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CONSOLIDAÇÃO (1824-1889)
RESUMO:
O presente artigo busca apresentar a chegada dos Protestantismo no Brasil, no período
imperial, destacando suas dificuldades e facilidades para ocupar seu espaço na sociedade
brasileira. Fazendo abordagem de suas estratégias e influências, principalmente no âmbito
social e político, no que desrespeito aos direitos de cidadania. De como o ideário liberal
favoreceu a inserção do protestantismo, que era compreendido como uma religião que
favorecia a transição para a sociedade moderna. O artigo discute o lugar dos protestantes
como influenciadores, diretos ou indiretamente, como influenciadores nas mudanças
políticas, sociais e culturais vividas pela sociedade brasileira. Foram analisadas, também,
como a fé reformada encontrou condições favoráveis pré-existentes na religiosidade
brasileira, explicada pela fraqueza do catolicismo romano dominante, que tinha seus
interesses conflitados com o da Coroa.
INTRODUÇÃO
1
Graduando em Licenciatura em História, pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA, São Luís-MA.
E-mail: eduardoarts@gmail.com
1
a influência exercida pelo movimento em diversos setores da sociedade brasileira, que
serviram de paradigma para os moldes da sociedade brasileira atual.
Não havia alternativa para D. João VI, a não ser transferir a capital do Império
português para a sua colônia nos trópicos. Em 1808, portanto a cidade do Rio de Janeiro
é estabelecida como a capital do Império, passando por um grande crescimento
populacional e sofrendo apressadamente diversas modificações para o estabelecimento
da máquina administrativa portuguesa. As mudanças passaram também por decisões
políticas importantes, a maior delas a abertura dos portos às nações amigas, cujo a
principal beneficiada foi a Inglaterra, que passou ter vantagens comerciais e dominar o
comércio com o Brasil.
3
HAUCK, João Fagundes; DUSSEL, Enrique D.; HOORNAERT, Eduardo; AZZI, Riolando. CEHILA. História da
igreja no Brasil: ensaio de interpretação a partir do povo: segunda época: a igreja no Brasil no século
XIX. Petrópolis: Vozes, 1980. 322 p. (História geral da igreja na América Latina; 2/2). p. 237
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valendo-se de compromissos intercontinentais. Era preciso garantir a continuidade
do comércio lícito, com os Estados Unidos e a Europa, assim como a importação de
escravos africanos. O governo brasileiro permaneceria, porém, intimamente ligado ao
“comércio infame”, questão que, apesar da pressão britânica, só se resolveria em 1850.
Com a independência do Brasil, e o clamor por mão de obra qualificada, surgiu a
necessidade de atrair imigrantes europeus.
4
BRASIL. Constituição politica do Imperio do Brazil (De 25 de março de 1824). Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm> Acesso em 26/01/2017
5
Schwarcz, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos São Paulo:
Companhia das Letras, 1998. p. 75
3
interesse pela leitura o levava a explorar diariamente livros, jornais, revistas e relatórios.
Dentre suas leituras a Bíblia Sagrada ocupava um lugar proeminente, conforme destacou
certa vez: “Eu amo a Bíblia, Eu a leio todos os dias e, quanto mais a leio, mas a amo. Há
alguns que não gostam da Bíblia. Eu não os entendo, não compreendo tais pessoas e
reiterações da verdade. Como disse, eu a leio todos os dias e gosto dela cada vez mais.”6
Toda essa apreciação pela Bíblia e seu interesse especial pela Terra Santa
motivaram a D. Pedro II visitar o Rev. Robert Reid Kalley em 1860, na cidade de
Petrópolis. As informações recebidas de Kalley aumentaram o interesse de D. Pedro II
sobre a Palestina e o levaram a visitar a região em 1876. Visitas como essa, feita pelo
imperador, mais tarde favoreceram a aceitação dos protestantes em terras brasileiras.
6
TURNER, 1954 apud GIRALDI, Luis Antônio. SBB. A Bíblia no Brasil Império. Barueri, SP. p.273
7
GIRALDI, Luis Antônio. A Bíblia no Brasil Império. SBB: Barueri, SP. p.125
8
HAUCK, João Fagundes; DUSSEL, Enrique D.; HOORNAERT, Eduardo; AZZI, Riolando. CEHILA. História da
igreja no Brasil: ensaio de interpretação a partir do povo: segunda época: a igreja no Brasil no século
XIX. Petrópolis: Vozes, 1980. 322 p. (História geral da igreja na América Latina; 2/2). p. 238
4
Desde o século 18, começaram a se tornar influentes no Brasil novos
conceitos e movimentos surgidos na Europa, tais como o iluminismo, a
maçonaria, o liberalismo político e os ideais democráticos americanos
e franceses. Tais idéias tornaram-se especialmente influentes entre os
intelectuais, políticos e sacerdotes, e tiveram dois efeitos importantes
na área religiosa: o enfraquecimento da Igreja Católica e uma crescente
abertura ao protestantismo.9
Havia uma grande desilusão com as práticas da Igreja oficial e “uma profunda
ânsia de expressão religiosa nas camadas populares”10, o povo estava sedento de cuidados
pastorais e por conhecer as Escrituras Sagradas, porém o acesso à Bíblia por parte dos
fiéis não era prática do catolicismo, favorecendo o trabalho dos colportores protestantes,
que vendiam literatura bíblica de porta em porta.
Com a vinda do Dr. Robert Kalley, em 1855, esse quadro sofre alteração. Embora
tenha-se conhecimento de outros missionários que atuaram antes mesmo dele,
9
MATOS. Aldersi Souza de. Breve História do Protestantismo no Brasil. São Paulo, 2011. Disponível em:
<http://www.mackenzie.br/7071.html>. Acesso em: 10 dez. 2016
10
HAUCK, João Fagundes; DUSSEL, Enrique D.; HOORNAERT, Eduardo; AZZI, Riolando. CEHILA. História
da igreja no Brasil: ensaio de interpretação a partir do povo: segunda época: a igreja no Brasil no século
XIX. Petrópolis: Vozes, 1980. 322 p. (História geral da igreja na América Latina; 2/2). p. 238
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SANTOS, Lyndon de Araújo. As outras faces do sagrado: protestantismo e cultura na primeira
república brasileira. São Luís: Edufma; São Paulo: Ed. ABHR, 2006. p.29
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destacaremos a sua atuação precursora evangelística em língua vernácula e como isso
despertou a ira de seus opositores.
A partir da segunda metade do século XIX, imigrantes eram seduzidos pelo Brasil,
que vinham para cá com o objetivo de trabalhar, comercializar, fazer missões e conhecer
a geografia do país.
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FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006. p. 141
6
Uma grande parte desses novos membros da Igreja Evangélica Fluminense,
trabalhavam no estaleiro no Rio de Janeiro. Lá eram ridicularizados por seus colegas de
trabalho, que jogavam água suja sobre eles e os submetiam a todo tipo de perseguição,
conforme a obra Jornada no Império nos conta.
13
FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006. p. 142
14
Id. Ibid. p. 143
7
A violência contra os protestantes foi se agravando, muitas vezes eram acusados
injustamente de distribuir versões falsas da Bíblia Sagrada. Em outros momentos, até as
reuniões nas casas foram ameaçadas. Em agosto de 1861, uma multidão enfurecida
juntou-se do lado de fora da casa onde as reuniões aconteciam. Lançaram pedras no
telhado e nas janelas, a polícia apareceu mas não fez nada para deter a violência. Mais
tarde, em 1864, na Baía de Guanabara, em Niterói, onde a pregação protestante estava
atraindo grande quantidade de pessoas, mais um episódio triste aconteceu. Uma grande
multidão reuniu-se e tentou linchar o Dr. Kalley e a Sra Kalley, só não obtiveram sucesso
devido a ação policial que os impediu, com suas espadas desembainhadas.
8
no país estavam mais ligadas aos interesses políticos e econômicos do que à
evangelização do continente sul-americano. ”15
15
SANTOS, Edwiges Rosa. A implantação e estratégias de expansão do protestantismo presbiteriano no
Brasil império. São Paulo: PUC, 2005, p. 84. Disponível em www.pucsp.br/ultimo_andar. Acessado em
04/01/17.
16
Silva, Elizete. O Protestantismo Brasileiro: Um balanço historiográfico. Religião no Brasil: enfoques e
abordagens. Paulo D. Siepierski e Bendeito M. Gil, (organizadores). São Paulo: Paulinas, 2003. p.127
17
Id. Ibid. p.85
18
FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006. p. 230
9
Diversos colportores atuavam no Nordeste, São Luís, Caxias, Rosário, Teresina,
Fortaleza, Salvador, e a região do rio São Francisco eram os principais alvos dos
vendedores de Bíblia, que nessa época custava muito menos que a metade de um preço
de livro comum.
Com a acusação de que estava agindo de forma proselitista, Dr. Robert Kalley, em
resposta ao representante diplomático da Grã-Betanha, William Stuart, anexou à sua carta
19
FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006. p. 239
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uma cópia do veredicto de três importantes juristas brasileiros, e suas respostas às suas
onze perguntas, com vistas a esclarecer a interpretação correta da Constituição Brasileira.
Dr. Joaquim Aurélio Nabuco, Dr. Urbano Pessoa de Melo e Dr. Caetano Alberto
Soares, foram unânimes e a decisão deles ajudou a derrubar a interpretação até então
mantida pela igreja oficial. O governo brasileiro aceitou e, portanto, constitucionalmente,
missionários estrangeiros eram livres para pregar a fé protestante ao povo.
Desde o período colonial, a única forma de casamento permitido pela lei, era o
realizado pelos padres, no período imperial nenhuma providência fora tomada em relação
ao casamento dos não-católicos, apesar do crescimento do número de imigrantes,
praticantes de outras crenças religiosas. Tal situação constituía um grave problema, pois
alguém só poderia ser batizado e consequentemente tornar-se membro de uma igreja
protestante se tivesse sua situação matrimonial regularizada.
20
FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006. p. 144
21
Id. Ibid. p.160
11
Outro problema para os protestantes, era jurisdição católica sobre os cemitérios,
que impedia o sepultamento para os que não fossem católicos. Essa situação passou a
preocupar o Estado brasileiro, conforme Cláudia Rodrigues afirma.
3.2.3 Escravidão
22
RODRIGUES. Cláudia. Sepulturas e sepultamentos de protestantes como uma questão cidadania na
crise do Império (1869-1889). p. 30
23
RODRIGUES. Cláudia. Sepulturas e sepultamentos de protestantes como uma questão cidadania na
crise do Império (1869-1889). Revista de História Regional. V.13, n.1, 2008b. p. 31
12
falta de concordância no assunto. Havia ainda um receio em contrariar as autoridades
imperiais, visto que a liberdade religiosa, ainda não era uma realidade completa.
24
SILVA, Elizete da. O Protestantismo Brasileiro: Um Balanço Historiográfico. In:SIEPIERSKI, Paulo D. e
GIL, Benedito M. (org.). Religião no Brasil: enfoques,dinâmicas e abordagens. São Paulo: Paulinas, 2003.
p.12
25
SILVA, Elizete da. O Protestantismo Brasileiro: Um Balanço Historiográfico. In: SIEPIERSKI, Paulo D. e
GIL, Benedito M. (org.). Religião no Brasil: enfoques, dinâmicas e abordagens. São Paulo: Paulinas, 2003.
p.14
13
Como um verdadeiro crente deveria tratar seus escravos? Qual é a
vontade de Jesus a este respeito? Em uma exortação verdadeiramente
magistral, ele mostrou que há três formas de servir: por amor, como m
filho a seu pai; por dinheiro, como servos, trabalhadores, etc; por
coerção, sem amor, sem contratos ou regulamentação de salários, como
um escravo obrigado a fazer o que seu senhor ordena sob ameaças,
pancadas e tortura, portanto sem a menor recompensa. Ele então tomou
as três palavras gregas usadas no Novo Testamento para expressar
“serviço”, traduzidas “diácono”, “mercenário”, “escravo”, e citou a
exortação de Paulo em Colossenses 4.1: “Senhores, tratai os servos com
justiça e com equidade, certos de quem também vós tendes Senhor no
céu”, e Efésios 6.9: “...deixando as ameaças...”. Então demonstrou que
há coisas pertencentes a cada pessoa (por exemplo, seu corpo com seus
membros e funções) que não podem ser entregues a outras, e cada um
tem o direito de usa o próprio corpo de uma maneira justa e honesta
para benefício pessoal. Se um homem exerce jurisdição sobre outro, de
forma que este nada usufrui do que tem, aquele é ladrão e vilão. “Cada
um deve dar conta de suas ações ao Grande Juiz, ao fazer outro homem
trabalhar para ele contra a sua vontade, sem receber salário, sob
ameaças de punição e com constante sofrimento, em tudo objetivando
ganhar lucros materiais. Isto é um violento roubo dos dons que o
Criador deus às pobres criaturas, que de maneira alguma diferem que
as comprou.26
26
FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006. p.177
14
dEle, do Jesus que nos redimiu da maldição, nos deu liberdade e nos fez
filhos de Deus (Rm 8.15,16).27
27
Id. Ibid. p.178
15
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se, então que a relação dos protestantes e o Brasil passava por um projeto
de avanço civilizatório, onde o protestantismo era visto como um instrumento para se
alcançar o objetivo de uma nação próspera e moderna. Tinha-se como exemplo o
crescimento econômico de países que professavam a fé protestante como Inglaterra e
Estados Unidos da América. Logo, a economia desempenhou um papel significante no
aspecto da liberdade religiosa no Brasil. Entretanto, outros setores da sociedade,
mergulhados no catolicismo romano, desde os tempos coloniais, os rejeitavam e os
perseguiam.
28
SANTOS, Lyndon de Araújo. O protestantismo no advento da república no Brasil: discursos, estratégias
e conflitos. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano III, n. 8, Set. 2010 - ISSN 1983-2850
29
LEONARD, Emilie. Protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e história social. Rio de Janeiro;
São Paulo: Juerp/ASTE, 1981, p.48
16
Portanto, como destacou o Dr. Lyndon Santos (2006), a escrita da história
religiosa ainda não se deu conta do se legado protestante e do seu lugar na história cultural
e religiosa do Brasil.30
REFERÊNCIAS
FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006.
MATOS, Alderi, Souza de. Breve História do Protestantismo no Brasil. São Paulo,
2011. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/7071.html>. Acesso em: 10 dez. 2016.
30
SANTOS, Lyndon de Araújo. As outras faces do sagrado: protestantismo e cultura na primeira
república brasileira. São Luís: Edufma; São Paulo: Ed. ABHR, 2006. p.274
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SANTOS, Edwiges Rosa. A implantação e estratégias de expansão do protestantismo
presbiteriano no Brasil império. São Paulo: PUC, 2005, p. 84. Disponível em
www.pucsp.br/ultimo_andar. Acessado em 04/01/17..
TURNER, 1954 apud GIRALDI, Luis Antônio. A Bíblia no Brasil Império. Barueri,
SP. p.273
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