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Luiza Mascherpe Rossini

Dissertação para matéria “História do Teatro Ocidental” ministrada por Daniel


Gonzales

A REVOLUÇÃO E HUMANISMO DE SHAKESPEARE NO TEATRO

A Inglaterra, durante o fim da idade média (final do século XV) começa a ter
o seu desenvolvimento baseado no comércio marítimo, que culmina em mudanças
profundas na religião, na economia, na política e na sociedade do país, com
destaque para o crescimento da burguesia, e fortalecimento da Coroa Britânica
durante a ascensão da Renascença.
Percebe-se que durante a transição da Idade Média para o Renascimento
(séc XVI e XVII) as influências religiosas que tangiam não somente os costumes da
época, também eram perceptíveis na cultura, como por exemplo, nas
representações cênicas. As peças apresentadas no país, até então, eram católicas
e faladas em latim, portanto, conforme descrito por Cardim (1931), “A ação tinha
que ser toda apresentada aos espectadores, que não compreendiam a língua”,
configurando o princípio do drama romântico. As peças apresentadas em festas
religiosas, como as Miracle Plays (representadas no Chorpus Christi) que eram
procissões na rua, popularizam o teatro para todas as classes sociais, além de
inovar em cenário.
Com a solidificação da Coroa Britânica como potência do novo mercado
comercial mundial, configurado pela segurança cívica que estava se estabelecendo,
as viagens dos ingleses para outros países têm objetivos não só econômicos, mas
culturais. Muitos filhos da elite (burguesia em ascensão) iam para a Itália a fim de
buscar formação aprofundada sobre as artes, além de trazer muitos professores
italianos para lecionar nas principais universidades inglesas, visto que Florença é
considerada o “berço do renascimento”. Portanto, as produções culturais sofrem
grande influência desses intercâmbios, mesmo que ainda haja grande presença da
Igreja Católica, que concentrava o poder religioso e político durante a Idade Média,
durante o período renascentista o homem passa a ser o objeto central das obras,
que antes tinha Deus ocupando este lugar de destaque, e como descrito a seguir,
na literatura Shakespeare participa dessa transformação desde a metade do século
XVI, período do início dessa transformação na Inglaterra, colocando em prática
muito do humanismo, por isso é chamado por Harold Bloom como o “criador da
consciência moderna”.
Mesmo não sendo um filho da elite, Shakespeare e o maior representante do
humanismo na Inglaterra, isso porque em suas obras ele retomava elementos do
teatro antigo grego, tendo conhecimento de autores como Plauto, por exemplo, que
não apenas o influenciou mas serviu como base para a peça “Comédia dos Erros”,
considerado primeiro sucesso como dramaturgo do autor inglês, e também por
colocar o homem como centro de suas obras e soberania da coroa da Grã-Bretanha
sobre o restante dos países.
O governo de Henrique VII (com duração de 1485-1509), proporcionou o
crescimento do teatro inglês. Com o final da Guerra das Duas Rosas, o início da
dinastia Tudor, o investimento no mercantilismo e revolucionou também as artes
cênicas, visto que à partir de então a coroa passa a ser grande entusiasta de
espetáculos da côrte, que ao longo do tempo ganha cada vez mais valor e
estabelece como uma organização estável, e durante o período Elisabetano seus
mestres e autores começam a receber da coroa para manter as produções da Real
Capela, financiamento, este, muito importante para o desenvolvimento do drama e
das trupes, que costumavam se manter com os investimentos feitos pelos seus
próprios integrantes (atores, dramaturgos e menestréis).
Tanto a Guerra das Duas Rosas e a dinastia Tudor são utilizadas na obra de
Shakespeare para a evocação do espírito nacionalista do público, mesmo falando
sobre o passado, sua obra é revolucionária por dar lições sobre o presente e
utilizando um vasto vocabulário que o autor tinha domínio, com invenção de
palavras e expressões, desde o clássico “Ser ou não ser ” em Hamlet, até as
coloquais utilizadas ainda hoje no cotidiano de vários países como “quebrar o gelo”.
Ao longo do tempo, as peças durante o período elisabetano, que a princípio
tinham forte influência do circo, eram encenadas em teatro, geralmente alugados
pelas trupes, que diferente do teatro elitista italiano, tinha presente todas as
camadas sociais, divididas espacialmente mas ainda assim, eram peças que tinham
forte apelo popular, sendo Shakespeare um autor de grande destaque por conseguir
agradar a este vasto público, escrevendo peças que conseguem atrair a atenção e
compreensão de todos e tabém estabeleceu uma característica marcante do
período que era a metalinguagem gerada pela interlocoção dos atores (todos
homens) com o público nas entrelinhas dos diálogos. Essa universalidade, não só
de público, mas de estilos, com drama e comédia, muitas vezes fundidos em uma
mesma peça, faz com que até hoje o autor seja remontado e fonte de referência
para as artes cênicas.
Durante a Peste, produziu poesia e também obras como “Rei Lear", e com a
morte de Elisabeth I, Shakespeare continua a sua produção até o final da vida,
retratando a troca de coroas e também sobre algumas tentativas revolucionárias em
Londres, quando nos seus anos finais, produziu peças políticas consideradas
menores escritas quando provavelmente voltou a sua cidade Stanford como
autoexílio.
William Shakespeare se eterniza como renascentista ao lado de nomes como
Leonardo Da Vinci, Michelangelo e Botticelli. Não se sabe ao certo qual o verdadeiro
volume de suas obras, até porque muitas vezes as representações eram de
propriedade intelectual das trupes que contratavam os dramaturgos, e por muitas
outras produções não tenham sido lançadas, mas é sabido que “Romeu e Julieta”,
“A Megera Domada”, “Hamlet”, “Sonhos de Uma Noite de Verão” entre tantos outros
títulos estarão presentes no imaginário popular de todos que já tiveram contato com
o Teatro Ocidental, do qual é considerado o pai.

BIBLIOGRAFIA

CARDIM, Luis. “Shakespeare e o Drama Inglês”, Porto 1903;


FRANCO, Gustavo. “A Economia de Shakespeare”, Rio de Janeiro, Zahar.
ROSENFELD, Anatol. “Shakespeare e o Pensamento Renascentista”, Perspectiva.
SILVA, Joana Angélica Lavallé De Mendonça. O teatro de Shakespeare.

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