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ESPIRITUALIDADE

A palavra espírito tem sua origem proveniente do latim spiritus, que significa
“respiração”, “sopro de vida” ou ainda, “inspiração”. Fornecendo-nos uma conotação de força
e energia que advém da alma. Portanto, a palavra espiritualidade é para a alma humana como o
sopro de vida é para o recém-nascido. É a vida que emana do sopro divino que reside em cada
ser humano, que além de mantê-lo vivo, o une a tudo o que existe na grande teia da vida que
envolve todo o Universo (MEDEIROS JR., 1995; PROPHET, 2003; TREVISOL, 2008).

E muito se tem falado em espiritualidade. O que é muito bom! Tendo em vista de que a
espiritualidade faz parte de nossa essência e, portanto, está (ou pelo menos deveria estar)
presente em todos os momentos de nossa vida. Como descrito por Wolman (2001, p. 27) “a
espiritualidade, de uma forma ou de outra, tange todos os aspectos da vida contemporânea”.

Ela é inerente à toda pessoa assim como é sua corporeidade, sua sociabilidade e sua
natureza emocional (TORRALBA, 2013). Ela nos auxilia na busca pela paz interior e na
descoberta de nosso propósito de vida, além de nos conceder o poder de nos transformarmos e
de transformarmos o mundo a nossa volta (PROPHET, 2003). Ela ainda se torna absolutamente
essencial para a nossa estabilidade psicológica, e cada vez mais importante, em um mundo
movido por constantes mudanças onde, frequentemente, se renovam as referências de ordem e
liderança (MEDEIROS, 2017).

O que falta para algumas pessoas é, em primeiro lugar, reconhecer isso; admitir-se como
um ser espiritual e incorporar essa dimensão divina em seu dia-a-dia, afinal de contas, somos
seres divinos, feitos à imagem e semelhança do Criador. Neste sentido, Medeiros (2017, p. 15)
nos afirma que “a espiritualidade começa com a autoadmiração e aceitação da grandiosidade
divina interior” e Trevisol (2008, p. 189) complementa que a “espiritualidade é a expressividade
da alma na sua mais profunda originalidade”.

Muitas pessoas confundem espiritualidade com a religiosidade e, por desinformação,


acabam fundindo os dois conceitos em um único. Vários autores confirmam o fato de que é
possível demonstrarmos e exercermos nossa espiritualidade sem, necessariamente, seguir ou
aplicar um determinado conjunto de dogmas de alguma religião, justamente, porque a
espiritualidade é algo intrínseco no ser humano. A opção de aplicar em nossas vidas um
conjunto de normas e de crenças de uma determinada religião, até poderá vir a ser o caminho
encontrado por alguém para desenvolver sua espiritualidade, porém, não a garante. (PROPHET,
2003; MYSS, 2003; TREVISOL, 2008; TORRALBA, 2013; GIMENES, 2017; MEDEIROS,
2017; ZOHAR; MARSHALL, 2018).

Se observarmos bem, durante o nosso cotidiano, temos inúmeras possibilidades para


demonstrarmos e exercermos a nossa espiritualidade, pois, como já mencionado anteriormente,
ela faz parte de nossa natureza humana. Porém, na grande maioria das vezes, diante de fatos
corriqueiros, optamos em responder e reagir a eles de maneira racional, prática, objetiva e, até
mesmo, egoísta, quando na verdade deveríamos fazer o contrário, pois, vivenciar a
espiritualidade significa estar em contato com um todo maior, mais profundo, mais rico, que
coloca nossa limitada situação humana sob uma nova perspectiva: a de encontrarmos o sentido
de nossas vidas (MYSS, 2003; FRANKL 2005; TORRALBA, 2013; ZOHAR; MARSHALL,
2018).

Nos deixamos levar pelas falsas sensações de que o tempo é escasso, de que estamos
em uma competição, de que precisamos superar nossos limites e transpor nossos pares, de que
precisamos conquistar mais “coisas” e, com isso, acabamos sendo engolidos por mais
problemas, mais dificuldades e, por fim, somos premiados com um vazio interior cada vez
maior, também conhecido como vazio existencial, ou ainda, como frustração existencial
(FRANKL, 2015). Como nos afirma Frankl (2005 p. 19) “A compensação financeira, ou, dentro
de certos limites, a segurança social não bastam. O homem não vive apenas de bem-estar
material”.

É óbvio de que precisamos das coisas materiais, afinal de contas, cuidar do nosso corpo
físico e de nossas necessidades básicas também é pôr em prática a espiritualidade, além de ser
uma exigência básica de nossa condição humana. A chave é, justamente, fazermos o que temos
de fazer como seres humanos que somos, mas, com uma outra postura, sob uma outra
perspectiva dotada de um olhar mais humano e espiritualizado, obtendo as “coisas” do mundo
sem esquecermos de “quem somos”, “por que estamos aqui”, “de onde viemos”, “por que
existimos” e “para onde vamos”. Aliás, a espiritualidade é o poder que nos conduz para a
compreensão de questões transcendentais como estas (PROPHET, 2003; TORRALBA, 2013).

Além disso, a espiritualidade é o meio que podemos utilizar para resolvermos esta
questão do vazio interior, pois, este vazio é inexistente em pessoas que aceitam, estimulam e
desenvolvem a sua espiritualidade, justamente, porque elas reconhecem o sentido que suas
vidas possuem e, mais do que isso, conduzem seus passos na direção correta (TORRALBA,
2013). Mais do que algo subjetivo, a espiritualidade precisa ser encarada como uma visão
estratégica do ser humano envolvido em um sistema social (MEDEIROS, 2017).

Se faz necessária a compreensão de que nossa existência deve estar a serviço da


humanidade. Toda ação colocada em prática impacta a nossa vida, a vida de cada um dos nossos
familiares, a vida de nossos semelhantes, em nosso bairro, em nossa cidade, em nosso país e no
mundo inteiro. Tudo que fazemos, de bom ou de ruim, ecoa pelos quatro cantos do mundo.
Nossas vidas estão interligadas, através da grande teia da vida, numa rede de interdependências
(CAPRA, 2006) e interconectadas graças aos avanços tecnológicos e o crescimento exponencial
da internet.

Nossas decisões possuem uma profunda influência na vida das pessoas que conhecemos,
assim como na de pessoas que não conhecemos. Em resumo, as diversas maneiras pelas quais
impactamos o mundo são guiadas e moldadas pela nossa espiritualidade e, posteriormente,
colocadas em prática através de nossas escolhas (WOLMAN, 2001).

Precisamos estar conscientes de nossa importância, responsabilidade e coparticipação


no processo de desenvolvimento de uma realidade multiculturalista, mais altruísta e mais
humana. Como descrito por Medeiros (2017, p. 14) “não é tanto uma questão de escolha, mas
uma necessidade de maior Consciência individual e de transcendência coletiva em que cada
atitude fará a diferença”. Afinal de contas, queremos mudar o mundo e ansiamos viver uma
vida em um contexto mais amplo, baseada em valores e dotada de sentido (FRANKL 2005;
ZOHAR; MARSHALL, 2018).

Neste contexto, percebemos que a espiritualidade acaba sendo desenvolvida através


daquele conjunto de características divinas presentes em nosso ser e que, por diversos motivos,
negligenciamos e deixamos de expressá-las, nos tornando eternos insatisfeitos, infelizes e
vazios, pois, não se trata de “ter” e sim de “ser”.

Permita-me exemplificar. E como exemplo usarei algo que todos nós temos: a família.
Que ambiente maravilhoso para praticarmos algumas de nossas características divinas, não é
mesmo? Ali, no seio familiar, podemos amar, tolerar, aprender, ensinar, respeitar, servir, cuidar
e perdoar, apenas para citar algumas das características esperadas de nós como seres humanos
feitos à imagem e semelhança do Criador. Ou será que ainda nos cabe alguma dúvida de que
Deus nos ama, tolera nossas imperfeições, ensina-nos com carinho, respeita nosso livre arbítrio,
zela por nós e, sem sombra de dúvida, está sempre disposto a nos perdoar?
A espiritualidade deve ser vista e valorizada como sendo um legado da humanidade, e
também, como uma dádiva sagrada inerente a vida. Ao nos posicionarmos sob esta óptica
seremos capazes de sentir a vida dessa maneira, nos tornando seres íntegros, sem medo, sem
egoísmo, felizes e capazes de interagir com os demais em níveis mais elevados (GRISCOM,
1991). Afinal de contas, como nos afirma Reyo (1989, p. 167), “nunca iremos além de um certo
nível sem o desenvolvimento da espiritualidade.”

Indo além e parafraseando Teilhard de Chardin: “Não somos seres humanos vivendo
uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana”,
chegamos à conclusão de que nossa existência precisa ser muito mais do que dormir, acordar,
dirigir automóveis, trabalhar, gerar riqueza e conquistar bens materiais, resolver problemas,
pagar contas, criar filhos, viajar, consumir e desfrutar dos prazeres da vida.

Devemos nos lembrar de que estamos aqui comprometidos com algo maior, e este algo
maior, é a nossa missão de vida! E para descobri-la precisamos nos conhecer profundamente e,
a partir disso, agirmos de acordo com o que somos em nossa essência. Por isso, aceitar,
estimular, desenvolver e expressar a nossa espiritualidade é de suma importância, pois, somente
pessoas com a espiritualidade desenvolvida permitem-se ao autoconhecimento, não praticam a
autossabotagem e, consequentemente, obtêm êxito em suas vidas, transformando-as em
experiências plenas e felizes, dignas de serem vividas e compartilhadas com todos.

Referências Bibliográficas

CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São
Paulo: Cultrix, 2006.
CHARDIN, Teilhard de. Site: pensador.com em https://www.pensador.com/frase/NTU3NTIz/
(consultado em 08 de janeiro de 2020).
FRANKL, Viktor E. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. 11. ed. Aparecida, SP:
Ideias e Letras, 2005.
FRANKL, Viktor E. O sofrimento de uma vida sem sentido: caminhos para encontrar a razão
de viver. 1. ed. São Paulo: É Realizações, 2015.
GIMENES, Bruno J. Ativações espirituais: obsessão e evolução pelos implantes extrafísicos.
5. Ed. Nova Petrópolis: Luz da Serra, 2017.
GRISCOM, Chris. O ego sem medo. São Paulo: Siciliano, 1991.
MEDEIROS, João. A carta. 2. ed. Alfragide: Lua de Papel, 2017.
MEDEIROS JR., Geraldo. A consciência encarnada e o corpo humano: o corpo humano sob a
perspectiva do espírito. São Paulo: Ícone, 1995.
MYSS, Caroline M. Contratos sagrados: despertando nosso potencial divino. Rio de Janeiro:
Rocco, 2003.
PROPHET, Elisabeth C. A espiritualidade em prática: como enriquecer a vida diária com mais
paixão, criatividade e equilíbrio. Rio de Janeiro: Record: Nova Era, 2003.
REYO, Zulma. Alquimia interior. 2. ed. São Paulo: Ground, 1989.
TORRALBA, Francesc. Inteligência espiritual. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
TREVISOL, Jorge. Educação transpessoal: um jeito de educar a partir da interioridade. São
Paulo: Paulinas, 2008.
WOLMAN, Richard N. Inteligência espiritual. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
ZOHAR, Danah; MARSHALL, Ian. QS: inteligência espiritual. 5. ed. Rio de Janeiro: Viva
Livros, 2018.

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