Contexto Histórico

Angústia de Graciliano Ramos

A obra se passa no tempo e espaço em que foi escrita: Em Maceió,

após o Golpe de 1930. Este período foi marcado pela crise de 1929
que afetava diversos países incluindo o Brasil. Os EUA compravam
aproximadamente 80% da produção cafeeira brasileira, porém com
a crise a exportação de café ficou estagnada, gerando prejuízos
enormes para os produtores nacionais. O impacto da recessão
econômica fez com que o presidente na época, Washington Luís,
indicasse para sua sucessão o candidato também paulista Júlio
Prestes, sendo assim, rompendo com a política do café com leite,
que fazia alternar na presidência do país membros das oligarquias
de São Paulo e Minas Gerais.

De modo geral, os governos brasileiros no período da Primeira

República (1889-1930) foram marcados por práticas como o
clientelismo, o coronelismo, a troca de favores e a corrupção da
maquina eleitoral, métodos usados por aqueles que buscavam
garantir que seus próprios interesses fossem atendidos.

É nesse cenário em que grupos contrários à candidatura de Júlio

Prestes se uniram, formando a Aliança Liberal (AL), que lançou como
candidato à presidência o fazendeiro gaúcho Getúlio Vargas. Vargas
foi derrotado nas urnas, sendo assim, o próprio acompanhado de
seus aliados acusou a eleição de fraude e deu um golpe armado,
derrubando a Primeira República e criando um novo governo, que
apresentava novas medidas socioeconômicas e baniu as oligarquias
cafeeiras do poder.

Com o tempo diversos conflitos surgiram ao redor da ditadura

Vargas, resultando no surgimento de uma das principais articulações
opositoras da época, a Aliança Nacional Libertadora (ANL), liderada
por Luís Carlos Prestes, líder tenentista que contava com apoio da
União Soviética. Popularmente conhecida como Intentona
Comunista, a ANL foi responsável por uma série de atos
revolucionários entre os anos de 1935 e 1936, principalmente nas
cidades de Recife, Natal e Rio de Janeiro.

Apesar de não ter associação partidária nem envolvimento com

membros da ANL, o aparato de repressão de Vargas considerou
Graciliano Ramos uma ameaça ideológica, sendo assim, no mesmo
dia em que concluiu a obra ´´Angústia´´, o autor foi preso pelo
exército de Getúlio Vargas, sob acusação de subversão e associação
ao comunismo, permanecendo preso por quase um ano.

´´Angústia`` ainda foi tido como subversivo pois faz menção aos
primeiros anos de abolição da escravatura, em meados de 1900. Luís
da Silva é descendente dos latifundiários que constituíam uma casta
de privilégios no Brasil do século XIX e que não elaboraram bem as
lentas transformações que se davam no país. Assim, a ascendência
do narrador identifica-se também com os primórdios da república
brasileira e reflete o pensamento das antigas elites escravocratas,
por exemplo em um momento da história em que o personagem
Mestre Domingos, um ex escravo percebe que o avô de Luís da Silva
está em um estado debilitado e tenta o ajudar, o velho vomita na
roupa de Mestre Domingos e o repreende dizendo: ´´Negro, tu não
respeitas teu senhor não, negro!``.