Você está na página 1de 42

Unidade curricular: História de Portugal Contemporâneo (século XX)

2º Semestre – 2019/2020

A política habitacional do Estado Novo: o caso do


Bairro da Encarnação (1933-1953)

Licenciatura em História – 3º Ano


Docente: Prof.ª Doutora Maria Fernanda Rollo
Discentes: David Batista Farto, nº 54889
Pedro Fernandes Pina, nº 55043
Maio de 2020

i
Ao colega Dr. Carlos Alberto Revez Inácio,
um especial agradecimento pela generosidade
com que sempre se dispôs a receber-nos e a ajudar-nos,
e ao qual este trabalho muito deve.
Índice
Introdução ....................................................................................................................... 1

I. Objetivos e Metodologias.......................................................................................... 1

II. Estado da Arte .......................................................................................................... 3

O problema da habitação em Portugal na primeira metade do século XX............... 6

1. Política habitacional durante a Primeira República .................................................. 6

2. Política habitacional do Estado Novo ....................................................................... 7


2.1 Contexto político ................................................................................................ 7
2.2 Contexto económico e demográfico ................................................................... 8
2.3 Resposta do Estado Novo: Programa das Casas Económicas........................... 9

O caso do bairro da Encarnação ................................................................................. 13

3. A formação do bairro .............................................................................................. 13

4. Os primeiros habitantes do bairro da Encarnação .................................................. 17

Conclusão ...................................................................................................................... 20

Fontes e corpos documentais ....................................................................................... 21

Fontes impressas ......................................................................................................... 21

Fontes Audiovisuais ................................................................................................... 22

Bibliografia .................................................................................................................... 23

Obras Gerais e Dicionários sobre o Estado Novo e de Lisboa ................................... 23

Estudos gerais sobre habitação social durante o Estado Novo ................................... 24

Estudos relativos ao Bairro da Encarnação ................................................................ 25

Anexos ............................................................................................................................... i

Gráficos: ........................................................................................................................ i

Fotografias: ................................................................................................................. iiv

i
Introdução

O nosso trabalho pretende estudar a política habitacional do Estado Novo nas


décadas de 30 e 50, utilizando como estudo de caso o Bairro da Encarnação, em Lisboa.

O objeto de estudo da nossa investigação é passível de ser inserido no quarto ponto


do programa da unidade curricular de História de Portugal Contemporâneo (Séc. XX) –
o Estado Novo. O arco cronológico do presente trabalho inicia-se em 1933, data da
institucionalização do regime salazarista, mas também da promulgação do Decreto-Lei
n.º 23.052, que inaugurou a moldura jurídica em que assentou boa parte da política das
“casas económicas” levada a cabo pelo Estado Novo, e estende-se até 1953, ano em que
é emitido o Decreto-Lei n.º 39.288, que altera as condições do regime de acesso às
moradias.

I. Objetivos e Metodologias

Em 1933, era promulgado o Decreto-Lei n.º 23.052, que estabelecia o Programa


das Casas Económicas. Embora o objetivo desta iniciativa legislativa nunca tenha sido o
de garantir habitação às camadas mais carenciadas da população, o discurso político
propalado pelas autoridades do regime, e largamente difundido na imprensa e nos órgãos
de propaganda, foi exatamente o oposto, orgulhando-se de reduzir a imbrincada questão
da carência habitacional por via da concessão de casas a “famílias modestas e pobres”.

Desta forma, na evidência da ausência de uma dimensão socializante num


programa alegadamente “social”, e divulgado como tal, levantaram-se automaticamente
outras questões que se interligam e às quais este trabalho tentará dar resposta: a que
grupos sociais eram estes bairros dirigidos? Que critérios seguia a distribuição das casas?
Que objetivos político-ideológicos nortearam este programa e a construção destes
bairros? Por fim, que significado se pode retirar na diferença entre o discurso político e a
prática legislativa?

Por outro lado, a decisão em estudar o Bairro da Encarnação prende-se, em grande


medida, com o desafio curricular proposto de realização de uma investigação no âmbito
da História Local, mas também à circunstância de este bairro corresponder ao maior
aglomerado de habitações económicas que o Estado Novo construiu ao abrigo do
Programa das Casas Económicas. Após uma breve pesquisa bibliográfica, rapidamente

1
constatámos o reduzido número de trabalhos académicos focalizados no bairro. Não
obstante esta circunstância, decidimos avançar com o estudo do processo de formação do
Bairro da Encarnação, uma vez que a documentação encontrada se revelou bastante
extensa e rica.

Com efeito, uma investigação desta natureza exige uma contextualização o mais
completa possível da época em que se insere e do ideário político vigente. Para tal, além
da legislação consagrada à política habitacional, consultámos discursos políticos
referentes a esta matéria, muitos deles presentes nas publicações do Secretariado da
Propaganda Nacional e nos boletins do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência,
onde se encontram também as listas dos requerentes e da atribuição definitiva das
habitações do Bairro da Encarnação. No sentido de dar consistência ao nosso trabalho e
expor a retórica propagandística do regime em relação a estes bairros, optámos por
analisar também as peças jornalísticas que deram conta da inauguração do Bairro da
Encarnação.

Relativamente ao intervalo cronológico do nosso estudo, optámos por estendê-lo


de 1933 a 1953, como referido anteriormente. Contudo não procurámos seguir
rigidamente essa delimitação temporal, na medida em que sentimos necessidade de recuar
à Primeira República, nomeadamente a 1918, quando se lançaram as primeiras iniciativas
legislativas ligadas à habitação social e ao início da construção dos primeiros bairros
económicos do Arco do Cego e da Ajuda/Boa Hora.

Ao tentarmos responder às perguntas que colocámos, a principal intenção do


presente trabalho é contribuir para um melhor conhecimento acerca da estratégia de
habitação protagonizada pelo Estado Novo até ao início da década de 50, e de certa forma
provar que o estudo das políticas habitacionais constitui uma vertente interessante para a
caracterização e compreensão do regime salazarista.

A concretização deste trabalho foi, porém, alvo de vários obstáculos, que se


prendem com a situação excecional com o que o país se debate desde Março, e que não
nos permitiram avançar com a investigação como havíamos delineado inicialmente. A
eclosão do surto de Covid-19, e a sua rápida evolução, apanharam toda a gente
desprevenida, obrigando ao encerramento de todas as instituições “não essenciais”, neste
caso universidades, bibliotecas e arquivos. A adoção de medidas extraordinárias pelo
Governo, com a declaração do Estado de Emergência e as suas posteriores renovações
veio confirmar o encerramento permanente destes sítios. Todas estas circunstâncias
2
obrigaram-nos a rever a nossa calendarização e a nossa metodologia, o que pode ter
comprometido de alguma forma a qualidade do nosso trabalho, embora uma das nossas
principais preocupações tenha sido a de procurar mitigar ao máximo essas agravantes.

Não obstante esta situação, é de referir que todas as fontes apresentadas no plano
de trabalho foram analisadas exaustivamente. De igual modo, a bibliografia também foi
alvo de várias leituras, tendo sido toda previamente compilada nas poucas vezes que
fomos à Biblioteca Nacional de Portugal, ainda antes do eclodir da pandemia, embora
não tenhamos tido oportunidade de explorar uma bibliografia suplementar como
pretendíamos. Deste modo, apesar dos inevitáveis reajustes que tivemos de fazer, os
objetivos inicialmente propostos mantiveram-se, sendo que para a sua prossecução
trabalhámos coordenados, em regime de teletrabalho, um com o outro, sempre que isso
foi possível.

II. Estado da Arte

Dada a temática do presente trabalho – o estudo da política habitacional do Estado


Novo, através da análise do processo de formação do Bairro da Encarnação – tornou-se
necessário recolher e estudar uma bibliografia tão mais vasta e diversa quanto possível,
que desse conta não só das várias dinâmicas do universo português da habitação social,
desde o início do século até à década de 50, mas também do bairro lisboeta.

No vasto universo bibliográfico, surge, contudo, a necessidade de salientar


algumas obras que consideramos relevantes e cuja leitura necessita ainda de ser
aprofundada. Neste contexto, constatámos que se por um lado, o estudo das políticas
públicas de habitação social em Portugal na primeira metade do século XX tem merecido
contínua atenção académica, por outro, a produção científica desenvolvida em torno desta
temática tem sido beneficiada por um forte interesse interdisciplinar, ultrapassando o
restrito campo da historiografia, com a publicação de trabalhos em áreas tão diversas e
distintas como Arquitetura, Urbanismo ou Sociologia.

A introdução ao tema foi feita através da leitura da entrada “Bairros Sociais”,


presente no Dicionário de História de Lisboa1, elaborado por Francisco Gingeira Santana

1
Francisco Santana, Eduardo Sucena, Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, C. Quintas, 1994, p.132.

3
e Eduardo Sucena, que se assume como um bom ponto de partida para um enquadramento
genérico do complexo tópico da história da habitação social em Portugal.

Numa perspetiva mais cronológica, as primeiras experiências de intervenção


sistemática do Estado na promoção de políticas de habitação social foram amplamente
estudadas por Maria Júlia Ferreira2, Manuel Teixeira3 e Maria da Conceição Tiago4, que
através de formas e modalidades diferentes, abordaram a ação dos governos da Primeira
República no campo da política habitacional, chegando mesmo a tocar já nas estratégias
habitacionais promovidas pelo Estado Novo. Ao longo dos seus trabalhos, é possível
identificar a tomada de consciência por parte dos poderes políticos face à crise
habitacional existente nas grandes cidades e, dessa forma, identificar as necessidades que
conduziram à criação dos primeiros bairros económicos.

No campo dos estudos relativos à habitação social durante o Estado Novo, que
constitui o foco do presente trabalho, é inevitável evocar Marielle Christine Gros, cuja
obra O alojamento social sob o fascismo, publicada em 1982, constitui o primeiro ensaio
relativo a esta matéria, embora abordando sobretudo a cidade do Porto. De igual modo, é
de referir as contribuições pioneiras de Carlos Nunes Silva, com o livro Política urbana
em Lisboa, 1926-19745 e o artigo “Mercado e políticas públicas em Portugal: a questão
da habitação social na primeira metade do século XX”6, ambos publicados em 1994, que
nos oferecem uma imagem sumária, mas rigorosa, da problemática da habitação social.
Outra referência obrigatória é Cidade e Habitação social: o Estado Novo e o programa
das casas económicas em Lisboa7, de Luís V. Baptista, importante no seu esforço de
traçar as primeiras políticas públicas em matéria habitacional em Portugal e a sua
evolução ao longo do tempo.

2
Maria Júlia Ferreira, Habitação Social em Portugal - Breve história e alguns problemas, Lisboa,
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1988 & Maria Júlia Ferreira,
“O Bairro Social do Arco do Cego — uma aldeia dentro da cidade de Lisboa”, Análise Social, vol. 29, n.
127, 1994, Instituto Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
3
Manuel C. Teixeira, “As estratégias de habitação em Portugal, 1880-1940”, Análise Social, vol. 27, n.
115, 1992, Instituto Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
4
Maria da Conceição Tiago, “Bairros Sociais da I República: projectos e realizações”, Ler História, n. 59,
15 de outubro 2010.
5
Carlos Nunes Silva, Política urbana em Lisboa, 1926-1974, Lisboa, Livros Horizonte, 1994.
6
Carlos Nunes Silva, “Mercado e políticas públicas em Portugal: a questão da habitação na primeira metade
do século XX”, Análise Social, vol. 29, n. 127, 1994, Instituto Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
7
Luís V. Baptista, Cidade e habitação social: o estado novo e o programa das casas económicas em
Lisboa, Oeiras, Celta Editora, 1999.

4
Publicado mais recentemente, já em 2012, o livro Na modesta cidadezinha.
Génese e estruturação de um bairro de casas económicas do Porto8, de Virgílio Borges
Pereira e João Queirós, figurou-se uma aportação importante, lançando pistas de
orientação interessantes para o nosso trabalho, embora dedicando a análise, mais uma
vez, a um bairro portuense. Por fim, neste campo, é de mencionar o artigo9 de Gonçalo
Antunes, José Lúcio, Nuno Pires Soares e Rui Pedro Julião, que corresponde a uma boa
sistematização das políticas sociais de habitação implementadas durante a Primeira
República e o Estado Novo, na medida em que traça um percurso cronológico, mas
também crítico, da legislação promulgada em matéria habitacional desde a implantação
da República até 1974, identificando as diferentes soluções e estratégias que estes dois
regimes procuraram aplicar para resolver o problema da habitação.

Relativamente à história do Bairro da Encarnação, o seu estudo encontra-se pouco


explorado pela historiografia. Neste vazio historiográfico ressaltam, porém, duas obras,
das quais merece especial menção o livro O Bairro da Encarnação e as Antigas Quintas
dos Olivais10, da autoria de Fernando Furtado Barreiros e Carlos Alberto Revez Inácio,
por constituir a principal base de suporte da nossa investigação. Esta obra, editada pela
Imprensa Municipal da Câmara Municipal de Lisboa e escrita por dois moradores do
bairro, revelou-se fundamental, na medida em que faz uma extensa caracterização da
história da Encarnação desde a sua formação até aos finais da década de 50, recorrendo
para isso a testemunhos orais de antigos e atuais moradores.

8
Virgílio Borges Pereira e João Queirós, Na “modesta cidadezinha”: génese e estructuração de um bairro
de “casas económicas” do Porto (Amial, 1938-2010), Lisboa, Afrontamento, 2012.
9
Gonçalo Antunes et al., “Políticas de habitação social precedentes a Abril de 1974”, 2016.
10
Carlos Alberto Revez Inácio e Fernando Furtado Barreiros, O Bairro da Encarnação e as Antigas Quintas
dos Olivais, Lisboa, CML - Imprensa Muncipal, 2012.

5
O problema da habitação em Portugal na primeira metade do século
XX

À data da implantação da República, Portugal permanecia, de um modo geral, um


país estruturalmente rural e insipidamente industrializado. Contudo, apesar de não ter
conseguido encetar um processo de industrialização e modernização económica e social
semelhante ao que caracterizava os países mais desenvolvidos11, Portugal não ficou
alheio a estes fenómenos e acompanhou, à sua medida, os seus efeitos.

O crescimento demográfico de entre os finais de Oitocentos e o dealbar do século


XX, o crescente desenvolvimento industrial e a modernização agrícola deram origem a
um importante fenómeno de êxodo rural, com a deslocação para as cidades de amplos
contingentes populacionais, que não tardaram a aglomerar-se nas zonas fabris e nos
subúrbios. As consequências mais evidentes destas migrações foram o crescimento
desordenado dos espaços urbanos e um flagrante desequilíbrio na relação entre a oferta e
a procura de habitação. O excesso de procura fez com que o valor das rendas sofresse um
aumento significativo, elevando-o para níveis proibitivos às classes trabalhadoras, com
parcos recursos económicos.

1. Política habitacional durante a Primeira República

A dimensão do problema da precariedade do alojamento exigia uma rápida e


eficaz resposta por parte do Estado. Todavia, só em 1918, em pleno consulado sidonista
e em contexto de guerra mundial, esta questão seria pela primeira vez encarada
frontalmente pelas autoridades políticas. A intervenção estatal neste campo tem de ser
compreendida à luz da dinâmica de ascensão e reforço do papel do Estado, cuja ação o
desenho de políticas públicas começava progressivamente a ultrapassar a velha ortodoxia
de feição liberal de mera regulação e gestão das questões monetárias e das relações
comerciais externas12.

A promulgação do Decreto-Lei n.º 4.137, de 25 de abril de 1918, procurou


minorar a crescente procura habitacional, bem como os graves problemas higiénico-
sanitários daí decorrentes, através da promoção da construção de “casas económicas”,

11
Fernando Rosas e Maria Fernanda Rollo (eds.), História da Primeira República Portuguesa, 2a edição.,
Lisboa, Edições Tinta da China, 2009, p. 33.
12
Idem., p. 240.

6
destinadas ao alojamento das classes mais desfavorecidas, “com todas as possíveis
condições de conforto, independência e higiene”13. Com esta medida, pretendia-se criar
um enquadramento jurídico e legislativo propício ao surgimento de entidades privadas
dispostas a investir na construção de casas de renda controlada, ficando o Estado com a
possibilidade de investir, mas apenas em “circunstâncias especiais e urgentes”14. No
entanto, esta estratégia de captação de capital privado não alcançou os efeitos pretendidos,
devido ao reduzido interesse dos empreendedores particulares em investir na promoção
de habitação social, o que fez com que os poucos bairros sociais mandados construir
durante a Primeira República tivessem acabado por ter sido integralmente financiados
pelo Estado.

Deste modo, as dificuldades económicas e a crónica instabilidade governativa da


Primeira República acabaram por inibir o desenvolvimento de outras medidas reformistas
de resolução da questão habitacional e por conduzir ao arrastamento da situação. Os
sucessivos governos republicanos foram incapazes de mobilizar os meios necessários
para a solucionar, ficando este período marcado por parcas iniciativas avulsas, com
resultados muito modestos, situação que de resto se prolongará até 1933.

2. Política habitacional do Estado Novo


2.1 Contexto político

O golpe militar de 28 de maio de 1926 acabaria por colocar termo à experiência


da Primeira República, com a instauração da Ditadura Militar, que viria a culminar,
volvidos sete anos, na emergência de um novo ciclo político na história portuguesa: o
Estado Novo.

É hoje relativamente consensual no seio da historiografia portuguesa que “o


processo de transição iniciado pela Ditadura Militar em 1926 para o regime salazarista
foi um dos mais agitados e complexos da história portuguesa”15. Após um breve período
de instabilidade político-militar, entre 1930 e 1932, a clarificação política surge com a
ascensão de António de Oliveira Salazar à chefia do Governo, em julho de 1932. Não
escondendo o propósito de instaurar uma nova ordem político-institucional, Salazar

13
DG, I Série, 25 Abr. 1918, 87, p. 451
14
Idem., Art 1, Alínea 1ª, p. 455.
15
José Mattoso, História de Portugal, vol. VII, Lisboa, Círculo de Leitores, 1992, p. 151.

7
caracterizou, desde logo, o que viria a ser o seu regime: conservador, nacionalista,
autoritário e corporativo16. Institucionalizado em 1933, com o plebiscito de uma nova
Constituição, o Estado Novo seria, nas palavras de Salazar, uma antítese da “desordem
política, financeira, económica e social”17 da Primeira República, através do “reforço da
autoridade do Estado”18. Para tal, regulamentou-se o direito de reunião e a censura prévia
à imprensa; reorganizou-se a polícia política, com a criação da Polícia de Vigilância e
Defesa do Estado (PVDE) e formalizou-se a dimensão social-corporativa do regime com
a publicação do Estatuto do Trabalho Nacional, a criação dos Grémios, Sindicatos
Nacionais e Casas do Povo, e a criação do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência,
tutelado pelo Subsecretariado das Corporações e Previdência Social, também criado nesse
ano19.

2.2 Contexto económico e demográfico

Segundo Fernando Rosas, nos anos 30, a sociedade portuguesa conheceu “um dos
períodos de maior pujança demográfica”20 do século XX, registando-se, no espaço de
duas décadas, entre 1920 e 1940, um aumento populacional global de cerca de 1,7 milhões
de pessoas.

Paralelamente, no dealbar da década de 1930, Portugal continuava a apresentar


uma estrutura económica manifestamente atrasada, ainda “assente numa agricultura
tradicional com índices de produção e produtividade muito baixos”21, e incapaz de
responder às necessidades de uma população em franco crescimento. A pobreza e o
sobrepovoamento rural, conjugados com a progressiva industrialização, continuavam a
obrigar largos contingentes populacionais a abandonar os campos em direção às cidades.
A fuga de um mundo rural sobrepovoado conduziu a um rápido aumento da população
operária e trabalhadora nas cidades, que não estavam em condições de responder a esta
brutal pressão populacional.

Deste modo, a incapacidade dos espaços urbanos em absorver estas populações


rurais acabou por gerar graves consequências ao nível da degradação das condições de

16
Rui Ramos et al., História de Portugal, 7a edição., Lisboa, A Esfera dos Livros, 2012, p. 627.
17
António de Oliveira Salazar, Discursos (1928-1934), vol. I, Coimbra, Coimbra Editora, Lda, 1935, p. 46.
18
Idem, p. 285.
19
Fernando Rosas, Salazar e o poder: a arte de saber durar, Lisboa, Tinta-da-China, 2015, pp. 81–82.
20
José Mattoso, História de Portugal, Vol. VII, Lisboa, Círculo de Leitores, 1992, p. 21.
21
Idem., p. 23.

8
salubridade das habitações, com o surgimento de numerosos aglomerados improvisados,
os chamados “bairros de lata”.

2.3 Resposta do Estado Novo: Programa das Casas Económicas

Será neste caldo económico e demográfico que o Estado Novo, imbuído das
premissas político-ideológicas já referidas, tentará dar resposta ao premente e permanente
problema da carência habitacional. A sua ação política neste campo pautar-se-á por uma
crescente atividade de regulação estatal, que se iniciará com a publicação do Decreto-Lei
n.º 23.052, de 23 de setembro de 1933, que estabelecerá o Programa das Casas
Económicas.

Com esta iniciativa legislativa, o Estado Novo lançava as bases do regime jurídico
no qual se deveria desenvolver a atuação do Estado em matéria de habitação social,
através da definição das normas de construção e distribuição de “casas económicas”.
Logo nos primeiros artigos do documento fica bem patente a intenção do Estado em
controlar a condução de todo o processo, ao promover a construção das casas “em
colaboração com as câmaras municipais, corporações administrativas e organismos
corporativos”22. A supervisão da fase de construção ficaria a cargo do Ministério das
Obras Públicas, através da Secção de Casas Económicas da Direção-Geral dos Edifícios
e Monumentos Nacionais23, e ao Subsecretariado das Corporações e Previdência Social
competiria a fiscalização do processo de distribuição, bem como a “realização dos fins
económicos e sociais das casas económicas”24.

Um ano após a publicação do Decreto, na ocasião do lançamento da primeira


pedra dos bairros de habitações económicas do Porto, Salazar declarava solenemente que
se iria “começar a obra da casa económica, da Casa dos mais pobres”25. No ano seguinte,
Pedro Teotónio Pereira, Subsecretário de Estado das Corporações e da Previdência
Social, congratulava-se por ver transportado para “o campo das realidades imediatas este
problema da habitação económica dos pobres e dos remediados”26. De facto, o discurso
institucional elegia a “construção de habitações económicas destinadas às famílias menos

22
DG, I Série, 23 Set. 1933, 217, Art 1º, p. 1664.
23
Idem, Art 4º.
24
Idem, Art 5º.
25
António de Oliveira Salazar, Discursos (1928-1934), vol. I, Coimbra, Coimbra Editora, Lda, 1935, p.
323.
26
Boletim do INTP, ano II, nº 8, de 15 de março de 1935.

9
afortunadas”27 como “um dos principais objetivos da política social do Estado Novo”28.
Esta lógica benemérita foi intensamente propalada pela máquina de propaganda do
regime, para quem a política habitacional do Estado Novo seguia o “fim ético da justiça
social”29, e concebia o Programa das Casas Económicas como um instrumento de auxílio
às classes mais desfavorecidas, pois concedia-lhes a oportunidade de adquirirem uma
casa a custo reduzido.

No entanto, a retórica propagandística e laudatória veiculada pelo regime divergia


totalmente daquele que era o conteúdo do diploma e a essência do programa. O Decreto-
Lei previa a distribuição das habitações em “regime de propriedade resolúvel”30 e
circunscrevia com rigor aqueles que a elas poderiam aceder: chefes de família, membros
inscritos dos Sindicatos Nacionais, funcionários públicos, civis e militares, e operários
dos quadros permanentes do Estado e das Câmaras Municipais31.

O Decreto previa que as casas fossem agrupadas por classes, cujas classificações
dependiam das suas áreas e qualidade de acabamentos. Por outro lado, estipulava que os
moradores-adquirentes ficassem na posse plena das habitações no final do pagamento das
240 prestações32 previstas para a amortização da casa, ou seja, apenas ao fim de 20 anos.
No concurso de atribuição das habitações, o diploma previa que se considerasse os
rendimentos de cada agregado familiar. A Classe A destinava-se a rendimentos diários
inferiores a 20$00 (i.e., entre os 600$00 e os 1200$00 mensais) e a Classe B a rendimentos
auferidos na ordem dos 20$00 aos 45$0033 (i.e., entre os 1100$00 e os 1700$00 mensais),
estando estas classes subdivididas em três tipologias diferentes34 (I, II e III), em função
do tamanho e composição da família. Posteriormente, com o Decreto-Lei n.º 33.278, de
24 de novembro de 1943, acrescentar-se-iam as classes C e D, que correspondiam a
habitações maiores35 e de melhor qualidade, destinadas às classes médias, nomeadamente
às “famílias com proventos mensais de 1500$00 a 3000$00”36. Para além dos
vencimentos e da composição dos agregados, tinha-se igualmente em consideração a

27
SPN, Secção Casas Económicas, 1943, p. 5.
28
Ibid.
29
Idem, p. 6.
30
DG, I Série, 23 Set. 1933, 217, Art 2º, p. 1664.
31
Ibid.
32
Idem., Art. 36, p. 1667.
33
Idem, Art. 12, ponto 2º, p. 1665.
34
Idem, Art. 12, ponto 1º.
35
Para ver as dimensões destas duas classes de moradias, Vide DG, I Série, 24 Nov. 1943, 256, Art. 6º, p.
823.
36
Ibid., Art. 7º, p. 825.

10
regularidade do emprego (no caso dos associados dos Sindicatos Nacionais), o
comportamento social e profissional e a idade (entre os 21 e os 40 anos)37.

Todos os dados aqui expostos permitem-nos constatar que o Programa das Casas
Económicas esteve longe de corresponder à imagem que o regime construiu em torno
dele. O discurso oficial e propagandístico do Estado Novo era negado pela realidade
legislativa, uma vez que a sua política habitacional se dirigia fundamentalmente “às
classes médias, a sua principal base de apoio”38, e não às classes trabalhadoras e mais
desfavorecidas.

Fernando Gonçalves, na obra A Mitologia da Habitação Social, alerta-nos que


“construir “casas económicas” para as classes “pobres” (...), e construir “casas
económicas” para trabalhadores sindicalizados e funcionários públicos, como preferia o
Estado Novo, eram duas coisas bem distintas”39. Como já vimos, o acesso à habitação
social desenvolvia-se em torno de “princípios de selectividade social”40, nomeadamente
de ordem moral, cívica, política, e económica41, que acabavam por afastar este programa
das necessidades da esmagadora maioria das famílias mal alojadas.

A atribuição de uma destas habitações estava dependente da “certificação


estatal”42 da idoneidade moral e política dos candidatos. Esta era confirmada pelos
Sindicatos Nacionais ou pelos diretores de serviços, no caso dos funcionários públicos,
ficando arredados do acesso às moradias quaisquer indivíduos sobre os quais recaíssem
dúvidas acerca da dita lealdade ao regime. Deste modo, é possível vislumbrar no
Programa das Casas Económicas uma arquitetura jurídica tendente à consolidação do
disciplinamento social, pois através destas limitações assumia-se como um “instrumento
de regulação macrossocial”43 ao serviço da consolidação do projeto de sociedade
preconizado pelo Estado Novo.

Do ponto de vista económico, o alheamento dos grupos sociais mais carenciados


a este programa é também total, uma vez que é possível concluir que estamos sobretudo

37
DG, I Série, 23 Set. 1933, 217, Arts. 33 e 34, p. 1667.
38
Manuel C. Teixeira, “As estratégias de habitação em Portugal, 1880-1940”, p. 79.
39
Fernando Gonçalves, “A mitologia da habitação social”, Revista Cidade e Campo, n. 1, 1978, p. 39.
40
Virgílio Borges Pereira e João Queirós, Na“modesta cidadezinha,” p. 21.
41
Marielle Christine Gros, O Alojamento Social sob o Fascismo, Porto, Edições Afrontamento, 1982, p.
111.
42
Virgílio Borges Pereira et al., “Casas económicas e casas desmontáveis: Génese, estruturação e
transformação dos primeiros programas habitacionais do Estado Novo”, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa
da Moeda, 2018, p. 115.
43
Idem., p. 22.

11
perante “casas para quem as pudesse pagar”44. O regime reconhecerá inclusive em várias
ocasiões, embora de forma mais ou menos involuntária, que os preços das habitações
económicas não eram acessíveis às classes mais desfavorecidas. Por exemplo, em 1937,
o Comissariado do Desemprego informava, relativamente ao distrito de Lisboa, que “o
salário oscila entre os 8$00 e os 9$00 diários, julgados insuficientes para a manutenção
da família”45, e muito inferiores aos rendimentos exigidos aos candidatos a este programa.
Por outro lado, como nos lembra Marielle Christine Gros, a fixação de um limite de idade
(até aos 40 anos) era um critério consciente de que esse corresponde ao período de vida
em que se é mais produtivo46. Também o facto de os funcionários públicos e os inscritos
nos Sindicatos Nacionais serem os únicos grupos passíveis de serem contemplados com
uma moradia demonstra que a opção era “a de construir para os que têm trabalho seguro
e permanente”47. Por outras palavras, os segmentos da população mais carenciados e/ou
com inserção profissional mais precária, ou seja, os grupos com maior necessidade de
alojamento, encontravam-se paradoxalmente vedados ao acesso a estas habitações, que
acabavam por ser entregues a quem se mostrava capaz de cumprir com as exigências
financeiras das prestações, isto é, a quem tinha maiores disponibilidades financeiras.

Em 1953, em consequência da grave crise que o país atravessava, os moldes em


que assentava o Programa das Casas Económicas sofrem uma profunda alteração no
regime de acesso às habitações. A 21 de julho desse mesmo ano, seria promulgado o
Decreto-Lei nº 39.288. De acordo com esse diploma, ficava aberta a possibilidade de se
mudarem as classificações das casas, assim como os requisitos exigidos, que acabaram
por ser acompanhados de uma atualização das rendas a pagar pelas casas48. Ficava
também patente a possibilidade de se pedir empréstimos ao Fundo das Casas Económicas
e, sobretudo, a opção da habitação passar a ser utilizada pela via do arrendamento49, no
sentido de aumentar o número de candidaturas às moradias50. Este diploma marcava,
assim, uma profunda transformação no processo de aquisição e transmissão das
habitações e desvirtuava o princípio da propriedade e hereditariedade que o programa e

44
Idem, p. 21.
45
Boletim do Comissariado do Desemprego, nº 16, de outubro a dezembro de 1937, p. 606.
46
Marielle Christine Gros, O Alojamento Social sob o Fascismo, p. 111.
47
Maria Júlia Ferreira, Habitação Social em Portugal - Breve história e alguns problemas, p. 24.
48
DG, I Série, 21 Jul. 1953, 155, Art 1º., p. 973.
49
Idem., Art. 2º.
50
Carlos Nunes Silva, Planeamento municipal e a organização do espaço em Lisboa: 1926-1974, Centro
de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa, I.N.I.C., 1987, p. 292.

12
o regime, na sua génese, procuraram defender, encerrando, por isso, o limite cronológico
da nossa análise.

O caso do bairro da Encarnação


3. A formação do bairro

O bairro da Encarnação constitui um dos melhores exemplos para se descrever e


entender o contexto político e a ideologia que estavam subjacentes ao Programa das
Casas Económicas. Além de ser o maior grupo de habitações económicas construídas
pelo Estado Novo neste período, num total de 1112 edificações51, o projeto arquitetónico
e o panorama político, quer nacional como internacional, que envolvem a construção
deste bairro são merecedores da nossa atenção, auxiliada pela vasta documentação
disponível.

Num dos seus célebres discursos ao país, Salazar descrevia aquele que
considerava ser o arquétipo de Casa Portuguesa, isto é, uma “casa pequena,
independente, habitada em plena propriedade pela família”52. Era exatamente este modelo
que se pretendia materializar no bairro da Encarnação, encarnando a mundividência do
regime, que assumia a família como o núcleo da vivência do cidadão, “como a mais pura
fonte dos fatores morais da produção”53, numa retórica ideológica que aglutinava
moralidade, família e economia. Desta forma, as futuras habitações do bairro deveriam
proporcionar às futuras famílias que as adquirissem um ambiente íntimo e privado,
seguindo também a estratégia do regime de evitar grandes concentrações, potenciadoras
de subversão, ao mesmo tempo promoveriam uma ideologia pró-propriedade e pró-
individualismo54. Por outro lado, segundo Maria Júlia Ferreira, este tipo de casa, com um
jardim anexo e de transmissão hereditária, para além de suscitar uma sensação de conforto
material e tranquilidade quanto ao futuro nas pessoas que as viessem habitar,

51
Carlos Alberto Revez Inácio e Fernando Furtado Barreiros, O bairro da Encarnação e as antigas quintas
dos Olivais, 1a ed., Lisboa, CML, 2012, p. 28.
52
Salazar, António de Oliveira, Discursos (1928-1934), Vol. I, Coimbra, Coimbra Editora, Ldª., 1935,
p.202.
53
Idem, p.201.
54
Marielle Christine Gros, O Alojamento Social sob o Fascismo, p. 117.

13
proporcionariam um sentimento de “segurança, estabilidade e confiança no poder
político”55.

A escolha do local para a construção do bairro da Encarnação deveria, assim,


promover a concretização de todos estes objetivos. Além disso, a localização do bairro
apresentava outras vantagens que levaram o regime a escolhê-lo para se edificar o maior
bairro de casas económicas do país. Em primeiro lugar, sendo a construção de casas de
baixo custo um dos objetivos do Programa das Casas Económicas, no sentido de
satisfazer a “necessidade de proporcionar às famílias menos abastadas morais salubres e
higiénicos”56, embora na realidade não tenha sido isto o que tenha acabado por acontecer,
era igualmente imperativo que as despesas da construção das moradias fossem baixas, de
forma a evitar que o Estado tivesse prejuízo. A freguesia de Santa Maria dos Olivais,
afigura-se então como um local que proporcionaria este baixo custo de construção. Tal se
devia, então, segundo Carlos Inácio e Fernando Barreiros, à sua localização periférica, a
que se aliava a vasta dimensão dos terrenos e o seu potencial para a construção de novas
acessibilidades, favorecidas pela construção do aeroporto.57.

O preço dos terrenos onde seria construído o bairro deve ser, porém, relativizado,
uma vez que o regime iniciara, em 1938, com o Decreto-Lei n.º 28.787, um processo de
expropriações, que retirou aos donos das quintas e herdades os hectares necessários para
a construção a um preço extremamente inferior àquele que era o seu valor real58. A
redução dos custos na construção passaria também pelo “aproveitamento dos espaços e a
simplicidade da construção, de forma a racionalizar economicamente”59, como nos diz
Carla Terceiro. Esta autora recorda-nos ainda que, à época, o bairro da Encarnação não
estava integrado na cidade de Lisboa, como acontece hoje em dia, constituindo uma área
bastante rural que só com expansão progressiva da cidade o deixa de ser60. A nosso ver,
esta circunstância é também um grande motivo para a escolha da localização, na medida
em que um dos principais pilares ideológicos em que assentava o Estado Novo era a

55
Maria Júlia Ferreira, Habitação social em Portugal: breve história e alguns problemas, Lisboa, s.e.,
1988, p. 24.
56
“Palavras de S. Exa. o Sub-Secretário de Estado das Corporações na cerimónia da inauguração do Bairro
da Encarnação, no dia 27 de Maio de 1944”.
57
Carlos Alberto Revez Inácio e Fernando Furtado Barreiros, O bairro da Encarnação e as antigas quintas
dos Olivais, p. 20.
58
Idem, pp.22-23.
59
Carla Sofia Fernandes Terceiro, De social a privilegiado: narrativas de bairros sociais em Lisboa: o
Bairro da Encarnação e a sua vivência, Mestrado, Lisboa, Instituto Superior Técnico da Universidade de
Lisboa, 2013, p. 53.
60
Idem, p.50.

14
defesa da ruralidade, uma das virtudes do povo português61, juntamente com o
individualismo e a aversão ao comunitarismo.

Como foi dito anteriormente, após a escolha do local de construção, o conceito a


replicar nas moradias deveria ser o da Casa Portuguesa. Contudo, apesar do termo
cunhado, pouco ou nada nas edificações era resultado de modelos nacionais e originais
formulados pelo Estado Novo, mas sim de influências estrangeiras. De facto, no campo
da arquitetura, mas também do urbanismo, o Estado Novo rompeu com seu tradicional
isolamento internacional e abriu-se à importação de ideias inglesas e francesas,
encaixadas no ideal da política de eliminação do “monopólio privado do solo urbano”62.
A penetração arquitetónica estrangeira, sobretudo francesa, denota-se principalmente a
partir de 1938, altura em que Duarte Pacheco, já nas funções de presidente da Câmara
Municipal de Lisboa, procura inaugurar um novo período no planeamento e na gestão
urbana da cidade63. Para tal, vai convidar o arquiteto urbanista Étienne de Gröer, que irá
apresentar um programa que servirá de base ao Plano Director. O arquiteto alinhar-se-ia
com as ideias do regime salazarista, ao identificar a especulação como o maior entrave
aos planos do Programa das Casas Económicas, defendendo “explicitamente uma
intervenção extensiva”64 e a miscigenação social, que o Estado Novo identificava como
tradicional nos bairros lisboetas65.

No caso específico da Encarnação, o arquiteto escolhido para a sua planificação,


em 1938, foi Paulino Montez, funcionário no Ministério das Obras Públicas, tendo já
projetado anteriormente os bairros do Alvito e do Alto da Serafina66. Visto como um
arquiteto modernista, é ele quem idealiza o “Bairro-Jardim”67, conceito a partir do qual
baseará a planificação do bairro da Encarnação. Aproveitando a proximidade ao
aeroporto, Paulino Montez esboçou um traçado urbano de modo a que, visto do céu pelos

61
Luís Miguel Silva Saraiva, Os Tipos de Habitação do Estado Novo. Lisboa, Universidade Lusíada, 1998,
p.69.
62
Carlos Nunes Silva, “«A urbanística do Estado Novo (1926-1959): nem nacional nem fascista”, in O
Estado Novo das origens ao fim da autarcia 1926-1959, vol. I, Lisboa, Fragmentos, 1988, p. 379.
63
Margarida Sousa Lobo, Duas décadas de planos de urbanização em Portugal: 1934-1954, Lisboa, M.
Lobo, 1993, p. 132.
64
Carlos Nunes Silva, “«A urbanística do Estado Novo (1926-1959): nem nacional nem fascista”, vol. I, p.
385.
65
Ibidem.
66
Carlos Alberto Revez Inácio e Fernando Furtado Barreiros, O bairro da Encarnação e as antigas quintas
dos Olivais, p. 28.
67
Carlos Nunes Silva, Planeamento municipal e a organização do espaço em Lisboa: 1926-1974, Centro
de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa, I.N.I.C., 1987, p. 316.

15
aviões68, o bairro da Encarnação se assemelhasse à figura de uma borboleta. É também
Montez que define a disposição das moradias, de forma a que os futuros adquirentes
dispusessem de espaço suficiente para expandir a sua casa, consoante os seus recursos69,
devendo ser construídas entre as três amplas alamedas que compõem o bairro70.

O processo da construção do bairro inicia-se, então, em 1939, com o aval de


Duarte Pacheco. No total, foram comprados a baixo custo cerca de 24,8 hectares, situados
num local escassamente habitado, derivado à fraca produtividade da terra, que fazia com
que, inevitavelmente, o seu valor de aquisição fosse igualmente menor (embora nunca
tão baixo quanto realmente foi pago, rondando os 3$71). Todavia, os futuros preços das
casas, descritos no já referido Decreto n.º 23.052, não refletiriam este baixo custo de
aquisição, o que aumentava a rentabilidade para o Estado a venda das casas, acabando
por desvirtuar os conceitos de habitações “sociais” e “económicas” para os mais pobres72.
Mas até chegar à efetiva venda de moradias e à inauguração do bairro, atravessou-se ainda
um período de construções com bastantes vicissitudes. A primeira empreitada, atribuída
ao único concorrente do processo do concurso de construção das casas, o belga Georges
Tombu, deveria ter terminado em finais de 194073, mas tal não aconteceu.

O começo da Segunda Guerra Mundial no ano anterior gerou grandes dificuldades


à execução dos trabalhos, com a redução do número de transportes de materiais, o que
acabou por encarecer os custos de produção74. A somar a esta situação, o começo tardio
das terraplanagens, o vandalismo, e ainda a passagem de um ciclone em fevereiro de
1941, fez com que os trabalhos no bairro ficassem cada vez mais atrasados e dispendiosos,
tendo a primeira fase de construção apenas terminado em 1943. As restantes duas
empreitadas – totalizando 1092 moradias75 – seriam finalizadas somente quatro anos mais
tarde, em março de 194776, já após a inauguração oficial do bairro, em 1944.

68
Carlos Alberto Revez Inácio e Fernando Furtado Barreiros, O bairro da Encarnação e as antigas quintas
dos Olivais, p. 28.
69
Carla Sofia Fernandes Terceiro, De social a privilegiado: narrativas de bairros sociais em Lisboa: o
Bairro da Encarnação e a sua vivência, p. 56.
70
Carlos Alberto Revez Inácio e Fernando Furtado Barreiros, O bairro da Encarnação e as antigas quintas
dos Olivais, p. 29.
71
Idem., p. 33.
72
Carlos Nunes Silva, Planeamento municipal e a organização do espaço em Lisboa, p. 315.
73
Carlos Alberto Revez Inácio e Fernando Furtado Barreiros, O bairro da Encarnação e as antigas quintas
dos Olivais, p. 37.
74
Idem, p.45.
75
As 1112 moradias que formaram o Bairro da Encarnação só viriam a ser terminadas em 1958, com a
construção das últimas 20.
76
Idem, p.44.

16
Tal inauguração foi largamente noticiada a 28 de maio pela imprensa, que rasgou
os mais largos elogios ao mais recente bairro de casas económicas e, por extensão, ao
Estado Novo. O jornal O Século afirmava que o bairro “é dos mais formosos de Lisboa o
local, numa ligeira encosta, à direita da estrada para Vila Franca, um pouco adiante da
larga rotunda da Encarnação e com excelente panorama para o rio”77, admitindo ainda
assim as precárias vias de acesso que a Encarnação ainda sofria. Não obstante, reforçava
aquele que seria o objetivo do regime em construir as habitações, o de “fixar ali famílias
modestas e pobres”78. O Diário de Notícias, por seu turno, destacava que o bairro se
encontrava “muito bem localizado quanto a condições higiénicas – batido pelo sol e
arejado – desfrutando-se linda paisagem (...)”79. Numa curta-metragem produzida pela
Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográficas para o SPN, a Encarnação é
qualificada como “o novo bairro social”80, afirmando que “é lindo, e muito grande,
podendo abrigar centenas de famílias”81, num claro elogio à eficácia do Estado Novo na
resolução da questão habitacional.

4. Os primeiros habitantes do bairro da Encarnação

Nessa película propagandística é também dito que as moradias construídas seriam


“destinadas aos trabalhadores portugueses, sócios de Sindicatos Corporativos”82. Como
já foi dito anteriormente, o regime veiculava a ideia de que os bairros construídos ao
abrigo do Programa das Casas Económicas eram destinados às classes mais
desfavorecidas, sem possibilidade de adquirirem uma moradia digna noutro local. Já
explorámos também que, tendo em conta as rendas definidas e praticadas, tal discurso
não correspondia à realidade, o que conduz ao surgimento de questões como: quem
realmente habitou o bairro da Encarnação inicialmente?

As entradas das famílias nas novas casas iniciaram-se em 1945, mas antes disso
todos os chefes de família tiveram de ir a concurso para saberem se eram elegíveis para

77
O Século (edição de 28 de maio de 1944).
78
Ibidem.
79
Diário de Notícias (edição de 28 de Maio de 1944).
80
Película presente na edição nº 47 do Jornal Português, Sociedade Portuguesa de Actualidades
Cinematográficas (28 de Julho de 1944).
81
Ibidem.
82
Secretariado de Propaganda Nacional, “Na Encarnação: Um novo Bairro Social”.

17
habitar as moradias83. Também este processo não correu como o esperado, surgindo
vários problemas. Inicialmente, o número de concorrentes que compareceu aos concursos
situou-se muito abaixo do estimado, chegando-se à situação de existirem mais moradias
disponíveis do que pessoas interessadas nelas. Este facto justificava-se por consequência
das características dos bairros já expostas, nomeadamente a sua localização periférica
relativamente ao centro de Lisboa, onde trabalhariam as pessoas, assim como a falta de
acessibilidade e comunicações com a cidade84, suprimida mais tarde com a criação de
carreiras de autocarros85. Por outro lado, apesar de o preço das casas poder ser inferior ao
de outros pontos do concelho, as condições das casas deixavam muito a desejar para
grande parte dos potenciais interessados, que não queria habitar ali86. Surgia ainda outro
problema, desta vez por parte do regime, pois dos poucos candidatos que se apresentaram,
muitos deles não cumpriam os requisitos mínimos estipulados no decreto87,
demonstrando, assim, que os bairros económicos não eram realmente acessíveis a toda a
gente, nomeadamente às classes mais carenciadas.

Este conjunto de questões traduziu-se num alargamento dos prazos de candidatura


e na alteração das condições de aplicação88, no sentido de tentar ocupar o bairro na sua
totalidade e, assim, evitar uma imagem de falhanço por parte do regime, que poderia não
recuperar o dinheiro investido e manchar a imagem da sua política “social”. Para ser-se
candidato às casas era, então, necessário fazer-se parte do aparelho do funcionalismo
público do Estado ou pertencer a um Sindicato Nacional, sendo obrigatório a
apresentação dos devidos documentos que comprovassem a função e o rendimento e, no
segundo caso, a sua pertença ao dito Sindicato Nacional. Através da análise dos gráficos
3 e 4, presentes nos Anexos e baseados nas tabelas apresentadas no livro de Carlos Inácio
e Fernando Barreiros, podemos constatar que na primeira leva de entrega de casas,
composta por 627 habitações, existe um claro favorecimento face aos trabalhadores
sindicalizados, com a ocupação de 75% das moradias de Classe A e 53% das de Classe
B, com a Classe A a representar a maior percentagem de casas, num total de 362
habitações.

83
Carlos Alberto Revez Inácio e Fernando Furtado Barreiros, O bairro da Encarnação e as antigas quintas
dos Olivais, p. 52.
84
Ibidem.
85
Carlos Nunes Silva, Planeamento municipal e a organização do espaço em Lisboa, p. 315.
86
Carlos Alberto Revez Inácio e Fernando Furtado Barreiros, O bairro da Encarnação e as antigas quintas
dos Olivais, p. 53.
87
Idem, p.52.
88
Ibidem.

18
Não obstante, não são estes gráficos que nos mostram realmente a capacidade
económica dos habitantes da Encarnação. No Gráfico 6, realizado a parte da dissertação
de Carla Terceiro, são apresentadas as diversas profissões dos habitantes do bairro da
Encarnação, a partir de um levantamento do INTP. A partir deste gráfico, podemos
verificar que a maior parte dos habitantes trabalhava em ministérios e câmaras
municipais, representando no seu conjunto cerca de um terço do total do bairro. De
seguida, o grupo ligado aos ministérios e câmaras municipais e o grupo de funcionários
bancários ou de escritório representam, cada um, 15% das moradias. Estes três grandes
ramos laborais representam por si só dois terços do bairro da Encarnação, e tendo estes
dados em mente, podemos observar que realmente o local não era habitado por pessoas
de classes baixas ou necessitadas, uma vez que os rendimentos auferidos nestas profissões
se distanciavam dos parcos salários do operariado e dos grupos socioeconómicos mais
pobres. Deste modo, observamos que os primeiros moradores do bairro possuíam
empregos ligados mais, ou menos, diretamente ao Estado Novo, rompendo com a lógica
apresentada por este de serem construções destinadas às “populações de fracos recursos
económicos”89.

89
DG, I Série, 23 Set. 1933, 217, Art 1º, p. 1664.

19
Conclusão

Em suma, com a realização desta investigação, concluímos que o Programa das


Casas Económicas, iniciado logo em 1933, não passava de uma construção
propagandística do Estado Novo de valorização da sua dimensão socializante por via da
resolução da carência habitacional. Procurando transmitir a ideia de que os bairros
construídos se dirigiam às classes mais carenciadas do país, a verdade era outra, como se
constata pela análise dos primeiros moradores da Encarnação, uma vez que os habitantes
destes bairros pertenciam ou ao funcionalismo público ou encontravam-se integrados nos
Sindicatos Nacionais e auferiam de níveis de rendimentos que lhes permitiam não
confundir-se com as classes mais carenciadas. Prova disto é também a existência de
requisitos mínimos para se poder ser candidato a uma moradia incluída no programa, o
que acabava por excluir logo à partida um vasto conjunto de segmentos da população,
tornando o acesso às casas um programa bastante restrito e, de certa forma, elitista.

Entendemos igualmente que todo o programa e o processo que este envolvia se


encontravam rigorosamente legislados, através de inúmeros Decretos-Lei, encontrando-
se plenamente enquadrado nos objetivos políticos-ideológicos veiculados pelo Estado
Novo. Os bairros deviam, assim, materializar a tríade
conservadorismo/ruralismo/tradicionalismo e reproduzir o ambiente de aldeia. As
moradias destes bairros, baseadas no conceito de Casa Portuguesa e na transmissão
hereditária, reforçariam a importância da família enquanto unidade nuclear, a que se
associava aos princípios do individualismo, da moralidade e da propriedade, pois
proporcionava uma sensação de estabilidade e de segurança às famílias que neles fossem
viver. A somar a isto, a disposição urbanística das moradias, com quintais e separações,
serviria os propósitos do regime em evitar grandes aglomerações de vizinhos e, assim, a
possibilidade de desenvolvimento e difusão de ideias potencialmente subversivas.

Deste modo, é possível afirmar que a retórica propagandística empreendida pelo


Estado Novo não correspondia à realidade, isto é, à prática legislativa. Bairros
económicos, como o da Encarnação, resultaram em habitações não para as classes mais
carenciadas, mas para segmentos ligados de alguma forma ao Estado Novo.

20
Fontes e corpos documentais
Fontes impressas

I. Legislação
i. Diário do Governo nº 87/1918, Série i, de 25-04-1918
a. Decreto-Lei nº 4.137, de 25 de Abril de 1918

ii. Diário do Governo nº 217/1933, Série I, de 23-09-1933


b. Decreto-Lei nº 23.052, de 23 de Setembro de 1933

iii. Diário de Governo nº 256/1943, 1º Suplemento, Série I, de 24-11-1943


c. Decreto-Lei nº 33.278, de 24 de Novembro de 1943

iv. Diário de Governo nº 155, Série I, de 21-07-1953


d. Decreto-Lei nº 39.288, de 21 de Julho de 1953

II. Imprensa
Diário de Notícias (edição de 28 de Maio de 1944)
O Século (edição de 28 de Maio de 1944)

III. Boletins do INTP


i. Boletim do INTP, ano I, nº 5, de 30 de Janeiro de 1934
ii. Boletim do INTP, ano II, nº 8, de 15 de Março de 1935
iii. Boletim do INTP, ano XI, nº 10, de 31 de Maio de 1944
iv. Boletim comemorativo do INTP, Dez Anos de Política Social 1933-1943, de
1943

IV. Secretariado da Propaganda Nacional


i. Secretariado da Propaganda Nacional, Secção Casas Económicas, 1943

21
V. Comissariado do Desemprego
i. Boletim do Comissariado do Desemprego, nº 16, de Outubro a Dezembro
de 1937

VI. Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho


i. A Cooperação das Instituições de Previdência e das Casas do Povo na
Construção de Habitações Económicas, Exposição feita pelo Ministro das
Corporações e Previdência Social, Dr. H. Veiga de Macedo, em 8-02-
1957 aos representantes da Imprensa e da Rádio, Gabinete de
Divulgação, 1957

VII. Fontes da época


i. Garrett, Engenheiro Visconde de Almeida, Casas económicas em
Portugal, in Revista Brotéria, 1935, vol. XXI
ii. Garrett, Engenheiro Visconde de Almeida, Construções económicas, in
Revista da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, vol. VI, nº
1, 1940
iii. Salazar, António de Oliveira, Discursos (1928-1934), Vol. I, Coimbra,
Coimbra Editora, Ldª., 1935
iv. “Palavras de S. Exa. o Sub-Secretário de Estado das Corporações na
cerimónia da inauguração do bairro da Encarnação, no dia 27 de Maio de
1944”, 1944

Fontes Audiovisuais
Película presente na edição nº 47 do Jornal Português, Sociedade Portuguesa de
Actualidades Cinematográficas (28 de Julho de 1944). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=CpavJbuorng

22
Bibliografia
Obras Gerais e Dicionários sobre o Estado Novo e de Lisboa

Mattoso, José (ed.), História de Portugal: O Estado Novo (1926-1974), vol. VII, Lisboa,
Editorial Estampa, 1993.

Ramos, Rui; Monteiro, Nuno Gonçalo; Sousa, Bernardo Vasconcelos e, História de


Portugal, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2012.

Rosas, Fernando, Nova História de Portugal: Portugal e o Estado Novo (1930-1960),


vol. XII, Lisboa, Editorial Presença, 1992.

Rosas, Fernando; Rollo, Maria Fernanda (eds.), História da Primeira República


Portuguesa, 2a edição, Lisboa, Edições Tinta da China, 2009.

Santana, Francisco Gingeira; Sucena, Eduardo, Dicionário da história de Lisboa, Lisboa,


Diversos, 1994.

Estudos gerais sobre habitação social durante o Estado Novo

Almeida, Sandra Vaz Costa Marques de, O país a régua e esquadro: urbanismo,
arquitectura e memória na obra pública de Duarte Pacheco, Dissertação de
Doutoramento, Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2009.

Antunes, Gonçalo; Lúcio, José; Soares, Nuno Pires; Julião, Rui Pedro, “Políticas de
habitação social precedentes a Abril de 1974”, 2016, p. 29.

Baptista, Luís V., Cidade e habitação social: o estado novo e o programa das casas
económicas em Lisboa, 1. ed., Oeiras, Celta Ed, 1999.

Bodenschatz, Harald; Sassi, Piero; Guerra, Max Welch, Urbanism and Dictatorship: A
European Perspective, Basel, Birkhäuser, 2015.

Fagundes, João, “Obras Públicas - A Grande Fachada do “Estado Novo””, in MEDINA,


João (ed.), História de Portugal, vol. XII, Lisboa, Ediclube, 1993.

Ferreira, Maria Júlia, Habitação social em Portugal: breve história e alguns problemas,
Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa,
1988.

Ferreira, Maria Júlia, “O Bairro Social do Arco do Cego - uma aldeia dentro da cidade de
Lisboa”, Análise Social, vol. 29, n. 127, 1994, pp. 697–709.

23
Gonçalves, Fernando, “«A Mitologia da Habitação Social: O Caso Português»”, Cidade
Campo, n. I, 1978, pp. 21–83.

Gros, Marielle Christine, O alojamento social sob o fascismo, Porto, Edições


Afrontamento, 1982.

Pereira, Virgílio Borges; Queirós, João, Na Modesta Cidadezinha. Génese e Estruturação


de Um Bairro de Casas Económicas do Porto [Amial, 1938-2010], Porto, Edições
Afrontamento, 2012.

Santos, Filipa Viegas Serpa dos, Entre habitação e cidade, Doutoramento, Lisboa,
Faculdade de Arquitetura de Lisboa, 2015.

Saraiva, Luís Miguel Silva, Os Tipos de Habitação do Estado Novo. Lisboa, Lusíada
Arquitetura, 1998.

Silva, Carlos Nunes, “«A urbanística do Estado Novo (1926-1959): nem nacional nem
fascista”, in O Estado Novo das origens ao fim da autarcia 1926-1959, vol. I, Lisboa,
Fragmentos, 1988.

Silva, Carlos Nunes, “Mercado e políticas públicas em Portugal: a questão da habitação


social na primeira metade do século XX”, Análise Social, vol. 29, n. 127, 1994, pp. 655–
676.

Silva, Carlos Nunes, Planeamento municipal e a organização do espaço em Lisboa:


1926-1974, Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa, I.N.I.C., 1987

Silva, Carlos Nunes, Política urbana em Lisboa, 1926-1974, Lisboa, Livros Horizonte,
1994.

Teixeira, Manuel C., “As estratégias de habitação social em Portugal, 1880-1940”,


Análise Social, vol. 27, n. 115, 1992, pp. 65–89.

Tiago, Maria da Conceição, “Bairros Sociais da I República: projectos e realizações”, Ler


História, n. 59, 2010, pp. 249–272.

Estudos relativos ao Bairro da Encarnação

Inácio, Carlos Alberto Revez; Barreiros, Fernando Furtado, O bairro da Encarnação e as


antigas quintas dos Olivais, 1a ed., Lisboa, CML – Imprensa Municipal, 2012.

24
Terceiro, Carla Sofia Fernandes, De social a privilegiado: narrativas de bairros sociais
em Lisboa: o Bairro da Encarnação e a sua vivência, Mestrado, Lisboa, Instituto Superior
Técnico da Universidade de Lisboa, 2013.

25
Anexos
Gráficos:

Moradias Classe A
16; 4%

Tipo 1º 132; 37%


Tipo 2º
Tipo 3º 214; 59%

(Gráfico 1) – “Moradias de Classe A na 1ª fase do bairro da Encarnação”. Elaborado a


partir de Carlos Alberto Revez Inácio e Fernando Furtado Barreiros, O bairro da
Encarnação e as antigas quintas dos Olivais, p. 52).

i
Moradias Classe B

28; 11%

Tipo 1º 98; 37%


Tipo 2º
Tipo 3º
139; 52%

(Gráfico 2) – “Moradias de Classe B na 1ª fase do bairro da Encarnação”. Elaborado a


partir de Carlos Alberto Revez Inácio e Fernando Furtado Barreiros, O bairro da
Encarnação e as antigas quintas dos Olivais, p. 52).

Ocupação das Moradias Classe A

91; 25%
Funcionários Públicos
Sindicatos Nacionais
271; 75%

(Gráfico 3) – “Ocupação das Moradias de Classe A na 1ª fase do bairro da Encarnação”.


Elaborado a partir de Carlos Alberto Revez Inácio and Fernando Furtado Barreiros, O
bairro da Encarnação e as antigas quintas dos Olivais, p. 52).

ii
Ocupação das Moradias Classe B

Funcionários Públicos 123; 46%


Sindicatos Nacionais 142; 54%

(Gráfico 4) – “Ocupação das Moradias de Classe A na 1ª fase do Bairro da Encarnação”.


Elaborado a partir de Carlos Alberto Revez Inácio e Fernando Furtado Barreiros, O bairro
da Encarnação e as antigas quintas dos Olivais, p. 52).

Tipologia das moradias


40; 4%

A1
A2 192; 18%

348; 32%
A3
B1 244; 22%

B2 218; 20%
B3
50; 4%

(Gráfico 5) – “Tipologia das moradias do bairro da Encarnação”. Elaborado a partir de


Carlos Alberto Revez Inácio e Fernando Furtado Barreiros, O bairro da Encarnação e as
antigas quintas dos Olivais, p. 55).

iii
Profissões dos habitantes do Bairro da Encarnação (anos
40)
Atividades marítimas 24; 3% 29; 3%
17; 2%
Construção Civil 46; 5%
Atividades industriais
43; 149; 15%
Forças armadas e policiais
4%
Ministeriais e camarários 147; 15%
Transportes e comunitários
101; 10%
Comércio e serviços
Ofícios 107; 11% 316; 32%
Bancários/Escritórios
Profissões liberais

(Gráfico 6) – “Profissões dos habitantes da Encarnação nos anos 40”. Elaborado a partir
de Carla Sofia Fernandes Terceiro, De social a privilegiado: narrativas de bairros sociais
em Lisboa: o Bairro da Encarnação e a sua vivência, Mestrado, Lisboa, Instituto Superior
Técnico da Universidade de Lisboa, 2013, p.55.

iv
Fotografias:

(Fig. 1) – Abertura de arruamento na Encarnação (c. 1940-41). Fotografia de Eduardo


Portugal, in Arquivo Municipal de Lisboa. Disponível em:
http://arquivomunicipal2.cmlisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/PaginaDocumento.aspx?
DocumentoID=257301&AplicacaoID=1&Pagina=1&Linha=1&Coluna=1

v
(Fig. 2) - Panorâmica do bairro da Encarnação (posterior a 1940). Fotografia de Mário de
Oliveira, in Arquivo Municipal de Lisboa. Disponível em: http://arquivomunicipal2.cm-
lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/PaginaDocumento.aspx?DocumentoID=277607&Apl
icacaoID=1&Pagina=1&Linha=1&Coluna=1

vi
(Fig. 3) - Rua do bairro da Encarnação (c. 1946). Fotografia de Salvador de Almeida
Fernandes, in Arquivo Municipal de Lisboa. Disponível em:
http://arquivomunicipal2.cm-
lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/PaginaDocumento.aspx?DocumentoID=281357&Apl
icacaoID=1&Pagina=1&Linha=1&Coluna=1

vii
(Fig. 4) - Bairro da Encarnação (c. 1940). (s.a.), in Arquivo Municipal de Lisboa.
Disponível em: http://arquivomunicipal2.cm-
lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/PaginaDocumento.aspx?DocumentoID=342714&Apl
icacaoID=1&Pagina=1&Linha=1&Coluna=1

viii
(Fig. 5) - Rua do bairro da Encarnação (c. 1940). Fotografia de António Castelo Branco,
in Arquivo Municipal de Lisboa. Disponível em: http://arquivomunicipal2.cm-
lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/PaginaDocumento.aspx?DocumentoID=271734&Apl
icacaoID=1&Pagina=1&Linha=1&Coluna=1

ix
(Fig. 6) - Rua do bairro da Encarnação (s.d.). Fotografia de Artur João Goulart, in Arquivo
Municipal de Lisboa. Disponível em: http://arquivomunicipal2.cm-
lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/PaginaDocumento.aspx?DocumentoID=294459&Apl
icacaoID=1&Pagina=1&Linha=1&Coluna=1

x
(Fig. 7) – Rua do bairro da Encarnação (194?). Fotografia de Kurt Pinto, in Arquivo
Municipal de Lisboa. Disponível em: http://arquivomunicipal2.cm-
lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/PaginaDocumento.aspx?DocumentoID=275623&Apl
icacaoID=1&Pagina=1&Linha=1&Coluna=1

xi
(Fig. 8) - Rua bairro da Encarnação (20-5-1945). Fotografia de Kurt Pinto, in Arquivo
Municipal de Lisboa. Disponível em: http://arquivomunicipal2.cm-
lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/PaginaDocumento.aspx?DocumentoID=275622&Apl
icacaoID=1&Pagina=1&Linha=1&Coluna=1

xii
(Fig. 9) - Panorâmica do bairro da Encarnação (1954). Fotografia de Armando Maia
Serôdio, in Arquivo Municipal de Lisboa. Disponível em: http://arquivomunicipal2.cm-
lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/PaginaDocumento.aspx?DocumentoID=276246&Apl
icacaoID=1&Pagina=1&Linha=1&Coluna=1

xiii
(Fig. 10) - Bairro da Encarnação (c. 1940). (s.a.), in Arquivo Municipal de Lisboa.
Disponível em: http://arquivomunicipal2.cm-lisboa.pt/x-
arqweb/ContentPage.aspx?ID=952be572824a0001e240&Pos=1&Tipo=PCD

xiv

Você também pode gostar