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PROTESTANTES NO BRASIL IMPERIAL: DA PERSEGUIÇÃO A

CONSOLIDAÇÃO (1824-1889)

Carlos Eduardo Sousa da Silva12

RESUMO:
O presente artigo busca apresentar a chegada dos Protestantismo no Brasil, no período
imperial, destacando suas dificuldades e facilidades para ocupar seu espaço na sociedade
brasileira. Fazendo abordagem de suas estratégias e influências, principalmente no âmbito
social e político, no que desrespeito aos direitos de cidadania. De como o ideário liberal
favoreceu a inserção do protestantismo, que era compreendido como uma religião que
favorecia a transição para a sociedade moderna. O artigo discute o lugar dos protestantes
como influenciadores, diretos ou indiretamente, como influenciadores nas mudanças
políticas, sociais e culturais vividas pela sociedade brasileira. Foram analisadas, também,
como a fé reformada encontrou condições favoráveis pré-existentes na religiosidade
brasileira, explicada pela fraqueza do catolicismo romano dominante, que tinha seus
interesses conflitados com o da Coroa.

Palavras-Chave: protestantismo – império – implantação – estratégias - influência

INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é apresentar uma visão panorâmica da história do


protestantismo no Brasil Imperial, dando ênfase nas dificuldades e perseguições
enfrentadas pelos missionários protestantes no início do século XIX, bem como as
estratégias proselitistas utilizadas para o estabelecimento das igrejas em solo brasileiro.
Inicia com uma análise do Império no Brasil, desde a chegada da família real portuguesa,
e como a situação política e religiosa favoreceram as primeiras manifestações protestantes
no período, prossegue com os aspectos da perseguição enfrentada e a implantação
definitiva do movimento durante o império, destacando suas estratégias. Por fim, destaca

1
Graduando em Licenciatura em História, pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA, São Luís-MA.
E-mail: eduardoarts@gmail.com

1
a influência exercida pelo movimento em diversos setores da sociedade brasileira, que
serviram de paradigma para os moldes da sociedade brasileira atual.

1 PORTAS ABERTAS: O CONTEXTO POLÍTICO

Em uma noite de grande tumulto e de muitos protestos populares, a família real


portuguesa e a elite cortesã preparam apressadamente sua fuga para a colônia do Brasil
sob escolta inglesa, seus parceiros comerciais. Era 29 de novembro de 1807, início do
século XIX, Portugal sofria intensas ameaças de invasão do exército francês comandado
pelo então imperador Napoleão Bonaparte que buscava superar economicamente a
Inglaterra, um imenso império colonial e em pleno desenvolvimento industrial, lucrando
com as suas intensas relações comerciais.

Não havia alternativa para D. João VI, a não ser transferir a capital do Império
português para a sua colônia nos trópicos. Em 1808, portanto a cidade do Rio de Janeiro
é estabelecida como a capital do Império, passando por um grande crescimento
populacional e sofrendo apressadamente diversas modificações para o estabelecimento
da máquina administrativa portuguesa. As mudanças passaram também por decisões
políticas importantes, a maior delas a abertura dos portos às nações amigas, cujo a
principal beneficiada foi a Inglaterra, que passou ter vantagens comerciais e dominar o
comércio com o Brasil.

O acordo com os ingleses favoreceu a abertura para o protestantismo, conforme a


obra História da Igreja no Brasil:

O Tratado de Comércio e Navegação, concluído com a Inglaterra em


1810, estipulou, no seu artigo 12, liberdade religiosa para os súditos
britânicos em território português, de modo que nos anos seguintes
vários clérigos anglicanos puderam desembarcar no Brasil, sendo
inaugurado em 1820, o primeiro templo protestante.3

Após a morte de D. Maria, D. João VI se tornou rei de Brasil e Portugal e seu


retorno a terras lusitanas passou a ser exigido pelos portugueses, fato que ocorre em abril
de 1821, deixando em seu lugar como príncipe regente do Brasil, seu filho D. Pedro, que
pouco tempo depois tornou-se imperador, após o processo de independência do Brasil em
7 de setembro de 1822. A independência do Brasil, porém não foi tão simples, foi obtida,

3
HAUCK, João Fagundes; DUSSEL, Enrique D.; HOORNAERT, Eduardo; AZZI, Riolando. CEHILA. História da
igreja no Brasil: ensaio de interpretação a partir do povo: segunda época: a igreja no Brasil no século
XIX. Petrópolis: Vozes, 1980. 322 p. (História geral da igreja na América Latina; 2/2). p. 237

2
valendo-se de compromissos intercontinentais. Era preciso garantir a continuidade
do comércio lícito, com os Estados Unidos e a Europa, assim como a importação de
escravos africanos. O governo brasileiro permaneceria, porém, intimamente ligado ao
“comércio infame”, questão que, apesar da pressão britânica, só se resolveria em 1850.
Com a independência do Brasil, e o clamor por mão de obra qualificada, surgiu a
necessidade de atrair imigrantes europeus.

Todos esses episódios, mesmo que involuntariamente abriram as portas do país


para a entrada legal dos primeiros protestantes anglicanos ingleses, mas nada foi mais
relevante para a liberdade religiosa, que a promulgação da Constituição de 1824, em
especial o artigo 5º que dizia:

Art 5. A Religião Catholica Apostólica Romana continuará a ser a


Religião do Império. Todas as outras Religiões serão permitidas com
seu culto domestico, ou particular em casas para isso destinadas, sem
fórma alguma exterior do Templo4

A Constituição confirmou a religião Católica como religião oficial, ao mesmo


tempo que concedeu uma certa liberdade de culto, favorecendo o crescimento de
protestantes no Brasil, porém estes não tinham nenhuma preocupação missionária,
explicado pela proibição de falar mal da religião oficial. Portanto, existia apenas uma
tolerância limitada.

1.1 O Imperador brasileiro e seu amor pelos livros e a Bíblia

Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de


Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, filho de D. Pedro I e Dona Maria
Leopoldina, é o primeiro da Casa de Bragança nascido em solo brasileiro no dia 2 de
dezembro de 1825, e desde cedo carregou em seus ombros a responsabilidade de atender
os anseios da elite brasileira, vindo a tornasse o primeiro e único imperador legitimamente
brasileiro, assumindo o trono em 1840 antes de completar a maioridade exigida pela
Constituição, em virtude de seu pai haver abdicado ao trono.

O jovem imperador esforçava-se nos estudos e adquiria conhecimentos diversos


como: “Escrita, Aritmética, Geografia, Desenho, Francês, Inglês, Música e Dança”5. Seu

4
BRASIL. Constituição politica do Imperio do Brazil (De 25 de março de 1824). Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm> Acesso em 26/01/2017
5
Schwarcz, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos São Paulo:
Companhia das Letras, 1998. p. 75

3
interesse pela leitura o levava a explorar diariamente livros, jornais, revistas e relatórios.
Dentre suas leituras a Bíblia Sagrada ocupava um lugar proeminente, conforme destacou
certa vez: “Eu amo a Bíblia, Eu a leio todos os dias e, quanto mais a leio, mas a amo. Há
alguns que não gostam da Bíblia. Eu não os entendo, não compreendo tais pessoas e
reiterações da verdade. Como disse, eu a leio todos os dias e gosto dela cada vez mais.”6

Toda essa apreciação pela Bíblia e seu interesse especial pela Terra Santa
motivaram a D. Pedro II visitar o Rev. Robert Reid Kalley em 1860, na cidade de
Petrópolis. As informações recebidas de Kalley aumentaram o interesse de D. Pedro II
sobre a Palestina e o levaram a visitar a região em 1876. Visitas como essa, feita pelo
imperador, mais tarde favoreceram a aceitação dos protestantes em terras brasileiras.

2 CONTEXTO RELIGIOSO: FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS

Na segunda metade do século XIX, o Protestantismo havia se espalhado por quase


toda a América Latina, principalmente no Brasil, onde as condições religiosas
favoreceram sua aceitação entre a população. Entretanto, politicamente a religião Católica
possuía uma grande força, e lutava de todas as formas para não perder seus fiéis.

2.1 Favorecimentos para a aceitação do Protestantismo

A facilidade encontrada pelos missionários protestantes explica-se pela fraqueza


do catolicismo dominante, o padroado no Brasil Império debilitou o poder de decisão do
clero brasileiro. Os interesses da Igreja Católica no Brasil conflitavam com o da Coroa.

A Igreja Católica no Brasil era dependente do governo imperial, de


quem recebia o seu sustento. Antes de cuidar dos seus próprios
interesses, ela tinha de submeter-se aos interesses políticos e
econômicos do Império. Este, por sua vez, era totalmente dependente,
política e economicamente, da Inglaterra, um país protestante. 7

Um outro fator que favoreceu o Protestantismo foi “a escassez de sacerdotes


católicos e o pouco respeito que o povo lhes tributava como portadores de um ideal
religioso”8. Este fator tornou a Igreja Católica vulnerável à novos ensinos, algo que já
acontecia há algum tempo, conforme explica Alderi Souza de Matos:

6
TURNER, 1954 apud GIRALDI, Luis Antônio. SBB. A Bíblia no Brasil Império. Barueri, SP. p.273
7
GIRALDI, Luis Antônio. A Bíblia no Brasil Império. SBB: Barueri, SP. p.125
8
HAUCK, João Fagundes; DUSSEL, Enrique D.; HOORNAERT, Eduardo; AZZI, Riolando. CEHILA. História da
igreja no Brasil: ensaio de interpretação a partir do povo: segunda época: a igreja no Brasil no século
XIX. Petrópolis: Vozes, 1980. 322 p. (História geral da igreja na América Latina; 2/2). p. 238

4
Desde o século 18, começaram a se tornar influentes no Brasil novos
conceitos e movimentos surgidos na Europa, tais como o iluminismo, a
maçonaria, o liberalismo político e os ideais democráticos americanos
e franceses. Tais idéias tornaram-se especialmente influentes entre os
intelectuais, políticos e sacerdotes, e tiveram dois efeitos importantes
na área religiosa: o enfraquecimento da Igreja Católica e uma crescente
abertura ao protestantismo.9

Havia uma grande desilusão com as práticas da Igreja oficial e “uma profunda
ânsia de expressão religiosa nas camadas populares”10, o povo estava sedento de cuidados
pastorais e por conhecer as Escrituras Sagradas, porém o acesso à Bíblia por parte dos
fiéis não era prática do catolicismo, favorecendo o trabalho dos colportores protestantes,
que vendiam literatura bíblica de porta em porta.

Existia uma certa tolerância religiosa no país e a aceitação da população refletia o


apelo de certas camadas da sociedade, conforme o Dr. Lyndon Santos explica:

A sociedade brasileira, como um todo, recebeu a nova fé com


atitudes que foram desde a acolhida alvissasseira, por liberais,
até desconfianças e conflitos abertos, por parte das elites
eclesiástica e política mais conservadora. O protestantismo era
visto como uma religião esclarecida por parte de certos liberais
em oposição ao catolicismo. Essa era também a auto-imagem
forjada pelos missionários estrangeiros, manifestada em suas
prédicas e textos publicados.11

A ideologia do protestantismo estava intimamente ligada com o modelo de


progresso, cujo paradigma era os Estados Unidos. Essa foi a porta de convencimento de
que o caminho de desenvolvimento cultural e econômico do Brasil passava pelo
despertamento da visão de progresso americano, favorecendo a imigração de muitos
protestantes vindos da antiga colônia inglesa. Estes, quase não tinham interesses
proselitistas, fato que explica os raros ataques à fé protestante até o momento.

Com a vinda do Dr. Robert Kalley, em 1855, esse quadro sofre alteração. Embora
tenha-se conhecimento de outros missionários que atuaram antes mesmo dele,

9
MATOS. Aldersi Souza de. Breve História do Protestantismo no Brasil. São Paulo, 2011. Disponível em:
<http://www.mackenzie.br/7071.html>. Acesso em: 10 dez. 2016
10
HAUCK, João Fagundes; DUSSEL, Enrique D.; HOORNAERT, Eduardo; AZZI, Riolando. CEHILA. História
da igreja no Brasil: ensaio de interpretação a partir do povo: segunda época: a igreja no Brasil no século
XIX. Petrópolis: Vozes, 1980. 322 p. (História geral da igreja na América Latina; 2/2). p. 238
11
SANTOS, Lyndon de Araújo. As outras faces do sagrado: protestantismo e cultura na primeira
república brasileira. São Luís: Edufma; São Paulo: Ed. ABHR, 2006. p.29

5
destacaremos a sua atuação precursora evangelística em língua vernácula e como isso
despertou a ira de seus opositores.

2.2 Perseguições à vista

A partir da segunda metade do século XIX, imigrantes eram seduzidos pelo Brasil,
que vinham para cá com o objetivo de trabalhar, comercializar, fazer missões e conhecer
a geografia do país.

Nesse momento, protestantes de diferentes nacionalidades chegavam ao Brasil e


encontravam um campo fértil para a disseminação do conhecimento bíblico. Passaram,
então, a fazer a venda e o ensino da Bíblia. Dessa forma despertando a ira dos católicos
mais fervorosos que tentavam impedir a proliferação do Protestantismo. Nesse momento
surgem as primeiras perseguições aos protestantes.

Robert Kalley e sua esposa, foram grandes disseminadores da Bíblia em solo


brasileiro. Ele era um médico escocês, que já tinha experiências missionárias tanto em
Portugal, quanto em Madeira, conhecido como o “Lobo da Escócia”, nesta última, foi
preso diversas vezes e finalmente expulso da ilha, empreendendo uma fuga espetacular
para preservar sua vida.

No Brasil, os Kalleys mantinham seu testemunho consistente, que trazia


resultados, por outro lado gerando desconfiança e aborrecimentos. Eram constantemente
vigiados e suas correspondências violadas. Os primeiros cultos realizados por eles no
Brasil, eram dirigidos em alemão ou inglês para pessoas destas nacionalidades, segundo
a lei os permitia, porém isso não o impediu de alcançarem resultados evangelísticos. José
Pereira de Souza Lauro, português, foi o primeiro convertido, fruto do trabalho dos
Kalleys, e também o primeiro a ser batizado. Em 11 de julho de 1858, no Rio de Janeiro,
Pedro Nolasco de Andrade tornou-se o primeiro convertido brasileiro. Este fato abriu a
porta para que a primeira igreja nacional evangélica no Brasil fosse organizada.

Quatorze membros foram inscritos, consistindo-se de um brasileiro e o


resto de britânicos e portugueses. No entanto, não demorou para que
mais dois brasileiros fossem batizados, Philip Nery e João Manoel
Gonçalves dos Santos, sendo que o último foi destinado a primeiro
pastor brasileiro da recém-fundada igreja.12

12
FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006. p. 141

6
Uma grande parte desses novos membros da Igreja Evangélica Fluminense,
trabalhavam no estaleiro no Rio de Janeiro. Lá eram ridicularizados por seus colegas de
trabalho, que jogavam água suja sobre eles e os submetiam a todo tipo de perseguição,
conforme a obra Jornada no Império nos conta.

Um deles chamado Carvalho, ao deixar o trabalho, foi abordado por um


mendigo que pediu “esmolas para comprar velas para a Santa
Trindade”. Carvalho respondeu que ele teria muita boa vontade para dar
esmolas aos pobres, mas uma vez que foi a própria Santa Trindade que
criou o sol, Deus não necessitaria da luz de uma mísera vela! O filho do
mendigo, um dos funcionários daquele estaleiro, acusou Carvalho de
ter insultado seu pai e o espancou vigorosamente. Carvalho que era um
homem forte e poderia facilmente ter esmagado seu agressor, apenas o
tirou-o do caminho e seguiu adiante. Duas noites depois, uma multidão
formada pelos trabalhadores do estaleiro atacou os crentes. No domingo
seguinte foi ordenado a um deles que participasse de uma missa na
Igreja Católica, o que ele se recusou a fazer. No dia seguinte, todos os
protestantes receberam a notícia de que deveriam deixar seus empregos
no estaleiro, pois causavam distúrbios e estavam infectados coma mania
de tentar induzir os outros a aceitarem suas ideias a respeito da
religião.13

Enquanto somente pessoas das camadas mais baixas da sociedade fossem


convertidas, os problemas eram insuficientes alarmantes, mas o quadro mudou quando
duas mulheres se converteram, às quais José Lauro vendera uma Bíblia. Eram elas D.
Gabriella Augusta Carneiro Leão, irmã do Marquês do Paraná e do Barão de Santa Maria,
e sua filha Henriqueta. A Igreja Católica via o abandono dos fiéis como algo intolerável,
e sendo da alta sociedade, piorava a situação. Panfletos foram distribuídos durante a missa
atacando os protestantes e o Dr. Kalley, foi intimado a comparecer para prestar
depoimentos à polícia. Resultando na proibição de praticar a medicina no Brasil. O
imbróglio se tornou um caso diplomático.

Como resultado, em junho, o Ministro de Relações Exteriores do Brasil,


Cons. J. N. da Silva Paranhos, intimou o representante diplomático da
Grã-Betanha no Brasil, William Stuart, a comparecer ao seu escritório.
Ele informou ao Sr. Stuart que o governador do Estado do Rio de
Janeiro, Barão de Vila Franca formulara fortes argumentos contra o Dr.
Kalley: que este pregava para as pessoas em geral e particularmente aos
seus pacientes e suas famílias; que devido a tais prática ilegais ele fora
expulso de Madeira e Trindade como perturbador da paz. Em tudo isto,
ele afirmava que a Sra Sarah Kalley o ajudava e encorajava. O Cons.
Paranhos, disse que a constituição brasileira era tolerante a ponto de
permitir tais violações como as praticadas pelo Dr. Kalley. 14

13
FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006. p. 142
14
Id. Ibid. p. 143

7
A violência contra os protestantes foi se agravando, muitas vezes eram acusados
injustamente de distribuir versões falsas da Bíblia Sagrada. Em outros momentos, até as
reuniões nas casas foram ameaçadas. Em agosto de 1861, uma multidão enfurecida
juntou-se do lado de fora da casa onde as reuniões aconteciam. Lançaram pedras no
telhado e nas janelas, a polícia apareceu mas não fez nada para deter a violência. Mais
tarde, em 1864, na Baía de Guanabara, em Niterói, onde a pregação protestante estava
atraindo grande quantidade de pessoas, mais um episódio triste aconteceu. Uma grande
multidão reuniu-se e tentou linchar o Dr. Kalley e a Sra Kalley, só não obtiveram sucesso
devido a ação policial que os impediu, com suas espadas desembainhadas.

Estes são exemplos de alguns incidentes que ocorreram nesse período,


representando a intolerância contra os evangélicos. Fatos parecidos, simultaneamente
ocorriam em várias partes do Brasil, muitas vezes os fanáticos eram liderados pelos
próprios padres, que incitavam a população à violência. Apesar de todos os
impedimentos, o Protestantismo consolidou-se cada vez mais em terras brasileiras e
trouxe alguns benefícios à toda sociedade.

3 CONSOLIDAÇÃO DO PROTESTANTISMO NO BRASIL

Apesar das dificuldades iniciais encontradas pelos divulgadores da doutrina


protestante, com muito esforço e comprometimento de seus membros, a igreja evangélica
foi consolidando seu trabalho em terras brasileiras.

3.1. Lançando os alicerces


Desde o primeiro culto realizado no Brasil em 10 de março de 1557, liderados
pelos Reverendos Pierre Richier e Guillaume Chartier, seguindo os modelos da Igreja
Reformada de Genebra; e da primeira celebração da Ceia do Senhor no dia 21 de março
do mesmo ano, havia uma tentativa da plantação de igrejas protestantes no Brasil.
Entretanto, essas primeiras tentativas foram frustradas após a sua expulsão.

É somente, com a vinda da família real, conforme já citado, que há uma


contundente chegada de protestantes, sendo que as “primeiras tentativas de sua expansão

8
no país estavam mais ligadas aos interesses políticos e econômicos do que à
evangelização do continente sul-americano. ”15

Os primeiros a chegarem fazem parte de um grupo chamado Protestantismo de


imigração. Primeiramente, os anglicanos adentraram no Brasil como comerciantes para
viverem em cidades maiores, os luteranos escolheram as cidades da região Sul e lá
fundaram suas igrejas propiciando assistência espiritual aos fiéis de origem inglesa e
alemã.

Na segunda metade do século XIX, uma segunda onda, denominada


protestantismo missionário, instalou-se no País. [...] A partir de 1858,
missionários de origem congregacional, metodista, presbiteriana,
batista e episcopal fundaram suas igrejas no Rio de Janeiro, São Paulo,
Bahia e Rio Grande do Sul. Fazendo jus a sua principal característica,
que é o espírito proselitista, o protestantismo missionário irradiou-se
por todo território nacional.16

A principal estratégia utilizada pelos missionários foi o trabalho de colportores,


ou seja, missionários e voluntários que distribuíam a Bíblia. “Foram às vilas, aos sertões
e aos grandes centros levando Bíblias, evangelizando, orando pelos necessitados e
seguindo os princípios do protestantismo: a propagação do Evangelho e a divulgação da
Bíblia, que segundo seus ideais não deveria ficar restrita aos clérigos. ”17

As Sociedades Bíblicas faziam grande investimento no Brasil, para que a literatura


sagrada chegasse às mãos de todos. A distribuição de Bíblias, teve início em 1822, através
da Sociedade Bíblica Britânica e, posteriormente Americana. Entre 1822 a 1856 foram
apenas 4000 exemplares distribuídos, mas com o número de colportores assalariados,
crescia também a quantidade de conversos.

O número de colportores das Sociedade Bíblicas aumentou rapidamente


no decorrer da segunda metade do século XIX. À medida que as
Sociedade Bíblicas aumentavam o número desses vendedores
intinerantes, crescia também a quantidade de Bíblias distribuídas. O
número de colportores contratados pelas Sociedade Bíblicas chegou ao
máximo no final do século XIX. Em 1900, essas organizações
mantinham cerca de dois mil colportores trabalhando em tempo integral
em todo o mundo. No mesmo ano, mais de 40 colportores trabalhavam
no Brasil para a Sociedade Bíblica Britânica e estrangeira (SBBE) e a
Sociedade Bíblica Americana (SBA).18

15
SANTOS, Edwiges Rosa. A implantação e estratégias de expansão do protestantismo presbiteriano no
Brasil império. São Paulo: PUC, 2005, p. 84. Disponível em www.pucsp.br/ultimo_andar. Acessado em
04/01/17.
16
Silva, Elizete. O Protestantismo Brasileiro: Um balanço historiográfico. Religião no Brasil: enfoques e
abordagens. Paulo D. Siepierski e Bendeito M. Gil, (organizadores). São Paulo: Paulinas, 2003. p.127
17
Id. Ibid. p.85
18
FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006. p. 230

9
Diversos colportores atuavam no Nordeste, São Luís, Caxias, Rosário, Teresina,
Fortaleza, Salvador, e a região do rio São Francisco eram os principais alvos dos
vendedores de Bíblia, que nessa época custava muito menos que a metade de um preço
de livro comum.

Por volta de 1860, as Sociedade Bíblicas que operavam no Brasil


vendiam uma Bíblia popular por 2$000 (dois mil réis); o Novo
Testamento por $ 400 (quatrocentos réis); e uma Porção Bíblica (um
Evangelho ou outro livro completo da Bíblia) por $040 (quarenta réis).
Em 1867, 1$000 (mil réis) valiam US$0,56 (cinquenta e seis centavos
de dólar americano). Na mesma época, uma saca de café de 60 quilos
custava no Brasil 18$000 (dezoito mil réis) e uma xícara de café, em
torno de $040 (quarenta réis). Portanto um exemplar do Novo
Testamento valia no Brasil Império o equivalente a dez cafezinhos uma
porção Bíblica o equivalente a um cafezinho.19

A estratégia missionária protestante sempre usou o ensino da Bíblia como


ferramenta de alcançar novos adeptos, é então que surge a primeira Escola Bíblica
Dominical, fundada por Robert Kalley e sua esposa, em 19 de agosto de 1855. A Sra
Kalley juntou os filhos do embaixador americano e os de uma família inglesa, em um
cômodo em Gernheim, gentilmente emprestado pelo próprio embaixador, e lhes contou a
história do profeta Jonas.

Avanços significativos foram percebidos nesse período, apesar da proibição da


edificação de prédios com forma exterior de templo, os missionários achavam meios de
driblar a fiscalização, primeiro realizando cultos em residências e depois alugando locais,
mantidos pelos membros. A obra cresceu e consolidou-se!

3.2 Protestantes influenciando a cidadania brasileira

O período Imperial, foi um momento de grandes mudanças no Brasil, educação


cultura, política, arquitetura, urbanização, comércio, entre outros buscavam firmação, era
um “novo país” que surgia e buscava uma identidade. Em alguns desses aspectos houve
significativa contribuição dos protestantes, as quais destacamos pontualmente.

3.2.1 Liberdade religiosa

Com a acusação de que estava agindo de forma proselitista, Dr. Robert Kalley, em
resposta ao representante diplomático da Grã-Betanha, William Stuart, anexou à sua carta

19
FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006. p. 239

10
uma cópia do veredicto de três importantes juristas brasileiros, e suas respostas às suas
onze perguntas, com vistas a esclarecer a interpretação correta da Constituição Brasileira.

1.Os cidadãos brasileiros têm o direito de seguir a religião que assim


desejarem? 2. Se um cidadão consulta outro cidadão a respeito de sua
fé, ele não tem direito de receber uma explicação? 3. É um ato
criminoso aconselhar tal pessoa? 4. Importa se a pessoa citada está em
sua casa ou em qualquer outro lugar? 5. Caso tal cidadão descida seguir
uma religião que não seja aquela oficial do Estado, ele é um criminoso,
um apóstata, um blasfemador, etc.? 6. Uma sociedade que recebe tal
pessoa está incorrendo em alguma penalidade? 7. É um ato legal para
estrangeiros fazerem cultos domésticos em suas próprias casas? 8. Sem
um brasileiro está presente em tal ocasião, isto é considerado
criminoso? 9. Se uma reunião de “estrangeiros” acontece em um prédio
que não possui formato e características tradicionais de uma igreja, com
portas completamente abertas para qualquer um que desejar entrar, isto
será então considerado um ato criminoso? 10. Um estrangeiro pode ser
forçado a deixar sua casa ou ser deportado, antes de formalmente
acusado de quebrar a lei? 11. Qual o significado da palavra
“publicamente” e “reuniões públicas” nos Artigos 276 e 277 da
Constituição Brasileira?20

Dr. Joaquim Aurélio Nabuco, Dr. Urbano Pessoa de Melo e Dr. Caetano Alberto
Soares, foram unânimes e a decisão deles ajudou a derrubar a interpretação até então
mantida pela igreja oficial. O governo brasileiro aceitou e, portanto, constitucionalmente,
missionários estrangeiros eram livres para pregar a fé protestante ao povo.

3.2.2 Casamentos e Cemitérios

Desde o período colonial, a única forma de casamento permitido pela lei, era o
realizado pelos padres, no período imperial nenhuma providência fora tomada em relação
ao casamento dos não-católicos, apesar do crescimento do número de imigrantes,
praticantes de outras crenças religiosas. Tal situação constituía um grave problema, pois
alguém só poderia ser batizado e consequentemente tornar-se membro de uma igreja
protestante se tivesse sua situação matrimonial regularizada.

A Igreja Evangélica Fluminense, providenciou, então uma solução provisória para


este impasse, eles planejaram uma forma de “casamento por contrato”. A cerimônia era
realizada, e os documentos assinados provisoriamente, a fim de serem legalizados tão
logo vigorassem leis que acabassem com a dominação da Igreja Católica.21

20
FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006. p. 144
21
Id. Ibid. p.160

11
Outro problema para os protestantes, era jurisdição católica sobre os cemitérios,
que impedia o sepultamento para os que não fossem católicos. Essa situação passou a
preocupar o Estado brasileiro, conforme Cláudia Rodrigues afirma.

Não parecia mais ser consenso que os cemitérios fossem de domínio


eclesiástico. Iniciava-se, assim, um longo e tenso debate conduzido por
políticos e intelectuais da chamada Geração 1870 a respeito da natureza
da jurisdição que deveria haver sobre os cemitérios públicos, se
eclesiástica ou civil. Na medida em que o Império ganhava novos
contornos sociais, econômicos e políticos, apresentando uma sociedade
bastante transformada, o caráter eclesiástico das necrópoles
representava um obstáculo a ser transposto, uma vez que o “público” a
quem se destinavam não seria mais exatamente o mesmo “público” que
antes predominava.22

O governo passou a perceber que as medidas católicas colocavam em risco os


projetos de imigração, além de implicar problemas com as questões raciais. Como
resultado, o governo baixou a Resolução de 20/04/1870 determinando que os bispos
providenciassem as “solenidades da Igreja” necessárias para que, nos cemitérios
existentes, houvesse espaço para sepultar aqueles a quem ela não concedesse sepultura
em sagrado e que, nos cemitérios doravante construídos, fosse reservado espaço para o
sepultamento dos não católicos.23Entretanto, apesar da ampla divulgação pela Impresa
Evangélica, a Resolução encontrou resistência para o seu cumprimento em alguns lugares
do Brasil, e de fato essa situação só veio a se resolver na República.

3.2.3 Escravidão

Os estudos feitos até o momento, sobre o envolvimento das igrejas protestantes


na questão da escravidão no Brasil, descrevem uma espécie de acomodação,
primeiramente, dos missionários frente ao tema. A prioridade era divulgar a fé protestante
num país católico. A estratégia era a educação e a mudança nos padrões de cultura, que
representava o progresso, indo de encontro ao conservadorismo católico, tornando a nova
religião como um sistema aceitável para os abolicionistas.

Segundo a historiadora Elizete da Silva (2003), entre os anglicanos muitos


membros estavam acomodados com a situação sócio-econômica brasileira, pois possuíam
e até comercializavam escravos; outros membros, já influenciados pelas sociedades
abolicionistas internacionais, condenavam a prática. Entre os batistas também havia uma

22
RODRIGUES. Cláudia. Sepulturas e sepultamentos de protestantes como uma questão cidadania na
crise do Império (1869-1889). p. 30
23
RODRIGUES. Cláudia. Sepulturas e sepultamentos de protestantes como uma questão cidadania na
crise do Império (1869-1889). Revista de História Regional. V.13, n.1, 2008b. p. 31

12
falta de concordância no assunto. Havia ainda um receio em contrariar as autoridades
imperiais, visto que a liberdade religiosa, ainda não era uma realidade completa.

Após a abolição da escravatura em 1888, cessado o perigo de se opor


ao Estado e parecerem resistentes às autoridades constituídas, os
batistas construíram um discurso condenatório à escravidão,
classificando-a como incompatível com a pureza do Evangelho, do qual
eles se consideravam os mais fiéis guardiões.24

Dessa forma, os protestantes não se manifestavam ante a escravidão para não


entrarem em discussões controversas. Havia uma preocupação em inserir o negro na
cultura protestante através da educação e sua conversão.

Fundamentados nas representações que faziam da sociedade vista como


a díade negativa dos reinos deste mundo em oposição à esfera espiritual,
a escravidão não foi encarada como um problema social a ser
enfrentado pelos batistas. 25

Entretanto, apesar de alguns se esquivarem de suas responsabilidades frente ao


tema da escravidão, haviam exceções, cristãos protestantes, que lutavam contra a
escravização de seres humanos e não aceitavam membros nas igrejas que fossem senhores
de escravos. Tomamos como exemplo o caso do Dr. Robert Kalley, que tomou algumas
atitudes em favor da causa abolicionista.

Muitos escravos se juntavam para ouvi-lo pregar o evangelho e isso o motivou


escrever algum tipo de jornal para os africanos escravizados, porém não foi possível, já
que não sabiam ler, levando-o a um outro projeto, uma de classe de alfabetização, usando
a Bíblia.

Como pastor da Igreja Evangélica Fluminense, Kalley discutia em assembleias, o


assunto da abolição junto aos membros. Um caso marcante aconteceu em 1865,
Bernardino de Oliveira Rameiro, era dono de escravos, e em uma ocasião, fez a seguinte
pergunta: “Por acaso pode um crente no Senhor Jesus Cristo ser dono de escravos?” Após
quarenta e cinco dias, Kalley abordou novamente o assunto, trazendo resposta à
assembleia.

24
SILVA, Elizete da. O Protestantismo Brasileiro: Um Balanço Historiográfico. In:SIEPIERSKI, Paulo D. e
GIL, Benedito M. (org.). Religião no Brasil: enfoques,dinâmicas e abordagens. São Paulo: Paulinas, 2003.
p.12
25
SILVA, Elizete da. O Protestantismo Brasileiro: Um Balanço Historiográfico. In: SIEPIERSKI, Paulo D. e
GIL, Benedito M. (org.). Religião no Brasil: enfoques, dinâmicas e abordagens. São Paulo: Paulinas, 2003.
p.14

13
Como um verdadeiro crente deveria tratar seus escravos? Qual é a
vontade de Jesus a este respeito? Em uma exortação verdadeiramente
magistral, ele mostrou que há três formas de servir: por amor, como m
filho a seu pai; por dinheiro, como servos, trabalhadores, etc; por
coerção, sem amor, sem contratos ou regulamentação de salários, como
um escravo obrigado a fazer o que seu senhor ordena sob ameaças,
pancadas e tortura, portanto sem a menor recompensa. Ele então tomou
as três palavras gregas usadas no Novo Testamento para expressar
“serviço”, traduzidas “diácono”, “mercenário”, “escravo”, e citou a
exortação de Paulo em Colossenses 4.1: “Senhores, tratai os servos com
justiça e com equidade, certos de quem também vós tendes Senhor no
céu”, e Efésios 6.9: “...deixando as ameaças...”. Então demonstrou que
há coisas pertencentes a cada pessoa (por exemplo, seu corpo com seus
membros e funções) que não podem ser entregues a outras, e cada um
tem o direito de usa o próprio corpo de uma maneira justa e honesta
para benefício pessoal. Se um homem exerce jurisdição sobre outro, de
forma que este nada usufrui do que tem, aquele é ladrão e vilão. “Cada
um deve dar conta de suas ações ao Grande Juiz, ao fazer outro homem
trabalhar para ele contra a sua vontade, sem receber salário, sob
ameaças de punição e com constante sofrimento, em tudo objetivando
ganhar lucros materiais. Isto é um violento roubo dos dons que o
Criador deus às pobres criaturas, que de maneira alguma diferem que
as comprou.26

Kalley, foi gradativamente impondo seu argumento e levando-os a refletirem


sobre seus papéis como cristãos diante dos escravos. Por fim, Roberto Kalley, dirige-se
diretamente ao dono de escravos.

Para você, o escravo é seu próximo, e está sob o grande mandamento:


“Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Você gostaria que outra
pessoa o tratasse como um escravo? O comércio de animais é legítimo...
mas até mesmo eles devem ser bem tratados. O escravo não é filho de
seu dono, e não serve seu senhor com amor ou prazer; ele trabalha como
um animal, sem receber qualquer recompensa por seu trabalho; trabalha
apenas porque teme a ameaça das pancadas do cruel e desumano
tratamento por parte daquele que o roubou de sua liberdade. Você que
faz estas coisas, é inimigo de Cristo e não pode ser membro da igreja

26
FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006. p.177

14
dEle, do Jesus que nos redimiu da maldição, nos deu liberdade e nos fez
filhos de Deus (Rm 8.15,16).27

A Igreja Evangélica Fluminense, que depois expandiu-se para outros estados do


país, apenas alterando a última parte do nome para se referir a localidade a que pertencia,
foi enfática em não aceitar no seu rol de membros senhores de escravos. O discurso de
Kalley, feito vinte e três anos antes da abolição, utilizando a Bíblia e a razão, permitiu
que seus membros passassem a ter um papel conscientizador importante naquela
sociedade, ficando então conhecida como a igreja dos portugueses e dos negros.

27
Id. Ibid. p.178

15
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A descrição de uma breve história do Protestantismo brasileiro no período


imperial não pretende abarcar todos os aspectos que envolveram sua implantação e
posições diante das mudanças sofridas durante esse período. Entretanto, é importante
destacar que fé evangélica esteve presente em situações marcantes desse processo de
construção da identidade do Brasil, às vezes de forma tímida e isolada, outras fazendo-se
ouvir aos mais altos representantes. Destacando-se de forma significativa na área da
educação, quando construiu diversas escolas ao lado dos templos e dessa forma
contribuindo para a alfabetização de crianças.

Direta ou indiretamente, o protestantismo esteve ligado às transformações


políticas e sociais ligadas à vinda da família real portuguesa para o Brasil. A tolerância
para com os cultos protestantes, foi influenciada por forças de relações comerciais com
países de linha protestante. Com uma cláusula da liberdade de culto para os ingleses em
terras brasileiras, contido no Tratado de Comércio e Navegação de 1810, permitiu-se a
construção de capelas e de cemitérios. Dessa forma estimulando a vinda de outros
imigrantes para o Brasil.28

Situações distintas e momentos diferentes trouxeram vários ramos reformados à


terras brasileiras, alguns ao chegar aqui encontraram muitas dificuldades, apesar de contar
com a admiração de Dom Pedro II que admirava esses missionários “pelos seus
conhecimentos e pelos serviços práticos que poderiam prestar”29

Percebe-se, então que a relação dos protestantes e o Brasil passava por um projeto
de avanço civilizatório, onde o protestantismo era visto como um instrumento para se
alcançar o objetivo de uma nação próspera e moderna. Tinha-se como exemplo o
crescimento econômico de países que professavam a fé protestante como Inglaterra e
Estados Unidos da América. Logo, a economia desempenhou um papel significante no
aspecto da liberdade religiosa no Brasil. Entretanto, outros setores da sociedade,
mergulhados no catolicismo romano, desde os tempos coloniais, os rejeitavam e os
perseguiam.

28
SANTOS, Lyndon de Araújo. O protestantismo no advento da república no Brasil: discursos, estratégias
e conflitos. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano III, n. 8, Set. 2010 - ISSN 1983-2850
29
LEONARD, Emilie. Protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e história social. Rio de Janeiro;
São Paulo: Juerp/ASTE, 1981, p.48

16
Portanto, como destacou o Dr. Lyndon Santos (2006), a escrita da história
religiosa ainda não se deu conta do se legado protestante e do seu lugar na história cultural
e religiosa do Brasil.30

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição politica do Imperio do Brazil (De 25 de março de 1824).


Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm>
Acesso em 26/01/2017

FORSYTH, William B. Jornada no Império. São José dos Campos: Fiel, 2006.

GIRALDI, Luis Antônio. A Bíblia no Brasil Império. Barueri: Sociedade Bíblica do


Brasil, 2013.

HAUCK, João Fagundes; DUSSEL, Enrique D.; HOORNAERT, Eduardo; AZZI,


Riolando. CEHILA. História da igreja no Brasil: ensaio de interpretação a partir do
povo: segunda época: a igreja no Brasil no século XIX. Petrópolis: Vozes, 1980. 322
p. (História geral da igreja na América Latina; 2/2)

LEONARD, Emilie. Protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e história


social. Rio de Janeiro; São Paulo: Juerp/ASTE, 1981

MATOS, Alderi, Souza de. Breve História do Protestantismo no Brasil. São Paulo,
2011. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/7071.html>. Acesso em: 10 dez. 2016.

RODRIGUES. Cláudia. Sepulturas e sepultamentos de protestantes como uma


questão cidadania na crise do Império (1869-1889). Revista de História Regional.
V.13, n.1, 2008b.

SILVA, Elizete. O Protestantismo Brasileiro: Um balanço historiográfico. Religião


no Brasil: enfoques e abordagens. Paulo D. Siepierski e Bendeito M. Gil,
(organizadores). São Paulo: Paulinas, 2003.

30
SANTOS, Lyndon de Araújo. As outras faces do sagrado: protestantismo e cultura na primeira
república brasileira. São Luís: Edufma; São Paulo: Ed. ABHR, 2006. p.274

17
SANTOS, Edwiges Rosa. A implantação e estratégias de expansão do protestantismo
presbiteriano no Brasil império. São Paulo: PUC, 2005, p. 84. Disponível em
www.pucsp.br/ultimo_andar. Acessado em 04/01/17..

SANTOS, Lyndon de Araújo. As outras faces do sagrado: protestantismo e cultura


na primeira república brasileira. São Luís: Edufma; São Paulo: Ed. ABHR, 2006.

SANTOS, Lyndon de Araújo. O protestantismo no advento da república no brasil:


discursos, estratégias e conflitos. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH,
Ano III, n. 8, Set. 2010 - ISSN 1983-2850

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos


trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 75

SILVA, Elizete. O Protestantismo Brasileiro: Um balanço historiográfico. Religião


no Brasil: enfoques e abordagens. Paulo D. Siepierski e Bendeito M. Gil,
(organizadores). São Paulo: Paulinas, 2003.

TURNER, 1954 apud GIRALDI, Luis Antônio. A Bíblia no Brasil Império. Barueri,
SP. p.273

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