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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BRAGANÇA


FACULDADE DE LETRAS
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS

SILMARA DOS SANTOS DA SILVA

O EROTISMO NA ESCRITA DE EXPRESSÃO FEMININA PÓS-


MODERNA: UMA ANÁLISE DO CONTO “HELL’S ANGELS” DE
MÁRCIA DENSER.

CAPANEMA – PA
2016
SILMARA DOS SANTOS DA SILVA

O EROTISMO NA ESCRITA DE EXPRESSÃO FEMININA PÓS-


MODERNA: UMA ANÁLISE DO CONTO “HELL’S ANGELS” DE
MÁRCIA DENSER.

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação,


apresentado à Faculdade de Letras da Universidade
Federal do Pará, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Licenciatura Plena em Letras,
Habilitação Língua Portuguesa.
Orientadora: Profª MSc: Rosa Helena Sousa de
Oliveira

CAPANEMA – PA
2016
SILVA, Silmara dos Santos da. O Erotismo na Escrita de Expressão Feminina Pós-
moderna: Uma Análise do conto “Hell’s Angels” de Márcia Denser. Trabalho de Conclusão
de Curso de Graduação apresentado à Faculdade de Letras da Universidade Federal do Pará,
Campus Universitário de Capanema, para obtenção do título de licenciada plena em Letras.

Aprovado em: ___/___/_____

Banca Examinadora:

________________________________________________________
Msc. Rosa Helena Sousa de Oliveira (UFPA) – Orientadora

________________________________________________________
Msc. Larissa Fontinele de Alencar (UFPA) – Examinadora

CAPANEMA-PA
2016
AGRADECIMENTOS

Ao Deus todo Poderoso a quem devo minha vida e minhas conquistas, à ele que sempre
esteve guiando meus passos a minha eterna gratidão.

Aos meus pais, minha mãe Irailde e meu pai Aldemar pelo amor e cuidado incondicional,
por acreditarem em meu potencial e sonhar comigo os meus sonhos.

Aos meus irmãos, Ricardo com quem compartilho dos mesmos ideais e visão de mundo,
Moisés e Vanessa pela paciência e confiança, obrigada por estarem sempre prontos a ajudar-
me nos momentos difíceis.

Aos meus poucos porém valiosos amigos de faculdade e de vida em comum presentes
comigo nesta caminhada, sou grata a cada um pelo carinho e companheirismo.
RESUMO

Na era pós-moderna que surge nos anos 1950 e perdura até os dias atuais, podemos perceber
que o erotismo representado na literatura, principalmente, naquela de autoria feminina,
encontra-se intrinsecamente ligado aos discursos emancipatórios em relação ao gênero
feminino com o papel de contestar as restrições sociais e literárias impostas historicamente às
mulheres. Com base nestas reflexões, o foco deste trabalho é voltado para conto Hell’s Angels
da escritora Márcia Denser que traz à tona a temática do erotismo sob a perspectiva da mulher
(escritora/personagem). São expostas algumas concepções teóricas inerentes ao erotismo, bem
como a apresentação de textos em que é possível observar a presença do elemento erótico, além
de uma análise do conto e do erotismo nele impresso.

PALAVRAS-CHAVE: Erotismo; Literatura; autoria feminina; Márcia Denser.


RESUMEN

En la era posmoderna que surge en la década de 1950 y duró hasta el día de hoy, nos damos
cuenta de que el erotismo representado en la literatura, especialmente la de autores de sexo
femenino, está vinculada intrínsecamente a los discursos emancipatorios en relación a las
mujeres con el papel de concurso limitaciones sociales y literarias históricamente impuestas a
las mujeres. Sobre la base de estas consideraciones, el objetivo de este trabajo se centra en la
historia corta Hell´s Angels, el escritor Marcia Denser que pone de manifiesto el tema erótico
visto desde la perspectiva de la mujer (escritor / carácter), se exponen también algunos
conceptos teóricos erotismo inherente y la presentación de los textos en los que es posible ver
la presencia del elemento erótico, así como un análisis de la historia corta y el erotismo se
imprime.

PALABRAS-CLAVE: Erotismo; literatura; autores de sexo femenino; Márcia Denser.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 07

1. MÁRCIA DENSER: A MUSA DARK DA LITERATURA BRASILEIRA........... 08

1.1. Sobre a escritora........................................................................................................ 08

1.2. Obras ......................................................................................................................... 09

1.3. Questões temáticas ................................................................................................... 10

1.4. Márcia Denser sob um olhar crítico ....................................................................... 10

2. EROTISMO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS ...................................................... 13

2.1. Erotismo, o que é? .................................................................................................... 13

2.2. Erotismo x Pornografia ........................................................................................... 16

2.3. O Erótico e suas representações .............................................................................. 17

2.3.1. Poemas e prosa .................................................................................................. 17


2.3.2. Textos “Didáticos” ............................................................................................ 19
2.3.3. Textos Religiosos ............................................................................................... 21

2.4. O discurso erótico e a literatura de expressão feminina ....................................... 23

3. O CONTO HELL’S ANGELS ................................................................................... 26

3.1. Apresentação ............................................................................................................. 26

3.2. Elementos da narrativa ............................................................................................ 26

3.3. O erotismo impresso em Hell’s Angels ................................................................... 31

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 36

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 37
7

INTRODUÇÃO

Os textos que tratam a temática do erotismo sempre atraíram a atenção e a curiosidade do


mais diversificado público ao longo dos tempos, e, estando situados em um determinado
contexto histórico, revelam muito acerca das relações sociais dos sujeitos pertencentes a tal
período.

O objetivo central deste trabalho é expor o erotismo e revelar o seu papel na literatura de
autoria feminina pós-moderna através da análise do conto Hell’s Angels de Márcia Denser. Isso
fez-se importante uma vez que o erotismo encontra-se abordado ao longo dos séculos pelos
escritos de autoria masculina, percebe-se no entanto, que quando apresentado no âmbito da
autoria feminina alguns paradigmas são desconstruídos e novos discursos surgem,
possibilitando uma série de referências para a construção da identidade feminina no cenário
atual de nossa sociedade.

Este trabalho está dividido em três partes. Por tratar-se de uma escritora pouco conhecida
porque não integrante de um grupo que podemos denominar como ‘cânone literário nacional’,
a primeira parte se dedica a apresentar algumas considerações a respeito da escritora Márcia
Denser como sua trajetória e estilo literário, além de um breve panorama da opinião crítica
acerca de sua atuação no âmbito da literatura.

Na segunda parte serão explanados conceitos referentes ao erotismo, conceitos estes


fundamentados nas concepções formuladas por Georges Bataille (2004) em sua obra intitulada
O Erotismo e Octávio Paz (1994) com a obra A dupla chama, ainda nesta parte, outros tópicos
são destinados discutir a temática erótica, os quais apresentam: a diferença existente entre
erotismo e pornografia; as diversas representações do erótico em que se ressaltam aquelas
pertencentes ao campo literário e, por fim, um breve esboço acerca da ação do discurso erótico
na literatura de expressão feminina.

A terceira e última parte traz a apresentação e análise do conto Hell’s Angels, a análise
teórica em torno dos elementos da narrativa está embasada nas concepções de Arnaldo Franco
Júnior (2003) em Operadores de leitura narrativa. Já a análise acerca do erotismo presente no
conto, além dos conceitos formulados por Bataille (2004) e Paz (1994), baseia-se também nas
ideias do sociólogo Anthony Giddens (1993) em sua obra intitulada A transformação da
intimidade: Sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas.
8

1. MÁRCIA DENSER: A MUSA DARK DA LITERATURA BRASILEIRA

1.1. Sobre a escritora

A escritora Márcia Denser, nascida em 23 de maio do ano de 1954 na cidade de São


Paulo, é contista, romancista, pesquisadora de literatura brasileira contemporânea e jornalista,
formou-se Bacharel em comunicação e artes na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São
Paulo (1974), também possui título de Mestre em Literatura e comunicação pela PUCSP-
Programa de Pós Graduação em Comunicação e Semiótica (2003). Aos 23 anos publicou seu
primeiro livro, Tango Fantasma (1977), no ano seguinte começa a trabalhar como jornalista na
revista Nova e de 1985 a 1991 trabalhou na Folha de S. Paulo, Interview e Vogue. No ano de
1986 publicou um de seus trabalhos mais aclamados pela crítica: Diana Caçadora, uma
coletânea de contos que também está entre um de seus preferidos.

No ano de 1988, participou juntamente com outros artistas brasileiros de um programa de


intercâmbio cultural Brasil-Alemanha o Lateinamerikas'88 pelo qual percorreu por várias
cidades alemãs fazendo palestras sobre literatura. Em 1990 a escritora inicia seu trabalho como
coordenadora de oficinas literárias e laboratório de texto na Secretaria Estadual de Cultura
(Casa de Mário de Andrade) em São Paulo. De 1994 a 2010 atuou como Curadora de literatura
e eventos culturais e pesquisadora responsável pela área de Literatura Brasileira
Contemporânea junto à divisão de pesquisas (Idart) no Centro Cultural São Paulo, atualmente
como jornalista Márcia escreve na coluna política do site www.congressoemfoco.com.br.

A escritora possui obras publicadas no Brasil e no exterior (ficção, teses, ensaios e


antologias), organizou e participou das antologias Muito Prazer e O Prazer é todo meu – contos
eróticos femininos (Record 82-84) traduzidas e publicadas na Alemanha sob o título Tigerin
Und Leopard (Zurique, Unionsverlag, 1988-2003) e ainda hoje publica críticas literárias,
depoimentos, crônicas e contos na mídia impressa e na mídia eletrônica, ela revela em um de
seus trabalhos recentes – um livro de não-ficção intitulado DesEstórias – que vê a carreira
literária como vocação, e a jornalística como “deformação profissional”.

Em entrevista cedida ao escritor Wladyr Nader no ano de 2011, Denser conta que
percebeu sua vocação literária ainda criança, aos nove anos, ao ganhar do pai três livros do
escritor Monteiro Lobato, ela lembra que na ocasião se trancou em seu quarto para ler: “A partir
daquele momento, fechei a porta de um mundo (da realidade infantil), porque a porta de um
9

outro universo se abriu: o da Literatura, marcando o início dum projeto de vida que manterei
até a morte.” (DENSER, 2011).

O apelido de musa dark da literatura brasileira veio do amigo e também escritor Caio
Fernando Abreu, todavia não é um rótulo apenas que será capaz de definir Márcia Denser, uma
grande escritora da literatura nacional contemporânea apesar de pouco revisitada, ela está muito
além de seu tempo e possui um estilo único incluindo uma escrita tão sugestiva quanto
reveladora no que tange às emoções humanas. Nunca será tarde demais para se descobrir através
da leitura, grandes gênios como Márcia Denser, ao que a própria escritora afirma: “O tempo
lento da leitura jamais será superado: não há outra forma de adquirir o verdadeiro
conhecimento, nem fruir o verdadeiro prazer da grande arte literária.” (DENSER, 2011).

1.2. Obras

Com exceção da novela de aventuras infanto-juvenil A Ponte das Estrelas publicada pela
autora em 1994 e de DesEstórias, seu primeiro livro de não-ficção publicado este ano pela
Kotter Editorial, as obras ficcionais de Márcia Denser, segundo os autores, tratam
recorrentemente de jogos de sedução e relacionamentos conturbados num cenário pós-moderno,
as personagens revelam tipos humanos construídos sob uma perspectiva realista, trazendo
reflexões existenciais através de uma construção textual densa e repleta de ironias. A
bibliografia da autora conta com as seguintes obras (das publicadas no Brasil):

Tango Fantasma (contos), 1977.


O Animal dos Motéis (novela em episódios), 1981.
Muito Prazer (contos eróticos femininos), antologia, 1982.
O Prazer é Todo Meu (contos eróticos), antologia, 1984.
Exercícios para o Pecado (novelas e contos), 1984.
Diana Caçadora (contos), 1986.
A Ponte das Estrelas (aventura), 1994.
Toda Prosa (contos), 2002.
Diana Caçadora & Tango Fantasma (contos, reedição) 2003.
O Quinto Elemento (novela), 2005.
Caim - Sagrados Laços Frouxos (romance), 2006.
Toda Prosa II (contos), 2007.
10

DesEstórias (Artigos e Crônicas), 2016.

1.3. Questões Temáticas

A escritora retrata em grande parte de suas obras uma questão chave nos anos 70 e 80 que
é a sexualidade feminina, representando a mulher em um período de transformações e luta por
emancipação. Os movimentos feministas estavam no auge, todavia os ideais patriarcais ainda
reinavam nos costumes da sociedade que passava por muitas mudanças.

Em seus textos é notável a tentativa feminina de encontrar sua identidade em meio ao


caos existencial enfrentado pelos sujeitos da pós-modernidade, identidade essa que vem romper
com o modelo do feminino vigente na visão tradicional, há um toque de subversão em sua obra
que abre caminho para que sejam abordadas questões consideradas tabus, a liberdade sexual
feminina representada nas narrativas nada mais é do que resistência aos padrões de repressão
impostos ao gênero feminino.

Minha personagem toma a iniciativa no jogo de sedução e sexo, está


interessada no seu próprio prazer, ela usa, não é usada pelo outro, desse modo
opera a subversão do sistema de gêneros dominante e assim coloca a mulher
como sujeito da ação, e não como objeto do outro, cancelando o papel de
mulher–objeto (DENSER, 2005).

A intertextualidade é outra características muito presente nas obras de Márcia Denser, é


através de referências musicais diversas, mitológicas, cinematográficas e menção à
personalidades da literatura ou da cultura popular e erudita ocidental, dentre outras que
podemos percebê-la. O uso de tais recursos intertextuais possuem relação, em sua maioria, com
o contexto sociocultural da época em que as histórias estão ambientadas que são as décadas de
70 e 80 e se inscrevem nas narrativas com a finalidade de atribuir significado aos jogos
dialógicos propostos pela autora, ao mesmo tempo nos revelam muito acerca das próprias
personagens.

1.4. Márcia Denser sob um olhar Crítico

Em entrevista cedida ao escritor Wladyr Nader, Marcia Denser comenta que o


reconhecimento crítico-acadêmico que teve desde o início foi o divisor de águas em sua
carreira. Ela afirma ainda que sua obra “tinha algo de original e inaugural no Brasil: representar
11

“a mulher como sujeito da ação”, retirando-a da condição de “objeto do homem”, além dum
sério exercício da “ars poética” (DENSER, 2011).

Uma das críticas que mais repercutiu fama e visibilidade à Marcia Denser no mundo das
letras veio do escritor Paulo Francis, em certa ocasião Francis ressalvou:

Há no Brasil uma escritora que sabe escrever. Seu nome é Márcia Denser.
Tem uma linguagem límpida, sem retoques, bem diversa desse pseudo-
romantismo retórico que caracteriza boa parte da nossa ficção. Denser situa-
se entre os raros criadores de linguagem, aqueles que têm algo de muito novo
a dizer. Quanto aos outros, resta-lhes a rabeira da História. (Folha de São
Paulo, 1983).

Nelly Novaes Coelho também está entre os críticos que aclamaram a obra da escritora,
ela faz a seguinte consideração:

Márcia Denser toca as ocultas relações entre Sexo e Poder, o que transformou
o Erotismo em um dos mitos do nosso tempo. Através da ironia, sua obra
evidencia a natureza ética que caracteriza a ruptura com a Tradição. Com um
talento ficcional único, Márcia leva o leitor a segui-la, fascinado na linha
sacrílega a qual se insere, uma linhagem que vem de Henry Miller e Jean
Genet. Está entre aqueles escritores especiais, cuja obra segue uma linha de
interrogação e busca, ao contrário da maioria que tende a fazer uma literatura
meramente catártica (COELHO, 2003, p. 304, apud CARVALHO 2008, p.
43).

Ao mencionar que a obra de Márcia Denser “segue uma linha de interrogação e busca”,
Coelho deixa claro a intenção da escritora em fazer com que seu leitor se questione diante do
que lhe é exposto, buscando não apenas identificar-se ou compreender um personagem, uma
história, mas a si próprio.

O escritor Bernardo Ajzenberg no texto intitulado O caldeirão MD – que abre o livro


Diana Caçadora & Tango Fantasma, reedição publicada pela editora Ateliê em 2003 – elogia
a excelência da escrita de Márcia Denser, afirmando que seus escritos promovem “a mais bela
das experiências literárias” ao leitor que terá por meio dos textos um “encontro consigo mesmo”
(AJZENBERG, 2003, p. 9). Ajzenberg deixa claro ainda a competência da escritora em

[...] transformar situações de uma penúria emocional e material lamentáveis


em picadeiro, espécie de circo no qual, ora no centro do palco, ora na plateia,
obrigamo-nos voltar os olhos e os ouvidos para o alto, para aquele
12

mo(vi)mento único, no qual o trapezista encena o célebre salto mortal, e somos


nós, na verdade, aquele corpo em voo. (AJZENBERG, 2003, p. 12)

É justamente isto que torna única a obra de Marcia Denser, a identificação do leitor com
as estórias narradas, por isso, em um momento estamos através da leitura apenas a observar os
desdobramentos à margem das tramas, e em outro, nos sentindo como parte delas através de
um arriscado jogo de intimidade proposto no texto.
13

2. EROTISMO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

2.1. Erotismo, o que é?

Expor o erotismo no sentido de descrevê-lo ou mesmo delimitar seus domínios não é de


todo uma tarefa fácil de se cumprir, pois apesar deste termo estar presente como objeto nas mais
variadas análises realizadas por estudiosos ao longo dos tempos, ainda se constata certo
equívoco em relação à sua compreensão, sobretudo na distinção que existe entre erotismo e
sexualidade, alguns acabam atribuindo o mesmo sentido ao tratar de ambos. Mas porque isso
acontece? Tais campos possuem relação entre si? A resposta para essas e outras perguntas está
na definição de cada um dos termos e dos demais conceitos relacionados à eles.

A história nos mostra um vasto caminho percorrido pelas práticas sociais em torno de
questões sexuais, sabe-se que desde a antiguidade até os dias atuais o sexo, assim como as
diversas manifestações de cunho erótico, configuram-se como agentes causadores de muitos
tabus ocasionando investigações e debates calorosos entre aqueles que se propõem a defender
ou condenar tais práticas. O interesse conferido em alguns contextos a temas como esses é
justificável, principalmente pelo que compõe seu campo de abrangência. De acordo com
Octávio Paz (1994), sexo, erotismo e amor – esse último considerado como um aspecto
recorrente ao campo que compreende os dois primeiros – são inerentes à vida, ele afirma que:
“Não é estranha a confusão: sexo, erotismo e amor são aspectos do mesmo fenômeno,
manifestações do que chamamos vida.” (PAZ, 1994, p. 14).

A confusão a que Paz se refere é justamente a dificuldade em distinguir os conceitos


referentes ao amor, erotismo e sexualidade, todavia essa distinção é necessária para que se
depreendam os domínios próprios a cada um.

A sexualidade é animal; o erotismo é humano. É um fenômeno que se


manifesta dentro de uma sociedade e que consiste, essencialmente, em desviar
ou mudar o impulso sexual reprodutor e transformá-lo numa representação. O
amor, por sua vez, também é cerimônia e representação, mas é alguma coisa
mais: uma purificação, como diziam os provençais, que transforma o sujeito
e o objeto do encontro erótico em pessoas únicas. O amor é a metáfora final
da sexualidade. Sua pedra de fundação é a liberdade: o mistério da pessoa.
(PAZ, 1994, p. 96-97).
14

Referente à reprodução, Paz defende que o sexo é voltado à procriação, o prazer sexual
possui finalidade reprodutiva, mas no erotismo, o prazer destina-se a um fim em si mesmo, que
não incumbe a reprodução. O autor afirma ainda que o erotismo é responsável pelo controle do
instinto sexual na sociedade, pois acredita-se que o sexo é essencial pelo seu fator reprodutivo
mas, também é nocivo: “É instinto: tremor, pânico, explosão vital. (...) O sexo é subversivo:
ignora as classes e hierarquias, as artes e as ciências, o dia e a noite.” (PAZ, 1994, p. 17). Sendo
assim, o erotismo torna-se necessário, pois controla o sexo canalizando seu poder destrutivo.
Ambos, sexo e erotismo estão ligados, todavia, um é instinto e outro derivado deste instinto, é
fantasia, metáfora, produto da imaginação humana e está sempre em movimento variando “de
acordo com o clima e a geografia, com a sociedade e a história, com o indivíduo e o
temperamento. Também com a ocasião, a sorte e a inspiração do momento.” (idem, p. 16-17).

Há, porém, no erotismo um caráter ambíguo, assim como ele detém o escudo que desvia
da sociedade todo os excessos perniciosos da sexualidade – sobretudo por propiciar a elevação
desta ao seu estado de deleite – sua essência renega a procriação, ele “é repressão e permissão,
sublimação e perversão. [...] É o caprichoso servidor da vida e da morte.” (idem, p. 18).

Para abordagem complementar acerca deste aspecto do erotismo, é necessário, portanto


que se recorra às ideias do pensador e filósofo francês Georges Bataille que durante toda a sua
vida dedicou-se a desvendar os segredos do erotismo, para Bataille, assim como defende Paz,
o erotismo é uma experiência unicamente humana, pois no ato sexual de animais e humanos
temos o fator reprodutivo, mas somente os humanos podem atribuir erotismo a tal atividade.

Em sua obra intitulada O erotismo, Bataille divaga em torno dos conceitos de


continuidade e descontinuidade, para ele, vivemos enquanto seres descontínuos, essa
descontinuidade causa um abismo entre nós, ela compreende os eventos experimentados
individualmente na vida de cada um: o nascimento e a morte, vivemos em uma sucessiva busca
pela continuidade que nos tiraria da solidão e do isolamento e nos levaria a um estado de
dissolução do ser. Como maneira de se experimentar a continuidade, Bataille aponta o erotismo,
a morte, a reprodução e a violência e mostra em sua obra que todos esses elementos encontram-
se interligados (BATAILLE, 2004).

O autor ainda destaca três formas de erotismo existentes: o erotismo dos corpos, o
erotismo dos corações e o erotismo sagrado, este último menos familiar a nós, todos, segundo
o autor, levam o ser ao estado de continuidade profunda.
15

O erotismo dos corpos está presente no auge da fusão dos corpos durante o ato sexual,
segundo o autor: “O que significa o erotismo dos corpos senão a violação do ser dos parceiros?
Uma violação limítrofe ao limiar da morte? Limítrofe ao ato de matar?” (idem, p. 28), neste
tipo de erotismo há uma destruição da estrutura do ser fechado, a nudez se coloca como
oposição a esse estado fechado (existência descontínua), Bataille explica que o desnudamento
considerado nas civilizações é em seu sentido pleno “uma equivalência sem gravidade do ato
de matar” (BATAILLE, 2004, p. 30), sendo que durante a conjunção carnal a parceira feminina
é a vítima e o masculino, o sacrificador.

A paixão é o impulso que rege o erotismo dos corações, este que se configura como uma
forma de erotismo “mais livre” em relação ao erotismo dos corpos, é o erotismo dos amantes,
“a paixão dos amantes prolonga, no campo da simpatia moral, a fusão dos corpos entre eles
[...], mas essa mesma paixão pode ter um sentido mais violento que o desejo dos corpos”. A
própria paixão feliz conduz uma desordem tão violenta que a felicidade ligada a ela pode vir a
ser comparada ao sofrimento. (idem, p. 32, grifo meu). Neste sentido temos a continuidade
presente no outro, se o amante não conseguir estar com o ser amado, prefere morrer ou matá-
lo, e aí está a sua relação com a violência e a morte.

No erotismo sagrado, o sacrifício se coloca como ponto de análise principal para entendê-
lo, nele o sagrado – surgido através do sacrifício – é “a continuidade do ser revelado por meio
da morte de um ser descontínuo.” (idem, p. 36), o sagrado está diretamente ligado ao conceito
de divino que rege as religiões atuais, a continuidade do ser estaria justamente na afetividade
existente em Deus, a busca por ele é a busca pela continuidade.

Os conceitos de transgressão e interdição também são abordados nesta obra sendo


necessários para compor as ideias desenvolvidas por Bataille acerca do erotismo, assim, as
interdições serão compreendidas como restrições, diretamente associadas ao mundo do
trabalho, da ordem e da disciplina, impostas no interior de uma sociedade sendo uma das
principais características que nos diferem dos animais (BATAILLE, 2004) estando ainda
associadas à descontinuidade do ser.

Transgressão é tudo aquilo que promove a ruptura (ainda que temporária) das interdições
e que está diretamente ligada aos desvios e excessos do mundo da desordem. Ao se postular
transgressão e interdição podemos pensar que estamos diante de dois extremos, porém Bataille
afirma que a primeira existe para complementar a segunda, assim, a interdição dependerá da
16

transgressão para que se estabeleça um certo equilíbrio, o erotismo encontra sua completude
nas duas: é a transgressão aos estatutos de interdição que fascinam, não obstante “a interdição
elimina a violência” (p. 58), presente em nossos impulsos sexuais, por exemplo.

Pode-se concluir em vista de tudo isso, que o erotismo se constitui como experiência
humana e habita o interior do ser, manifestando-se como a busca do indivíduo pela satisfação,
pelo prazer que está além da sexualidade em si, o erotismo é algo mais, ele rege as relações de
poder, nele vida e morte se tocam, se confundem, ele promove abstenção e permissão, ordem e
destruição, está presente nas representações da imaginação e fantasia humanas. A magnitude
do erotismo pode ser expressa nas diversas formas com que ele se apresenta, variando
incessantemente através dos tempos, “Se o homem é uma criatura ‘ondulante’, o mar onde se
move é regido pelas ondas caprichosas do erotismo.” (PAZ, 1994, p. 17).

2.2. Erotismo x Pornografia

Para que se depreenda melhor o conceito de erotismo é necessário antes de tudo, que
possamos dissociar seu sentido da concepção de pornografia, pois com muita frequência a
definição de erótico é usada para designar representações que se encontram dentro dos limites
do pornográfico, ambos diferem quanto ao significado apesar de considerarem um mesmo
elemento: o sexual. PAZ (1994), defende que não é possível a existência de erotismo sem o
sexo, não é desconhecido porém que na pornografia este último é o componente central, e o que
distingue um de outro afinal? A resposta está na maneira como cada um se apropria da
sexualidade e em como ela se apresenta quando inclusa em ambos os domínios.

A finalidade constante da pornografia é a de produzir efeito de excitação imediata, ela é


a sexualidade explícita, sua linguagem é obscena e vulgar, e como bem define MIRANDA
(2008, p. 77): “caracteriza-se pela exposição explícita dos órgãos e atos sexuais na cópula ou
ainda em uma narrativa centrada nestes”, possuindo na maioria dos casos um caráter comercial.
Uma das características que difere pornografia e erotismo é justamente o fato desta objetivar
incessantemente satisfazer o sujeito, saciar suas vontades, eis o seu foco: afanar o desejo, deste
modo, Verlaine Freitas (2008) acentua que

Embora todo prazer sexual contenha sempre a satisfação ligada ao alívio da


tensão ligada ao desejo e à excitação, a pornografia acentua, e pode levar à
quase exclusividade do prazer de se ver livre da pressão do desejo. (FREITAS,
2008, p. 06).
17

O erotismo, por outro lado, liga-se ao desejo e nele coexiste, é o desejo que o caracteriza,
enquanto a pornografia necessita do ato sexual materializado para chegar ao seu objetivo, o
erotismo encontra sua completude na imaginação e fantasia, nele há algo de poético, sua
finalidade é promover sublimação do desejo.

Contudo, é importante manter certa cautela na busca por definir e diferenciar o significado
de erotismo e pornografia, haja vista que esta

Por vezes, não é uma definição fácil de ser feita, uma vez que os limites entre
o erótico e o pornográfico esbarram-se em interditos culturais, visão de
mundo, contexto sócio histórico, valores. Assim, um texto que foi visto como
pornográfico em um tempo pode ser visto como erótico em outro.
(MIRANDA, 2008, p.76)

Assim, obras como Madame Bovary de Gustave Flaubert, As flores do mal de Baudelaire
e Ulisses de James Joyce por exemplo, nos provam o que foi afirmado acima pois sofreram
grande censura na época em que foram publicadas, seus escritores foram processados
judicialmente, Flaubert e Baudelaire, condenados a pagarem multa inclusive, no ano de 1857
pelo conteúdo ‘obsceno’ e ‘imoral’ presente em suas obras, no entanto hoje, as mesmas são
consideradas clássicos da literatura e disponíveis a um diversificado público. (MORAES e
LAPEIZ, 1985).

2.3. O Erótico e suas representações

O erotismo sempre se fez presentes nas mais diversas áreas da sociedade ao longo dos
tempos, a psicanalise é um bom exemplo, no entanto, a principal área de representação do
erotismo é a arte, por meio de obras como pinturas, esculturas, monumentos e afins ou algumas
mais recentes como as cinematográficas, mas é na literatura que tais representações encontram
sua maior expressão, o texto literário sempre se caracterizou por ser lugar das mais diversas
representações humanas, de tudo o que se é sentido, imaginado ou vivenciado, ele é a voz
propriamente dita daqueles que recorrem à ele como forma de expressão e formação das suas
convenções, ideologias e subjetividades. É no texto literário que se manifestam as mais diversas
formas e facetas do erótico, ele está impresso nos:

2.3.1. Poemas e prosa


18

Estes são os primeiros e mais gerais exemplos de textos literários que carregam
magníficas representações do erotismo, a começar pela obra de um escritor concebido por
muitos como um ícone da literatura de cunho erótico: Donatien Alphonse François de Sade, o
Marquês de Sade, suas obras que apresentam sobretudo o caráter transgressor do erotismo
escandalizaram a sociedade Francesa dos séculos XVIII- XIX, dentre elas, sua obra-prima e
mais conhecida Os 120 Dias de Sodoma, esta obra é o relato fictício de uma festa que durou
cento e vinte dias em um castelo onde quatro personalidades ricas e influentes juntamente com
outros convidados participam das mais diversas orgias e perversidades cometidas em nome da
realização dos mais íntimos ímpetos sexuais.

Sade inspirou o termo ‘sadismo’ que em um de seus primeiros significados corresponde


a “aberração horrível do deboche; sistema monstruoso e anti-social que revolta a natureza”
(SANCHEZ, 2007) o erotismo é apresentado em suas obras de maneira libertina e subversiva
dos valores e da moral vigentes na sociedade.

O erótico também se faz presente em algumas composições poéticas nacionais de


escritores românticos no século XIX, entre os quais destacam-se Álvares de Azevedo e Castro
Alves. Em ambos podemos constatar a presença do erotismo em torno da imagem feminina, o
primeiro retrata a mulher de duas maneiras: ora concebe-a através de uma visão carnal onde ela
se encontra totalmente acessível, ora descreve-a de maneira idealizada e inacessível, admirada
de longe pelo eu-lírico, esta última característica faz-se notável no poema Malva-Maçã:

De teus seios tão mimosos/ Quem gozasse o talismã!/ Quem ali deitasse a
fronte/ Cheia de amoroso afã!/ E quem nele respirasse/ A tua malva-maçã!

Dá-me essa folha cheirosa/ Que treine no seio teu!/ Dá-me a folha... hei de
beijá-la/ Sedenta no lábio meu!/ Não vês que o calor do seio/ Tua malva
emurcheceu... (AZEVEDO, 2009, p. 215)

Em Castro Alves o erotismo se manifesta através do sensualismo lírico-amoroso, a


mulher é idealizada e ao mesmo tempo acessível, ela é concebida como sujeito da sedução
amorosa, notam-se tais características em Boa-Noite onde o eu-lírico revela seu lado
donjuanesco mencionando várias mulheres ao longo do poema, uma de suas amadas, ‘Maria’,
assim como as outras, seduz e desperta desejo no eu-lírico:

Boa noite, Maria! Eu vou-me embora./ A lua nas janelas bate em cheio.../ Boa
noite, Maria! É tarde... é tarde.../ Não me apertes assim contra teu seio.
19

Boa noite!... E tu dizes — Boa noite./ Mas não digas assim por entre beijos.../
Mas não me digas descobrindo o peito,/ — Mar de amor onde vagam meus
desejos. (ALVES, 1997, p. 122)

No cenário literário atual é notável um grande aumento na produção de romances eróticos


que são em sua maioria escritos por mulheres, é o caso da trilogia fifty shades ou Cinquenta
Tons da escritora britânica Erika Leonard James – o primeiro livro desta trilogia foi publicado
em 2011 no Brasil e se tornou um fenômeno de vendas em vários países – e de A Bibliotecária,
“The librarian” da escritora norte-americana Jamie Brenner que assina a autoria do livro com
o pseudônimo “Logan Belle”, publicado no Brasil pela editora Record em 2013.

Nessas obras a temática erótica vem retratada através do discurso amoroso que lembram
bem os romances populares famosos nas décadas de 70 e 80 publicados em diversos volumes
pela editora Abril como Júlia de Roberta Leigh e Bianca de Carol Hughs em que o casal de
personagens principais vivem uma paixão inesperada e avassaladora. Todavia, nos romances
atuais inclusive os acima citados, são característicos os jogos de sedução sadomasoquista que
figuram um universo fictício de leitura atrativa principalmente ao público feminino que
atualmente revela-se cada vez mais receptivo à esse tipo de literatura, o que faz com que essas
obras se tornem um sucesso de vendas em muitos países, alguns já possuem até adaptação
cinematográfica como é o caso de Cinquenta Tons de Cinza.

2.3.2. Textos “Didáticos”

Um clássico que representa este tipo de texto literário intitula-se Kama Sutra, surgido na
Índia entre os anos 100 e 400 da era cristã o livro traz textos eróticos tradicionais da mitologia
Hindu compilados pelo sábio hinduísta Vatsyayana, constituída até hoje como um poderoso
manual de amor, sexo e erotismo, esta obra foi elaborada “na intenção de ensinar aos homens
como obter uma vida bem-aventurada a partir da articulação de três elementos básicos: o mérito
religioso ( Dharma ), a riqueza ( Artha ) e o amor, o prazer e a satisfação sexual ( Kama ).”
(MIRANDA, 2008, p. 44). O Kama Sutra também pode ser considerado um texto religioso,
pois seus ensinamentos fazem parte da concepção de mundo da religião Hindu.

As prescrições do livro são destinadas a ensinar homens e mulheres a arte de amar e obter
prazer, tratando também da vida doméstica e gestão das relações sociais, advogando aos
homens uma série de coisas vetada às mulheres, no entanto, instrui a concepção da mulher como
20

objeto e sujeito de prazer sexual com direito a viver várias relações extraconjugais (idem, p.
45), há ainda nos escritos, a ideia de equidade entre homem e mulher em relação à vida sexual.
Abaixo temos um trecho do livro em que é ensinado ao homem recém casado a inspirar
confiança e agradar sua jovem esposa:

[...] O homem deve começar a conquistá-la [a esposa] e a criar segurança nela,


mas deve abster-se no princípio dos prazeres sexuais. (...). [...] O homem deve
por isso aproximar-se da jovem prestando atenção ao ritmo dela e deve usar
as estratégias por meio das quais ele conseguirá ser, gradualmente, objeto da
sua confiança. (...). [...] o homem que sabe fazer-se amado pelas mulheres e
sabe elevar a sua honra e criar segurança torna-se objeto do seu amor. Mas o
que negligencia a jovem, julgando-a demasiado tímida, é desprezado por ela
como um animal indiferente ao funcionamento da mente feminina.
(VATSYAYANA, 2007, pp. 111; 115 apud MIRANDA, 2008, p. 45)

A arte de amar do poeta Ovídio surge em Roma na mesma época como um manual quase
idêntico ao Kama Sutra, ambos possuem uma enorme analogia discursiva, pois “utilizam-se de
estratégias semelhantes para o ensino, que são uso de máximas, citações de autoridades, uso de
oposições e um tipo de discurso que se assemelha à literatura sapiencial.” (MIRANDA, 2008, p.
47), todavia a obra de Ovídio trata-se de três livros escritos no gênero poético nos quais se
observa um discurso voltado a ensinar a arte do ‘fingimento amoroso’, assim como ocorre no
Kama Sutra, a ideia de fingimento surge a partir da percepção de que em ambas as obras há
subscrita a seguinte premissa: é preciso que o sujeito sempre se disfarce diante do objeto amado
para que possa permanecer senhor de si, e não haja o risco se ‘despossuir’ ou perder-se em
função da mulher ou de um escravo, haja vista que paixão naquela época (século 2 a.C até 2
d.C) ser vista como algo digno de temor (idem, p. 48).

Outra ideia presente nestes textos refere-se ao sexo e seu poder para se chegar ao amor,
era afirmado que se o sexo fosse bem praticado pelo(a) amante isso acarretaria no surgimento
de sentimento amoroso do(a) parceiro(a) por ele. Utilizar técnicas de sedução e encontrar
melhores posições para o alcance do orgasmo é aconselhado como uma boa estratégia às
mulheres em A arte de amar:

Que a mulher sinta o prazer de Vênus abatê-la até o mais profundo do seu ser,
e que o gozo seja igual para ela e para o seu amante. Que não se calem nunca
as palavras de carinho e os doces murmúrios, entremeados de palavras
lascivas. Desventurada a mulher cujo órgão – que deveria proporcionar prazer
para ela e para o homem – permanece insensível! (OVÍDIO, 2007, p. 108 apud
MIRANDA, 2008, p. 50)
21

Esses dois clássicos da literatura erótica prescritiva são marcados pelo contexto sócio
histórico em que foram criados e nos fornecem informações valiosas acerca das práticas eróticas
vigentes naquela época, servem também para possamos traçar uma análise comparativa a
respeito do que mudou e o que permanece no âmbito das práticas atuais, a questão cultural
também é um ponto importante de análise. Enfim, o fato é que tais obras são precursoras de
uma variedade de textos que apresentam uma ‘didática erótica’ hoje produzidos em diversos
gêneros, não apenas literários, como é o caso dos manuais de ‘amor e sexo’ veiculados nas
mídias impressas como revistas e livretos que prometem técnicas infalíveis de sedução e prazer
sexual aos que executarem à risca suas dicas, infelizmente, muitos desses manuais focalizam o
erotismo apenas por objetivos comerciais, não atentando, portanto, ao verdadeiro significado
dos jogos de sedução e realização sexual propostos aos leitores.

2.3.3. Textos Religiosos

Alguns textos religiosos ao contrário do que muitos pensam trazem grandes


representações do erótico, a maioria deles fazem parte da tradição oriental, no entanto a bíblia,
conhecida como uma literatura de cunho religioso universal, possui, mais precisamente no
antigo testamento, uma série de narrativas eróticas, “muitas delas trágicas e incestuosas algumas
inspiram textos memoráveis, como a de Rute, que influenciou Victor Hugo a escrever
Boozendormi, um poema noturno no qual ‘a sombra é nupcial’.” (PAZ, 1994, p. 23).

O vigésimo segundo livro bíblico do velho testamento intitulado Cânticos dos Cânticos
ou Cantares de Salomão composto por oito capítulos é conceituado por muitos escritores e
estudiosos literários como sendo uma das mais magníficas obras poéticas já criadas, inspirando
ao longo de mais de dois mil anos a imaginação do mais variado público leitor. Com metáforas
e alegorias que retratam para o cristianismo a relação entre Cristo e a sua igreja (Israel – o ‘povo
escolhido’), os poemas presentes no livro, em sua maioria supostamente escritos pelo rei
Salomão à Sulamita sua amada e manifestam-se como os mais belos poemas eróticos que falam
do amor de um homem e uma mulher (esposo e esposa), onde, o eu lírico, ora se expressa pela
voz masculina, ora pela voz feminina, no trecho abaixo podemos acompanhar um diálogo em
que o esposo enche de elogios amorosos a esposa e ela o responde convidando-o para estar com
ela:

Esposo
Os teus lábios, noiva minha, destilam mel.
22

Mel e leite se acham debaixo de tua língua, e a fragrância dos teus vestidos é
como o Líbano. (Cântico dos cânticos 4:11)
Esposa
Levanta-te, vento do norte, e vem tu, vento do Sul; assopra no meu jardim,
para que se derramem os seus aromas.
Ah! Venha meu amado para o seu jardim e coma os seus frutos excelentes!
(Cântico dos Cânticos 4:16)

Através de uma representação erótica muito mais explícita que em Cântico dos Cânticos,
o poema sânscrito do século XII d.C, composto por Jayadeva Goswami o Gita Govinda, fala
sobre os amores adúlteros do deus Krishna (O Senhor Obscuro) com a camponesa Radha, uma
de suas Gopis (vaqueiras). Com doze capítulos divididos posteriormente em vinte e quatro
canções, ele reúne versos que apresentam ideias ‘profanas’ para retratar aprofundamento e
elevação espiritual, mostrando similaridade entre a realização de deus e o erotismo. É
considerado uma obra muito importante no desenvolvimento das tradições de Bhakti (devoção)
do hinduísmo.

Gita significa canção e Govinda é um dos vários nomes de Krishna e quer dizer ‘senhor
amável das vacas’1 ou ‘vaqueiro’. Krishna, quando denominado Shiri Govinda no poema
representa a personificação do amor apaixonado. O amor de Krisna e Radha cantado no poema
erótico está repleto de imagens que retratam o amor, a fraternidade e a sensualidade existente
entre os amantes, o amor apresentado é um amor puro e profundo livre do desejo sexual
perverso e sôfrego humano. O Gita Govinda é também musicado e apresentado nos templos em
sinal de adoração, está expresso ainda nas artes da dança e da pintura de muitos renomados
pintores da Índia.

Ao final desta seção percebe-se que, a maioria das obras aqui citadas, por apresentar
elementos inerentes ao erotismo, são de autoria masculina, o que comprova a tese de que este,
foi ao longo dos tempos um assunto restrito ao universo literário masculino. No entanto, é
importante ressaltar, que esses são apenas alguns exemplos de textos literários que trazem o
erotismo em suas diversas facetas, há uma produção imensurável destes textos em todas as
partes do mundo, e já é um fato que atualmente o erotismo encontra-se cada vez mais
representado no âmbito literário feminino, formulando novos discursos imprescindíveis para a
quebra de antigos paradigmas.

1
A vaca é um animal considerado sagrado na religião Hindu.
23

2.4. O discurso erótico e a literatura de expressão feminina

O erótico presente na literatura, sempre esteve permeado historicamente por discursos


que pregam ideologias e concepções patriarcais, os sentidos produzidos em torno destes
discursos mostram um erotismo inscrito nos textos marcado por um modo unilateral de
conceber o mundo. Os escritos de autoria masculina que abordam a temática de amor,
sexualidade e erotismo, principalmente durante a antiguidade, revelam o feminino representado
através da visão masculina, sabe-se também que algumas concepções formuladas
historicamente em torno do feminino colocam a mulher em posição social e intelectualmente
inferior, o resultado de tudo isso é uma literatura carregada por representações equivocas em
relação ao feminino.

Contudo, tais discursos vem sendo questionados ao longo dos séculos, sobretudo em
razão do fortalecimento de uma tradição literária de autoria feminina combinada à luta pela
emancipação da mulher ao longo do século XX, neste cenário, multiplicaram-se as produções
literárias de ficção em que as autoras revelam oposição aos conceitos estereotipados acerca da
mulher “desenvolvendo ações simbólicas que subvertem a opressão patriarcal e denunciam a
exclusão feminina enraizada na cultura e, consequentemente, na literatura”. (BONNICI, 2007,
p. 22-23 apud GABIALTI, 2013 p. 11).

Através de campanhas em prol dos direitos femininos impulsionadas pelo movimento


feminista surgido nos Estados Unidos e alguns países europeus em meados do século XX, as
reivindicações primárias como igualdade de salários, direito ao voto e acesso à educação para
as mulheres por exemplo, aos poucos estavam sendo atendidas e é a partir da década de 1930
que as mulheres partirão em busca de uma nova conquista que é a igualdade de gêneros. Passa-
se a questionar então a condição real da mulher enquanto sujeitos de uma sociedade pautada
em valores patriarcais. Os discursos, frutos dos construtos sociais que regiam as relações de
poder e estereotipavam a imagem da mulher na literatura, pouco a pouco vão sendo
modificados.

Em se tratando da literatura escrita por mulheres nas épocas anteriores aos movimentos
feministas, pode-se dizer que - apesar de possuírem algum diferencial em comparação aos
escritos masculinos sobretudo por revelarem um outro olhar ao mundo das representações - o
que se produzia ainda “imitava” bastante os padrões culturais dominantes da época, os
24

romances da escritora inglesa Charlotte Brontë são um grande exemplo desse tipo de escrita.
Segundo Galbiati (2013):

A literatura produzida por mulheres antes do século XX denuncia uma


visão androcêntrica (paradigmas, estratégias de leitura, cânone etc.),
universalizando as experiências masculinas para todos os seres
humanos, sem reconhecer a singularidade da experiência feminina.”
(GALBIATI, 2013, p. 11)

Vale ressaltar ainda que durante o século XIX e mesmo anteriormente eram comuns os
casos em que mulheres escritoras ocultavam a autoria de seus trabalhos, muitas vezes utilizando
pseudônimos masculinos afim de não sofrerem represálias ou seus escritos serem deixados em
segundo plano, pois a escrita feminina era sempre vista com maus olhos pela sociedade da
época além de ser taxada como sem profundidade ou desprovida de valor estético.

Baseado no movimento iniciado nos Estados Unidos, o movimento feminista no Brasil


começa a ganhar força na crítica literária e dentro das universidades alcançando o auge a partir
dos anos 80. Neste momento ganha impulso uma vertente da literatura que desde os anos 60 –
e mesmo antes – vinha sendo construída, mas que até então mantinha-se apagada por uma
tradição canônica patriarcal, trata-se da literatura de expressão feminina na qual segundo
SILVA (2009) destacam-se na poesia nomes como Hilda Hilst, Ana Cristina César, Adélia
Prado, Cora Coralina e na prosa, Clarice Lispector, Nélida Piñon, Márcia Denser, Lygia
Fagundes Telles, Lya Luft, entre outras.

O momento era marcado pela conquista de mais espaço e igualdade para as mulheres nas
esferas social, trabalhista, intelectual e política, e a literatura de expressão feminina por sua vez,
começa a enfocar a partir de outros ângulos muitos temas relacionados à representação da
mulher na ficção, temas esses que vão desde as relações no ambiente familiar, casamento e
realização profissional ao domínio do seu próprio corpo, surge aí uma importante reflexão, haja
vista, segundo BRANDÃO (2006) o corpo feminino ser alvo, em certos textos, dos fantasmas
masculinos de dominação, sendo ainda

[...] inegável a existência desses fantasmas nos mais diversos discursos: no


crítico, no literário ou no discurso quotidiano. Ás vezes eles estão presentes
de forma camuflada, justamente nos textos que pretendem idealizar a mulher
e acabam calando-a e petrificando-a, o que se revela como uma das diversas
formas de violência e de morte. (BRANDÃO, 2006, p. 166)
25

Ao explorar o corpo em seus escritos, as autoras trazem à tona a discussão do prazer


relacionado à sexualidade feminina como um grito de liberdade que marca a despossessão
masculina do corpo feminino, o erotismo surge neste tipo de escrita como uma forma de
contestar os discursos sexuais estereotipados propagados na literatura por um longo tempo,
refletindo a ousadia da mulher contemporânea em abordar de maneira direta a liberdade sexual
feminina e auxiliando a formação de novas concepções sobre esse tema.

O discurso erótico construído no âmbito da literatura feminina se apresenta como a busca


da mulher por si mesma, assim como o desejo de encontrar o caminho que a leve a vivenciar
experiências específicas e significativas que possam trazer respostas as suas questões
existenciais. O erotismo não mais se manifesta como algo que transforma o corpo da mulher
em um atrativo, em que a erotização do feminino é realizada em torno da fantasia e do fetiche
fazendo com que a mulher se torne apenas objeto de desejo.

Como mecanismo de reflexão e maneira de fazer com que a voz literária feminina se
imponha contra tabus e preconceitos arraigados na sociedade, o discurso erótico na literatura
de expressão feminina se manifesta como um recurso necessário na busca da mulher pela real
percepção de sua sexualidade e pela sua concepção como sujeito que exerce domínio sobre o
seu próprio corpo e, consequentemente, sobre suas escolhas e desejos.
26

3. O CONTO HELL’S ANGELS

3.1. Apresentação

O conto escolhido para compor este trabalho faz parte da coletânea de contos Diana
Caçadora (1986) de Márcia Denser. Desta obra, dois contos foram escolhidos para integrar a
coletânea Os cem melhores contos Brasileiros do século organizada por Italo Morconi,
publicada pela Editora Objetiva no ano de 2000, são eles: O vampiro da alameda casabranca
e Hell’s Angels, este último também está incluso na coletânea 100 Melhores Histórias Eróticas
da Literatura Universal, organização de Flávio Moreira da Costa publicada pela Ediouro em
2003.

O título da obra: Diana caçadora faz alusão à deusa da caça conhecida pela mitologia
romana como Diana e na mitologia grega como Artêmis, divindade lunar ligada aos ideais de
liberdade e coragem, conhecida também por sua indiferença ao amor e aparece, na maioria das
vezes, representada entre animais selvagens.

Os animais ferozes que estão sempre junto a ela representam, por outro lado,
os impulsos que precisam ser dominados. Sem dúvida ela é o símbolo maior
do feminino, de sua liberdade e autonomia. (SANTANA, Disponível em:
http://www.infoescola.com)

Os atributos da deusa, não por acaso se assemelham ao perfil da personagem protagonista


dos contos: Diana Marini o alter-ego de Denser, uma mulher bonita, envolvente, com um humor
sarcástico e de hábitos noturnos, que mantém diversas aventuras sexuais (caçadora) e que se
apresenta como indiferente, ou pelo menos demonstra desinteresse pelo amor.

3.2. Elementos da narrativa

Os elementos da narrativa serão aqui abordados segundo as concepções de Arnaldo


Franco Júnior, em Operadores de leitura narrativa, presente na obra Teoria literária:
abordagens históricas e tendências contemporâneas de Bonnici e Zolin (2003).
27

O primeiro elemento a ser apresentado é o enredo do conto, assim sendo: Em Hell’s


Angels2, a personagem Diana narra uma de suas aventuras amorosas com o jovem Robi de
dezenove anos que ela conhece no dia em que está completando trinta, o primeiro contato dos
dois se dá no trânsito, Diana dirigia seu automóvel imersa em devaneios acerca de sua
mortalidade e da transitoriedade da vida, quando um motociclista alcançando-a conseguiu
distraí-la, era Robi, o rapaz a observava de maneira invasiva, o que a irritou em um primeiro
momento, todavia, tendo o “destino conspirado”, os dois acabaram conversando, ocasião em
que Robi pede o número de seu telefone.

Em uma visita inesperada ao seu local de trabalho o rapaz lhe convida para sair, durante
o encontro Diana, sempre muito observadora, conhece um pouco mais acerca de Robi. Era
natal, ela ajuda-o a comprar um presente para a irmãzinha dele e leva-o a uma cantina italiana
para jantar. O encontro termina em um quarto de motel onde os dois acabam tendo um
envolvimento sexual sem qualquer sentimento amoroso, com Robi ainda adormecido Diana vai
embora, mas antes, pede ao porteiro do local que entregue, com votos de feliz natal, o presente
que haviam comprado para a irmãzinha dele.

Em relação aos personagens do conto, a protagonista Diana apresenta-se como uma


mulher cheia de contradições, suas ações demonstram independência, firmeza e confiança,
todavia, em alguns momentos deixa transparecer que é uma pessoa triste, solitária e, por vezes,
até insegura. Quanto ao grau de densidade psicológica e ações, é possível classificá-la como
uma personagem plana com tendências redondas, que segundo Franco Jr. (2003, p. 39)
“apresenta um grau mediano de densidade psicológica”. Pode-se dizer que nas ações deste tipo
de personagem há uma certa linearidade, todavia ele não é totalmente previsível, podendo
surpreender o leitor por alguns contrastes entre suas ações e caracterização psicológica.

Já Robi, personagem descrito no conto conforme a percepção de Diana, caracteriza-se


como uma personagem plana-tipo, plana é aquela personagem com baixo grau de densidade
psicológica, seu ser (psicologia) e seu fazer (ações), seguem um fluxo linear; classifica-se como
tipo, a personagem que se identifica por meio de uma categoria social, agindo de acordo com o
que é previsto que se haja em tal categoria (FRANCO Jr., 2003). A classificação como tipo

2
Referência ao primeiro clube de motociclismo da história surgido em 1948 e que teve seu auge em 1969. [...] o
clube representa a sensação de liberdade e transgressão. (CARVALHO, 2008, p. 48)
28

deve-se ao fato deste personagem representar no conto a juventude, demonstrando através de


suas ações a espontaneidade, a sedução e a rebeldia, típicas desta fase da vida.

O conto possui o foco narrativo em primeira pessoa, Diana protagoniza e narra os fatos
ocorridos, neste caso classifica-se o narrador de autodiegético, nessa classificação Franco Jr.
(2003) baseia-se nas concepções de Genette (1979), Aguiar e Silva (1988), para eles, o narrador
autodiegético é aquele que não só participa dos fatos narrados como conta sua própria história.
No início do conto temos a exposição, que é onde a narradora apresenta os primeiros fatos da
história a ser contada:

Eu o conheci precisamente no dia em que completava trinta anos, dirigindo


meu automóvel até o analista [...] prosseguia pensando, quando o ronco de
uma moto ao lado do automóvel sobrepujou a música do toca-fitas [...] daí
Robi, o motoqueiro, aparecer na minha janela [...]. (DENSER, 2003, p. 94)

A partir da exposição pode-se depreender ainda outras informações importantes na


narrativa, como o tempo e o espaço, informações essas que vão ficando cada vez mais explícitas
no decorrer do conto. O tempo cronológico da narrativa nos indica que os fatos se passam em
dois dias, ao longo de duas semanas, o encontro ocorre durante a época das festividades
Natalinas: “Estávamos na época do Natal, mais precisamente no dia 22 de dezembro, sexta-
feira.” (p. 100). Em relação ao espaço é possível afirmar que a estória é ambientada na cidade,
como se pode observar no seguinte trecho:

[...] perdidos no trânsito pesado daquela cidade cheia de luzes, vozes, vozes
arranhando alto-falantes, sinos transistorizados de Belém, reflexos dourados,
homens-sanduíche, lixo, gritos de crianças ensandecidas pela Noite Feliz. (p.
101)

O espaço mais importante para a narrativa é o quarto de motel onde se passa a ação central
do conto, além disso há outros espaços como o estacionamento, o escritório em que Diana
trabalha, um bar e uma cantina italiana.

Certa tarde, final de expediente no escritório, eis Robi que surge ao lado da
minha escrivaninha: vamos sair? [...] (p. 96).
Estávamos num bar. Eu bebia vodca com suco de laranja, ele coca-cola. [...]
(p. 98).
Fomos a uma cantina italiana. Ou melhor, eu o levei a uma cantina italiana.
(p. 101).
29

O ambiente é construído nas narrativas a partir das ações das personagens, diante disso,
conclui-se que o ambiente presente no conto é caracterizado por um clima criado em torno da
não-entrega e do distanciamento emocional, o que faz com que a relação entre as personagens
seja regida por certa desfaçatez e dissimulação.

Percebe-se ainda no conto a ocorrência do tempo psicológico, que de acordo com as


contribuições de Genette (1979) aos estudos do tempo da narrativa, Arnaldo Franco Júnior
(2003), afirma que o mesmo

Vincula-se ao tempo cronológico, mas difere deste porque se trata do tempo


das experiências subjetiva dos personagens. Caracteriza, pois, o tempo
vivencial destas, o modo como elas experimentam sensações e emoções no
contato com os fatos objetivos e, também com suas memórias, fantasias,
expectativas. (FRANCO Jr., 2003, p. 45 grifo do autor)

Deste modo, o autor destaca três recursos de subjetivação ligados ao tempo psicológico,
são eles: monólogo interior, análise mental e fluxo de consciência, todos esses recursos estão
presentes em Hell´s Angels e são extremamente importantes para a narrativa, eles se inscrevem-
se no texto como uma forma de aproximar personagem e leitor através de uma intimidade criada
no ato da revelação da subjetividade desta personagem, que no conto em questão é a
protagonista Diana.

O fluxo de consciência é caracterizado por representar um processo mental em que a


personagem dá livre curso à sua subjetividade: pensamentos, emoções, ideias, fantasias,
desejos, sensações etc. tendo como traço característico a fragmentariedade bem como
dificuldade em avaliar se as informações apresentadas pertencem à memória, imaginação ou à
fantasia e imprecisão acerca da natureza real ou fictícia dos fatos narrados (FRANCO Jr., 2003).
Este é o primeiro recurso que aparece na narrativa e se dá logo no início do conto, antes de
Diana relatar como conheceu Robi, a introdução da narrativa é um fluxo de consciência da
personagem:

Os olhos têm aquela expressão vazada de perversa inocência, de suprema


condescendência, como dois ídolos talhados em ouro e prata à luz das tochas,
indiferente às cerimônias e ao borbulhar das paixões e sacrifícios humanos
[...] os lábios congelados na frase de Peter Pan “eu sou a juventude eterna!”
[...] Um adolescente é sempre monstruoso porque desumano, assim como um
deus, assim como um anjo, assim como você, Robi. (DENSER, 2003, p. 93).
30

O monólogo interior é o diálogo da personagem consigo mesma sob a forma de um


processo mental, no qual ela questiona mentalmente a si própria em alguma situação dramática
sem criar qualquer efeito de perda de controle de consciência (traço característico do fluxo de
consciência). Um momento que isso fica em evidência no conto se dá quando Robi visita Diana
em seu local de trabalho o que para ela é uma experiência desconcertante:

Cruzar ou não as pernas? Dirigir-me como agora ao meu chefe? E se ele


dirigir-se a mim? Teria forças psicológicas para proceder aos processos e
pareceres? Então era assim que eu sobrevivia? (p. 96-97)

Já o recurso de análise mental é um outro processo no qual a personagem divaga em seus


pensamentos articulando algo através de uma dupla perspectiva, em que ela “tanto vivencia
como analisa a sua inserção numa dada situação dramática” (FRANCO Jr., 2003, p. 46).

No conto, um exemplo de análise mental ocorre quando Diana está em um bar com Robi,
o rapaz está expondo alguns detalhes de sua vida a ela, Diana então julga e avalia mentalmente
suas concepções e atitudes, compara-o inclusive a ela própria quando tinha sua idade:

A realidade é tão besta comparada à fantasia, àquele ser esplendido que


julgamos ser [...] nunca estamos onde deveríamos estar, nunca estamos em
parte alguma [...] Fazendo voltar o filme do tempo vi-me a mim própria
dizendo aquelas mesmas coisas. Com aquele ar de rarefeito desprezo. Mas, o
coração é um caçador solitário, sentenciei emocionada (p. 98-99).

O conflito dramático da narrativa se estabelece entre juventude (imortalidade) e


maturidade (transitoriedade da vida), a juventude do personagem Robi é caracterizada no conto
como um fator que denota a ideia de imortalidade opondo-se à ideia de transitoriedade da vida
agregada à maturidade de Diana.

Segundo Franco Jr., o nó da narrativa é o elemento que introduz o conflito dramático,


neste caso ele ocorre quando Diana e Robi se veem pela primeira vez, ocasião em que ela se
sente desconfortável e irritada pela ‘intromissão’ do rapaz que a observa de forma invasiva e
maliciosa, perturbando seu momento de solidão e reflexões amarguradas por causa de sua idade.
Mas seu desconforto é motivado sobretudo pelo fato de Robi ser jovem, ela se sente ainda mais
‘velha’ ao ser observada daquela forma pelo rapaz.
31

Por segundos, foi como se estivesse me vendo lá fora, do outro lado da


juventude, dez, doze anos atrás [...] Quando desviei o rosto tinha envelhecido
o suficiente a ponto de fixar os olhos embaçados nos ponteiros luminosos [...]
(p. 94-95).

O clímax acontece no auge do conflito dramático, dessa forma é possível dizer que este
elemento se instaura na narrativa quando a união sexual entre Robi e Diana finalmente ocorre,
é neste momento que há a tensão máxima entre os elementos do conflito dramático, é quando
os aspectos individuais ligados à juventude de Robi e à maturidade de Diana são postos em jogo
e se defrontam na cena do encontro sexual.

A resolução do conflito central da narrativa é o momento do desfecho, após a relação


sexual, Diana observa por alguns instantes Robi adormecido comovendo-se diante de seu estado
agora inofensivo, tomada por sentimentos dolorosos que trazem à tona toda a sua solidão e
questões existenciais, ela vai embora: “Bem. Pensei, é tarde. Vesti-me rapidamente, em
silêncio. Fechei a porta sem ruído. Desci.” (p. 105).

3.3. O erotismo impresso em Hell´s Angels

Diversas representações do erotismo se destacam ao longo do conto, a própria


caracterização das personagens fazem com que tenhamos uma percepção disto: Diana, apesar
de algumas vezes deixar transparecer suas inseguranças e solidão, é uma mulher inteligente e
muito sedutora que surpreende por sua perspicácia e refinada ironia reveladas no texto através
de um certo tom de intimidade entre personagem e leitor, perceptível sobretudo no trecho
abaixo em que ela expõe suas conclusões a respeito de Robi.

[...] só pensava em duas coisas: garotas e moto. E isso quer dizer que não
pensava. Devaneava. Flutuava. Flanava. Fluía. Ele simplesmente existia! A
frase de Nelson Rodrigues "toda mulher devia amar um menino de 17 anos"
furou-me o ventre e atingiu em cheio o, digamos, coração (DENSER, 2003,
p. 98).

A postura de Diana rompe com vários tabus e preconceitos pois vai contra o que se espera
de uma mulher segundo a visão tradicional. Ela é uma mulher solteira vivendo sua sexualidade
no auge dos seus trinta anos, a personagem é uma heroína em busca de identidade em meio ao
seu caos particular, vivenciando novas experiências a cada breve conquista amorosa. É inegável
a relação da personagem com o contexto histórico do país durante a década de 1980 (época em
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que a obra foi publicada), marcado por muitas transformações sobretudo em relação à
sexualidade feminina.

O personagem Robi, ao contrário de Diana, mostra-se um tanto superficial e ingênuo em


sua visão de mundo, entretanto, como símbolo da juventude no conto tem a sedução como sua
aliada na conquista sexual, ele transborda autoconfiança, suas atitudes definem o que
GIDDENS (1993) classifica como ‘garanhão’ que é facilmente identificado por ser um
conquistador nato, subvertor da virtude nas épocas mais tradicionais e atualmente visto um
indivíduo que vive em busca de busca de emoções e êxtase em um mundo de oportunidades
sexuais abertas.

Alguns garanhões apresentam qualidades intimamente relacionadas com os


traços comuns do amor romântico – neste caso, são homens que vão arrebatar
as mulheres ou cortejá-las com particular fervor, tendo talvez se especializado
em fazê-lo (GIDDENS, 1993, p. 99).

Este aspecto da personalidade de Robi não é um grande problema para Diana, ela tem
consciência disso e tenta a todo momento não se envolver pelos galanteios do rapaz, na
concepção de Giddens ela representa as mulheres que conhecem muito bem os artifícios de
conquista do ‘garanhão’ e por isso não se deslumbram facilmente com suas investidas, assim

Algumas mulheres – às quais essas coisas são hoje em dia muito familiares –
poderiam muito bem optar por uma ligação sexual de curta duração na busca
de uma excitação ou de um prazer transitórios. Para tais mulheres, o atrativo
do galã rapidamente desaparece ou é deliberadamente mantido sob controle
(idem, p. 99).

Ao notar que por uma displicência o vestido havia levantado exibindo suas coxas, Diana
descreve a primeira manifestação do erotismo no conto: “Havia esquecido que o vestido
levantara, exibindo as coxas, daí Robi, o motoqueiro, aparecer na minha janela, caninos
pingando sangue” (p. 94).

Mais do que as manifestações de afeto, o elemento sexual é quem conduz o jogo da


conquista no conto, o olhar que Robi direciona à Diana em alguns momentos da narrativa pode
ser interpretado como uma das estratégias desse jogo: “E agora? O olhar dele desceu agudo,
filhote de falcão da campina, sobre minhas pernas cruzadas” (p. 101).
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Ainda com relação à este personagem, percebe-se que sua descrição é permeada por
alusões simbólicas que reforçam o caráter erótico da narrativa, a expressão “caninos pingando
sangue” utilizada duas vezes por Diana quando ela é surpreendida por Robi pode ser
interpretada como uma maneira da protagonista assemelhá-lo à figura do vampiro, um
personagem fictício que representa a imortalidade e é reconhecido por emanar sensualidade e
mistério. Também o uso do termo ‘tacape’ que é um instrumento de origem indígena feito de
madeira e utilizado como arma, remete força e virilidade que caracterizam a juventude de Robi.

Dicotomias presentes na narrativa como deus, anjo/anjo vermelho, lúcifer; alma/corpo;


bem/mal por exemplo, indicam um possível conflito interno da protagonista e seus dilemas
existenciais.

[...] assim como um deus, assim como um anjo, assim como você, Robi (p.
93).
Aquele garoto de jeans, blusão de couro e botas de montaria, sentado
displicentemente numa das poltronas da sala de espera, transformara-se no
meu inquisidor, meu juiz de alçada, meu anjo vermelho. Lúcifer, o decaído
[...] (p. 97).
A eterna dicotomia corpo e alma. [...] fazia observações, aliás muito
interessantes, sobre a sua conceituação de bem e mal. Para ele não existia (p.
99).

O título do conto – além de fazer referência ao primeiro clube de motociclismo da história


fundado em 1948 e que por sua vez buscou inspiração no grupo de bombardeio de mesmo nome
pertencente à força aérea estadunidense – também manifesta caráter dúbio à narrativa pois
Hell’s Angels em uma livre tradução para a língua portuguesa significa algo equivalente a anjos
infernais ou anjos do inferno o que acaba por reforçar a imagem que temos da personagem Robi
ao longo da narrativa: um jovem que é segundo a visão da narradora ao mesmo tempo angelical
e perturbador, ingênuo e malicioso, puro e perverso.

Tais dicotomias trazem à tona ainda os conceitos de interdição e transgressão formulados


por BATAILLE (2004) e como já foi exposto neste trabalho sabe-se que a interdição está ligada
às restrições, diretamente associadas à disciplina e está próxima à descontinuidade do ser e aos
limites que sobrepujam a violência já a transgressão representa os desvios e excessos do mundo
da desordem promovendo a passagem do ser ao estado de ‘animalidade’ e desequilíbrio inerente
ao erotismo. Essas dicotomias remetem ainda ao caráter ambíguo do erotismo segundo
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observou PAZ (1994, p. 18), para ele o erotismo “é repressão e permissão, sublimação e
perversão. [...] É o caprichoso servidor da vida e da morte”.

O encontro sexual é o momento ápice do erotismo no conto, a cena é descrita muito


sugestivamente, quando os dois se veem pela primeira vez refletidos no espelho, aparentemente
para Diana, apagam-se as diferenças que os separam, até mesmo a diferença de idade, restando
apenas a imagem de uma mulher e um homem, nada mais.

Diana não deixa que Robi tire sua roupa, ela mesma o faz rapidamente, o rapaz ao despir-
se apaga a luz, ficando apenas o “foco avermelhado do abajur” a iluminar o quarto.

Despi-me rapidamente e fiquei olhando bem na cara dele. Pronto, eu disse,


agora você. Desviou o rosto. Com a mão esquerda foi tirando o blusão, mas a
direita apagou a luz do teto, deixando apenas o foco avermelhado do abajur
(p. 103-104)

Nota-se aqui um certo receio de ambos em expor sua nudez, fato que pode indicar
segundo BATAILLE (2004), a relutância do sujeito em sair de seu estado fechado que é a
existência descontínua, a possessão de si, a nudez anuncia o estado de despossessão alcançado
no ato sexual:

Há, ao contrário, despossessão no jogo dos órgãos que se derramam na


renovação da fusão, semelhante ao vaivém das ondas que se penetram e se
perdem uma na outra. Essa despossessão é tão inteira que no estado de nudez
que a anuncia, que é seu emblema, a maioria dos seres humanos se esconde,
mais com razão ainda se a ação erótica que acaba por despossuí-la sucede a
nudez (BATAILLE, 2004, p. 29-30).

As diferenças que aparentemente não eram visíveis vão ficando cada vez mais delineadas,
é possível observar isso pelo modo como Diana relata os momentos que iniciam a relação
sexual, em alguns, fica expressa a frustração da protagonista mediante algumas atitudes de
Robi: “Abraçava-me com palmas e dedos gelados, comprimindo minhas costelas, machucando-
as, em vez de acariciá-las” (DENSER, 2003, p. 104).

A relação acontece: “A coisa funciona só da cintura pra baixo como um vibrador, mas é
bom, pensei, deixando-me penetrar rijamente pelas costas [...]” (p. 104). É exatamente neste
momento que o erotismo dos corpos proposto por BATAILLE (2004), atinge o ponto alto, aqui
35

é onde ocorre a da fusão dos corpos em que os seres envolvidos veem dissolvidos os limites
corporais que os definiriam, o que leva estes seres a um igual estado de continuidade com a
destruição do ser fechado. Ao considerar esta forma de erotismo como “violação do ser dos
parceiros” e “limite ao ato de matar”, Bataille evidencia o poder que o erotismo tem de adentrar
até mesmo o lugar mais íntimo do ser humano promovendo a dissolução deste ser constituído
na ordem descontínua para então apresentá-lo à continuidade.

Apesar de tudo isso estar em questão, é perceptível a forma mecânica e fragmentada com
que o ato sexual flui na narrativa, Diana comenta o fato dela permanecer de costas para Robi,
o que para ela é como se ambos não pudessem suportar um contato frontal/visual, como se ver
o outro com todas as suas individualidades frente a frente durante o ato fosse algo muito mais
íntimo e invasivo do que apenas a relação em si:

[...] usando, por assim dizer, só uma parte do meu corpo, como se o resto
estivesse paralisado ou morto, como se ninguém suportasse um dramático
relacionamento frontal, com beijos, orifícios, acidentes e cicatrizes, com um
rosto, um nome, uma biografia (p 104).

Diana relata cada sensação e cada impressão sentida durante a relação: “O prazer é bom,
pensei, costuma ser forte, mesmo assim...” (p. 104). É notória a insatisfação dela com o fato de
Robi demonstrar antes de tudo, mais preocupação com o seu desempenho e puro prazer
egocêntrico, mantendo-se frio e distante todo o tempo:

O que me chateia é esse distanciamento crítico, parece estar consertando a


moto – essa máquina de prazer – olhando a coisa funcionar, como seu próprio
coração a bater fora do corpo, as engrenagens da máquina molhadas de suor e
prazer, mais devagar, mais rápido, mais devagar, agora rápido, acelere, mais
rápido, mais rápido, mais, mais. Pronto. Terminou (p. 104).

Agora, passado todo o fervor do breve momento de sensações conflituosas, Robi não
despertava mais que um sentimento de comoção em Diana que olhava-o dormir muito
tranquilamente, ela já não o via mais como a duas semanas atrás quando o conheceu, o mesmo
Robi “caçador nato”, aquela figura sedutora e imponente que detinha em si a juventude eterna
e que a intimidara apenas com o olhar, esse Robi era aquele mesmo que neste momento dormia
inofensivo diante de seus olhos, o rosto ainda era inumano como o dos deuses que detém a
imortalidade, mas agora ele, Robi, era para ela mais mortal do que qualquer outro ser.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A mulher representada pela personagem Diana, no conto Hell’s Angels, de Márcia Denser
está longe de ser um modelo de mulher idealizada, Diana é real e vive em meio ao caos das
relações efêmeras e dos sentimentos escassos, consequências de uma pós-modernidade que,
apesar de proporcionar mudanças significativas, principalmente, no que diz respeito à novas
conquistas para a mulher, promove essas mudanças de forma tão imediata que por vezes se
torna visível a insegurança dessa mulher em usufruir as conquistas, pois ela, mesmo de maneira
inconsciente ainda se mantém presa aos valores patriarcais que a fazem perder autonomia em
suas escolhas.

Em Hell’s Angels o erotismo se destaca, principalmente, como uma forma de fazer com
que a personagem Diana se oponha à imagem da mulher insegura em relação à vivência de
novas experiências, por se tratar de uma mulher solteira, sexualmente ativa no auge de seus
trinta anos, interessada por um homem mais jovem, ela assume um comportamento subversivo,
contrariando os padrões e as convenções socialmente impostas.

É verdade que esse posicionamento é a todo instante sujeito à sua autocrítica, pois ela,
como representação da mulher pós-moderna se mostra por vezes insegura e sujeita a
contradições, contudo, não se pode negar o fato de que Diana, assim como a deusa de mesmo
nome, é símbolo maior da liberdade e da coragem. Ela é uma heroína contemporânea não,
necessariamente, indiferente ao amor, mas, sendo este lhe negado, ela se arrisca para poder
vivenciar suas próprias escolhas.

Em suma, pode-se afirmar que, tratar do erotismo é uma tarefa desafiadora haja vista este
ser um assunto permeado por diversos tabus dentro de nossa sociedade mas, analisá-lo dentro
de uma narrativa de autoria feminina é gratificante, pois isso permite-nos compreender a
dimensão de sua importância para a construção de novos discursos que se enveredam por
representações femininas mais verossímeis possíveis, desfazendo a imagem idealizada por
muito tempo propagada na literatura sobre o erotismo feminino e ajudam na percepção da
mulher não apenas como objeto de desejo, mas como sujeito de sua própria história podendo
planejar suas ações de acordo com a sua maneira de sentir e ver o mundo.
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REFERÊNCIAS

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