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Informativo Temático

Compilação dos Informativos STF 1042 a 1061

O Informativo Temático apresenta resumos organizados por assuntos e ramos do


Direito.
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conteúdo, desde que citada a fonte.

Últimas atualizações:

 Informativo 1061:
o ADPF 708;
o ADI 6926;
o ADPF 783;
o ADI 5755;
o ADI 6858;
o RHC 203546;

 Informativo 1060:
o ADI 2142;
o ADI 3396;
o ADI 7076;
o ADI 6660;
o ADI 7117 e ADI 7123;
o ADI 4039;

 Informativo 1059:
o ADI 3454;
o ADI 5119;
o ADI 400;
o ADPF 893;
o ADPF 188;

 Informativo 1058:
o ADI 6951 e ADI 6952;
o ADI 5399, ADI 6191 e ADI 6333 ED;
o RE 999435(Tema 638 RG);

 Informativo 1057:
o ADI 6308;
o ADI 7063;
o ADI 5563;
o ARE 1121633 (Tema 1046 RG);

1
o ADI 5331;
o ADI 5422;

 Informativo 1056:
o ADI 5910;
o ADI 4869;
o ADI 4709;
o ADI 5384;
o ADPF 323;

 Informativo 1055:
o ADPF 915;
o ADPF 748;
o ADI 6595;
o RE 1224374 (Tema 1079 RG), ADI 4017 e ADI 4103;
o ADI 5052;
o ADI 6573; ADI 6911 e ADPF 863;

 Informativo 1054:
o ADI 5818 e ADI 3918;
o RE 1348854 (Tema 1182 RG);
o ADPF 722;
o ADI 4608;
o ADI 7083.

 Informativo 1053:
o ADI 6655;
o ADI 6148;
o ADI 7029;
o Pet 8242 AgR, Pet 8259 AgR, Pet 8262 AgR, Pet 8263 AgR, Pet 8267 AgR
e Pet 8366 AgR.

 Informativo 1052:
o ADI 6808;
o ADPF 651;
o ADI 3152;
o RE 614384 (Tema 559 RG);
o RE 1286407 AgR-segundo.

SUMÁRIO

1. DIREITO ADMINISTRATIVO...........................................................................................11

2
1.1 APOSENTADORIA...............................................................................................11

Inexigência de exercício por cinco anos na mesma classe para fins de cálculo de
aposentadoria - RE 1322195/SP (Tema 1207 RG)...............................................11

1.2 CARGOS EM COMISSÃO....................................................................................11

Tribunal de Contas estadual: requisitos constitucionais para a criação de cargos


em comissão - ADI 6655/SE..................................................................................11

1.3 CONCURSO PÚBLICO.........................................................................................12

Isenção da taxa de inscrição em concurso público a servidores públicos


estaduais - ADI 5818/CE e ADI 3918/SE.............................................................12

1.4 CONTRATOS ADMINISTRATIVOS...................................................................13

Transferência da concessão e do controle societário das concessionárias de


serviços públicos - ADI 2946/DF..........................................................................13

1.5 CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA.......................................................................14

Contratação temporária: vacância de cargo público efetivo e educação pública -


ADPF 915/MG.......................................................................................................14

1.6 PROCESSO ADMINISTRATIVO.........................................................................14

Processo administrativo e princípio da publicidade - ADI 5371/DF...................14

1.7 PROCURADORES; SUBSÍDIOS..........................................................................15

Quitação de dívida ativa por meio alternativo de cobrança e honorários


advocatícios de procuradores estaduais - ADI 5910/RO......................................15

1.8 REMUNERAÇÃO..................................................................................................16

Auditor substituto de conselheiro de Corte de Contas estadual e remuneração


proporcional - ADI 6951/CE e ADI 6952/AM......................................................16

Impossibilidade de concessão de aumento pelo Poder Judiciário com


fundamento no princípio da isonomia - ARE 1341061/SC (Tema 1175 RG).....16

1.9 REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA.....................................................................17

Requisição administrativa de bens ou serviços públicos - ADI 3454/DF............17

1.10 SERVIÇOS PÚBLICOS.........................................................................................18

Medidas para garantir a continuidade de serviços públicos essenciais e direito


de greve - ADI 4857/DF........................................................................................18

Reajuste de tarifas telefônicas: cláusula contratual, inflação e revisão judicial -


RE 1059819/PE (Tema 991 RG)...........................................................................19

1.11 SERVIDOR PÚBLICO..........................................................................................19

Extensão da licença-maternidade a servidor público pai solo - RE 1348854/SP


(Tema 1182 RG).....................................................................................................19

3
Reenquadramento de servidor admitido sem concurso público antes da
promulgação da Constituição Federal de 1988 - ARE 1306505/AC (Tema 1157
RG).........................................................................................................................20

2. DIREITO AMBIENTAL.......................................................................................................22

2.1 ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL PERMANENTE.............................22

Área de Preservação Ambiental Permanente e competência legislativa - ADI


5675/MG.................................................................................................................22

2.2 COMBATE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS......................................................22

Fundo Clima: funcionamento, destinação de recursos e contingenciamento de


verbas - ADPF 708/DF..........................................................................................22

2.3 COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS..................................................23

Composição de órgãos de controle ambiental - ADPF 651/DF...........................23

2.4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL.......................................................................24

Concessão automática de licença ambiental para empresas com grau de risco


médio - ADI 6808/DF............................................................................................24

Licenciamento ambiental e competência municipal - ADI 2142/CE..................25

2.5 POLUIÇÃO............................................................................................................26

Resolução 491/2018-Conama: padrões de qualidade do ar e diretrizes da OMS -


ADI 6148/DF.........................................................................................................26

2.6 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL......................27

Supressão de marcos regulatórios ambientais e proibição do retrocesso


ambiental - ADPF 748/DF....................................................................................27

2.7 SANEAMENTO BÁSICO.....................................................................................28

Região metropolitana: saneamento básico, poder decisório e recursos obtidos


com a empreitada comum - ADI 6573/AL; ADI 6911/AL e ADPF 863/AL........28

3. DIREITO CIVIL....................................................................................................................29

3.1 BEM DE FAMÍLIA................................................................................................29

Bem de família: fiança; contrato de locação comercial e penhorabilidade - RE


1307334/SP (Tema 1127 RG)................................................................................29

4. DIREITO CONSTITUCIONAL..........................................................................................30

4.1 COMPETÊNCIA LEGISLATIVA.........................................................................30

Concessão de meia-entrada em estabelecimentos de lazer e entretenimento para


professores da rede pública estadual e municipais de ensino - ADI 3753/SP....30

Concessão de porte de arma de fogo a procuradores estaduais por lei estadual -


ADI 6985/AL..........................................................................................................30

4
Extinção da pena de prisão disciplinar de policiais e bombeiros militares - ADI
6595/DF.................................................................................................................31

Lei estadual e vedação à inscrição em cadastro de proteção ao crédito - ADI


6668/MG.................................................................................................................32

Lei estadual: SAC e atendimento telefônico gratuito - ADI 4118/RJ.................32

Militares estaduais grevistas e anistia das infrações disciplinares - ADI 4869/DF


................................................................................................................................33

Norma estadual e emenda parlamentar impositiva em lei orçamentária - ADI


6308/RR..................................................................................................................34

Obrigações impostas aos planos de saúde e competência legislativa privativa da


União - ADI 7029/PB............................................................................................35

Pessoas desaparecidas e divulgação de fotos em noticiários de TV e em jornais -


ADI 5292/SC..........................................................................................................35

Prazo de validade de bilhetes de transporte rodoviário de passageiros e


competência legislativa estadual - ADI 4289/DF.................................................36

Substituição de trabalhador privado em greve por servidor público - ADI


1164/DF.................................................................................................................37

4.2 DEFENSORIA PÚBLICA......................................................................................37

Constitucionalidade do poder de requisição da Defensoria Pública - ADI


6852/DF, ADI 6862/PR, ADI 6865/PB, ADI 6867/ES, ADI 6870/DF, ADI
6871/CE, ADI 6872/AP, ADI 6873/AM, ADI 6875/RN.......................................37

Ouvidoria-Geral das Defensorias Públicas estaduais - ADI 4608/DF................38

Recriação de Assistência Jurídica da Justiça Militar - ADI 3152/CE................39

4.3 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS..................................................39

CNJ e transferência do sigilo de dados fiscais e bancários - ADI 4709/DF.......39

Lei da meia-entrada: entidades emitentes da CIE e liberdade de associação -


ADI 5108/DF.........................................................................................................40

Liberdade de expressão e imunidade parlamentar - Pet 8242 AgR/DF, Pet 8259


AgR/DF, Pet 8262 AgR/DF, Pet 8263 AgR/DF, Pet 8267 AgR/DF e Pet 8366
AgR/DF..................................................................................................................40

Plano de redução de letalidade policial e controle de violações de direitos


humanos - ADPF 635 MC-ED/RJ........................................................................41

Produção de relatórios de inteligência e vinculação ao interesse público - ADPF


722/DF...................................................................................................................42

Remanejamento de cargos em comissão de peritos do MNPCT, fragilização do


combate à tortura no País e abuso do poder regulamentar - ADPF 607/DF.....43

Restrições legais ao consumo de bebidas alcóolicas e condução de veículos


automotivos - RE 1224374/RS (Tema 1079 RG), ADI 4017/DF e ADI 4103/DF
................................................................................................................................44

5
4.4 EDUCAÇÃO BÁSICA...........................................................................................45

COVID-19: Realocação de recursos vinculados ao FUNDEB para ações de


combate à pandemia do novo coronavírus - ADI 6490/PI...................................45

4.5 ÍNDIOS...................................................................................................................45

Proteção territorial em terras indígenas não homologadas - ADPF 709 MC-


segunda-Ref/DF.....................................................................................................45

4.6 MINISTÉRIO PÚBLICO.......................................................................................46

Inamovibilidade dos membros do Ministério Público da União - ADI 5052/DF46

4.7 ORÇAMENTO.......................................................................................................46

Emendas do relator-geral do orçamento: suspensão da execução orçamentária e


prestação de serviços essenciais à coletividade - ADPF 850 MC-Ref-Ref/DF,
ADPF 851 MC-Ref-Ref/DF e ADPF 854 MC-Ref-Ref/DF.................................46

4.8 ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA............................................................47

Aplicabilidade das regras do Estatuto da Advocacia a advogados empregados


públicos - ADI 3396/DF........................................................................................47

Energia elétrica e regulamentação por medida provisória com posterior


conversão em lei - ADI 3090/DF e ADI 3100/DF................................................48

4.9 ORDEM SOCIAL...................................................................................................49

Ação para o fornecimento de medicamentos: fármaco com registro na Anvisa e


na União - RE 1286407 AgR-segundo/PR...........................................................49

Covid-19: educação e transferência de recursos para acesso à internet - ADI


6926/DF.................................................................................................................49

FUNDEF/FUNDEB: precatório e pagamento de pessoal - ADPF 528/DF.......50

4.10 ORGANIZAÇÃO DOS PODERES.......................................................................51

Liberdade de expressão e limites - AP 1044/DF...................................................51

4.11 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA............................................52

Desmembramento de municípios sem consulta plebiscitária e EC 57/2008 - RE


614384/SE (Tema 559 RG)....................................................................................52

4.12 PODER JUDICIÁRIO............................................................................................53

Conselho Nacional de Justiça e análise prévia de anteprojetos de lei de criação


de cargos, funções e unidades judiciárias dos tribunais de justiça - ADI
5119/DF.................................................................................................................53

Custas e emolumentos judiciais: majoração e criação de sanções processuais


por ente estadual - ADI 7063/RJ...........................................................................53

4.13 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS......................................................................54

6
Pensão especial a dependentes de prefeitos e vice-prefeitos falecidos no exercício
do mandato - ADPF 783/ES..................................................................................54

4.14 PROCESSO LEGISLATIVO.................................................................................54

Extemporaneidade do veto presidencial - ADPF 893/DF....................................54

Iniciativa de leis sobre a organização do Ministério Público estadual - ADI


400/ES....................................................................................................................55

Processo legislativo para a autorização de alienação de ações de empresa estatal


e obtenção de crédito para o custeio de despesas correntes de estado-membro -
ADI 5683/RJ..........................................................................................................56

Proposições legislativas e adoção do rito de urgência - ADI 6968/DF...............57

Quórum para aprovação de emendas constitucionais estaduais - ADI 6453/RO


................................................................................................................................57

4.15 REGIME DE PRECATÓRIOS...............................................................................58

Cancelamento de precatórios e requisições de pequeno valor (RPV) federais não


resgatados - ADI 5755/DF....................................................................................58

4.16 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS.................................................................59

Competência da União para explorar e legislar sobre atividades nucleares - ADI


6858/AM.................................................................................................................59

Construção de instalações nucleares e de energia elétrica: imposição de


exigências por norma estadual - ADI 7076/PR....................................................60

Lei estadual e depósitos judiciais e extrajudiciais de terceiros - ADI 6660/PE. .60

Ministério Público de Contas estadual e limites legais de gastos do Poder


Executivo - ADI 5563/RR......................................................................................61

Promoção e benefícios a novos clientes e extensão aos preexistentes - ADI


5399/SP; ADI 6191/SP e ADI 6333 ED/PE.........................................................62

Tribunal de Contas estadual: normas gerais sobre prescrição e decadência -


ADI 5384/MG........................................................................................................63

4.17 SEGURANÇA PÚBLICA......................................................................................63

Polícia civil e independência funcional - ADI 5522/SP.......................................63

4.18 TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO.........................................................................64

Bens de informática e Zona Franca de Manaus - ADI 2399/AM.......................64

5. DIREITO DA SAÚDE...........................................................................................................65

5.1 VIGILÂNCIA SANITÁRIA E EPIDEMIOLÓGICA............................................65

COVID-19: observância das decisões proferidas pelo STF em relação à


obrigatoriedade de vacinação - ADPF 754 16ª TPI-Ref/DF...............................65

7
6. DIREITO DO CONSUMIDOR............................................................................................66

6.1 CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO...................................................66

Normas estaduais sobre inclusão e exclusão de consumidores em cadastros de


proteção ao crédito - ADI 5224/SP, ADI 5252/SP, ADI 5273/SP e ADI 5978/SP
................................................................................................................................66

7. DIREITO DO TRABALHO.................................................................................................67

7.1 CONVENÇÃO E ACORDO COLETIVO.............................................................67

Ultratividade das cláusulas normativas de acordos e convenções coletivas -


ADPF 323/DF........................................................................................................67

7.2 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO..............................................................67

Acordos e convenções coletivos: limitação ou afastamento de direitos


trabalhistas e horas “in itinere” - ARE 1121633/GO (Tema 1046 RG)..............67

Dispensa em massa e intervenção sindical - RE 999435/SP (Tema 638 RG).....68

7.3 PISO SALARIAL...................................................................................................69

Congelamento da base de cálculo para desindexação de piso salarial vinculado


ao valor do salário mínimo - ADPF 53 Ref-MC/PI; ADPF 149 Ref-MC/DF e
ADPF 171 Ref-MC/MA.........................................................................................69

7.4 REGIME DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA....................................................70

Débitos trabalhistas: índices de atualização monetária aplicáveis no âmbito da


Justiça do Trabalho - RE 1269353/DF (Tema 1191 RG)....................................70

8. DIREITO ELEITORAL.......................................................................................................72

8.1 CAMPANHA ELEITORAL...................................................................................72

Forma de cálculo do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC)


- ADI 7058 MC/DF................................................................................................72

8.2 FEDERAÇÕES PARTIDÁRIAS...........................................................................72

Prazo para constituição e registro no TSE de partidos políticos e de federações


partidárias - ADI 7021/DF....................................................................................72

8.3 PROPAGANDA ELEITORAL..............................................................................74

Restrições à veiculação de propaganda eleitoral em meios de comunicação


impressos e na internet - ADI 6281/DF................................................................74

9. DIREITO FINANCEIRO.....................................................................................................75

9.1 RESPONSABILIDADE FISCAL..........................................................................75

Lei estadual e concessão de benefício fiscal sem prévia estimativa de impacto


orçamentário e financeiro - ADI 6303/RR...........................................................75

8
10. DIREITO PENAL..................................................................................................................76

10.1 REINCIDÊNCIA....................................................................................................76

Porte de drogas para consumo próprio e reincidência - RHC 178512/SP..........76

11. DIREITO PROCESSUAL PENAL......................................................................................77

11.1 COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO....................................77

Competência penal originária do STF e “mandatos cruzados” - Inq 4342


QO/PR....................................................................................................................77

11.2 EXECUÇÃO PENAL.............................................................................................77

Execução penal: estudo a distância e remição da pena - RHC 203546/PR........77

11.3 FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO.....................................................78

Competência dos Tribunais para supervisionar investigações contra autoridades


com foro por prerrogativa de função - ADI 7083/AP..........................................78

11.4 INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA......................................................................78

Interceptação telefônica e prorrogações sucessivas - RE 625263/PR (Tema 661


RG).........................................................................................................................78

11.5 INVESTIGAÇÃO PENAL.....................................................................................80

Autorização para o prosseguimento de investigações contra magistrados - ADI


5331/MG.................................................................................................................80

11.6 LEI MARIA DA PENHA.......................................................................................80

Lei Maria da Penha e afastamento do agressor por delegados e policiais - ADI


6138/DF.................................................................................................................80

11.7 PROVAS.................................................................................................................81

Procedimento para reconhecimento de pessoas - RHC 206846/SP....................81

11.8 PRISÃO PREVENTIVA........................................................................................82

Prisão preventiva: prazo nonagesimal para a sua revisão e respectiva


competência jurisdicional - ADI 6581/DF e ADI 6582/DF.................................82

11.9 PRISÃO TEMPORÁRIA.......................................................................................83

Fixação de condições obrigatórias e cumulativas para a decretação da prisão


temporária - ADI 3360/DF e ADI 4109/DF.........................................................83

11.10 TERMO CIRCUNSTANCIADO...........................................................................84

Competência para a lavratura de termo circunstanciado - ADI 5637/MG.........84

12. DIREITO TRIBUTÁRIO.....................................................................................................86

12.1 CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS................................................................................86

9
Artigo 149, § 2º, III, “a”, da CF: rol exemplificativo - RE 1317786/PE (Tema
1193 RG)................................................................................................................86

PIS e COFINS: parcela não dedutível da base de cálculo - RE 1049811/SE


(Tema 1024 RG).....................................................................................................86

Salário-educação: critério para a distribuição da arrecadação - ADPF 188/DF


................................................................................................................................87

12.2 FATO GERADOR..................................................................................................88

Constitucionalidade da chamada “norma geral antielisão” - ADI 2446/DF.....88

12.3 ICMS.......................................................................................................................88

ICMS: fixação de alíquotas sobre operações com energia elétrica e serviços de


comunicação superiores às das operações em geral - ADI 7117/SC e ADI
7123/DF.................................................................................................................88

Remissão de créditos de ICMS oriundos de benefícios fiscais julgados


inconstitucionais - RE 851421/DF (Tema 817 RG).............................................89

12.4 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA................................................................................90

Caracterização das entidades religiosas como instituições de assistência social


para fins de imunidade tributária - RE 630790/SP (Tema 336 RG)...................90

Imunidade recíproca de sociedade de economia mista prestadora exclusiva de


serviço público essencial - ACO 3410/SE.............................................................90

12.5 IPI............................................................................................................................91

Incidência de IPI sobre bacalhau seco e salgado e questão infraconstitucional -


RE 627280/RJ (Tema 502 RG).............................................................................91

12.6 IR.............................................................................................................................92

Pensão alimentícia e incidência do imposto de renda - ADI 5422/DF...............92

12.7 ISS...........................................................................................................................92

Incidência do ISS sobre prestação de serviço de inserção de materiais de


propaganda e publicidade em qualquer meio - ADI 6034/RJ.............................92

12.8 PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL...............................................93

Art. 38 da Lei 9.430/1996: representação fiscal para fins penais e crimes contra
a Previdência Social - ADI 4980/DF....................................................................93

12.9 TAXAS...................................................................................................................93

Fundo de Fiscalização das Telecomunicações e poder de polícia - ADI 4039/DF


................................................................................................................................93

10
1. DIREITO ADMINISTRATIVO

1.1 APOSENTADORIA

Inexigência de exercício por cinco anos na mesma classe para fins de cálculo de
aposentadoria - RE 1322195/SP (Tema 1207 RG)

Tese fixada:

“A promoção por acesso de servidor a classe distinta na carreira não representa ascensão a
cargo diverso daquele em que já estava efetivado, de modo que, para fins de aposentadoria, o prazo
mínimo de cinco anos no cargo efetivo, exigido pelo artigo 40, § 1º, inciso III, da Constituição
Federal, na redação da Emenda Constitucional 20/1998, e pelos artigos 6º da Emenda
Constitucional 41/2003 e 3º da Emenda Constitucional 47/2005, não recomeça a contar pela
alteração de classe.”

Resumo:

Para a aposentadoria voluntária de servidor público, o prazo mínimo de cinco anos no


cargo em que se der a aposentadoria refere-se ao cargo efetivo ocupado pelo servidor e não à classe
na carreira alcançada mediante promoção.

Na hipótese, a promoção do servidor à classe posterior dentro do mesmo cargo não caracteriza
provimento originário, mas sim derivado. Logo, quando a carreira for organizada em classes, o cálculo
dos proventos deve ter por base a remuneração percebida na mesma classe ocupada quando da
aposentadoria1.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de


repercussão geral da questão constitucional suscitada (Tema 1207 RG) e no mérito, por unanimidade,
reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria para desprover o recurso extraordinário.

RE 1322195/SP, relator Min. Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 1º.4.2021
(INF 1049)

1.2 CARGOS EM COMISSÃO

Tribunal de Contas estadual: requisitos constitucionais para a criação de cargos em


comissão - ADI 6655/SE

Resumo:

É inconstitucional a criação de cargos em comissão sem a devida observância dos requisitos


indispensáveis fixados pelo STF2.

1
Precedentes: ARE 1.248.344 AgR; RE 1.255.987 AgR; AI 813.763 AgR; RE 1.337.044 AgR.
2
Tema 1010 da RG: “a) A criação de cargos em comissão somente se justifica para o exercício de funções de direção,
chefia e assessoramento, não se prestando ao desempenho de atividades burocráticas, técnicas ou operacionais; b) tal
criação deve pressupor a necessária relação de confiança entre a autoridade nomeante e o servidor nomeado; c) o
número de cargos comissionados criados deve guardar proporcionalidade com a necessidade que eles visam suprir e
com o número de servidores ocupantes de cargos efetivos no ente federativo que os criar; e d) as atribuições dos
cargos em comissão devem estar descritas, de forma clara e objetiva, na própria lei que os instituir.”

11
A Constituição Federal reservou à Administração Pública regime jurídico minucioso na
conformação do interesse público com a finalidade de resguardar a isonomia e a eficiência na formação
de seus quadros de pessoal. Os cargos em comissão, por sua vez, representam exceção à regra.

Nesse contexto, a jurisprudência do STF é assertiva quanto às condições para a criação de cargos
em comissão3. No julgamento do RE 1.041.210 (Tema 1010 RG), o Tribunal cuidou de consolidar os
critérios cumulativos que devem nortear o controle de constitucionalidade das leis que os criam.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação, com
eficácia ex nunc a contar da publicação da ata de julgamento.

ADI 6655/SE, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 6.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1053)

1.3 CONCURSO PÚBLICO

Isenção da taxa de inscrição em concurso público a servidores públicos estaduais -


ADI 5818/CE e ADI 3918/SE

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que isenta servidores públicos da taxa de inscrição em


concursos públicos promovidos pela Administração Pública local, privilegiando, sem justificativa
razoável para tanto, um grupo mais favorecido social e economicamente.

O STF compreende o concurso público como mecanismo que proporciona a realização concreta
dos princípios constitucionais da isonomia e da impessoalidade, não admitindo discrímen que, ao invés de
fomentar a igualdade de acesso aos cargos e empregos públicos, amplia a desigualdade entre os possíveis
candidatos4. Nesse contexto, esta Corte já proclamou a constitucionalidade de normas que, com fulcro na
ideia de igualdade material, instituíram benefício em favor de grupo social desfavorecido 5.

No caso, as normas impugnadas ─ ao fundamento de incentivarem a permanência dos servidores


públicos nessa condição, valorizando-os de modo a concretizar o princípio da eficiência ─ se mostram
discriminatórias, pois, de forma anti-isonômica, favorecem a categoria em detrimento de um grupo de
pessoas que, por insuficiência de recursos, não conseguiria arcar com os custos da inscrição, restringindo,
consequentemente, o acesso à via do concurso público.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, em julgamentos autônomos, julgou
procedentes as ações diretas para declarar a inconstitucionalidade (i) do parágrafo único do art. 4º da Lei
11.449/1988, inserido pela Lei 11.551/1989, ambas do Estado do Ceará 6; e (ii) do art. 6º, III, “d”, da Lei
2.778/1989, do Estado do Sergipe7.

ADI 5818/CE, relator Min. Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Min. Dias Toffoli,
julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1054)

ADI 3918/SE, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1054)
3
Precedentes: ADI 3.233; ADI 3.174; ADI 4.867; ADI 4.125; ADI 5.542; e RE 719.870 (Tema 670 RG).
4
Precedentes: ADI 1350; ADI 2949; ADI 2364; ADI 3522; e ADI 5776.
5
Precedentes: ADI 2177; e ADPF 186.
6
Lei 11.449/1988 do Estado do Ceará: “Art. 4º (...) Parágrafo único. Os servidores públicos estaduais são isentos de
pagamento da taxa de inscrição em qualquer concurso de admissão no serviço público promovido pela Administração
Pública Estadual, Direta, Indireta e Fundacional.”
7
Lei 2.778/1989 do Estado de Sergipe: “Art. 6º: São também excluídas do campo de incidência das taxas estaduais,
por isenção: (...) III - a prática de atos e expedição de documentos relativos: (...) d) a inscrição de servidores públicos
da administração direta e indireta em qualquer concurso público promovido por entidade pública estadual de qualquer
dos poderes;”

12
1.4 CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Transferência da concessão e do controle societário das concessionárias de serviços


públicos - ADI 2946/DF

Resumo:

É constitucional a transferência da concessão e do controle societário das concessionárias


de serviços públicos, mediante anuência do poder concedente (Lei 8.987/1995, art. 27)8.

Nessas hipóteses, a base objetiva do contrato continua intacta. Permanecem o mesmo objeto
contratual, as mesmas obrigações contratuais e a mesma equação econômico-financeira. O que ocorre é
apenas a sua modificação subjetiva, seja pela substituição do contratado, seja em razão da sua
reorganização empresarial.

Em nosso sistema jurídico, o que interessa à Administração é, sobretudo, a seleção da proposta


mais vantajosa, independentemente da identidade do particular contratado, ou dos atributos psicológicos
ou subjetivos de que disponha. No tocante ao particular contratado, basta que seja pessoa idônea, ou seja,
que tenha comprovada capacidade para cumprir as obrigações assumidas no contrato, o que também é
aferido por critérios objetivos e preestabelecidos.

Ademais, considerando a dinâmica peculiar e complexa das concessões públicas, é natural que o
próprio regime jurídico das concessões contenha institutos que permitam aos concessionários se
ajustarem às adversidades da execução contratual com a finalidade de permitir a continuidade da
prestação dos serviços públicos e, sobretudo, a sua prestação satisfatória ou adequada. A retomada dos
serviços pela Administração pode se mostrar demasiadamente onerosa para o poder público concedente e
uma nova licitação, além de implicar custos altíssimos, demanda tempo para seu necessário planejamento
e, ao final, pode resultar em tarifas mais caras para os usuários.

Por fim, ressalta-se que as normas constitucionais que estipulam a obrigatoriedade de licitação na
outorga inicial da prestação de serviços públicos a particulares não definem os exatos contornos do dever
de licitar (CF/1988, arts. 37, XXI, e 175, caput) 9. Cabe, portanto, ao legislador ordinário ampla liberdade
quanto à sua conformação à vista da dinamicidade e da variedade das situações fáticas a serem abrangidas
pela respectiva normatização10.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente o pedido formulado
em ação direta.

ADI 2946/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1046)

8
Lei 8.987/1995: “Art. 27. A transferência de concessão ou do controle societário da concessionária sem prévia
anuência do poder concedente implicará a caducidade da concessão. §1º Para fins de obtenção da anuência de que
trata o caput deste artigo o pretendente deverá: I - atender às exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira
e regularidade jurídica e fiscal necessárias à assunção do serviço; e II - comprometer-se a cumprir todas as cláusulas
do contrato em vigor.”
9
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (...) XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,
compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a
todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da
proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. (...) Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei,
diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.”
10
Precedentes: ADI 5841 MC; ADI 2452; ADI 4829 e ADI 5942.

13
1.5 CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA

Contratação temporária: vacância de cargo público efetivo e educação pública -


ADPF 915/MG

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que, de maneira genérica e abrangente, permite a


convocação temporária de profissionais da área da educação sem prévio vínculo com a
Administração Pública para suprir vacância de cargo público efetivo.

O Plenário da Corte deliberou que a medida viola a regra constitucional do concurso público 11,
ao permitir a contratação de servidores para atividades absolutamente previsíveis, permanentes e
ordinárias do Estado, autorizando que sucessivas contratações temporárias perpetuem indefinidamente a
precarização de relações trabalhistas no âmbito da Administração Pública 12.

Além disso, não basta que a lei autorize a contratação de pessoal por prazo limitado para
conformar-se ao texto constitucional, uma vez que a excepcionalidade das situações emergenciais afasta a
possibilidade de que elas, de transitórias, se transmudem em permanentes.

Nesse contexto, o Tribunal já definiu ser necessário para a contratação temporária que: a) os
casos excepcionais estejam previstos em lei; b) o prazo de contratação seja pré-determinado; c) a
necessidade seja temporária; e d) o interesse público seja excepcional. Quanto à contratação destinada a
suprir necessidade temporária que exsurge da vacância do cargo efetivo, ela há de durar apenas o tempo
necessário para a realização do próximo concurso público13.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a não recepção pela CF/88 dos dispositivos legais impugnados, além da inconstitucionalidade,
por arrastamento, dos atos normativos infralegais que guardam inteira dependência com aqueles,
modulando os efeitos da decisão no intuito de preservar os contratos temporários firmados até a conclusão
do julgamento de mérito.

ADPF 915/MG, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 20.5.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1055)

1.6 PROCESSO ADMINISTRATIVO

Processo administrativo e princípio da publicidade - ADI 5371/DF

Tese fixada:

“Os processos administrativos sancionadores instaurados por agências reguladoras contra


concessionárias de serviço público devem obedecer ao princípio da publicidade durante toda a sua
tramitação, ressalvados eventuais atos que se enquadrem nas hipóteses de sigilo previstas em lei e
na Constituição”.

11
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (...) II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração; (...) IX – a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a
necessidade temporária de excepcional interesse público;”
12
Precedente: ADI 5267.
13
Precedente: ADI 3649.

14
Resumo:

Em regra, a imposição de sigilo a processos administrativos sancionadores, instaurados por


agências reguladoras contra concessionárias de serviço público, é incompatível com a Constituição.

Isso porque (i) a regra no regime democrático instaurado pela Constituição de 1988 é a
publicidade dos atos estatais, sendo o sigilo absolutamente excepcional; (ii) a Constituição Federal afasta
a publicidade em apenas duas hipóteses: informações cujo sigilo seja imprescindível à segurança do
Estado e da sociedade e proteção à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas; (iii) essas
exceções constitucionais, regulamentadas pelo legislador especialmente na “Lei de Acesso à Informação”,
devem ser interpretadas restritivamente, sob forte escrutínio do princípio da proporcionalidade; e (iv) o
STF deve se manter vigilante na defesa da publicidade estatal, pois retrocessos à transparência pública
têm sido recorrentes.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado e declarou a inconstitucionalidade do art. 78-B da Lei 10.233/2001.

ADI 5371/DF, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 25.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1045)

1.7 PROCURADORES; SUBSÍDIOS

Quitação de dívida ativa por meio alternativo de cobrança e honorários advocatícios


de procuradores estaduais - ADI 5910/RO

Resumo:

É constitucional, desde que observado o teto remuneratório, norma estadual que destina
aos procuradores estaduais honorários advocatícios incidentes na hipótese de quitação de dívida
ativa em decorrência da utilização de meio alternativo de cobrança administrativa ou de protesto
de título.

O STF já se manifestou pela constitucionalidade dos procedimentos alternativos à execução


fiscal por se inserirem, atendidas as suas orientações, no contexto das medidas que visam aprimorar a
eficiência e a eficácia da cobrança do crédito inscrito em dívida ativa14.

Também à luz da jurisprudência do Tribunal, é constitucional o pagamento, a procuradores


estaduais, de honorários advocatícios sucumbenciais e decorrentes de acordos administrativos —
respeitado o limite remuneratório constitucional, já que consistem em parcela remuneratória salarial —,
não se vislumbrando nisso usurpação da competência da União para legislar sobre direito civil ou
processo civil (art. 22, I, da CF/88), ofensa ao regime de subsídios e violação aos princípios da
moralidade, da razoabilidade ou da isonomia15.

No caso, a destinação de 10% sobre o valor total da dívida aos procuradores estaduais, quando
utilizado meio alternativo de cobrança administrativa ou de protesto de título, não ofende a razoabilidade
ou a proporcionalidade e é consonante com o princípio da eficiência, pois, quanto mais exitosa a atuação
deles, mais se beneficia a Fazenda Pública estadual e, assim, a coletividade.

Com esse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação
direta para conferir interpretação conforme a Constituição ao art. 2º, § 5º, da Lei 2.913/2012, incluído
pela Lei 3.526/2015, ambas do Estado de Rondônia 16, de modo a estabelecer que a soma dos subsídios e

14
Precedentes: ADI 5135; ADI 5925; ADI 5881; ADI 5886; ADI 5890; ADI 5931; e ADI 5932.
15
Precedentes: ADI 6165; ADI 6178; ADI 6181; ADI 6197; ADI 6053; ADPF 597; ADI 6159; e ADI 6170.
16
Lei 2.913/2012 do Estado de Rondônia: “Art. 2°. Na cobrança de créditos do Estado, de suas autarquias e
fundações, ficam os Procuradores do Estado autorizados a não ajuizar execuções fiscais referentes aos débitos
tributários e não tributários, ou dar prosseguimento nas execuções fiscais já em andamento, quando o valor atualizado

15
honorários percebidos mensalmente pelos procuradores estaduais não poderá exceder o teto
remuneratório previsto no art. 37, XI, da CF/1988.

ADI 5910/RO, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1056)

1.8 REMUNERAÇÃO

Auditor substituto de conselheiro de Corte de Contas estadual e remuneração


proporcional - ADI 6951/CE e ADI 6952/AM

Resumo:

É constitucional norma estadual que prevê o pagamento proporcional da remuneração


devida a conselheiro de Tribunal de Contas para auditor em período de substituição.

Com efeito, trata-se de compensação financeira, justa e devida, cuja constitucionalidade já foi
reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal17. Por constituir exercício temporário das mesmas funções,
admite-se o pagamento dos mesmos vencimentos e vantagens, por critério de isonomia. Não se trata,
portanto, de equiparação ou vinculação das remunerações das duas carreiras, prática vedada pela
CF/198818 19.

Ademais, como o conteúdo das normas impugnadas não é a sistematização da remuneração da


carreira de auditor dos Tribunais de Contas estaduais, não há ofensa ao art. 37, X, da CF/1988 20. Inexiste,
ainda, qualquer afronta ao modelo federal de fiscalização dos Tribunais de Contas, cuja observância pelos
estados é compulsória, nos termos do art. 75 da CF/198821.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedentes as ações.

ADI 6951/CE, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 10.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1058)
ADI 6952/AM, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 10.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1058)

Impossibilidade de concessão de aumento pelo Poder Judiciário com fundamento no


princípio da isonomia - ARE 1341061/SC (Tema 1175 RG)

Tese fixada:

do crédito inscrito em dívida ativa for igual ou inferior a 1.000 (um mil) Unidades Padrão Fiscal do Estado de
Rondônia - UPF/RO. (...) § 5º. Na hipótese de quitação da dívida, em decorrência da utilizado de meio alternativo de
cobrança administrativa ou de protesto de título, incidirão honorários advocatícios no percentual de 10% (dez por
cento) sobre o valor total da dívida atualizada destinados na forma do artigo 57, da Lei Complementar n. 20 de 2 de
julho de 1987.”
17
Precedentes: ADI 507; e ADI 6950.
18
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (...) XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies
remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público;”
19
Precedentes: ADI 396; ADI 1274; e ADI 431 MC.
20
CF/1988: “Art. 37 (...) X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39
somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada
revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices;”
21
Precedentes: ADI 5323; ADPF 272; ADI 4776; ADI 5290; e ADI 4416.

16
“Contraria o disposto na Súmula Vinculante 37 a extensão, pelo Poder Judiciário e com
fundamento no princípio da isonomia, do percentual máximo previsto para o Adicional de
Compensação por Disponibilidade Militar, previsto na Lei 13.954/2019, a todos os integrantes das
Forças Armadas.”22

Resumo:

Não se admite a concessão do Adicional de Compensação por Disponibilidade Militar no


percentual máximo estabelecido pela Lei 13.954/2019 a todos os integrantes das Forças Armadas,
com fundamento no princípio da isonomia.

Isso porque “não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar
vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia” (Súmula Vinculante 37).

Ademais, a opção pela adoção de valores variáveis a depender do cargo ocupado representa
escolha essencialmente política, baseada nas características próprias da carreira, tarefas desempenhadas,
grau de responsabilidade, entre outros, cuja análise compete apenas aos Poderes Executivo (que detém a
iniciativa de lei) e Legislativo.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, reconheceu a existência de repercussão
geral da questão constitucional suscitada (Tema 1175 RG). Vencido o ministro Ricardo Lewandowski.
No mérito, por unanimidade, reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria para conhecer o
agravo e desprover o recurso extraordinário.

ARE 1341061/SC, rel. Min. Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 15.10.2021
(INF 1043)

1.9 REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA

Requisição administrativa de bens ou serviços públicos - ADI 3454/DF

Resumo:

A requisição administrativa “para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e


transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de
epidemias” — prevista na Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde (Lei 8.080/1990) — não recai
sobre bens e/ou serviços públicos de outro ente federativo.

O permissivo constitucional para a requisição administrativa de bens particulares, em caso de


iminente perigo público23, tem aplicação nas relações entre Poder Público e patrimônio privado, não
sendo possível estender a hipótese às relações entre as unidades da Federação.

Nos termos da jurisprudência desta Corte 24, ofende o princípio federativo a requisição de bens e
serviços de um ente federado por outro, o que somente se admitiria excepcionalmente à União durante a
vigência de estado de defesa (CF/1988, art. 136, § 1º, II) e estado de sítio (CF/1988, art. 139, VII).

Entre os entes federados não há hierarquia, sendo-lhes assegurado tratamento isonômico,


ressalvadas apenas as distinções porventura constantes na própria CF/1988. Portanto, como as relações
entre eles se caracterizam pela cooperação e horizontalidade, tal requisição, ainda que a pretexto de acudir
situação fática de extrema necessidade, importa ferimento da autonomia daquele cujos bens ou serviços
públicos são requisitados, acarretando-lhe incontestável desorganização.
22
Precedentes: RE 592.317; ARE 1.208.032; ARE 1.278.713.
23
CF/1988: “Art. 5º (...) XXV – no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de
propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;”
24
Precedentes: ACO 3463 MC-Ref; ACO 3393 MC-Ref.; ACO 3398 (monocrática); e ACO 3385 (monocrática).

17
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
atribuir interpretação conforme a Constituição ao art. 15, XIII, da Lei 8.080/1990 25, excluindo a
possibilidade de requisição administrativa de bens e serviços públicos de titularidade de outros entes
federativos.

ADI 3454/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1059)

1.10 SERVIÇOS PÚBLICOS

Medidas para garantir a continuidade de serviços públicos essenciais e direito de


greve - ADI 4857/DF

Resumo:

São constitucionais o compartilhamento, mediante convênio, com estados, Distrito Federal


ou municípios, da execução de atividades e serviços públicos federais essenciais, e a adoção de
procedimentos simplificados para a garantia de sua continuidade em situações de greve,
paralisação ou operação de retardamento promovidas por servidores públicos federais.

Nessa hipótese, não se criam cargos, nem se autoriza contratação temporária. Tampouco
delegam-se atribuições de servidores públicos federais a servidores públicos estaduais, ou autoriza-se a
investidura em cargo público federal sem a aprovação prévia em concurso público. O que se tem é o
compartilhamento da execução da atividade ou serviço para garantia da continuidade do serviço público
em situações excepcionais ou temporárias, motivo pelo qual a medida será encerrada ao término daquelas
circunstâncias.

Ademais, considerando que o Decreto 7.777/201226, que prevê essa cooperação entre entes
federativos, retira seu fundamento legal da Lei 7.783/1989 (arts. 11 e 12) 27, a aplicação das medidas nele
previstas deve se restringir aos serviços públicos considerados essenciais.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente
ação direta.

25
Lei 8.080/1990: “Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu âmbito
administrativo, as seguintes atribuições: (...) XIII – para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e
transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias, a
autoridade competente da esfera administrativa correspondente poderá requisitar bens e serviços, tanto de pessoas
naturais como de jurídicas, sendo-lhes assegurada justa indenização;”
26
Decreto 7.777/2012: “Art. 1º Compete aos Ministros de Estado supervisores dos órgãos ou entidades em que
ocorrer greve, paralisação ou retardamento de atividades e serviços públicos: I - promover, mediante convênio, o
compartilhamento da execução da atividade ou serviço com Estados, Distrito Federal ou Municípios; e II - adotar,
mediante ato próprio, procedimentos simplificados necessários à manutenção ou realização da atividade ou serviço. §
1º As atividades de liberação de veículos e cargas no comércio exterior serão executadas em prazo máximo a ser
definido pelo respectivo Ministro de Estado supervisor dos órgãos ou entidades intervenientes. § 2º Compete à chefia
de cada unidade a observância do prazo máximo estabelecido no § 1º. § 3º A responsabilidade funcional pelo
descumprimento do disposto nos §§ 1º e 2º será apurada em procedimento disciplinar específico. Art. 2º O Ministro
de Estado competente aprovará o convênio e determinará os procedimentos necessários que garantam o
funcionamento regular das atividades ou serviços públicos durante a greve, paralisação ou operação de retardamento.
Art. 3º As medidas adotadas nos termos deste Decreto serão encerradas com o término da greve, paralisação ou
operação de retardamento e a regularização das atividades ou serviços públicos. Art. 4º Este Decreto entra em vigor
na data de sua publicação.”
27
Lei 7.783/1989: “Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores
ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da
comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da
população. Art. 12. No caso de inobservância do disposto no artigo anterior, o Poder Público assegurará a prestação
dos serviços indispensáveis.”

18
ADI 4857/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 11.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1046)

Reajuste de tarifas telefônicas: cláusula contratual, inflação e revisão judicial - RE


1059819/PE (Tema 991 RG)

Tese fixada:

“Afronta o princípio da separação dos Poderes a anulação judicial de cláusula de contrato


de concessão firmado por Agência Reguladora e prestadora de serviço de telefonia que, em
observância aos marcos regulatórios estabelecidos pelo Legislador, autoriza a incidência de reajuste
de alguns itens tarifários em percentual superior ao do índice inflacionário fixado, quando este não
é superado pela média ponderada de todos os itens.”

Resumo:

Em regra, não cabe ao Poder Judiciário anular cláusula de contrato de concessão de


serviço público que autoriza o reajuste de tarifa telefônica em percentual superior ao índice
inflacionário.

Isso porque a intervenção do Judiciário no âmbito regulatório dá-se com vistas ao controle de
legalidade, respeitadas as capacidades institucionais das entidades de regulação e a discricionariedade
técnica dos atos editados, motivo pelo qual interferir em ato autorizado pela Anatel, que não excedeu os
limites conferidos pelo legislador, importa em afronta ao princípio da separação dos Poderes 28.

Com base nesse entendimento, ao concluir a apreciação do Tema 991 da repercussão geral, o
Plenário, por maioria, deu provimento ao recurso extraordinário para, reformando o acórdão recorrido,
julgar improcedente ação civil pública, mantendo válido o acréscimo de 9% no reajuste individual dos
itens tarifários acima do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), constante na cláusula
11.1 do contrato de concessão.

RE 1059819/PE, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1044)

1.11 SERVIDOR PÚBLICO

Extensão da licença-maternidade a servidor público pai solo - RE 1348854/SP (Tema


1182 RG)

Tese fixada:

“À luz do art. 227 da Constituição Federal, que confere proteção integral da criança com
absoluta prioridade e do princípio da paternidade responsável, a licença maternidade, prevista no
art. 7º, XVIII, da CF/88 e regulamentada pelo art. 207 da Lei 8.112/1990, estende-se ao pai genitor
monoparental.”

Resumo:

O servidor público que seja pai solo ─ de família em que não há a presença materna ─ faz
jus à licença maternidade e ao salário maternidade pelo prazo de 180 dias, da mesma forma em que
garantidos à mulher pela legislação de regência.

28
Precedente: ADI 4.679.

19
A construção interpretativa e jurisprudencial do Tribunal, acompanhando os avanços da
Constituição no campo da justiça social e dos direitos da dignidade da pessoa humana, passou a legitimar
e igualar as diversas configurações de família e filiação. Inclusive, esta Corte tem reiteradamente realçado
que a CF/1988 e o ECA adotaram a doutrina da proteção integral e o princípio da prioridade absoluta das
crianças e dos adolescentes enquanto pessoas em desenvolvimento, devendo-lhes ser asseguradas todas as
condições para uma convivência familiar saudável, harmônica e segura, quer seja o vínculo familiar
biológico ou estabelecido pelos institutos da guarda ou adoção 29.

Assim, embora inexistente previsão legal, o benefício deve ser excepcionalmente estendido ao
pai de família monoparental, em respeito aos princípios da isonomia de direitos entre o homem e a
mulher30 e da proteção integral à criança 31, já que destinado a assegurar o melhor interesse do menor,
cujos laços de afetividade com o responsável por sua criação e educação são formados ainda nos
primeiros dias de vida.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.182 da
repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 1348854/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 12.5.2022 (INF


1054)

Reenquadramento de servidor admitido sem concurso público antes da promulgação


da Constituição Federal de 1988 - ARE 1306505/AC (Tema 1157 RG)

Tese fixada:

“É vedado o reenquadramento, em novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração, de


servidor admitido sem concurso público antes da promulgação da Constituição Federal de 1988,
mesmo que beneficiado pela estabilidade excepcional do artigo 19 do ADCT, haja vista que esta
regra transitória não prevê o direito à efetividade, nos termos do artigo 37, II, da Constituição
Federal e decisão proferida na ADI 3609 (Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe.
30/10/2014).”

Resumo:

Servidor admitido sem concurso público antes da promulgação da CF/1988, ainda que
beneficiado pela estabilidade excepcional do art. 19 do ADCT, não pode ser reenquadrado em novo
Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração previsto para servidores efetivos.

29
Precedentes: ADI 5938; RE 629053 (Tema 497 RG); ADI 4878; ADI 5083; ADI 6600; ADI 4277; ADPF 132; e
RE 778889 (Tema 782 RG).
30
CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;”
31
CF/1988: “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

20
Embora o art. 19 do ADCT 32 tenha conferido estabilidade excepcional aos servidores que foram
admitidos, sem concurso público, há pelo menos cinco anos contínuos da data da promulgação da
CF/1988, nada dispôs acerca da possibilidade de esses servidores usufruírem de benefícios legalmente
estabelecidos para os ocupantes de cargos efetivos que ingressaram mediante concurso público. Os
servidores que adquiriram essa estabilidade excepcional possuem apenas o direito de permanecer na
função para as quais foram admitidos, devendo submeter-se a certame público para serem efetivados no
cargo, nos termos do art. 37, II, da CF/198833 e 34.

Dessa forma, se nem mesmo os servidores que preenchem os requisitos do art. 19 do ADCT
fazem jus aos benefícios conferidos aos que ingressaram na Administração Pública mediante prévia
aprovação em concurso público, com menos razão pode-se cogitar, no caso concreto, da continuidade de
situação notoriamente inconstitucional, em que servidor contratado pelo regime celetista, sem concurso
público, sem qualquer estabilidade, usufrui de benefícios legalmente previstos apenas para servidores
públicos efetivos35.

Além disso, a concessão de efeitos prospectivos à decisão proferida na ADI 3609 não teve por
escopo garantir efetividade aos servidores que ingressaram no serviço público estadual sem concurso até
5.2.2015, mas sim conceder ao Estado tempo suficiente para realizar concurso público para o
preenchimento dos cargos que foram ocupados de forma inconstitucional e evitar a paralisação de serviço
público essencial.

Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1157 da repercussão
geral, conheceu do agravo para, desde logo, dar provimento ao recurso extraordinário, e denegar a
segurança.

ARE 1306505/AC, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em


28.3.2022 (INF 1048)

32
ADCT: “Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da
administração direta, autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da promulgação da Constituição, há
pelo menos cinco anos continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da Constituição,
são considerados estáveis no serviço público.”
33
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (...) II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração;”
34
Precedentes: ARE 1238618 AgR; ARE 1069876 AgR; ADI 289; ADI 3609; ADPF 482; ADI 1757; ADI 2364;
ADI 1476; ADI 5163; ADI 1269; ADI 1202; Rcl 35146 AgR; ADI 4233.
35
Precedentes: ARE 985614 AgR; MS 30294; RE 817338; RE 1219419 AgR; ARE 1248621 AgR; ARE 1247837
AgR.

21
2. DIREITO AMBIENTAL

2.1 ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL PERMANENTE

Área de Preservação Ambiental Permanente e competência legislativa - ADI


5675/MG

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que legitime ocupações em solo urbano de área de


preservação permanente (APP) fora das situações previstas em normas gerais editadas pela União.

Em matéria de competência legislativa concorrente, vale a regra da predominância do interesse,


respeitando-se a legislação estadual sempre — e apenas — que ela promover um aumento no padrão
normativo de proteção aos bens jurídicos tutelados36.

Nesse sentido, se a lei estadual amplia os casos de ocupação antrópica em áreas de preservação
permanente previstos na norma federal vigente à época (no caso, a Lei 11.977/2009, revogada pela Lei
13.465/2017), ela, além de estar em descompasso com o conjunto normativo elaborado pela União,
flexibiliza a proteção ao meio ambiente local, tornando-o mais propenso a sofrer danos.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade dos arts. 2º, III; 3º, II, c, e 17 da Lei
20.922/2013 do Estado de Minas Gerais.

ADI 5675/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 17.12.2021
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1042)

2.2 COMBATE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Fundo Clima: funcionamento, destinação de recursos e contingenciamento de verbas


- ADPF 708/DF

Tese fixada:

“O Poder Executivo tem o dever constitucional de fazer funcionar e alocar anualmente os


recursos do Fundo Clima, para fins de mitigação das mudanças climáticas, estando vedado seu
contingenciamento, em razão do dever constitucional de tutela ao meio ambiente (CF, art. 225), de
direitos e compromissos internacionais assumidos pelo Brasil (CF, art. 5º, § 2º), bem como do
princípio constitucional da separação dos poderes (CF, art. 2º c/c art. 9º, § 2º, LRF).”

Resumo:

É dever do Poder Executivo dar pleno funcionamento ao Fundo Nacional sobre Mudança
do Clima (Fundo Clima) e alocar anualmente seus recursos com o intuito de mitigar as mudanças
climáticas, sendo vedado o contingenciamento de suas receitas.

A União e os representantes eleitos têm dever constitucional, supralegal e legal de proteger o


meio ambiente e de combater as mudanças climáticas. Ademais, os tratados sobre direito ambiental
desfrutam de status supranacional, pois constituem espécie do gênero tratados de direitos humanos.

36
Precedentes: ADPF 109; ADI 5.312; ADI 4.988.

22
Assim, a tutela ambiental possui natureza jurídica vinculante, eis que não inserida em juízo
político, de conveniência e oportunidade, do chefe do Poder Executivo, de modo que, acaso evidenciado
um contexto de colapso nas políticas públicas atinentes ao tema, o Poder Judiciário deve atuar para
garantir obediência ao princípio da vedação ao retrocesso.

Além disso, a alocação de recursos do Fundo concretiza o dever constitucional de tutela e


restauração do meio ambiente, assim como dos direitos fundamentais que lhes são interdependentes.
Como as suas receitas são vinculadas por lei a atividades determinadas, não podem ser objeto de
contingenciamento, nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal37.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para: (i)
reconhecer a omissão da União, em razão da não alocação integral dos recursos do Fundo Clima
referentes a 2019; (ii) determinar à União que se abstenha de se omitir em fazer funcionar o Fundo Clima
ou em destinar seus recursos; e (iii) vedar o contingenciamento das receitas que integram o Fundo.

ADPF 708/DF, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1061)

2.3 COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS

Composição de órgãos de controle ambiental - ADPF 651/DF

Resumo:

São inconstitucionais as normas que, a pretexto de reestruturarem órgãos ambientais,


afastam a participação da sociedade civil e dos governadores do desenvolvimento e da formulação
de políticas públicas, bem como reduzem, por via de consequência, o controle e a vigilância por eles
promovidos.

A Constituição Federal confere ao Poder Público e à coletividade o dever de preservar e defender


o meio ambiente38. A responsabilidade da coletividade só existe se a ela for viabilizada a participação na
formulação, execução e controle das políticas públicas ambientais, razão pela qual a Constituição também
teve o cuidado de estabelecer o dever de o Poder Público promover a educação ambiental, em todos os
níveis de ensino, e a conscientização pública para a necessidade de preservação do meio ambiente (CF,
art. 225, § 1º, VI).

Nesse sentido, as medidas de proteção ambiental devem se orientar para acolher a participação
da sociedade civil. Nesse contexto, a eliminação da presença de seus representantes na composição de
órgãos ambientais exclui a coletividade da atuação cívica das políticas adotadas, bem como confere ao
Poder Executivo o controle exclusivo de suas decisões, neutralizando o caráter plural, crítico e

37
Precedente: ADPF 347 MC.
38
CF/1988: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I -
preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II -
preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e
manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei,
vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na
forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização
e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (...)”

23
diversificado da formulação, desempenho e controle social, que, por definição constitucional, caracteriza
condição inerente à atuação desses órgãos.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para (i)
declarar a inconstitucionalidade do art. 5º do Decreto 10.224/2020, que extinguiu a participação da
sociedade civil no Conselho Deliberativo do Fundo Nacional do Meio Ambiente; e (ii) declarar a
inconstitucionalidade do Decreto 10.239/2020, especificamente no ponto em que excluída a participação
de governadores no Conselho Nacional da Amazônia Legal; e do inciso CCII do art. 1º do Decreto
10.223/2020, especificamente no ponto em que se extinguiu o Comitê Orientador do Fundo Amazônia.

ADPF 651/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento finalizado em 28.4.2022 (INF 1052)

2.4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Concessão automática de licença ambiental para empresas com grau de risco médio -
ADI 6808/DF

Resumo:

É inconstitucional a concessão automática de licença ambiental no sistema responsável pela


integração (Redesim) para o funcionamento de empresas que exerçam atividades de risco médio
nos termos da classificação estabelecida em ato do Poder Público.

O licenciamento ambiental dispõe de base constitucional 39 e não pode ser suprimido, ainda que
de forma indireta, por lei. Também não pode ser simplificado a ponto de ser esvaziado, salvo se a norma
que o excepcionar apresentar outro instrumento apto a assegurar a proteção ao meio ambiente com igual
ou maior qualidade.

Nesse contexto, a simplificação do procedimento pelo argumento da desburocratização e


desenvolvimento econômico, com controle apenas posterior, configura retrocesso inconstitucional, pois
afasta os princípios da prevenção e da precaução ambiental. A automaticidade, por sua vez, contraria
norma específica sobre o licenciamento ambiental, segundo a qual as atividades econômicas potencial ou
efetivamente causadoras de impacto ambiental estão sujeitas ao controle estatal 40.

Não possui fundamento constitucional válido a vedação da coleta adicional, pelos órgãos
competentes, de dados que não tenham sido disponibilizados na Redesim previamente ou no ato do
protocolo do pedido de licenciamento.

A proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, para as presentes e futuras gerações,


não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ser dependente de motivações
exclusivamente econômicas, na medida em que o desenvolvimento econômico deve ocorrer de forma
sustentável.
39
CF/1988: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...)
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a
produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a
qualidade de vida e o meio ambiente;”
40
Lei 6.938/1981: “Art. 10.  A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades
utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental.”

24
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação
para dar interpretação conforme ao art. 6º-A e ao inciso III do art. 11-A, ambos da Lei 14.195/2021 41, não
aplicando-os às licenças em matéria ambiental.

ADI 6808/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento em 28.4.2022 (INF 1052)

Licenciamento ambiental e competência municipal - ADI 2142/CE

Tese fixada:

“É inconstitucional interpretação do art. 264 da Constituição do Estado do Ceará de que


decorra a supressão da competência dos Municípios para regular e executar o licenciamento
ambiental de atividades e empreendimentos de impacto local.”

Resumo:

Cabe aos municípios promover o licenciamento ambiental das atividades ou


empreendimentos que possam causar impacto ambiental de âmbito local.

Com amparo nas regras de repartição de competências, o entendimento desta Corte se firmou no
sentido de que o município é competente para legislar sobre o meio ambiente com a União e o estado no
limite do seu interesse local e desde que tal regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida
pelos demais entes federados (CF/1988, art. 24, VI c/c o art. 30, I e II)42.

A Política Nacional do Meio Ambiente, estabelecida pela Lei 6.938/1981, expressamente prevê
que dependem de licenciamento ambiental a construção, a instalação, a ampliação e o funcionamento de
estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores
ou capazes de causar degradação ambiental sob qualquer forma. Nesse contexto, o conjunto normativo 43 44
e a jurisprudência acerca do tema45 reforçam a referida competência municipal e a sua importância.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
conferir interpretação conforme a Constituição Federal ao art. 264 da Constituição do Estado do Ceará 46,
no sentido de que a aplicação do dispositivo deve se limitar à estrutura político-administrativa do Estado

41
Lei 14.195/2021: Art. 6º-A Sem prejuízo do disposto no inciso I do caput do art. 3º da Lei nº 13.874, de 20 de
setembro de 2019, nos casos em que o grau de risco da atividade seja considerado médio, na forma prevista no art. 5º-
A desta Lei, o alvará de funcionamento e as licenças serão emitidos automaticamente, sem análise humana, por
intermédio de sistema responsável pela integração dos órgãos e das entidades de registro, nos termos estabelecidos
em resolução do CGSIM. (...) Art. 11-A. Não poderão ser exigidos, no processo de registro de empresários, incluídos
produtores rurais estabelecidos como pessoas físicas, e de pessoas jurídicas realizado pela Redesim: (...) III - coletas
adicionais à realizada no âmbito do sistema responsável pela integração, a qual deverá ser suficiente para a realização
do registro e das inscrições, inclusive no CNPJ, e para a emissão das licenças e dos alvarás para o funcionamento do
empresário ou da pessoa jurídica.”
42
Precedente: RE 586224 (Tema 145 RG).

43
Lei Complementar 140/2011: “Art. 9º São ações administrativas dos Municípios: (...) XIV - observadas as
atribuições dos demais entes federativos previstas nesta Lei Complementar, promover o licenciamento ambiental das
atividades ou empreendimentos: a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme
tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte,
potencial poluidor e natureza da atividade; ou b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município,
exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);”
44
Resolução 237/1997 do CONAMA: “Art. 6º - Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os órgãos
competentes da União, dos Estados e do Distrito Federal, quando couber, o licenciamento ambiental de
empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por
instrumento legal ou convênio. Art. 7º - Os empreendimentos e atividades serão licenciados em um único nível de
competência, conforme estabelecido nos artigos anteriores.”
45
Precedente: ADI 6288.

25
do Ceará, ficando resguardadas as competências administrativa e legislativa dos municípios relativas ao
licenciamento de atividades e empreendimentos de impacto local.

ADI 2142/CE, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1060)

2.5 POLUIÇÃO

Resolução 491/2018-Conama: padrões de qualidade do ar e diretrizes da OMS - ADI


6148/DF

Resumo:

Ainda é constitucional a Resolução 491/2018 do Conselho Nacional do Meio Ambiente


(Conama), que dispõe sobre padrões de qualidade do ar. Entretanto, nova norma deve ser editada.

Mantém-se a constitucionalidade da resolução haja vista o cotejo das teses trazidas na inicial
com a jurisprudência desta Corte. Ademais, quando editada, a regulação consistiu em avanço, de forma
razoável, no tratamento da matéria. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que,
embora suas diretrizes sejam pensadas para o uso mundial, os padrões locais podem variar de acordo com
abordagens específicas para o equilíbrio de riscos à saúde, viabilidade tecnológica, considerações
econômicas e outros fatores políticos e sociais.

Apesar disso, a resolução está em trânsito para a inconstitucionalidade e precisa ser aperfeiçoada.
Logo, o Conama deve editar norma atualizada tendo em conta os novos parâmetros de qualidade do ar
recomendados pela OMS.

Com esses entendimentos, o Plenário, por maioria, conheceu de ação direta de


inconstitucionalidade e julgou improcedente o pedido nela formulado, para declarar ser ainda
constitucional a Resolução 491/2018-Conama e determinar que, no prazo de 24 meses a contar da
publicação do acórdão, o Conama edite nova resolução sobre a matéria, a qual deverá levar em
consideração: (i) as atuais orientações da OMS sobre os padrões adequados da qualidade do ar; (ii) a
realidade nacional e as peculiaridades locais; bem como (iii) os primados da livre iniciativa, do
desenvolvimento social, da redução da pobreza e da promoção da saúde pública. Decorrido o prazo de
vinte e quatro meses concedido, sem a edição de novo ato que represente avanço material na política
pública relacionada à qualidade do ar, passarão a vigorar os parâmetros estabelecidos pela OMS enquanto
perdurar a omissão administrativa na edição da nova resolução. Vencidos os ministros Cármen Lúcia
(relatora), Edson Fachin, Roberto Barroso e Rosa Weber.

ADI 6148/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. André Mendonça,
julgamento em 4 e 5.5.2022 (INF 1053)

2.6 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL

Supressão de marcos regulatórios ambientais e proibição do retrocesso ambiental -


ADPF 748/DF
46
Constituição do Estado do Ceará: “Art. 264. Qualquer obra ou atividade pública ou privada, para as quais a
Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE, exigir Estudo de Impacto Ambiental, deverá ter o parecer
técnico apreciado pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente – COEMA, com a publicação da resolução, aprovada
ou não, publicada no Diário Oficial do Estado.”

26
Resumo:

É inconstitucional a Resolução CONAMA 500/2020.

O poder normativo atribuído ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) pela


respectiva lei instituidora consiste em instrumento para viabilizar, ao agente regulador, a implementação
das diretrizes, finalidades, objetivos e princípios expressos na Constituição e na legislação ambiental,
orientando-se necessariamente de modo compatível com a ordem constitucional de proteção do
patrimônio ambiental.

Assim, a mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis


necessários ao cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, compromete a
observância do texto constitucional, da legislação vigente e de compromissos internacionais.

No caso, a Resolução CONAMA 500/2020 revogou as Resoluções CONAMA 284/2001,


302/2002 e 303/2002, as quais dispõem, respectivamente, sobre (i) licenciamento de empreendimentos de
irrigação; (ii) parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente de reservatórios
artificiais e o regime de uso do entorno; e (iii) parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação
Permanente.

Nesse contexto, ao revogar normativa necessária e primária de proteção ambiental na seara


hídrica, o ato normativo impugnado implicou evidente retrocesso na proteção e defesa dos direitos
fundamentais à vida, à saúde e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, pois revela autêntica
situação de degradação de ecossistemas essenciais à preservação da vida sadia, comprometimento da
integridade de processos ecológicos essenciais e perda de biodiversidade, assim como o recrudescimento
da supressão de cobertura vegetal em áreas legalmente protegidas47.

É constitucional a Resolução CONAMA 499/2020.

Ao disciplinar condições, critérios, procedimentos e limites a serem observados no licenciamento


de fornos rotativos de produção de clínquer para a atividade de coprocessamento de resíduos, a Resolução
atende não apenas à exigência de estudo prévio de impacto ambiental para a instalação de atividade
potencialmente causadora de degradação do meio ambiente, como também à obrigação imposta ao Poder
Público de controlar o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a
qualidade de vida e o meio ambiente.

Além disso, sua disciplina guarda consonância com a Lei 12.305/2020, que institui a Política
Nacional de Resíduos Sólidos, muito bem observando os critérios de razoabilidade e proporcionalidade
nela positivados como princípios setoriais.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a
ação para (i) declarar a inconstitucionalidade da Resolução CONAMA 500/2020, com a imediata
restauração da vigência e eficácia das Resoluções CONAMA 284/2001, 302/2002 e 303/2002; e (ii)
julgar improcedente o pedido de inconstitucionalidade da Resolução CONAMA 499/2020.

ADPF 748/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1055)

47
CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...) Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta Constituição. (...) Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

27
2.7 SANEAMENTO BÁSICO

Região metropolitana: saneamento básico, poder decisório e recursos obtidos com a


empreitada comum - ADI 6573/AL; ADI 6911/AL e ADPF 863/AL

Resumo:

É inconstitucional norma que prevê a concentração excessiva do poder decisório nas mãos
de só um dos entes públicos integrantes de região metropolitana.

A integração metropolitana de municípios visando promover melhorias das condições de


saneamento básico é compatível com a CF/1988, e a simples existência fática de isolamento ou não
integração do sistema não obsta a sua formação nos moldes da legislação de regência.

A concorrência entre o princípio do interesse comum e a autonomia municipal não deve traduzir-
se em total centralização do poder decisório metropolitano, uma vez que prevalece a tese da competência
e da titularidade conjuntas, que enseja a existência de uma estrutura colegiada assecuratória da
participação dos municípios integrantes da região metropolitana48.

Ainda que a gestão colegiada das regiões metropolitanas não esteja obrigada a respeitar a
paridade de votos entre seus integrantes, afronta o princípio da proibição da concentração decisória todo o
desenho institucional que agrupe poderes em apenas uma de suas pessoas políticas, conferindo-lhe o
exercício do predomínio absoluto nas instâncias deliberativas e/ou executivas.

Nesse mesmo contexto, é inadmissível que a gestão e a percepção dos frutos da empreitada
metropolitana comum, incluídos os valores referentes a eventual concessão à iniciativa privada,
aproveitem a apenas um dos entes federados.

A densificação da autonomia dos entes deve ser exercida com a lógica do compartilhamento,
assegurando-se a participação de todos na gestão dos recursos, mesmo que não siga uma proporção
estrita. Ainda que a Constituição e a jurisprudência não imponham um único modelo pré-fixado, é vedado
que apenas um ente absorva a integralidade das competências e das benesses.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, em julgamento conjunto e por unanimidade, julgou
parcialmente procedente a ADI 6.573 e totalmente procedentes a ADI 6.911 e a ADPF 863, modulando os
efeitos da decisão para resguardar a continuidade do essencial serviço de saneamento básico na região.

ADI 6573/AL, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1055)

ADI 6911/AL, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1055)

ADPF 863/AL, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1055)

48
Precedentes: ADI 1.842; ADI 1.841; e ADI 796.

28
3. DIREITO CIVIL

3.1 BEM DE FAMÍLIA

Bem de família: fiança; contrato de locação comercial e penhorabilidade - RE


1307334/SP (Tema 1127 RG)

Tese fixada:

“É constitucional a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação,


seja residencial, seja comercial.”

Resumo:

A penhorabilidade de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação também


se aplica no caso de locação de imóvel comercial.

A exceção à regra da impenhorabilidade do bem de família contida no inciso VII do art. 3º da


Lei 8.009/199049 é necessária, proporcional e razoável, mesmo na hipótese de locação comercial.

É necessária e proporcional, pois os outros meios legalmente aceitos para garantir o contrato de
locação comercial, tais como caução e seguro-fiança, são mais custosos para grande parte dos
empreendedores. Dessa forma, a fiança afigura-se a garantia que melhor propicia ganhos em termos da
promoção da livre iniciativa, da valorização do trabalho e da defesa do consumidor.

Já a razoabilidade se assenta no fato de que o fiador tem livre disposição dos seus bens, o que
deixa patente que a restrição ao seu direito de moradia encontra guarida no princípio da autonomia
privada e da autodeterminação das pessoas, que é um princípio que integra a própria ideia ou direito de
personalidade.

Com esses entendimentos, ao apreciar o Tema 1127 da repercussão geral, o Plenário, por
maioria, negou provimento a recurso extraordinário.

RE 1307334/SP, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022


(terça-feira), às 23:59 (INF 1046)

49
Lei 8.009/1990: “Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal,
previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: (...) VII – por obrigação decorrente de fiança
concedida em contrato de locação.”

29
4. DIREITO CONSTITUCIONAL

4.1 COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

Concessão de meia-entrada em estabelecimentos de lazer e entretenimento para


professores da rede pública estadual e municipais de ensino - ADI 3753/SP

Resumo:

É constitucional lei estadual que concede aos professores das redes públicas estadual e
municipais de ensino o benefício da meia-entrada nos estabelecimentos de lazer e entretenimento.

A competência para legislar sobre direito econômico é concorrente entre a União, os estados-
membros, o Distrito Federal e os municípios 50. Assim, como a legislação federal atualmente vigente que
trata do benefício em comento (Lei 12.933/2013) não contempla a específica categoria profissional
abrangida pela norma estadual impugnada, o ente federado pode utilizar-se legitimamente de sua
competência normativa supletiva para tanto51.

Sob o aspecto material, também não há inconstitucionalidade, uma vez que a medida não viola,
sob qualquer aspecto, o princípio da isonomia. O tratamento desigual criado pela lei (concessão da meia-
entrada apenas à parcela da categoria) está plenamente justificado — constitui estratégia de política
pública que se coaduna com a priorização absoluta da educação básica. Além disso, revela-se como
salutar intervenção parcimoniosa do Estado na ordem econômica, que visa à realização de relevantes
valores constitucionais, e como condição para a concretização da justiça social.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação direta.

ADI 3753/SP, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 8.4.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1050)

Concessão de porte de arma de fogo a procuradores estaduais por lei estadual - ADI
6985/AL

Resumo:

A concessão de porte de arma a procuradores estaduais, por lei estadual, é incompatível


com a Constituição Federal.

A Constituição Federal (CF) atribuiu à União a competência material para autorizar e fiscalizar o
armamento produzido e comercializado no País (CF, art. 21, VI) 52. Também outorgou ao legislador
federal a competência legislativa correspondente para ditar normas sobre material bélico (CF, art. 22,
XXI)53.

Além disso, a competência atribuída aos estados em matéria de segurança pública não pode se
sobrepor ao interesse mais amplo da União no tocante à formulação de uma política criminal de âmbito

50
CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito
tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (...) Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre
assuntos de interesse local;”
51
Precedentes: ADI 1950 e ADI 3512.
52
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;”
53
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XXI - normas gerais de organização,
efetivos, material bélico, garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos
corpos de bombeiros militares; (Redação dada pela EC 103/2019)”

30
nacional, cujo pilar central constitui exatamente o estabelecimento de regras uniformes, em todo o País,
para a fabricação, comercialização, circulação e utilização de armas de fogo. Há, portanto,
preponderância do interesse da União nessa matéria, quando confrontado o eventual interesse do estado-
membro em regulamentar e expedir autorização para o porte de arma de fogo54.

Assim, não existe espaço de conformação para que o legislador subnacional outorgue o porte de
armas de fogo a categorias funcionais não contempladas pela legislação federal.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 81, VII, da LC 7/1991 55 do Estado
de Alagoas.

ADI 6985/AL, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 25.2.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1045)

Extinção da pena de prisão disciplinar de policiais e bombeiros militares - ADI


6595/DF

Resumo:

É inconstitucional lei federal, de iniciativa parlamentar, que veda medida privativa e


restritiva de liberdade a policiais e bombeiros militares dos estados, dos territórios e do Distrito
Federal.

Na linha da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal 56, compete ao chefe do Poder Executivo
local a iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico de servidores militares estaduais e distritais,
por força do princípio da simetria57.

No caso, a norma impugnada resultou da aprovação do Projeto de Lei 7.645/2014, de autoria


parlamentar. Dessa forma, ainda que se entendesse que ela dispõe sobre normas gerais, de competência da
União, há um incontornável vício de inconstitucionalidade formal 58.

A lei combatida também padece de inconstitucionalidade material. Não obstante as polícias


militares e os corpos de bombeiros militares dos entes federados subordinem-se aos governadores,
constituem forças auxiliares e reserva do Exército, sendo responsáveis, em conjunto com as polícias de
natureza civil, e portando armas letais, pela preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e do patrimônio.

Nesse contexto, os servidores militares estaduais e distritais submetem-se a um regime jurídico


diferenciado59, motivo pelo qual a própria Constituição, expressamente, autoriza a prisão por
determinação de seus superiores hierárquicos no caso de transgressão das regras e não lhes assegura
sequer o habeas corpus em relação às punições disciplinares60.
54
Precedente: ADI 3112.
55
LC 7/1991 do Estado de Alagoas: “Art. 81. São prerrogativas do Procurador de Estado: (...) VII – portar arma,
valendo como documento de autorização a cédula de identidade funcional visada pelo Procurador-Geral do Estado e
pelo Secretário Estadual de Segurança Pública”
56
Precedentes citados: ADI 3930; ADI 4648; e ADI 6321.
57
CF/1988: “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da
Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo
Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos
previstos nesta Constituição. § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II -
disponham sobre: (...) f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções,
estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva.”
58
Precedente citado: ACO 3396.
59
Precedente citado: RE 570177.
60
CF/1988: “Art. 5º (...) LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em
lei; (...) Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições

31
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação direta
para declarar a inconstitucionalidade formal e material da Lei federal 13.967/2019.

ADI 6595/DF, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 20.5.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1055)

Lei estadual e vedação à inscrição em cadastro de proteção ao crédito - ADI


6668/MG

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que vede a inscrição em cadastro de proteção ao crédito de


usuário inadimplente dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário.

Não compete aos estados legislar sobre normas gerais de proteção ao consumidor ou concessão
de serviço público [Constituição Federal (CF), art. 175, parágrafo único, II]61, 62(2).

A competência para elaborar a lei de delegação do serviço público que tratará dos direitos dos
usuários pertence ao ente federado dele titular. No entanto, essa lei cobrirá apenas os aspectos específicos
da delegação, pois cabe à lei nacional fixar as normas gerais de concessão e permissão de serviços
públicos (CF, art. 22, XXVII, e art. 175, caput)63.

Ademais, as normas gerais sobre consumo, editadas pela União, não preveem qualquer restrição
quanto aos tipos de débitos que possam ser inscritos nos bancos de dados e cadastros de consumidores
[Código de Defesa do Consumidor (CDC), arts. 43 e 44]. Assim, não é razoável conceber que uma lei
estadual possa estabelecer restrições quanto aos débitos que não podem ser inscritos em banco de dados
ou cadastro de consumidores, criando situações não isonômicas em determinada região. O poder
suplementar dos demais entes da federação apenas pormenorizam a questão, complementando-a, mas
jamais alterando-a em sua essência ou mesmo estabelecendo regras incompatíveis com a norma64.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado na ação direta, para declarar a inconstitucionalidade do art. 3º, parágrafo único, da Lei
18.309/2009 do Estado de Minas Gerais65.

ADI 6668/MG, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1043)

Lei estadual: SAC e atendimento telefônico gratuito - ADI 4118/RJ

Resumo:

nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de
qualquer destes, da lei e da ordem. (...) § 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares.”
61
CF/1988: “Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: (...) II -
os direitos dos usuários;”
62
Precedente: ADI 5.575.
63
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XXVII - normas gerais de licitação e
contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e
sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;”
64
Precedente: ADI 3.623.
65
Lei 18.309/2009 do Estado de Minas Gerais: “Art. 3º (…) Parágrafo único. É vedada a inscrição do nome do
usuário dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário em cadastro de proteção ao crédito, em
razão de atraso no pagamento da conta.”

32
É válida lei estadual que obrigue empresas prestadoras de serviços de televisão por
assinatura e estabelecimentos comerciais de vendas no varejo e no atacado — que já possuam
Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) — a fornecerem atendimento telefônico gratuito a
seus clientes.

Sem que haja previsão normativa federal a desautorizar, o norte exegético do princípio federativo
atrai solução que preserve a competência do ente federado menor à luz do art. 24 da Constituição Federal
(CF)66.

No que tange ao direito do consumidor, sob o viés do fortalecimento do “federalismo


centrífugo”, não fere o modelo constitucional de repartição de competências legislação estadual supletiva
do disposto na Lei 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor), particularmente se orientada a ampliar
a esfera protetiva do consumidor e limitados os seus efeitos ao espaço próprio do ente federado que a
edita67.

Sob o enfoque dos atuais contornos da repartição constitucional de competências —


particularmente delineados pela evolução do federalismo de cooperação —, o exercício da competência
concorrente está chancelado pelos §§ 1º e 2º do art. 24 da CF, haja vista o nítido caráter de suplementação
do arcabouço jurídico protetivo das relações de consumo que a obrigação de gratuidade no serviço de
atendimento telefônico traduz.

Com esses entendimentos, o Plenário conheceu do pedido formulado em ação direta de


inconstitucionalidade apenas quanto ao art. 1º da Lei 5.273/2008 do Estado do Rio de Janeiro 68. No
mérito, por maioria, julgou improcedente a pretensão. Vencidos os ministros Gilmar Mendes, André
Mendonça e Nunes Marques.

ADI 4118/RJ, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 25.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1045)

Militares estaduais grevistas e anistia das infrações disciplinares - ADI 4869/DF

Resumo:

É formalmente inconstitucional norma federal que concede anistia a policiais e bombeiros


militares estaduais por infrações disciplinares decorrentes da participação em movimentos
reivindicatórios por melhorias de vencimentos e de condições de trabalho.

A anistia de competência da União há de recair sobre crimes. Em matéria de infrações


disciplinares, cabe aos entes estaduais concedê-la a seus respectivos servidores, em face da autonomia
que caracteriza a Federação brasileira 69. Quanto aos bombeiros e policiais militares, a competência
estadual é realçada nos arts. 42 e 144, § 6º, da CF/198870.

66
CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) V –
produção e consumo; (...) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a
estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais
suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.”
67
Precedentes: ADI 5.462 e ADI 4.351.
68
Lei 5.273/2008-RJ: “Art. 1º Obrigam-se, no âmbito do território do Estado do Rio de Janeiro, as empresas de
televisão por assinaturas (TV a Cabo), estabelecimentos comerciais de venda no varejo e atacado, que possuam
serviço de atendimento ao consumidor - SAC, a colocarem à disposição de seus clientes atendimento telefônico
gratuito, através do prefixo 0800, para efetuar reclamações, esclarecimento de dúvidas e prestação de outros serviços.
Parágrafo único. A empresa que, visando atender o dispositivo desta Lei, divulgar, mas não disponibilizar
efetivamente o serviço telefônico através do prefixo 0800, terá sua inscrição estadual cassada, após regular processo
administrativo.”
69
Precedente: ADI 4377.

33
Ademais, embora ocorridas situações similares em mais de um estado, a irresignação dos
grevistas permaneceu direcionada às condições específicas de cada corporação, de modo que, não
afastado o interesse regional, compete ao chefe do Poder Executivo correspondente, por imposição do
princípio da simetria, a iniciativa de lei para tratar do tema71.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e,
na parte conhecida, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade da expressão “e as infrações
disciplinares conexas”, constante na lei impugnada 72. Por maioria, a Corte atribuiu à decisão eficácia ex
nunc a contar da data de publicação da ata de julgamento.

ADI 4869/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1056)

Norma estadual e emenda parlamentar impositiva em lei orçamentária - ADI


6308/RR

Resumo:

São inconstitucionais emendas parlamentares estaduais de caráter impositivo em lei


orçamentária anteriores à vigência das ECs 86/2015 e 100/2019.
O constituinte do Estado de Roraima, ao inovar e tratar da execução de emendas parlamentares
impositivas (individuais ou coletivas), não agiu dentro da competência suplementar permitida na seara da
legislação concorrente73, uma vez que dispôs em sentido contrário às normas gerais federais que
efetivamente já existiam à época sobre o tema e que não contemplavam o instituto74.
Além disso, inexiste no ordenamento jurídico brasileiro a figura da constitucionalidade
superveniente75, de modo que não há se falar na consequente convalidação das normas.
Não cabe à Constituição estadual instituir a figura das programações orçamentárias
impositivas fora das hipóteses previstas no regramento nacional76.
A compreensão doutrinária e jurisprudencial anota que as normas da CF/1988 sobre processo
legislativo em geral e processo legislativo das leis orçamentárias em especial são de reprodução
obrigatória pelas Constituições estaduais, por força do princípio da simetria 77.

70
CF/1988: “Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas
com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. § 1º Aplicam-se
aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições
do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do
art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores. (...) Art. 144. (...) §
6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se,
juntamente com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.”
71
Precedentes: ADI 341 e ADI 1440.
72
Lei 12.505/2011: “Art. 2º A anistia de que trata esta Lei abrange os crimes definidos no Decreto-Lei 1.001, de 21
de outubro de 1969 – Código Penal Militar, e na Lei 7.170, de 14 de dezembro de 1983 – Lei de Segurança Nacional,
e as infrações disciplinares conexas, não incluindo os crimes definidos no Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de
1940 – Código Penal, e nas demais leis penais especiais.”
73
CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) I -
direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (...) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a
competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre
normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os
Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei
federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.”
74
Precedente: ADI 6129 MC.
75
Precedentes: ARE 683849 AgR; e RE 346084.
76
Precedentes: ADI 5274; e ADI 2680.
77
Precedente: ADI 422.

34
No caso, apesar de a CF/1988 ter passado a prever expressamente sobre o tema, fixou limites
diferentes dos adotados pelo Estado roraimense.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e,
nessa parte, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 113, §§ 3º, 3º-A, 4º, 6º, 7º, 8º
e 9º, da Constituição do Estado de Roraima, acrescidos pelas Emendas Constitucionais 41/2014 e
61/2019, e, por arrastamento, do art. 24, §§ 1º, 2º, 4º, 5º e 6º, da Lei 1.327/2019 (Lei de Diretrizes
Orçamentárias) e do art. 8º da Lei 1.371/2020 (Lei Orçamentária Anual para o exercício de 2020), ambas
do Estado de Roraima, mantidos os efeitos da cautelar no período em que vigeu.

ADI 6308/RR, Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1057)

Obrigações impostas aos planos de saúde e competência legislativa privativa da


União - ADI 7029/PB

Resumo:

É formalmente inconstitucional lei estadual que estabelece obrigações referentes a serviço


de assistência médico-hospitalar que interferem nas relações contratuais estabelecidas entre as
operadoras de planos de saúde e seus usuários78.

Esses temas são relativos a direito civil e concernem à política de seguros, matérias conferidas
constitucionalmente à competência legislativa privativa da União, nos termos do art. 22, I e VII, da CF79.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade formal da Lei 11.782/2020 do Estado da
Paraíba.

ADI 7029/PB, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 6.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1053)

Pessoas desaparecidas e divulgação de fotos em noticiários de TV e em jornais - ADI


5292/SC

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que fixe a obrigatoriedade de divulgação diária de fotos de


crianças desaparecidas em noticiários de TV e em jornais de estado-membro.

Na hipótese, a lei estadual invade a competência legislativa da União para dispor privativamente
sobre radiodifusão de sons e imagens, em afronta ao previsto no art. 22, IV, da CF 80 e 81. Além disso, cria
obrigação à margem dos contratos de concessão dessas pessoas jurídicas com a União (poder
concedente), em contrariedade ao art. 21, XII, da CF82 e 83.
78
Precedentes: ADI 5173; ADI 4701.
79
CF: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (…) VII - política de crédito, câmbio, seguros e
transferência de valores;”
80
CF: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas, energia, informática,
telecomunicações e radiodifusão;”
81
Precedentes: ADPF 335; ADPF 235.
82
CF: “Art. 21. Compete à União: (...) XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens e demais serviços de telecomunicações;” a) os serviços de
radiodifusão sonora, e de sons e imagens;”
83
Precedentes: ADI 3866; ADI 2337; ADI 6190; ADI 4477.

35
A lei estadual incide também em inconstitucionalidade material. Em primeiro lugar, porque
estabelece indevida interferência na liberdade de agentes econômicos privados ao obrigar a veiculação de
conteúdo nos jornais sediados no estado-membro, violando o princípio da livre iniciativa. Em segundo,
porque ofende a liberdade de informação jornalística dos veículos de comunicação social, os quais, por
disposição expressa do art. 220 da CF84 não podem sofrer restrições pelo poder público.

Nada obstante, há que se ressaltar que as leis nacionais que disciplinam a busca de pessoas
desaparecidas, em especial crianças e adolescentes (Lei 12.127/2009), estabelecem instrumentos próprios
de cooperação entre os entes federativos, facultada a importante contribuição de emissoras de rádio e
televisão, mas sempre mediante convênio. Não há, pois, que se cogitar — como realizado pela lei
estadual questionada — a imposição de divulgação de conteúdo por essas entidades em total desapego às
regras de repartição de competência e de respeito à legislação nacional sobre a matéria.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente o pedido formulado
em ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei 16.576/2015 do Estado de Santa Catarina.

ADI 5292/SC, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 25.3.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1048)

Prazo de validade de bilhetes de transporte rodoviário de passageiros e competência


legislativa estadual - ADI 4289/DF

Resumo:

Compete aos estados-membros a definição do prazo de validade de bilhetes de transporte


rodoviário intermunicipal de passageiros.

Isso porque incumbe aos estados, como titulares da exploração do transporte rodoviário
intermunicipal85, a definição da respectiva política tarifária, à luz dos elementos que possam influenciá-la,
como o prazo de validade do bilhete, nos termos do art. 175 da Constituição 86. Por ser o estado-membro
aquele que arca com os custos decorrentes de eventual prazo de validade mais elastecido, não cabe à
União interferir no poder de autoadministração do ente estadual quanto às concessões e permissões dos
contratos de transporte rodoviário de passageiros intermunicipal, sob pena de afronta ao pacto federativo.

Além disso, a norma impugnada gera uma situação regulatória inconsistente na qual os
passageiros de determinado estado podem ser submetidos a tratamento diverso conforme o serviço de
transporte utilizado, em afronta ao princípio da isonomia.

Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu da ação direta e, no mérito,
julgou procedente o pedido nela formulado, para declarar a inconstitucionalidade parcial do art. 1º da Lei
federal 11.975/200987, com redução de texto do vocábulo “intermunicipal”.

84
CF: “Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma,
processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. §1º Nenhuma lei
conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo
de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.”
85
Precedentes citados: ADI 1052; ARE 742929 AgR; RE 549549 AgR; ADI 845; ADI 2349; ADI 1191 MC; ADI
5677; ADI 4212.
86
CF/1988: “Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: I - o
regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de
sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II - os
direitos dos usuários; III - política tarifária; IV - a obrigação de manter serviço adequado.”
87
Lei 11.975/2009: “Art. 1º Os bilhetes de passagens adquiridos no transporte coletivo rodoviário de passageiros
intermunicipal, interestadual e internacional terão validade de 1 (um) ano, a partir da data de sua emissão,
independentemente de estarem com data e horários marcados.”

36
ADI 4289/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.4.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1050)

Substituição de trabalhador privado em greve por servidor público - ADI 1164/DF

Resumo:

Não há vício de iniciativa de lei na edição de norma de origem parlamentar que proíba a
substituição de trabalhador privado em greve por servidor público.

No caso, ainda que a lei distrital impugnada 88, de iniciativa parlamentar, esteja voltada ao
funcionamento da Administração Pública, ela não se sobrepõe ao campo de discricionariedade política
que a CF reservou, com exclusividade, ao governador, no que toca a dispor sobre a organização
administrativa.

Além disso, a norma revela-se harmônica com a CF, notadamente com os princípios do art. 37,
caput, na medida em que permite a substituição nos estritos limites dos parâmetros federais aplicáveis 89 e
90
.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente o pedido
formulado em ação direta.

ADI 1164/DF, relator Min. Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 1º.4.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1049)

4.2 DEFENSORIA PÚBLICA

Constitucionalidade do poder de requisição da Defensoria Pública - ADI 6852/DF,


ADI 6862/PR, ADI 6865/PB, ADI 6867/ES, ADI 6870/DF, ADI 6871/CE, ADI 6872/AP, ADI
6873/AM, ADI 6875/RN

Resumo:

A Defensoria Pública detém a prerrogativa de requisitar, de quaisquer autoridades


públicas e de seus agentes, certidões, exames, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos,
informações, esclarecimentos e demais providências necessárias à sua atuação.

Delineado o papel atribuído à Defensoria Pública pela Constituição Federal (CF), resta evidente
não se tratar de categoria equiparada à Advocacia, seja ela pública ou privada, estando, na realidade, mais
próxima ao desenho institucional atribuído ao próprio Ministério Público.

Ao conceder tal prerrogativa aos membros da Defensoria Pública, o legislador buscou propiciar
condições materiais para o exercício de suas atribuições, não havendo que se falar em qualquer espécie de
violação ao texto constitucional, mas, ao contrário, em sua densificação. Nesse sentido, a retirada da
prerrogativa de requisição implicaria, na prática, a criação de obstáculo à atuação da Defensoria Pública,
a comprometer sua função primordial, bem como a autonomia que lhe foi garantida.

88
Lei Orgânica do Distrito Federal: “Art. 19. (...) XX – ressalvada a legislação federal aplicável, ao servidor público
do Distrito Federal é proibido substituir, sob qualquer pretexto, trabalhadores de empresas privadas em greve;”
89
CF: “Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º A lei definirá os serviços ou atividades
essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.”
90
Lei 8.112/1990: “Art. 117. Ao servidor é proibido: (...) XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas ao
cargo que ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias;”

37
O Plenário, por maioria, em análise conjunta, julgou improcedentes os pedidos formulados em
ações diretas.

ADI 6852/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6862/PR, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6865/PB, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6867/ES, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6870/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6871/CE, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6872/AP, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6873/AM, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6875/RN, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022
(sexta-feira) às 23:59 (INF 1045)

Ouvidoria-Geral das Defensorias Públicas estaduais - ADI 4608/DF

Resumo:

É constitucional a norma federal que criou a Ouvidoria-Geral da Defensoria Pública nos


estados-membros e estabeleceu suas competências.

Ao editar a Lei Complementar federal 80/1994, a União atuou conforme sua competência
legislativa, pois se limitou a instituir diretrizes gerais sobre a organização e a estrutura da Ouvidoria-
Geral das Defensorias Públicas estaduais, sem prever qualquer singularidade regional ou especificidade
local.

Ademais, inexiste inconstitucionalidade na decisão estatal de instituir um órgão composto por


agentes que satisfaçam determinados requisitos de capacidade técnica e institucional, com respeito aos
princípios da razoabilidade e da obrigatoriedade de concurso público 91. No caso, as atribuições que a lei
conferiu aos seus membros estão em consonância com as que a Constituição previu para a criação de
cargos em comissão92.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente o pedido
formulado.
91
Precedente: ADI 2903.
92
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (...) II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração; (...) V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de
cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e
percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;”

38
ADI 4608/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1054)

Recriação de Assistência Jurídica da Justiça Militar - ADI 3152/CE

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que restabeleça, no âmbito do Poder Judiciário local,


cargos de Advogado da Justiça Militar vocacionados a patrocinar a defesa gratuita de praças da
Polícia Militar.

Esse modelo não se coaduna com aquele implementado pela ordem constitucional inaugurada em
1988, o qual dispõe que a função de defesa dos necessitados, quando desempenhada pelo Estado, é
própria à Defensoria Pública (CF, art. 134; LC 80/1994)93.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 5º da Lei 12.832/1998 do Estado
do Ceará.

ADI 3152/CE, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 26.4.2022 (terça-
feira), às 23:59 (INF 1052)

4.3 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

CNJ e transferência do sigilo de dados fiscais e bancários - ADI 4709/DF

Resumo:

É constitucional a requisição, sem prévia autorização judicial, de dados bancários e fiscais


considerados imprescindíveis pelo Corregedor Nacional de Justiça para apurar infração de sujeito
determinado, desde que em processo regularmente instaurado mediante decisão fundamentada e
baseada em indícios concretos da prática do ato.

Embora constitucionalmente protegido, o sigilo de dados bancários e fiscais pode ser objeto de
conformação legislativa devidamente justificada e ceder à consecução de fins públicos, com previsão de
hipóteses de transferência no interior da Administração Pública94.

Nesse contexto, a previsão regimental do CNJ95 encontra amparo na lógica da probidade


patrimonial dos agentes públicos e a legitimidade da requisição por decisão singular do Corregedor, e não
do Plenário, encontra justificativa na função constitucional por ele exercida, de fiscalização da integridade
funcional do Poder Judiciário, em especial a idoneidade da magistratura nacional, que, por exercer a
jurisdição — poder indispensável ao Estado democrático de direito —, lhe é exigida estrita observância
dos princípios da Administração Pública e dos deveres funcionais respectivos.

93
Precedentes: ADI 2903; ADI 3022.
94
Precedentes: RE 601314 (Tema 225 RG); ADI 2386; ADI 2390; ADI 2397; ADI 2859; e RE 1055941 (Tema 990
RG).
95
RI/CNJ: “Art. 8º Compete ao Corregedor Nacional de Justiça, além de outras atribuições que lhe forem conferidas
pelo Estatuto da Magistratura: (...) V - requisitar das autoridades fiscais, monetárias e de outras autoridades
competentes informações, exames, perícias ou documentos, sigilosos ou não, imprescindíveis ao esclarecimento de
processos ou procedimentos submetidos à sua apreciação, dando conhecimento ao Plenário;”

39
Contudo, é preciso assegurar a existência de garantias ao contribuinte, de modo que não há
espaço para devassa ou varredura, buscas generalizadas e indiscriminadas na vida das pessoas, com o
propósito de encontrar alguma irregularidade.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu em parte da ação e, na
parte conhecida, julgou parcialmente procedente o pedido para conferir interpretação conforme a
Constituição ao dispositivo impugnado.

ADI 4709/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1056)

Lei da meia-entrada: entidades emitentes da CIE e liberdade de associação - ADI


5108/DF

Resumo:

É inconstitucional exigir das entidades estudantis locais e regionais, legitimadas para a


expedição da carteira de identidade estudantil (CIE), filiação às entidades de abrangência nacional.

O dever de filiação instituído pela Lei 12.933/2013, “Lei da meia-entrada”, viola o princípio da
liberdade de associação — que é visto como expressão da autonomia da vontade da pessoa natural ou
jurídica (voluntariedade) —, pois importa em indevida intervenção direta do Estado na autonomia de
entidade estudantil, que se vê obrigada a se associar a instituição não necessariamente alinhada a suas
metas, princípios, diretrizes e interesses.

Ademais, a interpretação teleológica e sistemática da norma denota que as “entidades estaduais e


municipais” nela referidas restringem-se às caracterizadas como de representação estudantil.

Admite-se a definição de um modelo único nacionalmente padronizado da CIE, desde que


publicamente disponibilizado e fixados parâmetros razoáveis que não obstem o acesso pelas entidades
com prerrogativa legal para sua emissão.

A medida confere maior racionalidade ao sistema, porquanto facilita a fiscalização e o combate


às fraudes. Assim, a escolha de certas entidades nacionais para a definição e disponibilização do modelo
de CIE constitui opção legítima do legislador, em especial diante da enorme representatividade e
relevância de suas atuações.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação
direta.

ADI 5108/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 25.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1048)

Liberdade de expressão e imunidade parlamentar - Pet 8242 AgR/DF, Pet 8259


AgR/DF, Pet 8262 AgR/DF, Pet 8263 AgR/DF, Pet 8267 AgR/DF e Pet 8366 AgR/DF

Resumo:

A liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos, com intuito


manifestamente difamatório, de juízos depreciativos de mero valor, de injúrias em razão da forma
ou de críticas aviltantes.

É possível vislumbrar restrições à livre manifestação de ideias, inclusive mediante a aplicação da


lei penal, em atos, discursos ou ações que envolvam, por exemplo, a pedofilia, nos casos de discursos que
incitem a violência ou quando se tratar de discurso com intuito manifestamente difamatório.

40
A garantia da imunidade parlamentar não alcança os atos praticados sem claro nexo de
vinculação recíproca entre o discurso e o desempenho das funções parlamentares.

Isso porque as garantias dos membros do Parlamento são vislumbradas sob uma perspectiva
funcional, ou seja, de proteção apenas das funções consideradas essenciais aos integrantes do Poder
Legislativo, independentemente de onde elas sejam exercidas.

No caso, os discursos proferidos pelo querelado teriam sido proferidos com nítido caráter
injurioso e difamatório, de forma manifestamente dolosa, sem qualquer hipótese de prévia provocação ou
retorsão imediata capaz de excluir a tipificação, em tese, dos atos descritos nas queixas-crimes.

Com base nesses entendimentos, a Segunda Turma, por maioria, ao dar provimento a agravos
regimentais, recebeu queixas-crimes pelos delitos dos arts. 139 e 140 do Código Penal.

Pet 8242 AgR/DF, relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8259 AgR/DF, relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8262 AgR/DF, relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8263 AgR/DF, relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8267 AgR/DF, relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8366 AgR/DF, relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Plano de redução de letalidade policial e controle de violações de direitos humanos -


ADPF 635 MC-ED/RJ

Resumo:

O Estado do Rio de Janeiro deve elaborar, no prazo máximo de 90 dias, um plano para
redução da letalidade policial e controle das violações aos direitos humanos pelas forças de
segurança, que apresente medidas objetivas, cronogramas específicos e previsão dos recursos
necessários para a sua implementação.

Nesse mesmo sentido, até que plano mais abrangente seja formulado, o emprego e a fiscalização
da legalidade do uso da força devem ser feitos à luz dos “Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e
de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei”, com todos os
desdobramentos daí derivados. Desse modo, cabe às forças de segurança a análise, diante das situações
concretas, da proporcionalidade e da excepcionalidade do uso da força, servindo os princípios como guias
para o exame das justificativas apresentadas a fortiori.

Portanto, o uso da força letal por agentes de Estado só se justifica quando, ressalvada a ineficácia
da elevação gradativa do nível da força empregada para neutralizar a situação de risco ou de violência,
exauridos os demais meios, inclusive os de armas não-letais, e necessário para proteger a vida ou prevenir
um dano sério, decorrente de uma ameaça concreta e iminente.

Ademais, nos termos do art. 227 da Constituição Federal, é imperiosa a necessidade de dar
prioridade absoluta às investigações de incidentes que tenham como vítimas crianças ou adolescentes.

41
Além disso, a fim de resguardar o direito à vida, deve-se reconhecer a obrigatoriedade de
disponibilização de ambulâncias em operações policiais previamente planejadas em que haja a
possibilidade de confrontos armados.

De igual modo, no caso de buscas domiciliares por parte das forças de segurança do Estado do
Rio de Janeiro, devem ser observadas as seguintes diretrizes constitucionais, sob pena de
responsabilidade: (i) a diligência, no caso específico de cumprimento de mandado judicial, deve ser
realizada somente durante o dia, vedando-se, assim, o ingresso forçado a domicílios à noite; (ii) a
diligência, quando feita sem mandado judicial, pode ter por base denúncia anônima; (iii) a diligência deve
ser justificada e detalhada por meio da elaboração de auto circunstanciado, que deverá instruir eventual
auto de prisão em flagrante ou de apreensão de adolescente por ato infracional e ser remetido ao juízo da
audiência de custódia para viabilizar o controle judicial posterior; e (iv) a diligência deve ser realizada
nos estritos limites dos fins excepcionais a que se destina.

Por fim, o Estado do Rio de Janeiro deve, no prazo máximo de 180 dias, instalar equipamentos
de GPS e sistemas de gravação de áudio e vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos age ntes de
segurança, com o posterior armazenamento digital dos respectivos arquivos.
Com base nesses e em outros fundamentos, o Plenário acolheu parcialmente embargos de
declaração em medida cautelar em arguição de descumprimento de preceito fundamental.

ADPF 635 MC-ED/RJ, relator Min. Edson Fachin, julgamento em 2 e 3.2.2022 (INF 1042)

Produção de relatórios de inteligência e vinculação ao interesse público - ADPF


722/DF

Resumo:

Os órgãos do Sistema Brasileiro de Inteligência, conquanto necessários para a segurança


pública, segurança nacional e garantia de cumprimento eficiente dos deveres do Estado, devem
operar com estrita vinculação ao interesse público, observância aos valores democráticos e respeito
aos direitos e garantias fundamentais.

Nesse contexto, caracterizam desvio de finalidade e abuso de poder a colheita, a produção e o


compartilhamento de dados, informações e conhecimentos específicos para satisfazer interesse privado de
órgão ou de agente público96.

Na hipótese, a utilização da máquina estatal para a colheita de informações de servidores com


postura política contrária ao governo caracteriza desvio de finalidade e afronta aos direitos fundamentais
da livre manifestação do pensamento, da privacidade, reunião e associação, aos quais deve ser conferida
máxima efetividade, pois essenciais ao regime democrático.

Ademais, os órgãos de inteligência de qualquer nível hierárquico de qualquer dos Poderes do


Estado, embora sujeitos ao controle externo realizado pelo Poder Legislativo 97, submetem-se também ao
crivo do Poder Judiciário, em respeito ao princípio da inafastabilidade da jurisdição 98.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente o pedido para
confirmar a medida cautelar e declarar inconstitucionais atos do Ministério da Justiça e Segurança Pública
de produção ou compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e políticas, e
as práticas cívicas de cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e municipais identificados como
96
Precedentes: ADI 6529; ADI 5468; e ADI 4451.
97
Lei 9.883/1999: “Art. 6º O controle e fiscalização externos da atividade de inteligência serão exercidos pelo Poder
Legislativo na forma a ser estabelecida em ato do Congresso Nacional;”
98
CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça
a direito;”

42
integrantes de movimento político, professores universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites
da legalidade, exerçam seus direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se.

ADPF 722/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1054)

Remanejamento de cargos em comissão de peritos do MNPCT, fragilização do


combate à tortura no País e abuso do poder regulamentar - ADPF 607/DF

Resumo:

São indevidos, mediante decreto, o remanejamento dos cargos em comissão destinados aos
peritos do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), a exoneração de
seus ocupantes e a transformação dessa atividade em prestação de serviço público relevante não
remunerado.

Tais medidas, implementadas por meio de ato infralegal (Decreto 9.813/2019) 99, levam ao
esvaziamento de políticas públicas previstas na Lei 12.847/2013, o que importa em abuso do poder
regulamentar e, por conseguinte, desrespeito à separação dos Poderes.

Na espécie, a violação se mostra especialmente grave, diante do potencial desmonte de órgão


cuja competência é a prevenção e o combate à tortura. A transformação da atividade em serviço público
não remunerado impossibilita que o trabalho seja feito com dedicação integral e desestimula profissionais
especializados a integrarem o corpo técnico do órgão.

Ademais, essas medidas colocam o Brasil em situação de descumprimento de obrigação


assumida perante a comunidade internacional e internalizada no âmbito do ordenamento jurídico pátrio,
pois vai de encontro à disciplina do Protocolo Facultativo à Convenção Contra a Tortura e outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (Decreto 6.085/2007), mediante o qual o País
se obrigou “a tornar disponíveis todos os recursos necessários para o funcionamento dos mecanismos
preventivos nacionais”.

Com base nesse entendimento, o Plenário declarou a inconstitucionalidade dos arts. 1º, 2º (por
arrastamento), 3º e 4º, este último na parte em que altera o § 5º do art. 10 do Decreto 8.154/2013, todos
do Decreto 9.831/2019 (1), bem como da expressão “designados” do caput do mencionado art. 10 do
Decreto 8.154/2013, conferindo interpretação conforme ao dispositivo para que se entenda que os peritos
do MNPCT devem ser nomeados para cargo em comissão, devendo, por consequência dessa decisão, ser
restabelecida a destinação de 11 cargos em comissão do Grupo Direção e Assessoramento Superiores -
DAS 102.4 — ou cargo equivalente — aos peritos do MNPCT, garantida a respectiva remuneração.

ADPF 607/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 25.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1048)

Restrições legais ao consumo de bebidas alcóolicas e condução de veículos


automotivos - RE 1224374/RS (Tema 1079 RG), ADI 4017/DF e ADI 4103/DF

99
Decreto 9.831/2019: “Art. 1º Ficam remanejados, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
para a Secretaria de Gestão da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da
Economia, na forma do Anexo I, onze cargos em comissão do Grupo Direção e Assessoramento Superiores - DAS
102.4. Art. 2º O Anexo II ao Decreto nº 9.673, de 2 de janeiro de 2019, passa a vigorar com as alterações constantes
do Anexo II a este Decreto. Art. 3º Os ocupantes dos cargos em comissão que deixam de existir na Estrutura
Regimental do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos por força deste Decreto ficam
automaticamente exonerados. Art. 4º O Decreto nº 8.154, de 16 de dezembro de 2013, passa a vigorar com as
seguintes alterações: (…) Art. 10. O MNPCT, órgão integrante da estrutura do Ministério da Mulher, da Família e
dos Direitos Humanos, será composto por onze peritos, escolhidos pelo CNPCT e designados por ato do Presidente
da República, com mandato de três anos, admitida uma recondução por igual período. (…) § 5º A participação no
MNPCT será considerada prestação de serviço público relevante, não remunerada.”

43
Tese fixada:

“Não viola a Constituição a previsão legal de imposição das sanções administrativas ao


condutor de veículo automotor que se recuse à realização dos testes, exames clínicos ou perícias
voltados a aferir a influência de álcool ou outra substância psicoativa (art. 165-A e art. 277, §§ 2º e
3º, todos do Código de Trânsito Brasileiro, na redação dada pela Lei 13.281/2016)”

Resumo:

É inadmissível qualquer nível de alcoolemia por condutores de veículos automotivos.

A premissa de que a “Lei Seca” pune na mesma intensidade condutores responsáveis e


irresponsáveis não se mostra correta, em face da inexistência de um nível seguro de “alcoolemia”. Assim,
deixa de ser considerado responsável também todo condutor de veículo que dirige após a ingestão de
qualquer quantidade de álcool. A norma, nesse sentido, se caracteriza como adequada, necessária e
proporcional.

A eventual recusa de motoristas na realização de “teste do bafômetro”, ou dos demais


procedimentos previstos no CTB para aferição da influência de álcool ou outras drogas, por não encontrar
abrigo no princípio da não autoincriminação, permite a aplicação de multa e a retenção/apreensão da
CNH validamente.

Isso porque não existem consequências penais ou processuais impostas diante da recusa na
realização do “teste do bafômetro” (etilômetro) ou dos demais procedimentos previstos nos artigos 165-A
e 277, §§ 2º e 3º, do CTB.

Nesses termos, a imposição de restrições de direitos, decorrente da recusa do motorista em


realizar os testes de alcoolemia previstos em lei100, revela-se meio adequado, necessário e proporcional em
sentido estrito para a efetivação, em maior medida, de outros princípios fundamentais como a vida e a
segurança no trânsito, sem que acarrete qualquer violação à dignidade da pessoa humana. Isso se
circunscreve ao espaço de conformação do legislador no desenho de políticas públicas.

São constitucionais as normas que estabelecem a proibição da venda de bebidas alcóolicas em


rodovias federais (Lei 11.705/2008, art. 2º)101.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, ao apreciar o Tema 1079 da repercussão geral, por
unanimidade, deu provimento ao recurso extraordinário e, por maioria, julgou improcedentes os pedidos
formulados nas ações diretas de inconstitucionalidade.

RE 1224374/RS, relator Min. Luiz Fux, julgamento em 18 e 19.5.2022 (INF 1055)


ADI 4017/DF, relator Min. Luiz Fux, julgamento em 18 e 19.5.2022 (INF 1055)
ADI 4103/DF, relator Min. Luiz Fux, julgamento em 18 e 19.5.2022 (INF 1055)

4.4 EDUCAÇÃO BÁSICA

COVID-19: Realocação de recursos vinculados ao FUNDEB para ações de combate


à pandemia do novo coronavírus - ADI 6490/PI
100
CTB: “Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que permita
certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277: (...)”
101
Lei 11.705/2008: “Art. 2º São vedados, na faixa de domínio de rodovia federal ou em terrenos contíguos à faixa de
domínio com acesso direto à rodovia, a venda varejista ou o oferecimento de bebidas alcoólicas para consumo no
local.”

44
Resumo:

É vedada a utilização, ainda que em caráter excepcional, de recursos vinculados ao


FUNDEB para ações de combate à pandemia do novo coronavírus (COVID-19).

Os precedentes da Corte102 são firmes quanto à impossibilidade do uso dos recursos do FUNDEB
para gastos não relacionados à educação, pois possuem destinação vinculada a finalidades específicas,
todas voltadas exclusivamente à área educacional. Portanto, ainda que se reconheça a gravidade da
pandemia da COVID-19 e os seus impactos na economia e nas finanças públicas, nada justifica o
emprego de verba constitucionalmente vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino básico para
fins diversos da que ela se destina.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu da ação direta e, no
mérito, julgou improcedente o pedido.

ADI 6490/PI, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1044)

4.5 ÍNDIOS

Proteção territorial em terras indígenas não homologadas - ADPF 709 MC-segunda-


Ref/DF

Resumo:

É necessário que a União e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) executem e


implementem atividade de proteção territorial nas terras indígenas, independentemente de sua
homologação.

Nos termos do art. 231 da Constituição Federal (CF/1988) 103, a União tem o dever (e não a
escolha) de demarcar as terras indígenas. No caso, a não homologação das demarcações dessas terras
deriva de inércia deliberada do Poder Público, em afronta ao direito originário dos índios.

Ademais, ao afastar a proteção territorial em terras não homologadas, a FUNAI sinaliza a


invasores que a União se absterá de combater atuações irregulares em tais áreas, o que pode constituir um
convite à invasão de terras que são sabidamente cobiçadas por grileiros e madeireiros, bem como à prática
de ilícitos de toda ordem. Além disso, a suspensão da proteção territorial abre caminho para que terceiros
passem a ali transitar, o que põe em risco a saúde dessas comunidades, expondo-as a eventual contágio
por COVID-19 e outras enfermidades.

Com base nesse entendimento, o Plenário ratificou a medida cautelar já concedida para
determinar: (i) a suspensão imediata dos efeitos do Ofício Circular 18/2021/CGMT/DPT/FUNAI e do
parecer 00013/2021/COAF-CONS/PFE-FUNAI/PGF/AGU; e (ii) a implementação de atividade de
proteção territorial nas terras indígenas pela FUNAI, independentemente de estarem homologadas. O
ministro André Mendonça acompanhou o voto do relator com ressalvas.

ADPF 709 MC-segunda-Ref/DF, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em
25.2.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1045)

102
Precedentes: ACO 648; ARE 1066281 AgR; ARE 1272638 AgR; RE 1122970 ED-AgR; STP 66; STP 68 AgR;
STP 88 AgR; e ADI 5719.
103
CF/1988: “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e
os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.”

45
4.6 MINISTÉRIO PÚBLICO

Inamovibilidade dos membros do Ministério Público da União - ADI 5052/DF

Resumo:

É inconstitucional norma que prevê a designação bienal para o exercício de funções


institucionais inerentes às respectivas carreiras dos membros do Ministério Público da União
(MPU).

Dentro da estrutura organizacional do MPU, as unidades de lotação dos integrantes de suas


carreiras correspondem aos denominados ofícios, que representam os locais em que exercidas suas
atribuições institucionais. Após lotados em determinado ofício, eles gozam da garantia constitucional da
inamovibilidade104.

Nesse contexto, o deslocamento para outro ofício, sem retorno ao de origem, por meio de
designações e redesignações bienais, conduz ao grave risco de movimentações casuísticas. Isso porque
deixa margem para lotação definitiva em ofício diverso ao que o membro atua, independentemente do
concurso de sua vontade, destoando daquelas de caráter meramente eventual, em manifesta afronta à
garantia da inamovibilidade105.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, dos artigos 216, caput, 217, caput, e 218, caput, todos
da Lei Complementar 75/1993, de modo a afastar qualquer interpretação que implique remoção do
membro da carreira de seu ofício de lotação 106.

ADI 5052/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 20.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1055)

4.7 ORÇAMENTO

Emendas do relator-geral do orçamento: suspensão da execução orçamentária e


prestação de serviços essenciais à coletividade - ADPF 850 MC-Ref-Ref/DF, ADPF 851 MC-
Ref-Ref/DF e ADPF 854 MC-Ref-Ref/DF

Resumo:

Diante dos riscos de paralisação de serviços essenciais à coletividade, deve-se dar, em juízo
cautelar, continuidade à execução das despesas classificadas sob o identificador de Resultado
Primário 9 (RP 9).

As providências adotadas pelo Congresso Nacional e pelos órgãos do Poder Executivo da União
em cumprimento da decisão proferida no julgamento conjunto das ADPFs 850, 851 e 854 mostram-se

104
CF/1988: “Art. 128. O Ministério Público abrange: (...) § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja
iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de
cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: I - as seguintes garantias: (...) b)
inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do
Ministério Público, por voto de dois terços de seus membros, assegurada ampla defesa; (...)”
105
Precedente: ADI 4414.
106
Lei Complementar 75/1993: “Art. 216. As designações, salvo quando estabelecido outro critério por esta lei
complementar, serão feitas por lista, no último mês do ano, para vigorar por um biênio, facultada a renovação. Art.
217. A alteração da lista poderá ser feita, antes do termo do prazo, por interesse do serviço, havendo: (...) Art. 218. A
alteração parcial da lista, antes do termo do prazo, quando modifique a função do designado, sem a sua anuência,
somente será admitida nas seguintes hipóteses: (...)”

46
suficientes, ao menos em exame estritamente delibatório, para justificar o afastamento dos efeitos da
suspensão determinada pelo STF diante do risco de prejuízo que a paralisação da execução orçamentária
traz à prestação de serviços essenciais à coletividade.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a decisão que afastou a
suspensão determinada pelo item c da decisão anteriormente proferida, para autorizar a continuidade da
execução das despesas classificadas sob o indicador RP 9, devendo ser observadas para tanto, no que
couber, as regras do Ato Conjunto das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal 1/2021, e a
Resolução 2/2021 do Congresso Nacional.

ADPF 850 MC-Ref-Ref/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em
16.12.2021 (quinta-feira), às 23:59 (INF 1042)

ADPF 851 MC-Ref-Ref/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em
16.12.2021 (quinta-feira), às 23:59 (INF 1042)

ADPF 854 MC-Ref-Ref/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em
16.12.2021 (quinta-feira), às 23:59 (INF 1042)

4.8 ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA

Aplicabilidade das regras do Estatuto da Advocacia a advogados empregados


públicos - ADI 3396/DF

Resumo:

As regras previstas nos arts. 18 a 21 do Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994) 107 — que
tratam da relação de emprego, salário, jornada de trabalho e honorários de sucumbência — são
aplicáveis aos advogados empregados de empresas públicas e de sociedade de economia mista que
atuam no mercado em regime concorrencial (sem monopólio).

107
Lei 8.906/1994: “Art. 18. A relação de emprego, na qualidade de advogado, não retira a isenção técnica nem
reduz a independência profissional inerentes à advocacia. Parágrafo único. O advogado empregado não está obrigado
à prestação de serviços profissionais de interesse pessoal dos empregadores, fora da relação de emprego. § 1º O
advogado empregado não está obrigado à prestação de serviços profissionais de interesse pessoal dos empregadores,
fora da relação de emprego. (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) § 2º As atividades do advogado empregado poderão
ser realizadas, a critério do empregador, em qualquer um dos seguintes regimes: (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) I
– exclusivamente presencial: modalidade na qual o advogado empregado, desde o início da contratação, realizará o
trabalho nas dependências ou locais indicados pelo empregador; (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) II – não
presencial, teletrabalho ou trabalho a distância: modalidade na qual, desde o início da contratação, o trabalho será
preponderantemente realizado fora das dependências do empregador, observado que o comparecimento nas
dependências de forma não permanente, variável ou para participação em reuniões ou em eventos presenciais não
descaracterizará o regime não presencial; (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) III – misto: modalidade na qual as
atividades do advogado poderão ser presenciais, no estabelecimento do contratante ou onde este indicar, ou não
presenciais, conforme as condições definidas pelo empregador em seu regulamento empresarial, independentemente
de preponderância ou não. (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) § 3º Na vigência da relação de emprego, as partes
poderão pactuar, por acordo individual simples, a alteração de um regime para outro. (Incluído pela Lei 14.365, de
2022) Art. 19. O salário mínimo profissional do advogado será fixado em sentença normativa, salvo se ajustado em
acordo ou convenção coletiva de trabalho. Art. 20. A jornada de trabalho do advogado empregado, quando prestar
serviço para empresas, não poderá exceder a duração diária de 8 (oito) horas contínuas e a de 40 (quarenta) horas
semanais. (Redação dada pela Lei 14.365, de 2022) § 1º Para efeitos deste artigo, considera-se como período de
trabalho o tempo em que o advogado estiver à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, no seu
escritório ou em atividades externas, sendo-lhe reembolsadas as despesas feitas com transporte, hospedagem e
alimentação. § 2º As horas trabalhadas que excederem a jornada normal são remuneradas por um adicional não
inferior a cem por cento sobre o valor da hora normal, mesmo havendo contrato escrito. § 3º As horas trabalhadas no
período das vinte horas de um dia até as cinco horas do dia seguinte são remuneradas como noturnas, acrescidas do
adicional de vinte e cinco por cento. Art. 21. Nas causas em que for parte o empregador, ou pessoa por este
representada, os honorários de sucumbência são devidos aos advogados empregados. Parágrafo único. Os honorários
de sucumbência, percebidos por advogado empregado de sociedade de advogados são partilhados entre ele e a
empregadora, na forma estabelecida em acordo.”

47
O poder público, ao exercer atividade econômica em regime de livre concorrência, deve nivelar-
se aos demais agentes produtivos para não violar princípios da ordem econômica, em especial o da livre
concorrência (CF/1988, art. 170, IV). Assim, ao atuar como empresário, o Estado se submete aos mesmos
bônus e ônus do setor, tornando imprescindível a submissão das empresas estatais não monopolistas às
regras legais aplicáveis à concorrência privada, inclusive no que tange às normas trabalhistas.

No entanto, esses advogados, assim como todos os servidores e empregados públicos em geral,
também estão sujeitos ao teto remuneratório do serviço público (CF/1988, art. 37, XI), quanto ao total da
sua remuneração (salários mais vantagens e honorários advocatícios), com exceção daqueles vinculados a
empresa pública, sociedade de economia mista ou subsidiária que não receba recursos do ente central para
pagamento de pessoal ou custeio e nem exerça sua atividade em regime monopolístico (CF/1988, art. 37,
§ 9º)108.

Também ficam excluídos dessa disciplina do Estatuto da Advocacia (arts. 18 a 21) todos os
advogados empregados de empresas públicas ou sociedades de economia mista ou suas subsidiárias que
tenham sido admitidos por concurso público, em cujos editais tenham sido estipuladas condições diversas
daquelas do estatuto, sem qualquer impugnação.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação
para dar interpretação conforme a Constituição ao art. 4º da Lei 9.527/1997 109, excluindo de seu alcance
os advogados empregados públicos de empresa pública, sociedade de economia mista e suas subsidiárias,
não monopolísticas, com as ressalvas das compreensões acima indicadas.

ADI 3396/DF, relator Min. Nunes Marques, julgamento finalizado em 23.6.2022 (INF 1060)

Energia elétrica e regulamentação por medida provisória com posterior conversão em


lei - ADI 3090/DF e ADI 3100/DF

Resumo:

A Medida Provisória 144/2003, convertida na Lei 10.848/2004, que dispõe sobre a


comercialização de energia elétrica, não viola o art. 246 da Constituição Federal110 e 111.

Em primeiro lugar, porque a Emenda Constitucional (EC) 6/1995 não promoveu alteração
substancial na disciplina constitucional do setor elétrico, mas, em razão da revogação do art. 171 da CF,
restringiu-se a substituir a expressão “empresa brasileira de capital nacional” pela expressão “empresa
constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no país”, incluída no § 1º do art.
176 da CF pela EC 6/1995.

Com efeito, o setor elétrico já estava, antes dessa alteração, aberto ao capital privado. Houve
apenas ampliação colateral em relação às empresas que poderiam ser destinatárias de autorização ou
concessão para explorar o serviço.

108
Precedente: ADI 6584.
109
Lei 9.527/1997: “Art. 4º As disposições constantes do Capítulo V, Título I, da Lei nº 8.906, de 4 de julho de
1994, não se aplicam à Administração Pública direta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
bem como às autarquias, às fundações instituídas pelo Poder Público, às empresas públicas e às sociedades de
economia mista.”
110
CF: “Art. 246. É vedada a adoção de medida provisória na regulamentação de artigo da Constituição cuja redação
tenha sido alterada por meio de emenda promulgada entre 1º de janeiro de 1995 até a promulgação desta emenda,
inclusive.”
111
Precedentes: ADI 2005 MC, ADI 2473 MC, ADI 1518 MC, ADI 1597 MC e ADI 1975 MC.

48
Além disso, a MP não se destinou a dar eficácia às modificações introduzidas pela EC 6/1995,
mas a regulamentar o art. 175 da CF, que dispõe sobre o regime de prestação de serviços públicos no
setor elétrico.

Com base nesses fundamentos, o Plenário, por unanimidade conheceu em parte das ações diretas
de inconstitucionalidade analisadas em conjunto, e, nas partes conhecidas, julgou improcedentes os
pedidos.

ADI 3090/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-
feira), às 23:59 (INF 1051)

ADI 3100/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-
feira), às 23:59 (INF 1051)

4.9 ORDEM SOCIAL

Ação para o fornecimento de medicamentos: fármaco com registro na Anvisa e na


União - RE 1286407 AgR-segundo/PR

Resumo:

É obrigatória a inclusão da União no polo passivo de demanda na qual se pede o


fornecimento gratuito de medicamento registrado na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas
não incorporado aos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do Sistema Único de Saúde.

No caso, a decisão de autoridade judicial no sentido de que a União deve necessariamente


compor o polo passivo da lide está em consonância com a tese fixada por este Tribunal em sede de
embargos de declaração no RE 855.178 (Tema 793 da repercussão geral).

Com base nesse entendimento, a Primeira Turma deu provimento a agravo interno para negar
seguimento a recurso extraordinário, mantendo a remessa à Justiça Federal determinada na origem, bem
como a medida liminar deferida, até que o juízo competente analise a causa.

RE 1286407 AgR-segundo/PR, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 26.4.2022


(INF 1052)

Covid-19: educação e transferência de recursos para acesso à internet - ADI


6926/DF

Resumo:

É constitucional norma federal que prevê a transferência de recursos pela União aos
estados e ao Distrito Federal para garantir o acesso à internet, com fins educacionais, por alunos e
professores da educação básica em virtude da calamidade pública decorrente da Covid-19.

No caso, a Lei 14.172/2021 está em consonância com a norma constitucional que posiciona a
educação como um direito social (CF/1988, art. 205), bem como ao princípio segundo o qual o ensino
será ministrado com “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” (CF/1988, art. 206,
I), uma vez que objetiva garantir a conectividade a alunos e professores da rede pública de ensino no
contexto da pandemia da Covid-19.

Ademais, não há qualquer contrariedade ao devido processo legislativo, pois (i) a norma não
prevê qualquer disposição que implique na criação de órgãos na Administração Pública federal, na sua

49
reorganização ou na alteração de suas atribuições; e (ii) a aprovação do projeto de lei foi precedida da
demonstração da viabilidade financeira e orçamentária, em observância ao art. 113 do ADCT, respeitando
as limitações legais cabíveis e sem desobedecer ao regime extraordinário fiscal implementado pelas ECs
106/2020 e 109/2021.

Assim, foram observadas as regras legais e constitucionais voltadas ao equilíbrio fiscal e, dada a
existência de mecanismos para que a transferência dos recursos cumpra as finalidades designadas pela
norma e para que a política pública seja efetivamente implementada, não se vislumbra qualquer
contrariedade ao princípio da eficiência.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente do pedido
formulado na ação — para dele excluir o art. 2º, § 3º, alterado pela Lei 14.351/2022 — e, na parte
conhecida, o julgou improcedente para declarar a constitucionalidade dos demais preceitos da Lei
14.172/2021.

ADI 6926/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1061)

FUNDEF/FUNDEB: precatório e pagamento de pessoal - ADPF 528/DF

Resumo:

O caráter extraordinário dos valores de complementação do FUNDEB pagos pela União


aos estados e aos municípios, por força de condenação judicial, justifica o afastamento da
subvinculação prevista nos arts. 60, XII, do ADCT112 e 22 da Lei 11.949/2007113.

Isso porque a observância à regra da subvinculação implicaria em pontual e insustentável


aumento salarial dos professores do ensino básico, que, em razão da regra de irredutibilidade salarial,
teria como efeito pressionar o orçamento público municipal nos períodos subsequentes — sem que
houvesse receita subsequente proveniente de novos precatórios inexistentes —, acarretando o
investimento em salários além do patamar previsto constitucionalmente, em prejuízo de outras ações de
ensino a serem financiadas com os mesmos recursos.

É inconstitucional o pagamento de honorários advocatícios contratuais com recursos destinados


ao FUNDEB, o que representaria indevido desvio de verbas constitucionalmente vinculadas à educação.

O comando constitucional é claro ao afirmar que os recursos recebidos por meio do FUNDEB
devem ser destinados exclusivamente à educação básica pública. Dessa forma, a utilização de tais verbas
para pagamento de honorários advocatícios contratuais caracterizaria violação direta ao texto

112
ADCT: “Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta Emenda Constitucional, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da
Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos
trabalhadores da educação, respeitadas as seguintes disposições: (…) XII - proporção não inferior a 60% (sessenta
por cento) de cada Fundo referido no inciso I do caput deste artigo será destinada ao pagamento dos profissionais do
magistério da educação básica em efetivo exercício.”
113
Lei 11.494/2007: “Art. 22. Pelo menos 60% (sessenta por cento) dos recursos anuais totais dos Fundos serão
destinados ao pagamento da remuneração dos profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercício na
rede pública. Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput deste artigo, considera-se: I - remuneração: o total de
pagamentos devidos aos profissionais do magistério da educação, em decorrência do efetivo exercício em cargo,
emprego ou função, integrantes da estrutura, quadro ou tabela de servidores do Estado, Distrito Federal ou Município,
conforme o caso, inclusive os encargos sociais incidentes; II - profissionais do magistério da educação: docentes,
profissionais que oferecem suporte pedagógico direto ao exercício da docência: direção ou administração escolar,
planejamento, inspeção, supervisão, orientação educacional e coordenação pedagógica; III - efetivo exercício:
atuação efetiva no desempenho das atividades de magistério previstas no inciso II deste parágrafo associada à sua
regular vinculação contratual, temporária ou estatutária, com o ente governamental que o remunera, não sendo
descaracterizado por eventuais afastamentos temporários previstos em lei, com ônus para o empregador, que não
impliquem rompimento da relação jurídica existente.”

50
constitucional114. Por outro lado, é admissível o pagamento de honorários advocatícios contratuais com
verbas provenientes dos juros moratórios incidentes sobre o valor do precatório devido pela União.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente arguição de
descumprimento de preceito fundamental.

ADPF 528/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 18.3.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1047)

4.10 ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

Liberdade de expressão e limites - AP 1044/DF

Resumo:

A liberdade de expressão existe para a manifestação de opiniões contrárias, jocosas,


satíricas e até mesmo errôneas, mas não para opiniões criminosas, discurso de ódio ou atentados
contra o Estado Democrático de Direito e a democracia.

A Constituição garante a liberdade de expressão, com responsabilidade. A liberdade de


expressão não pode ser usada para a prática de atividades ilícitas ou para a prática de discursos de ódio,
contra a democracia ou contra as instituições.

Nesse sentido, são inadmissíveis manifestações proferidas em redes sociais que objetivem a
abolição do Estado de Direito e o impedimento, com graves ameaças, do livre exercício de seus poderes
constituídos e de suas instituições.

Ademais, conforme jurisprudência do STF, a garantia constitucional da imunidade parlamentar 115


incide apenas sobre manifestações proferidas no desempenho da função legislativa ou em razão desta, não
sendo possível utilizá-la como escudo protetivo para a prática de atividades ilícitas.

Não configurada abolitio criminis com relação aos delitos previstos na Lei de Segurança
Nacional (Lei 7.170/1983).

Quando determinada conduta típica (e suas elementares) permanece descrita na nova lei penal,
com a manutenção do caráter proibido da conduta, há a configuração do fenômeno processual penal da
continuidade normativo-típica.

Na hipótese, o legislador não pretendeu abolir as condutas atentatórias à democracia, ao Estado


de Direito e ao livre exercício dos poderes. Na realidade, aprimorou, sob o manto democrático, a defesa
do Estado, de suas instituições e de seus poderes.

Observa-se, assim, a ocorrência de continuidade normativo-típica entre as condutas previstas nos


arts. 18 e 23, IV, da Lei 7.170/1983 e a conduta prevista no art. 359-L do CP (com redação dada pela Lei
14.197/2021), bem como entre a conduta prevista no art. 23, II, da Lei 7.170/1983 e o conduta típica
prevista no art. 286, parágrafo único, do CP, com redação dada pela Lei 14.197/2021.

Com base nesses e em outros fundamentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente
procedente ação penal.

AP 1044/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 20.4.2022 (INF 1051)

114
Precedente: ARE 1.066.281 AgR.
115
CF: “Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões,
palavras e votos.”

51
4.11 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

Desmembramento de municípios sem consulta plebiscitária e EC 57/2008 - RE


614384/SE (Tema 559 RG)

Tese fixada:

“A EC nº 57/08 não convalidou desmembramento municipal realizado sem consulta


plebiscitária e, nesse contexto, não retirou o vício de ilegitimidade ativa existente nas execuções
fiscais que haviam sido propostas por município ao qual fora acrescida, sem tal consulta, área de
outro para a cobrança do IPTU quanto a imóveis nela localizados.”

Resumo:

A EC 57/2008 não convalidou a criação, fusão, incorporação e desmembramento de


municípios realizados sem consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos municípios
envolvidos.

Município resultante de desmembramento realizado em desacordo com o art. 18, § 4º, da


CF/1988116 não detém legitimidade ativa para a cobrança de IPTU de imóvel situado em território a ele
acrescido.

Na linha da jurisprudência da Corte117, ao acrescentar o art. 96 ao ADCT 118, a EC 57/2008 aludiu


à inexistência de lei complementar federal à qual se refere o texto constitucional, sem dispensar,
entretanto, a observância do plebiscito da população dos municípios envolvidos.

Verifica-se, ademais, que a conclusão adotada pelo Tribunal de origem está de acordo com a
orientação fixada pelo STF no julgamento do RE 1171699 (Tema 400 da repercussão geral).

Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 559 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 614384/SE, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 29.4.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1052)

4.12 PODER JUDICIÁRIO

Conselho Nacional de Justiça e análise prévia de anteprojetos de lei de criação de


cargos, funções e unidades judiciárias dos tribunais de justiça - ADI 5119/DF

Resumo:

É constitucional a Resolução 184/2013 do CNJ no que determina aos tribunais de justiça


estaduais o encaminhamento, para eventual elaboração de nota técnica, de cópia dos anteprojetos
de lei de criação de cargos, funções comissionadas e unidades judiciárias 119.

116
CF/1988: “Art. 18: (...) § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por
lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia,
mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade
Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. (Redação dada pela EC n. 15/1996)”
117
Precedentes: RE 1171699; RE 1171699 ED; ADI 2921.
118
ADCT: “Art. 96. Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios,
cuja lei tenha sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do
respectivo Estado à época de sua criação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 57, de 2008).”

52
A referida Resolução foi editada em consideração à Lei Complementar 101/2000 (Lei de
Responsabilidade Fiscal) e da Lei de Diretrizes Orçamentárias quanto à geração de novas despesas
públicas, visando à execução orçamentária de forma responsável e equilibrada, nos termos do art. 167 da
CF/1988. Insere-se, portanto, na perspectiva de uma gestão do Poder Judiciário com responsabilidade,
planejamento, avaliação, controle, limite e transparência, a fim de fomentar o uso racional dos recursos
públicos mediante análise prévia de anteprojetos de lei.

Nesse contexto, inexiste qualquer tratamento normativo anti-isonômico, pois a adoção da nota
técnica, no que couber, quanto aos estados-membros e respectivos tribunais de justiça prestigia (i) o
cumprimento da missão constitucional do CNJ para realizar o controle financeiro em relação a toda a
magistratura nacional, bem como (ii) o respeito ao federalismo, à autonomia dos entes federativos quanto
à programação financeiro-orçamentária (CF/1988, art. 24, I), e ao autogoverno dos tribunais de justiça
quanto à gestão de recursos humanos (CF/1988, art. 96, I).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação.

ADI 5119/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1059)

Custas e emolumentos judiciais: majoração e criação de sanções processuais por ente


estadual - ADI 7063/RJ

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que institui sanções processuais diversas da legislação


federal para litigantes que abusem do seu direito à prestação jurisdicional e um procedimento mais
restritivo para requerer o benefício da gratuidade de justiça.
Isso porque compete à União legislar sobre direito processual (CF/1988, art. 22, I) e já existe, no
Código de Processo Civil, expressão legislativa exaustiva sobre a matéria.
Além disso, as custas e os emolumentos classificam-se como tributo da espécie taxa, cuja
aplicação é direcionada ao sistema de justiça e, por essa razão, não podem ter como fato gerador principal
um ato ilícito120.
É constitucional norma estadual que fixa custas processuais mais elevadas para causas
consideradas de alto valor ou alta complexidade.
Com efeito, há pertinência entre o valor das custas e o custo do serviço judicial prestado, o que
se revela como efetiva progressividade tributária121.
No entanto, a determinação de “dobra de custas” sem a necessária correlação entre o valor da
taxa e o custo dos serviços prestados constitui afronta ao texto constitucional (CF/1988, art. 145, II).
Portanto, se o critério adotado é a qualidade do usuário do serviço, resta evidente a falta dessa
referibilidade.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente
procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade dos arts. 15-A; 15-B, caput; e 15-F a 15-I da Lei
3.350/1999, e arts. 135-D a 135-H do Decreto-Lei 5/1975, acrescidos respectivamente pelos arts. 1º e 2º
da Lei 9.507/2021, todos do Estado do Rio de Janeiro.
119
Resolução 184/2013 - CNJ: “Art. 1º Os anteprojetos de lei de criação de cargos de magistrados e servidores,
cargos em comissão, funções comissionadas e unidades judiciárias no âmbito do Poder Judiciário da União
obedecerão ao disposto nesta Resolução. (...) § 3º Os Tribunais de Justiça dos Estados devem encaminhar cópia dos
anteprojetos de lei referidos no caput ao CNJ, que, se entender necessário, elaborará nota técnica, nos termos do
artigo 103 do Regimento Interno.”
120
CTN/1966: “Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa
exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada.”
121
Precedente: ADI 5612.

53
ADI 7063/RJ, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1057)

4.13 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Pensão especial a dependentes de prefeitos e vice-prefeitos falecidos no exercício do


mandato - ADPF 783/ES

Resumo:

O pagamento de pensão especial a ex-detentor de cargo público e a seus dependentes


contraria a CF/1988 por se tratar de benefício incompatível com a sua sistemática previdenciária e
com os princípios republicano e da igualdade.

Na linha da jurisprudência desta Corte, a concessão desse benefício implica tratamento


diferenciado e privilegiado, sem fundamento jurídico razoável e com ônus aos cofres públicos, em favor
de quem não mais exerce função pública ou presta qualquer serviço à Administração, ou, ainda, de quem
jamais o fez122.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a não recepção das Leis 67/1977, 8/1979, e 105/1980, todas do Município de Mucurici/ES. Por
maioria, o Tribunal modulou os efeitos da decisão para afastar o dever de devolução dos valores já pagos
até a data do término do julgamento e ressalvar de seus efeitos as pensões concedidas até o advento da
CF/1988 (5.10.1988) e aquelas eventualmente concedidas mediante decisão judicial transitada em
julgado.

ADPF 783/ES, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1061)

4.14 PROCESSO LEGISLATIVO

Extemporaneidade do veto presidencial - ADPF 893/DF

Tese fixada:
“O poder de veto previsto no art. 66, § 1º, da Constituição não pode ser exercido após o
decurso do prazo constitucional de 15 (quinze) dias”
Resumo:
A prerrogativa do poder de veto presidencial somente pode ser exercida dentro do prazo
expressamente previsto na Constituição, não se admitindo exercê-la após a sua expiração.
No caso, apenas no dia imediatamente seguinte à expiração do prazo, a Presidência da República
providenciou a publicação de edição extra do Diário Oficial da União para a divulgação de novo texto
legal com a aposição adicional de veto a dispositivo que havia sido sancionado anteriormente.
Esse tipo de procedimento não se coaduna com a Constituição Federal 123, de modo que,
ultrapassado o período do art. 66, § 1º, da CF/1988, o texto do projeto de lei é, necessariamente,
122
Precedentes: ADI 3853; ADI 4552 MC; ADPF 413; e ADPF 912.

123
Precedentes: ADPF 714; ADPF 715; e ADPF 718.

54
sancionado (art. 66, § 3º) e o poder de veto não pode mais ser exercido. Portanto, a manutenção de veto
extemporâneo na forma do art. 66, § 4º, da CF/1988 não retira a sua inconstitucionalidade, pois o ato
apreciado pelo Congresso Nacional sequer poderia ter sido praticado 124. Nessa hipótese, caso o
Legislativo deseje encerrar a vigência de dispositivo legal por ele aprovado, deve retirá-lo da ordem
jurídica por meio da sua revogação.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade do veto adicional publicado na edição extra do Diário Oficial da União de
15.7.2021 e, assim, restabelecer a vigência do art. 8º da Lei 14.183/2021.
ADPF 893/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. Roberto Barroso,
julgamento virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-feira), às 23:59 (INF 1059)

Iniciativa de leis sobre a organização do Ministério Público estadual - ADI 400/ES

Tese fixada:
“A atribuição de iniciativa privativa ao Governador do Estado para leis que disponham
sobre a organização do Ministério Público estadual contraria o modelo delineado pela Constituição
Federal nos arts. 61, § 1º, II, d, e 128, § 5º.”

Resumo:
É inconstitucional a atribuição de iniciativa privativa a governador de estado para leis que
disponham sobre a organização do Ministério Público estadual.
Nos estados, os Ministérios Públicos poderão estabelecer regras sobre sua organização,
atribuições de seus membros e seu estatuto por meio de lei complementar de iniciativa do respectivo
Procurador-Geral de Justiça125.
Assim, na esfera estadual, coexistem dois regimes de organização: (i) a Lei Orgânica Nacional
(Lei 8.625/1993); e (ii) a Lei Orgânica do estado-membro, que delimita as regras acima referidas e que,
como visto, se dá através de lei complementar de iniciativa do Procurador-Geral de Justiça 126.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da expressão “do Ministério Público”, contida no art. 63, parágrafo único, V, da
Constituição do Estado do Espírito Santo127.
ADI 400/ES, relator Min. Nunes Marques, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgamento
virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-feira) às 23:59 (INF 1059)

124
CF/1988: “Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da
República, que, aquiescendo, o sancionará. § 1º Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em
parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis,
contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os
motivos do veto. (...) § 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção.
§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser
rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores.”
125
CF/1988: “Art. 128 (...) § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos
respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público,
observadas, relativamente a seus membros:”
126
Precedente: ADI 4142.
127
CE/ES: “Art. 63. A iniciativa das leis cabe a qualquer membro ou comissão da Assembleia Legislativa, ao
Governador do Estado, ao Tribunal de Justiça, ao Ministério Público e aos cidadãos, satisfeitos os requisitos
estabelecidos nesta Constituição. Parágrafo único. São de iniciativa privativa do Governador do Estado as leis que
disponham sobre: (...) V - organização do Ministério Público, da Procuradoria-Geral do Estado e da Defensoria
Pública;” 

55
Processo legislativo para a autorização de alienação de ações de empresa estatal e
obtenção de crédito para o custeio de despesas correntes de estado-membro - ADI 5683/RJ

Resumo:

Não podem ser realizadas junto a instituições financeiras estatais operações financeiras
com a finalidade de obtenção de crédito para pagamento de pessoal ativo, inativo e pensionista, dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios.

Observa-se que a “regra de ouro” das finanças públicas versada no art. 167, III, da CF/1988 128,
segundo a qual o ente público não deve se endividar mais que o necessário para realizar suas despesas de
capital, não impede a contratação de operações de crédito para o custeio de despesas correntes. O estado
pode financiar suas despesas de capital mediante receitas de operações de crédito, desde que estas não
excedam o montante das despesas de capital. Isso deverá ser observado pelo chefe do Poder Executivo
quando fizer a operação financeira autorizada por lei.

Ademais, o art. 167, X, da CF 129 não proíbe a concessão de empréstimos para pagamento de
pessoal. O dispositivo veda, contudo, que os empréstimos realizados junto a instituições financeiras dos
governos federal e estaduais sejam utilizados para aquele fim. Impede-se, portanto, a alocação das
receitas obtidas com instituições financeiras estatais para o custeio de pessoal ativo e inativo. Por
oportuno, nada impede a realização de empréstimos com instituições financeiras privadas para pagamento
de despesas com pessoal, porquanto a proibição não as alcança.

Por fim, sob o aspecto formal, em especial sobre eventual desrespeito ao devido processo
legislativo, a norma estadual impugnada não possui qualquer vício a comprometer sua
constitucionalidade.

No caso, o Estado do Rio de Janeiro aprovou lei ordinária que autoriza o Poder Executivo a
alienar ações representativas do capital social da Companhia Estadual de Águas e Esgotos – CEDAE,
como meio de garantia para obtenção de empréstimo para o pagamento da folha dos servidores ativos,
inativos e pensionistas.

Com esses entendimentos, o Plenário, por maioria, confirmando a medida cautelar concedida,
julgou parcialmente procedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade para dar
interpretação conforme à CF/1988 ao art. 2º, § 2º, da Lei 7.529/2017 do Estado do Rio de Janeiro.
Vencido o ministro André Mendonça.

ADI 5683/RJ, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-
feira), às 23:59 (INF 1051)

Proposições legislativas e adoção do rito de urgência - ADI 6968/DF

Resumo:

É constitucional a previsão regimental de rito de urgência para proposições que tramitam


na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, descabendo ao Poder Judiciário examinar
concretamente as razões que justificam sua adoção.

128
CF/1988: “Art. 167. São vedados: (...) III – a realização de operações de créditos que excedam o montante das
despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa,
aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta;”
129
CF/1988: “Art. 167. São vedados: (...) X – a transferência voluntária de recursos e a concessão de empréstimos,
inclusive por antecipação de receita, pelos Governos Federal e Estaduais e suas instituições financeiras, para
pagamento de despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.”

56
Inexiste violação ao devido processo legislativo, pois as normas dos Regimentos Internos
reduzem as formalidades processuais para casos específicos, devidamente reconhecidos pela maioria
legislativa, o que é permitido pela própria Constituição130.

O silêncio constitucional quanto à indicação das Comissões das Casas Legislativas e à definição
do momento e oportunidade da intervenção deve ser interpretado como opção pela disciplina regimental,
sob pena de inviabilizar os próprios trabalhos legislativos.

Portanto, a adoção do rito é matéria interna corporis, sendo defeso ao STF adentrar em tal seara,
o que implicaria indevido controle jurisdicional sobre a interpretação do sentido e do alcance de normas
meramente regimentais, infringindo o princípio da separação dos Poderes131.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação direta.

ADI 6968/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-
feira), às 23:59 (INF 1051)

Quórum para aprovação de emendas constitucionais estaduais - ADI 6453/RO

Resumo:

É inconstitucional norma de Constituição estadual que preveja quórum diverso de 3/5 dos
membros do Poder Legislativo132 para aprovação de emendas constitucionais.

As regras e parâmetros do processo legislativo federal, como é o caso do processo de reforma


constitucional, na forma disposta pela Constituição Federal (CF), é de reprodução obrigatória nas
Constituições estaduais, em estrita observância ao princípio da simetria, ao qual a autonomia dos estados-
membros se submete, a teor do que prevê os arts. 25 da CF133 e 11 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias - ADCT134.

Os precedentes da Corte135 são firmes no que diz respeito à limitação do poder constituinte
derivado e denotam a natureza estruturante das normas regentes do processo legislativo federal, o que
enseja a inconstitucionalidade das Constituições estaduais no ponto em que dissonantes quanto à
formatação do processo de emenda à Constituição.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu da ação direta e, no
mérito, julgou procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade do § 2º do art. 38 da

130
CF/1988: “Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas
na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. (...) § 2º Às
comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe: I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma
do regimento, a competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da Casa; (...)”
131
Precedentes: MS 38.199 MC e RE 1.297.884.
132
CF/1988: “Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: (...) § 2º A proposta será discutida e
votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três
quintos dos votos dos respectivos membros. (...).”
133
CF/1988: “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição. § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás
canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. § 3º Os Estados
poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões,
constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de
funções públicas de interesse comum.”
134
ADCT: “Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no
prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta. Parágrafo único.
Promulgada a Constituição do Estado, caberá à Câmara Municipal, no prazo de seis meses, votar a Lei Orgânica
respectiva, em dois turnos de discussão e votação, respeitado o disposto na Constituição Federal e na Constituição
Estadual.”
135
Precedentes: ADI 568 MC; ADI 216 MC; ADI 981; ADI 1.434; ADI 2.029; ADI 637; ADI 5.087 MC; ADI 2.420;
ADI 3.777; ADI 2.654; ADI 486; e ADI 1.722 MC.

57
Constituição do Estado de Rondônia (CE-RO) 136, com efeitos ex nunc, a contar da data de publicação da
ata do julgamento.

ADI 6453/RO, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1043)

4.15 REGIME DE PRECATÓRIOS

Cancelamento de precatórios e requisições de pequeno valor (RPV) federais não


resgatados - ADI 5755/DF

Resumo:

É inconstitucional o cancelamento automático — realizado diretamente pela instituição


financeira oficial depositária e sem prévia ciência do beneficiário ou formalização de contraditório
— de precatórios e RPV federais não resgatados em dois anos.

A medida infringe o princípio da separação dos Poderes, dada a impossibilidade de edição de


medidas legislativas para condicionar e restringir o levantamento de valores depositados a título de
precatórios, já que gestão de recursos destinados ao seu pagamento incumbe ao Judiciário por decorrência
do texto constitucional (CF/1988, art. 100), o qual não deixou margem limitativa do direito de crédito ao
legislador infraconstitucional137.

Também há violação aos princípios da segurança jurídica, do respeito à coisa julgada (CF/1988,
art. 5º, XXXVI) e do devido processo legal (CF/1988, art. 5º, LIV), sendo certo que a simples previsão da
faculdade do credor requerer posteriormente a expedição de novo ofício requisitório com a conservação
da ordem cronológica anterior não repara os vícios inerentes ao cancelamento.

Ademais, como nesse momento processual da tutela executiva a Fazenda Pública não detém a
titularidade da quantia, a previsão legal ofende o direito de propriedade (CF/1988, art. 5º, XXII), além de
conferir tratamento mais gravoso ao credor, criando distinção que deriva automaticamente do decurso do
tempo, sem averiguar as reais razões do não levantamento do montante, afastando-se da necessária
obediência à isonomia138.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar
a inconstitucionalidade material do art. 2º, caput e § 1º, da Lei 13.463/2017139.

ADI 5755/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento em 29 e 30.6.2022 (INF 1061)

136
CE-RO/1989: “Art. 38. A Constituição pode ser emendada mediante proposta: (...) § 2° A proposta será discutida
e votada em dois turnos, considerando-se aprovada quando obtiver, em ambos, dois terços dos votos dos membros da
Assembleia Legislativa.”
137
Precedentes citados: ADI 3453 e ADI 2356 MC.
138
Precedentes citados: ADI 584 MC; ADI 4357; e RE 657686.

139
Lei 13.463/2017: “Art. 2° - Ficam cancelados os precatórios e as RPV federais expedidos e cujos valores não
tenham sido levantados pelo credor e estejam depositados há mais de dois anos em instituição financeira oficial. § 1º
O cancelamento de que trata o caput deste artigo será operacionalizado mensalmente pela instituição financeira
oficial depositária, mediante a transferência dos valores depositados para a Conta Única do Tesouro Nacional.”

58
4.16 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Competência da União para explorar e legislar sobre atividades nucleares - ADI


6858/AM

Resumo:

É inconstitucional norma de Constituição estadual que dispõe sobre serviços de atividades


nucleares de qualquer natureza.

A jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido da inconstitucionalidade formal de


dispositivos nos quais os estados-membros dispõem sobre atividades que se relacionem de alguma forma
com o setor nuclear em seus respectivos territórios, uma vez que, ao tratarem do assunto, incorrem em
indevida invasão da competência privativa da União para explorar tais serviços e legislar a seu respeito 140
141
.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade das expressões “rejeitos radioativos, lixo atômico” constante do § 2º do
art. 233; “e radioativos” do § 4º do mesmo artigo; e “[a] implantação, no território estadual, de usinas de
energia nuclear, instalação de processamento e armazenamento de material radioativo”, do § 1º do art.
235; bem como da íntegra do § 8º do art. 233, todos da Constituição do Estado do Amazonas 142.

ADI 6858/AM, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1061)

Construção de instalações nucleares e de energia elétrica: imposição de exigências


por norma estadual - ADI 7076/PR

Resumo:

140
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XXVI - atividades nucleares de qualquer
natureza; (...) Art. 177. Constituem monopólio da União: (...) § 3º A lei disporá sobre o transporte e a utilização de
materiais radioativos no território nacional. (...) Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (...) § 6º As usinas que operem
com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.”
141
Precedentes citados: ADI 329; ADI 1575; ADI 330; ADI 4973; ADI 6896; ADI 6897; ADI 6895; ADI 6902; ADI
6905; ADI 6908; ADI 6909; ADI 6913; ADI 6898; e ADI 6910.
142
Constituição do Estado do Amazonas: “Art. 233. O Poder Público estabelecerá sistemas de controle da poluição,
de prevenção e redução de riscos e acidentes ecológicos, valendo-se, para tal, de mecanismos para avaliação dos
efeitos da ação de agentes predadores ou poluidores sobre a qualidade física, química e biológica dos recursos
ambientais, sobre a saúde dos trabalhadores expostos a fontes poluidoras e da população afetada. (...) § 2º É vedada a
utilização do território estadual como depositário de rejeitos radioativos, lixo atômico, resíduos industriais tóxicos e
corrosivos, salvo situação gerada dentro de seus próprios limites, casos a serem obrigatoriamente submetidos ao
Conselho Estadual de Meio Ambiente. (...) § 4º A entrada de produtos explosivos e radioativos dependerá de
autorização expressa do Órgão executor da Política Estadual de Meio Ambiente. (...) § 8º A Zona Franca de Manaus,
entendida a área territorial por ela delimitada, é declarada ‘Zona Desnuclearizada’. (...) Art. 235. Lei disporá sobre as
hipóteses de obrigatoriedade de realização, nos processos de licenciamento, do estudo de impacto ambiental. (...) § 1º
A implantação, no território estadual, de usinas de energia nuclear, instalação de processamento e armazenamento de
material radioativo e implantação de unidades de grande porte, geradoras de energia hidroelétrica, respeitadas as
reservas estabelecidas em lei e áreas indígenas, de acordo com o disposto no art. 231, da Constituição da República,
além da observância das normas e exigências legais e constitucionais, estarão sujeitas ao que estabelece o art. 234,
desta Constituição, ao parecer conclusivo do Conselho Estadual de Meio Ambiente e, na hipótese de indicação
favorável, aprovação por dois terços dos membros da Assembleia Legislativa, após consulta plebiscitária aos
habitantes da área onde se pretende implantar o projeto.”

59
É inconstitucional norma de Constituição estadual que impõe condições locais para a
construção de instalações nucleares e de energia elétrica.

Esta Corte tem reconhecido, reiteradamente, a inconstitucionalidade formal de leis estaduais


semelhantes, assentando a impossibilidade de interferência dos estados-membros em matérias
relacionadas à atividade nuclear e à energia, uma vez que, ao disporem sobre os assuntos, incorrem em
indevida invasão da competência privativa da União para explorar tais serviços e legislar a seu respeito 143
144
.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade da redação original do art. 209 da Constituição do Estado do Paraná 145.

ADI 7076/PR, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1060)

Lei estadual e depósitos judiciais e extrajudiciais de terceiros - ADI 6660/PE

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que dispõe sobre valores correspondentes a depósitos


judiciais e extrajudiciais de terceiros, ou seja, em que o ente federado não é parte interessada.

Sob o prisma formal, ao determinar que os depósitos judiciais e extrajudiciais, em dinheiro, à


disposição do poder judiciário estadual ou da Secretaria da Fazenda, serão efetuados em Conta Central de
Depósitos Procedimentais, o legislador estadual usurpou a competência da União para legislar sobre: (i) o
Sistema Financeiro Nacional (CF/1988, art. 21, VIII); (ii) a política de crédito e transferência de valores
(CF/1988, arts. 22, VII, e 192); (iii) direito civil e processual (CF/1988, art. 22, I); e (iv) normas gerais de
direito financeiro (CF/1988, art. 24, I), atuando, neste último caso, além dos limites de sua competência
suplementar, pois previu hipóteses e finalidades não estabelecidas em normas gerais editadas pela
União146.

Quanto ao aspecto material, a disciplina que possibilita o uso e administração, pelo Poder
Executivo, de numerário de terceiros, cujo depositário é o Judiciário, viola a separação dos Poderes, dada
a clara desarmonia ao sistema de pesos e contrapesos. No caso, o tratamento legal impugnado ainda
afronta o direito de propriedade dos jurisdicionados ─ pois configura expropriação de recursos a eles

143
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão: (...) b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em
articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos; (...) XIX - instituir sistema nacional de
gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; (...) XXIII - explorar os
serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o
enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos
os seguintes princípios e condições: (...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas,
energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...) XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;”
144
Precedentes: ADI 329; ADI 1575; ADI 5960; e ADI 4973.
145
Constituição do Estado do Paraná: “Art. 209. Observada a legislação federal pertinente, a construção de centrais
termoelétricas e hidrelétricas dependerá de projeto técnico de impacto ambiental e aprovação da Assembleia
Legislativa; a de centrais termonucleares, desse projeto, dessa aprovação e de consulta plebiscitária.”
146
Precedentes: ADI 5072; ADI 5747; ADI 4114; e ADI 5616.

60
pertencentes ─; caracteriza empréstimo compulsório não previsto no art. 148 da CF/1988 147; bem como
cria endividamento fora das hipóteses de dívida pública permitidas pela Constituição 148 149.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade da Lei 12.305/2002 do Estado de Pernambuco, alterada pela Lei estadual
12.337/2003, atribuindo à decisão efeitos ex nunc a contar da data da publicação da ata do julgamento.

ADI 6660/PE, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1060)

Ministério Público de Contas estadual e limites legais de gastos do Poder Executivo -


ADI 5563/RR

Resumo:

É inconstitucional, por ofensa ao princípio da separação dos Poderes, norma estadual que
submete as despesas com pessoal do Ministério Público de Contas aos limites orçamentários fixados
para o Poder Executivo.
Cabe ao próprio Tribunal de Contas a iniciativa de leis que tratem de sua organização e estrutura
internas, o que inclui a organização do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas estadual, não
sendo admissível que ato legislativo de iniciativa do Executivo disponha sobre a matéria 150.
Ademais, o Parquet junto ao Tribunal de Contas integra, em termos estruturais, as Cortes de
Contas, órgãos auxiliares do Poder Legislativo no mister de controle externo, motivo pelo qual suas
despesas não devem se submeter aos limites orçamentários fixados para o Poder Executivo, sendo certo,
ainda, que o limite prudencial de despesas com pessoal se aplica a cada um dos Poderes do ente
federativo151.
Além disso, à luz do princípio da simetria, as normas relativas à organização do Tribunal de
Contas da União devem ser observadas no desenho institucional dos demais tribunais de contas 152.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade do art. 47-A, § 3º, da Constituição do Estado de Roraima 153.

ADI 5563/RR, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1057)

Promoção e benefícios a novos clientes e extensão aos preexistentes - ADI 5399/SP;


ADI 6191/SP e ADI 6333 ED/PE

147
CF/1988: “Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I – para
atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; II – no
caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150,
III, ‘b’. Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa
que fundamentou sua instituição.”
148
CF/1988: “Art. 167. São vedados: (...) III – a realização de operações de créditos que excedam o montante das
despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa,
aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta;”
149
Precedentes: ADI 5099; ADI 5409; ADI 5459; ADI 5414; e ADI 5392.
150
Precedentes: ADI 1994; ADI 3051; e ADI 3976 MC.
151
Precedentes: ADI 2378; ADI 789; ADI 3315; e ADI 2238 MC.
152
Precedente: ADI 916.
153
CE/RO: “Art. 47-A. O Ministério Público de Contas, órgão auxiliar da Assembleia Legislativa, é instituição
permanente e essencial às funções de fiscalização e controle externo do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais, individuais e indisponíveis. (...) § 3º As despesas com o
Ministério Público de Contas ocorrerão por conta da dotação orçamentária anual, dentro dos limites legais destinados
ao Poder Executivo Estadual.”

61
Tese fixada:
“É inconstitucional lei estadual que impõe aos prestadores privados de serviços de ensino e
de telefonia celular a obrigação de estender o benefício de novas promoções aos clientes
preexistentes.”
Resumo:
Serão preservados os votos proferidos em ambiente virtual por ministro aposentado ou
cujo exercício do cargo tenha cessado por outro motivo, ainda que a continuidade do julgamento se
dê no Plenário presencial após pedido de destaque.
Com base nesse entendimento, o Plenário, preliminarmente e por maioria, acolheu questão de
ordem suscitada pelo ministro Alexandre de Moraes, de modo que, no caso concreto, seja mantido o voto
proferido pelo ministro Marco Aurélio na sessão virtual de 20 a 27.11.2020, além de garantir que esse
posicionamento passe a ser adotado a partir do presente julgamento, não se aplicando aos processos já
julgados.
É inconstitucional norma estadual que obriga empresa privada de telefonia celular e
instituição de ensino a garantir idênticos benefícios promocionais tanto aos novos clientes quanto
aos antigos.
Ao impor aos prestadores de serviços de ensino a obrigação de estender o benefício de novas
promoções aos clientes preexistentes, a norma promove ingerência em relações contratuais já
estabelecidas sem que exista conduta lesiva ou abusiva por parte do prestador 154. Por essa razão, afasta-se
a compreensão de que se estaria diante de matéria consumerista, de modo que a alteração de forma geral e
abstrata do conteúdo de negócios jurídicos caracteriza norma de direito civil, cuja competência legislativa
é privativa da União155.
Relativamente às concessionárias de serviços telefônicos móveis, a criação de obrigações e
sanções por lei estadual — no caso, extensão aos clientes antigos de promoções ofertadas a novos —,
ainda que sob o argumento de proteger os direitos do consumidor, também invade a competência da
União156 157.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, em julgamento conjunto, por maioria,
(i) conheceu parcialmente das ações diretas e, nessa parte, as julgou parcialmente procedentes para
declarar a inconstitucionalidade parcial do art. 1º, parágrafo único, inciso 1, no que diz respeito ao serviço
de telefonia móvel, e inciso 5, no que diz respeito ao serviço privado de educação, ambos da Lei
15.854/2015 do Estado de São Paulo; e (ii) acolheu os embargos de declaração para reconsiderar a
decisão embargada e declarar a nulidade parcial, sem redução de texto, do art. 35, II, da Lei 16.559/2019
do Estado de Pernambuco, em ordem a excluir as instituições de ensino privado da obrigação de conceder
a seus clientes preexistentes os mesmos benefícios de promoções e liquidações destinadas a novos
clientes.
ADI 5399/SP, relator Min. Roberto Barroso, julgamento em 9.6.2022 (INF 1058)
ADI 6191/SP, relator Min. Roberto Barroso, julgamento em 9.6.2022 (INF 1058)

154
Precedentes citados: ADI 6435; e ADI 6484.
155
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”
156
Precedentes citados: ADI 4907; ADI 5121; ADI 5722; ADI 4083; ADI 4401 MC; ADI 4533 MC; e ADI 3959.
157
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a
criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais; (...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar
sobre: (...) IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...) Art. 175. Incumbe ao Poder
Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a
prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: I - o regime das empresas concessionárias e
permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições
de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II - os direitos dos usuários;”

62
ADI 6333 ED/PE, relator Min. Gilmar Mendes, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 9.6.2022 (INF 1058)

Tribunal de Contas estadual: normas gerais sobre prescrição e decadência - ADI


5384/MG

Resumo:

É constitucional norma estadual decorrente de emenda parlamentar a projeto de lei de


iniciativa do Tribunal de Contas estadual que veicule regras sobre prescrição e decadência a ele
aplicáveis.

A norma impugnada trata sobre ações de fiscalização de Corte de Contas estadual, tendo em
perspectiva a passagem do tempo, não implicando vulneração de sua autonomia ou autogoverno, já que
não altera sua organização ou funcionamento158. Assim, inexiste vício de iniciativa ou abuso do poder de
emenda parlamentar, pois presente a pertinência temática com o escopo do projeto originariamente
enviado ao Poder Legislativo e verificado que a disciplina jurídica nele inserida não implica aumento de
despesa.

Ademais, o princípio da simetria não pode ser invocado de modo desarrazoado, em afronta à
sistemática constitucional de repartição de competências e à própria configuração do sistema federativo.
Não obstante a ausência de disciplina expressa no ordenamento jurídico sobre prescrição e decadência no
âmbito do TCU, a criação desses institutos pelos Tribunais de Contas nas diversas unidades federativas
alinha-se com a interpretação mais consentânea com a CF/1988, notadamente o caráter excepcional das
regras de imprescritibilidade159.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação.

ADI 5384/MG, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1056)

4.17 SEGURANÇA PÚBLICA

Polícia civil e independência funcional - ADI 5522/SP

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que assegure a independência funcional a delegados de


polícia, bem como que atribua à polícia civil o caráter de função essencial ao exercício da jurisdição
e à defesa da ordem jurídica160.

158
Precedentes: ADI 4421 MC; ADI 4643 MC; e AC 2511 AgR.
159
Precedentes: MS 32201; e MS 25403.

160
Precedentes: ADI 244 MC, ADI 5520.

63
A polícia civil está, necessariamente, subordinada ao chefe do Poder Executivo estadual, logo,
não é possível atribuir-lhe independência funcional, sob pena de ofensa ao art. 129, I, VI e VIII 161, bem
como ao art. 144, § 6º162, da Constituição Federal (CF).

As normas, ainda que originárias do poder constituinte decorrente, que venham a atribuir
autonomia funcional, administrativa ou financeira a outros órgãos ou instituições não constantes da CF,
padecem de vício de inconstitucionalidade material, por violação ao princípio da separação dos Poderes.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade, em sua integralidade, da Emenda
Constitucional 35/2012 do Estado de São Paulo, que alterou o art. 140 da Constituição paulista.

ADI 5522/SP, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1044)

4.18 TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO

Bens de informática e Zona Franca de Manaus - ADI 2399/AM

Resumo:

É constitucional a exclusão dos bens de informática dos incentivos fiscais previstos para a
Zona Franca de Manaus, promovida pela Lei 8.387/1991.
A Lei 8.387/1991 não reduziu favor fiscal previsto pelo Decreto-lei 288/1967 163, nem violou o
art. 40 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)164.
Com efeito, o art. 40 do ADCT garante a manutenção dos favores fiscais outorgados pelo
Decreto-lei 288/1967 e existentes ao tempo da promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988.
Ocorre que, quando a CF foi promulgada, os bens de informática não eram regulados pelo
Decreto-lei 288/1967, mas pela Lei 7.232/1984 (Lei de Informática). Isso se deu em razão da revogação
tácita, já que diante da incompatibilidade entre as duas normas, prevaleceu a Lei de Informática por ser lei
mais nova e especial em relação ao decreto-lei.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, declarou a perda de objeto da ação direta
em relação ao art. 11 da Lei 10.176/2001 e ao art. 2º, § 3º, da Lei 8.387/1991 e, quanto aos demais
dispositivos questionados, julgou improcedente o pedido formulado. Vencidos, parcialmente, os ministros
Marco Aurélio (relator), Rosa Weber, Edson Fachin e Roberto Barroso.

ADI 2399/AM, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Dias Toffoli, julgamento
virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1043)

161
CF: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal
pública, na forma da lei; (...) IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção
da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição; (...) VIII - requisitar diligências investigatórias e a
instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;”
162
CF: “Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: (...) § 6º
As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se,
juntamente com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.”
163
Precedente: ADI 4.254
164
ADCT: “Art. 40. É mantida a Zona Franca de Manaus, com suas características de área livre de comércio, de
exportação e importação, e de incentivos fiscais, pelo prazo de vinte e cinco anos, a partir da promulgação da
Constituição.”

64
5. DIREITO DA SAÚDE

5.1 VIGILÂNCIA SANITÁRIA E EPIDEMIOLÓGICA

COVID-19: observância das decisões proferidas pelo STF em relação à


obrigatoriedade de vacinação - ADPF 754 16ª TPI-Ref/DF

Resumo:

As notas técnicas objeto de análise (1), ao disseminarem informações matizadas pela


dubiedade e ambivalência, no concernente à compulsoriedade da imunização, podem desinformar a
população, desestimulando a vacinação contra a Covid-19.

Considerada a ambiguidade com que foram redigidas no tocante à obrigatoriedade da vacinação,


as notas técnicas podem ferir, dentre outros, os preceitos fundamentais que asseguram o direito à vida e à
saúde, além de afrontarem entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no
julgamento das ADIs 6.586/DF e 6.587/DF e do ARE 1.267.879/SP.

Nesses termos, o Ministério da Saúde (MS) e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos (MMFDH) devem fazer constar de suas respectivas notas técnicas 165 a interpretação conferida
pelo STF ao art. 3°, III, d, da Lei 13.979/2020166, no sentido de que: (i) “a vacinação compulsória não
significa vacinação forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário, podendo, contudo, ser
implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre outras, a restrição ao
exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde que previstas em lei, ou
dela decorrentes”, esclarecendo, ainda, que (ii) “tais medidas, com as limitações expostas, podem ser
implementadas tanto pela União como pelos estados, Distrito Federal e municípios, respeitadas as
respectivas esferas de competência”, dando ampla publicidade à retificação ora imposta.

É vedado ao governo federal a utilização do canal de denúncias “Disque 100” do MMFDH para
recebimento de queixas relacionadas à vacinação contra a Covid-19, bem como para o recebimento de
queixas relacionadas a restrições de direitos consideradas legítimas pelo STF167.

Esse canal é um serviço de disseminação de informações sobre direitos de grupos vulneráveis e


de denúncias de violações de direitos humanos 168. A sua utilização, fora de suas finalidades institucionais,
configura desvirtuamento do canal.

Com base nesse entendimento, o Plenário, referendou a medida cautelar pleiteada.

ADPF 754 16ª TPI-Ref/DF, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado
em 18.3.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1047)

165
Notas Técnicas 2/2022/SECOVID/GAB/SECOVID/MS e 1/2022/COLIB/CGEDH/SNPG/MMFDH.
166
Lei 13.979/2020, art. 3º. “Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional de
que trata esta Lei, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competência, entre outras, as seguintes medidas:
(...) III - determinação de realização compulsória de: (...) d) vacinação e outras medidas profiláticas;”
167
Precedentes: ADI 6.586; ADI 6.587 e ARE 1.267.879.
168
Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/servicos/denunciar-violacao-de-direitos-humanos .

65
6. DIREITO DO CONSUMIDOR

6.1 CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO

Normas estaduais sobre inclusão e exclusão de consumidores em cadastros de


proteção ao crédito - ADI 5224/SP, ADI 5252/SP, ADI 5273/SP e ADI 5978/SP

Resumo:

A adoção de sistema de comunicação prévia a consumidor inadimplente por carta


registrada com aviso de recebimento configura desrespeito à Constituição Federal.

No caso, a norma impugnada claramente transgride o modelo normativo geral criado pela União
(Código de Defesa do Consumidor, art. 43, § 2º). Além disso, a disciplina normativa estadual afeta direta
e ostensivamente relações comerciais e consumeristas que transcendem os limites territoriais do ente
federado, bem como transfere todo o ônus financeiro da inadimplência da pessoa do devedor para a
sociedade em geral.

É inconstitucional a previsão, por lei estadual, de “prazo de tolerância” a impedir que o


nome do consumidor inadimplente seja imediatamente inscrito em cadastro ou banco de dados.

Isso porque, ao prever hipótese suspensiva dos efeitos do vencimento de dívida, o preceito
normativo em questão dispõe sobre o tempo do pagamento e os efeitos da mora, intervindo na legislação
federal sobre direito civil e comercial, matérias reservadas à União (Constituição Federal, art. 22, I).

A supressão da verificação prévia quanto à existência do crédito, exigibilidade do título e


inadimplência do devedor não caracteriza violação do princípio da vedação ao retrocesso.

Com o advento da Lei estadual 16.624/2017, não é mais obrigatória a apresentação, pelos
credores, de documentos capazes de atestar a existência da dívida, a exigibilidade e a insolvência. Agora,
tais documentos somente serão exigidos na hipótese de solicitação, de caráter voluntário, pelo próprio
devedor ou pela empresa administradora dos dados. Essa modificação legislativa não consubstancia
ofensa à Constituição ou retrocesso social em desfavor dos consumidores.

Nesses termos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente das ações diretas de
inconstitucionalidade e, na parte conhecida, julgou-as parcialmente procedentes.

ADI 5224/SP, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1046)

ADI 5252/SP, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1046)

ADI 5273/SP, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1046)

ADI 5978/SP, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1046)

66
7. DIREITO DO TRABALHO

7.1 CONVENÇÃO E ACORDO COLETIVO

Ultratividade das cláusulas normativas de acordos e convenções coletivas - ADPF


323/DF

Resumo:

É inconstitucional a interpretação jurisprudencial da Justiça do Trabalho que mantém a


validade de direitos fixados em cláusulas coletivas com prazo já expirado até que novo acordo ou
convenção coletiva seja firmado.

Não cabe ao TST agir excepcionalmente e, para chegar a determinado objetivo, interpretar
norma constitucional de forma arbitrária. Assim, a ultratividade das normas coletivas, ao argumento de
que as cláusulas pactuadas se incorporam aos contratos de trabalho individual, é incompatível com os
princípios da legalidade, da separação dos Poderes e da segurança jurídica169.

Ademais, a Corte trabalhista, ao avocar para si a função legiferante, afastou o debate público e
todos os trâmites e garantias típicas do processo legislativo, passando, por conta própria, a ditar não
apenas norma, mas os limites da alteração que criou, além de selecionar arbitrariamente quem seria
atingido pela sua compreensão.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ADPF para declarar
a inconstitucionalidade da Súmula 277 do TST, na versão atribuída pela Resolução 185/2012 170, assim
como de interpretações e decisões judiciais que entendem que o art. 114, § 2º, da CF/1988 171, autoriza a
aplicação do princípio da ultratividade de normas de acordos e de convenções coletivas.

ADPF 323/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1056)

7.2 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

Acordos e convenções coletivos: limitação ou afastamento de direitos trabalhistas e


horas “in itinere” - ARE 1121633/GO (Tema 1046 RG)

Tese fixada:

“São constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao considerarem a


adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas,

169
CLT/1943: “Art. 613 - As Convenções e os Acordos deverão conter obrigatoriamente (...) II - Prazo de vigência;”
(...) Art. 614 (...) § 3º Não será permitido estipular duração de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho
superior a dois anos, sendo vedada a ultratividade.”
170
Súmula 277/TST: “CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DE TRABALHO.
EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE (redação alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res.
185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012. As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções
coletivas integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante
negociação coletiva de trabalho.”
171
CF/1988: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (...) § 2º Recusando-se qualquer das partes
à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza
econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção
ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.”

67
independentemente da explicitação especificada de vantagens compensatórias, desde que
respeitados os direitos absolutamente indisponíveis.”

Resumo:

É constitucional norma oriunda de negociação coletiva que, apesar de limitar ou afastar


direitos trabalhistas, assegura aos trabalhadores os direitos absolutamente indisponíveis.

Os acordos e convenções coletivas devem ser interpretados com base no princípio da


equivalência entre os negociantes, de modo que a autonomia coletiva — cujo reconhecimento não
significa renúncia ao acesso à Justiça — não pode ser simplesmente substituída pela invocação do
princípio protetivo ou da primazia da realidade, oriundos do direito individual trabalhista.

Além disso, ajustes acordados com aval sindical são revestidos de boa-fé e a invalidade deles
deve ser a exceção, não a regra. A anulação dos acordos, na parte em que supostamente interessa ao
empregador, mantidos os ônus assumidos no que diz respeito ao trabalhador, ao mesmo tempo em que
viola o art. 7º, XXVI, da CF/1988172, leva a um claro desestímulo à negociação coletiva, que deveria ser
valorizada e respeitada, especialmente em momentos de crise173.

Conjugada a autonomia coletiva com o princípio da adequação setorial negociada, é possível a


disponibilidade dos direitos trabalhistas em acordos e convenções coletivos, desde que resguardado um
patamar mínimo civilizatório, o qual é composto, em linhas gerais, pelas normas constitucionais, pelas
normas de tratados e convenções internacionais incorporados ao direito brasileiro e pelas normas que,
mesmo infraconstitucionais, asseguram garantias mínimas de cidadania aos trabalhadores.

No caso, quanto às horas in itinere — cuja questão se vincula diretamente ao salário e à jornada
de trabalho —, trata-se de direito disponível, sujeito, portanto, à autonomia da vontade coletiva 174 (3).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.046 da
repercussão geral, deu provimento ao recurso.

ARE 1121633/GO, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento em 1º e 2.6.2022 (INF 1057)

Dispensa em massa e intervenção sindical - RE 999435/SP (Tema 638 RG)

Tese fixada:

“A intervenção sindical prévia é exigência procedimental imprescindível para a dispensa


em massa de trabalhadores, que não se confunde com autorização prévia por parte da entidade
sindical ou celebração de convenção ou acordo coletivo.”

Resumo:

A dispensa em massa de empregados deve ser precedida da tentativa de diálogo entre a


empresa e o sindicato dos trabalhadores.

À luz dos postulados da proteção da relação de emprego contra a despedida arbitrária ou sem
justa causa, da representatividade dos sindicatos e da valorização da negociação coletiva, as entidades
sindicais obreiras devem ser ouvidas antes da demissão coletiva de empregados, o que se revela como
requisito procedimental indispensável.

Não se exige que cheguem a um acordo de vontades, à celebração de convenção ou acordo


coletivos, tampouco que haja autorização prévia do sindicato, assim como a fixação de condições. Impõe-

172
CF/1988: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social: (...) XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;”
173
Precedente: RE 590415 (Tema 152 RG).
174
Precedente: RE 895759 AgR-segundo.

68
se tão somente o dever de negociar, no sentido da abertura do diálogo entre os polos antagônicos,
oportunizando o alcance de soluções alternativas, menos drásticas e danosas.

Nesse contexto, se houver impasse absoluto, a vontade do empregador prevalecerá, de modo que
inexiste afronta à livre iniciativa ou à razoabilidade e proporcionalidade do procedimento.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 638 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 999435/SP, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgamento
em 8.6.2022 (INF 1058)

7.3 PISO SALARIAL

Congelamento da base de cálculo para desindexação de piso salarial vinculado ao


valor do salário mínimo - ADPF 53 Ref-MC/PI; ADPF 149 Ref-MC/DF e ADPF 171 Ref-
MC/MA

Resumo:

A fixação do piso salarial em múltiplos do salário mínimo mostra-se compatível com o texto
constitucional, desde que não ocorra vinculação a reajustes futuros175.

A parte final do inciso IV do art. 7º da Constituição Federal (CF) 176 não veda a pura e simples
utilização do salário-mínimo como mera referência paradigmática, destinada a servir como parâmetro
para definir a justa proporção do valor remuneratório mínimo apropriado à remuneração de determinada
categoria profissional. Entretanto, a estipulação do piso salarial com referência a múltiplos do salário-
mínimo não pode dar ensejo a reajustamentos automáticos futuros voltados à adequação do salário
inicialmente contratado aos novos valores vigentes para o salário-mínimo nacional. Evita-se, com isso, a
indesejável espiral inflacionária resultante do reajuste automático de verbas salarias e parcelas
remuneratórias no âmbito do serviço público e da atividade privada, assim como a elevação concomitante
de preços de produtos e serviços nos diversos setores da economia nacional.

No caso, especificamente com relação à aplicação da norma inscrita no art. 5º da Lei 4.950-A/66,
entendeu-se que o congelamento da base de cálculo do piso salarial serve como critério de desindexação
do valor do salário-mínimo e deve ter, como marco temporal, a data da publicação da ata do julgamento
que reconhecer a incompatibilidade da norma com a CF.

Com base nesse entendimento, o Plenário converteu o referendo de medida cautelar em


julgamento de mérito, conheceu em parte de arguições de descumprimento de preceito fundamental 177 e,
por maioria, julgou parcialmente procedentes os pedidos nelas formulados.

175
Precedentes: RE 565.714; Rcl 19.193 AgR; Rcl 9.951 AgR; Rcl 19.130 AgR; ADPF 95 MC; ADI 3.934, ARE
842.157 RG; ADI 2.672; ADI 1.568; ADI 4.637.
176
CF/1988: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social: (...) IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas
necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;”
177
Precedente: Rp 716

69
ADPF 53 Ref-MC/PI, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1044)

ADPF 149 Ref-MC/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1044)

ADPF 171 Ref-MC/MA, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1044)

7.4 REGIME DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA

Débitos trabalhistas: índices de atualização monetária aplicáveis no âmbito da


Justiça do Trabalho - RE 1269353/DF (Tema 1191 RG)

Tese fixada:

“I - É inconstitucional a utilização da Taxa Referencial - TR como índice de atualização dos


débitos trabalhistas, devendo ser aplicados, até que sobrevenha solução legislativa, os mesmos
índices de correção monetária e de juros vigentes para as condenações cíveis em geral, quais sejam
a incidência do IPCA-E na fase pré-judicial e, a partir do ajuizamento da ação, a incidência da taxa
SELIC (art. 406 do Código Civil), à exceção das dívidas da Fazenda Pública, que possuem
regramento específico. A incidência de juros moratórios com base na variação da taxa SELIC não
pode ser cumulada com a aplicação de outros índices de atualização monetária, cumulação que
representaria bis in idem;

II - A fim de garantir segurança jurídica e isonomia na aplicação desta tese, devem ser
observados os marcos para modulação dos efeitos da decisão fixados no julgamento conjunto da
ADI 5.867, ADI 6.021, ADC 58 e ADC 59, como segue: (i) são reputados válidos e não ensejarão
qualquer rediscussão, em ação em curso ou em nova demanda, incluindo ação rescisória, todos os
pagamentos realizados utilizando a TR (IPCA-E ou qualquer outro índice), no tempo e modo
oportunos (de forma extrajudicial ou judicial, inclusive depósitos judiciais) e os juros de mora de
1% ao mês, assim como devem ser mantidas e executadas as sentenças transitadas em julgado que
expressamente adotaram, na sua fundamentação ou no dispositivo, a TR (ou o IPCA-E) e os juros
de mora de 1% ao mês; (ii) os processos em curso que estejam sobrestados na fase de conhecimento,
independentemente de estarem com ou sem sentença, inclusive na fase recursal, devem ter
aplicação, de forma retroativa, da taxa Selic (juros e correção monetária), sob pena de alegação
futura de inexigibilidade de título judicial fundado em interpretação contrária ao posicionamento
do STF (art. 525, §§ 12 e 14, ou art. 535, §§ 5º e 7º, do CPC e (iii) os parâmetros fixados neste
julgamento aplicam-se aos processos, ainda que transitados em julgado, em que a sentença não
tenha consignado manifestação expressa quanto aos índices de correção monetária e taxa de juros
(omissão expressa ou simples consideração de seguir os critérios legais).”

Resumo:

Não se aplica a Taxa Referencial (TR) como índice de correção monetária de débitos
trabalhistas.

Tendo-se em vista que a TR não reflete o poder aquisitivo da moeda nacional, a Justiça laboral
deve utilizar, até que o Poder Legislativo oportunamente solucione a questão, os mesmos índices de
correção monetária e de juros vigentes para as condenações cíveis em geral, isto é, o Índice Nacional de
Preço ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) na fase pré-judicial e a taxa do Sistema Especial de
Liquidação e Custódia (SELIC) a partir do ajuizamento da ação. Também devem ser estritamente
observados os marcos fixados para a modulação dos efeitos da decisão plenária proferida no julgamento
conjunto acima destacado, cujas balizas foram expressamente reproduzidas na tese do tema de
repercussão geral.

70
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de
repercussão geral da questão constitucional suscitada (Tema 1191 RG). No mérito, por maioria, reafirmou
a jurisprudência dominante sobre a matéria para prover parcialmente o recurso extraordinário.

RE 1269353/DF, relator Min. Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em


17.12.2021 (INF 1043)

71
8. DIREITO ELEITORAL

8.1 CAMPANHA ELEITORAL

Forma de cálculo do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) - ADI


7058 MC/DF

Resumo:

Não cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF) adentrar o mérito da opção legislativa para
redesenhar a forma de cálculo do valor do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC)
(Lei 14.194/2021, art. 12, XXVII)178.

Muito embora reconheça-se a possibilidade de o STF adentrar no controle de normas


orçamentárias179, é imprescindível guardar certa deferência institucional em relação às opções feitas pelas
Casas Legislativas, em especial quando esse diálogo vem aperfeiçoado pela análise e rejeição de veto
formulado pelo chefe do Poder Executivo180.

O FEFC é um importante instrumento ao atual modelo de financiamento de campanhas


eleitorais, voltando-se a suprir o processo eleitoral com condições materiais de existência. Decorre de
uma opção legítima do legislador de, em atenção ao que decidido pelo STF na ADI 4650, conferir os
meios necessários para que as mais diversas candidaturas se façam presentes no jogo democrático.

A fixação da verba pública destinada ao FEFC é campo de atuação eminentemente político, e o


resultado de tal processo, desde que respeitadas as regras previamente fixadas, em nada pode representar
desvio de finalidade.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, indeferiu medida cautelar em ação direta
de inconstitucionalidade. Vencidos os ministros Roberto Barroso, Rosa Weber, Cármen Lúcia, e, em
maior extensão, os ministros André Mendonça (relator) e Ricardo Lewandowski.

ADI 7058 MC/DF, relator Min. André Mendonça, redator do acórdão Min. Nunes Marques,
julgamento finalizado em 3.3.2022 (INF 1045)

8.2 FEDERAÇÕES PARTIDÁRIAS

Prazo para constituição e registro no TSE de partidos políticos e de federações


partidárias - ADI 7021/DF

Resumo:

178
Lei 14.194/2021: “Art. 12. O Projeto de Lei Orçamentária de 2022, a respectiva Lei e os créditos adicionais
discriminarão, em categorias de programação específicas, as dotações destinadas a: (...) XXVII - Fundo Especial de
Financiamento de Campanha, financiado com recursos da reserva prevista no inciso II do § 4º do art. 13, no valor
correspondente a 25% (vinte e cinco por cento) da soma das dotações para a Justiça Eleitoral para exercício de 2021 e
as constantes do Projeto de Lei Orçamentária para 2022, acrescentado do valor previsto no inciso I do art. 16-C da
Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997;”
179
Precedente: ADI 4048.
180
Precedente: ADI 5468.

72
A fim de participarem das eleições, as federações partidárias devem estar constituídas
como pessoa jurídica e obter o registro de seu estatuto perante o TSE no mesmo prazo aplicável aos
partidos políticos.

Verifica-se, em sede de referendo de medida cautelar, incompatibilidade, com o princípio da


isonomia, das previsões legais que permitem que as federações partidárias possuam prazo superior ao dos
partidos políticos para se constituírem.

Com efeito, a própria Lei 14.208/2021 prevê que a federação atuará como se fosse uma única
agremiação partidária (art. 11-A, caput, da Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021) 181 e
que se aplicam às federações “todas as normas que regem as atividades dos partidos políticos no que diz
respeito às eleições” (art. 11-A, § 8º, da Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021)182.

Entretanto, a mesma lei permite que as federações possam ser constituídas até a data final do
período de realização das convenções partidárias (art. 11-A, § 3º, III, da Lei 9.096/1995, com redação
dada pela Lei 14.208/2021)183, ao passo que, para os partidos políticos, impõe-se a constituição e o
registro até seis meses antes das eleições (art. 4º da Lei 9.504/1997)184.

Diante dessas previsões legais, aparenta haver desequiparação irrazoável na medida em que se
permite que agremiações concorrentes ao mesmo pleito sigam regras e cronogramas diversos, situação
que não deve ser sustentada pelo Direito.

Excepcionalmente, nas eleições de 2022, o prazo para constituição de federações partidárias fica
estendido até 31 de maio do mesmo ano.

Mediante ponderação entre os princípios da isonomia (entre partidos políticos e federações), da


segurança jurídica e da maior efetividade da norma que criou o instituto das federações partidárias,
entende-se que o prazo fixado é um meio-termo. Ele confere maior prazo para negociações, mas, ao
mesmo tempo, evita uma extensão excessiva, o que tornaria o instituto das federações perigosamente
aproximado das coligações e poderia trazer-lhe uma lógica “de ocasião”, que é o que se quer evitar. Além
disso, esse prazo minimiza eventuais efeitos competitivos adversos que uma constituição tardia das
federações poderia produzir na competição com partidos políticos.

Com base nesses fundamentos, o Plenário, por maioria, referendou medida cautelar deferida
parcialmente em ação direta de inconstitucionalidade.

ADI 7021/DF MC-Ref, relator Min. Roberto Barroso, julgamento em 9.2.2022 (INF 1043)

8.3 PROPAGANDA ELEITORAL

Restrições à veiculação de propaganda eleitoral em meios de comunicação impressos


e na internet - ADI 6281/DF
181
Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021: “Art. 11-A. Dois ou mais partidos políticos poderão
reunir-se em federação, a qual, após sua constituição e respectivo registro perante o Tribunal Superior Eleitoral,
atuará como se fosse uma única agremiação partidária.”
182
Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021: “Art. 11-A. (...) § 8º Aplicam-se à federação de partidos
todas as normas que regem as atividades dos partidos políticos no que diz respeito às eleições, inclusive no que se
refere à escolha e registro de candidatos para as eleições majoritárias e proporcionais, à arrecadação e aplicação de
recursos em campanhas eleitorais, à propaganda eleitoral, à contagem de votos, à obtenção de cadeiras, à prestação de
contas e à convocação de suplentes.”
183
Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021: “Art. 11-A. (...) § 3º A criação de federação obedecerá às
seguintes regras: (...) III - a federação poderá ser constituída até a data final do período de realização das convenções
partidárias;”
184
Lei 9.504/1997, com redação dada pela Lei 13.488/2017: “Art. 4º. Poderá participar das eleições o partido que, até
seis meses antes do pleito, tenha registrado seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral, conforme o disposto em lei, e
tenha, até a data da convenção, órgão de direção constituído na circunscrição, de acordo com o respectivo estatuto.”

73
Resumo:

São constitucionais as restrições, previstas na Lei das Eleições (Lei 9.504/1997, arts. 43,
caput, e 57-C, caput e § 1º)185, à veiculação de propaganda eleitoral em meios de comunicação
impressos e na internet.

Considerando-se que o pagamento das propagandas eleitorais no Brasil se dá atualmente com


recursos públicos, na ampla maioria dos casos, então a regulamentação da propaganda eleitoral está mais
direcionada para a forma do gasto do Fundo Eleitoral do que propriamente para disciplinar a liberdade de
expressão. Trata-se de uma opção política do legislador sobre onde e como devam ser gastos recursos
públicos.

Ademais, as diretrizes relativas à propaganda eleitoral voltam-se à realização de princípios


próprios, tais como a paridade de armas entre os candidatos e a preservação das eleições, pondo-os a
salvo do abuso do poder econômico, sempre disposto a influir no resultado das urnas.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente o pedido formulado
em ação direta. Vencidos os ministros Luiz Fux (presidente e relator), Edson Fachin, Roberto Barroso e
Cármen Lúcia, que o julgaram procedente, e, em menor extensão, o ministro André Mendonça, que o
julgou parcialmente procedente.

ADI 6281/DF, relator Min. Luiz Fux, redator do acórdão Min. Nunes Marques, julgamento em
10, 16 e 17.2.2022 (INF 1044)

185
Lei 9.504/1997: “Art. 43. São permitidas, até a antevéspera das eleições, a divulgação paga, na imprensa escrita,
e a reprodução na internet do jornal impresso, de até 10 (dez) anúncios de propaganda eleitoral, por veículo, em datas
diversas, para cada candidato, no espaço máximo, por edição, de 1/8 (um oitavo) de página de jornal padrão e de 1/4
(um quarto) de página de revista ou tabloide. (Redação dada pela Lei 12.034/2009) (...) Art. 57-C. É vedada a
veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na internet, excetuado o impulsionamento de conteúdos,
desde que identificado de forma inequívoca como tal e contratado exclusivamente por partidos, coligações e
candidatos e seus representantes. (Redação dada pela Lei 13.488/2017) § 1º É vedada, ainda que gratuitamente, a
veiculação de propaganda eleitoral na internet, em sítios: (Incluído pela Lei 12.034/2009) I – de pessoas jurídicas,
com ou sem fins lucrativos; (Incluído pela Lei 12.034/2009)”

74
9. DIREITO FINANCEIRO

9.1 RESPONSABILIDADE FISCAL

Lei estadual e concessão de benefício fiscal sem prévia estimativa de impacto


orçamentário e financeiro - ADI 6303/RR

Tese fixada:

“É inconstitucional lei estadual que concede benefício fiscal sem a prévia estimativa de
impacto orçamentário e financeiro exigida pelo art. 113 do ADCT.”

Resumo:

O art. 113 do ADCT 186 é aplicável a todos os entes da Federação 187 e a opção do
Constituinte de disciplinar a temática nesse sentido explicita a prudência na gestão fiscal, sobretudo
na concessão de benefícios tributários que ensejam renúncia de receita.

Isso ocorre porque a elaboração do referido estudo concede ao Poder Legislativo, como órgão
vocacionado a versar sobre a instituição de benefícios fiscais, o controle não somente dos objetivos
constitucionais que se pretendem atingir por meio de benesse fiscal, como também o controle financeiro
da escolha política.

Além disso, a regra constitucional observa o regime preexistente definido no art. 14 da Lei
Complementar (LC) 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) 188, no tocante à concessão e ao aumento
de benefícios fiscais que ocasionem a renúncia de receita.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido
formulado em ação direta, para declarar a inconstitucionalidade formal da Lei Complementar 278/2019
do Estado de Roraima.

ADI 6303/RR, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em


11.3.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1046)

186
CF, art. 113. “A proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser
acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro”.
187
Precedentes: ADI 6.074, ADI 5.816.
188
LC 101/2000, art. 14. “A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra
renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que
deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos
uma das seguintes condições: I – demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de
receita da lei orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo
próprio da lei de diretrizes orçamentárias; II – estar acompanhada de medidas de compensação, no período
mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de
cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. § 1º A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio,
crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de
cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que correspondam a
tratamento diferenciado. § 2º Se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o caput deste
artigo decorrer da condição contida no inciso II, o benefício só entrará em vigor quando implementadas as medidas
referidas no mencionado inciso. § 3º O disposto neste artigo não se aplica: I – às alterações das alíquotas dos
impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do art. 153 da Constituição, na forma do seu § 1º; II – ao cancelamento de
débito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança.”

75
10. DIREITO PENAL

10.1 REINCIDÊNCIA

Porte de drogas para consumo próprio e reincidência - RHC 178512/SP

Resumo:

Viola o princípio da proporcionalidade a consideração de condenação anterior pelo delito


do art. 28 da Lei 11.343/2006, “porte de droga para consumo pessoal”, para fins de reincidência.

O delito previsto no art. 28 da Lei 11.343/2006 não comina pena privativa de liberdade, mas tão
somente “advertência sobre os efeitos das drogas” (inc. I); “prestação de serviços à comunidade” (inc. II)
e “medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo” (inc. III).

Não se afigura razoável, portanto, permitir que uma conduta que possui vedação legal quanto à
imposição de prisão, a fim de evitar a estigmatização do usuário de drogas, possa dar azo à posterior
configuração de reincidência.

Deve-se ponderar, ainda, que a reincidência depende da constatação de que houve condenação
criminal com trânsito em julgado, o que não ocorre em grande parte dos casos de incidência do art. 28 da
Lei 11.343/2006.

Com base nesse entendimento, a Segunda Turma, por maioria, negou provimento a agravo
regimental.

RHC 178512 AgR/SP, relator Min. Edson Fachin, julgamento em 22.3.2022 (INF 1048)

76
11. DIREITO PROCESSUAL PENAL

11.1 COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

Competência penal originária do STF e “mandatos cruzados” - Inq 4342 QO/PR

Resumo:

A competência penal originária do STF para processar e julgar parlamentares 189 alcança os
congressistas federais no exercício de mandato em casa parlamentar diversa daquela em que
consumada a hipotética conduta delitiva, desde que não haja solução de continuidade.

Uma vez presentes as balizas estabelecidas no julgamento da AP 937 QO 190, o foro por
prerrogativa de função alcança os casos denominados “mandatos cruzados” de parlamentar federal,
quando não houver interrupção ou término do mandato.

Dessa forma, quando o investigado ou acusado não tiver sido novamente eleito para os cargos de
deputado federal ou senador, a competência do STF deve ser declinada.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, resolveu questão de ordem para assentar
a manutenção da competência criminal originária do STF.

Inq 4342 QO/PR, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 1º.4.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1049)

11.2 EXECUÇÃO PENAL

Execução penal: estudo a distância e remição da pena - RHC 203546/PR

Resumo:

A ineficiência do Estado em fiscalizar as horas de estudo realizadas a distância pelo


condenado não pode obstaculizar o seu direito de remição da pena, sendo suficiente para
comprová-las a certificação fornecida pela entidade educacional.

Nesse contexto, constando do atestado emitido pelo Sistema de Informações Penitenciárias que o
sentenciado concluiu o aprendizado das disciplinas, a inércia estatal em acompanhar e fiscalizar o estudo
a distância não deve ser a ele imputada, sob pena de prejudicá-lo pelo descumprimento de uma obrigação
que não é sua191.

189
CF/1988: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-
lhe: I - processar e julgar, originariamente: (...) b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;”
190
Precedente: AP 937 QO.
191
LEP: “Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou
por estudo, parte do tempo de execução da pena. § 1º A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: I
– 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar – atividade de ensino fundamental, médio,
inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional – divididas, no mínimo, em 3 (três)
dias; (...) § 2º As atividades de estudo a que se refere o § 1º deste artigo poderão ser desenvolvidas de forma
presencial ou por metodologia de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais
competentes dos cursos frequentados.”

77
Em respeito ao princípio da igualdade, notadamente em situações precárias, é necessário
sobrevalorizar a remição da pena, de modo que não se pode presumir que o condenado não tenha
efetivamente se dedicado aos estudos na cela.

Com base nesse entendimento, a Primeira Turma deu provimento ao recurso ordinário em
habeas corpus para conceder a ordem e declarar remido mais um dia da pena do recorrente, totalizando
três dias: dois dias referentes ao estudo presencial, já reconhecidos pelo juízo da execução, e um dia
referente ao estudo a distância.

RHC 203546/PR, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento em 28.6.2022 (INF 1061)

11.3 FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

Competência dos Tribunais para supervisionar investigações contra autoridades com


foro por prerrogativa de função - ADI 7083/AP

Resumo:

É constitucional a norma de Regimento Interno de Tribunal de Justiça que condiciona a


instauração de inquérito à autorização do desembargador-relator nos feitos de competência
originária daquele órgão.

Na hipótese, não há ofensa ao sistema acusatório, pois a previsão regimental decorre da


normativa constitucional que determina o foro específico, sujeitando investigações contra determinadas
autoridades a maior controle judicial, pela importância das funções que exercem.

Quanto à necessidade de supervisão judicial dos atos investigatórios, tem-se, pela interpretação
sistemática da CF/88 e com fulcro na jurisprudência consolidada desta Corte, que o mesmo tratamento
conferido às autoridades com foro por prerrogativa de função no STF deve ser aplicado, por simetria,
àquelas com foro em outros tribunais, em observância ao princípio da isonomia, que garante o mesmo
tratamento aos que estejam em situação igual192.

Ademais, inexiste usurpação das funções institucionais conferidas constitucionalmente ao


Ministério Público, pois o órgão mantém a titularidade da ação penal e as prerrogativas investigatórias,
devendo apenas submeter suas atividades ao controle judicial.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, converteu a apreciação do


requerimento de medida cautelar em julgamento de mérito e julgou improcedente a ação direta para
declarar a constitucionalidade do dispositivo impugnado193.

ADI 7083/AP, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1054)

11.4 INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

Interceptação telefônica e prorrogações sucessivas - RE 625263/PR (Tema 661 RG)

192
Precedentes: Inq 2411 QO; Pet 3825 QO; Inq 3438; AP 933 QO; AP 912 QO; e RE 1322854 AgR.
193
Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Amapá: “Art. 48. Cada feito que ingresse no Tribunal terá um
Relator escolhido mediante distribuição aleatória, salvo já exista Relator prevento. (…) § 3º Caberá, ainda, ao
Relator: (…) IX - autorizar a instauração de inquérito a pedido do Procurador-Geral de Justiça, da autoridade policial
ou do ofendido.”

78
Tese fixada:

“São lícitas as sucessivas renovações de interceptação telefônica, desde que, verificados os


requisitos do artigo 2º da Lei 9.296/1996 e demonstrada a necessidade da medida diante de
elementos concretos e a complexidade da investigação, a decisão judicial inicial e as prorrogações
sejam devidamente motivadas, com justificativa legítima, ainda que sucinta, a embasar a
continuidade das investigações.

São ilegais as motivações padronizadas ou reproduções de modelos genéricos sem relação


com o caso concreto.”

Resumo:

A interceptação telefônica pode ser renovada sucessivamente se a decisão judicial inicial e


as prorrogações forem fundamentadas, com justificativa legítima, mesmo que sucinta, a embasar a
continuidade das investigações.

Para tanto, devem estar presentes os requisitos do art. 2º da Lei 9.296/1996 194 e ser demonstrada
a necessidade concreta da interceptação, bem assim a complexidade da investigação. Em qualquer
hipótese — decisão inicial ou de prorrogação —, a motivação deve ter relação com o caso concreto. No
tocante às prorrogações, não precisa ser, necessariamente, exauriente e trazer aspectos novos.

Cumpre observar que a ausência de resultado incriminatório obtido com eventual interceptação
de comunicações telefônicas não impede a continuidade da diligência.

Quanto à duração total de medida de interceptação telefônica, atualmente não se reconhece a


existência de um limite máximo de prazo global a ser abstratamente imposto. Por oportuno, o prazo
máximo de duração do estado defesa (CF, art. 136, § 2º) 195 não é fundamento para limitar a viabilidade de
renovações sucessivas.

Com esses entendimentos, ao apreciar o Tema 661 da repercussão geral, o Plenário, por maioria,
deu provimento a recurso extraordinário, para declarar a validade, no caso concreto, das interceptações
telefônicas realizadas e de todas as provas delas decorrentes. Vencidos os ministros Gilmar Mendes
(relator), Dias Toffoli, Nunes Marques e Ricardo Lewandowski.

RE 625263/PR, relator Min. Gilmar Mendes, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 17.3.2022 (INF 1047)

11.5 INVESTIGAÇÃO PENAL

Autorização para o prosseguimento de investigações contra magistrados - ADI


5331/MG

194
Lei 9.296/1996: “Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer
das seguintes hipóteses: I – não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II – a prova
puder ser feita por outros meios disponíveis; III – o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo,
com pena de detenção. Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da
investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta,
devidamente justificada.”
195
CF/1988: “Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa
Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a
ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por
calamidades de grandes proporções na natureza. § 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo
de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas
a vigorarem, dentre as seguintes: I – restrições aos direitos de: (...) c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
(...) § 2º O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por
igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação.”

79
Tese fixada:

“É inconstitucional norma estadual de acordo com a qual compete a órgão colegiado do


tribunal autorizar o prosseguimento de investigações contra magistrados, por criar prerrogativa
não prevista na Lei Orgânica da Magistratura Nacional e não extensível a outras autoridades com
foro por prerrogativa de função.”

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que impõe a necessidade de prévia autorização do órgão


colegiado do tribunal competente para prosseguir com investigações que objetivam apurar suposta
prática de crime cometido por magistrado.

Atualmente, a disciplina das matérias institucionais da magistratura nacional decorre da Lei


complementar 35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional - LOMAN), segundo a qual não há
qualquer previsão dessa condicionante para a continuidade das investigações 196. Também não há se falar,
na hipótese, em aplicação da ratio decidendi da ADI 7083197.

Nesse contexto, a norma estadual impugnada, ao dispor de modo distinto à lei federal, promove
indevida inovação, afrontando o art. 93 da CF/1988. Ademais, ofende o princípio da isonomia, pois cria
garantia mais extensa aos juízes estaduais mineiros do que a prevista aos demais membros da
magistratura nacional e demais autoridades com foro por prerrogativa de função.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente o
pedido para declarar a inconstitucionalidade da expressão “na primeira sessão” do art. 90, § 1º, da Lei
Complementar 59/2001 do Estado de Minas Gerais, e atribuir interpretação conforme a Constituição à
expressão “órgão competente do Tribunal de Justiça”, prevista no mesmo dispositivo, a fim de estabelecer
que caberá ao relator autorizar o prosseguimento das investigações198.

ADI 5331/MG, relatora Min. Rosa Weber, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgamento
virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1057)

11.6 LEI MARIA DA PENHA

Lei Maria da Penha e afastamento do agressor por delegados e policiais - ADI


6138/DF

Resumo:

É válida a atuação supletiva e excepcional de delegados de polícia e de policiais a fim de


afastar o agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida, quando constatado risco
atual ou iminente à vida ou à integridade da mulher em situação de violência doméstica e familiar,
ou de seus dependentes, conforme o art. 12-C inserido na Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha)199.
196
LOMAN: “Art. 33 - São prerrogativas do magistrado: (...) Parágrafo único - Quando, no curso de investigação,
houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os
respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na
investigação.”
197
Precedente: ADI 7083.
198
Lei Complementar 59/2001 do Estado de Minas Gerais: “Art. 90 São prerrogativas do magistrado: (...) § 1º
Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por magistrado, a autoridade policial remeterá
os autos ao Tribunal de Justiça, cabendo ao órgão competente do Tribunal de Justiça, na primeira sessão, autorizar ou
não o prosseguimento das investigações.”
199
Lei 11.340/2006: “Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou
psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será
imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: I – pela autoridade judicial; II –

80
A inclusão dos dispositivos questionados na Lei Maria da Penha — art. 12-C, II, III e § 1º — é
razoável, proporcional e adequada. Ela permite a retirada imediata do algoz, sem ordem judicial prévia,
mediante a atuação de delegados de polícia, quando o município não for sede de comarca, e de policiais,
quando o município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia.
Em ambos os casos, o juiz deverá ser comunicado no prazo máximo de 24 horas e decidirá sobre a
manutenção ou revogação da medida protetiva de urgência. O afastamento ocorre de forma excepcional,
supletiva e ad referendum do magistrado. Esse importante mecanismo visa garantir a efetividade da
retirada do agressor e inibir a violência no âmbito das relações domésticas e familiares.

Ademais, a opção do legislador não contraria a cláusula da inviolabilidade de domicílio,


tampouco ofende o devido processo legal (CF, art. 5º, XI e LIV) 200. As mudanças estão em consonância
com o texto constitucional, que não exige ordem judicial prévia para o afastamento, bem como determina
a criação de mecanismos para coibir a violência no âmbito das relações familiares (CF, art. 226, § 8º)201.

Além disso, a legislação está de acordo com o sistema internacional de proteção aos direitos
humanos das mulheres e de combate à violência contra a mulher, que evoluiu no sentido de recomendar a
criação de mecanismos preventivos e repressivos eficazes e, dentre outras considerações, a outorga de
prioridade à segurança sobre os direitos de propriedade.

Com esses entendimentos, o Plenário julgou improcedente pedido formulado em ação direta e
declarou a constitucionalidade das normas impugnadas.

ADI 6138/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 23.3.2022 (INF 1048)

11.7 PROVAS

Procedimento para reconhecimento de pessoas - RHC 206846/SP

Resumo:

A desconformidade ao regime procedimental determinado no art. 226 do CPP deve


acarretar a nulidade do ato e sua desconsideração para fins decisórios, justificando-se eventual
condenação somente se houver elementos independentes para superar a presunção de inocência.

O reconhecimento de pessoas, presencial ou por fotografia, deve observar o procedimento


previsto no art. 226 do Código de Processo Penal (CPP) 202, cujas formalidades constituem garantia

pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou III – pelo policial, quando o Município
não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia. § 1º Nas hipóteses dos incisos II
e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual
prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público
concomitantemente. § 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de
urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso.” (incluídos pela Lei 13.827/2019)
200
CF/1988: “Art. 5º (...) XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia,
por determinação judicial; (...) LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;”
201
CF/1988: “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...) § 8º O Estado assegurará a
assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito
de suas relações.”
202
CPP: “Art. 226 - Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte
forma: I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem
qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la; III - se houver razão para
recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade

81
mínima para quem se encontra na condição de suspeito da prática de um crime e para uma verificação dos
fatos mais justa e precisa.

A inobservância do procedimento descrito na referida norma processual torna inválido o


reconhecimento da pessoa suspeita, de modo que tal elemento não poderá fundamentar eventual
condenação ou decretação de prisão cautelar, mesmo se refeito e confirmado o reconhecimento em juízo.
Se declarada a irregularidade do ato, eventual condenação já proferida poderá ser mantida, se
fundamentada em provas independentes e não contaminadas203.

A realização do ato de reconhecimento pessoal carece de justificação em elementos que


indiquem, ainda que em juízo de verossimilhança, a autoria do fato investigado, de modo a se vedarem
medidas investigativas genéricas e arbitrárias, que potencializam erros na verificação dos fatos.

Com base nesses entendimentos, a Segunda Turma, por maioria, deu provimento a recurso
ordinário em habeas corpus.

RHC 206846/SP, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento em 22.2.2022. (INF 1045)

11.8 PRISÃO PREVENTIVA

Prisão preventiva: prazo nonagesimal para a sua revisão e respectiva competência


jurisdicional - ADI 6581/DF e ADI 6582/DF

Resumo:

O transcurso do prazo previsto no parágrafo único do art. 316 do Código de Processo


Penal (CPP) não acarreta, automaticamente, a revogação da prisão preventiva e,
consequentemente, a concessão de liberdade provisória.

Isso porque não houve, por parte da lei, a previsão de automaticidade. O parágrafo único do art.
316 do CPP204 não dispõe que a prisão preventiva passa a ter 90 dias de duração. Estabelece, tão somente,
a necessidade de uma reanálise, que pressupõe a reavaliação da subsistência, ou não, dos requisitos que
fundamentaram o decreto prisional205.

A exigência da revisão nonagesimal quanto à necessidade e adequação da prisão preventiva


aplica-se até o final dos processos de conhecimento.

O art. 316, parágrafo único, do CPP incide até o final dos processos de conhecimento, onde há o
encerramento da cognição plena pelo Tribunal de segundo grau, não se aplicando às prisões cautelares
decorrentes de sentença condenatória de segunda instância ainda não transitada em julgado. O dispositivo
legal aplica-se, igualmente, aos processos em que houver previsão de prerrogativa de foro.

em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela; IV - do ato de
reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao
reconhecimento e por duas testemunhas presenciais. Parágrafo único. O disposto no III deste artigo não terá
aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento.”
203
Precedentes: HC 75.331; HC 172.606; HC 157.007; RHC 176.025.
204
CPP/1941: “Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se, no correr da
investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem. Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da
decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício,
sob pena de tornar a prisão ilegal.”
205
Precedente: SL 1395 MC-Ref.

82
Com base nesse entendimento, o Plenário conheceu de ações diretas e, no mérito, por maioria,
julgou-as parcialmente procedentes.

ADI 6581/DF, relator Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira), às 23:59 (INF 1046)

ADI 6582/DF, relator Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira), às 23:59 (INF 1046)

11.9 PRISÃO TEMPORÁRIA

Fixação de condições obrigatórias e cumulativas para a decretação da prisão


temporária - ADI 3360/DF e ADI 4109/DF

Resumo:

A decretação de prisão temporária somente é cabível quando (i) for imprescindível para as
investigações do inquérito policial; (ii) houver fundadas razões de autoria ou participação do
indiciado; (iii) for justificada em fatos novos ou contemporâneos; (iv) for adequada à gravidade
concreta do crime, às circunstâncias do fato e às condições pessoais do indiciado; e (v) não for
suficiente a imposição de medidas cautelares diversas.

A prisão temporária não pode ser utilizada como meio de prisão para averiguação ou em
violação ao direito à não autoincriminação, pois caracteriza abuso de autoridade, na medida em que
representa instrumento utilizado como forma manifesta de constrangimento, impondo, por vias
transversas, a submissão da pessoa em prestar depoimento na fase inquisitorial 206; ou quando fundada tão
somente porque o representado não possui residência fixa, o que vai de encontro ao princípio
constitucional da igualdade em sua dimensão material, já que essa circunstância pode revelar-se como
uma situação de vulnerabilidade econômico-social.

Além disso, o rol do inciso III do artigo 1º da Lei 7.960/1989 é taxativo e representa opção do
Poder Legislativo, que, dentro de sua competência constitucional precípua, conferiu especial atenção a
determinados crimes, de modo compatível com a Constituição Federal de 1988 (CF/1988).

Por fim, não é incompatível com o texto constitucional: (i) a expressão “será” (art. 2º, caput, da
Lei 7.960/1989)207, já que a decretação da prisão temporária não se revela como medida compulsória,
devendo ser obrigatoriamente fundamentada (§ 2º do art. 2º da Lei 7.960/1989 e art. 93, IX, da CF/1988)
(3)208; e (ii) o prazo de 24 horas previsto no art. 2º, § 2º, da Lei 7.960/1989, porque, além de impróprio,
justifica-se pela urgência na análise do pedido pelo magistrado visando à eficiência das investigações.

Com base nesse entendimento, o Plenário, em julgamento conjunto, por maioria, conheceu da
ADI 3360/DF e em parte da ADI 4109/DF e, no mérito, julgou parcialmente procedentes os pedidos para
dar interpretação conforme a Constituição Federal ao art. 1º da Lei 7.960/1989209.

206
Precedentes: ADPF 395; e ADPF 444.
207
Lei 7.960/1989: “Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação da autoridade
policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em
caso de extrema e comprovada necessidade. (...) § 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser
fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) horas, contadas a partir do recebimento da
representação ou do requerimento.”
208
CF/1988: “Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da
Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados
atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;”
209
Lei nº 7.960/89: “Art. 1° Caberá prisão temporária: I - quando imprescindível para as investigações do inquérito
policial; II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de
sua identidade; III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de

83
ADI 3360/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, redator para o acórdão Min. Edson Fachin,
julgamento virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-feira), às 23:59. (INF 1043)

ADI 4109/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, redator para o acórdão Min. Edson Fachin,
julgamento virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-feira), às 23:59. (INF 1043)

11.10 TERMO CIRCUNSTANCIADO

Competência para a lavratura de termo circunstanciado - ADI 5637/MG

Resumo:

É constitucional norma estadual que prevê a possibilidade da lavratura de termos


circunstanciados pela Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiro Militar.

O termo circunstanciado é o instrumento legal que se limita a constatar a ocorrência de crimes de


menor potencial ofensivo, motivo pelo qual não configura atividade investigativa e, por via de
consequência, não se revela como função privativa de polícia judiciária210.

A CF conferiu aos estados e ao Distrito Federal, a partir da competência concorrente, a


competência para editar normas legislativas que garantam maior eficiência e eficácia na aplicação da Lei
9.099/1995211. Esta norma federal viabiliza a lavratura do termo por qualquer autoridade legalmente
reconhecida212 e não há impeditivo para que os estados-membros indiquem quais são elas ou, de qualquer
modo, disciplinem essa atribuição.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu de ação direta e, no
mérito, julgou-a improcedente para declarar a constitucionalidade do art. 191 da Lei 22.257/2016 do
Estado de Minas Gerais213.

ADI 5637/MG, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 11.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1046)

autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°); b)
sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°); c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); d)
extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°); e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); f)
estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); g) atentado violento ao pudor
(art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); h) rapto violento (art. 219, e sua
combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único); i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°); j)
envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput,
combinado com art. 285); l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal; m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da
Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de suas formas típicas; n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n°
6.368, de 21 de outubro de 1976); o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986); p)
crimes previstos na Lei de Terrorismo.”
210
Precedente: ADI 3807.
211
CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) X -
criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI - procedimentos em matéria processual; (...).”
212
Lei 9.099/1995: “Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as
requisições dos exames periciais necessários. Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em
flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela,
seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.”
213
Lei estadual mineira 22.257/2016: “Art. 191 - O termo circunstanciado de ocorrência, de que trata a Lei Federal nº
9.099, de 26 de setembro de 1995, poderá ser lavrado por todos os integrantes dos órgãos a que se referem os incisos
IV e V do caput do art. 144 da Constituição da República.”

84
12. DIREITO TRIBUTÁRIO

12.1 CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS

Artigo 149, § 2º, III, “a”, da CF: rol exemplificativo - RE 1317786/PE (Tema 1193
RG)

Tese fixada:

“A contribuição prevista no artigo 1º da Lei Complementar 110/2001 foi recepcionada pela


Emenda Constitucional 33/2001.”

Resumo:

A base de cálculo da contribuição prevista pelo artigo 1º da Lei Complementar 110/2001 214
é compatível com o texto constitucional, mesmo após o advento da Emenda Constitucional 33/2001.

A Corte, no julgamento do RE 878.313 (Tema 846 da repercussão geral), assentou a


constitucionalidade da contribuição social prevista no artigo 1º da Lei Complementar 110/2001, afastando
qualquer possibilidade de discussão acerca do exaurimento da finalidade para a qual ela foi instituída.

Ademais, o acréscimo realizado pela EC 33/2001 ao art. 149, § 2º, III, da CF/88 215 não
estabeleceu um rol exaustivo das bases econômicas passíveis de tributação por contribuições sociais e de
intervenção no domínio econômico. Portanto, a base de cálculo da contribuição do artigo 1º da Lei
Complementar 110/2001, que é o saldo da conta do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, é
compatível com o texto constitucional. Por via de consequência, impõe-se a manutenção da exigibilidade
de seu recolhimento pelo contribuinte.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de


repercussão geral da questão constitucional suscitada (Tema 1193 RG). No mérito, por maioria, reafirmou
a jurisprudência dominante sobre a matéria216 para prover o recurso extraordinário.

RE 1317786/PE, relator Min. Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 4.2.2022
(INF 1042)

PIS e COFINS: parcela não dedutível da base de cálculo - RE 1049811/SE (Tema


1024 RG)

Tese fixada:

214
LC 110/2001: “Art. 1º Fica instituída contribuição social devida pelos empregadores em caso de despedida de
empregado sem justa causa, à alíquota de dez por cento sobre o montante de todos os depósitos devidos, referentes ao
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, durante a vigência do contrato de trabalho, acrescido das
remunerações aplicáveis às contas vinculadas. Parágrafo único. Ficam isentos da contribuição social instituída neste
artigo os empregadores domésticos”.
215
CF/1988: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio
econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas
respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º,
relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. (...) § 2º As contribuições sociais e de intervenção no
domínio econômico de que trata o caput deste artigo: (...)III - poderão ter alíquotas: a) ad valorem, tendo por base o
faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e, no caso de importação, o valor aduaneiro; b) específica, tendo
por base a unidade de medida adotada”
216
Precedentes: ADI 2.556; ADI 2.568; RE 878.313; RE 603.624; RE 630.898; ARE 1.311.473 AgR; RE 1.250.692
segundo AgR; ARE 1.349.153; ARE 1.310.658; ARE 1.340.940; ARE 1.309.537; RE 1.000.402 ED; ARE
1.353.467; ARE 1.147.146; e ARE 1.185.369.

85
“É constitucional a inclusão dos valores retidos pelas administradoras de cartões na base
de cálculo das contribuições ao PIS e da COFINS devidas por empresa que recebe pagamentos por
meio de cartões de crédito e débito.”

Resumo:

O valor total recebido por empresa, mediante venda por meio de cartão de crédito ou
débito, ainda que uma parte desse montante seja repassado à administradora do cartão, se insere
na base de cálculo das contribuições para o PIS e para a COFINS.

As taxas retidas pelas administradoras de cartões de crédito e débito constituem custos


operacionais do contribuinte, repassados aos clientes no momento da venda ou da prestação dos serviços,
integrando, dessa forma, o conceito de faturamento. Nesses termos, eventual interpretação que retire os
custos operacionais do conceito legal de faturamento acaba por esvaziar a base de cálculo da incidência
fiscal.

Ademais, não existindo em nosso ordenamento jurídico previsão que autorize a hipótese de não
incidência pretendida pelo recorrente, descabe ao Poder Judiciário desempenhar a função de legislador
positivo.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1024 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 1049811/SE, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 18.3.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1047)

Salário-educação: critério para a distribuição da arrecadação - ADPF 188/DF

Tese fixada:

“À luz da EC 53/2006, é incompatível com a ordem constitucional vigente a adoção, para


fins de repartição das quotas estaduais e municipais referentes ao salário-educação, do critério legal
de unidade federada em que realizada a arrecadação desse tributo, devendo-se observar
unicamente o parâmetro quantitativo de alunos matriculados no sistema de educação básica.”

Resumo:

A partir da EC 53/2006, que incluiu o § 6º ao art. 212 da CF/1988 217, as cotas do salário-
educação destinadas aos estados e municípios têm o número de alunos matriculados nas redes
públicas de ensino como único critério de distribuição da arrecadação.

A regra prevista no § 1º do art. 15 da Lei 9.424/1996 218, com a redação dada pela Lei
10.832/2003, se tornou incompatível com a CF/1988 após o advento da referida emenda. Isso porque a
literalidade do texto constitucional evidencia exatamente que as cotas destinadas aos estados e municípios
(2/3 do montante arrecadado) devem ser distribuídas nacionalmente de acordo com o número de alunos
matriculados nas redes de ensino, já que não há qualquer referência à lei e tampouco à proporcionalidade
quanto ao valor arrecadado em cada estado.
217
CF/1988: “Art. 212 (...) § 6º as cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social do salário-
educação serão distribuídas proporcionalmente ao número de alunos matriculados na educação básica nas respectivas
redes públicas de ensino.”
218
Lei 9.424/1996: “Art 15. O Salário-Educação, previsto no art. 212, § 5º, da Constituição Federal e devido pelas
empresas, na forma em que vier a ser disposto em regulamento, é calculado com base na alíquota de 2,5% (dois e
meio por cento) sobre o total de remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, aos segurados empregados,
assim definidos no art. 12, inciso I, da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. § 1o O montante da arrecadação do
Salário-Educação, após a dedução de 1% (um por cento) em favor do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS,
calculado sobre o valor por ele arrecadado, será distribuído pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação -
FNDE, observada, em 90% (noventa por cento) de seu valor, a arrecadação realizada em cada Estado e no Distrito
Federal, em quotas, da seguinte forma:”

86
Nesse contexto, critério de distribuição com base na proporcionalidade do local de arrecadação
não atende ao objetivo da República de reduzir as desigualdades regionais, pois contribui para aumentar a
discrepância entre os valores dispensados com o financiamento de cada aluno no Brasil. Por outro lado, a
repartição igualitária da arrecadação da contribuição social em referência é uma forma de concretização
do princípio federativo, com ênfase na cooperação fiscal entre os diversos centros de governo para a
progressiva realização da igualdade das condições sociais de vida em todo o território nacional.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para dar
interpretação conforme ao conjunto normativo compreendido pelo art. 15, § 1º, da Lei federal 9.424/1996,
e pelo art. 2º da Lei federal 9.766/1998, ambas alteradas pela Lei 10.832/2003, de modo a determinar que
as cotas estaduais e municipais cabíveis, a título de salário-educação, sejam integralmente distribuídas,
observando-se tão somente a proporcionalidade do número de alunos matriculados de forma linear. Por
fim, o Tribunal, por unanimidade, modulou os efeitos da decisão, para que produza efeitos somente a
partir de 1º.1.2024.

ADPF 188/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento em 15.6.2022 (INF 1059)

12.2 FATO GERADOR

Constitucionalidade da chamada “norma geral antielisão” - ADI 2446/DF

Resumo:

Não viola o texto constitucional a previsão contida no parágrafo único do art. 116 do
Código Tributário Nacional219.

Essa previsão legal não constitui ofensa aos princípios constitucionais da legalidade, da estrita
legalidade e da tipicidade tributária, e da separação dos Poderes.

Em verdade, ela confere máxima efetividade a esses preceitos, objetivando, primordialmente,


combater a evasão fiscal, sem que isso represente permissão para a autoridade fiscal de cobrar tributo por
analogia ou fora das hipóteses descritas em lei, mediante interpretação econômica. Nesse contexto,
apenas viabiliza que a autoridade tributária aplique base de cálculo e alíquota a uma hipótese de
incidência estabelecida em lei e que tenha efetivamente se realizado.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação direta.

ADI 2446/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 8.4.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1050)

12.3 ICMS

ICMS: fixação de alíquotas sobre operações com energia elétrica e serviços de


comunicação superiores às das operações em geral - ADI 7117/SC e ADI 7123/DF

219
CTN: “Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e existentes os seus
efeitos: (...) Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados
com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da
obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. (Incluído pela LC
104/2001)”

87
Resumo:

É inconstitucional norma distrital ou estadual que, mesmo adotando a técnica da


seletividade, prevê alíquota de ICMS sobre energia elétrica e serviços de comunicação — os quais
consistem sempre em itens essenciais — mais elevada do que a incidente sobre as operações em
geral.

Na linha da jurisprudência desta Corte, a Constituição Federal não obriga os entes competentes a
adotarem a seletividade no ICMS. Entretanto, se houver essa adoção, caberá ao legislador realizar uma
ponderação criteriosa das características intrínsecas do bem ou serviço em razão de sua essencialidade
com outros elementos, como a capacidade econômica do consumidor final, a destinação do bem ou
serviço, e a justiça fiscal, tendente à menor regressividade desse tributo indireto. Assim, o ente federado
que efetivamente adotar a seletividade para disciplinar o referido imposto deverá conferir efetividade a
esse preceito em sua eficácia positiva, sem deixar de observar a sua eficácia negativa220.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedentes as ações para
declarar a inconstitucionalidade (i) das alíneas a e c do inciso II do art. 19 da Lei 10.297/1996 do Estado
de Santa Catarina; e (ii) do item 13 da alínea a do inciso II do art. 18 da Lei 1.254/1996 do Distrito
Federal, bem como da alínea b e da expressão “para serviço de comunicação” constante da alínea f do
mesmo inciso. Ademais, em ambas as ações, modulou os efeitos da decisão, a fim de estipular que
produza efeitos a partir do exercício financeiro de 2024, ressalvando-se as ações ajuizadas até 5.2.2021221.

ADI 7117/SC, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1060)

ADI 7123/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1060)

Remissão de créditos de ICMS oriundos de benefícios fiscais julgados


inconstitucionais - RE 851421/DF (Tema 817 RG)

Tese fixada:

“É constitucional a lei estadual ou distrital que, com amparo em convênio do CONFAZ,


conceda remissão de créditos de ICMS oriundos de benefícios fiscais anteriormente julgados
inconstitucionais.”

Resumo:

É cabível a concessão de remissão, com amparo em convênios CONFAZ, de créditos de


ICMS oriundos de benefícios fiscais declarados inconstitucionais.

No caso, a Lei distrital 4.732/2011 não “ressuscitou” benefícios fiscais unilaterais declarados
inconstitucionais, mas apenas remitiu, com amparo em convênios, os créditos de ICMS decorrentes,
configurando-se, assim, novo benefício fiscal.

Ademais, a lei distrital reuniu os requisitos formais e materiais para resguardar a segurança
jurídica em favor dos contribuintes. Isso porque, com base no art. 155, § 2º, XII, g, da Constituição
Federal e na Lei Complementar 24/1975, remitiu os créditos que seriam cobrados inclusive dos
contribuintes que usufruíram de benefícios fiscais condicionais ou onerosos.

220
Precedente: RE 714139 (Tema 745 RG).
221
Precedentes: RE 851108 (Tema 825 RG); ADI 6819; ADI 6821: ADI 6824; ADI 6825; ADI 6826; ADI 6834;
ADI 6835; ADI 6836; e ADI 6839.

88
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o tema 817 da
repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário e reconheceu a constitucionalidade da Lei
distrital 4.732/2011, com a redação dada pela Lei distrital 4.969/2012.

RE 851421/DF, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 17.12.2021


(sexta-feira), às 23:59 (INF 1042)

12.4 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

Caracterização das entidades religiosas como instituições de assistência social para


fins de imunidade tributária - RE 630790/SP (Tema 336 RG)

Tese fixada:

“As entidades religiosas podem se caracterizar como instituições de assistência social a fim
de se beneficiarem da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, ‘c’, da Constituição, que
abrangerá não só os impostos sobre o seu patrimônio, renda e serviços, mas também os impostos
sobre a importação de bens a serem utilizados na consecução de seus objetivos estatutários.”

Resumo:

As organizações assistenciais religiosas podem ser abrangidas pela imunidade prevista no


art. 150, VI, “c”, da CF/1988222.

Essas entidades desempenham um papel extremamente relevante, não sendo raras as que
possuem um componente social que, para além de colaborar com o Estado, muitas vezes substituem a
ação estatal na assistência aos necessitados. Nesse sentido, as ações assistenciais exercidas por entidades
religiosas são plenamente compatíveis com o modelo constitucional brasileiro de assistência social.

Além disso, a Corte vem conferindo amplitude à norma constitucional imunizante 223, de modo a
abranger todos os impostos que de alguma forma possam desfalcar o patrimônio, prejudicar as atividades
ou reduzir as rendas da entidade imune, ainda que estejam apenas indiretamente relacionados com as suas
finalidades essenciais. A condição é que os recursos obtidos sejam vertidos ao implemento de tais fins.

Havendo correspondência entre o recurso obtido e a aplicação nas finalidades essenciais, restará
configurado o liame exigido pelo texto constitucional. Dessa forma, o alcance da imunidade é
determinado pela destinação dos recursos auferidos pela entidade, e não pela origem ou natureza da
renda.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, apreciando o Tema 336 da
repercussão geral, conheceu do recurso extraordinário e deu-lhe provimento.

RE 630790/SP, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 18.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1047)

Imunidade recíproca de sociedade de economia mista prestadora exclusiva de serviço


público essencial - ACO 3410/SE

Resumo:

222
CF, art. 150. “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios: (...) VI - instituir impostos sobre: (...) c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos
políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de
assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;”
223
Precedentes: RE 237.718; RE 611.510 (Tema 328 RG); Enunciado 52 da Súmula Vinculante.

89
Sociedade de economia mista estadual prestadora exclusiva do serviço público de
abastecimento de água potável e coleta e tratamento de esgotos sanitários faz jus à imunidade
tributária recíproca sobre impostos federais incidentes sobre patrimônio, renda e serviços.

Prevalece na Corte o entendimento de que, para a extensão da imunidade tributária recíproca da


Fazenda Pública a sociedades de economia mista e empresas públicas, é necessário preencher 3 (três)
requisitos: (i) a prestação de um serviço público; (ii) a ausência do intuito de lucro e (iii) a atuação em
regime de exclusividade, ou seja, sem concorrência 224 e 225. No caso, os documentos acostados comprovam
que, em relação à Companhia de Saneamento de Sergipe - DESO, os requisitos foram atendidos.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido para
reconhecer a imunidade recíproca à DESO, enquanto mantidos os requisitos.

ACO 3410/SE, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022
(quarta-feira), às 23:59 (INF 1051)

12.5 IPI

Incidência de IPI sobre bacalhau seco e salgado e questão infraconstitucional - RE


627280/RJ (Tema 502 RG)

Tese fixada:

“É infraconstitucional, a ela se aplicando os efeitos da ausência de repercussão geral, a


controvérsia relativa à incidência de IPI sobre o bacalhau seco e salgado oriundo de país signatário
do GATT.”

Resumo:

Não possui repercussão geral, diante de sua natureza infraconstitucional, a discussão sobre
a incidência de IPI sobre o bacalhau seco e salgado vindo de país signatário do GATT.

Em razão da natureza infraconstitucional da controvérsia posta no recurso extraordinário, que


demandaria o reexame do acervo probatório dos autos e da legislação infraconstitucional pertinente
(Código Tributário Nacional, Lei 4.502/1964, Lei 10.451/2002, Decreto 4.070/2001 e Decreto
4.544/2002), cabe a revisão do reconhecimento da repercussão geral, nos termos do art. 323-B do
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RI/STF)226 e 227.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, após rever o reconhecimento da
repercussão geral quanto ao Tema 502 da repercussão geral, não conheceu do recurso extraordinário.

RE 627280/RJ, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 18.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1047)

12.6 IR

Pensão alimentícia e incidência do imposto de renda - ADI 5422/DF

224
CF/1988: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos
outros;”
225
Precedentes: RE 599.628; RE 627.242 AgR; e RE 600.867.
226
Precedentes: RE 660970; AI 235708 AgR; AI 708736 AgR; AI 845360 AgR; ARE 916075 AgR; AI 711909 AgR;
RE 362596 AgR; ARE 804350 AgR; AI 651473 Edv-AgR; ARE 1279288 AgR.
227
RI/STF: “Art. 323-B. O relator poderá propor, por meio eletrônico, a revisão do reconhecimento da repercussão
geral quando o mérito do tema ainda não tiver sido julgado.” (Incluído pela Emenda Regimental 54, de 1º.7.2020)

90
Resumo:

É inconstitucional norma que prevê a incidência do imposto de renda sobre valores


percebidos pelo alimentado a título de alimentos ou pensão alimentícia.

A materialidade do imposto de renda (IR) está necessariamente ligada à existência de acréscimo


patrimonial228. Nesse contexto, os alimentos ou pensão alimentícia oriundos do direito de família
representam, para os alimentados, apenas entrada de valores, pois se revelam como montantes retirados
dos acréscimos patrimoniais auferidos pelo alimentante.

Assim, o recebimento de renda ou provento de qualquer natureza pelo alimentante ─ de onde ele
retira a parcela a ser paga ao credor dos alimentos ─ já configura, por si só, fato gerador do IR. Por isso,
submeter também os valores recebidos pelo alimentado representa nova incidência do mesmo tributo
sobre a mesma realidade, configurando bis in idem camuflado e sem justificação legítima, em evidente
violação ao texto constitucional.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, conheceu em parte da ação e, nessa parte,
a julgou procedente para dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, § 1º, da Lei 7.713/1988, aos
arts. 4º e 46 do Anexo do Decreto 9.580/2018, e aos arts. 3º, caput e § 1º; e 4º do Decreto-lei 1.301/1973,
com o intuito de afastar a incidência do imposto de renda sobre valores decorrentes do direito de família
percebidos pelos alimentados a título de alimentos ou de pensões alimentícias.

ADI 5422/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1057)

12.7 ISS

Incidência do ISS sobre prestação de serviço de inserção de materiais de propaganda


e publicidade em qualquer meio - ADI 6034/RJ

Tese fixada:

“É constitucional o subitem 17.25 da lista anexa à LC nº 116/03, incluído pela LC nº 157/16,


no que propicia a incidência do ISS, afastando a do ICMS, sobre a prestação de serviço de inserção
de textos, desenhos e outros materiais de propaganda e publicidade em qualquer meio (exceto em
livros, jornais, periódicos e nas modalidades de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens
de recepção livre e gratuita).”

Resumo:

A inserção de textos, desenhos e outros materiais de propaganda e publicidade em


qualquer meio (exceto em livros, jornais, periódicos e modalidades de serviços de radiodifusão
sonora e de sons e imagens de recepção livre e gratuita) é passível de tributação por ISS 229.

Isso porque mencionada atividade, ainda que imprescindível à operacionalização do serviço de


comunicação social, está, por ser preparatória desse serviço, fora do âmbito de materialidade do ICMS-
comunicação. Ademais, a atividade não desborda do conceito de serviços de qualquer natureza para fins
de incidência do ISS.

228
Precedente: RE 117887.
229
Precedentes: RE 592905; RE 547245; RE 651703; RE 603136; RE 634764; ADI 3142; ADI 5659; ADI 4389 MC;
RE 572020; RE 912888.

91
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedentes os pedidos
formulados em ação direta de inconstitucionalidade.

ADI 6034/RJ, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1046)

12.8 PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL

Art. 38 da Lei 9.430/1996: representação fiscal para fins penais e crimes contra a
Previdência Social - ADI 4980/DF

Resumo:

A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes de apropriação indébita
previdenciária e de sonegação de contribuição previdenciária será encaminhada ao ministério
público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do
crédito tributário correspondente.

Não se vislumbra inconstitucionalidade formal ou material do art. 83 da Lei 9.430/1996 230. A


alteração normativa condiciona o momento de envio da representação fiscal, para fins penais — no
tocante aos crimes de apropriação indébita previdenciária e de sonegação de contribuição previdenciária
—, à necessidade de exaurimento do processo administrativo de constituição do crédito. Logo, o
dispositivo impugnado confere linearidade ao procedimento administrativo, ao estender àqueles delitos
idêntica solução prevista para os demais crimes contra a ordem tributária.

O preceito tem como destinatários os agentes fiscais. Ele não cuida do momento de consumação
de delitos, tampouco versa sobre condição de procedibilidade para a persecução penal. Portanto, é
inapropriada a discussão sobre a natureza dos crimes envolvidos, especialmente por se tratar de clara
opção política do legislador. Ademais, o entendimento pela constitucionalidade da norma encontra apoio
na jurisprudência do STF231.

Com esses entendimentos, o Plenário conheceu de ação direta de inconstitucionalidade e, por


maioria, julgou improcedentes os pedidos nela formulados.

ADI 4980/DF, relator Min. Nunes Marques, julgamento finalizado em 10.3.2022 (INF 1047)

12.9 TAXAS

Fundo de Fiscalização das Telecomunicações e poder de polícia - ADI 4039/DF

Resumo:

É legítimo o poder de polícia conferido à ANATEL para fiscalizar as atividades de


radiodifusão.

230
Lei 9.430/1996: “Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária
previstos nos arts. 1º e 2º da Lei 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social,
previstos nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será
encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência
fiscal do crédito tributário correspondente.”
231
Precedentes: ADI 1.571; HC 81.611; e ADI 4.974.

92
O Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL), criado pela Lei 5.070/1966, é
composto, de forma não exclusiva, por diversas fontes, dentre as quais as relativas ao poder de outorga do
direito uso de radiofrequência para qualquer fim, inclusive multas e indenizações, e pelos recursos das
Taxas de Fiscalização de Instalação e de Fiscalização de Funcionamento. A totalidade do montante é
aplicada pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) nas atividades prescritas legalmente,
merecendo relevo a fiscalização dos serviços de radiodifusão (art. 211 da Lei 9.472/1997).

Nesse contexto, não cabe à ANATEL a outorga dos mencionados serviços — que permanece no
âmbito do Poder Executivo —, incumbindo-lhe tão somente a realização da fiscalização dos aspectos
técnicos de suas estações, que é inerente ao poder de polícia que lhe foi atribuído e, consequentemente,
legitima a imposição das referidas taxas232.

Ademais, os recursos do FISTEL são empregados pela agência reguladora em ações que
abrangem toda a área de telecomunicações, incluindo os serviços de radiodifusão, de modo que não se
pode falar em violação ao princípio da isonomia.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação.

ADI 4039/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1060)

232
Precedentes: ARE 906203 AgR-EDv; ADI 6211; ADI 5480; e RE 588322.

93

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