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Cultura Clássica

Resumos

Géneros Historiográficos
Mitografia/Genealogia:
o Ciência que estuda as questões que dizem respeito à origem e a transmissão dos
mitos, como fonte de dados úteis para a sociologia e antropologia;
o As narrativas míticas, por vezes, eram distintas de local para local.
o Os mitógrafos pegaram nessas versões de forma a ordená-las cronologicamente
e genealogicamente congruente, limpando as versões contraditórias
o OBSERVAÇÃO: Os mitógrafos passaram o mito para a escrita, de modo a
traduzir e intervindo na racionalização do mito (ordenação cronológica).
*Hecauteu de Mileto, importante mitógrafo, faz a separação entre o espaço histórico
e o espaço mítico;
Mileto (Miletus) é o berço da racionalidade grega. Cidade onde vários sábios se
concentram. (ex.: Tales de Mileto, Anaximenes de Mileto, Anaximandro de Mileto –
(procuraram uma causa racional sobre a criação do Mundo); afastam os mitos
Etnografia:
o Obras que nos dão a conhecer tradições, vivências e os costumes dos povos, das
sociedades (modos de vida)
o Lydiaca (Lídia – Ásia Menor); Persika (narrativas/obras que tratava e falava da
Pérsia – conhecimento); Babyloniaca (Babilónia);
Horografia:
o História local (registo das próprias cidades acerca da sua vida, nomeadamente
dos acontecimentos mais importantes para essas cidades, abordando várias
temáticas);
o Organização temática e não cronológica.
o HISTÓRIA ANALÍTICA

Cronografia:
o Relatos semelhantes aos da horografia, contudo, seguem uma realidade
cronológica (acontecimentos organizados cronologicamente).
o Sistema cronológico – 1ª Olimpíada 776 a.C. (medida cronológica)

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Poemas Homéricos (Ilíada e Odisseia)
Os dois poemas relatam acontecimentos e narrações completamente diferentes;
Apesar de lhe ser atribuída a autoria, Homero não foi o autor:
o Os acontecimentos narrados eram recitados oralmente pelos aedos.

Os poemas homéricos foram escritos e ordenados por volta do século VI a.C., durante o
regime tirano de Pisístrato, e refletem a cultura agonística (competitiva),
individualista e de vergonha dos gregos;
São poemas de elite, que se centram nos grandes heróis e guerreiros, exaltando a classe
mais alta da civilização grega.
ILÍADA
Relata um episódio da Guerra de Troia, nomeadamente o conflito entre Agamémnon
e Aquiles:
o Helena, casada com Menelau (rei de Esparta) é levada por Páris (filho de
Príamo, rei de Troia) numa visita de estado a Esparta com o seu irmão Heitor.
Considerado um ato de desrespeito à hospitalidade espartana e a Menelau, várias
cidades helénicas decidem atacar Troia (*uma das versões da história).
O relato divide-se em duas partes:
o 1ª Cólera de Aquiles – o guerreiro grego perde a disputa contra Agamémnon e
é obrigado a ceder-lhe a sua escrava, Briseida. Aquiles fica encolerizado com
esta decisão, considerando-a um ato de desrespeito e desonra de guerra para
consigo. Assim sendo, retira-se do combate e os gregos começam a fracassar no
conflito;

o 2ª Cólera de Aquiles - Pátroclo, protegido de Aquiles, equipa-se com as suas


armas e parte para o combate, sendo morto por Heitor. Aquiles renuncia a sua
antiga cólera, e dirige a sua ira para Heitor, matando-o.

O livro termina com os funerais de Heitor. Aquiles luta pelo seu corpo e vence.
Príamo, na tenda de Aquiles, suplica pelo corpo do filho;
FACTOS:
o É raro encontrar paz na Ilíada, pois retrata uma alma repleta de ira.
o As virtudes mais importantes são timê (honra) e aretê (excelência e
superioridade). A timê envolve sempre o reconhecimento público e é prestada
ao guerreiro em virtude da sua aretê adquirida no campo de batalha. Associadas
a uma cultura de vergonha.

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o Os deuses comportam-se como humanos, existindo uma grande proximidade
entre ambos, tanto nas suas qualidades como nos seus defeitos (visão mundana);
o Zeus castiga os que juram em falso e protege os que suplicam hospitalidade;
o A guerra é condicionada por valores políticos e familiares (ao combater, um
homem pretende enaltecer a sua honra, defender as suas crenças políticas e
o nome da sua família);
o É importante para um guerreiro não deixar corpos sepultados (de forma a
humilhar e desumanizar o cadáver)

ODISSEIA
Relata o regresso de Ulisses a casa e as inúmeras adversidades que enfrenta para o
concretizar, sendo colocada à prova a sua inteligência;
Narra as grandes aventuras vividas por Ulisses, que se havia perdido no Mediterrâneo.
A obra celebra as capacidades do Homem e o regresso de Ulisses, que assenta o seu
heroísmo na força e na inteligência.

HISTÓRIA:
o No início da narração, Ulisses encontra-se em Calipso. Os deuses decidem que
ele se iria fazer novamente ao mar para regressar a casa. Penélope, a sua mulher,
permanece em Ítaca, resistindo à pressão em se casar uma vez mais;
o Saindo da ilha, naufraga e vai parar a Feácia, pedindo e sendo-lhe concebida
hospitalidade;
o Mais tarde, enfrentará um ciclope, um monstro não-civilizado que vive isolado e
se lhe recusa a fornecer hospitalidade;
o As sereias, uma vez ouvidas a cantar, levam ao naufrágio. Apesar disso, Ulisses
insiste em ouvir o seu canto, tapando os ouvidos dos marinheiros e marrando-se
ao mastro;
o Chegando a casa e, com a ajuda de Penélope, arranja estratégias eficazes para
matar todos os seus pretendentes. Tal ato enfurece os habitantes da cidade, que
são apaziguados pela intervenção de Atena;
o Por fim, estabelece-se como rei de Ítaca.

FACTOS:
o Os deuses não se misturam com os humanos, e contactam com estes através de
sonhos ou descendo à Terra disfarçados. Os seus convívios são serenos e
ordeiros (a hierarquia é mantida por Zeus);

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o Surge uma nova moral, na culpa e no castigo, assim como uma noção de justiça
e lealdade;
o Reflete a importância da curiosidade, experiência, inteligência e conhecimento.

Semelhanças entre Ilíada e Odisseia


Os deuses homéricos:
o São antropomórficos, ou seja, possuem a forma de humanos superlativados,
tanto nas suas características positivas como nos seus defeitos (são maus altos,
mais belos e mais fortes em comparação com os homens comuns);
o Possuem elementos de teriomorfismo (combinam atributos humanos e
animais);
o São imortais, mas não eternos (evoluem e têm origem no tempo);
o Têm um maior grau de timê e aretê.

A hospitalidade enquanto um dos conceitos mais importantes. Existem três momentos


em que os homens são iguais, que refletem a sua condição humana, natureza existencial:
o No nascimento;
o Na morte;
o Quando se encontram em terra estrangeira.

Existe uma conceção determinista: o destino não poder alterado;


A noção de escravatura equivale à perda de identidade;
Cultura individualista (os heróis lutam por si mesmos).

Diferenças

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ILÍADA:
Os deuses misturam-se com os homens;
Descem à terra, participam nas batalhas;
Advertem os homens contra os perigos;
Os deuses até podem ser feridos (exemplos de Ares e Afrodite);
Comportamentos semelhante ao humano;
São deuses, contudo, têm uma configuração muito humana, de um homem superlativo
(+ altos, belos, fortes;

DEFEITOS:
o Enviam sonhos falsos aos homens (Zeus diz a Agamémnon para atacar e a
consequência é a morta de centenas de gregos – Canto III);
o Enganam-se uns aos outros (Dolo de Zeus, canto XIV) – Zeus apesar de ser o
Deus supremo não mantém a sua hierarquia com facilidade uma vez que, os
Deus, muitas vezes, poem-no em casa;
o As assembleias dos Deuses são tumultuosas.

ODISSEIA: evolução do conceito de divindade


Deuses tornam-se identidades mais distantes dos homens;
O modo de intervenção divina passou a ser o sonho ou disfarçados;
Os concílios dos Deuses são ordenados e a palavra de Zeus é respeitada;
Aparece pela primeira vez as noções de culpa, castigo e justiça;
Os deuses já aplicam a justiça. Quando Homens agem com hybris (excessos) os
deuses começam a intervir.
Respeito aos Deuses

CONCLUINDO:
o Os Deuses evoluem num sentido de uma certa idealização (começam a ser
mais Ideia do que figura).

Conceito e conceções nos Poemos Homéricos


Não existe uma conceção unitária da personalidade, ou seja, os aspetos físicos e
psíquicos encontram-se relacionados (a fome relacionada com o coração; o fígado
relacionado com o amor…);
Possuem uma terminologia flutuante no que diz respeito às funções intelectuais, ou
seja, utilizam um único termo para designar várias ideias
TERMOS:
o Thymos – significava ao mesmo tempo vontade de comer, alento, vida e o
centro sentimental (responsável pelo amor);

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o Phren – tem o mesmo significado que Thymos. Todavia, esta localizava-se no
corpo ao redor do coração;
o Noos – capacidade intelectual, entendimentos;
o Psyche – vida. Porém, só é referido no contexto da morte. Ou seja, é a vida que
abandona o corpo no momento da morte. Quando um guerreiro morre, por
exemplo, a psyche sai pela boca ou por uma ferida.
o Atê – um desvario causado pelos deuses. Ou seja, quando a pessoa age em pura
irritação ou ira;
o Menos – adrenalina, soma de energia, súbita força enviada pelos deuses;
o Aretê – excelência e superioridade;
o Timê – honra;
o Aidos – vergonha;
o Hybris – insensatez;
o Moira – destino fixo e inamovível, ou seja, não pode ser alterado;
o Catábase – descida aos infernos;
o Aristeia – conjunto de feitos heroicos no campo de batalha;
o Teicoscopia – observação das muralhas, exércitos adversários;
o Acmê – auge, pico ou apogeu (conceito político e etário).

Heródoto
Heródoto é considerado o “pai da História”;
Destaca-se pela obra que narra a Guerra dos Persas, nomeadamente o ataque à Grécia;
o Acredita-se que este acontecimento não se deveu a motivos expansionistas, mas
às mudanças governativas que a Grécia patrocinava nas cidades da Jónia,
que tinham relação com o Império Persa;
o Os persas atacaram a Grécia com diversas punições. As cidades-estado
resolveram unir-se e derrotam o seu mais inimigo, levantando a moral grega e
o seu espírito de defesa cultural e política.

Livro I (Heródoto)
A primeira conceção de História no mundo ocidental é uma noção que enfatiza a
preservação da memória e a grandeza do passado, de modo que as ações dos homens
não cessem com o tempo (função memorialística);
Heródoto concilia informações muito diversificadas, nomeadamente as que considera
dignas de memória, memoráveis (como a guerra entre persas e gregos, decidindo
registar este episódio bélico e relatar os seus antecedentes);
A sua obtenção de informações…

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…resulta, sobretudo:
o Das fontes escritas (como obras de Ésquilo, seu antecessor, e da poesia:
o De fontes orais (fundamentais para compreender os acontecimentos).

…e envolve:
o Opsis – a observação direta de monumentos, artefactos, inscrições,
costumes, fauna, flora, acidentes geográficos e climáticos…);
o Akoe – a audição de pessoas com conhecimento/instruídas, como sacerdotes
ou administradores, grupos populacionais de vários povos…;
o Gnome – a reflexão, julgamento sobre as suas fontes.

*Heródoto cruza informações e interliga tradições de modo a verificar a


veracidade das suas fontes; contudo, baseia-se em meios subjetivos:
Centraliza-se em elementos de carácter político, afastando-se da explicação
mitológica:
o Identifica Creso, o último rei da lídia, como primeiro agressor e
destabilizador das relações entre gregos e bárbaros;
o Conta a História da Pérsia, a ascensão de Sírio II ao poder e as campanhas
expansionista deste monarca.

Na sua narrativa:
o Assume uma voz omnipresente e omnipotente (as suas personagens expressam
emoções e sentimentos);
o Organiza explicitamente o texto (interfere na ordem dos elementos da história,
interrompendo para acrescentar algo diferente);
o Acrescenta e tenta justificar elementos invulgares dos outros povos (princípio
de invulgaridade);
o É pragmático (princípio do pragmatismo);
o Abrange conhecimentos que abarcam muito ramos da atividade e do saber
humano (enciclopedismo);
o Utiliza narradores secundários.

Livro II
Heródoto assume a plena consciência de que os recursos da Grécia são escassos e os
gregos forma habituados a viver na pobreza;
As sociedades gregas eram regidas por leis “iguais para todos”, que simbolizavam o
avanço da sua civilização e cultura. É, assim, feito um retrato antagónico entre o
sistema político grego e a autocracia perda. Xerxes é encarado como um inimigo que
tentaria subjugar a Grécia e a sua liberdade;

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A Pérsia perde a guerra devido aos seus excessos (castigo divino);
São mencionadas a sabedoria, constância e valores políticos, enquanto características
fundamentais de um chefe político (inexistentes em Xerxes).

Tucídides
Tucídides foi um historiador grego e autor da obra “História da Guerra do
Peloponeso”;
É considerado o “pai” do pragmatismo historiográfico (da história como um processo
de aprendizagem, que valoriza a racionalidade e a imparcialidade);
Guerra do Peloponeso (breve resumo):
o Guerra interna na Grécia, liderada por duas cidades em confronto – Atenas e
Esparta;
o Após a guerra contra os persas, a Grécia sentiu necessidade de se proteger,
criando uma liga em que todas as cidades-estado pagavam um importo a Atenas
com o propósito de reerguer a sua força militar. Tal evento levou a um
desequilíbrio ou receio por parte de outras cidades-estado, que acompanhavam o
enorme crescimento do poder ateniense. Eventualmente, surgem provocações e
desentendimentos que despoletam uma guerra (nomeadamente o embargo
comercial a Mégara).
O historiador vai descrever as causas verdadeiras e aparentes do conflito e, apesar de
ser ateniense, vai acusar a cidade como a grande precursora destes ataques, referindo
a sua violência constante, Simultaneamente. Vai inaugurar um novo tipo de
historiografia.

Características de Tucídides
o Sendo contemporâneo na guerra, preocupa-se em descrever os acontecimentos
com objetividade
o Escreve a obra em vários livros, e não chega ao fim da guerra.
o Afasta-se da memorialização, defendendo que a história deve servir para que
as gerações futuras não repitam os erros do passado (história pragmática)
o Abandona todos os aspetos que envolvam mitologias
o Não há uma preocupação literária, apresentando os dados de forma simples
o Para alcançar a verdade, acredita que terá de evitar a metodologia de Heródoto -
eliminar os testemunhos orais e procura outros tipos de evidência, usando fontes
diretas
o Distingue o ódio da verdade
o Estabelece a forma de escrever

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o A historiografia deve separar os factos das distorções político-ideológicas e
propagandas.
o Procura compreender as causas profundas (as raízes do acontecimento), pois
somente assim poderá construir uma história pragmática
o Fundamenta a sua historiografia em duas vertentes, a narrativa e o discurso.
 Crê ser necessário registar as ocorrências, discursos e decisões da vida
política.
o Tucídides não encara a guerra como uma glorificação, ao contrário de Heródoto.
o Procura descrever os factos racional e imparcialmente.

FREQUÊNCIA – ano anterior


Grupo I
1. Identifique os sub-géneros historiográficos que, a par da 'História contemporânea'
(F. Jacoby), se desenvolveram na Grécia antiga
São vários os subgéneros historiográficos que, a par da “História
contemporânea”, se desenvolveram na Grécia Antiga: a mitografia, a etnografia,
a horografia e a cronografia.
A mitografia (ou genealogia) encontra-se relacionada com a origem e a
transmissão dos mitos; a etnografia representa as obras que nos dão a
conhecer as tradições, vivências e costumes dos povos e a horografia diz
respeito à história local (ao registo das próprias cidades acerca da sua vida,
nomeadamente dos acontecimentos mais importantes para essas cidades,
abordando várias temáticas). Por sua vez, a cronografia abrange relatos
semelhantes aos da horografia; contudo, estes seguem uma realidade
cronológica (enquanto, na horografia, são organizados por temas).

2. Discuta a conceção da divindade presente nos Poemas Homéricos, explicitando as


diferenças que encontra entre a Ilíada e a Odisseia

De facto, em ambos os Poemas Homéricos as divindades são retratadas


como seres antropomórficos, ou seja, que possuem a forma de humanos
superlativizados (são mais altos, mais belos e mais fortes em comparação com
os homens comuns). Possuem, igualmente, elementos teriomórficos
(combinam atributos humanos e animais). São imortais, mas não eternos (têm
origem no tempo) e possuem um maior grau de timê (honra) e aritê
(superioridade e excelência).
Na Ilíada, os deuses comportam-se como humanos, existindo uma
grande proximidade entre ambos, tanto nas suas qualidades como nos seus
defeitos (visão mundana). Na obra, as divindades descem à Terra, misturam-se
com os homens, combatem ao lado dos heróis que protegem (theomachia),
advertem-nos dos perigos e podem, inclusive, ser feridos em batalha. Zeus, o pai
dos deuses, mantém a hierarquia com muita dificuldade, sendo posta em causa a

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sua autoridade pelas outras divindades. Os concílios são tumultuosos e
desprovidos de consenso.
Por sua vez, na Odisseia, os deuses tornam-se cada vez mais distantes.
Não se misturam com os humanos e contactam com estes através de sonhos ou
descendo à Terra disfarçados. Os convívios dos deuses são serenos e ordeiros (a
hierarquia é mantida por Zeus e a sua palavra é respeitada). Na obra, surgem as
conceções de culpa, castigo e justiça, o que leva os deuses a intervir no mundo
dos homens quando estes são excessivos ou insolentes (hybris).

3. Subjacente à política de expansão territorial realizada por Alexandre Magno


encontra-se inicialmente uma ideologia de teor pan-helénico que, não obstante,
evolui para uma perspetiva globalizante, assente na ideia de «kosmopolis». Comente
a afirmação, evidenciando os elementos que atestam essa modificação.

Grupo II
1. Explicite as diferenças programáticas entre os modelos historiográficos de
Heródoto e de Tucídides.

Os modelos historiográficos de Heródoto e Tucídides distinguem-se, de


facto, em inúmeros aspetos.
Heródoto defende uma conceção de História que enfatiza a preservação
da memória e a grandeza do passado, de forma a que as ações do Homem não
cessem com o tempo (função memorialística). O historiador concilia
informações muito diversificadas, nomeadamente as que considera dignas de
memória e obtém-nas a partir de fontes escritas (como das obras de Ésquilo, seu
antecessor) e de fontes orais (que considera fundamentais para compreender os
acontecimentos). Esta procura de informação envolve opsis (a observação
direta), akoe (a audição de pessoas) e gnome (o julgamento sobre as suas
fontes).
Na sua narrativa, assume uma voz omnipresente e omnipotente (as suas
personagens expressam emoções e sentimentos), organiza claramente o texto
(interferindo na ordem dos elementos da história) e tenta justificar elementos
invulgares dos outros povos (princípio da invulgaridade). É, de certo modo,
pragmático e abrange conhecimentos que abarcam muitos ramos da atividade do
saber humano (enciclopedismo). Utiliza, também, narradores secundários.
Tucídides, por sua vez, distingue-se da narrativa de Heródoto afastando-
se da memorialização e defendendo o uso da História para que as gerações
futuras não repitam os erros do passado (história pragmática). Procura
descrever os acontecimentos que narra com objetividade (escrita simples) assim
como compreender as suas causas profundas. Valoriza a racionalidade e a
imparcialidade, e procura usufruir de fontes mais diretas e factuais. O
historiador abandona todos os aspetos que envolvem mitologias e ideologias
políticas e crê ser necessário registar as ocorrências, discursos e decisões da vida
política.

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Apesar de descreverem guerras ocorridas na Grécia (no caso de
Heródoto, a “Guerra dos Persas”, e de Tucídides, a “Guerra do Peloponeso”),
seguramente que ambos os historiadores divergem na maneira de contar a
História. Ao contrário de Heródoto que, como mencionei, pretendia registar os
eventos mais memoráveis, enaltecendo a grandeza do passado, Tucídides não
encara a guerra como uma glorificação e condena, inclusive, Atenas, a sua
cidade natal, enquanto precursora do conflito.

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