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inspirado no filme de

moacyr goes

da obra de NEI LEANDRO castro


A arte imita a vida ou
a vida imita a arte?

Assim como o preto no


branco, a simplicidade do
brasileiro e a eloquente
cultura nordestina.

Inspirados por toda essa grandeza, expressamos nesse


pequeno fragmento folheável por meio de versos e ilustrações
trabalhadas em xilogravura nossa admiração tanto pela
obra e a riqueza em que o universo de As Pelejas de
Ojuara, obra de Nei Castro, foi construída, quanto a
impecável adaptação aos cinemas brasileiros, tão conexa e
também ricamente lapidada pelo filme O Home Que
Desafiou O Diabo, de Moacyr Goes.

Esperamos que se divirtam e aproveitem


o entusiasmo para rever essas belíssimas obras!

Alberto, Bruno, Caio, Enio e Ibraim

Queremos agradecer aos poetas e contadores de contos e


“causos”, que com suas narrativas tanto de forma oral
quanto escrita, alimentam e enriquecem a grandeza
literária com seus infinitos versos e rimas.
apresentacáo

É importante entender as diversas representações tanto do ambiente,

ou seja, cenário nordestino em que se desenrola a trama, como dos

personagens, ou cidadãos nordestinos descritos aqui de forma bem

homogênia. Personagens esses, que sempre aparecem como poetas ou pessoas

sofridas que encontram nas diversidades do dia a dia do sertão ânimo e

ritmo para fazer da própria desgraça uma rima, uma canção.

O objetivo maior desta obra é fazer da linguagem da

desconstrução uma ferramenta precisa para se construir, a partir

de conceitos já prontos e firmados, algo novo. Apresentamos aqui,

uma nova forma de ver a própria vida, de encontrar beleza na

feiúra, de transformar medo em coragem, enfim, de rejeitar a morte

valorizando a amizade, o amor e a vida.

Ora, e se a proposta é desconstruir para construir, é sair de uma forma

convencional, sair do previsível para a construção do novo, prepare-

se, pois você será convidado a ir para as últimas páginas deste

livro, dar vida aos sonhos e buscar em seu íntimo os desejos

mais profundos. E partindo do princípio de que o fim é o começo,

construa seu herói na narrativa que vai sendo criada.


introducáo
Ouca o que vou lhe dizer:

Vida ruim eu alcanco na orgia


ou no prazer,
ossa viagem tem inicio no sertão nordestino, Mas enquanto eu nao morrer
A cidade de destino bebo, fumo, jogo e danco
É Jardim dos Caicós
Censure-me quem quiser;

José Araújo Filho, um caixeiro viajante Mas, enquanto eu tiver vida


De uma empresa de tecidos um fiel representante
Cumprindo essa sina eu venho

Tem no fundo de sua alma um herói aprisionado E além dos vícios que tenho

Sou perdido por mulher!

Mas Araújo o coitado Araújo interessado


Não sabia o que fazer diz pro homem do seu lado:
E depois de suas vendas
“- De onde vem tanto saber?”
Só queria beber;

“- Sésiom é diferente
Ele encontra Sésiom, pois é Moisés de trás pra frente;
E o poema ele é meu
Fiz esse poema nas terras de São Saruero
Poeta nordestino que vivia sem destino
Onde o pé de vento dá água,
Mas que com sua boca santa Os rios são de leite
Deu a Araújo esperança; E as montanhas são de rapadura;
E onde se encontra mais mulher do que farinha;”
Encantado e fascinado
Por ouvir tanta beleza
Araujo embebedado
Vê diante de seus olhos

Daulubia virgem quarentona

Disfarçada de princesa

De manhã foi acordado

capítulo Sob um rifle bem armado

Pra casar-se com uma turca


um Pro altar foi carregado

Agora casado,
Homem fino e respeitado

Mas, com certeza nas noitadas


Desejado e cobiçado;

Araújo o coitado,
É desonrado e humilhado

Com uma vida sem sentido


De alegria é desprovido

morre araujo A cidade Jardim dos Caicós


Pequena, gigante em maldade
deixou de ser animado
nao fala de coisa feia
nao se mete em vida alheia
zé araujo, o coitado

quando tá aperriado
chora, geme, faz cara feia
so falta pedir chupeta

e o turco nao sabe disso


o genro faz bom servico
é barbero de buceta!
E na morte da semente E não passar de alma penada;
Nasce a vida semeada
Se sentindo insultado
Filho do mundo E nem um pouco assustado;
E com a alma renovada,
Ele logo foi dizendo:
Morre Araújo e “Não gosto de ser desafiado
dá lugar a Ojuara; Pois de nada tenho medo,
Nem que ande ou que rasteje
capítulo Medo, ele não tem
Nem de nada e de ninguém;
E se no mundo foi criado
Pode ter grande certeza

dois Ojuara Abapa Oruju Caiba


Que por Ojuara é derrotado”;

Que quer dizer: Noite fria casa escura


Guerreiro e defensor Ele agora só queria
Da liberdade e do amor; Era cachaça e repouso;
Sem dar trégua a injustiça
Ele nasce da tristeza Descobriu que tinha mesmo
Vem da morte e do horror; Era de enfrentar o tinhoso;

Um guerreiro destemido, O coisa ruim


Fadigado e um pouco árido, O cão miúdo
Parou pra prosear e de pouso indagar; O cachorro da muléstia

Mas os homens ali sentados Que a noite aparecia


Numa noite enluarada, Pra pegar do preto velho

nasce ojuara Diziam-lhe não ser nada O Patacão que lhe devia
araújo

morreu!
sua camabada
de corno!
e u vo e e n golir
o m u n d o de

c achaca!

meu nome
agora e
ojuara!
Na peleja com o capeta
O preto velho não agüenta

E cavando a sepultura
Ojuara logo encontra
Um baú de formosura
Repleto de riqueza e de fartura;

E sem pensar na própria vida


Logo fica decidido

capítulo A fortuna vai levar;

E o capeta incansável

tres Vai buscar de volta o ouro,


Nem que para reavê-lo
Tenha que arrancar seu couro;

No raia da madrugada
Continua a caminhada,
E quem diria que um cabra, sem parada

Iá encontra sua amada


Que traria pro seu peito

O calor de um grande amor;


Mais uma vez desafiado
do patacao ao coracao Foi na força de Zé Patacão,
Que se viu
Foi rejeitado;

Mas, não se avexe não

Pois quem é Zé Tabacão?


Ela nao vai abrir nao
Seu corno, fila da puta;

E se oce nao sair daqui\\

Eu vou é
secar seu couro
Salgar sua carne!
Sem ter tempo a perder

Ojuara continua sua busca


Continua seu viver;

E diante da luxuria,

capítulo Do desejo e do prazer,

Uma bruxa lhe promete


quarto Duas noites concede;

Caminhando sempre juntas


A beleza e sedução,
O perigo e o prazer;

Nosso herói tem vida dura


Mas cria da rapadura

Uma espada de poder;

vampira do agreste
O meu nome é Lombroso
Torado no grosso;

Sou qui nem a cascavé


Que quando nao aleja mata;
Danou-se!
Mas nosso herói não se abala
E se a palavra vem de Deus
Tenho a mardade da onca,
A Ojuara é revelada:
Tenho a ruindade de arara;

Minha baba é peconhenta


E arde mais do que a brasa; O meu nome é Ojuara
Eu vim de longe
Se ta vendo essa carcunda E vou em frente;
É por onde sou mais forte
Carrego nas minhas costas E o senhor nao é mais feio
Mais de 132 mortes; Do que certo tipo de gente;

Vá logo dizendo seu nome, Feio é a heranca do homem


Pra onde vai e de onde vem A heranca de Caim,
E se já viu nesse mundo Praga de mao ofendida
Um camarada mais feio; Tentacao do coisa ruim;

Feia é aquela sombra escura


Que vai levando consigo o covarde
Que traiu a confianca de um amigo;

A beleza e a feiúra
Estao juntas em toda parte,
Há beleza inté na morte
E feiúra inté na arte;

Olhe seu rosto no espelho


E nao perca a esperanca,
Pois, foi Deus que lhe fez
Sua imagem e semelhanca!
Ele encontra um vaqueiro E sem medo de morrer

capítulo Que a ele diz ligeiro, Vai falar é com Zé Preto


Para o povo defender;
Meu patrão o fazendeiro
quinto Uma proposta lhe fais; O retrato do capeta
Soltando fogo pelas ventas
Vai buscar o boi mandingueiro O cachorro da mulestia
Escondido no buraqueiro, Vem Zé Preto e se apresenta;
E se vier com o bicho inteiro
Será mais que um vaqueiro
- “Olha eu não tô crendo não
Pois te faço meu herdeiro;
Mais é mió ouvir isso
Na peleja com o bicho
Do que ser morto”;
Ojuara, pôs capricho
E depois da fera mança E diante da peixeira
Retornou pra sua andança; Que Zé Preto exibia,

E o tempo vai passando Ojuara ali descobre

encruzilhadas Em cada bar, boteco ou botequim


Sua cachaça vai tomando;
Ele é o Zé Pretinho
Que há muito ele não via;

do destino
“Fazendeiro ouca o pedido
Que eu vou lhe fazer
Nao mate esse boi mandingueiro
Que a gente veio trazer

Nao faca essa crueldade


Que um boi dessa qualidade
Faz pena de ver morrer!
Com batalhas incontáveis
Contra a opressão de homens
Ou de animais;
É que o vento do destino
Mais uma peça lhe traz;

capítulo Seu olhar encontra Jenifer


Um amor de tempos atrás

sexto Quer nas voltas do destino


Ou encruzilhadas do mundo,
Ojuara vê em Jenifer
Seu sossego, seu repouso;

E agora apaixonado
E nos braços da amada;

Ojuara quer mostrá-la


A fortuna enterrada;
O capeta é mesmo assim
Sua cobrança não tem fim;
minha minina dos olhos Se Ojuara está distante
É possuindo sua amante;
de passarinho Que essa busca vai ter fim;
Acorde minha santinha
Que tenho uma coisa pra lhe contar
É uma coisa que vai ser o futuro do nosso filho
Esse bacuri que tá aqui dentro

Olha é um patacao de ouro


Que vale muito
E eu também sei onde é que tem mais

- Que cabelo é esse aqui dentro?

- Cabelo?
nao ligue pra isso nao
Faz tanto tempo que tá aí dentro
Que deve ter nascido cabelo

Foi o preto velho que me deu


Mas o cao miúdo
Diz que também é dele.
O Herói está de volta
Agora mais cheio de revolta;

Seu amor foi destruido


Seu prazer interrompido;

capítulo
sétimo

Mas você vai crer comigo


Que coitado do capeta,
Pois deixou aqui na terra

peleja final Ojuara o guerreiro destemido


Que será o seu castigo!
Agora é comigo
Cao miúdo safado,
Covarde fila da puta, apareca!

Tá na hora de tu voltar
Pra onde tu veio
Infeliz das costa oca!

Antes eu nao tinha nem raiva


Era só proque nao gostava de injustica,
E tu queria esculhambá com o preto velho.

Mas agora o ódio se apegou em mim


E eu vou te mandar pro inferno,
Bicho fedorento!
coragem e atitude
saiba que
Sao pra poucos uma virtude

Pois, se voce évirtuoso


Entao seja corajoso

Vá pro fim deste livro


E a cada página descobrir,

Que enquanto vai voltar


Um herói vai construir!

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