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POEMAS HOMÉRICOS:

Os poemas homéricos, durante muito tempo lidos como matéria fictícia e sem
correspondência geográfica vêm, através das descobertas promovidas por Heinrich
Schliemann e com auxílio da arqueologia, a tornar-se uma fonte de transmissão da
cultura grega. Homero surge assim, como um “educador” da Grécia Antiga. Para além
de relatarem a guerra e a paz durante a idade das trevas, estas obras têm uma
componente educativa no que diz respeito aos comportamentos, normas e costumes
dos gregos, bem como à religião, política, literatura e arte. Descreve as diferentes
personagens, concedendo-lhes características dignas, ora de glorificação – presente
na valentia, coragem e o poder da palavra, impostos como normas de comportamento
e convívio - ora de punição, como a crueldade, a obstinação, e todos os atos que
fossem contra os valores guerreiros. Para alcançar a aretê (ἀρετή), o herói deve ter o
dom da palavra, da retórica e da oratória, necessárias na assembleia, e bem
retratadas em Ulisses que, para além abarcar todos os valores guerreiros, é ainda um
bom diplomata. Alargamos também, a conceção de herói nesta segunda obra, poema
de nostos do herói πολύτλᾱς (que muito sofreu), adicionando-lhe a astúcia (polymetis)
que lhe permite desenvincilhar dos maiores perigos e dificuldades. A timê (τιμή) faz
também parte da honra do guerreiro, como um louvor pelos seus atos, e a sua
privação, um ato de desonra como podemos observar na Ilíada através de Aquiles.

O aedo adverte-nos também para a importância dos laços de xenia (ξενία),


defendida pelo próprio Zeus – como as manifestações de respeito por um igual,
superior, ou mais velho (como Nestor); a proteção ao suplicante (Príamo que, com a
mão direita no queixo e a esquerda sobre o joelho de Aquiles, lhe suplica o cadáver do
filho); e a noção de hospitalidade (como Glauco e Diomedes) – como vínculos morais
e obrigações que prevalecem sobre os deveres militares e atravessam gerações.

Quanto à dimensão religiosa, tanto a Ilíada como a Odisseia, apresentam-nos


o plano divino em constante contacto com o plano humano. Foi através de Homero,
possível criador da religião grega (a que mais tarde se segue Hesíodo), que nos
chegam os primeiros relatos mitológicos. Na Ilíada, os deuses estão tão presentes na
vida dos guerreiros que quase lutam a seu lado no campo de batalha, aparecendo em
sonhos, ou metamorfoseados, e dotados de inúmeras características antropomórficas.
Por outo lado, ainda que com grande envolvimento, na Odisseia, o plano divino afasta-
se, ficando numa posição mais observadora e justa, castigando aqueles que violam as
normas.
As mulheres são também apresentadas no cenário bélico, ora como prémio de
guerra – Criseida e Briseida -, ora como imagem de sofrimento – Andrómaca e
Penélope -, ora como figuras associadas a tarefas domésticas. Penélope é
considerada símbolo de aretê feminina que, para além de cumprir com as tarefas
comuns propícias da mulher da época, possui também uma beleza comparada com as
divindades, bem como astúcia (verificada no ato de tecer e desfazer a teia por mais de
3 anos) e, principalmente, a fidelidade conjugal, em contraste com Climnestra, esposa
de Agamemnon.

Verificamos, deste modo, que os poemas Homéricos se traduziram numa


espécie de bíblia de códigos éticos, morais, militares, religiosos, políticos, linguísticos,
artísticos, e até científicos - como encontramos representados no escudo de Aquiles
em que Homero demonstra uma preocupação pela geografia e com a astronomia. Tal
como disse Estrabão de Amásia: “… Homero é o fundador da ciência da Geografia
(…) não só se interessou pelas atividades humanas, a fim de obter o maior possível
de conhecimentos e de os transmitir aos vindouros, como também pela geografia local
e universal, de terra e mar.”

DIFERENÇAS ENTRE HOMERO E ÉSQUILO:

Homero e Ésquilo, poeta grego da Idade das Trevas e dramaturgo do período


clássico, respetivamente, cantaram-nos a importância da guerra numa sociedade
organizada. Esta surge como um bem essencial à vida, assim como a paz – como
podemos observar na sua representação no escudo de Aquiles –, que encaminha os
gregos para um estado tão por eles desejado: a paz. Ainda assim, os poemas
homéricos

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