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ACÓRDÃO
Documento: 1268730 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/10/2013 Página 2 de 4
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.162.127 - DF (2009/0199049-3)
RELATÓRIO
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Interposta apelação, subiram os autos ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região,
restando parcialmente provido o apelo apenas para reduzir a verba honorária. O acórdão está
assim ementado:
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a) arts. 535, I e II, do CPC e 93, IX, da CF/1988 - é nulo o acórdão recorrido, pois
não foram supridas as omissões indicadas nos embargos de declaração opostos na origem
relativamente aos seguintes pontos: a.1) não houve posse contínua da área em questão por mais
de 20 anos por parte da União, que a devolveu ao Distrito Federal no ano de 1982, a afastar a
presença do animus domini necessário à caracterização do usucapião; a.2) existência de
documentos que comprovam a ausência de animus domini por parte da União, seja porque
pleiteou ao GDF, em 1976, a desapropriação das terras em questão, seja porque em 1982 restituiu
o imóvel ao GDF, seja porque cobrava dos recorrentes o ITR sobre a área em questão até o ano
de 2006; a.3) a posse por parte do Ministério da Aeronáutica de Planta e Memorial Descritivo da
área não queria dizer que efetivamente tivesse tomado posse da área, nem muito menos que a tal
área era a mesma que se discutia nos autos; a.4) o acórdão recorrido até poderia afastar as
conclusões do laudo pericial, mas, para tanto, deveria dizer quais foram as outras provas que o
levaram à conclusão de que o inicio da implantação da pista de pouso, obras complementares e
abrigo para pessoal se deu na área em questão; a.5) se havia discrepância entre as áreas
indicadas no laudo pericial e aquela em que foi construída a pista de pouso e o abrigo para
pessoal, deveria o magistrado se valer do art. 437 do CPC e determinar, de ofício ou a
requerimento da parte, a realização de nova perícia; a.6) impossibilidade de usucapião por parte
do Poder Público;
b) arts. 172, V, e 550 do Código Civil/1916 - b.1) a própria União, por intermédio
do Serviço Regional do Patrimônio – Relatório nº 002/SERPAT-6/88 – deixa evidente a falta de
animus domini, pois quem detém a posse com ânimo de dono não envida esforços para que
outro órgão da Administração Pública efetue a desapropriação; b.2) a inexistência do requisito
animus domini (art. 550 do CC/1916) fica ainda mais clara quando a União, por intermédio do
INCRA, cobra o Imposto Territorial Rural do autor originário referente às terras invadidas pelo
Poder Público; b.3) a União confessa que devolveu ao Distrito Federal, em 1982, as terras até
então ocupadas pelo Ministério da Aeronáutica, a evidenciar que as terras nunca foram suas, do
contrário não haveria que se falar em devolução, mas sim em venda, permuta, doação ou dação
em pagamento;
c) arts. 67 do CC/1916, 200 do Decreto-Lei 9.760/46, 1º do Decreto 19.924/31, 2º
do Decreto 22.785/33 e 12, § 1º, do Decreto-Lei 710/38 - é inviável o usucapião de terra
particular pelo Poder Público;
d) arts. 333 e 334, II e III, do CPC - incumbe à União provar a ocupação do
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imóvel a partir de 1956, tal como afirmou em sua contestação.
A União, em contrarrazões, defende a inexistência de prequestionamento dos
dispositivos apontados pelos recorrentes e, no mérito, ser inviável a reforma do julgado por
demandar a reapreciação de provas (fls. 1.188-1.193, e-STJ).
Admitido o recurso na origem, subiram os autos (fls. 1.199-1.200, e-STJ).
Ouvido, o Ministério Público Federal opina pelo provimento do recurso "com
relação à apontada ofensa aos incisos I e II, do artigo 535, da Lei Processual Civil.
Todavia, caso haja entendimento contrário, não há de ser conhecida a irresignação sob
os outros fundamentos apresentados" (fl. 1.221, e-STJ).
É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.162.127 - DF (2009/0199049-3)
VOTO
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na impossibilidade de usucapião de bem público para defender a tese de que o Poder Público não
pode, igualmente, usucapir terra particular, desconsiderando, por completo, a supremacia do
interesse público.
No nosso sistema processual, o juiz não está adstrito aos fundamentos legais
apontados pelas partes. Exige-se apenas que a decisão seja fundamentada, aplicando o julgador
ao caso concreto a solução por ele considerada pertinente, segundo o princípio do livre
convencimento fundamentado, positivado no art. 131 do CPC.
No caso, o Tribunal de origem solveu a controvérsia de maneira sólida e
fundamentada, apenas não adotando a tese da parte recorrente. O julgador não precisa
responder a todas as alegações das partes se já tiver encontrado motivo suficiente para
fundamentar a decisão, nem está obrigado a ater-se aos fundamentos por elas indicados.
Ademais, conforme se verá no próximo tópico, a controvérsia debatida nos
presentes autos não se resolve pelo instituto da usucapião.
Conforme já decidido por esta Corte, "a prescrição da ação de desapropriação
indireta é de natureza extintiva, pois esta especial forma de aquisição do domínio pelo
Estado não se dá por força de usucapião (prescrição aquisitiva) e sim em virtude de
irreversível afetação do bem particular a uma finalidade pública, o que importa a
necessária transferência do domínio" (REsp 681.638/PR, Rel. Min. TEORI ALBINO
ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/9/2006, DJ de 9/10/2006).
Quanto ao tema, vale conferir a seguinte lição doutrinária:
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Não procede a irresignação, pois, quanto à alegada interrupção do prazo
prescricional.
No tocante à data da efetiva ocupação, verifico que a conclusão adotada pela
Corte de origem está assentada em ampla análise das provas dos autos, cujo reexame é vedado
em sede de recurso especial, valendo conferir o seguinte trecho do voto condutor do aresto
impugnado:
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Eventual conclusão em sentido diverso do que foi decidido pela Corte Regional
pressupõe o reexame do contexto fático-probatório dos autos, o que é inviável na via recursal
eleita, consoante o disposto na Súmula 7/STJ.
É completamente despropositada, por fim, a alegação de ser inviável a usucapião
de terra particular pelo Poder Público, sobretudo porque não se está aqui a discutir o
cumprimento dos requisitos para a usucapião, mas a prescrição da ação pela qual se busca
indenização por apossamento administrativo.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra ELIANA CALMON
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO AUGUSTO BRANDÃO DE ARAS
Secretária
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : HIROSHI KAMEYAMA E OUTROS
ADVOGADO : LYCURGO LEITE NETO E OUTRO(S)
RECORRIDO : UNIÃO
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). EDUARDO LYCURGO LEITE, pela parte RECORRENTE: HIROSHI KAMEYAMA
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso e, nessa parte, negou-lhe
provimento, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."
Os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques e
Marilza Maynard (Desembargadora Convocada do TJ/SE) votaram com a Sra. Ministra Relatora.
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