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Por uma educação da consciência: necessidades e possibilidades


atuais 1
Dr. Mauro Luiz Pozatti2

Há momentos em nossa existência que necessitamos parar e rever para onde


estamos indo. Quando revemos o tempo vivido podemos tomar consciência de
algumas mudanças essenciais. Em todas elas há um momento crítico que necessita
ser ultrapassado, deixando morrer um modo já obsoleto, renascendo com um novo
olhar sobre o mundo. Quando isto ocorre podemos perceber que iniciamos novas e
mais ampliadas possibilidades de experienciar nossa vida.

De certa forma todos os seres humanos passam por estas mudanças, porém nem
todos conseguem abandonar a visão anterior. Como nem a sociedade atual, nem os
processos educacionais atuais nos preparam para estas mudanças, muitos
humanos podem ficar presos em situações já ultrapassadas, carregando-as consigo
em seus diferentes ciclos vitais.

Como médico e educador percebi que muitas situações patológicas podem ser
derivadas desta manutenção de situações obsoletas à faixa etária do indivíduo e à
falta de adequação ao seu novo momento de vida. Nesta perspectiva se incluem,
por exemplo, muitos casos de depressão, pânico, vícios, tumores, psicoses,
alergias. Na maioria destas situações tenho percebido a falta de uma educação que
permita ao indivíduo demarcar mudanças de consciência.

Durante os últimos quinze anos tenho me dedicado a estudar possibilidades


educacionais que permitam preparar indivíduos para estas passagens de fase.
Neste processo aprendi que existe uma pedagogia, conhecida como ritos de
iniciação, executada há milhares de anos, e que pode ser atualizada para os nossos
tempos.

Ao desenvolver uma tese de doutoramento, percebi que há dois grandes tipos de


iniciação, um que se refere às etapas evolutivas existenciais (infância, puberdade,
1
Artigo publicado em Ferreira, Nilton Geraldo (org). Psicologia Transpessoal. Goiânia: PUC
Goiás, 2011. V.1.P. 09-19.
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Médico e Doutor em Educação. Professor da UFRGS e UNIPAZ.
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adolescência, juventude, adultez, ancianidade) e outro que envolve a conexão da


consciência à outras dimensões da Totalidade. (Pozatti, 2003)

Neste presente trabalho faço uma reflexão sobre necessidade de retomarmos esta
pedagogia dos ritos de iniciação para permitir o necessário desenvolvimento
saudável da consciência humana e exemplifico como isto pode acontecer em nosso
momento atual.

Uma breve história do desenvolvimento da consciência humana

De certa maneira poderíamos dizer que o desenvolvimento da consciência humana


é um processo de individuação da Totalidade e, a seu tempo, também um processo
de reconexão com esta Totalidade. Dito de outra maneira, o ser humano é inteiro e
parte de um Todo (o Ser, Holos, o Real). Para existir necessita diferenciar-se deste
Todo e criar uma realidade onde possa manifestar-se. Porém, caso se diferencie em
demasia da Totalidade, irá se fragmentar e se dissociar, necessitando realizar uma
dança entre individuação e conexão com a Totalidade, para que haja um
desenvolvimento saudável da consciência. (Pozatti, 2007).

Neste processo de diferenciação humana, a consciência se organiza, passando a


estabelecer modos do indivíduo sobreviver e satisfazer suas necessidades básicas,
gerando um sistema de crenças sobre si mesmo, sobre os outros, sobre o ambiente
e sobre o universo. A repetição destes comportamentos reforça seu sistema de
crenças, estabelece um determinado conjunto de hábitos, desenha uma visão de
mundo que lhe parece coerente e cria uma noção de eu. A esta organização da
consciência em um determinado nível do ciclo vital podemos chamar de ego.

Porém o indivíduo cresce e se transforma, modificando suas necessidades. Neste


processo a consciência também necessita expandir-se e organizar um novo jeito de
estar no mundo. Quando este momento de mudança chega, o ego (organização)
daquele ciclo necessita morrer (desorganização) para dar lugar a um outro ego
(reorganização), onde a consciência constitui-se como um novo “eu sou”, mais
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abrangente que o anterior. Em outras palavras, forma-se um novo ego que


transcende e inclui o anterior. (Pozatti e Souza, 1993). Na perspectiva de Jung “o
menino precisa morrer para nascer o homem adulto”. ( Jung, 1964).

Se, em algumas destas mudanças de fase o indivíduo, por despreparo,


desinformação, fragmentação ou apego, a realiza de uma maneira desarmônica e
incompleta, provavelmente terá problemas futuros, não só consigo mesmo, mas
também, com os outros indivíduos, com a sociedade e com o planeta. Como
nenhum ego quer morrer e, não havendo uma sociedade competente (como é o
caso da nossa) para orientar esta mudança, o indivíduo manterá em seu novo ego
aspectos importantes e vitais do ego anterior, gerando apegos, tensões, estresses e
doenças, num contínuo processo auto-reforçador.

Dito de outra maneira, se a passagem entre as fases não se torna bem demarcada,
pode gerar patologias e desvios no desenvolvimento da consciência, afastando-a de
sua inteireza, uma vez que o indivíduo levará problemas não resolvidos e hábitos da
fase anterior para a próxima etapa da vida.

Neste sentido, aprender a deixar morrer um ego obsoleto e manter-se conectado


com o Todo é condição sine qua non para o processo evolutivo saudável. Porém,
como deixar-se morrer se atualmente lidamos com a morte como um fim, um
término?

A visão predominante na sociedade atual, vinculada ao mecanicismo e ao


materialismo, afastou a perspectiva sagrada da morte e do morrer. Como nos
percebemos isolados do mundo, desconectados, desenvolvemos uma angústia da
morte, um medo assombroso porque ‘não há’ um depois. Temos medo de perder o
que temos. Há um medo infantil de terminar nossa existência egóica. Um medo de
deixar de ser quem somos.

Além disso, o processo de individuação também leva o ser humano a separar-se em


aspectos distintos (corpo, mente, organização social, visão de mundo e ambiente), e
focar-se no mundo material, isolando-se da Totalidade. (Pozatti, 2007)
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Em sociedades distintas da nossa foram estruturados diversos ritos iniciáticos que


permitiam esta morte e renascimento. Nestas sociedades, havia e há ritos de
iniciação, que permitem um crescimento ordenado de seus membros, tanto em cada
fase de vida quanto no desenvolvimento espiritual do ser. Segundo Zoja, estes ritos
pressupunham que “o mero nascimento põe o homem no mundo em condições
insatisfatórias, sem valores ou transcendência, ou antes numa condição apenas
vegetativa. O acesso a uma condição superior é obtido com uma morte e uma
regeneração simbólica e rituais”. (Zoja, 1992).

Zoja também refere que a morte, em muitas sociedades, era uma experiência de
transformação da alma, simbolicamente um início de uma nova vida, um
renascimento. (Zoja, 1992).

Infelizmente, nossa civilização desconsiderou estes processos iniciáticos. A quase


ausência de rituais em nossa cultura faz com que busquemos, inconscientemente e
enganosamente, no álcool, droga, fumo, carros, gangues ou grupos, companheiros
de passagem, como se esses fossem suficientes para ingressarmos em novas
etapas da vida.( Zoja, 1992).

Morte e ritos iniciáticos

Atualmente o campo de estudos da Psicologia Transpessoal nos possibilita olhar de


uma maneira distinta tanto a morte como o processo iniciático. Autores como Ralph
Metzner, Luigi Zoja, Stanislav Grof e Mircea Eliade vem contribuindo com novas
perspectivas sobre esta temática.

Para Metzner, “o morrer e renascer é a metáfora para transformação mais radical e


total que a consciência e a identidade podem experimentar... e esta transformação
implica todos os aspectos da psique, porque supõe o princípio organizador central
da individualidade”. (Metzner, 2005). E, em praticamente todos os ritos de iniciação,
são experiências de morte-renascimento que, segundo este autor “mesmo que
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dolorosas, são sumamente valiosas porque levam a compreensão, a saúde e longa


vida, a paz e a liberdade interior do medo”. (Metzner, 2005)

Os ritos de iniciação são processos educativos integradores que atuam na fronteira


entre as fases da consciência humana, proporcionando a morte simbólica do ego
obsoleto e o nascimento de “outro” ego, mais atual. Para o educador Peter McLaren
“somos ontogenéeticamente constituídos por ritual e cosmologicamente formados
por ele na medida em que os rituais estão imperecivelmente enraizados na procura
do homem pela transcendência. Eles fornecem ao homem contemporâneo as
dimensões simbólicas, sagradas, míticas ou poiéticas de sua existência”. (McLaren,
1992)

A morte nos ritos de iniciação, nos lembra Eliade, era iniciática: “era a morte de
alguma coisa a ser superada. Morria-se para ser transformado e ascender a um
nível de existência mais elevado. (Eliade, 1999). Segundo ele a morte iniciática não
era um fim, mas ” um voltar a começar, senão uma condição sine qua non de um
trânsito para outro modo de ser, como prova indispensável para regenerar-se.”
(Eliade, 1999).

Este autor também refere que, durante o processo iniciático “os noviços recebem
instruções prolongadas de seus mestres, presenciam cerimônias secretas, passam
por uma série de terríveis provas e ordálias. E são precisamente essas ordálias as
que constituem a experiência religiosa da iniciação, o encontro com o sagrado. A
maioria dos calvários iniciáticos implicam, de forma mais ou menos clara, uma morte
ritual seguida da ressurreição de um renascimento. O noviço regressa a vida como
um homem novo, assumindo outro modo de ser”. (Eliade, 2000)

Eliade conceitua a iniciação, em termos gerais, como “uma série de ritos e ensinos
orais, cujo propósito é provocar uma modificação radical do status religioso e social
da pessoa que recebe. Em termos filosóficos, iniciação equivale a uma mutação
ontológica da condição existencial”.(Eliade, 1998). Para ele existem três categorias
de iniciação: as que tem a função de marcar as fases de vida; as de inclusão em
confrarias (tipo homens e mulheres) e as de atuarem no desenvolvimento espiritual
do ser humano. (Eliade, 1998).
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Stanislav Grof, em seu livro sobre a morte, encerra seu estudo concluindo que as
pessoas que realizaram processos de ampliação da consciência, vivenciando
diversas mortes egóicas, “tendem a desenvolver um sentimento de pertinência ao
planeta, de reverência pelo processo de vida em todas as suas formas, um profundo
compromisso ecológico, uma espiritualidade de alcance universal, aversão a
violência, e um rechaço a ver a agressão como uma forma lícita de solucionar
conflitos. Esta radical transformação interior e abertura a uma nova compreensão da
existência pode representar a única oportunidade real para a sobrevivência”. (Grof,
2006).

Dito de outra maneira, para desenvolver-se plena e saudavelmente, o ser humano


necessita, ao ampliar sua consciência, harmonizar-se em cada mudança de seu
ciclo vital bem como realizar uma reconexão com a Totalidade. Uma consciência
harmônica permitirá que as ações do indivíduo sejam orientadas para a inteireza do
Ser e voltadas para um desenvolvimento saudável de si mesmo e dos outros,
contribuindo, com isso, com o desenvolvimento de uma Cultura de Paz. (Pozatti,
2007)

Talvez seja interessante darmos uma olhada nos processos educacionais possíveis
em nosso momento social, necessários para uma mudança de nossa forma de lidar
com o desenvolvimento da consciência.

Por uma educação da consciência

Para significar, conhecer e atuar na realidade humana é necessário a utilização de


um poderoso sistema organizador consensual que possa descrevê-la e mantê-la
estável. Normalmente os sistemas de desenvolvimento da consciência humana são
passados de geração a geração principalmente através de ações educativas,
formais ou não. Cada coletividade estrutura um sistema educacional que possa
manter sua visão de mundo.
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Em nossa sociedade atual, uma visão educativa voltada ao desenvolvimento do


pensamento tem prevalecido, desvelando a realidade manifesta, densa, em
detrimento das demais. Um processo educacional com esta visão pode afastar o
indivíduo das dimensões mais sutis do ser e isto pode ocasionar um
desenvolvimento fragmentado do ser humano. (Pozatti, 2007).

Segundo Martinelli:

Os atuais sistemas educacionais dissociaram o aspecto


material do espiritual, fragmentaram o conhecimento e
comprometeram o desenvolvimento integrado da
personalidade dos alunos. Inibiram a criatividade e o sentido
de percepção superior. (Martinelli,1996)

Para revertemos o processo atual de fragmentação da consciência humana, tornam-


se necessárias ações educacionais que possam promover a conexão com aquilo
que transcende, vinculando-a com outras dimensões da Totalidade. Uma educação
assim transcende a visão mecanicista, antropocêntrica e materialista vigente
integrando-a numa dimensão superior, onde a consciência humana continua sendo
percebida como individuada, e, ao mesmo tempo, parte de dimensões com maior
complexidade (Martineli, 1996).

Para isso é de fundamental importância que tenhamos uma visão mais abrangente,
que permita a promoção da inteireza do ser humano, permitindo-lhe que, em cada
fase de sua existência, possa tornar-se um ser inteiro, conectado com a Totalidade,
da qual é parte.

Nesta visão de educação abrangente, conhecida como transdisciplinar e holística,


existe o acolhimento de subsídios das tradições sapienciais, da ciência, das artes e
das escolas de filosofia, buscando as interações entre suas fronteiras e integrando
estes diferentes caminhos. Numa educação assim percebida, podem-se observar
dois níveis de aprendizado: um vinculado à inteireza em cada fase de
desenvolvimento do ser humano e outro vinculado à conexão e significação de
diferentes realidades ou visões de mundo, estimulando o seu desenvolvimento
espiritual.
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Para esta educação em direção à inteireza do Ser, existe uma contribuição muito
significativa que é a proposta da UNESCO para a educação do Terceiro Milênio,
divulgada num documento conhecido como Relatório Delors. Neste documento, são
propostas quatro pilares ou maneiras de aprender, necessárias para o novo milênio:
aprender a conhecer; aprender a conviver com os outros, aprender a fazer e
aprender a ser. Em meus estudos acrescentei mais uma: aprender a amar. (Delors,
2002; Pozatti, 2003)

Uma educação que promova a proposta da UNESCO, adequada a cada ciclo vital
pode facilitar ao indivíduo humano estar inteiro a cada momento da sua existência e,
neste fluir, viver de uma forma saudável.

Esta proposta educacional pode ser integrada às lições ensinadas pelas antigas
civilizações com seus ritos de iniciação e métodos para promover a passagem entre
níveis da consciência, com suas diferentes realidades, ao mesmo tempo em que
educam para existir nesta realidade. Esta integração pode se constituir numa
proposta para uma educação da consciência, que tem como características
fundamentais a retomada dos ritos de iniciação, os pilares da educação para o
milênio, o ensino de valores essenciais e uma visão holística e transdisciplinar do
mundo.

Uma prática de educação da consciência

Há anos venho promovendo e participando de um movimento chamado Guerreiros


do Coração, onde homens propõe-se ao resgate da sua essência e realizam
atividades para a promoção da sua inteireza como humanos, resgatando sua
conexão com a Totalidade. A proposta é a de colocar em prática uma percepção de
mundo holística e transdisciplinar, permitindo que os homens possam buscar sua
inteireza, resgatando a inteireza de suas fases anteriores; cuidando de sua fase
atual, promovendo a saúde de seus relacionamentos, abrindo-se para novas
perspectivas da consciência. Este processo educacional foi iniciado em 1993, com
base em meus estudos sobre homens, rituais e a inteireza do ser. (Pozatti, 2007)
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Neste sentido, os Guerreiros do Coração promovem estudos sobre a realidade e a


consciência do ser homem; sobre as relações que estabelecem em sua vida e sobre
as complexidades conscienciais e suas influências em seu desenvolvimento.
Promovem, também, o compartilhar de momentos de vida, o contato com as
energias masculina e feminina, o desenvolvimento de valores essenciais e a
realização de ritos de iniciação.

O processo educacional utilizado nos Guerreiros do Coração foi estruturado em


ciclos pedagógicos de promoção da ampliação da consciência. Estes ciclos
aprofundam o contato fraterno entre homens e buscam um aprofundamento de uma
percepção holística e transdisciplinar da realidade.

No Primeiro Ciclo, desenvolve-se um processo pedagógico que inclui o trabalho em


grupo sobre os relacionamentos passados e atuais de cada homem: consigo
mesmo, com o pai, com as mulheres, com os filhos, com os amigos, com suas
polaridades masculina e feminina e com a natureza. Ao final deste ciclo é realizado
um rito de iniciação, buscando demarcar as fronteiras psíquicas entre o menino e o
homem.

No Segundo Ciclo amplia-se e aprofunda-se o diálogo e a fraternidade entre os


participantes através de dinâmicas de grupo. Nestes encontros são abordados
estudos sobre as complexidades conscienciais, como elas se estruturam e
influenciam a constituição do ser homem em suas diferentes fases vitais. Durante o
desenvolvimento deste Ciclo, os homens interessados passam a reunir-se
regularmente em encontros de Clã, celebrando a fraternidade, apresentando e
compartilhando seus talentos, meditando, dançando, cantando e realizando rodas de
cura. (Hammerschlag, 1993). Ao final do ciclo, realiza-se outro rito de iniciação, onde
cada um busca fazer uma revisão de momentos marcantes em sua vida.

No Terceiro Ciclo, o processo educacional visa à constituição do líder de si mesmo e


a possibilidade de significar realidades tangíveis e intangíveis. Este processo ocorre
a partir de práticas e ensinamentos encontrados em diferentes tradições sapienciais.
Ao final do trabalho, realiza-se um rito de passagem envolvendo a temática
trabalhada neste ciclo.
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No Quarto Ciclo, os homens, junto com as mulheres dos grupos Tendas da Lua (um
movimento similar aos dos Guerreiros do Coração, porém, dirigido ao gênero
feminino), voltam-se para o espiritual, realizando uma iniciação da sua 'cidadania
cósmica'. É um momento de olhar para todas as diferentes culturas e seus caminhos
iniciáticos, apreciando o que é possível resgatar no momento atual da humanidade e
o que é necessário criar, para que este portal se abra ao maior número possível de
humanos. Ao final, também, realiza-se um rito de iniciação.

O Quinto Ciclo aprofunda o desenvolvimento espiritual do homem, através das


diferentes práticas aprendidas nos ciclos anteriores e em diferentes Tradições
Sapienciais. O propósito é de permitir que cada um torne-se um mestre em lidar com
as forças interiores e exteriores com as quais está conectado, conseguindo integrar
seu poder no aqui e no agora, ampliando sua consciência e reconectando-se ao
Todo.

Em todos os encontros são estimulados cuidados com o corpo (alimentação,


respiração, e movimentos), a mente (expressão de sentimentos, e resgate de
traumas), as relações sociais (relacionamentos, e planejamento de vida), as crenças
culturais (mudança de hábitos obsoletos, aquisição de novos hábitos mais
saudáveis), o cuidado com o meio ambiente (cuidados com dejetos, com o que se
consome, e com o Planeta) e espirituais (meditação, ampliação da consciência e
significação de diferentes campos conscienciais), enfim, estimula-se o Cuidar de Si
mesmo, dos outros, do planeta e do Universo. Com este processo, cada Guerreiro
do Coração passa a ser um homem que busca sua inteireza e cultiva uma Cultura
de Paz, promovendo uma humanidade mais saudável e harmônica.

Considerações finais

Há momentos da vida que necessitamos parar e rever para onde estamos indo e
este é o nosso momento para realizá-lo enquanto humanidade. Para uma
perspectiva mais harmônica da existência humana necessitamos modificar nossa
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visão de mundo e nossa atuação no mesmo. Para que isto ocorra é de fundamental
importância que haja um renascimento da consciência humana. Basarab Nicolescu
nos lembra que neste momento “é absolutamente necessário explorar a infinita
capacidade de deslumbramento da consciência humana para ser possível
reencantar o mundo”. (Nicolescu, 1999).

Creio que, para isso, é necessário o desenvolvimento de uma educação da


consciência. Para esta se tornar viável é possível integrar as propostas da UNESCO
para a educação do século XXI, contidas no Relatório Delors com as antigas lições
contida nos ritos de iniciação e que Eliade, Grof, Metzner, Zoja e outros vem
estudando.

Nos Guerreiros do Coração, após quinze anos de práticas, temos percebido esta
possibilidade de reencantar o mundo através do desenvolvimento saudável da
consciência dos participantes. Durante o processo educacional há o
desenvolvimento de valores essenciais, há a ampliação da visão de mundo, existem
possibilidades de aprender a conhecer, a conviver, a amar, a fazer e a ser de uma
forma harmônica, com a utilização dos ritos de iniciação para demarcar estas
mudanças de consciência. Portanto, existe a necessidade de mudança e existe a
possibilidade de mudar. Vamos em frente!
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Bibliografia

Eliade, M. O sagrado e o profano – a essência das religiões. Lisboa: Ed. Livros do Brasil. S/d.
Eliade, M. La búsqueda – historia e sentido de las religiones . Barcelona: Kairós, 1998
Eliade, M. Nacimiento e renacimiento – el significado de La iniciacíon em La cultura humana.
Barcelona: Kairós, 2000. ....
Delors, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília: MEC:
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Grof, S. El viaje definitivo – la consciencia y el misterio de la muerte. Barcelona: La liebre
de marzo, 2006.
Hammerschlag, C.A. A dança dos curandeiros – A iniciação de um Médico nas Artes de cura dos índios
Norte- Americanos. Nova Era: Rio de Janeiro, 1993
Jung, C. G. O Homem e seus símbolos. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1964.
Martinelli, M. Aulas de transformação: o programa de educação em valores
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McLaren, P. Rituais na escola. Petrópolis: Vozes, 1992.
Metzner, R. Las grandes metáforas de la tradiciíon sagrada – las transformaciones de la conciencia
y la naturaleza humana. Barcelona: Kairós, 2005. 2ª. ed.
Nicolescu, B. O manifesto da transdisciplinaridade. São Paulo: Triom, 1999.
Pozatti, M.L. & Souza, N. S. Rituais e psicoterapia familiar sistêmica. Porto Alegre:
CEAPIA, 1993. TCC em Psicoterapia Familiar Sistêmica.
Pozatti, M.L. A busca da inteireza do Ser: formulações imagéticas para uma abordagem
transdisciplinar e holística em saúde e educação. Porto Alegre: UFRGS, 2003. Tese de
Doutorado.
Pozatti, M.L. Buscando a inteireza do Ser – proposições para o desenvolvimento
sustentável da consciência humana. Porto Alegre: Gênese. 2007.
Zoja, L. Nascer não basta - Iniciação e toxicodependência. São Paulo: Axis Mundi. 1992.

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