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E ste livreto que tens nas mãos reúne algumas poucas poesias de Raimundo
Cassundé. Umas em tom de galhofa, como A dieta da Raimunda, O Ôi
da goiaba, Dois gatos pingados, O Papudim, outras revelam a angústia do
poeta diante de sua partida tais como Banquete, Balada do Inferno, A Fila,
outras falam de amor (que sem dúvida bate no peito dos poetas de forma mais
pungente) como Ofídico Amor e Paisagem, algumas refletem delicadezas,
como Inda vou morar no Crato e Papo Canino. Ainda verás imagens do poeta
e alguns recortes de jornal, periódicos que Cassundé foi noticiado por seus feitos,
ou suas colaborações como escritor, pois além de profícuo compositor e poeta,
o professor era também jornalista. Boa parte do material
recolhido para a feitura deste impresso nos foi cedido pela
irmã do nosso aedo; Isabel Cassundé. Somos gratos por
isso. Que esta singela publicação possa aquecer nosso
coração e minorar as saudades de um cearense que deixa
uma obra musical e poética de extrema relevância para a
arte brasileira. Boa leitura!
Somando acertos
Subtraindo erros
Cantei o réquiem do meu enterro
E vi minha alma evaporar tranquila
Diz o epitáfio
Na minha catacumba;
Ele brincou
Gozou
Ejaculou
E pumba!
Pegou o beco
E deu lugar na fila
Fortaleza, 2020
Eu e o meu cachorro
Pelas calçadas pensando
Ele com seu faro humano
Eu puro instinto canino
Ele peralta e menino
Eu um buldog sisudo
Nós conversamos de tudo
Futebol, ração, destino
Amigos mesmo
De fato os são
Aqueles que nas trevas do escuro
Garimpam um pouco de brilho puro
E iluminam a estrada do coração
Atacava a geladeira
Com uma fúria destemida
De noite e de madrugada
Até que um dia Raimunda foi na balança
Seu prazer era a comida
Então se apavorou com a pança
E o tamanho da barriga
Seu prazer era a comida
Seu prazer era a comida
Daí pra frente Raimunda ligou o alerta
De noite e de madrugada
Começou nova dieta
Se deitava esparramada
E só quer verdura
E baixava o pau na comida
Ela só quer verdura
Ela só quer verdura
Começou nova dieta
E agora só quer verdura
Atado a um ataúde
Jaz a saúde
Malditos benditos me velam com velas
Assim, por fim, dá-se início ao fim
Vestido em um caixão
Fui morar no chão
Dá-se então a mais longa solidão
Longínqua e próxima
Dentro de mim.
Olhando o retrovisor
Vejo a imagem do remorso
Corro mais e menos posso
Distanciar-me da dor
A reparação me acalma
E então, só por hoje e agora
Me perdoo a toda hora
Desconstruindo o meu trauma.
04 de junho de 2018
No ôi da goiaba
Até nasceu uma saliência
Que eu peço clemência
Pra Jesus na goiabeira.
Charlou, de pequinique
Festa e ainda acendeu fogueira
Foi chegando no queixo Tire o cavalo da chuva
Na cara de madeira Que agora eu governo
Hasteando bandeira Vá com gato e sapato
E cheia de razão Pros quintos do inferno
Mercadoria falsa
Etiqueta boçal
Então no flagrante delito
Deste teu festejo Baixe o seu santo em outra encruzilhada
Entrei mais do que logo Se lambuza no escracho
Com uma ação de despejo Parada malhada
Pra retomar a posse Pra não cortar o barato
Do meu próprio chão Do meu carnaval
Despojado
O amante surfa
Nas ondas esculturais
Do teu farto corpo
O amante surfista
Havia entrado num tubo
Dropando até sumir
Num deslumbrante buraco negro
Até ser orgasticamente expelido
No brilho da areia do mar
Do oceânico e verde olhar;
Benfica 16/07/2020
24 o bardo raimundo cassundé
Pelas ruas do BenfIca
Benfica 23/07/2020
Eu sou da Várzea
Minha casa, minha rua
Minha bela cajarana
Meu baião com piqui
É mais que certo
Meu arroz doce Que à noitinha ou lá pras tantas
Doce alfinim do amarelo Convém molhar a garganta
Onde o sorriso é mais E o destino é um bar qualquer
Onde é decreto sorrir
Flertando a moça
Só gente simples Que se coça de paixão
São Raimundos e Felipes E iluminar o calçadão
Vá pro Sanharol de jipe Colorido de mulher
Só pra vadiar
De manhãzinha
Olhar pro verde Inda brilha a estrela d’alva
Numa rede bem cheirosa E a bandinha toca a salva
Tirar dois dedos de prosa E toca fundo na emoção
Jogando histórias pro ar Que a Várzea toda
Acorda alegre e eu que o diga
Quem vai lá traz a cantiga
Grudada no coração.
Textos
juliana samara
poemas escolhidos por
juliana samara
chicão oliveira
eugênia siebra
produção
wladiza mesquista, juliana samara, chicão oliveira,
adriano kanu, daniel, john robson
setembro de 2023