Você está na página 1de 6

Carlos Marighella

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Carlos Marighella

Marighella em 1946—1947

Deputado federal do Brasil


(38.ª legislatura)

Período 1947 — 1948

Dados pessoais

Nascimento 5 de dezembro de 1911
Salvador, Bahia

Morte 4 de novembro de 1969 (57 anos)
São Paulo, SP

Nacionalidade brasileiro

Ocupação Lista[Expandir]

Carlos Marighella (Salvador, 5 de dezembro de 1911 — São Paulo, 4 de novembro de 1969) foi


um político, escritor e guerrilheiro comunista marxista-leninista brasileiro.
Um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura militar brasileira (1964–1985),
Marighella chegou a ser considerado o inimigo "número um" do regime. Foi cofundador da Ação
Libertadora Nacional, organização de caráter revolucionário. Em novembro de 1969 foi
assassinado por agentes do DOPS em uma emboscada.[6][7]
Biografia

Os pais de Marighella

Carlos Marighella foi um dos sete filhos de uma família pobre de Salvador. Seu pai era
o imigrante italiano Augusto Marighella, operário metalúrgico, mecânico e ex-motorista
de caminhão de lixo que chegara a São Paulo e se transladara à Bahia. Sua mãe era
a baiana e ex-empregada doméstica Maria Rita do Nascimento, negra e filha livre de escravos
africanos trazidos do Sudão (negros hauçás).[8] Nasceu em Salvador no dia 5 de dezembro de
1911, residindo na Rua do Desterro 9, Baixa do Sapateiro, onde concluiu o seu curso primário e o
secundário. Augusto Marighella veio ao Brasil fazer companhia à sua mãe, que saíra da Itália
para São Paulo depois de tornar-se viúva. Tendo sua mãe casado de novo, Augusto mudou-se
para Salvador aos vinte e dois anos de idade, no dia 4 de novembro de 1907. Procurava trabalho
como metalúrgico, mas se empregou como motorista e mecânico de caminhão de lixo. Conheceu
Maria Rita em 1908, ainda como empregada doméstica, trabalhando para uma família francesa
aos vinte anos de idade. Os pais de Carlos mudaram-se para uma casa na Rua da Fonte das
Pedras, perto do dique do Tororó, onde sua mãe lhe dera à luz na madrugada de uma terça feira
e, tempos mais tarde, à irmã de Carlos Marighella, Anita Marighella. Mudaram-se para Barão do
Desterro cerca de três anos mais tarde, onde Augusto adquiriu uma oficina mecânica ao lado da
nova casa e Carlos Marighella passaria toda a infância.[9]
Com incentivo do pai, Carlos Marighella se alfabetizara cedo, na idade de quatro anos. Seu pai
fomentava a leitura de Carlos com livros nacionais e importados, sobretudo autores franceses.
Chegou a reformar seu escritório a fim de servir para Carlos como sala de estudos. Inscreveu-se
no primeiro ano em 1925 no colégio Carneiro Ribeiro, no Largo da Soledade, onde terminou o
curso com treze anos e mudou-se para o Ginásio da Bahia, atual Colégio Central, na Avenida
Joana Angélica. Lá ficou conhecido por responder uma prova de física em versos, exame que
ficou exposto no colégio até a concretização do golpe de 64.

Carteira de filiação de Marighella ao Partido Comunista do Brasil

Em 1934 abandonou o curso de engenharia civil da Escola Politécnica da Bahia para ingressar


no PCB.[10][13] Tornou-se então, militante profissional do partido e se mudou para o Rio de Janeiro,
trabalhando na reorganização do PCB.[7]
Conheceu a prisão pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao
interventor Juracy Magalhães.[14] Libertado, prosseguiria no ativismo político, interrompendo os
estudos universitários no terceiro ano, em 1934, quando deslocou-se para o Rio de Janeiro.[10]
Em 1º de maio de 1936, foi preso por subversão e torturado pela polícia subordinada a Filinto
Müller[9]. Permaneceu encarcerado por um ano. Foi solto pela "macedada" (nome da medida
tomada pelo ministro da Justiça José Carlos de Macedo Soares, que libertou os presos
políticos sem condenação). Ao sair da prisão entrou para a clandestinidade, sendo recapturado
em 1939 e novamente torturado, permanecendo na prisão até 1945, quando foi beneficiado com
a anistia do processo de redemocratização do país.[10]
Elegeu-se deputado federal constituinte pelo PCB baiano em 1946.[10] Nesse período teve um
breve relacionamento com Elza Sento Sé, operária da Light, com quem teve um filho, Carlos
Augusto Marighella, nascido a 22 de maio de 1948 no Rio de Janeiro. Neste mesmo ano,
Marighella voltou a perder o mandato, em virtude da nova proscrição do partido. Voltou para a
clandestinidade e ocupou diversos cargos na direção partidária. Convidado pelo Comitê Central
do Partido Comunista da China, passou os anos de 1953 e 1954 naquele país, a fim de conhecer
de perto a então recente revolução comunista chinesa.[15] Em março de 1964, ajudou a redigir o
discurso proferido pelo marinheiro José Anselmo dos Santos, o “cabo Anselmo”, durante
a Revolta dos Marinheiros.[16] Em maio, após o golpe militar, foi baleado e preso por agentes
do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) dentro de um cinema, no Rio. Libertado em
1965 por decisão judicial, no ano seguinte optou pela luta armada contra a ditadura,
escrevendo A Crise Brasileira. Em dezembro de 1966, renunciou à Comissão Executiva Nacional
do PCB. Em agosto de 1967, participou da I Conferência da Organização Latino-Americana de
Solidariedade (OLAS), realizada em Havana, Cuba, a despeito da orientação contrária do PCB.
Aproveitando a estada em Havana, redigiu Algumas Questões Sobre a Guerrilha no Brasil,
dedicado à memória do guerrilheiro Che Guevara e tornado público pelo Jornal do Brasil em 5 de
setembro de 1968. Foi expulso do partido em 1967 e em fevereiro de 1968 fundou o grupo
armado Ação Libertadora Nacional (ALN), que no ano seguinte participaria do sequestro do
embaixador norte-americano Charles Elbrick, em uma ação conjunta com o Movimento
Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).[15]
A ALN continuou em atividade até o ano de 1974 e teve no seu comando Joaquim Câmara
Ferreira, como sucessor de Marighella. Câmara Ferreira também foi morto por Fleury no ano
seguinte. Os militantes mais atuantes em São Paulo eram Yuri Xavier Ferreira, Ana Maria
Nacinovic Correa, Marco Antonio Valmont e Gian Mercer, que continuaram fazendo panfletagem
contra a ditadura, até meados de 1972, quando também foram mortos numa emboscada no bairro
paulistano da Mooca, ao saírem do restaurante Varela. Dezoito de seus militantes foram mortos e
cinco foram considerados desaparecidos. O último líder da ALN foi Carlos Eugênio Paz, que
sobreviveu auto exilando-se na França, voltando ao Brasil após a anistia.
Assassinato

Marighella foi considerado o "inimigo número um" da ditadura

Com o recrudescimento do regime militar, os órgãos de repressão concentraram esforços em sua


captura. Na noite de 4 de novembro de 1969, Marighella foi surpreendido por uma emboscada na
alameda Casa Branca, na capital paulista, sendo morto a tiros por agentes do DOPS, em uma
ação coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. A proximidade de Marighella e de outros
membros de organizações armadas com os frades Dominicanos no bairro das Perdizes, na Zona
oeste da cidade de São Paulo, era conhecida por agentes norte-americanos desde dezembro de
1968, informada pelo frei Edson Braga de Souza. Os norte-americanos tomaram conhecimento
das relações de Marighella com os frades através das investigações motivadas pelo assassinato
de Charles Chandler em 1968. Na noite de 1 de novembro de 1969 os frades Ivo e Fernando de
Brito tomaram um ônibus para o Rio de Janeiro, onde eles tratariam do apoio a militantes vindos
de Cuba.[19] No dia seguinte foram presos e levados para o prédio do Ministério da Marinha, onde,
no quinto andar, ficava a central de torturas do Cenimar.[19] Após serem submetidos a violentas e
bárbaras sessões de tortura comandas pelo delegado Sérgio Fleury, soube-se que os frades
tinham um encontro marcado com Marighella para o dia 4 de novembro. Na madrugada de 4 de
novembro, Fleury invadiu o convento dos Dominicanos e prendeu mais cinco frades.[

Corpo de Marighella no banco traseiro do veículo

Em uma emboscada preparada a partir das informações obtidas por meio da tortura dos
religiosos, Fleury obrigou os frades a confirmar o encontro com Marighella, e o frade Fernando o
fez.[19] Eles tinham um código que auxiliou na emboscada: "Aqui é o Ernesto. Esteja hoje na
gráfica".[20] O encontro foi marcado na Alameda Casa Branca, uma rua próxima à Avenida
Paulista, na cidade de São Paulo.[19]
No dia do encontro, havia uma caminhonete com policiais e um automóvel, com supostos
namorados (onde Sérgio Fleury disfarçou-se), além do fusca com Fernando e Ivo.[19]
Ao chegar na Alameda, às 20h, dirigiu-se ao Fusca e entrou na parte traseira. Frei Ivo e Fernando
saíram rapidamente do carro e se jogaram no chão. Percebendo a emboscada e reagindo ao
tiroteio iniciado por Fleury imediatamente reagiu à prisão e foi morto. Segundo Elio Gaspari,
Marighella portava um revólver Taurus calibre .32 com cinco balas.[21] Já de acordo com Mário
Magalhães, Marighella estava desarmado.[22] Ambos os autores narram que Marighella estava com
cápsulas de cianeto de potássio.
Além de Marighella, outras três pessoas foram atingidas na emboscada:

 Estela Borges Morato, investigadora do DOPS, morta.[19]


 Friederich Adolf Rohmann, protético que passava pelo local, morto.[19]
 Rubens Tucunduva, delegado envolvido na emboscada, ficou ferido gravemente.[4][19]

Monumento instalado na Alameda Casa Branca, em São Paulo, que homenageia Marighella, morto nas imediações. A
placa frontal foi arrancada

Anistia póstuma
Em 1996, o Ministério da Justiça reconheceu a responsabilidade do Estado pela sua morte; em 7
de março de 2008 foi decidido que sua companheira Clara Charf deveria receber pensão vitalícia
do governo brasileiro[23] apesar de a família de Marighella não ter solicitado reparação econômica,
apenas o reconhecimento da perseguição ao militante. Em 2012, depois da apurações
da Comissão da Verdade, o ministro da justiça, José Eduardo Cardozo, oficializou a anistia post
mortem de Marighella. Em novembro de 2013, a Comissão da Verdade realizou ato em
homenagem ao aniversário de 44 anos da morte de Marighella. O tributo foi na alameda Casa
Branca e contou com a presença da viúva do guerrilheiro, Clara Charf. Ela considerou o tributo
importante para conscientizar as pessoas do que houve naquela rua, onde seu marido fora
assassinado.[

Obra
Poesias
Marighella escrevia poesias e, aos 21 anos, durante as aulas de engenharia divertia professores
e colegas fazendo provas em verso. Da mesma forma, compôs em versos ataques ao interventor
baiano Juracy Magalhães, fato que lhe valeu sua primeira prisão, seguida de tortura, em 1932.
Ainda na prisão, desta feita em 1939, ele compôs o poema "Liberdade":
"(...)E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome.".[28]
Sua obra poética está reunida no livro Rondó da Liberdade]
Minimanual do Guerrilheiro Urbano
Uma das mais divulgadas obras de Marighella, o Minimanual do Guerrilheiro Urbano foi
escrito em junho de 1969, para servir de orientação aos movimentos revolucionários.
[29]
 Circulou em versões mimeografadas e fotocopiadas, algumas diferentes entre si, sem que
se possa apontar qual é a original. Nesta obra, detalhou táticas de guerrilha urbana a serem
empregadas nas lutas contra governos ditatoriais.
A crise brasileira
Trabalho teórico no qual analisa a conjuntura nacional a partir da estrutura de classes do
Brasil e critica o PCB por resguardar-se de qualquer atividade consequente, acomodado na
ideia de um processo eleitoral limpo, e, ao mesmo tempo, refratário ao divórcio da chamada
"burguesia”
Outros escritos políticos
Alguns escritos políticos de Marighella, embora redigidos por ele em português, ganharam
primeiro uma edição em outra língua, devido à censura imposta a obras do gênero pelo
regime militar brasileiro. É o caso de Pela Libertação do Brasil, que, em 1970, ganhou uma
versão na França financiada por grupos marxistas. Estão disponíveis em português: Alguns
Aspectos da Renda da Terra no Brasil (1958), Algumas Questões Sobre as Guerrilhas no
Brasil (1967) e Chamamento ao Povo Brasileiro (1968).

Você também pode gostar