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RESUMO BIOGRÁFICO.

Quem foi Marighela?

Carlos Marighela nasceu em 5 de dezembro de 1911, em Salvador, Bahia.

Importante militante revolucionário, político, escritor e poeta. Filho da baiana Maria Rita de
Nascimento e do imigrante Augusto Marighela. Na Itália, Augusto era um militante anarquista,
já no Brasil, abriu uma oficina, mas parou um pouco com sua militância, apenas continuando
na esquerda. Desse modo, seu pai sempre debatia as classes e desigualdades sociais com
Carlinhos.

Marighela gostava de escrever poemas satíricos, debochados. Em 1929, entrou no curso de


Engenharia na escola Politécnica na Bahia. Sua entrada na universidade não foi nada comum
na época, pois sua mãe era negra, seus avós eram escravos. Marighela cursa engenharia 23
anos após a abolição da escravidão.

Marighela se junta aos ideais socialistas na faculdade e se junta ao PCB, atuando ativamente
nas frentes dos movimentos estudantis. Marighela dizia que sem mandato popular o que
Getúlio tinha era uma ditadura e um golpe, nunca se iludiu com 1930. Marighela debochava de
Vargas e Juraci Magalhães, ganhando visibilidade nos festivais e saraus, o que acabou a leva-lo
a uma prisão em 1932. Em 1934 Marighela foi expulso da universidade por panfletar dentro do
espaço.

Entre 23 e 27 de novembro de 1935, aconteceu a Intentona Comunista (revolta vermelha),


uma tentativa de construir uma revolução brasileira. Feita por Olga Benário e Luís Carlos
Prestes, o movimento foi construído pelo PCB, ANL E COMITER. A tentativa fracassou, muitos
foram presos, mortos e torturados. Getúlio Vargas utilizou da derrota para justificar sua
ditadura e aprofundamento de política de censuras de imprensa e seus opositores.

Em 1936, aos 25 anos, Carlos Marighela foi transferido para o Rio de Janeiro para uma
reorganização, sendo preso na ditadura Vargas e torturado durante 6 meses. Ao sair da prisão,
foi direto para a clandestinidade, pois na ditadura do Estado Novo, comunistas eram mortos,
censurados, presos e torturados. Ao sair da prisão, Marighela também continuou dedicando-se
principalmente há escritos de poemas, textos, formações políticas, eventos culturais e
militantes. Nesta época, o PCB tinha grande força política entre os trabalhadores urbanos,
principalmente pela presença dos sindicatos. Por isso, mesmo vivendo sobre um regime
autoritário, com uma constituição autoritária e um presidente imposto; a resistência conseguia
manter algumas forças como ex: Instituto Brasil URSS, contando com nomes na direção como
JORGE AMADO. Marighela também se torna amigo de GRACILIANOS RAMOS, e postando na
mesma coluna do PCB que Carlos DRUMMOND DE ANDRADE.

Em 1939; Marighela se torna preso político pela terceira vez, torturado mais uma vez no BOPS
de São Paulo, enquanto se negou a dar informações sobre militantes e escritores. Dessa vez,
Marighela ficou preso por 6 anos, em duas prisões; 1ª em Fernando de Noronha e depois na
Ilha Grande, litoral do RJ. Nesse tempo, Marighela dedicou seu tempo a estudar, arte,
alfabetizar os prisioneiros e aprendeu Inglês.

Em abril de 1945, aconteceu a anistia do Estado Novo. Marighela e os demais presos políticos
do regime foram liberados, incluindo Luiz Carlos Prestes, e o PCB volta a legalidade, voltando
as candidaturas. Em 1945 Marighela retorna também a Bahia, promovendo seções de filiação e
construções de comitês democráticos populares. Nessa época, Marighela se candidatou ao
cargo de DEPUTADO e foi eleito. O PCB vencia nas eleições.

Em 1948 Carlos Marighela tem seu mandato cassado. Nesse período, a URSS havia derrotado o
Nazismo 2 anos atrás e estava com a moral lá em cima. Em 48 começa também a guerra fria,
onde os EUA tentavam garantir que o mundo não se rendesse aos ideais comunistas. Dessa
forma, o governo Dutra, por orientação do governo estadunidense, caçou todos os políticos
comunistas; Marighela voltou assim para a clandestinidade. Nesse período, Marighela
conheceu a secretária Clara, que trabalhava para bancada do PCB. Ela foi a mulher na qual ele
viveu um romance durante toda sua vida. Marighela ocupou muitos cargos no PCB, passou os
anos de 1953-54 na CHINA, para reconhecer de perto da revolução chinesa. Voltou para o
Brasil sendo atuante nas lutas do país, como a luta contra a privatização das estatais, defesa do
monopólio estatal do petróleo, e contra o envio de jovens soldados para a guerra da Coreia.
Aqui, escreve também ‘’alguns aspectos da renda da terra no Brasil’’.

Em 1964-> Como a ditadura não houve do dia para a noite, existiram diversos embates entre a
própria esquerda sobre quais posturas tomar diante das manifestações do golpe. Marighela
que defendia que era um momento de conflito entre esses grupos, uma resistência militar,
enquanto outras dirigencias do PCB concluíram que a resistência armada não teria chances de
impedir o golpe e geraria mais mortes.

Pouco tempo depois do golpe, Marighela caminhava tranquilamente sobre o centro e


desconfiou que estava sendo perseguido por agentes da repressão. Com medo, se esconde em
um cinema que estava cheio de crianças, mas isso não impediu que os agentes o atirassem e o
prendessem. A prisão teve uma repercussão muito grande e negativa, tanto que ele foi
libertado em 1965 por decisão judicial, porque a prisão teve repercussão e muitos
demonstraram apoio a ele, como a ditadura era recente, libertaram Marighela. Em 65
Marighela tem como fato que o único jeito seria uma resistência armada, aprofundando as
divergências entre o PCB; escrevendo livros que mostrava como era necessária uma maior
resistência radicalizada. Em 1966 Marighela escreve ‘’A CRISE BRASILEIRA’’ onde defende a
luta armada. Em dezembro de 1966 Marighela escreve uma carta direcionada ao PCB, onde
pediu para sair do partido devido a diferenças inconciliáveis. Naquele período, existiu uma
aproximação em acordo entre Fidel Castro e Brizola, pois Brizola promovia apoio ao povo
Cubano.

Em maio de 69, o serviço brasileiro diz que segundo Cuba; Marighela é o único revolucionário
brasileiro recebendo reconhecimento e apoio de Cubas, tendo Fidel Castro dito que coloca sua
esperança em Marighela.

No 6º congresso do PCB, Marighela e outros participantes defenderam a luta armada e foram


expulsos do partido. Em fevereiro de 68: CARLOS MARIGHELA; JOAQUIM CÂMARA; ZILDA
XAVIER E RAFAEL MARTINELLI, criaram a maior guerrilha contra a ditadura no Brasil, a ALN
(AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL). A ALN não roubava civis, trabalhadores, comércios e lojas.
Os assaltos aconteciam em bancos, redes milionárias e cargas de armas. O grupo tinha como
objetivo oferecer uma resistência armada aos trabalhadores e estudantes, pois naquela época,
militantes eram mortos apenas por existir. As torturas aplicadas pela ditadura iam de choque,
insetos, estrupo com insetos, ratos, baratadas e mutilação. Os militares não poupavam
crianças e neném, além de matar povos indígenas.

Sobre a ALN, o viés militar do movimento não impediu que as lideranças ajudassem na
construção de greves e ações populares, como por exemplo a primeira greve depois de 64, em
Contagem, onde 16 mil metalúrgicos pararam. A greve dos metalúrgicos de Osasco, que
aconteceu 3 meses depois também tinha em sua liderança pessoas ligadas a guerrilha. Além
disso, os padres dominicanos apoiavam a guerrilha.

Em julho de 69, Marighela escreveu o ‘’mini manual do guerrilheiro urbano’’, pequeno livro
com o objetivo de orientar movimentos revolucionários que queriam usar as táticas de
guerrilha. No dia 15 de agosto de 1969, aconteceu mais uma ação grandiosa da ALN, na cidade
de São Paulo. Diferente das ações comuns, tomaram uma rádio afiliada da rede globo, e um
manifesto sobre a luta armada foi lido ao vivo. Em menos de um ano que o movimento existia
Marighela já era apontado como inimigo número um da ditadura.

Em 4 de setembro de 1969, a ALN promoveu a ação mais marcante da resistência, o sequestro


do embaixador norte-americano, pois os golpes militares foram financiados pelos EUA, e essa
ação teve um grande papel. O embaixador foi liberado após a divulgação de um manifesto e a
libertação de 15 presos políticos que estavam sendo torturados no DOPS. Na noite 4 de
novembro de 1969, Marighela foi assassinado em São Paulo em uma emboscada comandada
pelos delegados do DOPS, a emboscada foi criada a partir de torturas de freis que tinham
contato com Marighela. Carlos foi encontrado com 5 tiros, um deles disparado a menos de 8
centímetros de seu corpo. Marighela foi enterrado no mesmo dia como indigente.

LIVRO: FICHAMENTO/RESUMO

Na madrugada de 25 de janeiro de 1835 à espera do amanhecer. Espremiam-se no


subsolo de um sobrado da ladeira da Praça, no coração de Salvador. Naquele domingo,
seria diferente: conterrâneos procedentes da mesma margem do Atlântico os
conclamariam a pôr fim a tal estado de coisas. Não haveria mais senhores, pelo menos
senhores brancos. Quase três séculos depois de os primeiros navios negreiros
ancorarem, chegara a hora de o povo da África mandar.

Elas não foram poucas. Desde o início do século, os haussás tinham feito arder a Bahia.
Planejaram envenenar os brancos, em 1807, e um líder fora castigado com mil açoites
em praça pública. Dois anos mais tarde, o ferro em brasa marcara com o f de fujão os
corpos dos cativos recapturados. Os haussás se transformaram no espectro que
aterrorizava os senhores de escravos e engenhos.

Na projeção do principal historiador da rebelião de 1835, João José Reis, naquele ano os
africanos, cerca de 22 mil, representavam um terço dos moradores de Salvador. Havia
quase um escravo — 42% da população, incluindo os nascidos no Brasil — por homem
ou mulher livre. (p.31)

Mãe e Pai Marighela.

Não era sombra o que buscava o ferreiro Augusto Marighella. Ele queria trabalho.
Passara uma temporada em São Paulo ao lado da mãe, em companhia de quem deixara a
Itália depois da morte do pai (p.33)

Às vésperas de completar 23 anos, Augusto ostentava silhueta de atleta, topete


imponente e um rosto que parecia esculpido. Colonos oriundos da região não gozavam
de boa fama entre os senhores de terras que, com o fim do tráfico de africanos,
recorreram à mão de obra europeia. Eram evitados em contratos de imigração por conta
de relatos de insubmissão ao trabalho degradante. De 1903 a 1920, no caso da vinda de
italianos para o Brasil, os “encrenqueiros” da Emília-Romanha não passaram de 3%
(9103 entre 306652). Educaram-nos para não baixar a cabeça. Como todos os
companheiros de viagem que trocavam a existência sem eira nem beira pelas esperanças
do Novo Mundo, recebiam no cais um guia de dezesseis páginas do Commissariato
Generale dell’Emigrazione. Intitulado Avvertenze per l’emigrante italiano, predicava:
“Mantenha a sua dignidade de trabalhador e de italiano: não aceite ocupação humilde
demais ou pagamento inferior ao do trabalhador do país”. E relacionava as
representações diplomáticas mundo afora, sem esquecer do consulado da Bahia. (p.34)

Operário qualificado, não o encontrou na metalurgia — o único ramo de expressão da


raquítica indústria baiana era o têxtil. Topou uma vaga de motorista e mecânico dos
caminhões do lixo. Logo se sentiu em casa. (p.34).

Chamava-se Maria Rita dos Santos, repartia o cabelo rigorosamente no meio e era uma
tentação. Em 1908, completara vinte anos — nascera a 22 de maio de 1888, nove dias
após a Lei Áurea. Jamais revelaria se, por um instante, resistiu aos galanteios do italiano
sedutor que interpretava músicas românticas em serenatas dedicadas a ela. Formaram
um casal tão belo que nenhum dos oito filhos, alguns bem-apanhados, haveria de igualar
a beleza dos pais.

Maria Rita estava em casa às três horas da madrugada da terça-feira 5 de dezembro de


1911, quando uma parteira a ajudou a pôr no mundo o primeiro filho, o mulato Carlos
Marighella. -> Nascimento de Marighela. (p. 35)

A oficina e a casa ficavam do lado direito da rua acanhada e sem saída. Separavam-nas
algumas residências, e uniam-se pelos fundos. O que tinha de estreita, com uma porta e
duas janelas na fachada, a casa tinha de comprida. Sem forro no teto, expediente nas
edificações da Bahia para amainar o bafo, cobria-se apenas de telhas. Casas com forro
eram as dos bacanas que moravam na avenida Sete de Setembro e frequentavam o
Clube Bahiano de Tênis, onde negros não entravam no time de futebol e muito menos
nos bailes. A rígida hierarquia social baiana desfilava aos olhos do jovem Marighella.
Crianças trabalhadoras se machucavam ao pegar o bonde em movimento para vender
jornais, o que não passava despercebido a Carrinho.
(p. 44).

Carrinho aproveitava o cabelo pixaim para ousar nos cortes que sugeriam um
excêntrico. Um escrivão registrou-o como branco em 1928, na certidão tardia de
nascimento — consta como declaração de Augusto. Apareceu como mulato no atestado
de vacina contra varíola em 1931. (p. 45) -> Marighela como mulato
A cor persistia, entretanto, fator de discriminação. Em 1911, quando Marighella nasceu
e a Lei Áurea contava mais de 23 anos, o jornal A Bahia quantificou: “[...] Três mil
anos! Tal é [n]o mínimo a dianteira da raça branca sobre a negra”. Contudo os
aguadores só desapareceram quando Marighella deixava a infância. Eles levavam sobre
os ombros barris com água apanhada nas fontes, para vender. Eram todos negros. O que
não impediu os proprietários de engenhos e terras, beneficiários da economia
agroexportadora assentada no suor escravo, de associar os homens de cor da Bahia à
preguiça. (p. 45).
Em 1936, o sociólogo americano Donald Pierson apurou que no ensino secundário do
estado havia apenas 6,4% de alunos negros e 18,9% de mulatos — os brancos
representavam 74,3%. Nos três cursos superiores (medicina, direito e engenharia), os
autodeclarados brancos dominavam 80% das listas de presença. (p. 46).

Ao colar grau, em março de 1931, obteve o título de bacharel e se habilitou para ser
professor do ensino ginasial. (p. 50).

As tropas do interventor Juracy Magalhães já bloqueavam os caminhos que levavam à


faculdade. Lá dentro, o segundanista de engenharia Carlos Marighella se aprumava para
o combate. Os amotinados passaram o chapéu para recolher alguns tostões e engordar o
estoque de pistolas e revólveres. (p. 56).

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