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PRELIMINARMENTE
I - DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA.
A Parte Autora manifesta interesse pela adesão ao “Juízo 100% Digital”, conforme
Resolução nº 345, de 09 de outubro de 2020 do CNJ e Art. 2º, § 1º do Ato Normativo Conjunto nº
32, de 14 de dezembro de 2020 do TJBA.
A legislação processual civil pátria dispõe que, para propor ou contestar ação, é
necessário ter interesse e legitimidade (art. 3º do CPC). Neste azo, a Autora vem informar que,
apesar da conta contrato não estar em seu nome, a mesma possui a posse e propriedade do
imóvel, tendo em vista que adquiriu esta por meio de contrato de compra e venda em março de
2022, conforme documento acostado aos autos.
Posto isto, presentes a legitimidade e o interesse de agir da autora diante do dano sofrido,
concluindo-se no sentido da plena possibilidade do exercício do direito de ação daquela em face
de um terceiro, com o qual não mantenha relação estrita de direito material.
DOS FATOS
Com efeito, como estava com uma bebê sob sua responsabilidade, e diante da dificuldade
em descer 4 andares de escadas com a mesma no colo, procedeu com o envio dos
comprovantes de pagamento das faturas de energia para o whatsapp da portaria do condomínio
e solicitou a gentileza do porteiro que apresentasse os comprovantes para o preposto da ré, com
o fito de impedir a interrupção dos serviços em razão da adimplência. Entretanto, para a sua
desagradável surpresa, não obteve êxito.
A autora, por meio dos porteiros, suplicou que os prepostos da ré não procedessem
com a interrupção da energia, haja vista que a mesma estava com uma bebê e não poderia
ficar sem eletricidade sob nenhuma condição, mas o pedido não foi atendido, mesmo
informando que todas as faturas estavam pagas e mostrando os comprovantes de
pagamento!
Importante destacar que a residência não possui telefone fixo instalado, assim, o aparelho
celular da autora era o único meio de comunicação e o mesmo não se encontrava com a carga
de bateria completa. O desespero de ficar incomunicável era iminente!
Com efeito, no mesmo dia, ao entrar em contato com o 0800 071 0800 da referida
empresa, a autora solicitou a religação de emergência, gerando nota de serviço de n.º
5011367058. Neste momento, foi informada de que em até 24h, ou seja, no dia seguinte, uma
equipe de urgência estaria em seu domicílio para religar sua energia. O que não aconteceu.
Mais uma vez a autora ligou para a ré, gerando n.º de protocolo 20230216006644241,
sendo atendida pela preposta Larissa. Dessa vez, a representante da ré pediu novo prazo de
24h para religação. Que – obviamente – não foi cumprido.
Em 17/02/2023 a autora procedeu com novo pedido de religação. Dessa vez sendo
atendida pela Ester, que passou para Luan, gerando protocolo de n.º 8154196333. Ambos
pediram novo prazo de 24h para religação.
Ressalta-se, novamente, que no meio deste imbróglio havia uma bebê de apenas 1
ano de idade, totalmente dependente, que foi submetida a humilhante situação de se
alimentar com uma mamadeira de mingau FRIO pois não havia como a autora aquecer o
seu leite, devida a negligência da ré em proceder IMEDIATAMENTE com a religação da
energia elétrica da consumidora!
Cabe salientar aqui que, de acordo com a Resolução Normativa Nº 414, de 9 de setembro
de 2010 da ANAEEL - Agência Nacional De Energia Elétrica, a religação em caráter de urgência
deve ocorrer em ATÉ quatro (04) horas a partir da solicitação, conforme abaixo:
Revoltada, a autora deixou sua residência em 20/02/2023, MAIS DE 120 HORAS após a
interrupção de energia elétrica, em razão da impossibilidade de aguardar mais prazos de 24
horas – que certamente NÃO SERIAM CUMPRIDOS, além de permanecer sem o fornecimento
de eletricidade por mais um dia, dirigindo-se à casa de seus parentes no interior da Bahia para
passar o seu resto de carnaval.
Repise-se que a autora exerce atividades laborais em regime de home office e por conta
da interrupção de energia, a mesma não pôde trabalhar durante três dias seguidos - quarta (15),
quinta (16) e sexta-feira (17) -, lhe prejudicando no seu trabalho e a colocando em uma situação
minimamente vexatória e humilhante perante sua superior hierárquica, quando se viu obrigada a
compartilhar com ela a motivação de não conseguir realizar o seu labor durante os referidos três
dias – doc. anexo.
Vislumbra-se aqui uma total falta de respeito com a consumidora, que se vê obrigada a
aguardar a boa vontade da equipe em realizar a religação de sua energia elétrica, no calor, com
fome, com uma bebê de 1 ano apenas, e sem poder ter uma noite tranquila de descanso, em
pleno feriado de carnaval, onde se consubstancia o verdadeiro dano moral.
Assim, diante dos abalos morais por estar na companhia de um bebê de 1 ano HÁ MAIS
DE 5 DIAS energia elétrica em sua residência, estando com TODAS as contas referente ao
serviço devidamente pagas e do abalo financeiro que, devido à demora na prestação do serviço,
vivenciou com a perda dos alimentos em sua geladeira, em pleno feriado de carnaval, não restou
alternativa senão buscar a tutela jurisdicional do Estado, para ser ressarcida de forma pecuniária
pelos danos morais e materiais sofridos.
DO DIREITO
O art. 37º, § 6º, da Magna Carta, preceitua expressamente a responsabilidade dos entes
prestadores de serviços públicos, in verbis:
“Art. 37. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável
nos casos de dolo ou culpa...”
Assim, a responsabilidade civil das pessoas jurídicas das pessoas de direito privado
prestadoras de serviço público, caso em que se enquadra a empresa ré, baseia-se no risco
administrativo, sendo, portanto, objetiva, bastando que a vítima, ora autora da presente ação,
demonstre o fato danoso e injusto ocasionado por ação ou omissão.
Ressalva-se desde já o verbete de nº. 192, seguido pelo TJRJ, na qual descreve-se
integralmente abaixo:
SÚMULA TJ Nº 192:
Mesmo que não houvesse expressa determinação legal da responsabilidade civil objetiva
da empresa Ré, esta, diante da forma ilegal e injusta com que procedeu ao efetuar o corte de
energia elétrica, teria sua responsabilidade civil prevista no art. 186 do Código Civil, que
prescreve:
Quem tem a luz cortada injustamente experimenta, sem dúvida, dano moral, inclusive, o
Superior Tribunal de Justiça reconhece que o corte do fornecimento de energia elétrica fere a
dignidade da pessoa humana. Não obstante, o corte é admitido em hipóteses excepcionais para
garantir a estabilidade do sistema, porque configura forma indireta de compelir os devedores a
pagar, caso este que, não se adequa ao processo em tela.
O corte do fornecimento de energia, ainda que ocorra por poucas horas, enseja a
reparação do dano moral. Já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo que:
Assim, diante dos abalos morais por estar com uma bebê de 1 ano há mais de CINCO
DIAS sem energia elétrica em sua residência, estando com TODAS as contas referente ao
serviço devidamente pagas e do abalo financeiro que, devido à demora na prestação do serviço,
vivenciou com a perda dos alimentos em sua geladeira, não restou alternativa senão buscar a
tutela jurisdicional do Estado, para ser ressarcida de forma pecuniária pelos danos morais e
materiais sofridos.
a) DO DANO MORAL
O dano moral foi inserido em nossa carta magna no art. 5º, inc. X, da Constituição de
1998:
“Art. 5º:
[...]
X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano moral ou material decorrente dessa violação ...”
Quando se pleiteia uma ação visando uma indenização pelos danos morais sofridos, não
se busca um valor pecuniário pela dor sofrida, mais sim um lenitivo que atenue, em parte, as
consequências do prejuízo sofrido. Visa-se, também, com a reparação pecuniária de um dano
moral imposta ao culpado representar uma sanção justa para o causador do dano moral.
A ilustre civilista Maria Helena Diniz, já preceitua:
A tormenta maior que cerca o dano moral, diz respeito a sua quantificação, pois o dano
moral atinge o intimo da pessoa, de forma que o seu arbitramento não depende de prova de
prejuízo de ordem material.
O dano moral sofrido pela Autora ficou claramente demonstrado, vez que a ligação de
energia do seu imóvel se encontra desligada até o protocolo desta ação, tendo a autora ficando
isolada em seu apartamento durante 5 DIAS esperando a boa vontade da ré em proceder com a
religação da sua energia, em um calor insuportável, na companhia de sua afilhada (uma bebê de
1 ano de idade), em pleno feriado de carnaval, vendo seus alimentos putrefarem em sua
geladeira, sem nada poder fazer e por um motivo alheio a sua conduta.
A teoria do desvio dos recursos produtivos do consumidor deixa claro que o consumidor,
por ficar absolutamente vulnerável e tendo em vista as práticas abusivas por parte das
fornecedoras de produtos e serviços, evidencia que a autora sofreu com a PERDA DE SEU
TEMPO PRODUTIVO, ou seja, o tempo que a mesma teria – tempo esse de um ano – para
outras atividades (seja descansar ou trabalhar) não foi utilizado para o seu devido fim, por um
problema ocasionado NÃO por sua culpa, mas por culpa da empresa.
A doutrina e jurisprudência já entendem pela aplicação da teoria, uma vez que o tempo
produtivo do consumidor não pode ser retirado por um problema causado pela empresa ré. A
empresa deve ser punida por este fato. Mesmo entendendo que não há no Brasil o dano punitivo
(punitive damage), o entendimento é que o dano moral, através da aplicação do desvio produtivo
– referente, também ao dano existencial – seja aplicado.
Conforme exposto acima, a teoria do desvio produtivo vem sendo aplicada de forma
ampla no judiciário brasileiro. O entendimento encontra-se base no fato, como salientado na
explicação anterior a jurisprudência, na perda do tempo útil do consumidor para dirimir
problemas causados pela fornecedora de produto ou serviço.
O presente caso trata-se de relação de consumo, sendo amparada pela lei 8.078/90, que
trata especificamente das questões em que fornecedores e consumidores integram a relação
jurídica, principalmente no que concerne a matéria probatória.
Tal legislação, faculta ao magistrado determinar a inversão do ônus da prova em favor do
consumidor conforme seu artigo 06º, VIII:
Da simples leitura deste dispositivo legal, verifica-se, sem maior esforço, ter o legislador
conferido ao arbítrio do juiz, de forma subjetiva, a incumbência de, presente o requisito da
verossimilhança das alegações ou quando o consumidor for hipossuficiente, poder inverter o
ônus da prova.
d) DA MEDIDA LIMINAR
Como é do conhecimento deste Douto Juízo, assegura o art. 300 do novo Código de
Processo Civil (Lei nº. 13.105/15) que “a tutela de urgência será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo”.
Além disso, o § 2º do mesmo dispositivo impõe que “a tutela de urgência pode ser
concedida liminarmente ou após justificação prévia”.
Assim, certamente a requerente da presente demanda faz jus a concessão da tutela
provisória de urgência inaudita altera pars, em razão do preenchimento dos pressupostos
exigidos pela lei processual, conforme demonstrado.
DOS PEDIDOS
e) A inversão do ônus da prova, determinando que a ré apresente nos autos o teor das
ligações dos números de protocolos elencados nesta exordial, além da comprovação de
cumprimento da obrigação de religar a energia da consumidora em tempo hábil estipulado por
lei;
g) Que julgue procedente a demanda em todos os seus termos, caso não seja concedida
a tutela de urgência, que ao final a requerida seja compelida a religar a energia elétrica do imóvel
da autora, o que se encontra suspenso, sendo que para tanto Vossa Excelência poderá arbitrar
multa pecuniária por dia de atraso em caso de descumprimento, nos termos dos art. 536, § 1º do
Código de Processo Civil;