Você está na página 1de 8

Resumo EC - Adriane

Tópico 1 - Convenções da Épica: o Proêmio e suas funções, epítetos, versos formulares, símiles

Proêmio é o nome dado aos primeiros versos do poema épico. Na Ilíada, são os 7 primeiros versos. Sua
função é de propor o tema, evocar a musa; na obra homérica, é o indício de uma prática religiosa.
Apresenta também o projeto poético da obra que prosseguirá. Na Ilíada, o único nome mencionado no
proêmio é o de Aquiles – o tema é a Ira de Aquiles, a primeira palavra do poema é justamente "ira". É
importante saber identificar um proêmio. Odisseu não está no proêmio da odisseia, porque essa começa in
medias res, ou seja, no meio da ação, com a telemaquia que é a história de seu filho Telêmaco.

Epíteto é uma expressão que, associado ao substantivo, o qualifica como uma alcunha, um apelido
ornamentando o nome e o distinguindo. O epíteto aparece logo após o nome da divindade, de personagens
da história. Na poesia homérica, muitas vezes o epíteto substitui o nome do personagem, ou seja, ao invés
de se referir a Aquiles se fala só o epíteto, como "filho de Tétis", "o melhor dos aqueus", e tal.

O verso formular existe para preencher a métrica, não oficialmente como um "tapa buraco", comumente
se utilizando da junção de nome e epíteto para fechar essa métrica. Tipo, escrever "Aquiles, Filho de
Tétis" como o verso mesmo que repetitivo pra poder seguir o jogo.

Por fim, os símiles são figuras de linguagem muito presentes na poesia épica que fazem comparações
utilizando conjunções: forte como um leão, bonito como um pôr do sol…

Tópico 2 - Aedos: a representação do Aedo na Odisseia e na Eneida

Importante saber o nome dos Aedos nos poemas.

Na Odisséia - poema que narra as aventuras e vicissitudes do herói Odisseu em seu retorno para
Ítaca, sua terra natal -, é significativa a presença dos cantores de corte. Logo nos versos 150-5 do
canto I, aparece o aedo Fêmio da corte de Odisseu, alegrando os pretendentes, ao cantar e tocar
cítara . Em seguida, nos versos 267-71 do canto III, o poeta cita um aedo anônimo que o rei
Agamêmnon encarregara de zelar por Clitemnestra, quando partira para Tróia. Outro aedo
anônimo é referido nos versos 17-8 do canto IV, pertencendo à corte de Menelau. Nos versos
38-47 do referido canto IV, surge o aedo Demódoco, chamado para deleitar os ouvintes com seu
canto divinal. Por último, a partir do verso 16 do canto IX até o final do canto XII, o próprio
protagonista Odisseu é apresentado desempenhando a função de aedo, quando passa a narrar suas
próprias aventuras. De todos esses, os mais importantes são Fêmio e Demódoco, já que, além de
serem denominados aedos, têm os seus cantos registrados no poema, como comprovam os versos
325-7 do canto I e os versos 485-521 do canto VIII, respectivamente.

Na Eneida há o aedo Iopas, que canta no banquete realizado por Dido para Eneias. Mas na
Eneida, o aedo é uma simulação, pois o poema já tem uma carga autoral por parte de Virgílio,
então o aedo tem uma função diferente da que tinha na Ilíada e na Odisseia. Ele também é
representado para mostrar a função social do aedo (assim como Fêmio e Demódoco na Odisseia)
e para introduzir a poesia didática na corte de Dido.

Tópico 3 - O herói épico na Ilíada (Aquiles), Odisseia (Odisseu) e Eneida (Eneias)

SOBRE HEROÍSMO - TRÊS EXEMPLOS DE RESPOSTA NA PROVA DE 2018

Características, objetivos, divindades relacionadas, como se dá a Kleos para cada um.

Aquiles:

Destinado a vida breve: quer morrer jovem e gloriosamente, sonha com a Kleos, a glória
na guerra. Não é o protagonista do seu poema, que se chama Ilíada pela cidade de Ílion, em
Troia. O tema do poema é sua ira, iniciada durante o conflito entre gregos que se dá entre si
mesmo e Agamenon após a situação de Briseida e Criseida, que eram escravas espólios de guerra
(prêmios/geras). Obedece o código de honra/time em seu conflito. É um HERÓI, o melhor de
todos os guerreiros, filho da deusa marinha Tétis e do mortal Peleu. A soberba de Aquiles em
toda a guerra contrasta com a sobriedade de Heitor, do lado dos troianos, que não busca glória
mas sim luta pela segurança de sua cidade e de sua família. A ira de Aquiles só é consumada
após sua reconciliação com Agamenon e a morte de Heitor, terminando com seu funeral. O
poema não trata da origem da guerra ou da força de Aquiles, e nem de seu fim ou da morte do
herói.

Quando Aquiles está irado com Agamenon, no início do poema, pede para que Zeus
favoreça os Troianos, para punir seu colega aqueu. Assim, Zeus interfere na guerra, manipulando
os sonhos de Agamenon. Hera está do lado dos aqueus, assim como Poseidon.

Odisseu:

Também chamado de Ulisses. Herói inteligente, guerreiro exemplar mas com a vantagem
da astúcia, utiliza de sua astúcia para resolver os problemas e situações perigosas em que se
encontra; por exemplo, idealizou o plano do Cavalo de Troia, que garantiu o sucesso na batalha
para o exército grego. É o Rei de Ítaca, casado com Penélope, com quem teve um filho chamado
Telêmaco. Em sua viagem de volta após os 10 anos de guerra, Odisseu e sua tripulação
enfrentaram tempestades terríveis, desembarcaram em terras cheias de perigos e tentações (dos
Cícones, dos comedores de lótus, na ilha dos Ciclopes). Na ilha dos Ciclopes são capturados por
Polifemo, filho de Poseidon, que começa a devorá-los. Odisseu usa de sua astúcia para
embebedar o ciclope, cegá-lo e enganá-lo ao dizer que seu nome era "Ninguém". A jornada
seguiu turbulenta, com mais perdas, eventualmente chegando na ilha de Eéia, onde vivia Circe,
com quem Odisseu chegou a viver um romance em meio às situações complexas vividas ali.
Odisseu também se envolve romanticamente com Calipso, com quem tem mais filhos. Enquanto
isso, Penélope o aguardava, enrolando seus cortejadores, e seu filho Telêmaco também
preocupado saiu em busca do pai em alto mar. Quando Odisseu finalmente retorna, com a ajuda
de Zeus, massacra os pretendentes de Penélope com a ajuda de Atena e se reencontra com
Penélope, ao lado dela reinando em paz subsequentemente.

Odisseu tem uma obsessão menor pela kleos do que Aquiles tinha, diferenciando o teor
das duas obras Homéricas. Sendo mais inteligente, ele preza mais pelo bem estar de si mesmo,
de sua tripulação (na medida do possível) e de sua família, buscando também manter a honra de
seu nome, não completamente alheio ao fato que sua história será lembrada e cantada por todo o
futuro.

Eneias:

Eneias é um personagem que aparece na Ilíada homérica, mas se torna o personagem


principal da Eneida de Virgílio, que busca contar uma história no nível da Épica de Homero e de
retraçar as origens do povo romano, a partir de seu antepassado comum, Eneias. Eneias era um
guerreiro troiano, o mais valoroso depois de Heitor. Era favorecido pelos deuses, que o ajudavam
nas batalhas, como por exemplo Afrodite, sua mãe. Quando enfrentou Aquiles no campo de
batalha, foi Poseidon que o livrou da morte.

Após a queda de Troia, Afrodite o aconselha sair da cidade com sua família, para que
revivesse a glória Troiana em outras terras. A Eneida narra essa jornada, em que o herói busca
pela terra onde pode começar uma nova cidade sob seu controle. Há varias tentativas e erros,
com Eneias se reencontrando com os deuses e com oráculos para buscar conselhos e alertas
sobre suas movimentações. Finalmente, chega em Cartago, onde se torna amante de Dido, rainha
e fundadora dessa cidade africana, com a influência de Hera e Afrodite. É a partir desse
momento que a história da Eneida é contada no presente, com os cantos anteriores sendo Eneias
narrando sua história para Dido no passado. Dido se apaixona por ele, mas Eneias não se deixa
submeter por Dido, sabendo de seu destino de fundar sua própria cidade, sem influência dos
gregos. Eneias vai embora e Dido se suicida. Eventualmente, Eneias para na Itália, e seus
descendentes fundarão Roma, na figura de Rômulo e Remo.

Na Eneida, Eneias é escrito como um guerreiro que está no nível de Aquiles e Odisseu,
igualmente heróico e astuto. Sobrevive a Guerra de Tróia e utiliza de suas habilidades e da ajuda
dos deuses para cumprir seu propósito na Terra, assim inspirando histórias e lendas e sendo
responsável pela ascensão do Império Romano. Sua kleos é obtida por meio dessa jornada, em
que prova sua obediência aos conselhos dos deuses e sua competência perante os desafios que
surgem na jornada.

Tópico 4 - Ilíada I: Código Heróico (prêmios/geras, senso de honra/time, busca pela


glória/kléos)
SOBRE HEROÍSMO - TRÊS EXEMPLOS DE RESPOSTA NA PROVA DE 2018

No canto I da Ilíada somos introduzidos a todos estes conceitos, e ao início da Ira de Aquiles; no
décimo ano da Guerra de Tróia, começou o desentendimento entre ele e Agamenon.

prêmio/geras - são os espólios da guerra, significam status, poder. No primeiro canto, são
exemplificados por Briseida e Criseida, duas mulheres que se tornam escravas após serem
capturadas em uma batalha na guerra.

Senso de Honra/time - é o código de honra sob o qual todos os heróis operam, é central em todo
o poema e guia muitas das ações conduzidas tanto por Aquiles e os aqueus quanto pelo lado
troiano, com Heitor.

Glória/kleos - após conquistar os geras, e tendo respeitado o time, vem a excelência (areté) e
enfim os heróis têm a KLEOS, grande meta de Aquiles, que é a glória. Esta é consolidada pelo
canto dos poetas/aedos, e portanto a Ilíada é a comprovação da Kleos de Aquiles. Ele tem o
desejo de morrer gloriosamente na guerra, liderando seu exército e se sacrificando pelo bem da
batalha.

Tópico 5 - Odisseia I: Proêmio e discurso de Zeus na assembleia dos deuses

Artigo "o Proêmio na Odisseia", no moodle:

"O proêmio da Odisséia, ao contrário do da Ilíada, sempre se colocou como um desafio aos
críticos. Seus dez versos, ao invés de se beneficiarem do fato de superaram numericamente os
sete da Ilíada - permitindo, em tese, um maior esclarecimento -, parecem se tornar ainda mais
obscuros em sua intenção de nos "orientar" sobre a narrativa. Por que fazer referência apenas às
viagens de Odisseu, que correspondem a um terço do poema (cantos 5-12), e dar tanta ênfase à
ação desastrosa dos seus companheiros, que devoraram o gado do Sol, um episódio cujo grau de
importância na narrativa não pode ser comprado, por exemplo, ao daqueles envolvendo os atos
soberbos dos pretendentes? Por que a formulação "viu cidades de muitos homens", quando ele na
realidade entrou em contato com seres extraordinários que parecem não estar aí incluídos?"
Fala-me, Musa, do homem astuto que tanto vagueou,
depois que de Troia destruiu a cidadela sagrada.
Muitos foram os povos cujas cidades observou,
cujos espíritos conheceu; e foram muitos no mar
os sofrimentos porque passou para salvar a vida,
para conseguir o retorno dos companheiros a suas casas.
Mas a eles, embora o quisesse, não logrou salvar.
Não, pereceram devido à sua loucura,
insensatos, que devoraram o gado sagrado de Hipérion,
o Sol – e assim lhes negou o dia do retorno.
Destas coisas fala-nos agora, ó deusa, filha de Zeus.

Invocação da Musa + Indicação do Tema (jornada) + ponto de "início" in media res


Não menciona o nome de Odisseu - preparação para o atraso mais importante e elaborado na cena de
reconhecimento de Odisseu para Penélope
O proêmio não se propõe a dar um resumo das viagens nem seleciona apenas uma aventura para servir de
exemplo
Proêmio se encerra com menção a Zeus, pai das musas, cujos desígnios definem o curso da narrativa
http://bragamusician.blogspot.com/2017/02/o-proemio-da-odisseia.html

Discurso de Zeus: Discurso "programático" de Zeus se dá no primeiro canto da Odisseia, indicando a


diferença e 'maturidade' da Odisseia em relação a Ilíada.

"Se o que os poemas fazem, ao longo de suas narrativas, é combinar o ponto de vista divino (imortal, detentor, em
geral, do conhecimento máximo) e o ponto de vista humano (mortal, limitado, em geral, em sua percepção), então a
fala de Zeus surge como exemplo privilegiado da visão superior, que apreende o ato excessivo do homem em toda a
sua dimensão: quando os mortais têm dores além do quinhão – ou seja, quando sofrem para além do que, pela sua
própria natureza, já deveriam sofrer –, eles próprios têm participação decisiva nas desgraças que enfrentam. O que
Zeus parece fazer, portanto, é enfatizar esse espaço de liberdade humana, de responsabilidade – sobretudo porque
Egisto é previamente avisado do mal que o espera, caso opte pelo crime. A ênfase sobre esse arbítrio, no entanto,
não nos deve levar à conclusão de que, nesse ato, a divindade está ausente: como vemos, ela está presente não só na
advertência, mas também na posterior punição."

Tópico 6 - Odisseia XXIII: Cena de reconhecimento entre Odisseu e Penélope

É nesse canto em que Odisseu finalmente conclui sua jornada de volta para casa, e encontra
Penélope, que o aguardava por toda a Odisseia. No canto anterior, Odisseu massacra todos os
pretendentes de Penelope, incentivado e ajudado por Atena, fazendo um verdadeiro banho de
sangue em seu palácio.

A cena de reconhecimento se dá de várias maneiras, em que Penelope o reconhece como pai de


seus filhos, seu amado marido e rei mítico e heróico pós-guerra. Esse reconhecimento vem
gradualmente, com Penelope demorando a acreditar que o momento realmente chegou, e que
seus planos de "enrolar" os pretendentes deu certo e seu amado está de volta. Penelope testa
Odisseu de várias maneiras, com o último teste sendo ao dizer que vai mudar a cama de posição,
a que Odisseu rebate que a cama não pode ser movida por ter sido esculpida em um tronco de
árvore de Oliveira. Ela se desculpa e abraça o marido, que explica que ainda tem trabalhos a
fazer. Os dois contam suas histórias, Odisseu sua jornada e Penélope seu aguardo, e na manhã
Odisseu sai para encontrar seu pai junto com Telêmaco

Tópico 7 - Eneida: Proêmio e projeto poético e político de Virgílio

Proêmio (versos 1-11)


Proposição (versos 1-7)
Apresentação do argumento do poema: cantar a guerra e o herói, Eneias, ainda não
designado nominalmente (o herói só será chamado pelo nome a partir do verso 92). Sabe-se, no
entanto, que este herói saiu de Troia, impelido pelos fados, e chegou aos litorais Lavínios. A
viagem foi difícil, por terra e por mar, perseguido que foi pela ira de Juno, tendo enfrentado
muitas guerras até fundar a cidade, para onde trouxe os seus Penates. Desta cidade são
provenientes a raça latina, os pais Albanos e as muralhas da altiva Roma.

Invocação (versos 8-11)

A invocação é feita à Musa, não especificada. O poeta pede que ela lhe rememore as
causas que feriram Juno e que fizeram aquela deusa levar um herói insigne pela piedade a tanto
sofrimento, a enfrentar tantos trabalhos. A invocação termina com uma pergunta retórica: tanta
ira cabe nos ânimos celestes?

(a Eneida se passa imediatamente após a queda de Troia, dando continuidade a Ilíada, que acaba
em um momento próximo ao fim da guerra. Assim como a Odisseia, o poema contará uma
história de fuga/jornada, dessa vez do herói Eneias, troiano que sobrevive a guerra e busca um
novo lugar para fundar uma cidade com sua família. A narrativa é in media res, ou seja, começa
já durante essa jornada de Eneias, naufragado perto de Cartago e encontrando a rainha Dido. Nos
primeiros cantos, ele irá contar sua história para Dido no passado, e depois disso a narrativa se
dará no presente.)

(“Depois da proposição (1-7), da invocação à Musa (8) e da exposição das causas de Juno contra Eneias e
os troianos (9-33), começa a narração propriamente dita (34-756). Os troianos, tendo deixado a Sicília,
navegam para a Itália. Juno, avistando-os, enfurece-se e vai até o rei dos ventos e das tormentas, Éolo, e o
faz provocar uma terrível tempestade no mar. Eneias e os seus vão parar em Cartago, uma cidade em
construção, no norte da África. Vênus, mãe de Eneias, vai ter, queixosa com Júpiter, que lhe assegura o
futuro brilhante dos descendentes de seu filho, aos quais concedeu ‘império sem fim’. Se Júpiter lhes
‘deu’ essa prerrogativa, vê-se que o pai dos deuses, na Eneida, parece se identificar com o destino, por
cujo cumprimento vela, intervindo, por vezes, na ação para apressá-lo.

Dido, rainha de Cartago, graças à intervenção do deus, acolhe hospitaleira os troianos e, durante um
banquete, pede a Eneias que conte os acontecimentos da guerra de Troia e as errâncias de sete anos por
terra e mar.”)

O projeto poético de Virgílio ao escrever a Eneida é o de contar uma Épica Latina na altura das
obras homéricas, com um herói na altura de Aquiles e Odisseu. Ele utiliza tanto do aemulatio
quanto do imitatio em relação a essas obras, para justificar seu projeto poético e para obter o
sucesso na forma que as obras de Homero tiveram.

O projeto político é de celebrar o Imperador Augusto a partir da construção e celebração do


legado de Roma, contando a história de Eneias como o antepassado de todo o povo romano. Essa
obra foi inclusive encomendada pelo Imperador, servindo como propaganda política além de
seus interesses individuais como autor

Tópico 8 - Eneida: Entrevista entre Júpiter e Vênus


Importante notar que esse trecho se encaixa no projeto político e poético da Eneida de maneira
exemplar. PROVA DE 2018 - TRÊS EXEMPLOS DE RESPOSTA

Apontar sobre a emulação (aemulatio) com a reunião/entrevista de Zeus e Atena na Odisseia,


com a postura de enfrentamento que Vênus adota sendo bem semelhante a de Atena, assim como
o momento em que se discorre sobre o futuro brilhante e glorioso de Eneias, suas conquistas.
Também há um paralelo possível entre a conversa que Tétis, mãe de Aquiles, tem com Zeus na
Ilíada, em que pede para que o deus aja a favor de seu filho. O projeto político então se mostra
nessa exaltação da importância do herói para a fundação de Roma, e o projeto poético se mostra
na presença do aemulatio ao fazer um paralelo com a obra homérica em que Zeus e Atena tem
um momento parecido de reunião/entrevista.

Tópico 9 - Épica Heróica e Épica Didática: convergências e divergências

Texto do Matheus Trevisam

Épica didática é o poema que ensina, com natureza técnica ou filosófica como seus temas. Há um
ensino sistemático que pode ser tão grande ou maior que o eventual subtexto moral (talvez)

Características da poesia didática:

- Há um único emissor de saberes (mestre/professor)


- Tem por receptor um ou mais "alunos"
- Tem objetivo de transmitir conhecimento
- Emprega uma gama variada de modos discursivos (exposição, descrição, narração…)
- Hexâmetro Datílico (similar no formato então à Épica Heróica)
- Intento Didático Explícito
- Constelação professor-aluno
- Autoconsciência Poética (identificação da persona/voz textual como a de um poeta)
- (ilusão de) Simultaneidade Poética - "Apresentar a fala como se todas as vezes fosse
realizada no momento de leitura/escuta em plena simultaneidade do contato do público
com a obra"

Poderia a poesia didática constituir um gênero autônomo? Ao invés de separá-la em um outro


gênero, é mais sensato distinguir a épica didática da épica mitológica/heróica/narrativa
entendendo suas especificidades

Tópico 10 - Os Trabalhos e Os Dias: Temas principais e organização da narrativa

Poema didático de Hesíodo. Dividido, além do proêmio, em duas "metades": 1) Trabalho e


Justiça como norteadores da condição humana e 2) Lições práticas para a vida em sociedade.
Na primeira metade, Hesíodo trata do conceito de trabalho, buscando estabelecer sua relação
com a justiça. Ele não está interessado em heróis, fazendo um poema épico didático em que
oferece uma visão negativa da guerra, argumenta que o trabalho é um mal necessário por
imposição dos deuses e, após uma disputa por herança com seu irmão, escreve a obra para
instruir sobre a necessidade do trabalho, utilizando de mitos como o de Prometeu (etiologia do
trabalho, dos males da humanidade, do fogo; o titã Prometeu roubou o fogo dos deuses e deu-lhe
aos homens, permitindo o surgimento da civilização e da vida cultural) e Pandora (etiologia das
mulheres; Zeus apresenta Pandora para Epimeteu, irmão de Prometeu, que quebra sua promessa
de não receber presentes dos deuses e ao destampar o jarro que a acompanha, liberta os males do
mundo), o mito das cinco raças/idades (ouro, prata, bronze, heróica e do ferro – a atual no
momento de autoria do texto) e a fábula do falcão e do rouxinol (alegoria dos reinos da
arrogância e da justiça) para justificar suas ideias.

A segunda metade serve como um almanaque agrícola, em que o trabalho se coloca na prática,
com ensinamentos sobre o calendário agrícola, navegação, regras de convívio e o significado dos
"dias", onde ele diz que há bons dias e dias piores (de mãe e de sogra).

A unidade do poema é legitimada em seu proêmio no último verso, em que, ao dedicar essa obra
a seu irmão como "algumas verdades a serem ditas", justifica a existência dessa obra como uma
unidade e não duas partes separadas. Hesíodo é o autor e tem clara autoridade sobre sua obra,
que mostra seu ponto de vista sobre esses assuntos.

Você também pode gostar