Você está na página 1de 5

Reflexão no aspeto político-social da Ilíada

____________________________________________________________

Unidade Curricular: História da Antiguidade Clássica

Regente: Professor Doutor Amílcar Manuel Ribeiro Guerra

Discente:

Francisco Reis Machado Cirinà de Mendonça e Póvoas

Lisboa, 30 de setembro de 2022

2022/2023
Índice

Introdução: Pág: 3
Contextualização: Pág: 3
Hierarquia: Pág: 3 e 4
O Gênero na Ilíada: Pág: 4
Aspeto Sociocultural na Ilíada: Pág: 4 e 5
Conclusão: Pág: 5

2
Introdução
A Ilíada é uma obra antológica que até hoje serve de exemplo no género em que se
insere. Até hoje, esta obra é debatida a nível académico o que demonstra a sua
qualidade e o seu carácter intergerecional, contudo, este trabalho tem como objetivo
efetuar uma reflexão sobre os aspetos sociais e políticos desta obra . Na elaboração do
trabalho tive o cuidado de justificar as minhas afirmações com citações da obra, citações
essas esquematizadas segundo o Professor Doutor Amílcar Guerra.

1. Contextualização:
A obra inicia-se 9 anos após o inicio do conflito entre Grécia e Troia que se iniciou por
consequência do rapto de Helena, mulher de Menelau, por Páris irmão de Heitor e filho
de Príamo rei dos Troianos. Logo no primeiro capítulo podemos aferir porque Aquiles
se vai abster da guerra, Agamenon com intuito de acabar com a Praga, profanada pelo
pai de Criseida, sacerdote de Apolo, devolve Criseida ao seu pai e retira de Aquiles
Briseida: “A formosa Briseida vou tirar-lha” (Il. 1, 280) com o intuito de recompensar o
lugar de Criseida outrora sua concubina. Este acto é humilhante para Aquiles que
ameaça se retirar da guerra com os seus soldados mirmdões: “me recolho e os meus
navios (…) eu te abandono” (Il. 1, 160-162), a discussão escala ao ponto de Aquiles
quase matar Agamenon: “já meia espada a cogitar sacava” (Il. 1, 181); Aquiles não
comete um regicídio por intervenção de Atenas “déia olhicerúlea: “Vim, de acordo
Com Juno albinitente, amiga de ambos, Comedir-te e amansar” (Il. 1, 191-193).

2. Hierarquia:
Logo no inicio da Ilíada podemos verificar distinção social no exercito Atreu,
nomeadamente entre os heróis e o rei dos reis Agamenon. Agamenon situa-se no topo
da hierarquia do exército Aqueu, ou seja, o rei dos Gregos ou o “chefe argivo”(Il. 1,
275) ou “Avidíssimo Atrida” (Il. 1, 110). Ainda no topo da hierarquia militar podemos
equiparar Agamenon com Príamo Rei dos Troianos.
Embora Aquiles ou “Pelides”(Il. 20, 255) seja filho de tétis e portanto seja considerado
um semideus, ainda está abaixo de Agamenon na estrutura social humana apesar de ser
indispensável para as vitórias do seu exército pois como podemos verificar na obra,
Agamenon através de Ulisses lhe oferece “Sete (…) prendadas moças”(Il. 9, 241) e
“Celebres haverás cidades sete Cardâmile, Enope, Hira verdejante, Risonha Epéia,
pascigosa Anteia, Pédaso uvífera, a sagrada Feres” (Il. 9, 259-262); pois sua ausência
leva Agamenon ao desespero pois as derrotas do exército Aqueu estão correlatadas com
a ausência do filho de tétis. Bem como Heitor que apesar de não descender dos deuses
no que toca a hierarquia militar está equiparado a Aquiles por ser tão importante para o
seu exército e inerente cidade pois se este magno herói cai, a sua cidade cai com ele,
esta dependência umbilical entre estes dois heróis e o seu exército irá caracterizar o
heroísmo homérico e a Ilíada.
Ainda na hierarquia militar dos dois exércitos, há que destacar os demais heróis que
estão acima do soldado comum no exército aqueu, como: Ajax, Pátroclo, Menelau e

3
Ulisses bem como no exercito troiano: Eneias e Páris. Através destes e outro heróis
verificamos o heroísmo homérico que caracteriza esta obra como por exemplo com
batalhas frequentemente entre heróis, como no canto III entre Páris e Menelau: “De
hastas com Menelau contenda Páris: quem vencer haja Helena e seus tesouros.”(Il. 3,
207-208).
Uma evidência que demarca os heróis secundários(Eneias, Pátroclo, Ajax etc…) dos
heróis principais(Aquiles e Heitor) é quando personagens secundárias tentam combater
os heróis principais e acabam por inevitavelmente perder a batalha como Eneias, no
canto XX, que é salvo por Neptuno: “Netuno (…) Derrama logo em torno do Pelides
Cego negrume”(Il. 20, 253-256), com consequente deslumbre de Aquiles: “Que
prodígio! (…) sumiu-se o herói que ardente Com ela eu quis matar!” (Il. 20, 272-274).
No escalão mais baixo da hierarquia militar destes dois exércitos está o soldado
ordinário, tendo como papel nesta obra ser uma mera figura que frequentemente é
flagelada por heróis como podemos aferir no IV conto, quando Ulisses e Ajax chacinam
tropas do exército dradânio, como neste excerto com Ulisses: “Se envia Ulisses às
primeiras filas; (…) lança brande (…) Democoonte fere (…) a vista se lhe entreva” (Il.
4, 419-425). Outro exemplo é quando um cocheiro pede a piedade a Menelau com um
resgate: “Adresto ajoelha e implora: “Sê piedoso, Por mim resgate esplêndido recebe ”
(Il. 6, 40-41), contudo, Agamenon convence o irmão a matá-lo acto que fazem juntos:
«Débil a Teucros, Menelau, perdoas? De certo agradeceram-te a hospedagem. Nem
mesmo o infante no materno ventre Escape à nossa fúria; em cinzas Tróia»

3. O Gênero na Ilíada
Verificamos na construção social da Ilíada que o género tem impacto na função de cada
individuo. O género masculino tem como função lutar pela sua honra ou pela sua
localidade enquanto o género feminino é usado como prémio ou como um bem
transacionável, podemos aferir isto no canto IX quando Agamenon desesperado pelo
apoio de Aquiles, envia através de Ulisses: “Sete prendadas moças.” (Il. 9, 241). Como
também quando Agamenon revoltado por Aquiles ameaça-lo de morte retira-lhe
Briseida “A formosa Briseida vou tirar-lha” (Il. 1, 280)
O gênero feminino também se insere como inspiração para o autor, dado que as musas
são do género feminino “Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles” (Il. 1, 1).

4. Aspeto Sociocultural na Ilíada


Podemos aferir através da Ilíada costumes e práticas contemporâneas da guerra de Troia
(1300-1200 a. C.). Como por exemplo no canto VI entre Diomedes e Glauco soldados
de lados opostos trocam armaduras após Glauco dizer a Diomedes que os antepassados
trocaram presentes: “Certo hóspede paterno me és antigo” (Il. 6, 186) e portanto devido
a este efe mérito trocam armaduras para honrar os seus antepassados: “Patenteemos
permutando as armas, Que dos avós o hospício respeitamos (…) apeiam-se os dois, as
destras cerram (…) troca dos arneses” (Il. 6, 199-202), podemos aferir, através destes
excertos, que no mundo clássico dá-se valia ao sangue, linhagem e honra de cada
individuo.

4
Outro exemplo de como a honra é um fator primordial no mundo antigo, é o episodio de
Heitor e Pátroclo e as consequências que vão mudar substancialmente a narrativa desta
obra. Como podemos apurar no canto XVI quando Heitor dá o golpe final a Pátroclo:
“Tomba o héroi com fracasso, e os gregos gemem.” (Il. 16, ), que estava ornado com a
armadura de Aquiles que Heitor lhe retirou, como podemos verificar que é normal para
a época, e vestiu a com intuito de humilhar o filho de Tétis.
A morte de Pátroclo vai mudar completamente as atitudes de Aquiles dado que, como
descrevi anteriormente, Aquiles está até este canto privado do campo de batalha
refutando-se envolver mesmo que a sua atitude acabe por condenar a Grécia à derrota.
Com a morte do seu aprendiz, Aquiles fica “cego de fúria” (Il. 22, 8) e dirige-se a Troia
para enfrentar Heitor, Heitor tenta acordar com Aquiles que o corpo de o derrotado não
será violado: “Porém guardemos pacto (…) Se da vida privar-te (…) teu corpo restituo
inteiro e puro E só das pulcras armas despojado Igual favor Pelides, me assegures.” (Il.
22, 200-205), contudo, Pelides refuta: “Não, tratados jamais (…) as agonias vingo Dos
meus que trucidaste” (Il. 22, 210-215). Desta forma inicia-se o confronto entre os dois
principais heróis da Ilíada, Heitor guarnecido com a armadura de Aquiles ato que
outrora parecia condicionar Aquiles acabou por prejudicar Heitor dado que Aquiles
conhece os pontos fracos da sua armadura e com isso derrotar o príncipe de Tróia
facilmente.
Depois de Aquiles matar Heitor ata-o no seu carro: “ao carro prende, Cabeça a rastos”
(Il. 22, 317-318) e trá-lo para o acampamento Aqueu, desta forma violando seu corpo
cometendo um ato bárbaro.
No último canto desta obra verificamos como os rituais fúnebres são de extrema
importância no mundo clássico tanto que Príamo com intuito de recuperar o corpo de
seu filho Heitor, se desloca à tenda de Aquiles suplicando-lhe o cadáver beijando-lhe a
mão: “Esta mão beijo que matou meus filhos.” (Il. 24, 349).

Conclusão
Em suma, a Ilíada é uma obra intemporal que nos mostra o mundo clássico em diversos
âmbitos. Embora este trabalho tenha como objetivo uma reflexão no aspeto social,
podemos concluir que o heroísmo Homérico define esta obra bem como a mitologia
grega que está diretamente correlatada com os eventos e com os heróis. O carácter
milenar desta obra teve as suas consequências, como pude aferir analisando o canto X
em que os especialistas apontam que outro individuo redigiu esse canto pois não têm o
heroísmo que caracteriza os restantes contos.

Você também pode gostar