Você está na página 1de 38

LÍRICA TROVADORESCA

O que é a lírica galego-portuguesa?

Poesia trovadoresca galego-portuguesa


Cerca de 2100 composições poéticas,
escritas em galego-português, que se
organizam em dois grandes grupos:

1680 textos 420 textos


de assunto profano de assunto religioso

Cantigas de Santa Maria


Qual é a sua origem?

Poesia de inspiração tradicional, Poesia lírica provençal, em langue


folclórica, cultivada pelos jograis d’oc, cultivada pelos trovadores
na Galiza – voz feminina (estilo nas cortes dos senhores feudais no
popular) Sul da França (século XI) – voz
masculina (estilo refinado)

Poesia trovadoresca
galego-portuguesa
Em que língua foi expressa?

Composições escritas em galego-português

Língua falada no Noroeste da Península Ibérica


(área correspondente a Portugal e à Galiza)
até meados do século XIV.

A poesia galego-portuguesa não foi


cultivada apenas em Portugal e na Galiza,
mas também nos reinos de Leão e Castela
e fora da Península Ibérica.
Como chegou até nós?
Pelo grande sucesso que tiveram, as cantigas foram manuscritas e, mais tarde, reunidas em coletâneas,
denominadas cancioneiros.
Chegaram até nós três grandes cancioneiros de poesia profana, conhecidos como:

Cancioneiro da Ajuda, que se encontra Cancioneiro da Vaticana,


na biblioteca do Palácio da Ajuda, em pertencente à Biblioteca Vaticana
Lisboa (300 composições); (1200 composições);

Cancioneiro da Biblioteca Nacional (o


mais extenso, com 1500 composições,
acompanhadas de um tratado de
poética fragmentário).
Como chegou até nós?

Página do Cancioneiro
da Ajuda que apresenta
a cantiga «Quero-vos
eu ora rogar».
Como chegou até nós?

Além dos cancioneiros, chegaram-nos folhas


soltas com cantigas, importantes por conterem
notações musicais das melodias das cantigas:

o Pergaminho Vindel (à esq.), com cantigas de


Martim Codax, e o Pergaminho Sharrer, com
cantigas de D. Dinis.
Como chegou até nós?

Iluminura do Cancioneiro da Ajuda, que mostra um


nobre (à esquerda), uma soldadeira com castanholas
e um jogral a tocar saltério.
Quem foram os seus autores?

Poesia trovadoresca

Ligada às elites culturais Desenvolvida em torno


e políticas da época. das grandes cortes reais
ou senhoriais.

Protegida e incentivada Produzida por reis e


pelos reis e grandes senhores feudais
senhores. compunham cantigas.
Quem foram os seus autores?

Entre os trovadores mais famosos encontram-se os reis D. Dinis (1261-1325), conhecido como
Rei Poeta ou Rei Trovador, e o seu avô Afonso X de Castela (1221-1284), o Sábio.

Gravura de D. Dinis. Retrato de Afonso X


no Livro dos Jogos (1283).
Quem foram os seus autores?

Rei Afonso X de Castela e sua corte musical, iluminura das Cantigas de Santa Maria, séc.
XIII (pormenor).
Quem foram os seus autores?
Na produção e execução das cantigas, participavam trovadores e jograis.

De origem popular, interpretavam


Geralmente pertenciam à nobreza,
as composições produzidas pelos trovadores,
elaboravam o texto e compunham a música
cantando, tocando e dançando. Alguns
que acompanhava a composição poética.
jograis, competindo com os nobres,
compunham as suas próprias cantigas.

A sua atuação podia ser complementada pela de mulheres que cantavam e dançavam.
Trovadores, jograis e soldadeiras animavam os saraus, ou festas, que tinham lugar nas cortes reais e senhoriais.
Quem foram os seus autores?

As iluminuras que, nos cancioneiros, acompanham as cantigas testemunham a


interpretação de composições trovadorescas.

Iluminuras do Cancioneiro da Ajuda em que são representados nobres, jograis e soldadeiras.


Quais são as suas características?

Poesia trovadoresca
(de caráter profano)

Temática Temática
amorosa satírica

Cantigas de Cantigas de Cantigas de escárnio


amigo amor e maldizer
Quais são as suas características?

Na poesia trovadoresca, o texto e a música eram indissociáveis.

«Cantigas»

Textos poéticos destinados

a ser cantados e
musicados
Cantigas de amigo

Cantigas de amigo
Origem
Autóctone (peninsular): tradição arcaica de cantigas em voz feminina.

Estilo Popular.

Sujeito
poético Voz feminina: a donzela, apaixonada e saudosa, que expressa os seus
sentimentos pelo amigo (o trovador finge a voz e a identidade de uma
jovem).

Recetor/ O amigo, a mãe, as amigas / irmãs ou a Natureza.


Interlocutor
Cantigas de amigo

Cantigas de amigo

Figura Jovem de origem popular,


feminina simples e espontânea.

Figura Algumas vezes apaixonado; algumas


vezes - «traedor», «mentiroso»,
masculina
«desleal»; frequentemente ausente
(por ter partido para a guerra, pelo
mar, com o rei ou o senhor).
Iluminura do Codex Manesse,
séc. XIV.
Cantigas de amigo

Situações emocionais

Relação com a Natureza

Representa os É confidente ou
É o cenário dos
sentimentos da interlocutor da
encontros amorosos.
donzela. donzela.
Cantigas de amigo

Situações emocionais
Confidência amorosa:
à mãe, às amigas e à Natureza

Protege e aconselha É personificada e


São cúmplices da escuta os lamentos e
a filha. donzela. as súplicas da donzela.
Cantigas de amigo

Situações emocionais

Variedade do sentimento amoroso

Tristeza Sofrimento Entusiasmo Angústia Ansiedade Felicidade Frustração


Cantigas de amigo

Ambiente
Ambiente rural

Espaço doméstico e familiar,


de proximidade entre as
personagens, o lar.

Locais afastados (a fonte, o rio e o


mar) ou de vida coletiva (os bailes
e as romarias), propiciando os
encontros amorosos.
Cantigas de amigo

Linguagem
Registo de língua corrente
e estilo (personagens populares e
próximas entre si)

Vocabulário associado aos


cenários naturais e do
quotidiano rural e aos
sentimentos da donzela.

Recursos expressivos:
apóstrofe, personificação,
aliteração, interrogação
retórica e comparação.
Cantigas de amigo

Estrutura

Predomínio das cantigas paralelísticas (repetição e simetria),


apresentando refrão e leixa-pren

Encadeamento de estrofes: cada


Repetição de um ou mais versos
estrofe começa, repetindo o último
em final de estrofe.
verso de uma estrofe anterior.
Cantigas de amor

Cantigas de amor

Poesia provençal (da


Provença, no Sul de França)
Origem

Estilo Refinado
Registo aristocrático
Cantigas de amor

Cantigas de amor

Voz masculina: o trovador, que


Sujeito canta e elogia a beleza e as
poético qualidades da mulher amada

Interlocutor A dama («a senhor») –


a mulher amada
Cantigas de amor

Cantigas de amor

Figura
feminina Figura divinizada e quase
inatingível; de condição
superior.

Figura
Submisso, prestando vassalagem
masculina amorosa à mulher amada
(reprodução da relação senhorial
existente na sociedade).
Cantigas de amor

Situações emocionais Elogio cortês

Vassalagem amorosa: o sujeito


poético coloca-se na posição de Cumprimento das regras do
Idealização e elogio da
vassalo que serve o suserano (a amor cortês: «mesura» –
«senhor» pela sua beleza e
«senhor») com diligência e regras de sigilo, discrição e
elevação moral.
fidelidade; é um amor espiritual contenção.
que não pode ser consumado.

Retrato vago e genérico (bela,


formosa, sensata, virtuosa,
eloquente…).
Cantigas de amor

Situações emocionais Sofrimento amoroso («coita de


amor») do sujeito poético

Amor não correspondido (indiferença


Sofrimento insustentável e
da dama) e incapacidade do trovador
desespero, levando o sujeito
em expressar o seu amor, motivando
poético à loucura (a perder o
lamentações amargas e súplicas
«sem») – «morte» por amor.
tristes.
Cantigas de amor

Ambiente palaciano, meio aristocrático; corte (o


Ambiente sujeito poético e a amada pertencem à nobreza)

Iluminura do Codex Manesse, séc. XIV.


Cantigas de amor

Linguagem e estilo

Composições elaboradas: com retórica


Registo de língua formal, culto
discursiva, predominando as orações
(personagens da aristocracia);
subordinadas; com recursos expressivos
expressões cultas e fórmulas codificadas
como a hipérbole, a comparação e os jogos
do amor cortês.
de palavras.

Vocabulário de origem provençal Simbolismos associados à


(«prez», «sem»). «coita de amor».
Cantigas de escárnio e maldizer

Cantigas de escárnio e maldizer

Voz masculina: o trovador, Crítica social construída com:


Sujeito
que tece uma crítica, de forma - cómico;
poético explícita ou de forma subtil. - caricatura;
- tipos sociais;
- críticas individual e coletiva.

Finalidade Satírica, criticando Por apresentarem vivências do quotidiano


comportamentos e vícios medieval, estas cantigas são valiosos
da época, e lúdica. documentos históricos da sociedade desta
área da Península Ibérica do fim da Idade
Média.
Cantigas de escárnio e maldizer

Cantigas de escárnio e
Sátira literária: paródia do amor cortês,
maldizer com a inversão e a ridicularização das
suas convenções e dos seus códigos.

Caracterização
temática
Sátira social e de costumes: denúncia de vícios
sociais e crítica de costumes, como:
- episódios anedóticos da vida da corte e da vida
jogralesca
- conflitos entre trovadores e jograis
- nobreza decadente
- cobardia e traição de vassalos nobres no
campo de batalha
- decadência generalizada de costumes: vida
desregrada do clero, prostituição, exploração
dos mais fracos, casamentos por conveniência…
Cantigas de escárnio e maldizer

Cantigas de escárnio e
maldizer

Linguagem

Rica e variada, explorando Utilização frequente de termos


obscenos e diminutivos ou Recursos expressivos como a
equívocos, polissemia, jogos de
aumentativos que contribuem para ironia, a hipérbole e a metáfora.
palavras.
ridicularizar o alvo da crítica.
Consolida
Consolida

1. Indica se é verdadeira ou falsa cada uma das seguintes afirmações. Corrige as falsas.

A A poesia trovadoresca galego-portuguesa é constituída por textos de conteúdo


profano.
• Falsa. A poesia trovadoresca galego-portuguesa é constituída por 1680 textos de conteúdo
profano e 420 textos de conteúdo religioso (Cantigas de Santa Maria).

B A poesia trovadoresca galego-portuguesa tem raízes na poesia autóctone, de origem


popular, e na poesia provençal, de estilo refinado.

• Verdadeira.

C Estas composições poéticas eram escritas em galego-português e em castelhano.


• Falsa. Estas composições poéticas eram escritas apenas em galego-português.

Solução
Consolida

1. Indica se é verdadeira ou falsa cada uma das seguintes afirmações. Corrige as falsas.

D Estes textos chegaram-nos através de três cancioneiros e de duas folhas volantes.

• Verdadeira.

E Os trovadores, que eram nobres (alguns deles eram reis),compunham os textos poéticos; os jograis
(membros do povo) interpretavam esses textos, cantando, tocando e as soldadeiras dançando.

• Verdadeira.

Solução
Consolida

2. Associa cada característica ao respetivo género da poesia trovadoresca.

A. São interlocutores do sujeito poético: o amigo, a mãe, as amigas/irmãs ou a Natureza. Cantigas de amigo:
B. Apresentam um cenário rural, um espaço doméstico e familiar e locais propícios A B G H
aos encontros amorosos.
C. Têm um caráter satírico. Cantigas de amor:
D. Parodiam o amor cortês. F
E. Retratam indivíduos e tipos sociais, costumes e vícios.
F. Têm origem provençal e retratam um ambiente palaciano. Cantigas de escárnio e
G. Utilizam uma linguagem corrente e vocabulário associado a cenários naturais e ao maldizer:
quotidiano rural.
H. Predominam as cantigas paralelísticas.
C D E

Solução
Consolida

3. Associa cada característica ao respetivo género da poesia trovadoresca.

A. O sofrimento e o desespero levam à «morte» por amor. Cantigas de amigo:


B. A Natureza personificada escuta os lamentos e as súplicas da donzela e é cenário B E G H
dos encontros amorosos.
C. A figura masculina presta vassalagem à «senhor». Cantigas de amor:
D. O amor cortês tem regras de sigilo, discrição e contenção. A C D F
E. A mãe tem o papel de protetora e conselheira da filha.
F. O sujeito poético ama uma figura idealizada e quase inacessível.
G. O sujeito poético expressa os seus sentimentos pelo amado.
H. A figura feminina é de origem popular, simples e espontânea.

Solução

Você também pode gostar