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Informativo Temático

Compilação dos Informativos STF 1042 a 1071

O Informativo Temático apresenta resumos organizados por assuntos e ramos do


Direito.
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Últimas atualizações:

 Informativo 1071:
o ADPF 975;
o RE 642890 (Tema 465 RG);
o ADI 6151;
o ADI 2298;
 Informativo 1070:
o RE 820823 (Tema 922 RG);
o ADI 7211;
o ADI 7214;
o ADI 5969;
o ADI 6152;
o ADI 2692;
 Informativo 1069:
o ADI 6119; ADI 6139 e ADI 6466;
o RE 1008166;
o ADI 7149;
o ADI 6772;
o ADI 7188 e ADI 7189;
o ADI 7073;
 Informativo 1068:
o ADI 6649 e ADPF 695;
o ADI 3311;
o ADI 7222 MC-Ref;
o ADI 2355;
 Informativo 1067:
o ADI 6603;
o ADI 6860; ADI 6861 e ADI 6863;
o ARE 1370232;
o ADI 6511;
o ADI 2846;
 Informativo 1066:
o ADI 5791;
o RE 929886;

1
o ADI 5507;
o RE 1359139;
o ADI 7042; ADI 7043;

 Informativo 1065:
o ARE 843989;
o ADI 5271;
o ADI 6970;
o ADI 6088;
o ADI 5795;
o ADI 7111; ADI 7113; ADI 7116; ADI 7119 e ADI 7122;

 Informativo 1064:
o ADI 7137 e ADI 7142;
o ADI 6640 e ADI 6645;
o ADI 5349;

 Informativo 1063:
o ADI 6199;
o ADI 4662;
o ADI 6912;
o ADI 6328;

 Informativo 1062:
o ADI 7031;
o RE 964659 (Tema 900 RG);
o ADI 7104 e ADI 7179;
o ADI 6230;
o ADI 7178 e ADI 7182;
o RE 1381261;
o ADI 5268;
o ADI 4785, ADI 4786 e ADI 4787;

 Informativo 1061:
o ADPF 708;
o ADI 6926;
o ADI 5755;
o ADI 6858;
o RHC 203546;

 Informativo 1060:
o ADI 2142;
o ADI 3396;
o ADI 7076;
o ADI 6660;
o ADI 7117 e ADI 7123;
o ADI 4039;

 Informativo 1059:
o ADI 3454;
o ADI 5119;

2
o ADI 400;
o ADPF 893;
o ADPF 188;

 Informativo 1058:
o ADI 6951 e ADI 6952;
o ADI 5399, ADI 6191 e ADI 6333 ED;
o RE 999435(Tema 638 RG);

 Informativo 1057:
o ADI 6308;
o ADI 7063;
o ADI 5563;
o ARE 1121633 (Tema 1046 RG);
o ADI 5331;
o ADI 5422;

 Informativo 1056:
o ADI 5910;
o ADI 4869;
o ADI 4709;
o ADI 5384;
o ADPF 323;

 Informativo 1055:
o ADPF 915;
o ADPF 748;
o ADI 6595;
o RE 1224374 (Tema 1079 RG), ADI 4017 e ADI 4103;
o ADI 5052;
o ADI 6573; ADI 6911 e ADPF 863;

 Informativo 1054:
o ADI 5818 e ADI 3918;
o RE 1348854 (Tema 1182 RG);
o ADPF 722;
o ADI 4608;
o ADI 7083.

 Informativo 1053:
o ADI 6655;
o ADI 6148;
o ADI 7029;
o Pet 8242 AgR, Pet 8259 AgR, Pet 8262 AgR, Pet 8263 AgR, Pet 8267 AgR
e Pet 8366 AgR.

 Informativo 1052:
o ADI 6808;
o ADPF 651;
o ADI 3152;
o RE 614384 (Tema 559 RG);
o RE 1286407 AgR-segundo.

3
SUMÁRIO

1. DIREITO ADMINISTRATIVO...........................................................................................16

1.1 AGÊNCIAS REGULADORAS..............................................................................16

ANP e poder normativo de regulação - ADI 7031/DF.........................................16

1.2 APOSENTADORIA...............................................................................................16

Inexigência de exercício por cinco anos na mesma classe para fins de cálculo de
aposentadoria - RE 1322195/SP (Tema 1207 RG)...............................................16

1.3 CARGOS EM COMISSÃO....................................................................................17

Tribunal de Contas estadual: requisitos constitucionais para a criação de cargos


em comissão - ADI 6655/SE..................................................................................17

1.4 CONCURSO PÚBLICO.........................................................................................18

Isenção da taxa de inscrição em concurso público a servidores públicos


estaduais - ADI 5818/CE e ADI 3918/SE.............................................................18

1.5 CONTRATOS ADMINISTRATIVOS...................................................................18

Transferência da concessão e do controle societário das concessionárias de


serviços públicos - ADI 2946/DF..........................................................................18

1.6 CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA.......................................................................19

Contratação temporária: vacância de cargo público efetivo e educação pública -


ADPF 915/MG.......................................................................................................19

1.7 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.................................................................20

Nova Lei de Improbidade Administrativa e eficácia temporal - ARE 843989/PR


(Tema 1.199 RG)....................................................................................................20

1.8 LICENÇAS E AFASTAMENTOS.........................................................................22

Licença à gestante e à adotante para militares das Forças Armadas - ADI


6603/DF.................................................................................................................22

1.9 PROCESSO ADMINISTRATIVO.........................................................................23

Processo administrativo e princípio da publicidade - ADI 5371/DF...................23

4
1.10 PROCURADORES; SUBSÍDIOS..........................................................................23

Quitação de dívida ativa por meio alternativo de cobrança e honorários


advocatícios de procuradores estaduais - ADI 5910/RO......................................23

1.11 REGISTRO E PORTE DE ARMA DE FOGO......................................................24

Flexibilização da aquisição de armas de fogo por meio de decreto presidencial -


ADI 6119/DF, ADI 6139/DF e ADI 6466/DF......................................................24

1.12 REMUNERAÇÃO..................................................................................................26

Alteração da forma de cálculo do auxílio-invalidez para servidores militares -


RE 642890/DF (Tema 465 RG).............................................................................26

Auditor substituto de conselheiro de Corte de Contas estadual e remuneração


proporcional - ADI 6951/CE e ADI 6952/AM......................................................27

Impossibilidade de concessão de aumento pelo Poder Judiciário com


fundamento no princípio da isonomia - ARE 1341061/SC (Tema 1175 RG).....27

Pensão mensal vitalícia a viúvas de ex-prefeitos - ADPF 975/CE......................28

1.13 REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA.....................................................................29

Requisição administrativa de bens ou serviços públicos - ADI 3454/DF............29

1.14 SERVIÇOS PÚBLICOS.........................................................................................29

Medidas para garantir a continuidade de serviços públicos essenciais e direito


de greve - ADI 4857/DF........................................................................................29

Reajuste de tarifas telefônicas: cláusula contratual, inflação e revisão judicial -


RE 1059819/PE (Tema 991 RG)...........................................................................30

1.15 SERVIDOR PÚBLICO..........................................................................................31

Extensão da licença-maternidade a servidor público pai solo - RE 1348854/SP


(Tema 1182 RG).....................................................................................................31

Reenquadramento de servidor admitido sem concurso público antes da


promulgação da Constituição Federal de 1988 - ARE 1306505/AC (Tema 1157
RG).........................................................................................................................32

Servidor público: jornada de trabalho reduzida e remuneração inferior ao


salário mínimo - RE 964659/RS (Tema 900 RG).................................................33

1.16 SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA................................................................34

Privatização de empresa estatal e transferência de débitos judiciais ao estado -


ADI 5271/MA.........................................................................................................34

1.17 TRIBUNAL DE CONTAS.....................................................................................34

TCU: competência para fiscalizar verbas federais complementares ao................


FUNDEF/FUNDEB - ADI 5791/DF....................................................................34

2. DIREITO AMBIENTAL.......................................................................................................36

5
2.1 ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL PERMANENTE.............................36

Área de Preservação Ambiental Permanente e competência legislativa - ADI


5675/MG.................................................................................................................36

2.2 COMBATE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS......................................................36

Fundo Clima: funcionamento, destinação de recursos e contingenciamento de


verbas - ADPF 708/DF..........................................................................................36

2.3 COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS..................................................37

Composição de órgãos de controle ambiental - ADPF 651/DF...........................37

2.4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL.......................................................................38

Concessão automática de licença ambiental para empresas com grau de risco


médio - ADI 6808/DF............................................................................................38

Licenciamento ambiental e competência municipal - ADI 2142/CE..................39

2.5 POLUIÇÃO............................................................................................................40

Resolução 491/2018-Conama: padrões de qualidade do ar e diretrizes da OMS -


ADI 6148/DF.........................................................................................................40

2.6 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL......................41

Supressão de marcos regulatórios ambientais e proibição do retrocesso


ambiental - ADPF 748/DF....................................................................................41

2.7 SANEAMENTO BÁSICO.....................................................................................42

Região metropolitana: saneamento básico, poder decisório e recursos obtidos


com a empreitada comum - ADI 6573/AL; ADI 6911/AL e ADPF 863/AL........42

3. DIREITO CIVIL....................................................................................................................44

3.1 ASSOCIAÇÃO.......................................................................................................44

Desfiliação de associado: quitação de débitos e/ou multas como condição - RE


820823/DF (Tema 922).........................................................................................44

3.2 BEM DE FAMÍLIA................................................................................................45

Bem de família: fiança; contrato de locação comercial e penhorabilidade - RE


1307334/SP (Tema 1127 RG)................................................................................45

3.3 DIREITO AUTORAL............................................................................................46

Isenção do pagamento de direitos autorais em eventos sem fins lucrativos - ADI


6151/SC..................................................................................................................46

4. DIREITO CONSTITUCIONAL..........................................................................................46

4.1 ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO.....................................................................46

Advogados da União: direito a férias de 30 dias anuais - RE 929886/SC..........46

6
4.2 COMPETÊNCIA LEGISLATIVA.........................................................................47

Concessão de meia-entrada em estabelecimentos de lazer e entretenimento para


professores da rede pública estadual e municipais de ensino - ADI 3753/SP....47

Concessão de porte de arma de fogo a procuradores estaduais por lei estadual -


ADI 6985/AL..........................................................................................................48

Conversão dos autos de prisão em flagrante em diligência - ADI 4662/SP........48

Extinção da pena de prisão disciplinar de policiais e bombeiros militares - ADI


6595/DF.................................................................................................................49

Lei estadual e vedação à inscrição em cadastro de proteção ao crédito - ADI


6668/MG.................................................................................................................50

Lei estadual: SAC e atendimento telefônico gratuito - ADI 4118/RJ.................51

Militares estaduais grevistas e anistia das infrações disciplinares - ADI 4869/DF


................................................................................................................................52

Norma estadual e emenda parlamentar impositiva em lei orçamentária - ADI


6308/RR..................................................................................................................52

Obrigações impostas aos planos de saúde e competência legislativa privativa da


União - ADI 7029/PB............................................................................................53

Pessoas desaparecidas e divulgação de fotos em noticiários de TV e em jornais -


ADI 5292/SC..........................................................................................................54

Prazo de validade de bilhetes de transporte rodoviário de passageiros e


competência legislativa estadual - ADI 4289/DF.................................................54

Serviço de telecomunicação e proibição de oferta e comercialização de serviço


de valor adicionado - ADI 6199/PE......................................................................55

Substituição de trabalhador privado em greve por servidor público - ADI


1164/DF.................................................................................................................56

4.3 DEFENSORIA PÚBLICA......................................................................................56

Constitucionalidade do poder de requisição da Defensoria Pública - ADI


6852/DF, ADI 6862/PR, ADI 6865/PB, ADI 6867/ES, ADI 6870/DF, ADI
6871/CE, ADI 6872/AP, ADI 6873/AM, ADI 6875/RN.......................................56

Defensoria pública estadual e poder de requisição - ADI 6860/MT; ADI 6861/PI


e ADI 6863/PE.......................................................................................................57

Ouvidoria-Geral das Defensorias Públicas estaduais - ADI 4608/DF................58

Recriação de Assistência Jurídica da Justiça Militar - ADI 3152/CE................59

4.4 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS..................................................59

CNJ e transferência do sigilo de dados fiscais e bancários - ADI 4709/DF.......59

Compartilhamento de dados no âmbito da Administração Pública federal - ADI


6649/DF e ADPF 695/DF.....................................................................................60

7
Lei da meia-entrada: entidades emitentes da CIE e liberdade de associação -
ADI 5108/DF.........................................................................................................62

Liberdade de expressão e imunidade parlamentar - Pet 8242 AgR/DF, Pet 8259


AgR/DF, Pet 8262 AgR/DF, Pet 8263 AgR/DF, Pet 8267 AgR/DF e Pet 8366
AgR/DF..................................................................................................................62

Plano de redução de letalidade policial e controle de violações de direitos


humanos - ADPF 635 MC-ED/RJ........................................................................63

Produção de relatórios de inteligência e vinculação ao interesse público - ADPF


722/DF...................................................................................................................64

Produtos fumígenos: restrições à publicidade e inserção de advertências


sanitárias nas embalagens - ADI 3311/DF..........................................................65

Remanejamento de cargos em comissão de peritos do MNPCT, fragilização do


combate à tortura no País e abuso do poder regulamentar - ADPF 607/DF.....66

Restrições legais ao consumo de bebidas alcóolicas e condução de veículos


automotivos - RE 1224374/RS (Tema 1079 RG), ADI 4017/DF e ADI 4103/DF
................................................................................................................................66

4.5 EDUCAÇÃO BÁSICA...........................................................................................67

COVID-19: Realocação de recursos vinculados ao FUNDEB para ações de


combate à pandemia do novo coronavírus - ADI 6490/PI...................................67

4.6 ÍNDIOS...................................................................................................................68

Proteção territorial em terras indígenas não homologadas - ADPF 709 MC-


segunda-Ref/DF.....................................................................................................68

4.7 MINISTÉRIO PÚBLICO.......................................................................................69

Inamovibilidade dos membros do Ministério Público da União - ADI 5052/DF69

4.8 ORÇAMENTO.......................................................................................................69

Emendas do relator-geral do orçamento: suspensão da execução orçamentária e


prestação de serviços essenciais à coletividade - ADPF 850 MC-Ref-Ref/DF,
ADPF 851 MC-Ref-Ref/DF e ADPF 854 MC-Ref-Ref/DF.................................69

4.9 ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA............................................................70

Aplicabilidade das regras do Estatuto da Advocacia a advogados empregados


públicos - ADI 3396/DF........................................................................................70

Energia elétrica e regulamentação por medida provisória com posterior


conversão em lei - ADI 3090/DF e ADI 3100/DF................................................71

4.10 ORDEM SOCIAL...................................................................................................72

Ação para o fornecimento de medicamentos: fármaco com registro na Anvisa e


na União - RE 1286407 AgR-segundo/PR...........................................................72

Covid-19: educação e transferência de recursos para acesso à internet - ADI


6926/DF.................................................................................................................72

8
Educação infantil: dever estatal de garantir o atendimento em creche e pré-
escola às crianças de até cinco anos de idade - RE 1008166/SC (Tema 548 RG)
................................................................................................................................73

FUNDEF/FUNDEB: precatório e pagamento de pessoal - ADPF 528/DF.......74

Reserva de vagas para irmãos na mesma escola - ADI 7149/RJ.........................75

4.11 ORGANIZAÇÃO DOS PODERES.......................................................................76

Liberdade de expressão e limites - AP 1044/DF...................................................76

4.12 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA............................................77

Desmembramento de municípios sem consulta plebiscitária e EC 57/2008 - RE


614384/SE (Tema 559 RG)....................................................................................77

4.13 PODER EXECUTIVO............................................................................................77

Chefe do Poder Executivo estadual: dupla vacância do cargo no último biênio


do mandato - ADI 7137/SP e ADI 7142/AC.........................................................77

4.14 PODER JUDICIÁRIO............................................................................................78

Conselho Nacional de Justiça e análise prévia de anteprojetos de lei de criação


de cargos, funções e unidades judiciárias dos tribunais de justiça - ADI
5119/DF.................................................................................................................78

Custas e emolumentos judiciais: majoração e criação de sanções processuais


por ente estadual - ADI 7063/RJ...........................................................................79

Tempo de serviço como critério de desempate para a promoção na carreira da


magistratura - ADI 6772/AL.................................................................................80

4.15 PROCESSO LEGISLATIVO.................................................................................80

Extemporaneidade do veto presidencial - ADPF 893/DF....................................80

Iniciativa de leis sobre a organização do Ministério Público estadual - ADI


400/ES....................................................................................................................81

Processo legislativo para a autorização de alienação de ações de empresa estatal


e obtenção de crédito para o custeio de despesas correntes de estado-membro -
ADI 5683/RJ..........................................................................................................82

Proposições legislativas e adoção do rito de urgência - ADI 6968/DF...............83

Quórum para aprovação de emendas constitucionais estaduais - ADI 6453/RO


................................................................................................................................83

4.16 REGIME DE PRECATÓRIOS...............................................................................84

Cancelamento de precatórios e requisições de pequeno valor (RPV) federais não


resgatados - ADI 5755/DF....................................................................................84

4.17 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS.................................................................85

Competência da União para explorar e legislar sobre atividades nucleares - ADI


6858/AM.................................................................................................................85

9
Competência legislativa: instalação de antenas transmissoras de telefonia
celular e ordenamento territorial - ARE 1370232/SP (Tema 1235 RG).............86

Construção de instalações nucleares e de energia elétrica: imposição de


exigências por norma estadual - ADI 7076/PR....................................................86

Convocação de autoridades pela Assembleia Legislativa e princípio da simetria -


ADI 6640/PE e ADI 6645/AM...............................................................................87

COVID-19 e instituições de ensino: inadimplência, recusa de matrícula e


competência legislativa - ADI 7104/RJ e ADI 7179/RJ.......................................88

Covid-19: indenização por incapacidade ou morte de profissionais da saúde em


razão da pandemia - ADI 6970/DF.......................................................................89

Covid-19: multa por descumprimento de cláusula de fidelidade contratual nos


serviços de telecomunicações - ADI 7211/RJ.......................................................89

Empresas de telefonia e internet: obrigatoriedade de inserção de mensagem nas


faturas - ADI 6088/AM..........................................................................................90

Isenção de tarifas de água e esgoto: predominância de interesse local e


competência legislativa - ADI 6912/MG...............................................................91

Lei estadual e depósitos judiciais e extrajudiciais de terceiros - ADI 6660/PE. .92

Ministério Público de Contas estadual e limites legais de gastos do Poder


Executivo - ADI 5563/RR......................................................................................92

Ministério Público estadual: movimentação funcional e modelo federal - ADI


6328/GO.................................................................................................................93

Porte de armas de fogo: presunção do risco da atividade e efetiva necessidade


mediante lei estadual - ADI 7188/AC e ADI 7189/AM........................................94

Prestação e divulgação de contas de sindicatos: exigência por lei distrital - ADI


5349/DF.................................................................................................................95

Promoção e benefícios a novos clientes e extensão aos preexistentes - ADI


5399/SP; ADI 6191/SP e ADI 6333 ED/PE.........................................................96

Tribunal de Contas estadual: normas gerais sobre prescrição e decadência -


ADI 5384/MG........................................................................................................97

4.18 SEGURANÇA PÚBLICA......................................................................................97

Polícia civil e independência funcional - ADI 5522/SP.......................................97

4.19 TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO.........................................................................98

Bens de informática e Zona Franca de Manaus - ADI 2399/AM.......................98

5. DIREITO DA SAÚDE...........................................................................................................99

5.1 VIGILÂNCIA SANITÁRIA E EPIDEMIOLÓGICA............................................99

COVID-19: observância das decisões proferidas pelo STF em relação à


obrigatoriedade de vacinação - ADPF 754 16ª TPI-Ref/DF...............................99

10
6. DIREITO DO CONSUMIDOR..........................................................................................101

6.1 CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.................................................101

Normas estaduais sobre inclusão e exclusão de consumidores em cadastros de


proteção ao crédito - ADI 5224/SP, ADI 5252/SP, ADI 5273/SP e ADI 5978/SP
..............................................................................................................................101

7. DIREITO DO TRABALHO...............................................................................................102

7.1 CONVENÇÃO E ACORDO COLETIVO...........................................................102

Ultratividade das cláusulas normativas de acordos e convenções coletivas -


ADPF 323/DF......................................................................................................102

7.2 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO............................................................102

Acordos e convenções coletivos: limitação ou afastamento de direitos


trabalhistas e horas “in itinere” - ARE 1121633/GO (Tema 1046 RG)............102

Dispensa em massa e intervenção sindical - RE 999435/SP (Tema 638 RG)...103

7.3 PISO SALARIAL.................................................................................................104

Congelamento da base de cálculo para desindexação de piso salarial vinculado


ao valor do salário mínimo - ADPF 53 Ref-MC/PI; ADPF 149 Ref-MC/DF e
ADPF 171 Ref-MC/MA.......................................................................................104

Piso salarial nacional para os profissionais da enfermagem - ADI 7222 MC-


Ref/DF..................................................................................................................105

7.4 REGIME DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA..................................................105

Débitos trabalhistas: índices de atualização monetária aplicáveis no âmbito da


Justiça do Trabalho - RE 1269353/DF (Tema 1191 RG)..................................105

8. DIREITO ELEITORAL.....................................................................................................107

8.1 CAMPANHA ELEITORAL.................................................................................107

Criação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha - ADI 5795/DF107

Forma de cálculo do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC)


- ADI 7058 MC/DF..............................................................................................107

8.2 FEDERAÇÕES PARTIDÁRIAS.........................................................................108

Prazo para constituição e registro no TSE de partidos políticos e de federações


partidárias - ADI 7021/DF..................................................................................108

8.3 MINIRREFORMA ELEITORAL........................................................................109

Reunião de ações eleitorais sobre o mesmo fato para julgamento conjunto - ADI
5507/DF...............................................................................................................109

8.4 PARTIDOS POLÍTICOS......................................................................................110

11
Autonomia partidária: duração de mandato, prazo de vigência de órgãos
provisórios e anistia de multa - ADI 6230/DF....................................................110

Fundo Partidário e Fundo Eleitoral: vedação de repasse de seus recursos - ADI


7214/DF...............................................................................................................111

8.5 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL............................................112

Ampliação de gastos com publicidade institucional e princípio da anterioridade


eleitoral - ADI 7178/DF e ADI 7182/DF............................................................112

8.6 PROPAGANDA ELEITORAL............................................................................113

Restrições à veiculação de propaganda eleitoral em meios de comunicação


impressos e na internet - ADI 6281/DF..............................................................113

9. DIREITO FINANCEIRO...................................................................................................115

9.1 AUTONOMIA ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA........................................115

Lei de Diretrizes Orçamentárias: autonomia do Ministério Público estadual -


ADI 7073/CE........................................................................................................115

9.2 RESPONSABILIDADE FISCAL........................................................................116

Lei estadual e concessão de benefício fiscal sem prévia estimativa de impacto


orçamentário e financeiro - ADI 6303/RR.........................................................116

9.3 FEDERALISMO FISCAL....................................................................................116

Autonomia municipal e vinculação de parte do ICMS recebido pelo estado - ADI


2355/PR................................................................................................................116

10. DIREITO PENAL................................................................................................................117

10.1 REINCIDÊNCIA..................................................................................................117

Porte de drogas para consumo próprio e reincidência - RHC 178512/SP........117

11. DIREITO PROCESSUAL CIVIL......................................................................................119

11.1 EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA..............................................119

RPV: valor previsto no ADCT e fixação de quantia referencial inferior por


ente federado - RE 1359139/CE 119

11.2 FAZENDA PÚBLICA..........................................................................................120

Execução fiscal: antecipação de pagamento de despesa com diligência de oficial


de justiça pela Fazenda Pública - ADI 5969/PA................................................120

11.3 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA...............................................................120

Ação de improbidade administrativa: legitimidade ativa concorrente -


ADI 7042/DF e ADI 7043/DF 120

12. DIREITO PROCESSUAL PENAL....................................................................................121

12
12.1 COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO..................................121

Competência penal originária do STF e “mandatos cruzados” - Inq 4342


QO/PR..................................................................................................................121

Foro por prerrogativa de função: ampliação do rol de autoridades na esfera


estadual - ADI 6511/RR......................................................................................122

12.2 EXECUÇÃO PENAL...........................................................................................123

Execução penal: estudo a distância e remição da pena - RHC 203546/PR......123

12.3 FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO...................................................123

Competência dos Tribunais para supervisionar investigações contra autoridades


com foro por prerrogativa de função - ADI 7083/AP........................................123

12.4 INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA....................................................................124

Interceptação telefônica e prorrogações sucessivas - RE 625263/PR (Tema 661


RG).......................................................................................................................124

12.5 INVESTIGAÇÃO PENAL...................................................................................125

Autorização para o prosseguimento de investigações contra magistrados - ADI


5331/MG...............................................................................................................125

12.6 LEI MARIA DA PENHA.....................................................................................126

Lei Maria da Penha e afastamento do agressor por delegados e policiais - ADI


6138/DF...............................................................................................................126

12.7 PROVAS...............................................................................................................127

Procedimento para reconhecimento de pessoas - RHC 206846/SP..................127

12.8 PRISÃO PREVENTIVA......................................................................................128

Prisão preventiva: prazo nonagesimal para a sua revisão e respectiva


competência jurisdicional - ADI 6581/DF e ADI 6582/DF...............................128

12.9 PRISÃO TEMPORÁRIA.....................................................................................128

Fixação de condições obrigatórias e cumulativas para a decretação da prisão


temporária - ADI 3360/DF e ADI 4109/DF.......................................................128

12.10 TERMO CIRCUNSTANCIADO.........................................................................129

Competência para a lavratura de termo circunstanciado - ADI 5637/MG.......129

13. DIREITO TRIBUTÁRIO...................................................................................................131

13.1 CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS..............................................................................131

Artigo 149, § 2º, III, “a”, da CF: rol exemplificativo - RE 1317786/PE (Tema
1193 RG)..............................................................................................................131

PIS e COFINS: parcela não dedutível da base de cálculo - RE 1049811/SE


(Tema 1024 RG)...................................................................................................131

13
Majoração da base de cálculo de contribuição social por ato infralegal - RE
1381261/RS (Tema 1223 RG)..............................................................................132

Salário-educação: critério para a distribuição da arrecadação - ADPF 188/DF


..............................................................................................................................133

13.2 FATO GERADOR................................................................................................134

Constitucionalidade da chamada “norma geral antielisão” - ADI 2446/DF. . .134

13.3 ICMS.....................................................................................................................134

ICMS: fixação de alíquotas sobre operações com energia elétrica e serviços de


comunicação superiores às das operações em geral - ADI 7117/SC e ADI
7123/DF...............................................................................................................134

ICMS: fixação de alíquotas sobre operações com energia elétrica e serviços de


comunicação em percentuais superiores aos da alíquota geral do tributo -  ADI
7111/PA, ADI 7113/TO, ADI 7116/MG, ADI 7119/RO e ADI 7122/GO..........135

Redução de alíquota do ICMS para cerveja à base de mandioca - ADI 6152/MA


..............................................................................................................................136

Remissão de créditos de ICMS oriundos de benefícios fiscais julgados


inconstitucionais - RE 851421/DF (Tema 817 RG)...........................................137

13.4 IPVA.....................................................................................................................137

IPVA: isenção fiscal e tratamento não isonômico - ADI 5268/MG..................137

IPVA: isenção para veículos adquiridos mediante arrendamento mercantil e


utilizados por taxistas - ADI 2298/RS.................................................................138

13.5 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA..............................................................................138

Caracterização das entidades religiosas como instituições de assistência social


para fins de imunidade tributária - RE 630790/SP (Tema 336 RG).................138

Imunidade recíproca de sociedade de economia mista prestadora exclusiva de


serviço público essencial - ACO 3410/SE...........................................................139

13.6 IPI..........................................................................................................................140

Incidência de IPI sobre bacalhau seco e salgado e questão infraconstitucional -


RE 627280/RJ (Tema 502 RG)...........................................................................140

13.7 IR...........................................................................................................................140

Pensão alimentícia e incidência do imposto de renda - ADI 5422/DF.............140

13.8 ISS.........................................................................................................................141

Incidência do ISS sobre prestação de serviço de inserção de materiais de


propaganda e publicidade em qualquer meio - ADI 6034/RJ...........................141

13.9 PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL.............................................142

Art. 38 da Lei 9.430/1996: representação fiscal para fins penais e crimes contra
a Previdência Social - ADI 4980/DF..................................................................142

14
13.10 TAXAS.................................................................................................................142

Cobrança de taxa de segurança para eventos - ADI 2692/DF..........................142

Fundo de Fiscalização das Telecomunicações e poder de polícia - ADI 4039/DF


..............................................................................................................................143

Parâmetros para o cálculo das custas judiciais e emolumentos - ADI 2846/TO


..............................................................................................................................143

Taxas de fiscalização da atividade de mineração - ADI 4785/MG, ADI 4786/PA


e ADI 4787/AP.....................................................................................................144

15
1. DIREITO ADMINISTRATIVO

1.1 AGÊNCIAS REGULADORAS

ANP e poder normativo de regulação - ADI 7031/DF

ODS: 7
Resumo:

É constitucional a instituição do Programa de Monitoramento da Qualidade dos


Combustíveis (PMQC) por normativo da Agência Nacional do Petróleo (ANP), na medida em que o
ato regulatório apresenta correspondência direta com as diretrizes e os propósitos conferidos por
sua lei instituidora.

As agências reguladoras, assim como os Poderes, instituições e órgãos do poder público,


submetem-se ao princípio da legalidade (CF/1988, art. 37, caput)1. No caso, as normas técnicas emanadas
pela Resolução 790/2016 da ANP — que instituiu o PMQC — inserem-se no espaço de conformação
previsto no art. 8º da Lei 9.478/19972, que atribui à agência reguladora a implementação da política
nacional de petróleo, gás natural e biocombustíveis com ênfase na proteção dos interesses dos
consumidores quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos.

Ademais, a Resolução não transferiu a terceiros parcela da competência fiscalizatória que é


própria da ANP, mas conferiu tratamento isonômico na atribuição dos custos do monitoramento entre
todos os agentes econômicos da cadeia de comercialização de combustíveis, que, por auferirem os lucros
da atividade, também possuem o dever de assegurar perante o consumidor a qualidade dos produtos
oferecidos.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu em parte da ação e, nesta
extensão, a julgou improcedente.

ADI 7031/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 5.8.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1062)

1.2 APOSENTADORIA

Inexigência de exercício por cinco anos na mesma classe para fins de cálculo de
aposentadoria - RE 1322195/SP (Tema 1207 RG)

Tese fixada:

1
Precedentes: ADI 4093; ADI 4954; RMS 28487; e ADI 4874.
2
Lei 9.478/1997: “Art. 8º. A ANP terá como finalidade promover a regulação, a contratação e a fiscalização das
atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis, cabendo-lhe: I -
implementar , em sua esfera de atribuições, a política nacional de petróleo, gás natural e biocombustíveis, contida na
política energética nacional, nos termos do Capítulo I desta Lei, com ênfase na garantia do suprimento de derivados
de petróleo, gás natural e seus derivados, e de biocombustíveis, em todo o território nacional, e na proteção dos
interesses dos consumidores quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos; (...) XVII - exigir dos agentes regulados
o envio de informações relativas às operações de produção, importação, exportação, refino, beneficiamento,
tratamento, processamento, transporte, transferência, armazenagem, estocagem, distribuição, revenda, destinação e
comercialização de produtos sujeitos à sua regulação;”

16
“A promoção por acesso de servidor a classe distinta na carreira não representa ascensão a
cargo diverso daquele em que já estava efetivado, de modo que, para fins de aposentadoria, o prazo
mínimo de cinco anos no cargo efetivo, exigido pelo artigo 40, § 1º, inciso III, da Constituição
Federal, na redação da Emenda Constitucional 20/1998, e pelos artigos 6º da Emenda
Constitucional 41/2003 e 3º da Emenda Constitucional 47/2005, não recomeça a contar pela
alteração de classe.”

Resumo:

Para a aposentadoria voluntária de servidor público, o prazo mínimo de cinco anos no


cargo em que se der a aposentadoria refere-se ao cargo efetivo ocupado pelo servidor e não à classe
na carreira alcançada mediante promoção.

Na hipótese, a promoção do servidor à classe posterior dentro do mesmo cargo não caracteriza
provimento originário, mas sim derivado. Logo, quando a carreira for organizada em classes, o cálculo
dos proventos deve ter por base a remuneração percebida na mesma classe ocupada quando da
aposentadoria3.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de


repercussão geral da questão constitucional suscitada (Tema 1207 RG) e no mérito, por unanimidade,
reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria para desprover o recurso extraordinário.

RE 1322195/SP, relator Min. Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 1º.4.2021
(INF 1049)

1.3 CARGOS EM COMISSÃO

Tribunal de Contas estadual: requisitos constitucionais para a criação de cargos em


comissão - ADI 6655/SE

Resumo:

É inconstitucional a criação de cargos em comissão sem a devida observância dos requisitos


indispensáveis fixados pelo STF4.

A Constituição Federal reservou à Administração Pública regime jurídico minucioso na


conformação do interesse público com a finalidade de resguardar a isonomia e a eficiência na formação
de seus quadros de pessoal. Os cargos em comissão, por sua vez, representam exceção à regra.

Nesse contexto, a jurisprudência do STF é assertiva quanto às condições para a criação de cargos
em comissão5. No julgamento do RE 1.041.210 (Tema 1010 RG), o Tribunal cuidou de consolidar os
critérios cumulativos que devem nortear o controle de constitucionalidade das leis que os criam.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação, com
eficácia ex nunc a contar da publicação da ata de julgamento.

ADI 6655/SE, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 6.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1053)

3
Precedentes: ARE 1.248.344 AgR; RE 1.255.987 AgR; AI 813.763 AgR; RE 1.337.044 AgR.
4
Tema 1010 da RG: “a) A criação de cargos em comissão somente se justifica para o exercício de funções de direção,
chefia e assessoramento, não se prestando ao desempenho de atividades burocráticas, técnicas ou operacionais; b) tal
criação deve pressupor a necessária relação de confiança entre a autoridade nomeante e o servidor nomeado; c) o
número de cargos comissionados criados deve guardar proporcionalidade com a necessidade que eles visam suprir e
com o número de servidores ocupantes de cargos efetivos no ente federativo que os criar; e d) as atribuições dos
cargos em comissão devem estar descritas, de forma clara e objetiva, na própria lei que os instituir.”
5
Precedentes: ADI 3.233; ADI 3.174; ADI 4.867; ADI 4.125; ADI 5.542; e RE 719.870 (Tema 670 RG).

17
1.4 CONCURSO PÚBLICO

Isenção da taxa de inscrição em concurso público a servidores públicos estaduais -


ADI 5818/CE e ADI 3918/SE

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que isenta servidores públicos da taxa de inscrição em


concursos públicos promovidos pela Administração Pública local, privilegiando, sem justificativa
razoável para tanto, um grupo mais favorecido social e economicamente.

O STF compreende o concurso público como mecanismo que proporciona a realização concreta
dos princípios constitucionais da isonomia e da impessoalidade, não admitindo discrímen que, ao invés de
fomentar a igualdade de acesso aos cargos e empregos públicos, amplia a desigualdade entre os possíveis
candidatos6. Nesse contexto, esta Corte já proclamou a constitucionalidade de normas que, com fulcro na
ideia de igualdade material, instituíram benefício em favor de grupo social desfavorecido 7.

No caso, as normas impugnadas ─ ao fundamento de incentivarem a permanência dos servidores


públicos nessa condição, valorizando-os de modo a concretizar o princípio da eficiência ─ se mostram
discriminatórias, pois, de forma anti-isonômica, favorecem a categoria em detrimento de um grupo de
pessoas que, por insuficiência de recursos, não conseguiria arcar com os custos da inscrição, restringindo,
consequentemente, o acesso à via do concurso público.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, em julgamentos autônomos, julgou
procedentes as ações diretas para declarar a inconstitucionalidade (i) do parágrafo único do art. 4º da Lei
11.449/1988, inserido pela Lei 11.551/1989, ambas do Estado do Ceará 8; e (ii) do art. 6º, III, “d”, da Lei
2.778/1989, do Estado do Sergipe9.

ADI 5818/CE, relator Min. Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Min. Dias Toffoli,
julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1054)

ADI 3918/SE, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1054)

1.5 CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Transferência da concessão e do controle societário das concessionárias de serviços


públicos - ADI 2946/DF

Resumo:

É constitucional a transferência da concessão e do controle societário das concessionárias


de serviços públicos, mediante anuência do poder concedente (Lei 8.987/1995, art. 27)10.
6
Precedentes: ADI 1350; ADI 2949; ADI 2364; ADI 3522; e ADI 5776.
7
Precedentes: ADI 2177; e ADPF 186.
8
Lei 11.449/1988 do Estado do Ceará: “Art. 4º (...) Parágrafo único. Os servidores públicos estaduais são isentos de
pagamento da taxa de inscrição em qualquer concurso de admissão no serviço público promovido pela Administração
Pública Estadual, Direta, Indireta e Fundacional.”
9
Lei 2.778/1989 do Estado de Sergipe: “Art. 6º: São também excluídas do campo de incidência das taxas estaduais,
por isenção: (...) III - a prática de atos e expedição de documentos relativos: (...) d) a inscrição de servidores públicos
da administração direta e indireta em qualquer concurso público promovido por entidade pública estadual de qualquer
dos poderes;”
10
Lei 8.987/1995: “Art. 27. A transferência de concessão ou do controle societário da concessionária sem prévia
anuência do poder concedente implicará a caducidade da concessão. §1º Para fins de obtenção da anuência de que

18
Nessas hipóteses, a base objetiva do contrato continua intacta. Permanecem o mesmo objeto
contratual, as mesmas obrigações contratuais e a mesma equação econômico-financeira. O que ocorre é
apenas a sua modificação subjetiva, seja pela substituição do contratado, seja em razão da sua
reorganização empresarial.

Em nosso sistema jurídico, o que interessa à Administração é, sobretudo, a seleção da proposta


mais vantajosa, independentemente da identidade do particular contratado, ou dos atributos psicológicos
ou subjetivos de que disponha. No tocante ao particular contratado, basta que seja pessoa idônea, ou seja,
que tenha comprovada capacidade para cumprir as obrigações assumidas no contrato, o que também é
aferido por critérios objetivos e preestabelecidos.

Ademais, considerando a dinâmica peculiar e complexa das concessões públicas, é natural que o
próprio regime jurídico das concessões contenha institutos que permitam aos concessionários se
ajustarem às adversidades da execução contratual com a finalidade de permitir a continuidade da
prestação dos serviços públicos e, sobretudo, a sua prestação satisfatória ou adequada. A retomada dos
serviços pela Administração pode se mostrar demasiadamente onerosa para o poder público concedente e
uma nova licitação, além de implicar custos altíssimos, demanda tempo para seu necessário planejamento
e, ao final, pode resultar em tarifas mais caras para os usuários.

Por fim, ressalta-se que as normas constitucionais que estipulam a obrigatoriedade de licitação na
outorga inicial da prestação de serviços públicos a particulares não definem os exatos contornos do dever
de licitar (CF/1988, arts. 37, XXI, e 175, caput) 11. Cabe, portanto, ao legislador ordinário ampla liberdade
quanto à sua conformação à vista da dinamicidade e da variedade das situações fáticas a serem abrangidas
pela respectiva normatização12.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente o pedido formulado
em ação direta.

ADI 2946/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1046)

1.6 CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA

Contratação temporária: vacância de cargo público efetivo e educação pública -


ADPF 915/MG

ODS: 4 e 16

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que, de maneira genérica e abrangente, permite a


convocação temporária de profissionais da área da educação sem prévio vínculo com a
Administração Pública para suprir vacância de cargo público efetivo.

trata o caput deste artigo o pretendente deverá: I - atender às exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira
e regularidade jurídica e fiscal necessárias à assunção do serviço; e II - comprometer-se a cumprir todas as cláusulas
do contrato em vigor.”
11
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (...) XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,
compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a
todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da
proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. (...) Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei,
diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.”
12
Precedentes: ADI 5841 MC; ADI 2452; ADI 4829 e ADI 5942.

19
O Plenário da Corte deliberou que a medida viola a regra constitucional do concurso público 13,
ao permitir a contratação de servidores para atividades absolutamente previsíveis, permanentes e
ordinárias do Estado, autorizando que sucessivas contratações temporárias perpetuem indefinidamente a
precarização de relações trabalhistas no âmbito da Administração Pública 14.

Além disso, não basta que a lei autorize a contratação de pessoal por prazo limitado para
conformar-se ao texto constitucional, uma vez que a excepcionalidade das situações emergenciais afasta a
possibilidade de que elas, de transitórias, se transmudem em permanentes.

Nesse contexto, o Tribunal já definiu ser necessário para a contratação temporária que: a) os
casos excepcionais estejam previstos em lei; b) o prazo de contratação seja pré-determinado; c) a
necessidade seja temporária; e d) o interesse público seja excepcional. Quanto à contratação destinada a
suprir necessidade temporária que exsurge da vacância do cargo efetivo, ela há de durar apenas o tempo
necessário para a realização do próximo concurso público15.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a não recepção pela CF/88 dos dispositivos legais impugnados, além da inconstitucionalidade,
por arrastamento, dos atos normativos infralegais que guardam inteira dependência com aqueles,
modulando os efeitos da decisão no intuito de preservar os contratos temporários firmados até a conclusão
do julgamento de mérito.

ADPF 915/MG, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 20.5.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1055)

1.7 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Nova Lei de Improbidade Administrativa e eficácia temporal - ARE 843989/PR


(Tema 1.199 RG)

ODS: 16

Tese fixada:

“É necessária a comprovação de responsabilidade subjetiva para a tipificação dos atos de


improbidade administrativa, exigindo-se — nos artigos 9º, 10 e 11 da LIA — a presença do
elemento subjetivo — DOLO; 2) A norma benéfica da Lei 14.230/2021 — revogação da modalidade
culposa do ato de improbidade administrativa —, é IRRETROATIVA, em virtude do artigo 5º,
inciso XXXVI, da Constituição Federal, não tendo incidência em relação à eficácia da coisa
julgada; nem tampouco durante o processo de execução das penas e seus incidentes; 3) A nova Lei
14.230/2021 aplica-se aos atos de improbidade administrativa culposos praticados na vigência do
texto anterior da lei, porém sem condenação transitada em julgado, em virtude da revogação
expressa do texto anterior; devendo o juízo competente analisar eventual dolo por parte do agente;
4) O novo regime prescricional previsto na Lei 14.230/2021 é IRRETROATIVO, aplicando-se os
novos marcos temporais a partir da publicação da lei.”

Resumo:

13
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (...) II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração; (...) IX – a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a
necessidade temporária de excepcional interesse público;”
14
Precedente: ADI 5267.
15
Precedente: ADI 3649.

20
A partir do advento da Lei 14.230/2021 (nova Lei de Improbidade Administrativa – LIA)
— cuja publicação e entrada em vigor ocorreu em 26.10.2021 —, deixou de existir, no ordenamento
jurídico, a tipificação para atos culposos de improbidade administrativa.

A alteração promovida pelo legislador no texto original da Lei 8.429/1992, no sentido de


suprimir a modalidade culposa do ato de improbidade administrativa, é clara e plenamente válida, pois a
própria Constituição Federal delega à legislação ordinária a forma e tipificação dos atos ímprobos, assim
como a gradação das sanções constitucionalmente estabelecidas (CF/1988, art. 37, § 4º).

Nada obstante, com o advento da nova lei, o agente público que culposamente causar dano ao
erário, embora não mais responda por ato de improbidade administrativa, poderá responder civil e
administrativamente pelo ato ilícito.

Por força do art. 5º, XXXVI, da CF/198816, a revogação da modalidade culposa do ato de
improbidade administrativa, promovida pela Lei 14.230/2021, é irretroativa, de modo que os seus
efeitos não têm incidência em relação à eficácia da coisa julgada, nem durante o processo de
execução das penas e seus incidentes.

O princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica (CF/1988, art. 5º, XL) não tem aplicação
automática para a responsabilidade por atos ilícitos civis de improbidade administrativa, por ausência de
expressa previsão legal e sob pena de desrespeito à constitucionalização das regras rígidas de regência da
Administração Pública e responsabilização dos agentes públicos corruptos com flagrante desrespeito e
enfraquecimento do direito administrativo sancionador.

Referido princípio baseia-se em particularidades do direito penal, o qual está vinculado à


liberdade do criminoso (princípio do favor libertatis), fundamento inexistente no direito administrativo
sancionador17. Trata-se de regra de exceção que, como tal, deve ser interpretada restritivamente,
prestigiando-se a regra geral da irretroatividade da lei e a preservação dos atos jurídicos perfeitos,
especialmente porque, no âmbito da jurisdição civil, prevalece o princípio tempus regit actum18.

Incide a Lei 14.230/2021 em relação aos atos de improbidade administrativa culposos


praticados na vigência da Lei 8.429/1992, desde que não exista condenação transitada em julgado,
cabendo ao juízo competente o exame da ocorrência de eventual dolo por parte do agente.

Diante da revogação expressa do texto legal anterior, não se admite a continuidade de uma
investigação, uma ação de improbidade, ou uma sentença condenatória por improbidade com base em
uma conduta culposa não mais tipificada legalmente.

Entretanto, a incidência dos efeitos da nova lei aos fatos pretéritos não implica a extinção
automática das demandas, pois deve ser precedida da verificação, pelo juízo competente, do exato
elemento subjetivo do tipo: se houver culpa, não se prosseguirá com o feito; se houver dolo, prosseguir-
se-á. Essa medida é necessária porque, na vigência da Lei 8.429/1992, como não se exigia a definição de
dolo ou culpa, muitas vezes a imputação era feita de modo genérico, sem especificar qual era o elemento
subjetivo do tipo.

Nesse contexto, todos os atos processuais até então praticados são válidos, inclusive as provas
produzidas, as quais poderão ser compartilhadas no âmbito disciplinar e penal, assim como a ação poderá
ser utilizada para fins de ressarcimento ao erário.

16
CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada;”
17
Precedente citado: ARE 1019161 AgR.
18
Precedentes citados: RE 415454 e RE 550910 AgR.

21
Os prazos prescricionais previstos na Lei 14.230/2021 19 não retroagem, sendo aplicáveis a
partir da publicação do novo texto legal (26.10.2021).

Isso se dá em respeito ao ato jurídico perfeito e em observância aos princípios da segurança


jurídica, do acesso à Justiça e da proteção da confiança, garantindo-se a plena eficácia dos atos praticados
validamente antes da alteração legislativa.

Com efeito, a inércia nunca poderá ser caracterizada por uma lei futura que, diminuindo os
prazos prescricionais, passe a exigir o impossível, isto é, que, retroativamente, o poder público — que foi
diligente e atuou dentro dos prazos à época existentes — cumpra algo até então inexistente 20. Por outro
lado, a teor do que decidido pela Corte no Tema 897 de repercussão geral, permanecem imprescritíveis as
ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na LIA21.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.199 da
repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário para extinguir a ação, e, por maioria,
acompanhou os fundamentos do voto do ministro Alexandre de Moraes (relator). Vencidos, parcialmente
e nos termos de seus respectivos votos, os ministros André Mendonça, Nunes Marques, Edson Fachin,
Roberto Barroso, Rosa Weber, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes.

ARE 843989/PR, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 18.8.2022 (INF
1065)

1.8 LICENÇAS E AFASTAMENTOS

Licença à gestante e à adotante para militares das Forças Armadas - ADI 6603/DF

ODS: 3, 5, 10 e 16

Resumo:

É inconstitucional ato normativo que, ao disciplinar a licença maternidade no âmbito das


Forças Armadas, estabelece prazos distintos de afastamento com fundamento na diferenciação
entre a maternidade biológica e a adotiva, bem como em função da idade da criança adotada.

A Constituição Federal não permite tratamento desigual à mãe biológica e à mãe adotiva, razão
pela qual ambas possuem o direito à licença maternidade nas mesmas condições, dada a prevalência do
princípio do superior interesse da criança.

19
Lei 8.429/1992, na redação da Lei 14.230/2021: “Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta Lei
prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da ocorrência do fato ou, no caso de infrações permanentes, do dia em
que cessou a permanência. (...) § 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo interrompe-se: I - pelo
ajuizamento da ação de improbidade administrativa; II - pela publicação da sentença condenatória; III - pela
publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal que confirma sentença
condenatória ou que reforma sentença de improcedência; IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior
Tribunal de Justiça que confirma acórdão condenatório ou que reforma acórdão de improcedência; V - pela
publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal Federal que confirma acórdão condenatório ou que reforma
acórdão de improcedência. § 5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do dia da interrupção, pela
metade do prazo previsto no caput deste artigo. (...)”
20
Precedentes citados: RE 1210551 AgR; RE 1244519 AgR; e RE 1243415 AgR-quarto.
21
Precedente citado: RE 852475 (Tema 897 RG).

22
Esse é o entendimento consolidado pelo Tribunal no julgamento do RE 778889/PE (Tema 782
da sistemática da repercussão geral), reafirmado recentemente no julgamento da ADI 6.600/TO,
oportunidade na qual norma de conteúdo similar ao ora impugnado foi declarada inconstitucional 22.

Com base nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, julgou a ação para declarar a
inconstitucionalidade do art. 3º, caput, § 1º e § 2º, da Lei 13.109/201523.

ADI 6603/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1067)

1.9 PROCESSO ADMINISTRATIVO

Processo administrativo e princípio da publicidade - ADI 5371/DF

Tese fixada:

“Os processos administrativos sancionadores instaurados por agências reguladoras contra


concessionárias de serviço público devem obedecer ao princípio da publicidade durante toda a sua
tramitação, ressalvados eventuais atos que se enquadrem nas hipóteses de sigilo previstas em lei e
na Constituição”.

Resumo:

Em regra, a imposição de sigilo a processos administrativos sancionadores, instaurados por


agências reguladoras contra concessionárias de serviço público, é incompatível com a Constituição.

Isso porque (i) a regra no regime democrático instaurado pela Constituição de 1988 é a
publicidade dos atos estatais, sendo o sigilo absolutamente excepcional; (ii) a Constituição Federal afasta
a publicidade em apenas duas hipóteses: informações cujo sigilo seja imprescindível à segurança do
Estado e da sociedade e proteção à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas; (iii) essas
exceções constitucionais, regulamentadas pelo legislador especialmente na “Lei de Acesso à Informação”,
devem ser interpretadas restritivamente, sob forte escrutínio do princípio da proporcionalidade; e (iv) o
STF deve se manter vigilante na defesa da publicidade estatal, pois retrocessos à transparência pública
têm sido recorrentes.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado e declarou a inconstitucionalidade do art. 78-B da Lei 10.233/2001.

ADI 5371/DF, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 25.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1045)

1.10 PROCURADORES; SUBSÍDIOS

Quitação de dívida ativa por meio alternativo de cobrança e honorários advocatícios


de procuradores estaduais - ADI 5910/RO

22
Precedentes citados: RE 778889 (Tema 782 RG) e ADI 6600.
23
Lei 13.109/2015: “Art. 3º À militar que adotar ou obtiver a guarda judicial de criança de até 1 (um) ano de idade
serão concedidos 90 (noventa) dias de licença remunerada. § 1º No caso de adoção ou guarda judicial de criança com
mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata o caput deste artigo será de 30 (trinta) dias. § 2º Poderá ser
concedida prorrogação de 45 (quarenta e cinco) dias à militar de que trata o caput e de 15 (quinze) dias à militar de
que trata o § 1º deste artigo, nos termos de programa instituído pelo Poder Executivo federal que garanta a
prorrogação.”

23
Resumo:

É constitucional, desde que observado o teto remuneratório, norma estadual que destina
aos procuradores estaduais honorários advocatícios incidentes na hipótese de quitação de dívida
ativa em decorrência da utilização de meio alternativo de cobrança administrativa ou de protesto
de título.

O STF já se manifestou pela constitucionalidade dos procedimentos alternativos à execução


fiscal por se inserirem, atendidas as suas orientações, no contexto das medidas que visam aprimorar a
eficiência e a eficácia da cobrança do crédito inscrito em dívida ativa24.

Também à luz da jurisprudência do Tribunal, é constitucional o pagamento, a procuradores


estaduais, de honorários advocatícios sucumbenciais e decorrentes de acordos administrativos —
respeitado o limite remuneratório constitucional, já que consistem em parcela remuneratória salarial —,
não se vislumbrando nisso usurpação da competência da União para legislar sobre direito civil ou
processo civil (art. 22, I, da CF/88), ofensa ao regime de subsídios e violação aos princípios da
moralidade, da razoabilidade ou da isonomia25.

No caso, a destinação de 10% sobre o valor total da dívida aos procuradores estaduais, quando
utilizado meio alternativo de cobrança administrativa ou de protesto de título, não ofende a razoabilidade
ou a proporcionalidade e é consonante com o princípio da eficiência, pois, quanto mais exitosa a atuação
deles, mais se beneficia a Fazenda Pública estadual e, assim, a coletividade.

Com esse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação
direta para conferir interpretação conforme a Constituição ao art. 2º, § 5º, da Lei 2.913/2012, incluído
pela Lei 3.526/2015, ambas do Estado de Rondônia 26, de modo a estabelecer que a soma dos subsídios e
honorários percebidos mensalmente pelos procuradores estaduais não poderá exceder o teto
remuneratório previsto no art. 37, XI, da CF/1988.

ADI 5910/RO, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1056)

1.11 REGISTRO E PORTE DE ARMA DE FOGO

Flexibilização da aquisição de armas de fogo por meio de decreto presidencial - ADI


6119/DF, ADI 6139/DF e ADI 6466/DF

ODS: 16

Resumo:

A flexibilização, via decreto presidencial, dos critérios e requisitos para a aquisição de


armas de fogo prejudica a fiscalização do Poder Público, além de violar a competência legislativa
em sentido estrito para a normatização das hipóteses legais quanto à sua efetiva necessidade.

Do exame do ordenamento jurídico-constitucional brasileiro, já consideradas as incorporações


provenientes do direito internacional sobre direitos humanos, é possível concluir que (a) o direito à vida e

24
Precedentes: ADI 5135; ADI 5925; ADI 5881; ADI 5886; ADI 5890; ADI 5931; e ADI 5932.
25
Precedentes: ADI 6165; ADI 6178; ADI 6181; ADI 6197; ADI 6053; ADPF 597; ADI 6159; e ADI 6170.
26
Lei 2.913/2012 do Estado de Rondônia: “Art. 2°. Na cobrança de créditos do Estado, de suas autarquias e
fundações, ficam os Procuradores do Estado autorizados a não ajuizar execuções fiscais referentes aos débitos
tributários e não tributários, ou dar prosseguimento nas execuções fiscais já em andamento, quando o valor atualizado
do crédito inscrito em dívida ativa for igual ou inferior a 1.000 (um mil) Unidades Padrão Fiscal do Estado de
Rondônia - UPF/RO. (...) § 5º. Na hipótese de quitação da dívida, em decorrência da utilizado de meio alternativo de
cobrança administrativa ou de protesto de título, incidirão honorários advocatícios no percentual de 10% (dez por
cento) sobre o valor total da dívida atualizada destinados na forma do artigo 57, da Lei Complementar n. 20 de 2 de
julho de 1987.”

24
à segurança geram o dever positivo do Estado ser o agente primário na construção de uma política pública
de segurança e controle da violência armada; (b) não existe direito fundamental de possuir armas de fogo
no Brasil; (c) ainda que a Constituição Federal não proíba universalmente a aquisição e o porte de armas
de fogo, ela exige que sempre ocorram em caráter excepcional, devidamente justificado por uma
particular necessidade; (d) o dever de diligência estatal o obriga a conceber e implementar mecanismos
institucionais e regulatórios apropriados para o controle do acesso a armas de fogo, como procedimentos
fiscalizatórios de licenciamento, de registro, de monitoramento periódico e de exigência de treinamentos
compulsórios; e (e) qualquer política pública que envolva acesso a armas de fogo deve observar os
requisitos da necessidade, da adequação e da proporcionalidade.

Nesse contexto, não cabe ao Poder Executivo, no exercício de sua atividade regulamentar, criar
presunções de efetiva necessidade para a aquisição de uma arma de fogo distintas das hipóteses já
disciplinadas em lei, visto se tratar de requisito cuja demonstração fática é indispensável, mostrando-se
impertinente estabelecer a inversão do ônus probatório quanto à veracidade das informações constantes na
declaração de seu preenchimento27.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, em apreciação conjunta, referendou (i) a
decisão que: (i.1) concedeu com efeitos ex nunc a medida cautelar para suspender a eficácia do art. 12, §
1º e § 7º, IV, do Decreto 5.123/2004 (com alteração dada pelo Decreto 9.685/2019); do art. 9º, § 1º, do
Decreto 9.785/2019; e do art. 3º, § 1º, do Decreto 9.845/2019; e (i.2) concedeu a cautelar para conferir
interpretação conforme à Constituição ao art. 4º do Estatuto do Desarmamento; ao inciso I do art. 9º do
Decreto 9.785/2019; e ao inciso I do art. 3º do Decreto 9.845/2019, fixando a orientação hermenêutica de
que a posse de armas de fogo só pode ser autorizada às pessoas que demonstrem concretamente, por
razões profissionais ou pessoais, possuírem efetiva necessidade; (ii) a decisão que concedeu, com efeitos
ex nunc, a medida cautelar para: (ii.1) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 4º, § 2º, da Lei
10.826/2003, para se fixar a tese de que a limitação dos quantitativos de munições adquiríveis se vincula
àquilo que, de forma diligente e proporcional, garanta apenas o necessário à segurança dos cidadãos; (ii.2)
dar interpretação conforme a Constituição ao art. 10, § 1º, I, da Lei 10.826/2003, para fixar a tese
hermenêutica de que a atividade regulamentar do Poder Executivo não pode criar presunções de efetiva
necessidade outras que aquelas já disciplinadas em lei; (ii.3) dar interpretação conforme a Constituição ao
art. 27 da Lei 10.826/2003, a fim de fixar a tese hermenêutica de que aquisição de armas de fogo de uso
27
Lei 10.826/2003: “Art. 4º Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de declarar a
efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões
negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar
respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; II –
apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa; III – comprovação de capacidade
técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta
Lei. § 1º O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após atendidos os requisitos anteriormente
estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização. § 2º A aquisição
de munição somente poderá ser feita no calibre correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no
regulamento desta Lei. § 3º A empresa que comercializar arma de fogo em território nacional é obrigada a comunicar
a venda à autoridade competente, como também a manter banco de dados com todas as características da arma e
cópia dos documentos previstos neste artigo. § 4º A empresa que comercializa armas de fogo, acessórios e munições
responde legalmente por essas mercadorias, ficando registradas como de sua propriedade enquanto não forem
vendidas. § 5º A comercialização de armas de fogo, acessórios e munições entre pessoas físicas somente será
efetivada mediante autorização do Sinarm. § 6º A expedição da autorização a que se refere o § 1o será concedida, ou
recusada com a devida fundamentação, no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a contar da data do requerimento do
interessado. § 7º O registro precário a que se refere o § 4º prescinde do cumprimento dos requisitos dos incisos I, II e
III deste artigo. § 8º Estará dispensado das exigências constantes do inciso III do caput deste artigo, na forma do
regulamento, o interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que comprove estar autorizado a portar arma
com as mesmas características daquela a ser adquirida. (...) Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de
uso permitido, em todo o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será concedida após
autorização do Sinarm. § 1º A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia temporária e
territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e dependerá de o requerente: I – demonstrar a sua efetiva
necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física; II – atender às
exigências previstas no art. 4º desta Lei; III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o
seu devido registro no órgão competente. § 2º A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste artigo, perderá
automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob efeito de
substâncias químicas ou alucinógenas. (...) Art. 27. Caberá ao Comando do Exército autorizar, excepcionalmente, a
aquisição de armas de fogo de uso restrito. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às aquisições dos
Comandos Militares.”

25
restrito só pode ser autorizada no interesse da própria segurança pública ou da defesa nacional, não em
razão do interesse pessoal do requerente; e (ii.4) suspender a eficácia do art. 3º, II, a, b e c do Decreto
9.846/2019; e (iii) a decisão que concedeu, com efeitos ex nunc, a medida cautelar para: (iii.1) dar
interpretação conforme a Constituição ao art. 4º, § 2º, da Lei 10.826/2003; ao art. 2º, § 2º, do Decreto
9.845/2019; e ao art. 2º, § 3º, do Decreto 9.847/2019, fixando a tese de que os limites quantitativos de
munições adquiríveis se limitam àquilo que, de forma diligente e proporcional, garanta apenas o
necessário à segurança dos cidadãos; e (iii.2) suspender a eficácia da Portaria Interministerial 1.634/2020-
GM-MD.

ADI 6119 MC-Ref/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 20.9.2022 (terça-
feira), às 23:59 (INF 1069)

ADI 6139 MC-Ref/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 20.9.2022 (terça-
feira), às 23:59 (INF 1069)

ADI 6466 MC-Ref/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 20.9.2022 (terça-
feira), às 23:59 (INF 1069)

1.12 REMUNERAÇÃO

Alteração da forma de cálculo do auxílio-invalidez para servidores militares - RE


642890/DF (Tema 465 RG)

Tese fixada:

“A Portaria n. 931/2005 do Ministério da Defesa, que alterou a fórmula de cálculo do


auxílio-invalidez para os servidores militares, está em harmonia com os princípios da legalidade e
da irredutibilidade de vencimentos.”

Resumo:

A alteração da forma de cálculo do auxílio-invalidez devido aos servidores militares não


viola os princípios da legalidade e da irredutibilidade de vencimentos, desde que o valor global da
remuneração não sofra redução.

Isso porque o que a Constituição Federal assegura é a irredutibilidade nominal da remuneração


global, isto é, o montante constituído pela soma de todas as parcelas, gratificações e outras vantagens
percebidas pelo servidor28.

Além disso, a jurisprudência desta Corte é firme no sentido da inexistência de direito adquirido a
regime jurídico e de direito à forma como são calculados os vencimentos, de modo que é possível
suprimir ou alterar auxílios, adicionais, gratificações ou outras parcelas, sob a condição de que seja
preservada a irredutibilidade nominal da remuneração global29.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 465 da repercussão
geral, deu provimento ao recurso extraordinário para reformar o acórdão recorrido e julgar improcedente
o pedido inicial.

RE 642890/DF, relator Min. Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 7.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1071)

28
Precedente citado: RE 384903 AgR.
29
Precedente citado: RE 563965 (Tema 41 RG).

26
Auditor substituto de conselheiro de Corte de Contas estadual e remuneração
proporcional - ADI 6951/CE e ADI 6952/AM

ODS: 16

Resumo:

É constitucional norma estadual que prevê o pagamento proporcional da remuneração


devida a conselheiro de Tribunal de Contas para auditor em período de substituição.

Com efeito, trata-se de compensação financeira, justa e devida, cuja constitucionalidade já foi
reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal30. Por constituir exercício temporário das mesmas funções,
admite-se o pagamento dos mesmos vencimentos e vantagens, por critério de isonomia. Não se trata,
portanto, de equiparação ou vinculação das remunerações das duas carreiras, prática vedada pela
CF/198831 32.

Ademais, como o conteúdo das normas impugnadas não é a sistematização da remuneração da


carreira de auditor dos Tribunais de Contas estaduais, não há ofensa ao art. 37, X, da CF/1988 33. Inexiste,
ainda, qualquer afronta ao modelo federal de fiscalização dos Tribunais de Contas, cuja observância pelos
estados é compulsória, nos termos do art. 75 da CF/198834.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedentes as ações.

ADI 6951/CE, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 10.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1058)
ADI 6952/AM, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 10.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1058)

Impossibilidade de concessão de aumento pelo Poder Judiciário com fundamento no


princípio da isonomia - ARE 1341061/SC (Tema 1175 RG)

Tese fixada:

“Contraria o disposto na Súmula Vinculante 37 a extensão, pelo Poder Judiciário e com


fundamento no princípio da isonomia, do percentual máximo previsto para o Adicional de
Compensação por Disponibilidade Militar, previsto na Lei 13.954/2019, a todos os integrantes das
Forças Armadas.”35

Resumo:

Não se admite a concessão do Adicional de Compensação por Disponibilidade Militar no


percentual máximo estabelecido pela Lei 13.954/2019 a todos os integrantes das Forças Armadas,
com fundamento no princípio da isonomia.

30
Precedentes: ADI 507; e ADI 6950.
31
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (...) XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies
remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público;”
32
Precedentes: ADI 396; ADI 1274; e ADI 431 MC.
33
CF/1988: “Art. 37 (...) X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39
somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada
revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices;”
34
Precedentes: ADI 5323; ADPF 272; ADI 4776; ADI 5290; e ADI 4416.
35
Precedentes citados: RE 592.317; ARE 1.208.032; ARE 1.278.713.

27
Isso porque “não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar
vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia” (Súmula Vinculante 37).

Ademais, a opção pela adoção de valores variáveis a depender do cargo ocupado representa
escolha essencialmente política, baseada nas características próprias da carreira, tarefas desempenhadas,
grau de responsabilidade, entre outros, cuja análise compete apenas aos Poderes Executivo (que detém a
iniciativa de lei) e Legislativo.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, reconheceu a existência de repercussão
geral da questão constitucional suscitada (Tema 1175 RG). Vencido o ministro Ricardo Lewandowski.
No mérito, por unanimidade, reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria para conhecer o
agravo e desprover o recurso extraordinário.

ARE 1341061/SC, rel. Min. Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 15.10.2021
(INF 1043)

Pensão mensal vitalícia a viúvas de ex-prefeitos - ADPF 975/CE

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional, por violação aos princípios republicano, democrático, da moralidade,


da impessoalidade e da igualdade, lei municipal que concede pensão especial mensal e vitalícia a
viúvas de ex-prefeitos.

Os cargos políticos de chefia do Poder Executivo são exercidos por mandatos temporários e os
seus ocupantes são transitórios, motivo pelo qual a jurisprudência desta Corte é no sentido da inexistência
de qualquer direito ao recebimento de pensão vitalícia por seus ex-ocupantes, nas esferas estadual e
municipal, e por seus respectivos dependentes36.

A concessão do referido benefício pelo mero exercício de cargo eletivo implica quebra do
tratamento igual que deve ser conferido para pessoas em idênticas condições jurídico-funcionais. Assim,
assegurar a percepção de verba mensal a viúvas de ex-prefeitos configura condição privilegiada e
injustificada em relação aos demais beneficiários do Regime Geral de Previdência Social (CF/1988, art.
40, § 13, com a redação dada pela EC 103/2019), que atenderam aos requisitos constitucionais e legais
para a concessão de seus benefícios.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ADPF para
declarar não recepcionadas a Lei 405/198437 e a Lei 486/198938, ambas do Município de Caucaia/CE, bem
como modulou os efeitos da decisão, atribuindo-lhe eficácia a partir da data da publicação da ata do
presente julgamento.

ADPF 975/CE, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 7.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1071)

36
Precedentes citados: ADPF 833; ADPF 793; ADI 4552; ADI 4544; ADI 4601; ADI 3418; ADI 4545; ADI 3853;
ADI 1461 e RE 638307.
37
Lei 405/1984 do Município de Caucaia/CE: “Art. 1º Fica concedida a pensão vitalícia na quantia de Cr$ 200.000
(DUZENTOS MIL CRUZEIROS), às viúvas de ex-Prefeitos no Município de Caucaia. Art. 2º A pensão será devida,
independentemente de requerimento à sucessão legítima, na forma que dispuser o Código Civil Brasileiro e, será
reajustada sempre que aumentos sejam concedidos aos Inativos e Pensionistas da Prefeitura, e em igual percentual.
Art. 3º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.”
38
Lei 486/1989 do Município de Caucaia/CE: “Art. 1º O valor mensal da pensão vitalícia, concedida às viúvas de
ex-prefeitos, de que trata a Lei nº 405, de 30 de novembro de 1984, passa a ser a correspondente a 25% (vinte e cinco
por cento) da Representação a que faz jus o Prefeito em exercício. Art. 2º As despesas decorrentes desta Lei correrão
por conta de dotações próprias consignadas no orçamento do Município. Art. 3º Revogadas as disposições em
contrário, esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”

28
1.13 REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA

Requisição administrativa de bens ou serviços públicos - ADI 3454/DF

ODS: 3, 10 e 16

Resumo:

A requisição administrativa “para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e


transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de
epidemias” — prevista na Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde (Lei 8.080/1990) — não recai
sobre bens e/ou serviços públicos de outro ente federativo.

O permissivo constitucional para a requisição administrativa de bens particulares, em caso de


iminente perigo público39, tem aplicação nas relações entre Poder Público e patrimônio privado, não
sendo possível estender a hipótese às relações entre as unidades da Federação.

Nos termos da jurisprudência desta Corte 40, ofende o princípio federativo a requisição de bens e
serviços de um ente federado por outro, o que somente se admitiria excepcionalmente à União durante a
vigência de estado de defesa (CF/1988, art. 136, § 1º, II) e estado de sítio (CF/1988, art. 139, VII).

Entre os entes federados não há hierarquia, sendo-lhes assegurado tratamento isonômico,


ressalvadas apenas as distinções porventura constantes na própria CF/1988. Portanto, como as relações
entre eles se caracterizam pela cooperação e horizontalidade, tal requisição, ainda que a pretexto de acudir
situação fática de extrema necessidade, importa ferimento da autonomia daquele cujos bens ou serviços
públicos são requisitados, acarretando-lhe incontestável desorganização.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
atribuir interpretação conforme a Constituição ao art. 15, XIII, da Lei 8.080/1990 41, excluindo a
possibilidade de requisição administrativa de bens e serviços públicos de titularidade de outros entes
federativos.

ADI 3454/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1059)

1.14 SERVIÇOS PÚBLICOS

Medidas para garantir a continuidade de serviços públicos essenciais e direito de


greve - ADI 4857/DF

Resumo:

São constitucionais o compartilhamento, mediante convênio, com estados, Distrito Federal


ou municípios, da execução de atividades e serviços públicos federais essenciais, e a adoção de

39
CF/1988: “Art. 5º (...) XXV – no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de
propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;”
40
Precedentes: ACO 3463 MC-Ref; ACO 3393 MC-Ref.; ACO 3398 (monocrática); e ACO 3385 (monocrática).
41
Lei 8.080/1990: “Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu âmbito
administrativo, as seguintes atribuições: (...) XIII – para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e
transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias, a
autoridade competente da esfera administrativa correspondente poderá requisitar bens e serviços, tanto de pessoas
naturais como de jurídicas, sendo-lhes assegurada justa indenização;”

29
procedimentos simplificados para a garantia de sua continuidade em situações de greve,
paralisação ou operação de retardamento promovidas por servidores públicos federais.

Nessa hipótese, não se criam cargos, nem se autoriza contratação temporária. Tampouco
delegam-se atribuições de servidores públicos federais a servidores públicos estaduais, ou autoriza-se a
investidura em cargo público federal sem a aprovação prévia em concurso público. O que se tem é o
compartilhamento da execução da atividade ou serviço para garantia da continuidade do serviço público
em situações excepcionais ou temporárias, motivo pelo qual a medida será encerrada ao término daquelas
circunstâncias.

Ademais, considerando que o Decreto 7.777/201242, que prevê essa cooperação entre entes
federativos, retira seu fundamento legal da Lei 7.783/1989 (arts. 11 e 12) 43, a aplicação das medidas nele
previstas deve se restringir aos serviços públicos considerados essenciais.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente
ação direta.

ADI 4857/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 11.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1046)

Reajuste de tarifas telefônicas: cláusula contratual, inflação e revisão judicial - RE


1059819/PE (Tema 991 RG)

Tese fixada:

“Afronta o princípio da separação dos Poderes a anulação judicial de cláusula de contrato


de concessão firmado por Agência Reguladora e prestadora de serviço de telefonia que, em
observância aos marcos regulatórios estabelecidos pelo Legislador, autoriza a incidência de reajuste
de alguns itens tarifários em percentual superior ao do índice inflacionário fixado, quando este não
é superado pela média ponderada de todos os itens.”

Resumo:

Em regra, não cabe ao Poder Judiciário anular cláusula de contrato de concessão de


serviço público que autoriza o reajuste de tarifa telefônica em percentual superior ao índice
inflacionário.

Isso porque a intervenção do Judiciário no âmbito regulatório dá-se com vistas ao controle de
legalidade, respeitadas as capacidades institucionais das entidades de regulação e a discricionariedade

42
Decreto 7.777/2012: “Art. 1º Compete aos Ministros de Estado supervisores dos órgãos ou entidades em que
ocorrer greve, paralisação ou retardamento de atividades e serviços públicos: I - promover, mediante convênio, o
compartilhamento da execução da atividade ou serviço com Estados, Distrito Federal ou Municípios; e II - adotar,
mediante ato próprio, procedimentos simplificados necessários à manutenção ou realização da atividade ou serviço. §
1º As atividades de liberação de veículos e cargas no comércio exterior serão executadas em prazo máximo a ser
definido pelo respectivo Ministro de Estado supervisor dos órgãos ou entidades intervenientes. § 2º Compete à chefia
de cada unidade a observância do prazo máximo estabelecido no § 1º. § 3º A responsabilidade funcional pelo
descumprimento do disposto nos §§ 1º e 2º será apurada em procedimento disciplinar específico. Art. 2º O Ministro
de Estado competente aprovará o convênio e determinará os procedimentos necessários que garantam o
funcionamento regular das atividades ou serviços públicos durante a greve, paralisação ou operação de retardamento.
Art. 3º As medidas adotadas nos termos deste Decreto serão encerradas com o término da greve, paralisação ou
operação de retardamento e a regularização das atividades ou serviços públicos. Art. 4º Este Decreto entra em vigor
na data de sua publicação.”
43
Lei 7.783/1989: “Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores
ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da
comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da
população. Art. 12. No caso de inobservância do disposto no artigo anterior, o Poder Público assegurará a prestação
dos serviços indispensáveis.”

30
técnica dos atos editados, motivo pelo qual interferir em ato autorizado pela Anatel, que não excedeu os
limites conferidos pelo legislador, importa em afronta ao princípio da separação dos Poderes 44.

Com base nesse entendimento, ao concluir a apreciação do Tema 991 da repercussão geral, o
Plenário, por maioria, deu provimento ao recurso extraordinário para, reformando o acórdão recorrido,
julgar improcedente ação civil pública, mantendo válido o acréscimo de 9% no reajuste individual dos
itens tarifários acima do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), constante na cláusula
11.1 do contrato de concessão.

RE 1059819/PE, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1044)

1.15 SERVIDOR PÚBLICO

Extensão da licença-maternidade a servidor público pai solo - RE 1348854/SP (Tema


1182 RG)

ODS: 3, 8, 10 e 16

Tese fixada:

“À luz do art. 227 da Constituição Federal, que confere proteção integral da criança com
absoluta prioridade e do princípio da paternidade responsável, a licença maternidade, prevista no
art. 7º, XVIII, da CF/88 e regulamentada pelo art. 207 da Lei 8.112/1990, estende-se ao pai genitor
monoparental.”

Resumo:

O servidor público que seja pai solo ─ de família em que não há a presença materna ─ faz
jus à licença maternidade e ao salário maternidade pelo prazo de 180 dias, da mesma forma em que
garantidos à mulher pela legislação de regência.

A construção interpretativa e jurisprudencial do Tribunal, acompanhando os avanços da


Constituição no campo da justiça social e dos direitos da dignidade da pessoa humana, passou a legitimar
e igualar as diversas configurações de família e filiação. Inclusive, esta Corte tem reiteradamente realçado
que a CF/1988 e o ECA adotaram a doutrina da proteção integral e o princípio da prioridade absoluta das
crianças e dos adolescentes enquanto pessoas em desenvolvimento, devendo-lhes ser asseguradas todas as
condições para uma convivência familiar saudável, harmônica e segura, quer seja o vínculo familiar
biológico ou estabelecido pelos institutos da guarda ou adoção 45.

Assim, embora inexistente previsão legal, o benefício deve ser excepcionalmente estendido ao
pai de família monoparental, em respeito aos princípios da isonomia de direitos entre o homem e a
mulher46 e da proteção integral à criança 47, já que destinado a assegurar o melhor interesse do menor,
cujos laços de afetividade com o responsável por sua criação e educação são formados ainda nos
primeiros dias de vida.

44
Precedente: ADI 4.679.
45
Precedentes: ADI 5938; RE 629053 (Tema 497 RG); ADI 4878; ADI 5083; ADI 6600; ADI 4277; ADPF 132; e
RE 778889 (Tema 782 RG).
46
CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;”
47
CF/1988: “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

31
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.182 da
repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 1348854/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 12.5.2022 (INF


1054)

Reenquadramento de servidor admitido sem concurso público antes da promulgação


da Constituição Federal de 1988 - ARE 1306505/AC (Tema 1157 RG)

Tese fixada:

“É vedado o reenquadramento, em novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração, de


servidor admitido sem concurso público antes da promulgação da Constituição Federal de 1988,
mesmo que beneficiado pela estabilidade excepcional do artigo 19 do ADCT, haja vista que esta
regra transitória não prevê o direito à efetividade, nos termos do artigo 37, II, da Constituição
Federal e decisão proferida na ADI 3609 (Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe.
30/10/2014).”

Resumo:

Servidor admitido sem concurso público antes da promulgação da CF/1988, ainda que
beneficiado pela estabilidade excepcional do art. 19 do ADCT, não pode ser reenquadrado em novo
Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração previsto para servidores efetivos.

Embora o art. 19 do ADCT 48 tenha conferido estabilidade excepcional aos servidores que foram
admitidos, sem concurso público, há pelo menos cinco anos contínuos da data da promulgação da
CF/1988, nada dispôs acerca da possibilidade de esses servidores usufruírem de benefícios legalmente
estabelecidos para os ocupantes de cargos efetivos que ingressaram mediante concurso público. Os
servidores que adquiriram essa estabilidade excepcional possuem apenas o direito de permanecer na
função para as quais foram admitidos, devendo submeter-se a certame público para serem efetivados no
cargo, nos termos do art. 37, II, da CF/198849 e 50.

Dessa forma, se nem mesmo os servidores que preenchem os requisitos do art. 19 do ADCT
fazem jus aos benefícios conferidos aos que ingressaram na Administração Pública mediante prévia
aprovação em concurso público, com menos razão pode-se cogitar, no caso concreto, da continuidade de
situação notoriamente inconstitucional, em que servidor contratado pelo regime celetista, sem concurso
público, sem qualquer estabilidade, usufrui de benefícios legalmente previstos apenas para servidores
públicos efetivos51.

48
ADCT: “Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da
administração direta, autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da promulgação da Constituição, há
pelo menos cinco anos continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da Constituição,
são considerados estáveis no serviço público.”
49
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (...) II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração;”
50
Precedentes: ARE 1238618 AgR; ARE 1069876 AgR; ADI 289; ADI 3609; ADPF 482; ADI 1757; ADI 2364;
ADI 1476; ADI 5163; ADI 1269; ADI 1202; Rcl 35146 AgR; ADI 4233.

32
Além disso, a concessão de efeitos prospectivos à decisão proferida na ADI 3609 não teve por
escopo garantir efetividade aos servidores que ingressaram no serviço público estadual sem concurso até
5.2.2015, mas sim conceder ao Estado tempo suficiente para realizar concurso público para o
preenchimento dos cargos que foram ocupados de forma inconstitucional e evitar a paralisação de serviço
público essencial.

Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1157 da repercussão
geral, conheceu do agravo para, desde logo, dar provimento ao recurso extraordinário, e denegar a
segurança.

ARE 1306505/AC, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em


28.3.2022 (INF 1048)

Servidor público: jornada de trabalho reduzida e remuneração inferior ao salário


mínimo - RE 964659/RS (Tema 900 RG)

ODS: 8, 10 e 16
Tese fixada:

“É defeso o pagamento de remuneração em valor inferior ao salário mínimo ao servidor


público, ainda que labore em jornada reduzida de trabalho.”

Resumo:

É inconstitucional remunerar servidor público, mesmo que exerça jornada de trabalho


reduzida, em patamar inferior a um salário mínimo52.

O direito fundamental ao salário mínimo é previsto constitucionalmente para garantir a


dignidade da pessoa humana por meio da melhoria de suas condições de vida (CF/1988, art. 7º, IV),
garantia que foi estendida aos servidores públicos sem qualquer sinalização no sentido da possibilidade de
flexibilizá-la no caso de jornada reduzida ou previsão em legislação infraconstitucional (CF/1988, art. 39,
§ 3º).

A leitura conjunta dos dispositivos constitucionais atinentes ao tema, somado ao postulado da


vedação do retrocesso de direitos sociais, denota a finalidade de assegurar o mínimo existencial aos
integrantes da Administração Pública Direta e Indireta com a fixação do menor patamar remuneratório
admissível53, especialmente se consideradas as limitações inerentes ao regime jurídico dos servidores
públicos, cujas características se distinguem do relativo às contratações temporárias ou originadas de
vínculos decorrentes das recentes reformas trabalhistas.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 900 da repercussão
geral, deu provimento ao recurso extraordinário para devolver os autos ao tribunal de origem para
continuidade de julgamento, a fim de que sejam decididas as demais questões postas no apelo, observados
os parâmetros ora decididos.

RE 964659/RS, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 5.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1062)

51
Precedentes: ARE 985614 AgR; MS 30294; RE 817338; RE 1219419 AgR; ARE 1248621 AgR; ARE 1247837
AgR.
52
Precedentes: AI 815869 AgR; RE 565621 (monocrática); AI 742870 (monocrática); ARE 660010 (Tema 514 RG);
ARE 893698 (monocrática); ARE 891944 (monocrática); ARE 736433 (monocrática); ARE 887646 (monocrática);
ARE 891945 (monocrática); ARE 663068 (monocrática); ADI 2238.

53
Precedentes: ADI 1442; RE 340599; RE 582019 QO (Tema 142 RG).

33
1.16 SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA

Privatização de empresa estatal e transferência de débitos judiciais ao estado - ADI


5271/MA

Resumo:

É constitucional norma estadual que prevê a assunção de obrigações financeiras resultantes


de sentença judicial proferida após a privatização de sociedade de economia mista prestadora de
serviço público pelo respectivo estado.

No caso, a Lei 7.514/2000 do Estado do Maranhão dispõe sobre matérias administrativas


relativas à desestatização de empresa estatal do setor de energia (Companhia Energética do Maranhão S.A
– CEMAR) e à responsabilidade do estado na sucessão de obrigações extraordinárias decorrentes da
reorganização administrativa, conteúdo inserido na competência outorgada constitucionalmente aos
estados-membros54.

A norma não cria despesas efetivas nem constitui privilégios fiscais concedidos à então estatal 55
56
. Ela também não viola o princípio da isonomia ou o ato jurídico perfeito. Isso porque, ao determinar a
assunção de apenas alguns débitos, o legislador atuou dentro de seu espaço de discricionariedade, visando
tornar a operação mais atrativa à luz do interesse público e estimular a aquisição. Ademais, a lei
representa uma garantia adicional ao adimplemento de dívidas contratuais assumidas previamente pela
CEMAR, pois a transferência das obrigações ao estado respeitou os contratos anteriormente celebrados,
não havendo se falar em aceitação por encargos futuros.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e
a julgou improcedente na parte conhecida.

ADI 5271/MA, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1065)

1.17 TRIBUNAL DE CONTAS

TCU: competência para fiscalizar verbas federais complementares ao


FUNDEF/FUNDEB - ADI 5791/DF

Resumo:

Compete ao Tribunal de Contas da União (TCU) fiscalizar a aplicação, por parte dos
demais entes da Federação, de verbas federais, transferidas pela União, para complementar o
Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF)/Fundo

54
CF/1988: “Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. (...) Art. 25. Os
Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta
Constituição. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição”.
55
CF/1988: “Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica
pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse
coletivo, conforme definidos em lei. (...) § 2º As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão
gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado.”
56
Precedentes citados: ADI 5856; ADI 1440; e ADI 3599.

34
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (FUNDEB).
Os recursos destinados ao FUNDEF/FUNDEB a título de complementação, quando o montante
investido pelos estados e pelo Distrito Federal não for suficiente para atingir o mínimo por aluno, são
originários da União (57) (58).
Ademais, a fiscalização da aplicação de recursos federais é atribuição do TCU, conforme
disposto na Constituição Federal (59) e na própria Lei Orgânica do Tribunal (Lei 8.443/1992).
Assim, a origem dos recursos é determinante para o adequado estabelecimento da competência
fiscalizatória (60), de maneira que, caso se faça necessária a complementação da União, o TCU atuará,
sem que isso represente prejuízo à atuação do respectivo Tribunal de Contas estadual, visto que o Fundo é
composto por recursos estaduais e municipais (61).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação.

ADI 5791/DF, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 2.9.2022
(sexta-feira), às 23:59

57
ADCT: “Art. 60 Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta Emenda Constitucional, os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição
Federal à manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos trabalhadores da
educação, respeitadas as seguintes disposições: (...) II - os Fundos referidos no inciso I do caput deste artigo serão
constituídos por 20% (vinte por cento) dos recursos a que se referem os incisos I, II e III do art. 155; o inciso II do
caput do art. 157; os incisos II, III e IV do caput do art. 158; e as alíneas a e b do inciso I e o inciso II do caput do art.
159, todos da Constituição Federal, e distribuídos entre cada Estado e seus Municípios, proporcionalmente ao número
de alunos das diversas etapas e modalidades da educação básica presencial, matriculados nas respectivas redes, nos
respectivos âmbitos de atuação prioritária estabelecidos nos §§ 2º e 3º do art. 211 da Constituição Federal; (...) V - a
União complementará os recursos dos Fundos a que se refere o inciso II do caput deste artigo sempre que, no Distrito
Federal e em cada Estado, o valor por aluno não alcançar o mínimo definido nacionalmente, fixado em observância
ao disposto no inciso VII do caput deste artigo, vedada a utilização dos recursos a que se refere o § 5º do art. 212 da
Constituição Federal.” (com a redação dada pela Emenda Constitucional 53/2006)
58
CF/1988: “Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. (...) Art. 212-A. Os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 desta Constituição à manutenção e ao
desenvolvimento do ensino na educação básica e à remuneração condigna de seus profissionais, respeitadas as
seguintes disposições: (...) II - os fundos referidos no inciso I do caput deste artigo serão constituídos por 20% (vinte
por cento) dos recursos a que se referem os incisos I, II e III do caput do art. 155, o inciso II do caput do art. 157, os
incisos II, III e IV do caput do art. 158 e as alíneas ‘a’ e ‘b’ do inciso I e o inciso II do caput do art. 159 desta
Constituição; (...) IV - a União complementará os recursos dos fundos a que se refere o inciso II do caput deste artigo;
V - a complementação da União será equivalente a, no mínimo, 23% (vinte e três por cento) do total de recursos a que
se refere o inciso II do caput deste artigo, distribuída da seguinte forma: (...)”
59
CF/1988: “Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de
Contas da União, ao qual compete: (...) II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros,
bens e valores públicos da Administração Direta e Indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas
pelo Poder Público Federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que
resulte prejuízo ao erário público;”
60
Precedentes citados: ACO 648; ACO 660; ACO 669; ACO 700; ACO 1156; ACO 1109; HC 80867; MS 24379;
MS 25880; MS 21644; MS 26969; e ADPF 528.

61
Lei 14.113/2020: “Art. 30. A fiscalização e o controle referentes ao cumprimento do disposto no art. 212 da
Constituição Federal e do disposto nesta Lei, especialmente em relação à aplicação da totalidade dos recursos dos
Fundos, serão exercidos: (...) II - pelos Tribunais de Contas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
perante os respectivos entes governamentais sob suas jurisdições; III - pelo Tribunal de Contas da União, no que
tange às atribuições a cargo dos órgãos federais, especialmente em relação à complementação da União.”

35
2. DIREITO AMBIENTAL

2.1 ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL PERMANENTE

Área de Preservação Ambiental Permanente e competência legislativa - ADI


5675/MG

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que legitime ocupações em solo urbano de área de


preservação permanente (APP) fora das situações previstas em normas gerais editadas pela União.

Em matéria de competência legislativa concorrente, vale a regra da predominância do interesse,


respeitando-se a legislação estadual sempre — e apenas — que ela promover um aumento no padrão
normativo de proteção aos bens jurídicos tutelados62.

Nesse sentido, se a lei estadual amplia os casos de ocupação antrópica em áreas de preservação
permanente previstos na norma federal vigente à época (no caso, a Lei 11.977/2009, revogada pela Lei
13.465/2017), ela, além de estar em descompasso com o conjunto normativo elaborado pela União,
flexibiliza a proteção ao meio ambiente local, tornando-o mais propenso a sofrer danos.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade dos arts. 2º, III; 3º, II, c, e 17 da Lei
20.922/2013 do Estado de Minas Gerais.

ADI 5675/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 17.12.2021
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1042)

2.2 COMBATE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Fundo Clima: funcionamento, destinação de recursos e contingenciamento de verbas


- ADPF 708/DF

ODS: 3, 13, 15 e 17

Tese fixada:

“O Poder Executivo tem o dever constitucional de fazer funcionar e alocar anualmente os


recursos do Fundo Clima, para fins de mitigação das mudanças climáticas, estando vedado seu
contingenciamento, em razão do dever constitucional de tutela ao meio ambiente (CF, art. 225), de
direitos e compromissos internacionais assumidos pelo Brasil (CF, art. 5º, § 2º), bem como do
princípio constitucional da separação dos poderes (CF, art. 2º c/c art. 9º, § 2º, LRF).”

Resumo:

É dever do Poder Executivo dar pleno funcionamento ao Fundo Nacional sobre Mudança
do Clima (Fundo Clima) e alocar anualmente seus recursos com o intuito de mitigar as mudanças
climáticas, sendo vedado o contingenciamento de suas receitas.

A União e os representantes eleitos têm dever constitucional, supralegal e legal de proteger o


meio ambiente e de combater as mudanças climáticas. Ademais, os tratados sobre direito ambiental
desfrutam de status supranacional, pois constituem espécie do gênero tratados de direitos humanos.

62
Precedentes: ADPF 109; ADI 5.312; ADI 4.988.

36
Assim, a tutela ambiental possui natureza jurídica vinculante, eis que não inserida em juízo
político, de conveniência e oportunidade, do chefe do Poder Executivo, de modo que, acaso evidenciado
um contexto de colapso nas políticas públicas atinentes ao tema, o Poder Judiciário deve atuar para
garantir obediência ao princípio da vedação ao retrocesso.

Além disso, a alocação de recursos do Fundo concretiza o dever constitucional de tutela e


restauração do meio ambiente, assim como dos direitos fundamentais que lhes são interdependentes.
Como as suas receitas são vinculadas por lei a atividades determinadas, não podem ser objeto de
contingenciamento, nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal63.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para: (i)
reconhecer a omissão da União, em razão da não alocação integral dos recursos do Fundo Clima
referentes a 2019; (ii) determinar à União que se abstenha de se omitir em fazer funcionar o Fundo Clima
ou em destinar seus recursos; e (iii) vedar o contingenciamento das receitas que integram o Fundo.

ADPF 708/DF, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1061)

2.3 COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS

Composição de órgãos de controle ambiental - ADPF 651/DF

ODS: 15, 16 e 17

Resumo:

São inconstitucionais as normas que, a pretexto de reestruturarem órgãos ambientais,


afastam a participação da sociedade civil e dos governadores do desenvolvimento e da formulação
de políticas públicas, bem como reduzem, por via de consequência, o controle e a vigilância por eles
promovidos.

A Constituição Federal confere ao Poder Público e à coletividade o dever de preservar e defender


o meio ambiente64. A responsabilidade da coletividade só existe se a ela for viabilizada a participação na
formulação, execução e controle das políticas públicas ambientais, razão pela qual a Constituição também
teve o cuidado de estabelecer o dever de o Poder Público promover a educação ambiental, em todos os
níveis de ensino, e a conscientização pública para a necessidade de preservação do meio ambiente (CF,
art. 225, § 1º, VI).

Nesse sentido, as medidas de proteção ambiental devem se orientar para acolher a participação
da sociedade civil. Nesse contexto, a eliminação da presença de seus representantes na composição de
órgãos ambientais exclui a coletividade da atuação cívica das políticas adotadas, bem como confere ao
Poder Executivo o controle exclusivo de suas decisões, neutralizando o caráter plural, crítico e

63
Precedente: ADPF 347 MC.
64
CF/1988: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I -
preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II -
preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e
manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei,
vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na
forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização
e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (...)”

37
diversificado da formulação, desempenho e controle social, que, por definição constitucional, caracteriza
condição inerente à atuação desses órgãos.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para (i)
declarar a inconstitucionalidade do art. 5º do Decreto 10.224/2020, que extinguiu a participação da
sociedade civil no Conselho Deliberativo do Fundo Nacional do Meio Ambiente; e (ii) declarar a
inconstitucionalidade do Decreto 10.239/2020, especificamente no ponto em que excluída a participação
de governadores no Conselho Nacional da Amazônia Legal; e do inciso CCII do art. 1º do Decreto
10.223/2020, especificamente no ponto em que se extinguiu o Comitê Orientador do Fundo Amazônia.

ADPF 651/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento finalizado em 28.4.2022 (INF 1052)

2.4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Concessão automática de licença ambiental para empresas com grau de risco médio -
ADI 6808/DF

ODS: 8 e 11

Resumo:

É inconstitucional a concessão automática de licença ambiental no sistema responsável pela


integração (Redesim) para o funcionamento de empresas que exerçam atividades de risco médio
nos termos da classificação estabelecida em ato do Poder Público.

O licenciamento ambiental dispõe de base constitucional 65 e não pode ser suprimido, ainda que
de forma indireta, por lei. Também não pode ser simplificado a ponto de ser esvaziado, salvo se a norma
que o excepcionar apresentar outro instrumento apto a assegurar a proteção ao meio ambiente com igual
ou maior qualidade.

Nesse contexto, a simplificação do procedimento pelo argumento da desburocratização e


desenvolvimento econômico, com controle apenas posterior, configura retrocesso inconstitucional, pois
afasta os princípios da prevenção e da precaução ambiental. A automaticidade, por sua vez, contraria
norma específica sobre o licenciamento ambiental, segundo a qual as atividades econômicas potencial ou
efetivamente causadoras de impacto ambiental estão sujeitas ao controle estatal 66.

Não possui fundamento constitucional válido a vedação da coleta adicional, pelos órgãos
competentes, de dados que não tenham sido disponibilizados na Redesim previamente ou no ato do
protocolo do pedido de licenciamento.

A proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, para as presentes e futuras gerações,


não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ser dependente de motivações

65
CF/1988: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...)
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a
produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a
qualidade de vida e o meio ambiente;”
66
Lei 6.938/1981: “Art. 10.  A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades
utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental.”

38
exclusivamente econômicas, na medida em que o desenvolvimento econômico deve ocorrer de forma
sustentável.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação
para dar interpretação conforme ao art. 6º-A e ao inciso III do art. 11-A, ambos da Lei 14.195/2021 67, não
aplicando-os às licenças em matéria ambiental.

ADI 6808/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento em 28.4.2022 (INF 1052)

Licenciamento ambiental e competência municipal - ADI 2142/CE

Tese fixada:

“É inconstitucional interpretação do art. 264 da Constituição do Estado do Ceará de que


decorra a supressão da competência dos Municípios para regular e executar o licenciamento
ambiental de atividades e empreendimentos de impacto local.”

Resumo:

Cabe aos municípios promover o licenciamento ambiental das atividades ou


empreendimentos que possam causar impacto ambiental de âmbito local.

Com amparo nas regras de repartição de competências, o entendimento desta Corte se firmou no
sentido de que o município é competente para legislar sobre o meio ambiente com a União e o estado no
limite do seu interesse local e desde que tal regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida
pelos demais entes federados (CF/1988, art. 24, VI c/c o art. 30, I e II)68.

A Política Nacional do Meio Ambiente, estabelecida pela Lei 6.938/1981, expressamente prevê
que dependem de licenciamento ambiental a construção, a instalação, a ampliação e o funcionamento de
estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores
ou capazes de causar degradação ambiental sob qualquer forma. Nesse contexto, o conjunto normativo 69 70
e a jurisprudência acerca do tema71 reforçam a referida competência municipal e a sua importância.

67
Lei 14.195/2021: Art. 6º-A Sem prejuízo do disposto no inciso I do caput do art. 3º da Lei nº 13.874, de 20 de
setembro de 2019, nos casos em que o grau de risco da atividade seja considerado médio, na forma prevista no art. 5º-
A desta Lei, o alvará de funcionamento e as licenças serão emitidos automaticamente, sem análise humana, por
intermédio de sistema responsável pela integração dos órgãos e das entidades de registro, nos termos estabelecidos
em resolução do CGSIM. (...) Art. 11-A. Não poderão ser exigidos, no processo de registro de empresários, incluídos
produtores rurais estabelecidos como pessoas físicas, e de pessoas jurídicas realizado pela Redesim: (...) III - coletas
adicionais à realizada no âmbito do sistema responsável pela integração, a qual deverá ser suficiente para a realização
do registro e das inscrições, inclusive no CNPJ, e para a emissão das licenças e dos alvarás para o funcionamento do
empresário ou da pessoa jurídica.”
68
Precedente: RE 586224 (Tema 145 RG).
69
Lei Complementar 140/2011: “Art. 9º São ações administrativas dos Municípios: (...) XIV - observadas as
atribuições dos demais entes federativos previstas nesta Lei Complementar, promover o licenciamento ambiental das
atividades ou empreendimentos: a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme
tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte,
potencial poluidor e natureza da atividade; ou b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município,
exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);”
70
Resolução 237/1997 do CONAMA: “Art. 6º - Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os órgãos
competentes da União, dos Estados e do Distrito Federal, quando couber, o licenciamento ambiental de
empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por
instrumento legal ou convênio. Art. 7º - Os empreendimentos e atividades serão licenciados em um único nível de
competência, conforme estabelecido nos artigos anteriores.”
71
Precedente: ADI 6288.

39
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
conferir interpretação conforme a Constituição Federal ao art. 264 da Constituição do Estado do Ceará 72,
no sentido de que a aplicação do dispositivo deve se limitar à estrutura político-administrativa do Estado
do Ceará, ficando resguardadas as competências administrativa e legislativa dos municípios relativas ao
licenciamento de atividades e empreendimentos de impacto local.

ADI 2142/CE, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1060)

2.5 POLUIÇÃO

Resolução 491/2018-Conama: padrões de qualidade do ar e diretrizes da OMS - ADI


6148/DF

ODS: 3 e 11

Resumo:

Ainda é constitucional a Resolução 491/2018 do Conselho Nacional do Meio Ambiente


(Conama), que dispõe sobre padrões de qualidade do ar. Entretanto, nova norma deve ser editada.

Mantém-se a constitucionalidade da resolução haja vista o cotejo das teses trazidas na inicial
com a jurisprudência desta Corte. Ademais, quando editada, a regulação consistiu em avanço, de forma
razoável, no tratamento da matéria. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que,
embora suas diretrizes sejam pensadas para o uso mundial, os padrões locais podem variar de acordo com
abordagens específicas para o equilíbrio de riscos à saúde, viabilidade tecnológica, considerações
econômicas e outros fatores políticos e sociais.

Apesar disso, a resolução está em trânsito para a inconstitucionalidade e precisa ser aperfeiçoada.
Logo, o Conama deve editar norma atualizada tendo em conta os novos parâmetros de qualidade do ar
recomendados pela OMS.

Com esses entendimentos, o Plenário, por maioria, conheceu de ação direta de


inconstitucionalidade e julgou improcedente o pedido nela formulado, para declarar ser ainda
constitucional a Resolução 491/2018-Conama e determinar que, no prazo de 24 meses a contar da
publicação do acórdão, o Conama edite nova resolução sobre a matéria, a qual deverá levar em
consideração: (i) as atuais orientações da OMS sobre os padrões adequados da qualidade do ar; (ii) a
realidade nacional e as peculiaridades locais; bem como (iii) os primados da livre iniciativa, do
desenvolvimento social, da redução da pobreza e da promoção da saúde pública. Decorrido o prazo de
vinte e quatro meses concedido, sem a edição de novo ato que represente avanço material na política
pública relacionada à qualidade do ar, passarão a vigorar os parâmetros estabelecidos pela OMS enquanto
perdurar a omissão administrativa na edição da nova resolução. Vencidos os ministros Cármen Lúcia
(relatora), Edson Fachin, Roberto Barroso e Rosa Weber.

ADI 6148/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. André Mendonça,
julgamento em 4 e 5.5.2022 (INF 1053)

72
Constituição do Estado do Ceará: “Art. 264. Qualquer obra ou atividade pública ou privada, para as quais a
Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE, exigir Estudo de Impacto Ambiental, deverá ter o parecer
técnico apreciado pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente – COEMA, com a publicação da resolução, aprovada
ou não, publicada no Diário Oficial do Estado.”

40
2.6 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL

Supressão de marcos regulatórios ambientais e proibição do retrocesso ambiental -


ADPF 748/DF

ODS: 2, 6, 8, 12, 15 e 16

Resumo:

É inconstitucional a Resolução CONAMA 500/2020.

O poder normativo atribuído ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) pela


respectiva lei instituidora consiste em instrumento para viabilizar, ao agente regulador, a implementação
das diretrizes, finalidades, objetivos e princípios expressos na Constituição e na legislação ambiental,
orientando-se necessariamente de modo compatível com a ordem constitucional de proteção do
patrimônio ambiental.

Assim, a mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis


necessários ao cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, compromete a
observância do texto constitucional, da legislação vigente e de compromissos internacionais.

No caso, a Resolução CONAMA 500/2020 revogou as Resoluções CONAMA 284/2001,


302/2002 e 303/2002, as quais dispõem, respectivamente, sobre (i) licenciamento de empreendimentos de
irrigação; (ii) parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente de reservatórios
artificiais e o regime de uso do entorno; e (iii) parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação
Permanente.

Nesse contexto, ao revogar normativa necessária e primária de proteção ambiental na seara


hídrica, o ato normativo impugnado implicou evidente retrocesso na proteção e defesa dos direitos
fundamentais à vida, à saúde e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, pois revela autêntica
situação de degradação de ecossistemas essenciais à preservação da vida sadia, comprometimento da
integridade de processos ecológicos essenciais e perda de biodiversidade, assim como o recrudescimento
da supressão de cobertura vegetal em áreas legalmente protegidas73.

É constitucional a Resolução CONAMA 499/2020.

Ao disciplinar condições, critérios, procedimentos e limites a serem observados no licenciamento


de fornos rotativos de produção de clínquer para a atividade de coprocessamento de resíduos, a Resolução
atende não apenas à exigência de estudo prévio de impacto ambiental para a instalação de atividade
potencialmente causadora de degradação do meio ambiente, como também à obrigação imposta ao Poder
Público de controlar o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a
qualidade de vida e o meio ambiente.

Além disso, sua disciplina guarda consonância com a Lei 12.305/2020, que institui a Política
Nacional de Resíduos Sólidos, muito bem observando os critérios de razoabilidade e proporcionalidade
nela positivados como princípios setoriais.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a
ação para (i) declarar a inconstitucionalidade da Resolução CONAMA 500/2020, com a imediata
restauração da vigência e eficácia das Resoluções CONAMA 284/2001, 302/2002 e 303/2002; e (ii)
julgar improcedente o pedido de inconstitucionalidade da Resolução CONAMA 499/2020.
73
CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...) Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta Constituição. (...) Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

41
ADPF 748/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1055)

2.7 SANEAMENTO BÁSICO

Região metropolitana: saneamento básico, poder decisório e recursos obtidos com a


empreitada comum - ADI 6573/AL; ADI 6911/AL e ADPF 863/AL

ODS: 6 e 16

Resumo:

É inconstitucional norma que prevê a concentração excessiva do poder decisório nas mãos
de só um dos entes públicos integrantes de região metropolitana.

A integração metropolitana de municípios visando promover melhorias das condições de


saneamento básico é compatível com a CF/1988, e a simples existência fática de isolamento ou não
integração do sistema não obsta a sua formação nos moldes da legislação de regência.

A concorrência entre o princípio do interesse comum e a autonomia municipal não deve traduzir-
se em total centralização do poder decisório metropolitano, uma vez que prevalece a tese da competência
e da titularidade conjuntas, que enseja a existência de uma estrutura colegiada assecuratória da
participação dos municípios integrantes da região metropolitana74.

Ainda que a gestão colegiada das regiões metropolitanas não esteja obrigada a respeitar a
paridade de votos entre seus integrantes, afronta o princípio da proibição da concentração decisória todo o
desenho institucional que agrupe poderes em apenas uma de suas pessoas políticas, conferindo-lhe o
exercício do predomínio absoluto nas instâncias deliberativas e/ou executivas.

Nesse mesmo contexto, é inadmissível que a gestão e a percepção dos frutos da empreitada
metropolitana comum, incluídos os valores referentes a eventual concessão à iniciativa privada,
aproveitem a apenas um dos entes federados.

A densificação da autonomia dos entes deve ser exercida com a lógica do compartilhamento,
assegurando-se a participação de todos na gestão dos recursos, mesmo que não siga uma proporção
estrita. Ainda que a Constituição e a jurisprudência não imponham um único modelo pré-fixado, é vedado
que apenas um ente absorva a integralidade das competências e das benesses.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, em julgamento conjunto e por unanimidade, julgou
parcialmente procedente a ADI 6.573 e totalmente procedentes a ADI 6.911 e a ADPF 863, modulando os
efeitos da decisão para resguardar a continuidade do essencial serviço de saneamento básico na região.

ADI 6573/AL, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1055)

ADI 6911/AL, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1055)

ADPF 863/AL, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1055)

74
Precedentes: ADI 1.842; ADI 1.841; e ADI 796.

42
3. DIREITO CIVIL

3.1 ASSOCIAÇÃO

Desfiliação de associado: quitação de débitos e/ou multas como condição - RE


820823/DF (Tema 922)

ODS: 16

Tese fixada:

“É inconstitucional o condicionamento da desfiliação de associado à quitação de débito


referente a benefício obtido por intermédio da associação ou ao pagamento de multa.”

Resumo:

Condicionar a desfiliação de associado à quitação de débitos e/ou multas constitui ofensa à


dimensão negativa do direito à liberdade de associação (direito de não se associar), cuja previsão
constitucional é expressa.

É possível, em tese, restringir um direito fundamental em três situações: (a) em razão de seu
desenho constitucional, quando a própria Constituição prevê limitação para o seu exercício; (b) em
virtude de expressa autorização na Carta Magna para que o legislador ordinário limite o seu exercício
mediante regulamentação legal; ou (c) em decorrência de uma ponderação com outros valores que
possuam igual proteção constitucional75.

Na hipótese, nenhuma dessas situações se faz presente, de modo que inexiste violação à
isonomia entre os associados. Isso porque (a) a Constituição Federal garante o amplo exercício da
liberdade associativa, restringindo somente a criação daquelas de caráter paramilitar 76; e (b) considerados
os instrumentos próprios do direito civil, não há princípio ou regra constitucional passíveis de serem
invocados em favor da medida objeto de análise.

No entanto, a associação pode se valer dos instrumentos de direito para cobrar eventuais
compensações ou multas em face de quem a ela se filia para obter benefícios, mas, após, dela se desliga,
desde que o valor guarde razoabilidade e proporcionalidade.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 922 da
repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário para restabelecer a sentença.

RE 820823/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 30.9.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1070)

75
Precedentes citados: ADI 1969 e RE 695911 (Tema 492 RG)
76
CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...) XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter
paramilitar; XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo
vedada a interferência estatal em seu funcionamento; XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; XXI - as entidades associativas,
quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;”

43
3.2 BEM DE FAMÍLIA

Bem de família: fiança; contrato de locação comercial e penhorabilidade - RE


1307334/SP (Tema 1127 RG)

Tese fixada:

“É constitucional a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação,


seja residencial, seja comercial.”

Resumo:

A penhorabilidade de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação também


se aplica no caso de locação de imóvel comercial.

A exceção à regra da impenhorabilidade do bem de família contida no inciso VII do art. 3º da


Lei 8.009/199077 é necessária, proporcional e razoável, mesmo na hipótese de locação comercial.

É necessária e proporcional, pois os outros meios legalmente aceitos para garantir o contrato de
locação comercial, tais como caução e seguro-fiança, são mais custosos para grande parte dos
empreendedores. Dessa forma, a fiança afigura-se a garantia que melhor propicia ganhos em termos da
promoção da livre iniciativa, da valorização do trabalho e da defesa do consumidor.

Já a razoabilidade se assenta no fato de que o fiador tem livre disposição dos seus bens, o que
deixa patente que a restrição ao seu direito de moradia encontra guarida no princípio da autonomia
privada e da autodeterminação das pessoas, que é um princípio que integra a própria ideia ou direito de
personalidade.

Com esses entendimentos, ao apreciar o Tema 1127 da repercussão geral, o Plenário, por
maioria, negou provimento a recurso extraordinário.

RE 1307334/SP, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022


(terça-feira), às 23:59 (INF 1046)

77
Lei 8.009/1990: “Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal,
previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: (...) VII – por obrigação decorrente de fiança
concedida em contrato de locação.”

44
3.3 DIREITO AUTORAL

Isenção do pagamento de direitos autorais em eventos sem fins lucrativos - ADI


6151/SC

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que isenta o pagamento de direitos autorais pela execução de
obras musicais em eventos sem fins lucrativos promovidos no âmbito de seu território.

Os direitos autorais se inserem no ramo do Direito Civil, razão pela qual a norma estadual
impugnada é formalmente inconstitucional, pois afronta competência privativa da União para dispor sobre
o tema (CF/1988, art. 22, I). Verifica-se, ainda, ter havido o estabelecimento de novas hipóteses de
limitação patrimonial não previstas na Lei 9.610/1998 (Lei do Direito Autoral), que é a legislação federal
específica sobre o tema e que não é passível de alteração por norma estadual ou municipal 78.

Ademais, a lei estadual impugnada também padece de inconstitucionalidade material, porque (i)
interfere no devido funcionamento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuições (Ecad), o qual se
caracteriza como associação civil que exerce, com exclusividade, a arrecadação e distribuição de direitos
autorais, em razão da execução pública de obras musicais em todo o território nacional (CF/1988, art. 5º,
XVIII); bem como (ii) priva o aproveitamento econômico dos autores em evidente violação ao direito
fundamental de dispor, de modo exclusivo, sobre suas produções e de, com elas, obter proveito financeiro
(CF/1988, art. 5º, XXVII e XXVIII).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade da Lei 17.724/2019 do Estado de Santa Catarina79.

ADI 6151/SC, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 7.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1071)

4. DIREITO CONSTITUCIONAL

4.1 ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

Advogados da União: direito a férias de 30 dias anuais - RE 929886/SC

ODS: 16

78
Precedentes citados: ARE 1247009 AgR; ARE 961537 AgR; ARE 1186552 AgR; ADI 1472 e ADI 5800.
79
Lei 17.724/2019 do Estado de Santa Catarina: “Art. 1º As entidades oficialmente declaradas de utilidade pública
estadual ou municipal, fundações ou instituições filantrópicas e associações de cunho recreativo, filantrópico,
beneficente, assistencial, promocional ou educacional legalmente constituídas, quando da realização de eventos que
não visam ao lucro promovidos no Estado de Santa Catarina, ficam dispensadas do pagamento de taxas, ou de outro
tipo de cobrança, referentes à retribuição ou direitos autorais por execuções de obras musicais. § 1º O direito à
isenção previsto neste artigo depende de comprovação, pela interessada, mediante documentação legal, da sua
condição de pessoa jurídica constituída sob a forma de associação civil sem fins lucrativos, conforme determina a
legislação brasileira. § 2º A isenção de que trata o presente artigo abrange as execuções musicais realizadas em locais
abertos ao público ou em estabelecimentos fechados. § 3º Incluem-se no benefício da isenção prevista nesta Lei, entre
outras com a mesma finalidade, as execuções de obras musicais e literomusicais ‘mecânicas’ com a utilização de
fonogramas, videofonograma e audiovisuais, e a execução musical ‘ao vivo’. Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data
de sua publicação.”

45
Tese fixada:

“Os Advogados da União não possuem direito a férias de 60 (sessenta) dias, nos termos da
legislação constitucional e infraconstitucional vigentes.”

Resumo:

O atual ordenamento jurídico brasileiro prevê aos Advogados da União o direito de gozar
somente 30 dias de férias anuais.
As normas que equiparavam os Advogados da União aos membros do Ministério Público da
União, assegurando-lhes o direito às férias de 60 dias (Lei 2.123/1953, Lei 4.069/1962 e Decreto-lei
147/1967) não foram recepcionadas pela CF/1988 com status de lei complementar, mas sim de leis
ordinárias, visto não tratarem de matéria relativa à organização e ao funcionamento da Advocacia-Geral
da União (80) (81).
Por essa razão, é válida a revogação de dispositivos dos referidos diplomas legais imposta pela
Lei 9.527/1997, a qual, com o objetivo de conceder tratamento isonômico às carreiras jurídicas da União,
estabelece o direito de 30 dias de férias anuais aos servidores ocupantes de cargo efetivo de advogado,
assistente jurídico, procurador e demais integrantes do Grupo Jurídico, da Administração Pública Federal
direta, autárquica, fundacional, empresas públicas e sociedades de economia mista, a partir do período
aquisitivo de 1997.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.063 da
repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 929886/SC, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 2.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59

4.2 COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

Concessão de meia-entrada em estabelecimentos de lazer e entretenimento para


professores da rede pública estadual e municipais de ensino - ADI 3753/SP

Resumo:

É constitucional lei estadual que concede aos professores das redes públicas estadual e
municipais de ensino o benefício da meia-entrada nos estabelecimentos de lazer e entretenimento.

A competência para legislar sobre direito econômico é concorrente entre a União, os estados-
membros, o Distrito Federal e os municípios 82. Assim, como a legislação federal atualmente vigente que
trata do benefício em comento (Lei 12.933/2013) não contempla a específica categoria profissional
abrangida pela norma estadual impugnada, o ente federado pode utilizar-se legitimamente de sua
competência normativa supletiva para tanto83.

Sob o aspecto material, também não há inconstitucionalidade, uma vez que a medida não viola,
sob qualquer aspecto, o princípio da isonomia. O tratamento desigual criado pela lei (concessão da meia-
80
CF/1988: “Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado,
representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre
sua organização e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo.”
81
Precedentes citados: RE 594481 (Tema 1.090 RG); RE 602381 (Tema 279 RG).

82
CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito
tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (...) Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre
assuntos de interesse local;”
83
Precedentes: ADI 1950 e ADI 3512.

46
entrada apenas à parcela da categoria) está plenamente justificado — constitui estratégia de política
pública que se coaduna com a priorização absoluta da educação básica. Além disso, revela-se como
salutar intervenção parcimoniosa do Estado na ordem econômica, que visa à realização de relevantes
valores constitucionais, e como condição para a concretização da justiça social.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação direta.

ADI 3753/SP, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 8.4.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1050)

Concessão de porte de arma de fogo a procuradores estaduais por lei estadual - ADI
6985/AL

Resumo:

A concessão de porte de arma a procuradores estaduais, por lei estadual, é incompatível


com a Constituição Federal.

A Constituição Federal (CF) atribuiu à União a competência material para autorizar e fiscalizar o
armamento produzido e comercializado no País (CF, art. 21, VI) 84. Também outorgou ao legislador
federal a competência legislativa correspondente para ditar normas sobre material bélico (CF, art. 22,
XXI)85.

Além disso, a competência atribuída aos estados em matéria de segurança pública não pode se
sobrepor ao interesse mais amplo da União no tocante à formulação de uma política criminal de âmbito
nacional, cujo pilar central constitui exatamente o estabelecimento de regras uniformes, em todo o País,
para a fabricação, comercialização, circulação e utilização de armas de fogo. Há, portanto,
preponderância do interesse da União nessa matéria, quando confrontado o eventual interesse do estado-
membro em regulamentar e expedir autorização para o porte de arma de fogo86.

Assim, não existe espaço de conformação para que o legislador subnacional outorgue o porte de
armas de fogo a categorias funcionais não contempladas pela legislação federal.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 81, VII, da LC 7/1991 87 do Estado
de Alagoas.

ADI 6985/AL, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 25.2.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1045)

Conversão dos autos de prisão em flagrante em diligência - ADI 4662/SP

ODS: 16

Resumo:

84
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;”
85
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XXI - normas gerais de organização,
efetivos, material bélico, garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos
corpos de bombeiros militares; (Redação dada pela EC 103/2019)”
86
Precedente: ADI 3112.
87
LC 7/1991 do Estado de Alagoas: “Art. 81. São prerrogativas do Procurador de Estado: (...) VII – portar arma,
valendo como documento de autorização a cédula de identidade funcional visada pelo Procurador-Geral do Estado e
pelo Secretário Estadual de Segurança Pública”

47
É inconstitucional norma88 do provimento do Conselho da Magistratura estadual que
proíbe o juiz de converter os autos de prisão em flagrante em diligência.

Isso porque, a norma, além de desbordar dos limites do poder regulamentar, invade a
competência privativa da União para legislar sobre Direito Processual Penal (CF/1988, art. 21, I) 89.

Ademais, não há na lei processual, mesmo após as alterações introduzidas pela Lei 13.964/2019,
qualquer proibição à conversão do auto de prisão em flagrante em diligência. Dessa forma, o Conselho
Superior da Magistratura, a pretexto de disciplinar o bom funcionamento do plantão judiciário,
indevidamente, inovou em matéria processual penal.

A possibilidade de ordenar diligências prévias consiste em prerrogativa inafastável do


magistrado.

A norma impugnada também vulnera, diretamente, o princípio da independência funcional do


juiz, motivo pelo qual está eivada de vício material.

O princípio da independência judicial, corolário do princípio constitucional da independência do


Poder Judiciário, garante ao magistrado tomar medidas indispensáveis para a formação de sua convicção.

Isso não significa que se possa admitir a indefinida e irrazoável postergação da decisão judicial a
respeito da manutenção ou não da privação de liberdade em caráter cautelar, mas sim que,
excepcionalmente, havendo necessidade de se determinar diligências prévias para a formação da
convicção judicial, o juiz competente, inclusive o plantonista, deve decidir o quanto antes, ou seja, com a
maior celeridade possível.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente o
pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade da expressão “vedada a conversão em diligência”,
contida no art. 2º do Provimento 1.898/2001 do Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo e reiterada no art. 1.133 das Normas de Serviço da Corregedoria-Geral de Justiça,
com redação dada pelo Provimento CG 28/2019.

ADI 4662/SP, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 15.8.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1063)

Extinção da pena de prisão disciplinar de policiais e bombeiros militares - ADI


6595/DF

Resumo:

É inconstitucional lei federal, de iniciativa parlamentar, que veda medida privativa e


restritiva de liberdade a policiais e bombeiros militares dos estados, dos territórios e do Distrito
Federal.

Na linha da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal 90, compete ao chefe do Poder Executivo
local a iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico de servidores militares estaduais e distritais,
por força do princípio da simetria91.
88
Provimento CSM 1.898/2011: “Art. 2º- Acrescer o item 4.2 ao Capítulo XII das Normas de Serviço da
Corregedoria-Geral da Justiça, que passa a vigorar com a seguinte redação: 4.2. Ao receber a cópia do auto de prisão
em flagrante, o juiz designado para atuar no plantão, na forma do artigo 310, incisos I, II e III, do Código de Processo
Penal, deverá relaxar a prisão ilegal, converter a prisão em flagrante em preventiva ou conceder a liberdade
provisória, vedada a conversão em diligência.”
89
Precedentes: ADI 3896, ADI 2938; e ADI 5949.

90
Precedentes citados: ADI 3930; ADI 4648; e ADI 6321.
91
CF/1988: “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da
Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo
Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos

48
No caso, a norma impugnada resultou da aprovação do Projeto de Lei 7.645/2014, de autoria
parlamentar. Dessa forma, ainda que se entendesse que ela dispõe sobre normas gerais, de competência da
União, há um incontornável vício de inconstitucionalidade formal 92.

A lei combatida também padece de inconstitucionalidade material. Não obstante as polícias


militares e os corpos de bombeiros militares dos entes federados subordinem-se aos governadores,
constituem forças auxiliares e reserva do Exército, sendo responsáveis, em conjunto com as polícias de
natureza civil, e portando armas letais, pela preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e do patrimônio.

Nesse contexto, os servidores militares estaduais e distritais submetem-se a um regime jurídico


diferenciado93, motivo pelo qual a própria Constituição, expressamente, autoriza a prisão por
determinação de seus superiores hierárquicos no caso de transgressão das regras e não lhes assegura
sequer o habeas corpus em relação às punições disciplinares94.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação direta
para declarar a inconstitucionalidade formal e material da Lei federal 13.967/2019.

ADI 6595/DF, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 20.5.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1055)

Lei estadual e vedação à inscrição em cadastro de proteção ao crédito - ADI


6668/MG

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que vede a inscrição em cadastro de proteção ao crédito de


usuário inadimplente dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário.

Não compete aos estados legislar sobre normas gerais de proteção ao consumidor ou concessão
de serviço público [Constituição Federal (CF), art. 175, parágrafo único, II]95, 96(2).

A competência para elaborar a lei de delegação do serviço público que tratará dos direitos dos
usuários pertence ao ente federado dele titular. No entanto, essa lei cobrirá apenas os aspectos específicos
da delegação, pois cabe à lei nacional fixar as normas gerais de concessão e permissão de serviços
públicos (CF, art. 22, XXVII, e art. 175, caput)97.

Ademais, as normas gerais sobre consumo, editadas pela União, não preveem qualquer restrição
quanto aos tipos de débitos que possam ser inscritos nos bancos de dados e cadastros de consumidores
[Código de Defesa do Consumidor (CDC), arts. 43 e 44]. Assim, não é razoável conceber que uma lei
previstos nesta Constituição. § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II -
disponham sobre: (...) f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções,
estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva.”
92
Precedente citado: ACO 3396.
93
Precedente citado: RE 570177.
94
CF/1988: “Art. 5º (...) LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em
lei; (...) Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições
nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de
qualquer destes, da lei e da ordem. (...) § 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares.”
95
CF/1988: “Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: (...) II -
os direitos dos usuários;”
96
Precedente: ADI 5.575.
97
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XXVII - normas gerais de licitação e
contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e
sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;”

49
estadual possa estabelecer restrições quanto aos débitos que não podem ser inscritos em banco de dados
ou cadastro de consumidores, criando situações não isonômicas em determinada região. O poder
suplementar dos demais entes da federação apenas pormenorizam a questão, complementando-a, mas
jamais alterando-a em sua essência ou mesmo estabelecendo regras incompatíveis com a norma98.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado na ação direta, para declarar a inconstitucionalidade do art. 3º, parágrafo único, da Lei
18.309/2009 do Estado de Minas Gerais99.

ADI 6668/MG, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1043)

Lei estadual: SAC e atendimento telefônico gratuito - ADI 4118/RJ

Resumo:

É válida lei estadual que obrigue empresas prestadoras de serviços de televisão por
assinatura e estabelecimentos comerciais de vendas no varejo e no atacado — que já possuam
Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) — a fornecerem atendimento telefônico gratuito a
seus clientes.

Sem que haja previsão normativa federal a desautorizar, o norte exegético do princípio federativo
atrai solução que preserve a competência do ente federado menor à luz do art. 24 da Constituição Federal
(CF)100.

No que tange ao direito do consumidor, sob o viés do fortalecimento do “federalismo


centrífugo”, não fere o modelo constitucional de repartição de competências legislação estadual supletiva
do disposto na Lei 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor), particularmente se orientada a ampliar
a esfera protetiva do consumidor e limitados os seus efeitos ao espaço próprio do ente federado que a
edita101.

Sob o enfoque dos atuais contornos da repartição constitucional de competências —


particularmente delineados pela evolução do federalismo de cooperação —, o exercício da competência
concorrente está chancelado pelos §§ 1º e 2º do art. 24 da CF, haja vista o nítido caráter de suplementação
do arcabouço jurídico protetivo das relações de consumo que a obrigação de gratuidade no serviço de
atendimento telefônico traduz.

Com esses entendimentos, o Plenário conheceu do pedido formulado em ação direta de


inconstitucionalidade apenas quanto ao art. 1º da Lei 5.273/2008 do Estado do Rio de Janeiro 102. No

98
Precedente: ADI 3.623.
99
Lei 18.309/2009 do Estado de Minas Gerais: “Art. 3º (…) Parágrafo único. É vedada a inscrição do nome do
usuário dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário em cadastro de proteção ao crédito, em
razão de atraso no pagamento da conta.”
100
CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) V –
produção e consumo; (...) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a
estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais
suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.”
101
Precedentes: ADI 5.462 e ADI 4.351.
102
Lei 5.273/2008-RJ: “Art. 1º Obrigam-se, no âmbito do território do Estado do Rio de Janeiro, as empresas de
televisão por assinaturas (TV a Cabo), estabelecimentos comerciais de venda no varejo e atacado, que possuam
serviço de atendimento ao consumidor - SAC, a colocarem à disposição de seus clientes atendimento telefônico
gratuito, através do prefixo 0800, para efetuar reclamações, esclarecimento de dúvidas e prestação de outros serviços.
Parágrafo único. A empresa que, visando atender o dispositivo desta Lei, divulgar, mas não disponibilizar
efetivamente o serviço telefônico através do prefixo 0800, terá sua inscrição estadual cassada, após regular processo
administrativo.”

50
mérito, por maioria, julgou improcedente a pretensão. Vencidos os ministros Gilmar Mendes, André
Mendonça e Nunes Marques.

ADI 4118/RJ, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 25.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1045)

Militares estaduais grevistas e anistia das infrações disciplinares - ADI 4869/DF

ODS: 16

Resumo:

É formalmente inconstitucional norma federal que concede anistia a policiais e bombeiros


militares estaduais por infrações disciplinares decorrentes da participação em movimentos
reivindicatórios por melhorias de vencimentos e de condições de trabalho.

A anistia de competência da União há de recair sobre crimes. Em matéria de infrações


disciplinares, cabe aos entes estaduais concedê-la a seus respectivos servidores, em face da autonomia
que caracteriza a Federação brasileira 103. Quanto aos bombeiros e policiais militares, a competência
estadual é realçada nos arts. 42 e 144, § 6º, da CF/1988104.

Ademais, embora ocorridas situações similares em mais de um estado, a irresignação dos


grevistas permaneceu direcionada às condições específicas de cada corporação, de modo que, não
afastado o interesse regional, compete ao chefe do Poder Executivo correspondente, por imposição do
princípio da simetria, a iniciativa de lei para tratar do tema105.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e,
na parte conhecida, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade da expressão “e as infrações
disciplinares conexas”, constante na lei impugnada 106. Por maioria, a Corte atribuiu à decisão eficácia ex
nunc a contar da data de publicação da ata de julgamento.

ADI 4869/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1056)

Norma estadual e emenda parlamentar impositiva em lei orçamentária - ADI


6308/RR

Resumo:

São inconstitucionais emendas parlamentares estaduais de caráter impositivo em lei


orçamentária anteriores à vigência das ECs 86/2015 e 100/2019.

103
Precedente: ADI 4377.
104
CF/1988: “Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas
com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. § 1º Aplicam-se
aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições
do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do
art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores. (...) Art. 144. (...) §
6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se,
juntamente com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.”
105
Precedentes: ADI 341 e ADI 1440.
106
Lei 12.505/2011: “Art. 2º A anistia de que trata esta Lei abrange os crimes definidos no Decreto-Lei 1.001, de 21
de outubro de 1969 – Código Penal Militar, e na Lei 7.170, de 14 de dezembro de 1983 – Lei de Segurança Nacional,
e as infrações disciplinares conexas, não incluindo os crimes definidos no Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de
1940 – Código Penal, e nas demais leis penais especiais.”

51
O constituinte do Estado de Roraima, ao inovar e tratar da execução de emendas parlamentares
impositivas (individuais ou coletivas), não agiu dentro da competência suplementar permitida na seara da
legislação concorrente107, uma vez que dispôs em sentido contrário às normas gerais federais que
efetivamente já existiam à época sobre o tema e que não contemplavam o instituto108.
Além disso, inexiste no ordenamento jurídico brasileiro a figura da constitucionalidade
superveniente109, de modo que não há se falar na consequente convalidação das normas.
Não cabe à Constituição estadual instituir a figura das programações orçamentárias
impositivas fora das hipóteses previstas no regramento nacional110.
A compreensão doutrinária e jurisprudencial anota que as normas da CF/1988 sobre processo
legislativo em geral e processo legislativo das leis orçamentárias em especial são de reprodução
obrigatória pelas Constituições estaduais, por força do princípio da simetria 111.
No caso, apesar de a CF/1988 ter passado a prever expressamente sobre o tema, fixou limites
diferentes dos adotados pelo Estado roraimense.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e,
nessa parte, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 113, §§ 3º, 3º-A, 4º, 6º, 7º, 8º
e 9º, da Constituição do Estado de Roraima, acrescidos pelas Emendas Constitucionais 41/2014 e
61/2019, e, por arrastamento, do art. 24, §§ 1º, 2º, 4º, 5º e 6º, da Lei 1.327/2019 (Lei de Diretrizes
Orçamentárias) e do art. 8º da Lei 1.371/2020 (Lei Orçamentária Anual para o exercício de 2020), ambas
do Estado de Roraima, mantidos os efeitos da cautelar no período em que vigeu.

ADI 6308/RR, Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1057)

Obrigações impostas aos planos de saúde e competência legislativa privativa da


União - ADI 7029/PB

ODS: 3

Resumo:

É formalmente inconstitucional lei estadual que estabelece obrigações referentes a serviço


de assistência médico-hospitalar que interferem nas relações contratuais estabelecidas entre as
operadoras de planos de saúde e seus usuários112.

Esses temas são relativos a direito civil e concernem à política de seguros, matérias conferidas
constitucionalmente à competência legislativa privativa da União, nos termos do art. 22, I e VII, da CF113.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade formal da Lei 11.782/2020 do Estado da
Paraíba.

107
CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) I -
direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (...) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a
competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre
normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os
Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei
federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.”
108
Precedente: ADI 6129 MC.
109
Precedentes: ARE 683849 AgR; e RE 346084.
110
Precedentes: ADI 5274; e ADI 2680.
111
Precedente: ADI 422.
112
Precedentes: ADI 5173; ADI 4701.
113
CF: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (…) VII - política de crédito, câmbio, seguros e
transferência de valores;”

52
ADI 7029/PB, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 6.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1053)

Pessoas desaparecidas e divulgação de fotos em noticiários de TV e em jornais - ADI


5292/SC

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que fixe a obrigatoriedade de divulgação diária de fotos de


crianças desaparecidas em noticiários de TV e em jornais de estado-membro.

Na hipótese, a lei estadual invade a competência legislativa da União para dispor privativamente
sobre radiodifusão de sons e imagens, em afronta ao previsto no art. 22, IV, da CF 114 e 115. Além disso, cria
obrigação à margem dos contratos de concessão dessas pessoas jurídicas com a União (poder
concedente), em contrariedade ao art. 21, XII, da CF116 e 117.

A lei estadual incide também em inconstitucionalidade material. Em primeiro lugar, porque


estabelece indevida interferência na liberdade de agentes econômicos privados ao obrigar a veiculação de
conteúdo nos jornais sediados no estado-membro, violando o princípio da livre iniciativa. Em segundo,
porque ofende a liberdade de informação jornalística dos veículos de comunicação social, os quais, por
disposição expressa do art. 220 da CF118 não podem sofrer restrições pelo poder público.

Nada obstante, há que se ressaltar que as leis nacionais que disciplinam a busca de pessoas
desaparecidas, em especial crianças e adolescentes (Lei 12.127/2009), estabelecem instrumentos próprios
de cooperação entre os entes federativos, facultada a importante contribuição de emissoras de rádio e
televisão, mas sempre mediante convênio. Não há, pois, que se cogitar — como realizado pela lei
estadual questionada — a imposição de divulgação de conteúdo por essas entidades em total desapego às
regras de repartição de competência e de respeito à legislação nacional sobre a matéria.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente o pedido formulado
em ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei 16.576/2015 do Estado de Santa Catarina.

ADI 5292/SC, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 25.3.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1048)

Prazo de validade de bilhetes de transporte rodoviário de passageiros e competência


legislativa estadual - ADI 4289/DF

Resumo:

Compete aos estados-membros a definição do prazo de validade de bilhetes de transporte


rodoviário intermunicipal de passageiros.

114
CF: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas, energia, informática,
telecomunicações e radiodifusão;”
115
Precedentes: ADPF 335; ADPF 235.
116
CF: “Art. 21. Compete à União: (...) XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão: a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens e demais serviços de telecomunicações;” a) os
serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;”
117
Precedentes: ADI 3866; ADI 2337; ADI 6190; ADI 4477.
118
CF/1988: “Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma,
processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. §1º Nenhuma lei
conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo
de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.”

53
Isso porque incumbe aos estados, como titulares da exploração do transporte rodoviário
intermunicipal119, a definição da respectiva política tarifária, à luz dos elementos que possam influenciá-
la, como o prazo de validade do bilhete, nos termos do art. 175 da Constituição 120. Por ser o estado-
membro aquele que arca com os custos decorrentes de eventual prazo de validade mais elastecido, não
cabe à União interferir no poder de autoadministração do ente estadual quanto às concessões e permissões
dos contratos de transporte rodoviário de passageiros intermunicipal, sob pena de afronta ao pacto
federativo.

Além disso, a norma impugnada gera uma situação regulatória inconsistente na qual os
passageiros de determinado estado podem ser submetidos a tratamento diverso conforme o serviço de
transporte utilizado, em afronta ao princípio da isonomia.

Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu da ação direta e, no mérito,
julgou procedente o pedido nela formulado, para declarar a inconstitucionalidade parcial do art. 1º da Lei
federal 11.975/2009121, com redução de texto do vocábulo “intermunicipal”.

ADI 4289/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.4.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1050)

Serviço de telecomunicação e proibição de oferta e comercialização de serviço de


valor adicionado - ADI 6199/PE

Resumo:

É inconstitucional, por violar os arts. 21, XI, 22, IV, e 48, XII da CF/1988, norma estadual
que proíbe concessionárias de serviços de telecomunicação de ofertarem e comercializarem serviço
de valor adicionado (SVA)122.

Embora o SVA não constitua propriamente serviço de telecomunicação, a proibição de sua oferta
e comercialização acaba por interferir indiretamente na prestação dos serviços de telecomunicação,
porque restringe o plano de negócio das empresas do setor, com possíveis prejuízos para o equilíbrio
econômico-financeiro dos contratos de concessão.

Com efeito, a comercialização do SVA pelas empresas de telecomunicação constitui importante


fonte de receita alternativa ou acessória da concessionária, integrando-se, portanto, à estrutura
econômico-financeira do contrato de concessão do serviço público. Esses recursos são indispensáveis
para manter a modicidade das tarifas e a qualidade dos serviços.

A regulamentação desse tipo de serviço ou de qualquer outro agregado, portanto, pode ser feita
apenas pela União, em razão da sua íntima conexão econômica com o serviço de telecomunicação
propriamente dito.

Com base nesse entendimento, o Plenário julgou procedente o pedido formulado para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 16.600/2019 do Estado de Pernambuco.

119
Precedentes: ADI 1052; ARE 742929 AgR; RE 549549 AgR; ADI 845; ADI 2349; ADI 1191 MC; ADI 5677;
ADI 4212.
120
CF/1988: “Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: I - o
regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de
sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II - os
direitos dos usuários; III - política tarifária; IV - a obrigação de manter serviço adequado.”
121
Lei 11.975/2009: “Art. 1º Os bilhetes de passagens adquiridos no transporte coletivo rodoviário de passageiros
intermunicipal, interestadual e internacional terão validade de 1 (um) ano, a partir da data de sua emissão,
independentemente de estarem com data e horários marcados.”
122
Precedentes: ADI 6068 e ADI 6124 ED.

54
ADI 6199/PE, relator Min. Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 15.8.2022
(segunda-feira), às 23:59 (INF 1063)

Substituição de trabalhador privado em greve por servidor público - ADI 1164/DF

Resumo:

Não há vício de iniciativa de lei na edição de norma de origem parlamentar que proíba a
substituição de trabalhador privado em greve por servidor público.

No caso, ainda que a lei distrital impugnada 123, de iniciativa parlamentar, esteja voltada ao
funcionamento da Administração Pública, ela não se sobrepõe ao campo de discricionariedade política
que a CF reservou, com exclusividade, ao governador, no que toca a dispor sobre a organização
administrativa.

Além disso, a norma revela-se harmônica com a CF, notadamente com os princípios do art. 37,
caput, na medida em que permite a substituição nos estritos limites dos parâmetros federais aplicáveis 124 e
125
.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente o pedido
formulado em ação direta.

ADI 1164/DF, relator Min. Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 1º.4.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1049)

4.3 DEFENSORIA PÚBLICA

Constitucionalidade do poder de requisição da Defensoria Pública - ADI 6852/DF,


ADI 6862/PR, ADI 6865/PB, ADI 6867/ES, ADI 6870/DF, ADI 6871/CE, ADI 6872/AP, ADI
6873/AM, ADI 6875/RN

Resumo:

A Defensoria Pública detém a prerrogativa de requisitar, de quaisquer autoridades


públicas e de seus agentes, certidões, exames, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos,
informações, esclarecimentos e demais providências necessárias à sua atuação.

Delineado o papel atribuído à Defensoria Pública pela Constituição Federal (CF), resta evidente
não se tratar de categoria equiparada à Advocacia, seja ela pública ou privada, estando, na realidade, mais
próxima ao desenho institucional atribuído ao próprio Ministério Público.

Ao conceder tal prerrogativa aos membros da Defensoria Pública, o legislador buscou propiciar
condições materiais para o exercício de suas atribuições, não havendo que se falar em qualquer espécie de
violação ao texto constitucional, mas, ao contrário, em sua densificação. Nesse sentido, a retirada da
prerrogativa de requisição implicaria, na prática, a criação de obstáculo à atuação da Defensoria Pública,
a comprometer sua função primordial, bem como a autonomia que lhe foi garantida.
123
Lei Orgânica do Distrito Federal: “Art. 19. (...) XX – ressalvada a legislação federal aplicável, ao servidor
público do Distrito Federal é proibido substituir, sob qualquer pretexto, trabalhadores de empresas privadas em
greve;”
124
CF: “Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º A lei definirá os serviços ou atividades
essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.”
125
Lei 8.112/1990: “Art. 117. Ao servidor é proibido: (...) XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas ao
cargo que ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias;”

55
O Plenário, por maioria, em análise conjunta, julgou improcedentes os pedidos formulados em
ações diretas.

ADI 6852/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6862/PR, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6865/PB, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6867/ES, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6870/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6871/CE, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6872/AP, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6873/AM, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6875/RN, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022
(sexta-feira) às 23:59 (INF 1045)

Defensoria pública estadual e poder de requisição - ADI 6860/MT; ADI 6861/PI e


ADI 6863/PE

ODS: 16

Resumo:

É constitucional lei complementar estadual que, desde que observados os parâmetros de


razoabilidade e proporcionalidade, confere à Defensoria Pública a prerrogativa de requisitar, de
quaisquer autoridades públicas e de seus agentes, certidões, exames, perícias, vistorias, diligências,
processos, documentos, informações, esclarecimentos e demais providências necessárias ao
exercício de suas atribuições.

56
A moldura constitucional referente à Defensoria Pública foi significativamente alterada com a
promulgação das ECs 45/2004, 74/2013 e 80/2014, oportunidade na qual se expandiu o papel, a
autonomia e a missão do órgão, aproximando-a do tratamento conferido ao Ministério Público126 127.

Ausente qualquer vedação constitucional, aplica-se a teoria dos poderes implícitos, de modo que
as normas impugnadas se revelam como opção político-normativa razoável e proporcional com o objetivo
de viabilizar o efetivo exercício da missão constitucional do órgão.

Além de conferir maior concretude aos princípios constitucionais da isonomia, do acesso à


Justiça e da inafastabilidade da jurisdição, o poder de requisição propicia condições materiais para o
exercício das atribuições das Defensorias Públicas estaduais. Todavia, ele não alcança dados cujo acesso
dependa de autorização judicial, a exemplo dos protegidos pelo sigilo.

Com base nesse entendimento — e ratificando solução anteriormente adotada (Informativo
1045) —, o Plenário, por unanimidade, em análise conjunta, julgou improcedentes as ações.

ADI 6860/MT, relator Min. Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022 (terça-
feira), às 23:59 (INF 1067)

ADI 6861/PI, relator Min. Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022 (terça-
feira), às 23:59 (INF 1067)

ADI 6863/PE, relator Min. Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022 (terça-
feira), às 23:59 (INF 1067)

Ouvidoria-Geral das Defensorias Públicas estaduais - ADI 4608/DF

Resumo:

É constitucional a norma federal que criou a Ouvidoria-Geral da Defensoria Pública nos


estados-membros e estabeleceu suas competências.

Ao editar a Lei Complementar federal 80/1994, a União atuou conforme sua competência
legislativa, pois se limitou a instituir diretrizes gerais sobre a organização e a estrutura da Ouvidoria-
Geral das Defensorias Públicas estaduais, sem prever qualquer singularidade regional ou especificidade
local.

Ademais, inexiste inconstitucionalidade na decisão estatal de instituir um órgão composto por


agentes que satisfaçam determinados requisitos de capacidade técnica e institucional, com respeito aos
princípios da razoabilidade e da obrigatoriedade de concurso público128. No caso, as atribuições que a lei

126
CF/1988: “Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a
promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e
coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição
Federal. § 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e
prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial,
mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o
exercício da advocacia fora das atribuições institucionais. (Renumerado do parágrafo único pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004). § 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e
administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes
orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). §
3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da União e do Distrito Federal. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 74, de 2013). § 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade
e a independência funcional, aplicando-se também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96 desta
Constituição Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)”.
127
Precedentes citados: ADI 6.852; ADI 6.875; ADI 6.865 e ADI 6.864.

128
Precedente: ADI 2903.

57
conferiu aos seus membros estão em consonância com as que a Constituição previu para a criação de
cargos em comissão129.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente o pedido
formulado.

ADI 4608/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1054)

Recriação de Assistência Jurídica da Justiça Militar - ADI 3152/CE

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que restabeleça, no âmbito do Poder Judiciário local,


cargos de Advogado da Justiça Militar vocacionados a patrocinar a defesa gratuita de praças da
Polícia Militar.

Esse modelo não se coaduna com aquele implementado pela ordem constitucional inaugurada em
1988, o qual dispõe que a função de defesa dos necessitados, quando desempenhada pelo Estado, é
própria à Defensoria Pública (CF, art. 134; LC 80/1994)130.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 5º da Lei 12.832/1998 do Estado
do Ceará.

ADI 3152/CE, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 26.4.2022 (terça-
feira), às 23:59 (INF 1052)

4.4 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

CNJ e transferência do sigilo de dados fiscais e bancários - ADI 4709/DF

Resumo:

É constitucional a requisição, sem prévia autorização judicial, de dados bancários e fiscais


considerados imprescindíveis pelo Corregedor Nacional de Justiça para apurar infração de sujeito
determinado, desde que em processo regularmente instaurado mediante decisão fundamentada e
baseada em indícios concretos da prática do ato.

Embora constitucionalmente protegido, o sigilo de dados bancários e fiscais pode ser objeto de
conformação legislativa devidamente justificada e ceder à consecução de fins públicos, com previsão de
hipóteses de transferência no interior da Administração Pública131.

129
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (...) II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração; (...) V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de
cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e
percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;”
130
Precedentes: ADI 2903; ADI 3022.
131
Precedentes: RE 601314 (Tema 225 RG); ADI 2386; ADI 2390; ADI 2397; ADI 2859; e RE 1055941 (Tema 990
RG).

58
Nesse contexto, a previsão regimental do CNJ132 encontra amparo na lógica da probidade
patrimonial dos agentes públicos e a legitimidade da requisição por decisão singular do Corregedor, e não
do Plenário, encontra justificativa na função constitucional por ele exercida, de fiscalização da integridade
funcional do Poder Judiciário, em especial a idoneidade da magistratura nacional, que, por exercer a
jurisdição — poder indispensável ao Estado democrático de direito —, lhe é exigida estrita observância
dos princípios da Administração Pública e dos deveres funcionais respectivos.

Contudo, é preciso assegurar a existência de garantias ao contribuinte, de modo que não há


espaço para devassa ou varredura, buscas generalizadas e indiscriminadas na vida das pessoas, com o
propósito de encontrar alguma irregularidade.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu em parte da ação e, na
parte conhecida, julgou parcialmente procedente o pedido para conferir interpretação conforme a
Constituição ao dispositivo impugnado.

ADI 4709/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1056)

Compartilhamento de dados no âmbito da Administração Pública federal - ADI


6649/DF e ADPF 695/DF

ODS: 16 e 17

Resumo:

É legítimo, desde que observados alguns parâmetros, o compartilhamento de dados


pessoais entre órgãos e entidades da Administração Pública federal, sem qualquer prejuízo da
irrestrita observância dos princípios gerais e mecanismos de proteção elencados na Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais (Lei 13.709/2018) e dos direitos constitucionais à privacidade e proteção
de dados.

Consoante recente entendimento desta Corte, a proteção de dados pessoais e a autodeterminação


informacional são direitos fundamentais autônomos, dos quais decorrem tutela jurídica específica e
dimensão normativa própria. Assim, é necessária a instituição de controle efetivo e transparente da coleta,
armazenamento, aproveitamento, transferência e compartilhamento desses dados, bem como o controle de
políticas públicas que possam afetar substancialmente o direito fundamental à proteção de dados133.

Na espécie, o Decreto 10.046/2019, da Presidência da República, dispõe sobre a governança no


compartilhamento de dados no âmbito da Administração Pública federal e institui o Cadastro Base do
Cidadão e o Comitê Central de Governança de Dados.

Para a sua plena validade, é necessário que seu conteúdo seja interpretado em conformidade com
a Constituição Federal, subtraindo do campo semântico da norma eventuais aplicações ou interpretações
que conflitem com o direito fundamental à proteção de dados pessoais.

Com base nesse entendimento, o Tribunal, por maioria, julgou parcialmente procedentes as
ações, para conferir interpretação conforme a Constituição Federal ao Decreto 10.046/2019, nos seguintes
termos:

“1. O compartilhamento de dados pessoais entre órgãos e entidades da


Administração Pública, pressupõe: a) eleição de propósitos legítimos, específicos e
explícitos para o tratamento de dados (art. 6º, inciso I, da Lei 13.709/2018); b)

132
RI/CNJ: “Art. 8º Compete ao Corregedor Nacional de Justiça, além de outras atribuições que lhe forem conferidas
pelo Estatuto da Magistratura: (...) V - requisitar das autoridades fiscais, monetárias e de outras autoridades
competentes informações, exames, perícias ou documentos, sigilosos ou não, imprescindíveis ao esclarecimento de
processos ou procedimentos submetidos à sua apreciação, dando conhecimento ao Plenário;”
133
Precedente citado: ADI 6.387 Ref-MC.

59
compatibilidade do tratamento com as finalidades informadas (art. 6º, inciso II); c)
limitação do compartilhamento ao mínimo necessário para o atendimento da finalidade
informada (art. 6º, inciso III); bem como o cumprimento integral dos requisitos, garantias e
procedimentos estabelecidos na Lei Geral de Proteção de Dados, no que for compatível
com o setor público.

2. O compartilhamento de dados pessoais entre órgãos públicos pressupõe rigorosa


observância do art. 23, inciso I, da Lei 13.709/2018, que determina seja dada a devida
publicidade às hipóteses em que cada entidade governamental compartilha ou tem acesso a
banco de dados pessoais, ‘fornecendo informações claras e atualizadas sobre a previsão
legal, a finalidade, os procedimentos e as práticas utilizadas para a execução dessas
atividades, em veículos de fácil acesso, preferencialmente em seus sítios eletrônicos’.

3. O acesso de órgãos e entidades governamentais ao Cadastro Base do Cidadão


fica condicionado ao atendimento integral das diretrizes acima arroladas, cabendo ao
Comitê Central de Governança de Dados, no exercício das competências aludidas nos arts.
21, incisos VI, VII e VIII do Decreto 10.046/2019: 3.1. prever mecanismos rigorosos de
controle de acesso ao Cadastro Base do Cidadão, o qual será limitado a órgãos e entidades
que comprovarem real necessidade de acesso aos dados pessoais nele reunidos. Nesse
sentido, a permissão de acesso somente poderá ser concedida para o alcance de propósitos
legítimos, específicos e explícitos, sendo limitada a informações que sejam indispensáveis
ao atendimento do interesse público, nos termos do art. 7º, inciso III, e art. 23, caput e
inciso I, da Lei 13.709/2018; 3.2. justificar formal, prévia e minudentemente, à luz dos
postulados da proporcionalidade, da razoabilidade e dos princípios gerais de proteção da
LGPD, tanto a necessidade de inclusão de novos dados pessoais na base integradora (art.
21, inciso VII) como a escolha das bases temáticas que comporão o Cadastro Base do
Cidadão (art. 21, inciso VIII); 3.3. instituir medidas de segurança compatíveis com os
princípios de proteção da LGPD, em especial a criação de sistema eletrônico de registro de
acesso, para efeito de responsabilização em caso de abuso.

4. O compartilhamento de informações pessoais em atividades de inteligência


observará o disposto em legislação específica e os parâmetros fixados no julgamento da
ADI 6.529, Rel. Min. Cármen Lúcia, quais sejam: (i) adoção de medidas proporcionais e
estritamente necessárias ao atendimento do interesse público; (ii) instauração de
procedimento administrativo formal, acompanhado de prévia e exaustiva motivação, para
permitir o controle de legalidade pelo Poder Judiciário; (iii) utilização de sistemas
eletrônicos de segurança e de registro de acesso, inclusive para efeito de responsabilização
em caso de abuso; e (iv) observância dos princípios gerais de proteção e dos direitos do
titular previstos na LGPD, no que for compatível com o exercício dessa função estatal.

5. O tratamento de dados pessoais promovido por órgãos públicos ao arrepio dos


parâmetros legais e constitucionais importará a responsabilidade civil do Estado pelos
danos suportados pelos particulares, na forma dos arts. 42 e seguintes da Lei 13.709/2018,
associada ao exercício do direito de regresso contra os servidores e agentes políticos
responsáveis pelo ato ilícito, em caso de culpa ou dolo.

6. A transgressão dolosa ao dever de publicidade estabelecido no art. 23, inciso I,


da LGPD, fora das hipóteses constitucionais de sigilo, importará a responsabilização do
agente estatal por ato de improbidade administrativa, nos termos do art. 11, inciso IV, da
Lei 8.429/1992, sem prejuízo da aplicação das sanções disciplinares previstas nos estatutos
dos servidores públicos federais, municipais e estaduais.”

Por fim, o Tribunal declarou, com efeito pro futuro, a inconstitucionalidade do art. 22 do Decreto
10.046/2019, preservando a atual estrutura do Comitê Central de Governança de Dados pelo prazo de 60
(sessenta) dias, a contar da data de publicação da ata de julgamento, a fim de garantir ao Chefe do Poder
Executivo prazo hábil para (i) atribuir ao órgão um perfil independente e plural, aberto à participação
efetiva de representantes de outras instituições democráticas; e (ii) conferir aos seus integrantes garantias

60
mínimas contra influências indevidas. Vencidos, parcialmente e nos termos de seus respectivos votos, os
Ministros André Mendonça, Nunes Marques e Edson Fachin.

ADI 6649/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento finalizado em 15.9.2022 (INF 1068)

ADPF 695/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento finalizado em 15.9.2022 (INF 1068)

Lei da meia-entrada: entidades emitentes da CIE e liberdade de associação - ADI


5108/DF

Resumo:

É inconstitucional exigir das entidades estudantis locais e regionais, legitimadas para a


expedição da carteira de identidade estudantil (CIE), filiação às entidades de abrangência nacional.

O dever de filiação instituído pela Lei 12.933/2013, “Lei da meia-entrada”, viola o princípio da
liberdade de associação — que é visto como expressão da autonomia da vontade da pessoa natural ou
jurídica (voluntariedade) —, pois importa em indevida intervenção direta do Estado na autonomia de
entidade estudantil, que se vê obrigada a se associar a instituição não necessariamente alinhada a suas
metas, princípios, diretrizes e interesses.

Ademais, a interpretação teleológica e sistemática da norma denota que as “entidades estaduais e


municipais” nela referidas restringem-se às caracterizadas como de representação estudantil.

Admite-se a definição de um modelo único nacionalmente padronizado da CIE, desde que


publicamente disponibilizado e fixados parâmetros razoáveis que não obstem o acesso pelas entidades
com prerrogativa legal para sua emissão.

A medida confere maior racionalidade ao sistema, porquanto facilita a fiscalização e o combate


às fraudes. Assim, a escolha de certas entidades nacionais para a definição e disponibilização do modelo
de CIE constitui opção legítima do legislador, em especial diante da enorme representatividade e
relevância de suas atuações.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação
direta.

ADI 5108/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 25.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1048)

Liberdade de expressão e imunidade parlamentar - Pet 8242 AgR/DF, Pet 8259


AgR/DF, Pet 8262 AgR/DF, Pet 8263 AgR/DF, Pet 8267 AgR/DF e Pet 8366 AgR/DF

Resumo:

A liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos, com intuito


manifestamente difamatório, de juízos depreciativos de mero valor, de injúrias em razão da forma
ou de críticas aviltantes.

61
É possível vislumbrar restrições à livre manifestação de ideias, inclusive mediante a aplicação da
lei penal, em atos, discursos ou ações que envolvam, por exemplo, a pedofilia, nos casos de discursos que
incitem a violência ou quando se tratar de discurso com intuito manifestamente difamatório.

A garantia da imunidade parlamentar não alcança os atos praticados sem claro nexo de
vinculação recíproca entre o discurso e o desempenho das funções parlamentares.

Isso porque as garantias dos membros do Parlamento são vislumbradas sob uma perspectiva
funcional, ou seja, de proteção apenas das funções consideradas essenciais aos integrantes do Poder
Legislativo, independentemente de onde elas sejam exercidas.

No caso, os discursos proferidos pelo querelado teriam sido proferidos com nítido caráter
injurioso e difamatório, de forma manifestamente dolosa, sem qualquer hipótese de prévia provocação ou
retorsão imediata capaz de excluir a tipificação, em tese, dos atos descritos nas queixas-crimes.

Com base nesses entendimentos, a Segunda Turma, por maioria, ao dar provimento a agravos
regimentais, recebeu queixas-crimes pelos delitos dos arts. 139 e 140 do Código Penal.

Pet 8242 AgR/DF, relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8259 AgR/DF, relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8262 AgR/DF, relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8263 AgR/DF, relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8267 AgR/DF, relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8366 AgR/DF, relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Plano de redução de letalidade policial e controle de violações de direitos humanos -


ADPF 635 MC-ED/RJ

Resumo:

O Estado do Rio de Janeiro deve elaborar, no prazo máximo de 90 dias, um plano para
redução da letalidade policial e controle das violações aos direitos humanos pelas forças de
segurança, que apresente medidas objetivas, cronogramas específicos e previsão dos recursos
necessários para a sua implementação.

Nesse mesmo sentido, até que plano mais abrangente seja formulado, o emprego e a fiscalização
da legalidade do uso da força devem ser feitos à luz dos “Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e
de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei”, com todos os
desdobramentos daí derivados. Desse modo, cabe às forças de segurança a análise, diante das situações
concretas, da proporcionalidade e da excepcionalidade do uso da força, servindo os princípios como guias
para o exame das justificativas apresentadas a fortiori.

Portanto, o uso da força letal por agentes de Estado só se justifica quando, ressalvada a ineficácia
da elevação gradativa do nível da força empregada para neutralizar a situação de risco ou de violência,
exauridos os demais meios, inclusive os de armas não-letais, e necessário para proteger a vida ou prevenir
um dano sério, decorrente de uma ameaça concreta e iminente.

62
Ademais, nos termos do art. 227 da Constituição Federal, é imperiosa a necessidade de dar
prioridade absoluta às investigações de incidentes que tenham como vítimas crianças ou adolescentes.

Além disso, a fim de resguardar o direito à vida, deve-se reconhecer a obrigatoriedade de


disponibilização de ambulâncias em operações policiais previamente planejadas em que haja a
possibilidade de confrontos armados.

De igual modo, no caso de buscas domiciliares por parte das forças de segurança do Estado do
Rio de Janeiro, devem ser observadas as seguintes diretrizes constitucionais, sob pena de
responsabilidade: (i) a diligência, no caso específico de cumprimento de mandado judicial, deve ser
realizada somente durante o dia, vedando-se, assim, o ingresso forçado a domicílios à noite; (ii) a
diligência, quando feita sem mandado judicial, pode ter por base denúncia anônima; (iii) a diligência deve
ser justificada e detalhada por meio da elaboração de auto circunstanciado, que deverá instruir eventual
auto de prisão em flagrante ou de apreensão de adolescente por ato infracional e ser remetido ao juízo da
audiência de custódia para viabilizar o controle judicial posterior; e (iv) a diligência deve ser realizada
nos estritos limites dos fins excepcionais a que se destina.

Por fim, o Estado do Rio de Janeiro deve, no prazo máximo de 180 dias, instalar equipamentos
de GPS e sistemas de gravação de áudio e vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos age ntes de
segurança, com o posterior armazenamento digital dos respectivos arquivos.
Com base nesses e em outros fundamentos, o Plenário acolheu parcialmente embargos de
declaração em medida cautelar em arguição de descumprimento de preceito fundamental.

ADPF 635 MC-ED/RJ, relator Min. Edson Fachin, julgamento em 2 e 3.2.2022 (INF 1042)

Produção de relatórios de inteligência e vinculação ao interesse público - ADPF


722/DF

ODS: 8 e 16

Resumo:

Os órgãos do Sistema Brasileiro de Inteligência, conquanto necessários para a segurança


pública, segurança nacional e garantia de cumprimento eficiente dos deveres do Estado, devem
operar com estrita vinculação ao interesse público, observância aos valores democráticos e respeito
aos direitos e garantias fundamentais.

Nesse contexto, caracterizam desvio de finalidade e abuso de poder a colheita, a produção e o


compartilhamento de dados, informações e conhecimentos específicos para satisfazer interesse privado de
órgão ou de agente público134.

Na hipótese, a utilização da máquina estatal para a colheita de informações de servidores com


postura política contrária ao governo caracteriza desvio de finalidade e afronta aos direitos fundamentais
da livre manifestação do pensamento, da privacidade, reunião e associação, aos quais deve ser conferida
máxima efetividade, pois essenciais ao regime democrático.

Ademais, os órgãos de inteligência de qualquer nível hierárquico de qualquer dos Poderes do


Estado, embora sujeitos ao controle externo realizado pelo Poder Legislativo 135, submetem-se também ao
crivo do Poder Judiciário, em respeito ao princípio da inafastabilidade da jurisdição 136.
134
Precedentes: ADI 6529; ADI 5468; e ADI 4451.
135
Lei 9.883/1999: “Art. 6º O controle e fiscalização externos da atividade de inteligência serão exercidos pelo Poder
Legislativo na forma a ser estabelecida em ato do Congresso Nacional;”
136
CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito;”

63
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente o pedido para
confirmar a medida cautelar e declarar inconstitucionais atos do Ministério da Justiça e Segurança Pública
de produção ou compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e políticas, e
as práticas cívicas de cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e municipais identificados como
integrantes de movimento político, professores universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites
da legalidade, exerçam seus direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se.

ADPF 722/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1054)

Produtos fumígenos: restrições à publicidade e inserção de advertências sanitárias


nas embalagens - ADI 3311/DF

ODS: 3

Resumo:

Não viola o texto constitucional a imposição legal de restrições à publicidade de produtos


fumígenos e de inserção de advertências sanitárias em suas embalagens quando se revelarem
adequadas, necessárias e proporcionais para alcançar a finalidade de reduzir o fumo e o consumo
do tabaco, hábitos que constituem perigo à saúde pública.

A propaganda comercial, embora protegida enquanto direito fundamental ─ eis que abrangida
pelas liberdades de expressão e comunicação (CF/1988, art. 5º, IV e IX) ─ sujeita-se a restrições, desde
que proporcionais, no cotejo com a proteção de outros valores públicos137.

Por sua vez, a atividade empresarial, inclusive a publicitária, submete-se aos princípios da ordem
econômica, razão pela qual deve dialogar com a concretização dos demais valores públicos e a proteção
dos direitos fundamentais potencialmente colidentes138.

Nesse contexto, o próprio texto constitucional explicita a possibilidade e a importância das


limitações publicitárias de produtos notadamente nocivos139.

Na espécie, a imposição das referidas medidas visa conferir efetividade às políticas públicas de
combate ao fumo e de controle do tabaco, desestimulando o seu consumo com o fim de proteger a saúde
pública e concretizar a proteção do consumidor em sua dimensão informativa, possibilitando-o a refletir
sobre a prática (CF/1988, art. 5º, XIV e XXXII, e art. 170, V).

Prevalece, portanto, a tutela da saúde (CF/1988, art. 6º), inclusive à luz da proteção prioritária da
criança e do adolescente (CF/1988, art. 227), sendo certo que as medidas limitam a livre iniciativa, na
dimensão expressiva e comunicativa, visando concretizar os objetivos fundamentais da República
(CF/1988, art. 3º).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação.
Impedidos os Ministros Luís Roberto Barroso e Cármen Lúcia.

ADI 3311/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022 (terça-
feira) às 23:59 (INF 1068)

137
Precedente citado: RE 511961.
138
Precedente citado: ADI 4306.
139
CF/1988: “Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma,
processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. (...) § 4º A propaganda
comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais, nos
termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios
decorrentes de seu uso.”

64
Remanejamento de cargos em comissão de peritos do MNPCT, fragilização do
combate à tortura no País e abuso do poder regulamentar - ADPF 607/DF

Resumo:

São indevidos, mediante decreto, o remanejamento dos cargos em comissão destinados aos
peritos do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), a exoneração de
seus ocupantes e a transformação dessa atividade em prestação de serviço público relevante não
remunerado.

Tais medidas, implementadas por meio de ato infralegal (Decreto 9.813/2019) 140, levam ao
esvaziamento de políticas públicas previstas na Lei 12.847/2013, o que importa em abuso do poder
regulamentar e, por conseguinte, desrespeito à separação dos Poderes.

Na espécie, a violação se mostra especialmente grave, diante do potencial desmonte de órgão


cuja competência é a prevenção e o combate à tortura. A transformação da atividade em serviço público
não remunerado impossibilita que o trabalho seja feito com dedicação integral e desestimula profissionais
especializados a integrarem o corpo técnico do órgão.

Ademais, essas medidas colocam o Brasil em situação de descumprimento de obrigação


assumida perante a comunidade internacional e internalizada no âmbito do ordenamento jurídico pátrio,
pois vai de encontro à disciplina do Protocolo Facultativo à Convenção Contra a Tortura e outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (Decreto 6.085/2007), mediante o qual o País
se obrigou “a tornar disponíveis todos os recursos necessários para o funcionamento dos mecanismos
preventivos nacionais”.

Com base nesse entendimento, o Plenário declarou a inconstitucionalidade dos arts. 1º, 2º (por
arrastamento), 3º e 4º, este último na parte em que altera o § 5º do art. 10 do Decreto 8.154/2013, todos
do Decreto 9.831/2019 (1), bem como da expressão “designados” do caput do mencionado art. 10 do
Decreto 8.154/2013, conferindo interpretação conforme ao dispositivo para que se entenda que os peritos
do MNPCT devem ser nomeados para cargo em comissão, devendo, por consequência dessa decisão, ser
restabelecida a destinação de 11 cargos em comissão do Grupo Direção e Assessoramento Superiores -
DAS 102.4 — ou cargo equivalente — aos peritos do MNPCT, garantida a respectiva remuneração.

ADPF 607/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 25.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1048)

Restrições legais ao consumo de bebidas alcóolicas e condução de veículos


automotivos - RE 1224374/RS (Tema 1079 RG), ADI 4017/DF e ADI 4103/DF

ODS: 3, 4, 8, 10, 11 e 16

Tese fixada:

140
Decreto 9.831/2019: “Art. 1º Ficam remanejados, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
para a Secretaria de Gestão da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da
Economia, na forma do Anexo I, onze cargos em comissão do Grupo Direção e Assessoramento Superiores - DAS
102.4. Art. 2º O Anexo II ao Decreto nº 9.673, de 2 de janeiro de 2019, passa a vigorar com as alterações constantes
do Anexo II a este Decreto. Art. 3º Os ocupantes dos cargos em comissão que deixam de existir na Estrutura
Regimental do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos por força deste Decreto ficam
automaticamente exonerados. Art. 4º O Decreto nº 8.154, de 16 de dezembro de 2013, passa a vigorar com as
seguintes alterações: (…) Art. 10. O MNPCT, órgão integrante da estrutura do Ministério da Mulher, da Família e
dos Direitos Humanos, será composto por onze peritos, escolhidos pelo CNPCT e designados por ato do Presidente
da República, com mandato de três anos, admitida uma recondução por igual período. (…) § 5º A participação no
MNPCT será considerada prestação de serviço público relevante, não remunerada.”

65
“Não viola a Constituição a previsão legal de imposição das sanções administrativas ao
condutor de veículo automotor que se recuse à realização dos testes, exames clínicos ou perícias
voltados a aferir a influência de álcool ou outra substância psicoativa (art. 165-A e art. 277, §§ 2º e
3º, todos do Código de Trânsito Brasileiro, na redação dada pela Lei 13.281/2016)”

Resumo:

É inadmissível qualquer nível de alcoolemia por condutores de veículos automotivos.

A premissa de que a “Lei Seca” pune na mesma intensidade condutores responsáveis e


irresponsáveis não se mostra correta, em face da inexistência de um nível seguro de “alcoolemia”. Assim,
deixa de ser considerado responsável também todo condutor de veículo que dirige após a ingestão de
qualquer quantidade de álcool. A norma, nesse sentido, se caracteriza como adequada, necessária e
proporcional.

A eventual recusa de motoristas na realização de “teste do bafômetro”, ou dos demais


procedimentos previstos no CTB para aferição da influência de álcool ou outras drogas, por não encontrar
abrigo no princípio da não autoincriminação, permite a aplicação de multa e a retenção/apreensão da
CNH validamente.

Isso porque não existem consequências penais ou processuais impostas diante da recusa na
realização do “teste do bafômetro” (etilômetro) ou dos demais procedimentos previstos nos artigos 165-A
e 277, §§ 2º e 3º, do CTB.

Nesses termos, a imposição de restrições de direitos, decorrente da recusa do motorista em


realizar os testes de alcoolemia previstos em lei141, revela-se meio adequado, necessário e proporcional em
sentido estrito para a efetivação, em maior medida, de outros princípios fundamentais como a vida e a
segurança no trânsito, sem que acarrete qualquer violação à dignidade da pessoa humana. Isso se
circunscreve ao espaço de conformação do legislador no desenho de políticas públicas.

São constitucionais as normas que estabelecem a proibição da venda de bebidas alcóolicas em


rodovias federais (Lei 11.705/2008, art. 2º)142.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, ao apreciar o Tema 1079 da repercussão geral, por
unanimidade, deu provimento ao recurso extraordinário e, por maioria, julgou improcedentes os pedidos
formulados nas ações diretas de inconstitucionalidade.

RE 1224374/RS, relator Min. Luiz Fux, julgamento em 18 e 19.5.2022 (INF 1055)


ADI 4017/DF, relator Min. Luiz Fux, julgamento em 18 e 19.5.2022 (INF 1055)
ADI 4103/DF, relator Min. Luiz Fux, julgamento em 18 e 19.5.2022 (INF 1055)

4.5 EDUCAÇÃO BÁSICA

COVID-19: Realocação de recursos vinculados ao FUNDEB para ações de combate


à pandemia do novo coronavírus - ADI 6490/PI

141
CTB: “Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que permita
certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277: (...)”
142
Lei 11.705/2008: “Art. 2º São vedados, na faixa de domínio de rodovia federal ou em terrenos contíguos à faixa de
domínio com acesso direto à rodovia, a venda varejista ou o oferecimento de bebidas alcoólicas para consumo no
local.”

66
Resumo:

É vedada a utilização, ainda que em caráter excepcional, de recursos vinculados ao


FUNDEB para ações de combate à pandemia do novo coronavírus (COVID-19).

Os precedentes da Corte143 são firmes quanto à impossibilidade do uso dos recursos do FUNDEB
para gastos não relacionados à educação, pois possuem destinação vinculada a finalidades específicas,
todas voltadas exclusivamente à área educacional. Portanto, ainda que se reconheça a gravidade da
pandemia da COVID-19 e os seus impactos na economia e nas finanças públicas, nada justifica o
emprego de verba constitucionalmente vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino básico para
fins diversos da que ela se destina.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu da ação direta e, no
mérito, julgou improcedente o pedido.

ADI 6490/PI, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1044)

4.6 ÍNDIOS

Proteção territorial em terras indígenas não homologadas - ADPF 709 MC-segunda-


Ref/DF

Resumo:

É necessário que a União e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) executem e


implementem atividade de proteção territorial nas terras indígenas, independentemente de sua
homologação.

Nos termos do art. 231 da Constituição Federal (CF/1988) 144, a União tem o dever (e não a
escolha) de demarcar as terras indígenas. No caso, a não homologação das demarcações dessas terras
deriva de inércia deliberada do Poder Público, em afronta ao direito originário dos índios.

Ademais, ao afastar a proteção territorial em terras não homologadas, a FUNAI sinaliza a


invasores que a União se absterá de combater atuações irregulares em tais áreas, o que pode constituir um
convite à invasão de terras que são sabidamente cobiçadas por grileiros e madeireiros, bem como à prática
de ilícitos de toda ordem. Além disso, a suspensão da proteção territorial abre caminho para que terceiros
passem a ali transitar, o que põe em risco a saúde dessas comunidades, expondo-as a eventual contágio
por COVID-19 e outras enfermidades.

Com base nesse entendimento, o Plenário ratificou a medida cautelar já concedida para
determinar: (i) a suspensão imediata dos efeitos do Ofício Circular 18/2021/CGMT/DPT/FUNAI e do
parecer 00013/2021/COAF-CONS/PFE-FUNAI/PGF/AGU; e (ii) a implementação de atividade de
proteção territorial nas terras indígenas pela FUNAI, independentemente de estarem homologadas. O
ministro André Mendonça acompanhou o voto do relator com ressalvas.

ADPF 709 MC-segunda-Ref/DF, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em
25.2.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1045)

143
Precedentes: ACO 648; ARE 1066281 AgR; ARE 1272638 AgR; RE 1122970 ED-AgR; STP 66; STP 68 AgR;
STP 88 AgR; e ADI 5719.
144
CF/1988: “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e
os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.”

67
4.7 MINISTÉRIO PÚBLICO

Inamovibilidade dos membros do Ministério Público da União - ADI 5052/DF

ODS: 8 e 16

Resumo:

É inconstitucional norma que prevê a designação bienal para o exercício de funções


institucionais inerentes às respectivas carreiras dos membros do Ministério Público da União
(MPU).

Dentro da estrutura organizacional do MPU, as unidades de lotação dos integrantes de suas


carreiras correspondem aos denominados ofícios, que representam os locais em que exercidas suas
atribuições institucionais. Após lotados em determinado ofício, eles gozam da garantia constitucional da
inamovibilidade145.

Nesse contexto, o deslocamento para outro ofício, sem retorno ao de origem, por meio de
designações e redesignações bienais, conduz ao grave risco de movimentações casuísticas. Isso porque
deixa margem para lotação definitiva em ofício diverso ao que o membro atua, independentemente do
concurso de sua vontade, destoando daquelas de caráter meramente eventual, em manifesta afronta à
garantia da inamovibilidade146.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, dos artigos 216, caput, 217, caput, e 218, caput, todos
da Lei Complementar 75/1993, de modo a afastar qualquer interpretação que implique remoção do
membro da carreira de seu ofício de lotação 147.

ADI 5052/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 20.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1055)

4.8 ORÇAMENTO

Emendas do relator-geral do orçamento: suspensão da execução orçamentária e


prestação de serviços essenciais à coletividade - ADPF 850 MC-Ref-Ref/DF, ADPF 851 MC-
Ref-Ref/DF e ADPF 854 MC-Ref-Ref/DF

Resumo:

Diante dos riscos de paralisação de serviços essenciais à coletividade, deve-se dar, em juízo
cautelar, continuidade à execução das despesas classificadas sob o identificador de Resultado
Primário 9 (RP 9).

145
CF/1988: “Art. 128. O Ministério Público abrange: (...) § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja
iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de
cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: I - as seguintes garantias: (...) b)
inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do
Ministério Público, por voto de dois terços de seus membros, assegurada ampla defesa; (...)”
146
Precedente: ADI 4414.
147
Lei Complementar 75/1993: “Art. 216. As designações, salvo quando estabelecido outro critério por esta lei
complementar, serão feitas por lista, no último mês do ano, para vigorar por um biênio, facultada a renovação. Art.
217. A alteração da lista poderá ser feita, antes do termo do prazo, por interesse do serviço, havendo: (...) Art. 218. A
alteração parcial da lista, antes do termo do prazo, quando modifique a função do designado, sem a sua anuência,
somente será admitida nas seguintes hipóteses: (...)”

68
As providências adotadas pelo Congresso Nacional e pelos órgãos do Poder Executivo da União
em cumprimento da decisão proferida no julgamento conjunto das ADPFs 850, 851 e 854 mostram-se
suficientes, ao menos em exame estritamente delibatório, para justificar o afastamento dos efeitos da
suspensão determinada pelo STF diante do risco de prejuízo que a paralisação da execução orçamentária
traz à prestação de serviços essenciais à coletividade.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a decisão que afastou a
suspensão determinada pelo item c da decisão anteriormente proferida, para autorizar a continuidade da
execução das despesas classificadas sob o indicador RP 9, devendo ser observadas para tanto, no que
couber, as regras do Ato Conjunto das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal 1/2021, e a
Resolução 2/2021 do Congresso Nacional.

ADPF 850 MC-Ref-Ref/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em
16.12.2021 (quinta-feira), às 23:59 (INF 1042)

ADPF 851 MC-Ref-Ref/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em
16.12.2021 (quinta-feira), às 23:59 (INF 1042)

ADPF 854 MC-Ref-Ref/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em
16.12.2021 (quinta-feira), às 23:59 (INF 1042)

4.9 ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA

Aplicabilidade das regras do Estatuto da Advocacia a advogados empregados


públicos - ADI 3396/DF

ODS: 16

Resumo:

69
As regras previstas nos arts. 18 a 21 do Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994) 148 — que
tratam da relação de emprego, salário, jornada de trabalho e honorários de sucumbência — são
aplicáveis aos advogados empregados de empresas públicas e de sociedade de economia mista que
atuam no mercado em regime concorrencial (sem monopólio).

O poder público, ao exercer atividade econômica em regime de livre concorrência, deve nivelar-
se aos demais agentes produtivos para não violar princípios da ordem econômica, em especial o da livre
concorrência (CF/1988, art. 170, IV). Assim, ao atuar como empresário, o Estado se submete aos mesmos
bônus e ônus do setor, tornando imprescindível a submissão das empresas estatais não monopolistas às
regras legais aplicáveis à concorrência privada, inclusive no que tange às normas trabalhistas.

No entanto, esses advogados, assim como todos os servidores e empregados públicos em geral,
também estão sujeitos ao teto remuneratório do serviço público (CF/1988, art. 37, XI), quanto ao total da
sua remuneração (salários mais vantagens e honorários advocatícios), com exceção daqueles vinculados a
empresa pública, sociedade de economia mista ou subsidiária que não receba recursos do ente central para
pagamento de pessoal ou custeio e nem exerça sua atividade em regime monopolístico (CF/1988, art. 37,
§ 9º)149.

Também ficam excluídos dessa disciplina do Estatuto da Advocacia (arts. 18 a 21) todos os
advogados empregados de empresas públicas ou sociedades de economia mista ou suas subsidiárias que
tenham sido admitidos por concurso público, em cujos editais tenham sido estipuladas condições diversas
daquelas do estatuto, sem qualquer impugnação.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação
para dar interpretação conforme a Constituição ao art. 4º da Lei 9.527/1997 150, excluindo de seu alcance
os advogados empregados públicos de empresa pública, sociedade de economia mista e suas subsidiárias,
não monopolísticas, com as ressalvas das compreensões acima indicadas.

148
Lei 8.906/1994: “Art. 18. A relação de emprego, na qualidade de advogado, não retira a isenção técnica nem
reduz a independência profissional inerentes à advocacia. Parágrafo único. O advogado empregado não está obrigado
à prestação de serviços profissionais de interesse pessoal dos empregadores, fora da relação de emprego. § 1º O
advogado empregado não está obrigado à prestação de serviços profissionais de interesse pessoal dos empregadores,
fora da relação de emprego. (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) § 2º As atividades do advogado empregado poderão
ser realizadas, a critério do empregador, em qualquer um dos seguintes regimes: (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) I
– exclusivamente presencial: modalidade na qual o advogado empregado, desde o início da contratação, realizará o
trabalho nas dependências ou locais indicados pelo empregador; (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) II – não
presencial, teletrabalho ou trabalho a distância: modalidade na qual, desde o início da contratação, o trabalho será
preponderantemente realizado fora das dependências do empregador, observado que o comparecimento nas
dependências de forma não permanente, variável ou para participação em reuniões ou em eventos presenciais não
descaracterizará o regime não presencial; (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) III – misto: modalidade na qual as
atividades do advogado poderão ser presenciais, no estabelecimento do contratante ou onde este indicar, ou não
presenciais, conforme as condições definidas pelo empregador em seu regulamento empresarial, independentemente
de preponderância ou não. (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) § 3º Na vigência da relação de emprego, as partes
poderão pactuar, por acordo individual simples, a alteração de um regime para outro. (Incluído pela Lei 14.365, de
2022) Art. 19. O salário mínimo profissional do advogado será fixado em sentença normativa, salvo se ajustado em
acordo ou convenção coletiva de trabalho. Art. 20. A jornada de trabalho do advogado empregado, quando prestar
serviço para empresas, não poderá exceder a duração diária de 8 (oito) horas contínuas e a de 40 (quarenta) horas
semanais. (Redação dada pela Lei 14.365, de 2022) § 1º Para efeitos deste artigo, considera-se como período de
trabalho o tempo em que o advogado estiver à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, no seu
escritório ou em atividades externas, sendo-lhe reembolsadas as despesas feitas com transporte, hospedagem e
alimentação. § 2º As horas trabalhadas que excederem a jornada normal são remuneradas por um adicional não
inferior a cem por cento sobre o valor da hora normal, mesmo havendo contrato escrito. § 3º As horas trabalhadas no
período das vinte horas de um dia até as cinco horas do dia seguinte são remuneradas como noturnas, acrescidas do
adicional de vinte e cinco por cento. Art. 21. Nas causas em que for parte o empregador, ou pessoa por este
representada, os honorários de sucumbência são devidos aos advogados empregados. Parágrafo único. Os honorários
de sucumbência, percebidos por advogado empregado de sociedade de advogados são partilhados entre ele e a
empregadora, na forma estabelecida em acordo.”
149
Precedente: ADI 6584.
150
Lei 9.527/1997: “Art. 4º As disposições constantes do Capítulo V, Título I, da Lei nº 8.906, de 4 de julho de
1994, não se aplicam à Administração Pública direta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
bem como às autarquias, às fundações instituídas pelo Poder Público, às empresas públicas e às sociedades de
economia mista.”

70
ADI 3396/DF, relator Min. Nunes Marques, julgamento finalizado em 23.6.2022 (INF 1060)

Energia elétrica e regulamentação por medida provisória com posterior conversão em


lei - ADI 3090/DF e ADI 3100/DF

Resumo:

A Medida Provisória 144/2003, convertida na Lei 10.848/2004, que dispõe sobre a


comercialização de energia elétrica, não viola o art. 246 da Constituição Federal151 e 152.

Em primeiro lugar, porque a Emenda Constitucional (EC) 6/1995 não promoveu alteração
substancial na disciplina constitucional do setor elétrico, mas, em razão da revogação do art. 171 da CF,
restringiu-se a substituir a expressão “empresa brasileira de capital nacional” pela expressão “empresa
constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no país”, incluída no § 1º do art.
176 da CF pela EC 6/1995.

Com efeito, o setor elétrico já estava, antes dessa alteração, aberto ao capital privado. Houve
apenas ampliação colateral em relação às empresas que poderiam ser destinatárias de autorização ou
concessão para explorar o serviço.

Além disso, a MP não se destinou a dar eficácia às modificações introduzidas pela EC 6/1995,
mas a regulamentar o art. 175 da CF, que dispõe sobre o regime de prestação de serviços públicos no
setor elétrico.

Com base nesses fundamentos, o Plenário, por unanimidade conheceu em parte das ações diretas
de inconstitucionalidade analisadas em conjunto, e, nas partes conhecidas, julgou improcedentes os
pedidos.

ADI 3090/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-
feira), às 23:59 (INF 1051)

ADI 3100/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-
feira), às 23:59 (INF 1051)

4.10 ORDEM SOCIAL

Ação para o fornecimento de medicamentos: fármaco com registro na Anvisa e na


União - RE 1286407 AgR-segundo/PR

Resumo:

É obrigatória a inclusão da União no polo passivo de demanda na qual se pede o


fornecimento gratuito de medicamento registrado na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas
não incorporado aos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do Sistema Único de Saúde.

151
CF: “Art. 246. É vedada a adoção de medida provisória na regulamentação de artigo da Constituição cuja redação
tenha sido alterada por meio de emenda promulgada entre 1º de janeiro de 1995 até a promulgação desta emenda,
inclusive.”
152
Precedentes: ADI 2005 MC, ADI 2473 MC, ADI 1518 MC, ADI 1597 MC e ADI 1975 MC.

71
No caso, a decisão de autoridade judicial no sentido de que a União deve necessariamente
compor o polo passivo da lide está em consonância com a tese fixada por este Tribunal em sede de
embargos de declaração no RE 855.178 (Tema 793 da repercussão geral).

Com base nesse entendimento, a Primeira Turma deu provimento a agravo interno para negar
seguimento a recurso extraordinário, mantendo a remessa à Justiça Federal determinada na origem, bem
como a medida liminar deferida, até que o juízo competente analise a causa.

RE 1286407 AgR-segundo/PR, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 26.4.2022


(INF 1052)

Covid-19: educação e transferência de recursos para acesso à internet - ADI


6926/DF

ODS: 4

Resumo:

É constitucional norma federal que prevê a transferência de recursos pela União aos
estados e ao Distrito Federal para garantir o acesso à internet, com fins educacionais, por alunos e
professores da educação básica em virtude da calamidade pública decorrente da Covid-19.

No caso, a Lei 14.172/2021 está em consonância com a norma constitucional que posiciona a
educação como um direito social (CF/1988, art. 205), bem como ao princípio segundo o qual o ensino
será ministrado com “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” (CF/1988, art. 206,
I), uma vez que objetiva garantir a conectividade a alunos e professores da rede pública de ensino no
contexto da pandemia da Covid-19.

Ademais, não há qualquer contrariedade ao devido processo legislativo, pois (i) a norma não
prevê qualquer disposição que implique na criação de órgãos na Administração Pública federal, na sua
reorganização ou na alteração de suas atribuições; e (ii) a aprovação do projeto de lei foi precedida da
demonstração da viabilidade financeira e orçamentária, em observância ao art. 113 do ADCT, respeitando
as limitações legais cabíveis e sem desobedecer ao regime extraordinário fiscal implementado pelas ECs
106/2020 e 109/2021.

Assim, foram observadas as regras legais e constitucionais voltadas ao equilíbrio fiscal e, dada a
existência de mecanismos para que a transferência dos recursos cumpra as finalidades designadas pela
norma e para que a política pública seja efetivamente implementada, não se vislumbra qualquer
contrariedade ao princípio da eficiência.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente do pedido
formulado na ação — para dele excluir o art. 2º, § 3º, alterado pela Lei 14.351/2022 — e, na parte
conhecida, o julgou improcedente para declarar a constitucionalidade dos demais preceitos da Lei
14.172/2021.

ADI 6926/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1061)

Educação infantil: dever estatal de garantir o atendimento em creche e pré-escola às


crianças de até cinco anos de idade - RE 1008166/SC (Tema 548 RG)

ODS: 1, 4, 10 e 16

72
Tese fixada:

"1. A educação básica em todas as suas fases — educação infantil, ensino fundamental e
ensino médio — constitui direito fundamental de todas as crianças e jovens, assegurado por normas
constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade direta e imediata. 2. A educação infantil
compreende creche (de zero a 3 anos) e a pré-escola (de 4 a 5 anos). Sua oferta pelo Poder Público
pode ser exigida individualmente, como no caso examinado neste processo. 3. O Poder Público tem
o dever jurídico de dar efetividade integral às normas constitucionais sobre acesso à educação
básica."

Resumo

O Estado tem o dever constitucional de assegurar às crianças entre zero e cinco anos de
idade o atendimento em creche e pré-escola.

A educação infantil é direito subjetivo assegurado no próprio texto constitucional, mediante


norma de aplicabilidade direta e eficácia plena, isto é, sem a necessidade de regulamentação pelo Poder
Legislativo. Nesse contexto, os entes municipais, por meio de políticas públicas eficientes, são
primariamente responsáveis por proporcionar sua concretização153.

A educação básica representa prerrogativa constitucional deferida a todos, notadamente às


crianças, e seu adimplemento impõe a satisfação de um dever de prestação positiva pelo Poder Público,
consistente na garantia de acesso pleno ao sistema educacional, inclusive ao atendimento em creches e
pré-escolas. Com efeito, a universalização desse acesso tem potencial de contribuir substancialmente para
a redução de desigualdades sociais e raciais.

Ademais, a jurisprudência desta Corte firmou-se pela possibilidade de se exigir judicialmente do


Estado uma determinada prestação material com o objetivo de concretizar um direito fundamental 154.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 548 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário, confirmando o acórdão recorrido, para assentar o
dever de a municipalidade efetuar a matrícula de uma criança em estabelecimento de educação infantil
próximo de sua residência.

RE 1008166/SC, relator Min. Luiz Fux, julgamento finalizado em 22.9.2022 (INF 1069)

FUNDEF/FUNDEB: precatório e pagamento de pessoal - ADPF 528/DF

153
“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social: (...) XXV–- assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em
creches e pré-escolas; (...) Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (...) Art. 208. O dever do Estado com a educação será
efetivado mediante a garantia de: (...) IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de
idade; (...) Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração
seus sistemas de ensino. (...) § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação
infantil. (...) Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
154
Precedentes citados: ARE 639337 AgR; AI 592075 AgR e RE 592937 AgR.

73
Resumo:

O caráter extraordinário dos valores de complementação do FUNDEB pagos pela União


aos estados e aos municípios, por força de condenação judicial, justifica o afastamento da
subvinculação prevista nos arts. 60, XII, do ADCT155 e 22 da Lei 11.949/2007156.

Isso porque a observância à regra da subvinculação implicaria em pontual e insustentável


aumento salarial dos professores do ensino básico, que, em razão da regra de irredutibilidade salarial,
teria como efeito pressionar o orçamento público municipal nos períodos subsequentes — sem que
houvesse receita subsequente proveniente de novos precatórios inexistentes —, acarretando o
investimento em salários além do patamar previsto constitucionalmente, em prejuízo de outras ações de
ensino a serem financiadas com os mesmos recursos.

É inconstitucional o pagamento de honorários advocatícios contratuais com recursos destinados


ao FUNDEB, o que representaria indevido desvio de verbas constitucionalmente vinculadas à educação.

O comando constitucional é claro ao afirmar que os recursos recebidos por meio do FUNDEB
devem ser destinados exclusivamente à educação básica pública. Dessa forma, a utilização de tais verbas
para pagamento de honorários advocatícios contratuais caracterizaria violação direta ao texto
constitucional157. Por outro lado, é admissível o pagamento de honorários advocatícios contratuais com
verbas provenientes dos juros moratórios incidentes sobre o valor do precatório devido pela União.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente arguição de
descumprimento de preceito fundamental.

ADPF 528/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 18.3.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1047)

Reserva de vagas para irmãos na mesma escola - ADI 7149/RJ

ODS: 4

Resumo:

É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que determina a reserva de vagas,


no mesmo estabelecimento de ensino, para irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo escolar,
pois disciplina medida que visa consolidar políticas públicas de acesso ao sistema educacional e do
maior convívio familiar possível.

155
ADCT: “Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta Emenda Constitucional, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da
Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos
trabalhadores da educação, respeitadas as seguintes disposições: (…) XII - proporção não inferior a 60% (sessenta
por cento) de cada Fundo referido no inciso I do caput deste artigo será destinada ao pagamento dos profissionais do
magistério da educação básica em efetivo exercício.”
156
Lei 11.494/2007: “Art. 22. Pelo menos 60% (sessenta por cento) dos recursos anuais totais dos Fundos serão
destinados ao pagamento da remuneração dos profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercício na
rede pública. Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput deste artigo, considera-se: I - remuneração: o total de
pagamentos devidos aos profissionais do magistério da educação, em decorrência do efetivo exercício em cargo,
emprego ou função, integrantes da estrutura, quadro ou tabela de servidores do Estado, Distrito Federal ou Município,
conforme o caso, inclusive os encargos sociais incidentes; II - profissionais do magistério da educação: docentes,
profissionais que oferecem suporte pedagógico direto ao exercício da docência: direção ou administração escolar,
planejamento, inspeção, supervisão, orientação educacional e coordenação pedagógica; III - efetivo exercício:
atuação efetiva no desempenho das atividades de magistério previstas no inciso II deste parágrafo associada à sua
regular vinculação contratual, temporária ou estatutária, com o ente governamental que o remunera, não sendo
descaracterizado por eventuais afastamentos temporários previstos em lei, com ônus para o empregador, que não
impliquem rompimento da relação jurídica existente.”
157
Precedente: ARE 1.066.281 AgR.

74
De acordo com a jurisprudência desta Corte 158, não viola a competência reservada ao chefe do
Poder Executivo lei de iniciativa parlamentar que reafirma ou densifica o conteúdo de direitos
fundamentais previstos na própria Constituição Federal e cujo conteúdo é de observância obrigatória
pelos estados-membros (CF/1988, art. 61, § 1º, II, e; e art. 84, VI, a).

Na espécie, a norma impugnada não cria despesa para a Administração Pública estadual, bem
como não trata da sua estrutura ou da atribuição ou funcionamento de seus órgãos, tampouco do regime
jurídico de servidores públicos, razão pela qual não há vício de inconstitucionalidade formal. Além de
facilitar o acesso ao sistema de ensino, a medida diminui a evasão escolar, fortalece a convivência
familiar e facilita o transporte de alunos, de modo a consolidar o direito fundamental à educação e a
proteção aos interesses das crianças e dos adolescentes, em reforço ao que já dispõe o Estatuto da Criança
e do Adolescente159.

Com base nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente a ação para
assentar a constitucionalidade da Lei 9.385/2021 do Estado do Rio de Janeiro 160.

ADI 7149/RJ, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 23.9.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1069)

4.11 ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

Liberdade de expressão e limites - AP 1044/DF

Resumo:

A liberdade de expressão existe para a manifestação de opiniões contrárias, jocosas,


satíricas e até mesmo errôneas, mas não para opiniões criminosas, discurso de ódio ou atentados
contra o Estado Democrático de Direito e a democracia.

A Constituição garante a liberdade de expressão, com responsabilidade. A liberdade de


expressão não pode ser usada para a prática de atividades ilícitas ou para a prática de discursos de ódio,
contra a democracia ou contra as instituições.

Nesse sentido, são inadmissíveis manifestações proferidas em redes sociais que objetivem a
abolição do Estado de Direito e o impedimento, com graves ameaças, do livre exercício de seus poderes
constituídos e de suas instituições.

158
Precedentes citados: ADI 4723; ADI 5243 e RE 1282228 AgR.
159
Lei 8.069/1990: “Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de
sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: (...) V - acesso
à escola pública e gratuita, próxima de sua residência, garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que
frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica.”
160
Lei 9.385/2021 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 1º Esta Lei altera a Lei nº 4.528, de 28 de março de 2005, para
dispor sobre a garantia de matrícula a irmãos, na mesma escola, na forma que menciona. Art. 2º O Art. 19, da Lei nº
4.528, de 28 de março de 2005, passa a vigorar acrescido do Inciso XII, que terá a seguinte redação: ‘Art. 19. [...] XII
– o Poder Executivo, mediante regulamentação própria , deverá garantir , a irmãos que frequentem a mesma etapa ou
ciclo escolar, reserva de vagas no estabelecimento de ensino mais próximo de sua residência , desde que a Unidade
Escolar onde um dos irmãos já esteja matriculado, possua a etapa ou ciclo escolar do outro irmão, e não tenha como
meio de admissão processo seletivo específico, por meio de sorteio público ou prova.’ Art. 3º As dotações
orçamentárias contemplarão as despesas previstas nesta Lei, devendo ser suplementadas, caso necessário. Art. 4º Esta
Lei entra em vigor na data de sua publicação.”

75
Ademais, conforme jurisprudência do STF, a garantia constitucional da imunidade parlamentar 161
incide apenas sobre manifestações proferidas no desempenho da função legislativa ou em razão desta, não
sendo possível utilizá-la como escudo protetivo para a prática de atividades ilícitas.

Não configurada abolitio criminis com relação aos delitos previstos na Lei de Segurança
Nacional (Lei 7.170/1983).

Quando determinada conduta típica (e suas elementares) permanece descrita na nova lei penal,
com a manutenção do caráter proibido da conduta, há a configuração do fenômeno processual penal da
continuidade normativo-típica.

Na hipótese, o legislador não pretendeu abolir as condutas atentatórias à democracia, ao Estado


de Direito e ao livre exercício dos poderes. Na realidade, aprimorou, sob o manto democrático, a defesa
do Estado, de suas instituições e de seus poderes.

Observa-se, assim, a ocorrência de continuidade normativo-típica entre as condutas previstas nos


arts. 18 e 23, IV, da Lei 7.170/1983 e a conduta prevista no art. 359-L do CP (com redação dada pela Lei
14.197/2021), bem como entre a conduta prevista no art. 23, II, da Lei 7.170/1983 e o conduta típica
prevista no art. 286, parágrafo único, do CP, com redação dada pela Lei 14.197/2021.

Com base nesses e em outros fundamentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente
procedente ação penal.

AP 1044/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 20.4.2022 (INF 1051)

4.12 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

Desmembramento de municípios sem consulta plebiscitária e EC 57/2008 - RE


614384/SE (Tema 559 RG)

Tese fixada:

“A EC nº 57/08 não convalidou desmembramento municipal realizado sem consulta


plebiscitária e, nesse contexto, não retirou o vício de ilegitimidade ativa existente nas execuções
fiscais que haviam sido propostas por município ao qual fora acrescida, sem tal consulta, área de
outro para a cobrança do IPTU quanto a imóveis nela localizados.”

Resumo:

A EC 57/2008 não convalidou a criação, fusão, incorporação e desmembramento de


municípios realizados sem consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos municípios
envolvidos.

Município resultante de desmembramento realizado em desacordo com o art. 18, § 4º, da


CF/1988162 não detém legitimidade ativa para a cobrança de IPTU de imóvel situado em território a ele
acrescido.

161
CF: “Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões,
palavras e votos.”
162
CF/1988: “Art. 18: (...) § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por
lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia,
mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade
Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. (Redação dada pela EC n. 15/1996)”

76
Na linha da jurisprudência da Corte163, ao acrescentar o art. 96 ao ADCT 164, a EC 57/2008 aludiu
à inexistência de lei complementar federal à qual se refere o texto constitucional, sem dispensar,
entretanto, a observância do plebiscito da população dos municípios envolvidos.

Verifica-se, ademais, que a conclusão adotada pelo Tribunal de origem está de acordo com a
orientação fixada pelo STF no julgamento do RE 1171699 (Tema 400 da repercussão geral).

Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 559 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 614384/SE, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 29.4.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1052)

4.13 PODER EXECUTIVO

Chefe do Poder Executivo estadual: dupla vacância do cargo no último biênio do


mandato - ADI 7137/SP e ADI 7142/AC

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional, por violação ao princípio democrático, norma de Constituição estadual


que, a pretexto de disciplinar a dupla vacância no último biênio do mandato do chefe do Poder
Executivo, suprime a realização de eleições.

Conforme jurisprudência desta Corte, na hipótese de dupla vacância, no último biênio do


mandato, a disciplina sobre o processo de escolha do governador do estado e do prefeito do município
compete (a) aos estados-membros e aos municípios, respectivamente, se decorrente de causas não
eleitorais; ou (b) à União, se decorrente de causas eleitorais165.

Assim, muito embora o art. 81, § 1º, da CF/1988 166 não consubstancie norma de reprodução
obrigatória, a autonomia organizacional outorgada às unidades da Federação (art. 25, caput, da CF/1988
c/c o art. 11 do ADCT) não afasta a indispensabilidade da realização de eleições, sejam diretas (regra),
sejam indiretas (exceção), pois, no Brasil, os mandatos políticos são exercidos por pessoas escolhidas
pelo povo mediante votação.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, em julgamento conjunto, julgou
procedentes as ações para declarar a inconstitucionalidade do artigo 41, § 1º, da Constituição do Estado
de São Paulo167 e do art. 72, parágrafo único, da Constituição do Estado do Acre168.
163
Precedentes: RE 1171699; RE 1171699 ED; ADI 2921.
164
ADCT: “Art. 96. Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios,
cuja lei tenha sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do
respectivo Estado à época de sua criação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 57, de 2008).”
165
Precedentes citados: ADI 1057 MC; ADI 4298; ADI 1057; ADI 3549; ADI 4298 ED; ADI 5525; e ADI 2709.
166
CF/1988: “Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa
dias depois de aberta a última vaga. § 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a
eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.”

167
Constituição do Estado de São Paulo: “Art. 40. Em caso de impedimento do Governador e do Vice-Governador,
ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Governança o Presidente da
Assembleia Legislativa e o Presidente do Tribunal de Justiça. Art. 41. Vagando os cargos de Governador e Vice-
Governador, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. § 1º Ocorrendo a vacância no último ano do
período governamental, aplica-se o disposto no artigo anterior.”
168
Constituição do Estado do Acre: “Art. 72. Vagando os cargos de Governador e Vice-Governador do Estado, far-
se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. Parágrafo único. Ocorrendo a vacância nos últimos dois
anos do período governamental, serão chamados ao exercício do cargo o Presidente da Assembleia Legislativa e o

77
ADI 7137/SP, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1064)

ADI 7142/AC, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1064)

4.14 PODER JUDICIÁRIO

Conselho Nacional de Justiça e análise prévia de anteprojetos de lei de criação de


cargos, funções e unidades judiciárias dos tribunais de justiça - ADI 5119/DF

Resumo:

É constitucional a Resolução 184/2013 do CNJ no que determina aos tribunais de justiça


estaduais o encaminhamento, para eventual elaboração de nota técnica, de cópia dos anteprojetos
de lei de criação de cargos, funções comissionadas e unidades judiciárias 169.

A referida Resolução foi editada em consideração à Lei Complementar 101/2000 (Lei de


Responsabilidade Fiscal) e da Lei de Diretrizes Orçamentárias quanto à geração de novas despesas
públicas, visando à execução orçamentária de forma responsável e equilibrada, nos termos do art. 167 da
CF/1988. Insere-se, portanto, na perspectiva de uma gestão do Poder Judiciário com responsabilidade,
planejamento, avaliação, controle, limite e transparência, a fim de fomentar o uso racional dos recursos
públicos mediante análise prévia de anteprojetos de lei.

Nesse contexto, inexiste qualquer tratamento normativo anti-isonômico, pois a adoção da nota
técnica, no que couber, quanto aos estados-membros e respectivos tribunais de justiça prestigia (i) o
cumprimento da missão constitucional do CNJ para realizar o controle financeiro em relação a toda a
magistratura nacional, bem como (ii) o respeito ao federalismo, à autonomia dos entes federativos quanto
à programação financeiro-orçamentária (CF/1988, art. 24, I), e ao autogoverno dos tribunais de justiça
quanto à gestão de recursos humanos (CF/1988, art. 96, I).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação.

ADI 5119/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1059)

Custas e emolumentos judiciais: majoração e criação de sanções processuais por ente


estadual - ADI 7063/RJ

ODS: 8

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que institui sanções processuais diversas da legislação


federal para litigantes que abusem do seu direito à prestação jurisdicional e um procedimento mais
restritivo para requerer o benefício da gratuidade de justiça.

Presidente do Tribunal de Justiça, sucessivamente.”


169
Resolução 184/2013 - CNJ: “Art. 1º Os anteprojetos de lei de criação de cargos de magistrados e servidores,
cargos em comissão, funções comissionadas e unidades judiciárias no âmbito do Poder Judiciário da União
obedecerão ao disposto nesta Resolução. (...) § 3º Os Tribunais de Justiça dos Estados devem encaminhar cópia dos
anteprojetos de lei referidos no caput ao CNJ, que, se entender necessário, elaborará nota técnica, nos termos do
artigo 103 do Regimento Interno.”

78
Isso porque compete à União legislar sobre direito processual (CF/1988, art. 22, I) e já existe, no
Código de Processo Civil, expressão legislativa exaustiva sobre a matéria.
Além disso, as custas e os emolumentos classificam-se como tributo da espécie taxa, cuja
aplicação é direcionada ao sistema de justiça e, por essa razão, não podem ter como fato gerador principal
um ato ilícito170.
É constitucional norma estadual que fixa custas processuais mais elevadas para causas
consideradas de alto valor ou alta complexidade.
Com efeito, há pertinência entre o valor das custas e o custo do serviço judicial prestado, o que
se revela como efetiva progressividade tributária171.
No entanto, a determinação de “dobra de custas” sem a necessária correlação entre o valor da
taxa e o custo dos serviços prestados constitui afronta ao texto constitucional (CF/1988, art. 145, II).
Portanto, se o critério adotado é a qualidade do usuário do serviço, resta evidente a falta dessa
referibilidade.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente
procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade dos arts. 15-A; 15-B, caput; e 15-F a 15-I da Lei
3.350/1999, e arts. 135-D a 135-H do Decreto-Lei 5/1975, acrescidos respectivamente pelos arts. 1º e 2º
da Lei 9.507/2021, todos do Estado do Rio de Janeiro.

ADI 7063/RJ, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1057)

Tempo de serviço como critério de desempate para a promoção na carreira da


magistratura - ADI 6772/AL

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional, por disciplinar matéria concernente ao Estatuto da Magistratura,


norma estadual que prevê a adoção do maior tempo de serviço público como critério de desempate
para a promoção de magistrados.

Compete à União, mediante lei complementar de iniciativa reservada ao Supremo Tribunal


Federal, legislar sobre a organização da magistratura nacional (CF/1988, art. 93, caput). Enquanto esta
norma não é editada, a uniformização do regime jurídico da magistratura permanece sob a regência da Lei
Complementar 35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura - LOMAN).

Portanto, as disposições e regras nela previstas devem ser seguidas por todos os legisladores
estaduais e do Distrito Federal, sob pena de incidirem em inconstitucionalidade formal 172, de modo que o
tempo de serviço público — como previsto na norma estadual impugnada — representa critério estranho
aos fixados pela LOMAN173.

170
CTN/1966: “Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa
exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada.”
171
Precedente: ADI 5612.
172
Precedentes citados: ADI 4462; ADI 6781; ADI 6779; ADI 4042; ADI 6771, ADI 189 e ADI 3358.
173
LOMAN: “Art. 80 - A lei regulará o processo de promoção, prescrevendo a observância dos critérios ele
antiguidade e de merecimento, alternadamente, e o da indicação dos candidatos à promoção por merecimento, em
lista tríplice, sempre que possível. § 1º - Na Justiça dos Estados: I - apurar-se-ão na entrância a antiguidade e o
merecimento, este em lista tríplice, sendo obrigatória a promoção do Juiz que figurar pela quinta vez consecutiva em
lista de merecimento; havendo empate na antiguidade, terá precedência o Juiz mais antigo na carreira;”

79
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu em parte da ação e, nessa
extensão, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade da expressão "aquele que tiver maior
tempo de serviço público, ou, sucessivamente", do art. 174, e o inciso IV do § 3º do art. 175, ambos da
Lei 6.564/2005 do Estado de Alagoas174.

ADI 6772/AL, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 23.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1069)

4.15 PROCESSO LEGISLATIVO

Extemporaneidade do veto presidencial - ADPF 893/DF

Tese fixada:
“O poder de veto previsto no art. 66, § 1º, da Constituição não pode ser exercido após o
decurso do prazo constitucional de 15 (quinze) dias”
Resumo:
A prerrogativa do poder de veto presidencial somente pode ser exercida dentro do prazo
expressamente previsto na Constituição, não se admitindo exercê-la após a sua expiração.
No caso, apenas no dia imediatamente seguinte à expiração do prazo, a Presidência da República
providenciou a publicação de edição extra do Diário Oficial da União para a divulgação de novo texto
legal com a aposição adicional de veto a dispositivo que havia sido sancionado anteriormente.
Esse tipo de procedimento não se coaduna com a Constituição Federal 175, de modo que,
ultrapassado o período do art. 66, § 1º, da CF/1988, o texto do projeto de lei é, necessariamente,
sancionado (art. 66, § 3º) e o poder de veto não pode mais ser exercido. Portanto, a manutenção de veto
extemporâneo na forma do art. 66, § 4º, da CF/1988 não retira a sua inconstitucionalidade, pois o ato
apreciado pelo Congresso Nacional sequer poderia ter sido praticado 176. Nessa hipótese, caso o
Legislativo deseje encerrar a vigência de dispositivo legal por ele aprovado, deve retirá-lo da ordem
jurídica por meio da sua revogação.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade do veto adicional publicado na edição extra do Diário Oficial da União de
15.7.2021 e, assim, restabelecer a vigência do art. 8º da Lei 14.183/2021.
ADPF 893/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. Roberto Barroso,
julgamento virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-feira), às 23:59 (INF 1059)

174
Lei 6.564/2005 do Estado de Alagoas: “Art. 174. Verificado empate, na apuração da antiguidade, dar-se-á a
precedência ao magistrado mais antigo na carreira. Permanecendo o impasse, promover-se-á aquele que tiver maior
tempo de serviço público, ou, sucessivamente, o mais idoso. Art. 175. A promoção por merecimento pressupõe dois
anos de efetivo exercício na entrância, bem como integrar o magistrado a primeira quinta parte da lista de antiguidade
a esta correspondente, salvo se não houver, preenchendo tais requisitos, quem aceite o lugar vago. (…) § 3º Havendo
empate na promoção por merecimento entre mais de um juiz, adotará o tribunal o critério de desempate na seguinte
forma: (…) IV – o de mais tempo de serviço público;”
175
Precedentes: ADPF 714; ADPF 715; e ADPF 718.
176
CF/1988: “Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da
República, que, aquiescendo, o sancionará. § 1º Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em
parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis,
contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os
motivos do veto. (...) § 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção.
§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser
rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores.”

80
Iniciativa de leis sobre a organização do Ministério Público estadual - ADI 400/ES

Tese fixada:
“A atribuição de iniciativa privativa ao Governador do Estado para leis que disponham
sobre a organização do Ministério Público estadual contraria o modelo delineado pela Constituição
Federal nos arts. 61, § 1º, II, d, e 128, § 5º.”

Resumo:
É inconstitucional a atribuição de iniciativa privativa a governador de estado para leis que
disponham sobre a organização do Ministério Público estadual.
Nos estados, os Ministérios Públicos poderão estabelecer regras sobre sua organização,
atribuições de seus membros e seu estatuto por meio de lei complementar de iniciativa do respectivo
Procurador-Geral de Justiça177.
Assim, na esfera estadual, coexistem dois regimes de organização: (i) a Lei Orgânica Nacional
(Lei 8.625/1993); e (ii) a Lei Orgânica do estado-membro, que delimita as regras acima referidas e que,
como visto, se dá através de lei complementar de iniciativa do Procurador-Geral de Justiça 178.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da expressão “do Ministério Público”, contida no art. 63, parágrafo único, V, da
Constituição do Estado do Espírito Santo179.
ADI 400/ES, relator Min. Nunes Marques, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgamento
virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-feira) às 23:59 (INF 1059)

Processo legislativo para a autorização de alienação de ações de empresa estatal e


obtenção de crédito para o custeio de despesas correntes de estado-membro - ADI 5683/RJ

Resumo:

Não podem ser realizadas junto a instituições financeiras estatais operações financeiras
com a finalidade de obtenção de crédito para pagamento de pessoal ativo, inativo e pensionista, dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios.

Observa-se que a “regra de ouro” das finanças públicas versada no art. 167, III, da CF/1988 180,
segundo a qual o ente público não deve se endividar mais que o necessário para realizar suas despesas de
capital, não impede a contratação de operações de crédito para o custeio de despesas correntes. O estado
pode financiar suas despesas de capital mediante receitas de operações de crédito, desde que estas não
excedam o montante das despesas de capital. Isso deverá ser observado pelo chefe do Poder Executivo
quando fizer a operação financeira autorizada por lei.

177
CF/1988: “Art. 128 (...) § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos
respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público,
observadas, relativamente a seus membros:”
178
Precedente: ADI 4142.
179
CE/ES: “Art. 63. A iniciativa das leis cabe a qualquer membro ou comissão da Assembleia Legislativa, ao
Governador do Estado, ao Tribunal de Justiça, ao Ministério Público e aos cidadãos, satisfeitos os requisitos
estabelecidos nesta Constituição. Parágrafo único. São de iniciativa privativa do Governador do Estado as leis que
disponham sobre: (...) V - organização do Ministério Público, da Procuradoria-Geral do Estado e da Defensoria
Pública;” 
180
CF/1988: “Art. 167. São vedados: (...) III – a realização de operações de créditos que excedam o montante das
despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa,
aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta;”

81
Ademais, o art. 167, X, da CF 181 não proíbe a concessão de empréstimos para pagamento de
pessoal. O dispositivo veda, contudo, que os empréstimos realizados junto a instituições financeiras dos
governos federal e estaduais sejam utilizados para aquele fim. Impede-se, portanto, a alocação das
receitas obtidas com instituições financeiras estatais para o custeio de pessoal ativo e inativo. Por
oportuno, nada impede a realização de empréstimos com instituições financeiras privadas para pagamento
de despesas com pessoal, porquanto a proibição não as alcança.

Por fim, sob o aspecto formal, em especial sobre eventual desrespeito ao devido processo
legislativo, a norma estadual impugnada não possui qualquer vício a comprometer sua
constitucionalidade.

No caso, o Estado do Rio de Janeiro aprovou lei ordinária que autoriza o Poder Executivo a
alienar ações representativas do capital social da Companhia Estadual de Águas e Esgotos – CEDAE,
como meio de garantia para obtenção de empréstimo para o pagamento da folha dos servidores ativos,
inativos e pensionistas.

Com esses entendimentos, o Plenário, por maioria, confirmando a medida cautelar concedida,
julgou parcialmente procedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade para dar
interpretação conforme à CF/1988 ao art. 2º, § 2º, da Lei 7.529/2017 do Estado do Rio de Janeiro.
Vencido o ministro André Mendonça.

ADI 5683/RJ, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-
feira), às 23:59 (INF 1051)

Proposições legislativas e adoção do rito de urgência - ADI 6968/DF

Resumo:

É constitucional a previsão regimental de rito de urgência para proposições que tramitam


na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, descabendo ao Poder Judiciário examinar
concretamente as razões que justificam sua adoção.

Inexiste violação ao devido processo legislativo, pois as normas dos Regimentos Internos
reduzem as formalidades processuais para casos específicos, devidamente reconhecidos pela maioria
legislativa, o que é permitido pela própria Constituição182.

O silêncio constitucional quanto à indicação das Comissões das Casas Legislativas e à definição
do momento e oportunidade da intervenção deve ser interpretado como opção pela disciplina regimental,
sob pena de inviabilizar os próprios trabalhos legislativos.

Portanto, a adoção do rito é matéria interna corporis, sendo defeso ao STF adentrar em tal seara,
o que implicaria indevido controle jurisdicional sobre a interpretação do sentido e do alcance de normas
meramente regimentais, infringindo o princípio da separação dos Poderes183.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação direta.

ADI 6968/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-
feira), às 23:59 (INF 1051)

181
CF/1988: “Art. 167. São vedados: (...) X – a transferência voluntária de recursos e a concessão de empréstimos,
inclusive por antecipação de receita, pelos Governos Federal e Estaduais e suas instituições financeiras, para
pagamento de despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.”
182
CF/1988: “Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas
na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. (...) § 2º Às
comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe: I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma
do regimento, a competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da Casa; (...)”
183
Precedentes: MS 38.199 MC e RE 1.297.884.

82
Quórum para aprovação de emendas constitucionais estaduais - ADI 6453/RO

Resumo:

É inconstitucional norma de Constituição estadual que preveja quórum diverso de 3/5 dos
membros do Poder Legislativo184 para aprovação de emendas constitucionais.

As regras e parâmetros do processo legislativo federal, como é o caso do processo de reforma


constitucional, na forma disposta pela Constituição Federal (CF), é de reprodução obrigatória nas
Constituições estaduais, em estrita observância ao princípio da simetria, ao qual a autonomia dos estados-
membros se submete, a teor do que prevê os arts. 25 da CF185 e 11 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias - ADCT186.

Os precedentes da Corte187 são firmes no que diz respeito à limitação do poder constituinte
derivado e denotam a natureza estruturante das normas regentes do processo legislativo federal, o que
enseja a inconstitucionalidade das Constituições estaduais no ponto em que dissonantes quanto à
formatação do processo de emenda à Constituição.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu da ação direta e, no
mérito, julgou procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade do § 2º do art. 38 da
Constituição do Estado de Rondônia (CE-RO) 188, com efeitos ex nunc, a contar da data de publicação da
ata do julgamento.

ADI 6453/RO, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1043)

4.16 REGIME DE PRECATÓRIOS

Cancelamento de precatórios e requisições de pequeno valor (RPV) federais não


resgatados - ADI 5755/DF

ODS: 16

Resumo:

184
CF/1988: “Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: (...) § 2º A proposta será discutida e
votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três
quintos dos votos dos respectivos membros. (...).”
185
CF/1988: “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição. § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás
canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. § 3º Os Estados
poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões,
constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de
funções públicas de interesse comum.”
186
ADCT: “Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no
prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta. Parágrafo único.
Promulgada a Constituição do Estado, caberá à Câmara Municipal, no prazo de seis meses, votar a Lei Orgânica
respectiva, em dois turnos de discussão e votação, respeitado o disposto na Constituição Federal e na Constituição
Estadual.”
187
Precedentes: ADI 568 MC; ADI 216 MC; ADI 981; ADI 1.434; ADI 2.029; ADI 637; ADI 5.087 MC; ADI 2.420;
ADI 3.777; ADI 2.654; ADI 486; e ADI 1.722 MC.
188
CE-RO/1989: “Art. 38. A Constituição pode ser emendada mediante proposta: (...) § 2° A proposta será discutida
e votada em dois turnos, considerando-se aprovada quando obtiver, em ambos, dois terços dos votos dos membros da
Assembleia Legislativa.”

83
É inconstitucional o cancelamento automático — realizado diretamente pela instituição
financeira oficial depositária e sem prévia ciência do beneficiário ou formalização de contraditório
— de precatórios e RPV federais não resgatados em dois anos.

A medida infringe o princípio da separação dos Poderes, dada a impossibilidade de edição de


medidas legislativas para condicionar e restringir o levantamento de valores depositados a título de
precatórios, já que gestão de recursos destinados ao seu pagamento incumbe ao Judiciário por decorrência
do texto constitucional (CF/1988, art. 100), o qual não deixou margem limitativa do direito de crédito ao
legislador infraconstitucional189.

Também há violação aos princípios da segurança jurídica, do respeito à coisa julgada (CF/1988,
art. 5º, XXXVI) e do devido processo legal (CF/1988, art. 5º, LIV), sendo certo que a simples previsão da
faculdade do credor requerer posteriormente a expedição de novo ofício requisitório com a conservação
da ordem cronológica anterior não repara os vícios inerentes ao cancelamento.

Ademais, como nesse momento processual da tutela executiva a Fazenda Pública não detém a
titularidade da quantia, a previsão legal ofende o direito de propriedade (CF/1988, art. 5º, XXII), além de
conferir tratamento mais gravoso ao credor, criando distinção que deriva automaticamente do decurso do
tempo, sem averiguar as reais razões do não levantamento do montante, afastando-se da necessária
obediência à isonomia190.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar
a inconstitucionalidade material do art. 2º, caput e § 1º, da Lei 13.463/2017191.

ADI 5755/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento em 29 e 30.6.2022 (INF 1061)

4.17 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Competência da União para explorar e legislar sobre atividades nucleares - ADI


6858/AM

ODS: 12 e 15

Resumo:

É inconstitucional norma de Constituição estadual que dispõe sobre serviços de atividades


nucleares de qualquer natureza.

A jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido da inconstitucionalidade formal de


dispositivos nos quais os estados-membros dispõem sobre atividades que se relacionem de alguma forma
com o setor nuclear em seus respectivos territórios, uma vez que, ao tratarem do assunto, incorrem em

189
Precedentes citados: ADI 3453 e ADI 2356 MC.
190
Precedentes citados: ADI 584 MC; ADI 4357; e RE 657686.

191
Lei 13.463/2017: “Art. 2° - Ficam cancelados os precatórios e as RPV federais expedidos e cujos valores não
tenham sido levantados pelo credor e estejam depositados há mais de dois anos em instituição financeira oficial. § 1º
O cancelamento de que trata o caput deste artigo será operacionalizado mensalmente pela instituição financeira
oficial depositária, mediante a transferência dos valores depositados para a Conta Única do Tesouro Nacional.”

84
indevida invasão da competência privativa da União para explorar tais serviços e legislar a seu respeito 192
193
.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade das expressões “rejeitos radioativos, lixo atômico” constante do § 2º do
art. 233; “e radioativos” do § 4º do mesmo artigo; e “[a] implantação, no território estadual, de usinas de
energia nuclear, instalação de processamento e armazenamento de material radioativo”, do § 1º do art.
235; bem como da íntegra do § 8º do art. 233, todos da Constituição do Estado do Amazonas 194.

ADI 6858/AM, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1061)

Competência legislativa: instalação de antenas transmissoras de telefonia celular e


ordenamento territorial - ARE 1370232/SP (Tema 1235 RG)

ODS: 9 e 17

Tese fixada:

“É inconstitucional a Lei 13.756/2004 do município de São Paulo, por configurar invasão à


competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações e radiodifusão (CF/1988, art.
22, IV).”

Resumo:

É inconstitucional, por violação à competência legislativa privativa da União, lei municipal


que versa sobre a instalação de estação rádio base (ERB) e dá ensejo à atividade fiscalizatória do
município, quanto ao uso e a ocupação do solo urbano em seu território.

Consoante entendimento pacificado deste Tribunal, a disciplina acerca da instalação de antenas


transmissoras de telefonia celular se insere na competência privativa da União para legislar sobre
telecomunicações e radiodifusão195.

192
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XXVI - atividades nucleares de qualquer
natureza; (...) Art. 177. Constituem monopólio da União: (...) § 3º A lei disporá sobre o transporte e a utilização de
materiais radioativos no território nacional. (...) Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (...) § 6º As usinas que operem
com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.”
193
Precedentes citados: ADI 329; ADI 1575; ADI 330; ADI 4973; ADI 6896; ADI 6897; ADI 6895; ADI 6902; ADI
6905; ADI 6908; ADI 6909; ADI 6913; ADI 6898; e ADI 6910.
194
Constituição do Estado do Amazonas: “Art. 233. O Poder Público estabelecerá sistemas de controle da poluição,
de prevenção e redução de riscos e acidentes ecológicos, valendo-se, para tal, de mecanismos para avaliação dos
efeitos da ação de agentes predadores ou poluidores sobre a qualidade física, química e biológica dos recursos
ambientais, sobre a saúde dos trabalhadores expostos a fontes poluidoras e da população afetada. (...) § 2º É vedada a
utilização do território estadual como depositário de rejeitos radioativos, lixo atômico, resíduos industriais tóxicos e
corrosivos, salvo situação gerada dentro de seus próprios limites, casos a serem obrigatoriamente submetidos ao
Conselho Estadual de Meio Ambiente. (...) § 4º A entrada de produtos explosivos e radioativos dependerá de
autorização expressa do Órgão executor da Política Estadual de Meio Ambiente. (...) § 8º A Zona Franca de Manaus,
entendida a área territorial por ela delimitada, é declarada ‘Zona Desnuclearizada’. (...) Art. 235. Lei disporá sobre as
hipóteses de obrigatoriedade de realização, nos processos de licenciamento, do estudo de impacto ambiental. (...) § 1º
A implantação, no território estadual, de usinas de energia nuclear, instalação de processamento e armazenamento de
material radioativo e implantação de unidades de grande porte, geradoras de energia hidroelétrica, respeitadas as
reservas estabelecidas em lei e áreas indígenas, de acordo com o disposto no art. 231, da Constituição da República,
além da observância das normas e exigências legais e constitucionais, estarão sujeitas ao que estabelece o art. 234,
desta Constituição, ao parecer conclusivo do Conselho Estadual de Meio Ambiente e, na hipótese de indicação
favorável, aprovação por dois terços dos membros da Assembleia Legislativa, após consulta plebiscitária aos
habitantes da área onde se pretende implantar o projeto.”
195
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas, energia, informática,
telecomunicações e radiodifusão;”

85
Nesse contexto, a promoção do adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e
controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano, assim como a proteção do patrimônio
histórico-cultural local, não autoriza os municípios a disporem sobre matérias nas quais a própria
Constituição Federal, mediante o sistema de repartição de competências, reserva como sendo privativa da
União196.

Ademais, o tema em debate não se confunde com a questão pendente de análise no RE


776594/SP (Tema 919 da sistemática da repercussão geral), pois não foram questionados os limites da
competência tributária municipal para a instituição de taxas de fiscalização em atividades inerentes ao
setor de telecomunicações.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência da


repercussão geral da questão constitucional suscitada (Tema 1235 RG) e, no mérito, também por
unanimidade, reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria 197 para conhecer do agravo e negar
provimento ao recurso extraordinário, assentando a inconstitucionalidade da Lei 13.756/2004 do
município de São Paulo/SP.

ARE 1370232/SP, relator Min. Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 8.9.2022
(INF 1067)

Construção de instalações nucleares e de energia elétrica: imposição de exigências


por norma estadual - ADI 7076/PR

ODS: 7

Resumo:

É inconstitucional norma de Constituição estadual que impõe condições locais para a


construção de instalações nucleares e de energia elétrica.

Esta Corte tem reconhecido, reiteradamente, a inconstitucionalidade formal de leis estaduais


semelhantes, assentando a impossibilidade de interferência dos estados-membros em matérias
relacionadas à atividade nuclear e à energia, uma vez que, ao disporem sobre os assuntos, incorrem em
indevida invasão da competência privativa da União para explorar tais serviços e legislar a seu respeito 198
199
.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade da redação original do art. 209 da Constituição do Estado do Paraná 200.

ADI 7076/PR, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1060)

196
Precedente citado: ARE 929738 AgR.
197
Precedentes citados: ADI 3110; RE 981825 AgR-segundo-ED e ARE 1313346 AgR.

198
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão: (...) b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em
articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos; (...) XIX - instituir sistema nacional de
gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; (...) XXIII - explorar os
serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o
enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos
os seguintes princípios e condições: (...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas,
energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...) XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;”
199
Precedentes: ADI 329; ADI 1575; ADI 5960; e ADI 4973.
200
Constituição do Estado do Paraná: “Art. 209. Observada a legislação federal pertinente, a construção de centrais
termoelétricas e hidrelétricas dependerá de projeto técnico de impacto ambiental e aprovação da Assembleia
Legislativa; a de centrais termonucleares, desse projeto, dessa aprovação e de consulta plebiscitária.”

86
Convocação de autoridades pela Assembleia Legislativa e princípio da simetria - ADI
6640/PE e ADI 6645/AM

Resumo:

É inconstitucional, por violação ao princípio da simetria e à competência privativa da


União para legislar sobre o tema (CF/1988, art. 22, I), norma de Constituição estadual que amplia o
rol de autoridades sujeitas à fiscalização direta pelo Poder Legislativo e à sanção por crime de
responsabilidade.

Isso porque o art. 50, caput, e § 2º, da CF/1988201, que prescreve sistemática de controle do
Poder Legislativo sobre o Poder Executivo, configura norma de repetição obrigatória pelos estados-
membros, motivo pelo qual a ordem jurídica estadual, seguindo essa lógica, deve referir-se a cargos
correspondentes ao de ministro de Estado, ou seja, a secretário de Estado ou equivalente em termos de
organização administrativa.

No caso, ao incluírem outras autoridades além de secretários de Estado e dirigentes da


Administração Direta diretamente subordinados ao governador, as normas impugnadas desobedeceram ao
sistema de repartição de competências previstas constitucionalmente.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, em julgamento conjunto, julgou
parcialmente procedentes as ações para declarar a inconstitucionalidade das expressões “Presidente do
Tribunal de Contas do Estado” e “dirigentes da administração indireta”, constantes do inciso XXIX do
art. 28 da Constituição do Estado do Amazonas 202203, assim como das expressões “Corregedor-Geral da
Justiça”, “Procurador-Geral da Justiça”, “Defensoria Pública” e “dirigentes da administração indireta ou
fundacional”, constantes do § 2º do art. 13 da Constituição do Estado de Pernambuco 204. Além disso, o
Tribunal deu interpretação conforme a Constituição Federal à expressão “dirigentes da administração
direta”, para restringir a possibilidade de sua convocação pela Assembleia Legislativa apenas quando
estiverem diretamente subordinados ao governador do estado.

ADI 6640/PE, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 19.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1064)

ADI 6645/AM, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 19.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1064)

201
CF/1988: “Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, poderão
convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República
para prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado, importando crime de
responsabilidade a ausência sem justificação adequada. (...) § 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal poderão encaminhar pedidos escritos de informações a Ministros de Estado ou a qualquer das pessoas
referidas no caput deste artigo, importando em crime de responsabilidade a recusa, ou o não-atendimento, no prazo de
trinta dias, bem como a prestação de informações falsas.”

202
Precedentes: ADI 3279; ADI 5300; ADI 5416; e ADI 6651.
203
Constituição do Estado do Amazonas: “Art. 28. É da competência exclusiva da Assembleia Legislativa: (...)
XXIX - convocar Secretários de Estado, o Presidente do Tribunal de Contas do Estado e dirigentes de Órgãos da
administração direta e indireta, incluindo as autarquias, fundações, empresas públicas e sociedade de economia mista,
importando crime de responsabilidade a recusa ou o não comparecimento no prazo de 30 (trinta) dias, para prestarem
informações sobre assuntos previamente determinados.”
204
Constituição do Estado de Pernambuco: “Art. 13. A Assembleia Legislativa receberá, em reunião previamente
designada, o Governador do Estado e o Presidente do Tribunal de Justiça, sempre que estes manifestarem o propósito
de expor assunto de interesse público. (...) § 2º Os Secretários de Estado, o Corregedor Geral da Justiça, os
Procuradores Gerais da Justiça, do Estado e da Defensoria Pública e os dirigentes da administração direta, indireta ou
fundacional são obrigados a comparecer perante a Assembleia Legislativa, quando convocados, por deliberação de
maioria, de Comissão Permanente ou de Inquérito, para prestar, pessoalmente, informações acerca de assunto
previamente determinado. § 3º A falta de comparecimento, sem justificativa adequada, a recusa, o não-atendimento
de pedido de informações no prazo de trinta dias e a prestação de informações falsas importam em crime de
responsabilidade.”

87
COVID-19 e instituições de ensino: inadimplência, recusa de matrícula e
competência legislativa - ADI 7104/RJ e ADI 7179/RJ

ODS: 4
Resumo:

É inconstitucional, por violação à competência privativa da União para legislar sobre


direito civil (CF/1988, art. 22, I), norma estadual que impede as instituições particulares de ensino
superior de recusarem a matrícula de estudantes inadimplentes e de cobrar juros, multas, correção
monetária ou quaisquer outros encargos durante o período de calamidade pública causado pela
pandemia da COVID-19.

Na linha da jurisprudência consolidada desta Corte, trata-se de matérias obrigacional e


contratual, pertencentes ao ramo do direito civil, razão pela qual somente podem ser reguladas por meio
de normas federais205.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, em julgamento conjunto, julgou
procedentes as ações para declarar a inconstitucionalidade do art. 6º, caput, e parágrafo único, da Lei
8.915/2020 do Estado do Rio de Janeiro206 (2).

ADI 7104/RJ, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 5.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1062)

ADI 7179/RJ, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 5.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1062)

Covid-19: indenização por incapacidade ou morte de profissionais da saúde em razão


da pandemia - ADI 6970/DF

ODS: 3

Resumo:

É constitucional norma federal que prevê compensação financeira de caráter indenizatório


a ser paga pela União por incapacidade permanente para o trabalho ou morte de profissionais da
saúde decorrentes do atendimento direto a pacientes acometidos pela Covid-19.

No caso, a Lei 14.128/2021 dispõe sobre política pública social para atender finalidade
específica, com fundamento no dever estatal de promover políticas e programas de proteção e defesa da
saúde. Ela não representa qualquer interferência sobre o regime jurídico de servidores públicos da União
ou a estrutura e atribuições de órgãos da Administração Pública federal, inexistindo suposta violação à
iniciativa privativa do Presidente da República (CF/1988, art. 61, § 1º)207.

Ademais, a indenização prevista não configura despesa obrigatória de caráter continuado, eis que
possui como justificativa específica o enfrentamento das consequências sociais e econômicas decorrentes
da crise sanitária da Covid-19. Assim, o seu pagamento restringe-se ao período de calamidade pública e
se insere no regime fiscal excepcional disposto pelas ECs 106/2020 e 109/2021, através das quais a
205
Precedentes: ADI 6423; ADI 6435; ADI 6445; e ADI 6448.
206
Lei 8.915/2020 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 6º O estabelecimento particular de ensino superior não poderá
recusar a matrícula ou a inscrição em disciplinas de estudante que tenha ficado inadimplente durante a vigência do
estado de calamidade pública instituído pela Lei nº 8.794, de 17 de abril de 2020. Parágrafo único. O estabelecimento
particular de ensino superior não poderá cobrar multas, juros, correção monetária ou outros encargos nas
mensalidades com atraso de até 30 (trinta) dias após o vencimento, durante o período em que perdurar o estado de
calamidade pública decorrente da pandemia do novo coronavírus.”
207
Precedentes citados: ARE 1281215 AgR; ADI 5677; ADI 4723; e ADI 2865.

88
observância de condicionantes fiscais foi flexibilizada, de modo que desnecessária a apresentação de
estimativa do impacto orçamentário e financeiro (ADCT, art. 113)208.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, converteu o julgamento da


medida cautelar em definitivo de mérito e julgou improcedente a ação para declarar a constitucionalidade
da Lei 14.128/2021.

ADI 6970/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 15.8.2022
(segunda-feira), às 23:59 (INF 1065)

Covid-19: multa por descumprimento de cláusula de fidelidade contratual nos


serviços de telecomunicações - ADI 7211/RJ

ODS: 3

Resumo:

É inconstitucional, por ofensa à competência privativa da União para legislar sobre


telecomunicações, lei estadual que veda a aplicação de multa por quebra de fidelidade nos serviços
de TV por assinatura, telefonia, internet e serviços assemelhados, enquanto perdurar a pandemia
da Covid-19.

As competências para legislar sobre serviços de telecomunicações e para definir a forma e o


modo da exploração desses serviços cabem privativamente à União209.

A cláusula de fidelidade contratual é uma contrapartida decorrente de benefícios oferecidos aos


consumidores. A multa por seu descumprimento representa variável bastante significativa para a
manutenção do equilíbrio econômico-financeiro na prestação do serviço, motivo pelo qual a sua exclusão
pura e simples repercute no campo regulatório das atividades de caráter público.

Nesse contexto, esta Corte já declarou, em diversas ocasiões, a inconstitucionalidade de


legislações locais cujo conteúdo — assim como o observado na lei estadual impugnada — repercutia no
núcleo regulatório das telecomunicações, por ensejar afronta à repartição de competências prevista
constitucionalmente210.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 8.888/2020 do Estado do Rio de Janeiro211.
208
Precedentes citados: ADI 6625 MC-Ref e ADI 6357 MC-Ref.
209
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a
criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais; (...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar
sobre: (...) IV – águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...) Art. 175. Incumbe ao Poder
Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a
prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: I – o regime das empresas concessionárias e
permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições
de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II – os direitos dos usuários; III – política tarifária;
IV – a obrigação de manter serviço adequado.”
210
Precedentes citados: ADI 5723; ADI 5575; ADI 6065; ADI 4907; ADI 6322; ADI 4649.
211
Lei 8.888/2020 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 1º - Esta Lei dispõe sobre a vedação da aplicação de multa por
quebra de fidelidade nos serviços de TV por assinatura, telefonia, internet e serviços assemelhados, enquanto perdurar
a pandemia do coronavírus (COVID-19). Art. 2º - Ficam as concessionárias de TV por assinatura, telefonia, internet e
serviços assemelhados vedadas de aplicar multa por quebra de fidelidade aos consumidores que solicitarem o
cancelamento do contrato, portabilidade para outra operadora ou mudança de plano, enquanto perdurar a pandemia do
coronavírus (COVID-19). Art. 3º - Na hipótese de cancelamento total do serviço, a pedido do consumidor, a qualquer
título, durante a vigência do estado de calamidade gerado pela pandemia do COVID-19, a prestadora de serviços fica
impedida de cobrar multa. Art. 4º - O prestador de serviço não poderá alterar as demais cláusulas contratuais, em
razão da suspensão da fidelidade temporal requerida pelo consumidor, salvo se a mudança beneficiar esse último. Art.
5º - O descumprimento desta Lei sujeitará o responsável ao pagamento de multa de 500 UFIR (Unidades Fiscais de
Referência), que deverá ser revertida ao Fundo Especial de Apoio a Programas de Proteção e Defesa do Consumidor

89
ADI 7211/RJ, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 30.9.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1070)

Empresas de telefonia e internet: obrigatoriedade de inserção de mensagem nas


faturas - ADI 6088/AM

Resumo:

É constitucional norma estadual que, a pretexto de proteger a saúde pública, obriga as


prestadoras de serviços de telefonia celular e de internet a inserirem, nas faturas de consumo,
mensagem incentivadora à doação de sangue.

A competência suplementar dos estados somente pode ser afastada caso a norma federal regule
determinada matéria de forma nítida e uniforme. Assim, deve haver um direcionamento das ações de
governo do ente local para o nacional, prevalecendo, a teor do princípio da subsidiariedade do
federalismo brasileiro, uma presunção a favor da competência daqueles mais próximos dos interesses da
população212.

No caso, não há usurpação de competência privativa da União, visto que o valor constitucional
primordialmente tutelado pela norma impugnada não é o serviço prestado por concessionárias de
telecomunicações, mas a proteção e defesa da saúde, matéria sujeita à competência legislativa concorrente
(CF/1988, art. 24, XII).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, conheceu parcialmente da ação e a julgou
improcedente na parte conhecida para declarar a constitucionalidade da Lei 4.658/2018 do Estado do
Amazonas213.

ADI 6088/AM, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1065)

Isenção de tarifas de água e esgoto: predominância de interesse local e competência


legislativa - ADI 6912/MG

ODS: 6 e 12.

Resumo:

É inconstitucional, por invadir a competência municipal para legislar sobre assuntos de


interesse local (CF/1988, art. 30, I e V), lei estadual que concede, por período determinado, isenção
das tarifas de água e esgoto e de energia elétrica aos consumidores residenciais, industriais e
comerciais214.

A Constituição Federal estabelece a competência comum de todos os entes federativos para a


promoção de melhorias das condições do saneamento básico (CF/1988, art. 23, IX), cabendo à União
instituir as respectivas diretrizes (CF/1988, art. 21, XX).

– FEPROCON. Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”


212
Precedentes citados: ADI 5356 e ADPF 109.
213
Lei 4.658/2018 do Estado do Amazonas: “Art. 1º As empresas prestadoras de serviços e concessionárias de
serviços de água, luz, telefone e internet ficam obrigadas a inserir, nas faturas de consumo, mensagem de incentivo à
doação e sangue. Parágrafo único. A mensagem de que trata o caput deverá conter: I - a frase ‘Doe Sangue’; II - o
sítio eletrônico do HEMOAM; III - o número do telefone para informações, disponibilizado pelo HEMOAM. Art. 2º
Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”
214
Precedentes: ADI 1842; ADI 2077; ADI 6492; ADI 6536; ADI 6583; ADI 6882; e ADI 4454.

90
Segundo as diretrizes nacionais para o saneamento básico, fixadas pela Lei 11.445/2007 e
atualizadas pela Lei do Novo Marco do Saneamento Básico (Lei 14.026/2020), compete aos municípios,
responsáveis pela gestão dos assuntos de interesse local e pela edição de leis que digam respeito a esses
temas, a titularidade dos serviços públicos de saneamento básico.

Não cabe às leis estaduais a interferência em contratos de concessão de serviços federal e


municipal, alterando condições que impactam na equação econômico-financeira 215.

No caso, as disposições impugnadas criam obrigações e retiram prerrogativas das


concessionárias de serviços públicos locais, interferindo diretamente nos contratos administrativos
firmados entre o Poder Público e os particulares.

Ainda que o estado seja o acionista majoritário das empresas concessionárias dos serviços de
saneamento básico, não se admite essa interferência.

Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado
em ação direta para declarar a inconstitucionalidade dos arts. 1º, 4º, parágrafo único, e 5º da Lei
23.797/2021 do Estado de Minas Gerais que dispõe sobre a concessão, por período determinado, de
isenção total das tarifas de água e esgoto e de energia elétrica aos consumidores residenciais, industriais e
comerciais atingidos por enchentes no estado.

ADI 6912/MG, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 15.8.2022
(segunda-feira), às 23:59 (INF 1063)

Lei estadual e depósitos judiciais e extrajudiciais de terceiros - ADI 6660/PE

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que dispõe sobre valores correspondentes a depósitos


judiciais e extrajudiciais de terceiros, ou seja, em que o ente federado não é parte interessada.

Sob o prisma formal, ao determinar que os depósitos judiciais e extrajudiciais, em dinheiro, à


disposição do poder judiciário estadual ou da Secretaria da Fazenda, serão efetuados em Conta Central de
Depósitos Procedimentais, o legislador estadual usurpou a competência da União para legislar sobre: (i) o
Sistema Financeiro Nacional (CF/1988, art. 21, VIII); (ii) a política de crédito e transferência de valores
(CF/1988, arts. 22, VII, e 192); (iii) direito civil e processual (CF/1988, art. 22, I); e (iv) normas gerais de
direito financeiro (CF/1988, art. 24, I), atuando, neste último caso, além dos limites de sua competência
suplementar, pois previu hipóteses e finalidades não estabelecidas em normas gerais editadas pela
União216.

Quanto ao aspecto material, a disciplina que possibilita o uso e administração, pelo Poder
Executivo, de numerário de terceiros, cujo depositário é o Judiciário, viola a separação dos Poderes, dada
a clara desarmonia ao sistema de pesos e contrapesos. No caso, o tratamento legal impugnado ainda
afronta o direito de propriedade dos jurisdicionados ─ pois configura expropriação de recursos a eles

215
Precedentes: ADI 2299; ADI 2095; STP 111 AgR; e ADI 2340.
216
Precedentes: ADI 5072; ADI 5747; ADI 4114; e ADI 5616.

91
pertencentes ─; caracteriza empréstimo compulsório não previsto no art. 148 da CF/1988 217; bem como
cria endividamento fora das hipóteses de dívida pública permitidas pela Constituição 218 219.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade da Lei 12.305/2002 do Estado de Pernambuco, alterada pela Lei estadual
12.337/2003, atribuindo à decisão efeitos ex nunc a contar da data da publicação da ata do julgamento.

ADI 6660/PE, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1060)

Ministério Público de Contas estadual e limites legais de gastos do Poder Executivo -


ADI 5563/RR

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional, por ofensa ao princípio da separação dos Poderes, norma estadual que
submete as despesas com pessoal do Ministério Público de Contas aos limites orçamentários fixados
para o Poder Executivo.
Cabe ao próprio Tribunal de Contas a iniciativa de leis que tratem de sua organização e estrutura
internas, o que inclui a organização do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas estadual, não
sendo admissível que ato legislativo de iniciativa do Executivo disponha sobre a matéria 220.
Ademais, o Parquet junto ao Tribunal de Contas integra, em termos estruturais, as Cortes de
Contas, órgãos auxiliares do Poder Legislativo no mister de controle externo, motivo pelo qual suas
despesas não devem se submeter aos limites orçamentários fixados para o Poder Executivo, sendo certo,
ainda, que o limite prudencial de despesas com pessoal se aplica a cada um dos Poderes do ente
federativo221.
Além disso, à luz do princípio da simetria, as normas relativas à organização do Tribunal de
Contas da União devem ser observadas no desenho institucional dos demais tribunais de contas 222.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade do art. 47-A, § 3º, da Constituição do Estado de Roraima 223.

ADI 5563/RR, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1057)

217
CF/1988: “Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I – para
atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; II – no
caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150,
III, ‘b’. Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa
que fundamentou sua instituição.”
218
CF/1988: “Art. 167. São vedados: (...) III – a realização de operações de créditos que excedam o montante das
despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa,
aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta;”
219
Precedentes: ADI 5099; ADI 5409; ADI 5459; ADI 5414; e ADI 5392.
220
Precedentes: ADI 1994; ADI 3051; e ADI 3976 MC.
221
Precedentes: ADI 2378; ADI 789; ADI 3315; e ADI 2238 MC.
222
Precedente: ADI 916.
223
CE/RO: “Art. 47-A. O Ministério Público de Contas, órgão auxiliar da Assembleia Legislativa, é instituição
permanente e essencial às funções de fiscalização e controle externo do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais, individuais e indisponíveis. (...) § 3º As despesas com o
Ministério Público de Contas ocorrerão por conta da dotação orçamentária anual, dentro dos limites legais destinados
ao Poder Executivo Estadual.”

92
Ministério Público estadual: movimentação funcional e modelo federal - ADI
6328/GO

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que prevê movimentação funcional entre membros do


Ministério Público, mediante procedimentos e critérios diversos dos estabelecidos pelo modelo
federal224.

No caso, a norma estadual impugnada define critérios para hipóteses de movimentação funcional
denominadas remoção interna e permuta temporária, que são incompatíveis com o disposto na
Constituição Federal e no regramento geral editado pela União (Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público - LONMP).

Em relação à remoção interna225, a lei estadual oportuniza o provimento do cargo por membro
que exerça outro cargo na mesma comarca, suprimindo a fase de publicação de edital para a divulgação
da abertura da vaga pelo respectivo Conselho Superior constante do art. 62 da LONMP (Lei 8.625/1993).
Ademais, a norma estadual dispõe que a remoção interna deve observar o critério de antiguidade na
comarca. A LONMP não prevê o critério de antiguidade na comarca como solução para concorrência
entre membros do Ministério Público para o provimento de cargo vago. Essas regras estaduais não apenas
suprimem a fase de publicação de edital da LONMP, como privilegiam os promotores de mesma
categoria ou entrância do cargo vago em detrimento de outros que sejam da mesma entrância, porém de
outra comarca, em vulneração aos princípios da isonomia e da impessoalidade.

Quanto à remoção por permuta226, a temporalidade prevista pela norma local cria figura nova de
movimentação funcional, uma vez que o art. 64 da LONMP não estatui a reversão da permuta apenas em
razão do decurso do tempo. Ao tratar da “renovação de remoção por permuta somente permitida após o
decurso de dois anos”, o inciso II do referido art. 64 se refere a eventual nova pretensão de movimentação
funcional, pelo mesmo fundamento. Portanto, o interstício de 2 anos é previsto na LONMP como
impeditivo da realização de nova permuta, e não como um limite temporal para a eficácia da permuta,
como pretendido pelo legislador estadual.

Além de os dispositivos impugnados incorrerem em inconstitucionalidade formal por invasão da


competência da União para a definir normas gerais para os Ministérios Públicos estaduais (CF/1988, art.
61, § 1º, II, d), sob o aspecto material, violam o que previsto pela Constituição Federal para a progressão
e movimentação funcional de magistrados (CF/1988, art. 93, II e VIII-A), quanto aos critérios de
antiguidade e merecimento, os quais se estendem aos membros do Ministério Público (CF/1988, art. 129,
§ 4º).

Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado
em ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei Complementar 113/2014 do Estado de Goiás,
no que introduziu os arts. 167-A e 169-A à Lei Complementar 25/1998 (Lei Orgânica do Ministério
Público do Estado de Goiás).

ADI 6328/GO, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 15.8.2022
(segunda-feira), às 23:59 (INF 1063)

224
Precedentes: ADI 3783; ADI 6294; ADI 5402; AO 1789; ADI 3698; ADI 6779; AO 2548; ADI 4758; e RE
1037926 (Tema 964 RG).
225
Lei Complementar 25/1998 do Estado de Goiás: “Art. 167-A. A remoção interna é forma de provimento anterior à
fixação de critérios pelo Conselho Superior do Ministério Público e à publicação do respectivo edital. (...) § 3º Na
remoção interna adotar-se-á o critério da antiguidade na comarca.”
226
Lei Complementar 25/1998 do Estado de Goiás: “Art. 169-A. A remoção por permuta temporária entre membros
do Ministério Público da mesma entrância ou categoria dependerá de pedido escrito e conjunto, formulado pelos
interessados ao Conselho Superior do Ministério Público, que poderá ser indeferida por motivo de interesse público.
§ 1º A permuta temporária terá duração de dois anos, prorrogável por igual período, observadas as disposições do
caput.”

93
Porte de armas de fogo: presunção do risco da atividade e efetiva necessidade
mediante lei estadual - ADI 7188/AC e ADI 7189/AM

Resumo:

É inconstitucional, por violar competência da União para legislar sobre materiais bélicos,
norma estadual que reconhece o risco da atividade e a efetiva necessidade do porte de arma de fogo
ao atirador desportivo integrante de entidades de desporto legalmente constituídas e ao vigilante de
empresa de segurança privada.

A jurisprudência desta Corte consolidou-se no sentido de que, com o objetivo de garantir a


uniformidade na regulamentação do tema em todo o território nacional, a definição dos requisitos para a
concessão do porte de arma de fogo e dos possíveis titulares desse direito é de competência da União 227
228
.

No caso, as leis estaduais impugnadas — ao presumirem o risco das atividades e a necessidade


do porte de armas de fogo para as pessoas acima referidas — suprimiram requisito estabelecido pela
legislação federal, segundo a qual o exame para a concessão da respectiva autorização cabe à Polícia
Federal229. Ademais, inexiste lei complementar da União autorizando os estados-membros a legislarem
sobre questões específicas acerca da matéria.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, em apreciação conjunta, converteu
as medidas cautelares em julgamento de mérito e julgou procedentes as ações para declarar a
inconstitucionalidade da Leis 3.941/2022 e 3.942/2022, ambas do Estado do Acre 230, e da Lei 5.835/2022
do Estado do Amazonas231.

ADI 7188/AC, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 23.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1069)

ADI 7189/AM, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 23.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1069)

227
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;
(...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XXI - normas gerais de organização, efetivos,
material bélico, garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de
bombeiros militares;”
228
Precedentes citados: ADI 4962; ADI 5010; ADI 4991; ADI 6982; ADI 6985; ADI 2729 e ADI 6978.
229
Lei 10.826/2003: “Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo o território
nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do Sinarm. § 1º A
autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia temporária e territorial limitada, nos termos de
atos regulamentares, e dependerá de o requerente: I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade
profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física; II – atender às exigências previstas no art. 4º desta Lei; III
– apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o seu devido registro no órgão competente.”
230
Lei 3.941/2022 do Estado do Acre: “Art. 1º Esta lei reconhece, no Estado, o risco da atividade e a efetiva
necessidade do porte de armas de fogo ao atirador desportivo, integrante de entidades de desporto legalmente
constituídas nos termos do inciso IX, do art. 6º, da Lei Federal nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003. Art. 2º O Poder
Executivo, dentro do prazo de noventa dias, regulamentará a presente lei e estabelecerá os critérios para sua
implementação e cumprimento. Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”.
Lei 3.942/2022 do Estado do Acre: “Art. 1º Esta lei reconhece o risco da atividade e a efetiva necessidade do porte de
armas de fogo aos vigilantes de empresa de segurança privada do Estado. Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de
sua publicação”.
231
Lei 5.835/2022 do Estado do Amazonas: “Art. 1º Fica reconhecido, no âmbito do Estado do Amazonas, o risco
da atividade e a efetiva necessidade do porte de armas de fogo ao atirador desportivo integrante de entidades de
desporto legalmente constituídas nos termos do inciso IX, do artigo 6º, da Lei Federal n. 10.826, de 22 de dezembro
de 2003. Art. 2º O Poder Executivo, dentro do prazo de 90 dias, regulamentará a presente Lei e estabelecerá os
critérios para sua implementação e cumprimento. Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”.

94
Prestação e divulgação de contas de sindicatos: exigência por lei distrital - ADI
5349/DF

Resumo:

É inconstitucional, por violar o art. 22, I, da CF/1988 232, norma distrital que obriga os
sindicatos a divulgarem na internet a prestação de contas das verbas recebidas a título de
contribuição confederativa, sindical e de outros recursos recebidos do Distrito Federal.

No caso, a lei impugnada233, ao impor, de maneira ampla, nova obrigação aos sindicatos, invade
competência legislativa privativa da União, pois guarda pertinência com o direito coletivo do trabalho,
assim como — sob um prisma mais abrangente — o direito civil, enquanto entidades associativas.

Não se admite que ente federativo diverso imponha espécie de obrigação tributária
acessória a entes destinatários de exação.

As contribuições recebidas pelos sindicatos têm natureza tributária. Assim, mesmo em se


tratando de verba pública — enquanto receita tributária com destinação específica —, não é qualquer ente
público que pode estabelecer obrigações ligadas a esse mesmo tributo, mas somente aquele que tem
competência normativa: a União (CF/1988, art. 149)234.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade da Lei 5.470/2015 do Distrito Federal.

ADI 5349/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1064)

Promoção e benefícios a novos clientes e extensão aos preexistentes - ADI 5399/SP;


ADI 6191/SP e ADI 6333 ED/PE

ODS: 4 e 16
Tese fixada:
“É inconstitucional lei estadual que impõe aos prestadores privados de serviços de ensino e
de telefonia celular a obrigação de estender o benefício de novas promoções aos clientes
preexistentes.”
Resumo:
Serão preservados os votos proferidos em ambiente virtual por ministro aposentado ou
cujo exercício do cargo tenha cessado por outro motivo, ainda que a continuidade do julgamento se
dê no Plenário presencial após pedido de destaque.
Com base nesse entendimento, o Plenário, preliminarmente e por maioria, acolheu questão de
ordem suscitada pelo ministro Alexandre de Moraes, de modo que, no caso concreto, seja mantido o voto
232
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”
233
Lei 5.470/2015 do Distrito Federal: “Art. 1º Os sindicatos regidos pelo Decreto-Lei nº 1.402, de 5 de julho de
1939, ficam obrigados a publicar, na rede mundial de computadores, as ações e as prestações de contas de cada
exercício, decididas em escrutínio secreto pelas respectivas assembleias gerais ou conselhos de representantes, com
prévio parecer do conselho fiscal, correspondentes às contribuições recebidas dos integrantes da categoria, no âmbito
do Distrito Federal. Parágrafo único. As prestações de contas mencionados no caput abrangem também valores
oriundos de forma direta e indireta do Governo do Distrito Federal – GDF, inclusive parcelas recebidas a título de
repasse de convenção coletiva de trabalho em contratos de serviços de mão de obra terceirizados.”

234
Precedentes: MS 28465; MS 34296 AgR; e ADI 5794.

95
proferido pelo ministro Marco Aurélio na sessão virtual de 20 a 27.11.2020, além de garantir que esse
posicionamento passe a ser adotado a partir do presente julgamento, não se aplicando aos processos já
julgados.
É inconstitucional norma estadual que obriga empresa privada de telefonia celular e
instituição de ensino a garantir idênticos benefícios promocionais tanto aos novos clientes quanto
aos antigos.
Ao impor aos prestadores de serviços de ensino a obrigação de estender o benefício de novas
promoções aos clientes preexistentes, a norma promove ingerência em relações contratuais já
estabelecidas sem que exista conduta lesiva ou abusiva por parte do prestador 235. Por essa razão, afasta-se
a compreensão de que se estaria diante de matéria consumerista, de modo que a alteração de forma geral e
abstrata do conteúdo de negócios jurídicos caracteriza norma de direito civil, cuja competência legislativa
é privativa da União236.
Relativamente às concessionárias de serviços telefônicos móveis, a criação de obrigações e
sanções por lei estadual — no caso, extensão aos clientes antigos de promoções ofertadas a novos —,
ainda que sob o argumento de proteger os direitos do consumidor, também invade a competência da
União237 238.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, em julgamento conjunto, por maioria,
(i) conheceu parcialmente das ações diretas e, nessa parte, as julgou parcialmente procedentes para
declarar a inconstitucionalidade parcial do art. 1º, parágrafo único, inciso 1, no que diz respeito ao serviço
de telefonia móvel, e inciso 5, no que diz respeito ao serviço privado de educação, ambos da Lei
15.854/2015 do Estado de São Paulo; e (ii) acolheu os embargos de declaração para reconsiderar a
decisão embargada e declarar a nulidade parcial, sem redução de texto, do art. 35, II, da Lei 16.559/2019
do Estado de Pernambuco, em ordem a excluir as instituições de ensino privado da obrigação de conceder
a seus clientes preexistentes os mesmos benefícios de promoções e liquidações destinadas a novos
clientes.
ADI 5399/SP, relator Min. Roberto Barroso, julgamento em 9.6.2022 (INF 1058)
ADI 6191/SP, relator Min. Roberto Barroso, julgamento em 9.6.2022 (INF 1058)
ADI 6333 ED/PE, relator Min. Gilmar Mendes, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 9.6.2022 (INF 1058)

Tribunal de Contas estadual: normas gerais sobre prescrição e decadência - ADI


5384/MG

ODS: 16

Resumo:

235
Precedentes: ADI 6435; e ADI 6484.
236
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”
237
Precedentes citados: ADI 4907; ADI 5121; ADI 5722; ADI 4083; ADI 4401 MC; ADI 4533 MC; e ADI 3959.
238
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a
criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais; (...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar
sobre: (...) IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...) Art. 175. Incumbe ao Poder
Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a
prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: I - o regime das empresas concessionárias e
permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições
de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II - os direitos dos usuários;”

96
É constitucional norma estadual decorrente de emenda parlamentar a projeto de lei de
iniciativa do Tribunal de Contas estadual que veicule regras sobre prescrição e decadência a ele
aplicáveis.

A norma impugnada trata sobre ações de fiscalização de Corte de Contas estadual, tendo em
perspectiva a passagem do tempo, não implicando vulneração de sua autonomia ou autogoverno, já que
não altera sua organização ou funcionamento239. Assim, inexiste vício de iniciativa ou abuso do poder de
emenda parlamentar, pois presente a pertinência temática com o escopo do projeto originariamente
enviado ao Poder Legislativo e verificado que a disciplina jurídica nele inserida não implica aumento de
despesa.

Ademais, o princípio da simetria não pode ser invocado de modo desarrazoado, em afronta à
sistemática constitucional de repartição de competências e à própria configuração do sistema federativo.
Não obstante a ausência de disciplina expressa no ordenamento jurídico sobre prescrição e decadência no
âmbito do TCU, a criação desses institutos pelos Tribunais de Contas nas diversas unidades federativas
alinha-se com a interpretação mais consentânea com a CF/1988, notadamente o caráter excepcional das
regras de imprescritibilidade240.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação.

ADI 5384/MG, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1056)

4.18 SEGURANÇA PÚBLICA

Polícia civil e independência funcional - ADI 5522/SP

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que assegure a independência funcional a delegados de


polícia, bem como que atribua à polícia civil o caráter de função essencial ao exercício da jurisdição
e à defesa da ordem jurídica241.

A polícia civil está, necessariamente, subordinada ao chefe do Poder Executivo estadual, logo,
não é possível atribuir-lhe independência funcional, sob pena de ofensa ao art. 129, I, VI e VIII 242, bem
como ao art. 144, § 6º243, da Constituição Federal (CF).

As normas, ainda que originárias do poder constituinte decorrente, que venham a atribuir
autonomia funcional, administrativa ou financeira a outros órgãos ou instituições não constantes da CF,
padecem de vício de inconstitucionalidade material, por violação ao princípio da separação dos Poderes.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade, em sua integralidade, da Emenda
Constitucional 35/2012 do Estado de São Paulo, que alterou o art. 140 da Constituição paulista.

239
Precedentes: ADI 4421 MC; ADI 4643 MC; e AC 2511 AgR.
240
Precedentes: MS 32201; e MS 25403.
241
Precedentes: ADI 244 MC, ADI 5520.
242
CF: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal
pública, na forma da lei; (...) IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção
da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição; (...) VIII - requisitar diligências investigatórias e a
instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;”
243
CF: “Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: (...) § 6º
As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se,
juntamente com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.”

97
ADI 5522/SP, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1044)

4.19 TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO

Bens de informática e Zona Franca de Manaus - ADI 2399/AM

Resumo:

É constitucional a exclusão dos bens de informática dos incentivos fiscais previstos para a
Zona Franca de Manaus, promovida pela Lei 8.387/1991.
A Lei 8.387/1991 não reduziu favor fiscal previsto pelo Decreto-lei 288/1967 244, nem violou o
art. 40 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)245.
Com efeito, o art. 40 do ADCT garante a manutenção dos favores fiscais outorgados pelo
Decreto-lei 288/1967 e existentes ao tempo da promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988.
Ocorre que, quando a CF foi promulgada, os bens de informática não eram regulados pelo
Decreto-lei 288/1967, mas pela Lei 7.232/1984 (Lei de Informática). Isso se deu em razão da revogação
tácita, já que diante da incompatibilidade entre as duas normas, prevaleceu a Lei de Informática por ser lei
mais nova e especial em relação ao decreto-lei.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, declarou a perda de objeto da ação direta
em relação ao art. 11 da Lei 10.176/2001 e ao art. 2º, § 3º, da Lei 8.387/1991 e, quanto aos demais
dispositivos questionados, julgou improcedente o pedido formulado. Vencidos, parcialmente, os ministros
Marco Aurélio (relator), Rosa Weber, Edson Fachin e Roberto Barroso.

ADI 2399/AM, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Dias Toffoli, julgamento
virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1043)

5. DIREITO DA SAÚDE

5.1 VIGILÂNCIA SANITÁRIA E EPIDEMIOLÓGICA

COVID-19: observância das decisões proferidas pelo STF em relação à


obrigatoriedade de vacinação - ADPF 754 16ª TPI-Ref/DF

Resumo:

As notas técnicas objeto de análise (1), ao disseminarem informações matizadas pela


dubiedade e ambivalência, no concernente à compulsoriedade da imunização, podem desinformar a
população, desestimulando a vacinação contra a Covid-19.

Considerada a ambiguidade com que foram redigidas no tocante à obrigatoriedade da vacinação,


as notas técnicas podem ferir, dentre outros, os preceitos fundamentais que asseguram o direito à vida e à

244
Precedente: ADI 4.254
245
ADCT: “Art. 40. É mantida a Zona Franca de Manaus, com suas características de área livre de comércio, de
exportação e importação, e de incentivos fiscais, pelo prazo de vinte e cinco anos, a partir da promulgação da
Constituição.”

98
saúde, além de afrontarem entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no
julgamento das ADIs 6.586/DF e 6.587/DF e do ARE 1.267.879/SP.

Nesses termos, o Ministério da Saúde (MS) e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos (MMFDH) devem fazer constar de suas respectivas notas técnicas 246 a interpretação conferida
pelo STF ao art. 3°, III, d, da Lei 13.979/2020247, no sentido de que: (i) “a vacinação compulsória não
significa vacinação forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário, podendo, contudo, ser
implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre outras, a restrição ao
exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde que previstas em lei, ou
dela decorrentes”, esclarecendo, ainda, que (ii) “tais medidas, com as limitações expostas, podem ser
implementadas tanto pela União como pelos estados, Distrito Federal e municípios, respeitadas as
respectivas esferas de competência”, dando ampla publicidade à retificação ora imposta.

É vedado ao governo federal a utilização do canal de denúncias “Disque 100” do MMFDH para
recebimento de queixas relacionadas à vacinação contra a Covid-19, bem como para o recebimento de
queixas relacionadas a restrições de direitos consideradas legítimas pelo STF248.

Esse canal é um serviço de disseminação de informações sobre direitos de grupos vulneráveis e


de denúncias de violações de direitos humanos 249. A sua utilização, fora de suas finalidades institucionais,
configura desvirtuamento do canal.

Com base nesse entendimento, o Plenário, referendou a medida cautelar pleiteada.

ADPF 754 16ª TPI-Ref/DF, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado
em 18.3.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1047)

246
Notas Técnicas 2/2022/SECOVID/GAB/SECOVID/MS e 1/2022/COLIB/CGEDH/SNPG/MMFDH.
247
Lei 13.979/2020, art. 3º. “Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional de
que trata esta Lei, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competência, entre outras, as seguintes medidas:
(...) III - determinação de realização compulsória de: (...) d) vacinação e outras medidas profiláticas;”
248
Precedentes: ADI 6.586; ADI 6.587 e ARE 1.267.879.
249
Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/servicos/denunciar-violacao-de-direitos-humanos .

99
6. DIREITO DO CONSUMIDOR

6.1 CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO

Normas estaduais sobre inclusão e exclusão de consumidores em cadastros de


proteção ao crédito - ADI 5224/SP, ADI 5252/SP, ADI 5273/SP e ADI 5978/SP

Resumo:

A adoção de sistema de comunicação prévia a consumidor inadimplente por carta


registrada com aviso de recebimento configura desrespeito à Constituição Federal.

No caso, a norma impugnada claramente transgride o modelo normativo geral criado pela União
(Código de Defesa do Consumidor, art. 43, § 2º). Além disso, a disciplina normativa estadual afeta direta
e ostensivamente relações comerciais e consumeristas que transcendem os limites territoriais do ente
federado, bem como transfere todo o ônus financeiro da inadimplência da pessoa do devedor para a
sociedade em geral.

É inconstitucional a previsão, por lei estadual, de “prazo de tolerância” a impedir que o


nome do consumidor inadimplente seja imediatamente inscrito em cadastro ou banco de dados.

Isso porque, ao prever hipótese suspensiva dos efeitos do vencimento de dívida, o preceito
normativo em questão dispõe sobre o tempo do pagamento e os efeitos da mora, intervindo na legislação
federal sobre direito civil e comercial, matérias reservadas à União (Constituição Federal, art. 22, I).

A supressão da verificação prévia quanto à existência do crédito, exigibilidade do título e


inadimplência do devedor não caracteriza violação do princípio da vedação ao retrocesso.

Com o advento da Lei estadual 16.624/2017, não é mais obrigatória a apresentação, pelos
credores, de documentos capazes de atestar a existência da dívida, a exigibilidade e a insolvência. Agora,
tais documentos somente serão exigidos na hipótese de solicitação, de caráter voluntário, pelo próprio
devedor ou pela empresa administradora dos dados. Essa modificação legislativa não consubstancia
ofensa à Constituição ou retrocesso social em desfavor dos consumidores.

Nesses termos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente das ações diretas de
inconstitucionalidade e, na parte conhecida, julgou-as parcialmente procedentes.

ADI 5224/SP, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1046)

ADI 5252/SP, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1046)

ADI 5273/SP, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1046)

ADI 5978/SP, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1046)

100
7. DIREITO DO TRABALHO

7.1 CONVENÇÃO E ACORDO COLETIVO

Ultratividade das cláusulas normativas de acordos e convenções coletivas - ADPF


323/DF

ODS: 8, 10 e 16

Resumo:

É inconstitucional a interpretação jurisprudencial da Justiça do Trabalho que mantém a


validade de direitos fixados em cláusulas coletivas com prazo já expirado até que novo acordo ou
convenção coletiva seja firmado.

Não cabe ao TST agir excepcionalmente e, para chegar a determinado objetivo, interpretar
norma constitucional de forma arbitrária. Assim, a ultratividade das normas coletivas, ao argumento de
que as cláusulas pactuadas se incorporam aos contratos de trabalho individual, é incompatível com os
princípios da legalidade, da separação dos Poderes e da segurança jurídica250.

Ademais, a Corte trabalhista, ao avocar para si a função legiferante, afastou o debate público e
todos os trâmites e garantias típicas do processo legislativo, passando, por conta própria, a ditar não
apenas norma, mas os limites da alteração que criou, além de selecionar arbitrariamente quem seria
atingido pela sua compreensão.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ADPF para declarar
a inconstitucionalidade da Súmula 277 do TST, na versão atribuída pela Resolução 185/2012 251, assim
como de interpretações e decisões judiciais que entendem que o art. 114, § 2º, da CF/1988 252, autoriza a
aplicação do princípio da ultratividade de normas de acordos e de convenções coletivas.

ADPF 323/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1056)

7.2 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

Acordos e convenções coletivos: limitação ou afastamento de direitos trabalhistas e


horas “in itinere” - ARE 1121633/GO (Tema 1046 RG)

ODS: 8, 10 e 16

Tese fixada:

250
CLT/1943: “Art. 613 - As Convenções e os Acordos deverão conter obrigatoriamente (...) II - Prazo de vigência;”
(...) Art. 614 (...) § 3º Não será permitido estipular duração de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho
superior a dois anos, sendo vedada a ultratividade.”
251
Súmula 277/TST: “CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DE TRABALHO.
EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE (redação alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res.
185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012. As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções
coletivas integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante
negociação coletiva de trabalho.”
252
CF/1988: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (...) § 2º Recusando-se qualquer das partes
à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza
econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção
ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.”

101
“São constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao considerarem a
adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas,
independentemente da explicitação especificada de vantagens compensatórias, desde que
respeitados os direitos absolutamente indisponíveis.”

Resumo:

É constitucional norma oriunda de negociação coletiva que, apesar de limitar ou afastar


direitos trabalhistas, assegura aos trabalhadores os direitos absolutamente indisponíveis.

Os acordos e convenções coletivas devem ser interpretados com base no princípio da


equivalência entre os negociantes, de modo que a autonomia coletiva — cujo reconhecimento não
significa renúncia ao acesso à Justiça — não pode ser simplesmente substituída pela invocação do
princípio protetivo ou da primazia da realidade, oriundos do direito individual trabalhista.

Além disso, ajustes acordados com aval sindical são revestidos de boa-fé e a invalidade deles
deve ser a exceção, não a regra. A anulação dos acordos, na parte em que supostamente interessa ao
empregador, mantidos os ônus assumidos no que diz respeito ao trabalhador, ao mesmo tempo em que
viola o art. 7º, XXVI, da CF/1988253, leva a um claro desestímulo à negociação coletiva, que deveria ser
valorizada e respeitada, especialmente em momentos de crise254.

Conjugada a autonomia coletiva com o princípio da adequação setorial negociada, é possível a


disponibilidade dos direitos trabalhistas em acordos e convenções coletivos, desde que resguardado um
patamar mínimo civilizatório, o qual é composto, em linhas gerais, pelas normas constitucionais, pelas
normas de tratados e convenções internacionais incorporados ao direito brasileiro e pelas normas que,
mesmo infraconstitucionais, asseguram garantias mínimas de cidadania aos trabalhadores.

No caso, quanto às horas in itinere — cuja questão se vincula diretamente ao salário e à jornada
de trabalho —, trata-se de direito disponível, sujeito, portanto, à autonomia da vontade coletiva 255 (3).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.046 da
repercussão geral, deu provimento ao recurso.

ARE 1121633/GO, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento em 1º e 2.6.2022 (INF 1057)

Dispensa em massa e intervenção sindical - RE 999435/SP (Tema 638 RG)

ODS: 8 e 16

Tese fixada:

“A intervenção sindical prévia é exigência procedimental imprescindível para a dispensa


em massa de trabalhadores, que não se confunde com autorização prévia por parte da entidade
sindical ou celebração de convenção ou acordo coletivo.”

Resumo:

A dispensa em massa de empregados deve ser precedida da tentativa de diálogo entre a


empresa e o sindicato dos trabalhadores.

À luz dos postulados da proteção da relação de emprego contra a despedida arbitrária ou sem
justa causa, da representatividade dos sindicatos e da valorização da negociação coletiva, as entidades
sindicais obreiras devem ser ouvidas antes da demissão coletiva de empregados, o que se revela como
requisito procedimental indispensável.
253
CF/1988: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social: (...) XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;”
254
Precedente: RE 590415 (Tema 152 RG).
255
Precedente: RE 895759 AgR-segundo.

102
Não se exige que cheguem a um acordo de vontades, à celebração de convenção ou acordo
coletivos, tampouco que haja autorização prévia do sindicato, assim como a fixação de condições. Impõe-
se tão somente o dever de negociar, no sentido da abertura do diálogo entre os polos antagônicos,
oportunizando o alcance de soluções alternativas, menos drásticas e danosas.

Nesse contexto, se houver impasse absoluto, a vontade do empregador prevalecerá, de modo que
inexiste afronta à livre iniciativa ou à razoabilidade e proporcionalidade do procedimento.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 638 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 999435/SP, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgamento
em 8.6.2022 (INF 1058)

7.3 PISO SALARIAL

Congelamento da base de cálculo para desindexação de piso salarial vinculado ao


valor do salário mínimo - ADPF 53 Ref-MC/PI; ADPF 149 Ref-MC/DF e ADPF 171 Ref-
MC/MA

Resumo:

A fixação do piso salarial em múltiplos do salário mínimo mostra-se compatível com o texto
constitucional, desde que não ocorra vinculação a reajustes futuros256.

A parte final do inciso IV do art. 7º da Constituição Federal (CF) 257 não veda a pura e simples
utilização do salário-mínimo como mera referência paradigmática, destinada a servir como parâmetro
para definir a justa proporção do valor remuneratório mínimo apropriado à remuneração de determinada
categoria profissional. Entretanto, a estipulação do piso salarial com referência a múltiplos do salário-
mínimo não pode dar ensejo a reajustamentos automáticos futuros voltados à adequação do salário
inicialmente contratado aos novos valores vigentes para o salário-mínimo nacional. Evita-se, com isso, a
indesejável espiral inflacionária resultante do reajuste automático de verbas salarias e parcelas
remuneratórias no âmbito do serviço público e da atividade privada, assim como a elevação concomitante
de preços de produtos e serviços nos diversos setores da economia nacional.

No caso, especificamente com relação à aplicação da norma inscrita no art. 5º da Lei 4.950-A/66,
entendeu-se que o congelamento da base de cálculo do piso salarial serve como critério de desindexação
do valor do salário-mínimo e deve ter, como marco temporal, a data da publicação da ata do julgamento
que reconhecer a incompatibilidade da norma com a CF.

Com base nesse entendimento, o Plenário converteu o referendo de medida cautelar em


julgamento de mérito, conheceu em parte de arguições de descumprimento de preceito fundamental 258 e,
por maioria, julgou parcialmente procedentes os pedidos nelas formulados.
256
Precedentes: RE 565.714; Rcl 19.193 AgR; Rcl 9.951 AgR; Rcl 19.130 AgR; ADPF 95 MC; ADI 3.934, ARE
842.157 RG; ADI 2.672; ADI 1.568; ADI 4.637.
257
CF/1988: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social: (...) IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas
necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;”
258
Precedente: Rp 716

103
ADPF 53 Ref-MC/PI, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1044)

ADPF 149 Ref-MC/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1044)

ADPF 171 Ref-MC/MA, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1044)

Piso salarial nacional para os profissionais da enfermagem - ADI 7222 MC-Ref/DF

ODS: 3

Resumo:

Os efeitos da Lei 14.434/2022 ficarão suspensos até que sejam avaliados os seus impactos
sobre a situação financeira dos estados e municípios, os riscos para a empregabilidade e a qualidade
dos serviços de saúde, tudo com base em informações a serem prestadas, no prazo de 60 (sessenta)
dias, pelos entes estatais, órgãos públicos e entidades representativas da área de saúde.

No caso, estão presentes os requisitos para a concessão da medida cautelar: a plausibilidade


jurídica das alegações de inconstitucionalidade da norma ─ ao menos até que esclarecidas as questões
suscitadas ─ e o evidente perigo na demora.

O primeiro se justifica (i) pelo suposto vício de iniciativa no processo legislativo, tendo em vista
que toda a sua tramitação se deu sem amparo de norma constitucional legitimadora da instituição do piso
salarial e a superveniente constitucionalização via emenda não teria o condão de sanar o vício de origem;
(ii) pela indicação de vulneração ao pacto federativo, dada a interferência na autonomia financeira e
orçamentária de estados e municípios (CF/1988, art. 169, § 1º, I); e (iii) pela alegada
desproporcionalidade da medida em relação a destinatários com menor poderio econômico.

Já o segundo decorre da incidência imediata do piso salarial e do alegado risco à prestação e à


qualidade dos serviços de saúde, considerando-se a ameaça de demissões em massa (CF/1988, art. 170,
VIII) e de redução tanto da oferta de leitos hospitalares como dos quadros de enfermeiros e técnicos
(CF/1988, art. 196).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a medida cautelar para manter
suspensos os efeitos da Lei 14.434/2022 até que sejam devidamente esclarecidos os seus impactos sobre
cada um dos pontos elencados.

ADI 7222 MC-Ref/DF, relator Min. Luís Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em
16.9.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1068)

7.4 REGIME DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA

Débitos trabalhistas: índices de atualização monetária aplicáveis no âmbito da


Justiça do Trabalho - RE 1269353/DF (Tema 1191 RG)

Tese fixada:

“I - É inconstitucional a utilização da Taxa Referencial - TR como índice de atualização dos


débitos trabalhistas, devendo ser aplicados, até que sobrevenha solução legislativa, os mesmos
índices de correção monetária e de juros vigentes para as condenações cíveis em geral, quais sejam
a incidência do IPCA-E na fase pré-judicial e, a partir do ajuizamento da ação, a incidência da taxa

104
SELIC (art. 406 do Código Civil), à exceção das dívidas da Fazenda Pública, que possuem
regramento específico. A incidência de juros moratórios com base na variação da taxa SELIC não
pode ser cumulada com a aplicação de outros índices de atualização monetária, cumulação que
representaria bis in idem;

II - A fim de garantir segurança jurídica e isonomia na aplicação desta tese, devem ser
observados os marcos para modulação dos efeitos da decisão fixados no julgamento conjunto da
ADI 5.867, ADI 6.021, ADC 58 e ADC 59, como segue: (i) são reputados válidos e não ensejarão
qualquer rediscussão, em ação em curso ou em nova demanda, incluindo ação rescisória, todos os
pagamentos realizados utilizando a TR (IPCA-E ou qualquer outro índice), no tempo e modo
oportunos (de forma extrajudicial ou judicial, inclusive depósitos judiciais) e os juros de mora de
1% ao mês, assim como devem ser mantidas e executadas as sentenças transitadas em julgado que
expressamente adotaram, na sua fundamentação ou no dispositivo, a TR (ou o IPCA-E) e os juros
de mora de 1% ao mês; (ii) os processos em curso que estejam sobrestados na fase de conhecimento,
independentemente de estarem com ou sem sentença, inclusive na fase recursal, devem ter
aplicação, de forma retroativa, da taxa Selic (juros e correção monetária), sob pena de alegação
futura de inexigibilidade de título judicial fundado em interpretação contrária ao posicionamento
do STF (art. 525, §§ 12 e 14, ou art. 535, §§ 5º e 7º, do CPC e (iii) os parâmetros fixados neste
julgamento aplicam-se aos processos, ainda que transitados em julgado, em que a sentença não
tenha consignado manifestação expressa quanto aos índices de correção monetária e taxa de juros
(omissão expressa ou simples consideração de seguir os critérios legais).”

Resumo:

Não se aplica a Taxa Referencial (TR) como índice de correção monetária de débitos
trabalhistas.

Tendo-se em vista que a TR não reflete o poder aquisitivo da moeda nacional, a Justiça laboral
deve utilizar, até que o Poder Legislativo oportunamente solucione a questão, os mesmos índices de
correção monetária e de juros vigentes para as condenações cíveis em geral, isto é, o Índice Nacional de
Preço ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) na fase pré-judicial e a taxa do Sistema Especial de
Liquidação e Custódia (SELIC) a partir do ajuizamento da ação. Também devem ser estritamente
observados os marcos fixados para a modulação dos efeitos da decisão plenária proferida no julgamento
conjunto acima destacado, cujas balizas foram expressamente reproduzidas na tese do tema de
repercussão geral.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de


repercussão geral da questão constitucional suscitada (Tema 1191 RG). No mérito, por maioria, reafirmou
a jurisprudência dominante sobre a matéria para prover parcialmente o recurso extraordinário.

RE 1269353/DF, relator Min. Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em


17.12.2021 (INF 1043)

105
8. DIREITO ELEITORAL

8.1 CAMPANHA ELEITORAL

Criação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha - ADI 5795/DF

ODS: 16

Resumo:

É constitucional a criação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) por


meio de norma infraconstitucional, dada a inexistência de obrigação ou proibição sobre o tema na
CF/1988.

O Congresso Nacional entendeu que o método de financiamento de campanha até então em


vigor, após a declaração de inconstitucionalidade das doações por pessoas jurídicas de direito privado 259,
não se revelava suficiente para atender às demandas. Por essa razão, instituiu o FEFC, constituído apenas
em anos eleitorais com destinação de parcela do orçamento da União e com objetivo exclusivo de
financiar as campanhas eleitorais com recursos públicos260.

A atual Constituição não contempla qualquer previsão que estabeleça a exclusividade do Fundo
Partidário e impeça a criação de novos fundos destinados ao financiamento de partidos políticos e de
campanhas eleitorais. Também não há dispositivo que imponha à temática sua veiculação somente por
meio de Emenda à Constituição.

Nesse contexto, o exercício do controle de constitucionalidade de leis e atos normativos impõe


ao Poder Judiciário, por autocontenção, respeito ao espaço privativo de deliberação atribuído
constitucionalmente aos demais Poderes da República, assim como às escolhas políticas legitimamente
adotadas pelos parlamentares.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, converteu o julgamento da medida
liminar em definitivo de mérito, conheceu parcialmente da ação, e a julgou improcedente na parte
conhecida.

ADI 5795/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1065)

Forma de cálculo do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) - ADI


7058 MC/DF

Resumo:

Não cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF) adentrar o mérito da opção legislativa para
redesenhar a forma de cálculo do valor do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC)
(Lei 14.194/2021, art. 12, XXVII)261.

259
Precedente citado: ADI 4650.
260
Lei 9.504/1997: “Art. 16-C. O Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) é constituído por
dotações orçamentárias da União em ano eleitoral, em valor ao menos equivalente: (...) II - a 30% (trinta por cento)
dos recursos da reserva específica de que trata o inciso II do § 3º do art. 12 da Lei nº 13.473, de 8 de agosto de 2017.
(Incluído pela Lei nº 13.487, de 2017)”.
261
Lei 14.194/2021: “Art. 12. O Projeto de Lei Orçamentária de 2022, a respectiva Lei e os créditos adicionais
discriminarão, em categorias de programação específicas, as dotações destinadas a: (...) XXVII - Fundo Especial de
Financiamento de Campanha, financiado com recursos da reserva prevista no inciso II do § 4º do art. 13, no valor

106
Muito embora reconheça-se a possibilidade de o STF adentrar no controle de normas
orçamentárias262, é imprescindível guardar certa deferência institucional em relação às opções feitas pelas
Casas Legislativas, em especial quando esse diálogo vem aperfeiçoado pela análise e rejeição de veto
formulado pelo chefe do Poder Executivo263.

O FEFC é um importante instrumento ao atual modelo de financiamento de campanhas


eleitorais, voltando-se a suprir o processo eleitoral com condições materiais de existência. Decorre de
uma opção legítima do legislador de, em atenção ao que decidido pelo STF na ADI 4650, conferir os
meios necessários para que as mais diversas candidaturas se façam presentes no jogo democrático.

A fixação da verba pública destinada ao FEFC é campo de atuação eminentemente político, e o


resultado de tal processo, desde que respeitadas as regras previamente fixadas, em nada pode representar
desvio de finalidade.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, indeferiu medida cautelar em ação direta
de inconstitucionalidade. Vencidos os ministros Roberto Barroso, Rosa Weber, Cármen Lúcia, e, em
maior extensão, os ministros André Mendonça (relator) e Ricardo Lewandowski.

ADI 7058 MC/DF, relator Min. André Mendonça, redator do acórdão Min. Nunes Marques,
julgamento finalizado em 3.3.2022 (INF 1045)

8.2 FEDERAÇÕES PARTIDÁRIAS

Prazo para constituição e registro no TSE de partidos políticos e de federações


partidárias - ADI 7021/DF

Resumo:

A fim de participarem das eleições, as federações partidárias devem estar constituídas


como pessoa jurídica e obter o registro de seu estatuto perante o TSE no mesmo prazo aplicável aos
partidos políticos.

Verifica-se, em sede de referendo de medida cautelar, incompatibilidade, com o princípio da


isonomia, das previsões legais que permitem que as federações partidárias possuam prazo superior ao dos
partidos políticos para se constituírem.

Com efeito, a própria Lei 14.208/2021 prevê que a federação atuará como se fosse uma única
agremiação partidária (art. 11-A, caput, da Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021) 264 e
que se aplicam às federações “todas as normas que regem as atividades dos partidos políticos no que diz
respeito às eleições” (art. 11-A, § 8º, da Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021)265.

correspondente a 25% (vinte e cinco por cento) da soma das dotações para a Justiça Eleitoral para exercício de 2021 e
as constantes do Projeto de Lei Orçamentária para 2022, acrescentado do valor previsto no inciso I do art. 16-C da
Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997;”
262
Precedente: ADI 4048.
263
Precedente: ADI 5468.
264
Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021: “Art. 11-A. Dois ou mais partidos políticos poderão
reunir-se em federação, a qual, após sua constituição e respectivo registro perante o Tribunal Superior Eleitoral,
atuará como se fosse uma única agremiação partidária.”
265
Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021: “Art. 11-A. (...) § 8º Aplicam-se à federação de partidos
todas as normas que regem as atividades dos partidos políticos no que diz respeito às eleições, inclusive no que se
refere à escolha e registro de candidatos para as eleições majoritárias e proporcionais, à arrecadação e aplicação de
recursos em campanhas eleitorais, à propaganda eleitoral, à contagem de votos, à obtenção de cadeiras, à prestação de
contas e à convocação de suplentes.”

107
Entretanto, a mesma lei permite que as federações possam ser constituídas até a data final do
período de realização das convenções partidárias (art. 11-A, § 3º, III, da Lei 9.096/1995, com redação
dada pela Lei 14.208/2021)266, ao passo que, para os partidos políticos, impõe-se a constituição e o
registro até seis meses antes das eleições (art. 4º da Lei 9.504/1997)267.

Diante dessas previsões legais, aparenta haver desequiparação irrazoável na medida em que se
permite que agremiações concorrentes ao mesmo pleito sigam regras e cronogramas diversos, situação
que não deve ser sustentada pelo Direito.

Excepcionalmente, nas eleições de 2022, o prazo para constituição de federações partidárias fica
estendido até 31 de maio do mesmo ano.

Mediante ponderação entre os princípios da isonomia (entre partidos políticos e federações), da


segurança jurídica e da maior efetividade da norma que criou o instituto das federações partidárias,
entende-se que o prazo fixado é um meio-termo. Ele confere maior prazo para negociações, mas, ao
mesmo tempo, evita uma extensão excessiva, o que tornaria o instituto das federações perigosamente
aproximado das coligações e poderia trazer-lhe uma lógica “de ocasião”, que é o que se quer evitar. Além
disso, esse prazo minimiza eventuais efeitos competitivos adversos que uma constituição tardia das
federações poderia produzir na competição com partidos políticos.

Com base nesses fundamentos, o Plenário, por maioria, referendou medida cautelar deferida
parcialmente em ação direta de inconstitucionalidade.

ADI 7021/DF MC-Ref, relator Min. Roberto Barroso, julgamento em 9.2.2022 (INF 1043)

8.3 MINIRREFORMA ELEITORAL

Reunião de ações eleitorais sobre o mesmo fato para julgamento conjunto - ADI
5507/DF

ODS: 16

Resumo:

A regra geral que determina a reunião de ações eleitorais que versem sobre os mesmos
fatos para julgamento conjunto pode ser afastada sempre que o magistrado aferir a pertinência da
separação dos feitos, à luz das circunstâncias do caso concreto e das exigências inerentes aos
postulados do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.
A exigência de lei complementar para dispor sobre a organização da Justiça Eleitoral restringe-se
à competência em função da matéria e não diz respeito às regras de distribuição por prevenção ou
conexão, que possuem natureza processual. Assim, o fato de a lei impugnada ser ordinária não representa
inconstitucionalidade formal (268).

266
Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021: “Art. 11-A. (...) § 3º A criação de federação obedecerá às
seguintes regras: (...) III - a federação poderá ser constituída até a data final do período de realização das convenções
partidárias;”
267
Lei 9.504/1997, com redação dada pela Lei 13.488/2017: “Art. 4º. Poderá participar das eleições o partido que, até
seis meses antes do pleito, tenha registrado seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral, conforme o disposto em lei, e
tenha, até a data da convenção, órgão de direção constituído na circunscrição, de acordo com o respectivo estatuto.”
268
CF/1988: “Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de
direito e das juntas eleitorais.”

108
Ademais, a reforma trazida pela Lei 13.165/2015, com relação ao art. 96-B da Lei 9.504/1997
(269), objetivou consolidar o avanço jurisprudencial do TSE no sentido de facultar ao magistrado, sempre
que possível, o julgamento conjunto de processos com a mesma base fática. Isso foi feito com vistas a
conferir maior racionalidade e celeridade ao processo eleitoral, reforçando a segurança jurídica, por evitar
decisões conflitantes.
Trata-se de opção válida do legislador ordinário, a fim de dar concretude a diversos princípios
constitucionais, de modo que as medidas previstas preservam as funções institucionais do Ministério
Público e as garantias processuais das partes (270).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação
para conferir interpretação conforme ao § 2º do art. 96-B da Lei 9.504/1997, acrescentado pelo art. 2º da
Lei 13.165/2015, no sentido de que a regra geral de reunião dos processos pode ser afastada, no caso
concreto, sempre que a celeridade, a duração razoável do processo, o bom andamento da marcha
processual, o contraditório e a ampla defesa, a organicidade dos julgamentos e o relevante interesse
público envolvido recomendem a separação dos feitos.

ADI 5507/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 2.9.2022 (sexta-feira),
às 23:59

8.4 PARTIDOS POLÍTICOS

Autonomia partidária: duração de mandato, prazo de vigência de órgãos provisórios


e anistia de multa - ADI 6230/DF

ODS: 5 e 16
Resumo:

Os partidos políticos podem, no exercício de sua autonomia constitucional, estabelecer a


duração dos mandatos de seus dirigentes, desde que compatível com o princípio republicano da
alternância do poder concretizado por meio da realização de eleições periódicas em prazo razoável.

O ideal democrático firma-se na temporalidade dos mandatos, o que viabiliza sua renovação e
alternância de poder, motivo pelo qual os princípios democrático e republicano não autorizam que a
autonomia assegurada às agremiações partidárias seja interpretada contrariamente à Constituição,
autorizando a perpetuação dos mandatos das lideranças partidárias271.

É inconstitucional a previsão do prazo de até oito anos para a vigência dos órgãos
provisórios dos partidos272, para evitar distorções ao claro significado de “provisoriedade”,
notadamente porque, nesse período, podem ser realizadas distintas eleições em todos os níveis
federativos.

269
) Lei 9.504/1997: “Art. 96-B. Serão reunidas para julgamento comum as ações eleitorais propostas por partes
diversas sobre o mesmo fato, sendo competente para apreciá-las o juiz ou relator que tiver recebido a primeira.
(Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) § 1º O ajuizamento de ação eleitoral por candidato ou partido político não
impede ação do Ministério Público no mesmo sentido. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) § 2º  Se proposta ação
sobre o mesmo fato apreciado em outra cuja decisão ainda não transitou em julgado, será ela apensada ao processo
anterior na instância em que ele se encontrar, figurando a parte como litisconsorte no feito principal. (Incluído pela
Lei nº 13.165, de 2015) § 3º Se proposta ação sobre o mesmo fato apreciado em outra cuja decisão já tenha transitado
em julgado, não será ela conhecida pelo juiz, ressalvada a apresentação de outras ou novas provas. (Incluído pela Lei
nº 13.165, de 2015)”
270
Precedente citado: ARE 728188 (Tema 680 RG)

271
Precedentes: ADI 5617 e ADI 5311.
272
Lei 9.096/1995: “Art. 3º É assegurada, ao partido político, autonomia para definir sua estrutura interna,
organização e funcionamento. (...) § 3º O prazo de vigência dos órgãos provisórios dos partidos políticos poderá ser
de até 8 (oito) anos (Incluído pela Lei nº 13.831, de 2019)”.

109
O poder não deve ser exercido por tempo indeterminado ou excessivo, sendo imprescindível a
apuração democrática da vontade dos filiados. Ocorre que as comissões provisórias normalmente são
compostas por pessoas não eleitas por seus pares, mas indicadas pela direção do partido e com sucessivas
reconduções. Essa circunstância é capaz de minar a democracia interna, pois apta a acarretar a falta de
autenticidade dos partidos políticos, culminando em sérios reflexos na legitimidade do sistema político.

Ademais, o Supremo Tribunal Federal não pode, sob pena de atuar como legislador positivo,
estabelecer um único prazo, aplicável indistintamente a todas as agremiações e em todos os cenários.
Cabe à Justiça Eleitoral analisar, na apreciação do registro dos estatutos ou quando trazida a questão em
casos concretos, a constitucionalidade e legalidade do prazo de vigência dos órgãos provisórios dos
partidos políticos.

Nesse contexto, o Tribunal, especificamente quanto a essa parte na qual reconhece a


inconstitucionalidade da norma, modulou os seus efeitos exclusivamente a partir de janeiro de 2023,
prazo posterior ao encerramento do presente ciclo eleitoral, após o qual o TSE poderá analisar a
compatibilidade dos estatutos com o que ora decidido.

É constitucional a previsão de concessão de anistia às cobranças, devoluções ou


transferências ao Tesouro Nacional que tenham como causa as doações ou contribuições feitas em
anos anteriores por servidores públicos que exerçam função ou cargo público de livre nomeação e
exoneração, desde que filiados a partido político.

A pecúnia a ser anistiada (Lei 9.096/1995, art. 55-D) é de cunho eleitoral e não ostenta caráter de
tributo, razão pela qual não compõe o orçamento público, afastando-se do campo de abrangência do art.
113 do ADCT — cujo objeto de proteção é a receita de caráter fiscal 273. Assim, é desnecessária a prévia
estimativa acerca de impacto financeiro e orçamentário por parte das proposições legislativas que
prevejam a renúncia de seus recursos financeiros.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a
ação e modulou os efeitos da decisão no trecho em que reconhece a inconstitucionalidade da norma.

ADI 6230/DF, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 5.8.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1062)

Fundo Partidário e Fundo Eleitoral: vedação de repasse de seus recursos - ADI


7214/DF

ODS: 16

Resumo:

São constitucionais, visto não ofenderem a autonomia partidária, os dispositivos de


Resolução editada pelo TSE que vedam o repasse de recursos do Fundo Partidário e do Fundo
Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) por partidos políticos ou candidatos não
pertencentes à mesma coligação e/ou não coligados.

No caso, a atividade normativa do TSE não passou da esfera regulamentar. A vedação prevista
pelos dispositivos impugnados encontra amparo direto na Constituição Federal 274 e na legislação eleitoral,

273
ADCT: “Art. 113. A proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser
acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 95,
de 2016)”.

274
CF/1988: “Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a
soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e
observados os seguintes preceitos: I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos financeiros de
entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV -
funcionamento parlamentar de acordo com a lei. § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua

110
revelando-se plenamente razoável, pois leva em conta a finalidade dos repasses de recursos do FEFC e do
Fundo Partidário, bem como a necessidade de acabar com as assimetrias causadas pela existência de
coligações em eleições proporcionais.

Com efeito, o montante dos referidos fundos que será repartido entre as agremiações
políticas é definido pelo critério da representatividade no Congresso Nacional, não sendo plausível
permitir o repasse de seus recursos a candidatos de partidos distintos não pertencentes à mesma coligação,
especialmente em razão da natureza pública dessas verbas.

Com base nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente a ação para
assentar a constitucionalidade do art. 17, § 2°, I, II, e do art. 19, § 7°, I, II, ambos da Resolução TSE
23.607/2019275.

ADI 7214/DF, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 30.9.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1070)

8.5 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL

Ampliação de gastos com publicidade institucional e princípio da anterioridade


eleitoral - ADI 7178/DF e ADI 7182/DF

ODS: 16
Resumo:

A ampliação dos limites para gasto com publicidade institucional às vésperas das eleições
pode afetar significativamente as condições da disputa eleitoral, sendo necessário postergar, em
obediência ao princípio da anterioridade eleitoral (CF/1988, art. 16), a eficácia de alterações
normativas nesse sentido.

Essa medida, cujo conteúdo interage com normas proibitivas que tutelam a idoneidade e
competitividade do processo eleitoral276, pode configurar desvio de finalidade no exercício de poder
político, com reais possibilidades de influência no pleito eleitoral e perigoso ferimento à liberdade do
voto (CF/1988, art. 60, IV, b), ao pluralismo político (CF/1988, art. 1º, V e parágrafo único), ao princípio
da igualdade (CF/1988, art. 5º, caput) e à moralidade pública (CF/1988, art. 37, caput).

estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e
sobre sua organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas
eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de
disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017). (...) § 3º Somente terão
direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que
alternativamente:  (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) I - obtiverem, nas eleições para a
Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das
unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou   (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos
em pelo menos um terço das unidades da Federação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017).”
275
Resolução 23.607/2019 do TSE: “Art. 17. O Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) será
disponibilizado pelo Tesouro Nacional ao Tribunal Superior Eleitoral e distribuído aos diretórios nacionais dos
partidos políticos na forma disciplinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (Lei nº 9.504/1997, art. 16-C, § 2º). § 1º
Inexistindo candidatura própria ou em coligação na circunscrição, é vedado o repasse dos recursos do Fundo Especial
de Financiamento de Campanha (FEFC) para outros partidos políticos ou candidaturas desses mesmos partidos. § 2º
É vedado o repasse de recursos do FEFC, dentro ou fora da circunscrição, por partidos políticos ou candidatas ou
candidatos: I - não pertencentes à mesma coligação; e/ou II - não coligados. (...) Art. 19. Os partidos políticos podem
aplicar nas campanhas eleitorais os recursos do Fundo Partidário, inclusive aqueles recebidos em exercícios
anteriores. (...) § 7º É vedado o repasse de recursos do Fundo Partidário, dentro ou fora da circunscrição, por partidos
políticos ou candidatas ou candidatos: I - não pertencentes à mesma coligação; e/ou II - não coligados.”
276
Precedentes: ADI 3345; ADI 4307; e ADC 29.

111
Ademais, a ampla publicidade de “atos e campanhas dos órgãos públicos” com financiamento do
orçamento público — ainda que com o intuito de divulgar ações governamentais atinentes ao
enfrentamento da calamidade pública provocada pela pandemia da Covid-19 — pode, em tese, implicar
favorecimento dos agentes públicos que estiveram à frente dessas ações, com comprometimento da
normalidade e legitimidade das eleições que serão realizadas neste ano.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, em julgamento conjunto, concedeu
parcialmente a medida cautelar para conferir interpretação conforme a Constituição à Lei 14.356/2022 277,
estabelecendo que, por força do princípio da anterioridade eleitoral, a norma não produz efeitos antes do
pleito eleitoral de outubro de 2022.

ADI 7178/DF, relator Min. Dias Toffoli, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1062)

ADI 7182/DF, relator Min. Dias Toffoli, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1062)

8.6 PROPAGANDA ELEITORAL

Restrições à veiculação de propaganda eleitoral em meios de comunicação impressos


e na internet - ADI 6281/DF

Resumo:

São constitucionais as restrições, previstas na Lei das Eleições (Lei 9.504/1997, arts. 43,
caput, e 57-C, caput e § 1º)278, à veiculação de propaganda eleitoral em meios de comunicação
impressos e na internet.

Considerando-se que o pagamento das propagandas eleitorais no Brasil se dá atualmente com


recursos públicos, na ampla maioria dos casos, então a regulamentação da propaganda eleitoral está mais
direcionada para a forma do gasto do Fundo Eleitoral do que propriamente para disciplinar a liberdade de
expressão. Trata-se de uma opção política do legislador sobre onde e como devam ser gastos recursos
públicos.

277
Lei 14.356/2022: “(...) Art. 3º O art. 73 da Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997, passa a vigorar com as
seguintes alterações: Art. 73. (...) VII - empenhar, no primeiro semestre do ano de eleição, despesas com publicidade
dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, que
excedam a 6 (seis) vezes a média mensal dos valores empenhados e não cancelados nos 3 (três) últimos anos que
antecedem o pleito; (...) § 14. Para efeito de cálculo da média prevista no inciso VII do caput deste artigo, os gastos
serão reajustados pelo IPCA, aferido pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou outro
índice que venha a substituí-lo, a partir da data em que foram empenhados. (NR) Art. 4º Não se sujeita às disposições
dos incisos VI e VII do caput do art. 73 da Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, a publicidade institucional de
atos e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais e de suas respectivas entidades da
administração indireta destinados exclusivamente ao enfrentamento da pandemia causada pelo coronavírus SARS-
CoV-2 e à orientação da população quanto a serviços públicos relacionados ao combate da pandemia, resguardada a
possibilidade de apuração de eventual conduta abusiva, nos termos da Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997.”

278
Lei 9.504/1997: “Art. 43. São permitidas, até a antevéspera das eleições, a divulgação paga, na imprensa escrita,
e a reprodução na internet do jornal impresso, de até 10 (dez) anúncios de propaganda eleitoral, por veículo, em datas
diversas, para cada candidato, no espaço máximo, por edição, de 1/8 (um oitavo) de página de jornal padrão e de 1/4
(um quarto) de página de revista ou tabloide. (Redação dada pela Lei 12.034/2009) (...) Art. 57-C. É vedada a
veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na internet, excetuado o impulsionamento de conteúdos,
desde que identificado de forma inequívoca como tal e contratado exclusivamente por partidos, coligações e
candidatos e seus representantes. (Redação dada pela Lei 13.488/2017) § 1º É vedada, ainda que gratuitamente, a
veiculação de propaganda eleitoral na internet, em sítios: (Incluído pela Lei 12.034/2009) I – de pessoas jurídicas,
com ou sem fins lucrativos; (Incluído pela Lei 12.034/2009)”

112
Ademais, as diretrizes relativas à propaganda eleitoral voltam-se à realização de princípios
próprios, tais como a paridade de armas entre os candidatos e a preservação das eleições, pondo-os a
salvo do abuso do poder econômico, sempre disposto a influir no resultado das urnas.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente o pedido formulado
em ação direta. Vencidos os ministros Luiz Fux (presidente e relator), Edson Fachin, Roberto Barroso e
Cármen Lúcia, que o julgaram procedente, e, em menor extensão, o ministro André Mendonça, que o
julgou parcialmente procedente.

ADI 6281/DF, relator Min. Luiz Fux, redator do acórdão Min. Nunes Marques, julgamento em
10, 16 e 17.2.2022 (INF 1044)

113
9. DIREITO FINANCEIRO

9.1 AUTONOMIA ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA

Lei de Diretrizes Orçamentárias: autonomia do Ministério Público estadual - ADI


7073/CE

ODS: 16

Tese fixada:

“É inconstitucional a limitação de despesas da folha complementar do Ministério Público


Estadual do Estado do Ceará em percentual da despesa anual da folha normal de pagamento, sem a
devida participação efetiva do órgão financeiramente autônomo no ato de estipulação em conjunto
dessa limitação na Lei de Diretrizes Orçamentárias.”

Resumo:

É indispensável a efetiva participação do Ministério Público — órgão constitucionalmente


autônomo — no ciclo orçamentário, sob pena da respectiva norma incidir em inconstitucionalidade
por afronta à sistemática orçamentária e financeira prevista na Constituição Federal (art. 127, §§
3º a 6º, e art. 168, caput)279.

Com efeito, essa Corte já firmou entendimento no sentido de que a garantia atribuída ao Poder
Judiciário, de ser consultado no momento da elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias, aplica-se
extensivamente ao Ministério Público280.

Com base nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade da expressão “no Ministério Público Estadual”, contida no art. 74, § 5º,
da Lei 17.573/2021, do Estado do Ceará281.

ADI 7073/CE, relator Min. André Mendonça, julgamento virtual finalizado em 23.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1069)

279
CF/1988: “Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis. (...) § 3º O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na
lei de diretrizes orçamentárias. § 4º Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva proposta orçamentária
dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de
consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo
com os limites estipulados na forma do § 3º. § 5º Se a proposta orçamentária de que trata este artigo for encaminhada
em desacordo com os limites estipulados na forma do § 3º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para
fins de consolidação da proposta orçamentária anual. § 6º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá
haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de
diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou
especiais. (...) Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias, compreendidos os créditos
suplementares e especiais, destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da
Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, na forma da lei complementar a
que se refere o art. 165, § 9º.”
280
Precedente citado: ADI 6594.
281
Lei 17.573/2021 do Estado do Ceará: “Art. 74. Para efeito da elaboração e execução da despesa de pessoal, os
Poderes e órgãos consignarão dotações específicas, distinguindo pagamento da folha normal e pagamento da folha
complementar. (...) § 5º As despesas da folha complementar do exercício de 2022 não poderão exceder a 1% (um por
cento) da despesa anual da folha normal de pagamento de pessoal projetada para o exercício de 2022, em cada um
dos Poderes, Executivo, Legislativo, compreendendo o Tribunal de Contas do Estado, e Judiciário, no Ministério
Público Estadual e na Defensoria Pública, ressalvados o caso previsto no inciso I do § 3º deste artigo e os definidos
em lei específica.”

114
9.2 RESPONSABILIDADE FISCAL

Lei estadual e concessão de benefício fiscal sem prévia estimativa de impacto


orçamentário e financeiro - ADI 6303/RR

Tese fixada:

“É inconstitucional lei estadual que concede benefício fiscal sem a prévia estimativa de
impacto orçamentário e financeiro exigida pelo art. 113 do ADCT.”

Resumo:

O art. 113 do ADCT 282 é aplicável a todos os entes da Federação 283 e a opção do
Constituinte de disciplinar a temática nesse sentido explicita a prudência na gestão fiscal, sobretudo
na concessão de benefícios tributários que ensejam renúncia de receita.

Isso ocorre porque a elaboração do referido estudo concede ao Poder Legislativo, como órgão
vocacionado a versar sobre a instituição de benefícios fiscais, o controle não somente dos objetivos
constitucionais que se pretendem atingir por meio de benesse fiscal, como também o controle financeiro
da escolha política.

Além disso, a regra constitucional observa o regime preexistente definido no art. 14 da Lei
Complementar (LC) 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) 284, no tocante à concessão e ao aumento
de benefícios fiscais que ocasionem a renúncia de receita.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado em ação direta, para declarar a inconstitucionalidade formal da Lei Complementar 278/2019
do Estado de Roraima.

ADI 6303/RR, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em


11.3.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1046)

9.3 FEDERALISMO FISCAL

Autonomia municipal e vinculação de parte do ICMS recebido pelo estado - ADI


2355/PR

282
CF, art. 113. “A proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser
acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro”.
283
Precedentes: ADI 6.074, ADI 5.816.
284
LC 101/2000, art. 14. “A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra
renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que
deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos
uma das seguintes condições: I – demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de
receita da lei orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo
próprio da lei de diretrizes orçamentárias; II – estar acompanhada de medidas de compensação, no período
mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de
cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. § 1º A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio,
crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de
cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que correspondam a
tratamento diferenciado. § 2º Se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o caput deste
artigo decorrer da condição contida no inciso II, o benefício só entrará em vigor quando implementadas as medidas
referidas no mencionado inciso. § 3º O disposto neste artigo não se aplica: I – às alterações das alíquotas dos
impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do art. 153 da Constituição, na forma do seu § 1º; II – ao cancelamento de
débito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança.”

115
Resumo:

É inconstitucional, por violação à cláusula constitucional da não afetação da receita


oriunda de impostos e à autonomia municipal, norma estadual que determina a forma de aplicação
dos recursos destinados ao município em razão da repartição constitucional de receitas.

Conforme jurisprudência desta Corte, é de pleno direito dos próprios municípios a parcela que
lhes é devida na repartição constitucional de receitas, de modo que não cabe o estabelecimento de
qualquer forma de condicionamento ou retenção pelos estados285.

Os estados-membros podem fixar, mediante lei, a maneira como será feito o crédito de parcela
do valor da arrecadação do ICMS a ser repartido (CF/1988, art. 158, IV e parágrafo único). Contudo, isso
não implica alteração da titularidade da quota pertencente aos municípios, razão pela qual a destinação
que será dada ao repasse depende de decisão autônoma do ente municipal beneficiário, notadamente
porque ocorre em fase posterior ao ingresso do montante no erário286.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, confirmou a medida cautelar
anteriormente deferida (Informativo 273) e julgou procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade
da Lei 12.690/1999 do Estado do Paraná287.

ADI 2355/PR, relator Min. Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 16.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1068)

10. DIREITO PENAL

10.1 REINCIDÊNCIA

Porte de drogas para consumo próprio e reincidência - RHC 178512/SP

Resumo:

Viola o princípio da proporcionalidade a consideração de condenação anterior pelo delito


do art. 28 da Lei 11.343/2006, “porte de droga para consumo pessoal”, para fins de reincidência.

O delito previsto no art. 28 da Lei 11.343/2006 não comina pena privativa de liberdade, mas tão
somente “advertência sobre os efeitos das drogas” (inc. I); “prestação de serviços à comunidade” (inc. II)
e “medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo” (inc. III).

285
Precedentes citados: RE 572762; RE 1277998 AgR-EDV e ADI 1374.
286
CF/1988: “Art. 30. Compete aos Municípios: (...) III – instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem
como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados
em lei; (...) Art. 167. São vedados: (...) IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa,
ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de
recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização
de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e
a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o
disposto no § 4º deste artigo;”
287
Lei 12.690/1999 do Estado do Paraná: “Art. 1º Os Municípios obrigatoriamente aplicarão 50% (cinquenta por
cento) do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) recebido pelo fato de
possuírem reservas indígenas em seu território consideradas unidades de conservação ambiental, nos termos do artigo
2º da Lei Complementar nº 59, de 1º de outubro de 1991, alterado pelo artigo 1º da Lei Complementar nº 67, de 08 de
janeiro de 1993, diretamente nas respectivas áreas de terras indígenas. Art. 2º O valor previsto no artigo anterior será
aplicado pelos Municípios diretamente nas áreas de terras indígenas que abriguem em seu território nos termos das
respectivas leis de orçamento. Art. 3º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições
em contrário.”

116
Não se afigura razoável, portanto, permitir que uma conduta que possui vedação legal quanto à
imposição de prisão, a fim de evitar a estigmatização do usuário de drogas, possa dar azo à posterior
configuração de reincidência.

Deve-se ponderar, ainda, que a reincidência depende da constatação de que houve condenação
criminal com trânsito em julgado, o que não ocorre em grande parte dos casos de incidência do art. 28 da
Lei 11.343/2006.

Com base nesse entendimento, a Segunda Turma, por maioria, negou provimento a agravo
regimental.

RHC 178512 AgR/SP, relator Min. Edson Fachin, julgamento em 22.3.2022 (INF 1048)

117
11. DIREITO PROCESSUAL CIVIL

11.1 EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA

RPV: valor previsto no ADCT e fixação de quantia referencial inferior


por ente federado - RE 1359139/CE

ODS: 16

Tese fixada:

“(I) As unidades federadas podem fixar os limites das respectivas requisições de pequeno
valor em patamares inferiores aos previstos no artigo 87 do ADCT, desde que o façam em
consonância com sua capacidade econômica. (II) A aferição da capacidade econômica, para este
fim, deve refletir não somente a receita, mas igualmente os graus de endividamento e de
litigiosidade do ente federado. (III) A ausência de demonstração concreta da desproporcionalidade
na fixação do teto das requisições de pequeno valor impõe a deferência do Poder Judiciário ao juízo
político-administrativo externado pela legislação local.”

Resumo:

Ao editar norma própria, o ente federado, desde que em consonância com sua capacidade
econômica e com o princípio da proporcionalidade, pode estabelecer quantia inferior à prevista no
art. 87 do ADCT como teto para o pagamento de seus débitos judiciais por meio de Requisição de
Pequeno Valor (RPV).
O patamar provisório fixado no ADCT (288) para o pagamento de RPV não é irredutível, cabendo
a cada unidade federativa estipular o valor máximo para essa especial modalidade de pagamento de
acordo com sua capacidade econômica, cuja aferição deve considerar, além do quantum das receitas
auferidas, os graus de endividamento e de litigiosidade do ente público
No tocante à atuação do Poder Judiciário, deve ser adotada uma postura de autocontenção
quando não houver demonstração concreta da desproporcionalidade na fixação do valor referencial.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência da
repercussão geral da questão constitucional suscitada (Tema 1.231 RG) e, no mérito, também por
unanimidade, reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria ( 289) para dar provimento ao recurso
extraordinário, assentando a constitucionalidade da Lei 10.562/2017 do Município de Fortaleza/CE, que
fixa como teto para pagamento das RPVs o equivalente ao maior benefício do Regime Geral de
Previdência Social. Não se manifestou o ministro André Mendonça.

RE 1359139 RG/CE, relator Min. Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em
1º.9.2022

288
ADCT: “Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição Federal e o art. 78 deste Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias serão considerados de pequeno valor, até que se dê a publicação oficial das
respectivas leis definidoras pelos entes da Federação, observado o disposto no § 4º do art. 100 da Constituição
Federal, os débitos ou obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham valor igual ou inferior a: I –
quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Estados e do Distrito Federal; II – trinta salários-mínimos, perante
a Fazenda dos Municípios. Parágrafo único. Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido neste artigo, o
pagamento far-se-á, sempre, por meio de precatório, sendo facultada à parte exequente a renúncia ao crédito do valor
excedente, para que possa optar pelo pagamento do saldo sem o precatório, da forma prevista no § 3º do art. 100.”
289
Precedentes citados: ADI 2868; ADI 4332; e ADI 5100.

118
11.2 FAZENDA PÚBLICA

Execução fiscal: antecipação de pagamento de despesa com diligência de oficial de


justiça pela Fazenda Pública - ADI 5969/PA

Resumo:

É inconstitucional, por violar competência legislativa privativa da União, lei estadual que
obriga a Fazenda Pública a antecipar o pagamento das despesas com diligências dos oficiais de
justiça.

A lei estadual impugnada dispôs sobre dever do sujeito processual (na hipótese, a Fazenda
Pública em execução fiscal), motivo pelo qual se pode afirmar que versou sobre norma de processo civil,
incidindo, portanto, em inconstitucionalidade formal290.

Ademais, nos termos da conclusão alcançada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Pará, tanto
em sede de processo administrativo como em sede jurisdicional, a Gratificação de Atividade Externa
(GAE), percebida pelos oficiais de justiça, não abrange as despesas com diligências por eles praticadas,
em decorrência da atuação da Fazenda Pública, nas execuções fiscais.

Todavia, a declaração de inconstitucionalidade não importa, por si só, na dispensa da referida


antecipação. Isso porque subsiste a orientação do STJ acerca da interpretação do artigo 39 da Lei
6.830/1980 — cuja uniformização da jurisprudência culminou na edição da Súmula 190 291 —,
entendimento que encontra amparo em antigos julgados desta Corte292.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade formal do § 2º do art. 12 da Lei 8.328/2015 do Estado do Pará293.

ADI 5969/PA, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 30.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1070)

11.3 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Ação de improbidade administrativa: legitimidade ativa concorrente -


ADI 7042/DF e ADI 7043/DF

ODS: 16

Resumo:

Os entes públicos que sofreram prejuízos em razão de atos de improbidade também estão
autorizados, de forma concorrente com o Ministério Público (MP), a propor ação e a celebrar
acordos de não persecução civil em relação a esses atos.

290
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”
291
Súmula 190/STJ: “Na execução fiscal, processada perante a Justiça Estadual, cumpre à Fazenda Pública antecipar
o numerário destinado ao custeio das despesas com o transporte dos oficiais de justiça.”
292
Precedentes citados: RE 108183 e RE 108845.
293
Lei 8.328/2015 do Estado do Pará: “Art. 12. Caberá às partes recolher antecipadamente as custas processuais dos
atos que requeiram ou de sua responsabilidade no processo, observado o disposto nesta Lei. (...) § 2º A Fazenda
Pública, nas execuções fiscais, deve antecipar o pagamento das despesas com a diligência dos oficiais de justiça”

119
A CF/1988 prevê, de modo expresso, a privatividade da legitimidade do MP apenas para a
propositura da ação penal pública, eis que afasta tal característica com relação às ações de natureza cível,
não impedindo, para as mesmas hipóteses elencadas, a legitimação de terceiros (294).
Além disso, nas ações de improbidade administrativa, a atuação do MP é extraordinária na
defesa do patrimônio público em sentido amplo. Já a atuação da pessoa jurídica lesada ─ que foi quem
sofreu os efeitos gravosos dos atos ímprobos ─ é ordinária, pois objetiva a proteção, em seu próprio
nome, daquilo que lhe é inerente: seu patrimônio.
A Constituição consagrou, como vetores básicos da Administração Pública, o respeito à
legalidade, impessoalidade e moralidade (CF/1988, art. 37, caput), além do combate à corrupção e à
improbidade administrativa. Dessa forma, a supressão da prerrogativa das pessoas jurídicas lesadas fere a
lógica constitucional de proteção ao patrimônio público, e representa grave limitação ao amplo acesso à
jurisdição (295).
No tocante ao polo passivo, não deve existir obrigatoriedade de defesa judicial do agente público
que cometeu ato de improbidade por parte da Advocacia Pública, pois a sua predestinação constitucional,
enquanto função essencial à Justiça, identifica-se com a representação judicial e extrajudicial dos entes
públicos. Contudo, permite-se essa atuação em caráter extraordinário e desde que norma local assim
disponha.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, em julgamento conjunto, julgou
parcialmente procedentes as ações para (a) declarar a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto,
do caput e dos §§ 6º-A e 10-C do art. 17, assim como do caput e dos §§ 5º e 7º do art. 17-B, ambos da
Lei 8.429/1992, na redação dada pela Lei 14.230/2021, de modo a restabelecer a existência de
legitimidade ativa concorrente e disjuntiva entre o Ministério Público e as pessoas jurídicas interessadas
para a propositura da ação por ato de improbidade administrativa e para a celebração de acordos de não
persecução civil; (b) declarar a inconstitucionalidade parcial, com redução de texto, do § 20 do art. 17 da
Lei 8.429/1992, incluído pela Lei 14.230/2021, no sentido de que não existe “obrigatoriedade de defesa
judicial”; havendo, porém, a possibilidade dos órgãos da Advocacia Pública autorizarem a realização
dessa representação judicial, por parte da assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando a legalidade
prévia dos atos administrativos praticados pelo administrador público, nos termos autorizados por lei
específica; e (c) declarar a inconstitucionalidade do art. 3º da Lei 14.230/2021. Por via de consequência, o
Tribunal também declarou a constitucionalidade (a) do § 14 do art. 17 da Lei 8.429/1992, incluído pela
Lei 14.230/2021; e (b) do art. 4º, X, da Lei 14.230/2021. Vencidos, parcialmente, os ministros Nunes
Marques, Dias Toffoli e Gilmar Mendes, nos termos de seus votos.

ADI 7042/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 31.8.2022


ADI 7043/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 31.8.2022

12. DIREITO PROCESSUAL PENAL

12.1 COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

Competência penal originária do STF e “mandatos cruzados” - Inq 4342 QO/PR

Resumo:

294
CF/1988: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal
pública, na forma da lei; (…) III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; (…) § 1º A legitimação do Ministério
Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o
disposto nesta Constituição e na lei.”
295
Precedentes citados: ADI 3943; RE 208790 e RE 409356.

120
A competência penal originária do STF para processar e julgar parlamentares 296 alcança os
congressistas federais no exercício de mandato em casa parlamentar diversa daquela em que
consumada a hipotética conduta delitiva, desde que não haja solução de continuidade.

Uma vez presentes as balizas estabelecidas no julgamento da AP 937 QO 297, o foro por
prerrogativa de função alcança os casos denominados “mandatos cruzados” de parlamentar federal,
quando não houver interrupção ou término do mandato.

Dessa forma, quando o investigado ou acusado não tiver sido novamente eleito para os cargos de
deputado federal ou senador, a competência do STF deve ser declinada.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, resolveu questão de ordem para assentar
a manutenção da competência criminal originária do STF.

Inq 4342 QO/PR, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 1º.4.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1049)

Foro por prerrogativa de função: ampliação do rol de autoridades na esfera estadual


- ADI 6511/RR

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional, por violação ao princípio da simetria, norma de Constituição Estadual


que confere foro por prerrogativa de função a autoridades que não guardam semelhança com as
que o detém na esfera federal.

A jurisprudência desta Corte se firmou em torno de uma compreensão restritiva acerca da


matéria, de modo que os estados-membros devem observância ao modelo adotado na CF/1988. Assim,
não pode o ente estadual, de forma discricionária, estender o foro por prerrogativa de função à cargos
diversos daqueles abarcados pelo legislador federal, sob pena de violação às regras de reprodução
automática298 299.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade material das expressões "Reitores de Universidades Públicas" e
"Diretores Presidentes das entidades da Administração Estadual Indireta", previstas no art. 77, X, a e b,

296
CF/1988: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-
lhe: I - processar e julgar, originariamente: (...) b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;”
297
Precedente: AP 937 QO.
298
CF/1988: “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição. (...) Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição. § 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização
judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.”
299
Precedentes citados: ADI 2587 MC; ADI 2553; ADI 6512; ADI 6513; ADI 3294; ADI 6502; ADI 6504 e ADI
6515.

121
da Constituição do Estado de Roraima 300. Além disso, por razões de segurança jurídica, o Tribunal
modulou a decisão, a fim de conferir efeitos ex nunc à declaração de inconstitucionalidade.

ADI 6511/RR, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022 (terça-
feira), às 23:59 (INF 1067)

12.2 EXECUÇÃO PENAL

Execução penal: estudo a distância e remição da pena - RHC 203546/PR

ODS: 4 e 16

Resumo:

A ineficiência do Estado em fiscalizar as horas de estudo realizadas a distância pelo


condenado não pode obstaculizar o seu direito de remição da pena, sendo suficiente para
comprová-las a certificação fornecida pela entidade educacional.

Nesse contexto, constando do atestado emitido pelo Sistema de Informações Penitenciárias que o
sentenciado concluiu o aprendizado das disciplinas, a inércia estatal em acompanhar e fiscalizar o estudo
a distância não deve ser a ele imputada, sob pena de prejudicá-lo pelo descumprimento de uma obrigação
que não é sua301.

Em respeito ao princípio da igualdade, notadamente em situações precárias, é necessário


sobrevalorizar a remição da pena, de modo que não se pode presumir que o condenado não tenha
efetivamente se dedicado aos estudos na cela.

Com base nesse entendimento, a Primeira Turma deu provimento ao recurso ordinário em
habeas corpus para conceder a ordem e declarar remido mais um dia da pena do recorrente, totalizando
três dias: dois dias referentes ao estudo presencial, já reconhecidos pelo juízo da execução, e um dia
referente ao estudo a distância.

RHC 203546/PR, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento em 28.6.2022 (INF 1061)

12.3 FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

Competência dos Tribunais para supervisionar investigações contra autoridades com


foro por prerrogativa de função - ADI 7083/AP

300
Constituição do Estado de Roraima: “Art. 77. Compete ao Tribunal de Justiça do Estado: (Artigo com redação
dada pela Emenda Constitucional n° 16/2005). [...] X - processar e julgar originariamente; (Inciso com redação dada
pela Emenda Constitucional n° 26/2010) a) nos crimes comuns, o Vice-Governador do Estado, os Secretários de
Estado e os agentes públicos a eles equiparados, o Reitor da Universidade Estadual, os Juízes Estaduais, os membros
do Ministério Público, os membros do Ministério Público de Contas e os Prefeitos Municipais e os Vereadores,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. b) nos crimes comuns, os Deputados Estaduais e os Diretores-
Presidentes das entidades da Administração Estadual Indireta; (Alínea com redação dada pela Emenda Constitucional
n° 15/2003).”

301
LEP: “Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou
por estudo, parte do tempo de execução da pena. § 1º A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: I
– 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar – atividade de ensino fundamental, médio,
inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional – divididas, no mínimo, em 3 (três)
dias; (...) § 2º As atividades de estudo a que se refere o § 1º deste artigo poderão ser desenvolvidas de forma
presencial ou por metodologia de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais
competentes dos cursos frequentados.”

122
ODS: 16

Resumo:

É constitucional a norma de Regimento Interno de Tribunal de Justiça que condiciona a


instauração de inquérito à autorização do desembargador-relator nos feitos de competência
originária daquele órgão.

Na hipótese, não há ofensa ao sistema acusatório, pois a previsão regimental decorre da


normativa constitucional que determina o foro específico, sujeitando investigações contra determinadas
autoridades a maior controle judicial, pela importância das funções que exercem.

Quanto à necessidade de supervisão judicial dos atos investigatórios, tem-se, pela interpretação
sistemática da CF/88 e com fulcro na jurisprudência consolidada desta Corte, que o mesmo tratamento
conferido às autoridades com foro por prerrogativa de função no STF deve ser aplicado, por simetria,
àquelas com foro em outros tribunais, em observância ao princípio da isonomia, que garante o mesmo
tratamento aos que estejam em situação igual302.

Ademais, inexiste usurpação das funções institucionais conferidas constitucionalmente ao


Ministério Público, pois o órgão mantém a titularidade da ação penal e as prerrogativas investigatórias,
devendo apenas submeter suas atividades ao controle judicial.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, converteu a apreciação do


requerimento de medida cautelar em julgamento de mérito e julgou improcedente a ação direta para
declarar a constitucionalidade do dispositivo impugnado303.

ADI 7083/AP, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1054)

12.4 INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

Interceptação telefônica e prorrogações sucessivas - RE 625263/PR (Tema 661 RG)

Tese fixada:

“São lícitas as sucessivas renovações de interceptação telefônica, desde que, verificados os


requisitos do artigo 2º da Lei 9.296/1996 e demonstrada a necessidade da medida diante de
elementos concretos e a complexidade da investigação, a decisão judicial inicial e as prorrogações
sejam devidamente motivadas, com justificativa legítima, ainda que sucinta, a embasar a
continuidade das investigações.

São ilegais as motivações padronizadas ou reproduções de modelos genéricos sem relação


com o caso concreto.”

Resumo:

A interceptação telefônica pode ser renovada sucessivamente se a decisão judicial inicial e


as prorrogações forem fundamentadas, com justificativa legítima, mesmo que sucinta, a embasar a
continuidade das investigações.

302
Precedentes: Inq 2411 QO; Pet 3825 QO; Inq 3438; AP 933 QO; AP 912 QO; e RE 1322854 AgR.
303
Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Amapá: “Art. 48. Cada feito que ingresse no Tribunal terá um
Relator escolhido mediante distribuição aleatória, salvo já exista Relator prevento. (…) § 3º Caberá, ainda, ao
Relator: (…) IX - autorizar a instauração de inquérito a pedido do Procurador-Geral de Justiça, da autoridade policial
ou do ofendido.”

123
Para tanto, devem estar presentes os requisitos do art. 2º da Lei 9.296/1996 304 e ser demonstrada
a necessidade concreta da interceptação, bem assim a complexidade da investigação. Em qualquer
hipótese — decisão inicial ou de prorrogação —, a motivação deve ter relação com o caso concreto. No
tocante às prorrogações, não precisa ser, necessariamente, exauriente e trazer aspectos novos.

Cumpre observar que a ausência de resultado incriminatório obtido com eventual interceptação
de comunicações telefônicas não impede a continuidade da diligência.

Quanto à duração total de medida de interceptação telefônica, atualmente não se reconhece a


existência de um limite máximo de prazo global a ser abstratamente imposto. Por oportuno, o prazo
máximo de duração do estado defesa (CF, art. 136, § 2º) 305 não é fundamento para limitar a viabilidade de
renovações sucessivas.

Com esses entendimentos, ao apreciar o Tema 661 da repercussão geral, o Plenário, por maioria,
deu provimento a recurso extraordinário, para declarar a validade, no caso concreto, das interceptações
telefônicas realizadas e de todas as provas delas decorrentes. Vencidos os ministros Gilmar Mendes
(relator), Dias Toffoli, Nunes Marques e Ricardo Lewandowski.

RE 625263/PR, relator Min. Gilmar Mendes, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 17.3.2022 (INF 1047)

12.5 INVESTIGAÇÃO PENAL

Autorização para o prosseguimento de investigações contra magistrados - ADI


5331/MG

Tese fixada:

“É inconstitucional norma estadual de acordo com a qual compete a órgão colegiado do


tribunal autorizar o prosseguimento de investigações contra magistrados, por criar prerrogativa
não prevista na Lei Orgânica da Magistratura Nacional e não extensível a outras autoridades com
foro por prerrogativa de função.”

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que impõe a necessidade de prévia autorização do órgão


colegiado do tribunal competente para prosseguir com investigações que objetivam apurar suposta
prática de crime cometido por magistrado.

304
Lei 9.296/1996: “Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer
das seguintes hipóteses: I – não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II – a prova
puder ser feita por outros meios disponíveis; III – o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo,
com pena de detenção. Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da
investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta,
devidamente justificada.”
305
CF/1988: “Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa
Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a
ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por
calamidades de grandes proporções na natureza. § 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo
de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas
a vigorarem, dentre as seguintes: I – restrições aos direitos de: (...) c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
(...) § 2º O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por
igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação.”

124
Atualmente, a disciplina das matérias institucionais da magistratura nacional decorre da Lei
complementar 35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional - LOMAN), segundo a qual não há
qualquer previsão dessa condicionante para a continuidade das investigações 306. Também não há se falar,
na hipótese, em aplicação da ratio decidendi da ADI 7083307.

Nesse contexto, a norma estadual impugnada, ao dispor de modo distinto à lei federal, promove
indevida inovação, afrontando o art. 93 da CF/1988. Ademais, ofende o princípio da isonomia, pois cria
garantia mais extensa aos juízes estaduais mineiros do que a prevista aos demais membros da
magistratura nacional e demais autoridades com foro por prerrogativa de função.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente o
pedido para declarar a inconstitucionalidade da expressão “na primeira sessão” do art. 90, § 1º, da Lei
Complementar 59/2001 do Estado de Minas Gerais, e atribuir interpretação conforme a Constituição à
expressão “órgão competente do Tribunal de Justiça”, prevista no mesmo dispositivo, a fim de estabelecer
que caberá ao relator autorizar o prosseguimento das investigações308.

ADI 5331/MG, relatora Min. Rosa Weber, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgamento
virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1057)

12.6 LEI MARIA DA PENHA

Lei Maria da Penha e afastamento do agressor por delegados e policiais - ADI


6138/DF

Resumo:

É válida a atuação supletiva e excepcional de delegados de polícia e de policiais a fim de


afastar o agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida, quando constatado risco
atual ou iminente à vida ou à integridade da mulher em situação de violência doméstica e familiar,
ou de seus dependentes, conforme o art. 12-C inserido na Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha)309.

A inclusão dos dispositivos questionados na Lei Maria da Penha — art. 12-C, II, III e § 1º — é
razoável, proporcional e adequada. Ela permite a retirada imediata do algoz, sem ordem judicial prévia,
mediante a atuação de delegados de polícia, quando o município não for sede de comarca, e de policiais,
quando o município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia.
Em ambos os casos, o juiz deverá ser comunicado no prazo máximo de 24 horas e decidirá sobre a
manutenção ou revogação da medida protetiva de urgência. O afastamento ocorre de forma excepcional,
supletiva e ad referendum do magistrado. Esse importante mecanismo visa garantir a efetividade da
retirada do agressor e inibir a violência no âmbito das relações domésticas e familiares.
306
LOMAN: “Art. 33 - São prerrogativas do magistrado: (...) Parágrafo único - Quando, no curso de investigação,
houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os
respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na
investigação.”
307
Precedente: ADI 7083.
308
Lei Complementar 59/2001 do Estado de Minas Gerais: “Art. 90 São prerrogativas do magistrado: (...) § 1º
Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por magistrado, a autoridade policial remeterá
os autos ao Tribunal de Justiça, cabendo ao órgão competente do Tribunal de Justiça, na primeira sessão, autorizar ou
não o prosseguimento das investigações.”
309
Lei 11.340/2006: “Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou
psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será
imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: I – pela autoridade judicial; II –
pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou III – pelo policial, quando o Município
não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia. § 1º Nas hipóteses dos incisos II
e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual
prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público
concomitantemente. § 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de
urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso.” (incluídos pela Lei 13.827/2019)

125
Ademais, a opção do legislador não contraria a cláusula da inviolabilidade de domicílio,
tampouco ofende o devido processo legal (CF, art. 5º, XI e LIV) 310. As mudanças estão em consonância
com o texto constitucional, que não exige ordem judicial prévia para o afastamento, bem como determina
a criação de mecanismos para coibir a violência no âmbito das relações familiares (CF, art. 226, § 8º)311.

Além disso, a legislação está de acordo com o sistema internacional de proteção aos direitos
humanos das mulheres e de combate à violência contra a mulher, que evoluiu no sentido de recomendar a
criação de mecanismos preventivos e repressivos eficazes e, dentre outras considerações, a outorga de
prioridade à segurança sobre os direitos de propriedade.

Com esses entendimentos, o Plenário julgou improcedente pedido formulado em ação direta e
declarou a constitucionalidade das normas impugnadas.

ADI 6138/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 23.3.2022 (INF 1048)

12.7 PROVAS

Procedimento para reconhecimento de pessoas - RHC 206846/SP

Resumo:

A desconformidade ao regime procedimental determinado no art. 226 do CPP deve


acarretar a nulidade do ato e sua desconsideração para fins decisórios, justificando-se eventual
condenação somente se houver elementos independentes para superar a presunção de inocência.

O reconhecimento de pessoas, presencial ou por fotografia, deve observar o procedimento


previsto no art. 226 do Código de Processo Penal (CPP) 312, cujas formalidades constituem garantia
mínima para quem se encontra na condição de suspeito da prática de um crime e para uma verificação dos
fatos mais justa e precisa.

A inobservância do procedimento descrito na referida norma processual torna inválido o


reconhecimento da pessoa suspeita, de modo que tal elemento não poderá fundamentar eventual
condenação ou decretação de prisão cautelar, mesmo se refeito e confirmado o reconhecimento em juízo.
Se declarada a irregularidade do ato, eventual condenação já proferida poderá ser mantida, se
fundamentada em provas independentes e não contaminadas313.

310
CF/1988: “Art. 5º (...) XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia,
por determinação judicial; (...) LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;”
311
CF/1988: “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...) § 8º O Estado assegurará a
assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito
de suas relações.”
312
CPP: “Art. 226 - Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte
forma: I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem
qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la; III - se houver razão para
recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade
em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela; IV - do ato de
reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao
reconhecimento e por duas testemunhas presenciais. Parágrafo único. O disposto no III deste artigo não terá
aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento.”
313
Precedentes: HC 75.331; HC 172.606; HC 157.007; RHC 176.025.

126
A realização do ato de reconhecimento pessoal carece de justificação em elementos que
indiquem, ainda que em juízo de verossimilhança, a autoria do fato investigado, de modo a se vedarem
medidas investigativas genéricas e arbitrárias, que potencializam erros na verificação dos fatos.

Com base nesses entendimentos, a Segunda Turma, por maioria, deu provimento a recurso
ordinário em habeas corpus.

RHC 206846/SP, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento em 22.2.2022. (INF 1045)

12.8 PRISÃO PREVENTIVA

Prisão preventiva: prazo nonagesimal para a sua revisão e respectiva competência


jurisdicional - ADI 6581/DF e ADI 6582/DF

Resumo:

O transcurso do prazo previsto no parágrafo único do art. 316 do Código de Processo


Penal (CPP) não acarreta, automaticamente, a revogação da prisão preventiva e,
consequentemente, a concessão de liberdade provisória.

Isso porque não houve, por parte da lei, a previsão de automaticidade. O parágrafo único do art.
316 do CPP314 não dispõe que a prisão preventiva passa a ter 90 dias de duração. Estabelece, tão somente,
a necessidade de uma reanálise, que pressupõe a reavaliação da subsistência, ou não, dos requisitos que
fundamentaram o decreto prisional315.

A exigência da revisão nonagesimal quanto à necessidade e adequação da prisão preventiva


aplica-se até o final dos processos de conhecimento.

O art. 316, parágrafo único, do CPP incide até o final dos processos de conhecimento, onde há o
encerramento da cognição plena pelo Tribunal de segundo grau, não se aplicando às prisões cautelares
decorrentes de sentença condenatória de segunda instância ainda não transitada em julgado. O dispositivo
legal aplica-se, igualmente, aos processos em que houver previsão de prerrogativa de foro.

Com base nesse entendimento, o Plenário conheceu de ações diretas e, no mérito, por maioria,
julgou-as parcialmente procedentes.

ADI 6581/DF, relator Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira), às 23:59 (INF 1046)

ADI 6582/DF, relator Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira), às 23:59 (INF 1046)

12.9 PRISÃO TEMPORÁRIA

Fixação de condições obrigatórias e cumulativas para a decretação da prisão


temporária - ADI 3360/DF e ADI 4109/DF

314
CPP/1941: “Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se, no correr da
investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem. Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da
decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício,
sob pena de tornar a prisão ilegal.”
315
Precedente: SL 1395 MC-Ref.

127
Resumo:

A decretação de prisão temporária somente é cabível quando (i) for imprescindível para as
investigações do inquérito policial; (ii) houver fundadas razões de autoria ou participação do
indiciado; (iii) for justificada em fatos novos ou contemporâneos; (iv) for adequada à gravidade
concreta do crime, às circunstâncias do fato e às condições pessoais do indiciado; e (v) não for
suficiente a imposição de medidas cautelares diversas.

A prisão temporária não pode ser utilizada como meio de prisão para averiguação ou em
violação ao direito à não autoincriminação, pois caracteriza abuso de autoridade, na medida em que
representa instrumento utilizado como forma manifesta de constrangimento, impondo, por vias
transversas, a submissão da pessoa em prestar depoimento na fase inquisitorial 316; ou quando fundada tão
somente porque o representado não possui residência fixa, o que vai de encontro ao princípio
constitucional da igualdade em sua dimensão material, já que essa circunstância pode revelar-se como
uma situação de vulnerabilidade econômico-social.

Além disso, o rol do inciso III do artigo 1º da Lei 7.960/1989 é taxativo e representa opção do
Poder Legislativo, que, dentro de sua competência constitucional precípua, conferiu especial atenção a
determinados crimes, de modo compatível com a Constituição Federal de 1988 (CF/1988).

Por fim, não é incompatível com o texto constitucional: (i) a expressão “será” (art. 2º, caput, da
Lei 7.960/1989)317, já que a decretação da prisão temporária não se revela como medida compulsória,
devendo ser obrigatoriamente fundamentada (§ 2º do art. 2º da Lei 7.960/1989 e art. 93, IX, da CF/1988)
(3)318; e (ii) o prazo de 24 horas previsto no art. 2º, § 2º, da Lei 7.960/1989, porque, além de impróprio,
justifica-se pela urgência na análise do pedido pelo magistrado visando à eficiência das investigações.

Com base nesse entendimento, o Plenário, em julgamento conjunto, por maioria, conheceu da
ADI 3360/DF e em parte da ADI 4109/DF e, no mérito, julgou parcialmente procedentes os pedidos para
dar interpretação conforme a Constituição Federal ao art. 1º da Lei 7.960/1989319.

ADI 3360/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, redator para o acórdão Min. Edson Fachin,
julgamento virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-feira), às 23:59. (INF 1043)

ADI 4109/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, redator para o acórdão Min. Edson Fachin,
julgamento virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-feira), às 23:59. (INF 1043)
316
Precedentes: ADPF 395; e ADPF 444.
317
Lei 7.960/1989: “Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação da autoridade
policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em
caso de extrema e comprovada necessidade. (...) § 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser
fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) horas, contadas a partir do recebimento da
representação ou do requerimento.”
318
CF/1988: “Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da
Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados
atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;”
319
Lei nº 7.960/89: “Art. 1° Caberá prisão temporária: I - quando imprescindível para as investigações do inquérito
policial; II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de
sua identidade; III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de
autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°); b)
sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°); c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); d)
extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°); e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); f)
estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); g) atentado violento ao pudor
(art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); h) rapto violento (art. 219, e sua
combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único); i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°); j)
envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput,
combinado com art. 285); l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal; m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da
Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de suas formas típicas; n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n°
6.368, de 21 de outubro de 1976); o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986); p)
crimes previstos na Lei de Terrorismo.”

128
12.10 TERMO CIRCUNSTANCIADO

Competência para a lavratura de termo circunstanciado - ADI 5637/MG

Resumo:

É constitucional norma estadual que prevê a possibilidade da lavratura de termos


circunstanciados pela Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiro Militar.

O termo circunstanciado é o instrumento legal que se limita a constatar a ocorrência de crimes de


menor potencial ofensivo, motivo pelo qual não configura atividade investigativa e, por via de
consequência, não se revela como função privativa de polícia judiciária320.

A CF conferiu aos estados e ao Distrito Federal, a partir da competência concorrente, a


competência para editar normas legislativas que garantam maior eficiência e eficácia na aplicação da Lei
9.099/1995321. Esta norma federal viabiliza a lavratura do termo por qualquer autoridade legalmente
reconhecida322 e não há impeditivo para que os estados-membros indiquem quais são elas ou, de qualquer
modo, disciplinem essa atribuição.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu de ação direta e, no
mérito, julgou-a improcedente para declarar a constitucionalidade do art. 191 da Lei 22.257/2016 do
Estado de Minas Gerais323.

ADI 5637/MG, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 11.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1046)

320
Precedente: ADI 3807.
321
CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) X -
criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI - procedimentos em matéria processual; (...).”
322
Lei 9.099/1995: “Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as
requisições dos exames periciais necessários. Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em
flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela,
seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.”
323
Lei estadual mineira 22.257/2016: “Art. 191 - O termo circunstanciado de ocorrência, de que trata a Lei Federal nº
9.099, de 26 de setembro de 1995, poderá ser lavrado por todos os integrantes dos órgãos a que se referem os incisos
IV e V do caput do art. 144 da Constituição da República.”

129
13. DIREITO TRIBUTÁRIO

13.1 CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS

Artigo 149, § 2º, III, “a”, da CF: rol exemplificativo - RE 1317786/PE (Tema 1193
RG)

Tese fixada:

“A contribuição prevista no artigo 1º da Lei Complementar 110/2001 foi recepcionada pela


Emenda Constitucional 33/2001.”

Resumo:

A base de cálculo da contribuição prevista pelo artigo 1º da Lei Complementar 110/2001 324
é compatível com o texto constitucional, mesmo após o advento da Emenda Constitucional 33/2001.

A Corte, no julgamento do RE 878.313 (Tema 846 da repercussão geral), assentou a


constitucionalidade da contribuição social prevista no artigo 1º da Lei Complementar 110/2001, afastando
qualquer possibilidade de discussão acerca do exaurimento da finalidade para a qual ela foi instituída.

Ademais, o acréscimo realizado pela EC 33/2001 ao art. 149, § 2º, III, da CF/88 325 não
estabeleceu um rol exaustivo das bases econômicas passíveis de tributação por contribuições sociais e de
intervenção no domínio econômico. Portanto, a base de cálculo da contribuição do artigo 1º da Lei
Complementar 110/2001, que é o saldo da conta do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, é
compatível com o texto constitucional. Por via de consequência, impõe-se a manutenção da exigibilidade
de seu recolhimento pelo contribuinte.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de


repercussão geral da questão constitucional suscitada (Tema 1193 RG). No mérito, por maioria, reafirmou
a jurisprudência dominante sobre a matéria326 para prover o recurso extraordinário.

RE 1317786/PE, relator Min. Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 4.2.2022
(INF 1042)

PIS e COFINS: parcela não dedutível da base de cálculo - RE 1049811/SE (Tema


1024 RG)

Tese fixada:

324
LC 110/2001: “Art. 1º Fica instituída contribuição social devida pelos empregadores em caso de despedida de
empregado sem justa causa, à alíquota de dez por cento sobre o montante de todos os depósitos devidos, referentes ao
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, durante a vigência do contrato de trabalho, acrescido das
remunerações aplicáveis às contas vinculadas. Parágrafo único. Ficam isentos da contribuição social instituída neste
artigo os empregadores domésticos”.
325
CF/1988: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio
econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas
respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º,
relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. (...) § 2º As contribuições sociais e de intervenção no
domínio econômico de que trata o caput deste artigo: (...)III - poderão ter alíquotas: a) ad valorem, tendo por base o
faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e, no caso de importação, o valor aduaneiro; b) específica, tendo
por base a unidade de medida adotada”
326
Precedentes: ADI 2.556; ADI 2.568; RE 878.313; RE 603.624; RE 630.898; ARE 1.311.473 AgR; RE 1.250.692
segundo AgR; ARE 1.349.153; ARE 1.310.658; ARE 1.340.940; ARE 1.309.537; RE 1.000.402 ED; ARE
1.353.467; ARE 1.147.146; e ARE 1.185.369.

130
“É constitucional a inclusão dos valores retidos pelas administradoras de cartões na base
de cálculo das contribuições ao PIS e da COFINS devidas por empresa que recebe pagamentos por
meio de cartões de crédito e débito.”

Resumo:

O valor total recebido por empresa, mediante venda por meio de cartão de crédito ou
débito, ainda que uma parte desse montante seja repassado à administradora do cartão, se insere
na base de cálculo das contribuições para o PIS e para a COFINS.

As taxas retidas pelas administradoras de cartões de crédito e débito constituem custos


operacionais do contribuinte, repassados aos clientes no momento da venda ou da prestação dos serviços,
integrando, dessa forma, o conceito de faturamento. Nesses termos, eventual interpretação que retire os
custos operacionais do conceito legal de faturamento acaba por esvaziar a base de cálculo da incidência
fiscal.

Ademais, não existindo em nosso ordenamento jurídico previsão que autorize a hipótese de não
incidência pretendida pelo recorrente, descabe ao Poder Judiciário desempenhar a função de legislador
positivo.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1024 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 1049811/SE, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 18.3.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1047)

Majoração da base de cálculo de contribuição social por ato infralegal - RE


1381261/RS (Tema 1223 RG)

Tese fixada:

“São inconstitucionais o Decreto nº 3.048/99 e a Portaria MPAS nº 1.135/01 no que


alteraram a base de cálculo da contribuição previdenciária incidente sobre a remuneração paga ou
creditada a transportadores autônomos, devendo o reconhecimento da inconstitucionalidade
observar os princípios da congruência e da devolutividade.”

Resumo:

É inconstitucional, por afronta ao princípio da legalidade estrita, a majoração da base de


cálculo de contribuição social por meio de ato infralegal.

No caso, o Decreto 3.048/1999 e a Portaria 1.135/2001 do Ministério da Previdência e


Assistência Social (MPAS) alteraram a base de cálculo do tributo de que dispõem ao estipular que, no
lugar da remuneração efetivamente paga aos transportadores autônomos — conforme critério estabelecido
pela Lei 8.212/1991 —, se considerasse o resultado de um percentual (11,71% ou 20%) incidente sobre o
valor bruto do frete, carreto ou transporte de passageiros.

Com isso, a alíquota da contribuição previdenciária passou a não mais incidir sobre a
remuneração efetivamente paga, e sim sobre um novo montante, cujo valor previsto abrange, além da
remuneração do transportador autônomo, outras parcelas, como combustível, seguros e desgaste do
equipamento.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência da


repercussão geral da questão constitucional suscitada (Tema 1223 RG) e, no mérito, também por
unanimidade, reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria 327 para dar provimento ao recurso

327
Precedentes RMS 25476; RE 762028 AgR; e RE 894605 AgR-ED-AgR

131
extraordinário, assentando a inconstitucionalidade do Decreto 3.048/1999 e da Portaria MPAS
1.135/2001.

RE 1381261/RS, relator Min. Dias Toffoli, julgamento finalizado no Plenário Virtual em


5.8.2022 (INF 1062)

Salário-educação: critério para a distribuição da arrecadação - ADPF 188/DF

ODS: 4, 10 e 16

Tese fixada:

“À luz da EC 53/2006, é incompatível com a ordem constitucional vigente a adoção, para


fins de repartição das quotas estaduais e municipais referentes ao salário-educação, do critério legal
de unidade federada em que realizada a arrecadação desse tributo, devendo-se observar
unicamente o parâmetro quantitativo de alunos matriculados no sistema de educação básica.”

Resumo:

A partir da EC 53/2006, que incluiu o § 6º ao art. 212 da CF/1988 328, as cotas do salário-
educação destinadas aos estados e municípios têm o número de alunos matriculados nas redes
públicas de ensino como único critério de distribuição da arrecadação.

A regra prevista no § 1º do art. 15 da Lei 9.424/1996 329, com a redação dada pela Lei
10.832/2003, se tornou incompatível com a CF/1988 após o advento da referida emenda. Isso porque a
literalidade do texto constitucional evidencia exatamente que as cotas destinadas aos estados e municípios
(2/3 do montante arrecadado) devem ser distribuídas nacionalmente de acordo com o número de alunos
matriculados nas redes de ensino, já que não há qualquer referência à lei e tampouco à proporcionalidade
quanto ao valor arrecadado em cada estado.

Nesse contexto, critério de distribuição com base na proporcionalidade do local de arrecadação


não atende ao objetivo da República de reduzir as desigualdades regionais, pois contribui para aumentar a
discrepância entre os valores dispensados com o financiamento de cada aluno no Brasil. Por outro lado, a
repartição igualitária da arrecadação da contribuição social em referência é uma forma de concretização
do princípio federativo, com ênfase na cooperação fiscal entre os diversos centros de governo para a
progressiva realização da igualdade das condições sociais de vida em todo o território nacional.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para dar
interpretação conforme ao conjunto normativo compreendido pelo art. 15, § 1º, da Lei federal 9.424/1996,
e pelo art. 2º da Lei federal 9.766/1998, ambas alteradas pela Lei 10.832/2003, de modo a determinar que
as cotas estaduais e municipais cabíveis, a título de salário-educação, sejam integralmente distribuídas,
observando-se tão somente a proporcionalidade do número de alunos matriculados de forma linear. Por
fim, o Tribunal, por unanimidade, modulou os efeitos da decisão, para que produza efeitos somente a
partir de 1º.1.2024.

ADPF 188/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento em 15.6.2022 (INF 1059)

328
CF/1988: “Art. 212 (...) § 6º as cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social do salário-
educação serão distribuídas proporcionalmente ao número de alunos matriculados na educação básica nas respectivas
redes públicas de ensino.”
329
Lei 9.424/1996: “Art 15. O Salário-Educação, previsto no art. 212, § 5º, da Constituição Federal e devido pelas
empresas, na forma em que vier a ser disposto em regulamento, é calculado com base na alíquota de 2,5% (dois e
meio por cento) sobre o total de remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, aos segurados empregados,
assim definidos no art. 12, inciso I, da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. § 1o O montante da arrecadação do
Salário-Educação, após a dedução de 1% (um por cento) em favor do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS,
calculado sobre o valor por ele arrecadado, será distribuído pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação -
FNDE, observada, em 90% (noventa por cento) de seu valor, a arrecadação realizada em cada Estado e no Distrito
Federal, em quotas, da seguinte forma:”

132
13.2 FATO GERADOR

Constitucionalidade da chamada “norma geral antielisão” - ADI 2446/DF

Resumo:

Não viola o texto constitucional a previsão contida no parágrafo único do art. 116 do
Código Tributário Nacional330.

Essa previsão legal não constitui ofensa aos princípios constitucionais da legalidade, da estrita
legalidade e da tipicidade tributária, e da separação dos Poderes.

Em verdade, ela confere máxima efetividade a esses preceitos, objetivando, primordialmente,


combater a evasão fiscal, sem que isso represente permissão para a autoridade fiscal de cobrar tributo por
analogia ou fora das hipóteses descritas em lei, mediante interpretação econômica. Nesse contexto,
apenas viabiliza que a autoridade tributária aplique base de cálculo e alíquota a uma hipótese de
incidência estabelecida em lei e que tenha efetivamente se realizado.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação direta.

ADI 2446/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 8.4.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1050)

13.3 ICMS

ICMS: fixação de alíquotas sobre operações com energia elétrica e serviços de


comunicação superiores às das operações em geral - ADI 7117/SC e ADI 7123/DF

ODS: 8 e 9

Resumo:

É inconstitucional norma distrital ou estadual que, mesmo adotando a técnica da


seletividade, prevê alíquota de ICMS sobre energia elétrica e serviços de comunicação — os quais
consistem sempre em itens essenciais — mais elevada do que a incidente sobre as operações em
geral.

Na linha da jurisprudência desta Corte, a Constituição Federal não obriga os entes competentes a
adotarem a seletividade no ICMS. Entretanto, se houver essa adoção, caberá ao legislador realizar uma
ponderação criteriosa das características intrínsecas do bem ou serviço em razão de sua essencialidade
com outros elementos, como a capacidade econômica do consumidor final, a destinação do bem ou
serviço, e a justiça fiscal, tendente à menor regressividade desse tributo indireto. Assim, o ente federado
que efetivamente adotar a seletividade para disciplinar o referido imposto deverá conferir efetividade a
esse preceito em sua eficácia positiva, sem deixar de observar a sua eficácia negativa331.
330
CTN: “Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e existentes os seus
efeitos: (...) Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados
com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da
obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. (Incluído pela LC
104/2001)”
331
Precedente: RE 714139 (Tema 745 RG).

133
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedentes as ações para
declarar a inconstitucionalidade (i) das alíneas a e c do inciso II do art. 19 da Lei 10.297/1996 do Estado
de Santa Catarina; e (ii) do item 13 da alínea a do inciso II do art. 18 da Lei 1.254/1996 do Distrito
Federal, bem como da alínea b e da expressão “para serviço de comunicação” constante da alínea f do
mesmo inciso. Ademais, em ambas as ações, modulou os efeitos da decisão, a fim de estipular que
produza efeitos a partir do exercício financeiro de 2024, ressalvando-se as ações ajuizadas até 5.2.2021332.

ADI 7117/SC, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1060)

ADI 7123/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1060)

ICMS: fixação de alíquotas sobre operações com energia elétrica e serviços de


comunicação em percentuais superiores aos da alíquota geral do tributo -  ADI 7111/PA,
ADI 7113/TO, ADI 7116/MG, ADI 7119/RO e ADI 7122/GO

ODS: 8 e 9

Resumo:

São inconstitucionais normas estaduais que fixam a alíquota do ICMS para operações de
fornecimento de energia elétrica e serviços de comunicação em patamar superior à cobrada sobre
as operações em geral.

O legislador estadual fica limitado, para a fixação de alíquotas do ICMS, pelas balizas que
norteiam o sistema constitucional tributário. Assim, diante do que impõem a seletividade tributária e seu
critério da essencialidade, deve ser garantida, nos casos, a aplicação do princípio da seletividade, o qual
determina a incidência de alíquotas mais baixas sobre os produtos e serviços considerados essenciais e
indispensáveis à subsistência digna dos cidadãos, visando à justiça fiscal.

Esse foi o entendimento consolidado pelo Tribunal no julgamento do RE 714139/SC (Tema 745
da sistemática da repercussão geral), reafirmado recentemente no julgamento das ADIs 7117/SC e
7123/DF, oportunidade na qual normas de conteúdo idêntico aos ora impugnados foram declaradas
inconstitucionais333.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, em julgamento conjunto, julgou
procedentes as ações para declarar a inconstitucionalidade (i) do art. 12, I, b, e III, a, da Lei 5.530/1989
do Estado do Pará; (ii) do art. 27, I, a, e VI, da Lei 1.287/2001 do Estado do Tocantins; (iii) do art. 12, g.2
e j, da Lei 6.763/1975 do Estado de Minas Gerais; (iv) do art. 27, I, e e f, itens 2 e 5, da Lei 688/1996 do
Estado de Rondônia; e (v) do art. 27, III, a, e XI, a e b, item 1, da Lei 11.651/1991 do Estado de Goiás.

Ademais, nas cinco ações, modulou os efeitos da decisão para estipular que a declaração de
inconstitucionalidade produza efeitos a partir do exercício financeiro de 2024.

ADI 7111/PA, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1065)

ADI 7113/TO, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1065)

ADI 7116/MG, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1065)

332
Precedentes: RE 851108 (Tema 825 RG); ADI 6819; ADI 6821: ADI 6824; ADI 6825; ADI 6826; ADI 6834;
ADI 6835; ADI 6836; e ADI 6839.
333
Precedentes citados: RE 714139 (Tema 745 RG); ADI 7117; e ADI 7123

134
ADI 7119/RO, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1065)

ADI 7122/GO, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1065)

Redução de alíquota do ICMS para cerveja à base de mandioca - ADI 6152/MA

Resumo:

A redução de alíquota do ICMS requer a comprovação do impacto financeiro e


orçamentário, além da celebração de convênio entre os estados e o Distrito Federal e a
demonstração da essencialidade dos bens e serviços.

Com efeito, a lei estadual impugnada é formalmente inconstitucional porque promoveu a


redução da alíquota de ICMS sem que a proposição fosse instruída com a devida estimativa do seu
impacto orçamentário e financeiro (ADCT, art. 113)334.

A concessão de incentivo fiscal — tal qual a redução de alíquota — é ato complexo que
demanda necessariamente a integração de vontades via celebração de convênio entre os diferentes entes
federativos, dado o seu caráter nacional, conforme disciplinado nas Leis Complementares 24/1975 e
160/2017335.

Ademais, na hipótese, o estabelecimento de renúncia fiscal em razão da matéria-prima não


observa qualquer critério de discrímen, acarretando desigualdade inconstitucional (CF/1988, art. 150, II)
e desequilíbrio concorrencial (CF/1988, art. 170, II).

Também não houve atendimento ao critério da essencialidade do bem, que norteia o princípio da
seletividade tributária, segundo o qual se busca uma justa repartição do ônus tributário entre os
indivíduos, de acordo com sua capacidade econômica336.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade formal e material dos artigos 1º e 2º da Lei 11.011/2019 do Estado do
Maranhão337.

ADI 6152/MA, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 30.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1070)

334
Precedentes citados: ADI 6102; ADI 6074 e ADI 5816.
335
CF/1988: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) II - operações
relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de
comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; (...) § 2º O imposto previsto no inciso II
atenderá ao seguinte: (...) XII - cabe à lei complementar: (...) g) regular a forma como, mediante deliberação dos
Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados.”
336
Precedente citado: RE 714139.
337
Lei 11.011/2019 do Estado do Maranhão: “Art. 1º Fica acrescida a alínea ‘m’ ao inciso II do art. 23 da Lei nº
7.799, de 19 de dezembro de 2002, que terá a seguinte redação: ‘Art. 23 (...) (...) II - (...) (...) m) nas operações com
cervejas que contenham, no mínimo, 15% (quinze por cento) de fécula de mandioca em sua composição, e desde que
comercializadas em embalagem retornável.’ Art. 2º Fica acrescido o parágrafo único ao art. 23 da Lei nº 7.799, de 19
de dezembro de 2002, que terá a seguinte redação: ‘Art. 23 (...) (...) Parágrafo único. O Poder Executivo
regulamentará os critérios de comprovação do percentual existente de fécula de mandioca na composição das cervejas
referidas na alínea ‘m’ do inciso II deste artigo.’. Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação,
produzindo efeitos a partir de 1º de março de 2019.”

135
Remissão de créditos de ICMS oriundos de benefícios fiscais julgados
inconstitucionais - RE 851421/DF (Tema 817 RG)

Tese fixada:

“É constitucional a lei estadual ou distrital que, com amparo em convênio do CONFAZ,


conceda remissão de créditos de ICMS oriundos de benefícios fiscais anteriormente julgados
inconstitucionais.”

Resumo:

É cabível a concessão de remissão, com amparo em convênios CONFAZ, de créditos de


ICMS oriundos de benefícios fiscais declarados inconstitucionais.

No caso, a Lei distrital 4.732/2011 não “ressuscitou” benefícios fiscais unilaterais declarados
inconstitucionais, mas apenas remitiu, com amparo em convênios, os créditos de ICMS decorrentes,
configurando-se, assim, novo benefício fiscal.

Ademais, a lei distrital reuniu os requisitos formais e materiais para resguardar a segurança
jurídica em favor dos contribuintes. Isso porque, com base no art. 155, § 2º, XII, g, da Constituição
Federal e na Lei Complementar 24/1975, remitiu os créditos que seriam cobrados inclusive dos
contribuintes que usufruíram de benefícios fiscais condicionais ou onerosos.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o tema 817 da


repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário e reconheceu a constitucionalidade da Lei
distrital 4.732/2011, com a redação dada pela Lei distrital 4.969/2012.

RE 851421/DF, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 17.12.2021


(sexta-feira), às 23:59 (INF 1042)

13.4 IPVA

IPVA: isenção fiscal e tratamento não isonômico - ADI 5268/MG

Resumo:

É inconstitucional condicionar o benefício de isenção fiscal do IPVA quanto à propriedade


de veículos utilizados para o serviço de transporte escolar com a filiação de seus motoristas
profissionais autônomos a sindicato ou cooperativa.

Não há justificativa razoável para se conferir tratamentos distintos a motoristas que prestam os
mesmos serviços de transporte escolar pelo simples fato de possuírem ou não vínculo com as referidas
entidades associativas. Esse critério de discrímen não guarda qualquer conexão com os objetivos da
política pública envolvida na isenção, além de contrariar os interesses constitucionais nela envolvidos,
quais sejam, baratear e melhorar o transporte escolar e impulsionar o acesso à educação.

Além disso, a condição imposta pela norma impugnada, de forma indireta, constrange o
proprietário de veículo a se filiar às entidades associativas a fim de usufruir da benesse fiscal, e compele
os já filiados a permanecerem nessa posição, em evidente afronta aos princípios da isonomia, da liberdade
sindical e da liberdade de associação338.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, conheceu em parte da ação e, nesta
extensão, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade da expressão “prestado por
cooperativa ou sindicato ou contratado pela Prefeitura Municipal, individualmente ou por meio de
338
Precedentes: ADI 1655 e ADI 3464.

136
cooperativa ou sindicato” constante do art. 3º, XVII, da Lei 14.937/2003 do Estado de Minas Gerais, na
redação conferida pela Lei 18.726/2010, sem, contudo, invalidar a norma que prevê a isenção de IPVA
referida no dispositivo na hipótese de contratação do serviço de transporte escolar pela prefeitura 339.

ADI 5268/MG, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 5.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1062)

IPVA: isenção para veículos adquiridos mediante arrendamento mercantil e


utilizados por taxistas - ADI 2298/RS

Resumo:

Não afronta o fato gerador do IPVA (propriedade do veículo pela instituição arrendante) e
nem altera o sujeito passivo da obrigação tributária a isenção relativa aos veículos adquiridos por
meio de arrendamento mercantil (“leasing”) e usados no transporte individual de passageiros, na
categoria aluguel, prestado por permissionários (taxistas).

A Constituição Federal admite a adoção de alíquotas diferenciadas em função do tipo e do uso


do veículo, com fins de promover a igualdade fiscal340.

Nesse contexto, a concessão de isenção, em virtude de o automóvel ser objeto de contrato de


arrendamento mercantil convencionado em benefício de taxista, consiste em diferenciação com base na
utilidade dada ao veículo.

Assim, esses profissionais são beneficiados, de forma indireta, pela isenção aplicada em favor da
entidade arrendante, pois passam a usufruir da diminuição dos custos da operação financeira.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para
assentar a constitucionalidade da Lei 11.461/2000 do Estado do Rio Grande do Sul341.

ADI 2298/RS, relator Min. Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 23.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1071)

13.5 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

Caracterização das entidades religiosas como instituições de assistência social para


fins de imunidade tributária - RE 630790/SP (Tema 336 RG)

Tese fixada:

339
Lei 14.937/2003 do Estado de Minas Gerais: “Art. 3º - É isenta do IPVA a propriedade de: (…) XVII - veículo de
motorista profissional autônomo, ainda que gravado com o ônus da alienação fiduciária, ou em sua posse em
decorrência de contrato de arrendamento mercantil ou leasing por ele celebrado, desde que utilizado para o serviço de
transporte escolar prestado por cooperativa ou sindicato ou contratado pela Prefeitura Municipal, individualmente ou
por meio de cooperativa ou sindicato (Inciso com redação dada pelo art. 1º da Lei nº 18.726, de 14/1/2010);”
340
CF/1988: “Art. 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) III - propriedade de
veículos automotores. (...) § 6º O imposto previsto no inciso III: (...) II - poderá ter alíquotas diferenciadas em função
do tipo e utilização.”
341
Lei 11.461/2000 do Estado do Rio Grande do Sul: “Art. 1º Acrescenta-se um parágrafo ao artigo 4º da Lei nº
8.115, de 30 de dezembro de 1985, e alterações, com a seguinte redação: § 5º A isenção prevista na letra ‘a’ do inciso
VII aplica-se igualmente aos casos de aquisição de veículos pelo sistema de ‘leasing’. Art. 2º Esta lei entra em vigor
na data de sua publicação. Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.”

137
“As entidades religiosas podem se caracterizar como instituições de assistência social a fim
de se beneficiarem da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, ‘c’, da Constituição, que
abrangerá não só os impostos sobre o seu patrimônio, renda e serviços, mas também os impostos
sobre a importação de bens a serem utilizados na consecução de seus objetivos estatutários.”

Resumo:

As organizações assistenciais religiosas podem ser abrangidas pela imunidade prevista no


art. 150, VI, “c”, da CF/1988342.

Essas entidades desempenham um papel extremamente relevante, não sendo raras as que
possuem um componente social que, para além de colaborar com o Estado, muitas vezes substituem a
ação estatal na assistência aos necessitados. Nesse sentido, as ações assistenciais exercidas por entidades
religiosas são plenamente compatíveis com o modelo constitucional brasileiro de assistência social.

Além disso, a Corte vem conferindo amplitude à norma constitucional imunizante 343, de modo a
abranger todos os impostos que de alguma forma possam desfalcar o patrimônio, prejudicar as atividades
ou reduzir as rendas da entidade imune, ainda que estejam apenas indiretamente relacionados com as suas
finalidades essenciais. A condição é que os recursos obtidos sejam vertidos ao implemento de tais fins.

Havendo correspondência entre o recurso obtido e a aplicação nas finalidades essenciais, restará
configurado o liame exigido pelo texto constitucional. Dessa forma, o alcance da imunidade é
determinado pela destinação dos recursos auferidos pela entidade, e não pela origem ou natureza da
renda.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, apreciando o Tema 336 da
repercussão geral, conheceu do recurso extraordinário e deu-lhe provimento.

RE 630790/SP, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 18.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1047)

Imunidade recíproca de sociedade de economia mista prestadora exclusiva de serviço


público essencial - ACO 3410/SE

Resumo:

Sociedade de economia mista estadual prestadora exclusiva do serviço público de


abastecimento de água potável e coleta e tratamento de esgotos sanitários faz jus à imunidade
tributária recíproca sobre impostos federais incidentes sobre patrimônio, renda e serviços.

Prevalece na Corte o entendimento de que, para a extensão da imunidade tributária recíproca da


Fazenda Pública a sociedades de economia mista e empresas públicas, é necessário preencher 3 (três)
requisitos: (i) a prestação de um serviço público; (ii) a ausência do intuito de lucro e (iii) a atuação em
regime de exclusividade, ou seja, sem concorrência 344 e 345. No caso, os documentos acostados comprovam
que, em relação à Companhia de Saneamento de Sergipe - DESO, os requisitos foram atendidos.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido para
reconhecer a imunidade recíproca à DESO, enquanto mantidos os requisitos.

342
CF, art. 150. “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios: (...) VI - instituir impostos sobre: (...) c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos
políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de
assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;”
343
Precedentes: RE 237.718; RE 611.510 (Tema 328 RG); Enunciado 52 da Súmula Vinculante.
344
CF/1988: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos
outros;”
345
Precedentes: RE 599.628; RE 627.242 AgR; e RE 600.867.

138
ACO 3410/SE, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022
(quarta-feira), às 23:59 (INF 1051)

13.6 IPI

Incidência de IPI sobre bacalhau seco e salgado e questão infraconstitucional - RE


627280/RJ (Tema 502 RG)

Tese fixada:

“É infraconstitucional, a ela se aplicando os efeitos da ausência de repercussão geral, a


controvérsia relativa à incidência de IPI sobre o bacalhau seco e salgado oriundo de país signatário
do GATT.”

Resumo:

Não possui repercussão geral, diante de sua natureza infraconstitucional, a discussão sobre
a incidência de IPI sobre o bacalhau seco e salgado vindo de país signatário do GATT.

Em razão da natureza infraconstitucional da controvérsia posta no recurso extraordinário, que


demandaria o reexame do acervo probatório dos autos e da legislação infraconstitucional pertinente
(Código Tributário Nacional, Lei 4.502/1964, Lei 10.451/2002, Decreto 4.070/2001 e Decreto
4.544/2002), cabe a revisão do reconhecimento da repercussão geral, nos termos do art. 323-B do
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RI/STF)346 e 347.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, após rever o reconhecimento da
repercussão geral quanto ao Tema 502 da repercussão geral, não conheceu do recurso extraordinário.

RE 627280/RJ, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 18.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1047)

13.7 IR

Pensão alimentícia e incidência do imposto de renda - ADI 5422/DF

ODS: 10 e 17

Resumo:

É inconstitucional norma que prevê a incidência do imposto de renda sobre valores


percebidos pelo alimentado a título de alimentos ou pensão alimentícia.

A materialidade do imposto de renda (IR) está necessariamente ligada à existência de acréscimo


patrimonial348. Nesse contexto, os alimentos ou pensão alimentícia oriundos do direito de família
representam, para os alimentados, apenas entrada de valores, pois se revelam como montantes retirados
dos acréscimos patrimoniais auferidos pelo alimentante.

346
Precedentes: RE 660970; AI 235708 AgR; AI 708736 AgR; AI 845360 AgR; ARE 916075 AgR; AI 711909 AgR;
RE 362596 AgR; ARE 804350 AgR; AI 651473 Edv-AgR; ARE 1279288 AgR.
347
RI/STF: “Art. 323-B. O relator poderá propor, por meio eletrônico, a revisão do reconhecimento da repercussão
geral quando o mérito do tema ainda não tiver sido julgado.” (Incluído pela Emenda Regimental 54, de 1º.7.2020)
348
Precedente: RE 117887.

139
Assim, o recebimento de renda ou provento de qualquer natureza pelo alimentante ─ de onde ele
retira a parcela a ser paga ao credor dos alimentos ─ já configura, por si só, fato gerador do IR. Por isso,
submeter também os valores recebidos pelo alimentado representa nova incidência do mesmo tributo
sobre a mesma realidade, configurando bis in idem camuflado e sem justificação legítima, em evidente
violação ao texto constitucional.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, conheceu em parte da ação e, nessa parte,
a julgou procedente para dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, § 1º, da Lei 7.713/1988, aos
arts. 4º e 46 do Anexo do Decreto 9.580/2018, e aos arts. 3º, caput e § 1º; e 4º do Decreto-lei 1.301/1973,
com o intuito de afastar a incidência do imposto de renda sobre valores decorrentes do direito de família
percebidos pelos alimentados a título de alimentos ou de pensões alimentícias.

ADI 5422/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1057)

13.8 ISS

Incidência do ISS sobre prestação de serviço de inserção de materiais de propaganda


e publicidade em qualquer meio - ADI 6034/RJ

Tese fixada:

“É constitucional o subitem 17.25 da lista anexa à LC nº 116/03, incluído pela LC nº 157/16,


no que propicia a incidência do ISS, afastando a do ICMS, sobre a prestação de serviço de inserção
de textos, desenhos e outros materiais de propaganda e publicidade em qualquer meio (exceto em
livros, jornais, periódicos e nas modalidades de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens
de recepção livre e gratuita).”

Resumo:

A inserção de textos, desenhos e outros materiais de propaganda e publicidade em


qualquer meio (exceto em livros, jornais, periódicos e modalidades de serviços de radiodifusão
sonora e de sons e imagens de recepção livre e gratuita) é passível de tributação por ISS 349.

Isso porque mencionada atividade, ainda que imprescindível à operacionalização do serviço de


comunicação social, está, por ser preparatória desse serviço, fora do âmbito de materialidade do ICMS-
comunicação. Ademais, a atividade não desborda do conceito de serviços de qualquer natureza para fins
de incidência do ISS.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedentes os pedidos
formulados em ação direta de inconstitucionalidade.

ADI 6034/RJ, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1046)

13.9 PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL

Art. 38 da Lei 9.430/1996: representação fiscal para fins penais e crimes contra a
Previdência Social - ADI 4980/DF

Resumo:

349
Precedentes: RE 592905; RE 547245; RE 651703; RE 603136; RE 634764; ADI 3142; ADI 5659; ADI 4389 MC;
RE 572020; RE 912888.

140
A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes de apropriação indébita
previdenciária e de sonegação de contribuição previdenciária será encaminhada ao ministério
público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do
crédito tributário correspondente.

Não se vislumbra inconstitucionalidade formal ou material do art. 83 da Lei 9.430/1996 350. A


alteração normativa condiciona o momento de envio da representação fiscal, para fins penais — no
tocante aos crimes de apropriação indébita previdenciária e de sonegação de contribuição previdenciária
—, à necessidade de exaurimento do processo administrativo de constituição do crédito. Logo, o
dispositivo impugnado confere linearidade ao procedimento administrativo, ao estender àqueles delitos
idêntica solução prevista para os demais crimes contra a ordem tributária.

O preceito tem como destinatários os agentes fiscais. Ele não cuida do momento de consumação
de delitos, tampouco versa sobre condição de procedibilidade para a persecução penal. Portanto, é
inapropriada a discussão sobre a natureza dos crimes envolvidos, especialmente por se tratar de clara
opção política do legislador. Ademais, o entendimento pela constitucionalidade da norma encontra apoio
na jurisprudência do STF351.

Com esses entendimentos, o Plenário conheceu de ação direta de inconstitucionalidade e, por


maioria, julgou improcedentes os pedidos nela formulados.

ADI 4980/DF, relator Min. Nunes Marques, julgamento finalizado em 10.3.2022 (INF 1047)

13.10 TAXAS

Cobrança de taxa de segurança para eventos - ADI 2692/DF

Resumo:

É inconstitucional a cobrança de taxa de segurança para eventos, visto que a segurança


pública deve ser remunerada por meio de impostos, já que constitui serviço geral e indivisível,
devido a todos os cidadãos, independentemente de contraprestação.

O serviço de segurança pública tem natureza universal e é prestado a toda a coletividade, mesmo
na hipótese de o Estado se ver na contingência de fornecer condições específicas de segurança a certo
grupo. Como a sua finalidade é a preservação da ordem pública e da incolumidade pessoal e patrimonial
(CF/1988, art. 144), é dever do Estado atuar com os seus próprios recursos, ou seja, sem exigir
contraprestação específica dos cidadãos.

Nesse contexto, é inviável remunerá-lo mediante taxa 352, sob pena de violar disposição
constitucional expressa que preceitua a possibilidade desse tributo ser cobrado em virtude do exercício do
poder de polícia ou da utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis,
prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição (CF/1988, art. 145, II).

350
Lei 9.430/1996: “Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária
previstos nos arts. 1º e 2º da Lei 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social,
previstos nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será
encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência
fiscal do crédito tributário correspondente.”
351
Precedentes: ADI 1.571; HC 81.611; e ADI 4.974.
352
Precedentes citados: ADI 7035; ADI 1942; RE 739311 AgR; RE 535085 AgR e RE 964541 AgR.

141
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade da Lei 1.732/1997353 e, por arrastamento, do Decreto 19.972/1998, ambos
do Distrito Federal. 

ADI 2692/DF, relator Min. Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 30.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1070)

Fundo de Fiscalização das Telecomunicações e poder de polícia - ADI 4039/DF

Resumo:

É legítimo o poder de polícia conferido à ANATEL para fiscalizar as atividades de


radiodifusão.

O Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL), criado pela Lei 5.070/1966, é


composto, de forma não exclusiva, por diversas fontes, dentre as quais as relativas ao poder de outorga do
direito uso de radiofrequência para qualquer fim, inclusive multas e indenizações, e pelos recursos das
Taxas de Fiscalização de Instalação e de Fiscalização de Funcionamento. A totalidade do montante é
aplicada pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) nas atividades prescritas legalmente,
merecendo relevo a fiscalização dos serviços de radiodifusão (art. 211 da Lei 9.472/1997).

Nesse contexto, não cabe à ANATEL a outorga dos mencionados serviços — que permanece no
âmbito do Poder Executivo —, incumbindo-lhe tão somente a realização da fiscalização dos aspectos
técnicos de suas estações, que é inerente ao poder de polícia que lhe foi atribuído e, consequentemente,
legitima a imposição das referidas taxas354.

Ademais, os recursos do FISTEL são empregados pela agência reguladora em ações que
abrangem toda a área de telecomunicações, incluindo os serviços de radiodifusão, de modo que não se
pode falar em violação ao princípio da isonomia.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação.

ADI 4039/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1060)

Parâmetros para o cálculo das custas judiciais e emolumentos - ADI 2846/TO

ODS: 10 e 16
Resumo:

353
Lei 1.732/1997 do Distrito Federal: “Art. 1º Fica instituída, no âmbito do Distrito Federal, a taxa de segurança
para eventos – TSE. Art. 2º A taxa de segurança para eventos – TSE – tem como fato gerador a prestação de serviços
em eventos de fins lucrativos e promocionais pela Polícia Civil, pela Polícia Militar, pelo Corpo de Bombeiros
Militar ou pelo Departamento de Trânsito. Parágrafo único – Consideram-se de fins lucrativos os eventos para os
quais são cobrados ingressos com o objetivo de auferir lucros e promocionais os destinados à publicidade de
empresas privadas ou de seus produtos. Art. 3º A taxa de segurança para eventos – TSE – será paga antecipadamente
à efetivação do ato e é devida pelos promotores sob pena de não ser autorizada a realização do evento. Art. 4º A taxa
instituída por esta Lei será calculada em função do local de realização do evento, da capacidade de público e do
número de policiais e equipamentos necessários. Art. 5º Os recursos provenientes da cobrança da taxa de segurança
para eventos – TSE – serão destinados exclusivamente à manutenção e à aquisição de equipamentos para a Polícia
Civil, para a Polícia Militar, para o Corpo de Bombeiros Militar ou para o Departamento de Trânsito. Art. 6º O Poder
Executivo regulamentará a cobrança da taxa de segurança para eventos no prazo de trinta dias. Art. 7º Esta Lei entra
em vigor na data de sua publicação. Art. 8º Revogam-se as disposições em contrário.”
354
Precedentes: ARE 906203 AgR-EDv; ADI 6211; ADI 5480; e RE 588322.

142
É válida a cobrança das custas judiciais e emolumentos tendo por parâmetro o valor da
causa ou do bem ou negócio objeto dos atos judiciais e extrajudiciais, desde que definidos limites
mínimo e máximo e mantida uma razoável e proporcional correlação com o custo da atividade.

Na linha da jurisprudência desta Corte, essa forma de cálculo é plenamente admitida, visto que
os parâmetros fixados não constituem a base de cálculo da taxa respectiva, mas apenas um critério para a
sua incidência, haja vista ser impossível aferir, em cada caso, o efetivo custo do serviço 355.

Ademais, inexiste violação à garantia constitucional de prestação jurisdicional e ao acesso à


Justiça, visto que a lei permite ao juiz, em cada caso concreto, verificar a necessidade da concessão do
benefício da justiça gratuita e, consequentemente, isentar a parte do pagamento das custas judiciais.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para
declarar a constitucionalidade da Lei 1.286/2001 do Estado do Tocantins.

ADI 2846/TO, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1067)

Taxas de fiscalização da atividade de mineração - ADI 4785/MG, ADI 4786/PA e


ADI 4787/AP

ODS: 12, 15, 16 e 17


Resumo:

É constitucional a instituição, por meio de lei estadual, de taxas de controle,


monitoramento e fiscalização de atividades de pesquisa, lavra, exploração e aproveitamento de
recursos minerários (TFRM).

Os estados-membros possuem competência administrativa fiscalizatória sobre recursos hídricos e


minerais, desde que informado pelo princípio da subsidiariedade, emanado de uma concepção própria do
federalismo cooperativo brasileiro356, de modo que é possível desempenharem, quando traduzível em
serviço público ou poder de polícia, atividade administrativa remunerada mediante taxa (CF/1988, art.
145, II).

A base de cálculo das taxas minerárias deve guardar razoável proporcionalidade entre a
quantidade de minério extraído e o dispêndio de recursos públicos com a fiscalização dos
contribuintes, observados os princípios da proibição do confisco e da precaução ambiental.

Nesse contexto, é razoável utilizar o volume de minério extraído como quantificação tributária,
pois, quanto maior ele for, maior pode ser o impacto social e ambiental do empreendimento, motivo pelo
qual mais elevado também deve ser o grau de controle e fiscalização do poder público 357. No caso, há
correlação entre o valor das taxas e os custos estatais, de modo que as exações são suportáveis pelos
contribuintes, descabendo arguir eventual desproporcionalidade, em especial diante dos expressivos
lucros dessas empresas.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, em julgamento conjunto, julgou
improcedente as ações nas partes que foram conhecidas.

ADI 4785/MG, relator Min. Edson Fachin, julgamento em 1º.8.2022 (INF 1062)

ADI 4786/PA, relator Min. Nunes Marques, julgamento em 1º.8.2022 (INF 1062)

ADI 4787/AP, relator Min. Luiz Fux, julgamento em 1º.8.2022 (INF 1062)

355
Precedentes citados: ADI 3826; ADI 3887; ADI 1948 e RE 177835.
356
Precedentes: ADI 6211; ADI 5512; e ADI 5480.
357
Precedente: ADI 2551 MC-QO.

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