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A obra tem como modelo os poemas Homéricos, mas não é uma imitação
passiva deles, mas sim a criação de um modelo, com base num pré-definido.
IMITAÇÃO ≠ REPRODUÇÃO
IMITATIO CONTAMINATO
Imitatio – poeta (grego): aquele que cria / faz. É ele que faz a comunicação
entre os deuses e os homens.
Esta ordem é inválida por várias profecias que antecipam os factos (prolepse).
*Mais uma vez, a guerra é desencadeada por causa de uma mulher, tal como
acontecera em Tróia.
Juno odiava os troianos e queria impedi-los de dar origem a uma nova estirpe
romana, que estava destinada a dominar o mundo. Então a deusa pediu a Éolo,
deus dos ventos, que desencadeasse os ventos contra a frota troiana, que partira
da pátria destruída em direção às costas da Itália. Uma tempestade fez dispersar
a frota, e Eneias desembarcou em terras de África com uma parte dos seus
companheiros. Júpiter tranquilizava Vénus sobre o destino que aguardava os
troianos. Eneias, tornado invisível por vontade divina, entrou no templo de Juno
em Cartago, que recebera com benevolência uma delegação de alguns
Troianos, apartados de Eneias pela tempestade. Quando finalmente se tornou
visível, Eneias apresentou-se à rainha, que os convidou a entrarem no seu
palácio. Este encarregou o filho, Ascânio, de ir buscar presentes para Dido, mas
Vénus substitui Ascânio por Amor e, quando a divina criança ofereceu os
presentes à rainha, ela enamorou-se de Eneias. Durante o banquete a rainha
pediu a Eneias que contasse a história de Tróia e as suas próprias aventuras.
Na tempestade, Eneias prefere ter morrido na guerra de Tróia, uma vez que
morrer no mar não era heroico e não seriam prestadas honras fúnebres
(semelhança ao herói Homérico).
Vénus e Juno decidem que aqui vai haver um romance: uma por
proteção do próprio filho, e outra para impedir que Eneias cumpra as profecias.
Mais uma vez, são os deuses que conduzem os acontecimentos. Não há muito
espaço para o livre arbítrio das personagens.
2 Dimensões do Império:
A destacar do Canto I:
Em suma:
• A destruição de Tróia e a fuga de Eneias
• O início da narrativa de Eneias: Uma dor indizível: “infadum, regina,
iubes renovare dolotem.
• A responsabilidade de o cavalo ser levado para Tróia, é do Fatum- os
próprios deuses estão por trás dos acontecimentos.
• A primeira reação de Eneias é resistir ao sonho de lutar – arête: é belo
morrer de armas na mão (herói/ideal Homérico)
• Apesar de ter percebido que Tróia morrerá naquela noite, Eneias apela
ao ânimo dos jovens guerreiros. Travam muitos gregos, matando-os e
ficando com as suas armas, que percebem que têm de mudar de
estratégia. É aí que se dirigem ao palácio de Príamo que é morto por
Pirro. Antes de morrer, o rei assiste à morte do seu filho (símbolo de
crueldade por parte de Pirro).
• A morte do rei avassala Eneias, que se sente como um “órfão”.
Lembra-se do pai, filho e mulher, para os quais se dirige.
• Primeiramente, Anquises não quer deixar a casa: prefere lá morrer, ou
matar-se. É um peso inútil – só os jovens deveriam partir.
• Eneias, sem o pai, não parte: se o pai quer morrer em Tróia, ele
morrerá também – prepara-se para lutar. (Pius Aeneas – as figuras
principais são representadas por um epíteto que descreve o
herói/ adjetivo que realça uma qualidade).
• Pietas – (vínculos) … familiar – pai, Iúlio Ascânio, Creusa
… social / cívicos – Tróia
… religioso – levar os penates
• Um fogo misterioso envolve a cabeça de Iúlio, sem o ferir, o que
parece ser um presságio de que deveriam partir; Anquises pede a
Júpiter que o confirme, o que acontece; Anquises decide partir. –
quando algo de extraordinário acontecia, principalmente a uma
criança, significava que esta iria fazer algo de extraordinário - percebe
que o seu neto irá ter um futuro prodigioso.
• Quando Eneias perde a mulher e volta a Tróia para a encontrar, o
espectro de Creusa aparece-lhe e profetiza longas viagens e exílios,
a chegada à Hispéria, guerras, um novo casamento e dias felizes. Diz-
lhe que os deuses não queriam que ela saísse de Tróia com ele, sendo
poupada de um futuro vil, a servir como escrava. A própria mulher
anuncia-lhe a chegada de uma nova esposa da realeza. – Prolepse.
• Um grande grupo de troianos abandonados seguiram Eneias como um
líder. Estes viriam a ser uma “semente” da nova estirpe que Eneias vai
criar em Roma.
• Passado – pai
• Futuro – filho e penates
Conta à sua irmã (Ana) o seu encantamento por Eneias. Esta, por sua vez,
incentiva ao amor: fala-lhe dos filhos que não terá, da proteção que Eneias
traria para Cartago e das dádivas de Vénus, que proporcionariam um
matrimónio estável. Este amor traria, portanto, benefícios não só a nível
pessoal, mas de estado.
Após este discurso, o fogo do amor já presente em si, domina a rainha, que
faz rituais a Baco e a Juno.
Juno e Vénus preparam uma “cilada” para que Dido e Eneias se juntem e
“casem”: quando Eneias vai caçar preparam uma tempestade para que se
encontrem na mesma gruta. “Aquele foi o primeiro dia de morte, foi a primeira
causa dos males.” – momento alto e início da catástrofe.
Mercúrio é enviado por Júpiter a Eneias para lhe recordar da sua missão.
Este tem de lhe ser fiel, não só por si, mas também pelo futuro do seu filho.
Eneias sabe que tem de partir, sem nunca ponderar sequer em não
responder aos desígnios dos Deuses. A sua única preocupação é como dizê-lo
à rainha.
Dido pede a Ana para que suplique a Eneias para que este aguarde um
pouco, por ventos favoráveis, a sua partida. Eneias não cede.
Antes da morte Dido invoca as tragédias e pede à ama de Siqueu que lhe vá
preparar o que necessita para o sacrifício. Suicida-se com a arma de Eneias,
de modo a passar-lhe a culpa.
Eneias, que já tinha partido, avista uma nuvem de fumo em cima da cidade.
O tema: o amor, força vital que ao mesmo tempo destrói. O amor ódio que
lança a maldição final: a rivalidade Roma/Cartago.
Dido surge como heroína vítima dos deuses. Vénus e Juno favorecem um
amor que está destinado ao fracasso. Apesar de saberem que não podem
“contrariar” os fados, uma procura proteger temporariamente o filho, e a outra
evitar que Eneias chegue ao Lácio mesmo que para isso esse amor destruía
Dido, a rainha que lhe dedicou a sua Cidade.
É neste canto que acaba a primeira parte da Eneida, que é relacionada com
a Ilíada.
Ramo de Ouro: única maneira de entrar e sair dos Infernos - Ah!, divino filho
do troiano Anquises, é coisa fácil, fácil demais mesmo, deslizar para baixo, para o Reino
das Sombras. Noite e dia lá estão abertas as portas de Plutão, dando-te as boas-vindas.
A dificuldade é voltar novamente ao ar puro do Céu. Isso, sim, é tarefa árdua. Somente
aqueles amados de Júpiter, filhos dos próprios deuses e uns poucos mortais, cujos feitos
brilhantes o céu aplaudiu, conseguiram voltar daquele vale escuro. Lá estão bosques
negros e impenetráveis e os rios Cocito, Estígio e Aqueronte para barrar o caminho de
volta. Se alimentas, porém, um tão grande desejo no teu coração, se tens coragem de
atravessar duas vezes o Estígio, de ver duas vezes o Tártaro, se te apraz empreender
uma jornada tão temerária, aprende antes os ensinamentos que te vou dar. Numa árvore
sombria do Averno está escondido um ramo de ouro flexível, tanto na haste quanto nas
folhas, e que dizem estar consagrado à infernal Prosérpina, esposa de Plutão, deus do
Mundo das Sombras. Toda a floresta procura esconder o ramo valioso dos olhos dos
mortais, mas somente aquele que o encontrar e arrancar poderá retornar, são e salvo,
da jornada. Arrancado o ramo, outro logo surge, coberto da mesma maneira do
reluzente metal. Com os olhos para o alto, pois, Eneias, procura o ramo e, depois do
encontrares, colhe-o segundo os rituais sagrados. Se os Fados te chamam, ele cederá
facilmente e deslizará até atrás de ti, mas de contrário não haverá força mortal capaz
de separá-lo do tronco a que pertence, nem o cortaria o aço mais afiado. Leva-o como
oferenda a Prosérpina (rainha dos Infernos).