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A MULHER EM ROMA

FILOMENA
BARATA A MULHER EM ROMA
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A MULHER EM ROMA

A Mulher em Roma. Apontamentos e contributos sobre a condição


feminina na Roma Antiga.
Organização e Redação de Filomena Barata
Revisão João P. Cruz: A Companhia da Palavra
companhiadapalavra@gmail.com
https://dapalavra.wordpress.com/
Portugal - Janeiro 2016
Imagem de capa: Villa dos Mistérios, Pompeia. Fotografia de Ricardo Rodriguez.
https://www.pinterest.com/pin/439804719835393008/

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Brincos romanos de Miróbriga encontrados


junto do Templo de Vénus, Miróbriga, Santiago
do Cacém. Executados com um só aro de vidro
que, fazendo nós, entrelaça pequenas pérolas.

Anel e fussaoilas provenientes de Villa Cardílio.


Museu Municipal de Torres Novas

«No Amor, Mil Almas, Mil Maneiras Diferentes Nem todas as mulheres
experimentam os mesmos sentimentos. Encontrareis mil almas com mil
maneiras diferentes. Para as conquistar, empregai mil maneiras. A
mesma terra não produz todas as coisas: tal convém à vinha, tal à oliveira;
aqui despontarão cereais em abundância. Há nos corações tantos
caracteres diferentes, quantos rostos há no mundo.»

«O homem prudente acomodar-se-á a estes inumeráveis caracteres; novo


Proteu, tão depressa se diluirá em ondas fluidas para logo ser um leão,
uma árvore, um javali de eriçadas cerdas. Os peixes apanham-se aqui com
o arpão, ali com o anzol, acolá com as redes puxadas pela corda estendida.
E o mesmo método não convirá a todas as idades: uma corça velha
descobrirá a armadilha de mais longe; se te mostrares experiente junto de
uma noviça, demasiado petulante junto de uma recatada, ela desconfiará
que a vais tornar infeliz. Assim é que a mulher que às vezes teme entregar-
se a um homem honesto, caiu vergonhosamente nos braços de alguém que a
não merece».

«Feio é o campo sem erva e o arbusto sem folhas e a cabeça sem cabelo»

Ovídio, in “Arte de Amar”

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Cabeça de Minerva em mármore – século I d.C.


Museu da Comunidade Concelhia da Batalha

«Há quem, à luz que alumia os longos serões de inverno, abique archotes
com um ferro acerado, enquanto a esposa, que suaviza com o canto o seu
labor, passeia no tear o pente de som harmonioso, ou coze ao lume o doce
mosto, e escuma com um ramo o líquido que ferve no tacho.

Pelo meio do dia se ceifa a messe dourada; à hora do calor se malham na


eira os trigos que o sol tostou»

Virgílio, “As Geórgicas”, Ed. Sá da Costa, 1948, pp. 290-295

«Se pudéssemos viver sem elas, sem dúvida omnes e a molestia careremus;
mas uma vez que os deuses decidiram que não se pode viver sem elas, nem
com elas conviver racionalmente, não nos resta senão fechar os olhos e
pensar no bem do Império.»

Catão

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Estátua sentada de Lívia in «Retratos de Roma» -


Catálogo da exposição, 2011, Retratos Romanos do
Museo Arqueológico Nacional. Madrid.

Roma era uma sociedade ancestral e essencialmente patriarcal. A res publica era
conduzida exclusivamente por homens e à cabeça de cada grupo estava um pater
famílias, que exercia o seu poder até à morte, podendo decidir da vida ou morte dos
seus filhos.

É só ele que pode participar na vida política, nas assembleias, no senado, nas
magistraturas e, no âmbito familiar, era o homem que presidia e assumia
juridicamente a função predominante, ou seja, para todos os efeitos, comandava a
casa. Pelo casamento - coniunctio maris et feminae, ou seja «a união de um homem e
uma mulher» - a mulher passava a depender da família do marido, ficando
submetida a um poder familiar semelhante ao que tinha em casa antes do
matrimónio, pois o esposo podia também decidir da sua vida.

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Mosaico com representação de figura feminina do Museu do Rabaçal.


Fotografia Villa Romana do Rabaçal

«(…) O pater romano não é um «pai» dos nossos,


mas sim um chefe. Pai meramente biológico é
o genitor. E os filii famílias podiam não ser filhos,
mas irmãos, sobrinhos ou filhos adoptivos.

As estruturas sociais romanas concebem esta família


como uma unidade económica e jurídica subordinada
a uma pessoa.

Aliás, a palavra latina família representava


originalmente o conjunto
dos famuli (servos, escravos) que viviam sob o
Urna cinerária com cena de
matrimónio (século II a.C.). mesmo tecto. E a família era a unidade social básica,
Metropolitan Museum. mais importante, por exemplo, do que a gens (o clã).
Fotografia de: Juan De Dios
Hernández Ainda hoje, muitas comunidades ditas tradicionais

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conservam sistemas semelhantes. (...) Deste estatuto do pater resultou a expressão «chefe
de família», que é, portanto, uma tradução fiel. Talvez ainda fosse preferível dizer «chefe
da casa», para exprimir em simultâneo os vários aspectos envolvidos: económico
(patrimonial e organizativo), social (de grupo institucionalizado), afectivo e só
parcialmente de parentesco biológico ou de conjugalidade. Contudo, a lei portuguesa
(sobretudo, no art. 487.º, n.º 2, do Código Civil) preferiu a expressão latinizante «pai de
família». Além de ser um chefe, o pater familias era a única pessoa com plena
capacidade jurídica. As mulheres (pelo menos, na maioria dos casos), os filii, os escravos
e os estrangeiros tinham uma capitis deminutio (à letra, uma «diminuição da
cabeça»!!), ou seja, não podiam celebrar por si contratos válidos nem tinham, em regra,
propriedade sua. Todos os bens e contratos eram, em princípio, do pater. Em rigor,
uma capitis deminutio significaria uma tendencial falta de personalidade jurídica,
embora se encontrassem algumas restrições a esta falta:

havia regras de protecção dos escravos, p. ex., e os incapazes podiam, nalgumas


circunstâncias, ter um «quase-património», o peculium.(…)»1.

A mulher entrava na esfera familiar do marido «como se de uma filha se tratasse, com
todas as implicações daí decorrentes, nomeadamente a de se constituir com heres
suus, isto é, de se tornar sua herdeira directa. Era, na esfera jurídica, como uma irmã dos
seus próprios filhos» (Amílcar Guerra, op. cit.).

No dia do casamento, a noiva trajava o seu fato apropriado e um dos elementos mais
importantes básicos era o cinturão feito de lã (cingulum) que simbolizava a
virgindade, fechado com o nó de Hércules que apenas era desatado no lectus
genialis. Ao que parece este nó também se relacionava com a fertilidade, pois
Hércules havia sido pai de uma numerosa prole e tinha ainda poderes apotropaicos.
Os nubentes podiam ainda usar durante o banquete coroas de mirto, como refere
Ovídio.

1
Múrias, Pedro, "Bonus Pater Familias" in http://muriasjuridico.no.sapo.pt/eBonusPater.htm

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Nodus Herculeus. Link da imagem: http://hortushesperidum.blogspot.com.es/

Dada a importância que o casamento assumia, aconselhava-se que fosse realizado em


datas consideradas favoráveis, designadamente por altura do Sostício de Verão, a
segunda metade do mês de Junho, momento de apogeu da vida e da luz.

Cornalina, em tom laranja-claro, engastada


num anel romano em ouro. Proveniente dos
arredores de Borba ou de Estremoz. Século
II-III d.C. Paradeiro actual desconhecido.
Simboliza a harmonia entre os esposos. Foto
e legenda: Graça Cravinho.

Anel romano de ouro com alusão ao


contrato de fidelidade entre esposos.
Século IV d.C.. Sito no Museu de Évora.
«Anel de espelho elíptico, com moldura
saliente. Figuração de duas mãos
enlaçadas sobre fundo liso. Ligações com o
aro de forma triangular guarnecidas de
volutas e sulcos. Espécie proto-industrial
de uma scalae anulariae provincial,
apresentando iconografia alusiva ao contrato de fidelidade entre esposos.
Peça mencionada no inventário manuscrito de António Francisco Barata, com o título de
"Relação dos principaes objectos contidos nas vitrines ou taceiras do Museu", elaborado no ano de
1890, com o número 65, descrita como "um anel romano de ouro representando duas mãos que se
apertam"»2.

2
Descrição e fotografia a partir de MatrizNEt

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Citando Graça Cravinho a propósito da peça acima, «Remontando já ao final do Séc.


VI a.C., este símbolo talvez inicialmente exprimisse o conceito da PAX DEORUM,
muito embora pudesse também ter sido um mero motivo decorativo. Bastante comum em
Roma, sobretudo em anéis nupciais (anulus pronubus), é muito comum em cunhos
monetários, anéis, entalhes e camafeus, em especial no período tardo-imperial. Apenas
com duas mãos entrelaçadas (simbolizando as mãos de dois esposos) ou nelas segurando
certos elementos (flores, ramos floridos, espigas ou papoilas), deveria ter sido um símbolo
de boa sorte e ter tido, até, um significado ritual – simbolizando a união, a concórdia e a
fidelidade entre os membros do casal. Lentamente, porém, foi assumindo um carácter
político, como o demonstram moedas cunhadas durante a Guerra Civil (entre 51 e 26
a.C.) e no período imperial. Na época de Augusto, aparece associado a um caduceu ou a
flores e ramos floridos. Nas de Otão, Vitélio e Vespasiano, tem associados espigas,
caduceu e papoilas. Mas com a junção de inscrições, sobretudo sob Nerva
(CONCORDIA EXERCITUUM), Vitélio (FIDES EXERCITUUM e FIDES
PRAETORIANORUM) e Marco Aurélio (FIDES EXERCITUUM), esse carácter
político tornar-se-á bem explícito, simbolizando a fidelidade entre o Imperador e o exército
– um simbolismo que se manterá no reverso de antoninianos de Pupieno, de 238 d.C.
(com a inscrição CARITAS MVTVA AVGG), e de Marius, de 268 d.C. (com a
inscrição CONCORD MILIT). No fundo, há uma íntima relação entre este símbolo e a
expressão renovare dextras, usada por Tácito (Germania, II, 158) para exprimir a
renovação dos tratados políticos».

Como se pode ver na imagem abaixo, a representação de Jasão e Medeia juntando as


mãos direitas, (dextrarum junctio), o ritual era praticado durante a cerimónia de
casamento. Esta união das mãos (dextrarum junctio) realizava-se ainda em casa da
noiva, quando uma mulher (pronuba) idosa e preferencialmente que não tivesse tido
mais do que um marido - que se considerava bom augúrio para o destino dos noivos -
pegava nas mãos dos dois jovens e as unia.

A esta união das mãos (dextrarum junctio) seguia-se um grande banquete oferecido
pelo pai, no qual se serviam algumas iguarias. À noite, quando aparecia a primeira
estrela a brilhar no Céu, a jovem era conduzida em cortejo à casa do marido, o que
dava origem a certos rituais, encenando algo de dramático: a noiva fingia refugiar-se
nos braços da mãe, donde era arrancada e arrastada aparentemente à força.

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Depois formava-se um cortejo e acendiam-se tochas cuja luz indicava os presságios:


uma luz viva anunciava um marido carinhoso, uma luz fraca não pressagiava nada
de bom3.

Sarcófago Romano representando o


casamento de Jasão e Medeia.
Finais do séc. II d. C. Palazzo
Altemps, Roma. Link:
https://commons.wikimedia.org/wi
ki/File:Jason_Medea_Altemps_Inv
8647-8648.jpg

No entanto, a própria moral matrimonial foi sofrendo alterações ao longo do Tempo,


ao ponto de serem conhecidas variadíssimas leis que tentaram fazer restaurar e
revigorar os antigos conceitos que se iam degenerando, a exemplo das que Augusto
aprovou no ano18 a.C.: La Lex Iulia de Maritandis Ordinibus y la Lex Iulia de
Adulteriis Coercendis.(BENAVIDES AMEIJEIRAS, Judit).

Não obstante, é claro que, em Roma, as mulheres ocupavam uma posição de maior
destaque do que acontecia na Grécia Antiga, em particular em Atenas, pois Esparta
parece ter-lhes dado maior autonomia.

«Numa visão geral, o homem apresenta-se normalmente como o chefe de família, sendo
o pater familias o único elemento que desenvolve uma actividade pública (estritamente
política ou não), por oposição à domina, a «senhora da casa» (domus) cujo «poder» se
restringiria a esse âmbito particular. E, de uma forma geral, não restam dúvidas de que a

3
A ver:
http://www.historia.templodeapolo.net/civilizacao_ver.asp?Cod_conteudo=141&value=Casamento+ro
mano&civ=Civilização+Romana&topico=Família

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sociedade romana se centrava na figura do homem» (Amílcar Guerra, op. cit. p: 16) que
dentro de casa era o responsável pela religião e culto aos lares da família.

Quando casada, era, de facto "senhora da casa", a domina, não sendo, contudo,
reclusa nos aposentos das mulheres, Geniceu, como se conhecia em Atenas, na Grécia
Antiga.

Por concessão do marido ela assumia o governo da casa (cura) e passava a ter direito
às chaves do cofre-forte.

A mulher é, por excelência, a mater familia ou matrona. Tomava também conta dos
escravos, omnipresentes em casa, e participava das refeições com o marido, como se
pode verificar no Banquete, saía (usando a "stola matronalis"), tinha acesso aos
tribunais e participava nos espectáculos públicos, sendo, por isso, criticada por
Juvenal e pelo cristão Tertuliano, pois assumia uma presença pública, não se
cingindo às actividades domésticas ou aos tempos livres entre bordados.

Numa recente entrevista a Pilar Fernandez, quando questionada sobre o papel da


mulher na Religião, esta responde da seguinte forma:

«Es muy complejo y hay muchos aspectos: En al ámbito familiar era


el paterfamilias quien oficialmente guiaba y dirigía la religión y el culto a los lares
familiares, no la mujer, pero hay importantes divinidades y festividades femeninas
relacionadas con la vidadoméstica (Vesta, Fortuna en sus diversas advocaciones, quizá
la más importante para las mujeres era la Fortuna Muliebris, Bona Dea...) En el culto
estatal tuvieron una gran importancia e influencia las vírgenes vestales y durante mucho
tiempo. Otro punto que yo considero importante son las Flaminicas o sacerdotisas esposas
de los Flámines que tuvieron mucha importancia en la ascendencia de las mujeres en las
élites provinciales».

E ainda, quando questionada sobre se a mulher romana tinha uma posição mais
respeitável em relação às outras mulheres da Antiguidade, aceita que sim,
especialmente desde o final da República:

«La mujer romana no estaba, como la griega, encerrada en el gineceo. Se puede decir que
la romana tenía más libertad que la esposa ateniense clásica y mucha más que durante
épocas posteriores. Hay dos aspectos muy importantes en Roma que ayudaron a ello:

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- Jurídico: En el caso en que una mujer quedara huérfana y no estuviera casada, o si lo


estaba quedara viuda, se convertía automáticamente en sujeto de pleno derecho, aunque
este caso seguro que muchas mujeres de aquella época no lo consideraran como una
liberación, sino como una gran desgracia, puesto que quedaban solas e indefensas.
Perofue un paso adelante.

- Económico: también influyó en la situación de la mujer en la sociedad».

Esta especialista aceita que desde a época de Augusto, a mulher pôde dispor de
liberdade para administrar os seus próprios bens e o seu património. «Hay mujeres,
generalmente de un alto status social, que son, además, grandes negociantes. Aunque las
más suelen ser mujeres que tienen que ganarse la vida, generalmente libertas que
dirigieron y sacaron adelante su propio trabajo o negocio»4.

Embora a acessibilidade das mulheres à educação não fosse como a dos homens, pois
ainda se perpetuava a noção de não tinha a mesma capacidade do que o homem, ou
seja a impotentia muliebris, é um facto que houve muitas mulheres ilustradas em
Roma, de que se salienta a poetisa Sulpicia que viveu no século I d. C., ao tempo do
imperador Augusto, tendo por pai o orador Servio Sulpicio Rufo, filho do jurista
Servio Sulpicio Rufo e sua mãe Valeria, irmã de Marco Valerio Mesala Corvino,
companheiro de estudos de Cícero, como nos dá conta o artigo que lhe foi dedicado
na Revista de Historia5.

Resumindo, «Gladiadoras, comerciantes, chefes de empresa, parteiras, prostitutas,


feiticeiras ou camponesas… estes eram apenas alguns dos ofícios exercidos pelas
mulheres na Roma Antiga. Apesar de os romanos tradicionalistas só serem capazes de
imaginar as suas mulheres no interior da casa, presas ao trabalho doméstico, elas
ocupavam-se frequentemente de muitas outras coisas. A realidade ultrapassa, por vezes,
não só a ficção, como a própria ideologia.

Contudo as mulheres romanas mantiveram-se oficialmente excluídas da vida política, e


jamais adquiriram direito à expressão pública das suas ideias: mesmo quando sabiam
escrever não eram autorizadas a publicar, e as suas obras são-nos ainda hoje, muitas

4
Entrevista con Pilar Fernández Uriel: "la mujer romana no estaba, como la griega, encerrada en el
gineceo". Villanueva, Mario Agudo, in blogue "Mediterráneo Antiguo - arqueología e historia", link:
http://www.mediterraneoantiguo.com/2014/06/entrevista-con-pilar-fernandez-urel-la.html
5
Sulpicia, poetisa romana. Link: http://revistadehistoria.es/sulpicia-poetisa-romana/

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vezes, desconhecidas. É pois através dos textos escritos pelos homens que é possível
descobrir o que foi a vida das romanas. As autoras da obra «A Vida Quotidiana da
Mulher na Roma Antiga», A. Gourevitch e Raepsaet-Charlier levaram a cabo um
verdadeiro inquérito para descobrir a realidade dessas mulheres.

Muitos outros nomes brilhantes, trágicos ou mesmo sinistros, como refere a mesma obra
subsistiram na memória colectiva - Agripina, Octávia, Lívia, Messalina - a maioria
delas deixou apenas indícios dispersos.»6

A poetisa grega Saffo, num fresco de Pompeia. Link:


http://www.histoiredelantiquite.net/archeologie-romaine/la-
peinture-murale-domestique-dans-la-rome-antique/

Imagem a partir de «Ancien Rome». Ratna.


Fresco da Villa dos Mistérios, Pompeia.

Lembremos que, já durante a República romana, os varões não olhavam para a


Mulher propriamente como inferior, pois algumas matronas possuíam auctoritas, e a
concepção do sexus imbelicitas ou fragilitas chegou a ser criticada por alguns filósofos
e juristas que não aceitavam a menoridade das mesmas.

Vale a pena ver o notável trabalho compilado por Amudena Domínguez Arranz em
«Política y género en la propaganda en la Antiguidad - A modo de prefacio», para nos

6
In sinopse de "A Vida Quotidiana da Mulher na Roma Antiga", de Marie-Thérèse Raepsaet-Charlier e
Danielle Gourevitch, ed. Livros do Brasil, 2005.

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A MULHER EM ROMA

darmos conta como a situação da Mulher era diversa e que muitas das virtudes das
mulheres das elites funcionam apenas como exempla para a sociedade.

As próprias divindades espelhavam a diversidade de situações.

Apenas a título de curiosidade cito o texto do poeta Claudiano que nos retrata
Prosérpina como uma mulher de virtude e que «(...) lavrava com a agulha a série dos
elementos e o trono paterno (...) bordava com que regra a mãe natureza ordenou a antiga
confusão e como os elementos se dispuseram nos lugares próprios: o que é leve para o alto é
conduzido, no meio caiem as coisas mais pesadas, tornou-se o ar incandescente, o fogo
ergueu-se para o céu, ondeou o mar, ficou suspensa a terra. E não havia apenas uma cor:
com o ouro iluminou as estrelas, derramou as águas com púrpura. Com as pedras
preciosas ergue um litoral, fios em relevo dão engenhosamente fora a fingidas ondas»7.

Agulhas e alfinetes de cabelo em osso,


Sepultura de Galla, Ruínas Romanas de
Tróia (Setúbal), MNA.

7
Claudiano (Alexandria, ca. 370 — Roma, 404), in «O Rapto de Prosérpina»
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A MULHER EM ROMA

Alfinetes de cabelo. Museu Monográfico de Conímbriga

Por casamento — justum matrimonium —, sancionado pela lei e pela religião,


processava-se a transferência da mulher do controle (potestas) do pai, Pater
Familias que exercia a Res Familiaris, para o de seu marido (manus). O casamento
tomava assim a forma de "Coemptio", "uma modalidade simbólica de compra com o
consentimento da noiva. Ele também podia consumar-se mediante o usus, se a mulher
vivesse com o marido durante um ano sem ausentar-se por mais de três noites"8.

Relativamente ao nome, «a mulher era, no Império Romano, identificada com dois


nomes: o gentilício (nomen), que herdava do pai, e o cognome (cognomen), escolhido
habitualmente de acordo com uma circunstância concreta ligada à família, elemento,
portanto, identificativo da pessoa no seio familiar e social»9.

Usando ainda as palavras de Amílcar Guerra: «Sem que possa atribuir a esse facto uma
relevância especial, a verdade é que a mulher não só não perdia o seu nome de solteira,
como nunca alterava, por casamento. Mantinha, por isso, na regra mais geral, o nome
da gens (comum a toda a sua família alargada, de qualquer modo o da via masculina) e
o seu cognomen que a individualiza nesse âmbito. Todavia, a preponderância masculina

8
N.S. Gill, N. S., "Matrimonium - Roman Marriage: Types of Roman Marriage - Confarreatio, Coemptio,
Usus, Sine Manu", link: http://ancienthistory.about.com/od/marriage/a/RomanMarriage.htm
9
Encarnação, José d', "Epigrafia no feminino na Lusitânia romana", in Philía (Jornal Informativo de
História Antiga, Núcleo de Estudos de História Antiga da UERJ, Rio de Janeiro), ano XII, nº 34,
Abril/Maio/Junho 2010, p.6. Link: http://notascomentarios.blogspot.com/2010/04/epigrafia-no-
feminino-na-lusitania.html

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A MULHER EM ROMA

leva a que ela não transmita, por norma, o nomen gentilicum» (Guerra, p. 109). A
propósito da origem dos nomes, destaco aqui o exemplar de um monumento
funerário (sito no Museu Francisco Tavares Proença Júnior) divulgado por Portugal
Romano:

PROCVLO.SILVANI / F.PROCVLA.FILIA / PATRI.(hedera) (Proculo.Silvani /


f(ilio).Procula.filia / patri. (hedera)) «A Próculo, filho de Silvano. Sua filha, Prócula,
dedica ao pai» (…) «A homenagem é promovida pela filha, que recebe, com naturalidade,
a forma feminina do nome do pai. Ainda que se trate verosimilmente de hispânicos, a
origem da onomástica é, nas três gerações aqui representadas (avô, pai, filha), de origem
latina. Esta circunstância justifica-se plenamente num ambiente em que as tradições
romanas já se tinham implantado de forma consistente, reflectindo deste modo os efeitos
do processo de romanização também ao nível da antroponímia»10.

Mas Roma não é um mundo estanque e imutável e a condição da mulher vai-se


alterando ao longo do tempo. Com o crescimento de Roma, a mulher foi
gradualmente adquirindo autonomia, podendo inclusivamente participar da herança
dos bens paternos, sendo sabido que, a partir do século II a.C., é notório um processo
de emancipação social e jurídica que se manifesta quer no casamento, no divórcio,
nas heranças e na própria manutenção do seu nome de família.
10
Guerra, Amílcar, in Matriznet, 2004. Link:
http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=216629&EntSep=2#
gotoPosition

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A MULHER EM ROMA

Sobre a importância da Mulher na vida familiar, social e política, recomendo a


leitura do trabalho recentemente editado de José d'Encarnação, “Mães e filhos
passeando por entre Epígrafes”11, onde se demonstra como, efectivamente, o
universo feminino protagonizou em Roma um papel mais preponderante do que se
poderia imaginar, quer na vida doméstica ou religiosa, quer influenciando decisões,
dedicando-se este autor a dar-nos conhecimento de inúmeros casos que, na
Lusitânia, o comprovam.

Figuras de terracota que representam mulheres grávidas. MNAR


(Mérida). Fotografia: José Manuel Jerez Linde

Assim nos diz também Almudena Domínguez Arranz, no seu ensaio “Política y
género en la propaganda en la Antigüedad. A modo de prefacio”: «Es así como
durante la República romana, los varones no pensaban que las féminas eran inferiores,
pues varias matronas poseían auctoritas, y la concepción del sexus
imbecilitas o fragilitas fue criticada tanto por juristas como por filósofos, que
manifiestan que «la condición jurídica de las mujeres era peor que la de los varones y

11
Mães e filhos passea do por e tre Epígrafes , I “EVILLANO “AN JO“É, Mª Car e , ed. [et al.] - El
Conocimiento del Pasado. Una Hierramienta para la Igualdad. Salamanca: Plaza Universitaria Ediciones,
2005. p. 101-113. Link: http://hdl.handle.net/10316/11518

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A MULHER EM ROMA

consideran que no hay razones para negarles en la vía jurídica lo que forma parte de lo
cotidiano en la vía extrajurídica». Es decir, había una mayor consideración en cuanto a
la educación en la igualdad de oportunidades de la mujer respecto del varón. Así lo avala
Isabel Núñez Paz, constatando el retroceso que se produce tras los cambios políticos del
principado de Octaviano y cómo la emancipación femenina sufrió un revés, haciéndose
las mujeres menos visibles en la vida pública (los últimos vestigios de
la auctoritas femenina se constatan en Octavia, la hermana de Augusto)»(....). Con
César adquiere rango oficial la descendencia de Venus Genetrix y con los Julio-Claudios
logra una amplia difusión a nivel provincial, que busca la manifestación de adhesión a
la política imperial. Venus, además, era bien conocida en Hispania, según podemos
comprobar por las inscripciones y las imágenes, en su mayoría modelos iconográ0cos
clásicos. Matronas y prostitutas dedicaban a la diosa celebraciones especí0camente
femeninas». En su re1exión, la autora insiste en que, si bien las inscripciones votivas
dan primacía a la diosa política, la iconografía, y especialmente la de su uso privado,
refuerza su aspecto de diosa del amor y, en ese contexto, probablemente del matrimonio.
La deidad, como un modelo de mujer, ofrece varias facetas de sexualidad, fertilidad y
belleza, pero también juega un papel importante como una divinidad política, al modo
helenístico»12.

Em Roma, no período imperial, foram-se abandonando assim gradualmente as


formas mais antigas de casamento e adoptou-se uma na qual a mulher permanecia
sob a tutela de seu pai, e retinha na prática o direito à gestão dos seus bens, havendo
muitas mulheres ricas, disfrutando do seu património e dedicando-se aos negócios.
As aristocratas replicam, de algum modo, o orgulho dos pais, a casa dos quais podem
regressar em caso de divórcio, e conservam a sua riqueza própria, apesar do
casamento, mantendo a capacidade de poder testar os seus bens.

O divórcio era aceite na sociedade romana e o casamento chegou a ser até impopular
na Época Imperial, sendo estas as palavras de Cecílio Metelo: «Se pudéssemos passar
sem uma esposa, romanos, todos evitaríamos os inconvenientes, mas como a natureza

12
Arranz, Almudena Domínguez, "Política y género en la propaganda en la Antigüedad. A modo de
prefacio", Madrid : Universidad Complutense, 2013. Link:
http://www.academia.edu/15263381/Pol%C3%ADtica_y_g%C3%A9nero_en_la_propaganda_en_la_Anti
g%C3%BCedad._Antecedentes_y_legado._Gender_and_politics_in_propaganda_during_Antiquity._Its_
precedents_and_legacy_

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A MULHER EM ROMA

dispôs que não podemos viver confortavelmente sem ela, devemos ter em vista nosso bem-
estar permanente e não o prazer de um momento»13.

Muitas das alterações sentidas na sociedade romana devem-se às sucessivas guerras e


aos longos períodos de ausência dos maridos, fruto do expansionismo romano, que
permitiu a ascensão do papel da mulher. No entanto, os recenseamentos omitem as
mulheres, sendo apenas contabilizadas as herdeiras.

Também se sabe que a vida militar era interdita às mulheres, e que o imperador
Augusto chegou a proibir os soldados rasos de se casarem, uma interdição que se
manteve quase dois séculos. Assim se consolidou a ideia de que «ninguna mujer se
unía al ejército», disse Allason-Jones, num trabalho dedicado a este tema. «Esto
comenzó a cambiar a finales de 1980, cuando Allason-Jones inició la búsqueda de
evidencias de que las esposas e hijos de los centuriones - oficiales que comandaban
unidades de 80 soldados - vivían con ellos en las fronteras y fortalezas provinciales»,
dado a conhecer através do blogue «Terrae Antiqvae»14.

Sobre a crítica feita por muitos escritores romanos a certos vícios das mulheres, a
exemplo de Juvenal e de Marcial, vale a pena ver como este último se refere a Levina
que deixa o marido para ir atrás de um jovem: «tomada pelo ambiente de devassidão
que se dizia reinar na estância de veraneio que era Baias, na Campânia, “uma
Penélope chegou, outra Helena partiu”:

Não ficava atrás das antigas Sabinas, tão casta era Levina,
e esta, mais austera mesmo que o severo marido,
à força de se lançar, ou no Averno, ou no Lucrino,
e à força de se esquentar nas águas de Baias,
ficou em fogo: e foi atrás de um jovem, abandonando
o marido: uma Penélope chegou, outra Helena partiu. (Marcial, 1, 62.15)

Juvenal, que viveu nos séculos I e II d.C. nascido em Aquino, na Campânia, entre os
anos 62 e 67 d.C., e que parece ter morrido por volta do ano 130, chega mesmo a

13
Suetónio, Vida dos Doze Césares, "Augusto", p. 89
14
Link: http://terraeantiqvae.com/m/blogpost?id=2043782:BlogPost:339048
15
Cavaco, Lucinda Maria da Silva, "Juvenal, Satvrae: Tipos e Vícios", Dissertação de Mestrado em
Literatura Latina apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa, 2009. Link:
http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/3907/1/ulfl080840_tm.pdf

19
A MULHER EM ROMA

aconselhar o seu amigo Póstumo a não contrair matrimónio, por ser um acto de
loucura, pois às mulheres atribuía os maiores defeitos, como a falta de pudícia e o
entregarem-se a actividades que só deveriam pertencer aos homens, como é o caso da
prática dos jogos na arena.
Recorda a matrona romana de outros tempos, exemplo das qualidades exigidas a
uma mulher cujo destino era o casamento legítimo, a educação dos filhos, dar filhos,
encarregar-se da casa e ser recatada e submissa. O exemplo de Lucila, segunda filha
do imperador Marco Aurélio, no século II d.C. , é um desses casos de grande afeição
pelos jogos e lutas de gladiadores, cuja vida vale a pena conhecer16.

Conhecidos são também alguns exemplos de mulheres gladiadoras, como


recentemente o comprova um estudo sobre este tema, realizado por Alfonso Manas,
da Universidade de Granada. Aliás a obra de Michael Grant "Gladiators" (Delacorte
Press, 1967, reed. 1995 e 2000), já sublinhava a existência de gladiadoras femininas
através das tentativas de inibir este espectáculo, facto entretanto confirmado pela
arqueologia17.

Estátua de bronze representando uma gladiadora, sita no Museum für


Kunst und Gewerbein de Hamburgo. Fotografia de Alfonso Manas

16
"Lucila, la ex del Gladiator", in Tabula, blogue da revista Stilus, 2013. Link:
http://blogtabula.blogspot.com.es/2013/02/lucila-la-ex-del-gladiator.html
17
Nuevas pruebas confirman la existe cia de ujeres gladiadoras , i Natio al Geographic. Link:
http://www.nationalgeographic.es/noticias/mujeres-gladiador

20
A MULHER EM ROMA

Também no exemplar de alto relevo abaixo, podemos confirmar a participação das


mesmas nesse espetáculo que se pensava reservado ao sexo masculino.

Relevo em-mármore com mulheres gladiadoras. Proveniente de Halilarnassos, moderna


Bodrum, na Turquia. Século I-II d.C. Sito no British Museum. Foto Portugal Romano.

«De acordo com o biógrafo Suetónio, o imperador Domiciano (reinou 81-96 d.C) fez as
mulheres lutarem na arena à noite iluminadas com tochas. Este relevo em mármore foi
esculpido por ocasião da missio (desobrigação honrosa) de duas lutadoras mulheres,
'Amazônia' e 'Achilia', que tinham provavelmente ganho a sua liberdade, dando uma
série de excelentes performances. Elas são apresentadas com o mesmo equipamento dos
gladiadores do sexo masculino, mas sem capacetes.

O satirista Juvenal (Saturae 6, 110 e ss.) descreve os sentimentos amorosos de uma


senhora chamada Eppia para com um herói de luta. Seus muitos ferimentos não a

21
A MULHER EM ROMA

perturbam, pois afinal de contas ele era um gladiador. O humorista acrescenta: "O que
essas mulheres adoram é a espada."

Os arqueólogos descobriram na escola de gladiadores em Pompeia uma mulher ricamente


adornada, obviamente, de estatuto social elevado, e entre os gladiadores»18.

O moralista Tertuliano retomará muitas destas questões, fazendo uma crítica aos
modos de vestir de algumas matronas romanas do Norte de África, pois com o
avançar do Império foram adquirindo formas de trajar mais exuberantes, bem como
novos hábitos no tratamento dado aos cabelos, referindo ainda o seu acesso aos
lugares de espectáculo.

Imagem in blogue La Mujer Romana. Link:


https://cantibusblog.wordpress.com/2013/11/01/mujer-y-politica/

18
E. Köhne and C. Ewigleben (eds.), Gladiators and Caesars: the po (London, The British Museum Press,
2000). Fonte: http://www.ipernity.com/doc/laurieannie/34485587 (Sculpture 1117)

22
A MULHER EM ROMA

“Aureus” de Faustina, do século II. Link:


http://www.sulinformacao.pt/2013/02/moeda-
de-ouro-romana-regressa-a-portimao-43-anos-
depois/

Fresco de Pompeia. Link:


https://www.facebook.com/pages/Pom
pei-arte-storia-ed-
archeologia/283085626261

Se bem que a generalidade das meninas romanas recebesse apenas uma instrução
básica, pois a sua função primordial era prepararem-se para serem esposas e mães,
como acima referimos, houve muitos exemplos de mulheres que exerceram influentes
profissões e que dirigiram negócios lucrativos. Há também inúmeros casos de
mulheres versadas em Literatura, em música e reconhecidas bailarinas.

Estudos feitos sobre relevos de Óstia, efectuados em 1981 por Natalie Kampen e
publicados em “Image and status: Roman working women in Ostia”, confirmam a
existência de mulheres trabalhadoras. Também nos lembra Lourdes Conde Feitosa
que «Na cidade de Pompeia, foram encontrados cartazes de propaganda política do
século I d.C., denominados programmata, que nos mostram o apoio feminino a
candidatos locais dado por mulheres abastadas, mas também prostitutas, trabalhadoras,
donas de tabernas, escravas, libertas, esposas com ou sem seus maridos, entre diversas
outras»19.

19
Feitosa, Lourdes Conde Feitosa, "Cinema e arqueologia: leituras de gênero sobre a pompéia romana",
in revista Gênero, Niterói, v. 10, n. 2, p. 257-271, 1. sem. 2010. Link (download):
file:///C:/Users/Jo%C3%A3o%20Cruz/Downloads/26-64-1-PB.pdf

23
A MULHER EM ROMA

Dançarina na Villa Casale, Piazza Armerina (Sicilia). Foto de Inés Navarro. Link:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10205206014740395&set=a.10205206
011420312.1073741841.1546626080&type=1&theater

Até determinada altura, a toga era o elemento básico do vestuário, quer feminino,
quer masculino, ao ponto de Virgílio na Eneida (I, 282) chamar aos Romanos «os
senhores do mundo, o povo da toga».

Imagens nesta página: Figuras femininas


vestidas. Séculos I - II. São Miguel da Mota.
Terena. Museu Nacional de Arqueologia

24
A MULHER EM ROMA

No entanto, o vestuário foi-se sofisticando e, mesmo já durante a República, só os


jovens, as adúlteras e as cortesãs usavam toga. As matronas utilizavam sobre
a stola (túnica ou vestido comprido cingindo nas ancas) a palla (grande mantilha
pregueada sem costuras que ia até aos pés e, ao contrário da toga, cobria os dois
ombros, servindo também para cobrir a cabeça).

Um vestido inferior com mangas era usado sob a stola. As viúvas usavam o ricinium,
uma espécie de xaile.

Para as saídas podiam usar também um casaco colorido.

Os tecidos eram feitos de lã, linho ou sedas de várias cores, pois já era conhecida a
tinturaria, de origem vegetal e animal.

Quanto à roupa interior, indumenta, pouco se conhece, mas sabe-se que as mulheres
usavam uma faixa de tecido no peito (fascia pecturalis; mammilia) e outra sobre os
rins (subligaculum).

Portadora de oferendas com cacho de uvas na


mão. S. Miguel da Mota, Terena. Século I - II.
MNA. As mulheres de condição mais elevada
usavam tecidos ricos bordados e importados das
várias partes do império.

25
A MULHER EM ROMA

Curiosas são as representações de mulher em bikini, como são as conhecidas em


mosaicos provenientes da Villa del Casale, Piazza Armerina, na Sicília.

«Por estas escenas es más que probable pensar que los bikinis, entendidos como ropa
interior, eran utilizados por las mujeres de la sociedad romana para hacer ejercicio y para
las competiciones deportivas. Los cuerpos de las pugilistas eran atléticos y bien torneados
por el ejercicio diario Algunas de ellas llegaron a ser grandes y admiradas atletas que
quedaron inmortalizadas en estos mosaicos, portando la corona de la victoria y una rama
de laurel».20

Mosaico das pugilistas, Villa del Casale, Piazza Armerina

20
A partir de Javier Ramos/Ampa Galduf «Operación bikini de las atléticas chicas romanas»:
http://arquehistoria.com/el-bikini-de-las-romanas-9158

26
A MULHER EM ROMA

A propósito de roupa feminina na Antiga Roma, tomamos a liberdade de citar um


recente artigo publicado no excelente blogue de História espanhol “Una de
Romanos”, que faz uma síntese bastante esclarecedora e, diríamos, rigorosa, acerca
do vestuário da época, desfazendo alguns mitos popularizados em filmes ou séries de
TV:

Imagem da popular série televisiva “Spartacus”, que reflete mais as tendências modernas
híper-sexualizadas do que da antiga Roma, onde as mulheres eram bem mais recatadas no
trajar, sobretudo em público

«El cine y últimamente la televisión nos tienen acostumbrados a mostrar a las romanas,
salvo excepciones, algo frívolas en su modo de vestir y de adornarse. Esto ha llevado a la
idea equivocada de que las mujeres romanas iban mostrando sus cuerpos, pero nada más
lejos de la realidad. Generalmente iban muy tapadas y, de hecho, en público y por la calle
no debían mostrar su cuerpo ni siquiera casi las manos y muy poco de la cabeza.

Evidentemente, como cualquier mujer, a las romanas también les gustaba vestir lo mejor
posible y, ante todo, mostrar con ello su status social, pero todo ello sin caer en la
obscenidad. Buena prueba de que eran coquetas lo tenemos en la reacción a la Lex Oppia,
cuya promulagación, en el contexto de la II Guerra Púnica, dio lugar a la prohibición a

27
A MULHER EM ROMA

las mujeres de portar, entre otras cosas, cierta cantidad de joyas. Ante esta restricción las
matronas no dudaron en movilizarse y concentrarse en Roma para conseguir que se
derogase, como finalmente se hizo.

Sus maridos no parecían entender esa afición, como en el caso de este fragmento del
Satiricón de Petronio:

‘Ya veis -dice- los perifollos con que cargan las mujeres y nosotros,
como estúpidos las dejamos que nos desplumen […]’ Para no ser
menos, Centella, echando mano a un estuche de oro que llevaba colgado
al cuello y que ella llamaba su ‘buena estrella’, sacó unos pendientes y,
a su vez, los ofreció a la consideración de Fortunata: ‘Son -dice- un
regalo de mi señor marido; no hay otros mejores’. ‘¿Cómo? – salta
Habinas – ¿No me habrás desangrado para comprarte esas lentejuelas
de cristal?.Desde luego, si yo tuviera una hija, le cortaría las orejitas.
Si no hubiera mujeres lo tendríamos todo regalado […]’

Petronio, II, 67, 6-11

En primer lugar, hemos de entender cuál era el ideal de mujer romana, que era el que
representaba la matrona (de la raíz mater-madre- se refiera a la mujer casada) que
solían ser las mujeres pertenecientes la alta sociedad patricia de Roma. Éste era un
modelo de mujer cuyo comportamiento, en todos los aspectos de la vida, debía ser
irreprochable. Era el paralelo femenino del buen romano, que se resume en la gravitas,
parsimonia pudicitias, certamen, pides, pietas y virtus (1). No es un modelo que nos
quede muy lejos, pues es el que heredó la tradición cristiana.

Desde pequeña, las niñas eran educadas para el matrimonio bajo la potestad de su padre
y, con el casamiento, pasaban a estar bajo el poder de su marido. Por tanto, la mujer
romana tendrá su espacio en el ámbito doméstico y la función esencial que tenía era la de
traer al mundo a nuevos ciudadanos y transmitirles el mos maiorum.

Si estos valores son exigibles a todas las mujeres, el concepto de matrona iba vinculado
además a la laboriosidad, a la austeridad en las costumbres, la fidelidad, la modestia, el
amor hacia su marido y sus hijos… Pero ni la educación ni la cultura estaban entre las
virtudes deseables para las matronas. Entre los méritos que distinguían a las matronas
romanas se encontraba de forma recurrente el del hilado (el trabajo de la lana era

28
A MULHER EM ROMA

esencial, símbolo de la matrona por antonomasia y el huso y la rueca son dos de los objetos
que la novia llevará a su nuevo hogar en el día de la boda). Por tanto, la mujer se
ocupaba en hilar y tejer, dirigía la educación de los hijos, vigilaba la servidumbre y
llevaba una activa vida social acompañando a su marido.

Matrona Romana cuidando da “toillete”. Pintura de Simeon Solomon


(1840-1905)

NO SOLO HA DE SERLO, HA DE PARECERLO…

Como en toda sociedad, la indumentaria era un símbolo de la clase y poder social. Viendo
a un romano por su vestimenta podríamos saber en cuestión de segundos si era pobre o
rico, y además viendo a dos romanos ricos podríamos saber también inmediatamente cuál
tiene un cargo público, cual es un patricio, y así una cantidad de distinciones
considerables. La ropa en Roma no solo nos permitía diferenciar al romano del no
romano, nos permite diferenciar al romano del romano.

29
A MULHER EM ROMA

Las diferencias sociales se acentuaban en la ropa. No solo por una cuestión de materiales
y calidad sino también por una cuestión de simbología implícita en las prendas. Era la
misma sociedad la que imponía estas reglas de vestimenta que permitían ver el poder o
clase del individuo.

LA TOGA

La vestimenta habitual de los romanos, desde los tiempos más antiguos, era la toga.
Todos los ciudadanos que nacían libres la llevaban, de hecho, originariamente, la
llevaban tanto las mujeres como los hombres. Los extranjeros y esclavos la tenían
prohibida.

“Romanos, rerum dominos, gentem que togatam” (Romanos, señores del mundo, los que
visten con togas)

De esta forma tan peculiar definía Virgilio a los propios romanos, y es que la toga
terminó por convertirse en el símbolo supremo del desarrollo romano.

Habitualmente era una tela hecha de lana blanca, que indicaba la ciudadanía romana, si
bien habían diferencias de color según las edades, rangos y funciones: Toga virilis –la
que vestían aquellos que llegaban a la madurez ; Toga Praetexta – toga blanca con una
tira púrpura que llevaban los niños antes de adquirir la Toga Virilis; Toga Candida-
extremadamente blanca y brillante que los candidatos a las magistraturas vestían para
presentarse ante las asambleas; Toga Picta- ricamente decorada era utilizaba por los
generales victoriosos; Toga Pulla- Era una toga de luto, de color negro; Toga Trabea:
toda púrpura o blanca adornada de bandas púrpura, que usaban los cónsules,
caballeros,… como vestidura de gala. Las mujeres romanas no vestían toga, que de hecho
podía tener otras connotaciones como el adulterio o la prostitución.

Ellas usaban otras piezas de ropa que las distinguía:

PIEZAS DE ROPA FEMENINAS

En Roma, la vestimenta tenía fuertes influencias griegas y etruscas, y la principal


característica como hemos visto eran las togas. Si bien, la mujer llegó a un nivel de
refinamiento especial en la ropa, las joyas, ornamentos en el calzado y las prendas que
evidentemente lograban distinguir a las mujeres patricias de las plebeyas.

30
A MULHER EM ROMA

Las matronas romanas iniciaban el día con su aseo y vestido. Lo primero que hacían era
peinarse y maquillarse. Después pasaban a vestirse, y el tercer paso consistía en colocarse
su ingente cantidad de joyas: diademas, pendientes, brazaletes, collares,etc. Estas tareas
no las hacían ellas mismas sino que precisaba de la ayuda de sus sufridoras esclavas, las
ornatrices.

Por supuesto la mujer contaba con prendas exclusivas como la stola, un indicador de su
estado civil. Otra prenda de la mujer es la Palla, un velo o manto que la mujer utilizaba
para cubrir sus hombros, o formar una capucha cuando se encontraba en la calle.

La Túnica : El Indusium y la Stola

Las túnicas, tomadas de los griegos, eran la ropa básica tanto para hombres como para
mujeres y fueron adaptadas a las diferentes necesidades de la sociedad. Hechas de lana
sin teñir cosida a los lados, era una prenda que llegaba hasta las rodillas en los hombres y
hasta media pierna o los tobillos en las mujeres. Era un pieza tan útil y cómoda que
rápidamente se convirtió en la prenda de trabajo, de vestir en la privacidad del hogar y la
ropa básica del soldado.

Las que más aprovecharon las túnicas fueron las mujeres. La stola era una variedad de
túnica que la mujer empezaba a vestir inmediatamente después del matrimonio, pero por
debajo las romanas también llevaban ropa interior.

LA ROPA INTERIOR

La Stola se ponía sobre túnicas interiores sin mangas llamadas Indusium que eran el
equivalente de la masculina Subucula (“bajo la túnica”). Con estas túnicas también se
dormía. En cuanto a los materiales se usaban lino, algodón y sobre todo lana.

Debajo del Indusium, a modo de ropa interior las mujeres solían utilizar los fascia
pectoralis, una banda de lino a modo corpiño que ayudaba a darle mayor firmeza al
busto. El strophium y la mamillare eran también dos prendas interiores utilizadas por las
mujeres. Estas eran más semejantes a los corpiños actuales. Estaban compuestas por
tiras de cuero que cubrían el busto sosteniéndolo y afirmándolo. En cuanto a la parte
inferior era similar al subligaculum masculino y su forma era muy parecida a las
actuales bragas.

31
A MULHER EM ROMA

La Stola

La Stola, que era una pieza exclusiva de las matronas romanas, se confeccionaba con una
sólo pieza de tela con abertura central para introducir la cabeza o bien con dos trozos
unidos. Se abrochaba por medio de botones en las mangas, con fíbulas en los hombros o
simplemente sin abrochar, cosida. Podían ser de manga larga, de manga corta o sin
mangas y sus modelos eran mucho más elegantes, coloridos y elaboradas que las de los
hombres y se ataban con cinturones.

En cuanto al material con el que se confeccionaban solía ser lino, lana, algodón, si bien el
más apreciado era la seda, de brillantes colores y rematada con bordados en la parte de
inferior, en el cuello y laterales. Sus colores iban del blanco crema -el color natural de la
lana- al gris, el rojo y el purpura. Colores obtenidos con diferentes tinturas naturales. Se
distinguía y valoraba a las mujeres con muchos hijos. Cuando estas tenían más de tres
hijos podían vestir la stolae matronae que les otorgaba orgullo y prestigio en la sociedad.

Esta pieza era generalmente complementaba con la palla, de la que hablaremos, que era
un manto rectangular que podía ser utilizado como velo o bufanda. Realizada con finos
materiales y confección, variaba mucho dependiendo la clase social de la dueña.

El Ceñidor, Zona o Patagium.

Era normal adornar la stola con un patagium. Este era una especie de cinturón que se
ponía debajo del pecho sobre la stola no muy ajustado. Podían ser de diversos colores,
bordados a veces con hilo de oro, e incluso estar adornadas con incrustaciones de piedras
preciosas. Las mujeres de clase alta solían llevarla doradas o de púrpura, una tintura
bastante costosa, que indicaba una mayor dignidad y poder adquisitivo. Las mujeres que

32
A MULHER EM ROMA

se habían casado varias veces (multivirae) añadían una parte en la zona inferior como
distintivo de dignidad por ello.

LA PALLA

El manto o palla (el de los hombres


era el pallium) era según
Tertuliano (De Pallio I) una
pieza fundamental para toda
romana decente. Era un manto,
evolución del himation griego, que
las mujeres utilizaban cuando
salían en público, habitualmente
cubriéndose lo cabeza, si bien en
casa se sujetaba de la manera más
cómoda. Estaba formado por una
tela rectangular o cuadrada (no
semicircular como la toga), de unos 3,50-4 metros de ancho y 1,30 o 2 de largo y, como ya
se ha comentado, era un manto que se ponía sobre la stola. Como tantas otras prendas era
un indicador de status instantáneo. Los más vistosos solían ser bordados y de seda pero
también eran de algodón, lino u otras materias. Los colores eran variados y se apreciaban
los colores brillantes.

Iba de la cabeza hasta los pies, ya que generalmente se utilizaba enganchado al pelo a
modo de velo, y se podía utilizar como bufanda, como chal o como capucha. Se colocaba
pasándolo sobre el hombro izquierdo y por debajo del derecho, recogiéndolo de nuevo con el
brazo izquierdo.(...).»21.

Por sua vez, o rosto era embelezado, usando-se maquilhagem com base em lamolina,
uma gordura extraída da lã virgem, sobre a qual se colocavam camadas vermelho-
terra, e os olhos podiam ser pintados, usando-se antimónio à volta dos mesmos, ou
hematite e outros minerais para dar brilho.

21
Alberola, Eva, "La indumentaria de las matronas romanas", in blogue "Una de Romanos", 08/01/2016.
Link (com fontes): https://unaderomanos.wordpress.com/2016/01/08/la-indumentaria-de-las-
matronas-romanas/

33
A MULHER EM ROMA

Plínio o Velho refere ainda as qualidades do leite de burra, recomendando que as


mulheres nele se banhassem «até sete vezes por dia», aconselhando ainda a aplicação
de placenta de vaca ou uma mistura feita com genitais de vitela dissolvida em
vinagre com enxofre.

Os cabelos eram tratados e


penteados de diferentes formas,
também dependendo das épocas
e respectivas modas, se bem que
em público tivessem o costume
de cobrir a cabeça.

Segundo Bruno Ruiz-Nicoli,


«em Roma, o cabelo e o seu
Mosaico em Zeugma-Turquia, sito no Museo
arranjo eram considerados um
Gaziantep. Link:
https://pt.pinterest.com/pin/538109855447787480/ elemento fundamental do atractivo
de uma mulher, assim como um
sinal da sua idade, posição social e função pública»22, sendo os penteados de Época
Imperial caracterizados por uma enorme exuberância, sobretudo a partir da Dinastia
Julio-Claudiana e que atinge o auge na época Flaviana e no reinado de Trajano, de
algum modo, contrastando com a contenção verificada na Época de Augusto, que se
filia na tradição helenística.

«Partindo dos simples arranjos da primeira


metade do século I a.C., chegamos, em
meados desse mesmo século, às modas de
origem helenística que são muito contidas,
devido ao regresso à tradição que marca a

Cabeça de encaixe representando


possivelmente Lívia Drusa Augusta,
proveniente do Criptopórtico da Civitas
romana de Aeminium, Coimbra. Sita no
Museu Nacional Machado de Castro. Link:
http://www.portugalromano.com/site/rostos
-imperiais-romanos-em-portugal/
22
in Rostos de Roma. Évora: Museu de Évora, 2010, p. 48

34
A MULHER EM ROMA

época de Augusto. Esta moderação mantém-se na época julio-claudina até à chegada de


Nero e é a partir desse momento que se inicia um vertiginoso desenvolvimento dos
penteados, que alcança a sua máxima expressão em finais do século I, na época flaviana
e no reinado de Trajano» (Nicoli, pp. 61-62).

O poeta Ovídio, na sua obra Arte de Amar, Livro III, dedica-se a aconselhar as
mulheres, designadamente recomendando-lhes formas de se apresentarem e de se
pentearem. (…) Por exemplo, sugeria às mulheres de rosto redondo que usassem um
penteado ao alto, mantendo as orelhas descobertas.

Estatueta de dama romana, Cripta Arqueológica de


Alcácel do Sal

Já segundo o autor latino Luciano, do século II d.C., «as mulheres dedicam a maior
parte dos seus esforços à trança dos seus cabelos» (Amores, 38-41). As mulheres também
recorriam a colorações, sendo comum o uso da henna importada do Oriente e
socorriam-se de extensões ou perucas para os casos de insuficiência de cabelos.

Retrato feminino.
Retrato feminino. «Rostos
Proveniente da Villa romana
de Roma». Sita no Museu
de Milreu. Sita no MNA,
Arqueológico de Madrid.
Lisboa.

35
A MULHER EM ROMA

Assim nos diz o moralista Tertuliano (160 A.D - 220 A.D), no seu A Moda
Feminina/Os Espectáculos:

«Vejo que algumas de vós que pintam os cabelos com açafrão chegam a envergonhar-se da
sua pátria, de não terem nascido na Germânia ou na Gália. Trocam, assim, a Pátria
pela cabeleira. Coisa ruim, coisa péssima a si mesmas pressagiam com a sua cabeça da
cor do fogo».

Os caracóis, por usa vez, obtinham-se com o recurso ao calamistrum, um instrumento


metálico que se aquecia ao lume de forma a obter os efeitos desejados.

Usavam também os cabelos presos em carrapitos, "tótós" ou tranças, sendo célebres


as de Faustina, a Maior, casada em 126 com o futuro imperador Antonino Pio de que
existem várias representações.

A célebre escultura de dama romana proveniente da Villa Romana de Milreu, Faro,


conhecida por «Cabeça de Milreu» (imagem acima), trata-se de uma cabeça feminina
em mármore branco, datada do final do século I, inícios do século II d. C. encontrada
por Estácio da Veiga nas termas dessa Villa, e depois de ter incorporado o acervo do
museu da capital algarvia transitou para o Museu Nacional de Arqueologia.

De destacar a sua beleza e o penteado em «ninho de vespa», tal como lhe chama a
bibliografia portuguesa, ou em «topete», como o classificam os estudos anglo-
saxónicos, germânicos e franceses. «Com efeito, a «mulher de Milreu» ostenta um
penteado dividido em duas secções, em que, numa delas, o cabelo sobressai na parte
frontal da cabeça, na forma de um diadema constituído por três fileiras de caracóis
sobrepostos, enquanto a parte de trás se forma com uma «mecha de cabelo enroscado em
carrapito sobre a nuca, descobrindo as orelhas». Os anéis obtinham-se com recurso a uma

36
A MULHER EM ROMA

vara de encaracolar e mantidos com uma aplicação de cera de abelha. O topete era
mantido no seu lugar com o auxílio de uma fita de couro na parte de trás.

Segundo o estudo de J. L. de Matos, a parte que resta deveria fazer parte de um busto,
representando uma personagem anónima. Na ficha que se inclui no catálogo da exposição
«Religiões da Lusitânia», Cardim Ribeiro nota ainda que esta peça é a evidência da
forma como as elites municipais da Lusitânia meridional se relacionavam, nos séculos I
e II d.C., com as elites imperiais, adoptando tendências e seguindo modas, buscando
dessa forma o prestígio, pelo facto de as mesmas transmitirem a ideia de proximidade ao
poder.

Na verdade, a representação que hoje podemos ver no MNA corresponde a um figurino


razoavelmente presente em vários museus europeus. Os penteados com topete,
particularmente notórios e conhecidos no quadro cultural romano, têm sido associados
sobretudo ao período flaviano, mas teriam sido usados até pelos menos aos anos 20 do
século II d.C. (épocas trajânica e adriânica).

Cardim Ribeiro caracteriza o retrato como a figuração de uma jovem mulher que exibe um
penteado típico da época tardo-flávia, «influência de Júlia, filha de Tito e esposa de
Domiciano». Com efeito, alguns autores afirmam que a moda destes penteados teria sido
iniciada por membros da casa imperial, designadamente Júlia Titi (65-91 d.C.) e
Domícia Longina (?-140 d.C.), respectivamente a filha de Tito (39-81 d.C.) e a mulher
de Domiciano (51-96 d.C.). Daí que, partindo dos princípios do «retrato verista»
romano, a esmagadora maioria das figuras assim representadas fosse identificada com as
duas princesas imperiais. Outros estudos, alguns mais recentes, porém, têm concluído que
algumas das representações até aqui identificadas como as mulheres da família imperial
serão, na verdade, retratos privados e anónimos»23.

O século III assiste à moda do cabelo usado com "o risco ao meio" caindo para os
lados em ondas fortemente modeladas e apanhado depois numa série de tranças que
ascendem até à parte superior do crânio.

23
Nuno Simões Rodrigues, cit. a partir de: «Peça do Mês de Dezembro 2013» do Museu Nacional de
Arqueologia. Foto: José Luis Jesus Martins. Link:
http://ml.ci.uc.pt/arquivos_antigos/archport/archport_20_11_2006_a_31_12_2014/msg17300.html

37
A MULHER EM ROMA

Cabeça de Ninfa, Século II.


Proveniência desconhecida. MNA.

Imagem a partir de: Ancient Rome. Busto


de uma mulher aristocrática em mármore,
possivelmente Domitia, esposa de
Domiciano. O seu estilo de penteado era
popular no período flaviano até Trajano (69-
117 CE). Sita in San Antonio, Texas: San
Antonio Museum.

"Con la importancia que se le atribuía al cromatismo de las esculturas antiguas, no ha de


extrañar que la pintura y el adorno de una estatua se pagaran tanto como la labor
escultórica y que los escultores famosos cuidaran de que sus obras sólo fueran coloreadas
por los pintores adecuados. Cuenta Praxíteles que de entre sus numerosas obras apreciaba
especialmente aquellas que habían sido terminadas por el pintor Nikias (Plinio, Nat.
His., 35, 133)".

38
A MULHER EM ROMA

Para prender os cabelos usavam alfinetes, os acus crinalis, como


este exemplar de alfinete de cabelo em osso, proveniente das
Ruínas de Tróia (Setubal), cujo topo é «rematado por um busto
feminino, com toucado e cabelo bem definido e com face singelamente
talhada e túnica estilizada por meio de linhas incisas oblíquas»24.

Também em Conímbriga se encontram exemplares rematados da


mesma forma, ou seja, com bustos femininos.

«Los peinados de las mujeres en Roma, experimentaron cambios a lo


largo de los siglos. No olvidemos que según la tradición, Roma se
fundó en el año 753 a. C.y su caída se fecha en el año 476 d. C.
Nada tiene que ver la Monarquía o la República con su severidad y
rigidez, sus dioses, costumbres, etc., comparadas con los años más decadentes y abiertos en
pleno auge imperial. En este sentido, la mujer republicana era austera en el vestir, el
peinar y el adorno (raya en medio y moño bajo) pero esto varía y mucho con el paso de los
años. A medida que Roma se expande más allá de la península itálica y sobretodo tras
conquistar Grecia y Oriente (además de Hispania y el norte de Europa), la sociedad

24
Informação obtida no Museu Nacional de Arqueologia, a cujo acervo pertence

39
A MULHER EM ROMA

romana absorbe y adapta muchos de los aspectos más característicos de los pueblos
conquistados. La moda, los peinados y los adornos, también forman parte de las cultura.
Tintes, rizos, bucles, ondas al agua, trenzas, joyas, moños altos, cintas de colores, tupés,
postizos forman parte del peinado de la mujer durante el Imperio. En las
representaciones de las mujeres romanas, rara vez se ven mechones sueltos ( y nunca
flequillos) y si se usan en peinados, suelen ser para diosas y no para mujeres respetables.
Las encargadas de realizar estas obras de arte con pelo, eran unas esclavas dedicadas al
adorno de las señoras “las ornatrices” quienes entre peines, agujas, hilo para sujetar los
mechones, liendreras y espejos debían sufrir bastante con sus exigentes amas» 25.

Também num pequeno artigo de Alfonso López Beltrán, “Peinados de las


emperatrices romanas en las monedas -Hair Styles of the Roman empresses on the
coins”, o autor nos dá nota de como os penteados eram fundamentais à imagem da
mulher em Roma:

«Las mujeres romanas, especialmente las mujeres de la corte y las patricias eran muy
coquetas. Las emperatrices, cuyos bustos eran acuñados en denarios, monedas de bronce,
antoninianos, etc., marcaban tendencia y les surgían muchas imitadoras.

La coquetería llegaba a tal extremo que los escultores se veían obligados a realizar pelucas
en mármol muy fino para colocar en la cabeza de anteriores esculturas siguiendo las
instrucciones de sus caprichosas clientas. Además de utilizar pelucas realizadas con
cabello de esclavas, utilizaban muchos accesorios para realzar el peinado tales como:

 Redecillas tejidas con hilo de oro


 Trenzas
 Rizos, algunos muy exagerados
 Alfileres
 Cintas
 Perlas
 Joyas entretejidas en el cabello
 Tiaras (muy comunes en el imperio de Oriente)»26.

25
Monteagudo, Arantxa, "Investigación Bona Dea: Peinados de las mujeres romanas basados en
diversos bustos", 2013. Link: http://grupobonadea.blogspot.pt/2013/04/investigacion-bona-dea-
peinados-de-las.html
26
Cit. a partir de: http://alfonso-traianus.blogspot.pt/p/peinados-de-las-emperatrices-romanas-en.html

40
A MULHER EM ROMA

Fragmento de pulseira em pasta


vítrea. Museu Municipal de Santiago
do Cacém.

Eram usados múltiplos adereços, desde anéis, muitas vezes com pedras, colares e
pingentes, brincos, pulseiras, mesmo de tornozelo, braceletes e diademas, camafeus,
valendo a pena, em Portugal, entre tantos outros, conhecer o acervo do Museu de
Conímbriga.

No início do Império o ouro era escasso,


mas gradualmente com as conquistas,
foi-se tornando mais comum e começou a
ser muito utilizado no fabrico de jóias e,
no século II, Roma conhece muitos bons
ourives.

Sabe-se, no entanto, que na Época


Republicana chegou mesmo a existir um
conjunto de leis que inibiam a ostentação
de riqueza, designadamente as lex Oppia

fruto da crise que se abateu durante a II


Adornos femininos romanos. Museu
Guerra Púnica. Contudo, com o fim das Monográfico de Conimbriga. Link:
mesmas a situação alterou-se, tanto http://www.joiabr.com.br/artigos/jan05.h
tml
mais que os saques viabilizaram um
acumular de riquezas27.

27
Sobre este assunto remetemos ao artigo «Lex Oppia, las protestas de las mujeres romanas contra la
exhibición de riquezas» (s. autor), publicado pela Revista de História. Link:
http://revistadehistoria.es/lex-oppia-las-protestas-de-las-mujeres-romanas/

41
A MULHER EM ROMA

Os ourives do antigo Império Romano vinham predominantemente do Oriente,


concentrando-se nas principais cidades do Império, como Alexandria, Antioquia e a
própria Roma.

Pingente em ouro. Museu Monográfico de Conimbriga

Bracelete em ouro, Egipto, Período Romano, I d. C.


Link: https://pt.pinterest.com/pin/246009198371798949/

Nessa primeira fase do Império o ouro sendo escasso, era utilizado na cunhagem de
moeda, permitindo o comércio internacional. Com o crescimento do Império,
gradualmente o seu uso na ourivesaria vai aumentando, como acimas referimos.
Pode dizer-se que a ourivesaria romana vive de formas relativamente simples, mas
de grande perfeição técnica. Umas das novidades introduzidas pelos romanos foram

42
A MULHER EM ROMA

as peças vazadas e entrelaçadas, quer na decoração, quer na joalharia, tendo dado


grande destaque ao uso de pedras preciosas de todas as cores.

Os anéis eram adereços de uso comum, quer em homens, quer em mulheres, e alguns
deles tinham mesmo uma função apotropaica.

Colecção de anéis do acervo do Museo de Pontevedra.

Colares em ouro. Colecção de


Ourivesaria. MNA.

Objectos de adorno romanos. British


Museum. Fotografia Filomena Barata

43
A MULHER EM ROMA

Anel de vidro e fusaoilas


provenientes de Villa Cardílio.

Pendentes, contas, vareta, fusaoila e


botões provenientes de Villa
Cardílio. Museu Municipal de Torres
Novas.

Objectos em osso provenientes


de escavações efectuadas na
Rua de Burgos, Évora.
Destacam-se as agulhas e o
fragmento de pente por se
tratarem de objectos de adorno.

Os camafeus também estiveram muito em voga em Roma, aproveitando para


lembrar um exemplar, proveniente da cidade de Ammaia (São Salvador da
Aramenha), depositado no Museu Nacional de Arqueologia. Trata-se de um

44
A MULHER EM ROMA

«Camafeu com busto feminino em relevo, século I d.C. De cornalina de cor de salmão
escuro e de forma oval. O busto apresenta-se em posição frontal e cabeça a três quartos
ligeiramente inclinada para a direita. Poderá tratar-se de uma Ménade ou de
Cassandra?» (segundo G. Cravinho, op. cit/Matriznet).

As mulheres não dispensavam os espelhos para os seus cuidados de embelezamento


nem prenestinas, ou seja, os cofres em bronze que continham os acessórios de
embelezamento feminino, nem os seus perfumes e unguentos.
Defende-se mesmo que Vénus, essa deusa do amor e da beleza, que na mitologia
romana substitui a Grega Afrodite tem como seu símbolo ♀ (um círculo com uma
pequena cruz equilateral) que parece ser a representação gráfica ou símbolo
abstracto do espelho de Vénus. Este símbolo, que representa a feminilidade, foi
adoptado para definir o género feminino28.

Os perfumes e unguentos também faziam parte da higiene feminina, sendo comum o


seu uso. «El nombre "perfume" proviene del latín "per" (por) y "fumare" (a través del
humo), los emperadores eran ungidos con aceites perfumados con: lavanda, sándalo,
tomillo...los romanos al mismo tiempo los utilizaban para seducir.(...) unctuarium era,
con las piscinas propiamente dichas, la parte mas esencial de las termas. En el se
guardaban las pomadas y los afeites, pero el sancta sanctórum de el unctuarium lo
constituía el eleotesium, una cámara especial donde se guardaban los perfumes más
exquisitos.

Las mujeres, y sobre todo las patricias, se mostraron rendidas ante el poderoso hechizo de
los aromas. Podían elegir entre el Narcissium , el Nardicum, Sucinum (miel, aceite de
palma, cinamomo, mirra y azafrán) o el Foliatum, un perfume este último que Marcial
estimaba como fuente de perdición económica para los maridos debido a su altísimo
precio»29.

28
Ver «Alcácer, Terra de Deusas», Esmeralda Gomes, Marisol Aires Ferreira e António Rafael Carvalho,
2008, Câmara Municipal de Alcácer do Sal
29
Bofill Monés, Maribel, "El perfume en la Roma clásica", in Arraona Romana. Link:
http://arraonaromana.org/ArticlesNoticies.php?id=140#.VpBMjxWLTIV

45
A MULHER EM ROMA

Espelho de bronze de pega com Vitória


Alada datado do século I d.C.. Espelho de
época romana de forma circular. Uma
face é polida e lisa, sendo a outra
decorada com três conjuntos de dois
círculos concêntricos.
A asa é figurativa e representa a deusa
Vitória Alada, nua, sobre uma máscara
grotesca. A cabeleira da deusa é
ondulada, formando um toucado
bastante elaborado. A face posterior da
máscara é acentuadamente côncava,
permitindo encaixar e ajustar, por meio
de soldadura, a uma outra peça.
Pertencente à colecção de peças
arqueológicas de António Júdice Bustorff da Silva que a doou ao Estado Português,
por intermédio de António de Oliveira Salazar. Encontra-se na Colecção do Museu
Nacional de Arqueologia. Fotografia e legenda a partir do «Portugal Romano».

Espelho de cabo, datado do século I a.C. - I d.C. - Época


Romana. Museu Nacional de Arqueologia

A propósito dos cuidados femininos, diz-nos ainda Tertuliano (c. 160 -. 225 d.C), no
século II: «De facto, embora não se deva acusar a beleza - a qual é a graça do corpo, o
acabamento da modelação divina, um agradável vestimento da alma - ela haverá, no
entanto, que ser temida, nem que seja por causa dos ultrajes e das violências daqueles que
andam atrás dela» (op. Cit., p: 57).

Este primeiro grande teórico cristão sobre o papel dos sonhos – apesar de
montanista, portanto semi-herético, e dos seus temores face ao conteúdo diabólico
dos sonhos –, dizia ainda sobre o contacto físico com as Mulheres: “Enfim, na própria
febre do prazer extremo, pelo qual é emitido o suco gerador, não sentimos que também se
escapa de nós algo da nossa alma, ao ponto de contrairmos langor e debilidade, ao mesmo

46
A MULHER EM ROMA

tempo que a vista


diminui? Eis a
substância animada, a
qual vem direta da
destilação da alma, como
aquele suco é a semente
corporal saída de um
desprendimento da
carne”.

Mosaico «Triunfo Indiano de Baco» proveniente de Torre de


Palma, Monforte, Séculos III-IV. MNA.

As mulheres romanas, para além dos objectos de adorno já mencionados, tinham


porta-jóias, onde eram guardados os seus bens.

Detalhe do fresco Marte e Vénus, «Casa di Vettius» ou «Casa dell'Amore punito»,


proveniente de Pompeia. Museo Archeologico Nazionale, Nápoles.
Link: https://www.bridgemanimages.com/fr/asset/491925/roman-1st-century-
ad/slave-from-a-fresco-in-the-house-of-punished-love-pompeii-fresco

47
A MULHER EM ROMA

Sobre o aspecto físico que agradava aos romanos, foi diferindo, de acordo com as
épocas. Sobre o tema remeto para um trabalho recentemente publicado, cuja leitura
nos elucida bastante sobre o assunto: «En época arcaica gustaban más las mujeres de
“modelo” mediterráneo, ya que se asocian con algo exótico, de cabello oscuro y mirada
profunda, pero con el paso del tiempo y la ampliación de fronteras así como la llegada de
esclavas nórdicas fue cambiando el “modelo” mediterráneo por un “modelo” nórdico,
de tez clara y cabellos largos y rubios. Aparte de Ovidio otro de los autores clásicos
que nos deja entrever que el modelo cambió al de mujer nórdica es Catulo, ya que fue el
primero en celebrar la belleza femenina nórdica a través de su amada Lesbia. Este cambio
se produce aproximadamente en tiempos de Julio César. Ya en tiempos de Augusto las
mujeres se tiñen de rubio con “hierbas traídas de Germania”.

Pero ¿cómo debe de ser esa mujer rubia ideal? Pues según Ovidio tiene que tener brazos y
piernas esbeltos y armoniosos, pies pequeños, manos finas y dedos largos y la piel rosada
o muy clara. En definitiva, muy diferente al modelo arcaico, probablemente asociado a
las mujeres sabinas raptadas por los romanos, unas mujeres sencillas y que se quedaban
en casa haciendo las labores propias de los principios de una moral antigua, a saber,
cuidar de la casa y de los hijos. Por el contrario, el nuevo modelo, gustaba de ropas y
joyas caras, son muy elegantes y les gusta agradar a los hombres y entregarse a ellos.

Para un hombre romano, la mujer ideal tiene que tener tres características: un cuerpo
opulento y atractivo, ser joven y provocar deseo, y su cuerpo tiene que poder describirse
con tres colores: el blanco, el rojo y el amarillo (rubio)»30.

30
A partir de: García, Daniel Pérez. "Cotidiana vitae: el arte de ligar en la antigua Roma". In:
http://www.temporamagazine.com/cotidiana-vitae-el-arte-de-ligar-en-la-antigua-roma/

48
A MULHER EM ROMA

Num estudo actualmente em curso sobre as representações de mulheres em mosaicos


romanos, coordenado por María Luz Neirape, Universidade Carlos III de Madrid,
(UC3M), integrado num projecto mais vasto "Sociedad y economía en los mosaicos
hispanorromanos II", do Programa Nacional de Humanidades de la Comisión
Interministerial de Ciencia y Tecnología (CICYT), dado a conhecer por José
d’Encarnação à comunidade científica portuguesa através da mail-list Archport,
tenta-se analisar as figurações femininas nos mosaicos romanos e o impacto que
tinham no imaginário dos estereotipos romanos.

Citando: «En los mosaicos romanos aparecen numerosas representaciones femeninas. La


mayoría son de inspiración mitológica - diosas, heroínas y otras protagonistas de un
sinfín de leyendas – aunque también se documentan otras de mujeres de carne y hueso,
probablemente dominae, sus hijas, doncellas y sirvientes. "Lo más significativo de estas
representaciones son los diferentes papeles que reflejan y su contribución a la construcción
de determinados estereotipos, no sólo en el mundo romano sino en el transcurso de la
historia hasta la actualidad", destaca Luz Neira, Profesora Titular de Historia Antigua
del Departamento de Humanidades: Historia, Geografía y Arte e investigadora del
Instituto de Cultura y Tecnología de la UC3M.

Los papeles de las mujeres que aparecen en los mosaicos se pueden clasificar en tres
grandes grupos, según los investigadores. En primer lugar, se pueden encontrar los
papeles de esposa, madre e hija que reflejan la fidelidad, la preocupación por los hijos y
la obediencia sin oposición a los padres (ejemplos positivos en la época), aunque también
se documentan representaciones de conductas opuestas en un sentido aleccionador que
parecen aludir a las temibles consecuencias de quienes así se comportan. En segundo
lugar, otras representaciones evocan a partir del desnudo el erotismo e incluso, frente a la
unión civilizada en el marco del matrimonio, la unión salvaje, que garantiza placer y
disfrute. En tercer y último lugar, algunas representaciones mitológicas parecen reflejar
una alusión a una sensibilidad diferente, como el caso de determinadas heroínas
dispuestas a todo antes de caer en brazos de un varón, aunque sea un dios, o el de las
amazonas practicando la caza y compitiendo con héroes de gran celebridad.

"Resulta curioso comprobar - indica la profesora Luz Neira - cómo en muchas de estas
representaciones, con independencia de su papel, se incide en la figura femenina como

49
A MULHER EM ROMA

causante de males y guerras, siguiendo una


tradición que, referida ya por el poeta
Hesíodo en el siglo VII a.C., se remonta al
mito de Pandora". Se pueden encontrar
numerosos ejemplos gráficos de este tipo en el
libro publicado recientemente bajo la
dirección y coordinación científica de Luz
Neira, Representaciones de mujeres en los
mosaicos romanos y su impacto en el
imaginario de estereotipos femeninos (Ed.
Creaciones Vincent Gabrielle, 2011). Desde
una perspectiva que rehúye la consideración
de la imagen como mera ilustración, esta obra aborda el análisis y el debate sobre los
diversos papeles de las mujeres que aparecen reflejados en la musivaria romana,
"descartando la idea trasnochada acerca de la utilización inconsciente de arquetipos y
modelos, carente de significación histórica".

El volumen cuenta con la participación de prestigiosos investigadores españoles y


extranjeros con numerosos estudios sobre el tema.».

Este projecto convida, assim, à reflexão sobre «el significado de las representaciones
musivas y su relación con la ideología de las elites en el Imperio Romano. "Teniendo en
cuenta que en origen los mosaicos pavimentaban las estancias de residencias de los
miembros más privilegiados de las elites, cuya opinión habría sido fundamental en la
elección de escenas y motivos, destacaría la evocación de estereotipos muy concretos, fruto
en muchos casos de una elección premeditada y consciente por parte de los domini",
señala Luz Neira. De esta forma, esta investigación pretende resaltar la idea de que
aquellos estereotipos, cuya validez aparece reforzada por su propia antigüedad, responden
a una construcción y difusión interesadas, lo que nos aporta incluso más luz sobre la
mentalidad de las elites que sobre las diversas situaciones y circunstancias que
experimentaron las mujeres en el contexto histórico de la Roma imperial»31.

31
Link:
http://portal.uc3m.es/portal/page/portal/actualidad_cientifica/noticias/representaciones_mujeres_ro
manos

50
A MULHER EM ROMA

Além dos mosaicos, também os frescos nos dão múltiplos exemplos realistas da vida
das mulheres em Romana, fornecendo riquíssima informação quando à vida
quotidiana, mas também quanto às formas de trajar e habitar o interior da casa.

Uma dama sendo vestida. Pintura do Gimnasio de Herculano.

Palavras para designar a mulher32:

Amita, tia do lado paterno.


Anus, velha mulher, avó ou antepassada.
Auia, avó (de ambos os lados)
Conjux, aquela que partilha o jugo conjugal.
Domina, dona de casa (derivada de domus, a residência familiar, mas também
significa senhora no amor).
Femina, fêmea de qualquer animal.
Honesta femina, significa respeito por uma mulher distinta.
Filia, filha, feminino de filius, criança que se educa.
Filiastra, literalmente filha de outro leito ou resultado de união ilegítima.
Infans, sem distinção de sexo, corresponde às crianças que não falam.

32
Citado em "Alcácer, Terra de Deusas", 2008, Alcácer do Sal, a partir Gouvevitch, Raepsaet-Charlier, "A
Mulher na Roma Antiga", 2005, pp. 26-27.

51
A MULHER EM ROMA

Mater, mulher casada, para se tornar mãe.


Materfamilias ou matrona definem o seu estatuto social.
Matertera, tia do lado materno (literalmente significa a outra mãe).
Mulier, mulher.
Nouerca, madrasta, segunda mulher tomada por um viúvo (deriva de
Nouus/novo).
Priuigna, filha de um primeiro leito.
Puella, feminino de puer, rapariga saída da infância e que ainda não entro na
adolescência.
Iuuentus, rapariga de baixa condição.
Sobrina, prima do lado da irmã, prima em geral.
Socrus, sogra. (mesma raiz que soror, parente pelo sangue)
Virgo, rapariga que ainda não conheceu um homem.
Votrix, outra palavra para madrasta.
Uxor, esposa legítima.

Estatua de mármore branco que representa uma


matrona. Tem sido interpretada como o retrato
(de dimensões maiores que o normal: 2,25 m. de
altura) da proprietária da Villa dos Papiros, em
Herculano. Esta escultura foi descoberta a 22 de
Septembro de 1752, na área anterior ao muro
nordeste do Tablinum. Foto: L. Melgarejo.
Link:
https://www.facebook.com/422282010071/photos/
a.10153913725400072.1073741836.422282010071/
10154424820185072/?type=1&theater

52
A MULHER EM ROMA

Outras referências bibliográficas:

A. GOUREVITCH, Raepsaet-Charlier, "A Vida Quotidiana da Mulher na Roma


Antiga", Livros do Brasil, Lisboa, 2005

ANGELA, ALBERTO; “Amor y sexo en la antigua Roma”. La esfera de los libros.


Madrid, 2015.

APULEYO, “Las metamorfosis o El asno de oro”. Ed. Alianza, Madrid, 2010.

BENAVIDES AMEIJEIRAS, Judit, “El problema de la moral matrimonial en


época imperial: las "leges iulae" y el "ars amandi"de Ovidio”. Una colaboración para
Arraona Romana. Link: http://arraonaromana.blogspot.pt/2015/12/el-problema-de-
la-moral-matrimonial-en_25.html?showComment=1451404687641

CATULO, “Poesía completa”. Hiperión. Madrid, 1993.

CANTARELLA, Eva, "Tacita Muta: la donna nella città antica", Editori Riuniti,
Roma, 1985.

CAMPOS, Margarida Maria Almeida de Campos, 1999, “O retrato oficial romano no


tempo da dinastia júlio-cláudia”. Link:
https://www.academia.edu/2073514/O_RETRATO_OFICIAL_ROMANO_NO_TE
MPO_DA_DINASTIA_JULIO-CLAUDIA.

CAVACO, Lucinda Maria da Silvam, “Juvenal, Satvrae – Tipos e Vícios”. Link:

http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/3907/1/ulfl080840_tm.pdf

DOMÍNGUES ARRANZ, Almudena, «Política y género en la propaganda en la


Antigüedad. A modo de prefacio». Link:

http://www.trea.es/material/descargas/Prolopoliticaygenero.pdf

FEITOSA, Lourdes Conde, “Cinema e Arqueologia: Leituras de Gênero sobre a


Pompéia Romana”, 2010. Link:
http://www.revistagenero.uff.br/index.php/revistagenero/article/view/26/14

GUERRA, Amílcar, 1999/2000, «A Mulher em Roma, Algumas Considerações em


Torno da sua Posição social e Estatuto Jurídico», in A Mulher na História - Actas
dos Colóquios sobre a Temática da Mulher (1999-2000), Câmara Municipal da Moita,

53
A MULHER EM ROMA

2001. Link: http://www.cm-


moita.pt/uploads/writer_file/document/1158/A_Mulher_na_Hist_ria_PDF.pdf

KAMPEN, Natalie, “Image and status: Roman working women in Ostia”, Ed.
Mann, Berlim, 1981.

LIMA, Alessandra Carbonero, “Exempla Romanos: Homens de Gloria e Mulheres


de Honor.”. Link: http://www.hottopos.com/notand12/ale.htm

LÓPEZ BELTRÁN, Alfonso, "Peinados de las emperatrices romanas en las


monedas", in blogue Traianus. Link: http://alfonso-traianus.blogspot.pt/p/peinados-
de-las-emperatrices-romanas-en.html?spref=fb

NEIRA, Luz, “Representationes de Mujeres en los Mosaicos Romanos y su impacto


en el imaginario de estereotipos femeninos”, in Rostos de Roma, catálogo da
exposição com a mesma designação. Ministerio de Educación, Cultura y Deporte
Área de Cultura, Madrid, 2011.

OVIDIO, “Amores”. Alianza. Madrid, 2001.

OVIDIO, “El arte de amar; Remedios de amor; Cosméticos para el rostro femenino”,
Ed. Espasa. Madrid, 2001.

POSADAS, Juan Luis, "Mujeres en la literatura latina: de César a Floro", Ediciones


Clásicas, Madrid, 2012. Link:
https://www.academia.edu/9312886/Mujeres_en_la_literatura_latina_de_C%C3%A9
sar_a_Floro

REVISTA STILUS nº9, "Historia entre bambalinas. La Mujer Romana", publicação


da Asociación Hispania Romana, 2012. Link:
http://www.hispaniaromana.es/index.php?option=com_content&view=article&id=5
2&Itemid=66

Índice:

 Sobrevivir, una cuestión de sexo. Salvador Pacheco.

 El cultivo del intelecto. Helena Alonso García de Rivera.

 La imagen de la mujer. Isabel Rodríguez López.

 Peinadas y elegantes. Ildefonso David Ruiz López y Carmen Ramírez Ruiz.

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A MULHER EM ROMA

 Signos de distinción sobre la piel. César Pociña.

 Empresarias y obreras. Pilar Fernández Uriel.

 Las mediadoras de los dioses. M.ª José Doncel.

 Trabajadoras del placer. Marcos Uyá.

 Las ciudadanas distinguidas. Eva Morales.

 Las hermanas de Calígula. Marco Almansa.

 Armas de mujer. Isabel Barceló.

 Espacios para la vida. Pilar González Serrano.

 El Principado y sus leyes. Alejandro Valiño.

 Cartago Nova, la joya púnica de Iberia. Gabriel Castelló.

 Vistas a Portus Victoriae. F. J. García Valadés.

 Pompeya, la vergüenza de Italia. Francisco Girao.

Outras fontes online:

“Encuentran-se representadas mujeres en la columna de Trajano”:


http://terraeantiqvae.com/profiles/blogs/encuentran-representadas-mujeres-en-la-
columna-de-trajano

“Cotidiana vitae: el arte de ligar en la antigua Roma”:


http://www.temporamagazine.com/cotidiana-vitae-el-arte-de-ligar-en-la-antigua-
roma

Hortus Hesperidum (blogue): http://hortushesperidum.blogspot.com.es/

Grupo Bona Dea: http://grupobonadea.blogspot.pt/

Sexualidade na Roma Antiga:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Sexualidade_na_Roma_Antiga

Women in Ancient Rome: https://en.wikipedia.org/wiki/Women_in_ancient_Rome

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Você também pode gostar