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SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Literatura Portuguesa Contemporânea (Universidade Federal do Pará)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO

FACULDADE DE LETRAS

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Belém - PA

2018

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SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Trabalho apresentado à Faculdade de


Letras da Universidade Federal do Pará,
para fins de obtenção do conceito
referente à disciplina Literatura
Portuguesa Contemporânea.

Orientadora: Prof.ª Dr. ª Maria do


Perpétuo Socorro Galvão Simões.

Belém
2018

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Universidade Federal do Pará


Faculdade de Letras
Literatura Portuguesa Contemporânea.
Prof.ª Dr. ª Maria do Perpétuo Socorro Galvão Simões.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu na cidade do Porto (Portugal), em


6 de dezembro de 1919 em morreu na cidade de Lisboa, em 2 de julho de 2004. Em
2014, o seu corpo foi transladado para o Panteão Nacional. Sophia de Mello foi uma
das mais importantes poetisas portuguesas do século XX, teve atuação política
como opositora do governo salazarista, fez parte dos movimentos católicos contra o
antigo regime, sendo fundadora da Comissão Nacional de Apoio aos Presos
Políticos, além de ser eleita em 1975 para a Assembleia Constituinte pelo Partido
Socialista. Andresen foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante
galardão literário a língua portuguesa, o Premio Camões, em 1999.
Em relação às suas obras, em 1940 publicou seus primeiros versos
em Cadernos de poesia e após o nascimento dos filhos, começou a escrever Contos
infantis, artigos e ensaios. A poetiza também traduziu para o português como
Eurípedes, Shakespeare, Claudel, Dante e, para o francês, alguns poetas
portugueses.
O universo temático da autora é bastante rico, abrangendo a infância e a
juventude (nos primeiros poemas), o tempo, as coisas, os seres, a religiosidade e a
natureza, principalmente, o mar. Sua escrita é marcada pelo lirismo e por uma
linguagem intimista. Também é possível perceber a influência da literatura clássica e
a aproximação com a tradição grega em suas obras.
Assim, apesar de suas influências, Sophia sempre salientou a sua resistência
às escolas literárias, alegando não se encaixar em nenhuma delas. Publicou seus
primeiros poemas em Cadernos de Poesia, que pretendiam “arquivar a atividade da
poesia atual sem dependência de escolas ou grupos literários, estéticas ou
doutrinas, fórmulas ou programas.” (BARREIROS,1997). Por isso, as preocupações
básicas a respeito de sua poesia se voltavam para que fosse um órgão vivo, um
testemunho da poesia do seu tempo, sem que necessariamente se encaixasse em
algum tipo de padrão; e assim, a autora escreveu sobre diversos temas,
apresentando um variado “leque” em suas obras.

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As conexões da obra da poetiza destacadas para este trabalho serão


influência da literatura clássica com aproximação à tradição grega no poema
FÚRIAS de 1989 e a natureza, principalmente, o mar, em Mar Sonoro – em
comparação à sua contextualização com a música popular brasileira, na voz de
Maria Bethania.

FÚRIAS
Sophia de Mello Breyner Andresen

Escorraçadas do pecado e do sagrado


Habitam agora a mais íntima humildade
Do quotidiano. São
Torneira que se estraga atraso de autocarro
Sopa que transborda na panela
Caneta que se perde aspirador que não aspira
Táxi que não há recibo extraviado
Empurrão cotovelada espera
Burocrático desvario

Sem clamor sem olhar


Sem cabelos eriçados de serpentes
Com as meticulosas mãos do dia-a-dia
Elas nos desfiam

Elas são a peculiar maravilha do mundo moderno


Sem rosto e sem máscara
Sem nome e sem sopro
São as hidras de mil cabeças da eficácia que se avaria

Já não perseguem sacrílegos e parricidas


Preferem vítimas inocentes
Que de forma nenhuma as provocaram
Por elas o dia perde seus longos planos lisos

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Seu sumo de fruta


Sua fragrância de flor
Seu marinho alvoroço
E o tempo é transformado
Em tarefa e pressa
A contratempo
(ANDRESEN, Ilhas, p. 64-65)

O título “Fúrias” remete, já no plano propriamente textual, para a


metalinguagem do mito. Fúrias são os “génios do mundo infernal nas crenças
populares romanas primitivas” (GRIMAL, [19--], p. 179). Descritas como “violentas
deusas que pertencem ao grupo das mais antigas forças do panteão grego”, pelas
quais “se exprime a concepção fundamental do espírito helénico a respeito de uma
certa ordem do mundo, que deve ser protegido das forças anárquicas” (id., p. 147).
Com os cabelos eriçados de serpentes, são geralmente três, e não
reconhecem qualquer outra autoridade divina, nem mesmo a de Zeus. Da escuridão
dos infernos, onde moram, punem todos os excessos humanos, perseguem os
criminosos e enlouquecem as suas vítimas.
A poesia, no entanto, promove uma reconfiguração do mito onde trivializadas,
em vez de protetoras da ordem social, as Fúrias são aqui a imagem da desordem,
ou de uma nova ordem do mundo – esse mundo atual, estilhaçado e confuso:

“Sem cabelos eriçados de serpentes”


“Sem rosto e sem máscara”
Já não perseguem sacrílegos e parricidas
Preferem vítimas inocentes
Que de forma nenhuma as provocaram”.
Como Sophia o definiu numa das suas fórmulas próprias: “tão bem
organizado que se desorganizou”:
“Por elas o dia perde seus longos planos lisos
Seu sumo de fruta
Sua fragrância de flor
Seu marinho alvoroço”

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A poetiza então, lança mão do mito para representar o real ao atualizar esse
mito, dá-lhe novas feições, enumera “formas” concretas das forças infernais que
atormentam ou castigam o homem contemporâneo, na sua circunstância temporal e
social:
“São torneira que se estraga atraso de autocarro
Sopa que transborda na panela
Caneta que se perde aspirador que não aspira
Táxi que não há recibo extraviado
Empurrão cotovelada espera
Burocrático desvario ”.
Todos estes exemplos se destinam a tornar presentes essas forças, numa
expressividade que culmina e encontra a sua síntese no verso:
“Elas são a peculiar maravilha do mundo moderno”.

Mar Sonoro
De Sophia de Mello Bryner. Na voz de Maria Bethania, Mar sonoro.

Mar Sonoro
Sophia de Mello Breyner Andresen, in “Dia do Mar”, 1947.

Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim


A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

O poema de Sophia se compõe em versos limpos e ideias claras, com uma


linguagem simples, porém metafórica e descritiva. “A palavra é elo, vida,
consciência, precisão, liberdade.” (OLIVEIRA, Rita de. 2009)
Além da clareza com as palavras, a imagem poética que se constrói durante o
poema remete ao sossego, a paz que a natureza traz, e ao mar que beija a areia. Há
uma espécie de visualização da paisagem através da descrição do sujeito lírico, e
não somente a visualização, mas o aspecto sonoro do mar. Assim, a natureza é

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realçada por sua perfeição e beleza, e todos esses aspectos são sentidos também
através da música, interpretada por Maria Bethânia.

Referências Bibliográficas

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Ilhas. Lisboa: Texto Editora, 1989.

GRIMAL, Pierre. Dicionário da mitologia grega e romana. Lisboa: Difel, [19--].

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ROCHA, Clara. Sophia de Mello Breyner Andresen: poesia e magia. In: Revista
Colóquio/Letras. Ensaio, nº 132/133, Abril. 1994, p. 165-182. Disponível em:
http://coloquio.gulbenkian.pt/bib/sirius.exe/issueContentDisplay?n=132&p=165&o=r

ŠIMEČKOVÁ, Klára. O mar na obra de Sophia de Mello Breyner Andresen. 2009.


Tese de Doutorado. Masarykova univerzita, Filozofická fakulta.

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