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Religion and cultural diversity

Article · January 2018

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Jorge Botelho Moniz


New University of Lisbon
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Desenvolvimento e Sociedade | n.º 5 Dezembro 2018
ISSN impresso: 2183-9220 | ISSN on-line: 2184-2647

A religião à luz da diversidade cultural

Jorge Botelho Moniz [a]


jorgemoniz.fellow@gmail.com

Resumo
As formas de estudar o lugar da religião nas sociedades têm mudado muito ao longo tempo. Estas mudanças
estão normalmente associadas a algum fenômeno social, económico ou político que convoca os cientistas so-
ciais para alterar o rumo das suas investigações: do fim da religião ao seu regresso ou à sua compreensão nas
diferentes modernidades, até ao nosso momento atual. Na primeira década e meia do século XXI começam a
surgir indícios de que estamos a viver uma nova fase. As migrações internacionais e, por consequência, o
transnacionalismo cultural sugerem a construção de um quadro social gradualmente mais diverso e com im-
pactos em muitos aspectos da vida cultural das sociedades modernas. Neste artigo, sugerimos o reconheci-
mento de novas grades analíticas – como a diversidade cultural – no estudo do religioso, mas também a cons-
trução de um índice de diversidade capaz de ser correlacionável com outras dimensões de religiosidade. Con-
sideramos que este é um dos poucos métodos disponíveis para compreender as atuais mutações ou desloca-
ções do religioso nas sociedades contemporâneas.
Palavras-Chave: religião, diversidade cultural, pluralismo, secularização.

Abstract
The approaches to studying the place of religion in societies have changed over time. These changes are
usually associated with some social, economic or political phenomenon that calls on social scientists to chan-
ge the course of their researches: from the end of religion to its return or to its understanding in different
modernities. In the first decade and a half of the 21st-century, signs that we are undergoing a new phase are
evident. International migration and, consequently, cultural transnationalism suggest the construction of an
increasingly more diverse social frame with consequences on many aspects of modern societies’ cultural life.
In this study, we propose the identification of new analytical grids - such as cultural diversity - in the study of
religion, but also the development of an index of diversity to establish correlations with other dimensions of
religiosity. We believe this is one of the few available methods to understand the current transformations or
displacements of religion in contemporary societies.
Key-words: religion, cultural diversity, pluralism, secularization.

Introdução [1] i De fato, desde a primeira metade do século XIX


com Henri Saint-Simon e Auguste Comte, passando
Desde os inícios da sociologia que uma das suas por Karl Marx e Ferninand Tönnies, que os cientis-
principais preocupações é sobre o destino da religi- tas que investigam as etapas (distintas) ou os pro-
ão [2] ii nas sociedades modernas e o declínio da sua cessos (evolutivos) da modernização [3] iii – como a
influência social nos indivíduos e nos Estados – ciência e o racionalismo, o capitalismo ou a indivi-
encarados como indicadores de passagem de uma dualização – vêm defendendo uma progressiva per-
sociedade tradicional para uma moderna. da de plausibilidade da religião, nomeadamente de

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A religião à luz da diversidade cultural

suas expressões tradicionais, nas sociedades moder- grado nas diferentes instâncias da realidade e as es-
nas. Essas proposições sociológicas seriam, ulteri- piritualidades nova era e seculares alargariam o campo
ormente, sistematizadas por Émile Durkheim e Max de reflexão acerca das novas formas de religiosida-
Weber, em especial com suas análises estrutural de, no contexto de secularização, multiplicando as
funcionalista e comparativa, histórica e fenomeno- produções no campo da sociologia da religião (Vila-
lógica, respetivamente. Em traços gerais, suas teori- ça, Sell & Moniz, 2017).
as advogavam, ainda nos finais do século XIX e nos
inícios do século XX, que as religiões históricas pas- A crescente sensibilidade teórica no reconhecimento
sariam por um declínio, não sobrevivendo aos dos diferentes percursos políticos, sociais e religio-
fenômenos do mundo moderno. sos – para a qual muito contribuíram a análise gene-
alógica do secular de Talal Asad e a perspectiva da
Esta longa e prestigiada tradição intelectual que en- secularização como uma história de subtração de Char-
fatiza a oposição entre religião e modernização viria, les Taylor – evidenciaria uma aproximação aos de-
no pós-segunda Grande Guerra e, sobretudo na bates atuais sobre a teoria da modernidade, nomea-
década de 1960, a se formalizar em torno do debate damente à abordagem das múltiplas modernidades de
da secularização. À medida que a sociologia da reli- Shmuel Eisenstadt. Aqui se afirma que o mundo
gião se institucionaliza como área autônoma de es- contemporâneo é um espaço de (re)constituição
tudo, a teoria da secularização acabou se hegemoni- contínua de diferentes programas da modernidade,
zando, especialmente através dos trabalhos de Wil- admitindo-se a influência de atores ou circunstân-
son (1969 [1966]), Berger (1990 [1967]) e Luckmann cias regionais específicas (forças políticas ou eco-
(1967). As teorias da secularização tiveram como nômicas, ativistas ou movimentos sociais, a mídia
realidade de referência as sociedades europeias, cen- ou os fenômenos migratórios), com perspectivas
trando-se na perda da influência social da religião e não unívocas, sobre a reconstrução dos padrões de
no declínio das representações religiosas, devido à relação Estado, sociedade e religião.
racionalização funcional e ao desencantamento do
mundo, tal como Weber vaticinara. Não obstante a evolução dos debates sobre o lugar
da religião nas sociedades modernas, muitos cientis-
Em particular a partir das décadas de 1980 e 1990, o tas sociais vêm questionando a atualidade e validade
modelo da secularização torna-se alvo de críticas dessas teorias clássicas (Norris & Inglehart, 2004),
mais sistematizadas. Por um lado, os sociólogos contestado ainda a frutuosidade desse debate cientí-
estadunidenses começam a interpretar o fenômeno fico (Casanova, 2007). Além disso, veem afirmando
de revitalização religiosa como uma faceta da socie- a necessidade de uma mudança no rumo dessas
dade moderna. Apoiados na teoria da escolha racio- pesquisas, procurando categorias de análise mais
nal e analisando a formação de cultos e seitas e sua atuais e reflexivas para compreender os contornos
proliferação na sociedade, encaram a secularização modernos do religioso (Casanova, 2012).
como um processo limitativo. Eles entendem que a
teoria da escolha racional é particularmente adequa- No geral, a crítica que é feita às reflexões tradicionais
da para explicar a fragmentação e diversidade religi- sobre o religioso é que mantêm em suspenso uma
osa contemporâneas, pautadas por uma lógica de questão que ainda não foi decidida definitivamente.
oferta e procura. Por outro lado, por conta das no- Ou seja, que processos da modernidade, se é que
vas dinâmicas do religioso, surgem outras críticas à algum, conseguem descrever as atuais mutações ou
secularização relacionadas com a questão dos novos deslocações do religioso nas sociedades contempo-
movimentos religiosos e, de uma forma mais gené- râneas? Para Vilaça, Sell e Moniz (2017), na análise
rica, com as reconfigurações do universo religioso dos fenômenos religiosos contemporâneos, são cada
em um quadro social cada vez mais globalizado. Os vez mais necessárias novas grades analíticas: nova
trabalhos sobre a crescente individualização das economia, mídia ou migrações estão entre as forças
crenças e do sentimento religioso, a difusão do sa- nucleares. Perante toda essa multiplicidade de ex-

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pressões da modernidade, Peter Berger, que desde a gundo Taylor (2007, p.437), irreconhecível para e
década de 1990 vem revendo seu tópico original, incomparável com qualquer época histórica anterior.
entende o pluralismo, e não a secularização, como o O mundo contemporâneo tem-se tornado gradual-
tema central na sociologia da religião (Berger, 2014). mente mais diverso cultural, religiosa e etnicamente,
Também Vilaça et al., (2014) acreditam que, na ten- sendo marcado por um pluralismo inédito de cos-
tativa de compreender a religião nas sociedades ho- movisões que se multiplicam irrefreavelmente (Tay-
diernas, o foco dos investigadores deve estar nos lor, 2007; Vilaça, 2016).
fenômenos migratórios e nas mudanças que, dife-
rentes tradições religiosas e diferentes arranjos Es- De acordo com o estado da arte, essa é uma marca
tado-religiões, provocam na alma das distintas soci- indelével da modernização. Para Berger (2014,
edades. A mobilidade geográfica e o consequente p.53), a modernidade e o pluralismo estão ineluta-
transnacionalismo cultural (étnico, linguístico ou velmente cruzados: “a modernidade leva necessari-
religioso) desenham um cenário social progressiva- amente ao pluralismo”, pois liberta todos os proces-
mente mais diverso e que tem impactos em muitos sos que o estimulam, nomeadamente a urbanização,
aspectos da vida cultural e social. Isso é particular- as migrações em massa, a alfabetização e o desen-
mente evidente no mundo Atlântico Norte [4]iv on- volvimento das tecnologias de comunicação [6] vi .
de o paradigma de migração mudou abruptamente: Também para Vilaça (2006, p.22) o pluralismo se
sociedades tipicamente de emigração tornaram-se, tornou em um dos “traços da modernidade”. Por
sobretudo nas últimas décadas, sociedades de imi- causa do aumento dos fluxos migratórios e da mo-
gração ou de migração global (Eco, 2002). bilidade geográfica e do progresso das mídias de
massa, as sociedades se diversificam cultural, étnica,
No nosso entender, pelas razões invocadas nesse religiosa e eticamente. Todavia, essa crescente hete-
estado da arte, as pesquisas sobre o lugar do religio- rogeneidade não é passageira. Segundo Vilaça (2006,
so nas sociedades modernas não devem ignorar essa p.22), ela é a nova “norma e não uma mera situação
nova grelha analítica. Pelo contrário, devem estar transitória”. Essas perspectivas são corroboradas
conscientes dos principais modelos epistemológicos por outros autores. Martin (2005, p.157) diz que o
e dos diferentes instrumentos conceptuais e meto- pluralismo é uma característica “presente de forma
dológicos à sua disposição para, derradeiramente, massiva no mundo contemporâneo”, Taylor (2007,
usá-los em resposta à questão sobre se algum pro- p.300) chama-lhe “supernova” da era moderna,
cesso da modernidade consegue ajudar a explicar ou marcada por um “pluralismo galopante”, Pickel
prever as deslocações ou mutações do religioso. (2017, p.290) diz que é um dos “prognósticos segu-
Esperamos que nosso trabalho seja um passo nesse ros para a Europa” e Vilaça et al. (2014, p.2) preve-
sentido. em que seu crescimento se manterá como resultado
dos efeitos da globalização.

Com efeito, os estudos empíricos, estatísticos, sobre


1.   Da modernidade como pluralismo tendências demográficas, as projeções do cresci-
mento populacional ou as dinâmicas migratórias
Um processo da modernidade muito presente na mundiais apontam para profundas mudanças e,
literatura sobre religião é o pluralismo – a coexistên- consequentemente, para uma crescente complexifi-
cia de comunidades étnicas, morais ou religiosas em cação das dinâmicas culturais, religiosas ou étnicas
uma sociedade (Berger, 2014) –, nomeadamente regionais. Por exemplo, o Pew Research Center
seus efeitos na religiosidade. (2015, 2017), em suas previsões sobre o crescimento
populacional e sobre o futuro das religiões mundiais
Embora não seja um fenômeno propriamente re- até 2050, mostra o modo como o perfil religioso do
cente [5]v, com a acelerada globalização da segunda mundo está “mudando rapidamente” (Pew, 2015,
metade do século XX o pluralismo tornou-se, se- p.5). Isso se deve, sobretudo, à diferença entre as

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A religião à luz da diversidade cultural

taxas de fertilidade, ao tamanho das populações ju- da modernização. O seu argumento básico é o se-
venis e às conversões religiosas típicas de uma era guinte: a modernidade não leva necessariamente à
global e plural [7]vii. Mas também se deve ao número secularização; porém, conduz inevitavelmente ao
de migrações internacionais. De acordo com o rela- pluralismo (Berger, Davie & Fokas, 2008; Berger,
tório das Nações Unidas sobre a migração interna- 2014; Vilaça et al., 2014).
cional de 2017, entre 1990 e 2017 a percentagem de
migrantes internacionais aumentou, ao nível global, Todavia, salvo o caso de Vilaça et al. (2014), cujo
69%. Essa é uma tendência crescente, dado que o interesse de investigação parece centrar-se mais na
volume de migrações internacionais cresceu a uma mutação do religioso em condições modernas (plu-
taxa média anual de 1,2% entre 1990 e 2000 e a uma rais) e não no seu declínio, os outros teóricos do
taxa de 2,4% entre 2000 e 2017. As regiões conside- pluralismo parecem marcados pelo estigma da secu-
radas desenvolvidas receberam 60% do total dessa larização. Para eles, o pluralismo leva à “contamina-
migração durante a totalidade do período. Outra ção cognitiva” (Berger, 2014, p.2) que, por conta
questão relevante aqui é o número de pedidos de dos crescentes contatos interpessoais globais, relati-
asilo que, em 2015, bateu, ao nível europeu, o nú- viza [8] viii e enfraquece os consensos morais; e à
mero recorde de 1,3 milhões de candidaturas (Pew, “fragilização mútua” (Taylor, 2007, p.303-304) das
2017). cosmovisões (religiosas ou não religiosas). Não obs-
tante a omissão de um argumento que afirme, expli-
A irreconhecibilidade desses fenômenos ou a sua citamente, a ligação (negativa) do eixo modernida-
incomparabilidade com outros períodos históricos, de-pluralismo-secularização, essa relação está pre-
como Taylor sublinha e como já citámos, deve-se ao sente de forma implícita. Com efeito, se a moderni-
fato de não se estar passando por simples processos zação leva fatalmente ao pluralismo e se o pluralis-
de emigração, mas de migração global, e essa dife- mo, pela concorrência de diferentes cosmovisões,
rença, como eloquentemente coloca Eco (2002), é provoca uma contaminação, diferenciação ou fragilização
fundamental para compreender o nosso mundo dos valores sociais, então, a pluralização tenderá a
globalizado. enfraquecer, entre outras, as certezas religiosas. Ou
seja, a modernização provoca uma pluralização das
“Ainda é possível distinguir emigração de migração quando o visões do mundo que, por seu turno, é acompanha-
planeta inteiro está se tornando o território de deslocações da de um enfraquecimento das convicções religio-
cruzadas? Creio que é possível: como disse, as imigrações são sas.
controláveis politicamente, e as migrações não; são como os
fenômenos naturais. Enquanto há imigração, os povos podem Essa conclusão pode, porém, parecer simplista se
ter a esperança de manter os imigrados em um gueto, para entendida à luz dos efeitos complexos e, por vezes,
que não se misturem com os nativos. Quando há migração já reversíveis do pluralismo na religião. De acordo
não há guetos, e a mestiçagem [neste contexto, acrescentaría- com Berger (2014, p.15), as religiões não estão de
mos a diversidade e/ou pluralismo] é incontrolável. Os forma alguma imunes às consequências do pluralis-
fenômenos que a Europa tenta ainda enfrentar como casos de mo; pelo contrário, esse é “o grande desafio de to-
emigração são, pelo contrário, casos de migração” (Eco, das as tradições e comunidades religiosas na era
2002, p.109-110). moderna” (Berger 2014, 15). No entanto, como o
próprio autor adita, à medida que o pluralismo vai
Por conta desses eventos globais, o tema do plura- extenuando as convicções religiosas vai surgindo
lismo tornou-se em uma das mais “promissoras uma miríade de opções cognitivas e normativas que,
agendas de pesquisa” (Pollack 2014, 115), sendo um em grande parte, podem ser religiosas. Essa ideia,
dos “tópicos mais importantes” nas ciências sociais aparentemente, dicotómica fica bem expressa atra-
contemporâneas (Doktór, 2009, p.26). Para isso vés da reflexão de Pickel (2017) sobre os processos
muito ajudou o fato de os teóricos da secularização de secularização e pluralização que marcam as soci-
terem começado a associar o pluralismo aos efeitos edades europeias contemporâneas.

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“[O] pluralismo é o segundo prognóstico seguro enquadram, beneficiam de um nível mais elevado de
para a Europa (…). [Por conta dele] [a]lém de um firmeza quando enquadradas, usando o termo ber-
crescimento da discussão pública e política em tor- geriano, em uma estrutura de plausibilidade homogênea
no da religião, também existe (pelo menos na Euro- e partilhada pela maioria das pessoas. Por contraste,
pa) uma «perda arrasadora da relevância da religião». sob condições de pluralismo e com a consequente
Não podemos, por conseguinte, excluir preliminar- desmonopolização das perspectivas religiosas do
mente uma reativação da identidade (religiosa) no mundo, a pretensão de legitimidade inquestionável e
futuro. No entanto, em face do enfraquecimento auto-evidente das comunidades ou instituições reli-
dos laços, do conhecimento ou da integrabilidade giosas tende a ser desafiada. As organizações religio-
religiosos, isso parece improvável” (Pickel, 2017, sas passam a atuar dentro de uma lógica de mercado
p.290). onde também competem com uma pluralidade de
cosmovisões seculares. Essa competição intra e ex-
Ou seja, o pluralismo parece enfraquecer tendenci- tra religiosa afeta a credibilidade das cosmovisões
almente a religião, mas também pode ter efeitos religiosas e, por conseguinte, atinge negativamente
positivos sobre a última. Todavia, parece-nos que os os níveis de crença ou prática religiosa. De outro
autores, pela forma como constroem seus argumen- lado, os teóricos da economia religiosa esperam que
tos – entendem sempre o crescimento da religiosi- a participação e o compromisso religiosos sejam
dade, em condições de pluralismo, como uma even- influenciados pela oferta de religião. O seu argu-
tualidade –, se aproximam mais da primeira propo- mento diz que mais pluralismo religioso (mas tam-
sição. bém, maior liberdade religiosa) aumenta a participa-
ção e engajamento religioso. Isso sucede, porque o
Entender os efeitos atuais do pluralismo na religião pluralismo fomenta a competição. As instituições e
afigura-se, portanto, como um desiderato difícil. Os comunidades religiosas trabalham mais afincada-
autores não advogam mais uma tendência geral, mente para satisfazer a procura religiosa e, por con-
unívoca e determinista. Apesar de mostrarem que o sequência, as pessoas tendem a ficar mais satisfeitas
pluralismo pode ter consequências perniciosas para com o serviço oferecido e a envolver-se mais com o
a religião, atualmente, tendo em conta a experiência religioso. Ou seja, contrariamente aos primeiros
com as várias falácias da secularização (Moniz, 2017), teóricos, o pluralismo teria um efeito positivo na
eles salvaguardam suas teses, oferecendo-lhes uma religião.
hipótese de relação saudável entre ambos.
Não obstante a centralidade desses estudos e auto-
A atual postura (prudente e diplomática ou dicotó- res para o debate dos efeitos do pluralismo na religi-
mica e reversível) dos teóricos da secularização ão, esse tópico (ainda que nem sempre sob o vocá-
quanto aos efeitos do pluralismo na religiosidade bulo pluralismo) esteve, até à atualidade, sempre pre-
[9]ix contrasta com as posições mais assertivas assu- sente implícita ou explicitamente nos trabalhos so-
midas no decorrer da segunda metade do século XX bre a secularização. Taylor (2007) ou Berger, Davie
[10]x. Nessa época, de um lado, encontramos os teó- e Fokas (2008) associam, uns mais do que outros, o
ricos que afirmam que, com a pluralização, as visões declínio ou a marginalização da autoridade das cren-
do mundo, religiosas ou não, tendem a ser relativi- ças religiosas, a fragmentação das visões do mundo
zadas e a sofrer uma crise de plausibilidade. Embora e a rutura da homogeneidade cultural e religiosa à
por razões diferentes, eles argumentam, no geral, diversidade social e à pluralização das cosmovisões indivi-
que os processos de racionalização (Wilson, 1969 duais. Outros autores fazem exercícios semelhantes.
[1966]; Berger, 1990 [1967]) ou de diferenciação Por exemplo, Casanova (1994) analisa a posição das
(Luckmann, 1967) levam a uma autonomização que religiões no mundo moderno à luz do pluralismo –
engloba a pluralização e que é a causa do enfraque- a condição estrutural da modernidade; Martin
cimento das cosmovisões. Assim sendo, as práticas (2005) observa o contexto global de secularização
e crenças religiosas, bem como as instituições que as através de um pluralismo competitivo e expansivo; Vilaça

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A religião à luz da diversidade cultural

et al. (2014) relacionam a modernização e seus cupações, julgamo-las excessivas [11] xi e, como os
fenômenos de migração internacional, fluidez de- próprios autores admitem, as provas que reúnem
mográfica e nova economia global com o pluralismo são “altamente circunstanciais” (Voas, Olson &
e com suas múltiplas possibilidades de identificação Crockett, 2002, p.230). Por conseguinte, os estudos
e pertença; enfim, Norris e Inglehart (2004) correla- empíricos sobre o impacto do pluralismo na religião
cionam os níveis de religiosidade dos indivíduos continuaram.
com um índice de pluralismo religioso.
Norris e Inglehart (2004), de certo modo, em linha
Por causa dessa presença, mais ou menos assídua e com Voas, Olson & Crockett, mostram que os re-
mais ou menos explícita, do pluralismo nos traba- sultados de seu estudo não apontam para uma gran-
lhos dos teóricos da secularização, surgiram vários de influência do pluralismo na religião. Todavia,
estudos empíricos que quiseram compreender a cor- admitem que algumas correlações apontam para
relação pluralismo-religiosidade. A existência de uma relação forte e significativa entre o primeiro e o
uma correlação negativa foi considerada como cor- grau de participação religiosa dos indivíduos. Essa
roborando as teorias da secularização, enquanto correlação é, porém, praticamente sempre negativa.
uma correlação positiva sustentaria os pressupostos Contrariamente aos pressupostos da teoria da eco-
do modelo da economia religiosa. A literatura sobre nomia religiosa a “análise multivariada dos dados de
o tema cresceu tanto que, nos inícios do século um vasto grupo de sociedades não apoia a hipótese
XXI, Chaves e Gorski (2001) fizeram uma grande de que o pluralismo religioso produz níveis elevados
revisão do tópico através do exame de 193 testes em de religiosidade” (Norris & Inglehart, 2004, p.230);
26 artigos científicos. Nesse estudo, reportam, so- pelo contrário, as sociedades menos plurais apresen-
bretudo, a relação tendencialmente negativa ou nula tam maiores índices de participação religiosa. O tra-
(quase 70% dos casos) entre o pluralismo e a parti- balho de Doktór (2009) e Pollack e Pickel (2009)
cipação religiosa (em qualquer sentido geral). A cor- também apontam nessa direção. O primeiro, ao es-
relação positiva entre as variáveis não é portanto tudar a relação entre o pluralismo religioso e as rela-
comprovada por seus resultados, salvo quando apli- ções de vizinhança e/ou amizade, conclui que, no
cada a um número limitado de casos. geral, a influência do pluralismo religioso é negativa.
Os segundos, ao examinarem a correlação entre as
Outro estudo, o “mais crítico” na opinião de Norris relações Estado-religiões e a vitalidade religiosa,
e Inglehart (2004, p.97), afirma que todos os resul- concluem, novamente, que os dados empíricos não
tados de todas as correlações (positivas ou negati- só não confirmam os pressupostos da economia
vas) devem ser abandonados (Voas, Olson & Croc- religiosa, como ainda os contradizem. Com efeito,
kett, 2002). De acordo com Voas, Olson e Crockett, no seu estudo, as correlações, quando significativas,
no início da centúria, não havia provas convincentes apontam no sentido contrário da economia religiosa
de que o pluralismo tinha qualquer efeito na partici- – quanto maior o pluralismo, menor a participação
pação religiosa. Qualquer variação aleatória no nú- religiosa.
mero de casos selecionados determina, segundo
eles, graus de correlação diferentes. Ou seja, a rela- Em suma, o debate dos teóricos da secularização
ção entre diversidade e envolvimento refletiria ape- sobre o pluralismo e seus efeitos na religião, tal co-
nas a relação matemática entre as medidas de parti- mo todo o debate da secularização, tem sido prolífe-
cipação e um índice de pluralismo, não tendo como ro, contraditório e inconclusivo. No entanto, é pos-
base qualquer fator substantivo. Por conta disso, sível detectar quatro etapas essenciais. A primeira,
eles dizem que “todas as provas oferecidas por am- desenvolvida mais energeticamente até à década de
bas as partes do debate são agora suspeitas” e que o 1970 e preconizada pelos teóricos da secularização,
“pluralismo pode não ter qualquer efeito na partici- assevera que mais pluralismo significa menos religi-
pação religiosa” (Voas, Olson & Crockett, 2002, ão. A segunda, nascida em meados da década de
p.218). Embora partilhemos algumas de suas preo- 1980 e acompanhada pelos primeiros estudos empí-

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ricos mais sistemáticos dos teóricos da economia dernidade consegue enfraquecer, mas apenas recon-
religiosa, afirma, inversamente, que mais pluralismo figurar. Mas isso não será apenas um processo dialé-
significa mais religião. A terceira, surgida na primei- tico hegeliano? Ou seja, será que estamos passando
ra década do século XXI, por conta desse debate, é de uma tese (secularização), para uma antítese (eco-
marcada por uma tentativa de aclaração das duas nomia religiosa), até uma mera síntese (posição in-
etapas dicotômicas originais. Os seus resultados não termédia entre o enfraquecimento da religião e sua
foram conclusivos, apontando em várias direções. revitalização) sobre os efeitos do pluralismo na reli-
Todavia, trouxeram à luz, ainda que fragilmente, a gião? Por que razão hoje os autores (como Berger
correlação tendencialmente negativa ou nula entre ou Pickel) afirmam apenas implícita e tenuemente
pluralismo e religião. A última, vivida atualmente e que o pluralismo pode ter um impacto negativo na
cuja reflexão se foi adensando desde a primeira me- religião, mesmo quando seus estudos apontam nes-
tade da década inicial do século XXI, procura lidar, sa direção? Dadas as profundas alterações globais
ainda na aurora de sua adolescência, com o plura- que vivemos, em que medida podemos continuar
lismo e a coexistência da diversidade (cultural, étnica estudando os efeitos do pluralismo na religião à luz
ou religiosa) nas sociedades e com seus presumíveis de pressupostos teóricos das décadas de 1960 ou
efeitos na religião. Esse tópico surge agora de forma 1980? Como poderá o pluralismo tornar-se em uma
mais premente, por conta das mudanças rápidas e agenda de pesquisa promissora se nada mais for do que a
globais provocadas pela globalização, pelas migra- negação da negação (na perspectiva dialética de He-
ções transnacionais, pela nova economia global ou gel)?
pelas mídias de massa digitais. Esses teóricos admi-
tem uma influência maioritária, mas não exclusiva- É de fato com essas, entre outras, interrogações em
mente negativa, do pluralismo na religiosidade; po- mente que avançamos na direção de uma proposta
rém, isso não significa, necessariamente o enfraque- reedificada e atualizada dos estudos sobre religião e
cimento da religião, mas apenas sua recomposição. modernidade baseada no binómio pluralismo-
Essa é, em certa medida, uma posição intermédia religião.
relativamente às teses anteriores. Ou seja, o plura-
lismo, enquanto condição sine qua non da moderni-
dade, já não conduz (contrariamente às teorias da
secularização) necessária e fatalmente ao fim da reli-
2.   Definindo conceitos: pluralismo, plura-
gião, mas também não está normalmente associado lização ou pluralidade e diversidade?
ao seu desenvolvimento positivo (contrariamente à
teoria da economia religiosa). Apesar de o pluralis- O pluralismo é, para a literatura especializada, um
mo trazer consequências para a religião (contraria- dado adquirido das sociedades modernas. É uma
mente ao que Voas, Olson e Crockett alegam) esses das suas “características permanentes” (An-Na’im,
efeitos tanto podem significar um enfraquecimento 2009, p.225) ou um “conceito-chave” para compre-
como uma revitalização. endê-las (Giordan, 2014, 1) que, por conta dos efei-
tos da globalização, “manterá uma tendência cres-
Pela inexatidão das teses clássicas da secularização e cente” (Vilaça et al., 2014, p.2).
da economia religiosa, relativamente ao pluralismo,
e pela experiência, altamente criticada, de desenvol- Por causa desta opinião generalizada, o tópico do
vimento de teorias unívocas, universalistas e deter- pluralismo tem conquistado maior protagonismo
ministas (tanto em uma direção como noutra), a nas ciências sociais. No nosso ver, seu grande méri-
posição política e cientificamente correta passou a ser to foi ter desafiado – no debate sobre os efeitos dos
uma intermédia, semelhante à dos teóricos da quarta processos da modernidade na religião – a justaposi-
etapa elencada. Para se contornarem eventuais críti- ção entre os apoiantes da versão ortodoxa da secula-
cas, aceita-se a religião como uma espécie de cons- rização e os que se lhe opõem pela afirmação de um
tante antropológica que nenhum processo da mo- retorno do sagrado. Atualmente criticam-se as primei-

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A religião à luz da diversidade cultural

ras teorias, mas sem se abraçarem as segundas. Ou desenvolvimento de um objeto conceptual que nos
seja, há um distanciamento das perspectivas mais permita, no atual contexto de pluralismo permanente e
idiossincráticas do paradigma ortodoxo que não crescente, trabalhar sobre e aclarar os fenômenos atu-
significa, automaticamente, uma adoção da aborda- ais de secularização. Como nos diz Beckford (2010),
gem contra ortodoxa. A secularização é tida como se isso suceder, poderão abrir-se boas oportunida-
um processo de mudança do religioso que não sig- des de pesquisa na área.
nifica, necessariamente, declínio ou revitalização
religiosa. Abre-se espaço para uma perspectiva mais No geral, os autores vêm reivindicando uma separa-
plural, que considera a contingência, e rigorosa, que ção entre os conceitos de pluralismo e diversidade
privilegia o empirismo, que tem a pretensão de ex- [12]xii (Beckford, 2003, 2007; Wuthnow, 2004; Vila-
plicar melhor o que se passa no campo da religiosi- ça, 2006; An-Na’im, 2009; Berger, 2014). O âmago
dade moderna. de seu argumento é que o pluralismo é um conceito
normativo, enquanto a diversidade é uma noção
No entanto, o conceito de pluralismo é comum- descritiva. O primeiro, como denuncia o sufixo ismo,
mente usado nas ciências sociais, mas é menos fre- é um sistema de valores, instituições ou processos
quentemente explicado. Como amplamente denun- que aceita a diversidade como um valor positivo; o
ciado, muitos acadêmicos continuam usando-o de segundo diz respeito, descritiva, empírica e fatual-
forma indiscriminada, referindo-se a pluralismo sem mente, ao grau de heterogeneidade cultural [13] xiii
especificar concretamente o que querem descrever existente em uma determinada sociedade ou em um
com o termo (Beckford, 2003; Mortensen, 2003; mesmo contexto social. Um grau elevado de diver-
Vilaça, 2006; Berger, 2014). Além disso, surgiram e sidade não significa que existe pluralismo ou que
continuam surgindo muitas interpretações que con- uma sociedade seja pluralista (i.e., que endosse o
fundem, erradamente, pluralismo e diversidade ou pluralismo). São, portanto, duas esferas relativamen-
pluralidade. Isso traz sérias complicações termino- te autônomas, pois mais diversidade, como nos diz
lógicas, metodológicas e epistemológicas para o de- Yang (2014, p.137), “não leva necessariamente ao
bate científico, porque mistura questões descritivas pluralismo”. Todavia, os conceitos são contíguos –
e valorativas/regulatórias. A noção de pluralismo “o pluralismo é uma resposta ideológica ou norma-
corre o risco de se tornar em um chapéu conceptual tiva à diversidade empírica” (Beckford, 2007, p.268).
sob o qual se colocam fenômenos heterogêneos e É, nas palavras de Jenkins (2002, p.29, apud Morten-
inconsistentes entre si. Não admira que seja consi- sen, 2003, p.425), a “ideologia que celebra a diversi-
derada “problemática” (Mortensen, 2003, p.425; dade”. A sua interdependência tem levado os cien-
Beckford, 2007, p.267), “traiçoeira” ou “ambígua” tistas sociais a análises multidimensionais que têm
(Beckford 2003, 73-102) e que se reivindique uma permitido deslindar seus pontos de interseção e suas
“maior atenção” (Beckford 2014, p.15) e um maior esferas autônomas. Considerando as sistematizações
“refinamento teórico” (Giordan, 2014, p.1) para de Beckford (2003, 2007), Wuthnow (2004) ou
esse conceito. Yang (2014), podemos considerar quatro sentidos
fundamentais do pluralismo:
Na seção anterior, as noções de pluralismo e diver-
sidade foram usadas, conscientemente, de forma 1.   Enquanto conceito descritivo ou analítico (diver-
indiscriminada, mediante a forma original como os sidade ou pluralidade - entendidas sinonimamen-
autores citados recorrem ao termo. Contudo, con- te).
cordamos com a ideia de que deve haver uma sepa- a.   Descreve o nível de heterogeneidade
ração analítica entre eles. Consideramos que uma dentro de uma sociedade.
análise multidimensional do pluralismo pode ajudar 2.   Enquanto conceito processual (pluralização).
não só a deslindar as dimensões de autonomia e a.   Descreve o processo de crescente di-
dependência entre os conceitos, mas também a refi- versidade em uma sociedade.
nar nossas ferramentas nocionais. Isso nos levará ao

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3.   Enquanto conceito normativo ou valorativo pluralismo, para o estudo geral e atual da seculariza-
(pluralismo per se). ção, e dada sua dimensão empírica e analítica (que
a.   Descreve os arranjos institucionais e nos permitirá encontrar indicadores que o mensu-
sociais, sustentados em normas legais, rem) – é atualmente o instrumento teórico-empírico
favoráveis à diversidade. mais pertinente para o estudo dos efeitos da mo-
i.   Implica a aprovação e o reco- dernização na religião.
nhecimento (positivo) da di-
versidade.
4.   Enquanto conceito filosófico.
3.   Sobre o conceito de diversidade (cultu-
a.   Descreve um conjunto de ideias inte-
lectuais que colocam um valor alto na
ral)
diversidade e nos arranjos institucionais
e sociais que a escoram. O termo diversidade representa um conceito amplo
que atraiu a atenção, não só, mas também, de cien-
tistas sociais, especialmente, no final da década de
1990 e durante a de 2000. Prova disso são as con-
Essa miríade de significados que o conceito de plu- venções da UNESCO sobre a diversidade cultural
ralismo pode ter, mas também a consciência desse (2001) ou sobre sua proteção e promoção (2005),
fato e seu domínio conceptual, nos trazem maior erigindo uma definição de diversidade que é descrita
responsabilidade metodológica na escolha do que como uma multiplicidade de formas culturais repre-
designámos de objeto conceptual mais apropriado para sentativas dos diversos grupos sociais. Se, por um
estudar os fenômenos contemporâneos da seculari- lado, a diversidade, ou a consciência da sua existência
zação. enquanto conceito autônomo do pluralismo, tem
apenas algumas décadas, a diversidade (sem itálico)
Nesse contexto, optámos pelo conceito de diversi- empírica não é uma novidade, como nos provam,
dade [14] xiv . Por um lado, isso deve-se ao fato de
por exemplo, Wood (2003) ou Berger (2014).
considerarmos mais prudente evitar as questões
normativas, processualistas e filosóficas associadas A diversidade tem a sua etimologia no latim diversitas,
ao pluralismo ou à pluralização. Por outro lado, isso procurando dizer variedade ou diferença. É a represen-
também se prende com o fato de a diversidade estar, tação, em um determinado sistema social, da multi-
normalmente, associada a perspectivas científicas plicidade de diferenças e similaridades que existem
mais neutrais e, por consequência, metodologica- entre os indivíduos ou os grupos que os represen-
mente mais pacíficas, operando apenas ao nível ana- tam. É a qualidade do diverso (dimensão positiva),
lítico-descritivo. Vários cientistas sociais defendem por oposição à cultura de grupo, à homogeneização
que, aquando do estudo do impacto da moderniza- de culturas ou à monocultura (dimensão negativa).
ção na religião, a opção pela noção de diversidade é A noção de diversidade está, portanto, associada aos
preferível ou mais apropriada (Beckford, 2003; conceitos de pluralidade (como vimos em rodapé),
Yang, 2014). No âmbito dos estudos de religião essa multiplicidade ou heterogeneidade, dizendo respeito
precedência ou adequação é particularmente rele- à miríade de ideias, características ou elementos dis-
vante. Para analisar a religião como variável depen- tintos que distinguem os indivíduos sobre um de-
dente, deve-se encontrar outra independente que terminado assunto, contexto ou ambiente. É, nas
permita não só descrever, mas, sobretudo, medir o palavras de Crystal (2002, p.33) um vocábulo “in-
grau de heterogeneidade cultural de uma determina- corrigivelmente plural” e, acrescentaríamos nós,
da sociedade e, enfim, correlacioná-lo com diferen- incontornavelmente associado à multiplicidade de
tes dimensões de religiosidade (Moniz, 2018). Posto identificações culturais de cada grupo social. Com
isto, acreditamos que o conceito de diversidade – efeito, a diversidade que queremos analisar é a cul-
dada sua centralidade, no contexto do debate sobre tural [15]xv, pois é a cultura – através da sua capaci-

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A religião à luz da diversidade cultural

dade de inserção e adequação do ser ao meio – que Além disso, ainda segundo Johnson e Grim (2013),
explica, dá sentido e agrega as diferentes cosmolo- há cinco formas de medir a diversidade: i) fraciona-
gias sociais, como as étnicas, religiosas ou linguísti- lização, a probabilidade de que dois indivíduos, alea-
cas. Não surpreende que, ao tratarem do tópico da toriamente selecionados, pertençam a diferentes
diversidade, os cientistas sociais normalmente o as- culturas; ii) polarização, analisa e atinge seu máximo
sociem à cultura (Ottaviano & Peri, 2006; Patsiurko, aquando da existência de dois grupos sociais de di-
Campbell & Hall, 2012; Dohse & Gold, 2013). mensão similar; iii) dominação, baseada na dimen-
são do maior grupo; iv) minoria, reporta-se ao ta-
Com tudo isso não queremos insinuar que a diver- manho da maior minoria; v) clivagem, descreve uma
sidade cultural é um conceito relativamente escorrei- situação onde há um grupo maioritário e, pelo me-
to que se limita a descrever, univocamente, a hete- nos, outro com uma minoria significativa.
rogeneidade das formas culturais e das suas repre-
sentações. Pelo contrário, como denunciam vários Não há propriamente uma uniformidade no trata-
autores (Alesina et al., 2003; Beckford, 2003; Wood, mento da questão da diversidade, à exceção da ideia
2003; Ottaviano & Peri, 2006), pela sua amplitude, geral de que, à semelhança de tantos outros, é um
complexidade, subtileza e fluidez, é difícil sumariar a conceito multidimensional e que pode ser medido
noção de diversidade cultural em uma tipologia de várias formas. No entanto, a literatura especiali-
simples. Johnson e Grim (2013) determinam dois zada na área tem, implicitamente, chegado a um
tipos de diversidade: interna e exterior. A primeira consenso sobre a melhor forma de analisar, subdi-
reporta-se à diversidade dentro de um grupo (étnico vidir e quantificar a diversidade. Em particular, des-
ou religioso) específico, enquanto a segunda descre- de os inícios do século XXI têm surgido estudos
ve o grau de diversidade total dos grupos de uma sobre a fracionalização (Alesina et al., 2003; Fearon,
determinada região ou sociedade. Por seu turno, 2003; Patsiurko, Campbell & Hall, 2012) e que pre-
Gardenswartz e Rowe (2003) falam em quatro ca- tendem descrever, medir e entender os efeitos da
madas da diversidade: i) organizacional, relacionada diversidade, estes autores chamam-lhe heterogeneidade,
com o controlo da diversidade pela organização da e na população.
onde os indivíduos trabalham; ii) externa, representa
as escolhas de vida dos indivíduos (por exemplo, A fracionalização, ou seja, o grau de divisão (de al-
religião, educação ou costumes); iii) interna, as ca- guém ou algo) em diferentes grupos ou partes, den-
racterísticas determinadas à nascença, como a etni- tro de uma determinada sociedade ou região, é tipi-
cidade ou o gênero; e iv) personalidade, ou seja, os camente medida através das três dimensões seguin-
traços e características dos indivíduos que são con- tes: a étnica, a linguística e a religiosa.
siderados estáveis. O Pew (2014) também refere que
as ciências sociais definiram quatro formas de diver- A fracionalização étnica ou a etnicidade é, do con-
sidade: i) o grau em que uma sociedade se divide em junto, para Alesina et al. (2003, p.6), a “principal
diferentes grupos; ii) o tamanho do grupo minoritá- variável” de análise. Associada, anteriormente, à
rio; iii) sua influência; e iv) a dominação de um ou dimensão linguística – a heterogeneidade etnolin-
mais grupos na sociedade. Beckford (2003) vai ainda guística –, a etnicidade passou a ser considerada au-
mais longe, afirmando que a diversidade deve ser tonomamente. Isso levou os teóricos a se afastar de
distinguida, analiticamente, através de cinco signifi- definições padronizadas de etnia ou grupo étnico
cados: i) o número absoluto de grupos sociais; ii) o que normalmente incluíam a língua e a religião e que
número de pessoas que lhe estão associadas; iii) o se baseavam na ideia de uma crença comum em
número de tradições distintas existentes em uma uma ancestralidade e/ou em características culturais
sociedade; iv) o número de indivíduos que combi- (reais ou presumidas) partilhadas. Apesar do pouco
nam diferentes perspectivas tradicionais; e v) o pro- desenvolvimento teórico nesse campo, a diversidade
cesso de diferenciação interna pelo qual os grupos étnica aqui mencionada é concernente ao conjunto
passam. de características biológicas, como a origem racial

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ou a cor da pele dos indivíduos (Alesina et al., 2003; Mais recentemente vem-se falando da necessidade
Patsiurko, Campbell & Hall, 2012). de, para se compreender inteiramente o fenômeno
da diversidade, se adicionarem outros fatores além
A fracionalização linguística passou a ser tratada, do étnico, linguístico e religioso (Dohse & Gold,
como vimos, como uma dimensão de análise inde- 2013; Alemu, 2016). Os teóricos vêm defendendo a
pendente da diversidade étnica. Para Alesina et al. ampliação do conceito de diversidade cultural por
(2003, p.5), a separação entre a língua e as caracte- meio da integração de uma dimensão que considere
rísticas raciais ou físicas dos indivíduos é uma “me- o local de nascimento dos indivíduos (Ottaviano &
lhoria” relativamente às pesquisas anteriores já cita- Peri, 2006; Dohse & Gold, 2013; Alesina, Harnoss
das. A questão linguística é, para os autores, tão ou & Rapoport, 2016). Isso é particularmente relevante,
mais relevante do que a diversidade étnica. Não porque a medida local de nascimento, contrariamente à
considerar a linguagem como fator de diversidade é, etnicidade, língua ou religião, penetra nas diferentes
na linha de Crystal (2002, p.34), um “erro”, por- experiências de vida dos indivíduos, nas suas dife-
quanto a língua é parte integrante da identidade dos renças formativas e educacionais e no desenvolvi-
indivíduos. Fearon (2003), aliás, constrói sua medida mento de perspectivas distintas. Assim sendo, se-
de fracionalização cultural, baseando-se apenas no gundo Alesina, Harnoss e Rapoport (2016), a diver-
grau de similaridade ou distância entre línguas. Ests sidade do local de nascimento difere, conceptual-
tipo de fracionalização é então medido com refe- mente, das outras três medidas de diversidade cita-
rência à porcentagem de falantes da língua nativa de das, mas também se distingue empiricamente, pela
uma determinada sociedade (Alesina et al., 2003; falta de correlação entre a primeira e as segundas. A
Patsiurko, Campbell & Hall, 2012). dimensão local de nascimento parte do pressuposto de
que a cultura nativa é homogênea e que, por conse-
A fracionalização religiosa é, de acordo com Alesina guinte, a diversidade cultural é determinada pela
et al. (2003, p.6), provavelmente a distinção da fra- proporção de população não-nativa vivendo em
cionalização “menos controversa e arbitrária”, pois essa região. Por um lado, observa o tamanho (da
as fronteiras da religião são mais claras e consisten- população nascida no estrangeiro); por outro lado, a
tes entre países. Não obstante, alguns autores, como multiplicidade (dos não-nativos). Ou seja, essa me-
Fearon (2003), deixem a dimensão religiosa proposi- dida de diversidade intercultural (Dohse & Gold 2013,
tadamente de fora [16]xvi, outros autores continuam p.7-8) ou diversidade populacional (Alesina, Harnoss &
a considerá-la em seus trabalhos, medindo-a, sobre- Rapoport, 2016) deduz a diversidade cultural de
tudo, através dos dados disponíveis sobre afiliação uma região por meio da distinção entre população
religiosa e sobre a distribuição dos grupos religiosos nativa e estrangeira, mas também através da varie-
(Alesina et al., 2003; Patsiurko, Campbell & Hall, dade da última.
2012).
De acordo com Erikson e Johnson (1999), a defini-
Essas três medidas são entendidas como a tríade de ção de indicadores para as quatro dimensões ora
“aspectos principais da diversidade cultural” (Alesi- citadas – etnicidade, língua materna, confissão reli-
na et al., 2003) que melhor “capta [suas] distinções” giosa e país de origem – deve dar elementos sufici-
(Patsiurko, Campbell & Hall, 2012). Com efeito, entes para a construção de um índice de diversidade
elas têm recebido uma grande aceitação e adesão cultural bastante preciso. Por conta desta alegada
dos cientistas sociais, mas não só, que têm como precisão, o European Social Survey as definiu como
fito estudar os efeitos da diversidade cultural no as dimensões nucleares para a compreensão de um
desempenho da economia (Patsiurko, Campbell & conceito amplo de identidade étnica.
Hall, 2012), nos conflitos políticos e sociais, na fra-
gilidade dos Estados (Alemu, 2016) ou nos valores A necessidade de determinar certas dimensões da
familiares. diversidade que permitissem a construção de índices
e, por consequência, o estudo dos efeitos da diver-

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A religião à luz da diversidade cultural

sidade nas sociedades não é nova. Desde os meados citados, de Voas, Olson e Crockett (2002), Norris e
da década de 1990 que vários estudos têm investi- Inglehart (2004), Doktór (2009) ou os da escola da
gado esse assunto, nomeadamente no campo da economia religiosa, fazem-no à luz do conceito de
economia. Como nos dizem Dohse e Gold (2013, pluralismo (no caso, religioso). Ou seja, ainda que
p.6), no geral, a atual literatura sobre os efeitos da queiram analisar os efeitos da heterogeneidade dos
diversidade cultural é “ainda inconclusiva”. Por um grupos sociais na vitalidade religiosa, fazem-no,
lado, vem-se reconhecendo a correlação positiva normalmente, através da perspectiva conceptual
entre a diversidade cultural e a inovação e o empre- errada. Além disso, não raras vezes, recorrem a me-
endedorismo. Contudo, essa correlação é normal- didas uni ou bidimensionais, associando o pluralismo,
mente restringida ao espaço europeu, nomeadamen- por exemplo, apenas ao grau de aceitação de vizi-
te ao mais rico, e à imigração qualificada aí existente. nhos com credos diferentes.
Por outro lado, ainda vem sendo difícil documentar
os efeitos positivos globais da diversidade (Ottavia- Em suma, consideramos pertinente juntar o melhor
no & Peri, 2006). Com efeito, salvo algumas exce- dos dois modelos. Por um lado, embebermo-nos no
ções gerais (Alesina, Harnoss & Rapoport, 2016), os espírito dos teóricos do pluralismo, pois, por conta
estudos frequentemente apontam para uma correla- do seu interesse derradeiro na vitalidade religiosa,
ção negativa entre diversidade cultural e crescimen- ajudam a entender preliminarmente os efeitos da
to econômico (Alesina et al., 2003; Patsiurko, diversidade na religião. Por outro lado, recorrermos
Campbell & Hall, 2012), instituições e políticas pú- ao modelo metodológico dos teóricos da diversidade
blicas (Easterly & Levine, 1997) ou oferta de bens (especialmente, dos da área econômica), de modo a
públicos (Alesina, Baqir & Easterly, 1999). conseguirmos sistematizar, categorizar e quantificar
a diversidade cultural.
De fato, foram construídas muitas medidas de
quantificação da diversidade, como os índices de
fracionalização (Alesina et al., 2003; Patsiurko,
Campbell & Hall, 2012), diversidade cultural (Fearon, Comentário final
2003; Audretsch, Dohse & Niebuhr, 2010), diversida-
de populacional (Alesina, Harnoss & Rapoport, 2016) Neste espaço de comentário final, que jamais pode-
e até mesmo um de diversidade religiosa (Johnson & ria ser de conclusão derradeira, há pelo menos três
Grim, 2013). Também foram adotadas muitas fór- elementos essenciais da nossa pesquisa que devem
mulas para sua construção. A mais usada, mas tam- ser sublinhados.
bém mais criticada (por ser determinada pela por-
centagem do grupo dominante), é a Herfindahl- O primeiro, e talvez o mais latente, é que a diversi-
Hirschman, sobre a concentração do mercado [17]xvii. dade cultural é provavelmente o principal desafio
Complementarmente tem-se recorrido ao índice de que os processos atuais da modernidade colocam às
Theil sobre a diversidade cultural [18]xviii, de modo a tradições e comunidades religiosas. Essa posição
medir-se, com maior amplitude, a porcentagem e a pode-se basear em diferentes modelos epistemoló-
variedade de culturas existentes em uma certa socie- gicos. Por um lado, um mais empírico – que consi-
dade ou região [19]xix. dera a evolução dos níveis de crescimento populaci-
onal e as novas dinâmicas migratórias globais, anali-
Não obstante o refinamento teórico e metodológico sando suas consequências nas vidas culturais, religi-
em torno dos efeitos da diversidade nas várias esfe- osas ou étnicas das diferentes regiões –; por outro
ras da vida social, os autores parecem negligenciar a lado, um mais teórico – que acompanha a evolução
questão religiosa. Como pudemos atestar e tanto das reflexões e conceptualizações sobre o religioso à
quanto sabemos, não existem estudos que correlaci- luz dessa característica permanente, com tendência crescen-
onem a diversidade cultural com a religiosidade. Os te, das sociedades hodiernas designada de diversidade.
estudos que fazem esta aproximação, como os, já Qualquer que seja a linha epistemológica seguida,

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consideramos que os investigadores sociais não só surar o que é tão densamente discutido nos debates
concluirão que a diversidade é uma marca indelével científicos podem ser bons indicadores para se res-
da modernização, mas também, sobretudo, julgarão ponder finalmente à nossa pergunta de partida.
metodologicamente útil considerar essa nova grelha Acreditamos que a mudança no rumo das pesquisas
analítica em suas análises sobre o lugar da religião atuais (que olhem para a diversidade cultural) e a
(declínio, mutação ou crescimento do seu significa- procura por categorias de análise mais atuais, neu-
do social e individual?) nas sociedades modernas. trais (como a diversidade) e sofisticadas (que englo-
bem elementos empíricos estatísticos) serão respon-
O segundo, talvez o metodologicamente mais im- sáveis por ganhos epistemológicos na resposta à
portante, é a opção pelo conceito de diversidade ao questão sobre que processos da modernidade, se é
invés do de pluralismo ou de seus derivados. Com que algum, é capaz de explicar ou prever as desloca-
efeito, ao se pretender descrever analiticamente o ções ou mutações do religioso nas sociedades hodi-
nível de heterogeneidade de uma determinada soci- ernas.
edade, a noção de diversidade é a mais adequada. O
fato de operar essencialmente ao nível analítico-
descritivo torna-o em um objeto conceptual mais
neutral e metodologicamente mais pacífico. Isso é
particularmente pertinente para os investigadores
preocupados com a situação do religioso em condi-
ções modernas, porque lhes permite contornar
eventuais vieses ou dogmatismos científicos, habitu-
almente, associados ao debate sobre a secularização
ou sobre a reversão dos seus fenômenos.

Por fim, talvez o contributo mais original deste arti-


go – pelo fato de ainda não terem sido desenvolvi-
dos estudos empíricos sobre este fenômeno com
impactos sociais que se especulam serem profundos
– seja o fato de ajudar a lançar as bases para a cons-
trução de um índice de diversidade que possa ser
eventualmente correlacionável com outras medidas
de religiosidade. Sugerimos a análise da diversidade
cultural através de quatro dimensões teóricas: etnia,
língua, religião e local de nascimento. Essas dimen-
sões poderão ser edificadas com o recurso a diferen-
tes bases de dados, como aquelas usadas por muitos
dos autores citados ao longo do texto: European Soci-
al Survey, Organização para a Cooperação e Desen-
volvimento Económico, Encyclopædia Britannica,
Ethnologue - Languages of the World ou World Directory of
Minorities and Indigenous Peoples.

O reconhecimento da relevância e utilidade do con-


ceito de diversidade, a aceitação de novas grades
analíticas, como a diversidade cultural, e a vontade
dos pesquisadores para criar novos instrumentos
que, do modo mais imparcial possível, possam men-

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A religião à luz da diversidade cultural

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A religião à luz da diversidade cultural

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[1]i Apoiado pela FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Yang, F. (2014). “Response by Fenggang Yang: Agency- (Portugal) (Referência/SFRH/BD/107762/2015).
driven secularization and Chinese experiments in
[2]ii O conceito de religião aqui empregue deve ser entendido à
multiple modernities”. In P. Berger (aut.). The Many
luz das reflexões de Moniz (2018). A expressão religião deve,
Altars of Modernity: Toward a Paradigm for Religion in a portanto, ser entendida como uma preferência, emoção, fé
Pluralist Age. Boston/Berlim: De Gruyter, PP. 123- e ação individual relativa a uma crença, existente ou auto-
140. construída, em uma ou várias entidades transcendentes. As-
sim sendo, o substantivo religiosidade, bem como o adjetivo
Zaleski, P. A., Zech, C. (1995). “The effect of religious religioso devem aqui ser entendidos como algo pertencente
market competition on church giving”. Review of Social ou relativo à religião.
Economy, 53, pp. 350-367.
[3]iii Com o termo modernização queremos descrever os proces-
sos de desenvolvimento das economias industriais, das mí-
dias de massa, nomeadamente suas evoluções tecnológicas,
e suas consequências. Assim sendo, modernização se refere
ao ato ou efeito de se tornar moderno, enquanto modernidade
é empregue para explicitar um estado ou qualidade do que é
moderno.

[4]iv Nosso estudo estará maioritariamente centrado nessa regi-


ão e em seus desenvolvimentos regionais ao nível das mi-
grações e de suas consequências para a religiosidade tradici-
onal.

[5] v Berger (2014) diz-nos, por exemplo que a experiência do


pluralismo existiu em diferentes formas ao longo da histó-
ria, citando, por exemplo, as culturas da Ásia Oriental ou da
Índia pré-islâmica. Contudo, a Reforma protestante e o
crescimento dos Estados-nação, com regimes tendencial-
mente de separação da religião, é o momento histórico mais
citado. Isso justifica-se pelo fato de a Reforma ter destruído
o monopólio da cristandade ocidental e ter permitido a cri-
ação e coexistência territorial de um pluralismo religioso.
Taylor (2007) cita ainda a invenção do humanismo exclusi-
vo, no século XVIII, com um fator que abre uma nova si-
tuação de pluralismo, multiplicando as perspectivas do
mundo em todas as direções (religiosa ou não religiosa).
Mesmo que seja muito anterior ao século XXI, o pluralismo
(religioso) é hoje, mais do que nunca, – pela globalidade,
velocidade e capacidade de penetração dos processos da
modernização –, incontornável para a compreensão do ce-
nário religioso contemporâneo.

[6]vi Essa é uma revisão relativamente ao argumento original de


Berger (1990 [1967]). Na década de 1960, o autor conside-
rava, inversamente, que a secularização, por conta da des-
monopolização das tradições religiosas, levava a uma situa-
ção de pluralismo e não o contrário.

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Desenvolvimento e Sociedade | n.º 5 Dezembro 2018
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[7]vii Uma das principais consequências será o crescimento e a [14]xiv Não obstante os termos pluralidade e diversidade possam
disseminação do islã, acima de qualquer outra religião no descrever, sinonimamente, situações de heterogeneidade
mundo. Isso será particularmente evidente na Europa, on- cultural, de modo a evitar eventuais perturbações de senti-
de, de acordo com as previsões, se espera que a comunida- do, optamos pelo termo diversidade. O recurso exclusivo à
de muçulmana venha a compor 10% do total da população. diversidade é, de acordo com Beckford (2010), mais pruden-
te, porque o vocábulo pluralidade, se colocado noutro con-
[8] viii Outra das consequências da contaminação cognitiva é o texto (por exemplo, no campo eleitoral), pode ter um signi-
fundamentalismo. Para Berger (2014), o fundamentalismo ficado totalmente diferente.
balcaniza as sociedades e condu-las a um conflito constante
ou à coerção totalitária. [15]xv Doravante, sempre que nos referirmos ao conceito diversi-
dade, isso será feito à luz da ideia de diversidade cultural. Salvo
[9]ix Excluímos aqui Steve Bruce, porque continua a considerar, quando indicarmos o contrário.
de forma clara e sistemática, que as consequências da secu-
larização serão sentidas, primeiramente, nas sociedades que [16]xvi Isso sucede, provavelmente, porque a dimensão religiosa
possuam um grau de pluralismo mais considerável. não parece ter correlação com a variável dependente que
muitos dos autores citados, especialmente interessados em
[10] x David Martin (1978) pode ser considerado como uma questões econômicas, estipulam para seus estudos.
exceção. Com efeito, o autor não assume que o pluralismo
tem um efeito unívoco (positivo ou negativo) na religião. [17]xvii É uma medida econômica que pretende medir, sobretu-
Pelo contrário, ele defende que o pluralismo, mediante o do, a concentração de grupos empresariais. Ou seja, mede o
seu grau de incidência, pode levar a vários cenários religio- tamanho das empresas relativamente à sua indústria, sendo
sos. um indicador do grau de competição e concentração do
mercado.
[11]xi A crítica de Voas, Olson e Crockett parece-nos um pouco
excessiva, nomeadamente por desconsiderar na totalidade [18]xviii Este índice é normalmente utilizado para medir a distri-
qualquer relação estatística entre as duas variáveis, desmere- buição de renda. No entanto, neste contexto, os autores
cendo a escolha de casos e os fundamentos que subjazem à medem-na através da média ponderada de cada grupo étni-
escolha das variáveis. No limite, nenhuma correlação pode- co sobre o total da população. Ou seja, à medida que a di-
ria ser aceite, se não conseguisse provar a total universali- versidade aumenta, equitativamente, o índice também cres-
dade dos seus resultados. Embora entendamos a preocupa- ce.
ção dos autores quanto à seleção dos casos de estudo e às
variáveis dependentes e independentes, não consideramos [19]xix Existem ainda outras medidas, por exemplo, o índice de
que “toda a discussão [em torno do pluralismo] tem de ser Shannon-Weaver que também permite medir a diversidade
reavaliada (...), porque agora é suspeita” (Voas, Olson e através de dados categóricos. Ou seja, dados resultantes do
Crockett 2002, 218). Além disso, não nos parece comple- exame de variáveis categóricas – identificam para cada caso
tamente correta a associação que os autores fazem entre os uma categoria. É um índice muito usado na literatura sobre
seus resultados e os trabalhos de Christiano (1987), Zaleski ecologia. Mas ainda o índice de Simpson que deu origem ao
e Zech (1995) e Perl e Olson (2002). Não obstante a afir- de Herfindahl-Hirschman, medindo igualmente o nível de
mação de Voas, Olson e Crockett de que as investigações concentração dos indivíduos quando catalogados por gru-
destes autores não detetam qualquer relação entre o plura- pos. Todavia, nenhuma destas fórmulas tem sido atualmen-
lismo e o compromisso religioso, os seus estudos, mesmo te utilizada para criar índices de diversidade.
que de forma não muito explícita, mostram não só que o
pluralismo tem influência em determinados contextos reli-
giosos, mas também que ele e a consequente competição
religiosa podem conduzir a maior empenho religioso (no-
meadamente através das doações às igrejas e comunidades
religiosas).

[12]xii Esses conceitos estão, considerando os autores aqui estu-


dados, normalmente associados à questão religiosa. Contu-
do, seu significado e sua distinção podem ter um alcance
mais amplo e é nesse sentido que serão analisados de segui-
da.

[13]xiii Trabalharemos esse conceito e suas múltiplas e mútuas


relações dimensionais na próxima seção.

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