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ISSN 1519-6917

A MUDANÇA ICONOGRÁFICA DE HERMES E A REPRESENTATIVIDADE


NA SOCIEDADE ATENIENSE: 480 A.C. – 440 A.C. 1

Geovana Cecília Guimarães Gonçalves (graduanda – UERJ)


Gustavo Henrique Marques Maciel (graduando – UERJ)
Larissa Barbosa de Oliveira (graduanda – UERJ)

Resumo: O artigo aborda o papel de Hermes na Grécia Antiga, destacando seu


desenvolvimento mitológico e representações iconográficas. Originalmente protetor de
pastores, Hermes se tornou deus do comércio, mensageiro e psicopompo. Durante a
guerra Greco-Pérsica, as mortes em quantidade levaram a uma mudança na visão da
morte, refletida na iconografia de Hermes e Caronte. Através da análise de vasos
cerâmicos, demonstraremos sua importância na democracia ateniense.
Palavras-Chave: Hermes; Morte; Atenas.

Abstract: The article discusses the role of Hermes in Ancient Greece, highlighting his
mythological development and iconographic representations. Originally a protector of
shepherds, Hermes evolved into a god of commerce, messenger, and psychopomp.
Amidst the Greco-Persian War, the significant death toll led to a shift in the perception
of death, mirrored in the iconography of Hermes and Charon. Through the analysis of
ceramic vases, we will demonstrate his significance in Athenian democracy.
Key-words: Hermes; Death; Athens.

1. Hermes e o contexto funerário

As narrativas mitológicas possuem protagonismos diante do imaginário social2


helênico, influenciando na construção de representatividades durante o desenvolvimento
das sociedades da Grécia Antiga. É sob essa perspectiva que destacamos Hermes 3. Uma
divindade complexa, com distintas atribuições, estando presente em diversos contextos
mitológicos. Nos séculos anteriores, Hermes aparece inicialmente como um deus agrário,
protetor de pastores e dos rebanhos e, por este motivo, por vezes era representado
juntamente com a figura de carneiros e possuía o epíteto de crióforo4 (BRANDÃO, 1987

1
Este trabalho foi resultado da pesquisa desenvolvido na disciplina de graduação História Antiga
ministrada pela Profa. Dra. Maria Regina Candido.
2
Para o historiador polonês Bronislaw Baczko (1985, p. 296-332), imaginário social pode ser
compreendido como um conjunto de representações coletivas ligadas ao poder.
3
Filho de Zeus e Maia (GRIMAL, 2005, p. 223).
4
Por ter sido considerado um deus agrário, dos rebanhos e pastores nômades indo-europeus, muitas vezes
teve sua imagem representada com a figura de um carneiro nos ombros (BRANDÃO, 1987, p. 192)
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p. 192). Ao longo do tempo, passou a ser representado também, nos Hinos Homéricos a
Hermes, como deus da prudência e habilidade, deus da trapaça, deus do comércio,
guardião das estradas e dos viajantes, além de patrono dos jogos olímpicos, entre outros.
A partir do mito de nascimento relatado nos Hinos Homéricos a Hermes,
compreendesse a justificativa para que as funções atribuídas ao deus fossem sendo cada
vez mais ampliadas pelos gregos que, a princípio, parecem desconexas, no entanto,
quando relacionadas, notamos que a comunicação é a função básica exercida pelo filho
de Zeus. O uso da palavra, mais especificamente da capacidade de convencimento a partir
das palavras ditas como visto, por exemplo, no mito ao roubar o rebanho de seu irmão
Apolo e negar veementemente até seu irmão acreditar que era inocente, de acordo com o
mito, justifica o porquê de ser considerado o deus protetor dos ladrões (FUENTE, 2009,
p. 3), ou seja, por conta da sua habilidade de dialogar e convencer. Suas funções
abarcaram as ordens específicas de Zeus, o que resultou em diversos episódios
mitológicos em que o se viu não só a proteção, mas o diálogo do deus com os homens.
A ideia de Hermes ser considerado o arauto e mensageiro dos deuses, de transitar
de um lugar ao outro e estabelecer acordos, nos leva a pensar nessa conexão necessária
com o homem, isto é, de amigo do homem, como ordena Zeus num trecho homérico
“Hermes, tua mais agradável tarefa é ser o companheiro do homem; ouves a quem te
estimas.” (HOMERO. Odisseia. VIII, 335), a partir da citação, entendemos o que
explicaria sua capacidade de guia. Outro ponto seria a incrível velocidade que alcançava
ao andar, por portar sandálias douradas com asas, além do seu conhecimento dos
caminhos entre o mundo superior e inferior. Seria por este motivo que se tornara
mensageiro preferido dos deuses, inclusive de Hades e Perséfone.
Sob essa perspectiva, analisaremos o deus Hermes a partir de vasos áticos do
Período Clássico, o qual, inclusive, cotejaremos com o documento “Libation Bearers”,
uma tragédia de Ésquilo, desse modo, construindo o debate de maneira a identificar não
só o contexto social de produção, sobretudo, as diversas representações de Hermes na
comunidade ateniense. Partiremos da principal função de Hermes, atribuída tardiamente,
sendo a divindade, psicopompo, ou seja, de guia das almas. A nossa pesquisa partirá do
vaso ático terracota bellkrater, produzido no Período Clássico, inserido no nosso recorte
temporal, de 480 a. C. 440 a. C. Após a leitura imagética, identificamos Hermes com um
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petasos5, na mão esquerda ele carrega o kerykeion6 e sandálias aladas, enquanto Deméter7,
em pé do lado direito, está aguardando o retorno de sua filha Perséfone8 que emerge do
mundo subterrâneo, sendo guiada por Hermes e Hécate. Bem como encontrado no
segundo documento imagético, um vaso estilo lekythos, também da região ática, datado
de 450 a. C. onde Hermes faz o caminho reverso e é o condutor de uma alma do morto
até Caronte8, que se encontra no barco que leva dos mortos.

Figura 1: Cerâmica grega produzida na região Ática no séc. V a.C.

Localização: Metropolitan Museum of Art.

Deste modo, no Período Clássico, entre 480 a. C. a 440 a. C., a figura de Hermes
surge como uma divindade que auxilia a passagem da alma do morto ao Hades, como é
possível identificar na corpora de vasos que trabalharemos. Outra relevante mudança está
na iconografia de Hermes, como já mencionado, nos documentos textuais já citados, é
possível identificar também em vasos produzidos nos períodos anteriores onde o deus é
representado como um homem maduro, barbado e de cabelos longos, enquanto a partir
do século V a. C., Hermes é representado como um jovem efebo já dotado dos atributos

5
Chapéu de abas largas.
6
Bastão de arauto, mais tardiamente chamado de caduceu.
7
Deusa da terra, filha de Crono e Reia (GRIMAL, 2005, p. 114).
8
Deusa do submundo, companheira de Hades, é filha de Zeus e Deméter (GRIMAL, 2005, p. 369)
8
Barqueiro de Hades. É o condutor da alma dos mortos através dos pântanos de Aqueronte com o seu
barco fúnebre (GRIMAL, 2005, p. 76)
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de arauto dos deuses. O que nos leva a nossa problemática: por que a sociedade ateniense
passa a utilizar a figura de Hermes como o deus de passagem, antes atribuído unicamente
aos deuses Hypnos e Thanatos? E por que essa mudança na iconografia do deus
psicopompo e sua importância nos ritos fúnebres no recorte temporal 480 a. C. a 440 a.
C.?

Figura 2: Cerâmica grega produzida na região Ática no séc. V a.C.

Localização: Museu Metropolitano de Artes de Nova York.

A divindade Hermes deixa transparecer que integra o imaginário social dos


atenienses ao qual cotejarmos com conceito de memória trabalhado pelo sociólogo
Michael Pollak, que permite explicar a motivação da permanência de Hermes no
imaginário social da sociedade grega antiga, como também e, principalmente, como se
deu essa transformação na representatividade. Sob essa égide, justificaremos a
necessidade de retornarmos ao Período Homérico e reconstruir a trajetória utilizada pela
sociedade helênica para encontrar o ponto de conexão com o período do nosso recorte
temporal que esclareça essa mudança. Uma vez que a memória, caracterizada por Pollak,
é um fenômeno coletivo e social com capacidade de ser submetida a mudanças e
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transformações constantes, nos leva a refletir sobre como essa memória pode ser utilizada
na construção de um imaginário social numa sociedade, sob quais demandas ou objetivos
essa memória pode ser instrumentalizada. Outro ponto é o que destaca o sociólogo ao
ressaltar que, dada a essa flutuação da memória, no coletivo, a maioria das memórias
possuem marcos ou pontos específicos e invariantes, logo, nos leva a pensar em um ponto
da história para construir a nossa análise (POLLAK, 1992, p. 200-201). A partir dessa
premissa, de memória como mediadora na História, traremos a reflexão de como o deus
que, na época arcaica, era representado como os demais deuses olímpicos e, após alguns
séculos, têm sua figura com poderes e significados ampliados principalmente no que se
refere a morte e ritos fúnebres.
Desde os séculos anteriores, os gregos possuíam a crença de que ao morrerem
seguiam em direção ao mundo de Hades, no entanto, consoante Maria Regina Cândido, a
análise sobre as mudanças nos mitos e ritos fúnebres, percebe-se as especificidades na
sociedade ateniense do Período Clássico, como, por exemplo, a figura do morto ser
representada nos vasos lekythos brancos (CANDIDO, 2020, p. 81-82). De acordo com
Bruno dos Santos Menegatti, a presença dos vasos cerâmicos desde os banquetes aos
rituais fúnebres, preservam a continuidade da importância do tema da morte. Além da
evolução estética, para Menegatti, o principal motivo da ascensão do lekythos de fundo
branco são as condições especiais pelas quais a democracia ateniense foi submetida desde
meados do século VI a. C. com as reformas promovidas por Clístenes 9 (MENEGATTI,
2020, p 20). Deste modo, já se pode observar o rumo que se dará às contradições do século
V a. C. entre a aristocracia e os cidadãos atenienses.
No contexto da Atenas Clássica, conforme Maria Regina Cândido, nota-se que
nos discursos da dramaturgia ateniense, diante de novas questões de coletividade, a
comunidade políade passou a valorizar o ideal da bela morte10, no caso da morte do
cidadão em defesa da polis, os deuses que os recepcionavam no pós-morte eram os irmãos

9
Considerado um dos pais da democracia, Clístenes foi um importante político da Grécia Antiga e que
levou adiante as reformas promovidas por Sólon, além de ter liderado uma revolta popular e promoveu a
reforma na constituição de Atenas em 508 a. C.
10
Conceito cunhado por Maria Regina Candido, definido como a valorização do guerreiro que morria em
defesa da pólis (CANDIDO, 2019 passim, apud (LIMA & BRAZ, 2022, p.17) 11O termo refere-se às
divindades e deuses do submundo.
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Hypnos e Thanatos (CANDIDO, 2020, p. 83). Em concordância, Albertino da Silva Lima


e Bruno de Cerqueira Braz corroboram no nosso debate ao afirmarem que a complexa
cosmovisão dos gregos respeito da morte e, consequentemente dos ritos, fora construída
a partir das ações humanas padronizadas atingindo um discurso simbólico que revelam a
“importância da representatividade que os deuses ctônicos”11 e que essa padronização nos
ritos fúnebres correspondia a uma parte específica dos cidadãos, dado que as divindades
como Thanatos e Hypnos recepcionavam, exclusivamente, ao segmento social dos
hoplitas relacionado à ideia de bela morte (LIMA & BRAZ, 2022, p. 17-18).
É partir dos desdobramentos da guerra Greco-Pérsica, que teve seu início por volta do
século VI a.C. e terminou em 449 a.C., teve seu auge na Batalha de Salamina, quando a
marinha ateniense, composta pelos Thetai, conseguiu a retirada dos Persas do seu
território, é que se faz possível notar a mudança iconográfica de Hermes. Durante os mais
de 20 anos de guerra, milhares de pessoas foram mortas e todo esse movimento implicou
em uma mudança com relação à morte. No ideal de bela morte, já citado, os guerreiros
que morriam defendendo a pólis eram recebidos pelos irmãos Hypnos e Thanatos,
seguindo para a sua morada no Hades, após o corpo do falecido receber honras fúnebres,
sendo sepultados em cerimônias públicas. Todo esse processo, representam uma visão
aristocrática sobre a morte. No entanto, é justamente quando as milhares de mortes,
devido à guerra, passam a exigir um rápido sepultamento, que esta visão passa a ganhar
um caráter popular através das figuras de Hermes e Caronte. (LIMA & BRAZ, 2022, p.
18).
Através das representações dos vasos lekythos brancos, que possuíam como
funcionalidade o armazenamento de óleos perfumados manipulado para cuidados
corporais, que emerge a partir do século V a.C., em contraponto aos vasos lekythos de
figuras negras que eram utilizados para misturar vinho e água em banquetes e rituais
fúnebres, como afirma Ulpiano Bezerra de Menezes (MENEZES, 1983, p. 95), é possível
atestar a transformação da visão sobre a morte devido à presença de Hermes e Caronte. O
barqueiro Caronte, responsável pelo transporte das almas para o reino de Hades é
representado, a partir do século V a.C., com diversas semelhanças à imagem dos cidadãos
Tethai, ou seja, da classe emergente da Grécia Clássica, afastando-se do ideal de bela
morte dos hoplitas e adequando-se às necessidades fúnebres dos cidadãos comuns (LIMA
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& BRAZ, 2022, p. 25). E o deus Hermes atua como psicopompo, guiando as almas dos
mortos. Como já citado, Hermes também é considerado o deus do comércio e mensageiro,
o que caracteriza sua proximidade com os povos emergentes e a ligação entre o mundo
superior e o submundo, por isso sua aparição nos lécitos brancos, que representam as
mudanças democráticas na Grécia.
Hermes simbolizava a política ateniense de expansão, símbolo da democracia. Foi
assim que se tornou a divindade protetora da democracia e da marinha ateniense, bem
como todos aqueles que estavam intimamente ligados à democracia ateniense, um deus
que era um elo entre homens e deuses. A sua presença no vaso atesta isto (RADULOVI
& SMIRNOVBRKI, 2015, p. 53-54). O culto a Hermes é atestado desde o Período do
Bronze, porém, durante o Período Clássico, Hermes tornou-se parente de viajantes e
marinheiros. O deus é provavelmente uma divindade pré-helênica e ctônico como Hécate,
Demeter e Perséfone, pois ele desempenha um papel mediador entre o mundo superior e
o mundo inferior.

2. O “lugar antropológico” de Hermes

Seguindo o conceito de lugar antropológico de Marc Augé, “os espaços


antropológicos são todos aqueles que apresentam fortes vínculos sociais e culturais
constituindo-se em espaços existenciais, de profunda relação do indivíduo com o mundo
que o cerca.” (AUGE, 2017, 33). De acordo com a proposta do autor a ser trabalhada no
projeto, faremos uma correlação do deus com o conceito apresentado pelo autor em sua
obra Não-lugares (2017), buscando apresentar o lugar antropológico11 de Hermes que
está correlacionado com suas funções de Psicopompo. Com as informações obtidas da
documentação trabalhada em nosso artigo, podemos concluir que o deus Hermes tem uma
relação de poder com o Hades, mundo dos mortos, sendo o deus que faz a ponte entre o
mundo dos vivos e dos mortos. O deus tem como sua função de psicopompo, guiar as
almas dos mortos para o Caronte, que por sua vez leva a alma para o Hades. Com uma

11
Segundo Marc Augé (2017, p. 100), à noção de "lugar antropológico". O lugar oferece a todos um
espaço que eles incorporam à sua identidade, no qual podem conhecer outras pessoas com quem
compartilham referências sociais.
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divergência entre seus domínios, já que o deus está sempre entre os dois mundos,
podemos afirmar que como resultado de uma confluência entre o conceito e a
representação grega acerca do deus, podemos concluir que o Lugar antropológico de
Hermes é justamente a ligação, a ponte de passagem criada pelo próprio deus, chamados
caminhos de transição ou lugares de passagem.

3. Metodologia de análise da documentação

A partir da análise feita sob a documentação, de acordo com a metodologia de


análise de imagens proposta por Martine Joly12, com a observação dos vasos lekythos13,
da região Ática, produzidos durante o Período Clássico, poderemos obter informações
sobre o contexto histórico vivenciado pela sociedade helena durante o período. Através
do método de Joly, teremos a possibilidade de analisar de forma precisa a cultura material.
A análise das cerâmicas áticas, em diálogo com o conceito de Lugar antropológico,
presente na obra de Marc Augé14, Não-lugares (2007) ajudará na busca pelo
desenvolvimento dos objetivos da pesquisa. Utilizando os dois autores buscamos fazer
uma confluência que permitirá analisar com melhor eficiência o deus e seu papel social.
Utilizando-nos da metodologia proposta, poderemos retirar informações dos documentos
imagéticos, como, o tipo de vestimenta utilizada pelo objeto analisado, assim, podemos
esmiuçar o lugar antropológico de Hermes.
Usaremos a distinção entre os lekythos de fundo branco e lekythos de fundo negro
que nos auxiliarão a esclarecer as transformações democráticas que aconteceram devido
à guerra greco-pérsicas. Os diferentes estilos de produção da mesma cerâmica trazem à
tona um debate sobre o motivo dos diferentes materiais utilizados para sua produção.
Segundo Haiganuch Sarian, os lekythos eram conhecidos por seu nome genérico em
grego, λήκυθος, que designava un recipiente para conter óleo, usados para a unção dos
corpos em ritos fúnebres. O autor defende a hipótese de que este tipo de cerâmica passou,
a partir de 450 a.C., a ser pintada de branco com o intuito de fazer uma relação com as

12
Doutora em ciências da informação e comunicação, professora e pesquisadora da Bordeaux Montaigne
University.
13
Cerâmica grega utilizada para armazenar óleos.
14
Etnólogo e antropólogo francês, criador do conceito de “não-lugar”.
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estelas funerárias, e sobre estas camadas brancas eram pintadas figuras vermelhas que
retratavam cenas relacionadas ao mundo dos mortos.
No entanto, Francisco P. Diez de Velasco Abellán sugere que os vasos lécitos de
fundo brancos são uma “acomodação até a facilidade de realizar um trabalho em série
(acostumados a pintar cenas de visitas ao túmulo, esses mestres limitam a introduzir
Charon em um canto da imagem sem se preocupar em alguns casos em modificar a
configuração cênica apesar da incongruência formal)” (ABELLÁN, 2006, p. 51). Além
disso, o branco era uma cor conveniente de luto, mas de pouca durabilidade em sua
superfície e de menos esforço, por isso tinha um preço adequado. Ademais, através da
presença de Caronte, assume-se que a morte tem sua visão transformada, pois o barqueiro
está sempre representado através de vestimentas utilizadas pelos marinheiros com pose e
trabalho que lembram um remador ateniense, como aqueles que determinam a vitória
sobre os persas em Salamina e deus a Atenas seu poder naval, sua prosperidade, seu
império e sua democracia consolidada.
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Referente: Título: “Terracotta Bell-krater


(bowl for mixing wine and water)”
Localização: Museu
Metropolitano de Artes de Nova
York.
Inventário: Inv. nº 28.57.23
Procedência: Grécia, Ática.
Função social: Misturar água e
vinho para banquetes e rituais
fúnebres.
Data: 440 a.C.
Pintor: Persephone Paint.
Material: Cerâmica/terracota.

Signo plástico: Forma: Sino invertido, duas alças


curtas, boca larga e fundo curto.
Estilo: Cerâmica ática com figuras
rubras.
Tamanho: A. 41cm; boca 45.4cm

Ancoragem: Inscrição Persephata, Hermes,


Hekate e Deméter.

Signo figurativo: A imagem apresenta a figura de


quatro personagens, sendo três
mulheres e um homem.

Significantes Significado de prim. Conotação de seg. Conotação de seg.


icônicos nível nível (1) nível (2)

Objeto Redondo grande, recipiente Recipiente de cerâmica Recipiente de cerâmica


de cerâmica usado para estilo Bell-krater usado estilo Bell-krater usado para
armazenar líquido. para fazer misturas de fazer misturas de vinho e
Vaso vinho e água. água em banquetes e rituais
fúnebres, celebração do
ritual dos mistérios de
Eleusis.

Centro Mulher madura, utilizando Mulher madura utilizando Hécate participando de uma
uma capa com abertura Peplos, em posição de cerimônia de ritualização,
lateral e longo, plissado, em caminhar para a direita e ânodos de Persephone
Mulher com duas tochas
posição de caminhar para a olhar para a esquerda, guiada por archotes acesos.
direita e olhar para a portando duas varas
esquerda. semelhantes a tochas.
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Esquerda Homem com olhar frontal, Homem permanece ao lado Hermes utilizando um
utilizando um chapéu de três da figura feminina, petasos, portando em sua
pontas, clâmide sobre chilton portando um kerykeion, mão esquerda seu kerykeion
Homem de pé de olhar
frontal e mulher de perfil. curto, portando um sandálias aladas e seu e sandálias aladas. Atua
instrumento na mão chapéu de três pontas. como psicopompo ao trazer
esquerda. Perséfone do Hades.

Esquerda Mulher de perfil, com seu Mulher utilizando tiara, Perséfone emergindo do
cabelo preso, emergindo de vestindo himation plissado Hades, sendo guiada por
uma fenda. e chiton longo emergindo Hermes e Hécate.
Mulher de perfil,
ajoelhada. de uma fenda.

Direita Mulher madura em pé com Mulher observando a cena Demeter aguardando o


corpo de maneira frontal e que acontece ao lado retorno de sua filha
cabeça voltada para a esquerdo, segurando um Perséfone ao mundo dos
Mulher em pé olhando
para a esquerda. esquerda, vestindo um bastão. vivos.
himation plissado.

Referente: Título: “Terracotta lekythos


(oil frask)”
Localização: Museu
Metropolitano de Artes de
Nova York.
Inventário: Inv. nº 25.78.2
Procedência: Grécia, Ática.
Função social: Armazenar
óleos corporais perfumados,
utilizados em ritos fúnebres.
Data: 470 a.C.
Pintor: Tithonos Paint.
Material: Cerâmica/terracota.

Signo plástico: Forma: Cilíndrico, delgado,


alça única e pescoço fino.
Estilo: Cerâmica ática de
figuras vermelhas.
Tamanho: A. 34cm; L.
11.4cm; pé 8.3cm; boca 7.8cm

Ancoragem: Inscrição Hermes

Signo figurativo: Figura masculina, de perfil


para a direita, movendo-se.
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Significante icônico Significado de prim. Conotação de seg. Conotação de seg. nível


nível nível (1) (2)
Objeto Cilindro grande, recipiente Cilindro grande, recipiente Vaso lekythos usado para
usado para armazenar de cerâmica vermelha usado armazenar azeite ou óleo
óleos. para armazenar óleos. perfumado, manipulado para
Vaso
cuidados corporais.
Centro Homem de perfil voltado à Homem de perfil voltado à Hermes de perfil voltado à
direita. direita, com barba, vestido direita, vestindo uma capa
com roupas de viagem. curta, denominada Chlamys,
Homem
chapéu, sandálias aladas e
cajado de arauto.

Centro Cajado longo em posição


Cajado longo em posição Cajado de kerykeion, símbolo
horizontal.
horizontal com terminação de Hermes, utilizado para
Mão esquerda em cobras entrelaçadas. guiar o caminho dos mortos.

Centro Sandálias com asas. Sandália alada forjada


Sandália alada forjada por
por Hefesto.
Hefesto. Utilizada pelo deus
Sandália mensageiro Hermes.

Centro Capa curta de lã utilizada


Capa curta, denominada
por viajantes. Capa curta de lã utilizada pelo
Chlamys, utilizada por
deus mensageiro Hermes.
Capa Hermes.

Centro Chapéu, utilizado pelo deus


Chapéu de palha ou feltro Chapéu de palha ou feltro
mensageiro Hermes,
utilizada por viajantes. utilizado por Hermes.
Chapéu denominado de Pétaso.

Referências:
Documental:
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Harvard University Press, 1926.
HOMERO. Odisséia. Tradução: Manoel Odorico Mendes. São Paulo: Editora Atenas,
2009.
HOMERO. Himnos Homéricos la “batracomiomaquia”. Tradução: Alberto Bernabé
Pajares. Spaña: Editorial Gredos, S. A., 1978.

Bibliográfica:
ISSN 1519-6917

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iconografia del paso al más allá em la Grecia Antigua. Madrid: Editorial Trotta,
1995.
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São Paulo: Papirus Editora. 2017.
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Clássico. PHOÎNIX, 26-2: Rio de Janeiro: 2020, 81-94.
FUENTE, Maria Amparo Arroyo. Iconografía de Hermes en el Arte Clásico. Liceus. Portal
de Humanidades, 2009.
JOLY, Martine. Introdução à Análise de Imagem. Lisboa: Edições 70, 1996.
LIMA, Albertino da Silva; BRAZ, Bruno Cerqueira. A Visão sobre a Morte e a
Representatividade de Caronte na Atenas Clássica. Philía, n° 66. Rio de Janeiro:
NEA/UERJ, 2021.
MENEGATTI, Bruno dos Santos. A cultura visual do mundo dos mortos na cerâmica ática
do século v a. C. Rio de Janeiro: GAÎA: vol. 11, n. 1, 2020.
MENEZES, Ulpiano Toledo Bezerra de. A cultura material no estudo das sociedades antigas.
Revista de História, n. 115, 1983, p. 103-117.
POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro: vol.
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RADULOVIĆ, IFIGENIJA., VUKADINOVIĆ, SNEŽANA., & SMIRNOV‐BRKIĆ,
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Portugal: Ágora. Estudos Clássicos em Debate. Vol.., núm.17, pp.45-62.
SARIAN, Haiganuch. Morte e sono na arte grega: notas de iconografia funerária. Revista
Brasileira de Estudos Clássicos, 1994-1995. São Paulo: Clássica: vol. 7-8, n. 1. p. 65.

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