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26/03/2020.

O STALINISMO
O stalinismo é definido pelos historiadores como um regime
totalitário que existiu na União Soviética, entre 1927 e 1953, e foi
construído pelo líder do país Josef Stalin. Esse governo realizou
transformações profundas, na URSS, e realizou uma implacável
perseguição aos seus opositores.
A coletivização das terras soviéticas, a industrialização do país,
a perseguição aos opositores por meio dos expurgos e a resistência
ferrenha contra os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial
foram acontecimentos marcantes durante esse período. Os crimes
cometidos durante o stalinismo só foram denunciados após a morte de
Stalin.
Características do stalinismo
O consenso dos historiadores é que o stalinismo foi
um regime totalitário. Algumas das características básicas desse
governo são:
 Economia controlada inteiramente pelo Estado;
 Governo discricionário, baseado unicamente nas vontades do líder;
 Culto à personalidade de Stalin;
 Criação de um grande aparato de propaganda política;
 Criação de um regime de terror que impôs perseguição aos opositores
do regime;
 Perseguição à religião;
 Militarização da sociedade;
 Burocratização do serviço público;
 Imposição de censura etc.

Disputa pelo poder


Os historiadores consideram que Stalin tornou-se governante efetivo
da União Soviética a partir de 1927. A disputa pelo poder foi iniciada
quando a saúde de Lenin começou a se deteriorar, entre 1922 e
1923, por conta de um derrame. Naquele momento, quatro postulantes
disputavam a posição de novo secretário-geral da União Soviética:
Stalin, Kamenev, Zinoviev e Trotsky.
Nesse momento, Stalin já tinha uma posição privilegiada no
interior do partido, mas não era o favorito de Lenin. O historiador
William P. Husband afirma que, antes de morrer, Lenin preocupava-
se com a possibilidade de Stalin ser o seu sucessor por ser muito rude.
Após quatro anos de disputa pelo poder, Stalin firmou-se no poder ao
garantir a expulsão de seus adversários do partido.
Uma vez estabelecido enquanto figura incontestável no poder, Stalin
começou a realizar as mudanças que desejava fazer. Seus focos
foram acabar com as classes sociais, voltando-se contra os ricos,
industrializar a União Soviética, planificar a economia e silenciar seus
opositores. Iniciava-se então o stalinismo.
Economia stalinista
A economia stalinista era uma economia inteiramente planificada,
ou seja, estava concentrada nas mãos do Estado. Stalin interveio
diretamente na agricultura, realizando transformações profundas nessa
área e investiu maciçamente na industrializando exigindo um grande
esforço da população nos dois casos.
 Plano Quinquenal
Quando Stalin assumiu o poder, em 1927, a indústria soviética ainda
era frágil e, por isso, Stalin impôs um plano que cobrava um grande
esforço de todo o país para promover uma industrialização em escala
acelerada. O plano de industrialização da União Soviética ficou
conhecido como Plano Quinquenal, um plano que criava metas que o
país deveria alcançar a cada cinco anos.
O primeiro plano quinquenal foi lançado em 1929 e substituiu a Nova
Política Econômica, o antigo plano econômico soviético. Stalin aboliu
as iniciativas de abertura da economia soviética para o capital privado,
voltou-se contra as classes sociais mais ricas, aumentou impostos de
empresas privadas e passou a exigir um grande esforço dos
trabalhadores para promover a industrialização.
O Plano Quinquenal priorizou o desenvolvimento de áreas
relacionadas à indústria pesada, como a metalurgia e siderurgia,
além de dar grande atenção para a extração de combustíveis fósseis e
para a produção de energia elétrica. O Estado soviético passou a
cobrar que metas extremamente exigentes fossem alcançadas e isso
exigiu um esforço enorme dos trabalhadores.
O historiador Eric Hobsbawm define que as exigências feitas pelo
governo stalinista exigiam “sangue, esforço, lágrimas e suor” da
população soviética|2|. O grande esforço pela industrialização, por sua
vez, gerou milhões de novos empregos e aumentou a quantidade de
proletários na União Soviética, o grupo que mais apoiava o regime.
Apesar das duras exigências, os resultados, porém, foram expressivos,
e a produção industrial da União Soviética aumentou
consideravelmente. O sucesso dos planos quinquenais foi tão grande
que, em poucos anos, a União Soviética tinha se transformado em
uma grande potência industrial. O poderio industrial e o grau de
exigência dos trabalhadores soviéticos durante o stalinismo foram
percebidos, principalmente, nos anos da guerra.

Trabalhadores do Turcomenistão recebendo sua parte em dinheiro


referente ao seu trabalho em uma fazenda coletiva.

A coletivização da terra foi outro grande esforço realizado pelo Estado


stalinista no âmbito da agricultura. Revolucionou-se a forma como a
produção agrícola acontecia e atacou-se as classes de camponeses
ricos que existiam no interior soviético. A coletivização da terra
foi feita à força, e a resistência a esse processo foi tratada com
brutalidade.
A coletivização da terra foi imposta junto do primeiro Plano
Quinquenal, em 1929, e pode ser definida, basicamente, como
processo de expropriação de terra, abolindo a propriedade privada
no campo e transformando tudo em propriedade do Estado. A função
dos camponeses era a de aderir às terras tomadas pelo Estado e
alcançar as metas de produção estabelecida.
As terras tomadas eram transformadas em fazendas coletivas e tudo
que existia nelas, como as ferramentas, as sementes e o gado,
pertenciam ao Estado. A tomada de terras gerou resistência, sobretudo
dos camponeses ricos, conhecidos como kulaks. Essa oposição ao
processo de coletivização foi tão grande que só na Ucrânia foram
registrados quase 1 milhão de atos contrários, só no ano de 1930 |3|.
A ação de Stalin contra os kulaks era simples: o desejo era acabar com
essa classe. Quanto mais eles resistiam, mais dura tornava-se a ação
estatal, e as medidas tomadas pelo Estado contra essa classe foram de
colocá-los para trabalhar em terras inferiores, transferi-los para locais
longe de suas casas ou enviá-los para campos de trabalho forçado,
caso resistissem.
O historiador Timothy Snyder afirma que, no total, cerca de 1,7
milhão de kulaks foram deportados para campos de concentração|4|, e
Lewis Siegelbaum afirma que cerca de 3 milhões de pessoas passaram
por um processo de deskulakização|5|. Algo importante a ser abordado
é que, do ponto de vista do governo stalinista, qualquer camponês que
resistia à coletivização era considerado um kulak.
A coletivização foi, no entanto, desastrosa. As metas estipuladas
eram tão altas que, frequentemente, os camponeses tinham suas
sementes tomadas pelo Estado. Além disso, as fazendas coletivas
mostraram-se, em grande parte, não tão produtivas quanto se esperava.
O resultado óbvio disso foi a fome.
Os historiadores discutem se a fome causada pela coletivização foi
proposital ou não, e o historiador Timothy Snyder sugere que, pelo
menos no caso ucraniano, a fome foi proposital. O objetivo disso
era enfraquecer a população para acabar com qualquer tipo de
oposição às políticas stalinistas.
O resultado da Grande Fome que atingiu a União Soviética foi
terrível, e Timothy Snyder aponta que, até 1933, cerca de 5,5
milhões de pessoas haviam morrido de fome e aproximadamente
metade dessas mortes aconteceu só na Ucrânia|6|. Essa fome que
levou à morte de milhões de ucranianos ficou conhecida
como Holodomor.

Grande Terror
O Grande Terror é a fase do stalinismo que se estendeu de 1936 a
1939 e também é conhecida como Grande Expurgo. Mas é
importante frisar que os expurgos stalinistas não aconteceram
exclusivamente nesse período, eles aconteceram durante todos os anos
do stalinismo, mas foram maiores nesse período citado.
Os expurgos realizados no stalinismo eram ações dignas do “autocrata
de ferocidade, crueldade e falta de escrúpulos excepcionais” que era
Stalin na definição de Eric Hobsbawm|7|. Os expurgos promovidos
durante o stalinismo tinham como grande objetivo eliminar
elementos não-marxistas, eliminar minorias étnicas que resistiam ao
poder de Moscou e eliminar a oposição no interior do partido.
Aconteceram expurgos contra a intelligentsia, as elites intelectuais que
ocupavam postos de comando, mas que não eram da classe proletária.
Houve também expurgos em locais, como a Ucrânia contra a minoria
polonesa, houve expurgos no campo, no interior do partido, no
exército soviético etc.
Esses expurgos poderiam resultar no envio de pessoas para
as gulags, campos de trabalho forçado que eram construídos em locais
remotos da Sibéria e do Cazaquistão. Outros, porém, eram
rapidamente executados pela NKVD, a polícia secreta soviética. O
saldo de execuções durante todos os anos de stalinismo ultrapassaram
a casa dos milhões, mas, durante o Grande Terror, esse número foi
de 681.692, segundo Timothy Snyder|8|, e 685.660, segundo Lewis
Siegelbaum|9|.
Os historiadores discutem as motivações de Stalin ao ter promovido
essa quantidade gigantesca de expurgos, e dois eixos apontam dois
motivos: destruir qualquer tipo de oposição ao seu regime, fosse ela
motivada por questões econômica, políticas, étnicas, ideológicas etc.,
fosse para acabar com a burocratização no interior do Estado
soviético.
Eric Hobsbawm sugere que, durante os anos de stalinismo, o governo
tenha sido responsável pela morte direta de 10 a 20 milhões de
pessoas e apresenta um dado que aponta que a população soviética em
1937 era 16,7 milhões menor do que o previsto pelo governo, o que
sugere que até esse ano, o número de mortes causadas pelo governo
pode ter sido aproximadamente essa.
Segunda Guerra Mundial
A Segunda Guerra Mundial foi um capítulo especial da história do
stalinismo. Poucas vezes na história, o mundo presenciou uma
mobilização tão grande na defesa de uma terra contra um inimigo em
comum. Os soviéticos chamam a Segunda Guerra Mundial de Grande
Guerra Patriótica e, no conflito contra os alemães, os soviéticos
mostraram seu poder de resistência e Stalin mostrou por que se
autodenominou de “feito de ferro”. Ele teve nervos para aguentar toda
a pressão da guerra, mas também exigiu um enorme sacrifício dos
soviéticos.
A guerra entre alemães e soviéticos era algo iminente, apesar da
existência de um acordo de não agressão entre os dois países. Stalin
imaginava que o ataque viria em meados de 1942 e, por conta disso,
ignorou diversos avisos acerca dos planos alemães para invadir o
território soviético já em 1941. O historiador Antony Beevor alega
que Stalin ignorou, provavelmente, mais de 100 advertências de que
o ataque alemão era iminente já em 1941|10|.

Jornal soviético
informando do início da guerra entre Alemanha e URSS.

Os alemães, por sua vez, animados pelas conquistas realizadas entre


1939 e 1941, realizaram um grande esforço para lançar o ataque
contra os soviéticos em junho de 1941. A ideia era conquistar a URSS
em até 12 semanas. O ataque foi organizado na Operação Barbarossa e
mobilizou mais de 3 milhões de soldados, além de blindados, peças de
artilharia e aviação de guerra.
Os soviéticos foram pegos despreparados e, por isso, os alemães
avançaram continuamente pelo território soviético no verão de 1941.
Em meados de dezembro, o ataque alemão tinha perdido força e
a resistência soviética começou a equiparar-se com a força dos
ataques alemães. Instigados por Stalin, os soviéticos transferiram
milhares de indústrias do oeste soviético para a região dos Urais e
milhões de soviéticos foram convocados das regiões mais inóspitas
possíveis.
Com a capacidade industrial em crescimento, graças à mobilização de
mulheres para trabalhar nas fábricas, e um volume gigantesco de
soldados utilizados, os soviéticos – a um custo altíssimo – expulsaram
os alemães de seus territórios. No auge, os soviéticos
mantiveram mais de 11 milhões de soldados no front, e o custo da
guerra cobrou dos soviéticos cerca de 25 milhões de vidas entre
soldados e civis.
Em abril de 1945, no entanto, os soviéticos entravam em Berlim para
derrubar o nazismo e, depois de semanas de batalha, conquistaram a
capital alemã e colocavam fim ao nazismo. O esforço dos soviéticos
venceu a guerra e somente aquela sociedade brutalizada após anos de
stalinismo e décadas de privações seria capaz de suportar as
exigências de Stalin e da guerra.
Morte de Stalin

Stalin faleceu em 5 de
março de 1953, vítima de um derrame cerebral.

O stalinismo foi um regime construído de acordo com as vontades e os


objetivos de Stalin. Quando o ditador soviético morreu, algumas das
características desse regime permaneceram em vigor na União
Soviética, outras, no entanto, foram abandonadas quando os crimes de
Stalin foram denunciados e o culto à personalidade dele teve fim.
Os últimos anos de vida de Stalin foram marcados por grande culto à
personalidade, uma vez que a vitória na guerra trouxe grande
popularidade ao líder. Mesmo nos últimos anos do stalinismo, os
expurgos continuaram e, após a Segunda Guerra, um dos grupos que
começou a sofrer com a perseguição foram os judeus.
Stalin faleceu, no dia 5 de março, em decorrência de um derrame
cerebral. A morte do líder comoveu a URSS, e seu funeral contou com
a presença de milhares de pessoas. O líder que assumiu a URSS
depois da morte de Stalin foi Nikita Kruschev, o responsável por
denunciar os crimes cometidos pelo stalinismo.
Notas
|1| HUSBAND, William B. A Nova Política Econômica (NPE) e a experiência revolucionária. A
construção do Estalinismo. In.: FREEZE, Gregory L. (org.). História da Rússia. Lisboa: Edições 70,
2017, p. 335.
|2| HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995, p. 371.
|3| SNYDER, Timothy. Terras de Sangue: a Europa entre Hitler e Stalin. Record: Rio de Janeiro,
2012, p. 57.
|4| Idem, p. 53.
|5| SIEGELBAUM, Lewis. A construção do Estalinismo. In.: FREEZE, Gregory L. (org.). História
da Rússia. Lisboa: Edições 70, 2017, p. 371.
|6| SNYDER, Timothy. Terras de Sangue: a Europa entre Hitler e Stalin. Record: Rio de Janeiro,
2012, p. 83-84.
|7| HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995, p. 371.
|8| SNYDER, Timothy. Terras de Sangue: a Europa entre Hitler e Stalin. Record: Rio de Janeiro,
2012, p. 143.
|9| SIEGELBAUM, Lewis. A construção do Estalinismo. In.: FREEZE, Gregory L. (org.). História
da Rússia. Lisboa: Edições 70, 2017, p. 389.
|10| BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Record, 2015, p. 216.
Créditos das imagens
[1] Tanya Kalian/Shutterstock
[2] Oleg Golovnev/Shutterstock
[3] chrisdorney/Shutterstock

SILVA, Daniel Neves. "Stalinismo"; Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/historiag/governo-stalin.htm. Acesso
em 26 de março de 2020.

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