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Ilíada – resumo da obra, dos valores e das personagens

A Ilíada revela uma arte de narrar que não pode ser primitiva. O assunto é limitado: a cólera
funesta de Aquiles. Desenvolve-se em menos de dois meses (a ação narrada no livro passa-
se em cerca de 50 dias sendo que há ação em 14 destes) que epopeia não conta a Guerra
de Tróia desde o começo - ab ovo. A narração não chega também a descrever a morte de
Aquiles nem a queda de Ílion. Após a invocação e proposição, somos lançados in medias
res para a ação.

Resumo da obra:
Canto I
No início do primeiro canto faz-se a invocação e a proposição. Faz-se a invocação de uma
deusa que o vai inspirar a escrever sobre "a cólera de Aquiles". A Deusa não canta sobre "a
cólera de Aquiles" mas canta a própria cólera, capturando toda a realidade da mesma.
Origem desta cólera é um atentado à timê (um dos valores mais importantes na cultura
Helénica) de Aquiles por parte Agamémnon. Na versão original, as primeiras palavras da
epopeia são “cólera funesta”.
No primeiro canto vemos ainda o sacerdote de Apolo, Crises, avançar até às mãos dos
aqueus para lhes implorar que lhe seja restituída a sua filha Criseida, que havia sido levada
por Agamémnon como prémio de guerra durante a Guerra de Tróia, pela qual oferece um
esplêndido resgate. Todos os chefes querem consentir, mas Agamémnon, a quem a jovem
fora atribuída, não concorda. Então Crises reza a Apolo pedindo que este castigue os
aqueus e em pouco tempo, uma peste é lançada e começa a dizimar os seus exércitos.
Reúne-se então uma Assembleia dos Aqueus para se ouvir o adivinho Calcas que declara
que Apolo está descontente com o desrespeito para com o seu sacerdote. Após uma acesa
disputa com Aquiles, Agamémnon só aceita fazer a devolução de Criseida se em troca
receber Briseida, a presa de Aquiles. É importante destacar que a relação de Agamémnon
com Criseida não é igual a relação de Aquiles com Briseida - Aquiles respeita e gosta de
Briseida, enquanto Agamémnon vê apenas um prémio de guerra em Criseida.
Os arautos de Agamémnon, Euríbato e Taltíbio vaõ então buscar Briseida. Este último
sente-se imensamente insultado e que isto é um atentado à sua honra, afastando-se assim
do combate. Neste episódio vemos Aquiles no pico da vivência de ver a sua timê
desonrada. De seguida, queixa-se à sua mãe, a deusa Tétis, que lhe promete ir pedir a Zeus
que faças aqueles sofrer por este desrespeito. Aquiles quer que o sofrimento infligido aos
Aqueus os relembre da má conduta da Agamémnon por o ter desonrado
Enquanto isso, Criseida é restituída ao pai e a que peste acaba. Zeus concorda em aceder
ao pedido de Tétis, o que origina, de seguida uma discussão no Olimpo entre Zeus e Hera
que Hefesto, filho de ambos consegue apaziguar.

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Canto II
No canto II, Agamémnon tem um sonho enganador enviado por Zeus para o induzir a atacar
os troianos supondo uma vitória fácil.
Este anuncia o seu plano e desvaloriza a ausência de Aquiles, achando que pode triunfar
sobre os troianos sem o seu auxílio. Faz-se neste canto também a enumeração ou catálogo
das naus.
Canto III
O canto III mostra-nos um duelo entre Páris e Menelau (monomaquia) destinada pôr termo
ao conflito através da luta entre os 2 principais interessados e a meio da luta, Afrodite salva
Páris retirando-o da cena.
Enquanto isso, os anciãos de Tróia observam as tropas dos muros da cidade sendo Helena
questionada por Príamo em relação a indivíduos notáveis como Agamémnon. Esta é o
exemplo de uma teoscopia, uma visão sobre as muralhas.
Canto IV
O canto IV começa com um arqueiro troiano que sob influência dos deuses, dispara uma
flecha o que faz com que Agamémnon passe em revista as tropas e a batalha recomece.
Canto V
No canto V destacam-se os feitos valorosos de Diomedes, apoiado pelos deuses na batalha
e a ida de Heitor a Tróia para pedir a Hécuba que ofereça oferendas a Atena.
Canto VI
No canto VI assistimos a um diálogo entre Glauco, príncipe aliado de Tróia, e Diomedes, rei
de Tirinto que na iminência de combater, como era costume, interrogam se sobre a
respectiva linhagem. Daí sabe se de um antepassado de Glauco que foram hóspede de um
antepassado de Diomedes. Imediatamente reconhecem-se como antigos aliados de família
e, por isso juram não combater um com o outro e trocam de armas. (não se olhava ao valor
sendo que Homero até constata que se havia trocado "o valor de cem bois por nove
apenas")
Também neste canto que assistimos à despedida de Heitor e Andrómaca. Ao despedir-se,
Heitor reza aos deuses para que o seu filho seja o melhor dos troianos no combate e na
autoridade (aristos) – este é um episódio de ironia para quem conhece o mito (ou seja,
toda a Grécia na altura em que a Ilíada é escrita - o filho vai ser lançado das muralhas da
cidade e a sua mulher vai ser feita escrava.
Existe um contraste entre o Heitor guerreiro e o Heitor homem de família. Ao longo da
obra há episódios familiares ou pacíficos alternam com os grandes quadros bélicos que
ocupam a maior parte do poema.

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Canto VII
O canto VII é ocupado com outro duelo, desta vez entre Ájax e Heitor. Este combate é
renhido e dura até à noite. Daqui se retira que Ájax não é forte o suficiente para derrotar
Heitor mas que o recíproco também é verdade e, por isso, Aquiles é superior a Heitor.
Canto VIII
No canto VIII Zeus proíbe os deuses de intervirem na contenda e começa então
verdadeiramente a cumprir a promessa feita a Tétis, mandando grandes reveses aos
aqueus.
Canto IX
Agamémnon arrepende-se da sua conduta devido a um revés na batalha, os aqueus estão
agora à beira da derrota. Faz-se uma assembleia e Nestor recomenda enviarem uma
embaixada a Aquiles com vista à reconciliação com o herói. Então Ulisses, Fénix e Ájax vão
falar com o herói prometem-lhe Briseida de volta intacta (Agamémnon ainda nao lhe tinha
tocado), fortunas, reinos, ter o direito a saquear Tróia primeiro e a mão da filha de
Agamémnon.
Aquiles, no entanto, recusa - segundo Jean Pierre Vernant em "O indivíduo, a morte e o
amor." (que são conceitos centrais que definem a Ilíada) retiraram a timê (o pior que
podem fazer a um herói homérico) a Aquiles, esta não é restituível e muito menos trocável
por riquezas sendo por isso que ele nao aceita.
Canto X
O canto X é a Doloneia, que tira o seu nome de Dólon, um espião enviado por Heitor à
noite para explorar o acampamento aqueu e que é morto por Diomedes e Ulisses, que
haviam saído com idêntico propósito.
Canto XI
No canto XI sobressaem os feitos bélicos de Agamémnon.
Canto XII
No canto XII, os Troianos penetram com êxito as muralhas e trincheiras defensivas dos
Aqueus estando estes mesmo à beira da derrota.
Canto XIII
No canto XIII, temos o combate junto às naus.
Canto XIV
No canto XIV, Hera consegue convencer Hipnos a adormecer Zeus de modo a desviar as
suas atenções do campo de batalha para que Poséidon possa socorrer o lado dos aqueus.
Também neste canto, Ájax consegue ferir Heitor enquanto os aqueus conseguem recuperar
terreno

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Canto XV
No canto XV, Zeus assim que desperta, continua a favorecer os troianos, segundo a
promessa feita a Tétis, o seu avanço é tal que os Troianos se preparam para incendiar as
naus dos Aqueus, o que equivale a cortar-lhes a retirada e numa derrota certa contra os
troianos. A desgraça desta cena põe em causa a sobrevivência do povo aqueu, ameaçado
pelo fogo de Heitor.
Perante um tão iminente perigo, Aquiles consente enfim que o seu amigo Pátroclo
revestido das suas próprias armas, vá para combate à frente dos Mirmidões. Aquiles
aconselha Pátroclo apenas a afugentar os troianos e não os perseguir até às muralhas da
cidade.
Canto XVI
O canto XVI, chamado de Patrocleia, é marcado pelos feitos bélicos de Pátroclo e pela
morte do mesmo às mãos de Heitor, após desobedecer às recomendações de Aquiles,
perseguindo os troianos.
Canto XVII
No canto XVII, Menelau defende o cadáver de Pátroclo e Aquiles, ao saber da triste notícia,
resolve vingar a morte do seu amigo.
Canto XVIII
No canto XVIII, Aquiles consegue novas armas construídas pelo deus Hefestos a pedido de
Tétis que lhe forja armas de bronze, prata, ouro e estanho e o famoso escudo de Aquiles
em ferro.
Este escudo, é composto por 5 círculos concêntricos com eventos da vida quotidiana, o
cosmos, agricultura, etc... e é uma descrição de valor incalculável para historiadores uma
vez que contém imensa informação relevante sobre os mais variados modos e costumes da
Grécia antiga.
Canto XIX
No canto XIX efetua-se a reconciliação de Aquiles com Agamémnon. De seguida, a luta
titânica entre o maior herói dos aqueus e o maior dos troianos ocupa os três cantos
seguintes.
Canto XX
Aquiles acossa ferozmente os Troianos numa batalha em que Zeus permite que tomem
parte todos os deuses
Canto XXI
No canto XXI acontece o combate junto ao rio (em que o Escamandro, cheio de guerreiros
derrubados por Aquiles, inunda a planície e ameaça submergi-la sendo apenas isto resolvido
pelo sopro ígneo de Hefetos)

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Canto XXII
No canto XXII, após uma longa perseguição em volta das muralhas de Tróia, Heitor é morto
por Aquiles sendo este de seguida arrastado pela carruagem de Aquiles, impedindo os
Troianos de prestar honras fúnebres e glorificar Heitor.
Aquiles, ao fazer isto, retira a Heitor o seu prestígio e heroísmo, assim como a sua
capacidade de ser herói, algo impossível, sem honras fúnebres. Esta atitude provoca
vergonha ("airos") aos próprios deuses.
Canto XXIII
O canto XXIII é ocupado pela cremação e pelos jogos em honra de Pátroclo.
Canto XXIV
No canto XXIV o velho Rei de Tróia, Príamo ousa ir à tenda de Aquiles pedir-lhe com ricos
presentes a restituição do corpo do seu filho. O herói aceita e concede tréguas de 12 dias
para se realizarem os funerais de Heitor
Neste canto, Aquiles já matou Heitor e fez os funerais grandiosos em honra de Pátroclo,
mas a sua sede de vingança não está apaziguada. Todos os dias atrela ao seu carro de
cavalos, o cadáver do inimigo e dá 3 voltas com ele em torno do túmulo de Pátroclo. Os
próprios deuses indignam-se com este procedimento e fazem com que Tétis o advirta.
Zeus envia então Hermes para convencer Príamo a ir pedir o corpo de Heitor a Aquiles. O
velho rei, acompanhado unicamente do seu arauto, ousa entrar na tenda de Aquiles para
suplicar abraçando os joelhos e beijando as mãos "terríveis assassinas que lhe mataram
tantos dos seus filhos" (gesto de súplica) que lhe restitua o cadáver de Heitor em troca de
um avultado resgate.
O guerreiro de uma crueldade primitiva que fizera sacrifícios humanos em honra de
Pátroclo e rojara no pó o rosto do Príncipe Troiano, humaniza-se diante a impotência de
Príamo. Este é um momento de redenção e de humanização de Aquiles que, lembrando-se
dos cabelos brancos do pai se comove. Manda que entreguem Heitor a seu pai, depois de
arranjar o cadáver à distância para que o pai não o visse naquele estado, oferece-lhe comer
e concede-lhe tréguas de doze dias para celebrar os funerais do filho, ato com o qual
termina o poema.

Lista de personagens importantes na Ilíada:

Lado dos Aqueus:

 Aquiles - herói modelo nobre e valente, mas impulsivo;


 Agamémnon - comandante supremo da expedição, arrogante, prepotente, mas
pronto a retratar-se quando errou, é este o seu drama de chefe;

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 Ájax - guerreiro forte e persistente, mas que só vale pela força física, o próprio
escudo que traz, "alto como uma torre", o singulariza como um homem de armas
primitivo. É o "baluarte dos aqueus" que caminha para a luta com um sorriso no seu
rosto aterrorizador;
 Diomedes - ataca os troianos na falta de Aquiles, cavalheiresco, forte no combate e
"o melhor da sua idade no conselho" é o herói, que ousa medir-se com os deuses.
À sua valentia é consagrado no canto V.;
 Pátroclo - o amigo fidelíssimo de Aquiles. Revela-se um valente contendor no canto
que tem o seu nome e é apreciado por todos, pela sua bondade e doçura;
 Menelau - o causador da expedição. Embora lhe caiba um só canto para contar os
seus feitos de armas no começo do canto VII, os outros aqueus julgam-no incapaz
de se medir com Heitor e apaga-se com frequência, na sua submissão à vontade de
Agamémnon;
 Nestor - velho rei de Pilos que muito aconselha e gosta de apaziguar os ânimos com
as suas "falas harmoniosas", nem sempre atendidas. É ele quem sugere a
Embaixada a Aquiles a solicitar a reconciliação e quem aconselha Pátroclo a pedir
aquele herói que o deixe ir para o combate à frente dos Mirmidões;
 Odisseu - é ao mesmo tempo um guerreiro valente e homem prudente e avisado,
escolhido para as missões delicadas, como a de restituir Criseida e a de chefiar a
embaixada a Aquiles. É quem no canto II impede os aqueus de se precipitarem em
fuga desordenada e a sua sensatez é por vezes comparada à de Zeus;

Lado dos Troianos:

 Heitor - uma figura que ao mesmo tempo é heróica e humana. É um modelo de


filho, de pai, de marido, de cidadão. Luta pela sua pátria e pela sua família e não
apenas para alcançar a honra pessoal, como Aquiles. Este tratamento do herói
máximo da facção inimiga é a mais antiga prova da imparcialidade ou, aliás, da
superioridade moral grega.
 Páris - em nítido contraste com a figura de Heitor. É um tanto efeminado e acolhe-
se de preferência, à proteção das paredes do seu quarto.
 Príamo - velho rei de Tróia digno e respeitado, é convocado como garantia dos
juramentos que percebem o combate singular de Menelau e Páris. Sofre a dupla
tragédia - como pai e como Chefe de Estado - de perder Heitor.
 Glauco - príncipe lício aliado dos troianos
 Sarpédon - filho de Zeus, aliado dos troianos, jovem e cavalheiresco.
 Hécuba - mulher de Príamo, que sofre pesadamente com a perda de Heitor para ela
mais pessoal do que nacional.
 Andrómaca - mulher de Heitor, delicada que superintende nos trabalhos de sua casa
 Helena - antiga Rainha de Esparta, que até os anciãos de Tróia admiram pela sua
beleza divina, que têm como amplamente justificativa de tantos sofrimentos, mas
que todos surdamente hostilizam como causa dos seus males e que perde Príamo e
em Heitor os seus únicos defensores.

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Relações e comparações importantes entre personagens

 Comparação de Aquiles e Agamémnon


o Aquiles e Agamémnon têm várias características em comum, entre as quais, a
crueldade que podem mostrar, o orgulho e o espírito vingativo;
o A grande diferença entre os dois é a sensibilidade que Aquiles revela:
 Isto vê-se na forma como Aquiles olha para Briseida e Agamémnon
para Criseida
 Comparação de Agamémnon e Menelau
o Menelau é como uma sombra de Agamémnon, apesar de serem irmãos;
o A aretê de Agamémnon é muito maior sendo este claramente o dominante
dos dois em estatuto, habilidade na guerra e força de vontade;
 Comparação de Heitor e Páris
o O caso de Heitor e Páris é ainda mais chocante, uma vez que Heitor é um
homem cheio de virtudes enquanto que Páris é uma personagem muito
menos favorecida na obra (cobarde e efeminado);
 Relação de Príamo e Helena
o Príamo tem noção que a culpa desta guerra não é de Helena mas é sim a
vontade dos deuses que pela sua vontade ditaram que os eventos se
passariam como relatados na Ilíada

Figuras retóricas na Ilíada


Na Ilíada há um só fio condutor e uma só ação, que é retardada por diversos episódios
sendo que o plano humano cede frequentemente a vez ao plano divino. A obra utiliza
numerosas e variadas figuras retóricas como hysteron proteron (narrativa feita na ordem
inversa dos acontecimentos que leva à analepse no começo da Ilíada. É muito mais evidente
na Odisseia), a apóstrofe, a onomatopeia, a anáfora, a metáfora, o símile, entre outras.

O símile
O símile serve para criar uma linha poética paralela à exposição linear dos acontecimentos.
Não contribuem para o progresso da narrativa (constitui uma pausa na intriga). Ou seja,
estas alargam o horizonte da obra parando momentaneamente a ação.
É muito recorrente na poesia homérica (é utilizada na Odisseia, embora com menos
frequência.), especialmente nos momentos de maior tensão e conflito. Com o uso desta
atinge-se uma transição de um ambiente de combate para o "sublime", a pura poesia, a
pura constituição estética. Este recurso expressivo serve para conseguir passar algo do
mundo natural para o mundo da intriga. No geral, os símiles são tirados de elementos ou
fenómenos da natureza ou atividades humanas.
O símile vai muito além da mera comparação ou metáfora. É uma comparação mais
elaborada, concreta e longa.

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Símiles marcantes

 Canto III – para descrever os anciãos que observavam a monomaquia das muralhas
de Tróia - “semelhantes às cigarras que no bosque poisam numa árvore e lançam
suas vozes delicadas como lírios.”;
 Canto IV - para acentuar a ordem e coesão do exército aqueu em contraste com a
indisciplina do troiano, compara este com as vagas marinhas e o último com
ovelhas no redil a balirem sem cessar.;
 Canto VI - a linhagem humana é posta em paralelo com as folhas das árvores –
“Assim como a linhagem das folhas, assim é a dos homens. Às folhas, atira-as o
vento ao chão; mas a floresta no seu viço faz nascer outras, quando sobrevém a
estação da primavera: assim nasce uma geração de homens; e outra deixa de
existir.”;
 Canto XVIII - a dança das jovens é semelhante no seu movimento a roda do oleiro;

Valores da sociedade homérica

 Grande respeito pelos idosos e pelos sacerdotes


o Estas figuras eram de respeito máximo para os gregos. Por isso é que no
Canto I, quando Agamémnon desrespeita Crises, sacerdote e ancião - figura
de supremo respeito na cultura grega - as consequências são tão graves;
 Aretê
o Valentia, coragem, virtude, excelência (obtida na guerra e na assembleia);
o Um dos valores centrais da cultura grega e o objetivo a alcançar por todos os
cidadãos;
o Aristós (o melhor/o maior) e Aristê (a melhor/a maior)
o A retórica revela-se na Ilíada é um recurso muito importante sendo por isso
que se dá bastante destaque aos diálogos dos personagens na obra
 Por exemplo, é pela retórica que Tétis convence Zeus
 Timê
o Valor, reconhecimento;
o Quando o grupo não reconhece o valor de outrém está a atentar contra a
sua timê;
o Ao tirar-lhe Briseida, Agamémnon está a atentar contra timê de Aquiles;
 Grande respeito para com os arautos
o É por causa deste valor que Aquiles não agiu violentamente contra Euríbato
e Taltíbio;
o Aquiles não atribui a culpa aos escudeiros mas ao homem que os enviou;
 Fascínio pela beleza
o Os gregos são fascinados com a beleza e isso nota-se nas descrições
extensas das roupas, cabelos e aparência no geral ao longo da obra;
o Isto também se nota nos elogios que Príamo faz à aparência dos guerreiros
que observa no canto III

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 Hospitalidade
o O cidadão homérico está obrigado a receber e tratar bem que lhe batesse à
porta;
o Também se dá um grande valor ao tratamento dos hóspedes sendo que se o
hospedeiro passar pela terra daquele que acolheu sob o seu teto, deverá
receber idênticas regalias;
o Este vínculo de ordem moral entre o que dá e o que recebe, assume tal
importância que prevalece sobre os deveres militares e atravessa gerações:
 Na Ilíada, isto observa-se no canto VI com Diomedes e Glauco que
declaram amizade e decidem não combater, trocando as suas armas;
 Troca é desigual uma vez que não é alimentada pela sua
materialidade ou lucro mas antes pela amizade que partilham;
 «Na verdade, és antigo amigo da casa de meu pai!»;
 Aqui se nota a importância que a boa hospitalidade (xenia em grego
onde xenos= estrangeiro/hóspede) tem na cultura grega;
 Boas maneiras
o Ainda não existe ética independente da religião e por isso, as boas maneiras
têm nesta sociedade uma importância decisiva;
o Estas normas observam-se no respeito por um igual ou superior:
 Um exemplo disso é quando Aquiles se levanta quando vê a
embaixada que o procura;
o Esta cortesia é também transposta ao plano divino:
 Também os deuses se erguem, quando Zeus entra no Palácio do
Olimpo;
 Valorização da súplica
o Era de bom tom atender e defender quem implorava a proteção de outrém,
tomando a atitude clássica da súplica, tocar com a mão destra na barba e a
esquerda nos joelhos:
 Tétis faz este gesto a Zeus no Olimpo a Zeus;
 Príamo faz a Aquiles no canto XIV;
o O gesto de súplica na cultura grega demonstra respeito e humildade, como
uma vénea;
 Qualidades de guerreiro
o Para o ideal homérico, um bom guerreiro era aquele que era possuidor de
beleza física e excelente no combate e na assembleia (possuía aretê).

Moira
O conceito de moira (destino) está ligado inerentemente ao pensamento da sociedade
grega que tem uma visão fatalista da vida. Ou seja, acreditavam que esta estava
determinada.
Os deuses não determinam nem controlam a moira, eles próprios são sujeitos a esta sendo
que os Heróis gregos também estão muito ligados a este conceito.

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O escudo de Aquiles
Um trecho do canto XVIII, que nos permite vislumbrar os aqueus em tempo de paz, é a
descrição do escudo de Aquiles que é para nós resumo de uma cultura. O escudo apresenta
5 círculos concêntricos:

 1º círculo - Os conhecimentos geográficos e astronómicos da época: A Terra plana e


circundada pelo Rio Oceano; o Sol, a Lua e as constelações principais.
 2º círculo - a cidade em paz, com cenas:
o de bodas, acompanhadas de música e dança
o de um esboço de julgamento: Anciãos sentados em pedras polidas darão a
sua opinião sobre um caso de homicídio pelo qual o acusado garante já ter
pago à família da vítima indenização que eu costumo exigia, para o que
proferir a melhor sentença, haverá um prémio de dois talentos de ouro.
 3º círculo - cidade em guerra
 4º círculo - trabalhos nos campos:
o Lavra
o Ceifa
o Vindimas
o Pastoreio
 5º círculo - divertimentos: danças
É importante destacar no escudo da presença da música, tanto no trabalho diário como nas
ocasiões festivas e a ausência da navegação ou pesca evidencia que as atividades
marítimas ainda não podiam pôr-se a par das agrícolas.

Plano humano e plano divino na Ilíada


Uma das grandes questões em relação à estrutura da epopeia e seu motor da ação é
humano ou divino. Surge aqui uma divisão entre dois planos narrativos: o plano humano e
o plano divino sendo que estes não se excluem, mas se inter-relacionam.
A ação dos heróis homéricos ao longo da Ilíada vai sendo pautada pelas intrigas do plano
terreno (a guerra) mas também pela vontade dos deuses (as suas intrigas) sendo que por
isso as personagens gozam de pouca liberdade sendo que há personagens que são meras
marionetas dos deuses (como o arqueiro troiano que, pela intervenção de Atena, dispara
uma seta no canto IV).
Para além disso ao longo da obra há episódios onde os deuses participam diretamente na
ação da epopeia, alterando-a, havendo nestes casos uma mistura dos dois planos. Apesar
disso, o deus que mais poder tem sobre a ação é Zeus sendo o rumo que a obra segue é a
sua vontade sendo isso estabelecido logo na proposição – “…enquanto se cumpria a
vontade de Zeus” (Ilíada 1, 5)

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