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Discente: Nerize Portela Madureira Leôncio

Disciplina: Fundamentos da Educação

Docente: Maria Cecília de Oliveira Adão

Atividade Portfólio I - Ciclo 2

Porto Seguro-BA

2020

O mito de Penélope à luz da religiosidade e da educação na Grécia Antiga

[Penélope era filha da ninfa Peribéia e de Icário, irmão de Tíndaro, rei de Esparta, era uma mulher
de grande beleza e o seu pai, permitiu que ela se casasse apenas com aquele que o vencesse numa
corrida, e este foi Ulisses (Odisseu em grego). Após o casamento e o nascimento do primeiro filho
do casal, Telêmaco, Ulisses foi chamado para lutar na Guerra de Tróia. "Antes de partir para a
guerra, Ulisses assegurara a esposa de que, se no momento em que a barba de seu filho
despontasse, o herói ainda não tivesse conseguido retornar ao lar, a mulher estaria então livre para
contrair novas núpcias”. (PADILHA, p. 3, 2008).
Os anos passaram e ela não recebera notícias de Ulisses, mesmo após o fim da Guerra, que durou
cerca de 10 anos. Acreditando que Ulisses perecera, surgem muitos candidatos ao leito, acomodam-
se no palácio e de banquete em banquete, dilapidam os bens do rei, que passa a insistir veemente
para que ela se case novamente. (DUMITH, p. 29, 2012). Em virtude de sua fidelidade, Penélope
que inicialmente recusava, com a maioridade de Telêmaco, e findo o prazo estabelecido por Ulisses,
arquiteta um plano para ganhar tempo e aguardar seu amado: só anunciará o nome do pretendido
quando terminar a tessitura de um manto funerário destinado a Laertes, seu sogro. O plano
arquitetado por ela ajuda-a a manter distância do assédio que era constante: pois Penélope tecia o
dito tapete durante o dia, e o destecia durante a noite, conseguindo assim adiar em 3 anos a decisão,
até que é delatada por uma de suas servas. O que desemboca na exigência e pressão de uma escolha
imediata.
Enquanto isso, Odisseu, com ajuda de Atena, retorna disfarçado de mendigo, sua identidade é
revelada apenas a Telêmaco, seu filho, e a Eumeu, um dos servos do palácio. A partir daí toda a
trama se desenrola, de modo que o herói, revele sua identidade no momento certo, reconquistando o
direito a sua esposa, através da prova do Arco, nova condição imposta por Penélope como mais um
ardil para ganhar tempo. Assim Odisseu ao ganhar a prova do Arco, extermina todos os seus
adversários, vingando-se por cobiçarem sua mulher, e recupera seu posto no leito nupcial.]

O mito de Penélope acima descrito, é um compilado dos textos e pesquisas que trago aqui,
que relatam diferentes visões, da Obra clássica de Homero, Odisseia. Analisada por diferentes
mitólogos esta obra atemporal, continua sendo revisitada e principalmente ressignificada, por meio
do cinema, da literatura com diferente interpretações e releituras, constituindo-se numa obra viva.
Trago a análise de tal mito encarnado na personagem feminina de Penélope, afim de restituir-lhe o
papel de, não apenas de esposa fiel, como também, personagem heróica, dentro da narrativa
homérica, relacionando-o com a educação e a religiosidade da Grécia Antiga.
A educação homérica na Grécia Antiga estava associada ao culto aos Deuses, personificados
através das lendas, cantos, poemas épicos, associados à figura do herói, do reconhecimento e da
glória. Portanto mitologia, religiosidade e educação, eram elementos indissóciaveis. O Panteão
grego de Deuses adorados, encarnavam em si sentimentos próprios dos humanos, portanto a idéia
de bom e belo era construído socialmente, não havia como na moral cristã, a idéia de fraternidade,
de benevolência e humildade. Na realidade, a conduta dos Deuses nas narrativas míticas, sempre
transita entre os dois lados, mediada por interesses momentâneos, expressada através de
competição, disputa, da conquista da glória e em ser eternizado através de cantos e poemas. Este
modo de enxergar tão enraizado na cultura grega, se por um lado enfatizava a arte de bem falar, do
canto, para a todos "encantar", por outro era uma forma a reforçar sua cultura bélica, suas leis,
reforçar condutas, estabelecer os papéis dentro da sociedade grega, utilizado para isto as narrativas
fantásticas.
Sobre a Paidéia feminina na polis grega Denise Dumith destaca que, a divisão no espaço
ocupado pelos homens e mulheres é bem demarcado determinando toda a educação na Grécia
antiga. Enquanto que para o homem grego, são destinadas a esfera cível, a natureza belicosa,
domínio da palavra e das artes da guerra, que são expressões da arete (excelência, virtude), cuja
mola-mestra é o externo e o movimento e apossar-se em lugares longínquos de riquezas que não
possui:
Para as mulheres, mais especificamente do segmento que compõe a nobreza, é destinado o espaço interior
da casa, uma espécie de confinamento vitalício, uma das medidas mais efetivas para assegurar a
fidelidade feminina. Desse contexto emerge Penélope […]. O sexo feminino é destituído de poder em
Atenas; consequentemente, suas componentes não detêm o direito de votar. A cidadania ateniense é
recusada às mulheres desde a denominação da cidade, de acordo com a mitologia. (DUMITH, p. 68,
2012).

Cabe dizer que, a despeito da fragilidade e subserviência aparente de Penélope, que chora a
ausência do esposo em várias passagens, em sua secreta intimidade, revelam a astúcia e o engodo,
afim de que sua vontade prevaleça. A astúcia, a inteligência prática, ligados normalmente à esfera
masculina, são qualidades que Homero intenciona trazer o personagem de Penélope, conferindo à
mesma o status de heroína. Em diversas passagens a mesma é qualificada como “virtuosa”, “divina
mulher”, ou “prudente” (métis). "Esse atributo tem como antecedente a obediência cega ao pai, ao
marido, ao filho, às regras, enfim; cumprir a performance esperada de uma heroína é a marca da
virtude." (DUMITH, p. 35, 2012). Assim como o artifício, a polimétis, seria a capacidade de driblar
múltiplas situações, para fazer sua vontade valer. A este respeito PADILHA, ao investiga como
Penélope exerce uma participação ativa e indispensável nos rumos finais da Odisséia, permitindo a
Ulisses retomar seu antigo lugar:

“[…]a astúcia que conduz, de modo oblíquo, suas ações, na confluência quase simétrica dos planos
ardilosos que fomentam a vitoriosa vingança de Ulisses sobre os pretendentes. A partir da idéia, difundida
no mundo grego arcaico, de uma métis como sendo a representação de um tipo de inteligência prática que
teria orientado um conjunto heteróclito de atividades, tais como a tecelagem, a navegação e a medicina
(FERRAZ, apud PADILHA,p. 2, 2012).
Muito acertadamente, Dumith analisa que se por um lado “A função prática do mito de
Penélope é servir de exemplo para os demais indivíduos de seu sexo.” Destarte, o mito cumpre
exatamente o seu papel respondendo portanto aos "anseios do povo grego, que tem seus homens
ausentes amiúde devido à participação nas guerras, é o de proclamar a fidelidade como sendo a
maior virtude feminina […]. (DUMITH, p. 41, 43, 2012).
Diante das considerações supracitadas, é possível entrever que, apesar da qualidade heróica
ser mais comumente associada à esfera masculina, à belicosidade, às grandes aventuras, conquista
da honra e da gloria, através da guerra. Na educação homérica feminina, esta mesma glória cantada,
será para exaltar a virtude da mulher “fiel”, e à manutenção do status quo, da mulher na polis grega.
Características, estas, encarnadas na personagem de Penelope.

REFERÊNCIAS

DUMITH, Denise de Carvalho. O mito de Penélope e sua retomada na Literatura Brasileira: Clarice
Linspector e Nélida Piñon. Porto Alegre, 2012.

PADILHA, Fabíola. Nas Malhas de Penélope. REEL – Revista Eletrônica de Estudos Literários,
Vitória, a. 4, n. 4, 2008.

Online:
_______O universo feminino nos mitos gregos: Penélope. Publicado em Fevereiro de 2015.
Fonte:http://faroartesepsicologia.blogspot.com/2015/02/o-universo-feminino-nos-mitos-
gregos.html. 2015. Acesso em 15 de Maio de 2020.

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