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DIREITO CONSTITUCIONAL POSITIVO II (2019.

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Prof. Gustavo Sampaio / Transcrição por Júlia Zorattini 

ÍNDICE  

Princípios informadores do Poder Judiciário 

● Jurisdição una 
● Princípio federativo 
● Inércia jurisdicional 
● Duplo grau de jurisdição 
● Coisa julgada 
● Devido processo legal 
● Juiz natural 
 

Estrutura organizacional do Poder Judiciário  

● Justiça Estadual - 1ª instância 


● Justiça Federal - 1ª instância 
● Justiça do Trabalho - 1ª instância 
● Justiça Eleitoral - 1ª instância 
● Justiça Militar - 1ª instância 
● Justiça Estadual - 2ª instância 
● Justiça Federal - 2ª instância 
● Justiça do Trabalho - 2ª instância 
● Justiça Eleitoral - - 2ª instância 
● Justiça Militar - 2ª instância 
● Tribunais superiores 
■ Superior Tribunal de Justiça 
■ Tribunal Superior do Trabalho 
■ Tribunal Superior Eleitoral 
■ Superior Tribunal Militar 
■ Supremo Tribunal Federal 

Competências dos órgãos jurisdicionais 

● Supremo Tribunal Federal 


■ Competências originárias 
■ Competências ordinárias 
■ Competências extraordinárias 
● Superior Tribunal de Justiça 

 
■ Competências originárias 
■ Competências ordinárias 
■ Competências especiais 
● Tribunais Regionais Federais 
■ Competências originárias 
■ Competências ordinárias 
● Juízes federais 
● Justiça do Trabalho 
● Justiça Eleitoral 
● Justiça Militar da União 
● Justiça Estadual Comum 
● Justiça Militar Estadual 

Funções essenciais à Justiça 

● Ministério Público 
● Advocacia Pública  
● Advocacia 
● Defensoria Pública 

Defesa do Estado e das instituições democráticas 

● Estado de defesa 
● Estado de sítio 
● Forças armadas 
● Segurança pública 

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PRINCÍPIOS INFORMADORES DO PODER JUDICIÁRIO 
 
Hoje,  o  direito  constitucional se estrutura por meio de princípios. Contudo, é claro 
que  não  são  somente  eles  que  compõem  a  dogmática  constitucional;  também o fazem as 
regras.  Aqui,  cabe  recordar  a  distinção  entre  os  conceitos  de  princípios  e regras. Em sua 
obra  "Teoria  dos  princípios",  Humberto  Bergman  Ávila  faz  o  estudo  sinóptico  sobre  os 
principais  critérios  havidos  na  doutrina  mundial  sobre  princípios  e  regras.  A 
Constituição  Federal  não  os  distingue de forma clara; nós precisamos fazê-lo por meio de 
uma interpretação conteudística de seu texto, pelo qual estão espraiados. 
  
Alguns  princípios  foram  grafados  como  ​cláusulas  pétreas  por  conta  de  uma  das 
características-norte  da  Constituição  de  1988:  o  resgate  democrático​.  No  entanto,  esse 
não  foi  o  primeiro  episódio  de  redemocratização  na  história  brasileira.  Esse  processo 
também se deu na Constituição de 1946, editada ao fim do regime do Estado Novo. 
  
Uma constituição de redemocratização é uma constituição sempre preocupada em 
não  retornar  ao  passado.  As  cartas  nacionais  de  Portugal  e  Espanha,  por  exemplo,  são 
marcadas  por  garantias  e  princípios  petrificados  que  pretendem  que  tais  estados  não 
retornem  àqueles  períodos  de  autoritarismo.  Essas  garantias  são  capazes  de assegurar a 
permanência  dos  direitos  fundamentais​.  Outro  exemplo  marcante  é  a  Lei 
Fundamental de Bonn. 
  
Dentro  desse  patamar  máximo  de  normatividade,  temos  ainda  um  núcleo 
essencial, incontornável, das cláusulas pétreas. Vem à tona o ​art. 60 §4º​: 
 
“Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: (...) 
§  4º  ​Não  será  objeto  de  deliberação  a  proposta  de  emenda  tendente  a 
abolir​:  
I - a forma federativa de Estado;  
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;  
III - a separação dos Poderes;  
IV - os direitos e garantias individuais.” 
 
Thomas  Jefferson  afirmava  que  "o  preço  da  liberdade  é  a  eterna  vigilância".  O 
constitucionalismo,  nesse  sentido,  é  quase  uma ideologia, que visa assegurar o progresso 
e  vedar  o  retrocesso.  Aqui  está  a  natureza  garantista  das  constituições  do  pós-guerra: 
ninguém pode estar acima delas, apenas sob sua égide. 

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A) JURISDIÇÃO UNA 
 
O  Poder  Judiciário  é  regido  por  vários  desses  princípios  petrificados.  O  mais 
importante  seria  o  princípio  constitucional  da  ​jurisdição  una​,  prevalecente  no  Brasil 
desde  1891​.  A  partir  dele,  funda-se  uma  salvaguarda  importante  para  um  país 
desconfiado  de  sua  Administração  Pública.  Toda  a  função  jurisdicional  do  Estado  se 
concentra em um só Poder. 
  
Não  é  assim  no  mundo  inteiro.  Muitos  países  no  mundo  adotam  o  modelo  da 
jurisdição  dual​,  muito  comum  na  Europa  continental.  A  ​França  o  adota,  sendo  seu 
marco  maior.  Ali  é  desempenhada  tanto  pelo  Judiciário,  quanto  pelo  Executivo.  A 
Administração  concentra  vários  órgãos  que  visam  à  resolução  de  conflitos  entre  o 
indivíduo  e  o  próprio  Estado.  Por  exemplo,  conflitos  em  matéria  fiscal,  tributária  e 
administrativo  se  resolvem  em  âmbito  executivo,  pela  função  jurisdicional  a  ele 
concedida. 
  
O  texto  constitucional  nunca  menciona  esse  termo,  porém esse princípio pode ser 
deduzido do ​art. 5º, XXXV: 
 
“XXXV  -  a  lei  não  excluirá  da  apreciação  do  Poder  Judiciário  lesão  ou 
ameaça a direito;”  
 
  Também  pode  ser  denominado  ​princípio  da  inafastabilidade  do  controle 
jurisdicional  ou  da  jurisdição.  Isso  quer  dizer  que o Poder Judiciário é o único que pode 
produzir  coisa  julgada.  Assim,  pode-se  dizer  que  o  Judiciário  pode  questionar  ​qualquer 
caso de ameaça ou de lesão a direito. 
  
Na  França,  uma  decisão  jurisdicional  do  Poder  Executivo,  em  matéria  tributária 
ou  de  contratos  administrativos,  não  poderá  ser  questionada  diante  do  Judiciário.  Essa 
decisões  podem  ser  revistas  em  âmbito  recursal  pelo  Conselho  do  Estado.  Há  uma 
verdadeira divisão de competências​. 
  
Esse  princípio  é  característico  de  Estados  que  estão  passando  por  uma 
redemocratização,  visto  que  limitam  os  poderes  do  Executivo,  de  onde,  via  de  regra, 
partem  os  regimes  autoritários,  já  que, de acordo com a divisão clássica de Montesquieu, 
é ele que tem o ​monopólio das armas​. 

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B) PRINCÍPIO FEDERATIVO 
 
O  segundo  princípio a ser analisado no âmbito da organização do Poder Judiciário 
é  o  federativo.  Curiosamente,  quando  nós  falamos  do  ​princípio  federativo​,  somos 
remetidos  à  ​organização  politico-administrativa do Estado brasileiro, sem relação com 
a organização do Judiciário. Contudo, é também aplicável a esse meio. 
  
Conforme  examinamos  no  título  III  da  CRFB,  nosso  federalismo  é  de  ​trato 
tridimensional  ​(Augusto  Zimmermann).  O  federalismo  brasileiro,  ao  contrário  do 
estadunidense,  contempla  o  ​município  ​em  sua  estrutura.  Isso  se  encontra  disposto  no 
caput do ​art. 1º​ da Carta Magna: 
 
“Art.  1º  A  República  Federativa  do  Brasil,  formada  pela  ​união  indissolúvel 
dos ​Estados e Municípios​ e do Distrito Federal,” 
  
No ​art. 34​, são delimitados os fatores que ensejam a intervenção federal: 
 
“VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: 
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; 
b) direitos da pessoa humana; 
c) ​autonomia municipal​;” 
 
A  autonomia  municipal  é  um  princípio  sensível  justamente  por  ser  o  nosso 
federalismo um de três níveis. 
  
A  diferença  entre  Brasil,  Estados  Unidos  e  França  se  encontra  na  divisão 
estrutural.  Nesses  últimos  países,  existem  municípios.  No  entanto,  não  há  uma 
preocupação  por  parte  das  respectivas  cartas  nacionais  a  seu  respeito.  A  França  nem 
mesmo  é  um  estado  federal,  apesar  de  ter  municípios.  No  Brasil,  eles  são  previstos  na 
própria Carta Magna. 
  
Isso  traz  uma consequência à análise. ​O Distrito Federal não pode ser considerado 
um quarto vetor nessa relação​. 
  
Tal  fato  se  dá  na  ​divisão  vertical  (União,  Estados,  Municípios),  diferente  da 
horizontal,  de  Montesquieu,  que  se  dá  entre  os  Poderes  e  dentro  da  vertical.  Em  nosso 
espectro  federativo,  não  temos  Judiciário  municipal,  apenas  nos  planos  federal  e 
estadual.  As  comarcas  são  divisões  estaduais  que  muitas  vezes  coincidem  com  os 

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municípios  territorialmente.  Portanto,  não  há  juízes  ou  cortes  municipais. A divisão só é 
tripartite em âmbito vertical, não no horizontal. 
  
Cada  Estado  tem  seu  próprio  Judiciário,  apesar  da  jurisdição  ser  uma  só:  a  da 
União. Se formos mais obedientes à Teoria do Estado, não falaremos de jurisdição estatal, 
mas  ​competências​.  O  conceito  de  jurisdição  parte  da  supremacia  da  União.  Fala-se, 
portanto,  de  ​competência  jurisdicional  dos  Estados​.  Jurisdição,  no  Brasil,  é 
competência  do  Judiciário  para  imposição  do  direito  nos  conflitos  qualificados  por 
pretensão  resistida.  A  confusão  sobre  os  conceitos  de  jurisdição  e  competência  são 
advindos do ​Império​, quando ​adotamos a jurisdição dual​, inspirados pela França. 
 
C) INÉRCIA JURISDICIONAL 
  
Há  também  o  princípio  da  ​inércia  jurisdicional​,  que  se  associa  ao  dever  de 
abstenção  de  posições  do  Judiciário​.  Ele  não  decide  quando  escolhe  decidir,  mas 
quando  é  chamado  a  fazê-lo.  Vai  no  sentido  contrário  da  ​indeclinabilidade  da 
jurisdição​,  sob  a  qual  o  Poder  Judiciário  tem  o ​dever de prestar justiça​. O Pacto de São 
José  da  Costa  Rica  determina  este  segundo  princípio  como  fundamental, já que é vedada 
a  justiça  com  as  próprias  mãos,  sob  pena  de  violação  de  direito  humano.  É,  então,  um 
poder-dever estatal. 
  
A  figura  da  ​avocatória  no  período  da  ditadura  tinha  o  poder  de  retirar  um  juízo 
da  primeira  instância  para  julgá-lo.  Em  uma  democracia,  um tribunal só pode julgar um 
mérito se tiver competência recursal ou originária. 
  
Não  há  uma  hierarquia  dentro  do  Judiciário,  apenas  uma  divisão  de 
competências.  Isso  se  mostra  pelo  fato  de  que  um  tribunal  não  pode  modificar  uma 
decisão judicial, a menos que seja provocado por meio de recurso. 
 
D) DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO 
  
Outro  princípio  importante  é  o  duplo  grau  de  jurisdição​.  Diferentemente  dos 
outros  princípios,  a  CRFB  não  o  traz  de  forma  expressa.  No  ​art.  92​,  são  delimitados  os 
órgãos do Judiciário, entre eles, os tribunais e juízos, que expressam esse duplo grau.  
 
Alguns  autores,  portanto,  afirmam  que  ele  é  um  princípio  implícito  e  decorrente 
do  ​devido  processo  legal  e  ​ampla  defesa​. É intimamente ligado à ​dignidade da pessoa 

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humana  e  ao  ​princípio  da  falibilidade  humana​,  que  é um princípio condutor ao duplo 
grau.  É  a  possibilidade  de  pedir  ao  Estado  que  julgue  novamente  o  mérito  a  fim  de  se 
atingir  uma  posição  de  convicção  sobre  o  julgamento  feito,  já  que  as  decisões  são 
proferidas  por  seres  humanos  e,  como  tais,  os  juízes  podem  falhar.  Pode  não  estar 
explícito  na  Carta  Magna, mas o está na Convenção Interamericana de Direitos Humanos 
como elemento essencial para a fruição da dignidade humana. 
  
Na  teoria  geral  do  recurso,  o  recurso  produz  dois  efeitos:  um  suspensivo  e  um 
devolutivo  ​(necessariamente  produzido).  Hoje, em regra, o recurso não mais suspende a 
autoridade  da  decisão,  mas  certamente  devolve  ao  Judiciário  a  capacidade  de  julgar 
aquele  mérito.  Esse  efeito  é  bastante  associado  ao  duplo  grau  de  jurisdição.  É  também 
virtude da inércia jurisdicional. 
  
De  uma  maneira  geral,  o  juiz  profere  uma  decisão,  e,  em  grau  de  recurso,  o 
tribunal  examina  a  matéria  em ​colegiado​, não de forma monocrática. Cada tribunal tem 
seu regimento interno que determina sua organização interna.  
 
Um  recurso  de  apelação  será  julgado  por,  a  título  de  exemplo,  três  dos  cinco 
desembargadores  do  tribunal.  A  decisão  proferida  por  um  colégio  é  denominada 
acórdão​. A sentença é a decisão que põe termo à controvérsia.  
  
Os  juizados  especiais  foram  implementados  nos  anos  90  e  retiraram  dos 
tribunais  a  competência  recursal.  Os  recursos  advindos  dos  juizados  especiais  ​nunca 
serão  encaminhados  aos  tribunais.  Para  isso,  foi  criado  o  sistema  das  turmas  recursais, 
uma  turma  de  juízes  de  primeira  instância  que  integram  uma  comissão  para  julgar  os 
recursos  advindos  dos  juizados,  a  fim  de  desafogar  os  tribunais  de  segunda  instância  e 
assegurar o duplo grau de jurisdição neste âmbito. 
 
E) COISA JULGADA 
 
  Temos  também  o  princípio  da  ​coisa  julgada​,  que  se  forma  pela 
irrecorribilidade​,  buscando  uma  maior segurança jurídica​. Dessa forma, limitam-se os 
graus da jurisdição. Dá-se estabilidade à relação jurídico-processual.  
 
 
 

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F) DEVIDO PROCESSO LEGAL 
 
O  princípio  do  ​devido  processo  legal​,  advindo  da  quinta  e  décima  quarta 
emendas  da  constituição  americana,  orienta  a  necessidade  do  juiz  julgar  dentro  dos 
moldes estabelecidos pelo legislador. Está expresso pelo art. 5º, LIV: 
 
“LIV  -  ninguém  será  privado  da  liberdade  ou  de  seus  bens  sem  o  devido 
processo legal;” 
 
G) JUIZ NATURAL 
 
O  princípio  do  ​juiz  natural  ​parte  da  premissa  de  que  ninguém  escolhe  o  órgão 
jurisdicional.  Sua  competência  é  ​previamente  estabelecida  pelo  ordenamento jurídico, 
legitimamente  constituído.  É  uma  das  cercanias  mais  importantes  na  análise  da 
observância  do  devido  processo  legal,  ainda  que  a  distribuição  seja  feita 
eletronicamente.  
 
Há  várias  varas  com  a  mesma  competência.  Numa  hipótese  de  ação  de 
responsabilidade  civil  com  foro  central  na  comarca  de  Niterói,  a  competência  será 
definida  pelo  sorteio  eletrônico,  pois  há  várias  varas  com  a  mesma  competência.  O 
princípio  do  juiz  natural  está  preservado  devido  à  definição  do  juízo  pelo  ordenamento 
jurídico, e não pelas partes ou pelo juiz. 
  
Há  competências  em  ​razão  da  matéria  versada  na  prestação  jurisdicional,  como 
a  justiça  do  trabalho,  que  versa  a  respeito  dos  conflitos  relacionados  ao  trabalho;  em 
razão  da  pessoa (competências criminais determinadas pelo foro especial); em ​razão do 
lugar​ (crime ocorrido em Niterói); em​ razão do valor ​(juizado especial).  
 
Existe  um  mosaico  de  mecanismos  de  determinação  de  competência  que, 
somados,  permitem  a  localização  do  órgão competente para julgamento do mérito, o que 
garante  o  princípio  do  juiz  natural,  já  que  a  competência  foi  previamente  determinada 
pelo  ordenamento  jurídico,  algo que não é restrito à Constituição Federal, mas extensível 
às  leis  e  aos regimentos internos (princípio do ​autogoverno da magistratura - o próprio 
tribunal determina a distribuição de competências dentro do tribunal). 
  
Por  exemplo,  o TJRJ tem 27 câmaras cíveis e tinha determinado, em seu regimento 
interno,  que  da  23ª  a  27ª,  a  competência  cível  se  restringiria  à  matéria  consumerista. 

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Depois,  essa  norma foi revogada e a competência restituída para as demais câmaras. Isso 
coincide  tanto  com  o  princípio  do  juiz  natural,  quanto  com  o  do  autogoverno  da 
magistratura. 
  
O  princípio  do  juiz  natural  é  uma  das  colunas  de  sustentação  do  estado 
democrático  de  direito,  dado  que  se  desviar  dele  significa  uma  inclinação  ao 
autoritarismo. 
  
As  causas  de  conexão  e  continência  são  institutos  que  justificam  a  ​dimensão 
aplicativa  do  juiz  natural.  Digamos  que  uma  causa  seja  distribuída  para  a  mesma  vara 
que  uma  outra,  conexa  a  ela. Nem por isso o juiz natural está sendo violado, visto que há 
previsão pelo ordenamento. No caso, pelo art. 54, §1º do Código de Processo Civil:  

“Art.  54.  A  competência  relativa  poderá  modificar-se  pela  conexão  ou pela 


continência, observado o disposto nesta Seção. 

§1º  Os  processos  de  ações  conexas  serão  reunidos  para  decisão  conjunta, 
salvo se um deles já houver sido sentenciado.” 

Por  exemplo, o caso de ​prevenção de câmara. A 4ª vara cível de Niterói julgou um 
determinado  processo  judicial.  Se  houver  irresignação  da  parte  em  relação  à  sentença, 
que  encaminha  a  matéria  ao  tribunal  de  apelação.  Digamos  que  a  causa  tenha  sido 
distribuída  à  8ª  câmara  do  TJRJ.  Certamente,  aquele  recurso  terá  sido  distribuído 
eletronicamente.  Se  no  curso  do  processo,  atacando  uma  decisão  interlocutória,  for 
interposto  um  agravo  de  instrumento,  distribuído  a  essa  mesma  8ª  câmara  e  por  ela 
julgado  e  proferido  o  acórdão  e,  em  seguida,  remetido  de  volta  à  4ª  vara  cível.  Se  isso 
ocorrer  novamente,  o  agravo  irá,  necessariamente,  enviado  à  8ª  câmara  cível,  pois  esta 
está  preventa  para  julgar  esse  mérito,  por  já  ter  julgado  o  agravo  anterior,  a  câmara  já 
adquiriu  conhecimento  sobre  o  caso  em  questão.  A  apelação  cível  da  sentença 
eventualmente proferida também seria enviada à 8ª câmara cível. 
  
Hoje,  o  órgão  competente  para  julgar  deputado  federal que tenha cometido crime 
comum  é  o  STF.  Isso  também  é  conforme  o  princípio  em  questão,  visto  que  há  previsão 
legal  (art.  102,  I,  ​b)​ .  Ninguém  será  processado  e  julgado,  senão  pela  autoridade 
competente. 
 

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ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO PODER JUDICIÁRIO 

O  Poder  Judiciário  está  dividido  em  dois  grandes  ramos:  a  Justiça  Comum  e  a 
Justiça  Especializada​.  O  Judiciário  é  uno,  portanto,  esta  é  apenas uma ​divisão orgânica​. 
Quando falamos da Justiça Especializada, já remetemos a uma ​divisão por matéria.​  
  
Essa  repartição  não  se  exaure  aí.  A  Justiça  Comum  se  divide  em  dois  grandes 
ramos:  ​Estadual  e  ​Federal​.  Cada  Estado  tem  “seu  próprio  Judiciário”, como verificamos 
na  análise  do  princípio  federativo.  Em  primeira  instância,  integram  a  Justiça  Estadual 
os  ​juízes  de  direito.​   Na  ​Federal​,  também  em  primeira  instância,  os  ​juízes  federais​.  A 
Justiça Especializada traz as ​Justiças do Trabalho​, ​Eleitoral e ​Militar​. Cabe lembrar que 
não existe Judiciário em âmbito municipal, apenas nas esferas Federal e Estadual. 
  
A  quais  ramos  do  governo  pertencem  as  espécies  da  Justiça  Especializada? Quase 
toda  é  integrante  da  esfera  da  ​União  Federal​,  ​salvo  a  Justiça Militar,​  que existe tanto na 
esfera da União, quanto dos Estados. 
  
Há  duas  instâncias  ordinárias.  Segundo  a  classificação  de  Pontes  de  Miranda,  o 
recurso  dirigido  da  vara  à  2ª  instância  é  ordinário,  pois  é  de  livre  motivação,  ou  seja, 
baseia-se na mera irresignação da parte. 
  
Na  pirâmide  do  Judiciário,  há  as  varas  (1ª  instância),  os  tribunais  de  apelação  (2ª 
instância),  os  tribunais  superiores  (STJ,  TST,  TSE  e  STM)  e  o  STF  (tribunal  de  cúpula  do 
Brasil). 
 
A.1) JUSTIÇA ESTADUAL - 1ª INSTÂNCIA 
  
Em  âmbito  estadual,  a  primeira  instância  é  ​preponderantemente  monocrática​, 
a  segunda,  ​colegiada​.  ​Há  exceções​.  Por  isso  falamos  com  frequência  que  na 1ª instância 
teremos como personagens centrais as varas e os juízes de direito. 
  
O  Estado  do  Rio  de  Janeiro  é  uma  pessoa  jurídica,  assim  como  o  são  a  União  e  o 
município,  visto  que o Brasil é uma federação tridimensional. As competências confiadas 
a  essas  pessoas  se  dividem  por  meio  de  ​órgãos​,  núcleos  de  manifestação  do  poder 
estatal.  Dessa  forma,  cada  um  dos  Poderes  é  um  órgão,  que  pode  se  dividir  em  outros 
órgãos  (​teoria  do  órgão​,  em  Direito  Administrativo).  Para  conhecer  cada  tribunal,  é 

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preciso verificar seus ​regimentos internos​. 
  
A  complexidade  organizacional  do  tribunal  nada  tem  a  ver  com sua importância. 
O  STF,  por  exemplo,  é  um  tribunal  de  baixa  complexidade  estrutural  por  conter  apenas 
onze juízes. 
Territorialmente​, a Justiça Estadual se divide em ​comarcas​.  
  
A  vara  é  um  ​órgão  jurisdicional​,  já  que  diz  o  direito  ao  caso  concreto.  Há  outra 
divisão  importante  no  Judiciário  que  diz  respeito  ao  número  de  magistrados: 
essencialmente  ​monocráticos  (a  jurisdição  emana  de  um  só  magistrado)  ou 
essencialmente  ​colegiados  (ao  menos  três  juízes).  A  vara,  portanto,  é  um  ​órgão 
jurisdicional  monocrático​.  O  fato  de  uma  vara  ter  dois  ou  três  juízes  não  faz  dela 
colegiada.  Isso  se  dá  pela  explosão  de  litigiosidade,  que  traduz  a  necessidade  de mais de 
um  juiz  para  divisão  dos  trabalhos. A sentença, em primeira instância, será dada por um 
só juiz, de qualquer forma. 
  
Como  exemplo  de  ​exceção​,  temos  um  ​recurso  especial  interposto  em  ataque  a 
um  acórdão  da  8ª  câmara  cível,  que,  antes  de  subir  ao  STJ,  passa  por  um  ​juízo  de 
admissibilidade  no  próprio  tribunal  de  justiça,  para  evitar  que  recursos  que  não 
preencham  seus  requisitos  passem  adiante.  No  Rio  de  Janeiro,  o  órgão  que  faz  o  juízo 
dessa procedência é a 3ª vice-presidência do Tribunal de Justiça, que é ​monocrática​. 
  
Contudo,  não  é  possível  definir  a  natureza  jurídica  da  vara  ​lato  sensu  como  um 
órgão  jurisdicional  monocrático  da  justiça  do  Estado,  visto  que,  por  exemplo,  os  órgãos 
de  primeira  instância  na  Justiça  do  Trabalho  também  são  varas,  e  nem  por  isso  são 
estaduais.  Vara  é  órgão  jurisdicional  monocrático  de  primeira  instância.  Não  é  tribunal 
de apelação, nem tribunal superior. 
  
O cargo de ​juiz de direito​ é cargo estadual de primeira instância. 
  
A  organização  judiciária  se  tornou  mais  complexa  com  o  advento  dos  ​juizados 
especiais  cíveis  e  criminais  (lei  9.099/95),  cuja  jurisdição  também  é  prestada por juízes 
de  direito.  Esses  órgãos  têm  uma  natureza  jurídica  mais  complexa,  visto  que  visam  a 
desafogar tanto a primeira instância, como os tribunais de apelação e, assim, concentram 
em  si  tanto o primeiro grau da jurisdição, quanto o segundo. Dessa forma, concentra-se o 
duplo  grau  de  jurisdição  na  primeira  instância. É um órgão jurisdicional monocrático de 
primeiro grau de primeira instância. 

11   
  
A  título  de  exemplo,  num  caso  em  que  houver  alguma  ação  consumerista  de 
particular  contra  companhia  telefônica,  a  sentença  será  proferida  igualmente  por  um 
juiz  de  direito  de  forma  monocrática,  caso  não  haja  conciliação.  Se  houver  recurso,  ele 
será remetido às ​turmas recursais​, órgãos ​colegiados​ dentro da primeira instância. 
  
Até  a  década  de  90,  existiam  os  ​tribunais  de  alçada​.  A  Constituição  Federal 
permitia  a  sua  criação  pelos  Estados-membros.  Cada  Estado  tem  um  tribunal  de  justiça, 
mas  o  Rio  de  Janeiro  tinha  dois  tribunais  de  alçada.  Eles  foram  extintos  em  1997  e, 
nacionalmente, com a Emenda Constitucional nº 95/04.  
 
Aqui,  no  Estado  do  Rio  de  Janeiro,  havia  uma  ​divisão  de  competências​:  os 
recursos  relacionados  às  causas  cíveis  de  menor  valor,  não  iam  aos  tribunais  de  justiça, 
mas  aos  de  alçada.  O  mesmo  ocorria  com  os  crimes  de  menor  teor  de  ofensividade.  A 
diferença  entre  eles  e  as  turmas  recursais  é  que  os  tribunais  de  alçada  eram​,  de  fato, 
tribunais​.  Assim,  o  Superior  Tribunal  de  Justiça  teria  competência  para  julgar  os 
recursos  especiais  dali  advindos.  A  decisão  da  turma  recursal  transita  em  julgado,  não 
cabendo recurso ao STJ. 
 

“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 

III  -  julgar,  em  recurso  especial,  as  causas  decididas,  em  única  ou  última 
instância,  ​pelos  ​Tribunais  Regionais  Federais  ou  ​pelos  ​tribunais  dos 
Estados​, ​do Distrito Federal e Territórios​, quando a decisão recorrida: (...)” 

A.2) JUSTIÇA FEDERAL - 1ª INSTÂNCIA 

O  segundo  ramo  da  justiça  comum  é  a  ​Justiça  Federal​,  encabeçada  pelos  juízes 
federais ​na 1ª instância.  

Na Justiça Federal Comum, não há apenas as ​varas federais ​(órgãos jurisdicionais 
monocráticos  de  1ª  instância),  mas  também  os  ​juizados  federais especiais​. O legislador 
especial,  depois  de  anos  de  experiências  com  os  juizados  especiais  em  âmbito  estadual, 
instituiu-os também na esfera federal com a lei 10.259/2001, que estabelece seu regime.  
 
Portanto,  os  juizados  especiais  hão  de  ser  considerados  como  uma  ​exceção  à 

12   
monocraticidade  característica  da  primeira  instância  tanto  na  Justiça  Estadual,  quanto 
na Federal. 
    
As varas federais estão para a Justiça Federal, assim como as varas estaduais estão 
para  a  Justiça  Estadual.  No  ponto  de  vista  da  ​organização  territorial​,  os  ramos  da 
Justiça  Federal  se  dividem  em  ​seções  judiciárias​.  O  aproveitamento  da  cartografia 
nacional  pela  Constituição  Federal  dita  que  cada  Estado  da  Federação  corresponderá  a 
uma seção judiciária federal. Dessa forma, temos 27 seções judiciárias federais. Isso se dá 
para facilitar a divisão administrativa dos trabalhos. 
  
Contudo,  a  normativa  infraconstitucional  determina  a  possibilidade  de  divisão 
dessas  seções em ​subseções judiciárias federais​, que se aproximam mais das comarcas. 
É  a  divisão  mínima  de  competência  territorial  da  prestação  jurisdicional  na  justiça 
comum federal de primeira instância. Elas também podem coincidir com a comarca. 
  
O  número  de  juízes  federais  é  muito  menor  que  o  número  de  juízes  de  direito,  o 
que  leva  à  conclusão  de  que  existem  muito  menos  subseções  judiciárias  do  que 
comarcas. 
  
A ​interiorização da Justiça Federal é um processo relativamente novo, instituído 
pela  CF/88.  A  capital  nunca  é  subseção  judiciária,  mas  sede  da  seção  judiciária.  As 
divisões  são  feitas  pelo  influxo  de  demanda  da prestação jurisdicional federal, não pela 
densidade populacional.  
 
Por  exemplo,  o  estado  do  Mato  Grosso  corresponde  a  uma  seção  judiciária.  Uma 
de  suas  cidades,  Sinop,  tornou-se  sede  de  uma  vara  federal.  Cada  subseção  judiciária 
federal  no  Mato Grosso, corresponde a mais do que o território da seção judiciária do Rio 
de  Janeiro,  em  área  territorial.  Percebe-se  aqui  a  dificuldade  de  deslocamento  para  a 
prestação jurisdicional e o óbice que a baixa interiorização representa. 
  
A  Justiça  Federal  se  dedica  a  tratar  de  questões  em  que  ​a  União​,  ​as  entidades 
autárquicas  federais  ou  as  empresas  públicas  federais  sejam  rés, autoras, assistentes 
ou  oponentes.  Assim,  por  exemplo, ações relacionadas à União, à UFF (autarquia federal) 
ou  à  Caixa  Econômica  Federal  (empresa  pública  federal)  são  de  competência  da  Justiça 
Federal.  
  
O  Rio  de  Janeiro  pode  não  ser  mais  a  capital,  mas  várias  entidades  importantes à 

13   
Federação  continuam  sediadas  aqui,  como  o  Instituto  Nacional  de  Pesquisas  Espaciais 
(INPE),  o  que  traduz  uma  demanda  judicial  muito  mais  elevada.  Por  isso,  a  organização 
judiciária se diferencia de um lugar para o outro. 
  
Como  já  dito,  de  modo  geral,  a  primeira  instância  é  ​monocrática​,  não  colegiada, 
mas  existem  ​exceções​.  Na  Justiça  Estadual,  temos  as  turmas  recursais  dos  juizados 
especiais, o que se repete em âmbito federal em obediência ao princípio do duplo grau de 
jurisdição. 
  
Ademais,  há  também  o  ​tribunal  do  júri​,  que,  a  rigor,  é  presidido  por  um  juiz  de 
direito.  Ele  se  divide  em duas fases: no sumarial de culpa, é essencialmente monocrático, 
pois  aqui  não  estão  presentes  os  jurados,  apenas  o  juiz,  que  coleta  as  provas  e 
testemunhos. Já na segunda fase, o corpo de jurados é convocado e formado por juízes de 
fato.  Dessa  forma,  é  uma  fase  colegiada.  Para  chegar  a  essa  fase,  o  juiz  precisa 
pronunciar sentença. 
  
Existe  o  tribunal  do  júri  na  Justiça  Federal?  Ou  ele  é  uma  figura  presente  apenas 
na Justiça Estadual?  
 
“XXXVIII  -  é  reconhecida  a  instituição  do  júri,  com  a  organização  que  lhe 
der a lei, assegurados: 

 
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;” 

Sua  presença  é mais comum nesta última esfera. Contudo, existe o tribunal do júri 


federal.  ​São  nele  julgados  os  crimes  cometidos  em  detrimento  de  bem,  serviço  ou 
interesse  dos  entes  supracitados.  Por  exemplo,  se  alguém  entra  na  sala  de  aula  e  furta 
uma  cadeira,  será  um  crime  de  competência  da  Justiça  Federal,  em  juízo  singular. 
Quanto  à  competência  do  tribunal  do  júri,  podemos  ter  um  traficante  transportando 
drogas  que  é  parado  numa  blitz  da  polícia  rodoviária  federal  e,  para  se  evadir  do 
flagrante,  atenta  contra  a  vida  do  agente,  que  está  no  exercício  de  função  pública.  Cabe 
observar que ​nas justiças especializadas, ele não existe. 
  
 
A.3) JUSTIÇA DO TRABALHO - 1ª INSTÂNCIA  
 
Na  Justiça  Especializada,  temos  a  ​Justiça  do Trabalho​, com as ​varas do trabalho 

14   
em  primeira  instância.  Esses  órgãos são relativamente recentes. Anteriormente, havia as 
juntas  de  conciliação  e  julgamento​,  constituída  por  três  juízes  (órgão  colegiado).  Nos 
anos  90,  essas  juntas  foram  convertidas  em  órgãos  monocráticos  de  jurisdição,  decisão 
essa  motivada  pelas  tendências  neoliberais  da  época.  Com  o  fim  das  juntas  do  trabalho, 
tornou-se o ramo mais similar à Justiça Comum.  
  
A  Justiça  do  Trabalho  no  Brasil  foi  inaugurada  por  ​Vargas​,  sob  a  égide  da 
autoritária  ​Constituição  de  1937​,  que  curiosamente  inaugurou  institutos  de  bem-estar 
social,  como  a  Lei  de  Introdução  ao  Código Civil, a Consolidação das Leis do Trabalho e o 
Código Penal.  
 
O  modelo  colegiado  tinha  uma  razão  de  ser:  o  processo  do  trabalho  é  um  campo 
de  embate  entre  os  dois  atores  do  capitalismo,  o  capital  e  o  trabalho.  Portanto,  o 
Estado-Juiz  deve  presidir  a  resolução  desses  conflitos.  Havia  um juiz togado e dois juízes 
classistas, eleitos por sindicatos (um empregado e outro empregador).  
 
 
A.4) JUSTIÇA ELEITORAL - 1ª INSTÂNCIA  
 
Na  Justiça  Eleitoral,  em  primeira  instância,  temos  as  ​zonas  eleitorais​.  A  Justiça 
Eleitoral​ integra a esfera da União​.  
 
Há  também  a  ​junta  eleitora​l,  órgão  que  o  cidadão  comum  busca  para  tirar  seu 
título de eleitor e renová-lo, além de regularizar sua situação eleitoral. 
 
  O  Código  Eleitoral  vigente  ainda  é  o  de  1965  e  trata  da  junta  eleitoral  como  um 
órgão  colegiado.  Contudo,  ​não  é  uma  exceção  à  monocraticidade  da  primeira  instância. 
Os  tribunais  do  júri  e  as  turmas  recursais  exercem  função  jurisdicional.  ​As  juntas 
exercem  função  administrativa​.  Os  Poderes  têm  funções  típicas  e atípicas. Esta é uma 
das  atípicas,  consoante  ao  ​autogoverno  da  magistratura​.  Os  Poderes  precisam  se 
autoadministrar.  É  um  ramo  da  justiça que tem uma carga administrativa muito grande, 
já  que  todo  o  processo  eleitoral  é  monitorado  pelo  Judiciário. Em muitos outros países, é 
de incubência do Executivo. 
  
Na  junta  eleitoral,  há  apenas  um  juiz  togado,  que  a  preside.  Os  demais  membros 
são  cidadãos  de  notória  idoneidade  (art.  36,  do  CE).  ​As  medidas  jurisdicionais  serão 

15   
prestadas pelo magistrado​. Do ponto de vista jurisdicional, portanto, ela é monocrática. 
 
A  Justiça  Eleitoral,  como  ramo  da  Justiça  Especializada,  tem  suas  características 
próprias.  Como  exemplo  disso,  temos  a ​ausência de vitaliciedade no corpo de juízes​. É 
uma  prerrogativa  da  magistratura  nacional  (art.  95,  I),  ainda  que  essa  garantia  não  seja 
uma  regra  absoluta  no  Poder  Judiciário.  Ninguém  adquire  vitaliciedade  na  função 
judicante eleitoral, seja como juiz eleitoral, seja como desembargador eleitoral, seja como 
ministro do Tribunal Superior Eleitoral. É uma função, por excelência, ​temporária​. 
 
Muito  se  discute  no  âmbito da ciência política a permanência dessa característica. 
Dentre  os  fatores  positivos  que  contribuem  para  a  sua  manutenção  estão:  segurança, 
estabilidade;  independência  funcional;  autoridade  para  que  o  magistrado  decida  sem 
estar  preso  aos  finais  e  inícios  de  períodos  de  mandato,  ou  que  tenha  que  prestar 
satisfações ao púlpito eleitoral. 
  
É  o  único ramo da justiça brasileira que ​não tem um corpo de juízes próprio​. Há 
um  ​modelo  de  aproveitamento  egresso  de  outros  ramos  do  Judiciário.  O  modelo  de 
direito  eleitoral  foi  criado  com  o  Código  Eleitoral  em  1932,  que,  inclusive,  inaugurou  o 
sufrágio universal entre nós. 
  
Os  magistrados  que  prestam  jurisdição  nesse  ramo  não  se  originam  nele.  O  juiz 
eleitoral  é,  originariamente,  ​juiz  de  direito​.  São,  então,  necessariamente  juízes  de 
primeira  instância  da  Justiça  Estadual  em  ​cúmulo  funcional,​   que  acumulam  a 
judicatura eleitoral.  
 
Enquanto  no  exercício  da  judicatura  eleitoral,  o  juiz  de  direito  assina  como  juiz 
eleitoral.  É  magistrado  de  justiça  especializada  da  União  no  exercício  de  competência 
federal​. 
 
De  um  ponto  de  vista  histórico,  o  volume  de  trabalho  aumenta  nos  períodos 
pré-eleitorais,  eleitorais  e  pós-eleitorais.  Não  falamos  aqui  de  sazonalidade.  A  Justiça 
Eleitoral  não  funciona  apenas  nesse  interregno.  A  função  jurisdicional,  assim  como  o 
Estado, ​opera de forma ininterrupta​.  
 
Pela  natureza  de  funcionalidade  da  democracia,  a  Justiça Eleitoral é mais célere e 
conta  com  prazos  abreviados  quando comparados aos dos demais ramos. Por essa razão, 
além  do  dispêndio  orçamentário,  não  se  viu  como  necessária  a  criação  de  um  ramo 

16   
autônomo, com uma carreira autônoma. 
  
A  AJUFE  (Associação  dos  Juízes  Federais  do  Brasil)  defende  que  a  acumulação  de 
funções seja concedida ​aos juízes federais​, não aos juízes de direito. 
  
  A  Justiça  Estadual  é  mais  consolidada  que  a  Federal,  o  que  tem  uma  razão 
histórica  de  ser:  a  primeira  instância  da  Justiça  Federal  foi  suspensa  por  Vargas  e  só 
restituída  durante  a ditadura, em 1966. A sua força expansiva só se deu a partir da CF/88. 
Daí  a  manutenção  dos  juízes  de  direito  como  os  juízes  eleitorais.  Além  disso,  a  Justiça 
Estadual tem seu ​corpo funcional mais extenso​ que o da Federal.  
 
 
A.5) JUSTIÇA MILITAR - 1ª INSTÂNCIA  
 
O  sistema  penal  militar  foi  instituído  pelo  Decreto  Lei  1.001/69,  que  define  os 
crimes  militares.  Assim  como  o  Código  Penal,  foi  recepcionado  pela  CF/88.  Possui 
legislação  própria  devido  às  ​especificidades  da  vida  na  caserna​,  que  revolvem  em 
torno do binômio hierarquia e disciplina. 
 
O  Supremo  Tribunal  Militar  foi criado por um ​alvará de Dom João VI​, que trouxe 
consigo  a  Justiça  Militar  para  o Brasil em 1808. Criou também a figura do escabinato, um 
modelo  misto  que  trazia  um  juiz  togado  e  quatro  militares  do  quadro  ativo  e antecessor 
dos conselhos de justiça militar. 
 
  A  Justiça  Militar  ​existe  nas  esferas  federal  e  estadual​,  diferentemente  dos 
demais  ramos  da  justiça  especializada.  Isso  se  dá  pelo  fato  de  que  o  Brasil  adota  um 
modelo  estatutário  militar  em  que  o  patrulhamento  ostensivo  é  militar.  Na  Argentina, 
por exemplo, esse tipo de função é concedida à polícia civil.  
 
Adotamos  cinco  forças militares: as forças armadas, da União (marinha, exército e 
aeronáutica)  e  as  forças  auxiliares  do  Exército  Brasileiro  (polícia  militar  e  corpos  de 
bombeiros).  
  
Se temos cinco forças militares brasileiras, três federais e duas estaduais, devemos 
ter,  igualmente,  tribunais  federais  e  estaduais  para  julgar  as  causas  pertinentes  às 
Forças. Daí a necessidade de uma Justiça Militar estadual e uma federal. 

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Na  primeira  instância,  temos  ​colégios:​   os  conselhos  de  justiça  militar​.  São 
órgãos  jurisdicionais  ​stricto  sensu,​   ao  contrário  das  juntas  eleitorais.  Têm  competência 
para  processar  e  julgar  crimes  militares.  A  divisão  territorial  se  dá  em  circunscrições 
judiciárias militares.  
  
Aos  militares,  a  judicatura  militar  não  é  um  cargo  vitalício,  mas  o  é  para  o  juiz 
civil  concursado:  o  juiz  auditor  militar.  Os  militares  compositores  do  colégio  serão 
membros dos respectivos ramos das forças militares. 
  
 
B.1) JUSTIÇA ESTADUAL - 2ª INSTÂNCIA  
 
Sob  o  trato  da  Emenda  Constitucional  nº  45/04,  que  extinguiu  os  tribunais  de 
alçada  no  Direito  Brasileiro,  temos,  na  segunda  instância  da  Justiça  Estadual  os 
Tribunais de Justiça​.  
 
Como  já  mencionado,  alguns  estados,  como  o  Rio  de  Janeiro,  já  haviam  extinto 
esses  tribunais  em  1997  nos  âmbitos  cível  e  criminal.  Contudo,  em  São  Paulo, 
perduraram  até  a  promulgação  da  emenda  supracitada.  Nesses  dois estados, houve uma 
concentração maior de juízes nos Tribunais de Justiça.  
 
Havia  entes  da  Federação  que  nunca  tiveram  tribunais  de  alçada,  como  o 
Tocantins.  Isso  mostra  que,  no  ponto  de  vista  material,  há  um  flagrante  descompasso 
entre os estados. Nosso federalismo é substancialmente assimétrico.  
 
O  tribunal  não  se  confunde  com  a  primeira  instância.  Os  regimes  de  instância 
estão  delimitados  na  ​lei  de  organização  e  divisão  judiciárias  do  estado​,  que  é decisão 
da  Assembleia  Legislativa  do  estado.  Aqui  no  Rio  de  Janeiro,  vige  a  lei  nº  6.956/2015.  Os 
regimentos  internos  ficam  a  encargo  do  próprio  tribunal.  Na  Alemanha,  os  regimentos 
passam também pelo crivo do Legislativo. 
 
A  ​composição  interna  dos  tribunais  perpassa  o  ​princípio  do  autogoverno  da 
magistratura​,  ou  seja,  é  determinado  pelo  regimento  interno de cada um deles. O TJRJ é 
um  tribunal  altamente  complexo,  não  necessariamente  a nível político e social, mas pelo 
ponto  de  vista  regimental.  Nesse  sentido,  é  mais  complexo  que  o  STF.  As  competências 
de câmaras e grupos de câmaras são disciplinadas pelo regimento interno.  

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A  Constituição  Federal  também  intervém  no  âmbito  das  estruturas  dos  tribunais, 
como  por  exemplo,  as  decisões  sobre  controle  de constitucionalidade serão dadas pelo 
plenário​,  conforme  dita  o  ​princípio  da  reserva  de  plenário​.  Nesse  caso,  o  regimento 
interno não tem como legislar de forma distinta. 
 
“Art.  97.  Somente  pelo  voto  da  maioria  absoluta  de  seus  membros  ou  dos 
membros  do  respectivo  órgão  especial  poderão  os  tribunais  declarar  a 
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.”
 
No  entanto,  a  Constituição  relativiza  esse  princípio  ao  permitir  que sejam criados 
órgãos  especiais  quando  o  tribunal  tiver  mais  de  25  membros,  medida  não  obrigatória 
e,  portanto,  suscetível  à  discricionariedade  de  cada  tribunal.  Esse  órgão  poderá  exercer 
competências típicas do pleno​.  
 
As  decisões  que,  obrigatoriamente,  devem  ser  levadas  ao  plenário  são:  a 
representação  de  inconstitucionalidade  (ADIn  perante  a  Constituição  Estadual), 
nomeação  do  presidente,  eleição  do  vice-presidente  (competências  administrativas), 
formação de lista tríplice, eleição do quinto constitucional, etc. 
  
Os  desembargadores  do  órgão  especial  são  também  desembargadores  das 
câmaras.  Dessa  forma,  o  desembargador  que  cumula  funções perde 1/3 das relatorias da 
câmara como forma de compensação.  
 
Participar  do  órgão  especial  não  é  uma  função  obrigatoriamente  vitalícia.  O 
presidente  do  órgão  especial  é  o  presidente  do  Tribunal  de  Justiça,  eleito  para  um 
mandato  de  dois  anos.  Temos  também  um  primeiro,  um  segundo  e  um  terceiro 
vice-presidentes  com  divisão  de  competências,  em  virtude  do  grau  de  complexidade  do 
tribunal.  
 
O  ​juízo  de  admissibilidade  de  Recurso  Especial​,  por  exemplo,  passa  pelo  crivo 
do  próprio  Tribunal  de  Justiça,  do  terceiro  vice-presidente.  Se  um  recurso  é  proposto 
perante  um  acórdão  da  oitava  câmara  cível  do  TJRJ,  ele  passa  pelo  juízo  de 
admissibilidade do terceiro vice-presidente do Tribunal, para, depois, ser enviado ao STJ. 
 
 
 

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​B.2) JUSTIÇA FEDERAL - 2ª INSTÂNCIA  
 
Na Justiça Federal, temos os ​Tribunais Regionais Federais​ na segunda instância.  
 
No  Ato  das  Disposições  Constitucionais  Transitórias,  foram  estabelecidos  cinco 
tribunais  regionais  federais.  A  Emenda  Constitucional  nº  73  visava  aumentar  esse 
número  para  nove.  Contudo,  essa  emenda  passou  por  controle  de  constitucionalidade  e 
sofreu  uma  liminar  de  eficácia  suspensiva.  Portanto,  ainda  temos  apenas  cinco  TRFs. 
Cada  região  agrupa  um  número  de  seções  judiciais.  No  Rio  de  Janeiro,  estamos  sob  o 
domínio do TRF da segunda região. 
  
Anteriormente,  havia  apenas  um  tribunal  centralizado  de  segunda  instância  na 
justiça  federal  comum,  o  ​Tribunal  Federal  de  Recursos​,  que  foi  extinto.  Era  composto 
de  ministros  e  tinha  competência  sobre  todo  o  território  nacional.  Ele  não  se 
transformou  no  STJ,  pois  apresenta  competências  distintas,  mesmo  que  o  corpo  de 
ministros tenha sido reaproveitado na primeira iteração do Superior Tribunal. 
 
  Nós  temos,  também,  as  ​seções  especializadas,  cujas  competências  são 
determinadas  pelo  regimento  interno.  No  TRF  da  2ª  região,  essa  escolha  foi  feita  em 
razão da matéria. 
 
 
B.3) JUSTIÇA DO TRABALHO - 2ª INSTÂNCIA  
 
Entramos  agora  na  segunda  instância  da  Justiça  Especializada.  A  iniciar  pela 
Justiça  do  Trabalho,  temos  os  ​Tribunais  Regionais  do  Trabalho​.  É  importante  lembrar 
que  estes  são  órgãos  federais,  e  como  tal,  não  se  dividem,  forçosamente  pelos  estados. 
Podem  se  dividir  dessa  forma  apenas  como  forma  de  aproveitamento  cartográfico.  A 
União  é  um  Poder,  o  Estado  é  outra  unidade  de  Poder.  Não  há  um  atrelamento 
institucional.  
  
Todos  os  órgãos  da  Justiça  do  Trabalho  são  órgãos  federais.  Ela  se  divide  em  ​24 
regiões  e  é  integrada  por  ​desembargadores  do  trabalho​. A diferença fundamental que 
há  entre  a  Justiça  do  Trabalho  e  a  Justiça  Federal  Comum  é  que  cada  tribunal  regional 
federal  acaba  agrupando  um  número  muito  maior  de  seções  judiciárias  federais.  A 
maioria dos TRTs presta jurisdição a uma área que equivale a apenas uma região, mas há 
exceções, visto que há 24 tribunais regionais do trabalho e 27 estados. 

20   
  
Por  que  24  TRTs  e  apenas  5  TRFs?  O  ​volume  de  processos  na  segunda  instância 
da  Justiça  do  Trabalho  é  muito  maior,  além  da  natureza  dos  seus  processos  colocarem 
em  contraponto  as  duas  faces  da  produção  capitalista,  que  traduz  uma  fragilidade  do 
trabalhador  que  estabelece  uma  necessidade  de proximidade com o juízo trabalhista de 
segunda  instância  como  uma  questão  de  acesso  à  justiça.  É  uma característica do estado 
de  bem-estar  social  a  tutela  do  trabalhador,  que  orientou  o  legislador  na  criação  de  um 
número maior de TRTs. 
  
O  ordenamento  constitucional  brasileiro  de  1988  estabelecia  que  cada  estado 
membro  da  federação seria sede de um Tribunal Regional do Trabalho, disposição que se 
mostrou  pouco  efetiva.  Por  exemplo,  Roraima  e  Acre  não  eram  sedes e não se conseguia 
orçamento  para  implementá-los  nessas  regiões.  Até  que  o  legislador  constituinte 
derivado pôs fim a essa obrigação.  
 
O  único  estado  que  se  tornou  sede  de  mais  de  um  TRT  é  São  Paulo​.  São  Paulo  é 
sede  do  TRT  da  2ª  região,  ​sediado  na  capital​.  É  o  estado  com  a  maior  densidade 
industrial  do  país,  então  a  demanda  trabalhista  é  muito  grande.  Dessa  forma,  criou-se 
outro  tribunal  ​sediado  em  Campinas  (15ª  região),  que  divide,  territorialmente,  o 
equivalente ao estado de São Paulo com o TRT da 2ª região. 
  
Houve  um  projeto  da  advocacia  fluminense  sobre  instituir  um  TRT  em  Niterói, 
que  não  vingou.  Faz-se  essa  demanda  devido  ao  volume  de  demandas  pelo  serviço 
judiciário do trabalho muito acentuado. 
  
Esses  tribunais  regionais  são  organizados  por  seus  regimentos  internos. 
Costumam também haver sessões de dissídios individuais e sessões de dissídios coletivos. 
 
 
B.4) JUSTIÇA ELEITORAL - 2ª INSTÂNCIA  
  
A  Justiça  Eleitoral  em  segunda  instância  se  constitui  pelos  ​Tribunais  Regionais 
Eleitorais​.  
 
É  integralmente  Federal,  então,  em  tese,  não  há  qualquer  vinculação  a 
estado-membro  da  federação.  No  entanto,  ​há  27  TREs​.  Há  uma  razão  que  vincula  a 
Justiça  Eleitoral  aos  estados,  decorrente  do  sistema  eleitoral  brasileiro.  Cada 

21   
estado-membro  é  uma  ​circunscrição eleitoral para a escolha de uma série de mandatos 
eletivos, visto que aqui não temos o voto distrital.  
 
Temos,  aqui,  um  federalismo  tridimensional.  Então,  temos,  basicamente,  três 
circunscrições  eleitorais:  União,  Estado  e Município. O Distrito Federal seria uma quarta. 
Cada estado, portanto, pode ser sede de apenas um tribunal regional eleitoral. O limite de 
competência territorial de um TRE é o estado onde está sediado ou o Distrito Federal. 
  
A  CF/88  estabelece  que  cada  TRE  será  composto  de  sete  magistrados  titulares  e 
sete  suplentes​.  A  Justiça  Eleitoral não dispõe de um quadro próprio e vitalício. Portanto, 
é  diferente  da  primeira  instância,  visto  que,  nesta,  são  juízes  estaduais  em  cúmulo 
funcional  nas  zonas  eleitorais  e,  em  segunda  instância,  ​dois  são  desembargadores  do 
Tribunal  de  Justiça  daquele  estado​,  que  permanecem  no  TSE  por  dois  anos.  A 
Constituição  prevê  a  possibilidade  de  uma  recondução  por  mais  dois  anos. Isso depende 
do  mesmo  processo  eleitoral  interno.  Outras  ​duas  vagas  são  ocupadas  por  ​juízes  de 
direito  daquele  estado​.  Isso  se  deve  ao  crescimento  expressivo  dos  tribunais,  a  fim  de 
que  não  haja  um  número  muito  grande  de  desembargadores  estaduais  em  cúmulo 
funcional.  
 
A  Carta  Magna  determina  que  ​uma  dessas  vagas  será  destinada  a  um 
desembargador  federal  em  cúmulo  funcional.  Contudo,  22  estados  na  Federação  não 
são  sede  de  Tribunal  Regional  Federal.  A  solução  dada  pela  carta magna é que integrará 
o  TRE  no  lugar  do  desembargador  federal  um  juiz  federal  de  primeira  instância  da 
seção judiciária, se o estado não for sede de TRF. 
 
Estabelece,  ainda,  que,  para  além  desses  cinco,  há  ​dois  assentos  ​reservados  a 
advogados​,  para  os  quais  temos  critérios  de  lista  tríplice.  No  entanto,  aqui  não  falamos 
do  quinto  constitucional  ​stricto  sensu,​   mas  em  ​sentido  amplo​.  Esse  instituto  é  para 
provimento  de  cargos  vitalícios,  o  que  não  é  uma  característica  da  Justiça  Eleitoral.  A 
lista  tríplice  é  formada  pelo  Tribunal  de  Justiça,  mas  a  escolha  é feita pelo presidente da 
República,  pois  o  tribunal  eleitoral é Federal.  Na Justiça do Estado, é o governador quem 
faz essa escolha. 
 
As  mesmas  regras  se  reproduzem  na  suplência  e  todos  terão  dois  anos  de 
investidura. 
 
A  presidência  do  TRE  é  reservada  a  um  dos  desembargadores  do  tribunal  de 

22   
justiça  do  estado.  Ou seja, quem já está em cúmulo funcional não pode exercer o cargo. É 
uma  forma  de  freio  e  contrapeso  imbuída  nas esferas dos poderes. O mesmo ocorre com 
o vice-presidente, que acumula a função de corregedor regional. 
 
  Os  tribunais  regionais  eleitorais  não  se  fracionam  em  colégios  ou  turmas,  só  se 
reúnem  em  plenário.  Por  isso,  é  o  único  ramo  de  Justiça  em  que  há  a  figura  do 
desembargador substituto​, para que seja possível a deliberação em plenário. 
 
 
B.5) JUSTIÇA MILITAR - 2ª INSTÂNCIA  
 
  A  Justiça  Militar,  em  segunda  instância,  diverge  dos  outros  ramos  da  justiça 
especializada por dividir-se tanto na esfera estadual, quanto na federal.  
 
No  âmbito  da  União,  a  CF/88  estabeleceu  uma  cláusula  que  permitia  ao  poder 
legislativo da União criar os tribunais regionais militares, o que não foi feito até hoje. 
 
  O  Superior  Tribunal  Militar,  a  rigor,  é  um  tribunal  superior,  mas  por  falta  de 
Tribunal  Regional  Militar,  na  Justiça  Militar  da  União,  ele  funciona  como  ​instância 
ordinária  recursal  ​de  duplo  grau  de  jurisdição  nos julgamentos dos conselhos militares 
federais. Contudo, não julgará recurso interposto de decisão da Justiça Militar do Estado.  
 
Portanto,  na  esfera  estadual,  é  possível  recorrer  ao  Tribunal  de  Justiça  Militar, 
caso  o  estado  em  questão  o  tenha  instituído,  ou  ao  Tribunal  de  Justiça. Para poder optar 
pela  instituição  o  TJM,  o  estado deverá preencher uma condição constitucional: as forças 
militares  estaduais  devem superar 20 mil integrantes. O Rio de Janeiro, por exemplo, não 
fez  essa  escolha. Apenas três estados na federação têm TJM: Rio Grande do Sul, São Paulo 
e Minas Gerais. 
 
 
C) TRIBUNAIS SUPERIORES  
 
Os  tribunais  superiores  são  o  terceiro  pavimento  do  Poder  Judiciário,  mas  ​não 
traduzem  um  terceiro  grau  de  jurisdição​,  como  Figueiredo  Teixeira  afirma.  São  um 
grau especial, extraordinário da jurisdição.  
 

23   
C.1) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA  
  
O  STJ  é  a  instância  extraordinária  para  a  ​Justiça  Comum​.  É  considerado  o 
segundo tribunal mais destacado do país.  
 
É  composto  por  pelo  menos  ​33  ministros​,  ainda  que  não  tenha  superado  este 
número  desde  sua  instituição  pela  CF/88.  É  dividido  pelo  seu  regimento  interno, 
conforme  garantido  pelo  princípio  do  autogoverno  da  magistratura.  São  seis  turmas 
divididas  por  matéria.  A  1ª  e  2ª  turmas  tratam  do  direito  público não criminal. Já as 3ª e 
4ª  têm  por  encargo  o  direito  privado.  Por  fim,  as  5ª  e  6ª  estão  reservadas  à  matéria 
criminal. 
  
É  dividido,  ademais,  em  três  seções.  A  primeira  se  constitui  do  somatório  dos 
ministros  da  primeira  e  segunda  turmas;  a  segunda,  do  somatório  dos  da  terceira  e 
quarta; a terceira, do somatório dos da quinta e sexta. 
  
Por  ser  composto  de  mais  de  25  ministros,  a  Constituição  autoriza  a  criação  de 
órgão  especial  -  a  ​corte  especial​,  que  tem  competências  próprias  definidas  pelo 
regimento interno. 
  
Os  cargos  são  vitalícios.  Há  eleições  bienais  para  presidente,  vice-presidente  e 
corregedor-geral,  responsável  pelas  questões  de  funcionalidade  administrativa  da 
corte.É  corregedor-geral,  pois  cada  tribunal  da  segunda  instância  da  Justiça  Comum 
Federal  elege,  de  dois  em  dois  anos,  um  desembargador  para  ser  seu  corregedor 
regional.  Isso indica que o STJ é o órgão superior da Justiça Federal brasileira. Contudo, o 
corregedor regional ​não se juge ao corregedor-geral ​pelo próprio princípio federativo.  
 
O  regimento  interno  não  prevê  a  reeleição  do  presidente.  Há  uma  tradição  nos 
tribunais  de  que  quem  será  presidente  é  um  ministro  que  nunca  foi,  então  há  grande 
rotatividade neste cargo. 
  
Há  ​três  terços  de  origem  reservada​:  um  deles  se  origina  do  quadro  dos 
desembargadores  dos  Tribunais  de  Justiça  dos  estados;  outro,  do  quadro  dos 
desembargadores  dos  Tribunais  Regionais  Federais​;  o  último,  da  ​advocacia  e 
Ministério  Público​.  Aqui  não  falamos  de  cúmulo  funcional.  O  STJ  é  um  tribunal 
provedor  da  manutenção  da  estabilidade  do  direito  federal,  então  se  reserva  um  terço, 
ao invés de um quinto. 

24   
  
O  ​quinto  constitucional  dos  advogados  e  do  Ministério  Público  consiste  na 
previsão  constitucional  de  que  um  quinto  das  vagas  nos  tribunais  de  desembargadores 
deve  ser  reservado  para o quadro da advocacia e do Ministério Público. Prevê, ainda, um 
critério  de  alternância  entre  antiguidade  e  merecimento  na  promoção  do  juiz  a 
desembargador. 
  
O  processo  de  chegada  à  desembargadoria  por  meio  do  quinto  constitucional  é 
imbuído  pelo  sistema  de  freios  e  contrapesos​.  Este  não  se  dá  apenas  no  intercâmbio 
entre os Poderes, mas também nas esferas de governo e em seus órgãos internos.  
 
Quando há vacância, ​verifica-se a origem da vaga​, que indicará a que órgão cabe 
o  início  do  processo.  Se  for  oriunda  de  uma  vaga  ocupada  por  antigo  membro  do 
Ministério  Público,  caberá  ao  ​parquet  dar  início  ao  processo  de  lista  para  a  escolha  de 
novo  desembargador.  Deverá  elaborar  uma  lista  de  seis  nomes  (​lista  sêxtupla​),  para  a 
qual  promotores  e  procuradores  se  habilitarão.  Essa  lista  é  encaminhada  ao plenário do 
Tribunal  de  Justiça  do  estado,  que votará e elaborará uma ​lista tríplice com os três mais 
votados,  que  será  ​encaminhada  ao  governador  do  estado​,  que  escolherá  o 
desembargador  de  forma  discricionária.  É  um  modo  de  ventilação  da  jurisprudência 
criado pela CF/88. 
  
Em  caso  de  vaga  oriunda  do  quadro  de  advogados,  o  Tribunal  de  Justiça  deverá 
oficiar  a  OAB.  O  presidente  do  conselho  seccional  publica  um  edital  anunciando  a 
vacância  no  décimo  constitucional  dos  advogados,  para  que  os  interessados  se 
apresentem.  Há  requisitos  constitucionais  para  essa  candidatura,  como  a  verificação  de 
dez  anos  contínuos  e  ininterruptos  de  exercício  da  advocacia,  comprovados por meio de 
atos  privativos  de  advogados.  Nomeia-se  uma  comissão  no  conselho,  que  verifica  o 
preenchimento  dos  requisitos.  Os  convocados  deverão  ir  em  ​sabatina  ao  conselho 
seccional,  por  meio  da  qual  o  conselho  faz  uma  votação  e  chega  a  uma  lista  sêxtupla.  O 
presidente  do  conselho  seccional  encaminha  um  ofício  ao  Tribunal  de  Justiça,  ao  qual  a 
lista  sêxtupla  é  encaminhada  e  se  faz  uma  votação,  e  chega-se  a  lista  tríplice.  Daí,  é 
encaminhado ao governador, que o nomeia. 
  
A  Constituição  determina  que  o  quinto  constitucional  deve  ser  observado. 
Portanto,  muitas  vezes,  ele  é  superado.  Por  exemplo,  no  TRF  da  2ª  região,  há  27 
desembargadores,  então  seu  quinto  constitucional  corresponde  a  6  deles,  pois  5  estaria 
abaixo do quinto, o que é inadmissível. 

25   
A  CF/88  foi  categórica  quando  reservou  um  terço  das  vagas  do  STJ  à  advocacia  e 
ao  Ministério  Público.  Aqui  há  um  critério  de  alternância,  visto  que  seria  5  membros do 
parquet  ​e  6  membros da advocacia, ou vice-versa, a fim de promover uma equalização. O 
nomen  iuris  "quinto constitucional" tornou-se relacionado a esse meio de investidura que 
faz  uso  de  listas.  Então,  no  STJ,  temos  quinto  constitucional  ​lato  sensu  e  terço 
constitucional ​stricto sensu.​  
  
Para  o  STJ,  o  terço  constitucional  tem  uma  fase  adicional,  na qual o Presidente da 
República  faz  a  escolha  e a encaminha ao Senado. Aqui, o presidente do conselho federal 
da  OAB  vai publicar o edital. O presidente do Senado encaminha a escolha à Comissão de 
Constituição  e  Justiça,  que  marca  ali  uma  sabatina.  Se  aprovada,  a  indicação  será 
restituída  ao  plenário  do  Senado  e,  se  aprovada,  o  presidente  do  Senado  comunica  ao 
presidente  da  República  que  há  um  novo  ministro.  Isso  só  se  dá  nos  casos  de  morte  ou 
aposentadoria voluntária. 
  
Esse  sistema  foi  inspirado  pelo  modelo  norte-americano.  Hoje  se  discute muito se 
a  nomeação  dos  ministros  pelo Executivo não fere o sistema de freios e contrapesos, pois 
o  Judiciário  também  julga  políticos.  Juízes  federais  também  passam  pelo  critério  de 
merecimento  em  casos  de  promoção  ao  cargo  de  desembargador.  O  Presidente  deve 
nomeá-lo  caso  o  magistrado  figure  três  vezes  consecutivas  na  lista  tríplice,  ou  cinco 
alternadas. Assim, seu ato discricionário passa a ser vinculado. 
 
  
C.2) TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO 
  
O  Tribunal  Superior  do  Trabalho  é  composto  por  ​27  ministros  vitalícios​,  que  se 
dividem  de  acordo  com  o  regimento  interno  da  corte.  São  turmas  compostas  por  três 
ministros  com  competência  de  Justiça  Especializada  Trabalhista.  Subdivide-se em seções 
de  dissídios  individuais  e  coletivos.  Há  eleições  bienais  de  presidente,  vice-presidente  e 
corregedor geral. 
 
 
​C.3) TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL 
  
O  Tribunal Superior Eleitoral segue um modelo análogo ao dos tribunais regionais 
eleitorais.  São 7 ministros titulares. ​Aqui há cúmulo funcional​. 3 são ministros do STF, 2 
do  STJ  e  2  são  advogados.  Não  há  fracionariedade  interna.  De  dois  em  dois  anos,  essas 

26   
casas  têm  de  eleger  os  ministros  que  irão  exercer  função  no  TSE.  Há  também  os 
ministros  suplentes,  já  que  não  podem  faltar  magistrados  para  o  exercício  das 
competências  do  plenário.  O  presidente  e  o  vice-presidente devem, necessariamente, ser 
ministros do STF. O ministro-corregedor deve ser membro do STJ. 
 
 
​C.4) SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR 
  
O  Superior  Tribunal  Militar  é  o  tribunal  mais  antigo  do  país,  instituído  em  1808 
com a chegada da família real portuguesa. 
 
A  CF/88  estabelece  que  o  STM  é  constituído  por  ​15 ministros vitalícios​, com uma 
divisão  de  origem  das  vagas  bem  detalhada  no  texto  constitucional.  O  modelo da Justiça 
Militar  se  inspira  no  modelo  do  escabinato,  desde  o  alvará  exarado  por  Dom  João  VI  e, 
desde então, temos a composição mista, assim como nos conselhos de justiça militar.  
 
10  são  militares  e  5,  civis.  Nos  conselhos  de  justiça  militar,  os  juízes  são  de 
passagem  temporária.  Apenas  o  juiz  togado  tem  cadeira  vitalícia,  tanto  em  âmbito 
estadual,  quanto  no  federal.  No  STM,  tanto  os  ministros  de  origem  militar,  quanto  os  de 
origem civil têm cargo vitalício.  
 
Dos  10  militares,  4  serão  oficiais  generais  de  última  patente  do  exército:  os 
generais  de  exército​.  Há  três  patentes  no  generalado:  os  generais  de  brigada,  os 
generais  de  divisão  e  os  generais  de  exército.  3  serão  oficiais  da  última  patente  da 
aeronáutica:  os  tenentes  brigadeiros  titulares​.  São  equivalentes  aos  generais  de 
exército.  Outros  3  são  advindos da última patente do almirantado na marinha brasileira: 
os​ almirantes de esquadra​. 
  
São  membros  do  Poder  Judiciário,  visto  que  o  STM  é  o  órgão  de  cúpula da Justiça 
Militar  da  União.  Em  sentido  amplo,  são  juízes,  diferentemente  dos  conselhos  de  justiça 
militar,  em  que  os  militares  ficam  ali  temporariamente.  Eles  estão  no  quadro  ativo  ou 
vão para a reserva quando se empossam no STM?  
 
O  estatuto  dos  militares,  que  rege  o  âmbito  da  União,  estabelece  a  seguinte 
cláusula, em conjunto com o regimento interno do STM: ​o ministro advindo da carreira 
militar  permanece  no  quadro  ativo​.  Dessa  forma,  é  membro  tanto do Executivo, como 
militar,  quanto  do  Judiciário.  É  um  caso  ímpar  no  ordenamento  jurídico  brasileiro.  É 

27   
preciso  compreender  que a Justiça Militar ainda está em um estágio transitório.  Durante 
a  primeira  república,  a  Justiça  Militar  era  parte  do  Executivo,  como  Justiça 
Administrativa. Isso só mudou em 1946. 
  
O  limite  da  vitaliciedade  também  está  nos  75  anos,  conforme  estabelecido  pela 
Emenda  Constitucional  nº  88.  Garante-se  a  investidura  militar,  da  mesma  forma,  até  tal 
idade, impedindo que esses ministros sejam passados à reserva. 
  
Dentre  os  ministros  civis,  ​três  são  provenientes  da  advocacia​.  Diferentemente 
da  Justiça  Eleitoral,  ingressam  pelo  quinto  constitucional  e  não  cumulam  funções.  Um  é 
oriundo  do  quadro  do  Ministério  Público  Militar.  O  último  provém  da  Justiça  Militar  da 
União.  Critica-se  a  diminuta  quantia  de  vagas  disponíveis  para  os  magistrados  dessa 
derradeira carreira. 
  
De dois em dois anos, elege-se dentre um dos ministros o presidente do STM. 
 
 
​C.5) SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
 
Conforme  a  Constituição,  o  STF  é  composto  de  ​11  ministros.  Não  é  um  tribunal 
superior,  mas  a  suprema  corte  propriamente  dita.  Sua  composição  estrutural  é de baixa 
complexidade,  diferentemente  dos  Tribunais  de  Justiça  estaduais  de  São Paulo ou do Rio 
de  Janeiro,  de  composições  muito  mais  amplas,  por  exemplo.  Todos  os  cargos  são 
vitalícios. 
  
Dividem-se  em  duas  turmas de cinco ministros cada, além de um presidente eleito 
de  dois  em  dois  anos.  Este  é  o  chefe  do  Poder  Judiciário  brasileiro.  É  o  equivalente  ao 
chief  justice  estadunidense.  Existe  uma  tradição  não  regimental  de  que  o  ministro  mais 
antigo da corte que ainda não tenha sido presidente assuma a presidência da Corte. 
  
Há  basicamente  três  órgãos  colegiados:  a  primeira  turma,  a  segunda  turma,  e  o 
plenário.  O  presidente,  via  de  regra,  não  faz  parte  das  turmas.  Daí  as  divergências 
jurisprudenciais  entre  uma  turma  e  outra.  O  plenário  é  o  mais  importante  órgão 
jurisdicional  do  ordenamento  jurídico  pátrio.  Todas  as  matérias  de  controle  de 
constitucionalidade  são  de  competência  do  pleno,  devido  ao  princípio  de  reserva  ao 
plenário. 
  

28   
O  STF  não  tem  cota  de  origem.  Portanto,  não  há  lista  tríplice.  Suas  vagas  são 
preenchidas  por  indicação  do  Presidente  da  República.  O  regimento  interno  determina 
que  o  Senado  realizará  uma  sabatina  na  Comissão  de  Constituição  e  Justiça,  que  votará 
em  plenário.  Quando  aprovada  a indicação, o presidente do Senado notifica o presidente 
da República (em consonância com o sistema de ​checks and balances​), que nomeia o novo 
ministro, que, nesse momento, passa a ter cargo vitalício. 
  
 
COMPETÊNCIAS 
 
Estudaremos  as  competências  fixadas  na  Constituição  Federal.  Faremos apelos às 
bases regimental e legal. São os arts. 102 ao 125 da Carta da República. 
 
 
A) SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
 
Os  grupos  de  competência  do  STF  são:  ​originárias,  recursais e extraordinárias​. 
São as mais importantes para o estudo do Direito Constitucional. 
 
As  competências  originárias  são  aquelas  que  têm  ​o  STF  como  a  instância  única​. 
Ali,  o  processo  nasce e morre: a Excelsa Corte é o primeiro e único julgador da causa. São 
os  casos  enumerados  no  inciso  I  do  art.  102.  É  o  caso  das  ​ações  diretas  de 
inconstitucionalidade​ de leis ou atos normativos em face à Constituição Federal. 
 
A  ​competência  recursal  ordinária​,  no  STF,  caracteriza  uma  ​função  atípica  da 
Suprema  Corte  como  tribunal  de  apelação.  São  recursos  de  ​livre  motivação​.  Em  alguns 
casos,  os  tribunais  superiores  exercem  competência  originária  e,  aí,  aceita-se  a 
competência  recursal  ordinária  ao  STF.  Nem  sempre  isso  acontece.  Algumas  dessas 
hipóteses  não  admitem  recurso  ao  STF.  As  hipóteses  possíveis  estão  enumeradas  no 
inciso II do mesmo artigo. 
 
No  inciso  III,  temos  as  ​competências  extraordinárias​.  Por  meio  delas,  nos 
aproximamos  mais  do  modelo  da  Suprema  Corte  dos  EUA.  É  a  instância  máxima 
verdadeira.  Aqui,  o  STF  não  está  dentro  do  duplo  grau  de  jurisdição.  Na  verdade, 
excede-o​.  Provoca  o  grau  extraordinário  da  jurisdição.  Estatisticamente  falando,  as 
ações  alçadas  ao  STF  já  passaram  pelos  dois  graus  e  foi  arguida  alguma  questão  de 

29   
inconstitucionalidade. 
 
Pode  advir  também  de  uma  decisão  de  instância  única.  Por  exemplo,  se  o  TJRJ 
estiver  exercendo  competência  originária  e  o  acórdão  por  ele  proferido  afrontar 
diretamente  autoridade da CF/88, há a possibilidade de recurso extraordinário. Aqui, não 
será  o  segundo  grau  da  jurisdição,  já  que não revisa cláusula contratual, ou depoimento, 
ou  fato,  ou  prova,  ou  questão  de  mera  justiça.  ​Avalia  a  adequação  do  julgado  em 
relação  ao  texto  constitucional​.  É  a  competência  que  mais  caracteriza  o  STF.  É  um 
recurso  de  ​motivação  vinculada​.  Fazem  análise  do  direito  nos  casos  especificados  pela 
Magna Carta, nunca do fato. 
 
O  ​princípio  do  esgotamento  da  via  recursal  ordinária  ​traduz  o  fato  de  que 
qualquer  recurso  extraordinário  só  será  cabível  quando  for  incabível  o  recurso  de 
natureza  ordinária.  Aqui  falamos  de  gêneros,  não  de  espécies.  A  maioria  dos  recursos 
ordinários  não  é  denominada  “recurso  ordinário”.  Por  exemplo,  no  STJ,  há  o  Recurso 
Especial  (REsp),  recurso  que  instrumentaliza  o  controle  de legalidade e é uma espécie do 
gênero  recurso  extraordinário,  assim  como  o  Recurso  de  Revista,  no  TST,  e  o  Recurso 
Especial Eleitoral no TSE. Todos de motivação vinculada.  
 

 
 
 
A  apelação  cível,  a  apelação  criminal,  o  recurso  ordinário  constitucional,  entre 
outros, são recursos ordinários. 
 
Assim,  enquanto  for  cabível  o  recurso  em  trato  ordinário,  seja  ele  qual  for,  não 
caberá  o  recurso  de  trato  extraordinário,  seja  qual for. Se alguém for condenado por um 
crime  de  roubo  na  terceira  vara  criminal  de  Niterói,  o  recurso  cabível  à  sentença  é  a 
apelação  criminal,  de  natureza  ordinária.  Se  condenado  em  primeira  instância,  por 
flagrante  afronta  a  CF/88,  deve-se  esgotar  os  recursos  ordinários  antes  que  se  possa 
impetrar  um recurso extraordinário ao STF. Agora, caso seja feita a apelação criminal e a 

30   
terceira  câmara  do  TJ  mantenha  a  sentença,  cujo  texto  contém  uma  cláusula que viole a 
Lei Maior, caberá o recurso extraordinário, pois se esgotou a via ordinária. 
 
 
A.1) COMPETÊNCIAS ORIGINÁRIAS 
 
Com  a  alínea  ​a  do  art.  102  da  CRFB,  iniciaremos  pela  competência  considerada  a 
mais  importante  no  sistema  jurídico-político  brasileiro:  ​o  controle  concentrado 
abstrato  de  constitucionalidade  de  leis  e  atos normativos do Poder Público​. Trata-se 
do  principal tomo do papel que o STF tem tomado como guardião da constituição a partir 
dos mecanismos de fiscalização abstrata de inconstitucionalidade. 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 
 
I - processar e julgar, originariamente: 
a)  a  ação  direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou 
estadual  e  a  ação  declaratória  de  constitucionalidade  de  lei  ou  ato 
normativo federal;” 
 
  Isso  não  encerra  todo  o  controle  de  constitucionalidade,  já  que  o  Brasil  adota  o 
sistema  misto  de  controle  de  constitucionalidade​.  Temos  o  controle  concentrado  e  o 
difuso,  recepcionado  no  início  da  República  Velha  do  sistema  norte-americano.  Ainda 
temos  o  método  do  controle  preventivo parlamentar, principalmente pelas Comissões de 
Constituição,  Justiça  e  Cidadania  das  casas  parlamentares. Luís Roberto Barroso define o 
sistema  brasileiro  como  adotante  do  sistema  sincrético  do  controle  de 
constitucionalidade. 
  
O  controle  constitucional  abstrato  não  só  se  concentra  exclusivamente  no  STF, 
como  também  é  abstrato.  Isso  não  se  trata  de  uma  redundância.  A  sua  existência 
pressupõe  o  controle  de  constitucionalidade  concreto, do qual não estamos falando aqui. 
O  controle  abstrato  trata  do ​controle da lei em tese​, ​não se motiva pelo caso concreto​, 
de  interesse  de  uma  pessoa  física  ou  jurídica.  É  uma  ​análise  de  parametricidade​.  Ou 
seja,  em  sua  sede  verifica-se  se  uma  dada  lei está ou não de acordo com o seu parâmetro 
de  validade:  a  Constituição  da  República.  Advém  do  ​princípio  da  supremacia  da 
Constituição​, o mais importante na interpretação constitucional. 
  

31   
A  ação  direta  de  inconstitucionalidade  (ADIn)  foi  instituída  na  CF/88  sob  esse 
nomen  juris​.  A  parte  que  cita  a  ação  declaratória  de  constitucionalidade  era  inexistente 
no texto original da Carta Magna; foi instituída com a EC nº 03/93. 
  
Analisa-se  a  adequação  da  lei  à  Constituição,  pouco  importando  a  questão 
processual.  A  função  do  STF  no  controle  concentrado  abstrato  é  inequivocamente 
jurisdicional,  mas  ela  não  é  ínsita  ao  processo  subjetivo  clássico.  A  doutrina  aceita  se 
tratar  de  ​processo  objetivo​,  que  nega  a  lógica  do  processo  subjetivo,  que  traz  os 
personagens do juiz, do réu e do autor. 
  
É  objetivo,  pois  se  considera  um  ​processo  sem  partes​.  É  o  controle  do  Estado 
sobre  si  mesmo.  O  Procurador  Geral  da  República,  como  proponente  da  ação,  funciona 
como  provocador,  não  como  parte  interessada.  Todavia,  no  sistema  brasileiro,  esse 
processo objetivo não nega a sua essência jurisdicional. 
  
O  controle  difuso  surgiu  na  ​Constituição  de  1891​,  o  marco  da 
constitucionalização  da  República  Brasileira,  sob  influência  de  Rui  Barbosa.  Reflete  um 
desejo  de  ​substituição  da  herança  do  Império​.  Por  isso,  importou-se  a  matriz 
estadunidense.  
 
O  Decreto  Executivo nº 01 convertia a forma monárquica em republicana, trazia o 
presidencialismo  e  convertia  a  forma  unitária  de  estado  à  federativa.  Essa  vertente  de 
controle  de constitucionalidade surgiu com o precedente Madison v. Marbury, quando os 
EUA  passaram  a  adotá-lo.  A  Constituição  de  1891  ​trouxe  também  a  figura  do  juiz 
federal  ​e  lhes  conferiu  a  ​competência  para  o  controle  difuso​,  com  possibilidade  de 
recurso  ao  STF.  Hoje,  o  recurso passa a outros tribunais. O STF não julgava ações diretas, 
ou  seja,  não  podia  ser  diretamente  provocado,  como  até  hoje  é  a  Suprema  Corte 
americana. Só julgava em grau de recurso no processo subjetivo. 
  
Em  1965,  o  Congresso  Nacional  editou  uma  emenda  constitucional,  invocando  a 
Carta  de  1946.  A  EC  nº  16  introduziu  a  ferramenta  da  ​representação  de 
inconstitucionalidade​,  que  foi  substituída  pela  ADIn  na  CF/88.  Houve  mudanças  na 
substância  do  instituto,  não  foi  meramente  uma  mudança  de  nome.  Foi  aqui  que  se 
iniciou o ​controle concentrado abstrato de constitucionalidade​. 
  
O  ​controle  concentrado  de  constitucionalidade  surgiu  em  1934,  com  a 
Constituição  então  promulgada.  Foi  criada  uma  ferramenta  de competência da Suprema 

32   
Corte,  sobre  o  processo  e  julgamento  da  representação  interventiva,  originariamente. 
Por  muitas  décadas,  a  ​ação  direta  interventiva  tinha  características  de  controle 
concentrado,  já  que  verifica  se  o  estado-membro  está  observando  as  disposições 
constitucionais.  Nessa  época,  o  Brasil  passava  por  um  período  mais  centralizador  com o 
modelo  varguista.  Era  um  controle  concreto,  pois  avaliava  a  violação  da  autoridade 
constitucional pelo ato estadual. 
  
O  controle  de  constitucionalidade  surgiu  no  Brasil  sob  influência  francesa,  que 
não  admitia  o  sistema  de  ​checks  and  balances​;  os  poderes eram nitidamente separados e 
não  era  admitido  o  controle  de  um  poder  sobre  o  outro.  Era  o  ​controle  preventivo  de 
constitucionalidade​,  exercido  pelo  Parlamento.  Hoje  em  dia,  esse  tipo  de  controle  está 
presente  no  veto  presidencial  -  o  presidente  faz  parte  do  processo  legislativo.  Dá-se  nas 
hipóteses  de  ausência  de  interesse  público  e  inconstitucionalidade.  No Império, era feito 
pelo Parlamento brasileiro. Só não havia o controle judicial. 
  
O  sistema  sincrético  se  origina  da  agregação  desses  métodos  pela  trajetória 
constitucional brasileira. 
  
A  representação  de  inconstitucionalidade  tinha  alguns  problemas  e,  por  isso,  foi 
redesenhada  em  1988.  Um  deles  era  a  legitimidade  exclusiva  do  Procurador  Geral  da 
República.  Hoje,  o  PGR  é  chefe  do  Ministério  Público,  órgão  autônomo  na  ordem 
constitucional  que  não  se  submete  a  nenhum  dos  três  poderes.  Durante  a  ditadura,  o 
parquet  era  subordinado  ao  Executivo.  Logo,  o  PGR  estava  sob a batuta do Presidente da 
República.  Dessa  forma,  a  representação  funcionava  quando  interessava,  de  alguma 
forma,  ao  Executivo.  Dessa  forma,  a  CF/88  renomeou  para  ADIn  e  ampliou  o  seu  rol  de 
legitimados, expresso no art. 103. 
  
O  conselho  federal  da  OAB  é  legitimado  por  ser  o  órgão  mais  importante  da 
Ordem.  Pela  importância  da  Ordem  na  redemocratização,  o  legislador  constituinte 
entendeu ser ela mais do que apenas uma entidade de classe. 
  
Por  que a ​ação declaratória de constitucionalidade foi instituída em 1993 com a 
EC  nº 03? Uma lei, quando promulgada, tem presunção relativa de constitucionalidade. O 
constituinte  percebeu  que  havia  construído  uma  estrada  longa,  de  uma  só  mão.  Quis, 
então,  criar  a  outra  mão.  É  uma  ação  direta  de  inconstitucionalidade  com  o  sinal 
invertido.  A  partir  dela,  não  se  pode  mais  duvidar  da  constitucionalidade  da  lei. 
Torna-se  uma  presunção  absoluta  de  constitucionalidade.  Isso  é  devido  ao  fato  de  que  o 

33   
Brasil  adota  o  sistema  sincrético.  Então, coabitam o controle difuso e o controle abstrato. 
O  controle  difuso  tem  efeito  ​inter  partes,​   mas  o  juiz  no  controle  difuso  tem  autoridade 
para  tal  enquanto  a  presunção  de  constitucionalidade  da  norma  for  relativa.  Cessa 
quando  passar  a  ser  absoluta.  Isso  ocorre  porque  as  decisões  do  STF  nesse  âmbito  têm 
efeito  vinculante  ​erga  omnes​.  Serve  para  conferir  segurança  jurídica  e  pacificar  a 
jurisprudência. 
  
O  deferimento  do  pedido formulado na ação declaratória de constitucionalidade é 
o  mesmo do indeferimento do pedido formulado na ação direta de inconstitucionalidade, 
e  vice-versa.  Os  efeitos  são  os  mesmos:  há  a  conversão  da  presunção  relativa  em 
absoluta. 
 
A  ocorrência  da  instância  única  também  se  verifica  em  outros  tribunais,  como  o 
TJRJ  e  o  TRF  da  2ª  região.  Nessas  situações,  caberia  a  interposição  de  recurso 
extraordinário ou recurso especial, mas isso não desnatura a instância única. 
 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 

I - processar e julgar, originariamente: 


b)  nas  ​infrações  penais  comuns​,  o  Presidente  da  República,  o 
Vice-Presidente,  os  membros  do  Congresso  Nacional,  seus  próprios  Ministros  e  o 
Procurador-Geral da República;” 

Esses,  portanto,  são  as  autoridades  que  possuem  ​foro  especial  por  prerrogativa 
de  função  no  STF​,  instituto  esse  colocado  em  evidência  com  a  Ação  Penal  nº  470,  o 
Mensalão, que consolidou a jurisprudência revisora. 
  
O  instituto  do  foro  especial  não  foi  criado  em  1988.  Integra  o  ordenamento 
jurídico  brasileiro  desde  a  promulgação  da  Constituição  de 1891. Na CF/88, alargaram-se 
as hipóteses de foro, mas as Constituições anteriores já delineavam a sua existência. 
  
O  foro  por  prerrogativa  de  função  não  existe  apenas  no  STF.  Também  se  faz 
presente  nos tribunais de apelação. O TJRJ, por exemplo, ostenta competência para julgar 
algumas  autoridades  por  foro  por  prerrogativa  de  função,  como  o  prefeito de município 
do  estado  do  Rio  de  Janeiro,  os  deputados  estaduais  (a  ​priori)​ ,  e  os  juízes  de  direito.  é 
uma  competência  típica  do  processo  penal  conferida  tanto  aos  tribunais  de  justiça  do 

34   
estado,  aos  TRFs,  aos  TREs,  ao  TSE,  ao  STM  e  ao  STJ.  Por  se  tratar  de  competência 
criminal condenatória, os tribunais do trabalho não a têm, como veremos a seguir. 
  
O  constituinte  concebeu  essas  competências  especiais  para  ​preservar  a 
autoridade do cargo da função pública​, pois estes emanam do interesse público. Assim, 
visa-se evitar o comprometimento deste último. 
  
Em  cidades  do  interior,  as  relações  entre  as  autoridades  públicas  e  o  povo  são 
mais  próximas.  O  prefeito  de  uma  cidade  desse  tipo  é  muito  mais  visibilizado  em  sua 
conduta  pessoal  perante  o  seu  eleitorado  do  que  o  governador  do  estado.  Assim,  o  juiz 
dessa  cidade  certamente  terá  suas  opiniões  pessoais  sobre  o  prefeito,  o  que 
comprometeria  sua  imparcialidade  numa  situação  em  que  tal  figura  pública  precise 
vir a julgamento.  
 
É  semelhante  às  figuras  processuais  da  exceção  de  impedimento  e  de  suspeição. 
Contudo,  na  arguição  de  suspeição,  analisa-se  se  o  magistrado  está  suspeito  para  aquela 
hipótese  específica.  No  caso  de  foro,  o  constituinte,  em  abstrato,  determinou  que  aquela 
competência  não  seja  desempenhada  por  aquele  magistrado.  O  constituinte  quis 
garantir a imparcialidade​ daquele órgão jurisdicional. 
Exige-se  uma  distância  entre  o  órgão  jurisdicional  e  a  figura  política  em  questão. 
O  deputado,  por  exemplo,  não  pode  ser  julgado  pelo  Tribunal  de  Justiça,  visto  que, 
naquela  circunscrição,  encontra-se  o  seu  eleitorado.  Daí  a  competência  do  STF  para 
julgar o mérito. 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 

I - processar e julgar, originariamente: 


c)  nas  ​infrações  penais  comuns  e  nos  ​crimes  de  responsabilidade​,  os 
Ministros  de  Estado  e  os  Comandantes  da  Marinha,  do  Exército  e  da 
Aeronáutica,  ressalvado  o  disposto  no  art.  52,  I,  os  membros dos Tribunais 
Superiores,  os  do  Tribunal  de  Contas  da  União  e  os  chefes  de  missão 
diplomática de caráter permanente;”     

Serão  julgados  pelo  STF  os  Ministros  de  Estado  cujos  crimes  de  responsabilidade 
não  sejam  conexos  ao  do  presidente​,  se estes existirem. Se forem, ​serão julgados pelo 
Senado​, em virtude da premissa de uniformidade decisória. 
  

35   
É  um  caso  que  está  sendo  relativizado.  Trata-se  da  jurisprudência  firmada  com  o 
julgamento  da  Ação  Penal  nº  937,  originária  no STF. Por meio de uma questão de ordem, 
o  ministro  Luís  Roberto  Barroso  arguiu  que,  pela  interpretação  da  alínea  C,  a  concessão 
de  foro  especial  se  daria  em  relação  a  ​crimes  praticados  em  razão  e  durante  o ofício​. 
Isso  retirou  do  STF  90%  da  sua  carga  processual,  visto  que  tais  julgamentos  baixaram  à 
primeira  instância.  Se  o  crime  foi  consumado  no  Rio  de  Janeiro,  a  autoridade  será 
processada e julgada no Rio de Janeiro. 
  
O  resultado  disso  foi  o  tensionamento  entre  os  poderes  e  a  correção  legislativa, 
por  meio  da  PEC  nº  3/13,  que  reduz  os  casos  de  foro  especial:  para  o  presidente, 
presidente  da  Câmara,  do  Senado, do STF e do PGR. Isso significa um problema seríssimo 
na gestão política do país. 
 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 
 
I - processar e julgar, originariamente: 
d)  o  ​habeas  corpus  ​,  sendo  paciente  qualquer  das  pessoas  referidas  nas 
alíneas  anteriores;  o  mandado  de  segurança  e o ​habeas data c​ ontra atos do 
Presidente  da  República,  das  Mesas  da  Câmara  dos Deputados e do Senado 
Federal,  do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República 
e do próprio Supremo Tribunal Federal;” 
 
O  ​habeas  corpus  vai  direto  ao  STF,  quando  tutelar  a  liberdade  de  locomoção  de 
qualquer  uma  dessas  autoridades.  No  tangente  ao  mandado  de  segurança,  quando o ato 
promanar  do  presidente,  das  mesas  do  Senado  Federal  e  da  Câmara,  do  Tribunal  de 
Contas da União, ou do próprio STF, o julgamento será feito diretamente no STF. 
  
De  modo  geral,  o  mandado  de  segurança  é  julgado  pelos  juízes  de  primeira 
instância.  Contudo,  há  os  mandados  de  segurança  de  competência  originária  do  STF, 
quando  os  atos  promanam  de  autoridades  tão  relevantes  dentro  da  estrutura 
organizacional  da  República,  que  a  Suprema  Corte  será  competente  para  julgá-la 
originariamente.  
 
O  Presidente  da  República  é  chefe  de  Estado,  de  governo,  da  administração 
pública  federal  e  do  Poder  Executivo.  Essa  expressão  põe  em  cheque  o  preceito  de  que 
não  há  supremacia  hierárquica  entre  os  Poderes,  pois  o  presidente  do  Senado  é  o  chefe 

36   
do  Legislativo,  mas  não  é  chefe  de  Estado;  o  presidente do STF é chefe do Judiciário, mas 
não  é  chefe  de  Estado.  O  presidente  da República é chefe do Executivo e chefe do Estado, 
personifica  a  nação,  simboliza  todo  o  Estado  Nacional,  inclusive  perante  a  sociedade 
internacional. 
  
A  Constituição  Federal  também  nomeia  as  mesas  do  Senado  e  da  Câmara,  dois 
órgãos  de  função  político-administrativa  de  trabalho  legislativo  de  grande  significado. 
Por  exemplo,  as  Comissões  Parlamentares  de  Inquérito  são  instauradas  a  partir  de  atos 
dessas  mesas  e  o  processo  legislativo  é  todo  das  mesas.  Daí  a  competência  do  STF  para 
julgar  mandados  de  segurança  impetrados  contra  atos  dos  presidentes  dos  respectivos 
órgãos. 
  
Há  uma  ​regra  geral  para  localizar  as  competências  para  processo  e  julgamento 
do  mandado  de  segurança.  Há  exceções.  O  ​writ  impetrado  contra  ato  de  tribunal  será 
julgado pelo próprio tribunal, originariamente. Então, a quem competirá julgar mandado 
de  segurança  impetrado  contra  ato  do  tribunal  regional  do trabalho da primeira região? 
Ao  próprio  TRT  da  primeira  região.  É  uma  determinação da CF/88. O órgão do tribunal a 
julgar  a  causa  será  definido  pelo  regimento  interno  do  tribunal,  explorando  a 
colegialidade. 
  
O  mandado  de  segurança  impetrado  contra  ato  do  TCU  será  também  julgado  no 
STF.  Não  se  trata  de  uma  exceção  à  regra,  pois  essa  corte  não  se trata de um tribunal do 
Poder  Judiciário.  É  um  tribunal  que  desempenha  função  administrativa  e  de  grande 
força  político-institucional,  o  que  lhe  concedeu  estatura  muito  semelhante  àquela  da 
magistratura,  com  vitaliciedade,  inamovibilidade  e  irredutibilidade  de  subsídios  (art. 
95/CRFB):  as  três  prerrogativas  dos  membros  do  Judiciário.  Até  mesmo  a  simbologia  é 
semelhante  a  dos  órgãos  do  PJ.  Contudo,  não  está  sequer  situado  no  Poder  Executivo, 
mas  no  Legislativo.  É  um  tribunal  auxiliar  deste  poder  no  desempenho  da  fiscalização 
contábil,  financeira,  operacional,  orçamentária  e  patrimonial.  Não  exerce  função 
jurisdicional,  logo  não  pode  julgar  mandado  de  segurança  ele  mesmo.  Em  deferência ao 
trajeto político da corte, o julgamento é feito no STF. 
  
A  regra  do  ​habeas  corpus  é  diferente:  quando  impetrado  contra  ato  de  tribunal, 
quem  julga  originariamente  é o tribunal acima. O ​habeas corpus envolve direito tão mais 
sutil,  tão  mais  defensável  no  ponto  de  vista da sua própria axiologia, que se preferiu que 
nem  mesmo  o  próprio  tribunal  o  julgasse,  e  sim,  o  tribunal  imediatamente  superior. 
Quando  for  relacionado  ao  STF,  será  julgado  no  próprio  tribunal,  dado  que  se  trata  do 

37   
órgão de cúpula do Judiciário. 
  
Em  relação  a  ​mandado  de  segurança  contra  ato  de  juiz de primeira instância​, 
a regra é a mesma do ​habeas corpus:​ é competência originária do tribunal acima. 
  
Há  casos  em  que  o  juiz  de  direito  não  é julgado pelo Tribunal de Justiça, mas pelo 
TRF, conforme será visto no futuro. 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 

I - processar e julgar, originariamente: 


e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o 
Estado, o Distrito Federal ou o Território;”  

Na  alínea  E,  é  tratada  a  competência  para julgamento de conflitos e controvérsias 


que  reclamam  uma  observação  sobre  o  direito  internacional  privado,  que  envolve 
jurisdições  distintas.  Pessoas  jurídicas  podem  entrar em conflitos. Consideraremos que a 
competência  para  julgamento  é  do  Estado  Nacional Brasileiro. Um conflito entre a União 
Federal  Brasileira  e  a  República  Oriental  do  Uruguai  será  julgado  pelo  STF.  Compete  a 
este  órgão  processar  e  julgar  um  conflito  entre  o  estado  do  Rio  Grande  do  Sul  e  a 
República  Oriental  do  Uruguai.  No  entanto,  não  tem  a  competência  originária  de 
processo  e  julgamento  de  um  conflito  entre  Santana  do  Livramento  e  a  República 
Oriental do Uruguai, visto que a alínea em questão não trata do município. 
 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 

I - processar e julgar, originariamente: 


f)  as  causas  e  os  conflitos  entre  a  União  e  os  Estados,  a  União  e  o  Distrito 
Federal,  ou  entre  uns  e  outros,  inclusive  as  respectivas  entidades  da 
administração indireta;” 

Esta  é  uma  das  competências  mais  características  do  STF  no  começo  da  história 
republicana.  
 
Durante  a  maior  parte  do  Império,  o  STF  era  denominado  Supremo  Tribunal  de 
Justiça,  que  agia  de  forma  unitária.  Só  passou  a  agir  de  forma  federativa  com  o advento 

38   
da  República.  O  Brasil  não  adota  propriamente  o  modelo  de  corte  constitucional 
europeu, embora o STF também funcione como tal. Nosso modelo é o de suprema corte.  
 
Sua  denominação  tem  uma  razão  de  ser:  no  início  da  República,  voltamos  à 
repartição  dos  Poderes  e  extinguimos  o  Poder  Moderador.  Aí  se  questionava:  ​quem 
substituiria  o  Poder  Moderador?  Quem  julgaria  os  conflitos  entre  os  Estados  que 
viriam  a  existir?  Tínhamos  províncias,  que  eram  meras  repartições  político, 
administrativas,  territoriais,  sem  personalidade  jurídica.  Daí  “Supremo  Tribunal 
Federal”.  Era  o  tribunal  apaziguador  de  eventuais  conflitos  entre  os  estados  membros 
que  então  seriam  criados.  O  estado-membro  é  uma  pessoa  da  União  e,  portanto,  a 
resposta  será  a  mesma:  é  competência  originária  do  STF,  pois  o  conflito  vai  envolver 
pessoas de esferas distintas​. 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 

I - processar e julgar, originariamente: 


g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;” 

A  competência  constitucional  para  ​conceder  a  extradição  é  do  ​Presidente  da 


República​.  O  STF  faz  um  juízo  de  padronicidade  do  pleito  extradicional,  se  está 
conforme  à  ordem  pública  brasileira.  A  Corte  não  concederá  a  extradição  em  um  caso 
em  que o paciente vá sofrer a pena de morte, por exemplo, pois isso fere a ordem pública 
nacional.  O  Presidente  da  República  poderá  concedê-la  ou  não.  No  entanto,  caso  o  STF 
julgue  a  impossibilidade  do  pedido,  ao  presidente ​está vedada a sua concessão, ​sob pena 
de incorrer em crime de responsabilidade​ ipso iure​.  

Caso  a  autorize,  o  presidente  fará  sua  ​escolha  político-discricionária​.  Foi  um 


assunto  muito  controvertido  no  julgamento  do  pedido  de  extradição  de  Cesare  Battisti. 
Apesar  de  o  STF  ter  autorizado  a  extradição,  alguns  grupos  políticos  afirmavam  estar  o 
Presidente  obrigado  a  concedê-la.  O  Presidente  da  República  é  chefe  das  Relações 
Internacionais, visto que elege o chanceler.  

 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 

I - processar e julgar, originariamente: 


h)  a  homologação  das  sentenças  estrangeiras  e a concessão do "exequatur" 
às  cartas  rogatórias,  que  podem  ser  conferidas  pelo  regimento  interno  a 

39   
seu Presidente;    

A  alínea  H  foi  revogada,  mas  seu  texto  foi  ​transplantado  para  as  competências 
originárias  do  STJ​,  no  art.  105,  inc.  I,  com  a  Emenda  Constitucional  nº  45/04.  Dispõe 
sobre  as  competências  de  ​homologação  de  sentença  estrangeira  e  concessão  de 
exequatur​ ​ao cumprimento das cartas rogatórias concedidas por estado estrangeiro.  
 
Cada  país  possui  jurisdição  própria.  Nós agimos em cooperação entre as nações, o 
que  significa  que,  ​a  priori,​   o  juiz  brasileiro  colaborará  para  a  homologação  de  uma 
sentença  dada  por  juiz  estrangeiro.  Entretanto,  deve haver critérios para tal: há também 
um juízo de adequação à ordem pública.   
 
O  exequatur  é  um  ato  que  ​ordena  a  execução  de  uma  diligência requerida por 
um  juiz  de  um  estado  estrangeiro​,  como  quando  há  uma  testemunha  essencial  que 
deve  ser  ouvida  em  outro  país.  Para  tal,  escreverá  uma  carta  rogatória.  Este  é  um 
instrumento  de  comunicação  entre  juízes  de  jurisdições  distintas.  Dentro  da  mesma 
jurisdição,  faz-se  por  carta  precatória. Pode também ser denegado em virtude de afronta 
à ordem pública. 
  
Essa  transferência  de  competências  fez  parte  de  uma  tentativa  de  redução  das 
competências  da  Suprema  Corte.  Alguns,  como  o  ministro  Barroso,  defendem  a 
transformação  do  STF  em  mera  corte  constitucional,  tendo  suas  outras  competências 
transferidas  a  outros  tribunais.  Defendia-se  que  fosse  transferida  à  primeira  instância, 
mas o foi ao STJ. 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 

I - processar e julgar, originariamente: 


i)  o  ​habeas  corpus​,  ​quando  o  ​coator  for  ​Tribunal  Superior  ​ou  quando  o 
coator  ou  o  paciente  ​for  autoridade  ou  funcionário  cujos  atos  estejam 
sujeitos  diretamente  à  jurisdição  do  Supremo  Tribunal  Federal​,  ou  se 
trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância;” 

A  alínea  I  versa  sobre  a  competência  do  STF no habeas corpus quanto à pessoa do 


ato  coator  da  liberdade  locomocional:  os  tribunais  superiores.  No  caso  em  que  o  coator 
seja funcionário sujeito ao STF, julga-se o ​habeas corpus​ pelo STF. 
 
 

40   
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 

I - processar e julgar, originariamente: 


j) a ​revisão criminal​ e a ​ação rescisória​ de seus julgados;” 

O  STF  tem  competência  para  processar  e  julgar  as  ações  rescisórias  e  as  revisões 
criminais  de  seus  próprios  julgados.  De  modo  geral,  os  tribunais  brasileiros  julgam  e 
processam ações rescisórias e revisões criminais suas. Claro, há exceções. 
  
A  ​ação  rescisória  é  uma  ​ação  originária​,  proposta  diretamente  ao  STF,  nesse 
caso.  Tem  uma  finalidade  muito  peculiar:  afastar  a  incidência  da  coisa  julgada,  uma 
cláusula  fundamental  da  segurança  jurídica.  É  uma  característica  que  reveste  a  decisão 
imutável  por  via  recursal.  Também  decorre  do  princípio  do  duplo  grau  de  jurisdição  ao 
estabelecer  um  limite  para  a  recorribilidade.  Estatisticamente,  a  maior  parte  das 
decisões  transita  em  julgado  na  primeira  instância.  Os  ordenamentos  processuais 
preveem  circunstâncias  de  tal  ordem  graves  nas  suas  infringências,  que  deve-se 
ponderar  a  movimentação  da  máquina  judiciária  no  sentido  de  desconstituir  a  coisa 
julgada  por  meio  de  uma  ação.  Relativiza-se,  assim,  a coisa julgada. A ​natureza jurídica 
da ação rescisória é, portanto, ​ação autônoma desconstitutiva de coisa julgada​. 
  
As  decisões  proferidas  pelo  juiz  de  primeira  instância,  às  quais  for  proposta  ação 
rescisória  ou  revisão  criminal,  serão  revisadas  pelo  tribunal  acima.  Uma  ação rescisória 
proposta  contra  sentença  de  vara  federal,  julgará  o  TRF  da  2ª  região.  Já  uma  ação 
rescisória  contra  acórdão  do  TRF  da  2ª  região  será  julgada  pelo  próprio  tribunal.  Isso se 
dá  devido  à  ​colegialidade​,  que  permite  o  exercício  da  competência  de  forma  mais 
imparcial. Portanto, nunca seria julgada sentença de juiz de direito por juiz de direito. 
  
Há  casos  em  que  a  ação  rescisória  contra  sentença  de  juiz  de  direito  será  julgada 
pelo TRF, e não pelo TJ. 
  
A  ​revisão  criminal  se  destina  a  ​recompor  sentença  de  competência  criminal​. 
Está para o processo penal, assim como a ação rescisória está para o processo civil. 
  
Ambas  as  ações  são  frutos  da  ​ponderação  entre  a  segurança  jurídica  e  a 
premissa  de  justiça  e  equidade​.  Baseiam-se  na  superveniência  de  fato  novo,  prova 
nova,  ou  circunstância  nova que justifique a desconstituição da coisa julgada. A partir do 

41   
momento  que  a  segurança  jurídica  passa  a  ser  inimiga  da  justiça  e  da  equidade, passa a 
ser possível desconstituir a coisa julgada. 
  
Em  âmbito  cível,  um  grande  exemplo  disso  for  o  surgimento  dos exames de DNA, 
que permitiu o conhecimento de verdades distintas daquela alcançada perante o juízo. 
  
A  rigor,  essas  ações  também  podem  ser  propostas  contra  decisão  de  turma 
recursal ou juizado especial. 
  
A  revisão  criminal  não  tem  prazo  para  ser  proposta.  Pode  ser  rescindida  até 
mesmo  após  a  morte do apenado, para restituir a honra do nome familiar ou por alguma 
questão sucessória. A ação rescisória tem prazo de dois anos para ser proposta. 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 

I - processar e julgar, originariamente: 


l)  a  ​reclamação  para  a  preservação  de  sua  competência  e  garantia  da 
autoridade de suas decisões;”  

  
A natureza jurídica da reclamação é questão equívoca na doutrina. Há quem diga 
que  é  ação  autônoma,  há  quem  diga  que  é  mero  procedimento  administrativo.  Não  é 
recurso, por ser de competência originária.  
 
Importa  dizer  que  essa  ferramenta  foi  criada  para  que  os  tribunais  ​conservem a 
autoridade  de  suas  decisões  e  a  autoridade  de  suas  próprias  competências​.  Dá-se  a 
cada  tribunal  a  competência  para  julgar  a  reclamação,  a  fim  de  determinar  se  sua 
competência foi ou não usurpada.   
 
Um  exemplo  disso  foi  uma  decisão  da  vara federal de Santana do Livramento nos 
anos  90,  em  que  o  juiz  concedeu  o  ​exequatur  a  uma  carta  rogatória  de  um  juízo 
paraguaio. Havia um movimento para a descentralização desta competência. Sua decisão 
foi  atacada  perante  o  STF  (competente  na  época),  e  declarou  nula  a  decisão  do  juiz. 
Poderia cumprir a diligência, mas não conceder o ​exequatur.​  
  
Todos os tribunais têm competência para reclamação. 
 

42   
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 

I - processar e julgar, originariamente: 


m)  a  ​execução  de  sentença  nas  causas  de  sua  competência  originária, 
facultada a ​delegação de atribuições​ para a prática de atos processuais;”  

  Uma  decisão  do  STF  não  é  necessariamente  executada  pelo  próprio  STF.  ​A 
delegação  dessa  competência  é  facultativa.  A  execução  da  sentença  do  julgamento do 
Mensalão,  por  exemplo,  foi  delegada  à  primeira  instância.  Nas  causas  de  competência 
originária do STF, cabe a ele a execução ou a delegação. 
  
O  processo  judicial  consiste  em  duas  grandes  fases:  conhecimento 
(instrumentalização  cognitivo-probatória)  e  execução  (quando  a  parte  não  cumpre  a 
sentença  por  conta  própria  -  o  Estado  detém  o  monopólio  da  força,  então  pode  tomar 
medidas a fim de que seja cumprida a decisão). 
 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 
 
I - processar e julgar, originariamente: 
n)  a  ação  em  que  ​todos  os  ​membros  da  magistratura  sejam  ​direta  ou 
indiretamente  interessados​,  e  aquela  em  que  ​mais  da  metade  dos 
membros  do  tribunal  de  origem  estejam  impedidos  ou  sejam  direta  ou 
indiretamente ​interessados​;” 
  
A  alínea  N  trata  de  uma  cautela  do  constituinte  de  asseguração  da 
imparcialidade  judicial​.  Uma  causa  de  interesse  geral  da  magistratura  brasileira  seria, 
por  exemplo,  uma  ação  movida  pela  Associação  dos  Magistrados  Brasileiros  (AMB)  que, 
assim,  iria direto ao STF. O mesmo ocorre se mais da metade dos magistrados do tribunal 
estiverem  impedidos  para  julgar  a  causa,  o  que  se  verifica  mais facilmente em tribunais 
menores, como o do Tribunal de Justiça de Tocantins. 
 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 

43   
I - processar e julgar, originariamente: 
o)  os  conflitos  de  competência  entre  o  Superior  Tribunal  de  Justiça  e 
quaisquer  tribunais,  entre  Tribunais  Superiores,  ou  entre  estes  e qualquer 
outro tribunal;”  

A  alínea  O  diz  respeito  aos  conflitos  de  competência​.  Esses  conflitos  se  dão  nas 
espécies  negativa  e  positiva.  São  vários  os  domínios  normativos  de  determinação  de 
competências: ​a CF/88​,​ os regimentos internos e a lei processual​, por exemplo. 
 
  É  certo  dizer  que  o  Estado  não  pode  negar  a  prestação  jurisdicional.  Para  cada 
conflito  levado  ao  Judiciário,  haverá  ao  menos  um  órgão  competente  para  o  processo  e 
julgamento.  O  conflito  positivo  é  aquele  em  que  dois  ou  mais  órgãos  se  consideram 
competentes,  e  o  negativo,  aquele  em  que  dois  ou  mais  órgãos  se  dizem  incompetentes. 
No  positivo,  admitir  todas  as  competências  significaria  uma  afronta  ao  princípio  da 
uniformidade decisória, enquanto no negativo, a jurisdição seria negada. 
  
No  Poder  Judiciário,  quem  julga  conflitos  dessa  ordem  são  os  tribunais,  nas 
hipóteses  definidas  pela  CF/88.  O  STF  será  competente  para  tal  quando  houver  um 
conflito envolvendo ​tribunais superiores​. Basta o envolvimento de um. 
  
Há  uma  regra  de  ouro  (plena  de  exceções):  o  tribunal  competente  para  julgar  o 
conflito  de  competências  é  ​o  primeiro  tribunal  comum  aos  órgãos  envolvidos  no 
conflito​. 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 

I - processar e julgar, originariamente: 


p)  o  ​pedido  de  medida  cautelar  das  ações  diretas  de 
inconstitucionalidade;” 

O  pedido  de  medida  cautelar  nas  ADIn,  no  ponto  de  vista  processual,  justifica-se 
pela  urgência  traduzida  pela  ação  direta  de  inconstitucionalidade.  Há  dois  requisitos: 
fumus  boni  iuris  (fumaça  do  bom  direito)  e  ​periculum  in  mora  (​ risco  de  perecimento  do 
direito).  Ou  seja,  a  medida  cautelar  se  baseia  na  necessidade  de  que  o  provimento 
jurisdicional  seja  tão logo conferido, de modo a evitar o perecimento do direito enquanto 
se espera pela decisão de mérito da ação principal. 
  

44   
A  medida  cautelar  tem  sua  lógica  presente  no  ​processo  subjetivo  carneluttiano 
(pretensão  e  pretensão  resistida).  A  questão  que  se  soma  é  ​se  é  possível  a  medida 
cautelar  no  processo  objetivo,  em  que  não  há  partes​.  O  constituinte  entendeu  que 
sim,  visto  que  o  aguardo  pelo  deslinde  da  ação  pode  significar  um  perecimento  do 
direito.  
 
No  STF,  é  comum  observar  pedidos  de  vista da ação sequenciais, o que traduz um 
processo  pouco  célere.  Não  se  pode  olvidar  que  a  lei  se  presume  constitucional  e,  por 
isso,  continuará  a  ser aplicada. Caso a lei seja ​manifestamente inconstitucional e esteja 
causando  os  mais  deletérios  danos  ao  corpo  social,  é  preciso  uma  medida  cautelar  para 
conter tais efeitos. 
  
A  medida  cautelar  deve  ser  julgada  pelo  plenário​.  Na  impossibilidade  e  em 
grande urgência, o ​relator​ pode conceder um ​provimento liminar​ monocraticamente. 
 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 
 
I - processar e julgar, originariamente: 
q)  o  ​mandado  de  injunção​,  quando  a  elaboração  da  norma 
regulamentadora  for  atribuição  do  Presidente  da  República,  do  Congresso 
Nacional,  da  Câmara  dos  Deputados,  do Senado Federal, das Mesas de uma 
dessas  Casas  Legislativas,  do  Tribunal  de  Contas  da  União,  de  um  dos 
Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;” 
 
O  ​mandado  de  injunção  (art.  5º,  LXXI)  tem  uma  ​função  supletiva  nos  casos  em 
que  os  destinatários  de  um  direito  não  podem  dele  usufruir  porque  não  há  lei  para 
regulamentá-lo.  
 
José  Afonso  da  Silva  determina  as  ​normas  constitucionais  de  eficácia  plena 
(dispensam  regulamentação),  as  de  ​eficácia  limitada  (só  se  efetivam  com  providência 
infraconstitucional  a  posteriori)  e  as  de  ​eficácia  contida  (podem  ser  balizadas  pela 
legislação  posterior).  No  rol  das  espécies  normativas,  a  ​lei  complementar  é 
eminentemente  dedicada  à  ​regulamentação  da  norma  de  eficácia  limitada​,  fazendo 
com  que  seja  efetiva.  A  lei  se  encontra  logo  abaixo  da  Constituição,  portanto,  trata-se de 
um ato normativo primário, pois só diz respeito à Lei Maior. 
  

45   
Será  regulamentada  por  lei  complementar  sempre  que  a  Constituição  assim 
determinar, sob pena de ​inconstitucionalidade formal propriamente dita​. 
  
A  ​lei  ordinária  pode  ser  utilizada  para  regulamentar  norma  de  eficácia  limitada 
residualmente, quando não couber qualquer outra espécie normativa. 
  
O  mandado  de  injunção  é  de  competência  de  vários  tribunais no Poder Judiciário 
brasileiro.  Será  de  competência  do  STF  quando  a  elaboração  da  norma  for  de  encargo 
das autoridades elencadas na alínea Q.  
 
Não  há  redundância  quando  o  legislador  constituinte  elenca,  separadamente, 
Congresso,  Câmara  e  Senado,  visto  que  há  competências  próprias  de  cada  um  desses 
órgãos.  A  competência  para  legislar,  no  sentido  técnico-formal,  é  do  Congresso,  que  se 
constitui de Câmara e Senado. 
  
As  competências  exclusivas  da  Câmara  estão  elencadas  no art. 51, e as do Senado, 
no  art.  52.  Nesses  casos,  ou  só  a  Câmara  age,  ou  só  o  Senado,  como  nos  casos  de 
regimento  interno.  O  exercício  dessas  competências  privativas  se  dá  mediante 
resoluções.  Se  o  regimento  for  lacunoso,  é  uma  hipótese  de  frustração  constitucional,  o 
que ensejaria o mandado de injunção. 
  
As competências do Congresso que se dão mediante decreto-lei estão no art. 49. 
  
Não  é  admissível  a  confusão  entre  ​mandado  de  injunção  e  ​ação  direta  de 
inconstitucionalidade  por omissão​. Se diferenciam pelo fato de o mandado de injunção 
ser  um  ​remédio  constitucional​,  cuja  legitimidade  é  ​geral​,  de  ​competência  difusa  e 
efeitos  ​inter  partes (​a priori - visto que serve para assegurar o exercício de um direito por 
parte  de  seus  impetrantes)  e  a  ​ação  direta  de  inconstitucionalidade  por  omissão  ser 
uma  ação  de  inconstitucionalidade,  de  ​legitimidade  taxativa​,  de  ​competência 
concentrada​, cujos efeitos são ​erga omnes.​  
  
O  mandado  de  injunção  é  regulamentado  pela  lei  nº  13.300  e  foi  instituído  pela 
CF/88,  apesar  de  a  lei  para  regulamentação  ter,  ironicamente,  sido  promulgada  muitos 
anos  depois.  Portanto,  seu  uso  foi  inviabilizado.  Retomou  força  com  alguns  casos 
jurisprudenciais ocorridos, como a queda do boeing 737. 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 

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da Constituição, cabendo-lhe: 

I - processar e julgar, originariamente: 


r)  as  ações  contra  o  ​Conselho  Nacional  de  Justiça  e  contra  o  ​Conselho 
Nacional do Ministério Público​;”  

A  alínea  R  foi  introduzida  pela  EC  nº  45/04  e  foi  uma  consequência  lógica  das 
instituições  realizadas  pela  emenda,  que  criou  o  CNJ  e  o  CNMP,  dois  órgãos  de  controle 
administrativo  do  Poder  Judiciário  e  do  Ministério  Público,  respectivamente.  O  único 
órgão  do  Judiciário  que  não  é  controlado  pelo  CNJ  é  o  STF.  Pela  sua  importância, 
entendeu-se  a necessidade de criar um regime especial de competências para processar e 
julgar as ações propostas contra tais instituições. 
 
 
A.2) COMPETÊNCIAS RECURSAIS ORDINÁRIAS 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe: 

II - julgar, em recurso ordinário: 


a)  o  ​habeas  corpus,​   o  ​mandado  de  segurança​,  o  ​habeas  data  ​e  o 
mandado  de  injunção  decididos  ​em  única  instância  pelos  Tribunais 
Superiores, se denegatória a decisão;” 

Aqui,  o  STF  funciona,  atipicamente,  como  ​segunda  instância​.  Não  é  qualquer 


decisão  proferida  por  tribunal  superior  com  competência  originária  que  enseja  recurso 
ordinário  ao  STF.  A  maior  parte  das  competências  dos  tribunais  superiores,  na verdade, 
não  permite  tal  recorribilidade.  Essa  possibilidade  se  justifica  pela  ​sensibilidade 
histórica  dos  remédios  constitucionais​,  além  de  sua  importância  processual.  Aqui  se 
fala do STF como instância de apelação, em sentido genérico. 
  
A súmula nº 691/STF é polêmica: 
 
“​Súmula  691.  Não  compete  ao  Supremo  Tribunal  Federal  conhecer  de 
habeas  corpus  impetrado  contra  decisão  do  relator  que,  em  ​habeas  corpus 
requerido a tribunal superior, indefere a liminar.” 
 
O  relator,  em  tribunal  superior,  nega  o  provimento  liminar  e  é  impetrado ​habeas 
​  sim o 
corpus  perante  o  STF  contra  a  sua  decisão.  Nesse  caso, não cabe o ​habeas corpus, e

47   
recurso  ordinário  ao  STF,  se  for  denegatória  a  decisão.  Se  concessiva,  não  há  a 
possibilidade  de  interpor  recurso  ordinário,  dado  que  não  é  hipótese  de  interposição 
bifronte  e  decorre  exclusivamente  da  necessidade  constitucional  de  garantias 
individuais,  da  proteção  do  direito  líquido  e  certo.  Trata-se  do  recurso  ordinário 
constitucional  e  se  chama  dessa  forma  não  por  discutir  matéria  constitucional,  mas  por 
ter sido criado pela CF/88 e não pela legislação processual. 
 

“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 


da Constituição, cabendo-lhe: 

II - julgar, em recurso ordinário: 


b) o ​crime político​;” 

  A  alínea  B  trata  dos  crimes  políticos.  Ao  longo  das  três  décadas  de  vigência  da 
CF/88,  não  tivemos  experiência  jurisprudencial  em  relação  à  persecução  política.  Foram 
previstos na égide da redemocratização, após décadas de forte persecução penal política.  
 
A  CRFB  é  uma  constituição  de  um  país  traumatizado  devido  a  nossa  dimensão 
histórica.  Sob  o  mesmo  espírito,  foram  elaboradas  as  Cartas  Magnas  da  Espanha  em 
1978,  de  Portugal  em  1976,  da  Itália  em  1946  e  a  Lei  Fundamental  de  Bonn  em  1949. 
Eram  marcadas  pelas  garantias  fundamentais, característica de países que passaram por 
regimes autoritários.  
 
Ao  possibilitar  o  recurso  ordinário  ao  STF  em  caso  de  crime  político,  a  CF/88 
indica  a  sensibilidade  da  imputação  como  forma  de  persecução  do  inimigo,  que 
justificaria  o  escalonamento  ao  STF  pela  via  ordinária,  por meio de um ​recurso de livre 
motivação​. ​O juiz federal julga em primeira instância​ o crime político. 
  
Uma  parcela  minoritária  da  doutrina  admite  a  ​existência  de  um  terceiro  grau 
de  jurisdição​,  atipicamente,  em  defesa  à  garantia  fundamental,  visto  que  à  decisão  do 
juiz  federal,  cabe  recurso  ordinário  ao  TRF  e,  se  denegado,  ao  STF.  Não  há  porque  criar 
um  acesso  direto  ao  STF  se  não  se  reconhecer  que  essa  seria  uma  via  excepcional  do 
duplo grau de jurisdição, que se encerra nos tribunais de apelação. 
 
 
 

48   
A.3) COMPETÊNCIAS RECURSAIS EXTRAORDINÁRIAS 
  
No  inciso  III,  chegamos  às  ​competências  extraordinárias​.  Não  cabe  recurso 
ordinário  ao  STF  nos  casos  de  sentença  condenatória  em  sede  de  foro  especial. Trata-se, 
portanto,  de  hipótese  taxativa.  No  entanto,  será possível interpor recurso extraordinário 
ao STF, nas hipóteses do inciso III. 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe:  
 
III  -  julgar,  mediante  recurso  extraordinário,  as  causas  decididas em única 
ou última instância, quando a decisão recorrida: 
a) contrariar dispositivo desta Constituição;” 
 
As  decisões  proferidas  em  única  ou  última  instância  não  são,  necessariamente, 
decisões  de  tribunais.  A  partir  do  segundo  grau  de  jurisdição,  a  recorribilidade  é,  via de 
regra,  excepcional.  Se  houver  afronta  à  lei  federal  e  à  CF/88,  cabe  tanto  o REsp quanto o 
Recurso  Extraordinário.  Um  exemplo  da  única  instância  é  o  foro  por  prerrogativa  de 
função. A última instância se refere ao segundo grau de jurisdição. 
  
A  primeira  delas  é  a  contrariedade  à  CF/88,  que  enseja  o  controle  de 
constitucionalidade. 
 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe:  
 
III  -  julgar,  mediante  recurso  extraordinário,  as  causas  decididas em única 
ou última instância, quando a decisão recorrida: 
b) declarar a inconstitucionalidade de ​tratado ou lei federal​;” 
 
  A  alínea  B  trata  da  declaração  de  inconstitucionalidade  de  tratado  ou  lei  federal. 
O  tratado​,  ressalvadas  as  exceções,  é  ​equiparado  à  lei  federal​.  A  EC  nº  45/04 
possibilitou que o tratado ocupasse um patamar intermediário entre a lei e a CF/88. 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe:  
 

49   
III  -  julgar,  mediante  recurso  extraordinário,  as  causas  decididas em única 
ou última instância, quando a decisão recorrida: 
c)  julgar  válida  ​lei  ou  ato  de  governo  ​local  c​ ontestado  em  face  desta 
Constituição​.” 
  
Se  a  decisão  questionar  lei  ou  ato  local  em  face  da  constituição,  trata-se  de 
controle difuso​. O STF poderá, portanto, receber o recurso extraordinário e julgá-lo. 
 
 
“Art.  102.  Compete  ao  Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da Constituição, cabendo-lhe:  
 
III  -  julgar,  mediante  recurso  extraordinário,  as  causas  decididas em única 
ou última instância, quando a decisão recorrida: 
d) julgar válida ​lei ​local​ contestada ​em face de lei ​federal.​ ” 
 
A  alínea  D  trata do controle da lei local frente pela lei federal. A competência para 
processar  e  julgar  recurso  em  escala  excepcional  de  lei  local  em  face  da  lei  federal,  era 
do STJ até a promulgação da EC nº 45/04, que transpôs a competência ao STF.  
 
Portanto,  há  de  se  reconhecer  que  ​não  se  trata  de  controle  de  legalidade​,  mas 
de  ​possível  conflito  federativo​.  O  art.  24  fala  das  competências  concorrentes  para 
legislar,  cria  um  modelo  de  interdependência  legislativa:  a  União  edita  as normas gerais 
e  os  Estados,  as  específicas.  O  estado  está  vinculado  às  normas  gerais  da  União.  Faz-se 
um  exame  da  lei  local  frente  a  lei  federal,  no  regime  das  competências  legislativas  de 
trato concorrente. 
 
 
B) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
 
As  competências  originárias  do  STJ  estão  elencadas  no  art.  105,  I.  A  sua  divisão 
interior  de  competências  é  muito  semelhante  a  do  STF,  que  também  é  organizada  em 
originárias,  ordinárias  e  extraordinárias.  A  única  diferença  de  nomenclatura  tange  aos 
recursos extraordinários que, no STJ, chamamos de competências recursais especiais.  
 
Contudo,  um  recurso  especial  é  um  recurso  de  escala excepcional, na medida que 
não  é  um  recurso  ordinário.  Assim,  também  se  trata  de  recurso  extraordinário,  como 
espécie de tal gênero. O STJ também julga recursos ordinários, mas atipicamente. 

50   
B.1) COMPETÊNCIAS ORIGINÁRIAS 
 
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
 
I - processar e julgar, originariamente: 
a)  nos  ​crimes  comuns,  ​os  Governadores  dos  Estados  e  do  Distrito 
Federal​,  e,  ​nestes  e  nos  de  responsabilidade​,  os  desembargadores  dos 
Tribunais  de  Justiça  dos  Estados  e  do  Distrito  Federal,  os  membros  dos 
Tribunais  de  Contas  dos  Estados  e  do  Distrito  Federal,  os  dos  Tribunais 
Regionais  Federais,  dos  Tribunais  Regionais  Eleitorais  e  do  Trabalho,  os 
membros  dos  Conselhos  ou  Tribunais  de  Contas  dos  Municípios  e  os  do 
Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;” 
 
Os  casos  de  ​foro  especial  por prerrogativa de função ​no STJ dividem-se em dois 
grupos:  as  autoridades  ali  julgadas  em  ação  penal  ordinária  por  ​crimes  comuns​,  e 
aquelas julgadas​ por crimes comuns e por crimes de responsabilidade​.  
 
Os  governadores  dos  Estados  e  do  Distrito  Federal  são  os  integrantes  do primeiro 
grupo.  Isso  se  dá  no  âmbito  dos crimes comuns, pois o modelo de ​impeachment se reflete 
em  todos  os  Chefes  do  Poder  Executivo,  que  são  todos  os  prefeitos  dos  municípios 
brasileiros,  além  dos  governadores  e  do  Presidente  da  República,  decorrente  do 
federalismo tridimensional.  
 
Se  o  ​impeachment  do  Presidente  é  decretado  no  Senado  (art.  52  c/c  art.  85),  o 
governador  é  sujeito  a  ​impeachment  na  Assembleia  Legislativa  do Estado e o prefeito, na 
Câmara  Municipal.  ​A  priori​,  julga-se  o  ​impeachment  do  chefe  do  Executivo  ​no 
parlamento​.  No  caso  do  prefeito,  alguns  crimes  são  julgados  na  câmara,  outros  no 
Tribunal  de Justiça. O marco legal do ​impeachment para o presidente e os governadores é 
o  mesmo.  Já  o  do  prefeito  foi  regulamentado  pelo  Decreto-lei  nº  201/67,  que  divide  as 
hipóteses de julgamento. 
  
As  demais  autoridades  são  julgadas  tanto  nos  crimes  comuns,  quanto  nos  de 
responsabilidade.  A  Lei  Orgânica  da  Magistratura  Nacional  (LOMAN)  define  como 
desembargadores  ​os  ​membros  do  tribunal  de  justiça  do  estado​.  O  problema  é  que 
com  a  CF/88,  foram  criados  os  TRFs  e  não  houve  alteração  da  LOMAN  no  sentido  de 
redesenhar  as  definições  técnicas  dos  cargos.  Contudo,  os  regimentos  internos  chamam 
os  magistrados  dos  TRFs  de  desembargadores.  Parece  que  a  transição  não  se 
aperfeiçoou.  Nos  primeiros  anos  de  vigência  da  CF/88,  chamavam-se  os  membros  dos 

51   
TRFs de juízes federais, como na primeira instância. 
  
Os  desembargadores  integravam  o  que  outrora  era  chamado  de  tribunal  da 
relação,  existentes  em  Portugal  até  hoje  como  tribunais  de  segunda  instância 
regionalizados.  No  Brasil  Colônia,  os  tribunais  da  relação eram passíveis de impugnação 
da casa de suplicação de Lisboa.  
 
Criamos  aqui  uma  espécie  de  casa  de  suplicação,  sediada  no  Rio  de  Janeiro,  que 
foi  transformada  no  Supremo  Tribunal  de  Justiça  e,  em  seguida,  no  STF.  Os  tribunais da 
relação,  que  eram  compostos  por  desembargadores,  se  tornaram  os  tribunais  de 
apelação.  A  CF/88  simplesmente  não  criou  o  título  em  âmbito  federal  na  segunda 
instância.  Os  TRFs  são  originários  do  tribunal  federal  de  recursos,  cujos  membros  se 
denominavam  ministros.  Então,  a  Constituição  não  adicionou nobilidade ao título. Dessa 
forma,  inclui-se,  também,  nas  competências  originárias  do  STJ  o  julgamento  em  crimes 
comuns e de responsabilidade dos desembargadores dos TRFs. 
  
O  Tribunal  de  Contas  da  União  é  um  órgão  de  auxílio  ao  Senado  Federal  e,  pela 
incidência  do princípio da simetria, essa relação vale para os Estados também, sendo eles 
órgãos  auxiliares  das  Assembleias  Legislativas. Aqui, o foro é concedido aos conselheiros 
dos  tribunais  de  contas  dos  estados  e  municípios, já que os ministros do TCU têm foro no 
STF.  
 
Os  tribunais  de  contas  municipais  existem  apenas  no  Rio  de  Janeiro  e  São  Paulo, 
visto  que  a  CF/88  vedou  a  criação  desses  órgãos,  mas  não  extinguiu  os  já  existentes.  A 
solução  da  CF/88  foi  a  mesma  para  o  conselheiro  do  TCE  e  do  TCM,  pois  o  TCE  auxilia 
tanto  as  Assembleias  Legislativas,  quanto  as  Câmaras  Municipais.  A  função  exercida  é  a 
mesma, então o foro é o mesmo. 
  
Temos,  ainda,  o  foro para os membros do Ministério Público da União que oficiem 
perante  tribunais.  Segundo  o  art.  128,  o  MPU  se  divide  em  Ministério  Público  Federal, 
Ministério  Público  do  Trabalho  e  Ministério  Público  Militar.  O  Ministério  Público  está 
onde  o  Poder  Judiciário  estiver,  apesar  de  ser  dele  independente.  Os  procuradores que 
oficiem perante a primeira instância, portanto, ​não se beneficiarão​ deste foro​.  
A  Lei  Complementar  nº  73/93  (Lei  Orgânica  do  MPU)  divide  os  cargos  do MPU. Os 
procuradores  regionais  da  República  são  os  procuradores  da  república  no  âmbito  dos 
TRFs.  Quando  são  promovidos  ao ofício perante o STJ, tornam-se subprocuradores gerais 
da  república.  Essa  regra  tem  como  exceção  o  Procurador  Geral  da  República,  que  é 

52   
membro  do  MPU  e  oficia  perante  tribunal,  será  julgado  pelo  STF  nos  crimes  comuns  e 
pelo Senado nos crimes de responsabilidade. Não há incongruência nessa exceção devido 
ao​ princípio da especialidade​. 
 
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
 
I - processar e julgar, originariamente: 
b)  os  ​mandados  de  segurança  e os ​habeas data ​contra ato de Ministro de 
Estado,  dos  Comandantes  da  Marinha,  do  Exército  e  da  Aeronáutica  ou  do 
próprio Tribunal;” 
 
Na  alínea  B,  determina-se  a  competência  de  ação  cívica:  os  remédios 
constitucionais.  O  mandado  de  segurança  impetrado  contra ato de comandante de Força 
é  de  competência  originária  do  STJ,  assim  como  no  caso  de  ato  coator  de  ministro  de 
estado.  Aqui  funciona  a  regra  geral  do  mandado  de  segurança,  já  que  ele  mesmo  julga. 
Cabe  lembrar  que  os  Comandantes  têm  status  equivalente  ao  de  ministro.  Por  isso,  a 
competência é a mesma. 
 
 
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
 
I - processar e julgar, originariamente: 
c)  os  ​habeas  corpus  ​,  quando  o  coator  ou  paciente  for  qualquer  das 
pessoas  mencionadas  na  alínea  "a",  ou quando o coator for tribunal sujeito 
à  sua  jurisdição,  Ministro  de  Estado  ou  Comandante  da  Marinha,  do 
Exército ou da Aeronáutica, ​ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;​ ” 
 
 
Vale  a regra geral do ​habeas corpus​. O STJ julgará, então, ​habeas corpus impetrado 
contra  ato  de  Tribunal  de  Justiça,  por  exemplo.  Quando  o  coator  for  ministro  de  estado 
ou comandante de força, ressalvada a competência da justiça eleitoral. 
 
 
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
 
I - processar e julgar, originariamente: 
d)  os  ​conflitos  de  competência  entre  quaisquer  tribunais,  ressalvado  o 
disposto  no  art.  102,  I,  "o",  bem  como  entre  tribunal  e  juízes  a  ele  não 
vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos;” 

53   
 
  A  alínea  D  prevê  os  casos  em  que  o  STJ  julga  ​conflitos  de  competência​.  Aqui,  já 
encontramos  exceções  à  regra  geral  estabelecida  de  que  o  tribunal  competente  para 
julgar  o  conflito  de  competências  é  o  primeiro  tribunal  em  comum. Estão ressalvadas as 
competências delineadas pelo art. 102, alínea O.  
 
Juízos vinculados a tribunais diversos são de competência do STJ, como quando há 
conflito  de  competência  entre  TRFs.  Se  envolver  tribunal  superior,  será  de  competência 
do  STF.  Com  base  no  princípio  da  especialidade,  há  exceções,  já  que  certas  normas 
determinam  outras  funções  e  são  consideradas  normas  especiais.  Um  exemplo  disso  é  o 
art. 106, que versa sobre a competência da Justiça Federal. 
 
 
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 

I - processar e julgar, originariamente: 


e) as ​revisões criminais​ e as ​ações rescisórias ​de seus julgados; 
f)  a  ​reclamação  para  a  preservação  de  sua  competência  e  garantia  da 
autoridade de suas decisões;”   

Não  há  novidade  quanto  às  ações  rescisória,  às  revisões  criminais  e  às 
reclamações,  que serão julgadas pelo próprio STJ, conforme a regra estabelecida. O órgão 
interno  que  processará  e  julgará  a  causa  será  determinado  pelo  regimento  interno  da 
corte. 
 
 
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 

I - processar e julgar, originariamente: 


g)  os  ​conflitos  de  atribuições  entre  autoridades  administrativas  e 
judiciárias  da  União,  ou  entre  autoridades  judiciárias  de  um  Estado  e 
administrativas  de  outro  ou  do  Distrito  Federal,  ou  entre  as  deste  e  da 
União;”  

A  alínea  G trata do conflito de atribuições. ​Não se trata de conflito jurisdicional​: 
é  um  conflito  de  ​natureza  administrativa​.  A  competência  é  naturalmente  decisória, 
ligada  à  atividade  judicante.  Trata-se  de  atribuição  administrativa  de  órgão  executivo  e 
órgão  judiciário,  em  sua  função  atípica  de  administração.  Um  exemplo  disso  seria  um 
conflito  de  atribuição  entre  um  órgão  do  Ministério  Público  (que,  por  exclusão,  se 

54   
enquadra no Executivo) e um órgão do Judiciário. 
 
 
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 

I - processar e julgar, originariamente: 


h)  o  ​mandado  de  injunção​,  quando  a  elaboração  da  norma 
regulamentadora  for  atribuição  de  órgão,  entidade  ou  autoridade  federal, 
da  administração  direta  ou  indireta,  excetuados  os  casos  de  competência 
do  Supremo  Tribunal  Federal  e  dos  órgãos  da  Justiça  Militar,  da  Justiça 
Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;”  

A  alínea  H  trata  do  mandado  de  injunção,  nos  casos  em  que  a  elaboração  da 
norma  faltante  for  de  competência  de  órgão  (excetuadas as competências do STF, Justiça 
Eleitoral,  Federal  ou  do  Trabalho).  Não  se  pode  dizer  que  é  uma  competência  residual, 
pois  esta  já  é  da  Justiça  Estadual.  Há,  na  verdade,  uma  ​margem  de residualidade​, visto 
que faz-se ressalvas, mas se determina qual será a competência do STJ. 
 
 
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 

I - processar e julgar, originariamente: 


i)  a  ​homologação de sentenças estrangeiras e a ​concessão de ​exequatur 
às cartas rogatórias;”  

Por  fim,  há  a  competência  para  homologação  de  sentenças  estrangeiras  e 


concessão  de  exequatur  à  carta  rogatória,  já  explorada  quando  trabalhamos  as 
competências originárias do STF. 
 
 
B.2) COMPETÊNCIAS RECURSAIS ORDINÁRIAS 
 
O  art.  105,  inc.  II  trata  das  competências  ordinárias,  assim  como  o  102,  inc.  II. No 
âmbito  do  STJ,  são  também  ​competências  atípicas​.  Esse  tribunal  se  caracteriza  pelas 
competências  originárias  e  especiais,  como  ​guardião  e  defensor  do  direito  federal 
legislado​.  
 
As  competências  recursais  especiais  levam  ao  conhecimento  do  STJ  as  questões 
acerca  do  controle  de  legalidade. Já no que tange às competências recursais ordinárias, o 

55   
STJ  age,  atipicamente,  como  tribunal  de  apelação.  Contudo,  não  é  simétrica  à 
competência  recursal  ordinária  do  STF.  Aqui,  é  conferido  tratamento  diferenciado  aos 
remédios constitucionais. 
 
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
 
II - julgar, em recurso ordinário: 
a)  os  ​habeas  corpus  decididos  ​em  única  ou  última  instância  ​pelos 
Tribunais  Regionais  Federais  ou  pelos  tribunais  dos  Estados​,  do  Distrito 
Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória; 
b)  os  ​mandados  de  segurança  ​decididos  em  ​única  instância  ​pelos 
Tribunais  Regionais  Federais  ou  pelos  tribunais  dos  Estados​,  do  Distrito 
Federal e Territórios, quando denegatória a decisão; ” 
 
Tem  competência  recursal  ordinária  para  processar  e  julgar  decisão  denegatória 
de  mandado  de  segurança  advinda  dos  tribunais  superiores  em  única  instância, 
enquanto  que  processará  e  julgará  o  ​habeas  corpus  quando este for denegado em última 
ou única instância.  
 
Essa  diferenciação  não  se  dá  no  âmbito  da  Suprema  Corte.  Na  alínea  A,  o  STJ  é 
instância  recursal  no  que  diz  respeito  a  essas  decisões.  No  caso  do  ​habeas  corpus,​  
ensejará,  atipicamente,  um  ​triplo  grau  de  jurisdição​,  pois  se  trata  de  ​recorribilidade 
ordinária​, já que o constituinte permitiu o acesso ao STJ por via ordinária.  
 
No  caso  das  decisões  denegatórias  de  mandado  de  segurança  em  ​única  instância​, 
simplesmente  exercerá  o  duplo  grau  de  jurisdição.  Isso  se  dá  pela  sensibilidade  do 
direito  tutelado  pelo  ​habeas  corpus.​   Por  sua  vez,  o  mandado de segurança é um remédio 
constitucional de ​natureza residual​, vide o próprio texto da Carta Magna.  
 
Dependendo  do  ordenamento  jurídico  nacional,  o habeas corpus pode ser mais ou 
menos  amplo.  Já  era  previsto  pelo  Código  de  Processo  Criminal  do Império e sua origem 
tem raízes no medievo. 
  
Em  primeira  instância​, o recurso que cabe quando for denegado o habeas corpus 
é o ​recurso em sentido estrito​ (recurso típico do Processo Penal). 
  
O  nomenclatura  Recurso  Ordinário  Constitucional  (ROC)  é  uma  construção 
ordinária. Não foi conferido pelo legislador, mas pelo próprio texto constitucional. 

56   
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
 
II - julgar, em recurso ordinário: 
c)  as  causas  em  que  forem  partes  Estado  estrangeiro  ou  organismo 
internacional,  de  um  lado,  e,  do  outro,  ​Município  ou  ​pessoa  residente ou 
domiciliada no País​;  
  
Considerando  competente  a autoridade brasileira, a ​competência originária será 
do  ​juiz  federal​,  ensejando  recurso  ordinário  direto  ao  STJ  (​per  saltum)​ ,  e  não  ao TRF da 
região.  Isso  traduz  a  busca  de  uma  estabilidade  jurisprudencial  em  questão  que  poderá 
impactar a soberania nacional. 
 
 
B.3) COMPETÊNCIAS RECURSAIS ESPECIAIS 
  
As  competências  do  STJ  em  recurso  especial  são  aquelas  que  mais  caracterizam 
este tribunal. 
 
 
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:  
 
III  -  julgar,  em  recurso  especial,  as  causas  decididas,  em  única  ou  última 
instância,  pelos  Tribunais  Regionais  Federais  ou  pelos  tribunais  dos 
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: 
a) contrariar ​tratado​ ou ​lei federal​, ou negar-lhes vigência;” 
 
  Em primeiro lugar, temos a origem do REsp nos tribunais dos estados, TRFs e TJMs 
(nos  estados  de  RS,  MG  e  SP).  Quando  o  constituinte  se  refere  ao  tribunal do estado, não 
se  refere às turmas recursais​, visto que elas não são tribunais. Essa redação é do tempo 
em que ainda havia tribunais de alçada. 
  
Também  é  possível  quando  a  decisão  contrariar  tratado  internacional  ou  lei 
federal,  que  têm,  em  sua  maioria,  a  mesma  autoridade,  salvo  os  tratados  de  autoridade 
supralegal. 
 
 
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:  
 

57   
III  -  julgar,  em  recurso  especial,  as  causas  decididas,  em  única  ou  última 
instância,  pelos  Tribunais  Regionais  Federais  ou  pelos  tribunais  dos 
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: 
b) julgar válido ​ato de governo local contestado em face de lei federal​;” 
 
Um  dado  importante  sobre  o  STJ  é  a  sua  comparação  às  Cortes  de  Cassação  da 
Europa  Ocidental.  Ele  não  pode  ser  classificado  como  uma  delas,  ainda  que  também  se 
destinem ao controle de legalidade.  
 
As  ​cours  de  cassation  vão  além  do  duplo  grau  de  jurisdição.  Há,  na  França,  os 
tribunais  de  primeira  instância  e  as  cortes  de  apelação,  que  fazem  o  segundo  grau  da 
jurisdição.  O  modelo  de  cassação  permite  que  as  decisões  dos  tribunais  de  apelação 
sejam  impugnadas  quando  forem  manifestamente  contrárias  ao  direito  nacional 
legislado,  por  meio  do  recurso  ​pourvoi  en  cassation​,  equivalente  lógico  ao  REsp,  que 
excede a recorribilidade ordinária.  
 
A  grande  diferença  entre  os  nossos  sistemas  é  que  o  recurso  do  direito  francês 
cassa  a  decisão  e  devolve  à  segunda  instância  para  julgamento  (​renvoi)​ .  Assim,  não  se 
trata  de  terceiro  grau  de  jurisdição,  mas  apenas  de  uma  instância  especial.  ​Não  faz  o 
julgamento  da  matéria​,  isso  será  feito  pela  corte  de  apelação.  Apenas  se  manifesta 
quando provocada, tendo o princípio da inércia jurisdicional em mente. 
  
Segundo  o  princípio  da  deferência,  a  corte  de  apelação  respeitará  a  decisão  da 
corte  de  cassação,  dado  que  esta  também  se  trata  de  um  tribunal  de  defesa  e  guarda  da 
lei,  como  o  STJ.  Prevê,  ainda,  um  segundo  pourvoi  en  cassation,​   caso  a  corte  de apelação 
persista  na  manutenção  do  julgamento.  Aqui,  a  corte  de  cassação  julgará  a  matéria  de 
fundo. 
  
O  STJ,  por sua vez, ​julga o recurso na íntegra​. Tem autoridade para desconstituir 
o  acórdão  e analisar o mérito. Pode até haver o trânsito em julgado. Então, não adotamos 
o  sistema  de  cassação,  mas  o  modelo  de  tribunal  superior.  Há  casos  em  que  o  STJ 
também  devolve  o  processo  para  o  tribunal  originário,  como  na  situação  de 
incompletude  de  prestação  jurisdicional​,  fato  contrário  à  indeclinabilidade  da 
jurisdição. 
  
A  hipótese  de  ​interposição  recursal  dúplice  ​demonstra  com  clareza  a  natureza 
extraordinária  dos  recursos  extraordinário  e  especial,  além  da  concepção  de  que  o  STF 
constituiria  uma  quarta  instância.  Como  ensinado  por  Sálvio  de  Figueiredo  Teixeira, 

58   
temos duas grandes instâncias. As demais são extraordinárias.  
 
Se  um  acórdão  da  quarta  câmara  cível  de  Niterói  afrontar  diretamente  a  CF/88, 
caberá  recurso  extraordinário  direto  ao  STF,  o  que  já  demonstra  que  esta  corte  não  se 
trata  de  uma  quarta  instância.  Caso  contrarie  a  lei  federal,  caberá  REsp  ao  STJ.  Se  a 
oitava  câmara  cível  do  TJRJ  proferir  acórdão  manifestamente  contrário  à  CF  e  à  lei 
federal,  teremos  uma  ​dupla  ofensa  e,  consequentemente,  uma  ​hipótese  de  dúplice 
interposição  recursal​.  Não  falamos  aqui  de  terceira  e  quarta  instâncias,  mas  da 
provocação de duas instâncias extraordinárias. 
  
O  ordenamento  processual  dita  que  o  recurso  extraordinário deverá esperar pela 
tramitação  do  REsp,  a  fim  de  ​evitar  contrariedade  decisória​.  Além  disso,  o  recurso 
extraordinário  poderá  perder  seu  objeto  se  deferido  o  REsp.  Isso  porque  o  interesse  da 
parte já terá sido elidido, já que a coisa julgada foi desconstituída.  
 
O  REsp  só  admite  discussão  ​quanto  à  legalidade​,  enquanto  o  recurso 
extraordinário  só  admite  a  discussão  ​acerca  da  constitucionalidade​,  o  que  é 
complicado,  pois  o  ordenamento  jurídico  é  muito  denso  e  há  uma  grande  zona  cinzenta 
entre  as  matérias.  São  tribunais  distintos  com  competências  distintas,  que não vinculam 
um ao outro. 
 
 
 
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:  
 
III  -  julgar,  em  recurso  especial,  as  causas  decididas,  em  única  ou  última 
instância,  pelos  Tribunais  Regionais  Federais  ou  pelos  tribunais  dos 
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: 
c)  ​der  a  lei  federal  ​interpretação  divergente  da  que  lhe  haja  atribuído 
outro tribunal. 
 
  Se  a  decisão  recorrida  foi  divergente  quanto  à  interpretação  de  outro  tribunal. 
Advém  do  ​papel  de  uniformização  da  jurisprudência  nacional​.  Não  se  trata  de 
qualquer dissidência interpretativa, mas de uma ​insegurança hermenêutica​. 
 
 
 

59   
C) TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS 
 
C.1) COMPETÊNCIAS ORIGINÁRIAS 
 
“Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: 

I - processar e julgar, originariamente: 


a)  os  ​juízes  federais  da  área  de  sua  jurisdição,  incluídos  ​os  da  Justiça 
Militar  e  da  Justiça  do  Trabalho​,  ​nos  crimes  comuns  e  de 
responsabilidade​,  e  ​os  membros  do  Ministério  Público  da  União, 
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral​;” 

A alínea A do inc. I determina o ​foro por prerrogativa de função​ nos TRFs.  


 
“Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: 

I - processar e julgar, originariamente: 


b)  as  ​revisões  criminais  e  as  ​ações  rescisórias  de  julgados  seus  ou  dos 
juízes federais da região;”  

A  alínea  B  trata  das  ações  rescisórias  e  revisões  criminais,  cuja  competência  é  do 
TRF,  no  tangente  aos  seus  próprios  julgados  e  aos  dos  juízes federais de suas respectivas 
regiões,  já  que  compete  ao  tribunal  de  segunda  instância  julgar  a  ação  rescisória  e 
revisão criminal propostas contra decisão de primeira instância.  
 
Há  um  caso  em  que  o  TRF  desconstituirá  decisão  de  juiz  de  direito:  ​quando  ele 
estiver  no  exercício  de  competência  federal​,  visto  que  a  Justiça  Federal  não  é  tão 
interiorizada  e,  por  vezes,  não há vara federal correspondente àquele juízo. Só se admite 
esse  exercício  de  competência  por  parte  do  juiz  de  direito  nos  casos  explicitados  pela 
legislação civil e processual. 
 
“Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: 

I - processar e julgar, originariamente: 


c)  os  ​mandados  de  segurança  e  os  ​habeas  data  c​ ontra  ato  do  próprio 
Tribunal ou de juiz federal;” 

  A  alínea  C  trata  do  ​habeas  data  e  do  ​mandado  de  segurança  contra  ato  do 
próprio  tribunal  e  do  juiz  federal.  O  mandado  de  segurança  contra  ato  de  juiz  será 

60   
julgado  pelo  tribunal  acima,  e  contra  ato  de  tribunal,  pelo  próprio  tribunal.  A  regra  do 
habeas data​, via de regra, coincide com a do mandado de segurança. 
 
“Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: 

I - processar e julgar, originariamente: 


d) os ​habeas corpus​, quando a ​autoridade coatora​ for​ juiz federal​;  

  A  alínea  D  trata  do  habeas  corpus  quando  a  autoridade  coatora  for  juiz  federal. 
Quando o coator for ​desembargador federal​, quem julgará é o ​STJ​. 
 
“Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: 
 
I - processar e julgar, originariamente: 
e)  os  ​conflitos  de  competência  ​entre  juízes  federais  vinculados  ao 
Tribunal;” 
 
  A  alínea  E traz a competência para ​julgamento de conflitos de competência que 
envolva juízes federais da mesma região​. Caso pertençam a regiões distintas, o conflito 
será  julgado  pelo  STJ.  Um  conflito  de  competência  entre  vara  estadual  e  federal  poderá 
ser  de  competência  originária  do  STJ  (se  se  situarem  em  regiões  distintas)  ou  do  TRF (se 
se  situarem  na  mesma  região),  quando  decorrer  do  exercício judicante federal pela vara 
de  justiça  do  estado  membro.  É  como  se  fosse  um  conflito  de  competência  entre  duas 
varas federais. 
 
C.2) COMPETÊNCIAS RECURSAIS ORDINÁRIAS 
 
“Art.  108.  Compete  aos  Tribunais  Regionais 
Federais:  
 
II  -  julgar,  em  grau  de  recurso,  as  causas 
decididas  pelos  juízes  federais  e  pelos  juízes 
estaduais  no  exercício  da  competência 
federal da área de sua jurisdição.” 
 
As  competências  recursais  dos  TRFs  são  as  mais  características  destes  tribunais, 
visto que são, tradicionalmente, tribunais de apelação. São ​recursos de livre motivação​. 
Receberá  os  recursos  proferidos,  monocraticamente,  pelas  varas  federais  de  sua  região, 

61   
além das varas de justiça estadual em sua região no exercício de função federal. 
 
 
D) JUÍZES FEDERAIS 
  
Analisaremos,  agora,  as  competências  dos  juízes  federais,  na  primeira  instância. 
Exercem  tanto  competência  cível,  quanto  criminal.  ​São  competências  exclusivamente 
originárias​. 
 
“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 

I  -  as  causas  em  que  a  União,  entidade  autárquica  ou  empresa  pública 
federal  forem  interessadas  na  condição  de  autoras,  rés,  assistentes  ou 
oponentes,  exceto  as  de  falência,  as  de  acidentes de trabalho e as sujeitas à 
Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;” 

É  um  inciso  tipicamente  definidor  de  ​competência  cível​.  Isso  significa  que  a 
Justiça  Federal  é,  acima  de  tudo,  ​uma  justiça  que  defende  os  interesses  da 
administração pública​. 
  
A  Justiça  Federal  passou  a  existir  com  a  República,  em  1890,  por  meio  de  lei  e, 
depois,  pela  Constituição  de  1891.  O  Império,  por  ser  estado  unitário,  não  tinha  Justiça 
Federal.  
 
Na  Europa  continental,  como  um  todo,  a  justiça  administrativa  se  encontra  no 
Poder  Executivo,  de  acordo  com  a  jurisdição  dual.  O  Brasil  ​se  americanizou  com  a 
proclamação da República, portanto, a justiça administrativa se situa no Poder Judiciário, 
já que a jurisdição é una.  
 
A  Justiça  Estadual  tem  competência  para  dirimir os conflitos relativos aos estados 
e  aos  municípios,  assim  como  a  Justiça  Federal  tem  competência  para  julgar os conflitos 
que  envolvam  a  administração  pública.  Contudo,  a  competência  da  Justiça  Estadual  é 
residual,  o  que  significa  que  tudo  o  que  não  compete  aos  juízes  da  União, competirá aos 
juízes estaduais. 
  
A  ​União  é  uma  ​pessoa  jurídica  de  direito  público​.  Para  bem  executar  seus 
serviços,  pode  se  desmembrar  em  pessoas.  Assim,  uma  pessoa  pode  pertencer  a  outras. 
Aí temos a diferença entre a administração direta e indireta. 

62   
  
A  competência  será  atraída  ainda  que  algum  dos  entes  citados  entre  como 
assistente do processo, mesmo que o processo tenha se iniciado na justiça estadual. 
  
A  ​natureza  jurídica  ​da  entidade  autárquica  federal  é  ​pessoa  jurídica  de direito 
público​.  Por  outro  lado,  a  ​empresa  pública  federal​,  é  uma  ​pessoa  jurídica  de  direito 
privado.​   Todo  o  capital  dessas  empresas  é  federal.  São  advindas  da  intervenção  do 
Estado  na  economia.  A  autarquia  executa  serviço  do  Estado.  As  universidades  privadas, 
por  exemplo,  são  delegatárias  do  poder  público.  Na  sociedade  de  capital  misto,  a  maior 
parte do capital é público, mas não todo.  
 
Assim,  ​a  competência  para  julgar  causas  envolvendo  as  empresas  públicas  é 
do  juiz  de  direito​.  Isso  advém  do  ​princípio  da  residualidade​,  já  que  tudo  o  que  não  é 
competência das justiças da União, é da Justiça Estadual. 
  
Excetuam-se  as  ​causas  de  falência​,  que  são  de competência do ​juiz de direito​, já 
que  o  art.  109  as  excluem  expressamente.  As  causas  de  falência  serão  ajuizadas  por  um 
só  juízo.  Isso  decorre  do  princípio  do  juízo  universal  da  falência.  Quando  a  falência  é 
decretada,  constitui-se  a  massa  falida,  que  é  uma  universalidade  de  bens.  O  juiz nomeia 
um  administrador  da  massa  falida,  para  que  os  créditos  dos  credores insatisfeitos sejam 
sanados. Isso se dá ainda que a União tenha crédito tributário. 
  
A  residualidade  passa  por  um  ​duplo  critério​:  examina-se  se  a  competência  é  de 
algum  dos  ramos  da  justiça  especializada  e,  em  seguida,  se  é  de  competência  da  justiça 
federal.  Os  ​acidentes  de  trabalho  eram  julgados  pela  justiça  estadual  segundo  esta 
premissa.  Com  a  EC  nº  45/04,  o  constituinte  derivado  transplantou  a competência para a 
Justiça do Trabalho​. 
  
A  Justiça  Militar  não  é  mencionada,  pois  trata  apenas  de  ​competência  cível​, 
competência  essa  que  os  juízos  militares  da  União  não  têm.  Portanto,  nem  precisa  ser 
mencionada. 
 
“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 

II  -  as  causas  entre  ​Estado  estrangeiro  ou  organismo  internacional  e 


Município ou pessoa domiciliada ou residente no País​; 
III  -  as  causas  fundadas  em  ​tratado  ou  contrato  da  União  com  Estado 

63   
estrangeiro ou organismo internacional​;” 

 
  Julgará  também  os  conflitos  envolvendo  o  município  ou  seu  residente  e  estado 
estrangeiro  ou  organismo  internacional.  Além  disso,  as  causas  fundadas  em 
tratado-contrato entre a União e estado estrangeiro ou organismo internacional. 
 
 
“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
 

IV  - os ​crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de 
bens,  serviços  ou  interesse  da  União  ou  de  suas  entidades  autárquicas  ou 
empresas  públicas,  excluídas  as  contravenções  e  r​essalvada  a  competência 
da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral​;” 

O  inc.  IV  inaugura  as  competências  criminais  dos  juízes  federais,  que  estão 
espraiadas  pelo  restante  do  artigo,  juntamente  com  as  demais  competências  cíveis. 
Contudo, este dispositivo é a alma das competências criminais.  
  
No  Brasil,  diferentemente  do  que  ocorre  nos  Estados  Unidos,  não  temos  crimes 
federais.  Apenas  há  uma  partilha  de  competências  entre  a  União  e  os  Estados.  Existe  a 
competência  federal  para  processo  e  julgamento  de  crimes,  mas  não  o  crime  federal em 
si.  Toda  a  competência  criminal brasileira é da União Federal, conforme determinado no 
art. 21 da CF/88.  
 
Contudo,  pode  haver  delegação  vertical  da  União  aos  Estados  por  meio  de  Lei 
Complementar.  Ela  nunca  aconteceu  durante  a  vigência  da  CF/88.  Um crime de peculato 
cometido  contra  a  Caixa  Econômica  Federal,  por  exemplo,  será  julgado pelo juiz federal, 
a priori​. 
  
As  ​contravenções  penais​,  ainda  que  tendentes  ao  desaparecimento,  continuam 
vigentes  no  direito  brasileiro.  Muitas  não  foram  recepcionadas  pela  CF/88. 
Historicamente,  as  infrações  penais  estão  divididas  em  crimes  e  contravenções.  O 
legislador  constituinte  temeu  que  o  vocábulo  "crimes"  fosse  interpretado  tão 
amplamente  que  as  contravenções  seriam  incluídas.  Portanto,  ​competirá  ao  juiz  de 
direito  julgar  as  contravenções  cometidas  contra  os  entes  elencados  neste  título,  pelo 
princípio da residualidade. 
  

64   
As  causas  sujeitas  à  Justiça  Militar  e  à  Justiça  Eleitoral  estão  excetuadas,  pois 
ambas  as  justiças  ​têm  competência  judicial  criminal​.  O  critério  diferencial  de 
competências  é  a  ​primazia da justiça especializada​. Dessa forma, não será julgado pela 
Justiça Federal Comum. 
 
“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
 

V  - ​os crimes previstos em tratado ou convenção internacional​, quando, 
iniciada  a  execução  no  País​,  o  resultado tenha ou devesse ter ocorrido no 
estrangeiro, ou reciprocamente;” 

Como  já  visto,  os  tratados  ou  as  convenções  internacionais  têm  autoridade  de  lei 
federal,  então  ​podem  determinar  crimes​. Muitas vezes, o crime versado por eles já está 
tipificado no ordenamento jurídico penal nacional. 
 
“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 

VI  -  os  ​crimes  contra  a  organização  do  trabalho  e,  nos  casos 
determinados  por  lei,  contra  o  sistema  financeiro  e  a  ordem 
econômico-financeira;”  

O  inc.  VI  traz  a  competência  para  o  julgamento  dos  crimes  contra  a  organização 
do  trabalho.  Este  item  foi  alvo  de calorosos debates em virtude da EC nº 45/04, em que as 
associações  nacional  e  regionais  da  magistratura  do  trabalho  reivindicavam  a 
transposição desta competência para a Justiça do Trabalho.  
 
É  competência  da  Justiça  Federal  Comum  e  não  da  Justiça  Estadual,  pois  o 
trabalho  foi  consolidado  como  um  ​valor  nacional​,  graças  ao  governo  Vargas  e  a 
implementação  do  estado  de  bem-estar  social  no  Brasil.  Isso  deflagrou  o  modelo  da 
intervenção  federal  sobre  a  organização  do  trabalho.  Por  isso,  a  própria  Justiça  do 
Trabalho  é  federal.  Dessa  forma,  ainda  que  não  toque  diretamente  a  pessoa  da  União 
Federal, tange a valores nacionais. 
  
Os  crimes  contra  o  sistema  financeiro  nacional  e  a  ordem  econômico-financeira 
foram instituídos por leis extravagantes. 
 
“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 

65   
VII  -  os  ​habeas  corpus,​   em  matéria  criminal  de  sua  competência  ou 
quando  o  constrangimento  provier  de  autoridade  cujos  atos  ​não  estejam 
diretamente sujeitos a outra jurisdição​; 

No  inc.  VII,  trata-se  do  ​habeas  corpus,​   ainda  uma  competência  criminal  de  tutela, 
quando  o  coator  for  agente  federal  que  não  esteja  diretamente  sujeito  a  nenhuma outra 
jurisdição, como o delegado da polícia federal ou o auditor fiscal da Receita Federal.  
 
Não  há  dúvidas  de  que  o  Presidente  da  República  ou  um  desembargador  federal 
sejam  agentes  federais,  mas  têm  os  ​habeas  corpus  contra  seus  atos  julgados, 
respectivamente,  pelo  STF  e  pelo  STJ,  estando,  assim,  diretamente  sujeitos  a  outra 
jurisdição. Em verdade, o melhor é dizer que estão sujeitos a outra competência. 
 
 
“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 

VIII  -  os  ​mandados  de  segurança  e  os  ​habeas  data  c​ ontra  ato  de 
autoridade  federal,  ​excetuados  os  casos  de  competência  dos  tribunais 
federais;​ ” 

Excetuados  os  casos  de  competência  dos  tribunais  federais,  o  inc.  VIII  trata  da 
competência  para  processar  e  julgar  mandado  de  segurança  e  ​habeas  data contra ato de 
autoridade federal. 
 
 

“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 

IX  -  os  ​crimes  cometidos  ​a  bordo  de  navios  ou  aeronaves​,  ​ressalvada  a 
competência da Justiça Militar;​ ”  

O  inc.  IX  retorna  às  competências  criminais.  A  competência  especializada  é 


primaz  em  relação  à  comum.  Por  exemplo,  um  crime  cometido  numa  aeronave  da 
LATAM  deve  ser  julgado  pelo  juiz  federal  ou  pelo  juízo  militar?  Depende.  A  aeronave 
pode ser civil, mas é possível que ali tenha sido cometido um crime militar.  
 
Em  alguns  casos,  poderá  ser  estadual  a  competência:  se  for  cometido  crime  por 
membro das forças auxiliares. Então, será julgado pela Justiça Militar Estadual. 
  

66   
“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 

X  -  os  ​crimes  de  ingresso  ou  permanência  irregular  de  estrangeiro​,  a 


execução  de  carta  rogatória​,  após  o  ​exequatur,​  e de sentença estrangeira, 
após  a  homologação,  as  ​causas  referentes  à  nacionalidade​,  inclusive  a 
respectiva opção, e à naturalização;” 

O  inc.  X  traz  tanto  competências  cíveis,  quanto  criminais.  Fala-se  do  crime  de 
ingresso  e  permanência  irregular  no  país.  É  competência  federal,  pois  envolve  a 
soberania  nacional.  No  âmbito  cível,  cabe  ao juiz federal a execução após a concessão de 
exequatur ​pelo STJ. 
 

“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 

XI -​ a disputa sobre direitos indígenas​.” 

O  inc.  XI  traz  a  competência  para  processo  e  julgamento  das  disputas  sobre  os 
interesses  da  coletividade  dos  povos  indígenas.  O texto constitucional se preocupa muito 
com a tutela e proteção desses grupos, dedicando a eles um título próprio, como forma de 
reparação histórica. Por isso, houve uma tendência à federalização da matéria. 
 
 
“§1º  ​As  causas  em  que  a  União  for  autora  serão  aforadas  na  seção 
judiciária onde tiver domicílio a outra parte.”  

O  §1º  determina  que  as  causas  em  que  a  União  for  autora  serão  julgadas  no  foro 
do  domicílio  da  outra  parte.  Sempre  se  entendeu  a  Justiça  Federal  como  uma  justiça 
fazendária,  um  ramo  do  Poder  Judiciário  que  denota  certa  ​desigualdade  em  relação  a 
outra parte​. Dessa forma, tentou-se mitigar este descompasso. 
 
“§2º  As  causas  intentadas  contra  a  União  ​poderão  ser  aforadas  na  seção 
judiciária  em  que  for  domiciliado  o  autor, naquela onde houver ocorrido o 
ato  ou  fato  que  deu  origem  à  demanda  ou  onde  esteja  situada  a  coisa,  ou, 
ainda, no Distrito Federal.” 
 
  O  §2º  estabelece  uma  ​elegibilidade  de  foro  pelo  autor:  seu  domicílio,  o  Distrito 
Federal,  o  lugar  de  ocorrência  do  fato,  ou  onde  a  coisa  se  situe.  Tal  disposição  está  em 
consonância  com  a  motivação  que  originou  aquelas  do  parágrafo  anterior.  Assim,  o 
autor  poderá  eleger  o  foro  cujo  histórico  de decisões seja mais favorável a sua demanda, 

67   
por exemplo. 
 
“§  3º  Lei  poderá  autorizar  que  as causas de competência da Justiça Federal 
em  que  forem  parte  instituição  de  previdência  social  e  segurado  ​possam 
ser  processadas  e  julgadas  na  Justiça  Estadual  ​quando  a  comarca  do 
domicílio do segurado não for sede de vara federal.​ ” 
 
O  §3º  versa  sobre  a  competência  da  Justiça  Estadual  para  processar  e  julgar 
causas  previdenciárias  no  domicílio  do  segurado  ou  beneficiário  quando  a  comarca 
correspondente  não  for  sede  de  vara  federal.  Aqui,  também visa-se à tutela do elo mais 
frágil da relação processual​. É um caso de delegação da competência federal ao juízo 
estadual​.  Caso  esta  competência  não  esteja  determinada  em  lei,  dever-se-á  deslocar  à 
vara federal mais próxima. 
 
 

“§4º  Na  hipótese  do  parágrafo  anterior,  ​o  recurso  cabível  será  sempre 
para  o  Tribunal  Regional  Federal  ​na  área  de  jurisdição  do  juiz  de 
primeiro grau.” 

O  §4º  determina  que  os  recursos  às  decisões  advindas  do  parágrafo  supracitado 
serão encaminhados ao TRF da região. 
  
O  §5º  deve  ser  analisado  em  conjunto  com  o  inc.  V-A,  motivo  pelo  qual 
postergamos o seu estudo: 
 
“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
V-A  as  causas  relativas  a  direitos  humanos  a  que  se  refere  o  §  5º  deste 
artigo;” 
 
“§5º  Nas  hipóteses  de  ​grave  violação  de  direitos  humanos​,  o 
Procurador-Geral  da  República​,  com  a  finalidade  de  assegurar  o 
cumprimento  de  obrigações  decorrentes  de  tratados  internacionais  de 
direitos  humanos  dos  quais  o  Brasil  seja  parte,  poderá  suscitar,  ​perante  o 
Superior  Tribunal  de  Justiça,​   em  qualquer  fase  do  inquérito  ou  processo, 
incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal​.” 
 
  Nas  hipóteses  de  graves  violações  de  direitos  humanos,  o  Procurador  Geral  da 
República  poderá  solicitar  ​incidente  de  deslocamento  de  competência  para  a  Justiça 

68   
Federal  perante  o STJ. Foi uma disposição introduzida pela EC nº 45/04, tendo em vista as 
pressões  locais  ​que  podem  vir  a  comprometer  a  imparcialidade  do  julgamento  e  a 
integridade  das  investigações.  ​Há  requisitos:  graves  violações  a  direitos  humanos  que 
tenham  repercussões  nos  tratados  internacionais  dos  quais  o  Brasil é parte e ​atribuição 
exclusiva  do  Procurador  Geral  da  República  para a provocação do STJ, a fim de que este 
desloque a competência. 
 
   
E) JUSTIÇA DO TRABALHO 
 
As competências da Justiça do Trabalho estão elencadas no art. 114.  
 
Há  de  se  observar  que  a  EC  nº  45/04  estabeleceu  intensas  transformações  neste 
ramo  da  justiça  especializada.  Antes  de  sua  promulgação,  o  artigo  em  análise  se  tratava 
​ um parágrafo único. 
apenas de um ​caput e
 
  A onda neoliberal dos anos 90 visava a extinguir ou a reduzir o escopo de atuação 
desta Justiça. Foi bloqueado pela ascensão dos governos nacional-desenvolvimentistas no 
início  deste  século,  que  ampliou  a  sua  atuação.  O  movimento  de constrição da Justiça do 
Trabalho retorna no atual cenário histórico-político. 
 
“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:  
 
I  -  ​as  ações  oriundas  da  relação  de  trabalho​,  abrangidos  os  entes  de 
direito  público  externo  e  da  administração  pública  direta  e  indireta  da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;” 
 
  Não  estamos  aqui  nos  referindo  apenas  aos  conflitos  que  dizem  respeito  aos 
contratos  de  trabalho;  as  relações  de  trabalho  vão muito além disso. Há um índice muito 
elevado  de  informalidade  no  Brasil.  Se  fosse  meramente  uma  justiça  do  contrato  de 
trabalho,  seria  muito celetista. No âmbito do direito do trabalho, há o reconhecimento de 
vínculo,  que,  por  meio  de  provas,  permite  que  o  juiz  reconheça  a  relação  do  trabalho, 
apesar da ausência das formalidades contratuais. 
  
Incluem-se  os  entes  da  administração  pública  direta  e  indireta  dos  Estados, 
Municípios  e União,  além dos de direito público externo. Contudo, os servidores públicos 
vinculados  à  União,  Estados  e  Municípios  não  têm  seus  litígios  trabalhistas  atrelados  a 

69   
essa justiça, conforme estabelecido pela jurisprudência do STF.  
 
As  relações  laborais  entre  servidor  público  investido  em  cargo  de  provimento 
estável  ou  comissionado  e  a  administração  pública  se  caracterizam  como  ​vínculo 
institucional​,  não  vínculo  contratual.  Portanto,  não  se associam à Justiça do Trabalho. É 
uma  relação  de  pertencimento,  não  um  acordo  de  vontades  como  é  o  contrato  de 
trabalho,  por  mais  desiguais  que  sejam  as  partes.  Será  da  Justiça  Estadual  ou  da  Justiça 
Federal, dependendo do ente federativo ao qual o servidor público estiver vinculado. 
 
Um  auditor  fiscal  da  Receita  Federal,  por  exemplo,  não  discutirá  pagamento  de 
verba  vencimental  perante  à  Justiça  do  Trabalho,  mas  perante  à  Justiça  Federal,  já  que 
seu vínculo institucional é com a União.  
  
As  associações  representativas  da  magistratura  do  trabalho  defendem  que  este 
inciso deveria abarcar também os servidores públicos. 
  
Há  uma  distância  entre  o  que  a  CF/88  sonhou  para  o  Brasil  e  o  que,  de  fato,  pôde 
ser  feito.  Pelo  art.  37  da  Constituição,  o  acesso  ao  cargo  público  se  dará  exclusivamente 
por concurso público, presumindo que esta seja uma via isonômica de acesso.  
Com  o  tempo,  verificou-se  que  o país não teria condições de cumprir tal promessa 
devido  ao  ​descompasso  institucional  entre  os  municípios​,  principalmente.  A  sua 
maioria  não  tem  condições  estruturais  para  possuir  um  estatuto  do  servidor  próprio  ou 
realizar  concursos,  o  que  deve  ser  feito,  tendo  em  vista  o  federalismo  tridimensional.  O 
estatuto  dos  servidores  públicos  civis  rege  de  maneira  geral  esta classe, e não a CLT, que 
disciplina  os  contratos  trabalhistas.  Essa  impossibilidade  municipal  faz  com  que  sejam 
corriqueiras  as  contratações  trabalhistas  comuns  para  que  o município possa funcionar. 
Nesses  casos,  o  conflito  entre  estes  indivíduos  e  a  administração  pública  serão 
processados pela Justiça do Trabalho. 
  
Há de se mencionar as contratações trabalhistas feitas pela administração pública, 
não  porque  o  município  carece  de  estrutura  institucional,  mas  porque  o  vínculo  em 
questão  é  naturalmente  trabalhista.  São  os  casos  das  ​empresas  públicas  e  das 
sociedades  de  economia  mista​.  São  eles  os  empregados  públicos​,  vinculados  pelos 
contratos típicos da CLT. 
  
A  menção  aos  entes  da  administração  pública  externa  nada  tem  a  ver  com  a 
soberania  brasileira,  mas  com  as  ​representações  diplomáticas estrangeiras no Brasil​. 

70   
De  modo  geral,  os  consulados  são  órgãos  de  representação.  Então,  o  conflito  será  entre 
seu  funcionário  e  o  estado  de  origem.  A  lei  brasileira  terá  de  resolver  o  problema  da 
competência,  cuja  resposta  será  dada  casuisticamente.  Se  tiver  um  vínculo institucional, 
discutirá  com  o  estado  de  origem.  Por  vezes,  contrata-se  brasileiros  para  o  exercício  de 
funções dentro destes órgãos. 
  
A  Associação  Nacional  dos  Magistrados  da  Justiça  do  Trabalho  (Anamatra)  critica 
o  fato  de  as  competências  da  Justiça  do  Trabalho  não  terem  sido  divididas  entre  as 
instâncias,  como  foi  feito  com  a  Justiça  Federal,  o  STJ  e  o  STF.  Deveria  ter  dividido  as 
competências  entre  originárias,  recursais  e  de  revista  no  TST.  Então,  defendeu  a 
promulgação  de  uma  emenda  constitucional  que  fizesse  essa  mudança,  mas  ela  não 
passou. 
 
A ​ratio essendi​ do inc. I se aplica, simetricamente, aos demais incisos do art. 114. 
 
 
“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:   
 
II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;” 
 
  A  ​Justiça  Comum  poderá  julgar  estes  conflitos,  caso  se  trate  de  ​greve  de 
servidor  público​.  O  ramo  da  Justiça  Comum  dependerá  de  qual  ente  federativo  o 
servidor  tem  vínculo  institucional.  O  precedente  do  mandado  de  injunção  nº 708 afirma 
a  aplicação  subsidiária  da  lei  de  greve  do  trabalhador  do  setor  privado  ao  servidor 
público por falta de regulação do direito de greve destes. 
 
“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:   
 
III  -  as  ​ações  sobre  representação  sindical​,  entre  sindicatos,  entre 
sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;” 
  
Os  ​sindicatos  ​surgem  como  ​representação  dos  empregados​.  Na  evolução  deste 
instituto,  as  forças  de  produção  também  passaram  a  ser  representadas  por  eles.  Temos 
sindicatos,  federações  e  confederações  sindicais,  tamanha  foi  a  complexidade  que  este 
instituto  assumiu.  A  Justiça  do  Trabalho  é  o  ramo  do  Poder  Judiciário  que  preside  as 
relações  entre  capital  e  trabalho,  então  às  vezes  surgem  conflitos  entre  os  sindicatos  e 
uma dessas partes, ou mesmo entre sindicatos. 
 

71   
 
“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:   
 
​  ​habeas data​, quando o 
IV  -  os  ​mandados  de segurança​, ​habeas corpus e
ato questionado envolver ​matéria sujeita à sua jurisdição​;” 
  
O  inc.  IV  afirmou  competência  que  a  Justiça  do  Trabalho  já  tinha  antes  da 
promulgação  da  EC  nº  45/04  e  introduziu  uma  nova:  o  ​habeas  corpus.​   Anteriormente,  a 
Justiça  do  Trabalho  não  tinha  qualquer  forma  de  competência  criminal.  Continua  não 
tendo  competência  criminal  condenatória.  Os  crimes  contra  a  organização  do  trabalho 
são  competência  dos  juízes  federais,  por  exemplo.  O  ​habeas  corpus  não  é  tratado  pelo 
processo  civil,  mas  pelo  processo  penal.  É  ação  de  liberdade,  não  condenatória.  Existe 
desde  o  Império,  com  o  Código  de  Processo  Criminal.  Portanto,  está  dentro  da 
competência criminal, não da civil. 
  
O  ​habeas  corpus  era  frequente  na  Justiça  do  Trabalho,  mas  agora  sua  presença  é 
rara.  Isso  se  deu  por  uma  questão  jurisprudencial.  A  prisão  no  direito  brasileiro  é 
sempre  penal,  salvo  nos  casos  previstos  pela  Constituição:  a  prisão  do  devedor  de 
alimentos e a prisão do depositário infiel, ambas modalidades civis.  
 
Questionou-se  se  a  prisão  do  depositário  infiel  afetava  o  núcleo  essencial  das 
cláusulas  pétreas,  tendo  o  Pacto  de  São  José  da  Costa  Rica  em  vista,  no  qual  apenas  a 
prisão  do  devedor  de  alimentos  está  prevista.  Admitiu-se  uma  extensão  de 
jusfundamentalidade baseada nos tratados internacionais.  
 
Os  casos  de  decretação  de  prisão  do  depositário  infiel  eram  muito  comuns  na 
Justiça  do  Trabalho.  Na  fase  da  execução,  é  comum  que  o  devedor nomeie um bem para 
garantir o juízo do trabalho. Se esse bem perecer, considera-se que frustrou a execução. 
 
“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:   
 
V - os ​conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista​, 
ressalvado o disposto no art. 102, I, o;” 
  
O  inc.  V  traz  os  ​conflitos  de  competência  entre  órgãos  de  jurisdição 
trabalhista​.  O  conflito  de  competência  entre  a  vara  do  trabalho  de  Niterói  e  outra  do 
Rio,  será  julgada  pelo  TRT  da  primeira  região.  O  TST  julgará  o  conflito  entre  vara  do 
trabalho  de  Niterói e vara do trabalho de Ribeirão Preto. A exceção está no envolvimento 

72   
do  TST  nesse  conflito,  que  será  julgado  originariamente  pelo  STF,  conforme  delineado 
pela exceção expressa pelo art. 102, I, O. 
 
“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:  
 
VI  -  as  ​ações  de  indenização  por  dano  moral  ou  patrimonial​, 
decorrentes da relação de trabalho;” 
  
O  inc.  VI  traz  a  competência  para  julgar  danos  materiais  e  morais.  Aqui, 
incluem-se  os  acidentes  de  trabalho.  O  espírito  do  art.  114  é  transformar  a  Justiça  do 
Trabalho  em  uma  justiça  das  relações  do  trabalho,  que  inclui  as  ações  indenizatórias. 
Cabem também as ações de assédio moral neste conjunto. 
 
“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:  
 
VII  -  as  ações  relativas  às  ​penalidades  administrativas  impostas  aos 
empregadores pelos ​órgãos de fiscalização das relações de trabalho​;” 
  
O  inc.  VII  traz  a  competência  de  julgamento  dos  conflitos  envolvendo  órgãos  de 
fiscalização  do  trabalho,  tarefa  da  administração  pública.  Muitas  vezes,  as  sanções 
impostas  comprometem  a  existência  e  funcionalidade  da  empresa,  o  que  implica  uma 
análise  detida  da  situação.  Caso  seja  aplicada  em  questão  relativa  a  infrações  à  lei 
trabalhista,  terá  de  suportar.  Às  vezes,  os  desvios  de  poder  ocorrem,  sendo  sanções 
aplicadas  sem  motivação,  por  abuso  de  poder  ou  corrupção.  O  empregador  poderá 
mover  ação  contra  esse  excesso.  Poderá  ser  movida  uma  ação  anulatória,  ou  um 
mandado de segurança, por exemplo. 
 
“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:  
 
VIII  - ​a execução​, ​de ofício​, das contribuições sociais ​previstas no art. 195, 
I, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;” 
  
A  contribuição  social  é  espécie  de  tributo.  Adotamos  uma  classificação  quinária 
dos  tributos:  imposto,  taxa,  contribuição  social,  empréstimos  compulsórios  e 
contribuições  de  melhoria. Neste inciso, nos referimos à contribuição do trabalhador por 
meio  do  desconto  na  folha.  É  uma  contribuição  dúplice:  tanto  o  empregador,  quanto  o 
empregado  participam.  É  endereçado  ao  FGTS,  ao  qual  todos  os  trabalhadores  da 
iniciativa  privada  pagam  tributos.  ​A  execução  fiscal  desses  tributos  compete  ao  juiz 

73   
federal.  
 
O  art.  114,  VIII  faz  uma  exceção  à  regra,  na  qual competirá a execução ao juiz do 
trabalho  ​quando  percebida  de  ofício​,  segundo  o  princípio  da  ​perpetuatio  jurisdictionis,​  
numa  tentativa  de  promover  a  celeridade  da  justiça  e  facilitar  a  execução  do  crédito. 
Também repercute em âmbito criminal, sob a forma da apropriação indébita. 
 
 
F) JUSTIÇA ELEITORAL 
 
O  texto constitucional vai rareando no tangente à definição das competências pelo 
capítulo  3º  da  CF/88.  Já nas competências da Justiça do Trabalho, percebemos que não há 
nem mesmo uma divisão entre instâncias. Não é mais tão analítico quanto antes. 
  
O  art.  121  praticamente  não  determina  competências  da  Justiça  Eleitoral.  Não 
delimita  as  competências  originárias  de  cada  instâncias.  Se  a  Constituição  não  as 
determina,  isso  fica  sob  o  encargo  das  leis  processuais  e  infraconstitucionais.  A  lei  nº 
4.717/65  instituiu  o  ​Código  Eleitoral​,  embora  muitas  de  suas  disposições  não  tenham 
sido recepcionadas pela CF/88. 
  
Quando  falamos  do  período histórico coincidente com sua promulgação, logo vem 
em  mente  o  ​início  do  regime  militar​.  O  Código  Eleitoral  é  uma  codificação  típica  de 
regimes democráticos, então por que foi promulgado durante a ditadura?  
 
No  ano  de  1964,  havia  um  discurso  de  que  o  golpe  era  uma  medida  excepcional 
para  evitar  a  instauração  de  um  regime  comunista  no  Brasil.  Seria  um  governo  de 
transição,  o  que  era,  inclusive,  a  pretensão  do  marechal  Castelo  Branco.  Por  isso, 
preparou-se  o  Código  Eleitoral.  De  fato,  houve  eleições  para  deputados,  mas  não  para  a 
Presidência  da  República,  que  era  feita  de  forma  indireta,  pelo Congresso. Cabe também 
ressaltar a roupagem democrática do regime militar. 
  
Esse  Código  revogou  o  Código  Eleitoral  de  1932,  marco  de  inauguração  da  Justiça 
Eleitoral no Brasil. Nele, estão elencadas normas de direito material e processual. 
 
 
“§3º  - São ​irrecorríveis as decisões do ​Tribunal Superior Eleitoral​, ​salvo as 
que  contrariarem  esta  Constituição  e  as  ​denegatórias  de  ​habeas  corpus  ​ou 

74   
mandado de segurança​.” 

São  irrecorríveis  as  decisões  do  TSE.  A  rigor,  ​os  recursos  se  exaurem  aqui​. 
Todavia,  a  Justiça  Eleitoral  tem  suas  peculiaridades.  Uma  delas  está  no  fato  de  que  os 
TREs  têm  uma  carga  maior  de  competências  originárias  do  que  os  tribunais  da  Justiça 
Comum.  Muitas  vezes,  o  recurso  ordinário  é  julgado  pelo TSE, ou então esta corte exerce 
o ​controle de legalidade​. 
  
A  exceção  está  nos  casos  de  contrariedade  à  Lei  Maior.  Caso  contrário, 
desrespeitar-se-ia  o  disposto  no  art.  102,  inciso  III.  Poderá  a  decisão  ser  desafiada  por 
recurso extraordinário, apenas se diretamente contrária à CF/88.  
 
Também  são  exceções  as  hipóteses  de  decisão  denegatória  de  mandado  de 
segurança  e  ​habeas  corpus.​   Aqui,  caberá  recurso  ordinário  ao  STF,  conforme  o  art.  102, 
II.  A  jurisprudência  do  STF  determinou  que  o  recurso,  quando  a  decisão  tiver  sido 
proferida  pelo  TSE  ​em  grau  originário​,  será  ​ordinário  constitucional​.  Se  tiver  sido 
julgado ​em grau de recurso​, ​não caberá mais recurso ordinário​, ​mas o extraordinário​. 
Nesse caso, enquadrar-se-á na hipótese de afronta à Constituição. 
 
 
“§  4º  -  Das  decisões  dos  ​Tribunais  Regionais  Eleitorais  somente  caberá 
recurso quando: 
 
I  - forem proferidas ​contra disposição expressa desta Constituição ou de 
lei​; 
  
Neste  parágrafo,  são  versadas  as  hipóteses  de  recorribilidade  das  decisões  ​dos 
TREs  ao  TSE.  No  caso  de  decisão  expressamente  contrária  à  Constituição  ou  à  lei, 
percebe-se  uma  diferença  em  relação  à  Justiça  Comum,  na  qual  os  tribunais  superiores 
geralmente  realizam,  apenas,  o  controle  de  legalidade:  no  campo  da  residualidade 
recursal,  o  recurso  ordinário  é  primaz  em  relação  ao  recurso  especial  eleitoral  (REsp 
eleitoral). 
 
 
“§  4º  -  Das  decisões  dos  ​Tribunais  Regionais  Eleitorais  somente  caberá 
recurso quando: 
 
II  -  ocorrer  ​divergência  na  interpretação  de  lei  entre  dois  ou  mais 
tribunais eleitorais;” 

75   
 
  
Ao  TSE  também  cabe  ​uniformizar  a  interpretação  da  lei  eleitoral  pela  via  de 
recurso  especial  eleitoral.  Aqui,  há  um paralelo com o art. 105, III, C, hipótese de REsp ao 
STJ. 
 
“§  4º  -  Das  decisões  dos  ​Tribunais  Regionais  Eleitorais  somente  caberá 
recurso quando: 
 
III  -  versarem  sobre  ​inelegibilidade  ou  expedição  de  diplomas  nas 
e​leições federais ou estaduais​; 
IV  -  ​anularem  diplomas  ou  decretarem  a  perda  de  mandatos  eletivos 
federais ou estaduais;​ ” 
  
Os  incs.  III  e  IV  trazem  casos  de  questões  típicas  do  direito  eleitoral,  como  a  ação 
de  cassação  de  diploma,  questões  de  inelegibilidade  e  perda  de  mandato  eletivo.  Aqui, 
trata-se das ​eleições federais e estaduais​.  
 
O  Brasil,  no  entanto, é uma federação trina. Os municípios são excluídos, pois, por 
ser  Justiça  Especializada,  o  legislador  entendeu  que  mandato  de  vereador  ou  prefeito 
ensejará  competência  do  juiz  eleitoral​,  com  oportunidade  de  recurso  ordinário  ao 
TRE.  Senadores  e  deputados  federais  serão  julgados,  nesses  casos,  pelo  TRE,  com 
oportunidade de recurso ordinário ao TSE. 
 
“§  4º  -  Das  decisões  dos  ​Tribunais  Regionais  Eleitorais  somente  caberá 
recurso quando: 
 
V  -  denegarem  ​habeas  corpus​,  mandado  de  segurança​,  ​habeas  data  ​ou 
mandado de injunção​.” 
  
No  caso  do  inc.  V,  o  grau  do  julgamento  determinará  a  espécie  de  recurso  que 
poderá  ser interposta. Se o TRE estiver julgando ​originariamente​, será ​recurso ordinário 
ao  TSE.  Se  ​em  grau  de  recurso,​   será  ​REsp  eleitoral​,  exclusivamente  nas  hipóteses  de 
desuniformidade hermenêutica ou afronta à CF/88. 
 
Cabe  ressaltar  que,  se  subsistente  a  inconstitucionalidade  após  análise  do  REsp 
eleitoral, ainda caberá interposição de recurso extraordinário ao STF. 
 

76   
G) JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO 
  
A Justiça Militar da União tem suas competências descritas no art. 124: 
 
“Art.  124.  À  Justiça  Militar  compete  processar  e  julgar  os  crimes  militares 
definidos em lei. 
 
Parágrafo  único.  A  lei  disporá  sobre  a  organização,  o  funcionamento  e  a 
competência da Justiça Militar.” 
 
Aqui,  são  relevantes  o  Código  Penal  Militar  e  o  Código  de  Processo  Penal  Militar. 
Esses  dois  códigos  foram  promulgados  durante  o  governo  da  junta  militar,  entre  os 
governos Costa e Silva e Médici.  
 
As  competências  da  Justiça  Militar  da  União  e  do  Estado  são  assimétricas, 
conforme veremos a seguir. 
 
 
H) JUSTIÇA ESTADUAL COMUM 
 
Apesar  da  ​residualidade  ser  a  premissa  de  localização  das  competências  da 
Justiça  Estadual,  mais  de  70%  dos  processos  tramitando  na  Justiça  brasileira  são  de 
competência  desta  esfera.  O  único  ramo  de  justiça especializada que existe nesse âmbito 
é a militar. 
 
“Art.  125.  Os  Estados  organizarão  sua  Justiça,  observados  os  princípios 
estabelecidos nesta Constituição. 
 
§1º  A  competência  dos  tribunais  será  definida  na  Constituição  do  Estado, 
sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.” 
 
  
As  competências  dos  tribunais  serão  definidas  pela  Constituição  Estadual, 
observado  o  princípio  da  simetria.  A  separação  dos  Poderes  na  esfera  estatal  é 
intimamente relacionada àquela realizada no âmbito da União. 
  
A  lei  orgânica disciplina a organização da primeira instância do Poder Judiciário e 
será  de  ​iniciativa  reservada  do  Tribunal  de  Justiça​,  apesar  de  ser  elaborada  pela 

77   
Assembleia  Legislativa.  O  tribunal  também  poderá  propor  alterações.  O  governador 
deverá sancioná-la. 
 
 
“Art.  125.  Os  Estados  organizarão  sua  Justiça,  observados  os  princípios 
estabelecidos nesta Constituição. 
 
§  2º  Cabe  aos  Estados  a  instituição  de  ​representação  de 
inconstitucionalidade  ​de  leis  ou  atos  normativos  estaduais ou municipais 
em  face  da  Constituição  Estadual​,  vedada  a  atribuição  da  legitimação para 
agir a um único órgão. 
 
O  parágrafo  segundo  trata  do  ​controle  concentrado  abstrato​,  que  não  é  só 
competência  do  STF.  Aqui,  é  feito  ​face  a  Constituição  do  Estado  pelo  plenário  do 
Tribunal de Justiça ou pelo órgão especial.  
 
A  legitimação  para  agir  deve  ser  plural.  Os  Estados  devem  discipliná-la  como 
melhor  lhes  aprouver,  desde  que  não  estabeleça  um  legitimado  único.  O  STF  entendeu 
que  o  poder  constituinte  derivado  deverá  estabelecer  um  rol  de  legitimados  em  um 
modal  simétrico  ao  âmbito  federal.  O  princípio  da  simetria,  assim,  tolhe  as  autoridades 
locais. Contudo, a simetria não é vinculante, neste caso. 
  
No  Rio  de  Janeiro, por exemplo, o deputado estadual é legitimado, enquanto que o 
deputado  federal  não  o  é.  O  STF  não  criou  obstáculos  para  que  isso  acontecesse.  A 
jurisprudência  do  STF  fez  uma  série  de  concessões  quando  àquilo  que  poderá  ser 
disposto pelas constituições locais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

78   
I) JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL 
 
“§3º  A  lei  estadual  poderá  criar,  mediante  proposta  do  Tribunal de Justiça, 
a  Justiça  Militar  estadual,  constituída,  em  primeiro  grau,  pelos  juízes  de 
direito  e  pelos  Conselhos  de  Justiça  e,  em  segundo  grau,  pelo  próprio 
Tribunal  de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o 
efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes.” 
 
Apenas  três  estados  da  Federação  instituíram  o  TRM:  MG,  SP  e  RS.  É  uma 
faculdade dos estados com mais de 20 mil agentes no efetivo militar. 
 
 
“§4º  Compete  à  Justiça  Militar  estadual  processar  e  julgar  os  militares  dos 
Estados,  ​nos  crimes  militares  definidos  em  lei  e  as  ​ações  judiciais 
contra  atos  disciplinares  militares​,  ​ressalvada  a  competência  do  júri 
quando  a  vítima  for  civil,​   cabendo  ao  tribunal  competente  decidir  sobre  a 
perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. 
 
§5º  Compete  aos  ​juízes  de  direito  do  juízo  militar  processar  e  julgar, 
singularmente,​   os  crimes  militares  cometidos  contra  civis  e  as  ações 
judiciais  contra  atos  disciplinares  militares,  cabendo  ao  Conselho  de 
Justiça​,  sob  a  presidência  de  juiz  de  direito,  processar  e  julgar  os  demais 
crimes militares.”  
 
  As  dissonâncias  entre  a  Justiça  Militar  da  União  e  a  Justiça  Militar  Estadual  se 
fazem  presentes  nas competências. Assemelha-se quanto à competência para processar e 
julgar os crimes militares previstos em lei. Aqui, falamos do mesmo Código Penal Militar. 
 
Diferentemente  da  Justiça  Militar  da  União,  o  ramo  estadual  dessa  Justiça  ​tem 
competência  cível​.  As  ações  cíveis  propostas  por  militares  estaduais  em  relação  a 
sanções disciplinares serão julgadas pelos juízes da Justiça Militar Estadual. 
  
Se  um  ​civil  invadir  um  quartel  e  furtar  munição  para  fornecê-la  ao  crime 
organizado,  será  julgado  pela  Justiça  Militar  da  União,  já  que  é  um  crime  militar 
cometido  contra  patrimônio  da  União  ligado  ao  exército.  Não  será  da  Justiça  Federal 
Comum,  pois  o  art.  109  ressalva  a  competência  da  Justiça  Militar.  A  Justiça  Militar  da 
União  não  tem  nenhuma  competência  para  processar  e  julgar  ações  propostas  por 
militares contra sanções militares. Julgará, apenas, ações criminais. 

79   
Se,  a  título de exemplo, uma ​praça da força aérea venha a propor ​ação anulatória 
de  determinada  sanção  administrativa  que  lhe  foi imposta, quem processará e julgará 
será  o  ​juiz  federal​,  pela  premissa  da  residualidade,  já  que  não  é competência da Justiça 
Militar da União. Por outro lado, em âmbito estadual, o ​juiz de direito da justiça militar 
faria esse julgamento. 
  
Exclui-se  a  competência  ​quando a vítima for civil​. Será competência do ​tribunal 
júri  ​(art.  5º,  inc.  XXXVIII/CF).  Essa  medida  foi  tomada  pelo  legislador  apenas  no  âmbito 
dos estados. Demonstra uma desconfiança sobre as polícias militares. 
  
Um  decreto  no  governo  Temer  excluiu essa competência, transplantando-a para a 
Justiça Militar da União. 
  
A  competência  do  tribunal  do  júri  pode  ser  excepcionada  por  outras 
determinações da CF/88, como, por exemplo, o foro por prerrogativa de função. 
  
Os  ​§§​4º  e  5º  enunciam  três  conjuntos  de  competência:  as  do  ​Conselho  de  Justiça 
Militar​, do ​tribunal do júri​ e do​ juiz de direito do juízo militar​.  
  
O  juiz  de  direito  do  juízo  militar  preside  o  Conselho  de Justiça Militar. Se a vítima 
é  civil,  para  evitar  corporativismo​,  quem  julga  é  o  juiz  e  não  os  militares  membros  do 
Conselho  de  Justiça  Militar,  monocraticamente.  Não  se  tratam  dos crimes dolosos contra 
a vida, que irão direto ao tribunal do júri. Também julgará as ações cíveis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

80   
FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA 
 
A  Constituição  Federal  divide  as  funções  essenciais  à  Justiça  em  quatro  grandes 
instituições:  a  Defensoria  Pública,  o  Ministério  Público,  a  Advocacia  Pública  e  a 
advocacia. Estudaremos a estrutura de cada uma delas e as suas atribuições. 
  
A) MINISTÉRIO PÚBLICO 
 
Dividiremos  o  estudo  do  Ministério  Público  em  três  fases:  estrutura  institucional, 
princípios e atribuições. 
 
A.1) ESTRUTURA INSTITUCIONAL 
  
O  Ministério Público está presente nos Estados e na União. Logo, não está presente 
no  âmbito  municipal.  O  Ministério  Público  da  União  atua  perante  os  ramos  de  Justiça 
Federal, e os Ministérios Público sdos Estados, perante os ramos de Justiça do Estado.  
 
“Art. 128. O Ministério Público abrange: 
 
I - o ​Ministério Público da União​, que compreende: 
a) o Ministério Público Federal; 
b) o Ministério Público do Trabalho; 
c) o Ministério Público Militar; 
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; 
II - os ​Ministérios Públicos dos Estados​.” 
 
Não  se  menciona  o  Ministério  Público  ​Eleitoral.  No  entanto,  se  o  Ministério 
Público  está  onde  está  o  Judiciário,  estará  também  presente  nos  ramos  da  justiça 
especializada. 
  
A  Constituição  não  é  tão  extensiva  sobre  o  Ministério  Público,  então  algumas 
diplomações  legislativas  devem  ser  compreendidas  por  nós  como  diplomações 
fundamentais  à  compreensão  desta  instituição.  Por  exemplo,  a  Lei  Complementar  nº 
75/1993 (Lei Orgânica do Ministério Público da União).  
 
O  Ministério  Público  se  constitui  de  procuradores  e  promotores.  Os  ​nomina  iura 
do  Ministério  Público  muitas  vezes  se  confundem  em  lei.  São,  ​lato  sensu,​   promotores. 

81   
Este  título,  ​stricto  sensu​,  só  existe  na  primeira  instância  do Ministério Público Estadual e 
no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. 
  
Um  dos  princípios-norte  do  Ministério  Público  é  do  ​promotor  natural​.  Aqui, 
falamos  em  sentido  amplo​.  É  simétrico  ao  princípio  do  juiz  natural  e  dele  deduzido.  O 
promotor natural é aquele que tem atribuição disciplinada pela lei infraconstitucional ou 
pela  constituição  no  caso  concreto.  Se  o  presidente  da  república  vier  a  ser  acusado  por 
sonegação  fiscal,  o  promotor  natural  será  o  Procurador  Geral da República. Não se elege 
o promotor da causa. 
  
A  Lei  Orgânica  do  Ministério  Público  ainda  estabelece,  no  âmbito  da  União, 
normas  gerais  sobre  os  Ministérios  Públicos  dos  Estados.  O  Estado  terá  alguma 
autonomia, ainda que nosso federalismo seja constritivo. 
  
O  Ministério  Público  não  atua  apenas  na  seara  criminal,  mas  também  na  cível. 
Exerce  também  a  função  de  curadoria,  nas  tutelas  dos  interditos.  Tem  uma  atuação 
muito ampla. 
  
Em  ​âmbito  estadual​,  a  carreira  se  inicia  na  ​promotoria  de  justiça  e  ​se  encerra 
no  âmbito  dos  tribunais  de  justiça  ou  perante  seus  órgãos  fracionários.  São  eles  os 
procuradores  de  justiça​,  título  dos  membros  do  MPE  que  atuam  perante  tribunais.  É 
um  ​standard  ​nacional,  já  que  a  autonomia  estadual  é  muito  limitada  na  Federação, 
conservando aspectos de estado unitário.  
 
O  chefe  do  MPE  é  um  procurador  de  justiça  que  estará  nessa  condição  por  dois 
anos:  o  ​Procurador  Geral  de  Justiça  do  Estado.  É  diferente  do  Procurador  Geral  do 
Estado, que é o chefe da advocacia pública estadual. 
  
Já  no  MPF,  ​no  âmbito  da  Justiça Federal Comum​, teremos, em primeiro grau, os 
procuradores  da  República​.  Eles  são  estritamente  os  membros  do  MPF  em  primeira 
instância.  É  comum  se  referir  a  qualquer  membro  do  MPF  como  procurador  da 
República.  Em  segunda  instância,  são  ​procuradores  regionais  da  República​.  Atuarão 
perante as câmaras e turmas dos TRFs. 
  
O  ​STJ  ​recebe  recursos  tanto  dos  Tribunais  de  Justiça  quanto  dos  TRFs.  Quem 
representa  o  Ministério  Público  perante  este  tribunal,  que  é  uma  corte  nacional?  A  lei 
orgânica  determina  que  serão  os  membros  do  MPF:  os  ​subprocuradores  gerais  da 

82   
República​. Não se confundem com o vice procurador geral da República. 
  
Perante  a  justiça  especializada​,  temos  o  Ministério  Público  do  Trabalho, 
composto  pelos  ​procuradores  do  trabalho  em  primeira  instância,  pelos  ​procuradores 
regionais  do  trabalho em segunda instância e os ​subprocuradores gerais do trabalho​, 
perante o TST. 
  
O  Ministério  Público  Militar  da  União  ​é  composto  pelos  ​procuradores  de  justiça 
militar  em  primeira  instância.  Perante  a  segunda  instância,  ​não  há  nenhum  cargo​,  já 
que  não  foram  instituídos  os  TRMs.  Perante  o  STM,  atuam  os  ​subprocuradores  gerais 
de Justiça Militar​. 
  
O  art.  128  estabelece  a  divisão  entre  Estado  e  União e inclui nesta seara o MPDFT, 
que,  curiosamente,  não  é  órgão  do  Distrito  Federal,  mas  da  União  Federal.  A  mudança 
nomenclatural  (​promotores  de  justiça  em  primeira  instância​)  se  dá pelo fato de que o 
MPDFT  desempenha  tipicamente  as  funções de Estado, de alçada residual. Então, a CF/88 
não  disciplina  as  competências  judiciais  do  Distrito  Federal.  Aqueles  que  atuam  em 
segunda instância são considerados procuradores de justiça. 
  
O  STF  recepciona  o  Procurador  Geral  da  República,  que  é  o  chefe  do  Ministério 
Público  da  União.  Contudo,  há  o  ​princípio  da  unidade  do  Ministério  Público​,  então  é 
possível considerá-lo o chefe de todo o Ministério Público. 
  
Os  procuradores  de  justiça  elegem  uma  lista  tríplice,  vinculante  e  obrigatória, 
para  escolher  o  Procurador  Geral  de  Justiça  do  estado.  O  mesmo  não  ocorre  para  o 
Procurador  Geral  da  República  e,  por  isso,  criou-se  o  costume  de  a  Associação  Nacional 
dos Procuradores da República elaborar uma lista tríplice periodicamente e entregá-la ao 
presidente,  que,  em  deferência  à  associação,  escolhe  um  deles.  Essa  lista,  no  entanto,  se 
restringe aos membros do MPF tradicionalmente. 
  
A  ausência  do  Ministério  Público  Eleitoral  no  texto  constitucional  se  trata  de 
mais  uma  das  imperfeições  técnicas  da  CF/88.  A  lei  complementar  nº  75  o  disciplina. 
Aqui,  também  ocorrerá  o  cúmulo  funcional,  como  no  Poder  Judiciário.  Em  sua  primeira 
instância,  são  ​promotores  de  justiça  que  cumulam  a  função de ​promotores eleitorais​. 
Perante  os  TREs,  órgãos  federais,  será  o  ​procurador  regional eleitoral​. Será ​apenas um 
promotor​, já que os TREs não se fracionalizam. Sempre funcionam no colégio de sete. 
  

83   
O  procurador  regional  eleitoral  será  proveniente  da  carreira  do  MPF.  Um 
procurador  regional  da  república  ​que  atue  perante  o  TRF sediado naquele estado será 
eleito  bianualmente  para  exercer  esse  cúmulo.  ​Se  o  Estado  não  for  sede de procuradoria 
regional  da República, o cargo será preenchido pelo procurador da República​, de forma 
simétrica à composição dos TREs. 
  
Perante o TSE, atuará o ​Procurador Geral Eleitoral​ perante seu plenário. 
 
A.2) PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS 
 
A  Constituição  enuncia  três  princípios  institucionais  inerentes  ao  Ministério 
Público: unidade, indivisibilidade e independência funcional. Estão vinculados entre si.  
 
O  Ministério  Público  não  pertence  ao  Judiciário,  que  é  uno,  ainda  que  se  divida 
estruturalmente,  já  que  a  função  jurisdicional  é  una.  Um  dos  mais  importantes 
julgamentos  do  STF  foi  a  Ação  Direta  de  Constitucionalidade  nº  12,  que  declarou 
constitucional  uma  resolução  do  Conselho  Nacional  de  Justiça  que  vedava  a  prática  do 
nepotismo  no Judiciário. Aqui, foi reafirmada a unidade da jurisdição, já que os tribunais 
dos estados poderiam ser vinculados. De fato, todo o Judiciário estaria vinculado.  
 
Esse  raciocínio  de  ​unidade  ​se  transplanta  ao  Ministério  Público,  que  se  divide 
estruturalmente  de  forma  semelhante  ao  Judiciário.  Isso  não  afasta  a  sua  unidade como 
sociedade  em  juízo​.  Onde  estiver  o  Poder  Judiciário,  estará  o  Ministério  Público 
representando ou presentando a sociedade. 
  
O  ​princípio  da  indivisibilidade  determina  que a voz opinada não se divide entre 
seus  membros,  ainda  que  a  promotoria  esteja  exercendo  meramente  a  função  de  ​custos 
legis​.  Em  dadas  ações,  o  Ministério  Público  se  fará  presente  durante  processo  por  meio 
de  membros  distintos.  No  procedimento  de  júri,  por  exemplo,  o  promotor  que 
acompanha  o  sumarial  de  culpa  será  um;  no  plenário  do  tribunal  do  júri,  poderá  ser 
outro. A opinião manifestada será do Ministério Público, não do promotor em si. 
  
Há  uma  divisão  funcional  muito  marcante  no  Ministério  Público,  diferentemente 
do  que  acontece  na  advocacia,  na  qual  o  advogado  acompanhará o processo do início ao 
fim.  Isso  não  ocorre  na  França,  por  exemplo.  Entre  nós,  é  comum  que  membros 
​ tuem no mesmo processo. 
diferentes do ​parquet a
  

84   
O  ​princípio  da  independência  funcional  é  o  princípio  cardeal  do  Ministério 
Público  na  atualidade.  Também  ​inexiste  hierarquia  ​entre  os  membros  do  Ministério 
Público quanto às suas atribuições, apenas no tangente às funções administrativas.  
 
Há  uma  distribuição  dessas  atribuições.  A  CF/88  acercou  de  garantias 
constitucionais  a  figura  do  Ministério  Público.  Hoje  em  dia,  questiona-se  se  não  houve 
um  excesso  nesse  aspecto.  Visava-se  assegurar  a  sociedade  em  juízo  acima  de  tudo,  já 
que a subsunção do Ministério Público ao Executivo não era mais convincente no modelo 
democrático.  Daí  sua  independência  como  instituição.  O  membro  do  ​parquet  ​recebeu 
autoridade  para  fazer  o  seu  juízo  de  interpretação  sem  o  prejuízo  de  qualquer 
consideração hierárquica. 
  
Portanto,  não  há  quaisquer  obstáculos  à  mudança  de  posição  de  um  promotor 
para  o outro nos autos do processo, contanto que esteja se manifestando como Ministério 
Público  na  promoção  da  justiça,  e  não  como  particular.  A  livre  convicção  deve se dar de 
acordo  com  a  realidade  dos  autos.  Esse  princípio  se  conecta  intimamente  ao  da 
indivisibilidade. 
 
A.3) FUNÇÕES INSTITUCIONAIS 
  
As  funções  institucionais  do  Ministério  Público  estão  elencadas  no  art.  129.  Aqui 
também não há qualquer sobreposição hierárquica.  
 
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
 
I - promover, privativamente, a ​ação penal pública​, na forma da lei;” 
 
A  ​titularidade  para  a  ação  penal  pública  está  elencada  no  primeiro  inciso  por 
ser uma das atribuições ministeriais mais características e antigas. Tanto a condicionada, 
​  sociedade em 
quanto  a  incondicionada  são  movidas  pelo  Ministério  Público.  O ​parquet é
juízo  e  a  transgressão  da  norma  penal  ofende  não  só  a  vítima,  como  também  toda  a 
sociedade. 
  
De  umas  décadas  para  cá,  o  Ministério  Público  passou  a assumir mais atribuições 
na seara cível, o que não desdoura o inciso primeiro como definidor de seu maior papel. 
  
A ação penal privada subsidiária da pública é movida quando o Ministério Público 

85   
permanece inerte. 
  
O  ​princípio  da  indisponibilidade  ​confere  ao  ​parquet  ​toda  a  autonomia  para 
mover  a  denúncia  ou  não.  Contudo,  dado  o  papel  acusatório  do  órgão,  costuma  fazê-lo, 
ao  invés  de  promover  o  arquivamento.  Isso  porque,  via  de  regra,  age  sob  o  corolário  do 
in  dubio  pro  societate.​   A  partir  do  momento  que  o juiz declara a instauração do processo 
penal,  o  Ministério  Público  não  poderá  desistir  da  ação  penal,  mas  poderá  pleitear  pela 
absolvição do réu. 
 
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
 

II  -  zelar  pelo  ​efetivo  respeito  dos  Poderes  Públicos  e  dos  serviços  de 
relevância  pública  aos  direitos  assegurados  nesta  Constituição, 
promovendo as medidas necessárias a sua garantia​;”  

O  inc.  II  confere  um  comando  geral:  como  sociedade  em  juízo,  o  Ministério 
Público  ​deve  prezar  pelo bom funcionamento dos serviços públicos​. É um verdadeiro 
curador  da  sociedade.  Tomará  ​tanto  medidas  judiciais,  quanto  administrativas  para 
isso.  Aqui,  temos  uma  atribuição administrativa do órgão, o que demonstra o quanto sua 
atuação se expandiu com o passar dos anos. 
 
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
 

III  -  promover  o  ​inquérito  civil  e  a  ​ação  civil  pública​, para a proteção do 


patrimônio  público  e  social,  do  meio  ambiente  e  de  outros  i​nteresses 
difusos e coletivos;​ ”  

O  inc.  III  traz  a  atribuição  para  moção  do inquérito civil público​, que ​apurará a 


possibilidade  de  instauração  uma  ação  civil  pública​.  Está  sob  a  batuta  do  Ministério 
Público, enquanto o inquérito policial o está sob jugo do delegado de polícia. 
  A  ​ação  civil  pública  visa  a  tutela  de  direitos  coletivos  e  difusos.  Na  ação  penal 
​   o  ​único  legitimado.​   Já  na  ação  civil  pública,  é  ​um  dos  legitimados​. 
pública,  o  ​parquet  é
Pode  ser  exercida  para  fins  indenizatórios  ou  mesmo  a  prevenção  do  ilícito,  o  que 
poderia  ter  sido  verificado  no  caso  das  barragens  em  Minas  Gerais,  se  as  barragens 
tivessem sido desativadas e os desastres tivessem sido evitados. 
 
 

86   
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
 

IV  -  promover  a  ​ação  de  inconstitucionalidade  ​ou  representação  ​para 


fins  de  intervenção  da  União  e  dos  Estados​,  nos  casos  previstos  nesta 
Constituição;” 

O  inc.  IV  trata  da  representação  para  fins  de  intervenção  da  União  nos  Estados, e 
do  Estado  no  Município.  Em  verdade,  quando  falávamos  das  atribuições  elencadas  nos 
incisos  anteriores,  falávamos  de  funções espraiadas por todo o ​parquet​. Aqui, temos uma 
atribuição  restrita  aos  procuradores  gerais​.  Esse  tipo  de  ação  tem  vários  ​nomina  iura,​  
mas o mais conhecido é​ ação direta interventiva ​ou representação interventiva. 
  
​ lencados no art. 34: 
A ​intervenção federal​ tem seus ​pressupostos materiais e
 
“Art.  34.  A  ​União  não  intervirá  nos  Estados  nem  no  Distrito  Federal​, 
exceto para: 
 
I - manter a integridade nacional; 
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra; 
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;” 
 
Já seus ​pressupostos formais ​foram delineados pelo art. 36: 
 
“Art. 36. A decretação da intervenção dependerá: 
 
I  -  no  caso  do  art.  34,  IV,  de  solicitação  do  Poder  Legislativo  ou  do  Poder 
Executivo  coacto  ou  impedido,  ou  de  requisição  do  Supremo  Tribunal 
Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário; 
II  -  no  caso  de  desobediência  a  ordem  ou  decisão  judiciária,  de  requisição 
do  Supremo  Tribunal  Federal,  do  Superior  Tribunal  de  Justiça  ou  do 
Tribunal Superior Eleitoral; 
III  -  de  provimento,  pelo  Supremo  Tribunal  Federal,  de  ​representação  do 
Procurador-Geral  da  República​,  na  hipótese  do  art.  34,  VII,  e  no  caso  de 
recusa à execução de lei federal.” 
 
Nos  incs.  VI  e  VII  do  art.  34,  pressupõe-se  uma  ​movimentação  prévia  de  uma 
ação  interventiva​.  Essa  providência  não  é  necessária  nas  hipóteses  dos  incs.  I  ao  V.  A 
intervenção  no  Rio  de  Janeiro  decretada  pelo  ex-presidente  Michel  Temer,  por  exemplo, 
foi  embasada  pelo  inc.  III  (grave  comprometimento  da  ordem  pública),  então  houve 

87   
necessidade  de  manifestação  do  Procurador  Geral  da  República.  Os  casos  em  que  isso 
será  necessário  serão:  inexecução  de  lei  federal  (inc.  VI)  e  violação  a  princípio 
constitucional sensível (inc. VII). ​É condição de procedibilidade​.  
  
O  art.  35  trata  da  intervenção  estadual  no  município.  Conjuga  tanto  os 
pressupostos materiais quanto os formais.  
 
“Art.  35.  O  ​Estado  não  intervirá  em  seus  Municípios​,  nem  a  União  nos 
Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: 
 
I  -  deixar  de  ser  paga,  sem  motivo  de  força  maior,  por  dois  anos 
consecutivos, a dívida fundada; 
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; 
III  -  não  tiver  sido  aplicado  o  mínimo  exigido  da  receita  municipal  na 
manutenção  e  desenvolvimento  do  ensino  e  nas  ações  e  serviços  públicos 
de saúde;   
IV  -  o  Tribunal  de  Justiça der provimento a representação para assegurar a 
observância  de  princípios  indicados  na  Constituição  Estadual,  ou  para 
prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.” 
 
O  inc.  IV  traz  a  hipótese  de  representação  para  fins  de  intervenção  do  Estado  no 
Município.  Dos  incs.  I  ao  III,  ​o  governador  poderá  decretá-la  sem  manifestação  do 
Procurador Geral de Justiça​. 
  
Curioso  é  notar  que  a  CF/88  não  prevê  casos  de  intervenção  direta  da  União  nos 
Municípios.  Existe  uma  escala  no  federalismo  tridimensional,  exceto  se  se  tratar  de 
município  situado  em  território  federal,  que  é  autarquia  federal.  Portanto,  pressupõe-se 
a  inexistência  do  Estado  nesses  casos.  Hoje  em  dia,  isso  não  pode  ocorrer,  visto  que  não 
temos  mais  territórios  federais  desde  1988.  Roraima  e  Amapá  foram  convertidos  em 
Estados-membros. Contudo, a previsão constitucional subsiste. 
  
Dessa  forma,  são  27  figuras  institucionais  que  podem  exercer  essa  atribuição:  o 
Procurador  Geral  da  República  (União  nos  Estados)  e  os  26  Procuradores  Gerais  de 
Justiça  de  cada  Estado  (Estados  nos  Municípios).  A  intervenção  no  Distrito  Federal  será 
feita igualmente pelo Procurador Geral da República. 
  
Os  ​órgãos  jurisdicionais  competentes  são  o  STF  (quando movida pelo PGR), e os 
Tribunais de Justiça, quando movida pelo PGJ. 

88   
  
As  representações  existem  para  evitar  a  intervenção  propriamente dita​. Se o 
STF,  no  processamento  e  julgamento  da  ação  interventiva,  fizer  com  que  o 
Estado-membro  restabeleça  o  equilíbrio  institucional,  evita-se  a  instauração  da 
intervenção  federal.  O  presidente  não  poderá  decretá-la  sem  que  haja  antes  uma 
representação.  De  modo  geral,  tem-se  resolvido  o  problema  na  representação 
interventiva,  sem  a  necessidade  da  decretação  da  intervenção.  O  governo  do  estado 
rearrumará  suas  funções  e  ordenações  a  fim  de  restabelecer  o  equilíbrio  institucional. 
Caso  permaneça,  decretar-se-á  a  intervenção  federal.  O  mesmo  vale  para  a  hipótese  de 
intervenção estadual nos municípios. 
  
A  representação  interventiva  foi  ​instituída  em  1934​.  A  Constituição  deste ano foi 
emblemática,  pois  apesar  de  ser  a  Lei  Maior  de  um  Estado  democrático,  o  governo 
Vargas  tinha  fortes  tendências  centralizadoras.  A  ideia  de  uma  federação  sem  limites, 
nascida com o movimento republicano, havia sido superada. Aqui, a Suprema Corte era o 
órgão competente para julgá-la. 
 
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
 
V  -  defender  judicialmente  os  direitos  e  interesses  das  populações 
indígenas;” 
  
O  inc.  V  traz  a  atribuição  de  ​defesa  dos  direitos  e  interesses  das  populações 
indígenas​.  Refere-se  tanto  ao  MPE,  quanto  ao MPF, no tangente às medidas judiciais que 
visam  a  essa  proteção,  ainda  que,  no  Judiciário,  seja  uma  competência  federal.  O 
Ministério  Público  tem  órgãos  de  investigação  que  apuram  eventuais  violações  a  esses 
direitos e interesses, o que coloca essa instituição em posição de destaque. 
 
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
 
VI  -  expedir  notificações  nos  procedimentos  administrativos  de  sua 
competência,  requisitando  informações  e  documentos  para  instruí-los,  na 
forma da lei complementar respectiva;” 
  
O  inc.  VI  confere  ao  ​parquet  ​a  atribuição  de  expedição  de  notificações  de 
procedimentos  administrativos  de  sua  competência,  requisitando  informações  e 
documentos  para  instruí-los na forma da lei complementar respectiva. Apesar de não ser 
um  órgão  do  Executivo,  o  Ministério  Público  está  mais  próximo  desse  ramo  do Poder do 

89   
que  de  qualquer  outro.  Provoca  a  função  jurisdicional,  mas  deflagra  em  âmbito  interno 
atividades  administrativas,  nas  quais  precisa  ter  poderes  instrutórios  para  que  não 
dependa  do  Judiciário  para  tudo.  O  ​poder  de  ​requisição  denota  o  ​caráter  coercitivo 
ministerial para realização dessa atribuição. 
 
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
 

VII  -  exercer  o  ​controle  externo  da  atividade  policial​,  na  forma  da  lei 
complementar mencionada no artigo anterior;”  

O  inc.  VII  menciona  a  atribuição  de  controle  externo  da  atividade policial​. Isso 


coloca  o  Ministério  Público  em  posição  de  proeminência  no  quadro  institucional 
brasileiro.  A  polícia  integra  o  Executivo,  mas  caberá  ao  ​parquet  c​ ontrolá-la  de  fora, 
justamente  por  ser  uma  instituição  autônoma.  Faz  parte  do  ​sistema  de  freios  e 
contrapesos​. Esse inciso foi usado como fundamento para que não se aprovasse a PEC nº 
37/13. 
 
 
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
 
VIII  -  ​requisitar  ​diligências  investigatórias  e  a  instauração de inquérito 
policial​,  indicados  os  fundamentos  jurídicos  de  suas  manifestações 
processuais; 
 
O  inc.  VIII  traz  a  ​requisição  de  diligências  investigatórias  e  instauração  de 
inquérito  policial  de  forma  fundamentada.  O  promotor  pode  determinar  que  um 
delegado  ouça  uma  testemunha.  O  inquérito  policial  tem  prazos  para cumprir, o que faz 
com  que,  muitas  vezes,  o  inquérito  seja  insuficiente,  sem  a  instrução  probatória  devida. 
Assim,  retorna  ao  delegado  com  várias  requisições  do  promotor.  Instaurar  ou  não  o 
inquérito  é  uma  escolha  discricionária  do  delegado,  mas,  em  consonância  com  o 
mecanismo de freios e contrapesos, o promotor pode determinar que seja feita. 
 
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
 

IX  -  exercer  outras  funções  que  lhe  forem  conferidas,  desde  que 
compatíveis  com  sua  finalidade,  sendo-lhe  vedada a representação judicial 
e a consultoria jurídica de entidades públicas.”  

90   
O  inc.  IX  prevê  acréscimos  às  funções  do  ​parquet​,  desde  que  compatíveis  com  a 
constituição e as leis infraconstitucionais. 
 
 
B) ADVOCACIA PÚBLICA 
  
A  CF/88  colocou  fim  na  confusão  entre  Ministério  Público  e  advocacia  pública.  O 
parquet  é  sociedade  em  juízo  e  ​a  advocacia  pública,  estado  em  juízo​.  Muitas  vezes,  a 
sociedade  entra  em  juízo  contra  o  Estado.  Portanto,  resta  incompatível  a  concentração 
dessas atribuições numa mesma instituição.  
 
O  inc.  IX  do  art.  129  ainda  veda a advocacia contenciosa, quanto a consultiva pelo 
Ministério  Público  em  relação  aos  entes  federativos.  No  Rio  de  Janeiro,  já  não  tínhamos 
este problema, visto que já havia uma Procuradoria Geral do Estado antes de 1988. 
  
A Advocacia Geral da União é regulamentada pela Lei Complementar nº 73/93.  
 
A  advocacia  pública  existe  nos  três  níveis  do  federalismo:  União,  Estados  e 
Municípios,  já  que  é  estado  em  juízo.  ​Representa  as  pessoas  jurídicas  de  direito 
público. 
  
Temos  uma  estrutura  de  alta  complexidade.  Divide-se  em  três  grandes  carreiras: 
advogados  da União (representação e consultoria jurídica da União como pessoa jurídica, 
da  administração  direta),  procuradores  federais  (representação  e  consultoria  jurídica 
das  autarquias  federais)  e  procuradores da fazenda nacional (destina-se à administração 
direta nos executivos fiscais). 
  
Dentro  dessa  estrutura,  há  as  ​chefias  regionais​.  A  carreira  dos  ​advogados  da 
União  é  chefiada  pelo  ​Procurador  Geral  da  União​;  a  dos  ​procuradores  federais  pelo 
Procurador  Geral  Federal​;  a  dos procuradores da fazenda nacional pelo ​Procurador Geral 
da Fazenda Nacional​. 
  
Acima  deles,  temos  o  ​Advogado  Geral  da  União​,  ​chefe  da  advocacia  pública  da 
União  Federal​.  É  nomeado  pelo  Presidente  da  República  e  não  precisa  ser da carreira da 
advocacia  pública,  mas,  tradicionalmente,  o  é.  Pode  ser  nomeado  e  destituído 
livremente. 
  

91   
A  carreira  dos  procuradores  federais  não  existia.  Cada  autarquia  tinha  uma 
carreira  própria. O ​procurador autárquico era servidor da administração indireta. Com 
a  alteração  da  Lei  Complementar  nº 73, foram extintas e conglomeradas na função única 
dos  procuradores  federais,  servidores  da  administração direta. Por isso, muitos afirmam 
que  essa  mudança  foi  inconstitucional.  Hoje  em  dia,  portanto,  não  percebemos  um grau 
de  especialização  tão  grande  dos  procuradores  federais,  quanto  nos  procuradores 
autárquicos, que conheciam profundamente a realidade da autarquia. 
  
O  BACEN  conservou  a  carreira  autônoma  de  procurador  autárquico,  por  sua 
importância institucional. 
 
As  ​procuradorias  gerais  dos  estados  estão  previstas  no  art.  132,  que  é  uma 
anotação  geral  sobre  esse  modelo.  É  uma  carreira  que  depende  de  concurso  público. 
Têm,  ​a  priori​,  todas  as  atribuições  de  advocacia  pública sobre todo o domínio estadual, e 
se  desmembram  em  procuradorias  especializadas.  A  procuradoria  geral  do  Rio  de 
Janeira  é  mais  tradicional  do  que  a  da  União  entre  nós,  que  foi  uma  criação  da  CF/88.  É 
muito  adstrita  pelas  tendências  centralizadoras,  mas  conserva  algumas  características 
especiais  de  acordo  com  as  Constituição  Estadual.  Por  exemplo,  temos  o  princípio  da 
unicidade da representação dos feitos do Estado, inclusive sobre as autarquias. 
  
Uma  das  exceções  são  as  procuradorias  universitárias,  que  foram  constituídas 
antes  da  CE/89.  A  UERJ,  por  exemplo,  é  uma  fundação  pública  e,  pelo  princípio  da 
autonomia  universitária,  é  possível  que  remanesça  essa  carreira,  desvinculada  da  PGE. 
Isso se dá, pois a UERJ não é uma autarquia qualquer, mas uma fundação pública. 
  
O  PGE  é  nomeado  pelo  governador,  em  simetria  com  o  modelo  da  AGU.  Há  uma 
diferença  estrutural  entre  o cargo de Procurador Geral de Justiça, eleito por meio de lista 
tríplice  pelos  membros  do  MPE,  e  o  de  Procurador  Geral  do  Estado,  nomeado  pelo 
governador  do  Estado.  Assim  como  o  AGU,  que  tem  status  de  ministro  de  Estado,  tem 
status de secretário de Estado​. Está diretamente jugido ao governador. 
  
O  Poder  Judiciário  e  o  Ministério  Público  só  existem  no  âmbito  da  União  e  dos 
Estados.  Já  a  advocacia  pública,  não.  Representa  interesses  dos  entes  públicos,  sendo 
estado  em  juízo.  As  procuradorias  no  âmbito  dos  municípios  existem​,  via  de  regra, 
​ acionais:  o  das  procuradorias  gerais  do  município,  que  vem  se 
em  três  ​standards  n
popularizando  entre  os  municípios  de médio porte; o de assistência jurídica chefiada por 
um  procurador  geral  (o  poder  contencioso  se  concentra  nele  e a assistência jurídica, por 

92   
advogados  públicos),  que  tende  a  se  extinguir;  por  fim,  o  modelo  monocrático  de 
advocacia  pública,  comum nos municípios pequenos. Nas leis orgânicas, aparece a figura 
do  procurador.  Neste  último  modelo,  é  cargo  de  confiança  nomeado  pelo  prefeito  da 
cidade.  É  também  uma  forma  de  simetria  entre  o  município,  os  estados  e  a  União.  Tem 
status  de  secretário  municipal. Nesse caso, não há órgão de procuradoria, apenas o cargo 
de procurador. 
  
Há  um  déficit  grande  em  alguns  municípios  brasileiros,  que  não  conseguem 
estabelecer  regimes  próprios  de  previdência.  Apenas  cerca  de  2.000  deles  têm  esses 
regimes.  Como  a  carreira  de  advogado  público  é  considerada  carreira  de  estado,  os 
municípios  que  a  estão  instituindo  criam  leis  municipais  e  carreira  pública  de 
procurador  com  regime de previdência municipal. A CF/88 nada diz sobre o procuratório 
dos  municípios.  Portanto,  para  compreendê-lo,  é  preciso  ir  às  leis  orgânicas  dos 
municípios. 
 
C) ADVOCACIA 
  
A  advocacia  é  a  ​advocacia  das  pessoas  privadas​,  tanto  as  naturais,  quanto  as 
jurídicas  de  direito  privado.  Neste  último  caso,  também  consideramos  as  associações 
civis, as fundações de direito privado, etc. 
  
Foi  uma  das  grandes  forças  que zelaram pela reconstrução democrática do Brasil, 
em  conjunto  com  a  OAB.  Tiveram  um  papel  preponderante  na  Constituinte.  O  nosso 
texto  constitucional  prestigia  essas  instituições  reiteradas  vezes,  como  legitimada,  por 
meio  do  conselho  federal,  para  a  ADIn.  No  art.  133,  é  conferida  ao  advogado  imunidade 
de  palavras  no exercício das funções. A OAB é uma instância da sociedade brasileira, que 
luta  pela  conservação  do  Estado  Democrático  de Direito. Teve papel grandioso durante o 
regime militar ao defender os direitos dos presos políticos. 
  
O  STF  não  positivou jurisprudência sobre o art. 133, mas há parte da doutrina que 
defende  seu  status  de  cláusula  pétrea,  já  que  a  jurisdição  é  inafastável  e  não  se  pode 
fazer  justiça  com as próprias mãos, sob pena de incorrer no crime de exercício arbitrário 
das próprias razões.  
 
D) DEFENSORIA PÚBLICA 
  

93   
O  art.  134  delineia  a  Defensoria  Pública.  É  uma  instituição  que  se  viu, 
historicamente,  muito  assimétrica  entre  os  estados.  A  Defensoria  Pública  do  Estado  do 
Rio de Janeiro é uma das mais tradicionais do país.  
Mesmo  depois  da  CF/88,  muitos  Estados  ainda  não  possuíam  defensoria  pública, 
como  São  Paulo  e  Minas  Gerais.  Neste  último,  o  cargo  de  defensor  era  da  Secretaria  de 
Justiça.  Já  em  São  Paulo,  era  exercido  pela  procuradoria  geral  do  Estado.  Fazia-se 
concurso  para  a  advocacia  pública  e  era  possível  ser  promovido  para  a  carreira  de 
defensor.  Muitas  vezes,  o  defensor  investe  contra  o  Estado,  cujo  poder  é  defendido  pelo 
advogado  público.  Percebe-se  então  a  incompatibilidade  entre  essas  carreiras.  Aqui  no 
Rio  de  Janeiro,  pertencia  à  carreira  do  MPE.  Fazia-se  concurso  para  o  MPRJ  e  tomava-se 
posse como defensor público e, depois, era promovido a promotor de justiça. 
  
A  jurisprudência,  na  ADO  nº  26,  discutiu  os  casos de Paraná e Santa Catarina, que 
não  tinham  defensoria.  Ali,  por  lei, publicava-se uma tabela de honorários defensórios e, 
se  o  advogado  tivesse  interesse,  credenciava-se  perante  os  juízos  das  comarcas  para 
exercer  essas  funções.  Sustentava-se  que,  por  isso,  cumpriam  a  determinação 
constitucional,  já  que  no  art.  5º  é  previsto  que  o  estado  deve  prover  assistência  jurídica 
integral  e  gratuita  aos  necessitados,  cláusula  pétrea.  O  STF  determinou  que  é 
inconstitucional  por  omissão  a  não  instituição  da  defensoria  pública.  Deu  um  prazo  de 
seis  meses  para  que  isso  fosse  feito,  sob  pena  de  os  governadores  incorrerem  em  crime 
de responsabilidade. 
  
Até  a  CF/88,  não tínhamos uma Defensoria Pública perante a Justiça Federal. A Lei 
Complementar  nº  80/94  veio  para  regulamentar  a  Defensoria  Pública  da  União  e 
estabelecer  normas  gerais  sobre  as  Defensorias  Públicas  dos  estados.  Isso  não  obsta que 
os estados elaborem leis orgânicas locais. 
  
A  assistência  jurídica  não  se  exaure  na  Defensoria  Pública.  Também  é  oferecida 
pelos núcleos de prática jurídica. 
  
A  ​inamovibilidade  ​é  uma  prerrogativa  da  Defensoria  Pública,  assim  como  o  é 
para  os  magistrados.  Contudo,  é  a  única  prerrogativa  que  têm  em  comum,  estando 
excluída  a  vitaliciedade.  Houve  uma  polêmica  jurídica,  pois  alguns  estados  elaboraram 
normas  que  a  concediam  aos  defensores  públicos.  O  STF  entendeu,  em  sua 
jurisprudência,  que  a  CF/88  deve  ser  a  única  fonte de garantias. O advogado público tem 
apenas  estabilidade  funcional.  O  defensor  só  poderá  agir  dentro  das  atribuições 
institucionais. 

94   
  
Os serventuários da Defensoria Pública são funcionários do estado. 
  
A  Defensoria  Pública  tem  iniciativa  reservada  para  elaborar  sua  proposta 
orçamentária,  assim  como  o  Ministério  Público.  Também  é  regida  pelos  mesmos 
princípios do ​parquet,​ a fim de exercer sua função de forma efetiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

95   
DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS 
 
O  título  V  da  Constituição  se  intitula  "Da  defesa  do  Estado  e  das  instituições 
democráticas".  ​Institui  mecanismos  de  força  para  a  preservação  da  soberania 
nacional  e  da  ordem​.  O  primeiro  capítulo  trata  do  estado de defesa e do estado de sítio. 
O segundo, das forças armadas. O terceiro, sobre segurança pública. 
  
O  primeiro  capítulo  traz  ​medidas  de  exceção​.  São  costumeiras  nos  estados 
democráticos  de  direito,  apesar  de  terem  aspectos  antipáticos  e  parecerem  pouco 
democráticas  em  sua  essência.  Não  se  trata  de  nenhum  governo golpista ou ditatorial, já 
que  foi  estabelecido  pela  assembleia  constituinte  democrática  e  se  situam  no  devido 
processo  legal.  A  adoção  desses  mecanismos,  como  o  da  intervenção  federal,  funciona 
como  uma  medicação  quando  estamos  doentes.  São  procedimentalizadas  por 
autoridades constituídas. 
  
Existe  uma  semelhança  estética  e  processual  do  estado  de  defesa  e estado de sítio 
com a intervenção federal. No entanto, são trabalhados em títulos distintos da Lei Maior.  
 
Quando  falamos  de  ​intervenção  federal​,  falamos  de  uma  ​relação  jurídica 
excepcional  formada  entre  a  União  e  o  Estado-membro​.  Já  no  ​estado  de  defesa  e 
estado  de  sítio​,  ​não  temos  nenhuma  relação  formada  entre  esferas  de  governo 
distintas​.  O  título  V  versa  sobre  uma ​descentralização de ​caráter horizontal,​  sem relação 
de  hierarquia  entre  os  poderes,  mas  o  título  III  trata  da  relação  entre  União,  Estados  e 
Municípios. Portanto, é uma ​descentralização vertical.​  
  
São  institutos  antigos,  que  foram  repaginados  pela  CF/88. Na República Velha, um 
ensaio  democrático  no  ponto  de  vista  formal,  foi  fortemente  marcada  pela  incidência 
desses  institutos.  Arthur  Bernardes  exerceu  seu  mandato  em  quase  sua  totalidade  em 
estado  de  sítio.  Foi  mantido  tendo  como  justificação  as  sublevações  das  forças  militares 
na  época.  A  regulamentação  do  estado  de  sítio,  então,  era  muito  laxa.  Hoje  em  dia,  é 
muito mais restrita. 
  
A  Constituição  de  1934  foi  a  nossa  Constituição  de  Weimar,  que  previu,  pela 
primeira  vez,  a  representação  interventiva,  ​de  competência  do  STF​.  Obedecia  às 
tendências centralizadoras do governo Vargas. 
  
O  decreto  da  intervenção  federal,  do  estado  de  sítio  e  do  estado  de  defesa  é  de 

96   
atribuição  do  Presidente  da  República​,  por  meio  do  ​decreto  executivo​.  O  momento 
desse decreto pode variar.  
 
Quando  o  decreto  executivo  é  expedido  pelo  Presidente  em  caso  de  intervenção 
federal​,  ele  deve  encaminhar  mensagem  ao  Presidente  do  Senado,  também  presidente 
do  Congresso  Nacional,  que  determinará  um  projeto  de  decreto  legislativo.  Se  for 
rejeitada,  perderá  imediatamente  seus  efeitos.  O  mesmo  ocorre  no  ​estado  de  defesa​.  A 
manifestação  das  casas  legislativas  é  feita  ​a  posteriori.​   Aqui, falamos de ​aprovação pelo 
Congresso Nacional​. 
  
Já  no ​estado de sítio​, o Congresso Nacional se manifesta ​antes da manifestação do 
Presidente  da  República.  O  Presidente  pede  autorização  ao  Congresso  Nacional,  que  a 
concederá  ou  negará,  para  que  possa  decretar  a  medida.  Aqui,  falamos  de  ​autorização​. 
Isso  é  porque  o  estado  de  sítio  ​é  mais  interveniente  do  que  as  outras  medidas 
excepcionais​.  Assim,  deve  passar  por  estágios  sucessivos  de  controle.  Se  decretar  o 
estado  de  sítio  sem  a  autorização,  o  Chefe  de  Estado  incorrerá  em  crime  de 
responsabilidade. 
  
Além  disso,  a  Constituição  determina  que  essas  medidas  deverão  ser  precedidas 
de  manifestação  consultiva  dos  Conselhos  de  Estado  e de Defesa Nacional. São pareceres 
não vinculantes. 
 
O  art.  136  disciplina  os  aspectos  formais  e  materiais  do ​estado de defesa​. Durará 
por  trinta  dias, mas ​poderá ser prorrogado por mais trinta com outra edição, seguindo 
o  mesmo  procedimento​.  Não  poderá  ser  reeditado  depois  disso.  Geralmente,  é  decretado 
por ​comoções de caráter regional​. 
  
O  ​estado  de  sítio  pode  ser  decretado  pela  insuficiência  das  medidas  tomadas  no 
estado  de  defesa.  Há  outras  hipóteses.  ​Tem  caráter  nacional​.  Também  haverá  uma 
limitação  de  trinta  dias.  Não  tem limitação de reedições. Porém, pressupõe manifestação 
prévia  do  Congresso  Nacional.  As  relações  entre  Executivo  e  Legislativo  se  modificam, 
então, é difícil imaginar um cenário no qual a autorização seja sempre concedida. Poderá 
ser decretado sem limitação de tempo em casos de guerra externa, um fator exógeno. 
 
A) ESTADO DE DEFESA 
 
“Art. 136. O Presidente da República ​pode​, ouvidos o Conselho da República 

97   
e  o Conselho de Defesa Nacional, decretar ​estado de defesa para preservar 
ou  prontamente  restabelecer,  em  ​locais  restritos  e  determinados​,  a  ordem 
pública  ou  a  paz  social  ameaçadas  por  grave  e  iminente  instabilidade 
institucional  ou  atingidas  por  calamidades  de  grandes  proporções  na 
natureza.” 
 
O  art. 136 determina que o Presidente ​poderá ​ouvir o Conselho de Defesa Nacional 
e  o  Conselho  da  República  antes  de  decretar  o  estado  de  defesa  (​pressuposto  formal​). 
Mesmo  que  os  conselhos  se  manifestem de forma contrária, poderá ser decretada, já que 
é  uma  manifestação  meramente  opinativa.  Não  é  à  toa  que  surgiu  uma  celeuma  com  a 
intervenção  federal  no  Rio  de  Janeiro,  já  que  o  então  presidente  Temer  não  tinha 
consultado  os  conselhos  e  o  fez  após  a  decretação.  Não  há  menção  expressa  no  texto 
constitucional sobre o momento em que isso deve ser feito. 
  
São  duas  as  grandes  causas  ensejadoras  do  estado  de  defesa:  as  ​naturais 
(calamidade  pública)  e  as  ​humanas  (instabilidade  institucional).  Dessa  forma,  são 
também dois os ​pressupostos materiais​. 
  
Aqui,  percebe-se  a  ​diferença  organizacional  ​entre  a  disciplina deste instituto e a 
da  intervenção  federal,  para  a  qual  o  constituinte  separou  dois  artigos  muito  bem 
​ o 
delineados  que  elencam  os  pressupostos  materiais  e  os pressupostos formais. O ​caput d
art. 136 traz os dois mesclados. 
  
Será  estabelecida  em  ​locais  restritos  e  determinados​.  Estamos  aqui  num  meio 
termo,  entre  a  intervenção  federal,  em  que  a  União  intervém  no  Estado,  e  o  estado  de 
sítio,  de  escala  nacional.  O  estado  de  defesa  tem  caráter  regional  e  não  se  pauta  numa 
relação entre o Estado e a União. 
 
“§1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará ​o tempo de sua 
duração​,  especificará  ​as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos 
e limites da lei, ​as medidas coercitivas a vigorarem​, dentre as seguintes: 

I - restrições aos direitos de: 


a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;” 

O  decreto  que  o  instituir  ​deverá  indicar  seu  termo,  as  áreas  em  que  incidirá e 
as  medidas  coercitivas  que  devem  vigorar​. O próprio dispositivo enumera quais serão 
as  medidas que serão tomadas. A intenção é balizar essas medidas excepcionais para que 
elas não sirvam de porta de entrada para um governo autoritário. 

98   
  
A  alínea  A  traz  a  restrição  à  liberdade  de  reunião​,  ainda  que  exercida  no  seio 
das  associações.  O  art.  5º  da  CF/88 instituiu uma série de matizes do direito de liberdade. 
Trata,  ainda,  da  liberdade  de  associação  e  de  reunião  como  direitos  distintos  dentro  do 
direito  macro  da  liberdade.  As  associações  também  existem  em  vários  matizes  e  se 
concretizam  por  meio  do  direito  de  reunião.  Portanto, há uma zona de intersecção entre 
eles.  Aqui,  estamos  em  uma  das  cidadelas  mais  avançadas  da  excepcionalidade  do 
regime democrático. 
  
Contudo,  o  art.  136  não  está  restringindo  o  direito  de  liberdade  de  associação, 
apenas  o  de  reunião.  Isso  é  porque  a  reunião  se  dá  em  um  lapso específico de tempo​, 
enquanto  a  associação  se  dá  por  tempo  indeterminado.  O  estado  de  defesa  é  um  regime 
que deve durar pouco. 
 
“b) sigilo de correspondência; 

c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;” 

 
  As  alíneas  B  e  C  trazem  a  restrição  ao  sigilo  de  correspondência  e  à 
comunicação  telegráfica  e  telefônica  e  devem  ser  interpretadas  de  acordo  com  as 
mudanças  que  o  mundo  sofreu,  de  forma  a  promover  a  durabilidade  da  Constituição.  O 
receio  da  Constituinte  em  instituir  essa  cláusula  foi  rapidamente  superado.  Houve  um 
esvaziamento eficacial dessas alíneas. Hoje, somos constantemente patrulhados. 
 
“II  -  ocupação  e  uso  temporário  de  bens e serviços públicos, na hipótese de 
calamidade  pública,  respondendo  a  União  pelos  danos  e  custos 
decorrentes. 

§2º  O  tempo  de  duração  do  estado  de  defesa  ​não  será  superior  a  trinta 
dias​,  ​podendo  ser  prorrogado  ​uma  vez,​   por  igual  período,  se persistirem as 
razões que justificaram a sua decretação.” 

O  inc.  II  se  refere  aos  casos  de  ​calamidade  pública​,  em  que  a  ocupação  e  uso 
temporário  dos  serviços  públicos  talvez seja necessário. No Brasil, temos uma correlação 
do  capital  público  e  do  privado  para  a  prestação  dos  serviços  públicos  por  meio  das 
concessionárias.  A  União  responderá  por  eventuais danos, já que a propriedade também 
é direito protegido pela constituição. 
  

99   
O  tempo de duração não será superior a 30 dias, podendo ser repetido por mais 30 
dias,  com  todo  o  procedimento  constitucional  exigido.  Só  poderá  ser  prorrogado  uma 
vez. 
 
“§3º Na vigência do estado de defesa: 

I  -  a  prisão  por  crime  contra  o  Estado,  determinada  pelo  executor  da 


medida,  será  por  este  comunicada  imediatamente  ao  juiz  competente,  que 
a  relaxará,  se  não  for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de 
delito à autoridade policial; 
II  -  a  comunicação  será  acompanhada  de  declaração,  pela  autoridade,  do 
estado físico e mental do detido no momento de sua autuação; 
III  -  a  prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez 
dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário; 
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.” 

O  §3º  estabelece  restrições  para  a  ação  estatal​.  A  prisão  por  crime  contra  o 
Estado  será  ​imediatamente  comunicada  à  autoridade  judicial,​   que  poderá  relaxá-la.  É 
mais  um  indício  do  controle  judicial,  em  que  o  juiz  zelará  pela  preservação  dos  limites 
impostos  à  exceção.  Poderá  o  preso  requerer  o  exame  de  corpo  de  delito,  provando  o 
status  anterior  e  posterior  do  detido,  uma  garantia  importante.  Deverá  ainda  declarar  o 
estado  físico  e  mental  do  detido  no  momento  da  prisão,  e  esta  não  poderá  ser  efetuada 
cautelarmente  por  mais  de  dez  dias.  O  direito  de  comunicação  do  preso  deve  ser 
preservado. 
 
“§4º  Decretado  o  estado  de  defesa  ou  sua  prorrogação,  o  Presidente  da 
República,  dentro  de  vinte  e  quatro  horas,  submeterá  o  ato  com  a 
respectiva  justificação  ao  Congresso  Nacional,  que  decidirá  por  maioria 
absoluta. 

§5º  Se  o  Congresso  Nacional  estiver  em  recesso,  será  convocado, 


extraordinariamente, no prazo de cinco dias. 

§6º  O  Congresso  Nacional  apreciará  o  decreto  dentro  de  dez  dias  contados 
de  seu  recebimento,  devendo  continuar  funcionando  enquanto  vigorar  o 
estado de defesa. 

§ 7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa.”  

Há  a  necessidade  de  envio  de  mensagem  ao  Congresso  Nacional  dentro  de  24h 
pelo  Presidente  e  o  mandado  estará  sujeito  à  aprovação  congressual  por  maioria 

100   
absoluta  dentro  de  10  dias  quando  de  seu  recebimento.  Se  estiver  em  recesso,  será 
convocado  extraordinariamente  para  essa  discussão.  O  Congresso  deverá  funcionar 
enquanto durar a medida de exceção​. Rejeitado o decreto, cessam seus efeitos. 
 
B) ESTADO DE SÍTIO 
 
  “Art.  137.  O  Presidente  da  República  pode,  ouvidos  o  Conselho  da 
República  e  o  Conselho  de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional 
autorização para decretar o estado de sítio nos casos de: 
 
I  -  comoção  grave  de  repercussão  nacional  ou  ocorrência  de  fatos  que 
comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa; 

II  -  declaração  de  estado  de  guerra  ou  resposta  a  agressão  armada 
estrangeira. 

Parágrafo  único.  O  Presidente  da  República,  ao  solicitar  autorização  para 


decretar  o  estado  de  sítio  ou  sua  prorrogação,  relatará  os  motivos 
determinantes  do  pedido,  devendo  o  Congresso  Nacional  decidir  por 
maioria absoluta.” 

O  art.  137  traz  o  estado  de sítio e também a possibilidade de oitiva do Conselho de 


Defesa  Nacional  e  do  Conselho  da  República  antes  da  solicitação  ao  Congresso  Nacional 
de instauração do regime de exceção.  
 
As  hipóteses  são:  ​comoção  grave  de  repercussão  nacional​,  ocorrência  de  fatos 
que  comprovem  a  ​ineficácia  das  medidas  tomadas  no  estado  de  defesa  e  caso  de 
guerra  externa​.  No  mesmo  enunciado,  temos  uma  circunstância  que  permite  a 
instauração  direta  do  estado  de  sítio,  e  outra  que  o  traz  ​como  consequência  da ineficácia 
das medidas tomadas no estado de defesa. 
  
Há  uma  escala progressiva na seara da extensão geográfica. A intervenção federal 
se  dará  no  âmbito  dos  Estados,  o  estado  de  defesa  em  âmbito regional e o estado de sítio 
em âmbito nacional. 
 
“Art.  138.  O  decreto  do  estado  de  sítio  indicará  sua  duração,  as  normas 
necessárias  a  sua  execução  e  ​as  garantias  constitucionais  que  ficarão 
suspensas​,  e,  depois  de  publicado,  o  Presidente  da  República  designará  o 
executor das medidas específicas e as áreas abrangidas. 

101   
§1º  O  estado  de  sítio,  no  caso  do  art.  137,  I,  não  poderá  ser  decretado  por 
mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no do 
inciso  II,  poderá  ser  decretado  por  todo  o  tempo  que perdurar a guerra ou 
a agressão armada estrangeira. 

§2º  Solicitada  autorização  para  decretar  o estado de sítio durante o recesso 


parlamentar,  o  Presidente  do  Senado  Federal,  de  imediato,  convocará 
extraordinariamente  o  Congresso  Nacional  para  se  reunir  dentro  de  cinco 
dias, a fim de apreciar o ato. 

§3º  O  Congresso  Nacional  permanecerá  em  funcionamento  até  o  término 


das medidas coercitivas.” 

O  Presidente  da  República  deverá  fundamentar  a  escolha  perante  o  Congresso 


Nacional que deverá autorizá-la por maioria absoluta. 
  
O  art.  138  determina  que  o  decreto  deverá  elencar  o  prazo,  as medidas que serão 
tomadas  e  as  garantias  constitucionais  que  serão  suspensas  em  sua  vigência.  O 
presidente nomeará um executor das medidas. 
  
No  estado  de  defesa,  não  se  fala  se  suspensão  de  garantias  constitucionais​.  Há 
uma  escala  de  progressão  de  constrição  de  direitos  fundamentais  entre  as  medidas 
excepcionais.  No  estado  de  defesa,  falamos  de ​restrição​. Aqui, de suspensão. Trata-se da 
cidadela mais avançada dos regimes de exceção. No estado de sítio, ​admite-se ambas​. 
  
Não  poderá  ser  decretado  por  mais  de  30  dias,  nem  poderá  ser  prorrogado  por 
mais  de  30  dias  de  cada  vez.  Poderá,  contudo,  ​ser  renovado  muitas  vezes​.  No  entanto, 
todo  o  procedimento  constitucional deverá ser repetido todas as vezes. Tal medida existe 
para  evitar  governos  como  o  de  Arthur Bernardes, tocados quase em sua integridade em 
estado  de  sítio,  já  que  não  havia  tantas  restrições  a  sua  instauração.  Isso  se  dará, exceto 
nos casos de guerra externa, em que não se pode prever a duração do conflito. 
  
Se  o  Congresso  estiver  em  recesso,  o  presidente  poderá  convocá-lo 
extraordinariamente  para  que  analisem  o  pedido.  Ao  contrário  do  estado  de  defesa,  a 
medida ​não entrará em vigor até que o pedido seja apreciado​. 
 
“Art.  139.  Na  vigência  do estado de sítio decretado com fundamento no art. 
137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas: 
 

102   
I - obrigação de permanência em localidade determinada; 
II  -  detenção  em  edifício  não  destinado  a  acusados  ou  condenados  por 
crimes comuns; 
III  -  restrições  relativas  à  inviolabilidade  da  correspondência,  ao  sigilo das 
comunicações,  à  prestação  de  informações  e  à  liberdade  de  imprensa, 
radiodifusão e televisão, na forma da lei; 
IV - suspensão da liberdade de reunião; 
V - busca e apreensão em domicílio; 
VI - intervenção nas empresas de serviços públicos; 
VII - requisição de bens. 
 
Parágrafo  único.  Não  se  inclui  nas  restrições  do  inciso  III  a  difusão  de 
pronunciamentos  de  parlamentares  efetuados  em  suas  Casas  Legislativas, 
desde que liberada pela respectiva Mesa.” 
  
O  art.  139  determina  quais  medidas poderão ser tomadas contra as pessoas. Entre 
elas:  a  obrigação  de  permanência  em  localidade  determinada;  detenção  em  edifício  não 
destinado  a  acusados  ou  condenados  por  crimes  comuns  (instalações  do  exército,  por 
exemplo); suspensão da liberdade de reunião; busca e apreensão em domicílio; 
intervenção nas empresas de serviços públicos e requisição de bens. 
  
Pode  ser  ​suspendida  a  liberdade  de  reunião​.  É  mais  do  que  a  restrição  de 
liberdade de reunião do estado de defesa. 
  
Fala-se  também  de  restrições  relativas  à  inviolabilidade  da  correspondência,  ao 
sigilo  das  comunicações,  à  prestação  de  informações  e  à  liberdade  de  imprensa, 
radiodifusão  e  televisão,  na  forma  da  lei.  Aqui  se  fala  de  restrições  à  liberdade  de 
imprensa, algo que não é mencionado no estudo do estado de defesa. Trata-se de cláusula 
pétrea. 
  
Contudo,  de  acordo  com  o  parágrafo  único,  as  restrições  nesse  âmbito  ​não  se 
estenderão  aos  parlamentares  em  suas  Casas  Legislativas​.  São  a  representação  do 
povo,  que  exerce  controle  sobre  o  presidente  da  República. Para isso, o Parlamento deve 
ser  livre.  Muitas  vezes,  o  parlamentar  estará  relatando  um  excesso  por  parte  do 
Executivo. 
  

“Art.  140.  A  Mesa  do  Congresso  Nacional,  ouvidos  os  líderes  partidários, 
designará  Comissão  composta de cinco de seus membros para acompanhar 

103   
e  fiscalizar  a  execução  das  medidas  referentes  ao  estado  de  defesa  e  ao 
estado de sítio.” 

“Art.  141.  Cessado  o  estado de defesa ou o estado de sítio, cessarão também 


seus  efeitos,  sem  prejuízo  da  responsabilidade  pelos  ilícitos  cometidos  por 
seus executores ou agentes. 

Parágrafo  único.  Logo  que  cesse  o  estado  de  defesa  ou  o  estado  de sítio, as 
medidas  aplicadas  em  sua  vigência  serão  relatadas  pelo  Presidente  da 
República,  em  mensagem  ao  Congresso  Nacional,  com  especificação  e 
justificação  das  providências  adotadas,  com  relação  nominal  dos atingidos 
e indicação das restrições aplicadas.” 

As  disposições  gerais  se  referem  tanto  ao  estado  de  defesa,  quanto  ao  estado  de 
sítio. 

  
O  art.  140  determina  que  o  Congresso  estabelecerá  uma  comissão  com  cinco 
membros para fiscalizar e acompanhar as medidas referentes aos estados de exceção. 
  
No  art.  seguinte,  é  ressaltada  que  findos  o  estado  de  defesa  ou  o  estado  de  sítio, 
cessarão  também  os  seus  efeitos,  ​sem prejuízo de eventual responsabilidade penal de 
seus executores​. 
  
Será  elaborado  relatório  circunstancial  pelo  presidente  com  o  fim  do  estado  de 
defesa  ou  do  estado  de  sítio,  sob  pena  de  incorrer  em  crime  de  responsabilidade,  com 
especificação  e  justificação  das  providências  adotadas,  com  relação  nominal  dos 
atingidos e indicação das restrições aplicadas. 
 
C) FORÇAS ARMADAS 
 
A  soberania  se  divide  em  dois grandes matizes: o interno e o externo. A soberania 
externa  traduz  o  poder  de  autodeterminação  do  Estado  diante  de  qualquer  outra  força 
no  cenário  internacional.  Tem  autonomia  de  vontade.  No  âmbito  interno,  é  o  poder  de 
imposição  aos  súditos  do  Estado  a  sua  vontade,  respeitando  a  vontade  da  maioria  de 
acordo  com  os  corolários  da  democracia.  Nesse  âmbito,  falamos  de  segurança  pública  e 
até mesmo do Judiciário. 
 
As  ​forças  armadas  ​são  o  braço  forte da soberania externa​. Também têm papel 

104   
constitucional  reflexo  à  soberania  interna,  porém  subsidiário.  Nesse  sentido,  são 
costumeiramente  empregadas  no  estado  de  defesa  e  no  estado  de  sítio,  assim  como  o 
foram  na  intervenção  federal  no  Rio  de  Janeiro.  Mesmo  fora  dessas  medidas 
excepcionais,  esse  papel  subsiste,  principalmente  nas  medidas  de  garantia  da  lei  e  da 
ordem. Essas forças serão empregadas dentro dos limites constitucionais. 
 
“Art.  142.  As  Forças  Armadas,  constituídas  pela  Marinha,  pelo  Exército  e 
pela  Aeronáutica,  são  instituições  nacionais  permanentes  e  regulares, 
organizadas  com  base  na  hierarquia  e  na  disciplina,  sob  a  autoridade 
suprema  do  Presidente  da  República,  e  destinam-se  à  defesa  da  Pátria,  à 
garantia  dos  poderes  constitucionais  e,  por  iniciativa  de  qualquer  destes, 
da lei e da ordem.” 

Em  razão  disso,  a  CF/88  determina  que  ​qualquer  Poder  constituído  pode 
solicitar  o  emprego  das  forças  armadas  para  manutenção  de  sua  autoridade 
institucional​.  
 
A  rigor,  são  parte  do Executivo, tendo como comandante supremo o presidente da 
República,  chefe  de  Estado.  Esta  é  uma  consequência  do  governo  civil.  Hierarquia  e 
disciplina são corolários definidores das forças armadas.  
 
Acima dos oficiais mais altos das três Forças, temos o Presidente da República, que 
tem  o  maior  poder  de  mando.  Assim  é  em  grande  parte  das  nações  democráticas  do 
mundo contemporâneo, como Estados Unidos e França. 
 
O  presidente  é  o  chefe  do  Executivo.  A  independência  dos  Poderes  é  cláusula 
pétrea  definida  pelo  art.  2º  da  Carta  Magna.  Qualquer  embargo  ao  livre  funcionamento 
dos  Poderes  enseja  a  solicitação  da  participação  das  FA na defesa de sua funcionalidade. 
É uma pressuposição da cláusula democrática. 
 
A  rigor,  os  Poderes  não  se  sobrepõem,  já  que  foi  abolido  o  Poder  Moderador. 
Adotamos  o  sistema  norte-americano  do  checks  and  balances.​   Entre  nós,  o  art.  2º  é 
inequívoco  quanto  à  independência  e  harmonia  entre  os  Poderes.  Não  deflagra  o 
exercício  arbitrário  de  um  Poder  sobre  o  outro,  apenas  o  controle  de  um  e  do  outro  de 
modo coerente, na medida das determinações constitucionais. 
 
O  problema  é  que  o  sistema  presidencialista  faz  com  que  o  presidente  seja  chefe 
do  Executivo  e  do  Estado,  que  compreende  União,  Estados,  Municípios,  além  dos  Três 

105   
Poderes.  Trata-se,  portanto,  de  celeuma  irresolúvel  pela  teoria  do  Estado,  pela  mera 
contraposição  de  princípios.  Somos  tão  traumatizados  por  nossa  história,  que  não 
admitimos  qualquer  nível  de  sobreposição  de  um  Poder  sobre  os  outros,  ainda  mais 
porque os regimes autoritários, em regra, partem do Executivo, que detém as armas.  
 
Os  Poderes  Legislativo  e  Judiciário  são  Poderes  desarmados.  O  juiz  também  pode 
determinar  emprego  da  força  auxiliar  por  meio  da  repartição de competências, mas, em 
regra, o monopólio é do Executivo. 
 
No  ​caput​,  há  a  enumeração  dos  componentes  das  Forças:  Marinha,  Exército  e 
Aeronáutica.  Não  há  nenhuma  relação  de  hierarquia  entre  elas,  mas  essa  ordem  se  dá 
por  deferência  histórica  à  Marinha,  que  foi  a  que  surgiu  primeiro,  com  a  Armada  na 
vinda da família real. 
 
Ressalta-se  mais  uma  vez  a  importância  da  hierarquia  e  da  disciplina,  que 
verticaliza  as  estruturas  internas,  com  o  presidente  da  República  no  topo.  Isso  define  a 
supremacia do governo civil. 
 
Em  cada  força  armada,  existe  um  comandante.  Até  a  década  de  90, tínhamos três 
ministérios  militares  para  cada  uma  delas,  um  modelo  não  condizente  com  as 
expectativas do mundo democrático.  
 
O  ex  presidente  Fernando  Henrique Cardoso, por Emenda Constituconal, instituiu 
o  Ministério  da  Defesa.  Isso  não  agradou  as  forças  armadas, já que também extinguiu os 
Ministérios, que se tornaram comandos.  
 
Chegou-se  a  uma  solução intermediária: quem nomeia os chefes das Forças, assim 
como  o  Ministro  da  Defesa,  é  o  Presidente.  Então,  temos  instâncias  colateralizadas  com 
repartição  de  competências.  Ao  Ministério  da  Defesa  compete  a  elaboração  conjunta  de 
estratégias  de  defesa  nacional  e  de  planejamento  orçamentário  de  funcionalização 
financeira.  Reporta-se  diretamente  ao  Presidente.  Contudo,  os  comandantes  de  força 
continuam tendo status de ministro. 
 
A  lei  complementar  nº  97  versa  sobre  a  organização,  preparo  e  emprego  das 
forças  armadas.  É  complementar,  pois  a  CF/88  determinou  que  assim  seria.  É  diferente 
do  Estatuto  dos  Militares,  que  é  diferente  do  Estatuto  dos Servidores Públicos Civis. A EC 
nº  18  pôs  fim  à  designação  de  servidor  público  militar.  Desde  então,  são  apenas 

106   
denominados militares. 
 
“§  2º  Não  caberá  ​habeas  corpus  ​em  relação  a  punições  disciplinares 
militares.” 

Não  se  trata  de  uma  disposição  inconstitucional​,  já  que  foi  uma  exceção  ao 
próprio  texto  constitucional  feita  por  norma  originária.  Caso  tivesse  sido  feita  por 
emenda  constitucional,  seria,  de  fato,  inconstitucional,  já  que  seria  ​tendente  a  abolir  a 
cláusula  pétrea  do  ​habeas  corpus​.  É  meramente  uma  incidência  do  princípio  da 
especialidade. Incide apenas sobre as punições administrativas​. No caso de imputação 
penal, caberá ​habeas corpus. 
 
Contudo,  a  jurisprudência  do  STF  passou  a  admiti-la.  O  feixe  de  incidência  dessa 
norma  seria  apenas  quanto  ao  mérito  da  prisão.  ​Caberá  apenas  nos  casos  de  vícios 
procedimentais​.  Por  exemplo,  a  prisão  pode  ter sido decretada por uma autoridade que 
não teria a atribuição de fazê-lo. 
 
“§3º  Os  membros  das  Forças  Armadas  são  denominados  militares, 
aplicando-se-lhes,  além  das  que  vierem  a  ser  fixadas  em  lei,  as  seguintes 
disposições:    
 
I  -  as  patentes,  com  prerrogativas,  direitos  e  deveres  a  elas  inerentes,  são 
conferidas  pelo  Presidente  da  República  e  asseguradas  em  plenitude  aos 
oficiais  da  ativa,  da  reserva  ou  reformados, sendo-lhes privativos os títulos 
e  postos  militares  e,  juntamente  com  os  demais  membros,  o  uso  dos 
uniformes das Forças Armadas;” 
 
O  inc.  I  trata  das  patentes.  São  conferidas  aos  oficiais,  e  não  aos  graduados. 
Grande  parte  da  estrutura  militar  não  tem  patente.  Os  graduados  são  detentores  de 
graduação  e  também  são  chamados  praças.  As  patentes  são  vitalícias,  mas  as  fardas 
podem apenas ser usadas por membros do quadro ativo. 
 
Os  postos  estão  vinculados  às  patentes.  Durante  os  períodos  em  que  o 
autoritarismo  se  estabeleceu  no  Brasil,  os  oficiais  perduravam  nos  postos.  Por  isso, 
estabeleceu-se  um  limite  de  permanência.  Há  postos que são privativas de determinadas 
patentes.  Isso  impede  que  o  militar  fique  ali  muito  tempo  e  não  crie  a  definitividade  de 
uma detenção de poder, para fim de controle dos excessos autoritários. 
 
“II  -  o  militar  em  atividade  que  tomar  posse  em  cargo  ou  emprego público 

107   
civil  permanente,  ressalvada  a  hipótese  prevista  no  art.  37,  inciso  XVI, 
alínea "c", será transferido para a reserva, nos termos da lei; 
 
XVI  -  é  vedada  a  acumulação  remunerada  de  cargos  públicos,  exceto, 
quando  houver  compatibilidade  de  horários,  observado  em  qualquer  caso 
o disposto no inciso XI: 
c)  a  de  dois  cargos  ou  empregos  privativos  de  profissionais  de  saúde,  com 
profissões regulamentadas;”   
 
O  militar  que  tomar  posse  em  cargo  ou  emprego  público  civil  permanente  será 
transferido  para  a  reserva.  Aqui,  nos  referimos  tanto  aos  ​loci  ​existentes  nas  pessoas 
públicas  de  direito  público,  quanto  aos  ​loci  ​existentes  nas  pessoas  públicas  de  direito 
privado.  ​É  um  regime  de  incompatibilidade​.  O  regime  mais  constritivo  e  limitador  de 
acúmulo  funcional  é  o  dos  militares.  A  exceção  são  os  cargos  e  empregos  no  serviço  de 
saúde,  já  que  as  forças  armadas  têm  também  seus  quadros  de  saúde.  Excepcionaliza 
apenas a alínea C do art. 37. 
 
“III  -  o  militar  da  ativa  que,  de  acordo  com  a  lei,  tomar  posse  em  cargo, 
emprego  ou  função  pública  civil  temporária,  não  eletiva,  ainda  que  da 
administração  indireta,  ressalvada  a  hipótese  prevista  no  art.  37,  inciso 
XVI,  alínea  "c",  ficará  agregado  ao  respectivo  quadro  e  somente  poderá, 
enquanto  permanecer  nessa  situação,  ser  promovido  por  antiguidade, 
contando-se-lhe  o  tempo  de  serviço  apenas  para  aquela  promoção  e 
transferência  para  a  reserva,  sendo  depois  de  dois  anos  de  afastamento, 
contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da lei;”  
 
Já  a  tomada  de  cargos  ou  empregos públicos civis não permanentes e não eletivos 
não  enseja  transferência  ao  quadro  da  reserva. Ficará agregado ao respectivo quadro 
e  poderá  apenas  ser  promovido  por  antiguidade.  Não  poderá  ser  promovido  por 
merecimento  nesse  ínterim.  Depois  de  dois  anos  de  afastamento, será transferido para a 
reserva. 
 
“IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;” 
 
Está  ​vedado  aos  militares  o  ​direito  de  greve  e  a  sindicalização​,  sob  pena  de 
prisão.  Um  exemplo  disso  é  o  mandado  de  injunção  nº  712.  Não  é  inconstitucional  da 
mesma forma que a vedação ao ​habeas corpus na seara das prisões administrativas não o 
é: foi uma disposição instituída pelo poder constituinte originário. 
 

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“V  -  o  militar,  enquanto  em  serviço  ativo,  não  pode  estar  filiado a partidos 
políticos;” 
 
Não  poderá  o  militar  no  quadro  ativo  se  filiar  a  partido  político.  O  Presidente  da 
República  está  no  topo  da  hierarquia  das  forças  armadas.  Por  isso,  não  poderá  se 
fidelizar a partido, já que​ está filiado à autoridade presidencial​. 
 
“VI  -  o  oficial  só  perderá  o  posto  e  a  patente  se  for  julgado  indigno  do 
oficialato  ou  com  ele  incompatível,  por  decisão  de  tribunal  militar  de 
caráter  permanente,  em  tempo  de  paz,  ou  de  tribunal  especial,  em  tempo 
de guerra;” 
 
Os  casos  de  perda  de  patente  serão  julgados,  em  regra,  por  tribunais  de  caráter 
permanente,  já  que  a  CF/88  veda os tribunais de exceção. Em tempos de guerra, o Código 
Penal Militar prevê o estabelecimento dos tribunais de exceção. 
 
“VII  -  o  oficial  condenado  na  justiça  comum  ou  militar  a  pena privativa de 
liberdade  superior  a  dois  anos,  por  sentença  transitada  em  julgado,  será 
submetido ao julgamento previsto no inciso anterior;” 
 
O  militar  condenado  pela  justiça  comum  ou  pela  justiça  militar  estará  sujeito  a 
julgamento de perda de patente se for condenado a pena superior a dois anos. 
 
 
D) SEGURANÇA PÚBLICA 
 
As  instituições  da  segurança  pública  são  instituições,  em  regra,  de  s​oberania 
interna​.  Formam  um  mosaico  bastante  complexo:  há  órgãos  civis  e  militares;  federais  e 
estaduais.  É  um  sistema  muito  questionado  pela  ciência  política, já que o patrulhamento 
ostensivo  é  em  grande  parte  exercido  pelas  forças  militares,  o  que  não  é  comum  em 
outros países. A polícia militar seria uma polícia treinada para a arte da guerra. 
  
Embora  adotemos  o  federalismo,  a  segurança  pública  é,  historicamente,  de 
atribuição dos Estados. Contudo, a União também tem atribuições nesse âmbito.  
 
Estão  sob  comando  dos  Estados  as  ​forças  auxiliares  (polícias  militares  e 
bombeiros  militares).  As  forças  federais  são  as  ​forças  armadas​.  As  forças  auxiliares 

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auxiliam  o Exército do Brasil, não as Forças Armadas. Dado interessante é o fato de que a 
patente  mais  alta  na  polícia  militar  é  a  de  coronel.  Logo,  não há generalado. As patentes 
máximas  estão  no  exército,  já  que  as  polícias  militares  são  subordinadas  a  ele.  Poderá 
ainda  ordenar  o  trabalho  conjunto  com  a  polícia  estadual,  como  ocorreu  durante  a 
intervenção  federal no Rio de Janeiro. A Força Nacional de Segurança existe para reduzir 
a atuação do exército, atuando em questões migratórias ou em grandes eventos. 
  
A  polícia  civil  ​é  apelidada  ​polícia  judiciária​.  É  órgão  do  Executivo,  mas  é 
denominada  assim  ​por  dar  o  suporte  probatório  inicial  necessário  para  que  o 
Judiciário possa instaurar a ação penal. É um título dado no âmbito dos Estados. 
  
Já  no  âmbito  federal,  intitula-se  ​polícia  federal​,  mas  é,  essencialmente,  civil. 
Desempenha  a  função  de  ​polícia  judiciária  da  União​,  investigando  ​os  crimes  de 
competência do juiz federal​.  
 
Nos  Estados,  há  uma  dualidade  muito  marcante  entre  a  polícia  civil  e  a  militar,  o 
que  não  ocorre  na  esfera  federal.  Dessa  forma,  a  ​polícia  federal  também  tem  outras 
atribuições,  como  a  de  ​patrulhamento  ostensivo  em  alguns  casos  (águas  internas  nas 
proximidades  portuárias  e  aeroportos),  além  da  investigativa.  O  dever  de  patrulha 
portuária é diferente da patrulha marítima, que é atribuição da Marinha brasileira. 
  
As  ​polícias  rodoviária  e  ferroviária  federal  fazem  o  patrulhamento  ostensivo 
nas  rodovias  e  ferrovias  da  União.  São  forças  civis​,  não  militares,  ainda  que  seus 
uniformes sejam semelhantes aos militares. 
  
A polícia militar fará o patrulhamento ostensivo das rodovias nos Estados. 
  
A  polícia  legislativa  existe  para  ​garantir  a  independência  do  Legislativo  e  se 
pauta  no  princípio de autogoverno dos Poderes. Pode existir no Congresso ou mesmo nas 
Assembleias  Legislativas.  É  vinculada  ao  Legislativo,  ao  contrário  da  polícia  judiciária, 
que se vincula ao Executivo. 
  
Hoje,  o  governador  deverá  nomear  o  chefe  da  polícia  civil  dentre  integrantes  da 
carreira.  Isso  não  ocorria  antes,  ele  podia  nomear  qualquer  um.  É  diferente  do cargo de 
secretário de segurança pública, que será nomeado e demitido​ ad nutum​ por ele. 
  
As  polícias  judiciárias  ​não  apurarão  as  infrações  militares​;  este  papel  pertence 

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à própria força por meio do inquérito policial militar (IPM). 
  
As  atividades  de  ​defesa  civil  ​desempenhada  pelos  bombeiros  envolvem  a 
concessão  de  alvarás  de  funcionamento,  uma  função  preventiva.  Trata-se  de  uma 
inspeção  preventiva  de  desastres.  A  defesa  civil  é  prioritária  no  Estado  e  no  Município, 
que terão secretarias de defesa civil. 
  
As  forças  auxiliares  têm  como  comandante  superior  o  governador.  Não  é  o 
comandante  supremo,  pois  elas  são  subordinadas  ao  Exército,  que  tem  como 
comandante supremo o Presidente. 
  
As  ​guardas  municipais  ​têm  função  de ​guarda patrimonial, não de policiamento 
ostensivo, nem de investigação. 

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