Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
No segundo semestre de 1934, um pequeno número de intelectuais e militares - entre os quais Francisco
Mangabeira, Manuel Venâncio Campos da Paz, Moésia Rolim, Carlos da Costa Leite, Gregório Lourenço
Bezerra,[2] Caio Prado Júnior,[3] João Saldanha[2] e Aparício Torelly - começou a promover reuniões no
Rio de Janeiro com o propósito de criar uma organização política capaz de dar suporte nacional às lutas
populares que então se travavam. Dessas reuniões surgiu a ANL, cujo primeiro manifesto público foi lido
na Câmara Federal em janeiro de 1935. O programa básico da organização, divulgado em fevereiro, tinha
como pontos principais a suspensão do pagamento da dívida externa do país, a nacionalização das
empresas estrangeiras, a reforma agrária e a proteção aos pequenos e médios proprietários, a garantia de
amplas liberdades democráticas e a constituição de um governo popular, deixando em aberto, porém, a
definição sobre as vias pelas quais se chegaria a esse governo.
No mês de março, constituiu-se o diretório nacional provisório da ANL, composto, entre outros, por
Herculino Cascardo (presidente), Amoreti Osório (vice-presidente), Francisco Mangabeira, Roberto Sisson,
Benjamim Soares Cabello e Manuel Venâncio Campos da Paz. No fim do mês, a ANL foi oficialmente
lançada em solenidade na capital federal à qual compareceram milhares de pessoas. O manifesto foi lido
pelo estudante Carlos Lacerda que, posteriormente, tornar-se-ia uns dos maiores opositores do comunismo.
Na ocasião, Luís Carlos Prestes, que se encontrava na União Soviética, foi aclamado presidente de honra
da organização.[4] Prestes, que nessa época já aderira ao comunismo, desfrutava de enorme prestígio
devido ao seu papel de líder da Coluna Prestes, que na década anterior havia tentado derrubar o governo
federal pelas armas. O grupo tinha 1 milhão de membros em seu auge.[2]
Seções regionais
Ao longo dos anos de 1934 e 1935, calcula-se que dezenas de cidadãos filiaram-se formalmente à ANL,
embora o número exato dessas filiações jamais tenha sido conhecido. Houve adesões importantes, como as
de Miguel Costa, Maurício de Lacerda e Abguar Bastos. Diversas personalidades, mesmo sem se filiar,
mostraram-se simpáticas à Aliança, como os ex-interventores Filipe Moreira Lima, do Ceará, e Magalhães
Barata, do Pará, o deputado federal Domingos Velasco e o prefeito do Distrito Federal, Pedro Ernesto. A
entidade promoveu concorridos comícios e manifestações públicas em diversas cidades e teve sua atuação
divulgada por dois jornais diários a ela diretamente ligados, um do Rio de Janeiro e outro de São Paulo.
No Rio Grande do Sul, a organização teve sua fundação em cerimônia realizada no Teatro São Pedro,
tendo como primeiro secretário da seção gaúcha o estudante de direito Aparício Cora de Almeida e o
presidente na figura do escritor Dyonélio Machado[5] Eloy Martins, dirigente comunista do Rio Grande do
Sul, relatou posteriormente que Aparício era membro "não legalizado" do Partido Comunista Brasileiro e
que sua morte pode ter sido assassinato político por sua ligação com a ANL.[6]
Em Santa Catarina, o núcleo da Aliança Nacional Libertadora, constituído em 1935, liderado por
metalúrgicos e eletricistas, como Álvaro Ventura, João Verzola e Manoel Alves Ribeiro, foi responsável
pela fundação do PCB após a onda de repressão ocasionada pelo Estado Novo de Getúlio Vargas.[7][8]
Em abril de 1935 Luís Carlos Prestes voltou clandestinamente ao Brasil. Incumbido pela direção da
Internacional Comunista (Comintern) de promover um levante armado que instaurasse no país um governo
nacional-revolucionário, recebia a colaboração de um pequeno, mas experiente grupo de militantes
estrangeiros, entre os quais se incluía sua mulher, a alemã Olga Benário. A opção de Prestes por manter-se
na clandestinidade num momento em que a ANL ganhava as ruas demonstra bem suas intenções
insurrecionais e a heterogeneidade de perspectivas que caracterizava essa ampla frente de esquerda.
À medida que a ANL crescia, aumentava a tensão política no país, com frequentes conflitos de rua entre
comunistas e integralistas. No dia 5 de julho, a ANL promoveu manifestações públicas para comemorar o
aniversário dos levantes tenentistas de 1922 e 1924. Nessa ocasião, contra a vontade de muitos dirigentes
aliancistas, foi lido um manifesto de Prestes propondo a derrubada do governo e exigindo "todo o poder à
ANL". Vargas aproveitou a grande repercussão do manifesto para, com base na Lei de Segurança
Nacional, promulgada em abril, ordenar o fechamento da organização.
Na ilegalidade, a ANL não podia mais realizar grandes manifestações públicas e perdeu o contato com a
massa popular que com ela se entusiasmava.[2] Ganharam então força em seu interior os membros do
Partido Comunista e os "tenentes" dispostos a deflagrar um levante armado para depor o governo. Em
novembro de 1935 estourou em Natal (RN) um levante militar em nome da ANL. Em seguida ao
movimento em Natal, que obteve apoio popular e chegou a assumir o controle da cidade por quatro dias,
foram deflagrados levantes em Recife e no Rio de Janeiro. O governo federal não teve dificuldade para
dominar a situação, iniciando logo a seguir intensa repressão contra os mais variados grupos de oposição
atuantes no país, vinculados ou não ao levante. A ANL, alvo principal dessa onda repressiva, foi
inteiramente desarticulada.
A despeito de seu fracasso, a chamada revolta comunista forneceu forte pretexto para o fechamento do
regime. Após novembro de 1935, o Congresso passou a aprovar uma série de medidas que cerceavam seu
próprio poder, enquanto o Executivo ganhava poderes de repressão praticamente ilimitados. Esse processo
culminou com o golpe de Estado de 10 de novembro de 1937, que fechou o Congresso, cancelou eleições
e manteve Vargas no poder. Instituiu-se assim uma ditadura no país, o chamado Estado Novo, que se
estendeu até 1945.[9]
Ver também
Ação Libertadora Nacional
Intentona Comunista
Bibliografia
CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. A ANL no Maranhão. São Luís, EDUFMA, 1998. 81
p.
CASTRO, Ricardo Figueiredo de. “A Frente Única Antifascista (FUA) e o antifascismo no
Brasil (1933 – 1934)” In.: Topoi, Rio de Janeiro, no 5, setembro de 2002. p. 354 – 388. [1] (htt
ps://web.archive.org/web/20090617104923/http://www.ifcs.ufrj.br/~ppghis/pdf/topoi5a15.pdf)
FONSECA, Vitor Manoel Marques da. A ANL na legalidade. Niterói, ICHF/UFF, 1986. 339 p.
[dissertação de mestrado]
FREITAS, Valter de Almeida. ANL e PCB: mitos e realidade. Santa Cruz do Sul, SC,
ENFUNISCA, 1998. 206 p.
HERNANDEZ, Leila Maria Gonçalves Leite. Aliança Nacional Libertadora: ideologia e
ação. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985. 80 p. [Série Revisão: 18]
KONRAD, Diorge Alceno. 1935: a Aliança Nacional Libertadora no Rio Grande do Sul.
Porto Alegre, PUCRGS, 1994. [Dissertação de mestrado]
MONTAGNA, Wilson. A Aliança Nacional Libertadora (ANL) e o Partido Comunista
Brasileiro (1934 – 1935). São Paulo, PUC de São Paulo, 1988. [dissertação de mestrado]
OLIVEIRA, Marcos Aurélio Guedes de Oliveira (org.). O Comintern e a Aliança Nacional
Libertadora. Recife, Edições Bagaço, 1996. Apresentação de Michel Zaidan e introdução de
Marcos A. G. De Oliveira.
PRESTES, Anita Leocádia. Luiz Carlos Prestes e a Aliança Nacional Libertadora: os
caminhos da luta antifascista no Brasil (1934/35). Petrópolis: Vozes, 1997.
VIANNA, Marly de Almeida Gomes. “A ANL (Aliança Nacional Libertadora)” In.: MAZZEO,
Antonio Carlos. (org.) Corações vermelhos: os comunistas brasileiros no século XX. São
Paulo: Cortez, 2003. p. 31 – 60
Referências
1. Marly de Almeida Gomes Vianna. «Revolucionários de trinta e cinco» (http://books.google.c
om.br/books?id=kCksAAAAYAAJ&q=revolucion%C3%A1rios+de+35&dq=revolucion%C3%
A1rios+de+35&hl=pt-BR&ei=MzhsTpznLc2ltweA98DmBQ&sa=X&oi=book_result&ct=result
&resnum=1&ved=0CCoQ6AEwAA)
2. «PCB - Partido Comunista Brasileiro» (https://pcb.org.br/portal2). PCB - Partido Comunista
Brasileiro. Consultado em 12 de março de 2021
3. BREVE ESBOÇO SOBRE A TRAJETÓRIA POLÍTICA DO MILITANTE COMUNISTA CAIO
PRADO JÚNIOR (http://marxismo21.org/wp-content/uploads/2012/09/L-Peric%C3%A1s-CP
Jr.1.pdf) Marxismo 21
4. Olga Benario Prestes: um exemplo para os jovens de hoje (http://www.brasildefato.com.br/n
ode/5617) Brasil de Fato
5. Marçal, João Batista. Comunistas Gaúchos. Porto Alegre: Tchê Editora, 1986
6. Martins, Eloy. Um depoimento político. Porto Alegre: Gráfica Pallotti, 1989
7. Ribeiro, Manoel Alves. Caminho. Florianópolis: Guapuruvu, 2001
8. repositorio.ufsc.br - pdf (https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/112122/9593
6.pdf?sequence)
9. «A Revolta Comunista de 1935 - CPDOC - FGV» (http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Fato
sImagens/RevoltaComunista). Consultado em 18 de abril de 2015
Obtida de "https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Aliança_Nacional_Libertadora&oldid=66896373"