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ANACREONTE (nascido em torno de 560 a.C.).

Foi poeta do amor e do vinho.

Sobre as mulheres
Aos touros, natureza

Deu cornos; aos cavalos

Deu cascos; ligeireza

Deu pés, à lebre; ao leão,

A caverna de dentes;

Aos peixes, natação;

Às aves, o abrir asas;

Prudência, aos homens. (Não

Sobrou para as mulheres.)

Que dar-lhes, natureza?

Beleza – contra tudo –

Que enfrenta lança e escudo

E vence ferro e fogo,

Enquanto for beleza!

(Tradução: Almeida Cousin)

Fragmento 160

Eis a tumba do resoluto Timócrito

a guerra poupa os covardes, não os bravos.

(Trad.: José Paulo Paes)


A moça esquiva

Por que foges, ó potranca trácia,

lançando-me este olhar oblíquo?

Presumes que me falta habilidade?

Sabe que eu poderia sem transtorno

impor-te o freio e dominando as rédeas

fazer com que girasses em redor da meta.

Se agora brincas nas campinas e nos pastos

saltando leve, é que não tens um laçador

que saiba cavalgar-te com destreza...

(Trad.: Péricles Eugênio da Silva Ramos)

A bola vermelha

O amor dos cabelos de ouro

Lança-me a bola vermelha

E quer que eu jogue com a moça

Das sandálias coloridas.

Mas a jovem – que é de Lesbos,

A bem construída – faz pouco

De meus cabelos já brancos

E olha ardente para um outro.

(Trad.: Péricles Eugênio da Silva Ramos)


OBS.: Lesbos aqui é o mero nome de uma cidade grega
Febre de amor

Dai-me, pois, dai-me ó mulheres,

Vinho que eu beba a meu contento!

Porque já estou preso de ardores

E ardo em febre e me lamento!

Dai-me flores, pois que as flores

Da coroa em que me cubro,

Minha fronte, em seus ardores

Já desseca!... Ardo intranqüilo,

Contra as chamas dos amores,

Como, ao coração, cobri-lo?

(Trad.: Almeida Cousin)

Galgo o rochedo

Galgo o rochedo

e dele precipito-me

às ondas espumantes,

ébrio de amor.

(Trad.: Péricles Eugênio da Silva Ramos)


CATULO (82-52 a.C)

3.

1.

Tordo, prazer da minha namorada, Meu pobre Catulo, chega de loucura:

Brinquedo vivo que ela leva ao seio Acabou, acabou, fim: lucros e perdas.

E que incita a bicadas doídas, Os dias radiosos são de ontem, quando

Com a ponta do dedo quando quer Você corria aos encontros, quando ela

− Ó, meu bem, minha luz, meu bem-querer – Sabia-se amada como amada alguma

Distrair-se com algo divertido, Jamais o será. E quantas transas doces,

Para acalmar a dor, quem sabe? De uma Então! Era só você querer e ela

Paixão voraz – pudesse eu brincar Nunca desqueria: que tempos radiosos...

Com você, como o faz a sua dona, Mas, se não quer mais, só resta desquerer.

Pra amortecer as dores do meu peito! Inútil correr atrás, como um coitado:

Dê força à mente, resistindo, firme.

(Trad. Décio Pignatari) Adeus, desta vez. Catulo não recua,

Não vai procurá-la ou implorar palavra:

OBS.: Tordo (verso 1) é um pássaro Você vai chorar quando ninguém cantar.

Ah, que vida a sua, sua condenada!

Quem vai abordá-la? Quem dirá que é bela?

Agora, quem vai amar? Vai ser de quem?

A quem vai beijar, de quem mordem os


lábios?

É isso, Catulo: firmeza: resista.

(Trad. Décio Pignatari)


MARCIAL (40 – 104)

I, 24 III, 53

Veja, Deciano, aquele homem despenteado, Dispenso o seu rosto

Cenho cerrado, que até incute medo, Dispenso o pescoço

E que só fala dos varões de antigamente: Dispenso suas mãos

Casou-se ontem, acredite: ele era a noiva. Dispenso seus peitos

Dispenso suas coxas

(Trad. Décio Pignatari) Dispenso sua bunda

Dispenso os quadris

- E para mencionar mais um detalhe,


Dispenso você, fulana

(Trad. Décio Pignatari)


CATULO (84 a.C – 54 a.C.)

Vivamos, mea Lesbia, atque amemus

Vivamos, minha Lesbia, e amemos

e as graves vozes velhas

− todas –

valham para nós menos que um vintém.

Os sóis podem morrer e renascer

quando se apaga nosso fogo breve

dormimos uma noite infinita.

Dá-me pois mil beijos, e mais cem,

E mil, e cem, e mil, e mil e cem.

Quando somarmos muitas vezes mil

misturaremos tudo até perder a conta:

que a inveja não ponha o olho de agouro

no assombro de uma tal soma de beijos.

(Tradução: Haroldo de Campos)


HORÁCIO

Ode 3.30

ergui mais do que o bronze ou que a pirâmide


ao tempo resistente um monumento
mas gloria-se em vão quem sobre o tempo
elusivo pensou cantar vitória:
não só a estátua de metal corrói-se
também a letra os versos a memória
— quem nunca soube os cantos dos hititas
ou dos etruscos devassou o arcano?
o tempo não se move ou se comove
ao sabor dos humanos vanilóquios —
rosas e vinho — vamos! — celebremos
o instante a ruína a desmemoria

(Tradução: Haroldo de Campos)

Ode 1.11

Não indagues, Leucônoe, ímpio é saber


a duração da vida
que os deuses decidiram conceder-nos,
nem consultes os astros babilônios:
melhor é suportar
tudo o que acontecer.
Quer Júpiter te dê muitos invernos,
quer seja o derradeiro
este que vem fazendo o mar Tirreno
cansar-se contra as rochas,
mostra-te sábia, clarifica os vinhos,
corta a longa esperança,
que é breve o nosso prazo de existência.
Enquanto conversamos
foge o tempo invejoso.
Desfruta o dia de hoje, acreditando
o mínimo possível no amanhã.
(Tradução: Péricles Eugênio da Silva Ramos)
Píndaro (522-448 a. C.)

O sonho de uma sombra

A sorte dos mortais

cresce num só momento;

e um só momento basta

para a lançar por terra,

quando o cruel destino

a venha sacudir.

Efêmeros? que somos?

que não somos? O homem

é o sonho de uma sombra.

Mas quando os deuses lançam

sobre ele a sua luz,

claro esplendor o envolve

e doce é então a vida.

(Tradução: Péricles Eugênio da Silva Ramos)


SÓLON (639-559 a.C.)
Poeta e estadista ateniense. Criou uma Constituição para Atenas. Foi
também considerado um dos sete sábios da Grécia. Foi fundamental para
a democracia grega.

FELICIDADE

Feliz quem tenha, em sua casa,

crianças queridas

e cavalos de casco não rachado;

e cães de caça

e um hóspede estrangeiro.

(Tradução: Péricles Eugênio da Silva Ramos)


PRAXILA (séc V a.C.)
Caracteriza-se pelo bom humor e ironia

Meninabela (que me) olhadajanela

Rostodevirgem, mas (embaixo) exdonzela

Mesmo poema, mas em outra tradução:

Ó, beleza (que me) olha da janela,

Cabeça virgem, mas (embaixo) mulher.

{Tradução (também com muito humor) de Décio Pignatari}

Observação do tradutor:

Parthéne (= virgem) e enerthe (=embaixo) são anagramas quase


palindrômicos. Como se vê, os chamados jogos de palavras nasceram com a
própria lírica, para não dizer com a própria língua, com a própria linguagem.
Poemas de Safo (poetisa do séc. VII a. C.)

Epitalâmio 11 Epitalâmio 11 – outra tradução

os altos tetos levantai Ao alto o teto


─ Hymenoeus! hímen!
levantai, ó carpinteiros erguei, carpinteiros.
─ Hymenoeus! hímen!
é de Ares, e homem
o noivo se aproxima, mais alto do que alto!
o noivo grande como Ares, mais alto que os
mais altos homens.

(Tradução: Joaquim Brasil Fontes) (Tradução: Pedro Alvim)

Comentários: “himeneu” é sinônimo de


casamento. A palavra “hímen” tem a mesma
raiz;
O gênero epitalâmio refere-se a poesias
ligadas ao casamento.]

Epitalâmio 15
─ virgindade, virgindade, aonde, ao me deixar, tu foste?

─ eu nunca voltarei a ti; nunca voltarei

(Tradução: Joaquim Brasil Fontes)

Adônis
O doce Adônis morreu, Afrodite: que fazer?

─ Flagelai, moças, os vossos seios,

Rasgai, amigas, as vossas vestes.

(Tradução: Pedro Alvim)

Comentário: Adônis era um jovem, considerado modelo de beleza, e que era disputado por
Afrodite e Perséfone.
O Belo e o Bom Conselho
Quem é belo Possas tu dormir
é belo aos olhos sobre o peito
─ e basta. da tua amiga terna.

Mas quem é bom


é subitamente belo.

(Tradução: Pedro Alvim) (Tradução: Pedro Alvim)

Idade A Lua já se pôs


Se me queres bem, escolhe A Lua já se pôs,
uma esposa mais jovem. as Plêiades também:
Para viver contigo não meia-noite; foge o tempo,
tenho já coração. Que velha! e estou deitada sozinha.

(Tradução: Pedro Alvim) (Tradução de Péricles Eugênio da Silva


Ramos)
ARQUÍLOCO (séc VII a.C)
A grande arte Sombras

Tenho uma grande arte: Com um ramo de mirto


e uma bela rosa
eu firo duramente ela brincava;
aqueles que me ferem
e os cabelos
lhe caíam pelos ombros
e pelas costas

como sombras...

O Eclipse
Fato não há que exceda a expectativa,

receie desmentido ou cause espanto,

desde que Zeus, pai dos Olímpicos,

obscurecendo o resplendor do sol,

em pleno meio-dia fez a noite ,

e o pálido terror venceu os homens.

Nada mais é seguro, tudo é de esperar;

já ninguém deve surpreender-se

se um dia vir os animais trocarem

a terra firme pelas ondas rumorosas,

pedindo por empréstimo

as pastagens marinhas aos delfins,

que as deixarão em busca das montanhas.

(traduções: Péricles Eugênio da Silva Ramos)

Comentário: tal eclipse, que surpreendeu ao poeta, ocorreu provavelmente em 14 de março


de 711 a.C.

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