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A tragédia grega

Conceção de trágico n’ Os Persas, de Ésquilo

Fig. 1 – Busto de Ésquilo

Discente: Luís Machado


Número: 54929
Docente: Leonor Santa Bárbara
Unidade curricular: Cultura Clássica Grega
2º Ano – Estudos Portugueses – Ano letivo 2018/2019
Índice

Conteúdo
1- Introdução................................................................................... 3
2- Origem da Tragédia ..................................................................... 4
3- O que é a Tragédia? ..................................................................... 4
4- Tragédia: “Os Persas” .................................................................. 5
4.1- O sonho da rainha Atossa .............................................................. 6
4.2- A hybris do rei Xerxes .................................................................... 6
5- Conclusão .................................................................................... 8
6- Bibliografia .................................................................................. 9
1- Introdução

Este trabalho intitulado de “A tragédia grega – Conceção de trágico n’ Os Persas, de


Ésquilo” tem como principal objetivo abordar as características da tragédia de Ésquilo,
e as questões advenientes das mesmas. Não só tentarei dar a conhecer um pouco da
origem da Tragédia, como género, mas também, ir enriquecendo o trabalho com factos
adquiridos através de pesquisas feitas para a elaboração deste trabalho. Irei enfatizar
alguns aspectos que considerei de maior relevo, como por exemplo a hybris de Xerxes,
este que é o grande tema da obra.

Os Persas é a tragédia mais vetusta que se conhece na integra, com a peculiaridade de


que, ao contrário do habitual, em vez de relatar episódios mitológicos, relata
acontecimentos contemporâneos a Ésquilo, pois a ação entrecorre na Pérsia, durante as
batalhas de Salamina, no ano 480 a. C. (século V a.C.), onde o próprio autor atuou como
soldado grego. Este fato, também é curioso, pois Ésquilo sendo grego relata e descreve
o lado dos inimigos. Os vencidos persas.

Penso, que esta obra tem o intuito de passar alguns valores morais, como a moderação,
a humanidade e a ética, pois a carência destes, no rei Xerxes, trouxeram consequências
graves e culminaram na derrota da batalha. Contudo, o dramaturgo revela alguma
compaixão e misericórdia pelos vencidos na sua tragédia.
2- Origem da Tragédia

Como inicio do tema, penso que seja importante descortinar a palavra “tragédia”.
Esta, deriva do grego tragos + odé, que significa: canto dos bodes. A razão é por os
atores cobrirem-se com peles de cabra durante as festas de tributo ao deus Dionísio,
em Atenas, sacrificando um bode ao som de cantares desempenhados por um corifeu
acompanhado por um coro. Ao longo dos tempos, os cantares começaram a ser cada
vez mais aprimorados, ao começar a serem representados.

Ao existir uma data que remonta ao nascimento da tragédia como género do teatro,
essa é 534 a. C., quando o corifeu Téspis, primeiro dramaturgo conhecido, encarnou a
personagem do deus Dionísio, acrescentando diálogo com o coro aos cantares.
Começou-se então a utilizar vestes pomposas e distintas, e máscaras em cera para
representar figuras mitológicas. E assim, nasceu a essência do teatro trágico.

3- O que é a Tragédia?

De uma forma sintetizada e explicita, a tragédia é caracterizada por uma certa


seriedade, onde é utilizada um tipo de linguagem eloquente, expressiva e persuasiva, e
onde existe uma dualidade e um cotejo constante entre a vontade humana e a
vontade divina, ou seja, os deuses controlam e decidem o fado das personagens. Este
género, tem como objetivo suscitar o terror, a piedade e o sofrimento do herói e das
restantes personagens, ao longo do percurso de vida e do destino dos mesmos.

Aristóteles, definiu na sua obra “Poética” o conceito de poética como sendo a imitação
de uma ação de caráter elevado, não de uma forma narrativa, mas sim, através da
ação, tendo como efeito a purificação e a catarse de emoções, como a piedade e o
terror, já anteriormente mencionados. A tragédia aproxima-se da epopeia, pois, ambas
têm uma narração de carácter elevado, labutam temas idênticos, e focam-se em
mitos. Respeitando sempre o espaço, o tempo e a ação. A ação trágica concentra-se
somente num episódio de um mito e num só lugar.
Este género, tem o propósito de doutrinar civicamente, ou seja, pretende abordar
temas sociais e desencadear reflexão aos espectadores sobre os problemas da
comunidade. Não poderia deixar de ter, uma componente religiosa, visto que as
divindades interagem e condenam as personagens.

Para o filósofo, o herói trágico tem de ser se um carácter elevado, pois o contrário faria
com que o espetador visse o castigo dos deuses como forma de justiça. Aristóteles
também apresenta dois aspectos fundamentais da tragédia, estes, a existência de
hybris e de hamartía. Respetivamente, é a presunção, o indecoro e a petulância para
com os deuses, e os erros de decisão das personagens. Ambas punidas.

Os temas das peças estão inerentemente conexos aos valores morais, intelectuais e
humanos. As obras trágicas são condicionadas e determinadas, enquanto forma, a
limites fixados de representação e a ideias vitais e à essência de cada autor. Por
exemplo, Ésquilo, Eurípedes e Sófocles, os grandes tágicos gregos, têm cada um a sua
forma diferente de construção da trama, por isso mesmo, cada tragédia é única.

4- Tragédia: “Os Persas”

Em jeito de contextualização, a tragédia “Os Persas” é datação no ado 472 a. C. (século


V a. C.), apenas 8 anos após as batalhas de Salamina, onde Ésquilo participou como
soldado. Através da vivência de guerra nasce a obra. Esta, é descrita como a mais
antiga das tragédias áticas conservadas na integra. Aqui assistimos a uma inovação,
por parte de Ésquilo, pois se por norma o enredo era composto por um ator em
diálogo com o público, em “Os Persas” existe dois atores, cada um representando duas
personagens. A obra resulta da reflexão do autor sobre o perigo de ameaça de perda
dos valores helénicos. Ao relatar factos históricos, segundo o seu ponto de vista,
Ésquilo, cria um mito com os deuses através do presságio de Atossa e da tentativa de
equiparação de Xerxes aos deuses.
4.1- O sonho da rainha Atossa

No primeiro episódio d’Os Persas, a rainha Atossa, mãe de Xerxes, descreve um sonho,
este como forma de presságio. Considerei importante destacar este sonho devido à
sua simbologia. Atossa descreve o voo de um falcão sobre uma águia, matando-a com
as suas garras. Na cultura grega, a águia é vista como a ave superior a todas as outras,
sendo o falcão uma ave inferior. Daqui, podemos fazer a analogia de que a águia
simboliza a Pérsia, ou até o rei Xerxes, devido não só à sua grandiosidade e imensidão
do exército, como por Xerxes ser conhecido pelo rei dos reis. O falcão simboliza a
Grécia. E assim como a ave inferior derrotou a superior, os gregos derrotaram os
persas. Mais tarde, com a chegada do mensageiro, confirma-se que o sonho da rainha
Atossa foi uma premonição.

O facto de também aparecer duas irmãs, uma vestida com vestes persas e outra com
vestes gregas simboliza a oposição, esta veio a ficar mais marcada pela atitude do rei
ao sujeitar ambas ao mesmo jugo, que acaba por ser aceite pela persa e rejeitado com
violência pela personagem grega. Este sonho acaba por revelar muito do que vai
acontecer na história, não só o argumento da tragédia de Ésquilo, como a aparição do
especto do rei Dario, que lamenta as ações do filho.

A premonição é uma característica quase obrigatória nas tragédias gregas. No fundo é


a comunicação dos deuses com os homens que anuncia o que vai acontecer no futuro,
embora que por vezes não seja explícito.

4.2- A hybris do rei Xerxes

A hybris de Xerxes é o grande tema da tragédia, pois, trata-se da punição dos deuses
pela soberba e arrogância demonstradas pelo rei. O castigo deve-se ao facto de Xerxes,
não só querer se igualar a um deus como, também querer subjugar um, neste caso
Poseidon. O rei Xerxes ao lançar uma ponte sobre o estreito, que marca a fronteira
entre a Ásia e a Europa, descrito como “um jugo em seu pescoço”, metaforicamente
representa a ousadia de Xerxes que ultrapassa os limites humanos e como se quisesse
reprimir o deus dos mares, Poseidon. Pois o jugo representa a escravidão e a opressão.

Enquanto é evidenciada a hybris de Xerxes, o autor descreve o perfil nobre e honroso


do rei Dario, pai de Xerxes, já falecido, e dos gregos como protegidos dos deuses.
Podemos constatar, que nos versos da aparição do espectro de Dario, existe a alusão
da grandeza do império persa, tendo sido este o responsável. No fundo, Dario, gregos
e persas são honrados ao longo da tragédia, excetuando o rei Xerxes, pois é o único a
quem é apontado o erro, ou seja, a hamartía. O filho de Dario, ao ter uma ambição
desmedida e querendo mais do que aquilo que tinha direito, ultrapassou os limites das
divindades e desafiou Poseidon, acabando por ser castigado.
5- Conclusão

A partir d’Os Persas, Ésquilo evidencia e valoriza o sentido de “helenidade”. Contudo,


elevação e o exagero da mesma acaba por originar algo bárbaro, como podemos ver
na imagem de Xerxes. Penso que, o verdadeiro sentimento helénico é nos transmitido
pelo próprio autor, ao narrar a ação não se deixa influenciar pelo facto de ser grego e
pela vitória do seu povo sem humilhar o povo persa pela sua derrota.

A obra de Ésquilo, é importante para a história evolutiva da tragédia grega, pois é um


marco para o género devido às inovações que o autor trouxe para o mesmo. Os
modelos trágicos estão representados na hybris do rei Xerxes, na premonição da
rainha Atossa, e numa espécie de inveja divina revelando um certo temor de
esquecimento por parte dos homens em relação aos deuses A justiça divina vai sendo
revelada gradualmente no desenvolvimento da trama, culminado na condenação a
Xerxes. Importante de referir a importância do coro, não só nesta tragédia como
noutras, pois representa a voz da nação.

As mais diversas formas de arte grega, são importantes para a conceção e para a
compreensão da história e da cultura clássica grega. A vantagem da literatura, como
Os Persas, de Ésquilo, em relação à pintura ou à escultura, é por nos conseguir
transmitir de uma forma mais límpida e verídica os episódios históricos, apesar de por
vezes estes se encontrarem muito ligados a ficções e acontecimentos mitológicos.
6- Bibliografia

Obra retirada em:


http://www.revistas.fflch.usp.br/delete2/article/view/710/616

Informações retiradas em:


https://www.infopedia.pt/$tragedia
https://medium.com/@augustodefranco/em-os-persas-de-%C3%A9squilo-
32e5e8a56ae0
http://arte-hca.blogspot.com/2012/10/os-persas-de-esquilo.html
http://www.letras.ufrj.br/pgclassicas/files/upload/2011-NOGUEIRArICARDO.pdf
http://www4.crb.ucp.pt/biblioteca/mathesis/mat13/mathesis13_209.pdf
https://www.sabedoriapolitica.com.br/news/a-tragedia-na-poetica-de-aristoteles/
https://eg.uc.pt/bitstream/10316/79850/1/Linguagem%20e%20simbologia%20em%20
%C3%89squilo.pdf

Imagem retirada de:


https://edukavita.blogspot.com/2015/06/biografia-de-esquilo-tragedia-grega.html

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