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ELABORAÇÃO E

IMPLEMENTAÇÃO
DE POLÍTICAS
PÚBLICAS

Guilherme Corrêa
Gonçalves
Revisão técnica:

Luciana Bernadete de Oliveira


Graduada em Ciências Políticas e Econômicas
Especialista em Administração Financeira
Mestre em Desenvolvimento Regional

E37 Elaboração e implementação de políticas públicas / Guilherme


Corrêa Gonçalves ... [et al.] ; [revisão técnica: Luciana
Bernadete de Oliveira]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
324 p. il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-194-5

1. Políticas públicas. I. Gonçalves, Guilherme Corrêa.

CDU 304

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094


UNIDADE 4
Tributação sobre
patrimônio e renda
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar os principais tributos de patrimônio e renda.


 Examinar os atores e as coalizações envolvidos nos debates e nas
decisões sobre a tributação de patrimônio e renda.
 Relacionar a tributação de patrimônio e renda com o financiamento
de políticas públicas.

Introdução
O assunto tributação gera inúmeras controvérsias, pois é por meio dela
que o Estado retira recursos para se manter e executar suas funções. Por
outro lado, para os cidadãos e as organizações, os tributos representam
um custo ou uma despesa presente na quase totalidade das suas ativi-
dades diárias. Dessa forma, os tributos ocupam lugar central nos campos
político, econômico e social.
Essa presença, na vida dos cidadãos e das organizações e como
um elemento incontornável do Estado, mobiliza interesses e reações
das mais diversas. No caso do Brasil, o sistema tributário estabelecido
pela Constituição Federal (CF), de 1988 (BRASIL, 1988), mostrou os seus
problemas e limites e começou a ser fortemente contestado, espe-
cialmente a partir da primeira metade dos anos de 1990, quando a
tributação passou a ser a principal fonte de controle da inflação e de
equilíbrio do orçamento. Contudo, os resultados da utilização da tribu-
tação como um instrumento de estruturação da economia ensejaram
pedidos e reivindicações de diferentes atores, ao mesmo tempo em
que prosseguiam com as reformas estruturais do Estado, os diferentes
184 Tributação sobre patrimônio e renda

governos que se sucederam apresentaram diversas tentativas de re-


forma tributária (LUKIC, 2012).
Contudo, os conflitos de interesses, as mudanças de governos e a
complexidade dos temas abordados impediram a votação dos projetos
de reforma. Apesar disso, a questão não saiu das arenas de debates e das
agendas dos atores envolvidos na causa. Isso torna necessário o conhe-
cimento sobre os tributos, os principais atores envolvidos nos debates
e a relação da tributação com o financiamento de políticas públicas.
Conforme Lima (1999), o sistema tributário brasileiro é considerado
caro, complexo, e, em muitos aspectos, ineficiente, apesar de ter a maior
carga tributária da América Latina, próxima de 30% do PIB. Além disso,
neste texto, você verá que há várias espécies tributárias, entre elas impos-
tos, contribuições sociais, contribuições econômicas, taxas e contribuições
de melhoria, presentes nas três esferas de governo.

Tributação de patrimônio e renda


No Brasil, os tributos podem ser classificados quanto à categoria econômica
sobre a qual eles recaem, ou seja, os chamados fatos geradores tributários como:

 Renda: tudo aquilo que se aufere pela realização do trabalho.


 Patrimônio: propriedade de bens (móveis e imóveis).
 Atividade econômica: circulação de riquezas.

O Capítulo III do Código Tributário Nacional (CTN) trata, especificamente,


dobre os impostos sobre o patrimônio e a renda (BRASIL, 1966):

 Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) (art. 29): de


competência da União, tem como fato gerador a propriedade, o domínio
útil ou a posse de imóvel fora da zona urbana do Município.
 Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial e Urbana (IPTU)
(art. 32): é cobrado pelo município, anualmente, e com alíquotas variá-
veis de acordo com características do imóvel, localização e valor venal.
 Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer
Bens ou Direitos (ITCD) (art. 35): é um tributo cobrado pelo estado,
tendo alíquota média de 8% do valor da herança ou da doação.
 Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA): não
previsto no CTN, mas nas legislações estaduais, é um tributo estadual,
Tributação sobre patrimônio e renda 185

cobrado anualmente, com alíquota variável de acordo com o modelo e


o valor venal do automóvel.
 Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) (art. 43): de competência
da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza. Tem como
fato gerador a renda do trabalho, de proventos de qualquer natureza,
acréscimos patrimoniais, independente da denominação da receita ou
do rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da
fonte, da origem e da forma de percepção.
 Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) (Lei nº 9.430/1996):
determinado com base no lucro real, presumido, ou arbitrado, por
períodos de apuração trimestrais, encerrados nos dias 31 de março, 30
de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro de cada ano-calendário.

Em 2016, conforme dados do Tesouro Nacional, a arrecadação bruta no


Brasil foi de R$ 1.986.405 milhões, da qual correspondem à arrecadação
de patrimônio e renda, por parte do Governo Federal, os seguintes valores
(BRASIL, c2017):

 R$ 1.126 milhões de ITR.


 R$ 66.760 milhões de Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL).
 R$ 204.066 milhões na soma do IRPF e do Imposto de Renda Retido
na Fonte (IRRF).
 R$ 131.181 milhões de IRPJ.
 R$ 33 milhões de Impostos de Capital (IC).
 Total da tributação federal de patrimônio e renda: R$ 403.166
milhões (20,3% da arrecadação total).

Por parte dos Governos Estaduais, a arrecadação de tributos de patrimônio


e renda apresentou os seguintes valores (BRASIL, c2017):

 R$ 36.389 milhões de IRRF.


 R$ 37.958 milhões de IPVA.
 R$ 1.094 milhões de IPTU.
 R$ 6.928 milhões ITCD.
 Total da tributação de patrimônio e renda dos Estados: R$ 82.369
milhões (4,15% da arrecadação total).

Por fim, os Governos Municipais arrecadaram com a tributação de patri-


mônio e renda os seguintes valores (BRASIL, c2017):
186 Tributação sobre patrimônio e renda

 R$ 15.466 milhões de IRRF.


 R$ 15.826 milhões de IPTU.
 R$ 178 milhões de Contribuições de Melhoria referentes à tributação
de capital.
 Total da tributação de patrimônio e renda dos Municípios:
R$ 31.470 milhões (1,6% da arrecadação total).

Os dados apresentados não computam os repasses que, na técnica orça-


mentária, são considerados despesas. O cômputo dos valores considera apenas
as respectivas arrecadações de receitas. Ao analisá-las é possível observar
que os tributos de patrimônio e renda representam quase a metade da carga
tributária, cuja maior parte fica com o Governo Federal. No entanto, não apenas
essa, mas muitas outras observações podem ser feitas com base nos números
apresentados, os quais ensejam um debate acerca desse tipo de tributação e
seus efeitos políticos e econômicos.

Discussão teórica sobre os tributos de


patrimônio e renda
A questão tributária é fonte de inúmeros debates, no Congresso Nacional e
entre o governo e os partidos políticos, entre os quais há uma verdadeira arena
de discussões. Mobilizações e coalizões são formadas ao redor do tema, com
uma heterogenia de atores homogêneos, com diferentes valores, reivindicações
e interesses, como organizações econômicas ligadas às empresas, movimen-
tos sociais, Organizações não Governamentais (ONGs), sindicatos, igrejas,
partidos políticos, membros da administração pública, experts, intelectuais e
organismos internacionais (LUKIC, 2012).
Por exemplo, como destaca Lima (1999) o imposto de renda (IR) foi consi-
derado, por muito tempo, superior a outros impostos, principalmente do ponto
de vista do respeito à capacidade contributiva, pois a renda de um indivíduo é
facilmente observável, e é relativamente fácil estabelecer uma progressividade
de alíquotas. No entanto, esse imposto passou a ser questionado nos últimos
anos, pelo argumento de que seria inferior a impostos sobre consumo, do ponto
de vista de eficiência, e por permitir gerar o efeito-substituição, fazendo as
pessoas trabalharem menos, dependendo das alíquotas marginais. Isso pode
ocorre porque o lazer, após o imposto, torna-se mais barato, conforme afirmado
por Lima (1999). Leia o texto do box “Exemplo” a seguir para entender um
pouco mais esse argumento.
Tributação sobre patrimônio e renda 187

Um cidadão tem dois empregos (um técnico que dá aulas à noite, por exemplo) e
recebe R$ 3.000,00 pelo primeiro e R$ 1.000,00 pelo segundo, supondo-se a não
existência de impostos. Já no caso de uma alíquota de imposto de renda de 20%
sobre os rendimentos iguais ou maiores do que R$ 3.000,00 mensais e de 30% sobre
os rendimentos iguais ou maiores do que R$ 4.000,00, teríamos o seguinte:

Sem impostos Com impostos Imposto pago

Total de rendimentos R$ 3.000,00 R$ 2.400,00 R$ 3.000,00


(1 emprego) × 20%
R$ 600,00

Total de rendimentos R$ 4.000,00 R$ 2.800,00 R$ 4.000,00


(2 empregos) × 30%
R$ 1.200,00

Quer dizer, o mesmo cidadão levaria para casa, R$ 2.800,00 pelos dois empregos.
Nesse caso, se não houvesse o imposto, a troca da atividade remunerada por uma
de lazer lhe custaria muito caro, já que teria de abrir mão de R$ 1.000,00 de renda. Já
com a incidência do imposto, seu lazer lhe custaria menos, pois a renda de que teria
de abrir mão seria de apenas R$ 400,00. Assim, após o imposto, haveria um incentivo
a trabalhar-se menos e adquirir mais lazer.
Fonte: Adaptado de Lima (1999).

Com relação à tributação da propriedade, conforme Lima (1999), alguns


tributaristas têm defendido uma ampliação da tributação da propriedade sob
o argumento de que, em tempos de alta mobilidade de capitais e de pessoas,
essa seria uma base mais facilmente tributável, por ser menos móvel. No en-
tanto, a inelasticidade da oferta de imóveis em curto prazo diminuirá o preço
do ativo após o imposto, para manter a mesma taxa de retorno de antes do
imposto. Em longo prazo, entretanto, a oferta de imóveis cairá porque o seu
baixo preço não compensará o custo de construção. A menor quantidade de
imóveis disponíveis fará que seu preço volte a subir, até compensar novamente
a construção.
188 Tributação sobre patrimônio e renda

Suponha que em um determinado município, que não cobra imposto sobre a pro-
priedade, os proprietários conseguem extrair um rendimento líquido de 10% ao
ano. Assim, um imóvel de R$ 100 mil, alugado por R$ 10 mil anuais, tem uma taxa
de retorno de 10%. O governo estabelece um tributo sobre a propriedade de 2% ao
ano (R$ 2.000,00). Se o preço não se alterasse, o retorno líquido dessa propriedade
seria de 8%. O efeito capitalização ocorreria porque o mercado equalizaria a taxa de
retorno, ao fazer o preço do imóvel cair até o ponto em que a taxa de retorno fosse
de 10%. Com a nova rentabilidade, muitos investidores preferirão adquirir imóveis
em municípios com menores alíquotas, o que diminuirá, em longo prazo, a oferta de
imóveis no município com alíquota mais alta. Além disso, a propriedade imóvel pode
ser substituída por outros ativos de investimentos. Assim, em longo prazo, cai a oferta
de imóveis (LIMA, 1999).

Atores e coalizões do debate


Agora que alguns exemplos de debates foram apresentados, pode-se avançar
na identificação dos principais atores e coalizações que debatem o tema da
tributação de patrimônio e renda no Brasil. Como destaca Lukic (2012), as
questões fiscais e tributárias mobilizam diferentes atores e criam um forte
debate público sobre o tema. Esses atores se reúnem em torno de diferentes
coalizões, nas quais se destacam a econômico-desenvolvimentista – formada,
principalmente, por atores ligados a empresas e indústrias – e a sócio-distri-
butiva – cujos membros são atores ligados a movimentos sociais, sindicatos
e órgãos de classe, partidos e intelectuais de esquerda, entre outros.
Cada uma dessas coalizões é portadora de um sistema de crenças e apre-
senta ideias, interesses e estratégias específicas e muito distintas, procurando
dominar o debate e influenciar o poder político a tomar decisões favoráveis
as suas reivindicações. É interessante observar que essas duas coalizões se
aproximam de duas teorias elaboradas ao longo da história para legitimar o
imposto e para justificar a sua função: a teoria do imposto-troca, de essência
liberal, e a teoria do imposto-solidariedade, de essência comunitarista.
A teoria do imposto-troca provém das correntes contratualistas (com Hobbes,
Locke, Rousseau e Montesquieu) e considera a tributação como uma parte inte-
grante da economia geral e os contribuintes como clientes. A teoria do imposto-
-solidariedade considera a tributação como necessária para o estabelecimento
de uma relação social fundamentada sobre a ideia de solidariedade, baseada
Tributação sobre patrimônio e renda 189

na ideia de que é necessário repartir corretamente as riquezas para evitar os


disfuncionamentos da sociedade e redistribuir os rendimentos para assegurar
o processo de socialização. Essa abordagem conduz a uma consideração de
que os contribuintes devem pagar de acordo com a sua capacidade econômica.
Resumidamente, a busca pela legitimação da tributação no curso dos
dois últimos séculos foi marcada pela tensão entre essas duas representações
opostas, que chegam, algumas vezes a coexistirem juntas, mas podem ser
mais ou menos presentes de acordo com o momento histórico.
Quanto ao caso específico do Brasil, os principais atores da chamada
coalizão econômico-competitiva são:

 Confederações, federações, associações e sindicatos de empresas e de


indústrias, entre os quais a Confederação Nacional de Indústrias (CNI),
a Confederação Nacional do Comércio (CNC), a Confederação das
Associações do Comércio e das Empresas do Brasil (CACB), a Con-
federação da Agricultura do Brasil (CNA) e a Confederação Nacional
das Instituições Financeiras (CNF).
 Federação Brasileira das Associações dos Bancos (FEBRABAN),
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Associação
Comercial de São Paulo (ACSP), Grupos Gerdau e Votorantin.
 ONGs como a Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE)
e Ação Nacional pela Justiça Tributária formadas por organizações,
associações e sindicatos ligados às empresas.

Já a coalizão sócio-distributiva é formada principalmente por movimentos


sociais e populares de base, ONGs, sindicatos e associações de trabalhadores,
alguns setores da igreja católica, líderes e partidos de esquerda, uniões de
estudantes, entre outros atores que podem ser divididos em dois grupos: os
que têm uma participação mais ativa e que apresentam posições e propostas
específicas sobre a tributação; e os que não enquadram as questões sobre a
tributação em um lugar central das suas ações, mas que apoiam as propostas
dos atores mais engajados no momento de manifestações (LUKIC, 2012).
Assim, no primeiro grupo podem-se enumerar os seguintes atores (LUKIC,
2012):

 O Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC): organização não


governamental cujo objetivo anunciado é o fortalecimento da sociedade
civil e a ampliação da participação social em espaços de deliberação
de políticas públicas, por exemplo, a reforma fiscal.
190 Tributação sobre patrimônio e renda

 O Programa Justiça Econômica – Dívidas e Direitos Sociais: uma


parceria entre ONGs e entidades da Igreja Católica para dar apoio ao
desenvolvimento social no mundo, com objetivo geral de fortalecer
a necessária justiça econômica no Brasil, garantindo e ampliando os
direitos sociais.
 Sindicatos e organizações de trabalhadores, como as centrais sindicais,
federações, sindicatos e associações de funcionários como: Federação
Nacional do Fisco Estadual e Distrital (FENAFISCO), Federação Na-
cional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (FENAFISP),
Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil
(UNAFISCO), Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita
Federal do Brasil (ANFIP), etc.
 O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o Via-Campesina
Brasil, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Associação Brasileira
das ONG (ABONG), o Fórum Brasileiro de Economia Solidária, a Rede
Social de Justiça e Direitos Humanos, a União Nacional dos Estudan-
tes (UNE) e o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
(IBASE).
 Setores da Igreja católica e evangélica, principalmente membros do
Conselho dos Religiosos do Brasil (CRB), “a Caritas” do Brasil e a
Igreja Universal.

Estas coalizões apresentam como princípios gerais e valores a defesa de um


Estado mais regulador, que leva a cabo as políticas sociais e de redistribuição
e que participa de uma maneira ativa na diminuição das desigualdades sociais.
Em outros termos, afirma que os recursos do Estado (principalmente os pro-
cedentes da tributação) devam ser gastos em políticas públicas para beneficiar
a maioria da população, principalmente a mais pobre (LUKIC, 2012).

Políticas públicas e tributação de patrimônio e


renda
O art. 145, § 1º, da CF (BRASIL, 1988), diz que sempre que possível, os
impostos terão caráter pessoal e serão graduados, segundo a capacidade
econômica do contribuinte. Ou seja, está exposto na Carta Constitucional
que a capacidade contributiva deve estabelecer a isonomia entre os diferentes
rendimentos, tratando diferentemente os desiguais. Dessa forma, os impostos
sobre patrimônio e renda têm, ou deveriam ter, como uma de suas finalidades,
Tributação sobre patrimônio e renda 191

a redistribuição de renda por meio de uma tributação crescente, conforme


aumenta a renda e o patrimônio do contribuinte.
Avila e Conceição (2016), com base nos dados da Receita Federal e do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstram, como você
pode observar por meio da análise das Figuras 1 e 2, que 13% da população
declarou um patrimônio à Receita Federal 29,4 vezes maior do que a média
de patrimônio total das declarações.
Em termos internacionais, as pessoas 50% mais pobres obtêm, aproxi-
madamente, 4% da riqueza em países menos desiguais, como a França, por
exemplo. Os 10% dos franceses mais ricos possuíam 62% da riqueza em 2011.
No Brasil, os 50% mais pobres possuem 2% do patrimônio dos brasileiros. Os
pesquisadores apontam, ainda, que os impostos sobre renda e sobre patrimônio
no Brasil são mais baixos do que a média dos demais países verificados.

Figura 1. Declaração de bens diretos na declaração de pessoa física – Brasil, 2012.


Fonte: Brasil (2013).
192 Tributação sobre patrimônio e renda

Figura 2. Relação entre o valor dos bens por faixa de declaração e a média patrimonial
total declarada.
Fonte: Avila e Conceição (2016).

Também reforçam este argumento, Orair e Gobetti (2016), ao demonstrar


que um décimo do “[...] brasileiro mais rico concentra cerca de metade da renda
das famílias brasileiras (52%), o centésimo mais rico detém algo próximo a um
quarto (23,2%) e o milésimo mais rico chega a um décimo (10,6%).”. Isso se
deve, em parte, à pouca progressividade dos tributos de propriedade e renda.
Em média, os 0,05% mais ricos pagam menos imposto, proporcionalmente
à sua renda, do que as cerca de 4 milhões de pessoas. A raiz dessa distorção
está nos benefícios tributários concedidos aos rendimentos da propriedade
do capital. Cerca de um quarto dos rendimentos no topo da distribuição,
principalmente aplicações financeiras, são inferiores às médias de alíquotas
progressivas que incidem sobre os salários e, adicionalmente, são isentos os
lucros e os dividendos distribuídos pelas empresas a seus sócios e acionistas.
Entre os 34 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), que reúne economias desenvolvidas e algumas em de-
senvolvimento, que aceitam os princípios da democracia representativa e da
economia de livre mercado, apenas a Estônia ainda concede total isenção
tributária à principal fonte de renda dos mais ricos (ORAIR; GOBETTI, 2016).
Em suma, os benefícios tributários aos rendimentos do capital, entre outras
assimetrias, contribuem para que o Brasil possua uma das maiores, senão a
maior, concentração de renda no topo da distribuição entre todos os países
Tributação sobre patrimônio e renda 193

do mundo e, consequentemente, prejudica uma importante política pública,


que é a redução da desigualdade social, prevista no inciso III, do art. 3º, da
CF (BRASIL, 1988), que diz explicitamente que “[...] constituem objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil, erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.”.

1. No Brasil, os tributos podem 3. As questões fiscais e tributárias,


ser classificados segundo o especialmente a tributação sobre
fato gerador tributário, ou seja, patrimônio e renda, mobilizam
conforme a categoria econômica diferentes atores e criam um
sobre o qual eles recaem. Assim, é forte debate público sobre o
correto afirmar que: tema. Esses atores se reúnem em
a) renda tem como fato gerador torno de diferentes coalizões,
o recebimento pelo trabalho. nas quais se destacam duas
b) renda se dá de tudo delas. Uma dessas coalizões
aquilo que se aufere pela está identificada em:
circulação de riquezas. a) Coalizão sócio-
c) patrimônio tem como desenvolvimentista, ligada
fato gerador a compra e às empresas e indústrias.
venda de propriedades. b) Coalização sócio-distributiva,
d) patrimônio tem como fato ligada a sindicatos e
gerador o auferimento de movimentos sociais.
rendimentos pelo trabalho. c) Coalizão econômico-distributiva,
e) atividade econômica tem como ligada às empresas e indústrias.
fato gerador a propriedade d) Coalização econômico-
de bens móveis e imóveis. desenvolvimentista, ligada a
2. O Código Tributário Nacional (CTN) sindicatos e movimentos sociais.
estabelece os Impostos sobre o e) Coalização sócio-distributiva,
Patrimônio e a Renda, no entanto, ligada às empresas e indústrias.
há um imposto dessa natureza 4. Assinale a alternativa que
que não está especificamente apresenta apenas impostos sobre
previsto no CTN (BRASIL, 1966). patrimônio e renda.
Assinale a alternativa que identifica a a) IPVA, ICMS e ITCD.
sigla desse imposto. b) IPI, IPVA e ICMS.
a) ITR. c) ITCD, ITR e IPTU.
b) IPTU. d) IPVA, ITR e IPI.
c) ITCD. e) IRPF, IRPJ e ICMS.
d) IRPF. 5. Assinale a alternativa
e) IPVA. correta sobre o IPTU.
194 Tributação sobre patrimônio e renda

a) Não pode ter alíquotas d) Costuma ter alíquotas


progressivas, pois a ele progressivas em razão da
não cabe o princípio da localização e da destinação
capacidade contributiva. do imóvel, submetendo-se
b) O seu valor depende e é ao princípio da capacidade
determinado pelo valor contributiva.
da venda do imóvel. e) Poderá ter alíquotas progressivas
c) Admite cobrança pela em razão da capacidade
União, de acordo com o contributiva da renda do
valor venal do imóvel. proprietário do imóvel.

AVILA, R. I.; CONCEIÇÃO, J. B. Teorias distributivas e a desigualdade no Brasil. Revista


Brasileira de Sociologia, Porto Alegre, v. 4, n. 7, jan.-jun. 2016.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
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BRASIL. Ministério da Fazenda. Carga tributária no Brasil. Brasília, DF, c2017. Disponível
em: <http://idg.receita.fazenda.gov.br/dados/receitadata/estudos-e-tributarios-e-
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BRASIL. Ministério da Fazenda. Carga tributária no Brasil: 2012. Brasília, DF, 2013. Dispo-
nível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/publico/estudoTributarios/estatisticas/
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BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Brasília, DF, 1966. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172.htm>. Acesso em: 10 out. 2017.
LIMA, E. C. P. Reforma tributária no Brasil: entre o ideal e o possível. Brasília, DF: IPEA, 1999.
LUKIC, M. S. R. A tributação no Brasil analisada a partir da abordagem cognitiva de
políticas públicas. Revista Ética e Filosofia Política, Juiz de Fora, v. 1, n. 15, maio 2012.
ORAIR, R. O.; GOBETTI, S. W. Progressividade tributária: uma alternativa para o ajuste
fiscal. Boletim Regional, Urbano e Ambiental, Brasília, DF, v. 13, jan.-jun. 2016.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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