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18 A 21 DE OUTUBRO DE 2021

X SEMINÁRIO
DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM LETRAS CLÁSSICAS
| CADERNO DE RESUMOS

ORGANIZAÇÃO
ALEX MAZZANTI JR.
ANA CAROLINA AQUAROLLI MARTINS
ISABEL PASSOS LOPEZ
JUAREZ CARLOS DE OLIVEIRA PINTO
LUIZ VINICIUS AGRES
THAIS ROCHA CARVALHO
MESA 1
14h30 ADRIANA DA SILVA MOREIRA

Protagonismo feminino no Livro I de Heródoto

A narrativa de Heródoto, historiógrafo do séc. V a.C., coloca


em cena uma diversidade de mulheres cuja origem vai desde a mais
simples até os cargos mais altos na escala de poder, servas e
rainhas. No Livro I de Heródoto, dentre as 65 menções de atuação
feminina, é possível observar especialmente o modo como cinco
mulheres protagonizam ações determinantes para seus respectivos
contextos sociais, alterando as relações de poder e a configuração
política das sociedades expostas pelo autor. São elas a esposa de
Candaules (1.8-12; 91), Espaco (1.110-113), Semíramis (1.184),
Nítocris (1.185-187) e Tómiris (1.205-214). Essencialmente, a
PROGRAMAÇÃO intenção é refletir sobre como essas cinco mulheres participam dos
conflitos narrados e como acontece o envolvimento de cada uma na
18 DE OUTUBRO DE 2021 transmissão do poder político em suas sociedades, uma vez que
essas figuras femininas do Livro I estão ora se responsabilizando
SEGUNDA-FEIRA pela transmissão de poder de uma dinastia para outra, ora
garantindo a manutenção do poder real nas mãos de um herdeiro
legítimo, ou ainda, agindo para atrasar ou impedir o avanço de um
poder imperial. Desta forma, o que pode ser visto nas Histórias é
MESA DE ABERTURA um protagonismo feminino que atua para ou manter a estabilidade
de um reino/cultura ou interromper a continuidade da sociedade da
14h GIULIANA RAGUSA E PABLO SCHWARTZ qual ela(s) faz(em) parte.

Linhas de pesquisa e novas perspectivas do PPG-Letras Clássicas


14h45 CAMILA ALINE ZANON 15h MATHEUS FERNANDES MOREIRA

“Criaturas prodigiosas” (terata e thaumata/thōmata) em fontes Os presságios nos lógoi dos reis persas nas Histórias de Heródoto
textuais do século V a.C.
Estudos recentes ressaltam o uso da ironia como uma
Deuses, heróis e monstros são três categorias usadas de
ferramenta analítica indispensável para interpretação de episódios
forma costumeira para classificar seres presentes no que se
da obra de Heródoto. Relacionado à proposta moralizante das
convencionou chamar “mitologia grega”, um complexo sistema que
Histórias, o emprego de tal figura de linguagem estrutura os
integra narrativas, crenças religiosas e práticas sociais. Entretanto,
recursos narrativos que contribuem para transmissão do
“monstro” é uma categoria questionável para se pensar aquelas
pensamento histórico do autor. Este projeto de pesquisa se
criaturas que, assim denominadas modernamente, figuram no
direcionou a analisar de que maneira os presságios, como recursos
discurso mitopoético de Homero e de Hesíodo: primeiro, porque
narrativos articuladores de ironia e moralidade, compõem a
“monstro” é uma categoria taxonômica ausente na poesia
trajetória dos personagens de Ciro, Cambises, Dario e Xerxes.
hexamétrica arcaica; segundo, porque, de um lado, tais criaturas
estão ligadas ao âmbito do extraordinário, que, por sua vez, está
intrinsecamente ligado ao âmbito divino, e, de outro, porque a
terminologia empregada nessa poesia remete a um sistema 15h15 SESSÃO DE PERGUNTAS
oracular de adivinhação pela leitura de prodígios, características
ausentes da noção moderna de monstro. Em vista disso, a pesquisa 15h30 INTERVALO
desenvolvida no âmbito do pós-doutorado tem investigado se há ou
não mudança na concepção daquilo que modernamente referimos
como monstruoso nas narrativas posteriores às homéricas e
hesiódicas, mais precisamente as que datam do período Clássico
(séc. V a. C.), com foco naquelas presentes nas Histórias de
Heródoto e nas tragédias supérstites.
que abrigará o oráculo de Delfos; e a Ilíada de Homero, na qual o
MESA 2 deus ocupa posição central desde os versos inaugurais, como
causador do desentendimento entre Aquiles e Agamêmnon, e por
15h45 ISABELLA DEMARCHI toda a extensão do poema, como a principal deidade aliada aos
troianos no campo de batalha.
Apolo e Zeus nos epinícios de Baquílides

Os epinícios, subgênero da mélica grega tardo-arcaica, eram


canções dedicadas a atletas vitoriosos nos quatro grandes jogos pan- 16h15 JUAREZ CARLOS DE OLIVEIRA PINTO
helênicos: os Olímpicos, os Nemeicos, os Píticos e os Ístmicos.
Contudo, como as vitórias se davam em um festival cívico-religioso, Narrativa e teologia: o caso de Homero
busco estudar como os deuses, principalmente Apolo e Zeus, também
Vigora na História da Religião a noção de que, se as narrativas
recebem o elogio cantado pelo poeta através dos epítetos atribuídos a
antigas tinham algo a expressar em relação à Religião Grega, isto
eles, e como estes epítetos refletem sua importância e seu papel nas
não era senão uma teologia poética ou filosófica cujo escopo fugia à
canções epinícias.
religião de fato, compreendida exclusivamente a partir das práticas
cultuais e de suas evidências arqueológicas e, privilegiando-se
certos gêneros literários em detrimento de outros, dos relatos de
16h RAPHAEL QUINTEIRO REISHTATTER alguns autores antigos. Quando não isso, as narrativas expressariam
tão somente estruturas sociais e psicológicas projetadas no universo
Apolo: a representação do deus na Ilíada e no Hino homérico em sua divino. Nesse sentido, a presente comunicação visa discutir e ampliar
dedicação a noção de teologia aplicada ao estudo das narrativas antigas, de
modo que, além de estruturas sociais e psicológicas, se pense
As representações de Apolo na poesia e no imaginário
também um modo de compreender as crenças acerca dos deuses na
coletivo grego são diversas: ele é o efebo cuja beleza é referência
Antiguidade Grega. A partir disso, serão apresentados aspectos
para a formação dos meninos; é aquele que com sua lira alegra o
históricos e narrativos que integram a poesia épica homérica, isto é,
banquete dos deuses no Olimpo; o arqueiro que dissemina
a Ilíada e a Odisseia, e que demonstram como as narrativas são
pestilências; mas também o responsável por identificar suas origens
vetores que não devem ser ignorados na compreensão do imaginário
e purificá-las. Sendo assim, o presente trabalho visa ao estudo da
grego daqueles que não só cultuam seus deuses, mas também os
representação poética de Apolo em dois importantes exemplares da
concebem de determinadas formas em função do universo mítico
poesia hexamétrica da era arcaica: o Hino homérico a Apolo, poema
constituído.
que canta o nascimento do deus e sua busca pelo recinto sagrado
evidenciadas como também manipuladas por seus participantes,
16h30 SESSÃO DE PERGUNTAS num movimento que revela os limites de entender o catálogo épico
como uma mera enciclopédia oral.

MESA 3
17h GABRIELA CANAZART
16h45 DANILO DE SOUSA TOLENTINO VILLA
Mulheres e crianças como vítimas da guerra nos símiles de proteção
Os limites dos presentes ilimitados de Agamemnon a Aquiles materna da Ilíada

A embaixada dos aqueus a Aquiles é um episódio central na Os símiles homéricos, embora sejam comumente tratados
trama da Ilíada, cuja importância para a recepção do poema é, em como um componente à parte do poema e tenham seus elementos
parte, consequência de sua enorme pluralidade interpretativa. tradicionais deixados de lado em favor da singularidade da vinheta
Dentre as muitas dificuldades apresentadas pelo texto, a natureza que apresentam, possuem um “pano de fundo” tradicional que é
da compensação oferecida por Agamemnon é, sem dúvida, central projetado pelos usos recorrentes de certos elementos imagéticos e
para o entendimento da querela entre os heróis aqueus. Os que, graças à sua tradicionalidade, transmite um significado coeso,
presentes ilimitados (ἀπερείσι' ἄποινα, Il. 9. 120) elencados por independentemente da individualidade das cenas apresentadas. Os
Agamemnon são, por um lado, qualificados por Nestor de símiles que têm como tema a proteção materna têm sido lidos como
incensuráveis (Il. 9. 164), mas, por outro, chamados de odiosos por ternos e como contendo imagens do cotidiano do receptor. Gaca
Aquiles (Il. 9. 378). O presente trabalho não tentará resolver a (2008), no entanto, ao estudar o símile em Il. 16. 7-10 (no qual
questão do caráter excessivo ou adequado da oferta, buscando Pátroclo é comparado a uma menina que chora enquanto puxa o
analisar o episódio como um embate discursivo em que tal caráter é vestido da mãe e lhe pede colo), argumentou que a imagem pode se
precisamente o que está em disputa. Em especial, discutirei como referir a uma mãe que foge dos soldados que saqueiam uma cidade
ambos os heróis utilizam a enumeração e o tema tradicional da e capturam as mulheres e crianças. A partir dessa “imagem de fundo”
inumerabilidade para validar suas posições. Pois, ainda que seja defendida pela autora, argumentarei em favor de um contexto de
Agamemnon quem faz, em sentido estrito, um catálogo de guerra para as imagens dos símiles em Il. 4. 130-131 (no qual Atena
presentes, cuja abundância é sem precedentes na poesia homérica, protege Menelau como uma mãe afasta uma mosca do filho) e em Il.
Aquiles, por sua vez, elabora uma série de breves enumerações que 2. 271 (no qual Teucro se abriga atrás do escudo de Ájax como uma
evocam quantidades inumeráveis, tema presente, por exemplo, no criança se esconde embaixo da mãe).
proêmio do Catálogo das Naus. Nessa disputa, ambivalências
latentes de boa parte dos catálogos homéricos são não apenas
17h15 HELIO PIMENTEL NETO

O adorno e a ordem: lendo Ilíada 2.211-279 com Max Horkheimer

Esta comunicação pretende realizar uma leitura da cena do


canto 2 da Ilíada, em que Tersites insurge-se na assembleia dos
aqueus, sendo, em seguida, repreendido e agredido por Odisseu. A
leitura será centrada, sobretudo, na reação de apoio da multidão
(plēthus) ao discurso e à ação de Odisseu. Oriento-me pela
abordagem da Teoria Crítica, mais especificamente, pelas múltiplas
acepções em que Max Horkheimer desdobra o conceito de cultura
no texto Autoridade e família (1990 [1936]). Também apoiar-me-ei
no trabalho de William Thalmann (1988), que oferece um tratamento
bastante completo desta cena e das principais interpretações que
recebeu; a sua própria interpretação centra-se em um entendimento
da figura de Tersites por meio das categorias de alívio cômico e bode
expiatório, enfatizando sua separação da multidão. Em minha fala
examinarei se é possível entender a caracterização de Tersites (Il.
2.212-224), o uso do cetro como um instrumento de dominação
direta (Il. 2.265-268) e a reação da multidão à agressão de Odisseu
(Il. 2.270-277) como indicadores do processo de internalização da
coação, sobre o qual fala Horkheimer. Assim, pretendo discutir de
que modo essa cena pode ser relacionada com a acepção de cultura
como algo ambivalente. Neste sentido, a cultura, por um lado,
constitui-se como internalização, racionalização e complementação
da coação física e da dominação de classe e, por outro, confere PROGRAMAÇÃO
sentido ao sofrimento individual e ao destino coletivo.
19 DE OUTUBRO DE 2021
TERÇA-FEIRA
16h30 SESSÃO DE PERGUNTAS
MESA 1 14h15 MIGUEL ÂNGELO ANDRIOLO MANGINI

14h JOSÉ ELIAS DE SENA Mistura de gêneros: o locus amoenus d'Os Lusíadas

De Copia, de Erasmo de Roterdã — apresentação da obra O objetivo desta comunicação é apresentar o fenômeno da
mistura de gêneros n’Os Lusíadas, de Camões, especialmente na
A partir do século XV, o estudo das figuras de linguagem interação entre os gêneros épico e o bucólico. Embora seja claramente
difunde-se intensamente no ocidente, prática que teve como um de uma epopeia e tenha como principal modelo de composição a Eneida,
seus resultados a nomeação de todo tipo de frase e sentença, de Virgílio, a leitura atenta do poema descobrirá que a célebre Ilha dos
refletindo uma ênfase no estudo do estilo discursivo que se filiava a Amores do Canto IX é uma versão renascentista de locus amoenus,
um renovado interesse pelo mundo da antiguidade clássica. Parte do tópica da tradição da poesia pastoril que parte das Bucólicas, do
que se conhece hoje por período renascentista e período humanista mesmo Virgílio. Por meio da análise de trechos desse episódio,
esteve ligada a um projeto histórico que tomava como um de seus concluiu-se que o gênero bucólico tem função alegórica dentro d’Os
fundamentos a estreita observância da forma com que autores Lusíadas e que a sua presença local neste contribui para o argumento
clássicos, gregos e latinos, bem como autores cristãos escreviam. expansionista e cristão da epopeia. Portanto, de modo geral, nesta fala
Ao morrer em 1536, Erasmo de Roterdã deixava, então, vasta obra se pretende fazer uma reflexão sobre a relação não linear entre obra
escrita em latim, na qual se destacava sobretudo essa franca renascentista e tradição clássica no âmbito dos gêneros poéticos a
disposição em agregar elementos considerados basilares da cultura partir do exemplo d’Os Lusíadas, que, pertencendo à tradição épica,
clássica com o já milenar pensamento cristão. Isso explica porque o colhe também do gênero bucólico.
próprio Erasmo foi, de um lado, nada menos que o editor
renascentista das obras completas de autores significativos para a
Igreja Católica, como Agostinho de Hipona e, de outro, um público
admirador de Homero, Virgílio, Quintiliano e especialmente de
Cícero. E é dentro desse vasto corpus latino erasmiano que
encontramos um manual de retórica voltado especificamente a
aspectos estilísticos no uso da língua latina, o qual, a princípio havia
sido intitulado De duplici copia uerborum ac rerum, em seguida De
utraque uerborum ac rerum copia, para a partir daí ser chamado
genérica e popularmente De Copia. Nesta comunicação do presente
seminário, o De Copia, como nosso trabalho de tradução, será
brevemente apresentado em seus aspectos gerais.
14h30 TIAGO BENTIVOGLIO DA SILVA MESA 2
Lírica grega na poesia do humanismo português: três epigramas de 15h HENRIQUE VERRI FIEBIG
António Ferreira
A écfrase do escudo de Amleto e os shield poems escandinavos
Nosso objetivo nesta comunicação é apresentar os primeiros
apontamentos da análise de poemas portugueses do século XVI que No quarto livro da Gesta Danorum, história da Dinamarca escrita
são indicados pelos seus autores por nomes de gêneros originários da em língua latina por Saxo Gramático no fim do século XII, encontramos
antiguidade grega e latina. Partiremos da leitura de três poemas de a écfrase do escudo de Amleto, a qual, além de sua evidente inserção
António Ferreira presentes em seus “epigramas”, mas que traduzem na série de descrições de escudo comuns, principalmente, à poesia
quase literalmente poemas que, à época, eram atribuídos a Anacreonte épica grega e latina, parece aludir também a textos da poesia escáldica
(e que hoje pertencem à coleção Carmina Anacreontea de imitadores escandinava, em especial, aos chamados shield poems, ou poemas-
tardios de poeta arcaico). Ou seja, os poemas são inspirados em outro de-escudo, de natureza igualmente descritiva. Oferecemos, pois, uma
gênero que não o epigrama. Os poemas estudados serão: “De breve discussão acerca destes poemas e de sua possível relação com
Anacreonte”, “Fermosura” e “Marte Namorado”, que correspondem, a écfrase do escudo de Amleto.
respectivamente, aos poemas 19, 24 e 28 da edição de West. Esses
poemas são uma porta de entrada para a análise das relações entre
antiguidade e humanismo português, especialmente para nosso
objetivo principal que é buscar se houve leitura e recepção da poesia
grega pelos poetas do período. Além disso, também buscaremos
delinear quais são os autores latinos e contemporâneos que serviram
de intermediários para temas e lugares comuns herdados dos gregos.

14h45 SESSÃO DE PERGUNTAS


Pentesileia, rainha das amazonas. Quinto narra sua chegada como
15h15 PAULO HENRIQUE OLIVEIRA DE LIMA aliada dos troianos, suas façanhas na guerra, sua derrota pelas mãos
de Aquiles e a repercussão de sua morte. Utilizando-me do conceito
Farsa e Usurpação nos cantos I e II das Dionisíacas
narratológico de caracterização, investigo as estratégias utilizadas pelo
As Dionisíacas, maior epopeia em língua grega antiga narrador para construir a imagem de sua personagem junto aos
preservado, composta por Nono de Panópolis, apresentam em seus narratários, tanto de maneira direta, com seus epítetos e atribuições
dois livros iniciais uma batalha para decidir a ordem do cosmos. Zeus, explícitas, bem como de modo indireto, com suas ações e interações
após sua aventura erótica com Europa, acaba tendo seus tendões, com outros personagens.
raios e trovões surrupiados por Tífon, última resistência dos Titãs para
manutenção da velha ordem. O lendário Cadmo, fundador de Tebas e
irmão de Europa, é escolhido por Zeus para recuperar seus atributos. 15h45 SESSÃO DE PERGUNTAS
Com o aconselhamento de Hermes e orientação de Pã, o herói é
inserido em uma farsa bucólica, vestido como o lendário pastor Dafnis,
com o objetivo de encantar o monstro e surrupiar os tendões de Zeus.
O presente trabalho, parte da pesquisa de doutoramento, visa MESA 3
apresentar a montagem da farsa bucólica montada para enganar Tífon
e recuperar os apanágios do deus. Para isso, esta obra visa analisar 16h ALEX MAZZANTI JR.
as apropriações de poetas como Teócrito, Mosco e Bíon utilizadas para
Categorias das orações argumentais em latim: revisão bibliográfica
a criação do engano encenado na obra de Nono.
e questões

O objetivo desta comunicação é fazer uma breve revisão


15h30 RAFAEL DE ALMEIDA SEMÊDO bibliográfica sobre as categorias de orações (infinitivas, de ut +
subjuntivo, interrogativas indiretas) que podem ocupar a posição de
Assombrosa Pentesileia — A caracterização da líder das amazonas argumento verbal, indicando a relação entre o nível sintático e o nível
no Livro 1 das Pós-Homéricas de Quinto de Esmirna da sentença. Além disso, discutir-se-ão alguns casos concretos a partir
de ocorrências no corpus plautino, em especial, aqueles em que um
Nesta comunicação, investiga-se a representação de mesmo verbo matriz é capaz de apresentar variados tipos de orações
Pentesileia no Livro 1 das Pós-homéricas de Quinto de Esmirna, épico ocupando um de seus argumentos. Particularmente interessantes, são
hexamétrico da antiguidade tardia (c. 3 a.C.) que aborda os eventos os casos em que precisamos distinguir entre um ut completivo e um ut
ocorridos entre a Ilíada e a Odisseia. A “amazônida”, como se pode interrogativo.
chamar o Livro 1, é um episódio autocontido que orbita em torno de
16h15 CAIO BORGES AGUIDA GERALDES Eslavo-eclesiástico antigo, eslavônico-eclesiástico antigo ou
apenas eslavo antigo, são nomes comumente dados à língua presente
Atração de Caso em Orações Infinitivas em Grego Antigo nos primeiros manuscritos eslavos. Seu surgimento está ligado à
atividade missionária dos irmãos Cirilo e Metódio, que evangelizaram
A atração de caso que incide sobre predicados secundários de
os povos eslavos nas regiões da Morávia e Panônia. Os esforços para
orações infinitivas do grego antigo é reavaliada como uma instância do
pregar o cristianismo naquela região em uma língua que os nativos
fenômeno geral de concordância de longa distância (conhecida pela
compreendessem levaram Cirilo a desenvolver um novo alfabeto que
sigla inglesa LDA) e são apresentadas as evidências quantitativas de
atendesse às necessidades fonéticas específicas de uma língua eslava
seu comportamento como tal extraídas a partir de sentenças
e a missão liderada pelos irmãos levou a cabo diversas traduções que
selecionadas dos textos de Heródoto, Platão e Xenofonte. As
pudessem auxiliar em sua empreitada evangelizadora. Embora essas
evidências apontam para uma construção opcional e sintaticamente
primeiras traduções não tenham chegado até nós, elas influenciaram
mais marcada, favorecida por fatores semânticos e pragmáticos, tal
enormemente a produção em eslavo antigo, que mais tarde seria
como observado em outras línguas naturais. Os fatores utilizados para
transferida para a Bulgária, onde os discípulos de Cirilo
produzir essa evidência são 1) frequência geral; 2) distância entre
desenvolveriam um novo alfabeto e dariam continuidade ao trabalho
origem e alvo da concordância; 3) classe de palavra do predicado
iniciado pelos irmãos. A relação entre o grego, língua original das
secundário e sua função sintática; e 4) semântica do verbo da oração
fontes para as traduções eslavas, e o eslavo-eclesiástico antigo é
principal. Sugere-se a necessidade de uma pesquisa em um corpus
bastante evidente nos textos que chegaram até nós. Tal relação se dá
mais amplo, sobretudo para verificar se a hipótese de que o fenômeno
em diversos aspectos, mas é no campo sintático que a influência do
esteja linguisticamente distribuído de modo desigual do ponto de vista
grego é mais visível. Para ilustrar tal relação, propomos apresentar
dialetal e diacrônico e que seja uma figura de estilo ática por
alguns trechos do texto de Mateus 5 presente no Codex Marianus,
excelência, necessidade esta que motiva a continuação da pesquisa
tradução eslava de parte do Evangelho datada do início do século XI,
de mestrado concluída no ano passado. São elencados os principais
apontando as relações morfológicas e sintáticas entre tal tradução e o
fatores a serem adicionados na anotação dos dados, sobretudo os que
texto grego, observando onde há mais subserviência ao texto original
dizem respeito a estrutura pragmática e informacional das sentenças.
e onde, ocasionalmente, o eslavo adota uma postura mais
independente.

16h30 DIEGO VIEIRA ARAUJO SILVA

Eslavo-eclesiástico antigo: o que é e qual sua relação com o grego? 15h45 SESSÃO DE PERGUNTAS
MESA 1
14h ANA CAROLINA AQUAROLLI MARTINS

As anedotas nos livros sobre a Arte da História Natural de Plínio, o


Velho

No que concerne à estrutura da História Natural de Plínio, o


Velho, em particular a dos livros ditos sobre a Arte (especificamente
XXXIV, XXXV e XXXVI), já é conhecida sua varietas tanto em termos
de conteúdo quanto de elocução. Assim, esta comunicação tem por
objetivo explorar um dos elementos que constituem essa variedade
intrínseca à obra: a questão das anedotas e sua relação com as duas
esferas de análise apontadas acima, as quais, assim como em outros
gêneros, complementam-se mutuamente, constituindo o gênero
referido como “enciclopédico” operado pelo auctor. Logo, trataremos
de alguns aspectos ligados a esse procedimento retórico - bem como
por que pode ser entendido como um: como se dá seu uso e a que
serve, qual seria sua estrutura - questões essas amplamente
abordadas por Ágnes Darab - e quais seriam as fontes averiguadas
por Plínio. Quanto à sua finalidade, será verificado se está a serviço
da elocução ou ainda da invenção. A respeito de sua estrutura, serão
apontadas as diferentes espécies de anedotas e como são
propriamente encastradas na estrutura maior do volume do qual
fazem parte e ainda da obra como um todo coeso. Em relação às
fontes dessas anedotas, quando possível, serão apontadas; será
PROGRAMAÇÃO explorada também a própria concepção de fonte para a constituição
da História Natural.
QUARTA-FEIRA
20 DE OUTUBRO DE 2021
Ovídio, período que se estendeu até sua morte. Nestas obras, a
14h15 NATALY IANICELLI CRUZEIRO construção discursiva do tópico do exílio soma-se à reflexão poética
sobre sua nova situação como relegatus. Essa combinação dá lugar à
Um filósofo não vai ao teatro: a crítica de Aristóxeno de Tarento à
necessidade da construção da autoridade poética da persona exilada,
música de seu tempo
que pode ser traçada ao longo destas duas obras. Ao analisar o modo
O objetivo desta comunicação é discutir os fragmentos como Ovídio concebe o exílio, surge a hipótese de avaliar se e como a
aristoxênicos sobre a crítica, tanto moral quanto estética, das formas experiência disruptiva do exílio para um poeta romano como Ovídio o
musicais influenciadas pela Nova Música. O estilo excessivamente leva a utilizar estratégias discursivas que lhe permitam erguer-se a si
ornamentado de poetas como Timóteo e Filóxeno é alvo frequente de próprio como modelo de poeta exilado. Na construção da autoridade
críticas nos escritos filosóficos do século IV a.C., período no qual a poética ovidiana, delimitaremos três aspectos a serem analisados. O
influência desse estilo é vista como uma marca de declínio cultural (Pl. primeiro versa sobre a figura do poeta exclusus como auctor. A partir
Leg. 700ª-701b) e se nota uma idealização da música antiga (archaia deste aspecto, estudaremos a relação do poeta com a) a construção
mousikē), especialmente aquela de Píndaro. Aristóxeno se vale desse de sua memória em Roma; b) a reiteração na eleição do gênero de
expediente retórico, sendo uma fonte importante acerca do julgamento epístolas elegíacas que leva a fechar sua carreira poética, prestigiando
de poesia e música, sobretudo porque detalha os critérios formais que o gênero por ele proposto e caracterizado como ignotum opus (Ars 3.
a “boa música” deve observar. 346); e c) a reivindicação da persona exilada como auctor e vates. O
segundo aspecto terá como eixo a figura do poeta como centro do mito
do exílio, nos termos de Claassen (1988). Ovídio constrói a persona
como modelo de exilado e, portanto, autoridade incontestável sobre o
14h30 SESSÃO DE PERGUNTAS tema. Aqui dedicaremos maior atenção a) às caraterísticas do poeta
como etnógrafo da região na qual é forçado a viver e b) às
comparações estabelecidas pelo poeta entre sua persona e figuras
míticas da tradição. O último aspecto visa estudar a tensão que surge
MESA 2 a partir do confronto da autoridade poética e autoridade política,
especialmente no que diz respeito à relação entre o poeta e o princeps
14h45 CECILIA MARCELA UGARTEMENDIA Augusto.

Autoridade poética nas obras do exílio de Ovídio

O objetivo da comunicação é apresentar os resultados de minha


tese de doutorado. O objeto de pesquisa encontra sua delimitação no
estudo dos Tristia e das Epistulae ex Ponto, poemas do exílio de
15h WILLAMY FERNANDES GONÇALVES 15h15 SESSÃO DE PERGUNTAS

Sintaxe mimética: iconicidade intencional na poesia latina ou


anacronismo da leitura moderna?

Investigamos a presença, na poesia latina, da sintaxe mimética,


MESA 3
uma forma de iconicidade em que a disposição das palavras nos
15h30 CAMILA DE MOURA
versos imita a disposição dos objetos referidos por elas, como em Met.
II, 717 (et densi circumstant sacra ministri), em que o sintagma densi As Vidas de poetas gregos entre história, ficção e falsificação
ministri rodeia o substantivo sacra, concretizando com os significantes
a posição relativa dos respectivos significados. Tendo constatado o As Vidas de poetas gregos, narrativas híbridas que amalgamam
pouco interesse que o tema tem despertado até a atualidade, e anedotas fantásticas, notas de crítica literária, catálogos de obras e
observando duas possíveis explicações para esse desinteresse (a cronologias mais ou menos fiáveis, têm sido matéria de disputa entre
descrença quanto à intencionalidade dessas ocorrências e a os estudiosos do campo desde ao menos o século XIX, quando surgem
minimização de sua importância com base em sua suposta baixa estudos que recomendavam cautela ao recorrer às Vidas em busca de
frequência), buscamos avaliar possíveis índices de seu emprego informações históricas. Não obstante, as informações que veiculam
intencional pelos poetas e caracterizar a sintaxe mimética quanto ao encontram-se reproduzidas de maneira acrítica em enciclopédias e
seu funcionamento dentro de um todo poético. Em persecução ao manuais de literatura até os dias de hoje. Numa monografia seminal
primeiro objetivo, avalia-se a reprodução de sintaxes miméticas data de 1901, Friedrich Leo criticava a prática da exegese alegórica e
presentes em poemas gregos por seus tradutores latinos e faz-se uma propunha um tratamento literário desses textos. No século XX,
busca por possíveis referências metapoéticas a essa forma de destaca-se o trabalho de Mary Lefkowitz, que buscou demonstrar como
iconicidade, nomeadamente em Ovídio. Em persecução ao segundo as Vidas de poetas consistem sobretudo em ficções elaboradas a partir
objetivo, observamos ocorrências do livro I das Metamorfoses de das obras dos poetas biografados e da comédia dos séculos V e IV
Ovídio contemplando, primeiramente, observações qualitativas (sobre a.C. Esta comunicação tem por fim apresentar um breve panorama da
os efeitos de sentido gerados pelas disposições miméticas), e recepção das Vidas de poetas gregos na modernidade, abordando os
posteriormente passando a algumas observações quantitativas. Por muitos mal-entendidos que pesam sobre a sua apreciação. Afinal, os
fim, conclui que os diferentes aspectos estudados convergem para biógrafos antigos acreditavam fazer história, ficção ou tinham a
indicar a validade e o interesse do estudo da sintaxe mimética na intenção de enganar seu público leitor com narrativas vagamente
poesia latina antiga. verossímeis?
15h45 ISABEL PASSOS LOPEZ MESA 4
(In)validando paradigmas eróticos: lendo a silepse em Leucipe e 16h15 FELIPE CAMPOS DE AZEVEDO
Clitofonte
A fraseologia dos cereais na Comédia Antiga
Esta comunicação visa explorar a noção de simetria sexual,
proposta por David Konstan (1994). Em Leucipe e Clitofonte, nos Ao longo das comédias de Aristófanes é recorrente o uso dos
capítulos 34 a 38 do livro 2, as personagens entram em um embate alimentos como simbologia política, religiosa e poética, o que se nota
teórico acerca do melhor paradigma de desejo: heteroerótico ou também em fragmentos de outros poetas cômicos contemporâneos. A
homoerótico, simétrico ou assimétrico. Dessa forma, a proposta de fala aqui proposta aborda a função dos alimentos, especificamente os
Konstan está tematizada no romance de Aquiles Tácio como uma cereais, na comédia antiga - como metáfora ou como dado histórico do
disputa entre dois “códigos de conquista erótica”. Nesta comunicação, cotidiano - procurando relacioná-las com o ambiente político vivido em
a passagem é entendida como uma reflexão sobre o funcionamento do Atenas em meio à Guerra do Peloponeso, assim como explorar o
desejo no romance que, de forma metanarrativa, fornece o como ler repertório mitológico ligado à alimentação e sua produção. Sobre a
para a recepção da obra. Em conjunto com a canção do escravo (L&C relação de Deméter com os cereais, sua presença na comédia antiga
1.5) e o símile homérico performado por Leucipe (L&C 2.1), é possível é marcante, sobretudo do festival das Tesmofórias, que dá nome a uma
perceber na passagem mencionada o uso da silepse. Este tropo, das peças de Aristófanes. No entanto, é sobretudo em Paz e Aves que
considerado por Daniel Selden (1994:51) o preferido das narrativas de aparecem com mais profusão os termos precisos relacionados aos
ficção em prosa antigas, é analisado na comunicação como uma alimentos como trigo, cevada e outros tipos de cereais, perfazendo
técnica narrativa do autor e procedimento de leitura necessário para a uma lista longa de variedades lexicais. No caso de Paz, o cenário rural,
compreensão do código erótico na obra. o enredo e os personagens trazem informações importantes do meio
não urbano, como o destaque dado às estações e períodos de
semeadura e colheita. Já em Aves, encontramos na presença dos
pássaros no lugar dos deuses uma série de referências aos grãos,
16h SESSÃO DE PERGUNTAS
como objeto de oferendas; como alimentação das aves; sobre o plantio
de cereais no Egito e sua importação para Atenas; e, por fim, em
registros da fraseologia “trigo e cevada”, encontrada desde Homero, e
em outras tradições indo-europeias, transpostas para o registro
cômico, com a substituição do louvor aos deuses pelos novos
governantes, os pássaros.
16h30 LUIZ VINICIUS AGRES 16h45 THAIS ROCHA CARVALHO

Aspectos da voluntariedade na tragédia Hécuba de Eurípides: o Casando com Hades: paralelos entre Ifigênia e Perséfone
sacrifício de Polixena
A expressão “casar com Hades” é uma metáfora comum para
As leituras mais correntes a respeito do tema do sacrifício falar da morte de jovens parthenoi. A história de Ifigênia, no entanto,
humano em Eurípides sublinham expressamente a categoria apresenta muitos outros paralelos com o mito de Perséfone além do
"voluntariedade" no domínio de seu tratamento dramático. Profusas as casamento com Hades. Esse trabalho analisará os paralelos entre
ocorrências em sua obra supérstite, as vítimas, nessa perspectiva, Ifigênia e Perséfone a partir da tragédia Ifigênia em Áulida de
aquiescem, de maneira voluntária, ao chamado muitas vezes divino e Eurípides.
cívico que conduz todas elas à degola. A deliberação das vítimas,
sempre propensa à aquiescência, fundamentaria a morte voluntária em
favor de uma causa que corresponde, em primeiro lugar, à de outros e
17h SESSÃO DE PERGUNTAS
para a qual, nesse sentido, a boa vontade enfim se inclina, após
atravessar critérios intrínsecos que, também veiculados em seus
discursos, lhes poderiam justificar tal consentimento. Em alguma
medida, afirmá-lo parece, no entanto, minorar ou até mesmo preterir a
dinâmica com a qual se apresenta o processo discursivo que, no texto
euripidiano, estabelece as condições para o sacrifício iminente. O
problema em situar a resolução no indivíduo ao lhe conferir um suposto
poder de decisão autônomo, orientado, dessa forma, pela livre escolha,
é que, ao mesmo tempo que transporta equivocadamente para o
imaginário ateniense do século V a.C. termos de liberdade posteriores,
essa conjuntura, que então trata o sacrifício como voluntário, subtrai a
"necessidade" e distancia a "fatalidade" da morte em apreço, duas
categorias responsáveis por projetá-la no enredo e contra as quais o
homem trágico certamente não poderia se voltar. Para discutirmos
essas e outras questões relacionadas ao tema, examinaremos
passagens selecionadas da tragédia Hécuba, na qual, Troia capturada,
Polixena ruma para a morte como honraria a um herói morto.
MESA 1
14h BENEDITO DE PINA ALMEIDA PRADO NETO

Cosmologia, medicina e relação mestre-discípulo em Evágrio


Pôntico: abordagem literária e histórico-filológica

Nesta apresentação, abordaremos o tema da medicina em


Evágrio Pôntico, autor do século IV d.C., ativo no Baixo Egito. Maior
atenção será dada aos tratados Praktikós e Gnōstikós, nos quais
Evágrio usa o tema da medicina tanto na caracterização da persona
loquens quanto na de seu interlocutor, sendo veículo de
ensinamentos sobre a vida monástica e, assim, meio de instrução.
Exemplo disso são a abordagem das partes da alma com relação às
terapias a que estão sujeitas, bem como a correspondência que pode
existir entre essas partes e determinados órgãos do corpo humano.
Em Evágrio, noções médicas eram consideradas à luz das
reelaborações teóricas promovidas com relação à antropologia e à
anatomia humana, como as realizadas por Gregório de Nazianzo na
obra De hominis opificio, na qual ele discute a possibilidade de a
mente (noûs) ser localizada em alguma parte do corpo, bem como o
conceito de percepção (aisthēsis). Tanto Gregório quanto Evágrio,
assim, desenvolvem conceitos presentes em obras tais quais De
Anima, de Alexandre de Afrodísias, e Quod animi mores corporis
temperamenta sequantur, de Galeno. Também há ecos de noções
desenvolvidas por Proclo sobre a existência no mundo de uma alma
PROGRAMAÇÃO que é dotada de poderes medicinais e capaz de transmiti-los a
outros. Será mostrado que, ao empregar essa ideia no kephálaion
21 DE OUTUBRO DE 2021 33 do Gnōstikós, Evágrio estabelece um paralelo entre as ações da
alma descrita por Proclo, a saber, a alma de Asclépio, e a de Cristo.
QUINTA-FEIRA
14h15 PATRÍCIA SCHLITHLER DA FONSECA CARDOSO 14h30 PEDRO BARBIERI

Concepções de magia através da linguagem dos Papiros Gregos Caos e ordem no Corpus hermético — do mundo e do ser humano
Mágicos
O hermetismo antigo, como muitas correntes religiosas, se
“Magia” e “Religião” são dois conceitos - muitas vezes fundamentava em uma perspectiva tripartite da existência, algo válido
considerados opostos - que foram amplamente discutidos dentro e tanto para o mundo como para o ser humano: i. origem (passado,
fora dos Estudos Clássicos ao longo do século XX. Um lugar-comum arkhé), ii. condição (presente: estado deficitário e proposições
de tal oposição é associar ao campo da Religião o ato de louvar os corretivas, éthos) e iii. salvação (futuro, télos). Pretendo apontar de que
deuses e persuadi-los com elogios e belos cantos através da súplica, forma os tratados do Corpus hermético (séc. 2 d.C.) e demais textos
enquanto fica legada à Magia a coerção, a manipulação e a violência correlatos apresentam um paralelo entre a criação do universo e a
perante o sobrenatural. Tal oposição, no entanto, tende a funcionar criação do ser humano. Pelo espelhamento entre uma e outra parte, o
melhor na teoria do que prática, que costuma apresentar um caos e a ordem do mundo podem servir de paradigma para a
continuum entre as duas posturas. O que encontramos no conjunto regeneração de cada indivíduo. Se a situação atual do iniciado é
dos Papiros Gregos Mágicos (PGM) é um exemplo desse continuum. caótica, desregrada, é necessária a ingerência de um princípio diretivo
Os PGM reúnem encantamentos e descrições de rituais em língua que ordene e hierarquize as partes em relação a uma unidade interna
grega, oriundos do Egito e datados majoritariamente entre os que deve ser igualmente descoberta. Passa-se, assim, de um caos
séculos II a V d.C. Os textos exibem influências diversas do “natural” (= cristalizado, habitual) a um esforço “artificial” (= estranho
Mediterrâneo Antigo, especialmente das tradições grega e egípcia. ao hábito) para se chegar, eventualmente, a um estado de ordenação
Os encantamentos possuem tanto elementos “mágicos” quanto interna que corresponderia então à natureza real do hermetista.
“religiosos”, porém com várias características que se alinham mais
ao elogio religioso do que à violência mágica. Através da análise da
linguagem utilizada pelos praticantes nas invocações dos
14h45 SESSÃO DE PERGUNTAS
encantamentos, contemplaremos a dicotomia magia x religião e
coerção x súplica através de trechos de feitiços selecionados.
MESA 2 15h15 MARCELLO PERES ZANFRA

15h FERNANDO PAVÃO As polêmicas patrísticas e o esboço de uma teoria da recepção dos
clássicos em São Jerônimo
Abordagens contemporâneas para a tradução literária de textos
religiosos da antiguidade para o português: um olhar a partir dos O período da patrística romana vivido por São Jerônimo, século
Evangelhos e dos Atos Apócrifos dos Apóstolos III e IV d.C. define-se, usualmente, como aquele em que os pilares da
relativamente jovem religião cristã foram definidos. Dessa forma, a
Nesta comunicação, pretendemos apresentar algumas época foi marcada por intensos embates acerca dos dogmas e
particularidades das retraduções dos evangelhos para o português preceitos básicos da religião e, além disso, se o pensamento cristão
publicadas por Frederico Lourenço em 2017 e por Marcelo Musa necessitava de estabelecer o que sua religião era, também propunha-
Cavallari em 2020 e destacar os principais critérios adotados pelos se a esclarecer o que ela não era, ou seja, marcar sua diferença para
tradutores. O objetivo é demonstrar como esses critérios podem ser com o judaísmo, zoroastrismo e também para com o chamado
empregados para tradução de outros textos religiosos da antiguidade paganismo, presente na literatura clássica. Jerônimo teve, como a
que apresentam caraterísticas semelhantes. Para tanto, utilizaremos maior parte de seus contemporâneos, uma sólida instrução nesse
um dos Atos Apócrifos dos Apóstolos, conhecido como Atos de campo, mas foi acusado, mais de uma vez, de ser excessivamente
Xantipe, Polixena e Rebeca, para exemplificar algumas opções de apegado a algo que deveria estar no passado da humanidade, após a
tradução com base nos critérios destacados. Esta comunicação faz revelação completa do Cristo. O intuito dessa comunicação é, por meio
parte de uma pesquisa mais ampla que tem como objetivo apresentar de um cotejo de passagens selecionadas ao corpus do doutor cristão,
um estudo da relação entre a narrativa Atos de Xantipe, Polixena e demonstrar como suas constantes alusões ao mundo pagão
Rebeca e o romance antigo, juntamente com uma tradução do texto colocaram-no sob ataque e fizeram-no esboçar uma teoria cristã sobre
grego da obra para o português. a recepção dos clássicos, apoiada, mormente, na instrumentalização
retórica aliada a reafirmação da superioridade cristã. A título de
ilustração do funcionamento não totalmente completo desta teoria,
recorremos a um exemplo de uso da comédia de Terêncio para fins
exegéticos
15h30 SARA GONÇALVES DEVAI MESA DE ENCERRAMENTO
Atos de Paulo e Tecla — um romance? 16h CRISTINA FRANSCISCATO
As obras denominadas Atos Apócrifos dos Apóstolos surgiram LUCIANO FERREIRA
na última metade do segundo século d. C, no auge da produção dos
romances gregos antigos. Em geral, essas obras narram as FÉLIX JÁCOME NETO
aventuras de personalidades influentes do cristianismo primitivo,
começando pela conversão à fé cristã e concluindo com sua morte,
na maioria das vezes através do martírio. Embora possuam muitas
afinidades com o romance antigo, apresentam certas peculiaridades
que os tornam um gênero a parte. Atos de Paulo e Tecla faz parte
desse grupo e narra as aventuras de Tecla, uma jovem e bela virgem
de Icônio, exposta ao martírio. Nossa comunicação se voltará para a
análise de trechos desta narrativa, buscando estabelecer os pontos
de contato da mesma com o romance grego e o discurso
historiográfico, bem como as principais diferenças entre estes
gêneros e os Atos apócrifos dos apóstolos.

15h45 SESSÃO DE PERGUNTAS

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