna nece ssidade de est abelecer leis
Esta ex press ão emprestada de R. BARTHES A teoria psicanalítica explica pel a necessida- A clctroac ústica tenta dar uma no va perc ep- para o do mínio art ístico . à imagem de um NAPO-
à literatu -
(Col1ll1ll/ l/ icarion n. I I, 1968) aplica-se de de sublimação es té tica o pr azer que o es pec ta- ção dos so ns e das im agen s a um espe cto uvintc, LEÃO que, no SeU dec reto de M oscou, publicou
ra, ao c inem a o u ao teatro: há, na verdade, impres- dor sent e com este efe ito de reconhecimento . Est a um indi víduo ca pa z de integrare m s i mesmo per- uma lista de emplois. Noção bas ta rda entre a per-
são de real quando o esp ect ador tem a se nsação sublimaç ão le va o especta do r a a pro pria r-se do cep ções so noras e vis ua is, test an do o qu e e las so nag em" e o ato r q ue o encarn á, o cmploi é um a
de estar assi st indo ao aconteci mento a prese nta - ego da person agem c a re en co ntr ar assim um a têm de co m u m e de lig ado ao es pa ço e ao tem - sín tese de traços físicos. morais, int electuais c so -

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E N C ADE AM ENTO EN C EN A ÇÃ

ciais. A classificação se faz de acordo co m diver- ENCENAÇÃO e o ap erfeiçoamento da iluminação e lé trica. A isto Ihad o para se r legível (m ais qu e visível ); ele é
sos critérios, como: se acr escentam a crise d o dr am a. ass im com o o estili zad o. abs trato, decomposto, associ ad o mn c-
_ nív el soc ial: o rei. o valet e, o dând i; ê Fr.: mi se CIl sc êne ; Ingl.: p roduc tion, stag inp, desm o ronament o da dr am atu rg ia cl ássica e do mot ecni c am en te ao desfil e do te xto, ancorado de
_ fi gurin o: papel co m ca pa (primeiros papéis e pais dircc tion: AI.: lnszen ierun g, Re g ic ; Esp .: di ál ogo (SZONDI. 1956). aco rdo co m alg uns pont os de referên ci a , e m al-
de com édia) ; papel co m colete (cx .: aldeães da puesta e ll CSCl'IUl .
g uns apoios t subpartitu ra s v.
ópera cômica portando colet e e cal ção); b. Exi gência totalizantc
A noção de e ncenação é recente; e la data ape-
- caráter : a ingênua, o apaixo nado, o traidor, o Em suas or igens, a en cen aç ão a firma um a cf. Co nc ilia ção
nas da se gunda metad e do sécu lo XI X e o e m pre-
pai nobr e, a am a. co nce pç ão cl ássica da o b ra teatral cê nica co mo Os diferentes co mpo nentes d a repre sentação,
go da pal av ra remonta a 1820 (VEINSTEIN, 1955:
Est a co ncepçã o "fi siol ógica" do trabalho do o b ra to ta l e harm ôn ica qu e ultrapassa e e ng loba de vid os muitas vezes à inter ven ção de vá rios cri a-
9) . É nesta é poc a que o en cenad or pass a a ser o
ato r já pertence ao pa ssado: el a é mantida por responsável "oficial" pela ord enação do espetá- a soma dos materi ais ou a rte s cêni cas. o utrora dore s (dr am aturgo, mú sico, cenógrafo e tc .) , são
'gênero s co mo o dram a burgu ês , a com édia clás- culo. Ant eri ormente. o ensa iador o u, às vezes, o co nsi de rados co mo unidad es fund am ent ais. A reu nidos e co o rde nados pelo en cenador. Q uer se
sica o u a Commedia dell'o rte" , Basei a-se na idéia ato r prin cipal é que era en carregad o de fund ir o e ncenação procl am a a subordi nação de cada arte trate de obte r um co njun to integ rado (co mo na
de qu e o ator deve corr esp ond er aos gra ndes ti- es petác u lo num mold e preexi stente . A en cen a- o u s im ples me nte de ca da signo a um tod o harm o- ópe ra ) o u, ao co ntr ário , de um sis tem a o nde cada
pos do repert ório e en carnar su a per son agem. Esta ção se ass e me lhav a a uma téc nica ru d imentar de ni c am ent e co nt ro la do po r um pen s am ent o art e co nserva sua auto nomi a (!lRECHT) , o ence-
noção ca i em desuso, pelo menos para o teatro marcaç ão" dos atores. Esta concepção prevalece unifi cador. " Um a o bra de a rte nã o pode se r cria- nado r tem por mi ssão decidir o vínculo e ntre os
ex pe rimental. É reto mada. co ntudo, num contex - às vezes e ntre o grand e público , pa ra qu em o d a se não for diri gi da por 11 m pe nsamento úni - diver so s e le mentos cê nico s. o qu e evidentemente
to completamente diferente , em ence nadores co - ence na dor só teria que regul am entar os mo vi men- co " (E. G. CRAIG). A exigê ncia tot al izam c é aco m- influ i de maneira det erm in ant e na produção do
mo MEIERHOLD (1975 : 8 1-9 1). tos dos atores e da s luzes. pa nhada, desde o surg ime nt o d a e nce nação, de sentido g lobal. Este tr ab alh o de co o rde naç ão e
!l. DORT ex plica o adve nto da en cenaç ão não um a torn ad a de co nsc iê nc ia da histori c idad e dos hom ogenei zaç ão se faz , para um teatro qu e mo s-
~ Tipo, caracterizaç ão, este reótipo, distribuição. pela complexidade dos recursos técnicos e da pre- texto s e da s representaçõe s , da sé rie de sucessi- tra uma açã o, em tomo da explicação e do co -
se nça indispen sável de um " ma nipulado r" ce n- vas co nc retizaç ões de um a m e sm a o bra . Est a m ent ári o dafábllla* qu e é tom ad a inteli gível re-
~ Pougin, 1885; Abraharn, 1933; Herzel, 1981; trai, mas por uma mod ifica ção dos públicos: " A histor ic idad e se ma nife st a pel a imposição de um corre ndo- se à ce na usada co mo teclado ge ra l d a
Anllll e! du Spec tacle , 1982-1983. partir da segunda met ade do séc ulo X IX, não há no vo saber ao te xto a se r re presentado : aq ue le prod ução teatr al. A encenaç ão deve fo rmar um
m ais, pa ra os tea tros, um púb lico ho mog ên eo e da s c iê nc ias humanas: "O sa be r é co nsti tutivo s iste ma o rgâ nico co mpleto, um a es tru tura o nd e
nitidam ente di ferenci ado segundo o gê nero dos da e nce nação" (P IEMME, 19 84: 67). cad a elem ento se integra ao conjunto, on de nada
ENCADEAMENTO es pe tácu los qu e lhe são oferec idos. De sd e então, é dei xad o ao aca so, e sim , possui lima fun ção n a
não existe m ais nenhum aco rdo fun damental pré- c. Co locação 110 espaço co ncepção de co njunto. Tod a e nce nação insta u ra
ê Fr.: enc hainement; Ingl. : scene order; AI.: vio entre es pec tado res e hom en s de teat ro sobre o A e nce nação co ns iste e m tr an s por a escritura
um a coerênc ia" , a qu al, aliás , ameaça a tod o
Szene nfolge ; Esp.: encadenamic nto. es tilo e o sentido desses esp et ácul o s" ( 197 1: 6 1). d ramática do text o (te xto es crito e/o u indicações mo mento tran sformar -se e m incoerê nc ia . Exem -
cênica sr ; para um a es c ritura cêni ca . "A ar te da pl ar, a e ste respeito, é a definiç ão de COPEAU,
I, Ligação dos episódios da fáb ula; ma neira pel a qu e ret om a inúmer as exp eriência s teat rais: "Por
1. Fun ções da Encenação e nce na ção é a arte de proj et ar no es paço aq uilo
q ua l a peça articul a as ce nas e pe la qual a encena- e ncenação e nte nde mo s: o dese nho de um a ação
qu e o d rama turgo só pod e proj e ta r no te mpo"
ção coorde na e dá ritm o aos d iverso s sistema s ( APPIA, 1954 : 3l\ ). A encen aç ão é " numa peça dr am átic a . É o conj unto dos m o vim ent o s, ges tos
a. Defini ç ões minima e máxima
cê nicos e à passag em de um a ação a outra. A e atitudes. a co nci liação da s fision omi a s. das vo-
de teatro a parte ver da deira e e speci ficam ente
A. VEINSTEIN prop õe du as definições de e n- ze s e do s silê nc ios ; é a totalidade do e s pe tác ulo
dramaturgia ilusionista" (clássica, rom ântica o u teat ral do es pe tác ulo " ( ARTAUD, I 964 b: 161,
ce nação, seg undo o ponto de vista do grande pú- cê nico. q ue e ma na de um pe nsamento ún ico, q ue
naturali sta ) conceb e a peça co mo uma progres- 16 2). É, em sum a, a tra nsformação. o u melh or, a
blico e aquele do s es pec ia listas: " N um a am pla o co ncebe, o rege e o harmoni za. O e nce nado r in-
são temática e actancial" cuida ndo para que os ace pção, o term o encenarão des ig na o co nj unto co ncre tização do text o, através do ato r e do espa-
ve nta e falorein ar entre as perso nagens aq uel e vín-
enc adea mentos seja m ao mesm o tem po eficien- dos me ios de interpretação cê nic a : ce ná rio . ilu - ço cê nico, nu ma duraçã o vivc nc iada pe los es-
cu lo sec re to e in visí vel . aq ue la se nsibilidade re-
tes e discreto s: não se deve en xergar os IIÓS* qu e minação , mú sica e atuação [...]. Numa acepção pect ad or es.
cí proc a, aq uela m isteriosa correspondên cia d as
os unem uns aos outros. estreit a, o termo en cenarão designa a atividade O espaço é, por ass im di zer, col ocado em pa-
rel açõe s , e m cuj a ausê ncia o dr ama, m e smo qu e
q ue consis te no arr anjo, num ce rto tempo e num la vras: o texto é memorizad o e in sc rit o no es paço
ge stua l do ator, répl ica ap ós réplica . O ator busca interpret ad o por excelentes ato res, perde a melh o r
2. U m en cad eam ent o é às ve ze s um motivo" ce rto espaç o de atuação, dos difer ent es e le me n- parte de sua exp ressão" (COPEAU, 1974 : 29 -30) .
(te xto , intermédi o lír ico o u dan ça do, co mentá- tos de int erpret aç ão cê nica de um a o b ra d ram áti - o percu rso e as at itudes q ue m elh or co rrcspo ndc m
rio) destinado a fazer a liga ç ão entre duas cenas ca" (195 5: 7). a sua inserção esp aci al. As fa las do diálogo, rca-
grupadas no text o, sã o dor avante espalhadas e c. Evidcnciação do sentido
(e ncadea mento do narr ador épico, do apresenta- De ixam os de lad o as ra zões hi st óri c as do
surgi me nto da encenação, no fin al do séc u lo XI X, inseridas no es paço c no tempo cê nicos , para se- A ence nação não é mais con sider ada, port ant o ,
dor no ci rco ou no mu sic -halh .
se m men osprezar sua import ãn ci a. Seria fáci l rem vistas e ouv ida s: "O ti po de e nunciação do co mo " ma l necessário" do qual o text o d ram ático
Q. Ligação das cenas, épico e dramático. análise mostrar a re volução técnica da ce na , e ntre Il\RO text o dr am ático co ntém a ex igê ncia de ser dad o a
ver" , esc reve j ustame nte P. RICOEUR ( 1983 : 63 ).
pode ria muit o bem , afi na l de co ntas, se priv a r, e
sim , co mo o pr óprio local do apareci mento do se n-
'\;), da narrativa. e 1900 , princip alm ente a mecanização do palco
O ges to, po r exe mplo, é siste m atic a me nte traba- tid o da o br a teatral. Ass im, par a STANISLÁVSKI,

122
123
ENCENAÇÃO ENCENAÇÃ(

compor uma encenação consistirá em tomar mate- laridade entre enunciado e enunciação, ausência comediantes fazendo-os mudar e explicitando- deve desembocar numa imitação: indicar não é
rialmente evidente o sentido profundo do texto dra- e presença. Ela confronta os locais de indeterm], lhes a imagem que eles produzem trabalhando a ditar, é, antes, sugerir, informar, mostrar um ca-
mático. Para isso, a encenação disporá de todos os nação e as ambigüidades do texto e da represen- partir de suas propostas e efetuando correções em minho possível.
recursos cênicos (dispositivo cênico, luzes, figuri- tação. Estes locais não coincidem necessariamente função dos outros atores. Ele se assegura de que
nos etc.) e lúdicos (atuação, corporal idade e no texto e no palco. Por vezes, a representação o detalhe do gesto, da entonação, do ritmo cor- 2. Problemas da Encenação
gestualidade). A encenação compreende ao mes- pode tornar ambígua, isto é, polissêmica ou, ao responde ao conjunto do discurso da encenação,
mo tempo o ambiente onde evoluem os atores e a contrário, vazia de sentido, esta ou aquela passa- integra-se a uma seqüência, a uma cena, a um a. Papel da encenação
interpretação psicológica e gestual desses atores. gem do texto. Por vezes, ao contrário, a represen- conjunto. Os atores experimentam, durante os en-
O surgimento do encenador na evolução do
Toda encenação é uma interpretação do texto (ou tação toma partido sobre uma contradição ou uma saios, diversas situações de enunciação", Ocu-
teatro é significativo de uma nova atitude pe-
do script), uma explicação do texto "em ato"; só indeterminação textual. pam pouco a pouco o espaço, ao termo de um tra- rante o texto dramático: durante muito tempo,
temos acesso à peça por intermédio desta leitura Tornar opaco pelo palco o que era claro no tex- jeto, organizando e organizando-se no conjunto na verdade, este apareceu como o recinto fecha-
do encenador. to, ou esclarecer o que era opaco no texto, tais ope- dos sistemas cênicos: "É isto a direção de ator, do de uma única interpretação possível que era
rações de determinação/indeterminação situam-se conseguir motivar vocês e por que os gestos preciso despistar (comprova isto, por exemplo,
f Três questões sobre a organização da no cerne da encenação. Na maior parte do tempo, efetuados por vocês no palco lhes pareçam não a fórmula de LEDOUX que recomendava ao
encenação a encenação é uma explicação de texto que orga- só que 'têm de ser feitos', mas que são evidentes: encenador, em confronto com o texto, "servir e
niza uma mediação entre o receptor original e o sentir que o papel é interpretado apenas com os não servir-se"). Hoje, ao contrário, o texto é um
Para compreender a concretização que impli-
receptor contemporâneo. Por vezes, ao contrário, deslocamentos, por exemplo" (C. FERRAN in convite a buscar seus inúmeros significados, até
ca toda nova encenação de um mesmo texto, bus-
ela é uma "complicação de texto", uma vontade Théãtre/Public n. 64-65, 1985, p. 60). Uma dire- mesmo suas contradições; ele se presta a novas
ca-se estabelecer a relação entre o texto dramáti-
deliberada de impedir toda comunicação entre os ção assim supõe que os signos produzidos pelo interpretações. O advento da encenação prova,
co e seu contexto de enunciação, colocando três
contextos sociais das duas recepções. ator sejam emitidos claramente, sem "ruídos" nem além do mais, que a arte teatral" tem doravante
questões teóricas:
Em certas encenações (aquelas inspiradas, por interferências, com os traços pertinentes busca- direito de cidade como arte autônoma. Sua sig-
• Que concretização é feita do texto dramático exemplo, por uma análise dramatúrgica brcchtia- dos pelo discurso global da encenação, que os nificação deve ser buscado tanto em sua forma
quando de qualquer nova leitura ou encenação? na), trata-se de demonstrar como o texto dramáti- comediantes realizem o jogo cênico uns com os e na estrutura dramatúrgica e cênica quanto no
Que circuito da concretização se estabelece en- co foi ele próprio a solução imaginária de contra- outros, sejam audíveis e "legíveis". Dedica-se ou nos sentidos do texto. O encenador não é um
tão como obra-coisa, contexto social e objeto es- dições ideológicas reais, aquelas da época na qual freqüentemente um cuidado particular à entona- elemento exterior à obra dramática: "Ele ultra-
tético? (Para retomar os termos de MUKA- se estabeleceu a ficção. A encenação é então en- ção e ao ritmo, àquilo que os alemães chamam de passa o estabelecimento de um quadro ou a ilus-
ROVSKY (1934); cf. PAVIS, 1983a). carregada de tornar a contradição textual imagi- Sprachregie (encenação da língua). tração de um texto. Torna-se o elemento fun-
ná vel e representável. Para encenações preocu- A encenação não é necessariamente - como damentai da representação teatral: a mediação
• Que ficcionalização, isto é, que produção de necessária entre um texto e um espetáculo. [... ]
padas com a revelação de um sub texto do tipo está na moda dizer - um exercício de autori-
uma ficção, a partir do texto e a partir da cena, se Texto e espetáculo se condicionam mutuamen-
stanislavskiano, supõe-se que o inconsciente do tarismo do encenador que despoja os autores e
estabelece graças aos efeitos conjugados do texto te; um expressa o outro" (DORT, 1971: 55-56).
texto acompanhe, num texto paralelo, o texto real- tiraniza sadicamente atores-marionetes. BRECHT
e do leitor, da cena e do espectador? No que a mes-
mente pronunciado pelas personagens. o lembrava, em vão: "Entre nós, o encenador não
cla de duas ficções, textual e cênica, é indispensá-
penetra no teatro com sua 'idéia' ou sua 'visão', b. O discurso * da encenação
vel à ficcionalização teatral? (cf. PAVIS, 1985d)?
Iz. Discurso parodico uma 'planta baixa das marcações' e dos cenários A encenação de um texto sempre tem uma
• A que ideologização são submetidos o texto dra- Qualquer que seja a vontade, apregoada ou não, prontos. Seu desejo não é 'realizar' uma idéia. palavra a dizer: intervenção capital pois será,
mático e a representação" O texto - seja ele dramá- de mostrar a contradição da fábula ou a verdade Sua tarefa consiste em despertar e organizar a ati- para a representação, a "última palavra"; não
tico ou espetacular - só se compreende em sua profunda do texto através da visualização do vidade produtiva dos atores (músicos, pintores existe discurso universal e definitivo da obra que
intertextualidade", principalmente em relação às subtexto, a encenação é sempre um discurso ao ctc.). Para ele, ensaiar não significa fazer engolir a representação deve trazer à luz. A alternati va
formações discursivas e ideológicas de uma épo- lado de uma leitura achatada e neutra do texto; à força alguma concepção fixada a priori em sua que ainda hoje vigora entre os grandes encena-
ca ou de um co/pus de textos. Trata-se de imagi- ela é, no sentido etimológico, paródica. mas nem cabeça e, sim, pô-Ia à prova" (1972: 405). dores - "levar o texto" ou "levar a representa-
nar a relação do texto dramático e espetacular com a contradição, nem o subtexto inconsciente estão ção" - é, portanto, falseada desde o início. Não
o contexto social, isto é, com outros textos e dis- verdadeiramente ao lado ou acima do texto (como j. Indicação se poderia privilegiar impunemente um dos dois
cursos mantidos sobre o real por uma sociedade. o metatexto); eles estão no entrechoque e no en- termos. Quase não se pensa mais, hoje, que o
No jargão dos atores, diz-se que o encenador
Sendo esta relação das mais frágeis e variáveis, o trelaçamento das duas leituras, no interior da texto é o ponto de referência congelado numa
dá indicações aos comediantes. Toda a dificul-
mesmo texto dramático produz sem dificuldade concretização, da ficção, da relação com a ideo- única representação possível, texto que só teria
dade consiste em dar e receber esta indicação por
uma infinidade de leituras e, portanto, de encena- logia: como uma paródia que não poderíamos se- uma única "verdadeira" encenação (roteiro*,
meias palavras: "É uma coisa bem difícil saber
ções imprevisíveis a partir somente do texto. parar do objeto parodiado. texto e cena*).
pegar bem uma indicação, como é coisa difícil
para o encenador dá-Ia com clareza. É preciso
g. Solução imaginária i. Direção de ator captar o espírito de não tornar-se escravo da le-
c. Local do discurso da encenação
O relacionamento das duas ficções, textual e Concretamente, a encenação passa por uma tra" (DULLIN, 1946: 48). Conselho que seguem • As indicações cênicas" dão diretivas muito
cênica, não se limita a estabelecer uma circu- fase de direção de atores. O encenador guia os todos os encenadores para quem a indicação não precisas para a realização cênica, porém a ence-

124 125
ENCENAÇÃO ENCENAÇÃO VtNCULADA A UM DETERMINADO LUGAR

nação não tem necessariamente que segui-Ias ao teis (PAVIS, 1996a). Certas categorias de encena- do espectador (A. SIMON, 1979: 42-56). Estas C-J:J. Becq de Fouquieres. 1884; Antoine, 1903;
pé da letra. ção dos clássicos também valem //I 11ta tis //IU- práticas oscilam entre uma abstração e uma abun- Appia, 1899, 1954, 1963; Rouché, 1910;
tandis para os textos contemporâneos. Elas colo- dância da cena. Allevy, 1938; Baty, 1945; Moussinac, 1948; Blan-
• O próprio texto muitas vezes sugere o desen- chard, 1948; Veinstcin, 1955; Jacquot c Veinstcin,
cam todas as questões estéticas com uma acuidade
rolar e o local da ação, a posição das personagens • "Despedaçamento" do texto original 1957; Dhomme, 1959; Pandolfi, 1961; Rcinhardt,
ainda maior. O fato de se tratar de textos já anti-
etc. (indicações espaço-temporais*). Um texto Ao mesmo tempo destruição de sua harmonia 1963; Artaud, I 964·a; Bablet, 1968; Touehard, 1968;
gos e dificilmente aceitáveis hoje sem uma certa
dramático, qualquer que seja ele, não pode ser Dullin, 1969; Dort, 1971, 1975, 197711, 1979;
explicação quase que obriga o encenador a to- superficial, revelação das contradições ideológi-
escrito sem uma vaga idéia de uma possível re- Girault, 1973; Sanders, 1974; Vitcz , 1974, 1981;
mar partido quanto à sua interpretação ou a si- cas (cf PLANCHON e sua Mise en Piêceis t du Cid,
presentação, sem um conhecimento, mesmo que Pignarre, 1975; Bettetini, 1975; Wills, 1976; Prati-
tuar-se na tradição das interpretações. Várias so- seu Arthur Adamov ou suas Folies bourgeoiscs)
rudimentar, das leis da cena usada, da concepção ques, 1977; Benhamou, 1977, 1981; Uhersfeld,
luções oferecem-se então a seu trabalho: ou as encenações do Théâtre de l'Unité (!).
da realidade representada, da sensibilidade de uma 1978b; Strehlcr, 1980; Pavis, 1980e, 198411; Hays,
época aos problemas do tempo e do espaço (pré- • Reconstituição arqueológica • Retorno ao mito 1981; Jomaron, 1981, 1989; Braun, 1982; Brauneck,
ellcellação*). A encenação se desinteressa da dramaturgia es- . 1982; de Marinis, 1983; Melrose, 1983; Banu, 1984;
Não encenar e, sim, reencenar uma peça inspi- Javier, 1984; Piemme, 1984; Fischer-Lichte, 1985;
rando-se, com um fervor arqueológico, na ence- pecífica do texto, para pôr a nu o núcleo mítico
• As indicações cênicas e as sugestões vindas Thomsen, 1985; Alcandre, 1986; Bradby e Williams,
nação de origem, quando os documentos de épo- que o habita (ARTAUD, GROTOWSKI, BROOK e
do texto nunca são verdadeiramente imperativas, 1988; Sallcnave, 1988; Jomaron, 1989; Thibaudat,
ca estão disponíveis. CARRIERE em sua adaptação do Mahabaratai.
e é decisiva a intervenção pessoal, c em certa me- 1989; Bradby, 1990; Lassalle, 1991; Régy, 1991;
dida exterior ao texto, do eneenador. O local e a Abirached, 1992; Yaari, 1995.
• Neutralização b. Alterações na escritura
forma desta intervenção são muito ambíguos.
Recusar a cena e suas escolhas cênicas em "bene-
Mesmo que seja concretizado num caderno de Um meio possível de se demarcar os tipos de
fício" de uma leitura neutra do texto, sem tomar
encenação, o discurso do enccnador dificilmente
partido quanto à produção do sentido e dando a
encenação consiste em observar como elas tra- ENCENAÇÃO VINCULADA A
é isolável da representação; ele constitui sua tam o texto: "Por qualquer extremidade que se- UM DETERMINADO LUGAR
ilusão (falaciosa) de que só nos prendemos ao tex-
enunciação", metalinguagem perfeitamente inte- jam pegas, todas as perguntas que o teatro faz
to e que a visualização é redundante. Ora o texto
grada ao modo de apresentação da ação e das per-
sonagens; ele não vem se juntar ao texto lingüís-
é vivido como uma ação única que não "dobra" o
sempre conduzem a esta: que acontece com o sen- ê Fr.: mise en scéne liée à 1lI1 lieu donné; Ingl.:
real (ARTAUD); ora o texto é concebido como um tido do texto no palco?" (SALLENAVE, 1988: 93). sue specific performance; AI.: Ortsgebundene
tico e à cena, não existe em parte alguma como Cada década parece haver inventado sua própria Inszenierung.
"bisturi que permite que abramos a nós mesmos"
texto acabado; está espalhado nas opções do jogo relação com os textos e o palco:
(GROTOWSKI, 1971: 35).
da atuação da cenografia, do ritmo etc. Por outro Encenação e espetáculos concebidos a partir e
- os anos cinqüenta propuseram uma leitura (res-
lado, ele só existe, segundo nossa concepção pro- • Historicização em função de um local encontrado na realidade
peitosa) das peças do patrimônio nacional
dutiva-receptiva da encenação, quando é reconhe- Levar em conta a defasagem entre a época da fic- (e, portanto, fora dos teatros estabelecidos). Gran-
(VILAR);
cido e, em parte, partilhado pelo público. Mais ção representada, aquela de sua composição, e a de parte do trabalho reside na procura de um lu-
- os anos sessenta introduzem uma releitura crí-
que um texto (cênico) ao lado do texto dramáti- nossa, acentuar esta defasagem e indicar as ra- gar, muitas vezes insólito, carregado de história
co, o metatexto é o que organiza, do interior, a tica e distanciada (PLANCHON);
zões históricas nos três níveis de leitura, isto é, ou impregnado por uma forte atmosfera: barra-
concretização cênica, o que não está ao lado do - os anos setenta preferem uma desleitura,
historicirar", Este tipo de encenação restaura, cão, fábrica dcsativada, parte de uma cidade, casa
texto dramático, mas, de certo modo, no interior desconstrução polifônica e dialógica (BAKIITIN,
mais ou menos explicitamente, os pressupostos ou apartamento. A inserção de um texto, clássico
dele, como resultante do circuito da concretização 1978) das práticas significantes (VITEZ);
ideológicos ocultados, não receia desvendar os ou moderno, neste local descoberto lhe confere
(circuito entre significante, contexto social e sig- - os anos oitenta questionam a estética da recep-
mecanismos da construção estética do texto e de uma nova iluminação, uma força insuspeitada e
nificado do texto) (PAVIS, 1985e: 244-268). ção e o "papel do leitor" (ECO, 1980), tomam
sua representação. PLANCHON,VILAR,STREHLER, instala o público numa relação completamente di-
altura e propõem metaleituras que timbrarn toda
• Além do trabalho consciente do cncenador, é FORMIGONI, VINCENT pertencem a esse tipo de ferente com o texto, o lugar e a intenção. Este no-
observação com o selo do comentário, margi- vo quadro fornece uma nova situação de enun-
preciso, enfim, deixar lugar para um pensamento "encenação sociológica" (VITEZ, 1994: 147).
nal ou predominante (MESGUICH); ciação que, como na land art, faz-nos redescobrir
visual ou inconsciente dos criadores. Se, como o
• Recuperação do texto como material bruto - os anos noventa restauram os poderes da escri- a natureza e a disposição do território e dá ao es-
sugere FREUD, o pensamento visual se aproxima
Textos antigos são usados como simples mate- tura e assistem a uma eclosão dc escrituras tan- petáculo uma ambientação insólita que constitui
mais dos processos inconscientes que o pensa-
rial com finalidade estética ou ideológica (atua- to autônomas quanto abertas numa encenação: todo seu encanto e sua força.
mento verbal, o cncenador ou o cenógrafo pode-
ria fazer o papel de "médium" entre linguagem lização brechtiana, modernização, adaptação, supcrleitura que se presta a todas as situações Esta técnica de encenação foi abundantemente
dramática e linguagem cênica. A cena sempre re- reescritura). Citações ou trechos de outras obras (COLAS ou PY); experimentada no século XX. Citemos principal-
meteria então à "outra cena" (espaço interior"). esclarecem intertextualmente a obra interpreta- - e no terceiro milênio? O texto, ou o hipertexto, mente: EVREINOFF e sua reconstituição da toma-
da (MERGUISCH, VITEZ). talvez passe da memória humana à mcmory da da do Palácio de Inverno; COPEAU e seus misté-
3. Tipologia das Encenações máquina, do corpo à virtual idade, sem que nin- rios em Beaune e Florença; o Théâtre du Soleil e
• Encenação de sentidos possíveis e múltiplos
guém tenha mais consciência dele, misturadas seus arranjos da Cartoucherie em função de cada
do texto
a. A encenação dos clássicos que estarão hiperescritura e hiperleitura. nova criação; o Royal de Luxe, a Fura deis Baus
Instalando práticas significantes" (KRISTEVA),
e Brith GOF que se especializaram na diversifica-
A c1assificação é arriscada e as categorias volá- que oferecem o texto espetacular à manipulação 1\) Q ucsuonano,
. , ..
~ visua I c tcxtua I . ção dos locais e na encenação de seu imaginário.

126 127
ENCENADOR
ENTREMEZ
ENCENADOR a ni mador» cultura l q ue se rve de intermediário Ar/ Pres s , 1989 ; Floe ck . 1989; Mcldolesi, 1989; mas a ação não deixa de co nt inuar fora do lugar e
e ntre a arte e sua co me rc ializa ção , entre os artis- Carasso e t a l., 1990. d a ce na", ou ainda: " O e ntreato é um repouso
~ Fr.: m e tte ur ell s c êne; Ingl.: directo r; AI.: tas e a cidade: pos ição de sco n fort ável, porém es-
't..: Regisseur; Esp.: dircctor de escena . apenas para os espec tado res, e não O é para a ação.
tratégica.
Su põe-se que as person agen s aja m no intervalo
EN SA IO de um ato a outro" (MARI>IONTEL, 1763). Pouco
Pessoa enca rregada de montar uma peça, as - 4. Nos anos noventa, a fu nçã o do encenador qu j,
sumindo a resp on sabilidade es tética e organi- im porta a dur ação do c rureaio , se ela é moti vada
se não é mais co ntestada , po rém é co nsiderav o], ~ Fr.: r ép étiti on; IngI.: repe tion, rchearsal; AI.:
zaciona l do espetácu lo, esco lhendo os atores, in- pe la ação que se prol on ga nos bastid ores: "Já qu e
ment e banalizada. A qu estão não é mais saber se 't..: lI'iederllOlllllg, Probe: Esp.: repeticion. ensayo . a ação não pára de j eito nenhum, é preciso que,
terpretando o texto, utili zand o as possib ilidade s
o ence nador faz dem ais ou não faz o suficiente - qu and o o movi men to ce ssa no palc o, co ntinue por
cêni cas à sua disposiçã o.
se é um mestre ou um medido r - , se a encen ação Trabalho de a pre nd izage m do texto e do j ogo trás dele. Não há re pouso , não há suspensão"
é um a "de mas iadaç ão" (VINAVER, 1988); faz-se cê nico efe tuado pel os a/ore s ' sob d ireç ão do (DIDEROT, Disco urs d e la Po ési e D ramaliqlle,
1. O surgime nto da função e do term o gera lrnen-
antes, com VINAVER, "a aposta de um retomo para ence nado r. Esta ativi dade preparatória do espetá- ca po 15).
te é situado na primeira metade do século XIX .
mais modéstia e le veza, para menos arte e mais culo ocupa o co njunto da com panhia e assume for- Po rém o e ntrea to tem m uit as outras j usti fica -
Se a palavra e a prática sistemática da encena - a rtesanato" (VINAVER in FLOEC K, 1989: 254) . mas basta nte d iversas (e IlCel/arão'). P. BROOK ções além dessa ilusór ia verossimilhança. É, pri-
ção ' datam dest a é poca, não faltam a ncestra is
Se m dúv ida, ainda se e ncontra a a firmação, mais ( 1968: 154 ) o bse rva q ue a pa lav ra fra nce sa evo- meiram ente, um a necess idade psicol ógica para o
mais ou menos leg ítim os do ence nador na histó -
to rtuosa qu e ingên ua, de que a mel hor encenaç ão ca um trab alh o qu ase mecâ nico, ao pass o que os públ ico, cuja atenção d ifici lme nte pode susten-
ria do teat ro (cf VEINSTEIN, 1955: 116-1 91).
de ve eont ent ar -se e m de ix ar o texto falar (S. ensaios se de sen vol ve m ca da vez de ma ne ira di- tar-se por mais de duas hora s se m pau sa. Do mes-
SEIDE, C. RÉGY, P. CHÉREAU, J. LASSALLE,ci- ferent e, e são, à s veze s, cri ativos. Se não o fos- mo modo, os atores também têm nec essidade de
2. No teatro grego , odidascalo (dedidaskalos, ins-
tados in L'Ar! du Th éãtre, n. 6 , 1986 ). M. DURAS sem ou se se prolog assem na repetição infinita repou so . Este retom o à realidade convida o es -
trutor) era às vezes o próprio autor: ele cumpria a
exige da encenação qu e e la faça o menos possí- da mesma peça, a morte do teatro se ria rapida- pectador, queira ele ou não, a pensar globalment e
função de organizador. Na Idad e Média, o men eu r
vel: "A representação rouba o texto, nada traz a ment e perceptível. O al em ão Probe ou o espa- no qu e acaba de ver, a julgar o trabalho, a totali zar
de j eu "condutor do jogo" tinha a respon sabilida-
e le, pelo contrário, rouba a presen ça do texto, pro- nhol ellsayo ("tentati va" ) tra duz melh or a idéia e a estru turar a massa d as impressões. É o desper-
de ao mesmo tempo ideológica e estética dos mis-
fundidade, múscul os, sa ng ue" (" Le théâtre", in: de ex perime ntação e de tat eio antes da adoção tar do espírito crítico , e não é de se espanta r que
térios. Na época do Renascimento e do barroco ,
La Vie Ma/ériellc). da solução definiti va . um a dram aturgia é pica fa vo reç a, até mesm o mul-
muitas vezes é o arquiteto ou o cenógrafo que or-
A jovem ge raçã o de e nce na dores não é mais tiplique essas pausas no e spe tác ulo, obrigando o
ganiza o espetácu lo de acordo com sua própri a
perspectiva. No sécu lo XV III, passa-se o bastão a
tributária de um model o dcsconstrur or, seja ele a ~ Trabalho teatra l. j ogo, distribuição. público a "i nte rvir" ne sses moment os de desilu-
psicanálise, o mar xism o o u a lingüíst ica, ela não sõ es. Em co ntrapartida, as encenaçõ es baseadas
grandes atores: IFFLAND, SCHRÕDER se rão, na
mais se refer e a modelos ou e scolas, e menos ain - W Spo lin, 1985; Co le, 1992 ; Shomit, 1992. no fascínio e submetid as a um ri tmo específico
Alemanh a, os prim ei ros gra ndes "e nsa iadores" .
da a moviment os ou "<ismos"; e la progrid e a ca da fazem muitas veze s, hoj e , desap ar ecer esses pre-
Mas será preciso esperar o naturalismo - em par-
trabalho , sem um progra ma defi nido , por vezes cioso s momentos de ca lma ria . Pl antado no se u
ticu lar o duqu e Jorge II DE MEININGEN, A. AN-
TOINEe K. STANISLÁVSKI - para que a função se se m as asas pro tetoras da insti tuição . Certos ar- ENTREATO lu g ar, de bico ca lado, a s c os tas doloridas por as-
tistas passam da ence nação à esc ritura (A. HAKIM, se ntos se m pied ade par a co m a a na tomi a, o es -
tome uma disci plina e um a arte em si.
H. COLAS, e. ANNE, P.RAl\H3ERT, Pil. MINYANA, :). Fr.: entra ctc; Ing I.: intennission; AI.: Paus e; pectador de agora qu ase não pode mais comunicar
J. JOUANNEAU, D. LEMAHIE U, A. BÉZU, J.-F. 't..: Esp.: int ermedio . seu mau hum or ; ele se vê obrig ado a partic ipar da
3. É delicado es tabe lecer um esta tuto definitivo
PEYRET, J. ROUSSEAU). outros co nservam a lem - "missa em ce na" , a não rom per o fio do es petá-
sobre a oportun idade e a imp ortância do encenador
brança de sua edu cação " forma l" com VITEZ (B. O entreato é o lap so de tempo e ntre os ato s cu lo . Nesta pr o va de re sistên c ia, esta é um a de-
na criação teatral, po is, em últ ima análise, os ar-
JAQUES, e. SCHIARETTI, S. LOUCASHEVSKY, S. durante o qu al o j ogo é in terr ompido e o públ ico mon st ração de for ça para pre ven ir a fuga dos
gumentos se mpre se red uze m a uma questão de
BRAUNSCHWEIG, J. DANAN), a lg uns se ab rem deixa provisoria me nte a sa la de es petác ulo . Rup- cé re bros do es paço te atr al.
gosto e de ideo logia e não a uma discussão estéti-
para a produ ção in tercul tu ral (e. VÉRICEL, G. tu ra que pro voca a vo lta do tem po soc ial, da des-
ca obje tiva. Co nstata r-se -á simplesmente que o
encen ador ex iste e qu e se faz se ntir - particular- TSAf, X . DURRINGER, M. NAKACHE, X. MAR- ilusão e da re flexão . ~ . Decupagem, tempo, silêncio, ato, intervalo.
CHESCHI, E. SOLA), algu ns se dist inguem por uma O entrea to torn ou -se necessário pela ren ova-
mente, aliás, qu and o não está à altura de sua tarc-
no va relaç ão co m o texto co nce bido corno mate- ção do cen ário , no decorrer de uma longa pau sa,
fa - na produção cênica. Durante os anos sesse n-
ta e setenta, ele se viu periodicam ente contestado rial plástico (E. DA SILVA, O. PY) ou material de de black- outs ou de mut ações à vista. M as sua ENTREMEZ
resistência (S. NORDEY, P. PRADlNAS, C. ALLOU- fun ção é sobretudo socia l. E le genera lizo u-s e as-
por outros "co leg as" : o ator qu e se sente aprisio-
nado por diretivas dcmasiado tirân icas; o cenó- CHERIE, E. LACASCADE). sim para o teatro de cort e do Renascim ento, pois -t}- (Termo espanhol para intermédior.i
permite o encontro do s espectadores e a exposi-
gra fo que gos taria de prender na arm adilha de sua
máquina de representar a equipe artística e o pú- W Allevy, 1938; Borgal , 1963; Bergrnan, 1964, ção das toaletes (daí o riru al dol o)'er na Ó pera ou Peça curta côm ica, no decorrer de uma festa ou
1966; Brook, 1968; Dullin, 1969; Vitez, 1974, na Co rnéd ie-Franç aise , no séc ulo XIX) . ent re os atos de uma tragédia ou de uma comédia,
blico; o "co letivo" que recu sa as disti nções no
1984; Wills, 1976; lI ays, 1977 ; Te mkine, 1977, A dramaturgia cl ássica ace ita os entreatos, es - onde se representam as person agens do povo: LOPE
grupo ao encarrega r-se do espetáculo e propõe
197 9 ; Pratiq ues , 19 79 ; Goda rd, 1980; Strehler, forçando -se pa ra moti vá-l os e fazê- los servir à ilu- DE RUEDA, BENAV ENTE, CERVANTES e CAL-
uma criação co le tiva " ; e, cheg ando por último, o
1980; Braun, 1982; L 'Art da Théâlre , n. 6, 1986; são : " Nos interv a los dos atos, o teatro fica vaz io, DERÓN foram mestres do gênero.
128
12 9
É P I CO E SCRtTU R A CÊN t C A

Q Senta urens i" Corvin, 1991. O te at ro é pico surgi u co mo reação às facilida- E PIS Ó DI O seu lugar , o dramatu rgo , se quer ex pri m ir os pro-
des da pe ça bem-feita e ao fascíni o ca tárt ico do cesso s soc ia is e m sua tot ali dade, de verá faz e r
público. Contudo, não cstá estabeleci do qu e a :), (Do grego cpeisodion , cntrada .) intervir uma vo z come ntado ra e arr u mar u f ábu-
É P IC O (TE AT RO... ) o posiç ão pl at ôni ca e ntre mimese e di égcse cor- 't...: Fr.: ép isode ; Ingl.: episod e; AI.: Episod e ; Esp.: 1 1I ~ co mo u m pan o ra ma ge ra l, o qu e exi ge um a

resp onda a bso luta me nte a um a o posição teó rica, ( ~J';5(}d io . técnica m ai s dc ro mancista qu e de dram atu rgo.
:), Fr.: ép ique [théà tre}; Ingl.: cpi: theat re; AI.: po is a m im ese nun ca é uma represent ação diret a
1. A tragéd ia grega era segmentada e m episodia , 4'3 H rston
· .. a, h f CC I111300.
' confli.to, narração .
't...: epischrs Tliea ter; Esp.: teatro eptco, da s coisas: e la acio na inúmeros índ ice s e sig no s
~ .
pa rtes s ituadas entre as inter ven ções ca ntadas do
cuja leitura lin ear e tempor al é indi sp en sável à
N a décad a de vinte, BRECHT, c, a nte s dele , co ro'. O s e p isódios são as part es d ial o gad as en-
co ns tituição do sentid o, de sort e qu e a imitaçã o
PISCATOR der am es te nom e a um a pr át ica e a
diret a e dram áti ca não pode se abs te r de um mod o
Ire o prólog o' e O êxo do ' (a sa ída do coro), e ESCRIT URA C ÊNICA
um es ti lo de represent ação qu e ult rap assam a co m põe m-s e de lon gas tiradas' o u cstico m itius" ,
d ra ma turgia c l ássica. "a ristoté lica ", ba seada na •
de co nta r, c qu e toda a prese ntaç ão miméti ca dra -
mática pre ssupõe um a narrativiza ção da ce na .
ê Fr.: écriture sc éniq ue; Ingl.: stagc ",ritin g: AI.:
te nsão d ram át ica, no co nfli to , na progressã o rc- 2. Em narra to log ia, um e pisód io é uma ação se- szenis chc Schrcibweisc; Esp.: escn tura eS CCIl ICll .
O teat ro é pico tent a enco ntrar e acent uar a in- cu ndária , ligada indi ret am ent e à açã o princip al e
g uiar d a ação.
terven ção de um na rrad o r, isto é, de um 1' 011/ 0 de fo rma ndo UITI tod o (dig ressão ). 1. A es critu ra ( a arte o u o tex to ) dram ática é o
U m teat ro é pico - o u, pel o men o s, um teatr o
vista so bre a fábu la e sobre sua e nce nação. Para unive rso teatral tal co mo é inse rido no text o pel o
que co nté m mom entos épi cos - já e x iste na Idade
Méd ia (pa ra os mistério s e sua s ce nas s imultâ- isto. ele re co rre ao s tale ntos do co mpos ito r (do 3. Os e p isó dios da fábul a o u d a intriga" são as aut or e rece b ido pe lo leito r. O d rama é concebi -
neas). O coro da trag édia grega, q ue desapare- dramaturgo), do Ia bulado r, do construto r da fic- part es integrantes da narrati va. do co mo e stru tura literári a que se ba sei a em al-
ceu pou eo a pouco, rev ela qu e, me s mo na ori- ção cênica (o cncenador), do ato r qu e con strói seu gun s princípi o s d ramatúrgicos: separaç ão do s
ge m, o teatro recitava e dizia a ação, e m vez de papel, discurso ap ós di scurso, ges to após gesto. LJ.:::1 Romilly,1970. pap éi s, d iál o gos. ten são dramática, ação das per-
e nca rn á-la e figurá-Ia a partir d o m om ent o em Do mesmo modo q ue não ex iste teatro pura- sonagen s . Esta es c ritur a dramática possui c ar ac-
q ue hou ve diálogos entre pelo meno s do is pro - mente dramático e "e mociona l" , não há teatro terísticas qu e facilit am sua passagem para (ou sua
ta goni st as. Do mesmo modo, os pr ól o gos , inte r- é pico puro. BRECHT, aliás . aca bará falando em E P I CIZ A Ç Ã O DO TE ATRO confront ação com) a escritura cênica: principal-
rup çõe s, e pílogos, relatos de men s agei ro são teatro dialéti co par a ad mini stra r a co ntrad iç ão ment e a di str ibui ção do texto em papéi s , se us
igualme nte rest os do épico na fo rm a d ram ática, entre int erpretar (mostrar) e vive r (ide nt ific ar-se). V (Tr ad ução do alemão Epi s ierung .) bu racos e amb igü idades , a abund ânc ia de ind ica-
mei os pa ra de ixa r adiv inha r q uem est á fa lando O teat ro é pico perd eu ass im se u ca ráter fran ca- Fr.: épisuti on d u th éátre ; l ngl.: "pie trea ttn en t ções espaço- temporais", A esc ritura d ram áti ca
e a quem e le se d irige. ment e antiteatra l e re vol uci on ári o par a to ma r-s e 01 drama ; AI. : Epis ierun g de s Dramas ; Esp .: não de ve , toda via, ser confundida co m a escri tu-
Sã o inúmeros os autores qu e, antes do teatro um caso parti cul ar e s istemático da represen tação ep izac ion d ct teatro. ra cê nica que le va e m co nta todas as possi bilid a-
é pico brecht iano, desativam a mol a d ramát ica por teatral. des de ex p ressão da ce na (ato r, espaço, tem po ).
ce nas de rel at os, inter ven ções do narrador, do A tendênc ia do teatro, a partir do fina l do sé - A tare fa do ce nóg ra fo é assistir o en ce nad or
mensageiro, do " anunciador" (CLAUDE L) ou do W Kesting, 1959; Theaterarbeit , 1961 ; Piscator, c u lo X IX, é integra r a sua es trutu ra d ram át ica os par a e nco ntrar uma es critura (ou um a ling ua ge m)
"diretor do tea tro" (Fausto de GOET HE). n ÜCH- 1962; Rülicke-Weile r, 1968; R. Grim m, 1971 ; e le m ento s épicos' : rel atos, su pressão da tens ão" , cê nic a: " pa ra c ada peça, inventar um a espé ci e de
NER, no se u IIh yzcek , co nta e m vá rio s qu adros Klo tz, 1976; Knop f, 1980. ru ptur a da ilu s ão" c to mad a da pa la vr a pe lo ling uage m para o o lho qu e sustente os sig nifica-
curtos a vida alienada de um hom em e m q ue tudo narrado r" , ce nas de ma ssa c interven çõe s de um dos da peça, o s prol on gue e faç a ec o a e les, ora
levar á ao c rime. IBSEN, em Pee r G vnt, descreve coro" , d ocument os entreg ues co rno n u m rom an- de modo pr e ciso e q uase crítico, ora de m od o
o enc aminhame nto poético do heró i através dos EPÍLOGO ce hi stó rico, proj eções de fot o s e de inscriçõe s, di fuso e s uti l, :\ m an eira de um a imagem po ética
lugares e dos tem pos. Th ort on WILDER e voca as so ngs" e interven ções de um narrad o r, m uda nças (o nde os se nt idos fo rtu itos não são me no s im por-
refei ções nat alin as que pontu am a vida das su- :), (Do grego ep ilogos, peroração de um d iscurso .) à vist a de ce n ário, eviden ciação cênica d o gestus" tantos q ue aq ue les q ue fo ram procu rad os), no in -
ccssi vas gerações (The Long Ch ris tmas Diner) . 't...:
Fr.: ép ilo gue; Ingl.: cpilogue ; AI.: Ep ilo g ; Esp.: de uma ce na. ter ior do regi stro e do mod o de expressão esco-
Todas es sas ex periê ncias o pta m por con tar o epílogo. Este m o vim e nto de e pici zaç ão (o u de desdra- lhido" (R. ALU O , citado in BABLET, 197 5 : 308 ).
acon teci mento. em vez de most rá-lo : a di égese" m at ização ), j á sensíve l em ce rta s ce nas de SHA-
subs titui a mi me se v , as per sonagen s expõem os D iscurso rccapitulat ivu no final de uma pe ça KESPE ARE o u GOETH E tG oet: 1'0 11 Bcrlichin - 2. A esc ritu ra (o u a arte) cênica é O mod o de usar
fatos, e m vez de dramatizá-l os (como o fará, em para tirar as co nc lusões da históri a, ag radece r ao g cn, F a usto 11), acentu a-se no sé c ulo XIX com o apar e lho cê nico pa ra põr em cena - "em ima -
BRECIIT, a testemunha do acid ent e de trânsito público, estimulá-lo a ex trair as lições morais ou o teatro numa poltron a ' (MUSS ET, HUGO) e os gen s e e m carne" - as per sonagens, o lugar e a
recons titui ndo gestual e verbalmente o que se políticas do espet ácul o, ga nhar sua benevolência. a frescos históricos (GRABBE, BÜC HNE R). Cul- ação qu e a í se desenrol a, Esta "escritura" (n o se n-
passou ). A so lução do drama é conhecid a anteci- Distingue-se do desenlace' por sua posição "fora mina com o teatro épico ou docum ent ário con- tido atual de esti lo ou maneira pessoal de ex pr i-
pad am ent e, as freqüentes interrupções (so ns, co- da ficção" e pela soldadura q ue realiza entre a temporãnco (BRECHT) . S ão po ss ívei s di versas mir- se) e vide nte me nte nada tem de comparáv el
ment ários, coros) impedem qualquer aume nto de ficção e a realid ade soc ial do espetác u lo. ex p lic aç õe s deste fen ôm e no , d o qua l HEGEL com a esc ritura do tex to : ela designa, por m et áfo-
tensão. A int er pretação do s atores redo bra esta ( I R32), SZON DI ( 1956) c LUKÁCS ( 1965) se fi- ra, a prática da e nce naç ão , a qual dispõe de in stru-
sensaçã o de d ist ância , de relato e de neutral idade 0 . Prólogo , d irigir -se ao público, disc urs o, rai - ze ra m teóri cos . El as se resu me m no fim do ind i- mcntos, mat er ia is e técnicas específicos par a tran s-
narrati va. ~ sonneur, f ábula, orador. vid ua lis mo her ói co e do co mbate sing u la r. No mit ir um se ntid o ao es pec tador. A fim de q ue a

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ESP AÇO ESP A Ç O CÊN ICO 2

co mparação co m a escritura se verifiqu e co mo algo ESPAÇO (NO TEATRO) 5. Espaço Te xtual " dc ce na s de tod as as ce nogra fias imag iná veis. É
bem fund ado, se ria neces s ário estabe lece r primei- qu ase aq u ilo qu e e nte ndemos por " a cena" dc tea-
ramente o léxico do s registros, unid ades e modo s :-'+ Fr. : espace (a u th éàtrc ); In g l. : sp uce (i" 11" , É o espaço co ns ide rado e m sua materi al idade tro. O es paço cê nico no s é d ad o aqui c agor a pelo
de prática cê nica . M esmo qu e a scmio logia" reve- ~ theat rc}; A I.: Th caterraum; Esp .: espacio teatrol, grá fica , Iô n ica o u ret órica ; o e spaço da " pa rt itu- e s pe tácu lo , graças aos at ores c ujas evoluções
le certos princípios de fun ci onamento cê nico, é cla- ra" o nde são co nsigna das réplicas e did ascálias . ges tuai s c ircu nsc reve m es te es paço cê n ico .
ro que ainda ficam os muit o longe de um alfabe to e A noção de es paço, c uja fo rtu na na teori a tea- O es paço textual é reali zad o qu and o o te xto é usa-
de um a escritura no sentido tradi cion al. tral tanto quanto nas ciências human as é hoj e pro- do não co mo es paço d ramát ico ficcion alizad o pelo I. Limites c Form as
A esc ritura cê n ica nad a mais é do qu e a ell ce - digio sa, é usada par a as pectos muito diversos do leitor ou pel o ouv in te , m as co mo mate rial bruto
naç ão" quando assumida por um cri ador qu e co n- texto e da represent ação. Sepa ra r e d efinir ca da di spo sto à vi st a e ao o u vi do do público co mo o teatro se mp re tem lu gar num es paço qu e é
trola o co nj unto do s s iste mas cêni cos, incl usive o um d esses espa ços é um a e m p re itada tão vã quanto " pattern " (assim co mo e m B. WILSON o u nas ú l- del im itad o pel a se pa ração e ntre o o lha r (o públi -
texto , e o rga niza suas inte rações, de mod o que a d esesperada. Não o bs ta nte, d edicar-n os-ernos a lim as e nce nações d e M NOUCIIKI NE pel o Th éâ- co) e o obj eto o lha do (a ce na). O limitc en tre jogo
repr esent ação não é o subproduto do te xto, mas o e la na esperança de uma cl a rifi ca ção. tr e d u So lc il) o u co mo repet iç ão s is temát ica c n ão -j ogo é d efinido por cada tip o de represen-
fund am ent o do se ntido teatral. Qu and o não há (lIA NDKE). tação e de ce na : a partir do momento e m qu e o
texto a e nce na r, e, portanto , e nce nação de um te x - I. Esp aço Dram ático" es pectado r adc nt ra a sa la , e le a ba ndo na se u papel
to, fa lar-se -á no se ntido estr ito e m esc ritura cê ni- 6. Espaço Interi or " de " o lha n te" par a se tornar um part ic ipa nte de um
ca: a de um WILS ON (nos seus primeiro s traba - É o esp aço drarnat úrgi co d o qual o text o fala, eve nto q ue não é mais teatral e, sim, j ogo dra m â-
lhos), um KANTOR o u um LEPAGE. espaço ab strat o e qu e o leit or o u o esp ectador de ve É o es paç o cê nic o e nq ua nto tent at iva de re- tico" o u happening" ; o es paç o cê nico e o es paço
O trabalho dramatúrg ico " (sent ido 2) enca ra construir pela im ag inação (ficcio nalirundoí . presentação de um a fant asi a, de um sonh o, de uma soc ia l são e ntão confu nd idos. Afora esses tra ns-
o texto dramático dentro da perspectiv a de sua visão do dramaturgo ou d e uma person agem: por bordamentos, o es paço cênico permanece in vio-
escritura c ênica. 2. Espaço Cênico* exemplo, o espaço criado por R. PLANCHON para lad o, quai sque r qu e sejam sua configuração e
Arthur Adamov ou por Ph il1ipp e ADRIEN para metamorfo se s.
3. Para PLANCHON, a escritura cêni ca e a esc ri- É o espaço real do pa lco o nde evoluem os ato- R êves de Fran: Kafka (t eat ro da f a/llasia*). O esp aço cê nico se organiza em estreita rel a-
tur a dr am ática sempre ex istiram, mas ca da époc a res, quer eles se restrinj am ao espaço propriamente O funcionament o d o espaço na e nce naç ão çã o com o es paço tea tra l (o do local , do ed ifíci o ,
pri vilegia uma delas: a Idade Médi a esc reve e m dito da área cênica, qu er e vo lua m no meio do co nte m po râ ne a é abordad o e m cad a um desses da sala). Ele co nhec e u todas as formas e re lações
imagens, procur a representar as person agens de públi co. se is tip os de e spaç o e n as e n tra das ce nograf ia ". co m o lu g ar dos espectado res. Se ad m itirmos a
seus mistérios. O classicism o pan e do texto, ada pta dispositivo cê nico>, m áq uin a tea tra l" , pe rc ur- origc m ritu al do teatro , a part ic ipação de um gru-
e retr ab alh a mat eriais textu ais, se m preocupar-se so ", tabl ado ", teatro de rua ", teat ro l/e massa", po numa ce rimônia, num rit o , e dep ois numa ação
3. Espaço Cen ogr áfico* (ou Espaço
com su a a presentação vis ua l. Nossa é poca distin- imagem " , ruual izad a, o círcu lo figura o local pr imordial e a
Teatral) ce na não exige um â ngu lo de vi s ão ou um a dis -
gu e as duas es c rituras c as represent açõe s esco-
lhem uma dela s : " Às vez es o te xto dram ático oc u- tân ci a part icul ares . O círc u lo - n o qu al se ins pira
É o es paço cê n ico, m ai s pr eci samente defi - o teat ro g rego, qu e é ao m esmo tempo co ns truído
pa todo o terr en o , às vezes é a esc ritura cêni ca, c ,
nido com o o es paço e m c ujo int eri or situa m-se
ESPAÇO CÊNICO I
às vezes , é a mi stura dos d ois" (Pratiq ues n. 15 - c n at u ral ment e escavado no flan co de um a co lina
púb lico e at or es d urant e a rep resentação. Ele se - vo lta na seqüên cia a tod o lu g ar e m q ue a par ti-
16, 19 77, p. 55 ). E sta d istin ção c este co ne qu e :). Fr.: licu sc én iq uc; Ingl. : 1'10.";'11' a rca; AI.:
ca rac teriza co mo rel aç ão entre o s doi s, relação
os eneenado res, co mo os e rudi tos, deleit am-se e m ~ Spiclfl iiche; Esp. : lugar escénico. cipação nã o fica limitad a àq uela d o ol ha r ex terio r
teatral " (R. DURAND, 19 80 ) (lu gar teatralr i. so bre o aco ntecimen to . E n tão , o ã ng ulo e o feixe
perpetuar é, e m si, ba stant e d iscutí vel , pois, se
Poder- se- ia reser va r o ter m o espa ço (do ) p úbli- ó ptico qu e ligam um o lho e um a ce na é qu e se
se mpre se opôs hi stori cam e nte mimcse (a imita - Te rmo de uso con te mporã neo para palco" o u
co ao lu gar qu e é o cu pa do pel o públi co no d e-
ção de um a coisa) a di égese (o texto qu e descreve área de ali/ação *. Considerando-se a e xplos ão das to rna m o e lo e ntre públ ico e ce n a. No palc o itali a-
co rre r da repr esentaç ão e du rante os inte rva los no . a ação e os a tores fica m con fi na do s num a cai -
es ta co isa) , a imagem ao te xto, é em virt ude d e formas cc nog rá ficas e a ex pe rimentação sobre
(o u ex ata me nte a n tes d o in íc io d o espet ácul o). xa a berta fro ntal ao o lha r d o p úbli co e do prín cip e.
um cr itéri o de im ita ção e d e reali smo , logo, de novas reta ç ões palc o -pla té ia *' . es paço cênico ve m
O es paço teatral é a result a nte d o s es paç o s (nos c uja po sição de aud ição c d e o bse rvação é pri vi-
relação ao referente, qu e es tá lon ge de se r o ún i- a se r um lermo cômodo. porque neut ro. para des-
se n tidos I, 2, 4 , 5 e 6); e le se co ns tró i, obse rva
co possível. Por outro lad o, tod o texto obriga o c reve r os dispositivos * pol im o rfos da área de a tua - legi ad a. Este tipo de palco o rga niza o es paço d e
Annc UBER5FELD, "a part ir d e uma a rq uite tu- aco rdo co m o princí pio d a di stânci a, da sime tria
leitor a faz er dele, para si, uma represe ntaç ão ção (ve r também es paço 2*) .
ra, de um a m irad a so b re o mundo (pictó ric a), e da reduçã o d o un ive rs o a um cubo qu e sig nifica
ficcion al c, inversamente, tod a ima gem cê nica se
ou de um espaço esculpido e ssencialmente pelo o uni ver so inteiro pel o jogo combinado d a repr e-
lê tamb ém conforme um conjunto de có digos e
corpo dos atores" ( 198 1: 8 5) . sentação diret a e d a ilu são.
circ uitos que a linearizam e a dec ompõem . ESPAÇO CÊNICO 2
A co mb inação desses dois princípios - cír cul o
~ . Retórica, texto e cena.
4. Espaço Lúdic o* (o u G estual) :). Fr.: espace scrniquc; ln gl. : stage spa Cl'; AI.: e linh a. com do s o ficia nte s e olho do senhor - pro-
~ Biihncnraum; Es p. : espucio escénico. duz todo s os tipos de palco e de relações no teatro:
r:;;:;;). Banh es, 195 3 ; Art au d,
1964a ; Bartolucci, É o espaço c riado pel o a to r, por sua presença e a h istó ria do teatro ex pe ri me nto u-as se m que ne-
1968; Lartho mas, 1972 ; Martin, 1977 ; VaiS, se us de slocamentos. po r sua rel ação co m o gru- É O es paço co nc re ta me nte perce ptíve l pel o nhu ma fó rm ula jamais se impusesse em de li niti-
1978; Alca ndre, 19 86 ; Vinave r, 1993. po , sua disposição no pa lco. públ ico na o u na s ce nas. o u ain da os fragm e nt o s vo , po is a re presen taç ão c a figu ra ção do real são

132 133
ESPAÇO [) R A ~I Á TI C O
ES PAÇO CÊ N ICO 2

du zido a a lgumas características . To da drama- eles descre vem por es ta cisão não é se não o con·
submetidas a incessant es varia ntes qu e a fetam a t é da por co ntig üi dade es pac ial. Est as du as co m-
turg ia, e mesmo tod o es pe t ácu lo é objcto d e um a flit o entre du as per sonagen s ou duas ficções , ou
a escritura e a estrutura do texto dram ático. binatóri as, as qu ais JAKülls üN ( 1963) mostrou no
aná lise es paci al e de um reexam e de se u fun ci o - entre sujeito dc scj ant e e o bjeto desejado. Tudo é
que elas presid em tod a significação e sc m ioses, dão
nam ento . O es paço não é mais con cebido co mo mesm o, na ve rdade , co n llito entre du as parte s,
2. Dep end ência e Independência do a cha ve de tod as as figu ras cê nicas : de sua nature-
isto é , dois es paços dr am áticos , e tod a narrat iva
co nc ha e m c ujo interi or ce rtos ar ranjos são per-
Espa ço Cênico za, de sua fac ilid ade de assi nalar o real e de man i-
m itid os , m as co mo elemen to d in âm ico de tod a a não é mais q ue a co locação em sint agma (is to é,
pular o espaço (tex to e ceua - ).
co nce pção dr amatúrgi ca. Ele deixa de se r um pro - a suces são linear ) desses dois paradi gm as.
Por um lado, o espaç o cê nico é deter minado blem a de in vólu cro para tom ar-se o lu gar visíve l Para qu e es ta proj eção do espaço dramáti co se
pelo tipo de cenog rafia e pela visua lização que dele 4. Tipologia c Qu alid ades dos Espaço s da fabri ca ç ão e da manifestação do se u tid o - . reali ze , não é necessári a nenhuma ence nação; a
faz o encc nado r em sua leitur a do espa ço dra m á- Cênicos leitura do texto bas ta para dar ao leit or um a ima-
tico" , Porém . por outro lado. o ce nóg rafo e o cn- í:h.J Bro ok , 1968; Bablet.. 1972. 1975; Hays, 1977 , ge m espacia l do uni verso dramáti co. Const ruí -
cena do r têm um a grande margem de liberd ade para A cada es té tica co rresponde um a co nce pção ~ 1981 ; B anu e Uberstcl d , 1980 ; Jan scn , 1984; mos es te espaço a partir das indi ca ções c ênicas"
moldá-lo à se u modo. Desta dial ética entre de- parti cular de es paço, de modo qu e o exame do Ca rlso n, 1989; Regy, 199 1: Bou cri s, 1993; Pavis, do auto r (espécie de esque ma depré-enc;naçào - )
terminism o e liberd ade nasce o es paço cê nico es- es paço é sufi ciente para levant ar um a tipologi a 1996(1 . e das indicações espaço-tempo rai s" ; nos d i álo -
co lhido par a a represent a ção . Eis por qu e co m d as dr amaturgi as (cf KLüTZ, 1960; HINTZE, gos (cenário fala dor t . Ca da espectado r, co nse-
freq üê ncia se obse rvou que o es paço se rve de me- 1969): qüent em en te, tem sua própr ia ima gem subjetiva
diador entre visão dramáti ca e realização cênica. ESPAÇO DRAM ÁTI CO do es paço dra má tico, e não é de se espantar qu e o
"É no nível do espaço, ju stamen te po rqu e ele é, a. O esp aço da trag édia c láss ica brilha por sua ence na dor s6 esco lha , também ele, lIl1la possibi-
em grande parte, um não-dito do texto , uma zona au sência: é um lugar neut ro, de pa ssagem, que :-+ Fr.: espace drama tique ; lngl. : drama tic space, lidade de lug ar cê nico concreto. Eis por q ue a
particularmente esburacada - o que é propri amente não caracteriza o ambiente, mas fornece um su- 't..: space represented: AI.: dra ma tisc he r Raiun; "boa" encena ção " nã o é, como ainda se acr edita
af oita do texto de teatro -, que se faz a articulação porte intelectual e moral para a personagem. É o Es p.: cspacio dramático . com freq üênci a, aq uela que encontra a m elhor
text o-repr esentação" (UBERSFELD (1977 0 : 153). local abstrato e simbó lico do tabuleiro: tudo aí adequação e ntre es paço dramático e espaço cêni -
(Ver também JANSEN, 1984). significa por diferen ça, c toda ca racterização das Espaço dramático o p õe-se a es paço cênico co (texto e p al co »).
casas é supérflua. (ou es p aço teatral ). Este últim o é vi sível c se
3, Funci onamento do Espaço Cêni co co nc re tiz a na en cenação . O pri me iro é um e spa- 2. Con stru ção do Espaço Dramático
b. O es paç o ro mâ nt ico muitas vezes suc um be ao ço co ns tru ído pel o esp ectad or o u pel o leit or para
Graças a sua propriedade de signo. o espaço brilh o fácil, à co r local e à arqueo logia "subj eti- li xar o â m bito da evolução da ação e d as per so- O espaço dr amático est á em perpétuo m o vi-
osc ila entre o es paço signiji can te co nc retamente va" en carregada de suge rir mund os extraord iná- nagen s ; pe rtence ao tex to dr am á tico e só é visua- ment o : e le de pende d as rel a ções ac tanc ia is qu e
perceptível e o es paço significado ex terior ao qual rios ~ . im aginaç ão . lizá vel quando o es pec tado r co nst rói imagina- devem necessar iament e mudar se a peça d e ve te r
o espec tador deve se referir abstrata me nte para ria me nte o es paço dr am át ico . a men or ação, O espaço dram ático só se toma real-
entrar na ficção (espaço dram álico* ). Esta arnbi- c. O espaço na tu ral ista" imita ao máximo o mun- ment e co ncre to e visíve l quando um a encenação
güi dade co nstitutiva do espaço teat ral (isto é, dra- do qu e el e pint a. S ua fat ura materi al - infra-es- I . Es paç o Dram ático Co mo figur a alguma s das rel açõe s espaci ais impl icad as
m átlco + cênico) provoca no espec tador urna du- trutura econô m ica , hereditariedade. histori c id ad c Espa ciali zação da Estrutura Dr am ática pelo tex to. Neste se ntido, pode-se dizer qu e o es-
pla visão. Nunca se sabe exat amente se é preciso - lica co nce ntrada num llleio* que ence rra as per- paço cên ico e a ence nação se mpre são . por um
co nsid era r a ce na como rea l e co ncreta ou como so nag e ns . O espaço dr am áti co é co ns tru ído q uand o fa- lad o. tri but ário s da est rutura e do es paço d ram á-
uma outra cena , isto é, co mo uma fig uração laten - ze mos pa ra nós mesm os uma im agem da est rutu- tico do te xto : se ria inútil, para o cn ccn ad or , se r
te e inco nsciente. Nesta últim a e ventua lidade, é d. O es paço s imbo lista , ao co ntr ário , d esma - ra dr am ática do uni verso da peça : es ta ima gem é mui to invcnti vo e zo mba r do text o a ser e nce na -
po ssíve l ler a ce na co mo co nj unto de figuras retó- teriali za o lugar, esti liza -o co mo un iver so su bje - co ns tituíd a pelas per son agens , pe las ações e pe- do ; e le não pod e ign orar totalm ent e a repre se nt a-
ricas cujo se ntido profundo (ret árica r ) é procura- tivo o u o nírico subme tido a uma lógica diferente las rel açõe s de ssas pe rso nagens no desen rol ar da ção men tal qu e fez do es paço dram átic o ao ler o
do . O qu e é figur ado em cena não é a manifes- (r]. STRINDIl ERG, CLAUDEL, os projetos cc no- aç ão . Se se es pacia liza (isto é, esq ue m atiza numa text o (text o e palco") ,
raç ão de uma outra realidad e não-fi gu rada e at é gr áfic os de APPIA o u CRAIG). Ele pe rde toda esp c- folh a de pap el ) as re lações e ntre as per son agens, O espaço d ram áti co é o es paço da ficçã o * (e
mesmo não-figurati va: esta realid ade é tan to aque- cifi c ida de e m ben e fício de um a síntes e das artes o bté m-se urna proj eção do esque ma actancia l" nisto e le é idênt ico ao espaço dram áti co par a o
la do observado r que se projeta nela qu anto a do cênicas e de uma atm osfera globa l de irr ealidade do uni verso dramáti co. O esq ue m a act an cial se poem a o u o ro ma nce o u todo texto lin güísti co ).
ence nado r que a esboça pelo lug ar cênico e pela (Gcsamtkuntwerk s s. organiza em tomo da rel ação SI/jeito e m busca e Sua co nstrução depende tanto das indi ca çõe s qu e
prese nça dos atores. Figurar a ce na é em pregar obj eto desta busca. Em tom o desses dois pólos nos dá o a uto r do texto quanto de nosso es forço
urna figura de retórica para passar de um elemen- e. O espaço expression ista se modela em locais gravitam o resto dos act ant es cuj o co nj unto for- de ima ginação . N ós o construímos e model am o s
to - o es paço Concreto - a um outro es paço imagi- parabólicos (pri são , rua, hospí cio, cidade etc.). ma a estrutura dram ática. a qu al é visualizávcl a no sso bel pr azer, sem que ele nunca se m ost re
nado. o fora-de-cena e o espa ço dram ático, Duas Atesta a profunda crise qu e dil acera a consciên- num espaço dramático. I. LOTMAN ( 1973 ) e A. ou se anule num a representação real do es pet á-
fig uras co nvê m a esta passagem fora do visível: a cia ideológ ica e estética . UBERSFELD (19770 ) observa m qu e es te espaço culo . Es ta é s ua forç a e também sua fraqu eza .
metáfora c a metoními a. A primeira tran sform a seu O esp aço do te at ro contempor âneo é ce ntro de dr am áti co é nec es sari am ente c ind ido e m doi s poi s e le "fa la men o s ao olho" do qu e o es paço
obje to po r ximilaridadc/dissimilaridade , a scgun- exp eriên cias demasiad o num erosas par a se r rc- co nju ntos . dois "s ubes paço s d ram áti co s" . O qu e cê nico conc re to . Po r o utro lad o, o es paço d ra-

135
tJ-I
E SP A Ç O t NTER I O R ES PAÇO LÚDt C(

máti co (simbo lizado ) e o espaço eênie o (visto ) I . O Esp ectador reais (mús ica e arnbi ência "d errealizad as" ). Por do GROTOWSKI (1971 ) ou BROOK ( 1968) sou-
misturam-s e se m cessar em nossa percepção. um e xe mplo . PLANCHO N salpi ca suas descr ições be ram tirar deste "des nudame nto" do ator diant e
ajud and o o outro a eo ns tru ir-se , de modo que. o teatro é. à prim eir a vista . o lug ar da exte- cheias de malíc ia das Fol ies Bourgeoises co m do públi co para enriquecer a rel ação teatral e o
ao eabo de um momento, so mos incapazes de rioridade onde se contempla impunemente uma ilhas oníricas onde predomina a imagét ica surrea- autoconhec imento. Est a e xte rio rização do espa-
di scernir o qu e nos é dado e o que nós mesmos ce na, mantendo-se a si me smo à dist ância. É, se- list a (colagem. junção de obj etos heteróclitos, ço interior, verdadeira obsessão da s atuais pes -
fabri camo s. Nesse pre ei so momento interv ém a sub stância e ritm o ges tua l dif erente). Estes pa- qui sas so bre o ator, aco mpanha as pesqui sas so -
g undo HEGEL, o lugar da obj e tividade e tamb ém
ilusão" teatral. po is resid e aí a natureza da ilu- rênteses onírico s vê m no mom ento em qu e o pen - bre o espaço cênico ",
aque le do co nfro nto entre palco e platéia ; logo.
são : se r persu ad ido de que não invent am os nada , sa mento ver ba l constituído é insuficient e para fi-
apa re nte me nte. é um es paço ex te rior, visí vel e
qu e es tas quime ras qu e tem os diante dos olhos e objetivo.
gur ar o trabalho do imagin ári o e em qu e a im a- W Jamat i, 1952; Lan g cr, 1953; Bachelard, 1957;
do es pírito são re ais (d enegação* ). gem onírica dá um a ap ro xim ação e um a " idéia" Derrida, 1967: 253 -340 ; Green, 1969; Dorfles,
Ma s o teatro é tamb ém o local no qu al o es-
c ênica do trab alh o d o inco nsciente. Este trab alh o 1974 ; Benmu ssa, 1974 , 1977 ; Lc Galliot, 1977 ;
pcc ta do r deve proj et ar-se (ca ta rser, ide ntifica -
do incon sciente (esse nc ialmente. desl ocamento Pierron, 1980; Finter, 1990.
3. Ligação entre Espaço Dramátic o e ção O). A partir de então, co rno que por osmose, o
e cond ensação) tem por obj eto um jogo de ima-
Cenografia te atro se torna espaço int eri or, a "extensão do ego
gen s às quai s é recu sada qu alquer verbali zação
co m tod as as suas pos sibilidades" (MANNONI.
1969: 181 ). Para que haj a te atro , é preciso que
(retó rica*). Esta técni ca da e nce nação de elem en- ESPAÇO LÚDICO (O U
Esta co nfigu ração do espaço dram ático que tos inconscient es do so nho ou da fant asia é fre-
reconstituím os à leitura do texto influi, em com- haj a um iníc io de identifi caç ão e de ca tarse: "A GESTUAL)
qü ente num teat ro de im agen s, sem texto, dem a-
pensação, sobre o es paço cê nico e a cenografia. verdadeir a fru ição da o bra poéti ca provém da li-
Na verdade. um certo esp aço dram ático necessi- beração de te nsões com nossa al ma" (FREUD.
siado dom inador qu e ex igiria uma exemplificação
minuciosa. E la é então e m prega da co m con hec i-
V Fr.: espace ludiqu e ( 011 ges tuel} ; Ingl.: ludic
(a r ges tu ral) space; A I.: gestischcr Raum; Esp.:
ta, para co ncretiza r-se . de um es paço cê nico que 196 9. vo l, 10: 179). Enco ntram os na perso nagem ment o de ca usa pel o e nce na do r (daí um ce rto espacio lúd ico (a gestua l).
o sirva e lhe per mita apr egoar sua espe cificidade. uma part e do nosso ego recalcado e " talvez mes- virtu osismo e um es teticis mo» às custas de uma
Assim, para um a es tru tura e um espaço dramáti- mo o fato de que o criador nos coloca em condi- abord agem intuiti va e não sofi sticada). M as ela É O espaço criado pela ev o lução ges tual" do s
co baseados no co nflito e no co nfronto. é neces- ções de fru ir dora vante se m ce nsur a e desaverg o- exi ste em toda e nce na ção . j á qu e nada do texto atores . Por ações, relaç ões de proxim idade ou de
sário usar um es paço qu e va lorize esta opo sição . nh ad am ent e nossas pró prias fantasia s co ntribua impõc a prior i um a visualização de um tipo pre - a fas tame nto. livres e xp an sõ es o u confinament o a
Aqu i coloca -se a ete rna qu estão da anteriori- grande me nte para este suces so " ( 179) . ciso, e qu e o e nce na do r e o cenógrafo são livre s um a áre a mínim a de j og o. o s ator es traçam os
dade da cenografia ou da dram aturgia" (estrutu- Ass im. o es paço cê nico ado ta a fo rma e a co- para fab ricar a imagé tica qu e lhes ag radar. De exatos lim ites de seus territórios ind ivid ual e co-
ra dramática). É ev ide nte qu e uma determ ina a loração do ego espectador: e le é. al iás. co m mui- cert o mod o, é nas re presentações realistas e na - letivo . O espaço se or gani za a partir deles, com o
outra; mas em prim eiro lugar vem , é claro. a con- ta freqü ência, muito pou co carac te rizado (dentro turalistas qu e é ma is revcl ador observ ar no en- qu e em torn o de um pi vô . o qual também mud a
ce pção drarnat úrgica, isto é, a questão ideológica do e stilo atua l) e só tom a co rpo realmente graça s cenado r esta escapa d a in voluntária da fantasia de posição qu ando a aç ão exige.
do co nflito hum ano. do motor da ação etc. So- à projeção de um ego exterior. criad ora, pois é no momento em que est a toma Este tip o de espaço é co n stru ído a partir do
mente em segu ida o teatro escolhe o tipo de espa- pre cau ções pa ra não se trair, para nad a de ixar jogo: está em perpétuo movimento. os limites são
ço cênico e dram atúrgic o qu e melhor convém à 2. O Reali zador aparece r de sua própria visão , que está mais ar- ex pans íve is e impre visív e is. ao passo qu e o espa-
visão dram atúrgica e filosófica. A eena é, afinal, riscada a dei xar tran spira r e liberar se u inconsc i- ço cêni co, ainda que pare ça im en so. é na verdade
apenas um instrument o e não urna prisão eterna e Acontece de a tem áti ca da peça ou de o pres- ente. Par adoxa lment e. só há teatro da fa ntasia limit ad o pel a estrutura ce nog rá fica da sa la. Mais
uma imposição para os meios dramanirgicos. Não su pos to da ence nação imp or u m di spositi vo cêni- onde não se suspe ita q ue haja, onde não se pro- ai nda que o espaço cê nico. o es paço ges tua l pres -
é de se duvid ar que haj a. na história teatral. mo- co qu e supõe-se figurar um es paço inter io r: o do cura dar-lhe forma. Eis por que as en cen ações ta-se a tod as as conve nções e manipulações; não
so nho de um a person agem , de s uas fanta sias" e mais ricas a es te resp eit o são aquelas qu e dosam é um esp aço realista, mas um instrument o cêni co
mentos em qu e um certo tipo de cenografia tenha
de seu ima gin ário. sutilm ente reali smo e fantasia. As peças de TCHÉ- à disposição do ator e do e nce nador. Toda repre-
bloqueado a análise dramat úrgica e, portanto, a
O espaço interior dess a personagem evidente- KHOV, IBSEN, STRINDBERG, GÓRK1 ou mesmo se ntação é, neste sentido, o teatro de um dupl o
representação do homem no teatro. Mas a ceno-
mente é tribut ário, em g ran de part e. daqu ele do de BRECHT (quando LAVAUDANT, Puntila, ou movimento de ex pansão e de con centração do
grafia sempre aca ba sendo abandonada qu ando
realizador. Este está defronte a sua personagem - ADRIEN. Um Homem é 1/11I Hom em . o encenam ) espaço: o es paço cêni co fornece () qu ad ro geral ;
presta maus se rviços , e ela se adapta então ao mo-
inté rprete na mesm a s ituação tranqüili zante que hesitam entre os do is es tilos (rea lismo e fantás ti- tende a englob ar e a es magar tod o eleme nto que
vimento ideológico e dramatúrgi co.
co) e prest am -se maravilh osament e à eclos ão cê - nele apareça. O espa ço ges tua l, ao contr ário, di-
o es pectado r qu e contem pla co m delíci a o ego e
nica dos es paço s inte riores recalcad os . lat a-s e e preenche o es paço a mb iente , pelo me-
~ Hintze. 1969; Moles e Rohmer, 1972; Sami- as fantas ias das person agen s e m cen a: e le mani -
Ali. 1974; Issacharo ff, 1981; Jansen , 1984. pula e co ntemp la um a part e de se u eu íntimo sob nos quando é bem utili zado . A harmoni a desses
os traços de um outro. Uma boa part e da visua- 3. O Ator movimentos es pac iais inversos cria a impressão
lização cêni ca sai assim dir etamente do incon s- de umjogo* que usa o melhor possível as possi -
ESPAÇO INT ERIOR cient e do realizador via inco nsciente fictício da Em último lugar, todos esses espaço s revela- b ilida des da sa la. O esp aço gc stua l é também a
persona gem . As passagen s o nírica s são , na mai o- dos pel a ce na passam pelo co rpo" do ato r. Proj e- m aneira pela qua l o co rpo" do ator se co mpo rta
ê Fr.: espace int éricur; Ingl.: interior spacc; AI.: ria da s vezes, parênt eses na represent ação: elas tand o a im agem de s ua pers on agem , dand o a ve r
o in visível de su a co nsc iênc ia, ela nun ca dei xa
no esp aço : atra ído para o a lto e par a baixo .
recurvado ou distendido . em exp an são ou dobra-
1Illle re r Raum; Esp.: csp acio int erior, são represent adas de mod o difer ent e das ce nas
de revelar o âmago do se u ser . Sabe-se qu e parti- do so bre si mesm o.

136 137
E SP A Ç O T E ATR AL E S P E C I F I C ID A D E T E AT RA

ESPAÇO TEATRAL neira pela qual frases, discursos e répli ca s se de- tetu ra, pintura, dan ça etc.). A se m io log ia " tam - lingu agem artic ulada, que se realiz a um a te nsã o
se nvolvem num determinado lugar. Pois bem, esta bé m se co loca a a questão de sabe r se existe um que está lon ge de resol ver-se num a síntese abso-
:-). Fr.: lieu théãt ral ; Ingl.: thea trica l spacc; A I.: dim ensão visua l do d iscurso é - ou pod e ser - signo ' teatral e um conjunto de códigos' próprios luta (VELTRUSK'Í', 1976: 94-117 ; BERNARD,
't..: tlleatralischer Raum; Esp.: lugar teatral. tom ada sensíve l no teatro. Os enunciad ore s es tão do teatro , ou se os cód igos usados no palco são 1976 ).
presentes; per ce be-se de onde provêm seus di s- e mpres tados de outros siste mas art ísticos. Ela se
Te rmo que substitui freqüentement e, hoje, tea- curso s e suas trocas de palavras. O teatro põe à qu est ion a so bre a ess ência * do teat ro e m termos b. Ação c " mobilidade" do signo teat ral
tro. Co m a transformação das arquiteturas teatrais vista do públ ico textos que se respond em e qu e de funcio name nto dos sistemas sig nific antes .
_ em particul ar o recuo do palco italiano ou fro n- A ação, desde a Poética de ARISTÓTELES,
só são co mpreensíveis numa interação qu ase físi-
tal- e o surgimento de novos esp aços - escol as, volta co m muit a freqü ência co rno parte indi spen-
ca (esticom itias*) . Nesta medida, espaço textu al I . Um Sign o Teatral ?
fábric as, praças , mercad os etc. -, o teatro se ins- sável do teatro , Isto se deve à faculd ade da nar-
e arquitetura rítimi ca são sempre ce nica me nte
tala o nde bem lhe parece, pro curando antes de ratividade de passar indiferentemente de um sis-
sensíve is.
Especifi cidade teatral impli cari a qu e o icônico tem a a outro na med ida em que todos os sistema s
mais nada um co ntato mais estre ito co m um gru- Mas o es paço se insere igualmente em certas da cena (o visual) e o simbólico do texto (textual) se integ ram a um projeto g lobal (d inãm ica da
po socia l, e tent and o escap ar aos circuitos tradi- form as de tex tuali dade, e isto. desde que a ate n-
cionais da ativ idade teatral. O espaço cerca-se pudes se m fund ir-se num co nj unto indecom pon í- narr atividade). Es ta função unificadora da ação
ção se dirij a não ao que o discurso procura figu- vel e prop riam ente dramático. Po is bem , signos
po r vezes de um mistér io e de um a poesia qu e é igualm en te sublinhada pela se miologia do cí r-
rar (o que ele rep resenta dramaticament e), mas à
impr egnam tot alment e o espetáculo que aí se dá. lingüístic os e signos visuais se mpre co nserva m a culo de Praga: " A ação - a própr ia essê ncia da
sua apresent ação e sua enfonnação s ign ifi ca nte : autono mia , mesmo que sua co mbinató ria e sua
Assim , o teatro deteriorad o Bouffes du Nord, re- arte dramáti ca - faz fundir a fala, o ator, o figuri-
a partir do mom ent o que um texto é poétic o (opa- aliança produzam um significado que não mais
ligiosament e conservado em seu estado de ori- no, o cenário e a mú sica no sentid o em que os
co) demai s para figurar um referente, ele tende a se vincula a um único sistema cê nic o. O signo
ge m qu and o foi "encontrado" , pr esta-se mara- reconh ece mos co mo co ndutores de um a co rre nte
cristalizar- se e a autoco nge lar-se (assim, Les teatral nunca é a mistura dos d ifer ent es códigos
vilho sam ente ao estilo "bruto" e " imediato" das única que o atra vessa passando de um a outro ou
Burgraves de HUGO são uma das primeiras tenta- (no sentido em que uma co r é a mistura de duas
encen açõe s de P. BROOK. As anti gas oficinas da por vários ao mesmo tempo" (HONZL, 1971 : 18).
tivas de atrair a ate nção do espectador para a co res básicas). A única "es pec ificidade" possí-
Ca rto ucherie que abrigam o Théâtre du Solei I e Falar- se-á igualme nte da vetorização da ence na-
materialidade e a "espacialidade" dos versos re- vel é o fato de utili zar e de reagru par, ao mesmo
o Aqu arium conservam, de seu passado, um ar ção , da maneira de co mbinar os motivos e os
citados). Uma estrutura repetitiva de termos ou tempo, diferentes materiais cê nico s. M as esta téc-
mei o indu strial, meio arte san al, e favorece m, mater iais do espe tác ulo (semiolo gia*).
de parágrafos produz o mesmo efeito : não enten- nica existe em outras artes da represent ação.
para cada e nce nação, a eclosão de um a cenog ra-
dendo o texto ou a razão da repetição, o ouvinte
fi a * ada ptada à sua atmosfera es pecífica. c. Din âmica dos signos
fica sensíve l a um a enu nciação de massas de pa -
2. Urna Combi nação Espec ífica dos A es pec ific idade de rrade ira do s sig nos tea-
~ Quadro, espaço cênico, espaço. lavras ou de frases (cf. em G. STEIN, R. FOREMAN
Sign os? trais tal vez resida na faculdade de usar os três
ou em R. WILSON, e m A Leu er to Queen Victo ria
ou I nas Siuing 0 11 my Patio, em que o texto é fun cion a me ntos possíveis dos si g no s: ico ni -
rI\ Jacquot e Bablet, 1963; Bablet, 1965, 1972, Uma seg unda questão co nsiste e m perguntar-se
dito duas vezes po r dois atores, sem que a infor- ca m en te (mime tica mente) , indic ialmente (e m
~ 1975; Rischbieter e Storch, 1968.
se a re pres entação teatral man tém a autonomia situação de enunciação), simboli cam ente (co mo
mação seja aumentada. o que reforça a ima gem
dos d ife rent es mater iais ou se cria com eles urna siste ma se m io lóg ico sobre o modo ficci o na l) . O
de um texto projetado no espaço).
síntese qu e possa ser dita "esp eci fica mente tea- teatro , na ve rdade , visualiza e concreti za as fon-
ESPA ÇO TEXTUAL C) . tral" . De falo, a resposta que traz tod a ellcella- tes da fa la: e le indi ca e encarna um mun do fic tí -
.~ Discurso, texto e cena, n tmo,
ção ' a este di lema result a de uma opção estética cio por mei o de signos, de mod o que ao te rmo
:-). Fr.: espace text uel; lngl.: textual spa ce; AI.:
't..: Textraum; Esp.: espacio textual. W Pavis, 1984 b ; Ryngaert, 1984. e ideológica. Ora a encenaç ão busca a harmo nia do pro cesso de sig nificação e de simbo lização,
e as " co rr espondê ncias" e nt re se us mate riai s o es pec tado r reco nsti tui u um model o teórico e
(co mo na ó pera - principalmente wag neriana); ora estético qu e ana lisa o un iverso dram át ico repre -
J. O es paço textual não de ve ser ass imilado às
ESPECIFICIDADE TEATRAL e la isol a cada sistema que co nse rva sua autono- se ntado a se us o lho s.
indicações espaço-temporais" co ntidas no texto
mia e vai até opo r-se a cada um dos o utros mate-
dr am át ico: como todo texto qu e fala do mund o
:-). FI.: sp éc ifici t é th éãtral e ; ln gl.: th eatrical riais (BRECIIT) para evita r a c riação de um a ilu- d. Fim da esp ecificidade?
(figura um certo real), o texto dram ático também
't..: sp cc ificity; A I. : lVesell des Theat ers ; Es p.: são e de um a totali dade indesco m po níveI.
co ntém determinadas expressões do espaço (os Confron tado, quer queira quer não, aos meios
adju ntos adverbiais de lugar, os elementos de li- especificidad teatral. de comunicaç ão", o teatro perde aí sua alma ... ou
gação , pronomes pessoais, por exemplo) que ligam 3. Outras Especificidades enco ntra um a nov a especificidade atra vés de no-
tod a enunciação a seu lugar e temp o. As indica- Buscar a especificidade do teatro é uma atitu- vos intercâmbios. Es ta mediatização do teatro se
çõe s espaço-temporais, portanto, nada têm de es- de meio metafísica a partir do momento que se a. A voz tradu z por inter câ mbios cada vez mais freqü en-
pecífi co no teatro; elas se situam no plano do con- visa isolar uma sub stância que conteria todas as O icônico cê nico e o simb ó lico textual, o tes co m as arte s mecanizadas: a prática teat ral
te údo, dos e nunciados. propriedades de todos os teatros . Servimo-nos figurai e o discursivo (LYOTARD, 1971 ), corres- aprop ria-se alegre me nte dos outro s campos, ut i-
desta expres são (e da de linguagem teatral, es- pond em aos dois pólos da repr esentação: o jogo lize ela o vídeo, a tele visão ou a grava ção do som
2. Se, em co ntrapartida, fala-se aqui de espaço critura c ênica" ou teatralidade *) para diferen- co rpor al do ator e seu discurso . É na \'oz' do ator, no interior da rep resent ação teatr al, vej a-se ela
textual, é somente na enunciação do texto, na ma- cia r o teatro da literatura e das outra s artes (arqu i- a q ual part icipa ao mesmo temp o do cor po e da co nstante me nte so licitada por eles para se r g ra-
138 13 9
E SPETÁCULO
ES PEC TA DOR

vada, multipli cada, co nservada e arquivada. Os ções (GOURDON, 1982). Qu est ion ários * e teses, ge suas ca mada s p rofundas, o es pec tado r de tea - ES PET ÁCULO
proces sos de emp réstimo e de interc âmbio entre durante e após o esp etáculo, permitem afinar os tro está conscien te das co nvenções (quarta pare-
o teatro e os meios de comunicação são tão fre- re sultados, mensur ar as re ações ao e spet ácul o de, pe rson agem , co nce ntração dos efeitos e da ~ Fr. : sp ec tacle; In gl. : performance; A I.:
qüentes e di versi ficados, qu e qua se não há mais co nside rado co mo co njunto de es tím ulos. Então, dram aturgia); co ntinua a se r o manipul ador -mor, 't..: Vo rstellung, Ariffiihrrm g ; Esp .: espectáculo.
se ntido em defin ir o teatro co rno urna "arte pura" , a psicologia experimen tal, e até mesmo a fisiolo- o maqu inista de suas pró pri as e moç ões, o artesão
nem mesmo em es boç ar uma teoria do teatro" gia é qu e ass umem a vez e qu ant ificam a recep- do aco ntecime nto teatr al : e le va i por si só em di- É esp etácu lo tudo o qu e se oferece ao o lhar.
que ignore as práticas med iátic as que rodeiam e ção. Não se garante, em absoluto, um a melh or reç ão ao pa lco, ao pas so que a tela absorve se m " O espetáculo é a categoria unive rsal so b as es-
muitas vezes penetram a prática cênica contem - compreensão do pro ce sso de int eligência da en- pé c ies pel a qual o mundo é visto" (BARTHES,
remi ssão o esp ect ador de cine ma. Ele poderi a (em
porân ea (PAVIS, 1985a) . cen ação . Ser ia nec essári o vinc ular e ste mode- 1975 : 179). Este termo gen ér ico apli ca-se à part e
teo ria) inter vir no palc o c banca r o des ma ncha-
Hoje, não se parte mais do princípi o de que o lo sociológico a um a per cep ção das formas tea- visíve l da peça (representaçã o), a todas as formas
prazeres, aplaudir o u vaiar; na rea lidade , ele in-
teatro exis te co rno arte aut ônoma unificad a. Só tr ais, não es tabelece r opos ição entre os dados de artes da representação (dança, ópera, cinema ,
terioriza esse s ritos de inte rven ção sem pert ur bar
parec e ainda legítim a, à margem desta media - q uantit ativos estatísticos e a percep ção qu alitati - mí mica , circo etc.) e a outras atividad es qu e im-
a cerimônia posta e m ce na, co m tanta dificu lda-
tizaç ão do teatro , a busca de um teatro mínimo, va das for mas, tão verdade iro é - e isto poderia plicam uma participação do púb lico (es portes, ri-
de, pelos artista s. tos, cult os, inter ações so ciai s), em su ma, a tod as
do que resta do teatro qu ando se retirou tudo, a ser a divi sa da soci ocrítica - qu e "o qu e há de
verdadeiramente soci al na lite ratura é a forma" as cultural pe rfor mances d as quais se ocu pa a
saber, no sentido do teatro pobre de GROTOWSKI,
(LUKÁCS, Schriften zu r L iterat ur so ziolog ie ,
W Poerschke, 1952; Rapp , 1973; Ruprecht, 1976 ;
etno cenologia",
"a relação espectador/a tor própria de cada tipo de .. T urk , 1976; Fiegu th, 1979; Hays, 1981, 1983;
espetáculo" (GROTOWSKI, 1971 : 19). 1961 : 7 1). Avigal e Weitz, 1985; Pavis, 198 5d; Versus, 1985;
Winh , 1985; Schocnmakers, 1986; Guy e Mironcr, I . O Espe táculo Supé rfluo
(f), Unid ade mínim a , G esamtku ntwe rk, etno - 3. A se miolog ia se preocup a co m a mane ira pela 1988; Deldime, 1990; Dort, 1995; Pavis , 19960.
- '\:::. cenologia. qual o espectador fabric a o se ntido a partir das Em dr amaturgia c láss ica , esp e táculo equ ivale
séries de signos da representação, das con vergên - a encenação ", term o ent ão inexi stent e. Fal a-se,
W Appia , 189 5, 1963 ; ElIis- Fe rmo r, 1945 ; cias e distâncias entre os di versos sig ni ficados .
ESPETAC UL AR no século XIX, de uma peça de grande espe tácu-
. Bentle y, 1957, 1964 ; Bazi n, 1959; Artaud, O trabalh o (e o prazer) do es pectador co nsiste lo qu ando a represe ntação desvenda um a sign ifi -
1964b; Kowzan, 1968; Gouhier, 1943, J 958, 1968, e m afir ma r se m trégu a um a série de rnicroesco- ca ção sempre pejorativa, em face da profund ida-
1972; Versus, 1978 n. 21; Pavis, 1983a. :). Fr.: spectac u la ire ; IngI. : spc ctac ular; A l.:
lha s, de mini ações para foca lizar, excl ui r, co mbi- de e da permanência do tex to . ARISTÓTELES o
't.; spektakular; Esp.: esp ectaclllar.
nar, comparar. Est a ativ idade repercute na cons- rep ert or ia em sua Poética como um a das seis par-
titui ção d a represe nt ação: " O efeit o de uma te s da tragédia, mas é par a reduz ir sua importân-
Tud o o que é visto como que fazendo parte de
ESPECTADO R pe rfo rma nce artística sobre o espectador, obser- c ia d ian te da ação c do co nteúdo : "O es pe tác ulo,
um conj unto posto à vista de um público. O espe-
va BRECHT, não é indepe nde nte do efei to do es - ainda qu e de natureza a se d uzir o público, é tudo
:). Fr.: spectateur; IngI.: spectator; A!.: Zusc hauer; tacular é um a noção bastante tlu ida, pois, como o
pectador sobre o artista . No tea tro , o públi co re- o qu e há de alheio à arte e pe lo men os próprio da
't.; Esp.: espectador. insólito, o estran ho e tod as as ca tegorias defin idas
gu la a represent ação" ( 1976 : 265 ). poé tica " (I 45üb). Co ntinuar -se -á durante muito
a partir da recep ç ão " do es pectado r, ela é função
te m po a reprovar (assim MARMONTEL, 1787) seu
1. Por muito tem po esqu ecido ou co nsiderado 4. A est éti ca da recep ção est á em bu sca de um tant o do sujeito que vê quando do objeto visto .
caráter exterior, ma terial, pró prio a divert ir em
quantita tivament e negligenciável, o espec tador é, espec tador implícit o ou ideal. El a part e do prin - O gra u de espetacu lar a part ir de uma me sma ve z de educar; sem pre se desconfia um pou co
no mom ent o. o ob je to de es tudo favo rito da cípi o, a bem dizer bastante d isc utíve l, de que a obra depende da e nce na ção e da estética da é po- dele: o Espetácu lo numa Po ltrona (MUSSET.
semiologla" ou da es tética da recepç ão". Falta, e ncenação deve ser recebida e com pree ndida de ca que ora rejeita (ce na cl ássica ) ora estimula (cc na 1832 ), ou o Teat ro em Liberdade (HUGO, 1886 ),
todavia, uma perspectiva hom ogênea que possa um a única e boa maneira c de que tud o é age ncia- co nte mporâ nea) a em e rgên c ia do e spetacul ar. peças criadas co mo que por reação à e nce nação .
integrar as diversas abor dage ns do espectado r: do em função desse rece ptor o nipote nte . A rea li- Mu itas vezes o teat ro é acusado de render-se ao não corre m o risco de im por u ma encenaç ão de-
sociologia, soci ocrítica *, psicologi a, semiologia, dade é out ra: o olhar e o desej o do e dos es pecta- espetacu lar, isto é , de bu sc ar e feitos fáceis, de masiado vistosa e "infie l" ao texto esc rito.
antropo logia * etc. Não é fácil apreender todas as dores é qu e co nstituem a produção cêni ca, dand o mascarar o texto e a leit ur a por uma massa de sig- N a concepção clássica, nin gu ém se op ôs. to-
implicações pelo fato de qu e não se poderia sepa- se ntido à ce na co nce bida co mo multiplicidade nos visuais. da via, po r princíp io. ao espetáculo. D' AUBIGNAC
rar o espectador, e nqua nto indi víduo, do público , vari áve l de enunc iado res . O pr azer do especta- O espetacular é um a ca tegoria histórica que ( 1657) sublinha o intere sse do espetác u lo para a
enquanto age nte co letivo . No espec tador-indiví- dor, face a essas instâncias da e nunciação, é va- depende da ideologia c da estética do mom ento, representaç ão, outros poré m separa m categorica-
duo passam os códigos ideológicos e psicológi- riado: se r enganado pela ilu são, acreditar e não as qu ais deci dem o que pode ser mostrado e sob me nte texto e espetác ulo, e m ve z de se r se nsíve l
cos de vários gru pos, ao passo que a sala forma ac reditar (deneg açãor s, regre ssar a um a situação que forma: visualização, a lusã o pela narrativa, uso à sua int erdependência.
por vezes urna entidade, um corpo que reage em in fantil ond e o corp o imóvel ex peri menta, sem de efe itos sonoros etc . Se e le é associado , na his-
bloco (pa rticipa çt7o*). de masiados riscos, situações per igo sas, aterro - tória do teatro, à visua lidade e à representaç ão" 2. (Re)co nquista do Espe tác ulo
riz ant es ou va lo riz a ntes . Soc iedade de vulne- visual , isto tal vez não pas se de um acid ente de
2. A abordage m sociológica limit a-se na maioria rabilidade limit ada, o pú blico não é rea lme nte Com a emer gên cia da ence naç ão e a co nscien-
civilização ; pode r-se-i a também ligar o es petac u-
das vezes. a inve stigar a co mpos ição dos públi- ameaçado pelo espetáculo. Enquan to no cincma tização de sua import ância pa ra a co mpree nsão da
lar ao universo so noro c gustativo.
cos, sua orige m sociocultura l, seus gostos e rea- a fan tasia é fac ilmente ativada e o psiqu ismo atin-

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ES PETÁCULO E STÂNC IAS

peça, o es petác ulo reencontra direito de cidadão. nição mínim a e puramente teórica do espe táculo: part e. E la é étnica ou interc ultura l, h istórica e I . A busca - bas ta nte mí tica - da essê ncia ou d a
Com A. ARTAUD, ele passa a ser o cerne da repre- "A definição do espet ácu lo compreende então . ao não -h is tórica. es tética e ritua l, so cio lógica e po- especificidade" teatral sempre obceco u a refl e-
sentação, e encontram-se neste teórico os dois em- menos do ponto de vis ta interno, características lítica. A p e rf o rm a nce é um mod o de compo r- xão crí tica . H. GOUHIER, ao passa r em revista as
pregos, pej orativo e laudatório, da palavra: co mo a prese nça de um espaço tridimensional fe- tam e nto , um a abordage m d a ex peri ência co n- inú meras filosofias da arte teat ral " , indica por
o "A represe ntação chamada impropri am ente de
chado, a distribu ição proxêmica etc., enquanto, do cret a; ela é jogo, espo rte, esté tic a, di ve rtimentos exe mplo, q ue o método indutivo que pa rte do
ponto de vista ex terno. e la implica a presença de po pul a re s, tea tro expe rim e ntal, e mai s ai nda" conjunto das obras ten ta reve lar, "através das d i-
espe táculo, com tudo o que esta deno mi naç ão traz
um actanre ob ser vador (o que exclu i desta defini- (TURNE R. 19 82). A noção de cultural p e rfo r- fe renças , uma esp écie de essê ncia que traria a ra-
de pejorativo, de ace ssório, de efê mero e de exte-
ção as cerimônias, os rituais míticos, por exem- m an ce. e laborad a pelo etnó logo Milto n SINGER zão de se r e esboçaria u ma estrutura fund am ent al
rior" (1964b: 160 ).
plo, onde a presença do es pectador não é necessá- nos a nos cinqüent a. permite agrup ar sob es te da obra teatral" (1972: 1063). Ele vê co mo " reg ra
o "Es peramos basear o teatro, antes de tud o, no rótul o prá tic as cu ltu rais (ritos , fest as, ce rimô -
ria)" (GREIMAS e COURTES, 1979: 393) . imanen te da obra te atral [" .) um princíp io de eco-
es pe tác u lo, e no es petác ulo introd uzim os uma Que prática s pod eri am se r classificada s co mo nias, da nças etc.) qu e co mp ree ndem e le mentos nomi a e de harm on ia" (10 63).
nova noção de espaço usado em todos os planos "e spetaculares" ? O teat ro, o cinema , a tele visão, de re presen ta ção q ue o grupo se d á a s i mesm o.
possíveis e em todos os graus da perspectiva em mas tam bém o st rip -tease, os espe tácu los de rua, 2. Pois be m , semelhante conce pção essencia lista
profundid ade e em altura, e a esta idéia virá ju n- Rep rese ntação, texto e cena, (re)teatralização,
e. por que não, tam bém os jogos eróticos e as ce- da es sência d o te at ro nun ca passa de um a opção
tar- se um a noção de tem po acrescida da que la de teatralidade , jogo.
nas domésticas, a parti r do mom ento em qu e eles es tética e id eol ógi ca en tre muitas outras. Ela faz
mo vim ento" (I 964b : 188). têm um observador vo luntá rio ou acid ental. O abstra ção da rel ati vid ade histórica e cu ltural, de-
S pectacles à Tra vers les Âges (Lcs), 1931 ;
termo performance e cultural performance falha t::I;;J. Si nger, Tra d iti o nal In d ia :
Stru cture a n d masiado preocupad a co m a descober ta de urn a
3. Razões da Preferência do "Espe táculo" cruelmente e m francês [e em portu guês, ta mbé m) Ch an g e , Phi lade lphia , Unive rsi ty Press, 1959 ; essê ncia ete rna e u nive rsalm ente humana. As ne-
para designar o co njunto dessa s práticas ou co m- Histoire des Spectacles , Dumur (e d.), 1965; Debo rd, ce ssidade antrop ol óg ic as profundame nte anco-
o freqü ente e mp rego de espetáculo (principal- portamentos esp etacul ares pelos quais se interessa 1967; G iteau, 1970; Dupavillon, 1970, 1978; Rapp, radas no homem (gosto pelo jogo* , pel a me ta-
mente no lugar de peça *) não se explica somente atualmente a etno cenolo gia " : 1973; Kowzan, 1975; Zimmer, 1977; Don , 1979 ; morfose, pelo ritu al " etc .) bastam realm en te para
por um fen ôm eno de moda, mas por razões mais Cahiers de M édiologie, 1996.
Um a tipologia do s espetáculos também é ar- exp licar a permanê ncia e a diver sid ade das em-
profundas e revel adoras de nossa concepção atual riscada. Pode-se pelo menos distingui r gra ndes preitada s teatrai s na evolução histórica e cu ltu -
da ativida de teat ral. c1ivage ns: as artes da representaç ão" q ue se ra l? Do mesmo mo do, o s inúmeros es tudos so-
opôem às artes da ce na *: ESQUET E bre a orige m ritua l o u festiva do te atro têm um
o Tud o é significa tivo: texto, cena e local do tea-

tro e da sala. O espe táculo não se isola mais num a


área cênica: e le invade a sala e a cidade. ultrapas-
Ou então, conforme o es tatuto ficcio nal:
- arte da ficç ão (ex. : teatr o, ci nema não-docu -
e (De sketch, palavra inglesa para "e sb oç o' ")
FI.: s ke tch; Ingl: ske tc h; Al .: Skct ch; Esp.:
interesse m ai s antropo lógico do qu e es tét ico .
Ao bu scar a ess ência do teatro. é-se rapid a-
sa seu quadro ": mentário, mími ca etc .); men te le vado a re lati viza r a tradição ocidenta l
sketch,
- arte não-fi ccion al (ex .: circo, touradas, es por- europ éia. a a m plia r a noção de teatro para a de
o Todos os meios são bons para a co locação em
tes etc.) : es tas artes não procu ram criar u ma rc- O esq ue te é uma cena curta qu e ap resenta uma prática esp etac u lar, para a qua l resta inve ntar uma
teatro: discur so. atuação, recursos técn icos novos .
alidade di fe rente da nossa realidade de refe rên- situação gera lme nte cô mica, interpr e tada por um etnoceno logi a ate nt a às co ndições locai s de to -
O teatro abandon a sua exigência de forma para
cia, mas reali zam uma performance base ada na peq ue no número de atores sem caract e riza ção da s as cultu ra l p e rforma nces nas quais o tea tro ,
apoderar-se de todos os meios de exp ressão que
des treza. na força ou na habilidade. apro fun dada Oll de intriga aos salto s e insi stindo no sentido ocidental , não passa de um a prática
possam serv i-Io.
nos m om ento s engraçados e s ub ve rs i vos . O entre inú meras outras.
o Não se procura mais produzir uma ilusão mas- 5. "C ultura l P e rf o r m an c e" esq ue te é, so bre tudo , o número de atores de te a-
ca rando -se os processos de sua fabric ação; inte- tro ligeiro qu e interpre tam um a pe rsonage m ou 6:l Teoria do teatro, encenação, estética teatra l, an-
gra-se es te proces so à representação, sub linhan- Falta à líng ua fran ces a [e à ponu guesa) um a uma ce na co m base em um tex to hu mor ístico e ~ . tropo logia teatral, poética (bibliografia).
do o as pec to sensível e sensua l do j ogo teatral, sa tí rico. no m usic-hall, no ca ba ré. na tel e visão
se m preocupar-se com a significação .
palavra para trad uzir a noção muito gené rica, qu e
ultrapa ssa em muit o o tea tro , de performance, ou no café-teat ro ", Seu princí pio mot or é a sáti- m Nietz sche, 1872 ; A ppia, 1921; Bentle y, 1957;
ra, às vezes literária (pa ródia de um texto co nhe - Go uhie r, 1957. 1968, 1972; Artaud, 1964a ;
que às vezes é ex pressa, na falta de termo m e-
cid o ou de uma pessoa famosa), às vezes gro tes- Schechner, 1977; Barb a e Savarese, 1985.
4. Que Teoria do Espetáculo? lhor, por espetáculo , palavra qu e tend e a des ig-
nar toda man ifestação visual do sen tido ("espe- ca e b ur lesca (no cine ma ou na tele visão ), da vida
táculo do mund o" ). Co ntudo, a pe rformance contemporâ nea (R. DEVOS, G. BEDOS, antig a-
Uma teori a geral do ou dos espe táculos parece
cob re um imen so ca mpo que as artes do es pe tá -
ment e F. RAYNAUD, COLUCHE e P. DESPROGES). EST ÂNCIAS
no mínimo prem atura. primeiro porque a fronteira
entre espetácul o e realidade não é facilmente cu lo e a etno cenol ogia * se esforçam e m esqua-
~ Fr.: stances ; Ingl.: stanza ; AI.: Stanze; Esp.:
traçável. Tud o é espetacularizável? Sim, se se tra- drinh ar e que põe em qu estão a fro nte ira e ntre
ESSÊN C IA DO TE AT RO estanctas.
ta de fazer d isso o objeto de uma ostensão" e de espe tác ulo es té tico e prática cultural : "A p erfor-
uma observa ção ; não, se este objeto deve se r tam- mance [logo, a prá tica es petac ular e/ou cu ltu-
~ FI.: ess en ce du thé àtrc ; Ingl.: esse l/ce of the Em d ra maturgi a c lássica (na Fran ça, esse n-
bém espetacular, deve causar espanto e fascinar ral) não é mai s fáci l de defi nir ou de loc al izar. O
um obse rvador. Pelo menos se cheg a a uma defi- concei to e a es trutura se estenderam po r tod a
't..: theatrc ; AI.: I\b en des Thea ter s; Esp .: csencia cialme nte de 1630 a (660), as estâ ncia s sã o ver-
deI teat ro. sos que se ap re sentam e m estrofes reg ulares co ns-
142 143
E ST ER E ÓTIPO E S T I ~T tC A T E AT R A L

tru ídas com base no mesmo mod elo de rima e de são co ns ide ra dos co mo q ue num re tra to -ro bô. int eresse do ponto d e vis ta da orig inalidade dr a- es tét ica ': de onde prov ê m, pergunta-se e la, o pra-
ritm o, pronunciad as pel a mesma personagem. na M uit as ve zes são produt o de uma lon ga e vo lução mat úrg ica e da aná lise ps icol ó gi ca . Ent retanto , ze r da co ntemplaç ão, a catarse, o trág ico e o c ô-
maioria das vezes sozinha em cena. Cada es trofe liter ária e ressur gem sob fo rmas lige ira mente va- o d ram aturgo às vezes explo ra e m seu ben e fício m ico? Co mo apreende r o espe tácu lo es teticamen-
se encerra por um a queda e marca uma etapa na ria das (caricatura", emploi" ; tipo' , p ap el'). est a pobreza co ngê nita d o s estereó tipo s e dos te e não em função de um crité rio de verdade, de
refl exão da personagem que as pronuncia: "Em cli ch ês. Remet en do o esp ectador a um tipo de aute ntic idade ou de reali sm o?
sua forma ma is reg ular... ü me rcê do ouvido como 2. S ituações pe rson agem j á con hec ido. e le ganha tem po para A esté tica (ou a poética ' ) teatral fo rm ula as leis
à mercê do es pírito. a es t ânc ia mais bem arre- melhor man ipul ar os co rd éis da intriga, co nc e n- de comp osição' c de fun c ion amento do text o e da
dondada é aque la cujo círe ulo abraç a um pensa- Co mo e xe mplos de situações históri ca e te- tr ar-se nos sa ltos da ação. tra balh ar a tea tralid ade ce na . E la integra o sistem a teat ral num conjunto
mento único, e que se en ce rra co rno ela e co m ela m at icam en te tipifi cad as. pod er- se - ia not ar : a ri- da atuaç ão /do j og o d os co mediantes. Assim. pro- mais amplo: gênero" ; teori a d a liter atura, sistema
por um pleno re pou so" (MARMONTEL. 1787, va lidade g uerreira o u amorosa, o tri ân gul o da va velment e se exp liq ue o atua l ret omad a de in - das bel as-art es. catego ria " te at ral o u d ram ática,
artigo "Stance") . co méd ia de boulevard , a indec isão d o heró i a n- ter esse pela Commcdia d ell 'a rte" ; pelo melod ra- teoria do belo, filosofia do co nheci mento.
O elaboradíssimo trabalh o formal das estân- tes da aç ão, a bela e a fe ra . o homem às voltas ma' c pelo circo . O s estereótipos dramatúrgicos
cia s faz delas um ve rdadeiro exercício de estilo , com os el e ment os et c. T ra ta-se . e m tod os es ses re sol vem de im ed iato a qu est ão da car act er iza- I , Estética Normativa
para o qua l é necessári a um a gra nde precisão se- casos , d e co m binató rias de e p isó d ios espe ta cu- çã o e do j o go ps ico ló gi c o : e les co nvida m o
mântica. pros ód ica e co nso n âmica. Sua beleza lar es e pre vi sí ve is. Rc co nstitui nd o as re lações e ncenador a um j o go mu it o teatra l, im aginati vo E la ausc ulta o text o o u a re presentaç ão em fun-
fo rma l é às vezes j us tificada pe los teóricos com o po ssíveis entre per so nagen s, det erm in a-se, en- e m uit as vez es par ódico, O es pecta do r. pri me i- ção de critérios de go st o par ticular es de um a épo-
arg umento de que e las for a m co mpostas cuida- tr e to das as varian tes . um pe q ue no n úm ero de ro f rustra do e m s ua ne ce s s id ad e ca tâ rtica de ca (mesmo qu e eles sejam un iversali zados pe lo
d osam ent e pel a pe rs o na gem no s ba sti do res s ituaçõe s e de mode los acta nc ia is" qu e e ncon- ps icol ogi a e de ident ific aç ão . acha em seg uida , es te ta num a teoria ge ra l das a rtes). Este tipo de
( D' AUBIGNAC, 1657 ). Sua o riginalidade reside tra m os, al iás, maciçament e, na h istória do teat ro na co rre spo ndê nci a dr arn a t úrg ica do j ogo cê ni- es tética parte de uma de finição a priori da essên -
em sua situa ção de poem a den tro do poem a e na (SOURIAU, 1950; POLTI. 1895). A e ncenação às co, u ma grande praze r teatral. cia ' teatral e julga seu objeto em fun ção de su a
acentuação de seu caráter poét ico . Enfim , não se veze s se di vert e em tradu zi r o clichê ve rbal numa Finalmente e so bre tud o , toda utilização dos con fo rmida de ao mod el o exe m plar o u. nas teo-
deve subestimar sua fun ção dra rnatúrgica: a de ret óri ca cên ica qu e o i lu stra e o de s con strói este reó tipos cam inha junto co m um di sta nc ia - rias da rece pção, segundo o d esvi o es tilís tico da
um a reflexão poét ica do he ró i que fabrica as es- (AMOSSY, 198 2) . ment o irôni co do pro cedimento e um a den ún cia o bra e se u q uestionamen to da norm a e do hor i-
tâncias e cujas ações e decisões são determ inadas dos co rdõe s teatr ai s. O dramatu rgo e o e ncenado r zo nte de exp ectativa" , A es té tic a normat iva eli-
pe la maquin aria ret óri ca do texto poét ico. 3, Estrutura Dram atúr gica °
ret o mam esq ue m a fix o , va ria ndo-o e critican- mi na necessariamente ce rtos tip o s de o bras: ca-
do-o d o int eri or. BREC HT se rviu-se deste mé- racteri zand o o gênero teatral co mo lugar de um
~ Scherer, 1950; Hilgar, 1973; Pavis, 1980a. A p eça be m -f eita' (o u o dram a neoc lássico tod o para fazer o es pe c tado r co nscientiza r-se dos co nfl ito, du rante mu ito tem po e la e liminou logo
de VOLTAIRE, por ex em plo) bu sca a es tru tura lugare s-comuns ideo lóg icos que o apri sio nam (A de saí da o teat ro ép ico . C ada ép oca hist ór ica é
d ramátic a m ais próxima possível de um modelo Óp er a de Três Vinténs, paro diando a co méd ia d ominada por uma séri e de ssas normas, faz uma
ESTEREÓTIPO ide al , e cai e m tod os os c lic hês d a c o nstru ção burguesa de lIappy End, A rturo Ui. j ogando co m idé ia diferent e da verossim ilh ança' , do bom-
a im ag inação po pul ar ao car ica turar os gangste rs tom ' , das possibi lida des mo rai s o u ideol ógica s
e
dra má tica : eq uilíbrio dos c inco ato s, preci são das
fa ses d a ação. co ncl usão artific ia l, m o nó lo gos e a me ricanos c tc .) . O j o go d ra má tico recor re u a do teat ro (reg ras" das três un idades' . mescla de
Fr.: st éréorype ; lngl.: .11<'''''01.''1''' ; AI.: Stereotyp;
g( ~ u (' ros' , tea tro to tal ' ). A e st ética fo rmula um
Esp.: estereot ipo , ce nas obriga tó rias . el e para se nsibi li za r os at ua nte s para as fo rças
lin g üísti c as c ideo lóg ic a s qu e os ap ris io na m ju lgam en to de va lor so bre: a o b ra es fo rçando-se
para fu nda me ntá- Ia em c ritérios c lara me nte es ta -
Co ncepção co nge lada e banal de urna persona- 4 . Ideolog ia (RYNGAERT. 198 5 ).
ge m. de uma situação ou de uma imp rovisação. hc lcci dos (cf questioná rio' ).
Distingu em -se. no teat ro , vários elem entos es- Os est ere ótipos não assum e m nenhum ris co t:.J;;j, Dictionnai re eles Perso nnages, 1960 ; Aziza et
tereotipad os; per son ag en s muit o tipifi cadas, si- art ís tico o u id eológi co : e le s usam id éias re cebi - al ., 1978. 2. Estética Descritiva (ou Estrutural)
tuações triviais e muitas vez es repe tidas, expres- da s e e vidênci as inc o ntrolad as . A comé d ia d e
sõe s verbais em for ma de clichês, gestu alidade boule va rd , grande con su mi do ra de e s te reó tipos Conten ta -se em de sc re ve r as fo rm as teatr ais.
se m invenção, es trutura d ramát ica e desenrolar da ideo lóg ic os, volt ando inces santemente a se us te- ESTÉTIC A TEATR AL rc pcrtor i á-Ias e cl assi ficá-las de acordo co m di-
ação sujeito a um mod el o fixo. ma s favor itos (a infi de lida de c o nj uga l. a ascen - fer entes critérios. E st es crité rios a presentam-s e
são soc ia l, o es píri to de ret ali aç ão ) tra nqü iliza ê Fr.: esth étique théâtrale ; Ingl.: aesthctics ofdra- co mo o bjetivo s: abe rtur a o u fecham ento da ação,
I . P erson ag en s s ub -rc pticiamcnte o púb lico e m su a s cre nças e ma; AI.: Theatcriisthct ík; Esp.: estética teatral. co nfig uração da cena , modo de recep ção etc. En -
ap resenta se us estereóti pos c o m o lei s imutáveis tr et anto, é d ific íl imo form aliz ar a lin guagem do
Os ester eótipos (ou ti/,os ' ) falam ou agem de e fatais . A es tética, o u c iênc ia do belo c filosofi a das te xto e da cena e fazê -Ia repousar e m ba ses sóli-
aco rdo co m um es q uema pre viam ente co nhecido be las-art es. é um a teori a ge ra l qu e tran scende as d as . Uma inte g ração da es té tica teatral a um a
ou extremame nte repetitivo . Ele s não têm a me- 5. Utilização dos Este reótipo s ob ras part icul ares e dedi ca-se a defin ir os crité- teoria gera l dos d iscursos o u a um a se rni órica
nor liberdade iudi vid ua l de ação. não passam de rios de j ulgament o e m m at é ria artística e, por la- ge ra l não pôde (ainda?) se r real izada. A estéti-
instrumentos rudirn ent ar cs do autor dram ático (o Na mai o r part e do te m po . a s peça s de per so - bel a, o vínc ulo da o bra co m a realid ad e. E la é ca se subd ivide num es tudo d o s mecan ism os de
militar, o fanf arrã o...). Sua ação é mecâ nica. eles na gen s e aç ões es te reo tipad as o fere ce m pou co assim le vada a dem arca r a noção de experi ência pro du ção do texto e d o es pe tác u lo ( po ies isí. um

14 4 145
ES TET IC IS MO EST I LlZAÇAo

es tudo da ativida de de recepção ' do es pec tado r o qualifi cati vo esteticismo, geralm ente bastan- do a regra do j ogo es perar que o outro tenha ter - com ent ário impl ícit o qu e des vend a seus prin cí-
ta ist hesis) , um es tudo das trocas e moc io na is de te crític o, aplica-se a um e lemento da ence nação : min ad o para fa lar. Os dialogant es são ligad os por pios. A ex posição das mo tivações' humanas se ria
identificação o u de distância (ca tila rsis) (JAUSS, um tema ' co m um e por uma situação de ellllll- rapid am ent e fastidi osa no teatro. Mesm o qu and o
- que insiste na dimen são purament e estética (e
1977 ), mesm o qu e se ga nhasse ao co ns ide rá-los ciaç âo" qu e d iz respeit o a ambos e a meça a tod o nos decid imos a mostrar de fora um co mpo rta-
não se mâ ntica o u ideol ógica) da ence naç ão ,
co mo di aléti c as (PAVIS, 1983a ). mom ent o influir no tem a. Cada d ialogant e pos- ment o ou um a vivacida de repet ida (cf o neon atu-
bu scando a pe nas a bel e za form al (fo rma -
sui, no e nta nto, se u própri o co ntex to se mâ ntico: ralismo do teat ro do cotidia no'), o ator represen -
lismo' );
3. Estéti ca da Produção e da Recepç ão - que bu sca a arte pel a arte e preconiza a aut on o- nun ca se pod e pre ver exa tame nte o qu e e le vai ta o que é ca rac te rís tico , e , po rta nto, ident ificável
mia da obra de arte (ADORNO, 1974 ) (es ta ati- di zer d e nov o , e o diálogo é um a seq üê nc ia de para um públ ico . E m sua exigê ncia do teatro co mo
Permite reformular a dicotomia norm atividade/ tud e é às vezes c ritica da de um pont o de vist a rupturas co ntex tuais , Qu ant o mai s o texto do relato de um a totalidad e, HEGEL ( 1832) e, depoi s
descri ção . A es té tica da produção enume ra os políti co com o falt a de engaj amento); dialogant e se reduz, mais a prob ab ilid ad e de um a dele, LUKÁCS ( 1965) marcam a posição ex trema
fatores qu e explicam a form ação do texto (de ter- - qu e não se int e gr a c lara me nte ao sistema glo- mud ança bru ta l de co ntexto aume nta. Ass im, a da es tética c lássica: es ta se fundament ara para
mina ções históri cas, ideológic as, ge néricas) e o bal da ence nação: ass im os fi gurin os' rico s es tico mi tia é o mement o verd adeir am ent e dramá- form ular es ta norma na medida em que a ação, o
funcion am ento da cena (co ndições materi ais do demais pod em se r, co mo bem mostra BARTHES, tico da peç a, porque tudo parece qu e de repent e di scurso e o ca ráte r co inc idia m perfeit am ent e,
trab alh o, da represent ação, da técni ca dos atores) . vítim as da " doe nça es tética, da hip ertrofia de pod er se r dit o, e o suspense do es pec tado r (assi m porém a exigê ncia de tot alid ade é necessariam ent e
A produção é assimilada a um conjunto de cir- uma beleza formal se m relaç ão co m a pe ça " co mo d e cada dialogante) cresce com a vivacida - acomp anh ada de um a ge ne ralização e uni versa-
cunstânc ias qu e influ íram na formação do texto (1964 : 55 ). de da troc a. A esticomitia é a im agem verbal do lização da ação humana representada. O típico e
interpretado ou do espetáculo representado. A es- choq ue e ntre" co ntex tos", person agen s e pontos o carac terístico se rve m o projeto de figuração
téti ca da recep ção' col oca-se, ao contrário, na de vista. A o mesm o temp o discurso ' cheio (in- exe mplar da exi stên ci a. Depoi s de HEGEL e do
outra extremidade da cadeia e examina o ponto de ten so, hip erdramático) e vazio (ev ide nc ia ção dos declínio da forma cl ássi ca , a ação dramáti ca não
ESTICOMITIA
vista do espe ctador e os fatores qu e prepararam bura co s se mâ nticos dos context os), a esti comitia abran ge mai s do qu e um fragmento particular, até
sua recepção correta ou equivocada, seu horizon-
te de expectativa cultural e ideológica, a séri e de
-tJ- (Do grego stikos , verso, e mythos, narrativ a.)
é a forma exagerada do discurso teatral. mesmo fortuito , da realidade. Por ém , ainda aí ,
mesmo para a es té tica naturalista do relato total,
FI. : stic ho myt hie; lngl.: sti chomythia ; AI. :
obras qu e precederem este texto e es ta represen - Stichomythie; Esp.: stichomithia. W Mukarovsky, 1941; Scherer, 1950. o fragment o dev e se r sim plific ado e adapt ado à
tação, o mod o de percepção, distan ciado ou emo- visão do es pec tado r: portanto, ele não ganha ver-
tiv o, o vínculo entre o mundo ficci onal e os mun- Troca verbal muito rápida entre duas persona- dadeirament e em precis ão o que perd eu e m uni -
dos reai s da época repre sentad a e do es pec tado r. gens (alguns ve rsos o u fra ses, um ver so, até me s- ESTILIZAÇÃO versalidade.
mo du as ou três palavras), na maiori a da s vezes
4. Estética e Dramaturgia num mom ent o parti cularment e dramático da aç ão. -tJ- FI.: s tylisa t ion; ln gl. : s t yl iza t ion; AI. : 2. O ato cê nico (co me r, morrer, por exempl o) nun -
Present e no teatro grego e latino, a es tico mitia Stilis ierung ; Esp.: estiliza ci án. ca recobra o co nj unto de suas condi ções de pro-
Estas du as noções coincidem , em gra nde parte, conhe ce, na época cl ássica (séculos XVI e XVll), duç ão, e, port ant o, sua e fic iênc ia primeira . O ator
pois ambas es tão atentas à articulação de um a ideo - um certo sucesso no tocant e aos moment os em o- Procediment o que consiste em rep resent ar a rea- substitui o ato real por um ato significante qu e
logia ou de um a visão de mundo e de um a técnica cionais da peça. Todav ia, é co ndenada quando de - lidade sob um a form a simplificada, redu zida ao não se dá por real , mas é ass ina lado como ta l, em
literári a ou cê nica. A semiologia" se interessa pelo ge nera num p roced im ento ' dem asiado à vista e esse ncial de se us caracteres, sem detalh es dem ais. virtude de urn a convenção ». Parad oxalm ent e, é
fun ci on am ent o int ern o da repre sentação se m que rej eita a orga nização retórica das tiradas ' . No A es tilização, co mo a abstração' , desi gn a um muitas veze s na me di da e m q ue é estilizado qu e
prejul gar seu lugar numa estética normat iva preci- drama naturali sta e no chamado teatro psicológi- certo núm ero de traços estruturais gerais qu e põe m o ato passa a se r teatr al ment e vá lido e verossi-
sa. Ela tom a emprestadas da esté tica alguns de seus co, co nstitui um a técni ca freq üente, se mpre bem- em e vidê nc ia um esquema diretor, um a a preen- milh ant e. Assim , não é co nstrange do r ver os ato-
métod os: busca de unidades' e trocas, víncul os dos vinda no mom ent o-ch ave da peça bem -fei ta'. são e m profundidade dos fenôm en os. O artis ta , res fazerem um a refe ição e m travessas e pratos
sistemas cê nicos ', produção de efeitos'. seg u ndo a fra se de GOMBRICH ( 1972), "te nde vazios. A estilização aj uda mesm o ao fascíni o do
I. Psicologiz ação do Discurso mai s a ve r o qu e pinta do que a pin tar o qu e vê". j ogo teatr al, na med ida e m qu e devem os supe rpo r
6J Teat ralidade, especificidade teatral , encenação, A esc ritura dr am áti ca e cê nica ape la à es ti - ao ato cê nico um ato real , no int erior da ficção ' .
~ essê ncia do teatro, experiência estética. A estico mitia faz o efeito de um duel o ve rba l lização a partir do mom ent o e m qu e renunci a a
entre prota goni sta s no ápice de seu co nfl ito, Ela reproduzir mimeti eament e uma totalidade o u 3. A lingu agem dram áti c a tamb ém é subme tida
W Hegel , 1832; Zic h, 1931; Veinstein , 1955 ;
dá uma imagem falante da contradição dos di s- uma realidad e co m plexa. Tod a repre senta ção , ao poliment o da es tilização : as diferenças de ní-
Gouhi er, 1958; Revue d' Esthé tiq ue, 1960 ;
cursos e dos pontos de vista , e marca o mom ent o mesm o qu e naturalista ' ou ve rista ", ba sei a-se veis de língua , co nfo rme as person agen s e sua
Souriau, 1960; Aslan, 1963; Adorno, 1974; Borie,
da em ergên cia, na es trutura discur siva muito es- numa s im plificação do obj eto represent ad o e classe soc ial, são atenu ad as pela " marca" mod e-
de Rougemont , Scherer, 1982; Carlso n, 1984.
trita das tiradas, do e le mento e mocional, incon - numa sé rie d e con venções' para sig n ific ar o ob- lante do dramaturgo. O di álogo naturalista utili -
trolado ou incon scient e. j eto repres entado . za, por exemplo, co nve nções de lingu agem, re-
ESTETICISMO missões es tilísticas de termo a termo no int eri or
2. Inversões Sem ânti cas 1. A ação human a nun ca é desen vol vida por in- de répli cas diferen tes. Quando o autor tiver por
-tJ- ~ .r : es th étis me ; ln gl. : a esth et icism : AI.:
teiro e m cen a: escolhemos seus mom ent os fort es
e significa tivos (parábola'); ex plica mo- Ia por um
fim a ca racterização bru tal de um falar, o uso da
cena se mpre imp õe urn a ce rta ret órica: repeti ções
A sthetizismus: Esp.: esteticismo , Tod o diálogo ' faz alterna r um eu e um til, se n-

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ESTRATÉG IA ESTRUTURA DRAMÁT ICA

de co nstruções a serem ressaltadas, vocabulário pretes se lerem a partir deste). A es tra tégia tex- W Bataillon, 1972; Gcno t, 1973; Marcus, 1975. locut o res, cada ator possui um papel e é a resul-
co mpreensível para a maioria do público, exage- tual impõe certos mod os de leitura. a prese nta tant e dos discursos e papéis qu e o se ntido funda-
ro dos traços individuais etc.: utili zações da rea- " pistas de sentido" mais o u men os esc larecedo - ment a; a preparação da ação é port ant o "o bje ti-
lidade "bruta". ras para o co nj unto da obra. propõe escolhas na ESTRUTURA DRAMÁTICA va" ; o poeta não fala e m seu nom e, e sim dá a
co m pree nsão de uma person agem . Muitas ve- palavra às personagens. O d rama é se mpre uma
4. A realidade cênica (ce nários, objetos. figuri- zes, a es tratégia está lon ge de se r un ívoca; as :-+ Fr.: st ructure dramatique; Ingl. : dra ma tic "imitação de uma certa ex tensão" (§ [4 49 ), "de
nos) é que pior suste nta uma representação não co ntrad ições internas da obra fica m inexpl icadas "t.; structure; AI.: drama tische Struktur; Esp.: maneira. entretanto. que a mem óri a possa facil-
estilizada. O espectador se perde numa massa de e. no texto moderno, as isot op ia s * (mé todos e est rile/ lira dramática . ment e ap ree ndê-Ia" ( [450b). A matér ia dos acon-
" fatos verdadeiros". reconhe ce element os de seu pistas) de leitura são múltiplas. Tod a leitura do tecim ent os será portanto co nce ntrada. unifi cada
a mbiente, porém. ao mesm o tempo . não sabe o ro teiro a ser representado ultrapassa necessari a- A a nálise das es t ruturas dr am áticas da ob ra e o rga nizada teleologicament e e m função de uma
qu e fazer desta recon stitui ção arque ológica. A ment e. porém mais ou menos bem . esses ob stá- teatral coincide em g rande part e co m a d rama - c rise, de um a evolução, um desenl ace ou uma
tarefa do encenador é, ao contrário, simplificar o culos da interpretação. Uma esco lha se imp orá turgia ", As dua s di sciplinas têm em comum o ca tás tro fe.
real, fazê-lo ser "fis gado" por alguns objetos-sig- e ntão, guiada antes de mais nada pel o projeto estudo das propri edades es pecífic as da forma do
nos que identificam sua nature za e seu vínculo. global do trabalho teatral, pel o di scurso estéti - drama. A cria ção do mét od o es truturalista aj u-
2 . Composição da Ob ra Dramática:
A estilização situa-se entre a im itaç ão" servil e a co e soc ial do encenador. dou muit o a form ali zar os ní veis da obra e a in-
simbolizaç ão abstrata. tegrar todo fenôm en o a um es que ma global, de An álise Imanente
3. Estratégia da Encenação mod o que a repr esent ação apa rece u co mo um or-
6.1 Realidade representada. realismo, mimese,imi- gan ismo muit o es tri tame nte co nstruído (forma A co mpos ição da obra (sua es tru tura) se mani-
~ tação, semiologia. fechada*). festa num a análise das im agen s e dos tem as re-
Ela ultrapa ssa aquela da leitura da peç a e for- corre ntes : tipos de cena, entradas e saídas das
Es trutura ind ica qu e as partes co nstituintes do
ma a etapa derradeira do trabalho: as opções de per sona gens, co rrespondê ncias, regularidades e
sistema são organi zadas segundo um arranj o que
leitura são concretizada s por recursos cênicos. Es-
ESTRATÉGIA produz o sentido do todo . Ma s é preciso distin - rela ções-tip os. Trata-s e aí de um es tudo iman ente
tes são ora uma exemplificação e uma aplicação
guir vários siste mas e m toda representa ção tea- da obra qu e se baseia unicament e nos e lementos
dir eta das opções de leitura, or a são aplic ados
ê Fr.: strat égie; Ingl.: strategy; AI.: Strategie; muit o discretamente sem qu e a tese da leitura seja tral : a fábula ou a ação, as per son agens, as rela- vis íve is, nas relações intern as da peça , se m que
Esp.: estrategia. ções espaço-tempo ra is, a co nfiguração da cena, e seja necessário referir-se ao mu ndo ex te rior des-
imedi atamente evident e ou mesm o explicitada.
mesm o, no sentido amplo, a lingu agem " dra má- c rito pela obra e à interpre tação do c rítico. Esta
Muitas vezes. esta estratégia tem po r única fi-
Atitude e mod o de pro ced er do autor, do tica (desde que se possa falar do teatro co mo sis- es trutura imanente é chamada por J. SCIlERER de
nalid ade manipular a simpatia do es pectado r para
e nce nador ante o assunto a se r trat ado ou da co m certas personagen s. fazer de mod o a que ele tem a semiológico* es pecí fico) . es tr utu ra exte rna e opõe-se à es trutu ra interna ,
encenação a ser efe tuada e, em última instân- esc o lha o bom ponto de vist a ou hesit e entre di- qu e é o estud o dos "problemas de fundo que se
c ia. da ação simbóli ca a se r exercida sobre o ver sas soluções . De qualquer man eira, a estraté- 1. Dramaturgia Como Estudo das col ocam ao autor dramáti co quando ele co nstrói
es pec tado r. gia fundamental é prend er o público num a arm a- Estruturas Dramáticas sua peça , antes mesmo de esc re vê- Ia" ( 1950: 12).
d ilha. A estratégia cênica às vezes é, na verd ade, A estrutura ex te rna . aq ui c ha ma da es trutura
I . Estratégia do Aut or mais frustrante que co nstrutiv a, e muit os espetá- Pa ra aborda r as es truturas d ramáticas de um imanente, define-se como "as d ifer ent es formas
culos são organizados de maneira a to rna r impos- texto dramático, recorre-se freqüe nte me nte a um que podem ass umir, seg uindo trad ições teatrais
O trabalho drama túrgico", seja ele efetuado síve l um a leitura definitiva da represent ação. esq ue ma da ação, o qu e e vide ncia a curv a dra- ou necessidades cênicas . a peça e m seu co nj unto,
pelo autor dramático ou pelo dr amaturgo " (sen- máti ca . Obser va-se e ntão a co nduta da fábula: o ato, es ta subdivisão do ato qu e é a ce na, e final-
tido 2), implica, para ser sistemático e eficaz. uma 4. Estratégia da Recepção di visão dos epi sódi os, continuidade ou descon- ment e ce rtos ,aspectos privil egiados da esc ritura
reflexão sobre o sentido do text o encenado e so- tinu idade da ação. int rodu ção de mom ent os épi- teatral ."
bre a finalidade de sua repr esenta ção nas circuns- A recepção condiciona, em defin itivo, toda a cos na es trutura dram áti ca e tc. (forma aberta" ;
tâncias concretas e m que ele será apresentado ao e mpre itada teatral fazend o ex plod ir suas frontei- forma fechada *). 3. Forma c Fundo
público. Portanto, é em função ao mesmo tempo ras. pois o fim derradeiro da performance teatral é Fa lar de lima estru tura dr a mática só é lícito se
da interpretação intern a do text o e de seu modo agir sobre a consciência do espectado r e reperc utir nos debruçamos sobre um caso - historicamente A busca de estrutura enco ntra a problem ática
de recepção que se efetuam o trabalho drama- nele qu ando tudo parece term inado. Percebe-se fundado r mas relativamente lim itado - da dra ma- da aliança de umaforma * adeq uada para um con-
túrgico e a estratégia apropri ada à sua boa recep- aqui a natureza ilocutória e mesm o pc rloc ut ória do turgi a cláss ica, aristo télica (co rres pondente aos te údo es pecí fico. Não ex iste es tru tura dram ática
ção . A determin ação destes parâmetros constitui espetáculo, que exige uma con scienti zação e que cr itérios da Poética de AR[STÓTELES, fechada e típica e uni versal (co mo pen savam HEGEL e os
a estratégia global do espetáculo. se tom e partido (ação fal ada *). d ram ática, e não abe rta às manipulações e à dur a- teóri cos do drama clássico). Toda e volução dos
Em suma, a arte do teatro co nsiste e m levar o ção é pica). É fácil ca rac terizar esta estrutura por co nteúdos e todo novo conhecime nto da realidade
2. Estratégia do Text o es pec tado r a efetuar um a série de ações simbó li- vários traços pertinentes: o aco ntecimento se passa produ ze m uma forma ada ptada à transmi ssão do
cas e e m travar co m ele um di ál ogo g raças à no presente dia nte do espectador, o "sus pense" e co nte údo . Co mo mostra P. SZONDI ( 1956), a des-
A estratégia do auto r só ex iste em estado vir- interação das táticas e a partir da descobert a pau- a incert eza de sua co ncl usão são teoricamente truição da forma dramática canônica foi uma res-
tual e deve reperc utir no texto (e para os intér- latina das regras do jogo. adquiridos; o texto é divid ido de aco rdo com os posta a uma mudança da análise ideológ ica por

148 149
ESTUDOS TEATRA IS ESTUDOS TEATRAl :

volta do final do sécu lo XIX. Definir as estrutu- cas das quais uma época di spõe : ao que é preciso dos es tudos teatrais, que esboce o quad ro dos sa- pragmática. Ele é prc formado pelo tipo de ques-
ras dram áticas é uma operação dial ética, Não é acrescentar aquilo q ue a etnocenologin» defi ne beres e os limites de nosso conhecime nto . tionamento de ca da uma dessas metodologias e,
preciso nem procurar como idéias definitivas (um corno uma prática es petacular em todos os co n- é claro, encontra no objeto analisado ape nas aqui-
conteúdo) são "co locadas" sob uma forma ex te- textos culturais possíveis. 2. Episte mo log ia lo que procura, mas pe lo menos conhece os lim i-
rior e sec undár ia, nem acreditar que uma nova tes, os prob lemas e os impasses de cada discipli-
forma d iz algo de novo sobre o mundo. I. Finalidades dos Estudos Entre gente de teatro, muitas vezes encontra- na. É-lhe então possíve l reco rtar, no interior do
se a co nvicção de que a arte teatra l não pod eria obje to e em função de sua metodologia, um certo
4. Estrutura e Aco ntecimento ser es tudada, que só se pode adivi nhar alg umas número de ca mpos de est udo. Estes campos são
O estudo pode ter por finalidade informar um
de suas leis e que a intuição do ato r ou do ence- ora componentes do objeto teatro, ora modos de
leitor sobre um dos inú meros aspectos da criação
A decoberta das estruturas e das for mas dra- nado r substitui vantajosa mente toda e q ua lque r investigação que atravessam vários componen-
teatral. O disc urso crítico varia então da infor-
mát icas , dos prin cípi os de co mposição e d a teoria. Entre as disciplinas artísticas e as artes do tes. Logo fica ev ide nte que nenhum ca mpo pod e
mação jo rnalística sob re o local e a data da re-
drarnaturgia 'da peça, por mais precisa que pos- espetáculo em partic ular, não há arte mais mi- ficar decentement e no isolamento e que nele se
presentação ao es tudo erudito de um aspecto da
sa se r, não é, con tudo, suficiente. Na verdade, atividade teatra l numa revista espec ializada. Po- rífi cada q ue o teatro, de tal mane ira que a aborda- engo lfa imediatamente o resto dos question a-
ela geo met riza e torna visíve l a estrutura a pon - rém às vezes ele tem por ambição transmiti r uma gem teór ica o u científiea passa muitas vezes por mentos. Por isso não exis te programa idea l de
to de fazer dela uma construção real , um o bje to es pec ialida de e fo rma r atores, ce nóg ra fos ou um sacri légio . Co ntudo, uma abordage m cientí- estudo, porém, q ua ndo muit o, uma série de abor-
que seja a quint essência da ob ra e red uza es ta a iluminadores. O es tudo desem boca então num fica tenta co nst ituir-se, mas de maneira indir eta: dagens que dem arcam mais ou menos seu obje to
um a co nstrução fixa que existe independent e- sabe r técnico que o futu ro praticante porá em ação ela se baseia em discipli nas científicas como a de investigação.
ment e do trabalho de interpr etação do crítico . em sua atividade profissional. Cada um dos ca m- biologia, a psicologia, a etnologia ou a med icin a
Pois bem, a obra se mpre está em relação co m o pos se ramifi ca em ramos es pecializados para os para tran sferir seus saberes ao campo do co m- 4. Um Saber e m Processo
mund o exterior qu e a co menta: " A estru tura quais exis tem procedim entos de análise e técni - portam ent o es petacu lar do ator o u do es pec tador
es truturada da obra nos remete a um ass unto cas de aprendi zagem es pecializadas em si. O es - e apli car em seg uida, por hipótese e co mo pro- O saber ass im es quadrinhado deve reconstituir-
estruturante, assim como nos remete a um mun - tudo prepara, neste ca so, para o exercício de uma grama, algun s de seus resultados. Se se co nce be se se m cessa r co mo teoria global, principalment e
do cultural ao qual ela se junt a trazend o a ele, das profissões do teatro e ela se legitima pela efi- a cientific idade não mais em termos de resulta- estendendo pont es e ntre estudo do texto e es tudo
na maiori a das vezes, perturbação e desafi o" cácia de sua habilidad e e de sua preparação para dos verifi cá veis e quantifi cá veis, mas de coe- da represent ação e associando vários camp os de
(STARü I3lNSKI, 1970 : 23). Assim , a busca das uma atividade técni ca ou artística futura. Pode- sabe r e dive rsos qu esti onament os. As grandes
rência e de não-cont radição, obtém-se um a d ra-
estruturas dram áticas deve ser mais um métod o se imaginar tantos saberes e campos de es tudo perspectivas são então indi spen sáveis para ligar
maturg ia" o u uma semiologia" que não tem , a
de es truturação que uma fotografia de estrutu- quanto técn icas as necessárias para produzir um os fragme ntos es parsos: assim, uma abordage m
princí pio, o utra ambição senão elucidar a prod u-
ra. Em parti cul ar, no teat ro, e la se mpre se rá espetác ulo. A dificul dade não é especifica r e es- semiológica per mitirá calc ular a produção dos sig-
ção do se ntido e a manipulação dos sig nos, seja
so brede te rmi nada pelo aspecto even tua l" da pecializar o sabe r e, sim, gara ntir com ele a ho- nos em função de um projeto dramatúrgico.
no nível de um a obra específica o u de um co n-
aprese ntação cê nica e pela incessante prática mogeneid ade de um ram o a outro e esta r ainda Mais que preten der cob rir o conj unto da ativi-
ju nto (época, gênero, obra de um auto r ou de um
significante > à qual o espec tador é ob rigado . em condições de confrontar e de fecundar sabe - dade teatral, se ria mel hor provocar o est udo das
encenador). O estudo tem por obje to ora a produ-
res parciais . Não existe lugar ou instituição onde zonas ou de co mb inações ainda na sombra. En tre
ção do texto e da encenação pela equipe de cria- os campos a serem desbravados, mencio naremos:
C') . H : ~ m en ê u t i c a , formalismo, realismo, socio- se estude o tea tro e m sua totalidade: nas escolas
dore s c "real izado res", ora sua recepç ão" pe lo
~ Critica. profissionais, apre ndem-se alguns dos ofícios da o teatro gestual, a peça radiofô nica, a dança e o
leitor ou pe lo espectador ou, melhor ainda, sua teatro-dança, os e le me ntos interart ísticos da en-
cena (cenografia, iluminação, figurinos); nas es-
dialética no interior de uma semiótica que des- cenação, as relações in terculturais na encenação
colas de atores, as pessoas se exerci tam numa téc-
creve ao mes mo tempo os mecanis mos da COlIll/-
ESTUDOS TEATRAIS nica de interpretação; nos departamentos de li- co ntempo rânea .
nicação" (e ntre teatro e público) e de sua inser- Paralelamente ao perigo da ultra-especializa-
teratura na esco la o u na universidade lêem -se
e Fr.: études th éàtrales ; IngI.: theat re studies; grandes textos; em algu ns departamentos de tea- ção numa serni ótica da cultura. ção e da autono mia de um campo de est udo , exis-
te um perigo, também real, de dissolução dos es-
AI.: Thea terwissenschaft ; Esp. : est ud ios tro, na universidade, se reflete sobre a prod ução
teatrales. do sentido no trabal ho do ator e na ence nação e 3. Per spect ivas e Campos tudos teatrais em disciplinas o u metod ologias
se medita sob re a re lação entre teoria e prática. O muito mais amplas, q ue não pertencem mais à
Os estudos teatrais - es te termo tal vez seja o que se es tá no direito de esperar de um ensi no Para co nhece r, porém , es te estran ho objeto estética, co mo a antropologia, a teoria da co mu-
menos ruim de todos - afirmam-se de imediat o universitário não é mais a universalidade e a glo- chamado teatro, primeiro é preciso sabe r q ue olhar nicação de massa, a narratologia e até mesm o a
.contra a literat ura (e, portanto, o drama esc rito) balidade de um saber, mas, pelo menos, a reflexão diri gir a e le, em que perspectiva abo rdá- lo e se- se mio log ia, qu and o e la se redu z ao mod el o
para co loca r sua diferença radical: sua pertinência epistemológica so bre as condições de va lidade gundo que ângulo de ataque. Porque é o olha r jakobson iano das funções da comunicação, a um a
ao mund o da cena, da representação, das artes do de um conhec imento sobre este ou aquele co m- que cria, não, se m sombra de dúvida, o obje to tipologia dos sig nos, a uma busca das unid ades
es petáculo. Seu obje to não é portanto - ou não é ponente da obra dr am ática ou teatral ou so bre a teatral , mas o discurso sobre ele . Este olha r es tá mínim as, a um in vent ário dos códigos ou a um
simplesmente - o texto dr amático, mas todas as atividade teatral em todas as suas form as. No lu- impregn ad o de metodologia c de ciênc ia huma - delírio co notativo dos significados.
práticas artísticas que podem intervir no uso da gar de uma ilusória teoria unificada do teatro, co n- na: antropologia (BARBA), soc iologia, fen ome- No fina l da s co ntas, pode-se estuda r o teatro?
cena e do ator, quer dizer, todas as artes e t écn i- tentar-nos-emos, portanto, com uma epistemo logia nolog ia (STATES), semio logia (UBERSFELD), Enquanto modc lizaç ão e espe lho deformante do

150 151
ETNOCENOLOGtA EXPOSIÇÃC

mundo, ele se presta a todas as questões, a todas Termo dado por alguns etnólogos e etnoce- EXPOSIÇÃO 2. Técnicas de Exposição
as abordagens, a todos os desejos de conhecimen- nólogos* a manifestações que têm origem ao
to, a todos os recortes do saber e da pesquisar, mesmo tempo na religião, no rito e no teatro. (Do latim expositio, expollere,. por à vista.)
~ a. Exposição como rememoração
Estas manifestações vêem a origem do teatro nas Fr.: exposuion; Ingl.: exposiuon; AI.: Expo-
Fonte: Patrice PAVtS in Michel CORVlN Às vezes, certos elementos da ação são conhe-
cerimônias do teatro, quer se trate da tragédia sition; Esp.: cxposicion.
[;J;J (ed.), Dictionnaire Encyclopédique du Théãtre, cidos pelo público e não necessitam, portanto, ser
Paris, Bordas, 1991. grega, do Nô japonês ou do vodu haitiano. O ex plicitamente mencionados: o mythos para a tra-
conceito de etnodrama parece ter sido forjado Na exposição (ou exposição do tema, como se
gédia grega, o texto anterior para as paródias de
dizia no século XVII), o dramaturgo fornece as
pelo psiquiatra L. MARS que batizou assim "este textos clássicos.
informações necessárias à avaliação da situação"
ETNOCENOLOGIA fenômeno originário que é ao mesmo tempo re-
e à compreensão da ação que vai ser apresentada.
ligião e drama [el está na origem do teatro e da b. Naturalização
O conhecimento desta "pré-história" é particular-
:).. Fr.: ethnoscénologie; Ingl.: ethnoscenology; religião popular de muitos povos" (Revue de Sendo a exposição, na maioria das vezes, sen-
"t.: AI.: Ethnoszenologie; Esp.: etnoescenologia, mente importante para peças de intriga" comple-
Psychologie des Peuples, 1962, n. I, p. 21). tida como um mal necessário que precede e enca-
xa. Ela é indispensável a todo texto dramático que
imita ou sugere uma realidade exterior e apresen- minha a ação, sem fazer parte dela, o dramaturgo
Neologismo forjado por J.-M. PRADIER (1995) L:J::l, Lorelle, 1962, 1974, 1991, in Corvin, 1991. busca mascará-las ou pelo menos tomá-Ia veros-
e que se aplica a uma nova disciplina: a etnoce- ta uma ação humana.
similhante", Eis por que o início da peça nos mer-
nologia amplia o estudo do teatro ocidental para as
gulha imediatamente in medias res, liga-nos a uma
práticas espetaculares do mundo inteiro, em parti- EXPECTATIVA 1. Localização da Exposição
história que já eomeçou e da qual vamos apreen-
cular aquelas que se originam do rito, do cerimo-
der rapidamente alguns fragmentos de lógica: "A
nial, das cultural performances (práticas culturais), Está aberta a discussão para saber se a exposi-
~ Fr.: attente; Ingl.: expectation; AI.: Erwartung; arte da exposição dramática consiste em tomá-la
sem projetar nessas práticas uma visão eurocêntrica. ção é uma parte constitutiva da peça (assim como
Esp.: expectativa. tão natural que não haja sequer suspeita de arte"
É "0 estudo, nas diferentes culturas, das práticas e a crise ou o epílogo*) ou se está "espalhada" no
dos comportamentos humanos espetaculares orga- (MARMONTEL, 1787).
1. Enquanto forma dramática>, o teatro especu- texto todo. Em dramaturgia clássica*, a exposi-
nizados - PCHSO" (1995: 47).
la sobre a expectativa do acontecimento no es- ção (ou prátase) tende a concentrar-se no início c. Dramatização
A principal dificuldade é saber usar a etnologia
pectador, mas esta expectativa tem sobretudo por da peça (primeiro ato, até mesmo primeiras ce-
e a antropologia cultural aplicando-as com flexi- Para parecer natural, a exposição, que é co-
objeto, por antecipação, a conclusão e a resolu- nas) e muitas vezes está localizada num relato"
bilidade a objetos que não sejam nem metáforas modamente estática e épica (relato objetivo de
(como a da teatralidade* do cotidiano ou da vida ção final dos conflitos: é a "expectativa ansiosa ou numa troca "ingênua" de informações. Porém,
circunstâncias) transmuda-se facilmente num
social) nem dos campos abertos para o infinito, a partir do momento em que a estrutura dramáti-
do fim"(DEMARCY, 1973: 329). Certos motivos" diálogo animado que dá a sensação de que a ação
como o são às vezes as performances" de toda ca se distende e não se limita a uma crise ou a um
ou cenas da peça têm por função única anunciar e principal já está engatada: é a doutrina da expo-
ordem: jogos, esportes, ritos, cerimônias etc. conflito, as notações sobra a ação ficam muito
preparar a seqüência, preparando um suspense * e sição em ação: "O melhor tema dramático é
A noção de espetáculo (spectaculum; o que é mais dispersas. No caso limite do drama analiti- aquele em que a exposição já é uma parte do de-
uma tensão",
visível e speculum, o que remete uma imagem) e co* que não mostra o conflito, mas o pressupõe senvolvimento" (carta de GOETHE a SCHILLER
a de performance" (ação realizada) pertencem a antes de proceder à análise de suas causas, todo o de 22 de abril de 1797).
dois universos epistemológicos incompatíveis, 2. O horizonte de expectativa (JAUSS, 1970) de
texto se torna uma vasta exposição, e o conceito
logo, a dois olhares dirigidos a um mesmo obje- uma obra é o conjunto de expectativas do seu
perde todo valor espacial e distintivo (cf HEBBEL, 3. Formas da Exposição
to: a etnocenologia deveria poder reconciliá-los público, dada sua situação concreta, o lugar da
IBSEN).
para empreender seu estudo. Para evitar uma de- peça dentro da tradição literária, o gosto da épo- Além do mais, a exposição nem sempre está
riva da etnocenologia rumo ao infinito das ativi- ca, a natureza das questões euja resposta o texto No drama clássico, a exposição, naturalizada
situada onde se espera: assim, o lugar cênico no e dramatizada através de todas as técnicas da ve-
dades humanas, propõe-se escolher interessar-se constitui. teatro naturalista expõe "clandestinamente" um rossimilhança, é muitas vezes transmitida por uma
por fenômenos que impliquem os seguintes crité- É preciso acrescentar a este horizonte os es- grande número de informações que serão usadas, conversa entre heróis ou entre heróis e confiden-
rios: enformação estética de um evento, ficcio- quemas socioculturais do público: suas expec-
nalidade, prazer do jogo, gratuidade da ação. mesmo que inconscientemente, pelo público, e te. Ela deve ser ao mesmo tempo curta e eficaz:
tativas pessoais, o que ele sabe sobre o autor, explicarão o curso da ação. O quadro" global da transmitir as informações com economia e clare-
m Pronko, 1967; Banham, 1988; Pavis, 1990,
sobre o quadro * onde se dá a representação, so-
bre o título e a aceitação social da obra, o papel
representação também fornece uma grade mais za, não repetir inutilmente um dado, nada omitir
1992, 1996b; Balrne, 1995 . ou menos fina de informações: conhecer o lugar do que é importante para o conhecimento das
da moda e do esnobismo que preparam o terre- do teatro, a origem e a orientação política da com- motivações das personagens, preparar por discre-
no da recepção* etc. Todo encenador é ampla- panhia, ler o programa" e a análise dramatúrgica tas indicações a seqüência e o final da fábula.
ETNODRAMA mente consciente dessas expectativas; ele faz proposta inlluenciam profundamente o especta- Em contrapartida, quando a representação não
com que elas sejam levadas em consideração para dor. No teatro moderno, toma-se cada vez mais visa a imitação e a ilusão, não é mais importante
~ Fr.: ethnodrame; Ingl.: ethnodrama, AI.: definir sua linha estético-política. A estética se difícil circunscrever a exposição e reduzi-la a um motivar o fornecimento de informações. Estas
Ethnodrama; Esp.: cthnodrama. mescla estreitamente à política cultural. estoque de informações (CORVIN, 1978a). serão mesmo transmitidas "ironicamente" e de

152 153
EX PRESSÃO E XP RES SÃO C O R I' O R A I

maneira diret a po r um a personagem anune iado ra EXPRESS ÃO nos ques tio na o text o' e o se ntido da re prese nta- volve ndo prin cipalm ente se us recursos vocais e
ou pelo co nj unto de figur as que declin ar ão sua
e
ção . Do mesm o m od o, o ator escolhe con sc ie nte- gcs tuai s, sua faculdade de improvi so. Ela se nsi-
identidade (PIRANDELLO, BRECHT). Po r espíri- Fr.: e x p res sio n; In gl. : exp res s io n; A I. : mente os sinais q ue desej a env ia r em função de bil iza os indi v íduo s p ar a suas pos si bilid ade s
lo de co ntradição, as pers onagens abs urdas anun - Ausdruck; Esp.: cxprcs i ôn, um e feito a ser ob tido , e não de uma idéia a se r moto ras e e motivas, par a se u esq ue ma co rpora l e
c ia rão um a série de ev idê ncia s (cf A Cantora en ca m ada de uma única e bo a maneira (Ici/llra) . para sua fac ulda de de proje tar es te esq ue ma na
Careca ) 0 11 frases " filosóficas" se m ligação co m l . A expressão dramá tica o u teatra l, com o toda sua interpretação. E la tom a empres tadas ce rtas
sua situ ação. Nesses dif erentes casos , a exp osi - expressão artí stica, é co ncebida , seg undo a visão 3. :O ato r está ate nto tanto à expr essão de suas técn icas da mimica" , do j ogo dramático' , da im-
ção con siste paradoxalmente em expo r fatos sem clássica, corn o uma exte rioriz ação, uma eviden. em o ções quant o à c nform a ção ge stu al q ue ge rará p rovisação" ; mas co nti nua a ser mai s urn a at ivi-
interesse para a compreensão da ação. A expo si- ciação do sent ido profundo ou de elem entos ocul- a emoç ão . A expressão não vai som ent e do inte- dade de despertar e tre in amento que um a di sci-
ção é ao mesm o tempo lugar nenhum e tod o lu - tos, logo , como um mo vimento do interi or para o rio r para o exte rio r mas também do exterior para plina artística.
gar. A ex posição "d isso lve-se" fac ilme nte para ex te rio r. É ao ator que ca be, e m última instâ ncia, o inter ior, e, co mo ob serva J. COPEAU, a "ex pres - A ex pressão co rporal foi um método de tr aba-
reap arecer em o utros co ncei tos: o contexto' , a es te papel de rc vel ad or: e le tem q ue "i nte rpre ta r são e motiva sa i da expressão exata" ( 1974 : 2 11). lho p'!ra os e nsaios nos g ru pos dos a no s 60
situação", os pressupostos ideológicos. Est a "d is- o poet a atravé s de sua interpret ação, revel ar-nos (RROü K, o Li ving Theatre) e entre seus epígonos ;
so lução " e es ta "desd ramatizaç ão" da exposição suas intençõe s m ais sec re tas, fazer co m qu e su- além disso, e la exerce grande influ ênc ia sob re a
faze m del a um dos da dos da estrutura dramática bam à supe rfíeie as péro las qu e se esc on de m na EX P RE S SÃO CORPORAL arte- terap ia e o " teatro e m/c ed ucação ".
mais difíceis de aprende r. Assim, e la es tabe lece pro fundeza" (HEGEL, 1832: 368).
rel ação co m os seg uintes eleme ntos : Esta "ex- press ão" , es ta "ex pu lsão " da s ig nifi- :). Fr.: expression co rpo relle; Ingl.: body lan gua- ~ Gesto, cor po, mímica.
't.: ge; AI.: Kõrperausdruck, Kõrpersprachc ; Esp.:

4 . Pergunt as Propostas pela Exposiçã o


cação rea liza -se me lhor , e m ce na (sem pre de aco r-
do co m o dog ma c láss ico) , na ex pressiv ida de
expresiôn corporal. m Feldenkrais, 1964 ; Levieux, s.d.; Dars e Bcnoit,
1964 ; Barret , 1973 ; Pujade-Ren aud , 1976;
ges tual e co rporal do ator.
T écnica de int erp ret ação usada e m o fic ina e Bcrnard, 1976, 1977 ; Barker, 1977; Ba al, 1977 ;
a. Model o ac tanc ial" A teoria c lássica da expressã o postula impli- qu e visa ativar a cx prcss ividade do ato r, desen- Ryngaert, 1977, 1985; Sa lze r, 1981; Marin , 1985.
cita mente qu e o se nti do exi ste prev iam ente no
Quais são os protag on istas? Qu e os separa e
tex to, qu e a exp ressão é a pe nas um processo
os aproxi ma '? Q ua l é o obje tivo de sua açã o'?
sec undá rio de "e xtração" a partir de um a idé ia
pré via. O qu e é funda menta l para e la é a ex pe-
b. Ef eito de real *
riên cia es t ética do auto r, da qu al o ator dei xa e n-
Que e feito é pro d uzido na peça ' Que atm osfe- tre ver al gum as parcel as ; es ta pos ição im p lica
ra e qu e realid ade são si mulada s? Para q ue fins '? um a supervalo rizaç ão da idéia às cus tas da ma-
téria expressi va , uma c re nça no sent ido ante rio r
c. Lógica do m undo rep resenta do à ex pressão.
Se a lógica do mu ndo possível da ficção dife -
re daqu el a do no sso , quai s são su as regras' Com o 2. Hoje, tend e-se a não mai s separar o co nteúdo
ler as moti vações psicológica s, soc iais ou amoro- da forma; con cebe-se a obra moderna co mo cria-
sas da s per so nagen s'! ção, e não corn o ex pressão . A obra dram ática não
re flete um mu ndo ante rio r, e la e ntrega es te mun-
d. Final id ad e do jogo teatral do na visão e na forma qu e e la te m dele. Q uer
Q ue visa a encenação'? Co mo es tabe lecer um este trab alh o de cnform a ção do conteú do (e d e
paralel o co m no sso uni verso' É graças ao efeito co ntcudizaç ão pel a fo rm a) se chame escritu ra",
de reconhecimento" ideo lógico que a ex posição es truturação o u prática significante ", ele tem , e m
se realiza perfeitam ent e. O espectado r dispõe en- todo caso, por resul tado , não mai s separar pen sa-
tão dos dados do mund o ficcion al e das pontes men to e exp res são , mas tomá-Ias so lidá rias. Par a
ideo lóg icas e e motivas entre xficção" e s ua pr ó- o teat ro, isto quer di zer qu e a e nce nação ex per i-
pria situação. ment a com os meios de in vesti gação e de jogos
cê nicos dos qu ais di sp õe, para prod uzir um senti-
CJ Horizont e de expectativa, prólogo, dramático c do quc não es tava pr evisto ante cipad am ente des-
~ , épico. dr a matur gia cl ássica, drama anal úico, de se mpre. O cncenado r organi za se us materiai s
cênicos de modo a pro d uz ir es ta o u aquela leitura
Q Freytag , 1857; Scherer, 1950; Bickert, 1969 e no espec tador. Es ta leitura às veze s é "fa lsea da " ,
- in Kcller, 197 6; Klot z, 1969. desinteressante ou insig nifica ntc, mas pel o me-

15-1 155
F
FÁBULA confli tos , resoluç ões, desenlace - num es paço/
temp o que é "a bstrato" e const ruído a partir do
~ Fr.: fab le ; Ingl. : plot, fabu la ; AI.: Fabel, esp aço/ tem po e do ca mpa n amenta dos homens.
Handlun g; Esp.:fábula (relatoi.
A fábu la textualiza as ações que puderam ocor-
rer ante s do início da peça ou que terão seqüên-
1. C ontradição da Noção de Fáb ula cia após a conclusão da peça. El a prati ca uma
se leçã o e um a ordenação dos episód ios confor-
a. Origem mc um es q ue ma mai s ou men os rígido : o da
Do latim f abula (fa la, relato), o ter mo fábula, dramaturgia clássica recomendará, por exemplo,
que corresponde ao grego m vtho s, designa a "se - respeitar a ordem crono lógica e lógica dos acon-
qüê ncia de fatos que cons tituem o elemento nar- tecimentos: exp osição, aumento da tensão, crise,
rativo de uma obra" (R obert ). Afábula latina é nó, catástrofe e desenlace. "O poeta deverá to-
um relato mítico ou inventad o e, por exten são, a ma r cuidado para que, quando dispu ser um a fá-
peça de teatro e o cont o. Só nos ocuparemos, aqui, bula, todos os elementos fiquem tão depe ndentes
da fábu la da obra teatral. Um exa me das fábulas que uns siga m os outros como que por neccssida -
(de ESOPO ou de LA FONTAIN E) mostraria, en- de: que nad a haja na ação quc não pareça ter acon-
tretanto , que os problemas teóricos ligados à no- tecido tanto quanto deveria aco ntecer depois do
ção de fábula dizem respeito ao mes mo tempo ao que se havia pas sado; e, assim , que todas as coi-
co nto, à epopéia e ao dram a (cf LESS ING, "So - sas sej am aí tão bem encadeadas que saiam uma
bre a fábula"). Um panoram a dos inúmeros em- da o utra por uma justa conseqüê ncia " (LA MES-
NAR DI ERE, Po étique, 1640, capo5 ).
pregos de "fábula" deixa dep reender duas con-
ce pções opostas do lugar da fáb ula: De aco rdo co m esta co ncep ção clássica, a fá-
bula es tá mu ito próxima da story: às vezes cha-
- co mo material ante rior à co mpos ição da peça;
mam -na dc " história", ao passo qu e o plot cor-
- co mo estrutura narrati va da história.
res pon de à intriga, à seq üência causa l da s açõe s.
Esta dupla definição confirma a oposição dos ("U ma históri a [slo r)'] é um relato de aco ntec i-
termos in ven tio e d isp ositio da retórica ou story ment os orga niza do em seqüê ncia tempor al. Uma
(história) oposta ap lol (int riga r ; da crí tica anglo- intriga [pIaI ] é igualmente um rel ato de aconte-
saxônica.
cimentos , caindo a insistência so bre a causali-
Compor a fábula (no sentido 2) é, para o autor dad c" , E. M. FO RSTER, A sp ects of lh e N o vel,
d ramáti co, est ruturar as aç ões - moti vações, 1927. )

15 7
.'
F ÁBU L A ..
: '
.e . FÁIlU I.}

b. A [ábula C O I/ IO mat éria ponto de vista deslocou- se pois ligeiram ente a sentido dela através de efeitos de distan ci amento » desejam represent ar: " A fábula não é simpl esmen-
partir da matéri a dram áuca "bruta" das fomes até apropri ados. [...] A f:íbul a é explicitada, con s-
• Fábula ve rsus assunto te constituída po r urna história extraída da vida
o nível da narra ção de açõe s e de acontecimen- tru ída e expo sta pel o teat ro inteiro , pelos ato res. e m co mum dos hom en s, tal co mo poderia ter-se
No teat ro g rego . a f:íhula muitas vezes é tomada
tos. Estas ações são co muns às fontes e à peça pel os ce nógra fos , maqui adores, figurinistas . m ú- desenrolado na realidad e; ela é feita de processos
de um mito co nhec ido dos espectado res, e. por -
qne as usam : co loc a mo -nos aqui no terreno de sicos e coreógrafos. Tod os põem sua arte nesta dispostos de maneira a expressarem a concepçã o
tanto, preexistente à obra dramática. A fábula
uma lógic a da s a ções o u narr atologi a. Por isso e mpreitada co mum, se m nem por isso abando na- que o fabulador tem da sociedade" (Aditivo ao
ou mito é então o mat erial. a fonte onde o poeta
mesmo, a fábul a descr e ve " os atos das per sona- rem s ua ind epend ên cia" (Peque no O rganon, Pequ eno Orgallo ll, 1963 : 109).
vai buscar os temas de sua peça. Este se ntido se
gens e não as per son agen s em si. Os atos e a 196 3, § 70: 95 ). Para BRECIIT, construir a fábul a Cada fabul ador, mas tamb ém cada época. terá
mantém até a époea clássiea: RACINE, usand o
fábula são o fim da trag éd ia" ( 14500). Esta assi- é ter ao me sm o tempo um ponto de vista sobre a uma visão particul ar da fábula a ser construíd a:
ele própri o font es gregas, ainda empregaf âlJIIla
milação da "fábula-m atéri a" à "fábula-ação" pre - históri a (o relat o ) e a História (os acont ecim en- assim, BRECHT " lê" Hamlet e, portanto, o "a da p-
opo ndo -a a assunto: "Não é preciso chicanar os
para a passa gem par a um a co ncepção da fábula tos co nside rados à luz do marxismo ). ta" na seqüê ncia de um a análi se da sociedade na
poetas por algumas mudanças que eles puderam
Co~\Ó estrutura nar rat iva da peça. qual ele vive. ("Som bria e sanguinolenta é poca
fazer na fábula: mas é preciso empenhar-se e m • Descontinuidad e da fábula brecht ian a
considerar o excelente uso que fizeram dessas mu - [...] tend ência ge ra l a duv idar da razão [...]" _
c. Fábula como es trutura da narrativa A fábula brechti an a não se baseia numa histór ia
danças e a maneira engenhosa pcla qual soube- Pequ eno Organo n, 196 3, § 68: 92.)
co ntínua e un ificada, mas no princíp io de descon-
ram co nci liar a fábul a e seu assunto" (segundo Mas a fábula se torna mu itas vezes também A fábula es tá e m perpétua elab oração não só
tinuid ade : ela não co nta um a história seg uida, e,
prefácio de Andrômaca v. A f ábula é portant o, uma noção de es tru tura es pecífica da história no nível da redação do text o dramáti co, mas tam-
sim, alinha epi sódios autônomos que o especta-
nesta acepção, o conj unto de motivos que se pod e que a peça co nta. Port ant o, já se percebe aí a bém e sob retudo no processo da encenação e da
dor é convidado a co nfrontar co m os pro cessos
reconstituir num sistema lógico ou dos aconteci- maneira pessoal pel a qual o poeta trata seu as- interp retação : trabalho prévio do dramaturgo"
da realidade aos quai s eles co rrespo nde m. Neste
mentos ao qual o dramaturgo recorre. "A caus a sunto e dispõe os e pisód ios particulares na intri- (sentido 3), escolh a da s cenas, indicação das mo-
sentido, a fábula não é mais, co mo na dramaturgia
dos aco ntec imentos (observa MARM ONTEL. ga: "Toda invenção, à qu al o poeta associa uma tivações das per son agens, crítica da personagem
clássica (isto é, não -épi ca), um co nj unto indes-
J787, art . 'Intriga') é assim independente das per- certa intenção, con stitui um a fábula" (LESSING , pelo ator, coordenação das diferentes artes da
co mponíve l de episódios ligados pela s relações
sonagens, anterior à própria ação ou sup ostamen- Tratado Sobre a Fábula, J 759) . Assim, a fábula cena , colocação em crise da obra pelas que stões
de temporalidade e causalidade, mas uma estru -
te fora dela ." A partir de qualquer texto dramát i- aparece, desde o século XVIII , como um elemen- mais prosaicas (cx.: " Po r que Fausto não se casa
tura retalhada. Reside aí, aliás, a ambigüidade
co pode-se portanto reeonstituir a fábula co mo to da estrutura do dram a qu e é preciso distinguir com Margarida ?") e tc . Ler a fábula é dar urna in-
desta noção em BRECHT: a fábula deve ao mes-
uma seqüência de motivos ou temas que nos são das fontes da história narrad a. Verifica-se ser ne- terpretação (do texto pel o encenador, da reprc-
mo tem po " seguir seu cur so" , reconstitu ir a lógi-
co municados no decorrer da obra sob a forma es- cessário um esforço de clarificação para os ter- sentação pelo es pectado r). é escolher uma ce rta
ca narr at iva c ser, e ntretanto, incessant em ente
pecífica de assumo. Esta distinção ating e sua for- mos ação, assunto e fábula . MARMONTEL os di s- divis ão dos ace ntos sig nificativos da peça . A en -
interrompida por di stan ciamentos apropriados.
mulaçã o mais sistemática na obra dos form alistas tingue nit idamente : " Nos poema s épicos e dra - cellaçiio* não a parece mais e ntão com o desco-
russos: " A fábul a se opõe ao assunto que é co ns- mático s, a fábula, a ação, o ass unto são comu- • Ponto de vista do fahulador bert a defin itiva do se ntido , mas op ção drama-
tituído pelos mesmos acontecimentos, mas ele res- mente tom ados co mo sinô nimos; porém, numa Daí resulta ev ident em ent e um mal-ent endido so- t ürgica, lúdica e, port ant o. herm enêutica .
peita sua orde m de aparição na obra e a seqüên- acep ção mai s es treita , o ass unto do poema é a bre o co nce ito brechtiano de fábula: tcru a-sc • Determi nação do gcs tus fundament al
cia das infor mações que no-las designam. [...1Em idéia substa ncial da ação: a ação, por co nseg uin- reconstituí-Ia efe tuando o relato dos aco nteci me n-
suma, a fábul a é o que se passou efetivamente : o te, é o dese nvo lvime nto do ass unto; a fá bul a é A apreensão da fábul a brcchtiana passa prim ei ro
tos, port ant o abstra indo a disposição dos ep isó -
assunto é a maneira pela qual o leitor tomou co - essa mesma di sposição co nside rada do lad o dos pela compreensão do g C'.H U S qu e não inform a so-
dios na peça ; porém . ao mesmo temp o. quer -se
nhecim ent o di sto" (TOMASCHÉVSKI. iu TODO- incid entes qu e co mpõe m a intriga e servem para bre as personagens e m si mesmos. mas sobre suas
"int erpr etar a fábula" : esta de ve torn ar-se leg ível
ROV. 1965 : 268). enredar e desenred ar a ação" (MA RMON TEL. "i nte r-relações" no se io da soc iedade. "Comeu-
na narra ção dos acontecim entos. Na realidade, a
Nesse prim eiro sentido, a fábula será portant o 1787, art . "Fá bula"). tando este mater ial gestual, o ator torna posse da
busca da fábula qu er perm itir a reco nstituição da
definid a co rno a instalação cronológica e lóg ica fábula e, por aí, da sua per sona gem" (Pequei/o
lógica da realid ade re presentada (do significado
O /:';CIIlOII . 1963. § 64) . A fábula brechtiana está
dos aco nteci mentos que constituem a arm ação da d. Fábula co mo ponto d e vista s ob re a do rela to ), ao mesm o temp o que mante ndo um a
história representada. Quanto ao vínculo especí - ass im intimamen te liga da iI constelação de perso-
hi stória (fábula brech tia na) certa lógica e a utono mi a do re lato. É precisamen-
fico entre fábula e assunto , ele dará a chave da na gen s dent ro do m icrocosmo da obra e do
• Recon stitui ção da f ábula te da tensão entre es tes dois projetos e das co n-
dramawrgia* . macro cosmo de sua realidade de origem : "A gran-
Se as concepções pr é-br cchtianas da fábula con- tradiçõe s entre mund o repr esenta do e maneira de
de empreitada do teatro é a fábula, comp osição
• Fábula ou "junção de ações realizadas" (Aris- sideravam-na como um dado evidente e automá- repr esentar o mundo qu e result am o efe ito de
global de todos os processos gestuais, que con-
tótele s) tico a partir do mom ent o que lemos a peça e nos cs tranharnc nto e a percepção ju sta da história/ tém todas as informações e impulsões das quais
Na Poética de ARISTÓTELES, a fábula designa a pomos a destacar as fase s da ação, para BRECIIT, História.
será feito, doruvnnte. o prazer do público" (§ 65) .
imitação da ação, "a junção das ações realizadas" criticando ARISTÓTELE S, a fábula não é um dado Destacar a fábula não é, para BRECIIT, desco- A determinação brechtiana da fábula faz-se
(I 450a) , "A fábula é () princípio e co mo que a imediato, mas deve co nstituir o objeto de uma brir uma história univ er salm ent e decifrável c assim no decorrer de um proc esso dialético nun ca
alma da tragédia: em segundo lugar somente vem reconstituição. um a busca de todos, desde o dra- inserid a no texto so b sua form a definiti va. " Pro- verdad eiram ent e co nc lu ído. A comparação co m
os caracter es" ( 1450h) . Aqui. a fábula está ligada maturgo" (sentido 3) a té o ator: "A tarefa princi- curando a fábula " , o leitor e o encenador expõem a co nce pção de A RISTÓTELES mostra-o cl ara-
a seu eleme nto constitutivo: a ação dram ática. O pal do teatro é explici ta r a fábula e comuni car o seu próprio pont o de vista sob re a realid ade qu e ment e:

158 15 9
FA N T AS I A
FÁBU L A

de fáb ula ao conj unto dos siste ma s cê nicos cuj a U ma outra tend ência - indispensá vel co ntra-
Aristóteles Brecht peso da primeir a - esboçou-se ent ão: mostrar a
j unção e "concorrê ncia" co ns ti tue m a fábula.
textual idade, a retórica, o declam atóri o (é o caso
Gestus
2. Personagens .,/7 d . P ropriedades gerais da f ábula de V1TEZ), abo rdar o texto como orga nism o vivo
fundamental ~
I. Fábula - > (ca racteres Inter-relações e pro voca nte (assim em BROOK, em SOBEL do
• Resumíve l
individuais) Fábula últ imo período ). No moment o, a ence nação se
soc iais ~ A fáb ula pode ser reduzid a a algumas frases que
<, debate neste dil em a: repr ese ntar a fábul a ou o
Personagens descr cvem suscitament e os acontecimentos. "O
texto? Parece estar aí, segundo A. GtRAU LT, dra -
resu mo da narrativ a (se é conduzido de acordo
• A busca das co ntrad ições maturgo de B. SOBEL, a "co ntradição ce ntral de
teriais sobre o eixo do desenvol vime nt o da peça com os critérios estrutu rais) mantém a individua-
tod a re presentação de um a peça anti g a: po r um
A fábul a não deve co ntentar-se e m restituir o mo- (o discursiv o). lidade da mensage m. Em o utras pal avras, a nar-
lad o, é prec iso co locar o texto à d istân ci a para
vimento ge ral da ação , mas em pôr a nu as co n- No pri meiro caso, exa mina-se a história co n- rativa é tradu zivel se m dan o fund am ent al" (BAR-
tada so b sua forma sistemática (parad igmática) " hlsto ricizar" mas, por outro lad o, u m tex to só
trad ições, indicando as razões destas. Para Mãe THES, 1966a: 25) .
antes qu e sej am dispostos os mat eriais do d iscur- tem probabi lidade de tom ar-se " te xto de teatro"
Co ragem, por exemplo, a fábula insistirá sempre
so. No segu ndo caso, inversame nte, o pta-se pela • Tr ans ponível se for proje tado diretamente para o espect ad or ; e,
na imp ossibilidade de ações opos tas : viver da
ob servação dos encadeamentos dos moti vos . Esta Mudando a substânci a d a ex pre ssão (c ine ma, neste caso, a " missa nâo fica longe" (" Deux Timo n
guerra e nada sacrificar a ela; am ar os filhos e
op osiçã o recort a aquela de ação* e de int riga" : a co nto, tea tro, pintu ra), de ve-se pod e r co nservar d 'Ath ênes", Th éãtre/ Public, n. 5-6, 19 75 ). E m
usá-los para fazer negócios etc. Em vez de mas-
ação ex plica , num níve l ge ral, até mesm o poten- o sc ntido da fáb ula. Co mo u ma nar rativa "que s uma, a fáb ula, mal se destaco u do te xto, tende
cara r as "incoerências da histó ria contada" (1963,
cia l, as poss íveis relações entre as for ças e m pre- regu lame nta a conse rvação e a tra nsformação do hoj e a vo ltar a ele, mas depoi s de um desvi o pelo
§ 12), a falta de lógica do encadeam ento dos acon-
sença; a intriga segue no detalh e a for ma co ncre- se ntido no seio nu m e nunciado orientado" (HA- corpo do at or e do espe cta do r.
tecimentos, a fábula épica brech tiana faz-nos to-
ta (cênica e textual) que esta ação ass u me. MON, 1974: 150), a fáb ula se adapt a às mudan-
rnar con sciência disso estorvand o a continuidade To rnasch évski, 1965; Todorov, 1966; Gouhier,
ça s no uso dos recu rsos cê nicos qu e o cneenador
harmoniosa da ação. A per spectiva sobre o acon-
b. A ou as f ábulas é lev ado a fazer : o que va ria de um a e ncenação
LJ.::l19 68a ; Olson, 1968a ; Hamon , 1974; Prince,
tecimento é sempre históri ca, dando a ver o pano 1973; Br érnond, 1973, 1977; Kibedi-Varga, 1976,
de fundo ideológico e social qu e muitas vezes es- A con stru ção brechtiana de di ferent es fábul as a o utra pode ser, é cl a ro, a int e rpr etação gera l da
198 1; Vandendorpe, 1989.
clarece as motivações pretensam ente individuais a partir do mesmo texto re põe em qu estão a idéia fáb ula, mas é tam bé m, às ve zes , um uso dos
das personagens. da fáb ula como interpret ação ún ica e den otativa mater iais qu e não põ e nov amente e m questão o
do texto. A fábula não poderia dorava nte desem- se ntido atribuído à fábu la.
FA N FA R RÃO
pe nha r o papel de "a lma do drama" neutra e defi-
2. Importância e Dificuld ades da Noção
de Fábula
niti va. Ela não existe no exteri or do texto como
siste ma fixo inalterável, mas co nstitui-se a pós
• Deco mponíve l
(Re po rtar-se à an álise da narrativa r.) e (Do espanholf{//ifarról/, palavra vinda do ára-
befatfâr. tagarela, leviano.)
ca da leitura, cada interpretação, ca da e nce nação. Fr.: fa nfa ron; Ingl.: braggart; AI.: Pr ahle r; Esp.:
a. Am big üidade dafáb ula : a int erfe r ência e. Fi m d a fáb ula, re to m o d o t ex to ?
É, port an to, peri goso conceb e r a fábula com o [anfa rr án.
do narrat i vo e do discurs ivo a in variant e do texto ou com o a deno tação (co- Proc urar a fábul a ser á doravant e a palav ra de
A noção de fábula, a cuj o propósito assinala- mum a tod os) na qual se poder ia e nxe rtar as o rde m dos apaix onados pelo palco. Tal busca deu Pe rso nagem tradicional do gabola ou do valen-
mos ante riormente a dupl a definição como mate- conotações da representa ção. A fábula nunca é lugar a inúmeras releituras de tex tos clássicos que tão, que se van gloria de feitos imag inári os. A tra-
rial (história contada) e co mo estrutura do relato u m d ado objetivo. mas exi ge, para se r reco ns- ha viam sido consider ad as um pouco co mo um dição remon ta ao alazon grego, ao mil es gloriosl/s
(discurso ca ntante), indica, po r sua própria ambi- tituída, um pont o de vista crítico so bre o tex to e ca so classificado e e nte nd ido. Muitas vezes, es- lat ino, ao capitan espanhol, ao bra ggadocio ing lês
güidade, que a crítica co locada dia nte de um tex- a reali d ade qu e ele veicula. ses e ncc nadores da fábu la trou xer a m urna nova (The Fae rie Queene de SPENSER). Ma tam ore e m
to dramático deve interessar-se ao mesmo tempo A trav és desse problema da produtividade da iluminação desta (ass im PLANCHON ao Tartufo e A Ilu são Cômica de CORNE1LLE ou Falstaff em
pelo significado (a históri a co ntada), pelo signi- fábula, ree ncontramos a noção de is otopia" que a La Seconde Surpri se de l 'A mo ur; B. SOBEL e Henrique I V de SHAKES PEARE são algu ns de se us
ficante (a maneira de co ntar), ass im como pela perm ite ce ntrar a fábu la e m tom o de um plano de A. GIRAULT a Dom 1 1/(// l e Timon de Atellas). Dis- espéci mes célebres.
relação dos dois. referên cia único e eliminar as ambi güidades de- so tamb ém resultou , às vezes , e necessariamente,
A flutuação na des ignação do termo f ábu la vidas à interferência de várias leitu ras da fábula. u ma simplificação e um a ba nali zação do texto
(material ou estrutura) refl ete totalmente o cru- co mo estrutura sig nifica nte: o espectador perce- FANTASIA (T E ATRO DA ... )
zamento, no interior dest a noção, do modelo c, Fábula e rel a to do texto bia claramente a curva da intri ga e o mundo fie-
actancial reconstituído a partir dos materiais nar- O texto não tem , por outro lado, um direito cional, mas perd ia, na o peração, sua sensibilida- ~ Fr.: Fantasme (th éãtre du ... ); Ingl. : [a nta s»,
rativos (estrutu ra narrativa ou es trutura "pro- de olhar e xclusi vo sobre a fáb ula : es ta é recon s- de para a forma e a retórica textual , drarnat úrgica ~ imag in ation; AI.: Phantasie ; Es p.: [a ntas ia
funda") , por um lado, e da estrut ura superficial tit u ível a partir de todos os sig nos cê nicos, mes- e cê nica; a peça lhe parec ia, alé m disso, muito (teatro de...).
do relato (estrutura discursi va ), po r outro. A mo qu e o rel ato dos gestos o u d a mú s ica sej a, na afastada na história e di sta nte de sua situação de
fábula diz respeito ao mesmo te mpo ao modelo prática , mai s difí cil de decifrar qu e o re lato fei- es pectador implicad o pel o jogo co ncreto (c não A fan tas ia é, e m psicanáli se, um a representa-
actan cia l (ao narrativo ) e à orga niz ação dos ma- lo ling üistica ment c. É preciso es te nde r a noção só pel a ficção co ntada ). ção imag inada pelo suje ito num so nho acor d ado

160 16 1
FA N TA S I A FAN TÁ STIC O

e que tradu z seus des ejos inconsciente s: "U ma (autor, cenógrafo, ator ). Ele permite esboç ar uma ca . Sabe-se qu e o pr azer do es pectado r prov ém mort a ou desaparecida. Ele assume toda s as apa-
fantasia flutu a, por assim di zer, ent re três tem- rct ôrica" das grande s [i guras " cê nicas, retraçar da proje ção no her ó i: " O herói é o local de um rências poss íveis: len çol. som bra, es pectro hor -
pos, os três momentos temporais de nossa facul- sua origem e sua finalidade, bu scar os process os enco ntro entre o pod er do acdo, que dá vid a à fan- rend o, voz d' além-t úmulo , fant asia encarnada etc.
dade represent ati va. O trabalh o psíqu ico parte de de co nde nsaçã o o u de desl ocam ent o na retóri ca tasia, e o desej o do es pectador qu e vê sua fa nta- O teatro e seu go sto pel o tru qu e, pela ilusão e
uma imp ressão atua l, de um a oportunidade ofe- cênica. sia encarnada e rep resentada" (GREEN, 1969 : 3S) . pelo sobrenatural é um lugar de e leição para tais
recida pelo presente, cap az de despertar um dos cri aturas. Enqu ant o ilusão de uma ilusão (a per-
grand es desej os do suj e ito: daí ele se estende :1 2. Fantasia na Representação Clássica 4. Teatr o da Fant asia c Teatro Políti co sonagem), o fanta sm a assume , por uma parad o -
lembr ança de um aco ntecimento de amanho, na xal inversão de signos, os traços de um a figura
maior parte das vez es infantil , no qu al este dese- A fantasia está e m ação cru tod o o texto dra- Durante muito tempo - e isto. é cl aro, deve se r bem real. Contrari amente à pers on agem qu e é
jo era realizado; ent ão ele edifica uma situação máti co, a partir do momento em que o ator reco r- mai s uma vez cu lpa de Brecht! - separo u-se radi- den egada no instante em qu e é mo strad a (dene-
relacionada co m o futur o e qu e se apresen ta sob a re a um lugar exterio r à ce na e de onde ele fala. calm ent e um teatro dos processos históricos e um a garão*), o fant asm a não tem nen hum a necessi-
form a de reali zaçã o deste desejo , aí é o sonho HONZL (in MATEJKA e TIT UNIK, 1976: 124-126) dram aturgi a da intim ida de fant asiosa. Semelh an - dade de afirma r-se co mo ve ríd ico e goza , a part ir
acordad o ou a fant asia qu e porta os vestígios de chama a isto d êixis o rientada pela [a nta sia . No te cisão tem ca usas obj etivas; a difi culdade de de então, dc total liberdade de representação:
sua orige m: oportunid ade apresentada e lembran- cas o do relato* clássico , a person agem rcconstit ui conciliar um a visão ex te rna "obj etiva" e uma se n- qu ant o mais "irreali sta" e fant ástico é, mais tem
ça. Assim, passado , presente e futu ro se distri - um a cena vivida passada pintando-a co m sua vi- sibilidade lírica intern a, a co nco rrência ideológica a aparência de um fantasm a ! Daí a invc ntividade
buem ao longo do fio contínuo do desejo" (FREUD, são atual e ac resce nta ndo a e la um a dim ensão e e pistemológica do marxism o e da ps ica ná lise, de suas e ncarnaç ões, o que, no ent anto, não re-
1969, vol. 10: 174). extra-objetiva. Em RACINE, principalmente, os mas também cau sa s inc onfessa s e, e las própri as, sol ve os problemas co ncretos do en cen ador. Há
Este trabalho do so nho sobre a ce na se pro- re latos de açõe s trágica s têm a nitid ez e a visão fantas iosa s: a recu sa e m es tabe lecer víncu lo en - tant as maneiras de re p rese ntar fant asm as qu anto
duz no fenô meno da denegação' : o teatro , es- di storcid a do sonho (BARTHES, 1963). tre a neu rose indi vidu al e a opressã o socia l, e m há estéticas teatr ais: o fant asm a do pai em Hamlet
creve LE GALLlOT, " é uma perman ent e oscila- admitir qu e a visã o hi stóri ca pode ser apenas Ian- é às vezes repr es ent ado pelo ator qu e interpr eta
ção entre o sím bol o e o im agin ário , o campo da s Cl áudio e disfarçad o de so ldado, apr esent ado de
3. Tentações de um Teatro da Fantasia tasiada e que a fanta sia tam bém é, por um lad o ,
trocas e das co rre ntes metafó ricas, o es paço para maneira ridícula e irr e al (iluminação "oníric a",
atravessada pel a história. A. ADAMOV foi um dos
onde tend e o desej o mas, par a sua decep ção fi- fosfore scent e), com vo z " cave rnosa" e de resso-
Pegan do o co ntra pé de um teatro da imitação, prim eiros a fazer (e a perd er) a aposta dessa ne -
nal, o lugar ond e a fantasia se manifesta no ina- nân cia insólit a; às vezes, por uma preocupação
um teatro da interioridade - e, portanto, das fan- cessária reunião do político e do fanta sioso . O tea -
cessíve l e dond e o Ego " rea l" volta mai s soz i- de verossimi lha nça ou de racion al, o fantasm a é
ta sias - busca às veze s cons ti tu ir-se (IBSEN, tro do cotidiano" e o neon aturalism o (KROETZ ,
nho e nu qu e antes, na lembrança nostálgic a c larame nte design ado co mo u m prolongam ent o
WEDEKIND, MAET ERLl NC K, STR INDBERG, WESKER. TlLLY) ex pe rime nta ram-se a í, interes -
daquela "outra ce na" para a qual a verdadeira fant asioso de Harnlet , um a c riatura feita do seu
PIRANDELLO, O'CAS EY, WILLlAMS, ALBEE, sando- se ma is pel o estereó tipo ideológi co e de
cen a havi a pendid o" (1 977: 121). med o e da sua Iragi lidado.
ADAMOV). Mas é sobretudo na enc ena ção qu e lingu agem do q ue pelo arquétipo da fantasia. A s
es ta dramaturgia encont ra sua ex pressão adequa - pesqui sa s da e nce nação em pe nha m-se às vezes
I. Teatro e Fantasia da : ela está "em busca de um a surrea lidade qu e e m reli gar o fant asio so ao realis mo. assi m, a p ro-
denunci aria mais fort em ente o re al, teatro onde a pósit o de TCIlÉKHOV (VITEZ, KREJCA, PINT1LI É, FANTÁSTICO
A represent ação teatral co mpartilha co m a fan-
tasia e sta mi stur a das temp ora lid ad es e es te
represent ação. passand o a se r tran scrição direta
do imaginário lIO esp aço, busca, co m isso, não
IlROOK, IlRAUNSCIIWEIG, PY) o u outros auto -
res co ns iderado s rea listas. e Fr.: [antns tiquc ; In gl. : fantust ic; A I.: das
Phantastische ; Esp.: fonui stico .
cmbaralhamcnto da cena real e da cena fantasia- se m um certo mal-est ar. negar -se co mo rep resen -
da . O espectad or, colocado diant e de um aco nte- taçã o" (BENMUSSA, 1974 : 29 ). Tal é, na verd a- €J".Espaço inter ior, texto e cena. O fan tástico não é pr ópri o do tea tro . mas en-
cimento presen te, deve. para assimilá-lo, rccor- de. o caráter paradoxal do teat ro da fantasia: e le
rer a sua ex periência ant erior, proje tando-se num nada imit a de exterio r, não é a imagem de um a [ l-:1 Freud , 1969, vol. 10 : 161-168; Mauron, 1964 ; con tra na ce na um ca m po de e le ição . visto qu e
universo vind our o. O mesmo oco rre quant o à ali - coi sa ou de um inconsci ent e, mas é esta co isa e - Grcen. 1969, 1982; Mannoni, 1969; Vemois, sempre há produção de ilu s ão" e de denegaç ão" .
vidade do cncc nado r: a parti r do momento que es te própri o incon sc iente. Es ta exigê ncia de sin- 1974 ; Ubersfcld , 1975; Marr anca, 1977; Le Galliot. A alt ern ativa não est á s ó e ntre a ficção e a rcal i-
ele se libert a da impul são imit ati va e ilustrativa ceridade significa po r isso mesm o a impossibili- 1977: Sarrazac. 1989, 1995; Th oret, 1993. d adc: e la opõe natu ral e so bre natura l: " É prec i-
do texto, e qu e mod el a o espaço cênico' amalga- dade de uma ence nação dir eta da fant asia. M ais so que o texto ob rigue o le itor [...] a hesitar entr e
mando nele vária s image ns "brutas", ele intro- qu e de teatro da fant asia (co m suas leis, seu esti - um a expli cação natural e uma ex plicação sobre-
duz em sua visão um a parte de fanta sioso. Para o lo, suas técnica s), se ria preci so falar então daf an · FANTASMA natural dos acontecimentos evocados " (TODO-
ROV, lnt rodu cti on à la Litt érature Fant astiq ue,
e
espectador, a ce na teatral é um a fantasia, pois ela tasia do teatro co mo local da fantasia, de um a
sem pre mistur a a im agem (da ficção repr esenta- e spéc ie de compl exo ham leti an o qu e qu eri a ver Fr.: [antôme; In g1.: "IU//lIOm ; AI.: P/ lIl11lOlII . 197 0 , p. 37) .
da) e o aconte cimento (da recep ção no presente). repre sent ado na cena teat ral o qu e se passa con- Esp.: fantasma.
GCS",' Il SI; Prov avelm ente porque o teatro parte de um a
Co m relação a isso, a ce na teatral sempre se dei- fusament e na cen a int er ior dos c riado res. irrealidade visível e, porta nto, não pode facilmente
xa analisar co mo outra cena , aq uela do imagin á- No teatro da fant asia, es pec tadores e criado- Tipo mesm o do não-ser e da não-personagem *. opor natur al e sobre natu ral é qu e el e não gerou.
rio. Tod o o trab alho dram atúrgico de monta gem", res encontram-se necess ar iam ente, j á qu e cad a o fant asma volt a com insi stênci a às cenas teatrai s, como a narrati va ou o cin ema, uma grande litera-
colagem" , mcruforização e meronimização é uma um projeta no palco suas fant asi as e seus desejos não só em Hamlet ou D OII/ Juan , mas e m inúm e- tur a dr am ática fa ntástica . Em contrapartida. os
operação a partir de e sobre as fantasias co letivas inconscientes; a ence na ção e labora-se nessa tro- ras peças nas quai s dev e apa recer um a pessoa efeitos de estra nhamento"; o teat ro do maravi-

162
I 163

j
FÉE R tE
FA RS A

lng\.: fairyt ale pia)'; AI.: M ãrche ndrama ; Esp.: co- prazer da regressão. Por vezes, entretan to. o ma-
lhoso , s fée ric" enco ntraram aí seus proced imen- lin, O Pastelão e a Torta, O Caldeireiro, O Ta-
media de magia. ravilh oso não é se não um a maneira oc u lta e cui-
tos cê nico s. à margem do fantástico. noe i ro) c se prolon ga até o iní cio do séc ulo XVII
(e m auto res co mo TURLUPIN. GROSGU ILLAU_ dadosam ent e co difica da de descrever a rea lida -
Aféerie é uma peça qu e se basei a em efei tos de (As Viagens de Gu/liv er, as peç as " ins u lares"
G) Fantasia. verossimilhante. ME. TAB ARI N. GAULTlER-GARGUILLE). Em
~ de magi a. maravilh oso e es pe tac ular, e faz inter- de MARIVAUX e as parábolas pol íticas so b a más-
MOLlERE . e la se ama lgama com a co mé d ia de
vir pe rsonagens imaginárias dotadas de pod eres cara do irr ea l). A féerie opera então urn a total
intriga. Autor es de vaudeville co mo LABICHE.
sobrenat urais (fada, demô nio. element o natural. in versão dos signos da realidade e mant ém assi m
FARSA FEYDEAU ou COURTELlNE. ou de dram as absur-
dos como os de IÜNESCO e BECKETT perpetuam cri atura mitológica etc .). um co nta to velado co m ela ; ela não ate sta pois
e Fr.: force; Ingl.: force ; AI.: Force. Schwank;
Esp.: farsa .
e m nossos d ias a tradição de um cô mico do non -
sens. A far sa deve sua eterna popul aridade a uma 1. O Lu gar do Maravilh oso
nec essari amente, com o se afirma com freq üên-
cia. um a co ncepção idealista e apolítica do mun -
fort e teatralidade e a uma atenção vo lta da para a do que se furt a à nossa análise ; é, às ve zes. ao
1. Um Gênero "Saco de Viagem " arte da ce na e pa ra a elaborad íssi ma técni ca co r- Aféerie só existe co m a criação de um efeito co ntrário. a im agem in vertida e " fie lme nte distor-
poral do ator. de ma rav ilhoso ou de fa nt ásti co" q ue opõe ao cida" da real idad e e. port anto, a fonte ve rdadeira
mundo real e "verossimilh ant e" um un iverso de do reali sm o . N a maior ia das vezes. e ntretanto. o
A etimo logia da palavra fa rsa - o alim ento
3. O Triun fo do Corp o referência regido por outras lei s física s. O mara- maravilh oso nã o tem outra finalid ade se não pro-
temperado que serve para rech ear (em francês.
vilho so int er vém a parti r do mom ent o e m qu e "os voca r es tados oníricos c eufóricos que afastam
farei r) um a carne - indica o caráter de corpo estra-
A fa rsa , gênero ao mesm o tem po desprezado fatos se produzem co ntra nossa ex pec tativa . de- d a realidade co tidiana (ope reta, co méd ia mu sical
nho desse tipo de alimento espiri tua l no interior
e ad mi tido, m as "po pular" em todos os se ntidos co rre ndo uns dos outro s" (ARISTÓT ELES. Poéti- ou ópera de gra nde espetáculo). Os teóri cos clás-
da art e dramática . Na origem. rea lmente. inter -
do termo. val oriza a dimensão co rpo ra l da perso- ca, § 1452a ), logo. qu and o. " por um encadeamen- sicos (co rno P. RAPIN. e m suas R éfl exi on s S U l' la
calavam-se nos mistérios med ievais momento s de
nagem e do ato r. No gênero cômi co. a crítica opõe to de c ausas não forçadas. nem chamadas de fora. Po étiqu e y preconizavam o uso do maravilhoso por
relaxament o c de riso: a fars a era co ncebida como
a farsa à comédia de linguagem e de intriga onde vê- se resultarem acont ecimentos ou co ntra a ex- per son ag ens divinas co mo em EURÍ PEDES e
aquilo qu e apimenta e complet a o alimento cul -
triunfam o esp írito. a intelectual ida de e a palavra pect ativa ou contra o co mum" (CHAPELAIN. Pré- SÓFOCLES. Eles fa zem dele o lugar de um a mit o-
tural e sér io da alta literatura. Excluída assim do logia sim plific ada . pop ular ou aristocrát ica; ten-
sutil. "A farsa. ao contrário. faz ri r. co m um riso face à I'Adonis). Ele se opõe ao real. a " tudo o
rein o do bom gosto. a farsa pelo me nos consegue qu e é co ntra o cur so ordi nário da naturez a" (P. tam co nci liá- lo com o verossimilhante con vert en-
fra nco e popular; e la usa. para este efei to. recur-
j ama is deixar-se red uzir ou recuper ar pela orde m. RAI'IN), mas é também , na dou tri na clá ssica. o do-o num caso limit e para o maravilhoso humano.
sos ex perimentados que cada um e m prega co mo
pe la sociedade ou pelos gêne ros nobres, como a qu er e de aco rdo co m sua ve rve : per so na gen s tí- co mp leme nto necessário e di alético da verossi- Para o maravi lhoso di vino (ou cris tão ), os mila-
tragéd ia ou a alta co média. À farsa ge ralmente se picas. máscar as gro tescas. truques de clown , m í- milh an ça. Não se limit a ao s temas, mas d iz res- gre s e a s interven çõe s sob re na turais são jus-
associa um cômico' gro tesco e bufão. um riso m ica s. caretas . Ia zsi s, trocadi lhos. tod o um gros- pei to igu almente à form a. à lin gu agem e 11 manei- tificad as pe los pod eres ex traor dinários dos deu-
gross eiro e um es tilo pou co refi nado: qualificati- se iro cô mico de situações. ges tos e pal avra s. num ra d e contar a fábul a. O prazer d o es pec tado r ses . Que re ndo limitar os e feitos dele. os teóri cos
vos co ndescende ntes e que estab e lece m de ime- tom co piosame nte esca tológico ou o bsceno . Os " m ara vilhado" é aquele de uma cri ança diante de clá ss ico s limitam-no à forma e à ex pressão : "A
di ato e muitas vezes de mane ira abusiva que a sen timentos são e lementares , a intriga construída um imenso brinqu edo cê nico qu e e la não co m- mara vilh a ocorre pelos acide ntes qu ando a fáb u-
farsa é oposta ao espírito. que e la está em parte sem o men or ap uro: alegria e mo vime nto carre- pree nd e e que a subj uga por seu fun cion am ento la é suste ntada somente pelas co nce pçõ e s e pela
ligada ao corpo, à realidade so cia l. ao cotidian o. gam tudo" (MAURON. 1964 : 35 -36). Esta rapi - ine sperado. O maravilhoso exige qu e o especta- riqu ez a da linguagem. de modo que o leitor deixa
(A prop ósito disto. a redes cob ert a, por BAKHTIN. dez e esta for ça co nferem à fars a um caráter sub - dor sus pe nda o jul gam ent o crítico e ac redite nos a matéria para deter-se no embelezame nto" (CHA-
do côm ico da farsa prol onga esta visão. mesm o versivo: sub versão co ntra os podere s morais ou efeitos visuais da ma quina ria" cêni c a: pod eres PELAIN. Pr éface à I'A donis ).
q ue sua valorização sej a inve rtid a: fa rsa = realis- pol ítico s. os tabus sex uais. o raciona lis mo e as so b re naturais dos herói s mit ológico s (vôo. levi- O maravilhoso as sume todas as formas cê ni-
mo, co rpo ; co méd ia = ideal ism o .) A farsa se m- regras da tragédi a. Gr aças à farsa. o es pectado r tação , força. adivinhação). ilus io nis mo total do ca s possívei s : aparição de persona gen s so bre-nu-
pre é defi nida co mo for ma primit iva e grossei ra vai à forra con tra as opressões da realidad e e da ce ná rio passível de tod as as man ip ulações. Aqui. man as, de fa ntas mas' ou de mortos. aç õe s cê ni-
que não pod eria elevar-se ao nível da co médi a. prud ent e razão ; as pulsões e o riso libert ador tri- a co nvenção reina soberana : e la exige a crença cas so b renat urais (efe itos de magi a). obj eto s que
unfam sobre a inibição e a angú stia trágica. so b a pov oam a ce na etc . Não é necessário qu e o públi-
Quanto a esta grosseria. ne m se m pre se sa be passageir a em fenôm enos sob re os quais sabemos.
máscara e a bu fon ar ia e a "li cença poéti ca " . co. hoj e muitas vezes cé tico. ac redite nos efei tos
muito be m se ela di z respeito aos proced imentos co ntudo, que não passa m de efeitos fab ricados .
dem asiado visíve is c infanti s do cô mico ou à te- O prazer teatral não é se não o pra zer do maravi- do mara vilh oso ; basta-lh e ap rec iá-los como ou-
~ . Saltimbanco. parada. grotesco. inte rméd io. lhoso e do sobrenatural qu e aume nta e e mbe leza tros tant os mom ent os altamente teatrai s c poéti-
mátic a escatológica .
a ficç ão . e que susten ta. nos espectado res. aquela cos. co mo símbolos a se rem deci frados (como no
W Bakht in. 1965; Aubailly, 1975. 1976 ; Tis sier.
doce ilu são que é tod o o prazer do teatro. onde teatro do absurdo).
2. Um Gênero Indestrutível 1976; Rey-Flaud. 1984: Corvin, 1994.
e la lança ainda o maravilhoso" (LA BRUYERE).
En con tram -se fa rs as de sd e a épo ca grega O palco , lugar do irreal. é muito nat uralm ent e o 2. Formas da Féeri e
lugar de e leição do marav ilhoso . O es petác ulo tem
(ARISTÓFANES) e latin a (PLAUTO); mas ela só FÉERI E
se co ns titu i e nq uanto gê ne ro durant e a Idad e ten dê ncia a recalcar o te xto, a lite ratura e a ve- Aféerie assum e as formas di ve rsas de ópera,
Média (cerca de um milhar de las. das quais só
resta uma centena. Ex.: A Farsa do Mestre Pathc-
e (Diretamen te do francê sféerie. sem corrcspon-
dente em portugu ês.)
rossi mi lhança: apena s o se nti do e a imagi nação
são so licitados neste teatro o nde se expre ssa o
bal é, pan tomi ma ou peça de intriga fant asiosa
(Son ho ele lima Noit e de Verão , de SHA KES-

16-1 165
F I G U RA
FESTI VAL

PEARE), usando todos os recursos visuais imagi- 2. Para o teatro oci dental, encontra-se uma cele- Do italianojiaba, fábula. São as comédias ex- 2. Produção do Interesse Teatral
ná veis (fig urinos, luzes, fogos de artifíc io, bal és bração assim (a da Paix ão dc Cristo) em Oberam- traídas de co ntos popul ares, principalmente na
aqu áti cos). É popular no séc ulo XVII barro co mcrgau, desde 1033. O "cu lto" de SHAKESPEARE obra de Ca rla GOZZ I (O A mo r das Três Laranj a s. Re vezam -se na ficção te atral pelo menos doi s
(encenaç ões dc TORELLI, dram atização de con- j á era celebrad o a partir de 1769 pelo ator GAR- A Prin cesa Tu ran doty. " simulado res" : o auto r c o at o r. Out ros simula-
tos de fadas de PERRAULT, criação da A ndrômeda RICK; o de WAGNER, aut o-organizado, desde 1876, dor es se int e rp õem fre q üe n te m e nte entre eles :
e do Tosão de Ou ro de P. CORNEILLE, de Psiqu ê em Bayrcuth, A Europa conhece suas manifesta- e ncenadores e di versos art esãos do espetáculo .
de MOLlÉRE). No sé culo XVIII , os Com edian- ções culturais de prestígio : Stratfo rd, Salzburg o, o FICÇÃO No teat ro, o fa z-de -con ta é a prese ntado dir eta-
tes-Italianos, a Óp era e o teatro de feira criam um M aio Florentino, a Primavera de Prag a Na Fran - ment e , não mediado ( pe lo m en os diretam ent e )
gêne ro de gra nde es pe tác ulo que particip a do tea- ça , o Festival de Avi gn on , criado em 1947 por Jean :-+ (Do latimfingo, eu moldo. eu formo.) por um narr ad or . É isto q ue e xplica a fort e im-
tro e da ó pera. N a Itáli a, a Com media del/'arte e VILAR, atrai, c m julho, um público numeros o. É "t..: Fr.: [ictio n; Ing l.: [i ction; AI. : Fikt ion; Esp.: pre ss ão de "a o vi vo " e de "real" se ntida pelo
a eo média jiabesca* de C. GOZZI, encenadas por antes de tudo um a enorme concentração de com- fi eci ófl . públi co (efeito de real * , ilu sãos ). Todavia, a fic-
A. SACCHI, recorr em a um desen vol vimento c ê- panhias e de ex periê ncias quc procuram ao mes- . ção não pod er ia ser rnetafi sic am ent e o po sta à
nic o no qual rein am a co nvenção e a fant asia. No mo temp o ser conh ec ida s e re conhecidas pela crí- Form a d e di scurso qu e faz referên cia a pe s - re al ida de (co mo o faz SEARL E). H á um a únic a
final do século XVIII, as fanta smagori as têm a tica e pelo públi co. Redes paralelas ("offAvignon" ) soas e co isa s qu e só e xistem na im aginação de inte rpre tação dos doi s e le m e ntos. ai nda mais
arte de produzir a ilusão de fant asma s em salas criam-se na cidade, teori camente à margem do fes- seu aut or, e. d ep o is, na do leit or/esp ect ad o r. O inextricáv e l porqu e também se entreme iam a fic-
escuras. No século XIX , a fée rie se associa ao tival ofici al; enc ontros e espetáculos em esboço discurso ficcion al é um discurso "não sé rio" , uma ção textual e a ficção cê n ic a .
melodrama, à ó pera, à pantomima, e depois ao (" teatro abert o") são aí o rganizados . asse rção in verifi cável , dcs compromi ssada , e é
vau de ville "; para produzir esp etácul os onde se co locado co mo tal pel o auto r: "O critéri o de id en - (lJ Realid ad e represe nt ad a, rea lidade teat ral ,
misturam , em meio a cantos, danças, música e efei- 3. Outras mani fest ações anima m a vida cultural ~ . pragmática, texto e cen a, signo, situação de
tificação qu c permite reconh ecer se um te xt o é
tos de ce na, heróis humanos e forças sob renatu- na França : o Fe sti val de Ou tono que, em Pa ris, enunciação.
ou não uma obra de fi cção dev e nec essariamen -
rais. Aféer ie vai ao encontro da peça popular na s reúne espetáculos music ais, teatrais e coreográfi-
rea lizações da s " Volksstücke" vienenses do sé - cos lan çand o a temporada ; o Festival de Nancy
te residir na s intençõ es ilo cutórias do autor" L::I::\ Urmson, 1972; [ser, 1975; Pran , 1978; Gua-
(SEARLE, 198 2: 109 ). ri no, 198 2a ; J an s e n , 19 84 ; Pa vis , 19 80 e ,
culo XIX (RAIMUND, NESTROY), nos teatros do que, desde 1963, recebeu co m pa nhias meno s ofi -
1985e ; Hrushovski, 1985.
"bouleva rd do Crime" ou, em nossos dias, nos ci ais e mais ex pe rimenta is. um a sé rie de festiv ais
I . Um Ato Ilocutóri o Descompromissad o
espetáculos fau stosos da s operet as ou das revis- de verã o o nde teatro, óp era e mú sica aliam for ças
tas eróti cas (Ca sino d e Paris) o u e sp ortiva s (como em Aix-en-Proven ce).
No di scurso * teatral, o text o e a representação FIGURA
(Holiday on /c e) . O cinema (trucagens de MÉLlÉS, O interesse prim ordi al dos festivais reside na

e
desenh os anima dos , film es fant ásticos) é o her - po ssibilid ade oferecida a um público de ver, num não passam de uma ficção , j á qu e são tota lme nte
inventad os e qu e as asse rçõe s que eles co ntê m (Do latimfigura , co nfiguraç ão. estrutura.)
deiro dir et o de ssa forma em que a técni ca fica lugar e num tempo, espet áculos novos , de de sco-
não têm va lor d e ve rda de . É, segundo SEARLE F t. i fi gure; Ingl.:fi g ure, cha rac ter; AI.: Figur;
enca rrega da de produzir, com grandes custos, o brir tend ências e ex periênc ias pouco conhec ida s,
(1982), uma linguagem que não é "s éri a", isto é, Esp. : fi gura.
ext raordin ário e o inimaginável. de confrontar an imadore s e amadores de teatro.
que nã o co m promc te aq uele q ue a profer e co mo
1. Em francês cláss ico . a fi gura é o aspecto c o
W \Vinter, 1962; C hristo ut, 1965. 4. Este mod em o res surgi mcnt o do festival sagra- um jul gamcnto o u um a frase da linguagem da vida
co m portame nto de u ma pessoa . (Fazer boa fig u -
do atesta uma profund a necessidade de um mo- diária. O s auto re s (e nunc iado res) deste di scur so,
ra , mostr ar-se so b sua pr úpriujig ura .i Às vezes
mento e de um lugar ond e um público de "ccl c- dram aturgo, ence nador, ator, parecem emi tir fra-
se en contra a palavra em expressões como " figu-
FESTIVAL brantes" se encontre peri odicamente para toma r a ses que têm est atuto de verdade, de executar ato s ra do herói" ou "fi gura de M ãe C o ragem " . A fi-

e
pulsação da vida teatral , satis fazer às vezes a falt a ilocut ó rios (pe rfo rmá ticos) qu e comprovam u m a gura designa um tip o de per son agem sem que sej a
Fr.:f esti val; lngl. :f estival iperfonnance} ; AI.: de ir ao teatro no invern o, e , m ais profund ament e, atividade verbal, ao passo qu e, na verd ad e, es sa s precisado de que traços parti c ulares essa perso-
Festsp iel, Esp·:f estival. ter a sensação de pert en cer a uma comunidade in- f rase não os vi nc ulam a nenhum crit éri o de ve r- na gem se co m p õe, A fig ura é uma form a impre-
telectual e es piritua l en co ntrando uma forma mo- dade ou de lóg ica. " O auto r de um a ob ra de fic - cisa que signi fica m ais por sua po sição estrutural
1. Às vez es a gent e se esquece que festival é a dema de culto e de ritual. O festival tende assim a ção fing e reali zar uma série de ato s ilocutó rios , que por sua natureza interna (co mo o term o ale-
forma adjeti va par a fest a: em Atena s, no século ace ntuar a ruptu ra quase es q uizo frênica entre o normalmentc do tip o asse rtivo " (SEARLE, 19 82 : mão Figur, ao mesm o tempo s ilhue ta e perso na-
V, por ocasião das fest as religiosas (Dionisíaca s trabalh o - instalado no ano - e o tempo das féri as 108 ). E ste di scurso assume e xa tamente o me sm o gem) . A figu ra, co mo o pap el " c o tip o ", reagrupa
ou Leneanas), represent avam- se co m édias. trag é- do suj eito o nde a arte é co nsumida em doses ele-
sentido qu e se fos se pronunciado na vida rea l; um co nj unto de traços di stinti vos bastant e ge né -
dias, ditiramb os. Es tas ce rimô nias anuais marca- vadas, com o compen sação e reserva.
simples mente e le não liga seu autor, graças a uma ricos . Ela se aprese nta como uma silhueta, uma
vam um momento privileg iado de rego zij o e de ma ssa ainda imprecisa c qu e vale sobretudo por
co nve nção que o auto riza a mentir impunemente.
encontros. Deste aco ntec ime nto tradicional, o fes-
Por ém , e está aí a es pec ificida de do teat ro, es ta seu lugar no co njunto de prot a gon istas co mo " fo r-
tival co nse rvo u um a ce rta solenidade na ce lebra- FIABESCO ficção é co ns tru ída por verdadei ros corpos : aq ue- ma de um a fun ção trági ca" (BARTHES, 1963: 10).

e
ção , um caráter ex ce pcional e pontu al que a mul-
les do s atores . (Para um a crítica da pos içã o de A figura ganha e m coerê nc ia s intática (na co n-
tiplicação e a ban al ização dos modern os festiva is Fr.: fia besque : Ingl. : fia besco; AI.: Fi abesco;
SEARLE, ver pragmática*') figuração actancial *) o qu e perde em prceisão
muitas vezes es vaziam de sentido . Esp.: fiabe seo.

166 16 7
FIGURAÇÃO FIGURINO

semântica: ela se toma uma noção estrutural pró- G) Texto e cena, interpretação, espaço interior, fan- A partir de meados do século XVIII, na Fran- tária. O olho do espectador deve observar tudo
pria para formalizar as relações entre as persona- ~tasl. ça, reformadores do teatro como DIDEROT c o que está depositado no figurino como porta-
gens e a lógica das ações. VOLTAIRE, c atrizes e atores como CLAIRON, dor de signos, como projeção de sistemas sobre
W Schlemmer, 1927; Francastcl, 1965, 1970; FAVARD, LEKAIN ou GARRICK garantem a pas- um objeto-signo relativamente à ação, ao cará-
2. Considerada como figura de estilo (ou de retá- Metz, 1977; Lyotard, 1971.
sagem para uma estética mais realista em que o ter, à situação, à atmosfera.
rica*), a cena inteira sempre apresenta, além de figurino imita o da personagcm represcntada. Ain- Sob esse ponto de vista, O figurino apenas
sua realidade imediata, um sentido abstrato e figu- da com freqüência, ele continua a ser empregado acompanhou (expondo-o como "cartão de visita"
rado no qual se baseiam aficção* e a ilusão*. FIGURINO unicamente por seu valor de identificação da per- do ator e da personagem) a evolução da encena-

o Caráter,caracterização, personagem, figuração, Fr.: costume; Ingl.: costume; AI.: Kostüm; Esp.:
sonagem, limitando-se a acumular os signos mais
característicos e conhecidos por todos. Sua fun-
ção, que passou do mimetismo naturalista à abs-
tração realista (principalmente brechtiana), ao sim-
~ configuração. vestuario. bolismo dos efeitos de atmosfera, à desconstrução
ção estética autônoma é muito fraca. O figurino

m Genette, 1966, 1969; Francastel, 1967; Fon- Na encenação contemporânea, o figurino tem
teve que esperar as revoluções do século XX para
aprender a situar-se com respeito à encenação
surrealista ou absurda. Presentemente faz-se uma
utilização sincrética de todos esses efeitos: tudo
. tanier, 1968; Lyotard, 1971; Bergez, 1994. papel cada vez mais importante e variado, toman- é possível, nada é simples. Novamente a evolu-
como um todo. A par dessa mudança do signi-
do-se verdadeiramente a "segunda pele do ator" ção se situa entre a identificação rasa da persona-
ficante da vestimenta, o teatro reproduz sistemas
de que falava TAIROV, no começo do século. O gem por seu traje e a função autônoma e estética
fixos nos quais cores e formas remetem a um có-
FIGURAÇÃO fato é que o figurino, sempre presente no ato tea-
digo imutável conhecido pelos especialistas (tea- de uma construção da indumentária que só tem
tral como signo da personagem e do disfarce, con- contas a prestar a si mesma. A dificuldade está
tro chinês, Comnicdia dctlarte" ctc.).
-t) Fr.:figuratioll; Ingl.:figuratioll; AI.: Statisterie; tentou-se por muito tempo com o simples papel no fato de tomar dinâmico o figurino: fazer com
Esp.: figuracion, comparsa. de caracterizador encarregado de vestir o ator de que ele se transforme, que não se esgote após um
2. Função do Figurino
acordo com a verossimilhança de uma condição exame inicial de alguns minutos, mas que "emi-
1. Conjunto defigurantes, atores de papel secun- ou de uma situação. Hoje, na representação, o figu- ta" signos por um bom tempo, em função da ação
dário e mudo, que entram na representação como Como o traje, o figurino serve primeiro para
rino conquista um lugar muito mais ambicioso; e da evolução das relações actanciais.
multidão anônima, grupo social, empregados etc. vestir, pois a nudez. se não é mais, em nossos
multiplica suas funções e se integra ao trabalho
palcos, um problema estético ou ético, não é as-
de conjunto em cima dos significantes cênicos. 3. O Figurino e a Encenação
2. Afiguração oufigurabilidade (tradução do ter- sumida com facilidade. O corpo sempre é socia-
Desde que aparece em cena, a vestimenta con-
mo freudiano Darstellbarkeit) é a transformação verte-se em figurino de teatro: põe-se a serviço lizado pelos ornamentos ou pelos efeitos de dis-
Às vezes se esquecem que o figurino só tem
que sofre o material do sonho para a formação do de efeitos de amplificação, de simplificação, de farce ou ocultação, sempre caracterizado por um
sentido para e sobre um organismo vivo; ele não
sonho. No teatro, é a maneira de representar vi- conjunto de índices sobre a idade, o sexo, a pro-
abstração e de legibilidade. é apenas, para o ator, um ornamento e uma emba-
sualmente o que não o era de início: mostrando fissão ou classe social. Essa função sianalética
lagcm exterior, é uma relação com o corpo; ora
um cenário, esclarecendo uma personagem, su- do figurino é substituída por um jogo duplo: no
1. Evolução do Figurino serve o corpo adaptando-se ao gesto, à marcação,
gerindo um estado psicológico, a encenação faz interior do sistema da encenação, como uma sé-
à postura do ator; ora, enclausura o corpo sub-
opções sobre a interpretação da peça e a emer- rie de signos ligados entre si por um sistema de
O figurino é, no entanto, tão antigo quanto a metendo-o ao peso dos materiais e das formas,
gência de fantasias" visuais. Como o sonho, a figurinos mais ou menos coerente; no exterior da
representação dos homens no ritual ou no ceri- prendendo-o num colarinho tão duro, prenden-
cena "escreve" em imagens: "As artes plásticas, cena, corno referência ao nosso Inundo, onde os
monial, onde o hábito, mais do que em qualquer do-o tanto quanto a retórica ou o alexandrino.
pintura e escultura, comparadas à poesia que pode, figurinos também têm um sentido. Desse modo, o figurino participa sucessiva e
outro lugar, sempre fez o monge: os sacerdotes
ela, servir-se da palavra, acham-se numa situação No interior de uma encenação, um figurino é por vezes simultaneamente, do ser vivo e da coi-
gregos de Elêusis, assim como os padres dos mis-
análoga [ao sonho e ao teatro]: aí também a falta definido a partir da semelhança e da oposição das sa inanimada; garante a transmissão entre a
de expressão deve-se à natureza da matéria utili- térios medievais usavam trajes também utiliza-
formas, dos materiais, dos cortes, das cores em interioridade do locutor e a exterioridade do mun-
zada por essas duas artes, em seu esforço de ex- dos no teatro. A história do figurino de teatro está
relação aos outros figurinos. O que importa é a evo- do objetai: pois, como observa G. BANU "não é
pressar algo. Antigamente, enquanto a pintura ligada à da moda da vestimenta, mas, ela a am-
lução do figurino no decorrer da representação, o só o figurino que fala, fala também sua relação
ainda não havia encontrado suas leis de expres- plia e estetiza de maneira considerável. O figuri-
sentido dos contraste, a complementaridade das histórica com o corpo" (1981: 28). Os figurinistas,
são própria, ela se esforçava para remediar esta no sempre existiu, e até mesmo de modo demasia-
formas e das cores. O sistema interno dessas rela- hoje em dia, cuidam para que o figurino seja ao
deficiência. O pintor colocava diante da boca dos do vistoso e excessivo, uma vez que, até a metade
ções tem (ou deveria ter) grande coerência, de mo- mesmo tempo matéria sensual para o ator e signo
indivíduos que estava representando bandeirolas do século XVIII, os atores se vestiam da maneira
do a oferecer ao público a fábula para ser lida. sensível para o espectador.
nas quais escrevia as palavras que não esperava mais suntuosa possível, herdando vestimentas de
Mas, a relação com a realidade exterior também O signo sensível do figurino é sua integração
que compreendessem" (FREUD, 1973: 269; orig. corte de seu protetor, exibindo seus adornos como
é muito importante, se a representação preten- à representação, sua capacidade de funcionar
1969, vol. 2: 311). sinal exterior de riqueza, sem preocupação com a
der nos dizer respeito e permitir uma compara- como cenário ambulante, ligado à vida e à pala-
A encenação" figura o texto dramático: ela não personagem que deveriam representar. Com o pro-
ção com o contexto histórico. A escolha do fi- vra. Todas as variações são pertinentes: datação
o "traduz", não o expressa, mas prevê um dispo- gresso da estética realista, o figurino ganha em
gurino sempre procede de um compromisso e de aproximativa, homogeneidade ou defasagens vo-
sitivo de enunciação cênica onde ele assume sen- precisão mimética tudo o que possuía de riqueza
uma tensão entre a lógica interna e a referência luntárias, diversidade, riqueza ou pobreza dos ma-
tido para um determinado público. material c de delírio do imaginário.
externa: jogos infinitos da variação da indumen- teriais. Para o espectador atento, o discurso sobre
168 169
FLASH-BACK FORA DE CENA

a ação e a personagem se insere na evolução do FLASH-BACK portâneia. Este procedimento essencialmente Em compensação, mostramo-nos atentos à inter-
sistema da indumentária. Insere-se assim nele, épico (GENETTE, 1972, BERGEZ, 1994), apli-
tanto quanto na gestualidade, no movimento ou
na entonação, no gestus da obra cênica: "No fi-
e Fr.: [la sh-back; Ingl.: [la shback; AI
Flashback, Rückblcnde; Esp.: flash-back.
ca-se também ao teatro: o dramaturgo, teorica-
textualidade*, tanto cênica quanto textual, exa-
minando a que outras obras ou estilos um texto
mente ausente do universo dramático, intervém ou uma encenação remetem, observando que tra-
gurino, tudo o que confunde a clareza dessa rela- na verdade no desenrolar dos conflitos e na dições de atuação e de encenação são reativadas
ção, contradiz, obscurece ou falsifica o gestus 1. Termo inglês para uma cena ou um motivo» singularização das personagens principais, su- na produção teatral contemporânea.
social do espetáculo, é ruim; ao contrário, tudo o dentro de uma peça (na origem, dentro de um fil- bordinando o resto aos elementos enfocados. A
que nas formas, nas cores, nas substâncias e na me) que remete a um episódio anterior àquele que focalização influi nos pontos de vista" das per- (-) Tema, leitura, teatro documentário, adaptação,
sua disposição ajuda a leitura desse gestus, é bom" acaba de ser evocado. Em retórica, esta figura se sonagens e, por conseguinte, naqueles do autor ~,motlv.
(BARTHE5, 1964: 53-54). chama analepse. Esta técnica narrativa lembra a e do espectador.
Esse princípio se limita sobretudo a um trata- abertura in medias res que remete em seguida aos Em cena, a focalização é muitas vezes realiza- L:J:l Frenzel, 1963; Demougin, 1986.
mento realista da cena; ele não exclui uma certa antecedentes" da ação. da conscientemente usando um refletor dirigido
loucura do figurino: tudo é possível, contanto que Esta técnica "cinematográfica" não foi, entre- para uma personagem ou um lugar para atrair a
continue a ser sistemático, coerente e acessível tanto, inventada pelo cinema; já existia no roman- FORA DE CENA
atenção por "efeito de close". Este close, técnica
(que o público possa decifrá-lo em função de seu ce. No teatro, conhece uma certa voga, a partir
universo de referência e que ele produza os senti-
dos que lhe atribuímos ao contemplá-lo). O para-
das experimentações sobre a narrativa" (ex.: A
Morte de um Caixeiro-Viajante, de A. MILLER).
emprestada do cinema, não é, entretanto, realiza-
do necessariamente por um efeito de luz. O jogo e Fr.: hors-scêne: Ingl.: offstage; AI.: ausserhalb
der Bühne; Esp.: extra-escena.
dos olhares dos atores sobre um outro ator ou um
doxo deste figurino no trabalho teatral contem- Um dos primeiros usos se acha em A Desconhe-
elemento cênico, ou todo efeito de evidenciação*,
porâneo é o seguinte: ele multiplica suas funções, cida de Arras, de A. SALACROU (1935). 1. O fora de cena compreende a realidade que se
produzem-no do mesmo modo. É a enunciação
vai além do mimetismo e da sinalização, coloca desenvolve e existe fora do campo de visão do
da encenação que assegura a valorização (o
em questão as categorias tradicionais demasiado 2. No teatro, c flash-back: é indicado seja por um espectador. Distingue-se o fora de eena teorica-
"enquadramento") de um momento ou de um lu-
estratificadas (cenário, acessório, maquiagem, narrador, seja por uma mudança de luz ou uma
gar da representação. mente visível para a personagem em cena, mas
máscara, gestualidade etc.); o "bom" figurino é música onírica, seja por um motivo que encaixe
masearado para o público (teicoscopia*) e aque-
aquele que retrabalha toda a representação a par- este parêntese na peça. Sua utilização dramatúr-
le outro, invisível para o público e para o palco.
tir de sua flexibilidade significante. gica é muito flexível, mas são convenientes cer-
FONTE Este último recebe também o nome de bastidores
É mais fácil apreender estas "doenças" do figu- tas precauções em seu emprego. Primeiro é pre-
ou coxia.
rino teatral (hipertrofia da função histórica, esté- ciso indicar claramente os limites do [lash-back
tica ou suntuária segundo BARTHES) do que pro- de modo a conhecer a modalidade" c o grau de :).. Fr' source" Ingl.: source; AI.: Quelle; Esp.:
por uma terapia ou simplesmente uma prática dos realidade da ação. O flash-back opera conforme "'t.: .etn·~lf ' 2. O estatuto dessa fora de cena varia conforme
dicotomias simples: aqui/ali, agora/outrora, ver- o grau de realidade que o ambiente cênico pre-
efeitos do figurino. Ele sempre oscila entre um
dade/ficção. Ele sempre deve parecer apreensível Conjunto das obras, textuais ou cênicas, que tende ter: no caso da representação naturalista,
"excessivo" e uma subutilização, entre uma em-
pelo espectador: um [lash-back dentro do flash- puderam influenciar direta ou indiretamente o o fora de cena parece existir tanto quanto a eena;
balagem pesada e uma metamorfose espontânea.
back ou uma cascata de [Iash-backs desorienta- autor dramático. ele é truncado e se deixa adivinhar como pro-
O figurino está longe de ter dito a sua última
riam o espectador. Em contrapartida, todos estes No sentido estrito, a fonte é um texto no qual longamento da cena. É, portanto, o que não é
palavra e apaixonantes pesquisas indumentárias
podem renovar o trabalho cênico. A pesquisa so- procedi menos tornam-se legítimos quando a dra- o dramaturgo se inspirou em seu trabalho prepa- visível, sendo-o. Ao contrário, para um espetá-
bre um figurino mínimo, poli valente, "de geo- maturgia renuncia à linearidade e à objetividade ratório: outras peças, arquivos, lendas, mitos etc. culo limitado à área de atuação (como na cena
metria variável", que recorte e re-presente o cor- da apresentação, quando brinca de imbricar inex- Toda escritura dramática implica um trabalho épica brechtiana), ou para uma cena fechada em
po humano, um figurino "fênix", que seja um tricavelmente as realidades umas nas outras. (So- dramatúrgico" de adaptação *, visto que o dra- si mesma (como na cena simbolista), o fora de
verdadeiro intermediário entre o corpo e o obje- nhos, fantasias, poética da narrati va, como em O maturgo recorreu a materiais muito diversos que cena não é o prolongamento da cena, mas uma
to, está, de fato, bem no cerne da busca atual da Ano Passado em Ma rienbad, de RESNAIS/ ele usa de acordo com suas necessidades. às ve- realidade outra e distinta, local onde começa
encenação. Tal como uma miniencenação volan- ROBBE-GRILLET.) zes, aliás, no limite do plágio (BÜCHNER recopia nosso mundo real.
te, o figurino permite conferir novamente ao ce- trechos de livros de história para A Morte de
nário seu título de nobreza, afixando-o e inte- ~ Tempo, análise da narrativa, fábula. Danton i. 3. Para sugerir esse fora de cena, a encenação cria,
grando-o ao corpo do ator. Se o ator fez bem em A noção de fonte quase não é mais usada a muitas vezes, um dispositivo sonoro que marca a
se desnudar à nossa frente, nos anos sessenta e não ser pela crítica positivista à la LANSON("hou- ressonância nas peças fechadas, indicando os ruí-
setenta, é preciso, agora, que ele "se vista de FOCALIZAÇÃO ve a idéia - escreve ele no prefácio de sua edição dos produzidos nos bastidores; ela pode - como
novo", que reconquiste tudo quanto valorize seu crítica das Cartas Filosóficas de VOLTAIRE em Britannicus, na montagem de G. BOURDET-
corpo, ao parecer escondê-lo, e que entre no rei- :).. Fr.:focalisarion; Ingl.: Focaliration; Al.: Foka- (1909) - de chegar a descobrir para cada frase o iluminar a cena a partir das coxias, através de jane-
no do figurino. "'t.: lisierung. Fokuslenkung; Esp.:focalizacióll. fato, o texto ou o propósito que abalara a inteli- las invisíveis que supostamente dariam num outro
gência ou a imaginação de VOLTAIRE"). Hoje não cômodo, ou num parque: estes são procedimentos
[;f.;J. Laver, 1964; Louys, 1967; Bogatyrcv, in Insistência do autor numa ação segundo um se tem mais esta vã e louca pretensão: não mais se que dão a impressão de um espaço * contíguo, real,
Matejka e TIlumk, 1976: 15-19; Pavis, 1996. ponto de vista particular para salientar sua im- atribui às fontes um valor explicativo absoluto. que teve que ser arbitrariamente omitido.

170 171
FOR A D O T EX TO FO RMA A B E RT I

~ . Quadro, fora do texto. realidad e representada. - num nível con cret o: lugar cên ico, siste m as cê- hom em e a e volução da soc ied ade , ignorar a no- duz qu ase qu e a uma total destru ição do mod el o
nico s e e xpressão co rpo ra l; vida de dos cont eúd os ideológ ico s q ue não podem ant eri or, de modo que obras tão difer entes qu an-
- ma s também num nível abstrato: dramatu rgia » m ais usar a forma clássica fec ha da se m vio le ntá- to as de Sl tA KESPEARE, BÜCHNER. BRECHT ou
FORA DO TEXTO e co mposição * da fábul a : la, es vaz iá-Ia de se u co nteúdo e int roduzir os ele- llECKElT receb em às vezes o vago rótulo de o bra
- a decup ag ent" espaço- te mpor al da açã o , e le- m entos críticos é picos qu e d est ro em a drama- aberta (ECO, 1965).
:"\. Fr.: liors-textc; Ingl.: 11011 tex tual: AI.: Kontex t; mentos do discurso" (so ns, palavras , ritmos. turgi a demasiado c láss ica d a peça bem -feita. É, O crité rio de fec hamento/abertura vem do es tu-
't.; Esp.: extra- tex to, mét rica, ret ór ica). port anto , o su rgime nto de nov os conteúdos (iso- do das formas artísticas, e mais precisam ent e d as
lam ento e alienação do hom em , impossibilida- arte s d a represent ação. Segundo o s C on ceitos
o fo ra do texto é ao mesm o tempo o contex- 2. Forma e Conteúdo de do co nfl ito individu al etc .) qu e fez ex plod ir a Fundam ent ai s de História da Arre de WÚLFFLl N,
to" ideol ógico, histórico e o interte xto : a seqüên- forma dramática, por vo lta do fin al do sé culo a forma fec ha da é "uma repre sent ação qu e , atra -
cia de textos que preced e a obra e qu e, através de XIX , e tornou necessário o empre go de pro cedi- vés de técn icas mai s o u menos tectônicas. faz do
Só existe forma, porém , num a enforma ção de
toda s as medi ações c tran sformações possíveis, m ento s " épicos. quadro um fen ômen o fechad o em ~ i mesmo, qu e
um co nteúdo e de um significado pre cisos. Uma
influem no texto dram ático . rem et e em tod a parte a si mesm o, ao pa ss o qu e ,
forma teatral não ex iste e m si; e la só faz sentido
No teatro, este fora do tex to é essencia l para in ver sam en te , o e stilo da forma ab ert a remet e e m
dentro de um projet o cênico globa l, isto é, quando 4 . Níveis de Obs er vação da Forma
co mpreender o text o das person agen s. Na verda - toda part e para a lém de si mesm o e pro cura dar
se associ a a um conteúdo transmitido ou a tran s-
um a imp ressão de ilimitado" ( 19 15: 145). V. KLOTZ
de, as indicações cênicas e o text o descrit ivo da mitir. Por exe mp lo, dizer q ue existe uma forma o espetácul o não usa forma s cria das ex nihilo, (196 9) ret om ou esta distinção aplicando-a à hi s-
e nce nação não mais exi stem na represent ação. épica não faz sentido ; deve-se precisar como esta e le as toma emprest adas da s est ru tura s so ciais:
Tod as essas "n otas do autor [...] esses buracos qu e tóri a do teat ro ; e le pôde, assim, pôr em e vidê nc ia
forma (fragment ad a, descontí nua, assumida por um " A pintura, a arte, o teatro so b tod as as formas - e dois e sti lo s de construção dramática aos quai s
del as result am para a unidade do texto são preen- jogo de narrador) se articul a sobre um conteúdo eu preferiria dizer o espetácul o - visualizam por
chidos por outros sistemas de signos" (VELTRUS- corresp ondern do is modos de representação cêni-
preciso: forma épica brcchtiana para quebrar a iden- um determinado tempo não só os termos literá- ca. Seu modelo leva perfeitamente em conta di-
KY, 1941 : 134; 1976: 96). Desta form a, o fora do tificação" e a ilus ão > de um desenvolvimento or- rios e as lendas, mas as e struturas d a sociedade. ferenças form ai s e ideológicas de duas drama-
text o (e fora de cena) fazem sua re apa rição em gãnico dafábu/a* ; o u aindafo rma épica da narra- Não é a forma que cria o pen samento nem a ex- turgias, desd e qu e se leve ao molde genérico os
cena através da situação proposta pela ence nação. tiva clássica inserida eomo narrativa objetiva na pre ssão, mas o pen sam ent o, expressão do con- ar ranj os ind is pensáveis à análise específica da
O texto dram ático "visuali zado " , o text o "emiti-
terceira pes soa num tecido dram ático e utilizado teúdo social comum de uma é poca, qu e cria a for- peça examinad a .
do no palco" é, assim. se m que o pareça, pré-for- por razões de vero ssimilh ança (e não, co m o em ma" (FRA NCASTEL, 1965: 237- 238 ). Numa me sma orde m de idéia, o li vro de ECO
mado e modali zado " pelo for a do texto torn ado
URECHT, ro mpi mento crítico da ilusão). Toda unidade ", po r mínima qu e sej a, só fará so bre A Obra Aber ta ( 1965) inau gurou urna nova
fisicam ente sensíve l na situação" cê nica . Tudo o
se ntido numa aná lise sem io lóg ica se se estive r em ab ordagem do te xto literári o. Este é co nce bido
qu e é dito em ce na só faz se ntido em função do co mo de posit ári o de uma multipli cidade de se n-
3. Pr obl em át ica Hegeli ana do Fundo e da co ndiçõe s de fazer co rrespo nder a unid ad e a um
q ue é rej eit ad o ou pressuposto no ante o u no e x- tido, pod endo co ex istir vários significados em um
Form a proj et o es té tico e ideológico glo ba l, produ ção do
tra-texto . O teatro , co mo a liter atur a, reco rre à rea- significante . A abertura se faz no plan o d a int er-
se ntido e de fun ci onam ento in te rno ao mesm o
lid ad e exter ior não como se ac redi to u por muito pretaçâ o >e da prática significante" qu e a crítica
Par a HEGEL, a for ma e o co nte údo da ob ra de tem po para a represent ação e para o espectador.
tempo, im itando-a, mas usando-a co rno pressu - im põe ao o bj e to es tudado.
POslO co mum ao autor c ao es pec tador , e corno arte es tão e m rel ação dialética. Só se pod e se pa -
rar o co nte údo da form a (e reci procam e nte) por 4 '; Scm iologia, formalismo, forma fec hada. for-
ilu são referen cial (efeito do real), qu e tom a pos-
necessidad es de teori zação: a form a é um co nte ú-
''-\;,. ma abert a, realidade representada, dramatu rgia. I. Fábula
síve l a leitura do texto dram ático.
do c nfo rrna do , mani festo. Eis por qu e, de acordo
~ L a n ~ e r , 1953; Roussct, .1962 ; Hcffn er, 1965; A fábula é um a mont agem de motivo s qu e não
~ . lotcnextualidade, sociose miótica. co m a estética hcgeli ana, "as ve rdade iras o bras
L uk ács, 1960, 1965; Dictrich, 1966; Klotz,
de art e são aqu e las o nde conte údo e forma re ve- são es truturado s num co nj unto coerent e, mas apre-
1969 ; Tod oro v, 1% 5: Tynianov, 1969; Erlich, 1969 ; se ntados de man eira fragment ária e descontínua .
Althusser, 1965; Lotman, 1973 ; Pavis, I97So, la m-se id ênti cos" (HEGEL, c itado in SZON Dt, Wirki ewi cz, 1970; Kirby, 1987.
Q 1983a , 1985d; Ubersfeld, 19790. 1956: 10; 19 83: 8) . Esta es tética va lo riza a har- A ce na ou o qu adro form am as unidades básicas
qu e, so mand o-se , produzem uma seqü ênc ia é pi-
monia entre form a e fundo e postula a anteriori -
ca de motivos. O dramaturgo não pare ce or gani -
dade do cont eúd o so bre a for ma . Assim, dir-se- á, FORMA ABERTA zar se us m ateri ais co nforme uma lógi ca e urn a
FORMA dentro deste es pírito, que a dr amaturgia clássica
ord em qu e ex c luem a intervenção do aca so . Ele
é a forma mais apropriada par a "e xpres sar" a con- ~ Fr·:forme ouvc rte ; Ingl.: opc n fo rm; AI.: offene faz as ce nas se a lterna rem segundo um princípi o
-t)- Fr.: f orme; Ingl : formo AI.: Fo nn; Esp.: f or- cepção esscnciali sta e ideali sta do homem. As "'t.; Form; Esp.:jorma ab icrta . de contradi ção, até mesmo de distanciam ento "
ma. mudanças de form a, em part icular a destruição
(BRECIlT). E le não integra as diferentes intrigas "
da forma dramáti ca em be nefício de elementos Se aformafechada* ex trai a m aioria de suas a uma ação princip al, mas joga com as repetiçõe s
1. A Forma no Teatro épicos, serão con sid erados co mo uma decadên- caracte rísticas do teat ro clássico euro peu, a for- ou vari ações tem áti cas (leiunotivví e com as açõe s
cia e um de scarte da form a canô nica do dram a m a ab erta se define co mo rea ção co ntra esta paral ela s. Por ve zes, estas últimas, dispo sta s li-
Onde se situa a form a na repr esent ação tea- (ep iciza çã o *). Ist o é , co m o m o stra SZON Ol d ra ma turg ia . Ela apre sent a um a e no rm idade de vre me nte , j u nta m -se , e ntre tanto, no p on to de
tral? Em tod os os níveis: ( 1956) , de sconhecer o no vo co nhec ime nto do va ria ntes e de caso s parti cul ar es. A abertura co n- integra ç ão ".

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FORMA FECHAD A FORMA S TEAR AI ~

2. Estruturas Espaço- Temporais I . Fá bula 3. Personagens soc ialista, um insu ltu qu e s ervia para neutralizar
o adversário por falt a de enga jamen to socia l e
o temp o, fragm ent ado, não cor re de modo A fábula forma um co nju nto articul ado em cima E m núme ro reduzido, elas coi ncide m co m se us co m placência em rel ação à ex peri men tação esté-
cont ínuo. El e se es te nde natu ralmente um a vida de uma seqüência de epi sódios em núm ero limita- discur sos e apr esentam, ape sar de sua divers ida- tica. Há form ali smo, ou pel o menos acusação de
in teira, até mesm o uma épo ca . Em certo s dra- do c centrados todos nu co nfl ito" princip al. Cada de, um grande núm ero d e pontos em com u m. form alismo, qua ndo a forma é tot alm en te separa-
maturgos, e le nã o é ape nas meio de co munica- tema ou motivo é subordi nado ao esquema geral, Assumem se nti do por se u luga r relati vo na confi- d a de sua funçãu social. Segu ndo BRECHT, por
çã o da ação ; torna-se inteirame nte personagem o qual obedece a uma es trita lógica tem poral e cau - gurarão ' actancial " , Su as pro priedades são so- exe mplo, "lodo ele me nto fu rma l que nos impede
(8 ÜCHNER, 10 NESCO, BECKETT). saI. A progressão da intriga faz-se dialeticamente bretu do inte lec tuais e mor ais (luga r no univer so de ap reender a ca usa lidade social deve desa pare -
O espaço cên ico é aberto em direção ao pú- por "go lpe e co ntragolpe" , as co ntradições resol- dramático ou trági co ), e não-m ateriais (níve l so- ce r; tod o eleme nto formal que nos ajuda a com -
blico (des apareci me nto da quarta pa rede* ), pe r- vidas trazendo sempre no vas co ntrad ições, até o cia l e descri ção física natu ralista). preender a ca usa lida de so ci al de ve ser utilizado"
mitindo todas as ex plosões cenográ fica s ima- po nto final que resol ve de finiti vam en te o conflito ( 196 7, vol, 19: 29 1).
gináveis, estimu lando dir et am ente dirigir- se ao principal. Todas as ações são integradas à idéia di- No teatro, a pesqui sa fo rmal é indispensá vel
4. Discurso
p úblico " , O lugar e o sent ido dos obje tos cêni- retora , a qu al coincide com a busca do assunto prin- se considerarmos que um a encenação sem pre traz
co s variam sem ce ssar: o espec tado r é conv ida- cipa l. Os epis ód ios cuja apre se ntação cênica apre- uma nova luz au texto e que nad a é de finitiva -
Ta mbém e le obedece à regr a de homoge-
do a ace itar sua s co nve nções. sentaria dema siada dificu ldad e são transmitidos no me nte solucio nado a ntecipada me nte quant o a se u
neidade e de convenciona lida de artística. O di s-
níve l da con sciê ncia e da linguagem da perso na- se ntido e sua encenaç ão . Estam os bastante dis-
curso é subme tido a um a fo rma fixa: alexandri no ,
gem pelos relatos ou lon gos mon ó logos . A ação tantes, no momento, de ste de bate sobre os direi-
3. As Personagen s seqü ên cia de tiradas, reto madas term o a termu. A
te m tend ência a des ma teria lizar-se para só ex istir tos das forma s, que sã o o pró prio e ún ico luga r
língua não procura produ zir um efe ito de real ', e
pe la me diação do discurso (na rra tivar v dos prota- onde o artista pe rmanece fie l a s i mesmo.
O dramaturgo e us ato res fazem-nas sofrer os sim reunir protago nistas munidos da mesm a ba-
piores ultraj es! Elas não são mais redut íveis a uma gon istas: ela apresenta mu itas vezes um caráter tí- gagem cultural e verbal.
C) Figuração, funç ão, teatralidad e, dramaturgia,
co nsciência ou um conj unt o aca bado de carac - pico , até mesmo parabólico . É dad a gra nde aten- Esta form a fechada vai dar, no caso mais típi- ~. esteticismo, hist ória, realidad e representada,
teres; são as ferrame ntas dramatú rgicas utilizáve is ção aos j ogos de simetria na se qüênc ia das ações e co , na peça bem -fe ita ", isto é, co nstruída de acor- estrutura.
das réplicas; cada ato retom a o desen vol vimen to do co m um a dra maturgi a de inspiração clá ss ica ,
de diversas mane iras, se m preoc upa r-se com "e-
ross imilhanç a" ou realismo ».
geral da curva dramáti ca .
A forma fechada é própria do gê ne ro da tragé-
que ap resen ta um unive rso fictício autônomo e
"ab so luto" (SZONDI, 1956 : 18) e que dá a ilusão
m Mu karo vsky, 1934, 194 1; Jako bson, 1963 ,
1977, 1978; Chklovski , 1965; Todorov, 1965;
<;:1 Dramaturgia, estruturas dramáticas. dramático
dia ; aí, a fábu la é na verdade cons tru ída de mod o
a q ue todas as ações pareçam co nverg ir ineluta-
de um mundo harm on ioso , fechado em s i me s-
mo, e de um perfeito arre ma te estrutural.
Brec ht, 1967, \'01 19: 286-3 82 ; Tynianov, 1969 ;
\l. e épico, col agem , montagem. Gisse lbrecht, 1971; Jameson , 1972.
ve lme nte pa ra a cat ástrofe" , Os episód ios se en-
Q Szondi, 1956; Barry, 1970 ; Lev it t , 1971; cadeiam dent ro de um impl acável mecanismo ló- W weurn», 1956 ; Bicker t, 1969; Klotz, 1969.
Pfister, 1977. gico que exc lui qualquer acaso c qu alqu er de svi o FORMAS TEATR AIS
do her ói de sua trajetória (técn ica an al ítica vv.
FO RMA LISM O ~ Fr.:f omr es théãtrales; lngl. : theatri ca l fo rms;
FORM A F ECHAD A 2. Estruturas Espaço-Temporais
e
A I.: Th eaterf ormcn; Esp.:formas tea trales.
Fr. : f o 1'11Ia l ism c ; Ingl. : [o rnta lism; A I.:
e Fr.: f or me fermée; Ingl.: clo sed fo rm; AI.:
gcschlossnnn Fonn; Esp.: fo rma cerrada.
o q ue é imperativo não é tan to a unidade " de Fonnalismns; Esp.: f orm alismo . Forma tea tral é um termo freqüente me nte
e m pregado hoje, pro va vel me nte para renovar o
lugar e de tem po, qu ant o sua hom ogeneidade. O
tempo vale co mo duração, co mo sub stância com - 1. Na origem, o fo rm alismo é um método de crí- desgastado termo g ên e ro ' e para di sti nguir ti-
A o posição e nt re [orma f ec ha da c forma pacta e ind ivisível, com o breve crise que co nce n- tica literária elabo ra do pel os formali stas russos pos de peça c de repre se ntação mais prec isos que
ab erta * nada tem de ab so lu to, os dois tip os de Ira tod as as fases dramáti ca s de um a ação unifi - entre 19 15 e 1930. Es tes se interessam pelos as - os gra ndes gêneros (tra gédia', com édia", dra -
dramaturgi a não exi s ti ndo e m es tado pur o . Tra- cada. Ele co nserva a me sma qu alidade durante pectos for ma is da o bra, pon do em ev idência sua s ma'). A atua l mistu ra de gê neros (c mesm o o
ta-se ante s de um mei o côm odo de com para r técnicas e procedi me ntos (composição, imagen s, desi nte ress e por um a tip ologia das formas e uma
toda a represent ação : a part ir do moment o que
ten dênci as fo rm ais da co nst rução da peça e de retóri ca, e feito de es tranhame nto etc.). Os aspec- nítida separação dos tipo s de es pe tác u lo) fac ili-
e le ameaça desnaturar o tempo da ação interio r
seu modo de re pre sent ação . Esta dist inção s ó tos biográfico s, psicológicos, sociológ icos e ideo- tou e no rmemente o emp regu d este te rmo. For-
do herói princi pal , é medi ado por u m relato e
tem inte resse se se po de faz er co rrespo nde r a ca - lógicos não são descartados, mas suhord inados a ma' indic a de imediato o as pec to emi nenteme nte
reco nstituído pelo d iscu rso .
sua o rganiza ção for ma l. mó vel e trans forrnáv el dos tipo s de es petáculo
da um a das form as caracterís ticas sobre a vis ão Do me smo modo, o espaço tole ra apenas pou -
dr amatúrgica , e me smo à concepç ão do ho me m em funç ão de novo s fins e circunstâncias qu e
ca s mud anças; e le não é dife renc iado de acordo
2. O debate sobre o rea lismo' c O formali smo tornam im poss ível u m a de finição ca nônica e
e da sociedade qu e a subtendam. Ela reco rta ape- com os lugares represent ad os, mas é se mpre ho-
marcou us anos trint a (di sc ussão entre BRECHTe e stática dos g êneros ". Fa la-se e m formas teatra is
nas parcia lmente os pares ép ico "Idram ático , , mogê neo : lugar ne utra lizado, "ass e pu zado", é
LUKÁCS) e pro longou-se até os ano s ci nqüenta par a as coi sas mais het er óclit as e também nos
aristotél ic o ' /n ão -ar istot élico , d ram at urgia visto com o espaço de s ignificação e não co mo
cl ássi ca o/te atro é pic o. em torno d a que s tão do re ali smo soc iali s ta. servimos dest e ter mo para componentes da es -
lugar concreto.
Formal ismo to rnou -se ra pidame nte, no co ntext o trutura dram áti ca ou da represe ntação (diálogo ,

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F OTOGR AFIA DE T EAT RO FO TO G R A F I A D E T E ATRO

monólogo, pr ólo go, montagem de textos, colo- é dado prol ongar- se e fixar- se na supe rfíc ie do acontecimento teatral, o corpo acid ent al do ator, a mesm a pr eocupação de embe lez ame nto , d e
cação no es pa ço e tc .), papel. Sua del imit ação não é, contudo, natural : o uso a leató rio do espaço , o ritm o pr ópri o (não- mitifieação" (I3ü R HA N, Clichés, n. li , 19 85). O
não é só o ro sto (o s cabelos, os olhos e, a rigor , os ficcional ) da maquinaria teatral, de tud o o qu e não desen volvimento da fotografia está ligad o ao da
ombros) qu e está ca rregado de sentido na repre- se dei xa se miotizar, isto é. o qu e não se d eix a re- impren sa e do cu lto dos monstro s sagrados: " }\
FOTOGRAFIA DE TEATRO sentação co nte m po rânea; a atitude do co rpo todo, du zir a um sist em a o rganiza do e inten cional de repr odu çã o da primeira foto ern um j ornal , e m
a relação com os obj etos, a proxêmi ca do s atores se ntido . O olho da obje tiva não é muit o d iferente 1880, é que criará o verd adeiro mercad o da fo to-
:).. Fr.: photographie de th éàtre ; Ingl.: theatr e distribuídos no es paço todo são , igu almente, ele- daqu el e que o semi ólog o volta para o e spe táculo : gr afi a de teatro. As revi stas especializadas co mo
't..; photography: AI.: Theaterph otographie; Esp.: mentos dos quai s a câmera tiraria vantagem em a scmiologia não sab eria manter um di scurso cien- L'lllustration ou Lc Th éãtre, mas também a im-
fotografía de teatro. captar, mas que são excluídos do retrato do ator, tífi co e neutro sobre um objeto pre exi stent e, ela pren sa de informação mens al ou semanal torn am-
ao menos em sua ver são "clássica" . Isto porque a or gani za um processo de co nstituição do se ntido; se as prin cipais consumidora s dessas fot os, ref or-
I. Uma Arte Fotogênica tendência é o close, ainda que o rosto do ator não do mesm o mod o, a fot ogr afia co ns titui um senti- çando o culto da estrela" (MEYER-PLANTU REU X,
sej a senão um fragmento da represêrx a ção teatral. d o po ssí vel, e não o sentido definiti vo do objeto 1984 : 22) .
o teatro é fotog ênico . Algun s fot ógrafos se es - teatr al ; é ap en as a encenaçã o (fictíc ia e real ) de
pecializam na fotografia de teatro e sua arte su- 3. Especificidade da Fotografia de Teatro um a e nce naç ão (fictícia e real ). A qui, esta mos 5. Exemplo de Retr ato de Ator
pera em muito a de um docum ent ari sta ou de um b em di stant e s d o po siti v i sm o da s fot o s do
repórter. A fot ografia é grande me nte util izada Definir um gê nero fotográfico por seu objeto M odell buch brechti ano. qu e pretend ia, co m boa O de sen vol viment o industri al da fot o na " era
quando se trata de estabelecer um a documenta- (retrato, paisagem , reportagem) já é part icularmen- fé c ic ntificisra , cap tar a encen ação ou o gestus, a da rep rodutibilidad e técni ca " (\V. BE NJ AMI N)
ção da ence nação para os arqu ivo s do teatro, para te difícil , uma vez que o objeto é vari ável, pouco fim d e co nse rvá -los para uma futura reprodução subs titui a tradição do ret rato do at or e da g rav u-
a pesquisa ou a fim de fornecer à imprensa escri- disposto a ater- se a uma categoria autônoma. De- e m o utra encenação. ra. Qu e é que a fot ogr afia traz a mai s? Primei-
ta (jornais di ários ou revistas espec ializadas) uma finir a fotografi a de teatro tendo por critério úni- ram ent e, a impressã o d a realidade sobre a pelí-
ilustração imediata ou postergada do espetáculo. co o local onde é tirada é ainda mais problemático, 4. Funções da Fotografia de Teatro cula : um fragmento da rep resentação e/ou do ator
Acontece qu e fotografam qu alqu er coisa e de na medida em qu e não parece mai s ha ver regra é inscrito, a própria sombra da pessoa é ca pta da
qualquer jeito . Há uma grand e diferença entre uma para os objetos a se re m fotografados , nem mes- Par a co m preende r as pos sibilidad es da Ioto- par a se m pre. Qu e am ant e do teatro pod eri a re -
fotografia e fetuada durante os ensaios o u no en- mo para o local , o momento e a esp eci ficidade do g ra fia de teatro, pod er -se-ia qu esti onar os fins sistir a tal relação um tant o feti chi sta co m o ato r?
sa io ge ral, e uma fotogr afia tirad a ao vivo numa trabalho teatr al. Ce rtas fotos tiradas no teatro co n- bu scad os pelo ar tista e pela institui ção qu e ele A fot ogr afia multiplic a os pontos de vist a d a re -
representação para o públi co: j á es tamos tocando segue m a pro eza de fazerem esquecer qu e têm por tem por trás de si. Com muit a freq üência, o fot ó- present ação , escolhe- se um a séri e, ac ei ta nd o por
também no problema da autenticida de do docu- obj et o um e vento teatral; sua fun ção e stética g rafo trabalha par a um a agê ncia à qu al a impr en- an tec ipaç ão as s urp resas da obje tiva, ao pa sso
mento fot ogr áfico, em sua inserção na encen ação recalca totalmente sua função comunicati va . Sem sa e nc omendará, de imedi ato ou mais tard e, um qu e a pin tura ou a gravu ra não podem se r nada
ou sua e xtração por ra z õe s técni cas de melhor querer e ntra r no fal so debate entre "fot ografia o u ma is fot o s para um j ornal , co m a úni ca fina li- a lé m de um a ati vid ad e orga nizada : no tea tro.
ap reen são ou de recomposiçã o do tem a. Fotogra- documental e objetiva" oposta à " fo tografia ar- d adc de indicar qu e ato r fam o so atu a no espetá- mais do qu e e m qu alquer outro lugar, o momen -
fando- se a rep resentação - co m as dificuldades, tística, aut ônoma em relação ao seu obje to" , é , cu lo. A fun ção , nesse ca so , é pur am ent e co m uni- to exa to do " cl ique" pod e ser deixad o ao ac a so .
riscos e imp erfeições que isso impli ca - preten- no entanto, necessário convir qu e a foto grafia de cativa. Para a imprensa es pecializada ( periód icos Para o trabalho d o ator captado no vôo de sua
de-se ter ace sso à situação real da enunciação; ao teatro é, ant es de mais nada, simpl esmente uma e revi stas teatrais), se rá importante c aptar a o rig i- c nuncia çáo. uma fração de segundo mud a tudo:
contrário, fazendo-se com que o ator ou a ceno- fotografia qu e dev e ser avaliada enqua nto forma nali dade de uma cenog rafia, encontrar um enqua- é es pe rto quem ant ecip a, segundos ant e s, o re-
grafia "p osem ", co nsegue-se valoriza r determina- e obj eto estéti co, indcpendentement e do objeto dra me nto e um tratam ent o de ima gem qu e recon s- su ltado de um a tom ad a.
do detalhe, co loca r em cena o ator predador da teatral que qui s abarcar. titu arn , sej a co mo for, a atm osfera da e nce naç ão.
tomada fotogr áfica. A etap a seg uinte, a que R. No entanto , essa fotografia - e aí es tá outro À s vez es. os fot ógr afos aco mpa nha m a carre ira
a. Escolha d a [Jose
BARTHES descre ve e m "O Ator de Harcourt" traço específi co - é uma imag em de uma im a- de dete rminad o e nce nador c publi cam um livro
(195 7), a fot ogr afia reali zad a e m es túdio, não ge m: deve ca ptar uma realidade qu e j á é repre- so bre e le (T REATT/ C HÉREAU) . Dest aca- se então Q ue o disp aro do obturador sej a em part e obra
pa ssa da fi nali zação lógi ca de ss a técnica de sentação e im agem de algo : de um a personagem, urn a e s t étic a qu e é a do obje to fot ograf ado. mas do acaso, ou seja cle prem editado , a esco lha da
reconstituição. de uma situa ção, de uma atm osfer a. Assim, seu q ue é, sob retudo, a estética do fot ógr afo . pose nun ca é ac ide nta l. Cada discur so so b re tea-
referente (se u objeto) já está col ocad o e m forma s Ant igame nte, mais qu e ago ra, a fologra fia do tro - cada es té tica ou norma do min ante - guia
ato r tinha fun ção prom ocional c não de co nhec i- essa escolha de mod o a ilustrar seu pr op ósit o ,
2. O Fo co do Retrato e signos e el a não pode ignorar essa primeira
semiotização. A fotografia será necessari amente ment e do pap el ou da repres entação : " No séc ulo Co nside rado durante muit o temp o com o o re ino
a encenaç ão (a co locação em papel ) de uma en- XIX , a fotografia de teatro serve essen cia lmente do dr amático, o teatro insiste em forne cer repre-
Não é de se espantar que o ato r atraia para si o
olhar da câmera! Não é ele o pont o focal de toda cenação teatral e , nesta qualidade, ela optará por à promoção dos ator es, auxiliada por iluminações sent ações dramáticas dos atores. Essa dr arn atici-
representação, o que se irradi a por todo o palco, explicitar e completar a encenação, o u ao contrá- so fi sticadas c prud ent es retoques. Sarah Bc rnhard dade é muitas veze s produ zida pela con cen tração
o que une as pala vras à imagem cê nica? O antro- rio, por afa star-se dela e com ent á-l a, de scon s- soube de pronto tirar pro veit o de sse instr um ent o e pe la intcriori zação do olhar (para o ret rato indi-
pomorfism o natur al da fotografi a se exacerba ain- truind o-a, Porém , ao fazê-lo. levando ou não em de c u lto , in separá vel da necessid ad e d e idea - vidua i) ou pelo c irc uito muit o "desenhado " do s
da mais no c aso da arte teatral, que se reduz sem conta a realidade encenada que fotogra fa , ela tam- lização qu c o públi co tem . L éop ol d Rcutli ngcr, o lhare s de tod os os ato res no gru po (c o mo os re -
dó a um rosto e um a voz. O retr ato é a vo z à qual bém regi str ar á a materialidade assign ificant e do ao fotogra far Yvctt c G uiIbert o u C éc i le Sorc l, tem tratos dos atores do T NP feitos por Agnês VARDA).

176 177

.J
FUNÇÃO
F OT O GR A FIA D E T EATRO

testemunhos so bre o te atro e. co mo tal. é uma seja cardeal, ha sta qu e a ação à qual el a se ref ere
b. Legenda do retrato g ra fia o gui ass e par a a d escoberta de se u emploi,
co ntribuiçã o ine stimáve l. Te stemunho quase se m- abra uma alt ern ativ a co ns eq üe nte para a se q üên-
Esse tipo de retrato visa es c re ver uma legenda que é a finalização d a teoria c lass ica do retrat o
pre est ético, mas tamb ém me io falso. Esta é a cia da hi stóri a. Ce rtas seq üê nc ia s de Iunç õcs for-
pict órico, tal com o é ex po sto por e xemplo, por
e mbai xo da foto grafi a. como se houv esse apenas mam, se gundo PROPP, se q üê nc ias obri gat ór ias
DIDEROT: "O hom em fica furi oso , atento, curi o- impossihilidade d e d e scre ver o teatr o e de co nge -
um único text o poss ível e como se a foto se im- o u, seg undo BRÉ1'.IOND ( 1973), tríade s (evc ntua-
so , ama, odeia, despr eza. desd enha, ad mira; e eada lar seu sentido em fusã o qu e a m áq uina fotogr áfi -
pusesse. Tais retratos. porém , que indu zem uma Iida de/ato/c o nclu são ).
um destes moviment os de sua alma vai se pintar ca co ngela ilu sori am ent e na pel ícula.
leg end a unfvoca, só se constroem num a monta-
em se u semblante co m ca rac te res claros, evid en-
gc m prévia do sentido da personagem e da peça.
tes qu e nunca nu s enganarão ... No pintor, a ex- [,[.1 TliéârrdPll bli c. n. 32. 1980: Giraul!. 1982: 2. Funç ão Dramática
cuj o único o llj etivo da foto se ria, em seguida, es- - ' Dubois, 1983: Alivcrti, 19 85: J CII . n. 37, 1985 :
pr essão ou é frágil ou fal sa , se ela de ixar incerto
clarecer e en carnar. Já que a foto não é mai s qu e Rogiers. 1986: Me yer -P la ntur eu x c Pie. 1995.
so bre o sentimento ..." Com BRECHT. trata- se de E. SOURIAU ( 1950) apli cou es ta visão fun cio-
um a autenticação da en cenação, cabe um a ex pli-
tomar legível não mais a int eri orid ad c física do nai da s aç ões à dram atu rgia ocident al distin guin-
ca ção : ela não tem - co rno se está no direit o d e do se is fun çõ es e definindo " m ate maticamente"
cará te r, mas se u gest us soc ia l. O retrato do alar
ex ig ir em nosso s dias - um' poder hennenêutico
d ev e inscrever os sig nos da contra d ição em seu FUNÇÃO (e m espírito, se não em realidade) as 210.141 si-
so bre a representação. Es se tipo de "retrato-ex- tuações" gerad as a partir d as funções dramáti cas.
co rpo, donde a preferên cia do s fot ógrafos pelo
plic ação de texto" co m certeza s6 é possível. ao ~ Fr.: [oncti on; In gl. : fonc tion; AI. : Fun ktion; De st a maneir a, as situaçõe s d esignam ao mesmo
g ru po de atores tTheaterarbeit, 1961 ).
meno s em certo grau de perfeição , em es túd io.
Hoje, estamos d ist antes d ess a bu sca de legibi-
't..: Esp.: [unci ôn, tempo os gru pos de ações realmente o bse rváv eis
co m a iluminaç ão e a busca da pose ex ig indo uma numa o bra ou numa dramaturgia e os mod el os
lidade do retrat o. O fotógra fo es força-s e por mul-
minuciosa precisão. A foto se torna, então , ence- A função dramáti ca (de uma per son agem ) é o teoricamente reali záveis.
tiplicar as imagen s e os pap éi s qu e o ator quer dar
nação da imagem do papel: foto-cl ima (ou foto- co nj unto de ações de st a per son agem cons ide rad o A pcrmutabilidadc dos actantes (no pap el de
de si mesmo. O ator ace ita deixar-se sur pree nder
caráter) - es se gênero de retrato acumul a urna . do ponto de vista do seu pap el no de senvolvimen- sujeito, por exe mplo ) provoca a variação dos pon -
pelo clichê, toma-se um o lha r sobre o espetácu-
duração e uma série de signos redundantes qu e to da intriga. tos de vista na peça: toda personagem. toda fun-
lo. O fotógrafo colo ca-o e m cena (e até o "pare")
caracterizam o papel. Inversamente, a foto-acon- tentando fazer em ergir o qu e ele não quer mos- ção é . na verdade . pa ssível de organizar as outras
tecimento (ou foto-ação) está ligada a uma situa- trar de sua personagem ou de s i mesmo. Este é o I. Função Narrativa fun çõ es-per sonagen s d e acordo com seu próprio
ção fugaz ; é. portanto, realizada em cena, em "ta- processo da significaçã o. da aprendizagem e da ponto de vista" :
manh o natural", sem reconstituição em estúdi o tentativa do papel que est ar ão d ora vant e sob os Esta noção pr o vém da te ori a narr ati va fun cio-
o u em cena, abstraindo -se o restante da represen - refletores. Há, port ant o. um a descentralização no nali sta de W. PROPP , o qual d efine a fun ção nar- 3. Função da Comunicação
taçã o. Essa prática de outrora - fazer os atores retrato: não é mai s o rosto qu e é visa do , enquanto rativa co mo " a ação d e um a per sona gem d efinida
posarem para as agências de imprensa , ap ós o ex pres siv id ade de um a interio rida dc, é um mo vi- do pont o de vis ta d e s ua sig nificaç ão no desen- o mod elo j akobsoni au o da s se is fun ções d a
ensaio geral , di ante da objeti va, em função do mento acidental , criação d o in st ant e tanto do ator volvime nto da intri ga" ( 196 5 : 3 1). De acordo co m com u nicação ( 196 3: 209-248) foi por VC7.es apli-
âng ulo e da iluminação considerados mais es téti- quanto do fotógrafo, rel ação si ng ula r do ator com es ta teori a, o te xto dramát ico e a represent a ção. cado ao teatro . Co mo a lin gu agem po ét ica, na
cos - tinh a algo de bom, em que pese a evidente seu ambiente. O retr ato não é m ai s psicológico e, cons ide rados so b o asp e cto d e uma estru tura nar- ve rda de é perm itido supor que a linguagem tea-
falsifi ca ção da e ncenaç ão teatral atra vés dessa e nq uanto tal , limit ad o ao ros to e às m ãos; ele se rativa (a n álise da narra tiva" ), se decompo riam tral (co m as necessárias pr ecau ções para o em-
ence nação fot ográfi ca . Permitia ao menos recons- estende à enunci ação cê nica por inte iro. Não se num número fin ito de m oti vos " e acmnt cs" . os pr ego deste co nceito) é uma uti lização particu la r
truir e en xertar no retrato a lon ga série de traços pen sa mais qu e a finalid ad e d a fo to gr afia (do re- qu ais se ria m int cr con cct ad os pe lo siste ma lI C /(l I/ - d o es q ue ma d as se is fun ções . Toda via. não se
relev antes do papel. in serindo no co rpo do ator trato ) seja a de en contrar a realid ad e do objeto cial", PROPP di stin gu ia tr int a e uma fu nções ou pod er ia red uz ir a representação a um uso mcc â-
uma verdade ira análise dr amatúrg ica (cf BAR- fot ografado ; a fotog rafi a, ago ra, propi ciará uma "es fe ras de aç ão" co m se us acia ntcs: o herói , o nico d essas se is fun çõ es d a co m unica ção , po is a
THES, " O Ator d e Harcourt" ). imagem, uma representação também tão v álida >- falso herói . o agressor. o d oad or. o aux iliar. a prin- en cen ação não visa co m unic a r urna men sagem
nem mais nem men os - qu ant o o qu e se c rê saber ce sa . o mandat ári o . IlARTIl ES ( 1966a) di stin gue j á el aramente formulada.
6. O Que Diz a Mancha de Sombra da personagem ou d o ato r. Em lermos semiol6- asflll/ f ties ca rdeais . qu e s ão " as verda de iras arti-
g icos, poder-se-ia di zer qu e a fotografia não visa c u la çõcs da narrati va " . caulliscs qu e não passam L:n Polt i, 189 5; Sluwinska. 1959 : Ingurdc n, 1971 ;
mai s o referente do ator o u s ua per sonagem, ma s de " notações subsidi árias" . Par a qu e um a (unç ã o - Jan sen, 1973 ; Mann , 19 85.
Mas o que dizem o fot ógrafo e o ator através
do retrat o? No "período clássico" da fotografia seu significante: ela não pr etende chegar a um
de teatro, que vai até o método brechtiano expo s- referente imagin ário (o d a pers onagem) ou real
to no Modellbucli (Modelo*), con siste em bus car (o do ator na cidade), ma s esforça-se por jogar
"a inteligência moral do sujeito", "a semelhança com o significante de um co m plexo ator/papel que
íntima" (NADAR) , a fim de que "o homem exte- não se pode mais dccupar co mo se faz habitual-
rior seja uma imagem do homem interior, e o ros- mente (ator=significant c/p ap el=si gnificado).
to , um a expre ssão reveladora do conjunto do ca- Estes são algun s dos pod er es da fotografia de
ráter" (SCHOPENHAUER). Esse tipo de retrato está teatro. Ela também j á tem um a lon ga tradição por
em busca d a essên cia ideal do ator fotogr afado. tr ás de si e del a nã o se de ve es pe rar um val or do-
e, ao mesm o tempo, de seu papel, co mo se a foto- c u me ntaI insub stituível. A fot o grafia é um dos

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G
GAG ca se u se ntid o pre ci so e prejudica as te ntati va s
de c las sific aç ão da s formas literári as c te atra is.
~ r-. gag ; Ingl.: gag ; A I.: Cag ; Esp.; ga go A teoria literária não se satisfaz. como a críti-
ca , em es tuda r as obras ex istentes. E la ultrapassa
Do inglês nort e-americano ga g o efeito burles- o âmbito e streito da de scriç ão da ob ra indi vidu al
co . A pa lav ra é e mprega da e m fran cê s desde a para fundar um a tip ologi a dasfo m ws *, d as ca le-
décad a de 20 . A gag é. no c ine ma, um e feito ou gerias " lite rá rias, dos tip os de di scur so ; e la reto-
um esq ue te " cô mico que o ator par ece imp rovi- ma, de sta form a, a ve lha questão da po ética " dos
sar e qu e é produzido visualme nte , a partir de gê nero s, por é m não mais se limita, do rav antc, a
objetos , de situações inu sitad as: é , " na gí ria dos catalogar ob ras histori c am ente realizad as. prefe-
es túdios, um ac hado irresistí ve l qu e re vigora e rindo refl etir so bre as form as de estabelecer uma
mult iplica o riso num filme cô mico" (13 .CENDRARS tipologia dos dis cursos, deduzindo-o s de um a teo-
e m / ,'1/011 li li C F oudro ve ). No c inema . co mo no ria ge ral do fato lin gü ísti co e literário . Ass im. a
teatr o, o ator cômico " inve nta, às vezes. jogos de de terminaçã o do gênero não é mai s um caso de
cen a, ta z;:)s", qu e co ntradize m o discurso e pe r- classificação mai s ou menos sut il e coe rent e. mas
tur bam a perc ep ção norma l da rea lidade. a chave de um a co mpree nsão de tod o te xto em
relação a um conjunto de co nvenções e no rmas
L:I;:. Bergson , 1899 ; F. Mars. Le Ga g , 196 4 ; Freud , (que definam prec isam ent e cada gê ne ro) . Tod o
19 69 , \'0 1. 4 (" De r Wir z") ; Co lle t ('( ai.. 1977 . texto é, ao mesm o tempo , uma co ncretização e
um afas ta me nto do gê nero; e le fornece o mod elo
ideal de uma forma lite r ária : o estud o da confor -
GÊNE RO midade, mas também da supe ração de sse mod e-
lo, esclarec e a ori gin a lidade da obra e de seu fun -
~ h .: g <'/ II'l'; Ingl.: gl'll re. 1."I'e of dra ma; AI. : c ioname nto .
Gcn rc, Drcunrng at tun g ; Esp .: géllt' ro .
2. Enfoq ue Hi stór ico e Sistema Estru tural
I. Con fusão do Termo
São poss ívei s dois métodos de abordagem dos
ra la-se corrent e ment e de gên ero dr am ático gêneros, con fo r m e se considera o gênero corno
ou teatral , de gê nero de coméd ia ou de tragédi a, ou forma his t órica o u co mo categor ia do di scurso. A
de gê ne ro de co méd ia de co stu me s. Es te e mp re- distin ção é às vezes ex plici tada pe la o pos iç ão gê-
go pictórico do termo g êlle ro faz com qu e se per- nero/m od o : "Os gê neros são catego rias propri a-

18 1
GESA M TK UN ST WER K

GÊ N E R O

Bray. 1927; Stai ger, 194 6; Frye, 1957 ; Bentley, represent ações serão o ve rda de iro culto mod er-
mente literárias; os modos são cate gorias, origi - impor: ora ele não passa de um a tragédi a de fin al t:~ 1964 ; Gcn et te, 1969, 1977; Grimm, 1971; no; um livro, explicação do homem qu e basta par a
nárias da lingüísti ca, ou, mai s exatamente, de uma otimista (CORNEILLE), ora de uma comédia ou
Todoro v, \ 976. nossos m ais belos sonhos [... l- Esta o bra exrstc,
antropo log ia da ex pres são ve rbal" (GENETIE, dr ama qu e nada tem de côm ico ou pr azeroso . iod o mundo a tentou se m o sa be r, não há gêm o
1977 : 418 ). Qu ando, co m DIDEROT, na sce a trag édi a domés- o u palhaço que não tenha e nco ntra do ao men os
tica e burguesa, o gê ne ro no vo o u sé rio, "s em ri- um traço del a, sem o saber."
GESAMTKUNSTWERK
a. Hist ori camente , not am- se as diferentes for- dí cul o qu e faça rir, se m peri go qu e faça estreme-
mas teatrais na evolução literária, e tenta-se encon- ce r" (Troisi ême Ent retien a" ec D ormi), passa a :).. Fr.: gesallltkw lsrwerk; ln gl.: gesalll(kwlStwerk: 2. A Encenação: Fusão ou Separação das
trar uma filiação o u critéri os de oposição entre os ser uma forma antes desastrad a e sem valor esté- "t.: TO tal theat re; AI.: G esallltkwl stwerk; Esp.. Artes?
gê neros. tico , pois nada mais resta da vita lidade da s dua s ge sllllllklllls(\I·erk. obra TOta l.
ca teg o rias estéticas fundamen tai s , o cô m ico e o A te oria da Gesamtkun st werk co loca o probl e-
b. Estruturalment e, e labo ra-se uma tipologia uni - tr ági co. O dram a ro mân tico e o drama existencia- Termo forjado por R. WAGNER, por vo lta de ma da esp e cificidade" do teatro: é arte " basta r-
ve rsal dos di scur sos fabricando uma teoria que lista o u absurd o não co nseguiriam ultrapas sar esse 1850. Litera lme nte , obra de a rte glo ba l (ou de d a" e "impura" compo sta co m o qu e lhe cair nas
aprese nte toda s as va riantes pos sívei s de formas ca m inho médio bur guês se não às cus tas dos ex- co nj unto, o u total ) às vezes traduzida (m eio às mãos (o s diferentes sistemas cên icos) ? Ou é uma
de discurso, cas os ou compartimentos nos quai s ce ssos e exageros do grotesco e do maravilhoso. pressas) por teat ro total" , A estét ica da ópera totalidade harmoniosa na qu al tudo o que apare-
se tenta , em seguida, enfiar os gên eros já com - Qu anto à escritura teatral contemporânea , ela ape- wa gn eri ana procura a o bra " mais a lt ~ m e n t e c~ ­ ce em cena se fund e como num cri sol , como pa-
pro vados, reservando- se , para as obra s vindou - la a muitas forma s, a um a mi stura de crit érios e munitária" qu e sej a uma s íntese da mu sic á. da li- rece suge rir WAG NER?
ras, co mpa rtime ntos de gê neros ainda não reali- de mat eri ais (todas as artes pl ástica s, as arte s da teratura, da pintura, d a esc ult ura, da arquit etura,
zados, mas teo ricam ent e im agináveis. representação c da mú sica ), embora as ca teg orias d a plástica cêni ca etc. E sta procura é,.em si, ~ i n ­ Q. A imposs ível fusão
Para o teatro, trata-se de saber se ele con stitui herdadas da história seja m de pouca utilidade para tom ática, tanto de um mo vimento artístiCO -o srrn-
por si só um gên ero oposto à poesia épica (ao ro - apreender sua originalidade. S omente uma tipo - Mas se a fusão é o obj eti vo final do encenador,
bolismo - quanto de uma co ncepção fundamen-
mance) e à poe sia lírica. Esta tripartição parece logia dos discursos e dos modos de funci onamento o teatro total não poderia realizá-la, ao menos num
tai do teatro e da e ncenação.
impor- se a partir do trecho de A República (IlI , aclara m a sua descri ção. se ntido não metafóri co ou m ístico da pal v~a ~ O
39 2) em que PLATÃO es tabe lece uma distin ção É port anto legítim o per gunt ar qu al fun ção cabe pró prio WAGNER, qu e desej av a que as ~rn sl ç oe s
I . O Ideal Simb olista entre os qu adro s se fizes sem numa es p~ c l e de fu-
fundame ntada sob re o m od o com o os fatos pas- hoj e à dete rmin ação do gê nero dos text os e espe-
sados, present es e futuros são transmitidos ao são e ncadeada onírica , tev e de renunciar a reali-
tácul os teatrai s. O gê ne ro é cons tituído - além Para o simbo lis mo , a o bra de arte, e, singular-
públi co: por exp osição pur a e simples (ditirambo), zar um a encenação simboli sta suti cientemente
d as norm as ex igidas pela s po éti ca s - por um con- mente, o teatro, fo rm a um todo significante e au- irrealista. Ele sucumbiu à figuração realista dos
por imit ação (tra gédia c co média) ou pelos dois junto de codificações que informam sobre a rea - tôn om o, fechado e m si m esmo, sem corresponde r,
métodos (poes ia é pica) . Esta catego riza ção se ce nógrafos e a fusão perfeita continuou a ser le-
lid ad e que se supõe qu e o texto represente, que mimet icam ent e , à realidad e . A cena é um m od e-
apo ia no modo de represent ação do real, num cri- dec idem sobre o nível de vero ss im ilha nça da ação. tra m orta.
lo * redu zido coerente, uma esp écie de siste ma Para os encen ad ore s " arist o té licos" (aqueles
tério semâ ntico de "im itação" do real e na inter - O gên ero - e, para o leitor/esp ect ador, a o pção de ci bernético (o u se m io lógico) qu e integra todos os
venção, mais o u men os diret a, do poeta na expo- qu e ac reditam na fábula e na narrat iva como a
ler o te xto co nfo rme as regras deste o u daqu ele mat eri ais cê nico s numa tot alidade e num proj eto
sição dos fatos. O teatro torna- se o gênero mais espinha dorsal de toda peça), a ação é um fator
gê nero - dá, imed iat am ent e , uma indi cação so - signiti cante. Cor respo ndências do tipo baud ela~
"objetivo", aquel e e m qu e as pers onagens pare- de unificação. HONZL (1 940) vê nel a a ~or ~nte
hr e a realidade repr esentada. fornece um a grad e riano regem as diferentes artes da ce na, n orest:s
cem falar por si mesmas, se m qu e o autor tome elétrica que passa através dos atores, do f~guno,
de leitura, firma um co ntrato e ntre o te xto e seu de s Ím bo los* ag ru pa m o que pareceria neter ogc-
diretamente a pal avra (salvo nos casos exce pcio - do cen ári o, da música e do te xto: pou co Import.a
leit o r. Detectando o gê ne ro do texto, o le itor tem nco, Para WAGNER, po r e xe m plo, a pala vra e o
nais do port a- voz, do men sagei ro, do coro, do o núm er o e a freqü ên cia dos m ateri ais, a parur
em ment e um ce rto núme ro de ex pec ta ti vas , de e lemento ma sculino fecundam a mú sica ou ele-
prólogo, do epíl ogo ou das indi cações cênicas). do mom ent o em qu e a co rre nte se propaga em
fi guras o brigat órias qu e cod ifi cam e amplificam ment o feminino ; o es pírito e a afetividade . a VI- direção a um objeti vo , ge ra ndo, desta form a. a
o real, permit indo ao auto r não recapitular as re- são e o o uvido se reúnem por sin estesias. " A dan-
3. O Teatro Numa Teoria dos Gêneros g ras do jo go e do gên ero supostamente conheci - ação.
ça, a música e a poesi a são trê s irmãs nascidas
das por todos, autori zando-o a sa tisfazer, mas tam - com o mundo . De sd e qu e se con seguiu vê-Ias se
Dentro do gê nero dramáti co , tamb ém é igual- bém a ult rapa ssar ess as expect ati va s, a fastando b. Articula ção dos sistemas
dando as mãos, estavam prontas as co ndições para
mente difícil traçar di visões fundad as em crité- se u texto do mod el o ca nô nico . Se há o efeito de fu são, não é no nível da pro-
o surgim ent o da arte . E las são, por natureza ,
rios de di scur so. O peso da história e das normas Pro curar o gê ne ro é, se m pre, ler o text o, com- du çã o de sistema s, mas, s im , naquele de sua re-
in sep ;rávei s" (WAGNE R). Esta o bra ~e arte sinté-
impo stas pela s poéti cas é aq ui considerável e as par ando-o com out ros e , em parti cul ar, co m nor- ce pção pelo esp ectador. Multipli cando as f on~ es
tica postula urn a harm on ia - preexIstent e o u a
esp écies quase se mpre se definem no interior da m as sociais e ideol ógicas qu e, para um a época e de emi ssão das artes cêni cas, harmolllzando e sm-
ser e~ ta h e l e c i da - entre os compon entes do es pe-
oposição comédi a/tr agédi a, em função de conteú- um público, constitue m o m od elo do verossímil. croni zando seu impacto sobre o público, produz-
táculo, e me sm o um a homologia entre o teatro e a
dos e de técnicas de composição (da í os diversos Desta forma, a teori a dos gê ne ros ex amina, bem se, realmente, um efeito de fu são na medida em
vid a, uma espéc ie d e cu lto estético e filosófi c?
tipos de comédia e tra gédi a que ampliam suas m ai s que o " arranj o" int ern o d as peç as o u dos que o es pectado r é inundad o de impres sões co n-
qu e configur a o Livre à Vel1ir, de MALLARME:
poten cialid ad es se m problem atiz ar a se paração). es pe tác ulos: ela exa mi na sua inse rç ão nos out ros ver gent es que parecem tran sitar entre SI com fa-
"Creio qu e a literatura , ret om ada em sua fo nte
Por isso é que o gêne ro inte rmediário da tragico- tip os de texto e no te xto social , o qu al forn ece cilida de . Aí resid e, se m dú vida, o paradoxo do
qu e é a arte da ciência , forn ece-nos um teatro CUjaS
média o u do dram a tem muit a difi culd ade em se um a bas e de referência a tod a literatura.
t 83
182
GESTO GESTO

Gesamtkunstwerk: unir as artes numa experiên- GESTO corpo, pelos quais se conhece as manifestações estáticos e a reduzi-lo a algumas oposições (ten-
cia única para o espectador (uma Erlebnis), sem
e
interiores de nossa alma, infere-se que podemos são/relaxamento, rapidez/lentidão, ritmo entre-
deixar de conservar para cada uma delas seu po- (Do latim gestas, atitude, movimento do considerá-los sob duplo ponto de vista: em pri- cortado/fluidez etc.). Mas esta descrição, além de
der específico. Mais que proceder a uma fusão- corpo*-l meiro lugar como mudanças visíveis por si mes- sua dependência da metalinguagem descritiva
onde cada elemento perderia sua qualidade - o Fr.: geste; Ingl.: gesture; AI.: Gebãrde, Gestc; Esp.: mas; em segundo lugar, como meios que indicam verbal que impõe suas próprias articulações, per-
Gesamtkunstwerk integra cada arte num conjun- gesto. as operações interiores da alma" (ENGEL, 1788: manece, como, aliás, toda descrição, exterior ao
to transcendente, ou seja, para WAGNER, o drama 62-63). objeto e não precisa seu vínculo com a palavra
musical. Ao invés, portanto, de partir miticarnente Movimento corporal, na maior parte dos casos ou com o estilo de representação: ela é, muitas
para a descoberta de uma produção de elementos voluntário e controlado pelo ator, produzido com b. O gesto como produção vezes, mal integrada ao projeto significante glo-
iguais, é mais exato distinguir vários tipos de vista a uma significação mais ou menos dependente bal (dramatúrgico e cênico).
Em reação a essa doutrina expressionista do
Gesamtkunstwerk conforme o elemento que serve do texto dito, ou completamente autônomo. Quanto à apreensão do gesto através da ima-
gesto, uma corrente atual tenta não mais definir a
de base e de cimento às outras artes. Em WAGNER, gestualidàcle como comunicação de um sentido gem do corpo e do esquema corporal, ela é fun-
incontestavelmente, a música é que representa este 1. Estatuto do Gesto Teatral prévio, mas como produção. Superando o dualis- ção da representação que o ator ou o dançarino
papel. Em CLAUDEL e M. REINHARDT (1963), mo impressão-expressão, essa concepção monista faça do espaço onde evolui. Esta representação
será o texto poético. Para a Bauhaus, a arquitetu- a. O gesto como expressão considera a gestualidade do ator (ao menos numa do figurati vo gestual ficará, no momento, percep-
ra servirá de suporte para o resto das artes. (Da forma experimental de interpretação e de impro- tível apenas no nível de intuições.
Cada época tem uma concepção original do
mesma maneira, estruturando os códigos * da re- visação) como produtora de signos e não como
gesto; o que, em contrapartida, influi na interpre-
presentação, ter-se-á o cuidado de determinar so- simples comunicação de sentimentos "colocados 2. Rumo a uma Tipologia e a um Código
tação do ator e no estilo da representação. A con-
bre qual sistema de base se articularão os outros em gestos", gestualizados. GROTOWSKI, por
cepção clássica - que ainda prevalece bastante, Gestual
códigos, isto conforme o espetáculo ou mesmo exemplo, recusa-se a separar pensamento e ativi-
atualmente - faz do gesto um meio de expressão *
certas partes do espetáculo. Este método evita dade corporal, intenção e realização, idéia e ilus-
e de exteriorização de um conteúdo psíquico in- a. Tipo/agia
estabelecer, metafisicamente, uma hierarquia e tração. O gesto é, para ele, objeto de uma pesqui-
terior e anterior (emoção, reação, significação) que • Nenhuma tipologia dos gestos é verdadeira-
uma especificidade das diferentes artes.) sa, de uma produção-decifração de ideogramas:
o corpo tem por missão comunicar ao outro. A mente satisfatória, nem no tocante aos gestos exe-
"Novos ideogramas devem ser constantemente
definição de CAHUSAC, autor do artigo "Gesto", cutados na realidade, nem aos executados no tea-
c. A antigesamtkunstwerk ou o pesquisados e sua composição parecerá imediata
da Enciclopédia, é reveladora dessa corrente de tro. Costuma-se distingui-los em:
distanciamento recíproco dos sistemas e espontânea. O ponto de partida dessas formas
pensamento: o gesto é "um movimento exterior
gestuais é a estimulação e a descoberta em si - gestos inatos, ligados a uma atitude corporal ou
Além da impossível fusão ou da articulação do corpo e do rosto, uma das primeiras expres-
mesmo de reações humanas primitivas. O resul- a um movimento;
dos sistemas, seria possível, teoricamente, uma sões do sentimento dadas ao homem pela nature-
tado final disso é uma forma viva, que possui sua - gestos estéticos, trabalhados para produzir uma
terceira eventualidade: mostrar as artes cênicas za. (...] Para falar do gesto de maneira útil às ar-
própria lógica" (GROTOWSKI, 1971: 111). O gesto obra de arte (dança, pantomima, teatro etc.);
opondo-se umas às outras, recusando somar sua tes, é necessário considerá-lo sob pontos de vista
teatral é aqui fonte e finalidade do trabalho do - gestos convencionais que expressam uma men-
resultante. É a técnica do distanciamento" (que diferentes. Mas de qualquer maneira que o enca-
ator. Impossível descrevê-lo em termos de senti- sagem compreendida pelo emissor e pelo re-
não é, necessariamente, de obediência brechtia- remos, é indispensável vê-lo sempre como expres- mento ou mesmo de posições-poses (MEIER- ceptor.
na). Insiste-se na separação das técnicas: músi- são: aí está a sua função primitiva e, por esta atri- HOLD) significativas. Para GROTOWSKI, a ima-
ca contradizendo texto, gcstualidade " traindo a buição estabelecida pelas leis da natureza, é que gem do hieróglifo é sinônimo de signo icõnico Outra distinção consistiria em opor gesto
atmosfera cênica ou a ação. Cada sistema signi- ele embeleza a arte da qual ele é o todo, e à qual intraduzível que é tanto o objeto simbolizado co- imitativo e gesto original. O gesto imitativo é o
ficante conserva não só sua autonomia, como dis- se une para se tornar sua parte principal". A natu- mo o símbolo. Para outros praticantes do teatro, do ator que encarna de maneira realista ou natu-
tancia os outros: "Que as artes irmãs da arte dra- reza expressiva do gesto torna-o particularmente o gesto "hieroglífico" parecerá decifrável: "Todo ralista uma personagem, reconstituindo seu com-
mática sejam, pois, convidadas à nossa casa, não apropriado a servir à interpretação do ator, o qual movimento é um hieróglifo que tem sua própria portamento e seus "tiques" gestuais (na realida-
para fabricar uma "obra de arte total", na qual não tem outros meios senão os do seu corpo para significação particular. O teatro deveria utilizar de, estilização e caracterização são inevitáveis e
elas se abandonariam e se dissolveriam todas, expressar seus estados anímicos. "Há cenas intei- somente os movimentos que são imediatamente condicionam mesmo esse efeito da realidade
mas para fazer adiantar a tarefa comum, cada ras nas quais, para as personagens, é infinitamen- decifráveis, todo o resto é supérfluo" (MEIER- gestual). O gesto pode, ao contrário, recusar a imi-
uma a sua maneira. Todas as suas relações consis- te mais natural mover-se do que falar" (DIDEROT, HOLD, 1969: 200). tação, a repetição e a racionalização discursiva.
Sobre a Poesia Dramática, 1758). Toda uma psi- Ele se dá, então, como hieróglifo a ser decifrado
tirão em se distanciar umas das outras" (BRECHT,
cologia primitiva estabelece uma série de equiva- c. O gesto como imagem interna do corpo - "O ator, diz GROTOWSKI, não deve mais usar
Pequeno Organon, 1963, § 74: 100).
lentes entre os sentimentos e sua visualização seu organismo para ilustrar um movimento da
ou como sistema exterior
~. Encenação, scmiologia. gestual. O gesto é então o elemento intennediá-
Uma das principais dificuldades no estudo do
alma; ele deve realizar esse movimento com seu
rio entre interioridade (consciência) e exterio- organismo" (1971: 91). Trata-se de encontrar os
gesto teatral é determinar ao mesmo tempo sua ideogramas corporais (em GROTOWSKI) ou, se-
[J;j Baudclairc, 1861, in 1951; Appia, 1895, 1899, ridade (ser físico). Ainda aí, trata-se da visão
fonte produtiva e sua descrição adequada. A des- gundo a formulação de ARTAUD, "uma nova lin-

I
1954; Craig, 1911; Kesting, 1965; Szeemann, clássica do gesto na vida como no teatro: "Se os
1983. crição obriga a formalizar algumas posições-cha- guagem física à base de signos e não mais de pa-
gestos são signos exteriores e visíveis de nosso

j
ve do gesto; logo, a decompô-lo em momentos lavras" (1964b: 81).

184 185
GE STUAL GOS T O

• Tod a tipologia dos gestos de ve ser revista a se rá pre ci so adicionar à desc rição e xte rior uma GESTUS sentar um mundo choc ante e pouc o harm onioso).
partir do momento que se examina os gestos num visão intuitiva da im agem corporal do ge sticu- Melhor será, para o ator, usar gestos qu e pala vras
palc o de teatro. Tudo, na verdade, é significante lad or , reen contrar no ges to a di mcn s ão das pu 1- B- Fr.: gestus; Ingl.: ges llls; AI.: Gestus ; Esp .: ( " 1I0 1l verbis, sed gestibus") .

no trabalho gestual do ator, nad a é deixado ao sõ es cuja articulação FREUD most rou no limit e gestas. Esta noção mereceri a se r reconside rada à luz
aca so , tudo assum e valor de signo e os gestos, d os dom ín ios psíqu ieo e físico ? das teor ias da lingu agem poética, de iconi cidade *
qualquer que seja a ca teg oria a que pertençam, 1. Gesto e Gestus do d iscurso teatral e da gest ua lidade teatral com o
O e stud o da gestualid ad e, se qu iser sa ir do
entra m na catego ria es tética . Porém, inversa men- hier ó gl ifo do co rpo humano e d o co rpo socia l
sim ples co me ntário estético e enco ntrar a dim en-
te, o corpo do ator nunca é totalmente redutível a Gestus é o termo latin o para gesto *. Esta forma (ARTAUD, 1964; GROTOWSK1, 1971 ).
são profunda do gesto, tem um longo ca minho
um conjunto de signos, ele resiste à semiotização * é en contrada e m ale mã o até o séc ulo XVIfI :
co mo se o ges to, no teat ro , conservasse sempre a
pel a frente.
LESSING fala, por exem plo, de "gestus indi vidu a- ~ . Distanciamento.
marca da pessoa qu e o produ ziu. L::J:l Laban, 1960; Artaud, 1964; Bird wh istell, 1973;
Bouissac, 1973: Leroi-Gourhan , 1974; Cosnier,
lizantes" (quer dizer. característi cos) ou do "gest us
de ad vertência patern a". Gestus tem aqui o sentido
m Brecht, 1967, vol , 19: 385-42 1; Pavis, 197 8b ;
Knopf, 1980.
b. Có dig o ges tual 1977 ; Hann a, 1979; Krysinski, 198 I; Sarrazac e t ai., de man eira caracteristica de usar o co rpo*, tom an-
198 1; M arin, 1985; Lecoq, 1987, 1996; Pavis e do, j á, a conotaçã o social de atitu de" para com o
Em lugar de deeompor o movimento gestual
Villeneuve,1 993. out ro, co nceito qu e BRECHT reto mará em sua teo-
e m un idades recorr entes (quinemas, aloquinemas G OL P E DE TEATRO
ria do gestus. MEIERHOLD distingue, quan to a e le,
na teoria de BIRDWHISTELL), ind icar emos algu-
" posições- poses" (ra ku rz) qu e indicam a atitude
mas características de um código ges tual (para
GESTUAL cristaliza da e fundame ntal de um a personage m. B- FI.: co up de thé ãtre; 1ngl.: co up de th éãtre; A I.:
uma discussão detal hada, cf PAVIS, 198I a ): Se us exercíc ios biomec ânicos " têm a finalidade, Thea tercoup, co up de th éâtre ; Esp.: golpe de
- tensão do gesto/re laxa mento; entre outras, de determinar atitude s cristalizadas , efe cto.
:'+ (Neo logismo do início do século XX.)
- conc entração física e tem poral de vários gestos 't.: FI.: gestuelle; 1ngl.: system of gestu res; AI.: verdadeiros "brequ es" (entalhes de suspensão) no
(cf os ideogramas de MElERHOLD, 1973); movim ento ges tual (co ndcnsação *). A ção totalment e imprevi sta qu e muda subita-
G eb ãrde nsprache ; Esp.: gestic ulaciá n.
- percepção da fina lida de e da orientação da se- ment e a situação, o desenrol ar o u a saída da ação .
qü ência gestual; O dr am atur go recorre a ele , na tra géd ia clássica,
O gestual é uma noção qu e se aprox ima da no- 2. Gestus Brechtiano
- processo estético de es ti lização, ampliação, de- (to rna ndo, entretanto, o cuidado de prep ar ar o es -
ção de ges tualidade" , É a mane ira de se mexer es-
puração, distanciam ent o do ge sto ; pec tad or para isso) e no d ram a burguês e no me-
pecífica de um ator, de um a person agem ou de um O ges tus deve ser di fere nciado do ges to pu ra-
- estabe lecimento da liga ção entre o gesto e a pa- lodrama. DIDEROT, nas Conversas Sob re o Filh o
estilo de rep resentar. Gestual implica um a forma - mente individu al (coçar-se , espirrar ctc.): "As ati-
Na tu ral (1757), define o go lpe de te atro com o
lavr a (acompanhamento, com plementaridade, liz ação e um a caracterização dos gestos do ator, tud es que as person agen s tornam urnas com as ou-
" inc ide nte imprevisto que se pa ss a e m açã o e que
substituição) . prepara ndo, portanto, para a noção de gestus ". tra s co ns titue m o qu e de no mina mos dom ín io
altera subitamente o es tado das per son agen s" e o
ges tua l, Atitudes corpo ra is, e ntonaç õe s, j og os
o põe ao q ua dro " que descr eve um estado típico
3. Problemas de uma Formal ização dos fisionômicos são determ inados po r um gestus so-
ou um a situação patéti ca.
Gestos GESTUALIDADE cial: as perso nage ns se xin ga m, se cumprimentam,
R ecurso dramático por exce lê nci a, o go lpe ou
trocam conselhos etc." (P equeno Organon, 1963:
lance de teatro espe cula sobre o efe ito surpres a
Os gestos são dados nu m co ntinu um ao longo B- FI.: g es tualit é; Ingl.: gestualiry; AI.: Gestik: § 61 : 80). O gestus se compõe de um simples mo -
vime nto de uma pessoa dia nte de outra, de uma
e po ss ibilita, na opo rtunida de, res ol ver um COIl -
da repr esentação, o qu e torn a muit o difícil uma Esp: ge stualidad. fl ito * graç as a uma inte rvenção ex te rna (de us ex
for ma soc ial ou co rporativ amcnte particular de se
decup agem " em uni dad es gestuais. A ausência ma ch ina r i.
Neo logismo empregado a pa rti r da s pesqui sas co mport ar. Tod a açã o cê nica pressupõe um a certa
de movim ento não é critéri o su ficiente para deli-
atitude dos protagon istas e ntre si e dentro do uni-
mitar o início ou o fim do gesto; também não há, e m se miótica e, provavelm ente , formado co m base [J:;) Szondi, 1972b; Vatdin, 1973.
verso social: é o ges tus socia l. O ges tus fundame n-
verdadeirament e, elementos recorrentes na "fra- no mod el o literatura/lit eralid ade , teat ro /teatra-
tal da peça é o tipo de rel ação fundament al que
se gestual" com o o obj eto, o verbo ou o sujeito. \id ade , par a design ar as propri edades es pec íficas
rege os comportame ntos soc iais (serv ilismo , igual-
Tod a desc rição ve rba l do gesto do ator perde do gesto "; particul arm ente aq ue las qu e aproxi-
dade, violência , as túc ia ctc.), O ges tus se situa e n- GO STO
muit o das qu alid ades es pecíficas dos movimen- mam e distinguem os ges tos de outros sistemas tre a ação e o ca ráter (o posição aristotélica de todo
tos e das atitudes ; ademais, e la decup a o corpo de co municação. teatro): enquanto ação , e le mostra a personagem B- FI.: goú t; 1ngl.: ta ste ; AI.: G eschmack; Esp.:
de co nform idade co m uni d ades se mânticas lin- A gestua lidade se o põe, por outro lado , ao ges- engaj ada num a praxis soc ial; e nquanto caráter, re- gusto.
güís ticas, quando se de veria ex atame nte estudar to individu alizado: ela co nstitui um si ste ma mais pre sen ta o conj unto de traços próprios a um in-
o corpo segundo suas pr óp rias uni dades ou leis ou menos coe rente de maneiras de ser corporais, divíduo. O gestu s é sensíve l, ao mesmo tem po, no l. Na tradição ocidental do teatro, o gosto, em
- se é que existem. Tra ta -se de saber a que fun- ao passo que o gesto se refere a uma açã o co rpo- co mpo rtamento corpora l do ato r e em seu discur- sc u se ntido es pecífi co, raramente rep rese nta um
ção ideológica co rres po nde a necessidade de uma ral singu lar. so: um texto, um a mú sica podem, na verdade , se r pa pe l pert inente na experiê ncia estéti ca dos espec-
notação " e de um a grade aplicada ao estudo dos ges tuais se apresentam um ritmo" apropriado ao tador es, ao passo que ce rtas poé tica s, co mo a poé-
movi mentos: é para fixar e cod ifica r o gesto, W Langa gcs, 1968; Stern , 1973; Pavis, 1981a , sentido do que e le es tá fa lando (ex .: ge stus cho- tica sã nsc rita, fazem al usão ao gosto e ao sabo r
tra nqüi liza ndo ges ticu lado r e ob serv ador? Não • 1966. cante e sincopado do son g * brcchti ano para repre - do espet áculo, aqu ilo qu e BARTHES den omina

186 18 7

J
G ROTE SC O GR OTE SCO

Sap ienta do texto: "Nenhu m poder , um pou co de procura sempre se es conde r. [... 1No pensamento c. Dis so resulta uma mistura de g êneros " e de e. Na derrisão grotesca, rim os não de alguma coi-
sabe r, um pou co de sabedoria, e o máximo poss í- dos mode rnos, ao co ntrário, o grotesco tem imenso esti los . Esse cômico ace rbo parali sa a rec epção sa, de maneir a isol ad a, mas com aquilo qu e esta-
ve l de sabo r" ( 1978a: 46). papel. En contramo-l o e m tod a parte; de um lad o, do es pec tado r, sempre impedid o de rir o u de cho- mos rid iculari zando. Parti cip am os da fes ta dos
cria o disforme e o horrível ; de outro, o cô mico e rar impune me nte. Este perpétuo mo vim ent o de espíritos e dos co rpo s: " O riso ca usado pelo gro-
2. O gosto e m se ntid o amplo - o de expe ctativa" o bufo . [...] O grot esco é, segundo nosso ponto inv ers ão da s pe rspecli vas pro voca a co ntradição tesco tem , em s i, alg o de profundo, axiomá tico e
e de avaliação - é, em compensação, um dado de vista, a mais rica font e que a natur eza pod e entre o objeto rea lmente visto e o objeto abstra to, primiti vo que se aprox ima mais da vida inocente
essencial para apr eciar a maneira pela qu al o pú- abrir à arte" (HUGO, prefácio de Cromwell , 1827 ). im ag inado : visão co ncreta e abstração inte lec tua l e da alegria abso luta do qu e o riso provocad o pel a
bli co recebe o es petác ulo, lê o texto ou per cebe a caminha m se mp re juntas. Da mesma maneir a, há, co micidade dos costu mes [... 1. Eu, do ravante ,
e nce naç ão e m fun ção de códigos*, a fo rma , tam- b. Aplicado ao teatro - d ramaturgia e apresent a- freq üent emente , tran s formação do homem e m chamarei o gro te sco de cô mico absoluto [... 1como
bém , pela qu al os gos tos se modifi cam com o tem- ção cênica - o grot esco conserva sua função es- an imal e vice- versa. A bestial idade da natureza antítese ao cômico comum, qu e den om inarei cô -
po e co m ~s ide olog ias, como o bom e o mau gos- sen cial de princípi o de de form ação acre scido, humana e a humanidade dos an imai s p rovoca m mico sig nifica tivo" (BAUDELAIRE, 1855 : 985 ).
to estão suje itos a co nstantes variaçõ es , para o além disso, de um grande se nso do co ncreto e do uma reava liação dos ideais tradi c ion ais do ho -
grande aza r dos poe tas normativos qu e, co mo LA detalh e realista. MElERHOLD a ele se refere co ns- mem. Isto nem se m pre é sinal de degen erescên c ia f O probl em a é saber se esse côm ico absolut o
tant ement e, fazen do até do teat ro, dent ro da tra- e de desprez o , mas ape nas urna form a de pôr o destrói, na sua passage m, todo valo r e todo ab so -
BRUYERE, pretend em que "há, pois, um bom e
hom em no se u de vido lugar, so b retudo no qu e luto e se e le se ass em e lha, assim, ao mec anismo
um mau gosto" (Les Caracteres, 1688). Os estu- dição estétiea de um RABELAIS, de um HUGO e,
se refe re a se us instintos e sua corpor alidade cego do absurdo , como pret endia, equivocada -
dos sobre o gosto ex igem, portan to , pesquisas posteriorment e, de um teórico com o BAKHTIN
(BAKHTIN, 1965). me nte, ao que par ece, J. KOTT: "O fraca sso do
e mpíricas sobre os públ icos de teatro, sua co m- ( 1970), a forma de ex pressão por excelência do
ator trágico é o abso luto tran sform ado em escár-
posição, cultura e hábit os. gro tesco: exa gero prem ed itado, desfig ura ção da
nio e dessacral izado , sua tran sfor mação um me-
natureza, insis tência sobre o lado sensíve l e ma- d. Ne sse se ntido, o gro tesco é uma arte reali st a ,
canismo cego, e m um a esp é cie de autô mato"
~ Semiologia, sociosemiótica. terial das fo rm as. j á que se reconhece (com o na caricatura) o obj et o
( 1965: 137). "O gro tesco tran sforma em escárnio
intencio na lmente de formado. Ele firm a a e xistê n-
o abso luto da hi st ória, co rno transfor mou e m es-
W Bourdieu, 1979; Pavis, 1996. 2. O Espírito do Grotesco cia d as coi sa s, c riticando-as. É o co ntrári o do ab -
cárn io o abso lu to dos deu ses, da natur eza e da
su rdo * - pe lo menos daquela catego ria de ab su r-
predes tinação" ( 144 ).
As razões da de fo rmação gro tesca são ex tre- do qu e rec usa toda lógica e nega a exi stê ncia de
a. Do grotesco tragi cô mi co ao ab surdo" não há
GROTESCO mamente variáveis , desde o simpl es gosto pel o leis e prin cípios sociais. Está tamb ém d ist ant e d a
senão u m pas so , rapi damente transposto no tea-
arte niil ist a ou da art e dadaísta que reje itavam
e (Do italiano grottesca , derivado de grut a.)
Fr.: grot esqu e; Ingl. : grotesq ue ; AI. : das
efeito cômico grat uito (na Commed ia dell 'arte* ,
por exemplo), até a sá tira políti ca ou filosófi ca qualquer va lo r e não acred itavam se que r na fun -
ção paród ica ou crí tica da ativid ade artística. Da
tro co nte mpo râneo. M as a man utenção da fro n-
teira (mes mo qu ando e la é apenas teórica ) é útil
(VOLTAIRE, SWIFT). Não exis te o gro tesc o, mas para distin guir dram aturgias como as de 10 NESCO
Groteske; Esp .: grotesco. mesma fo rma , co mo mostrou DÜRRENMATT, " a ou BECKETT das d e FRISCII, DÜRRENMATT, até
projeções estético- ideológ icas grotescas (gro tes -
arte fascist a, pretensamcntc positiva e herói ca , é mesm o de BRECHT. Para os três últ imos, o gro-
co satírico, pa rabó lico, cômi co, romântico , niilista
Nome dad o às pinturas descob ert as no Renas- que é verdadeiram ente niilista e des trutiva de tod o tesco é um a ú lti ma tent ativ a de co mpreender o
etc .). Da mesma forma q ue o distanciamento"; o
ciment o em mo nume ntos soterrados e co ntendo va lor hum ani sta. E m contra partida, o g ro tesco é home m tragicô mi co de hoj e em dia. seu d ilace-
grotes co não é um s im ples efe ito de estilo, ele
motivos fant ásticos: animais com form a vegetal, uma da s po ssibilidade s de ser ex ato. [...] É um a rament o, ma s tamb ém sua vitalidad e e sua rege -
engloba toda a compreensão do espe tác u lo.
qui mer as e figuras hu manas. estiliza ção ex tre ma , um a co ncent ração súbita c, neração at rav és da art e.
nisso, est á e m cond ições de cap tar as ques tõe s da
b. O grotesco est á es treitamente associado ao tra -
1. Emerg ência do Grotesco gicômico *, qu e su rge histori camen te co m o Stu rm
atu alidad e e mesmo nossa época, se m ser peça W Kayser, 1960 ; Dürrenrnatt. 1966; Heidsieck,
de tese ou rep or tagem " ( 1966: 136- 137). -- 1969; Ubersfc ld, 1974.
und D ran g ; o dra ma * e o melodrama", o tea tro
a . Grotesco é aquilo que é cô mico por um efeito romântico e ex pressionista (HUGO, mas também
carica tural b urlesco e estranho. Sent e-se o gro- BÜCHNER, NESTROY, WEDEKIND, KAISE R,
tes co como uma de formação signifi cativa de uma STERNHEIM) e o teatro gro tesco de CHIARELLI
form a conhecida ou aceita co mo norma. Assim, ou PtRANDELLO. Gê neros mistos, o gro tesco e o
Th. GAUTlER, em Les Grotesques ( 1844), propõe tragicômi co ma ntê m um eq uilíbrio instáve l ent re
reabilitar os autores "realistas" do iníc io do sécu- o risível e o trágico , ca da gê nero pressup on do se u
lo XVII expondo as "deformações literár ias" e os co ntrá rio para não se cris ta lizar numa atitude de-
"des vios poéticos" deles. finitiva. No mundo atual, famoso por su a defor-
A forma gro tesca aparece na época ro mân tica midade - isto é, por sua fa lta de identidad e e de
co mo a form a ca paz de contraba lança r a esté tica harmoni a - , o gro tesco renuncia a nos forn ece r
do be lo e do sublime, de fazer co m que se tome um a image m ha rmo niosa da socie dade: e le re -
co nsciê ncia da relatividade e da dialética no jul - produ z " mimetica mc nte" o caos em qu e e le es tá
gam ento estético: "O grotesco ant igo é tímido e nos ofe recendo su a imagem retra balhada.

188 18 9
H
HAMARTIA "modo de usar") e que propõe aquilo qu e ora se

e (Palavra grega para err o .)


chama acontecim ento (George BRECHT), ora
ação (BEUYS ), pro cedimento, movimento, per-
forma nce », o u seja , uma atividade proposta e
Na tragédia g reg a, o e rro de jul gam ento c a reali zada pel os ar tistas e participantes, utili zan-
ign or ân cia pro vocam a ca tá strofe. O herói nã o do o acaso, o impre visto e o aleatóri o, s em von -
co me te uma falt a por ca usa de "s ua mald ade e de tad e de imitar uma açã o ex te rio r, de contar um a
sua perv er sid ad e, ma s e m co nseq üê ncia de algum históri a, d e produ zir um significado , usando tan -
e rro qu e co me te u" (A RISTÓTELES, Po ética , li to todas as artes e técni c as im ag ináveis quanto a
14 53a ).
realid ad e c irc unda nte . Esta ati vi dade nada tem ,
A homartia é co nce b ida co mo ambígua: com
portanto , contr ariamente à idéia qu e norrnalmen-
efe ito, "a culpa bilida de esta be lece -se trági ca en-
te se faz del a, de de sordenada ou cat ãrti ca : tra -
tre a antiga conce pção tr ági c a re ligiosa da falt a-
Ia- se , a nte s, de propor in a clll uma refl exão teó-
m ancha, da hama rtia , mol ésti a do espírito, delí-
rica so bre o espetac u la r c a produção de sentido
rio e nv iado pel o s deu ses, ge ran do, necessária
nos limites e stritos de um am b ie nte pr evi amen -
por ém inv oluntar iam en te , o c rirnc, e a con cep ção
nova em qu e o culpado , hamart ôn e, sobretudo,
te defi nid o. Com o esc reveu M ichel KIRBY, um
adik án , é defin ido co mo aq ue le qu e, se m se r obri- d os melh ores teóri cos do happening, é "uma for -
ga do a isso , esco lhe u, deli berad am ent e , co m eter m a es peci fica me nte co m pos ta d e teatro, na qual
um delito" (VERNA NT, 1972: 38) . di ve rso s e leme nto s não lógicos, prin cipalment e
um a man eira de representar não pre vista antec i-
( ' pad ame nte, não organizada dentro de uma estru-
~ . Hybris, confl ito, tr ág ico.
tura co m partimcntada" ( 1965 : 21 ).
[ J-J. Romilly, 1961, 1970 ; Said . 1978. Suas o rigens imediatas se encontram nas pes-
quisas de vári as catego rias de artistas. John CAGE
("organi zador", em 1952, de um concerto usand o
HAPPENING o pintor RAUSCHENBERG, o coreógrafo Merce

e
CUNNINGIIAM, o poeta OLSEN, o pianista TU-
(Do inglês lo happcn, passar- se, acontecer.) DOR) de sen cadeou essa "federação de artes " .
Outros exe mplos : no Japão, desde 1955 , o grup o
Form a de atividade qu e nã o usa texto ou pro- GUTAI; em Nova York , nos anos ses senta , os cs -
g ra ma pref ixad o (no má xim o um ro tei ro ou um cultores OLDENBURG, KIRBY c KAPROW (/8

J9J
H ERM E N Ê U TI C A
HER Ó

Happenings in 6 Parts , 1959); na Europa. BEUYS de interp retação: a o bra adqu ire, no curso da his- HERÓI - o her ói ép ico é es magado por se u destin o no
e VORSTELL. defensores da bodv art (a rte co r- tória. uma série de co nc retizações. Pod er- se-ia co mbate com as for ças da natureza (HOMERO);
poral*). G. PANE. M. JOURNIAC. H. NITSCH. O falar de um "círc u lo hcrrncn êutico" na inte rpreta- +~ (Do grego hérôs, se mideus e homem d ivi- - o her ói trág ico co nce nt ra em si um a pai xão e
hal'penill g se prolon ga no tea tro invisivel " ou na
ção da e ncenação, poi s só compreend em os os cle- '- nizad o .) um desej o de ação qu e lhe serão fat ais (SHA-
performa nce *: e le perdeu o entusias mo que os Fr.: hé ros; ln gl. : hem ; AI.: Held ; Esp.: h éro e.
ment es isolados da ce na se, pre viament e. apren- KESPEARE);
anos sesse nta ge ra ram nele.
demos o "discurso g loba l" dessa encenação . Além - o her ói dram ático co nc ilia suas paixõe s e a ne -
di sso. é pre ci so. Se m cessar, formular hipóteses I. Herói, Grau Zero cessidade impo sta pel o mundo ext eri or ; ev ita.
CJ Agit-p rop . improvisaç ão. instalação, teatro
sobre o porquê do s signos e esperar que elas se- desta forma, a aniqui lação, Para este tipo de
~. ambie nt al .
j am confirmadas o u anuladas no decorrer do es - O herói da mit ologia grega era um a persona- herói , a denominação herói vale tant o para o
m Lebel , 1966; Ri schbi ercr c S to rc h , 196 8; petáculo. gem e le vad a ao nível de um semide us . Em dra-
maturgi a. o her ói é um tipo de personagem * d ota-
hom em ilustre cuj as proezas relatamos. quanto
para a per sonagem de teatro.
Tarrab , 1968; Suv in, 1970; Sandford , 1995.
2. A repr esen tação não é. poi s. um siste ma o u da de poderes fora do co mum. Su as fac ulda des e • Um dos prece itos da tra géd ia foi qu e o auto r
um co nj unto de sis te mas cê nico s fech ad os; e la atributos est ão acima daquel es dos sim ples mor- recrut asse se us her ói s entre per son agen s de alto
HERMEN ÊUTICA " transbo rda" par a o mundo e xte rio r, ape la ao tais. mas "o surgime nto do herói es tab iliza a ima- nível. Assim , confundiram -se du as co isas : prim ei-
mesm o tempo ao se ntido e à sign ifica çã o > da ge m do homem" (M. AUGÉ. G énie du Paganisme). ro. satisfaze r o público da nobreza. o ferece ndo -
Fr.: herm éneutique; lngl.: hcrmencutics: Q uando o herói não exec uta ações ex trao rdiná rias. lhe um retr at o ad ulado r (mo tiva ção pol ítica); se -
'-
't...+ . . , A I... ce na. Ela ex ige a int er venção crítica do es pec ta -
gundo . aprese nta r per sonagen s que j á ti ver am , na
Herm cne ntik ; Esp .: hennenéutica. e não força a ad miração do espe ctad o r provocan-
dor qu e interpret a a ce na à luz das suas experiên -
do sua ca ta rse, e le é. pelo men os, reconhecíve l vida rea l. um pap el ca pita l no desen vol vim ent o
cias ant erior es.
Métod o de interp retaç ão' do texto o u da re- co mo a personagem que recebe a co r em ocional históri co e merecem o nome de her ói. Es ta se -
presentação que consiste em propor um senti- mais viva e mai s notável" (TOMASCHÉVSKI. in g unda exigência (de um herói histórico) é total-
3. Esta abertur a da obra para o ext erior leva a usar mente legítima para urna dramaturgi a qu e deve
do * deste s. le vando em co nta a posição d e TODOROV 1965 : 295) . Para a tragédia. es ta cor
o texto como pr et e xt o para interpreta ções suces- emoc io nal mai s marcada consiste em ter ror " e pie- trab alhar a partir de um material já "d ra ma tiza-
enunc iação e de avaliação do intérpret e . A met o-
sivas e não-defin itivas , a exp erim entar todas as dade ", gr aç as aos quai s nos identificam os melhor do". ou sej a. utili zando indi vídu os "de import ân-
dolo gia da he rm en êuti ca deve muit o à exege se
intera çõe s im ag inávei s entre texto e ce na", co m a per son agem. Por isso é imp ossível dar uma c ia históri ca mundial" ( HEGEL) que con centrem
bíbli ca e dep oi s ao direito. os qu ais pro curam .
defini ção exten si va do herói , j á qu e a ide ntifica - e m si um ca m po de força s e de co nlli tos soc ia is .
ambos , o se nt ido oc u lto do s textos. Sua ou tra
4 . A ce na, enq ua nto organizaçã o de siste mas cê- ção* depende da atitude do públi co ante a per so- Tais her ói s da vida real e se us co nflitos não pe-
o rige m é g rega : no séc ulo V a.C .. os rap sodo s
nicos mais o u me nos int egr ad os a um proj eto gl o- nage m: é her ói aqu ele que dizem os q ue é. dem se não qu e seja m ex pressos so b um a fonna
interpret av am o text o de Hom ero. tent and o torná-
bal, é obje to de um a m anipul ação e de um traba- naturalment e dramáti ca.
lo acessí vel ao público . que j á ti nh a difi culdad e
lho inces sant e d o c riado r e do espectador so bre 2, O Her ó i Cl ássico
em co m pree ndê-lo. De man eir a gera l. a herme -
as possívei s e str uturações das artes cê nicas . 3. Excrescências do Herói
nêuti ca tem por fin alidade " faze r os s igno s fal a-
rem c descobrir se u sentido" (FOUCAULT, 1966 : Só e xist e her ó i. no se ntido estrito . numa dra-
5. Finalm ent e . a pr eci são das co nd ições subj e - mat urg ia que ap resenta as ações tr ág ic as de reis A partir do sécul o XIX. herói design a tanto a
44). Ela goza de direitos adqui rid os na críti ca
tivas. mas ta m bém soc iais e id eol ógi cas do hcr- o u prínc ipe s. de modo que a idcntifica çâo" do personagem trágica qu anto a figura cô mica. Ele
dramática na medida em que a interpretação do
mcneuta é q ue se rá determinante para a perti- es pec tado r se reali ze em direção a um se r mítico perd e se u valor ex em plar e mítico e não tem mais
texto e do palco pel o en ccn ador, pel o ator c pel o
nên cia da int e rpr et açã o . O hermen cut a deverá . o u in ace ssível. Suas ações devem par ecer ex em - que o se ntido de pe rson agem prin cip al da ob ra
público é um aspec to essenc ial do trabalho tea -
portanto. so b pe na de perder tod a e ficác ia . int e- plares e se u de st in o livremente escolh ido . O he- épica o u dram ática. O herói ora é negati vo. o ra
tral , porqu anto a represent a ção se a pre senta
gra r a seu m ét odo um co nheci me nto co ncreto rói está. toda vi a. tragicame nte aprisio na do entre co letivo (o pov o. e m ce rtos dramas histór icos d o
co mo um a sé rie de inte rpre tações, e m tod os os
da histor ic idudc do objeto es tuda do e de se u pr ó- a lei d ivina, cega mas irreprimível, e a co nsciên- séc ulo XIX ). ora inen contrável (tea tro do absur-
nívei s e c ru todos os moment os,
c ia in fe liz . por ém livre (trág ico*) . do >; DÜRRENMAIT), o ra seg uro de si e vincul a-
prio local de enunciaç ão. Est a histori cid ade per-
mit e compl eta r ou fle xibili zar um a se rnio log ia O her ói c láss ico co inc ide perfeit am ent e co m do a um a no va o rde m soc ial (he rói po siti vo do
1. De mod o ge ral. a herm enêuti ca tem por tarefas:
sua ação: el e se col oca e se opõ e através do com- realism o soc ialista). A história literária não é se -
qu e est aria preo cupada dema is com uma decodi -
- determ inar qUe prática o real izad or e o esp ecta- bate e d o co nfli to moral. resp ond e pel o se u erro e não uma seqüênc ia de sucessivas descl assifi ca -
dor têm d a o bra; ficação mecâni ca do s sign os: ma is va le um pou -
se reconc ilia com a soc ieda de ou co nsigo me s- çõe s do herói ; a trag éd ia clássica o apres enta em
- enunciar cla ra mente o local e a situação históri- co de herm e nêut ica hoj e qu e urna catástrofe
mo. quando de sua queda trágica. Só pode haver se u isolamento es p lêndido. O drama burguês o
ca do exegeta ; se m io l óg ic a a ma nhã.
per sonagem herói ca quando as contradições da tom a. em seguida, um a representação da clas se
- mostrar a di alética entre o present e do crítico e peça (sociais. psicológicas e morai s) es tã o total- burguesa que tent a fazer com que triun fem os va-
o pa ssad o d a o bra . insi stind o na heteroge- CJ A_contecim erno. relação teat ral. leitura, recep -
ment e contidas na co nsc iência de se u her ói: este lores individuali stas de sua e1asse. O naturali smo
~ . çao, se rnio log ia, an tropolog ia teatral.
neidad e de s uas histori cidadcs, é um mi croco sm o do uni verso dram áti co . e o reali smo nos mostram um herói lastim ável e
Não há, poi s. um sentido fina l e d efin it ivo da Ricoeur, 1969 ; Jau ss. 1970. 1977; Warnin g, HEGEL di st ing ue. na sua Est éti ca ( 183 2) . três enfraqu ecid o e decaíd o. às vo ltas co m o determi-
obra e da e nce nação e. sim. uma re lati va lati tude 1975; Fischer -Lichte, 1979; Boric, 1981. ti po s de her ó i. correspo nde ntes a (rês fases histó - nismo soc ial. O teat ro do ahsurdo co nclui sua de ca-
ricas e esté tic as : dênci a co nverte ndo -o num se r mctafisicument c
192 / 93
HI ST ÓRI A HIST ÓRI

desorientado e desprovido de aspira ções (IONES- I. Uma História e a Hist ória pela qual os dramas hi stóricos preferem a forma nistas mais próximos de um tip o genérico, am-
CO, BECKElT). BRECHT j á havia assinado sua épica. Seu autor multipli ca a descrição do s acon- pliar a ação num a parábol a abstrat a e reconhecí-
sentença de morte, renun ciando à sua represent a- A hi stóri a, ou hist ória co ntada , é O conj unto tecim entos e dos obj etos e intervém em sua orga- vel. A per sonagem é, ent ão, pri vad a de qu alqu er
ção, em troca daquela do coletivo "e rigido pela de e pisód ios relatados, independentemente de sua nização: é sempre mu ito delicado mostrar es sa hist ori cidad e e passa a se r um ca r áte r" que não
produ ção capitali sta ou ass umido pela classe tra- fo rma de apresentação (sinô nimo : fá bula " , no história "em ação" . sob forma dr amáti ca, porque pertence a nenhuma época e a nenhum ambiente.
balh ad ora" . " Não se pod e mai s e nte nde r o s se ntido 1). Mas a história é também a maneira a preei são épi ea e históri ca corre o risco de pagar Este gê ne ro de personagem ass e me lha- se a tod os
aconteciment os decisivos de nossa época do pon- pela qual um texto ou um a representação falam por isso. e a nin gu ém; não pas sa de um ideal com o qual
to de vista das personalidades individuais e tais do seu tempo. seu vínculo com a hist oricidade. apressamo-nos a nos identificar, posto que só en-
acontecimentos não podem mais ser influencia - O problema mais delicado é captar a relação 3. Totalidade dos Obj etos e Totalidade xergamos aquil o que se parecer con osco . O CO I! -
dos por personal idade s individuais" (19 67, vo l, entre dramaturgia" e história. O teatro mostra do Movimento j1ito * não é mai s aquele das forças soc ia is encar-
15: 274 ). O herói co ntemporâ neo não tem mais a açõ es humanas inventadas ou que fa zem referên- nadas nas per sona gen s, mas de indi víduos mu ito
força de agir sobre os acont ecimentos, não possui cia a fat os históricos. A dramaturgia abo rda a his- No romance hist órico, como mostrou G. LU- s ubj eti vos e de grande riqu eza int eri o r. A " priva-
mai s ponto de vista sohre a realidade. Cede lugar tória desde que a peça recon stitua um episódio KÁCS (1956). a precisão é pica se aplica aos obje- tizaç ão " do conflito leva à peça de conversação
à massa, organ izada ou amorfa. "A personag em passado que realmente acont eceu (ou que ela ima- tos descritos qu e são acumulados pela de scrição ou a um "diálogo" de per sonagens silenciosas cuj o
individual deve ceder sua função aos grandes co- gine, como a science-fiction , uma situação vin- do narrador numa "totalidade de obje tos". No dra- caráter e interioridade sã o finamc nte traçados, a
letivos" (DÜRRENMAlT, 1970: 244 ). A ausência doura). Toda obra dramática , intitule -se ou não ma, o es sencia l é dar a ilu são de movimento ("t o- ponto de se tomarem ine xp rimívei s (TCHÉKHOV,
do herói cria um escá rnio ge neralizado. porque "os peça hi stórica, faz intervir um a temporalidade e talid ad e do mov im ent o" ): concentrar os co nfl itos PIRANDELLO e tod o o dr ama psicol ógi co).
verdadeiros repr esentantes fazem falta e os heróis representa assim um momento hist óri co da evo- nos o mbros das per sonagen s típicas que repre-
trágicos não têm no mc I...) os sec ret ários de Creon- lução social: a rela ção do teatro com a história é, sentam " indivíduos mundialmente hist óri cos I...] 5. Verdade Histórica e Verdade Dramática
te despacham o caso Ant ígona" (1 970: 63 ). cuj os próprios fins parti culares abraçam o subs-
neste sentido, elemento con stante e constitutivo
de toda dramaturgia. tanci al, que é a vontade do espíri to do mundo" Verd ade histórica e verd ade dramática nada têm
4. O Anti-Herói No trabalho do dramaturgo que fala da histó- (HEGEL, citado por LUKÁCS, 195 6 : (31 ). e m com um. A co nfusão entr e elas. pelos drama -
ria. int erv êm dua s obj eti vid ad es: a do hi stori ador turg os. gera todos os mal- ent endidos do realismo "
A partir do final do séc ulo XIX, e de maneira qu e julga diversos discur sos so bre os aconteci- 4 . I-1istoricidade e " Eterno Humano" da representação teatral. O " bo m" autor dr am áti-
mai s marcad a no teat ro co ntem po râneo, o heró i mentos e toma parte na explicação del es e aquel a co tem a arte de tom ar liberdades co m a históri a.
só ex iste sob os traços de se u duplo " irôni co ou do escritor que seleeiona e dispõe os materiai s de O dramaturgo, pint or da hist ória, debate-se Algumas inexatidões - na caracte riza ção. na cro -
groteseo: o anti -herói. Estando tod os os valores entre duas exi gências e duas tentações contradi- nologia - não acarretam con seqüências, desde que
sue fábula". O dramaturgo restitui, com seu tex-
aos qu ais era vin cul ado o her ói clá ssico em baixa tórias: os proce ssos globais, os mov ime ntos soci ais, a
to . uma coerência à história: " Pensa r a históri a
ou mesm o deixado de lado, o anti-herói aparece determinaçã o das moti vações d o g ru po sejam
objetiv amente. este é o trab alh o silencioso do dra-
como a única alternati va par a a descrição das ações a. Dar uma representação historicamente exata dos co rre tas . Uma análise soe ioló g ica, hasead a mais
maturgo; a saber, tudo pensar e m seguida; tramar
humanas (DÜRRENMAlT, 1970). Em BRECHT, o acontecimentos, retraçand o- os e m toda a sua es pe- de perto ou mais de lon ge no mar xism o , se es for-
os e leme ntos isolado s num co nj unto ; e se mpre
hom em é sistematicam ent e desm ont ado te]. Um cificidade e mostrar a defasagem que sep ara radi- çará par a situar o conflito na confluência de mo-
pre ssup ondo que uma unidade de pl ano deve se r
Homem é 11m Homem) , reduzido a um indivíduo calm ente dua s situações históricas (a sua e a da virncntos históricos mai s profundos (por exe m-
co loc ada nas coi sa s, se el a j á não e stiver aí"
c heio de contrad iç ões c integrado a uma hist â- époc a evocada) . Esta pre ocupação co m a exatidão plo, a o po sição entre Anr ígona e C rconte, no
( NIETZSCHE, Do Uso e da Desvantagem da His-
ria * que o determina mai s do qu e e le imagina. O imp lica muitos estudos pré vio s e uma apresent a- moment o em que se passa. co mo mostrou HEGEL,
t ôria pa ra a Vida).
her ói não sobrevive à inversão dos valores e à ção dos document os da época. Ele leva a dois re- de um a form a de soc ieda de primiti va ao poder
desm ontagem de sua consciê ncia. Ou então ele de- sult ados perfe itamente contrários: ou os heróis são ce ntra l da cidade) . Para empregar a fras e brech -
2. O Geral e o Particular tian a: o essencia l é col ocar e m ev idência as rela -
ve, par a so breviver. di sfarçar -se de bufão * ou de parti cularizados dema is, fotografi camente fiéis
criatura derris ória, à la BECKETT. demais. e não se vê mai s o princípio de sua signifi- ções de causalid ade social.
ARISTÓTELESj á observava que a poesia é mais Em co m pensaç ão, um a verdade do pormenor
cação ; ou o dram aturgo faz deles abstraç ões histó-
filosófica que a história , porque exprime melhor
~ . Dramaturgia clássica. protagon ista, hamar/ia. rica s, aqui lo qu e MARX cha ma de "porta-voz do que não dê imp ortância à ex plicação da s razõe s
o geral . e nquanto a históri a é adequada par a dar profund as dos co nflitos só pode conduzir a um
espírito do tempo" (MARX (1859), 1967. vol. I:
o Aristóteles, 33 0 a.C.; Schcrcr, 1950 ; Fryc , co nta do particular (Poé tica, 1451 b). Impossível
recon stituir na obra literária. co mo na representa-
181; trad . francesa , Corresp ondan ce Marx -En- naturali smo improdutivo.
1957; Lukács, 196 5; Vcrnant c Vidal-Naquet, g els . Ed . Soci ales, tom o V, p. 304). As persona- Um co m promisso entre verdade históri ca e ver-
1972; l larnon, 1977; Ab irach cd , 197 8. ção . toda a riqueza dos fato s hist óricos: uma tri a- gen s não têm. então, mai s vida nenhuma; o espec- dade dramática às veze s se manifesta através da
gem sistemática se impõe de imediato na massa tador não se reconhece nelas, poi s uma abstração maneira pela qual o herói motiva e justifica suas
dos mat eri ais em função do julgamento do poeta filo sófica não possui credibilidade quando toma ações. A s moti vações part iculare s (d e caráter,
HISTÓRIA so b re a re alidade a ser pintada e sobre sua própri a lugar de uma person agem de carne e osso. pas sion ais) nunca devem fazer com que se es queça
realidade. A eseritura da históri a, qu e impõe es -
e
as mot ivações obje tiv as e históri cas da aç ão. O
Fr.: his toi r e; ln gl .: ín s t orv, s to ry; AI.: tas es co lhas, só pode ser épica *: se nte-se se mpre b. A seg unda tentaç ão é gene ralizar a ação, herói eo nhece um destin o. ao mesm o tempo úni-
Geschicluc: Esp.: histori o . a presen ça do narr ador-hist ori ador. Es ta é a razã o depurá-Ia e simplificá -Ia para torn ar os protago- co e exe mplar, particular e ge ral.

194 195
Ht ST O RI CI Z A Ç Ã O IlYlI R IS

Tod as es tas norm as que o dramaturgo deve res -


peitar. se deseja ex primir correta mente os proces-
a miséria da human idade. o triu nfo do mal , o
reino chei o de sa rcas mo do acaso e a qu eda irre-
tiano "; histori ci zar con siste em recu sar-se a m os-
trar o hom em e m se u ca ráter indi vid ual e ane -
G\. Épico e dramático : brec htiano.

sos histó ricos. va le m, sobretudo . para a form a mediá vel dos justo s e dos in ocent es" (ci tado in dótico, para re vel ar a infra-estrutu ra s ócio-hist õ- W Dort, 1975, 1977a ; Pavis, 1978b : Ubersfc ld.
cl ássic a (d ramática) do drama co mo HEGEL e. LUKÁCS, 1956: 135). Tod a uma linh a te m átic a rica q ue subte nde os co nflitos individuai s. Neste . 1978b; Banu , 1981.
dep ois, LUKÁCS, perceberam no dr am a históri co un iu, nessa co nce pção da histó ria, dramatu rgos sentido, o drama indi vidu al do herói ' é recoloc ado
e na tra gédi a, até o prim eiro terço do sé culo XI X. tão difer en tes q uant o BÜCH NER (e seu " hor rí- no se u co nte xto social e político. e tod o teat ro é
HEGELjá co ns tata, no momento em que tcoriza o vel fatal ism o d a hi stória"), GRABBE (a hist óri a histó rico e político . HYBRIS
modelo trági co e dramático por excelência, a cr es- como naturez a indi fe re nte ), MUSSET (a história- A historicizaç ão põe em jogo du as histo-
cente di ficul dade de apresentar "totalidade de carnaval), JARRY o u IONESCO (a história gro- ricidades : a da obra no seu próprio cont e xto e a do Palavra grega para "org ulho ou arr ogân ci a fu-
movimen to" e um conflito de heróis individu ali- tesca ou ab su rda). es pec tado r nas circun stâncias em que assis te ao es - nesta" . A hybris le va o her ói a agir e pro vocar os
zad os (cf SZONDI, 1956 ). petác ulo: " A histori ci za ção leva a conside rar um deuses, apesar de se us avisos, o que vai dar na
'd: A pós-h ist ória .determ inad o sis tema social do ponto de vista de sua vinga nç a e na sua perda. Este se ntimento é a
6. A História na Dramaturgia Pós-Clássica Atualment e, pa rece qu e os dram atur gos hesi- outro sis te ma soc ial. A evo lução da soc iedade for - m arca da ação do her ái" tr ágico "; se mpre di s-
tam em se in serir numa explicação globa l do mun- nece os pont os de vista" (BRECHT, 1976: 109). po sto a ass um ir se u dest in o.
a. A história distan ciada O recurso esse nc ia l da histori ci za ção é o dis-
do, jo gand o fora o be bê com a ág ua suja do ba-
BRECHT (a qu em LUKÁCS se dir ige, se m o nho histórico, em qu e tod os se en ch arcar am e em tanciamento» , O espectador "dista ncia" a repr c- ~ . Hamar/ia.
scnta ção teat ral , mas ta mbé m sua própria reali -
nom ear) tom a as réd eas dessa concepção d rama- que todos são co m pro me tidos, senão culpad os.
túrgica da his tó ria . Ele tam bém proc ur a delimi tar Assiste-se a um ret ro cesso da exp licação políti-
da de referen ci al. C-D Said . 1978.

os processos soc iais, fabricar " heróis" produzi- ca, ou simplesm ent e histórica . Mesmo o Th éâtre
dos por movimentos profundos da sociedade e du Soleil, out ror a especialista na evocação parti-
reconstruir um a imagem completa, embora frag- cular e geral do homem, chega co m, por exem-
mentada na sua co m pos ição distanciada, da ev o- plo, as enc enações de SHAKESPEARE, de Sih a -
lução hum an a (realidade representada *). nouk, L'In diade o u de La Ville Pa rj ure (CIXOUS),
a uma con cep ção da históri a o nde os gra nde s i n-
b. A hist ória do co tidiano di víduo s, co mo os po vos , não parecem mais o be-
Mas a histór ia é tam bém a insignificânci a do decer a uma lógica pr e visível. M as pod e-se ve r-
co tidia no, a rep etição do trabalho alien ant e e dos dadeirame nte sair da hist óri a?
est ereót ipos ideo lóg icos . O teatro do co tidia no '
explora esse veio part indo de uma visão mínima e (i0 Tempo ; realidade representada; crônica; teat ro
volunta ria me nte mutilada da histó ria, para che - ~ docum en tário.
gar a algumas o lha delas furt ivas no real, dand o a
ilusão de fot ogr afar a real idade de suas práti cas
W Alth usser, 1965; Lindcnbergcr, 1975 : Hays.
1977,1 981; Jameson, 1981; Pavis, 1983c.
lingüísticas e gcstuais cotid ianas.

c. A história do absurdo
HISTORICIZAÇÃO
A dr am atur gi a do absurdo" dá um a imagem
cí cli c a. irrac ional , fat ali st a, incontro láve l ou D- (Tradução do ale mão Historisieruug.t
lúdi ca d a hist óri a. Tud o se desenv ol ve co mo se Fr.: hist oricisation; Ingl.: historicization; AI.:
só gua rdássemos o seg undo term o do afo rismo Historisier ung ; Esp.: histor izaci ôn.
de MARX, parodi and o HEGEL: " HEGEL observa
em algum lugar qu e todos os grandes fatos e todas Termo intr odu zid o por BRECHT. Histori ci zar
as per son agen s da hist ória mundi al se produ zem, é mostrar um acontecime nto o u um a per son agem
de ce rto mo do , duas vezes. Ele se esqueceu de à sua luz social, histórica, rel ativa e transforrn ávcl.
acrescent ar: a primeira vez, co mo tragédia ; a É "mostrar os acontec imentos e os homens sob
segunda , co m o farsa" (O 18 Brumário de Lu ís seu aspecto históri co, efêmero" (IlRECHT, 1967,
Bonapar te ). A dramaturgia do abs urdo enc ontra vol. 15: 302), o qu e levará o esp ect ador a pen sar
sua font e no pessimismo de SCHOPENHAUER, que sua própri a real id ade é históri ca, criticáve l e
para qu em a histór ia e a tragédi a não têm mais transform ável (repo rta ndo-se à histór ia *).
nenhum se ntido, são apenas "a represe ntação do Na drama turgia * brec htiana, bem co mo numa
as pec to te rr ível da vida , o sofrime nto indi zível , encenação inspirad a no real ism o " crítico b rcch -

196 197
I
ÍCONE suriana e da semi ótica peirci ana permitiria colo-
car o problema do referent e do sig no * c do esta-
-t} Fr.: ic ône; Ingl.: icon; Al.: Ikone ; Esp.: icono. tut o da realid ade cênica. O model o triádi co peir -
ciano (signo, obje to, interpretantc) leva e m co nta
I. Similaridade o víncu lo entre signo e referent e c o uso pra gmá-
tico dos signos . A dicotomi a sauss ur iana (signi-
Na tipologia dos signos de PEIRCE, o ícone é ficant e/significado) exclui a cois a design ad a pelo
" um signo que remete ao obj eto qu e ele denota signo para reter some nte o con ceit o ao qual é as-
si mplesme nte e m virtude dos car acte res que pos- sociada a mater ialid ade do significa nte.
sui, ex ista ou não es te objeto" (PEIRCE, § 2247, Por sua co mplex idade e por causa de um a ce r-
ci tado in 1978: 140). O retrato é o ícone do seu ta des confi ança para com alguns traç os metafí-
mod el o "contanto que e le sc pareça co m essa sicos de su a filosofi a, o mod elo de PEIRCE foi,
coisa e seja usado co mo signo des sa co isa" (ibid.). até o mom ent o, pOIlCO usado. Uma not ável exce -
O ícone é um signo qu e tem um a rel ação de se- ção, na França, é a do grupo de pesquisa se miótica
me lhança CO!ll seu mod elo. Es te pod e ser visual de Pcrpig nan (MARTY, et alii, 1980 ; DELEDALLE
(o ator "se assemelha" a sua per so nagem ), auditi- in PEIRCE. 1978). Ma s a fecund idade do modelo
vo (a voz e mbargada diz a e moção ), gestual (um pei rciano para a semiolog ia " teatral ainda preci-
co mpor tamento imita outro) . sa se r pro vada.

2. Ic oni cidade e Mimese 3 . Utilização e Di ficuldades da Noçã o de


Iconicid ad e
O teat ro é às vezes de finido co mo lima arte
ic óni ca por cau sa de sua faculdade de imit ar cc- a. Em vez de opor os sig nos conforme sua tipolo -
nicam ent e - pela interpretação dos atores - uma gia (íco ne, índi ce, símbo lo), é mais útil falar de
reali dade referencial que éra mos co nvidados a signos dc funç ão dom inante icôni ca, indi ciai ou
co nsidera r co mo real. Art e por exce lê ncia da simbólica, e determinar-orespectivo papel das fun-
mimc se"; e ra lógico quc e le surg isse co mo o do- ções num a seqüência e retraçar assim o circuito
mín io dos signos icôni cos. Todavia, a noção de da simbo lização (PAV IS, 19760 ; ECO, 1978).
iconi cida dc tant o coloca pro blemas para o teór i-
co qu anto os resolve (reportar-se a signo teat ral *). b. Pod e- se estabe lecer uma esca la da iconic idade.
Uma reavaliação da semi olog ia * de origem saus- Todavia, é de licado quanti ficar um dado tão im-

199
ID E NTIFI C A Ç ÃO IL U M I NA Ç Ã C

preci so e su bj etivo quanto a noção de semelhan- rI\ La Bord erie, 197 3; Ert e l, 1977; Ubers feld, M odalidad es de identificação d o espect ador com o her ói (no ssa tr adução)
ça ou de realismo" . O pon do ico nicidade e sim- L.obo.l 1977a ; Pavis, 1978c; M arty, 1982; Kowzan,
1985. Modalidade Normas de cond uta
bolismo co mo doi s mecani smos dialéti cos , torn e- Dispo sição
Relaçiio + progressivo
cem o-n os os recursos para descre ver a ce na co mo de iden tificação de recepção
- regress ivo
um meio mai s o u men os cod ificado e reduzido a
uma abstração e a uma sirnb olizaç ão. IDENTIFICAÇÃO ai Associativa Jogo/competição Pôr-se no lugar dos papéis + go zo de uma existê ncia livre
de todos os participantes - excesso permitido (ritual)
c . A an álise dos ele mentos visuais não escapa a :). Fr.: identification; Ingl.: id cntification. empathy; b} Admirativa O herói perfeito Admiração + emulação
um corte em unidad es, cort e este que passa pela "t.; AI.: Einfiihlung ; ldcntifíkation; Esp .: iden-
- imitação
g rade da Iinguagcm, o que altera de imediato a tifi caci on .
ci Simpática O herói imperfeito Piedade + intere sse moral
apre ensão pur am ent e icônic a do fenômeno cê nico.
Processo de ilus ão * do espectador que imagi- - sentimentalidade
na ser a per son agem representada (ou do ato r qu e d) Catártica ai O herói que sofre Violenta emoção trágica + in teresse de sinteressado
d. A parti r da í fica possív el ressimb oli zar o ic ô-
entra totalmente " na pele" da personagem) . A Libertação da alma
nico se gundo du as maneiras essenci ai s:
identifi cação eo m o herói é u m fenô men o que tem bi O herói oprimido Zombaria, libertação - prazer de voyeu r
• Iconi cidade di ag ramática raíze s profundas no inconsciente. Este prazer pro- cô mica da alma - zomb aria
A co dificação é feit a e m função do respeit o às pro - vém, segundo FREUO, do reconhecimento catâ r-
e) Irônica O herói desaparecido Espanto (provocação) + resposta pela criatividade,
porções e à configuraç ão geral co mum ao objeto e tico: do ego do outro, do desej o de ap ropri ar-se
0 11 o anti-herói sensibilização da percepção
a seu sig no . O realismo ' brechtiano, qu and o re- dest e ego , m as também de di stingu ir- se del e
- culto do tédio, indiferença
constitui um ambiente co m o auxílio de alguns sig - idenegaçãorv .
nos fund amentais , procede diagrarnaticamente Fonte: a partir de H. R. JAUSS, 1977: 220.
(cf BRECHT, 1967, vol. 15: 455-458). 1. A Identificação com a Personagem
de identi ficação com o herói . A teo ria de H. R . co m ) são " do is pro ces so s antagônico s qu e se
• Iconi cid ade met afóri ca e também meton ímica
O pra zer da identi ficaç ão com a personagem JAUSS tem o m érito de definir cla ramente seu s unem no trabalho do ato r" (BRECHT, 1979: 47).
A cod ificaç ão se o pera segundo um paraleli sm o é, seg undo N lETZSC11 E, o fen ôme no dramáti co crité rios de di st inti vid ade : ci nco model os d e ide n-
entre o bj eto e signo: o es paço exíguo significa, por fund am ental : " ver-se a s i me sm o metamorfo seado tificação são aí propost os: associativa, admirati va , 4 . Identificação e Ideologia
exemplo, a prisão ; a pa lha remete à ce la (cas o de diante de si e agi r agora como se se houvesse en - si mpáti ca, c atártica , irô nica (JAUSS, 1977: 220).
meto ními a), o cen ário abstrato a uma cidade etc. trado num o utro corpo , num o utro car áter " (Nas - Certos críticos de inspiração mar xista e bre ch-
cimento da Tragédia , 187 2: § 8, 44). Este proc es- 3. Críticas da Identificação tiana, co mo L. ALTHUSSER (1965 ), propõem ul-
e. A o pos ição íco ne/símbolo é hoje subs tituíd a so imp lica qu e o es pec ta do r é capac itado, pel o trapassar a conce pção estreit am ent e psicológi ca da
por um a teoria da vetorização dos sig nos, basea- texto dramático o u pel a e ncenaçã o, a julgar a per- Entre e stas pot en cialidad es de identifica ção, a identificação, ampliando a co nsc iência espectado -
da na op osição e ntre des locame nto met onímico e so nagem. Se julgarmos o herói " me lhor" q ue nós , catarse (d) e a ad m iraç ão sem limite (b) sem pre ra a um a instân ci a qu e se reconhece também no
co ndensa ção met af órica (PAVIS, 19(6) (se mio- a ident ifica ção dar-se-á po r ad miração e numa fo ram o bj eto de sé ri as crít icas. Um a ati tude mo- conteúdo ideo lógico da peç a ou da encenação. O
logiar ). certa "distân cia" apr opriada ao inacessív el ; se o ralizunte co nde na a catarse porque esta ac ostuma espectado r adere, atrav és das personagen s e da fá-
julgarmos pior, ma s não int eiramente c ulpado, a o es pecta do r ao mal. A c rítica brech tiana d o te a - bula, aos mitos e c re nças de sua ideologia co tid ia-
4. Iconicidade em Out ros Níveis Além do identificação dar- se- á por co mpaixão (te rro r e tro de identifi cação é muito ma is radi cal: id enti- na. Ident ificar-se é se m pre deixa r-se impression ar
Visual: o Discurso Teatra l picdade*). ficar -se com o he ró i implicaria um a a usê nci a de pela "ev idência" s inuosa de lima ideo log ia o u de
O prazer do esp ect ad or está lig ad o àq ue le da es pí rito c rítico e pres sup oria qu e se conceb e a uma psicologia.
a. O text o dramático é col ocado em espaço, de ilusâo ", da imitaç ão" e da den egaç ão" , FREUO na tur eza hu man a co mo etern a, acima das épocas
descreveu o prazer do e spectado r como a satisfa-
modo qu e o dis cu rso' é modulado em função do e da s c lasse s . G) Reconhecimento, realid ade representada, es-
loc al de sua enunci ação, meio à mod a dos cali- ção de "sentir as diferentes part es do ego se mo- Esta crítica radi cal da alie nação do especta dor ~ pectador, heró i, terr or e piedad e, ironi a.
g ramas o nde a visua lização do text o influi consi- verem sem in ibi ção em ce na " (FREUO, 1969 , vol , ameaça, tod a via (se é lev ad a ao extrem o, par a não
deravelmente em sua significação. X : 167-16 8; trad . fr. in Di gr aph e n. 3, (974 ). di zer ao a bs urdo , co mo no j ovem DRECHT), de-
se q uilib ra r a opos ição identifi cação/distancia - ILUMINAÇÃO
b. Os fenômenos prosódi cos (ritmo ' , entonação, 2. Esquema de Identificação mento " . Pois bem, toda identificação com o he-
e videnci ação da arq uitetur a ret ó rica e tc.) são rói faz- se afast a nd o-se ligeiramente des te e, por- :). Fr.: éclairage; lngl.: lighting; AI.: Beleuc htung ;
muito sens íveis e im prime m sua marca à inter- Na ausên cia de um a teori a científica das em o- tant o, po r lim a le ve den egação, ainda qu e para "t.; Esp.: illlminación.
pretaçã o . O texto é receb ido e sentido em sua di - ções que distinguiri a o s di fere ntes nívei s de re- afirma r sua su perio rida de o u s ua es pec ific ida de ;
men sã o ret óri ca. cepção (co nfo rme a afe tiv id ade, a int elecçã o, o e, in ve rsam ente, toda crítica do her ói ne cessit a 1. O term o iluminação ve m sendo subs tituído,
reconh ecimento ideo lógico etc .), é imposs ív el de lim a ce rta pe rcepção de sua " psico log ia". As - cada vez mais, na pr ática atua l, pelo termo luz,
~ . índ ice . sí mbolo. propor um a tipo logia indiscutíve l da s int erações sim , int erpretar (m ostrar) e viv er (ide ntificar-s e provavelmente para indicar que o trabalho da ilu -

200 201

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u.u ss c

min ação não é iluminar um es paço esc uro, mas, ment e modul ávcl , é o co ntrá rio de um sign o d is- c. A fáb ula 3. Fabr icaçã o da Ilusão
si m, cr iar a partir da luz. O a lemão Licht regie ere to (sim/não; verdad eiro/ falso; br an co/preto; Pa ra produzi r ilusão , a fábula será dis posta de
(e ncenação da luz) ou o in glês Iigh ting dcsign sig no/ não -sig no), é um elem ent o atmos férico qu e maneir a a que se sinta sua lógica c sua direção, A ilusão nada tem de um fenô meno mi steri o-
(desenho das luzes) também insistem no papel religa e infiltra os elementos se parado s c esparsos, se m qu e o espectador possa e ntrever compl eta- so : el a se basei a num a sé rie de cOIl\'e//ções* artís-
toc aliza dor da luz na en cen ação. A pós os suces- um a sub stâ nc ia da qu al nasce a vida. ment e su a conclu são. O es pec tador é tom ado pelo ticas .
sivos imp erialismos do ator- rei, do cn cena dor, do "s uspe nse" e não pod e levar seu o lhar para fora O estudo d a imagem " e dos sig nos icõnicos"
Bablet, 197 3; Bergman, 1977 ; Travail Théâll'll /
cenóg rafo, é o ilUln inado r - o se nhor abso luto da
luz - que se torna co m freqü ên cia a personagem - m n. 3 1, 1978; Bonn at, 1982; Oxford Comp anion,
d a traj etória traçada pa ra e le, e ac redi ta na histó-
ria co ntada pelafábu/a*
mostra que a realidade figura tiva não é um a imi-
tação pas siva, mas que ela obede ce a um conjun-
19 83 (histórico); Valentin, 19 88; Pa vis, 199611. to de códigos *. " De modo geral, ca da é poca in-
ch ave d a rep resent ação. Entreta nto, APPIAjá ob-
se rvava, no início do séc ulo , a imp ort ância da t!. A p ersonag em vent a suas próprias receitas de ilusionis mo . [...]
luz co loca da a serviço do ator : "A luz é de uma A pintura, co mo o te atro , como as outras art es , é
ILUS ÃO O espectador tem a ilu são de ver, a person a-
flexibilidade quase milagro sa. Ela possui todos ilu si oni sm o, e seus meios, tan to qu ant o se us fin s,
ge m real à sua frente, Tud o é fe ito para qu e ele se
os graus de claridade, tod as as possibil idades de es tão ligad os a um ce rto estado d a socied ade, e
co res, com o uma paleta, to das as mobilid ades; :-+ (Do lat im illus io; lud ere, brin ear ; illu dere, identifique" .
mais ainda a um certo estad o de seus conheci-
't...; transpor.) ment os teóri cos e t écn icos, até mesm o à medid a
pod e criar sombras, irrad iar no espaço a harmo -
Fr. : illu sio n; Ingl.: ill usion; AI.: ll lu si on ; Esp .: 2. " Duplo Jogo" da Ilu são
n ia de suas vibrações exa tame nte co mo o fana a das reações qu e um mo do de vida, deduzido de
ilusion ,
mú sica. Possuím os nela tod o o poder expressivo uma ce rta co mpreensã o do universo im põe a um a
do espaço, se este espaço é co locado a serviço do Es tá na natureza do binôm io ilusão/desi lusão co letivi dade" (FRANCASTEL, 19 65 : 224).
Há ilusão teatral quand o tomamos por re al e nun ca aprese ntar-se sob ape nas um dos dois as-
ator" (1954: 39). Para a ilu são , assi m com o para a im itação, não
verdadeiro o qu e não passa dc uma fi cção*, a sa- pe ct os da contradição . A ilu sã o pre ssupõe a sen- há fórmula definiti va de repr esentação veríd ica c
ber , a cria ção art ístic a de um mundo de referên- sa ção de saber qu e aqu ilo qu e ve mos no teatro é
2. A luz inter vém no espet ácul o ; e la não é sim- natu ral do mundo. A ilu são e a mimese não são
cia quc se dá co mo um mun do po ssí vel , qu e se ria apenas uma representação. Se nos entregássem os
plesm ent e decorativa, mas pa rtici pa da produ - mais que o result ado de conve//çües* teat rais.
o nosso. A ilusã o está ligada ao efeito de rea/ * tot alment e à decepção, nosso praze r também se-
ção de se ntido do es petác u lo. S ua s fun ções produzido pelo palco ; e la se ba sei a no reconheci-
dramatúrgicas ou se miológ icas são in finitas: ilu- ria d iminuído. As es tétic as h ipernaturalistas que 4. Ilu são e Inconsciente
me nto psicológico e ideológico de fen ômen os j á
minar ou co mentar um a ação, iso lar um ator ou apos tam na ilusão perfeita às vezes ign orar am esta
familiares ao espectado r.
um e leme nto da ce na, cr iar um a atmo s fera , dar necessi dade do prazer susp e ito da il usão/d esilu - A b usca da ilus ão est á ligada, co mo m ostrou
ritm o à representação, faz er com que a encena- são . Ao contrário, o teatro clássico, e, ger almen- FREUO, à bu sca do pra zer e a um duplo mo vi-
1. Obj et os de Ilusão te, todo teatro que não procura negar-se a si mes-
ção seja lida, principalm ent e a e vo lução dos ar- rnento de den egação : sa bemos qu c aque la per-
gu me ntos e dos senti me nto s e tc . Si tuada na arti- mo , te m um a posição muito mais equilibrada e so nage m não é nós, mas, ainda assi m, si m er a
A ilusão va le para todos os co m po nen tes do " prática", mais sutil do que a alternativa entre efei-
culação do espaço e do te m po, a luz é um dos nós! (MANNüN I, 1969 ). O teatro , co mo bem sa-
es pe tác ulo. e m gra us div ersos e segundo mod ali- to s de real e de irrea l. Assim, MARMONTEL re-
principais enun ciador es da ence nação, pois co- bia H a rnlet , é o local o nde o recal ead o ret om a.
dad os es pecíficas . co menda não levar a ilusão ao máxim o e deixar
ment a tod a a represent ação e até mesmo a cons- A ilusão e a ide ntificação extrae m seu prazer
tit ui, marcand o o seu percurso. Mat erial mila- ao espec tador a con sciência de perceber um a ima- do se ntime nto de que aquele qu e per ce bem os não
a. Mun d o rep resentado ge m da realidade, não a real idad e. É preciso ter
groso de ini gualáve is flu id e z e n e x ib il id ad ~ , a é senão um outro, e que nós não acreditamos numa
lu z dá o tom de uma ce na , rno dal iza a ação cem- O e sp aç o cê n ico natu rali s ta , o nde tud o é "dois pensamento s simultâneos": que se "ve io ver ilusão prese nte, mas, quando mui to , na ilusão que
ca, co ntro la o ritmo do espetác ulo, assegura a reco ns titu ído com exati dão co m respe ito à reali- rep resent ar uma fábula " e que se as siste a um fato um ego ant eri or (o da crianç a) teri a podid o , ou-
tr an sição de diferent es moment os, coorde na os dad e significada, forn ece o quad ro da rep resent a- real : ma s o pri me iro pe nsa me nto deve se mp re trora e alhures , sentir. Fica agradáve l ass istir " im-
outros ritmos cênicos co loca ndo -os em relação ção ilu sioni sta. Para o púb lico, es te q uadro pare- pre valecer, pois a ilusão não tem qu e triunfar às punem ent e a aco nteci me ntos qu e , na vida rea l,
o u isol ando-os. ce " transplantado" de sua próp ria realid ade para cus tas da refl ex ão: ''(. ..) qu anto mais viva e forte seriam pen osos. A ilusão provoca uma dimi nui-
o pa lco . Ele contém os obje tos típicos de um am- é a ilu são, mais ela age sob re a a lma, e, por con- ção d a do r g raça s à ce rtez a de que, prim eiram en -
bient e , dand o aos espectado res o efe ito de real . seg uinte , menos liberdade , re flexão e apego à te, é um outro qu e age e sofre e m ce na e q ue, em
3. A técn ica da luz pôs em ev idê ncia sua plasti-
seg uindo nist o a ce rteza clá ss ica de que "o ún ico verd ade ela deixa" (MARMüNTEL, 17 87, art. "Ilu- segundo lugar, aquilo é apenas um j ogo qu e não
cidade e seu poder " musica l" . A luz é "o único
mei o de produz ir e mante r a ilus ão é se parece r s ão" ). Não se está lon ge, ne sse co ntro le refletid o
recurso ex terior que pode ag ir sob re a imagina- pod e ca usa r dano algum à nossa seg urança pes-
co m aqui lo que se imita" (MARMüNTEL, I n7 ). d a ilusão , da exigênc ia brecht iana de "rcstabc- soa l" (FREUD, 1969 , vo l, l O: 16 3 ).
ção do es pec tador sem dis trai r sua atenção: a luz
tem um a es pécie de poder se me lha nte ao da m ú- lcciment o da realid ade te atr al [como) co ndição A ex periê ncia carárrica* faz re viver no suj e i-
sica; toca outros sen tido s, m as age co mo ela; a b. Cenog rafia nec e ssári a para que possam se r dada s represent a- to tud o o qu e ele recalc ara: ex pec tati vas e dese-
luz é um elemento vivo , um dos flu idos da imagi- Ce rtas cen ografias estão mais ap tas do que ou- ções real istas da vida e m co m um dos homens" jos infanti s, as madalenas prou stianas e lod o o
nação, o cenário é um a coi sa morta" (OULLlN, tras a ca ptar a ilusão: o palco fro nta l, à ita lia na , ( 1972: 247; trcneatralizaç õo"). O qu e MARMü N- rest o.
1969: 80) . Vivificando assim o es paço e o ator, a que enqua dra e põe em per spectiva os aco nteci- TEL (para a teoria clássica) e BRECHT (para a teo-
luz assume uma dimensão quase metafísica. ela mentos, será. por exem plo, part icul ar ment e apro- ria ép ica) descrevem aqui não é se não o fenôme- (lJ Qua rta parede, naturalismo, realidade reprcsen-
co ntro la, modaliza e nuança o se ntido : infinita- pria do ao s efei tos ilusio nistas do tro mp c- L'oeil, no de dcn ega ção *, ~ . tada, realidade teatral,

20 2 203

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T'~ 1
, 1"
. ~ .

t MA G E M
.. tM P R O VI S O

Nouvelle Revu e de Psychana lvse, 19 71; Rciss, trução da maquinari a teatral e possui sua própri a 2. O bj eti vo d a Imita ção (\.) . Mirnese, signo, realidade representada, denega-
1971 ; Gom brich, 1972; Rivicrc, 1978. o rganização formal , que um o lhar treinado per- ~ ção, realista (re prese n ta ção ... ).
co rre sem d ificuldade .
I Im itar é , ent retan to , um proce sso muito vago
que se ap lica a tod a es péci e de objetos: o ges to e o W Princeton E/lcyclof'l'dia of Poetry and Poetic,
IMAGEM m Lind eken s, 1976 ; Marran ca, 1977 ; Barth cs, co mpo rtamento humanos, o discur so de um a per- 1974 ; Cullcr, 19 75 ; Gcne tte , 1976; Banhes et
a/., 1982 .
. 1978b; Riviere, 1978; Th éãtre Public, 1980 , sonage m, o ambiente" cênico, um aconte cim cn-
~ Fr.: imag e ; In gl.: imag e; AI.; Bild; Es p.: 11. 2 ; G aut hicr , 1982; Dubois , 19 83 ; Simh andl, 1993. to * históri co, um mod el o literári o. As pala vras de
't..: imagen. ordem da imitação assumem assim, na prática tea-
tral *, formas vari adíssim as: nada de co mum, por IMPROVISAÇÃO
IMBROGLIO
l . A im agem desempenha um pap el cada ve z
e
exemplo, entre um te xto clássico que " im ita" um
maior na prática teatral con temporânea, poi s to r- mod elo grego (fá bula, tem ática) e um a ce na natu- Fr.: imp rovisati on; Ingl.: impr ovisa tion; A.I.:
nou- se a ex pres são e a noção que se opõe àquelas e FI.: imbroglio ; Ingl. : im broglio, entanglement;
AI.: ve rwicklung , Esp.: enredo .
ralista que recon stit ui minuciosam ent e um interior
burgu ês. Por sua am plitude e sua imprecisão. o co n-
Imp ro visation, Steg rcifspie l; Esp.: IInf'rovlsaclOn.
de texto, fábula ou aç ão . Havendo reconquistad o
completamente sua natureza visual de repre senta- ceit o de imitação tomou-se inoperarue. De fato, ele Técn ica do ator que int erpreta algo imprevis-
ção, o teatro de ima gens " ehega mesmo a recorr er Esta palavra itali an a ("embrulho") designa uma está sem pre lim itado a um exemplo de regras co n- to, não prep arado ante cipad amente e " inventado "
a uma seqüência de im agens e a tratar os materiai s situação e/o u um a intriga" complexa e confusa side rad as ind ispensáveis ao bo m go sto, ao veross í- no calor da aç ão .
lingüísticos e actan ciai s como imagens ou quadros: qu e impede as per sonagen s (e os es pec tado res) mil ou à ve rda de profunda. No caso part icul ar do Há muit os g rau s na impro visação : a inve nção
é assim , po r ex empl o, nos espetác ulos de R. WIL- de perc eber em c larame nte su as respecti vas po si- cla ssici smo , a im itação dos Anti gos passa pel a de um texto a part ir de um ca ne vas co nhec ido e
SON, R. FüREMAN, C. RÉGY, P. CBÉREAU; K.·M . ções no tab uleiro estratégi co da pe ça . Est a é a si- imitação da natu reza, ped ra de toque da doutr in a muito preci so (a ssim, na Co mmedia deJ/' arte* ),
tuação cos tumeira do vaude ville " ou da comédia clássica. E la exige o domínio das técni ca s e da s o jogo dr am ático " a partir de um tem a ou de uma
GRÜBER; Ph. ADRIEN; A. ENGEL, R. DEMARCY
de intrig a" , regras. A imitaçã o clássica não imp õe uma descri- senha, a invenção ges tual e verbal total sem mo-
e, ma is recentemente , de R. PLANCHON , S .
O prazer sentido pel o esp ect ador em aco mpa - ç ão d a to ta lid ade da s oc ie d ade e si m tr a ço s de la na exp ress ão co rp o ra l" , a dc sco nstr u ção
BRAUNSCHWEIG, G. LAVAUDANT, Ph. GENTY,
nhar o imb rogli o m istura- s e à ex asperação de marcantes da ps ico log ia hum ana. Quanto aos ter-
R. LEPAGE, A. BÉZU. ve rbal e a pesquisa de uma no va " linguagem físi -
mos natureza e na tura l", ainda mais carregados
nun ca estar ce rto de e ntende r totalment e. nem de ca" (ARTAUD).
que os termos imitação ou mimese ", tod as as es té -
2. A encenação (co locaçã o em cen a) é sempre co - maneir a suficiente me nte rápida, e de se r refr ead o Tod as as filoso fias da cri ativ idade enxertam-se
tica s refere m- se a e les s iste matica mente para re i-
locação em imagen s, porém ela é mais ou menos e m seu desej o de ter aces so à co ncl usão final. In- de man eira co ntradi tóri a nesse tema da improvisa-
vindi car uma no va relação co m a realidad e.
" imag inada" e "i maginante": no lugar de um a fi- ve rsamente. é também, muitas vezes, o prazer de ção. A vog a des sa prática explica-se pela recusa
guraçã o mimética o u de uma ab stração simbó li- ul trapassar o imbro gli o graças a um atalho ou a do texto e pel a imit ação passiva, ass im co mo pela
uma antec ipaç ão simp lificado ra que co nstitui o
3. Imita ç ã o c C odific açã o
ca, hoje se en contra, co m freqüência , um a ce na c re nça n um po d er li b erador do co rpo" c d a
feita de um a seq üê ncia de imagen s de g rande be- int eresse da co mé di a de intriga , criatividade espo ntânea. A in fluên c ia dos exe rcí-
A teori a literária é hoj e muito ret icente qu ant o
leza. A ce na fica pró xim a de uma paisagem e de c ios de GROTü \VSKJ, do Li ving Theatre. do traba-
ao em prego da noção de imitação, poi s os es tu-
uma im agem men tal , co mo se se tratasse de ultr a- lho sobre as person agen s pel o Th éâtre du Solei I e
d os dos p rocedime nto s» artístico s c lit erti r ios
passar a imitação de um a cois a ou sua colocação IMITAÇÃO de outras práticas "selvagen s" (isto é, não-ac adê-
revcl arar am o qu e a imitação esc ondi a vergonh o-
em sign o. Depoi s da máquina de interpretar, o
samente: as cO/ll'cnçiks * e as codificações *. A mica s) da ce na co ntri buí ram podero samente para
ce ná rio - const ata A. PIERRON - é d oru vant e ~ (Do latim imit at io , pa lavra correspondente ao forj ar, nos anos 60 e 70 , um m ito d a impro visa ção
cen a nad a mo stra qu e não nece ssite, de parte d o
" máquina de so nha r" : " Já é hora de o ce ná rio se 't..: grego mim ésis v.v
co mo fórm ul a "abre-te, S ésamo" da criação cole-
es pe ctador, da aceitaçã o de co nvençõ es tác itas : a
desint el ectu al izar. A su perfíc ie branca do ccn ã- cena se dá pa ra o m undo , o ato r rep resent a deter - tiva teatral, fónnula j ust am e nle denun ciada por M.
rio abst rat o, e m sua limpidez ou se u henneti smo , I , Uni versalid ade da R ei vindicação min ad a perso nag e m , a ilum inação ilu mi na a rea- BERNARD ( 1976 , 19 77 ) co mo ressur g ência da teo-
prop õe o melhor tratament o de desint oxicação de lidade etc. A imit ação se bas eia portanto num s is- ria expressionista do co rpo c da arte.
uma cenografia po r demai s apoiada na ilustração A reiv indicação da imitaç ão retom a co nstan- tema de co d ificações que produ zem a ilu são: " O

~
e no signo" (PIERRüN, 1980 : 137). temente na hist óri a do teatro , de ARISTÓTELES qu e se cha m a, de m an eira bem leviana, de im ita - Q ::.\ Hodg so n c Richards, 1974 ; B enrnussa, Bemard
ao reali sm o socialista . El a se manteve por ra- ç ão da realidad e no te at ro se mp re fo i, me sm o - e Aslan ill Re vu e d 'Esthétiq ue, 1977 : 1-2;
3. Est a bu sca da dimen são [a ntasmâtica * e des- zões essenci almente ide ol ó g icas: dar ao es pce- quand o não se suspe ita va di sto , pura qu est ão de Barke r, 1977 ; Ryngaert , 19 77 , 19 85 ; Sarrazac ct al.,
material izad a da im agem reno va o esta tuto da re- tad or a ilusão" da real id ad e , a se gura nç a d o 1 19SI ; Monod, 19 83.
i
co nvenção . Se se su prim ir os ce nários ou os di sfar-
pre sent ação e do texto dram ático : a partir do mo- verossimilhante": " A perfei ç ão de um es pet ácu- ce s, se se recitar o texto ou interpretá-lo, não faz
ment o em que é ass im transformad o em ima gem lo consi ste na imit ação tão e xata de uma ação g rande diferen ça. Quando ANTOINE queria faze r
pela cena, o texto se presta, co m efeito , a um a qu e o esp ect ad or, ininterruptamente en ga nado, ' m ais ' real, trat av a -se de inaug urar um es ti lo , e IMPROVIS O
rclcitu ra de acordo co m no vas modalidades. Ape-
e
imagina esta r assist indo à própria ação" (DIDE· mesm o um mod o se m import ân ci a e tran sit ório "
sar de seu de sej o de ro mper a linearid ade ou a ROT, 1962: 142). Esta e st éti c a da imitação cu l- (MANNONI, 19 69 : 166 ). Im itação e ilusão só exis- F I.: imp ro mptu ; I ng l. : im p r omp t u p l av;

lógica do texto, a im agem nem por isso se torna mina com o teatro nat u ralista qu e pretende su bs- tem por o po sição a um e feito de " desilusão" e de ex tempo rc pla y: AI. : S tcg rcifspiel; Es p.:
ileg ível e ima te ria l; el a co ntinua a ser um a cons- tituir a real idade . denegaçã o * do rea l. ma d rig a} [imp romptu ).

204 205
i
tNCIDENTE INllICAÇOES CÊNICA

o improviso é uma peça improvisada (a l'im- Todo texto (quase sempre escrito pelo drama- nação que os autores desejam prever por meio de não vinculada ao texto. O que, todavia, não quer
pro >'Viso), pelo menos que se dá como tal, isto é, turgo, mas às vezes aumentado pelos editores suas indicações cênicas. dizer, ao contrário, que o texto dramático é escri-
que simula a improvisação a propósito de uma como para SHAKESPEARE) não pronunciado pe- Por que esta súbita aparição? O estatuto das to sem levar em consideração uma prática cênica
criação teatral, como o músico improvisa sobre los atores e destinado a esclarecer ao leitor a com- I indicações cênicas no conjunto do texto escrito realizada ou vindoura.
determinado tema. Os atores agem como se ti- preensão ou o modo de apresentação da peça. Por para o teatro dá uma primeira resposta.
vessem que inventar uma história e representar exemplo: nome das personagens, indicações das c. O estatuto das indicações cênicas sempre é,
personagens, como se realmente estivessem im- entradas e saídas, descrição dos lugares, anota-
provisando. Um dos primeiros e mais célebres im-
2. Estatuto Textual das Indicações como se vê, ambíguo e incompleto: a indicação
ções para a interpretação etc. cênica não é um gênero autônomo, uma escritura
provisos é o de MüLlERE, L'Lmpromptu de Cênicas
Versailles (O Improviso de Versalhes ), eserito por homogênea, é um texto de apoio para o texto dos
1. Evolução das Indicações diálogos, o que rerncdia, muitas vezes com difi-
encomenda do rei para responder aos polêmieos a. A partir do momento que a personagem não é
ataques contra La Critique de I' École des Femmes mais um simples papel, que assume traços indi- culdade, o ato pragmático da enunciação do tex-
(A Crítica da Escola de Mulheres, 166:3>-
a. A existência e a importância das indicações to, doravantc ausente (no texto clássico, por excrn-
viduais e se "naturaliza", torna-se importante re-
Este gênero ressurge no século XX com Esta cênicas variam consideravelmente na história do pio). Só se pode estudar as indicações cênicas no
velar seus dados num texto-guia. É o que se pas-
Noite se Representa do Improviso (1930), de teatro, indo da ausência de indicações exterio- interior do texto dramátieo inteiro e fechado, como
sa historicamente nos séculos XVIII e XIX: a
PIRANDELLO e a série dos Impromptus: de Paris res (teatro grego), de sua extrema rareza no tea- um sistema de remissões de convenções, logo, em
busca do indivíduo socialmente marcado (dra-
(GIRAUDOUX, 1937), de l 'Al nia (IONESCO, tro clássico francês à abundância no melodrama relação com a dramaturgia. O dramaturgo é que
ma burguês) e a conscientização da necessidade
1956), du Palais-Roval (COCTEAU, 1962). Gê- e no teatro naturalista, até mesmo à invasão to- as impõe (em função de uma tradição de jogo, de
de uma encenação provocam um aumento das
nero auto-referencial (referente a si mesmo e crian- tal da peça (BECKETT, HANDKE). O texto dra- um código da verossimilhança e do bom-tom);
didascálias ". É como se o texto quisesse anotar
do-se no próprio ato de sua enunciação), o im- mático prescinde de indicações cênicas quando porém, inversamente, elas impõem um certo tipo
sua própria futura encenação. As indicações cê-
proviso põe em cena o autor, o envolve na ação e contém em si mesmo todas as informações ne- de dramaturgia, em relaçâo com a situação e o
nicas dizem então respeito não só às coordena-
aprofunda sua criação. Ele instaura assim um tea- cessárias para que seja posto em situação (auto- desenvolvimento do texto. Deste modo, sempre
das espaço-temporais, como sobretudo à intcrio-
tro dentro do teatro". Atento às condições da cria- apresentação da personagem, como entre os gre- constituem um intermediário entre o texto e a
ridade da personagem e à arnbiência da cena.
ção, a seus acasos, suas dificuldades, revela por gos ou nos mistérios; cenário falado * entre os cena, entre a dramaturgia e o imaginário social de
Estas informações são tão precisas e sutis que
isso mesmo os fatores estéticos mas também elizabetanos; exposição clara dos sentimentos e uma época, seu código das relações humanas e
pedem uma voz narrati va. O teatro se aproxima
socioeconômicos da empreitada teatral. projetos no teatro clássico). das ações possíveis.
então do romance, e é curioso constatar que é no
mesmo momento em que se propõe a ser veros-
L::J:J. Kowzan, 1980. b. O classicismo as reeusa como texto exterior
similhante, objeti vo. "dramático" e naturalista 3. Função para a Encenação
ao texto dramático, impondo-lhes a obrigação de
que ele passa para a descrição psicológica e re-
estar expressamente escritas no texto da peça, prin-
corre ao gênero descritivo e narrativo. A questão é determinar o respectivo estatuto
INCIDENTE cipalmente nos relatos. Segundo D' AUBIGNAC
do texto da peça e das indicações cênicas. Duas
(1657), "todos os pensamentos do poeta, seja para
b. Paradoxalmente, este texto do autor onde ele atitudes podem ser consideradas:
~ FI.: incident; Ingl.: incidem; AI.: Vorfall, as decorações do teatro, seja para os movimentos
de suas personagens, vestimenta e gestos neces- supostamente fala em seu nome é neutralizado
"'t; Episode; Esp.: incidente.
sários à inteligência do assunto, devem ser ex- em seu valor estético, estando ali de maneira pu- li.Consideramos as indicações cênicas parte es-
ramente utilitária: com freqüência, presta-se pou- sencial do conjunto texto + indicações e faze-
Termo de dramaturgia * clássica, hoje pouco pressos pelos versos que ele faz recitar" (1657:
54). Mas certos autores dramáticos, como COR- quíssima atenção à escritura das indicações cêni- mos delas um metatexto que sobredetermina o
usado. O incidente é uma parte constitutiva da in-
triga e, por vezes, um aeontecimento secundário NEILLE, por exemplo, desejam descrevê-las à cas e, sobretudo, é-se por demais tentado a fazer texto dos atores e tem prioridade sobre ele. Mos-
da ação prineipal: "A intriga é uma cadeia da qual margem do texto para não sobrecarregá-lo: "Eu delas "um dos raros tipos de 'escrito literário' onde tramo-nos então "fiéis" ao autor respeitando-as
cada incidente (é) um elo" (MARMONTEL, 1787). seria de opinião que o poeta tomasse grande cui- se esteja quase certo de que o eu do autor - que, na encenação e subordinando a elas a interpre-
O uso atual prefere os termos motivo*,peripécia*, dado para marcar à margem as mesmas ações com no entanto, nunca aparece - não seja um outro" tação da peça: é uma maneira de aceitar como
episódio * ou acontecimento" da ação*' as quais seus versos não merecem ser carregados, (THOMASSEAU, 1984a: 83). Na realidade, o tex- verdadeira a interpretação e a encenação que o
e que lhes subtrairia mesmo algo de sua dignida- to didascálico (ou paratextual *) nos engana, no dramaturgo sugere. As indicações cênicas são
~ Fábula, narrativa, análise da narrativa. de. O comediante supre isto facilmente no teatro, entanto, como todo texto, sobre sua origem e fun- assim assimiladas a indicações de encenação, a
porém, no livro, ficar-se-ia com bastante freqüên- ção. Além do mais, ele não se metamorfoseia uma "pré-notação" da futura encenação, a uma
m Olson, 1968a; Forestier, 1988. cia obrigado a adivinhar" (Discours Sur les Trois necessariamente, longe disso, nos signos da re- pré-enccnaçãa».
Unités, 1657). As indicações cênicas aparecem presentação, como gostariam os defensores da fi-
verdadeiramente no início do século XVIII com delidade ao autor. A nosso ver, seria mesmo um h. Inversamente, porém, quando se contesta o ca-
INDICAÇÕES CÊNICAS autores como HOUDAR DE LA MOTTE (em sua erro querer deduzir a encenação das "virtualidadcs ráter primordial e metatextual das indicações cê-
Inês de Castro, 1723) e MARIVAUX; elas se sis- paratcxtuais do texto dialogado" (THOMASSEAU, nicas, pode-se ou ignorá-las, ou fazer o contrário
-t)- FI.: i ndica üons scéniques;. lngl.: stag e tematizam com DIDEROT, BEAUMARCHAIS e o 1984a: 84). A encenação é "grande o bastante" do que elas propõem. Com isso, a encenação
directions; AI.: Biihnenanweisungen: Esp.: teatro naturalista. Na verdade, a escritura dramá- para conduzir seu discurso do exterior do texto, muitas vezes ganha em invcntividadc, e a nova
indicaciones escénicas. tica não mais se basta: ela necessita de uma cnce- para afirmar-se como prática artística autônoma luz do texto compensa facilmente a "traição" de

206 207
I NDI C A Ç Õ E S ES PAÇ O- T E M PO RA IS I N STAL A Ç Ã

uma ce rta " fide lid adc" - ilu sóri a, aliás - ao au- 1. Segund o P c ir c c Per son agem cuj o em p loi" é o de um a moci- vras ou de m úsicas, pod endo o ouv inte esco-
tor e a um a tradi ção teatral. Por vezes , mesmo, o nha (o u , m ai s rar am ent e , de um mocinho ) câ nd i- lher livrem ent e se u per curso .
enc enado r esco lhe fazer co m que elas sej am di - Na tipologi a de PEIRCE ( 1978), o índiee (o u da e inoce nte, de vi do a sua inexpe riên cia de vida - Instal ação musical : É ric Sa tic, em 1920, co m
las por um a pe rso nage m o u uma 1"0 : off* o u ain - (ex.: Ag nês e m Esco la de Mulheres o u o C ândi- Mu sique d 'Am eu blemcnt , j á propunha instalar
indício) é um signo "e m co nex ão d inâmica (in-
da a fixá -Ias num painel (BRECIIT). Sua função do de VOLTAIRE). um espaço son o ro e m se us própri os m óveis,
clu si ve es pacia l) co m o o bje to indi vidual, por um
não é mais metal ingüístiea ; passa a se r a de um - In stalação fílmi ca : A . \Varh ol film a durante
lad o, e com o sentido o u a m e mó ria da pessoa
materi al com qu e a gente lem o direit o de jogar horas e inint erruptam ent e o Empire Statc Build-
para a qual ele serve de signo , por outro lad o"
segundo sua pr ópria leitura. Muitas vezes a en - ing (1964) ou al guém que dorme (Slecp , 1963):
cenação não se sente mais vinculada ao que ha- (1978: 158). O indício mantém um a relação de INSTALA ÇÃO
o menor moviment o involuntário daqu ele que
via na mente do dramaturgo ao co mpo r sua s in-
dicaçõe s cê nicas . O en cenador passou a ser o
co ntig üidade com a realidade exterior.
A fumaça é um indicio do fogo. Um homem e Fr.: installatio n; Ingl.: in stallatio n ; A I. : lns-
talla tion; Esp .: ins talaci án.
dorme faz entã o o e fe ito de uma de spudo ra da
cana strice !
cornentador do te xto e da s ind icações cê nicas; é co m um balanço no andar indi ca provavelmente
o únic o de positár io da met alingu agem cr ítica da um marinheiro. O dedo ap ont ad o para um objeto é
um ind ice que serve para design ar esse obje to. O A in stal ação é co ntra di tó ria, e m se u princípio , 3. Razões d o F a s cíni o da In stal açã o
obra. O qu e nem se m pre agrada aos autore s - e
em rel ação ao flu xo ininterrupto da represe nta- Sobre a s P e s s o a s de Teat ro
pod e-se com pree ndê-los ! índice situa eleme nto s q ue, sem ele, ficariam sem
ancoragem espacial o u tempor al. Este tipo de sig- ção teatral viva, à co nstante re nov ação dos sig-
o Didasc álias, text o principal e secundário, tex- no é freqüente no tea tro visto qu e a ce na produz nos co nvoc ados e m cena . Mas é preei sam ente por
ca usa deste aparent e es tatismo qu e e la fasci na os
Como e por qu ê o te atro, em march a por nat u -
reza, decid e in stal ar -se ?
~ lo e cena, rubri ca. situações que só têm significaç ão no mom ento da
enunciação e em função de pe rsonage ns presen - ence nadores, po is e les procu ram pro vocar e mo -
• O teatro se mp re so nho u aliar-se às o utras ar -
W Enciclopedia dcl lo Speuaco lo. 1954; Steiner, tes . A ostensã o * é a primeira forma de comunica - dific ar o olhar do esp ectador: qu and o as coisas
tes, sed uzindo-as par a um proj et o co mum e, so-
1968; Ingarden, 1971;Thomasscau, 1984, 1996. ção * teatral (OSOLSOBE, 1981). É este aspecto da estão instaladas, e os instaladores se foram, che-
bretudo, pedindo-lhe s para conservar sua manei-
sem iologia * que a teoria teatral pode rá desenvol- gam então o s visit antes que, com um simples
ra de ser. Certos c nce na do res gabam- se de não
ver, dentro da tradição da mimese ", em vez de re - olhar, pode rão tudo des locar.
em pregar um cen óg ra fo o u um músico de cena,
INDICAÇÕES tom ar mecanicament e a tipo log ia de PEIRCE. mas um artis ta plástico o u um co mposi tor, c u i-
ESPAÇO-TEMPORAIS 1. Est ra tég ia d a Instala ç ão dando para qu e e les não se s ubm eta m à conce p-

e Fr.: in d ica ti ons spati o- te mpore lles ; Ingl. :


sp a tio -tempora l in di cati ons ; A I.: lnfo rmation
2 . F ormas d o Índi c e n o T e atro
A in stal ação co loc a no espaço elementos plás-
ticos, mei os de com unicação de massa, fomes de
ção de conj unto.

• Cansado de tomar deci sõe s so bre a crono lo-


Quando há ut ilização de um texto lingüí stico, gia, o tempo, a hi stó ri a co ntada, el e prefere co lo -
iiber Rauni und Zeit; Esp.: indicaciones espacio- palavra o u de m úsica, itin erários através de um a
o ap arelh o da enun ciação * (pro nomes pesso ais , ca r o visita nte no lug ar dos ator es , colocá -lo numa
temporales. ce nogra fia, ex cl uindo-se, todavia, atores o u " e /fo r-
indicações de tem po e de espaço , s istem a dos ve r- o utra d isposição de e s pí rito : a de alguém que ca-
mers vivo s (s e ria e ntão um a p erfo rmance s i . Os
Pod er-se-i a cha ma r assim, pa ra difer en ciá-Ias bos ) funciona co mo s itua ção co nc reta do texto . m inh a a esm o, d e u m \'oycur qu e passa à ação
Outras form as ind icia is e spec íficas da cena meios de co m unicação de massa - vídeo , c ine-
clarament e das ind icaçõe s cênicas", as menções ape nas por seu s desl oc amentos.
intervêm: a gcs tualidadc, as rel açõe s proxêmicas " ma . projeção d e slides , telas de com putador -
explícitas, no texto dram ático, a um lugar, a um
entre os atore s, a interação do s o lhares . Estes sig- ac ha m-se in se rid os numa cenografi a q ue facilita • Ele bem sab e , ali á s, que as out ras artes têm
tempo - c tamb ém a uma ação, uma atitude ou
nos est ão ligados à pre sell ça c ênica do ator, ao o pe rcu rso"; o e nca m inhamento, a traje tó ria, a um olhar en viesad o pa ra co m ele : fal a-se em "ges-
um jo go de per sona gen s. Estas menções são "ou-
visita livre o u g uiad a do s esp ect ado res , q ue são to arq uitetô nico" , e m teatralidadc da pintura, e m
vidas" pelo leitor-esp ectador e contrib ue m para o ritm o geral da repre se nt ação , à leit ura" mai s o u
mais passant e s qu e ob servador es. Prev endo par a o ra lidade da poesia tra dic io na l, em tea tralidade
es tabeleci mento da ficção; e las não têm necessa- men os direta o u di sta nc iada da fáb ula. O índice é
es ses possant es Ulll pe rcu rso tem po ral no es paço d a música,
riamente q ue ser traduzi das na encenação. mas capital para o e ncade ame nto dos div ersos mom cn -
sua não-co nsideração, até mesmo seu total des- da instalação , le va -se melh or em co nta a tempera - Ele é tent ad o pel a c hegad a da arte co nceitua l a
l O S da ação ; e le asseg ura a con tigü idade e a co nri -
vio, nun ca são inocent es, e o espec tador, se esti- lidado da e xpe riê nc ia es pectator ial: os passantes um ca mpo teatral no rm almente habit ado pela pr e -
nuid ade entre os episódios da ação e, nesta qu ali -
ver atento, não deixará de obse rvá-Ias. In versa- podem det er -se num de ta lhe, abo rdar por di ver- sença de ato res hem co nc re tos e imp ressio na-se
dade, é o garant e da coerência da fábula.
mente, nada o briga o ence nado r a con cretiz ar, na sas via s a in st al ação , e vo lta r atrás, influ ir so bre a co m uma arte mi nim a lista qu e vai ao enco ntro
encen ação, as indicações cênicas, as qu ais não são (. : ~ nature za e s pa ço -te mpo ra l da ob ra abord ada. dos h ábitos mimét ico s da represent ação.
~ . Íeone, símbolo, signo, d êixi s.
ouv idas pelo es pecta do r e possuem um estatut o • Na era das ex pos ições e da mu seogr afia ge ne-
totalmente diferente do texto dram ático" ao qu al m Banh es, 19660 ; Pavis, 19760 ; Eco , 1978. 2. Tipos de In st al ação rali zada da arte, os e nce nador es e ce nóg rafos che-
pertencem as indicações espaç o-temporais. gam mesmo a pen sar qu e podem, por ass im dizer,
- O bric- à-b rcu : d a produção plást ica c cê nic a é di spor das ob ras , " pe nd urá-Ias" e " dc spcnd ur á-
INGÊN UA co nvidado a parti cipar do enco ntro . las" a se u bel -pr a ze r, fazer e de s fazer o dispositi -
ÍNDICE
e
- Instal açã o so no ra: d iver sos alto- fala ntes esp a - vo da ce na e da s ala e, no ent ant o, co ntinuare m a

e Fr.: indc x; Ingl.: index ; A I.: lndcx ; Esp.: indice.


Fr.: ing énuc: Ingl.: ingenu e; A I.: lngcnu e (d i,'
Naivev ; Esp .: ingcnua.
lha dos no es paç o d issem inam restos de pal a- se r os don os do o lhar fug idio do espectado r.

208 20 9
I N T E R C U LT U R A L
I N T ER L Ú DI '

INTER CULT URAL (TEAT RO ...) artistas en cont ram no Oriente um a vita lida de . uma hibridação das di versas culturas . co m, ao co ntrá- Es tas observações apenas esboçam um a pesqui -
precisão e um a volta ao corpo qu e e les bu scam ri o , a vo ntade a pre goada d e a p resenta r um sa inter cult ural ainda em gestação . Elas ob riga m o
~ Fr.: th éâtre intercultu rel; Ingl.: int e rcu ltural para sua própri a estética . patchwork delas dign a de um a one- wo rld -culture, espectador. assim co mo o teórico, a qu est ion ar as
't...:theat re; AI.: interk ulturelles Theat e r; Esp.: tea-
isto é, uma agl utinação de resto s culturais e um ce rtez as do seu olhar. Talvez ele s estejam desprc -
tro in tercultural. • Nos an os sessenta e setenta, a vang ua rda co-
bri c - à-brac sem co mplex os. parados para este relativismo estético e intelectual.
nhece o mesmo fascínio pelo Oriente. por su a per -
fei ção forma l e sua esp iritua lida de (W ILSON , O rótulo também co nv ida a faze r a distin ção pois ainda se acham habituados à su a arte aces sí-
Não se poderia falar em teatro intereu ltura l
co m o teat ro mul ticultura l, cria do e receb ido por vel e sua teo ria u niversal.
co mo um gê nero estabelecido ou uma categoria qu and o e stava co meçando, GROTOWSK I, BAR-
vá ria s co munidades on de a fina lida de não é a N ão e sta mo s numa encruz ilhada. obr iga do s a
claramen te definida, porém, no máximo. corno um BA, SCHECHNER, MNOUCHKINE). pe la Á frica e
hi brid a ção, mas a coexi stência de formas e iden- escolher e ntre formas sagradas , por ém in ace ssí-
esti lo ou uma prática de j ogo teatr al aberta a di- sua "esp ont an eid ade" (BROü K). Diferentcment e
tid ad es. veis. e um si nc retismo democrático, por é m insí-
versas fontes culturais. Trat a-se port ant o de uma dos pion ei ros do início do sécu lo. e sses artis tas
pido? So mo s intimados a decidir-nos e ntre um a
tendência . de um moviment o em formação que re fle te m so bre os me ios de usar co nc reta mente.
no jogo do ato r muit o mais que na tem á tica o u no 3. D ificuldades de um a Te ori zação busca ident itária que deriva rapidam ente rum o a
d iz res pe ito mais à prática da encenação ou das
um int egri sm o ou um pat ch wo rk pós-m od erno
for mas de jogo. no Ocident e ou e m o utros luga- ce nário ex ó tico , as técnicas dessas tradi ções na s
qu ais e les se inspiram : IlROüK faz delas a fonte A inda se está lon ge de um a teori a em boa e onde nada mais teria se ntido nem gosto . Pod e se r
res. do qu e à escritura dramática. cujas influências
do se u teat ro imed iato e bruto ; BARBA vê no te a- devi da form a, tal vez porque o s par âm etros cultu- qu e o teatro intercultural, à imagem d a re volução
étnicas ou culturais é muito mai s d ifíci l retraçar.
tro eu rasiano a "artificialidade minucios a" gra- ra is sejam mu ito nu merosos e po rqu e sua co n- seg undo BÜCHNER, acabe devorand o se us pró-
ças à qual todos estes artistas "dão o rig em ao ator fro ntaç ão ob edeça a todo um j ogo de simulações prios filhos.
I. Dram aturgia lntercultural
e m vida"; MNOUCHKINE se insp ira na forma do e es tratégias ocul tas. É o caso , por exe mplo, do
kabuki para atingir urna gra nde per fe ição formal prefixo inter: ele não encob re um vaivém. uma W Pronko , 1967; Banham, 1988; Pavis, 1990,
No enta nto. mesmo a escritura con temporânea 1992. 1996b; Pradier, 1996.
traz a marca dessa problemática do intercâmbio em sua interpretação das tragédias shakespea- troca, uma mestiçagem, um niv elamento, um diá-
cu ltural. Es tamos pensando em autore s franc ó- rianas. Na mesma época, art istas ja poneses como logo de surdos ou indi feren tes?
fo nos como A. CÉSAIRE (La Tra g édi e du Roi T. SUZUKI ou HIJIKATA e K. OHNO. inspiradores A teoria dos intercâmbios n ão poderia evitar
do Butô, recorrem à dra maturgia oc ide nta l ou à de le var em cont a as relaçõe s econô micas e polí-
INTERESSE
Christophe, 1963), S. SCHWARTZ-BART (Ton
dança ex press io nista . O Japão e a C hina, ali ás. tica s e ntre as partes en vo lvida s: os intercâ mbios
Bea u Cap itaine, 1987), K. YACINE (L' Homm e aux
haviam- se aberto ao Ocidente. resp ect ivam ent e, sã o muitas vezes desiguais ou c heios de segu n-
t) Fr.: ;,:térêt; lngl.: in teres t; AI. : Inte res se ; Esp .:
S andales de Caoutchouc, 1970), E. GLlSSANT tnter es ,
(Mo ns ieur Toussa int, 1962). S. LABOU TANSI de sde 1890 e 191 1. Estes paíse s tam bém co nce- das inten ções: aque le entre Oes te e Leste (a Eu-
(Mo i, Ve tH'e de l' Empi re, 1987 ). D. PAQUET he m a outra c ultura co mo aquilo qu e vai e nriq ue- ro pa import and o o N ô, por exem plo) nada tem
Termo de dra maturgia clás sica: qu ali dade d a
(Co ngo-Oc éan, 1990) e em mu itos ou tros auto- ce r e imp rim ir nov os rumos à sua trajetór ia c ultu - e m co mum co m aq uele e ntre o N ort e e o Sul (a
ob ra teat ra l c apaz de exci tar no es pec tad or p ro-
ral e esté tica . c idade de Lim oges con vid and o, po r exe mp lo, um
res da fra ncofonia que G. GARRAN rece be fre- fun das e mo ções . "tudo o que mexe for te mente
qüen te men te no TILF (Théâ tre Intemational de • No s a nos oite nta e noventa. co m a ace leração auto r africa no para escreve r. na qualidade de re- co m os ho men s" (FONTENELLE. R éfl ex ion sur la
Langue Fran çaise). Um autor co rno B.-1-1. KOLTES e a bana lizaç ão das viagen s e intercâ m b ios c ultu- side nte . um a peça em francê s). Po étiqu es, o qu e é "a verdade ira fon te da e moção
trata se m trégua dos valores, das tempor alidades, rais, o teat ro inte rcultural ent ro u numa er a ao Se ria nece ssário , também, est abe lece r algun s co ntínua" (HOUDAR DE LA MOTTE. Prem ier
das di ferentes maneiras de vive r. encarna ndo as- mesm o tempo eufórica (na mult iplicação dos pro- g ra nd es qu ad ro s e c asos de fig ura da int er- Dis cou rs S Ul' la Tragédie). O interesse. nu ma gran-
sim as ten dências e tensões de sua época . j etos mistos) e cética (por causa do nivel ament o culturalidade, indo da sim ples citaç ão da cultura de tragédi a. obse rva MARlVAUX. "vem menos dos
e da inte rcambialidad e das cultura s o u d as práti- es trange ira à sua as simi lação pu ra e simples. da fato s do que da ma nei ra de tratá-l os. int eresse ain-
2. Ence nação lntercultural : Marcos cas cultura is col ocadas toda s no mes mo plan o : a bs o lu ta es tranheza à p e rfe ita fa mi lia rida de da mais es pa lhad o. ma is distribuído do q ue mar-
H istóricos do canto grego ria no ao rapodo mi nima lis mo con- (CA RLSON. in PAV IS. 1996&). ca do so mente e m alguns luga res" U ourna ux. Ed .
ceitua i à a rte do tag ). A teoria das tran sferênci as cu ltura is limita -se Ga rn ier, 1969 : 226) .
O rótul o . me sm o que facilmente descol á vel , a observar alguns g randes mecani sm os:
Mais ainda que na dram aturgi a, é na prática
cê nica que o intercultural se co nstit ui há cerca de de e/lcellação int ercult ural tem pe lo men o s o - identi ficação dos e lementos formais e tem áticos
um século; em suma, desde os pri mórdios da prá- méri to de enco ntra r um lugar de ntro do s iste ma es trangeiros na ence naçã o ; INTERLÚDIO
tica co nsciente da encenação. da cri ação contem porânea. Ela se opõe. por exem- - o alvo dos ada ptadores: sua es tra tég ia ao tomar
plo, ao teatro de arte. gera lmente un icultural, isto a outra cultura acessível ao públi co ; ~ (Do latim inter/lidere, jogar por intervalos.)
• Na Eu ropa, como que para ren ovar a herança é, concentrado num a tradição nac iona l e na bus- - o trabalho preparatório dos artis tas. engajados 't...: Fr.: interlude; Ingl.: interlude;
AI.: Z IVisclze/l-
do teatro europeu, propiciar-lhe um a transfusão ca de homogeneidade e de estilização, sobre o eixo na transferência, e dos espectado res, que têm spiel ; Esp.: in terludio.
de sa ng ue enquanto ele agoniza no s estertore s da da conservação das form as trad icion ais . Ela tam- d e "adaptar-se" ;
psicol ogi a. os e ncenadores ap el am m uito fre- bém se distingu e do teatro pós-mod erno qu e aco- - a escolha de uma form a para receber os materi- Co mp os ição mu sical tocada entre os ato s de
qü e n te me nte às tr adições de j ogo orie ntais : lhe. se m sombra de dú vida. as ma is di ver sas cultu- a is e tradiç ões es trangeiro s; um espetácu lo para ilustrar ou vari ar o tom d a
MElERHOLD à cena j aponesa, BRECHT ao teatro ras e prát icas artís ticas, mas se m a preoc up ação - a repre sentação teatral da cultura: mim ética por peça e para faci litar as mudanças de ce nário e de
c láss ico chinês. ARTA UD à dança ba linesa. Estes de um con fro nto , de um intercâ mbio o u de u ma imi tação ou co mo rea lização de um a ação ritual. atm osfe ra. Por extensão. tod a ap rese n tação ve r-

2 /0 2 11
I NT ERTE XTUALIDA [
tNTERMEDI ALID AD E

bal ou mími ca que interrompe a ação cêniea (ill - cais . No sécul o XVII, na França, balés enfeita- ração e produção de ste sist ema . Desde o ad ven- c. Pluralidade das int erpretações
termédio ") . vam os entrea tos (exemplo no Burguês Fidal go to da ellcel/ação* que se recusa a ser subj ug ada O trabalh o crítieo sobre o texto ou a cena faz a
ou 110 Doente Imagin ário de MOLIERE). Quando por um texto o nipo te nte e congelado num único escolh a entre a bu sca (problemática) de um cen-
o interm édio ganha em e xten sã o e profundidade, signific ado. a int erpretação não é mai s uma lin- tro de gravid ade (por ta nto , de um a interpr etação
INTERMEDIALIDADE tend e a tornar-se um CUfl O espetácul o autônomo, guagem sec undária - ela é a própri a matéri a do es tática) e a multiplicação de seus trajet os interpre-
como uma peça em um ato ou uma cortina" , espetáculo. tativo s e das possíveis vetorizaçõcs no interior do
Fr.: inrcrmédíalité; Ingl.: intermediality; AI. : espet áculo . Esta última po ssibilidade pare ce go-
tntermedialit õt; Esp.: intcrmedialidad. / No francês antigo, entremes, hoje entremets, 3. Interpretação do Leitor ou do zar atualmente das boa s gra ças do s que fazem tea -
_ ~ A palavra nomeava um prato servido entre dois tro, muitas vezes adeptos do pluralism o e fazen-
prato s principai s e, hoje, desi gna o doce servido Espectador
Formado com base no modelo da int er/ex- do eco a R. IlARTHES: "Interpretar um texto não
tualidade, o term o interm edialidade designa as como sobremesa. (N . de T .) é dar-lhe um sentido (ma is ou meno s fundamen-
a. Abordagem hermen êutica
trocas entr e os meio s de co municação, principal- tado , mais ou menos livre), é, ao contrário, apre-
mente no que diz respeito a sua s propriedades es- "Int erpretar um text o [...] não é procurar uma ciar de que plural ele é feit o" (1970: 11).
pecífi cas e a seu impacto sobre a representação INTERPRETAÇÃO inten ção oculta p or trás dele , é acompanhar o

e
teatr al. Portanto, examinar- se-á sistematicamen- movimcnto do se ntido rum o à referên cia, isto é, (í.j . Encenação, texto dram ático, texto e cena, vi-
te como um mei o de comunicaç ão influenci a ou- Fr.: inserpr étot ion; lngl. : inte rpreuuion; AI. : rumo à esp écie d e mundo, ou melh or, de estar- ~ sual e textual.
tro: um tipo de iluminação cinemato gráfic a será, Inte rpretation; Esp. : intcrp retac ion. no-mundo, aberta diante do texto. Interpretar é
por exemplo, usad o no palc o; ou então o procedi- tomar manifesta s as nova s media ções qu e o di s- Ricocur, 1965; Banhes, 1966b; Jauss, 1977;
mento fílmico da fusão, da câmara lenta ou do Abordagem crítiea pel o leit or ou pelo espect a- curso" inst aura entre o homem e o mundo" (RI- W Pavis , 198Oc. 1983a .
quadro-a-quadro será retomado pela mímica cor- dor do texto e da cena, a interpretação se preo cu- COEUR, 1972: 1014).
poral de DECROUX; ou então, ainda, a montagem pa em determinar o sentido" e a significação. Ela Não pod eríamo s privar-nos - como pôde fa-
narrativa de curt as sequê ncias de planos fílmicos con cern e tanto ao proce sso da produção do esp e- ze r crer um a certa semiologia da comunicação* INTERTEXTU ALID A DE
passará a ser um a técni ca de escritur a dramátic a tácul o pelos "autores" quanto ao de sua recep ção
aplicada mecanicamente à literatura e às artes -
etc. Gra ças às revoluções tecnológicas, o homem pel o públ ico. :), Fr.: intertextualit é; Ingl.: int ertx~"aliy; AI.:
da noção de hermenêutica" e de interpretaç ão. A
tom ou-s e, escrevia FREUD em Mal -Estar lia Ci- 't..: lnt encxtuaiiuu; Es p.: int er textualidad.
interpretaç ão or ganiza a diversidad e das possíveis
vilização ( 1929), um "de us profético" ; da mesma 1. Interpretação da Encenação leituras de uma mesma obra : ela co nvida a ava -
maneira o co rpo e o es pírito do ator e do es pecta - A teori a da intertextu alidade (KRISTEVA,
liar o trabalho produtivo e recept ivo do esp ecta-
dor foram mod elad os por novos meios de comu- o tex to dram átic o não é representável "direta- dor, sua rela ção hermenêutica com o espetácul o:
1969; BARTHES, I 973a) postula que um texto só
nicação: é o co nj unto dessas interações que a ment e" se m um trab alho dramat úrgico" prévi o, é compreen sível pel o j og o dos texto s qu e o pre-
"A rel açã o do esp c ct ador co m o espetá cul o é,
intermedi alid ade propõe- se a estudar. destinado a escolh er o aspe cto significativo da cede m e que, por transformaç ão, influen ciam-n o
co nstitutiva me nte . turv a, incerta, equívoca : é a ele
obra que a cen a dev e val orizar. A leitura escolh i- e trab alham-no.
que cabe. não per seguir o se ntido, ma s assi stir a Da mesma maneira, o texto dram ático " e es -
Q Norman, 1993. 1996; Pavis, 1996a; Les Cahiers da , a concreti zação da obra dependem tanto d a
época e das circuns tâ nc ias da encenaç ão" quan - seu nascim ent o, produ zi-lo num a ligação de co -
de la IHédiolo gie, 1996. petacular" situa- se no interior de uma série de
to tio públi co ao qual se diri ge a repr esent ação. muni caçã o co m o espetáculo de maneira tão a le a- dramatur gias e procedimento s cêni cos. Ce rto s
tória que el a sem dúvida não merec e mai s esse encenadores não hesitam em inserir no tecido da
nome, mas, plen amente, o nome de interpret açã o"
INTERMÉDIO 2. Interpretação do Ator obra represent ada textos estranhos cujo único vín-
(CORVIN, 1978: 15). culo co m a peça é temático, paródico ou e xpli-
Fr.: intennede ; lngl.: intermezzo; AI.: Inter- A interpret ação d o ator varia de um jo go cativo (VITEZ, PLANCHON, MESGUICH). Ope-
mezz,o , Z~ vischenspicl; Esp .: intrcm és. regr ado e previ sto pelo aut or e pelo encenador a b. A semiótica e a semã ntica ra-se assim um diálogo da obra citada e do text o
uma tran sposição pessoal da obra, uma recr iação A distin ção de BENVENISTE ( 1974: 4 3·67 ) de origem (VITEZcita ARAGON em Alldromaque) .
Número (ac robá tico , dr amático, musical etc.) total pelo ator, a partir dos mat eri ais à sua disp o- entre a dim en são se miótica - o siste ma fechado Esta técni ca deve se r distinta d a simples contex -
apresent ado durante os entreatos da peça , consis- siçã o. No prim eiro caso, a int erpretação tende a de diferenças entre os signos e a dimensão se- tualiração social ou política da inúmeras ence-
tindo num co ro, bal é ou saineter . Na Idade Mé- apagar-se a si mesma para faz er com que apare- mântica - qu e ab re o sistema para o mundo e o nações: a busca de um intertexto transfonna o tex -
dia, os mistérios eram ent recort ados por cenas ou çam as intenções de um autor ou de um realiz a- di scur so, a situaç ão e o intérprete - permite di s- to original tanto no plano dos signifi cados quant o
canto s onde o Diabo e Deus comentavam as ações dor ; o ator não assume seu papel de utili zador e tinguir entre o se nt ido * da reprcsent ação e sua tios significantes ; ela faz explodir a [ábula" li-
anteriore s. Na Itália, no Rena sciment o, os inter- de transformador da mensagem a ser transmitid a: significa ção", Se o sentido descreve o func ion a- near e a ilusão teatral , confronta dois ritmos e duas
mcd ii eram co ns titu ídos por ce nas de assunto ele não passa de uma mari onete. No segundo easo, mento iman ent e da obra (sua estrutura), a inter- escrituras, muit as veze s op ost as, põe o texto ori-
mitológico, entre os atos da peça prineipal. Na ao co ntrário, a interpretação toma-se o local ond e preta ção engloba a repre senta ção nos siste ma s ginal à distân cia insistindo na materi alidade.
França, a pala vra é entrcme ts , na Espanha entre- se fabrica inteiramente a significaçã o, onde os exteriores de uma época, de uma história e de um a Também há inte rte xtualid ade quando o ence-
més. Certa s refe içõe s prin cipescas apresentavam signos " são produzidos não como conseqüênc ia nad or mont a ao mesm o tempo , no mesm o cc n á-
abordagem subjctiva do espectador.
cntreme sc s ou interl údios" dramáticos ou musi- de um sistema preexi stente, mas como cstrutu-

21 2 213
I NT ER V A L O t R () NI ~

rio e muit as ve zes co m o s mesm os atore s, dois ta a cau salid ad e dos acontecimentos, ao pas so qu e Q uad ro das o posiç ões corre ntes dos termos
tex tos qu e têm , necessari am ent e , resson ân cia, a story (a história) co nside ra esses aco nteci me n-
Ass im VITEZ, para sua tet ralogia mol icre sca, A. tos de acord o com sua seqüê ncia tem po ral. Teo ria do discurso Concepção Crit ica Formali stas russos G . Gcncuc (I <)6(,)
DELBÉE par a seus três "R acin c", Le Th éâtrc de A intri ga. po r o posição à ação, é a seqüênc ia literário aristoté lica c ang lo-saxó nica (T o rnasc h évski,
l' Aqu arium co m L 'Int rus c de MAETERLINCKe detalh ad a dos s altos qualitativos daf âb ula*, o e n- anti-aristotélica 1965)
L éonie es t en Amnce , de FEYDEAU, O. PY com trelaçam ent o e a sé rie de conflitos" e obst áculo s" (brcc htiana)
La Servan te. A intertextualid ad e o brig a a pro- e de recurs os usado s pelas personagens para supe rá- Hist ória contada ou Fábula (se ntido 11» Hist ória (contada)
A SI(I,.., · Fábula
cura r um vínc u lo entre os doi s te xt os, a faze r los. Ela descre ve o aspec to exterior, vis íve l da pro- ação (sentido 2)
aproxi mações tem átic as, a am pliar o hori zo nte gressão dr am ática e não os movimentos de fundo
de leitura , da ação interi or. "A intriga é o assunt o da peça, o B D iscurso ca ntante Fábula P/OI A ssunto Narração (aprescn-
j ogo das circuns tâ ncias. o nó dos aconte ci ment os. ou intriga (sentido Ic e Id) ração discur si va da
~ . Ci tação , jogo e contra-jogo. discur so. A ação é a d in âm ica profunda. des se assu n to hist ória, ato de
(SIMON, 1970 , artigo "Intriga" ). Assin alemos que co nt ar)
[;f;;). Bakhtin ,. 1970; Texte, n. 2. 1983 (bibliogra- RICOEUR ( 1983) tradu z o myth os aristotélico por
fia); Pa vis, 1983a ; Ruprecht, 1983; Lehmann "intriga" ou " dispo sição dos fatos em sistem a", a
in Th o rnsen , 1985. uma ação * coleti va a u ma aç ão privad a, um jogo tem de espec ific amente dramát ico (pra gmâtico *)
poética passand o a ser a arte de co mpo r intri gas
(ver qu ad ro na págin a seguinte). no bre a um j ogo cômico ou gro tesco (S IlA KES- mas presta-se hem à ce na. visto qu e a s itu ação
PEARE, MOLl ERE), um p lano par od iad o a um deve mo st rar aque les que estão em erro ou co n-
INTER VALO 3. Modelo actancial" ; ação e intriga co nstitu em plan o pa rodiante, um a históri a de pa trões a um a tradi zer , po r um gesto. uma entonação o u um a
três ní vei s diferent es de abstração qu e mostram a históri a de servos (MARIVAUX). É freq üent e, mas mími ca, o qu e o tex to diz aparentemente, SÓ-
tran sição entre si ste ma de personage ns e de aç ão não o briga tó rio , qu e as dua s intrigas acab em con - CRATES "faz teatro" quando usa de sua diabó lica
Ver Entrea to ,
e reali zaçã o co nc reta da peça na int riga. vergindo par a uma ún ica c me s ma corrente . iron ia pa ra co nseg uir de seus inte rloc utores q ue
re vel em o qu e não conseguem for mular. O eiron
4. A com édia de int riga" é uma peça com múlti- ~ . lsot o pia , análise da narrati va. é aq ue le qu e , fi ngin do ignorâ nc ia e ain da qu e fra-
INTRIGA
plos sa ltos qu alit at ivo s cujo côm ico co ns iste na
repetição e na vari edade dos esforços e dos go lpes m Sc hc rcr, 1950 ; Klotz, 1960; Pfister, 1977 .
co , c hega a se us fins, muit as vezes às c us tas do
bufão " gr otesco (alazoll).
-t) (Do latim intrica re, emaranhar. term o que deu
em italiano intrigo.; de teatro", Ce rtas peças de MOLIERE (As Malan -
Fr. : int rigue ; In gl. : p lo t, st ory, intrigue; AI.: dragens de Scapino), SHAKESPEARE (A Coméd ia 2. Ironi a Dram á t ic a
Handlung, l ntri ge; Esp.: intriga . dos Erros ) o u BEAUMARCHAIS (As Bod a s de IRONIA
Figaro ) são co mé dias de intrig a. Mu ita s vezes a iro nia dramática está lig ada à
~ (Do grego euronia, d issirnula ção.)
Na língu a clássica, encontra-se também a for- situação dra m ática , E la é sent ida pe lo e s pe c ta-
6J
~ " Ana' I'rse d a na rrativa, dramaturgia. 't..: FI. : ironic ; lngl.: ironv: AI.: lronic ; Esp.: ironia .
m a verbal (" A arte de intrigar co nsis te e m ligar dor qu ando el e per ceb e e lementos da in tri g a q ue
os acon tec ime ntos , de maneira qu e o esp ectador
se nsato perceb a aí sempre uma razão que o sat is- m Gou hier, 1958 ; Rei che rt, 1966; 0 150n . 196 8a. Um e nu nc iado é irô nico desde q ue, além de fica m oc ultos à per son agem e im pedem-na de
agi r co m co nhe c ime nto dc causa. A ironi a d ra-
seu sen tido evide nte e pri mei ro, re vel e um se m i-
faça" DIDEROT, De la Po ésie D ram at iqu e , 1758 ). máti c a sem pre fica, e m graus var iados , se ns íve l
do profundo , até mesm o o pos to (a ntíf rase) . Cer-
tos sinais (entonação, si tuação, co nhec ime uto da ao es pec ta do r na me did a que os cgo s d as pe rso-
I. A in triga é o conj unto das açües* (incide ntesvy INTRIGA SECUNDÁRIA nagen s, que pare cem autôn omas e li vre s . são,
realidade pintad a) ind icam, m ais ou m eno s dir e-
qu e formam o ná* da peça (do rom ance ou do tamente, qu e é preciso ult rapassar o sen tido evi- na verda de , s ub met ida s ao ego cent ra l do d ra-
filme). " Na ação de um poem a, ente nde-se por -t) Fr.: in trigue seconda ire; Ingl.: subplot, byp lay;
matu rgo . Neste se nt ido , a iro nia é uma s ituação
AI.: Ncbenhand lung ; Esp.: intriga secundaria. dente pa ra s ubs titu i- lo por seu co nt rário. É um
intr iga um a co mbi nação de ci rcunstâ nc ias e inc i- pr azer des vend ar a iro nia, vist o qu e nos mostr a- d ram ática po r e xce lênc ia, já q ue o e spect ador
dent es, inter es ses e ca rac teres dond e resultam , na mos c apazes de extrapolar e qu e so mo s superio- se mpre te m u m a posição de superio rid ade e m
A intriga sec undá ria (ou cont ra-int riga) com-
ex pectativa do aco ntecimento, a incert eza, a cu rio- res ao se nso comum. re lação ao q ue é mostrad o em ce na . A incl usão
pleta a intri ga centra l e se articula paral elamente
sida de, a impaciência, a inquietaç ão et c. [...] A da com unica ção " intern a (ent re as per sonagen s )
com esta comentando-a, repetindo-a, varia ndo-a
intri ga de u m poema deve portanto se r uma ca - I . Ironi a das Person agens na comuni cação ex te rna (entre pal co e p la té ia)
ou distanci and o-a. Ge ralmente ela co m pree nde
deia da q ua l cada incidente seja um elo " (MAR- person agen s e m número e imp o rtân ci a dram a- auto riza to do s os co mentá rios irô nico s sobre as
MONTEL, 17 87). Ação e intriga são empregados túrgica m en o res. Seu vínculo com a ação ce ntra l situaç ões e os protagonistas. A pe sar d a quarta
As pe rso nagens, enq ua nto usu árias da lingu a-
pel a crítica de man eira anárquica . Prop om o-n os é às vezes mu ito fro uxo, até não ter mais qu e um a parede " q ue se s upõe proteger a ficção do mu n-
ge m . e stão em co ndições de entregar-se a um a
disting ui- Ias claramente. lon gínqu a rel ação com ela e co nstituir um af âbu- do e xte rio r, o d ra m aturgo mui ta s ve zes é tent a-
iro nia verbal ; zo mbam en tão u mas das o ut ras,
10 * autôno ma . E ste procedi mento, usado so bre- ap reg oam sua supe rioridade e m re lação a u m pa r- do a d irigi r-se d iretamen te ao públi co cúmp lice ,
2. A intri ga es tá mais pert o do term o ing lês p lot tud o no tea tro eli zab etan o, é bastante freq üen te ceiro o u a uma situação (cx .: " Brutus is an ho no- ape lando a se u conheci me nto do código id eol ó -
que do te rmo SIOI)·. Como o plo t, a int riga salicn- na dram aturgi a c lássica; muit as vezes ele o põe rabl c ma n" , Júl io César ). Este tipo de iro nia nada gico c a sua ati vida de her men êuti ca * para fazê-

214 215
I S OT OPI A
lS O T OPI A

lo apree nde r o ve rdadei ro sentido da situaç ão . contra el e trazendo-lhe a ama rg a ex periência do


A iro nia desem penha o papel de distan ciam ento "
2. Isotopia da Ação numa ação seguida se lêem segund o muitos o utros
se ntido qu e ele se o bsti nava e m não co nhec er" tip os de isotop ia, mais ligad os aos signifi cant es da
qu e que bra a ilu são teatral e con vida o púb lico a ( VERNANT, 1972 : 35 ).
Não ex iste urn a úni ca isot opia fundament al na re presen tação .
não to mar ao pé da letra aquil o que a peça co nta. Esta descoberta da ironia no próprio cerne do
A ironia indica qu e os cnunci adores da peça (ator.
represent ação teat ral. Par a definir iso to pia, deve -
co nflito trágico é rel ativam ent e rec e nte na históri a se co nside rar a rea lizaçã o cê nica, procu rar os tra- 3. Isotopia da Representaçã o
dram aturgo, autor ) pod eri am , no fim de contas. da crítica literária: ela data da é po ca rom ãnti ca
estar apenas co ntando históri as. Ela convida o es- ços recorrentes qu e unifi cam o espetáculo e forn e-
qu and o a ironi a apar ec e co mo um princípio da obra
pectador a perceber o ins álito " de uma situação, a ce m um cam inho de inte rpretação ao espectado r. A isoto pia é m ui tas ve zes materi ali zad a por
de arte, da consciência do auto r dent ro da obra e um tip o de ilu m inação , um refrão mu sical ou ver-
não acred itar em nad a se m sub metê-lo à crítica. Pensa-se imedi atam ent e no papel integ rador d a
d o irredutível contras te entre a subj ctividadc do bal, urn a met áfora desenvol vida paulatinam ent e.
Tudo o que é mostr ado na ficção teatral é como fáb ula" e da ação * que reag ru parn e retr ab alh arn
ind iví d uo e a obj eti vid ad e do destino implac ávot um a se qüê ncia de im agen s no mesm o registro, em
que precedid o da mençã o "Cuidado ! Per igo !" , num esquema narr at ivo o conj unto dos sistemas
e cego, da "clara co nsci ên cia da agita ção etern a, su ma, por tud o aq uilo o qu e é a marca de urna
co mo que potencia lmente submetido a um juízo cê nicos. Para tod a um a estétic a dram ática que re-
do tot al caos infin ito" , co rno d izem W. A. e F. certa co erência. A recep ção e a vct orizaç ão do
irônic o: a ironia está mai s ou menos inscrita e legí- monta a ARlSTÓT ELES, é a aç ão, na verdade, qu e
SC HLEGEL ( 1814) , teóri cos da iron ia rom ãnti ca es pe tá culo dep en dem de nossa faculdad e de re-
vel no texto, ela só é reconh ecid a enqu anto tal pel a serve de ca na lizado r para o co njunto da repr esen-
co m SOLGER ( 1829) . co nhe ce r e de es ta be lece r os ví nc u los ent re as in-
intervenção externa do espectad or e continua sem- tação: " A ação , tomada como a essência da arte
formações dad as por tod os os materi ais da re pre-
pre ambígua (dellegaçüo *). dram ática, unifi ca a pala vra, o ator, o figurin o, o
L:J::! Sharpe, 1959; Behler, 197? ; Statcs, 1971; Booth,
ce nário e a mú sica no se ntido em que poderí am os
se ntação. Es ta noção no s c o nd uz port ant o àquela
A es trut ura dramáti ca é às veze s co nstruída 1974; Lillglllsll q ll e er S émio logie n. 2, 1976; de es tratégia textual (o u estr atégia da leitura) ou de
conforme a op osição entre intri ga prin ci pal e in - Po étique n. 36, 1978; n. 46. 1982; Rozik, 1992. identificá-los como os d iferen tes co ndutores de
di scurso da ence naç ão .
trig a secu ndá ria bufona (di stensão cômica*), um a única corrente que passa sej a de um a outro,
urna relati vi zando a outra. Nos autores ma is mo- sej a através de vários ao mesm o temp o" (HONZL,
GJ Redund ância. recepção, discurso, hermenêu-
dern os , co mo TCHÉKHOV, por exemplo, a iro- ISOTOPIA 1971: 19). A imagem da corrent e multi forme (ou ~ . tica, texto dram ático, scrniologia, texto espe-
ni a o rganiza a estrutura dos diálogos: e la se ba - do fio vermelho) é, na verdade, urna con cretização tacular.
se ia na co ntínua produção de ambigüid ades, na -t}- Fr.: isotopie; Ingl. : isotop y; AI. : [satopie; Esp.: possível da isotopia. Mas os espetáculos contem-
dcsrnot i vação d as personagens e na estr atégi a de isotopia , porâne os que se basei am m ais na narratividade e W Arri v é, 1973.
leitur a q ue torn a possível um a interp ret ação e
seu contr ário, recu sand o um a o pção ex plíci ta por 1. Isotopia Sem ântica
um a o u o utra.
Conce ito introdu zid o po r A. GR EIMAS em se-
3. Ironia Trágica mânti ca , a isotopi a é " um conj unto redunda nte
de cate go rias se mâ nticas q ue torna poss íve l a lei-
A iron ia trágica * (o u ironi a do dest ino ) é um tura uniforme da narrati va. tal co mo el a result a
caso de ironia dram át ica o nde o herói se equi vo- da s leituras parciais dos enunci ad os e da resol u-
ca totalment e sobre sua situa çã o e corr e para sua ção de sua amb igü idade qu e é g uiada pel a busca
perda, enq ua nto ac red ita pod er sa far-se . a exem- da leitura ún ica" ( 1970 : 188 ). A isot opi a é - se é
plo ma is célebre é o de Édipo que "co nd uz a in- preciso falar claro - o fio co nd uto r a g uia r o lei-
vestigaç ão" para ac abar descobri ndo que ele mes- tor o u o especta do r e m sua busca de sen tido e qu e
mo é o culpado . A iro nia trág iea muitas vezes beira o aj uda a reagrupar di ve rsos siste m as sig nificantes
o hu mor negro: assim Wallenstein (herói da peça de acordo co m urna deter mi nada perspe ctiva .
de SCHILLER) decl ar a, im an tes antes de sua mor- E sta d efini çã o , justa m e nt e c r it ica da por
te, ter a int enção de " fazer um lon go repouso" ; CORVIN ( 1985: 234), tem pel o m en os por inte-
a teio fala do " ho nes to lago" etc. Além da perso- ress e dar cont a da coe rência" de um text o ou de
nagem , é o públi co inteiro que toma co nsciência um espetácul o, apesa r d a d iver sidade do s mate-
da amb igü idade da linguagem e dos valores mo- riais e das pistas de leitu ra ", e m particular mos-
rais e políti cos. a herói comete uma falta por ex- trando graças a qu e pro cedimen tos de conexões
ces so de co nfiança (a hybris* dos grego s) e por de isotopias o leitor pa ss a de um a o utro nível do
seqü ência de um erro sobre o emprego das pala- texto. Pode-se ampli á-lo do pl an o do conteúdo
vras e de uma ambigüidade semânti ca do discur- ao plano da expressão (RAS T IER, J 972 ) e, para a
so: " A ironia trágica poderá consi stir em mostrar representação teatral, ob servar as regul aridades,
co mo, no decorr er do drama, o he rói é literalmente as retomadas. os j ogos si gnif i cantes de todos os
" pego pela palavra" , urna pal avr a que se volta s iste mas significantes.

2 16
2 17
J
JEU te necessário tradu zi-Ia por alI/ação ou int erpreta-

e
ção. (N . de T )
(E m francês , sem cor resp on dente em portu-
g uês.) I. Jo gos de P ala vras
Fr. : jeu; Ingl.: medi eval play; AI.: mittel a ttc rlic hes
Th ca ter ; Esp .: obra medie val.
a. O j ogo e seus deriva dos
F orma d ram át ica medi e val (séc u lo s XII e A língu a fra ncesa (ne m a portugu esa) não pos-
X II I). O te rm o corres ponde ao lat im lu du s - que sui expre ssões par alel as para jeu e th é âtre (o u
des ign a represent ações litúr g icas - e a o rdo, tex- pi ece ) como o ing lês (to pia); a pia)' ) o u o a le -
to sagrado " orde nado em tirad as" . O j eu dram a- mão tsp ielen, Sc ha uspieh. Uma dim en são impor-
tiza e p isód io s da Bíbli a, mas se es tende, a parti r tant e da re present aç ão, o aspecto lúdico , ac ha-s e
do sé cu lo X III, a temas pro fanos (e x. : Le l eu de assi m ex c lu ída do im agin ári o da lín gu a . Em
la Fcuillcc d e AD A1\1 DE LA HA LLE ), ag ru pando co ntr a pa rtida, o ingl ês j oga lind am en te co m as
forma s basta nte diversas: f ée rie , par á bol a, rcvi s- pala vras e noç õe s (" A play is pl a v", RRüü K,
ta sa tírica , pastoreia ( O M enino e o Cego ). 1% 8: 157 ; " Th e plays lh e thin g ", Hamle t; lI , 2),
ao passo qu e o a le mão co nce be os atores co mo
~ . Farsa, mor alidade, sotie, mistér io. 'J o gad o res do es petác ulo" tS cha u-spielers .
Só e xpres sões co mo j ogo do ator, por exc m-
pio. dão idéi a da atividade lúdi ca . O recentíssim o
J OGO termo j ogo d ram ático" reen contra, d e m an ei ra

e F r.: j eu; lngl.: plav, perfo rma nc e ; A I.: Spie l;


E sp.: actuaci án.
s into mática, a tra di ção es pontânea e impro visa-
da do j ogo .

b. Jogo e enunc iaç ão


I Em francês, a pala vrajen tem inú meras accp-
O j ogo de teat ro (es te era antigamente o nome
-!u ç õcs. Em teatro, ela pode ser ap licada à arte do
ator (o que se traduz em português por all/aç âo, in- para j og o d e ce na" ; aq uilo que o ator faz e m
tcrpretaçàos , à própri a atividade teatral, a certas prá- cena, fo ra do s e u di scurso) é a parte vi sív el c
ticas ed uca c ionais coletiv as (jogo d ra mático ) e até propri a mente cê n ic a d a re presentação. E le o b ri-
mesm o como denom inaç ão de um tipo de peça me- ga o e spe c tad o r a receb er o co nj unto d o ac onie-
die val. Na tradução, na maior parte do te mpo ma mi- c ime nto na fo rç a da s ua enunc iaç ão . Mesmo a
vemos a palavra j ogo, excet o q uando fo i estrita men- leitura do tex to d ram átic o ex ige visual iza r o j ogo

2 19

j
JO G O
JO G '

dos ato res, co mo lembra MOLIERE aos ca ndida - Do jo go do ator, do ritmo" qu e e le imprim e ao o teatro com partilha com certos tipos de jogos. A • tttin» (vertige m)
tos a leit or : "A s co méd ia sã o feita s exclu siva- texto, ao gestual e a tod a a rep rese ntação depend e tipologia de R. CAtLLülS (195 8) parece co bri r o O teatro não joga fis ica me nte co m os corpos dos
ment e para se rem int erpretadas e só aco nsel ho a interpr etação do texto . Se o jogo é lento. todo que entendemos intuiti vam ente, pelo menos den - es pec tadores, manipulad os até sentirem vertigem ,
lê-Ias às pcssoa s qu e têm o lhos para descob rir. um discur so sobre o inconsci ente e a historicidad e tro de nossa perspecti va oci de ntal, por jogo. mas simu la perfeit am ent e as situações psicológi-
na leitura, todo o j ogo do teatro" ("Ao leitor". O d o texto pode desen volv er-se à margem do texto
Am or Médi co ). cas ma is vertigi nosas . A identificaç ão " e a ea -
o uvido, co mo um co me ntário ou um "s uhtexto" • Mimicrv (simulacro)
ta rse " são, nisso, se me lha ntes a uma esco rrega-
Para capt ar o j ogo do ator. é preciso. na verda- Desde ARISTÓTELES, o teatro passa por imit ar a
(STANISLÁVSKI) que desdo bra e co ntradiz o tex- del a nas zon as inde finidas da fant asia ou. com o
de. co mo leitor, ma s também co mo espectador, ação dos hom en s. Isto co nti nua fundamentalmen -
to a ser interpr etad o. Se o jo go é rápido (à maneira d iria ROBBE-GRILLET, a "escorreg ões progre s-
relacionar a enunciaç ão global (o gestual, a mí- te ve rdade iro, se se co nce ber a mimese" co mo
co mo se atuava out rora). o co me ntá rio é menos sivos do prazer" .
mica . a entonação, as qual idade s da voz. o ritmo um a rep rodu ção nã o-fot ográfica do real e. sim,
audível ou não pretend e im po r-se cxp ressis rubis Se a prin cipal regra do teatro é , com o os dra -
do discurso) co m o text o proferido ou a situação co mo uma t ran sp o s iç ã o (a bs tração e recon s-
ao espectador: "A tradição do j ogo rápid o só joga maturgos não se ca nsa ra m de repetir, agradar, a
armada. O jogo se decom põe ent ão numa seqüên- ritu i ção ) de aco ntec ime ntos hum anos. O ator se m-
o qu e est á escrito. O incon scient e passa" (VITEZ, regra do jógo d ramá tico é adaptar sua visão es-
cia de signos e unidade s que garantem a coerência pre recorre a um a p ersona, a uma máscara, I11CS-
Lllllgu e Française , n. 56. p. 32) . pect adora a certos pr incípios fund am ent ais do
e a interpretação do texto.
mo qu and o a apo nta co m o ded o. j ogo . Do ludu s, j ogo con ve nc ion al, à paid a , jogo
Durant e mu ito tempo, a questão do jogo foi
2. Jogo e Teatr o • Agoll (co mpetição) es po ntâneo e a nárqu ico, é im en sa a palet a d e
co locada em term os de s ince ridade/hipocris ia do
e moções e co mbi na tó rias
ator: deve e le acreditar no qu e di z. co move r-se A comp etiç ão - ri validade. co nflito cô mico ou
co m isso ou deve afa star-se e ser apenas o porta-
a. R egras e con venções
trágico - é uma d as mol as essenc iais do gênero
dor distante do seu papel? As respostas variam O teatro tem urna pane ligad a ao jogo em seus dramático. A relaç ão palco/pl atéia produz igual-
3. Uma Teoria Semi ótica do Jogo?
de acordo eom a concepção do efeito a ser produ- princípios e regra s, se não e m suas formas. mente, sem que haja aí met áfora abusiva, o efei-
zido no público e do efeito social do teatro. A HUIZINGA dá a seguinte defini ção global de jogo: to de uma rivalidade: par a o palco trata-se, na Para sair do sol o metafísico onde essas consi-
so lução de OIDEROT (ser um ator insen sível) não "Sob o ângulo da forma pod e- se [...] definir jogo dramaturgia clássica, de arranca r em bloco a ade- derações sobre a universalidade do jogo ficam pre-
é senão um a formulação para umjogo que conti- como uma ação livre , sent ida como fictícia e si- são da platéia, de co nseguir qu e o olhar público sas, para não repetir os discursos humanistas so-
nua consc iente de si mesmo e onde o ator não tuada fora da vida comum. ca paz , não obstante, faça do palco um universo autônomo. Quanto ao bre a natur eza l údica do homem, não sub stituir o
ten ta fazer cre r e m sua possessão e numa transmu- de absorver totalment e o j ogad or ; um a ação de s- teatro épico bre cht ian o, e le ambiciona levar a co n- psicólogo que sa lienta, muito justamente, a impor-
tação no corpo da personag em: "A ex trema sensi- pida de qualquer inte resse mater ial e de qualquer tradi ção do palc o à platéia, de modo a qu e o pú- tânc ia do jogo no amad urec imento psicológico e
bilidade é que faz os ato res medíocres: a sens ibili- uti lidade; que se reali za num tem po e num espa - bli co fiqu e dividido sobre as so luções narrati vas soc ial da criança, melh or se ria propor um a teoria
dade é que faz a mult idão de maus atores; e a falta ço ex press amente circunsc ri tos, desenrola-se or- e polít ica s. Mesm o qu e es te desejo de divi sã o se mio lógic a do jogo co ns iderado co mo modeli-
abso luta de sensibilidade é qu e prepara os atores den ad am ente de aco rdo co m d ete rmin ad as regras rad ica l ass uma um po uco o as pecto de uma ingê- zação* e co locação em signo " da realidade. O ator,
sublimes" (Paradoxo Sobre o Comediante). e pro vo ca. na vida. relaçõe s d e g ru pos qu e se ce r- nua fant asia de ativ is mo político. é inegável qu e guiado pelo ence nado r e por sua leitura do texto a
Atualmente, não é mais em termos de sensibi- cam vo luntariame nte de mi stér io o u qu e acen- se r interpretado ou do roteiro a se r realiz ado. dis-
um a dram aturgia assim fa vorece a ec losão de co n-
lidade ou de maestri a qu e os encenadores abor- tu am pelo dis farce sua est ranheza diant e do mun- põe de um program a de j ogo que ele elabora em
tradi ções. co locando frent e à frente ideo log ias e
dam o jogo cênico dos atores. Eles se perguntam, do habitual" ( 195 1). Est a descrição do prin cíp io função da recepção antec ipada pelo público: qu e
so luções opos tas .
antes de mais nada, que função dramatúrgica e lúdico poderia ser a do jogo teat ral: a e la não falta des loca mento s são visíveis e pertin entes? É preci-
c ênica a ges tualidade e a mími ca preenchem na nem a ficçã o, nem a máscara, ne m a ce na delimi- • A/éa (so rte) so co ntradize r por um a mími ca o enu nciado do
seqüên cia exa mina da. Não há j ogo natural que tad a, nem as co nvençõcs! Pen sa-se ime dia tame nte M uitas dr am aturg ias tent aram efetua r ex pe riê n- texto'! Co mo situar a inte ração com os outros ato-
dispense convenções e seja receb ido como evidente no co rte palc o/pl atéia qu e se pa ra radi cal ment e os cias co m o aca so . Durante mu ito temp o. acred i- res? Tra ta-se de simu lar a ex istência da persona-
e universal: todo j ogo se baseia num sistema codi- intérpretes dos espectador es e que parece opor- to u-se qu e a co ncl usão do dr am a era decidida ge m ou de co locá -Ia por convenção? O jogo se
ficado (mesmo qu e não sej a experimentado en- se ao esp írito do j ogo . E é exato qu e so me nte o po r ant ec ipa ç ão e qu e quase não havia jeit o de e labo ra du rante os ensaios, e, depoi s, na escolh a
quanto tal pelo público) de co mpo rtamentos e ações /wppellillg* ou o j ogo dram áti co» juntam tod o le var o aca so a int ervir no res ultado da repre - de urna encenação que resolva ess es probl em as
que passam por veross imilhantes, realistas e tca- mundo num a co munidade de jogo. No ent anto , se ntação. Os mai s a udac iosos usaram dist o e m técn icos. Cada resposta impli ca uma produção de
tral izados. Preconiz ar o natu ral. a espontaneida- não há repr esent ação teatr al sem cum plicidade suas construçõe s dr am áti ca s: assi m, o tea tro do seqüências gest uais que se esforçam em conciliar
de. o instintivo é apenas pretend er jogar segundo de um públi co. e a peça só tem possibilidade de absu rdo " ou pesqui s as so bre a narr ativa alógica toda s essas exigências. em estabelecer o estatuto
efeitos de na tura l »; em função de um código ideo- "dar certo" se o especta dor j ogar o jogo, aceitar (OÜRRENMATT) s u rp ree nde m o público por funcional da representação, em dar ao público o
lógico que decide. num momento histórico preci- as regras e interpretar o papel daqu ele que sofre uma fábula imprevi sív el, dev end o a ação tomar que ele espera e o que vai surpreendê-lo.
so e para um determinado tipo de público. o que é ou daquele que se safa, se est á as sistindo (a) a "o pior rumo possível" . o qu al "c hega por aca-
o jogo naturalista e verossimilhante e o que é o representação.
so" (OÜRRENMATT, "21 pon tos a propósito dos ~ . Recepção. espec tador. thcatrum mundi.
jogo declamatório e teatral. Corno no tocante ao Físi cos"). Às vezes , os ato res é que decidem que
j ogo. quem. no teatro . sabe fazê-lo e ganhá-lo. é b. Aspectos lúdicos do teatro co ncl us ão dar à peça. M as só o ps ico d ra ma", o L:.I:1 Ev reinoff', 1930 ; Caillois , 1958; Winnicot t,
quem melhor con hece as regra s e tinge trabalhar Em vez de buscar um a absoluta ide ntidade en- jogo dram ático " o u o hu pp cn ing" integr am ple- .. . 1975; Schcchner, 1977; Dort, 1979; Sarrazac ,
sem esforço e se m leis. tre projeto lúdico e teatral, é bom exa minar o que 19RI ; Ryngaert, 1985.
nam ente o ac aso do jogo à sua "pe rforma nce".

220 22 1
JOGO D E C E N A
JO G O E PRE- JOG O

JOGO DE CENA li Banhes, 1957: 88 -91; Pavis, 1980 e , 1983 e ; tua-se nos confins do jogo das outras persona- tas atitud es qu e ele tomará de empréstimo del a para

e
El arn, 1984 ; Spolin, 1985.
ge ns da peça. C ita, voluntariamente o u não, o u- melh or co ntra po r-se -lhe.
Fr.: jeu de sc ênc ; Ingl.: stage bus iness; AI.:
ãusserc Halldlimg. Bühnengeschchen; Esp.: tr as m an eiras de int erpretar. A partir da í, para
juego esc én ico. a pree ndê- lo co rre ta mente, se ria pre c iso recorrer
JOGO DRAMÁTICO JOGO E PRÉ-JOGO
a uma noção de interludicidad c .
Ação muda do ato r que usa apena s su a pre sen-
ça o u seu gestua l para ex press ar um sent imento
e Fr.: jeu dramatique ; Ingl.: drama tic p lay; AI.:
d ra matísc h rs Spiel , Spielp ãdago gik ; Esp.:
E sta interludicidade é às vezes vi sível na es-
trutura dramatúrgic a. É o caso da p a rodia " : só a ~ Fr.:jeu et p réj eu; Ingl.: act ing and prea cting :
ou uma s ituaç ão . ant es de tomar a palavra ou en - j uego dramático . co m pree nde mos se tom am os co nsc iê nc ia do ob- 't: AI.: Sp ie ] un d Vorspic l; Es p.: juego )' j uego
quanto fa z uso del a. Na é poc a cl ássica. fala-s e previa.
jeto pa rodiado e dos motivos e técnicas do o bjeto
em "j ogo de teatro" quando se "p õe a pant omima Prática co letiva que reúne um grupo de "joga- parodi ante. Assim, certas pa ssagens em BÜCH-
no lugar da e loq üênc ia" (VOLTAIRE) . Termo de MEIERHOLD ( p redyg ra), pré-atua-
dores" (e nã o de atores) que impro visam co letiva - NEJ3. (A M orre de Danton ) ou BRECHT (Sa nta
ção. O ator interpret a um a pantomima antes de
ment e de aco rdo co m um tema anteri orment e es - Jo an ~ dos Ma tadouros ) são dificilmente de cifrá- instal ar sua person agem e de rec on stituir a situa-
co lhido c/o u pre ci sad o pela situação . Port ant o, não ve is se não se observar a ci taçã o par ódica do ção dram át ica , "suge ri ndo ass im ao es pec ta do r a
JOGO DE LINGUAGEM há mais se pa ração entre ator e esp ectador, mas ten- path os " schilleriano. idéi a da per sonagem que ele encam a e preparan -

e Fr.: jeu de lallgagc:. lngl.: lan gnage pia)"; AI.:


Spra chspiel; Esp.: j uego de leng uaje.
tativa de fazer com que cada um participe da ela -
boração de uma ativ idade (mais que de uma ação)
D e modo muito mais g eral e co m p le to , a
interlud ic ida de impregn a o jogo do ator (e não só
do-o para perceber, de certo modo, o qu e se se -
guirá, de m od o que receba tod os os detalhes de s -
cênica, cuida ndo para que as imp rovisações ind i- no j ogo distanciado brechti an o ). O ato r entra ne- ta situação so b um a forma tão ela borada qu e nã o
viduais se integrem ao projeto comum em curso cessaria m ente no jogo de se us parceiros: falando tenha de fazer m ai s nenhu m es forço para ente n-
o jogo de lin gu agem deve. seg u ndo WITT- der o se ntido daquel a cena" ( 1975; 129 ).
de elaboraçã o . O fim visado não é nem urna cria- da mesma coisa, evoluindo na mesma situação, ele
GENSTEIN, "trazer a realc e que falar um a lín- Este pro cedimento tomado do teatro clássico
ção coletiva " passível de ser posteriorment e apre- só pode reproduzir certas atitudes " e comporta-
gua é part e de um a ativi dade. de um m od o de japonês e chinês, experimentado na encenação de
vida " (1 96 J. § 23). A plicada ao teatro, e sta no - se ntad a ao público , nem um tran sb ord amento mentos de outros atores: a interação se refletirá
Professor Bu bus , em 1925, é ca rac terís tico de um
ç ão descreve bast ant e bem a man eira pel a qual carárrico* do tipo ps icodramárico*, nem uma de- então numa hornogeneizaç ão e num perpétu o em-
jogo corpor al muito marcado e voluntaria me nte
um text o dr am áti co age e dá um exe m plo de ação sorde m e um a brin cad eira como para um hap pe- préstimo de técnicas de jogo: ass im , 'Jo gar a ré - teatral. É um meio, para o "a tor-tribuno", de " tra ns -
verb al. P or oposição a situa ç ão dram árica *, ning"; nem uma teatralização do co tidiano . O jogo plica" co nsistirá em usar o impulso do d iscurso mitir aos esp ectadores sua atitude em relação a eles,
onde a aç ão é produzida por um co nflito entre dram ático visa tan to leva r os participantes (de to- anterior, Do mesmo modo, o po r-se ge stualmente (...] fazer com que os es pectado res percebam a ação
person agen s, pod er- se- ia cha mar j o go de lingua - das as idades) a tomarem consciência dos mecani s- a um a person agem co m o qu al se est á em conflito que se de sen vol ve debai xo dos se us o lhos de um a
ge m a um a estrutura dr am áti ca na qual tod a fá- mos fundamentais do teat ro (perso nagem, co nven- forçar á o int erlocut or a ca ptar em se us gesto s ce r- ce rta m aneira e não de outra" ( 1975 : 129).
bul a o u ação é subst itu ída por um a estratég ia de ção , dialética dos d iálogos e situações. d in âmica dos
discurso e por um a progressão da s enunci ações grupos) quanto a provocar uma cert a libera çâo cor-
(fora de seu s enun ciado s). P or exe m p lo, e m poral e em oti va no jogo e, eventua lme nte. e m se-
MARI VAUX. pa ra le la me nte à intriga visíve l. a guida. na vida pri vad a dos indivíduos.
peça é co nstru íd a de acordo com a hist ó ria da
consc iê nc ia e nunc iado ra: passa -se de um " vo u ~ . Imp rovisação, gestos, olhar, ex pressão, co rpo .
di zer tudo" a um "t udo foi d ito" no final da peça .
As pr incipai s per sonagens não ce ssam de es ten- m Barr ct , 1973 ; Barker , 1977; Ryngaer t. 1977,
der armadilhas lin güístic as pa ra o o utro , sendo 1985; Mon od, 1983; Boal, 1990.
a con fissão o xe q ue -ma te da armad ilha ve rbal.
Toda um a co rrente teatr al co ntemporânea (PI_
RANDELLO, BECKETT, BERNHARD, HANDKE, JOGO E CONTRA-JOGO

e
PINGET, SARRAUTE, TARDIEU) con strói a progres-
são da " fábula" co m base em asson âncias, em as- Fr.: je u et contre-j eu ; Ingl.: pi a)' and eo ull-
soc ia çõe s de pala vras ou em referên cia à co muni- terplay; AI.: Sptcl und Gegenspiel; Esp .:juego
cação e à en unciação. A partir do momento que a yeo/llra-juego .
lin guagem não é mais primariament e empregada
segundo seu sentido , mas seg undo sua textura e Se se admite qu e todo texto faz empréstimos
se u volume, e la se trans forma num jogo de cons- de text os ante riores tan to quant o lhes traz um a
tru ção, man ipulado co mo coisa e não co mo signo. no va in form aç ão (inte rtextua íida derv ; pod e- se
supor que o mesmo oc o rre rá em rel ação ao j ogo
C2 Si tuação de linguagem, es paço textual, retóri- do ator : el e faz empréstimos de outras m aneiras
- X--. ca, ação falad a. de int erpret ar, de o utros estilos, e, so bre tudo, si -

222
223
KL
KINÉSICA licação. Em contrapartida, a cena obriga a codi -
fic ar conscientemente os ge stos; el a simplilica
~ Fr.: kin ésique; Ingl. : kin esics; AI.: Kinesi k; para se r legível , o que a torn a um preci oso labo-
"t.: Esp.: kinési ca . ratório de pesqui sa para o kine s ista . Mais impor-
tante qu e as distân cia s entre os co rpos " dos ato-
Ciência da com un ica ção pelo gesto " e pel a res (p ro x êmicar) pare cem se r, tant o na realidad e
ex pressão facial. A hip ót ese fundame ntal é que a co mo no teatro, o olhar" e o â ng ulo de visão do
exp ressão" corpor al o bedece a um sistema co d i- ato r e do espectado r. Neste se ntido , é indispensá -
ficado aprendido pelo indi víd uo e qu e varia de vel um estudo das perspect ivas' de recepção" e
acord o com as cultur as. O es tudo dos movimen- d e se u valor emocional ou sim ples mente físico .
tos comporta vári os ca m pos : o estudo das form as A s pes quisa intu itivas dos m ími cos " c de certos
e funções da co m unicação indi vid ual, a natur ez a
prati cantes (BRECHT, DECRü UX, MEI ERHüLD)
da intera ção entre movi men to e linguagem ver-
so bre as ati tudes" , postur as e gestus " são os pri-
bal, a ob servação da int era ção gestual entre dois
m eiros passos de urna abo rdage m kin ésica avant
ou vários ind ivídu os.
la lettre do fenôme no ges tua l,
A kinésica de ve ria pe rmi tir uma análise das
int erações cêni cas dos atores, reencontrar o s is-
~ Laban , 1960, 1994 ; Goffman, 1967, 1981;
tem a co nsc iente e inconscient e que presidiu os /. ~ Langages n. 10 , 19 6 8; K. Sch erer, 1970;
arr anjos cênicos, de slocament os e distân cias que Schcc hner, 1973a; Stern, 1973 ; Birdwhi stell , 1973 ;
os separa m. É e vid ente mente necessário co ns i- Sc bco k, in Helbo, 1979; Pavis, 19 81 a ; Sarrazac et
der ar distorções e ntre co nduta di ta " norma l" e ai . 198 1; Fleshrnan, 1986 ; Pa vis , 1996.
co mporta me nto cê n ico ; e m partic ular ealc ulan-
do o e fe ito produ zid o sobre a visão do especta-
dor pela disposição p ro xêmica " dos atores. KINESTESIA
Uma kin ésica d a ge stua lidade teatral teria que
form ali zar os pro cessos de st a "subcon versa" :).. (Do grego kinesi- e aisthcsis, sensação de mo-
ge stual : influên ci a do mei o soc ial de scrito , do "t.: vimento.)
mod o de estili za ç ão" es té tica, dos fator es ind i- Fr.: kin esthésie; Ingl. : kinesthesia; AI. : Kinõstheti k ;
vid ua is, invo luntár ios da gestualidade" do ato r Esp.: kinestesia.
e da utiliza ção del e s pel o c ncc nador. Os fator es
da codi ficaçã o gcs tu al C OITlO e la apar ecerá para A k incstcsia (o u e ine stes ia) é a per cep çã o
o pu bli co são num e ro s íss im os c de difícil ide nti- con sc iente da posição ou dos movim ent os c d e

22 5
LA Z Z I LEt TURA

seu próprio corpo graças ao sentido mu scul ar c Na interpretação co nte m porâ nea . freqüellle- 3. Cert as ence nações tr abalham a partir d e
1. Em m úsica. o leitm otiv é um tema m usical re-
ao o uv ido int erno. O nível kinest ésico di z resp ei- ment e muit o tcatrali zad a e par ódi ca, os la zzi de- tcitm ot ivc cê n icos: a me sm a ge stualidadc, rcp e -
co rrente . es pé c ie de refrão mel ódi co qu e pontua
to à com un icação entre atores e es pec tado res. tição de se qüências inteiras ( R. WILSON). alua -
sempenha m um pap el essenci al de supo rte visua l a obra (c x .: o lei tm otiv do Gr aal e m I'a rsifal ). Em
co mo . por exe m plo . a ten são do co rpo do ator ou ção desdo b rad a ou imagens sur realis tas como
(encenações de STREHLER dos clássicos itali a- liter atura. o le itmo tiv é UIII gru po de pal avras, um a
a impressão qu e uma ce na pode causa r " física - int ermédi os po ét icos (PLANCHON e m Fol ics
nos. formas e té cn icas po pulares ete.). imagem o u uma fo rma que retoma period ica mente
ment e" no públ ico . Segundo a antro po logia tea- Bourgeois es y, br e ve s ret omadas de um tema mu-
par a a nunc iar um tem a. ass ina lar um a rep eti ção
tral de BARB A ( 1995) . o es pec tado r é afe tado fi-
sicamente pel o nív el pré -expre ssivo do co rpo do
W Mie. 1927 ; Pavis, 19860; Fo. 199 1. for ma l. até mesm o um a obsessão. O proccdirnen-
sica l (nas ence na ções de Racine por MESGUICH).
O sis te ma da en cen ação impregna muitas vezes
to é mu sical. visto qu e é so bretudo o efeit o de
ator e da representação. A dan ça co nhece bem a represent ação de um tema ou de um co me ntá-
este imp act o da kin est esia : " Há um a resp osta repet iç ão e de famili arização qu e é essenc ia l. se n-
rio re corrent e qu e faz as vez es de lei tmotiv.
kin est és ica no co rpo do es pectado r. o qu e rcpr o-
LEGIBILIDADE do sec undá rio o se ntido da ex pressão re to m ada,
Eis por qu ê o tema não tem necessar iam ente um
du z nel e. em part e. a experiênci a do dan çarin o"
-t}- Fr.: lúibil!ré;Ingl.: readabiliry; AI.: Lesbarkeir;
~ Composição. estrutura dramática.
(MARTIN. 1966: 4 8; 1991: 60 ). John MARTlN dá va lor central para o text o globa l, ma s va le co mo
Esp.: legi bilidad . sina l e mo tivo e e le me nto es tr utura l: o e ncade a-
mesm o o nome de me takinesis à co rre lação entre
"o fís ico e o psíqui co [que] são os doi s asp ectos ment o dos leinnotive form a. na ve rdade. uma es -
Caráter mai s o u men os leg ível da represen - LEITURA
de uma única realidade fund amental " ( 199 1: 29) . pécie de metáfor a paul at inament e desenvol vida .
A kinest esia perm ite apr eciar o mo vimento ta ção. Uma representação é leg ível quando o es- que se impõ e à obra tod a dando-l he se u tom. Basta
pectador é habilit ad o , pel a enc en açã o. a reco- ~ Fr.: Iccturc ; ln gl. : reading; AI.: Lckt ürc ; Esp.:
corp or al gr aça s a um "sentido mu scul ar que re- um s inal para caracteriz ar imed iat amen te tal per- 't.: lectu ra .
g ula as múltiplas nuances de força e de vel ocid a- nhecer certos sig nos del a. a aco mpanhar certos so nage m ou tal atitude: os lcit mot ive fun cionam
de dos movimentos corporais de uma maneira encaminhamentos narrativos . a co mpreender a co mo código de reconhecim ent o e co mo índice Ler o es petác u lo é, no sentido metafórico. de-
adequad a às emoções inspiradoras des se s movi- organização dos diferentes siste mas. a extrair do de orientação para o espectador. A obra marca cifrar e int erpretar o s diferentes sistemas c ên i-
mentos. de modo a assegurar ao me cani smo do conjunto significaç õe s g lo bai s. Certos cnce- assim sua estrutura temporal, sua pontuação e seu cos* (d entre os qu ai s o texto dramático*) que se
orga nis mo humano a possibilidade de estilizar nadares ernpcnhar-se- âo e m pôr em evidência a es tilo de desenvolviment o (BERLJOZ fa la em idéia oferecem à per cep ç ão do espetáculo. A crítica
essas emoções e de fazer assim da dan ça urna f ábula*, sua lógica e suas co nt ra diçõ es (leituras f ixa de uma obra). emprega hoj e a ex pressão " ler o teatro" (UBERS -
art e co m plet a e e sse ncialme nte human a" (JA- hi sToricizadas* de influ ênci a br echti ana ). Ou- FELD. 1977a ) no se ntido de uma busca de tod as
QUES-DALCROZE . 1919: 141), tros real izad ores as segurar- se-ã o de que as as- 2. No te atro , esta técni ca é empregada co m fre- as unid ad es poss ívei s d o texto e da s imagen s
sociações de id éi as e de im agen s produ zam um qü ên ci a . A comédia a usa co mo cô m ico de repe- cên icas co m a fin alidad e de " dete rm ina r os mo-
se nti do facilmente de tect ável ; ou tros, a ind a. tição (cf. o s fam osos "e Tart ufo?" , " se m d ot e" de dos de leitu ra qu e permitem não só escl ar ecer
LAZZI buscarão na leitura m ecani sm os incon sci entes MOLl ÉREJ. Par a o teat ro poético . a re to ma da de um a prá tica text ua l mu ito part icular, co mo mos-
de um a atuação. d e um a ret ór ica da cena o u de trar. se poss ível . os víncu los qu e un e m es ta pr á-
e (Do italiano lazzi, brincadeiras. jogos de cena
bouffons.i
um texto qu e "n ão pens ava d izer tant o" .
um ve rso o u de um a figur a retó rica é uma técni-
ca de le itmotiv. De mo do m ais ge ra l. toda re to- tica textu al a um a o utra prá tica, qu e é a d a reprc-
se m ação" ( 1977,, ; 8) ,
A noçã o de legibil idad e de pende igualmente. mada de term os, tod a asso nâ nci a. tod a co nve rsa
em g rande parte . das expectativas" do espec tado r, q ue g ira e m torn o de si mes m a (TC IlÉK IlOV)
T ermo d a Co mmedia de l/'a rTe*. Ele men to de sua atitud e ao j ogar com os signos aprese nta - co nsti tu i um lritmotiv. I. " Le r" o Text o
mími co o u impr ovisado" pelo ator qu e se rve para dos e de con struir a sig nificação linearm ent e (de O a uto r às vezes faz uso d ra ma túrg ico del e
car acte riza r co m icame nte a person agem (na or i- acor do co m a lógi ca da na rrati va) e plastica mente Ler um te x to d ram át ico não é simples mente
qu and o o tema m arca a passagem ine lutável do
ge m Arl equim ). Co ntorções . rictu s, caret as. co m- (de aco rdo com a ret órica das im agens). seg uir ao pé d a let ra um texto co mo se leri a um
tempo (a referên c ia ao ja rd im d as ce rejeiras na
port am ent os burlescos e clo wnesco s, intermin á- poema. um ro ma nce o u um artigo de jornal , a sa-
peça do mesm o nom e) ou a lent a progre ssão rum o
veis jogos de cena são seus ingredientes bás icos. GJ Leitur a. rece pção . sc miología, texto es pe ta- 11c a t ástro fe (as pistol as de Hcdda Gab le r). O co ro
ber , ficci o nal izar o u c ria r um uni ver so fici on al
O s la zzi tornam-se rapidamente morceaux de ~ ,c u l a r. (o u um mundo possí vel ). A leitura do text o dr a-
trágico assume igualmente esta fun ção de ad ver-
bra vou re qu e o públ ico espera do co me diante. Os mát ico press u põe tod o um trabalho imaginário de
tên cia e de destino .
melh or es o u m ais eficientes são muitas veze s fi. situação dos e nu nc iador es . Que personagens? Em
O car áter nec essari ament e subterrâneo desta
xados nos cane l'Os* ou nos texto s (jo gos de pala- LEITMOTIV subconvc rsa toma difícil um a formali zação de
qu e tempo e lug ar ? E m que tom ? Tod as el as per-
vra. alusões políticas ou sexuais). Com a e volu- guntas indi sp en sá veis à compreensão do di scur-
ção da Com media, em particular sua influên cia
sobre o teatro francês dos séculos XVII e XVIII
e (Palavra ale~ã: Iiteralm cnte : "motivo guia".)
Fr.: LeI/mO/lI'; Ingl .: leitmo tlv; AI.: Leitmotiv;
todas as redes temática s. Porém . ao mesmo tem-
po. ela impregna o text o e o co munic a ao espec-
so da s per son agens. Ademais. é inevitável ac o m -
panhar est a le itu ra de uma análise dramatúrgi ca " ;
(MüLl ERE. MARIVAUX), os lazzi tendem a ser Esp.: leitmotiv, lema. tador ao modo infraling üí sti co e suge stivo da que es clareç a a con strução dramática. a apresen -
integr ad os ao texto c são urna maneira mai s refi- músi ca. Aliás. é facult ado ao dr am aturgo ou ao tação dafâbllla *. a e me rgência e a resolução dos
nada. porém se m pre lúdica. de conduzi r o di álo- Termo introduzid o po r Hans VON WOLZOGEN e ncc na d ur fabricar teinn otivc qu ase im pe rce ptí- conflitos " , Tod a le itur a é feita dentro da perspe c-
go . urn a es pé cie de encenação de tod os os com - ve is. diri gindo-se à percepçã o subconsc ie nte (so- tiv a de um a cs pac ia lizaçã o de sses element os di-
a propósito da mú si ca de WAGNER q ue fala de
ponen tes par averb ais do jogo do ato r. norid ad es. ritm os . par al el ism o de ex p ressão. nâmi cos do tira ma. da co loca çã o em relevo do
Grundthema (te m a fundam ent al) .
refrões temáti cos). esq ue ma diret or da aç ão . Este tip o de a bo rd age m

226 227
L EtT UR A DRA MÁ TI CA
I.l S T A DE P E R S O N A G E N S

do texto e do espet ácul o pel o viés da dramaturgia


cha lenta " para um fragmento do texto; e la "se faz na elaboração da ence na ção e que fixa os de slo- ncr os, est á- se no direit o de fal ar de um a lingu a-
vai ao enc ontro daquilo qu e se chamou leitura ho-
p a r an~o em cada réplica. e começa pel a pergunta ; ca rncntos c posições dos at or es. as figuras da in - gc m dram ática que deveria ser distinta de outras
rizontal (DE M ARCY , 1973 ).
qu al e a s/I/lação inicial? Estando es ta ddinida tc rpretaçã o dele s. aq uilo qu e f1RECH T chamava linguagens : cine matog r áfica . liter ári a, ro manes-
levant a-se , um de cada vez : a) os acont ecim ent . de Grundarrangem ent (arranjo fundame ntal) e ca, poét ica etc. Segund o L ARTIl OM A S. " pode-se
2. Leitura Hori zontal , Leitura Vertical .. os.
I) ) as ml orm ;lçõcs, c) os tem as I...], de m od o a iso-
q ue os anglo-sa xões den ominam blo ck ing the fa la r I...] e m lingu agem dr am áti ca, su po ndo, com
lar, no text o. o que é propriam ent e ação" ( 1993' performance , Esta fase de delimitação e de ocu- razã o. qu e o bras muit o diferentes usam a mesma
a. A leitura hor izo ntal (o u si ntagmática) coloca. 896); numa leitura em "v eloc idade norm al' da obr ~ pação do es paço é apenas uma da s fases. a ma is lin guagem que. por isso me sm o . tem um cert o
se no i~t e ri or da ficção; ela seg ue o rastro da ação mtcira, "Verifica-se, completa-se. ajusta-se. corri- visível mas não a mais importante. da encena - núm ero de ca racteres universais à de sp eito das
c ,da fábula, obs erva os en cadeam ent os dos epi-
~e -se. se preciso for, os resultad os da an álise do {"lio *' M a rcação muit as vezes tem assim o sent i- d ifer en ças de forma , época e efe itos" (1 972 : 12).
só d ios e se preocupa co m a lógi ca narr ativa e com
tr agm ento" (/ 993: 898). Há quem sugi ra. toda- do pej or ati vo de lim a e ncen a ção con siderada so- Base ad a na eficácia , essa lin guagem po ssuiri a
o result ado fin al par a o qu al a fábul a tende. Ela
~ Ja , i ndo de encontro a V INAVER. não esperar o m ent e so b o aspec to ex te rio r dos m ovimentos. R. car acterísticas qu e L ARTH OM A S bu sc a nos tex -
só usa. nos mat eriais cê nico s. aquil o que se inte-
h.m , d ~ s a s leituras para levar e m co nta os dados PL AN CIION a opõe a sua ati vidade de encenação: tos dram áticos" (e não nas encena ções) e que
g ra ao esque ma narrativo e mant ém o espet áculo
hist óricos, os quais det erminam de imediato nosso " A contribu ição essen cial ve m da en cenação (co - V INAV ER per segu e nas Écr iltlres Dramatiques
na ilusão de uma progressão irresistível. mod o de leitura. locação em cena). não da marcação (co loc ação co mo fala atuante (19 93: 9) .
b. A leitura vertica l (o u par adi gm ática) favorece no lugar). Marcar é. para o ato r. delimitar uma Também ex iste a tendênci a inversa qu e faz da
as rupturas do fluxo tios aco nreci mentos para li.
Q Co municação teatral. cód igo. interpretação. área de atuaç ão precisa . N unca fi z marcação . esta lingu agem dram ática uma lin gu agem cê n ica e que
\Q. se mio logia , texto c cena.
ga r-se ao s s ig nos cên icos e aos e quiva lentes é a últ ima da s m inh as preocupações" ( Ca hiers in clui . co mo L EMAHlEU. a encenação (a direção)
de Cinema , 22 de março de 19 6 2). e m esmo a rece pção do es pec ta do r: " A lingua-
parad!gm át icos dos temas qu e e les evoc am por W Ingarden , 1931. 197 1; Eco . 19 65, 1980; (ser, ge m dramáti ca é a co mpos ição tio texto . de sua
asso.C:Iação. O "l eitor" não m ais se inter essa pela 1972 ; Hogendoorn, 197 6 ; Charle s , 1977'
se q ue ncia dos acont eciment os e, sim . pela ma- direção. completada c reescrita pela proj eção cri a-
CoBer et ai .• 1977; Bi agini, 197 9 ; Pavis, 1980c:
neira seg undo a qual e les são dispostos (épico') . 1983a ; Banhes, 1984: 33-47 ; Avigal e Weit z, 1985. LIGA ÇÃO DAS CENAS tiv a do espectador. d ecifrador da arte d o teatro,
desd e qu e e le se preste ao j ogo refinado da de-
Ele tem por preocup ação co nstante fazer "i nter-
vir se u ju ízo crítico " (B RECHT). e FI. : lioison des sc énes; Ingl. : link ing ofsccnes;
A I.: S re n enve rfl ec htu ng ; E sp.: en lace de
cod ificação dos signos man ifest os no p alc o" (in
CORV IN. 1991 : 488).
. :"s du as leituras. lin ear c parad igm át ica. são LEITURA DRAMÁTICA
II1dl sp en sávei s para uma deci fração co rreta que es CC lllU . Ac ha mo s preferí vel manter um a di stinção en-
reconstitu a "plasticament c" (vert ica lmente ) o
qu e ele apr eende lin earment e (na [â bular) . O
e FI. : /eclllre-sl'ecwc!e; Ingl .: public readillg;
A I.: Lesear1fii/trll11g; Esp.: tcctu racsnccs ácut».
Em dr amaturgia clássica. princípio segundo o
tre linguagem (ou escriturai dra má tica" . como a
lem os no texto. e linguagem (o u escritu ra) cêni-
mod o de leitura é. toda via. fort em ent e sugerido qual du as ce nas que se segue m deve m ser ligad as ca* . co mo é reali zada num palc o por um enc e-
pela dram aturgia e pel a a titude de recepção' que pel a presen ça de um a mesm a per so nagem de uma nad or pa ra um espec tador.
Gê ne ro intermediário entre a leitura de um tex-
lhe co rresponde: assi m . a le itur a hori zont al se rá to po r u m ou vários ato res e a espac ia lizaç ão ou ce na na outra, de mod o a que o palco nun ca fique
a pro priada a facilit ar a ident ificação. a abd ica- e nce nação deste texto. a leitura dram ática usa vaz io . D'AU BIGNAC di stingu e a ligaç ão de pre-
ção do ju ízo críti co ; e m co ntra partida , a leitu ra alt ern adam ent e os doi s métodos. L u cic n ATTOUN scnça de um a per son agem e a /igaçcio que se fa: LISTA DE PERSONAGENS
vertical mantém todos os " sentidos" em alerta expl o rou esta fórmula no âmbit o de seu Teatro pe lo ru ído "quando , ao ru íd o que é feit o em cima
fa vorece a tom ad a de di s t ân ci a e de med ida Ab er to e m Avign on e e m Pari s o u em Franco- do teatr o. um ator q ue realment e pôde o uvi-lo. ~ FI. : liste des personnages ; Ingl. : list of cha-
idista nciamrn m * ).
C ultur e, dan do a conhece r textos inéditos ou não acorre para saber sua ca usa o u alg um a outra ra- "t..: ract ers ; AI.: Liste der Pcrsone n: Esp.: lista de
A rigor, m elh or seria reservar a noção de lei - zão. e não enco nt ra mai s nin gu ém " ( 1657: 245 ). pe rsonajes .
representados a um públi co redu zido e a atores
tu ra ao te xto dr am át ico , poi s se lê o teatro mui qu e pod eri am mont á-los em co ndições m ais "cê- A liga ç ão de fuga é reali zad a qu ando uma "per-
di ferentem ente de um text o lingü ísti co: cx pon- so nage m sa i de ce na no m oment o em qu e um a A lista de person agen s , ge ra lme nte colocada
nicas" . E út il distingui r diverso s modos de leitu-
do: se a tod as as lingu agens nã o-verbai s (gestual, ra dr amática: o utra personagem en tra. porque ela não deseja que antes do tftulo da peça e do início dos di álogos, é
rnu sica, cen ografia. rítmica ) qu e, preci sam ente, esta a veja o u lhe dirij a a palavra" (SCIl ERER, um e le me nto da d ida scâlia" (o u texto se cundá -
escapa m à lingu agem c confrontam o es pecta- • A espaci alização. q ue é a " apresentaçâo de 1950 : 437 ). rio * ou do po ratextor ) qu e só se destin a. portan-
dor com Um event o cê nico. não co m um texto um a peça nov a Ide um auto r de e xpre ssão fran- to . ao leit or ou ao ence nador. Do Ren asc imento
co ns tituído de sig no s ling ü ísti co s (LYOTARD cesa ] se m cen ário nem figurino " iEu rope, 1983. até o in íci o do séc ulo X IX, não era raro encontrar
(971 ). • n. 648 : 24) . o termo lat ino dram atis personae, qu e in sistia na
LINGUAGEM DRAMÁTICA
• A voca lizaç ão, que é o proc e sso de aprendi- se me lhança com pessoas re ais cnvol vidas num a
3. Leitura em Marcha Lenta, Leitu ra em zagcm do text o, bem no iníc io d os ens aios , an tes ~ FI. : lang ag c dra nuuiq uc; In gl. : d ra ma tic aç ão. Esta lista é qu ase sempre retom ad a no pro -
Velocidade Normal qu e a entonação, a e nunciação e a marcação te- "t..: la nguag r; AI. : d ranunischc Spra che; Esp .: gra ma * co locado à di sp osição d o públi co. As-
nham sido fe itas. lengn aj c dram át ico . s i 111 . tanto o leitor qu ant o o es pectado r têm a pos-
s ibilidadc - e muit as vezes isto nã o é um luxo-
VINAVER e seus co lahorador cs ( 1993) distin-
• Não se dev e confund ir a espaciali::.ariio e a Se se co nside ra r a esc ritura dr am át ica e m seu de se familiarizar, ame s e durante a representa-
g ue m dois tipos de leitura : "um a leitura em mar-
vocalira çân co m a II/a rcaçlio. qu e é uma etapa co nj unto, quaisquer que sej a m as épo cas e os gê- ção. com a constel ação da s personagen s. verifi-
228
22'1
LISTA DE PERSONAGENS

cando seu parentesco ou suas relações sociais etc. A estruturação da lista faz-se às vezes de ma-
A lista é estruturada de maneira variável, mas es-
neira a deixar claros os conflitos e partes em con-
força-se, em geral, para citar todos as persona-
fronto, a opor homens e mulheres (cf Cyrano de
gens, pelo menos aquelas que são suficientemente
Bergerac), a visualizar as grandes famílias e as
individualizadas. A ordem dos nomes muitas ve-
alianças. Não é raro que o editor indique o nome
zes corresponde, principalmente na época clássi-
ca, à hierarquia social: nomeia-se primeiro o rei dos atores na criação da peça.
ou a personagem cujo nível social é mais eleva- Também é costume enumerar, no rrucio de
cada cena, as personagens nela presentes, de

M
do, e depois, pela ordem decrescente de mérito
os outros protagonistas. Há um esforço, todavia: modo a que o leitor saiba quem está em cena
para agrupar os pares, os pais e os filhos. mas fica em silêncio c em que momento ele en-
Depois do classicismo, e paralelamente à mul- tra ou sai.
tiplicação das indicações cênicas, os nomes são A denominação da personagem é um ato de-
às vezes seguidos de uma ficha de identidade cisivo para sua definição e para a maneira como
mais ou menos farta, indicando idade caráter será percebida no decorrer da intriga, o que quer
aparência física (ex.: O Barbeiro de Se'villIa, d~ que seja que ela faça ou diga. É a primeira pala-
BEAUMARCHAIS), até mesmo motivações se- vra do autor dramático, mas muitas vezes é tam-
cretas. A tentação de muitos dramaturgos é trans- bém a última.
formar a lista num ensaio ou numa novela sobre
cada personagem.
W Thomasseau, 1984. Se a limitássemos à função banal de embele-
MAMBEMBE
zamento dos traços naturais, poder-se-ia ter cer-
:-+ Fr.: baladin; Ingl.: mountebank , buffoon: AI.: teza de ela ser tão velha quanto o mundo do tea-
't...: Quacksalber, Possenreisser; Esp.: saltimbanqui. tro. Entretanto, se os gregos a conheciam, não a
usavam para embelezar o ator - mascarado, aliás
o mambembe é, originalmente, um dançarino - mas para cobrir ritualmente o rosto com sangue
de teatro. A palavra (no original francês) vem do do animal sacrificado e cinza. A maquiagem de
latim vulgar bailare; designa hoje o saltimban- beleza - que, por definição, deve passar desper-
co*' Trupes mambembes de histriões e saltimban- cebida - é usada a partir do século XVI. As técni-
cos cruzavam antigamente a Europa realizando cas evoluem e a pintura quase mascara o rosto.
espetáculos populares em tablados. Esses atores No século XVIII, os atores se pintam exagerada-
mambembes - clowns, acrobatas, malabaristas, mente, o que leva um de seus contemporâneos a
mas às vezes também cantores e poetas - se pro- dizer: "Todos os atores que entram em cena são
duziam sempre à margem dos teatros oficiais. também donzéis. As rainhas e as heroínas aí estão
tão pintadas que sua tez parece fresca e corada
como a de nossas jovens leiteiras". Quaisquer que
MAQUIAGEM sejam as técnicas (dentre as quais algumas, à base
de arsênico, eram perigosíssimas), a maquiagem
:-+ Fr.: niaquillage; Ingl.: make-up; AI.: Schminke; adapta a cor da pele à iluminação cênica; portan-
't...: Esp.: maquilla]e. to, ela evolui com a introdução da iluminação a
gás e, depois, da luz elétrica.
1. Uma Arte Cambiante
2. Funções
No teatro, a maquiagem assume um relevo
particular, visto ser o último toque dos preparati-
a. Embelezar
vos do rosto do ator e porque contém uma série
de informações. Certos teatros, como o Kabuki Este uso habitual da maquiagem ainda é
ou o Kathakali, praticam a maquiagem como uma enaltecido em cena, a arte não sendo tanto enve-
cerimônia ritual. O Théâtre du Soleil também pra- lhecer uma personagem quanto rejuvenescê-la...
tica este rito expondo à visão do público, não sem O papel" de composição obriga o maquiador a
auto-satisfação, os atores enquanto estão se ca- prodígios de reparos c de melhoramentos: retirar
racterizando. bolsas dos olhos, disfarçar um queixo duplo, eli-

230 231
MÁQU I N A T E AT R A L M AR tONETI

minar um a es pinha - um cirurg ião plástico não MÁQUINA TEATRAL [ ... ] " tca traliza dos" e integrad os ao cspetácu lo , obser-
faria melh or... Souvent au plus beau cha r le contrepoids résiste; vadores intermediári os entre atores e público .
-t) Fr.: machine thé ãtra le ; In ~ l. : !h eat rical ma- Un dicu pend à la co rdc et crie au rnachiniste."
b. Codijicar o rosto chin ery; AI.: Theaterm as chinerie ; Esp.: maqui:
("Da máquina primei ro o s urpree nde nte espetáculo
Cert as tradições teat rai s. como o tea tro chinês . naria tea tral.
Deslumbra o burguês e faz grilar milagre.
M A RI ONETE (E ATO R)
baseiam -se num sis te ma puram en te si mbó lico de Mas na seg unda vez e le não acorreu mai s a ele
co rrespondê ncias entre cores e ca racterísticas so- J. D o emprego, pela dramaturgia e pel a cena, de :'\. Fr.: marionnette (et acteu r); Ingl.: niarionette
Preferiu O Cid. Horácio. Heráclius ;
ciais: branco para os intelectu ais . vermelho para m áquinas teatrais, à cena-máquina. há ape nas um 't...: (a nd aetor); AI.: M a rion ette (und Schauspie-
passo que o teatro , no entanto, lev ou vinte e cinco [ ...] ler ); Esp.: marionet a (y ac tor }.
os heróis leais, az ul escuro para as personagen s Muitas vezes ao mais belo ca rro o contrapeso resiste;
o rg ulhos as. prata para os deu ses etc. séc ulos para dar. ARISTÓTELES já tenta limitar a
Um deus ficapendurado e tem que gritar ao maquinista.") Uma ve lha histór ia de amor e ódio une ator e
inte rve nção das máqu ina s (pri nci pal me nte pelo
Epístola a M. Nyert sobre a Opera , t677 . m arionete. Qua ndo o ato r busc a a pe rfeição e a
deus ex maehina* ) a e pisódios irrealizáve is pelos
c. Teatralizar a fisionomia
hom ens ape nas e em circunstãnci as excepcionais, d ifi cu ldade do gesto . sem pre lhe ve m à mente a
Figu rin o vivo do ato r. a m aq ui agem faz o ros- a fim de não privar o dram atu rgo de sua faculdade
6:J Espaço '. objet o. acessório. deus ex machina, m et áfora do fantoche desarticul ado. manej ável ao
.~ , d ispositivo .
to passar do ani ma do ao ina ni mado. flert a com a de da r ex plicações verossim il hantes a tod as as m en or c apricho. marionete capaz de resp onder a
másc ara. q uando se torn a uma máscara mais ou ações. A m áqu ina é se mp re a materialização cê- todas a s injunções de um m anipul ador d os gestos
menos opaca e flexível qu e às vezes uti liza a mo- nica, o utro ra apavo rante, e hoj e derrisória, do prin-
W Allio, 1977 ; GCUari.no' 19l99812; Batail le, 1990;
e das vozes. DIDEROT, no Paradoxo sobre a Co-
Freydefont in Orv tü , .
b ilidade do rosto . O ato r às vezes pro duz care tas cípio do maravilhoso (voar. desl ocar -se, desapa- m ediante. já encarava o " gra nde ator" co mo "ou-
que ela mant ém (GROTOWS KI, 197 1: 64 ). O Se - recer ), um m aravilhoso qu e faz as delícias dos tro fa ntoche m ara vilhoso cujos cordões o poeta
rapions T hea ter pratica um a escultura facial co m esp ectadores crédulos ou " bo nz inhos", mas que segura , e ao qual e le ind ica, e m cad a lin ha. a ver-
a ajuda de caretas mantidas pel as mãos dos ato-
MAQUINISTA dadeira forma que dev e as sum ir" (1773: 1035).
ind ispõe os d outos e os racionalist as .
res. Na arte do se mblante, a m aqu iagem pode, ao Esta marionetização do se r humano culmina na
:'\. Fr.: tna ch i nis t e ; Ingl.: sta g e hand ; A I.:
mesm o temp o, acentuar a teat rali dad e, a maqui - 2. A máqu in a é, ao m esm o tempo , um tema 't...: Bilhnenarbeit er; Esp .: tramoytsta .
supermarionete de Gord on CRA IG. Porque o ato r
naria facial - " as máq uin as d a Ó per a" , co mo di - met afísico - o ho mem su perado pe la mecân ica. não é ca paz de fazer dc se u pró prio corpo um a
z ia MARIVAUX - e dar no vam en te impressão de sej a e la ce leste, d iabóli ca o u ro bó tica - e um prin - Pessoa qu e cuida. d urante a re presentação , da " o bra de arte" . mas so me nte " uma sé rie de con-
vida , ren aturalizar e " interiorizar" a ex pressão mi- cípio da teatr alidade. O atu al go sto pe la ó pe ra. mudança dos cen ários , dos tru ques, do fo rneci- fissões acidentais" , é que CR AIG qu eria substi-
m ica *. Elajoga co m a ambig üi dade cons titutiva pe las peças de gra nde espetáculo , pe las peças de m ento de ace ssóri o s o u objetos cêni cos. A té os tuí-lo por u ma marion ete hum an a q ue co ntro las -
da representação teatr al : mescl a de nat ura l e arti- máquina d o Renascim ent o , do sé cu lo XVII, pelo primeiro s pa ssos do jogo épico (brechtiano. pri n- se todas as em oções e fizesse do palco um es paç o
fic ial. de coisa e de sig no. Tratado sobre as Má q ui nas d e Tea tro de N . cipalmente). o maquini st a agia necessariamente puram e nte simbóli co : " Su prim a o ator e es tará
SABBATTINI (163 7), A ndrômeda ( 165 0), de P. " nos bas tido res " , isto é. no escuro o u escond ido ret irand o de u m reali sm o g ros se iro os m eios para
d. Estender a maqu iagem CORNEILLE, Anfitrião ( 1668), Psiquê (16 7 I). de atrá s da co rti na; so bre tudo. e le não deveria q ue- floresce r em ce na . Não haverá mai s per sonagem
MOUERE, ex plica -se pelo fasc ínio exerc ido pel a brar a ilusão " de um mun do cê nico natural e au- vi va para co nf undir em nosso espíri to arte e reali-
Ela não mais se limita ao rosto , o corp o' intei-
maq uinaria teatral, fas cínio cu lti vado e descrito tô nomo. Entret ant o, seria necessário notar que, dade; não hav er á ma is perso nage m viva na qual
ro pod e se r pi nt ado. Em s ua e nc e naç ão d e
pe los encenadores construtivistas (OKH LOPKOV, mesmo ante s de BRECHT e da coo rte dos " d istan- as fraque zas e es trem ec ime nto s da carne sej am
Britannicus, VITEZ pinta os cabelos . redesenha o
MEIERHOLD, MALEVITCH, STENBERG, TATU- ciado res" , o maqu ini sta tin ha às ve zes uma fun- vi sív eis " (19 05: 66) . Outras ut opi as co ns ide ram
co ntorno da s pern as dos atores. desrealiza o rosto
NE) e, hoj e, pelos ence nadores "barrocos" co mo ção " desi lusio na nt e": ass im, na comédia clá ssica o me smo con tro le à dist ância da carne humana : a
de les se m caricaturá-los. A maqui agem passa a
J. LAVELU, L. RONCONI, V. GARC IA, H. RONSE (AR ISTÓFANES). chama-se o maq uinist a e a ma- m áscara e a voz es pecia l do ato r "c o mo se, se-
se r um ce nário ambulante, estranhamente simbó-
o u J.-M. VILLÉGIER. quinaria teat ral de aq uilo qu e q uebra a ilusão. g undo A. JARRY. a cavidade da boca da máscara
lico ; ela não mais ca racteriza de m aneira psicoló-
Hoje, na prá tica cê nic a de vang uarda , as inte r- só pude sse em itir aq uilo que a m áscara dissesse,
gica e. sim. contribui par a a e labo ração de formas
3. A m aquinari a cênica po rta nece ss ariam ent e a ven çõe s do m aq uini sta. até m esmo suas int ru sõ es se os mú sc ul os de seus lábi os fo ssem flexí ve is"
teatr ai s do mesmo mod o qu e os o utros objetos"
m ar c a da mat erialidade do te at ro , de se u ca rá ter no jogo. não sã o mai s ma scaradas; ao co ntr ário, ( 1896 : 143 ); o corpo biomec ãnico " do ato r. se -
da represe ntação (másca ra* , iluminação", figu-
constru tor o u desco nstrutor e da artificialidade o maq uinista pa sso u a se r o garante e o sig no da g undo MEIERHOLD, q ue deve se r uma matéria
rino * ctc .). Ao renunciar a seus e feitos psicológi- " a pta a real izar rapida ment e as se nhas recebidas
da ilusão e das fa ntasias q ue e la induz. Ambi - pr ática" teatral. a ponto de dar a im pressão de ter
cos. ass ume sua qu alidad e d e sis tema signi-
g üida de qu e faz os praze res dos pe q uenos e dos es te emprego no pr óprio sei o dajicção* rel at ad a. do e xterio r (do ator ou d o cncenador)", o ba lé
ficantes ; q ue faz de la um e le me nto es tético total m ecâni co de SCHLEMMER no qu al é pos síve l,
grandes (p or razões diversas) e sobre a qual LA Aliás . sua tare fa. qu ando não ultra passa o m ane-
da enc enaç ão,
FONTAINE j á ironi zava nesses te rm o s: jo de objetos lev es, é muitas vez es as sumida pe- "faze ndo do ho me m o portador de fig ur inos
co nstru ídos, reali zar config ura ções imaginárias
~ . Olhar, kinésica . "De machine d' abord le surprenant spectac le los pró prios ato re s: as mudan ças se fazem à vis ta,
se m coação. e m cima dc variações sem limites"
e não há mais. e ntão. uma nítida ru ptur a entre ação
Éblouil le bourgeois et fit crier miracle,
m Paquet, 1990; Trave rses n. 7. lO, 14-15. 17. Mais la seconde fois il ne s' y pressa plus:
cêni ca e paradas de atu aç ão; os ator es aparecem
para aquilo qu e n unca deixam de se r: trab alhado-
( 1927: 67) .
Todas es sa ex pe riê ncias utó pi cas tê m em co-
18,2 1-22.29. 11 aima mieux Le Cid, Horace , H éraclius ;
res da ce na. ao passo q ue o s maquini st as são m um um fascíni o pe la maquinaria, seja e la cê ni-

232 233
M Á S CA R A M AT EIU AI S CÊNt c o s

ca, ge stu al o u vocal. A máqu ina, na verdade, re- texto poéti co e lite rári o (cf BEN JONSON, A Fe s - ção do es pectado r co m o ato r. El a se rá , porta nto , po, a c icntific ida de d o procedimento, mas negli-
petindo à vo ntade um mesmo mo viment o, infrin- ta de Reis, 160 6 : A M á scara da s Ra inh as , 1610 ), freq üen tem ente utiliza da quando a ence naç ão ge ncia necessaria me nte as mudanças q ualitativ as
ge a regr a est rita da un icidade da per fo rman ce a do es petác ulo de g ra nde maquinari a e de efei- buscar evi ta r um a transferência afetiva e di st an- da ação e as irr aci on ali d udcs na co ndução da intri -
teatr al , da incodifi cabi lidade do ser humano , do tos visuai s (JONES e s uas experi ên c ias arq ui- ciar o c aráte r, ga . Po is se o raciocín io matem ático é. por nature -
pode r ab soluto e ex tremista do ato r, A máquina é tetônicas e cê nica s ins piradas no palc o italiano) . A m áscara deforma propositalmente a fisi o- za , inatac áve l. a decupagcm" das seq üê ncias de
também a inérci a, o co ntrole, a teatralidade seg u- no m ia human a. desenh a um a carica tu ra e refun- ações, das personagen s e dos momentos pert inen-
A antim ásca ra , in ve ntada por BEN JONSON,
ra de seu s efe itos; é a finali zação perv ers a de uma de tot almente o se mblante. Expressã o grotesca ou tes das mudanç as cê nic as (e ntradas/s aídas, ce ná-
é a versão grot esca e puramente pant omímica da
concepção de teatro baseada no eo ntro le absolu- es ti lizaç ão . cópia reduzida ou cnfat iza ção, tudo rios, mudanças psic ol ógi ca s e morai s) é e vide n-
máscara: é represent ada como interlúdio cômico,
to do encenado r (do significador) da cerimônia se torna possível co m os materiais mod ernos com tem ent e muito mai s deli cada e necessari am ente
antes ou durante a m áscara.
espetacular: não são mais, simplesm ent e, as em o- fo rmas e mobili dade sur preendentes. suj eit a à di scussão. É nest e nível que um a aná lise
çõ es e o co rpo do ator que são cod ifica dos e reifi- dra mat ürgic a o u semiol ágica " é indis pe nsáve l
cad os , é a represent ação em sua total idade . Mas
W Jacqu ot, 1972; D. Lindl ey (ed.), The Manches: A máscara só faz se ntido no conjunto da e nc e-
para clarifi ca r as unidad es básicas do un iverso d ra-
• ler Court Masque , Man che ster, 1984 . nação . Hoj e. el a não es tá mais limi tad a a pe nas ao
es te co ntro le ab so luto quase não é possí vel , pois máti co e ev itar qu e a formaliz ação subseq üente
ros to , m as m ant é m es tre itas rel a ções co m a m i-
em algum lugar da ca deia intervém um ser hum a- não leve em co nta intui ções fund am ent ais e o pro -
mica "; a ap arên ci a g loba l do ator e me smo a pl ás-
no para coordenar suas máquin as e para re ce bê- j eto estético g loba l. E nt re poesia e matemática, a
MÁSCARA tica cê nica .
las enquant o espectador. A partir daí, a mar ionet e coabitação é ne cess ár ia, porém dolorosa.
se anima no vament e e se engana: tudo pod e re- rc""'
co meça r. Sobre a sem io logia, falou- se - não se m
-t)- Pr.: masque ; Ingl. : mask; AI.: Maskc ; Esp.:
máscara .
~ . Maqu iage rn. antropologia.
rn Gi nes tic r, 1961 : . Brai nerd e Ncu fcldt , 1974 ;
mal ícia - qu e e la resultaria necessariament e num a Alter, 19 75; Po rtics, vo l. 6, n. 3 14, 19 77; Dinu ,
Berna rd, 1 9 ~ O in Co rv in, 1991 : Guuvrcau ,
rnarionetização da representação teatral, numa se- in Schmid e Van K csrcrcn, 1984; Sch oenm akcr s,
O teatro cont emporâneo ocident al reencontra 1981; Asl an e Ilablel, 1985: Rou bi ne, 1985.
maforização do s atores, numa me canização da 1986; Lafon, 1991.
o uso da máscara . Esta redescoberta (se se pensar
realidade vi va do es petáculo. Na verd ade, o peri -
no teatro antigo o u na Commedia d el/ 'arle*)
go é real, mas desd e que os que faze m teatro e os
es pectado res são co nce bidos co mo produt ores e
aco mpanha a ret ea traliza ção d o te atro e a pro - MATEMÁTI C A MATERIAIS CÊNICOS
receptores, a teori a escapa à marionet ização e o
moç ão da expressão corpora l" : ( A B O R D A G EM ... ) DO TEATRO
ato r passa a se r o ce nt ro e a figu ra e mblemática Além das motivações a ntro po lóg icas do em- ~ Fr.: mat ériaux scéniqu es ; Ingl. : stag c ma-
da g raça da q ual fal ava KLEIST a pro pósit o do prego da máscara (imi taç ão do s elementos , cre n- ~ Fr. : mat h m a t i q ue [a p p ro c h e .. . ) ; In gl.:
é
~ teria!s; AI.: Biih ncnmaterial ; Esp.: ma teria les
teatro de marion et es (\8 10), a graça do anima do ça numa tran sub st anci ação ), a máscara é usad a ~ mat h cm at i ca l (ap proa ch ... ); AI. : nuuhc - esc énicos .
no teatro em função de várias co ns ide raçõe s, prin- matis ch e t M ct hod c... ); Esp .: mat em ático (a cer-
e do inan im ad o, d o co nheci mento e da inoc ência.
c ipalme nte para ob se rva r os outros estando o pró- ca m ie nto .. .).
do manequim articulado e do deus. I. Sistem a Si gni fic ant e
prio obs ervador ao a brigo do s o lha res . A fest a
o Kleist. 1810; Bensky, 1971; Dor! in T Izéâ/r e/ ma scarada lib er a as id entidades e as proibi ções
de classe ou de sexo.
O de no minador com um das abordagens mate-
m átic as do dram a co nsiste numa refl e x ão so b re
As di ferentes art es o u pr át ic as cê nicas (pin -
Publ ic n. 4 3. 1982; Fournel, 19H2; Plassard , tura , arqu itetura, pr oj eções fixas e an im ad as, mú-
1992; revist a Puck , publicada pelo Instituto Interna - Escondendo-se o ros to, renuncia-se voluntaria- as co mbinató rias de situuções dram áti cas a partir
sica, ru ídos, enun ci ação do texto), sã o às vezes
cional da Mari onete. mente à expressão psicológica, a qu al e m geral das relaç ões po ssíve is - provávei s e efetiva men-
cha madas, quando c o ns ide radas sob o aspec to
forn ece a mai or massa de informações, muitas te reali zadas - ent re as personage ns. de signos", de Si5lC1II1l .1' significa ntes" o u sis tc -
vezes bastant e preci sas, ao es pectador. O ato r é Exis te um a tradi ção do es tudo das situaç ões IIIlI c ênico" ; Os ma tcri nis cê nicos são os sig nos
MÁSCARA o brigado a co mpen sar es ta perda de se ntido e est a desd e POLT I ( 1895 ), PROPP ( 1929) e so bretudo usados pel a repre sent ação e m sua d im en são de
fa lta de identifi caç ão por um dispên d io co rpo ra l SO URIAU ( 19 50) . O livro deste últ im o inspiro u s ig nifica nte , a saber. e m sua mat eri alid ade.
-t)- Fr.: maS?'II': Ingl.: masque; AI.: Maskens pic l; co nside ráve l. O corpo traduz a int erioridade da inúmero s trabal hos narrat ológi cos e c ibe rné ticos O palco se m pre é, me sm o qu e o es pa ço cê nico
Esp.: ma scara. persona gem de man e ira muito amplificada, ex a- (C UBE, 1965: ~ I A R C U S , 19 74 . 19 7 5 ; DIN U.
qu ase não sej a trab alh ad o o u não passe de um
ge rando cada ges to: a teatralidad e e a es pa cia- 19 77 ); a narrati va (s eqüê ncia de aç ões e de con fi- es paço vaz io , o local de prod uçõe s co nc retas d e
Gên ero dr a mát ico inglês do séc ulo X VI ao lizaç ão do corpo sae m daí consideravelm ent e re- g urações ac tan ci ai s ) é aí co nce bida como um mate riai s de toda o rigem dest inad os a ilus tra r,
séc u lo X VIII , de o rig e m fra nce sa e ita liana. Os for çadas. A o posição e ntre um rosto ne utra lizado mo vim ent o de sde um eq uilíbrio rel ati vo e ntre sugeri r o u se rvir de q uad ro para a ação da peça.
ato res usa vam m áscaras (daí o no me) e repre- e um corp o em perpétu o moviment o é um a das prot agoni sta s at é um desequilíbri o (co n fl ito . Re prese nt am o papel de materiais os obje tos e
se ntavam um espetá culo de dança, de música , co nseq üênci as es té tic as essenciais do porte da hvbris, c nuistrofc), o q ua l acaba se estabi liza ndo fo rmas veiculados pel o palc o, mas tam bém o co r-
de poesia, de a legoria e de encenação de grande máscara. A má scara, aliás, não tem que represen- num eq uil íh rio ainda mais profund o. po dos atores, a luz, o so m e o texto fa lado ou
es petáculo. A m áscara é comparáv el ao balé de tar um rosto : as sim , a máscara neutra e a meia- A form alização só pode se dar co m base em declamad o. Os efe itos de matéria e textura sã o
co rte " e aos pr imórdi os da óper a. Quando há uma máscara bastam para im obilizar a mím ica e para dados o bj e tiva men te obse rváve is: núm er o de per- particul armente forte s c o m o uso de mat eri ai s
açã o, est a é redu zid a a a lguns el em ent os mit oló- co nce ntrar a aten ção no corpo do ator. so nageos, de ce nas, entradas e saída s, tam anh o das natur ais co mo made ira, ci me nto, márm o re e teci -
gicos o u a legóricos e ao esboço de urna d iscus- A máscara d csreal iza a person agem , ao intro- fal as, recorrên cia de temas o u im agen s, con fig ura- dos. El es ape la m à visão, mas também ao se nt id o
são . Du as tendências dom inam a má scara : a do du zir um corp o estran ho na rel ação de ident ifica- ções ac tanc ia is. Ta l c álculo valid a, ao mesm o tem - do lato, da acústica o u do o lfato.

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M E IOS D E C O M U N IC A Ç Ã O E TEATR<
M E IO

te atral. A qu estão é ape nas sa be r se o teatro pod e cação. ao co ntrário, ten de a co m plica r-se e sofis-
2. Materialidad e da Cena centra -se na evocação de uma Icnt a de sinte gra_
ser integrado a uma teoria dos meios de comuni- ticar-se gr aça s ao avanço tecnológic o ; el e é, por
ção do homem. A ce na é um a su bstância bem tr a-
natureza. rep rodutí vel e mul tiplic ável ao infin ito.
o conj unto dos mat eri ais brutos da represen- balhada, im preg nada da atm osfer a muitas vez es cação e se é possível co m pa rá -lo a artes ou pr áti-
Inse rid o nas práticas tecnoló gicas. m as também
tação co nstitui uma reserva de s ignificantes que mórbida de um a famíli a, de um a e m presa, de um a c as mecani zadas (illtl'l'lIIetlilllidade *).
c ultur ais e ideoló gicas, num processo de infor-
o es pec tado r recebe se m pod er nem querer tradu- classe social ou de um a humanidade lassa. Ao Que é um mei o de co m unicaç ão? Esta noção é
ma çã o ou de desinformação , o mei o de co muni-
co ntrá rio de um praticá vel" manipul ável ao sa- das mais mal delimitadas. O me io de co munica-
z i- los como sig nific ados . Por vezes. os sig ni- cação multiplica sem difi culdade o número de seus
bor da ação, de uma máquin a de rep resent ar, e la ç ão par ece de fin ir-se es se nc ia lme nte por uma
fi ca n tes" " resistem" à " tradução " ou assumem esp ectadores, tom ando- se acess ível a um públi co
pes a com tod o o seu pe so, como um de stino da soma de car acterísti cas (possibilidades e poten-
sentidos ou valore s muito diferentes. A mate- poten ci almente infinit o , Num teatro , para que a
mat éria, so bre os protagoni stas do d rama. ci alida des) técni cas. pela matéri a teen ológica pela
rialidade cêni ca opõ e-se à ficção qu e se estabele- rela ção teatral" se es tabe leç a , a ence nação não
q ual ele é ao mesm o tempo produzi?o, tr an .sm it~­
ce a partir dos dado s da fábul a e dos caracteres. A deve ultrapassar um número limitado de espec ta-
do e recebid o, pel a qual é reprodut ívcl ao ínfi ni-
materi alidade situa-se do lad o do s acontecim en- G.') Realidade representada, história . reali sta (re- dore s e de representações, pois o te atro, quando
~ pre senta ção). to . O meio de co mu nicação não es tá, portanto,
tos, do domínio direto do públi co dos mecanis- rep etido dem ais. degr ada-se , o u, qu and o muit o,
vi nculado a um co nteúdo ou a um a tem áti ca de-
mos da enc ena ção. vira outro . Assim , o teatro é , "por essência " (por
termin ado s. mas a um apa re lho e a um estad o pre-
O palc o vari a, na estética teatral, de um local se nte da tecnologia . E , no e ntanto, es ta tecnol ogia causa do seu mod o ideal de re cepç ão), uma arte
neutro, simbólico, "a sseptizado" e abstrato, co m MEIOS DE COMUNICAÇÃO d a rep rodu ção mecânica e da produ ção da ob ra de alc ance limit ado .
a fun ção única de possi bilitar ouvi r o texto (clás- (M Í D I AS) E TEATRO de arte impli ca um a ce rta es tética , ela só é útil
sico , prin cipalment e), a um es paç o co ncreto e
movediço onde se deve sentir a materialidade e F r. : médias et th éâtre ; Ingl.: m ed ia {cuul
theatre) ; AI.: Medi en (und Th ea te r ); Esp .:
qu and o con creti zad a numa obra particular e sin-
gular, ou apreciada num j u ízo es tético ou ético .
3. Quantificação e Ma ssificaç ão

da lin gua gem teatral e da ce na . Par ece ent ão, diz- To da técni ca romanes ca remete, di zia Sartrc, a A possibilidade de rep etir e di ver sifi car inde-
nos ARTAUD, "que no palc o , que é ante s de mais m ed ias de co mun icaci ôn (y tea tro ). finidamente as produ ções mass-midiáti eas influi
uma metafísica. Poder- se-ia dizer o mesmo da
nada um espaço a se r pre ench ido e um local onde tecnologia dos meios de co m unicaç ão : ela só se nas e xpec tativas e no gosto d o público de manei-
se pas sa algum a coisa, a lingu agem das palavras 1. " M idiatiza ção" do Teatro co mpree nde rel acion ada a um a refl exão es t ética, ra m uito mais ati va qu e a freq üê nc ia, mu itas ve-
de ve cede r lugar à lin gu agem dos si gnos cujo até mesmo met afísica, so bre a pa ssagem da quan- ze s pontual, da sala de esp etáculos. Pod er-s e.-ia,
aspecto o bj etiv o é qu e m elhor no s atinge " Querer ins erir o teat ro numa teori a do s me ios tidade (re produtiv a) à qu alidade (interpretativ a) . qu ant o a isso, distin guir os mei os de comuIll ca-
( 1964a: 162). de co munic ação é pressup or, talv e z de man eir a Não basta descre ver as propriedades tecnológicas çã o o u as artes qu e se dev e pe squi sar e co ns t r~l r
mei o apr essad a, que ele é co mpa ráve l a práti cas de um meio de co m unicaç ão co mo o rádi o ou a ati vam ente, como o teatro e o vídeo (na m ed ida
artísticas e tecnol ógica s com o o ci nem a. a televi- televisão. é preci so a prec iar a dramaturgia visi vcl e m qu e é preciso comparecer à representação e
MEIO AMBIENTE são* , o rádio" ou o vídeo . É co m pará- lo ao que num prog rama de r ádio ou de tel evi são e p revi si- co mandar a gravaç ão do víd eo), e os meios d.e
ge ralme nte o põe O computad or a ele : aos meios ve l para uma futura produç ão desses mei os de comuni caç ão que são ime dia to s, servidos pronti -
ê Fr.: milieu ; Ingl. : mi lieu; AI.: Mili eu: Esp.: de co m unicaçã o de massa , às art es mecanizad as co municação . f alta um a te oria ideológic a dos
me ios de co munica ção qu e ultrap asse os slog a ns
nh o s e de mane ira co mpulsó ria, quase que sem
media. e ele trônicas", às técni cas da indústria cultural. co ma ndá -los (aperta-se o bot ão d a televisão ou
Num ce rto se ntido, é prestar-lh e um mau se rviço macl uha nia nos (" o mei o é a mensagem" ) e qu e do rád io co m o mesm o auto ma tis mo co m qu e se
O meio ambiente é o conjunto de co ndições nega r sua espec ificidade comp arando-o a me ios nos leve mais longe do q ue o "ro mance via Int er- acende a luz). Este critério de ativi dilde/pass ivi-
de co m unicação que se baseiam numa inf ra-e s - net" ou os e ncon tro s a morosos via se rviço s tele- d ade co nti nua, apesar de tud o , muit o e m uso e
ex terio res nas quais vive o homem ou o animal.
Este conc eito é funda me ntal para as teorias natu- trutura tecn ológic a da qu al o teat ro se pri vou por fônicos. Isso é pedi r dem ai s? não prejul ga a ativ ida de es pec ta to rial de recep -
ralistas" que consideram qu e o homem não pode muito tempo. Porém , por ou tro lad o, a prát ica tea- ção e de interp retaç ão, sempre necessária, quer
se r sep arado do seu ambiente. tral in vad e a leg re me nte o utros d omíni os, seja 2. Os Me ios de Co mu nicaç ão a Partir do se trate de decifr ar a e nce nação de um cl ássico ou
No teat ro, o meio ambiente passa a ser, para por que utili za o vídeo. a tele visão ou a grav ação Teatro de acom pa nhar um faroeste . Não é o meio de co -
os naturali stas e mai s geralm ente para toda esté- so no ra dentro da repr esenta ção teat ral , seja por- m unic ação em si - a sab er, suas possibilidade s
tica da ilusão fotogr áfi ca, o local de observação que vê-se con stant em ente so lic ita da pela telev i- Poder- se-ia esc reve r um a história factu al da s tecn ológica s - qu e fa vorece a ativid ade ou a pas-
do hom em. No binômio ação* /caráter*, ele toma são , pel o rádi o, pelo cinema ou pel o vídeo par a inve nções dos di versos mei os de comun icação, s ivi da de, é a maneira pel a qu al e le es trutura suas
o lugar do ca ráter e rejeita a ação em benefício de se r gr avada , mult iplicad a, co nservada e arquiva- most rand o sua filia ção e a sé rie de melh oram en- in form açõ es, as util iza segundo um a dr amaturgia
um qu adro det alhad o da situaç ão hum ana muitas da . Os proces sos de troca entre teatro e mei os de tos técni cos. Se ria fácil . e ntão, situar o teatr o e m e um a es tra tég ia qu e es tim ula m mai s O U men os a
vezes co ncebida com o prim ária e imutáv el. É sem- comuni cação (mídias) são tão freqü ent es e diver- relação a es ses estádio s técnicos, ant es do sur- ativ ida de do espectador.
pre "0 meio que determina o movimento das per- s ifica dos que se deve mesm o le var e m co nta a gimento do s mei os d e comuni caç ão e dep ois,
so nagens e não os mo vim ent os das personagens rede de influ ências e de interfe rênc ias quc ac aba co mo re a ção ao avan ço da tecn ologia . Esta tar e fa 4 . O Duplo Jogo dos Mei os de
que determinam o meio" (ANTü INE, 1903) (ver por tramar-se. Quase não faz se ntido defi nir o tea- é pesada dem ais e conte ntar -nos-c mos em no tar a
Comunicação e do Teatro
também ZüLA, 1881) . tro co mo " arte pura", nem mesm o es boç ar uma tend ên cia oposta do te at ro e do s mei os de comu-
Um a dramaturgia épica * e descriti va procede teori a do teatro que não leve em co nta práti cas de nicação . O teatro tend e à simplificação, à muu-
O que, pelo menos à prim eira vista. difcrcn ci:
por momentos estáticos tquadros rv; ela renuncia co munic ação de massa, pois os mei os de co mu- malização, à reduç ão fu nda men tal de um a troca
mei os de cOlllunicação e te at ro é se u dupl o es ta
a qu alquer tensão dr am át ica ent re as cenas, con- nicação acompa nham e influenci am a produ ção direta e ntre ator e es pec ta dor. O meio de co m um-

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M EN SA G EM T EATR AL
M E LO D R AM A

o lim ite do pa r ódico , favorecem no espectado r I. Adje tivo pa ra me lodrama' (peça melodr am á-
tuto ficcion al : O programa de televisão ou de rá- modo anunc iada e prep a rad a pela frase musical " um a ident ificaç ão fác il e uma ca rarsc barata. A s tica).
dio se dá ora por real (informativo, no se ntido (ROUSSEAU, Fra g m c nts dO bs ervuti o n s u r situ açõe s sã o in v cros sÍlnci s, mas c la ram cnt e
jo ma lístico da pa lavra), ora por fictício, ao con- I "' Alcc sle" de G l uck , 17( 6 ). traçadas: infelic idade absolu ta ou felicida de in - 2. Que produz um e fc ito de exagero e de excesso
tar uma história. As ondas são então igualmente A partir do final do sécu lo XVIII, o melodra- dizível ; des tino crue l qu e acaba ou se arra nja ndo do sentimento no esti lo, na interpretação dos ato -
utilizadas para tarefas que temos o h ábito de se- ma, "esse bastard o de Melp ômcne" (GEOA'ROY) (no mel odrama otimis ta) ou que permanece so m- res ou na ence nação. O texto melodra mático abun-
parar clar am ent e. O es pectador precisa sabe r in- passa a ser um novo gê nero, aque le de uma peça brio e ten so , co mo no rotna n noir; inju stiça s so - da em co nstruções rctoricam ente muito comple-
cessante mente que es tatuto atribuir ao qu e está popular que, mostrando os hon s e os maus em si- ciais ou recompe nsas feit as à virtude e ao civ ismo . xas, em termos raros e afe tados, em locu çõe s que
vendo na tela OU ao que está ouvindo : inform a- ma çõe s apavora ntes ou e nte rnecedo ras, visa como- Situ ado na m aior parte das vezes e m lugares to- comp rovam a crnotivida de e a ausência de organi-
ção OU ficção ? Para indica r este estatuto ficc ion ul, ve r o público COlll pou ca preo cupaç ão co m o tex- tahnent e irreais e fantasiosos (naturez a sel vage m, zação estrutural da frase. O jogo de cena adora pro-
cada meio de comunicação dispõe de marcas pró- to, mas com grande s reforços de efeitos cênicos. ca stelos, ilha, sub mundo) , o melod ram a veicu la longar o gesto, ace ntuar e dei xar entrever bem mais
prias. O teat ro tam bém joga em ambos os qua- Surge no fim da Re volu ção (por volta de 1797) e abs trações so ciai s, oc ulta os co nl1itos soc iais de do que ele ex prim e. A ence nação imo biliza ,?S mo-
dros, no da informação e no da ficção, visto que conhece sua fase mais brilh ante até o início dos sua é poca, reduz as contradiçõe s a um a atmo stc- mentos patét icos em q uadros ~ ' il ' O S ' , favorece a
sua fábul a é incessant em ente apoiada por efei tos ano s 1820, mar cand o L'Aubergc des Adrct s ao ra de medo ances tra l ou de feli cidade utópica. identifieação provocando a emoção, contribui, num
de real e por obse rvações que conferem a este dis- mesmo temp o sua fin ali zação e sua subve rsão Gê ne ro traidor da classe à qual parece quer e r d i- palco ilusionista, para o fascínio do espectado r,
curso um e feito de veross imilhança . Porém , in- pa ród ica pela atuação de F. Lem aitre (imortalizada rigi r-se - o povo - , o mel odr ama c ha nce la a or- graças a uma ação ric a e m saltos qualitativos.
versamente, as no tícias transmitidas pela televi- pelo filme Lcs Enfa nts du Paradis ( O Boul evard dem burgu e sa re cent e ment e est ab el ec ida um -
são e as rep orta gen s suposta mente obj etivas têm do Crimel i. Trat a-se de um gê nero novo, e de um ver sali zando os conflitos e os valores e tentando ~ . Drama. teatro de bvulevard.
sua fábula, sua narrat ividadc, sua retóri ca, suas tipo de estrutura dra mática que tem raízes na tra- prod uzir no especta dor um a "ca tarse soc ial" _que
zonas de in venção e de ficção pura. Nesse se nti- gédia familiar (EURÍPEDES: Alceste, Ifig ênia em dese stimul á qua lq ue r reflexão ou co ntc sta çao e
do, teatro e meios de co municação encontram -se Táu ridc. M ed éia; SHAKESPEARE, MARLOWE)e que est eja pelo menos ao alcance do povo : " O MENSAGEM TEATRAL
em sua faculdade de misturar ficção e e feitos de no drama burgu ês" (DIDEROT). melodr am a se m pre se rá um meio de instru ção para
real, invenção c informação. O melodrama é a finaliz ação , a forma paród ica o povo po rq ue pe lo me nos es te gê ne ro es tá ao :'\. Fr.: messa ge thé ãtral ; Ingl.: theatri cal message ;
Para esboçar um a teor ia dos meios de com uni- sem o saber, da tragédi a cl ássica, cujo lado he rói- seu alcance " (PtXÉRÉCOURT). 't..: AI.: th ea tra lisch e Bot schaft; Esp .: niensaj e
cação que de ixari a es paço à prática teatral , se ria co, sentimental e trági co teri a sid o sublinhado ao O melodrama sob re vive e prospe ra hoj e no tea tral.
preci so con fro nt ar algu ns traços es pecí ficos e máxim o, ao multipli car os golpes de tea tro"; os tea tro de bVl/l evant*, nas telenovel as ou nos ro-
vários meios de co municação , comparando-os a reconh eciment os e comentár ios trágicos dos he- mances baratos e nas fotonove las : livro u-se de I. Mensagem co mo Tese
um teatro mín imo . Des ta possibi lidade de con- ró is. A estrutura narrat iva é imut ável : a mor, infe- seus instrument os um tan to vistosos do ronia n
fronto e comparação depende o estab eleciment o licidade causada pel o traid o r, triunfo da virtude , noir ou do mel odramático fácil, refugi ando-se em No se ntido trad icion al do term o, hoje cada ve z
de uma teor ia ge ra l do es petáculo e dos me ios de castigos e recom pen sas, pe rseg uição co mo "e ixo mito s neobu rgu eses do casa l ameaçado o u do s menos usado , a me nsage m da ob ra ou de sua re-
co municação (PAVIS/HELHO, 1987b). da intriga" (THOMASSEAU). Esta form a se de- amo res impo ssívei s. Sob uma forma paródi ca, isto presentação ser ia aq ui lo qu e se su põe que os cria-
se nvolve no mom ent o e m que a encenação co me- é, e m sua pró pria negação, ele hoj e é font e d e dores quer em d izer, o resuma de sua s tes es filo -
~ . Fotografia de teatro. ça a impor seus efei tos visu ais e espetac ulares, a inspiração d e um teatro da derrisão e dos efe itos sóficas ou morais. Esta co nce pção da liter atura é
substituir o texto e leg an te por golpes de teatro visuai s: de sd e o da da ísmo, o surrea lismo e o te a-
m Moles, 19 73 ; Ado rno, 1974 ; Qu ér é, 19 X2: imp ressionantes. O mel odram a triun fa em teat ros tro do absu rdo. Muitos artistas - por exe m plo , J.
meio suspe ita, pois implica que os criadores pos-
suam primeiro, ante s de se u trabalho dramat úrgico
'. ErteI, 19 X3; l lamon, 1994 : Pav is, 199 6a . co mo aqueles do Arnb igu -C orniquc, da Gaít é ou SAVARY e o Ma gic Circus - e muitos anima do res e cê nico, uma lição a tran smit ir, e que o teat ro
da Po rte -Saint-M artin co m PIXÉRÉCOURT, o populares são fasci na dos por este co nce ntrad ís- não seja se não um mei o suba lterno e ocasiona l
"Corne ille dos bo ule vards" (Co clina 01/ l 'Enf a nt simo ca ldo de cultu ra burg uês que é o me lod rama para esta tran smi ssão . O ra, mesmo que o p o e~ a e
MELODRAMA du Mvst ére, 1800 ). e pela re pu lsã o/fascínio que el e co ntinua a cxer- o enc enad or tenham de fato em ment e, no IIIICI O
Seu surgi me nto es tá lig ad o ao pred o míni o cer sobre nossos co nte mporâneos . AqUI o mel o - do traba lho , um ce rto proje to art ístico , sua ob ra
ê Fr.: mé lo drame ; Ingl.: melodrama: AI : Me lo- ideológico da bur gu esia que, no s prime iros ano s dram a (co mo o gra nd guignol) reafirma sua cu m- só tom a forma e sentido no trab alho co ncreto d a
dram a ; Esp .: melod rama. do séc ulo XI X , a firma sua nova força or iunda plic idade com a teat ralidade e o espetac ula r. escri tura', da drama turgia " e da encena ç ão" ; e
da Re volu ção, substitui ndo as as piraçõ es igua- não numa intenc ion alidade abstrata aplicada d e
O melodram a (lit eralmente e segundo a eti- litári as de um po vo a prese ntado co mo inf antil. B roo ks, 1974; Rc vue des Sciences Hun utin es ,
maneira ace ssória à ce na. Ad em ais, à part e o ca so
mologi a greg a : drama c antado) é um gê ne ro que assexuado e excl uí do da h ist óri a (cf. UHERS- W n. 162. 1976: Th omasseau. 1984, 1995: Przy-
da peça did ática" - ai nda essa! - não existe um a
surge no s écu lo X VIII, aquele de um a peça - FELD, no número es pec ia l da Re nte dcs Sci ences hos, 191'7 : Uhersfcld in COI\'in, 199 1.
mensagem úni ca e, si m , um conjunto de questões
es péc ie de ope reta popular - na qual a m úsica Humaines , 19 76 , n . 16 2). e siste mas significantes que o própri o espectado r
intervé m nos mom entos mais dram áticos para ex- As personagens, clarame nte se paradas e m boa s deve interpret ar e co mbinar co m maior ou men or
prim ir a emoção de uma persona gem si lenc iosa . e más, não têm ne nhuma opção trág ica possível ; MELODRAM ÁTI CO
liberd ade e fant asia.
É " um gê nero de dr am a no qual as falas e a mú- elas são poços de bon s ou mau s sentimentos, de
sica, em vez de a nda rem j untas, fazem -se ouv ir ce rtezas e ev idênc ias qu e nã o so frem co ntradi- ê FI. : mé/odram lll ilf ll e: Ingl.: I t ·It }{I " ~" lI l/ i c : AI.:
Ex pressõ es co mo teat ro co m me ns age m o u
teatro de tese" são po rtanto se ntidas co mo pej o -
sucess ivame nte, e onde a frase falada é de cert o ção . Seus sentime ntos e di scu rsos, exage rados até lJI' (}tlrm alsc " ~ Esp .: mcl odram a tlco .

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MtM E SE
METAT E AT RO

rati vas: o públi co não gosta qu e lhe apresentem ~ D i~ o e ~l ã o -di t o , silêncio, prática sig nificante. critura e estrutura r sua peça em fun ção dessa ten- pre pa ratório (com base no texto , da per son agem ,
um sistema de idéias mal "d isfarçadas" de dra- rccepçao , co munica ção , signo. são metacr ítica c metate atral (SHAKESPEARE, d a ges tu alida de ) do produt o final : assim , a ence -
matu rgia e apresentadas dram aticamente apenas MARIVAUX, PIRANDELL O, GEN ET, PINGET, nação apresentada ao públi co dev e dar co nta não
"quanto à form a". Para ele, é muito mai s estimu- W Jakob son, 1963; Mole s, 1973; Ec o , 1975; SARRAUTE). só do texto a ser encenado. como da atitude e da
lant e chegar a uma " mensagem" ao cabo de sua Helbo , 1975, 1979. modalidade" dos criado res perante o text o e a atua-
própri a refle xão sobre os recursos teatrais usados çã o . A ssim , a encenação não se contenta e m con -
3. Con sciência da Enunciação
para a produ ção do sentido . O tea tro de pesquisa tar uma históri a, ela reflete (sobre) o teatro e pro-
entendeu isto bem c toma o cuidado de não apre- METATEATRO põe sua refl ex ão sobre o te atro int egrando-a, mai s
Esta teoria de um a metapeça em ação em todo
I ou men os organicame nte, à represent ação . Por -
e
goar suas teses e co nfia na inteli gên cia e na sen-

I
texto dramático como seu coment ário , sua imagem
sibi lidade do público. Fr. : m éunhé ãtre ; In gl. : m e ta thca t re ; AI. : tant o . não é so mente o ator. co mo no di stanci a-
invert ida e sua enuncia ção ainda não passa de uma
M etatheater; Esp.: me tat ea tro. mento brechti ano , que di z sua rela ção co m se u
hipótese em vias de constituição e, sobretudo, ba-
papel, ma s o conjunto da equipe te atr al que se
2. A Mensagem Dentro de uma Teoria da seia-se em forma s de teatro dentro.do teatro . Con-
Teatro cuj a problemáti ca é centrada no teatro põe em cena "e m segundo grau". Dest a maneira,
Informação tud o, ela deveri a concretizar-se com as pesquisas
que "fala", port anto, de si mesmo, se " auto -re- o tr abalho te atral passa a ser uma ati vid ade aut o -
sobre os perforrnativos e sobre o di scurso" ,
presenta" . re flex iva e lúdica: ele mistu ra ale grem ent e o enun -
Men sagem opõe-se aqui a código*' A mensa- Se o teatro é mesm o um a meta comuni cação
ciado (o te xto a ser dit o, o es petáculo a se r feito )
ge m é decifrad a com o auxíl io de um cód igo, o (OSOLSOBE. 1981 ) (co m u nic açã o a um públi co
I . Teatro Dentro do Teatro à e nunc iação (a refle xão sobre o di zer ). Esta prá-
qu al se rve em co mpensação para fabricar novas de uma comunicação en tre ator es), deve-se en-
tic a co m prova uma atitude met acr íti ca so hre o
men sagen s. Adap tado ao teatro , o esqu em a da co ntrar nas du as co m unica çõe s - externa c inter-
Não é nece ssário - como para o teatro dentro tea tro e e nriquece a prática co nte m po râne a (exe r-
na - con cep ções co mu ns: a per sonagem é neces-
co mu nicação" procur a co nstituir có digos (narra- cício s para atores nos espetáculos de VJTEZ, do
do tea tro" - qu e esses elem entos teatrais formem saria mente feit a da mesma mat éria comunicativa
tiv os , gestuais, musicais, ideológicos etc.) para Living The atr e, da Sch aubühne et c.).
um a peça int ~rna contida na primeira. Basta que qu e aquela que o dramaturgo tem em vista (mes-
dec ompor as informações veicul adas pela repre-
a realidade pintada apar eça co mo já teatr ali zada: mo qu e imprecisam ent e ). A fó mula de todo ato
sen tação (funç ão" ). BARTHES foi o primeiro a
se rá o caso de peças onde a metáfor a da vida corno de fala do texto d ram áti co é na verdade: "Eu ( I) Q. . C o~ uni c a ç ã o, ostensão. mise ell abyme, dis -
suge rir esta teoria da co munica ção: "Que é o tea- - ~ tanci am ento.
teatro con stitu i o tem a prin cipal (C ALDERÓN di go que eu (2) digo ...". O pri me iro ell é teori ca -
tro? Um a espécie de máquin a cibe rné tica. Na fol- SHAKESPEARE; hoje, PIRANDELLO, BEC K E~ ment e um ele objetivo , aqu ele do autor, mas mes-
ga, es ta máquin a fica esco ndida atrás de um a cor- e GENET ent ra m nessa categ oria) . A ssim defini- mo assim é ele qu em narra à sua man eira o qu e
W A. Righter, 1972; Dort, 1977b, 1979 ; Pfister,
tina. Mas a partir do mom ent o qu e a descobrem, 1978; Swi ontek, 1980; 1990 , 1993: Schmelin z.
do, o meta teatro tom a-se um a forma de antiteatro parecia apenas mostrado mimeti camente. O se-
e la se põe a enviar para o se u e ndereço um certo 19 8L -
onde a front e ir a entre a obra e a vid a se es fuma. gundo ell , aquele da per son agem. s upõe-se se r o
núm ero de mensagens. Est as men sagens têm isto Esta tese desenvolvida por L. ABEL ( 1963), que suje ito de verbos de ação e não refletir sobre sua
de particular: são simultâneas e , no entanto, de parece haver forjado o ter mo, só prolon g a a anti- situação de locuto r; no en ta nto, a per sonagem
ritm o d iferente; em determinado ponto do espe- ga teoria do teatro dentro do teat ro : e la c ontinua pod e se de sco brir c om o produtora de fala , MIMESE
tácul o, você recebe ao m esm o tempo se is ou sete de masiado vinculada a um estudo te máti co da vida e nunciadora sem outro e nu nc iado qu e não aque -
informa ções (vindas do ce nário, do figur ino, da co mo palc o c não se apóia o su fic iente nu ma des- le de se r um ser fal ant e (to.1ARIVAUX. BECKETT,
:+ (Do grego mimci stkai, irn ita r.)
't..: Fr.: mimésis: l ngl.: mim esis; AI.: Mimcsis: Esp.:
ilu minação, da marcação, dos gestos dos ato res, cr ição es tru tura l das for mas d ra rn at úrg icas e do PINGET). Entre esses do is C II de co ntornos mo ve-
mimesis,
de suas mímicas. de suas falas). mas algumas des- d iscurso teat ral. d iços estabelece-se todo u m j ogo de identifica-
sas informações fi ca m (é o ca so do ce nário), ao ção e troca. A metat eat ralid ade é uma proprieda- A mi mese é a im itação o u a re pre sentação de
passo que outr as se vão (a fala, os gestos); vemo- 2. Imagem da Recep ção da Peça de fundamental de toda co m unicação teatral. A uma coi s a. Na origem, mimese era a im itação de
no s e ntão às voltas com uma ver da deira polifonia "o peração meta" do teatro co nsiste em tomar a uma pesso a por mei os físico s e lin güísticos , po-
inforrn acional , e isto é a teatr alid ade : lima densi- O es tudo qu e J. CALDERWOOD ( 197 1) de dica ce na e tudo o qu e a co nstitu i - ator, cen ário, text o
rém e sta " pes soa" podi a ser uma co isa, uma idé ia,
~ ad e de sigiloS [.. .l" (BARTHES, 1964: 258 ). lnfe- a SHAKESPEARE baseia-se na hipótese de que "a s _ co mo obje tos di sfarçados de signo demon stra -
um herói ou um deu s. N a Po ét ica d e ARIS-
lizm ente, em seguida ve rifico u-se se r impossível peças de S ha ke speare não se referem ape nas às tivo e den egati vo" (" isto não é um obje to, mas
TÓTELES, a produ ção artís tic a (p o iesis ) é defi -
enco ntrar as unidades" dos diferent es cód igos c, d ifere nte s qu estões morais, soc iais. pol íticas e a uma significação do obj e to" ). A ss im co mo a lin - nid a como imitaç ão" (lIlilllese ) da ação ( p ráx is) .
so b re t ~ d~ , superar a simples descrição dos canais O ~ l ros tem as dos quai s os críticos se oc uparam guag em poética se design a co mo p rocedillle llto*
de em.lssao c dos signos emitido s. E, por assim h á tant o tempo e tão j usta me nte, mas também às artístico, o teatro se desi gn a co mo mund o j á con -
taminad o pela ilu são e pel a teatral idade.
J. Lu gar da Mimese
diz er, ISto foi melhor para a arte teatral... Na reali- peças de SHAKESPEARE" ( 197 1: 5 ). De modo
dad e. o espectador "pratica" o espetáculo cons- mais geral, pod e-se anali sar toda peça d e acordo
4 . Encenaç ão do Trabalho Teatral da a. Em Piarão
~ruld o a Significação a partir de signos ou de con- co m a atitude de seu aut or para com a lin gu agem
Juntos de• signos que formam tant as veton.za çocs - Na República , livros 3 e \ 0, a mimese é a có -
c sua própria produção : esta atitude não d ei xa de Encenação
no es p:taculo... que ele esco lhe em função de sua pi a d e um a có pia (d a idéia, qu e é in ace ssível ao
tran sp are ce r na peça , e, às veze s, o auto r é tão
rent abi lidade para a descrição c de sua produtivi- artis ta). A imitação (esse ncia lme nte pel os mei os
co nsc iente dest a problemática qu e a tetnati za" até Um marcada tendênc ia da p r ática " cênica co n-
dad e para esclarecer o(s ) sentidot s) cênic o(s). d ram átic os) é banida da ed ucaç ão , poi s pod eria
fazer dela um dos princip ais mot or es de sua es- temporânea é não separa r o proc esso de trabalh o

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MÍMICA
MIMO

Platão Aristóteles (Poética, 1448a) rosto, uma das primeiras expressões dadas ao compor uma máscara orgânica por intermédio
homem pela natureza". O uso atual da palavra diz de seus músculos faciais e cada personagem con-
Lexis (modo de dizer) Mimesc (imitação)
respeito sobretudo aos jogos de fisionomia ou serva a mesma careta ao longo da peça" (1971 :
expressâo facial. Estes jogos têm uma função 68, fotos: 64).
paraverbal para suhlinhar ou distanciar um enun- Certas formas teatrais, como a Commedia
Mimesc Diégesc "direta" "indireta" ciado verbal, fazer notar uma reação psicológica dell' arte" ou a farsa, menos ligadas à psicologia
a um estímulo, comunicar uma mensagem pelo ou à codificação do rosto, recusam a precisão
olhar, a "careta", a contração ou o relaxamento mímica do rosto em benefício de uma gestualidade
(imitação (narrativa) (imitação pelo teatro) (imitação pela narrativa) de um ou vários músculos faciais, a contradição do resto do corpo, principalmente pelo uso da
pelo teatro) narração épica
entre o olhar e a boca, máscara" (CüPEAU, DECRüUX, LECOQ), ou de
uma maquiagem" pesadíssima para neutralizar a
levar os homens a imitarem coisas indignas da A mimese é a imitação de uma coisa e a obser- 2. A mímica, sua codificação precisa imediata- expressão facial considerada demasiado precisa
arte e porque ela só se prende à aparência exteri- vação da lógica narrativa. Ela tem por objeto a mente compreendida pelo espectador (com uma e invasiva. BRECHT admirava em Karl VALENTlN
ordas coisas. A imitação se torna, sobretudo para oposição ação/caráter: precisão extrema comparável à da entonaçâo) e Charlie CHAPLlN "a renúncia quase completa
os neoplatônicos (PLüTINü, CíCERü), a imagem pode parecer sobretudo importante no estilo de aos jogos fisionômicos e à psicologia barata"
de um mundo exterior oposto ao das idéias. Daí, a. Imitação da ação interpretação naturalista e psicológica. O rosto está (BRECHT, 1972: 44). A criação contemporânea
talvez, a condenação do teatro, e, mais particu- ligado à psicologia, ao indizível, a toda uma me- se caracteriza por uma atenção cada vez maior ao
O mythos aristotélico é definido como a
larmente, do espetáculo, durante séculos, em mimese da ação (práxis). tafísica do corpo que fala, manipulável com a fa- rosto, às mãos, ao olhar, ao corpo inteiro. O rosto
nome de seu caráter exterior, físico, contrário à cilidade das "máquinas da ópera" (MARIVAUX). se torna um cenário ambulante, seja ele controlá-
idéia divina. A mímica é, além do mais, "no teatro, o lugar on- vel como uma marionete" ou submetido a efeitos
b. Imitação dos caracteres (do ethos)
de se diz, de maneira mais clara, a refiexividade do dificilmente controláveis. Ele é o lugar onde o
b. Em Aristóteles É a imitação no sentido pictórico do termo: a discurso produzido pelo ator, que não só diz a fala- sentido desenha signos na carne.
representação figurati va. ato, mas diz que a diz" (UBERSFELD, 1981: 227).
Na Poética (1447a), a mimese é o modo fun- (;',
Limitar a mímica a um acompanhamento fá- ~. Kinésica, corpo, expressão.
damentai da arte; só que ela tem diversas for- c. Imitação dos antigos tico e para verbal seria reduzir excessivamente
mas (poesia, tragédia, relato épico). A imita-
A esses dois tipos de imitação convém acres- seu alcance. Sem dúvida, a mímica é bastante L::;;k1 Engel, 1788; Aubcrt, 1901; Bouissac, 1973;
ção não se aplica a um mundo ideal, mas à ação
centar a imitação dos modelos antigos (SCA- utilizada, como na comunicação cotidiana, prin- BirdwhisteJl, 1973; Bernard, 1976; Pavis,
humana (e não a caracteres): o importante, para 1981a, 1996; Winkin, 1981; Roubine, 1985; Paquet,
L1GER, 1561; BüILEAU, 1674). Por vezes, mes- cipalmente como modalizadorda mensagem lin-
o poeta, é, então, reconstituir afábula*, isto é, 1990.
mo - é o caso, principalmente, do classicismo - o güística, como efeito de presença e função fática,
a estrutura dos acontecimentos: "A tragédia é
poeta é obrigado a "imitar a natureza", o que tan- mas pode, também constituir um sistema autô-
urna imitação de uma ação de caráter elevado e to pode querer dizer escrever em estilo claro ou nomo não ligado a efeitos de real psicológicos,
completo, de uma certa extensão, numa lingua- observar o naturalismo» de detalhe. MIMO
a uma verdadeira encenação do rosto e do corpo
gem condimentada com tempero de uma espé-
cie particular conforme as diversas partes, imi-
tação que é feita pelas personagens em ação e
Q,
- '\l,
Realidade representada, realidade teatral, fie-
ção, realismo, diégese.
inteiro (no teatro gestual"; por exemplo). A era
clássica já havia previsto e captado. em poses e (Do grego niimos, uuitaçáo.)
Fr.: mime; lngl.: mime; AI.: Mimcnspiel, Mime;
reproduzidas por gravuras expressões estereoti-
não por meio de uma narrativa e que, provo- padas e atitudes, e o sentido codificado delas, o Esp.: 111f11lO.

cando piedade e temor, opere a purgação pró- W Else, 1957; Francastel, 1965; Auerbach, 1969; que não deixa de levar a uma eonvencionalização
pria a semelhantes emoções" (l449b). "A fá- Genette, 1969; Ricoeur, 1983. Arte do movimento corporal.
paralisante do jogo do ator e a uma psicologi-
bula é que é a imitação da ação, pois chamo zação da expressividade. Por reação a esta deri-
aqui 'fábula' à reunião das ações realizadas" va psicológica da mímica, a teoria moderna da 1. Mimo e Rapsodo
(l450a). Esta oposição continua a valer hoje: MÍMICA encenação, aquela de ARTAUD ou GRüTüWSKI,
assim o binômio showing/telling da crítica an-
glo-saxônica (BüüTH, 1961). e (Do grego mimikos, que diz respeito ao mimo.)
Fr.: nunuque; IngI.: mtmtc, facial expression;
por exemplo, influenciadas, ambas, pelas tradi-
ções extremo-orientais, busca codificar e con-
A narrativa dispõe de dois meios de expressão
fundamentais: a imitação direta pelo mimo e a
trolar o corpo de maneira plástica (e não mais descrição verbal pelo rapsodo, O mimo conta uma
AI.: Mimik; Esp.: mímica.
2. Objeto da Mimese como subproduto psicológico). Segundo ARTAUD, história por gestos, estando a fala completamente
"as dez mil e uma expressões do rosto tomadas ausente ou só servindo para a apresentação e os
I. Na Era Clássica, a mímica compreende ao mes-
A mimese diz respeito à representação dos em estado de máscara poderão ser etiquetadas e encadeamentos dos números. Remonta à Antigui-
mo tempo a linguagem por gestos e as atitudes do
homens e, sobretudo, daquela de suas ações: "A catalogadas, visando participar direta e simboli- dade grega (SüFRüN de Siracusa, no século V
rosto. Pelo menos o autor do verbete "Gesto" da
mimese da ação é o mvthos, e por mythos se en- camente desta linguagem concreta da cena; e isto a.c., compôs as primeiras peças mimadas). Na
Enciclopédia de DIDERüT define, por exemplo,
tende a organização das ações" (1450a). fora de seu uso psicológico particular" C1964b: tradução grega e latina, o mimo se torna uma for-
o gesto como "movimento exterior do corpo e do
143). Para GRüTüWSKJ, "o próprio ator deve ma popular. Na Idade Média, o mimo se mantém

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243
""
MIM ODRAMA
MI S E EN AHYME

g raças às trup es am bu lantes . Conhece um renas.


de cên cia" (DECROUX
~ .
1963'• 17 ) • Pra tiIca
c va urna G ên ero teatral medi e val (do séc u lo XI ao sé- a b vmc pa ra relativiz a r ou e nquad ra r (qu a d ro') o
c ime nto no sécu lo XV. na Itália . sob a form a da u _ •

a rte dram ática IIlterp ret ada exc lus iva men te co culo XIV ) qu e cont a uma v ida d e sa nto . so b for- es pe tá c u lo : mari on etes mim ando a ação d a peça
Co m m ed ia dcllartc» , e flor esce hoj e na arte de o co r po." ' a nc es tra l de tod o o teatro g estu al co n-
m m a narrativa c drunuu icu ( M i ra cle d e Th éophilc c representando o teatro do mundo ( no Fausto d e
DECROll X ( 1'163). de /I1 ARCEAlI ( 1'I74 ) e do lea . temporaneo . por RUTEIlEUF). A Virge m salva um pecad or ar- GOETH E o u na Ilu s ão Cô mica d e CORNEILLE) :
tro ge s tua l " ,
rcpcndi do , o que d á lu ga r a ce nas d a v ida co tid ia- es pet ác ulo e nq uadr ado pel o mesmo moti vo qu e

2. Mim o e Pantomima 4. Rela çã o entre Mimo, Gesto e Verbo n a c a interven ções m ilag ro sas. A mai s célebre a nu ncia e concl ui a fábu la ; o ato r in terpretando o
co letâ ne a é aquel a do s M iraclcs de No tre-Dame ator int erpret ando se u pap el et c .; ret om ad a d e
O mimo es tá apto a produzir um con st ante di- por GAU TIER DE CO INCY ( 1177 - 1236); ela co m- pal a vra s o u d e ce nas que resumem a ação p rin ci-
o uso atu al diferenci a os doi s termos valori-
na nu xmo do moviment o , é um a "a rte e m mo vi- pr eende tri nta texto s qu e co m põ e m um co nj unto pal; palc o co locado dentro do palco d o teatro e
za ndo-o s diferentemente : o mim o é apreciado re met endo à ilusão e à sua fabric ação ( Ha mlct, A
m ento na qual a atitude é ape nas pontu ação" narrati vo de trinta mil ve rsos. Ce rtos mira clcs
co mo c riador or iginal e inspirado. ao passo que a Gai vota ).
(DECRO UX, 1963 : 124 ). O ges to restitui o ritm er am e nc e nados por " estud a ntes " o u por co nfra-
pantom ima" é uma imitação d e uma históri a ver.
de uma espéci e de frasead o va lo riza ndo os m o~ ria s ; e les foram pou co a pou co se ndo suplanta -
b ~1 que e la co nta co m "gestos para ex plicar". O d os pel o s mist érios" c pel as paixões" . 3. Certos te xto s co nte m po râ neos tentam usar o
melll os -ch a ves d o ges to, detend o- se im edi atamen _
muno tenderi a para a dan ça. logo, a expressão proce dimento d a misc en a byme em sua pr ópri a
te antes d o in íci o o u do fim de uma aç ão, atrain-
co rpo ra l ~ib ert a de qualquer co nte údo figur ativo; prátic a d e e sc ritura c ao fazer de sua p robl em áti-
do a at enção para o desen vol vimento da ação
~ pa nt ormma buscar ia co m para r por imitações de ca d e c riação e de e nuncia ção o ce ntro d e suas
~e stu al e não pa ra se u res ultado (téc ni ca ép ica) : MISE EN ABYME
up os o u de situações soc ia is: " O teat ro parece No muno, o es pec tado r só ca p ta o g es to se o pr eocu paçõ e s e de se us enunciados ( HANDKE,
com id o ent~ e dois silê nc ios , co mo a própri a vida, preparamos par a isso. As sim , q uando vo u apa- PING ET, SARRAU TE).
~ (Do francês, sem co rresponde nte em português.)
e ~ tre ~m mimo do início, fe ito d e g ritos, inspira. nhar u m a carteira, pr im eiro lev anto a mão. o lha- 't..: Fr.: misc en abvnic; Ingl.: embcdding. spccular
ço es: Identificação, e um mimo do fim , última reduplication; AI.: mis e ah)'me; Esp.: niise en 4. A auto-re presentação (q ue també m se c ha m a
se pa ra a mão, e em seg uida é que me d irij o à (' 11
cabno la no virtuosis mo e na pantomima" (LE. abvme. auto-r efer en ci ação quando o texto remet e a si
carte ira. E x iste um tempo de preparação, e de-
COQ) . A opo sição e ntre mimo e pantomima se mesmo. c nã o ao mundo) é um caso particular d e
pOIS u ma outra aç ão" (MARCEAU, 1'174: 47). O
basei a numa questão de estili zação e de abstra- I . Em he ráldica, o abvme (ab is mo) é o ponto ce n- mis e en abymc ; ela é um "daque les efeito s d e es -
m imo estrutura o tempo à sua maneira . decide o
Çã~ . O mimo tende para a poesia, amplia seus tr a i do brasão . Por an al o gi a, a m isc en abimc (ou pelho s pel o s qu ai s o text o cita. se cita. põe- se a s i
tempo d as paradas o u da " po ntuaç ão" marcada
meios de e xpressão, propõe con ot ações ges tuais abvme , termo int rodu zid o por G IDE) é o procedi- me smo em m o vim ento" (DERR IDA. La Di ss é-
pelas atitudes d os ato res. De st e m od o, e le se se-
qu e cada es pec tado r interpre tará li vrem ente. A m en to que co ns iste e m in cluir na obra (pic tó rica, mination, p. 35 1); é , port ant o, um caso de iruertex-
pa ra do ritmo da frase ve rbal e evita o c fe ito de
lit er ári a ou teatral ) um c nc lav e qu e reproduz ce r- tualidadc rel acion ad a ao própri o te xt o . A a uto -
pant om im a apresenta um a sé rie de ges tos , muitas redundânci a.
tas pr op riedades o u sim ilitud cs estru tu rai s del a. representação teatr al diz respeito . na m aioria d as
ve zes destin ad os a di vertir e su bs tituir um a série
vezes, a urna represen ta çã o de sd obrad a , o qu e
de frases; denota fielmente o se ntido da história W Dorcy, 1958, 1962; Mounin, 1970: 169 -180; A p intura (VAN EYCK, MAGRI TfE), o romance
remet e à for m a basta nte co nhecid a d o teat ro dcn-
mostrada . . KlpSIS, 1974; Lore lle,1974; Marceau , 1'174 ; de (CE RVANTES. DIDEROT, STE RNE . o llOlIveall
t ro d o teat ro .
Mari nis, 1980, 1993; Leeoq, 1987: Leabhart, 19 89 . ro ma n') e o te at ro (ROTROU , COR NE ILLE.
No te atro , a auto- re flcx ivid ad e se ex pressa e m
3. Form as de Mimo ~l A RI VA U X . PIRANDELLO) co nhece m bem es ta
m u ito s ou tros níveis al é m daqu e le d o te xto . A
práti ca. O refl e xo d a obra e xterna no c ncla vc in-
ce nog rafia pode figurar e m espe lho u m el em e nto
~ mimo va ria de acordo co m cada inté rprete,
MIMODRAMA terno po de se r u ma im ag em id ênt ic a, inve rtida.
co ns iderado pe rtine nte . co loca ndo um palco dcn-
e na o se pod e fa lar e m g<'lIero , no máximo em multipli cada o u a proxi ma tiva .
tro d o pa lco (Ilon i!et d e Io.IESGU ICII; B ér énicc de
te nd ê ncias: B Fr.: mim odrame ; Ingl.: mime p lay; A I.: Mi- A m ise CII abvme compree nde " to do es pel ho
VITEZ). O ato r, ci ta ndo sua pró p ria a tuação ao
musspiel ; Esp.: mimodrama, . qu e refl ete o co nju nto d a na rr ati va por redupli-
. O mimodrama co nstró i tod a uma fá bul a a par. desdo brar aque la do par cei ro , in staura faci lmc n-
tir d e um encadea mento de epi sódi os gcstuais, vai caç ão s im ples . rep etida o u es pec iosa" c " todo te uma " intc rludic idadc" qu e não remet e senão a
. P ~ ça
qu e só utiliza a lingu agem co rpo ra l da c nc lavc que mant ém uma rel ação d e similitude
ao e ncontro da s estruturas narrati vas da coméd ia s i me sma . Mu itas ve zes. a auto-rctlcxividad c não
o u d a trag éd ia (cx .: /I1ARCEAlI ). ~lI1 ca
s~mgu e - s e do mimo: " O pom o de par-
. Dl co m a o b ra qu e a co nt ém" (DÃLLENI3 ACH. 1'177 : é se n ão um a m ar ca b as ta nte ban al d a fu nç ão po é -
tida deles foi o me sm o, mas por se u resultado: na 71 . 18). A misc ell abvntc teatral se ca rac teriza por
O m imo dan çado utiliza um gesto es tilizado, ti ca au to-refer en cial que . segu ndo JA KOB SO N
pant om ima, o co rpo não bast ava, e le apelava a um de sdob ram ent o es tru tu ra l-te má tico, " isto é .
abs tra to e depurado à ma neira de um ba lé. É acorn- ( I '163), c a rac te riza o si gn o est ético . O teatro tem
outros elementos do es pe tác ulo; no mimodrama u ma estreita correspondên ci a entr e o conteúdo da
punh ado de música e muitas ve ze s se confunde muit a d ifi cu ldade em falar de te at ro e m te rm o s
ele é tudo" (DORCY, 196 2: 6'1). ' pcça cng astanrc e o co nte údo d a pe ça engastada"
CO Il1 a d an ça (ex .: TOMASZEWSKI) . te atrai s, a saber, não literários e ling ü ísticos , m as
. O mimo ~JlIro corresponde a um ge sto qu e não (FORES TIER, 198 1: 13). cêni co s C lúdicos : até mes mo PIR ANDELLO é um
IlI1l1a urn a situação, não visa o efeito de reconhc- teóri co m uit o fal ante.
M IR A C LE 2. O teatro dentro cio teat ro " é a forma dramát i-
c ime nto ; é abstrato e despojado (PAVIS, I 980d).
ca mais comum de mi se ell abyme. A peça interna <D
_ "-' '1
Meu u cntro. distanci
istan cramcnto, I·aniasra.
·
O numo co rpo ral provém d as e xpe riências de
COPE AU no Vieux -Co lo m bie r: o a tor, o ros to B (Do fran cê s, assim usado em portu gu ês.) ret oma o tema do j ogo te at ral , se ndo an alógico
masca rado, o cor po. " tão nu qu ant o o permiti a a
Fr. : miracle ; In gl. : m ira cl e pla v; AI.: ou par ódico o ví nc u lo e ntre as du a s es tru tur as . A í TJ. Kowzan , 1976; 1'<'.11" . n. 2. 19 R2: Pavi s, 19R5c;
Lcge lldclIspi el, Mimkelsl' iel ; Esp.: mi lag ro. e nce na ção coruemp or ãnca re c orre à m isc en "... . Corvi n in Schcrcr, 1'lR6; Ju ng, 1'1'14.

J..I5

R
MI S T É R IO
M O NÓl. O G O

MIST ÉRIO ser imitado: é um m od el o reduzido , uma maqu ete exte nsão de uma fala d e stacável do conte xto
visão úni ca d e um a pe rson age m, mesm o no int e -

e (Do lati llllllill i.Herilllll. ~ fkio , ato. Ou, de aco r-


da cllcellaçüo*, um d oss iê com pos to de fotogra _
fias, de indi ca çõ es d e atuação, d e análises dra.
rior de uma pe ça co m in úm er as pe rso nage ns. A s -
sim STANlS LÁVSK I, ao co nvi dar CRAIG a rnon-
co nfli tua l e d ialóg ico . O contexto * perman ece o
mesm o do princíp io ao fim , e as mudanças de di -
do com outra e timo logi a, do latim mvsterium
Inatú~gi ca s c de carllcler;Zllç'tio· das personagens. lar Hamlct, Ihc s uge re " faze r co m qu e o públ ico reção se mâ ntica (p r óprias d o di ál o go ) são limit a-
mistério, verdade sccrera.) . '
Ela ftxa as eta pa s d a e lab ora ção do cspet ácul o compreenda qu e e sui ve ndo a peça pe los o lhos d e d as a u m mínim o, d e m an eira a garantir a un ida-
Fr.: tnvs t ér«; Ingl. : m ystcrv play ; AI.: MI'Slcri1/1II
M vstcrienspicl; Esp.: m isteria. . , registr a as difi cul da des d o text o e propõe um qu a~ Harnl ct ; qu e o rei , a rainha c a corte não são Ill OS- d e d o assu nto d a en uncia ç ão " .
dr o gera l para a illlell' reraçü o * . Para BREClIT trad os no palc o co m o sã o na realidad e e, sim ,
Drama medi ev al reli gioso (do séc ulo X IV ao qu e co meço u no Berl in er E nsc mble esses mo, co mo par ecem a Hamlet " (citado em D. BA13 LET, 1. In verossim ilhança do Monólogo
sécu lo XV I) qu e põ e em cen a episód ios da Bíbl ia dcl os de repre sent ação , estes d evi am se rv ir de E. G. Cra ig, p. 175. )
(Antig o e Novo Testamento) ou da vida dos sano ba se para futuro s e ncenado res , se m, toda vi a É EV REINOFF qu em. e m sua Int roduç ão ao Por se r se ntido co mo untid ram ático, o mon ó-
tos, re prese ntado quando da s fes tas rel igi osas sere m usad os tal e qu al nas e ncenações po stcrio - M ono drania ( 1909) e e m se u mo no d ra ma O s lo go é freq üent e ment e conde nado ou reduzido a
pe los atores a mado res (mí micos e men estr éi s, res. Dent ro do mesm o espírito do Modellbltch Bast idores da A lm a , d ar á a este gê nero suas c a r- alg uns e mpregos in di sp ensáve is . Repro vam -lhe ,
pri nci palmente ), so b a direção de um condutor e os volumes de Les \0 ie s de la Création Th éâl ral ; tas dc nobreza : tr at a -se , par a e le, d e " u m tipo de alé m de se u ca ráter está tico, at é mesmo ted ioso ,
em ce nários simultâ neos, as ma ns ões. O mistério (C N RS) rccon stitucm e s pe tác u los propondo s ua de representação dramática na qual o mundo qu e sua in ve ross imilhan ç a : já qu e o homem sozinho
du ra vários di as, com um narr ador para es ta be le- a ná lise dr am atúrg ica e fornecendo uma rica d o- rod ei a a personagem a parece tal e qu al a perso- não fala em vo z a lta , to d a represent ação d e um a
c u mc nt açã n, per son agem q ue co nfia se us sentimentos a si m es-
cer a ligação ent re os e pisódios e os locais c com nagem o vê e m lodo momen to d e sua ex istê ncia
um mene urde jeu. El e é comand ado pelos govcr -
nos muni cip ais (tex to e condutor ), repr esent ado
<D.- x,. Adaptaç ão , descri ção. cê nica " . Através d e sse m und o ambie nte , o p úbli-
co é qu e deve torn a r- se parceiro do prot agonista.
ma se rá facilm ent e rid íc ula , vergonhosa e se mpre
írrea lista e in ve ro ssímil. A ssim, o teatro reali st a
em tod os os es tilos numa seqüência de qu ad ros.
Os atores se agrupam em confrarias. Cho cad a com
m T/warerarbeit(/ 952 ), 1961 ; Pavis, 1981b,1996.
3. Um tipo de monodrarna em qu e tudo é levado
ou natural ist a só ad m ite o monólogo quando é
motivad o por um a situação excepcional (sonho,
a e vo lução do mistério para o burl esco e a gros - à representação d e um espaço int erior " é consti- sonambulism o, e mb riague z, efusão lírica) . No s
se ria, a Igr ej a proíbe, em 1548, dar a reli gião em tu ído pelo drama ce rebra l, con forme o termo de outros casos, o m on ólogo revela a artificialidade
MOMENTO DE DE CISÃO teat ral c as conve nções de jogo. Certas é pocas,
espetác ulo na il e de France, ma s a trad ição se M auri ce REAUBO URG par a sua o bra L 'Image
perp etu a na Fran ça e em tod a a Euro pa (a li /O' (1 894 ), "uma peç a na qu al todo o int e resse hu- não preocupad as co m uma expressão naturali sta
Fr.: point de rcto urn ement; Ing l.: turni ug po int; do mundo, acomoda m -se he m ao mon ólogo (SHA-
sac ra me nt ales na Es pan ha e em Portu gal,mirael e mano, to d a a ação, to d a a e moç ão dc rivam de uma
A I.: llbl<lel'l/ll kl ; Esp. : I){IJlI O decisivo.
plays na Ing laterra ; laudi na Itál ia, M vsterien spielc crise mental" . KESPEARE, o Sturm und Drang, o drama rom ânti -
na A lem anha ). A influên cia so bre a dr am aturg ia co o u simbo lista) . Co m o teatro intimo" (STRIND-
Mo me nto da peça e m qu e a ação d á uma nov a
elisabc ta na (MARLOWE, SHAKESPEARE) e espa- 4. A e nce nação co ntempor ânea se inspira muit as 13 ERG, mas j á em MUSSET, MAETERLl NCK), o
virada , qu ase se m pre ao contrário do qu e se po -
nhola (CALDERÓN) se rá co nsiderável. ve zes nes se ponto d e vista so bre a realidade e o mo nó log o se torn a um tip o de es critura pró xim a
deri a es pe ra r. Essa noção é mu ito a prox imada
O M ist ério da Pa ixã o rel ata a vida de C risto, daq ue la de p eripécia" , dr am a para d ar uma im agem ex tra ída do int eri or d a poesi a líri ca .
misturan do cô mico c grotesco e discussões teo- da perso nagc m, sej a m suas açõ es visí vei s (COII -
lógicas, tealral izan do tod a a cidade por efe itos certo ti la Cu rte d e I'.-X. KROETZ, 19 72 ) o u si- 2. Traços Di al ógi cos do M on ólogo
es petac ulares . MONODR AMA tu ada s e m sua ima gi na ção (O rla ndo de V. \VOO LI'
e nce nado por R. WI LSON, 1989. 199 3). Nã o ex iste diálogo su ficie nte me nte natur alist a
ç~ . A
. uto sacramental. milagre, dra ma litúrgico.
ê FI:: mo no dranu-; fn g l. : mo nodrama ; A I.:
W E vre innff, 1930 ; Danan, 1995.
para apagar qu alquer vestíg io de se u a uto r-cn un-
ciador: do mesm o mod o, o mon ólogo tende a re -
Monodranm ; Esp .: monodrama.
Q Koningson. 196'1, 1975; Rcy-Flaud. 1973. vel ar ce rtos traços di aló gicos . Este é o caso , prin-
I . No se ntido ba nal , é um a peç a co m um a pcrso- cipalme nte , qu ando o herói avalia sua s ituação,
nagem , o u pel o men os co m um Sll ato r (q ue po - MONÓLOGO dir ige -se a um int crl ocuto r im ag inário (Ha rnlc t,
MODELO d erá assumir vário s pap éis ). A peça é cen trad a na M acbeth ) ou ex terio riz a um debate de co nsc iên-
(RE PRES ENTAÇ ÃO ...) figura de um a pessoa da q ual se e xplora m as mo- ~ (Do gr eg o m o nol ogos, d isc urso de uma só cia. Segun do llE NVENISTE, o " mo nólogo" é um
t..:
e tiv ações íntimas, a subje tividade o n o lirism o. A pes soa .) diálogo inte riorizado , formulado em " ling uage m
(Tradução do alemão Modellbu ch ou Modell- Fr.: manologue; Ingl. : mono togue, so liloquv; AI.: inter ior" , e ntre um eu lo cutor e um eu ouvinte: "Às
peça com uma per sonagem est :í em voga no final
al/ffiihn mg .) Monolog; Esp.: monologo.
do século XVIII (Pygm alio/l de ROUSSEAU) e no vezes, o eu locut or é o único a falar; o eu ouvi nte
Fr.: mod ele; Ingl.: 1II0del; AI.: Modcll; Esp.: model o início do século XIX, not adament e com o cxprcs- permanece, entretanto, presente; sua presença é ne-
(representn ci/nn O monólogo é um di scurso qu e a personagem
s io nismo. ce ssári a e su ficie n te para tornar significante a
faz para si mesma . Enco ntra -se ta mbém o termo
enunc iaçã o d o e u locutor. Às vezes tamb ém o e u
A re prese ntação "modelo" do M odcllb uch so lil áquio " .
2. No início do sé c ulo X X . O mo no dra ma passa a o uv inte intervé m par a uma objeção, uma pergun-
hrechtian o nad a tem d e um model o exc mplar a O mon ól o go se d istingu e d o d iál o go" pela
se r um gênero qu e se esforça para redu zir tudo à ta, um a d úvida, um insult o" ( 1974 : 85-86) .
a usê nc ia de i nterc âmbi o ver ba l e pe la g ra nd e

2-16 2-1 7
M O N ÓL O G O
~1 0 NT AG EM

3. Tipologia dos Monólogos o Peça co mo monólogo por se u c riado r o u qu e o públi co lhes e m pres ta ge m de a traçiies é aquela das formas es pe tacula-
Co m um a ún ica per sona gem (cx .: La Sa gou ille sua vo z interi or" (WIRTH, 1981 : I1 e 14). Nesta res populares (c irco, lIlI/sic-hall, feir a o u Hala ganv
a. Confo rm e a fu nç ão d ramal lÍrg ica do " d ra ma turg ia do di scu rso" (WIRTH , 1981 ), o d is- e, d ep o is , d as livres associações en tre moti vos vi-
de A. ~I AILET ) o u co nstituída de um a se q iiê ncia
m on ôlogo de longu íssimas intervenç õe s Un ventu ires de curso nã o é nem mon ológi co nem dial ógico, é ao suai s (ou lllolllagcm intelcctualv; pelo "choque, pelo
o Monólogo técni co (lIa rra tin/ ' ) Philippe MINYANA; Le Fai seur de Th éâtrc de T. me smo tempo monolítico c pulverizad o. Dele, de co nflito de dois fragmentos opo ndo -se um ao ou-
BERN HARD; \'<1115 qui Habite; le Tcmp s de V. sua es tru tura, depende toda a o rg aniz açã o cêni ca: tro" (EISENSTEIN, 1976: 29).
Ex posiçã o, por uma personagem , de aco ntecimen-
tos pa ssado s ou que não podem se r apresen tados NOVARINA). el e nã o é ma is o código lin güísti co in scrito na
d iretamente. im agem e na linguagem cêni ca, ma s o org anizador a. M ontagem dramat úrgica
4. Estrutura Profunda do Mon ólogo de toda a teatral idad e. Se gundo as pal a vra s de P. Em ve z de ap rese ntar um a aç ão unifieada e
o Mon ólo go lírico
HANDK E, " a figura do di scur so det ermina a figu- const ante, u ma " obra natural , orgâ nica, co nstruída
M omento de reflex ão e de e mo ção de um a perso- ra d o mo vim ent o".
Tod o di scu rso tend e a esta bel ecer uma re laçã o co mo um co rpo que se ~e senvol ve " (BRECHT,
nagem que se deix a levar por confidências.
de comuni cação entre o locut or e o destinatário da 1967, vol. 19: 3 14), a fábula é quebrada em uni -
M ukarovsky, 194/ ; Szondi , 1956 ; KIotz, 1969; dades autôn omas . Ao recusar a ten são drarnauir-
Mon ólogo de refl exão ou de deci sã o
o
men sagem: o di álogo é que melh or se presta a este W vo n Mal! in Kcll er, 1976; Sarra zae , 1989;
g ic a e a int egraç ão de todo ato a um proj et o glo-
Co loc ada diant e de um a esco lha de licada, a per- intercâ mbio . O monólogo, que por sua estru tura A ltcrnatives Th éàtrales n. 45 , 1994.
so nag em expõe a si mesma os argumentos e con- não espe ra um a resposta de um interl ocut o r, est a. bal, o dram aturgo não a proveita o impulso de
tra-argument os de uma co nd uta (dilema ", deli- belece uma relaç ão direta entre o locutor e o ele do cada cen a para " lançar" a intriga e cimentar a
beração ' ). mundo do q ual fal a. Enquanto " projeção da forma ficç ão. O co rte e o co ntras te passam a ser os prin-
MONTAGEM cíp ios est rut urais fundame ntais . O s di ver sos tipo s
exclamativa" (TODOROV, 1967: 277 ), o m on ólo-
b. Conform e a fo rma lit erária de m ontagem se caracterizam pela descontinui-
go se co munica diret am ente co m a totalid ad e da ~ Fr.: lIon a g ~; Ingl. : montag e; AI.: M ontage;
Aparte. dad e. pelo ritmo" sincopado, pelo entrechoque.
o soci edade: no teatro, todo o pa lco aparece co m o o Esp.: mon taje.
pel o s di stanciamento s" ou pela fr agmentação .
Al gumas pala vras bastam par a indi car o estado parceiro discursi vo do monologante. O mon ól og o
A mo nta gem é a art e da recuperaçã o dos m ateri ais
de es pírito da person age m. d irige-se em definitivo diretam ent e ao es pec tador, Termo proveniente d o cine ma , m as usad o des-
anti " O S ' e la nad a c ria ex nihilo e , sim , o rga niz a
iruerpe la-o co mo c úmplice e \'Oye /lr - " o uvi rue", d e os an o s trinta ( EIS ENST EI N, PI SCATOR ,
• Est ânci as» a matéria narrati va cuidando de sua dccupagern
Esta co municação direta constitui a fo rça e ao mes - BRECHT) para uma fo rm a dramatúrgica onde as
Forma bastante elaborada pró xim a de um a bala- s ig nific a nte . V ê-se aqui co mo e la é diferente da
mo te mpo a inve rossimilhança e a fragil idade do seq üê nc ias textu ais o u cê nica s sã o mo nta das num a
da o u de uma ca nção . mon ólo go.
colagem " : a m ont agem é or ga niz ad a e m fun ção
suc es são de mom ent os aut ôn omos.
de um m o vimento e de um a direção a se r im-
o D ial ét ica do racioc ínio
pre ssa à ação, ao passo que a co lag e m se limita
O arg ume nto lógico é apres entado de man eira siso 5. Dramaturgia do Discur so 1. Montagem Cinematográfica
a entrechoques pontuais. produzindo efeito s de
tem átic a e num a seqüência de o po s içõe s sernân- se ntido " es tre lados" .
ricas e rítmi cas: por exemplo, as es tânc ias de Na dram aturgi a brecht ian a e so bre tudo pó s- Fo i " descoberta" pel os praticant es do cin em a
C omo ex e m plos de mont agem dr am áti c a, ci-
CO RNEILLE(PAVIS, 1980a ). brechtia na , o qu e imp ort a é o co nj unto dos di s- (GR IFF IT Il , EI SE NST EI N, PUD O VKI N) par a
tem os :
cursos da " peça" e não as con sciênci as isol adas de cupar os plan os-seq üênci as pre vi ament e film a-
• Mon ólogo interior ou "st rcam of co nsciousness" - co mposi ção em quadros " : ca da im agem forma
das personagen s indi vidu alizadas. Se o "m o n ó- dos, e m po rções de pel ícul as , as q ua is dão, urna
O recitante emi te de qu alqu er man eira , se m preo- um a ce na qu e não se tran sforma numa o utra
logo" vo lta co m força na es critu ra co nte m po râ- ve r. co ladas , a fis io no mia definitiva do filme. O
cu paçã o co m lógica o u ce nsura, os fragm ent os cen a (S HAKESI'EARE, BÜCHNER, BRECHT );
nea (~1. DURAS, P. IIANDKE, 13. STR AU SS, 11 . ritmo e a estrutura narrat iva do filme de pende m
de frase s que lhe passam pela ca be ça. A desor- - c rôn ic a o u a biog ra fia de uma pe rs on agem,
MÜLLER, B.· M. KOLTES), é porque o monól ogo estreitamente do trabalho de edi ção na mesa de
dem em ocional ou cognitiva da con sciência é o m ontagem (MARlE , ( 977 ). qu ando e las sã o apre sentados como etapas se-
interi o r, a literatura do strcam of consc iou sncss
prin cipal e feito buscad o (BÜCHNER, BECKETf) paradas de Ulll encam inhament o ;
passara m po r a í: a idéia de um a co nve rsa be m
(cf DANAN, 1995). - um a se qü ênc ia de esquetes" o u um a re vi sta de
co mpo rtada e ntre do is indi vídu os tomand o ca fé 2. Montagem Teatral
feira o u de music-hall;
o Pa la vra de autor", hit musical e falando gra ve me nte do mundo é doravantc ana-
crônic a, até mesmo absurda . Através d os te xto s
- teatro documentário": só recorre a font es au -
O autor d irige· se dir etament e ao público, sem A priori, semelh ant e op er açã o parece difi cil-
têntica s qu e el e se lec iona e o rganiza de acordo
passar pela fiCÇão da fábul a o u do un iver so musi - co ntem po râne os , é o co nj unto do te xto qu e é d i- ment e realizáv el em eima do palc o. Est e se afigura
com a tese demon strad a;
ca l, para se d uz i-lo ou provocá-lo. rig id o, o u m elh o r, atirado na ca ra d o pú bli co pou co apt o a transformar-se tão e fic ie nte mente
( IIANDKE, BERNH ARD). O diálo go não é mais qu ant o no cine ma. M as a montagem no teatro nã?
- teat ro d o co tidiano" : investiga os lug ares co-
o D iálo go solitário muns e a fra seo logia de um certo am biente .
possível a não se r e ntre o texto em bloco c o es - é servilmente submissa ao modelo do cin ema. E
"O di álo go do herói co m a di vindad e, d iá logo pect ad or. Est a es critura se caracteri za por uma ant es uma técni ca ép ica de narr açã o qu e e nco ntra Às ve ze s o teatr o intercala , co mo na m onta-
parad o xal no qu al apenas um dos int erlo cuto res "destru ição da d ra ma turgia di alógica " , um " me r- se us precursor es em DOS PASSOS, DOI3L1 N o u ge m c in em at ográfi ca , curtas seqüênci as repetiti -
fala para d irigi r-se ;10 o utro que nun ca lhe res- gulho s uic ida no so lilóquio " : " Se as person agens JOYCE : e la é vista em BRECIIT e, so bretudo, em vas qu e tomam evi dente, por e fei to de cont rast e,
ponde, e do qual não se tem certeza de qu e o uça" deste teatro se m d iál ogo fa lam, é apenas ap ar ên- EISENSTEIN e sua "montagem de atr a çõe s" (192 9). o sent ido do fra gmento enq uad rado : um refrão,
(GOL DMANN: Rucim-, p. 26) . Jo gando co m o dupl o se ntido da pal avra, a mont a- uma á ria de música, um a luz bastam para pôr em
c ia. Seri a mai s e xa to diz er qu e e las são fal adas
248 249
MORALIDADE ~IO T I V O

moviment o a cena " m ontada" e faze m um papel Bem Aconselhado , Ma l A conselhado) co m e le- lism o. O dr am aturgo às veze s faz misté rio das sim ples esrercoripa das *, com o o conto popular,
de contra pon to " visual. me ntos farsesco s e bu fões pr ó xim os da sotiev , motiva çõe s dos heróis *, deixa ndo para o públ ico para forma lizar um número de motivos reco rren-
A p s icomaq uia põe e m ce na os co nflitos ent re descobrir suas verdade iras intençõe s. Uma d as tes, de finir suas es feras de ação e determinar sua
b . M ontagem d a personagem os sete pecad os capitais, as virtudes, os vício s. prin cipais tarefas do ator é e lucidar as motiva- s inta xe. Par ece difícil pro ced er da mesma manei -
Co nse qüê nci a dessa dramaturgia do fragme n- enq uanto o homem, et erno pecado r, é co nvida- ções de sua per son agem e encont rar os mei os para ra para form as teatrais co m plexa s. A penas certos
to, a personagem também é o result ado de um a do a arre pe nder-se e a imp lora r a piedade divi- faze r co mo se e la e s t ivesse e m sua s ituação gêne ros simples e co di ficados (farsa, Conzmedia
montagem/desm ont agem (te ma de V III H omem é na . O " percurso d o co mbatemo" é cheio de ob s- (STANlSLÁVSK I, 196 3,1 966). dell'urte. teat ros popu la re s) se presta m a um in -
1/11I H om em, de BRECHT): cada pro prieda de é es- tá cu los, mas a g raça di vi na o assiste qu and o das ve ntár io de se us moti vos e a um esboço de sinta-
co lhida e m fun ção de um a ação ou de um com- ten tações. Já é uma fo rm a teatral , visto qu e o 2. Motivação da Ação xe . Entre ta nto, d istin gu e m-se no inte rior de um a
portame nto a ser ilus trado ; passa de uma a out ra te xto, bas ta nte liter ár io e c ujo auto r é muitas me sm a peça certos temas fund amen tais, às vezes
figura po r adição/subtração dessas prop riedades, vezes co nhecido, é divid ido em di ál ogos e dese- repet itivos (leinno tivr ); es tes temas" forma m um a
Para a dr a mat u rg ia clássica e para tod a fo rma
e seu lugar no e sq ue ma actan cial" det ermina nh a uma ação . E veryman, publicado em 1509, é cadeia ao mesmo tempo poética e narrativa (as-
teat ral q ue se b asei a numa imitaç ão" e num a pro -
logicamente sua co nstituição . Quanto ao traba- co nsidera do um a das m a is a ntigas e puras mo - sim, por exempl o, o moti vo das pist ola s em Hedda
duç ão de ilus ão " , a aç ão aparece como nece ssá-
lho de prepa ração do pap el, quand o é baseado em ralidades. E m nossos dia s, for am mesmo feit as Gable r de IBSEN, da cerej eira o u da gaivo ta nas
ria e lógica. O ac aso , o irraciona l o u o ilogismo
improvisações ou pes q uisa s de fontes (Commedia a lgumas tentati vas par a retorn ar este ti po de peça peças de TCIIÉKHOV).
são e ntão exclu íd os de imedia to, ou, qua ndo apa-
dcll 'arte, trabal ho do Th éãtre du So lei l etc.), tam- (HOFMANNSTHAL, ELlOT, YEATS e, parod ica- recem, sua pre sen ça é dev idamente ex plicada e
bém ele consiste numa paciente mont agem de tra- me nte, BRECHT: Os Se le Pecados Cap itais). 2. Tip ologia dos M ot ivos
ços ca racterizames e de seqüê ncia s de atua ção . ju stificad a. O esp ec tador deve pod er ace ita r as
mudanças de açã o e reconhecer nela s a lógica do
~ . Milagre, auto sac ramental , mistério, máscara .
se u próprio mundo. Pegando o co ntrapé desta ló- a . Segundo seu gê nero
c. M on tagem d o p alco
gi ca, o teatro do abs urdo" põe em confront o per- Para o teatro, os motivos mais freq üent es serã o
Todo o palco é um jogo de construção; por L:J::) Colet ânea de moralidades in M oralit és Fran- a rivalidade de duas pessoas, o confl ito e o dilema.
çaises, 1980, W. Hel rnich , ed.
sonagens que agem de man eira imprevisível pa ra
exemplo, u m ace ssório trazido do ext erior para o a luta co ntra o de stino , o a mor o u o desejo con tra-
o es pectador médio , isto até q ue este se dê co nta
palco transforma incessantemente os sig nos do riados pela sociedade et c . O traço mais freqüe nte
- como Pol ôn io a propósito de Harnlet - de qu e
ce nário . Passa-se sem tran sição temática nem jus- desses motivos é se u ca rá ter d ia lético; riva lidade,
"existe um sistema nessa lo ucura" .
tificação pe la fáb ula o u pelo discurso da s perso - MOTI VAÇ ÃO co nfl ito" , troca , qi iiproqu á" (m ot ivação "),
nagen s. A mont age m in fluenciou co nsiderave l- A mot ivação também di z respeito ao de se n la-
men te a esc ritu ra d ramá tica con tem porânea . -o Fr. : m o t i v a ti on ; In g l. : m o t i ..ation: Al. :
Motivation; Esp.: motivaci ôn.
ce ; este não deixará dúvida sobre o estado de coi-
sas e so bre a co nc lus ão defi nitiva dos co nfli to s: b. Segundo s ua s dim e n sões
m Change, 1968; Eisenstein, 1976; Bablet, 1978; em d rama turgia c lássica, tod o co nflito e tod a ação
devem se r moti vados. Out ro s dramaturgos rec u-
Ac ontece de um moti vo es tar estreitamente as-
socia do ao surgimento de um tipo" da perso nagem
Danan , 1995 . I. Motivação das Per son agens
sar ão mo tiv ar a con c lusão. fazer co m que a fáb u- (mo tivo do avare nto, do m isa ntropo, por exe mplo).
la cheg ue a um po nto es táv e l e de finitivo, e da r a Tod avia, o motivo é da ordem do co nteúdo te m ático
Exposiçã o o u sug es tão das razõe s (psico lógi-
MOR ALID ADE chave da s ações físi ca s. e não é. nesta q ualidade, p ropriedad e de um tipo
ca s, intelectu ais, met a físicas c tc .) qu e levam a
de personagem , de fig ura o u de epi sódi o narrati-
-e Fr.: moralité; Ingl. : mo rality; AI.: Moratit ãt;
perso nagem a ado ta r u ma certa co nd uta.
A mo ti vação é a parte es se nc ia l da cara cteri-
vo. Ele assume as mais d iversa s di men sões: desde
o motivo ge ra l da obra (te m a pri nci pal que resume
Esp .: moralidad. zaç ão*. Ela co munica ao es pec tador as mol as (re- M OTI V O
a idé ia da peça. co mo o mo tivo da vinga nça em
curso d ram átic o r t da ação e as ra zões, mui tas ve-
Obra dram áti ca mediev al (a partir de 1400) ~ Fr.: motif; Ingl.: motive, mouf; AL: Moti..; Esp.: liam lei) at é o motivo ind ividual de uma cena ou
zes obscuras, da ati vid ad e da s person agens. Em
de inspiração religiosa c com inte nção didátic a teo ria literária, é, seg undo TOMASCHÉVSKI( 1965 : "'t.: niotivo. de um diálogo. De modo ge ra l, deve-se analisa r
e mo ral izant e . As " pe rso nagens" (de c inco a vin- um mo tivo numa se qüência de motivos indivi -
282), a 'Justificação ima nente da lógica da narr a-
te) são a bs traç ões e person ificações alegó ricas Uni da de inde scomponíve l da intriga q ue co ns- d uais, para va lorizar seu encadea mento que con s-
tiva da introd ução de to do mo tivo part icul ar".
do vício e da vi rtude . A intriga é insign ifica nte, titu i, seg undo TOMASC HÉVSKI (1965), um a un i- titu i, a bem dizer, ufábu la " ou a intriga" ,
A "o bje tiv ida de" do dra ma, a saber, a ap re-
mas sempre pat ética o u enternecedora. A mora- se ntação ex te rior dos caracteres atua ntes, oh riga dade au tô no ma da ação, um a unidade funciona l
lidade part icipa ao mesmo te mpo dafarsa* e do o d rama turgo a deixar tran sparecer, pe los discu r- da narrativa, um tema recor rente. Este ter mo não c. Segundo s ua integraç ão à ação
mis t ério", /I, ação é um a alego ria* qu e mostra a sos e pelas ações, a visão e o projeto de cada ca- é específico do teatro , ma s é freqüe ntemente usa- - mo tivo dinâmi co : episódio* qu e faz a ação
co ndiçã o hu man a com parada a uma viagem , a ráte r, a torn ar plausívei s suas ações e a dar, pelo do pel a c rítica dram ática. avançar;
um combate ince ssante e ntre o bem e o mal, men os em apa rênc ia, um a o po rtunidade igual a - motivo estático: epi sódi o q ue car acter iza a per -
donde o ca r áter pedagógico e edificante das pe- todos para o co nfli to geral. A caracte rização va- 1. A Anál ise em Moti vos sonage m e neu traliza provisoria me nte a ação;
ças. Os assuntos são bíb lico s (O Filho Pródigo ) ria conforme o tipo de d rama turgia: gera l, un i- - mot ivo retardad or : q ue impede a real ização de
ou co ntem po râ ne os (O Con cílio da Bas iléia, versa l e elíptica par a o d rama cl ássico; precisa e A an álise da na rrativa, princi palmente aq ue la um proj eto, cria um ce rto " suspen se" . Para a
14 32; Mister, Merca doria e a Tempo que Corre ; de pano de fundo socioecon ômico para o natur a- dc PROPP ( 1929 ). vo lto u-se primeiro par a fo rmas tr ag édia c lá ssic a, o retardam ent o é uma etapa

250 25 1
M O V IM ENTO MU L T I M í O Ift

es se ncial antes da c at ástro fe : trat a-se de criar Seg undo LABAN. "os moviment os do corpo tração Tudo se Me xe e de sua pesq uisa , e m seu aos pou cos o sentimento da person agem na ma-
um ce rto suspense, de dar aos heróis a última podem se r sumariamente divididos e m: pas sos. labo rat ório. de estudo do movimento. O Th éâtre neira de d ize r o texto.
possibilidade de uma OUIra decisão ou de um gestos do s braç os e das mãos, e expressões faciais" du M ou vern c nt de c. HEGGEN c Y. MARC criou Ent e nde-se assi m que a ta refa do mím ico, do
recuo d iante do obstáculo; ( 1994: 46). Es tes três conjuntos são às vezes de. um es petác ulo. A ttention à la Ma rche (Atenção bai la rino o u do ator seja aquilo qu e J. LECOQ
- motivo de volta para trás (jIash -back* ) ou de signados e reag rupados segund o outra s d istin çõcs
'i "
'. ao Anda r), comparando as maneiras de anda r e chama de rej ogo: "r ejogar, dentro do nosso cor -
ant ecip ação de um acontecime nto vindouro; e principalme nte: co ncl ui ndo que "os dese nhos do ator no chão ex- po, o real" . Um real em pe rpé tu o mo vim ent o...
- moti vo ce ntra l e moti vo de e nq uad ramento prim cm os ' desígnios' da person agem " (citado cm
(qu ad ro"). • Impul sos ou moviment os instintivos que nos
levam a agir A5LAN. 1993: 365).
MULTIMÍDIA (TEATRO .. .)
d. Se gundo sua integração à int riga Pode-se tratar de desencadeadores (e m STANIS. • As ações corporais de Lab an
LÁVSKI) ou. em GROTOWSKI, daqu ilo que su- Defin em -se segundo as quat ro scguintes pergun - O es petácu lo multim ídia não é sim ples me nte
TOMASCHÉVSKI (i n TODOROV, 1965) distin-
pera o bloqu eio do ator.e,lhe abre o ato tot al que tas : "(/) que parte do co rpo está em mo vimento? um a representação que recorre a recursos audio -
gue moti vo livre e motim as sociado , O primeiro
impli ca todo s os seus recursos psicofísicos ou do b ) e m que direção do es paço o movim ent o se de- visuais e multipl ica as fontes de info rm ação ; é
pod e ser cortado sem pena para a co mpreensão.
co rp o de cidido do ator que, segundo BARBA. sen vo lve": c) em qu e veloc idade o movimento um es petáculo qu e introdu z uma outra dim ensão
ao passo que o segundo não poderi a ser descarta-
"n ão estuda a fisiol ogia. mas cria um a rede de prog ride?; d) que qu antid ade de e nergia muscu- no espe tácul o vivo habitualmente definido pelo
do sem prejudi car a sucessão causa l dos fatos.
estímulos exte riores aos quais ele reage por ações

I
lar é usada'?" ( 1994: 53). enco ntro e ntre um ator e um espec tador .
físicas" (1993: 55). O s m eio s de co municaç ão d is po ní ve is -
e. Segundo sua inclu são em di versos • As açõe s físicas de S ta n isl ávski
• Posturas tec no logi a da imagem (slide s, filmes, ví deos).
conj untos São ex ec utadas pelo ator em função de uma lógi-
1 mic rofon es HF. vocalit cr (mode lização vocal).
- mot ivo próprio de uma só obra; Caracte riza m-s e pelo modo de inserção sobre o ca do mo viment o e de um a fina lida de da ação

I
fibra ótica. som e imagem digitai s. telemática. CD-
- moti vo ou tema obsessivo de um autor; solo, em função do peso e da gravitação. cêni ca. ROM etc. - pod em todos. numa ou noutra qu ali-
- moti vo observ ável e m uma trad ição literária • Atitudes dadc, part icip ar de um eve nto teat ral qu e logo fica
(tema de Fausto, da sedução e tc.); São desc ritas e m função das posições so máticas
2 . Rel açã o do Físico e do Mental subme rso soh um dilúvio de novas tecn ologias.
- mot ivo antropológico ou arqu étipo" , e seg me ntári as. \ O to do ainda co ntinua a ser arte ? É preciso. pe lo
i o es tudo do movimen to só pod e se r efetuado me nos. que os meios de comunicação sej am usa-
m Frenze l, 1963; Mauron, 1963; Propp, 1965; G. • Deslocam entos I de maneira convincente se for aco mpanhado de dos seg undo alguns critérios: beleza formal, au-
. Durand, 1969; Trousson, 198 I. Correspo nde m ao modo de ocupação do espaço um a reflex ão sobre a interioridadc do sujeito em tenti cid ade da ex peri ênc ia, gratuidade da atu ação.
cênic o e à trajet ór ia descrit a pelo ator ou pelo mo vimento, chame-se ela emoção. ima ge m, men- co municaç ão co m o espectado r.
bailarin o.
\ lal o u vida interior, Ela ob riga a incessante vai- A co municação. todavia, assume formas ines-
MOVIMENTO vé m e ntre moção e em oção. As d iver sas teorias e per ad as: ela não é discu rsiva , linear e hie ra r-
• O caminhar
trein am ent os do ator co nsistem e m elucidar este qu izad a; o texto é tratado mais co mo ruído ou
Fr.: m o u ve m e n t ; Ing l. : m o vcm en t ; AI.: Reveste-se . para a maioria dos ence nado res que vaivé m que pode to rnar-se busca da di fe rença (da música, co mo substâ ncia m a n ipul ávcl . d o qu e
Beweg ung ; Esp.: mo vimicnto . diri ge m ato res. de uma impo rtância particul ar: du alid ade) ou. ao contr ário, da fusão, da organi- co mo lugar ori ginal do sentido. O co rpo humano
STANISLÁVSKI, VAKHTÂNGOV. DECROUX fa-
cid ade e ntre corpo c es pírito. Na maior parte do do ator or a é aprccndido ao vivo, num tem po e
Maneira neutra e co mum de design ar a ativi- zem dele um dos fundamentos do trein a ment o do
tem po. o vínculo entre moç ão e e moç ão é afirma- num lugar reais, o ra dissol vido. o ra visto co mo
dade do ator e mesmo seu trein am ento (aula de ator. poi s "um iniciante não sabe cami nhar e m
do, assim, por LABAN: " Cada frase de um movi- uma so mbra pelos meios eletrô nicos ; seu supo rte
" movimento"). O movimento fornece uma primei- cena" (DULLIN. 1946: 115) e "ter um papel nas
men to. a menor transferência de peso, todo gesto mud a assim sem cess ar. muitas vezes torn and o
ra abo rdage m geral à análise do ator e reagrupa a pernas, co nforme a expressão do ofíc io. por ve-
de uma das partes do co rpo re vela m algu m traço mesm o proble mática a distinção entre real e vir-
maiori a das questões sobre o corp o. o gestual, o zes exige lon gas pesquisas".
de nossa vida interior" ( 1994: 46). M. TCHÉKIIOV tual. Di rig imo-nos para um "ator de síntese" , fe i-
jogo do ator. das quais daremos aqu i um primeiro • O and ar usou a noção de ge sto psicol ágico" par a influi r to de d iversos materia is, seg undo uma arte da si-
es boç o. Foi objeto de reflexões filosóficas e fornece aos sobre o físico e o men tal do ator trabalhando para mul ação que rejeita a fronteira e ntre o autêntico e
mímicos um infinit o campo de experimentaçõe s. g rava r cada vez melh or as du as faces dessa mes- o fabricado . Acha-se assim redefi nido o papel do
I . Estud o do Moviment o BALZAC. cm sua Teoria do Andar, via aí " uma ma moeda. FELDENKRAtS fez disso a base de sua auto r. do es pectador e dos protagonis tas. seja m
fisio nomia do corpo": "O olhar. a voz, a respira- prática: cada e moçã o est á, par a ele, associada e eles "d e sí ntese" ou "de carne e oss o" .
A análise do movimento que rem onta ao final ção , o and ar são idênticos. mas co mo não fo i dado ligada. no córtex , a uma co nlig uraçã o e a uma A partir dos anos sessenta , nos Es tad os Uni-
do século passado com as experiências de MAREY, ao homem poder cuidar ao mesmo tempo dessas at itu de muscular que tem o mesmo poder de re- do s. OS art istas visuai s e os bail arinos ten taram
a cron ofotografia de MUYBRIDGE e as classifi- quatro exp ressões diversas e simultâ neas do seu c ria r a situação glohal que a ativi dade sensorial. int egr ar as mais ava nçadas tecnol og ia s ao espe-
cações de DELSARTE, permite e ntender melhor pensa mento, pro curem aquela qu e diz a ve rdade; vegeta tiva ou imaginária. Em vez de entregar-se tácul o vivo (CAGE. RAINER). O Wooster Gro up
como organizar o estudo do jogo do ator. A este vocês co nhecerão o homem inteiro" (BALZAC. a misteri osas análises da psicologi a da per sona- es pec ia lizo u-se na inte ração en tre tecn ol ogi a
respeit o. são bastante esclarecedoras as catego- citado in LECOQ, 1987: 24). LECOQ fez di sso um ge m. é melhor. calcula JOUVET. buscar o ritmo c a aud io visual e ato res vivos (Fis IJSto ry, 1993 ); R.
rias que o estudo do movimento propõe. mom ent o hilari ante de sua confe rência-de mo ns- respiração do texto e da person agem e rc cons u tuir LEPAGE usa as transformaçõe s ce nog rá licas e a

252 253
''-'
l
MústC A
MU SEUS DE T EATRO , ,
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~ :<
music al assume uma tal imp ort ância que relega o sica liga se us e le m e nto s esparsos e forma um
im agem gravad a ao vivo, meio difusa e suja, ma s tem de converter-se em réplica do teatro c, sim, '.:'';.

muito pre sent e e viva (Les Sept Brancli es de la inventar se u própri o di sp ositivo (senão o museu text o a se gundo plan o e se torna um a forma mu- continuum . À s ve ze s e la pontua o s tempos da
I
Rivi êre Ora, 1994 ; Elseneur, 1996 ). " Dialog an- i sica i inteira (ó pe ra, entreat o musi cal , abertura, e nce na ção .
viraria uma garagem onde a encenação é recons-
do" com sua própri a imagem filmad a, o ato r ques- tituída). Tirar os obj et o s d as cai xas , estetizar sua !, fin al) : por exempl o , a Ab ertura de Egmont de - Efeito s de contrapont o : como em EISENSTEIN,
tiona a identidade do ser humano, sugere a inter- llEETHOVEN para a peça d e GOETHE, O Sonho llRE CHT, WEtLL, DESS AU o u RESN AIS, a mú-
a pre se ntação é, co ntud o, uma faca de dois gu-
medialidade" d as art e s cênicas e das pe ssoas. de lima N oit e de Verâo d e MENDELSSOHN para sica às vezes sublinh a ironicamente um momen-
me s : facilita-se a a prese ntação e melhora-se a
SHAKESPEARE , o s trecho s sinfô nicos de GRIEG to do texto ou da atuação (dis tanc iame nto * do s
percepçã o , mas toma-se partido sobre o se nt ido
[;[). Kostelan et z, 1968; Battcock, 1984; Couch ot e par a Peer Gvnt de IBSEN . songs " brechtianos) .
e a es té tica do objeto, atribui-se a e le, muitas
Tramu s, 1993; Norm an, 1993; Carlson , 1996. - Efeito de reconhecim ento: c ria ndo uma melo-
vezes, uma intenção ou uma função que não era
1. Estatutos do Ac ompanhamento di a, um refrão, o composit or instaura uma es-
a sua. O mu seu , tentado por uma espécie de tea -
trutura de leiu no tiv", provoca a expect ativ a da
tro dos objetos, vir a rapidamente uma nova en- Mu sical
MUSEUS pE TEATRO ce na ção dos o bjetos do pas sado ou uma ini cia-
melodia e assinala a progressão temática ou
dramat úrgica.
ç ão pedag ógica ao te atro (mu seu de Berna), o a. Mú sic a pr oduzida e m otivada pela ficção : uma
-t}- Fr.: musées de th éâtre ; Ingl.: theatre mliscum ; - Substituição total do texto : música popular d e
qu e é, ali ás, uma da s mais belas m an eiras de ce- per sonagem ca nt a o u toca um instrumento .
AI.: Th euter IlIlls eum ; Esp.: m"seo de tea tro . 19 30 a 1980 par a O Baile ou para a dan ça-
lebrar sua perenidade.
b. Música produzida exteri ormente ao universo teatro .
O acesso ao s do cumentos, o tipo de cl assifica-
Ape sar da recente tendênc ia a criar museu s par a _ T écnica cin emato gr áfi c a d a música para uma
ção deles, sua hierarquia, a valori zação de sua dramáti co (abrindo o u fechando um ato, por exc rn-
tod a e qualquer co isa, o teatro não foi obj eto de pio ), co mo as entradas e saíd as mu sic ais co m pos- ambientação e um a séri e de seqüê ncias com mu-
materi alidad e ou de sua abstraçã o, tud o isso é
tal soli citude, pel o menos na França, ond e com i- tas por Maurice JARRE para o TNP. dança s co rre lativas de m el odia .
re velador e deci sivo para a reflex ão metodol ógi ca
nua a não exi stir um museu de teatro. Os arqui- A música de ce na assumiu uma considerável
so b re a análi se do espetáculo: entre os pesquisa- • Fonte nã o-vi sí vel: orque stra no fosso , mú si-
vos e as coleções, bastante ricos, aliás, não po- import ânci a, ne st es últim o s anos , a ponto de se
dores, há também os acumuladores, o s sondado - ca g ra vad a ; a mú si c a produz uma a tmos fe ra ,
dem se prevalecer de semelhante título, pois não tornarem a estrutura que ritma" todo o espe tá-
rcs , os ilu stradores, o s que gosta m d e amostra- pin ta um a mbie nte, uma situação , um e stado de
há lugar onde os o bje tos teatrai s - text os drama- c u lo . Na s e nce naçõ es d e Ri cardo /I ou d e Noite
ge ns , os feti chi stas, os saqueadores e , até me s- alma . A mú si ca tr a z um lir ismo e um a euforia
t ürgicos, programas, cartazes, esboços e maquetes de Reis como em Sihunouk, L'Indiade, es pe tá -
mo, os des ert ore s . qu e d esr eali zam O d iál og o e a cena para fa zê-
de cen ários, figurinos , o bje tos di vers os , bo oks de c u los d o Théâtre du Soleil, o s percussionistas
Os mai s belos museus d e teatro se e nco ntra m lo s sig n ifica r " liric a m e nte" . À s ve ze s e la foi es -
imprensa - poderiam ser expostos permanente o u mai s criam a dinâmic a do es pe tác u lo do qu e
n a Europa Central e Oriental: Suíça, Alemanha, pecialmente co m posta, por ém , na maior parte
temporariamente. A ssim, a biblioteca ou o arqui- Áu stri a, Pol ônia (Ce ntro de Estudos Grotowski , acompanham os a to res.
da s vezes, trata-se de grava ção de mú si cas já
vo s6 viram museu quando consentem em se ex-
por ao s rai os de no sso s olhares críticos e quando
em Wroclaw), Hungria (M us e u d os Atores de Gizi
Bajor) e Rú ssia onde eles são geralmente dedica-
exi stentes.
m Appia , 1899 ; Crai g , 1911 .
somos convida do s a neles flanar, em vez de em- • Fonte visí vel : músico s e m ce na , às ve zes di s-
d os a um autor ou a um enccnador e m particular.
bolorarmos neles co mo eruditos anê micos ou de farçados de per sonagens (coro), atores capazes de
A bibliote ca do Arsenal, a Mai son Jean-VILAR
nos ent errarm os aí como rato s de bibli oteca. em Avignon , o Cent ro N acion al de Te atro, a
tocar um in stante de um instrument o. A en cen a- MÚSICA (E TEATRO )
Qu e é qu e se pod e e xat am ent e mostrar do tea- ção e a músi ca não p rocuram iludir sobre sua or i-
SAC D, o mu seu Kw ok-On , a Biblioteca N acional
tro? No fundo , ab solutam ent e nada, ex cet o algu- ge m e fabri ca ção . :"\. FI. : musique (e t th éàtrc): In gl .: mu sic (a l 1 ~
d a rua de Richelieu g ua rda tes ouros que pod eri am
ma s lastimá veis relíquias (te xto do s di álogos , fi- 't.; theatre) ; AI.: Musik (11I/11 Th eatcr); Esp.: 11I11-
facilment e dar lugar a e xposições e co lóquios . • Mú si ca que fa z tanto parte (ou fa z um pouco
gurinos ou acess órios. fra gm entos de cenografia . sica y teat ro.
parte ) de uma ficção quanto de uma realidade
vozes gravad as : Vozteca de N. FRIZE), naturezas m Veinstein , Biblioth eque s et Mus ées des A rts du ex terio r ilu strativ a (como o s músicos nas en cena-
D ei xando d e lado a que st ã o d a m úsica d e
mort as qu e são, antes, d epriment es par a o s art is- Spcctacle dans le Monde, Pari s, CNRS , 1984. çõe s "o rie nta listas" d o Th éâtre du Sol ei I). É o caso
tas de ontem e para os pesqui sadores de hoje .
cena"; da ópe ra * ou d o teatro musical ", exami-
da s experiências atuais (APERGHIS, GOEBBELS,
nar emos as rela çõs co m plexas e co nfli tuad as qu e
Com o d ispor est e nada? Muitas veze s, por uma KUHN, FRIZE ) so b re o teatro musical. El emento s
a música mantém com o teatro.
acumulação muda de camadas depositadas ao lon- MÚSICA DE CENA verbais e musicais não são contraditórios, e sim
go dos anos sobre um acontecimento que se tor- partes int egrantes da produção cênica g lo ba l.
nou inapreenstvel, uma série de relíquias e de pro -
vas do esplendor passado, um testemunho de sua
e FI. : Im ~siq" e elescênc; Ingl.: il cideltam~S ic ;
AI.: B"IIfICIl"lIlS1k, Beglcitmusik; Esp .: "",stca 2. Funções da Música Cênica
I . Metáfora Musical

gêne se e de sua recepção , uma descontextualiza- incidental, A encenação é fr eq üentemente compara da a


ção sistemá tica do ambient e ond e o espetáculo se uma composiçã o no espaço e no tempo, a um a
_ Ilu stração e c riação d e a tmo s fera corresp on-
desenrolou, um cadáver e nfiado num caixão, cuja Mú sica usada na encenação de um espetáculo, partitura que agrupa o co nj u nto dos materiais, a
dente à situação dramática . A músi ca reper-
vida ant er ior não se pod e nem imaginar. seja ela es pecialme nte co m posta para a pe ça ou cut e e reforç a es ta amhi ên cia. (C aso da músi- uma int erpret açã o indi vidual do s atores. A nota-
A arte mus eol 6gi ca consi stirá em encontrar emprestada de co m pos içõ es já e x iste n tes, con sti- çã o e a composi ção mu si cai s fornecem o esque-
ca d e fundo. )
uma cenografi a ap ropri ad a para di sp or (de) o tu a uma obra aut ôn oma o u s6 lenha existên cia _ Estruturaç'l o da e nc e n aç ão : enquanto o texto e m a diret or do jog o teatral. permitindo aos espec-
acont ecimento teatral passado: cen ografi a qu e não com relaçã o à encenação. À s vezes a co m posiçã o a atuação são muitas ve ze s fragm entados, a m ú- tadores, assim como ao s alares , " se ntir o tempo

254 255
MY T HO S

e m ce na co mo o se nte m os músicos" . " Um espe- - a lite ratu ra e o texto dram ático fo rnece m 11m
tácul o o rga niz ado de maneira musica l não é um mold e rítm ico ligeir amente mod ificável pel o
es petác ulo no q ual se toca músi ca o u se canta jogo do ator, ao passo que a estru tura mu sical é
co nsta nte me nte atrás do palco ; é um e spet ácu lo mui to mais ríg ida (do nde, para a ó pe ra , a ne-
co m um a parti tu ra rítm ica prec isa. um es petá- ccssidadc de 11 m co mpromisso entre o c nce-
cu lo no qua l o temp o é o rga niza do co m rigo r" nador qu e te nde à fle xibilidade e o maes tro qu e
(MEIERHOLD. 1992. IV: 325) . se incli na à rigi dez).
Entre os co m po ne ntes das (re jcon stituições,

N
2. Nova s Alianças cada elemento influi nos outro s, de maneira às
vezes imprevist a. Assi m, a música dá lim a atmos-
As rel ações da música e da cena es tão mu- fera e moc io nal q ue ilumina o ges to e o jogo do
dando: um a não está mais a se rviço exclusivo ato r; inversame nte, o ges to o u a dança po de m
da o utra e ca da uma del as mant ém lim a autouo- "abrir" a música: "A dança podc re vel ar tudo o
mia qu e se rve tamb ém ao parcei ro: a m úsica não q uc a música tem de misterioso, e e la tem . a lé m
é mai s um a simp les se rva, a acompanhante da do ma is. o m é rito de ser hum an a e p alp áve l"
ce na ; e la não é mais, co mo na ópera dom éstica, (BAUDELAIRE. La Fanfa rlot).
aq uilo qu e afoga o texto e o icatra liza . Durante
muito te mpo (histo ricamente) e siste ma tica mente
(te or ica men te) sepa rados em s ua b usca de espe - MYTHOS
c ificidade", mú sica e teatro es tão muito mai s de NARRAÇÃO o obje to de seu di scurso: "A narração é a ex pre s-
acordo, atu almente, sobre sua co mple mentari- -t} Fr.: mythos ; lngl .: mythos; AI.: MytlIOS ; Esp .: são dos fatos, como a descrição é a exposição das
dadc. E stá-se red escobrindo a mu sicalidade dos mvtho s. ~ Fr.: Ilarrarioll.:.lngl.: narration; AI.: Erzãhlung; co isas " (MARMONTEL, 1787). No te at ro . a des-
textos e se evi de nc ia a teatral idade dc um a mú- Esp .: narracton . cri ç ão" é ass u mida pelos acontecime ntos visu ais ,
sica (teat ro musical de APERGHIS, po r exe mplo). Termo da Po ética de ARISTÓTELES. O mvtho s ao passo q ue a narr aç ão se faz "em ato" no e nc a-
Pe rcebi da no espaço teatr al, a música assume (tra duz ido na maioria das vezes po r fable rfá/m- l . No sentido de narrati va " : ma neira pe la qua l deamen to do s mot ivo s da fábul a . Esta narração ,
par a o es pec tado r tod a um a ou tra resson ância, la ·] em fran cês, plot e m inglês, Handl un g e m a le- o s fatos são rel at ados por um sis te ma , ling üísti co, para sua apre se nta çã o cê nica , ape la rá neces sar ia-
d ife re nte do qu ad ro assé ptico da sa la de co ncer- mão ) é a reun ião das ações (§ 1450a ), a se leção e na m ai ori a das vezes, ocas io na lmente por um a mente à ins tâ ncia discu rsiva qu e o rga niza afá-
to. No e nta nto, ainda prec isa ser restabel ecido - orde nação dos a contecime ntos» narrados . su ce ssão de ges tos o u imagens cê nicas. Como a bula " de acordo co m se us pró prios m odos e téc-
e isso é muito mais difíc il que pa ra o ci ne ma, Na origem, o mythos é a fon te lite rá ria o u ar- narrati va, a narr ação recorr e a um o u vários sis- nicas. C ump re disti ngui r as es truturas narr ati vas
o nde fo ram criados se paradameJJle - co mo o vi- tística, a histó ria m ítica ifábula" no sentido I ) na te m as cê nicos e orie nta linearmen te o sentido de (em profundi dade) e as estruturas d iscu rsi vas (e m
sua l e o auditivo trabalh am j untos: te nde-se mais. acordo co m um a lógica das ações, em di re ção a s uperfíc ie). A s pri mei ras só são visíveis sob a for-
qual o poet a se ins pira para cons tru ir suas tragé-
na atu al teori a da música de cen a (N. FRIZE) ou u m o bj e tivo final : o des en lace" da história e a re- ma de um si ste ma teóri co de ações ap resentadas
dia s. Os m ito s são inces santemente variados e
so lução dos confli tos" . A narração fa z " ve r" a po r ac tantes" so b um a lógica univer sal (PROPP,
d a ópera (MOINDROT, 1993), a insis tir na inte- com binados: for m am motivos » e ten ta s » que os
fábula em sua tc mp o ralidade, in sti tu i uma su- 1965 : GREIMAS. 1970, 1973). As segundas co ns-
gração das pe rce pções visuai s e au ditivas. in- dra maturgos gr eg os reutilizam em sua s tragédias.
ce ss ivi d ade de ações e imagens. tit ue m a di sposição co ncre ta das ti rad as e dos diá-
tegração na seq üência de uma vc torizaç ão e de Depo is, a pa rtir do e mprego de ARISTÓTELES,
De acordo com a di stinção de BENVEN ISTE logos. o co nj unto dos atores da narrat iva.
um a s ina lização do olha r e da aud ição. de uma mythos designa co m cada vez mai s freq üê nc ia a
fi Itragem de lodos os materiais pe lo "cspec tou- est rutu ra o rganizada da ação (afábula · nos se n- ( 1966) e GENEITE ( 1966), a narraç ão o ra é a hi s-
tória co ntada (o conjunto d os co nteúdos narrat i- (,") . Na rrado r, di scurso, análise da narra tiva , foca li-
vi nte" : " Noss a percep ção de es pec tado r exige tidos 2 e 3) . O mythos se carac teriza po r: a o rdem
vo s), o ra o disc urso o u relato co nta nto (o d iscur - ~ . zaç ão , contador de histórias, di égcse .
que as coisas seja m co nstituíd as , não qu e sejam tempora l dos aconteci men tos: iníci o, meio. fim
( 1450b ); a organiza ção percept ível de um tod o so q ue co nta os acon tecime ntos) . A h istó ria ou
com postas (co lo cadas com ]" (N. FRIZE).
( 1450b); a unidade? de ação. Assim, de s im ples fábu la é o q ue é narrado ; o re la to é o di scur so CL"1 Savona. 1980, 1982.

imi tação de um a fonte anterior, o mvthos é e leva- narrant e ; a narr ação é o ato fic tício o u real qu e
B ast ari a de Sde e ntão pod e r a va lia r essas
do ao n ível de unidade s de ação , 'de or de nação produz o re la to.
{re tconst itu ições a partir dos diversos co rnponcn-
narrativa de e le me ntos es parsos c de fo rma fe-
N ARRADOR (I )
tes da represcnt ação, pen sand o q ue cada co mpo-
chada ia ristot élica'r) . 2. N a dramatur gia clássica: em ce rta s lo nga s ti-
nente está em co ndições de veicu lar: rad as, as person agen s procedem à na rração de -t} Fr.: récitant; Ingl .: narrator; AI.: Erz ãhlcr:
- a música , sozinha, cria mund os virtuais, qua- eve ntos passados. Assim, a propósit o do discur- Es p.: recitante (na rrado r).
dros em ocion ais para o resto da re presentaç ão:
W Mauron, 1963: Vernant, 1965: Szond i, 1972a :
so de C inna so bre a cons piraç ão, COR NEILLE fala
Vcrnant c Vidal-Naq uet, 1972. 1979: Ricoc ur,
- a arq ui tetura fornece a ev idência concreta de em tla rra r ão o rnada. I . Em mú si ca , o nar rado r o u recitan te ca nta o
1983.1984.1985; Dclmas , 1985; Sc hech ncr, 1985;
um co nti nent e a ser preench ido ; Barba c Sava rcsc, 19l!5. recitativo" ; e spéc ie de canto não subordi nado ao
3. Narração e de scri ção são, mu itas vezes, o pos- te mpo qu e serve para con tar um a narrat iva entre
la s (e m parti cul ar nas fo rmas ép icas'" }, co nforme cantada e fa lada.
256 25 7
N A RRADOR
N ARR A TI V ,

2. Por extensã o. o narrador' de um coment á- I. No Sistema Épic o sua atitude c rítica diant e daquilo qu e está re pre- tar aco ntecime ntos dos qu ais fo i a ún ica testemu -
rio. uma descr ição o u uma ação passad a. No tea -
sent and o, de se u desejo de representar o fato de nha e que ela co nta às o utra s per son agen s que
tro. o nar rado r se manifesta por interméd io da
a. Aquele que queb ra (f ilusão representar, tal vez na esp er ança de reencontrar as- ficam atentas (ex.: relato de Terâmcno em Fed ra
"v o z off ' ou se con cretiza nu ma personagem si-
Na medida em que a ilu s ão" dramáti ca de um sim uma autenti cidade perdida. o u relato da batalhas dos Mouros no Cid).
tu ad a mais ou me nos à margem da açã o (dr amá -
jogo apre sentad o diretament e ao públi co, se m a É difí cil de lim ita r a narr ativa j á que a peç a
tico ' e épico ' ).
mtcrmcdiaç ão do aut or, é qu ebrada no teat ro épi- (í;'). A n á l is~ da narr a!i va, épico e dramático. dra- (es pecia lmente a obra cl ássica ) o fe rece um a se-
co (IlRECHT), as per son agen s tom am o lugar do ~ . maturgra, narraç ao . q üê ncia de tro cas verbais mu itas vezes lon gas,
se u c riado r e rep resent am e ntão o pap el idêntico e m cuj o interi or as per son agen s organi zam se u
NARRADOR (2 ) di scurso alu dindo a fat os ex te rio res à ce na . A
ao do narrador de rom an ce : co m entá rios, resu-

e Fr.: nnrrateur; Ingl.: nar rator; AI.: ErZiihler;


Esp.: narrador.
mos, tran sições, ca nções, songs são tamb ém for-
mas es pec íficas da person agem-n arr ad ora. Fica
NARRATIVA pr ópri a express ão p o ema dramá tico * - como
era m ch amadas as peças no século XVII - indi ca
impossível distinguir aquilo que pert en ce ao pa- :-+ Fr.: récit ; Ingl.: narration, narrati ve ; AI.: que o-text o dramático era concebido mais como
pei da person agem (o qu e ela pode narr ar de manei- 't.: Bericht, Erzã hl un g ; Esp.: relato. uma seqü ência global de discursos encadeados
Em princípi o excl uído do teatro dram át ico* ra ve ros similh ante ) e aq uilo qu e é tran sposição do que com o uma ve rdad eira troca verbal no ca lor
no qu al o dram aturgo nun ca fala e m se u pró prio d ire ta do discur so do autor. Pa ssa-se cons tante- Nar rati va, e m se nt ido es trilo, de acordo co m da açã o. Ca da per son agem fazi a, dese mpenhava,
no me. o narr ador re ap ar ece em determ inadas mente da ficção inte rna à peça (o nde a presen ça do a man eira com o é us ad a pel a crítica teatr al , c o n- pois, um pouco o papel (fictício , e vidente mente)
for mas teatr ais. e m parti cu lar no teat ro épico. narrad or é moti vad a e justi ficad a pela fic ção) ao s iste no discurso de uma per sona gem q ue narra de um o rga nizado r do s materiai s dr amáticos e sua
Certas tradi ções popula res (teatros afri can os e rom pime nto da ilusão (ao d irigi r-se ao p/iblim* ). um ac o ntec ime nto qu e oco rreu f ora de ce na " : tom ad a de palavra se arti culava de mane ira bas-
o rientais) usam-no frcqüentem ente co mo media- E m princíp io exc luída d o teatro . qu e m ostra tante retóri ca se gundo a lógic a de um a narrat iva:
dor en tre públi co e personagens tcoruador de b. Duplo do auto r mimeticamente a ação e m vez de fazer alusão a apresentação dos fatos, de scrição do s sentimen-
histórias*). Também se pode co nsiderar q ue o Um a personagem ou um gru po (co ro ' ) es capa ela por meio de um discurso , a narrativ a, no en- tos, indic ação das int en ções, conclusões mor ais
e ne e nado r se co m port a . d iant e do te xto e do do Jogo, "sai" do uni ver so fi eci on al (o u. pel o tanto. é freq üent e no texto dram ático ( rela to do etc. Por out ro lado , reen contra-se essa es trutura
palco, co mo um nar rador qu e esc olhe um ponto menos , cria um o utro ní vel ficc io na l) para co men- me nsagei ro o u d o co nfidente s na dr am aturgi a nos rel atos-m o nól ogo s dos herói s cl ássicos. A
de vis ta e co nta uma f ábula *. co rno um suj eito tar a peça e dar ao espe tácu lo um a inte rpretação cl ássica) c hoj e, no teat ro é pico, no qual a per- narrati va tend e a desprender -se d a situação cê ni-
da enun-ciação , q ue co manda todos os en un cia- qu e pod er á ser aq ue la do au to r. É o caso dos so nage m é freqü ent e me nte in stada a ex tern ar seu ca a fim de o rga nizar se u mecani smo c e levar- se,
dos textuais e cê nicos. reci ta ntes e m BRECHT, GIRA UDO UX, WILDER pont o de vist a so bre o d esen volviment o do dr a- às vezes, ao ní vel de fórmula s o u se nt en ça s" ge -
O narr ad or não inte rv é m no text o da peça (SZONDl, 1956, 1972a). m a. Q uan do é e fe tuad a s imultaneamente a um a rais (retórica ' ).
(exceto, às vez es. no prólogo' . no epíl ogo' ou ação qu e oco rre fo ra da vista dos esp ect ad ores,
na s indi cações cê n icas* qu and o e las são dit as c. Encenador a narrativa receb e o nome de teicoscop ia* (vi- 2. Funç ões da Narrativa
sã o atrav és das paredes ). De maneira geral. há
o u mostr ada s). Po rtanto . só pode haver narrador O narrador se enca rreg a do esp etácul o, é o
narr ati va qu ando a ação, por si só, aprese nta di - Na época clássica , o dramaturgo e mprega a nar-
so b a forma de uma pe rso nagem qu e é enca rre- mestre de ce rim ônia. o o rga nizado r dos mater iais
da histó ria (assi m. o mendigo e m A Guerra de ficu ldad es d e se r e nc e nada: " Uma das reg ras do rativ a quando a ação relatad a ap rese nta dificul-
ga da de info rmar os o utros ca rac te res ou o pú-
Tróia nã o Ocorrerá , de G IRAUDO UX, antecipa o teatro con si ste e m pôr co mo re lato apen as as co i- dade de se r rep resent ad a em cena por razões de
b lico co ntando e co m e nt an do di re ta ment e os
fim d a história. Em Biog rafia . de Max FRISCH, o s as que não pod e m se pa ssar em ação" (RAC INE, co nveniênc ia, de verossim ilha nça " O ll e m virtu -
aconteci ment os. O cas o mais freq üe nte é aq uele
co mentarista passa a pal a vra às person agen s, pro - pr ef ácio de Britann icu s ). de da s d ificuldad es técn icas de real ização. N a
de uma personagem-n arrad ora q ue. co rno no caso
põe esta ou aquela solu ção par a se us pro blemas). Na época cláss ica , a narr at iva é tida co mo um ma ior ia da s veze s, a narrativ a rel ata ce nas vio -
do rel ato clássico. narre o qu e não pôde se r mos- suce d âneo q ue não é tão efi ciente qu ant o uma le ntas, horr íveis até (co mo duelos, batalhas. ca-
trad o diretamente e m cena por razões de co n- ação real, poi s " aquilo qu e se expõe à vista toca
d. Int ermediá ri o en tre f á b u la e ato r tástrofes). peripécias qu e pre pararam a ação 0 11
ve niência ou veross im ilha nça. Existe na rra ti va" be m mais do qu e aquil o qu e se apree nde atrav és dão seqüên cia à ca tás tro fe o u ao co nni to resolv i-
(logo , narrad or. e não s implesmente personagem Nas cria ções co letiva s a pa rtir de romances ou de um re lato" (CO RNEILLE, " Exame do Cid" ). do. poi s "aq uilo qu e não de vemos ve r, a narra ti-
que age) desde que as info rmaçõe s trazidas não para troup es que trab alh am a partir de im provisa-
va nos exp õe" (BOILEAU, A rte Poét ica. cap oI/I ).
es teja m co ncreta me nte ligad as à situaçã o cê nica. çõe s antes de elabo rar um text o a se r represent a-
I . Limites e Definição da Narrati va Entre tanto, sua fun ç ão não é uni cam ent e a de
que o discurso ape le para a representação ment al do. o ato r/narrador ex p lica co m o sente a perso na-
"c o nserto" no trab alho do dramaturgo, que não
do espectado r c não pa ra a repr esenta ção cênica gem, o que e le pode ria ser le vad o a di zer, o que
A narrat iva, no se ntid o dado pela nar ratologia teri a outra sa ída sen ão resumir ve rba lmen te um a
real do acontcc ímcnro, A front eira entre narrati - não chega a ex pres sar et c. Se m nenhu m tem or de
(análise da narra tiva" ), é uma catego ria bastan - ação . A narrativa perm ite tomar a peça mais le ve
fazer os narradores figurarem em cena, ence nam-
va e ação dram áti ca é . por vezes. difícil de ser te ampla qu e tem por obj et o o conjunto das for- passando rapidamente , graças ao discurso, po r
se textos narrativos não " pre vistos" par a a ce na
traçada. pois a enu ncia ção do nar rador perman e- m a s na rr a ti vas ; é " be m pr eci sam e nt e o qu e a lgo que nec ess ita ria, e m ce na, de uma o rgia de
(poe ma. romance, not ícia de j orna l etc.). A insis -
ce ligada à cena, de mod o que urna narrat iva é A ristóte les c ha m a de mvtho s, isto é, a di sposi ção ce ná rio, gestos e diál ogos. E la " filtra" o acon te-
tê ncia no narrador se explica mu itas vezes peJa
se mp re mais ou menos "d rama tizada". dos fatos" (RICOE UR, 1983 : 62 ). cimento através da co ns ciê nc ia do rec itante q ue
vo ntade de levar em co nta a enunc iaç ão do ator e
E m se ntido estrito , fal a-se de narrati va quan- interpret a livr em ent e os fat os. qu e os mostra com
do a perso na ge m mon op oli za a fala a ti m de rcl a- a iluminação adeq uad a. Ao e nunc iado se acres-
258
259
NATURAL NATURALlSTI

centa, portanto, a modalização que o enunciador da (Alceste e Filinto, no início do Misantropo, dos, principalmente quando o texto é escrito numa e o drama*), uma produção de ilusão. Porém, ele
imprime aos fatos narrados. Para Rodrigo, por contam sua concepção da vida em sociedade). A forma muito retórica e estrita como a alexandrino não se limita a ZüLA, IBSEN, BECQUE, STRIND-
exemplo, a narrati va da batalha serve também de narrativa também será entrecortada pelas inter- clássico. O ator é intimado a optar por hanalizar, I3ERG, IIAUPTMANN e GÓRKI. Torna-se um es-
argumento político para sua situação pessoal: as venções monossi lábicas dos interlocutores. Em "prosaizar" o alexandrino como se quisesse tilo de interpretação e caracteriza toda uma cor-
coisas são apresentadas de modo a tornar, do- suma, o relato volta muito rapidamente ao estado neutralizá-lo através de um natural pequeno bur- rente contemporânea (boulevard", telenovelas) e
ravante, indispensáveis os seus serviços. de cena dramática e de ação: diégese* e mimese* guês ou, ao contrário, ele se esforça para criar a um modo "natural" de conceber o teatro.
Finalmente, ao "distanciar" a ação através da não são facilmente isoláveis. distância formal em face da retórica e da matéria
narração, ao fazer com que o narrador» interve- significante, para aceitar e até mesmo amplificar 2. Estética Naturalista
nha, o dramaturgo oferece ao espectador a possi- 4. Jogo com o Encaixe das Narrativas o poder da convenção sobre a criação da ficção.
bilidade de julgar com mais objetividade. Essa Limitar-nos-emos a três características da re-
técnica é empregada com freqüência por BRECHT A produção atual (adaptação de textos roma- m Banhes, 1963; Vitez e Meschonnic, 1982. presentação naturalista, sabendo, contudo, como
quando uma reflexão crítica é preferi vel à identi- nescos ou não "dramáticos", por exemplo) apre- espectadores não ingênuos desta estética não in-
ficação comovida com a cena. A narrati va, ao rea- cia particularmente a encenação dos narradores gênua, que a realidade é bem mais complexa'
lizar e desmaterializar a representação, impede a nas quais eles mesmos apelam, na história narra- NATURALISTA
ilusão, despsicologiza a cena insistindo na pro- da, para outros narradores etc. Mais do que urna (REPRESENTAÇÃO ... ) a. O meio*
dução da fala da personagem e, através dela, do moda, é preciso ver nesse caso um jogo com base É dado por cenários tão verdadeiros quanto a
dramaturgo e do ator. na relativização da fala. A narrativa, de acidental ~ Fr.: représentation nat ur al is t e; Ingl.: natureza, que fazem o papel de "descrições con-
Diferentemente da narrativa dramática, a nar- e culpada que era na dramaturgia clássica, tor- 't.; naturalistic staging; AI.: naturalistischer tínuas" (ZüLA) e que freqüentemente são feitos
rativa brechtiana não busca mais a justificação de nou-se trunfo de todas as práticas narratológicas Aufführungsstil; Esp.: naturalista (representacián). de objetos reais (portas verdadeiras, quartos de
uma situação que exige o monólogo de um prota- e meio de reescrever a "grande narrativa do mun- bois sangrentos no palco de ANTüINE). A ence-
gonista; ela se dá de maneira completamente arti- do" para a cena. A representação naturalista se dá como sen- nação naturalista tem gosto pela acumulação, pelo
ficial: a personagem declina sua identidade, colo- do a própria realidade, e não como uma trans- detalhe, pelo único e pelo imprevisto.
ca-se fora da ficção para sublinhar-lhe a falsidade G:l. Fábula, dramátieo e épico, brechtiano, flash- posição artística no palco. B. DüRT a define
e resumir, como intérprete, a ação do ponto de vis- ~ back, diégese, narração, relato. como "tentativa de constituir a cena num meio b.A língua
ta de um encenador, senhor do desenrolar do es- coerente e concreto que, por sua materialidade
A língua empregada reproduz sem modifica-
petáculo. O narrador muitas vezes desempenha um W Seherer, 1950; Szondi, 1956; Gencne , in Co- e fechamento, integra o ator (ator-instrumento
ção os diferentes níveis de estilo, dialetos e mo-
papel didático: indica as dificuldades das perso- niunicaçôes, 1966, n. 8; Wirth, 1981; Mathieu, ou ator-criador) e propõe-se ao espectador como
1974. dos de falar próprios de todas as camadas soci-
nagens ou a necessidade de recorrer ao públieo a própria realidade" (1984: 11).
ais. Dizendo seu texto de modo hiperpsicológico,
para mudar "o roteiro da realidade" (corno no fi- o ator procura sugerir que as palavras e a estrutu-
nal de A Alma Boa de Se-Tsuan, de BRECHT). A I. Origem ra literária são talhadas no mesmo estofo que a
narrativa, principalmente a clássica, sempre é um NATURAL
psicologia e a ideologia da personagem. Acha-se
ornamento, um morceau de bravoure, um poema Historicamente, o naturalismo é um movirncn-
-t) Fr.: ncuurcl; Ingl.: natural; AI.: nut ürlich,
assim banalizada e negada a fatura poética ou li-
de forma particularmente elaborada. to artístico que, por volta de 1880-1890, preconi- terária do texto dramático: a estética burguesa da
Nattirlichkeit; Esp.: natural.
za uma total reprodução de uma realidade não arte como expressão psicológica esforça-se para
3. Tentativa de "Dramatização da estilizada e embelezada, insiste nos aspectos ma- camuflar todo o trabalho significante da encena-
O natural, noção tão velha quanto fluida, é tam-
Narrativa" teriais da existência humana; por extensão, estilo ção, trabalho de produção do sentido, dos discur-
bém metafísica e impossível de circunscrever. Cada
ou técnica que pretende reproduzir fotografica- sos e dos mecanismos inconscientes da cena (prá-
modo de atuar julga-se natural e pretende, a cada
No entanto, a narrativa não pode, sem correr mente a realidade. tica significante", efeito de real*).
vez, inventar a representação verdadeiramente na- O naturalismo toma impulso em plena euforia
o risco de destruir totalmente o caráter teatral da tural. O natural, ainda que criado pelo homem, positivista e cientificista, enquanto se pensa em
obra, assumir uma importância demasiado gran- nega-se como produção artificial e designa os "ob- c. A interpretação do ator
aplicar o método científico a fim de observar a
de no corpo da peça. Ela se limita, na maioria das jetos artificiais que se apresentam a nós, como se Visa a ilusâo" reforçando a impressão de uma
sociedade como clínico ou fisiologista, mas en-
vezes, aos monólogos* da exposição" e aos dis- a arte não houvesse em absoluto se misturado a realidade rnimética e impelindo o ator a uma to-
quanto, de fato, se fecha esta sociedade num de-
cursos fúnebres ou nlatrimoniais do epílogo. Além eles, e como se fossem produções da natureza. Um tal identificação com a personagem, sendo supos-
terminismo não dialético. Na verdade, apesar da
do mais, a narrativa está integrada à ação: deve quadro que atinge os olhos como se víssemos o to que o todo se produza atrás de urna quarta pa-
palavra de ordem de Zola de mostrar no teatro "a
sempre incidir nos momentos fortes para retar- próprio objeto que eles representam, uma ação dra- rede" invisível que separa a platéia do palco.
dupla influência das personagens sobre os fatos e
dar a informação (técnica de suspense *) ou nas mática que faz esquecer que aquilo não passa de dos fatos sobre as personagens", a representação
grandes articulações da ação. Muitas vezes, é di- um espetáculo (...J, tudo isso se chama natural (...]" naturalista engolfa o homem num meio" imutável. 3. Crítica do Naturalismo
vidida entre o herói e seu alter ego (o confiden- (verbete "Natural" da Enciclopédia). O naturalismo no teatro é o remate de uma es-
te*), que expõem a situação num falso diálogo, A dicção» e o gcstual do ator são mais ou tética que exige, moderadamente no século XVII, A principal reserva ideológica com respeito à
ou durante uma discussão anificialmente anima. menos postos à prova como naturais ou codifica- mais insistentemente no século XVIII (DIDERüT representação naturalista é sua visão metafísica

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!, .-' .

NEGAÇ ÃO NUDEZ

e estática do s processos so ciais: estes são ap re- NEGAÇÃO tre choque das contradições: "Os di versos elemen- m alurgos como PINGET, DURAS . SAR RAUTE, os
se n tados com o fen ômen o s natura is . Assim , tos devem se r e nca deado s de maneira a que os poet as WEINGARTEN, TARDI EU, VAUTHIER.
BRECHT reprova qu e a peça Os Tecelões (de G. nós a pare ça m" (BREC HT, Pequen o O rga non,
Ver Denegação .
HAUPTMANN), um a o bra- faro l do naturali sm o, 196 3: § 67 ). Muit as vez es, a ação é interr ompida c r ~ Jacquot , 196 5&; Scrrea u, 196 6; C orvi n, 1969;
co nce ba a lut a de classes co mo inerente à natu- " do exterior" no mom en to qu e pod eria ser trági co. •..\ Jacquart, 1974; Mignon , 1986; Ryk ncr, 1988;
Co rvin ill Jomar on, 1989.
reza humana. O natu rali smo, as sim, substitu iu a NÓ
co nce pção cl ássica q ue se baseava , també m e la, 3. Natur eza do Nó e do Desenlac e
num a visão mist ificante do hom em com o ab s-
e F r.: noeud; Ingl. : kn o t, n odus , n ade ; A I.:
NUDEZ
tração intelec tua l. Est e " idea lis mo" só foi tran s-
mur ado num naturali smo estreito do home m co -
Kno ten, verfl echtung ; Esp .: nu do. As coi sas se enlaça m por mil razõe s q ue vo l-
tam tod as ao mesmo esq ue ma fundamental : há e Fr.: nudit é; Ingl.: nu ditv; A I.: Na cktheit; Esp.:
d esnudez.
mo "animal pensante que fa z parte da grande O nó é o procedimento qu e bloqueia o fio da um a contradição insolúvel entre duas co nsciên-
natureza" (ZOLA, 1881 ). intri ga , pro voc ando um confl ito entre o de sej o d o c ias , du as aspi raçõe s o u e xigê ncias igu alm en te
just ifi cad as (para a trag éd ia c l ássica) ou ent ão, O co rpo nu num palco reint roduz o o lha r e o
A crítica tamb ém se diri ge à ingenuidade de actan te" sujeito e o obstác ulo do ac ta nte o bjeto. co rpo" " privado" do espec tad o r o u da especta -
uma estética que pretende escapar à cO/lvenção' U ma ve z amarra da (bloq ueada) a s ituação. os ao co ntrár io, tem -se um co nfl ito" qu e remete a
dora, os qua is não pod em perm an ec er na ficção e
e ao rompime nto da itus ãos; ao passo que depen- ac ta ntcs esfor çam-se para desatar a intri ga . A contrad ições soci ais fab ricadas pelo homem e,
se reencontram na realidade d a ex ibição e do de-
de del as do prin cípio ao fim e que o espectado r narratologia examina co mo a fábul a é ab al ada, portanto, transform ávei s (se g undo BRECHT). No
sej o. O nu é port ant o um escâ nda lo se mio lóg ico:
tem necessid ade do du plo j ogo da ilusão/d esilu - graças aos " motivos din âmi cos qu e destroem o primeiro ca so . o nó é fin alment e e limi nado pel a
e le nos lembra opo rtuna me nte que a ce na não é
sã o para tirar daí prazer e identifi caç ão. Na reali- e q u ilíb rio da situaçã o ini ci al. O conj unto dos int er ven ção do sent ime nto de co nciliaçã o qu e "a só representação e sig no do re al , ma s co nvoc a-
dade , o j ogo naturali st a exige a co nvenção e a moti vo s qu e violam a imo bil idade da s ituação tragédi a nos propo rci on a pela visã o da ete rna j us- ção e ostens ão dest e real.
arti fic ialidade d as qua is ele gostaria de se pri var. inic ia l e qu e empreendem a ação c ha m a-se nó" ti ça que impreg na co m se u poder absoluto aju sti- Nã o se pode ge nera liz ar fun ções e efe itos da
Ele nunca está muito afastado do seu contrário: (TOMASCHÉVSKI, 1965: 274 ). fic ação rel ativa dos fins e das paixões unilaterais" nudez: é preci so co ntenta r-se em distinguir algun s
estilizaçã o" e simbolismo" : O texto mais realista ( HEGEL. 183 2: 379 ). No seg undo ca so, o nó ex i- usos da nude z e algumas gr and es m anei ras de rea-
ou natur alista é aq ue le q ue melh or domin a as con- I . Nó C Desenlace ge a int er ven ção ex te rna do es pectado r que é o g ir. Im põe-se um a prim eira di st inção , e ntre o tea-
vcn ções artístieas qu e presi de m sua produ ção. ún ico a poder el iminar as co ntrad ições so ciais em tro eró tico (o u melh or, a re vist a e ró tica ) qu e usa
O nó, co njunto de co nflitos que b lo q ue iam a qu e se embara çam as per sonagen s. Sej a ele de- sis tem aticamente e com o gên ero m ais para "en-
4. Prolongamento e Ren ovação do aç ão, o põe-se ao desenlace " que de sbloqueia satado ou co rtado , o nó se m pre deixa sua marca. c he r os o lhos" a nude z, feminin a, na maio ria da s
es ta : " Sendo o nó da s pe ça s u m ac id ent e ino- ve zes, e o teatro de ficção o nde o at o do desnu-
Naturalismo
po rtuno qu e detém o curso da ação re prese nta - dam ent o o bedece às exigênc ia s da situ ação dra-
da , e o desenlace um o utro acide nte impre vist o NOTA INTRODUTÓRIA m ática ( mes mo que a nudez e a e m oção gerad a
Além do sucesso se m pre asseg urado de uma
q ue facilit a a realização da qu ela, ach am os que no s o bser vador es rompam o âm bito protetor de
dramaturgia do ef eito de real " (teatro burgu ês"
o u de bo ule va rd", tel en ovelas ), o naturali sm o
es s a s duas partes do poema dram ático estão
manife stas naquele do C id " (Sc n timent s de
e Fr.: avcrtisscntcnt; Ingl. : p rcfa ce; AI.: Vonvorr; um "c omo se" ficcional) .
Port anto, é d ifíc il j ulga r o n u se m se r o u mora -
ins pira interessantes tentat ivas nco naturalistas, Esp.: a dvertencia.
l 'A cad émie sur " Le Cid " ). list a. o u emoc io nal, e e nume rar propriedades suas
Estas se caracterizam po r um a se mpre perce ptí- Descl//açar consiste e m fa zer a ação passar da puram e nte estéticas ' Po rq ue. d ife re nte mente do
vel crí tica subterrânea da ideol ogi a naturali zante, Te xto co nd uto r o nde o au to r d ra mático , ao
feli cidade à infeli cid ade, o u da infeli cidade à fe- nu em pintura, em escu ltura c mesmo no cinema.
d iri gir- se d iretament e ao leit or. adve rte-o de sua s
O "Kitchen-Sink Dram a" (" d ra ma da pia da co- licidade . A dramaturgia da p eça bem -feita s ma- é c fctivamcnte uma pessoa de ca rn e e os so qu e o
int enções , preci sa as c irc unstâ ncias de se u tra-
zinha" ) dos an os 50 na In gl aterra (WESKER, neja com virtu osism o a prática do nó, um pou co es pectador enco ntra à sua frent e : d a í um erot is-
balho . ana lisa sua ob ra , pr e vê e ventua is o bje-
O\VEN), marca um ret orno a uma descriç ão d os dem ais ao gosto de alguns, como ZOLA, qu e se m o " inc viuivel", mas também um co ns tra ng ime n-
çõe s. Pertin ent e ao paratexto " , port ant o ex te-
mei os desfa vorecid os . Na A le ma nha, o teatro de qu eix a daqu eles que têm a art e de "en laç ar os fio s to ainda maior. um praze r ate nuado pel o med o de
ri or ao texto dnnn ático " , a nota introdutória ou
KROETZ pint a e faz os "se m lingua gem " fala- co m plicado s para ter o praze r de desenlaç ã-Ios se r pe go em flagrant e delito de voycur ismo .
pr elimin ar é mu itas vezes um mod o de leitura
rem. Est a voga do teatro do cotidiano" também e m segu ida" (ZOLA, 1881). O co rpo de snudo ne m se mpre é e rótico ou
d o futuro públic o. Nesta qualidade, é um pro ce-
se faz se ntir na França nos an os 70 (DEUTSCH, pornogr áfico , co mo no caso de sua ex ibiçã o co m-
diment o de orie ntação d a rec ep ç ão" (prcfúc io*) .
\VENZEL, LASSALE, VINAVER), sob formas que 2. Apresenta ção do Nó pla cent e ; às veze s e le é ass im ilad o à d estruição e
osci lam entre Um rel at óri o fo tog ráfico e um li- à mort e , mais a T ãnatos do qu e a Ero s, co mo o
rism o erí tico qu e dá um a visão subj etiva da rea- O nó é parte integ rante de tod a dram aturgi a na corpo lívido e se pulcra l d os d an çari nos de Butô
lidade . q ua l int ervém um conflito, porém é m ais ou me-
NOVO TEATRO o u o co rpo violado e su plic iad o das ações semi-

C"
'~ Realismo. realidade repr esentada, história.
nos "vi sível". Para a dramaturgi a clássi ca, o aperto
d o nó se faz de man eir a co ntínua e su bte rrã nea.
e (Em francês, I/ O/l I 'c ml th éâtrc.)
rituai s, se mi-es téticas do g ru po Fura dei s Bau s.
Se a nud ez não é mai s , pel o meno s no O ciden -
P ara a dr amaturgia é pica brcchti ana, ao co ntrá- te, um probl em a ético . e la é sem pre o es paço de
Q Zola, 1881; Anto ine, 1903; Drama Rcvie w, rio , a at en ção é atr aída par a os pontos nod ai s Te rmo usad o na Fran ça par a o teatro dos anos uma crise e xistencial, o tubo de e nsa io e a ca ixa
_..",11969; Sanders, 1974, 197X; Amiard-Chevrel, nevr álg icos da ação; trata-se de mo strar as mu- c inq üenta: IONESCO, BEC KETT, ADAMOV, au- de res so nânci a da visu al ização da vid a e da mor-
1979 ; Chcvrel, 1982; Gr imrn, 1982. danças de rum o da fábul a, a c au salid ad e e o en- to res chamados " absurdos ", os rornan ci stas-dra- te. do go zo e do terror.

262 263
o
OBJETO rizar o ambiente cênico, o objeto deve apresentar
alguns tra ços di stintivos. O objeto naturalista é
D- Fr.: objet; Ingl : object; AI. : Ge genstand; Esp.: autêntico com o um objeto real. O objeto realista,
objeto. em compen sação , reconstitui somente um númc-
ro limitado de ca rac te rís ticas e funções do obj eto
o termo o bj eto tend e a subs titui r, no s esc ri tos imitado . O objeto s im bo lista estabelece uma co n -
c r íticos . os term os acessorior o u cen ário " , A tra-realidade qu e fun ciona de maneira autônoma.
neutralidade, até mesm o a vac uida de da expres-
são, ex pl ica se u sucesso par a descrever a cena b. Int er venção 110 j og o
co nte m po r ânea, qu e partici pa tant o do ce nário
O obje to teatral é usad o para cert as operaçõe s
figurati vo , da esc ultura mod ern a ou da instala- ou manipulações. Esta funçã o pragmática é parti-
rão· qu ant o da plástica anima da do s atores. A cular me nte imp ortante quando a cena mostra ho-
d ificuld ad e de estabe lecer um a fronteira demar- men s ou mulh er es em ocupa ções cotidianas . Quan-
ca da entre o ator e o mund o am bie nte, a vontade do o cenár io não é figurativo, certos e leme nto s
de ap ree nde r a cena globa lme nte e segundo seu servem de máquina de repr esentar i praticd veis" ,
mod o de s ignificação prom ov er am o obje to ao plano s inclinad os, mobil es, máquin as con struti-
ní vel de actante" prim ord ial do es pe tác ulo mo- vistas etc.). O obje to é então men os funci onal d o
derno . U ma tip ol ogia dos o bjetos cê n icos e sta - que lúdic o : e le " produz" sentidos cen og r áficos qu c
belecida de acordo com sua form a , se us mat e- se e nxerta m no text o.
riai s ou seu grau de reali sm o fari a pou co sentido,
poi s o objeto varia e m fun ção d a dramaturgia c. Abstração e não-figuração
empregada e ele se integr a - se for bem utilizado
Quando a en cenação se organiza uni camente
- ao espetáculo do qual é o supo rte visual e um
a part ir do j ogo do ator, sem pressupor um loc al
dos significantes e ssenciais,
de açã o es pe cífico, o objeto é muitas vezes abs -
trato, não é utili zado dentro de um uso soci al e
I. Função do Objeto assume um val or de objeto estético (ou poéti co )
(SCHLEMM ER, 1927).
a. Mimese do âmbito da ação
O o bj e to , a partir do mom ent o qu e é identifi- d. Pai sa gem m el/ta/ ou estado d'alma
ca do pel o espectador, situa imediat am ent e o ce- O ce ná rio d á uma im age m s ubj etiva do un i-
nári o. Qu ando é impo rtante para a peça ca rac tc- verso me ntal o u a fe tivo da peça : nele , rar am cn-

265
O I. HA I
O BS TÁ CU LO

te o obj eto é figurati vo , m as fant ástico , onírico tcgram- sc ao pro cesso g lo ba l da simbo lização, te da vo nta de da perso nagem e qu e se o põ e a decl am at óri a e re tó rica , co mo a do s tratados de
o u "lunar" , O fim bu scad o é cri ar famili aridad e Todo o hje to posto e m ce na so fre esse efeito de e la. O obs t ácu lo int e rior é um a op osi ção psi co - el oq üên cia e de atuação do sé cu lo XVIII, utili-
vis ual co m o im agin ári o das per sona gens da peça arti fic ializaç ão/abs tra ção (de semiotizaçã o rv; o lógi ca ou moral qu e a pe rso na gem se imp õe a si za tod o um vocab ul ár io do o lhar, faze ndo co m
(ve r illla gelll * ). (Ex .: o qu ad ro de FRIEDRICH. que não ocorre se m cortá -lo do mundo real e mesma. A front eir a entre os doi s tip os de obs tác u- qu e det erminad a ex pres são fac ial corresponda
Na uf rág io . para o es pe tác u lo E mpedokles, Hol - int el e ctu al iz á-lo. Es te é , sobre tu do, o caso dos lo é. co ntudo , muito tê nue e se determina co nfor- a um sentimento o u a uma sit ua ç ão bem pre cisa
de rlin les en por GRÜBER, em 1975. em Berlim , ob jetos simbó licos não-utilit ári os que de signam me o tipo de dr am aturgi a: a person agem clássica (ENGEL, 1788).
o u par a a en cen ação de A Dan ça da M orre de se u re fe re nte de m od o ab strato , at é me s mo tem tend ênc ia a int eri ori za r os conflitos exterio- Em cena , o o lhar liga a pal avr a à si tuaç ão (fun-
LANGHOFF na Com éd ic Fran çai se, em 1996.) míti co (s ímbo los rel ig ioso s e id e ali zaç ões da res, fazê -los se us e a ag ir em segu ida de acordo ção d êit ica ), an cora o d isc urso num ele me nto d a
realid ad e). co m suas própri as normas livrem ent e con sentidas cena, ga rant e um sistema de rev ezamento da fala
2. Polimorfia do Objeto M as a tendência inver sa - a do obje to mate- e da inte ração verba l e ges tua l. O o lha r intro duz a
(SCHERER, 1950 ).
ria l, intradu zível cm c ateg o ri as ab stratas - es tá duração no es paç o, graç as à possibilidade de " var-
D a preci são e d a ex plicação do obstáculo de -
igualmente present e na en cena ção atua l. O cená- re r" , de unir eleme ntos es pac ia is esparsos, de co n-
a. Desvio de sentido pende a es pcci ficidad e dos ca rac te res e da ação.
rio escolh e um ou dois mat eri ais básico s (madei ra, tar uma histór ia através d a s im ples trajetória das
O objeto não-mirn ético presta -se a todos os O obs tác ulo ora é real , ora puramente subje tivo e
co uro , metal, tapeç aria , tê xtei s) co nfo rme a atmos- " olhad as" . O olhar atra i a at en ç ão (e o olh ar) do
usos . e m part icul ar àq ue les qu e podiam parecer im aginá rio , o ra su pe ráve l, ora artificialment e eli-
fera mat eri al da peça e o tom básico do represent a- es pec ta do r, tant o front al e diret amente (co mo se
os mai s distante s dele (téc nic a surrealista do obj et m ina do (de us cx machina") .
ção. Es tes materiai s são apen as trab alhados i rough o espe ctado r se identific ass e e se co nf und isse eom
trouvé , desviado ou di st anci ado ). Por uma seqüên- O obstác ulo é o el eme nto estru tura l qu e se rve
look); não rem etem a sig nificado a lgu m, age m o ator), co mo lateral e ind ireta m e nte, qu and o ve-
cia de convenç ões" , o objeto se transform a num de passagem ent re o sis te ma das person agen s e a
co mo matéri a-prim a da qu al é preci so extrai r um m os o olhar de um ato r pousado e m outro. O ator
sig no da s co isas mai s variadas (técn ica do teatro di nâm ica da ação .
se ntido e se ntir a se ns a ção co nfo rme a situação nos prende de algum modo " pe los olhos" para
popular e do teatro que se baseia apenas na pre- obri gar-nos, um pou co como no einema, a ver o
cê nica. Mu itas vezes os objetos se vê e m elevados
sença dos ator es; assi m, por exemplo, os tij olos e re st o da ce na através de se u pró prio o lha r e as -
ao estat uto de plástic a mó vel, atu ando para e co m
a roda no Ubu Rei, ence na ção de P. BROüK em OUIAR s im , de o lhar em o lha r, pen etram os no un iverso
a cena, produzindo, graç as a sua dimen são poéti-
1978, e m Par is). ficci onal da cen a.
ca , teat ral e lúdica , um a miríade de associaç õe s
:-). Fr.: regard; Ingl .: look ; AI. : Blick ; Esp.: mi - O s m ím icos desen vol ver am parti cularment e
ment ai s no espectador. 't.: rada.
b. Nív eis de apreen são essa esp écie de comunicaç ão . O olhar foc aliz an-
O o bje to não é redu zid o a um único sen tido CJ Ence nação, realidade representada, sig no, má-
1. Psicologia do Olh ar
te indi ca qu e o m ími co vê e e nxerga o mundo,
o u nível de apreensão. O mesmo objeto é muitas ~ quin a teatral. tablado , ce nografia. qu e es tá co ncentrado c pres ente ; o o lhar que não
vezes utili tário, si mbó lico , lúdi co , co nforme os focal iza o deixa ve r se m e nxergar. O olhar dirigi -
momentos da repr esentação e, so bretudo, co nfor- W Veltru sky, 1940; Hoppe , 1971; Sa ison, 1974; O o lhar do ato r é uma in esgo tável fo nte de in- d o para o alto co nota refl e xão e gra ndes idéi as;
me a pers pect iva da apreensão es tética . Ele fun- Baolet, 1975; Pavis, 19760 , 1996; Ubersfeld, fo rmações, não só para sua ca rac terizaç ão psic o- qu ando se diri ge para bai xo . porme nores e início
ci o na como um test e proj etivo de Rorschar ch, 1978a . lógi ca, para sua rel ação com os ou tros atores, m as de um ge sto ; em dir eção ao espaço à sua frent e, a
es timulando a cria tivi dade do públ ico. ta mb é m para a e struturação do es paço, a cnun - execuç ão de um proj eto co nc ret o . Esse sistema
ciação do texto, a co ns ti tu ição do se ntido . est éti co vai ao enco ntro , a liá s, e de man eir a bas-
c. Desmultiplicaç ão dos signos OBST Á CULO A k in ésica " e a p ro x êm ica * analisa m o rost o e tante curi osa , dos resultados da pe squ isa neuro-
as re lações es paciais; m as o estudo do o lhar - lin gü íst ica que ana lisa os m ov im ent os oc ulares c
Não ex iste obje to bruto qu e j á não tenh a sen-
tid o soc ial e qu e não se integ re a um sistema de
-t). Fr.: obs tac lc; Ingl.: ob staclc; AI.: Hindcrnis ; tant o na ps ico log ia como e m se m iologia do tea- a dir eção do olh ar, enco ntrando ne les um núme-
Esp .: obs ui culo . tro - ai nda está pouco avanç ado . ro limitad o e recorr ent e de atit udes ment ais.
va lo res . O obj eto é cons u mido ta nto por sua
O s psicól ogos sa be m q ue a direção e o mo vi- Se os o lhos são " o es pel ho d a alma", o o lhar
co no tação quant o por sua fun ci on al idade primei- A quil o qu e se o põe à aç ão d a pe rso nage m, ment o do olhar ofe re cem informaçõe s pre ciosas é o suporte do co rpo . do mo vimen to e de toda a
ra . A lém disso, o obje to teat ral é se mpre signo de dificulta se us proj et os, co ntr ar ia se us desej os. sob re a inte ração e ntre d uas pe ssoas e qu e a tro- enu nc iu ç ão" cê nica. Muit as vezes ele o rga niza
algo . De modo que ele se ach a pre so num circui- Pa ra qu e haj a co nfli to" e, portanto , d esen vol vi- ca de olhares é a tro ca mai s rá pida e im ed iata a representação teat ral. Como o bse rvava JAQUES-
to de sentidos (de eq uiva lênc ias) e rem etid o por mento dr am ático" ; é pre ci so qu e a ação do he- qu e há. O o lhar es tru tura o en contro de do is ro s- DALCROZE: " O domín io do s m oviment os co r-
cono tações a um a gr and e qu antidade de sig nifi- ró i se ch oque co m " um o bs tá c u lo proveniente los e rege o desenrolar da co nve rsa , em part icu - porai s con stitu irá a pe nas um virt uosis mo sem
cações qu e o espec tado r o faz "expe rime nta r" de o utros indi vídu os qu e persegu em o u tro s fin s" lar para as mu d an ças de locutor. fin alid ad e algu ma , se tais m ovimentos não fo -
sucessiva me nte (BAUDRILLARD, 1968). ( HEGE L, 1832: 327) . O o hs tác u lo a pa rece a par- rem va lorizados pe la ex pressão do olhar. Um mes-
ti r do mom ent o que o herói é de safi ad o e m se u 2. O Olhar do Mím ico e do Ala r mo ges to pode expressar dez se ntime ntos diferen -
d. Artificializaç ão/ ma tcrialisnçâa de sej o. No mod el o act an cial" , o obs tá cu lo é o tes co nforme o o lho o ilumine de um a ou de outra
Por causa desse circ ui to de se nti dos , o obje - opon ente qu e imp ede o sujeito d e ter acesso ao m ane ira . As relações entre os movimen tos co rpo-
A mai or parte d as d esco bertas d a psic ol ogi a
to funciona co mo sig nificado, o qu e que r dizer o hjeto c o b i çad o . rai s e a dir eção do o lha r de vem , e ntão , se r obje to
e da neu roling ü ísti ca são d ir et amente a plicávei s
que sua mate rialidade (se u sig nifica nte) e sua Em dram aturgia c lássica, o o bs tá cu lo ex te - de uma ed ucação parti cul ar" ( 19 19: 108).
ao es tudo do o lhar d o at or. U ma es té tic a mu ito
ident idade (se u refer e nte ) to rn am-se inútei s e in- ri or é m ateri ali zad o por um a for ça indepe nde u-

266 267
i
O N E · (W O )MA N S HO IV
OS T E N S Ã

ONE-(WO)MAN SHOW cal : o emissor vocal é e xibido no palco enquanto OPSIS Espa ço circular, depoi s se mi-c ircu lar, no cen-
ator" (MOl NDROT, 1993: 72 ).
e
tro do te atro , entre o palco e o público, o nde ev o -
o one -nu tn (o u one- u:omall) silo ... é um espetá-
culo interpretado por uma única pessoa que faz uma (Termo grego que signifi ca \·Útlo .) luía o co ro da tragéd ia gr ega . No Renascimento ,
2. Operização do Teatro? a o rques tra ficava num nível inferior ao palco ; a
o u vári as personag ens. É também um espeuc ulo
de ex te nsão limitada , ce ntrado freqüentemente o opsis é aquilo qu e é vis íve l, confi ado ao soc iedade da Corte podia dançar aí durante os
numa personagem . Emprestado do fIIusic·ll a/l, o Poder-se-ia falar hoje em uma "operizaç ãn" o lha r, daí as no çõe s de es pe t áculo" e de rep re- interm édio s. Hoje, nas salas itali anas, a orque stra
lermo é freq üentemente depreci ativo quando apli- do teatro, no se ntido, banal , aliás, de qu e o te a- scntação" . Na Poética de ARISTÓTELES , o es- é a part e da sa la situada quase no mesmo nível
cado ao teatro, pOI S não se associa a el e um pro- tro recorre a todos os recursos da teatralidade e petáculo é uma das sei s parte s con stituti vas da que o palco, e m frente a ele .
cesso co mpleto de trabalho teatral, e si m se o limi- da art ific ia lidad e qu e melhor en carna a voz can- tra gédia, m as é desvalori zad o e m relaçã o a ou -
ta a um reci tal de canto ou de variedades. Isto é tada . Operizaç ão também porque a encenação de tros co m po ne ntes con siderados m ais fund amen-
que explica que a noção seja às vezes recusada por teatro tornou- se uma composiç ão de conjunto tai s ( fá b u las ». ca ráte r ' , c ant o et c .) . O lugar OSTENSÃO
artistas de teatro -como Philipp e CAUBERE- eujo qu e se an ota numa partitura de gr ande precis ão . atribuído ulteriormente, na hi stória do te atro, ao
Romance de 11m Ator se aparenta mai s a uma ence- Teatro e música travam relações estreit as e in é- op sis , ao qu e chamaremos atualmente de ence- -0- (Do latim e ste nde re, mostrar. ) .
naçã o teatral que a um número cô mico, um esq ue - ditas: a en cen ação te atral co n fro nta teatral idade n a ção >, se rá det erminante para o m od o d e trans- Fr.: os tens ion; Ingl. : os tens ton; AI.: Zeigen;
te* ou um número de ator. (vi sual idad e cêni ca ) e musiealidade ( voca l e tex- mi ssão e para o sentido globa l do es pe tác ulo. Esp.: ostens i ôn,
tual ); el a recebe a representação como uma pa r-
utura qu e filtra c lig a o te xto, a música, a im a- I . Comunicação Ostensiva
ÓPERA E TEATRO ge m, que veto riza o co nj unto dos es tímulos numa ORADOR
certa direção para o es pe ctado r qu e não mais di s- Est e ato de pôr "à disposição cog nitiva de algo
tingue o que vem de sua visão, de sua audição e Fr.: o rateur; Ingl.: allnOUllcer; AI.: Allsager; para alguém" (OSOLSOBE, t 980) faz- se sempre
Mesmo que pertençam a gêneros diferentes e de sua kinestesia»,
se op onham qu ant o à práti ca cênica , ao mod o de Esp .: orado r. no aqui e agora da co mu nicação . Em parte inten-
Todavia, () teatro não bu sca mai s so me nte na cio nal e e m parte não-intencion al, tal co munic a-
finan c,iam ent o e de funcionament o e a se u públi-
co, a opera e o teat ro estão hoje mai s ligados do óp era, o parad igma do teat ro total o u a ilu s ão O o rado r da troup e era, no século X VII, encar- ção se faz fora do s signos lingüístic os e ge stuai s
que nunca, descobriram-se e fascinaram-se mu- wagn er ian a da s co rre s po ndê ncias entre as art es reg ad o do cumprimento de praxe para a abertura e pos sui um caráter extra ou pré-semi ó tico, se -
tuamente. A ópera exerce gra nde influên cia na ou entre es paço, texto e m úsica. Ele ren egoci a da temporada, da sauda ção aos hóspedes ilustres, gundo a tese de OSOLSOIlE.
en cenação co ntempo rânea , apesar de sua evo lu- essas rela ções diferentemente, e ao aca so, bu s- da arenga pa ra introdu zir a o bra representada, do A osten s ão dá a ver dir etamente, se m a inter-
ção d ifcre nte. cand o no vas ali ança s ent re um el emento voc a l- se rviço de o rde m durant e a repr esent açã o, dos agra- mediação de um sis te m a de signos , o bjetos e pes-
musical e um e le me nto cên ico-visual. Assim, o decimentos e anúncios no final do es pe tác ulo. In- so as presentes di ante de um ob servador. Toda
I. Teatro por Excelência teatro mu sical" (OH ANA, MALEC, APERGHIS termediário , até mesm o dupl o do aut or, ele tinh a co municação não é necessariamente o stentató ri a
GOEBBELS) reduzirá, por exemplo, as rela çõ es a um papel imp ortante na inserção da o bra em seu (lingu agem, s ím bo los, a lfabetos) , ma s sempre
um ruíd o tanto "musi cal" qu anto textual ; o u en- co nte xto soc ial. MüLl ÉRE e depois LA GRANGE implic a a ação de e xpor à vista de pel o men os um
Usa ndo de tod os os recursos do teatro, co m,
tão, o Lehrstii ck *-ópera de BRECHT!Kurt WEILL foram o s oradore s do lllu strc- Thé âtre ; MONT- ele me nto da co isa co m unicada : ca rtas, um mapa,
além do mai s, o prestígio da voz e da músi ca, a
(Aquele qu e Di z Sim , Aquele que Di z Nã o ) ou de FLEURY e HAUTEROCIIE, os do Hôtel de Bour- um retrato . A í, o sig no se mpre é nec essari amen-
ó pe ra representa o teatro por excel ência, e est e se
RAMUZlSTRAVINSKJ (A História tio Soldado ) gogne : FLORIDü R, o do Mar ais. te mostr ado c proposto à atividade cognitiva. Todo
co mpraz em ressalt ar a co nvenção e a teatral idade
prop or á uma óp era de bol so o nde a mú sica se es - obj eto es té tico, m esm o q uand o é con stitu ído de
daqu el a. A rte naturalm ente excess iva, baseada em
forç ar á para ser tão s im ples quanto a história é um si stema de si gnos (Iing üísricos. pi ct óri co s,
fe itos vocai s, valori zada pelo patli os da mús ica e
simplista; ou ainda a recente "rcdescoberm': da ORQUÉSTlCA plásticos), m ostra esses signos (c nã o só a reali -
pelo prestígio da cen a, a ópera "fala" doravante à
ópera seria moz artian a se esforçará para recons- dade à qual os signos rem etem). Esta insistência
ge nte de teatro que lhe traz a siste ma tic idade de
u !n~ ence nação e a atua ção emp enhada, virtuo-
trturr um ges tua l apare nte me nte codifica do e urna
en cen ação que par eça repetitiva e co nvenc io na l:
e (Do g rego orkhês tikê.) na men sagem e em sua fabricação caract eriz a tod a
obra estética (JAKOBSON, 1963 ; MUKAROVSKY,
srsuca e to ta l dos atores . É pelo jogo físico dos
ou então a pesqui sa dirá resp eito, em GROTOWSKJ Arte da dan ça e co nhe cimento das atitudes , 1977 , 1978).
a~ores que nã o são mais apenas canto res , e sim
c BARBA, a uma partitura vocal enx ertada num a assim co mo dos movimentos expressivos, princi-
virtuoses e atl etas a fetivos, que o teatro veio re-
novar a en cen ação de ópera outrora es tá tica, sem
traj et ória ges tua l. A redefinição da noção de ó pe - palm ente dos gesto s co dific ados c de seu sig nifi- 2. De-mo(n)stração da Ostensão
ra, a renegociação das relaçõe s do texto c da mú- cado co n ve nc io na l.
rrnagm aç ão e eXc!usiva mcflle escr ava da mú sica.
sica, a reat ivação da pa ssagem do texto à música A os tens ão é um dos princípi os essenciais da
CIlEREAU com o Ring de Wagner, BROOK com
e da música ao texto, tud o isto muda radi calmen- representação teat ral. A ce na sempre se dá , qual-
Carmen , LAVELu co m Mudame Buttcrfly leva-
te os dad os d a ó pe ra teatral ou do teatro o per ístico ORQUESTRA quer qu e sej a sua fo rma ou função, como objeto
ra m os canto res a se us limites físicos e livra ra m a
e nos obri ga a qu esti on ar as antigas categorias e a se r olhado . Este aspecto de m ostraçã o foi desd e
e
en cen ação de SUas co nvenções ob soletas. Entre-
as oposições trad icionais. sempre con siderad o como a m arca do teatro, por
tanto: aí e les slÍ fizer am respeitar " uma das parti - (Termo do teatro grego: "local da dan ça". )
cu lan dades da ópera dentro do rep ert óri o musi- Fr.: orchestra; Ingl.: orchc stra ; AI.: Orchcster: o posição à ep opéia o u à poesia que não mo stram
W Appia, l R99; Regn ault , 1980. Esp.: o rq uestra . as coi sas di ret amente , ma s de scre vem-nas por um
268
269
OS TENSÃO

narr ad or. Enquanto no ro ma nce o ges to do mos -


trar é interior à ficção. no teat ro esta mostração
atravessa os limites da ob ra e dirige-se diretamente
ao púb lico, g raça s ao gesto do ator e ao "g estuss
c. Os tensrlo abstrata
Es ta só mostra os traços pri ncipais e a estrutu-
ra de co nj unto.
, qu er e graç as a u ma téc nica in su spcit ad a, O dr a-
ma turgo, o en cenado r e o auto r interv êm co mo
co mentado res em sua ex po sição das açõe s e do s
protagonistas. Repre sent ação objetiva e co me n-
O STEN SÃ ·

dos co mo " um instru mento do qu al se serve o


destina do r do esp etáculo para es tabe lece r com a
platéia um vínc ulo significantc" ( 198 4 : 125). Mas
sua teori a desn atur a a noção or igi na l de ostens ão
de e ntrega " do espetác ulo ence nado, rompe ndo o tário subje tivo de um na rra do r não são , co mo pres- qu e , e m OSO LS013E, se ha sta a s i me sma e, so-
quadro' da representação »: d. Os tensão demo ns tra tivo

I
sentiu BRECHT, se não as pectos co mp leme nta res bre tudo, ela não mais di sting ue o que se base ia
A os te nsão , no teat ro co mo na vid a, raram en - Mostr a o obje to co mo recon st it uído ou des. de uma mesma atividade art ística . Mostrar pr eci - num a se m iólic a e o q ue se dá co mo pura mostra -
te exi ste em estado puro: é aco mp anhada pela mo ntáve l: por trás do objeto nã o m ais apa rece um sa de um arranj o met acrítico de um narrad or, logo, ç ã o , de modo que a noção de ostensã o perde aí
fala ou pel a música ou por qu al qu er outro siste- asp ecto secreto , mas a figura do fa bricante e o de um dizer. E , inversa ment e , dizer não excl ui sua es pec ificidade e morre .
ma semi ol6gico. Co ntra riame nte à tese de OSOL-
SO BE, ser íamos tent ados a dizer que a os tensão
co mentário daqu ele qu e mo stra o u põe esta reali -
dade à di stância. Sabe-se qu e BRECII T co mpa-
I tent ativas para faze r se nti r de man eira ic ônica a
(i;) . Épico , índice, ícone , co municação. visual e

I
rea lida de da lingu agem c do un iverso descrito .
ca rece ser co locada em si tuação; logo, qu e ela ro u, para demo(n)strar seu teat ro épico, a repre- Jack y MARTIN, qu e infe liz me nte não se refer e ~ . textual, d êixis.
exige um quad ro e sis te mas s em iol6gicos que a sentaç ão teat ral a um ac ide nte de m a . Tudo o que ao s trabalhos pion e iro s de OSO LSOBE, pro põe
ins tala m. No teatro , a os tensão faz- se na seqüên- G offman, 1959; B OOlh , 1961 ; Jak obson, 1963;

I
se vê é recon stituído por teste m un has do acide n- uma teori a da oste nsã o qu e le ve e m co nta a rela -
cia de um a série de co nve nções: venha a tal hora, te qu e int erpr etam a ce na e a co mentam em todos çã o teat ral' e qu e explic ite os ele mentos mostra- W Eco , 1975. 1977. 19H5; de Marinis, 1979.
em tal lugar, se nte-se aqui , ol he lá etc. É preci so
I
os pl an os: téc nico, social e pol ítico . O ator que
insistir, como faz J. MARTIN ( 1984), sobre o es- re co nstitui o acide nte 'Jamais e sq ue ce e ja mais
paço rel acio na I do teat ro . deixa esq uecer q ue e le não é a per so nagem mos-
trad a e, sim, o demonstrado r. E m o utros term os,
3. Form as da Ostensão o q ue o públi co vê não é o amálg am a do demons-
trado r e da per son ag em mostrada , co mo o tea-
Nunca há ostensão completa: no dec orrer de tro tradicional nos oferece em sua s pro d uções"
um espetáculo, s ó perce be mos sig nos o u fragmen- (BRECHT, 1972 : 528) . A os tensão demonstrativa
tos da real idade cênica o u co rpo ral. A os tensão brechtia na apa rece co mo um a s íntes e das du as
tam bém se aplica a e le mentos não mostrados e primei ras : e la ultrapassa o si m p les nat ura lismo e
ape nas suge rid os. E la as sume a for ma de uma o subj eti vi s rno poét ico usando a lternada me nte
si nédoq ue : uma parte re me te ao tod o, e o ence- esses doi s modos: o do rel at ó rio d iret o e o do co-
nad or s ó precisa sugeri r um a rea lida de co mplexa ment ár io seg undo uma p e rsp ecti va s crítica . Ela
por um detalhe ca rac terístico : a coroa para o rei, assoc ia uma oste nsão pur a e um co me ntário só-
as co rre ntes e a bo la de ferro para o ca tiveiro . A cio-estético sob re a ostensão.
ence nação muitas vezes proced e po r meton ímia
o u met áfora. U m elem ent o mostr ado chama ou- 4. Limites da Ostensão
tro , um obj eto idêntico se tran sform a em mil fi-
g urações, co nforme as necessid ad es da represen- C o m freqü ên cia limita-se a osten s ão teatral ao
tação (símbolo ' ). cenário, à coreog rafia, à organi zaç ão e à figura-
Tod a uma estilística o u um a ret órica da osten - ção das personagens. O ator, a part ir do mo men-
são es taria em e labo rar de acordo com o modo de to q ue entra em cena, está ig ua lme nt e destinado
(de )mo( n)stração . T rês tipo s fundamentais pode- a se r aq ue le que se olha se m inte rrupção e cuja
ria m servi r de ba lizas: pr esença' fascina. Mas é pr eciso ac resce nta r a
esta osten são de e lementos vis ua is um a os tensão
a. Ostens ão mim étic a verbal: a das falas das personagen s. Desde qu e o
Mostr a o objeto suge rindo que e le é idêntico a d iscu rso é em itido a part ir de um a sa la, e. porta n-
seu referen te. Por exe mplo, a po rta em ce na é uma to , numa s ituação fict ícia e es té tica , o es pec tado r
porta de verdade (naturalismo'). o recebe co mo signo poético, fica ate nto a seus
se nti do s ocultos, à sua es tru tura teóri ca e a seus
b. Ostensão simbolizante p rocedimentos' estilísticos. Esta ma neira de adi-
anta r/colocar na frente a textura do di scurso é uma
Extrai do objeto propriedades que sugere m uma m an eira de mostrar e de iconizar * a lingu agem, o
o utra ex istência (idea l, religiosa ou moral ). O que te xto e sua retó rica.
é mostrado sugere a existê ncia de uma face velada
Se é verdade que o tea tro most ra as coisas, não
das co isas: a gaivo ta é a inocên cia morta etc .
é me nos ver dade q ue, de si, e le só mo stra o qu e

270 2 71
p

PAIXÃO xão é "um movimento da alma que reside na parte


se ns itiva , movimento es te que se faz para acom-
D- Fr.: pas si o n; In gl. : pas si o n pia)': A I panhar o que a alm a pe nsa ser bom para e la, ou
Pas sionspiel; Esp.: pasi án. para fugir do qu e e la ac ha ser m au para e la, e,
ge ra lme nte , tud o o q ue provoca paixão na alma,
Fo rma dr am ática medieval inspirada nos Evan- faz o corpo e fe tua r a lg uma aç ão ( LE BRU N,
ge lho s qu e represent ava a Pai xão de C risto nos 16 6 8 ). Os tr at ad o s d e LE BRUN, de CO RNE ILLE
mi st érios ". A represent ação apr esent ava qu adros o u d e LE FA UCHEUR (Trait é de lA cti on de
esp etac ula res, dura va vár ios dias, e emprega va L' O r at eur) propõem um ca tá logo das pa ixõe s d a
ce nte nas de at ores, envolve ndo nel a toda a ci da - alm a . mím ica s e posturas qu e as e xpr im em: des-
de . Ainda hoj e se representam paixõe s e m Ob e- se mod o , seg u ndo LE BRUN. o olho se ria parti-
rammcrgau , Tel e fen , Nancy , Lign y, cul armente e lo qüe nte e as sobran cel has é que
me lhor expres saria m as paixões. Em se u tratado
! No Brasil representam-se Paixõe s de Cris to em Pa ssi ons af file Min d ( 1604), \VRIGH T define a
-(.2:3 inúmeras cidades do interior, notad amente no ação co mo "a imagem e xterna de um es pí rito in-
Nordes te ond e chego u a ser con stru ída um a cidade tern o, pela boca [o ato r]. diz seu es p íríto/ o p i-
ce nográ fic a. Nova Jeru sal ém. Os pouco s ci rcos -toa-
ni ão Ihi.l· lI1il/(l] ; su a postura é a de a lg ué m qu e
tro aind a exi stentes também realizam a prese ntações
fale aos o lhos co m um a voz sile nc iosa ; co m s ua
na Se mana Santa. (N. de T. )
vida c se u corpo un iver sal. ele parece di ze r: é as -
sim q ue no s mo vem o s, porque é pel a pai xão qu e
somos m ovid o s/com ovidos [I1101'ed]" (p , (76 ).
PAIXÕES
A vo z é, com freqüên ci a, encarreg ad a de vei-
cu lar as paixões, gr aças às expressõe s faciai s ba s-
:). Fr.: passi ons ; Ingl. : pa ssi ons ; AI. : Licden -
~ schaftcn; Esp.: pasioncs. tant e co d ific ad as, à m ão es q ue rd a qu e mar c a o
ritm o , à mão direit a qu e acentua efeit o s, nuances
Em todas as épo cas, existiu a pre ocupação de e a lusões. Donde re sulta uma de clam ação que
ex p ress ar as paix õe s no teatro. de sig n ific á- Ias di z mais respeito ao rccitativo e ao ca nto que à
atra vés da vo z e do ges to . Na é poca cl ássica, pant omima da aç ão , e xig ida por DID EROT e
aq ue la de DES CARTES e de se u Tratado das Pai - ENGE L ( I 7HR). Est e últ imo ter á um p roj et o de
xões. o u de LE RRUN e de sua COII/" r(,lIc(, su r um a co leç ão de ge s to s e xpress ivos , de um in-
I'Expressio n G én érale te Particulicre ( 1668), vent ár io de to das as co dific ações. P roj et o que
tent ou -se co difi ca r mími ca s e posturas. A pai- ai nda é se ns ível nu m ARTAUD qu and o el e a fi r-

273
PAP E L
PALA V RA DO AUTO R

ma qu e " as dez mil e uma ex pres sões do rosto mima ce na s coment adas pel o co ro e pelos mú si- lava um pergaminho contendo o texto a ser dit o e 2, O Papel com o Tipo de Personagem
tomadas em estado de máscara s pod erã o ser ro - cos . A COIII IIIl'dia delln rtc" u sa tip os populares as instru ções de sua interpret ação.
tul ada s e catalo ga da s" ( 19M: 143 ). que fal am e se exp rimem at rav é s de la zzis >, A Metafor icam ent e. o termo pa pel designa o co n- Enquanto ripa ' de person agem. o papel es tá
p ant om ima tem sua é poc a á urea no s s écu los junto do text o e da inl erpret ação de um mesmo ligado a um a situaç ão o u uma co nd uta gera l. Ela
X VIlI e XIX : arlequinadas e paradas , jogo não- ato r. A dele gação d os papéi s ge ra lme nte é fe ita não tem ca rac terística individu al al guma , m as rcú-
PALAVRA DO AUTOR verba l (cenas mudas) do s at ores de feira. que pelo ence nado r em função da s ca rac te rísticas dos nc v árias propriedades tradicion ai s e típi cas de

e reintrodu zem a palavra através de s u bte rfúgios ator es e de sua possívclutilizaçã o na peça idi stri- determinad o co mpo rta me nto ou det erminada elas-
Fr.: mot d'au teur; Ingl.: author ial interv ention; cngr u çados. Hoj e, a pant omima não usa mais a buição " ). A seg uir. o papel pas sa a se r a própria Se social (pa pel de traid o r, de homem m au ). É
AI.: Einschreiten des Auto rs in dic Hald/~ ' pala vra . Tomou -se um espet áculo composto uni- pers onagem (pa pe l de mau. de traidor e tc .) co ns- nesse últ imo sent ido que GREIM AS e m prega o
Esp .: dicho de autor. ' ' camente dos gestos' do co me d iante. Próxima da tru ída pel o ato r: q uand o o papeluão corr cspond e termo téc nico pape l no qu adr o d os três nív eis de
anedo ta o u da história co ntada atra vés de recur sos e m nada ao se u emp loi , referim o-nos a ele como mani fest açã o da pers on agem iactante ", ato r" , pa-
Parte do text o dramático que se sente que não teatrais , a pa ntomima é uma arte independente, pap el de co mposiçã o . Toda peça co ntém o que se pei) . O papel situa-se no nív el int ermedi ário en-
foi realmente pronunciada pela pers ona gem em ma s também um compon ent e de toda represen- co nve nc io nou cha mar d e pa péi s princip ais e pa- tre o act ant c, força ge ra l não-indi vidu al izad a da
função de sua psicol ogia e da situação, mas posta taç ão teatral. parti cul arm en te dos espetác u los que pé is secundários. A rel ação co m o papel é o ra de ação, e o ato r, instânci a anlropomó rfica e figura-
e m sua boc a pel o auto r, de mod o a insinuar no ex terio riza m ao máx imo o jogo d os ato res e fa- imitação e identi fica ção ("e ncarnação" da pers o- ti va . É uma "entidade figurativa anim ada , mas
texto um dito es pirituo so , lim a zo mba ria, um cilitnm a produ ção de j ogos de ce na " ou qua- nagem pel o ator). o ra , ao co ntr ário , de diferen ça a nô n im a e soc ial" (GREIt\IAS. 19 70: 256). Local
aforismo ou uma m áxima " , d ros \·i\"os· . e de dis tanciumcnto" , Recrutar se m en gan ar, es se de pa ssagem do có digo ac tanc ia l a bs tr ato para a
A palavra do autor" é um a forma citacional" A pantomima "s em palavras" dos atores da fei- pod eria se r o le ma do ato r brechti an o perante se u per son agem e para o ato r, co nc re ta me nte postos
que se apregoa co mo tal e cuj a finalidad e é pas- ra ut iliz ava ca rtazes para co nto rna r a pro ibi ção p úbl ico : recu san d o o mito do ator possu íd o, e m ce na, fun ciona co mo es boç o d a bu sca da per-
sar "po r cima " das per son agen s para val orizar, em do uso da palavra, A partir da segunda metade do BRECHT atribui ao e spectador o papel de perito so nage m definitiva igestus" ),
primeiro grau, o talento es tilístico do aut or dra- séc u lo XVIII, com DlDEROT e su a e xigência de c rítieo qu e su pe rvis io na de pert o a co nstruçã o da
mático. O teatro de tese e o teat ro de boulevard , reali sm o cê nico, apela-se ao " ho me m de gênio ação e dos caract ere s . 3. Teoria Psicol ógica dos Pap éi s
se mpre ávidos de piscadelas cúmpli ces par a o que sa iba co mbinar a pant omima com o di scurso, A antiga ima gem d o papel - partitura a ser de-
público, gostam particularmente deste tipo de ilu- entre me ar uma ce na falada co m uma ce na muda se nro lada, trapo de pel e ex istente an te s e de pois GOFFMAM ( 1959) co m pa ra o com po rta me nto
são. Gr aças às palavras do autor, o dr amaturgo [ ...] A pantomim a é parte do drama" . d a interpreta ção e d a qu al o ato r pode se se parar human o a uma e nce nação. O te xto socia l é deter-
pro voca um curto -circuito na comuni caç ão" en- N o sécu lo XIX, a pantorn im a-arl cquinada, o u desfa zer-se - impõe- se novament e na com- min ado pelas rela ções intcrpe sso ais. O en cenador
tre suas persona gen s e de sm ist ifi c á a co nve nção co mo, por exemplo, a de um DEB UREAU, ins ta- pr een são mod ern a qu e d e sm isti fic a a noç ão é re pre sent ad o pel a autori dade pat erna o u da so -
de um discurso es ponta neame nte inventado pe- la- se no Boulc vard du Temple; se u mimo puro vitalista da encar naç ão cêni c a . Não é o qu e acon- cieda de . O públi co observ a o c omportament o de
las pers ona gens. fo i im ort aliz ad o no filme de CARN É, Les Enfan ts tecia até hem rec ent emente: o ato r ficava limita- q uem atu a.
du Paradis (1943 ) e pela pant omima de PRÉVERT, d o na carr eir a a um re d uz id o n úm ero de pap éi s Es ta teori a metafóri ca da int er ação socia l co mo
Bapt ist e ( 194 6) . No séc ulo XX , os m elh or es (e mploi*). Pr ocu ra va a vid a toda o pap el que j ogo dram ático ", por sua ve z, ajuda a co m pree n-
PALCO ex e m p los enco ntra m-se nos film es burlescos de melhor corres pon d ia a e le. ap rofundava - co mo de r a co nce pção de papc\ tea tra l: sua constru ção
B. KEATON e C. CIIAPLlN. as "m áscar as" da C OIII II Il ',lia dell 'a rt e - a gest ua - pe lo s at or es é efe tuada e m função do co nju nto
j Ver _C e ~a. Pelo teor do artigo sc êne , a sua tra- lidade e os IlI zzis* de seu tip o , imaginava-se por das per sonagen s, no âm bito de certas leis próprias
ll:'1
-í2:l duçao e mantida em cena, em vez de palco, ~ Mimo, ges to, mimodram a, cor po, arclanas . ve ze s - co mo o ato r romãntico KEAN - urdir o de de te rm ina do uni ver so dram át ico . A constru-
que é a sua forma corren te em portu guês, sobretudo papel a partir de sua pró pr ia vid a. ção do papel nun ca es tá pro nta ; é, ao mesm o tem -
no Brasil. (N. de 1: ) W Did er ot, 1758; Decroux , 196 3; Lorc llc, 1974; A rel açã o co m o pap el continua a ser vi veu- po , resul tad o da leit ura do texto e produtora des-
Marceau , 1974; de Marin is, 1980, 1993; Lcc oq , c ia da pelo ator como uma ten são : a qu est ão é sa leitu ra *.
1987. im ita r e a pro xima r-se do pap el co mo qu e VeS-
PANTOMIMA tindo uma roup a a lhe ia , que se tenta usar o mais C~ Ilu izi nga, 1938; Stan isl ávski , 196 3,1 966; Mo-

e
proxim am ent e po ss ível do co rpo; o u criar o pa- ren o, 1965.
(Do grego pantomimos, que imita tudo. ) PAPEL pei na medid a do ato r. talhando- o de aco rdo co m
Fr.: pantomune; lngl .: pa ntonume; AI.: Pant o-
mime; Esp.: pantomima. e (A pal a vra francesa vem d o latim rotu la ,
rodinha.)
s ua pe rso nalidade, co rpo e imaginár io . A pro va
do pap el - escritura e d ecifração - oc u pa-o se m PARÁBAS E
provocar de scontinu idade . m as o ator, daqui para
A pantomima antiga er a a " re pre se ntação e a Fr.: rà le ; Ingl. : rol e; AI.: Rol/ c ; Es p.: IIaI'('/. a frent e. co loc a o utra qu est ão a s i mesm o, qu es- :-). (Pa lavra grega para " pôr-se de l ado ' ")
aud ição de tudo o qu e se im ita, tant o pela voz, t ão es ta qu e det ermina lodo s os se us co m pro- "t.; Fr.: pa rab ase ; Ingl.: pa rabasis ; AI.: Pa ra bas c ;
co mo pelo gesto : pant omima n áutica , acrobática, 1, Papel do Ator mi ssos e mudanças : se u papel no âmbito da so- Esp .: p arábasis .
cqü estr e ; procissõe s, ca rn ava is, triunfos etc," c ieda de e o papel , tran s fo rm ador o u co nformista ,
(DORCY, 1962: 99). No fin al do séc ulo I a.C; em Para os g reg os e os ro ma nos , o papel do ator desempenh ad o pel a at ivi da de te at ral no mundo Parte da co méd ia antiga g rega (no ta da me nte a
Rom a, a pant omima se pa ra texto c gesto , o ator era um rol o de mad eir a em torn o do qual se c nro- no q ua l e le ev o lui. de ARISTÓFANES) e m q ue o coro avançava em

27-1 275
PAR Á ROLA
PARATE A TRO

direção ao públi co a fim de exp or-lhe, por inter-


b. A par áb ola é u m mod elo reduzido do no sso muitas vez es e m cima de um balc ão ou de u m a At ividade d ramá tica , teatral em sentido lato,
médio do co rifeu , os pomos de vista c as rccl a-
própri o m und o, c ujas propor ç ões fo ram fic lme n, área mais e lev ada, par a co nvidá-lo a ass istir ao que reco rre a proc ed im ent os tomados por e mprés-
maç õe s do autor e oferecer- lhe co nse lhos .
te respeit ad as. Todo fato co nc re to é remetido a es petác ulo. P o r ve zes, o ter mo torn o u-se sin ôn i- tim o ao teatro , mas não visa uma realização es té-
C". um prin cíp io teórico . dado como exe m p lo . Pa-
~ . Dirigir -se ao públi co. mo de " má peç a d e teat ro" (Liuré). tica, e situa -se à m arge m da inst ituição .
radoxnlmenn- , a paráb ol a é um me io d e fa lar d o A palavra e xprime apro priadame nte o desej o Os " derre do res" do te at ro são infi nito s:
presente , co locand o-o e m perspectiva e traves- de exibiç ão , de exposiçã o da s habilid ades acrobá-
PAR ÁB OLA lind o-o num a hi st6ria e num qu adro im aginári os. ticas e cô m icas d os ato res . A parada é uma fo rm a I . GROTO\vSK l usa o termo parateatro a fim de
Muit as vezes o d ram aturgo recu sa a so lução im e-
e trad icio nal de int erve nção teatr al qu e co nhec e u designar, no in íci o dos an os setenta, sua passa-
(Do grego pambolé : comparação, parabollrin, d iata, q ue co ns istiria em desc re ver o presen te se u momento de g ló ria no es pe tác u lo de feira dos ge m da en cen ação ao teatro ant ro pol ógico e ao
colocar-se ao lado.) co m fort es det alh e s na turalist as ; poi s poderia sécul os XV II e XVIII . Masjá no come ço do G rande par atcatro, " isto é , o teatro partic ipativo (po rtan-
Fr.: parabol e ; Ingl.: pa ra ble; AI.: Parabel; Esp.: mascarar e ntã o o es senci al , e dei xar de ev iden - to, co m participação ativa de pe ssoas de for a"
Século , o H ôt el de Bourgog ne ass istia às exib i-
parábola. (RICIIARDS. 1995 : 182). O teatro das.fontes (de
cia r o meca nismo ide ol ó gi co qu e o subt en de c ções d os far san tes (s tricto sens uv (co mo GRO S-
qu e subente nde a a parê nc ia vcri sta. GUILLAUME . GA ULTIER-GARGU ILLE, TURLU- 1970 a 197 9) se int eressa por uma refle xão antro-
I . Du alidad e e A m bigüi dade pológ ica qu e husc a "a fonte de diferent es técnicas
PIN). A trad iç ão po pul ar da farsa c da Commedi a
c. A par ãbola exige, por sua própria co nstitui - trad icionai s, daquilo que precede as diferen ça s"
d ell 'a rtc " se perpetua no teatro de feira (cf as
Em sent ido est rito , par ãbcl a (bíb lica) é um a ção. se r tradu zid a co mo su btex lo ideo lógi co q ue (182 ). Preocupado e m en contrar o tronco comum
Pa rades In éd ites da fe ira de Sai nt-Germa in , de
nar rat iva que co nté m e m s i, q ua nd o se lh e a todas as mani fest açõ es espe tac ulares , BARBA
rep orta a a pa rência d a fáb ula à nossa pró pr ia s i- Charles GUEULLETTE , publi ca da s e m 1885).
aprofundam a apa rência e o sentido, um a verda- põe -se em busca do pré -expressivo e dos grandes
tuação. No rma lme nte , esta trad ução é feit a se m As par ad as são prop ositalme nt e g ro sseiras e
de, um preceit o moral ou reli gioso (po r ex.: a pa- princíp ios unive rsai s co m uns a todas as trad ições
d ificuld ad e : por trás de A Alma lJoa de Setsua n pro vocat iva s ; s ua lin gu agem é crua, escato lógic a
rábola do filho pródigo). de atuaç ão e dança.
(de BRECHT), ler- se-á a impossibilidade de ser- mesmo , e seu es ti lo, chulo . É oferecida com o
Uma peça pa ra bólica pode ser lida e m doi s
mos hum anos no mundo da e xploração ec o nô m i- fala popul ar para as ligações du vid osa s (" une 2. A ativid ade tera pê uti ca utili za o teatro co mo
níveis, co mo, em ret óri ca, a alego rin» o u a pa-
rábola: a narrati va ime d iata, espéci e de " co rpo"
ca . Todav ia, oco rre sobret udo a partir do dram a pa ra d c z 'e st un m ot mor al ell ce q lle ça alll lOllce exe rcício que de se nvolve a presteza; int eressa-se ,
perceptível e xte rno , e a narr at iva ocu lta , cuja absurdo ou grote sco co nte mporân eo . qu e a lição Ilne b onn e pi êce pour engag e r z'e n tre r de da ns"
à
por exe m plo, pel a exp ressão c ênica ( DARS e
alma dev e se r descobert a pelo ou vinte. Fr eq üen - seja inde cifrável : M. FRISC H dá a se u Bi cd e rnmrin - " um a pa rad a ' zé ' /IIna pal avr a mora l j á qu e BENOIT, 1964 ), por mei o da qual se testam co m
tem ente, as peç as co ntêm cenas de par á bola s e os Ince ndiários O subt ílulo de Peça D id ática anunci a uma bo a peç a para induzir O públi co a parti cipação de um ps iq uiatra e de um at or , exer-
(co mo a do anel em Na tan, o Sábi o, de LESSING, Sem Liç ão . A dr am at urgi a d o absurdo » proíbe 'z e nt ra r ' pr a d ent ro" - . decl ar a Gill es , um a das cíc ios próximos do psico dram a".
ou a dos três co frinhos em O Mercador de \le11e- qu alqu er tent at iva de sig ni fic ação simbó lica; en - pe rso nage ns ma is cé lebres ...). Em sua paró d ia
~ a , de SHAKESPEARE) Hisroncam cme. a pará- tretant o, mui tas ve zes e la dá a i lusão de se r ape - dos gê ne ros no bres e das c lasses su perio res , a 3. Às vezes , d oentes m ent ais sã o co nvoc ados a
bola tea tra l surge em é poca s marcada s por pro - nas o in vó lucro lúdi co de ver dades essen c iais da pa rada d á pro vas de g ra nde invcntivi da d e ve r- atu ar com ato re s- animadores, com fina lid ade es -
fund as di scu ssões ideol ógicas e pel o desej o de cond ição humana. Ela contraria, porém, de m a- bal e p õe em crise o teatro nobre e sério . téti ca, sem q ue a pr ática seja apen as ter a pêutic a
usar a liter at ura para fins peda gógico s: co mo na nei ra pe rversa , qu al qu er h ipó tese inte rpret a tiva . À s ve ze s, as par adas sã o esc ritas por autores (cf a ex pe riê nc ia re lata da por M ike PEARSON in
é poca da Refo rma e da Co ntra-Re fo rm a, no fi- Entretanto , a par ãbo la não poderia ser, se m per - co rno CO LL.E c VADÉ ou llEAU MARC HAIS pa ra lutcrnationale de l 'Ima ginairc. 1996, n. 4 ).
loslÍlico sécu lo XV III, no per íod o co ntem po râ- der o encanto, um sim ples d is farce termo a termo teatros de soc iedade c ato res da boa soc ied ade
neo (co m BRECHT, FRiSe I!, DÜRRENI\IATT. fi . 4. O terc eiro-teat ro, co mo foi definido por BAR-
de um a men sagem un ívo ca . De ve preservar sem- qu e se so l tam, se vu lgariz am ou cri am peças de
STRAUSS). BA (l n tcmu tio na l Journal lnformation. 197 6 )
pre uma certa aut o nomia c opacida de par a sig ni- circunstâ nc ia .
também "v ive à m ar gem , muitas vezes fora O ll na
ficar por si própria, nu nca se r tot almente tra d u- No sé culo XIX, a tradi ção se mant ém co m o
2. E stru tura e Fun ç ã o zf vel em urn a lição , m as pre star -se ao jogo da
periferi a dos ce ntro s e d as ca pitais da cu ltura. É
!](IIlIt" 'a ,,1 do C rime c os atores iti nerant es (como
um teat ro fei to po r pessoas q ue se define m co mo
significânci a e ao s refl exos da teat ra lidade . 1l0 BÉCHE e GALIMAFRÉ). A tualm ente. a par ad a
a . A par ábol a é um gê nero de "d uplo fund o": o atores, cncc nado rcs, ai nda que rar am ent e tenham
é. por exc e lê nc ia, a fo rm a do teatro de agit-pro p " recebido um a form ação teatral trad icional , o qu e
plan o da an edota, da fábul a, que usa uma narr ati- W D ürrenmatr, 1955, 1966; Hil dcshcirncr, 1960; ou do co ntado r de histórias populares (co mo DARIO lhes acarreta o nã o-reconhecimento co mo profi s-
va facilment e co mpreensível, co ntada de modo Brecht, 1% 7: vo l. 17: Mü ller in Kc llcr, 1'176 . FO). E la foi rcd esco beri a po r MEIERIIOLD, q ue sionais". Sendo tant o fenôm eno soc iológ ico quanto
agradá vel, qu e é atua lizada no espaço e no tem po
fi cou fascinad o po r sua teatralidad c (cf sua enc e- afirmação estétic a, o tercei ro-t eat ro é con stitu ído
- evoca um a m bierue fict ício ou real, no qu al se
naçã o de Ba rra ca de Feira , de A. BLO K). por uma red e de tro ca , de a po io e de es tímu lo
presume qu e os aco ntecimentos sejam produ zi- PARAD A
dos ; e o plan o da "m oral" ou da lição. qu e é o da m útuo (WATSON , 199 3 ). Assim, o te rce iro- teatro
escapa ao teat ro co me rc ial, subvenc io nado ou de
transposição intelectu al , moral c teó rica da I:íllu-
la. Nesse níve l pro fundo e "sério" é qu e apreen-
:+ Fr.: pa rade; Ingl.: par ade ; AI. : Panule; Esp .:
PAR ATEATR O militân ci a; o rg aniza -s e em rede c eco no mi a para-
t..; pa rada.
de mos o alcan ce d idát ico da peça, podendo _ nes- lelas, com se us pró pri os meios de produção c de
se caso - estallelece r um paralel o co m a nossa Fr.: p a rathé àtre; lngl .: parathra tre ; A I.: PlI - edi ção (cf re vist a Bo uffo nneries, ed itad a por P.
Em sua o rige m, a parad a sig ni fica va sa ltim -
atu al situação . ratheatrr; Esp .: paratcatro. PEZIN e pel o Odin Theatrct , de BARBA).
ban cos, arti st as qu e arregi me ntava m o p úblic o ,

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- _. . _ - - -- - - - - - - - - - - - - -
PAR A T E XT O
PARTI TU RA

PARAT EXTO d oi s nív ei s separados por uma di stânci a crítica 3. Finalidade e Conteúdos M omento da peça em que a intensid ade dr amá-
marcada pe la ironi a *. O di scurso parodi an tc nun- tica est á em se u á pice, geralme nte ap ós um lento
~ Fr.: purat extc; Ingl. : paratext ; AI. : Pa-
ca dcve pe rm itir qu e se esq ueça o a lvo parod ia-
't-.: rasprache; Esp.: l'ul"{l/ex[o. A paródia de um a peça não se restringe a um a asccn so da ação e exatam ent e antes da ca tás tro fe,
do, so b pe na de perder a força crít ica . E le cita o técnica cô mica. Ela inst itui um jogo de co mpara- no p alit o cú lm ina nte" da curva dr am áti ca.
di scurso o rig inal de forma ndo -o ; a pe la co ns tante, çõ es e co mentá rios com a obra parodi ada e com a
1.-M. THOMASSEAU ( 1984) propõe o termo
paratcxt o para evit ar o bin ômi o text o principal/ mente pa ra o esforço de recon stituição do leit or tradição literária ou te atral. C onstitui um meta-
tex to se cundário" , co ns iderado excessi vamente
ou do esp ect ad or. Sendo ao mesm o tem po cita- d iscurso crítico so bre a peça de orige m. Por ve- PARTITURA
normativ o: entende-se por paratexto "o texto im- ção * e c riação o rig inal, mant ém co m o pré-texto ze s , ao contrário, reescre ve e tr an sforma a dra -
presso (em itálico o u em qu alquer caráter tipo- estreit as rel aç õe s intenextuais ». M ai s qu e imit a- maturgi a e a ideol ogi a da peça imitad a (co mo o ~ Fr.: partition; Ingl.: seo rc; AI.: Par titu r; ES(l.:
gráfi co que o diferencie visualmente do restante
ção g rosse ira ou travestimento, a paródi a exibe o Macbett, de IONESCO, que parodia o Macbeth "'t.: partitura.
obj eto pa rodiado c, à su a maneira, prest a-lhe ho- shakespcariano) , .
da o bra) que envolve o text o di alogad o de uma
m en agem . O ato de co mpa rar faz parte do fen ô- A paródia di z resp e ito a um e~l o , um tom,
1. A Impossível Partitura Cênica
peça de teatro" (198 4: 79). O parat exto compreen -
men o da recepção». Con siste, para o parodiante urna per sonagem , um gê nero o u simplesmente a
de o titulo ", a lista de pe rsonagens», as indica-
e, na se q üência, para o espectado r, na invers ão de s ituações dramática s. Q ua ndo tem fi~l al ~da e ?~ ­
ções cê nicas de temp o e espaço, as de scri ções de Se a mú si ca dispõe de um s is te ma muito pre-
todos o s s ig nos: subs tituição do e le vado pelo vul- d át ica o u mor ali zant e , é aparentad a a sau ra nl t~ ­
cen ário. as didascáli as sobre o jogo do ator (ki- c iso para not ar as partes instrumentais de utntr:-
darnente social, filosófica ou política. Sua mira:,
gar, do re speito pelo desrespeito , da seriedade pel a c ho, o teatro es tá longe de ter à sua disposição
ncst ésica", proxêmic av ), co mo tam bém qualquer e ntão , fundam entalment e séria, uma v e~ que opoe
ca çoada . Essa inversão de sig nos é feit a, na maio- se me lhante metalingua gem capaz de faz er o le-
di scur so de aco mpan ha me nto co rno a dcdicat â- aos va lo res cr iticados um co e re nte s iste ma de
ria », o prefácio ou nota introdutôria» , ria das vezes . com fit o de degradar, m as não ne - vanta mento sincrô nico de tod as a s artes cê nicas,
co ntrava lores . A sá tira n ão se sa tisfaz , co mo a
ce ssariame nt e: um gê nero vu lgar o u uma fábula tod os os cód igos o u tod os os s is te m as sig n ~­
iro nia', com a par ódi a o u o pasti che, em ro ç~r
ficantes. No entanto, periodicamente surge a rer-
k.I:1 Thorn asseau, 1984, 1996. medíocre podem ser suh stituídos por um estilo se u obj eto apenas por brincadeira. El a_se con si-
nobre ou uma hist óri a de príncipes ; o contraste e vindi cação de urna lin guagem de notaç.ãocênica
dera reformadora ("A sá ti ra corno lições, con:o
o efeito côm ico ape nas parecerão m ai s Surp ree n- entre enc ena do res e teóric os. O s hie r ógli fos de
no vid ade fért il I sabe, co mo nenhum a o utra, po r
ARTAU D o u de GROTO WSKI , os ges~ lIs* de
PARÓDIA dent es (essa técni ca de travesti ment a é utilizad a pimenta no di vertido c no útil I depurando um
DRECHT, as ondas rítmicas de STANISL A V SK~ e
pel o her ói cô m ico) . ve rso co m pitad as de hom sen so I faz co m que os
os esque mas biornec ânicos de MEI ERHO LD s a ~
~ (Do grego parodia, com racódi go, contracanto.) Es píritos vejam os erros do seu tempo" ; B~IL : A U,
algumas célebres tentativas de uma e scritura c.e-
"'t.: Fr.: parodie; Ingl.: parodv; A!.: Parodie; Esp.: 2. Mecanização Sá tira IX). Muitas ve zes foi notada su a viol ência
n ica" autônoma. Alguns cad erno s de encc naç ao,
pa rodia. e s ua ca pacida de de atac ar o homem no que ele
corno os de STANISLÁVSKI o u de BRECHT, por
D e acordo com os form ali sta s ru ssos, os gêne - tem de mais sag rado . Nesse aspecto ela se ~ p ro­
ex e mp lo , são ve rda de iras r e c on stiu ç~e s d o es-
Peça ou fragment o que tran sforma ironicamen- ro s e vo luem prin c ipalmente a través de par ódi as xi rna do deboche, qu e é, segundo LA BRUYERE,
petácul o . Em co mpe nsa ção, as no ta ç õe s co reo-
te um texto preexistente, zombando dele por toda su ce ssivas, sendo que o elemento parodiante se "l...] a mais im perdoável de todas as injúri as; é a gráficas (como o sistema de LABAN, 1960, 1994)
op õe aos pro cediment os automatiza do s e este reo - linguagem do desprezo (... ] at aca o homem em
es péc ie de efeito cô mico. O Littré defin e a paró- difi cilment e podem ser tran sp ostas para o teatro.
tip ad os: " A essê nc ia da pa ród ia reside na mec a- sua última trinch eira : a o pinião qu e e le te~ d ~ SI
di a co rno sendo "peça de teatro de gên ero burlesco Est ari a a info rmá tica em co ndições de resol ver a
pr óp rio ; quer to rná- lo rid ícul o a se us propn os
qu e tra vcsrc uma peça de gê nero nobre", ARIS- nização de um procediment o defin ido f...] desse difi culdad e técni ca da n otuçâ o " ]
o lhos (.. .l" ( 1934 : 86) .
TÓT ELES atribui sua in ven ção a I/ EGEMON DE mod o, a paródia reali za um duplo o bje tivo: I ) me- A se m io log ia , preocup ada em raci oc in ar so-
Qu ando não tem pretensão reformadora, a pa-
THA SOS, ao passo que ARISTÓFANES parodia can ização de um procedimento definido; 2 ) orga- hre os dados da repr esentação, pergunta- se a mes -
ródia muitas vezes é fo rmal (d estruir para quebrar
o bras de ÉSQUILO e EURíp IDES e m As Rãs. A nização de uma nova mat ér ia. qu e é a penas o a n- ma co isa , sem no ent anto chegar a es tabelece r uma
a form a, um estil o), o u g rotesca" e absurd a ", lo-
Pa ródia do Cir/ no s écu lo XV II o u O Chap eleiro tig o proced im ento mecanizad o" (T YN IANOV, met al ingu agem suficie nte me nte tl e xívcl e pre cI-
dos os valores es tético s e fil osófi cos são negados ,
196 9 : 74) . sa . Ist o tam b ém di z respeit o à natu reza do t e ~tr o ,
Sem Chapéu, de 1665 o u La M isc en Pi êcet s ] du em um gigantesco pirn-parn-pum [o jogo ~ e bo la
A par ód ia tende a torn ar- se um gê ne ro aut ô- em parti cul ar ao víncul o bastant e prob \e m a~'c ~
Ci d. de R. PLANCI/ON. se d ivert em co m o Cid. at irad o em bonecos nos parques de d iversõe s] .
nomo e um a técnica para rev elar o procedimento entre texto e cen a ". Tal gênero de partitura CCIll-
enqu anto Harnnt, ou La Contrainte par Cor "ho-
artísti co . No teatro. ela se tr aduzi rã num resgate ca tem difi culdade em es capar da influ ência d a
menageia" /lerr /(lIIi e Ru y Blag faz o mesm o co m ~ . Cômico, intertextua lidade. met alinguagem , qu e imprime s ua m arca na decu-
da teat ral idad e e num ro mpi me nto da ilusão atra-
Ruy l/Ias. As ópera-cô m icas de OFFENDACII pagem da ce na e na descri ção .
vés de um a insist ên ci a grande dem ais na s m arcas
(como A Bela llelena ; Orfeu no In fcm o sdescons-
troem O uni verso mitológi co e trág ico.
d o j ogo teatral (ex age ro da declamaçã o, do pa thos, m Cahiers du XX' Siê cle , 1976; Hutcheon, 1978,
1981; Genctte, 1982; Pa vis, 19R2; Pavis, 1986" .
2. O Texto com o Partitura
do tr ágico, d os efei tos cêni cos etc. ). Como a iro -
nia . a paródia talv ez sej a um prin c ípi o es tm tura l
I. D ~ sdob ral enl o
Par a os " puristas" do leXIO, para aqueles q~ e
pr óprio d a ob ra d ram áti ca: desd e q ue a ence na- PAROXISMO
ção mo str e um pouco dem ais se us "cordé is" e se recu sam a levar em co nta qualquer ence naçao
A paródi a co mpree nde simu ltaneamente um
suhord ine a co munica çã.,» inte rn a (d a ce na ) à ~ (Do grego pa roxlIJIlIOS. ag uça r, exci tar.) ..
~ or se r forço sam en te fal sifi cadora, o text o é, co n-
text o pa rod iamc e um texto pa ro d iado. send o os "'t.: Fr.: paroxysnic; Ingl.: cl imax: AI.: H õhcpunkt: sid erado um fim e m si (ao passo q ue , em mu srca ,
comunicação externa (entre palco e platéi a ).
Es p.: pa rox ismo {p unto cuhninant c). nenhum mel ôman o o usaria dizer qu e prefere ler
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PATH O S P E Ç A B E M -I' E ITA

BEETHOVEN na partitura a ir ao co ncerto) . Est a PATHOS afe tado. A int erp ret ação de ce rtos ato res (no ta- mo peça . Os aut ores não m ais rei vindi cam. sal-
at itude filol ógica nada tem. em si. qu e a desm e- dam en te no séc ulo XVIII) e a escritura d ra má tica vo nas trilha s batida s do boulevard", esc rever
reça : o texto é lido. afi nal , também co mo poesi a -t) (Do grego pa thos , se nt imento, sofrimento.) fazem uso de um pa lhas gra nde de mais; abusa m peças: fal am e m text o, montagem, rcescritura ,
- princip alm e nte o text o clássico ; e le sempre co m- Fr.: pa thos: Ingl. : patho s, fa lsc hc roics; AI.: e m dem asia dos efeitos e estic am além da co nta até em POC I1Ul dram ático" ; a urga nic idadc c a
porta um m ín imo de indicaçõe s cênicas exterio - Pathos. falsch es Pa thos ; Esp. : palhas. nos sa corda se ns ív e l. As par ódi a s do pu tlios regul arid ad e de um a pe ça à a ntiga os choca.
res ou int egrad as ao corp o da peça. E, no entanto. sc hilleriano , por BÜCHNER e BRECHT, indi cam
a leitura si m ples e o po ema dramático se ressen - J. Qualidade da o br a teatral que provoca emo- hem a proximid ade entre essa em oção esti lizada
tem cru elmente da falta da eventual experiência ção (piedade , ternura, pena) no espectador. c o ridículo. PEÇA BEM-FEITA
da representaçã o. Esquece-se ra pidamente que o Em retórica,pathos significa a téeniea que deve
texto dramáti co não é mais que o vestígio muito co mover o o uv inte (por oposição a il/IOS, impres- 4 . O pa tho s nã o é leg ível apenas no nív el do tex- :). Fr.: piéce bien fui tc ; Ingl.: well- madc pia)'; AI.:
empobrecid o de um aconte cimento passado : "Gra- são moral ex er ci da pel o orador). É preciso distin- to abarro tado de excl am açõe s, repetições e de ter - ~ well-ma de play ; Esp.: obra bien hecha .
ças ao terr ori sm o da literatur a, que se pode o b - gui -lo do dr am ático e do trágico. mos qu e nos dão o estado psicol ógi co do locutor.
servar no Oci de nte por volta do final de Idad e O dra mático * é uma categ o ria literária que de s- Ele se manife sta numa ges tua lidade não-real ist a, I . O rig ens
Médi a. um a not ação se arroga o direit o de ser um a crcve a ação , bem co mo sua condu ção e suas re- ace ntua ndo ex press ões, j ogand o co m os efe itos
obra" (REY. 1980 : 187). percu ssõe s. plásticos dos agrupame ntos de ator e s, recons- Nome dad o. no sé cu lo XIX. a ce rto tipo de
O Irágico * es tá ligad o à idéia de necessid ad e tituin do quadros \'i\'Os* (cf. DIDEROT, 1758, des- peça que se ca rate ri zn pel a perfeita disp osição
3. A Part itura co mo Texto e de fatali dad e do destino funest o, porém liv re- cre ve ndo a m ort e de SÓCRATES e as reaçõe s ate r- lógica de sua ação. Atrihu i-se a E. SCRlBE ( 179 1-
mente pro voca do e ace ito pelo her ói. rori zadas do s qu e lhe era m próxim os). 1861 ) a paternidade da ex p ress ão e da coi sa . Ou-
Ap ós o advento da en cenação e de um teatro O pat ético " é um mod o de recepção * do espe- O pathos, e le me nto apre en sí vel tant o co m o tros autores (com o SARDOU, LABlCHE, FEYDEAU,
de im agens " que tudo subord inam à colocação táeulo que prov oca co mpaixão. Vítimas inocen- produção como e nq ua nto recepç ão" , varia de até IBSEN) construíram su as peças de aco rdo eom
no espaço e ao discurso do encenador, observa-se tes são abandonadas à sua própria sorte sem de- acordo com cada é poca. Pode ocorrer qu e ele não est a mesma receita. Por ém. além de ssa "escola
um retorno ao teatro de texto e a uma exigência fesa alguma. sej a cho cante, mas natu ral para a ép oc a e m que é de co mposição" histor icam ente situada, a peça
de con stitui ção de uma partitura textual compa- O patéti co conh eceu seu apogeu na tragédia produzid o. Só al gun s anos depois, ao o uvi r-s e a bem-feita descre ve um pro tótipo de dram atur gi a
rável, em precisão e normatividade (pa ra a futura dos séc ulos XVII e X VIII e no drama burguês . gravação o u ver-se o film e, ele vai par ecer exage- pós- ari stot élic a qu e le va o d ram a de volt a à es tru -
realizaçã o cê nica) a um a partitura musical. Aut o - rad o e artifici al. Isto dem on stra a im port ân ci a dos tura fec hada ; torn a- se sinô ni ma de peça cuj os
Figura sempre, porém. como um dos ingredi en -
res co mo Jean VAUTHIER. Jean AUDUREAU o u códi gos ideol ógico s da recepção para av a lia r sua cordé is são su fic ie ntem ente grossos e num e rosos
tes do suces so e mo ciona l elo u co mercial.
Mich el VINAVER. esc reve m textos nota ndo as presen ça e sua qu alid ad e (natural" ). para serem rep crt o riados.
pausas e enca dea me ntos , as cadê nc ias, Iigaçõc s,
2. O teat ro, em particular a tragéd ia, recorre ao
stacca ti, tem pos rápid os o u lent os. em suma, e s-
patético a partir do momento que co nvida o pú - fi Dide rot. 1758; Schiller, 1793; Hegel. 11:13 2; 2. Técni ca s de Compos ição
forçando-se para prever o ritmo » da enunciação ~ Kommerell , 1940 ; Ro milly. 1961; Eisenstein,
blico a se ide ntificar com um a situação ou um a
cê nica do texto . A qu estão é sabe r de ond e vem 1976. 197 8.
causa cuja e vocação perturbará o ouvinte. O prim ei ro m andame nto é o desen rol ar co n-
esse ritm o, se o auto r é se u prop rietári o, se e le
Na Po ética de ARISTÓTELES, o palh as é a par- tínu o, feehado e pro gress ivo do s mot iv os da
tem a chave desse ritmo ou se a cada nova ence-
te da trag édi a q ue , e m função da morte ou dos ação. Mesmo qu e a intri ga seja compl icada (cf.
nação e emi ssão pelo ator, o ritmo deve ser colo -
aco ntecime nto s trági cos da personagem, provoca PEÇA Adri cnn e Lecouvreur, de SCRIBE), o suspe nse "
cado no vam ent e em questão e reeriado.
se nti mentos de p ieda d e " (é/e os) e de terror> deve ser mantido co nti nua me nte. A cur va da ação
(p ho bos] co nduzi ndo à ca ta rse" , -t) Fr.: l!ih e; Ingl. : pla»; AI.: suu». Esp.: obra. pass a po r altos e baixo s c ap res e nta uma se q üên-
4. A Subpartitura do Ator c ia de q üiproq uós , e fe itos e go lpes de teat ro ",
HEGEL ( 1832: 5 18- 583) di stin gue pathos sub-
j eti vo e pa lhas obj etivo . O path os su bjet ivo é o No sécu lo XVII, peç a é uma ob ra lite rá ria o u O obj etivo é c laro : m an ter viva a aten ção do es-
Sub stitu indo a not ação de subtexto"; limi tad a mu sic al. De po is. a pal a vra passa a desi gn ar e x- pect ad o r, j ogar co m a ilusão natural ista.
se ntimento de sofri me nto, ab atime nto e passivi -
demai s ao teatro psicol ógi co e liter ário, há quem c lus iv a mc nte o texto d ra m ático" , a ob ra es c rita A distribui ção da m atéria dramática se faz de
dade que tom a o público, ao passo qu e o palh as
proponha usar a noção de subpartitura, que é um par a a ce na . A pa lavra peça co nse rv a, de s ua aco rdo co m normas m ui to preci sas: a ex pos ição
obje tivo tem po r fin alidade "emocionar o espe c-
"es quema di reto r ci nes tésico e emoc iona l, arti- et imolog ia. a co no tação de um discurso rel at a- co loca di scret am ent e sinalizações para a peça e
tador desenro lando di ante de seus olh os o lado
culado co m base nos pont os de referên cia e de do . informado , tc xtu ali zad o c rem endado (ra - sua co ncl usão ; ca da ato co m pree nde um ascenso
substancia l das ci rcuns tâ nc ias, das meta s e dos
apoio do ato r, es que ma esse criado e representa- piécé) , de uma re uni ão a rtesana l (mo ntage m ou da ação pon tuad a por um pont o. A histór ia cul-
caracteres" (52 5) . "O palhas que imp ele à ação
do por ele, com a aj uda do encenador, mas que só co la ge m) de di ál ogos o u mon ól ogos, o qu e le- mi na num a cen a ce ntra l (ce na obrigat ória) o u os
pode ser pro vocad o e m todos por forças morais,
pode se manifest ar através do es pírito e do corp o va va BRECHT a dize r que sua ati vid ad e como difer entes fios da ação se rcagrupam reveland o ou
do espectador" (PAVIS, 1996: 94 ). es pirituais, por ape los divinos, pela paixão dajus-
dr am aturgo era a de um "escritor de peças", de resolv endo o conflit o ce ntral. É a oportunidade,
tiça , pelo am or à pátria, aos pais, aos irmã os, pelo um S tückcschre ibc r: Para in si sti r no ca rá te r para o autor (ou para se u delegado, o raisonneurr i
C'l . Cadern o de e nc e nação, roteiro, descrição. tex- amo r conju gal" (3 27) . de trazer algumas fra ses hrilha ntes ou refl ex ões
co nstruído e fal ado de s uas peças. d iri gido d ire-
~ to es petacular. tament e ao p úbl ico , Pe te r HANDKE fal a d e prof undas. Esta é a referênc ia da ideologia por
3. Hoje, a pal avra pathos tem muitas vezes um
m Theat era rbcit , 1961. sent ido pejor ati vo: é o p a t ético" exce ssivam ent e
Sprcc hstiickc o u " peças faladas" . Prefer e -se a
noção de texto o u lII o llta gem d ram áti ca ao te r-
exce lência, qu e assu me a forma de verda des ge-
ra is e inofensivas .

280 28 1
P E ÇA DE C A PA E ESPADA P ER C U R S (

A tem áti ca , por mai s o rig ina l e escabrosa que co mo atuais. A dial ética das personagens e de seus PERCEPÇÃO ant es de oferec ê-la ao p úblico, q uando terminada
sej a , nunca deve se r problem áti ca , nem propor pontos de vista oferec e o in strumento ideal para a peça e a prep ara ção.
ao público um a filosofi a qu e lhe sej a es tranha.
A ide ntificaç ão" e a ve ross imilha n ça" são re-
enc arn ar idéias co ntrove rtidas . Nad a o briga o au - -0- Fr.: pcrccption: Ingl.: fJ': ~ '( ' p li ol ; AI.: \l á/l r- A visão fen om en ológica d o e spe tácu lo tende
tor a nom ear um port a- voz de sua posição pessoal. nchmung ; Esp.: p c r Ct '/ JCI OII . a voltar a ce ntra r tud o no esp ectador. a faz er dele
gras de o uro .
nem mesmo uma person agem próxima del e . Na o e nce na do r in dispe nsáve l à ma ssa d os est írnu -
A peça bem -feita é um mold e ao qual sistema- Conce ito a ser diferen c iad o do de recepção " ,
m aior parte do tempo, a fábul a e o peso relativo los , s ig nos e materiai s que não pod em se r redu-
ti c am ent e os acontecimento s s ão aju st ados de qu e co ns iste no co nj unto d os pro ces sos cogn i-
dos e ara te res informam a respeit o da possí vel so- zi dos a um úni co se nt ido . El a integra todas as
acordo com a aplicaç ão mec âni ca de um esque- tiv os. int electuai s e hcrmcn êutic o s qu e se desen -
lução do problema exposto. Toda dramaturgia é, percepçõ es het erogên eas unindo, por exem plo,
ma tom ado de um modelo cl ássi co caduco. É a
ca de ia m na ment e dos es pec ta dores . A per cepção vi su al e so no ro . cog niti vo e sens ível, gestu al e
fin aliz aç ão e pro vavelm ente a " con clu são" potencialmente, uma peç a de tes e, ma s o gê nero
co m pree nde o uso conc re to dos cinco se ntidos , ps ic ol o gia . Sej a sob fo rma do corpo pen sante,
(pa r ódica sem o saber) da tragédia cl ássica . Ata- só se con cretiza verdadei ra me nte no s sé cu los
a lé m da visão e da audi ção, q ue tendem a ser as- seja so b a "do co rpo no es pírito" (JOHNSON, 1987),
ca da pel os naturalistas (ZOLA, e ntre outros), in- X IX e XX (SCRIOE, o SARTRE de A E ng rena-
soci ados co m cx clu si vidade ao espetác ulo. a percepção do espectado r s itu a- se no lu gar es-
flu enciou , no ent anto, autore s co mo SHAW ou gem . O BRECHT da s peç as d idát ica s, bem como a
IBSEN. Não é de se es pantar, portanto, que a peça tendência do teatro document ário : P.WEfSS. R. trat égi co no qu al ocorre a ex pe riê nc ia te at ral e m
bem-feita , ap esar do a parente cumprimento da
I . Tat ilid ade sua co m plex ida de e irred utib ilid ade .
HOCHHUT et e .).
formulaçã o. tenha se tomado prot ótipo e qual ifi-
ca tivo de uma dramaturgia banal e de um a técni- A paren te me nte banido da ex pe ri ênc ia ocide n-
ca se m inven ção, símbolo de um formalism o abs- PEÇA DIDÁTICA
tal do espectador mantid o a um a di st ância respei- PERCURSO
tr ato. No entanto. ela sempre faz a alegria dos táv el da cena e convidado a pe nas a ouvir e ver
escritores do boulevard" ou das telenovela s.
-0- didaktikos , en sin ar.)
(Do g~e o
sem intervir, o tato. no entanto, atua através da -0- Fr.: parcours; Ingl. : site-specific performance;
percepção do movimento e da at ivaç ão da senso- AI. : Parcours; Esp.: itinerurio.
m Zola. 1881 ("Polêmica"); Shaw, 1937; Taylor.
Fr.: ptece dida ctique ; Ingl. : didactic play: AI.:
Lehrstück; Esp.: obra did áctica. rialidade, graças, por exemplo, à utilização de ele-
1967; Ruprecht, 1976; Szondi, 1996. mentos naturais como terra . ág ua. fogo (BROOK). Em reação contra uma tradição que fa zia do
Esforçando- se para instruir o p úbli co, a obra O se ntido do tato faz d a arte dr am át ica, segundo espectador um ser passivo e "amarrado" na ca-
didática milita em prol de um a tese filosófica ou IlARRA ULT, " um j ogo fun dam entalm ent e carnal, deira, de fre nte para o palc o, a encena ção às ve -
PEÇA DE CAPA E ESPADA política. Pressupõe-se qu e o públi co e xtr a ia dela se ns ual. A represe nt ação teatral é um cor po-a- zes in cit a o públ ico a um per curso no espet ácul o
e ns inamentos para sua vida priv ada e públ ica. Por co rpo co letivo, um verdad e iro ato de amor, um a e na ce no grafia " : o ce ná rio nã o é mais uma pri-
-0- Fr.: piece de cap e et d ' épé e ; Ingl.: cape and
vezes , o teatro did ático não se destina ao públieo, co m u nhão se ns ua l de d oi s g ru po s hum an os" são (ta nto para o ator qu ant o para o púhlico ) e,
sword play; AI.: Manteí-und-Degenst ück; Esp.: ( 196 1: 13 ). sim. um o bje to perco rrido pelo o lha r descon strutor
é feito para se r a prec iado pel os atores , que fazem
Co me dia de capa Y espada . Exi stem, em suma, d uas es péci es de teatro : um e, na m aiori a da s vezes , pelo desl ocament o físico
ex pe n me ntos co m o texto e s ua int erpretação e
permutam os papéi s (cf as Leh rstiicke de BRECHT: teat ro seco. no qual a ce na é a pe nas um local de do p úbli co di ant e de áreas de atuação , tabl ados.
A co medi a d e capa)' espad a es panho la for- s im bo liz ação. no qu al co nta a pe nas a im agem vitrines. sa las. locais div er sos ou o bjeto s ex pos - .
A Exce ç ão e a Reg ra, A Decis ão etc .),
neceu o tip o de co mé d ia tipi cament e esp anhola "lim pa" e a abstração d o tex to ; e um teatro úm ido to s. É um rito do movi me nto qu e se efetua às ve-
qu e co loca as per son ag en s da nobreza às voltas
co m um a intri ga muito el egant e em qu e se trata ~ . Teatro de tese. teatro didático . no q ual a ex periênc ia estética co nsis te e m (fazer) zes, ta m b ém , C0 ll10 UIl1 per curso in ici átic o , Te-
pô r o de do na suja real idad e cot idi ana . 1I10 S, ass im , O rla ndo Fu rioso. m ontado em 196 9
mu ito de honra . de de stino. de d isfarce (LüPE
A mcni ária corporal pro vocad a pela dança por Lu ca RO NCONI o u J 789 e 1793 pel o Théâtr e
DE VEGA.CALDERÓN, TlRSO DE MOLlNA). Uma
PEÇA EM UM ATO através das muda nça s de es ta bilidade , de equil í- du Sol c il. Shu kcspearc s Mcm orv por Pet er STEIN
contra- intriga grotesca mu ita s vezes é ce ntrada
hri o . de tou icidade, repon a-n os à nossa históri a ( f976) o u Lc D ésamour, pela C omédi e de Cacn
no gracioso , criado bufão ", qu e prop orciona uma
Fr.: pi êce en 11I1 actc ; fngl.: one-act-play; A I.: pessoal inscr ita e m nosso corpo e qu e o espec ta- ( 19 80 ) o u Ca m laa n pel o g ru po ga lês Brith G ol'.
lu z contras tada e par ód ica ao mundo refin ado
da a ristoc rac ia. Einaktcr ; Esp .: obra CII Im acto, d o r se nte sem parar. O percurso na cenog rafia con vid a o cs pccta-
d or a descobri r os po ntos nevrálgi co s da ce no -
Peça cur ta, represent ad a se m inter ru p ção , com 2 . Olfato e Pal adar g rafia o u do es pa ço teatral, a não cons ide ra r o
PEÇA DE TESE duração média de vinte a cinq üe nta minutos. Este cen ári o co mo fix o e aca bado, mas como um local
gênero se desenvol ve prin cip almente a partir do Bastante solicitados nas form as de teatro po- onde o o lha r se investe de maneira diferent e co n-
-0- Fr.: pi êce à p'Ob/eme (à thése); Ingl. : problem século XIX. Como na novel a, por oposição ao pular, nas quais a festa e o a lime nto se mesclam form e os moment os do espetáculo, as mudanças
pia)'; AI.: Problemstück; Esp .: obra de pro· romance, a peça em um ato co nce ntra sua matéria ao espetáculo, são norm alment e neutralizados no de luz , a marcação dos atores. O espectador cria a
blcma. dramática numa crise o u num epi sódio marcante. O cidente. com experi ên ci as not áveis: o teatro ol- cen o grafia e - e m parte - o espetáculo. conforme
Seu ritmo é muito r ápid o, proced endo o drama- fativo (PAQUET. 1995 ) o u al gun s es pe tác ulos o s tempos de par ada. as mudanças de regime : ele
A peça de tese ou de problema expõe , atra"és turgo por alusões à si tuação e rápidos toq ues rea- durante os quai s se pre para co m ida q ue é con su- nã o é m ai s es magado pelo cenário. e o m odel a
da ce na, qu estões morai s o u pol ít ica s se ntidas lista s para pintar o amb iente, m id a e m cena (Fa Il JIO G u st rô nomo , de Richard e m fun ção da ação e do at o r. O esp ectador " em
SC HECIINER; RiJO/(} do Pol itcchn ico de Rom a). per curso" av al ia o es pe tác ulo , di stanci a-se dele

282 283
i
PERFOR M ANCE
PERSO NAG E I

o u investe-se nel e, fica atento aos po ntos nevrá l-


A ndréa NOURYEH, em artigo inédit o, dis tin- quant o artis ta e pes soa) e co mo tal se d irige ao 1. Metam orfoses Hi stóricas da
gicos da ce na . A encenação - insta /ação de um g ue ci nco ten dências da performance: público , ao passo qu e o ato r represent a sua per - Person agem
objeto co nfrontado co m um olhar- vira urna me-
• A body a rt (arte co rpora l* ) usa o co rpo do so nage m e fin ge não sabe r q ue é apenas um at o r
ditação so bre o o lhar do espec tador e o qu e ele
performer pa ra p ô-lo em pe rigo (V. ACCONCl, Ch. de teatro . O pe rformcr real iza uma e nce nação de
produz a pa rtir das propostas ce nog rálicas. a. Personagem e pessoa
IIURDEN, G. PANE), expô- lo ou testar sua imagem . se u pró pr io eu, o ato r faz o pap el de o utro.
O percurso passa a se r a material ização de uma No teatro grego , a pe rsona é a máscara, o pa -
liberdade de mo vim entos, de urna aproxi mação pel ass um ido pelo ator, e la não se refere à pe rso -
• Exploração de espaço e te m po através de des-
com as artes plásticas (illsta lação *) ou com o jogo nagem esb oçada pe lo autor dramát ico. O ator e stá
loc amentos, em câmera lem a, das figur as: co mo PERIPÉCIA
(passeio o u happ ellill g *); ele gera visões e ima - nitid am ente se parado de sua pe rso nage m, é apc-
em Walkillg in an Exagg"ratcd Munne r Around
ge ns múltipl as adaptadas ao obje to teatral, tex- nas seu exec utan te e não sua enca rnação a pOUIO
the Perimeter of a Sq uare, de RINKE ( 1968 ). ~ (Do grego p eripetcia, reviravolta í m prc v ista.)
tual e cê nico, qu e não é mais literário e mono- de dissociar , em sua atuação, ges to e voz. Toda a
c órdio e, sim, frag me nta do o u "estre lado". • A presentação aUlobiog rálica em que o artista
't..: Fr.: périp éti e; Ing l.: penpcty. p enpeteta; AI..
Perip eti e ; Esp.: p erip ecia . se q üência da evolução do tea tro oc ide nta l será
fa la de acontec ime n to s re a is de sua vid a ( L. marcad a pe la co mple ta inve rsão dessa pe rspecti-
MONTANO: M ichell D ca th ; ou Spalding GRAY: A va : a perso nag em vai-se ide nt ifica r cada vez m ais
M uda nça súbita e imprevi sta da s i t u ~ ç ã o , re-
PER FORM ANCE Personal Histo rv ofthe Amcrican Thca ter , 1980 ).
viravolta" o u " inversão da ação" (ARISTOTELES). com o ator q ue a encarná e tr an smudar-se em en-

e Fr.: performance; l ngl .: performan ce ; AI.:


Performance : Esp .: espect ácu!o .
• Ceri mônia ritual e mí tica, co mo, por exe mplo:
Org ias e Mi stérios , de NITSCH. I . No sentido técn ico do ter mo, a pe ripéci a si-
tidade psic ológica e m o ral se me lha nte aos ou tros
homens, entidade essa e nca rreg ada de prod uzir
tua -se no mome nt o e m qu e o desti no do her ói dá no espectado r um e fei to de id entificaçâo" ,
• Comentári o social: corno o videomak er Bob uma virada ine sp er ada. Segun do ARISTÓTELES , Esta simbiose entre per sonagem e ator (que cul-
A performa nce ou performance a rt, ex pres- ASIILEYcontando as mit ol ogi as modernas e Lauri é a passagem da felicidade para a infelcda~ ou mina na estét ica do grande ator romântico) é qut>
são que poderia ser traduzida por " tea tro das ar- ANDERSONem United States. ] e li (/979-1982), o contrário. Para FREYTAG, é "o mom ento tragi- causa as maior es dificuldades na análise da per-
tes visuais" , surgiu nos anos sess enta (não é fáci l combinando poesia, violi no e le trô nico, filme e co e m que, na se q üê nci a de um aco ntecim ent o son agem.
disting ui-Ia do happening», e é influeneiada pe- slides num espe tác ulo Illult im ídia. imprevisto, ainda qu e verossímil no co nte xto da
las obras do co mpos ito r 101m CAGE, do co re ó- ação ante rior me nte ex posta, mud a o ru mo d a bus- b. História de uni itin erário
grafo Merce CUNNINGHAM, do video maker Na- Meios de co municação (mídias) e teatro, tea- ca do her ói e a ação pri ncipal para um a nov a dire-
tro exper ime ntal. Essa re lação se esboça desd e os pri mórd ios do
meJUNE PARK, do ese ulto r Allan KAPROW). Ela ção" ( 1857 ). ind ividu ali smo burguês, desde o Ren asc imento e
chega à ma tur ida de somente nos anos oite nta . o C lassici smo (BOCCACCIO, CERVANTES, SHA -
Marranca , 19 77; Go ldberg, 19 79; \Viles, 1980;
A pe rforma nce associa, se m pr econ ce be r
idé ias, artes visuai s, teat ro, dança, m úsica, vídeo,
m Battcock, Nic kas , 1984 ; Th o rnsen. 1985. Ver
2. No se nti do moderno , a peripéc ia não est á m ais
ligada ap en as ao mo mento trágico da peça; ela
KESPEARE) e atinge o apogeu depois de 1750 , e
i gualmerne as re vistas Ar'Iitudes l n tcrnationa l; até o fina l do século XIX , qu and o a d ram aturgi a
poesia e cine ma . É aprese ntada não em teatros, Pcrforming Art s Journal, Parachute, The Drama
designa tan to os altos e bai xos da ação (" ~ m a via-
bur guesa vê nessa rica indivi d uali dade o represen -
mas em mu seu s ou ga le rias de arte . Trata-se de Revie u-; Carlson, 1996. ge m co m m uitas peri péc ias" ), ao e pi s ódio qu e
tante típico de suas as pirações ao r e c onh e ci m ~ ~ 1O
um "discurso cal ei doscóp ico multit emát ieo" (A. seg ue o m o men to fo n e da açã o ("o resto fOI ape -
de seu pa pe l central na pro d ução de be ns e id éias.
WIRTH). nas lima peri péci a" ).
Des se mod o, a pe rso nagem estaria ligada, ao
Enfa tiza-se a e le meridade e a falta de aca ba- PERFORM ER men os por sua forma m ais pr ecisa e de te rmin ad a,
mento da produ ção, m ais do que a obra de arte
e
a um a dramaturgia bu rg uesa qu e tende a fazer de la
represent ad a c acabada. O performer não tem que r-r.: performrr; l ng l. : pe rfo rmrr; AI. : PER SON A G E M o substituto m imético de s ua co nsci ênc ia: fo rça
se r um ato r d ese mp enh ando um pap el, mas su- performer; Esp .: p crformcr: passion al em Shakcspeare, a person age m t.e ve
eess ivamente recit ante, pintor, dançarino e, em ra- ~ Fr.: personnagc; lngl.: c haracter; A I.: Per'<0I1,
difi culdade para co ns ti tu ir-se em ind ivíduo livre
/ . Term o inglês usado às vezes pa ra marcar a di- 't..: Figur; Esp.: personaje.
zão da insistê ncia sob re sua presen ça física, um e autônomo. Na era cl ássica fran cesa, curva- se
autobió-gra fo cê nico qu e possui um a relação di- fer ença em relação à pa la vra ator, co ns ide rada sempre, ma s cada velomais d ificilmente, às e x i-
m uito limitad a ao intérprete do teatro falado . O No te atr o , a per so nagem está e m co ndições
reta co m os objetos e co m a situação de enu ncia - de ass u m ir os tr aços e a voz do ator, de mod o gê ncia s abst raia s de u ma ação uni ver sa l o u exem -
ção . "A arte da per forman ce é perp etu ament e performe r, ao co ntrário , é també m ca ntor, bailari- plar, se m po ssuir os caracte res de um ti po socia l
qu e , inic ia lme nte , isso não parece probl emáti -
rcestimulad a por artis tas que têm de seu trabalha no, mímico, em suma , tudo o q ue o artista, oc iden- de finido (exce to no drama burguês). No início do
co. No entanto, ap e sar da "e vidê nc ia" desta Iden-
tal ou oriental, é ca paz de re a liza r (to p crformv num séc ulo XV IIl, ai nda hesita em lançar tod as as suas
uma definição híbrida, deixando, se m pudor, q ue tidade entre um ho mem viv o e lima pe rso nage m,
palco de espetáculo. O pe rfonn er rea liza sempre for ças co ntra o feu d alis m o e se agarra às formas
suas idéias deri vem na direção do teatro, de um es ta última, no in íci o, era apenas lima máscara-
uma façanha (urna perform ance) voc al, gcstual ou codi ficadas da Co nuncdia dell'arte" (no Tea tro
lado; por ou tro , no da escultura, consi dera ndo uma persona - qu e co rres po nd ia ao papel dra-
in strumental, por op osição ü intellJretaçã o e à re- Itali ano e not ad am ente e m MARIVAUX) e às es -
mais a vitalida de c o impacto do espetácu lo do m áti co , no te atro grego . É atra vés do uso de pes-
presentação mim ética do papel pe lo ator.
que a corr eção da definição teóri ca daqui lo qu e \'0(1 e m uram ática qu e a persona adq uire pouco truturas esc lero sadas do neoclassicism o (VOLTAI-
estão faze ndo . A pe rfo rmance art . a bem di zer, ;\ po uco ~ o s ig nif icado de se r animado e de pes - RE). Soment e com DIDEROT e seu dram a burguês
2. Nu m sent ido m ais específico, o pc rformcr é
não quer signifi ca r nada" (Jcff NUTrA L). soa, que a per so na ge m teatra l passa a se r urn a é q ue a per sonagem passa a ser urna COlidirão ' :
aque le que fala e age em se u próprio nome (en- não mai s um ca rá te r" ab strato e puram ente PSl-
i lusão d e pe sso a hum an a .
2114
285
I' E RSON AG E ~

P E RS ON A Gn l

cológ ico. o trabalho. a famíli a (c no séc ulo XIX. suas ence na ç ões cl ássi cas. te xto ci tado po r COP- G raus de realidad e da per so na gem
a pá tria') tom am-se os ambie ntes nos quais as FERI\lAN. 196 9 : 245-24 9) . Il amlct
Particular Indivíduo
pe rson agen s. ca lcadas no rea l. evo lue m até o na- O M isa ntropo
Cani tcr
tur a lism o e os primó rdios da e nce nação. Nesse b. A ação é a co nseqüê ncia sec undá ria e quase J~ Sir Toby (Noite de Reis )
Humor"
momento. a tendência se inverte c a personagem supé rflua de uma an álise ca rac te rio ló gica: o dra-
Ator O Enamorado
te nde a disso lver -se no d ram a simbo lista. no qual matu rgo não se preoc up a. en tão . e m ex plic ita r a
Papel O Ciumento
o unive rso é po voado ap ena s por so mbras. cores rel ação en tre esses do is e leme ntos. Tal é a co n- Exemplos
Tipo O Soldado
e so ns qu e se co rres po ndern (MAETERLlNCK. ce pção da dra maturg ia clá ssica o u. mais preci sa-
COIU/içiio * O Come rciante
STRINDBERG. CLAUDEL). A seg uir. a deliqücs - me nte. d a tra gédi a fra ncesa do séc ulo XV II. D es-
Estereótipo O Criado Velhaco
c ênc ia se co nfir ma : a per son agem se es tilhaça se modo . e m RACINE. a per son agem é col oc ada
Alegoria A Morte
na dr amat urgia é pica dos ex press ionis tas e de co mo e ssênc ia moral ; e la va le po r se u se r. sua O Princípio do Prazer
Arqué tipo
BRECHT: es ta de smon ta gem da personagem . to- o posi ção trá gica e não tem nenhuma neces sid ad e
A cta l1re* Busca de lucro
tal mente entregue às necessid ades dafábula ' . da de passar diret amen te à ação . um a vez qu e : "Fa- Geral
hi st ori cizaçã o e da des co nstrução do real a ser lar é faze r. o fogos assume as fu nções da pr áxi s e
critica do. mar ca o remate de sua " encenação". O a su bs titu i: to da a decep çã o do mundo se rec olhe e a impossib ilid ade. que daí resu lta para o es pec -
vários ní veis ou ca ma da s de realidad e. do gera l
início de ce rto reccruram cnto faz- se sentir com a e se red ime na pa lavr a; o fazer se es vazi a . a lin- tador. de ident ificar-se co m este se r di vid ido ).
ao part icu lar (ve r qu adro).
per sonagem surrea lista , o nde so nho e realid ade guage m se en c he" (BARTHES. 196 3 : 66) . A per- D essas suc essivas deco mp osi ções result a não
se erurem csclam , a per sonagem aut o-reflexiva so nagem at inge aqu i um pon to se m vo lta e m sua um a dest rui ção da noção de pe rsona gem. ma s
3. A Personagem co mo Si gno num
(PIRANDELLO. GENET) na qu al os níveis de reali- esse nc ialida de : ela não mais se define por um a uma classificação de aco rdo com seus tr aços e.
dade se embaralham nos j ogos de teatro dentro do essência (o trág ico ). po r uma qualidade (a avare- S istema mais Amplo pr in ci palment e. um relacio nam e nto de todo s o s
tea tro * e de personagem dent ro da per sona gem . za . a m isant ropia ) ou po r uma lista de emp lois" prot ago ni sta s do drama: es tes. na verdade . são le-
A pe rso nage m (rcba tizada de ag ente, actan te " vados a u m co nj unto de traços com p le me ntares.
físicos e morais. Nessas co ndições. a per so nagem
o u at o r") é co nce b ida co mo um e le me nto estru- c hegando-se mesmo a um a no ç ão de in ter p erso -
2. Dialética entre Personage m e Ação é indes mo ntávcl, ten de a to m ar-se um indi víduo
autônomo . Isto é o q ue oco rre . m ais tarde . co m a tural que or ganiza as etapas da narrativ a co ns- na gelll . muit o mais útil para a análise d o q ue a
es té tica naturali sta: a personage m não é ma is. co m tru ind o a fábu la. g uia ndo o m at eri al narrativo em a ntiga vi são mít ica da indi vidua lid ad e do cará-
Tod a pe rso nage m de teatro re aliza uma ação.
(mesmo se. a exe mplo das person age ns de BEC- ce rteza. um ser de finid o idealm ent e e em a bs tra- torno de um esqu em a din âmico qu e concentra em ter. N ão há que se temer qu ant o à personagem
KETT. nada fizer de visíve l); inv ersamente . toda to. m as co ntinu a a ser uma subs t ânc ia (des ta ve z. s i u m fe ixe de sig nos e m o posiç ão a d uas das ou - de teatro q ue ela se "esg arce" num a in finidade
ação. para ser ence nada . necessit a de protagonis- dete rminada por um meio sociocco n ôm ico ) q ue tras per son agen s. de s ig no s c ontrast an tes. uma vez qu e . via de re -
tas. sejam eles personagen s humanas o u simples se bast a e qu e só se im iscu i na aç ão por via de P ar a qu e haja ação' e her ói' . é necessário gra . é se m pre en carn ad a pel o m esm o ator.
a ctantes ". Pro vém desta co nsta tação a idéi a fun- co nseq üê nc ia. sem poder inter vir li vreme nte e m que se de fina um ca m po de aç ão no rma lmen te
dam entaI pa ra o teatro e para qualquer narrati- seu desen rol ar . pro ib ido ao he ró i e qu e est e vio le a lei qu e o 4 . Se mâ ntica da Personagem
"a * de um a dialética entre ação * e caráter ". São im pe de de entra r aí. A partir do mome nto q ue o
possíveis três modalidad es deste in te rcâmbi o: c . A aç ão e o actante" não mais es tão e m co ntra- herói " sai da so mb ra", de ixa se u am biente sem li . As pecto semântico
d ição numa teor ia fun cion alista d a narrat iva c das co nfl ito para pe netra r e m dom íni o alhe io . o me-
So b os tr aços do ator. a person agem é d iret a-
a. A ação é o elem ent o prin cipa l da co ntradição pers on age ns ; e las se co mpleta m ; a person agem ca nis mo da ação é ac io na do. A ação só se det er á
m e nte " co locada" d iante do es pec ta dor tos te n -
e det erm ina todo o resto. Tra ta-se da tese de ARIS- se id e ntifi ca como o ac tante de um a e s fera de quando a perso na ge m tiver re encontrad o se u
silo'). A princípi o, nad a de sig na a não ser e la
TÓTELES: "As person agen s não age m para imi- ações qu e de fato lhe pert en cem ; a ação d ifere es ta do o rigi na l o u atingi do um e stágio no qu al
mesm a o fe rece ndo urna im agem (ícone *) de su a
tar se u caráter. mas adq uire m esse caráter por co nfor me seja rea lizad a pe lo ac tan tc, pel o ato r' . não haja mai s co nlli to. ap ar ê ncia na ficção. prod uzindo um ef eito * de
acr éscimo. em razão de sua ação. de mod o que os pelo papel * ou pe lo tipo'. A perso nagem de um a pe ça se define po r uma
real idade e de identifi caçã o". Essa dimen sã o do
atos e a fábula são o fim da tragédia e é no fim Q ue m es tá na origem de ssa visã o di alét ica da sé rie de traços di sti nt ivos: he rói /v ilão. mul her/
aqui e agora. do se ntido d o im edi at o e da au to -
qu e. em tod as as coisas . es tá o prin cipal" (14500). person agem q ue age é V. PROPP ( 1929). As teo- homem. criança/ad ulto . ena mo ra do /não -e na mo -
re ferên c ia co nstitui o que BENVENISTE (1974 )
Aq ui. a per sona gem é um age nte e o ess encial é rias da narr at iva que se se g uira m (G RElMAS. rado e tc. Ta is traços bi nários fazem del a um
cha ma de dimensão semântica. de s ig nificaç ão
mostr ar as d iferentes fases de sua aç ão numa in- 1966; BREMO ND. 1973; BARTHES. I 966a) a pli- pa radigma . um cruzamento d e propried ad es co n-
ca m esse princípio afinando a an á lise de acordo gl o bal (o u processad a) do siste ma do sig no .
triga bem "encadead a" . É necessário ressa ltar que. rrad it órias. Isto eq uiva le a destr uir totalmente a
hoj e . vo lta-se a essa co nce pção da ação como co m as di fer ent es fases o brigató rias d e qu alquer conce pção de um a perso nage m com essê nci a
mot or do d ram a: d rama tu rgos e en cenadore s re- na rrativa. e com as funções dramatú rgi c as pro - h. A specto senüo tico
indi\'isív el : se mpre há . na fili gran a. um desd ob ra-
cusa m -se a partir de uma idéi a preconcebid a da priam en te dit a s (SOUR IAU. 1950). T raç am- se. A pe rson agem , porém . se in teg ra ig ualment e
men to do ca ráte r e u ma re fe rênc ia a se u contrário
per son agem e a prese nta m " o bj etiva me nte" as des se modo. vá rios percurso s obrigató rios d a ação ao siste m a das outras personagens; e la va le e sig-
( BREC HT. em se u e fe ito de distancia mento. não
açõe s. rec onstituem séries de aç õe s físi cas. sem e de terminam -se suas princip ai s arti c u laçõe s . nifi ca por d iferen ça. num sistema se mio lóg ico fei -
faz o ut ra co isa se não apl icar es te princípi o es tru -
preocupação de justific á-Ias por um es tudo psi- A lé m dessa an á lise " ho rizo ntal" . procura-se so n- to de unidades correlatas . É uma eng renage m dcn-
lUralt razendo à lu? a duplici da,I<' da personage m
cológ ico de suas moti va ç õe s (cf. PLANCHON em da r a es pessura da person agem : rad iografam-se
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286
PERSONAGEM
PERSPECT IV

tro do co njunto da maquinaria dos carac teres e mai s marcan te par a a recep ção do espetác ulo. invent am a per son agem . Esquece-se essa ev idê n- suporte de signos . O e nce nador o. KREJCA, te m-
das ações. Certos traços de sua personalid ade são Tud o o que, na leitura, podíam os ler nas entre li- cia di ant e do j ogo resolut o desse locut or que não pos atrás, pergun tava-se co m inq uietude se a pers-
co mparáve is aos traços de outras personagens e o nhas da person agem (se u físico, o ambient e onde se cala. M as a per sona gem, por outro lad o, SÓ pectiva semiológica não aca baria por fazer do ato r
espectado r manipula essas caracterís ticas co mo e volui) foi dit atori alm ent e determinado pela en- diz e sig nifica o q ue seu texto (lido) par eceria um macaco ence rrado num sistema fechado de
num fichário e m que cada elemento remete a ou-
ce nação : isto redu z nossa percepção imagin ária quere r di zer ; seu di scur so depend e d a si tuação signos ( 197 1: 9). Pa rece opor tuno tranqüil izá-lo :
tros. Essa func iona lidade e esta capacidade de de en unciação * e m que ela se enco ntra , dos int er-
do papel, mas ac rescenta, ao mesmo tempo, um a apesar da morte "co nstatada" da personagem de
montagem/d esm ont agem fazem dela matéria bas-
perspecti va que não im aginamos, mudando a si. locu tor es, de se us pressup ostos di scursivos, e m romance, da o blite ração dos co ntornos dos ca-
tante male ável , apta a todas as comb inações.
tI/ação * de enunciação e, portanto , a interpreta- suma, da veross imilhança e da prob abilidad e do rac teres no monólogo int erior, não há ev idências
ção do texto fa lado . qu e ela pode di zer num a situação dad a. de que o teat ro tam bém possa fazer eco nomia d a
c. A p ers on ag em como "rotat ória " Co mp ree nde r um a personagem é se r ca paz de personagem e qu e es ta se dissolva numa lista de
Pode-se, é claro, co mparar personagem lida e
Esta dupla pertin ência da personagem ao se- personagem vista, ma s, na co ndição norm al de real izar a junção entre seu texto e um a situação propri edades ou de signos . Qu e ela é divisíve l,
mântico e ao se miótico faz dela um ponto de pas- recepção da representação, só tratam os co m a encenada e, ao mesmo tempo, entre um a situação e que não é mais um a pur a co nsc iência de si, onde
sagem entre o acontecimento e seu valor diferen- seg unda. Nisso, nossa situa ção - quando não co- a maneira co rno ela ilumina o texto. Trata-se de coincid am a ideologi a, o d iscur so, o con flito mo-
ciai no interior da es trutura ficcional. Enquanto nhecemos a peça qu e vamos ver - difere profun- ilum inar mutuament e a cena e o texto, a e nun- ral e a psicologi a, ficou claro desde BRECHT e
"rotatória" entre acontec ime nin» e estrutura"; a damente da do encenado r, e nossas análises devem ciação e o enunciado. PIRANDELLO. O qu e não qu er dizer, mesmo as-
personagem co loca em relação elemento s que, de partir da person agem ence nada, a qual- por sua O impo rta nte é apree nder a construção da per- sim , que os textos co nte mporâ neos e as encena-
outra forma, se riam inconciliáveis: em primeiro posição de enunciado ra e de elemento da situa - so nage m de aco rdo co m as modalidades de infor- ções atuais tenh am dei xad o de recorrer nem ao
lugar, o efeito de realidade, a identifi cação e to- ção * dramática - j á nos imp õe uma interpretação mação muito difer en ciadas que nos são dadas ator, nem , pelo men os, a um e mbrião de person a-
das as projeções que o espectador é capaz de ex- do texto e do es pe táculo e m sua totalidad e. Os sob re ela: "É preciso co nsiderar, di z ARISTÓTE- gem. Permut as, desd obrament os, ampliações gro-
(lerimentar; segundo, a integração semiótica a um pon.tos de vista do leito r e do espectador "ideal", LES na Poéti ca, a personagem que age o u fala, e tescas de person agens, de fato, só propiciam a
sistema de ações e de personagens no interior do ~qUl , são incon cili ávei s: o primeiro exige que a a qu em ela se diri ge, quand o age ou fala, par a con scienti zação do pro blem a da divisão da co ns-
universo dram ático e cêni co. int erpret aç ão dos ato res co rres ponda a uma certa quem , por qu e [...]" ( 146 10) . Desse mod o, na fi- ciência psicol ógi ca o u so cial. Elas trazem sua
Essa int era ção entre dimensão semâ ntica e visão que ele tinha da per sonagem e de suas cha es tabe lecida e m nome de cada persona gem pedra para a dem oli ção do edi fício do suje ito e
semiótica chega a uma verdadeir a troca que cons- aventuras, o seg undo co nte nta-se em deseobrir o indi ca-se e co mpara-se o que ela diz e o qu e ela da pessoa co m um hum ani sm o j á exa urido. Po-
titui o própri o funcionamento da significação tea- sentido do texto atra vés da s informa ções da ence- faz, o qu e se diz sobre ela e o que se faz com ela, rém elas nada pod em co ntra a co nstituição de
tral. Tudo o que perten ce ao domínio do semânti- nação e em observar se a e ncenação faz o texto muito mais do qu e fundam entá-la na visão intui- novos heróis * ou anti -herói s: heróis positivos de
co (presença * dos ato res, ostensão *, iconi cidade "falar" de maneira clara, inteli gente , redundante tiva de sua interi orid ade e personalidade. A an á- todas as cau sas ima gin áv ei s, her ói s co nst ituí -
da cena, acont ecim ento » do espetáculo) é, na ver- ou co ntrad itó ria (visua l e textual vs. Entretanto, lise da person agem desemboca, portant o, na análi- d os apen as por se u in con sci ent e, figura par ó-
dade, passí vel de ser vivenciado pelo espectador, produ z-se um ce rto aju stam ent o na visão da per- se de se us di scursos: trata-se de co mpree nde r d ica do bufão o u do margin al, heróis dos mit os
mas também de ser utili zado e integrado pelo sis- sonagem lida (pelo leitor) e na da personagem co mo a per sona gem é ao mesmo temp o «fonte de publicitários o u da co ntrac ultura . A personagem
tema da ficção e, e m definitivo, pelo uni ver so vista (pelo especta do r): a persona gem do livro só seus di scursos (e la os enun cia em fun ção de sua não morreu; simples me nte torn ou-se polimorfa e
dramático : tod o aco ntec imento é semiotizáve l é visualizável se adicio narmos informações às situação e de se u "c aráter") e seu produt o (el a não de difícil apree nsão . Es ta era sua única chance de
(semiotização*). In versa e dialeticamente, todos suas caraterísticas físicas e morais explicitamen- é se não a figur ação humana de seu discursos). En- sobrev ivênc ia.
os sistemas que pudem os construir só viram rea- te enunciadas: rccons tituimos seu retrato a partir tretant o, o qu e é perturbador para o es pectador é
lidade teatral no m om ent o (aco ntecimento) da de elementos es parsos (processo de inferência e qu e a personage m, de fato, nunca é don a de seus ~ Caracterização, motivação.
identificação e da e moção que experimentamos de generalização). Para a personagem em ce na, discursos e qu e es te é quase sem pre e ntremea do
diante do es petáculo. Acontecimento espetacular ao co ntrário, há detalh es visuai s em demasia para de vários " filame ntos" de diferentes pro ced ên - W Dict ionnaire eles Personnages Litt éraires ,
e estrutura da ação e das personagens se comple- que esteja mos e m co nd ições de perceb ê-los to- cias: um a per son agem é quase sempre a síntese 1960; Stanislávski, 1966; Pavis, 1976b; Ubers-
tam e contribuem para o prazer teatral. dos e de co nside rá- los e m nosso jul gamento: é mais ou menos harm oni osa de várias form ações feld, 19770 ; Hamon, 1977 ; Abirac hed, 1978; Suvi n,
preciso que abstraia mos os traços pertinentes e discu rsi vas, e os co nflitos entre person agen s nun - 1981; Pidoux, 1986.
d. Pe rsonagem lida e p ersonag em vis ta os co loquemos e m co rrcs po ndê ncia com o texto, ca são deb ates e ntre pont os de vista ideo lóg icos
de modo a esco lher a interpret ação que nos pare- e di scu rsiv os di st int os e hom ogên eos (PAV IS,
O estatur-, da personagem de teatro é ser en- ça mais adequada e a si mplificar a imagem cêni-
carnada pel o ator, não mais se limitar a esse ser
19860 ). O qu e é uma razão a mais para descon- P ERSP E CTIVA
ca rica de mais que recebem os (processo de abs- fiar dos efei tos de real * e para question ar sua co ns-
de papel so bre o qual se conhece o nome, a ex- tração e de est ilizaçãor y. trução di scursi va e ideológica. ~ (Do latim perspicere, ver claramente atrav és.)
tensão das falas e algumas informações diretas
"t.: Fr.: perspective; lngl.: perspective; AI.:Aussicht-
(por ela e por outras figuras) ou indiretas (pelo e. Pers on ag em e dis curs o
autor). A perso nage m cênica adquire, graças ao
5. Morte ou Sob revivência das spunkt, Perspektive; Esp.: persp ectiva.
A personagem teatral parece invent ar seus dis- Personagens?
ator, uma precisão e uma consistência que fazem-
na passar do estado virtual ao estado real e icônico.
cursos*-e nisso resid e não só seu embu ste, mas 1. Perspecti va Visu al
tamb ém sua fo rça de per su asão. Na realidad e, é Ao fina l dessa ex perimentação so bre a perso-
Ora, o aspec to físico e eve ntual da personagem é
exa tamente o co ntrá rio: se us di scur sos, lidos e nagem , pode-se tem er que esta não sob rev iva à Co mo o teatro a prese nta as coisas à vista do
exatame nte o que há de espec ificamente teatral e
interpretados pelo e nce nado r e pelo ator, é qu e descon stru ção e qu e perca seu papel mile nar de es pectado r, a persp ecti va, co ncre tamen te, é o ân-
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PESQ U ISA T EAT R A l
PER SP E C T I VA

nosso própri o s iste ma de va lores , c de de cidi r para um . a cada gru po social. escolher sua boa per s-
g uio sob o q ual ele pe rceb e a ce na e o modo pelo mc irarn cnt c ao d ramaturgo . qu e di stri bui o di s-
que m va i nossa simpa tia. Ao fim de ce rto tem po pect iva (a do s patrões ou a 110s c riados em M A-
qu al a ação c ênica lhe apa rece: " 0 teatro é. na curso de suas pe rso nagens, e depoi s ao es pec ta-
(q uase se mpre, a part ir da ex pos iç ão) as caro cre- R IVA U X, por ex e mplo).
verda de , aq uela prát ica que ca lcula o lugar par a dor, qu e pe rceb e se us pontos de vis ta e m rel ação
as cois as se rem olhadas : se eu co loca r o espetá- ao mundo . r ;~a ç l} e s . ficam tão prec isas. os c am pos tão be m
del im itados qu e nossa opiniã o é fi xa da c as figu- c. O lugar n ão decidível da id eol ogia
culo aq ui, o especta do r verá tal co isa; se o colo- O est ud o dos po ntos de vista se base ia no pres-
ca r nout ro lugar, ele não a ver á e pod erei aprovei- supos to de qu e ca da person agem é u m a cons- ras qu ase não podem m ais no s sur preende r. a Ca be pre c isam ente ao esp ectador . e m últi m a
tar o fato pa ra jo gar co m um a ilus ão: o palco é ciê nc ia autô no ma, dotad a, pel o dram aturgo. da me nos qu e se trate de uma técn ica d ramatúrgica inst ânci a. situar-se diante do e ma ranhado dos po n-
ex atam ent e a linh a que vem barrar o feixe óptico faculdade de j ulgar e exp or suas difer en ças com em que o " bom" de repent e vira m au. e m que o as- tos de vist a. E sse aspecto não d ec id id o e não
desenhando o termo e como q ue o fro nt de sua os o utros . Esse pressupo sto . no tea tro , é re for - sass ino é aquele de quem não suspe itávamos etc. dec id ível do texto dram ático é o próprio es paço
ex pa nsão" (BARTHES. 1973b: 185). çado pel a pre sen ça dos atores/ pe rso nage ns tro - U m a vez assim traçada a top ol og ia, estrut u- de sua ideol ogia. A ideologia se manifesta co mo
O encen ado r d ispõe o ce n ário e os atores tanto ca ndo pal avras qu e parecem pert en cer- lhes de re mo s esses pont os de vista : repre sentaç ão de id éias c co mo pro vocação de
e m funç ão da l ógica de suas re laçõ es num deter- fato . Fa la ndo e m p er spe ct iva, co rre -s e o peri go _ agrupa mento por identid ad e o u por o po siçã o reação-recepção por parte do espectado r. Se a ob ra
min ado momento quanto da m aneira pela qual a de psic ol ogi zar ess a noção, fa zer dela o apaná- de pont os de vista: for co ns tituída de modo a in te rpe la r e provoc ar
imagem ap arece rá ao públi co . De aco rdo com a gi o d e uma co nsc iênc ia que , na verdad e, não _ re lati vização de po ntos de vista : subo rdinação um re cept o r implícito, sua per s pecti va g lob al se
co nce pção da cena como cubo - frag mento de uma exi ste , e de não associ á-Ia a um a fo rm a o u in s- de um pont o de vista a outro ; situ a no po nto ceg o em q ue o se nt ido art ístico e
real idad e " posta na vitrine" (Guckkastenbiihne, tân c ia di sc urs iva específi ca. Nã o é po ssíve l uma _ co nstruçã o de um sistema a ctan ciu l "; determi - ideol ógico est á em perp étua elabo raç ão .
e m a lemão), o espec tador se en co ntra com o que co m paraç ão objetiva de tod os os po nto s de vis- nação da parte de verdad e de cada um;
imo bilizad o no ponto de fuga da s linh as da cena; ta. s im p les me nte porqu e os discu rsos d as per so- _ importância rel ati va das visõ es ; 1 Us pe ns ki. 1972 : Pf isl er , 19 77 : 225-264:
to rna -se necessariamente um ser pas sivo e vo)'eur, nagen s não são calc ado s naq ueles d as pesso as _ joc a l;~açio . do interesse c descarte do acessório. [J:l Fieguth. 1979: Pavis, 1980c ; Francasrel. 1965,
presa fáci l da ilusão. Tu do parece co nce ntrar-se e reai s e porque a escri tura dram ática não é uma 1967 .1 980.
Tod as essas qu estõe s qu e as per son agen s nos
ser encenado em seu fei xe ó pti co. Ao contr ário , imitação de di álog os extraídos da vida co tidia- inspi ram , auxiliam na form ação do sentido e. em
um a área de atuação ci rcular, o u estilhaçada em na . O tra balho dra matú rgico e escr itu ra i do au- defi nitivo , na busca de uma perspecti va ce ntrn l ,
to r é qu e fa brica as pe rspec tivas. Só e le co nstitu i PES Q UIS A T EATR AL
lugare s que circunde m o espectado r é percebida re su ltant e das persp ect ivas p art ic ulares. ce ntro
so mente a partir de uma única pe rspecti va. A pers- uma pers pecti va central (ainda qu e imp recisa, co n-
ideol ógico da obra. :-). Fr.; rechc rche Ihéãlrale; lngl. : thea tre r es eal ~ t:
pectiva é um elemento dramatúrgico dinâmico que traditóri a e de sconhecida para o própri o aut or).
t...; AI. : Th eat elf u rschwlg; Es p.: 1II" c SIlga c IO II
fo rça o pú blico a "s e aco mo da r" - portanto. a A pe rs pcct iva de cada per son age m é, po rtanto ,
so brede te rm ina da pe la per spectiva "aut o ra l" . 4 . Pe rspect iva Cen tra l teatral .
rel ativizar - e a reduzir sua visão das coisas. No
entanto , não seria necessário transp or diretamen- Fei ta essa ressal va, a anál ise das perspect ivas
A perspectiva ce ntra l ne m se m pre é dedu t ível Qu em diz pesq uisa parece implica r q ue foi per-
te esse con ceito de visã o real em da do obj etivo e ind iv id uais e, so bretudo. de sua resultante o u per s-
da e st rutura de co nj unto da s pe rs pec tivas indi - di do algo qu e se passa a proc urar: definição be m
me nsur ável do envolvimento in telec tual e emo- pectiva glo ba l de recepçã o' "desejada" o u su ge-
vid ua is. A teori a da rece pção . a tualme nte . bus- co nvenie nte à pes quisa teatral qu e per deu seu o b-
cio nai daqu el e que olha, pois o e nvolvi mento rida pelo auto r co ntinua se ndo mu ito imp ort ante
ca e ncontra r na peça a image m de um esp ecta- jeto. a represent ação, ou não sa be mais localizar o
de pe nde de muitos o utros fator es de recepção' : a para a aná lise dr am atúrgica. Ela tom a pos s íve l
dor implícito (o u su pe rc spcciad o r idea l par a o texto dr am ático e os outros te xtos, didascálico. es -
es trutura da açã o e a aprese nt ação dos aconteci- nosso juízo s obre as per sonagen s, daí nossa iden-
q ua l co nverg iriam os sen tido s da peça e que se- petacul ar. csp ectalori al etc.. que o aco m panham .
men tos, o j ogo ilusio nista ou "distanc iado" dos tificaç ão " ou nos so dis tanciame nto crítico.
ria o recep to r idea l qu e o aut or te ria "e m vista") . Co nvé m d isti nguir a pesq u isa fu nd a mc nt al
atores. a identifi cação co m um pa rtid o ou um he- daqu e la de for mação profi ssio nal c de e ns ino de
r ói, Esses elementos já perten cem perspectiva 3. Determinação das Perspect ivas teatro nos co nse rva tó rios e universid ad es. A pes -
a. Con verg ência das perspecti vas
à

interna da s personage ns. ao se u pont o de vis/a' Ind ividu ais quis a fu ndamental so bre tea tro impõe uma ce rta
no univer so fictíci o. Ocorre qu and o nossa sim pa tia foi mani pulad a
di stâ nc ia do o bjeto es tudado, u ma di s pon ib il i-
se m ," nbigüidade na direção de um herói: desse
Ex cetuand o-se o monólogo' o u o aparte ". nos dad e intele ctu a l e inst itu cion al pa ra co nd u zir
modo. não resta dúv ida q ue a persp ectiva do " falso
2. Perspectiva das Personagen s q uais a per son agem descreve diret am en te o qu e u ma inve st igação apro funda d a sob re de term ina-
d evo to" Tartu fo é a má: mes mo q ue não nos di-
pen sa. se mpre tem os que recon stituir os pont os do aspecto d a ativ idade teatra l.
gam q ual é a boa. ao me no s sa bemos para que
Trat a- se do ponto de vista de um caráter em de vista dos prot agon istas . Para julgar a ação mos-
lad o se incli na Mü LlÉR E. Freq üente men te, a VI3
rel ação ao mund o e aos outros carac teres, o con- trad a e m ce na . devemos nos col ocar na pel e de \. Pesqui sadores
do me io entre doi s ex tre mo s é qu e é apresentada
junto de seu s pont os de vista, o piniões , co nheci- cada per son agem e adivinhar se u ponto de vista
co mo a boa so lução (co méd ia clássica) .
memos, sistema de val ores etc. Co mo não se pode sob re a ação. Este se torn a uma espécie d e ficha A pe squ isa. no entanto, só abrange es pec ialis-
com pa rar diferent es perspecti vas senão a partir na q ual ano ta mos es sas earacterísti cas. Q ua lq uer tas e e ruditos; cad a artista de ve resol ver, po r si
h. Dil 'crghlcia de persl'c c/i"a s
de um mesmo obj eto lix o, as per sp ect ivas das inf orma ção vale , e m co ntrapart ida, par a lod os os só, um a série de qu estões práticas que sua situa-
per son agen s só têm significação cm rel ação com o utros . poi s se pode supor que cada perso na ge m O au tor se recusa a co nc lui r (q ue m tem razão :
ção no teatro lhe co loca: ti [o niori. o c nce nado r,
a mesma qu estão. mais freq üen te mente um con- só diz o q ue a toma original e disti nta das o utras. A lccstc ou Phi lintc") o u c mba ralha as pistas (pou-
o dram aturg o-co nselh eiro liter ário. o pro fessor c n-
Oito de interesses ou valores , um j u ízo sobre a Pou co a po uco . estamos em cond içõ es de aprox i- co im po rta saber quem te m raZÜO. se \Vladimi r
carregado de red istrib uir c organizar os sabe res
real idade. Esse trabalho de comparação cabe pri- mar os con textos " das figur as, e de es ta be lece r o u Estrago u. em E.Il'crw lIl o Gotlo /!) . Cabe a cada

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PESQUISA TEATRAL POEMA DRAMÁTtCC

da Theaterwisscnschaft (ciência teatral) têm ne- riência, ainda que limitada, de encenação, de o objeto da pesquisa, para suscitar uma contí- menos precioso que o poema. O poema trágico está
cessidade de aprofundar esse ou aquele ponto de atuação ou de escritura (entretanto são raras as nua avaliação dos métodos históricos. A pesquisa ligado à ordenação de lima fábula (ARISTÓTELES);
detalhe histórico ou teórico; daí a visita aos ar- universidades que fornecem as instalações ne- baseada em documentos históricos não está isen- até o século XVIII, o poema dramático é, na maio-
quivos é inevitável. cessárias à experimentação prática); ta de teorias, deixou de ser uma teoria positivista ria das vezes, escrito em alexandrinos.
- observação do processo de preparação de um segura de si. Não se coloca mais como ciência
2. Lugares espetáculo, durante os ensaios, "observação par- objetiva diante da subjetividade da leitura dos 2. A expressão poema dramático parece-nos
ticipante" de estagiários ou assistentes da en- textos e da interpretação da encenações. Reflete hoje contraditória, na medida em que pensamos
Quase não existem mais estudiosos indepen- cenação, da cenografia e da parte técnica; sobre o modo como se escreve a história do tea- que o texto nada mais é senão a etapa primeira c
dentes, eruditos que dedicam sua vida ao estudo - organização, cada vez mais freqüente. de coló- tro, toma emprestados da literatura, da herme- incompleta da representação. Entretanto, na era
do teatro; a pesquisa ocorre nas universidades* a quios temáticos sobre determinado aspecto da nêutica (RICOEUR) seus modelos narrativos e clássica, quando se fala em poesia dramática *
partir do mestrado e do doutorado, nas academias criação ou da atualidade; retóricos, adquire consciência de sua escritura, (ou ainda em poesia representativa), considera-
de ciência '(no Leste, antigamente) ou no Centre - encontros entre praticantes e historiadores/teó- da influência da cultura ambiente que lhe su- se que o poema é que deve conter todas as indi-
National de la Recherche Scientifique (CNRS, ricos: artistas são convidados a mostrar seu mé- gere determinado modo de expressão. A pes- cações necessárias à sua compreensão e os dis-
Centro Nacional de Pesquisa Científica) (apesar todo de trabalho com atores ou dançarinos, sob quisa, especialmente a histórica, é assim re- cursos nele representam as ações "de tal forma
do cruel afastamento dos pesquisadores e do cor- o olhar crítico e com os comentários dos "aca- conduzida ao debate teórico, no qual sempre é que agir seja falar" (D' AUBIGNAC, Pratique du
po discente), raramente nos teatros, que "docu- dêmicos". Como as ISTA (International School necessário tudo reconstruir o tempo todo; ela Théâtre, 1657). Este poema pode, então, ser lido
mentam" seus espetáculos ou publicam revistas 01'Theatre Anthropology) organizadas por Eu- se abre para perspectivas tais que as estantes "numa poltrona", mas já está "dividido" em pa-
(Théãtre/Public, Comédie Françaisei. Sem a san- genio BARBA. as Transvcrsales ou Matiéres à retilíneas dos arquivos não deixavam prever. péis; a poiesis, fabricação da ficção, não prejulga
ção de um diploma universitário (mestrado, dou- conversations do Théâtre du Mouvernent, os a qualidade literária do texto, mas sua composi-
torado. livre-docência). a pesquisa parece não ter encontros organizados pela Academia Experi- ção harmoniosa numa fábula mais contada do
finalidade suficiente. uma vez que a publicação mental de Espetáculos dirigida por Michelle PLÁSTICA ANIMADA que interpretada pelos atores que se exprimem
não é viável a não ser quando subvencionada pela KOKOSOWSKI. Tenta-se então recriar uma si- em longos monólogos sucessivos.
Universidade ou pelo CNRS. Os centros de docu- tuação de laboratório no qual um público redu- ~ Fr.: pl astique animée; Ingl.: stage plastic; AI.:
mentação e as bibliotecas dos departamentos das zido e especializado assiste à gênese e ao mé- 't.: belebte Plastik; Esp.: plástica cscénica. 3. Freqüentemente, as estéticas e classificações
artes do espetáculo no Arsenal, no Centre National todo de trabalho de artistas - o que, por outro de gênero atribuem ao poema dramático um lu-
du Théâtre, na Maison Jean Vilar ou, na Europa lado. sempre falseia um pouco as condições de Arte "que, em oposição às artes congeladas da gar à parte no desenvolvimento das formas lite-
Ocidental, os museus de teatro não têm meios de atuação. pintura e da escultura, podemos chamar de plás- rárias: assim, segundo HEGEL, "o drama deve
publicar os resultados das pesquisas nem de pre- tica animada ou plástica viva" (JAQUES-DAL- ser considerado como o estágio mais elevado da
cisar a extensão de seus fundos. "A solidão do 4. Reavaliações: História e Teoria CROZE, 1920: 133), é, muito simplesmente, a arte poesia e da arte, uma vez que ele cbega à sua
pesquisador de acervos" será interrompida ape- do teatro. Na época clássica, também se falava mais perfeita totalidade no conteúdo e na for-
nas por breve instante pela banca examinadora em "pintura falante" ou "quadro vivo", quando
Ao abordar mais frontalmente os processos ma"; a poesia dramática é o único gênero que
da tese. que emite distraidamente sua opinião, mas os atores ficavam dispostos num conjunto imó-
de criação, o pesquisador sai de seu isolamento, "une em si a objeti vidadc do epos e o princípio
não influi vcrdadeiramente na circulação e difu- vel. BAI3LET (1975) chama de plástica cênica
mas, continua sendo - o que é uma exigência da subjetivo da poesia lírica" (HEGEL, Estética,
são dos resultados. àquilo que as artes plásticas contribuem para criar
"ciência teatral" - um sujeito independente, ha- "Poesia Dramática").
para a cena; o cenógrafo é encarregado por c (:0111
bitualmente anarquista e franco-atirador, esfor-
,/< Os lugares referidos neste item se reportam ao çando-se para ser objetivo. ao mesmo tempo que
o encenador da "encenação plástica do drama"
4. Há quase sempre uma fronteira bastante flui-
-b caso específico da França. (N. de T.)
permanecendo totalmente consciente dos limi-
(J. SVüBODA).
da entre o poema "dramatizado", com persona-
tes de sua investigação. Deve especialmente gens, conflitos e diálogos ocasionais, e o drama
3. Formas adaptar seus métodos e suas questões ao objeto poético*, que se destina realmente à cena e é com-
concomitantemente estudado. POEMA DRAMÁTICO posto de uma série de textos poéticos.
A forma mais freqüente é a da investigação A pesquisa experimenta dessa forma, ao
individual que desemboca em uma tese de douto- mesmo tempo, uma diversificação e um apro- Fr.: poeme {~nUl a iqLle;. ngl.:
~ dramatic [Joem;
5. Às vezes se opõe - como VILAR (1963: 140)
rado em formato de monografia, quase sempre fundamento das questões e metodologias; ela
't.: AI.: dramatisches Gedicht; Esp.: poema dra-
mático, - o poeta dramático ao dramaturgo: o primeiro
ilegível e longa demais, que deverá ser reduzida se desloca no terreno, principalmente no da seria o que se contenta em versificar o texto, em
e reescrita para publicação: um grande esforço ctnocenologia", e abre sua investigação às for- ser o "mestre em prosódia"; o segundo, o que sabe
I. Tradicionalmente, a teoria dos gêneros lite-
para um resultado não adaptado à "comunicação mas parateatrais, ao etnodrama *, às tradições construir ações e personagens, além do controle
moderna". rários distingue os poemas épico, lírico e dra-
culturais que lhe haviam permanecido alheias. mático. absoluto da prosódia. Por vezes, um mesmo au-
Felizmente, outras formas de investigação sur- A história não é mais a única garantia, nem a tor - RACINE, por exemplo, - é considerado mcs-
Na era clássica, o poema dramático é o texto
giram recentemente, renovando a pesquisa: abordagem dominante: a variação do cânonc, a Ire tanto em prosódia (BARRAULT), quanto autor
dramático *. independentemente de sua realização
- abertura de mestrados e até mesmo de doutora- aceitação de novos gêneros, o questionamento de ações para a cena (VILAR, PLANCIION). Esta
cênica ou espetáculo, que os doutos tendem a re-
dos práticos: um memorial acompanha a expe- da hierarquia, tudo isso concorre para modificar oposição é especiosa e perigosa, uma vez que
jeitar como exterior, secundário ou, em todo caso,

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PO E SI A NO T E A T R O
P O ÉTI C A T E ATR A L

dissocia arbi trari ament e form a de co nteú do do turalment e probl emát icas. A poesia se basta, co n-
te xto dr amático. nãn cia so no ra na ment e do leit or- ou vint e . Tu do o interi or. O m on ól ogo interi or, as voz es mi stura-
tém suas pr óprias imagens, ao passo q ue o text o qu e a ce na e a en cenação possam inventar para se das, a polifoni a têm qu e se expor na performance
Ç) dramá tico e stá à espera de um palc o e de uma en carregar dele parecerá s u p érfl uo , fal astr ão e cênica. Assi m, o teatro abr e uma outra via à po e-
~ . Peça, rit mo, escritura cênica .
interpretação . Mais ainda que o text o dramático perturbador, De fato, essa é a c rítica que se pode sia : ao tcatrali zar-sc, ao enunciar-se e m público,
destinado aos atores, o texto poético (o u filosófi - faz er, na maioria das vezes, às m ontagens poéti- a poesia re en contra sua s origens na poesia oral
co ) fica à mer cê do que a en cena ção fizer del e. cas : os ato res se agitam demai s, perturbam a es - o u no conto d e ce rtas culturas orais reman escen-
POESIA NO TEATRO A po esi a, lid a o u tran smit ida pcl a vo z do poe- cut a co m um a gesticulaçã o ex cessiva. DECROUX tes, dando aos poet as a op ortunidade d e ler em
ta o u do intérpre te, é receb ida com o um es paç o faz deste fen ômeno uma lei fu nda me ntal sob re a seus pr ópri os text os, por ocasião de g ra ndes reu -
-t)- Fr.: p o ési e a ll I h é â l r ~ ; lngl. : [Joeu )' in lhe
mental qu e se abre no leitor ou no ouvinte , fazen-
thea tre ; A I.: D'c/l1It1lg I tIl Thcat er; Esp.: poesia dosagem da pala vra e do ge sto : " Pode-se mesc lar niõ es , perante a uditó rios habituad os a d ar ouvi -
en el teat ro. do o texto ressoar sem necessitar de ilu stração, pala vra e mími ca co m a co nd ição de qu e sej am dos a seus poet as (como na Rússia e na Ind on ésia ).
nem de representação de uma si tuaç ão o u um a pob res" ( 1963: 49). "Q uanto mais rico for o texto , A en cenação, determinada a "fazer teatro de
ação (como no teatro). Ela é como uma página mai s pobre dever á se r a mú sica do ator; quan- tud o" (VIT EZ) , com um só golpe est ende seu im -
Muito mais que das relaç ões essenciais ou his-
em branco, de ntro de nós, uma tela vazia, um ec o to m ais pobre o texto, mais ric a dev erá ser a mú si- pério a outros domínios, efetua passagen s extre-
tó rica s da po esia e do teat ro. trat ar- se-á aqui do
lugar da poesia na d ra matu rg ia e na ence nação so no ro qu e não nec essitam de ext er io ri za çã o . ca d o ato r" (54 ). m as m ont ando renomados text os co nsagrado s,
co nt e mpo râ neas. Esse lugar é co nsideráve l na Q ua nto a isso , há um contraste e um a co nt rad ição A pro ferição vocal e a ge sticulação qu e a aco m- poéti co s o u filosófic os (por exe mplo BLANCHüT,
criação teat ral do séc ulo XX. co mo se a poesia entre o esta tis mo da poesia (sua sutilez a) e o d i- panh am são. q uase sem pre, dem asiad o ace ntuada s HANDKE, KAFKA por P.-A. VtLLEMAINE) o u es-
procurasse recon q uistar um terr itóri o perdido. namism o do drama (sua brutalidad e ), me smo se e pe rturbad or as, mas também de m as iad o rep e- critos nu m a lín gua in vent ada ( Vocês q ue H ab i-
se co ns idera r, co mo CELAN i Discours d e B rêm e , ru ivas: co m freq üência , tais excessos se mani fe s- Iam o Temp o , de NüVARINA, na e nce nação de C.
I. A Linguagem Poética 1968), a essê ncia do poem a como sendo di al óg ica . tam através de um dirigir-s e ao públ ico, de um apar- BUCHVALD c G. BRUN). Não mai s bu scando ex-
Não há , portanto, incompatibilidade, mas tam- plicar ou ilustrar a palavra poética, não mais sen-
te, de uma viol ên cia contra o e spectador a fim de
bém não há tra nqüilidade se se quiser desdobrar do encenação, mas "colocação em ato de um es -
Sem entrar na discussão da especificidade da captar-lhe a aten ção por mei os não-verbais.
e co ncre tiza r, através da cena, es sa página em cr ito" (DERRJDA a re speit o de um tr ab alho de
lingu agem poética, da diferença entre pro sa e poe- Q ue re ndo fazer -se o uv ir, o poeta del egado e m
sia, basta not ar que a poesia normalmen te é lida bra nco , poi s o leit or/ouvinte ficar á perturbado ao VILLEMAtNE), a ence nação enco ntra liberdade de
ce na tende a g ritar, a se impor, e m vez de deixa r
o u ou vida for a da situação teat ral, o u sej a, sem ver em ce na e le me ntos de seu espaço ment al. Com atuação e obri ga o esp ectador a abri r m ão de sua
ao o u vinte a possibilidad e d e u m a e scut a so lta,
indica ção co ncreta so bre sua enunc iaç ão . O que efei to, a parti r do mom ento em qu e há d isp osi ção pr eguiça n atural , do gosto pela id en ti fi c açã o
c o nce ntrada , por ém se le tiva. Com o o text o é
a difer en cia , além do mais, do texto filosófico, do te xt o po ético no esp aço co nc reto, desd e qu e prazero sa o u pel o distan ci amen to prot et or, para
mu itas ve zes de ex tre ma d en s id ad e e riqu eza , de
o u romanesco o u prag mático , é a insistência na per so nag e ns- locuto ras to mam corpo , a poe s ia refl etir sobre o qu e se passa nel e, c isto , uni ca -
g ra nde difi culdade de com pr ee nsão, o risco é qu e
form a, a conden sação e a sistema tização dos pro- oseila do es paço mental , prot egido, ao e spaço mente durante a enunci ação do text o e para favo-
o ou vinte, soli ci tad o em su a imaginação verbal,
cedi mentos literári os, o distanciamento da língua público, ab ert o a todos. Ao tomar corpo ass im de recer uma m ediação interi or, uma livre associa-
e di straído pela ges ticu laç ão o ral e f ísi ca , acabe
e da co municaç ão cotidiana, a co nsciência, do rep ente, o text o poético que apr esentav a ao leitor ção a partir da es cuta dos poemas.
s e d esli gando rap id amente , nã o fazend o m ais
leit o r o u o uvi nte, de estar às va lias co m um e nig- apenas vo zes mi sturadas põe-se a represent ar lo-
just iç a ao text o . Se , ai nd a por c im a , trat ar -se da
ma que lhe fala de ma neira ind ivid ua l. cuto res, so bre os q uais não se sa be se são repre-
m o nt agem poét ica de vário s text o s o u aut o re s, a
Não é , port anto, a ve rs i tic a ção qu e fará do se ntantes diretos do poet a, q ue ral a na prim eira POÉTIC A TEATRAL
pessoa, ou, e ntão, persona gen s qu e se ex pressam des or ien tação se rá ai nda m aio r. a co nce ntração
text o, um text o poético: RACINE esc reve u suas
di fícil , o aba ndo no pro vá ve l, e inev it áve l a pas-
trag édi as e m verso, m as e m mom ent o a lgum em e m se u p róp rio nom e. " No rmalmente", na form a :-). Fr.: po étique thé àtra le; Ingl.: thea tre poetics;
det rimento da ten são d ramát ica, e da ling ua poé- dram át ica do teat ro (SZONDI, 1956), as voz es da s sage m para um a ate nç ão diri gid a ao acessó rio 't..: AI.: Th ea terpo etik; Esp.: po ética teat ral.
ti ca; qualquer que sej a sua for ça e aut on omia, personagen s não são as do autor dramáti co ; o dra- da re presentaç ão cê nica. E se , par a co ro ar o tod o,
est á a se rviço da situação dr am ática. ma é objetivo. Pois bem , co m a poe si a dita em a poesi a for um a tradução, se o sig nificante ver- J. A mai s cé lebre das poéticas (da s a rte s poéti-
. Co nvé m fa zer um a distin ção entre text o po é- cena por locut ores-at ores, é o cu " pes soa l" do bal não estive r m ais ace ss íve l e m sua co rpo ra- cas* ), a de ARISTÓTELES (33 0 a.C i), se basei a
u co (poe ma) e poeticidade do te xto (se u ca ráter poet a qu e dá a vo lta, quebr and o assim a lei da lid ad e voc a l de o rige m. o risco d e e njôo do tex- so bretudo no teatro: na defin ição de tra gédi a , na s
" po ético " no sentido lato e co rre nt e do termo). o bj etividade . Não se sabe mais co mo o uvi - Ia: essa to c do desvi o da at en ção es tão ga ra ntido s. ca usa s e co nse q üências da ca ta rse r e e m inúme -
Par a a poesi a no teat ro, o qu e im porta não é sa- voz, é a das per son agens dizend o poem as o u a do ras o utras pr escri ções correntes nas artes poéti-
ber se se representa um poem a, m as se O texto poet a qu e nos fal a diret amente . sendo o ato r, nes - 4. Razões do Sucesso da Entrada da cas . No ent ant o, a poética ultr ap assa a m p la me nte
rep resent ad o con tém em s i um a g rande poct ici - se caso, ap en as uma embalagem tran sl úc id a ? Poesia no Teatro o dom ín io teatral e se interessa por muitos outros
dad e e qu e con seq liência es sa carg a po éti ca ter á gê nero s além do teatro (pela poesia e m geral). Se
na represemação teatral.
3. Dificuldades de se Dizer Poesi a Po r que o teat ro te ima hoj e e m montar poesia? as regras c normas são particularment e numero-
A prin cípio, porqu e a poesia o hriga o espec tador sas e pr ecisas no caso do teatro, art e necessaria-
2. Situ ação Poética, Situa ção Teatr al a um a o utra es cuta, o qu e ben efi c ia tanto a poesia mente públi ca c portanto regul am ent ada co m ri-
Por natureza , o texto poéti co se bast a (e le só
pede para se r lid o), não exige ilustra ção ex te rio r q uanto o teat ro . A poesia reen cont ra a or alidade, go r, todas essas regulamentações esc o nde m o u
A es tra tégia da poesia c do teatro . q ue dif erem a si próprio ; às vezes é até "auto-s uficie nte" , che - a corpo ralidad e, a hum anidade de text os quase desestimulam um a refl exão global, descriti va e es -
entre s i, força a repensar suas rel a ç ões com o na- se m pre co nde nado s ao seg red o do pap el e da vo z tru tur al sobre o funci onament o textu al e cê nico.
ga ndo a recu sar o utro suporte qu e não a rc sso -

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PO(,T ICA TEATRA L PO NTO DE ATAQU

Eis por que a c iê nc ia d a literatura e a scmiologia ", MUKAROVSK'Í' ( 194 1, 1977 ) e A nne UBERSFELD VOLTAIRE, Discurso sob re a Tragédia. 1730 . PONTO
hoje. lan ça ram-se a es sa e mpreitada un ive rsa I e ( 198 1) qu e a poét ic a po ssa. e n fi m. ultrap assar as RICCOn ONI. 1IiJIÓria do Teatro ltal iano, 173 1.
titâ nica. p rocu rando ve la r por du as exigê ncias:
primeiro, ult rapassar a s pa rtic ulari dades de um
q uestõ es ban ais, ma s o bcecada s pel o natu ral, pela L UZAN, Port íca . 17 .31 .
RICCOIJONI, A Reforma do Teatro, 174 3.
e Fr.: soufflcur ; Ingl. : prompter; AI.: Souffl cur;
Esp.: apun tad or.
e moção e pe lo distanciamen to d o ato r. Fin alm ent e
auto r ou um a e sco la, não di ta r nor mas para dec i- se rá ent ão per m itido ao autor da po étic a esclarece r OI DEROT . Co nversas so bre o Filho Natural, 1757 .
d ir o que o teatr o de va se r; e m seg undo lugar , D tDEROT, Da Poesia Dramática, 1758. A fu nç ão d o po nto , c riada no séc ulo XV III.
a troca entre ator e e s pec tador não só em term os
ap reender o te at ro co mo a rte cê nica (quando as ROUSSEAU, Carla a d 'Alcmbert sobre os Espct ácu-
ps ico lógicos, m as tamb ém soc ia is e hi stóricos. es tá hoj e e m via s de de sapariçã o : e la só existe. de
poé tica s a nte rio res a ARTAUD e BRECIIT privile - los. 17 58.
m an ei ra in stitu c ion al . n a Comé die-França ise, tal-
NOVERRE, Carta so bre a Dança e sobre os Bal és . 1760 .
g iavam mu ito o te xt o ). 4. Algumas a rtes poéticas ce n tradas no teat ro: vez po r ca usa do aba ndono do siste ma d e a lte r-
JOIiNSON. Prefácio a Slutk esp ear r . 1765.
AR ISTÓTELES. Poética , 330 a.C. nân ci a e dos pa lcos ita lia nos. O po nto aj uda o s
B EAUM ARCH A1S , Ensaio sob re o G ênero Dramático
2. Ape sar de a a rte poéti ca aplica da ao teat ro ha- HORÁCIO. Arle Poética . 14 a.C, atores e m difi culdad e , fal ando e m voz ba ixa, so-
Sério . 176 7.
ver pro piciado o co n fro nto dos melh ores es píri - SANTO AGOSTINHO, Da Mú sica , 386-389. L ESStNG, Dra maturg ia d e Hamburgo. 1767-1769. tra- prando, articu la ndo be m, mas se m g rita r. a pa rti r
tos, é prec iso co n fessa r qu e se us pre ssuposto s V tDA. A Poética . 1527 . d os bast idore s o u d o burac o , m ascar ad o por u m
dução francesa 1785.
metod ológ ico s nos par e cem hoje bastante fora de D u BELLAY . Defesa e l lus tra çã o da Língua Francc - nich o (o "c a pô" ) no m ei o e na frent e d o palco.
O IDEROT. Pa rad oxo sobre o Com ediante, 1773 -17 80 .
mod a, a nac r ônicos. A poéti ca se base ia, por e xe m- sa , 1549.
MERCIER, Sobre o Teatro. 1773 . Sopra- se a pal a vra o u, se o a to r se e mbaralha na
PELETIER DE MA NS, Arle Poética , 1555 .
plo . num a co m pa ração da fábula ou da s per so na- M ARMONTEI.. Elementos de Literatu ra, 17 87 . frase, a frase segui nte , tomando c uida do co m o s
SCALlGER, Poctics l.ibri Scptem, 156 1.
ge ns com o o bje to repre sentad o . faze ndo d a G OETHE, Trata do de Poesia Épica e Dram ática, 17 97. tempo s de ex tensão v ari á vel para não co nfu ndi-
CASTELVETRO, A Po ética de A rist átet es Vulgarizada
mime se" o c ri té rio da ve rda de e, port anto. de êx i- e Expo sta. 1570.
G OETIiE, Re gra s pa ra os Atores. 1803 . los co m lap so s de memória. O bom ponto de ve
to da repre sentação: daí resultará u ma es t ética SCHILLER. prefácio aos Sa lteadores. 17 81. saber, ao observar os atores, antecipar o e rro o u a
Jean de LA TAtLLE. Da A rte da Tragéd ia. 1572.
sec ular do verossímil, a distinção entre gêneros LAUDUND' AIGALlERS. Arte Po ética, 1598. SCHILLER. prefácio à Noiva de Mes ,<illa, 1803. dificuldade e interferir no momento exato.
populares e desprezíveis (como a sá tira e a comé- V AUQUELlN DE LA FRESNAYE. A rle Poética. 1605. CONSTANT. Reflex ão so bre a Tragéd ia de Wal/steill e
dia. que têm por protagonistas pessoas "com uns" ) LOPE DEVEGA. Nova Arte de Fa zer Com édias Ilessa o Teatro Alemão. / 809.
Época. 1609 . KLElST. Ensaio sobre a.< Mario nett es. 18 10.
e gê neros nobre s e sérios (a tragéd ia e a epo pé ia,
M me. DE STAÉL. Da Al emanha. 18 13.
PONTO DE ATAQUE
cuja s per son agen s são nobres de nasc iment o e de HENSIUS. Poét ica . 16 11.
O PITZ, Livro do Poetizar Alemão, 16 24 . SCIiLEGEL, Curso de Literatura Dramática. 1814 .
alma) . É pr ec iso espera r pel o ro ma ntis mo e pe lo
CHAPELAIN . Cart a sobre a .f Vint e c Qua tro Horas , STENDIJAL. Ra ci n c e Shakespearc, 1823· 1825. :+-Fr.: I'0 ;m d 'auaque ; Ingl. : po in t of attack :
individualis mo bu rg uês par a q ue a poét ica apre- "t.; AI.: Eina tzpunkt der Ha ndlung ; Es p.: pun to
1(,30 . H UGO, pre fácio de Cnnnwell, 1827.
se nte a questão d as o utras formas e examine o de ataque .
MAIRET. pref ácio de Silvanira . 1631. J\.1 USSET , E.{I'l'Uí Cll/O n"ma Poltrona , 1834 .
víncu lo d a o bra co m o a uto r. Só por volta do fina l C IiAI'ELAIN, Da Poes ia Representativa , 1635. HEGEL, Es tética , 18 32.
do sécu lo XV III e , princ ip alm cnt c, no séc ulo XX, GUEZ DE BALZAC, Carla a o SI: Sc udr ry sob re .Ufas \ V AGNER, A Obra d" Arte do Futuro, 184 8. I . Para a narra tiva" - seja e la te atr al , romanesca
é que a poét ica se to ma men os normat iva, mai s Obs erva çõ es do "C id ", 1637 . FREYTAG. Técnica d os Dramas , 1863. o u outra qua lque r - o pon to d e ataq ue si tua -se no
de scri tiva , até m e s m o , es trutura l, e que ex ami na SARASIN, Discu rso so bre a Tra g édia. 1639. NIETZSCIJE. O Na scimen to da Trag éd ia . 187 1. m o ment o d a e rnbrica ção da ação co m a d ina m i-
as peças e a ce na co mo siste mas art ístic os aut ô- SCUDÉRY, Ap olo gia do Tea tro , 1639 . M EREDITH, EIIJaio so ínr a Comédia, 1879 . za ção da his tó ria (quase sempre no primeiro e
nomos (a inda qu e , por ou tro lado, se perca de vista L A MESNADIÉRE, Poét ica , 164 0 . ZOLA . O Na tural ismo /l O Teat ro, 188 1. se gu ndo atos) . O ponto d e a ta q ue drarn at úrgico
a re lação da ob ra co m o m undo e o receptor ), VOSSIUS. Poéti ca , 164 7 . ApPIA, Encenaç ão d o D rama \\'t1gll cr illl lO, 1895 . d ep e nde da ap re se nta ção ex plícita do esq uema
O ' AUBIGNAC, Prática do 1" tl/ IO, 1657 . J ARR'l, Da / nllfi /i ti ati l' tio Teatro no Tea tro. 1896 . actancia l" part ic ul a r d a pe ça e, prin c ip alm ent e .
3. Port ant o, a poé tica fracassou na preten s ão de
CORNEtLLE. Discurs o sob re as Un idades, 1660. M AETERI.INCK . O U'."""" dos J(IIIII i/d.,s . 1896 . do início d a açã o do s uje ito.
CORNEILL E , Discu rs o so b re (I Po ema D ramá tico ,
e lucidar d ua s rel a çõ e s esse ncia is: a da represe n- ANTOtNE, Conversa sobre a Encen ação , 190 3.
1660.
tação para o espectador e a do trabalho tea tra l par a ROLLAND. Teatro do Povo, 1903. 2. A es se po nto d e ataque ac ta ncia l ac rescen ta -
IvIOt.lÉRE, Critica da " Escola d .. Mulheres"; 166 3.
o ator. Parad o xalmente, isto se explica pe la un ive r- CRAIG. Al"le do Teatro, 1905 . se um ponto d e a taq ue cê nico: no mo men to e m
A IJIlE DE PURE, hlé ía do s Espetáculos. 1668.
ApP IA.A Obra d c Artr I/i,·a . 1921
sa lização te árica (pe las inúm e ras poét ica s) do ll OlLEAU. Arte Poét ica . 1674 . qu e , a pós al guns segu ndos o u m inut os destina -
Pt SCATOR. Tea tro Polílico , 1929.
mode lo grego base ad o na comoção e na ca tarsc . DRYDEN, Ensa io sob re ti Poesia Dramática. 1688. d os a criar a at mosfera da cena c es ta be lccer .a
A RTAUD, O Teat ro e .\' <'1/ Du plo, 1938.
Ou tras POétic as. perten cent es a outras c ultu ras, L A BRUYERE, "Tragédia" . em Caracteres, 169 1. co mu nicação (f unção fát ica) . o j ogo do ato r co-
STANISLÁVSKI, A Formação do Ato r. 1938 .
co mo o tratado do teatro clássico indi ano (Natva- FONTENELLE, Refl ex ões , 16 91 -1 699 . m e ç a de fat o , Fre q üe nte m e n te a en cen ação fa z
OACIER. tradução da Po ética de Aris tó te les , 1692. S ARTRE. Teat ro de Situaç ôes , 194 7·1 973 .
Sastray ou o tratado de Zeami so bre o Nó teriam ll RECHT. Pequen o O rgano n par a o Teatro, 1948. esse tem po morto durar mais. estica o tempo ao
BOSSUET, Máx im as c Reflexões sobre (J Comédia,
pro vocado uma visão completamente di feren te de CLAUDEL, Minhas liléia s sobre Teatro, 1894 a 1954. m á xim o a fim de esta b e lece r uma certa ex pectat i-
1694.
con flito , de drama e de recepção teatral. Do mes- DÜRRENMATT. Problem as de Teatro, 1955. va . Para int roduç ões in medias rcs, ao cont r ári o,
Ou Bos. Refl exõ es Crítica s sobre a Poesia e a Pintu-
mo mod o, lima pesquisa sobre as cerimônias afri- IONESCO. Nota s e Contra -Notas , 1962. na s qu ais a lgo co meç a a acontecer no mom ent o
ra, 1719.
ca nas teatrali zad a s colocari a novam ent e e m ques- HOUDAR DE LA M OTTE, Discursos e Refl exões, 1721- G ROTOWSKI. Em B us ca de UIII Teatro Po bre, 1965. d a abertura do pa no , o ponto de ataque pare ce se r
tão as regras tia unidade, d a ten são c tia fro nteir a 173 0 S ASTRE. A natomia do Real ismo , 1974 . efetuado logo no in íci o . até mesmo antes de ini -
e ntre ar te e vida. Ta lvez seja nu ma sc mio iogia do BAI LI. ET, l ulgm nen tos do s J)OlflOS sob re as Prin cipa is c ia r-se a peça, co mo a s uge r ir qu e o espe táculo
a lo r j á inic iada por J. DUVIGNAUD ( 1965). J . Obras dos All tO,..'S, 1722 . LD Rep ortar -se ao verb ete Teo ria do teat ro . n ão pa ssa de u m trec ho d a re al id ad e ex te rior.

296 297

1
PO N T O D E I NT E G R A Ç Ã O
PÓS- MO DE RN O

[;;;;;J. Levitt, 1971 ; Pfister, 1977. tagem " de ré plicas de acord o com uma es tru tura para a tro ca de idéias (peça did ática " ). E la fica plet am ent e diferen tes para julgar sua pós-m o -
pertence nte ex c lus ivame nte a ele, fica patent e qu e redu zida ao papel do que MARX (1967: 187) de- dern idade.
ele inter vém d iretam ent e no texto co mo o rgani- nomina "porta-voz do espírito da é poca" : alusão
PONTO DE INTEGR AÇÃO zado r de materi ais, isto é, como um a es pécie de às pe rsonage ns schilleriana s, es pécie de ca ráter to- a. A ence nação p ós-mo dern a não tem ma is nem
narrador. O c nce nador tamb ém ass ume o pa pel talmen te idealizado e abstrato , qu e represent a de a radi cal idade, nem a siste mática d as vang uardas
~ Fr.: p oint d 'int égration; Ingl.: point of illtegra· de narrador ao organizar os materiai s cê nicos, mane ira hegelian a um a tendência histórica e filo- históri cas do primeiro terço do sécul o XX. O be-
't..; 1/011 ; AI. : lntegrationsp unk t; Esp.: p un to de acrescentando ass im à mont agem do text o dra- só fic a, nada tendo em co mum com um indi víduo dece freqüenteme nte a vário s princ ípios co ntra-
integracion .
mático uma segunda montagem: a dos e leme ntos co ncre to e cheio de contrastes. A e ss e tipo de ditórios, não receia combinar estilos dísp ares, nem
visuais e de seu v ínculo com o text o. Finalmente, idealiz ação opõe -se a personagem sha kespea reana apr esent ar colagens de estilos de atu ação hetero-
Momento em que as diversas linh as da ação -
o próprio ator também faz, em certa medida, um de fatura reali sta, que dá a impressão de um a pes- gê neos . Tal e xpl osão imp ossibilita a ce ntra liza -
dos diferentes destinos das person agens e das in-
triga s sec undá rias - co nverge m para uma mesma papel não de ex ec uta nte mas de maest ro e or ga- soa vi va ind efin ível, que exi ste apena s por seus ção da e ncenação e m torn o de um prin cípio , tra-
ce na , no final da peça . Trata- se do " po nto de fuga nizador de tod os os sistemas cên icos (lingü ísticos , impul sos e cont radições (Ha mlet, Le ar, Otc lo etc.). d ição, her anç a , e stilo o u intérprete. Co ntém e m
no qual as num erosas perspecti vas do dram a se prox êmicos, es paciais). Em suma, o produto tea- si mom e ntos e proced imentos nos qu ais tud o pa -
co or de nam" (KLOTZ, 1960: 112). tral ac abado é "fi ltrado" por uma sucessão de ~ Confide nte, par ábase. rece descon strui r-se" e desfazer- se e ntre os de-
ponto s de vista - dram aturg ia, ence nação, jogo dos de quem qu e r qu e pense de ter os co rdéis e as
cê nico - ca da qual determinand o o segui nte e re- chaves do es petácu lo .
PONTO DE VISTA percutindo dessa maneira no e leme nto fi na l da P ÓS -MODERNO (T EAT R O)
repr esentação . b. E m vez de represen ta r um a história e u ma per-
~ Fr.: poin t de vue; Ingl. : point of vie \V; AI.: ~ Fr.: po st -moderne (th éâtre): Ingl.: p ost-mo de rn so na ge m , o ator, do me smo modo que o en-
Gesichtspunk t, Perspektive ; Esp.: punto de vista. (i;") Discurso, análise da narrativa, narrador, atitu- 't..; theatre; AI.: po stmo de rnes Th eater: Esp.: tea- cenado r, grandes ch efe s de operação da es tru tu -
.~ . de, gestus. tro postmod erno.
ra , apresen tam -se a si mesmos enquanto artistas
Visão qu e o autor e, na seqüên c ia, o leitor e o e indi vídu os, ao aprese nta rem um a perform an -
es pec tado r tê m do aco nteci mento na rra do ou Term o pou co usad o pe la críti c a d ra má tic a
ce* . qu e não m ais co nsi ste e m sig nos , m as " num
most rad o. Esse lermo rem ete à noção de pe rsp ec- PORTA - VOZ fra nce sa, tal vez e m razão de sua falt a de rigor
e rrar de flu xos co m um a possi b ilida de d e des lo-
tiva ". É me lhor reser vá-lo para a pe rspecti va do teó rico , um a vez que ne m o m od erni sm o (" d ra-
ca me nto e um a es péc ie de e fic ácia através de
autor (em o posição à perspectiva individual das ~ Fr.: p o rte -pa rol e; Ingl.: m o uthpie c c ; A I.: m a mo derno" , SZONDI, 1956 ), nem o qu e veio
afetos , que sã o os da econo mia Iibid inal " (LYO-
perso nagens). Sprachrohr; Esp.: po rtavoz: de poi s pare cem co rres po nde r a mo me ntos his-
TARD, 1973: 99 ).
tó rico s, a gê nero s e es té ticas det e rm in ado s (PA-
I . Obj eti vidade do Gêne ro Dramát ico 1. O po rta-voz do au tor é a person agem q ue de ve V IS , 1990 : 65-87). M ais q ue um a fe rr am en ta ri-
c. Ass im pro ced e ndo , nega m ao trab a lho o títu -
representar o p oli/o de vista " do d rama tu rgo . O go ros a pa ra caracterizar a dr am aturg ia e a e nce-
lo d e e nce naç ão co mo obra fech ad a, ce ntrad a;
o pont o de vista do narrador ca racte riza a ati- teatro qu e represent a "o bj etiva me nte" (HEGEL) naç ão , o p ôs-mode rno é um toque de reunião ,
preferem a noç ão de di spositivo e ve ntua l ou in s-
tude do aut or em relação à história que ele cont a. personagens qu e têm ponto de vista próp rio dis - (pri nc ipa lmente nos Es tados Un ido s e na Am é-
ta la ç ão ":
E m princípi o, a forma dramática * não se utiliza pensa narrador o u por ta-voz. O port a- voz é clara- fi c a La tina), um cômodo rótulo para de scr ever
de le ou, pelo menos , não muda d uran te a peça, ment e identifi cável apenas no teatro d e te se* ou um es ti lo dc atua ção, um a atitude de produ ção e
em bre ves por ções parti cularmente es pinhos as do d . Sup er va loriza -sc, assim , o pól o da recep ção e
permanecen do in visível por trás das d ramatis de rec e pç ão, um a manei ra " atua l" de faze r tea-
texto dramáti co . Esse ingr ato papel amiúde ca be tro (g rosso modo, desd e os an o s sesse nta, após da per cepção : o es pectado r deve orga nizar im pres -
pe rsonae ".
ao ra iso nncur" , respon sável pe la recep çã o * co r- o te a tro de absurd o " e o te at ro e xis te nc ia lista, sões divergentes e convergentes e resti tuir certa
De mane ira g lobal, o pont o de vista do es pec-
tad or acompanha de perto o do aut or, pois aquele reia dos discursos pelo espec tador e pelas retifi - co m a e me rgê ncia da pe rfo rmance " , do ha ppen- coe rênc ia à obra, graças à lógica das se nsações
não tem outro acesso à obra além da co nstrução cações necessári as da pers pect iva *. É se m pre ing >. da c ha mada dan ça pós-m od ern a e d a .1(//1 - (DELEUZE) e a sua e xperiência estética. Ocorren-
dram ática que es te lhe impõe. Qu and o são utili- muito difícil e , aliás, desinteressante, reen contrar ça -t ca tro r y. A fil o so fi a d o pó s-m o de rn o (de do tudo e m um mesm o espa ço -tempo, se m hie-
zad os elem ent os épicos, o pont o de vista também um traço da pal avra "autoral": isto é, de rest o. LYOTARD. 1971, 1973, 1979 o u de DERRIDA) rarquia e ntre os co m po nentes, se m lógic a d iscu r-
mu da: a inter venção do narrador (so b a form a de cometer um co ntra-se nso em relação à o bra tea- conti nua desconh ecid a pe los c riadore s de teatro s iva assu mida por um tex to de referên ci a, a obra
um a person agem, de um ca rtaz, uma canção ou tral, qu e se ca racteriza pela ausência de s ujeito o u ma l as simi lada e ada ptada às s uas necessid a- pós-m od erna não tem outra refe rên cia qu e não e la
um s ubstituto do autor) queb ra a ilusão e destrói central, e result a do entrelaçame nto das co ntrad i- de s (exce ção talvez a R. FOREM AN, 1992 ). É mesm a; e la nad a mais é se não um a guinada dos
a crença da ap resentação obj etiva e externa dos ções actanciai s " C di scursivas. p rec iso , portanto, co nte ntar-se com a enumera- signos , que deix am o espec tado r diant e de uma
elementos (vi São objetiva). ç ão de algumas car act erísticas bem gera is, e sem "r epresentação emanci pada" (DORT, 19 88): "O s
2. Quando a peça é mais um debate de idéias e um gr a nd e va lor teóric o , co m ume nte associ ad as à signos múltiplos e variados que se suce de m (no
2. Ponto de Vista dos "Autores" diálogo filos ófi co do qu e ficção a várias vozes, no ç ão de en cen ação pós-mo d erna . De ixa-se de palco ) nu nca co nst ituem UIl1 siste ma fec hado de
aco ntece de se detectar qual ideologia ou filoso fia lado a qu e stão de um a es c ritura dr am áti ca pós- s ignificações. Coloc am- se mutua me nte e m peri -
À medid a e m que o autor dram ático não copia se oc ulta so b a másca ra do ator. A per son agem, mode rna ( O Ll, co mo d iz LEHl\t ANN, p ôs-dramá- go" ( 1988: 1(4 ). O teat ro pós-m od ern o j á é uma
di á logo s co lhidos ao vivo, mas fabri ca uma 111011- nesse caso, serve apenas de supo rte pedagógico tic a ), j á qu e a literatura obedece a c rité rios com - es pécie e m perigo .

298 299

.J
PR A GM ÁTI C /
PO STU RA

teatral: haveria . segundo DU CRO T . dois tipos de


POSTURA - a problemática da e nunc iação (BENVENISTE. 2. Dificuldades da Pragmática
falas: as "prim itiv as". qu e "o autor diri ge ao pú-
19 66 . 1974 ; Lan g a g es ; n . 17; KERBRAT-
blico assemelhando- se à person agem" ( 1984: 225)
Ver Atitude. ORECCI\IONI. 1980, 1984 . 1996; MAINGUE- o. Obj eto an alisado
e as "derivadas" . que " d irige . não mais através de
NEAU. 1975, 1981). Ela distingue enunciado (o A pragmáti ca lingüística tende a con siderar so-
que é dito) e enun ciação (a maneira de dizê-lo); sua s personagen s. ma s pelo próprio fato de re-
mente o text o dramático . reduzindo a representa- presentá-Ias. pela escolh a qu e faz dela s" (22 6 ).
PRAGMÁTICA - a " pragmática se mântica" ou "pragmáti ca lin-
ção ao texto. Co m efeit o. é fácil transferir os es - Esta oposição entre doi s tip os de e nunciação pode
güística" (DUCROT. 1972 . 1980 . 1984). que tra-
tudos pragm áticos da argumentação do dis curso parecer óbvia e é freqü entemente destacada pe-
V Fr.: pra gmatique; lngl.: pr agm ati cs; AI.: ta da "aç ão humana realizada por intermédio
co mum (co necto res lógic os com o mas . j á qu e, se, la pesqui sa co mo sendo a marca es pecífica do
Pragmatik ; Esp.: pra gmática. d a linguagem. indic ando s uas condições e al-
por exe mplo, em DUCROT (19 80, 1984)) no nível di scurso teatral. como sua " d u pla enunci ação"
ca nce" ( 1984: 173). A hip ótese fundamental de
do texto dramátic o. e as co nclusões. bem erucn- (U I3ERSFELD. 1977a : 129 ) ou co mo opos ição
1. Variedade s da Pra gmática DUCROT é que é preci so compreender a argu-
dido, continua m válidas para este texto esp ecífi- (feita por INGARDEN : 1931-1971, e. na esteira
mentação e a enunciaç ão de um enunciado para
co e não. par a o conjunto da representação . As- dele. H. SCHMID. 197 3) entre os "di scursos dir e-
A dimensã o pragm ática da linguagem. "isto é, compreender-lhes o se ntido .
sim. a situaç ão cê nica fica excl uída e a utili zação to s das person agen s" e o s temas não enuncia-
o levar-se em conta locutores e contexto" (AR- Para o que nos interessa diretamente aqui. o
co ncreta da enunc iação é. no ent anto, o e leme nto dos. mas present es. todavia. na consciência do
MENGAUD. 1985: 4). interessa também ao teatro uso mais pragm ático possí vel de todos esses do-
que decide o se ntido pragmático do Texto em re- receptor , aqueles tem as su geridos pela situaçã o
que coloca em relaçã o actantes e ações. e onde di- míni os da pragm ática no interi or da teoria do tea-
prcsenta çã o . Seria pois mais apropriado ex ami- atual. mas não atualiza dos no di scurso direto das
zer é sempre fazer (açilo [alada rv: A pragmática tro . consideraremos. não sem séri as restrições
nar que co necto res lógicos (e sob que forma) são person agens. Essa o po sição só é supe rficialmen-
conheceu um desen volvimento recente. no domí- met odol ógicas. as seguintes abordagens:
e mpregado s pelo ator e pela cena e em que medi - te pert inente. pois. na realidade. a divi são entr e a
nio da lingüística, a ponto de parecer. às vezes, - estudo dos mecani smo s do s diál ogos e dos jo-
da estes últ imos modifieam os cone etores lógi- fala das personagens e a do autor é muito difícil
substituir a semântica e tomar-se um dos ramos gos de linguagem e comparação da "linguagem
cos do texto. de ser estabelecida, se ndo ap enas uma última ten-
dominantes da sem i ótica dividid a. desde PEIRCE comum" com a "linguagem dramática" (A STON
tativa de salvamento d o suje ito . A linha di visóri a
ou MORRIS, em se mântica. sintaxe e pragmática. et a l.• 1983 ; EL AM , 19 80, 1984 ) ;
Esse cresciment o mal controlado deu-se em várias - es tudo da açã o (Po ética , 19 76 ) . da fábula e b. Incert eza episte mológ ico não se mantém . já qu e é o próp rio autor qu em
direç ões e de acord o com metodologi as e epis- de seu estabel ecimento pel a leitura e pela en - A diversid ade das ab ordagens pragmáti cas su- organiza as falas da s pe rsona gens, e nunca se sabe
ternologias bastante hetero gênea s. tomando-se a cenação; blinhad a acima e xplica sua frcqü ente incornpati- ond e ler o discurso autoral: ele não est á nem nas
pragm ática. segundo as pala vras crua s, porém - e s t ud o empíri co d a re cepção do públi c o bilidad c e pistemo l ógica . principalmente a da prag- rub ricas. nem à margem do te xto , mas na resul -
bastante ju stas de um pesqu isador italiano, a "lata (GOURDON. 1982); mática lingüí stic a (como a de DUCROT ) e das tante estrutural dos co nflito s e di scursos em di á-
de lixo da lingüíst ica" (citado por KERBRAT- - co mparação de diversas con cretizações de uma abordage ns que procuram abarcar a abertura do logo. Talvez. fosse mais satisfató rio exam inar cada
ORECCHI0NI. 1984: 46). Fazer a triagem nessa lata obr a no eurso da hist ória (V OOlCKA. 1975); sujeito para a psic análise ou a teoria mais ou me - fala. seja ela da pers onagem, ou do "autor" (mas.
de lixo da história causa , se não náusea. ao menos, - es tudo das marcas da enunc iação teatral e da nos marxist a dos di scursos em conllito (na es te i- no teatro. onde está o aut or. prin cipalmente na
vertigem, tal a complexidade das problemáticas produção/recepção do es pectador (PAVIS. 1983 a ; ra de BA K HTl N. por exe mplo). DUCROT procu- ence nação?) em sua c apaci dade. claramente e vi-
postas em jogo. Pod er-se-ia enumerar aqui apenas UBERSFELD.1 982). rou limitar por muito tempo sua in vcsti ga çã o dencia da por BAKHTI N. de c itar o discurso d o
alguns compartimentos. cujas fronteiras, aliás, são argumentativa a um tem a ideal e abstrat o , ma s outro, de retrabalh á-lo, dc co nstruí-lo como are-
Através desse s estímulos para estudo - mais
quase sempre muito fluida s: sob pressã o de pesqui sad ores como AU T H IER na par a o comhate de formações di scur si va s e
que de metodologias estabe lec idas , trata-se na ver-
- a filosofi a da ação e o pragm atismo america- dade de projetos de pesqu isa - bem se vê o que a (u lIlgage s. n. 73. 1984 ) OU FUCHS (DRLA V. n. 25 . ideológicas. O dispositi vo d a e nunciação . em todo
no (PEIRCE. MORRIS) . A pragm áti ca, para pra gm ática permite ou tenta ultrapassa r: um mo- 1981: 50) e de tod a um a co rre nte de aná lise polí - caso, é muito mai s co mplexo que uma divi são
MORRIS, é "a part e da se miótica que trata da delo unicamente narratol ógic o que analisa a fá- tica e psic ológica dos di scur sos, acaba ped indo cl ara entre voz do autor e voz das personagens.
relaçã o entre os signos e seus usuári os" ; bula numa análise do relato . sem le var em conta a socorro a BAKHTl N ( 1984: 171). Pur a manobra Coube à lingüística do di scurso e da enunci ação
- a teoria dos atos de linguagem (AU STIN, 1961; espec ific idade da represent aç ão teatral : um a tática. um a ve z qu e D UCROT. apesa r de seu "cs- o mérit o de haver feit o o uvir voz es nas voze s. de
SEARLE, 1972 . 1982 ); semio logia» com eixo ainda mais fixado no texto . boço de um a teori a poli fônica e da enunci aç ão" haver mostrad o a intertextu alidade. até mesm o a
- a teoria convers acional (GOFFMAN, 1959; Na realidade. a pragm ática não constitui, a bem ( 1984) , continua a raciocinar - aliás, também se m- polifonia do texto. P ara o teatro. isto é tanto mais
WATZLAWI CK , 1967 ; GRICE. 1979); dizer. uma nova metodologia; é. ant es. um a siste- pre de man eira impecável- sobre um suj eit o fa- ve rdade quan to nele se toma rapidamente impos-
- a teoria do s efeitos de di scurso (DI LLER, RE- mati zação de procediment os utilizados na análi- lante ide al. obs ervá ve l na linh a de sua argumen- sível distinguir as m arcas es pe c íficas da enun-
CAN AT/ . 197 9): "A pra gmática estud a o uso se dos diál ogos. princip almente para determinar tação, e às vo ltas co m um dial ogismo teatral (" no ci ação de cada prati c ant c (ce nóg rafo. dramatur-
da linguagem no discurso e as marcas espe cí- seu papel no estab ecim ento da s situações dramá- âmbito da polifonia e da con cepção 't eatral' do s go , iluminador, mú sico, ator ctc .).
ficas que ate stam, na língua. su a vocação dis- tica s. a progressão da ação e o est abelecimento Feit as essas ress al va s e piste mo l ógicas. come-
atos de lin guagem " . 1984 : 231).
cursiva" ( DI L L ER e RECANATI. in Lín gu a da fábula. Ape sar da proliferaç ão d e es tudo s ter íamos um erro se déssem o s pouca import ãn-
Su a concepç ão "teatra l" dos atos de lingu agem
Fran cesa , 1979 : 3) ; lingüísticos, e também muita s vezes literári os. que c ia a métod os de an áli se textu al desen vol vid o s
não produ z. em co ntrapartida. um modelo utili-
- a pragm ática interl ocuti va de F. JAQUES. que reivindicam a pragmáti ca, as dificuldades des sa pela pragmáti ca. princip alment e a de DU CROT
záve l para a an álise do diál ogo tea tral, pois se
"aborda a lingua gem com o fenômen o ao mes- última não devem se r subestima das , e prin cipal- ( 1975. 1984) .
base ia num a visão muit o ingênua da e nunc iação
mo tempo discur siv o. co municativo e soc ial"; ment e as da pragmática teatral.
30 /
300
P R Á Tt C A TEATRA
PRA GM ÁTI CA

3. Aplicação ao Estudo dos Diál ogos a. Mecanism os textuais da enunc iaç ão ape lando para um a série de e nunc iado rcs : o ator, mances, sej am elas espetaculares, e m se ntido es-
sua voz. entonação, mas tamb ém toda a cena. no trit o , o u cu ltur ais, e m sentido lato.
Enco ntra mos um a parte das obser va ções fei -
Su a aplicaç ão ao estudo dos d iálogo s se faz de q uc e la se ancora no present e d a e nunc iação de
tas pel a " pragmá tica semântica" ou " prag mática
manei ra aind a exp eriment al. todos os mat eriais cênicos . T rata-se , além do mais,
lingüística" de DUCROT (I 9 84 : 173). Cit ar em os
de es tru turar e hierarqui zar as diversas fontes de PRÁTICA SIGNIFICANTE
de mem ó ria, tendo e m vista que uso o teat ról ogo
a. Direção dos diálogos enunciação. Enunciar o texto através do ator e da
pod eria fazer dessas obs ervações :
e nce nação é, bem co ncreta mente, vocalizá- Io (ve r ~Fr.: p ra tiqu e s ig nifiante; In gl. : signifyi n g
Demarca- se a argumentação e a direção, e os - embrea do res de embreagens (co mo a si tuação 't.: practice, AI.: Si gnifikanten-praxis; Esp.: pr ác-
dicção*) det erminando a altura da vo z. a emi ssão ,
e nunciados só fazem sentido se perc ebemo s seu dr amátic a é marcada pelo jogo dos pronomes tica significante.
o ritmo e le. e OS elementos paralingüísticos (cinesté-
sentido, poi s "t odos os enunciados de uma língua pessoais, da s indic ações espaço -tem po rais , d as sicos e pro xêmi cos) do ato r; cabe a el a dar sentido,
se dã o e ex trae m seu sentido do fato de se darem, d êiticas); A prát ica s ig nifica nte opõe-se à co nce pção
sabe r ta nto sua direç ão , qua nto sua sig nificação.
co mo qu e imp ond o ao interl ocut or determin ado - modalidad es (q ue atitude em fa ce dos e nunc ia- (p robl em ática, aliás) de um a estrutura es tática e
tipo de conclu são" (DUCROT, 1980: 12). Tentar- do s é leg ível 04) ecxt o ; de acordo co m qu e modo fe chada do texto ou da representaçã o , es tru tu ra
rT' Van Dijk , 1976; Pagnini, 19 80 ; Jaqu es, 1979 .
se- á, portanto, estab elecer a lógica interna dos di á- de ex istê nc ia é e nca rada a ação); /.d=.l 19 8 5; Kerb ra t-Orc cc h ioui , 19 84 ; Suvo na, qu e se ria dad a logo de sa ída se m a int er ve nç ão
logo s, por m a i, descosidos que sej am, - orga nização das narrati vas relatadas (co mo o 1980 , 1982; Pfister, 1985. ati va do leito r/es pec tador.
ato r mostr a qu e est á citando outro te xto ou o u- O fato de recorrer às teorias do trabalh o pro-
b. A co nexão ausente tra atuaçã o); d utor da ide ol ogia (MARX. ALTHUSSER) ou do
A leitura do texto obriga a es tab elecer um vín- - estratég ias discur si vas (referências à enunci ação PR ÁTI CA ESPETACUL AR so nho (FREUD) inaugu ra um a se mió tica qu e exa-
culo de c ausa lidade ou de similaridade tem ática e sua influên c ia so bre o se ntido dos en unc ia - mina não sim ples me nte a co mun icação do senti-
entre enunci ados qu e parecem não ter relação, a dos; aceitaç ão ou recusa dos pressupostos d o ~ F r.: pratique spectaculaire; Ingl.: performance; do, mas sua produção no ato de uma leitura/escri-
completar as reticências... adv ers ário, o fato de que no diál ogo, "a tacar os 't.: AI.: Da rstellung; Esp.: p rá ctica espectacu/GI: tura (rec epçã o *). Para a e nce na çã o , a pr ática
pressu po stos do adv ersári o é bem mais, a inda , signific ante do int ér pret e (e nce nado r o u es pec ta-
c. A o rientaç ão restabelec ida do qu e qu and o se nega o qu e e le co loca, atacar Esta expressão tradu z (m al) a noç ão de per- dor) le va a recon struir a sig nifica ção a partir do s
N o te xto dial ógico aberto, es tabe lece m-se o próprio adversário", DUCROT, 19 72 : 92); [o rmance no sentido qu e se imprime , e m in glês, s ig nifica ntes cê nicos: antes de " trad uz ir" os sig-
poss íveis conexõ es entre fa las . Além da lógica - determinação da ori entação do discurso na ar- a per forman ce studies, est udos de p ráticas es pe - ni ficant es em signi fic ados unívocos, procu ra-se
do diál ogo , por vezes delimita-se um a o rienta- gumentação de um a person agem ; tacul ar c s e cultura is. Os p e rfo rn uin ce studies fo- examinar sua materi alid ade e le vant ar tod o s os
ção rnet aenunc iati va que organiza fr ag mentos - sube nte nd ido s, o j ogo do locut or e do (o u dos ) ram c riado s nos ano s se te nta. p or e t nó logo s sentidos q ue possam produ zir, proc ur a-se ouv ir
esp arsos ou uma rede de imagen s ou so norida- e nunciador(es) na iro nia (DUCROT, 19 84 : 2 10- (como TURNER, 19 82 ), teóri cos e homen s de tea- igu alment e a plural idade das vo zes e nu nci ado ras
de s (TCHÉKHOV, VINAVER). 213 ). tro (como SCHECHNER, 19 85 ), admini str ad or es
qu e a co m põe m .
uni ver sitários no mundo ang lo-s axão, par a en- A prá tica s ignificante aprox ima-se , assim , da
b. Enun ci ação cê n ica g lo ba r o e studo do co nj unto das man ifest ações noção estrutura l de encena ç ão", na med ida que es ta
d. Citação do discurs o do outro
es petac u lares ou cu lturai s qu e vão d o s ri tos, das última se de fine, co m Jean CAUNE, co mo " um a
Ob ser vam- se repetições dc termo s, de ideo- E pis temó log os e lingüi stas co mo DUCROT dan ça s fo lcl óri cas. ao s es pe tác u lo s de te atr o ,
logemas, ternas e formaçõe s discursi vas de uma (1984 : 179 ) ou CULIOLI (in Materialidade s Discur - prática que tran sfo rma determinados materiai s (te x-
dança , mímica, teatro cor pora l e p r áticas ritua -
person agem a outra, estabelecendo -se algum as leis sivas, 1981 : 184 ) observa m a tendência a conside - to , es paço, corpo, vo z...) numa forma dete mú na da
lizad as da vida cotid iana . destin ada a cri ar relações sensíveis e e feitos de se n-
dess as tro cas intertcxtuais, rar a situação de enunciação como "uma situação Q uase sem pre tradu zida por p ráti ca esp etacu-
que seria historicam ent e descrit ível. Naque le mo- tido en tre o espaço da ce na e esp ectadores reuni -
lar, a noção de performa nce es tá mais ligada à ideia
ment o, o termo situação de enunciação é urna ma- dos num espaço c para um tempo" ( 198 I : 230 ).
4 . Pra gmática da Enunciaçã o de realizar uma ação (to pe rfo rnt) , à man ei ra dos
neira de tentar recuperar tudo o qu e pert en cer ao verbo s " perfor mativos" que exec utam a ação pelo
dom ínio e m p írico, à vivência, à experiênc ia ..." fa to de se re m enunciado s (por exe mp lo: " Juro !"),
~ . Prática teatral , prod ução teatral, se miulogia.
A teor ia da enu nciação , qu e muitas vezes se
co nfunde meio ra pida mente com z pragm ática",
não coin cid e, no ent anto , co m ess a última disci-
(l 9 81 : 184 ). É, pois, ab usivo co mparar a enun-
ciação cê nica a uma situação co ncreta, viva, real
do qu e à idéia de represent ar um es pctáculo visual
diant e do espectado r. Portanto. o ponto de vist a
m G reim as, 1977; A. Simon, 1979; Banhes, 19 84 .

plina qu e se desenv olveu a partir da problemáti- da represent ação num dado momen to. Porém essa e ntre espetacular e p e rfo rmance (ou a rte p erfor-
ca do s atos de linguagem (AUSTIN, 1962 ; SEARLE, noção nos parece c apital no teatro: nele. a e nun- nuitica ) é que é diferent e. O espeta cular é visto -
1972 , 19 82 ), cujo métod o pare ce ser de muito ciação cênica é a operacionalização. no espaço e por assim di zer - do pont o de vista do espectador, PRÁTICA TEATRAL
mai s d if ícil tran sposição para o teatro . Em con- no tempo, com os atores, de todos os eleme ntos ao passo que a pe /f o"" /(/Ilce é concebida em fun-
cênico s e dr amatúrgicos considerad os útei s à pro - ção do qu e fazem os perfor nicrs , isto é, do que :-). Fr.: pratique th éàtralc; Ingl. : theatre pra ctice;
trapart ida , a teoria da enunci ação (BENVENISTE,
dução do sentido e à sua recepção pelo pú blico GROTOWS KI chama de "arte co mo veícul o" , dos
't.: AI.: Theaterp raxis; Esp.: p r áctica tea tra l.
19 66; MAt NGUENEAU, 1981; KARBRAT-OREC-
CHlONJ, 19 80 ; PAVIS, 1983a , 1986a ) é de im- colocado em situação de recepção. Descr e ver a artis ta s qu e age m : "act a ntes" (GROTOWSKI ;' 1
enun ciação cê nica co nvida a mostrar co mo a ence - A práti ca teatr al é o trabalh o coletivo e produ-
port ânci a c apita l para escla rece r, ao mesm o tem- RICHARDS, 1995: 181 ).
nação organi za no espaço e no temp o cênico o uni- A etllocell% gia* busca - se m co mplexos - tivo dos difer entes praticantes de teat ro (ator, ce-
po, a leitura e a concretiza ção do texto dramá tico,
verso ficcional do texto (suas person agens e ações ). n ógr a fo , en cen ad or. ilum inador etc .) . Su põe -se
bem co mo a instalação da e nce nação. ag rupar. e de poi s ana lisar, o co nj unto da s pe rfor-

302 303
PR ATI CÁ V EL P RES EN Ç ;>

qu e a neutra lidade da pal av ra sir va para preveni r di vis ão do text o d ram áti co e m d iál ogos dá, de iní - o texto ace ite um a e ncenaç ão prefer enc ialm ente " o o bje tivo final da m ím ic a [n ão é ] o vis ual, mas
co ntra a idea lizaç ão dos pro cessos da "c riação" cio, uma visão ao mesm o tem po d ramát ica * (co n - à o utra . não há um te xto , e m si , ence ná ve l o u a pr esen ça , isto é, o momento do pre sente teatral.
" po i ética" (PASSERON. 1996). salientando-se o fl ito de falas) e teatra l" (oposiç ão e visualização não . teatral o u não . O qu e há são hipót eses dr a- O visual é só me io , não um fim " ( 1959 ; 73) e,
fa zer coletivo dos c nunc iadorcs da cena. Nada das font es do di scurso ). To da a ence nação levará mat úr gica s e cê nic as co nc re tas q ue quest ion am se g undo E. DECROUX, "a mími c a só produ z pre-
mais a ver co m o gênero no rma tivo de um tr atad o necessar iamente isso e m co nta . M as a pré-en ce- se nças, que não são , e m ab soluto , signos co nve n-
o te xto e , ao pô-l o e m qu est ão , fazem -n o co n fes -
qu e. co mo La P ratiqu e du Th éãtre, de D' AU- nação é, na m aioria das vezes , legí vel - e, de fato, ciona is" ( 1963: 144 ). Finalmente , pa ra J . GRO-
sa r co isas in su sp eit ad as .
BIGNAC ( 1657 ), dit ava rcgras teóricas para o bom am iúde é ass im que o encc na dor procede no " rit- TOWSKl ( 197 1), a bu sca d a im pro visação deve
anda mento da prática teatr al. m o do discurso o u do mo vi m en to, o u pela mu- te r por met a reen contrar na ges tua lidade rastros
(\.') . Texlo c cena, encen ação, roteiro, texto drarn á-
dança ou pel a inten sifi cação do tom ou de seus ~ _ t co . de im pul sos univer sais e arquet ípicos , dc raízes
C'i Dialética. h is tori c iza ç ão , realidade representa. mod os" (STYAN, 1967 ; 3) . O s e le me ntos rítmi - m íticas seme lhantes aos arquétipos junguianos.
~ . da. produção teatral. teatro materialista. Hornby. 1977 ; Swi o ntek, 1990. 1993; Vinaver, Es ta presença ta mbé m é o grande desafio dos teó-
cos d o text o são a " medida do va lor cê nico da
peç a" (ib id.). Por o utro lad o, toda a teoria brech - 1993. rico s c ol ocados d iante d e um mi stério in ex -,
tia n a do ges tus r se base ia na noção de um a atitu- pli c ável . " Nem sempre e la existe através das c a-
PRATI CÁVEL de gcstual do dramaturgo j á inse rida no texto a ract er íst icas fí sicas do indi v íduo , precisa J.· P.

-e praticable ; Ingl.: practicable; AI.; Podes t,


FI. ;
Pratikabcl; Esp.: praticablc.
se r pro ferido, atitude essa qu e se traduz por meio
d e det er min ado tipo de leitur a e en cen ação.
PREFÁCIO RYNGAERT, mas so b forma d e um a energia irra -
di ant e, cujos efeitos se nti mo s a ntes mesm o que o
:'\. Fr.: pr éfa cc ; ln gl .: p refa ce ; AI.; Vor",o rt; Esp .: at or tenh a agi do ou tomado a pal avra, no vigor de
2. Outros pe squ isado res c he ga m a pre ssupor a 't.: prefacio. seu es ta r ali" ( 198 5; 29 ).
Parte do cen ário constitu ída por objetos reais Tal presen ça é perturbadora. Eu geni o BAR-
existência, no text o , de " ma triz es textuais de
ou sólidos que é utilizada em seu uso norm al, par- Texto escrito pelo autor, que precede a edição BA e Moriaki WATANABE fazem dela a contra-
representatividade" e de "núcl eos de teatralidade"
ticularmen te para nele se apoiar, caminhar e evo- da peça. Com freqü ên ci a, o prefácio consiste em dição e o oxím oro do ator; "Ser marcadamente
(UBERSFELD, 1977a : 20) e at é mesmo de uma
luir como em um plano cênico firme. "virtualidade cêni ca co no tada no texto" e assu- uma nota introdut ária" qu e serve para se justifi- pr e sente e , no e nta nto , nada apresentar, é, pa ra
O praticável, hoje, é empregado com muita Ire- mida na seq üênci a pe la " metali ngu agem do reali- ca r (CORNEILLE) para ga ra nt ir q ue não foi toma- um ator, um ox ímo ro , uma verdadeira contradi -
q üência não co mo objeto decor ativo, mas funcio- za do r, do ato r, do e nce na do r e tc. " (SERPIERI, da ex cessiva lib erdade e m rel ação à história (RA- ção , [...] o ator de pur a pre sença [é um] ator repre-
nal. Tomou -se e leme nto ativo do cenário co mo 19 77 , também GULLI-PLJGLlAT I, 19 76 ). Tal con - CINE) o u, ao contrári o, pa ra suge rir a novidade se nta ndo sua pró pria au sên cia" (Bouffo nne ries,
máq uina cênica o u m áquin a teatral ' . ce pção pressup õe a d istin ção ra d ical entre texto de um gê ne ro ( BEAUMARCHAIS e se u E nsaio 19 82 , n. 4 ; 11).
dr am áti co e o utros texto s (poe ma . ro mance ctc.) So b re" Gênero Dramático Sé rio ( 1767 ); HUGO
G Dispositivo cê nico. área de atua ção , ce n ário , e m razão da presença e da po lifo nia de seus enun- e seu pref ácio a C rom we ll, lançando, em 1827 . o 2. Presença da Ce na
- 'Q. cenografia .
e iadores . In feli zm ente , estas teo rias rara me nte movime nto rom ânti co ).
prec isam co mo e o nde a tcntral idadc se insere no Tod as essas aproxi mações tê m em co mum um a
tex to. Seria unifi cadora a au sên ci a de suj eito ideo - co ncepção idea lis ta. mí sti ca até , do trabalho do
PR ÁXI S lógi c o? E a parte das ind icaç ões cén icas" , do ce- PRESENÇ A ator, Perpetu am, se m ex p licá-lo, o mito do j ogo
n ário ve rbal > o u das no taç ões pr o x êmi ca s entre sag rado, ritual e inde finí ve l do ator. Tocam. po-
Na Poét ica de ARISTÓTELES, a praxis é a os atores que o texto suge re? So me nte J. VEL- ~ Fr.: p résence ; In gl. : p rcscnc e ; AI. : Priisenz ; rém , inco ntestavelme nte , num aspecto fund amen -
areio ' das per son agen s. ação essa que se mani- TR USK)' fala de mo vim ent os cê nicos qu e são "as 't.: Esp. : pres enc ia . tal da expe riên cia teatr al.
festa na cadeia dos aco ntecimentos o u fáb ula '. tran sp osições das sig nifica ç ões ve icu ladas pelas Sem penetr ar totalmente no " m istério" do ato r
O drama é defini do como a imitaç ão " desta ação no tas do au to r, ob servações e co me ntários " e são "Ter presença" , é, no jarg ão teatral, sa be r cati- dotad o de presença , um a apree nsã o se miológi ca
(mimese* da prá xis). "chamados d iretamente c. po rtanto . predete rmi- var a atenç ão do públi co e im po r-se; é, també m, do prob lema red uz, e ntre ta nto, o fen ômen o a pro-
nados pel o di ál ogo" ( 194 I ; 139 e 19 76; 100 ). ser dota do de Ulll " q uê " q ue provoca im ediata- po rções mais adeq uadas, de spidas, seja co mo fo r,
Co nce pção bastante di scu tíve l um a vez que 10 _ ment e a identificação " do es pec tado r. dand o-lh e de qu alq uer halo de mi sti ci smo. A presença se rá
PRÉ- EN CEN A ç Ã O go ce ntrista, porém pos ição típi ca da mai or parte a impre ssão de vive r e m o utro lugar, num eterno aí defin ida co mo co lisão d o aco ntecim ento " so-
cial do j ogo teatral com a ficçã o da per sonagem e
-e Fr.;
dos teóri cos que dão a impressão de confundir presente.
pr é ~/lise en scénc; Ingl.: pre-performancc; text o dramático e texto espetac ul ar (tca tra lidadc). d a fábul a. O enc o ntro do acontecim ent o co m a
AI.: Vorlll szcnie r ung ; Esp.: pre-puesta en eSCf ll(l. I . A Presença d o Co rpo ficção - qu e é a própria cara cte rística do teatr o -
3. Mais do que proc urar no te xto e e m sua pré- produz um efe ito de dupla visão; tem os diante de
/ . Hip ótese seg undo a qual o texto dramatúrgico encenação a fonte e a gara ntia da " bo a e única" en- Segundo a opini ão co rrente entre a gente de nós um ator X estereo tipando Y e este Y, pcr so-
já cont er ia, de maneira mais ou menos exp lícita, cenação - posi ção q ue eq ui val e a fetichizar o teatro, a presenç a se ria o be m supremo a ser pos- na gc m fictíc ia (de nega ç ão " ).
indi cações para a real ização de sua encenação tex to e a fazer dele um a g ara nt ia d e um a suposta suído pelo ator e se ntido pe lo espec tado r. A pre- M ais do que de pres ença do ator, poder-se-i a
"id eal". En treta nto, tai s indi cações variam consi- boa e ncenação - é pre fer ível ten tar , so bre o tex- sença estaria ligada a uma co municação co rpo ra l fal ar do p resente co n tín u o da cen a e de s ua
der avel men te em natureza e impo rtâ ncia, confor- to , v árias o pções cê nica s , e co ns tatar qu e leitu ra "dir eta" com o ator q ue es tá se ndo objeto de per - en un ci ação. Tu do o qu e é representado o é efeti-
me os autores. Pode-se ad mitir facilm ente que a ou rc lci tura do texto se se g ue m a ist o. Não é q ue ce pção . Desse m odo , se gundo J.-L. BARRAULT. va mente em re lação à situação con cr et a dos locu -

30 -/ 3 05
PROGRAM

tores (dêixis*, ostensãor v. Cada ator anima o eu mos dele, seu caráter artificial e construído. Os são transformadora do homem "em processo", pulação, para informar sobre a representação. Os
de sua personagem, que é confrontada com as formalistas russos (CHKLOVSKI, TYNIANOV, pressupõe um esquema glohal dos movimentos programas propriamente ditos, oferecidos ou
outras (os til, você). A fim de constituir-sc em ell, EIKHENBAUM) sublinharam a importância do psicológicos e sociais, um conjunto de regras de vendidos ao público antes do espetáculo, datam
ela deve apelar para um til, você, ao qual empres- procedimento artístico para a sirnbolização da obra transformação, e de interação: eis por que esse do final do século XIX. Sua forma e conteúdo
tamos, por identificação (isto é, por idcntidadc de arte: "Denominaremos objeto estético, no sen- conceito é empregado sobretudo numa drama- variam muito de país para país. Mesmo durante
de visão), nosso próprio etl. O que cncontramos tido próprio da palavra, os objetos criados com O turgia aberta, dialética e até mesmo marxista (P. os últimos trinta anos, sua função evoluiu cons-
no corpo * do ator presente nada mais é que nos- auxílio de procedimentos particulares cuja finali- WEISS, B. BRECHT). tantemente e, hoje em dia, encontram-se exem-
so próprio corpo: daí nossa perturbação e nosso
dade é garantir, por esses objetos, uma percepção plos tão variados quantos são os teatros.
fascínio diante dessa presença ao mesmo tempo
estranha e familiar.
estética" (CIIKLOVSKI, in TODOROV, 1965: 78). €:I Reprodução, dramaturgia, ação, realidade rc- Fundamentalmente, presume-se que o progra-
~ prcscntada, prática significante. ma deva informar o público sobre o nome dos auto-
2. Uma dramaturgia e uma encenação que não res, do enccnador; às vezes, dá um resumo da
Bazin, 1959, vol. 2: 90-92; Strasberg, 1969;
escondem os procedimentos de construção e de L:LJ. DOrl, 1960; Wekwcrth, 1974; Knop~, 1980. ação; os encartes publicitários propiciam ao tea-
Q Chaikin, 1972; Cole, 1975; Bernard, 1976;
funcionamento teatral renunciam à ilusão e à tro um ganho suplementar, nem que seja para sua
States, 1983; Barba, 1993.
identificação com a cena. Elas restabelecem "a impressão... Quem não tem saudade daquele pa-
realidade do teatro como teatro", o que, para PRODUÇÃO TEATRAL pei brilhante, com propagandas de marcas dc per-
BRECHT, é "a condição prévia para que possa fumes, fotos de estrelas elegantemente vestidas e
PRÉ-TEATRO :"\. Fr. production théàtrale; Ingl . theatrical todo o cerimonial mundano do teatro burguês?
haver reproduções realistas da vida em comum
dos homens" (1972: 246). O procedimento ad- 't.; p roduction; AI. Theat erproduktion; Esp.:
:"\. Fr.: pré-thé ãtre ; Ingl.: pre-theatre: AI.: producciôn teatral.
't.; Urtheater; Esp.: pre-teatro,
quire então o estatuto de trabalho significante, 2. Programação do Olhar
trabalho este efetuado com base em sistemas
cênicos que não são um reflexo da realidade, mas O inglês production tomado como encenação", Os programas dos teatros oficiais e dos gru-
Termo usado por André SCHAEFFNER (in realização cênica, sugere bem o caráter construído
o local da produção dos processos artísticos e pos experimentais têm uma imagem completa-
DUMUR, 1965: 53) para agrupar as práticas es- e concreto do trabalho teatral" que precede a rea-
sociais. A afixação do procedimento e o efeito mente diferente. Contêm reflexões do enccnador
petaculares em todos os contextos culturais, nota- lização de todo espetáculo. Às vezes se fala de
de ruptura da ilusão serão realizados todas as ou do dramaturgo, expõem grandes excertos de
damente nas chamadas (antigarncnte) socieda- produção do sentido ou de produti vidade d~ cena
vezes que o teatro se apresentar como produção textos críticos ou literários que pretendem tomar
des primitivas. SCHAEFFNER precisa bem que para indicar a atividade conjunta dos artesaos ou
material de signos pela equipe de realização: mais claras as opções da encenação. Todo um dis-
não se trata "em absoluto do teatro antes do teatro, executores dos espetáculos (do autor> ao ator) e
nesse tipo de teatro materialista (formas popula- curso sobre a encenação é assim fornecido à mar-
historicamente falando" (27), mas sua noção arris- do público (recepçâo*). A produção do sentido
res, circo, realismo» brechtiano etc.), o trabalho gem do espetáculo, com o texto da peça, as notas
ca-se a sugerir que tais formas ainda não atingiram não termina, de modo algum, com o final da peça;
de preparação e de produção da ilusão, os basti- de encenação e uma verdadeira paráfrase do tra-
a perfeição da tradição grega e européia, ou que prolonga-se na consciência do espectador e sof:e
dores da maquinaria textual e cênica serão sem- balho cênico. Apesar do interesse desse aparato
são uma realização incompleta daquela, A etno- transformações e interpretações que a evoluçao
pre claramente percebidos pelo espectador. crítico, é muito grande o perigo de programar a
ccnologia», hojc, prefere falar em performances de seu ponto de vista dentro da realidade social
A declamação» ritmada do alexandrino, a mu- visão e dizer verbalmente aquilo que o especta-
culturais: práticas culturais e/ou espetaculares. exige e produz.
dança do cenário à vista do espectador, a "entra- dor deveria sentir unicamente a partir da encena-
Aborda essas práticas com o olhar rclativizante da
da" progressiva do ator em seu papel são alguns ção, uma vez que falseia o jogo e estraga o prazer.
etnologia, concordando aqui com SCHAEFFNER, I No Brasil, o termo produção teatral engloba to-
dos procedimentos teatrais assumidos aberta- É necessário ler tais libelos antes da represen-
para qucm "o caminho mais direto de um teatro a - (~ dos os procedimentos adotados para o levanta-
mente. tação? Por conta disso, a percepção será modifi-
outro, será descoberto mais facilmente pclo etnó- mento material do espetáculo, abrangendo custos (a
produção propriamente dita) e aoper~cinlzçã da cada até mesmo empobrecida, mas também pode
logo do que pelo historiador" (27). Meierhold, 1963; Erlich, 1969; Matejka, encenação (contratação c administração de pessoal ar- ocor;er que, privado desse discurso de apoio, fal-
Cr:::l 1976a. 1976b; Mukarovsky, 1977, 1978. tístico e técnico, aquisição de materiais etc.). (N. de T) te ao público a tática ou a agudeza da encenação.
~. Antropologia teatral.
A citação ou o conjunto dos textos colocados em
exergo são, por vezes, o intertexto indispensável
PROCESSO TEATRAL PROGRAMA à compreensão da encenação: quem não houves-
PR OCED IMENTO se lido a citação de Giscard d'Estaing que abria o

e Fr procédé: Ingl devicc, proccdure: AI.:


Verfahrcn; Esp : proccdimiennr
Fr.: proccssus theâtral; Ingl.: theatrical process;
AI.: Thcat ervorgang; Esp.: proceso teatral.
....... Fr. progratnnic; Ingl.: I'rogralll; AI.: Pro-
't.;•. eranunheft; Esp progatna.
programa de Britannicus encenado por La Sala-
mandre, por exemplo, correria o perigo dc passar
ao largo do tom irônico e zombeteiro da interpre-
As ações ou acontecimentos encenados são 1. Metamorfoses do Programa tação cênica. A cavaleiro entre a análise drama-
I. O procedimento teatral é uma técnica * de cn- processos quando se mostra seu caráter dialético, türgica e a encenação, tal programa explode os
cerração, de jogo cênico ou de escritura dramáti- o perpétuo movimento e a dependência de fatos O programa, tal como conhecemos hoje, é limites entre o texto drarnatúrgico e sua encena-
ca da qual o artista se serve para elaborar o obje- anteriores ou exteriores. Processo opõe-se a esta- uma invenção bem recente. Desde o século XVI, ção. Os programas de certos teatros - excelentes,
to estético e que conserva, na percepção que te- do ou a situaçâo fixada; é o corolário de uma vi- às vezes se distribuem volantes, até mesmo à po- na maior parte das vezes - como os de Bochurn,

306 307
PR OJ E Ç Ã O PR O S Ó D t A

Stuttgart ou Stra sb urgo , ass ume m prop orçõe s As proje ções resp ondem a tod as as funç õe s espe ci al. poi s se pr est a ao j o go das aprese nta ções co m panhia. seu estilo. eng aja me nto , estado finan -
li vrescas, co nstitui ndo-se e m dossiês bastant e d ramauirgicas imagin ávei s: efeitos de arnb iência qu e qu ebram a ilu são e a mod ali zaç ão das narra- ce iro etc . O pról ogo é ess enc ialme nte um discurso
co mpletos da obra represent ada. São verd adeiro s de distanci amento obt id o atravé s de palavras: ti vas " encaixadas " . mi sto (realid ade/ficção, descri ção /a ção, seriedade/
núm eros especi ais de revi sta e alguns teatros as- quadros ou ilustrações, co nfro nto do real com o lúdico ctc.) , Faz sempre o papel de mcralin guagern.
sumem a ediç ão de uma revista da casa que ilustra imaginário; visualização de um det alh e da atua - de inte rve n ção crítica antes d o c /l O es petáculo.
2. Funções desse Tipo de Discurso
e co menta abundantemente o espetáculo. Algun s ção filmado ao vivo, aume ntado e transmitido por
o esc-.. nor..",""s. co nsc ientes do perigo de sugestãode-
telões : 011 ~ i r n r l e B o:'t C"l a ~3 u recu ot o g tca, IngC- Sem pretend er resumir as inúmeras funções dos r.:.J . E!'íl ogo, exposição , di scurso , diri gir -se ao pú-
ma siad o livr es ca, limitam-se a citar outros textos
nu a, ali ás, um a vez qu e não é pel o fat o de a tele - prólogos na e volução da s formas teatrai s, dest a- ' -" bilL U .
do aut or ou o utras o bra s qu e esclareçam seu tra-
visã o ser a co res que é pós-moderna ... ca re mos ao men os a lgu ns pr incíp ios est ruturais
ba lho de man eira interte xtu al e indiquem qual o rr..... Euci cloped ia del/o Sp e ttaco lo (ve rbe te " Pró-
co muns a tod os:
percurso do s exec uta nt e s durante os en saios t.d.,,), logo" ), 1954.
(como VITEZ, LASSALLE o u STEIN).
PRÓLOGO a. Integração lia seqiiência
Este discurso é sempre ba stante rev cl ad or de
um a estratégia , de um desej o hermen êuti ca ou Integra- se perfeitamente à peça , est á à frente PROSÓDIA
~ (Do grego prologos, d iscurso que vem antes.) del a e é sua apr esentaç ão o u ao contrári o, co nsti-
de uma ima gem de si pr óprio, mas é preciso evi-
Fr.: prologue ; Ingl. : prologue ; A I.: Prolo g ;
tar tent ar torn á-l o s im ilar ao di scurso da ence - tui-se num esp etácu lo a utô no mo , urna espécie de (Do grego prosodia , acento c qualidade da pro-
Esp .: prólogo. ~
na ção tal co mo o pró prio es pecta do r o rec ebe e intermédio >': ou co rti na ". núncia.)
produ z. O progr am a nã o é u ma pala vra do evan- Part e que ante ced e a peça pro pri am ent e dit a FI.: p ro sod ie; Ingl.: p rosod y; AI. : Prosodie ; Esp.:
ge lho: certo dramaturgo qu e, co mo Dani el BES- (e, portanto, distinta da exp os içã o ' ) na qual um
b. Mu danç as de p ersp ectiva pro so dia.
NEIiARD, pretendia, no papel, "respeitar as am- ator - às vezes também o diretor do teatro ou o O espectador, eolocado a par da ação pelo
bigüidades mar ivauxianas, fazia -as entrar na nota anunciador, vi ve a ação dramática em dois ní- Acento vocálico na d icção de um verso e na
organizador do espetáculo - dirige-se diretamen-
a um a encenação (da D ou bl e lnconstance, por vei s: seg uind o o fio da fábul a, " sobrevoa ndo" e es tru tura rítm ica utili zad a para val ori zar o text o,
te ao público para lhe dar boas- vindas e anunciar
Mi ch el OUBOIS) q ue não prima va pelas nuances . a nte cipando a aç ão : e stá ao mesm o tempo den - regras de qu antidade de s ílabas, part icul armcnte
alguns tem as impo rta ntes, co mo o in íc io da fun-
Ultrapa ssand o a fun ção de simples co nvo cação tro e acima da pe ça e , g ra ça s a cs sa mud an ça de a a lte rn ância das sílabas bre ves c lon gas em fun-
çã o, forn ecen do-lhe dad os co nside ra dos necessá-
para a de in form ação e dep o is, de publi c idade, o per spectiva, id entifi c a- se, tom and o a de vida d is- ção da métr ica do verso . E m lin gü ísti ca, prosód ia
rios à boa co mpree nsão da peça. Trata- se de um a
progr ama corr e o peri go de reverbali zar o tea- es péc ie de "pr efácio" da peça, no qu al só é co rre - tân c ia às ve ze s nece ssária . Q ua ndo o pr ólogo é o " es tudo dos traços tô nico s q ue. nas d iferentes
tro, desviar o es pectado r de sua pul são esc ópica , anuncia a sa ída da ação, di z-se qu e a técn ic a é lín guas, afeta m se q üê nc ias c uj o s limites não
to falar ao públi co de a lgo que es teja fora da in-
par a col ocá-l o no vamente na posição de um lei- a na litica ": tud o de corre d a prop osi ç ão final co rrcspondcm à dccup agcm da ca deia falad a em
tri ga e sej a do interesse d o poeta e da própria peça .
tor que não se deixa cnvol ver pela cen a. anunciada no iníci o e a peç a é uma reconstituição fo ne mas" (DUBOIS et al ., D icion ário til' Lingüísti -
de um episódio ' pa ssado. ca, p. 39 8). Trata-se da ap ree nsão dos fonema s que
I . Metamorfose e Permanência do
esca pam ao quadro fone mático e qu e se situam além
PROJEÇÃO Prólo go
c. Discurso int ermedi ário da organização em fone mas, especialme nte o acen-
O pról ogo gara nte a "s ua vidade" da passagem to din âmi co c tônico. ;1 duraç ão da emissão . sua
Em sua orige m, o pró lo go e ra a primeir a parte
~ FI.: proj ection: Ingl.: : 1 ~ D j c cli ol : AI.: Über- altura, timbre de inten sidade d os so ns.
da ação antes da prim eira a pa rição do co ro (Po é- da realid ade soc ial da plat é ia para a ficção da cena .
tragung: Esp.: pr oyeccum . A qu alid ade prosódi ca do text o d ram ático de -
ti ca de ARISTÓTELES, 1452b). Em se guida, foi Intr odu z pou co a pou co o es pe ctador na peça , tan -
to au tenticando o universo ficc iona l qu e vai se r pende do desenh o mel ódi co qu e se pod e encon-
Qu ando se proj etam em ce na texto s, imagens transformado (por EURípID ES) em mon ólogo qu e
apr esentado, qu anto introdu zindo o j ogo teatral trar à sua leitura: da ver sificação e suj eições à
fix as, filmes ou vídeos, injet a- se no corp o vivo e ex punha a ação. Na Idad e Média, en contramo-lo
por patamares . S ua ficção é, portanto, o ra ve ros- mé trica, mas também da maneira pel a qual o ato r
presente da repr esentação materi ais sob forma de co mo exposição do pra ecurs or, espéci e dc mes-
sí mi l, ora lúdi ca «f os d iálogos entre diretor, autor utiliza sua prese nça c corpo a fim de ritrnar o te x-
im agen s. Disto resulta um ru ído no regim e da re- tre-de-cerim ônias e en cen ador "a vant la lettre",
e ato r no " Pró logo ao cé u" do Fau sto de GOE- to , fazê-lo respirar, aco m pan har sua e m iss ão co m
pr esenr a ção . pre s en ça co r po ra l e dupl icação O teatro clássico (francê s e a le mão) recorreu a
THE). É um mod o de ultrap assar os limit es da obra fi guras gcstuais, ressalta r e oc ultar part es do te x-
medi át ica o põ em -se , de im edi ato , irredutivel- el e a fim de ga rantir os favor es do príncip e o u dar
e iron izar sua fe itura ('l I/ad ro') . 10. valor izar a lite rações , eco s, repeti ções e tod a a
ment e. Desde os primórdios do cinema, projet a- um a rápida idéia da missão da arte o u do trabalho
re tó rica da declamação ", A e nc e nação , es pec ia l-
ram- se em ce na fragmentos de filme s; as primei- te atral (cf. MOLlERE em O Impr oviso de Ih sa -
d. Modalimç ão m ent e do texto cl ássi co em verso, pa ssa por ex -
ras utilizações, co m clara funç ão dramat úrgica, lhe s ). Tend e a desaparecer a partir do momento
perimentações de sua pro sódia c ritm os possívei s,
en contram-se na encenação do Livro de Cristó- qu e a cena se dá como a pre se ntação realista de O prólogo dá O tom da peça por an alogia ou
por part e do ato r. Colocar os sons j á é fixar () sen-
vão Colombo, de Paul CLA UOEL (1927 ) e nas u m acontec imento vero ssí mil, já que é se ntido por co ntraste . Apresenta as difer entes cam ada s do
texto o u da rep re sentação , man ipul a o espectador tid o ou os se ntidos q ue o es pec tado r receb er á .
ence naçõ es engaj ad as de PISCATOR, BRECHT e co mo enquadramento qu e torna nã o real ista a fic-
influen ci and o-o d iret ament e, prop ond o um mo- Dicção " e ges tualidadc" es tão intimam ente lig a-
NEIlE R, nos an os vinte. Mas, APPIA, desde 1891 , ç ão teatr al. Ressurgiu com os dramaturgos expres-
del o de rece p ção m ai s o u me nos cl aro. Ele con- das pel a estrutura rítmi ca ' , pel a cntorrnação da
j á utilizava proj eção da so mbra de um cipreste sio nistas (WEDEKINO) o u é picos ( BRECHT). As
tém , em se u uso atua l, tod o um di scur so so bre a m at éri a verba l c gestual.
em um cenário ab stra to e mineral. pesquisas teatr ais atuais a precia m-no de mane ira

JOS ,l() 'J


PSI C ODRA~I A
PR OTA G ONI STA

cas e ntre os at ores influi na leitura do texto (na Q:J, Lan ga ges , 1968; K. Scherer, 1970; Schcch ncr,
PROTAGONISTA turação do espaço humano : tipo de esp aço , dist ân-
1973a , 1977 ; Cosni c r, 1977 ; Pavi s, 1981,, ;
cia s observadas entre as pessoas, organização do cn unciação r ) c e m sua recep ção ; um me smo
e (Do g rego p rôt os , primeiro c agonizcsthu i,
cornbatc r.)
habitat , estrutura ção do es paço de um edifício ou
de um cô modo . HALL di stin gue:
aut or se rá assim recon stituído proxc mi cant entc
por vá rias e nce naç ões: isto pôd e se r visto recen -
Sarra zac ct al., 198 1.

Fr.: p m tagoniste; Ingl. : protu goni st ; AI.: Pro - tem ente nas e ncena ções de RACINE de A. VITEZ ,
- espaço fixo ("fixcd-fe(/lIfrC space' "; ou es paço PSICODRAMA
ta go nist; Esp.: p rotagonista . M. HERMO N; l .-C. FALL o u GRÜUER, qu e inven-
arquitetôni co ;

Para os antigos gregos, protagoni sta era o ator


- espaço semifixo ("sellli-fixed fe atllre space") ou
espaço da disp osição dos objetos num local ;
tam, a ca d a vez, um ri goro so códi go de di st ân-
c ias e mo vimento s. O teatr o reúne num palc o e Fr.: psychodra ll:c; Ingl.: psychodrama ; A!.:
que fazia o papel principal. O ator que fazia o se- pessoas qu e " norm almente" não se enco ntra riam; Psvchod rama ; Esp.: p sicodrama .
- espaço informal (" info rma l space" ) ou espa ço
gundo se cha ma va deuteragonista e o terceiro iconi za e mo stra suas relações soci ais de m anci-
interpessoal. A s rel aç ões entre os indivíduos se T é cn ic a d e sen vol vid a por L-L. MORENO
tritagon ista. Hi storicamente surgiram . na ordem: o ra co nc re ta : no m odo de o lhar, de o uvi r, de falar,
definem em quatro cate gori as principais: íntima s de se repelirem, se tocarem . Seu s pe rc ursos e ( 1892- 1974) no s a nos vinte , a part ir da improvi -
coro, dep oi s o prota gcnisra (com TÉSPlS), a segui r
(menos de 50 em ), pessoais (50 em a 1,50 m), trajetórias se in scr evem no espa ço cê nic o. Às sação teatral (PsycllOd ra lllll Monographs , 1944-
o deuteragoni sta (co m ÉSQUILO) e finalm ente o
socioconsulti vas ( 1,50 m a 3,50 m), públi cas (até vezes, o cn ccnador figur a as sim se u itinerári o
tritagoni sta (co m SÓFOCLES, Antagoni sto rv: 1954). Psiqui at ra e m Vi ena, depois nos Estad o s
onde a voz alcan çar ). privado, so c ia l ou in con sci ent e, a traj et ória de-
Atualmente , co stuma-se referir aos prot agonis- Unidos desd e 19 25, MORENO, ao estudar as re -
tas co mo personagens prin cipai s de uma peça . os Propõe-se co nside ra r o co m po rta mento pro x ê- lcs, o desenho deles , se inscr ev e como um de se- laçõ es a fetivas e a dinâm ica de grupo, c rio u o
que estão no centro da ação* e dos confl itos ' . mico dos indivíduos em fun ção das oito varian- nho no palco, co mo umapartit/lm * qu e el es são teatro imp rovi sad o (S tcg re if th ea te r), no qual
tes seguintes: os únicos a escrever e a decifrar corretamente. cada ator improvi sa se u papel. Essa tentati va de
- postura corporal g lobal (e m função do sexo); O per curso da personagem (VITEZl e stá in scrito
reforma te atr al fe z com que descobris s e o
PROVÉRBIO DRAMÁTICO - ângulo de orientação dos parceiros; no seu movimento e seu desenho no chão .
psicodrama, "ciência que explora a verdade por

e
- distância corporal definida pelo braço; meio de métodos dr amáticos". O psicodrama é
Fr.: p roverbe d ramatique; Ingl. : dra ma tic - contato corporal de acor do co m forma e intcn- 3. Programa para uma Próxima Proxêmica uma técnic a de inv estigação psicológica e psi-
proverb; A!.: dmmatisches Sprichwort; Esp.: sidade;
canalítica qu e procu ra analisar conflitos interi ores
pro vcrbi o dramático. - troca de olhares; Aproximando a met od ol ogi a da pro xêmica
fazendo com qu e al gun s protagonistas interpre -
- sensações de cal or ; co m os estudos do ritmo " e da enunc iação cê n i-
tem um roteiro im pro vi sado a partir de determi-
Gên ero literário extraído de um j ogo de salão - percepções olfativas; ca *, poder-s e-ia propor o seguinte programa:
que con sistia em ilustrar, através de um sai nete nada s se nhas. A hipót e se que se co nfig ura é a
- intensidade d a voz .
improvisad o, um pro vérbi o que o públi co deve - Medida e le vantamento das di stân cias ent re os
li .
de qu e, mai s do qu e na palavra, é na açã o e na
ria rec onh ec er. Mad am e de MAINTENON escre- locut ore s , tra çad o de suas evoluções, av a liações atu aç ão qu e os co n fl itos recalcados , as dificul-
2. Proxêmica Tealral
veu alguns para se us pen sioni sta s de Sai nt-Cyr, de se us ritmos. dad es das rel a ções int erpe ssoai s e os e rros d e
CARMONTELLE publ icou uma coletân ea deles em jul gam ent o são passíve is de se rev el arem co m
Essas categori as aplica das ao teatro permiti-
176 8. No séc ulo XIX, Henri de LATOUCHE, riam obs ervar qu e tip o de espaço ( fi xo/m óve l) a h. Im br icaçã o dos es paços nos qu ais o ator es tá maior nitidez .
Octave FEUILLET e sobretudo MUSSET aperfe i- encenação esco lhe, co mo e la cod ifica as di stân - envo lvido (esp a ço " , qu esti on ário" ). O psicod ram a permit e , so bre tudo à criança.
çoaram o gê ne ro . (Nã o se brinca co m o Amo r; É cias entre os ac tantes, e nt re os atores e os o bjet os re viver seus co nfli to s , dando-lhe a opo rtunida de ,
preciso qlle lima Porta es tej a Abert a 0 11 Fecha- ou entre palco e platéia. Enq ua nto mim cse da c. Formalização da situação de e nunc iaç ão (o lhar. no seio de uma eq uipe de dois ou três terapeutas.
da ); Hoj e em dia o gê nero só subsiste sob forma interação social. o teat ro rep roduz ess as leis es- di stân cia , m odalidade do d iscurso. co m unicação de fazer co méd ia, d is trib uir papéis , improvi sar
lúdica e paródi ca. Vários títulos co nsev am a for - pac iais e cada mud an ça dos có d igos é significa nte. não -verb al, enton ação, insc rição do discurso no uma históri a (cf. D . ANZIEU, Lc Psych od ram c
ma de uma adi vinhação ou sentença mor al ou fi- Ma is ainda que a ob servação dos es paços repro- es paço e do esp aço no di scur so ). Affe ct if che; I ' EI/f lll/t ).
losófi ca : The lmportance of Being Eannest, de du zidos em cena, a proxêmi ca pod eria avaliar qu e O psicodram a, técnica terapêutica, diferen cia-
WILDE; A Ex ceção e a Regra, de BRECIIT; as distância (psi col óg ica/simból ica e não pur amen- d. Percursos " do ator co mpa rados co m os do es-
se tant o da catarse" ari stot éli ca como da peça psi-
co médias c provérbios do cine asta Eric ROIlMER. te geométrica ) se pa ra ria o palc o da plat éia, como pectador.
co lóg ica e do teatro da c rue lda de de ARTAUD.
a encenação escolhe ap ro ximar ou distanciar pla- Nel e, não se dev e procurar imitar uma aç ão, um a
téia e palco, e para qu e fin s estét icos e ideológi- e. Arquitetura dos olha res ' e dos co rpos do s
vez que a rela ç ão humana é tanto mai s autê ntica
PROXÊMICA cos seria feita a escolha. Ver-se-ia como o gesto, atores, produção da enuncia ção cêni ca global a
partir das enunciaçõe s individuai s do s di versos quanto men o s mimética.
a voz, a iluminação são capaz es de modular esta
siste mas significante s, daquilo qu e BRECHT de-
Fr. : proxémique; lngl.: proxeniic s ; AI. :
Proxemik; Esp.: proxémica.
distância e criar efeitos de se ntido.
nominava g cstus de ent rega.
c'
~ . l ogo, jogo dramático, identificação, mirncse.
A encenação teatral o pta por um determina-
do tipo de relações esp aci ai s entre as persona- Moreno, 1965, 19X4; Ancelin-Schützenberger,
I. A Medida do Espaço f Inserção da voz no es paço , S\ W rel açã o com os
gens/atores em fun çã o de sua psicologia, status
espe ctadores (em fun ção do ato r e do lugar do
W 1970; Frunchcuc , 1971; Flashar, 1974; Boal,
so cial, sexo etc . Cada est éti ca cênica possui um 1977,1 990.
Disciplina recent e de origem americana (IIALL, código proxêmi co implíeito e a maneira de vi- es pec tado r 110 es paço cenog rátlco l.
1959, 1966 ), a pro xêm ica estuda o modo de cstru- sual izá- lo a part ir da s rel açõe s es pac iais e rít mi -

3 10 3 11
Q
QUADRO (1) cena dramática. O quadro é "uma dispo sição [das]
personagens no palco , tão natural e ve rdadeira
-t} Fr.: tablea u; Ingl.: tableau; AI.: Tableau : Esp.: que , dad a fielmente por um pint or, ele me agra-
cuadro. dari a no quad ro [...] O espec tado r está no teat ro
co mo diante de uma tela onde os quadros dive r-
Unida de da peça do ponto de vista das gran- sos se sucederi am por encadea me nto [...] A pan-
des mudan ça de lugar, de ambiente ou de época . tom ima é um quadro que existia na im aginação
A ca da quad ro corres ponde, na maior parte do do poeta, q uando ele escrevia, e qu and o queri a
tem po, um cenário part icul ar. que o palco mostrasse a cada instante qu ando ela
é representad a" (DIDEROT, 1975: 110). Paralela-
1. At o/Quadro mente a es ta concepção épica da ação teatral, di-
ferentes dram aturgos subdivide m seus te xtos em
A estruturação em quadro s não se integra ao sis- cenas autôn o mas centr adas num tem a ou num a
tema ato r/ cena ", o qua l funciona mais no plano da situação (LENZ, GOETHE em Fausto ; no século
ação * e da entradar lsaida" das personagens. XIX, BÜCHNER, MUSSET ou HUGO; no século XX,
A referê ncia à pintura que o term o quadro im- WEDEKIND, BRECHTelc.).
plic a indica bem toda a diferença em relação ao
ato: quadro é uma unidad e espacial de ambiência; 3. Dramaturgia do Quadro
ele caracteriza um meio ou um a época; é uma uni-
dade temática e não-ac tancia l. Ao contrário, o ato O surgim ento do quadro está ligado àquele dos
é função de uma decupagem r narrat ológica estri- elemento s épicos no d rama : o dram aturgo não
ta, e não passa de um elo na cadeia actancial, ao e nfoca um a crise, ele deco mpõe um a duração,
passo que o quadro é uma superfície muito mais propõe um frag mento de um temp o descontínuo.
vas ta e de contorn os imp recisos que recobre um Ele não se interessa pelo lent o desenvol viment o,
universo épico de personagen s cujas relações bas- mas pel as rupturas da ação . O qu adro lhe forn e-
tante estáveis dão a ilusão de formar um afresco, ce o âmbi to necessári o a uma inv estigação soci o-
um corpo de baile ou um qu ad ro vívo* . lógica ou a uma pintur a de gênero. Em vez do
moviment o dramático, ele esc olhe a fixaç ão fo-
2. Surg imento da Decupagem em Quadros tog ráfica de uma cena. Contemporâ nea da emer-
gê ncia da ence nação , a colocação em quad ro é,
É no século XV III que a es tética do quadro se na verdade , uma maneira de arra nja r visua l e glo-
co nstitui em relação com uma visão pictórica da balm ente a cena *.

3 13
QUADRO QUARTA PAREDE

Todavia, a ideologia subjacente a esta valori- tantíssimo saber como a realidade cênica é apre- 4. Ficção e Função do Quadro Encenação de um ou vários atores imóveis e
zação do quadro é muito variável. Para DIDEROT, sentada ao espectador, Os espaços de entrada e congelados numa pose expressiva que sugere uma
o quadro realizava uma síntese harmoniosa de saída dos atores materializam o limite entre o pal- estátua ou uma pintura.
Às vezes, a obra moderna se caracteriza pela
mobilidade, de concentração dramática e de ação: co e o exterior; daí a importância real e simbólica imprecisão de limites: onde começa, realmente,
"Um quadro bem composto é um todo fechado da porta no teatro. Do lugar aberto raciniano da 1. Já se encontra esta técnica na Idade Média e
a escultura moderna ou instalação" em seu lo-
sob um ponto de vista, onde as partes concorrem antecâmara, que garante a passagem entre o exte- no Renascimento, mas a moda e a "teorização"
cal de exposição'! Do mesmo modo, certos es-
para um mesmo fim e formam, por sua corres- remontam sobretudo ao século XVIII (C. BERTI-
rior e o lugar trágico, à verdadeira porta maciça petáculos (de inspiração "pirandclliana") emba-
pondência mútua, um conjunto tão real quanto NAZZI é considerado um dos inventores desta
dos naturalistas, a porta liga o espaço cênico e o ralham as pistas e aspiram abolir a ribalta. O
aquele dos membros num corpo animal" (art. prática cênica: ele compôs um quadro recons-
mundo exterior cuja emergência em cena ela fa- teatro "cerca-se", então, de "precauções", de
"Composição" da Encyclopédiev. Para BRECHT, tituindo a pintura de GREUZE, A Nubente da Al-
cilita ou emperra (teicoscopia*). quadros cada vez mais restritos que nos fazem
ao contrário, o quadro é um fragmento lípico, deia). Esta técnica passa a ser um gênero do qual
porém incompleto sem a perspectiva crítica e penetrar passo a passo ao cerne da ficção. Entre
2. Quadro da Ação os quadros materializados de maneira tão diver- DIDEROT, em Sobre a Poesia Dramática, fez-se
reestruturante do espectador: cada quadro forma advogado: Uépreciso pôr as figurasjuntas, apro-
um todo, não se projeta no seguinte; ele se encer- sa, é necessário levar em conta: o bairro onde
O texto e a cena situam mais ou menos concre- ximá-Ias ou dispersá-las, isolá-las ou agrupá-las,
ra brutalmente a partir do momento que ameaça está instalado o lugar teatral, a vizinhaça mais
tamente a ação, explicando-a ou sugerindo-a e extrair delas uma sucessão de quadros, todos
se "prender" a uma substãncia que vale por ela e próxima do teatro, o Izall de entrada com sua
compostos de maneira grande e verdadeira"
que não obriga à comparação com a seqüência. (meio*). A cenografia tem plenos poderes para exposição de documentos, sua ambientação, a
(1758; 110).
encerrar os atores em determinado lugar ou, ao platéia arrumada de acordo com a cenografia da
o Szondi, 1972b; Valdin, 1973; Barthes, 1973b. contrário, deixá-los produzir o espaço pelas con- peça, o programa que introduz o universo re-
2. O quadro vi vo inaugura uma dramaturgia que
venções de sua situação e de seus deslocamentos. presentado, as personagens "narradoras" que
descreve ambientes, apreendendo a vida em sua
anunciam o início do jogo, as que apresentam a
realidade cotidiana e dando um conjunto de ima-
QUADRO (2) 3. Enquadramento si mesmas etc. Todos esses quadros inauguram gens patéticas do homem com o auxílio de qua-
a história a ser contada; servem de transição entre dros de gênero. Supõe-se, como em GREUZE,
~ Fr.: cadre; Ingl.: frame; AI.: Rahmen; Esp.: A "implicação" do espectador naquilo que ele o mundo exterior e a peça a ser relatada; modalizam que a imobilidade contenha em germe o movi-
marco. vê e a distância crítica diante da cena são muito e filtram a matéria ficcional, como se ela sentisse mento e a expressão da interioridade. O quadro
variáveis. Ao variar a distância em relação à cena necessidade de tornar-se verossímil e colocar o pú- vivo se presta mais à evocação de situações" e
jO termo, nesta acepção, deve ser entendido (identificação * ou distãncia*), ao decidir sob que blico paulatinamente cm situação. condições" que àquela de ações e de caracteres.
~ corno âmbito e não deve ser confundido com ângulo o espetáculo deve ser visto, a encenação Certas peças fazem dele um uso sistemático
quadro*, divisão formal da peça. (N. de T.)
modifica incessantemente o enquadramento. Como 5. Ruptura do Quadro (DIDEROT, mas também GÓGOL, cujo Inspetor
na técnica cinematográfica do zoom, a ação é co- Geral, 1836, encerra-se pela imagem catastrófi-
o quadro da
representação teatral não é ape-
locada a maior ou menor distância, os detalhes são Querendo dar a ilusão de que não existe um ca e fixa das personagens esperando o inspetor
nas o tipo de cena ou de espaço cênico onde a
mascarados ou postos em primeiro plano. fosso entre arte e vida, a arte contemporânea, com de finanças). Mas é antes de tudo no trabalho de
peça ocorre; em sua maior acepção, é também o
conjunto de experiências e de expectativas» do A escritura dramática marca os limites formais, freqüência, esforçou-se para inventar formas em encenação que esta técnica do instantâneo é hoje
espectador, a situação da ficção representada. A às vezes por um mesmo motivo, no começo e no que o quadro fosse suprimido: Seis Personagens reutilizada. Certas encenações do teatro do co-
palavra quadro deve ser tomada do ponto de vis- fim da peça, dando a impressão de círculo que se ti Procura de um AlllOl; de PlRANDELLO, Afronta tidiano" ou do teatro de imagens" (LASSALE,
ta material (colocação do espetáculo na "caixa") fecha em si mesmo (TCHÉKHOV, PIRANDELLO ao Público, de P. HANDKE, O Preço da Revolta WENZEL, DEUTSCH, KROETZ) encerram cada
e do ponto de vista ahstrato (colocação da ação e todas as formas de teatro dentro do teatro *). no Mercado Negro, de D. DIMITRIADIS, Paradise seqüência por lima imobilização dos atores numa
em situação e em relevo). Em outros casos de mise en abvme"; distingue-se Now, do Living Theatre, os happcnings", o tea- atitude congelada, sugerindo por aí a influência
uma ação enquadrante, que apresenta dentro de tro de rua etc. do meio e o modo de abordagem desta drama-
1. Quadro Cênico si mesma uma ação enquadrada (como no caso turgia: por pequenos toques para eenas apenas
das narrativas "encaixadas"). Toda representação Acontecimento, narrativa, perspectiva, teatro entrevistos num lampejo de conseiência.
o acontecimento teatral- jogo dos atores, "co- consiste em enquadrar, por certo tempo, uma por- dentro do teatro, fechamento, decupagem.
locação do texto no espaço", disposição da pla- ção do mundo e em declarar o quadro significati-
téia etc. - é apresentado ao público de acordo com vo e artificial (ficcional). Tudo o que está dentro Goffman, 1959, 1974; Uspenski, 1972, 1975; QUARTA PAREDE
um modo adequado a cada encenação. Desde o do quadro adquire valor de signo exemplar ofe- W Bougnoux, 1982; Swiontek, 1990.
palco italiano, no qual nada pode sair do quadro recido à decifração do espectador. ~ Fr.: quatriéme tnur; Ingl.: [ourth wall; AI.:
"pictórico" da cena concebida corno quadro vi vo, A encenação enquadra um acontecimento: evi-
"l: vierte mmd; Esp.: cuarta parcd.
até a explosão total do espaço cênico, foram fei- dencia certos signos e exclui outros. Esse pro- QUADRO VIVO
Parede imaginária que separa o palco da pla-
tas todas as espécies de tentativas para redefinir o cesso de semiotização" traça o limite entre o vis-
~ Fr.: tableau vivant; Ingl.: tablcau vivant; AI.: téia. No teatro ilusionista" (ou naturalistas). o
quadro da ação teatral. Evidentemente, é impor- to e o escondido, entre o sentido e o não-sentido.
"l: lebrndcs Bild; Esp.: cuadro vivicnte. espectador assiste a uma ação que se supõe rolar

314 315
QUES TIONÁRIO QUE STIONÁRIO

ind epend entemente dele, atrás de uma divisória determina r se us háb itos teat ra is: pe rio dic ida de ge rais (demais), sem entrar no detalhe dos níveis 5. Outros Questionários
tran slú cida. Na qualid ade de >'Oyelll; o público é de freq üên cia, o qu e se sabe a respei to da co m- da represent ação e dos ele me ntos não-verb ais.
instad o a obse rvar as persona gens, que agem sem panhi a, d esse es petáculo e m par ticul ar , o pi- Pode-se co ncluir daí qu e o público (is rae lense, Outras fórm ulas, mais ou menos qu antitat ivas
levar e m co nta a platéia, co mo qu e protegidas por niões sobre o programa , so bre os a to res, a re- nesse caso) perceb e ape nas um a part e limit ad a ou baseadas no discurso, também são válidas. Ain-
uma qu arta parede . MOLIERE, no Improvisa de dos s ig nos e que essa pobreza qu ant itati va re-
ce ptivida de , os div ers os tip os de es pe tác ulo e da aí, o co nhec ime nto prévio do públ ico a se r tes-
versalhes. já se perguntava "se a quarta parede per cute na qu alidade d a per cep ção e d a inter-
de at ivid ad e c ultura l. Esses d ad os fornecem tado parece indi spensável para a elabo ração de
invi sí vel não dis simula uma multidão que nos
um a im agem ba stante pr eci sa d o público de pret ação e, so bretudo, se o qu e es tá em j ogo é um tipo de que stion ário mais "contundent e". A
ob serva" e DIDEROT reconhecia sua realidade:
determ inado teatro ou cid ad e. políti co, e le perc ebe e sa lie nta so me nte o qu e título de exe mplo, reprodu zir-se-á o qu esti on ário
"S eja compondo, seja interpretando, pensem tam-
qui ser ver e o que se rve de combu stível para utili zad o durante as análises de es petác ulos com
bém no espectador com o se ele não existisse.
2. Qu esti onários Psicol ógicos e sua fo gu eira políti ca. estuda ntes:
Ima ginem , na beira do palco, uma grande parede
que os separa da platéia; aluem com o se o pano Ideol ógicos
não se levantasse" (Sobre a Poesia Dramática , I . Cara terísticas gerais da encenação
1758, XI : 66) . O reali sm o e o naturalismo le- Trata-se da avaliação da perce pção do es paço,
a. O que diz respeit o aos eleme ntos do espetáculo (relações dos siste mas cênicos) .
va m ao ex tre mo ess a exigê nc ia de se paração da emoção sentida pelo público du rante o espe tá-
b. Coe rência ou incoe rênci a d a e nce nação : ela se baseia e m qu ê?
entre palc o e platéia , ao passo qu e o teat ro con - culo e sua percepção das personagens (cf TAN e
c. Lugar da encenação no cont ext o cultural e est ético.
tempor âneo quebra deliberadament e a ilusão, SCHOENMAKERS, in KESTERENe SCHMID, 1984;
d. O qu e o pertur ba nessa en cen ação: qu ais são os mom ent os fortes, fracos ou ted iosos? Co mo ela
(reitea traliza" a ce na, ou forç a a participação' TINDEMANNS, in RSCHER-LICHTE, 1985 ).
se situa na produção atua l?
do públi co. Uma postura dial ética par ece se r
mais apropriada: existe separação entre palco e 3. Questionários "Socioestéticos"
2. Cenografia
platéia e isso pod e sofrer várias tran sformações,
e ora eles estão apartados, ora juntos, sem que a. Formas do es paço urbano, arquitetôni co, cênico, ges tual e tc.
Propõem respo stas de múltipla esco lha, por
uma coisa elimine a outra, e o teatro vai viven- b. Rela ção entre espaço do público e espaço de atuaç ão.
veze s, resp ostas abertas, ou assum em a form a
do dessa co nstante denegação' . c. Prin cípi os de estruturaç ão do espaço .
de e ntrev ista ma is ou menos dir eci onada. Al gu-
I. Função dram atúrgi ca do es paço cê nico e de sua oc upação.
mas veze s, usa-se vídeo par a g rav ar as e nt rev is-
~ Dramático e épico, espaço, ilusionista. tas. Freqü ent em ent e, como par a Mari e GOUR-
2. Relação do cê nico co m o ex tracê nico ,
3. Ligação entre o es paço usad o e a ficção do texto dram át ico posta e m ce na.
DON, trat a-se de "dara palavra [ao] públi co com
W Zola, 1881; Antoinc, 1903; Deldime, 1990.
a fin al idad e de co nhecer suas mo tivaçõ es, aspi-
4. Relação entre o mostrado e o oc ulto.
5. Co mo evo lui a ce nog ra fia? A qu e correspond em suas transform ações?
rações e o pi niões frente ao fato teatral [... l, co m
d. Sistemas de cores, formas, mat éri as: suas con otações.
o objetivo de anali sar as reações do públi co e m
QUESTIONÁRIO
rel ação a ce rtos espet ácul os e de se obte r infor- 3. Sis temas de ihunin aç ão
mações qu e co mpletem nosso co nhec ime nto dos
:-). Fr.: questionnaire; Ingl.: questionna ire; AI.: Natureza, ligação co m a ficção, co m a repre sentação, co m o ato r.
mod os de c riação teatral " ( 1982: 9). A revel a-
"t...: Fragebogen; Esp.: cuestiona rio. Efeitos sobre a recep ção do es petáculo.
ção do mod o de decifrar a e nce nação co ntinua
Com freqüênci a usam -se qu esti on ários co m marginal, um a vez que as pergunt as e o cálculo
4. Objetos
a finalidad e de investi gar o públi co, porém mé- es tatístico fazem com que se perca o detalhe das
Natu reza, função, matéri a, rel ação co m o es paço e co m o corpo, siste ma de e mprego desses
tod os, finalidade e result ados va riam conside- resp ost as. Falt a a essa abo rdage m um a teor ia
herm en êuti ca e semiológica da recep ção ' , mas o bje tos .
ra velm ent e.
a imagem qu e ela fornece do públi co co ntem -
por ân eo é bas tante instrut iva. 5. Figurinos, maquiagens, máscaras
I . Questionários Sociol ógicos
Função, sistema, rel ação co m o co rpo .
Trat am da aqu isiç ão de conheciment o da 4. Qu est ion ários Ideológico-Estéti cos
6. Performance dos atores
co mpos ição do públi co, sua o rige m socio pro-
fissional , sua bagagem id eol ógi ca e cultura l. São e la borados e m fun ção de um a det erm i- a. Descrição física dos ato res (ges tualida de, mímica, maqu iagcm ); mud anças e m sua a parê ncia.
Tem os, ass im, A. BOURASSA, qu e, em sua pes- nad a e nce nação e visam recon stituir o mod o b. Cincstcsia presum ida dos atores, cinestesia induzid a no obser vado r.
qui sa so bre a função soc ia l do teatro (dese n- pel o qu al os es pec tado res co nstroe m s ua sig ni- c. Co nstrução da pe rson agem; ato r/pa pel.
vol vid a na Univ er sidad e de Qu eb ec), distribui fica ção. O reconhecim ent o d a lingu agem e dos d. Rel ação ator-g rupo: mar cação, relações de conjunto , trajet óri a.
ao pú bli co um qu esti on ári o a ntes da represen - siste mas de sig nos utili zad os fo rça os pesqu i- e. Rel ação texto/corp o.
tação. Ele co meça por ge ne ra lida des so bre edu - sado res (co mo S. AVIGAL e S. WElTZ, 1985) a f. Voz: qualidades, efeitos produzid os, relação co m a dicção e co m o canto.
cação, ren da, líng ua ma terna, e de pois procura co loca rem questões de múlt ipla escolha mui to g. Estatuto do comediante : se u passad o, sua situação na profissão etc .

316 317
QU IRONO MtA
Q UES TIONÁR IO

ca s (Édipo; O Mal-entendido de CAMU S). O qüi-


QÜIPROQUÓ
7. Fun ç ão da música , do ruído, do silêncio pro q uó é "u ma situação que aprese nta ao mesmo
temp o dois senti dos dife re ntes . [...] aque le que
a. Natureza e ca rac te rísticas : rel ação eom a fábul a. co m a dicção. :-). (Do latim qui p ro quo. tornar um que por um ()
lhe é atri buído pel os atores [...] e o que é lhe dado
b. Em q ue momentos e les inter vêm ; co nseqüência sob re o restante da repre sentação . "t.: que.)
Fr.: qu ípro quo; Ingl.: mi staken identity. quip roquo; pe lo público" (IlE RGSON) .
AI.: Venl'echslu lIg ; Es p.: quiproq uo.
8. Ritmo do espetác ulo
a. Ritm o de alguns siste mas significa ntes (trocas de diálogos, ilum inação. fig urinos, ges tualidade Equ ívoc o qu e faz co m qu e se tom e um a p er- Q UI RON OM IA

e
ctc.). Lig ação entre duração real e dur ação vi ve nc iada. sonagem * o u coisa por o utra . O qüiproqu ó é tan -
b. Ritmo globa l do espetáculo: rítmo co ntínuo o u descont ínu o, mud anças de reg im e, liga ção com a to inte rno ( ve mos qu e X tom a Y po r Z ), qu ant o (Do grego kheir. mão .)
encen ação. ex te rno e m rel ação à peça (con fundimos X co m
Y), co mo tam bé m mi sto (co mo um a pe rso nagem, Regras q ue co dif ica m a si mbologia do uso das
9. Lei tura da fáb ula po r essa ellcellaçiio tom am os X por Z ). O q üi proqu ó um a fonte ines-
é
mão s, co mo, po r exe m plo na da nça indiana ou
gotável de si tuações cô micas e por vezes trági - nas post uras dos ato res trágicos do século XV II.
a. Que histór ia é co ntada? Resum a-a. A ence nação co nta a mesm a co isa qu e o text o?
b. Que es co lhas dramatúrgicas são feitas? Coerê nc ia o u incoerên eia da leit ura?
c. Que ambigüidades ex istem no text o, que esc lareci me ntos se encont ram na e nce nação?
d. Qu al a organização da fábula?
e. Como a fábula é const ruída pelo ator e pel a ce na?
f. Qual é o gên ero do texto dram ático seg undo essa en cenação?
g. Outr as op ções de encenação pos sí veis.

10. O tex to lia ellce llação


a. Escolh a da versão cê nica: que modificaçõe s foram feitas?
b. Caracterí sticas da tradução (se for O caso). Tr adu ção. adaptação, reescritura o u esc ritura orig ina l?
c. Que lugar a encenação con cede ao texto dr amáti co?
d. Relações do tex to co m a imagem , do qu e se o uve co m o que se vê.

li . O espectador
a. No int erior de qu e instituição teatral se situ a essa encena ção?
b. Que ex pectat ivas você tinh a em rel ação a esse esp etáculo (tex to, encenado r, atores)?
c. Que press u postos são necessários para apreciar esse espe tác ulo?
d. Como o pú blico reagiu ?
e. Papel do espectado r na prod ução do sentido. A lei tu ra es timulada é un ívoca o u plural?
f. Que imag en s, cenas, tema s chama m sua ate nção e você leva con sigo?
g. Co mo a aten ção do espectado r é man ipul ad a pel a en cen ação?

12. Como reg istra r (fotografa r ou fi lmar) esse espetác ulo ? Como conservar sua memória ? O que
escapa ao reg ist ro.

13. O que não é semiotizá" el


a. O qu e, na sua leitura da ence nação, não fez se ntido?
b. O qu e não é redu tí vel ao sig no e ao sentido (e por qu ê).

14. Balan ço
a. Que probl em as part iculares devem se r exami nados ?
b. Outras observações, ouIras ca tego rias para essa ence nação e para o qu est ion ário .

Fonte. Patrice PAVIS. Análise dos Espetáculos. Nath an Uni versité s, co l. "F ac", 1996.

3 / <)
318
R
vel, pelo menos potencialmente, da produção dra-
RÁDIO E TEATRO
máti ca global, especialmente para as peç as radio-
e Fr.: radio et thé ãtre : lngl.: radi o and theatre; AI.:
Rundfunk und Tlieater ; E sp .: radi o )' teat ro.
fônicas que não mais se contentam em gr avar ou
co piar determinada representação teatral , mas se
env ol vem numa criação especí fica. Cert os paí-
I . Promessas e Decep ções ses ente nderam isso, co mo a Grã -Bretanha, o nde
a BB C, freqüent em ent e considerada a melh or rá-
a. O teatro radi ofôn ico dep ende - do mesmo dio do mundo, vem produ zindo , ao lon go de ano s,
modo que o teatro na tele visão - do desen volvi- milh ares de peças radiofôni cas , empregand o de-
ment o da técnica de gravaç ão e de e m issão bem zenas de escritores , mantendo uma políli ca de tex-
como da instituição que administra sua elabora- tos es pecialmente encomendados e de ada ptação
ção e ga rante sua difu são. Recebido co m entu- de textos, e até de form ação contínu a de auto res
siasmo por ocasião de seu apareciment o nos anos para rádio. Muitas vezes o rádio revel ou drama-
vint e como arte do futuro e das ma ssa s por escri- turg os, garantiu a difusão de sua obra a ntes da
to res como BRECIlT, D6llLlN ou COPEAU, o tea- ence nação propriamente dita.
tro radiofônico parece não ter cumprido suas pro-
messas. A culpa não é da falta de c riatividade de c. Na o rige m de sse novo gênero (que atua lme nte
se us autores (ainda que a tradição só se tenha esta- conh ece as mai s sofi sti cadas experimentações
belecid o na Inglaterra, na Alem anha e. um pouco, ac ús ticas) est á o desej o de fazer o uv ir os textos
na França) mas, antes , da situação de produ ção e litcr ár io s; esta é um a arte da leitura por vozes
rece pção, que não favorec e o rádi o: a concor- parli cuJarmente radiogênicas. No s anos vinte e
rên cia da televi são, verdade iro rádi o a co res, a trint a, não era rar o os produtores apel arem aos
co mercialização das rádi os e o fim parcial do mo- poetas (ARAGON, OESNOS, TARDlEU, ÉLUARO)
nop ól io do Estado, os ince ssant es e ociosos de-
par a que lessem seus textos ou inventassem uma
bates so bre a legitimidade da s rád ios livres, da
esc ritura radi ofôn ica. Na Alemanha, o H õrspiel
indústria cultural que só prom ove mú sicas de
(" pc ça radiofôni ca " ) conseguiu atrair autores
massa padronizad as, as mudanças do gosto do
como BRECHT, 0 61lLIN, BACHMANN, B6LL,
público fascinad o pela imagem da tel evisão ou
OÜ RRENMATT, GRASS, HElSSENIl ÜTTEL,
do vídeo, tudo isso não favorece em nada a eclo-
são de uma forte tradição de rádio-teatro. Il ANDKE.

li . A pesar disso, o teatro radi ofôni co constitui um d, Por muit o temp o, o trabalho radio fônico foi vis-
novo setor de criação, um a part e não dcsprez í- to não co mo gênero autônomo, mas co mo teatro

32 1
RÁDI O E TEAT RO
REA I.I DA D E R E PR E S ENTAD I

despid o das co ntingênci as da representa ção cêni- do claramente pel o público (cf, O. WELLES e
ca. Tal é a postura de quem faz um teatro muito
per sonagens dev em se r bem di stint as, escolhidas RAISONNEUR
seu s programas radi ofônicos desencadeando o de aco rdo com o siste ma qu e caracteri za os locu-
literário, como Jacqu cs COPEAU: "Desobrigado do pãni co em 1938 ). Diferentem ente da reporta- rores. O "c asti ng" é uma da s instâncias fund arncn- ~ (Do francês rai sonncur, que raciocina, argu-
cuidad o co m a mem ória , uma vez que tem o texto ge m, das informações , da s di scu ssões, a ficçã o tais de um pro gr am a. 't..; menta.)
diante dos olhos, livre do ' branco' , já que trabalh a
radi ofônica faz intervir vo zes qu e interpretam Fr.: raisonneur; Ingl. : rai sonneur; AI.: Raisonneur;
em recinto fech ado , depend endo apenas de si mes- personagens e cria m um mundo im ag inário . Pou- b. Espaço c tempo Riisoneur; Sproa chrohr des AlIlOrs; Esp.: raisonneur:
mo e de sua própria inspiração, já que as reações
co a pouco ela se liberta do jornali smo, da in-
do público não mais o ating em ; preservado dos O espaço e o tempo são sugeridos pelas mu-
formação linear, da forma dialógi ca e do realis- Personagem que representa a moral ou o racio-
acidentes materiais de cenário, figurino ou aces- danças de intensidade vocal, pelos efeitos de afas-
mo nas situaçõe s e nas vozes . cíni o adequado, enc arregada de fazer com que se
sórios, que muit as vezes desarmam o ator no pal- tamento, de eco, de reverberação. Um plan o so no-
conh eça, atrav és de se u co m entário, uma vi sã~
co; reduzido, enfim, à saudável nudez, purificado ro é criado por um ru ído ou uma músi ca que abre e
c. Produção em estúdio "objetiva" ou " auto ra l" da s ituação. Ele nunc a e
por esse t ête - à-t ête co m o texto, a única coisa que fech a determinad a seq üência: a cen a é situada de
Diferemement e do palco. o es túd io é um lugar u m dos protagoni stas da peça, mas uma figura
aliment a sua inteligên cia e sua sensibilidade, con- imediato e, depois, "suprimida" no final da seq üê n-
imaterial qu e o público não vê e qu e serve de su- m arginal e neutra, que dá sua opinião abal izad a,
denad o, além do mais, a um a imobilidad e que de- cia. É um pro ced iment o de plan o e de enquadra-
porte à fabricação de son s, à m ontagern das vo- tentand o uma sínt ese o u uma re conciliação dos
veria ser para e le o garante de uma intensa con- ment o. O lugar dos microfon es, o controle do vo -
zes, à sin cronização da vo z, d os ru ídos, da músi- pont os de vista . Muit as vezes, é con siderad o por-
centraçã o, espe rando enfim o testemunh o de sua lum e, a seqüên cia de so ns característicos criam
ca . O ouvinte tem a ilusão de qu e a performance Ia- vo z* do aut or, m as é pre ci so desc onfiar d a
sinceridade ape nas de um instrumento único: sua um a ori entaçã o c sp a ço-tcrnpor al qu e o o uv inte
aud iti va é fabr icada e e m itida no mom ento da re- m an obra enganosa desse último quando ac ha ne-
voz, o alar diant e do m icrofone, desde que esteja identifica se m dificuldad e. A possibil idad e de in-
cepção. cessár io reafirmar ao público a pur eza de suas
passand o por um estudo aprofundado e um núme- ten sificar ou redu zir o som . de fazer o ato r falar
intenções. (Como Clcanto no Tartufo, que supo s-
ro conveniente de ensaios, deveria encontrar as mais ou menos longe do microfone informam ime-
d. Tipos de p eças radiofônicas tamcnte deve tranqüilizar os verdadeiros devotos
condições ideais" ("Remarques sur la rádio", No- diatamente uma mudança de quadro ou desloca-
e louvar uma atitude religiosa equilibrada.) Por
tes sur le Métier de Comédien, 1955: 57). • Retransmissão ao vivo diretamente do teatro: mento dentro de um mesmo quadro .
vez es, o raisonneur apre senta apenas um co men-
Todavia, só em co mparação ao "verdadeiro tca- no início do rádio. às vezes as peç as eram retrans- Um a série de " em breador es" ou de Ieitmotive
tári o superficial da ação, e o ponto de vista " glo-
tro" é que a peça radi ofôn ica tem possibilid ades m itidas ao vivo d ire ta m ent e d os teatros pari - mu sicai s o u so noros entre as se qüê nc ias ou os
bal do autor ou da peça deve ser procurado em
de constituir-se e rn gê nero no vo, mas aprofundando sie nses . Os ce nários, os jogos de cena eram, en- espaços permite a identifi cação dos locutores. a
o utro lugar, na dialéti c a dos di seur sos de cada
suas especificidades. não imit and o o teatro. A meio tão. des critos por um co menta ris ta. Essa práti ca o bservaç ão de lugare s ou ternp oral idade s. MUl- per son agem . Esse ti po de person agem , herdeiro
caminho entre a presen ça física do teatro e o espa- existe aind a hoje co m as retran smi ssões ao vivo tas ve zes, a m ontagem sugere um apagar da s d o co ra " trá gi co g re go, ap arece so bre tu do na
ço simbólico da págin a do romanc e, o dram a radio- da Co médie-França ise . Ne m teatr o, nem rádio: tal tcm poralidades. co m põ e um monól ogo int erior,
progr am a é mais um do cument ário do que uma época clássiea , no te at ro de tese e nas formas de
Iônico hesita em elaborar suas próprias estratégias. produz. pel o jogo do s ritm os, rep eti ções. varia- pcças did áticas ". Surge - o u retoma s~b forma
o bra ori gin al.
ções quase mu sica is, efeito de inter ioridad e físi - paródi ca - no teatro co nte m porâneo . E, então ,
2. Busca da Especificidade • Leitura dra matizad a diret am ent e do es túdio. ca , instaur a tro cas e nt re o visível e o aud íve l. O sim ples manobra di scursiva, não representando
prazer dessa per cep ção se ba seia na aluc~nção nem o autor, nem o bo m senso, nem o resultado
• Peça radi ofôni ca dramática com vozes de per-
a. Palavra do o uvinte qu e tudo o uv e e nada vê : co m efeito, a dos diferentes pon tos de vista. uma norm a da qual
sonagens reconh ecíveis, diálogos, co ntl itos, como
enunciação do texto pelos atores e a tran smissão o autor caçoa sem dei xar de salvar as aparênc ias.
Raram ent e o o uvinte está co ncentrado na ex- se e nco ntraria numa dramaturgi a natu ralista.
clusiva escuta da peça . O tran sistor multiplica os dão ao ouvinte a im pres são de que a ce na foi, de
• Peça radi ofôni ca é pica: d ram ati za uma perso- fato , representad a e m o utro palc o ; e le tem , e ntão,
lugares em qu e o teatro se insinu a. O rádio cu-
nagem ou uma voz . ao mesmo tempo, a se nsação de nad a ver e de REALIDADE REPRESENTADA
contra uma fom e intimi sta , qu ase rel igiosa da pa-
lavra ; remete ao es tado ed êni co de uma literatura ve r, com os "o lhos da alma" , a cen a representada
• Mon ólogo interi o r.
exclu sivamenl e ora l. Sem es tar compl etam ente e m outro lugar. ~ Fr.: r éolit é rep r ése ntcc; I ~ gl. :. represented
• Colage m de vozes , so ns, m úsica. Mai s do que qu alquer o utra arte, es ta é a art e 't..; reality; AI. : da rg est ellte Wirklichkeít ; Es p..
imobili zado no lugar co mo no caso do teatr o na
da met on ímia, da co nve nção . da ab straçã o s ig ni- realidad representa da.
TV, o ouvim e radi ofôni co ac ha-se num a situação • C riação eletr ônica da voz human a por si ntc-
de escuta próxim a do sonho acord ado da fanta- ficante. Compet e ao auto r fornecer aos o uv intes
tizador, Irabalh o musical feit o com voz e so ns.
,IS referênci as ind ispe nsá ve is para qu e a narrati va A partir do mom ento e m qu e se quest iona a
sia. Atrav és do rádi o, o o uv inte mantém uma es-
mantenha um a ce rt a co e rê ncia e que o uni verso relaçã o entre re alidade representad a e forma
pécie de monól ogo interior; se u co rpo fica como 3. Dramaturgia
que desmateriali zacJo e recebe o eco amplificado liccional se or gani ze se m que o o uvinte pareça dr amatúrgica ou cê ni ca , pressupõe-se a ex istên-
de seus dev an ei os e pulsõcs, es tar fazendo al gum es forço de mem ória. c ia de uma relação di alética entre amb as: a na-
a. Personagem
Quando as pesqui sas eletroacústi cas se juntam turcza e a análise da realidade influenciam a for-
b. Ficção A personagem só ex iste atr a vés da voz; esta às reg ras estril as da d ramaturgia. por vezes resulta ma dram ática esc olhida e, de mane ira inversa, a
de ve ser muit o típica e di stin guível da s vozes das dessa união uma ob ra muit o forte e origin al, o qu e forma dramát ica utili zad a aclara e int1ui no co -
A peça radi o f ôni ca es tá ligad a a uma ficção , o utras per son agen s. A boa voz radi ofôni ca é a prova qu e a liter atu ra radiofônica j á é um gê nero nh ecimento de ssa re al id ad e. Mas a lig ação entre
ainda que 1011 car áter nem se mpre seja perceb i- pou co usu al. inimit ável. As vo zes das diversas estabe lec ido e co m um futu ro bastante promissor. a real idade e o uni verso estético está lon ge de se r

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RE ALI DAD E T EAT R AL
R EALIDAD E R E PRE S E NT ADA

evid ent e. Pen sou-se durant e muito tempo que essa dis so , OÜRRENMATI observa qu e Na poleão foi o co s do s qu ai s nem a per sonagem , nem o e spec-
à " to talida de dos mov iment os" , não, co mo no
ligação só pod eria ser direta c mim ética " , isto é, últ im o herói mod erno: " Não se pode fazer Wallen - tado r ha viam tomado co nsciênc ia até e ntão . Tal -
rom anc e , à tot alidade dos obje tos.
qu e a obra era um reflexo (ainda qu e muito in- stein s a partir de Hitler e Stalin; seu poder é tão ve z seja um meno s por um mais.
fie l) do mundo ext erior. Ent ão, é possíve l ohser- c. Estilização gi gantesco qu e eles nada mais são que form as
var os processos de represent ação, de est ilização, fortu itas e exteriores desse pod er. [... ) O s secretá- d. Colocação em signo e em j ogo
Dispondo de pou co temp o para ser idem ifica -
até de deformação do univer so pintado. Se, ao rio s de C reonte é que 'de spacham' o caso An- Tentativas rec entes ultrapassam es s a op osi-
do , o un iverso dramático con centra e, portamo,
contrári o, se co nside rar que a es critura dram a- tí gona " ( 1970 : 63) . A tra gédia não es tá mais em çã o brcchriana. ami úde estéril, entre dr am ático
de forma os proce ssos soc iais que descre ve. A IIl1i -
túrgica e cêni ca não é submetida direta e mime- co nd ições de repr esent ar os confli tos de nosso e épico, modifi cando se m ces sar sua rel ação co m
dade " de tempo e de lugar força o dr am aturgo a
tic am ent e à marca do real, qu e el a modeliza a tempo . A form a a ristot élica " , por demais esgo- a ficçã o, utilizando um a voz líri ca ou narrati va.
apr esent ar o herói e m açã o em plen a crise. O dr a-
realidade a seu bel-praz er, fica muit o ma is deli - tada, de ve dar lug ar a outras dramaturgias: para var iando os procedimentos de ficc ionali zação no
ma , nes se caso, ganha em simplificaçã o, afas ta-
cado retr açar a ligação com essa últ ima. Pa ra isso OÜRRENMATf, é a vez da co méd ia. qu e vive da próprio int eri or d a representação . Al iás, o tea-
ment o e co locação em perspe ctiva. Op era -se, na- 'tFO ficou muito mais "modesto" e " re alista" em
é nece ssário apreende r os proce sso s de ficcio- idé ia rep entina e do achado ( 1970: 64) e não est á,
tur alm cnt c , um a es tilização * e uma modeli za ção *
nali zaç ão e ideolo gizaç ão que indi cam a passa- portanto, submetida a uma nece ssidade profun- suas pretensões de representar a realidade: os
da realidade e tal esquernatizaç ão possibilita uma do is te rmos tendem a desap ar ecer do vocabulá-
gem entre o texto dramático o u espeta cular e o da . Para muit os outros contemporâneo s, somente
compa ração das m otiva ções pessoais do herói e rio c rítico e nem a prática, nem a teori a ex ige m
int ert exto (PAVIS, 1985d). a int er ven ção é pica ou a voz narrativa de um mo-
dos pro cesso s soc ia is da peça . A relação da his- do teatro uma imit ação natural ista ou reali sta do
nól o go inte rio r lírico ai nda pod em afl orar uma
to ricidade r representada C da histori cid ad e do real, ma s, sim, quando muit o, uma col ocação em
1. Dramaturgia Mimética par cela de realidade.
espectado r é assim facilitada (histo ricira çâo »,
signo ou e m jogo.
a bstraçã o *) .
a. O herói b. Transfo rma ção e representação do real
6) Ficção. imitação. reprodução, signo teatral ,
G. LUKÁCS (1956) extrai de sua análise com- 2. Dram aturgias Não-Mim éticas Os dramaturgos renunciam, em suma. a for-
~ dramaturgia. forma, formalism o.
par ati va do roman ce e do drama históric o uma necer uma representação coerente e gl obal do
mu nd o . At é BRECHT apresenta si nais de uma Szond i, 195 6 ; Lukáes, 1960 , 1965, 1975 ;
sé rie de critérios para uma boa apree nsão do real;
ao mesm o temp o, eleva estes crité rios à ca tegoria
A aná lise luk ácsiana faz ju stiça ao teatro c lás -
sico reali sta e naturalista. Em co mpe nsação, des- ce rt a intimid ação em relação à real id ad e: " O m Lotrnan , 1973; Eisenstein, 1976, 1978; Hays,
de norm as absolutas a fim de contra balançar o de o prin cípi o , e la recu sa as tendênci as épi cas do mundo de hoje é resgat ável no teatro, mas ape- 1977 .1 981.
proce sso de epiciza ção " do teatro, processo esse drama moderno , so b o pretexto de qu e não pas- nas se for con ceb ido co mo passí vel de transfor-
qu e, de sde meado s do séc ulo XIX, "a meaça" de- saria m de um a perver são da forma ca nõnica es - maçã o" (1 96 7 . vol . 16 : 93 1). D aí a difi culdade
ton ar a forma dramática (SZONOI, 1956). Para ele, peci ficam ent e teatral. Evidentemente, nem leva do s dramaturgos pós-brechti anos (OÜRRENMATI, REALIDADE TEATRAL
o herói não tem que brilhar por qu alid ades so- em co nta no vas formas de textos dramátic o s e o u WEI SS, por exemplo) de representarem o real,
ciais ou morais excepci on ais, mas é co nve niente prát icas cê nicas. sua vontad e decl ar ada de partir de representa- ~ Fr.: réalir é thé àtral e; Ingl.: theatrical reali ty;
qu e pos sua um a e xist ênci a dramática * em si. ou ções artísticas e ficci onais para dizer, e m seg ui- 't; AI.: th eatrali sche Wrrklrchkerr; Esp .: real idad
sej a, rica em momentos significa tivos, portadora a. Intervençã o épi ca d a e ev entualmente, algo sobre o real , co m o qual teatral.
das co ntradições de um amb iente ou de uma épo- ac re di ta m haver perdido qua lq ue r contato.
Ora. a apree nsão épica do real não é nece ssa- Onde se s itua a real idade cê nica ou teat ral e
ca, situada no moment o de um a profunda crise riament e men os real ista que o métod o pur am ent e
inter ior e pol ítica. Somente os " indiv íduo s de im- c. Mim etismo não-mimético e não-épico do qual é se u es tatuto'? Desde ARISTÓTELES se rc-
dramáti co . Talvez e la esteja mais apta a respon- flete sobre essa qu estão, sem que se tenha en con-
portânci a histórica mund ial" (HEGE L), nos quai s cotid iano
der pela atua l co m plexidade do s proces sos sociais trad o uma resposta definitiv a e seg u ra. É qu e ,
coex istem traços individu ais or igin ais e a marca Se m abrir mão do apelo br echtiano por um
e pela "t ot alidad e do movimento" das cl asses e nesse c aso, so mos vít ima s da fi cção " e da ilu-
soc ial de co nflitos históricos se rão susc etíveis de dos gru pos. Assim, atra vés de um comentári o te atro reali st a, qu e mostre o homem às voltas s ão" te atral - na s quais se baseia nos sa vis ão do
forn ecer bon s tem as dram átic os. A arte d ramáti- épico , o narrador resum e facilmente um a situa - c om se u s d etermini smos so c ia is , outras dra-
ca deve e ncontrar indi víduos qu e. por suas açõe s es pe t áculo - e misturamos várias realidade s.
ção , aprese nta um rel atório político ou fin an cei - m aturgias so nd am a realid ad e , renunci and o a Qu e perceb em os de fato em uma ce na ? Obj e-
(e não pelo sistema abstrato e é pico de sua carac- ro, atrai a aten ção para os pont os fortes de um ex pressá- Ia tot alm ent e e a redu zi -la a um mode - tos, ato res , às ve zes um texto. Misturam-se vá-
teri zação) estej am pessoalm ent e implicados nos de senvol vim ento. É necessári o, simpl esmente, lo cibernéti co autônomo. Entre elas, o teatro
pro cess os histórico s (unidade da aç ão e da per- rios elementos que tentaremos distin guir assim:
con ceder ao dram aturgo o dir eit o de arranjar à d o cotid ia no" assumiu a tar efa de e ntreg ar frag-
so nage m, do indi vidual e do social). sua man eir a se u balanço da anális e soc ia l e dei- mento s de linguagem so lidi fica da pela id eol o-
1. Realid ade "S ocial" da Maquinaria
xar-lhe tod o es paç o par a que intervenha à vo nta- gi a. E sse teatro abre mão de um a co loc ação da s
b. "Totalida de do movimento" de no jogo teatral, co mo se fosse uma persona- personagen s em situação no mecani smo social Teatral
A tra gédia e a literatura épica devem "repre- ge m, um represent ante universal ou uma sim p les g lo ba l: m ostra-as nas imagen s qu otid ianas qu e
sentar a totalidade do processo da vida" (LUKÁCS, test emunha. Tudo o que ser ve para fabri car o es petác ulo e
as p roduzem e qu e e las re produzem . El e co lo-
1956: 99 ), se bem que, para o tea tro "essa totali - Não ex is tem mai s "indi víd uos de imp o rtân cia que é identificável com o tal na representação (pai-
ca a única o portunidade de e luc ida ç ão des se real
dad e estej a con centr ada em torn o de um centro mun di al" e, seja com o for, eles não pod eriam , néi s, paredes do edifício teatral , tablados ctc .) fa z
c o m prim id o num e fei to de re conhec im ento c
só lido, a co lisão dramática" ( 10 1) e diga respeito soz inho s, in flui r no curso do mundo. A propósito part e da maquinaria " teatral. Muitas vezes , essa
e m al gun s es te reó tipos lin gü íst ico s e ide ol ógi -

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R EALl ST
R E ALI D AD E T EATR AL

existe como nós , a qu em pod em os desejar, Nes- O term o realis m o apa rece no Me rcure Fratt-
maquin aria é env ergonhadament e escond ida no esconde não é um ace ssóri o de teatro, nem mes- çais, em 1826 , com a finalid ade de reagrupar as
se caso, tom am o s o co mediante como pess oa e
chamado teat ro " ilus ionista", mas ela sempre se mo um a verdadeira mesa do século XVII; é um es t éticas qu e se opõem ao classicism o, ao ro -
não como per son agem ou co mo signo de sua per -
dei xa detectar desde qu e nos debru cem os sobre sign o-convenç ão a cujo resp eit o os es pectadores manti sm o e à arte pel a a rte , p regando um a im i-
sonag em ou de uma ficç ão .
o "segred o de fabri ca ção". Tal realid ade de má- fic am de acordo e qu e qu e r di ze r: mobília de Não há dúvida de que ex istem tent ati vas de ne- tação fiel da " nature z a" . N a pintura, COURBET,
quin a é, por defin ição , alheia ao mundo fictíci o Or gont e ao estilo da época , propícia a servir de gar a dim ensão de sig no do comediante: o happ cn - por oc asião de um a e xp o siç ão , agr upa vári as de
suge rido pela cena . É o úni co obj eto que não tem esconderijo . Port ant o , a me sa de Orgont e é um ing", no qu al o "a tor " pessoa repre senta apenas a suas tel as em uma sa la intitulada " Do realism o" .
valor de signo (exc eto, ev ide ntemente, qu ando a sig no que vale não por se u referente (que, de qu al- Na literatura, o movimento reali sta engloba ro -
si mesmo; as formas do ci rco, nas quais as proezas
encenação o requisita par a sua prática teatral , qu er modo , é fi ctíci o) , menos ainda por seu corporais não rem etem ao corpo estranho de uma man c istas preocup ad os co m uma pintura preci-
como em Seis Pers onagen s à Procura de um Au- si gnifi cante (pou co importa qu e sej a de carvalho person agem , mas aos própri os artistas ; e a per- s a da socieda de co mo STEN DIIAL, BALZAC,
tor, de PIRANDELLO. por exemplo). Até o pó- ou co mpensado) e, sim, pel o significado que lhe [ormance, na qual o ator não remete a uma perso- CHAMPFLEURY, DUMAS ou os GONCOURT. Em
dio e a co rtina se tomam, em BRECHT ou num a atribuímos aqui: mesa usa da para a armadilh a na nagem e a uma ficç ão, mas a si mesmo enqua nto tod as as artes em qu e se en contra es boçado um
encenação brechtiana, sig nos " de " mostrar o fun- qual Tartufo poderia cair. O s ig nifica nte - ou seja, pessoa que se co munica co m seus ou vintes. retr aio do hom em ou da socie da de , a repre sen -
cionamento" e, hoj e, de "isto é teatro épico-crítico a form a e a matéria dessa me sa - tem uma fun- tação realist a tent a dar uma im agem con sid era-
à moda de Brccht ". Este é o process o de sernio - çã o de trans ição : é o que le va o es pectador a iden- 4. Realid ade do Texto Dramático da ade qua da ao seu ob j eto , se m ide alizar, inter-
tiza ção que P. BROOK descreve : " Posso pegar um tifi car determinado sig nific ado. Entretanto. isto pret ar pessoal ou incomplet am ent e o real. A arte
espaço vazio e chamá- lo de palco vazio. Um ho - não qu er dizer - mu ito ao co ntrário - que o es- Ex atam ent e co mo o obje to cê nico ou o ato r, o rea lista aprese nta sig nos íc ônicos da rea lid ade
mem atravessa esse espaço vazio enquanto alguém pectador não deva estar ate nto à materialidade texto dr am ático va le primeiramente como reali- na qual se inspira.
olha para e le e aí es tá tudo o qu e se precisa para do es petáculo, portanto aos sig nifica ntes . dade qu e se pod e ca pta r e m sua mat erialidade,
criar um ato de teatro" ( 1968 : 4) . M as o que acontece com o utros objetos da cena em sua musicalidade e não como um signo de al- 2. Real ismo Imitativo, Ilu sion ismo ,
(o assoalho, as cadeiras, o cenário) que , no mo- guma co isa. M as, esse " texto-coisa" é também Naturali smo
2. Realidade dos Objeto s Cênicos mento, não são utilizado s no j ogo de cen a ou de imedi alam ent e remetid o ao se u qu ad ro, se rnio ti-
d iálogo? Continu am a se r obj etos "brutos", "signi- zado, con sidera do co mo o sig nificante co rres pon - N o te atro, o rea lis mo nem se m pre se di stin-
Podemos identi fica r o s obj etos cênicos quant o ficante " que ainda não en controu significado, que dente a um sig nifi cado global, signifi cad o est e gue com cl areza da ilusão " o u d o naturalis-
à sua fun çã o no rmal ( uma me sa , um co po) , ainda não tem valor de sig no. Porém, depois que qu e só é ide ntificado qu and o reco locado no sis- m o *' Esses rótulo s têm e m co mum a vo nta de
decifr á-los co mo o bjetos -ma teria is, não-funcio- são postos em evidência pelo diálog o ou pela atua- tema globa l dos signos cê nicos , co mparado prin-
de dupl icar a re alid ad e at ravés d a ce na . imi tá -
nais, como "obje tos cê nic os não-ident ifi cado s" . ção, tais objetos pas sam a se r sig nos e o especta- cipalmente ao s sig nos cênicos não-lingüísticos .
dor , analisando suas propried ade s significantes, la d a maneira mai s fiel po ssív el. O me ia" cêni-
O problema é sabe r se é preciso tom ar os obje- O princípio de scmiotiza ção da real idade tea-
co nstrói seus significa dos e os integ ra ao funcio- co é recon stit uído de modo a e nganar sob re s ua
tos literalmente, co mo co isas , ou se se deve co n- tral aplica-se port ant o indi ferentem ente ao obje to,
nam ent o da cena. A ellcellação * é a arte de asp i- re alid ade. O s d iá log o s se inspi ra m no s discur-
ferir -lhes valor de signo" , isto é , en xerg ar, para ao ator, ao text o, enfim, a tudo o que se apresen ta
rar o mund o ext erior para fazê-lo desempenhar sos de determinada é poca o u cl ass e socio profis-
além de sua ma teria lida de, o que eles represen - ao olhar do es pec tado r dentro do espaç o cên ico .
um papel numa ficção . sio na l. O j ogo de ator torna o te xto natur al ao
tam (de terminado sí m bo lo, de term inada emoção.
determinad a co no tação soc ia l). Em outras pal a - Ç) Text o principal e texto secundário, discurso. má xim o , reduzindo o s efe ito s liter ár ios e re-
3. Realidade dos Atores ~ . reali smo. tó rico s pela ênfase na es pontaneid ade e na ps i-
vras, estamos trat ando com obje tos reais ou com
co log ia . Assi m, parad o xalment e, par a faze r o
obje tos estéticos? Esses objetos j á for am se rnio-
tizados? O mesmo raciocín io aplic ado aos obj etos será m Honzl, 1971 ; Krejca, 197 1; Ertcl, 1977; Pavis, verdadeiro e o real , é necessá rio sa ber mani -
No teatro, passam os o tempo todo corrend o apli cad o aos atores em cena. El es valem por seu 1978c, 1978d . pul ar o artifíc io: "Fa zer o ve rdad eiro co nsis te,
atrás de refer ent es que se mpre nos escapam (efei- sig nificado, e não pelo referent e [corpo do ator por tant o , em dar a ilu são com pleta do ve rda-
to de real *). O re ferente - ou seja , o objeto ao X) ou [corpo real de Or gonte] . Eles só intere ssam dei ro [...). Daí , conc luo q ue os rea listas de la -
qual o símbolo remete (as sim, a mesa concreta é num conjunto significant e e em rel ação a outros REALISTA (REPRESENTAÇÃO ) lento deveri am se ch amar, mai s apr opri adamen-
o referent e do sig no/ mesa) - está sempre presen - sig nos, outr as person agen s, situaçõe s, ce nas etc. te , ilusio nist as" (MAU PASSA NT).
A partir do momento qu e um ator aparece e m ~ Fr.: rep ré se n ta tion r éal ist e; ln gl.: realist ic Muit as vezes , no e nta nto. o naturalismo não
te aparenteme nte e m ce na, porém , a partir do
cen a, é, de ce rta form a, colocado num qua dro* 't.: performallce; AI.: rcalistischer Allffii/m mgs - ultrapassa o reali smo e m razão do se u dogm a da
momento qu e pensam os havê-lo identi ficad o,
semiológic o e estético qu e faz uso dele dent ro stil ; Esp.: reali sta (represelllacióll... ). c ielllificidade e d o determinismo do meio am -
percebem os qu e é, de fato , um si gnificante qu e
definimos por seu signi ficado. O único referent e do universo dram átic o fictício . Todas as suas pro- biente. A realidade desc rita se ap resent a co mo
possível seria ainda a maqu inari a teatral. Tod os pri ed ades física s (b eleza, sex ua lida de, seu "s er 1. Ponto s de Referência int ransform ável , como es sência etema mente hostil
os outro s obje tos , desde que utili zado s no quadro misteri oso") são semiotizados" , tran sferidos para ao homem. "Os natu ral ist as mos tram os hom ens
de uma ficç ão. são e leme ntos que remetem a ou- a perso nage m qu e ele re pres enta: uma heroína O real ism o é um a corrente es tética cuj a eme r- como se mostr assem um a árvore a um transc un -
tra coisa que não a e les mesmo s. E. conseqüent e- bel a. sex)' e misteriosa. O ator é apenas um su- gência se situa hi stori camente en tre 1830 e 1880 .
te . Os reali stas mostram os homens co mo se mos -
mente, têm val or de signo : são postos no lugar de porte físico que vale por a lgo que não ele mes- É também uma técni ca capa z de dar conta, de m a- tra lima árvore a 11 m jardine iro " (BRECHT, 1967 .
mo . Isto não qu er di zer qu e não po ssam os ver neira ohje tiva, da realidade psicológica e so cia l
alguma outra co isa qu e eles suge rem, mas não vo l. 16: 797).
enca rnam. As sim. a mesa sob a qu al Orgonte se dir etament e esse ator co mo um ser hum ano. que do hom em.
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326 i

~
R E A LIS T A -. '1" RECEPÇ ÃO

A teoria literária do refl exo da soc iedade na b. Mod elizaç ão " da realid ade 4 . P roced imen tos do Realism o / . Rcapresentar um es petáculo é levá-lo nova men-
obra de arte, tal como é exposta em LUKÁCS por te após uma interrup ção mais ou menos longa (de
Signifi car a realid ade é também prop or para ela
exempl o, é tot alm ente insatisfatóri a. A históri a Ca be à crítica "forma lista", preocup ada com algu mas se manas a alguns anos), na maiori a da s
um mod elo * de fun cionamento coerent e: tomar
não se "deposita" diretamente na obra. Numa obra um a desc rição dos proced imento s di scursiv os de vezes o mais pa recid o possível com o o riginal.
clara a cau sa lidade dos fenômenos soc iais, enco n-
realista, é ilusão esperar encontrar necessari arnen - sina lização do real, o mérito de hav er dcsmis- A ret o m ad a de u rna encenação é a lgo de lica-
trar a relação fund amental (o gestus * brechtiano)
te uma descriçã o da realidade em "s ua totalid ade tificado a noção de realismo co mo pintura di reta do, um a vez que esta, reapresentada, necessar ia-
ent re person agen s e classes, indic ar clarame nte
diversi ficada, agitada e e m devi r". Qu anto a que- do real. O real ismo não se prende a uma te mática mente estará desl ocad a e defasad a e m re lação à
de que pont o de vis ta o quadro é pint ado, des ve n,
rer apre sentar o tipo que une os elem ento s con- ou a con teúdos pa rticulares, ma s a u m conjunto primeira versão, talvez porque o públi co e suas
cretos e a lei que os abarca, o que pertence ao dar a "cau salidade co mplexa das relações sociais"
de técn icas: "O realism o nada ma is seria que um ex pectati vas pod e rão ter mudado . Essa é um a d as
domín io do "eterno humano" e o que é historica- (HRECHT) etc. Em última análise, a modeliza ção
conjunto de respostas técnicas a obrigações nar- razões pel as qu ai s, às vezes, o ence nado r pre fe -
mente determinado, eis um crité rio de realismo consiste em opo r e fazer coincidir o esque ma da
rativas, um as e outras for muladas mais ou menos re apresen ta r um a ve rsão com pleta me nte dife-
de difícil reali zação e igualm ente bastante estrei- realid ade (sua per spectiva e historicid ade) com o
de aco rdo co m a época e a pressão da dem anda rente, de mon stra ndo assim que tod a int erpre-
to (LUKÁCS, 1956: 98-153). d ~ públ ico (sua situação ideológica e histórica atu- socia l. Es sa s téc nicas de vem ga rant ir a transi - tação é rel ati va e pro visór ia. Muitas veze s, a
ai). O realism o, dir á BRECHT,não con siste em re-
tivid ad e e, port anto, a legibilidad e de um texto rea prese nta ção se si tua a meio caminho ent re a
3. Realismo Crítico produzir as coisas reais, mas em mostrar como as
em rel ação a um determinado públi co; ela s têm a réplica do antigo es petáculo, ao qu al preten d e
coisas realm ente são . dup la função de garantir a veracidad e de um en un- se r o mai s fiel po ssível, e uma no va ve rsão, que
o realism o, diferentemente do natural ismo, ciado - sua co nfor midade com o real qu e e le de- proc ura di stâ nc ia do mo delo anterior. Esse é o
não se limit a à produção de aparê ncias, nem à c. A bs tração signa - e sua próp ria verossimi lhan ça, ou sej a, caso da terc ei ra versão de Na Solidão dos Cam-
cópia do real. Para ele, não se trata de fazer co m O real is mo é, então, acompanh ad o por um a sua rel ativa in visibilidade ou sua " natura lização" pos de Algodão, mo nta da por CHÉREAU co m
que ll realidade c sua representação coincidam, busca de ab stração, de estilização * e de forma- (DUCHET, 1973 ; 448). diferentes parceiros (1996): .asiluayão dafal."a _
mas de fornecer uma imagem da fábul a e da cena lização para sim plificar a per cepção da fábula e No teatro , todas ess as téc nicas visam autenti- co ntinua a se r a mesma, as perso nage ns falam
que permita ao espectador ter acesso à co mpreen - dos det alh es cê nicos . Essa est ilização, inerente ca r a comunicação e o re ferente do dis c urso . A co m a mesm as mot ivações, mas sua rel ação com
são dos mecani smos sociais dessa realidade, gra- de fato a tod a representação artí stic a, aproxima - prese nça dofora de cena ", sempre vis íve l e m sua o te xto - e ta mbé m a de CIIÉREAU, co mo ence-
ças à sua atividade simbólica e lúdi ca. Essa posi- se do re al e m vez de distanciar-se del e. É, se- in visi bilidad e , propicia a prim eir a ilusão de um nado r - mudo u. e, de pronto, um outro tom se
ção se aproxi ma do procedimento brechtiano, que gu ndo MEIERHüLO , a marc a de todo re ali sm o mundo do q ua l se fala e de onde vêm as per son a- dest aca na peça de KOLf ÉS.
não se limita a uma estética particul ar, mas funda profund o: " É um erro opor o teatro es tilizado ao ge ns. Todos os discursos e ações " mais irr eal istas"
um método de análise crítica da realidade e da teatro rea lista. Nossa fórmul a é teat ro reali st a são natu ralizados pela presen ça cên ica e ex tra- 2. A ret o m ada de um pap el por um novo ator traz
cena baseado na teoria marxista do co nhecimen - es tilizado" (19 63) . cên ica . De fin itiva mente, é a ideo logia que , co rno
prob lem as idê nt icos à encena ção : não se troca um
lo. Esse métod o marca em demasia as atuais pes- di scurso da e vidência e do j á co nhec ido , ass ume
ator co mo um a peça num motor; s ua c hegad a
quisas da encen ação realista para que se dei xe de d. Realism o/formalism o o papel de ilu são referencial e de "garantia" de
modifi ca o eq uilíbr io das interpretações, as rea-
esboça r aqui seu sistema estético e ideológico. O real is mo não está ligado a u ma for ma ca - au tenti cidade realista. Assim, não é tanto o e feito
ções de se us parce iros de cena e, portan to. o con-
nônica. Mesmo a for ma mais rem atada d o rea- de re a lidad e qu e produ z a ilusão e a ide ntifi ca-
j unto da represen tação. Toda re apres enta ção é. um
a. Exprimir/significar lismo bal zaquiano não é, ao contrário do qu e ção. mas a identificaçã o com um conteúdo ideo-
pouco, uma no va enc e naçã o.
A cen a tem que "e x-prim ir", ex te riorizar u ma afi rma LUKÁCS, a ún ica fo rma reali sta. Co mo a lóg ico prev iame nte conh ec ido que produz a ilu-
real idade co ntida a princípio e m u ma idéia; e la realidade human a (psic ológ ica e soc ial) es tá e m são real ista (ALTHUSSER. 1965). .! No Brasil tam bém se usa, não co m muita pro-
não forne ce uma reprodução fotogr áfi ca ou um a perpétu a muda nça , també m a repre se ntação do - ~ pried adc , o termo orig inal francê s repri se .
quintessên cia do rea l. A cena "significa" o mun- homem no te atro de verá e vo luir. Tr atar co mo (.1 Imitação. efeito de real, realidade represen ta- (N . deT.)
do; apres enta, port anto , os signos pertinent es formalista uma pesquisa so bre um a for ma tea- ~ . da , realidade teatral, representação. veri smo,
história.
deste, afa stando-se de um decalque mecânico da tral adaptad a a um a visão nov a das coi sas é, por-
"natureza" . Essa encenação da ce na cuida da tanto, absu rdo , tão abs urdo qu anto acred ita r na
lngard cn, 1949; Luk:ícs, 1960, 1975 : Jacquot, RECEPÇÃO
perenida de d os co nte údos ao longo da evolução
distância co nveniente entre significa nte (mate- W 196 0 ; Brecht , 1967; Ch iarini, 1970 , 1971;
rial cê nico utiliz ado) e significado (mensage m liter ária (jorma lismo*). Ser reali sta é também , e Gomhric h, 1972; Poética ,1973 ; Am iard-Chcv rel , ~ Fr.: réccption; Ingl.: reception; AI.: Aufnahme,
a ser tran smitida). talvez so me nte , estar consciente dos procedim en - 1979: Chevrcl, 1982; Barthes <'I ai.. 1982 . 't...: Rrr cpti on; Esp.: reccpcion.
Port anto, uma reprodução real ista não utiliza- tos * es téticos ut ilizad os pa ra dec ifrar o re al. Eis
rá necessariam ente urna propriedade sensível do por que " res tabelece r o teat ro em su a realidade Atit ude e ati vidade do esp ectado r diante do
obj eto imitado; simplesmente cuid ará para que o espe tác ulo: man e ira pe la qual ele usa os mate-
de teatro" (BRECHT) e não se iludir sob re o po - REAPRESENTAÇÃO
espectador seja capa z de ident ificar este objeto ; der da ilusão se rão os prim eiros mand ament os riais fornecidos pel a cena para faze r deles uma
"O signo deve ser parcialm ente arbitr ário, sem o dos real ista s (teatrali zação*) . HRECHT e se us ce- expe riência es té tica . Di stingue-se:
~(Do francês repris e , rctornada .)
que se cai num a arte da expressão, nu ma arte da nógrafos (NE HER, APPEN) Icrnbrar -se- ão d isso 't...:
Fr.: rcprise; Ingl.: rcvivul; AI.: lI'iedertlllJ- - recepção de u ma obra (por um p úblico, uma
ilusão essencialista" (BARTHES, 1963: 88) . em se u " rea lis mo é pico". na hme; Esp .: reposiciou, época, de ter minado grupo). É o est udo histó ri-

I
1
328 329

- - - - ~ - - - -
R ECEP Ç Ã O RE C EP ÇÃ O

co da acolhida da obra, estudo da interpretação teatral . num espetáculo que pro voca sua capaci- • Estrutura ção das experiê ncias percepti vas an - dar conta da natureza ao mesmo temp o sernio-
adequada a cada grupo e período; dade de ident ificaç ão "; tem a impr essão de estar- teriores (es téticas e psicossociai s); qual é o ho- lógica (estrutural, sistemática) e ev entu al ([e"élle-
_ recepção ou interpretação da obra pelo especta- se confrontando com ações semelhantes às de sua rizonte de expectativa * dos suje itos. Não existe m ont icllcs . única. inco d ific ável , subordinada ao
dor ou análise dos processos mentais. intelec- própria experiência. Recehe a ficção » mesclada um modo uni ver sal de receb er a obra artí stica tem po da percepção) da prática teatral. Entre a
tuais e emotivos da compreensão do espetáculo. co m essa impressão de interpela ção direta : há (inte rcuh ural ví , materialid ade c ênica vista pelo espectador e a fic-
Este último aspecto é o que consideramos aqui. pou cas mediações entre a obra e seu mundo. e os ção que apela para sua co ns trução cog nitiva. são
códigos cênicos atuam diretam ent e sobre ele sem b. Códigos id eol ógi cos inúm eras as rupturas e as idas e vindas.
1. Uma Arte do Espectador que pareçam estar sendo manipulados por urna
• Conheciment o da realidade representada ", da
equipe e sem serem anunciados por um narrador;
realidade do públ ico. 4 . Rum o a uma Estética da Recepção
a. Confrontado diretam ente com o objeto artísti- o procedim ento " artístico é. e ntão. mascarado.
co. o es pectado r está litera lmente imerso num Finalmente e sobretudo. ao assistir a uma ação • Mecanismos de co nd icionamento ideológico
Os recentes trabalh os da Escola de Constance
banho de imagen s e sons. Se permanecer "fora" transmitida diretamente. o es pec tador se utiliza pela ideologia. pelos meios de co municação de
(JAU SS. 1970. 1977) permitem entrever- se um
do espetáculo ou se for englobado por ele. se ele dos modelos teóricos que co nhece. reconduz a massa. pela educação.
aprofundamento dos mecan ismo s da recepção.
lhe disser respeito ou agredi- lo. a recepção colo- diversidad e dos acontecimentos a um esquema
Será possíve l urna volta ainda mais proveito sa às
ca do mesmo modo um problema de estética e unifi cador lógico e. ao mesm o tempo. capaz de c. Códi gos est éti co-ideol ógicos
teses do Círculo de Praga (MUKARO VS KY. 1977.
ju stifica a elaboração do que BRECHT chama de estruturar a realidade exterior. • Códigos especifi cam ente teatrai s: de urna épo- 1978; VOOlCKA . 1975 ).
"arte do espectador". Assim. encontrar-se-ia in- ca. de um tipo de palco. de um gênero. de um
vertida a perspectiva tradicional da estética. Esta d. Con hece-se pouco os mecanismos que regem
estilo de atuação e m especial. a. Horizonte de expectativa
busca na obra e na cena as estruturas mentais e a dinâmica de um grupo de espectadores * reuni-
dos co m a finalidade de assistir a uma manifesta- • Códigos gera is da narratividade ". A reconstituição das ex pec tativa s do público
sociológicas do públi co e seu papel-na consti-
tuição do sentido: "Se se qui ser chegar à fruição ção artística. Semmencionar os pressupostos cul- • Códigos das categorias teatra'õis-=*"'.= = = = = = = {estétieas e ideológicas) e do lugar da obra na e v cio ~ - != = ='!
turais. o público forma um grupo mais ou menos lu ção literária leva a divi sar o es petáculo como
artística. nunca basta quere r consumir conforta- • Códigos de liga ção entre urna estética e uma resp osta a todas as etapa s da rea lização da cnce-
ma nipulado pela maneira com o é disposto na sala
velmente c sem muit o trabalh o o resultado da ideologia: nação.
de espe táculo: a luz ou a esc uridã o na platéia. o
produção artística ; é necessário assumir sua parte - O que é que o espectador espera do teatro ?
amo ntoa mento ou o confo rto alveo lar. tecem uma
da própria produ ção. estar num certo grau pro- - Que busca ele en contrar. na peça. de sua reali-
rede sutil no grupo e influe nciam a qualidade da b. O sujeito pcrcepi ente
dutivo. " permitir certo dispêndio de imaginação. dade soc ial?
esc uta e da experiência estética. Ele particip a ativame nte da co nstituição da
associar sua experiência pessoal à do artista ou - Que ligação exis te entre determinado modo de
opor-se a ela" (BREC HT. 1972). obra; desse modo. seu trabalho vai ao encontro
2. Códi gos de Recepção recepção e a estrutura intern a da obra. entre. por
do trabalh o do crítico e do escrit or.
exemplo. a existência brechtiana de não-identi-
b. Etmologicam entc, estética* é o estudo das sen- A recepção aparece assim com o um processo
Sem cair na armadilha da semiologia* da co- ficação e a fábula descont ínua e distanciada?
sações e vestígios da obra de arte no sujeito que que engloba o conjunto das práti cas críticas e cê-
municação " (e não da significa ç ão r v ou de uma - Co rno encontrar. por meio do trabalho dram a-
percebe. Certas categorias teatrais * (cornoo trá- túrgico e da ence nação, um código ideológico nicas: "A atividade teatral se situa. é claro. por
teori a da informação - disciplinas que fariam do um lado. no nível da representação do espetácu-
gico ", o estranho ou o c ôrnico ss. não poderiam que possibilit e ao públi co de hoje a leitur a de
teat ro um conjunto de sinais inten cional e direta- lo. mas. por outro. co meç a ant es. continua duran -
ser apreendid as de outro modo salvo na relação uma obra do passado?
mente transmitidos ao público - é importante des- te e se prolonga depois. quando se lêem artigos.
do suje ito com o obje to estético. Trata-se de es- - Co mo fazer co m qu e a h istori cit aç ão" interve-
tacar alguns códigos* de recep ção (mesmo que
tabelecer em que medida a percepção já é uma nha e co mo possibi litar ao público co nside rar fala- se do espetáculo, vêe m-se os ator es ete. É
ess es códigos só existam teoricam ente. ou até hi-
interpretação ", até mesmo uma recriação da sig- determinado siste ma soc ia l a partir de outro? um circuito de trocas qu e atin ge o conjunt o de
poteticamente):
nificação. particularmente nos textos ou espetá- - Por que uma época aprecia a tragédia. outra pa- nossa vida" (VO LTZ. 1974 : 78).
culos em que tudo se baseia na profusão ou na rece reunir as co ndições ideais para o cô mico. O es pectador é mais ou menos co mpetente, isto
a. Códi gos psicológi cos
ambigüidade das estrut uras significativas e dos ou para o absurd o etc.? é. deté m mais ou menos as regra s do jog o : essas
• Percepçã o do espaço: examina-se como o pal- regra s podem ser aprendidas. podem contrib uir
estímulos nos qua is o es pectador deve. necessa- - Podem-se distinguir vários diferentes modos de
co ou o dispositivo cê nico apresenta a realidade co municação teatral? para o aprimorament o de sua percepção. mas es-
riamente. se comprometer em sua própria pista
artí stica; como se utiliza a perspect iva; quais são tão. às vezes. deterioradas pelos maus hábitos de
hermenêutica *.
as possíveis distorções da visão; em que medida recepçã o ou pela " matraq ueaçã o" da mídia.
3. Ficção e Aco ntecimento
o es petáculo está armad o em função do ponto de
c. A dificu ldade de formalização dos modos de
vista dos espectadores. c. Teoria da co nc retização, da
recepção diz respe ito à heterogeneidade dos me- Co nside rando -se a hipótese ideal a partir da
canismos em jogo (estética. ética. po lítica, psico- • Fenômeno de identifi ca ç ão" : que prazer o es- qua l esses códigos pudessem ser reconstituídos. fi cciona lizaç ão e da id eo lo gia
lógica. lingüística etc.). Ela é também inerente à pectador extrai dele; de que maneira se produ- a etapa final co nsistiria e m constatar as possívei s A teoria global do text o dramático e espetacu-
situação de recep ção própria do espetáculo. O zem a ilusão e a fantasia; que mecanismos incons- interações entre a ficção narr ativa e o aconte ci- lar se esforça para determinar de que maneira a
espectador é "imerso" em pleno acontecimento cientes são interpelados por e les. mente " da representa ção co ncreta. Seria preciso obra é concretizada historicam ente em função da

330 33 1
R E CITAN T E
REGRAS

mudança do "contexto total dos fen ôm enos so- moment os líric os e mu sicais. No século XV II, flo- RECRUDESCIMENTO DA AÇÃO REGRAS
ciais" (MUKAROVSKY. 1931 : 389). cont exto esse resce, na Fran ç a, na tragédi a lírica, o rec itati vo
que é o da obra neste ou naqu ele mo mento da
evolução hi st óric a, Ela estuda os processos de
decl am ado: mudanç as de ritm o, apo io da orque s-
tra, art ific ialidade da dicç ão.
ê FI'.: reb ondisscment d e F'a ction; Ingl. : rc- ê r-. rég lcs ; Ingl. : rul cs ; AI.: Re g" III; Esp .:
bounding of 11" , action; AI.: l\ 'i cd cl'lllll1cbcl/ reg ias .
ficciona lização, enquanto confron to do texto e da O recitati vo é um me io bastant e efic az para der l Iandlung ; Esp.: rcsurgunicnto de la a cci ôn .
ce na " , me diação da análise dr amatúrgica e do marcar mudanças na textura do texto dramático e I. Regras Normativas
rel acion am ent o do texto d ram ático c/o u espeta- do es petác u lo. Te rmo d a dram atur gia clássica . M omen to em
cular co m os textos da ideo log ia e da h istória ' que, ap ós u ma espécie de "calma ria" (dimi nuição Co nj unto d e co nselho s ou preceito s fo rmu la -
(PAV IS, 19 85 : 2 33-296). passage ira d os conflitos " e das co ntradições) af cí- dos por um te óri co o u aut or de poé tica . As reg ras
RECONHECIMENTO bufa * progride novamente para sua co ncl usão. Um são tidas co rno gui as do dr amaturgo em sua com -
~ Texto dram ático, pragmática. socioerítica. ac onteci mento inesperado (um golpe de teatro*) posiç ão" dramáti c a.
m Descostes. 1964 ; Dort, 1967; Lagrave, 1975;
ê F ~ : : rl'col/Ila issa l/c." ; Ingl.: r e c o g ~ ';l i ol/ : AI.: derruba o c urso da ação e retom a a intriga .
\\, eclc r erkt '11I1 CJl; Esp .: r eCOIl OCIJ111 Cn lo .
Warning, 1975 ; Tu rk, 1976; (D as) Theater und a. A tranqü ila seg ura nça dos dout o s se m dúv ida
sei" Publ ikum , 1977; Cau ne, 197 8; Fic guth, 197 9; pro vém (a lé m da c re nça nos mod elos a ntigos) de
Na dramaturgia c láss ica, não ra ro oco rre que RE CURSO DRAMÁTICO
Bc cker ma n, 1979 ; Hinkle. 1979; Eco . 19 80 ; su a co nvicção de que a arte dramáti c a é um a
uma personagem sej a reconhecida por outra, o que
Co ppie ters, 1981 ; Gourd on, 1982 ; Gu arino, J 982a ; techn é cuj os seg redos podem se r descob ert os . A
dese nlaça " o co nflito , desarm and o -o (no caso da ~ Fr.: re sso rt dramatiquc ; Ingl.: main spring oi
Heistein, 1983. 1986 ; Avigal e Weitz, 1985; biblio- idéia de mod e lo a se r im itado e de regr as destin a-
grafia ge ral in Pavis, 1985 : 330-340, 1996a; l'erSlls. co média) ou conc luindo -o trágica ou magicam en - ~ lhe a ction, d ramatic potential; llandlungs- das a co nve nce r o espectado r de que ele es tá a s-
1985 ; Schoe nmakers, 1986. te (g raças ao deus ex máchi na r'y. Para ARISTÓ- p o tent ial; Esp.: recurso dramático .
sistind o a um acont ec imento real é mai s im po r-
TELES ( Po ética) , o reconheci mento ia nagnorisis v
tant e do que a noção contemporânea de regras
-é umdes três itinerários possíveis da fábula . Ele J. Recurso dramático é o mecanismo que; de ma-
RECITANTE estruturai s o u de funcio name nto textual.
sucede à falh a trágica do herói (ha mart ia *) . Se u ne ira e ficaz , mas qu ase se m pre ocu lta , co ma nda
exemp lo mais cé lebre é o Édi p o de SÓFOCLES. a ação , organiza o se ntido da peç a, d á a c have
h. A questão das regras ultrapassa rapidam ent e o
Ve r Na rrador ( I). Além do tip o de reconh ecim ent o - no fim de das moti va çõe s e da intriga . Esse s recurso s es -
âmbi to do co ns e lho técn ico, para se tom ar um a
co ntas, limitado - de uma persona gem . a repre- tão sit uados nas mo tivações da s per sonage ns. na
qu estão moral e até política. Ela se col oca, então,
se ntação joga sis te ma tica mente com a ca pac id a- dispo si ção d a fábul a. no suspe nse" da ação e no
RECITATIVO em lerm os de lib erdade ou de vexa me : o artist a
de es pec tadora de reco nheci me nto (ideo l óg ica , co nj u nto do s proced imentos cênico s qu e contri-
tem d ifi cul d ade e m aceitar, prin cipalm ent e se fi-
psico lógica ou liter ári a). El a produ z, e ntão. a ilu-
ê (Do it ~ li a n o recitativo.) . . .
s ão" nece ssár ia ao desen vol vimen to da fi c ção.
bu e m pa ra c riar urna atmo sfe ra te atral e d ra má-
tica capaz d e c ativar o es pec tador: " O seg redo é
ze r suces so junto ao públi co, qu e se legi sle sob re
Fr.: réci tatif; Ingl.: rec ua uve; AI.: Rczi tativ ; todos os as pec tos d e sua arte. LOPE DE VEGA,
Esr .: reei/ativo. O dr ama só acaba qu ando as person agens to ma- ag rada r e toc ar: in ventar recurso s qu e possam
em sua N o va Arte Dranuuica (1 60 9), por exem-
ram consc iênc ia de sua situ ação, reconhece ram me prender" (1l0 ILEAU). A utili zação de recur-
plo, dá pro vas de um a liberd ade de ação e de fa la
Na ópera ou na cantata, pa rte dcclamada - e a torça do destino ou de um a lei mor al . bem co mo sos , pe rm itida e até aconse lhada pel a dramaturgia
qu e fa ltará ao s trág icos france ses trinta a nos de -
não ca mada - cujo ritmo e métrica diferem pro- se u pap e l no uni ve rso dra mático ou trágico. c lássi ca , pre ssupõe se m pre o go sto po r e fe ito s e
moti vaçõe s fáce is, pelas mot ivaçõe s oc ultas do pois: 'Tai s co isas ofendem bastante os ente ndi-
funda men te da m úsica que o precede e da que Ihc Ao cr itica r o e fei to de ilusão da ce na natura-
co mpo rtame nto: "O sis te ma mo derno d a tragé- dos; pois be ml, qu e qu em ficar ofendido co m e les
dá seq üência, pela ob se rvaç ão da acentuaç ão e lista, BRECHT tentou substituir o reconhec im en-
dia co loc a e m j ogo to dos os recurso s do coração não vá assistir às nossas co médias [... ] Se o qu e
inflexão do discurso falado. O recitar ivo se ada p- to-ac eit ação por um reco nhec imento c rítico, d is-
tanciand o o obje to aprese ntado : " A re prod ução huma no " . e sc reve u MARMONTE L. realm ent e imp orta é agradar o espec tado r. tod os
ta às mu danças de emoçõe s, de narr at iva e de re-
distanc iada é um a rep rodu ção qu e perm ite, ce rta - os me ios são vál idos para co nseg ui- lo" .
tóri ca. É tant o mod o musical de di zer um texto
me nte, reconhecer o obje to rep rodu zido, mas, ao 2. O co rde l. image m favo rit a e ex cess iva do re- A d iscu ss ão, qu and o não é apaixo nada, g ira
fa lado , qu ant o form a verba l da mú si ca. Ser ve
mesm o tempo , permite torn á-lo ins ólit o" (P eq ue- c urso . é. de fato, u m term o irô nico, pej or ati vo, e m torno d a nece ss ida de das regras e das unid a-
co mo transiç ão entre dua s ári as ou se torna um
/ 10 O rganon, 1963: § 4 2) . Nesse cas o. pou co im- qu e des ig na o qu e ata e " segura" os epi sódios des: essa necessid ade é baseada na ra zão ou é
Sprechgesnng, "canto falado" e m SCHENNBERG
port a se a per son agem tem ou não co nsc iência de ou a s person agen s de um a peça, o q ue po ssibili - ape nas rel ati va e es tá vinculad a à mudan ça d os
e nos sOl/g s ' brecht ianos.
No teatro falado, o recit ativo co nsiste em cer- suas co ntrad ições e da so lução de las, des de que o ta a se us c riadores manipul á-l os co mo mari on e- gos tos c d as norm a s estét ico- ideol óg ic as? Um a
tas passa gens declamadas e m outro tom , diferen - es pectador haj a tom ado co nhec ime nto delas e do- . tes, e m fun ção das necessidades cap ric hos as da discu ssão dessa s nã o termina facilment e , poi s as
te do ut ilizad o no tex to e m ge ral: como os Icit- minad o o fun ci onament o ideológico do uni ver so intri ga. Qu ando e sse s eleme ntos es tru tu rais e regra s, e m s ua ex tre ma codificação, es tão vin-
mo tive " e os refrõ es temát icos (TCIIÉKIIOV), repr esent ad o e do seu próp rio univ erso. es se s proced imento s dram atúrgi cos sã o dema- cul adas a uma or dem e fêmera - quem, hoje , se
corno certas partes muito "co nstruída s" da narra- s iado a uto má ticos e visí veis. a peç a é um a p eça preocup aria em obe decer a unid ade de tempo e
tiva cláss ica, co rno os mon ólogos ditos em tom Q .. Efei to de recon hecimento. catarse , mime sc, bem- feita " , mas, o d ram atu rgo é ap e nas um artí- de lugar para escre ver um a telenov ela ? - , é, no
de co nfi dê ncia ou, enfim, passagen s que indica m 'I< im ita ção . realismo, disfarce. fice , um " Se nhor Corde l" (alcunha d e SCRIRE), e nta nto , ev ide nte qu e o dram atur go in iciant e
transi ções na ação (comentári os épicos, por exem- cuj o v irt uo s is mo não pa ssa de um a técn ica me- pode tir ar pro vei to das regr as da co ns trução d ra-
plo) ou indi cações sob re a ligação entre vários Ahhusser. 1965 ; Fo rcstier, 1988. c â nica c re petiti va. máti ca ou da ve rossimilh ança .

332 333
R E GRAS RE L A Ç Ã O P A L.CO-PL ATEIA

Foi na Itália do Renasciment o que se elab ora- Se se pro curar ident ificar a ve rdade ira nature. trutura da narra tiva s dr am átic a. Con siderada de constituem toda a narrativa o u a dram aturg ia a
ram, por diversos auto res de poética (CINTHI O, za desse poder legisl ador, deprcendc-se um nú - aco rdo com a ev olução liter ária, essa regra nada partir da s regras da estrutura profunda. essas gra-
GUARINI, CASTELVETRO) as regras que os te ó- me ro sig nific ativo de critérios se m grande dcn o- tem de absoluta; varia conforme a mudança qu ali - máticas propõem regras fundamentai s de rce s-
ricos franceses do sécu lo segu inte (CIlAPELAIN, min ador co mum: tati va das dramaturgias: de sse mod o, a regra do c ritu ra. T. PAVEL (1976) propõe um a ad apta ção
LA MESNARDIÉRE, SCUDÉRY) estabeleceriam - as lei s de um gê nero teatral (co mé dia, tragédi a) co nfl ito da int egr açã o da s ações num pont o no- do m od el o proppi an o e gre imassiano para as tra-
por vezes co mo dogm a. Por vo lta de 1630, a 1'0- o bedecem a certas constante s qu anto à recep- dal não vale mai s par a o teat ro épi co, nem para o gédias de CORNEILLE ian álise da narrativa sí. A
lêrnica sobre as boa s regras chega ao auge. A çüo* do públi co (por ex .: di stanci amento \ 'S happening , Out ras norm as to ma ra m seu lugar seg uir, ess a base se rá completada e variada por
"Querela do Cid" marca o momento mais agudo e moç ão; fantasia \'s necessidade etc.); (como a autonomi a dos elementos c o desarme dos uma séri e de sub-regras qu e diferenciam os tipos
do conflito entre o êx ito pr áti co brilhante e a falta - tradição estética: a influência de ARISTÓTELES conflitos, no prim eiro cas o , invenção permanent e de fábula e de textualização v dos conflitos.
de regra s. Os argumentos trocados variam da cc r- e de seu s co mentá rios é capital : o esqu ema da das ações coletiva s, no segundo). A regra estrutu- Esse uso das regra s de escritura propicia re-
teza de atingir a perfei ção através da s regra s Poéti ca tem força de lei ; ral é puramente descrit iva ; é válida somente no su ltados, em suma, decep ci on ant es. Primeiram en-
(" Q uanto mais o poem a se aproximar dessas rc- - as regr a s de deco ro * e de verossi mi llmnçn ~ âmbito específico de uma peça o u de UQl mod o te , é pre ciso ress alt ar qu e ess as regras se referem
gras, mais é poem a, isto é , mais estar á próxim o va ria m de acordo co m a norma ideo lóg ica e a dramat ürgico: esta be lec ida por indução a partir de unicament e à sint axe narrati va, não se nd o, por -
da perfeição ", CHAPELAIN, no prefácio de Ado- e strutura da soci edade: é co m pree nsíve l qu e, vários textos é. em seg uida, aplicada experimen- tanto, esp ecíficas da dram aturgia e , menos aind a,
nis), ao ce ticismo do artist a diante dos esquemas no século XVII, os heróis tr ágicos de vam ser talmente aos text os, modi fic ad a e tomada preci sa da repres entação. Ora, a semântica abstrata dos
de acord o com os fato s. Esse circuito dialético entre co nfl itos e das ações é ap en as uma part e da mani-
teóric os ("Co mo estabe lece rmos regra s gerais para re is ou príncipes, e não indivíduos ridículos
o bra e regra estrutural a fina as regras e a aná lise do festa ç ão teatral. Ser ia pre ciso questi on ar também
uma arte em que a práti ca e o jul gamento aprc - co mo o co m um dos mortais represe nt ad o pel a
text o dele dec orrente. E videntement e, não se de s- a ce na q uant o à sua capaci da de de o rganização
se ntam novidades tod os os di as"!", RACAN, carta co méd ia ;
carta o fato de que as regr as normat ivas dos dout os co nfo rme co nstantes an ál ogas às re gr as narrati-
de 25 de o utubro de 1654 ). - regras da s unidades" : unidad e de tempo (a ação
imprimem sua marca às regras estruturais da dra- vas. Fin almente, o imen so co ntinente das canven-
Sem dúvida, ex agerou-se a respeito da influên- não pod e exceder a duração da repre sentação),
maturgia, per um lado, porque os dogmasàs vezes çães* teatrais - sejam elas histócicasrestétiGas QU
clli da nõ-rinã'e-aa"fegwaríiJãiíe" rios"autores d r s ~ - "- -üeIugat (o espaçO da açãonão muda), de ação
se bas eiam num a análise ret órica " pré-estrutura l" es pecí ficas de det erminado tipo de j ogo - perma-
sieos. Sej a co mo for, os de mai or prestígio têm (co nce ntra da num úni co ac ont eciment o).
da t éc nica teatral; por o utro , porque os dramatur- nece ainda mal explorado. A ge nte se co nte nta
por lema agrada r co nfo rme as regras: para COR· facilment e demais em regul ar o pro blema falan-
d. A hi stó ria da s regr as é in st ruliva tanto para o go s devem subme ter-se ao menos a ce rtas prescri-
NEILLE, a finalid ad e da po esia dram ática é "agra- d o de co nve nções de recepç ão , se m analisar an-
es tudo socio lóg ico de um d eterminad o g ru po, ções dos dout os. A qu estão ess enc ial é encontrar a
dar e as reg ras qu e e la nos prescreve são apenas teriorment e a função e as co nse q üê nci as cêni cas
qu anto para a verd ad eira co m pree nsão da estru- fun ção profunda de um a reg ra dr amát ica e obser-
habilidades para facilitar ao poeta de fazê-l o, e da s regr as convencionai s.
tura literária. O pa ralelismo es tético - po lítico é var em que medida ela contribui par a dar form a ao
não-razões que possam pe rsuadir os espectado-
mod elo dramat úrgico empregado, A polêmica dos Antigos c dos M odernos não
im pr ession ant e: é no s sé cu los XVII c XVIII qu e
res de que uma co isa é agr ad ável, quand o el a os terminou : ela passa pela a va liaç ão das regr as de
a doutrina literária se forma e pretende uni ver- Qu and o é pos sível agrupar vári as regra s e s-
de sagrada" (de d ica tó ria de Medéia , 1639). No at uação. E é util gua rd ar na mem óri a a o bsevaç ão
sa lizar-se, no mom ent o e m qu e o poder mon ár- trutura is de um a mesma es co la o u de um me smo
prefá cio de Berenice, RACINE nos faz lembr ar que cé tica de MATlSSE: " As regr a s não ex iste m fora
qui co atin ge se u a poge u C tenta le gi sl ar para a auto r, chega -s e 1, re con stitu içã o de seu esqu em a
" a regra princip al é agradar c toca r: todas as ou- do s ind ivídu os, se não tod o profe ssor se ria tão
m anut en ção " racio na l" traisonn écs d e seu po- tem át ico e narr ati vo . T. PAVEL prop õe a se g uin-
tras são feitas apen as para se che gar a es sa pri- genial qu anto RACINE" .
de r. As regras são rel axadas no sécul o XVIII e , te seqüência co mo reg ra de fun c ionamento do
meira". Tal prud ência diante da doxa crítica de sob retudo , no século XIX, qu ando as e struturas uni verso trágico da s person agens racinianas : " I )
se u temp o ates ta , e nfim, u m certo pessim ismo id eológi co-p olíti ca s vac ila m . Quanto ao sécu lo e las a mam à pr im eira vist a : 2) sentem o efe ito
G) Unidades, con ven ções , est ruturas dram áticas,
perant e a regul am entação de sua arte, mas tam- - \:.., cód igo s, aná lise da narrati va , d ramatu rgia
X X , a ex p losão das ide o log ias, do s s iste mas e da proibi ção , tent am lut ar co ntra a paixão e al - cl ássica .
bém o desejo de não bat er de frent e co m o gosto das formas fazem co m qu e con sideremos as nor- g umas vezes pe nsam tê-l o co nseguido; 3 ) per-
e sua cresce nte jurisdi ção . A imp osição de re -
gras era também uma man e ira de est abelecer uma
m as poét ic as como anacroni smos grita ntes. cebem a inutilidad e de ssa luta e abandona m-se
à pai xão" (1976 : 8) . N ão há um a maneira uni-
m d ' Aubigna e, 1657: Bray, 1927 : Sc herer, 1950;
MoreI, 1964; Viala, 1985.
distinção em fa ce das peças de m áquina", as 2. Regras Estruturais versal de formali zar o e squem a actanci a1. R.
quais , muito mais es petaculos as e populares, não BARTIIES propor á uma dupla equ ação caract e-
eram submetidas à mesma jurisdição. rísti ca das açõe s c, ao me smo tempo, da s per so -
A noçã o de regra ou regul aridade estrutural tem RELAÇÃO PALCO-PLATÉIA
um se ntido co mpleta me nte diferente numa ab or- na gen s: " A tem todo poder so bre B - A am a B
c. A pal avra regras en globa duas noções hete- dagem estruturalista d o texto. A regra é uma pro - qu e não a am a" (1963 : 34 -3 5) .
~ Fr.: rappo rt scenc-salle; Ingl. : stage -audicncc
rogên eas: prim eir o, as regras o u técn icas da cons- priedade c urna função da dr amaturgi a utilizada: rel ations hip; AI. : th ea tralisch es Grund-
trução literária qu e respondem a certa análise dos po r exemplo, a regra da abertura c da resolução 3. Regras de uma Gramática Geradora da vcrli ãtnis; Esp.: relacián esccna-sala.
mec ani sm os teatrai s: segundo. as reg ras ideoló- do co nfl ito" ou a da co nvergê nc ia da s intriga s " Narr ativa Teatral
gicas do bom go sto . da verossimilha nça ou da pr incipais o u secundárias na ca t ástrofe" final ou I . Cenografia
unid ade de tom . Esta s têm uma ba se muit o mais no ponto de integ ração". Nas tentati vas de formalizaç ão de uma gr amá-
subj etiva e vari ável co nfor me as época s e as so- Esse tipo de regra não é nem norm ati vo, nem tica narrati va atinge-se um grau final de ge nerali- Di sp osição rel ati va do palc o e da á rea de atua-
c iedades . o m amcntal; é conseq üência metodológ ica da es- zaç ão c, tal vez, de cienti fic ismo . Já que não re- ç ão soh re a tran sm issão e a re cepção do espetá-

334 335
R ELAÇ Ã O PA L C O - P LAT EI A RE P E RTÓ R I ,

culo. Não se fala indi fc rcmcmente da s mesma s lamento, uni cidade e recepção. Este no vo tip o de Hays, 1977 ; Pavis, 1980c; R. Durand , 1980 ; um a d istânci a c rítica . pro vocada por rupturas e s-
co isa s num palc o italiano, num teat ro de arena ou rela çã o par ece qu er er superar a opo sição identi - C ha m b crs , 1980.
téti cas de atuação (efe ito de estr anh am ent o) o u
oum palco e lisa betano. Cada palc o possui seu ficação/di stanciamento . por mecani sm o ideo lógico (BRECHT). A rel aç ão
próprio mod o de relaç ão" com o público: ilusio- ent re público e rep resent ação é sinto má tica da-
nism o, parti cipaç ão. interrupç ão do jogo. co nsu- d. Modifica ç ão da relaç ão ficçâo-rcalidade RELAÇÃO TEATRAL quil o q ue a en cenaç ão espera do ato te at ral : sub -
mo etc. Cada tip o de palco tend e a reprodu zir as mi ssão. crítica , div ertiment o etc. A rel aç ão entre
O teat ro às ve zes empenha-se em modifi car a
es trutu ra s de um a ce n a soc ieda de: hierarqui zad a ~ Fr.: rclation th éàtrale; lngl.: sta gc au di encc
relação entre a áre a de atuação (a ficç ão ) e a pla- pal co e plat éi a, mesmo que sej a con ciliatória
para o teatro italiano. mais comunitária para o tea- 't..; re lat iouship ; AI.: tlic atrali s ch cs Grun d-
téia (a realidade) . Ao explodir o quadro' cênico (ide ntific ação g lo ba l com a cena) ou divida pro-
tro popular e m forma de are na, dividido pa ra o vcrhãlt nis ; Esp .: rela ci ôn teat ral .
tradi cion al , el e tenta usurpar, graças à ficção , o fundam ent e o púhlico (co mo qu eria BRECHT), é
percurso " teatral . Entr etant o, não se ria necessá-
espaço real do es pectador, pôr em qu estão a se - se mpre de co n fro nto , A defini ção mínima de tea-
rio se deixar en gan ar por um determinism o es- Visu alização e co ncretização das inúmeras re-
gurança de um lugar de onde se observa sem ser tro e stá inteira co ntida aqui : "o qu e se passa e nt re
treito entre o tip o de sala e o tipo de so ciedade laçõ es dentro do processo cr iativo: e ntre autor,
implicado. À s veze s, certos espetácul os (j ogo espectado r e ato r. Todas as outras coi sas são su -
(cf BRECHT repr esentando num palc o ital ian o, a c nccnado r, ato r e todos o s outros memb ro s da
d ramático o u happ e ning s s gostariam de anular plementares" (GROTOWSKI, 1971 : 31 ).
falsa dem ocratiz ação dos palcos em form a de are- eq uipe de realização ; entre as pe rso nage ns e . de
ess e espaço do olh ar para integrá-lo à ficç ão , de
na qu e visam fazer o público parti cip ar ctc.). Ape- m an eira glo ba l, ent re o espe tácu lo e o púhl ico .
sar de tud o , é ve rdade que a enc enaç ão co ntem- modo a derrubar a barreira entre palc o e platéia . 4 . Rela ção C rítica
porân ea tem o maior cuid ado em estabele cer uma Todas ess as tentativas se chocam, todavia, com o
I . Relações Entre os Criadore s
relação apropri ada, se necessár io co nstruindo olhar do es pectado r, quc institui de cara a se pa - A visu ali zaçã o da rela ção palco-plat éia " não
uma ce nog ra fia específica no inte rior do invólu- ração entre o seu mundo e o univ er so fictíci o. deve fazer co m qu e se es queça uma última rela-
A cade ia das int erpretaç ões " e tr an sf ormaçõe s
cro ex terio r do teatro exis tente. ção. de lon ge a m ais imp ort an te: o trabalho de
do sentido teatral entre o autor - ele próprio sub-
3. .Permanência da Dualidade Palco- recepção e da interpretação* critica. O trabalho
metido à influência de determinada époc a, clas-"
2. Troca Entre Palco e Platéia Platéia se , ho rizon te de exp ectativa * - e o ato r qu e int er - co m base na repre sentação e nvo lve o es pec tado r
pr et a uma per son agem é muito ext en sa. M esm o fazendo-o ultrap ass ar a simples descrição da es-
A lém dessa rela ção ce nog ráfica co ncreta , pal- Na ve rda de, em vez de anul ar-s e , a di st ãn- trutu ra inte rna da o b ra.
se fo r qu ase impossível ilum inar as e ta pa s de sse
co e platé ia mant êm rel açõe s psic ol ógicas e so- cia" entre palco e platéia se aprofunda. E st a é processo , ca d a en cena ção con stitui uma tentati va Es sa relaçã o cr ít ica não se esgota no "esc ru -
c ia is que relletem a finalid ad e do espe tác ulo. mesm o a m ar ca fundamental da repre sentação de resp ost a a es sas trocas e ntre os di ver sos suj e i- pul oso invent ário das pan es da ob ra e na an áli se
tea tra l. Só mu da o pr oj eto esté tico do d ram atur- tos d a e nun ciaç ão cênica fin al. de sua s co rre spo ndê ncias estéti cas; é preciso q ue,
a. Identifica ção " go : enc ur ta r o u aumentar esta di st ân cia . Para o ainda por c ima , inter venh a uma variação da rela-
drama musi cal wa gneriano, por exemplo. a or- ção estabelecida ent re o crítico e a obr a - varia-
O palco italiano exig e do espectado r' que se 2. Relações Entre Persona gen s
qu estra dev er á se r ente rrada para nã o a trapa lha r ção graças à qual a o bra desen volv e diferentes
id enti fiqu e co m a ficção, proj et ando -se nel a .
a fusã o en tre pa lco e platéia . O teat ro ép ico , ao as pec tos e g raç as à qu al tam bém a co nsciê nc ia
Tem- se o costume de dize r q ue o pa lco reproduz
co ntrário . acentuar á a diferença: se e le bu sc a
o teat ro é a arte das relações socia is e nt re os
ent ão a estrutura do públ ico cham ado a se entre - crítica co nq uista a si pr ópria, passa da hetcron omia
hom en s. Fo i possível retraça r sua hist ória e xa mi-
"e nter rar a orq uestra" (w. BENJAMIN). é para aí à aut on omia" (STAROBINSKI. 1970 : 14 ).
gar e m hl oco nas mãos do s atores -ilu sionistas nad o-se a natureza do s vínculos int er-humanos.
(denegaç ão" ). in stal ar. no lu gar, um pó dio, e desvendar m elhor
Det crminada am es do Renascim ent o pela relação
os m ecan ismos da ilu são cêni ca. In ú meras ex- Distância. comu nica ção teatral. recepção. her-
do hom em co m Deu s. a rel ação intcr pe ssoal se
pe riê nc ias so bre a di stância palc o-plat é ia vão no menêutica.
b. Distân cia " crítica co nsti tu i a se g uir co mo pi vô da a ção human a, os-
sentido wa gn eriano da fusão para estimular a par-
Ao contrário, o palco brechtiano cava um fo s-
so ent re palc o e platéia, imp ed e o "deslocame n-
ticipação . MEIERHOLD junta o s doi s pela " pas-
c ilando entre lib erdade e ne cessidade. Por volt a
do final do séc ulo XIX . a c rise do d ram a anunc ia
m Goffm an. 196 7; Reiss. 1971 ; C aunc, 1978 ;
sarel a das flor e s" , emprestada do teat ro japo nês . Cha mbcrs, 1980 : Durand, I 980a; Pa vis, 198Oc;
to" do int er esse da sala para o palc o. prov oca um a O teat ro de a rena o u os palcos explodidos vis am a ruptu ra desse ví nc ulo e das diver sas tent ati vas Il clho, 1983,,; M urtin , 1984.
di stânci a c rítica e divid e o público a propósito da dramat úrgicas de sa lvamento ou ultr apassagem do
a me sm a integração . Porém, seja a relação fron-
peç a. Est as contradições so ciais da plat éia (se tal-lat eral, en globadora ou superficial, a regra do diál ogo int er-humano (SZONDI, 195 6).
exi ste m) rem el em àqu elas da ficç ão, e vice-ver- d ua lis mo se mant ém para todo espet áculo. O que RELATO
sa. A re lação palc o-pl atéia é, port anto , UlIJa es- va ria é a di st ância es tética entre o espectador e a 3. Relações Entre Espectador, Ator C
pécie de barôm elro que indica COlIJO o teatro age ce na, a mane ira pela qu al a recepç ão" det ermi- Pe rson agem Ver Narrativa .
sobre UIIJ público, na a compreensão do espetáculo. Est a confu são
no emprego o ra concreto, ora cognitivo da d is- A ident ifica ção do ator co m a per sonage m e
c. A ltern ãncia tân cia o u d a per specti va', está na base de to dos do espectado r co m o ator-per sonagem é necessá- REPERTÓRIO
Busca de um a relação variá ve l entre palco e os paradoxos so hr e a ilusão , ma s também é a ria para o estabe lec imento da ilusão * e da fi cção *,
ê
platéia , alt ernando idcntificuç ão c di stânci a (WIL-
SON, DEMARCY, LASSALE). proxi m idade e aras-
fonte de toda refl ex ão sohre a es pec ific id ade da
co municação teatral. ! ma s é, ao mesmo tempo, muit o frá gil e am eaçada
d e ruptura e de denegação ". Estabe lece-se então
Fr.: répcrtoirc; Ingl : rrpc rtor y; AI.: Rcpe rtoire;
Esp. : rcp ertorio ,
i
336

J 337
li RÉPLICA KEPRESENTAÇAo TEATRA

te" e "pôr ar'. Acham-se aqui sublinhadas a fron-


I: 1. Conjunto de peças representadas por um mes- o fio de um texto coerente e mono lógico; ele in- a proposição: a diversidade das representações
mo teatro durante uma temporada ou por um lap- terpreta cada réplica dentro do contexto cambi- tal idade e a exibição do produto teatral, que é imagináveis multiplica o sentido do texto que
so de tempo ("repertório da Cornédie-Française", ante das enunciações. A estruturação do conjun- entregue ao olhar, assun como é colocado em não é mais o centro fixo do universo teatral, como
"inserir uma peça no repertório"). to das réplicas fornece indicações sobre o ritmo exergo, visando o cspetacular". se acreditou por muito tempo.
da peça e sobre a resultante das forças em conl1i-
2. Conjunto de peças, franeesas ou estrangeiras, to. O jogo das réplicas não se situa somente no c. A palavra inglesa performance indica a idéia c. Exteriorização ou ponto de partida?
de um mesmo estilo ou de uma mesma época ("re- nível das oposições semânticas entre as figuras; de uma ação realizada (to I'l'Ijorm) no próprio Hoje se considera a representação como o dado
pertório moderno"). O teatro de repertório é às ve- ocorrem no nível da entonação, do estilo de atua- ato de sua apresentação. A "performance" tea- do qual é preeiso partir para analisar a encena-
zes oposto ao "teatro de pesquisa". Desde COPEAU ção e do ritmo da encenação. Para BRECHT, a ins- tral envolve ao mesmo tempo o palco (e tudo o ção*- Essa concepção assumidamente teatral (e
e sua "tentativa de renovação dramática" (1913), o talação das réplicas se dá como num jogo de tê- \ que, antes, prepara o espetáculo) e, depois, a pla-
téia (com toda a recepti vidade de que ela é ca-
não mais literária ou mesmo dramática) só se
repertório compreende os c1ássieos, as criações nis: "A entonação é pega no ar e prolongada; daí desenvolveu a partir da sistematização da prática

I
contemporâneas e tudo o que o enceúador julgar resultam vibrações e ondulações de entonação que paz). A teoria lingüística dos pcrformativos sus- da encenação". Anteriormente, a representação
útil para a eonstituição de uma programação de atravessam cenas inteiras" (Thcaterarbeit, 1961: tenta ainda a conceitualização do ato realizado clássica só aparecia como a parte exterior e se-
qualidade organizada para vários anos. 385). A réplica sempre sugere uma dialética das pelo locutor, no caso do teatro, por toda a equi- cundária do texto; não comprometia o sentido da
pe que se "realiza" cenicamente (artística e so- obra representada, mas propiciava um comple-
respostas e perguntas que faz com que a ação avan-
3. Conjunto de papéis" que um ator tem ou está cialmente). Além disso, poder-se-iajogar com a mento artístico à fala. A definição hegeliana do
ce. Entretanto, há dramaturgias que não se ba-
em eondições de interpretar, o leque de suas pos- seiam na réplica como jogo de falas, mas como 1 oposição da gramática geradora entre perfor- teatro atesta essa concepção: "Como a arte teatral

I
mance e competência para ilustrar uma das fina- se limita à recitação, à mímica e à ação, é a fala
sibilidades de atuação, de seus emplois*. uma seqüência de acontecimentos verbais que
lidades da representação: fazer a passagem do poética que continua a ser o elemento determi-
somente o ouvinte pode interconectar e, desse
sistemático e da habilidade teórica (competên- nante e dominante [...] a execução pode usar t[ O-l=-~ _
4. As personagens do repertório possuem em- modo, fazer significar (TCHÉKHüV, BECKETT,

j
cia) à atualização prátiea particular (performan-
----+t!-+--- - plois* Iixos.e características {flGF ex.re criado VINAVER, CHARTREUX, DRAGUTIN). dos os recursos cênicos que se tomem indepen-
malandro, o pai nobre). ce) (SCHECHNER, 1977). dentes da palavra poética" (HEGEL, 1832: 357).
~. Texto e contra-texto, diálogo, monólogo. Aqui, texto e cena permanecem completamente
~. Distribuição, caráter, personagem. 2. Funções da Representação independentes, sendo a cena recalcada e conside-
rada corno casca material (logo , desprezível) da
REPRESENTAÇÃO TEATRAL a. O presente da representação alma do drama (isto é, do texto lingüístico) - isto
RÉPLICA O teatro não representa algo preexistente, que desde a Poética de ARISTÓTELES. Esse pla-

e
~ Fr.: représentation théãtralc; Ingl.: theatrical teria existência autônoma (o texto) e que se apre- tonismo latente, ligado a uma ideologia da he-
Fr.: réplique; l~gL: ClIe, reply; AI.: Stichwort, 't...; performance; AI.: Theatervorstellung; Esp.: sentaria "uma segunda vez" nos palcos. É preci- gemonia do Texto e da Palavra, marcou toda a
Replik; Esp.: réplica. representaciôn teatral. so tomar a cena como acontecimento único, cons- evolução do teatro ocidental até as descobertas
trução que remete a si mesma (este é o signo cênicas do século XX, das quais A. ARTAUD foi
1. Fato de responder a um discurso anterior, de 1. Jogo de Palavras poético) e que não imita um mundo de idéias. um dos profetas apaixonados. "Enquanto a ence-
dar uma resposta imediata a um argumento ou a "O drama é primário. Não é a reprodução (se- nação continuar a ser, mesmo no espírito dos mais
uma objeção. ("Sem dote. Ah I Não há réplica para Para definir esse termo-chave e ressaltar algu- cundária) de algo (primário), apresenta a si mes- livres encenadores, meio de apresentação, modo
isso" - MüLIÉRE, O Avarento, I, 5.) Dar a réplica mas de suas inúmeras dimensões, é de utilidade mo.é ele mesmo" (SZONDI. 1956: 16; 19~D: 15). acessório de revelar obras, espécie de intermédio
a um ator consiste em dar as falas ditas por outras verifiear que imagens servem diferentes línguas A representação só existe no presente comum espetacular sem significado próprio, ela só valerá
personagens e dirigidas à personagem encarnada para designar a apresentação cênica da obra: ao ator, ao espaço cênico e ao espectador. É isto enquanto conseguir se dissimular atrás das obras
pelo ator, de modo que o diálogo pareça se enca- que diferencia o teatro das outras artes figurati- que pretende servir. E isso durará tanto tempo
dear naturalmente. a. O francês insiste na idéia de uma representa- vas e da literatura. quanto o interesse maior de uma obra represen-
ção de uma coisa que já existe, portanto (princi- tada residir no seu texto, tanto tempo quanto, no
2. De maneira mais restrita (desde 1646, segun- palmente sob forma textual e como objeto dos b. O texto à espera teatro - arte da representação -, a literatura as-
do o dicionário Robert), répliea é o texto dito por ensaios), antes de se encarnar em eena. Repre- sumir a dianteira da representação, chamada im-
O texto dramático * é um "script" incompleto
uma personagemdurante o diálogo em respostaauma sentar, porém, é também tornar presente no ins- propriamente de espetáculo, com tudo o que essa
à espera de um palco. Só adquire sentido na re-
pergunta ou discurso de outra personagem, o que tante da apresentação cênica o que existia outrora denominação acarreta de pejorativo, efêmero e
presentação, urna vez que é, por natureza, "di-
instaura logo no início uma relação de forças. num texto ou numa tradição teatral. Esses dois exterior" (ARTAUD, I964b: lóO).
vidido" em várias falas e papéis, e só é compreen-
critérios - repetição de um dado prévio e criação
dido quando proferido pelos atores no contexto
3. A réplica (no sentido 2) só adquire valor den- temporal do acontecimento" cênico - estão, com d. Representação da ausência
de enunciação escolhido pelo encenador. Isto não
tro da engrenagem da réplica anterior e da seguin- efeito, na base de toda encenação.
significa, entretanto, que haja somente urna for- Todavia, não seria necessário, como é costu-
te. A unidade mínima* de sentido e de situação é
ma de representação possível a partir de um me atualmente, assimilar a representação à vi-
constituída pelos pares réplicalcontra-répliea, falai b. O alemão Yorstelíung, Darstellung ou AlI-
mesmo texto. Seria necessário, antes, inverter sualidade, à opsis" aristotélica. Representar, é tam-
eontra-fala; ação/reação. O espectador não segue fführung usa a imagem espacial de "pôr na fren-

339
338
R EPR ODU Ç Ã O RET6R ](

b érn torn ar temporal e auditivament e present e o de teatro como ex te riorização do texto , um a vez re corre aos resmungo s para m arcar uma nação ou A ret óri ca , art e de bem falar e per su adir, tem
qu e não o eslav a; é apelar ao temp o de enunciaç ão que , ao co ntrá rio, a e nce nação e a representação imitar um g rupo. Os resmungos brincam co m a se u pap el no teatro, j á qu e es te co ns titui um con-
para most rar algo, ou sej a, insistir na dim en são é qu e con fe re m se u se ntido ao te xt o ( PAVIS, destruiçã o da lin guagem artic ulada para melhor junto de d iscurso s destinados a transmitir ao e s-
tempor al do te at ro. A representação, não é, por- 1986a, 199 6 ). rcconstitu í-la num si ste ma m ist o qu e tem , de ce r- pect ador a men sagem textual e cênica, da man ei-
tant o, o u não exclus ivamente, o es pe tác ulo; é to r- to m od o, algo de mu sical , de gestu al , d e narrati - ra mai s e fi caz po ssí vel.
nar presente a ausê ncia, apre sent á-Ia no vam ente (í,j Visual e text ual , artes da repre sent ação, texto vo e de e xpressão voca l. O s tra tados de retó rica (de QU1NTlLl ANO o u
à nossa mem ó ria , aos nossos ouv idos , à nossa ~ . e cena. ctnoc cno lugi a. CíCERO, po r exemplo ) freqüentem ent e co mpa ram
tempor al idad e (e não so mente aos nossos o lhos) . a arte do o ra do r à arte do ator. A doutrina d a a pre -
m William s, 1968; Pavis, 1983/, ; Lit erarura, n.
57, 1985.
RETEATRALIZAÇÃO DO se ntação e d a el oqüên cia corporal ("se rmo co r-
po ris, eloq uentia co rpo ris") apli ca-se de man eira
e, Rela ç ão da representação CO Ill o text o TEATRO direta à arte pe rsuas iva do ator (Ins titutio Orato ria
dramático
( I 1,3 ), de QUINTILlA NO). Os tratados d os ges-
O est atuto da representação é muito a mbíg uo: :'\. Fr. : ( /'l' )Ih éâtralis at ioll til/ t h é àt re; In gI. :
REPRODUÇÃO tos os retom am , c om freqüên cia, no século XVIII.
pert en ce e la uni cament e à visualização produzi- 't.: thcatralira tion; AI.: Th eatralisi erung ; Esp .:
A vo z do orado r e do ato r e stá su bo rd inada aos
da por urna ence naç ão ou já é se nsível. " perf orrna-
tizada" , no texto dramático? A se miologia » se
e Fr.: rcp ro d uction; Ingl. : reproduction; AI. :
Abbildung ; Esp.: rcp ro ducci ôn.
teatraliza ci án.

I . Movimento na con tra-co rren te d o naturali sm o.


prin cípi os de cl areza e cx pressivi dade ; os olho s,
o port e da ca be ça, o uso das mã os são co d ific a-
debruça so bre es sa questão , j á q ue e la tem qu e dos. O s gesto s de vem sublinhar as pal avras e não
E nq uanto o natu ralism o a paga ao má xim o os ra s-
decidir se parte , e m suas análises, seja uni camen- as co isas . A a rte do ator guardou na mem ór ia e s-
Term o hre chti an o (A bbi/ dllllg ou Abbi/d) pa- tro s da produção teatral para dar a ilusão de uma
te da en cenação. seja do texto no qu e e le deixa ses co nse lho s.
ra designar as imagens produ zida s pelo teatro e realidade cênica veross im ilha nte e natural, a
tran sparecer como indicações es paço- te mpora is.
para pintar a realidad e extra-teatral: "O teatro con- teatralização ou, mais exa ta mente , a reteatralização
Port ant o , o problema é saber se um a visão c êni- L Retórica do Texto-Cléssieo
siste em elaborar reproduções vivas de aconteci- não "esconde seu jogo" e supervaloriza as regras e
. ca.~pré-eIlC1t7Ção*sá inserida
mentos, relatados o u inv entados, produzidos en- as convenções" do jogo, a presenta o espetáculo
no text o . Negamos essa tese, por se r log ocentri st a O text o clássico (séculos XVII e XVIII) utili-
tre homens, com a finalid ade de divertir" (BRECHT, apenas em sua realidade de ficção lúdica. A inter-
dem ai s e considerar a tcatralidade co mo propri e- za de man eira m aci ça discursos qu e tomam nu-
1963: I I). A reprodução é uma imitação/trans- pret ação do ator indi ca a di fer en ça entre a perso-
dad e textual. Entretanto. é preci so rec onh ecer qu e merosas figuras de es tilo por emprésti mo. Nele
formação do mundo pel o teatro. Ela funda a teoria nagem e o ator. A encena ção ap el a aos "gadgets"
a hip ótese de um a es critura espe cifi cam ente te a- tradi ci onalment e teat rais (e xagero da maqui agem, en con tr am os tr ês gê ne ros prin cip ais de ret ó rica :
do realismo », ma s não se libert a sufic ie nte mente
tral , ist o é, qu e imp õe de antemão sua visão cê ni - o dcm ont rati vo , o deliberativo e o j udi ci ár io.
da arte co mo refl exo m i m érico da realidade. P àra e feitos cêni cos, j ogo melod ram ático, ro upas "de
ca, é freq üentem ente defend ida pel os dr am atur- ce na", t écni ca s de IIlU Si C-/UlII e de c irco. ex pressão
BRECHT, a reprodu ç ão de ve se r di stanciada e
gos e encenadores, que "sentem" intu itivam ent e " d istanciado ra", isto é, e la " permite, se m so mb ra corpo ra l levada ao exagero etc .). a. Demon st rati vo
se o texto se presta o u não à ce na. Para DIDEROT,
de dúv ida, reconhece r o objeto reproduzido m as, Expõe os fat o s descr e vendo os acontec imen-
a escritura teatr al " não engana" : " Reco nhece rei ao mesm o tempo, torná-l o insó lito" ( 1963 : 57). 2. Se gundo a ripolo gia de DORT ( 1984), a repre- tos: a ex posição, os rel atos, as demon str ações d os
de imedi ato se um poet a escr eveu o u não a pant o- O trabalh o qu e ca be ao espe ctado r nessa r"pro- se ntação teatr al izad a é a " te nta tiv a de su scit ar, d iscu rsos c lás sicos pe rten cem a es te gê nero ,
m im a, se co mpôs ou não a parti r dela. A con d u- dução é de imp ort ânci a capita l. de mod o qu e a num palc o qu e se d<i co mo tal. u m j ogo múltiplo
ção da pe ça não se rá a mesm a; as ce nas terão um rep rodu çã o cê nic a só to ma cor po após sua recria- no qual o ator , e mpregan do co nsc iente me nte cer- b. Deliberativo
mo vim ent o co mpletamente d iferent e ; o diálo go re/o na estética brechti ana, porém , de man eir a mais tos procediment os tradi cio nai s o u rc in vcnt ando -
se ressentirá di sso [...]. A pant omim a é o qua dro As per son agen s ou as partes em co nfli to se es-
ge ral. em tod a p ráti ca teatral ". os es po nta nea mente, ape la. no esp ec ta do r, ao gos -
que ex is tia na im agin ação do poet a q uand o es- forçam para persu adir o ca mpo ad ve rsá rio , par a
lo e ao ins tinto d o jogo" ( 191)4 : 11).
cre via e qu e e le queria que fosse mostrad o a ca da defender se u ponto de vista, para fazer co m qu e a
~) . Re al~d ad e re present ada, realid ade teatral . re-
inst ant e ao ser represen tad o" ( 1758 : 110-111 ). ação se desen vol va a se u fav o r. De maneira g lo -
~ cc pçao, signo. 3. A rt is tas tão dive rso s qu anto MEIERHOLD
Algumas pe squi sas dramanirgicas tent am definir bal, a ce na muitas vezes é co nce bida como se fo sse
( 1963), BRECHT o u COPEAU exige m do teatro
as pred eterminaçõe s de encenação do text o que o um tr ibunal e m que são ex pos tas as co ntrad iç õe s
s ua ret catraliza ção. a sabe r, a per cep ção da cena
autor tem necessariamente em mente: co nven ções pa ra um públ ico-jui z.
RESMUNGOS co mo o local do jogo e do art ifíc io e "o rcstabc-
,...!:
'i :
cê nicas da ép oca , concepções de es paço e temp o , lec imento da real idade teatral [como) condição
e
~
decupa gen, * drarnat úrgica etc. (SERPIERI, 1977; necessária par a que possam se r dadas representa-
c. Judi ciário
Fr.: grommelots ; Ingl.: gib bc rish; AI.: Geniur-
I;,n: GULLI-PUGLIATI, 1976). Essas pesqui sas são le-
gít ima s e nq uanto não tentam impor d o gmati-
mel; Esp .: /11111'1111/110 . ções realistas da vid a em co mum do s homens"
(IlRECHT, 1967. vol . 15: 247 ; trad . fr., 1972: 247).
Toma as deci sõe s finais, divide os pap éi s e n
trc acu saç ão e defesa, distingue força motriz (s u
L- camerue lima encenação a partir de um a simpl es O ator usa resmungos quando "fala" grunhiu- jeito ), o po ne nte c árbitro (modelo actancial r i .
i'
leitura do texto. Sempre será prefer ível, no e n- do, sem empregar um a lín gua , ma s dando a im - Outras ret óricas do texto clássico d ccomp õen
tanto, partir da situação de enunci ação co ncreta pressão de qu e es tá di zendo algo, o u que está sc RETÓRICA a peça e m :
que co nstitu i toda repr esentação , para exa minar exprimindo co m en to nações incorr et as. Lc Sa- - expos ição pat éti ca (é pico );
de que man eira ela influi no tex to e e m sua leitu - pcrleau, de G. Bü URDET, es tá esc rito num idi o- Fr.: rh éto riqur; Ingl.: rlictoric : AI.: Rhctorik; - deb ate di al ét ico (dra nuu i co r v,
ra. A í esta mos bem longe da co ncepç ão hegel iana ma im aginári o, " res m ungado" pelos ato res. D. FO Esp .: ret orica . - catás tro fe pat éti ca (lírico) .

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j
1
,
......
R IT MO
RfT M ICA

ri ãvel ; seria um mod o mel ód ico e ex pressi vo de cia do mo vim ento e da cadê ncia na produ ção do
2. Retórica do Texto Moderno e da Cena ret omado por JAQUES-DALCROZE ( 19 19), tem
"por final idade a represen tação co rpo ra l dos va- di zer o texto e desen rol ar a fábul a. se nt ido dos e nunciados e das ações. Es ta teoria
lor es mu sicais, com o aux ílio d as pesqui sas par- Henri MESCIlONNIC, e m sua Crítica do Rit- prep ara o ca minho para as atuais refl exões sobre
A partir do séc ulo XIX. fica muito mais pro-
ticul ares tend end o a re unir e m nós mesm os os mo ( 1982), disting ue três categorias de ritmo: o ritm o, refl exões estas que procuram vi ncular a
blemático deduzir do tex to proce d imentos retó-
e le me ntos necessários a essa fig uração" ( 19 19: lingüístico (próprio de cada língu a), o retórico (tri- prod ução/percepção do ritmo à do sentido do texto
ricos universais: os discursos não mais obedecem
160 ). Es ta di scipl ina busca um a e xpressão co - butá rio d as trad ições culturais) e o poét ico (liga- int erpret ado e de sua ence nação.
a um modelo único ou a um proj eto ideológico
mu m aos rit mos musicais e aos mov ime ntos cor - do a uma escritura individua l). Ele mostra os dois
clara mente definido; eles transgridem a norma dos
tex tos anteriores, cons tituindo uma nova retórica porais q ue os aco mpanham: "A magnífica e po- peri gos que pesam sob re o ritmo: "Seja ser de- 2. Ritm o e Sentido
derosa mú sica [é) co mo que a a nima do ra, co mo co mpos to como u m objeto, um a forma ao lado
em cons tante mudança.
As encenações atuais (espec ialmente as dos que a estilização do gesto huma no e este, co mo a d o se ntido, em rel ação ao qua l se co nsidera que a. Emergência do sentido
e manação e minenteme nte " mus ica l" de nossos pod e refazer o qu e e le di z: redundância, expres-
clássicos) redescobr ern uma aprese ntação retóri- sivi da de; seja ser co m pree ndido e m termos psi- Q ual é o sentido do ritmo e on de e le se faz
ca do texto e do jogo. Em vez de psicologizar o desej os e as pirações" ( 19 19: 18).
co lóg icos que o esca mo teia m até ve r nel e o o uvi r e ver'! MESCIlONNIC: em sua Critique du
disc urso para torná-lo verossímil, insiste-se no ca- inef ável, absorvido pelo se nt ido o u pela e moção" Ryt hm e ( 1982), mostrou de fato qu e o ritmo do
ráter construído e liter ário do texto, revelam-se ( 1982a: 55). No teatro , co mo e m poes ia, o ritmo text o poéti co não se enco ntra " acima" do sentido
suas engrenagens: decl am ação ritmada dos ale- RITMO não é um ornamento ex te rior ac resce ntado ao sen- sintá tico-se mântico, mas o co ns titui. É o ritmo

e
xa ndrinos, insistência na co nstrução literária da tid o, uma express ivida de d o texto. O ritmo co ns- qu e dá vida às parte s do discurso ; a disposição
frase (em VILLÉGIER). distânci a artificialmente Fr.: ryth me ; lngl.: rhythm; AI. : rhythmus; Esp.:
titui o sentido do te xto, co mo já obse rvava VALÉ- d as massas dos diálogos, a figuração dos confli-
escavada entre significa nte e significado do texto rumo.
RY em seus "Cânticos Espirituais" (Variedades): tos, a divi são dos tempos fortes e fracos , a acelc-
(e m MESGUICH), col ocação do procedimento s
"É preciso e basta, para qu e haja poesia certeira, raçã o ou a diminuição das troc as, tud o isso é uma
Tod o ato r, todo ence nado r sabe intuitivamente
art ístico e m ev idê ncia, visuali zação cê nica das qu e o mero -ajuste-das palavras, qücTamo s lenilo- -operação dramatúrgica imposta pelo ritmo ao con- ~ .=! != :! !=
relações entre personagens, essas fíguras'quesão - -da' importância-do ritmo tanto para - t r a b ã l ~
vocal e ges tua l, com o para o desenrolar do esp e- co mo se fala, obri gu e nossa voz, mesmo a inte - junto da representação (KLEIN, 1984 ). Procurar/
" a forma de uma fun ção trá gica " (IlARTIlES,
tácul o . A noção de ritm o não é e ntão uma ferra- rior, a apartar-se do tom e do andamento do di s- enc ontrar um ritmo para o text o a se r representa-
1963: 10), busca de uma dicção antinaturalista
ment a se mio lógic a recém-inventada para a lei- curso co mum, e a co loque num outro mundo e do é se mpre procurar/encontrar um se ntido.
(VITEZ). O j ogo do ato r, ao dar a impressão de
tur a do text o dramáti co ou para a descrição da num outro tempo . Ess a sujeição íntim a ao impul -
citar o texto, não busca, então, a verossimilhança b. Ritmo e co rte
represent ação. Ela é co nstitu tiva d a própria fa- so e à ação ritmada tran sforma profund ament e
psicológica, mas, sim, seus códigos. Trata-se, por-
bri cação do es petác ulo. tod os os valores do text o qu e no-Ia impõe." A percep ção do ritmo obriga a es tru turar e a
tanto, absolutamente do co ntrário da retórica da
persuasão, na qual o ato r procur a manter a comu- Co ntudo, as implicações teóricas do ritmo são desestruturar o texto, principalment e a co locar e m
funda men tais, a partir do momento q ue e le se tor- b. A teoria da versificação. na maioria das ve- rel e vo eleme ntos sintáticos e, port ant o, a masca-
nicação com o espec tador por todos os meios (in-
na, co mo é o caso na prática teatral co nte mporâ- zes, se co nte nta e m exam inar a feitura técni ca e ra r outros. O recorte sintático da frase e a dosam-
terpr etação interiorizada , silênc ios significativos,
nea, u m fator determinante para o estabe lecimen- normativa do verso, sua adequação a um câ none bigüisação semântica que daí resultam depend em
falsas hesitações no iníc io de um monólogo etc.),
to da fáb ula, O desenrolar dos aco nteci rnent os e es tabe lec ido ; ela se es pa lha na musicalid ade do es tritamente da dicção e da per ce pção do ritmo
A retórica fornece notada me nte o modelo da opo-
dos sig nos cênicos. a produção do se ntido. As verso de Racine o u na ra pidez do d iálogo da co- intern o da frase. Não se pode ria afirmar e ntão que
sição metáfora/meton ímia, esse ncia l à compreen-
pesquisas teóricas e práticas sobre o ritmo inter- média. O ritmo só apa rece em co nfo rmidade com o te xto te m um sentido primeiro, de no tativo, fixo
são do funciona mento das grandes figuras cêni-
vê m num momento de ru ptura e piste mo lóg ica: um es que ma cujas orige ns e incidên cia so bre o e ev iden te, uma vez que uma en unc iação d iferen-
cas (JAKOBSON, 1963, 1971 ; PAVIS. 1996).
após o imperialismo do visual , do es paço, do sig- se ntido da represe ntação não são postas em ques- te o desvia imed iatamente do "cam inh o ce rto" .
no cê nico no interior da e nce nação co nce bida
Q Poética,escritura cênica, espaço cênico, gêne- co mo vi su al isa ção do sentido , acabam os, tanto na
tão. Cabe a MESC/l ONNIC o mé rito de uma c rí-
tica radi cal do ritm o inclu ído por temp o dem ais
~ Xl. ro, gesto. declamação. c. Ritmo e apo io visual 011 gestua l
teori a quant o na prática, procuran do um pa ra- " na métr ica, ident ificand o de fato, sob retudo na
digma co mpletamente di ferent e para a represen- O ritmo da leitura e da dicção d ado pelo ator é
c::;;;;J. Fontanier, 1827; Lausberg, 1960; Jakobson, Fran ça, a prosa e a a usê nc ia de ritm o, a prosa e o
tação teatral (VINAVER, VITEZ), o do a ud itivo, igua lme nte percept ível qu and o um a parte do di s-
1963; Kibedi- Varga, 1970 ; de Man, 1971; di scurso co mum. É a teori a tradi cion al do ritm o
do tempor al, da seqüência significa nte, e m suma, co mo alternâ ncia de tempos fort es e fracos, fe- curso é rece bida no pano de fund o do j ogo cêni-
Furnaroli, 1972; Bergez, 1995.
da es truturação rítmica. c hados na métri ca , fora do se ntido, subcatego ria co, de mod o que o sentido literal do enun ciado
da form a" (MESC/lONN IC, 1982b: 3) . ve rba l é desviado por um j ogo cê nico.
RÍTMICA I. Teori as Tradici onai s de Ritmo
d. Ori gem tio ritmo 1/0 teatro
e
c. A teoria brechti ana (do ges tus", da música
Fr.: rythmique ; Ingl.: eurltytlunics, eurhyttvny; a. Na maioria das vezes, este nde-se ao teatro a gestual, da " poesia rimada aos ritmos irregulares" ) A teori a do ritmo ultrap assa o âmbito da lite-
AI.: Eurhythmie ; Es p.: euritmica, teori a orna me ntal do ritmo do te xto poéti co. O aprox ima- nos co nside rave lme nte das pesqui sas ratura e do teat ro. Ela se fund am ent a, na maior
ritm o não seria mais que um o rname nto prosódi co co ntemporâneas. Ela pretend e ser ao mesmo tem - parte dos estudos, em bases fisiol ógicas: ritmo ca r-
(E mpregado co mo subs tan tivo.) Estudo dos e supe rficia l do texto calca do na es trutura sintáti- po um apanhado das rel ações soc iais no gesto in- díaco, respir atório ou muscul ar, o u influ ên cia das
ritmos" musicais ou poét icos. A rítmica. lermo co-se mâ ntica, conside rada fund am ent al e inva- d ividu ai e um métod o qu e dem onstra a influên- es tações e dos ciclos lunares e tc. Se m entrar no

342 343
RIT MO RI T U Al

co mplicado terreno desses ritmos. lemb rarem os tido ab re o texto a várias leituras, leva mais e m verba l, o ex plíc ito e o implícit o, fazem del a "ex- co. a pretensão de enco ntrar um esquema rítmico
simplesmente que sua dinâmica tem muitas ve- co nta as situações de recepção. pressão Iô nica d a ava liação socia l" (BAKHTlN in previamente inseri do no texto. O ritmo imped e
zes dois temp os: inspiração/expir a ção.tem po forte TODOROV, 19 81 : 74) . basear um a semiologia* em unidades fixas e co n-
(marcado)/tempo fraco (não- ma rcado) . Para a 3. O Ritmo na Encenação geladas de um a vez po r tod as e m unid ades míni -
ação teatr al - ao menos na dramaturgia c1ássica - f R itm o narrativo mas. É ele qu e co nstitui e destitu i as unid ades.
é válido o mesmo esquema: asce nsão/queda da o ritmo está situado e m todos os níveis da re- Tod os os div er so s ritmo s dos sistemas cêni -
opera aprox imações e distorções entre os siste-
ação, nó/desenla ce. paixão/catarsc etc. A práti ca presentação, e portanto, não apena s no plano do mas cênicos, din ami za as relações entre as unida-
cos da representação (cuja resultante form a, des variáveis da representação, insere o temp o no
de encenadores como MNOUCHKINE (em Ricardo desenvolviment o temporal e da duraçã o do espe- co mo se ve rá, a encenação). tod os os siste mas espaço e o espaço no tempo.
II ou Henrique IV) muitas vezes con siste em e n- táculo . são legív ei s apenas quando inserid os no âmbito Na teoria e na práti ca contemporâneas, o rit-
contrar, na respiração dos atores, na alternância
da fábula . O ritmo reen contra sua fun ção de mo se vê assim promovido à condição de estrutu-
das pausas e das explo sões vocais e ges tuais, ess a a. Enuncia ção da leitura es tru turação do tempo em epi sódios, réplicas, ra global ou de e nunc iações da cena . A partir daí.
dualid ade do s ritmos biol ógico s e em impor ao
No plano da leitura mais "rasa" e " inex pres- seqüê nc ia de m on ólog os ou estico mitias ", mu- é grande o risco de qu e, ampliado assim à estru-
texto transmitid o um esquema rítmico que faça
siva" do text o (o tom "b ranco") . o ritmo já e ntra danças de ce na . tura global da e nunciação da e pela encenação,
com que sua linearidad e seja detonada e que im -
em jogo, a partir do mom ento em que a enunciação ele se tom e um a catego ria tão geral ou vaga quanto
peça qualqu er identifi cação do texto com um a
individualidade psicológica.
se situa e m face dos e nunciados. g. Ritmo global da ence nação a de estrutu ra. Entre tanto, isso seria desconh ecer
No qu ad ro narrativo qu e dá ritmo à pro gr es- o desejo de ult rapa ssar uma teoria baseada na es-
Em relação ao texto a ser lido e/o u dito, trat a-
b. Op osições rítmica s são da fábul a. dessa "corrente elé trica" qu e une trutur a co mo visuali zação firm e e definitiva do
se de esmiuçar se o ritmo é dado partindo "d e
sentido, desejo tamb ém de fazer do ritmo o lugar
dentro" co mo esquema de entonação e sintaxe Na represent ação, o ritmo é sensível na per- os div er sos mat eriai s da repre sentação de qu e
e o temp o da prática produtivo·receptiva da en -
inserida no text o, ou - ao contrário - se é trazid o ce pção de efeitos bin ários: silêncio/fala. rapidez/ falava J. HONZL (1940). organizam-se os ritmos
cenação (PAVI , 1985e .
_ ..,.,._....,......=_.de for. pelo enunciador (o ator, o encenador e. lentidão. cheio/vazio de sentido, acentuação/não- específicos de todos os sistemas cênicos (ilumi -
definitivamente, o espectad'õr):- -
A encenação contemporân ea, seja a do Th éâtre
acentuação, d estaque/banalização, determinação/
indeterminação. O ritm o não se limit a à enun-
nação, gestualidade, música , figurino etc .) . Cada
siste ma cêni co evolui de acordo com seu pró-
m Blanchot , 1955; Leroi -Gourhan, 1965; Ben-
venistc, 1966; Muk arovsky, 1977 : 116-134;
du Soleil (MNOUCHKINE),de VITEZ, de DELBÉE, ciação do text o; tamb ém vale para os efeit os plás- prio ritm o; o trabalho de ord ena ção (lógica e nar- Lín gua Fran cesa . 19 82 ; Vitez, 198 2; Ryngaert ,
está co mo qu e fascin ada pela possi bil idade de ticos: APPIA fala , por exemplo, aos seus cenógra- rati va) da e nce nação pelo es pec tado r co nsis te 1984; Garcia-Martinez, 1994.
partir de uma pesqui sa sobre o ritmo para mud ar fos, de um "es paço rítmi co". CRAIGfaz do ritm o propri am ent e na perc epção das difer enças de ve-
a per cep ção do texto. Nos Sh ak esp eares d o um co mpone nte fund amental da arte do teat ro, "a locid ad e, das defa sagen s, das e mbreagens. das
Th éâtre du Soleil, o trabalho com base na voz (mu- hier arqui as e ntre si.
própria essê ncia da dança". RITUAL (T E AT R O E ... )
danças de co locação, entonações) é co ncebido Esta con cepção clássica de ritm o como rela-
como sendo da mesma natureza que a estilização
do gesto e o tratam ento do texto co mo massas de
c. Gestu s e trajetória ção dos mov iment os entre si, co mo metarritmo,
aproxima-n os da encenação ou da enunci ação
e FI.: ritu el (thé âtre et.i .} ; Ingl.: ritual (theatrc
and ); AI. : Ritual (Theater und...): Esp.: ritual
sonoridades e forma s retóricas. VITEZ parece dar A pesqui sa do ges tus , da disposição fundam en-
cê nica. O ritm o, no sentido de se per ceber co rpos (teatro y ).
a suas atri zes (mais do que aos atores) a tarefa de tai dos atores e m ce na, a co mposição dos grupos
falant es deslocando-se em cena, no tempo c no
atuar de man eira falsa. de estar "ao lado" do pa- e m quadros o u subg rupos são alguns dos efeitos
espaço, possibilita pensar na dial ética do tempo e 1. Origen s Rituais
pei, de teatrali zar a emissão vocal. Buscar a qu e- gestuais c proxêmicos dos atores . Os deslocam en-
do es paço no teatro.
bra é a nova obse ssão dos encenado res. tos passam a ser a representaç ão física do ritm o
O ritm o es tá situado em um círcul o herm e- Concord a-se e m col ocar, na origem do teatro,
da encenação . O ritm o é a visualização do temp o
nêutico , uma vez que a esco lha rítmi ca da e nce- uma cerimô nia rel igio sa qu e reúne um grup o hu -
e. Ritmo, recusa do sentido e da no espaço, esc ritura e inserção desse corp o no
nação institui um sentido es pecífico do texto, bem mano ce lebrando um rito ag rário ou de fert ilid a-
exp ressivida de espaço cê nico e ficcion al.
com o determinada enunciação imprime um se n- de, invent and o roteiros nos quai s um deus morre-
Por isso tamb ém não nos surpree nde rá o fato tid o es pecífico aos enunciados. Na encen ação. o ria para melh or re viver, um prisioneiro é cond e-
d. Ruptura qu e determina a esco lha ou as escolhas rítmi cas?
de que co med iantes ou encenadores preocupados nado à mort e, um a procissão. uma orgia ou um
com a leitu ra do texto se esfo rce m - co mo Loui s A prática da ruptura ", da descontinuidade. do É propri am ent e a busca do significante, a e vidê n- carnava l era m organizados . Entre os gregos, a tra -
JOUVET - para " reje itar. co nter o sentimento. o efeito de di stanciament o, procedimentos tão co- cia do se ntido, o projeto mais ou menos reali zado gédia proveri a do culto dioni síaco e do ditirambo.
efeito que a fala co munica à primeira vista , à pri- mun s na arte contemporânea, favorece a percep- e produtivo para anim ar um determinado text o e Todos esses rituai s já contêm elementos pré-tea-
meira leitura" ( 1954: 143). A recon stitui ção da ção das sus pe nsões na representa ção : o ritm o uma cena. trais: trajes dos ofic iantes c vítim as humanas ou
física do text o co mo a descre ve JOUVET, c dentro sincopado re vela isso de maneira mais apar ent e. A análi se dramatúrgica ou sc miológ ica neces- animais; a es co lha de obj etos simbólicos: o ma -
do mesm o espírito de ARTAUD, surge co mo pes- sariame nte se interroga sobre o sentido do text o chad o e a es pada qu e se rviram para con sum ar os
qui sa so bre um ritmo que co mece por desse- e. Voz dr am áti co tent and o vários esq uemas rítmicos, assassinatos, e são jul gados a seguire , depois. "e li-
mantizar o texto, por desfamiliari zar o ouvinte, A voz se torn ou o modalizador ex tre mo do relativi zand o de um a só vez a noção de sig nifica- minados" ; simbo lização de um espaço sag rado e
por faze r co m que se veja sua mecânica retórica , texto e m sua tot alid ade ; a co loração da e nto na- do textu al, descentrand o o texto, pond o nov am en- de um tem po cós mico e mítico. de outra nature-
significa nte e pulsional. Tal retardamen to do sen- ção , sua ca paci dade de unir o verbal c o não- te e m qu estão o logocentrisrno do texto dr am áti- za, pois que os dos fié is.

344 345
RtTUAL RUPTURA

A se paração dos papéis entre atores e especta- e su perior. e que abriu se us hori zontes a culturas d o teat ro sagrado (o 1/0 /)' Thea tre de qu e fala R UPT UR A
dores. o estabc lecimc mo de um re lato mítico. a es- ex tra-européias. em cuja vida social o rit o ainda BROO K) fosse sua ú nica oportunidade de sob re-
co lha de um lugar específico para esses encontros, tem um pap el importante. A. ARTAUD. so b esse v ivê nc ia ao co ntato co m as artes de massa indu s- -0- Fr.: rup ture; Ingl.: ruptura, discontinuity; AI.:
institu cionalizam pou co a pou co o rito em aconte- ponto de vista. é apenas a cr istali za ção mais pur a tri ali zada s e no se io da tribo e letrô nica. Bruch; Es p.: ruptura.
cime nto teatral. Desde então, o público passa a vir dessa vo lta às o rigens do acont eciment o " teatr al.
para olhar e se emoc io nar "à di stân cia". por inter- Rej eit ando o teatro bur guês basead o no ve rbo. na , 1\ An tro pologia teatral. teatral ida de. teatro de 1, Ruptura da Ilusão Teatral
médio de um mito que lhe é fami liar e de atores repet ição meeân ica e na rentabilid ade . e le reat a massa. teatro de participação, ernodrarna, emo -
~

q ue. sob a máscara. o representam . co m a o rde m imutável do rito e da ce rimô nia; nada cenologia . Há ru pt ur a se mpre que um dos e le me ntos do
Esses ritos. qu e ainda hoj e são encontrados. m ais faz do que co ncentrar e ex primi r - co mo um jogo se o puser ao prin cípi o de coerência * da re-
so b form as estra nha me nte parecid as. em ce rtas xamã - um a profund a as piração do te at ro preo- L:J:1 Artaud, 1964b; Girard, 1974; Borie, 1981, present ação e da ficção de um a realidad e re pre-
regi ões da África. da Au str áli a e da América do cupado co m suas orig en s: " A nostal gi a sec re ta. a 1989; lnnes, 1981; Tu rner, 1982; Schechner, se nta da . A ilu são. no teat ro. é tão ráp id a e e ficaz.
Sul. teatralizam o mit o encarnado e recontad o ambição final do teatro é. cté ce rto modo. reen- 1985 ; Slawinska, 1985; Rich ards, 1995. quanto frágil : o co nj unto dos enuncia do rcs, de
pel os o ficia ntes de aco rdo co m um desenvol vi- co ntrar o rito do qual nasceu tanto e ntre pagãos fat o . arrisc a-se a sa ir do qu adr o da representação
ment o imut ável : ritos de entrada. que preparam o co mo entre cristãos" (MANN. 190 8: 144 ). ilu sioni sta a todo instante. A ruptura é e fetuada
sac rifício. ritos de saída. q ue ga ra nte m a volta de Po rtan to. o ritual encontra se u ca m inho na ROTEIRO pel o ato r. Em literatu ra. as rupturas de tom são
tod os à vida quotidia na . Os me ios de ex pressão apresentação sag rada de um acontec im en to úni- ig ua lme nte possíveis. mas pa recem int egradas à
desses ritos são a dança. a m ímica e a gestualidade co: ação não imitável por de fini ç ão . teatro in vi- -0- Fr.: sc énario; Ingl.: scenario, screenplay; AI. : ficção. e nq ua nto. no teatro . e las vêm de fora.
muito co dificadas. o canto e. de pois. a palavra. S zenarium; Esp .: gui ôn. trazi das pe los atores que. nas rupturas de atua-
síve l o u es po ntâ neo . m as. sobre tudo. desnu -
Dessa man eir a produ ziu- se o utro ra. na Grécia. d am en to sac rificial do ato r (e m GROTOWSKI o u ção. apa re nta m esta r fo ra do univer so ficci on al.
Esse termo itali an o. qu e ignifi ca " c e n á r i o ~" -----------
_..J... eg undo NIETZSCIIE o nascim ento da tragédia
....;s;,;. BROOK) diante de um espectador que coloca
a partir do espírito da música (títul o de sua o bra desi gnava o cane l'as de um a peça de Comm edia 2. Ruptura de Atuação
ass im suas preo cupações. bem co mo as profun-
publicada em 1871 ). deza s de sua alm a. à vista de tod os. co m a esp e- del/'art e*. O roteiro d a va indi cações so bre o a r-
ran ça co nfessa de urna red en ção co le tiva. Mui - g umento "; a ação. a man e ir a de represent ar. em E la se produ z quando o ato r rep entinam ent e
2. Ritual da Encenação tas e nce nações retornam a " m issa e m ce na": rito parti cul ar os lazzis" , A palavra quase não é mais pára de d izer se u papel (ou erra o text o ). despreza
do sac rifíc io do ator. da pa ssagem a um es tado usad a hoj e a não se r no c ine ma. o nde ela co m- o j ogo e atua propositat arncnt e de man eira falsa.
Além da história, se mpre problem ática. de uma de co nsc iê nc ia superio r. sub m iss ão à rep eti ção preende o mesm o gê nero de in di cações. exc luin- o u ai nda, qu and o mud a de reg ist ro . m escl a ton s e
fili ação da arte ao rito. é preciso observar que o infindáve l e ao scria lismo, o bsessão da imob ili- do -se ind icações técni ca s. m as co m o text o dos qu ebra a unidad e da per son agem.
ritual impõe "aos actantes" (aos atores) palavr as. dade o u da "p erformance úni c a" . desej o de tor- di á logos dos ala res. Q ua ndo o termo é usad o -
ges tos. intervenções físicas cuja boa organização nar vi sí vel o invi sív el . cre nça num a mudança bast ant e rar ament e - no te at ro . é e m ge ra l para 3. Fun ção das Rupturas
sintag rnática adeq uada é o ava l de urna represent a- po lí tica ao term o da mort e rit ual d o indi vídu o. es pe tác ulos qu e não se base iam num texto lite-
ção be m-sucedida. Nesse se ntido. todo trabal ho obsessão pe la parti cipação do pú b lico no ceri- rário. mas são am plamen te abe rtos à im prov isa- Essenc ia lme nte meios de dis tanciamento", as
co letivo na encenação é execução de um ritua l, monia l cênico. Quaisquer que sejam suas mani- ção e compõem-se sobretudo de aç ões cênicas rupturas são a marca de uma es té tica do descon-
co mo o entende H FOUCAULT. na produção e na fes tações, se mpre existe esse desejo de vo ltar às ex tralingüísticas. A encenaç ão" 11s vezes consi- tínuo c do fr agm ent o, Elas co nv ida m o es pec ta-
"o rde m do discu rso" : "O ritual defi ne a qualifica- fo ntes do qu al GROTOWS KI. e m se u Teatro das de ra o tex to a ser rep resen tad o como um sim- dor "a co la r os pedaços". a recom pô -lo s a intervir
Origens. e ta pa imp ort ant e de sua bu sca . se tor - ples roteiro. a saber. co mo fo nte de inspir ação . para d ar um se ntido ideol ógico ao procediment o
ção q ue deve m poss uir os ind ivíduos que falam (e
estético .
qu e. no jogo de um di álogo. da interrogação. da nou a figura emblemá tica. co mo um mat er ial textual qu e não tem qu e se r
M as a encenação" co nte m po râ nea não deve-
recitação. devem oc upa r determinada posição e for- M as. ao lado dessa s fo rm as co nsc ie ntes de res tituído liter ari am ente. m as se rve de pret ext o
ria es q uecer qu e a ruptura é uma no ção dial éti ca
mul ar determin ado tipo de enunc iados); ele defin e ritu ali za ção, obse rva m-se. e m todas as represen- 1\ c riação teatral. Daí os m al -ent endi dos so bre o
e qu e só é eficaz qu and o um a unidade ou um a
os ges tos. os co mpo rtamen tos. as circunstâncias e tações teatr ais e em tod as as é pocas. traços ritu ais es ta tuto do texto e os d ireitos do e ncenador. .. coerênc ia" ti ver sido es ta be lec ida ante riorme n-
tod o o co njunto de sig nos que deve aco mpanhar o (por vezes derri sõrios, mas ainda ma is presos às
te. Rup turas em de masia o u se m mo tivação pro -
discu rso; fixa. en fim. a e ficácia suposta ou impos- raízes): co mo as três bati das. se m as qu ais a peça Texto e cena. texto dramático.
' ~. d uzem. na verdade. novo es tilo de atuação. um a
ta q uanto às palavras . se u efei to so bre aqueles aos não pod eri a co meça r. a co rti na ve rme lha . a ribal- no va coe rê nc ia do incoe re nte e. nisso. o es petá-
qu ais e las se dirigem . os limit es de seu valor re- ta. a sa udação ao público. se m fa la r dos tem as li Hornby, 1977; Taviani, 1994.
cu lo perde aí qua lquer legi bilidade.
pressivo" ( 1971: 4 1). o briga tó rios de cada gê nero ag ua rda dos co m im-
paciên cia: o delit o do trai dor. a qu ed a dos ino- Dram át ico e épico. citação. co lagem, monta-
3. A Sobrevivência do Rito no Teatro cen tes. a red enção por meio de um homem provi- R UBRICA ~ gcrn, ritmo.
den ci ai etc.
O teatro de hoje tem uma forte nostalgia de T udo ind ica qu e o teatro . depois de ter apenas Ver Didascá/ias e Indicaç ões cêni cas. m Benj amin. 1969; Adorno, 1974; Voltz, 1974.
suas origens cultuais. agora que a civilização oci- se a pa rtado do rito e da ce ri mô nia. busca deses-
den tal parou de pensar em si me sma corno única pe rada me nte voltar a e les. co mo se um a matriz

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s
SAIN ET-E ___- - - - - - - - -prop* quant o o quadro edifica nte, o núm ero do
chansonnie r ou a pi écette de pa trona ge.
e Fr.: saynête ; Ingl.: pla ylet, sketc h; AI.: sa ine te ;
Esp.: sa inete,
SALTIM BANCO
l . Do espanhol saillel e.treeho delicado. O sa inete
é. na origem. uma peça curta cômica ou burle sca e Fr.: batelcur ; I
malaba rista .
n g l. : j l g g l c , ~ AI.: Gaukler; Esp.:
em um ato no teat ro espanh ol clássico; se rve de
interméd io (e nrreme:*) ao curso dos entreatos das
grandes peças . No final do século XVII . ve m a O saltimba nco e ra um artista popular que. nas
substituir o ent reme z: torna-se uma peça autô no- praças públicas. qu ase se mpre em cima de um
ma. princip alm ent e nas composições de Ram ón tablado. fazia dem on strações de habilidades físi -
DELA CRUZ. que faz dele urna peça popul ar para cas. de acro bacias. de teatro imp rovisado. antes
relaxar e dive rtir o público. Escrita nos séc ulos de vender ao públ ico objetos variados . pomadas
XVII e XV III (particularmente por Qu iiíon es DE ou medicamentos.
llENAVENTE ( 1589- 165 1) e sobretudo Ram ón DE Saltimb anco é o term o ge nérico para malab a-
LA CRUZ ( 173 1-1795)). fica em voga até o final rista, pelotequ ciro, e mbusteiro. charlatão. farsan -
do séc ulo XIX . Apresentando co m poucos recur - te. pregoeiro. arranca-de ntes. paradista.
sos e grossos traços burlescos e críticos um qu a- Na Idade Médi a. os sa ltimbancos se reuni am
dro animado e pego da realidade da soc ieda de nos lugares de passagem mais freqüentados: Pont -
popul ar. o saine te ob riga o dramaturgo a opo r-se Ncuf, em Paris. Praça de São Marcos. em Veneza.
a seus efeitos. a acentuar os caracteres cô micos e São os representant es de um teatro não literári o.
a propor uma sá tira muitas vezes virul ent a do seu popular e assurnid arnent e satírico ou político . O
círculo. Ele aprecia a música e a dança e não tem espetáculo é gratuito e é ponto de encontro das
nenhum a pretensão intelectual. classes popul ares. mas também. às vezes. de ari s-
tocrat as que não se furtavam a se misturar ao
2. Emprega-se hoje o term o arcaiza ntc sainete populacho.
para tod a peça curta se m pretensão. interpret ada O espetáculo dos saltimbancos, na maior par-
por amadores ou arti stas de teatro ligei ro (gag * te das vezes. é baseado num a performan ce física.
ou esq uete ") . Mais curta que a peça e m um ato. e não na produ ção de de um sentido textu al ou
o sainete é uma esco la de com posição e de es ti- simbólico. Os procedim entos se baseiam num a
lo. Ele co mpree nde tanto o espe tác ulo de ag i r- habilidade física ou burl esca. Entretanto, algumas

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SE M IO LOG tA T E AT RAL SE~t10LOG IA TEATRA

veze s o saltimbanco desenvolve uma fonna mai s sua aplicação aos estud os teatrai s, e la rem ont a tro , e nqua nto man ifestação di scursi va ex te rio r, pur a adi ção de signos. Qu ant o à di stin çã o entre
elaborada: texto s satíric os , diálogos c ômicos. p n - (pel o menos como métod o con sciente de si pró- não é o obje to de sua pesqui sa . Poi s bem , o tea- s ignos fixo s e s ignos m óveis (cen ári o e ator, ele-
radas . De 1619 a 1625, TAUARIN ( 1584·1633) e pri o ) ao C írculo Lingüístic o de Pra ga dos anos tról ogo não pod eria deixar de descr ever o qu e vê ment o s es tá veis I'S móveis), ela não é mai s perti -
MONTDOR int erpret am assim "fantasias taba - trint a (ZICII, 1931; MUKAROVSKY, 1934 ; BU- e m ce na; ele não renuncia a es tabe lece r o víncul o nent e na práti ca contemporânea.
ríni cas" , monólogos ao mesm o temp o populares RIAN, 1938; BOGATYREV; 1938; HONZL, 1940; e ntre os signos e se u refer ent e (se m, co ntudo, fa- Vê -se qu e o signo enquanto unidad e mínim a
e eruditos, farsas qu e ambos apresentam em ta - VELTRUSK)', 1941). Sobre o histór ico desta es- ze r do teatro um a im itação mai s o u menos icôni ca não é um a p riori para a co nsti tuição de um a
blados" ao ar livre. co la, ver : MATEJKA e TITUNIK, 197 6 ; SLAWIN_ da re alid ade, e da iconicidade" o c rité rio de apr e- se mio log ia do teatro e qu e e le pod e mesmo blo-
Hoje , com a volta do interesse pe lo teatro po- SKA, 1978; ELAM, 1980. ciação dos sig nos teatrai s). qu ear a pesqui sa, se com eçarmos por qu erer defi-
pular, os saltimbancos - animadores, agitador es, Portanto , é de scmio log ia, e não de semiôt ica, nir a qu alquer preço seus limit es.
o rado res, vend edores e lídere s - são rever en ci a- I. "S erni ologia" ou "Serni ótica" ? qu e falarem os neste exa me da s aq uis ições teóri -
dos no teatro d e rua *. Cert os arti stas. como Dario cas e dos boicotes deste mét od o . Por ém , falar as - b. Tip ol ogia rios signos
FO, restabelecem uma velha tradi ção para dirigir - A difer en ça não é um a si m ples pol êmi ca de si m de semiologia teatral pressupõe qu e se possa D a mesma maneira, uma tip ologia dos sig nos
se a um público apaix onad o pela sátira social ou pal avras, nem um resultad o da batalh a term i- isol ar e definir o fen ôm eno teatral , o qu e, no atu al (de insp ira ção peirciana ou outra) não é uma pre-
política, púb lico que eles encontram nas fábricas, nológica fran co -ameri can a entre a semiotics de contexto de expl osão da s formas teatrais, é bas- liminar à descri ção da repr esentação. N ão só por -
nas praça s pública s... ou nos teatro s de periferia . PEIRCE e a s ém iologie de SAUSSURE . Ela se ba - tante probl em áti co . No entanto, não parec e ne- que o grau de iconicidade ou de sim bo lismo não
se ia, mai s profundament e, na opo si çã o irr e- cessário resol ver de ant emão a qu estã o estética é pertinente para dar co nta da sintaxe e da se-
dutível de dois modelos de s igno»: SAUSSURE da especificidade" ou não -esp ec ificid ade da arte mânt ica do s sig nos, mas também porqu e a ti-
SEMIOLOGIA TEATRAL limita o s ig no à alian ça de um s ig ni fica do e de teat ral para postul ar um a se m io log ia teatr al ; bas- po log ia perma nece co m freqüê nc ia ge ne ralizada
um s ig nifica nte. PEIRCE ac resce nta a esses ter- ta co nce be r es ta se miolog ia co mo "sinc r ética", demai s para dar co nta da co m plexida de do espe-
~ Fr.: s émiologie tl/étitra/e: 1ngl.: scmi% 'Y oI mo s (c ha mados representaç ão e interpretantey isto é~ p o n do " em ação vária li ng uage ns de ma- tácul o . Mais que IIpa s (le sig nos (co mo o ícolle*,
--------' tl/catre, scmiotics tif theatre; AI. : Theaterse- a noção de referente , isto é , de realidade deno- nifesta ção " (GREIMAS, 19 79 : 375) e fazer dela o o indicc" , o simb olo "; o sinal, o sintoma), prefe-
miotik; Esp.: semiolog ia teatral . tada pel o sig no. local de enco ntro de o utras se rnio log ias (es paço, riremos falar doravante, co m U. ECO, ôe fun ç ão
Curiosam ent e, no uso qu e, na se q üênc ia dos te xto, gcs tua lidade, mú sic a e tc .). sig nificante: o signo é conceb ido co rno o resulta-
A se miologia é a ciên cia dos sign os. A se rn io- trab alh os de GREIMAS ( 1966, 1970, 1979), pare- do de um a se miósis, isto é. de um a co rre lação e
logia teatral é um métod o de an álise do texto e/ou ce es tabe lece r-se, a semiologi a design a , seg undo 2. Dificuldades e Impasses da Primeira de um a pressuposição recíproca entr e plan o da ex-
da representação, atent o a sua organiz ação for- se u aut or, a se mio tics de PEIRCE, ao pa sso que Fase Semiológica pre ssão (sig nificante saus suriano) e plano de con-
mai, à d inâmi ca e à instauração do processo de suas próprias pesquisas, qu e se va lem de SAUS· teúdo (s ignificado saussuriano) . Esta correlação
i" s ig nificação por intermédi o do s praticant es do SURE e IIJELMSLEV,tomam o nom e de se m i ática :
Uma prim eira fase - nec e ssári a e da qual seria não é dad a de imediat o, e la se acha instituída pela
teatro e do público . "Cava-se ass im um fosso entre a se mio log ia para leitura produtiva do encenador e a leitura recep-
port ant o pou co e lega nte zo mba r - refl etiu ant es
Segundo M. FOUCAULT, a se miologia é "o a qual as língu as naturai s se rve m de instrumen - tiv a do es pec tado r. Estas funções s ig nificantes em
de mais nada so bre os fundam ent os de um a se -
conjunto dos co nhecime ntos e técni cas que per- to s de paráfr ase na descri ção d os objetos se- açã o na representa ção dão urn a ima gem dinâmi-
mi ologia teatral ; e la se c hocou co m as seg uintes
mit em distinguir onde es tão os sig nos, definir o mi óti cos, de um lado, e a se miótica qu e se dá por ca da produ ção do se ntido: ela s subs titue m uma
difi culdades metod ológi cas:
que os institui com o sig nos , conhecer seus víncu - tar efa prim eira a construção de um a metalin gu a- tip ologia o u um invent ário de s ignos e uma co n-
los e as leis de se u encade amento" ( 1966: 44 ). A gc m, de outro [...1. A se mio log ia postula, de ma- ce pção mecani cista de cód igos de subs tituição
a. Busca do signo m inimo
se rniologia se preocup a não com a demarcação neira mai s ou menos explícita, a mediação das entre sig nific ados e sig nifica ntes; e las permitem
da significação "; isto é, co m a relação da obra lín gu as naturais no processo de leitura dos signi- Os se mió logos puser am-se e m bu sca das un i-
um ce rto j ogo na decup agem dos s ig nificantes e
co m o mund o (questão qu e rem ete à hermen êu- fica dos pertinentes às se mióticas não-lin gü ísticas da des minimas" necessári as a uma formulação da
dem ar cam s ignificados ou s ig nifica ntes ao lon go
tica * e à críti ca literária ), mas co m o modo de (image m, pintura, arqu itetura e tc.) , ao passo qu e rep resenta ção. seg uindo nisso o program a dos lin-
do es pe tác ulo.
produ ção do sentido ao lon go do processo teatral a semi óti ca a recu sa" (1979: 338). Haveria muit o gü istas : "Todo estudo se mio lóg ico, no se ntido
que vai da leitura do texto dramáti co pe lo a di zer desta desqualificaçã o a pri ori da se mio- es trito, consistirá em identificar as unidades, em
c. "A utomatismos" de uma se miolog ia da
enc enador até o trabalho int erpretativo do espec- logia (teatral por exemplo) qu e nã o passari a de descrever suas marca s di stintivas e e m descobrir
cri térios cada vez mais finos da distinti vidad e" co m un icaç ão
tad or. Esta é uma disciplina ao mesm o tem po "an- um es tudo dos discursos sob re o teat ro . Ela é, se m
tiga" e "mode rna" : o pen sam ent o do signo c do d úvid a, inteir amente legítim a dent ro da perspec- (BENVENISTE, 1974 : 64). Para o teatro. co ntu- Muitas vezes se tom ou ao pé da letra a met á-
se ntido está no ce rne de qu alqu er question ament o tiva grc imassiana que só se oc upa das es tru turas do, co mo obse rva KOWZAN ( 1975 : 2 15), de nad a fora barth esiana seg undo a qu al o te atro é "urna
filosófico, porém o estud o semiológico (ou scmi ó- (p ro fund as) semio-narrativas , rem et endo para se rv iria fragm ent ar o co ntinuum da repr esent a- es péc ie de máquina ciberné tica" qu e "se põe a
rico) stri cto sellSIt rem onta a PEIRCEe a SAUSSU- mais tard e o exame das estruturas (de supe rfíc ie) ção e m microunidad es tempor ais qu e co rres pon- e nviar para o vosso ende reço um certo número
RE. Este últim o resumia ass im em seu Cours o di scu rsi vas. GREIMAS qu er co ns ta ta r o s urgi- dem à menor unidade " de um mesm o significante: de men sagen s (...] simultâ neas e, no e ntanto, de
imen so programa da se mio log ia: "U ma ciência ment o e a elaboração de tod a sig nificação; e le se isto só faria " pu lve riza r" a e nce nação e negligen - ritm o d iferen te" de modo qu e se receb e "ao m es -
qu e estuda a vida dos signos no se io da vida so - aplica a "des taca r as form as se m ióticas mínim as c iar a globa lida de do proj et o cê nico . Melh or se- mo tem po se is ou se te informa ções (v indas do ce -
cial [...] nos ensinaria em qu e co nsistem os sig- (re lação, unid ades) co muns aos di fer ent es ca m- ria destacar um co nj unto de signos" que form am nári o, do figurino, da iluminação , da locali zação
nos, que leis os regem " (19 15: 32-33). Quanto à pos visuais" ( 1979 : 282). Por co nseguinte, o tea - um a Gesta lt, sig nilicando g loba lme nte, e não por dos atores, dos ges tos deles, de sua mími ca, de

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SE M IOLO G IA T EATRA L S E~ 1l0LOG IA T EATRA

suas falas) I...]" ( 1964: 258). Na verdade, por ca u- e. Fetichi sm o do cód igo* se mio log ia do te xto e num a semiolog ia da repr e- a um question am ent o mu ito mais pragmático do
sa des ta co nstatação, quis-se aplicar à emissão te- se ntaçã o , se m nem se mpre tomar o cuidad o de obje to teatral. O mod el o semiológ ico esco lhido é
A freq üent e co nfusão e ntre material cênico
atrai o apare lho co nceitual de uma se mio logia d a co m pa ra r o s resultados da s du as abo rda ge ns. obrigado a ju stifi car -se dent ro do contex to parti -
- isto é, obj et o real - e sistema c ên ico > ou códi-
comunicaç ão": No intento de definir a troca tea- Muitas vezes, a se miologia textu al cont ent ou -se cular da repre sent ação teatral es tudada; a ence-
11 gos* - isto é, objeto de conh eciment o , noçã o
tral co rno processo recíproc o, de tradu zir aut o- e m tent ar um resgate filológico do text o co nside- nação é co ncebida co mo uma " semiolog ia em
teóri ca ou abs trata - por ve zes levou se mió logos
maticament e determinado significante por deter - rado co mo part e fix a e central da representa ção: ação", a qual apag a m ai s ou menos os vestígi os
'I a es tabe lece r um a list a limitativa dos có d igos
minado significado - decidid amente ainda mu ito ou, inver sam ent e, o texto foi banalizad o e co nd u- do seu trabalh o, mas refl ete se mpre sobre a po si-
es pec ifica me nte teatr ai s o u a decidir a priori qu e
'I " filo lóg ico" - faz ia -se da ence naçã o o sig ni- zido ao nível de um sistema dentr e outros , se m ção e o deci fram ent o de se us signos. O ence nado r
cód igos são teatrai s ou ex tra teatrais. Muit as ve -
ficante (de maneira qu ase "supcrfetat ória"] de um propenso à sern io logi a (R. DEM ARCY ou C. RÉGY ,
zes, tamb ém , a hierarqui a qu e propõem deles (o que seja co nside rada sua posição pri vilegiad a na
1I por exe mplo) " pe nsa" e m sé ries paralelas de sig-
significado textual, es te conhecido e primordi al ,
li
cód igo dos códi gos) im obili za va peremptori a- form a ção do se nt ido .
pergunt and o-se co mo "conciliar a presença d e nos, é con sci ent e da d osagem dos materiai s, se n-
mente o espetáculo e eri gia como modelo nor - Par ece útil o recurso a um texto espetacular,
I significantes múltipl os com aquela de um sig ni- sível às redund âncias, às corresp ondência s entre
mativo o qu e não pa ssa de um caso de es péc ie. espéci e de partitura " onde se articulam no es pa-
li ficado únic o" (GREIM AS/COURTES, 1979: 392) . os sistcmas tmúsica "plástica" , dicção "espacial" ,
Melhor seria não bu scar a priori uma taxin omia ço e no tempo tod os os recursos cê nicos da re-
I ges tualidadc alinhada co m base no ritmo subte r-
dos có digos, mas o bse rvar com o cada es petác u- present ação (cf inf ra 3b). Aí se figuram, ass im,
râneo do texto e tc.
1 d. Universalidade do model o semiológico lo fabri ca ou oc ulta se us códi gos, tece se u texto os ritm os, as redundâncias, os recort es dos d iver -
"I Um modelo se miológico baseado num a tipo- espetac ula r", co mo os có digos evo lue m duran- sos sistemas significa ntes, ao mesmo temp o diacrô-
b. Estrutura ç ão dos sistemas de signos
logia dos signos não ultrap assa a co nstatação de te a represent ação , co mo se passa de có digos ou nica e si ncronicame nte. Esta esqucmatizaç ão pe r-
generalidades qu e não dão conta, em nada, do com'ellções* ex plíc itas a có d igos implícitos. Em mite visua liza r o espetác ulo no es paço abstrato A se mio logia identifica as oposições entre os
1'1I funcion ament o es pecí fico de um texto dramáti co vez de con sider ar o có d igo co mo um sistema " en- da partitura. dando a entende r que a e nce nação, diversos siste mas sig n ificantes, ela e mite uma
ou de uma re(lresentação. terrado" na re(Jresentação e destinado a ser re- como ritmo global dos ritmos específicos de cada hipótese sobre a relação dos códigos, os efeito.,.-- - - -
,- .l- - ~:. .;: D : e~ n:; t:.; r o;.: d :.; a mesma o ~rd !.:e -n -l -d - e -id -é -ai - , - o- s - , · Il · - o - d - e - - - - v - e l"' a - d ;'" o - p - e ';" l a ~ a n á l ise, seri a mai s exato falar em sistema si gnificante, é assim recon stituível por da evid encia ção do s sig nos e de enfoque. Com-
los actanciais" in spirados em PROPP ( 1929), processo de instaura ção de código pel o int ér- este diagrama, modelo reduzid o da repr esenta ção. preend er o es pe tác ulo é se r ca paz de recort á-lo
SOURIAU ( 1950) ou GREIM AS ( 1966 ) foram prcte, pois é mesm o o recept or que , enquant o Mesm o e ntre ce rtos semiólogos aind a se e n- seg undo tod a es péc ie de c rité rios : narrativo s,
aplica dos de man eira muitas vezes dem asi ad o herm eneuta. decide ler det erminado aspecto da dram atúrgicos, ges tuais e pro sódicos (ritmo*).
co ntra a idéi a de qu e a encenação de um text o
esquemá tica e indiferenciada, de modo que os repr esent ação seg u ndo det erminado có d igo li- não é senão uma traduç ão " intersemi óti ca, uma
universos de sentido das peças se asse me lhava m vrernente esco lhido. O có d igo , ass im co nce bi- c, Ramifica ções da se m iolog ia
tran scodifica ção de um sistema em outro - o qu e
estranhame nte. Utilizado segundo o espírit o es- do, é mais um mét od o de aná lise do que um a é um a monstruosid ade se miol ógica ! Por vezes, A sc miolog ia subs titui e é substituída por inú-
tritam cnt e g reirnass iano, o modelo act ancial co n- propri edad e fi xa do o bjeto anali sado. mesmo , o text o é considerado co mo a es trutura meras disciplinas mais específi ca s ligadas a as-
serva seu ca ráter ab strato e não-figurati vo: a par - profunda d a representação, o significado inv a- pectos parti culares do fato teatral. Trata-se mai s
tir do mom ent o qu e nos dedicam os demasiad o
f Limites de til/I "d elírio cono tativo" riant e passí vel de se r ex presso mais ou men os de uma es pec ialização que de uma explosão. Den -
especificamente ao universo dram ático de um tex- Um imp ort ant e ram o d a sc miologia dedi cou - " fielme nte" e m sig nificantes da ence naçã o. Es- tre os novos ram o s, lem braremos:
to dramático e que os actantcs não são mais "um se, a pa rtir de BARTHES (1957 , 1970 ), a le va n- tas co nce pções são, é c laro, errôneas : não é por- - a pra gm ática";
tipo de unid ade sintática, de ca ráte r propria men- tar as con ota ções e os se ntidos deri vados qu e que os sig nifica ntes textuais perman ecem os mes- - a teori a da e nun ciaçã o;
te form al, anterio rmente a todo investimento se- um signo pode ria e voc a r no recept or. Tod avi a, mo s, q ua ndo são ret om ad o s pel o s a to res d e - a sociocritica" ;
mântico e/o u ideológico" (GRE1MA S, 1973: 3 ), tamb ém é necessári o es tru turar as sé ries assim PL A NCH ON, V ITEZ ou RROOK, qu e o te xto co n- - a teoria da recepção ";
caímos muit o depr essa na noção de personagem * obtidas intrinsecam ent e e e m relação co m os di - - as teorias relacionais (às quais tomam empres -
se rva a mesma significação. A encena ção não é a
ou de intriga " ; A narratol ogia, mal aplicada ao ver sos siste mas cê nicos, sej a em funç ão de um tada da fenomenologia a idéia de que é preci so
enformação de uma e vidência textual. A e nun-
teat ro, não permite falar es pecificamente da re- se ntido "con strut ível " a partir da s co no taçõ es, associar o suje ito qu e obse rva à estruturação do
ci ação do text o dramático num a ence nação parti -
present ação teatral. seja em fun ção de um text o latente co mpará ve l
cular é qu e co nfere ao texto este ou aque le se nti- objeto observado)(if. HINKLE, 1979; CII AM BERS,
Sem desqu alifi car este tipo de semiótica não ao trab alh o simbó lico do so nho tal co mo an ali -
do (texto e cena *). 1980; HELB O, 1983a ; STATES, 1987).
figurati va, preferirem os acompanh ar o processo sado por FREUD ( 1900) o u BENVENI STE ( 1966:
75 -87 ). Assim ultrap assa-se a simples enume-
da recepção* por um ce rto público em ce rtas co n- 3, Novas Tend ências e Reorientações 4, Prolon gam ent os e Explosões
ração - por mai s sutil qu e e la seja - de se ntidos
dições, efetua ndo assim uma se rniologia in situ
derivados par a melh or aprender como as co no -
que liga seus es que mas explicativos aos percur- Ao lado dessas di sciplinas, acha -se um ce rto
tações do text o es pe tac ular são inserid as na es- a. Encenaç ão e semiologia
sos interpretati vos do espectador: "Aque le qu e núm ero de tend ên cias, ou, antes, de tenta ções da
trutura profunda do se ntido da encenação e como Ap ós os primeiro s embat es c debates teóri cos
vê o es petác ulo não faz se miótica no sentido da semiolog ia:
co nstroe m es te se ntido . dos se miólogos qu e propunh am um mod elo " be m
teoria sc m iótica ; no entanto, os processos pel os
quais e le vê, ouve, se nte, passam a se r processos azei tado" mas g irando no vazio, po rque dem a-
g, Relação entre texto e representação a. Tentaç ão p edagógi ca
de ava liaçã o, os quais sempre são proce ssos de siado gené rico e ab strato, vo lta-se - como no iní-
natureza sc miótica" (NADIN, 1978: 25 ). Repor - Esta relação nem se mp re foi escla recida , poi s c io do Círcu lo Lin gü ístico de Prag a ( 1I0 NZ L , A se miologia não se ria mais (mas isto já é co n-
tar-se ao ve rbe te des crição », as pesqui sas inves ti ra m par al el am ent e num a VELTRUS KY, M UK AROVSKY, BOGATYREV ) - sideráve l) que um mod o de falar da reprcscnt a çãc

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SEM tOLOGIA TEATRAL S E M IO T IZ AÇ Ã O

de ma neira sistemática e clara . Nesse sentido. ela da represe ntação é pensar o trágico : não co mo se preocup e unicam ent e co m e feito s prod uzidos • Sig no e ene rgia
tenta vários tipos de question ários" , ela se tom a represent ação do des tino. ma s co mo de st ino da pe lo espetáculo sobre o es pec tador. O signo. sua dem arcação. sua ve to riza ção, não
esco la do especta dor (de acor do co m o título do repre sent ação" ( 1967: 368). BARTHES. qu ant o a Ex istiu uma teori a das paixões e dos afetos. excl ui o recurso à energia. ao fluxo pu lsio na l,
livro de A nnc UBERSFELD, 1981 ). É um suicídio si. o põe a represent ação e a obra, qu e são basea- desde a catarse aris totélica até os trat ad os do ator
• Se miolog ia e energética
como disciplina autônoma. co mo rece ia Marco DE das no signo legí vel. ao texto, qu e é int eir am ent e no séc ulo XVlII . A Reception sth cori c de JAUSS
l\IARINIS (I 983b). ou um desvio para uma "peda- A semiologia instala redes ene rgé tica s. faz circu-
co nstrutíve l e desconstrutfvel para o leitor. M as rea ta co m ela analisa ndo os mec ani sm os do cô-
gog ia normativa de fruição do es petác ulo" (I983b: lar o sentido e as se nsações na red e.
e le também co nstata que a arte não poderia "de i- mi co e do trágico. Um modelo m ais di ferenc iado
128)? O risco é bem real. Prefe rimos ver neste xa r de se r met afísica . isto é: significa tiva. legível. é concebível. co m. tod avia. o risco con stante de • Vetor e de sej o
requ esrionamento da se rn iolog ia um a vontade de represent ativa, feti chi sta" ( 1982 : 93) . LYOTARD se desviar para um a teoria das e moções qu e não O ve tor é port ador do interesse. da ex periência
se r um a epistemologia das ciências do espe táculo. so nha co m um a "dessemi ótica ge nera liza da " qu e tem mais nenhuma influê ncia so bre o mod o de es té tica do a ro r-e ncc nador, m a s tam b ém d a
po ria fim ao " te ncntisrno" do sig no. co m um "tea- produção do texto ou do es petác ulo . Uma nota- recepti vid ade e do desej o do es pec tado r.
b. Tentação antite árica tro e ne rgé tico" qu e "só tem a sugerir que isto qu er ção U 'lS afetos do es petác ulo. um a c lassificação
• Se rnio tizaç ão e dessemi otiza ção
Dent ro da co mplex ida de d a d escr ição e do dizer aquilo; não há tamb ém qu e dizê -lo. co mo de sua forç a. form a e duração é co nce bíve l: isto
desej a va BRECHT. Ele tem qu e produ zir a mais se ria ir até o fim do es tudo da recep ção da a rte A ce na. a matéri a feit a signo. e. in vers am ent e. o
mínimo de neologismos de sua metalinguagem,
alta int en sid ade (po r excesso ou falt a) do qu e es tá pelo hom em. mas ainda nã o se ria necessári o es - signo. ca i numa materiali dad e sig nifica nte .
o cr ítico às vezes se que ixa da imp roduti vidad e
d a se rniologia, ao protestar co ntra a idéia de um ali. se m int en ção. E is minha per gunt a: isso é pos- qu ecer de dar cont a da fab ricaç ão do es petác ulo e Tais oxímoros põem em qu estão e e m c rise as
encenação co mo ensignação, Ela preconi za um sível?" ( 1973 : 104 ). do objeto espetacular. o perações clássicas da se miolog ia c lássica. Eles
reto mo a um a crítica do "não-se i-quê" . no ina- A res pos ta qu e o se mió logo daria só po deria sugerem a supe ração. ou pelo men os o reexame
se r negat iva. Pel o menos a qu estão teri a tido o 5. Rum o a uma Semi ologia Integrad a de um a se mio log ia imobili zada.
pr eensí vel (a rr isca ndo -se a bati z á-I a de " não
raro mérito d e denunciar a for ça de iné rci a qu e
se mio tiz áve l" ou a "pura presen ça" ). B. DORT vê
afeta toao sis te ma semiológico de equivalên cia. As repetid as críti cas da se rniolog ia são úteis Arnold. 195 I : Prieto. 1966; Ko wzan , 1968.
I-- - - - -""aí uma regressão a uma con cep çã o literária do
e, sobretudo. toda se miótica ba se ad a na visua- para sua sobrevivência e permitem supera r defin i-
W 1975; Pagnin i, t970; Ducrot e Todoro v, 1972;
teatro . a partir do mom en to em qu e se fala de lei- Lyotard, 1973; Ruffini. 1974. 1978; Bcuet ini, 1975;
lidad c, na massividade c na fi xid ez do s ig no e tivam ent e uma teoria es tática dos sig nos. Propõe-
tu ra ou de texto espetac ular: " Passamos da noção Vodicka, 1975; Pavis, 1975. 1987. 1996; Gossman,
da es tru tura s ig nific ante o nde e le se a n inha . se descrever a ence nação co mo um co njunto de 1976; Gulli-Pugliati. 1976; Pfister, 1977; Lyons, 1977;
de texto à noção de rep resent ação teat ral. mas para
Qua nto a prop or um out ro mod el o base ad o na ope rações estruturais e partir. mais um a vez. da Ube rsfcld , 1977a. 1991; Krysinski , 1978; Angcnot,
enco ntrar. graças a ce rtos métod o s se miol ógicos,
mú si ca, o Texto, a energia ou o corp o hieroglí - retóri ca e da oposição entre metonímia e metáfo- 1979; Fischer-Lichte. 1979. 1984. 1985; Helbo, 1979.
a noção de texto cê nico ou de leitura do teatro" 19830. 1983b. 1986; Bassnctt. 1980; Durand, 1980 ;
fico. parece qu e se mpre se es tá no es tádio das ra. ligada. no trabalho do so nho. à di fer en ça entre
(Acres d u Co /loque de Reims , 1985 : 63) . Hess-L üui ch , 1981; Caune , 1981 ; Fcrron i, 1981;
procl am ações proféti cas. e não naqu el e das rea- deslocamento e co nde nsação. A re prese ntação é
lizações. N ão nos sur pree nde re mos se lembrar- Altc r, 1981. 1982; Ki rb y, 1982; Go ur do n, 1982;
c. Crítica do sigilo imag inada como retórica de qu atro tipos de vetores : Banh es, 1982; Steiner, 1982; Striha n, 1982; Sinko.
mo s qu e c ada um dos quatro fil ós ofos j á c itados 1982; Proc h ázka, 1984; Car lson, 1984; Schmid c van
A crítica da noção de sig no não é nova. desde aca ba por se res ign ar co m a fat alidad e do fe- Kesteren , 1984; McAul cy, 1984; Toro. 1984. 1986;
Metonímia M etáfora
ARTAUD ( 1938) até DERRIDA ( 1967 ). BARTHES cha me nto. no int eri or do qu al é fata l q ue a re- Scgre, 1984; Urrutia, 1984; Piem me, 1984; S lawinska,
(D esloca me nto) (Conde nsação)
( 1982) e LYOTA RD ( 1973). ARTAUDso nhava com presentação co ntinue" (DERRIDA. 1967 : 368). 1985; Pradier, 1985: Roach, 1985 ; C or vin , 1985;
um meio de anotar a " ling uagem teat ral" co m um ou do s ig no qu e termin a mesm o ass im. apesar Vc to r-co nector Ve to r-acum ulador Issacharoff', 19 86a . 19860; Sc hoe nrnakcrs, 1986;
s iste ma de hieróglifos: " No qu e d iz respeito aos de sua cri se ["que se abriu no séc ulo passad o na Natticz, 1987; Re inelt, 1992; Ro zik , 1992; w atson,
Vetor- podador Vetor-cmbreador
met afísica da verda de (NIETZSCIIE)" . IlARTII ES. 1993; Pavis, 1996a .
obje tos co muns. ou mesmo ao co rpo hum ano. ele-
Bibli og rafi as em : Helbo e Roac h, 1975. 1979; de
vados à dignidade de signos. é evide nte que po- artigo "Tex to" da Encyclopaedia Universalisí; A semiologia integrada dem arca as princip ais Marini s, 1975. 1977; Ru ffin i, 1978; Scrpicri, 1978;
dem os inspirar-nos em ca rac teres hieroglíficos. ao fe ch ar o texto. transform and o-no numa obra. vetori zações e o relacion am ent o dos grandes ti- Rey- Dcbovc, 1979; Carlso n, 1984 . 1989. 1990 ;
não só para anotar es ses signos de um a maneira A pesar deste fracasso de um a revi rav olt a da pos de vetores. Ela exa mina os grandes eixos se- Schm id c van Kesteren, 1984 ; Issach nro ff, 1985 ;
legível e que permita reprodu zi-los à vontade. mas perspec tica logoc êntrica e rcpresent ati va, é pre- g undo os quai s trab alh a a ence nação; deter min a Jung, 1994.
pa ra co mpor em cena símbo los preci sos e di reta- ciso mesm o co nstatar que a se m iolog ia e sua no- Núm eros esp eciais das revistas: Langages, 196 8.
os pont os de partid a e de fi na lização dos vetores .
tação representati va estão e m cri se. Es ta crise do 1969 (n. 13). 1970 (n. 17); Biblioteca Teatra le, 1978;
ment e legí vei s" ( 1964b: 143). ARTAUD está em se m decid ir a p rio ri as fo rças energéticas qu e os Versus. 1975.1 978.1 979.1 985; Degrés, 1978. 1979.
bu sca de s ig nos qu e seja m ao mesm o tempo sig no. qu e Raimond o GUARINO di agn ost icava lig am . A vetoríza ção co ntinua abe rta: a ide ntifi - 1982; ÉllIdes Litt éruires, 1980 ; Drama Revie w, 1979;
icôn icos ("d iretame nte legívei s" ) e simbó licos naqu ela "semio log ia substancia lista qu e a inda se cação do veto r dom inant e e m determ inado mo- Organon , 19 80; Poerics Toda )'. 198 1; Modem Dra -
(arb itrá rios) ; e le encontra no hier óglifo uma sín- encont ra governada por noções co mo subs titui- ment o do espe táculo co ntinua del icada e o local ma . 1982.
tese assi m. Ao fazê-lo . é a pró pria possibilidade ção e re ve zam ent o e que tem dific uldade e m pen- e ntre co nexão. acumulação. rupt ura e emb reage m
de represe nta r e de re petir os si gnos que é posta sa r si m ulta nea me nte a matéri a e o se ntido " ( 1982 : ainda fica a ser estabe leci do .
e m xeq ue. DERRIDA. ao re ler ARTAUD. chega a 96) . Es ta c rise é real . mas nos habitu am os a vive r Vê-se o que a sernio logia pegou a ap rend eu SEMIOTIZAÇ ÃO
um a crítica do fecha me nto da re pre sentação e. co m e la: ou então . para superá- Ia. para escapar à d as teorias pós-estrut ura listas e faz-se deste em-
port ant o. de toda semio logia for ma da e baseada influ ên ci a subs titutiva e visua l do mod elo sc rnio- préstim o o local de um oxímoro teórico. de uma Fr.: s émiotisati on; Ingl.: semiotization; AI.:
em un idades recorrentes: " Pensa r o fechamento lógico . se rá necessári o invent ar um a teoria qu e co ntradição produtiva, e ntre. por exem plo: Semioti sierung; Esp.: sernioti zaci ôn,

354 355
SENTENÇA S IGNO TEATRAl.

Há sc rnio tizaç ão de um elemento da repre- Forma de discu rso * qu e e nuncia uma verdade répli ca ge ra l qu and o es te se abriga por trás de um I. Definição d o Si gno
sentação qu and o es te aparece claram ent e co mo ge ral,.e. ul~rap s s a o qu ad ro es treito da situ ação código ideológico o u de um a sabe doria ex terior
o signo de alguma co isa . No quad ro " da ce na dr am ática . A sentença, no sentido estrito é ("Po r maiores qu e sejam os reis, eles são o que No ãmbito de uma sem io log ia teatral * de ins-
• . ' a
ou do e vento teatral , tudo o que é apresentad o max nna enun ciada dent ro de um contexto lin- som os" , Le Cid , I , 3, v. 157 ). Muitas vezes, um a pira ção sauss uria na , define-se o sig no teatr al
ao públ ico passa a se r um signo "querendo" co - güístico de outra natureza (ro ma nce, di álogo, tirada cláss ica co meça por enun ciar um a série de co mo a união de um sig nifica nte e um sig nifica-
municar um significado . O Círcu lo de Praga foi peça) , ao passo que a máxima dispensa qualquer proposições ge rais, para passar em seguida - co mo do. mais ou menos restri tivament e como a "me-
o primeiro a teo rizar este fundamento da abor- co ntexto (ex.: Máx ima s de LA ROCIIEFOUCAULD num silog ismo - à menor adapt ada à situação nor unidade port ad ora de se ntido proveniente de
dagem se mio lóg ica : " Em cena, as coisas que fa- (1664) ou DE VAUVENARGUES (1746». O vín- particular do her ói. uma combinação de elementos do significante e
zem o papel de sig nos teatrais adquirem, duran- culo da sentença com o text o só se estabelece às de elementos do s ig nific ad o" (JOHANSEN e
te a peça, traç os, q ua lidades e propriedades qu e c us t a ~ de uma abstra ção e de uma gene ralização W Scherer, 1950; Meleuc, 1969; Pavis, 1986a. LARSEN, ill IIELllü et ai ., 1987), sendo esta com -
não possuem na vida real " (BOGATYREV, 1938; d ~s dl ál o g o ~ . As sente nças são " proposições ge- binação a significaç ão do sig no .
ln MATEJKA e TITUNIK, 1976: 35-36 ). "Tudo o rais que encerram verdades co muns e que só di-
que está em cena é signo" (VELTRUSKY, 1940; zem respeito à ação teatra l por aplicação e con- SEQÜÊNCIA a. Signo sa uss uriano
1964 : 84).
O processo de se miotização se realiza a partir
do momento e m que integramos um signo a um
seqüência" (D' AUBIGNAC, Pratique du Th êâtre ,
IV, 5: 1657). Elas são usadas principal mente em e Fr.: s équence; Ingl.: sequel/ce; AI.: Sequenz:
Esp.: secuencia .
A transposição do sig no lin güí stico (de fini-
do por SAUSSURE co mo aquilo qu e " une não
drama turgia clássica e e m gê neros que preten - uma coisa e um nom e, mas um co nceito e um a
sistema significante e que estabelecemos sua fun - dem edificar o públi co fazend o-o extra ir lições
ção estéti ca. Ao escapar do mundo real, a cena imagem ac ústica", 1915: 98 ) não deix a de co lo-
da peça. Quase desaparecem do texto natur alis- Term o de narr at ol ogi a qu e design a um a uni -
passa a ser o local de uma ação simbólica. car séri os probl em as em relação à repre senta-
ta, que busca caracterizar o falar de um indiví- dade da narr ati va . O e ncadeame nto da s se qüê n-
ção teatral e ao tex to d ramático. No teat rQ,..;o" - _
A se rniotiza ção, porém, só existe em relação duo ou de um grupo e renuncia às formas auto. cias form a intriga. A seqüência é um a sé ri
_ _ _ _ _ _a.uma realid ade que el a não faz signo, pode a plano do significa nte (da ex pressão) é co nsti-
rais gerais con sideradas dem asiado prescrit ivas. orie ntada áe fu nç ões », um seg mento form ad o de
qualquer mom ento desembocar numa dessemi o - tuído por ma teriais cên ico s (um o bje to, um a co r.
diversas proposições qu e " dá ao leitor a impres-
tizaç ão: "Em ce na tudo pode também cessar de uma forma, uma luz, uma mími ca, um mo vime n-
I. Estatuto e Função são de um tod o acabado. de uma história. de um a
torn ar -se s ig no, se r submetido a uma desse- to etc.), ao passo qu e o plano do significado é o
anedota " (TüDüROV, 1968: 133).
rniot iza ção" (ALTER, 1982: dI I ). Isto aco ntece co nceito, a represent ação o u a significação qu e
A sentença constit ui um di scurso absolut o e A dr amaturgia cl ássica procede por g randes
nos moment os e m qu e o público tem a sensação vinculamos ao sig nifica nte, es ta ndo ente ndido
autônomo, não submisso ao texto que o encerra. pain éis de ação recort ados co nforme os cinco
de assistir a um aco ntec imento real: um inciden- qu e o significa nte va ria e m suas dim ensões, na-
Ela passa por fala de verd ade , por uma es pécie atos ", No interi or do ato, a cena é definida pel a
te durante o desenrolar do espetáculo, um erro de tureza, composição.
de pérola engastada no esc rí nio do discur so " nor- ação efetuada por um mesmo número de pe rso-
"timing", um rompimento do jogo, a percepção Para um a se mio log ia sauss uriana, significante
mal" da peça . Ela deve se r detectada absolut a- nagens. Falar de se qüê ncia só é possível, port an -
erótica do es pectado r ou seu interesse pelo ato r e significado (ou, se prefer irem . plano dos siste-
mente como discurso de um outra nível, univer- to, nesse ní vel da ce na. No interior de uma lon ga
enquanto estrela ou pessoa (e não personag em). mas significa ntes e plan o dos significados o u
sal e metatextual. cena, distin guiremos vário s momentos ou seqüên-
Esta dia lética entre se miotização e desscmio- semas) bastam, unindo-se, para formar a signifi-
O espectado r tem a impr essão de que esse cias definidos co nfor me um centro de interesse
tização é, em suma, es pecífica do teatro: tomam- cação , sem qu e sej a necessári o recorrer ao refe -
discurso não perte nce realmen te à personagem , ou um a ação determinada.
se "obje tos" reais, se res humanos, acessórios, es- rente . o obje to, ex iste nte ou imaginário, ao qua l
de que ele foi simp lesm ent e posto na boca dela Pod e-se iso lar no interi or de uma seqüê nc ia
paço e temp o para fazê-los significar outra coisa o signo remete na realidade.
pelo autor, estilista e moral ista superior. A sen- uma sé rie de mi cr osseq üências. "Fração de te m-
que não eles mesm os e co nstruir uma ficção . Para os signos lingüísticos. a significação - a
tença é portanto um a forma de comunicação di- po teatral (tex tua l o u represent ado), dur ant e a
Quem se es pantaria qu e, no final das co ntas, con- sabe r. a união do significa nte e do significado - é
reta entre autor e espectad or, co mo a palavra do qu al se passa a lgo qu e não pod e ser isol ad o"
funda-se a co isa e o signo, a realidad e cêni ca e a não-motivada, o qu e qu er di zer que a se leção do
auror * ou dir igir-se ao p úblico ". Sua modalida - (UBERSFELD, 1977 a : 255) . Outras noções, co mo
outra cella onde a ficção ocorreria? significado e do signi fica nte não é analógica.
de * se dá (de maneira a bus iva) como discurso o moviment o na linha co ntínua da ação (STA-
Para os sig nos cê nicos. ao co ntrário, se mpre
f0 Semiologia, signo, realidade teatral.
"sé rio", verdad eiro e não-fictíci o, como o resto NISLÁVSKI) o u a unidade perform áti ca - d êit ica
há uma ce rta moti vação (o u analogia ou icon i-
da peça. É este es tatuto pri vilegiad o que funda- (SERPIERI, 19 77 ), pr estam ao anali sta um se r-
m Mukaro vsky, 1934; Bogatyre v, 1971; Deãk,
menta a sentença co mo " fala de e vangelho" . viço co m paráve l à noção de seqüênc ia. cidade) e ntre sig nific a nte e sig nifica do, mu ito
si mplesmente po rqu e o refer ent e do signo dá a
1976; Osolsobe, 1981. ilusão de co nfundir-se co m o significa nte. de
2. Fonna (;:) Un.idade, dcc upagcm, quadro, análise da nar-
~ ra tl v a . modo que se co mpa ra muit o naturalmen te signo
e mundo exte rio r, o teatro passand o mesm o a
SENTENÇA (OU MÁXIM A) Gramaticalmente , muitas vezes a sentença pa-
se r, em ce rtas es téticas, a arte da mim ese *. Ce r-
rece uma forma imp essoal ("Ao vencerm os sem
e (Do lat im maxima sentencia , pensam ento perigo, triunf amos se m g lória", Le Cid , Il , 2, v. SIGNO TEATRAL tas se mióticas (as de OGDEN c RICIIARD, 192 3,
ou de PEIRCE, 1978 , por exe mplo) interessam -
maior, daí pe nsamento geral.)
Fr.: scut ence imaxime); Ingl.: maxim; AI.: Sentenz:
434), sem vínculo com as per sonagens da peça,
no presente "h istóri co". Às vezes ela não passa e Fr.: signe thé ãtral; Ingl.: theatri cal sign; AI.: se pela relação do sig no co m o referent e e pro-
põe m um a tipol ogia d os sig nos co nfor me a na-
Esp.: sentencia , máxima . de um falso diálogo (eu-tu/você) disfarçado de theatralisches Zei chen; Esp.: signo teatral.

356 357
S IGNO TEATRAL S IL ÊNCIO

tureza desta relação (mo tiv ida de pel o icone", ar- gico ca lcado na língua levou a fragm entar e m ex- S ILÊNC IO O e m prego de paus as, ritmo s , ace le rações
bitrári o para o símbolo *, de co ntigüida de espa- cesso o co ntin uum da represent ação defin ind o a u sad os de m an ei ra psicol ógi c a desest abil iza a
c ia l par a o índice *). unid ad e m ínima unicament e de man eira tempo- :-'+ Fr.: silence; Ingl.: silencc; A I.: Schweigen; Esp.: s ituação , m as dá a ent end er a es tru tura verbal
ral, co mo " fatia cuja dura ção é igu al ao sig no que "t.: silencio. do te xt o . sua co ns trução ret óri c a , sua gestua-
b. Tip ologi a p ei rcia na dos sigil os dura men os" ( KO WZA N, 1975: 2 15). Apesar da lid ad e . As s im proced e ~I N O U CIK N E co m o
Ver os verbetes : ícone, índice, símbolo. adv ertên cia c lara, co ntudo, de KOWZA N, isso le- E st a noção difi cilment e se deixa definir no Th éâtre du Sol eil e m suas e nce na ções d e SH A-
vou os pes q uisadores a " uma excessiva ato mização absoluto. visto que o si lênc io é a ausê ncia de ru í- K ESPEAR E ( Rica rdo 1/, Henrique I V).
2. Contra o Teoria do Referente Atualizado das unid ad es do es petáculo e tal vez fosse necessá- do . O s ilê nc io ass ume tanto m ais im port ân cia
rio introduzir um a di stinção entre as pequen as un i- qu ant o es ta ausê ncia é rara , até mesm o imp ossí- 2. Uma Dramaturgia do Silêncio
A realidade cênica não é o referente atualizado dad es e as gra ndes unid ades (sob retudo no nível ve l. e qu anto a música. be m co mo as artes da re-
dq text o dram ático. O palco e a en cena ção não da fala e dos s ignos kin ésicos)" ( 1975: 215 ). pre sentação. têm por mi ssão , tradi ci onalment e, Desd e se m pre, a dr am atur gia e nc he u o text o
estão, na verdade. encarrega dos de receber e de pr een ch er o vazio produzindo um a fala qu e se de s ilê nc ios e pau sas; mas so me nte co m os pri -
figurar um referente textual. Ali ás, não se poderia b. Por o utro lad o, es ta busca do s ig no m ínimo às o rig ina na ce na. Co ntudo . o s ilê ncio é. no teatro, mei ros lin eam ent os da ence nação é qu e e la faz
" mos trar um referente" e, s im, no máximo, um vez es imped e o bse rvar a interação dos difer ent es um co m po ne nte indi spensáv el para o j ogo vocal del e um e le me nto co mpleto d a representação .
significa nte, o qual se dá com o ilusão de referen - siste mas de sig nos e estud ar suas conex ões e sua e gestua l do ato r, seja e le indi c ado por uma ru- DIDEROT. em se u trat ad o Sobre a Po esia Dra-
te, isto é, com o referent e imagin ári o. A ilusão din âmi ca, Teria sido muito mais frut ífero. para a bri ca (" pa usa") o u marcad o pela en cenação ou m âtica , já in si sti a. no ent anto, na nece ssidad e de
referen cial (também chamada por vezes de ef eito aná lise do es petác ulo. observar a conver gência pe lo ato r. Uma dramaturgia do silênc io p ôde con s- esc reve r a pantomima " todas a s vezes que ela
de real *) é a ilusão de que enxe rgamos o ref erent e o u a diver gên cia das redes de s ignos , o u sistemas titu ir-se a partir do in ício deste séc ulo, e distin - co ns titui um quadro ; qu e e la dá ene rg ia o u c lare-
do signo, ao passo que só tem os, na verdade. seu sig nificantes », e sa lientar o papel do produtor e gue m-sc diferent es qualidad es de s ilê nc io. za ao d iscurso; qu e liga o diálogo , qu e c arac te riza;
signi ficante , do qual só apree ndemos o sentido atra- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -que co n iste num jo go delicad o qu e não se aaivi -
- ..w-----u
ves dê se u signi ,caâo. Portant o, é ab usivo falar
do espectador no estabelecimento das red es e de
sua d inâm ica (PAVIS, 1985e, 19960). 1. O Silêncio no Jogo do Ator: As Pausas nha ; qu e faz as vezes de resp o sta, e q ua se se m-
pre no in íci o da s cenas" (1758 : 103 ).
de "signo teatra l", cujo re ferente seria atua lizado
em ce na. Na verdade, o espectado r é apenas a víti- 4. Caracteres do Sig no Teatra l Toda rec itação do text o dr am áti co intercala um O silênc io parece invadir o teatro por vo lta do
ma (q ue consente em sê-lo) de uma ilusão refe- ce rto núm ero de pau sas. Muitas vezes - prin ci- final do séc ulo XIX, ao mesmo tempo qu e a exi-
rencial: ele acredita ver Ham let, sua coro a, sua palmen te no caso do alexandrino - as pa usas são gê nc ia de en cena ção. Ele não é mai s " pime nta" para
a . H ie ra rq u ia
loucura , ao passo que só enxe rga, na verdade, o fixadas pelo esquem a rítmi co (e m fim de ver so, o texto, mas o e lemento central da co mposição.
Nenhum s igno da representa ção pode se r en- O natura lism o j á se mostrara ate nto à fala re -
ator, se u acessório e a simuiação da loucura. no hemi stíqui o, em fim de frase, a rgu me nto o u
tendido for a da red e dos outros s ig nos . Esta red e primida d a ge nte "com um". Com T CII ÉKHOV -
O teatro . pelo menos em sua tradu ção mimética tir ada). As pau sas co ntribue m para o estab e leci -
está e m perpétua e laboraç ão, em parti cul ar quanto so b retudo na s ence nações de STA NI SL A VS K I -.
(represe ntacional), poderia definir-se não só como mento d o ritmo ", es trutura m, ton ificam e anima m
à hier arquia dos siste mas cêni cos: o ra o text o dra - o te xto dram áti co tend e a se r um pré-t ext o de s i-
uma colocação em signo da realidade, mas como a enunc iação " do ato r e da e nce nação. Ela s são
máti co domina e co ma nda os o utros s iste mas, o ra lên ci os: as person agen s não o usa m e não pod em
urna realidad e cênica qu e o es pec tado r transfor- m ai s o u men os mot ivadas pel a situação psicol ó-
ma se m ces sar em sig no de algu ma co isa (proces- det erminado sig no visu al es tá no ce ntro da co - ir até o fi m de se us pensam e ntos , o u se co muni-
g ica. podem ser rupturas" vo lu ntárias ou invo -
mun ic ação ifocalizaç ãori . ca m por me ias-p ala vras. ou. a inda, fa la m para
so de semio /ização *). Poderí am os in verter aqui a lunt ár ias. aume nta ndo a te nsão, pre pa rando um
fórmul a de Ann e UDERSFELD qu e lhe se rve para efeito o u um vazio o nde a re fle xão e a desilusão nad a dizere m, cui da ndo para q ue ess e m ula -di-
defin ir se miologicamente o teat ro: " Um referen- b . M obilidade zer seja e nte nd ido pe lo inte rloc uto r como cfcti-
lo go se precip itam. No text o real ist a (q ue parece
te (um real ) que ' produz sig no' (Tra vail Th éâtral , va mc ruc carregado de se ntido . No s a no s vinte,
O s ig no é mó vel tant o por se u sig nifi cant e ex tra ído de uma co nve rsa qu alquer ), os silêncios
n. 3 1. 1978: 121)" e dizer qu e. inversam ente, o J.-J . BE RNARD, H. LENORMAND e C. VI LDRA C
qu ant o por se u s ignificado . Um mesm o sig nifi- são dei xados à livre interpret ação do ato r, es te os
teatro é também um signo qu e produ z real (pro- reali za (e m aco rdo co m o e nce na do r) co nforme - foram os represent ant es de um teat ro do si lêncio
cado, "casa " , por ex emplo, pod er á se r co nc re ti-
(o u do n ão -expresso ) qu e sistematiza, por vezes
cesso de dessemiotização). Ali ás, parece que é a zado e m div e rsos significa ntes : ce ná rio , mú sica, m ent e à aná lise psicol ógi ca de su a per son agem ,
es ta mesma proposição que ch ega A. UDERSFELD tentand o enco ntrar intu itivame nte os mom ent os de m an ei ra grosse ira dem ais. es ta dramaturgia do
ges to e tc. Inv er sam ent e, um mesm o s ig nifica nte
quando precisa que "o signo teatra l concreto [é] e m qu e a reflexão, a alu são o u a au sên cia de coe - não-dito (assim J.-J. DERNA RD e m Le Fe u qui
pod erá acolher suces sivamente diversos s ig nifi-
rê nc ia do pen sam ent o se to mam necessários. A Prend Mal, 1921. o u Mar/inc. 19 22 ). M as o s i-
ao mesm o tempo signo e refer ent e" ( 1978: 123). cad os: os tijol os no Ubu aux Bouffes de DROOK
lên ci o, usado demasiad o siste m aticame nte, logo
significam sucessivamente alime nto, armas, de- gestua lidade e a m ími ca pren ch em então as ne-
fica muito tagarela/falante. BECK ETr, c ujos he-
3. Especific idade do Sig no Teatral graus etc. Ne ste se ntido, 1I0NZL pode afirmar qu e cessidades desses vazios, e os s ilê nc ios não são
rói s pa ssam se m mais nem men os da a fas ia tot al
a ação é um a co rre nte elétrica qu e permite pa ssar m ais qu e o ave sso e a preparação da fala: " Há
ao delíri o ve rba l, co nhece bem isso .
a. Numa primei ra fase das pesq uisas semiol ógicas de um s istema significa nte a outro, hierarq ui zando s ilê nc ios e as pal avr as fabri cam-nos e ajudam a
(e não só no caso do teatro ), acreditou-se q ue a de- e din ami zando os signos co m base e m u ma parti - fabri cá-los" (CAGE, 1966 : 1( 9). Es te tipo de si-
terminação de um signo o u de uma unidade mini- lên cio não é, por natureza, probl em áti co: e le só 3. Mil Voz es do Si lêncio
tura ima gin ária seg undo um a vetori za ção qu e de-
ma * era indi spensável à elaboraçã o de uma teoria. pe nd e tant o da produção qu ant o d a rec ep ção fic a as s im quando o ato r acentu a as pau sas, dei -
Por outro lado, esta busca de um modelo semioló- xa ndo ad ivinha r um não -d ito qu e co nta minou e U ma tip ol ogi a dos silênc ios no te at ro permi-
(se miologia *).
até me s mo co ntradi sse se u text o . te d is ting u ir a partir del es d ram atu rgi as radi c al -

358 359
Sf MBOLO SIT U A ÇÃO DE ENUNC IAÇÃO

mente opos tas qu ant o a sua es t ética e ao seu a l- I . Para a semió tica de PEIRCE, o símbolo é "um de símbolos para invent ar um a linguagem qu e se A enunciação, prossegue BENVENISTE ( 1974 :
ea nce soc ial. signo que rem ete ao obje to qu e ele denota em basta a si mesm a. 79-88) é a "realização voca l da língua" , ela "su-
virtude de uma lei, ge ra lme nte uma assoc iação Esta estética ainda se enco ntra hoje naquil o põc a co nve rsão ind ividu al da língu a e m discur-
a. Silêncio decifrá vel de idéias gerais, que de te rmi na a interpretação que B. DORTcha ma de represent ação simbolista: so", é " um processo de apropriação" do apare lho
É o silênc io psicológico da fala reca lcada ; por do sí mbolo por referência a este objeto" ( 1978: "A ten tati va de co nstituir, no palco , um universo forma l da língua, graças a ela "a língua vê-se em-
exe mplo: STRINDBERG, TCHÉKIIOV, hoj e o 140 ). O símbo lo é um signo arbitrariamente es- (fec hado ou abert o) que tom e alguns e lementos pregada na exp ressão de urna ce rta relação com
VINAVER do Th éâtr e de C harnbre . Percebe-se co lhido para evocar se u re ferente: assim, o siste- e mprestados da realid ade aparente mas que, po r o mund o". Na e nunciação esc rita do esc ritor - e
muito bem aquil o qu e a personagem se recusa a ma de semáforo verme lho/ve rde/a marelo é usa- int erm édio do ato r, re me ta o espectado r a um a li fo rtiori, no caso do auto r de teatro , poder-se-ia
revelar, e a peça é baseada nessa dicotomia entre do de acordo co m um a convenção' arbitrária para realid ade o utra qu e es te de ve descobrir" (DORT, acresce ntar - "o esc rito r se e nuncia esc revendo
não-dito e decifr ável; o "sen tido" do texto é sa- 1984 : 11). e, no interior de sua esc ritura, faz indivíduos se
assi nalar as prioridades.
ber funda mentar a o pos ição entre dito e não -dito. en unciare m" (88).
" ícone, realidade representada, semiologiateatral.
2. A noção de símbo lo tem mu itas vezes um sen- No teatro, a enunciação é aq ue la do autor, ele
b. Silêncio da ali enação lido oposto ao sistema de PEIRCE. Dent ro da tra- mesm o substituído pelos e nunciados das perso -
W Robichez, 19 57 ; Frenzel, 1963; Marty, 19 82.
nagcns/at ores e pelo co nj unto dos reali zadores da
Sua origem ideol ógica é manifesta. Este tip o dição sa uss uria na , o símbo lo é um "s igno qu e
de silêncio é preenchido por uma fala fútil, e n- aprese nta pelo menos um rudimento de víncu- ence nação . Mas esta o pos ição, esta "dupla enun-
venenada pelos meios de co municação e pelas lo natural ent re o sig nifica nte e o significado" ciação" (UBERSFELD, I 977a: 250) não é abso lu-
fórmula s co nve ncionais, deixando sempre entre-
SISTEMA C ÊNICO la, visto que, por um lado, é o "autor" que faz as
(SAUSSURE, 19 71 : 101 ). A balança é o sí mbo lo
ver as razões sociológicas da alienação. KROETZ
e, atrás ele, o tea tro do cotidiano' (WENZEL,
da j ustiça, poi s evoca ana logica mente, por se us
pratos em equilíb rio, o peso do pró e do contra.
e
Fr.: syst ême sc énique; Ingl.: stage system; AI.:
Biihnensvstem; Esp.: sistema escénico.
per son agens falarem e, por outro, O autor não é
redutível a um a única voz ou a um discur so coe-
TILLY,DEUTSCII, LASSALE) são seus atuai s r - Aquilo que PEIRCEchamava de símbolo, SAU.,.-- - - - i - - - - - - - rente e unificado que seria clara me nte legível nas - - - - - . . ,
presentantes. indicações cênicas ou num a estrutura e vidente dos
SURE denomin a sig no o u signo a rbitrá rio. O sis te ma cê nico (o u sistema significa nte)
agr upa um co njun to de signos pert encen tes a um d iálogos e co nflitos que eles e nco brem.
c. Silêncio metafisico
3. O emprego do te rmo símbolo generalizou-se mesm o ma ter ia l (ilumi nação, ges tua lidade, ce -
É o único silêncio que não se reduz facilmen- na crítica dramática, co m tod as as imprecisões nografia e tc .) e qu e forma um sistema scrnio- I. Visuali zação da Enunciação
te a uma fala em voz baixa. Ele não parece ter imag ináveis e sem q ue a teor ia gan he muito co m lógico de opos ições, redundâncias, co mpleme n-
outra causa além de uma impossibilidade congê- isso. É evidente que, e m ce na, tod o elem ento sim- tarid ades e tc. A situação da fala é atuali zada na encenação,
nita de co municar (PINTER, BECKETT) ou um a Esta noção permite superar aquela, dem asia- j á qu e o espetáculo mostra per son agens faland o.
boli za algo: a ce na é sem iotiz ável», ela faz sig-
condenação a jogar co m as palavras sem pod er do estreita, de signo * o u de unidade mtnima", Lend o o texto, o ence nado r bu sca uma situação
no* (sinal) ao espec tado r.
vinculá-Ias às coisas de outro modo que não o Ela aba rca ao mesmo tempo a organização inte r-
Poder-se-ia estuda r os processos eênicos de na qual os enunciados d as perso nage ns, as ind i-
lúdico (HANDKE, BECKETT, HILDESIIEIMER, na de um dos sis te mas e as relações dos sistemas
simbo lização considerando a cena co mo retórica: cações cênicas e seu pró prio co me ntário sobre o
PINGET). entre si. Ela co nvida a imagin ar o espetáculo co mo
- metáfora: utili zação icôni ca do sí mbo lo: de- texto acham co mo se co ncretiza r. A análise dra-
um obje to atrave ssado por ve to rizações e m to- matúrgica do e ncenado r só c hega a lerm o e só
d. Silêncio f alante term inada cor ou deter minad a música remete
dos os sentidos . ex iste a partir do mom ent o em qu e é co ncre tiza-
a esta ou àquela at mosfe ra; está ligada à co n-
Falsamente misteri oso, este silêncio que não da no trabalho cê nico, co m o es paço, o temp o, os
de nsação, aos vet ores ac umuladores e em -
o é, ressoa com mu ita freqüênc ia no melodrama,
brea dorcs; , Código. semiologia, questionário. mater iais e os atore s. Assi m é a e nunciação cê-
na peça de boulevard o u nas crônicas folhetines- nica : o acio namento, no espaço e no temp o, de
- meto nímia: utilização ind iciai (índi ce *) do sig-
cas da tele visão. Ele faz uso sem problem as de tod os os elementos cê nicos e dr am atúrgicos co n-
no; uma árvore rem ete à floresta; ela corres-
sua função fática. SITUAÇÃO DE ENUNCIAÇÃO side rados úteis à produção do se ntido e à sua
O silêncio é o ingrediente mais difícil de ma-
ponde ao des loca me nto, aos seto res conectores
nipular no trabalho da encenação, pois esca pa ra-
pidamente a seu autor, para tom ar-se um misté-
e secantes:
- alegoria: a gaivota, na peça do mesmo nome,
e
Fr.: situation d' énon ciation; lngl.: situa tion Df
recep ção pel o pú bli co , co loc ado assim numa
ce rta situação de rece pção.
cnuncia tio n; AI.: Aussa gesituat íon; Esp .:
rio insondáve l - e, portanto, dificilmente comu - não remete apenas a Nina, ela "s imbo liza" a situac iôn de enu nc iac i ôn,
nicáve l - ou um procedim ento vistoso de mais - inocência fenecida por inoperância. 2. "Latitude" da Enunc iação
e, portanto, rapid ament e cansativo. A sem iologia* e a teori a da enunciação usam
4. Um mo vimento lite rá rio, no final do século a noção de si tua ç ão de enu nc iaç ão para descre- Interp retar um texto (e m tod o o sentido do ter-
XIX, o simbo lismo, ge nera lizo u a noção de sí m- ver o local e as c ircu nstâ ncias da produ ção de mo) obriga a tom ar partido qu ant o à situação de
SÍMBOLO bolo fazendo dele o cód igo da rea lidade; ele pro- um ato de e nunc iação tant o na leitura de um texto e nunciação. Ce rtos textos (natura listas, principal-
cura " vestir a idéia de uma forma sensível" (Jean ment e) contêm mais indicações precisas so bre as
e
dramático quant o em sua e ncenação : "A enun -
(Do grego symb olon, sinal de reconhecimento. ) MORÉAS). Autores co mo I\IAETERLlNCK, WAG · ciação é essa ação de co loca r em funcionamento situações e as perso nage ns. A e nunciação limita-
Fr.: symbole; Ingl.: symbo l; AI.: Symbol; Esp.: NER, IBSEN, 1I0 FI\lANNSTII AL, ELlOT, YEATS , a língua por um ato individual de en unciação" se então, muitas vezes, a fund ir texto e situação
símbolo. STRINDBERG, PESSOA o u CLAUDEL serve m-se (BENVENISTE, 19 74: 80). num a mesm a mensage m. Qua ndo, ao co ntrário,

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S IT U A Ç Ã O DE LI NG U A G EM SIT U A Ç Ã O DRA MÁ T IC

o text o ou as indicações c ênicas " dizem pou cas ficantcs possív ei s. basead os na imagem visual psi c ol o gia . Todos os p roced iment os " de li- expecta tiva, um a dial ética das ações. Ao co ntrá-
co isas sobre a situação. a margem de manobr a do ou ac ús tica. Co mo esc reve Jean CAU NE, "0 tex- teral id ad e e de teatralidad e são a í apregoa dos rio. a situação pode parecer es tática e descriti va .
ence nador/enunciado r é muit o a mpla e a esco lha to se rá co ns ide rado co mo um material transfor - fr an cam ent e. Ele é irred utíve l a um referent e ou co mo um qu ad ro de gê nero. A forma dr am áti ca
de um a situação de enunciação produ z freqü en- mado pel a escritura cê nica, do me sm o mod o qu e a um s is tema de idéias. Entre os textos que se proc ede por um a seqüência de diálogos qu e fa -
te mente uma leitura e urna ilu minação novas. o ges to, a voz, o es paço. A ex pressão ve rba l dos ba sei am e m situações de lin gu agem, BARTHES ze m alte rna r mom ent os descrit ivos e passa gens
at or es não é da mesma natureza , no plano da ( 1957) c ita o teat ro de MARIVAUX e de ADAMüV. dial éti cas co m nov as situações. Tod a si tuação.
3. As Cond ições da Fala ex pressão. qu e o texto esc rito . E não é tant o a Pod er -se-ia ac rescenta r a isso. por ém , tod os os apa rente me nte es tática. não é se não a prep aração
s ubs tância que mud ou, qu ant o sua o rga nização te xto s dr am áti cos qu e refl et em (sob re) a proble- do e pis6d io seg uinte. ela parti c ipa da co nstrução
Não s6 se trata de determinar qu em fala e a formal. O text o verbali zad o é int roduzid o numa m áti ca do teatro dent ro do teat ro e qu e e xibem da fábul a e d a ação.
quem ele se dirige, mas de apree nde r como a en- respi ração . num ges tua l, num a at iv id ad e. num se u fun cion ament o ret6r ico . É neste es pírito qu e
ce nação, enquanto enunciação cê nica global. se es paço. E le é um dos e leme ntos d a forma cê ni- e ncenações de clássico s (co mo as de A. VITEZ, 1. Situação e Modelo Actan cial
abre e se apresenta ao públi co , co mo ela é a visua- ca e, e nq ua nto tal , s6 vale por seu lugar na for - i .-c . FALI... l .-M. VILLÉGIER ou C. RÉGY) cmpe-,
lização (e a "a udialização"), pelo es paço e pelo ma g lo ba l e pel as relações qu e mantém co m os nham-se e m reencontrar a d im en são ret 6rica e A situação recíproca das person agen s e nvo l-
tempo, das condi ções de enunc iação para que a o utros e le me ntos " ( 198 1: 234 ). ling üística do text o. vid as numa mesma empreitada é "visua lizãvel"
ence nação seja recebid a pelo públi co. É preci sam ent e pelas relaçõe s e int era ções dos por div erso s esquemas actanciais" : as re lações
A enun ciação é igualment e clarifi cada pela ati - d ifere ntes siste mas significa ntes e. port ant o, de ~ . Estereótipo, discurso. se miologia . d os ac tantes" do drama num instant e preci so do
tud e dos locutores, em face de seus enunciados. sua enunci ação, que melh or se define a enun - desenv olviment o dramático con stitu em um a im a-
Estas atitudes (no sentido bre chtiano de Haltung , ciação cê nica ou ence naçc7o. rrl Segre, 1973; Helb o , 1975 ; Pavi s, 19800, c, ge m de sua situação. Não se pod e e xtrair urna
isto é, de maneira de se manter e de se comportar /.ah>.l I 9860 . per sonagem desta confi guraç ão" actan cial " se... m_ - - -
e tam bém de postura dia nte de uma gueslão) não,_ _ . , ~ t _ .;S ;.i .;tu ;. ação , situação dramática, d êixis, discurso, -·~ o e s r e g u l a r o es quema (la situação. Toll a ação não
- - - - -s-
e limit am à enunciação ges tua l dos ato res; a ce- pragmática . é se não a transformação de situaç õe s suces sivas.
nografia, a dicção . o j ogo da s luzes também di- S ITUAÇÃO DR AM ÁTI C A Segundo a ab ordagem estruturalista , o s aconteci-
zem bem da relação do di zer e do enunciado . W Veltru sk y, 1977 ; Pavi s , 19780 ; Kcrbrat - ment o s e o s perso nage n s6 têm se ntido se reco -
• - Orecchi oni, 1980, 1996. :-'+Fr. : situotion dramatique ; Ingl. : dr amatic
Os diversos enun ciador es cê nicos dão um a locad os no co ntexto global de urna s itu ação: el es
imag em concreta da situaç ão de enunciação pro- 't..: situat ion; AI.: dramatisch e Situation; Esp.: s6 valem por se u lugar e sua diferença na con st e-
pond o um a hierarqu ia o u. p el o men os, um a sitnac i án dramática . laç ão das for ça s do dram a.
interd epend ência das font es de enunciação. SITUAÇÃO D E LI NG U AG E M

4 . Hermen êutica da Enun ciaç ão e Fr. si tua tio n de langage ; In gl.: lang uage
situa tion ; AI.: Sprechsituati on; Esp. : situac i ôn
Co nj unto de dad os textuai s e cê nicos indi s-
pen sáve is à co mpree nsão d o text o e da ação, em
um determinado momento da leitura ou do es pe-
2. Situação e Encenação

de leng uaj e. T raçar os limites de uma situação eq uiva le, para


tácul o. Assi m co mo a men sagem lin guí stica não
Do mesm o modo que, na frase, a enumeração ce rtos pe squisadores (JANSEN, 196 8. 197 3), a
qu er d ize r nada se se ign or ar sua situa ção ou seu
se mpre tem a "ú ltima palav ra" so bre o enuncia- I . Si tIIaçã o de lingu agem opõe-se à sitI/ação dra- fazer co rres ponde r um seg me nto do te xto a e le-
co ntex to de enun ciaç ão"; no teat ro , o se ntido de
do, a dicção é um ato herm en êutico que impõe m ática " , Enqua nto esta últ ima co nfronta a si tua- ment os cê n icos qu e não vari am durant e um ce rto
um a ce na é função da apresentação, da cla rifica-
ao texto um volume, um a co lo ração vocal, uma ção vive ncia da co m o texto dit o, a situaç ão de tempo . A s ituação se rve de mediação e ntre texto
ção o u do co nheci me nto da si tuação. Descre ver
co rpo ralidade, um a mod al ização responsável po r linguagem é produ zida por um discurso qu e não e representação na medid a e m qu e se recort a ne -
a s ituação de um a peça e qu ivale a tir ar. num
se u sentido. Imprimindo ao te xto um certo rit- rem ete a um a realid ade exterior a ela própri a e, cessaria me nte o texto co nfo rme o j ogo cê nico
moment o preci so, uma fot o gr afi a de tod as as re-
mo" ; um "des file" co ntínuo o u entreco rtado, o sim, a sua pr ópria formulação. co mo no caso da própri o de uma situaç ão.
laçõe s d as person agen s, a "conge lar" o desen -
ator apresent a os acontecim ent os, co nstrói a fá- lingu agem poéti ca, tam bém ela intransiti va e auto- vo lvime nto dos aco ntec ime ntos para fazer o ba-
bul a, dá a ouvir tanto o texto dr am áti co quant o o reflexiva. É uma "configuração de fala s, ap ropria- lan ço da ação. 3. Situação e Subtexto
co mentário metatextual. A aliança (a "a liagem") da par a ge rar relações à prim eira vista psicol6gi- A situação pod e se r recon stituíd a a part ir das
desta enunciação pr ópria do ator (c, através dele, cas, de mod o algum tão falsas qu ant o paralisadas ind ica ç ões cênicas ", das indicações espaço-tem - A s ituação tem a propri ed ade de existir se m
da encenação) e do tex to dramáti co é que produ z no próprio co m pro metimento com uma lin gua - pa rai s " , da mímica * e da express ão co rpo ra l dos se r dit a (d escrita ou expli cit ada) pe lo texto ; ela
a ence nação . ge m ante rio r" (IlARTIlES, 1957 : 89). ator es, da natur eza profund a das relações psico- pert ence ao e xtralingüístico , ao cê nico, àquilo qu e
Há, porta nto, dois textos lin güístic os e du as 16gi c as e soc iais e ntre as per son agen s e, mais as pe ssoa s fa zem e sabe m tacitament e. Assim,
man eira s de ana lisá- los e de fund ar um a semio- 2. Tod o te xt o qu e não tent a parec er claro e ge ne ricame nte, de qua lqu er indicaçã o determi - "interpretar a s ituação" (por opo sição a "inter -
logia : o texto dram ático es tudado "n o papel" e " tra ns pa re nte" e traduzir-se numa s ituação e nu - nant e para a co mpree nsão da s motivações e da pret ar o te xto " ) se rá, para o ator ou o e ncc nado r,
suje ito a uma semiolog ia do texto qu e toma em - ma ação , mas qu e j oga co m sua pr ópri a mat eri a- ação das persona gen s. não se co nte ntar e m dar o text o e , si m, o rga niza r
prest ada de outros tipos d e te xto algun s de se us lidade , produz s ituaçõ es de lin gu agem . O text o A ex press ão "s ituação dramática" faz, antes s ilêncios e j og os de cena que recri em uma atmos-
métod os, e o texto enunc iado . e nce nado , no qu al insi ste e m se u ca ráte r co nstru ído e artifi c ial , re - de mais nada, o efe ito de um a co ntradição nos fer a e um a situação particulares. Nesse caso , a
vê m a se enco nt ra r tod os os s is te mas s ig ni- cusa-se a pa ssar pel a expr essão natural de urna termos: o dramático es tá ligad o a um a tensão, uma s ituação é qu e dará a chave da ce na . A situação

362 363
S OC IOC R/ T ICA sOC loCRIT ICA

se aproxima de um a noção de subtexto", Ela se leitura do ideológico em suas possibilidades tex- Opor o individu al e o socia l. como a soc iolo- a representação era hierarqu izada? Através dessas
dá ao espectador co rno uma estrutura globale fun - tuais" (DUCHET.GAILLARD. 1976: 4). gia. tanto quanto o senso comum o faz de bom interrogações. trata-se de captar a socialidade da
damentai de co mpreensão. Ela lhe é indispensá- grado. é colocar o problem a segundo uma oposi- prática cênica. o sentido das form as e materiais uti-
vel como po nto de apoio relativamente estáve l I. A Socioc rítica em Teoria e em Crítica ção que se trata precisamente de superar. se se pre- lizados. O questionam ento é. muitas vezes. ambi-
sobre cujo fund o os pontos de vista variados e Literária tende "sa ir da dua lidade mecanicista: indivídu o e cioso: qual o vínculo entre uma sociedade. uma
cambiantes se destacam co mo que por contraste. sociedade. obra artística e condições exteriores de dança. uma cenografia? (FRANCASTEL. 1970 )
sua produção" (JAFFRÉ, 1974: 73). se se busca a Co mo analisar "a situação do público no interior
Este método foi apl icad o primeiro ao roman-
4. Situação do Text o articulação da soc iologia e da psicanálise. do espaço teatral?" (HAYS. 1981 b: 369).
ce (esse ncialmente reali sta e natu ralista). a obr as
para as quai s a relação co m a soc iedade e a ideo-
A conseqüê ncia derradeira é que o texto se logia do seu temp o era bastant e clara (DUCHET. 3. Tarefa s de uma Sociocrítica do Teatro d. Med iaçã o da encenação
tom a a ema nação acessóri a de uma situação. que 1979). Foi elaborado no início dos anos setenta A encenação assegura um vínculo, altamen-
ele perde toda autonomia e espessura . não sen- para subs tituir ao mesmo tempo uma sociologia As tarefas são tão numerosas quanto pragm á- te "soc ializado" . e às vezes persona lizado na fun-
do mais que "o epifenômeno da situação" (VITEZ). da literatura e uma abordagem formalista do fato ticas, Contud o. C laud e DUCHETtem razão ao ver çã o do encen ador, entre o texto e o públi co a ser
Num teatro inteiramente baseado em situações literário. A sociologia pareci a na verdad e muito no teat ro um terreno privilegiado da (futura) atin gido intelectu al e e moc io na lmente. Este re-
natura listas. a persona gem e a situação acaba m ge ral. ligada a grandes temas e a conteúdos ex- sociocrítica, poi s "o teatro exibe um uso soc iali- lacion amento obriga a levar em co ns ideração a
send o as única s realid ades. relegando o texto ao plícitos das obra s ; ela difi cilmente cheg ava a zado da fala e se u texto pod e voltar-se para este evo lução do públi co. o co ntex to soc ial. a fun-
nível de manifestação sec undá ria. oriund a da ana lisar os textos reen contrand o neles as estru- uso. tornand o em sua perspectiva o própri o valor ção ca mbiante do teatro.
situação. Esta mud ança de rumo não deixa de turas sociais ou mentais da s qua is fazia a hipó- da fala e daquil o que a nomeia. baseand o um a
ofe recer perigo . poi s o texto não passa. então. tese; o formalismo. por outro lado. ana lisava tex- problemática no intercâmbi o/troca verbal que a e. CO/lcretizaçiio d o text o e da _
r- ~- -' d e um roteiro qu nã podemos que stionar e m tos que pretendiam excl uir sua referência social--- -t';: c o ;:' n;: s ;: t ~l l':" u i " (DUCHET. 1979: 1'17). repre sentação
si mesmo. for a da situação e da encenação con- o q ue levava a uma descri ç ão de mic rome-
Para adapt ar-se a es ta evo lução. a sociocrítica
cretam ente reali zad as. Contra esta inva são da canismos textuais cuj a em ergênci a histórica ou a. Interc âmbio da fala
cujo vínculo com uma históri a das idéias se en- obse rva a concretização do text o. na Icitura do
situação. ence nado res reagem . pretend em inter- Além da evidê ncia de um diálogo. de papéis. enccnador, depois do públi co frente à represen-
pretar o texto. e não a situação : "Quando um tendia mal. Em suma. a soc ioc rítica visa. se não
reconciliar. pelo men os co nfro ntar as perspecti- de personagens. perguntamo-nos quem . em defi- tação. Ela encont ra em seu ca minho o contexto
ator diz uma palavra. eu me interesso por aque- nitivo. fala a quem . qu e papéis e que estratég ias soc ial ("co ntexto total dos fenõmenos socia is".
vas socio lógica e formali sta . El a aborda obras
la palavra. e então. em vez de interpr etar a si- são postos em ação. co rno o discurso produ z um a seg undo MUKAROVSK'Í' ) qu e ela deve recons-
es pecíficas cujo mecanism o pretende descrever.
tuação. eu interpreto os so nhos que a situação ação. que forças soc iais - formações ideológicas tituir para a produção da obra co mo para sua re-
se m excl uir a relaçã o com o cont exto social de
me inspira [... l. o qu e as palavras desencadeiam e discur siva s - " dialogam" assim através dos con- cepção atual.
sua produção e de sua recepção.
em mim de son ho. em mim e nos atores" (VITEZ. flitos e dos atores (cf FOUCAULT. ALTHU SSER).
L' Hum anit é de 12.1 1.1971). f Contradiç ões id eol ógi cas
2. Dificuldades da Soci ocrítica
b. O sis tema d ram átic o Funda mentalme nte. a soc ioc rüica supõe qu e
Ç) Situação de enunciação. situaçãode linguagem.
A sociocrítica aplicada ao teatro está apenas Se há teatro e. porta nto. falas com co nfli to e o texto dramático traga a marca de co ntradições
~ texto dramático.
dando seus primeiros passos. ao menos a socio - em desequil íbrio. é também porque o microcosmo ideo lógicas. mais o u menos visíveis no co nflito
W Polli. 1895; Propp, 1929;S ouriau. 1950; Mau- crítica stricto sensu, pois as abordagens para li- social das person agen s não encontra melhor ex- dos ideologemas ou na co nfig uração de um sis -
ron, 1963; Sartrc, 1973. gar o texto à história evide ntemente não datam pressão que so b es ta forma conflitual onde nin- tem a dr am áti co. El a se recu sa a respond er à
de hoje. Antes de imag inar qua l poderia ser seu guém nunca dá a últim a palavra . q uestão: "O autor é x (reac io nário) ou )' (pro-
programa específico. é preciso primeiro levar em gress ista)?". para me lhor se ntir as co ntradições.
socrOC RÍTICA co nta dificuldades da teoria da ideologia. a rela- c. O text o e as práti ca s c ênicas isto é. os paralogi sm os, as incomp atibilidades
ção do texto com a história . a determin ação do entre conce pções de mund o. Assim BÉNICHOU.
-v Sozioknui;
O teatro não se limita ao texto dramático. Ali-
Fr.: .soc iocrilique; lngl.: sociocriticism; AI.: contexto soc ial. ás. ele só existe verd adeiram ente quando enuncia- soc iocrftico amll l la lettre, afirma em M o ra le s
Esp.: sociocritica. É certo que uma teoria da ideologia falha cruel- do em cena. inserid o (e não mais serv ido) nos múl- du Gr an d Si êcle ( 1948) q ue MOLlÊRE não re-
mente. se se entender por isso um a teoria que ul- tiplos sistemas de signos (ator. luzes. ritmo de fala. pe rcute um a ideo log ia burguesa e sim dá provas
Método de análise de texto que se propõe a trapassa a concepção da ideologia como comera cenografia etc.). Aí está um um lugar de eleição de um idea lismo aris toc rático . Não é nas falas
examinar a relação do texto com o social. estudar obscura (MARX). falsa consc iência. manobra de para a soc iocrítica que deve investigar sobre o tra- das personagens e. sim. na maneira de represen -
"o estatuto do soc ial no texto e não o estatuto so- diversão e de exploraçã o. Seri a meio apressado balho concreto da ce na. a origem e a função dos tar teatralmente os co nflitos que BÉNICHOU de-
cial do texto" (DUCHET. 1971: 14). A sociocrítica considerar (como um ce rto marxismo) que a ideo- sistemas paravcrb ais, Ela encara a represent ação mon stra o eq uilíbr io e o se ntido profund o do te-
busca a maneira pela qual o social se insere na logia é feita unicam ent e para mascarar o real. como uma prática soc ial: que companhia repre- atro de MOLlÊRE; a prin cip al difi culd ade co nt i-
estrutura do texto: es trutura da ficção. estrutura da camuflar a verdade. dom inar um grupo e servir senta ou represe ntava MOLlÊRE?Que tipos de ato- nua a ser fun dament ar textualm ente essas gran-
fábula e especificidade da escritura; ela pretende outro. Ainda seria preciso sa ber co mo esta ideo- res eram usados? Quem coo rdenava o trabalho des dife renças e ar tic ulá-Ias tanto em cima das
ser "uma poética da socie dade. inseparável de uma logia age no e para o texto literário! deles e dentro de qual fim socia l e estético? Como o posições discursi vas qua nto sob re as relações

364 365
SOC tOLOGIA DO T EATRO SO NO P L AS T I A

ac ta nciai s (sem que o discurso e a ação coinci- cê nica. co m as ment alid ades. as co nce pçõc s ideo- ciente d a per son agem : daí sua d imen são é pica e A so no plastia é um a reconstitui ção artifi cia l
da m necessariamente). lógicas de um grupo, de uma classe soc ial. de um lírica e sua tend ência a torn ar-se um trech o esco- de ru ídos. sej a m e les naturais ou não . A so no -
mom ent o históri co . O programa de GURWITCH Ihid o dest acável da peça e qu e tem valor autôno- plastia deve ser di stint a, aind a qu e nem se m pre
4 . Sociocríti ca e Outras Disciplinas (195 6). prolongado por DUVIGNAUD ( 1965) ou mo (cf o so lilóq uio de Hamlet sobre a ex istência). isso sej a tarefa fácil . da palavra (em sua mate-
SHEVTSOVA ( 1993) co ntinua a parecer atu al : Dramaturgicam cnte, o so lilóq uio re sponde a rialid ad e vocal ). da mú sica. dos resm ungos" e
Embora ainda esteja buscand o seu caminho e - estudo dos públi cos. a fim de "cons tata r sua um a dupl a exigê ncia: sobretudo . do ruído ge rado pela ce na. Trata-se do
sua ide ntidade. a socioc rítica difere. e m métodos di ver sid ad e. se us di ferentes graus de coesão. a "conj unto do s acont ecim entos so noros qu e entra
e final idades. de outras abordagens "soci ais": im port ânci a de suas possíveis tran s for maçõc s I . Confo rme a norm a dram ática. o so lilóq uio é na composição mu sical" (N. FRIZE).
- a socio log ia dos públicos an alisa a co mpos i- e m ag ru pa me ntos propriament e di tos" ( 1956: j ustifica do e co nduzido por ce rtas si tua ções o nde
ção e a mud ança do públi co. ex plica a recep - 202); ele pod e. de maneira vero ssímil, se r pro nunc ia- I. Or igem
ção segundo c lass ifica ções soc ioeconô mico_ - " aná lise da própria representa ção teatral , Como do : mom ent o de busca de si do heró i, d iálogo entre
culturais (GOURDON, 1982); . que se des en volv endo dentro de um ce rto qua- dua s e xigê nc ias mora is ou psicol ógica s qu e o su- Stri cto se nsu, a so noplastia ora é produzida
- a sociolog ia da cultura integra o teatro ao de- dro soci al"; j eit o é ob rig ado a formular em voz alta (d ilema *). pela ce na e motivad a pela fábul a. ora é produzid a
se nvo lvimento global de uma cultura; - "e studo do gru po de atores. enquanto co mpa - A úni ca condi ção para se u êxito é qu e e le seja nos bastidor es ou na cabine de so m e co mo qu e
- a sociologia das ins titui ções in vestiga sobre as nhi a e. mais ampl am ente. enquanto pro fissão" ; su ficiente me nte co nstruído e cl aro para ultrapa s- "colada " no e sp etácul o: ela é, port ant o . d iegéti ca
instituições literárias. os mod os de produ ção- - an álise da rel ação entre a ficção. tex tu al e cê ni- sar o es ta tuto de um monólogo ou de um flu xo de
co nsumo. a crítica e a edição (SARKANY. 1984). e ex tra d iegé lica. Às vezes. entretanto . mú sicos e
ca e. a socieda de o nde ela foi produ zid a e o nde co nsc iê nc ia "inaudíve l".
é recebida; sonop las tas situa m- se no limiar e ntre o pa lco e os
C omo sua irm ã mais velha. a se rniologia, a
- comparação das funç ões possív ei s do teat ro ba stid or es. como as percu ssões das encena ções
soci ocrítica es tá muit o arri scada a perder toda 2. S e ~nd o a norma épica. o so liló9 uio con stitui
I- especificidade integrando de maneira incon- conforme o estado de uma sociedade num de - das peças de SIIAKESPEARE ou de Sihat ollk pelo - - - - -
uma forma de objetivação de pensamentos que.
side rada os result ado s dessas di sciplinas vizi- terminado mom ent o. Tb éâtr e du Sol eil.
se m ele. permaneceri am letra mort a. Daí seu ca -
nha s sem tomar cuidado com a inser ção textual A soc iolog ia ganhará ao confront ar se us re- ráter não-ve rossimilh ant e no â mb ito da fo rma
e cêni ca desses dados soc iais. Pel o menos terá sultados co m a es té tica da rec ep çã o (JAUSS. 2. Reali zaçã o
puram ent e dramática. O so lilóq uio prov oca um
aprend ido co m e la qu e o texto ou a re prese nta- 197 8), estabe lece ndo o horizont e da ex pec tativa ro mpi mento de ilusão e instaura urn a co nvenção
ção a se r an ali sada só pod em sê- lo ultrapassan - do públi co . o "s iste ma teatral das pré-cond içõc s A so no plastia raram ent e é produ zid a e m cena
teatr al para que possa instaurar-se urn a co muni-
do se us limit es estreitos e acei tando as per pétu - pré-recepti vas" (DE MARINIS. 1987; 88 ) e sob re- pelo ator ; é exec utada nos bastid ores pel os técni -
cação diret a co m o públi co.
as incu rsões do social no int eri or da fort aleza tud o a experiência estética do espectador (PAVIS. co s usand o tod o tip o de máqu ina: hoj e. co m fre -
textu al o u cênica. 1996 ), se m ne gligen ciar a reflexão hermenêutica ti:1 Diálogo. aparte, dirigir-se ao público. estância. qü ência e la é gravada previament e de acordo co m
sobre as co nd ições de entender e exp eriment á-Ia
m Luk ãcs, 1914; Goldmann, 1955; Adorno. 1974; e desembocando assim numa antropologia do es-
as necessid ades es pecíficas do ence nado r e é tran s-
mitid a por c aixas de so m distribuídas pelo es pa-
Jam eson, 1981; Pavis, 1983a , 19800; Viala, pectador e do es pe tác ulo.
1985. SONG ço do público .
A gra vaç ão do s so ns é rea lizada co m tod a a
~ Sociocr ülca, se miologia, realid ade represcn-
~ (Palavra inglesa para ca llção.) so fis ticaç ão ima gi náve l da tec nologia rad iofô-
~t ad.
SOCIOLOGIA DO TEATRO 't...: Fr.: soug; Ingl.: song; AI.: Song ; Esp.: song , nica: mi xagem , criação e mod ulação do s sons.
Às vezes. a so no plas tia invad e tot almente a re -
e Fr.: sociologie du théãtre; Ingl.: soci ology of
theatre; AI.: Soziologie eles Theaters ; Esp.: so-
SOLILÓQUIO
Nome dad o às can ções no teatro de BRECHT
(desde a Ópera de Três Yint éns, 1928) para di s-
present aç ão : uma arte mecâni ca int roduz -se no
tecido visando o acontecim ento teatral , se m nada
cio logia dei teatro.
e (Do latim solus, sozinho. e loqui , falar.)
Fr.: soliloque ; Ingl.: soliloquy; AI.: Monolog ;
tin gui -Ias do canto "harmonioso" e qu e ilustra um a
situação ou um es tado d 'nlrn a na ó pe ra ou na co-
deix ar ao ac aso e am eaçand o co ntro la r tud o . A
sonoplas tia é se m pre meio co mo um a rap osa num
Di sciplina que se interessa pela maneira pela Esp.: soliloquio . méd ia mus ic al. O song é um re cu rso de di s-
ga linheiro.
qu al o espetác ulo é prod uzid o e recebido por uma tanciament o" , um poem a paródi co e grotesco. de
co letivida de hum ana e pela qual pod e-se lhe apli- Di scurso qu e urna pessoa ou um a per son agem ri tm o s inco pado, cujo text o é m a is fa lado ou
3. Fun ções Dramatúrgicas
ca r um a pe squi sa empírica (so b re a es trutura mant ém co ns igo mesma. O solilóquio. mais a in- salrnod iado que ca ntad o.
soc iode mográfica do públi co. por exemplo) ou da qu e o monó/ogo *, re fere-se a urna situação na (I. Efeito de real "
abo rdá- lo e m função do "capital cultural incor- qual a per sonagem medita sobr e sua situação ps i-
porado" (BOURDIEU) do es pec tado r. SONOPLASTIA Gr aças a seu grande realism o. a so no plastia
co lóg ica e mor al . desvendand o ass im. graças a
A soc iologia não tem que es tabelece r as rela- exe cutada no s bastid ores imit a um som (te le fone.
um a co nvenção teatral. o qu e co ntinua ria a se r
ções da obra co m a infra-estrutura eco nô mica. mas ~ Fr .: b ru ita ge ; Ing l. : so un d effect s.; AI. : ca mpai nha. gravador etc.) e interfere no desen-
s im ples mon ól ogo int eri or. A técn ica do so liló -
sim . ante s. avaliar o vínculo da obra. textual ou qu io re vel a ao espec tador a a lma ou o inco ns- 't...: Geriiuschekulis se; Esp.: efec tos de sonido. volvi men to da açã o (FORTIER, 1990).

366 367
SOTlE S USPENS E

b. Ambi ência 0 11 alm asfe ra MOLIERE). Muit as vezes e las qu ase fazem parte Nom e dado por E . Gordon CRAIG ao ator que SUSPENSE
A trilh a so no ra recon stitui um cenário sonoro da família burguesa a que servem. As aco mpanhan. ele desej a ve r um di a co locado à disposição do
ao evoca r ruídos ca rac terís ticos de um determ i- tes estão mais próxim as da dam a de co mpanhia ence nador: "O ato r desapa rece rá: em seu lugar ~ (Do inglês suspense.)
nado ambient e (PAVIS, 1996). (po r exe mplo, M arton e m As Fa lsas Confidên. veremos um a pe rso nagem inanim ada - qu e por - Fr.: suspense; Ingl.: suspense; AI.: Spannung ;
cias, Lisettc em O Jogo do Amor e do Aca so ). Se tará, se qui serem , o nome de supcrma rionete, até Esp.: suspenso .
c. Plano sonoro raramente são meneuses dejeu, co mo os criad os que tenha co nquistado um nom e mai s glo rioso"
as so ubre ttes pelo men os co ntri bue m para esc la: Expectativa " an gu st iad a do es pec tado r co n-
Num palco vazio, um ruíd o cria um lugar, um a ( 1905: 72 ). Es ta co ncepção marca a co ncl usão
recer a psicologia de suas patro as e par a mudar o fro ntado a um a situação na qual o her ó i é amea-
profundidade de cam po, uma atmosfera por tod a de um a tradi ção te atral qu e bu sca co ntro la r to-
rum o da intr iga. ç ado e na qu al se antec ipa o pior. Mom ent o d a
a duração de um plano so noro, como na peç a talm ent e a e nce nação e au me ntar o materi al vivo aç ão em qu e o es pec tad or/ le ito r sus pe nde a res-
radiofôni ca. na empreit ada in te lectua l do m encur dc jeu e d a- piração.
quele qu e transforma esse materi al e m signo. El e O sus pe nse é uma atitude ps icológica produ -
d. Contrapont o sal/oro
SUBTEXTO rem ont a, no mínimo , ao Pa radoxo do Co median- zida por um a estrutura dramáti c a muit o retesada:
A so noplastia age co mo efeito paralelo à ação te de DIDEROT, par a qu em o ator "se encerra num a fábula e a ação são di sp o stas de maneira a qu e a
~ Fr.: sous-texte; Ingl: sub-text; AI.: Subt ext; Esp.: per sonagem , obj eto de nossa inquietude, não pa-
cê nica, como um som offno cinema, o que impõe gra nde man equim de vime cuj a a lma e le é"
sub -texto.
à ação cênica uma co loraç ão e um sentido muito (177 3: 40 6). reça mais pod er esc apar a sua sane.
ricos. A dispo sição vari ável das caixa s de som Aquilo qu e não é dit o explic ita me nte no texto
nos bastid ores o u na platéia faz circular o som, dra má tico , mas qu e se sa lie nta da maneira pela
W Kleist, 1810 ; Stanislavski, J963, 1966; Bensky, Leitu ra, tensão. de us ex- machina, dramático e
1971 ; Fourne l, 1988. .. épico.
instaura um per curso e desorienta o espectador. qu al o texto é interpretad o pel o ator. O subtexto é
um a es péc ie de co me ntário efetuatlo pela ence·
na ção * e pe lo j ogo do ator , dando ao es pectado r
SOTIE a iluminação necessária à bo a recep ção * do es -
pet ácul o.
~ (Do fran.cês, sem correspondenteem português .) Est a noção foi prop osta por STANISLAVSKI
Fr.: so tte; Ingl.: so ue , force ; AI.: satirische
( J 96 3, 1966), para qu em o subte xto é um instru-
Posse. Sotie; Esp.: so tie, f arsa.
ment o psico lógico qu e inform a so bre o estado
interi or da person agem , ca vando uma distância
Peça cô mica medi e val (séc ulos XIV e XV ), a
s ignifica nte entre o qu e é dito no texto e o que é
soti e é a peça dos "sots" (dos loucos) que, debai -
mostrad o pela ce na. O subtex to é o traço psicoló-
xo da máscara da lou cura, ataca m os poderosos e
g ico ou psicana lítico qu e o at or imprime a sua
os costumes (ex e m plo: Jeu du Prin ce des Sots de
per son agem durant e a atuação.
GRINGORE).
Embora esteja na natureza do subtex to não se
dei xar apree nde r inteir am ent e, pod em os nos apro-
~ Jeu, farsa, moralidade .
xim ar da noçã o de di scurso da e ncenação: o
m Picot, Recueil G énéraldes Soties, J902- 1912; subtexto co meç a e co ntrol a tod a a prod ução cê-
Aubailly, 1976. nica , im põe-se mais o u men os c larame nte ao pú-
bli co e deixa entreve r tod a um a per spectiva inex-
pressa do di scurso , um a " pressão por trás das
SOUBRETTE palavras" (PINTER). É útil di stingui -lo da sub-
partitura ( partitl/ra*) .
~ (Do francês, sem correspondente em portugu ês.)
Fr.: soubrett«; Ingl.: lady's maid, soubre tte; AI.: , Situação, discurso, silêncio, texto dramático .
Soubrette, Zofe; Esp.: cria da .
W Strasberg, 1969 ; Pavis, 1996: 90-97 .
A so ubrette (do pro vençal soubreto, afetado)
é a serva ou a a co mpa nhante da princip al perso-
nagem fem inin a da co média . As servas se atri- SUPERMARIONETE
buem co m freqü ên ci a o dir eit o de "e ndireitar"
seus amos ou de reagir vigoro samente contra seus ~ Fr.: s ~ I/ '- lIa r io ne lte ; Ingl.: Über- ma r i~ ne lte;
projetos insen satos (ass im Dorin a e Toinette em AI.: Uber-ma rione tte; Esp. : Übcr-ma rioneue.

368 369
T
TABLADO já traçado, um triõun al 1la Iiistória o u um disposi-
tivo-poleiro para o ator que recria e "projeta" o
e Fr. : tr éte au; In gl. : stagc boards ; AI.: Geriist,
di e Brett er; Esp.: tabla do.
espa ço a partir de si mesmo. É enfim um formi-
d ávcl trarnpolim para o ator entregue a si próprio
e senhor do se u texto.
Historicam ente. o tablado (as "t ábuas" ) é o pal-
co popular redu zido à sua mais simples ex pressão Percurso. espaço.
(tábuas sobre dois suportes num a altura de um
metro a um metro e cinqüe nta). Ele co nvém ao
teat ro popular", representado outrora ao ar livre TEATRAL
e
pelos artistas de feira ou pelos sa ltimbancos (por
exe mplo. na Pcnt -Neuf, no início do séc ulo XVfi). Fr.: th éãtral ; Ingl. : theatrical ; A I.: theatralisc h;
Após os excessos da maquinaria teat ral" , do Esp.: teatral.
ilusio nismo do palco italiano. a cenografia " re-
descobre este espaço" nu q ue dá a apreciar o vir- I. Que diz respeito ao teatro.
tuosism o ges tual do ator e a pureza do texto: "Boa
o u má. rudim ent ar ou ape rfeiçoada. artifi cial ou 2. Que se adapt a bem às exigências do j ogo cê-
realista. pretend emos negar a import ância de toda nico (ex. : um a ce na muito visual num ro mance) .
maquin aria [...). Para a obra nova. qu e nos deixem
um tablado nu" (CO PEAU. 1974 : 3 1-32). 3. Pejorativam ent e : que visa dem ais um efei to
A vo lta dos tablad os es tá ligada à idéia (dis-
fácil sobre o espec tador. efeito artificial e afetado,
cutíve l) de que o grande texto dramático fala por
julgad o pou co natural " (" um j ogo demasiado
si mesm o, sem que o ence nado r deva enca rregá-
lo de co mentários visuai s. Um a maquinaria de- teatr al" ).
sa pa rece, outra a substitui: aque la do ator que ga-
rant e as coo rdenadas espa ciais, mostra a cena e o Teatralid ade , dramático e épico, (re)teatraliza-
. ção, especificidade, declamação. efeito teatral.
fora de ce na, invent a sem trégua novas conven-
ções. re valoriza a teatralidade (co mo as ce nas dos
sa ltimbancos em cima de tablados improvisado s)
e. hoje. o Th éâtre du Solei I. O tablado é às vezes TEATRALlDADE
também um pódio de demon stração (e m BRECHT,
a "ce na de rua" força o ator a recon stituir o aci- e Fr. : th éãt ralit é; Ingl. : th eatri cal it y; AI. :
Teatra lik, Thea tratit ãt; Esp.: tea tral idad.
den te do q ual e le foi testemunha), um percurso

371
TEATRALlDADE TEATRA LlDAD E

Co nce ito form ado provavelmente co m base - é preci so buscá-Ia no nfvel d os temas e co nteú- finalm ent e da ativida de do histr ião na vida de do di scurso. A isto se ac resce nta a e me rgência
na mes ma oposição que liter atura/liter alidade. dos descrit os pelo texto (espaços ex te riores, tod o d ia (faze r tea tro ou - par a atualiza r o id io - qu ase s imultânea do e ncenador (no mea do , no fi-
A teat ralidade se ria aquilo qu e, na repr esent a- visua lizaçõe s das person agen s)? ; tismo - fazer c ine ma) . nal do séc ulo XIX , resp on sável pe la visua lização
ção ou no texto d ram ático, é especifica mente tea- - é prec iso , ao co ntrário, buscar a te atr al idade Em francê s (e e m portugu ês também ), teatro cê nica do texto) e do teatro co rno arte autô no ma.
tral (ou cê nico) no se ntido qu e o ente nde, por na fo rma da expressão, na maneira pela qual o guardo u a idéia de um a art e visual, enqu ant o ne- A partir de ent ão, é de fat o a tcatralidade qu e se
exe mplo, A. ARTAUD, qu and o co nstata o recal- texto fala do mundo exte rio r e do qu al mostra nhum substa ntivo tomou o se ntido do conceit o toma o ca ráter esse ncia l e específico do teatro e
camento da teatralidade no palco europ eu tradi- (iconi za ) o que ele evoca pel o text o e pel a cen a? do text o: o d rama, difer ent em ent e do alem ão ou qu e, na er a dos encenador es, co nstitui o obj eto
ci onal : "Co mo é qu e o teatro, no teatro pelo me- do ingl ês drama , nã o é o texto escrito e, sim, um a d as pesqui sas estéticas co nte m po râ neas . No en -
nos como o conhece mos na Europa, ou melhor, a. No prim eiro caso , teatral quer di zer, muit o sim- forma históri ca (o drama burgu ês ou lírico, o me - tant o, o estud o textual dos maior es autores (de
no Ocid ent e, tudo o qu e é espe cific am ente tea- plesm ent e: espacial, visu al , e xpressivo , no se nti- lodrama) o u a sig nific ação derivada de "c atás- SHAKESPEARE a MüLI ERE e MARIVAUX) reve-
tral, isto é, tud o o qu e não obedec e à expressão do qu e se fala de um a cena muito es pe tac ular e trofe" ("estra nho drama" ). la-se pou co satis fató rio se não se lenta situar o
pela fala, pela s pal avra s, ou, se qui serm os, tud o impression ante. Este em prego va riáve l de tcatr a- text o numa prática cê nica, num tip o de atuação e
o que não es tá co nt ido no di álogo (e o própr io lid ade é mu ito freqü ent e hoj e ... mas, em suma, 4. Teatro Puro ou Teatro Literário numa im agem da represen tação . Se não há, por -
di álogo co nside rado e m fun ção de suas possib i- ban al e pou co pertinent e. tant o, opos ição irrem edi ável e ab solut a entre tea-
lid ades de so no rização e m ce na, e ex igênc ias A teatr alidade é uma propri ed ade do text o dra- tro pu ro e liter ário, existe um a ten são dialética
dessa sonorização), seja deixado em seg undo pla- b. No seg undo caso, teat ral qu er di zer a manei - m âtic o s't É o qu e se pret ende dizer freqüent e - e ntre o ato r e seu texto , entre o sig nificado qu e o
no?" ( 1964b: 53). No ss a é poca teatral se ca rac- mente, qu and o se fa la de te xto muit o "t eatral" ou
ra es pecífica da enunciação te atral , a circ ulação texto pod e ass umir à s im ples leitura e a mod a-
ter iza pela busca de ssa tcatr alid ade por dem a- "dramá tico" , sugerindo assim qu e e le se prest a
da fal a, o desdobrament o visu al da e nu nc iação lizaç ão que a encenação lhe imprime, a partir do
siad o temp o oculta. Mas o con ceito tem algo de bem à tran sposição cê nica (visualidade do j ogo
(pe rso nage m/ator) e de se us e nunciados, a artifi - momento que ele é enunciado por meios extra. --
I .:m
. ítico, de excessivamente gen érico.iat é esmo teatral, conflitos abertos, troca rápida de diálo-
cialidad da representação. A teatralidade se as- verbais. A teatral idade nã o surge mai s, pois , com o
de idealista e êtnoce rurista. Só é possível (con- gos) . Não se trata aí, todavia, de uma proprieda-
se me lha então ao que ADAMOV chama de repr e- uma qualidade ou uma ess ência " inerente a um
side rada a pletora de se us difer ent es empregos) de purament e cê nica, e e sta oposição entre um
se nta ção, isto é, "a projeçã o , no mundo se ns ível, texto ou a uma situação , mas co mo um uso pra g-
o bse rv ar ce rtas assoc iações de idéia s desen - " teatro puro " e um teatro " literário" não se ba -
do s es tados e ima gens qu e constitu em suas mo-
cadea das pel o termo tcat ral idad e. seia em critérios teatrai s, ma s na faculd ade , qu an - máti co da ferramenta cêni ca , de maneira a que os
Ias oc u ltas [...] a manifesta ção do conteúdo oc ul-
to ao teatro " teatra l" - para e mpregar a expres- co m po nentes da represent ação se valorize m reci-
to, lat ent e. qu e acoita os ge r mes do dr ama"
I. Uma Espessur a de Signo s são de t-IEIERll üLD ( 1963) - de usar ao máximo proc am ente e façam brilhar a teatr al idade e a fala.
(ADAt- lüV, 1964: 13).
as técnicas cê nicas q ue subs titue m o discurso das
A teatralidad e pod e opo r-se ao texto dranuiti- pers onagen s e ten dem a se bastar a si mesm as. 5. Teatr alid ade e Espec ificid ade
3. A Ori gem da Teatralid ade e o Teatro
co " lido ou co nce bido se m a re presentação men - Paradoxalment e, é teat ral , po rtanto, um texto que
tal de uma ence nação. Em vez de achatar o texto não pode se pri var da represent ação e qu e, por- Não existe essê ncia abso luta . Se não ex iste um a
A o rige m grega da pal a vra te at ro , o th eat ron,
dram ático por urna leitura, a espa cial izaç ão, isto tanto, não co nté m ind icaçõe s es paço- te mpo rais ess ênc ia" do teat ro, pod e-se pelo menos enume-
re vel a um a propri ed ad e es queci d a, por é m fun-
é, a visualização dos c nunc iado res, permit e fazer ou lúdi cas aut o-sufi cientes. Con stata-se, ali ás, a rar os elem ent os indispen sávei s a qualquer fenô-
dam entai , desta art e: é o loc al de o nde o públi co mesma ambi güidad e no qualificativ o teatral : o ra
ressaltar a potencialid ad e visua l e auditiva do tex- meno teatral. Duas definiçõe s re sum em de manei-
o lha uma ação qu e lhe é apre sentada num o utro s ignifica qu e a ilu são é total ; ora , ao co ntrário,
to, apreender sua teatralidade: "Q ue é teatral idade? ra ex celent e e paral ela o fun cion am ent o teatral :
lugar. O teatro é mesm o , na verdade, um ponto que o j ogo é demasiado artificial e lembra, se m
É o teatro menos o te xto. é urna es pessura de sig- de vis ta so bre um acont ecimento : um o lha r, um trégu a. qu e se es tá no te atr o , ao passo qu e a ge nte • Al ain GIRAULT: " O den ominador co mum a
nos e de sensações qu e se edifica em ce na a par- â ng u lo de visão e rai os ó pticos o co ns titue m. go staria de se ntir-se transportado para um out ro tud o o qu e se cos tuma cha ma r ' tea tro' em nossa
tir do argum ent o esc rito, é aquela espécie de per- T ão -som ent e pelo desl oc am ento da rel ação en- mundo ain da mais real qu e o nosso. Desta co nfu- civi lização é o seg uinte: de um pont o de vista es -
cepção ecumênica dos artifíc ios sensuais. gestos, tre o lha r e obje to o lhado é qu e oco rre a co nst ru- são sobre o es tatuto da teatralidadc decorrem as táti co, um es paço de atu aç ão (palco) e um es paço
ton s, distâncias, subs tâ ncias. luzes, que submer- ção o nde tem lugar a repre s entaç ão . Durant e polêmi cas, mu itas vezes es téreis, so bre a atuação de onde se pod e o lha r (sa la), um ato r (ges tua í,
ge o texto sob a plen itud e de sua linguagem exte- muito tem po, na língu a cl ássica dos sécu los XVlI mais ou men os nat ural " do ator. voz) no palco e es pec ta dores na sa la. De um pon -
rior" (BARTHES, 1964 : 4 1-42). Do mesm o modo, e XVIII, o teat ro se rá também a ce na propri a- A história do teatro ressoa em outra part e da to de vista din âmi co , a co nstituição de um mun -
no sentido artaud iano , a teatr al idade se opõe à mente dita. Por um a segunda transl aç ão meto - eterna pol êmi ca ent re part idários apenas do tex- do ' rea l' no palc o e m opos ição ao mundo ' rea l'
literatura. ao teatro de text o, aos meios esc ritos, ními ca , o teatro se torna e nfi m a a rte, o gê nero to e am ador es do espet áculo", na med ida e m qu e da sala e, ao mesm o tempo, o es tabe lec ime nto de
aos diálogos e até mesm o, às vezes, à narrati- dram áti co (da í as interfer ên ci as co m a liter atu ra, texto e liter atura passam qu ase sempre co mo se n- uma co rre nte de ' co m unicação' entre o ator e o
vidade e à "drarnati cid ade" de uma fábula logi- tão amiúde fatais à arte cê nic a) . m as também a do gênero nobre e que têm para si a vanta gem de es pec tado r" (Th éãtre/Pu blic n. 5-6, junho d e
camente co nstru ída. institui ção (o Teatro-Francês) e finalment e o re- uma con se rvação int ata (o u, ao menos, assim con - 1975, p. 14).
pert ório e a obra de um auto r (o teat ro de Sh akcs- side rada) par a as ge rações futuras, ao passo qu e
2. Local da Tcatral idade pcar e ). A fin ali zaçã o desse ex ílio d o teatro des- a mais bel a ex pressão cê nica é tão efêm era qu an - • Alain REY: "É preci sament e na rela ção entre
de o local do olhar se co ncre tiza nas metáforas do lo o so rriso de um a mulher bonita. Esta opos ição o real tangí vel de co rpos humanos atua ntes e fa-
Co loca-se então a q ues tão da origem e da na- mund o co mo teatro (Theatrum Mu ndi v) ou do sen- é de natu reza ideol ógica: na cultura oci de nta l, ten - lant es, se ndo esse real produzid o por uma co ns-
tureza dessa teatra lidade: tido de lugar de ação (tea tro da s operações), ou de-se a privilegiar o te xto, a escri tura, a sucessão tru ção espetacu lar e uma ficção assi m represen -

372 373
TEATRA LIZAÇÁO TEAT RO AUTOIl IOGRÁF IC

tada"; q ue reside o próprio do fenôme no teatr al" pada e m es ta be lecer novas relações cê nicas, e m o utras pre ocupaçõe s além de co nta r s ua vid a. lVah rlreit" : " Poes ia e ve rdade" . O ato r auto b io-
(REYe COUTY, 1980 : 185). pen sar o públ ico e m termos de d istân ci a ou de Gê nero im possível e muit o pou co rep resent ado, gráfico não é so me nte um "coração posto a nu" ;
ap ro ximaç ão, e m redu zir a distin ção en tre pal- a pesa r das tentativas tão ve lhas qu ant o o teat ro: e le ta mbé m é um narrador , um arra nja do r, um
~ Ence nação, semiologia. co e platéi a e e m redu zir os pont os de vista e de a pa r áb a s e " e m ARISTÓTELES, Le J eu d e la e mbe lez ado r, um dem on str ador e um ex ib icio-
Feuillée , 127 6, onde o autor, ADAM DE LA HALLE,
m ten são dent ro do es pe tác ulo. nist a, qu e tr ab alh a sua matéri a co mo o esc ulto r,
Jarry, 1896; Bums, 1972; Jachymiak, 1972; O te atro ambienta l ultrapassa a se pa ração e n- aparece e m pessoa no meio de se us am igos de trab alh a a argi la o u o esc ritor, as pal avras. E, a
Jaffré, 1974 ; Bemard, 1976, 1986: Krysinski, tre vid a e arte, usa o es paço comum a ato res e Arras; O Drama da Vida , 1793, de RESTIF DE part ir do m oment o e m qu e e le (se) co nta , to m a
1982; Féral, 1985; Bernard, 1986; Th oret, 1993. LA BRETONNE, qu e se prop õe a " pub licar a vida dist ân cia do se u e u presente e o põe e m ce na na
es pec tadores, rep resenta em locai s não teatrai s e
multiplica os focos de atenção, não pri vil egia o de um hom em ; pô-Ia em dram a, co m um a verd ade vida co tid ia na (como di zia GOFFMAN, 1959 ).
ato r e m detriment o do es paço, a palavra e m det ri- qu e a faz agir, e m vez de fa lar" . Par ado xalmente, o fat o de ter em ce na a ve rda-
T EATRALIZAÇ ÃO ment o do es pe tác ulo. deira pe rso na do alar tom a o processo de a uto-
2. N ão se deve confundir o teat ro (o u a repre- biografia, de desnudamento , sus peito e artific ia l
ê Fr.: th éàtrali sation; Ingl.: theatralization; AI.: se ntação aut ob iográfica) co m o m on od rama ", o ou, pel o men o s, inv e rossímil: o es pec ta do r se
Theatralisierung: Esp.: teat raliracion. per gunta co m e le : qu em sou eu? Co mo me to r-
TEATRO ANTROPOLÓGICO dr am a ce re bra l, a dram aturgi a do ego (ce ntrada
num a pe rson agem que imp õe sua visão ao mun- nei e u? Onde qu ero c hegar?
Teatralizar um aco ntecime nto ou um texto é
interpretar ce nicamente usando cen as e atores para
ê Fr.: Tlréâtre a nt hropolog ique; Ingl. : all - do exte rio r) ou a tend ência mon oló gica do teat ro O desnud am ent o ou a autocrít ica públi ca se m-
pre são sus pe itos e representados, pois qu e o ato r
thropol ogical theatre; AI.: all/hropologisclres e u ro pe u no s anos sete nta e o ite nta (DANAN,
co nstru ir a situação. O elemento visua l da ce na e reno va tod a no ite sua co nfissão, se m modifi cá-l a
Theater; Esp.: teat ro antro polôgico. 199 5). Far-se- á tamb ém uma d istinç ão e ntre os
a co locação e m situação dos di scursos são as mu ito : d aí a iron ia dos qu e co nfessa m: "E u lhe s
_~ marcas da teatralizaç ão _ text os dr am áti cos autob iográfico s (qua lque r qu e
Este termo, empregado sobrctu{lo na América seja a escritura e a peiformance cênica do ator- roguei que viessem aqui para me olharem bancar- - - - - '
A dramatizaç ão» diz respeito , ao contrário,
Latina, não se refere às formas espetacu lares não autor qu e fala de si mesmo. o interessant e" (Pierre Despro ges se Donn e ell
uni cam ent e à es trutura textu al : inser ção em diá-
euro péias (ao teat ro " indígena" ) e, sim, antes , a No primei ro caso, trata-se de exami na r co mo Spectacle, 1986: 8) .
logos, criação de uma tensão dramáti ca e de co n-
uma tend ên cia da ence nação que se es fo rça em a esc ritura le va sem cessar a e la, através d as di-
flit os e ntre as person agen s, di nâmica da ação
(dra má tico e ép ico *). exa minar o se r humano em suas relaçõe s co m a fer ent es vozes das person agen s, o e u o bsessivo 3. Form as da Autobiografi a Cêni ca
natureza e a cultura, que amplia a noção européia do aut or. No ca so , hoje muit o mai s freqüent e , da
Adaptação, tradu ção. de teatro às práticas espe taculares e culturai s icul- "auto pe rfo rma nce" de ato r-a uto r bió gr a fo de si a. Na rrativa da vida
tu ra l performances), que adota uma abo rdagem me sm o, trat a-se de um a pessoa real , present e a
O ator-a uto r co nta, co m os recur sos da ce na ,
etnoceno l ôgica " para ex plicar estas prát icas. O nossa frente, qu e ve mos , ao vivo , refl etir so bre
sua vida passad a, fazen do referência a aco nteci-
teatro das font es de GROTOWSKI, a antro po log ia se u passado e se u estado atual, ao passo qu e o
TEATRO ALTERNATIVO ment o s e pe sso a s re ai s. E x.: Le R om an d 'l/ lI
teatr al de BARBA, as encenações de SCHECHNER text o autobiogr áfi co lido ou co nd uz ido pelo ator
Acteur , de Phil ipp e CAUBERE, que retra ça. numa
ê Fr.: th éã tre altematif; Ingl.: altemative theatre; (Dionysus in 69) , os ritos e ações * de grupos co mo é o resultado ativo e narrado dest a refl ex ão. As-
es pécie de ro mance de form ação, se u itinerári o
A I.: Altemativ-theater; Esp.: teatro alternativo. Fura dei s Baus o u Brith GOFp articip am dessa co r- sim, o ator e m ce na é, por natureza, auto biog ráfi-
de ator no Théâtr e du So leil: interp reta tod as as
rent e antro po lóg ica. co, visto qu e e le "se dá em es pe tác ulo" , qu e fala
persona gen s e a si mesm o reconstituin do momen -
A alte rna tiva a um teatro co me rcial e ao tea - no present e e qu e vive diant e de nós . Está se m-
tos de vida e forn ecend o um af resco vivo e e mo -
tro público subve ncio nado é esta, d ifícil. de um pre se ex po ndo a um risco, visto que es cre ve, no
cio nante do tea tro dos anos setenta.
teatro expe rimental " ou de um terce iro teatro que TEATRO AUTOBIOGRÁFICO se ntido estrito, co m seu co rpo sob re si mesm o.
prop õe uma program ação, um es tilo e um modo Por ém, é c laro, a partir do mom ent o e m qu e abr e
b. Confissão imp ud ica
de funcion am ent o totalm ente o riginais. A modés- ê Fr.: th éãtre a utobiograp hiq uc; Ing l.: a u to - a boc a, a rrisca-se grande me nte a fal ar de outra
Por exe m plo, so bre a doen ça, a sex ua lida de: o
tia do s rec ursos perm ite, paradoxalmente, testar biograph ical pe rformance ; AI. : a ut obio- co isa qu e não e le próp rio e de sua situação atu al
grap his ches Theater; Esp .: teatro au tobiogr áfico. de ator d iant e de nós, arrisca-se a assu mi r um fato de sabe r q ue o ator é soropositivo e que es tá
novas for mas co m mais iniciati va, e co m toda in-
papel. A ssim - e aí resid e o par ad ox o do co me- represent an do os últ imos mom ent os de sua vida
depend ência, econ ômica e es tética.
J. Por auto biog rafia, conve nciono u-se e ntende r di ant e - a partir do mom ent o e m qu e pa rece es tar co nfere à co nfissão um a verdade pun gent e, m as
"a narr ati va ret rospectiv a em prosa qu e a lg ué m a li, pre sent e e real, ass ume também um pa pel de às custas de um vivo mal-estar no espectador (ex .:
faz de sua pró pria exis tência, quando põe a ê nfa - person agem , o que, ao mesm o tem po, o impe de L 'Avant-M o rt de J.-D. PARIS e m 1992 no T héâtrc
T EATRO AMBIENTAL de la Basti lle; Dumbo Type-Stt de T. FURUHASHI
se prin cipal e m sua vida individual, e m parti cul ar de d ar um testemunho auto biográ fico . O u, pelo
ê Fr.: th éãtre de l 'en vironn eme nt; Ingl.: envi- na históri a de sua person alidade" (Philippe LE- men o s, es ta co municação a uto b iog ráfica se rá em 1995).
ronmental theatre; A I.: environmental Theater; JEUNE, L 'Autobiographie en France, Pari s, Colin, se m pre sus peita porque se rá o bje to de u ma ins ta-
Esp .: teatro ambiental. 1971 : 14). Esta defin ição parece torn ar im poss í- lação, de um a esco lha de materi ais, de um a ex ibi- c. Jogo co m a id ent idade
ve lo gê ne ro de teatro autobiográfico, vist o qu e o ção, em pou cas palavras, de um a e nce nação do É a fo rma ma is rica, princi palme nte nos Es ta
Term o co ntemporâneo forjado por SCHECHNER teatro é um a ficção presente assumida por per so- ego para fins artí sticos e ficcion ais. No qu e ele dos U nidos co m S pa lding GREY. Lauri e AN
( 1972, 1973 b, 1977) para uma prática preoc u- nage ns im aginár ias que diferem do autor e têm di rá, se mpre há, seg undo GOETHE, " Dich tung und DERSON, GOMEZ-PENA, ANTIN (cf CARLSON

374 375
TEATRO BURGUÊS
TEATRO DAS M U LH E R E S

1996). O teat ro autobiográfico é, aqui, uma pes- cl ássica , na qual a criadagem se situa no extre mo plet or a de ce nários, fig urinos, gra ndes se nti me n- TEATRO DA CRU ELDAD E
q uisa em ato sobre a identida de sex ual, social, ét- o pos to da cé lula famil iar bu rgu es a . No séc ulo tos, suor, lágrimas e risad as).
nica , cultural , identidade flut uante co nforme a oca- XIX , o drama bur guês, so b sua forma elegante
sião (que faz o ladr ão) e co nforme a política (que ~ Fr.: th éãtre de la cntalllé; Ingl. : theatre of
(dra ma ro mâ ntico) o u popular (melodrama* e 3. Contradição da Noção cruelry; AI.: Theater der Grausamkeit; Esp.:
faz o psicótico). A tent ati va de diversos eus fie- va udevillev y se torna o mod el o de um a drama- teatro de la crueldad .
cion ais (que PlRANDELLO realizou brilhantemen- turgia na qu al triunfam o espírito empreended or Al ém desta fo n na ca rica tura! de teat ro, pod e-
te) leva a pôr novament e em questão a alternativa e os novos mito s burgueses. Com a c heg ada, po- m os nos per gunt ar se o teat ro de hoje escapa ver- Ex pressão forj ad a p or An to n in ARTAUD
abso luta entre eu autênt ico e eu representado, a
ré m, de um a nova classe q ue se o põe diretamen- d adeirament e ao qua lificativo de burguês, se ndo ( 1938) para um projeto de re pr e sentação qu e faz
co loca r o sujeito num j ogo permanente de eus e de
te aos interesses da burgu esi a, o te atro bur guês o termo dora vant c e m pregado não mais co mo co m qu e o es pec tador seja sub me tido a um tra-
espe lhos, a nos " mos tra r que a perso nagem, o pa-
assume um sentido completamente diferente e se sloga n, mas co mo co nce ito históri co. Co mo na tamento de c hoq ue emo tivo, de maneira a libe rt á-
pei e a identid ade são ca tego rias muito mais flui-
toma, no jove m BRECHT por exem p lo, si nônimo verda de a dr am aturg ia (e não mais somente o lo d o domínio do pe nsame nto di scursi vo e lógi -
das do que dei xariam pen sar as categorias biná-
de dramaturgia "d e co nsumo", base ad a no fascí- apa re lho de produção burgu ês d as mani festações co par a e nco nt ra r um a vivênc ia im edi at a, um a
rias tradicionai s" (CARLSON, 1996 : 144- 164).
ni o e na reprodução da id eol ogia dominante. teatr ais) pod eri a escapa r ao ind ividu alism o bu r- no va ca tarse" e um a e xpe riê nc ia es té tica e éti-
BRECHT contribuirá, por sua teorização, para fi- guês , quando tod a a e vo lução do teatro, desd e a ca o rig inal.
W Rougemont in Scherer, 1986; Caubêre, 1994.
xar a im agem essen cialm en te negati va do teatro O teat ro da crue lda de nad a tem a ve r, entre-
tragéd ia grega, passando pel os classicismos eu-
burguês, o q ue não impede este último de conti- ropeus. term ina po r desati var o trágico do hom em tanto, pelo men os em ARTAUD, com um a violên -
nuar a pro sperar, de identifi car -se, na mente do às volt as co m um f al lllll, a recon stituir o co nfli to c ia diret am ent e física imposta ao ato r o u ao es-
TEATRO BUR G UÊS
público, co m o teat ro po r excelê nc ia e de repre - ent re hom en s, caracteres (MOUÉRE), tipos (o me- pect ad or. O texto é profer ido numa es péc ie de
se nta r os dois terç os da produção gl obal nos pal- lodrama) o u co ndições (DIDEROT)? Enq uanto um e ncanta me nto ritu al (e m vez de se r dito em cima
- -:."' ~ ,- F r . : th éàtre bourg oi.; Ingl.. bourgeoi theatre;
cos das grandes ci da de s do m undo inteiro. outro tipo de soc iedade não hou ver redistribu í- do modo da interpre tação psico lógica). O palco
AI.: biirg erli ches Th eat er ; Esp.: teatro burgu ês.
do valores qu e nad a m ais dev em ao gos to e à ideo- tod o é usado com o num ritu al e e nq ua nto produ-
2. Cerimonial do Teatro Bur gu ês logi a burgueses, o teatro não perm anecerá neces- tor de im agen s (hie róglifos) q ue se diri gem ao
I. Um Teatro Negat ivo
sa riame nte vinc u lado à c u ltu ra dit a burgu esa ? inconsc iente do es pec tado r: e le recorre aos mais
Est a imagem está ligada primeiro a de um tea- M ais de um a va ng ua rda , qu e pretend e rompe r co m di ver sos meios de ex pressão a rtís ticos .
Espressão freqü ent e, hoj e , para designar, de
tro ri co, on de não se econo m iza no s materi ais a visão bur gu esa e se u mod o de produ ção, re ma- Muitas co mpa nhias se va lem hoj e des ta ética
maneira pejorativa, um teatro e um repert ório de
empregados: ou ro e ve ludo, trajes de gala e m tro - nesce, no enta nto, lig ad a a e le apesar de suas ne- da c rue ldade, A esté tica de J.-L. BARRAULT e R.
boulevard" produ zid o dentro de um a estrutura
ca d e ce ná rios e figurinos " suntuosos", atores ga tivas e de se us co m unicados . Esta mos , po is, BU N, a ence nação dc M a rat/S ad e de P. WEISS
econ ômi ca de ren tabilidade máxima e destinado, bem longe de hav ermos aca bado com o pensa-
conhecidos e bajul ad os, peças facilment e co m- por P. BROOK, o teat ro pâni co de ARRABAL e o
por se us tem as e va lores, a um públi co "(peq ue- ment o e co m a prát ica burguesa e, isto. apesar do
preen síveis e ricam ent e g ua rnecidas de estereó- Liv ing Theatre, a Fura de Is Bau s estão e ntre as
no-)burguês", que veio co nsumir com grand e des- " intermé dio" soc ia lis ta da revo lução russa até a m ai s bem suce d idas tentat ivas dessa es té tica .
tip os reco nfortantes e de mots d'auteur", Aí se
pesa um a ideol ogia e uma es té tica que lhes são, qu ed a do mu ro de Berlim. As va nguardas perd e-
representam, infalivelme nte, os pequen os dr ama s
de cara, fam iliares. O termo é, portanto, antes
negativo, se ndo empregado so bretudo pelos adep-
da burg ues ia: a famíli a des uni da, o ad ultério e o ram sua radicalidade. E, inve rsa mente, o "t eat ro co I3lüher, 1971: Girard , 1974 ; Bo rie, 1981.1 989;
burguês" faz -se por vezes suficientemente suti I Grirnm, 1982.
co nflito de ge ra ções, a elegâ ncia " nat ura l" da ge n-
tos de um teatro radi calmente diferente, experi- para flertar co m a vanguarda (S . GUITRY, A.
te de bem. Isto não exclui um ap arente qu estio -
ment al " e milit ant e. Como no caso de um slogan RO USSIN. E. 10 NESCO. 11. PINTER e a lguns au -
nam ento da vida burguesa, um a man eira de "p ro-
o u de um insult o, não é fác il descre ver seu cam-
vocar o bur gu ês" levando-o a ac re d ita r, durant e to res de café-teatro s) o u par a produ zir "bou lc- TEATRO DAS M ULH ERES
po se mãntico; e le refl ete, no entanto, uma oposi - vard inteligente" (BOURDET. ANOUILH. DORIN).
um bre ve instante e num a espécie de catarse so-
ção ideológica q ue recu sa as categorias puramente cia l adaptada a seu horizo nte cultural, que e le está O teat ro burgu ê s, in fe liz me nte, não é se mp re e ~ Fr.: th éãtre des femmes ; Ingl. : " 'omel/ S theatre;
es té ticas e designa o inim igo políti co por uma ameaçado de perd er tud o o qu e possui de ben s e necessar iam ente es tú pido e ocorre- lhe mesm o AI.: Frauenthe at cr: Esp.: teat ro de las mujeres.
noção globa lme nte negati va, tanto no plano do de ev idê ncias. Por feli cidad e, o gê nero qu er qu e efetuar sua própria sátira (DOR IN. üBALDIA)
mod o de produção e do es tilo quant o naquele da o burgu ês saiba "a arte de se sa fa r" (co nforme o par a melh or se fazer perdo ar, co locar os que rie m M ais do qu e tea tro de mulheres (fe ito por mu -
temática da s peças. Como esc re ve P. BOURDlEU títul o de um artigo de B. POIROT-DELPECII so- do se u lado , tom and o para o bje to de sarcas mo se u lher es o u para mulh er e s), ex pressão qu e sugere
em La Distinction. Crit ique Sociale du Jugemelll: br e o bo uleva rdry e qu e o " trág ico" de sua exis- dupl o "e ngajado e int electu al" e se u pesadel o, o de im edi ato q ue ex iste um gê nero es pec ífico, o u
"O teatro divide e se divide: a opos ição entre o tea- tên ci a acab e se mp re por se arranja r. Assi m co mo teatro experimental" de va ngua rda que e le se q ue teat ro feminino, o q ua l reme te a um a visão
tro rive droite e o tea tro rive gauche, entre o teatro a tragédia dom ésti ca e burgu esa assinalava, há e mpe nha pesada me nte e m fazer parecer vazio e militante de tea tro, pr eferiremo s o termo ma is
bur guês e o teat ro de va ng ua rda é inseparavel- dois séc ulos, a morte do trág ico e da individ uali- pre tens ioso (assi m F. DOR IN e m Le Tour nant, neut ro e mais ge nérico tea tro da s mulheres: feit o
mente estética e políti ca" ( 1979 : 16). No entanto, dad e aristoc rática, o teatro burgu ês assi na la atual- 1973). Todos esses combates ideo lóg icos dizem po r mul heres e tendo um a tem ática e um a especi-
no séc ulo XVIII, o dra ma burgu ês pretendia se r ment e o adv ent o de um a arte cu liná ria baseada bas ta nte sob re o pr obl ema da ba talha entre os fici da de fe mini nas. Es te term o . a liás, co nvé m
uma form a de opos ição, até mesm o revolucioná- na riqueza e na expressividade, o nde tud o é qu an - gê neros teat rais qu e m ascaram mal ideologias em m elhor à nossa época, q ue passou , no es paço de
ria, alçada aos va lores aris tocráticos da tragédia tificá vel (o preço do ingresso dan do d ireit o a um a co nflito o u, de acordo co m o term o em moda, "op- trint a anos, de um mo vim ento femini sta ativo a
ções de sociedade". um "feminismo difuso" (É/IIdes Th éãtrales, 1995 ,
376
37 7
TEATRO DAS MUL IlERES TEATRO DE AG IT ·PRO I

n. 8: 138). A questão é. todavia. sabe r se estamos ge m da co ndição feminina? Daí a urgência de re- TEATRO DE AGIT-PROP dent re muit os para tocar a co nsciência polít ica;
em con dições de levantar os critérios de uma es- pensar pel o menos a representação da mulh er no ele é subs tituído po r efe itos ges tuais e cê nicos
critura dramática ou de uma prática cê nica es pe-
cifica me nte fem inina. Toda ge neralização se ex-
teatro, co mo procederam autores tão diferent es e
talent osos co rno S imo ne I3ENMUSSA, H élên e
e FI. : th éãtre d 'rtgit-prop; Ing l. : ag ir-prol' que pretend em se r os mais claros e diret os possí-
theatrc ; AI.: Ag ir-Prol' Th eater; Esp. : teatro veis: daí a atração desse espctáculo pelo circo. pela
põe, na verd ade. a um desmentid o rápido ou a CIXOUS, Margu erit e DURAS, Friederik e ROTlI. de ag itaci ôn. pantomima, pelos saltimbancos e pelo cabaré.
um a excessiva simplificação. Pri vilegi and o a men sagem pol ítica, fac ilme n-
2. A Encen ação Feminina I. O teatr o de a gir-prol' (te rmo pro veni ent e do te compreen sível e visu al isada, o ag ir-prol' não
1. A Escritura Dramática Feminina russo ag ita tsiya- p ropag anda : agita ção e propa- se perm ite nem o tempo nem os meios para cria r
Tal vez no tr abalh o co ncreto de prep ar ação do ga nda) é um a forma de allimação * teatral que visa um gê ne ro nov o e um tipo ideal ; muitas vezes
Da diferença dos sexos decorre um a diferen - es petáculo, de d ireção de ator e de e nce nação é se ns ib iliza r um pú blico para um a si tuação políti - ele não passa de um " ro lo co mpresso r" (F. WOLF)
ça entre a man eira de pensar e de se ntir, de ler e que se obse rva rá mai s facilm ente a maneira fe- ca ou soc ial. Surge após a revolu ção russa de 1917 que não se im po rta co m nuances. Suas forma s e
de escolher cert os temas, de estruturar a obra , de minin a de fazer teatro. A relação co m a aut ori - e se desenv ol ve sobretudo na URSS e na Alema- empréstim os são tão movediços qu anto seus co n-
atribuir es ta ou aqu ela finalidade ao ato de esc re- dade, co m a lei e co m noções metafí sica s co mo nha. depoi s de 1919 e até 1932-1 933 (a núncio do teúd os; e les varia m mu ito de um país para outro
o gê nio ou a insp iração difere bastante cla ra- reali sm o soc ialista por Jd anov e tom ada do pod er em fun ção das tradi ções cultura is. Na mai oria
ver ? A resposta fica em cima do mu ro, por sua
ment e e ntre os sexos. por cau sa dos hábit os se- por Hitl er ). Fez pouco sucesso na França , se ndo das vezes, os " ag itado res- pro paga ndistas" se ba-
ambigüidade: muito bem, ex iste uma diferença,
culares da divi são da s tarefas. A direção do s ato - qu e sua úni ca publi cação. Scene Ouvri êre, teve seiam numa dessas tradi ções criti cand o-a do lado
mas ela é dificilmente perceptível e generalizável.
res - desde qu e os atore s masculin os aceitem bre ve ex istê nc ia. de dentro: Comm edia dcll'orte "; circo , mel odra-
Haveria, calcula Sieghild I30GUMIL, "um a ma-
ser questi on ad os o u dirigidos por um a mulh er ma. Os gê neros " inferio res" , co mo o circo o u a
neira diferent e de perceber as coisas que é refle- pantomima, prestam- se a uma recuperação muit o
.rida por uma certa defasagem d sua própria es- ou por mulh er es - permite ao encenado r repen- 2. O agir-prol' tem ant epas sad os di stantes : o tea -
sar todos os papéis tradicionais entre o homem- tro barroco jesuítico, o auto sacramental." espa- efica , pai ão fr qüentemente muito " p o p u l a - ~
critura. As diferenças são sutis e não permitem res" e forn ecem uma form a familiar para novos
encenado r-Pig malião e sua criatura-atriz-está - nhol o u português j á continham. por exemplo.
que se introduza uma separação nítid a entre es- co nteúdos, até mesm o revolu cionári os. Mesm o
tua. Som ent e um a mulh er co mo Brigiu e JAQUES exo rtações à ação. 'o entanto. o agit-prop é mu i-
critura feminina e escritura masculin a" tÉtudes qu and o a peça é sufic ie nteme nte elabo rada para
poderi a, talv ez , e m Et vire -Jou vet s õ. e nte nde r a to mais radi cal em sua vo ntade de se rvir de in s-
Th éãtral es. OI'. cit. • 149). Por co nseg uinte, es ta co ntar um a históri a en carnada por person agen s.
estranha relação sado masoquista, mas também trum ent o políti co para uma ideol ogi a, es teja ela
hon esta e humild e constatação da difi culd ade de ela co nse rva uma intri ga diret a e simplificada qu e
perfeccioni sta e ge ne rosa, que liga o enccnador na o pos ição (na Alemanha o u nos Est ado s Uni -
perceb er a voz feminin a só autori za algumas hi- desemboca e m co nc lusões claras. O Lehrst ück
a suas atrizes; so me nte uma sensibilidade femi - dos) o u seja. d iret am ent e prop agad a pel o pod er
póteses pouco ga rantidas: nina como a de E. SOLA ou Gilbe rte TSAI so ube (peça d idáti ca qu e co nstitui um a for ma "sofis ti-
insta lado (Rússia dos anos vi nte) . Es ta ideolo-
- a tem ática do teat ro das mulheres seria muit o reencontrar os ges tos co tidianos e poéti cos das cada" de agit-p rop e da qual ARECHT se to rno u
gi a si tua-se nitid am ent e à es q uerda: c rítica da
mais concreta, local, particular, do que abstra- o fabricant e mais cé lebre) também co rres po nde
mulh eres vietnamitas ou chinesas. Só H. CIXOUS dominação bur gu esa, iniciação ao marxism o. ten -
ta. ge ral, uni versal, como entre os " pensado- a esses c rité rios sim ples ou simplistas . O "t ea-
e A. MNOUClIKINE souberam reconstituir a atmos- tati va de prom o ver uma soc ieda de soc ia lis ta o u
res" masculin os; tro -j orn al" a prese nta as notí cias seg undo uma
fera femi nina , fe ita tant o de doçura qu an to de co m unista . A prin cip al co ntrad ição desse movi- iluminação c rítica e q ue apela para os prot ago-
- a es trutura dramática estaria mais próxima do abnegação, qu e reina va na cone khmer de Sianuk ment o c rítico é qu e ora e le es tá a se rv iço de um a nistas da ação. Uma monta gem ou uma revi sta
anedóti co, do fragmentrário, do vivenciado, da ou no gove rno indian o de Gandhi e Nehru. linha políti ca qu e lhe ca be fazer triunfar (co mo políti ca co ns tituídas de núm ero s e de "flash s de
sensação (N. SARRAUTE); Até onde, e ntreta nto. formali zar esta rel ação na A le ma n ha), ora à mercê de dir eti vas vindas inform ação" apen as dramatizad os forn ecem , na
- a finalidade atribuída à esc ritura seria mais con- de trabalh o e co nve rtê- Ia num a ques tão ligad a à do a lto qu e a agi tação teat ral precisa faze r re- maiori a das vezes. a tr am a da peça de ag ir-prol'.
creta e modesta que entre os esc ritores que as- di stribui ção dos papéis e dos sexos? Parece pou - per cut ir e aj uda r a triunfar (na URSS). Segundo Um co ro * de recitantes o u de canto res resum e e
piram às grandes sínteses e à uni vcrsalidad e. co co nvince nte fazer um a distinç ão e ntre rel a- se u es ta tuto políti co, o agit -prop é portanto le- " inculca" as lições pol ítica s o u as palavras de
Hipóteses frágeis demais, recusadas por inú- ção patern a e matern a (ibid., 121) ou redi stribuir vada a inve nta r form as e di scursos o u a aplicar o rde m. A a rte às vezes recup era se us dir eit o s,
os papéi s e m fun ção dos estereótipos vincula-
meras mulheres escritoras, para quem o "contexto um progr am a qu e ele necessari am ent e não pre- qua ndo o agir-prol' se inspira e m mo vim ent o s
dos a cada sexo. Parece muito mais instrut ivo parou e d o qua l pode q uere r se livrar: daí sua
histórico, político e social é um traço mais 'pe rti- de vang uar da ( futur is mo. co nstrutiv ismo) tant o
examinar a im agem e a representa ção da mu -
nente ', como dizem os lingüistas, que o sexo" (1\1. fra gilidad e e sua div er sidade co mo gê nero hí- quant o os inspira e mobiliza arti stas co mo MAIA-
lher (e do hom em ) qu e veicul am os text os, as
FAI31EN. ibid.• 27). A escritura é, para muitos, mais brido, ao mesm o temp o teatr al e políti co. KÓVSKI, MEIERlIOLD, WOLF, BRECHT ou PIS-
e ncenações e os mét od os de trabalh o dos a rtis-
decisiva do que o "gênero" , masculin o ou femini- CATOR (es te último e nce na, par a o Partido Co-
tas. ho men s e mulheres.
no: "Quando escrevo, não sou nem homem, nem 3. Liga da à atua lidade política, o agir-prol' oco r- mun ist a A le mão. a Re vista Rot e r RIII1lIll C/ ) .
mulher, nem cão, nem gato" (N. SARRAUTE).
A esc ritura dramática, em todo caso, coloca
co Bassnet, in Schmid, 1984; Féral, 1984; Savona, re, antes de tud o, co mo uma at ivid ade ideol ógica
e não co mo um a nova form a artís tica : ele procla- 4. O agir-p rol' surgiu de repent e, num mom ento
1984; Miller, 1994.
as mulh eres diante de um dilema : fazer co mo todo Números especiais: T" ellterZeirSc" rijr n. 9- 10, 1984; ma se u desej o de ação im edi at a defin ind o-se de ag uda crise pol ítica, quand o a herança hum a-
mund o, isto é, co mo os homens, ou encontrar sua Ilo mell in Perfo rm anc e, a Journal of Fem inis ! co mo "jogo ag ita tório e m vez de teat ro" ou co mo nista e " burguesa" parecia inutili zável e for a de
voz, na falta da voz real. Mas a voz de todo(a) Theory, New York Un ivcrsity; I\esrem Euro pe an " informação mais efeitos cênicos". Sua s inter ven- moda : ele desaparece tam bém rapidam ent e qu an -
artista não é muda. deslocada , pouco confortá- Stages, vol. 7, n. 3. 1996 ("Col1lemporary Women ções pontu ais e efême ras dei xam pou cos rastro s do a situação se es ta biliza (no fascismo , no sta-
vel, per seguida ou tolerada, exa tamen te à ima- Directors"); ÉllIdes Th éàtrales, n. 8. 1995. para o pesq uisa dor : o texto é apenas um recurso lini srno, mas tam b ém no liber alism o ca paz de

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TEATRO D E AR EN A TEATRO DE CÂ MARA

abso rver todos os choq ues) e quando o poder não o bo ulevard era, no séc u lo XIX , o fam oso pecuniári os e mor ais. Esta tra gédiafcom éd.ia do- de vida ), a arte tam bém de parecer e te rna mente
mais toler a nem q uestio nam ent o nem posici o - boulevard do cri me (destruí do e m 186 2), os bou- méstica gira, para o pr azer de tod a a famíl ia, e m novo e de fazer co m qu e lhe pe rdoe m a es tupidez
namento. A partir do mom ent o que sua mensa- tomo do eterno trio infernal : a Mulher (Mada me), num " riso de dir eita" .
le vard s Saint-Martin e du Tcmple, o nde os pal -
gem "foi passada" , o agit-prop tend e a tomar-se cos da Gait é (Aleg ria) , do Ambi gu (A mbíg uo), o Marido (Mo nsie ur), o ama nte (o u a am ante).
repetitivo; se u esque matismo e seu maniqucísm o dos Fun ambules (Funâ m bulos) eram o teatro de Parti cul arid ade topogr áfi c a : não é raro descobrir 3. O Estilo Burguês
indispõem o públi co o u fazem -no so rrir, em vez inúmer os delit os e ave nturas sc m ime ntais: aí se o Marido (o u o ama nte da Mulher ) de cueca s den -
de ajudá-lo a " prog redir" ideologicamente. É para tro de um gua rda-roupa. Mas o trio tend e hoj e a O estilo de atuação (não no s atr evemos a dizer
representavam melodramas, pant om ima s, espe-
e vitar este obstáculo que as no vas formas (teatro adaptar-se ao gos to do momento (te ma da ~lOm o ~ ­ "de e nce nação" ) é invariavelment e agradável : os
táculos de f éerie e de acrobacia, comédias bur -
de guerrilha' , criações coletivas» de grupos como se xua lidade, apa rição tímida do pov o infanti - atore s, canastrões deliciosos, empenham-se em
g uesas (SCRIBE) já criti cad as por arti stas e inte -
o Teatro Campesino, a San Francisco Mime Trou - lizad o o u débi l, ete rnos co nfli tos de gera ção en- parecer verd adeiros mostrando tiqu es de compor-
lectuai s da época. O boule vard co nhec eu, antes
pe, o Bread and Puppct, o Aquariurn, o Teatro do tre o rieaço e o hipp iej . A peça co ntinua a se r tam ent os que seja m familiares ao público : reviran -
da Se gund a Guerra Mundi al , se u períod o mais
Oprimido de BOAL e o teatro de intervenção sur- uma peça bem -feit a, cuj a forma e cuj a so lução do os olhos, mexend o os ~ra ç o s co mo um moinh o
fau stoso, co m uma vert ent e cô m ic a vaud evillesca
gido e m 1968) se esforça m para não parecer não tra zem surp resa alguma, difer ent ement e das de ve nto, em marca çõe s febris, co m paradas e si-
e um a vert ent e sé ria e psicol ógi c a (BERNSTE1N).
esquemáticos demai s e para cuidar da apresent a- va ng ua rdas , se mpre rad icais. lên ci os cheios de sube nte ndidos. A fun ção fática é
Dep oi s de 1930, o boule va rd passa a ter qualida-
ção artística de se u di scu rso políti co radical. Tal - posta à rude prova, po is é preci so qu e o públi co
de : GU ITRY, BOURDET, BATAILL E, mais tarde
vez eles haj am co mpreendido qu e o discur so pol í- ANOU ILH, AYMÉ, ACHARD , MARC EAU são es-
2. Temáti c a j am ais tenh a tem po nem vontad e de "se desligar" .
tico mais exa to e mais "a rdoroso" não poderia co n- Nes te " naturalismo de sa lão", tud o dev e parecer
crito res tal ent osos.
vencer, num palco ou num a praça pública, se os O boulevard procu ra se d uz ir por tem as " pro- ve rda deiro, e mesmo um pou co m ais: a e legância
Hoj e, o teatro de boule vard (do qu al es tá se
atores não levassem em co nta a dimensão estética voc ant es" qu e nun ca questionam a cumplicidade dos móvei s, o luxo sutil e negli gente dos interio -
tratando aq ui) é um gên ero muito diferente, uma
_ ......- - - - -e fon na l do texto e de ua apresentação cê nica. funda me ntal que li ga auto r, ence nação e públ i- res "bon chi e, bon gcnre" , o co nforto bu rguês de
art e de pu ro divert imen to , me sm o qu e ma nte nha
co: se zo mb amos d as gentis excentric idade s bur- um mundo bastante próximo para que o es pecta-
ai nda , de sua orige m me lodramática, a art e de
~ Participação, história. divertir co m pouc o esf orço int e lectual. Con stitui
g ues as (muitas vezes bati zadas de traços de cará- dor possa asp irar a ele sem receio, ou encontrar-se
ter "bem fran ceses" ), é so me nte para reconh ecer , aí co mo que em sua própria casa. O recorte dessa
um seto r quantitativa e finan ceiramente impor-
Ga udibert, 1977 ; Th éãtre d 'Agit -P rop... (Le}, no fin al das co nta s, se u val or et ern o e tranq üi- fati a socio lóg ica deve ser impecável e permitir,
tant e, à margem dos gê neros "dis tintos" da Corné-
Q 1978; textos do agit-prop alemão em Deutsches
di e-F ran çaise, do teat ro de pesqui sa e das form as
lizad or. Em momento a lg u m, na verd ade, um a sim ultaneamente, o reconh ec im ent o ideológico e
A rbeiterthe ater; 1918-1933, editado por Hoffrnann aná lise de mecani sm os econô m icos e ideol ógi - o so nho de asce nsão soci al. O boulevard é o agir-
popul ares d o teat ro de ru a. E le se especia liza em
e Hoffrnann-Ostwald : lvcrncl e Ebstein. 1983. cos vem pert urbar a fest a e a a leg ria de viver des - prop di screto das pessoas bem si tua das.
co mé d ias le ves, es critas por autore s de sucesso
ses fran ceses médi os qu e c ircu lam de Merced es .
par a um público pequ en o-burgu ês o u burgu ês,
Mesm o aq ue las pou cas pe ssoas do pov o qu e se
de gosto es té tico e político tot almente tradi ci o-
TEATRO DE ARENA ave nturam nesse mundo frív ol o (a boa es panho la TEATRO DE CÂMARA
nal, qu e j am ais são perturbad oras o u o rig inais.
s implória, o ca rteiro gago, o en canad or débil. to-
O bo ul c vard é ao mesm o tempo o tip o de tea -
:). Fr.: th éãtre ell ro nd; Ingl.: theat re in lhe round, das e las bravas c riaturas inofen siva s) ficam en- ~ Fr.: Ihéâlrede cllllmbre; Ingl. : c ha lb~ r1 1lea ler,
tro , o rep ert óri o e o esti lo de atuação qu e o ca rac-
t..; arella thcat re; AI.: Run dthcater, Arena biilute ; cantados pel a doce vida desse salão. Apr esentan - 't..: AI.: Kamtncrspi el ; Esp .: teatro de camara.
teri zam . (A utores de boulc vard de sucesso: A . do ap enas a supe rfíc ie brilhante da vida soc ia l
Esp.: teatro circular.
ROUSSI N, BARILLET e G RÉDY, F. DOR IN, J. (co nversa na sa la de vi sitas, no q uarto o u na casa O teatro de câ mara, como a mú sica de câmara
PO IRET e, antes del e s: FEYD EA U, LABICHE, de ca mpo). os aut o res nunca co rre m o ri SCO de
Teatro no qual os espec tado res são dispostos (expressão na qual o term o é ca lcado), é Ul~a ~ orma
BOURDET, COURTELINE, c até me sm o ROS- perturbar ; e, alé m do mai s, e les se co ncede m o
em tom o da área de atuação, co mo no circo o u de represent ação e de dramaturgia qu e limita os
numa manifestação esporti va. Já usado na Idade TAND. Tod os eles ti veram a so rte de se r servidos álibi índes rrutivcl do humor, das palavras de " u- meios de ex pressão cê nicos, o núm ero de atores e
Méd ia para a representação dos mistérios, es te por g ran des atores de sucesso: COQUELlN, RAI- 101" desabu sad as sobre os jovens o u a lou cura de espectadores, a amplitude dos tem as abo rdados .
~I U , P. FRESNAY, P. BRASSEUR).
tipo de ce nog rafia é novam ent e pri vilegiado no at ua l do mun do , o tod o se rv ido co m piadas fá-
século XX (M. REINHARDT, A. VILLlERS, 1958 ), ce is mas eficientes . O boulevard - ao qual se 1. Es te tipo de apresentação te at ral - dentr e as
não só para unifi car a visão do públi co, mas, so- I . Dram aturgi a do Boule vard ass iste co mo a um co q uete l, um a visita ao Fo lies-
qu ais o teatro íntimo de STR INDBERG (e suas
bretud o, para fazer os espectadores co mungarem Bergêre ou um a sub ida à Torre Eiffel , ao qua l a
Kamm erspiel , peças d e câmara), fund ad o e m
na participaç ão de um rito e m que todos estão Dr am aturgicament c, a peça de bou leva rd é a tel evi são nos co nvoca regul arment e le vand o-nos
1907 , é o melhor exe m plo - desenvolve -se co mo
emocionalmente envo lvidos. con clu sâo da peça bem -f eita " do melodrama ' e Ali th éãtre ce sair (Ao teat ro es ta noite) - é dec i-
re ação a um a dram aturgi a " pesada", ba sead a na
do drama burguês', os qu ais têm e m comum um a did am ent e um gê nero bem implantado nos bair -
abund ância do pessoa l artísti co e técnico, na ri -
estrutura dr amática muit o fech ad a e bem amar- ros finos e nas co nsc iê nc ias es té ticas . Mantendo
qu eza e na mult ipli cidade d os ce ná rios, na d.e s-
TEATRO DE BOULEVARD rada, o nde os co nflitos se m pre são fin alm ent e re- a mesm a função ideol ógi ca co nse rvado ra, ele tem
mesurad a import ância do público no teatro à u a-
so lv idos se m surpresa . A fábu la se re vela de um a arte de se ada pta r ao gosto do di a por tem as qu e
lian a, no palco ce ntra l o u no teat ro de m assa, nas
:). Fr.: th éãtre de b oulevard; Ingl. : boulevard co nfor m ismo à tod a pro va, mesm o e nq ua nto pa- parecem ou sados (o erotis mo de superfície, a ,~1 0 ­
freq üent es interrup ções dos e ntrea tos e no apara-
t..; theatre; AI.: Bo uleva rd -thea ter: Esp.: teatro de rece am eaçar a orde m e fust igar (e não choca r) o mossexu alidade e m A Gaiola das Loucas. a re-
to gra nd ioso do teatro bu rguês. A escritura d ra-
bulevar: burgu ês sob re a pos síve l pe rda de seus va lores vo lta" dos "herdeiros", o ad ultério como es tilo

380 38 1
TEATRO DE D IR ETO R TEATRO DE MASS

máti ca também é depurad a. redu zid a aos confli- câ mara; es te último . na verdade, não resiste ao TEATRO DE IMAGENS a se ntir fal ta deste co ntato popular. até fazer di s-
tos essenc ia is e unifi cada pelo e m prego de rc - baru lho, à bagunça e aos tem as sa tíricos qu e des- so. no séc ulo XVlIl (ROUSSEAU) e po r vo lta do
gras simples. regra s que STRINDBERG ass im des - pert am imediatamente a "c o letivida de do s qu e ~ Fr.: th éãtre d 'ima ges; IngI.: the at re of ima gcs; final do séc u lo XI X. um a de suas prin cipai s re i-
crev er á: " Se me pergunt arem o qu e pretend e o riem " . Dram aturgias realment e volt ad as para o 't..; AI.: Bildcrthcater; Esp.: teatro de illllÍgenes. vindicações nost álgi cas. A ambig üidade prov ém ,
Teatro [ruímo. qual sua finalidade. respond erei: de- indivíduo - como o teatro psicol ógic o - o u a cl as- e ntreta nto , desse co nce ito de arte de massa : é uma
se nvo lver. no dr ama. um ass unto carr egad o de sig- se social- co mo o tea tro do cotidia no » o u ai nda , TIpo de e nce nação qu e visa produzir im agen s arte feita pelas massas, co mo um artesanato e uma
nifi cad o. porém limitado. Evitamos expedientes . o teatro de câ mara de M. VINAVER ( 1978 . 1982. cê nicas. ge ra lme nte de um a gra nde bel eza for - ati vidad e popul ar. o u é uma arte criada pa ra as
efeit os fácei s. tiradas brilhantes. os númer os para para a teori a) o u o teatro intimista de L. CALA- mai . e m ve z de dar a ouvir um te xt o o u de apre- massas por um a min ori a o u um a tecn ol ogia m o -
es trelas . O autor não deve estar previ am ent e am ar- FERTE o u de G. LÉPINOIS (Pas la M ort , 1995 ) - se nta r ações físi cas "em rel e vo" . A i ma gcm é de rna (rá dio. tel evisão etc.)?
rad o por ncnhuma regra , o assunt o é q ue con - acha m no teat ro int irni st a uma situação de esc uta vista de lon ge . em dua s dim en sões. ac ha tada pel a
di ci ona a form a. Portanto, liberdade co mple ta propícia à sua esc ri tura e à sua rel ação ideal co m di st ân ci a e pela técni ca de sua co m posição. Se- I. Teatro Feit o pela s Ma ssas
para a maneira de tratar o ass unto , contanto qu e o público. g undo FREUJ): a imagem está mai s e m co nd i-
sej a resp eitada a unid ade de co nce pção e do es ti- Acont ece co m o teat ro de c âma ra co mo co m a ções d e figurar os pro ces so s in con sci ent es do Além do rito "; c uja natur ez a artística. aliás,
lo" (Ca rta A berta do Teatro Ínt imo , 190 8 ). música: é-lhe necessári o restituir a polifonia dos qu e o pen samento co nsciente e a lin gu agem : " As poderia se r di scutida. e além da festa. "o nde se d á
diálogos e dos lemas, as di ssonân cias. o tom es- imagen s cons titue m [...) um mei o mu ito imper - os espectadores em es petác ulo". tom and o-os " ato-
2. Dentro da mesma ordem de idéia. o teatro in - pecífi co de cada in strumento: trabalho minucio - feito de tornar o pensamento consci ente , e pod c- res e les mesm os" (ROUSSEAU), existe m pou ca s
tirnista é uma co rrente de entreg uc rras co m aut o- so de e laboração dramat úrgica e de co mpos ição se d izer qu e o pen sam ent o visua l se ap ro xim a experiênc ias o nde a m assa é conv ocada a atua r e a
res co mo GANTILLON. PELLERIN. BERNARD. E le entre rneada das vozes. mai s do s processo s inc on scient es qu e o pen sa- part icip ar "em pessoa" de uma atividade teatral.
Só quando da s grandes mudanças políti cas c de
conduz à "decifração do enigma que o homem é
para si" (J.-J. BERNARD). co Strindberg, 1964; Sarrazac, 1989. 1995; Danan ,
mento verbal e é mais antigo qu e es te, tanto do
ponto de vista filogênieo quanto onto gêni co" suas comemoração/representação é que o povo é
1995. chamado a participar em ma ssa: assim . a festa da
A voga do teat ro de câ mara. no iníci o do sé - (Ens a ios d e Psi canálise, 1972: 189 ). Esta é pro -
c ulo até nossos dias, ex plica-se pel a vo ntade de vavelme nte a ra zão pel a qu al as e nce nações de Fed eração ( 1790) ce lebra o prim eiro anive rsá rio
fazer do palc o um local de enco ntro e de co nfis- WILSON a KANTOR. de CHÉREAU a BRAUNS- d a tom ad a d a Bastilha ; o c nce na do r russ o
são recíproca entre ator e es pec tado r. por uma
TEATRO DE DIRETOR CIIWEIG . recorrem naturalmente a um pen sam en - EIVREINOV organi za. e m 7 de novemb ro de 1920.
a tomada do Pal áci o de Inverno em Petr ogrado: o
grande se ns ibilidade para as quest ões psicológi -
cas . Nesse "e ntre qu atro pa redes", o ator parece
-0- Fr.: th éãtre de met teur en scene; IngI.: director s
to vis ua l pa ssível de suge rir a dimen são in con s-
ci ent e profunda da o bra. palácio é o local de um a festa. de uma ce lebração,
the a t re ; AI.: Regiethcater; Esp .: tea tro de de um happenin g e de um giga ntesco es túdio c i-
dir etament e acessí vel ao públi co. qu e não pod e director.
recu sar sua parti cipa ção em ocional na ação dr a- W Marran ca, 1977; Sirnh andl , 1993. nemat ográlico em qu e o ito mil atores interpretam
mática e que se sente pessoalment e interp elado um film e de ma ssa. Som ent e o desfil e militar, as
Teatro qu e usa os serviços de um encena do s:"
pel os ato res . Os tern as - o casal. o hom em iso - paradas fasci sta s e sta linistas se aproximarão des-
e. po rtanto, atribui gra nde imp ort ânci a à intcrpre-
lad o. a alie nação - são escolhidos par a falar " d is- TEATRO DE MASSA te teatro ultra-o rganizad o onde o públi co é reduzi-
ra ção do text o e à o rig ina lidade das o pções de do a alguns ge neralíss imos impotentes e ditadore s
c re ta me nte " ao es pec tado r. co n fo rtave lme nte ence naç ão": a m ar ca e a assinatura do artista são
instal ad o. quase co mo no di vã do psi can alist a. e ~ Fr.: th éàtrc de lIIa sse; Ingl.: mass thea trc; A I.: cobe rtos de med alh as. Este gê nero de espetác u lo
nele se ns íve is. aflitivo es tá e vide nte me nte no ex tremo o posto da-
co n fro ntado. por ato r e ficção int erpo stos, co m 't..; Massentheater; Esp.: teat ro d e lIIasas.
sua própria interi oridade. A ce na é qu ase qu e o quil o qu e ex ige m os profet as do teatro po pu la r,
prolongamento da con sciência, até mesm o do se u Teatro "popular". "de parti cipação" . "de ma s- com o R. ROLLA ND ( 1903)ou F.GÉMIER (Ca hie rs
TEATRO DE GUERRILHA sa": tanto s títul os que são muito mai s sloga ns e du Th éâtre, 192 6-193 8). poi s. para e les. o teatro é.
incon scient e. co rno se ele pudesse alternad ament e
antes de mais nad a. feito para o povo.
abrir e fechar os o lhos e co ntinuar a enxe rgar urn a
peça ou um a fantasia de sua "o utra ce na" (cf Le
-0- Fr.: th éãtre de gué rilla ; IngI.: guerilla the at re ;
pala vra s de o rde m do qu e co nce itos claros e di s-
tintos, A era das artes de m assa co meçou a part ir
AI.: Guerillatheater; Esp.: teatro de guerrilla.
Th éãtre de Cluunbre dc J. TARDIEU. 1955). Cer- do m om ento qu e se passou a ter os recursos téc- 2. Teat ro Criado para as Massas
tos ence nado res (GROTOWSKI, BARBA) insistem Teatro qu e se pret end e milit ant e e e ngaj ado ni cos para reproduzir a obra de art e e para atin gir
qu e o nümero de espectad ores seja limit ad o e qu e o maior núme ro de pessoas pelos m eios de co nll/- "A art e dram áti ca , escreve F. GÉMIER. d ev e
na vida pol ítica o u na luta de libert aç ão de um
um a atrnosfera " religiosa " impregn e palc o e pla- nicação de massa" (BENJAMIN). O te at ro , e m d irigir-se ao po vo to do . Por essa pal avra . não
povo ou de um gru po.
téi a. O esp ectador. co ntrariame nte à festa. ao ri- suas o rige ns . não se co locava mesm o a qu estão e nte ndo ap en as a classe popul ar. m as tod as a s
Por exem plo: Teat ro campes ino de VALDEZ,
tual . ao gra nde es petáculo dramáti co o u épico. de sua reprodu ção, visto qu e na sce ra ju stament e categori as soc ia is ao mesm o tempo , c ient is tas c
San Fran sciso Mime Troupe etc.
ao hapenning, fica iso lado e é reconduzido a s i desses aj unta me ntos ritu ais e cú lticos das socie- artesãos , poe tas e co me rc iantes. d irigent es e go -
me sm o , co mo no es paço a lveola r do cine ma dad es primitivas. Som ente após ha ver perdido sua vern ad os. enfi m, tod a a vasta famíli a dos pod e-
Agit-p rop, teatro de pa rtici paç ão. teatro de rua.
inti m istu . Eis por que um gê nero hoje m uito po- rel ação diret a co m o grupo - por ca usa de sua rosos e dos humildes" (Le Th éãt re, 192 5). ESH
pular e pr óxim o da " pobreza" de recur sos, o café- CI21 R. Davis, "Th éâtre de Guérilla", Travail T/réâ - lit er urizaç ão , de seu co nfisco por um gru po de rei vindicação. qu e VILAR c inúm eros animado
teat ro"; é exatame nte o co ntrário des se teatro de tral n. 7, 1972. letrad os o u de es pecia listas - é qu e e le co meçou res do teat ro popula r ret om arão. to rno u-se a pa

382 383
TEATRO DE O B J ETO S TEATRO DENTRO DO TEATRO

lavr a de ordem do teatro pa ra as massas. Mas ele mod a e depreciativo. Ele eng loba, além das mari- j ogar co m os atores ou... a receber descargas da T EATRO DE T ES E
não foi acompanhado da criação de uma drama- o netes, a cenografia móvel, as in stala ç ões »; as corrente elétrica; o ra lúd ica, qu and o no jogo dra-
turg ia e de um repertóri o es pec ificamente "de
massa". (Com algumas exceções, co mo o Festi-
alianças entre atores e figur as (Philippe GENTY). mático ou no teatro in visivel " (BüAL) onde os U- Fr.: th éãtre à thêse; Ingl.: th es is dra ma; AI.:
Ver a revista Puck publicada pel o Instituto Inter- ato res o são sem saber. Port anto, não há um a for- These ns tück; Esp.: teat ro de tesis.
val Universitário de teat ro-futebol que reunia todo nacion al da Marionete de Charlev ille. ma ou um gê nero de teatro de part icipação, mas
ano um público de espo rtistas e de espetáculos
um estilo de jogo e de e nce nação que ativa o es- O teatro de tese é um a form a sistemá tica de
e m Santi ago do Chile, cf. üB REGü N, 1983).
pec tado r co nvi dando -o a um a leitu ra dram a- teat ro didático'. As peças dese nvol vem um a tese
Quand o muito, poder-se-ia falar e m efeitos se-
TEATRO DE PARTICIPAÇÃO túrgi ca, a um decifram ent o dos sig nos, a um a filosófi ca, política ou mor al, bu scand o co nven-
cund ários de "esquerdi zação" do jo go de teatro:
reco nstituição da fábula e a um a comp aração da cer o públi co de sua legit imidade co nvida ndo-o a
signos muito legíveis e repetitivos, procedimen-
tos melodramáticos muit o evide ntes, fábula sim-
U- Fr.: th éãtre de participat ion ; Ingl.: the atre of reali dade repr esentada e de se u própr io universo. ana lisar mais a reflexão que suas e moções. Toda
participation; AI.: Mit spi elthe at er: Esp.: tea- peça aprese nta, necessari ament e, num a em bala-
plificada e mensagem clara e nítid a. Nenhum gê- tro de pa rticipac í ôn. • ~ Põrtner, 1972; Moreno, 1984. ge m mais ou menos discreta, uma tese: a liberda-
nero novo se criou, a partir do ag it -p ropr ou do
de o u a se rvidão do hom em , os peri gos da avare-
teatro de rua ' ou de gue rrilha', e a tendência
A ex pressã o "teatro de participa ção" parece za, a força do destino ou das paixões. O teatro de
do teatro de massa é muit o mais reativ ar técni -
pleon ástic a, visto que é evid ent e qu e não ex iste TEATRO D E RUA tese não hesita, no entanto, e m formular os pro-
cas popul ares j á ex per ime ntadas t Commed ia
teatro se m a participação e moc io na l, int electual blem as num comentário bastant e did ático. Dra-
dell 'art e pela San Fra ncisco Mim e Troup e ou o
e física de um público . No ent ant o , o teatro, ape- :-). Fr.: th éãtre de m e; Ingl.: stree t theat re; AI.: maturgos como IBSEN, SHAW, CLAUDEL,GÓRKI
Th éâtre du Solei I, paradas e mim odram as). Mes-
mo os procedim ent os indu striais de reprodu ção,
sa r de suas origens rituais ou míticas, perd eu al- 't.: Strassentheater; Esp.: teatro de cal/e. ou SARTRE escreveram peças qu e qu eriam fazer
gumas vezes seu caráter de aco ntecime nto ime- o público refletir, ou até mesmo obri gá-lo a mu-
I..........................~ c o m o o rádio ou a televisão, não criaram uma
diato, de modo que um movimento de volta à Teatro que se produz em locais exteriores às dar a sociedade.
arte de massa convincent e, se se e ntende por isso
parti cipação só se fez sentir a partir d o iní cio do co nstruções tradi ci onai s: ru a, pra ça, mercado, Es te gênero goza hoje de má fama , pois o assi-
um gê nero mais original do qu e as novela s sen-
tim ent ais ou as retran smi ssões de Au Th éãt re ce séc ulo por motivo s, é verd ade, muito di versos: metr ô, uni versid ade etc. A vo ntade de deixar o mil am os (muitas vezes rapidam ent e dem ais) a
atividade crítica, choque psíqu ico e m ARTAUD ci nturão teatral co rres po nde a um desejo de ir ao uma aul a de catecismo ou de marxi smo e conside-
Sair. Na verdade, o teatro parece ser uma arte
nem mecani cament e rep rodutível , nem multi- e na co rrente ritual e mística qu e ele desenc a- enco ntro de um públi co qu e ge ra lmente não vai ra-se que ele trata o público co mo um a crian ça, em
plicável ao infinito, visto que a eletrônica não está deou (BRü ü K, GRüTüWSKI), mas também prá- ao espetáculo, de ter um a ação soc iopolítica dire- vez de obrigá-lo a "procurar a saída" (BRECHT). É
e m co ndições de reconstituir a "rel ação teatral" tica da afeti vidade coleti va na ce rimô nia fascis- ta, de aliar ani mação' c ultura l e manifestação verdade qu e, com muita freq üê ncia, a imp ortân-
viva, e que as formas de neotribalismo televisivo ta o u na representaç ão dram áti ca ilu sionista, soc ial, de se inserir na cida de e ntre provocação e cia da s teses evocadas leva desagrad avelmente a
das quai s fala MCLUHAN não incluem uma par- com o BRECIIT pode descr ev ê-la, de um jeito co nvívio. Dur ante muit o temp o, o teatro de rua negli genciar a form a, a usar uma estrutura dra-
ticip ação teatr al qu e só o happ enin g está em mei o exagerado: se co nfundiu com o ag it-p rop e o teatro político má tica que serve para tud o e um di scur so dema-
condi ções de assumir. O " teatro para as massas" " Se lançarmos um olhar à nos sa volt a, perc e- (anos vinte e trinta na Alem anha e na União So- siado di screto, e rapid ament e tedi oso. Daí sua fra-
continua a ser, portant o, uma reivindicação mais berem os silhuetas imóvei s, mergulhadas num es- viética) . A partir dos anos setenta, assumiu um a qu ez a esté tica e a frustr ação do públi co, a quem
polític a do que estética: trata-se de criar as con- tranh o es tado. Elas parecem es tira r tod os os mús- postura menos política e mais estética . se " dá a au la". (Por exemp lo: Casa de Bon ecas,
dições soc iais para que as classes sociais mais c ulos num es forço violent o ; a men os q ue es tes, O teat ro de rua des e nvo lve u-se particulann en- de IBSEN, a maioria das peça s de B. SHAW e, para
a mplas tenham acesso à cultura, antes e em vez flácidos e relax ados, tenham ced ido ao esgota- te nos anos sesse nta (Brcad and Puppet, Magic crianças filosoficamen te be m ad iant adas, Ent re
de criar uma arte de massa qu e tran sforme mági- ment o; dir- se-ia uma assembl éia de dorminho- C ircus, happenings" e ações sind icais). Trata-se, Quatro Pared es , de l .-? SARTRE.)
ca e socialmente todos aqueles que a contemplam. cos, mas daquele gênero cujo so no, ag itado, se- na verdade, de um a vo lta às font es: TÉSPIS pas-
A fórmula de T. MANN, tão utópica quanto céti- ria entrecortado por maus so nhos . [...] Eles vêem sava por representar num ca rro no meio do mer- ~ Agit-prop, mensagem.
ca, traduz bem as difi culd ades e ambi ções de uma a ce na co mo se es tivesse m e nfe itiça dos . [...] cado de Atenas, no século VI a.c., e os mistérios '
arte de massa: "O teatro, passatempo sublime e Olh ar e ouvir é estar ativo, e de um a maneir a medi evais oc upavam o adro das igrejas e as pra-
infant il, cumpre sua bela tar ef a qu ando sagra qu e pode proporcionar pra zer, mas essas pessoas ças das cidades. Paradoxa lme nte, o teatro de rua T E ATRO DENTRO DO T EATR O
' po vo' a massa" ( 1908 : 105). parecem alheias a qualque r ati vida de e dão a tend e a se institucion ali zar, a se o rga nizar em fes-
impressão de obj etos que se man ipul a" (Peque- ti vais (Éclars , desde os anos oitenta, em Aurillac), :-). Fr.: th éãtre dons lc théã tre ; Ingl.: pia)' within
110 Orga non, § 26).
a se insta lar num percurso ur bano, num a la nd art, 't.: the pia)'; AI.: Theater im Theater; Esp.: teatro
TEATRO DE OBJETOS Es ta intensa particip ação e moc io na l é, para o u num a política de reno vação urbana, tentando dentro dei teatro .
BRECHT, o contrário de um a part icip ação inte- perm anecer fie l à sua arte de desviar o cotidiano.
U- Fr.: tiléâtrc d 'objets; Ingl.: theatre of objects; lectual e crítica: esta é a am bigüida de da noção Tipo de peça ou de represent ação que tem por
AI.: Theater der Gegens tãnde ; Esp.: teatro de qu e descreve modos de ação muit o diversos . Ora ass unto a represe ntação de um a peça de teatro: o
obje tos .
~ A git- prop, teatro de participação.
ela é soc ial, quando o espec tado r, na festa ou na públi co exte rno ass iste a uma re present ação no
peça popular, se associa aos outros, faz co rpo co m Kirby, 1965; Boal, 19 77 ; Barba, 1982; Obre- inter ior da qual um público de atores tamb ém as-
Termo bastante recent e que às vezes substitui
o de "teatro de marionetes " , cons iderado fora de
o grupo pelo riso ou pela e moção; or a física, se o
públi co é co nvidado a circular e ntre as cenas, a
m gon, 1983. siste a uma rep resentação.

384 385
T E ATR O D IDÁT ICO TEATRO DOCU MENTÁR I O

I. Emergência desta Forma tacrítica), o teat ro dent ro do teat ro trata do tea- scnsu é co nstitu ído por um teat ro mo ral izad o r (as se ntido e a men sagem nun ca são dados d iret am en -
tro teatr alm ent e, se rvindo -se por co nseg uinte dos m o ra lida des " no fin al da Idade Méd ia) o u pol íti- te, qu e eles residem na estrutura e na forma, no
E s ta es té t ic a s u rge d e sd e o sé c u lo XVI procedimentos artís tico s desse gê ne ro : fica im - co (o agi t-prop " o u os Lehrs ttickc brechtianos) não-d ito ideol ó gi co. A partir de então. a aliança
(Fulge nce et Lucr êce de Med wall, lan çad o em possí vel di ssociar o q ue o auto r di z a prop ósito o u ped ag ógi co (as pe ças d id áticas o u pedagó g i- das pal avras "arte d id ática" se re vel a pou co fav o-
1497 se ria sua pri me ira manifestaç ão, assi m com o da ce na do qu e di z est a ce na (Se is Persona gen s cas. o teat ro de tese ", as par ábolas ", as fáb u las r áve l a uma re flexão sé ria e realm en te pedagógi -
The Spanish Tragedy de T. KYD (1589 ) e Hamlet à Procura de /ltII Au tor não é a ence na ção de fi lo sófi ca s: Quisaitou t et Grosb êra o u Lapin- ca so bre arte e so bre po lítica.
de SHAKESPEARE ( 160 1» . Ela está vin cul ada a vi nte e c inco séc u los de poéti ca teatral ?) De mo- Lapin , de C. SERR EAU). Fo ram fe itas inú me ra s
um a visão barroca de mund o, segundo a qu al " o do qu e o teatro dentro do teatro não é senão um a ex periênc ia s no sé culo XIX , na Euro pa , o u hoj e,
mundo tod o é um palc o, e todos os hom ens e maneir a sis te má tica e a utoconsc ie nte de fazer no Te rceiro Mu ndo, para fazer co m qu e um pú - TEATRO DOCUM ENTÁRIO
mulh eres não passam de atores" (SHAKESPEARE) teat ro . Ad m itida es ta h ipót ese, examina r-se-ão blico desfav or ecid o (de ope rários , de c am po ne-
e a vida não passil de um sonho (CALDERÓN). os elem ent os rnetate at rais in er ent es a tod a for - ses , m as tam bé m de crianças q ue, mu itas vez es , D- Fr.: th éãtre docum entaire; Ingl.: docum en ta ry
Deu s é o d ra ma turgo. o encenado r e o ato r princ i- ma de teatralidad e . G en eral izar -se-á para toda não tê m direit o a um a forma de expressão es pe- theatre; AI. : Dokumentartheat er; Esp.: teatro
pai ! De met áfora teológica, o teat ro dentro do tea- represent ação te atral a propried ad e de desd o- cífic a) conheça uma arte mu itas vezes d ifícil e documental .
tro passa à forma lúdica por excelênci a, ond e a brar-se esp ontaneam ent e numa ficç ão e num a cuja co nt ribu ição para um a tran sform ação soc ia l
reflexão so bre esta ficçã o . Chega -se então a uma é es perada por arti st as e int electuai s. Teat ro qu e só usa . para se u texto, documentos
represent ação es tá co nsc iente de si mesm a e se
defini ção bast ant e a m pla. por é m vá lid a, da no- e fontes autê nticas , se lec io nadas c " mo ntadas" e m
auto- re presenta pel o prazer da ironi a o u da bus-
ção: há teat ro dent ro do te at ro " q uando u m e le - 2. A reiv indi ca ção de uma poesia did áti ca re - fu nção da tese socio po lític a do dram atu rgo.
ca de um a ilusão am pliada. Ela culmina nas fo r-
mas de teat ro dentro de nossa real idad e co tid ia - ment o teatral fica co mo qu e isol ado do rest o e mont a à m a is a lta A ntig uidade ; e la a lia, e m s ua
na: doravante, aí é impossível cindi vida e art e. aparece. por sua vez, como o bjeto do o lhar de fo rma clás sica, a A rte Poética de HORÁCI O ( 14 1. Reutili zação da s Font es
espectadores situados no palco, quando há , ao a.C i) , o útil ao agradável , pretendendo edificar
o j ogo é o modelo ge ra l de nossa conduta diária e
mesm o tempo, em cena. olhantes e o lhado s, quan- o públi co. A Id ad e M édi a co nce be e sta e d ifica- Na medid a qu e a d ramaturgi a nun ca c ria nada
estéti ca (GOFFMAN, 1959 , 1974).
do o es pec tado r da cena vê atores diante de um es - ção co mo uma ed ucação reli giosa, ao passo qu e, ex nihilo , m as recorrre a fontes ( mito s, notíci as.
Entre os inúmeros dramaturgo s, se ria preci -
petáculo que ele própri o também o lha" (UBERS- no Re nasciment o. as poéti cas se co m b ina m para aco nte c ime nto s hi st óric os ), tod a com pos iç ão
so c itar SHA KES PEA RE, T. KYD, ROTRO U,
FELD, in COUTY e REY, 1980 : 100 ). É aí que é m ora lizar a literatura. A e ra clássi ca , na F ran ça , d ram ática com por ta uma parte de documentário .
CORNEILLE, MARIVAUX, PIRANDELLO, GENET,
preci so d istin guir o teat ro dent ro do teat ro , no ce de a es te pr incípi o , pe lo menos nos pre f ác ios Já no séc ulo XI X , ce rtos d ram as histó ricos usa -
ANOUIUI , BRECHT.
sentido es trito, dos e fe itos de teatralidade. e nos trat ad os teór icos, poi s na verd ad e e le mui - vam, às vezes in ex tenso , suas fonte s ( BÜCIINER
tas vez e s limit a esse mor ali sm o a um exó rd io , c ita, para A Morte de Dant on , aut os e o bras hi s -
2. Um Jogo de Superilu são ~ Metateatro, denegação, mise en abyme. um pr ó lo go o u u m cp ílo go, a um a forma co m - tóri cas). Nos ano s vi nte o u trinta, na A le m anha ,
pacta co mo a má xima o u a sentença"; " A úni ca e dep o is no s E stad os U ni d o s , E. P ISCATO R
o e m prego dest a form a correspo nde às ma is W Nelson, 1958 : Reiss, 1971; Rem e de Scien ces reg ra q ue se pode es tabe lec e r so bre isso é q ue é ( 1893- 1963 ) ret om a e s ta e stética par a esta r às
di ve rsa s nece ssid ad es, mas se mpre imp lica um a Humaine s , 1972; Ko wzan, 1976; Sawe cka, pre ci so co locá -las [as máximas] ju d ic io sa m e nt e vo lta s com a atua lidade po lítica . M as é so bretu -
refl exão e um a manipulação da ilus ão" , Mos- 1980; Forcsticr, 198 1: Schm elin g, 1982; Swiontck , e, princ ipa lme nte , co locá- Ias na boc a de pessoas do desde os a nos c inq üe nta e sess enta e até os
tran do, e m ce na , ato res dedi cand o- se a int erpre- 1990; Jung, 1994. qu e tenh am es pírito desimp edido , e qu e não se- ano s se te nta qu e a lit e ratu ra document ári a se
tar a co mé d ia, o dr amaturgo impli ca o es pec ta - j a m , c m a bso luto, le vad as pel o ca lo r d a ação" co nstitui co m o gê ne ro no ro ma nc e, no c ine ma -
dor "e xte rno " num pap el de es pec ta do r d a peça (CO RNE ILLE, Discurso do Poema Dram ático ). ve rdad e, na poe si a, nas peças rad io fô ni cas e no
int erna e re st ab el ece. ass im, sua verdad eir a si- TEATRO DIDÁTICO No séc u lo XV lII , o mora lism o burgu ês leva teatro . Sem dú vid a é preci so enxergar nisso u m a
tuaç ão: a de es ta r no teatro e de ap ena s assistir a
uma fun ção. G raça s a esse desd obram ent o d a D- Fr.: thé ãtre did a ctique; Ingl.: didactic thcatre ;
teó ricos co mo VOLTAIRE, DIDEROT o u LESSING
a o rganiza r sua fábula de modo a qu e a me nsa -
resposta ao gos to a tua l pe la re po rta ge m e pe lo
documen to -verd ad e , à influên cia dos meios de
teatr al idade, o ní vel ex te rno adquire um estatu- AI.: Lehrtheater ; Esp.: teatro didáctico. ge m mo ral apareça c laramente. LESSING também comu nicaç ão de massa * q ue in unda m o s o uv in-
to de realidade a mpliada: a ilu sã o da ilu são pa s-
pede ao po et a par a "o rganizar a fá bula , de mod o tes de inform açõe s co ntra d itó rias e manipuladas,
sa a se r realidade. I . É d idático tod o teat ro qu e visa instruir se u pú - a qu e e la sirva para a ex plicação e a co nfirm ação e ao desej o d e re pl ic ar seg und o um a técni ca s i-
blico, co nvidando-o a refletir so bre um problema, de um a g ra nde verdad e mora l". SCHILLER fa z do milar. O teat ro do document o é herde iro do dra -
3. Instru ment o Ep istemológico a ent end er uma situação o u a ado tar um a certa at i- pa lco um a " ins titu ição moral ". ma Iristó rico *. El e se o põe a u m tea tro de pura
tude moral o u políti ea. ficção, con side rad o demasiado idea lista e apo -
A uni ver salidad e do teatr o dent ro do teat ro Na med ida e m qu e o teat ro ge ralme nte não 3. No ssa é poc a es tá men os abert a a es te gê ne ro Iítico , c se ins u rge co ntra a manipul ação dos fa -
atr av és d as é pocas e dos es tilos se ex plica por aprese nta um a ação g ratuita e pri vada de se nti- de di scurso d idático, desd e qu e a pol ític a co m- tos, man ipul an do tam bé m e le os documenos pa ra
um a hip ót ese so bre a propriedade episternol ó- do, um ele mento de didat ism o aco mpanha neces- pro met eu a a rte de man eira du rado ur a, sej a no fin s par tidár ios . Us a b astan te a for ma do pro -
gica dessa técn ica. O teatro , na ve rda de , é um a sa ria mente tod o trab alh o teatral. O qu e varia é a nazi s mo , no sta linis mo, na arte o fic ia l da s anti- ce sso o u do inte rro g atório q ue perm ite criar os
" me taco rnunicaç ão" , uma co municação a pro - clareza e a força da men sagem , o desejo de mu - gas dem oc raci as pleon asticam erue den om inadas rel at órios: R. KIPP Il ARDT par a O Caso Opp e-
pósi to d a co m u nicação e ntre as pe rson age ns dar o púb lico e de su bo rd inar a art e a um desíg- popular es o u de muitos países em vias de desen- nheim er ( 1964); P. WE ISS par a Die Ermittlung
(OSOLSOBE, 1980). De maneira idêntica (e me - nio ético o u ideol ógi co . O teat ro d idát ico stricto vo lvime nto . Por o utro lado, fico u ev ide nte q ue o ( 1965) e Vie tnam -Dis k u rs ( 19 68); Il . M. EN-

386 387
TEATRO EQÜEST RE TEATRO EXPER I MENTA

ZEN BERGER par a Da s Ve rh õr V OIl Ha bann a . O te atro espo ntâneo (o u a ut ônomo, seg undo bem mais qu e um re ma nejame nto form al, e isto to, por vezes, de não procurar em chegar a uma
Mesc la freq üent em ent e document o s e ficção : N. EVREINOFF (1930) e, mais tard e, T. KANTOR) desde o apoge u do natu rali sm o na virada do sé- rep rese ntação públi ca), a modific ar incessant e-
Der Ste llvertreter ( 1963), So ldatcn ( 1963) de R. tent a abo lir a fronteira entre a vida e o j ogo , entre culo (STANISLÁVSKI, ANTOINE), desde a van- ment e a ence nação, a bu scar e a tran sform ar e m
HOCHHUT; US de Pet er BROOK ( 1969) ; Front público e ator. Uma ativida de es po ntâ nea é reali- guarda dos anos vinte, na Rú ssia (VAKHTÂNGOV, profu nd ida de o o lha r do es pec tador mu ití ssim as
Page de R. NICHOLS; Trotzki im Exil ( 1970) e zada a partir do moment o em qu e há troca cri ati - MEIERHOLD, TAÍROV), os pion eiros da luz e dos vezes instal ado na rotin a: daí a freqü ent e acusa-
H õld e rlin ( 197 1) de P. WEISS. va entre es pec tador e ator, e qu e o es petáculo fica vo lumes cê nicos (AP PIA, CRAIG), os inova dores ção de e litis mo ou herm etism o .
co m jeito de um happening" , de um j o go dramá- franceses (ARTAUD, COPEAU, BATY, JOUVET), os
2. Montagem Combati va tico " e de um a impro visação qu e se apro pria da realistas críticos (PISCATOR, BRECHT, JESSNER), 2. Um Espaço Incert o
realidade ex terior, ou de um psicodrama *. o proj eto da Bauh au s de MOHOLY-NAGY e W.
No lugar da fábul a e da ficção , enco ntra-se a GROPIUS. A era dos "i novado res", para retom ar Não pode ndo descrever o progr am a fixo do tea-
instal ação de materiais orde nados de aco rdo com 6) Psicodrama, improvisação, happening, teatro o termo de J. COPEAU, SÓ ven ceu em parte, pois tro experime ntal em suas di versas man ifestações,
se u valor co ntrastivo e explicati vo . O uso de frag- ~ invisível. es tes não soube ra m co nci lia r suas teor ias e sua e e m vez de reescrever um a históri a das práticas
ment os dispostos conform e um esqu ema global e prática e " ficaram sus pe nsos e co mo qu e par ali- ex peri me ntais que deveria co brir tod a a atividade
um modelo socioecon ômi co critica a visão habi-
L::l:;) Moreno. 1965, 1984; Põrtner, 1972; Kanror, 1977. sa dos entre sua aspiração es piritual insati sfeit a e co nte mpo rânea, levantarem os a lgumas de suas ten-
tuai da sociedade imposta por um grupo ou uma o vão domíni o do se u o fício" e, sob retudo, limi - dên cias e obsessões, para situa r várias de suas di-
classe, e ilustra a tese sustentada . taram a ex perime ntação à técni ca, deix and o-se reções de pesquisa.
A monta gem e a ada ptação teatral dos fatos TEATRO EXPERIMENTAL " desviar e debilit ar por refinam ent os exteriores,
po líticos mantêm o teatro em seu papel de inter- por pesqui sas técni cas se m destin ação" (COPEAU, a. Marginalidade
venção estética e não direta na realidade. A pers- i)- Fr.: th éãtre expérime ntal; Ingl.: experime n tal 1974 : 198).
the at re ; AI.: 'p érimentc lles Thea te r; Esp.: O teatro experimenta l situa-se à margem do
pecti va que daí resulta esc larece as causas profun- De fato, para muitos, a noção de teatro exp er i-
teatro expe rimental. " g rande teatro" , aque le qu e atrai o púb lico , faz as
das do aco ntecimento descrito e sugere soluções men tai evo ca sim ples me nte um teatro onde a téc-
es tre las viv erem , atrai subvenções, garante a ins-
de substituição (WEISS, 1968). nica arquitetôni ca , ce nog ráfic a ou acú stica é nova,
O te rm o teatro expe rime n ta l e stá em con cor- tituiç ão. Aq uele ocupa junto a es te um lugar vis-
ao passo qu e a ex pe riênc ia deveria, ant es de mais
rên ci a co m teatro de van guarda , teatro-I abora - toso (por suas excent ricidades ), por ém marginal
Colagem. montagem . história, ag it-prop, tea- nada, di zer respeit o ao ator , à rela ção com o pú -
~-
1\
" tro de tese. tório . p erformanc e ", teatro d e p esquisa ou,
sim ples me nte, teat ro moderno ; e le se o põe ao tea-
bli co, à co nce pção da e nce nação ou à releitura
dos text os, ao olha r ou à re cepç ão renovad a do
(po r se u orçamento e seu público). Sua margi-
nal idade é muita s vezes a má co nsc iê ncia ou o
Piscator, 1962; Marx, Engels, 1967, 1'01.I: 166- tro tradi ci on al , come rcia l e bu rguês? qu e visa a co ntrapeso da cena o ficial: BROOK e xperimenta
m 217; Ililzinger, 1976. rentabilidad e fin anceir a e se baseia em receit as
artíst ic as co m prova das , ou mesm o ao teatro de
aco ntecime nto cê nico . Sem dú vid a não se deve-
ria deix ar de lado a incid ên ci a dos pro gressos téc-
so b os aus pícios da Royal Sh ak esp eare C ompany
nos anos sessenta, ant es de co nc ilia r e nce naç ão e
nicos so bre o desenrol ar d a represent ação: a nova
rep ert óri o cl ássico, que só mostra pe ça s o u au- pes q uisas, no Ce ntro de Estudos e Pesqui sas Tea-
arqu itetura das sa las, a mobilid ade e a polivalência
TEAT RO EQÜESTRE tor es j á co nsag rados. Mais qu e um gê ne ro , ou trai s e m Paris. GROTOWSKI e, mais rec ent em en-
do palco. o uso de mate riai s le ves e modelávei s
um movimento históri co , é um a a titude do s ar- te , T. KANTOR oficiam sob a pro teção tácit a de
tist as per ant e a tradi ção , a ins titu ição e a exp lo- ao infinito, a fina modu lação da s luzes, a so no-
:). Fr.: thé ãtre éques tre; Ingl.: horsc S/lO \\': AI.: um tea tro o ficial muit o co nfo rmista e de um po-
rização do espe tácu lo são outras tantas possibili-
't...: Reitkuns uhe ater; Esp.: teatro ecues tre. ração co me rcia l. der político muito opressivo . M . KIRBY ou R.
d ades qu e facilita m a man ipul ação da ence nação.
SC IIECIINER, nos Estados Unidos, J. LASSALE,
Ainda é preciso qu e o púb lico co mp ree nda , nel a,
Na origem. usado sob retudo no c irco (ades- 1. A Era dos Inovadores R. DEMARCY, J.-F. PEYRET, J. JOURDHEUIL, G.
a função dr amat úrgica , q ue esses efe itos novos
tr am ent o, mont ar ia), ass im co mo nas recons- BRUN, C. BUCHVALD, J.-P. SAR RAZAC ou F.
não se torn em um fim e m s i para impression ar o
tituições históricas, o ca val o se torn ou o prota- Seria arbitrário situar historicam ent e o início REGNAULT, na França, são pro fessor es-cri adores.
espec tador, mas qu e e les parti cip em da e labora-
go nista de es petác ulos qu e lhe são int eir ament e de um teat ro expe rimenta l, pois tod a fo rma nova É freqüe nte que o sucesso de sse tip o de teat ro,
ção do se ntido da e nce nação.
dedi cados; e le não es tá mai s a se rv iço do cava - necessar iam ent e expe rime nta, desd e qu e não se sua ex pa nsão para um grande públ ico , a dem an -
Exp e rimentar pressupõe qu e a a rte ace ita fa-
lei ro e, sim, é seu verdadeiro parceiro. Assim , o co nte nte mais e m rep rodu zir as formas e técn i- d a e a imit ação que daí resultam , aca be m por ofi-
zer ten tati vas, a té mesm o e rrar, visa ndo à pe s-
teatro eqücstre Zing aro , diri gid o por BARTABAS, cas ex istentes e desde qu e não co ns ide re o se nti- c ia liza r e es vazia r a e xpe riê nc ia da substâ nc ia
qui sa do qu e ainda não existe ou a um a ve rdad e
evoca civilizações o nde o ca va lo es tava no ce n- do e sua produ ção co mo entend idos por antec i- orig ina l, aniquiland o o desejo e a nece ssidade na
oc u lta . Faze m-se tentati vas na esco lha de texto s
tro da vida soc ial (M.-C. PAVI S). pação. Co nco rda-se, no e nta nto, e m co ns ide rar a fonte de se u surgimento.
inéd itos ou co ns ide rado s " d ifíce is", na int erpre -
criaç ão do T héâtre Libr e de ANTOINE (1 887) e
tação dos ato res, na s ituaç ão de rec ep ção do pú -
do Théâtr e de I'O euvr e de LUGNÉ-POE co mo a
bli co . De um a noit e para ou tra, a orde m do es-
h. Reconquista do espaço cênico
TEATRO ESPONTÂNEO cert idão de nascim ent o de um teatro ba sead o na
pet ácul o é submet ida a va riações; o tempo dos O teatro ex perime ntal não tem parti cu larmen -
ence nação. Este mom ent o co inc ide co m a insti - te um úni co tipo de arquitetu ra ou de ce nogra-
e nsa ios ou da teor iza ç ão é muito mais lon go qu e
B- FI. : th éãtre sp ontan é; Ing l. : sp on taneous tu ci onali za ção do encenado r e da práti ca da en-
o da ex plo ração co me rc ia l. O d ireit o à pesqui s a fia ": o te atro de arena, o teatro ex plod ido não são
theatre: AI.: spontan es Th cat el~ Esp.: teat ro ce nação doravante co ns iderada co mo ati vidade mais sinônimos de mod ernid ade; in ver sam ent e,
e, port an to, ao erro, es tim u la os criadore s a as-
espontâneo. artística total. Muitas vezes, a ex perime ntação é é numa sub versão ou num a su pe rva lo rização dos
sumi re m riscos a prop ósit o da rece pção (a pon -

388 389
TEATRO MECÂN tCO
TEATRO EXPER IMENTAL

princíp ios do palco ital iano que se efe tua m as rea- GOEBBELS (O I/ Bi en le D éba rqu em en t Désas- T E ATRO G ESTUAL Qua ndo a produ ção de materi ai s e sua int e-
lizações m ais ma reant es. A conquista de espaços treu x v, APERGIIIS (É n um érationsv. N. FRIZE (La gração ao es pe tác u lo é vis íve l c reivi nd ica da
não previstos par a teatro (es tádio, fábrica, tran s- Voix des Gensi. :-'+ Fr.: th éàtre ges tue l; Ingl.: gestural thea tre; A I.: co mo part e esse nc ia l d a re present ação, fala r-se-
port es e pr aça s públic as, apa rta me ntos) aca ba 't..: ges tisc hes Thea ter; Esp .: teatro gestual. á em teat ro m at eri ali st a (BRECHT); a ce na apa-
rece co mo loc al de inte rv e nção d o hom em e, por
desori entando o público. O indispen sável e feito f O tex to e nã o a obra
de desest abili za ção do j á adquirido chegou ao seu Fo rma de teatro qu e pri vilegia o gesto e a ex- co nseg uinte, co mo pr ol e gômen o e mod elo da
A di stin ção de BART HES (" De I' oeu vre au pressão co rpo ra l se m, tod avia, exc luir a priori o tran sformação d o mundo . A ma te rialida de da re-
cú mulo : tudo é teatro, tud o não o é mais.
textc", Reme d'Esthét ique n. 3, 19 71 ) entre obra, uso da fa la, da mú si ca e de todos os recursos cê- present ação ultrap assa e m muit o o o bjeto cê ni-
siste ma fech ad o e mat eria l, e texto, co nce ito o pe - nicos im agin ávei s. Es te gê ne ro tende a evi tar não co; e la se es te nde à manipul ação crítica da fá-
c. A rel ação com o público
rat óri o e se miótico, es ta be lece um a mesma linh a só o teat ro de text o, ma s também a mim ica " , mui- bula", do papel d o at or e do se ntido d a peça.
Está no ce ntro da s pesqui sas, pois o teat ro não de div isão entre o texto a se r inte rp retado (que o tas vezes escrava dem ai s da lin gu agem co d ifica- BRECHT o u MEIERII OLD tent am ba sear a en ce-
mai s se co nte nta co m a tol a o posição entre di ver- leito r/esp ect ad or é co nv ida do a co mpletar c a fe- da e nar rativ a dapalllolllillla* clássica à la M arcel na ção "num sis te ma pr eci so, ant es de tudo pro -
são e d idati smo; e le deseja agir sobre o o lhar de- cha r) c o texto a se r m anipul ad o, o nde o se ntido Mar ceau , para faze r do corpo * do ato r o ponto de fund am ent e m at eri ali st a e [...] co ns truído so bre
masiado subm isso aos modelos narrati vos e aos não mais es tá ligad o à es tru tura narrativa e se di s- partida da ce na e m esm o da fal a, na medida qu e o o métod o do m at e ri ali smo di alético" (19 80 , vol.
mitos publi cit ári os, imp or uma atividade de q ues- persa seg undo a esc uta qu e lhe é co nce di da. O ritmo " , a frase, a vo z* são co nce bidos co mo ges- III: 88).
tion am ent o, provocar a perturbação ant e o 1l01l - text o é tratad o co mo m at erial , como mont agem tos ex pressivos.
sens dos textos ou dos acontecim ent os cêni cos .
A mudança da situação de esc uta (situação física
de fragm ent os, como res istên cia ao significa do Q Código, realidade re present ada, semiolog ia, es-
definiti vo e uni versal. - ~ tética.
para a disp osi ção do público no es paço o u dos
TEATRO INVISÍVEL
f-= ~- - materiais duros onde ele é convidado a depositar
g. i\ especificiãaãe W Althusser, 1965; Macherey, 1966; Voltz, 1974.
seu co rpo fati gad o, ma s sobretudo psíqui ca , vis-
to qu e é a atitude diante da obra de arte qu e va- A prática co nte m porâ nea põe em dú vida a idéia :-'+ Fr.: th éôtre invisible; Ingl.: invislble theatre ; AI.:
de um a essênc ia" o u de um a especificida de" da 't..: unsichtbares Theater; Esp.: teatro invisible.
ria) provoca um co nd icionamento do es pec tado r
arte teatral ; e la contest a as front eir as e rguidas no
TEATRO MECÂNICO
em fun ção da o bra e não mais o co ntrá rio (cf o
séc ulo XVIII co m as a rtes plásti cas, a músi ca , a Ter mo de BOAL ( 1977: 37 ). Jogo improvi sad o
gru po Il C aro zonne, La Fura deis Baus, Brith Cof, :-'+
Fr.: thé àt re m écanique ; In gl. : m ecl ianical
mímica, a dan ça, a ce rimô nia, a poesia. Ela ape la do at or no mei o de um g ru po de pessoa s qu e de-
o Th éâtr e de l'Unité). 't..:theatre ; AI.: mechanisches Theater; Es p.: tea-
ao ci ne ma ou ao vídeo, m edi ta so bre as rela ções vem ign or ar, até o fim , que fazem part e de um
j ogo , para não vo lta re m a se r "espec ta dores". tro mec ânico .
d. O at or em su sp en s o do hu mano e do inuman o , do animado c do ina-
nimado, pretende- se p ós-mod erna, isto é, à mar- Forma do teatro de marion ete s o u de obj etos
Desd e o teatro-l ab or atóri o de GROTOWSKI,
ge m de tud o o qu e fazi a as ce rtezas da arte e da onde os ato res foram su bs tituídos por figuras ani -
sabe-se nov am ent e qu e o teatro é aq uilo qu e se TEATRO LABORATÓRIO
es té tica de antiga me nte. madas , a utô m atos o u m áquinas. Desde o teatro
pa ssa entre um ator e um es pec tado r. A mai ori a
aut om ático in ventado no séc ulo I por HERO N DE
das pesqui sas co ns iste e m es tender os limi tes des-
h. "Mc lting p ot " dos gêneros e das técnicas
:-'+ Fr.: th éàtrc laborato ire; Ingl.: laboratory thea tre;
ses dois impéri os. O es pec tado r am pl ia sua fa- 't..: A I.: Labortheater; Esp.: teatro laboratorio. ALEXANDRIA, até o te atr o multimtdi a " de hoj e,
culdade de perce ber o inédit o e o irrep resent ável. A tradi ção de j o go teatral de um a esco la o u de passand o pel as ex pe riê nc ias de Torelli no séc ulo
O ator o rga niza se u co rpo de acordo co m um a um a in stitui ção é qu esti on ad a; a se paração e a Teatro experime ntal" o nde os ato res e fetua m XVI , os j ogos de feira nos séculos XVIII e XIX ,
dupl a ex igê ncia : ser legí vel e m sua ex pres- hierarquia va lor iz ante dos gê neros não têm mais pesqu isa s so bre int erpret ação o u en cen ação, se m o teatro mecâni co se es fo rça e m curto-c ircui ta r o
sivida de , ilegí vel qu ant o a se u significa do ou a vez. As formas e cult uras de co ntex tos diferent es preocupa ção co m lu cro co me rcia l e se m mesm o ator viv o, co mo se e le qui sesse se anular o u jogar
suas int en ções . Seu co rpo e sua vo z são os pon - são co nfro nta das, até qu e a met áfo ra so brevenha. co ns ide ra r como indi sp en sável a a presentação. co m o parad o xo, muit as vezes mal entend ido, da
tos de ligação entre tod os os materi ai s da ce na e a Hoj e, o teat ro qu e não proc ura ne m descerebrar pa ra um g ra nde público, de um trab alh o acaba do. supe rma rio ne te" de CRAIG.
presença física do es pec tado r. nem vende r produtos de co ns umo co rre nte sa be (Exem plos : o la bor ató rio do Thé ât re A rt e t É no séc ulo XX que o teat ro mecâni co co nhe -
mu ito bem qu e de ve se r experime ntal 0 11 não ser Ac tio n de E. AUTANT e de L. LARA, o teatro-l a- ce suas mai s bel as ex pe riê nc ias estéti cas. Para o
e. A p roduçã o d o se ntido teat ro. borató rio de GROTO WSKI, 19 71. ) futurista E. PRAMPOLl NI, " as co res e a ce na de-
verão provocar no es pectado r valores emo tivos
Ela não deve chegar necessariament e a um sig-
nificad o un ívoco, por ad ição e cruz amento dos
W Schlemmer, 192 7 ; G inestier, 1961 ; Pron ko, W Co rvi n, 1973; Jomaron, 198 1. que não pod em dar nem a fa la do poet a, nem o
1963; Kirby, 1965, 1969 ; Brecht, 1967, vol. ges to do ator" (Ma nifesto da Cenografia Futu -
di ver sos siste mas sign ifica ntes, conside rando-se
15: 285-305 (trad . fr. Th éâtre Populairc n. 50, 1963); rista, 1915 ); trat a-se de enco ntrar a "ex pressão
que a re present ação es tá sem pre em prog resso ou
Kostelanetz, 1968; Veinstei n, 1968; Madral, 1969; luminosa qu e irrad iar á co m toda a sua potên ci a
em desequilíbrio : é o processo de significação e Roose-Evans , 19 71 ; A nio li, 19 72 ; Lista, 19 73: T EATRO MATERIALISTA
de vetorização qu e importa mais que a ·identifi- e mo tiva as cores exig idas pel a aç ão te atral " .
Cor vin, 1973; Ba no lucci, 19 77 ; Béh ar , 1978;
MARINETTI põe em ce na em Vengollo um drama
cação dos sig nos iso lados. M uitas vezes o teatro Grimm, 1982; Raison Présente , 1982; Banu, 1984; :-'+ Fr. : th éãtre m a t érial ist e ; Ingl. : mat eriali st
ex peri me nta com base nas relações entre os ma- Javier, 1984; Berg e Risc hb ieter, 1985; Thornsen, 't..: theatre ; AI.: M a tcrial istisches Theater; Es p.: de o bje tos co m o ito c ade iras e um ca na pé . Co m
teri ais, so m e im agem princi palm ente para H. 1985; Mignon, 1986; Rokcm, 1986; Finter, 1990. teatro mat erialista . se u Balé Triádico ( 1922), Os kar SCHLEMMER

390 39 1
TEATRO M f NtM O T EATRO POPULA I

esconde os atores debaixo de cenários-fi gurinos O gê ne ro se constitui verd adeiram ent e nos anos muitas veze s consid erado " poético", e é adapta- Tornando-se política no se ntido e timo lóg ico
qu e dão a impressão de se mo ver co m a precisã o c inq üe nta , qu and o co mpos ito res co mo KAGEL, d o e e nce nado (ex .: O S apa to de Ce tim , de do termo , conco rda r-se-á qu e tod o te at ro é ne-
de um mecani smo, e MOHOLY-NAGY im agina um SCHNEBEL ou STOCKHAUSEN concebem se us C LAUDEL). A ten dên ci a conte mporâ nea é re pre- cessa ria me nte político , vis to q ue e le in se re os
exc êntrico mec ãnico , enq ua nto Fernand LÉGER co nce rtos co mo represent ações te atrai s, e não se nta r tod o tipo de te xt os , in clusi ve aq ue les q ue prot agon ist as na cida de o u no g ru po. A ex pres-
cria um balé mecâni co. Os o bjetos co loc :Wru: em co mo reali zaçõe s de uma partitura o u de um pa ssam por irrepresentáv ei s . A noção de teatro são desi gna, de maneira mai s pr eci sa , o teat ro
movimento às veze s são pinturas - assim KAN- libreto de ó pe ra . A teatralidade da produção vo- num a poltrona é, portanto , rel ativa, e não existe de agit-prop ", o teatro popula r>, o teatro ép i-
DlNSKY co m seus Qua dros de /Imo Exposição ca lou mu sical é acentuada por G. APERGHI S: em c rité rio algum par a decidir de ve z sobre o ca rá- co* br echti an o e pós-brechti an o , o teat ro doeu -
(I 928) - ou esc ulturas mó veis - assim CALDERe Enu mera ç ões, os intérpretes, tant o ca ntores, ato- ter lit er ári o ou cênico " de uma o bra . me ntário"; o teatro de massa *, o teat ro de poli -
se u lVork ill Progress ( 1968). O fascínio da gente res , mú sicos quanto sonopl ast as e co me diantes, rico -terap ia de BOAL ( 1977) . Est e s gê neros têm
de teatro pcla mec âni ca cê nic a di z respeito, tal - produzem ruído por atrit o de o bjetos ou de mate- Dramático e épico, leitu ra, text o e cena, texto por c arac te rís ticas comun s urna vont ad e de fa-
vez, ao tabu da presença vi va qu e ele s têm prazer riai s co tid ianos, variando o ritmo e provocando a dram ático, teatro do cum ent ári o. ze r com que triunfe uma teoria, um a cren ça so-
e m romper, co mo qu e para m elh or afirmar sua e me rgê nc ia da voz e do text o. M ei o co m j eit o de cial, um proj et o filosófi co . A es té tica é e ntão su-
habilidade técni ca. brincadeira, eles recuper am mu si c almente tod a W Hogendoorn, 1973, 1976. bord in ad a ao co mba te pol íti co até o ponto de
um a amb iê nc ia física e visual. O atrito é, às vezes d is sol ver a fo rma teatral no deb at e de idéias.
(assim e m H. GOEBBELS, e m 0 /1 Bi en le D ébar -
TEATRO MÍNIMO queme nt D ésastreux (1993 » , entre culturas e tra - TEATRO POBRE W Piscator, 1929; Fiebach, 1975 ; Miller, 1977 ;
di ções diametralmente o pos tas : a mú si ca ocid en- Braun cck , 1982; Abir ach ed , 1992.
e Fr.: thé ãtre mi nimal; Ingl.: minimalist theat re ; tal e letroacús tica o u de rock se atrit á co m a kor a e
a voz c anta da africana. O teat ro mu si cal é um
Fr.: th éãtre pauvre ; Ingl. : po o r theatre; AI.: ar-
mes Theater; Esp .: teat ro pobre.
AI.: Minimaltheater: Esp.: teatro mínimo.
va sto canteiro de obras onde se ex peri mentam e TEATRO POPULAR
se testam todas as relações imagináveis e ntre os
Como as arte s plá sticas minimalistas, o tea-
tro, e m sua escritura e e nce nação, pro cura às
vezes reduzir ao máxim o se us e fe itos, suas re -
mat eriai s da s arte s cênicas e mu sicai s.
Termo forj ado por GROTOWSKI (1971) para
qualificar seu es tilo de e nce nação ba sead o numa
ex tre ma ec on omi a de recursos cê nicos (cená rios,
e Fr.: th éãtre populaire; Ingl.: popul ar theatre;
AI. : Volkstheater; Esp.: tea tro po p ular:
pr esentações, sua s ações, como se o esse ncia l acessórios , figurinos) e preen ch endo esse vazio
re sidi sse naquilo qu e não é dito *, seja e le indi- TEATRO NUMA POLTRONA por uma grande int en sidade de atu ação e um 1. A noção de teatro popul ar, in vocad a hoj e co m
zíve l ont ologicament e (BECKETT), informulável aprofundament o da relação at or/esp ect ad or. " O tanta freqüênci a, é uma categoria mai s soc io ló-
pela per sonagem ali enada (teatro do cotidiano ) ~ Fr.: thé âtre dons un fa uteuil: Ingl. : c loset dra - es petá culo é co ns tru ído e m cima do princípio da gica qu e es té tic a. A soc io log ia da cu ltu ra d efine
o u esc rito/mos trado na mont agem , no interval o , "'t.: ma; AI.: Lesedrama, Buchd rama ; Esp. : teatro es trita autarci a. A norma ge ra l é a seg uinte: é proi- assi m um a art e que se d irige e/ou pro vém das
no silênc io, no não-dit o (VINAVER e se u tea tro pa ra leer. bido introduzir na representação o qu e quer qu e ca ma das popul ares. A ambig üida de es tá e m se u
de câmara). O teatro m ínimo é influenciado pel a sej a qu e não esteja nel a desd e o início. U m ce rto auge quando nos pergunt am os se se tr at a de um
Mi n ímal Dan ce (C UN NING HAM, RAI NER, Texto dramático qu e não é, pel o men os em sua número de pessoa s e de objetos reunidos no tea - teatro origin ário do povo o u d estinad o ao povo .
MONK, CHILDS). con cep ção de ori gem, dest in ad o a se r representa- tro. El es devem bastar para reali zar qualquer si- E, aliás, qu e é o povo, e, com o perguntava BRECHT,
do, e sim a se r lido. A razão m ais freq üent em ent e tu ação da rep resent ação. El es c ria m a plást ica, o o povo a inda é popul ar?
invocada para esse tipo de peça é a e norme d ifi- so m, o tempo e o espaço" ( 197 1: 266). O m ais si mp les, par a desenrol ar a meada, é
TEATRO M USICAL culda de de um a ence nação (ta ma nho d o texto, Es ta tend ênci a à pob rez a é muito marcad a na det erminar a qu e noções aque la de teat ro popul ar
g rande número de per sonagen s. mudan ça s Ire- encenação co nte m po râ ne a (P. BROOK ( 1968), se opõe ,já qu e é verdade que o termo tem um uso
e Fr.: th éàtre mus ical ; Ingl.: mu sical theat rc; AI.:
Musikthc ater: Esp .: teat ro mu sical .
q üent es d e ce nário, difi culdade poética e fil osó-
fica dos mon ólogos etc. ). As peças só são lid as
Th éâtre de I' Aqu arium, BARB A, L ivin g Th eatr e),
por razõe s mais es té ticas qu e econô micas . O es-
pol êmico e di scriminatóri o:
- o teat ro e litista, erud ito , o dos do utos qu e d i-
po r um g ru po o u indi vidu alm ent e , o qu e de ve pe tác ulo se o rga niza inte ira me nte e m to rno de tam as reg ras ;
Es ta form a co nte mporâ ne a (a se r di stinta da permitir uma maior ate nção par a as bel ezas lite- alg uns signos básicos , g raças ao gestua l que faz - o te atro lit erári o qu e se ba se ia num te xt o
o pe reta ou da co méd ia mu sical ) se esforça para rárias desse " poema dramáti co" . Hoj e, co ns ide- muito rapidam ent e, au xiliado por a lgumas co n- in al ien ável ;
fazer co m que se enco ntrem text o, mú sica e ence- ra-se ao contrário, segundo a fórmula de VITEZ, ve nções, o quadro da atuaç ão e da carac teriz ação - o teatro de co rte cujo rep ert óri o se diri ge, no
nação visua l, se m integrá-los, fundi -los o u reduzi- qu e se pod e " faze r teat ro de tud o" . d a per son agem . A re presentação tende a e limina r sécu lo XVII, por exemp lo, aos a ltos fun cion á-
los a um den om inad or com um (como a ópera O primeiro aut or de um " teatro para ler" as- tu do o qu e não é es trita me nte neces sário ; e la não rios , aos not ávei s, às e lites aris tocrática s e fi-
wagne ria na) e se m di stanci á-l os un s dos outros si m foi SÊNECA . Ma s é prin c ip al m e nt e no séc u- m ai s a pe la se não ao pod er sugestivo do texto e à nan cei ra s ;
(como as ó peras did áti cas de Kurt WEILL e B. lo XIX qu e esse gên ero flore sce : o Esp et áculo pr esen ça inalien ável do co rpo. - o teat ro burgu ês (bouleva rd, ó pe ra. se to r de rea-
BRECHT). 11/111I 0 Poltrona de MUSS ET ( 1832); pe ça s de tro pri vad o, do mel odram a e do gê nero sério );
As pri meir as experiê nc ias d o teatro musical SHELLEY: Os Cenci (I 8 19), Prom et eu Libe rta - - o teat ro it al ian o, de arq uitetura hier arqui zada e
ocorreram co m ó peras de bol so , co mo A Hist âria do ( 1820); de BYRON: Manfred ( 18 17) . In úm e- T EATRO POLÍTICO imut ável q ue situa o púb lico à d istân ci a :
do Soldado. de STRAVINSKI e RAMUZ ( 1918),
e
ros d ram as ro mâ nticos são demasi ad o im po ne n- - o teat ro pol ítico qu e, mesm o se m se r vin cul ad o
o u as ó peras did átic as de BRECIIT (Ma hagony. tes para se re m levad os à ce na (T IEC K, HUGO, Fr.: th éãtre politiq ue ; Ingl. : pol iti cal thcatre; a um a id eol ogi a ou um partido, visa transmitir
Aq uele que diz Sim. Aquele que di z Não, 1930 ). MUSSET , GRABBE). Em nosso s di as , o drama é AI.: polit isch es Theate r; Es p.: teat ro politico. um a men sagem políti ca preci sa e unív oca.

392 393
T E ATR O T O T A L TEATRO TOTA

2. Diant e d e todos esses duplos, o teat ro popu- favor ecer a criativid ade das força s popul ares. A 2. Princíp ios Fundadores instante - o teatr o e nc ontre sua unidade" ( lVorld
lar tem muita difi cu ldade em encontrar sua pró- popu laridade não pro va mai s grande co isa nes- Theat re, 1965: 543 ).
pria ident idade. Se e le se mpre exi stiu ao lado do ses te mpos da mí di a. a . Constru ir " lite ra lm en te e em to d o s o s
teatro lite rário (co mo, por exe mplo, a COl/lme-
dia dell 'arte " ao lado da comm edia erudita) , so- m Rolland, 1903; T h. Mann, 1908;Cope au, 1959;
sentidos " (RIMBAUD)
Li vre da co m pu lsã o da ação literária, o te at ro
d . Ultrapassar a s epara ção p lac a -p latéia e
p artici p a r rit ua lm ente
men te no final do século XIX e le tent a instituc io- Brecht, 1967; Vilar, 1975; vertambém a revis-
nal izar-se: assim a Fre ie Volksbühne e m Berli m ta Thé ãtre Populaire (1954- 1964) . tot al ex plo ra todas as di mensões das artes cê ni- Uma das intençõe s do teatro total é reencon-
( 1889), o Teatro do Po vo de Maurice POTTECHER ca s, não lim ita o te xto a u m sent ido ex plic ita - trar uma unid ade co nsid era da perd ida que é a da
em Bussa ng, o Vol ksth eat er de Viena, os esfor- me nte posto e m ce na e, s im, multip lica as in ter - festa, do rito ou do cu lto. A exigê ncia de totali da -
ços de Ro ma in ROLLAND e de seu ensa io O Tea- T EATRO TO TA L pre tações possí vei s e dei xa a cada s iste ma s ua de escapa ao plano es té tico: e la se aplica à rece p-
pró pri a ini ci ati va para pro longa r o se ntido ime- ção e à ação ex erci da sobre o públi co. Visa fazer
e
tro do Po vo ( 1903) e suas peças: Danton, le 14
Juillet. Na Franç a, o proje to popul ar ressurge Fr.i th éât re to ta l; Ingl. : tota l theat re ; AI.: diat o d a fábu la. com que todos os ind ivídu os participe m.
após a Seg und a Gu er ra Mund ial, so b o impu lso Totaltheat er ; Esp.: teat ro total.
dos alto s fun c ionários da eultura como Jeann e b. In s e rir o gesto o rig in a l e d efin it i vo e. Reencon trar um a to talid ad e so cial
LAURENT ou de e nce nado res co mo Jean VILAR Representação q ue visa u sar todos os recur- Sendo o ator ge ralme nte con side rado mat e- É preciso obse rv ar q ue mesm o o teatro épico
e Roge r PLANCHON, bem co mo dos teóri cos reu- sos art ístico s disp onívei s par a produ zir um es- rial bási co , o teat ro tot al atribui g ra nde impor- de um PISCATOR o u de um I3RECHT reivindi c a
nid os e m to rno d a re vista Th éãtre Pop ulaire pet ácul o que ape le a tod os os sentidos e qu e c rie tân cia à ges tua lida de. A lém de seu caráter de hie- um a participação do públ ico no acontecimen to .
( 1953- 1964) . Os c riad ores estão e m bu sca de um ass im a impressão de totalidade e de um a riqu eza PISCATOR foi me s mo um dos pri meiros a e mpre -
róglifo , e le inse re a re lação do hom em co m os
es tilo, de um públi co e de um repert ór io acess í- de significações qu e subj ug ue o público . Todo s gar, co m W. GROPIUS, a expressão Total theat e r,
outro s, co m se u (Jarcei ro, com se u me io (g esll/ s *
1............................""'.,v"el 1i gran(Je maioria. 1'\ nem lia verllall e, tal pu - os recursos técni cos (do s gê neros exi stentes e vin- que ele traauz por teatro aa totalidalie e não tea-
brechti ano ). As a titudes" qu e resultam de ssas
bli co po pular co m pree nde apenas po ucos o pe- dou ros), em part icul ar os recursos mod ern os da tro total, reser vad o par a u m "conceito dram áti -
trocas gestuais dão a c have de tod o o unive rso
rári os ou ca mpo neses; e le se rec ruta, sobretudo , maquin ar ia, dos palco s mó vei s e da tecn ologi a co-estético , uma id éia, bastant e vaga , de libert a-
dr am ático : "As pal avras não di ze m tud o. A ve r-
entre a peq uen a bu rguesia intelectu al, e xec ut i- audiovi sual, estão à di sp o sição desse teat ro. Os ção do co nj unto d a s a rtes figurativa s" , lVorld
dad eira re laçã o e ntre as pessoas é deter m inada
vos, profe ssores. a rquitetos da Ba u ha us re ali zar am se u esboço Theatre, 196 5: 5) . Tea tro da totalidad e é para e le
mais compl eto: " O teat ro tot al deve se r um a cri a- pe los ges tos , pel as atitudes, pelo silênc io (... ] A s
Existe um rep ert óri o po pular? As peças re - sinônimo de teat ro é pico , " isto é, um teatro de
ção artística, um co nj unto o rgã nico de fe ixes de pa lavras se d iri gem ao ou vido, à p lá stica , ao
presentadas pelos aldeões, os caneva s nos qu ai s análise qu ase cient ífica, de obj etividad e c rítica .
relações entre lu z, es pa ço, su perfície, mov im en- olho . Dest a man ei ra , a im agin ação trabal h a so b
se inspiravam os artes ãos da Commedia dell 'a rte Não mais se e xpunha m sobre o palco co nflitos
to, som e ser human o , co m tod as as possi bilid a- o im pa cto de d ua s im pressões, uma visua l e o u-
não co nstitue m um repert ório qu e se co nserv o u pessoais, não se es m iuçavam mais sentime ntos,
des de va riaçõ es e d e co m binações des ses d i- tra a ud itiva. E o qu e d istingue o anti go teatro do
até nosso s di as. No século XX, os gra ndes tex - mas se apr ese ntav a m , cru ame nte e se m pano s
ve rso s e le me nto s" (S CIl LEMMER, c ita do in novo é qu e , nes te ú lti mo , a plástica e as pal a vras
tos clá ss icos é qu e são encarreg ados de reun ir o quentes, proce sso s soc iais. Pedia-se ao pú bli co
!vl0 HOLY-NAGY, 192 5 ). são sub me tidas cada uma a se u própri o ri tm o , e
púb lico, como se essas peças falassem direta- que tumasse po sição e não mais que usufr uísse
se di vorci am , mes mo, havend o opo rt un ida de"
mente à grande maiori a: a ambigüi dade é gran- do espetácu lo . O teat ro nã o mais se co nte ntava
de, poi s pode -se também , co m SARTRE, por 1. Realizações e Projetos (MEIERllüLD, 1973, vo l. I: 2 17).
em captar fragm ent os de rea lidad e, e le a queria
exe mp lo, ver no tea tro de repert ório um tea tro total. [...] "Te atro d a to ta lidade" é um a co nstru-
pop ular trad ic ion al e um fato cultural burg uê s O teatro tot al é mais um ideal es tético, um c. Orq u estra r o espetácu lo p ara a
ção "totalme nte" co nceb ida pe lo j ogo teatral, na
(SARTRE, 1973: 69- 80 ). proj eto futurista, que um a reali zação concreta encenação
qu al o espec tado r, ce ntro espa cial, é ce rcado po r
Recen tem e nte, o teatro popul ar não pare ce da história do teat ro. Ce rtas formas dr am áti c as Tod o te atro to tal im p lica um a co nsc iê nc ia um palco tota l, é " to ta lme nte" co nfro ntado co m
ser mais um a una nimidade entre a ge nte de tea- figuram um es boço de le: o teat ro greg o, os mis- un ifican te ou, pe lo menos, organizadora. Da e n- e la. A simu ltane idade dos aco ntecimentos histó -
tro: VITEZ fa la de um teatro "de e lite para to - térios med ie va is e as peça s bar rocas de gra nde ce nação de pende a imp ressão de g loba lidade ou ricos, a sincro nização d a " ação" e da " reação "
dos" e "o públi co pop ular, é simples me nte isso : es petáculo. Mas é sobretudo a partir de WAGNER de frag me ntação. As sim, qu ando J.-L. I3 ARRAULT soc iais e polí ticas pod e m, neste palco, neste co n-
o públi co ... e m ex pansão - não necessari ame n- e de seu Ges amtkunstwe rk" qu e essa es té tic a e nce na o C h ri s to p h e Co lo m b d e CLAUDE L ju nto de palc os, se re m rep resent adas ao mes mo
te mu ito popular" (Lo isir, no vembro 1967, p. toma corpo na real idade e no im aginár io do tea- ( 1953): "O po nto ma is precioso na montagem de tem po. "Teatro tot al ", e m co ntrapa rtida, design a
17). Fala-se muito mais em teatro inter cultu ral tro. Ela ates ta o desej o de tratar o teat ro em s i e um a ob ra teatra l consiste portanto e m e nco ntrar o apenas a passagem con st ante de um gê ne ro d e
(I3 ROOK) ou e m teat ro de participação * (BOAL), não co mo subprod uto literá rio. " O qu e quere - me io de e levar su fic ienteme nte o nível do es pe- j ogo, de uma forma de ex pressão a outra, po s-
de volta às tradiçõe s teatrai s tCommedia dell 'or- mos é romper co m o teat ro co nside rado co mo táculo (ce nár ios, acessórios, luzes, so ns, mú sica) tuland o qu e os don s e a fo rmação do intérpre te
te, Nô etc .) ou, numa outra orde m de idéias, do gê nero d istinto, e trazer novam en te à luz aq ue la para q ue este não se co nte nte co m se u pa pe l se- perm item rea lizar a passa gem co m feli cidade .
teatro de bou levard , de progra mas de televisão , velha idéi a, no fu ndo jama is rea lizad a, do espe- cundá rio do ' q uadro ' ou mistura das artes, mas Dentro desta ac e pç ão , o teatro total é, por tanto, a
como o m uito " po pular" Ali Th éãt re ce Soir, ou tácu lo integ ral . Se m qu e, é claro, o teatro se co nsiga hu man izar, a tal pon to qu e faça de ce rto fusão perfeit am ent e ho mogê nea de todas as artes
da cultura pop o u dos mass-media (te levisão e co nfunda em mom ento a lg um com a m úsica, a modo part e da ação e par a trazer sua co ta da mes- figurati vas (o qu e le m bra irresistivelmen te a "ob ra
vídeo , principalm ent e ). Esta cu ltura de mass a pantomima ou a dança , nem , so bretudo, co m a li- ma manei ra que o ho mem; em suma, qu e e le co n- de arte total" de Richard WAGNER) (...] o pretenso
talvez tenh a to rnado vã qualquer es perança de teratur a" (ARTAUD, 1964a : 149). s iga se rv ir o te at ro em sua totalidad e - e naqu e le teatro tota l, enquanto teat ro eclé tico, não produ z

394 395
TEATROLOG IA TE LEV ISÃC

quase mais do que uma totalidade de aparênci as. tad a , o u pel o menos acompanh ad a. por uma A lguns casos de teicoscopi a: SHAKESPEARE sim. naturalm ente. suas unid ades. E ntre ta nto. a
E le se ence na para si mesm o. É um teatro for- etnoceno logia *. (1rí/io Césa r). KLEIST ( Pe ntesil éia), GOET HE televi são não so ube tirar vant agem deste im edia-
mali sta " (I\'orld Theatre, 1966: 5-7 ). (G õt; von Berlichin gen ), SCIIILLER (Ma ria tism o ; pre valeceu uma preocupação com perfei -
Em tudo isto que precede, cumpre de fato le- m Ingarden, 1931; Z:ch, 1931; Steinbec k. 1970; Stuart, Die Jungfrau von Or/ éan s), BEAUMAR- ção. co m segura nça , com performance acabada.
var em co nta o projeto e as realizações. O tom , Kl ünd er, 1971; Knud sen, 1971 ; Sl awll1ska. CHAIS. GRAUBE (Napo /éo n), BRECHT (Ca /i/ell), É verdad e qu e a falh a técni ca . se m pre int cre s-
muitas vezes profético e do gmáti co da s diversas 1979, 1985; Klier. 1981. GIRAUDOUX (Elec tra. La Guerrc de Troie n'Aura sa nte no teatro, significa na televi são o branco
definições, lembra-nos que há muit as estéticas do pas Li ell ). int egral e o fim da co municação. Atu alment e. a
teatro, e. mais aind a. concepções da totalidade rodagem de peça s ou de film es não é mai s feit a
do real a represent ar. No fund o. o teatro total não TEATRO-NARRATIVA lí.1 Mensagem. narrativa. dr amático e épico. ao vivo , mas prep arad a em es túdio e e m ex ternas
é outra co isa senão o teatro por excel ência. co m base no mod elo fom ecido pelo film e. A tele-
Forma de texto elou encen aç ão qu e usa mat e- visão se afasta cada vez mais do modo de produ-
as Niet zsche. 1872; Appia, 1895; Craig, 19 11; riai s narrati vos não-dramáticos (ro mances, poe - TELEVISÃO (E TEATRO) ção teatral. para aproximar-se do trabalho cinema-
Moholy-Na gy, 1925; Piscator, 1929; Barrault , mas, textos diversos) não estruturando-o s e m fun- tográfi co . O teatro televisado só existe ainda e m
1959; Kestin g, 1965; lVor/d Theatre, 1965. 1966; ção de personagens ou de situ ações dr am áti ca s. ~ Fr.: t élévision (et th éâtrc ); Ingl. : Tel evisi on and programas co mo Ali Thé ãtre ce Soi r, o u Emme -
Bõll ,1971. O teatro-narrativa acentua o papel de narr ad or do theatre; AI.: Fern sehen un d Th eat er; Esp.: nezm oi ali Th éãtre; trata- se , pel o regi st ro públi-
ator , ev ita ndo qualquer identificação co m um a tel evisi ôn)' tea tro. co (faça-se e le ou não ao vivo). de d ar ao públi co
person agem e es timulando a multiplicaç ão das de televisão a ilusão de que e le es tá ind o realm en-
TEATROLOGIA vozes narrativas (Martin Eden pelo Théâtr e de la o teatro representa, na tele visão , um papel qu e te ao teat ro. de que enco ntra aí tod os os ingredi cn-
Salam andre, Cath erin e, a partir de Le s Cloches não de ve ser negli gen ciado . Tod o um público só te fanta siosos (cortina vermelha, campainha, trê = s ~ _ _~
{J- Fr.: th éãtro íogie ; Ingl.: theat re 'stúdiês; AI.: de Bâ/e de ARAGON. por VITEZ). verá teatro sob a forma de um a ret rans missão. de ba tidas. ap lau so s. estrelas conhecidíssimas do
Thea terwis sens chaft; Esp.: tea trolo gia. uma gra vação ou de um te leteatro. A produção teatrão . es pectado res deixando a sa la). Como an-
LJ::l B. Martin, 1993. teatral é. atualme nte , muitas vez es guardada sob tigament e pa ra a transmi ssão ao vivo. e fetuada
Estudo do teatro e m toda s as sua s manifest a- a forma de um vídeo gravado. Port ant o. é capital e m es túd io. a técn ica dos plan os é ba stante s u-
çõ es e se m exclusividade metodológic a. Este ter- re fle tir sohre as relações destas du as artes e so- mári a: a lg umas câ me ras di spostas front alm ent e
mo. de uso recent e e relativament e reduzido, cor- TEICOSCOPIA bre as transform ações sofridas pelo e vento tea- a parti r da sa la. e m ge ral; du as câ me ras pesad as
resp ond e ao do alem ão Theat erwissen schaft ou tral . qua ndo tran sform ad o e m pro gr ama de TV. para os plan os próximos, um a câ me ra le ve so b re
"c iência do teatro ". Mais do que a exigência de ~ (Do grego teicho skopia , visão através da pa- grua para os plan os de co nj unto c os movim ent os.
cientificidade, o que é determinante é a gleb a- rcd e.) I . A Telev isão como Novo Meio de O repert óri o desses programas é o do pior teatr ão ;
lidade e a autonomia desta disci plina. mas tam- FI.: teicho scopi e; Ingl.: teichoscopia, teisc hoscop v;
AI.: Tei ch oskopie, Mauerschau ; Esp.: tei choscopia.
Comunicação às vezes se es colhem clássicos "comprovados" .
bém sua confiança universalista completamente muit o raram ente peças contem porâneas; para a en-
oc identa l. Seu surgime nto coincide com a eman o A televisão multipl ica facilment c por dez mil . ce nação. co nvé m a maior prud ênci a. Na França .
cipação do teatro do " reinado" liter ário. o adven- O termo é e m pregado para descre ver um a ce na
numa noite, o púb lico médi o de um a peça. Um dife rente me nte da Grã-Bretanha, por exemp lo, os
to da ence nação e da refl ex ão dos ence nadores de HOMERO (f líad a, 3, 121 a 244), na qual Hele-
re pert ório. clássico na maior ia das vezes, ach a-se autores de teatro raramente são cha ma dos pela te-
na descrev e a Príam o os heróis gregos qu e só e la
sobre as relações do teatro co m as outras práticas ass im co nstituído. no es paço de al gun s anos. para le visão para escreve r roteiro s origina is.
e nxe rga .
cu lturais. A Theaterwi ssen schaft é uma discipli - u ma aud iência co nside ráve l: o teat ro é igu alm en -
Recurso dramatúrgico para le var uma per so-
na "sócio-a ntropológica" que tem por objeto um tc o o bje to de es pec iais ou de rep ort agen s sobre 2. Te atr o e Televi são: o C hoque da s
nagem a de screver o qu e se pa ssa no s ba stido-
relação socia l preci sa: "Q uando num quadro es- os es pe táculos em car taz . Supõe-se qu e os trc-
res, no me smo instant e em qu e o ob servador faz Esp ecificidades
paço -temporal determinado ocorre uma interação c hos filmad os dêem um a a mos trage m de encen a-
o relato di ss o (fora de ce na*) . Evita-se ass im
simbó lica recíproca e ntre atores e público que se ção teatral.
rep resentar ações violentas ou inconveni ent es, a. A si tuação d e recepção
ba seia na produção e na recepção de açõ es si- dando ao es pec tado r a ilusão de qu e e las se pas- A escolha dos es petác ulos c sua ap resentação
muladas e que evolu i num conj unto signifi cati- é se m dúvida tribut ári a das co nd ições de produ - A te linha, no coração da casa. é o ponto de atra-
sa m re alment e e qu e ele ass iste a e las através de
vo ligad o a Uma certa prática cultural, o teatro ção. Até o fina l dos anos ci nqüe nta. não se pod ia ção c o cordão umbilical qu e liga a algu ém nal-
lim a pessoa int erp osta. Sem elh ant e à rep ortagem
se con stitui co mo uma manifestaç ão soc ial e co nse rva r as imagen s e devi a-se, port ant o. trans- gum lugar quc mal situamos. São possíveis inte r.
radi ofôni c a (de um a co mpe tição es po rtiva. por
estética es pecífica" (PAUL. in KLlER. 1981: 239). mit i-Ias ao vivo, na maioria das vezes em est ú- rup ções vo luntárias ou involuntárias do progr ama .
exe m p lo). a tei co scopi a é lima técni ca é p ica : e la
A teatrol ogia engloba toda s as pesquisas da di o , co m tod as as incert eza s ligad as ao teatro vivo e o tclespcctador, so licitado por inúme ros outros
renun cia ao su porte visua l, e nfoc ando o c nun-
dramaturgi a e da cen ografia, da en cena çã o, das às quai s se acresce ntavam os acasos da técni ca. pro gr am as, é um ser fundam cntalment e instável .
ciado r c arrumando uma tensão talv ez ainda mai s
técnicas do ator. Com o a se miolog ia» , ela coor- viva do qu e se o acont ecim ent o fo sse vi sível. Exceto o aparelh o de tran smi ssão c a recepção dond e a necessid ade. para retê-lo e interessá-lo.
den a d iferent es co nheci me ntos e retl ete sobre as El a ampli a o es paço cênico. põe e m rel ação di - e m ca sa . o teatro televisado mantinh a um caráter de um espetác ulo muito mais nervoso qu e aque le
co nd ições epistemo lóg icas dos es tudos teatrais. ver sas ce nas, o qu e reforça a ver acid ad e do lo- esse ncial de sua essê nc ia: sua fragi lida de e sua da versão cê nica. qu e dura três hor as c mais. A e n-
El a se aplica. antes de tud o. à trad ição teatr al do ca i propri am ent c visíve l a partir d o qu al se efe- incodificabilidade eve ntua l. O s c lássicos. re pre- cenação do telefihn e nunca deverá (deveria), por-
te atro literári o e deveria. port ant o, se r com ple- tua a rep ort agem. se ntados então com freqüênc ia, e nco ntravam as- tan to, provocar tédio ou perder sua força narrativa.

396 397
T EM ,
T EL E VI S Ã O

b. Media ções entre produtores e recept ores sideradas as pequ en as dim en sões da tela. Daí um a cas oMuitos d oses e m co r podem revel ar as im - Os tem as sã o os e le me ntos do co nteúdo (as
es tilização, uma abs traçã o dos e leme ntos do ce- perfeições e pidé rm icas deles. O ator , co mo os idéias fortes, as imagen s, os leitmotive", é aquilo
Elas são inúmeras: medi ações tecnológicas, mas
também interferências e transformações semióticas nário e dos figu rin os, um tratament o sistem áti co outros e leme ntos do film e e da tela , não é se não de qu e se fala). Ma s co mo se fala dele? Os moti-
do sentido nas etapas do j ogo dos atores no palco do espaço . A mini aturi zação da ima gem prov oca um e leme nto int egrado e submetido ao disp ositi- I'Os* são co nce itos ab str atos e univ ersais (o mo -
do teatro, depois no es túdio, depois no enqua- um a importância mai or d a band a so nora. vo indu stri al e sig nificante dos ence nadores . D aí tivo da traição), ao passo qu e os tem as são mot i-
dramento e na monta gem do filme ou do vídeo um a ce rta " descorpo ralizaç ão": o ator só ex iste vos co ncretizados e individuali zados (o tem a da
rodados co m base no trabalho deles, finalmente b. Som e m sua frag ment ação, em sua metoními a, e m sua traição de Fedra para co m seu marid o). Os tem as
na adaptação e na mini aturi zação para a telinh a. int egração ao di scurso fílmi co. são pertinent es a partir do mom ento que são or-
Por sua qu alid ad e e pro ximidade , garante o
ganizados num a es tru tura, seja co mo "rede orga -
maior e feito de real. A palavra passa muito bem
c. Anulação da teatralidade g. Fábula e tem ática nizada de obsessões" (BARTHES), "princípio co n-
para a televi são, muitas ve zes melh or que no tea-
creto de organi zação" e " co nstelação de palavras,
O ence nado r tele visi vo de um espet ácul o tea- tro, pois pode ser modul ada, tran smitida e m voz S ão va riáveis , se m dú vida , mas referem -se na
idéias, co nce itos" (RICHARD), " arquétipo invo-
tral preexi stent e ou de telet eatro pode escolher seja ofI. harm onizada co m a s ituaçã o e a imagem: a mai or part e do tempo à realid ade soc ial, ao j or -
anular as manifesta ções mais evidentes e cêni cas luntário" (DELEUZE), " mito pessoal obseca nte"
"des lccalização" do so m na ima gem é muit o me- nali sm o, a ass untos da vida co rrente . Tal mat é -
da teatralidade buscand o "efeitos-cinem a" , natu- (MAURON, 1963), "imagem ob sessiva traum áti -
nos sensível qu e na tela gra nde . Muitas vezes a ria nar rati va pre st a-se à nov el a ou ao se riado ;
ralizando a atu ação e os cenários, sej a afixa r de ca" (WEBER). Esta noção de tema, apesar de su a
televi são não passa de um rádi o visual: nós o ou- herd eira d a lit eratura trivial de folh etim e do me-
maneira osten siva es ta teatral idade, ressalt á-Ia util idade pedag ógi c a ev ide nte, é dificilment e
vimo s de maneira ao mesm o tempo privad a e dis- lodram a, o tel et eatro gos ta de histórias co m re-
através de um ce ná rio ab strato, uma dic ção muit o manejável na an áli se dramática, pois pre ssup õe
traída , com o um a voz próxima e co nvincente, cuj a ce itas co m p rov adas, her ói s infeli zes, d estinos
cantada, como se a câ me ra efetuasse uma repor- qu e prim eiro sej a feit o o aco rdo sobre a natur eza
imagem não é se não a co nfirmaç ão da autenti ci- não-lin eare s. N a tel evis ão, o teatr o é co ns u mido
tagem sobre os es paços teatrai s. e o núm ero de temas de urn a obra, o qu e rara-
dade vocal. da mesma maneira qu e as informações, a meteo -
mente é o caso. Ou então, falar de ternas genéri-
rolo gia ou a publicidaa e. As informações assu-
d. Princípios da transposição do teatro cos acaba se ndo uma ati vidade superficial e gra-
c. Cenári os mem ass im a col oração de um show es petac ular,
para a tel evis ão tuita. Cada intérprete ra streia no texto e na cena
co m sang ue, m ort es ou ca sam ent os par ecid os aos
Percebem os apenas fragm ent os dele s por trás urna infinidade de temas, ma s o imp ortante é
Ao passo qu e , no teatro, o própri o espectador de um mel odrama o u de uma opereta; in versa-
dos atores, exceto quando, para insi stir num de- orga nizá- los hierarqui cam ente e destacar sua re-
faz sua triagem nos signos da repre senta çã o, na ment e , a ficç ão tel evisiva nun ca aba ndo na um
talh e ou caracteriza r uma atmosfera, a câmera fixa sultante ou a hierarqui a deles.
televi são (como no c ine ma), uma crítica do senti- fund o de reali sm o e de coi sa do co tid iano; e la se
do j á foi efetuada par a ele no enquadramento, na um dos e ou organiza um a panorâmica. De tant o
presta melhor a um rep ert ório naturali sta e a urn a
montagem, nos movimentos de câm era. Para um as cenas serem rodadas prin cipalmente em es tú-
es tética dos efeitos do real. 2. Dimen são do Tem a
programa a partir de uma encena ção teatral , isto dio (na Fran ça, até ce rca de 1965 ), os cen ários
implica qu e a ence naç ão fílmica tem a "ú ltima reconstituíd os em es túd io ficaram pró ximo s ao É qu ase impossí vel d escrever toda s as formas
h. En cen ação
palavra" para dar sentido ao espetáculo. O obje to da estilização teatral ; em seg uida, a grava ção em sob as quai s um tema é rcvel ável , pois esta noção
externas forn eceu um quadro próximo ao cin e- Para a tel e vi são , ela result a do s elem entos pre- fica dissol vida no conjunto do text o dram ático (e
teatral mais compacto e acabado vê-se se mpre
desconstruído e recon struído no discur so fílm ico ma, e o e feito de real se im pôs, em detrim ent o d a ce de ntes ; é a vas ta cad ei a de junç ão o nde o mesmo da ence nação, qu e também cria imagen s
qu and o da roda gem e d a montagem e no discur so clareza e da es tilização. enquadrame nto e sc q üc nc ializa ção deve finalm en- ou tem as recor rent es). Isolar um terna, isto é, um
televi sivo (miniaturiz ação, recepção parti cul a r te hierarqui zar e cor rel aci on ar os co mpo ne ntes do co nteúdo exc lu ído de sua form a, é igualment e
etc.). Tud o isso ex ige uma dramaturgia televisiva d. Iluminaç ão telefilm e. Qu anto mais sens íve l é a coer ên ci a, problem áti co. Não há, com e feito, no text o poéti-
es pecífica. quanto mai s indi stinta do fund o, mai s a dr am a- co e dramát ico , dissocia ção d a form a e do senti-
Raram ente é tão variada e sutil quanto no c i-
turgia tel evisi va pro va sua es pecificida de , passan- do* , mas imbri ca ções dos doi s: é o caráter úni co
nema; ela deve lev ar e m co nta a ex istênci a de
2. Uma Dramaturgia Televisiva do ass im co m sucesso do teat ro ao e lét ro n. e não fixo desta imbri cação que atesta a po e-
aparelh os em pret o e bran co , ace ntuar os co ntras-
ticid ade do te xto. Ex tra indo da peça certos tem as,
tes e ge rir bem as massa s luminosas.
Deix emos de lado o cas o da retr ansmi ssão, entrega mo- nos muito mai s a uma operação extr a-
ao vivo o u gra vad a, de um espetáculo teatr al TEMA literária de co me ntário ou de interpr eta ção qu e a
e. Montagetn
preexistent e, poi s tal processo con serva o aspecto um a análise c ientífica da obra. Tod a c rítica te-
de um a reportagem , de um levant amento e de Joga co m efe itos de fort e pontu ação, co m rup - Fr.: thé me ; ln gl. : theme ; AI.: The ma; Esp. : mática deveri a se r, port ant o, também estrutu ral,
um a perd a de sentido (aco mpanhada, no caso tura s dram atizad as, prolon gam ent os. A narr ati va lema . e descrever um percurso ou um arranjo. Send o o
de se r ao vivo, de um resto de autenticidade). deve se r legí vel e organiza da prepa rand o o sus- tem a um es que ma m ais o u menos co nsc iente e
Para o telefilrne (o "t eleteatr o") , a dr amaturgi a pense, rápida e coerente . I. Idé ia ou Or gani zação Central obsessivo do texto, ca be ao c rítico rastr ear essas
se basei a e m al gun s prin cíp ios gerais: estruturas tem áticas, ma s também decidir por meio
f O j ogo do ator O tem a gera l é o resumo da ação ou do un iver- de que tem as a ob ra é mais facilm ente ex plicáve l
a. A ima gem A câ mera é ce ntrada nos atores- locutores, na so dr am áti co, sua idéia ce ntral ou seu prin cípi o ou produti va.
Deve se r enquadra da co m precisão, co mposta maioria das vezes e m pl ano am eri cano, de mod o or ganizad o r. Falta rigo r a es ta noção, muito usa-
cuidadosa men te para se r facilm ente legível, co n- a mostrar suas rea ções psicológicas e fisiológi - da na lingu agem crítica. ~ . Tema, rea lidade rep resent ada, realismo, mito.

398 399
TE MPO TE M PC

' " Fer gu sson , 1949 ; Frcn zcl , 1963; Mauron , co ntínuo, pois a representação oco rre no presen - pri os limit es da organi zação do sucessivo num a do num a repre sentação qu e dura du as o u três
~ 1963; Tom asch évski, 1965; G , Durand, 1969; te; o qu e se pa ssa diant e de nós passa-se aí e m unidade" (FRAISSE, 1957: 7 1). hor as. N a es té tica clássi ca, Td não de ve ultra-
Bradbrook, 1969; Starobinski , 197 0; M onod , 1977;
nossa tempor alidade de es pec tado r, do iní cio ao O tempo cênic o se enca rna nos sig nos da re- pa ssar vinte e quatro horas para uma represen-
Az iza et al. 1978a; Trousson, 1981; Dcmougin,
fim da representação. presentação, temporais, mas também es paciais: a tação de duas hor as.
1985.
modificação dos obje tos e da ce nog ra fia, dos j o-
• O tempo e xtracê nico (0 11 dramáti co)
gos de luz, das entradas e sa ídas, d as marcações b. Td = Te: a es tética cl ássic a c hegou a e xigir,
Tempo da ficç ão do qual fala o es pe tác ulo. a fá- e tc . Cada sistema sig nificante tem se u próprio rit- por vezes, qu e a açã o do Td coincidi sse co m a
TEMPO (I) bula, e qu e nã o es tá ligado à e nunc iação hic et mo", o temp o e sua estruturação inscrevem -se nele ação cê nica do Tc. Vai-se desemboc ar numa es-

e (Do italiano tempo, tempo .)


m lnC, mas à ilu são de qu e algo se pa ssa ou se

passou o u se passará num mund o possív el , aque-


de maneir a específica e co nfo rme a materi alidade
do sig nifica nte.
tét ica naturali st a na qual a realidad e cê nica re -
produz e m tamanho natural a realidad e dram á-
le da ficção. Retomando nossa distinção fe ita a tica . À s ve ze s o tempo da perform an ce" não
Term o musical (às vezes usado no vocabulário propósit o do espaço " entre cênico e dramáti co b. Tempo dramático imita um tempo exterior a ela , e le é e le próprio ,
teatral); indicação de um movimento que não é pod eríam os chamar o tempo de temp o dram át i c ~ não procura fugir numa ficção e numa tempo -
notad o pelo número de batim ent os do metrônomo. Também é anali sável de acordo com um a du -
e definir o tempo teatr al co mo a rela ção do tempo ralidad e e xte rio -res à cen a.
Em mú sica, como na ence nação. a interpretação pla modalidade, pel a o pos ição e ntre ação e in-
cênico e do tempo e xtracê nico . (Ce rtos autores
do temp o é deixada , para muit os, à discrição do tri ga (GOUHIER), fábul a e assunto (formalistas
dão , todavia, àqu ilo qu e chamamos de tempo tea - c. Td < Te: é bastante raro, mas não impossív el
ence nado r, até mesmo do ator. As indi cações cê- ru ss o s ), hi stória ou narrati va ( BENVENtSTE,
trai , o nom e de temp o dram ático, tempo "forma- (MAETERLlNCK, B. WILSON). que o tempo cêni-
nica s sobre a qualidad e da e loc u ção e da atuação GENETfE), a saber, a rel ação entre " a ordem tem-
do pela coexistê ncia de dois tempos de natureza co sej a dilatado e restitua um tempo referen cial
só abundam no texto naturali sta , na peça psicoló- poral da suces são do s elementos na di égese e a
diferente: o tempo cênico e o tempo extra-c êni- ord em pse udo temporal de s ua descrição na nar- muito mai s curto.
gica ou de conversação.
co",lvtANCEVA, 1983: 79.) Preferimos falar-co- Seja como for, o te mpo cê nico, isto é, o te mpo
rativa" (GENETTE. 1972 : 78). T rat a-se i1eap reen-
mo A. UBERSFELD (1977: 203 ; 198 1: 239) - de do pre sente, é o tempo que or ganiza o mundo a
der a maneira pe la qual a intriga organiza - es -
tempo teatral, definido como a relação da tempo- partir de le e que se alimenta no "reservatório" do
TEM PO (2) co lhe e dispõe - os materiai s da fábu la, como
ralidade da representação e da temporal idade da tempo dr amático, o qua l se derrama na enunciação
ela propõe uma montagem temporal de cert os
e Fr.: temps; lngl.: time; AI.: Zei t; Esp.: tiempo.
ação representada.
Detalh em o s um pou co ess as duas tempo -
e le me ntos. Este tempo d a ficçã o não é própri o
do teatro. mas, sim, de tod o di scurso narrati vo
cê nica. Insi stiremos com BENVENISTE na defi -
niçã o do tempo com rela ção a sua enunciaç ão ,
ralid ad es: para o teatro a co locação em enuncia ção cê nica
o tempo é um dos e lementos fundament ais do que anuncia e fixa uma temporalidade, remete a
de tod os os materiais. "P oder- se -ia ac red itar, es-
text o dramático e/ou da manifesta ção cê nica da uma outra cella, dá a ilu são referenci al de um
a . Temp o cên ico creve BENVENISTE, qu e a temporalidade é um
o b ra teatral , de sua aprese ntação (" prese nti- ou tro mundo, parece -no s log icamente estrutu -
ãm bito inato do pen samento. El a é produzida, na
ficaç ão" ) cêni ca. Noçã o que tem a força da evi- É ao mesm o tempo aqu ele da representação rad o co mo o tempo do c a lendá rio.
realidad e, na e pela enunciação (... ) O presente é
dência e qu e não é, co ntudo, fácil de descrever, qu e es tá se desenrol and o e aqu ele do esp ectador O rela cionament o dessa s duas temporalidades
propriament e a fonte do tempo . Ele é aqu ela pre-
poi s. para fazê-lo. se ria necessári o es tar fora do qu e a es tá assistindo. Co nsiste num presente co n- - cê nica e dram ática - desemboca rapidamente
se nça no mundo qu e só o ato da enunci ação torna
tempo , o qu e. evide ntemente. não é uma coisa tínu o, qu e não pára de desvanecer -se. ren o van - num a co nfusão entre os doi s ní ve is. Da mesm a
possíve l. pois, se qui serm os refl etir bem so bre isto,
cô mo da . Diríamos de bom gra do com SANTO do-se se m cessa r. Es ta temp or al idad e é ao mes- maneir a que o prazer do es pec tado r resid e na con -
o hom em não dispõe de nenhum o utro meio de
AGOSTINIIO: "Sei o qu e é o tempo, se não me mo te m po cro no log ica me nte men surá vel - de fu são d a ficção cê nica e da fi c ção dram ática (pro -
viver o 'agora' e de fazê-lo atua l a não sc r reali -
per guntam ". 20 h3 I a 23 h 15, por exe mplo - e psicologicament e ve niente do texto), se u prazer co ns iste em não
za ndo-o pel a inser ção do di scurs o no mundo"
Partirem os da dupl a natureza do tempo: o tem- ligada ao se ntido subje tivo da du ração do es pec- m ais saber onde ele es tá; e le vive num present e,
(1974: 83).
po qu e rem ete a si mesm o. ou temp o c ênico, e o tad or. No int eri or de um quadro objetivo e men - mas es quece es ta imediatidad e para penetrar num
Com BENVENISTE, notar-se-á. para o teat ro ,
tempo qu e é preciso recon struir por um sistema surá ve l, o es pec tado r o rganiza sua per cep ç ão do o utro uni verso do discurso. uma outra ternpor a-
o ca ráte r se m pre present e da representação e a
s imbó lico, ou tempo extrac ênico . es petác u lo de acord o co m uma impressão de du- lid ade: aque la da fábul a qu e me é co ntada e que
eu co ntribuo para co nstru ir, antec ipa ndo sua se- nece ssid ad e d e co nduzir tod a a ficç ão à e nun-
ração - de tédi o ou de e ntus ias mo - qu e só per-
cia ção present e da repre sent aç ão.
1. Dupla Natureza do Tempo Teatral tence a e le. Um mesmo seg me nto de tempo vari a qü ên cia (texto dramâtico " ).
O tempo cê nico porta um ce rto número de
em duração co nfo rme a peça , se u lugar na c urva
marcas indiciais, logo, sign os dêiti cos qu e ates-
Para o es pectado r - cujo pont o de vista adota- dramáti ca e a recep ção do espectado r. 2. M odalidades do Rela cionamento das
tam s ua inserç ão no espaço e nas per son agen s
rem os aqui , nem que sej a para term os um ponto Tant o é fácil - por ém sem interesse - segme n- Dua s Temporal idades (dê ixis*).
de referência - há do is tipos de tempo. tar num eri cament e o co ntinuum desse tempo cê- A instalação do presente cêni co ocorre graç as
nico , qu ant o é di fíci I - por ém apa ixonante - Todas as modalid ad es de rela ção são ima - a o utras tcmporalidades, as qu ais dev em os tam -
• O temp o cênico
orga nizá- lo em unid ades pertinent es a partir de g ináve is. bém co ns tatar:
Tempo vivid o pelo es pec tado r co nfro ntado ao sua per cepção. A cena é um a se qüê nc ia de acon -
acont ecim ent o teatral , tempo e ventual, ligado à teciment os, co ns tituindo-se o present e de uma a. Td (te mpo dr am áti co ) > Te (te m po cê nico) : • Te m po soc ial
e nunciação. ao hic ct Il III/ C , ao desen rolar do es- sér ie de present es: " 0 present e per cebido tem o tempo dr am áti co é muito lon go (anos nas pe- É preci so sa be r em qu e dia e a qu e horas começ a
pet ácul o . Este tem po se dese nro la num presente uma es pess u ra tempor al cuja duração tem os pró - ças hi stóri cas de SIIA KESPEARE), mas é evoca- a represent ação, se posso ir ao teat ro naqu el a noi -

400 40 /
T EMPO T EN SÃ O

te. se haverá metrô a pós o es petáculo etc. É úti l v érn, para mui ta ge nte, do e nca va lamemo e da ca na qu a l a o bra surg iu. Quanto à lógica tempo- o tempo cê nico "escapa" a tod o mom en to par a
sabe r se o púb lico é ca paz de manter sua atenção confusão do tem po represent ado (d ramá tico) e do ral da fábul a. não é fix ad a indefinidam ent e. e la algum lugar qu e é a ficção-r eali zação de um tem -
du ran te me ia hor a. três ho ras o u dois d ias. que tem po da represent ação (cê nico) . (Cf infra 3.b.) se co nstitu i e m fun ção da per spe ctiv a esco lhida po e de um univer so ex tracênico e. inversam en-
unidades tempo rai s lhe convêm. qual é se u "se n- para recon stituir a fábula e ava liar os aco ntec i- te. es ta exte rio rida de a meaça a tod o mom ent o
timen to temporal ". 3. Modulação do Tempo ment os rel atados . A qu em deseja interpret ar hoj e irr omper em cen a e no tem po cê nico do aconte-
a peça c láss ica. im põe- se po is. primei ro . um re- ci me nto teat ral.
• Temp o iniciá tico
a. Concentração dram at úrgica lacio namento da s ' rês historicidade s. Es tas nun - So bre o tempo teatral. d iremos e ntão que é
E le permite o acesso à g rande noit e: ant es de ir ao
ca es tão nem situadas no mesm o plano nem são variáve l. co m riscos de precipitaçõc s.
teat ro (co m pra de ing ressos. reserva s etc.) e antes Em dramatu rgia clá ssica" , o bserva-se um a
eqü ipo lentes: toda passagem de um a é poc a a o u -
que se abr am as co rtinas (pe rma nência no saguão tendên ci a à co nce ntração e à desmaterialização
do tempo dr am át ico (e x tracê n ico ): este tempo é
tra parece resul tar de um a acumulação: a é poca ~ Entreato, história. texto dra mático . unidades.
do teat ro. co nve rsa mundan a. os três sinais. esc u- mais recent e (aq ue la da enunciação cê nica ) rc-
ro. silêncio e tc .), "Em tod os esses casos. obse rva fi ltrado pel a fala da pe rso na ge m . só é evoca do
e m fun ção da presen ça cê nica desta pe rso nagem
co nduz a e la aq ue la da qu al se fala. Tom e mo s o W La nger, 1953; Pütz, 19 70 ; Weinrich, 1974 ;
A. UBERSFELD. estam os às vo ltas co m uma es- ex emplo do Triunf o do Am or (de MARIVAUX): a Lagrave, 1975; Ric oeu r, 1983. 1984. 1985;
pécie de temp o ini ciát ico q ue prece de o tem po do e m situaçã o e e m co nfl ito. O tem po extrac ênico
tempo ral id ad e d o século XV III le va va a e la a Slawin ska, 1985; Mesguich, L'Éternel Éphémêre ,
teatro [...] um umbral e um a preparação. a prepa- sem pre é rel aci on ad o ao tempo cênico . e le ten -
A ntigü idade g reg a fici o nal na q ual se situa a fá - Paris. Seuil, 199 1; Garcia-Martinez. 1995 ; Pavis,
de a se auto -a pagar. a só exi st ir so b form a de
ração psicol ógica do tempo outro. os umbrais d o bula; a te mpo ral idade do séc ulo XX leva a el a 1996.
uma fal a e de um u ni verso ficci o na l não real i-
espe táculo" ( 198 1: 240). Este tem po iniciático aq uela do sécu lo XVIII qu e produziu o te xt o e
za do e most rad o e m ce na . m as e vocado g raças à
garante a passagem de um tempo soc ial para um sua rel ação co m a A ntig üida de . O qu e co nta par a
imagin ação co mbi na da do poet a e do esp ect a-
_ _ _~ _ _t_e.,.m.;p_o_apropri ad o à o bra e à sua recep ção. e le
dor que es cuta e imagina uma realidade refe-
os ní vei s tempora is é o processo na chegada (po r- TENSÃO
mi tura ainda o tempo real do espectador e o tem - tanto. em nos a época). a maneira pela qual a úl-
ren cial ext erior à ce na . Entende-se ent ão a ne-
po ficcional do j ogo teatral. Ma s sem est a inicia -
cessida de lógi ca e a un idade de tempo clá ssi co :
tim a tempor al idade (a qu e c hega ao es pec tador -t)- Fr.: tension; Ingl. : tension; AI.: Spannung ;
ção ce rimo niosa. se m este rito, este "espaço de atual ) fun ci onali za e põe e m s igno (se miotiza) as Esp.: tensi ôn.
a realidade temporal cx trac ên ica deve ser redu -
tem po pri vil egi ad o e so lene que inic iam e finali - anterio res . É im possíve l trat ar no mesm o plano.
zida ao máxim o (a vinte e qu at ro o u doze hor as.
za m o abri r e o fechar da s co rtinas. os três sinais e co mo uni verso s de refer ên ci a d isti ntos, as três A ten são dr am át ica é um fenô me no es trutura l
por exe mplo). poi s e la de ve . par a cheg ar a sua
o u o esc uro [... l'' (DORT. 1982: 5) não há teat ro histori cidades: só se tem ace sso ao siste ma de s uas qu e liga. entre si. os e pisó d ios da fábul a e. prin -
e vocação cê nica. ser " fi lt ra d a" pe la co nsci ên-
de verdad e! sucessivas Iu nci o na liza çõc s, à acumu la ção de c ipalme nte. cada um del es ao fi na l da peça.
ci a do heró i visíve l e m ce na. o qual só di sp õe de
cad a co nj unto naqu e le qu e lhe suce de no te m po . A tensão se prod uz por an tecip ação. mai s ou
• O tem po m ítico du as o u três horas para e fe tua r es ta lam inação
menos angusti ad a. do fim. Antec ipand o a seqüên-
do mundo e de sua temporal id ad e extracê nica,
Este tem po m ítico . q ue se ria aq ue le dos " aco n- c. Manipu laç ão do tempo cênico e do c ia d os aco nteciment o s. o es pectado r cria um
O tea tro cl ássi co dcsmate ria lizn o tempo exte-
tecim ent os qu e ocorre ram in principio. isto é. tempo ex tra-cênico suspense": e le im agi na o pior e se nte-se e le pró -
rior à ce na . dando a ilu são de um a fala pu ra. de
" no s prin cí pi o s" . num in st ant e prim o rd ial e pri o muito " te nso".
um di scurso o nde co inc ide m o mundo e a per- Todas as o perações de co nce ntração/alo nga-
atcmpora l. num lapso de tempo sagrado" (ELlADE. No texto d ram áti co . tod o e pisó d io. todo mo -
so nage m simbo liza da . se u d isc ur so present e e men to. acc lera ção/ ra len ta men to, parada/p art id a.
1950 : 73 ) o u no tempo do "re torno ce rimo nia l" tiv o SÓ assume se u se ntido e m se proj etando no
s ua existê nc ia fictícia e x te rio r. volta para tr ás/p roj eç ão para a frent e sã o possí -
(UBERSFELD. 19 77 : 205 ). não nos parece ser um seg uinte . STAIGER ( 19 4 6) fa z m esm o da ten são
ve is. co nc o m ita nte me nte. para o tem po ex t rac ê-
co m pone nte da re present ação teatr al. exce to se um pr incípi o es pecí fico da arte d ra mática . A es-
b. Dia/ética das hist oricidad es nico e pa ra o tem po cênico. No entanto. toda ma-
virmos nisso um rit o não-r e pet ível o u. é c laro. trutu ra d ra máti ca a pa rece e ntão co mo u ma arte
Na ence nação do text o cl ássi co. a quest ão da nipul ação de um do s nívei s tempor ais re perc ut e
um tem a da fá bul a. O s es tudos que o men cio - na qu al ca da ação es tica a cord a até q ue e la d is -
histo ricid ade do texto se acrescenta ao caso ha- necessariamen te no o utro. Po r exe mplo: se dese-
nam não e xplicam sua fun çã o exata na represen- pare a flec ha mort a l.
bitu ai da re lação entre tempo cê nico e extracê- j o co nce ntra r o tem po dr am ático da fá bula . e u
tação . ficam na met áfo ra do teat ro co mo ret orno A dramaturgia é pica (brec htia na prin cipalmen -
nico. É preciso ent ão co ns ide ra r pe lo men os três dev erei m ostrar um tem po cê nico - uma mane ira
te ) exige uma te nsão co m base no desenv o lvi -
a um ete rno prese nte m ítico o u a um ritual qu e
hist or icidades : de fazer - q ue s ug ira es ta co nce ntração. ass im
se prod uz fora do tempo hist óri co. Tal vez es ta me nto (Gallg) e não do fim (A usgang).
- o tem po da en unci aç ão cê nica (o do mom en to co mo um a cert a ra pi dez de exec ução o u de e vo-
seja, na verdade. a orige m do teat ro. mas o fu ncio - Quando a sa ída do conflito é co nhec ida an te -
histó rico em que a o b ra é ence nada) ; cação de ações cê nicas. Se. ao co ntrário. eu ra -
nam ento atual qu ase não faz mais alusão a ela. c ipada me nte. co mo no d ra ma anatitico", a ten -
- o temp o da fá bu la e de sua lógica ac ta ncia l lent o e d ilato ao máximo o te mpo cênico - à m a-
sã o é tot alm ent e dcsati vad a e o es pec tado r se co n-
• O tempo hi stóri co (te mpo dr am ático ); neir a de WILSON. qu e sej a - es tou di zendo. po r
centra no desen vol vim ent o d a fábul a.
É. em co ntrapartida. uma realid ade que se inser e - o tempo da criação da peça e as práti cas artísti - isso mesmo . a lenti dão do processo co rres po n-
nece ssariam ente no texto e na represent ação . ca s que estavam entã o e m vigo r. dente num u ni verso ficci on al possív e l q ue tem Dramático e é pico . leitu ra . estrutura dram á-
Devido à mult id ão de suas temporalid ades e de necessariam e nte um a rel ação co m nosso mundo ; tica.
O co nhec ime nto dessas três va riáveis tem po-
seu modo de prod ução. o tea tro é se mpre s ituado po r ironia e antffrase , es ta lent idão cê nica de WIL -
rais evo lui se m ce ssa r: ist o é e vide nte para a pri-
na históri a. A d ificuldad e. para ler ne le a história meira historicidade, mas é igualmente o ca so para
SON pod e rá. ali ás. fazer assim alusão à vi vac ida- W Freytag, 1857; Beck crm an , 1970; Pütz, 1970 ;
fict ícia da fáb ul a e nossa própri a históri a. pro - o reconh eciment o retro sp ectiv o que temos da épo- de e à brutal id ad e d as re lações hu manas. Ass im. Gcneu c, 1972; Dcrn arcy, 1973.

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TEOR IA DO TEATRO TEXTO D R AM Á T I C O

TEO RIA DO TEAT RO parti cul ar e o mod elo teóri co da qu al con stituem 1. Dificuldades de uma Definição Limitativa diante da ex plosão das form as e dos mate riais tex-
um a possível va ria nte. Nesse sent ido, é in úti l per- tuais usad os, a engloba r e descr e ver de m ane ira
~ Fr.: th é o ri e dl th é ~t,. e : Ingl.: tl,,; or)' of thcatre; guntar-se qu e di scip lina engloba as o utras: o ra é hom ogên ea o co nj unto dessas práticas e crité rios
É muito prob lem ático prop or um a defin ição
"t..; AI.: Theatertheorie ; Esp.: te o ria dei teatro. a es tét ica co mo teori a da produção/rece pção da textu ais. Q ua nto à di stin ção entre text o dr am áti -
d e tex to dra mático q ue o di feren cie dos o utros
ob ra de arte; ora é a d ram aturgi a en qua nto esque- tipos de text os, po is a ten dên c ia atua l da esc ritura co literário e lin gu agem co mum, e la se c hoca co m
Di scipl ina que se interessa pel os fen ôm enos ma de tod as as intera ções possíveis ent re tempo/ um a difi culdad e metodol ógica : todo texto "co-
dr amáti ca é rei vindi car não import a qu al texto
teatrais (tex to e ce na): so rnente a partir do adven- es paço d a ficç ão e da repr esen tação ; o ra é a mum " pod e se tom ar dramático a partir do mo -
par a um a e ve ntual ence nação; a eta pa "de rrade i-
to da e nce nação, por volta do final do séc ulo XIX, se mio logia q ue fornece uma aná lise de tod os os ment o e m qu e é pos to em ce na, de man eira q ue o
ra" - a e nce nação da lista te lef ôn ica - qu ase não
é qu e a teori a ultrapassa a drama turgia * e a poé - sis te mas sig ni fica ntes e de sua o rga nização no parece mais uma piad a e um a e m pre ita da irrea- crité rio de di st inção não é textu al e, sim, prag-
tica e leva em conta a ob ra cê nica e m todos os acon tecimento teatra l; ora, enfim, a e tnoceno- li záv e l! Tod o texto é te atrali z ãve l, a partir do mático: a part ir do mom ento em qu e é e m itido em
se us as pec tos. logia *, ultrap assand o a perspe cti va e a teori zação m om ent o qu e o usam em ce na . O qu e até o séc u- ce na, o texto é lido num qu adro " qu e lhe co nfere
euro péia, se int eressa por todas as práti cas es pe- lo XX passava pela marca do dram ático " - di â- um crité rio de ficcion alidade e o dife re nc ia do s
1. Teatralidade e Literatura tacul ares no mundo nas diversas áreas geográfi - logos " ; confli to " e situação d ramática ", noç ão textos "co muns" que pretend em descre ver o mun -
cas e cultura is, com o risco , que não deve se r des- de p erson agem * - não é mais co nd ição sine qua do "real" . N ão há, esc reve SEARLE, propri ed ad e
Seg uindo o exemplo da teori a literár ia cuj o cartado, de perd er tod o rigor episte mo lóg ico. /lon do texto destinado à ce na o u ne la usado. Li- textual, sintá tica ou se mântica qu e permita identi-
o bjeto é a liter aridade, a teoria teat ral se dá po r mit ar-n os-ern os port anto a le vant ar al gumas m ar- ficar um texto co mo obra de ficção" ( 1982: 109).
o bjeto de es tudo a teatralidade " , isto é, as pro- W Muk aro vsky (194 1) in Van Kesteren, 1975 ; c as do te xto na dramaturgia oc ide nta l.
pried ad es es pecíficas d a ce na e as form as tea- Ben tley, 1957: E1se, 1957; Nlcoll, 1962: C lark, d. Relacion am ent o dos contex tos
trai s h ist o ri cam ent e co mp- rovadas. O siste ma 1965: Good man, 1968; Steinbcck, 1970: C hambers, 2. Critérios Possíveis do Text o Dram ático
ge ra l qu e elã bu sca co nstru ir de ve le var e m con- 1971: Klünder, 1971 : Lioure, 1973: Ad ôrn o, 1974: Para qu e i per o nagens e voluam num mes"'-.....""""""""""""'",
Dukore , 19 74 ; Fiebach , 1975: Van Kest e re n e mo un iver so dr am ático, de ve m ter ao m en os um a
ta tanto e xe mplos histó ricos qu ant o fo rm as teo- a. Text o p rincipal ", text o se cundário
Sc hmid, 1975: A utrand , 1977; Klier, 1981: Paul , por ção do uni ver so do di scur so em co m u m. N a
ricament e imagin ávei s: a teori a é u ma hipótese
1981: Styan, 1981; Pavis, 1983a ; Carlso n, 1984; O te xto a se r dito (aque le dos ato res) é muit as falt a d isso, e las e ncetam um di álogo de su rdos o u
so bre o fu nc iona mento da repre sent ação parti -
S lawin sk a, 19 85 ; Sc hne il in e Brau nec k, 1986 ; vezes introd uzido pe las indica ç ões c ênicas" (o u não trocam info rmação a lgum a (teatro d o absur-
cula r es tuda da. Armad o dessa hi pótese , o pes- Heistein, 19 86; Fitzpatrick, 1986; Huber t, 1988; di dascálias *), texto co mpos to pe lo d ramaturgo, do). C u m pre também es tu dar co mo se passa de
q ui sado r se rá e m seg uid a le vad o a prec isar o Roubin e, 1990; Braune ck, 1992; Ryngaert, 1993. até mesm o pel o encenado r. Mesm o q uan do o texto uma réplica a o utra, o u de um argu me nto a o utro ,
model o e a restr ingir o u am pliar a teor ia.
sec undá rio parece ausent e , e ncontra mos amiúde de uma ação à seg uinte. Ler o texto é, e m su ma,
se u ras tro no cenário verbal " o u no ges tus " da preocupar-se co m se u co ntex to cultura l. histór i-
2. Teo ria e Ciências do Espetáculo TE RROR E P IE DA DE pe rso nage m. Porém, o esta tuto desse cenário ver- co , ideol ógi co , a fim de não abo rdá -lo num vaz io
ba lou do gestus é, tod avia, rad icalment e d ife - form al, po is nenhum métod o, mesm o o de VINA-
Estam os ainda mui tos distantes de uma teoria ~ Fr.: terreur et pi tié; Ingl.: terror and pity; AI.: rente daque le do texto sec undári o . As indicações VER ( 1993) e co ntrariame nte ao q ue e le afi rma,
uni ficad a do teatro, tend o em vista a am plitude e "t..; Furcht und Mitleid; Esp.: terro r )' picdad. cê n icas espaç o-temporais " no texto são parte in- " põe-nos e m conta to diret a e imedi atam en te co m
a d iver si dad e dos aspec tos a sere m teori zados: teg ran te do texto dramático : e las não pod em se r a próp ria vida do texto, se m ex igi r um conhec i-
recepção » do es petác ulo , aná lise do di scurso, Par a ARISTÓTELES, é provocand o no es pec- ig no radas pelo le ito r ou pel o es pec ta do r, e mbo ra me nto prévio: histór ico, lingü ísti co , se m io lóg ico,
des crição " da ce na etc. Es ta diversid ade de pers- tad or a pied ad e e o terr or que a tragéd ia cu mpre a as indicações cê nica s não sejam necessari am en- po r exe mp lo" ( 1993: 893 ).
pecti vas tom a muito d ifícil a escolha de um pon - purgação (catarse*) d as paixõe s. Há compaixão te le vadas e m co nta pela e nce nação.
to de vista unifi cador e de um a teoria c ientífica e , port ant o , id entifi cação, "q ua ndo pre sumim os
e. Tex to lido, text o represen ta do
pass íve l de englobar a dramaturgia, a es té tica, a que tam bém pod eríamos ser víti mas del a, o u a l- b. Tex to di vidido e "o bje tivo"
se m iolog ia. Até o mom en to, na verda de, antes da g ué m dos nossos , e qu e o perigo parece próx imo Para ana lisa r o te xto, co nvé m sabe r se o lem os
Di ál ogo à parte, o texto d ram áti co é di vidid o
pes quisa estrutural de um siste ma suficie ntemente de nós" (AR ISTÓTELES, Retó rica 11 : 3) . Nesse co mo ob ra liter ár ia o u se o rece bemos no inte rio r
e ntre as di versas per son agen s-locutoras. O diá- de uma ence nação: neste último ca so , e le é acom -
vasto par a aba rcar as man ifestações teatr ais, a caso, as per so nagens, de aco rdo co m o dogm a logo dá igu a l o portunida de a ca da um de les; ele
cl áss ico, n ão dev er ão ser ne m " inte ira m e nte panh ado d e s ua vocalização e de sua e nce nação,
teo rização era garantida por div ersa s disciplinas: to m a visíveis as font es da fal a se m redu zi-Ias a
boas", nem "i nteira me nte más" ; é prec iso q ue e las ao passo qu e sua interpret ação já é co lo rid a por
a d ram atllrgia * (pa ra a co m pos ição da peça, as um ce ntro hierarqui cam ent e explic itado : as tira -
re lações de tem po e espaço da ficçã o e da ence- "caia m e m desgr aça por algum a fali a qu e as faça sua enunc iação cê nica .
das o u as rép licas dão-se co mo q ue ind epend en -
nação ), a estética- (para a produ ção do belo e das q ueix ar -se se m fazê-Ias detestar" (RACINE, pre- tes d e u m narrador o u de um a voz ce ntralizado ra.
artes cê nic as), a semio logia * (pa ra a descrição dos fáci o de Andrôm aca ). Le r o u receb er o texto dr am ático é fazer co m e le 3. Construçã o do Texto Dram átic o
siste mas Cê nicos e a co nstrução do se ntido) . um a a ná lise dram atúrgica graças à qu a l se ilumi-
Es tas três disciplin as, cuj a abo rdage m se pre- nam es paço, te mpo , ação e per son agen s. a. Circuito da co nc retização
tend e tão " c ientífica" qua nto possível , são ferra- TEXTO DRAMÁTI CO Es ta ría mos eq uivoc ados e m co ns ide ra r o tex-

e
ment as para a teoria teatra l; e las não têm , portan- c. Fic cionalidade to dr am át ico co mo um a en tidade fixa, d iretam ent e
to, qu e e nt ra r em co nco rrê nc ia, mas de veriam Fr.: text c dramatique; Ingl.: dramatic text; A I.: acessível, co m pree nsível de um a só vez. Na re a-
A poé tica estrutura l, saída do es tru turalismo e
permitir um vaivém metodo lóg ico entre a obra dra matischer Text ; Esp.: texto dramático. lid ade , o text o só ex iste ao termo de uma leitu ra ,
d a teori a do texto, não c he ga mais, no mom ent o,
404 405
TE X TO E CEN
T E XT O E CE NA

a qual se m pre es tá situa da na história. Esta leitu - ção. Por exemplo, é ca pita l decidir se a ambi güi- b. A revira volta co pe rnicana da ce na lho cênico não es tão e m confli to co m o sentido
ra depend e do co ntex to soc ial do leitor e de se u dade es tá es trutura lme nte inserida no texto o u se No fin al do século XIX. tem início um a re vi - textu al. mas a se rviço del e . Aí es tá a co nce pção
co nhec ime nto do co ntex to do texto ficcion al. Não de um a atitude filosófica para co m o teatro (se m
e la resulta de um desconheciment o o u de um a ra volt a da posi ção logoc êntriea . A sus pe ita e m
tanto co m INGA RD EN ( 193 1-1949) qu ant o co m qu e es te term o nad a tenha de o fe ns ivo). Ela po s-
mud ança de cont ext o soc ia l. Te ndo em vista a tro- rel ação à pal avr a como dep osit ári a da ve rdade e a
M UKAROVSKY ( 1934) e VODICKA ( 1975), fa- sui o mérit o de não j o gar fora a c ria nça (textu al)
ca verbal e a s ituação de e nunc iação. toda ence- liber ação das forças incon sci ent es da im agem e
lar-se -á portanto d e um pro eesso de co nc re - junto co m a ág ua d o banho (cê nico) , o qu e. hoje ,
nação toma partido co m base e m um a marcação do so nho pro voc am um a ex cl usão da art e te atral
tização do text o . e tent arem os abranger o circui- é seg urame nte sa udáve l em face da s experime n-
das determinaçõe s e das am big üida des. do domínio do verbo, co nside rado com o ún ico
to da co nc retização. através da percep ção dos ta ções nem se mpre co ntro ladas de nossos mani -
pertinent e; a ce na e tud o o que se pod e o pe ra r
significan tes textuais e de um contexto soc ial, para pul adores e obcecados textuai s. Mas ela am eaç a ,
Fora de cena e fora de tex to, di scur so. nel a são prom ov id as ao escalão de org aniz ado r
cheg ar à o u às leitura s possívei s do texto (PAVIS, por sua vez, bloqu ear a pe squ isa teatr al e perpe -
su pre mo d o se nt ido d a representa ç ão ", A. AR-
19830). W Sav on a. 198 0 . 19 8 2 ; Man c e va, 19 83 ; TA UD marc a a concl usão dessa ev olu ção na lim -
tuar um ce rto logocentrismo .
Proch azk a, 1984: Th om asseau, I 984a . b, 1996; peza da es té tica e no vigor da formulação: " U m
b. Locais de indeterminaç ão b ibl iografi a ge ra l in Pavis, 1985 e, 1987, 1990. teatro qu e sub me te a e nce na ção e a reali za ção,
b. A defa sa gem herm en êutica irredutivel
19900 ; Swiontck, 1990. 1993; Sallenave, 1988; B.
As diversas le itu ras e suas concreti zaç ões di - ist o é , tud o aquilo qu e há nel e de especificamen - In ver sam ent e, parece muito mai s ju sto not ar
M artin , 1993.
vergent es tra zem à luz locais de indet erminação te teatral, ao text o , é um teatro de idiota , de lou - um a ce rta defasa gem entre o text o e a encena-
do tex to, loc ai s est es qu e, aliás. não são nem co, de invert ido , de g ra má tico, de vendeiro. de ção. A partir do momento qu e a en cen ação se li-
universai s nem fixad os para se mpre e. sim, va- anti poeta e de positivi sta . ist o é . de oc ide nta l" bert a de se u pap el anci lar frente ao text o, cria-se
riam e m fun ção do nível de leitu ra, pr incipal -
TEXT O E CENA um a di stância de significação e ntre os dois com -
( 1964. I V : 49 -50).
________mente da eluc idação do co ntex to socia l. O texto po nent es, e um desequil íb rio e ntre o visua l e o
dram ático é um a a re ia moved iça, em cuja su - V Fr.: lote et scClle;.lngl.: tex t an d pe rfor manc e;
2. Dialética do Texto e da Cena te xtual. Este desequilíbri o ge ra um no vo olli!"!a!"!r.... ----!
AI.: Text und Auffiihrung ; Esp .: texto y escC/lu .
pe rfíeie são locali zados peri ód ica e di versame nte so bre o texto e um a no va m an ei ra de mostr ar a
sinais qu e g uiam a recepç ão e sinais q ue man - rea lida de suge rida pe lo tex to .
Re fletir sob re as re laçõe s do text o e da ce na A e vo luçã o hi st óri ca da re lação entre o te xto e
têm a indeterminação o u a ambigü idade. No tea- A se paração é aqu ela d e um fosso intran s-
ini cia um debate de fund o so bre a ellce llação *, o a ce na só fa z ilu strar a dial étic a desses doi s co m -
tro. determinad o e pisód io da fábula, determinada pon ível entre o texto e o es paço/te mpo o nde ele é
es tatuto da pal avra no teat ro e a int erpretaç ão » pon ent es da representação. Da s dua s um a:
troca verbal assumem se ntidos muito dif erent es proferido. "Ta lvez. escreve Bernard DORT. nosso
conforme a si tuação de enunciação esco lhida pel a do texto dramáti co *. - o u a cena procura dar e redizer o texto ;
- o u cava um fo sso e ntre e la e ele , o c ritic a o u o pra zer no teatro tenha a ver prec isament e co m ver
ence nação. O text o . e sing ularme nte o texto dr a- inserir um texto, por definição alh eio ao tempo e
máti co. é areia m ovedi ça e também ampulhe ta : 1. Evoluçã o Históri ca rclati vi za por uma vis u liz a ção qu e nã o o re -
ao es paço, no momento passagei ro e na era del i-
o leit or esc o lhe c larificar um grão tirando o bri - dobra.
m itada do espe tácul o . Assim, a representa ção te a-
lho de ou tro . e assim por diante, até o infinito . A a. A posiç ão logoc êntrica tral não seria o loc al de uma unidade reencont ra -
no ç ã o d e ind et ermin aç ã o /d et ermin aç ã o é a. Poten cialidad e cê n ica do tex to
Du rant e muit o tempo - desd e ARISTÓTELES d a, mas aque le de um a ten são, nun ca apazig uada,
di aléti ca: dirá bem qu em ler por últ im o. A legi - até o início da ence nação co mo prática sis temáti- No prim e ir o caso. aq ue le d a redund ância " e ntre o eterno e o pa ssagei ro . e ntre o un iversal e o
bilidade, a o rie ntação da recep ção só é det er- ca , no fin al do séc ulo passado, e à exceção dos cê nica , a e nce nação lim itou -se a procurar sig no s part icul ar. entre o a bs trato e o co ncreto, entre o
min ável co m rel ação ao processo de or ie ntação/ espe tác ulos popul ares o u d as peças de gran de es- cê nicos qu e ilu stram o u dão a ilu são. ao es pec ta- texto e a ce na. Ela nã o reali za mai s o u menos um
desori ent açã o qu e le va o leito r a " passear" atra- dor, de ilu strar o re fere nte do texto. É pe rturbador
pet ácul o - o teatro es teve ence rra do num a co n- te xto: ela o critiea, o força, o int err oga. Ela se con-
vés do text o alte rna ndo os pont os de referên ci a ce pção logocêntrica. M esm o qu e esta atitude seja co ns ta ta r qu e , para o públi co - e mesm o par a front a co m e le e o co nfro nta co m ela. Ela é não
e as via s erráticas . Esta leitura "em ziguez ag ue" muit o s d o s e nce na dores " re alis tas" e críti c os
ca rac te rís tie a d a dram a/u rgia c l ássica " , do um acordo e, sim. um co m bate" (Le Monde du
do texto dram áti co desd obra-se numa osci lação aris tote lis mo o u da tradi ç ão oc ide nta l, e la acaba. "fi ló logos", m as também dos prat icant es do o fí-
perm anente, na representação, do es tatuto ficci o- Dima nche , 12 de o utubro de 1980 ).
seja co mo for, co nve rte ndo o texto no e leme nto cio d o palc o - , es ta so lução é apr esent ada como
nal , entre ilu sã o e d esilu são, identifi cação e di s- prim ári o, na es trutura profunda e no co nte údo es- exe m pla r, como a met a a se r atingi da : "U ma boa
tância . e fe ito de real mirn ético e insistênc ia na 3. Ficcionalização Textual e
sencia l da art e dramáti ca . A ce na (o "espetác u- e nce nação é um a transformaçã o íntima, ponto a
forma e no jogo teatra l.
lo", o opsis *, co mo di z ARI STÓT ELE S) só ve m pont o, qu e só evo lui por int eiro . O text o to rnou - Ficcionalização Cênica
em seg uida co mo e x pressão su pe rfic ia l e supé r- se repre sent aç ão perse guindo um a direç ão de
c. Manutenç ão e eliminação das flua , el a só se diri ge aos se ntidos e à ima gina ção poten cialidade qu e est av a. ant es. apenas imp líci - A teori a da fi cção ' o brig a a pen sar a rela ção
ambi gii ídades e desvia o púb lico da s bel ezas literárias da fábu - ta e , portamo . oc u lta, ma s que é atualment e atu a- do texto e da cena pe rante o processo de fi cc io -
Diant e desta in stabi lid ade do texto dram ático , la e da refl ex ão so bre o co nflito trágico. U ma as- lizada de man eira a parecer inevit ável " (HO RN RY , nali zação qu e a e ncenação reali za à vista do es-
co loca-se a qu est ão do se u uso e de sua manipu - similação teo lógi ca produ z-se e ntre o texto , re- 1977 : 109 ). Es ta teoria do text o co mo po ten ci a- pectador. A ficção pode parecer o mei o termo e
lação . Cabe ao le ito r e ao cncc nado r, mas tam - fúgio do sen tid o imutáve l da in terpretação e da lidade o culta ( 1IORN Il Y. 1977) o u "v irtua lidade a mediaçã o entre o q ue conta o tex to dra mático e
bém ao es pec ta do r, decidir o nde se enco ntram as alm a da peça. e a cella, local periféri co da lan - cê nic a" (SER PIE RI, 19 78 ) co ns ide ra em definiti - o qu e figura a ce na. como se a media ção fosse
zonas de incert ez a/certeza e de determ inar a sua tej oul a, da se ns ua lida de. do corpo e m falta, da vo qu e o text o co nté m um a boa e nce nação qu e real izad a pela figuração, te x tua l e visu al. de um
mobilidad e e a o po rtunidadde de sua identifi ca - instab ilidad e, e m su ma, da tcat ralidade ", basta e ncontra r e qu e a represen tação e o trab a- mundo possív el ficci on al , primei ro co ns tru ído

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TEXTO ESPETACULAR T11E AT R U M MUNDI

pela an álise dr arn at ürgi ca e pela leitu ra, e depois do local e do es paço lixam de ent rad a um qua- A noç ão sc m io l ógica de tex to deu a ex pressão parte do prin cíp io de qu e o autor tinh a, ao esc re-
figurado pe la instalação cênica. Esta hipótese não dro* que se dá co mo o local da ficção. a mimese texto espetac ular (ou texto cênico): é a relação de ver, um a ce rta visão d a ce na que a ence nação deve
é falsa, se tom armos o cuidado de não reintroduzir do mund o ficcion al . Es ta prim eir a IIccion alização tod os os sistemas significantes" usados na repre- restituir absoluta me nte.
sub- re pticia me nte a teoria do refe rente atualiza- cênica é tão mais f ort e qu e os atores, a atm osfera, se ntação e cujo arra njo e interação form am a ence-
do qu e figurari a es ta mediação. Se ex iste na ve r- o ritmo etc . faze m de tud o para persu adir -nos de nação *. O texto espe tacular é porta nto um a noção 2. Hoje, mu itas e nce nações pegam o co ntra- pé
dade um a rel ação evidente entre texto e represen- que e les são a ficção e nca rna da. das informações dad as no texto sec undá rio pe lo
abstra ta e teóri ca , e não empírica e prática. Ela con-
tação. não é so b a form a de uma tradu ção ou de A Iicci on ali zn ção cê nica "c ime nta" totalm e n- dram atur go e iluminam o text o principal por um a
sidera o espetác ulo co mo um modelo reduzido o nde
um red obram ent o do primeiro no seg undo, mas te a ficção textu al (passando mesm o por vezes ilustração crítica (soc iológ ica, psicanal ística). Este
se observa a produção do se ntido. Es te text o espe-
de um a focal ização de um un ivers o ficcio na l pela enca rnação do ve rbo, a única ence nação pos - tipo de interpret a ção transforma evide nte me nte o
es trutura do a partir do texto e de um uni verso tacul ar é ano tado e materiali zado num caderno de
sível c tc.). As duas ficções aca ba m po r se inte r- texto a ser represent ad o , ou pelo menos o fixa e o
ficcio nal que é produ zido pela cena; são as moda - encenação ", um Modellbuch " ou qu alqu er outra
pretar, a ponto de não se sa be r mais se é o texto co ncretiza em um a de suas poten cialid ades.
lidades dessa foc alização que se deve questionar. meralinguagem qu e faz o relato - sem dú vida se m-
dram ático qu e c rio u a situação de enunciação qu e A pr ática atua l .da encenação" revela qu e o
pre incompleto - da encenação, prin cip alment e de
não pod eri a desemboear num outro text o qu e não texto sec undá rio não" é uma muleta obriga tó ria e
a. D ois es tat utos ficcionais suas opções es téticas e ideológicas.
aqu ele ouvido . A co nfusão desse dois es tatutos indispen sável à co nstrução do sentid o. qu e e le não
Os dois es tatutos ficcionais, pelo texto e pela ficcion ais se produz co mo qu e para melh or anco- assum e um a posição de domínio e de vigilância
rar e acentuar a ilu são do es pec tado r de es tar num
6:J Texto e ce na, se miologia , descrição. visual e
ce na, possu em propri edades es pecí ficas, ente n- ~ textu al. com relaç ão ao texto principal. Preci semos qu e
dend o-se , e ntre tanto. que o uni verso ficcion al mund o ficcion al es tranho, a tal ponto qu e o qu e esta co nce pção vai ao e ncontro de muitas idéias
cên ico é ao mesm o tempo: ele vê à sua frent e (um ator, uma luz, um ruíd o ) prontas e, em part icular, daquela da " boa" enc e-
rT"l Theaterarbcit, 1961; Ruffini, 1978; de Marini s,
- o que engl oba e integra o universo ficcional do lhe parece existir noutro lugar, numa "outra cen a" . ~ 197 8. 197 9, 1982. naçã o, ou da e nce nação "fiel ao text o" .
segundo a palavra de MANNONI (1969).
texto pronuncia{lo em cena , o que lhé fornece a
situação de enunciação; Texto dramático. texto e cena , visual e textua l.
b. Presença/aus ência
TEXTO PRINCIPAL, TEXTO
- o qu e é passív el de ser a qualquer mom ent o
co ntradito e des constru ído do interi or pela in- Esta confu são gera l dos dois tipos de ficcio- SECUNDÁRIO
m Stein er, 1968; Pavi s, 1983b.
ter ven ção do text o enunciado no int eri or da nalizaç ão, dos quai s se poderia fazer um dos tra-
representaçã o. Este texto dram áti co é, na ver- ços espec íficos da per cepção teatral , prov ém, pelo
~ Fr.: text e principal. texte secondaire; Ingl.: dia-
dad e, e m s istema se miológico cuja precisão menos para a e nce nação, de um texto d ram ático 't.: logue , stage di rections; AI.: Haupttext , Ne- THEATRON
se mâ ntica e ca ráter verbal imed iatam ent e co m- preexistent e, da troca de dois princípios se mióticos bentcxt, Btihn en anweisungcn; Esp.: text o prin cipal,
preen sí vel imp õem aos outros s iste mas sig ni- para o texto lingüístico e para a figuração cênica : texto secundario. ~ FI.: th éãtron; Ingl. : thetron; AI.: Th eatro n ;
ficant es um a troca e uma poss ibilidade de an- - o texto lingiiíst ico sig nifica apen as por meio
t...: Esp.: theatron .
co rar-se nos s ignifica dos ex traídos do text o dos seus signos, co mo ausência para uma pre- D istinção introduzi da por R. INGARDEN ( 193 1,
lin güísti co . Palav ra g rega que designa o lugar de onde se
sença, isto é, co mo a realidade fictícia ex peri- 1971 ) seg u ndo a qual o dra ma "escrito" co nté m
A foca lização dos dois modo s ficc iona is se vê o espetác ulo, o espaço dos es pec tado res. S ó
mentada co mo presente e real; em parale lo as indicações c ênicas " - o u text o se-
estabe lece graças a uma ficção desdobrada no caso muito mais tarde o teatro será co nce bido co mo o
- a cena se dá co mo presença imed iata daquilo cund ário - e o texto di to pe las personage ns - ou
da ence nação teatral. edifício inteiro. e depois a arte dram ática o u a ob ra
qu e não passa, na ve rda de, de ausência e CO II - tex to principal.
de arte dra má tica.
• Ficci on ali zação cênica fusão de u m sig nifica nte e do referen te.
Uma vez tom ad as essas precauções so bre a I . Os doi s te xtos es tão num a rela ção de co m ple-
Através da enunciação cênica, a situação visíve l
relação da ficção te xtu al e da ficção cên ica e so- mentari dad e: o te xto dos ato res dei xa e ntre ver a
e aud íve l na qu al o texto dram ático é proferido .
man eir a pel a qual o texto deve se r e nunc iado. e
THEATRUM MUNDI
bre sua difícil di ssoci ação, a teori a da ficção es tá
• Ficcion ali znção textual em co ndições de es pecificar algumas da s ope ra- co m pleta as ind icações cê nicas. In versam ent e , o
texto sec u ndá rio es cla rece a situação o u as moti -
D- ("Teatro do mundo", em latirn .)
Atra vés da ficcionali zação de parte dos ouvintes ções de rel ações do texto e da repr esent ação.
do texto, po is mesm o que seja verdade qu e o tex- vações d as person agens e, porta nto, o se ntido de
Metáfor a in vent ad a na Anti güidade e na Idade
to só faz se ntido em sua enunciação cê nica, o es- ~ . Roteiro, visua l e textual. pré-encenação . se us di scursos. Médi a. ge ne ra lizada pelo teatro barroco, qu e co n-
pectad or fica livr e para construir um a o u tra fic- INGARDEN ( 197 1: 22 1) co nside ra qu e os dois cebe o mundo co mo um es petáculo e nce nado por
textos se recortam necessari am ent e pela medi a-
m
ção qu e não aqu ela esco lhida pela ence nação, e Aston , 1983; Pavis, 1983b, 1986a ; Fischer- Deu s e interpret ad o por ator es hum anos se m e n-
trat ar o texto co mo um maciço ou um co ntinente Lichte, 1985; lssacharoff, 1988; Carlson, 1990. ção dos objetos mostr ados e m ce na, dos quai s o vergadura. [cf CALDERÓN: El Gran Teatro dei
ao qu al se tem acesso apena s pela leitura e pela texto pr incipal faz-se igu alm ent e o eco. Na ver- Mundo ( 1645) e, no séc ulo XX , Das Satzsburge r
imaginação ("in lhe mind 's eye", diria lIamlet). dade , es ta junção dos dois text os só é reali zada Grossc lI'eltth eat er de 1I0FMANNSTIIAL ( 1922) .)
Esta distin ção real não é, co ntudo, menos pu - TEXTO ESPETACULAR num a e nce nação realista ou ilustrati va o nde o ce- Es te também é o term o para os es pe tác u los
ram ent e teóri ca, pois os dois mod os ficcionai s nógr afo tem o cuidado de escolhe r um a realida- interculturai s" qu e BARBA prepara ao termo d e
interferem e em bara lham suas pistas para o pra - D- Fr.: tex te spectaculaire; Ingl.: performance text ; de cê nica decorrent e das ind icações do texto se- um es tág io do ISTA, reunindo mestres o rie nta is e
zer e a ilusão do es pectado r. A cena e a figuração AI.: Auffiihrungstcxt; Esp.: texto espe cta cular: c undário. Es ta co nce pção es tética muito datad a atores oci de nta is.
408 409
TI PO TiTULO DA P EÇ o

TIPO tor dramáti co se vê às voltas . Hi stori cam ent e, o textuah , mas se u co nhecime nto obriga tório - ain- 4 . Co mentário Metatextual
surg ime nto dessa figuras es te reo tipa das se ex pli- da se vai ao teat ro por ca usa de um títul o, mesm o
e Fr.: type ; Ingl.: typc: AI.: Typus; Esp.: tipo. ca co m muita freqü ênci a pel o fat o de qu e ca da qu e, co mo hoj e, nos inte resse mos so bretudo pe lo O títul o se enca mi nha de bo m gra do par a um
per son agem e ra inte rpretada pel o mesm o ator, o trabalho da ence nação - influi so bre a leitura da come nt ário metatextu al sobre a fáb u la: O Jogo
Personagem * convenciona l q ue possu i ca rac- q ua l e laborava, ao lon go dos anos, um a gcstua- peça. An unc ia ndo a cor, o títul o instaur a uma do Amor e do Acaso conv ida a e luc ida r as rel a-
terísti cas físicas, fisi ol ó gi cas o u morais co muns lidade, um rep ert óri o de lazzi" o u um a psicol ogi a ex pec tativa qu e será ora frus trada, o ra sa tisfeita : ções desses dois moti vos na int riga. Terror e Mi-
conhecidas de ant em ão pel o pú b lico e co nstan- origina l. Ce rtas dram aturgias não podem se pri- o espectado r, na ve rdade, j ulgará se a fábul a co la séria tio Terceiro Reich refl ete os se ntime ntos qu e
tes d urante toda a peça : es tas c arac te rís ticas fo- var dos tip os ( farsa , co mé dia de ca rac te res), Às be m no rótulo escolhido. Ce rtas d ram aturg ias. são liber ad os num es pec tador q ua ndo ass iste a
ram fi xad as pel a tr adi ç ão literári a (o ban dido veze s, a represent ação do típi co , is to é, do ge né- como o dr am a rom ânti co o u herói- cômi co, dão tod os os ske tches da peça.
de bo m co ração, a boa prostituta , o fan farr ão e rico , d o " filosófico", passa a se r um a rei vind ica - um títul o a cada ato o u quadro"; de man eira q ue
tod os os ca racte res d a Co mme dia deU'art e*). ção do d ramaturgo. a fábul a fica per feit am ente resumida na seq üê n- 5. Gosto pela Provocação e pela
Es te ter mo d ife re um po uco da q ue le de es te reô- cia dos títulos (assim, e m Cyrano de Bergerac ). Publicidade
tip o" : do es te reó tipo, o tip o não tem nem a ba- Acta ncial (modelo), ato r, papel, emp loi, d istri-
nalidad e, nem a su pe rfic ia lida de, nem o ca ráte r ~. bu i ção.
I. Concisão Quem tem Medo de Virginia lVoo/f? (ALllEE),
rep et itiv o. O tip o repre sent a se não um indiv í-
du o, pel o men os um papel * ca rac te rís tico de um W Bentl ey, 1964; Aziza et al., 19 78; l lerz el, 1981; Um Chapé u de Palha d a It ália (LAIl ICHE). Pena
A mossy, 1982. O títu lo é de bom g rado co nc iso: deve se r fá- qlle Ela Sej a uma Pura (FORD) são títul os que
es tado ou de um a es q u is itice (ass im o pap el do
c il de se g uardar e não di zer tudo (co mo aq ue les exc ita m a curios ida de e atrae m a at en ção. Eles
avarento, do traid or ). S e e le não é individuali -
romances do séc ulo XVIII c ujo título intermi- fari am so nhar os cin ea st as conte m porâneos .
zado, possui pel o me no s a lguns Ira o hum anos
TIRAD A nável j á era uma m ini -narração ). Se é comprid o
e histori cam cn tc co mpro vad os .
ou complicado demai s, simplificar-se-á com o 6. Provérbio
I . Há criação de um tip o logo que as carac terísri- e Fr.: tirade ; Ing1.: tirade ; AI.: Tirade; Esp. : par- uso, como e m A Tragédia de Hamlet, Prín cip e
da Dinam arca, reduzid o a l lunilct, o u como o
cas individuais e orig ina is são sac rificadas em be- lamento . As Com édias e Prov érbios de IllUSSET dão o
títul o (paródi co ) d a peça de Pet er WEISS A Per- tema ilu str ad o pela peça , como se e les decorr es-
nefício de um gene ralização e de uma ampliação.
Rép lica de uma personagem , qu e tem tod o tem - seg uição e o A ssa ssinato de Jean-Paul M a rat , se m de uma en com enda o u de um a ap osta a partir
O es pectado r não tem a menor difi culdade cm iden-
tifi car o tipo em q ues tão de acordo co m um traço po para expo r suas idéias. Mu itas veze s a tirad a é representad a pe lo g rupo teat ral do Hospício de de um a id éi a a se r ilustrada dramati cam ente .
psicológico, um meio soc ia l o u um a atividade. lon ga e vee me nte: ela se o rga niza retoricamente Cliarent on sob a di re ç ão d o Senh or de Sad e, Muitas vez es se trata de um tro cadilho mai s o u
e m um a seq üê ncia de frases. qu estões, ar gum en- ab re viada para Ma ra t-Sade. meno s e nig má tico (T he Imp orta nce of Bei ng
2. O tipo goza de má fam a: repro vam sua superfi- tos , afirmações, m o rc e alL ~ de bravo ure (pe ças de Earnest, A lmpor t ãnci a de Ser Prudente ).
c ia lidade e sua di ssemclh an ça das person agen s resi st ên cia, passagen s br ilh ant es) o u boas pala- 2. Nom e Própri o
reais. Elc é ass imilado à figu ra cô mica definida, v ras (a " t ira da dos nari z es" e m Cyra no de 7. A Esco lha do Título
den tro da perspectiva bc rgsoniana, como "mecâ- Bergeracy. A tirada é freq üente em dram atu rgia Na maiori a das vezes. o título leva o nom e pró-
nica aplicada sob re o vivo" (IlERGSON. 1899 ). clássica. quando o texto é d ivid ido e m di scu rsos prio do herói central (Tartufo, Andrômaca), co m o A vangu arda é hoj e muito mais reservada em
Observa-se que as personagens trágicas possuem , bast ant e lon gos e autônomos. for ma ndo qu ase qu c perigo de q ue nossa época não mais veja aí o herói suas escolhas de um tí tulo, cons ide rando-o co mo
qu ant o a elas. uma dimensão mu ito ma is humana uma se qüência de mon ôlogos ", Cada tir ad a tende mais interessant e : Britannicus é o nom e da vítima um a simp les convenção o u nomen cl atura para um
e ind ividual. Co ntudo, inclus ive a personagem mais a tornar-se um poem a q ue tem sua própri a o rga ni- prin cipal , mas qu em nos fascin a na hora é Nero . te xto qu e é a única co isa co ns ide rada importanll e.
trabalhada se red uz na verdade a um conj unto de zação int ern a e res ponde às tirad as ante rio res. Para os reis. pri nc ipa lme nte e m SHAKESPEARE, o Por isso tem -se a impressão de q ue todos os títulos
traços, até mesm o de sig nos distint ivos, e não tem nome é precedido d o títul o e da parte em questão: se parecem um pou co. E. no e ntanto. o títul o é re-
nad a a ver com um a pessoa real. E, inversamente. Esticomitia, narra tiva. estâ ncia , soli lóquio . The First Par t of King Hem)' lhe Fourth. le vant e par a a ca rre ira da o bra, principalm ent e no
o tipo não é se não um a person agem que co nfessa bo uleva rd, o nde é preciso atrair o públ ico e lhe
francament e se us limit e s e sua simplificação. En- 3. Cara cteri zação Imediata prometer algo em troc a do se u dinhei ro (011D inera
fim, os tipos são os mai s apt os a se integrarem à TÍTULO DA PEÇA au Lit, Les Baba -Cadrcs, Le Dind on, Reviens Dor-
intri ga e a sc rvircm de o bje to lúdi co de dcmons- O títul o procura muit as vezes ca racte riza r o mi r I'Élysée). Os auto res dc melodramas sabiam
à

tra ção, na mcdid a e m qu e se carac teriza m por sua ~ Fr.: titre de la piêce; Ingl. : title of pia)'; AI.: herói , seja ge ne ra liz ando se u cará ter (exe mplo; bem di sso qu ando di ziam qu e " para fazer UIl1 bom
idéi a fixa que os põe e m co nflito co m os outras "t.; Titcl dcs Stiickcs; Esp.: titulo de la obra. mel odrama, é preci so primeiram ent e escolher um
O Mi santropo, O A varento, O Ment iroso ), sej a
personagens (ind ivid ua liza das o u típicas tam bém). títu lo. Em seg uida, é preci so ada pta r es te títul o a
jo gand o co m as asson ânc ias : Tart ufo, O Pingu e-
Não existe regra para e nco ntrar um bom títu lo um ass unto qu alqu er" (Trait édu M élo dramc , 18 17,
Pongue (ADAl\IOV), Mann ist Man n (BRECHT).
3. As person agen s tip o s se enco ntra m sob retudo de peça, nem es tudos g loba is so bre a escolha dos
Às vez es um su btí tu lo preci sa o títul o es boç ando por A .A.A. !).
nas form as teatr ais de fort e trad ição histórica onde títu los. O títu lo é um texto ex te rior ao text o dra-
a intri ga: e m dr amaturgi a e lisabcta na (Alijar Love
os caracteres reco rrentes representam grandes ti- m áti co propriam ente dit o : e le é, co m re lação a
para Alllôllio e Cleópatra, de SHAKESPEARE). Antonomásia.
pos hum anos o u esq ui sit ices co m os qu ais o au- is to, um e leme nto didascáli co * (ex tra- o u pa ra-

.fIO .f 11
T RADUÇÃO TEATRA '
TRABA LliO TEATRAL

T RADUÇÃO TEATRAL parte, ao mesm o tempo. do texto e da cultura-fon- orige m e sua fo nte . A tr adução não é um a bu sca
TRABALHO TEATRAL
te e do text o e da cultura-a lvo. ente nde ndo -se qu e de eq uiva lência se mâ ntic a de dois te xt os, m as
um a apropriação de um texto-fonte po r um tex-
~ Fr.: travail th éâtral ; Ingl.: theatrical work; AI.: -t} Fr.: traduction théãtrale; Ingl.: translation; AI.: a tra nsfe rência d iz respe ito ao mesm o tem po ao
texto-font e, e m sua dim en são semântica. rítm ica, to-alvo. Par a descr e ver esse processo de apro-
't.: Theaterarbeit ; Esp.: trabajo teatral. Uberse tt ung; Esp.: traducci õn.
ac ústica, co nota tiva etc., e o texto-alvo. nessas mes- p riação. é preciso acom pa nha r as etapas de se u
m as dim en sõe s necessariament e ada ptadas à lín- enca minha me nto, desde o texto e a cultu ra-fonte
Este termo - tal vez um a tradu ção incon sc ien- l. Especificidade da Tradu ção para a Cena
g ua e à cultura-a lvo . A este fen ôm en o " no rma l" at é a recep ção co nc re ta do p úblico (PAVIS. 1990).
te do Modellb uch " brechti ano qu e leva o título
de Theaterarbeit ( 196 1) - teve nos anos cinqüen- para tradu ção li ng üística ac rescenta-se. no teat ro.
Para fazer j us tiça à teori a da tradução teatral.
ta e sessenta um a g rande voga, pois evocav a não a relação das situações de enunciação: es ta é. na 3. A Série de Concretizações
principalment e a tr adução para a cena efetu ad a
só o es trito trab alho dos ensaios e do aprend izado maio ria das vezes. virt ual, visto que o tradut o r tra-
visand o um a ence nação. é pr eci so levar em co n-
balh a, na maior parte do tem po. a parti r de um tex- Para e nte nde r as tr an sforma ções do texto dr a-
do text o pel os ato res, ma s também a a ná lise ta a situ aç ão de en unc iação * pr ópria do teat ro :
drama t úrgica", a tradu ç ão " e a ada ptação ", as to esc rito; tod avia, aco ntece (poré m rara me nte) qu e mático. sucessiva me nte esc rito, tradu zid o . ana li-
aqu ela de um text o proferido por um ator , num
improvisaçõe s ges tuais, a busca do gestus" , da e le tenha apree nd ido es te texto a se r tr aduzid o sado dram aturgicamcnte . enunciado ce nica rne n-
tempo e num lugar co nc re to. diri gind o-se a um pú- te e recebido pel o públ ico, é preciso recon stituir
fábula " o u a abe rtura do texto a um a pluralidade dent ro de um a e nce nação concreta. a saber. "ce r-
blico que receb e imedi atamente um text o e uma se u périplo e suas tr an sformaçõe s durant e suas
de se ntidos, a m arcação dos atores. a prep ara ção ca da" de um a situação de enunciação reali sta.
encenação . Para pen sar o processo da trad ução sucessivas co nc retizações.
dos figurinos. dos ce nár ios. das luzes etc. Traba- Mesm o neste caso. por ém . diferent em ent e da
tea tral , se ria ne ce ssári o fazer perguntas ao me s- O text o de o nde se p arte (1") é a result ant e das
lho teat ral implica ass im uma co nce pção din â- dublagem par a o c ine ma. e le sa be qu e sua tr adu -
mo tempo ao teó rico da tradução e ao encenador escolhas e da formulaç ão por se u autor . Es te pró -
mica e op erat ória da e nce nação. Encontra-se ge- ção não pod erá co nse rvar sua s itu a ção de e nun-
o u ao ator, assegurar- se de sua cooperação e in- prio text o só é legív e l dentro do con te xto de sua
ralm ent e vestí gio disso na realização fina l, e • ciação ini cial, ma s qu e e la es tá destinad a a um a
tegrar o ato da tr aduç ão àq ue la translação mui- situação de enunciação. prin c ipalment e de sua d ; i ~ - .....
vezes esse ves tígio é vo luntaria men te conserva- futura s itu ação de enunciação qu e el e ainda não
to mais am pla que é a e nce nação de um te xto mcn são inter- e idco -tcx tual. a sabe r. de sua rel a-
do e mostrado como part e integra nte da peça . co nhece. o u não co nheee mui to bem. No caso de
d ramáti co . No teatro . na ve rda de. o fe nômeno ção co m a c ultur a ambient e.
A re vista fran cesa Travail Th éãtral, qu e sur- uma en cenação con cret a do texto trad uzido . per -
da tradu ção para a cena su pe ra em mu ito aque-
giu e ntre 1971 e 198 1. se interessava por tod os os ceb e-se perfeitamen te a situação de e nunc iaç ão
le. bastan te lim itado , da tradução inte rlingual do a. O text o d a tr aduçã o esc rita (T') dep end e d a
nívei s da prod ução do es petác ulo e da atividade na líng ua e na cultura-a lvo. Rem ando co ntra a
texto dramático . Para tenta r chegar ao âma go de situação de e nunc iaç ão virtua l e passad a de 1'"
teatral , reat and o assim co m a co nce pção brccht ia- mar é. no caso do tradut or. a situação é muito mai s
al gun s problem as de tr aduçã o específi cos da ass im co mo d aqu el a d o futuro pú bli co . qu e re -
na de um a teori zação baseada num a práti ca co n- difícil. poi s, traduzind o, e le deve ada pta r um a si-
ce na e da ence naç ão, se rá indispensáve l lev ar ce be rá o te xt o e m T ' e T 4 • Es te text o T ' da tr a -
tínu a e tran sformad ora. tu ação de e nunc iação virtu al, porém passada. qu e
em co nta d uas ev idê nc ias: p rimo, no teat ro , a du ção co ns titu i u ma prime ira co nc re tização. O
e le não co nhece o u não conhece mais. a um a si-
tradu ção passa pe lo corpo dos ato res e pel os o u- tr adu tor es tá na po siç ão de um lei to r e de u m
tu ação de e nunciação q ue será atua l. mas q ue ele dr amaturgo ( no se ntido técnico da pal avr a): e le
vidos dos espectadores ; secundo, não se tradu z
TRABALHOS DE ATOR não conhece , o u ai nda não conhece. Ant es me s- faz sua esco lha na s v irtua lidades e nos pos sí-
sim ples me nte um text o lin g üístico num ou tro;
mo de abordar a q uestão do texto d ra mático e de vei s perc ursos do te xt o a se r traduzid o. O tradu -
co nfronta-se, faz co m qu e se co muniquem situa-
-t} Fr.: travaux d 'acteur: Ingl.: actor 's exercise; AI.: ções de enunciação e cu lturas heterogêneas. sepa-
sua traduçã o. co nstata-se portant o q ue a situação tor é um dramaturgo q ue deve primei ro efe tua r
Schauspi elcrübung; Esp.: eje rcicio dei actor: de enunc iação rea l (aq uela do texto traduzido e um a tr ad ução macrotcxtual, a saber. um a a nál i-
radas pelo es paço e pel o tempo. Conv ém . enfim.
colocado e m sit uação de recepção ) é um a tran sa- se dramat úrg ica da ficção ve iculada pe lo te xto .
distin guir clarame nte e ntre tradução e adapta -
No pro gra ma da maioria das esco las de ato res ção e ntre as situações de enunciação-fo nte e alvo Ele deve reco nst itu ir a fábu la. segu ndo a lógi c a
ção*. prin cipalmente br echtiana (Bca rbei tung,
figuram exe rcíc ios (e m STANISLÁVSKI, J\IEIER- e qu e e la le va de ce rto modo a lan çar um o lhar actan cial qu e lhe par e ce co nvi r; e le recon stitu i
literalm ente: "retrabalh o" ): por defin ição. a adap -
HOLD . COPEAU, DULLIN, BREClIT . VITEZ. me io des focado pa ra a fo nte e m ui to des focado a dra ma tu rgia. o s iste ma das perso nage ns. o es-
tação escapa a qu alqu er contro le: " Adaptar é es-
LASSALLE) qu e muit as vezes dão lugar à prep a- para o a lvo . paço e o tempo e m qu e e vo lue m os actantcs . o
crever um a o utra peça , su bstituir o aut or. T ra-
ração meti cul osa de um fragm ento de ence nação. A tradu ção te atral é um ato herm cn êutico como pont o de vista id eol ó gico do autor o u da é poca
du zir é tran scr e ver tod a um a peça na o rde m. se m
Daí a idéi a de siste matiza r os exercí cios e trab a- o utro qu alquer : para saber o qu e qu er di zer o tex- qu e tr an s par eci am no text o . os tra ço s ind ivi-
acr éscimo nem o missão. se m cortes, desenvol -
lhos de ato r qu e se tornam apresent ações dent ro to-font e , é preci so qu e eu o bo mba rdeie co m qu es- du ais es pecíficos d e ca da per son agem e os tr a -
viment o. in ver são de ce na, alte ração das per so -
da esco la o u para um grupo de ami gos o u de pro - tões pr áti cas a pa rtir de um a língu a-al vo , qu e eu ço s supra-seg me nta is do auto r qu e ten de a ho -
na gen s, mudanç as d e réplicas" (DÉPRATS. in
fission ais (por exe mplo. no TNS de Estrasburgo lhe per gunte : co loca do aí o nde es to u. nesta s itua- mogen e izar tod os os di scursos e o s iste ma do s
CORVIN, 1995 : 900) .
ou no C D NA de Gren obl e). Muitas vezes. atores ção fin al de recep ção. e tran smi tid o nos termos ecos. rep eti çõe s , ret omad as, co rres po ndê nc ias
ou aprend izes de atores se organizam entre si. sem dessa o utra lín g ua qu e é a língu a-al vo, qu e qu er qu e ga ra nte m a coe rê nc ia do text o-fonte. M as a
encc nado r, e testam mod os de apresentação ex- 2. Interferência das Situações de você d izer p ara mim e par a nós? Al o hermc - tradu ção m acr ot extual . se e la só é poss ível à lei -
periment ais. O resu ltado é muit o vari ável: ora os Enunciação nêutico qu e co ns iste. para int erpreta rc text o-fon - tur a do te xt o - mi c ro estruturas textuai s e lin -
atores se vêe m libertos da tutel a de um diretor, te, e m d e st ac ar d el e a lg umas gra ndes linh as. g ü ísticn s - e nvo lve e m troca a tradução de ssa s
ora ficam ent reg ues a si mesmos e se sente m mais O traduto r e o text o de sua tradu ção estão na tradu zid as numa o utra lín gu a, e m at rai r es te tex- mesm as mi c roestruturas. Nesse se ntido, a tr a -
desestabili zados qu e regenerados (exem plos da - intersecção de do is co njuntos aos quai s eles per- to estra nge iro para si. a sabe r, pa ra a língua e a du ção teat ral (co mo toda tradução lit er ár ia o u
dos em Th éãtre/Public n. 64-65. 1985 ). tencem em graus difer ent es. O texto tradu zido faz cu ltura -a lvo, par a faze r toda a di fer en ça co m sua tradu ção de ficção) n ão é u ma si m ples ope ração

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TRAGÉO t
T R ADUÇÃO TEATRAL

lin g üísti c a: e la e nvolve dema is uma es ti lís tica, e m ú llima in st ân ci a, o u so e o se n tido do te xto - 5. A Tradução e sua Ence nação p roj et o d a tradução é indi ssoci á vel d o p roj et o es -
uma c u lt ura , uma fic ç ão , par a não passar por fonte 1"'. Ist o é, a import ân ci a d a s cond ições de pet acul ar. um a gra nde traduç ã o p ass ível de se r
aq ue las rnacr oestrutur a s. c hegada d o e nuncia do traduzido , condições, aliás , a. Substitutos da situação de enunciação re to mada em di fer ente s en cenações existe fo ra
mu ito específicas no caso d o públ ic o de te at ro, de toda referência a um espetác u lo pre ci so" (90 t).
A tradu ção em 1", traduç ão j á in serida nu m a
b. O text o d a dr am aturg ia (1") é, portanto, sem- qu e deve ouvir o texto e, e m particul ar, ente nder e nce nação concre ta , é " ra m ificada" sobre a sit ua -
pr e leg ível na tradução de 1''' . Acontece mes mo o qu e le vou o t radut or a efe tuar determinada es - 6. Teo ria do Verbo-Corp o
ção de enunc iação cê nica, graças a um sis tema d e
d e um dramaturgo int erpor-se e ntre trad utor e col ha , a i mag ina r no públ ico d et e rminad o " ho- dêiticos. A part ir do m o m ento qu e é ass im ra m i-
e ncena do r (e m 1", portant o) e de preparar o terre- ri z onte de expecta tiva" (JAUSS) . É n a ava liação C ha ma -se verb o-corpo a aliança d o gesto e d a
ficado, o te xto t rad uzid o pode se a liv iar dos te r-
no para a futura e ncenação, siste ma tiza ndo as es- de s i m e smo e do o utro qu e o tradutor far á um a pal a vr a. É um a rcgul agem , es pecífica d e uma lín -
m os qu e só são com p ree nsíveis d entro do con-
colhas dramat úrgicas, ao mesm o tempo na leitu- id é ia do ca rá ter m ais ou menos a propriado de g ua ou de u m a cu ltura. do rit m o (ges tual e vocal)
te xt o de sua enu nciação . O te xt o dr amát ico , q ue
ra d a tradução 1" - a qu al é, co mo acabamos de s ua tr aduç ão . M as es ta dep ende d e muito s o u- e do te xt o . Trata-se de a pree nder a m an e ira pel a
j oga muito co m dêiti co s, pronome s pe ssoais, s i-
ver, infiltrada pela an áli se dr amauirgi ca - e e ven- tro s fa to res e, princip alm ent e, d e uma o ut ra com- q ua l o te xt o -font e e, depoi s, a co locação e m j ogo -
tu alment e rep ortando- se ao o rig ina l 1". lên ci os, o u qu e faz rec a ir na s indicações cê nicas
p et ên ci a. fonte , associam um tip o de e nu nc iação gestua l e
a descri çã o dos se re s e d a s cois as, sabe mu ito bem
rítmi ca a um text o; e m seg uida procu ra -se um "er-
c. A et ap a seg uinte, e m 1" , é aq ue la da co loca - d isso , es perando paci ente m ente qu e um a e ncena-
b. Co mpe tê nci a rítmica , psicol ógi ca, bo -corpo e q uivale nte e a prop ria do pa ra a língu a-
ção à pro va do text o , traduzid o e m 1" e 1" , no ção subs titua o te xt o .
auditiva do f uturo público a lvo. É portant o nece ssári o, para e fe tu a r a tradu-
contato da cena: é a co nc re tização da e nunciação E st a propried ad e d o te xt o dram áti c o e, a
ção d o te xt o dramát ico , o traduto r c ria r para si
c ênica. Desta vez , a situaç ão de enunciação é en- A e q u iva lê nc ia o u, pel o m eno s , a tr an sp o si- [o rtio ri, de sua tr aduç ão p ar a a ce na , permite qu e
uma im agem visu al e gestua l de sse ve rbo -co rpo
fim reali zada: el a "mergu lha" no público , na cul- ç ão rítmi c a e prosódi ca do text o-fonte (I" ) e do o ator co m p lete o te xt o a se r dito por toda es pé -
d a lín gua e da cu ltur a- fo nte para te nt a r apropri-
tura-alvo, os quais verificam imediatament e se o te xt o d a concretiz ação cê nica (1") é mu it as ve - c ie de re curso s a cú sti c o s, gestuais, mími c o s ,
a r-se d ela a partir do verbo-corpo da lín gu a e da'- ....
te xt o passa o u não ! A e nce naç ão , enquanto con- z e s co ns ide rada indi sp e nsá vel à "boa" traduç ão. postura is . E nt ra e ntão e m j o go tod a a int er ven-
c u lt ura-a lvo . Insistiu -se m ui ta s vezes na necessi -
fro ntação d as situações de e nunciação virt ual de É pr eciso, na verdade, le var e m con ta a form a d a ção rítmi ca d o at or sob re o te xto dr amático . s u a
d ad e d e e fe tua r. pe lo j ogo d o ato r e d a ence na-
TUe at ua l de 1" , propõe u m texto espetacular, su- m e nsagem traduzida, principa lm en te s ua du ração e nto nação qu e di z, so b re o te xto , mai s qu e um
ção . a in ser ç ão do ge sto e d o c or po na língua-
ge rindo o e xame de tod as a s rel ações possíveis e se u ritmo qu e fazem part e d e s ua m en sa gem . lon go di scurso , se u fra se ad o qu e abrevia ou alon-
fonte , d e re stituir s ua " fisica lidade". Trat a -se ,
entre si gnos textuais e sig nos cê nicos. Mas o c rité rio do int erpret ável o u d o faláve l é ao g a à vontade s u a s tirad a s , es t ru tura ou de se s -
se m pre. d e p roced er ao e ncontro d o verbo-corpo
m esmo te mpo vál ido para co ntro la r o m od o de trutura o te xt o : são p ro c edimento s ges tua is qu e
v indo d a c u ltura e d a lín gu a-fonte co m aquel e d a
d. Mas a sé rie ainda não es tá conc luída, pois é re cepç ão do text o proferido e p roblemáti c o a par- ga ra nte m a c irc u lação e ntre a fal a e o co rpo .
c u ltura e da língua dent ro da qu al se faz a tradu ção .
pr eci so qu e o es pec ta do r rece ba es ta co ncreti- tir do m omento qu e e le d egen era numa norma do
z ação cê nic a 1" e qu e e le se ap roprie del a por b em in terpret ar ou do verossimi lha n te. É certo b. A tradução co mo encenação L:J:1 Th éãtre Pub lic , n. 44 , 19 82 ; Pa vis, 1987b.
s ua vez : pod er- se-i a c ha ma r es ta última etapa que o a tor d e ve se r fisicam ent e c a paz de pronun- Entre os tr adu tore s e os e nce nadores. opõe m- •• 1990 ; Sixi êmes Assises, 1990.
concretização recep tiva o u enunciação recepti- cia r e d e in te rp re ta r se u te xt o . Is to im p lica ev i- se du as escolas de pensamento quant o ao estatu-
va. Este é o mom ent o e m qu e o te xt o -font e final - tar as e u fo nias. os jogos g ra tuitos d e s ig n ifica nte , to da tradução d ia nte d a e nce nação. É a me sm a
me nte c hegou a seu s fin s: to car um espectador a mu ltip licaçã o dos de tal hes à s cu stas de uma discussã o que a da re la çã o do tex to dramático e T RAGÉ DIA
durant e um a e nce nação conc re ta. Es te es pecta- a pree nsão ráp ida do co nj unto . Es ta ex igê nc ia de de sua encenação *.
d or só se apro pria do te xt o ao termo de um a cas -
ca ta de co nc retizações, de traduçõ es "intermediá-
um te xt o interpretável o u [al ável po d e , tod avia ,
• Par a tradu to re s c iosos d e sua a uto no mia e q ue
ê (Do grego tragoedia, canto do bode - sac rifí-
cond uz ir a um a norm a do bem fal a r, a um a sim - cio ao s deu ses pel os gre gos .)
ria s" qu e e las próprias, e m c ada e ta pa, redu zem muita s vezes co ns idera m qu e se u tr ab alho é
pli fi c aç ã o fác il d a ret óri ca d a fra se o u da per- Fr.: tra g édie ; Ingl. : tra gedy; AI.: Tra g õdic ; Esp.:
o u am plia m o text o-fonte , fa zem del e um text o public ável tal como está, qu e não es tá vin cul ad o
forrnance p ropriam ent e res pira tória e a rt ic u la t ória tra gcdia .
se m p re a se r en contrad o , se m pre a se r co ns tituí- a uma e nce nação e m p art icul ar. a tradu ç ão não
do a tor (cf as tr adu çõe s de S HA KES PEA RE) . U m
d o. N ão é e xagera do di zer qu e a tr adu ção é ao de te rm ina nec essá ria o u to ta lmente a e ncenação:
peri g o d e banaliza ção sob a capa do te xt o " re- Peç a qu e representa u m a ação human a fu ne s ta
m e sm o tempo uma an áli se dramatúrgi ca (T'-T'), e la deix a as m ão s li vr e s aos futuros ence na do re s.
dondo na boca" es preita o trab alh o d a encenação. mu ita s vezes terminad a e m m orte , ARISTÓTE LES
uma e nce nação (T ' ) e um diri gir-se ao públi co Es ta é a po siç ão d e DÉ PRATS (i n CORVIN, 1995 ).
Qu ant o à noção co rre lata d o te xt o audivcl ou d á uma defi nição d e tra géd ia qu e influ en ciará
(1") que se ignoram.
receptivel, e la também dep ende do públi co e d a • A te se co ntrá ria qu a se asse me lha a tradu çã o a profundament e os dr amaturgo s at é no sso s dias:
fa culdad e de ca lcu lar o impact o e mocio na l d e um um a e nce nação. já conte n do o te xto da traduç ão "A tra gédi a é a imitação de um a aç ã o d e ca rá te r
4. As Condiç ões de Recepção da e le va do e co m ple to, de uma c e rta ex te nsão, n u m a
tex to e de uma ficção sob re os e sp ect ad ore s. Aí s ua e nce nação e co m a n da ndo-a. Isto equ iva le a
Traduçã o Teatra l também se observará qu e a e ncen ação conte m po- ling uage m temperada co m cond ime ntos de uma
co ns ide ra r qu e o te xt o o rig ina l o u tradu zid o con -
rân e a nã o mai s recon hec e es ta norma da corre- té m umapré-encenaçiio*, po siç ão criticáve l quan - es péc ie parti cular co n fo rme as di ver sa s parte s.
a. A competênc ia herm en êutica do futuro ção fô n ica , d a cla rez a do d iscurso o u d o ritmo do c hega até a s ugerir qu e se dev e le vá-Ia e m co nta imita ç ão qu e é feit a por personagen s e m aç ão e
p úblico agradá vel. Outros crité rios su bs titue m es tes, de - para re ali zar a e nce nação e para prep ar ar a tr a - n ão por me io de um a narrati va. e que , prov oc an -
Viu -se qu e a tr aduç ão va i d ar, no fin al do ca - m asi ad o normat ivos, de um text o red ondo na boca du ção . DÉPRATS nuan ça e s ta o po sição dem asia- d o pi ed ad e e tem or, o pera a purgaç ã o própria d e
m inh o , na co ncretização rece ptiva qu e decid e , e ag ra dáve l ao o uv ido . d o de m arc ad a : " S e é o ca so e m que o pró prio se melh antes emoções" (l449b ).

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TR AG É DI A DOMÉS T ICA
TRÁGIo

Vári os e leme ntos fundamentais ca rac teriza m TRAGÉDIA POLÍTICA


a obra trági ca: a catharsiss ou pur gação das pai - I . A Concepção Clássica do Trágico a justi ça abso luta sobre a qual repou sa o unive rso
xões pel a produ ção do terro r e da pied ade ; a
ham a rt ia " o u ato do herói qu e põe e m mo vi-
e Fr.: t ra g ~ di e politique; Ingl.: political tragedy;
AI.: po litische Tragõdie; Esp.: tragedia política.
a. O conflito e o m omento
moral do co m um dos mortais. Isto faz de le uma
person agem qu e se m pre admiramos, mesmo qu e
ment o o processo qu e o co nduz irá à perda ; a tenh a se tomado cu lpado dos maiores crimes .
O he ró i rea liza um a ação trágica qu an do sac ri-
hybris", org u lho e tei mosia do her ói qu e perse- fica vo lu nta ria me nte um a par te leg ítima de si
Tragédi a qu e ret om a e leme ntos históri cos au- d . D est in o
vera apesar da s advertê ncias e recu sa esq uiva r- m esm o e dos int er esses supe riores, pod endo esse
tênti cos ou qu e se dão co mo tais. O trá gico pro-
se; o p~ t /IOS, so: ri'."ento do herói qu e a tragéd ia sac rifício ir até a mort e . HEGEL dá um a definição O destino assu me às ve zes a forma de uma
vé ~ das dec isõe s qu e grupos antag ôni cos imp õem
co munica ao pubhco . A seqüência tipi cament e del e most rando o di lacer am ent o do her ói entre fat alid ade o u d e um d estino qu e es maga o ho -
m ~l s ou men os ao her ói . Por exe mplo: Horácio,
trágica teri a por " fórmula mínima" : o mythos " exigências co ntraditó rias : "O trágico co ns iste nis- me m e redu z a nad a s ua ação. O her ói tem co-
Cinna de CORNEILLE, Britann icus de RACINE,
é a mimese " da prá xis ' atra vés do palhas' até a to : qu e, num confl ito, os dois lad os da o pos ição nhecim ent o dest a in st ân ci a superio r e aceita con-
A Morte de Danton, de BOCHNER.
ana.glloris*. O que significa, dito de maneira clara: tê m razão e m s i, m as só podem reali zar o ve rda- front ar -se co m e la sa be ndo qu e está se la ndo sua
a história trágica imita as ações hum anas coloca- dei ro co nte údo de sua fin alid ade neg and o e fe- própri a perda ao d ar iníci o ao combate . Na ver-
das sob o signo dos so frimentos das persona gen s e rin do a o utra pot ência qu e também tem os mes- dad e , a ação tr ági ca co m po rta uma sé rie de e pi-
da piedade * até o momento do reconhecim enm »
TRÁGICO
mos direit os, e qu e assim eles se tomam cu lpados só dios cujo e ncade ame nto nece ssári o só pode
das persona gens entre si ou da consc ientização da
fonte do mal. e Pr.,: tragique ; Ingl. : tragic; AI.: tragisch; Esp.:
tra gtco .
e m s ua mor alidade e po r essa própri a m oralidad e"
( 1832: 377) . O tr ági co é produzido por um co n-
levar à catás tro fe . A m otivação é ao mesm o tem-
po int eri or ao her ói e de pendente do mundo ex-
Sem fazer aqui a história da tragéd ia, cum- fliio inevitáv e l e in solú vel , não por uma séri e de teri or. da vo ntade d o s outras per so nagen s . A
pre re ter três períodos em que e la floresce parti - ca tás tro fes o u de fen ôm eno s naturai s horrívei s, transcendê nc ia assume suas identidades mu ito
cu larme nte : a Gr écia clássica do sé culo V, a In- É preciso di stin guir cuidadosamente a tragé-
ma s por causa de uma fatalidad e q ue pe rsegue diversa s no d ecorrer da história lite rária: fortu -
dia *, gê ne ro liter ário qu e possu i suas própri as
glaterra elizabetana e a Fran a do séc u lo XVII e nca rn içadam nt c a existê ncia hnm ana. O mal na , lei moral (CORNE ILLE), deus oculto (em= ===
( 1640-1660). regras, e o trágico, princ ípio antropo lógico e fi-
trágico é irrem ed iáve l. Como diz LUKÁCS, "q uan- RACINE, segu ndo GOLDMANN , 1955), paixão
losófico qu e se en co ntra em vária s outra s formas
do a cortina se abre, o futuro já é present e de sd e (RACINE, SHAKESPEARE). determini s mo so -
Q Ver os artigos Trágico e Poético. art ísticas e mesm o na ex istênc ia humana. No en-
a e te rn idade". cial o u her editari edade (ZOLA, HAUPTMANN ).
tanto, é clarament e a partir da s tragédias (dos gre-
gos às tragédias mod ernas de um GIRAUDOUX
b. O s protagonistas e. Liberdade e sacrifíc io
TR AGÉDI A DOMÉSTI CA ou de um SARTRE) qu e me lhor se estud a o trági-
co pois, com o o bse rv a P. RICOEUR, "a essê ncia Q ua lq ue r q ue seja a natur eza exa ta das for ças O hom em recobra assim sua liberd ad e: "Foi
(BURG UES A) um a grande idéi a admitir qu e o hom em co nse nte
do trágico (se ex iste um a) só se descobr e por meio e m co nfronto , o co nflito trágic o cl ássico se m pre

e Fr.: tr ag édie domestiq/le; Ingl. : domestic


tragedy; AI.: biirgerliehe Trag õdie; Esp.: tra -
de uma poesia, de um a represent ação, de uma
cri~ Çã o de per sona gem ; e m suma, o trági co é pri -
o põe o homem e um prin cípi o moral o u reli gioso
supe rior. Par a o surg ime nto da tragédia g reg a,
em aceitar um cas tigo me sm o por um crime ine -
vitâve l, a fim de manifestar ass im sua libe rd ade
metro mostrado e m o bras trágicas, o pe rado por " pa ra qu e haj a ação trágica, é preci so qu e se haj a para a própri a perda d e sua liberd ad e e de soço-
gedia doméstica.
destacado a noção de um a na tureza humana qu e brar po r um a decl ara ç ão de dir eitos da vo nta de
heróis qu e ex iste m p lena me nte no imaginári o"
tem se us pró prio s ca rac te res, e qu e, por co nse- livre" (SCHELLlNG , ci tado e m SZONDI, 19 75 b :
Nom e do gê nero e mprega do no séc u lo XVIII ( 1953: 449) . No es tudo d as diferent es filoso fias
g ui nte, os planos hum ano e d iv ino sejam bast an - 10), O trági co é, port ant o . tant o a marca da fat al i-
por DIDEROT, pa ra designar o drama burgu ês" , do trágico, se mpre se e nco ntrará esta dicot omia:
te distin tos pa ra se oporem ; mas é prec iso qu e dade qu ant o a fata lidade livrem ent e acei ta pel o
- uma co ncepção liter ár ia e artís tica do trágico
e les não de ixe m de parecer insep ar ávei s" (VER- herói : es te resgat a o d esafi o trágico, acei ta lut ar,
r e~ a ci onad o essenc ia lme nte à tragédia (ARIS-
NANT, 197 4 : 39). Assim , para HEGEL, o ve rda- ass ume a falta (q ue às ve zes lhe é imputada e q u i-
TRAGÉDIA HE RÓICA TOTELES);
dci ro tem a da tragéd ia é o divino, não o divino da voca da me nte) e não pro cura co mpro misso a lg u m

e
- uma co nce pção antro po lóg ica, metafísica e es-
consciênc ia reli gi osa, mas o divino e m s ua real i- co m os deu ses: es tá di sp osto a morr er para a fir-
Fr.: t.ragédie héroique; Ingl.: heroic tragcdy, se ncia l do trági co q ue faz decorr er a arte trági -
zação human a através da lei mor al. mar sua liberdad e, baseand o- a no reconhecimen -
heroic play; AI.: heroische Trag õdie ; Esp.: tra- ca da situação trági ca da existê ncia hum ana ,
gedia heroica. to da necessid ad e, Por se u sac rifíc io, o her ói se
co ncepção qu e se impõe a partir do sécul o XIX
c. Reconcilia ç ão mostra di gn o da g ra ndeza trágica.
( HEGE L, SC HO PE NHAUE R, NIETZSC HE,
Gênero de tragéd ia que surgiu na Ingl aterr a, SCHELER, LUKÁCS, UNAMUNO). A o rde m moral se mpre co nse rva, qu aisqu er qu e
após a restauração da monarquia , prin cipalment e seja m as moti vações do herói, a últim a pala vra : f Fallla tr á gi ca
Não ca beria propor um a definição global e co m-
com John DRYDEN (The Conq uest of Granada, pleta do trágico, poi s os fen ômeno s e os tipos de " A orde m moral do mund o. ameaç ada pel a inter - É ao mesmo tempo a o rige m e a razão do trá -
1.670 ). Trata-se de um a imitação da tragéd ia c1ás- ve nção par cial do herói trágico no co nflito de va- gico (ha ma rtia*). Para ARISTÓTELES, o herói
obra s examinados são dem asiad o div ersos c por
s.lca fran cesa, dent ro de um estilo e levado e pat é- lores iguai s, é re stab el ecida pe la j usti ça ete rn a co me te uma fa lha e "c a i e m desgra ça não e m
demais histori cam ent e situados para se redu zir a
uco, co m um a tem ática roman esca e ideali sta. Ela qu and o o her ói suc umbe" (IIEGEL, 1832 : 377). raz ão de su a m á so rte e de sua per ver s ão, m as
um co rpo co nstituído de propried ades trági cas.
não se livr ará de su a paródia em The Rehearsal A pesar do cas tigo o u da morte, o her ói trágico se na sc q uê nc ia de um o u o utro erro qu e co me te u"
Quand o muit o é útil es boç ar o sistema cl ássico da
(167 1) por BUCKINGHAM. reconc ilia co m a lei moral e a ju sti ça ete rna, po is (Poética, 14530 ). E st e par ad oxo trág ico (a lia n-
tragédia e se us prolon gam ent os modern os.
co m pree nde u qu e se u desej o era unil ateral e feri a ça da fa lha mo ral e d o erro de julgam ento ) é

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417
TRÁGICO TRÁG ICO

co ns titutivo da ação, e as difer ent es formas de imit ação d os incidentes " da fábul a. O classicis mo 2. Superação da Co nce pção C láss ica b. Visão trágica. visão onirica
trági co se explica m pel a a va lia ção incessante- fran cê s insi st e no respeito às três unidades . Cer-
N. FRYE ( 195 7) mostrou como a evo lução d a
ment e recon sid erada desta falh a. A reg ra de ouro tos auto res. co mo RACINE, fazem dessas regras. a. Desati vaç ão do trágico tragé d ia a co nd uz iu rumo à ironia ", à cons-
para o dr amaturgo é, seja co mo for, ap rese ntar pri nc ipal me nte aq ue la da un idad e de tempo . u ma
A própria possibi lidade do trág ico está vincu- cie ntização da evitabi lidode (a "rcsist ívc l ascen-
herói s nem dem asiado c ulpados, nem co mpleta- ne c e s s id ad e int ern a . GOETllE, co me n ta ndo
lada à o rde m social. Ela pressupõe a o nipotência são" , como d iria BRECIIT) do acontec ime nto trá-
ment e inocent es. Ora o traged iógr afo minimi za ARISTÓTELES. ind ica qu e a tragéd ia se co nc re ti-
de um a transcend ên cia e a solidificação dos valo- gico e de suas co nseqüê nc ias. A in st ân ci a trág ica
o alca nce da fali a, faz del a um dil ema mor al que za por um a co ns trução acab ad a, a calarse *, co mo
co meça a tomar uma forma hum an a o u soc ia l. "o
ultrapassa a individualidade e a liberdade do "c o nc lusão finali zante con cili ad ora qu e é ex ig id a, res aos qu ais o heróis ace ita subme ter -se. A o r-
'aquilo d e ver se r ass im' vira 'e m tod o caso . é as-
herói (CORNEILLE). o ra faz d o her ói um se r que de fat o . d e tod o drama e mesm o de tod as as o bras d em é se mpre rest abclecid a no fim do ca minho.
s im' da ironi a, uma co nce nt ração so bre o s fato s
é entregue se m pied ad e a um d eu s oc ullo: as- poéti cas" ( 1970. vol. VI : 235). M ais qu e o públi- seja e la de essência di vin a. met afísic a o u hum ana.
evi de ntes e uma rej ei ção d as su pe restru tu ras
sim, seg undo GOLDMANN, o trág ico do herói co, é o he ró i q ue ex pe rime nta a expiação e a re- Hi st óri a e tragéd ia são ele me ntos co ntra ditó-
mí ticas" ( 1957 : 285). Desta mu tação trá g ica re-
racin iano nasce da "o pos ição radi cal e ntre um co nc iliação trág icas: so me nte e m segu ida, e po r rios : q ua ndo po r trás do d estino d o heró i trá gico sulta, !'Oséculo XIX, o Schi ck sal sdrama (tragé-
mundo sem con sciênci a autê nt ica e se m grande- co ntrago lpe, qu e " a mesm a co isa se passa no es- ad iv inha-se um pano de fu nd o históri co, a peça dia d o d est ino ) (BÜCIlNE R, GRABBE, HEBBEL,
za humana e a person agem trágica , c uj a grandeza pírit o d o es pec tado r. o qual voltará para casa se m perde se u ea ráter de tra gédi a d o indivídu o para IBSE N e mesm o HAUPTMANN), o nde a in st ânci a
co ns iste preci sam ent e na recu sa desse mund o e ter ficado melhor em nada" (1970. vol. VI : 23 6). c hega r 11 o bjetividade da a ná lise hi st óri ca. su pre m a resid e no bloquei o da so cieda de e na
d a vida" ( 1955: 352). Outro s aut or es dão inúmeras int erpretaçõ es do Eis po r q ue um a visão m ai s hi st ori cizant e do ausê ncia d e per spect iva d e futu ro .
A falia varia de acordo co m os co nfli tos trági- co nfl ito trági co : o qu e muda e m ca da u ma dessas m undo des loca totalm e nte a co ncepção do trág i-
co ncepções é a finalidade d a ação d o herói . Para
cos. mas BARTHES tem razão ao d izer "q ue todo co. Se, por exemplo , com MARX, co ncebe-se a c. Visão trágica . visão absurda
herói trágico é inocente: ele se torna culpado para SCHILLER, o tr ági co nasce co m a resist ên ci a dos per so nage m não co mo substâ nc ia ate mpo ral, mas
caracteres contra um destino onipotente. com a Do tr ági co ao absu rdo', O cami n ho é por ve-
salvar a Deus" (1963 : 4 . A ssim , no caso de RA- como rcprc entanto de certas classes e correntes, zes curtíssimo. principalmente quando o homem
resi st ên cia moral ao sofrimento. resi st ência es ta
CINE, "a criança descobre qu e se u pai é mau e suas motivaçõ es não são mai s, a partir de então. não con segue mais identificar a natur za da ~ =; ~ ;= = :;
qu e leva os her ói s ao sublime.
qu er, co ntudo . co ntinuar a ser se u filh o. Para esta pequ en o s d esej os ind i vidu ai s, m as as pirações tran scendên ci a qu e o es maga o u d esd e qu e o in -
U ma psi col o gi zaç ão d o trági co transforma o
co ntradição, só existe um a saída (e es ta é a pró- com uns a uma classe . A ssim , só é trágica um a d ivíduo põe e m dúvida a justi ça e a legit imidad e
co n fli to m oral e m subjetiv ida de dil acerad a e n-
pri a tragédia ): que o filh o ass uma a falia do pai, co lisão e ntre uma "postu lação hi st ori cam ente ne- da inst â ncia trági ca. Tod as as metáforas d a hist ó-
tre du as pai xões ou as pirações cont ra d itó rias :
qu e a culpa da criatura aliv ie a ca rga da di vinda- cessária e sua real ização q ue é prati cam ent e im- ria como mecani sm o cego re vel am e m profund i-
Hamlet fica di vidido e nt re se u d e sej o d e vin-
de" ( 1963: 54 ). Mas es ta hamartia r é muit o ambí- possív el " (MARX, 196 7: 18 7 ). O trágico não é dad e os ge r me s d o a bs u rdo na aç ão tr ági ca:
ga nça e a impossibilidade de ag ir d e aco rdo co m
gua: nós a tradu zimos ora por falha, por erro de m ai s, e ntão , qu e um a defasagem e ntre postulação BÜCII NER, pro curand o explica r a hi st ória, não
se u hum ani sm o.
j ulgamento ou por pecado (na tradu ção cristã) . ind ivid ual e realidad e socia l e a per da do ind iví- e nco n tra aí nenhum sig nificad o nem mei o d e
SHAKESPEARE se si tua. como most ra ad mi-
ravc lmcnte bem GOETHE. numa e nc ruzilhada da d uo contra um a orde m social vindoura o u advinda. ação : "Eu me se nti co mo que an iqui lado sob o
g. O efe ito produ zido: a ca tharsis" co nsc iê ncia trág ica, no mo me nto do enfraqueci- Para uma visão ma rxista o u mesmo simplesmen- te rr ível fatalismo da hi stó ria. Encontro na nat u-
A tragéd ia e o trágico se definem esse ncial- mento da tragéd ia, en tre o a ntigo e o novo, o de - te transfonnadora da sociedade, o trág ico res ide reza hu ma na um a un iformidad e atroz. nas rel a-
ment e e m função do e feito pro duz ido so bre o es- ve r (SOI/CIl) e o qu erer ( II'<JI/ell): " Através do de ve r num a co ntradição (e ntre ind ivídu o e sociedade). ções hu ma nas um a fo rça inexoráve l qu e pert en -
pectador. Além da cé le bre pu rga ção da s pai xões a tra gédia fica g rande e fort e, atravé s d o qu er er qu e não pôd e se r e lim ina da o u qu e só pod e sê- lo ce a tod os e a nin gu ém . O indivíduo não é se não
(so bre a qual não se sa be exata me nte se é elimi - frac a e pequen a. Por es te último c am in ho, nasceu 1Isc us tas de lutas e sac rifíci os pr é vios: "O trágico a es puma so bre a onda, a gra ndeza de um pu ro
Ilação das paixões ou purificaçâo pelas paixões), o drama, a partir do mom ent o qu e se su bs tituiu o de M ãe Co rage m e de sua vida, q ue o público acaso, a dominação do gê nio, um jogo d e fant o -
o efe ito trágico de ve deixar no es pec tador uma mon struoso dever po r um q ue rer e po rque es te sente profundamente, residia nu ma co ntradição ches. u m co mbate ridíc ulo co ntra um a lei impla-
impressão de elevação da alma, um enriquec imen- qu ere r liso nj ei a nossa fraq ueza, se ntimo- nos co- cáve l. qu e se ria sub lime reconhecer, m as que é
terrível q ue dest ruí a um se r humano, um a co ntra-
to psicológico e mor al : e is por qu e a ação só é mo vido s . porqu e, a pós um a d ol o ro s a espe ra. im poss íve l co ntro lar" ( 1965: 16 2 ). E m nossos
di ção qu e podi a se r resol vid a . m as so mente pela
so mos finalm ent e med iocr em ente co nsolados" di as. a co nfusão entre o trá gico e o ab surdo é mui -
ve rdadeiramC1llle trágica quando o her ói o ferece própria soc iedade e às c us tas d e lon gas e terrí vei s
(GOET HE, 19 70 . vo l. VI : 22 4) . SHAKESPEARE to mai or porqu e os d ram atu rg o s d o ab surd o
ao públi co. e.h sac rifício, esse se ntime nto de trans- lutas" (BRECHT).
" liga o a n tigo e o no vo de man eira tran sbordant e . (CA MUS, IONESCO. BECKETT e tc .) parecem oc u-
figuração (Ierror e piedade s) . GOLD MANN dis ti ngue co m m uita exa tidão a
O que re r e o dever tent am mant e r-se e m equilí- par o te rren o da a ntiga tragéd ia e ren o var a aproxi-
tragédi a, o nde o co nfli to é irremediáve l, e o dra -
br io e m suas peças: ambos se co mbate m com fo r- mação dos gêneros mistu rando cô mico e trág ico
h. Outros critérios do trágico ça. mas se mpre de tal mod o q ue o po der seja aí
m a , o nde e le é acide nta l: "C ha ma re mos de ' tra-
co mo ingredi ent es bási cos d a co nd ição abs urda
As diferent es es téticas não se cont ent am em perded or. Nin gu ém nun ca representou tão m agnifi - géd ia' tod a peça na q ual os co nfl itos são neces-
do homem. Basta de tragédi a nas regras, m as um
co nsidera r o trágico num nív el o nto lóg ico e an- came ntc o primei ro vín cul o d o qu erer e do de ver saria me nte insolúvei s, e ' d ra ma' tod a peça na
se ntime nto ten az do trágico d a ex is tê nc ia .
tro pológico. Co nfundi ndo com muita freqü ência no ca rá te r ind ividu al. A per son agem . co ns ide ra- qu al os co nflitos são re sol vid o s (pe lo menos no
Irág ico e tragédia. e las redefinern o trágico em d a d o lad o d e seu caráter. 'deve' : e la é limit ad a, p lano mor al ) ou in so lúveis dev ido à interven - W Be njamin, 1928: Scherer, 1950 : Go ldrnann.
função de normas mais dramatúrgicas e es téticas destin ad a ao pa rtic ular: mas e nq uanto se r huma- ção ac identa l de um fator q ue - segundo as leis 1995: Frye, 1957: Steiner, 196 1: Szondi, 19 6 1,
do que filosóficas, e isto . desde a fa mosa defin i- no, e la 'q ue r' : é ilimitada e rei vind ic a o ge ra l" cons titutivas d a peça - teri a pod ido não inter- 1975b: Jacq uot, 1965a, Ban hes. 1963; Mo rei, 1964;
ção aristoté lica seg undo a qu al a ação trágica é a (GOETl IE, 1970. vol, VI : 224) . vir" (1970: 75). Verna nt, 1965, 1972; Dürrenman , 19 66: Do mcnach,

4 18 419
TRAG ICOMÉD IA

1967; Grecn, 1969, 1982; Romilly, 1970; lIil gar, ce m às cam adas po pu la res e aristocráticas. apa-
1973; Vickers, 197 3; Girard, 1974; Truchet, 1975; ga ndo assim a front e ira entre co média e tra gé-
Said, 1978; Bollack e Bollack, 1986; Couprie, 1994 . dia . A ação, séria e até mesm o dramá tica », não
Dossi ês em Th éàtre/Public n. 70-7 1, 82-83, 88-89, desem boc a num a ca t ástrofe " e o her ôi » não pe-
100) rece. O estilo co nhece " altos e baixos": lingu a-
ge m rea lçada e enfática da tragédi a e níveis de

u
lingu agem co tidia na ou vulgar da com éd ia.
TRAGICOMÉDIA
2. Segund o HEGEL, co m édia" e tragéd ia * se
:). Fr.: tragi -com édie; Ingl.: tragicomedy; AI. : aproximam na tr a gi com éd ia e se neutralizam re-
"t.: Tragikomodie; Esp.: tragicomedia. ci procamente : a subjetividade normalment e cô-
mica é aí trat ad a de m od o sé rio; o trágico é ate-
Peça qu e part icipa ao m esm o tempo da tragé- nu ad o na co nc iliação (burg uesa no dr am a *,
di a e da co mé dia. O term o (tragico- como edio) é mundan a, seg undo a pal avr a de GOLDMAN, na
e mprega do pela primeir a vez por PLAUTO no pró- tragédi a clássica no fin al feli z). Por outro lad o,
logo do Anfitrião. Na históri a teatr al, a tragic o- cada gê nero pare ce sec re ta r sec retame nte se u an-
méd ia se define pel os três crit érios do tragi cômi - tíd oto: a tra gédi a se m pre re vel a um mom ent o de
co (pe rso nage ns, ação, es tilo). ironia tr ágica o u um int erm édio cômico *: a co-
A tra gi coméd ia se desen volv e re alm ent e a médi a abre freqüentemente per spectivas inqui e-
....:;. = partir do Renascime nto : na Itá lia, Pastor Fido
de GUARINI (15 90), na Inglat erra, FLETCHER e,
tantes c . Q Misall/ropo, O Avarento). Certos UNID DE QE ç O'- ~ e, pela necessidade de segurança sentida por tod o
críticos che gam mesm o a irnbri car estruturalmen- leitor pcrãruê uin esquema narrativo conciso eac : = :; : = ~
na França, o nde e la flor esce entre 1580 e 1670, te os dois gê ne ros . Segundo N. FRYE (1957 ), a
:). Fr.: unit é d 'action; Ingl.: unity of act ion; AI.: bad o. A ação e sua unidade são tant o catego rias da
como precursora, e dep oi s co mo rival da trag é- co média cont ém impli citament e a tragédia, a qu al
di a clássica . Design a, na época cl ássica, toda tra-
"t.: Einh eit der Handlung; Esp.: unidad de acci ôn. produção daramatúrgi ca qu ant o da recep ç ão " do
não é se não um a co mé dia não terminada. espectado r, poi s é es te último qu em decid e Se a
gé dia qu e acaba bem (CORNEILLE c ha ma ass im
A ação é un a (o u un ificad a) qu and o tod a a ma- ação da peça forma um todo e Se deixa resumir
O Cid) . Pod e- se ve r na tragicom éd ia um rornan- 3. Estrutura co nstituc io na lme nte amb ígu a e du -
téria narrati va Se orga niza em tom o de um a histó- num esquema narrat ivo coerente.
ce de ave nturas e de cavalaria. Aí se passam mui - pla, o tragicômi co re vel a a inca pacidade do ho-
tas coisas: e ncontros , reconh ecim ent os, qüipro - n a prin cip al, q uan do as intri gas anexas são tod as
mem de fazer face a um adve rs ário dign o del e:
q uós, ave nturas ga la ntes . Enq ua nto a tr agédi a ligad as logi cam en te ao tronco co mum da fábul a.
"Ele surge em todo lug ar o nde um de stin o trágico
clássica é res pe itosa co m as regras, a tragi co- se mani festa sob um a fo rma não trágica. onde, de
Das três unidad es , é a fundamental, pois envo lve a UNIDADE DE LUGAR
méd ia , aq ue la de ROTROU o u MAIRET, p or um lado tem -se o hom em e m luta que é e limina- estrutura d ram ática intei ra. ARISTÓTELES ex ige
exe mplo, se preocup a com o espe tac ula r, co m o do poet a qu e represent e um a ação un ificad a: " A :). Fr.: uni t é de lieu; Ingl.: unity of space ; AI.:
do, mas , do outro lad o , não se enco ntra o pod er
surpree ndente , co m O heró ico, com o patét ico, moral, mas um pâ nta no de circ unstâncias qu e sub- fábu la [...] deve im ita r ape nas uma única ação com- "t.: Einheit des Ortes; Esp.: unidad de lugar:
com o ba rroco, para dize r tudo. me rge milhares de homens sem merecer um úni - pleta cujas partes devem se r disposta s de tal ma-
O Sturm und Drang (GOETIIE, LENZ), e de- neir a qu e não se po ssa deso rdenar ou retirar urn a Ela ex ige o uso de um só lugar, correspo nd en-
co deles" (IIEBIlEL, P refácio a Ein Trau ersp iel
pois o dra ma burguês e o d rama româ ntico se in- in Sizilien, 1851 ; cf também LENZ, Anmerkungen delas Sem alterar o conjunto. Porq ue o q ue pode te ao que o es pec tador está em condições de en-
teressam pe lo gê nero misto, capaz de alia r o su- iiber das Thea ter; 1774 ). es tar num todo o u não estar nele, Sem que e le apa- globar pel o olha r. S ub di visões des te lugar são.
blime ao grotesco e de escl arece r a existê nc ia Ass im se ex plica a atua l predileção da dram a- reça aí, não faz part e do todo" (Poé tica , 14 51a ). A co ntudo, possí ve is: cô modos de um palácio, rua
huma na po r fort es co ntrastes. A é poca realista o u turgia pelo derrisório , pelo abs urdo" e pelo gro- unidade de ação é a única unid ade q ue os dram a- de urna cidade. " loca is o nde se pode ir em vinte e
pré-absur do vê nel a a ex pressão da situação de- tesco * do tragicô m ico. OÜRRENMATT vê e m turgos fizeram qu estão, pelo men os em parte , de qu at ro horas" (CORNEILLE), ce nários múltiplos
ses pe rada do hom em (IIEBBEL, BÜCII NER), ao nossa época ele me ntos trágicos que só podem , to- res pei ta r, não por preocupação co m um a norma, e si multâneos .
passo q ue nossa é poca se reconh ece plen amente davi a, se encarnar nu m a co médi a. Do mesm o mas po r necessidade intern a do se u trab alh o. Em
nel a (I0 NEs co. DÜRRENMATT). modo, para IONESCO, cô mico é trágico são inter- três horas de es pe tác ulo, não seria mesm o o caso
ca mbiáve is e co nsubs ta nc iais: " Um pouco de me- de mult ipli car as ações, subdiv idi-Ias o u ra m ificá- UNIDADE DE TEMPO
câ nico co loca do sobre o vivo, é o cô mico . Mas se las ao in finit o : o es pec tado r não mais Se rcconhc-
TRAGICÔMICO há cada vez mais mecâni co , e cada vez menos vi vo, ce na nel as Sem as explica ções, os resumos e os :). Fr.: un it é de temp s; 1ngl. : unity of time; AI.:
fica sufoca nte, trágico, porqu e tem- se a impr essão "t.: Einheit der Zeit; Es p.: unidad de tiempo.
-e
co me ntá rios de um narrador extemo à ação. Poi s
FI.: tra gi- comique; Ingl. : tragicomi cal ; AI.: de que o mundo escapa a nosso es pírito.;", bem , es ta interv en ção do autor é im pen sável e m
trag ikomisch; Esp.: tragic ômico. d ram aturgi a c lás sic a (não-é pica); o d ram aturgo Esta regra, muit as vezes co ntes tada, ex ige qu e
W Frye, 1957; G uthke, 1961, 1968; Styan, 1962; deve, port ant o, curva r-se à regra artesa na l da un i- a duração da ação re presentad a não exce da vinte
J. O gê ne ro trag icôm ico é um gênero misto qu e . Kott , 1965; D ürrcn matt , 1966, 1970; G irard, dade de ação. Tal vez a unid ade de ação se ex pli- e qu atro hora s. ARISTÓTELES aco nsel ha não se
resp on de a três c rit érios: as per so nage ns perte n- 1968; Guich cmcrre, 198 1. q ue pel a rel at iva sim plicidade da narrat iva mí ni ma ultr apassar o te mpo de um a " re vo lução so lar" (12

-120 -121
UN IDADE M l NI M A UNIDADE

o u 24 ho ras). Certos teóricos (no século XVII fran- mas que pa rtici pa m do mesm o co njunto (sig nifi- O siste ma das três un id ad es é ao mesm o tem - atmosfera de ve permanecer a me sm a (coe rên -
cês) c hegaram mes mo a ex igir que o tempo " re- cado) . Ne sse cuida do co m a distinti vidad e dos sig- po a ped ra de toque e a chave da dra maturgia cia *). De ve ha ver unid ad e de interesse. " q ue é
present ad o não ultrapasse o da re prese ntação. nos, esq ueceu -se que a unid ade mínim a depen de cl áss ica", Ele só faz se ntido recol ocado no con - a ve rdadeira fo nte da emoção co ntín ua" (!lOU-
A uni dade de tempo está intim am en te ligada à do se ntido g loba l, que a decup agem nunca é ino- text o es tético- ideo lógico de sua época. DAR DE LA MOTTE. Premia Discours S U l' la
da ação. Na med ida em qu e o c lass ic ismo-e toda ce nte, e é, sim, se mpre função do se ntido atrib uído Trag édie, 1721 ).
ab ordagem idealista da ação humana - nega a pelo observa do r à ce na. I. Ori gen s
pro gres são do temp o e a ação do hom em sobre o A aná lise "ato mizante" da cena é agora ab an - b. Unidade da co nsc iência do herói: o
cu rso do se u destin o, o temp o se acha comprimi- donada, o u pel o meno s co mpletada pel a dimen - A regra da s três unidades co ns tituiu-se co- s is te m a das unidades
do e rec onduzido à ação visív el da persona gem são qu e BENVENISTE cha ma de se mâ ntica e qu e mo doutrina estética nos séc u los XVI e XVII
Es ta unidad e se aproxima daqu ela da unidade
e m ce na, isto é, rela cionada à co nsc iênc ia do he- reintrodu z a impressão ge ral do es pec tado r e o (CHAPELAIN, de 1630 a 1637, D'AUBIGN ACem
de ação, ma s tran scend e-a e forma a unidade fun -
rói . Ele é filtrad o e passa necessariamente , para se nti.do g loba l. 1657, LA MESNARDlERE) ap oi and o-se na Poéti-
dam ent ai da dramaturgia clássica da qu al depen-
se r m ostr ado ao público. pel a co nsc iê ncia da per- ca * de ARISTÓTELES co nsi derada - se m razão -
dem tod as as o utras. o he rói se defin e , co mo o
so nagem. Na medid a em qu e. por o utro lado, o 2. Serni ótica e Sem ântica a fon te e a legislad ora das três un id ad es. À uni-
most rou HEGEL, pela co nsc iê nc ia de si, a qual
dra ma anal ítico " (onde a ca tás trofe é inevitável dade de ação *. efe tiva me nte recom end ad a por
ARISTÓTELES (Poética, ca po 5). são ac rescenta- faz co rpo com se us atos. Ele não pod e se co ntra-
e co nheci da por antecipação) é o mod elo da tra- Um segundo métod o co nsiste pois e m não mais
das a unidade de luga r* e a unidade de temp o", d ize r e co ntro la perfeitament e a situação. Ne le não
gé d ia, o tem po acha-se necessar iam ent e es maga- bu scar a qu alqu er preço. com o se faz par a a lín -
so b a inll uê ncia da tradu ção e do co me ntá rio de passa nenhuma co ntradição soc ia l qu e e le não
do e red uzido ao estrito necessári o para dizer a g ua. unid ad es se rni õticas, isto é . e m " ide ntificar
ARISTÓTELES por CASTELVETRO ( 1570) . Estas tenh a ass um ido e da qual sua co nsc iê nc ia não seja
catás tro fe: " A unidad e de tempo insere a história as unidad es, esc re ver suas marcas di stinti vas e
duas unidades rara s vezes foram totalment e res- O refl ex o , A unidade de sua co nsc iênc ia impõe a
-=~,:.; n ;, ã ;, o ~ c o m o processo, ma s como fatalidade irre- de scobrir c rité rios cada vez mai s fin os da d is-
lintividade" (IlENVENISTE, 1974: 64). Partir-se- peitadas, poi s imp õem restrições muito severas à unidade de sua ação. a qual não é desmontável
versível , imutável" (UIlERSFELD, 1977a: 207).
á do se ntido g lobal, do " inte ntado " (" aquilo qu e dramaturgia; ela s representaram sobretudo um pa- em processos contraditórios (como, r exml! !.I ~0 5~ ! = :;
isso qu er diz er " ) e. port anto. do as pec to se mâ nt i- pei de "parapeit o" para as ex pe rime ntações e as e m BRECIIT ). ma s forma um todo. A unidade de
co do di scurso teatral. tentaçõe s épicas do drama. BOILEAU deu sua mais tempo decorre da unid ad e de ação : o tempo só
UNIDADE MÍNIMA cé le bre defini ção: "Q ue e m um lugar, qu e em um pod e se r, na verd ade, plen o e co ntínuo ; e le é um a
Dor avant c, toda unidad e é integrada a um pro-
ê Fr.: unit é min imale; Ingl.: minimal unit; AI.:
je to globa l: um projet o dra mat úrgico", um a atua-
ção * o u um gestus" . Só depois é qu e se trata de
dia, um único fato realizad o/M ant enha até o fim
o teat ro repl eto."
e ma nação d a unid ade de co nsciênc ia e de ação .
A derr adeira uni dade. a de lugar, decorre . por sua
minimale Einheit; Esp.: unidad minima.
sabe r se a semântica (o se ntido g loba l) pode se ar- vez . da un idad e de tem po : em po uco tempo e num
A pes q uisa da un idade m ínim a da repr esenta-
ticular e se part icularizar em unida des se rni óticas . 2. Co nseqüências Drarnat úrgicas tem po hom ogên eo, não se pode ir mu ito lon ge,
Na ve rdade, poder-se-ia dize r da se mio logia da lín- nem sal ta r de um a temporalidade a outra. (É as-
ção não é um simples ca pricho de se m iólogo preo-
gua: e la "foi b loqueada, paradoxalment e. pe lo pró- As regras se base iam so bre tudo numa conver- sim que MAGGI introd uz . em ISSO. a unid ade de
cu pado e m enco ntrar na repre sent ação unid ades
prio instrument o que a criou: o s igno" ( 1974: 66) . gê nc ia do temp o/lu gar cê nico (da represent ação) lugar qu e não ex iste em ARISTÓTELES .)
e sua sinta xe e, co m a ajuda deste pont o de apoio,
O fato de qu e o teatro não possu i, co mo a língua. e do tem po/l ugar ex ter io r (da mat éria repr esen -
" re virar" o terreno desconh ecid o do fun cionamen -
unid ad es m ínim as co mo as palavras q ue são um a tad a ). O dogm a da unid ad e tende a fazer co nver- 4. Funç ão da s Unidad es
to teatral. Esta pesqui sa se imp õe a partir do mo-
dim en são ao mesmo tempo semi ótica e se mâ ntica , g ir ess as dua s temporali dad e s/esp acialid ades, a
ment o qu e se concebe a repr esent ação co mo um
impõe partir da dim en são semâ ntica do teat ro. Esta torn ar co nt ínuo e hom ogên eo o desenrol ar da
co nj unto de materiais " insta lados pela encena- Se os trat ad os clássicos gas ta m um a e ne rg ia
dim en são se mâ ntica da ex pressão artística enco- ação. o qu e é um a das preocupações esse nc iais
ção e cujos arra njo e vetorização produ zem o seu - lou ca para j us tifica r a necessid ade des sas regr as
bre no çõe s de acontecimento " teatral. re cepç ão ", da dr am atur gi a clássica (por razões de verossimi-
tido* do espetáculo. unificam os. baseando-se na auto rida de do s An ti-
prática significante" do espec tado r. lhan ça e bo m gos to; ser capaz de eng loba r pel o gos e regen do a prod ução todavia muito co nfo r-
As un id ad es de se ntido teatral não serão m ais es pí rito um co njunto limit ado).
I . Exis tência de Uma Unida de Mínima mi sta de sua é poca. e les não di zem , co ntudo, a
então mí nima s. mas sintética s e globais. ( Re por - A matér ia dra má tica vê-se sub me tida a rud e que corres po nde filosófica e este tica me nte um a
ta r-se a dccupagem " pa ra a apresentação de a lgu- pro va: conce ntração. di stor ç ão dos falos, isol a-
Com o cuidado de rem ont ar à própri a fonte da tal regu lamentação. A função d as unidad es nun -
mas un idades globaliza ntes.) me nto de mom en tos pri vileg iados (cris e *). inse r-
" mat éria" teatral, surge a preocupação de distin- ca apa rece co m cla reza o u. e m qu alquer es tado
ção e m na rrativa de aco ntec ime ntos ex ternos e
g uir "á tomos" de sentido teatral definindo a uni- W Propp , 1929; Janscn, 1968. 1973; Grci rnas. intcrioriza ção da ação .
de ca usa, va ria de um pa ra o utro texto . A prin ci-
dad e co mo o menor signo ' emitido no tempo (BAR- . 1970, 1973; Caune, 1978; de Mari nis, 1978. pal just ificati va invocada é a d a veross imilhan-
TIIES, 1964 : 258). Apesarda ad vertência clara, no 1979; Pavis, t 978d; Ruflini. 197 8. ra *: a ce na unifi cad a e co nce ntrada dev e pod er
3. Out ros Tip os de Unid ad es dar ilusão ao es pectado r qu e não ace itaria passar
entanto, de KOWZAN ( 1968), ess a atitud e levou a
descrever a ce na co mo o co nj unto fragm entado de e m du as horas de represent aç ão por lu gare s e
a. Unidade de to m temporalidad es múltipl as; e le veria e ntão os va-
signos de dimensões mu ito red uzidas . Os víneulos UNIDADES (TRÊS )
entre sig nos e sua hierarqui a não fo ram elucidados O c lassic ismo ex ige um a unid ad e na aprese n- zios e as inte rrupções da co ns trução dr am ática . o
devi do ao fato de haver ausên cia de um projeto ou Fr.: unit és; Ingl.: unitirs, unit s; AI.: Einheiten; taç ão das açõ es . Não se de ve sa lta r de um a o u- qu e produ ziri a um desagr ad á vel e fe ito de di s-
de um a estrutura capaz de "a tra ir" diversos siSIe- Esp.: unidades. tro nível de ling uage m, de u m a o utro gê nero . A tan c ia ment o . Poder-se-ia. po rém. e vo car ta mbé m

422 423
UN IVERS IDADE
UN IDA DE

a razão inversa: co nce ntra r o aco nteci me nto obri- sa lista e fixa no hom em qu e pretende decidir de Sca liger, Poetices Libri Septe m, 1561; Castel vet ro, um a descri ção) e prá tica (uma real ização que pro-
ga a co rtes e manipul ações que são pouco vcros- uma vez por todas a natur eza humana e os meios Co m ent ário de Aristó te les , 1570 ; Lau du n , A rt du z um obje to artís tico e se es força, em seg uida,
artísticos de represent á -Ia. As un idades - e, em Po étique Franç ois, 159 3; Mai ret , Pr éf a c e d e para analisá -lo).
similha ntes . Como observa HUGO em sua crítica
Silvani re, 1630 , Sophonisbe , 1634. La Mesnardi êre,
da trag édia clássica , "o qu e há de estr anh o é que part icular, aq ue la da ação q ue qu ase con stitu i a
Po étique, 1639 ; d' Aubignac, Pratique du Th éãtre,
aq ue les qu e segue m a ro tina pretendem a poiar un animidade dos dout os e dos d ramaturgos - são 2. O Local da Aprendizagem; a
1657; Co rnei lle , Disco urs sur les Trais Unit és, 1657;
sua regr a d as du as unidades [de tempo e de es pa- na ve rda de a ex pressão de um a visão un itária, Universid ade
Dryd en, Essa)' of Dramatic Poetry; 1668-1 6 84 ;
ço] na verossi mi lha nça , ao passo que é precisa- hom ogên a do hom em . O homem c lássico é, pri-
Boileau, L 'Art Po étique, 1674; Gottsched, \'t?rs//c1.
ment e o rea l qu e a mata. O que há, na verd ade, meiro , um a co nsciê ncia ina lie nável e indivisível eine r cri tischen Dichtung fiir die Deutschen , 175 0 ; A mesm a ince rteza qu ant o ao local o nde esses
de mais inverossímil qu e esse vestíbulo, esse pe- qu e se pode redu zir a um se nti me nto, uma propri e- Johnson, Pr éf ace de I'Édition de Shakespeare, 1765; co nhec ime ntos co mplexos devem se r tran smit idos.
ristil o, essa anticâm ara, loca l banal o nde nossas dade, uma unid ade (quaisq ue r qu e sej am os con - Lessing, D ram a tu rgia de Ham burgo, 1767- 1769 ; Na Euro pa Ocid ent al , a art e dramática é en sinada
tragédi as têm a co m placê ncia de virem se descn- flitos qu e são o tem a das peças, mas que são feit os Herder, Shakespcare, 177 3. ora na uni versid ade, ora nas escolas profissio -
• rolar, o nde cheg am, não se sabe como, os co nspi- para se r reso lvidos). C om a fo rça desta unid ade Para uma lista mais co mp leta, mas não ce ntrada un i- nalizant es (co nservató rios o u cursos part icu lares).
rador es par a declamarem contra o tirano, o tirano das mot ivaçõe s, das ações, o teóri co não supõe, camente nas unidades, ver a bibliografia do artigo Esta separação que pe nsa enco ntra r sua legitimação
para decl am ar co ntra os co nspiadores" (prefác io po r um seg undo se q ue r, qu e tam bém a co nsciên- po ética". na d istinção e ntre teori a e prática é parti cularmen-
cia possa ela também ex plod ir, a part ir do mom en- te funesta, poi s imp ed e tod o a pro funda me nto quer
de Crom ...ell, 1827 ).
É, portanto, pre ci so pro curar em algum o utro to qu e não mai s refl et ir um mundo unificad o, de um a quer de o utra, e prol on ga um a pos ição ar-
lugar qu e não numa noção de vero ssimilhança,
universali zado e qu e surg ir co mo falsa con sciên - UN IVE RS IDADE (E T EATR O ) tificai que tant o a universidade quanto a escola te -
cia, ruptura soc ia l o u psico ló gica . A partir do mo- riam interesse em su perar.
abso luta, a justificativa das regra s das unidades ,
ment o qu e há co rte e di alogism o - e este é o ca so Se os es tudos. " te atr ai s propõem , e m teori a , A univ er sid ad e só descobriu o teatro recent e -
e primeiro explicá- Ias pe las co nd ições ma teri ais
de HUGO,Il ÜCHNER ou MUSSET -a unidade que programas mui to ambi c ios o s, o ensi no do teatro mente, qua ndo adm it iu , ap ós m uito s adiamento s
dos palcos do século XVll: apes de oda a ma -
qu ina ria , as mu danças de luga r e de tem po são
dãscgurança voa em es tilhaços, o dialogismo e a =.,.,..=.,.,..- é mui to m ai s limit ad o . As difi culdade s pa recem e a co ntrag os to, qu e e l não era um a s uc urs 7 ·a :. l .,; d ;, a ;, ,: =~ :=
diversidade a sub sti tuem. A personagem e a repre - lite ratura e, sim. um a prática artístic a tota l (se m,
imed iatam ent e visíveis e obrigam o púb lico a acei- acum ular-se so b re a esco la d os atore s, deixando
sentação teatra l deixam de se r uma unidade indi- no entanto, co nce de r- lhe as co nd ições de um a so-
tar um a convenção simbó lica, pois o palc o não se perp lex o s ta nt o o s apren d izes de atore s quanto
visível. A esc ritura dramática não resiste a uma br e vi vên ci a decente e d e um e ns ino pluridi s -
tra nsforma ai nda , como no final do séc ulo XIX , as a uto rida des escola res e uni ver sit ária s. Es tas
divisão dessas, e a representação não é ma is um ciplinar). Ela não so ube redividir os co nhec ime n-
num lugar ou um tempo outros. dificuldade s são a inda mai s in sup eráv ei s por-
mundo mim ético aut ôn om o, ca lca do num real uni - tos e as d iscipl inas segundo essa prát ica artís tica
M as , sobretudo , é preci so lembrar- se qu e a no- qu e a tradiç ão oc ide nta l não limita o ens i no ao
ficad o; ela tem necessid ad e de se r co nstruída por nem decidir qu al é, exata me nte, se u o bjeto de es-
ção de vero ssimi lh an ça, tão freqü ent eme nte tre in am ento físico e ao a pre nd iza do de um a tr a-
um narrad or (é no séc ulo XIX qu e a form a dramá- tudo: o teatr o pro fissi on al o u am ad or, o j o go dr a-
invocad a a favor o u contra as unid ades, não fun- dição e de uma téc n ica, m as pretend e formar a
tica será pouco a pouco trin cada por diversas in- mático ou as formas híbri das do inte rartístico. Ela
damenta em teoria e de man eira absolut a o uso pe rso na lidade int e ir a do ator em todas as s uas
terv enções ép icas no caso de UÜCII NER,GRABBE, tam bém não sabe mu ito be m se o estuda nte deve
o u a ign or ân ci a das unidades. A co nve nção que dimensõe s . D o ensino - mai s o u me nos magis -
mas tam bém de HUGO ou MAETERLlNCK). Des- aprender a fazer teatro o u se o põe na "esco la do
autoriza essas unidad es é, em co ntrapa rtida, um tra l - à form aç ão , até mesm o à tran sformaç ão
de então, nenhu ma unidade - de tempo, lugar, espectador " pa ra m el hor " ler o teat ro" (retoman-
fato decisivo ; trata-se simples mente de sabe r se o u à "fo rmaçã o d os formadores" , o desl iza me nto
ação. tom ou " interesse" - está dor avant e em co n- do os títu los d e dois li vro s de Anne UIlERSFE LD)
procuramos mascará-Ia e ignorá -Ia para da r a ilu- do vocabu lári o é s ig nificativo.
d ições de mascarar es ta mult ipl icidad e. Se nossa ( 1977a, 1981 ); ou se a s duas coisas não são nem
são de um rel at o reali st a da ação hum ana, ou se a mod ernidad e (com PIRANDEL LO, BRECHT ou co ntra ditórias nem in com pat ívei s, po is o ens ino
aceit am os e a sublinha mos para acei tar o ca ráte r BECKETT) pul veri za todas as un idades, é qu e o I. Um Program a Dem encial de teat ro deveria reco rrer tant o ao es tudo acadê-
artístico e teatr al da represent ação. Par a a dra - fim do hom em e de sua co nsciência unificadora m ico dos te xtos e das re p resentações, ao ap rend i-
matu rgia cl ássi ca e suas regras, a ambigüidade é não é mais um seg redo par a nin gu ém . Pul veri za- O prog ra m a de ssa escola idea l é ilimit ad o ; to - zado das técn icas e ofíc ios do es petác ulo, qu ant o
total ; por um lad o, e la ace ita a abstração. a co n- ção mui to relativa, aliás - o u qu e ret om a imed iata - dos os auto res, todos os técn icos, tod as as artes da à pró pria prát ica artística .
ce ntração, a co nve nção de j ogo, e a unid ade é en- ment e corpo - pois não é fácil ad m itir que a ação ce na, tod os os mét od os de invest igação são o bjeto Na Euro pa co ntine nta l, o e ns ino ve rs a, essen-
tão mai s um trunfo que um o bstác ulo; por outro hum ana, últim o basti ão da qu erel a dos unit ários, de es tudo . O caos e pis te mo lógico dos est udos tea- cia lme nte, sob re os te xto s, às vezes so bre a an áli -
lado, ela tem pretensõe s à ilusão natural ista, já possa se r desloc ada, co ntin ua ndo a atrair a aten- trais só tem igu al na anarquia dos ens ino s artís ti- se dram atúrgica, no m elhor dos casos so bre a aná-
anun ci a o reali sm o e o naturali sm o por sua von - ção da co nsc iência d o públi co de hoje, públi co que cos (na Fra nça e no mundo) e a ausên ci a de acor- lise dos es pe tác ulos . Nos países angl o-sax ônicos.
tade de fa zer co inc id ir a repr esentação da reali - mal se resolve, mesm o qu e tud o vá mal, em rejei - do e de harmoni za ção entre os mini stéri o s e os o teat ro é abo rda do na escola o u na univ er sidade
dad e e es ta realidad e representada. Nos dois ca - tar o prin cípi o ma is cl aram ent e formulado no sé- es tabe lec ime ntos . M ais do que pretender cobrir o or a co mo um a ativida de de es pe rta me nto (D ra-
sos, porém , as u nidades são ma is co nvenções e culo XVII pelo abad e D'AUBlG NAC: a necessid a- co nj unto dos ca m pos de co nhec ime nto so bre o tea- ma in Education), o ra co mo uma art e. A univ er-
có digos teatrai s qu e prin cípi os eternos tirados de de de orde m inerent e ao es pírito hum ano. tro, talv ez fosse m ai s razo ável limitar o ens ino e o sida de es tim ula a representação de es pe t áculos
uma análi se de realidad e. aprend izado a alguns eixos privilegiad os co mo, por qu e põem os es tuda ntes e m co nd içõ es de produ-
A j ustifi cativa das unidades es tá em outro lu- rI\ Platão, Fedra, S)'mpos i////; (so bre a unid ad.e do exe mplo, a esc ritura teatral , o ator, o espaço, a cn- zir um espe tác u lo.
gar, e se o cla ssicism o se ca la a respeito, não é por ~ discur so); Aris t óteles, Po ética, capo5; Hor ácio, ce naç ão, a instituição, o interart ístico , a rec ep ção. A uni versid ade tem muita difi culdade em co n-
perversidad e , m as por ca usa de um a falt a de Arte Poética, sécu lo I a.C. '; Maggi, 111 Aristotelis Es tes eixos de veri am permitir uma abo rdagem ao c iliar sua exigê nc ia tradici on a l de cultur a hum a-
distanci am ent o histór ico e de um a crença univer- Librum de Poetica Commun es Expl icationes, 1550 ; mesm o tempo teór ica (acadê mica no se ntido de nista un iversali zantc e as necessidades profissio -

-/24 -/25
UN I VER S IDAD E

nai s a curto prazo que del a rccl arn an sua admi- rivai s, analisa ndo imediata mente os es pe tác u los,
nist ração preocupada co m a rcnt abilidad e o u seus co nfro nt ando a re flex ão co m as nece ssi d ades da
es tudantes co m poucos recursos econô micos ou ação im ediata, favo recendo a impl ant a ção de esta -
co m falt a de um Co nse rva tór io na ci on al. giários no meio profi ssio nal, assistindo a e nsa ios e
deduzindo conc lusões sob re a produção e a re-
3. Problema s Não Resolvidos ce pção do espetác u lo.

v
N um a d im e nsão mais modesta, é permi tid o
Pe lo men os na Fran ça , ex is te uma má circula- so nha r com a e labo raçã o de exe rcíc ios para ato -
ção das idé ias entre a uni vers idad e e a profissão res q ue ve nh am a reconsid er ar a fron te ira entre o
teatral, o u entre a univ ersid ade e as es co las profis- corpo e o espírito, co nduzir a refl exão teóri ca atra-
s io nalizantes: co nse rvatór ios, Esco la Na cional vés de um a e xpe rime ntaçã o lúd ica, ga ra ntir um
Supe rio r das Artes e Técn icas do Tea tro (ENSAIT), va ivé m e ntre q uest ion am ent o teóri co e sua co lo-
Escola do T héâtre Nationa l de Estra sburgo (TNS), ca çã o à prova cê nica , evo luir entre o se m iná rio e
sej a po r causa de um des prezo recíproco, pela a o fic ina, O es tudo dos textos e dos es pe tác ulos
d ivergênci a dos interesses ou pe la es treiteza das não é mais uma at ivi dade lúd ica e e mo tiva qu e
ment al idades. A isto se ac rescent a um a descon- tem um fim e m si. O estudo e a atua ção tal vez
fia nç a das pessoas de tea tro e m re lação à escola e sej am rec o nci li áve is se se cria r para e les um es-
à universidade, uma recusa em part icip ar das ações pa ço de e ns ino e de form ação , um se m iná rio-ofi-
ped agó gicas co muns. Tal vez haj a, ao fim e ao ca- c ina, o nde seja dad o experim en tar im edi ata men -
bo, uma natural incompatibilidad entre a e i ên- te as idéia c a a õcs . Este espaço poderia ser ao _ _.....,. .....,y  UDE Y-ILLE MERIS'FA (REPRESEN:fAGÃO)
~.i "-; c ; ·i ~ a;' h u m a n i s t a uni vcrsali zante e as necessid ades mesm o tempo aqu ele da univ ersid ad e m as tam -
profission ais imediatas, tant o mai s qu an to não é
fáciI inverter os papéis: ter um a uni versid ade aber-
bém das o fic inas o u dos estudos te m ático s dos
co nse rvató rios e dos teat ros naci o nai s ou ce ntros
~
"t..:
Fr. : va ndeville; lngl: va udeville ; AI.: \'<111 '
de ville; Esp.: vodevil.
e Fr.: vé riste i rcpr ésentation}; Ing l.: verism; AI.:
Verislllus; Esp. : verista (rep rese ntaci ôn... ).
ta par a as técni cas profi ssion ais e um a criação d ram áti cos (s eg undo a técni ca ina ug urad a por
teatral explorável pela insti tuição pedag ógica. A STANISLÁVS KI e MEIERHOLD , ret om ad a por Na o rigem, no sécu lo XV, o va ude ville (o u M ovimento e atitude es té tic a qu e ex ige m um a
un ive rsidade e o Estado se recu sam a ban car os VITEZ no Conse rvató iro de C hai llot, o u pe lo TNS "va ux d e vire") é um e s petácu lo de c anções, imi ta ção pe rfeita da real idade .
cus tos de uma for mação cara; e se ex ime m de sua e m Est rasburgo ).
acrohacias e mo nól o go s , e ist o a té o iníci o do
mi ssão estimulando a privatiza ção mais ou me- Também seria necessár io rcin ven tar o e xe rcí - J. O ve ris rno é um mo vim ent o literári o e pic tóri-
sécu lo XV III : FUZELlER , LESAGE e DORNEVAL
nos m ascarad a; recusam assoc iar -se a projetos c io do fina l de ano para que e le não seja um si m-
co m põ e m es petác u los par a o te at ro de fe ira qu e co itali ano q ue dá seq üência ao naturali smo * fra n-
eq üid istantes do ens ino e da cu ltura . ples es pe tác ulo reali zado pe los alunos so b a or ien- cês e nel e se insp ira, e se desenv o lve por vo lta de
us am mú si c a e d an ç a . A ó pe ra-cô m ica surge
O es tatuto dos docent es das esc o las e das uni- tação de um professor o u de um profi ssi ona l, mas 187 0 até 192 0 (c he fe de fila : G. VERGA , 1840-
q uando a part e m usi ca l se de sen vol ve co ns ide-
ver sidad es exigiria se r rede fin ido di stingu indo um proj eto individual ou co letivo, um " autoc u rso" 192 2). Ele se va le de ZOLA, TOLSTÓ I e IBSEN.
no sen ti do de J a cq ue s LECOQ , um "es tú dio ra ve lme nte . No séc u lo X IX, o va ud evi lle passa
c lara me nte: A m ontagem . e m 1884 , de Cavalle ria Ru sti-
te mát ico" , e m suma, um proj eto de pesq u isa ar- a se r. co m SCRIBE (e ntre 181 5 e 18 50 ) e de -
- um a fina lidade peda gógica e universitária onde calla de MASCAGNl é co ns ide rada a o rigem do
tíst ica aco m panha do e seg uido de refl exão, sob a poi s LAB IC IIE e FEYDEAU, u m a co mé d ia de in -
os exe rcícios e os trabalh os práticos propostos m o viment o . (O utras obras-fa ró is: J Pagl iacci de
po r profissionais "cha rges de cours" (pro fesso- forma de um domínio prático . tr iga . u m a comé d ia lige ir a , se m pr et en são int e-
LEO NCAVALLO, EJ N os / M iJOI! de C. BERTO -
res co ntratados) são um co mpleme nto parape- O e ns ino de teat ro ap resent a in úm eras d efi- lectu a l: " O vu ndeville (" .1 é na v ida rea l o qu e LAZZI, as ó pe ras de PUCCINI.)
dag õgico bem integrado ao e ns ino teóri co ; c iênc ias e atesta um impressi onan te desp e rd ício o fanto c he ar ti cu lad o é para o ho mem q ue ca -
- um a fin alidade profi ssiona l e artística ass umi- de ene rg ia human a e insti tuci on al. M as é tam - minh a, um exage ro muito ar t ific ia l de um a ce r- 2. O ve ris mo va i ao e nco ntro do n at ural ism o e m
da nas esco las profi ssio nalizant es e nos con- bé m po rtad or de es pe ranças , poi s a prese nta um a ta rig id ez natu ral da s coisas" ( BE RGSON, 1899: sua s u b m issão foto gráfica ao re al , s ua cre nç a
se rvató rios po r verdad eiros profi ssionais com, síntese do co nhec ime nto hum ano qu e se tra ta de 78) . Peça bem-fe ita ", o va udcville se pro lon ga na c iê ncia e num de termini smo a bso luto (regio-
ent re ta nto, Um recurso rep etido a histor iado- ava liar, tra nsmit ir e ret rabalh nr, hoj e no bou levard" qu e he rd o u s ua viva cida- na lismo, he red itari edade). No teatro , a represen-
res, teóri cos o u per son alidad es e xternas. d e , se u es p írito po pu lar e côm ic o e s uas pal a - tação vcri sta recon st itu i fielmente o lu g ar, faz
No enta nto, apesar dessas d ifi culdades estru- W Th éâ/re/PlIblic n. 34-35, 19 80, n. 82-83, ' Ta s de autor" , as pe rs onagen s fa lar e m co nfo rme s ua o rige m re -
1988; " La formation du com édien", Les \0ies gi ona l (e não unica mente soc ia l, co mo para o
turai s endê m icas, se rá preciso de fato esboç ar esta
de la C r éation Th éãtral e, vot. IX, Ed , d o C NRS,
aprox imação entre uni versid ade e profi ssão se o
1981 ; P. Vern ois e G . Hcrry, La Fo rm ation allx
~ Co méd ia, teatro burguês , farsa. natural ismo ), renunc ia a tod as a s co nvenç ões
ensi no de teatr o quer co ntinua r a se r u niversitário irrea li st as de atuação (confide ntes, m o nól ogo s,
M étiers du Spec tacle en Europe Occidentale , Pari s,
e se e le as pira verd adeiram ent e a uma desco rnpar- ~ S igaux , 19 70 ; Ru prec ht , 1976; Gi de l ill lon ga s tirad as , raisonn eu rs e coro), vo lta ince s-
Klincksicck, 1988; Knapp, 1993.
tim ent a ção entre co mpetê ncias e a bo rdage ns. FOII/e: Patricc PAVIS in Mich el CO RV IN (c d.),
Beaumarchais c/ ai., 1984 ; Th om asseau, 1994; sante mente ao tem a do me io * qu e produ z e su-
Inve rsamente, a universid ad e pod e ir ao en- Dictionnai re Encyc lop édique du Th éàtre, Paris, Bo r- Lernahi cu in Co rvin, 1995. foca o homem.
co ntro do teatro: por exem plo, parti cip ando de fes- das, 1995.

-126 427
VEROSS IM ILlIANTE . VEROSS IM ll.ltANÇA VERS IF ICAÇÃO

Além do mov imeruo propria mente d ito, a en- teciment os qu e oco rrera m, o o utro os aco ntec i- e na uni ver salid ad e do s co nffitos e co m po rta- ve ross imilhante: não se trata - co mo pen savam
cenação veris ta (ou nat ura lista) é um estilo mui- ment os qu e pod eri am ocorrer. Por isso a poesia ment os. Contra ria me nte à crença cl ássica , não os clássicos - de sabe r qu e real idade é preciso
to freqüente no pa lco co ntempo r âneo, Tudo é feito é mai s filosófi ca e de caráte r m ai s e leva do qu e a ex iste em si verossi m ilhante imut ável qu e se pos- descrever e icxtu ali zar no texto e no palco ; trata-
para que o es pec tado r não tenh a mais a imp res- hi stóri a; pois a poesia co nta ma is o ge ra l e a his- sa defin ir de uma vez por todas. Ele não passa se de captar o tipo de di scu rso ficcion al mais ada p-
são de estar no teatro, mas de assis tir sub-repti- tóri a o part icul ar" (§ 14 5I b ). de um co nju nto de co d ificações e nor m as qu e tado à realidade qu e se qu er descr ever ; o veros-
cia me nte a um aconteci me nto real, "ext raído" da Ao esco lher o geral, o típico , o poe ta prefere a são ideol ógi cas, a sa ber, ligad as a um mom ento si milhante, não mais qu e o re ali sm o, não é um a
realidade ambiente. persuasão à verd ade históri c a, e le apos ta nu ma histór ico , apesar de se u universalism o apare nte . qu estão de realidade a be m imita r, mas um a téc-
ação "m éd ia" , cr íve l. porém int eressant e, possí- Ele não é se não um "cód igo ideológico e retórico nica artís tica para pô r e m sig no es ta realid ade.
C) Realismo, realidade representada. realidade tea- ve l, mas fora do eo mum . Há, port ant o, um a ten - co mum ao e missor e ao receptor, port ant o qu e
~ trai, signo, história. são a obse rva r e ntre a ação qu e ea tiva (porque assegura a leg ib ilidad e da men sagem por refe - W D ' Aubignac, 1657 ; Corneille, 1660 ; B ray,
fant ástiea e excepc iona l) e a ação qu e sej a aceita rên ci as implíc ita s o u ex plíc itas a um sis te ma d e 1927; Po étique , 197 3, n. 16.
I "Ve rismo", Encyclopedia dello Spe na colo , pel a opinião e pel a c rença do públ ico. Daí um a valo res ins tituc io na lizados (e xtratex to), '! faze r
W 1962; " Veris mo". Encyclopoedia Universalis, oposição, tamb ém c lássica, e ntre o veross ímil e o as vezes de ' rea l'" (HAMON, 1973).
1968; C hev rel, 1982. maravilhoso", term os a ntagôn icos qu e nun ca de- O verossimilh ant e é um e lo interm edi ári o e n- VERSÃO CÊNICA
vem andar sepa rados: "O mar avilhoso é tud o o tre as duas "extre mi da des", a teatralidade da ilu -

VER OSSI M ILHA NT E,


qu e é co ntra o curso o rd iná rio da Natureza. O
ve ross ímil é tud o o qu e es tá de aco rdo com a opi-
são teatr al e a rea lida de da coisa imit ad a pelo te a-
tro . O poeta bu sca um meio de con ciliar as du as
e Fr,: version sc énique; In gl. : . ~/l g c "~ r~ io
Biihn enfa ssun g ; Esp .: ve rSlO1lescc tllca.
l; AI. :

VE ROSS IMILHANÇA ni ão do Público " (RA PIN, R é-fl exions sur la exigê nc ias : refl etir o real fazend o-o ve rda de iro ,
Po étique. 1674 ), sig nificar o teatral c riando um si stema artístic o Ver são de uma obra n ão-d ra mática que foi
:). Fr.: vraisem bla bl e. vraise mb lance ; Ingl. : O vero ssimilhan te c a racte riza uma ação que fechado e m si mes mo. Es te "troca do r" ent re a rea- adaptada ou recriada tendo e m vista um a r epr e- = -' ' - ~
't.: \'crisilllilillldc;.AI.: 1I"'"rs c" cinlicllkci/ ; Esp.: seja log icamente pos sível , le vando-se e m cons i- lidadée a cena c ao me sm o tem po mimético (deve senta ção, ou uma traduç ão destinada inic ialmen-
verosimilitud. deração o e ncadeamento lógico do s mot ivo s, por- prod uzir o e fe ito d o rea l representa ndo -o ) e te à leitura, e que foi modificada ou redu zid a ten -
ta nto , necessário co mo lóg ica intern a da fábu la: semiológ ico (d eve s ig nificar o real por uma es- do em vista sua passa gem para o palc o.
I. Origem da Noção " É pre ciso, tamb ém no s carac te res com o na com- trutura coe rent e de s ig nos , produzindo um efeito
po sição dos fatos, se m pre bu scar ou o nece ssá- de teatro). A própri a e xpress ão do ver ossimi -
rio o u o veross imilha nte, de man eira qu e seja Ihant e, co nfo rme se insiste num dos doi s termos,
Para a dr am aturgi a c láss ica. a verossim ilhan-
necessári o ou vc rossimilh ant e qu e determin ada co ntém ao mesm o tempo a ilusão do ve rda de iro
VERS IF ICAÇÃO
ça é aquilo qu e, nas ações, persona gens. rep re-
per son agem fale o u aja de d et erminad a man ei- (rea lismo abso luto) e a verdade da ilu são (tea-
sentações. parece verdadeiro para o públ ico, tan- :). Fr.: versífication; Ingl. : versification: AI. :
ra, qu e de po is de de te rm inada co isa se produ za tral idadc reali zad a). Tudo ind ica, porta nto, qu e o
to no pl an o das ações co mo na man ei ra de 't.: Versifizierllllg; Esp.: versificaci án.
o utra dete rmi nada coisa" (Poética de ARISTÓ· vero ss ími l é construído ao mesm o tem po como
repr esent á-Ias no palco . A verossi milhança é um
TELES, § 1454b ). um processo de abstração da reali dade imi tada e
co ncei to qu e es tá ligado à recepção do especta- / . O texto dr am áti co , parti cul arment e o da tragé-
O equi líb rio entre esse co m po nente do ve- co mo um có digo de oposições se mâ nticas .
do r, mas que impõe ao dramaturgo inve ntar uma di a clássica, é mu itas vezes esc rito e m versos, o
ro ssim ilhant e é mu ito deli cad o e instável ; ele se Isto é qu e ex plica sua relati vid ade históri ca: o
fábul a e motivações q ue prod uzirão o e feito e a que ob riga o ato r a re s pe it a r um esquema
real iza perfeit amente quan d o é encontrado um verdadeiro mu d a e , sobretudo, a a parê ncia (a
ilusão da ve rda de . Esta exigênc ia do verossimi- terren o de en tendi me nto entre o autor e o es pec- prosód ico bas ta nte es tri to , pri nci pal me nte a pro-
" parecença") evo lui. O prim eiro fator dessas mu -
lhante (seg undo o ter mo mode rno) rem ont a à tador, qu and o há "acordo pe rfe ito do gê nio do nun ciar os doze pés do alexand rino, a obse rva r as
danças é a c rença de um a época em sua facul dad e
Poética de ARISTÓTELES. Ela se ma nteve e se poet a co m a idade do es pec tado r" (MARMONTEL, ccs uras, a decompor os hem ist íq uios e m seis fi-
e se us métod os para re pro duzi r a realidad e. Cada
prec iso u até o classicismo europe u. Ela di st in- 1763, vol. lll: 478), qu and o a ilu são teatr al é per- guras possíveis (um/ci nco, dois/qu atro, três/tr ês,
escola tent a , co m mai s ou menos ard or , d escr e ver
gue várias outras noções que descre vem o modo feit a e é rea lizada "a un idad e d a fábula, sua exata a realidad e: para o c lass icis mo, a verdade d as re - qu atro/dois, c inco/um , d o is/d oi s/doi s), e so bretu -
de exis tênc ia da s ações: o ver dadeiro, o possí- e xtensão; em suma, es ta veross imilhança tão re- lações hu man as e d as boas reg ras a usar era ca pi- do a notar os mom ent os d e ruptura e m rel ação à
vel, o necessári o . o razo ável , o real. Seg undo co me ndá vel e tão necessári a e m tod o poem a, ape- tal ; para o naturali sm o , é a própri a real idade qu e reg ra e o víncul o co m a es tru tura prosódi ca e o
ARISTÓTELES: " Não é co ntar as co isas realm en- na s na intenção de tir ar dos qu e o lham tod as as é o obje to da descri ção . Além do mais, cad a gê- se ntido do texto . O teat ro e m ve rsos não é neces-
te aco ntec idas qu e é a ob ra própri a do poet a, mas, opo rtunidades de fazer refl ex ão so bre o qu e vêe m nero liter ári o po ssui um "regim e ficcion al" es pe- sa ria me nte um tea tro poéti co , poi s obedece antes
s im, co ntar o qu e pod eri a aco ntece r. Os acont e- e de duvidar da realidad e" (CIIAPELAIN, Lettre cí fico, co m co nve nções de j ogo e de se nti do qu e de tudo a uma norma, a um a poéti ca qu e im põe
cim ent os são possí vei s co nfor me a vero ssimi - su r la R êgl e des Vingt -Quatre Heures ( 1630). A é imp er ativo resp eit ar (para a parábola ou o co nto sua lei form al e se us ve rsos, e isso dos gregos até
lhan ça ou a necessidad e." O importante não é, vero ssimilhança é, port anto, garantia para um res- de fad as, o verdadei ro e o real se rão, por e xem - o dr ama românti co. O a lexa ndrino é e ntão incon -
port ant o, para o poet a, a verd ade históri ca , mas peito esc rupuloso da regr a da s trê s unid ades. plo, perfeit am ent e opos tos) . Tant o para o dr ama- tomável, sej a e le clássico (RACINE), em liberda-
o ca ráte r veross imi lha nte, críve l, do qu e e le re- turgo co mo par a o es pec tado r, o co nhec ime nto de (HUGO) ou neocl áss ico (ROSTAND).
lata, da faculd ade de ge neraliza r o qu e ele está 2. Relatividade da Vero ssimilhança da "c have" ficci on al - seg undo a qu al é preci so
adiantando . Daí um a o posição fund am ent al en- cod ifica r, para ler as ações - é ind ispen sável. 2. Em vez de banali zar o a lexa ndrino, de afogá-
tre ele e o histor iador : "E les se distinguem [...) A regra da veross imilha nça va le para um a dr a- Estas refl ex ões no s co nduze m a um a mud an ça lo na psicologia ou d e re ssaltar fra gm ent os dele
no fato de que um [o histor iador] con ta os acon- maturgia norm ativa b ase ad a na ilu são da razão de per specti va e de pressup ostos do dogm a do co ns ide rados ce ntra is, a e nce nação se es fo rça

-128 429
V IRADA VO Z

muitas vezes. atu alm ent e, par a não elud ir este VI S U A L E TEXTU AL Visual Textll al

e
es q ue ma e mesm o para faze r del e o lugar o nde o
te xt o "vive" mu sical ment e. antes de ass umir um Princípio de simultaneidade Princípi o de succssividade
Fr.: visuel et tex tuel; Ingl.: visual and termnt,
se ntido e de "d isso lve r-se " na s ituação e na ca- Figuras e cores no espaço Sons articulados no tempo
AI.: visuell und textuel; Esp.: visual y tex tual.
racterização da s per son agen s. VITEZ é implacá- Co ntigüidade espacial Continuidade temporal
ve l com o a lexandri no : " Nós nos ex erci tarem os No teat ro , di stingue-se três compon e ntes fun - Perm anência possível da imagem Fugacidade do texto
no e ncadeame nto e na inv er são se m j am ais trans- dam entais da represent aç ão teatral. E les são de- Co municação direta por os tensão Comunicação mcdiatizada por um narr ador (ator), por
g re d ir as le is da arqu itetura pros ódica. Não se sig nados po r vários termos: um sistema de signos arbitrários
tr ata de re presentar o teatro de Ra cin e e ludindo Facil idade de distinguir os índices visuais Dificuldade de distinguir os índices auditivos
- visua l: j o go d o ator, ico nicid ad e da ce na . ce no-
o problema do al exandrino. Ra c ine se m o verso grafia. image ns cê nicas; Possibilidade de uma descrição dos objetos Possibilidade de uma narração dos episódios
pe rde sua for ma e se u se ntido . Despe rdí ci o fa- - textual: linguagem dr am ática e tex tu al , s im bo- Referent e simulado pela ce na (co nfundido com o Referente simbo lizado e imaginário
tal ! Restaria a intri ga . funes ta me nte a lte rada" (Le liza ção, sis te ma de signos arbitrári os . significante)
Mond e-Di manche, 11- 12 de o utu bro de 1981 ). Possibilidade de ancoragem no visual do texto Possibilidade de explicações do texto pela co ntribui-
Se é claro qu e a encenaçã o é o confronto do
Fo rm as m en os restritivas do qu e o a lexandr ino ção de eleme ntos visuais
texto e da ce na, qu e é a co loca ção em e nunc iação
acham-se ass im no ve rs ículo de CLAUDEL. no Indicações imediatas sobre a situação de enunciação Situação de e nunciação a reconstituir
de um te x to , em co ntrapartida as pro pried ades
verso li vre (DUJARDIN, YEATS. T. S. ELlOn . C. Dificuld ade de verbalizar o signo visual Dificuldade de diferencializar (concretizar) o texto
recíproca s d o s d ois siste mas - vi sua l e text ua l -
FRY. HOFMANNSTHAL) e hoj e em Hein er MÜL- são muito m al co nhec idas. A partir d as a ná lises
LER o u T. BERNHARD. de LESS ING so bre a pin tura e a poes ia (cf La o - bli co às c us tas da s sig nificações m at eriai s cobi- habitual. A encenação, seja e la a m ais s im ples e
koon , 1766 ) at é a sis te ma tiza ção jakobsoni ana çadas pe lo sig no lingü ístico . E le tende a desviar explícita, " de s loca" o texto : e la faz o texto dize r
3. O verso não é mais considerado como mal ne- e m s ig no s vis ua is e auditi vo s (JA KOBS O • a atenção do texto para a realizaç o vocal. do o qu e um te xt o c rítico não co nsegu iria âi z er : "' e < ' ~ ~ o - '- ~ - .ij =
- - - ' -cessário o u como forma vergonh osa envolve n1lo o 1971 );-a com pa ração desta ea as o posições (ve r ----...,..;---.,,--d' isc urso par a as açõ es fís ica s e me s mo pa ra a
indizivel no se ntido prim eiro.
subs trato do texto; ele se toma o lugar o nde se vê a qu adro na página seg uinte): aqu el as não são a b- ap arên ci a física da per sonagem cê nica ete . [...] A rel ação do visu al e do textu al se m pre é " te n-
fatu ra do texto, o nde a lingu agem apa rece ao mes- so lutas ; trata-se antes mais de g ra ndes tend ên - C omo a se m iótica da lingu age m e a se rni ótica
sa", pri nc ip alment e no " novo teat ro" , po is o o lho
mo tempo co mo o pe lourinho e a pri são para o lo- c ias do q ue d e o pos içõe s ab so lut as, poi s no ca- d o j o go são diame tralmente o pos tas qu an to a e o o uv ido re agem a ritm os d iferent e s: "As pa -
cuto r e o que estrutu ra e identifi ca o se r hum ano. la r d a ação, so mo s evi de nteme nte inc ap azes de suas características fundame nta is, há uma te n- lavras se dirige m ao o uvido, à p lásti c a. ao o lho .
Fazendo. como VITEZ, " brilhar o a lexa ndrino" , di scriminar o mod o de sem iose de ca da s ig no , s ão di al ética e ntre o texto dram áti co e o ator,
Dest a maneira, a im ag inação tr a balha so h o im -
"esticando-o ao máxim o" . o ator diz tam bém sua d aí a impre ssão do espe táculo co rno o ra lida de e base ada primari am ent e no fato de qu e os com-
pacto de du as impressões, um a vis ua l c o utra au-
relação co m o mund o. e a históri a qu e co nta a fá- sí ntese da s arte s (Gesam tkuns twerk v) . po nc ntcs ac ús ticos do s ig no ling üíst ico são urna
di riva . E o q ue di sti ngue o antigo te atro d o novo
bul a. Po rém . ao mesmo tem po. fica im possível fiar- parte int eg ral dos recursos vo ca is ut ili zados pe lo é q ue, neste ú lti mo , a plástica e as pal a vras são
se num a psico logia. em carac teres, nu ma história, I . Esqu ema das Oposições ato r" ( VELTRUSKY, 19 77 : 115 ). su b me tidas. ca da um a de las, a se u ritmo pr ópri o ,
numa situação d ram ática: o significante apregoa e se divorciam mesmo na opo rtunidade" (MEIER-
sua desconfi ança em face de um significado defi- Ve r qu ad ro na págin a seg uinte . 3. Leitura em Ato HOLD, 19 73 : 117 ).
nido em ter mos de ficção e de fábula.
2. Medi aç ão da Voz A e nce nação é um a leitura em ato: o tex to dra- G) Texto e cena, signo teatra l. encenação. situa-
~ Decl ama ção, dicção. m ático não tem um leito r ind ivid ua l. mas uma , ção de enunciação. es paço interior, semio logia.
O ato r é " imagem fal ant e" . Às ve ze s. o tex to lei tu ra possível, resu ltado da co nc re tiz ação tex-
~ Vite z e Meschonnic, 1982; C lau de l. 1983; é " ilus tra do" por uma imagem; às vezes. ao con- tual e da pr ópri a co nc re tiz ação , isto é, co n- ~ Fran cas te l, 1970; Lyotard, 1971 ; Fre ud , 1973 ;
Ber nard, 1986; Mi lner e Reg nault , 1987; trári o , não se e nte nde a im agem se m a " lege n- c re tização cê nica . A leitura da e ncenação e do . Le ro i- G o urhan, 1974; Linde kcn s , 1976;
Bergez, 1994. da" de um te xt o. A si ncroni za ção é tão perfeita text o dram ático é, port anto , d ividid a entre os d i- Bart hes, 1982 ; Gauthicr, 1982; Pavis, I 996a .
qu e e squ ecemos mesm o que estamos diante de verso s e nunc iado res (a to r, ce nógra fo , iluminad or
doi s modo s de sig nificação e qu e passamo s se m e tc.). A ence nação é se mpre um a par áb o la so bre
V IRADA difi culd ad e de uma a ou tro (VELTRUS KY. 1941 . a troc a impossível entre o verbal e o não-verbal: VOZ

e Fr.: retoumcment; Ingl.: tu rning point ; AI.:


Umsc hlag, lI'ellc/cpllllkl ; Esp .: vira]c.
197 7 ; PAVIS, I 976a). A en cen ação é uma regu -
la gem do s e le me ntos textuais e visu ais, a toma-
o n ão-verbal (is to é . a figuração pel a re present a-
ção e a escolha de um a s ituação de e nunciação) e Fr.: ,'oi.<; Ingl.: voice; AI.: Stimme; Esp .: ro z,
da de co nsc iê nc ia de q ue est a s inc ro niz aç ão. ba- fa z fal ar o verbal. dobra sua en unc iação, co mo se
nal e ev id en te na rea lida de é, no tea tro, o efeito o texto dramático. uma ve z em itido e m cena . co n- A vo z do a tor é a última eta pa ant e s d a recep -
M oment o em q ue a ação muda de d ireção. de um a arte . A presen ça físi ca do ato r m on op o- segu isse falar de si mesm o se m reescr ever um ção do texto e da ce na pel o es pec tador: ist o di z
qu an do um golp e de teatro » sú bi to muda o as- liza a ate nção d o públi co e pred omin a sobre o o utro texto, por um a ev idê ncia d aqu ilo q ue é d ito de sua im po rt ân ci a na for mação do se nti do e d o
pect o das co isas e "faz co m qu e a personagem se ntido im at eri a l do texto: " No teatro , o s ig no e daquilo qu e é most rad o, porque a e nce nação diz a fe to. m as tam bém da di ficuldad e qu e ex is te e m
e m foco passe da desgra ça à pro speridade o u vice- criado pe lo ato r te nde, por ca usa de sua realid a- m os tra nd o; e la di z se m di zer; a den egação (a descr evê -I a e e m ava liá- Ia e e m apreender se us
ver sa " (MARMONTEL). de su bj ug a nte , a mon opol izar a at en ç ão do pú - Vern einung fre udiana ) é se u mod o de ex is tênc ia efe ito s.

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voz OFF
voz

1. O "G rão da Voz" : Crit érios Fônicos zarn simu ltaneame nte uma encarnação do ve rbo c. Materialidade VOZ OFF
e uma sis te ma tização do corpo* . A voz possui um a certa "espessura" : se nte-se
Do inglê s voice off: termo em prega do no cine-
A voz, es ta "assi na tura íntim a d o ato r" nel a a co rporalidade do ator . O se ntido do ritm o,
ma, on de design a uma voz ouvi da for a d o ca m po
(BART IIES). é primeiro um a qu alid ade físiea di- 2. Avaliação Pro sódica a cspacialização do d iscurso, d a polifon ia das fa-
de ação, a se r di feren ciada da voice over , voz qu c
fieilmente ana lisãvel de outra maneira que não Ias, tUGO isto d~ à V07. "g rão" e teatral ida de. é ouvida, m as qu e não pertence às per son agen s,
como presença * do ato r, co mo efei to produ zido a. Entonação visíveis o u in visíveis, da ficção, e que é a voz de
no ouv inte. A e nto naç ão reg ula a altura d a voz e os ace n- d. An álise um narrad or ex terio r ou interior 11 ficção .
A altura, a po tência, o timbre, a co loração da
tos da frase. A voz do ator é ig ua lme nte porta- Sem usar os meios cie ntíficos d a fo nética, a No tea tro , a voz (mas tam bém a mú sica, os
voz são fator es puram ent e mater iai s. port anto. dora da me nsage m da entonação», d a ace ntua - so ns e a trilha so nora) pod e vir dos alto-fala ntes,
análise se esforça pc lo men os para le vant ar os
pou co co ntro láve is pelo ator. Eles permite m iden- ção, do ritmo . A e ntonação ind ica de im edi at o e não dos ator es e m cen a. A voz off não é port an -
e fe itos de veloci dade o u d e lent idão, a freqü ên -
tificar im ed iatamente a person agem e. ao mesmo (a ntes mesm o que o sentido in terve nha) a atitu- to aq ue la de um a per son agem d a ficção e de um
c ia, a duração da fun ção das pau sas, a " física d a
tempo, influ em diretam ente, co mo um a percep- de* do locut or, se u lugar no gru po , se u ges tus " ato r d a repre sentação, invisíve l para o especta-
língu a" , a evi de nciação dos gru pos de so pro e da
ção direta e sensual. sobre a sensibilidade do es- soc ial. Ela mod ali za os enuncia dos, imprimin- dor ; e la provém de um instant e ex traficc io na l en-
linha melódi ca, a instalação dos "q uadros rítmi -
pect ador. Qu and o ARTAUD descre ve se u " teatro do -lh es um a luz muit o sutil, donde o test e be m ca rna do pe lo e nce nado r, pelo autor dizendo suas
cos" (GA RC IA-MARTINE Z, 1995 ), o inv estim en -
da crue ldade", ele nad a faz. na verdade , senão conhecid o pelos ato res qu e co ns iste e m faz ê -l o s did ascáli as, por um narrador coment ando a ação
to do co rpo do ator no texto qu e e le pronun cia. cê nica, por uma pers onag em da qu al se o uve ou
descre ver toda enunciação de um texto no teatro: repres ent ar vá rias situações pronunci and o as
"A so norização é constante: os so ns. os ruídos. os mesm as pal avras em diferent es ton s (ve r JAKOB - da qu al uma o utra per son agem im agin a os pen sa-
Tra ger, 1958; Veltru sky, 1941 , 1977 ; Tra verses
gritos são procurad os prim eiro por sua qualid ade SON, 1963 : 2 15). A entonação marca a posi ção ment o s ou o mon ó logo interior.
r:::s;:J. n.20, 1980; R. Durand , 1980 b ; Fintcr , 1981;
i ociando a voz de um co rpo idc ntificável,
vibratória, e em seguida pelo qu e representam" do locut or em face de seus enunciados, exprime _ _ ,_ _,M ~esc h o n nic, 1282; Banhes, 198), 1282: 2 17-22 ;
_ _~ __,( 19&lb: 124) . As palavras são "tom adas num sen- sua mod ali d ad e, prin cipalment e as e moções, a dando -o a o uv ir po r meios ex tracop i :'s, -:'a · ;e :; n :'- ~= =
Co rn u t, 198 3; Zumth or, 1983 ; Fona gy, 1983 ;
tido enc antat ório verdadeiramente mágico - por sua vo liçã o, a ad es ão aos enunciados et c. E la tam- ce na ção in troduz uma incert eza sob re sua ori gem
Bcrnard , 1986; Castarêde, 1987; J. Martin, 199 1;
form a, suas emanações se nsíveis, e não mais ape- bém ex pr ime , co mo bem mostrou BAKHTlN , o Garcia-Martincz, 1995. e so b re o assunto do discur so .
nas por seu sentido" ( 1964b: 189). A voz é uma contato co m o ou vinte , a rel ação com o o utro, a
extensão, um prolongamento do co rpo no espaço. ava liação d a situ ação , daí se u lugar estra tégico:
No teatro, mais talvez do que na men sagem "A e nto nação se e nco ntra se m pre no lim ite e n-
cotidi an a. a materialid ade da voz nun ca é total- tre o ve rba l e o não-verb al, o dit o e o não-dito .
ment e apaga da para benefic iar o se ntido do tex- Na e ntonação. o disc urso entra em co nta to ime -
to . O "g rão da voz" (BARTHES. 1973a ) é uma diato com a vida" (ci tado em TODO RO V, 198 I :
men sagem anterior à sua ex pressão-co municação 74). A e nto nação diz respeito ta nto ao e nu ncia-
(co nfo rme um sotaque. uma entonação. uma co- do quanto à en unciação, tanto ao se ntido d o te x-
lo ração psicológica) . Ele nada tem de intcncional to quanto àq ue le do trabalh o do ato r, tant o à se-
c de expressivo, porém "mi sto erótico dc timbre mântica quanto à pragmática.
e de linguagem. [ele] podc por tanto se r, também
e le, tant o co mo a dicção, a matéria dc uma arte: a b. Teatral izaç ão
arte de co nduzi r o co rpo (daí sua importância nos Encenadores co mo LEMAHI EU, VILLÉGIER,
teatros ex tremo-orientais)" ( 1973a: 104). VlTEZ (os quatro MOLl ERE) ou MNO UCHKlNE (o
A voz situa-se na j unção do co rpo e da lingua- c iclo dos S HAKESPEARE) ou IlUCH VAL D se es-
ge m artic ulada : ela é uma med iação entre a pura força m pa ra teatralizar a voz do ato r, evi tando as
co rpo reidadc não codificada e a tex tua lidade ine- prod uções de e feitos de naturalidade. de psicolo-
rent e ao discurso "entre-deus", [entrem eio], "do gia ou de ex prcss ividadc, e acentu and o ou ritm and o
co rpo e do discurso" (BERNA RD. 1976: 353) , "os- o texto a se r d ito de acordo co m um a retórica autô-
c ilação perm anente, dupl o moviment o cm tensão nom a dotad a de suas própria s leis qu e tratam o
pois qu e es tá em busca de resson ância co rporal a texto co mo mat erial fônico, mostrand o claram en -
qu e co nj unta mente visa supera r num se ntido a ser te a locali zação da fala no co rpo e sua enunc iação
co municado a outrem" (ibid.: 358). A voz se si- com o um ges to * que es tira o co rpo inte iro. Ca be
tua port ant o no lugar de um enco ntro ou de uma ao ouvinte dei xar sua atenção flutu ar, co mo o psi -
ten são di aléti ca entre co rpo e texto , jogo do ator ca na lista di ant c do discur so do ana lisado, para
e sig no lingiiístico . O ator é, graças a sua voz, ao melh or ouv ir o qu e es ta nova declam aç ão " pod e
mes mo tempo pura prese nça física c portado r de di zer sob re o desejo do ator e da personagem que
um s istema de signos ling üíst icos. Ne le se rcali- e le interpreta musicalm ente diante de nós.

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BIBLIOGRAFIA

A maiori a dos artigos qu e co mpõe m es te dici on ári o co mpree nde m uma bibliografi a e ..p_e_c;-íti_I.-.. .......
-~_· ....- - - -ca. Quando um a obra é-c itao a n o ~ c orp o ~d o arti go, e la não c retomad a no fim do artigo, mas constitui
evi de nteme nte uma refe rê nc ia básica para o problem a tratad o, A data da obra o u do artigo c itado é a
da edição utilizada. Par a os textos mais co nhec ido s e reed itad os, indicou -se a da ta da prim eira ed ição
e, quand o é o caso, entre parên teses no final do texto do verbete, a da edi ção utili zada.

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46 7
466
"
INDICE

A BEL: 240 ArERGHIS: 255 . 256, 268 , 390 , 392


A BIRACHED: 32, 127. 194 , 289. 393 Aro LuNAIRE: I. 2
A BRAHAM : 122 Arr EN: 328
A CCONCI: 284 A r ri A: 26, 46.47. 123. 127. 133. 140. 143. 184.
A CHARD: 380 202.255,268.297,308.344,389,396
AD AM: 6. 50. 5 1 ARAGON:213,32 1.396
AD AM DE LA H ALLE: 2 19.375 A RCHER: 42
AD AMOV: 1. 2. 94 , 162.163.263. 363 .372.4 11 ARIOSTO: 62
ADORNO: 35.5 1. 146. 238,347.366, 404 ARISTÓFANES: 1. 11. 54. 164. 233 , 275, 278
ADRIEN: 112. 133. 137. 204 ARISTÓTELES: 1, 2. 3 , 4,1 2,1 4, 20. 22, 24, 25 , 26 ,
AILLAUD:47 29. 33,39.40,41 .53.60.87,88.9 1,92.96.
AL BEE: 1. 162 ,41 1 107. 110, 113,121 .139,141.149. 158, 159.
A LCANDRE: 127. 132 160, 165. 191. 194,204.217.221 .232.241,
AL EZRA: 37 242. 256, 269 , 278, 280 , 285, 286. 289. 29 3.
AU VERTI : 179 295.296.304. 308.3 25, 332. 334, 339. 375.
A LLEVY: 127. 128 404,406.415.416.417.418.421.423,424.
A LUO: 47 .1 31. 233 42 8
ALLOUCHERIE: 128 ARMENGAUD: 300
ALTER: 235 . 355 . 356 ARNOLD: 25, 355
ALTHUSSER: 49. 64 .1 20. 172. 196.201 .303. 329 , ARRABAL: 377
332 .365.39 1 ARRIVÉ: 217
AMIARD-CH EVREL: 262, 329 ARTAUD: 6, 7,17, 18,20.22,25.75,79. 118.122,
AMOSSY: 87. 144. 4 10 126. 127. 131. 140. 142. 143. 185, 186, 187.
ANCEUN-SCl IüT.'.ENBERGER: 3 11 205.2 10,236,243,273.279,296,297.311,
ANDERSON: 69, 115. 284. 375 339, 344 , 346, 347 , 354. 372 . 377. 384, 389.
A NGENOT: 35 5 394,407.432
A NNE: 128 ARTIOU: 390
AN OUILH: 56 , 74. 377. 380. 386 AS IILEY : 284
A NTIN : 37 5 ASLAN: 25.3 1.57.86. 146.205.235,253
ANTOINE: 46 , 127. 128, 205. 236. 261 . 262, 297, ASTON: 300 , 408
3 16.388,389 ATTINGER : 62
A NZIEU: 3 11 ATTOUN: 228

469
rNDI CE
lNDI CE

B IRDWHISTELL: 186. 225. 24 3 325. 326 , 327. 328. 329. 330 , 332, 336 . 33 7.
AUBAILLY: 164,368 B ATY: 127.389
B LANCHART: 127 338 , 340. 34 1. 354. 367.37 1, 376 , 379 ,384.
A UBERT: 243 B AUDELAIRE: 59 . 184 , 189 , 256
B LANCHOT: 295, 34 5 385 . 38 6. 389, 390 . 39 I. 392 . 393. 394, 39 5.
A UDUREAU: 280 B AUDRILLARD: 26 6
B LlN: 377 397 , 4 11. 4 12. 4 19, 423. 4 24
A UERBACH : 242 B AUSCH: 83. 84
BLOCH: 106 .1 07 BR ~I O ND: 5.10.14. 161.179,286
AUG ~ : 193 B AZIN: 140.306
B LOK: 277 B RENNER: 8 1
A URIC: 47 B EAUBOURG: 24 7
B LÜHER: 377 B ROOK: 17. 20.21.22. 43.72.98, 127. 128, 129.
AUSTlN: 103,300,302 B E A U ~ I A R C H A I S : 66 . 1O-t, 206. 214 . 230 , 277. 29 7.
BOAL: 7. 155. 222. 3 11. 380, 38 5. 39 1. 393. 394 135.1 37 .138. 155. 161 , 163.210.219,266.
AUTANT: 39 1 305.397. 4 27
B OBECHE: 277 268. 283. 326. 346. 347. 353 . 358. 377 . 384.
AUTHIER: 301 B EA U Z ~ E : 121
B OCCACCIO: 285 38 8. 389. 393. 394
AUTRAND: 4O-t B ECKERMAN: 33 2. 402
B OGATYREV: 6. 170. 350, 353. 355 BROOKS: 239
AV IGAL: 95. 141.228. 316,3 32 B ECKETT: 1.2.5,16.41.94. 164.173.174. 189 .
B OG U ~I L : 378 .BRUN: 295 . 389
AYM ~ : 380 194, 206. 222. 240, 241 , 24 8, 263 . 286 . 338.
B OHNER: 83 B ÜClINER: 29, 74, 130. 131. 171. 173. 174. 188.
A ZIZA: 80. 145.400.4 10 359.360. 392,4 19,424
B OILEAU: 4 1. 242. 259. 296 . 333.423.425 196. 211. 223 , 248. 249. 28 1. 3 13, 387 . 416.
BABLET: 43.44.47.52.127, 13 1, 135, 138, 200 , B ECQ DE FO UQUIERES: 96. 127
B ÓLL: 32 1. 396 4 19.420.424
235 .247, 250, 266, 293 B ECQUE: 26 1
B OLLACK: 420 B UCIIVALD: 295 .389. 432
B ACHELARD: 137 B EDo s : 14 3
B ONNAT: 202 B U C KI N G H A~ 1: 35,4 16
B ACHMANN: 32 1 B EETHOVEN: 255,280
B o oTII: 106. 2 16. 242. 27 1 B URDEN: 284
B ADENHAUSEN: 47 B EHLER: 2 16
B ORGAL: 128 B URIAN: 350
AILLET: 296 BÉHAR: 390
BORHAN: 177 BURNS: 72.374
B AKHTI N: 35. 36. 102. 127 , 164 .1 88, 189. 214, 301, B EN 10 NSON: 234
B ORIE: 18. 21.146.1 92 . 347 B YRON: 392
345 ,432 B ENAVENTE (DE) : 129, 34 9
B OSSUET: 296 CAGE: 191 . 253, 284.359
B AKST: 47 B ENHAMOU: 127
B OUCHARD: 9 1 CAHUSAC: 184
B ALASKO: 38 B ÉNICHOU: 115. 365
B OUCRIS: 47. 135 CA ILLOIS: 11. 221
B ALE: 81 B ENJAMIN: 11, 20 . 24 ,48.1 07.1 77 . 336. 347. 383,
B OUGNOUX: 3 15 CALAFERTE: 2, 78 . 382
B ALL: 9 1 4 19
B OUISSAC: 186, 24 3 CALDER: 392
B ALME: 152 B EN~ I USA: 137, 162, 205, 378
B OURASSA: 3 16 CALDERÓN:31. 129.240.246,282.3 86 .409
B ALZAC: 252.327 B ENOiT: 155.277
B OURDET: 171 , 340. 377 . 380 CALDERWOOD: 240
B ANHAM: 152. 211 B ENSKY: 234 ,368
B OURDIEU: 188, 366. 376 CMIPBELL: 15
B ANU: 34,127. 135. 169, 197 ,390 B ENTLEY: 140. 143. 183.404.410
B OUTEILLE: 37 CAM US: 1.2.10,112. 319.419
BAR: 36 B ENVENISTE: 88 .95.97, 101. 102.21 3.247.257.
B OWMAN: 91 CARLSON: 17. 135. 146. 2 1 I. 254 . 284. 355. 375 .
BARBA: 7.17.1 8.1 9 .20.21. 28. 76 , 98,143.151. 28 7.300.302.345. 35 1,3 52.3 6 1. 40 1. 4 22
B RADBROOK: 72.400 376 , 404, 408
210.226. 256. 268. 277 . 29 2. 305. 306. 374, B ERG: 390
B RADBY: 127 C ARMONTELLE: 3 10
382. 385. 393.409 BERGEZ: 168. 171. 342 .430
B RAINERD: 235 C ARNÉ: 274
B ARILLET: 380 B ERGMA N: 128.202
B RAQUE: 4 7 CARRIERE: 127
B ARKER: 3 1. 155,205,222 B ERGSON: 58.59. 181. 319.410.427
B RASSEUR: 380 C ASTAREDE: 43 3
B ARRAULT: 62. 112. 283. 293. 303 . 377. 395, 396 B ERLlOZ: 227
B RAUN: 33. 63. 127 . 128 C ASTELVETRO:296,334.423,425
B ARRET: 155.222 B ERNARD (1 . 1.): 359. 382
B RAUNSCHWEIG: 128. 163, 204, 383 C AUBERE: 26 8.375.376
BARRUCAND: 41 B ERNARD (R .): 76, 85 . 86. 139 . 155.205.235.243.
B RAUNECK: 3 1. 44 . 127 . 39 3.404 C AUNE: 113, 303. 332. 337. 355. 36 2,422
B ARRY: 174 306 .373. 4 30. 43 2. 43 3
B RAY: 34. 115. 183. 335.429 CELAN: 294
B ARTABAS: 388 B ERNARDY : 86
B RECHT: 2. 9. IO, 13,1 4 .1 5. 16. 20. 2 I , 22, 24. 27, C ENDRARS: 181
B ARTHES: 3. 4, 17. 34. 50. 65. 95. 96 , 107, 120. B ERNHARD: 222.248 .430
28,30,31 . 34 . 36 ,4 1,48.50,64.65.69.72. C ERVANTES: 129,245.285
132. 141. 146. \ 6 1. 162. 167. 170. 176, 178 , B ERNSTEIN: 380
73, 74 . 77 . 80. 81. 83. 92. 97 , 101 , 1O-t , 105, C~ S A IR E : 2 10
179, 187. 204, 205, 208. 21 3, 222, 228. 240. B ERTlNAZZI: 3 15
106,11 0,11 2,11 3.11 4 .11 6,1 17,11 9.1 21. C HAB ERT: 76 . 80
26 1.286.290. 303.3 14, 328. 329 . 335, 342, B ERTOLAZZI: 427
123,1 25,1 30.1 31 ,1 37 , 139 ,1 40.1 45.1 54 , C HABROL: 14. 17. 69
352 . 35~ 355. 3 6 ~ 363. 372 . 39~ 39 ~4 1~ B ESNEHARD: 308
158.1 59. 16U. 172 . 173 . 175, 178. 184, 187, C IIAIKIN: 57. 306
4 19.422.43 1.432.433 B ESSON: 116
189, 191 . 194 . 19 6, 197. 200. 201 . 203, 208, C IlAMBERS : 54 .337.353.404
B ARTOLUCCI: 132. 390 B ETTETINI: 127. 355
2 10, 22 3. 22 5. 22 8. 229, 23 3, 243. 246 . 249 . C1IAMI'FLEURY : 327
B ASSNETT: 355. 378 B EUYS: \ 9 1. 192
250.255 ,258, 260.262.263,268,270,27 1, CH ANCEREL: 86
BATAILLE: 233. 380 B ézu: 52 ,128 ,204
275 . 276. 279. 281, 282 . 286. 287. 289, 296, CHAI'ELAIN: 33. 165,296.334.423.428
BATAILLON: 116.149 BI AGINI: 228
297 , 30 6, 307. 30 8. 310, 311 ,31 3. 3 14,321. C1IAI'L1 N: 24 3
B ATTCOCK: 254 , 284 B ICKERT: 154. 175
471
470
í NDIC E
IND ICE
CRAIG: 26.27,30, 46. 47, 123. 134. 184. 233. 247. DI DEROT: 30.40,56.57.66, 129, 169, 178, 181 , Eco: 50. 57. 127. 173, 199, 208. 228. 240. 271.
C HARLES: 228
255 .297.344.369.389,391 .396 184 . 187, 204 , 206, 214 . 220 , 233, 238. 24 2. 332.351
CHARPENTIER : 47
CRATES: 54 245.26 1,273.274.28 1.285.297,313,314. E IKIlENBAUM: 306
C HARTREUX: 338
CHÉREAU:47.52. 78.128. 177.204.268.329.383 CRATlNOS: 54 3 15,316,340.359.369.377,387. 4 16 E ISENSTEIN: 63 , 249 , 250. 255. 281 . 325
CUBE: 235 DI GTRICH: 173 EI VREINOV: 383
C HEVREL: 262, 329 . 428
C ULlOLl: 302 DI LLER: 300 E LAM : 5.87. 104 . 222. 300 . 350
CIIIARELLI: 188
C ULLER: 205 DIMITRIADIS: 3 15 ELl ADE: 18. 20. 21, 402
C HIARINI: 107.329
CUNNINGHAM: 83. 191.284.392 DI NU: 235 E LlOT: 74 , 250 , 360 . 4 30
C HILDS: 392
D 'A~l1 co : 44 DI ONISO: 54 E LLlS-FERMOR: 108. 140
C HION: 121
D ' Assouci: 35 D 1FILO:56 E LSE: 242.404
CII KLOVSKJ : 106. 175. 306
D' A UBIGNAC: 4 . 6. 29. 34.9 1. 103. 113. 115. 141 . D OBLlN: 249.32 1 É LUARD: 32 1
CHRISTOUT: 166
144. 206. 229. 293. 296. 304 . 33 5. 355. 423. D ODD: 95 ÉMÉLlNA: 80
C ICERO: 121,242.34 1
424, 425.4 29 D ODlNE: 112 E NGEL: 28, 86. 185. 204 , 24 3. 267 . 273
CI NTIIIO: 334 D OMENACH: 41 9
D A COSTA: 37 E NGELS: 388
CI XOUS: 52 , 196.378 D ONATO: 29
D A SILVA: 128 E NZENBERGER: 38 7
C LAI RON: 169 D ORAT: 86
D ACIER: 296 E RLlCIl: 173. 306
C LARK: 404 D ORCY: 65. 244 . 274 ERTEL: 8 1, 2oo . 238, 327
CLAUDEL: 6. 130 . 134 , 184 . 286 . 297 , 308. 360. D ADA: 24
DO RFLES: 137 EsCARPIT: 60
385.393.395, 430 D ALI : 47
DORIN: 377 , 380 ÉsQUILO: 73, 278. 310
DALLENBACH: 245
COCTEAU: 206 DOR EVAL: 427 Esopo: 157
DANAN: 104. 128.247.248.250. 75 .382
C OLAS: 127 , 128 DORT: 31 . 34 , 57, 76 . 8 1, 112, 115. 117. 122, 125, ESSLlN: 2
C OLE: 7, 129, 30 5 DANCOURT: 55
127. 141, 143, 197,241, 261 . 299 . 30 7. 33 2. E STANG: 16
DARS: 155. 277
C OLLÉ: 277 341 . 354, 361 .402 ,407 E URfI'IDES: 92 , 165, 238, 27 8. 308
D AVIS: 382
C OLLET: 96. 181 D o s P ASSOS: 249 EVREINOFF: 127, 221 ,247. 388
D E MARINIS: 50. 64 . 65 . 72 . 76 . 87. 127. 244.27 1.
C OLUCHE: 37. 143 D OSTOIÉVSKJ: 10 F ABIEN: 378
274 . 354 . 355 . 366,409 .422
C OMI'AGNON: 4 8 DR AGUTIN: 52, 338 F ABRE: 112
D EÁK: 120. 355
CONGREVE: 5 1 DRYDEN: 35 . 56. 296.41 6.425 F AGUET: 8 1
D EBORD: 143
C ONSTANT: 297 D u B ELLAY: 296 F ALL: 3 11. 363
C OPEAU: 43. 46.47 . 62 . 65 ,66. 100 , 112, 120. 123. D EBUREAU: 274
D u B o s : 85. 296 F ANCIlETTE: 3 11
D ECROUX:28, 65. 75 . 76.2 12,225. 243. 244.252.
127. 155. 243. 244. 32 1. 322 . 338. 34 1, 389. D UBILLARD: 2 F AVARD: 169
274. 295 . 305
394 . 4 12 D UBOIS: 179 , 204 . 30 8. 309 F EBVRE: 83
D ELBÉE: 2 14. 344
COPFERMAN : 286 D UCHAMP: 24 . 5 1 F ELDENKRAIS: 155. 253
D ELDIME: 14 1, 3 16
C OPI'IETERS: 33 2 D UCIlARTRE: 62 FÉRAL: 374, 378
D ELEDALLE: 199
COQUELlN:380 D UCHEMIN: 11 F ERGUSSON: 400
D ELEUZE: 299. 399
C ORMAN: 78 . 112 D UCHET: 329. 364. 365 F ERRAN: 125
CORNEILLE: 6, 22. 34, 32.40,56,66.67,69.80.88, D ELMAS: 256
D UCROT: 94 . 95. 103. 108,300.301.302.355 F ERRONI: 118. 355
9 1. 113, 16 1, 166, 182, 206 . 232. 245. 24 8, 257 . D ELSARTE: 252
D UFY: 4 7 F EUIU.ET: 310
D EMARCY: 52. 152.204,228 ,336,3 53,389. 403
259, 273 , 296 . 305. 334, 335 . 37 1, 386. 387. D UJARDIN: 4 30 F EYDEAU: 2. 164 . 214 , 281 . 380 . 4 27
416,417.4 18.420.42 1.425.429 D EMOUGIN: 171.400 D UKORE: 404 FI EBACH: 393,404
D ÉPRATS: 412, 41 5
CORNUT: 433 D ULLl N: 62. 104 , 125. 127. 128. 20 2. 252.41 2 FI EGUTH: 65 , 14 1.29 1.332
D ERRIDA: 7, 119. 137.245.295.299. 354
C ORTI: 65 DUMAS: 327 FI ELDI NG: 35
CORVIN:27. 32 . 50, 54 . 65. 130, 152. 153. 164.213, D ESCARTES: 273 DUMUR: 143, 306 FI NTER: 137. 390.433
2 16.229.233.235,239,263.355.390,39 1. D ESCOTES: 332 D UPAVILLON: 143 FI SCHER-LI CHTE: 127. 192 . 31 6, 355 ,408
D ESNOS: 32 1 D URA ND. (G.) : 2 1. 252 , 337. 400 FITZPATRICK: 404
4 12.4 15. 426
D ESI'ROGES: 143 DURAND. (R.): 132. 337 . 355,433 FLASIlAR: 24. 3 11
C OSNIER: 186. 3 11
C OUCIIOT: 254 D ESSAU: 25 5 D URAS: 128. 248. 263. 378 FLECNJAKOSKA : 32
D EUTSCII: 77. 78, 262. 31 5. 360 D ÜRRENMA1T : 2, 16. 4 1, 56, 74 .104.1 89.1 93,1 94, FLESHMAN: 225
COUPRIE: 420
COURBET: 327 D EVOS: 143 22 1.276 ,297.32 1.325. 4 19. 42 0 FLETCIIER: 420
COURTELlNE: 164 , 38 0 DIl OMME: 127 D URRINGER: 78 , 128 F LOECK: 128. 129
C OURTES: 7. 14 . 142, 352 DI AGIlILEV: 47 D UVIGNAUD: 296, 366 F LORJDOR: 269
COUTY: 374 ,386 DICKENS: 112 E BSTEIN: 380 F o : 226, 277 . 350

4 72 473
í NDIC E
fNDICE

G flIRON-B ISTAGNE: 3 1 G RIFFITIl: 249 H ERDER: 425


FONAGY: 433
G IDE: 10 , 112, 25 G RIMM : 16. 130 , 183, 262, 390 H ERMON: 3 11
FONTANIER: 104 ,1 68, 342
G IDEL: 427 G RINGORE: 368 H ÉRON D' ALEXANDRIA: 391
FONTENELLE: 2 11, 296
GINESTlER: 235 , 390 G ROPIUS: 395, 389 H ERRY: 426
FORD: 4 11
GINOT: 83 G ROs-G UILLAUME: 164 , 277 H ERZEL: 122,4 10
F OREMAN: 34, 138, 204 , 299
GI RARD: 347,420 G ROTOWSKl: 7, 17,18,20,43,75,126, 127, 137, H Es s -LOTTlcH: 65, 355
F ORSTER: 157
F ORESTIER: 80, 105, 115,206,245 ,332,386 GIRAUDOUX: 55,74, 10 1, 206, 258, 397, 41 6 140, 185, 187,205,210,232,243,252,268, HlJl KATA: 210
G IRAULT: 116, 127, 161, 179, 373 277, 279, 297, 303, 305, 337, 346 , 374, 382, HI LDESIlEIMER: 2, 276, 360
FO RMIGONI: 126
F OUCAULT: 35, 104, 192, 346 ~ 350, 365 GI SSELBRECHT: 175 384,389,390,39 1,393 HI LGAR: 144, 420
G ITEAU: 143 G ROBER: 47, 4 8, 52, 95, 204,266,31 1 HI LZlNGER: 388
F OURNEL: 234, 368
G U SSANT: 2 10 GR OND: 70 HI NDENOCH: 70
F RAISSE: 40 1
FR ANCASTEL: 168, 173, 203, 242,291, 365,431 G OBIN: 35 GRYPIIIUS: 11, 28 H INKLE: 7, 332, 353
F RENZEL: 171,252, 36 1,400 G ODARD: 3 1,52, 128 G UARI NI: 334,420 HI NTZE: 134, 136
G OEBBELS: 255, 268, 390 , 392 G UARINO: 167, 233, 332, 354 Hl s s : 9 1, 109
FRESNAY: 380
F REUD: 14, 17, 18, 58, 60,77 , 90,126, 136, 162, G OETHE: 14,41 ,74, 81 ,1 00 ,111 ,1 30 ,1 31, 153, G UESPIN: 102 HJ ELMSLEV: 350
163, 168, 181, 186, 200, 203, 21 2, 303, 352, 245 , 255, 297 , 309, 313, 37 5, 397,41 8,420 G UEULLETTE: 277 H OCHHUT: 282, 388
G OF: 127 G UEZ DE B ALZAC: 296 H ODGSON: 205
383, 43 1
G OFFMAN: 22, 225, 27 1,275 ,300,3 15,337,375, G UICIlEMERRE: 420 H OFFMANN: 83, 380
FR EYDEFONT: 233
386 GUIGNON: 98 H OFFMANN-O STWALD: 380
FR EYTAG:29,63 , 154,285,297,403
GÓGOL: 3 15 G UITRY: 77, 80 H OFMAN STHAI::. 109,250, 60,409,430
FR IEDRICH : 266
GOLDBERG: 284 GULU- P UGU ATI: 21 , 304, 340, 355 H OGENDOORN: 228, 393
FR ISCH: 2, 189, 276
FRIZE: 254 ,255,256 , 367 , 390 G OLDMAN: 420 G URWITCH: 366 H OU NSHED: 8 1, 112
G OLDMANN: 248, 366, 4 17, 4 18, 41 9 G UTAI: 191 H OMERO: 193, 396
F RY :430
G OLDONI: 62 G UTIlKE: 420 H ONZL: 44 , 89, 139, 162, 183,2 17,327, 345,350 ,
F RYE: 11, 24, 53, 183, 194,4 19, 42 0
G OLOMB: 430 G UY : 141 353,358
F UCHS: 30 1
G OMBRICH: 147, 204 , 329 H ADDAD: 70 H OOVER: 63
F UMAROU : 89, 115, 342
G OMBROWICZ: 2 H AKIM: 128 H OPPE: 6, 266
F URUHASHI: 375
G OMEZ: 9 1 H ALL: 310 H ORÁCIO: 29, 296, 386, 424
F UZEUER: 427
G OMEZ-P ENA: 375 H AMON: 12. 13, 161 ,1 94 , 238,289,429 H ORNBY: 305,347, 40 7
G AILLARD: 364
GONCOURT: 327 H ANDKE: 2, 5, 16, 133, 206, 222, 245, 248, 249, H OUDAR DE L A M OTTE: 206, 2 11, 296,423
G AUMAFRÉ:277
G ONTSCHAROVA: 47 28 1,295,3 15,32 1,360 H RUSIlOVSKI: 167
G ALOTTA: 83
GOODMAN:404 H ANNA: 73, 76, 186 H UBERT: 109,404
G ANTILLON: 382
GÓRKI: 137,26 1,385 H ARRIS: 6 H ÜBLER: 5
G ARCIA: 232
G O S S ~l A N : 355 H AUPTMANN: 93 , 26 1, 262, 4 17, 419 H UGO: 30, 74,109,138, 14 1, 188,297,305,313,
G ARCIA-MARTINEZ: 345,403,433
GOTTSCHED: 425 H AUTEROCHE: 269 392,424,429
G ARRAN: 2 10
G OUGAUD: 70 H AVEL: 2 H UIZINGA: 220, 275
G ARRICK: 166,1 69
G OUHIER: 3, 4,42, 115, 140 , 143, 146, 16 1,214, H AYS: 14 1, 127, 128, 135, 196,337,365 H UTCHEON: 279
G ATTI: 78
40 1 H EBBEL: 110 , 153 ,419,420 IBSEN: 15, 29. 46,11 0 ,1 30,1 37 ,1 53, 162, 251 ,
G AUDIBERT: 380
GOURDON: 140: 300, 332, 355 , 366 H EFFNER: 173 255,26 1,28 1,360,385, 4 19,427
G AULTIER-G ARGUILLE: 164 , 277
GOZZI: 62. 166, 167 H EGEL: 22 , 29, 32 ,40,4 1, 53, 59,67,68,69, 73 , IFFLAND: 99 , 128
G AUTHI ER: 204 ,43 1
G RABBE: 131, 196,392,397,4 19,424 96 , 131, 136, 146, 147 , 149, 154, 172,193, 195, I NGARDEN: 96, 108, 179,20 8,228, 301 , 329, 396,
G AUTIER: 8 1, 188
G RASS: 2, 32 1 196, 263, 266, 280, 28 1, 293, 297 , 324, 339, 406, 409
G AUTI ER DE COINCY: 24 5
GRAY: 284 41 6, 41 7, 4 20 , 4 23 I NNES: 2 1, 347
G AUVREAU: 235
G RÉDY: 380 H ÉGÉMON DE TH ASOS: 278 IONESCO: 1, 2, 6, 16,41 ,51 ,94,1 64 ,174 ,1 89,1 94 ,
GAY: 35
GR EEN: 15, 137 , 163, 420 H EGGEN: 253 196, 206, 263, 279, 297 , 377 ,41 9,420
G ÉMIER: 383
G REIMAS: 3,4,5.7.8,9, 14, 142, 21 6, 257, 275, H EIDSIECK: 189 ISER: 108, 167 . 228
G ENET: 104 , 240, 241 , 286, 386
286 ,303,350,35 1,352,422 H EISSENBÜTTEL: 32 1 ISSACIlAROFF: 54, 60, 101, 102, 136, 355, 408
G ENETTE: 36,96, 168, 171, 182, 183,205, 215, 242,
G REUZE: 3 15 H EISTEIN: 332 , 404 IVERNEL: 32, 380
257,260,279,40 1,403
G REY: 69 H ELBO: 50 , 225, 238,240, 337 ,353 ,355,357.363 J ACIIYMIAK: 374
G ENOT: 149
G RICE: 300 H ELMICIl: 250 J ACQUART: I, 263
G ENTY: 204, 384
GR IEG: 255 H ENSIUS: 296 J ACQUOT: 115, 127, 138 ,234,263,329, 419
G EOFFROY: 238

474 475
I NDICE
íND ICE

FONAGy : 433 G HIRON-B ISTAGNE: 3 1 GR IFFITH: 249 H ERDER: 425


FONTANIER: 10-1, 168, 342 G IDE: 10. 112, 25 G RI M ~I: 16, 130, 183,262, 390 H ERMON: 3 11
FONTENELLE: 211, 296 GID EL: 427 G RINGORE: 368 H ÉRON D' ALEXANDRIA: 39 1
FORD: 411 G INESTIER: 235, 390 GROPIUS: 395, 389 H ERRY:426
FOREMAN: 34, 138,20-1,299 G INOT:83 G ROS- G UILLAUME: 164, 277 H ERZEL: 122, 4 10
FORSTER: 157 GIRARD: 347,420 GROTOWSKI: 7, 17, 18, 20,43,75, 126, 127, 137, H ESS-LOTrI CH: 65, 355
FORESTIER: 80, 105, 115, 206, 245, 332, 386 GIRAUDOUX: 55, 74,101, 206, 258, 397, 4 16 140, 185, 187, 205, 210,232, 243, 252, 268, HIJI KATA: 210
FORMIGONI: 126 GIRAULT: 116,1 27,1 61,1 79, 373
277, 279, 297, 303, 305, 337, 346, 374, 382, HILDESHEIMER: 2, 276, 360
FOUCAULT: 35, 10-1, 192, 346: 350, 365 GI SSELBRECHT: 175 384,389,390,391,393 HILGAR: 144,420
FOURNEL: 234,368 GrrEAU: 143 G ROIl ER: 47, 48, 52, 95, 20-1 , 266, 31 1 HILZJ NGER: 388
, FRAISSE: 40 1 G LlSSANT: 210 G ROND: 70 HINDENOCII: 70
FRANCASTEL: 168, 173, 203, 242, 291, 365, 431 G OBIN: 35 G RYPHIUS: 11,28 HINKLE:7, 332, 353
F RENZEL: 171, 252, 361,400 G ODARD: 3 1, 52, 128 G UARINI: 334,420 HINTZE: 134, 136
FRESNAY: 380 G OEBBELS: 255, 268, 390, 392 G UARINO: 167, 233, 332, 354 Hlss: 9 1, 109
FREUD: 14, 17, 18,58,60,77,90, 126, 136, 162, G OETIIE: 14,41, 74, 81, 100 , 111, 130, 131, 153, GUESPIN: 102 H JELMSLEV: 350
163,1 68,1 81, 186,200, 203,21 2, 303, 352, 245,255, 297, 309, 313, 375, 397,41 8,420 G UEULLéTrE: 277 H OCIIHUT: 282, 388
383, 43 1 G OF: 127 G UEZ DE B ALZAC: 296 H ODGSON: 205
FREYDEFONT: 233 G OFFMAN: 22, 225, 27 1, 275, 300, 3 15, 337, 375, G UICHEMERRE: 420 H OFFMANN: 83, 380
6 GUIGNON: 98 HOFFMA - LD: O
FRIEDRICH: 266 G óGOL: 315 G UITRY: 377 , 380 H OFMANNSTHAL: 109, 250, 360,409,430
FRISCH: 2, 189,276 G OLDBERG: 284
G ULLl-PUGU ATI: 2 1,30-1,340,355 H OGENDOORN: 228,393
F RIZE: 254,255, 256,367,390 G OLDMAN: 420 G URWITCII : 366 H OLlNSHED: 8 1, 112
FRY: 430 G OLDMANN: 248, 366, 417. 4 18, 419 GUTAI : 19 1 H OMERO: 193,396
F RYE: 11, 24, 53, 183,1 94,41 9,420 GOLDONI: 62 G UTHKE: 420 H ONZL: 44 , 89, 139, 162, 183,21 7,327,345,350,
FUCHS: 30 1 G OLOMIl:4 30 G UY: 141 353,358
F UMAROLl : 89, 115,342 G OMBRJ CH: 147, 20-1, 329 H ADDAD: 70 H OOVER: 63
FURUHASHI: 375 G OMBROWICZ: 2 H AKIM: 128 H OPPE: 6, 266
FUZELlER: 427 G OMEZ: 9 1 H ALL: 3 10 H ORÁCIO: 29, 296, 386, 424
G AILLARD: 364 G OMEZ-PENA: 375 H AMON: 12, 13, 161, 194, 238,289,429 H ORNIl Y: 305, 347,407
G ALlMAFRÉ: 277 G ONCOURT: 327
H ANDKE: 2,5, 16, 133,206,222,245.248,249, H OUDAR DE L A M OTTE: 206, 2 11, 296. 423
G ALOTTA: 83 G ONTSCIIAROVA: 47
281,295,3 15,321 ,360 H RUSHOVSKI: 167
G ANTILLON: 382 G OODMAN: 404
H ANNA: 73 ,76, 186 H UUERT: 109 ,404
G ARCIA: 232 G ÓRKI: 137,26 1,385 H ARRIS: 6 H OIlLER: 5
G ARCIA-MARTINEZ: 345,403,433 G OSSMAN: 355
H AUPTMANN: 93, 261, 262, 417, 419 H UGO: 30, 74, 109,138,14 1,188,297,305.3 13,
G ARRAN: 210 G OTTSCHED: 425 H AUTEROCHE: 269 392,424,429
G ARRICK: 166, 169 G OUGAUD: 70 H AVEL: 2 H UIZINGA: 220, 275
G ATTI: 78 G OUHIER: 3, 4, 42, 115, 140, 143, 146, 161, 214,
H AYS: 141. 127,1 28, 135, 196, 337, 365 H UTClI EON: 279
G AUDIBERT: 380 401 H EUBEL: 110, 153, 4 19, 420 I IlSEN: 15,29, 46, 110, 130, 137, 153,1 62, 251 ,
G AULTl ER-G ARGUILLE: 164, 277 G OURDON: 140,300,332, 355, 366 H EFFNER: 173 255,26 1,281,360,385,419,427
G AUTHIER: 204,43 1 G OZZI: 62, 166, 167 H EGEL: 22, 29, 32, 40, 4 1. 53, 59, 67, 68, 69, 73, [ FFLAND: 99, 128
G AUTIER: 8 1, 188 G RABBE: 131, 196, 392, 397, 419, 424 96, 131, 136, 146, 147, 149, 154, 172,193, 195, I NGARDEN: 96, 108, 179,208, 228,30 1,329,396,
G AUTIER DE CO INCY: 245 GRASS: 2, 321
196, 263, 266, 280, 28 1, 293, 297 , 324, 339, 406,409
G AUVREAU: 235 G RAY: 284 416,417,420,423 I NNES: 2 1, 347
G AY: 35 G RÉDY: 380 H ÉGÉMON DE T II ASOS: 278 [ONESCO: 1, 2, 6,1 6,41 , 5 1, 94,1 64,1 74,1 89, 194,
G ÉMIER: 383 G REEN: 15, 137, 163, 420 H EGGEN: 253 196, 206, 263, 279, 297, 377, 419,420
G ENET: 10-1, 240, 241, 286, 386 GREIMAS: 3,4,5,7,8,9, 14, 142,2 16,257,275, H EIDSIECK: 189 [SER: 108, 167, 228
G ENETTE: 36,96, 168, 171,182, 183,205,215,242, 286,303,350,351,352,422 H EISSENIl OTTEL: 321 ISSACII AROFF: 54, 60,101, 102,136,355,408
257,260,279,40 1,403 G REUZE: 3 15 H EISTEIN: 332, 40-1 I VERNEL: 32, 380
G ENOT: 149 G REY: 69 H ELUO: 50, 225, 238, 240, 337, 353, 355, 357 , 363 JACII YMIAK: 374
G ENTY: 20-1, 384 G RICE: 300 H ELMICII : 250 JACQUART: I , 263
G EOFFROY: 238 G RIEG: 255 H ENSIUS: 296 JACQUOT: 115, 127, 138, 234, 263, 329. 4 19

475
íN DICE
lNDICE

L ASSALLE: 77,78. 100 , 107. 127. 128. 262. 308. LoUCASIlEVSKY: 128
J A F R ~ : 104 , 115.365,374 K U ER: 396 .404
3 15.336.360,389. 4 12 Louvs : 170 ,
J AKOIlSON: 89. 119. 133. 175. 240. 245. 269. 27 1, K LlNCKSIECK: 4 26
L A S ALLE (DE) : 70 LUGN ~- POE : 388
34 2.430,432 K LÓPFER: 95
L ATOUCHE: 3 10 L u xxc s : 24 . 68. 74, 112. 116. 131, 140 . 147. 173 .
J AMAT\: 137 K L0 17.: 115.11 6. 130 . 133. 154 .1 73.1 75. 215. 249.
L AUDUN: 4 25 175. 194 . 195. 196. 3 24 . 325. 328. 329. 366.
J AMESON: 175. 196 .366 298
L AUDUN D' AI GAUERS: 296 4 16. 417
J ANSEN: 4 . 5. 87. 133. 135. 136, 167. 179. 363. 4 22 K LÜNDER: 396,404
L AURENT: 394 L ULLY: 35.54
J AQUES: 9 5. 128. 3oo . 30 3. 378 K NAPP: 99 . 426
K NOPF: 34.107. 112.1 19. 120. 130 . 187.307 L AUSIlERG: 342 LUZAN: 297
J AQUES-J)ALCROZE: 46. 226.267.293. 342
L AVAUDANT: 137.204 L YONS: 355
J ARRE: 255 K NUDSEN: 396
L AVELLI: 232.268 LYOTARD: 6. 139 . 168. 2 28. 299. 354 . 355.4 31
J ARRY: 1. 2. 19 6. 233. 297 . 374 K OKKOS: 47. 119
L AVER: 170 M ACIlEREY: 391
J AUSS: 59. 64 . 146. 152. 192.201.33 1.366.414 K OKOSOWSKI: 292
L AZARIN\: 112 M ADRAL: 390
J AVIER: 127. 390 K OLTts : 2 10. 248. 329
L E B RUN: 273 M AQUIAVEL: 62
J EAN: 4 3 K OMMERELL: 24. 28 1
L E FA UCIlEUR: 273 M AETERLINCK: 10 9. 162. 2 14. 247 . 286, 297 . 360 .
J ESSNER: 389 K ONIGSON: 246
L E G ALLlOT: 137. 162, 163 40 1. 424
J OHANSEN: 357 K OSTELANETZ: 254.390
L E T ASSE: 56 M AGGl:424
J OHNSON: 54 , 55. 283, 29 7, 425 K OTT: 189, 4 20
K OWZAN: 27. 87. 9 1,140, 14 3. 200 . 206. 245. 35 1. L EAIlIlART: 244 M AGRITTE: 245
J OLY: 38
L EIlEL: 192 M AIAKÓVSKI: 379
J O : 27 . 127 .263, 391 355 .358.386 .422
REJ A: 4 , 1 , 2 7 LECLERC:81 AILLET:
J ONES: 234
L ECOQ: 186, 243, 244, 252 . 253. 274 . 426 M AINGUENEAU: 10 3. 300 , 30 2
J o o s : 83 K RESNIK: 83 , 84
K RISTEVA: 126. 21 3 L EDOUX: 125 M AINTENON: 3 10
J o s s : 84
K ROETZ: 77. 78.1 63. 247. 262. 31 5 L EFÉVRE: 78 M AIRET: 29 6,420 . 425
J OUANNEAU: 128
L ~ G E R : 47 . 392 M ALEC: 268
J OURDHEUIL: 116. 389 K RYSINSKI: 76 . 186. 35 5. 374
L EIlMANN: 2 14.299 M ALEVITCH: 232
J OURNIAC: 25. 192 K UIlN: 255
L EJEUNE: 374 M A L A R M ~ : 109 , 183
J OUSSE: 2 1. 69 K UNDERA: 4 1
L EKAIN: 169 M ANCEVA:4oo . 40 6
J OUVET: 57,96.253.344.389 K YD: 386
L EMAHIEU: 32 . 78 . 128. 229.427.43 2 M AN (DE) : 342
J OYCE: 24 9 L A B ORDERIE: 200
L ABRUYÉRE: 39 . 165, 188 .279.296 L EMAiTRE: 81 M ANN: 346. 394 .384
J UNE P ARK: 28 4
L A FONTAINE: 157. 232 L ENORMAND: 359 M ANNIlEIM: 99
J UNG : 18 , 24 . 104 . 245 . 355 , 386
L ENZ: 29.313 .420 M ANNONl: 90. 136, 16 3. 203. 205. 408
KAFKA: 112. 295 L A G RANGE: 269
L A M ESNARDIÉRE: 33 . 157 .296.334 , 423.425 L EONCAVALLO: 427 M ARC: 253
K AGEL: 392
L EPAGE: 132 .204.253 ~ t A R C E A U : 244 .274.380
K AISER: 188 L A R OCHEFOUCAULD: 355
L ÉPINCIS: 382 M ARCHESCIlI: 78 . 128
KANDINSKY: 392 L A T AILLE: 296
L AIlAN: 186,225.252.253.279 L EROI-Go URIlAN: 21, 186. 34 5.43 1 M ARCUS: 149. 235
K ANT: 18.58
L ESAGE: 55.427 M A R ~ CH A L : 116
K ANTOR: 7.3 1. 132.383.388. 389 L ABICIlE: 164 . 28 I. 380.4 1 I. 42 7
L ESSING: 40. 56. SI . 113. 117. 157. 158. 29 7. 387, M AREY: 252
KAPROW: 191 . 28 4 L AIlORlT: 76
L AIlOU T ANSI: 210 425 M ARIE: 249
K AYSER: 189
L ACAN: 76 L ÉVI-S TRAUSS: 18. 19. 2 1 M ARIN: 76. 83.155.179. 186
K EAN: 275
L ACASCADE: 128 L EVIEUX: 15 5 M ARINETII : 16.24.39 1
K EATON: 36 . 27 4
L A CR UZ (DE): 349 L EVITI : 96, 174 , 298 M ARIVAUX: 5. 34. 35. 36, 5 2, 62. 66. 80. 94. 98.
K ELLER: 115. 154. 249. 276
L AFON: 235 LI NDEKENS: 204 , 43 1 104, 115. 16 5. 206. 21 I. 2 15. 222. 226. 232.
K EMENY: 87
L AGRAVE: 76. 332, 40 3 L1NDENBERGER: 19 6 240.24 1.245. 28 5,291,363,373,386. 403
K EMP: 8 1
LA NGER: 137 , 173, 40 3 LI NDLEY: 234 M ARLOWE: 73 , 8 1, 246
K ERBRAT-ORECCHION1 : 95 , 104, 300 . 30 2. 30 3. 362
L10 UBlMOV: 76 MA RMONTEL: 29 . 33 , 34, 53. 58, 60 , 84, 85, 115 ,
K ERENYI: 18 L ANGHOFF: 266
L IOURE: 404 116, 129 , 14 1. 144 . 153. 158. 20 2. 20 3, 20 6.
K ESTING: 24. 112, 130, 184. 396 L ANSON: 17 1
LI STA: 390 2 14,257.297,333 ,428.430
KIJ ~ D1 - V ARGA : 14, 161 . 34 2 LA RA: 39 1
LI VCIlINE: 76 M ARRANCA: 16 3. 204 , 284
K IPPIlARDT: 387 L ARIONOV: 47
L ARSEN: 357 L OPE DE R UEDA: i 29 M ARS: 15 2. 181
Ku-sis: 244 M ARTIN: 65. 84 . 85. 113, 132. 226. 270, 27 1. 337.
L ARTHOMAS: 2 1.96. 115.132.229 L OPE DE V EGA: 31.56,62.281.296.333
K IRIlY: 6, 173. 191. 355 . 385 . 389 . 390
L ORELLE: 152. 244 , 274 396,406, 4 33
K LEIN: 86 . 343 L ASCA\JT: 77
L OTMAN: 135 , 172 , 325 M ARTY: 199 , 200 , 361
K LEIST: 15.233 .297,369. 397 LA SOS D' HE RMIONE: 107
477
476
í NDICE
í NDI C E

M ARX: 40, 195. 196.299,303. 364 .388,4 19 M OLIERE: 10 . 35. 39.47.50. 54 . 55. 60 . 62. 80 , 92. NUTTAL: 284 PI DOUX: 289
M ARX ( BROTHERS): 36 104.117.1 64 ,1 66, 206, 212. 214 . 21 5. 226. O'CASEY: 162 PIEMME: 123. 127. 355
227.232.269.29 1.296.308.3 16.338.365. OBALDIA: 377 PI ERRON: 44 .47. 91,137. 204
M ASCAGNI: 427
368.373.377.432 O BREGON: 384 . 385 PIGNARRE: 127
M ASSON: 47
M ATEJKA: 120. 162. 170. 306. 350. 355 M ONK: 392 O FFENDACH: 278 P INGET: 1. 5. 222.241 .245. 263. 360
M ATEO: 69 M ONOD: 112 . 115. 205 . 222. 400 O GDEN: 357 P INTER: 1. 360. 368.377
M ATHIEU: 14. 260 M OtITANO: 284 OH ANA: 268 PI NTILlÉ: 163
M ATlSSE: 45, 47. 335 M ONTDOR: 350 OIlNO: 210 PI RANDELLO: 6. 16.88. 93 . 104 , 154. 162, 188. 195.
M ATT (VON): 249 OKHLOPKOV: 232 206 .222. 240. 24 1, 245.286.289,3 14.3 15.
M ONTFLEURY: 269
M AUGHAM:55 MOtITGOMERY: 6 O LDENBURG: 191 326.376 .386. 424
M AUPASSAtIT: 327 O LSEN: 191 PI SCATOR: 27. 130,249. 297 . 308 . 379, 387. 388 .
M ORAUD: 80
M AURON: 34. 53. 54. 60. 118. 163. 164 , 252. 256, M ORÉAS: 360 O LSON: 54 .1 61. 206 , 21 4 • 389.393.395. 396
364 .399. 400 M OREL: 335 . 41 9 Orrrz: 296 PI XÉRÉCOURT: 238 . 239
M AUSS: 19.76 M ORENO: 275 . 311 .385. 388 OS OLSOBE: 64 . 208. 24 1. 269. 270 . 271 , 355. 386 P LANCHON: 47. 48. 52 ,11 6,1 26.1 27 .13 2.133,
M AYOR: 98 M ORRIS: 300 O STERGAARD: 90 137 . 161, 204 .213.227. 229. 27 8. 286. 29 3.
M c A ULEY: 9 1. 355 M ORVAN DE B ELLEGARDE: 97 OWEN: 262 353.394
M cGOWAN:54 M OTTA: 52 P AGNINI: 87. 115.303,355 P LASSARD: 234
M c LUHAN: 384 MO UNIN : 7. 64, 65 . 244 PANDOLFI : 127 PLATÃO: 26. 182, 242. 424
EHLlN : 91 MOUSSINAe: 127 PANE: 192. 284 PLAUTO: 1,56.61.62,1 17. 164,420
MEININGEN (DE): 128 M ROZEK: 2, 16 P AQUET: 210, 2 2,24 . 2 LOTI
M ELDOLESI: 129 M ÜHL: 6 PARIS: 375 PLUTARCO: 112
M ELEUe: 357 MUKAROVSKY: 93. 124. 147. 175.249.269,296. PASSERONI: 80, 304 PO ERSCIIKE: 22. 141
M ÉLlES: 166 306. 33 1.332.345.350 . 353,3 55. 365. 40 4 , PASSOW: 37 P OIRET: 380
M ELROSE: 127 40 6 P AUL: 396.404 P OIROT-D ELPECII: 8 1,376
M ENANDRO: 56 M ÜLLER : 10, 248 . 276 ,430 PAVEL: 13. 14, 335 P OLTI : 8, 144. 179. 235 . 364
M ENDELSSOHN: 255 M USSET: 74.1 31 .141 .1 96 .247.297 , 310. 31 3. P AVIS: 4, 6.11 .21 . 28, 31 . 34 . 35. 37.51 .57. 62 . P ÚRTNER: 38 5, 388
M ERCIER: 297 392.411 .424 68 .70.72.73,76, 81. 89 .91 . 96. 97 .104.1 06. POTTECHER: 394
M EREDITH : 297 M UYB RIDGE: 25 2 108. 116. 124 , 126. 127, 135. 138. 140, 14 1, P UDOVKIN: 249
M ERLE: 38 N ADAR: 178 144,146.15 2. 167, 170. 172 . 186. 187. 188. POUGlN: 122
M ESCHONNle: 85.26 1.343 .430.433 NADlN: 352 196.1 97.1 99. 200 . 208.211. 212.21 3.2 14. P RADlER: 21 , 28.152.211. 355
M ESGUICII: 52, 76. 95 . 126. 127. 21 3. 227, 245, N AD): 83 222 . 225. 226 . 228, 238. 24 3. 244 . 245. 246. P RADlNAS: 128
342. 403 N AKACHE: 78, 128 248,266, 279. 280. 289 .291, 299 .300 , 301 . P RAMPOLlNI: 39 1
M ETZ: 168 NAPOLEÃO: 127 3 11.3 18.324 . 327 . 332.337.340 .342.345 . P RATTS: 167
M EYER-PLAtITUREUX: 177, 179 N ATTIEZ: 355 355. 357. 358. 362 . 363. 366. 368 , 388. 403 . P REISENDANZ: 60
M EIERHOLD: 18, 33. 47. 57. 62, 63, 65, 66. 75, 85, N EHER: 308. 328 404,406.408.409 , 41 3,41 5. 4 22.426.430, P RESTON: 8 1
99 , 12 1. 122. 185. 186. 187, 188.210.223,225. N ELSON: 386 431 P RÉVERT: 274
232.233. 256,277.279.328.336,34 1.373. N ESTROY: 166. 188 P EARSON: 277 PRIETO: 64 . 35 5
379.389.39 1,395. 412, 426, 43 1 N EUFELDT: 235 P EDU7ZI: 47 P RINCE: 14. 161
Mlc : 6 1. 62. 226 N EVEUX: 16 P EIRCE: 199,208. 300 . 350. 357. 360 P ROCHÁZKA: 355,406
MI GNON: 27.263. 390 NI CHOLS: 388 P ELETIER DE M ANS: 296 PRONKO: 16. 152, 211 . 390
MILH AUD:47 NI CKAS: 28 4 P ELLERI N: 382 PROPP: 4 . 7. 8. 12. 179 ,23 5. 25 1. 252.257.286.
MIL LER: 65, 108, 170,378 ,393 NI COLL: 404 P ERCHERON: 96 352.364. 42 2
MILNER: 86. 430 NI ETZSCHE: 20.22,34 , 4 1. 143. 194.200.346 ,354 . P ERRAULT:35. 36 .1 66 PR ZYIlOS: 23 9
MINKS: 47 396 ,41 6 P ESSOA: 360 P UCCINI: 427
MINYANA: 128, 248 NITSCH: 6.1 9 2, 284 P EYMANN : 44 PUJADE-RENAUD: 155
MI ON: 121 N ORDEY: 128 P EYRET: 116. 128, 389 P URE ( A IlIlÉ DE): 296
M IRONER: 14 1 NORMAN: 24 .2 12.254 PFISTER: 6. 21. 54. 60 . 95 . 174 . 2 15. 24 1, 29 1. 298 . P ÜTZ: 40 3
M NOUCHKINE: 98 ,13 3,2 10,344.359, 378.432 N ORTON: 8 1 303. 355 PY : 127. 128, 163
M OIIOLy-NAGY: 389. 392. 394. 396 N OURYEII: 284 PIe: 179 Q UÉRÉ: 65, 238
MOI NDROT: 115, 256. 268 N OVARINA: 248.295 PICASSO: 45 .47 Q UINTlLlANO: 34 1
M OLES: 65. 136.238,240 N OVERRE: 28. 73 . 297 PICOT: 368 R AIlELAIS: 188

478 479
fND ICE í NDIC E

STRIHAN : 355 T OUCHARD: 27, 127 VI CTOROFF: 60 W EITZ: 141, 228. 3 16. 332
STRINDBERG : 30. 134 . 137. 162. 247, 26 1. 286. 360. T RAGER: 433 V IDA: 296 W EKWERTH: 307
38 1. 382 T R A~I U S : 254 V IDAL-NAQUET: 194 . 256 W ELLES: 322
STYAN: 44. 65. 304 . 404 . 420 T REATT: 177 VI LAR: 15.44. 100. 126 . 127. 166,254.293.383. \V ENZEL: 77. 78. 262. 31 5. 360
SUVIN: 10. 192.289 T REMBLAY: 77 394 \VESKER: 77. 163. 262
S UZUKI: 210 T ROUSSON: 252. 400 V ILDRAC: 35 9 WIGMANN: 84
S VOBODA: 27.47.293 T RUCIlET: 420 VI LLÉGIER: 85. 95. 232, 342, 363.432 WI LDE: 55,310
S WlFr: 188 T sM: 128. 378 VI LLEMAINE: 295 \VILDER: 30. 10 1. 130. 258
S WIONTEK: 72. 241. 305. 315. 386. 406 T UDOR: 191 V ILLENEUVE: 28. 186 WI LES: 7. 284
S ZEEMANN: 184 T URK: 141.332 VI LLlERS: 25. 31. 57. 380 WIL LlAMS: 127. 162, 34 0
S W NDI: 9,1 5. 26. 39 . 68.I 09 , 112.11 4.11 5.1 23. T URLUPIN: 164 , 277 VI LLON: 37 WILLS: 127. 128
131. 149. 172. 174 . 175. 187. 249. 256. 258. T URNER: 21.1 43. 30 8. 347 VI NAVER: 32.78. 128. 132.228.229.262.280.302. WI LSON: 14. 132 . 133. 138.204.210.227. 247.
260. 282. 294 . 299 . 3 14. 324. 325. 337, 339. T YNIANOV: 175. 278 . 306 305,338. 342.382.392.405 336 .383.401 .403
41 7.41 9 U BERSFELD: 6. 8. 9. 35 . 67 . 90 . 96 , 102. 108. 127. VI NCENr : 126 WI NKI N: 65. 243
T ABARIN: 164 . 350 132.1 33,1 35.1 51, 163. 172. 189. 197 . 200 . V ITEZ: 15.47. 69. 85. 76. 95. 98, 99 . 107.11 6.11 9. WI NNICOTT: 22 1
T AfROV: 47.168.389 226. 238. 239. 243. 266. 289 . 296 . 300 , 30 1, 126 .1 27.1 28 ,1 61.1 63. 213. 214 . 220 . 232, WI NTER: 166
TALMA :3 1.85 304. 354. 355. 357 . 358. 36 1. 386 , 400 , 402. 24 1. 245 ,26 1.295.308,3 11.342.344,345 ,353 . WIRTII: 95, 104, 141 . 24 9 . 260 .284
TAN: 3 16 422 .425 363. 364 .392.394 ,396. 4 12, 426 , 430, 432 WIT KIEWICZ: 173
T DIEU: 222. 26. 21 , U AMU o: 17 ,416 VODICKA: 300 . 33 I , 355. 406 WITTGENSTEIN : 2. 222
T ARRAB: 192 URMSON: 5. 167 VOLLI: 19 ODT : 4
T ATLlNE:232 URRUTIA: 355 V OLTAIRE: 115. 144 , 169.171 . 188.209, 222 .285. W OLF: 379
T AVIANI : 19. 62. 34 7 U SPENSKI: 63. 29 I . 3 I5 29 7.386 W ÚLFFLlN: 173. 175
TAYLOR: 282 UT RILLO:47 V OLTZ: 7.54,33 1.347.391 W OLZOGEN ( VON) : 226
T CIlÉKHOV (M .) : 65 . 253 V ADÉ: 277 V ORSTELL: 192 W OOLF: 112. 24 7
T CIIÉKIlOV: 29.93.94 ,95.99. 137, 163. 195. 216. V AIS: 132 V OSSIUS: 9 1. 296 WRI GllT: 27 3
227.25 1.302.3 14.332.338.359 V AKIITÂNGOV: 99. 252. 389 W AGNER: 46. 166 . 183. 184. 226. 297 . 360 . 395 Y AARJ: 277
T EMKINE: 81. 128 V ALDEZ: 382 W ARNING: 60. 19 2. 332 Y ACINE: 210
T ENSCHERT: 117 V ALDI N: 187. 314 W ATANABE: 305 Y EATS: 250.360, 430
T ERÊNCIO: 29.56 V ALEI';'TIN( E -E): 202 W ATSON: 277. 355 Z ADEK:47
T ESNIÉRE: 7 V ALENrIN ( K .) : 243 W ATZLAWICK: 300 Z EAMI : 296
T ÉSPls : 73. 310 . 385 V ALÉRY: 343 W EDER: 399 ZI CH: 146. 350 , 396
T IlIBAUDAT: 81, 127 V AN D UK: 5. 104. 303 W EDEKIND: I I . 30 . 162. 188.308,3 I3 ZI ELSKE: 47
T IlOMASSEAU: 96 . 207. 208. 230. 238. 239. 278. V AN E YCK: 245 W EILL: 255. 26 8. 392 ZIMMER: 143
406 .427 V AN K ESTEREN: 235 . 3 16, 355.404 W EINGARTEN: 26 3 ZoLA :43.236. 261.262. 282 . 297.316.4 17.427
T IlOMSEN: 127.284.390 V ANDENDORPE: 161 W EINRlCH: 40 3 Z OUc: 38
THORET: 163.374 V ARDA: 177 W EISS: 282 .307.387.388.4 11 Z UMTIIOR: 433
TIECK: 392 V ASSILlEV : 99
TI LLY: 77. 78.163.360 V AUQUELlN DE LA FRESNAYE: 296
TI NDEMANNS: 3 16 V AUTHIER: 263, 280
TIRSO DE M OLlNA: 3 1. 282 V AUVENARGUES (DE): 356
TI SSIER: 164 V EINSTEIN: 109, 122, 127. 128, 146. 254 . 390
TITUNIK: 162. 170. 350. 355 V ELTRUSKV: 6. 32. 70 .89.95. 139. 172. 266,304.
T ODOROV: 95. 106. 112. 158, 161. 163. 173, 175. 350, 353. 355. 362,430,431,433
183,1 93, 248, 252. 306. 345. 355. 357.432 V ERGA: 427
T OLLER: 74 V ÉRlCEL: 128
T OLSTÓI: 427 V ERNANT: 18. 191 . 194 . 21 6 , 256,41 7.41 9
T OMASCIlÉVSKI: 3.5, 158. 161. 193,2 15,250.25 1. V ERNOIS: 119.1 63,426
252.262.400 V ERSUS: 332
T OMASZEWSKI: 244 VI ALA: 335. 366
T ORELLI: 166 VI CENr E: 3 1
T ORO (DE): 34 . 112. 355 VI CKERS: 420

482 483
íND ICE
INDIC E

R OOSE-EvANS: 390 S AUSSURE: 101. 102.350.357.360 SHAW: 55. 282. 385


R ACAN: 56. 334
R ACINE: 22.52.66.67. 74. 85. 117. 158. 162. 259. R OSTAND: 380 .429 S AVARESE:7. 17. 19. 20. 143. 256 SIlELLEY: 392
286. 293. 294. 305. 3 11. 334 . 335. 404. 4 I 6. R OTH: 378 S AVARY:239 S Il ERIDAN: 55
R OTROU: 56. 245. 386.420 S AVONA: 257. 303. 378. 406 SHEVTSOVA: 366
4 17.41 8.429
RAI MU: 380 R OUBINE: 31.57.235.243 S AWECKA: 386 S HO ~IT : 129

R AIMUND: 166 R O U CIl ~ : 27. 127 SCALl GER: 242.296.425 SIGAUX: 427
R AINER: 253. 392 R OUGEMOl'IT (DE) : 146. 376 SCARRON: 35. 54 S IMHANDL: 204
R AMBERT: 128 R OUSSEAU:40.1 28. 238. 297. 383 SCHAEFFNER: 20. 306 SI MON: 115.1 27. 214. 303
RAM UZ: 268. 392 R OUSSET: 113. 115. 173 SCHECHNER: 17. 20. 27. 57. 143.210.22 1.225. SIMONIDE DE Céos: 107
RA NK: 118 R OUSSIN: 377. 380 256.283.303.31 1.339.347.374.389 SI NGER: 143
R AFAEL: 22 R OZIK: 2 16. 355 SCHELER:41 6 SI NKO: 355
R APIN: 34. 165. 428 R UDLlN: 62 SCIl ELLlNG: 4 17 SLAWINSKA: 2 1.24. 110. 179. 347. 350. 355. 396.
RA pP: 5. 141. 143 R UDNITSKI: 63 SCHERER: 33.67 .97. 113. 115. 144 . 146. 147. 149. 403. 404
RA STlER: 11. 95.2 16 R UFFlNI: 87.96. 355. 409. 422 154. 194. 215. 225. 229 . 245. 260. 267. 335. SOIJEL: 116. 161
RA USCHENBERG: 191 R ÜLlCKE-WEILER: 34. 107. 130 357. 376. 4 19 SÓCRATES: 2 15.28 1
RAYNA UD: 143 RUNCAN: 95 SCHIARETTI : 128 SOLA: 128. 378
RECANATI: 300 RUPRECHT: 141. 214.282. 427 SCHILLER: 14. 15. 16. 29. 41 .74.111.1 17.1 53. SOLGER: 2 16
REGNARD: 55 RUSSELL:44 216.281.297. 387. 397 .41 8 SONREL: 44
EG AULT: 6. 11 . 26 . 9.4 EBE F: 24 S HINO: 62 FOCLE : 10. 14.73.165.310.332
R ~GNIER : 109 RUTELLI: 87 SCIlL EGEL: 66. 74. 2 16. 297 SOFRON: 243
R ~GY : 85. 127. 128. 135. 204. 353. 363 RUTTMANN: 121 SCHLEMMER: 1, 168. 233. 265. 390. 39 1. 394 SOULl ER: 78
REI CHERT: 214 RUZZANTE: 61 SCHMELlNG: 241. 386 SOURIAU: 4. 8. 27. 59. 67. 144 . 146 . 179 .23 5.286.
REINELT: 355 RYKN ER: 263 SCHMID: 32. 104. 235. 30 1, 3 16. 355. 378. 404 352.364
R EINHARDT: 127. 184.380 RY NGAERT: 98. 115. 138. 145. 155.205.22 1.222. SCHNEIJEL: 392 SPENSER: 161
R EISS: 204. 337 305.345 . 404 SCHNEILlN: 404 SPIRA: 92
R ESNAIS: 170. 255 SABBATIINI: 232 SCHNITZLER: 55 SPOLl N: 129. 222
R ESTIF DE LA BRETONNE: 375 S ACCHI: 166 STAlôL (DE) : 297
SCHOENBERG: 332
R EY: 280. 373. 374 S ACKVILLE: 81 SCHOENMAKERS: 141 . 235. 316. 332. 355 STAIGER: 183.403
REY-COUTY: 386 SAID: 19 1, 197.420 STANISLÁVSKI: 31, 57. 85.99.108. 123. 128.220.
SCHOPENHAUER: 178. 196.416
R Ey-DEBOVE: 355 SAl'ITO A GOSTINHO: 296. 400 247. 25 1. 252. 253. 275. 279. 289 . 297. 357.
SCHRÚDER: 128
R Ey-FLAUD: 164.246 SAISON: 6. 266 359.368.369.389. 412.426
SCHWARTZ-B ART: 2 10
R ICOEUR: 7.123 .192 .21 3.214.242.256.259.293. S ALACROU: 15. 47. 170 STAROIJINSKI: 106. 150.337.400
SCOTI: 112
403. 416 SALLENAVE: 127.406 STATES: 151. 216. 306. 353
SCRIIJE: 281. 282. 333. 380. 427
R ICCOBONI: 62. 85. 297 SALZER: 155 STEFANEK: 20
SC U D ~R Y : 296. 334
R ICHARD: 357. 399 SAMI-ALI : 136 STEIN: 138. 283. 308
SEARLE: 6. 167. 3oo. 405
RI CIl ARDS: 5.205.277 .303.347 SANDERS: 127. 262 STEINIJECK: 396. 404
SEIJEOK: 225
RI GHTER: 241 SANDFORD: 192 STEINER: 208.355.409.419
SEGRE: 14. 112. 355. 363
RIMB AUD: 395 S ANDIER: 8 1
SEIDE: 128 STENIJERG: 232
RI NKE: 284 S APORTA: 83
S ÊNECA: 29. 392 STENDHAL: 297.327
RI SCHBIETER: 44. 47. 138. 192 . 390 SARASIN: 296
SENNET: 36 STERN: 186
RIVI ERE: 204 SARCEY: 42. 8 1
SEl'ITAURENS: 32 STERNE: 245
R OACH: 3 1. 355 SARDOU: 28 1
SERPIERI: 87. 88. 89. 304 . 340. 355. 357. 407 STERNEIIIM: 188
R OBBE-GRILLET: 170. 221 S AREIL: 60
SERREAU: 263. 387 STl ERLE: 5. 58
R OBlCIl EZ: 36 1 SARKANY: 364
S ~VI G N ~ : 52 STOCKHAUSEN: 392
R OGIERS: 179 SARRAUTE: 222.24 1.245.263.378
SIlAKESPEARE: 2. 10.29.35.44.46. 55.56.62.7 1. STORCII : 44. 47.1 38.1 92
R OHMER: 136. 310 SARRAZAC: 78.109. 163. 186.205.22 1.225.249.
73.81 . 104.107. 116. l3 1. 161. 165. 166. 173. STRASIIERG: 57. 368
R OKEM: 390 3 11. 382. 389
193. 196. 206. 2 14. 2 15. 238. 240. 24 1. 246. STRÃSSNER: 15
R OLLAND: 297.383. 394 S ARTRE: I. 2. 4.6.47.55. 112. 282. 297. 364. 385.
247. 249. 255. 276 . 285. 359. 367. 373. 386. STRAUSS: 248. 276
R OMILLY: 11.1 3 1.1 91. 281. 420 394. 4 16
397.40 1.411, 414. 4 17. 418 . 432 STRAVINSKI: 47. 268. 392
R ONCONI: 232. 283 SASTRE: 297
S HARPE: 2 16 STREIlLER: 48. 85. 99. 126. 127. 128. 226
R ONSE: 232 SATIE: 47

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