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Parte 1
Relógio D' Água Editores
Rua Sylvio Rebelo, n.º 15
1000-28 2 Lisboa
te! .: 2 18 47 4 450
fax: 2 18 470 775
relogiodagua@relogiodagua.pt
www.relogiodagua.pt
2 .3 edição revista
ISBN 978-989-641-366-8
Henrique IV
Parte 1
Projecto Shakespeare
Projecto Shakespeare
10
HENRIQUE IV - PARTE l
11
INTRODUÇÃ O
12
HENRIQUE IV - PARTE 1
13
INTRODUÇÃ O
a) Os factos históricos
4 «Validar é mostrar que uma conclusão é provavelmente verdadeira com base no que
se conhece» (Hirsch 171). Alguns estudos recentes, mesmo quando afirmam o «des
crédito» de Tillyard, têm dificuldade em invalidar os suportes epistemológicos da sua
interpretação (Drakakis 15 e 206-7 ; Felperin 149-50) .
5 Ou João de Gande, que também era pai de Filipa de Lencastre. Dado que os nomes
se referem aqui a um contexto inglês, evitarei usar, nesta introdução como também na
tradução da peça, as respectivas versões portuguesas, com a única excepção dos nomes
dos reis, caso em que o uso dos nomes portugueses se encontra muito fortemente con
signado pela tradição.
14
HENRIQUE IV - PARTE I
15
INTR ODUÇÃ O
b) Os valores literários
7 John Wyclif foi um crítico da Igreja Católica no século x1v, depois considerado um
precursor, ou uma espécie de «pai fundador», do protestantismo inglês.
8 As primeiras manifestações do puritanismo histórico, que viria a traduzir-se politica
mente num desafio à unidade da Igreja e do Estado em que se alicerçava a ordem social
e política isabelina (e o mito Tudor), apareceram nos fi nais do reinado de Isabel 1.
9 Já alguém considerou que, pelo facto de «O interesse dramático prevalecente» nestas
obras ser «O destino de uma nação», elas deveriam ser designadas não como peças his
tóricas mas como «peças políticas» (Charlton 85) .
16
HENRIQUE IV - PARTE I
17
INTRODUÇÃ O
e) A história de Henrique IV
18
HENRIQUE IV - PARTE I
10 O que pressupõe uma confusão entre o nascimento e a morte de Cristo como início
da contagem.
19
INTRODUÇÃ O
20
HENRIQUE IV - PARTE 1
12 Ou então podemos considerar com Greenblatt que a interioridade é apenas uma «fic
ção teatral»: «Alguém "ser ele próprio" significa aqui desempenhar o respectivo papel
no esquema do poder, mais do que manifestar uma disposição natural própria ou o que
normalmente designaríamos como a interioridade do sujeito. Na verdade não é de modo
nenhum claro que uma disposição natural, o que quer que isso seja, exista na peça a não
ser como uma fi cção teatral» (Greenblatt 46). Este não é o lugar para discutir a tese de
Greenblatt, mas creio que a continuação da presente exposição exemplifica as minhas
dúvidas relativamente a ela.
13 Não se pretende com isto subscrever elaborações teóricas, geralmente reveladoras
de paternalismo do crítico relativamente ao artista, sobre a manifestação dos limites
e das contradições da ideologia na sua «cristalização» na linguagem ou sobre o texto
literário como lugar de conflito de «estratégias» ideológicas e dos seus discursos, mas
tão-somente afirmar que a arte se manifesta como capacidade humana de superação dos
limites da ideologia. Nesta medida se pode afirmar que Shakespeare - como qualquer
grande artista - sabe, e provavelmente sempre saberá, mais do que nós.
21
INTRODUÇÃ O
d) A epopeia do Príncipe
22
HENRIQUE IV - PARTE I
23
INTRODUÇÃ O
24
HENRIQUE IV - PARTE I
filho do seu pai, mas que por essa mesma razão dificilmente se tor
nará o príncipe perfeito capaz de redimir a falta por este cometida .
A frieza da fala final do Príncipe na representação jocosa em que
Falstaff ocupa o lugar do Príncipe e este ocupa o lugar de Rei pode
ser considerada como confirmando as piores expectativas quanto ao
tratamento final a dar por Hal ao seu gordo companheiro:
25
INTRODUÇÃ O
26
HENRIQUE IV - PARTE I
e) A tragédia de Hotspur
27
INTRODUÇÃ O
28
HENRIQUE IV - PARTE I
29
INTRODUÇÃ O
f) A comédia de Fa/staff
30
HENRIQUE IV - PARTE 1
31
INTRODUÇÃ O
32
HENRIQUE IV - PARTE I
33
INTRODUÇÃ O
22 «Tudo o que é cómico se encontra perto de nós, toda a obra cómica funciona numa
zona de proximidade máxima» (Bakhtine 458).
34
HENRIQUE IV - PARTE I
-nos que tudo na vida tem, ou pode ter, um lado cómico, mesmo o
que nela há de mais sério, ou seja, de mais heróico ou trágico. Os
mecanismos da sociedade e da política são ridicularizados por Fa/s
taff mas não rejeitados, e ele próprio os aceita mesmo quando os
ridiculariza. Falstaff acaba por participar numa guerra na qual ele
não vê especiais méritos em nenhum dos lados em confronto, como
o demonstra quando presta o seu louvor e o seu elogio aos revolto
sos, dando a entender que a única vantagem que vê na guerra é a
de com ela poder ele próprio ganhar (isto é, roubar) alguma coi
sa: «Bom, pode-se dar graças a Deus por estes revoltosos, eles não
prejudicam ninguém, tirando os honestos» (3.3.208-210). E quando
no fim antecipa a recompensa por ter alegadamente sido ele quem
matou Henry Percy («E não conto com ser menos do que conde ou
duque» [5.4.46-47]), Falstaff aceita a sua integração no mundo do
poder embora com ironia a encare como uma perda daqueles traços
que mais obviamente lhe dão identidade: «Se eu me tornar grande,
torno-me mais pequeno, porque me hei-de purgar, e deixar o seco, e
viver asseadamente como convém a um nobre» (5.4.169-171).
«Se eu me tornar grande, torno-me mais pequeno»: este é o gran
de paradoxo do lugar cómico de Falstafj, o lugar da inversão carna
valesca. A grandiosidade da figura de Falstaff é-lhe conferida pelo
seu carácter cómico, é a grandiosidade de uma construção artística
que nele e por via dele inverte os valores do poder e da ordem, que
são os valores da moralidade, da legalidade e da política, numa fes
ta do mundo-ao-contrário onde o grande é pequeno e o pequeno é
grande, onde o Rei é súbdito e o súbdito é Rei como na improvisação
na taberna na quarta cena do segundo acto. Por vezes até mesmo
os valores da razão parecem invertidos, como quando no relato do
assalto Falstaff vai aumentando de forma absurda o número de ata
cantes dos quais teria sido vítima, numa aparente demonstração de
que o seu objectivo principal não é sequer mentir (uma vez que a
mentira para o ser tem de ter alguma consistência) mas simplesmen
te divertir-se. Neste como noutros momentos é de resto à custa de si
próprio que Fa/staff se diverte e não à custa de outrem, como o faz o
Príncipe quando se diverte à custa de Francis.
Nesse mundo de inversão, de improvisação e de excesso, Falstaff
é grande, no corpo, na festa e na festa do corpo (e o carnaval tam-
35
INTRODUÇÃO
36
HENRIQUE IV - PARTE I
37
INTRODUÇÃ O
38
HENRIQUE IV - PARTE I
23 O Primeiro ln-Fólio apenas não assinala a que hoje se considera como terceira cena
do quinto acto, que foi estabelecida na edição de Edward Capell (1767-8 ) . Para esta
cena, como para a consequente renumeração das duas cenas restantes do mesmo acto,
segue-se aqui a divisão de Capei!.
39
INTRODUÇÃ O
40
Referências
BEVINGTON, David (ed.). Henry IV, Part One . The Oxford Shakespeare.
Oxford World 's Classics. Oxford: Oxford University Press, 1 987 .
BRAGA, Henrique (trad .). El-Rei Henrique IV (Primeira Parte) . Porto:
Lello e Irmão, s. d. ( 1 950) .
DAVISON, P. H . (ed.) . Henry IV: Part One . The New Penguin Shakespeare.
Harmondsworth: Penguin Books, 1 996.
HUMPHREYS, A. R. (ed.). King Henry N, Part 1 ( 1 960) . The Arden Shakes
peare. Walton-on-Thames, Surrey: Thomas Nelson and Sons, 1 997 .
WEIL, Herbert, & Judith Weil (ed.). The First Part of King Henry IV. The
New Cambridge Shakespeare. Cambridge: Cambridge University Press,
1 997 .
Outros títulos
42
Henrique IV
Parte 1
Personagens
LADY MORTIMER
DOUGLAS
MENSAGEIRO
ARCEBISPO DE YORK
SIR MICHAEL
SEGUNDO MENSAGEIRO
j
Soldados , outros via antes , e acompanhantes
ACTO 1
Cena 1
48
HENRIQUE IV - PARTE 1 1.1
WESTMORELAND À minha fé ,
É uma conquista para ostentação de um príncipe .
49
WILLIAM SHAKESPEARE l .l
Saem
Cena 2
PRÍNCIPE Ficas tão aparvalhado com esse seco que bebes, todo
desapertado depois de cear e para aí estendido à tar
de a dormir nos bancos , que te esqueces de perguntar
50
HENRIQUE IV - PARTE I 1 .2
FALSTAFF Olha que agora chegaste para mim , Hal . Nós para
roubar bolsas temos de andar à luz da Lua e do setes
trelo , e não de «Febo , esse belo cavaleiro andante» .
E peço-te , meu querido malandro , que quando fores
rei , e que Deus proteja a tua graça - ou antes , a tua
majestade , porque graça não hás-de ter nenhuma . . .
51
WILLIAM S HAKESPEARE 1 .2
FALSTAFF Sim , sim , e de tal maneira que não fosse aqui presu
mido que és o herdeiro presumível . . . Mas rogo-te
que me digas , meu querido malandro , haverá forcas 60
52
HENRIQUE IV - PARTE I 1 .2
FALSTAFF Muito bem , Hal , muito bem . De certo modo até diz
bem comigo - assim como frequentar o tribunal , to
assevero .
53
WILLIAM SHAKESPEARE 1 .2
54
HENRIQUE IV - PARTE I 1 .2
55
WILLIAM SHAKESPEARE 1 .2
[Sai Falstajf]
56
HENRIQUE IV - PARTE I 1 .2
ro1Ns Bom, sei que dois deles são do que mais cobarde há à
face da terra; quanto ao terceiro , juro que deponho as
armas se ele lutar mais do que lhe parecer razoável .
A graça desta partida há-de estar nas imensas men
tiras que esse anafado patife nos vai contar quan
do nos reunirmos para cear. Como teve de se bater
contra pelo menos trinta, quantas vezes se esquivou ,
quantos golpes desferiu , por que atribulações passou .
A graça vai estar toda em desdizer tudo isso .
Sai Poins
57
WILLIAM SHAKESPEARE 1 .2
Sai
Cena 3
58
HENRIQUE IV - PARTE I 1 .3
Sai Worcester
[Para Northumberlandj
Vós íeis começar a falar.
59
WILLIAM SHAKESPEARE 1 .3
60
HENRIQUE IV - PARTE I 1 .3
61
WILLIAM SHAKESPEARE 1 .3
Entra Worcester
62
HENRIQUE IV - PARTE I 1 .3
63
WILLIAM SHAKESPEARE 1 .3
64
HENRIQUE IV - PARTE I 1 .3
65
WILLIAM SHAKESPEARE 1 .3
66
HENRIQUE IV - PARTE I 1 .3
67
WILLIAM SHAKESPEARE 1 .3
Saem
68
ACT0 2
Cena 1
PRIMEIRO
ALMOCREVE Ei lá ! Veja-me eu na forca se não hão-de ser J ª
umas quatro da matina. Já a Ursa Maior vai por sobre
a chaminé nova e o nosso cavalo ainda por carregar.
Ei , moço !
MOÇO DE
ESTREBARIA [de dentro] Pronto , pronto !
PRIMEIRO
ALMOCREVE Anda daí, Tom, assenta bem a sela do Cortado ,
mete-lhe uns chumaços de lã por debaixo - o pobre
sendeiro está por de mais moído na cernelha .
SEGUNDO
ALMOCREVE Tanta humidade têm aqui as ervilhas e os feijões que
é meio caminho andado para os pobres sendeiros 10
PRIMEIRO
ALMOCREVE Foi da subida do preço da aveia, aquele pobre homem
nunca mais foi o mesmo . Foi a morte dele .
SEGUNDO
ALMOCREVE Cá para mim , esta é a mais reles hospedaria em toda a
estrada para Londres , só há pulgas . Estou tão picado
que mais pareço uma tenca .
PRIMEIRO
ALMOCREVE Uma tenca! Nenhum rei cristão conseguiria ser mais
mordido do que eu fui só desde que cantou o primei-
ro g�o . w
SEGUNDO
ALMOCREVE E como nem sequer nos dão um penico , temos de
verter águas na lareira, e já se sabe que para dar pul
gas o mijo é como as verdemãs .
PRIMEIRO
ALMOCREVE Então , moço ! Anda daí, diabos te levem , anda daí !
SEGUNDO
ALMOCREVE Tenho um presunto e duas raízes de gengibre para
levar para Charing Cross .
PRIMEIRO
ALMOCREVE Santo Deus ! Os perus que tenho no paneiro estão
esfomeados . Então , moço ! Maldito sejas , não tens
olhos na cara? Não ouves ? Eu seja um traste se abrir
-te a cachola não há-de ser tão boa acção como beber 30
Entra Gadshill
PRIMEIRO
ALMOCREVE Hão-de ser duas .
70
HENRIQUE IV - PARTE I 2.1
PRIMEIRO
ALMOCREVE Devagar, por Deus , muito devagar ! Sei de um truque
que vale por dois desses , ai não que não sei !
SEGUNDO
ALMOCREVE Pois , pois , sabes quando? No Dia de São Nunca ! 40
SEGUNDO
ALMOCREVE A tempo de me deitar com um candeeiro , to garanto .
Anda daí, vizinho Canecas , vamos acordar aqueles
senhores que levam haveres com eles e querem via
jar com companhia.
Saem os Almocreves
GADSHILL Ei lá ! Camareiro !
Entra o Camareiro
GADSHILL Isso é tão certo como «aqui mesmo à mão , diz o ca
mareiro» , porque tu estás tão perto do larápio como
o capataz do jornaleiro . Tomas conta das coisas .
71
WILLIAM SHAKESPEARE 2.1
72
HENRIQUE IV - PARTE I 2.1
Saem
Cena 2
PR Í NCIPE Escondam-se !
[Retiram-se]
Entra Fa/staff
73
WILLIAM SHAKESPEARE 2.2
[Afasta-se]
enforcar !
74
HENRIQUE IV - PARTE I 2.2
montado .
Entra Gadshill
GADSHILL Alerta !
[Põem as máscaras]
75
WILLIAM SHAKESPEARE 2.2
FALSTAFF Na forca.
Entram os Viajantes
76
HENRIQUE IV - PARTE I 2 .2
PRIMEIRO
VIAJANTE Venha daí, companheiro , o rapaz leva-nos os cavalos
na descida . Vamos um bocado a pé para esticar as
pernas .
LADRÕES Alto !
SEGUNDO
VIAJANTE Ai , benza-nos Jesus !
PRIMEIRO
VIAJANTE Oh , estamos para sempre perdidos , nós e os nossos !
Roubam-nos e amarram-nos
Saem
77
WILLIAM SHAKESPEARE 2 .2
[Retiram-se]
Saem
78
HENRIQUE IV - PARTE 1 2 .3
Cena 3
79
WILLIAM SHAKESPEARE 2.3
80
HENRIQUE IV - PARTE 1 2.3
HOTSPUR Eh , lá !
[Entra um Criado]
O Gilliams já partiu com a encomenda?
81
WILLIAM SHAKESPEARE 2.3
ttoTsPuR Basta ,
Basta de bagatelas . Amor ! Eu não te amo , 1 00
LADY PERCY Não tendes amor por mim? De certeza que não?
Pois bem , se não tendes então amor por mim
Nem eu tão-pouco . Não tendes amor por mim?
É a brincar ou é a sério que o dizeis?
82
HENRIQUE IV - PARTE I 2.3
Saem
Cena 4
83
WILLIAM SHAKESPEARE 2 .4
[Poins retira-se]
PRÍNCIPE Perfeito .
84
HENRIQUE IV - PARTE I 2 .4
FRANCIS Senhor?
85
WILLIAM SHAKESPEARE 2.4
FRANCIS Senhor?
86
HENRIQUE IV - PARTE I 2 .4
[Sai Francis]
87
WILLIAM SHAKESPEARE 2.4
Bebe
este desconchavo .
88
HENRIQUE IV - PARTE I 2.4
89
WILLIAM SHAKESPEARE 2 .4
[BARDOLPH) E amarrámo-los .
90
HENRIQUE IV - PARTE I 2 .4
FALSTAFF Já não há rezas nem meias rezas que lhes valham , dois
deles fi-los eu em fanicos . Dois tenho a certeza de que
arrumei , dois sacanas de fatos engomados . É o que te
digo , Hal , e se for mentira podes cuspir-me na cara
e chamar-me cavalo . Conheces a minha defensiva do
costume , Hal - eu estou aqui , e empunho a espada
assim . Quatro sacanas engomados atiram-se a mim . . .
PRÍNCIPE Quatro? Mas ainda agora disseste que eram dois . 210
FALSTAFF Engomados?
91
WILLIAM SHAKESPEARE 2 .4
PRÍNCIPE Pois então como podias saber que esses homens es
tavam vestidos de verde , se estava tão escuro que
nem sequer vias as mãos? Anda lá, explica-te . Que
dizes a isto?
92
HENRIQUE IV � PARTE I 2 .4
FALSTAFF O quê , sob pressão? C ' os diabos, nem que me pu- 250
93
WILLIAM SHAKESPEARE 2 .4
uma coisa muito séria. Neste caso fui cobarde por ins
tinto . Terei assim melhor opinião de mim, e de vós , pa-
ra toda a vida - de mim como um valente leão , de vós
como verdadeiro Príncipe . Mas valha-me Deus , meus
rapazes , ainda bem que tendes o dinheiro . Hospedeira,
bate-me essas portas ! Vigília esta noite , oração ama
nhã ! Galantes , bons rapazes , corações de ouro , todos
os títulos da boa amizade sejam vossos ! Então , vamo
-nos divertir? Vamos a uma peça de improviso?
Entra a Hospedeira
94
HENRIQUE IV - PARTE I 2 .4
Sai
95
WILLIAM SHAKESPEARE 2.4
96
HENRIQUE IV - PARTE I 2 .4
POINs Ah , Glendower.
FALSTAFF Acertastes .
97
WILLIAM SHAKESPEARE 2 .4
PRÍNCIPE O teu trono vai parecer uma cadeira, o teu ceptro 400
98
HENRIQUE IV - PARTE 1 2 .4
HOSPEDEIRA Ai , Jesus , que ele faz isto tão bem como os melhores
farsantes que por aí tenho visto .
99
WILLIAM SHAKESPEARE 2 .4
100
HENRIQUE IV - PARTE 1 2 .4
FALSTAFF Mas dizer que sei nele maior mal do que em mim seria
dizer mais do que eu próprio sei . Lá que ele é velho ,
tanto mais se lamenta, os seus cabelos brancos são
disso testemunho; mas agora que ele seja, com o de
vido respeito a vossa reverência, um putanheiro , isso
eu inteiramente o nego . Se seco com açúcar for um
crime, que Deus valha aos malfeitores ! Se ser velho
e alegre for pecado , então muito velho estalajadeiro
que eu conheço há-de estar já condenado aos infer
nos . Se por ser gordo se há-de ser odiado , as vacas soo
1 01
WILLIAM SHAKESPEARE 2 .4
BARDOLPH Ó meu senhor, meu senhor, está aí o Xerife mais uma 510
Entra a Hospedeira
FALSTAFF Estás a ouvir, Hal? Nunca tomes ouro de lei por ar
remedo . Tu no fundo és autêntico , se bem que não 520
pareças .
1 02
HENRIQUE IV - PARTE I 2 .4
103
WILLIAM SHAKESPEARE 2 .4
1 04
HENRIQUE IV - PARTE I 2 .4
mir até ser dia. Irei à corte pela manhã. Teremos todos
de ir para a guerra, e tu terás nela um lugar honroso.
Hei-de arranjar para este gordo safado uma compa
nhia de infantaria, e já sei que a primeira marcha vai
ser a morte dele . O dinheiro será devolvido com juros .
Vai ter comigo pela manhã, bem cedo . Bom dia, Peto .
Saem
1 05
ACT0 3
Cena 1
108
HENRIQUE IV - PARTE I 3.1
1 09
WILLIAM SHAKESPEARE 3.1
MORTIMER Pois ,
Mas reparai no seu curso , como ele corre
Com desvantagem igual para o meu lado ,
110
HENRIQUE IV - PARTE I 3.1
111
WILLIAM SHAKESPEARE 3.1
Sai
1 12
Em saberes estranhos ; como um leão , valente ,
Sobremaneira afável , e tão generoso
Como as minas da Índia. E digo-vos mais , primo:
O seu respeito pelo vosso temperamento
Leva-o a refrear os seus poderes naturais
Sempre que o contradizeis . Olhai que isto é verdade .
Garanto-vos que não está vivo nenhum
Que o tenha provocado como vós
Sem ter de tal sentido o perigo e a censura.
Mas não deveis abusar, isso eu vos peço . 1 10
113
J.l
1 14
MORTIMER Com todo o gosto me sentarei a ouvi-la,
Enquanto o nosso documento não está pronto .
Toca a música
HOTSPUR Não .
115
W lLLIAM :SHAK.to:Sl'loAKlo 5.1
Sai
Saem
116
HENRIQUE IV - PARTE I 3 .2
Cena 2
1 17
WILLIAM SHAKESPEARE 3 .2
118
HENRIQUE IV - PARTE I 3 .2
1 19
WILLIAM SHAKESPEARE 3 .2
1 20
Será esse o dia , quando quer que ele amanheça ,
E m que esse filho d a honra e do renome ,
O galante Hotspur, esse afamado cavaleiro 1 40
121
WILLIAM SHAKESPEARE 3 .2
Saem
Cena 3
1 22
HENRIQUE IV - PARTE I 3 .3
BARDOLPH Bom , Sir John , estais tão gordo que não deve haver
medidas que vos sirvam , pelo menos medidas razoá
veis , Sir John .
terna Acesa .
BARDOLPH Mas que mal é que a minha cara vos faz , Sir John?
1 23
WILLIAM SHAKESPEARE 3 .3
HOSPEDEIRA Francamente , Sir John , que ideias são essas , Sir John , ro
maram isto .
1 24
HJ:.N K H,.I U J:. 1 V - l'AK l J:. 1
HOSPEDEIRA Não seja eu uma mulher séria se aquilo não era ho
landa de oito xelins a vara ! E ainda me deveis dinhei
ro , Sir John , pelas vossas refeições , e pelas bebidas
fora das refeições , a juntar ao dinheiro que vos em
prestei , vinte e quatro libras .
1 25
W JLLJAM �ttAt\.. t �t"tAK.t
1 26
OC1"1 1"1\,l U I:. 1 V - r/-\1\.1 e l -' ·-'
FALSTAFF Que coisa? Olha, qualquer coisa por que dar graças a
Deus .
HOSPEDEIRA Eu não sou nada por que dar graças a Deus , é bom
que saibas ; eu sou a esposa de um homem honesto ,
e à parte a tua dignidade de cavaleiro , és um filho da
mãe por me tratares assim .
1 27
W ILLIAM :>HAl\.l:O:lt'l:OAKJ:o
FALSTAFF Pois, mas isso era se ele dissesse que o meu anel era
de cobre . 1 60
FALSTAFF O Rei , esse sim , deve ser temido como o leão . Pensas
que tenho medo de ti como tenho do teu pai? Nem
pensar - Deus me rebente já o cinto se tenho .
1 28
HENRIQUE IV - PARTE I 3 .3
1 29
WILLIAM SHAKESPEARE 3.3
PRÍNCIPE Bardolph !
[Sai]
[Sai]
1 30
ACT0 4
Cena 1
1 32
HENRIQUE IV - PARTE I 4.1
1 33
WILLIAM SHAKESPEARE 4.1
1 34
HENRIQUE IV - PARTE I 4.1
1 35
WILLIAM SHAKESPEARE 4.1
Saem
Cena 2
Sai
1 36
HENRIQUE IV - PARTE 1 4 .2
1 37
WILLIAM SHAKESPEARE 4.2
FALSTAFF O quê , Hal? Por aqui , meu gaiato louco? Que diabo
fazes tu em Warwickshire? Meu bom Lorde West
moreland , haveis de me desculpar, mas pensei que
Vossa Senhoria estivesse já em Shrewsbury. 60
PRÍNCIPE Sim, sim , sem dúvida para roubar natas , tanto que já
estás feito um pote de manteiga . Mas diz-me , Jack ,
de quem é essa gente que vem aí contigo?
FALSTAFF Deixa, deixa, são bons para lançar aos piques , é car
ne para canhão , é carne para canhão , hão-de encher
uma vala tão bem como os melhores . Ora , homem ,
isto é gente mortal , é gente mortal .
138
HENRIQUE IV - PARTE I 4.2
Sai
wEsTMORELAND Pois já, Sir John , receio que nos estejamos a demorar.
[Sai]
FALSTAFF Bom,
Combatente lerdo e conviva lesto
Chegam tarde à liça e cedo à festa .
[Sai]
Cena 3
1 39
WILLIAM SHAKESPEARE 4.3
VERNON De acordo .
1 40
HENRIQUE IV � PARTE I 4 .3
141
WILLIAM SHAKESPEARE 4.3
1 42
HENRIQUE IV - PARTE I 4.3
HOTSPUR Já lá vamos .
Logo a seguir a ter deposto o Rei , 90
[Saem]
1 43
WILLIAM SHAKESPEARE 4 .4
Cena 4
1 44
HENRIQUE IV - PARTE 1 4.4
s1R MICHAEL Terão quem lhes faça frente , senhor, não duvideis .
Saem
1 45
ACT0 5
Cena 1
1 48
HENRIQUE IV - PARTE I 5.1
1 49
WILLIAM SHAKESPEARE 5.1
1 50
HENRIQUE IV - PARTE 1 5.1
[Sai]
151
WILLIAM SHAKESPEARE 5.1
Sai
Cena 2
1 52
HENRIQUE IV - PARTE 1 5 .2
Sai
Entra Douglas
153
WILLIAM SHAKESPEARE 5 .2
1 54
HENRIQUE IV - PARTE 1 5 .2
Entra um Mensageiro
[SEGUNDO]
MENSAGEIRO Meu senhor, preparai-vos , o Rei vem célere . 90
[Saem]
155
WILLIAM S HAKESPEARE 5 .3
Cena 3
O Rei entra com as suas forças . Toque a rebate para a batalha . En
tram então Douglas e Sir Walter Blunt [disfarçado de Rei]
HOTSPUR Onde?
DOUGLAS Aqui .
1 56
HENRIQUE IV - PARTE I 5 .3
[Saem]
Entra o Príncipe
1 57
WILLIAM SHAKESPEARE 5 .3
FALSTAFF Ora, diante de Deus te digo , Hal , se Percy está vivo não
me levas a espada , mas leva-me a pistola se quiseres .
FALSTAFF Poi s , Hal , está quente , está quente . Tem aí que chegue
para atordoar uma cidade .
Sai
[Sai]
158
HENRIQUE IV - PARTE I 5 .4
Cena 4
1 59
WILLIAM SHAKESPEARE 5 .4
Sai
[Entra Douglas]
1 60
HENRIQUE IV - PARTE 1 5 .4
Sai
Entra Hotspur
161
WILLIAM S HAKESPEARE 5 .4
Lutam
Entra Falstaff
FALSTAFF Muito bem , Hal ! Isso , isso , Hal ! Olha que isto não
vai ser brincadeira de rapazes , digo-to eu .
Entra Douglas, luta com Falstaff, [que] cai por terra como morto
[Sai Douglas]
[Morre]
1 62
HENRIQUE IV - PARTE 1 5 .4
Sai
Falstaff levanta-se
1 63
WILLIAM SHAKESPEARE 5 .4
FALSTAFF Ah , isso é certo que não , não sou u m duplo . Mas seja 140
1 64
HENRIQUE IV � PARTE I 5 .4
165
WILLIAM SHAKESPEARE 5 .5
Cena 5
1 66
HENRIQUE IV - PARTE I 5 .5
Saem
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Notas
Advertência: Os números que precedem cada entrada correspondem aos
das linhas no Acto e Cena respectivos .
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HENRIQUE IV - PARTE I
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NOTAS
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HENRIQUE IV - PARTE I
3 . 1 .225 - «O diabo percebe galês» : terá sido em galês que Glendower, por
artes do diabo , convocou os músicos .
3 . 1 .248 - Finsbury Field s : um lugar a norte de Londres usado como área
de lazer.
3 . 1 .255 - Os alfaiate s , como os tecelõe s , eram conhecidos por cantarem
enquanto trabalhavam . Hotspur desvaloriza a arte do canto , como desvaloriza
os hábitos burgueses (da «gentinha dos fatos domingueiros» ) .
3 .3 - Na taberna de Eastcheap .
3 .3 .5-6 - Maçãs de São João: uma qualidade de maçãs apanhadas pelo São
João para consumir mais tarde , já murchas e encarquilhadas .
3 .3 .36- « Dives vestido de púrpura» : Lucas 1 6 . 1 9-3 1 , parábola do rico e de
Lázaro (dives é o termo latino para «rico» ) . Um homem rico , «que se vestia de
púrpura e linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes» , deixou que
à sua porta morresse de fome um homem pobre , Lázaro . O pobre morreu e foi
levado pelos anjos para o seio de Abraão ; o rico morreu e foi condenado aos
tormentos pelas chamas do Inferno .
3 .3 .55-56 - Resposta proverbial , comparável a «era bem feito que engolis
ses o que dizes ! » .
3 .3 .66 - «B ardolph foi rapado » : h á aqui u m possível j ogo com segundos
sentidos : 1 ) perder o cabelo em consequência da sífilis (por transmissão vené
rea) ; 2) rapar o cabelo por estar infestado de piolho s ; 3) ser-lhe rapado o cabelo
por ir para a prisão .
3 .3 . 1 04 - Newgate : prisão de Londre s . Os prisioneiros eram levados dois a
dois para o tribunal e de volta à pri são .
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NOTAS
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HENRIQUE IV - PARTE I
5 .3 .23 - «Vá um tolo co ' a tua alma» : «que o labéu "tolo" acompanhe a tua
alma» Uá que em vida provaste ser tolo ao disfarçares-te de rei) .
5 .3 .48 - «Nunca o turco Gregório» : os turcos eram em geral considerados
violentos e feroze s . Doi s papas de nome Gregório têm sido sugeridos como
possíveis referências : Gregório VII ( século x1) , cuja violência era denuncia
da pelos autores protestante s , e Gregório XIII ( 1 572-85 ) , que teria instigado o
massacre de São B artolomeu (massacre dos Huguenotes em França em 1 572) e
prometido indulgência plena a quem assassinasse a Rainha Isabel I (Weil 1 87) .
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Índice
Introdução 9
Henrique IV - Parte 1 43
Notas 1 69
NESTA COLECÇÃO
1 . Romeu e Julieta
2 . Henrique N Parte I
-
3 . Henrique IV - Parte II