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Autor;
Resumo
Objetivos;
Justificativa
1
Possui graduação em Psicologia pelo Centro Universitário de Santo André (1986), graduação em
pedagogia pela Universidade Guarulhos (2005) e mestrado em Administração pela Universidade
Metodista de São Paulo (2007). Especialização em Andragogia e Psicologia Junguiana
Membro candidata do Instituto Junguiano de SP, IJUSP. Atualmente é docente na graduação e no
programa de pós-graduação, atuando principalmente nos seguintes temas: psicologia do envelhecimento,
potencial humano, desenvolvimento psicológico e psicologia analítica
eucurvelo@gmail.com tel. +55 (11) 99615-3317
podem ser esclarecidos pela perspectiva do aumento da expectativa de vida do
ser humano.
Desenvolvimento do tema
Observo com frequência insistente mulheres que estão na faixa de idade entre 49
e 56 anos com evidências de uma angústia existencial sem precedentes. Segundo os
antigos gregos, o ser humano leva vinte anos para aprender, vinte anos para lutar e vinte
anos para tornar-se sábio. Neste momento, as confrontações das verdades internas com
as verdades do mundo são frequentes e angustiantes. Estes questionamentos trazem o
contato com uma nova forma de ser que assusta, causa estranheza a si mesmo e às
pessoas que vivem ao seu entorno. É um momento de escolhas e possível
desenvolvimento da alma, que briga pela libertação, mas que está contida no
aprisionamento de um corpo biologicamente com energia reduzida. As ideias de
concreto, contidas e aprisionadas, em verdades absolutas, são balançadas por abalos
sísmicos, que trincam e forjam uma nova reestruturação de uma psique em
desenvolvimento e amadurecimento que terá o encontro com a noite escura da alma.
O processo de metanóia pode ser sinônimo de mudança radical, proveniente de
uma força inconsciente, segundo Monteiro (2008, p.88). Para Stein (2007), a crise da
meia-idade vem acompanhada de uma espécie de loucura secreta que inesperadamente
surge de forma inconveniente, na maioria das vezes.
De tal sorte que este processo vem acompanhado de transformações e novas
escolhas que irão determinar como serão vividos os próximos e últimos dias
existenciais, a escolha do vir a ser. Neste sentido, o entardecer biológico, carrega em si
o potencial de transformar a vida de sacrifícios no “sacro-oficio” e encontrar o caminho
da individuação.
Metanóia é um termo originário da língua grega formado pela união do prefixo
μετά (metá) e do sufixo νοῦς (nous). Metá pode ser traduzido como “além” ou “depois”,
mas no termo tem o sentido de “mudança”, enquanto que nous, apesar de ser um termo
filosófico que não possui uma transcrição exata, pode ser entendido como “mente” ou
“intelecto”. Desta forma, o termo metanóia pode ser entendido como mudança de
pensamento ou sentimento, arrependimento, mágoa e penitencia.
Uma das maneiras de entrar em contato com a alma é através da crise, pois é na
crise que vemos a metanóia, o processo de transformação da alma. Quando não há
mudança e tudo se comporta como deveria, a alma fica adormecida; mas durante a noite
da crise psicológica, quando a luz do sol fica eclipsada, as figuras da psique aparecem e
ganham outra dimensão. Sonhos nos atingem impiedosamente e nos sacodem até os
ossos. É nessa noite tormentosa que Hermes surge e faz seu trabalho.
Nesta crise existencial, somos atingidos pela experiência do limiar, temos que
fazer uma passagem, de um lado a vida até então vivida, ou até mesmo mal vivida, e do
outro, uma nova possibilidade com novas escolhas. De qualquer modo, não há
possibilidade de adiamento ou fuga, os portais do inconsciente serão acessados.
O intuito dessas mensagens que o Self envia ao indivíduo é levar o ego adiante,
fazendo com que este se afunde nos limites de sua alma, para que então, mais tarde, o
ego volte são e salvo.
Alguns sintomas típicos desta fase podem acontecer com longos períodos de
depressão e desinteresse pela vida, ao mesmo tempo em que a mulher sente uma
sensação de fracasso e desilusão tanto pela própria vida quanto pelas pessoas que ela
estimava e/ou idealizava; há o medo de morrer, assim como a sensação de que não
viverá tempo o bastante para viver como gostaria, ao mesmo tempo há a destruição dos
sonhos e realizações da juventude; fisicamente, há sinais de envelhecimento.
Paralelamente a isso, há também a possibilidade de agora que os filhos já estão
crescidos e maduros. Eles saem de casa para viver suas próprias vidas e aliado a isso,
há a inversão dos papeis com os pais, na medida em que agora quem necessita de apoio
são eles. Há também a possibilidade de perda dos pais, com a morte dos mesmos, o que
provoca uma sensação de abandono e perda, fato que pode agravar a crise, causando
grande depressão.
Essa situação provoca uma série crise, na medida em faz com que a mulher na
meia-idade se sinta derrotada, o que ocasiona uma lacuna entre o ego e a persona. E isso
faz com que a mulher se encontre no profundo dilema entre quem ela realmente é e o
que ela precisa ser para os outros e para si mesma. De tal sorte que esse momento se
mostra como uma ocasião crítica, pois é necessária a separação da identidade anterior da
persona2. Desta forma, para que a separação de fato ocorra, é preciso que se coloque um
fim nessa situação, enquanto a nova situação psicológica é absorvida.
2
Se a separação da identidade anterior da persona não for absorvida completamente pode haver a
instigação de defesas naturais egóicas que procuram fazer com que a mulher volte à situação anterior na
sua identificação com aquela persona, mesmo que ela pareça um pouco falsa e gasta. Porque, apesar de
suas rachaduras, ela continua intacta e parece mais segura do que se expor sem ela.
Seria muito interessante que estas mulheres da meia idade, pudessem possuir um
bom senso de humor, pois para Bolen (2005, p. 121) é de grande valia em uma situação
difícil. Segundo a autora, quando o corpo muda, ao ser tocado pelo envelhecimento,
perde a elegância, desta forma o humor conduz a uma espontaneidade.
É importante observar que compaixão não deve ser confundida por dependência,
Segundo Bolen (2005, p. 154) o conceito de dependência, ou codependências, está
interligado com a psicologia da adição, de onde proveio este conceito. Quando
observamos um casal, onde um dos parceiros é dependente do álcool, a parceira
(codependente), acaba perdoando e desculpando-o repetidamente. Desta forma, a
parceira vai colocando-se em segundo plano, perdendo o entusiasmo pela vida, não mais
celebrando os dias que vão se torando repetitivos e densos, pesados, angustiantes e
tenebrosos.
É evidente que cada um de nós tem um lado bom e um lado que negamos e
queremos esconder. Os autores Zweig e Abrams (2011) apresentaram a ideia de que
cada um e todos nós temos um Dr. Jekyll e um Mr. Hyde, ou seja, uma persona
amigável, da qual fazemos uso diário para que as pessoas à nossa volta gostem de nós e
um “eu” que permanece oculto na maior parte do tempo.
Nesta fase de envelhecimento que somos confrontadas com nossa sombra, temos
que resistir aos desejos traçados para nós, pelos outros e não morreremos lentamente, ou
até viver a vida em função dos filhos, netos ou comunidades. Devemos vencer este lado
sombrio e ter o nosso destino em nossas mãos.
Após ter contato com a sombra, ter passado pela noite escura da alma, ter
enfrentado os medos, os mais absurdos desejos e ter guerreado, é a hora de encarar a
verdade: ninguém fica para semente. Mas a semente traz o potencial de toda uma
floresta. Para Bolen (2005 p. 258), “Virar semente é a terceira face da deusa tripla, as
três fases da vida se refletem na natureza, na lua crescente, cheia e minguante, e nas
flores, frutos e semente da vida vegetativa.”
A semente tem em seu DNA todas as informações para gerar novas vidas, são
importantes para a continuidade da vida e do nosso planeta. Mas são as sementes de
sabedoria que devem ser levadas ao futuro. Para Bolen (2005), a semente descreve o
processo de individuação.
REFERÊNCIAS
BOLEN, Jean Shinoda. As deusas e a mulher madura: arquétipos nas mulheres com
mais de 50. São Paulo,SP: TRIOM, 2005
JUNG, C.G. Tipos psicológicos. Petropolis, RJ: Editora Vozes, 2009a. vol. VI.
_________. Psicologia do inconsciente. Petropolis, RJ: Editora Vozes, 1980. vol. VII/I.
_________.A energia psíquica . 10.ed. Petropolis, RJ: Vozes, 2008b. vol. VIII/1.
_________. Presente e futuro. 5.ed. Petropolis, RJ: Vozes, 2008e. vol. X/1.
_________. A vida simbólica . 2.ed. Petropolis, RJ: Vozes, 2007. vol. XVIII/2.
_________. Memórias, sonhos e reflexões. Rio de Janeiro, RJ: Editora Nova Fronteira,
1986.
SILVEIRA, N. Jung vida e obra. São Paulo, SP: Editora Paz e Terra S/A., 2009.
STEIN, M. No meio da vida uma perspectiva junguiana. São Paulo, SP: Paulus,
2007.